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Povos Indígenas

no Ceará

Realização:

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DRAGÃO DO MAR
DE ARTE E CULTURA ia$:>nitc*irtciaiima»ri

Patrocínio:

Apoio:

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-3".aieza, novembro de 2007

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Povos Indígenas
no Ceará
Organização, memória e luta.

Fortaleza, novembro de 2007


Sumário

Agradecimento s 04
Apresentação 05
Introdução 07
Anacé 09
Gavião 11
Jenipapo-Kanindé 13
Kalabaça 15
Kanindé 17
Kariri ..20
Pitaguary 22
Créditos
0 Desenhos 25
Mapas 26
Pesquisa e redação: Alexandre Gomes e João Paulo
Potiguara / Potyguará 34
Vieira (Projeto Historiando) e Juliana Muniz.
Tabajara 38
Desenhos e grafismos: etnias indígenas cearenses
Tapeba 41
Desenho da capa: Audendra Treroembé
Tremembé... 44
Coordenação: Isabelle Braz P. da Silva
Tubiba-Tapuia 48
Supervisão: Carmen Lúcia Silva Lima
Outras referências 50
Revisão: Rodrigo Alves Ribeiro
Arte gráfica: Gráfica Ribeiro "s
Realização: Memorial da Cultura Cearense, do Centro
Dragão do Mar de Arte e Cultura
Patrocínio: UAssociation pour le Développement
Economique Regional - ADER (Associação para o
Desenvolvimento Económico Regional)
Apoio: Gaia Engenharia Ambiental
Agradecimentos Apresentação

Um agradecimento especial a Fernando Tremembé, ] Prezado leitor,


Ceiça, Rosa e Ana Clécia Pitaguary, Dourado, Weibe e
Naílton Tapeba, Maria Amélia Leite, Margareth
Malfliet, Daniel Pitaguan.-. Cacique Pequena,
Conceição (Bida) e Fábio Jenipapo-Kanindé; João A ideia de realizar esta publicação surgiu
Venâncio, Cacique Sotero, Renato e Helena Gomes durante uma das reuniões de preparação da recepção
Potiguara, Jorge, Evagivaldo e Eliane Tabajara da exposição itinerante Os primeiros brasileiros. Esta
(Poranga), Têka Pot>'guara, Júnior, João e Ângela exposição teve a curadoria do prof. João Pacheco de
Anacé, Tetê e Dona Tereza Kariri. Helloana e Luciana Oliveira, do Museu Nacional do Rio de Janeiro e foi
(Observatório dos Direitos Indígenas), Estevão sediada pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.
Palitot, ADER, AMITK, ARIPPOC. Centro Dragão Por iniciativa do Memorial da Cultura
do Mar de Arte e Cultura, FL'NAI. FUNASA, Gaia Cearense constituiu-se um grupo de trabalho que por
Engenharia Ambiental, Museu do Ceará, Observatório diversas vezes se reuniu para planejar e organizar
dos Direitos Indígenas, SEDUC. e a todas as demais adaptações da exposição original e outras atividades
pessoas e instituições que contribuíram para a correlatas. Este grupo foi constituído por várias
realização deste trabalho. instituições afeitas ao campo indigenista no Ceará, tais
como: ACITA, AMICE, APOINME, ASSOCIAÇÃO
M I S S Ã O T R E M E M B É , CDPDH, COPICE,
FIRESO, GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS
ÉTNICAS - UECE/UFC, MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL.
Nossa intenção ao conceber este livreto foi
levar ao público cearense uma breve informação sobre
os grupos indígenas no Ceará contemporâneo. Esses
grupos estão sediados em diferentes regiões de nosso
Estado e guardam distinções entre si, com suas
histórias, memórias e práticas culturais específicas.

04 05
Introdução
Para a realização da tarefa a que nos
propusemos foram necessários muito empenho e
Este livreto traz em suas páginas um pouco da
agilidade, da equipe de pesquisa e redação convidada
história recente dos povos indígenas no Ceará. As
para o trabalho (Projeto Historiando), diante do pouco
comunidades aqui retratadas constroem os caminhos da
tempo de que dispúnhamos e frente à dificuldade de
memória a partir da compreensão de sua etnicidade, do
obtenção de informações sistematizadas e seguras.
entendimento de intensos processos de violência,
Lançamos mão de trabalhos académicos, conversas opressão e resistência dos quais fazem parte.
com pesquisadores, dados de instituições que A partir da década de 1980, com a mobilização
trabalham diretamente com essas populações e dos Tapeba e Tremembé, inicialmente, e dos Pitaguary
também de viagens á campo. e Jenipapo-Kanindé, posteriormente, assistimos a um
Você terá a oportunidade de conhecer um crescente levantar da etnicidade no estado.
pouco mais do Ceará indígena, uma, entre tantas A capitania do Siará-Grande abrigou mais de 20
outras faces de nossa sociedade, às vezes tão próximas etnias, sendo considerada por muitos como um refúgio
e tão dificeis de serem enxergadas. para onde migraram diversos povos, que vieram das
capitanias vizinhas de Rio-Grande, Paraíba,
Pernambuco, e ocuparam boa parte desta terra, que já
era habitada por outros povos. Rodeado de limites
Isabelle Braz Peixoto da Silva naturais precisos (serras e chapadas), o Siará-Grande só
começou a ser invadido pelos europeus efetivamente
Fortaleza, novembro de 2007 no inicio do século XVII, porém grandes conflitos pela
posse da terra se deram a partir da expulsão dos
holandeses (1654), com a disputa pela posse das
ribeiras do Jaguaribe, Acaraú e seus afluentes. Esta
série de conflitos, dentre outros ocorridos no litoral do
atual nordeste, ficou conhecido como Guerra dos
Bárbaros, e durou até a segunda década do século
XVIII.
A organização dos aldeamentos missionários, a
partir da segunda metade do século XVIII, trouxe para
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estes espaços populações que tinham em suas
Anacé
memórias trajetórias (ie sucessivas guerras e migrações
forçadas. O aldeamento tomou-se lugar da resistência e '
refúgio, e lá estes povos recriaram sua cultura, Município: São Gonçalo do Amarante e Caucaia
motivados por interesses políticos variados. A criação I Comunidades: 1) Em São Gonçalo do Amarante:
das vilas de índios após a expulsão dos jesuítas (1759) e ^ Mangabeira, Pau-Branco, Salgado, Tabuleiro Grande,
a imposição do Diretóno Pombalino, estabeleceu a Boqueirão, Currupião, Baixo da Carnaúba, Maceió do
mestiçagem como estratégia de embranquecimento da Rafael, Torém, Areia Verde, Lagoa Amarela, Jereraú,
população e diluição das marcas culturais nativas. A i Tocos, Chave Oiticica, Tapuio, Siupé; 2) Em Caucaia:
• partir daí, o século XIX é crucial para a compreensão | Matões, Japuara e Santa Rosa.
das sucessivas transformações pelas quais passaram í População estimada: 1270 pessoas
estes povos, com a criação de municípios e distritos nos j Famílias: 380
lugares que habitavam. O que seria a história oficial dos Situação da Terra Indígena ( T I ) : T I a ser'
municípios cearenses, senão uma tentativa de contar a identificada pela FUNAI.
história local a partir da versão europeia? j
Para a r e a l i z a ç ã o de nossa escrita Durante a última Assembleia dos Povos
estabelecemos alguns critérios, dentro dos quais
Indígenas no Ceará, realizada na aldeia Nazário -
destacamos: como se deu o processo de etnogênese e
Crateús (novembro de 2006), o povo Anacé junto aos
auto-afirmação étnica, a luta atual das etnias e como
elas estão organizadas. Outro aspecto que merece Tubiba-Tapuia de Monsenhor Tabosa, integraram-se
ênfase diz respeito às sucessivas migrações pelas quais ao movimento indígena organizado no Ceará.
passaram a maioria das comunidades. Composto por 380 famílias, residentes nos
O processo de etnogênese iniciado na década municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante,
de 80 hoje atinge diversas populações do interior do este último a antiga Anacetaba, o nome da etnia é uma
Ceará, como nos municípios de Crateús, Poranga e alusão aos ancestrais, que habitavam a região.
Monsenhor Tabosa, que foram \isitados durante a Atualmente, o povo Anacé vive um período de
pesquisa para a construção do l i \. incerteza, medo e insegurança, devido à ameaça de
Este livreto tem a intenção mostrar a atual desapropriação de suas terras tradicionais, iniciada em
situação das etnias hoje existentes no Ceará, dando 1996 com o processo de construção do Complexo
visibilidade à sua luta e instigando à reflexão sobre a Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), que prevê a
sua presença na sociedade cearense. ocupação de seu território para a instalação de uma
08 ^ 09
siderúrgica e de várias indústrias nacionais e empreendimentos em TFs (Terras Indígenas); 3) A
estrangeiras. anulação de decretos de desapropriação de terras e o
Cerca de 90 famílias já foram expulsas da terra fechamento dos prostíbulos que funcionam dentro das
tradicional e alojadas em três assentamentos (Novo comunidades Anacé; 4) A formação de um Conselho
Torém, Forquilha e Monguba). Pretende-se retirar as Nacional de Políficas Indigenistas; 5) A criação de um
demais famílias para a conclusão do CIPP. Desta Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que vise a garantir
forma, a luta dos Anacé hoje, é pela imediata financiamento para reflorestamento das áreas
demarcação de suas terras que, além de considerarem degradadas e 6) A elaboração de um projeto de
sagradas, pois foram ali que viveram seus ancestrais e despoluição de rios, lagoas e manguezais.
ainda hoje vivem; são sítios arqueológicos de
importante significado para o estudo da ocupação
humana e migrações no território que veio a chamar-se Gavião
* Ceará. Vários achados arqueológicos foram feitos pela
população indígena, o que contribui para a Município: Monsenhor Tabosa
preservação do território, garantida pela Constituição Comunidade: Boa Vista.
Federal. População estimada: 190 pessoas
Entre os dias 20 e 23 de setembro de 2007, a Famílias: 20
comunidade organizou, na aldeia Matões em Caucaia, Situação da Terra Indígena (TI): Terra Indígena com
a / Assembleia do Povo Indígena Anacé. Contando visita preliminar realizada pela FUNAI.
com a participação de representantes de etnias de todo
o Ceará. O Encontro teve como tema: Terra e Impacto ''Sou Gavião, sou Gavião, e nasci lá no sertão...
Ambiental e discutiu os transtornos e os impactos Pois eu sou o rei da mata, de voar não me cansei.
sócio-ambientais de empreendimentos instalados na Somos povos que viemos, tão de longe para cá,
Terra Indígena. Igualmente ao gavião, ligeiramente a voar..
Música de Antônio "Toinho" Gavião
Dentre os principais encaminhamentos da
assembleia, citamos: 1) A solicitação de uma Os habitantes da aldeia Boa Vista trabalham
audiência pública para discutir a regularização das em conjunto, tirando sustento da plantação de milho,
Terras Indígenas no Estado; 2) A anulação das licenças feijão, algodão, melancia, jerimum e melão, dentre
que a u t o r i z a m a c o n s t r u ç ã o de grandes outras. Caçam nas matas próximas animais como:
10
rabudo, preá, juriti, tejo, nambu, peba, tatu e veado.
saúde e pela demarcação de suas terras, numa área
Entretanto, a base fundamental de sustentação da
contínua para as etnias de Monsenhor Tabosa, junto
aldeia é o milho, utilizado desde o momento em que
aos Potyguara, Tubiba-Tapuia e Tabaj ara.
ainda está verde e, depois de seco, servindo para fazer
Estudam a língua Tupi junto aos Potyguara e
uma série de comidas, como pipoca, mucunzá e
mantém ínfima ligação com o meio ambiente.
cuscuz; e também como alimentação para os animais
Desenvolvem um trabalho de despertar a consciência
que criam e comercializam, com o fim de adquirirem
ecológica nas novas gerações, como na música:... Pisa
géneros que não produzem.
ligeiro pisa ligeiro, quando for passar por cima de um
Segundo a tradição oral. os mais antigos
pé de formigueiro. Existe a formiga, que é muito
' chegaram a Monsenhor Tabosa vindos da localidade
trabalhadeira, cuidado com a formiga, que também é
Bom Jesus, em Crateús. Cinco irmãos, filhos de
mordedeira...
Alzira, mulher solteira e parteira, muito conhecida na
região, formam o núcleo inicial do povoamento
Gavião na região. Seus filhos eram João Rodrigues,
Jenipapo-Kanindé
Manoel Rodrigues, José Rodrigues. Clara Rodrigues e
Maria Rodrigues (Maria Gavião). Esta última, migrou
Município: Aquiraz
para o Piauí e lá se casou com um índio Gavião, com
Comunidade: Lagoa da Encantada.
quem teve filhos. Ficando viúva, retomou à Serra das
População estimada: 290 pessoas
Matas. Desta união, resultou o povo Gavião da Boa
Famílias: 80
Vista. Seu irmão, por sua vez, João Rodrigues, que
morreu faltando apenas 4 meses para completar 100 Situação da Terra Indígena (TI): T I delimitada e
anos, deixou uma prole de 10 filhos. identificada, aguardando resposta às contestações.
Os Gavião participam da luta indígena desde
A etnia Jenipapo-Kanindé está entre as que
2005 quando, por incentivo de lideranças locais,
primeiro levantou a bandeira étnica no Ceará, ainda na
iniciaram seu processo de mobilização. Estão década de 80, junto aos Tapeba, Pitaguary e
organizados no Conselho Indígena do Povo Gavião, Tremembé. Conhecidos há décadas pela população
que se reúne mensalmente. Contam com três salas de circundante como os cabeludos da Encantada, o que
aula, para adultos e crianças. Hoje. lutam por uma demonstra a percepção da diferença pela sociedade
escola diferenciada bem estruturada^ por assistência à envolvente - vivem na Terra Indígena Lagoa da
12
13
Encantada, no município de Aquiraz, espaço sagrado 1
de onde tiram seus mitos, cosmologia, história e a setembro inicia-se a safra do caju, que tem especial
própria sobrevivência. significado na comunidade, pois que dele fazem doces
De acordo com relatos orais, seus e sucos, além do mocororó, bebida usada em
antepassados viviam em várias comunidades do festividades e durante a realização do ritual do Toré.
município de Aquiraz, como a Lagoa do Tapuio, Atualmente estão no Conselho Indígena
Córrego de Galinhas, Córrego de Bacias, dentre Jenipapo-Kanindé, instância deliberativa para
outras. Os mais antigos da comunidade localizam no j questões internas e na AMIJK (Associação das
século X I X a chegada de seus ancestrais na lagoa, \s Indígenas Jenipapo-Kanindé). Entre seus
sendo a chamada seca dos três oitos ou três oitavos, lugares sagrados, estão a Barreira, o Morro do Urubu,
lembrada como data de referência na memória da o Riacho da Encantada e a própria Lagoa.
comunidade. Desenvolveram um modo de vida próprio e estão em
Desde 1995 a Cacique Pequena, como é mais íntima interação com o lugar onde vivem, de singela
conhecida a senhora Maria de Lourdes da Conceição beleza, entre as dunas, a mata e a sagrada Lagoa da
Alves, lidera a etnia na luta pelo cumpririiento dos Encantada.
direitos indígenas, pela demarcação de'suas terras e
em defesa da Lagoa da Encantada, constantemente I
ameaçada pela especulação e poluição. Kalabaça
Mantêm um ritmo de trabalho próprio.
Plantam mandioca o ano todo e seguem um calendário Municípios: Crateús e Poranga
da colheita de frutos e legumes por épocas do ano: Comunidades: Altamira, Fátima I , Fátima I I , São
milho, feijão, batata-doce, castanha de caju e outros. José, Maratoã, Planaltina e Caixa D 'água.
De cultura intimamente ligada à pesca, realizam esta Famílias: Poranga: 300; Crateús: sem dados
atividade preferencialmente à noite, praticamente o Situação de Terras Indígenas (TI's): Terras
ano todo, havendo várias formas de praticá-la, tanto Indígenas com estudos preliminares pela FUÍSÍAI.
com as mãos como com armadilhas que os próprios
índios confeccionain, como a caçoeira, o giki e a Minha mãe criou nós dizendo que
tarrafa. Fazem artesanato com cipó. e as mulheres da nós era índio, mas que não era pra nós dizer isso aí
etnia tecem rendas e fazem louça de barro. A partir de nunca, porque os índios antigamente foram espancados...
mataram muita gente"
(Dona Raimunda Kalabaça - Poranga-CE)
14
IS
o povo Kalabaça encontra-se, em sua maioria,
nos municípios de Crateús e Poranga. Em seus relatos Os Kalabaça, em Poranga, estão organizados
afirmam possuir parentes nos municípios de na luta por suas terras junto aos Tabajara. E comum
Ipaporanga e Ararendá. Em Crateús, integraram o encontrarmos famílias mistas, formadas por Kalabaça
Conselho Indígena de Crateús e Região - CINCRAR, e Tabajara. Residem na aldeia de Imburana onde
fundado em 1992, formado também por outras 4 fizeram uma retomada em agosto de 2005. As terras de
(quatro) etnias: Potyguara, Tabajara, Tupinambá e Imburana se dividem em três áreas: o lugar de
Kariri. O CINCRAR foi extinto depois de ter moradia, que fica nos bairros Jardim e Jericó, onde
funcionado por 12 anos. A partir de então, as reside a maioria das famílias; o lugar onde plantam e
lideranças que formavam este Conselho decidiram colhem os alimentos, que fica um pouco mais distante
fundar associações por etnias, com o objetivo de das moradias, cuja terra é mais fértil; e o lugar da caça,
estabelecer uma melhor organização. que é ainda mais distante, nas matas, de onde também
Atualmente, os Kalabaça em Crateús estão em retiram as plantas medicinais: cascas, raízes, folhas e
fase de formação de sua associação. Podemos frutas. Nos últimos meses fizeram, junto aos Tabajara,
encontrá-los em diversos bairros da periferia de a retomada da terra denominada Cajueiro, distante 38
Crateús e na serra do Nazário, na zona rural. Segundo quilómetros de Imburana que, segundo contam, foi
fontes orais, existe um grande número deles no moradia de seus ancestrais e a qual passaram a habitar.
município, porém muitos não estão articulados ao
movimento indígena.
Faz parte da cultura dos Kalabaça a pesca, Kanindé
tradicionalmente feita no rio Pot\-; a caça die animais
de pequeno porte como peba. tatu e carão; e a Município: Aratuba e Canindé
plantação de feijão, milho, mandioca e arroz. Ficaram Comunidades: 1) Em Aratuba: Sítio Fernandes; 2)
conhecidos como Jandaíras, pois quando os brancos Em Canindé: Serra da Gameleira.
chegaram na região, os Kalabaça coletavam para eles População estimada: 700 pessoas
o mel da Jandaíra. Antigamente, moravam em casas de Famílias: 130
palha c seus utensíUos eram feitos de barro e cuia: Situação da Terra Indígena ( T I ) : T I com visita
minha mãe plantava cabaça no inverno, serrava, preliminar, realizada pela FUNAI, em 2003/2004.
botava de molho, raspava e fazia a cabaça para botar Processo aberto na F U N A I , aguardando
o de comer (Dona Raimunda, Kalabaça de Poranga). procedimentos i n i c i a i s de f u n d a m e n t a ç ã o
16 antropológica.
17
Localizados nos municípios de Canindé peba, veado, nambu, seriema e juriti, sempre
(sertão central) e Aratuba (serra de Baturité), os
Kanindé tem a história marcada por um longo respeitando os períodos de gestação dos bichos. A
processo de migrações forçadas, e vem mantendo, relação de sustentabilidade que mantêm com a
apesar desta dispersão, laços de parentesco e natureza é ensinada às novas gerações, e busca
sociabilidade que unem as comunidades do Sítio garantir a permanência da caça para as próximas
Fernandes e da serra da Gameleira, que compõem a gerações.
etnia. A chamada Terra da Gia, foi durante muito
A origem histórica da etnia Kanindé remonta tempo utilizada pelos Kanindé para fazerem suas
ao chefe Canindé, principal da tribo dos Janduíns, que plantações e caçarem, se constituindo como
liderou a resistência de seu povo no século X V n ,
obrigando o então rei de Portugal a assinar com ele significativo lugar de memória para o grupo. Em 1995,
tratado de paz, firmado em 1692. mas descumprido após grande luta junto aos trabalhadores rurais locais,
por parte dos portugueses. Como ocorria com muitos este terreno foi desapropriado pelo INCRA. Após
agrupamentos nativos, seus descendentes passaram a querelas na divisão da terra, os Kanindé do sítio
ser conhecidos como Kanindé, alusão ao chefe e à Fernandes ficaram com 270 hectares e continuam
ancestralidade. plantando no sistema de roçados.
Segundo tradição oral. vieram da região do Em 1996, por iniciativa de José Maria Pereira
atual município de Mombaça, passando por Quixadá, dos Santos, mais conhecido por Cacique Sotero, foi
pelas margens do Rio Curu, entre os rios aberto à visitação pública o Museu dos Kanindé, que
Quixeramobim e Banabuiú, junto aos seus parentes traz em seu acervo artesanato, cujo trabalho em
Jenipapo, antes de alcançar os seus locais de morada madeira merece destaque, instrumentos de caça e
atuais. Chegaram ao Sítio Fernandes vindos da serra dança, entre outros. Mantido no sigilo até o ano citado,
da Gameleira, também conhecida como serra do foi com o acirramento da luta por seus direitos que o
Pindar, em Canindé, por conta de secas, como a de museu foi exposto ao público, sendo mais uma forma
1877, e invasões de suas terras por posseiros criadores de afirmação étnica do povo Kanindé.
de gado.
Traço cultural herdado dos ancestrais, a cultura
da caça se materializa na existência de diversas
armadilhas, como o quixó de geringonça, utilizado no
apresamento de animais como mocó, tejo, cassaco,
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18 19
Kariri conheceram a segunda família Kariri, de Dona
Raimunda, cujo pai também fora migrante da região
Município: Crateús do Cariri para Crateús. Hoje, estão organizados na
Comunidade: Maratoã. Associação Indígena Kariri dc Crateús, uma das mais
População estimada: 60 pessoas atuantes no município. A comunidade de Maratoã,
Situação da Terra Indígena (TI): Terra indígena onde mora a maioria dos Kariri, está localizado na
com visita preliminar realizada pela FUNAI. periferia de Crateús e agrega famílias de diversas
etnias, como os Potiguara. Tabajara e Kalabaça, além
"Tem gente que não acredita, que estou contando aqui
de várias outras de casamentos entre membros de
mas afirmo com muita certeza, sou da tribo Kariri sei
que tenho sangue de índio, e não me envergonho jamais etnias diferentes.
porque eu sei que o sangue que tenho, são heranças dos Os núcleos familiares Kariri sempre se
meus velhos pais. reconheceram como índios, apesar de ocultarem a
(Tereza Kariri) origem como forma de proteção. Em seus relatos orais,
bem vivas estão as lembranças da migração, efetivada
A história da etnia Kariri, em Crateús, está por causa da tomada de suas terras ancestrais, por
intimamente ligada à trajetória de vida de dona Tereza posseiros que as ocuparam.
Kariri, que foi uma das primeiras a se identificar como Nas crónicas coloniais os Kariri aparecem
indígena e tomou-se uma das principais lideranças do como habitantes da região que abrange do sul do Ceará
movimento. Junto às lideranças de outras etnias, e Pernambuco até às margens do Rio São Francisco.
participou da fundação da Pastoral Raízes Indígenas, Nos processos de afirmações étnicas, surgiram povos
ligada à Diocese de Crateús e fundamental no apoio e que reivindicam o etnônimo Kariri em diversos
articulação dos povos indígenas na região. estados, além do Ceará, como os Kariri-Xocó e os
Os Kariri de Crateús descendem de dois Xucurú-Kariri, no estado de Alagoas.
núcleos familiares, migrantes dos municípios do Crato Na escola e na comunidade Kariri são
e dé Lavras da Mangabeira. Dona Tereza migrou para realizados trabalhos de fortalecimento da cultura
Fortaleza adolescente e depois foi para Crateús, onde indígena, através do cnsino-aprendizagem de
se casou com um índio Tabajara, formando numerosa artesanato e da realização dc rituais dc cura e do Toré,
prole. Durante os trabalhos de organização da etnia, também chamado dança da Jurema, pelas etnias que
vivem em Crateús.
20 21
Pitaguary milho, feijão, mandioca, jerimum e outras culturas).
São grandes conhecedores de uma diversidade de
Município: Maracanaú e Pacatuba ervas e plantas medicinais que utilizam na cura de
Comunidades: 1) Maracanaú: Horto, Olho D'água e enfermidades. Produzem colares, pulseiras e brincos
Santo Antônio dos Pitaguary; 2) Pacatuba: Monguba. feitos com penas, sementes, coco e palha.
População estimada: 2.800 pessoas , Dançam tradicionalmente o Toré, símbolo de
Famílias: 540 I afirmação de sua identidade étnica e instrumento de
Situação de terras: Terra Indígena em processo de luta política. O grupo de Torc-Mirim existe há três
demarcação física. anos, formado por crianças da aldeia de Santo
Antônio. Apresentam-se em festas e eventos culturais
dentro e fora da aldeia. Este grupo recebeu o Prémio
Os Pitaguary vivem ao pé da serra entre os
Culturas Indígenas do Ministério da Cultura.
municípios de Maracanaú e Pacatuba. Distando
Em 1991, os Pitaguary iniciaram uma
aproximadamente 26 Km de Fortaleza, a Terra
articulação polífica afirmando sua identidade étnica e
Indígena Pitaguary está situada na r e g i ã o
a busca pela garantia de seus direitos. Ocupavam-se
metropolitana da capital, tendo em seus arredores uma
em serviços informais e subalternos e moravam de
área caracterizada pela concentração de indústrias e
aluguel, passando por grandes dificuldades. Porém, a
urbanização crescente. Habitada pelos Pitaguary maioria dos índios Pitaguary permaneceu na área do
desde há muito, essa terra é socialmente marcada por ' aldeamento, vivendo como moradores dos
uma série de acontecimentos que fundam a memória fazendeiros, obrigados a pagar parte de sua produção
coletiva deste povo, pois foi nela que os chamados agrícola para aqueles que ocupavam suas terras.
troncos velhos pereceram, deixando suas raízes Conscientes de seus direitos constitucionais
antigas, assim como é dela que sobrevivem os passaram a se reunir e pressionar pela demarcação de
Pitaguary de hoje. suas terras, organizando o Conselho Indígena
Segundo o atual Cacique Daniel Araújo, são Pitaguary - COIPY. Mais tarde, o número de pessoas
provenientes dos Potiguara. emia do tronco linguístico engajadas na luta foi crescendo e, como resultado,
Tupi-Guarani. Suas terras foram invadidas, forçando a novos espaços de organização política foram criados,
maioria dos índios a migrarem para bairros de surgindo daí o Conselho de Articulação Indígena
Maracanaú e Pacatuba. Pitaguary - CAINPY, o Conselho Indígena Pitaguary
Vivem da caça, pesca e agricultura (algodão, de Monguba - COIPYM, Associação dos Produtores
22 23
Indígenas Pitaguary - APIPY, a Articulação das
Mulheres Indígenas Pitaguary - AMIPY e o Conselho
dos Professores Indígenas Pitaguary - COPIPY. Na
Aldeia Monguba, em Pacatuba, foi criada a Casa de
Apoio para reuniões, encontros e realização de
atividades culturais.
Em 1993, ainda no início da mobilização pela
demarcação da Terra Indígena, foram contemplados
por um projeto de lei da Câmara Municipal de
Maracanaú. A doação de 107 hectares de terra que daí
resultou constituiu uma das razões pelas quais várias
famílias voltaram para dentro da área indígena,
fixando-se, na Aldeia Nova dos Pitaguary. Em 1997,
o Grupo de Trabalho - GT da FUNAI foi enviado para
dar início aos estudos de identificação e delimitação da
TI Pitaguary.
As terras indígenas Pitaguary foram, então,
identificadas e delimitadas, totalizando 1.735,60
hectares, dos quais, num primeiro momento foram
retomados apenas 107 hectares que até então estavam
ocupadas pela Polícia Militar do Ceará.
Hoje, nesse processo de retomada das terras, os
Pitaguary já ocuparam cerca de 700 hectares do total
da Terra Indígena. A luta dos Pitaguary continua
principalmente pela retomada do restante de suas
terras, nas quais possam viver livres e de acordo com
sua cultura e tradição, atualizadas segundo o cotidiano
e as dinâmicas da comunidade, no contexto de suas
lutas políticas.
24
POVOS INDÍGENAS NO C E A R Á C O N T E M P O R Â N E O

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••'"1 6, 7, 8e 9
Novo Oiienfií^'

LEGENDA
1- Tapeba
2- Tremembé
r X , 3- Pitaguary
4- Jenipapo
'[ J
5- Kanindé
6- Potyguara
7- Tabajara
8- Kalabaça
9- Kariri
10- Anacé
11- Gavião
12- Tubiba-Tapuia
Dados primários: Coofdenaçâo dos Povos Indígenas do Ceara - COPICE (2007).
POVOS INDÍGENAS NO CEARÁ CONTEMPORÂNEO POVOS INDÍGENAS NO CEARÁ CONTEMPORÂNEO
ANACÉ GAVIÃO

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Ailtculçao dos Povos Indtoenas oo Noroeste, Minas e Espinto Santo
ÍAPOINME; 2007. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ „ .
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POVOS INDÍGENAS NO CEARÁ CONTEMPORÂNEO POVOS INDÍGENAS NO CEARÁ CONTEMPORÂNEO
TREMEMBÉ TUBIBA-TAPUIA

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Dados primários Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (COPICE), Dados prím.árics: Coordenação dos Povos indiqenas do Ceara tCOPlCE.r
Articuição dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas e Espirito Santo Articulçào dos Povos Indígenas do Nordeste Minas 6 Espinto Santo
(APOINMe). 2007, (At^OINME), ZOQf : ^

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Potyguara/Potiguara que os acirrados conflitos pela disputa das terras
ocasionaram a dispersão deste ppvo em direções
Municípios: Crateús, Monsenhor Tabosa, Novo distintas, como rumo ao litoral da capitania do Siará-
Oriente e Tamboril Grande, onde formaram as aldeias que originarão, na
Comunidades: 1) Em Crateús: Terra Prometida, Nova segunda metade do século X V I I , os aldeamentos
Terra, Terra Livre e Aldeia São José, na periferia da jesuíticos de Porangaba, Caucaia e Paupina; e em
cidade; Santa Rosa, em Monte Nebo; 2) Em direção ao interior do continente - o chamado sertão.
Monsenhor Tabosa: Mundo Novo, Chupador, Jacinto, i Hoje, no Ceará, existem quatro comunidades
Boa Vista, Passarinho, Merejo, Tourão, Distrito-sede, étnicas que se denominam Potiguara, localizadas entre
Espírito Santo, Longar, Passagem e Pitombeira; 3) Em os municípios de Tamboril, Monsenhor Tabosa, Novo
Novo Oriente: Lagoa dos Nery e Açude dos Oriente e Crateús. Os Potyguara de Monsenhor
Carvalhos; 4) Em Tamboril: Viração. Tabosa organizam-se junto aos de Viração (Tamboril),
População estimada: 1.000 pessoas e os de Crateús, junto aos de Novo Oriente. Existem
Situação das Terras Indígenas (TFs): 1) Potyguara Potiguara ainda, segundo alguns estudiosos, em
de Mundo Novo e Viração: foi realizado estudo de Ipueiras e, na região metropolitana de Fortaleza, em
fundamentação, aguardando parecer (T.I. Mundo Paupina (Messejana).
NovoA^iração); 2) Potiguara de Crateús e Novo Desde julho de 2007, os Potiguara em Crateús
Oriente: foi realizada visita preliminar pela FUNAI; 3) estão organizados na ARIPPOC (Associação Raízes
Potiguara Nazário, Monte Nebo e São José: ainda não Indígenas do Povo Potyguara de Crateús), surgida por
estudadas pela FUNAI. ocasião do momento de rearticulação dos povos
indígenas no município. Em 1992, foi realizado um
Creio na lua; Creio nas estrelas significativo encontro que desencadeou com a
Creio nas nuvens; Creio no sol
articulação das diversas etnias no Grupo Raízes
Creio no vento, creio na água e no fogo...
(Credo dos índios Potyguara, Sibá Potyguara) Indígenas, vinculado à Diocese local, onde já fazia
trabalhos sociais ligados à cultura indígena, a
missionária belga Margareth Malfliet. Desta reunião
Os Potyguara à época da invasão portuguesa
participaram Dona Helena Potiguara, Dona Mazé
habitavam o atual litoral do Rio Grande do Norte e da
Kalabaça e Dona Tereza Kariri. Com a colaboração de
Paraíba, onde até hoje vivem, em municípios como
Maria Amélia Leite, estas mulheres são protagonistas
Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição. Acredita-se
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se na construção, em mutirão, da Abanaroca, espécie
no levantar da etnicidade dos índios em Crateús, de casa do índio, que nasceu a partir da necessidade de
através da organização no CINCRAR (Conselho um espaço que, além de servir de ponto de referência,
Indígena de Crateús e Região), ativo por 12 anos. O pudesse também sediar reuniões, encontros e acolher
local onde foi realizado o encontro é sagrado na parentes na sede do município. Outra experiência
cosmologia dos Potiguara do sertão do Ceará: a fuma bastante significativa é o que eles denominam de
dos caboclos, espécie de caverna ou loca, localizada "sistema de trocas", que consiste na troca direta entre
em Monte Nebo, serra próxima à Crateús. Lá estão os as comunidades de produtos feitos por eles próprios.
restos mortais dos antepassados dos Potiguara, que a Cada aldeia possui uma associação local que
definem como a terra de onde foram expulsos seus eles denominam de Conselhos Indígenas do Povo
ancestrais e ponto de dispersão da etnia para diversas Potyguara. A articulação destes conselhos se dá
direções, como a Serra das Matas (em Monsenhor através de reuniões semanais nas aldeias, num sistema
Tabosa) e bairros localizados nos arredores de de rodízio, no qual a comunidade responsável pela
Crateús. assembleia semanal deve garantir a alimentação de
A aldeia Santa Rosa, em Monte Nebo, onde todos os membros das outras aldeias, como parte
estão aldeadas 12 famílias Potiguara, é fruto de uma constitutiva do chamado "sistema de trocas".
retomada de terras, porém permanece improdutiva por Uma iniciativa pioneira destas comunidades
decisão judicial. Atualmente está sendo construída étnicas é a retomada, pesquisa e ensino do Tupi. Esse
uma sede para a ARIPPOC na Aldeia São José, reencontro com sua língua ancestral ganha dimensões
retomada de terra localizada na periferia de Crateús. significativas, pois a partir dele se inicia um processo
de (re)apropriação e decodificação de várias palavras
Entre os Potyguara em Monsenhor Tabosa, foi
oriundas do Tupi que ainda são presentes no
através da luta por uma educação diferenciada que
vocabulário de toda a comunidade. Um traço cultural
emergiu o processo de auto-afirmação étnica.
que liga as gerações contemporâneas a um passado
Iniciando-se na aldeia Mundo Novo, atingiu diversas comum que permanece e atua como sinal diacritico de
famílias. Prova concreta do nível de organização e diferenciação e afirmação étnica.
solidariedade existente entre os índios em Monsenhor
Tabosa é a reivindicação pela demarcação de uma
faixa contínua de terras para as etnias locais. A união e
o apoio mútuo são traços significativos dessas
comunidades. Exemplo representativo disso encontra-
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Os Tabajara que vivem em Crateús são
Tabajara provenientes das serras vizinhas, principalmente a
serra da Ibiapaba, e tiveram que migrar para a periferia
Municípios: Crateús, Monsenhor Tabosa, Poranga, da cidade, foragidos da opressão exercida pelos
QuiterianópoUs e Tamboril fazendeiros que invadiram suas terras. Dividem-se em
Comunidades: 1) Poranga: Imburana e Cajueiro; 2) sete comunidades. Recentemente, um grupo de 15
Crateús: Terra Prometida, Vila Vitória, Nova Terra, (quinze) famílias dos Lira, migrou para a cidade de
Terra Livre, Altamira, Planahina e Nazário; 3) Quiterianópolis, onde encontraram melhores
QuiterianópoUs: Fidélis, Vila Nova, Croata e Vila condições para viver, de acordo com seus costumes
Alegre; 4) Monsenhor Tabosa: Olho D'água dos indígenas. Ficaram conhecidos como os Tabajara de
Canutos; 5) Tamboril: Grota Verde. Fidélis. Nesta mesma cidade encontram-se mais 3
Famílias: 550 (três) comunidades Tabajara: Vila Nova, Croata e Vila
Situação da Terra Indígena (TI): T I com estudos Alegre, todas na área rural.
preliminares feitos pela FUNAI. Em fevereiro de 2004. os Tabajara de Crateús
conseguiram, através de sua luta. retomar cerca de
" Se vivemos hoje ria cidade a culpa não é nossa. Foi a 6.000 hectares de sua terras que ficam na serra da
única opção que tivemos em nossas vidas"
Ibiapaba. O local é chamado de Nazário e lá estão
(Francisca Lira - liderança Tabajara de Fidélis)
residindo cerca de 10 famílias, entre Tabajara e
Kalabaça, enquanto aguardam a delimitação e
Os Tabajara possuem uma história de
demarcação da terra.
sucessivas migrações, devido a constantes conflitos de
Em Monsenhor Tabosa se encontra a
terras. Têm como lugar de forte influência espiritual a
comunidade Tabajara de Olho d' água de Canutos, há 4
furna dos caboclos, localizada na serra de Monte
km desta cidade. São 13 famílias residindo na região.
Nebo, em Crateús. Nesta localidade encontram-se
Em 1973 a família Canuto, liderada por Seu José
registros da ancestralidade indígena, tais como
Canuto, comprou 74 hectares de terras onde antes
pinturas rupestres e artefatos arqueológicos:
viviam como moradores. Organizam-se através da
cachimbos de barro, pilões de pedra, dentre outros.
Associação Unidos Venceremos do Povo Tabajara de
Segundo relatos orais, no século X I X houve um
Olho D'água de Canutos, que se reúne no salão
grande massacre de índios naquele local, decorrente
comunitário da Escola Indígena da comunidade. Em
de um conflito com fazendeiros.
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Tapeba
Tamboril existe a comunidade Tabajara em Grota
Verde, a 35 quilómetros da cidade. São 25 famílias que
Município: Caucaia
se organizam através de uma associação sob a
Comunidades: Água Suja, Bom Jesus, Capoeira,
liderança de Agno Tabajara. Atualmente, sofrem
Capuan, Cigana, Itambé, Jandaiguaba, Jardim do
constantes ameaças por parte de fazendeiros, fato que
Amor, Lagoa I , Lagoa 11, Lameirão, Mestre Antônio,
tem limitado suas ações políticas.
Ponte I , Ponte I I , Sobradinho, Trilo, Vila dos
Os Tabajara de Poranga residem na Aldeia
Cacos, Vila Nova.
Imburana, que fica próxima à cidade e também na
População: 5.500 pessoas
Aldeia Cajueiro, distante 38 quilómetros de Imburana.
Situação da Terra Indígena (TI): Terra Indígena
Esta aldeia, de 4.400 hectares, foi fruto de uma
delimitada e identificada. Aguarda respostas às
retomada, sendo hoje habitada por 9 famílias, entre
contestações.
Tabajara e Kalabaça e igualmente aguardam a
regularização da terra indígena.
O povo Tapeba foi a primeira etnia indígena a
Entre suas instituições, existem o Conselho
I "levantar a aldeia" no nosso Estado. Após anos
Indígena dos Povos Tabajara e Kalabaça de Poranga -
utilizando a estratégia do silenciamento étnico como
CIPO, importante instrumento de organização e luta, a
forma de se resguardarem de perseguições,
Associação de Mulheres Indígenas Tabajara e
estereótipos e preconceitos diversos, no início da
Kalabaça (AMITK) e a Escola Diferenciada Indígena
década de 1980 eles decidiram, com o apoio da
Arquidiocese de Fortaleza, assumir uma nova forma
de resistência: a afirmação de sua identidade étnica.
Ao romper o silêncio, eles desafiaram não apenas os
posseiros e políticos locais, que há anos invadiram
suas terras ancestrais, assim como a própria história
oficial que afirmava não haver mais índios no Ceará.
R e s u l t a d o de u m p r o c e s s o de
desterritorialização e desagregação cultural
implementado pelos colonizadores aos contingentes
indígenas originários, os Tapeba descendem de outras

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quatro etnias (Tremembé, Potiguara, Kariri e Jucá) Entre as principais organizações das
que foram reunidas no antigo aldeamento de Nossa comunidades Tapeba, citamos a Associação das
Senhora dos Prazeres, atual município de Caucaia. Comunidades dos índios Tapeba de Caucaia-ACITA,
O topónimo Tapeba é oriundo da língua Tupi- responsável por conduzir a luta política e mobilizar
Guarani e significa Pedra Chata, em referência à internamente as aldeias; a Associação dos Professores
existência de uma grande e misteriosa pedra sagrada Indígenas Tapeba - APROINT e a Associação
localizada na lagoa de mesmo nome, que guarda, em Indígena Tapeba de Cultura e Esporte - AINTACE.
suas águas, encantos, histórias e mitos. Os Tapeba mantêm um intenso calendário de
Os Tapeba têm como principais atividades de atividades durante o ano, organizado através de
subsistência o cultivo de milho, feijão, mandioca, parcerias entre suas diversas associações e
macaxeira, batata, jerimum, maxixe e quiabo. comunidades. Já em janeiro, iniciam-se as
Coletam frutos de época como cajá, goiaba, manga e experiências para saber se o inverno será bom,
caju, do qual se fabrica uma bebida sagrada utihzada preparando o solo para o início do plantio, que se dá
em rituais, chamada mocororó. Também é comum a em fevereiro. Em abril, cornemoram a semana do
caça, a pesca e coleta de crustáceos como caranguejo, índio e a fundação da Escola índios Tapeba, pioneira
siri, cié e o uruá. A partir de materiais retirados do na educação diferenciada no Ceará. Em julho,
ambiente, como o barro, sementes, madeira, quenga acontecem os Jogos Indígenas Estaduais, que reúne
de coco, tucum e palha de carnaúba, produzem um todas as etnias, e dá-se o início da extração da palha da
artesanato rico e variado: cocares, adornos diversos, carnaúba. Em agosto, é realizada a Feira Cultural do
panelas e artefatos. Povo Tapeba, os Jogos Indígenas Tapeba e o ritual de
purificação das crianças. Em setembro, se inicia o
O fortalecimento da articulação e organização
preparo das terras para plantio e colheita da mandioca;
interna das comunidades lhes garantiu significativas
ocorre a Festa da Carnaúba e o início da fabricação do
vitórias no campo da retomada de terras, na saúde,
' mocororó. Em 03 de outubro comemoram o dia do
educação, meio ambiente, entre outros. Exemplos
i índio Tapeba. Novembro é o mês da Assembleia Geral
dessa luta podem ser observados na criação de escolas
dos Povos Indígenas do Ceará e dezembro é o mês da
diferenciadas e postos de saúde em quase todas as
colheita da mandioca. E neste tempo em que
comunidades; na retomada de territórios ancestrais,
acontecem com mais frequência as Farinhadas,
como o Terreiro Sagrado dos Pau-Branco e, mais
celebração coletiva e confraternização na aldeia em
recentemente, a Capoeira; na construção do Centro
tomo do processo de feitura da farinha de mandioca.
Cultural Tapeba e do Memorial Cacique Perna de Pau.
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Segundo data de sesmaria doada a seus administrativo suspenso pelo Ministério da Justiça,
antepassados, suas terras teriam tamanho de 30 mil em 1996; 3) Queimadas, São José e Buriti: TFs com
hectares. Hoje, apesar de terem suas terras estudos preliminares, através de grupo de trabalho da
identificadas e delimitadas em uma área de 4.658 FUNAI, em 2003/2004.
hectares, em 1993, a demarcação só se efetivou quatro
anos depois. No entanto, a vitória definitiva ainda não I "Teve um (empo que nós para viver precisamos nos
foi conquistada. A homologação e o registro cartorial calar, e, hoje, nós para viver precisamos falar"
das terras, últimas etapas do processo de regularização (Tajé Luiz Caboclo)
fundiária não foram efetuadas. A comunidade aguarda
o fim das contestações judiciais e o remanejamento da Os Tremembé habitam atualmente os
população não-indígena de suas terras. município de Itarema, Itapipoca e Acaraú, sendo
Almofala o seu distrito mais conhecido. Segundo o
Pajé Luiz Caboclo, o nome Tremembé vem dos
Tremembé 'tremedáu', espécie de córrego de lama movediça,
coberto por escassa água. O pajé afirma que a
Municípios: Itarema, Acaraú e Itapipoca resistência dos Tremembé foram os Tremedáu e nos i
Comunidades: 1) Itarema: Almofala - Barro conta que, quando eles eram perseguidos, eriiravam
Vermelho, Lameirão, Panã, Praia, Gamboa da Lama, nesses tremedáu, e como sabiam afundar na lama,
Mangue Alto, Aningas do Mulato, Cabeça do Boi, conseguiam sair cm outra localidade. Os soldados ou
Passagem Rasa, Curral do Peixe, Urubu e Boa Vista; capangas que os perseguiam, porém, não possuindo a
Varjota - Tapera, Batedeira, Praia do Caboré e mesma destreza, afundavam e morriam.
Camondongo; Córrego João Pereira - São José, Os Tremembé são excelentes artesãos: com a
Capim Açu e Cajazeiras; 2) Acaraú: Telhas e palha fazem chapéus, bolsas, unjs e outros; e com
Queimadas; 3) Itapipoca: São José e Burifi. conchas e búzios criam variados tipos de colares e
População estimada: 4.820 pessoas pulseiras. As mulheres fiam o algodão e. em sistema de
Famílias: 690 mutirão, em teares feitos pelos próprios Tremembé,
Situação das Terras Indígenas (Ti's): 1) Córrego produzem redes, roupas, redes de pesca e outros
João Pereira e Telhas: TI regularizada; 2) Almofala: TI artigos necessários à comunidade. Pintam as paredes
d e l i m i t a d a e i d e n t i f i c a d a , com processo de suas casas com tintas feitas do toá - argila natural

44 45
retirada do leito dos rios. Entre os temas sugeridos
•'caboclos", "remanescentes" ou "descendentes" de
estão a representação do mangue, plantas como o
índios pela população circundante. A diferenciação
cajueiro, bichos, paisagens e cenas da vida social c do étnica era reíevada ou minimizada, de acordo com as
ecossistema. Em 2005 foi inaugurado o Centro de Arte situações sociais e disputas locais. Mesmo assim, ao
Tremembé, que concentra gaipos de tecelagem, longo de todos estes anos, os Tremembé conservaram
cerâmica, pintura e serigrafia, sendo este úhimo a produção do mocororó, bebida feita a partir do caju e
formado somente por jovens. utilizada em festas e rituais; e também a sua dança
Devido à açâo dos colonizadores, tiveram seu particular, o Torém, que lhes trouxe diferenciação e
território restringido a 4 léguas em quadro. As terras notoriedade social. Ao longo de seu processo de
onde se localiza o povoado de Almofala, entre os rios organização e mobilização étnica, o Torém tem sido o
Aracati Mirim eAracati-Açu, foram doadas através dc seu principal sinal diacritico e referência de
Carta Régia do Governo Português, datada de singularidade.
08/01/1697, que tinha como objetivo a fixação e a Atualmente, os Tremembé de Almofala se
redução do território dos Tremembé. organizam politicamente através do CITA - Conselho
O Livro de Registro de Terras da Freguesia da Indígena Tremembé de Almofala. Eles disputam na
Barra do Acaracú. que abrange o período que vai de Justiça Federal a posse da terra que pertencia ao antigo
1855 a 1857, inclui 22 registros de títulos de ten-a para aldeamento. Em 1992, o Estado brasileiro delimitou
índios de Almofala, além do registro de uma légoa de uma área de 4.900 hectares, que foi invadida, em parte,
terra quadrada para rezidencia e subsistência dos por posseiros e por empresas.
índios da povoação (18 de março de 1857). Os Tremembé do Córrego João Pereira,
Apresentada pelo Curador dos índios e mbricada pelo Queimadas, Camondongo, São José e Buriti, são
vigário de Acaraú, essa documentação fundiária tem famílias originárias de Almofala. A simação de todas
valor inestimável para os Tremembé, porque foi feita estas comunidades, nos municípios de Itarema,
de acordo com as exigências da Lei de Terras (1850). Acaraú e Itapipoca, é de enfrentamento com ameaças,
São, portanto, inquestionáveis registros de terra, perseguições e invasões de suas terras (especulação
datados do século XIX, ainda que seu território tenha imobiliária, monocultura do plantio do coco,
sido mais uma vez reduzido. empreendimento turístico, carcinicultura e outros).
Desde meados do século XIX e ao longo do Como para os outros grupos indígenas do Ceará, o
século X X , os Tremembé foram tratados como maior desafio para esses povos é a regularização de
suas terras tradicionais.
46 47
Tubiba -Tapuia espécies de locas, pequenas cavernas que trazem
vestígios da presença humana no local, através de
Município: Monsenhor Tabosa pinturas rupestres e artefatos arqueológicos, que são
Comunidade: Pau-Ferro. encontrados constantemente. Na descida da serra
Famílias: 30 existem círculos de pedras, onde, segundo os mais
Situação da terra indígena: foi reahzado estudo de antigos, possivelmente estão enterradas ossadas,
fundamentação, aguardando parecer (TJ. Mundo artefatos, ou mesmo são algum tipo de código deixado
NovoA^iração). pelos seus antepassados, quando migraram em fuga do
lugar, possivelmente para o Maranhão ou para a Serra-
O movimento indígena em Monsenhor Tabosa Grande (Ibiapaba).
conta atualmv^jnte com quatro etnias: os Potyguara, os Os Tubiba-Tapuia reconhecem sua origem
Gavião, os Tabajara e os Tubiba-Tapuia. Os Tubiba- numa índia mateira que ficou para trás. quando a tribo
Tapuia, junto aos Anacé, foram as duas etnias migrou. Apanhada por brancos nas matas, entre as
acolhidas mais recentemente pela Assembleia dos comunidades de Pau-Ferro e Longar, foi obrigada a
Povos Indígenas no Ceará, realizada na Serra do casar-se com um deles, dando origem aos atuais
Nazário, município de Crateús, em novembro de 2006. moradores de Pau-Ferro.
Mobilizados há cerca de quatro anos, o Ativos no movimento indígena e no interior da
etnônimo construído durante o processo de aldeia, as famílias Tubiba-Tapuia, embora não
organização étnica deriva de um tipo de abelha, possuam ainda uma escola indígena, já têm trabalhos
Tubiba, comum na beira do riacho que passa às pedagógicos diferenciados há pelo menos dois anos.
margens da aldeia de Pau-Ferro, local onde hoje Em entrevistas realizadas por educadores da emia com
habitam e que afirmam ser a morada de onde seus os idosos, estes se revelaram de extrema importância
ancestrais foram expulsos por posseiros invasores. na busca do conhecimento acerca do passado da
comunidade.
Segundo tradição oral, descendem de índios
O processo de auto-afírmação, um dos
rebeldes (segundo contam, "tapuias") que situavam-se
primeiros passos na organização étnica, já atinge a
entre a beira do riacho Tubiba e o lugar denominado
maior parte das famílias da comunidade. Amalmente
Serrinha, serrote acima da aldeia Pau-Ferro, onde iam
congregados na Associação Indígena Tubiba-Tapuia
buscar água e alimentos. Até hoje, a comunidade retira
de Pau-Ferro, reúnem-se mensalmente, na luta pelo
água pura e cristalina deste riacho. Na serra, existem
acesso e garantia dos direitos indígenas.
48 49
Outras Referências romperam um véu de medo e silêncio que impera no
lugar e reivindicam alguns lugares como marcos de
Jucá
sua identidade: grutas, cavernas, olhos d'água e as
margens do riacho Jucás. Não são muito assíduos nas
O nome Jucá refere-se a um grupo indígena mobilizações indígenas mais amplas, mas estiveram
localizado nos sertões dos Inhamuns (ao sul e leste de presentes em três eventos, desde 2003, sendo duas
Crateús) no século X V I I I e que teria servido como assembleias regionais dos índios de Crateús e uma
jagunços para a família Feitosa nos conflitos desta audiência pública no MPF em Fortaleza (08 de
com os Montes, que também se serviam de índios nas setembro de 2005).
suas "tropas".
Segundo as narrativas locais os Feitosa Paupina
possuíam grande número de escravos negros sob seu
domínio, decorrendo daí a grande presença negra Notícias do jornal O Povo, datadas de
nessa região do Ceará. Ainda em termos históricos novembío de 2001, fazem referência a um grupo
duas localidades merecem menção no passado da denominado Potiguara da Paupina, ou simplesmente
região: Ameiroz e Cococi. Ameiroz foi povoação de Paupina, que vive no bairro homónimo nos arredores
índios no final do século X V I I I , reunindo os Jucás às de Fortaleza. Paupina é a sede. de um antigo
margens do Rio Jaguaribe, pouco acima de onde aldeamento missionário fundado ainda no século
desagua o riacho dos Jucás. Subindo por este último, X V I I , para catequizar índios Potiguara e Jaguaribara,
fica a "cidade fantasma" de Cococi. Centro do poder nas proximidades da Fortaleza de Nossa Senhora da
dos Feitosas, foi elevada a município no começo do Assunção. Com o passar dos séculos foi elevada à Vila
século X X e se despovoou em virtude dos conflitos de Messejana, recebendo duas datas de sesmarias do
inter e intrafamiliares na década de 1960, sendo Rei de Portugal; Estas sesmarias foram demarcadas e
anexada a Parambu. loteadas no século X I X , dispersando a população
É justamente no município de Parambu e nas indígena em pequenos lotes familiares, em meio à
margens do riacho Jucás que vem se organizando o ocupação dos não-indígenas. As notícias trazidas pelo
grupo indígena com esse nome. Apoiadas pelos índios jornal O Povo comentavam sobre a resistência de um
e missionários da região de Crateús, algumas famílias conjunto de nove famílias do bairro, que esta\am
afirmam serem do povo Jucá. Estas famílias ameaçadas de expulsão de seus terrenos pela
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especulação imobiliária. Estas famílias vinham sendo
acompanhadas pela M i s s ã o T r e m e m b é e
reivindicavam o reconhecimento étnico e a garantia de
permanecer no seu local de moradia tradicional.

Tupinambá

O povo Tupinambá vive nas periferias da


cidade de Crateús, totalizando cerca de 20 unidades
familiares (de acordo com dados da FUNAI, em
2006). Estão concentrados na Terra Prometida, uma
das ocupações indígenas da área urbana, e são filiados
ao CINCRAR, juntamente com os Tabajara e
Kalabaça. Os Tupinambá são todos membros de uma
mesma família, que tem no senhor Severino
Tupinambá, hoje com mais de 111 anos, o seu
patriarca. Seu Severino é originário da Amazónia,
afirma que foi raptado quando ainda criança de sua
aldeia natal e que rodou pelo mundo, vindo se fixar em
Crateús há muitos anos atrás, quando constituiu
família e reconhecimento como curador. Sua trajetória
já foi motivo de reportagem na Revista Istoé N° 1575
de 08 de dezembro de 1999.

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