Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Leonardo Avritzer
DCP/UFMG
Maio 2007
1
A teoria crítica formou a sua base conceitual a partir de diversas polêmicas. Ainda
durante a primeira geração da teoria crítica a polêmica sobre metodologia das ciências
sociais foi de importância seminal para a discussão sobre teoria crítica e método
menos duas polêmicas de peso, uma primeira como Hans Georg Gadamer sobre o
relação entre hermenêutica e teoria crítica (Habermas, ) e uma segunda com Niklas
Luhman sobre o papel dos sistemas no interior de uma teoria da sociedade ( Habermas, )
Nesse momento, estamos vivenciando aquilo que nós poderíamos denominar de uma
polêmica na terceira geração da teoria crítica, uma polêmica que tem repercutido dos
dois lados do Atlântico, uma vez que a teoria crítica há muito ultrapassou as fronteiras
da Alemanha e está fortemente representada nos Estados Unidos desde pelo menos o
começo dos anos 80 (Jay, 1973; Arato,1981). Nessa polêmica sobre o papel do
Habermas (Honneth,) e de outro lado, Nancy Fraser, uma eminente feminista Norte
1
Essa polêmica acabou sendo conhecida como a disputa sobre o positivismo na sociologia alemã, uma
denominação injusta com relação à posição então assumida por Karl Popper cuja melhor definição seria a
de um racionalista crítica. Vide Adorno, 2000.
2
essa polêmica que nos permite localizá-la no interior da teoria crítica é que ambos os
392). Esse constitui na minha opinião o pano de fundo consensual no qual o debate
de que a forma de conflito distributivo desencadeada pelo estado de bem estar social
não e a forma por excelência dos conflitos contemporâneos. Por outro lado, a questão
questão distributiva.
Nesse artigo, iremos examinar a polêmica entre Fraser e Honneth tentando mostrar a
legal enquanto elemento central para uma teoria do reconhecimento. Esse artigo está
dividido em três seções. Na primeira seção tentaremos mostrar a diferente inserção dos
dois autores no interior da teoria crítica e como cada um deles entende de forma
3
favor do reconhecimento chamando especial atenção para a incorporação por Fraser da
política.
Axel Honneth e Nancy Fraser se entendem como autores no campo da teoria crítica e,
ambos entendem a teoria crítica enquanto a tentativa de se estabelecer uma relação entre
conhecimento e ação social. A questão crucial, no entanto, é como situar o peso da ação
social na teoria e como situar a relação entre conhecimento e teoria. Axel Honneth, em
seu primeiro livro de peso, “a Crítica do Poder” tenta recuperar a discussão feita por
Horkheimer acerca dessa questão. Ainda influenciado por Marx e pela idéia de uma
natureza.2 Para Honneth, essa tensão pode ser sintetizada da seguinte forma: “no interior
então, cada sociedade cuja forma organizativa retarda ou não exaure plenamente as
uma retomada de um tema que será caro a teoria crítica, o da plena realização dos
2
Está além dos objetivos desse artigo qualquer avaliação acerca da adequação ou inadequação da forma
de teoria crítica proposta por Horkheimer. Para os objetivos desse artigo, estamos interessados apenas em
avaliar a concepção de teoria presente na obra de Axel Honneth. Para uma avaliação da teoria crítica ,
vide xxx e Avritzer, 1999.
4
potenciais da liberdade, e, ao mesmo tempo, uma inclinação na direção de uma crítica
crítica é um problema de método. De fato, o que ele irá buscar discutir na obra de
social”, ao passo que, no segundo caso, surge um método “...que não é pragmático tal
(Honneth, 1991:12). Assim, não é difícil perceber o que constitui para Honneth o cerne
teoria crítica teria, assim, desde Horkheimer um duplo objeto: a crítica da sociedade
realidade aos atores sociais. No seu centro estaria o abandono, devido ao equívoco
enquanto categoria do conhecimento. Nesse sentido, a idéia de uma relação entre teoria
Nancy Fraser já nos primeiros momentos da sua obra também estabelece uma relação
com a teoria crítica, em particular, em dois dos seus escritos de crítica à obra de
Habermas.3 Apesar de Fraser possuir uma identificação histórica com a teoria crítica,
3
Esses artigos foram “What is critical about critical theory” e “Struggle over needs: outlinee of a socialist
feminist critique of late capitalism political culture. Vide Fraser, 1989.
5
diferentemente de Axel Honneth, sua identificação está ligada não à procura de uma
social. Em seu primeiro texto no qual há uma clara menção à teoria crítica, Fraser deixa
clara sua concepção a esse respeito: “uma teoria social crítica molda o seu programa de
pesquisa e sua armação conceitual com um olho nos objetivos e atividades dos
(partisan identification) ainda que ambas não sejam a-críticas.” (Fraser, 1989: 113).
Nancy Fraser irá identificar o feminismo como o movimento, por excelência da época
moderna e a pergunta que ela irá se fazer é a seguinte: quais são as teorias que ocultam
o problema da dominação de gênero e quais são as teorias que a revelam avaliando por
crítica por Nancy Fraser e que irá aparecer em um outro artigo é sua reivindicação de
cujo surgimento está intimamente ligado à crítica cultural é também um discurso sobre
e que, com o desenvolvimento do estado de bem estar social foram publicizadas. Assim,
até a teoria crítica: Honneth chega pela via da insuficiência da crítica epistemológica de
epistemologia do reconhecimento do outro, epistemologia esta que ele irá buscar nos
escritos do jovem Hegel. Fraser chega pela via do movimento social, mas postulando a
lado, no caso a idéia de necessidade. Esse ponto de partida diferenciado entre os dois
4
Está além dos objetivos desse trabalho abordar a polêmica entre Nancy Fraser e Habermas. Vale a pena
mencionar que ela se centra na questão da diferenciação entre público e privado e nos elementos de
dominação próprios à esfera do privado ignorados pela teoria habermasiana.
6
autores pode ser visto claramente na maneira como cada um deles irá colocar o
Axel Honneth tem um mérito indiscutível na construção de uma teoria crítica adaptada à
Honneth ainda no começo dos anos 90 apresenta os principais elementos da sua teoria
1992), ainda que a palavra status não seja definida no seu pleno conteúdo sociológico
(voltarei a essa ponto ao tratar da abordagem de Nancy Fraser). Além da criação do par
de reduzir cada uma dessas formas de desrespeito à falta de auto- estima do próprio
5
Em um artigo que tem um certo paralelismo com as preocupações desse artigo, João Feres mostrou que
esse problema também permeia a abordagem conceitual de Honneth. Vide Feres, 2002.
7
aparece na abordagem de Honneth, completamente ignorado pelo autor, é que as formas
feminista e dos diversos movimentos pelos direitos de grupos raciais (Patenam, 1989).
apontadas por Honneth. Honneth nos propõe uma tipologia baseado em três categorias,
o amor, o direito e a solidariedade. Essas três categorias cumpririam o papel de ser três
formas de reconhecimento que, por seu turno, seriam a resposta a três formas de
desrespeito. O problema com a homologia das três categorias, é que o amor é uma
categoria do self (Giddens, 1993) ao passo que nem os direitos nem a solidariedade
podem ser considerados categorias do self, mesmo quando esse é pensado nos termos de
reconhecimento em público. Esse equívoco irá permear a obra mais madura de Honneth
sua polêmica com Nancy Fraser. Permitam-me abordar esse aspecto na obra madura do
autor.
Em seu livro “A Luta pelo Reconhecimento”, Honneth desenvolve uma visão mais
reconhecimento. Para tanto, ele volta à obra do jovem Hegel para tentar realizar uma
8
distinção entre duas tradições no interior da modernidade: a tradição do conflito social
(Honneth, 1996:5). Ele encontra no jovem Hegel a crítica à visão hobbesiana do conflito
dessas esferas, Honneth supõe, tal como no seu texto anteriormente abordado, que em
cada uma dessas dimensões ocorre uma dimensão intersubjetiva de reconhecimento cuja
Honneth sobre o contrato social e a sociedade civil. Em sua análise sobre o contrato
social o autor irá afirmar que o contrato exige uma pré-relação de reconhecimento
mútuo sem a qual não são possíveis interações entre os indivíduos (Honneth,1996:42).
Por fim, a sociedade civil tem as mesmas características:as relações legais próprias da
estrutura de direito obrigam que cada sujeito de direito trate o outro como um possível
sujeitos. A questão, no entanto, que irá gerar uma teoria do reconhecimento não é essa
afirmação com a qual é difícil de discordar (Avritzer, 1996) e sim a tentativa de pensar
9
Honneth na parte seguinte do trabalho procura transformar a idéia de reconhecimento
mútuo que ele resgata na teoria do jovem Hegel em uma concepção de reconhecimento
filosofia para uma teoria do reconhecimento como o elemento crucial dessa construção.
Tal passagem é descrita por ele nos seguintes termos: “...o processo de individuação
uma teoria social apenas na medida em que ela possa ser ligada a eventos no interior das
práticas da vida social.” (Honneth,1996:93). Essa será, então, a tentativa que irá guiar o
está presente no reconhecimento do outro nas relações legais. Para o autor, as duas
esferas de interação podem ser vistas como dois tipos do mesmo padrão de socialização
fulcro desse equívoco é a percepção implicita e talvez explícita no texto do autor de que
para a expansão de direitos não é necessário nada mais que uma ampliação ou
Marshall6, Honneth parece argumentar que a dimensão central da expansão dos direitos
6
Está além dos objetivos uma apreciação sistemática da abordagem de Marshall, mas alguns equívocos
na interpretação de Marshall por Honneth parecem evidentes. O primeiro deles é a retirada da perspectiva
do conflito social da teoria Marshaliana. Para Marshall, a cidadania é resultado do conflito e do seu
10
civis, políticos e sociais é uma dimensão epistemológica da aceitação do outro enquanto
afirma que “...a expansão sucessiva dos direitos individuais básicos permaneceu ligada
dos indivíduos pode ser entendida como mais um passo no desenvolvimento da idéia
moral de que todos os membros da sociedade devem concordar com a ordem legal
baseados no seu insight racional... Ao ser legalmente reconhecido, uma pessoa passa ser
(Honneth, 1996:117).
produção da norma (Habermas, 1996) mas interpreta o processo no qual essa construção
indivíduos em uma sociedade concordam com a norma a qual estão submetidos. Isso
não quer dizer que o processo de construção de direitos é um processo consensual. Pelo
processo conflituoso. Sem a ação dos movimentos sociais pela ampliação do sufrágio ou
institucionalizar novos direitos. O que foi consensual nestes processos, na melhor das
hipóteses, foi a aceitação pelo conjunto dos indivíduos que, uma vez institucionalizados,
novos direitos tornam-se imediatamente aceitos pelo conjunto dos membros do estado
nacional. Axel Honneth, ao confundir essas duas dimensões, confunde o processo social
reconhecimento posterior pelo sistema político. Honneth alivia a teoria Marshalliana dos direitos da
primeira dimensão. Vide Marshall, 1977.
11
e conflituoso que leva ao reconhecimento com o processo de consensual de aceitação
dos direitos políticos e sociais. Nesse sentido, não é de surpreender que na tipologia das
conclusão a esse artigo. Antes, porém, gostaria de expor a posição de Nancy Fraser
Nancy Fraser sempre teve uma inserção crítica no interior da teoria crítica (Fraser,
1989; Fraser, 1996). Esse inserção está fortemente marcada por uma preocupação de
longo prazo com a questão da igualdade a partir de uma perspectiva mais claramente
especificamente à distinção entre sistema e mundo da vida, ainda nos anos 80. Para
Fraser, “... a divisão categorial feita por Habermas entre sistema e mundo da vida
integrada tende a exagerar a diferença entre as duas arenas e, ao mesmo tempo, ocultar
12
algumas das suas semelhanças. “ (Fraser, 1989:119). A crítica de Fraser claramente
inspirada no neo-marxismo constitui também o seu primeiro ponto de entrada para tratar
a questão do reconhecimento.
reconhecimento está intimamente ligado ao problema da injustiça e que esta, por sua
vez, tem duas dimensões inseparáveis, uma primeira econômica e a outra cultural e
econômico materiais tem uma dimensão cultural, já que elas se organizam através de
econômico. A autoria vai além e estabelece uma ligação entre o problema da justiça
econômica e estrutura de classe (Fraser, 1996:13). A maneira como Nancy Fraser trata
13
economia política de modo a alterar a distribuição entre as classes dos benefícios e dos
estrutura de benefícios (cut itself a better deal) mas ‘se abolir como classe’. A última
coisa que ele quer é o reconhecimento da sua diferença (grifo nosso).” (Fraser,
solução, qual seja, a de propor uma política de reconhecimento cujo objetivo seja a
abolição final da distinção que gera essa própria política. A solução de Fraser para esse
Para Fraser, é necessário distinguir políticas que tratam da diferença mas não tematizam
o substrato que gera essa diferença e políticas que pretendem corrigir o arcabouço que
gera essas diferenças. Essas seriam as políticas transformativas. Esse marco analítico,
destas identidades quanto o processo de diferenciação de grupos que está por detrás
delas. Soluções transformativas, por sua vez, estão associadas com a desconstrução.
Elas tratam o desrespeito ao transformar a estrutura cultural valorativa por detrás dele.
delas em separado, ela rompe com a própria lógica da teoria crítica de se orientar pelas
14
ações dos movimentos sociais da época. Ao mesmo tempo, ao negar o status específico
das lutas culturais ela perde a possibilidade de relacionar reconhecimento e status legal,
um problema crônico da tradição marxiana (Marshall, 1977;). A solução dada aos dois
transformativas. A nosso ver, esta solução não resolve o problema de Fraser na medida
em que ela não parece em sintonia com os movimentos sociais e culturais ao pensar em
abolir identidades diferenciadas. A obra de Fraser foi bastante criticada por ambos os
aspectos (Young, 1997) levando a uma profunda revisão dos seus fundamentos
problema do reconhecimento.
dentro de um marco liberal democrático, isso é, como uma reivindicação a ser feita por
atores sociais e a ser reconhecida pelos sistemas político e legal das sociedades
modernas. Nesse campo, Fraser se aproxima de Rawls8 pelo menos na maneira como
ela descreve a distribuição como “...uma nova concepção de justiça que justifica a
7
Nancy Fraser publicou diversos artigos entre a versão de 1996 sobre o reconhecimento e a versão de
2003. O principal deles foi no marco das assim chamadas “Tanner Lectures on Human Values”. O artigo
intitulado “Social justice in the age of identity politics: redistribution, recognition and participation”. The
Tanner Lectures on Human Values, Utah, v. 18, p. 1-67, 1998.
8
É correto afirmar que em sua primeira tentativa de tratar o problema da distribuição Fraser menciona
Rawls, Dowrkin e outros autores que propõem tratar da distribuição desde uma perspectiva liberal. No
entanto, ao adentrar o problema da distribuição o seu marco é claramente neo-marxista em especial pela
maneira como ela identifica distribuição com as assim chamadas soluções transformativas. A partir das
Tanner Lectures o marco distributivo de Fraser é baseado no liberalismo distributivista anglo-saxão, em
particular na obra de John Rawls. Ainda assim, quando Fraser menciona os assim chamados paradigmas
populares da distribuição e do reconhecimento ela fala do paradigma de classe. No entanto, ela irá afirmar
claramente que o importante não é a política de classe ou identidade mas a perspectiva de cada uma em
relação aos problemas de justiça. (Fraser, 2003:11).
15
redistribuição sócio-econômica.” (Fraser, 2003:10). A segunda mudança operada por
Fraser diz respeito a questão da relação entre a teoria crítica e o auto-entendimento dos
atores acerca da sua própria ação. Fraser passa a ter como interlocutores os movimentos
categoria weberiana de status legal. Para ela, quando nos tratamos da questão do
status.” (Fraser, 2003:14). Será a partir desta tripla perspectiva que Fraser irá propor
com os dois paradigmas populares (folk paradigm) dos movimentos sociais, o cultural e
Fraser percorre este itinerário em quatro etapas: na primeira ela discute a concepção de
justiça de cada um deles, na segunda ela discute as soluções (remedies) para a injustiça
de cada um deles, na terceira ela aborda cada uma das comunidades que é objeto de
são discutidas por cada um dos grupos. A dualização destes marcos é feita por Fraser
do outro grupo, ainda que na auto-percepção ou no discurso político deles, tal aspecto
não esteja absolutamente claro.9 Assim, no caso das coletividades que lutam por justiça,
9
Vale a pena lembrar mais uma vez que tal estratégia analítica está diretamente relacionada com a idéia
de teoria crítica de Fraser. Neste sentido, as lutas sociais do seu tempo, tal como colocadas na famosa
carta de Marx a Rouge aparecem como inspiradoras da teoria mas não como definidoras de um marco
teórico capaz de aborda-las.
16
Fraser irá mostrar que os atores sociais que reivindicam distribuição argumentarão que
ela está enraizada na estrutura econômica da sociedade, ao passo que os grupos que
lutam por justiça cultural irão mostrar como esta última está enraizada em padrões de
exclusão cultural. O elemento, no entanto, que Fraser irá procurar mostrar é que ainda
que nos encontremos grupos sociais que sofram mais injustiça econômica do que
cultural (por exemplo os trabalhadores explorados do Sul) e alguns grupos que sofrem
mais injustiça cultural que econômica (por exemplo, os homosexuais), que não é a
perspectiva dos extremos que deve prevalecer. Para Fraser, o fundamental não são os
extremos mas o que nós encontramos no meio do espectro político. Para ela, “... quando
nós tratamos uma divisão social que se localiza no meio do espectro conceitual,
encontramos uma forma híbrida que combina características das classes exploradas com
da sociedade, elas envolvem injustiças que podem ser tratadas como [econômicas e
culturais].” (Fraser, 2003:19). Nesses casos para Fraser, o não reconhecimento deixa de
ser uma categoria moral ou de desrespeito e passa a ser um status inferiorizado. Esse
reconhecimento destes atores sociais enquanto “... parceiros participantes da vida social
(participating as a peer).”
17
simultaneamente aos movimentos que lutam por reconhecimento e por distribuição.
que leva ao pleno reconhecimento e que é uma categoria política e social e não uma
categoria do Self. Ele é uma categoria político social porque o reconhecimento exige
mais do que a ação intersubjetiva: ele exige a ação coletiva de movimentos que ao
do reconhecimento.
A polêmica entre Honneth e Fraser é uma polêmica ainda não concluída. No entanto, o
seu acompanhamento nos permite entender os elementos políticos necessários para uma
teoria crítica que não consegue ultrapassar as fronteiras da filosofia moral. Tal distinção
18
despolitiza e “dessocializa” a sua teoria do reconhecimento, que passa a depender
Nancy Fraser é uma teórica com um percurso mais errático no interior da teoria crítica
que tentou por um longo tempo criar um campo do neo-marxismo no interior da teoria
crítica. Esse projeto teve duas fases, uma primeira onde a autora procura estabelecer um
como crítica à própria teoria crítica foi decisivo. Essa fase terminou na crítica as
transformativas no interior de uma teoria da identidade cujo objetivo parecia ser abolir
identidade, Fraser atingiu os limites de uma teoria crítica com base no neo-marxismo.
A segunda versão da teoria de Fraser parece muito mais consistente do que a primeira e
critério para o reconhecimento uma teoria integrada entre justiça cultural e justiça
crítica. Essa relação deixou de estar baseada no neo-marxismo e passou a estar fundada
19
adquirido pelo próprio cientista social parece devolver Fraser a uma tradição genuína de
teoria crítica. É desta tradição que pode surgir a idéia de uma concepção política de
reconhecimento.
direito do estado modeno parece ser o pano de fundo de uma política cultural e de novos
direitos. Esta política pode até eventualmente levar a uma nova visão de auto-estima
baseada no self como sugere Axel Honneth. No entanto, o seu principal elemento não
pode deixar de ser a anulação de um status desprivilegiado pela ação correlata entre
principais de uma pauta de direitos que tem que incluir a reparação de injustiças
correção desta falha que pode surgir ou do diálogo ou da luta social e devem
corresponder a novos direitos cuja institucionalização política é condição sine qua non
para a sua vigência. Em um momento no qual países como o Brasil, a África do Sul e a
Índia passam a implementar políticas afirmativas que buscam reparar danos causados
por uma dominação perversa tanto privada quanto estatal, é fundamental que o
político legal.
20
21
Referências bibliográficas
22