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Com todos seus percalços, vitórias e derrotas, a Revolução Russa foi a mais “universal” da
história, pois não só abalou as estruturas de comando das nações do mundo (como o fez a
“Francesa”), mas alcançou incutir na consciência da humanidade como um todo – particularmente
na de cada classe subalterna, explorada – uma real perspectiva da emancipação. Por trás de cada
“conquista” humana após 1917 – inclusive o efêmero e frágil “Estado do Bem-Estar Social” das
nações mais poderosas –, pode-se ver a ação decisiva de organizações políticas e sociais que a
vitória bolchevique inspirou pelos quatro cantos.
Quanto à nossa América, a Revolução Soviética num primeiro momento parecia ter resolvido,
com seu assalto popular ao poder, a querela do socialismo latino-americano, pois a “social-
democracia” pacifista (pró “aliança de classes” com supostas “burguesias nacionais”) apoiara a
entrada da Alemanha na Primeira Guerra – “nacionalismo chauvinista” que destruiria o país e
desmoralizaria essa corrente. Contudo, com a retração defensiva da URSS, em meados dos anos
1930, as diretrizes vindas de Moscou mudariam o rumo dessa disputa: desde então, foram as
correntes “aliancistas” que prevaleceriam nos PCs.
Hoje, passados todos esses anos, tendo o ser humano provado da experiência aterrorizante da
Segunda Guerra, consequência óbvia da irresolução e ambição desmedida dos vencedores da
Grande Guerra anterior, a impressão – em certa perspectiva histórica – é a de que pouca coisa
mudou. Ao menos em aparência: pois nos subterrâneos dos arranha-céus do capital, a organização
popular se move, ganha solidez, e com isso, mais voz, e consciência, e “vozes” – malgrado a
permissividade da “democracia liberal” para com o fascismo (como costuma ocorrer em tempos de
disputa ideológica aberta, tal qual vivemos).
Quanto aos capitalistas, os “vencedores” do século passado, é bastante nítido que eles nada
aprenderam com todo este processo de “crise” que compõe a “Era da Catástrofe” (como Hobsbawm
se refere à catástrofe quase sem tréguas que foi o século XX). Primeiro, após a Primeira Guerra,
fizeram da Alemanha “terra arrasada”, dando espaço ao surgimento do nazismo, ao propiciarem que
se chocasse o “ovo da serpente”, na esperança de que o capitalismo autoritário de Hitler fizesse o
serviço sujo que as potências da época não tinham forças para fazer (debilitadas pelo processo
bélico): ou seja, destruir os comunistas. Como se sabe, a União Soviética venceria esta guerra (com
todos os méritos e prejuízos inerentes), com o apoio tático discreto dos EUA e de seus aliados
europeus-ocidentais (assustados com as ambições do irracionalismo fascista que semearam).
Mais tarde, com sua vitória contra os soviéticos na Guerra Fria, o capital passaria a “liberar”
novamente as forças fascistas da “caixa de Pandora” neoliberal – como vemos hoje –, mas sem
mudar em absolutamente nada sua estrutura rígida neopositivista, ilógica, sem sentido e destrutiva
(do homem e do planeta) com que continua a reger hegemonicamente a política e a economia
mundial: excluindo imensos contingentes humanos a cada nova “modernização” industrial, e
consumindo as últimas florestas e santuários e águas potáveis em busca de adiar sua crise final (que
oxalá virá antes do colapso final da vida na Terra).
Já a URSS “venceria” a Guerra somente no curto prazo, pois sairia por demais desgastada do
conflito, enquanto seus inimigos se tornaram a superpotência imperialista que passaria a comandar
o mundo sozinha após a derrota soviética na Guerra Fria, em 1991: o franco domínio estadunidense
duraria uma década, a chamada “década perdida” neoliberal.
Aliás, faça-se aqui um aparte para mencionar o questionamento do sociólogo Atilio Borón, quem
põe em xeque essa tão duvidosa coincidência, que une sob o signo da desgraça o destino de tantos
(a maioria!) dos presidentes progressistas da América nas últimas décadas: Néstor Kirchner (câncer
no intestino e problema cardíaco), Lula (câncer na garganta), Fernando Lugo e Dilma (linfomas),
Fidel (estômago), Evo Morales (câncer nasal). Isso se torna ainda mais “estranho”, quando arquivos
do Wikileaks vindos a público dão conta de que um comitê de investigação do senado
estadunidense revelou, já em 1975, que a CIA tinha desenvolvido uma pistola de microdardos
envenenados que causava ataques do coração e câncer, e sem deixar rastros. Imagine-se quanto a
tecnologia pôde se desenvolver desde então.
Mas bem, como se sabe, destes “pré-golpes” escusos, se seguiriam os golpes à luz do dia (em
uma série quase de “suspense”, que será tratada na próxima coluna).
Reformismo lulista e chavista
Em se avaliando o caso de Lula, o caminhar excessivamente lento de suas reformas (causa e
consequência do afastamento do PT de suas bases) levaram ao caos político atual – em que o
presidente, outrora dos mais poderosos do mundo, viu até mesmo sua mulher ser assassinada pela
quadrilha de colarinho (parceria mídia-judiciário).
É certo que Lula não teve a força militar a seu lado, como Chávez – quem com um exército
menos estúpido que o brasileiro, obviamente pode ousar mais. Contudo, Lula teve a seu lado a força
de uma popularidade inacreditável, mas não soube usar politicamente esse momento favorável,
preferindo acreditar na falácia de uma “duradoura” aliança de classes – já desmentida por tantos
episódios históricos. Nada fez contra a Globo-Golpe e outros estorvos à cultura nacional (Veja,
Estadão, Folha, Jovem Pan, Band) que semeiam o ódio, o preconceito e a ignorância geral na
telinha de cada dia das famílias brasileiras.
Como já observaram grandes pensadores marxistas de nossa América, como Julio Mella,
Mariátegui e Caio Prado, por essas terras nunca existiu uma “burguesia nacional”: nossas elites
nativas, mesmo sendo mestiças, sentem-se brancas, querem ser europeias, desprezam o povo, com
quem não se identificam, e preferem comprar as mais recentes inutilidades de luxo, de que adquirir
cultura, estudar ou pensar um projeto “nacional”; seu objetivo último não é a “nação”, mas deixar a
nação.
A Revolução Latino-Americana poderia e deveria ter apreendido essa grande lição de Lenin e da
Revolução Soviética, bem como as reflexões de nossos maiores marxistas: uma “aliança nacional”,
quando necessária, tem de ser “pontual”, visando as reformas mais urgentes (como as voltadas a
quem tem fome); jamais se pode perder as rédeas do processo, ficando nas mãos de quadrilhas da
burguesia, como ocorreu no Brasil com o governo paralelo do quadrilhão do PMDB (este filhote da
ditadura).
Já quanto a Chávez, com o apoio dos militares, conseguiria ir mais fundo. Contudo, sendo ele
mesmo militar, não teve a necessária visão ampla (“totalizante”) de futuro para perceber que não
bastava armar setores do povo, mas era crucial se investir – imediatamente – na diversificação
produtiva, de modo a livrar seu país da dependência da extração petroleira e do comércio
desequilibrado e sujo internacional.
Ambos, ele e Lula, pecaram por um pensamento excessivamente economicista, tecnicista e de
curto prazo; e pela ilusão de que setores da burguesia local teriam a altiva “consciência” de que, em
se desenvolvendo a nação, eles mesmos se desenvolveriam.