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Revista Diálogos Interdisciplinares

2014, vol. 3, n°.1, ISSN 2317-3793

A Divisão do Trabalho em Durkheim, Marx e Weber


Paulo Roberto Alves1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

O presente ensaio tem como objetivo discutir a Divisão do Trabalho nos conceitos de Émile Durkheim,
Karl Marx e Max Weber. Inicia-se com uma breve biografia de cada pensador, as suas contribuições ao
assunto aqui tratado. O ensaio conclui que os três sociólogos colaboraram para os estudos sobre a divisão
do trabalho em que o “tipo ideal” de Weber foi usado por Durkheim e Marx, sem conhecerem e
inadvertidamente, em seus estudos individuais e acentuando que os fenômenos estão envoltos pela
“pluricausalidade” de Weber.

Palavras-chave: Divisão do trabalho. Sociologia. Sociedade.

This paper aims to examine the Division of Labor in the concepts of Emile Durkheim, Karl Marx and Max
Weber. It begins with a brief biography of each thinker, their contributions to the subject matter hereof.
The essay concludes that the three sociologists contributed to studies on the division of labor in which the
"ideal type" used by Weber Durkheim and Marx, ignorant and unwittingly, in their individual studies and
stressing that the phenomena surrounded by "multicausality "Weber.

Keywords: Division of labor. Sociology. Society.

Émile Durkheim (1858 – 1917) 

Nato francês, filho de judeus declarou-se agnóstico. Lecionou em Sorbone e também foi

Professor de Pedagogia e Ciências Sociais de professores do ensino primário na Faculdade

de Letras de Bordeaux entre 1887 e 1902. Considerado um dos pais da Sociologia Moderna

cunhou a afirmação de que “os fatos sociais devem ser tratados como coisas”. Suas

principais obras são: Divisão do Trabalho (1893); Regras do Método Sociológico (1895); O

Suicídio (1897) e As forma elementares da vida religiosa (1912).

1
Mestre em Gestão de Negócios pela Universidade Católica de Santos e Doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. E-mail:
pralves@pucsp.br.
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Durkheim seguiu o Método Empírico de Observar; Classificar; Construir os Tipos e

Leis para cada tipo em então Generalizar para a Sociedade. Ele acreditava que a sociologia

era como uma ciência natural, então, esta sendo um objeto de estudo, pode ser Observada,

Comparada, Registrada, Tipificada, Especificada, chegando a Leis para então Teorizar. Alves

(2010).

Quando estudou a Divisão do Trabalho na Sociedade – “Divisão do Trabalho Social”, o

objeto, o foco de estudo era a Sociedade, afirmou que a “Divisão do Trabalho não é

econômica e sim moral”, uma vez que une as pessoas, gera o sentimento de solidariedade

agindo como um cimento que une os indivíduos. Para Durkheim (1973) solidariedade é um

fenômeno moral e classificou a Sociedade em: Mecânica e Orgânica. A Solidariedade

Mecânica é a sociedade em todos os seus indivíduos fazem a mesma coisa, é o caso de uma

tribo, de uma horda, também, dito por ele como plasma social. Com a evolução e o aumento

deste tipo de sociedade passa a ser classificada como Orgânica, gerando a Divisão do

Trabalho a qual é menos Técnica e muito mais Moral, desta forma, e seguindo o nosso

exemplo um indivíduo se torna cozinheiro e o outro se torna caçador.

Em Durkheim (1973) “A Divisão do Trabalho varia na razão direta do volume e da

densidade da sociedade” – nas sociedades mais simples ocorre pouca ou nenhuma divisão

do trabalho, nas sociedades mais complexas sofisticadas ocorre a Divisão do Trabalho. Nas

sociedades mais desenvolvidas os indivíduos ocupam diferentes posições, uns trabalham

como executivos na indústria, outros preparam estes executivos para o trabalho, outros para

a saúde, segurança e na alimentação das pessoas.

Organicista, Durkheim (1973, p. 337), acreditava que o que era válido para os

organismos era também válido para a sociedade. Então numa sociedade rudimentar -

“Solidariedade Mecânica ou por similitude” onde a personalidade do indivíduo é nula, na

medida em que é absorvida pela mentalidade coletiva, se transforma numa sociedade

sofisticada com a Divisão do Trabalho com personalidade individualizada, assim como


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células se transformam em órgãos. A solidariedade mecânica se dá pela semelhança

enquanto a orgânica sugere a Divisão do Trabalho. Durkheim (1973, p. 372) “...cada um

depende tanto mais estreitamente da sociedade quanto mais dividido é o trabalho, e, além

disto, a atividade de cada um é tanto mais pessoal quanto mais especializada.”

Durkheim (1973), em suas afirmações, e isto inclui a Divisão do Trabalho, aplicou a Lei

das variações concomitantes, desta forma, se o tamanho e a densidade de uma sociedade

variam então também varia a Divisão do Trabalho. “A sociedade cresce então a sua relação

com o meio ambiente muda”.

Karl Marx (1818 – 1883)

Também de origem judaica nasceu no Reino da Prússia e faleceu em Londres. Estudou, por

um ano, Direito na Universidade de Bonn, transferindo-se para a Universidade de Berlim.

Perdeu o interesse pelo Direito voltou-se para a Filosofia sendo um seguidor de Georg

Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831). Procurou detalhar em O Capital (1867-1894), a

origem e o desenvolvimento do Capitalismo.

Os Pensadores Marx e Engels (1979, p.52) desenvolveram um método de explicação da

sociedade, aplicado a história o “Materialismo Histórico e Dialético” – um método para

interpretar a história, acaba com as frases vazias sobre consciência, a qual é substituída pela

sabedoria - com cinco grandes Fatos Históricos, a saber:

1º. Fato Histórico, o Homem é um ser concreto e de necessidade, é um indivíduo real e

tem capacidade de transformar a natureza.

2º. Fato Histórico, ao resolver as suas necessidades básicas ele cria outras necessidades,

criando instrumentos de trabalho e não para de produzir porque não pode parar de

consumir.

3º. Fato Histórico, ao produzir se produz a si mesmo.

4º. Fato Histórico, a natureza se torna historizada por meio do Trabalho e da família.

5º. Fato Histórico, a consciência é determinada pela própria condição da existência. A


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consciência não é um reflexo da realidade.

Materialismo: “o modo de produção da vida material condiciona o processo de vida

social, política e intelectual” Marx (1949, p.82).

Dialética: mostra que nada pode ser compreendido isoladamente, você deve olhar o todo,

analisa os opostos, as contradições e as mudanças constantes, uma vez que todos os

elementos influenciam e são influenciados, por exemplo: Se for proprietário, não é

trabalhador e se é trabalhador, é porque não é proprietário. (ALVES, 2010)

Histórico: Pela dialética Marx explicou os fatos históricos da sua época ao estudar um

fato histórico, conforme a dialética, buscavam os elementos que não eram coerentes e sim

contraditórios, chegando a conclusão de que o modo de produção é que determina “o

processo de vida social, política e intelectual” e não a sua consciência.

Diferentemente de Durkheim que não separa os elementos analisados do seu contexto

empírico, a abordagem científica de Marx é sempre do geral para o específico, por exemplo,

ao estudarmos a economia de um país, devemos começar por sua população, classes sociais,

as cidades, a produção, o que é exportado, importado a composição orgânica do Capital, etc.

O método de análise utilizado por Marx (1979) considera que o cientista deve desconfiar das

aparências uma vez que elas estão “impregnadas de ideologias”, então, o observador deve

partir das aparências, olhar para todo o contexto passado e volta-se para chegar ao concreto.

Desta forma: Tese - Antítese - Síntese (o concreto é o ponto de chegada).

Para Marx (1985, p.267) a Divisão do Trabalho no Capitalismo – a Divisão Social do

Trabalho foi tratada como a Divisão do Trabalho na Manufatura e na Sociedade. Na

manufatura, em busca de uma melhor produtividade (não para atender a necessidade da

população, mas sim para buscar mais valia) o trabalhador de artesão passa a executar uma

parte do produto produzido se especializando numa fração do produto, apenas uma pequena

parte do trabalho, uma vez que a forma de produção assim o exige. O trabalho é dividido em

certo número de etapas que vão depender da complexidade do produto. Aqui existe uma

depreciação da força de trabalho. Marx (1985), afirma que o Capital é capaz de criar uma
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cooperação social complexa, reunindo num mesmo local ofícios iguais e diferentes,

aumentando, assim a produtividade para aumentar o lucro, é a “direção despótica do Capital.”

A Divisão do Trabalho na manufatura não é livre, existe muito rigor e, portanto ela é

opressora. Ferguson apud Marx (1985, p.279) afirmou “estamos criando uma nação de

hilotas e não existem livres entre nós”. Marx (1985) condena toda sociedade que imponha

uma Divisão do Trabalho sem considerar a necessidade de bem estar e de máxima realização

de todos e de cada um dos indivíduos.

A Divisão do Trabalho na sociedade é realizada de forma que sempre existam duas

classes: Dominados e Dominantes, ou seja, Trabalhador e Capitalista. Quem tem o Capital

não é Empregado e se é Empregado é porque não tem Capital, e ela se dá sempre pela

dominação do mais forte, sendo a “base geral de toda a produção de mercadorias” Marx

(1985, p.277). Para o Marx (1985), o que separa as classes é propriedade dos meios de

produção, que se compõem organicamente com o Capital Fixo (máquina e equipamentos) e

Capital Variável (salário e matéria-prima).

Marx (1985, p. 277) observa que no Capitalismo o trabalhador só tem a força do

trabalho, diferentemente do feudalismo onde ele também tinha a posse da terra e tinha

diferentes meios subsistência e diferentes produtos se confrontavam para a troca. “O

intercâmbio não cria a diferença entre as esferas de produção, mas as coloca em relação e as

transformam assim em ramos mais ou menos interdependentes de uma produção social

global”, diferentemente do Capitalismo onde a estratificação social é criada, por

proprietários e não proprietários.

Maximillian Weber (1864 – 1920)

Economista, jurista alemão, também é considerado um dos pais da Sociologia. Com

carreiras nas Universidades de Humboldt (Berlim), Albert Ludwigs (Frieberg), Heidelberg,

na Universidade de Viena e na Universidade de Mônaco. Weber complementa a obra de Karl

Marx, os seus trabalhos contribuíram para a economia e administração, particularmente,


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neste caso com estudos relacionados à racionalização e burocracia. As suas obras mais

conhecidas são A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e Política como vocação.

Para Weber in Alves (2010) existe uma pluralidade de eventos para uma determinada

causa, fenomênico, nós apenas enxergamos, parcialmente, o que o mundo caótico e escuro

tem para nos mostrar. “...assim, todo o conhecimento reflexivo da realidade infinita

realizado pelo espírito humano finito baseia-se na premissa tácita de que apenas um

fragmento limitado desta realidade poderá constituir de cada vez o objeto de compreensão

científica, e de que só ele será “essencial” no sentido “digno de ser conhecido”” Weber

(1982, p. 88).

A ciência para Weber (1982) sempre ocupa uma posição de unilateralidade apesar das

múltiplas faces e que a realidade tem pluricausalidades, quando algo por nós é observado,

estudado é sempre visto como parte de uma realidade muito maior. Na verdade, ainda

afirmava que não é a realidade que se apresenta de uma determinada forma, mas somos nós

que por razões diversas privilegiamos e lemos algumas partes. A realidade, novamente, é

multifacetada, mas nós só lemos uma face, uma parte.

Para Weber (1982, p. 88) os fatos são empíricos, portanto, são observáveis, tem uma

regularidade, repetições e podem ser compreendidos, interpretados. No seu trabalho “A Ética

Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1904), estudou o comportamento religioso do

protestante e identificou o “Ethos”, o Espírito do Capitalismo. Essa ética, retratada nesta

obra, principalmente a asceta, austera e longe dos prazeres mundanos criava empresários

mais agressivos, mais bem sucedidos, mostrando os católicos, menos agressivos e mais

acomodados, com as ocupações tradicionais, portanto gerando a Divisão do Trabalho entre

Católicos e Protestantes.

Weber (2001, p. 81) estudou no Protestantismo quatro movimentos geograficamente

separados, cujas fronteiras de conduta religiosa, as vezes se confundiam dentro de um

protestantismos ascético. O Calvinismo, predominantemente na Europa Ocidental, os seus

seguidores eram os indivíduos mais bem sucedidos economicamente, para eles Deus
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mantinha contato com os sujeitos e o plano Divino não era alterado. Ganhar dinheiro não é

pecado, o pecado está em não acumular, e consumir. Na crença que o demônio ataca quem

está no ócio e, sem saber se o indivíduo era “um” dos eleitos ao plano divino, eles

mergulhavam no trabalho e se tivessem o sucesso poderiam ser “um” dos eleitos. Segundo

Weber (2001) o Calvinista busca sinais da salvação na vida profissional, para sentir se está

predestinado à salvação, enquanto o católico não ousa, não se arrisca.

O segundo movimento, estudado por Weber (2001, p.104), o Pietismo se concentrou na

Alemanha, foi derivado do Calvinismo os seus seguidores tinham mais envolvimento

emocional com atitudes racionais e tinham uma ideia de graça mais forte que a

predestinação. Então, no trabalho, as moças pietistas eram muito mais caprichosas porque

louvavam a Deus.

O terceiro movimento estudado por Weber (2001, p. 111), com representação mais

acentuada na Inglaterra e nos Estados Unidos foi o Metodismo. Os seus seguidores tinham a

crença na salvação pelas boas obras, repousavam na incerteza, mas eram metódicos no

aperfeiçoamento na disciplina, com o intuito de receber a Graça Divina. Emocionais os

Metodistas acreditavam que o perdão tem “hora para acontecer” e as suas obras realizadas

pela Glória de Deus podem bem avaliá-lo.

O quarto movimento, estudado por Weber (2001, p.114), o Batista aconteceu mais

intensamente nos Estados Unidos na crença mais forte que os Petistas e os Metodistas, os

Batistas tinham a crença no Batismo e na Bíblia. O indivíduo se comunica direto com Deus

pela consciência e a revelação é direta ao sujeito, isto é pela ação do espírito Divino do

indivíduo, e apenas desse modo. Desta atitude individual, guiada pela alma tranquila que se

comunica com Deus geram atitudes moderadas e ponderadas nos negócios. Não tinham vida

aristocrata eram dirigidos para posições apolíticas gerando máximas do tipo “filosofia de

vida” e “a honestidade é a melhor política” Weber (2001, p. 119).

Em relação ao capitalismo Calvino foi mais liberal que Lutero, afirmando em Weber

(2001, p. 83) que “Deus dispôs todas as coisas de modo a determinarem a sua própria
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vontade”; “Deus chama cada um para uma vocação particular, cujo objetivo é a glorificação

dele mesmo” e “o comerciante que busca o lucro, pela qualidade que o sucesso econômico

exige: o trabalho, a sobriedade, a ordem respondem também ao trabalho de Deus,

santificando de seu lado o mundo pelo esforço e sua ação santa”.

Weber (1979, p. 149) também estudou a burocracia e percebeu que ela está

“...“normalmente” a serviço da classe dominante”, desta forma a sua função é manter a

ordem comum, auxiliar a assegurar a estrutura estabelecida, ou seja, a Divisão do Trabalho,

e o seu fim significaria o fim da “Dominação Burguesa”. Tragtenberg (1977, p. 139)

complementa que a burocracia para Weber “é um tipo de poder, é igual a organização. É um

sistema racional em que a divisão do trabalho se dá racionalmente com vista a fins. A ação

racional burocrática é a coerência da relação de meios e fins visados”.

Weber apud Lefort (1979, p. 155) elenca algumas características da burocracia moderna

como tipo de organização:

1) as atribuições dos funcionários são oficialmente fixadas por força de leis, normas

ou disposições administrativas;

2) As funções são hierarquizadas, integradas num sistema de mandos, de modo que

em todos os níveis as autoridades inferiores são contratadas pelas superiores, sendo

possível apelar para uma instância superior a propósito das decisões de uma

instância inferior.

3) A atividade administrativa é registrada em documentos escritos;

4) As funções pressupõem aprendizado profissional;

5) O trabalho do funcionário exige uma dedicação completa ao cargo ocupado;

6) O acesso à profissão é, ao mesmo tempo, um acesso a uma tecnologia particular

(jurisprudência, ciência comercial, ciência administrativa, etc.)

Para Weber (1977) a Burocracia é o caráter racional da Divisão do Trabalho, esta

divisão é racional e está alinhada ao objetivo a ser atendido por meio do seu aspecto

funcional, do direito, do poder e das características anteriormente mencionadas. Um


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determinado cargo é ocupado por um integrante com funções e atribuições específicas,

subordinadas a outro cargo, onde as atividades administrativas são formalmente registradas,

e este integrante deve saber quais são as sua atribuições e os limites da tarefa, do direito e do

poder. “A burocracia é um órgão a serviço dos dominantes, situada de algum modo entre os

dominantes e os dominados” Weber apud Lefort (1979, p.157).

Considerações finais

Sola (1972, p. 101) afirma como pressuposto da Metodologia de Durkheim o de que é

possível para o cientista social, enquanto fiel observador dos fatos, desenvolver

interpretações neutras e por isso objetiva e “os descaminhos e erros são considerados como

interferência de uma subjetividade que ainda não foi suficientemente dominada”. Durkheim

não considera a individualidade do observador e as interpretações poderão ser diversas

considerando as experiências anteriores de cada cientista social, para este sociólogo o objeto

se apresenta ao sujeito, para Marx o sujeito interage com o objeto e para Weber o sujeito

observa apenas uma parte do objeto.

Zeitlin (1973, p. 273) afirma que Durkheim apresentou a questão social de uma

maneira totalmente diferente de Marx e esta intenção acabou sendo uma ideologia

conservadora e autoritária, afirmando que o que domina não é uma questão econômica e sim

moral e um “freio” poderia colocar um limite neste estado de desordem. A Divisão do

Trabalho em Durkheim (1973) é apenas uma constatação, por outro lado é ponto de partida

para Marx (1982) em O Capital quando estuda a Divisão do Trabalho. Durkheim observa

que quanto maior a aglomeração, maior é a Divisão do Trabalho e maior é a especialização -

“a divisão do trabalho é justificada a partir de uma razão especulativa: a teoria da luta pela

sobrevivência”. Durkheim apud Sola (1974, p. 106).

Dos três sociólogos aqui estudados, no assunto Divisão do Trabalho, o único que se

preocupou com o desempenho do indivíduo, no Capitalismo, foi Weber, pois ele acreditava

que este desempenho e o sucesso estavam relacionados à religião e no Calvinismo


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encontravam-se os Empresários de sucesso, acumulando, buscando a eficiência, evitando o

ócio e o desperdício, quando comparados ao Catolicismo e outros movimentos. Para Weber

(1971) a religião do Capitalismo é o Calvinismo, a usura praticada por este movimento foi o

que fomentou no ocidente o pensamento capitalista.

Durkheim (1973), entretanto, acreditava que somente o crescimento populacional era o

que gerava a Divisão do Trabalho, quando comparado aos estudos de Weber se mostrou

superficial, pois não qualificou o trabalho realizado, na verdade apenas constatou.

Organicista acreditava que a Divisão do Trabalho é fruto do crescimento populacional e os

trabalhos aparecem sem a identificação ou qualificação de quem faz, como faz, porque faz e

com que empenho e a razão deste empenho. O indivíduo, neste contexto, para Durkheim

(1973), não tem relevância ele não influencia na Divisão do Trabalho.

Para Marx (1982) a Divisão do Trabalho, na sociedade, se dá entre quem tem o Capital

e quem não tem, ou seja, entre Dominantes e Dominados. Marx reponde as perguntas 1)

quem faz? – quem não tem o Capital; 2) porque faz? - para sobreviver, mas como faz, com

que empenho e a razão deste empenho são questões não respondidas pelos estudos de Marx

no Capitalismo. Para o mesmo sociólogo em Zeitlin (1973, p. 274) a divisão do trabalho, na

sociedade, não era uma divisão de funções coordenadas, como pensava o organicista

Durkheim; pelo contrário, era um sistema de desigualdade estrutural. Durkheim apud Zeitlin

(1973, p. 276) via como consequências positivas da divisão do trabalho a troca de serviços, a

reciprocidade de obrigações, a interdependência, etc.

Para Marx (1982) apud Zeitlin (1973, p. 281) a divisão do trabalho, na manufatura,

constituía uma situação na qual o indivíduo não era livre, produzindo uma deformação

mental e física nele, por conta da obrigatoriedade de engajar-se nesta estrutura para

sobreviver, já o sociólogo Durkheim acreditava que alguns indivíduos teriam inclinações

para determinadas “funções” que ele mesmo reconhece como degradantes.

Dos três sociólogos aqui abordados Marx (1982) se apresentou como o contestador,

pois verificou que havia conflito entre as classes e diante das condições de vida do
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trabalhador, numa classe proletariado, dominada e subjugada acreditava que a sociologia não

deveria ficar restrita a análise científica, mas propor mudança social. Para Marx (1982) a

propriedade privada do burguês é que determinava a Divisão do Trabalho e a sobrevivência.

Marx apud Zeitlin (1973, p. 271) considerava que a abolição das classes e dos abismos entre

elas era a condição necessária para a criação de uma verdadeira comunidade humana. Não

podemos deixar de observar que Durkheim (1973) imaginava tal comunidade mesmo

quando se persistiam os abismos.

Weber apud Lefort (1979, p. 157) sustentava que a organização social era sustentada

pela burocracia e que era o quadro adequado para o Capitalismo e a organização da

produção. A sua existência se deve a divisão da sociedade em classes uma vez que a sua

função é o de prevalecer a ordem comum, “em suma, ela é um corpo especial na sociedade,

“especial” porque a sua função é de assegurar a ordem estabelecida e o seu desaparecimento

significaria o fim da dominação burguesa” Weber apud Lefort (1979, p. 149).

“Sem método não há ciência” e estes pensadores não apenas discutiram, como tiveram,

cada um, à sua maneira, um método de abordagem ao estudo aqui apresentado. Quando

comparamos as suas metodologias de abordagens poderíamos comentar que o Tipo Ideal

criado por Weber, onde este sociólogo considerava que a realidade completa jamais poderia

ser alcançada e que toda a verdade era construída parcialmente, uma vez que os fenômenos

são, também vistos parcialmente e o Materialismo Histórico Dialético desenvolvido por

Marx e Engels onde acreditavam que o Materialismos Histórico, ou seja, o modo de

produção ao longo da história das sociedades determinava o modo como a sociedade se

constituía e a dialética que parte da tese, passa pela antítese para chegar a síntese, parecem

mais coerentes, com a nossa realidade, quando comparados com o método de Durkheim que

estudava o objeto como ele se apresentava, esquecendo que o observador pode estar

impregnado de “pré-noções” e incapaz de ser neutro.

Estas diferentes abordagens, sumariamente aqui apresentadas, influenciaram no

resultado dos seus estudos sobre a divisão do trabalho e desta forma encerramos o nosso
A Divisão do Trabalho em Durkheim, Marx e Weber 57

trabalho sumarizando que a divisão do trabalho aos olhos destes três sociólogos se da pela

constatação de Durkheim, onde conforme o crescimento da sociedade, de solidariedade

mecânica para orgânica, onde a sofisticação e a complexidade da sociedade força que ela

passe a dividir o trabalho. Pela indignação de Marx, que estudou a divisão do trabalho na

sociedade e na manufatura, e percebeu que a divisão do trabalho se dava entre dominantes e

dominados na sociedade e na manufatura pela exploração tirânica da mão de obra, onde os

artesãos passam a executar apenas uma fração do seu nobre trabalho. Já para Weber que

estudou o indivíduo no “ethos” do Capitalismo e percebeu certas tendências conforme o

movimento religioso, além de perceber que a burocracia estava a serviço da classe

dominante, auxiliando também a divisão do trabalho entre dominantes e dominados.

Sem dúvida os três sociólogos muito colaboraram para os estudos sobre a divisão do

trabalho onde o “tipo ideal” de Weber foi usado por Durkheim e Marx, sem saberem e

inadvertidamente, em seus estudos, isto é focos diferentes de abordagens, mostrando,

individualmente, as suas verdades e acentuando que os fenômenos estão envoltos pela

“pluricausalidade” de Weber.

Referências Bibliográficas
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