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Universidade De Brasília

IPOL – Instituto De Ciências Políticas


Introdução à Ciência Política

Análise Política Sobre A Paralisação Dos Caminhoneiros De 2018


– ICP

DISCIPLINA: Introdução à Ciência Política


TURMA: B
ALUNAS: Natália Teixeira Borges Sarina e Lorrane Alves Ribeiro
Diante de uma das principais crises do governo Temer (a paralisação dos caminhoneiros),
podemos realizar uma análise política sobre o tema, traçando paralelos entre os textos e
conteúdos expostos em aula e a realidade da paralisação dos caminhoneiros de 2018. Para
isso, será necessário expor algumas informações sobre a greve para que possamos realizar de
forma adequada sua análise política.

A paralisação dos caminhoneiros surge em meio à sucessivos reajustes no preço dos


combustíveis. Neste cenário, os motoristas de caminhão passaram pleitear pelo fim da
cobrança de impostos como o PIS e Cofins sobre a matéria-prima de produção dos
combustíveis, pela suspensão do Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico)
acerca do Diesel e pela alteração da política de reajustes dos combustíveis.

A paralização se iniciou liderada pela CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores


Autônomos) que acionou os caminhoneiros à participarem efetivamente da paralisação. Neste
sentido, podemos perceber a importância do chamado efeito de difusão no movimento dos
caminhoneiros. Fundamentada pelos madrugadores, a paralisação ganhou grandes proporções
em todo o país, trazendo apoio e visibilidade para o movimento, o que, segundo Tatagiba
(2014), é a peça-chave de um protesto.

A característica-chave dos ciclos de protestos é o efeito de difusão da ação coletiva


dos setores mais mobilizados (os “madrugadores”, que iniciam o ciclo) para outros
grupos e para seus antagonistas.

Outro elemento importante nos protestos, e também destacado por Tatagiba (2014), é a
presença de símbolos nacionais na paralisação. Durante diversas reportagens fomos capazes
de observar o uso de bandeiras e demais símbolos que faziam referência à nação brasileira.
Este fato está atribuído também ao não envolvimento partidário dessa manifestação, que
procura se legitimar utilizando-se de aspectos comuns entre o povo brasileiro para ganhar
empatia dos demais grupos da sociedade, visando um bem comum não só da coletividade dos
caminhoneiros, como também da sociedade brasileira como um todo.

Assim, o movimento dos caminhoneiros possui grande semelhança com as Jornadas de Junho
que ocorreram em 2013, tendo em vista que a mobilização dos caminhoneiros também não
estava determinada com bases partidárias, assim como foi destacado por Tatagiba (2014) no
trecho abaixo, sobre as Jornadas de Junho, retirado de seu texto:

TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no Brasil.
2014, p.48
Nas Jornadas de Junho, não apenas a infraestrutura de mobilização esteve assentada
em outras bases, sem qualquer papel efetivo dos partidos no recrutamento e
organização das mobilizações, como também cresceu de forma inédita o nível de
hostilidade em relação à presença dos partidos e dos militantes partidários nos
protestos.

Além disso, um aspecto interessante neste protesto e que consolida o ponto de vista da Elisa
P. Reis (2000) abordado em seu texto, seria o fato de como essas manifestações alcançaram o
apoio da elite, que se materializa nos donos de postos, empresários do ramo e acionistas em
empresas de produção de combustíveis. Isso ocorre, pois a autora acredita que entender a
visão das elites pode ajudar em aspectos tais como a redução das desigualdades. Com o apoio
da elite, os caminhoneiros ganharam ainda mais força em suas reivindicações que, sanadas, se
torna um passo ainda maior para a diminuição da desigualdade social no País.

Reconhecer a importância das elites também não significa negar a importância dos
demais atores sociais. O comportamento das elites é, em grande parte, reativo às
pressões e ações vindas de baixo. Com quer que seja, a maneira como as elites
reagem, suas ações e inações são aspectos centrais quando se quer entender a
dinâmica das desigualdades e/ou identificar maneiras de combater a pobreza e
reduzir as desigualdades. (REIS, 2014, p. 144)

Um ponto importante neste estudo, é a grande proporção que o movimento ganhou, gerando
impactos na vida de todos os cidadãos, que se viram ilhados por conta da falta de
abastecimento no país provocada pela paralisação. O desabastecimento de comida, a
suspensão das entregas pelos Correios, os cancelamentos de voos nos aeroportos e a escassez
dos combustíveis fizeram com que as grandes elites se sentissem pressionadas em encontrar
um acordo para que houvesse o fim da paralisação. Isso é muito bem retratado pela autora
Reis (2000) em seu texto, quando a mesma declara que em situações onde a proteção
individual não se torna suficiente, as elites acabam descobrindo a necessidade de soluções
coletivas (REIS, 2000, P.144).

Com isso, o governo se viu obrigado a tomar atitudes quanto a estes fatos e cedeu aos pedidos
realizados pelos caminhoneiros. Ficou decidido, em acordo com os caminhoneiros, os
seguintes ajustes por parte do governo: isenção da cobrança do eixo suspenso dos pedágios; a
garantia de um período de no mínimo 30 dias para reajustes; redução de R$ 0,46 no preço do
óleo Diesel nas refinarias, o que corresponde aos valores de PIS e Cofins; garantia aos

SCHMITTER, Philippe C. “Reflexões sobre o conceito de política”. Apud: Cadernos da


UnB, 1984, P. 36.
caminhoneiros autônomos 30% dos fretes da Conab e uma tabela mínima de frete, conforme
previsto na PL 121.

Mediante o referido acordo firmado, pode-se iniciar a analise quanto ao posicionamento do


governo frente á paralização dos caminhoneiros. Ocorreram falhas de monitoramento quanto
á força dos protestos, bem como houve lentidão quanto a execução das tratativas relacionadas
as negociações e medidas contra as obstruções das rodovias. A reunião realizada com os
representantes dos caminhoneiros, que tratando-se de quantidade e vinculo, de acordo com os
grevistas, os mesmos não representavam a maioria dos caminhoneiros, ocasionando a
sensação de falsa representatividade. Sendo que o governo publicou e as mídias veicularam as
medidas decididas na referida reunião, provocando a insatisfação dos grevistas e despertando
a tenacidade de outros grupos sindicalistas. A condução dos fatos, medidas e iniciativas
tomadas pelo presidente elucida o exposto por Weber (1993, p.123), onde o mesmo declara
que a politica deve ser utilizada com senso de proporção, cultivando a fraternidade de homem
para homem, entregando-se com simplicidade ao trabalho cotidiano.

De acordo com Weber (1993, p.121), a politica deve ser feita com o cérebro, contudo torna-se
indispensável que ela não seja feita apenas com o cérebro. Cabendo assim, aos partidárias a
ética da convicção, mas ao contrario das manobras realizadas pela presidência mediante as
manifestações dos caminhoneiros, não caberia de acordo com o autor, recomendar atuações
com base na ética de convicção ou de responsabilidade para com os sindicalistas, que nesse
caso, compreendem-se também como os manifestantes. Insta salientar que Weber (1993)
define que:

Perderá tempo quem busque mostrar, da maneira a mais persuasiva possível, a um


sindicalista apegado á verdade da ética da convicção, que sua atitude não terá outro
efeito senão o de fazer aumentarem as possibilidades de reação, de retardar a
ascensão de sua classe e de rebaixa-la ainda mais – o sindicalista não acreditaria.
(WEBER, 1993, p.113)

De acordo com Weber (1993, p.63), os indivíduos exercem ocasionalmente a politica ao


manifestarem desaprovação. Mediante a pauta econômica do movimento, objetivando a
melhoria de vida dessa classe de trabalhadores, é certo afirmar que houve a uma manifestação
de desaprovação contra uma politica de preços. Contudo, Weber (1993), define que o Estado
somente pode existir, sob a condição de que os homens dominados se submetam á autoridade
continuamente reivindicada pelos dominadores. O que remete a decisão por parte do
presidente por acionar as Forças Federais para viabilizar a liberação das estradas após o não
cumprimento do acordo. Sendo assim:

WEBER, Max. Ciência e Politica: duas vocações. Ano: 1993 Editora: Cultrix. p.63, 113-114
A nenhuma ética é dado ignorar o seguinte ponto: para alcançar fins “bons”, vemo-
nos, com frequência, compelidos a recorrer, de uma parte, a meios desonestos ou,
pelo menos, a meios perigosos, e compelidos, de outra parte, a contar com a
possibilidade e mesmo a eventualidade de consequências desagradáveis. E nenhuma
ética pode dizer-nos a que momento e em que medida um fim moralmente bom
justifica os meios e as consequências moralmente perigosas. (WEBER, 1993, p.114)

Verifica-se, como a própria atuação dos atores, que fatos e decisões tomadas na paralisação
dos caminhoneiros atendem aos requisitos para a definição de política e, consequentemente,
permite a análise do evento baseando-se nas definições da ciência política. Conforme exposto
por Schmitter (1965), no que refere-se ao conceito de política, define-se quatro aspectos que
podem definir a política, sendo eles: "instituições", onde existe a representação representado

TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no Brasil.
2014, p.47
REIS, Elisa P. Percepções Da Elite Sobre Pobreza E Desigualdade. 2000, p. 144.
do Estado ou Governo; "recursos", que são utilizados em forma de Poder, Influência ou
Autoridade; "processos", representados pela formulação de decisões; "função", que na política
passa pela resolução não-violenta de conflitos. No caso apresentado, podemos identificar
todos esses aspectos.

Um dos principais atores, sendo chamado de imediato para atender às reivindicações dos
caminhoneiros, é o próprio Governo. No entanto, como o próprio Schmitter (1965) relata, a
definição de Estado e Governo foi revista para uma abarcar outros elementos que não fazem
parte do Estado tradicionalmente. A Petrobrás, empresa estatal e, por isso, influenciada por
decisões governamentais, também é um ator do evento em análise e pode ser vista como parte
do Governo. Apesar de Schmitter (1965) citar três escolas para definição dos recursos, a que
melhor se encaixa no caso apresentado é a Influência, visto que o Governo, por meio de sua
influência, pode agir para solucionar o impasse e terminar com a greve, seja dentro do próprio
Estado para alterações de leis e tributos junto ao Congresso Nacional, seja em uma empresa
estatal diretamente ligada aos preços dos combustíveis, a Petrobrás. A formulação de decisões
está muito clara no acordo realizado entre as lideranças do movimento grevista dos
caminhoneiros e o próprio Governo, na tentativa de encerrar a paralisação. Conforme exposto:

Para nós, a função da Política é a de resolver conflitos entre indivíduos e grupos,


sem que este conflito destrua um dos partidos em conflito. Talvez resolução não seja
a melhor expressão porque implica (falsamente) que a atividade política põe fim ao
conflito. (SCHMITTER, 1965, p.36)

Diante do exposto, a resolução de conflitos dentro de uma sociedade é uma função política. A
paralisação dos caminhoneiros consiste em um conflito existente entre essa classe de
trabalhadores, o próprio Estado e os agentes econômicos que influenciam os preços dos
combustíveis utilizados no transporte rodoviário, principal item da pauta reivindicatória do
movimento grevista. De acordo com os recursos disponíveis e os diferentes interesses dos
atores desse evento, existe o desejo e a vontade de se resolver o conflito apresentado sem
utilizar de violência como ponto inicial de partida, e também não sendo usado como ponto
final.

SCHMITTER, Philippe C. “Reflexões sobre o conceito de política”. Apud: Cadernos da


UnB, 1984, P. 36.
Referencias bibliográficas

CARTA CAPITAL. O que querem os caminhoneiros em greve. Disponível em:


<https://www.cartacapital.com.br/economia/o-que-querem-os-caminhoneiros-em-greve> .
Acesso em: 16 Jun. 2018

ECONOMIA UOL. Veja os sete erros do governo na negociação com os


caminhoneiros. Disponível em:
<https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/05/29/governo-comete-erros-greve-
caminhoneiros.htm>. Acesso em: 17 Jun. 2018

GLOBO. Após a greve dos caminhoneiros, Temer se reúne com Pedro Parente.
Disponível em: < https://g1.globo.com/politica/noticia/governo-faz-proposta-para-
suspensao-da-paralisacao-dos-caminhoneiros.ghtml >Acesso em: 16 Jun. 2018

TATAGIBA, Luciana. 1984, 1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no


Brasil. 2014

REIS, Elisa P. Percepções Da Elite Sobre Pobreza E Desigualdade. 2000

SCHMITTER, Philippe C. “Reflexões sobre o conceito de política”. Revista de Direito


Público e Ciência Politica, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 45-60, mai. 1965. Disponível em
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rdpcp/article/view/59651/5799>. Acesso em:
18 Jun. 2018

WEBER, Max. “A Política como vocação”. Ciência e política: duas vocações. São Paulo:
Ed. Cultrix, 1993

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