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O futuro

da arquitetura
desde 1889

Uma história
mundial

Jean-Louis
Cohen

2013
capa dura com sobrecapa Eventos de lançamento
20,5 x 27 cm no Brasil [ ]
528 pp, 594 ils.
O autor virá ao país em outubro para
Donaldson M. Garschagen lançar o livro no Rio de Janeiro e
Sylvia Ficher em São Paulo (datas a cofirmar), e
João Masao Kamita também dará uma palestra como
R$ 199,00 convidado da Bienal deArquitetura.
A obra do aclamado crítico francês Jean-Louis é um dos mais renomados his-
Cohen é um marco para a historiografia da arquite- toriadores da arquitetura e do urbanismo do século
tura. Trata-se de uma novíssima e alentada história . Nascido em Paris, em , lecionou na Universi-

mundial,
até compreendendo
os dias desde
de hoje, fartamente o final doCom
ilustrada. século
a pre- dade
na Paris e ocupa
Universidade a cátedra
de Nova Sheldon
York. Escritor H. Solowe
articulado
cisão e versatilidade do historiador da cultura, Cohen curador de diversas exposições – responsável pela
aborda tanto projetos e edifícios construídos quanto criação do museu e centro de pesquisas Cité de
a produção teórica, num texto fluente e nada tenden- l’Architecture –, Cohen recebeu, entre outras distin-
cioso em relação à arquitetura moderna – elogiado ções, a Chevalier de l’Ordre des Arts & Lettres, pelo
por autores de outros l ivros de referência, como Ken- Ministério da Cultura da França. Os numerosos ar-
neth Frampton, Adrian Forty e Hans Ibelings. O autor tigos e livros que publicou – como os importantes
trata com igual rigor as arquiteturas predominantes e The Lost Vanguard: Russian Modernist Architecture
as muitas proposições alternativas – seja explorando - ( ), Architecture en Uniforme: Projeter et
os meandros pouco comentados da arquitetura no construire pour la Seconde Guerre Mondiale ( )e
período das guerras mundiais, esmiuçando a influên- Le Corbusier: An Atlas of Modern Landscapes ( )
cia de Le Corbusier ao redor do globo, debruçando- – abordam quase todos os aspectos das transforma-
-se com atenção sobre regiões pouco abordadas ções causadas pela modernização na paisagem ur-
(África, Ásia, América Latina) ou expondo o movi- bana. Seus estudos têm especial foco na vanguarda
mento da arquitetura em direção a suas fronteiras na russa, na obra de Le Corbusier e nos diferentes mo-
obra recente de Gehry, Koolhaas, Nouvel e Herzog & delos de internacionalização – desde a situação co-
de Meuron. lonial no Marrocos e na Argélia até a circulação mun-
dial de formas e conceitos arquitetônicos.
Leia a apresentação à edição brasileira,
texto de orelha escrito pelo professor da
-RioJoão Masao Kamita:

Escrever a história da arquitetura do século no sé- fluência que provocou em arquitetos de diferentes na- desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias, gemonia se torna americana. Para o autor, os limites da
culo tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube ções – isto é, como tal presença foi assimilada, proces- alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar,definição de uma arquitetura dominante no século se
aproveitar. A mais óbvia é a mais import ante: a distância sada, deglutida e eventualmente transformada. É assim inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos veem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem Koo-
histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso que, particularmente, o caso da moderna arquitetura da guerra são aplicados, logo após o término do conflito, lhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para
apaixonado e partidário, nem tampouco contes tador e brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva. em outras esferas da produção industrial, sobretudo a criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto.
recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história habitação e as obras de infraestrutura. Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do
historiador da cultura, buscando flagrar o modo como dos fatos e a história dos debates intelectuais. Por isso, Ao longo do século , o “futuro da arquitetura” foi novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas
a arquitetura se transforma em meio às mudanças radi- analisa não só as obras construídas, mas também os pensado de modo variado por correntes distintas, in- onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada.
cais da modernidade. Por isso, não se pretendeu escre- projetos não realizados, as formas de divulgação para dependentemente de sua coloração ideológica. Toda- O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do es-
ver a história do modernismo arquitetônico – isso seria o grande público e os documentos teóricos produzidos. via, o século que alimentou esperanças no progresso, tado-nação e a fatal crise do urbanismo impuseram uma
dar um caráter de hegemonia a seus princípios ideoló- Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, também nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em
gicos e temporais no século, consubstanciados na ideia transição” – em geral tidos meramente como oco rrên- produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável escala multinacional e em parceria com grandes corpo-
do novo como fator de progressão histórica. cias preparatórias aos grandes eventos e tratados de mortalidade nas grandes guerras. O texto de Cohen as- rações globais nessa realidade aberta e pluralista da
A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir forma rápida na historiografia da arquitetura moderna sinala claramente as diferentes expectativas de futuro: contemporaneidade. Não sem uma leve melancolia, a nar-
de eixos de simultaneidade, no qual as formas predo- – recebem especial atenção. Momentos de revelação uma é projetiva, esperançosa nas novas formas estéti- rativa do século naarquitetura termina com o reconhe-
minantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies, surgem: a importância de Auguste Perret é fundamen- cas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada cimento do abandono exacer bado do compromisso dela
Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas tada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de desconfiada com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os
nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, correm inú- até mesmo a exposiçãoart déco de 1925 é descrita com confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes projetos da modernidade. Afinal, pode um presente existir
meras proposições alternativas, que Cohen trata com isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers e corrosivas imagens do Archigram e de Constant, fun- sem um horizonte de futuro?
igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le Corbu- e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a dadas na imaginação técnica e lúdica.
sier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu arquitetura no período das guerras mundiais – normal- Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo
protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou mente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor pós-modernismo, o livro se detém nos novos centros
a arquitetura perante os desafios da modernidade e as como um momento de aceleração da modernização, em que promovem uma autêntica renovação intelectual d a
várias respostas poéticas que formulou, quanto pela in- que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a he-
“Nesta releitura de uma trajetória messiânica, Cohen as- “Em suma, merece ser considerada a grande referên-
sume o papel do historiador materialista que, como já cia no assunto a partir de agora.”
havia mostrado em outros trabalhos, consegue passar ao
largo dos relatos tendenciosos da arquitetura moderna
aos quais temos sido submetidos. […] Trata-se de um “Este é um livro fantástico. […] Os historiadores anterio-
texto excepcional, erudito, no qual o conhecimento apa- res sempre tiveram uma motivação maior: de um jeito
rece de maneira leve porém muito detalhada, evocando ou de outro, queriam fazer propaganda para a arquite-
para o leitor toda a pungência e vitalidade dos vários mo- tura moderna, ou criticá-la, ou mesmo encaixá-lanuma
vimentos criativos, por mais bre ves que tenham sido.” genealogia; acho que Jean-Louis está fazendo algo um
, autor de História crítica da arqui- pouco diferente aqui. Ele tentou se afastar dessa ten-
tetura moderna dência, adotando uma postura mais plural. Este livro é
uma história da arquitetura do século XX, não apenas
“O futuro da arquitetura desde 1889 é a melhor e mais uma história da aquitetura moderna.”
completa história da arquitetura moderna que surgiu , organizador de Arquitetura moderna
nesta geração. Apesar de não divergir fundamental- brasileira
mente da narrativa que nos é familiar, o olhar de Cohen
vai muito além dos parâmetros comuns do cânone mo- “Outras histórias da arquitetura poderão complemen-
derno.” tar esta, mas dificilmente a substitu irão.”

“Escrever a história é, em boa parte, um processo de pe- “Será que realmente precisávamos de mais uma histó-
trificação do passado, seguido de uma erosão contínua. ria da arquitetura moderna? Evidentemente, Jean-Louis
[…] O valor do livro de Cohen reside na tentativa bem- Cohen responde afirmativamente a essa que stão. [...]
-sucedida de cessar tal erosão, oferecendo pistas para Em meio à tensão que vivemos no mundo hoje, torna-se
possíveis leituras, tanto pelos caminhos mais percorri- cada vez mais necessário compreender de onde viemos
dos quanto pelos menos trilhados. […] Para estudantes e para onde estamos indo, esquadrinhando as infinitas
de arquitetura e história, oferece uma introdução rica variáveis de um passado cuja interpretação monolítica
e densa aos destaques da arquitetura moderna; para carecia de credibilidade e, mais ainda, de utilidade.”
arquitetos e especialistas, essa parte mais conhecida
serve de base para a maior contribuição do livro à histo-
riografia da arquitetura do século : uma expansão do “Uma excelente gramática do modernismo, com os
ponto de vista da história da arquitetura.” insights e digressões que tornam o livro interessante
tanto para conhecedores quanto para iniciantes.”
Leia um dos capítulos de

O futuro da
arquitetura
desde 1889:
Uma história
mundial.
Le Corbusier
411 Unité d’Habitation, corte,
Le Corbusier, Marselha, França,
1946-52

reinventado
e interpretado

Ao escrever ao editor Karl Krämer em 1961, agradecendo o envio andar, srcinalmente abrigava lojas e serviços. O terraço na cober-
das atas da reunião final dos CIAM realizada em Otterlo dois anos tura, do qual se descortina a paisagem da Provença, tem uma pista
antes, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe de corrida e um jardim de infância e reproduz o convés dos transa-
seu lugar no devido tempo”. Porém, ao enviar uma cópia da carta a tlânticos celebrados em seu livroPor uma arquitetura. 2 ≥

Walter Gropius, Jakob Bakema e outros colegas, rabisca nela uma Le Corbusier dimensionou os elementos da Unité utilizando
caricatura de um jovem brandindo a bandeira da “verdade” e piso- o Modulor, sistema de proporções que havia elaborado em 1945
teando as “bobagens” que teriam resultado dos “ trinta anos de tra-tendo por base uma c ombinação da se ção áurea com a altura de
balho” da velha geração de “chatos”.414 E comenta: “Montam sobre uma pessoa “média”: inicialmente 1,75 metro, e depois 1,83 metro.
os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado”.1 No entanto, a gra- Para tanto, apoiava-se nas pesquisas do esteta Matila Ghyka e da

tidão da geração do Team X para com ele ficou evidente nos seus matemática Elisa Maillard, que o apresentara à série de Fibonacci,
projetos, bem menos críticos à obra de Le Corbusier do que ele pró- em que cada número é a soma dos dois anteriores. Em contraste
prio seria no pós-guerra. De fato, ninguém iria se mostrar menos com esse procedimento essencialmente intelectual, as superfícies
“corbusiano” do que Le Corbusier, sobretudo quando surpreendeu rugosas e as marcas deixadas no concreto pelas fôrmas de madeira
seus mais firmes admiradores com as soluções totalmente inespe- e pelas camadas superpostas dos sucessivos lançamentos – devido
radas da capela de Ronchamp ou das Maisons Jaoul. a uma construção demorada e sujeita a restrições orçamentárias –
levaram Le Corbusier a proclamar a beleza do concreto “bruto”.
A Unité d’Habitation Apesar do malogro de seus planos para bairros inteiros deunités no
sul de Marselha, em Estrasburgo e em Meaux, o que o impediu de
A Unité d’Habitation de Marselha (1946-52)4 11 foi a culminação das padronizar os seus princípios gerais, ele conseguiu construir outras
pesquisas iniciadas em 1922 com osimmeubles-villas. Já em 1942, quatro – em Nantes (1948-55), Berlim Ocidental (1955-58), Briey-
no livro La Maison des hommes [A casa dos homens], Le Corbusier -en-Forêt (1955-60) e Firminy (1964-67).
havia formulado claramente o princípio da “unidade de habitação
de tamanho padrão” – ou “cidade-jardim vertical”, conforme um Palácios e casas
de seus paradoxos prediletos. O ministro da Reconstrução e Urba-
nismo, Raoul Dautry, aceitou a sua adoção em um edifício cujos A solução adotada no Museu Nacional de Arte Ocidental, no Parque
apartamentos seriam alugados para acomodar temporariamente Ueno, em Tóquio (1957-59), é outro resultado de suas pesquisas,
desabrigados da guerra. Apoiada em robustos pilotis no interior dos estas empreendidas para o Mundaneum e que prosseguiram no
quais passam as tubulações de água e esgotos, a Unité foi pensada começo da década de 1930 com o Museu do Crescimento Ilimitado.
como um “garrafeiro” de concreto armado, no qual são encaixados O edifício no Japão, cujas vedações são de blocos de concreto nos
os seus 337 apartamentos. Estes vão, transversalmente, de fachada quais os agregados foram deixados aparentes, tem planta quadrada
a fachada e têm sala de pé-direito duplo; o acesso a eles é feito a elevada sobre pilotis. No interior, a espiral de galerias desenvolve
cada três andares por “ruas no ar”, das quais a principal, no sétimo uma promenadearchitecturale contínua que permite a descoberta
412 Maisons Jaoul, Le Corbusier, Neuilly-sur-Seine, França, 1951-55 413 Capela de Notre-Dame-du-Haut, Le Corbusier, Ronchamp, França, 1951-55 414 Caricatura na cópia de uma carta a Karl Krämer, Le Corbusier, 1961 415 Pavilhão Philips, Le Corbusier comIannis Xenakis, Bruxelas, Bélgica,1957-58

progressiva do espaço. Nos museus de Le Corbusier em Ahmeda- A surpresa de Ronchamp protendidos, ancorados em nervuras de concreto em V invertido, e Maxwell Fry, bem como a Pierre Jeanneret, primo e ex-associado
bad (1951-57) e Chandigarh (1964-68), na Índia, são exploradas suporta os painéis de concreto pré-fabricados que formam as veda-de Le Corbusier, por ele recrutado para representá-lo e administrar
versões diferentes do mesmo tema, presente também no Museu do Em contraste com essas obras, todas resultantes de um longo ções de dupla curvatura. O pavilhão abrigava P
o oème electronique, os canteiros de obras. Nos bairros residenciais, as casas de tijolos
Século XX (1965), em Nanterre, projeto encomendado pelo ministro processo de maturação, a Capela de Notre-Dame-du-Ha ut em um inovador espetáculo multimídia, com música de Edgard Varèse foram dispostas em fileiras e ordenadas segundo uma hierarquia
da Cultura, André Malraux, que não chegou a ser construído. Ronchamp, 413 nos Vosges, construída no local da igreja des- e constituído por projeções que alternavam motivos coloridos e implacável, desde as luxuosas residências dos ministros até as
Le Corbusier já havia utilizado abóbadas de concreto e pare- truíd a e m 1 944, foi um choque tanto para seus admirad ores abstratos com imagens de fenômenos naturais, criações populares modestas, mas funcionais, moradias térreas dos funcionários de
des de brita em sua Petite Maison de Week-end [Pequena Casa de quanto para seus detratores. A surpreendente forma escultórica e assustadoras visões tecnológicas. 5 ≥
baixo escalão. 6 ≥

Fim de Semana, 1934-35], em La Celle-Saint Cloud. Nas casas de associa a lógica estrutural das asas de avião com uma metáfora O Capitólio agrupa as principais edificações da capital segundo
André e Michel Jaoul (1951-55),412 em Neuilly-sur-Seine, retomou orgânica – a cobertura evoca uma carapaça de caranguejo, um Aventuras indianas uma composição refinada que evita toda e qualquer simetria, mas
o mesmo motivo, mas com abóbadas de tijolos aparentes. Nessas daqueles “objetos de reação poética” tão caros a Le Corbusier. E joga com eixos a fim de criar relações sutis entre os prédios, apesar
residências, feitas de tijolos, concreto e madeira compensada sem reúne também uma profusão de lembranças: as gárgulas do Palá- Nos últimos quinze anos de sua vida, Le Corbusier viajou duas vezes das grandes distâncias que os separam. Tal composição decorre
revestimento, ele abandonou os interiores espartanos de suas bran-cio de Topkapi, em Constantinopla [hoje Istambul], que ele vira em por ano à Índia para acompanhar a execução do maior empreen-da aplicação de traçados de proporção harmônica e de elementos
cas e gélidas casas da década de 1920, para oferecer ambientes 1911; o Serapeum da Villa Adriana; e a parede com alvéolos da dimento de sua carreira. O governo de Jawaharlal Nehru – que retirados dos jardins mogóis que Le Corbusier visitara no norte da
confortáveis, de cores vivas e providos de lareiras. Os nichos com pequena mesquita de Sidi Brahim, em El Atteuf, que descobrira lançara um programa de criação de novas cidades, como Bhuba- Índia. Muitos detalhes construtivos vieram de suas observações
prateleiras embutidos nas paredes e as janelas que se abrem para no M’zab em 1931. Os peregrinos que sobem a colina de Bour- neswar, projetada pelo imigrante alemão Otto Königsberger – havia da arquitetura tradicional e do dia a dia da Índia. A Suprema Corte
a paisagem e proporcionam abundante iluminação fazem delas lémont em direção a Notre-Dame-du-Haut, como fez o jovem confiado a Corbusier seu único plano diretor que seria realizado. acolhe sob um grandioso pórtico as principais instituições jurídi-
“volumes habitáveis cheios de recursos”, nada tendo a ver com uma Jeanneret ao subir até a Acrópole em 1911, dão primeiro com a Para Chandigarh, a capital do novo Estado do Punjab descrita por cas, suas circulações sombreadas criando uma impressivaprome-
“máquina de morar”, na famosa expressão que ele próprio cunhara. fachada leste da capela, onde se encontra o altar ao ar livre, e logo Nehru como “uma cidade nova, símbolo da independência da Índia, nade architecturale. Em frente, uma ampla esplanada a separa da
Em 1955, o jovem arquiteto britânico James Stirling declara que as com a nave agradável e simples, banhada pelas luzes coloridas liberta das tradições do passado”, Le Corbusier refez um plano Assembleia Legislativa (1955-64),416 cujo salão principal é ilumi-
Maisons Jaoul tinham feito de Le Corbusier “o mais regionalista dos que penetram pelas aberturas que perfuram a espessa parede anterior, elaborado pelo americano Albert Mayer em colaboração nado por um hiperboloide de revolução. Essa forma foi inspirada
arquitetos”. 3 Mas foi longe de Paris, na Í ndia, que ele deu continui- sul. Essa “capela de leal concreto, moldado talvez com temeri-

com o polonês Matthew (Maciej) Nowicki e tendo Clarence Stein nas torres de resfriamento de uma central elétrica em Ahmeda-
dade a essa linha de pesquisa, na residência de Manorama Sarabhai dade, mas certamente com coragem”, 4 conforme a descrição

como consultor. Le Corbusier transformou os bairros residenciais bad e, talvez, na forma piramidal daschambres du tué , um tipo
(1951-55), matriarca de uma das mais poderosas dinastias jainistas que fez em 1955 para o arcebispo de Besançon, integra quatro concebidos pela equipe de Mayer – que rejeitou por considerá-los de enorme chaminé para defumação característico da região do
de Ahmedabad. Concebida como uma série de paredes portantes decênios de experiências, ao mesmo tempo que as transcende “falsos modernos” – em “setores” de 400 metros por 1 200 metros. seu nativo Jura, que causara forte impressão no jovem Jeanneret.
dispostas em paralelo, a casa também tem cobertura de abóbadas, com um gesto inesperado. De grande importância, ele aplicou o princípio das “sete vias”, que Entre o salão e as fachadas, rampas de circulação ascendem por
desta feita apoiadas em vigas de concreto e dispostas perpendicu- O Pavilhão Philips 415 na Feira Mundial de Bruxelas de 1958 – havia concebido por ocasião de um plano para Bogotá, para dife-um espaço sombrio, através de uma floresta de colunas. À dis-
larmente às paredes. O não executado projeto Roq et Rob (1950), cuja estrutura foi projetada por Iannis Xenakis, engenheiro e compo- renciar o traçado de caminhos de pedestres, ruas e avenidas, ajus-tância, estende-se a barra horizontal do Secretariado, on de ficam
em Roquebrune-Cap-Martin, no sul da França – destinado a ser sitor grego então trabalhando no escritório de Le Corbusier – tomou tando ca da um desses tip os a usos e velocidades específicos. A os gabinetes dos ministros. Previsto para dominar o conjunto, o
implantado em uma encosta sobre a cidade –, é mais uma aplicação uma direção inteiramente diferente. A geometria dos paraboloides encomenda que recebera limitava-se ao desenho urbano de con- Palácio do Governador nunca foi construído, mesmo depois de
do princípio das Maisons Jaoul. Recordando estudos feitos ante- hiperbólicos das superfícies do pavilhão foi determinada pelas pro- junto e ao projeto das edificaç ões do Capitólio, o centro p olítico- destinado a um Museu do Conhecimento. O Monumento da Mão
riormente na Argélia, tinha por fundamento a repetição em série de gressões harmônicas de uma peça de Xenakis,Metastasis (1954). -administrativo da cidade. As áreas comerciais, a universidade e Aberta, carregado de sentidos simbólicos, só foi erigido bem

células abobadadas. Sobre uma planta em forma de estômago, um sistema de cabos os bairros residenciais foram entregues aos britânicos Jane Drew depois da morte de Le Corbusier. 7
417 Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Itália, 1962-65

418 Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54
416 Assembleia Legislativa, LeCorbusier,
Chandigarh, Índia, 1955-64 419 ► Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60

Invenção e introspecção de Cannaregio (1962-65), 417 em Veneza, retomou a análise que


havia feito da cidade em 1935, segundo a qual “Veneza tem uma
Tendo visitado mosteiros no Val d’Ema, na Itália, e no Monte Athos, mecânica impecável, um conjunto de ferramentas sábio e correto,
na Grécia, em sua juventude, Le Corbusier havia declarado que a um produto preciso das verdadeiras dimensões humanas”.9 Res- ≥

vida monástica era “heroica”. Quarenta anos depois, o sucesso em peitando a “fisiologia” da cidade, concebeu uma trama ramificada e
Ronchamp lhe valeu uma encomenda dos dominicanos para con-com múltiplos níveis especializados, acessíveis por embarcações,
ceber “um lugar de meditação, de estudo e de oração para os frades que reinterpreta a sua rede decalli (vielas), fondamente (cais) e
predicantes”, que viria a ser o Convento de Sainte-Marie-de-la-Tou-campielli (pracinhas). Falecido em 1965, os esforços para executar
rette (1953-60), 419 em Eveux-sur-l’Arbresle, perto de Lyon. Inver- a obra findaram por ser abandonados. 10 ≥

tendo a figura do claustro do mosteiro cisterciense de Le Thoronet,


ele dispôs os deambulatórios em cruz no pátio central, configurado Maneirismos corbusianos
pelos quatro corpos principais do edifício: a grande caixa da igreja
e, nos outros três lados, os blocos de celas dos frades. Entre eles, Conforme a situação, Le Corbusier sabia como se renovar por
as áreas coletivas incluem o refeitório e a biblioteca abertos para o completo ou reelaborar soluções de trabalhos anteriores e, quais-
declive do terreno. A luz é matéria-prima do convento, tanto quanto quer que fossem, os tipos, temas e texturas que inventava inevi-
o concreto. Canalizada por poços de iluminação, ela é vertida sobre o tavelmente recebiam grande atenção, findando p or frutificar e se
altar da igreja como feixes de raios coloridos. Recortada pelas vidra- disseminar. Como a Unité d’Habitation de Marselha, que, embora
rias dos deambulatórios – que Le Corbusier descreveu como “ondu- enfaticamente criticada por Lewis Mumford e Frank Lloyd Wright,
latórios”, porque o espacejamento das barras verticais dos caixilhos serviu de modelo para um sem número de edificações, nas quais
varia ritmicamente seguindo o dimensionamento do Modulor –, ela sua escala foi em geral modificada, porém sem nunca alcançar sua
modela hora a hora a percepção dos volumes do claustro.8 ≥
complexidade. Os arquitetos do Great London Council estudaram
Tendo redescoberto as virtudes da “planta livre” que conce- a Unité em profundidade e os blocos de apartamentos que realiza-
bera na década de 1920 ao desenhar a Villa Shodhan (1951-56) ram em Roehampton (1959) pretendiam ser reduções de sua tipo-
e a sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis (1951-54), logia. 11 A enorme barra erigida pela equipe de Andrei Meerson

418 em Ahmedabad, Le Corbusier aproveitou a encomenda do à rua Begovaia, em Moscou (1965-78), é uma das muitas varian-
Carpenter Center, da Universidade de Harvard (1958-64), para tes, neste caso com dimensões muito dilatadas; diversos edifícios
retomar o tema da promenade architecturale. Confrontado por de Hansaviertel, em Berlim, também derivam dela. Seu princípio
críticos que se referiam a ele como “o bruto do concreto armado”, básico foi adotado até no edifício do departamento de arquitetura
fez questão de que sua única obra nos Estados Unidos tivesse da Universidade Técnica de Berlim, na Ernst-Reuter-Platz (1965-67),
um acabamento “de extrema elegância e apuro”, tal como a sede projetado por Bernhard Hermkes. A realização da sede da Unesco
da Unesco em Paris (1953-58), de Marcel Breuer, Pier Luigi Nervi em Paris coube a Breuer, Nervi e Zehrfuss, para consternação de
e Bernard Zehrfuss. Convidado a projetar um hospital no bairro Le Corbusier, que pensava que a encomenda seria sua. No entanto,
420 Conjunto habitacional Park Hill, Lewis Womersley, Sheffield, Reino Unido, 421 Siedlung Halen, Atelier 5, Berna, Suíça, 1955-61 422 Laboratórios dafaculdade de engenharia 423 Universidade Simon Fraser, Arthur Erickson, Burnaby, Canadá, 1963-65
1953-61 da Universidade de Leicester, James Stirling
e James Gowan, Leicester, Reino Unido, 1959-63 425 ► Hunstanton Secondary School,Alison e Peter Smithson, Norfolk,
Reino Unido,1949-54

muitas de suas fórmulas foram adotadas – como o pilotis, a planta da cobertura do Secretariado de Chandigarh foram retomados por
livre e o concreto aparente –, às quais Breuer deu uma interpretação Josep Lluís Sert na Fondation Maeght (1958-71),4 24 em Saint-Paul
bem mais leve no edifício principal com planta em Y, contrastando de Vence, e as formas esculturais de La Tourette e de Ronchamp
com a marquise em balanço, as cascas e as paredes pregueadas de inspiraram uma infinidade de projetos em todo o mundo.
folhas de concreto de Nervi.
Em alguns exemplos, uma espécie de combinação da Unité com O brutalismo anglo-americano
os redentes da Cidade de Três Milhões de Habitantes iria gerar ruas
elevadas estendendo-se de edifício a edifício. Este é o caso do con-A terceira modalidade do “corbusianismo” tardio se manifestou
junto habitacion al Park Hill (1953-61),420 em Sheffield, de Lewis independente de qualquer referência à espacialidade dos mode-
Womersley, e do primeiro núcleo do bairro de Le Mirail (1962-72), los srcinais, sendo um fenômeno literalmente superficial, ou seja,
em Toulouse, de Georges Candilis, Alexis Josic e Shadrach Woods. concernente sobretudo às superfícies. As texturas rugosas da Unité
Tais variações, por mais distanciadas que fossem do modelo srci- d’Habitation e de La Tourette, a primeira marcada pelas veias da
nal, reforçavam o fato de que Le Corbusier era o principal inspirador madeira das fôrmas e pelas juntas do concreto, e a segunda reve-
dos densos complexos habitacionais em altura. Incontestavelmente, lando de propósito o granulado grosseiro dos acabamentos, se tor-
seu projeto Roq et Rob serviu de inspiração para aSiedlung Halen naram um dos emblemas da modernidade após a Segunda Guerra
(1955-61), 421 em Berna, do Atelier 5. O conjunto, constituído por Mundial. O novo brutalismo britânico, cuja srcem semântica é um
fileiras de habitações dispostas de forma escalonada em uma tanto confusa – não se sabe se vem de concreto “bruto” ou de Bru-
colina, ao redor de uma pequena praça, teve considerável repercus-tus, o apelido de Peter Smithson em princípios da década de 1950 –,
são por toda a Europa. 12 Na Riviera, as aldeias turísticas erigidas explorou o uso de materiais industriais e a ausência de acabamentos,

em Cap Camarat (1963-65), pelo Atelier de Montrouge, e em Gas- deixando à vista os sinais das fôrmas e do lançamento do concreto
sin (1967-70), pelo Atelier d’Urbanisme et d’Architecture, seguiram e, por vezes, recorrendo também à combinação de componentes
a mesma linha de pesquisa, replicando as mediterrâneas abóbadas discrepantes. 13 A primeira obra que pode ser classificada como

de berço corbusianas. neobrutalist a é a Hunstanton Secondary School (1949-54), 425


Uma segunda modalidade de disseminação de sua arquitetura perto de Norfolk, de Alison e Peter Smithson, que teve como ponto
se deu com a adoção de suas soluções características por inume- de partida o Minerals and Metals Research Building [Centro de Pes-
ráveis arquitetos que as deslocaram, combinaram e deformaram, quisas de Minerais e Metais], de Mies van der Rohe, em Chicago.
tal como os arquitetos maneiristas haviam feito com as composi- A anatomia das edificações da escola – os perfis de aço da estrutura,
ções de Filippo Brunelleschi e Leon Battista Alberti no começo do as vedações de tijolos e de vidro e as treliças do teto – está exposta
século XVI. Inflados ou afinados, os pilotis receberam um sem-fim e serve de pano de fundo para um diálogo entre elementos como
de variações, enquanto obrise-soleil – que Le Corbusier desenvol- lavatórios e radiadores, cujas tubulações também foram deixadas
vera dialogando com os arquitetos brasileiros – se tornou uma espé- aparentes. Amigo dos Smithson, o crítico Reyner Banham viu no
cie de clichê nos prédios do hemisfério sul. Os típicos elementos enfoque deles as premissas de uma “outra arquitetura”, um eco do
424 Fondation Maeght, Josep Lluís Sert, Saint-Paul de Vence, França, 1958-71
428 ► Congresso Nacional,
Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil,
1960

426 Plano piloto, Lucio Costa, Brasília,Brasil, 1956 427 Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960

art autre proposto em 1952 pelo crítico francês Michel Tapié.14 Na



por Auguste Perret e seus contemporâneos desde princípios do possibilitadas pela tecnologia moderna. 19 Ao centro do plano compreende quatro “superquadras”, separadas por curtas ruas

mesma perspectiva de combinar fontes vernaculares e uma esté- século. 17 Mais ao norte, o arquiteto canadense Arthur Erickson

piloto, seu eixo principal leva à dupla vertical do Congresso Nacio- comerciais. 427 As superquadras são conjuntos residenciais con-
tica da técn ica, as residências de James Stirling e James Gowan, empregou o concreto em obras em escala urbana, como o campus nal, que domina o diálogo entre as cúpulas de curvaturas inversas cebidos por Lucio Costa no espírito da unidade de vizinhança, con-
em Ham Common (1955-59), e a ampliação da Cambridge School da Universidade Simon Fraser (1963-65),423 em Burnaby, ou con- da Câmara dos Deputados e do Senado,428ambas pousadas sobre ceito difundido no país por Josep Lluís Sert e Paul Lester no projeto
of Architecture (1957-59), feita por Colin St. John Wilson, retomam tando com elementos simbólicos, como o Museum of Anthropology uma longa plataforma que parece surgir do nada ao termo de uma que realizaram para a Cidade dos Motores (1942-47). Os prédios
a dialética corbusiana do tijolo e do concreto, alterando o equilíbrio de Vancouver (1971-74), que dialoga com os totens dos indígenas leve declividade do terreno, um planalto que domina uma vasta pai- de apartamentos têm seis andares sobre pilotis, altura que corres-
de materiais alcançado nas Maisons Jaoul. da região. 18

sagem tendo um lago artificial como linha do horizonte. Conecta- ponde, segundo Costa, aos imóveis da Paris de Haussmann, porém
Os projetos de Stirling para oscampi universitários ingleses no dos ao Congresso visualmente, o Palácio do Planalto e, à sua direita, sem as ruas no ar de seu arquétipo corbusiano. Flutuando sobre o
começo da década de 1960 continuam a refletir o conhecimento da A epopeia de Brasília o Supremo Tribunal Federal se correspondem com seus pórticos terreno arborizado reservado aos pedestres e agrupados aos pares,
obra de Le Corbusier, mas revelam igualmente uma redescoberta de delgados membros de concreto, nos quais Niemeyer colaborou suas fachadas posteriores estão voltadas uma para a outra, repe-
do construtivismo russo. O edifício de laboratórios da faculdade de Na década de 1950, o maior empreendimento a incorporar muitas com o engenheiro Joaquim Cardozo. tindo com seus elementos vazados a temática do Parque Guinle, no
engenharia da Universidade de Leicester (1959-63)4 22 pode ser das ideias de Le Corbusier foi, incontestavelmente, a nova capital Dos dois lados do Eixo Monumental se sucedem as barras dos Rio de Janeiro. Na periferia dos setores, as fileiras de casas gemi-
interpretado como uma paródia da Bauhaus de Dessau, com cada do Brasil, Brasília, cuja construção teve início em 1956. Nela, seus ministérios. Deles, o Palácio do Itamaraty, abrigando o Ministério nadas parecem ter transportado asSiedlungen de Frankfurt para
um de seus volumes ajustado à sua destinação específica. Con- conceitos foram aplicados em todas as escalas. Eleito em 1955, o das Relações Exteriores, recebeu tratamento especial. Implantado a paisagem tropical. Um sistema hierarquizado de vias reservadas
tudo, o uso que é feito do vidro indica um nível de complexidade presidente Juscelino Kubitschek reviveu a intenção desenvolvida no perpendicularmente em relação aos demais, sua edificação maior – aos automóveis irriga e interliga os setores dessa cidade fundada
inteiramente diferente. As janelas comuns da torre de escritórios século XIX de criação de uma “nova Lisboa”, uma capital no coração notável por seus brises dourados e pivotantes – serve de pano de sobre o transporte individual.
servem de contraponto para as faixas de janelas que iluminam os do país. Selecionado ao cabo de um expedito concurso público, o fundo para um bloco de escritórios e salas de recepção rodeado A nova capital brasileira é inaugurada em 21 de abril de 1960,
laboratórios e para o extraordinário teto de vidro das oficinas, o qual “plano piloto” 426 de Lucio Costa é uma versão distorcida da Ville por um imponente pórtico de concreto. Niemeyer também dese- graças a um canteiro de obras que funcionava 24 horas por dia e
evoca os ritmos das casas operárias geminadas nas proximidades. Radieuse, de Le Corbusier, cujos elementos, condensados ou esti- nhou a Catedral (1959-70), um feixe de dezesseis arcos de concreto onde trabalhavam 60 mil operários. Muitos deles iriam permanecer
Os guarda-corpos e dutos de ventilação atualizam o fetichismo de rados conforme o caso, foram rearranjados em uma figura de base sustentando uma caixilharia de vidro, cuja força se faz sentir assim na cidade, razão pela qual se desenvolveu ao redor do plano piloto
transatlânticos naquele que Banham considerou o primeiro edifíc io que lembra um pássaro. As suas asas consistem em um Eixo Resi- que se acessa o edifício por uma rampa subterrânea que se abre um cordão de “cidades-satélites”, como Taguatinga, Núcleo Ban-
inglês de “classe internacional” depois de muito tempo. 15 Proje- dencial de 13 quilômetros de extensão, cortado por um Eixo Monu-

em um salão de planta circular. Prosseguindo em sua pesquisa deirante, Sobradinho, Planaltina e Paranoá. Com o tempo, o que
tada pouco depois, a Cambridge History Faculty (1964-67) é está- mental de 6 quilômetros que conduz à “cabeça” da ave em forma de formas específicas para cada programa, Niemeyer projetou a deveria ser uma cidade completa e autônoma se tornou o centro
tica apenas em sua aparência. As salas de aula foram distribuídas de triângulo equilátero, onde se concentram os poderes legislativo, dupla linha sinuosa da Universidade de Brasília (1962-71), cujas administrativo e bairro privilegiado de uma grande e espraiada aglo-
em duas alas perpendiculares revestidas de tijolos, no cruzamento executivo e judiciário do país. salas serpenteiam ao longo de uma sequência de pátios. De 1964 meração urbana. A população de Brasília continua profundamente
das quais está localizada a biblioteca, o verdadeiro centro da insti- Esses edifícios foram concebidos por Oscar Niemeyer e, ape- a 1985, quando o Brasil estava sob uma ditadura militar, o arqui- arraigada à cidade, refutando as previsões pessimistas de seus
tuição, coberta por painéis duplos de vidro que deixam aparente as sar do efeito retórico do alongamento de alguns deles, marcam teto deu c ontinuidade a obras previamente aprovadas e perdeu a mais aguerridos detratores. 20≥

tubulações hidráulicas. As áreas de reuniões e de estudo individual uma inflexão em direção a uma produção mais racionalista na sua encomenda do aeroporto da cidade. Passado aquele período, foi
estão associadas em uma dialética visual que reforça a oposição carreira, em um momento em que ele faz uma relativa autocrítica. confiado a ele um grande número de projetos, que adentrou pelo
entre transparência e opacidade. 16 ≥
Lamentando a excessiva “srcinalidade” de suas obras anteriores, século XXI.
Nos Estados Unidos, Paul Rudolph explorou as texturas rugosas o arquiteto declara que estava pesquisando uma maior simplici- Fora da área governamental, cada “setor” – termo usado
do concreto, obtidas pelo jogo dos diversos métodos desenvolvidos dade, na busca das formas “belas, inesperadas e harmoniosas” em Brasília em vez de “zona” – residencial de 12 mil habitantes
Sumário Introdução
O campo ampliado
da arquitetura
10 - Dois limiares no tempo
13 - Um carrossel de hegemonias
14 - A continuidade dos tipos
15 - Historiadores versus arquitetos:
inclusão ou exclusão

01 02 03 04 05 06
O domínio do aço Em busca da forma modernaInovação residencial Descobertas americanas O desafio das metrópoles Nova produção,
18 - Estilo, uma questão de verdade 28 - Por uma “arte nova”, de Paris a Viena
e expressão tectônica 56 - Chicago em preto e branco 70 - Uma explosão urbana
nova estética
19 - A proeminência da École des Beaux-Arts e Berlim 42 - A centralidade da Grã-Bretanha 57 - As invenções de Sullivan 71 - A caixa de ferramentas dos planejadores 82 - O modelo da AEG em Berlim
23 - Os programas da modernização 31 - A Grã-Bretanha após o Arts and Crafts 43 - A reforma da habitação 60 - Wright e a arquitetura das pradarias 71 - Cidade, praça e monumento 83 - A fábrica como inspiração
23 - Os vetores da internacionalização 34 - O art nouveau e o eixo Paris-Nancy 43 - Pela uniformidade da paisagem urbana 63 - Wright e a Europa 76 - O idílio da cidade-jardim 85 - A Deutscher Werkbund
36 - Do floreale italiano ao modern russo 46 - O advento do concreto armado 67 - O arranha-céu migra para Nova York 77 - O zoneamento: das colônias às metrópoles 88 - A mecanização futurista
36 - Renascença e exuberância catalã 53 - Concreto e nacionalismo europeias

07 08 09 10 11 12
À procura de uma A Primeira Guerra e O expressionismo na O retorno à ordem e o Dadá, De Stijl e Novidades no ensino
linguagem: do seus efeitos colaterais Alemanha de Weimar maquinismo em Paris Mies van der Rohe: de arquitetura
classicismo ao cubismo 102 - Uma tríplice mobilização
e nos Países Baixos 124 - Formas puristas e composições urbanas
da subversão ao 152 - A Beaux-Arts e as alternativas
90 - Classicismos anglo-americanos 103 - A difusão do taylorismo 110 - O Arbeitsrat für Kunst 127 - Le Corbusier e a casa moderna
elementarismo 153 - A Bauhaus de Weimar
92 - Nostalgia alemã 103 - Comemorar e reconstruir 111 - Dinamismo na arquitetura 128 - Grandes receptáculos em Paris e Genebra 138 - A explosão dadá 156 - A Bauhaus em Dessau e Berlim
93 - Loos e a tentação da “cultura ocidental” 108 - A recomposição no pós-guerra 117 - O expressionismo hanseático 128 - Perret e o “abrigo soberano” 138 - As formas novas do De Stijl 156 - O Vkhutemas em Moscou
99 - Berlage e a questão das proporções 108 - Os novos arquitetos, entre a ciência 118 - Michel de Klerk e a Escola de Amsterdã 129 - Art déco em Paris 142 - Os projetos de Van Doesburg 161 - Escolas inovadoras pelo mundo
100 - Cubismos e cubistas e a propaganda 132 - Mallet-Stevens ou o modernismo elegante 143 - Oud e Rietveld, do mobiliário à casa
132 - Modernismos franceses 148 - Os projetos teóricos de Mies van der Rohe

13 14 15 16 17 18
Arquitetura e revolução A arquitetura da Relacionamentos Futurismo e racionalismo Uma variedade Modernidades
na Rússia reforma social e espetáculos da na Itália fascista de academicismos norte-americanas
162 - O choque da revolução 176 - Modernizando a cidade
internacionalização 200 - Um segundo futurismo
e tradicionalismos 224 - Frank Lloyd Wright, o retorno
165 - Uma profissão renovada 180 - A Viena vermelha 190 - O cenário das revistas 200 - Muzio e o Novecento 212 - Classicismo literal 231 - Los Angeles, terreno fértil
166 - Condensadores sociais 181 - A nova Frankfurt 191 - Cidades-modelo e exposições em 204 - O fascismo e o racionalismo 214 - Classicismo moderno 232 - A retomada do arranha-céu
171 - Polêmicas e rivalidades 185 - Os conjuntos habitacionais de Taut escala real 207 - As geometrias de Terragni 216 - Persistência do tradicionalismo 236 - Produtos industriais: entre a fábrica
171 - O concurso do Palácio dos Sovietes em Berlim 194 - A arquitetura moderna ganha os museus 208 - Uma “mediterraneidade” ambígua e autocrítica do modernismo e o mercado
186 - Subúrbios franceses 195 - Os Congressos Internacionais de 209 - Novos territórios 217 - Oportunismo sem fronteiras 238 - A reforma habitacional do New Deal
186 - Ecos além-mar Arquitetura Moderna (CIAM) 217 - Uma coexistência por vezes pacífica e a imigração europeia
189 - Equipando as periferias 198 - Redes de influência e narrativas históricas
19 20 21 22 23 24
Funcionalismos e As linguagens modernas Experiências coloniais Arquiteturas de uma Tabula rasa ou horror A crise fatal do movimento
estéticas mecanicistas conquistam o mundo e novos nacionalismos guerra total vacui: reconstrução moderno e as alternativas
240 - O taylorismo e a arquitetura 250 - A derrubada da relutância britânica 272 - Da arabização para a modernização 286 - O front e a retaguarda
e renascimento 310 - O Festival da Grã-Bretanha
241 - Da ergonomia para as dimensões 255 - Modernismos na Europa Setentrional no norte da África 287 - Escalas extremas 298 - Um pós-guerra americano 312 - Neorrealismo italiano
padronizadas 258 - O moderno como marca nacional tcheca 275 - Iniciativas no Oriente e na África 288 - A defesa contra ataques aéreos 299 - Reconstituição literal ou modernização 314 - O planeta Brasil
242 - O funcionalismo poético de Chareau 260 - Os modernos na Hungria e na Polônia 275 - Cidades italianas no entorno do 291 - Técnicas construtivas e destrutivas radical? 318 - Habitação e inovação no norte da África
e Nelson 261 - Personagens dos Balcãs Mediterrâneo 291 - Mobilidade e flexibilidade 301 - A “unidade de vizinhança” como modelo 319 - Os CIAM em tumulto
243 - O funcionalismo dinâmico na França 262 - A modernização ibérica 277 - A modernização da Turquia e do Irã 292 - A arquitetura da ocupação militar 302 - Os tradicionalistas em ação 320 - O fim dos CIAM
e nos Estados Unidos 264 - As pesquisas japonesas 279 - O pluralismo chinês 292 - Imaginando o mundo do pós-guerra 302 - Em busca de um modelo britânico
265 - As curvas brasileiras 283 - Hegemonia do modernismo na Palestina 294 - Convertendo para a paz 303 - Debates alemães
294 - Memória e monumentos 309 - Um triunfo moderno?

25 26 27 28 29 30
Le Corbusier reinventado As formas da hegemonia Repressão e difusão Rumo a novas utopias Entre o elitismo e o Após 1968: uma arquitetura
e interpretado norte-americana do discurso moderno 378 - Itália: a continuidade crítica
populismo: a arquitetura para a cidade
322 - A Unité d’Habitation 338 - A segunda era do arranha-céu 358 - Sete Irmãs em Moscou 381 - Independentes, porém juntos
alternativa 404 - 1968, annus mirabilis
322 - Palácios e casas 342 - Mies, o americano 360 - Exportação do realismo socialista 385 - A tecnologia entre a ética e os ícones 394 - Pesquisa e tecnocracia 404 - A periferia em primeiro plano
324 - A surpresa de Ronchamp 345 - O último retorno de Wright 360 - A crítica de Khruchtchóv 386 - Cidades flutuantes da indeterminação 395 - A crítica de Venturi 405 - A forma da cidade
325 - Aventuras indianas 346 - Pesquisas na Costa Oeste 361 - O prestígio de Aalto 388 - O metabolismo no Japão 396 - Cinzentos e Brancos 408 - Os usuários no comando
326 - Invenção e introspecção 349 - Gropius e Breuer: a assimilação 366 - Novas energias japonesas 388 - As megaestruturas e a agitação global 401 - Do funcionalismo ao advocacy planning
326 - Maneirismos corbusianos da Bauhaus 367 - Latino-americanismos 389 - A tecnologia e seu duplo
330 - O brutalismo anglo-americano 351 - O lirismo de Saarinen e a ansiedade 373 - Arquipélagos de invenção
334 - A epopeia de Brasília de Johnson
352 - A solidão de Louis Kahn
353 - Da experimentação ao comércio

31 32 33 34 35
A temporada pós-moderna Do regionalismo ao O otimismo neofuturista As fronteiras da arquitetura Pontos de fuga
412 - Entre a nostalgia e o lúdico
internacionalismo crítico do high-tech 450 - Gehry, ou a sedução da arte 469 - Geografias e stratégicas 476 - Notas
413 - O “fim das proibições” 424 - Scarpa ou a redescoberta do ofício 438 - O Pompidou estabelece um cânone 454 - Koolhaas, ou o realismo fantástico 469 - Materiais reinventados 492 - Bibliografia
414 - Metáforas de uma urbanidade 426 - O rigor poético de Siza 439 - A composição segundo Richard Rogers 455 - Nouvel, ou o mistério redescoberto 471 - Edifícios sustentáveis 505 - Índice
reencontrada 427 - Esforço coletivo no Ticino 439 - A experimentação segundo Renzo Piano 457 - Herzog & de Meuron, ou o princípio 472 - A cidade renascida, porém ameaçada 526 - Agradecimentos e
417 - O pós-modernismo chega aos 431 - Moneo e as terras ibéricas 441 - A e strutura segundo Norman Foster da coleção 472 - A paisagem como horizonte créditos das imagens
Estados Unidos 432 - A Europa como campo de experimentação 445 - Arquitetos e engenheiros 459 - Desconstrutivistas e racionalistas 473 - Mídias hipermodernas
418 - O front incerto do pós-modernismo 433 - Pesquisas no sul da Ásia 446 - Novas geometrias 463 - Fragmentação e poesia no Japão 474 - Expectativas sociais persistentes
422 - A cidade, composição ou colagem? 433 - Personalidades latino-americanas
434 - Um internacionalismo crítico
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