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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
_____________________________________________________________________

WASHINGTON LUIZ SANT’ANA RIBAS

EDUCAÇÃO E TRABALHO: MELHORIA DA QUALIFICAÇÃO


PROFISSIONAL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
2

LONDRINA
2013/2014
WASHINGTON LUIZ SANT’ANA RIBAS

EDUCAÇÃO E TRABALHO: MELHORIA DA QUALIFICAÇÃO


PROFISSIONAL DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS

Artigo apresentado para o Programa de


Desenvolvimento Educacional – PDE da
Secretaria Estadual de Educação do Paraná
– SEED.

Orientadora Professora: Thais Bento Faria


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LONDRINA
2013/2014
5

EDUCAÇÃO E TRABALHO: MELHORIA DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL


DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Washington Luiz Sant’Ana Ribas1


Thais Bento Faria2

Resumo
O artigo relata sobre a melhoria da qualificação profissional dos alunos da Educação
de Jovens e Adultos (EJA). Atendendo uma das exigências do Programa de
Desenvolvimento Educacional, foi executado o Projeto de Intervenção com os
alunos da EJA do Colégio Estadual Professora Maria Muziol Jaroskievicz, Ensino
Fundamental e Médio, Faxinal-PR. A escolha do tema pautou-se no perfil do
alunado da EJA que na sua grande maioria exerce uma atividade profissional e, pelo
que se observou, são alunos de várias faixas etárias e que procuram as instituições
escolares depois de anos de abandono escolar. Buscou por meio deste artigo
apresentar como as atividades propostas podem contribuir com a formação dos
alunos da EJA por meio de estudo de textos, filmes, visitas, análise da legislação
trabalhista, palestras, debates. Todas as atividades foram realizadas com o intuito
de ajudar o aluno da EJA que, sendo trabalhador e formado pelo trabalho, possa
contar com o espaço escolar para discutir questões relativas ao mundo laboral, e,
deste modo, possa melhorar também sua formação como cidadão.

Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos, Qualificação Profissional e


Formação Para a Cidadania.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a qualificação profissional é uma das exigências do


mercado de trabalho. Vale considerar que a Educação de Jovens e Adultos é uma
modalidade de ensino, na qual a maioria dos alunos exerce alguma atividade
profissional, seja ela, como empregado ou autônomo. E como a escola é uma
instituição formadora deve-se preocupar não só com conteúdos curriculares, mas
também com a qualificação profissional dos seus alunos.

1
Professor da rede pública do Estado do Paraná. Graduado em Ciências Econômicas, pela
Faculdade de Ciências Econômicas de Apucarana. Graduado em Matemática pelo Centro Federal de
Educação Tecnológica do Paraná. Pós-Graduado em Metodologia e Didática do Ensino Superior e
Pós-Graduado em Gestão, Supervisão e Orientação, pela Universidade do Norte do Paraná e
participante do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional).
2
Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Doutoranda em Educação pela Universidade
Estadual de Maringá e Professora orientadora do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional).
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Isto não quer dizer que só resta ao adulto trabalhador apenas uma
educação profissionalizante, a nossa defesa é em fornecer ao estudante da EJA os
conhecimentos científicos historicamente acumulados. E, para isso, podemos e
devemos considerar quem é este sujeito, um trabalhador. Deste modo, abordar em
sala de aula as questões relativas ao trabalho possibilita aproximar aluno-professor,
bem como é um meio de trazer os conhecimentos oriundos do mundo laboral para o
contexto escolar e facilitar o processo de aquisição dos conhecimentos curriculares,
que todos, crianças, jovens ou adultos, temos direito de acessar.
A educação não é um sistema isolado, mas está envolvido com
outros fatores, por isso a melhoria da qualificação profissional deve fazer parte do
currículo escolar, principalmente na Educação de jovens e adultos, pois estão no
mercado de trabalho e também frequentam uma escola e assim é propício associar
as duas ações, estudar e trabalhar.
O objetivo deste é contribuir para a melhoria da qualificação
profissional dos alunos da Educação de Jovens e Adultos, considerando que para
atingir esse objetivo adotou-se a metodologia da pesquisa bibliográfica para se ter
conhecimento do discutido por autores que tratam sobre o assunto e a aplicação de
um questionário para os alunos da EJA com a finalidade de conhecer sua realidade.
No âmbito da área de Gestão Escolar, no nível de Ensino Médio
na modalidade Educação de Jovens e Adultos, em conformidade com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 9394/96) no seu artigo 37 diz: “A
educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou
continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria”.
Diante do que a LDB - 9394/96 assegura ressalta-se a
necessidade de toda uma abordagem pedagógica, incluindo conteúdos,
metodologias e processos de avaliação diferenciados. Portanto, a ideia é que a
escola respeite o perfil do aluno adulto, principalmente no que se refere a sua
formação profissional.
Ainda no artigo 2º da referida lei escreve que: “um dos pontos em
destaque dos princípios e finalidades da Educação Nacional é a qualificação para
o trabalho”. Sendo assim esse projeto se justifica pela necessidade dos alunos da
EJA se qualificar para o trabalho. É esta motivação que impulsiona e explica a
escolha desta temática e deste público.
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Resultante das reflexões deste processo investigativo, este artigo


está estruturado da seguinte maneira: primeiro, a intenção é definir quem é o
sujeito da EJA; no segundo subtópico tratamos da função social da escola, tendo
em vista este público específico, que é o aluno trabalhador; como terceiro item,
abordamos como tema de análise a intervenção pedagógica na escola e, para
encerrar nossa discussão, redigimos algumas considerações finais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Educação de Jovens e Adultos: quem são seus sujeitos?

O ser humano realiza aprendizagens diversas durante toda a sua


vida. O que ele aprende está primeiramente ligado à sua sobrevivência e à da sua
espécie, o que inclui tanto o desenvolvimento biológico quanto às conquistas
culturais. Seu desenvolvimento prossegue com uma transformação contínua,
resultante de sua interação com o meio. Há inúmeros fatores que influenciam no
desenvolvimento é dada pelo meio em que nasce, as práticas culturais que vivencia,
as instituições de que participa e as possibilidades de acesso a informações
existentes em seu contexto. Essa informação apresenta duas importantes questões
para a educação escolar dos jovens e adultos, conforme Valle menciona:
A primeira é que a experiência escolar insere-se em um processo contínuo
de desenvolvimento do sujeito, que se iniciou antes de sua entrada na
instituição. A segunda é que a escola não é um espaço independente de
socialização e aprendizagem, mas um espaço que vem se somar aos
outros nos quais o sujeito transita, os quais de uma forma ou de outra já
imprimiram certas marcas nas formas de atividades, desses sujeitos.
(2004, p. 07)

Desse modo, a experiência acumulada, trazida para a escola, irá


influenciar a inserção do aluno no contexto escolar e terá um papel importante em
seu processo de escolarização. Tal percepção leva ao entendimento de que as
etapas de vida do jovem e do adulto representam um tempo rico de formação. As
dimensões formativas da vida do jovem e do adulto que frequentam os cursos
específicos encontram-se principalmente no trabalho, nas experiências e vivências.
Leal aponta algumas propostas que norteiam as ações educativas
nesse campo:
8

[...] necessidade da continuidade e da institucionalização de programas


educacionais de jovens e adultos; ampliação do atendimento à demanda
de educação de jovens e adultos sob formas diversas e flexíveis; atenção
às especificidades de grupos sociais definidos; promoção de gestões, junto
a órgãos públicos, de planos plurianuais de educação de jovens e adultos e
a busca de uma melhor formação dos educadores, junto às universidades e
aos cursos de magistério (2000, p. 80).

Percebe-se que existem propostas para nortear a educação de


jovens e adultos, buscando uma garantia de continuidade, unidade e qualidade
própria para essa modalidade de educação.
Eiterer e Abreu (2007, p. 14) afirmam que: “a Educação de Jovens e
Adultos é fruto da luta pelo direito ao ensino, pela oferta pública de vagas e pela
continuidade da escolarização”. Diante dessa afirmação reforça-se que com a
Constituição de 1988, a oferta de vagas nessa modalidade de ensino tornou-se
obrigatória e de responsabilidade dos municípios e estados. Novas questões
nasceram a partir das práticas escolares, apontando para a necessidade de se
compreender a escolarização nesta modalidade como direito subjetivo, e da
percepção do sujeito adulto como alguém excluído desse direito, por diferentes
razões, em outras épocas, e não alguém menos capaz que não estudou.
Soares destaca:

A educação de adultos engloba todo o processo de aprendizagem, formal


ou informal, onde pessoas consideradas “adultas” pela sociedade
desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu conhecimento e
aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais, direcionando-as
para a satisfação de suas necessidades e as da sua sociedade. A
educação de adultos inclui a educação formal, a educação não-formal e o
aspecto de aprendizagem informal e incidental disponível numa sociedade
multicultural, onde os estudos baseados na teoria e prática devem ser
reconhecidos (2004, p.208).

Nesse sentido, a extensão da escolarização no âmbito da


Educação de Jovens e Adultos, tem significado, às vezes, ofertar aos alunos jovens
e adultos, o mesmo ensino que se oferece no formato chamado “regular”, quanto a
objetivos, conteúdos e metas, sem se atentar para a diversidade, as necessidades
específicas e a identidade desse público. A questão, portanto, tem sido planejar,
organizar e dar uma nova dimensão a esta escolaridade e à formação dos
professores que atuam nesse campo. A formação desses sujeitos segue, em linhas
gerais, o mesmo modelo de quando eram mais jovens, com referências curriculares
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rígidas e um conteúdo sem significado, distante de seus objetivos de vida, da sua


realidade, de seu trabalho.

Arroyo comenta:
[...] para muitos professores, as interrogações que vieram das vidas dos
jovens-adultos são uma nova luminosidade para rever os conhecimentos
escolares. Apostam que novas formas de garantir o direito ao
conhecimento são possíveis quando os educandos são jovens e adultos
que, em suas trajetórias, carregam interrogações existenciais sobre a vida,
o trabalho, a natureza, a ordem-desordem social, sobre sua identidade, sua
cultura, sua história e sua memória, sobre a dor, o medo, o presente e o
passado. Sobre a condição humana. Interrogações que estão chegando à
docência, aos currículos, à pedagogia. Quando o diálogo é com percursos
humanos tão trancados de jovens-adultos populares, essas interrogações
podem se tornar mais prementes (2005, p. 39).

Algumas concepções de escola que esses sujeitos trazem estão


arraigadas nas suas vivências desse espaço. Opiniões, conversas, experiências de
amigos e parentes podem e devem vir à tona, até mesmo para serem gradualmente
superadas, pois, durante os 20 ou 30 anos em que eles estiveram fora dos bancos
escolares, muitas das ideias pedagógicas mudaram, entre elas a de que o professor
é o único detentor do conhecimento que ‘realmente interessa’. O aluno que deixou
de frequentar a escola, em razão do trabalho ou das exigências de um cotidiano
escolar sem sentido e angustiante, retorna, muitas vezes, depois de décadas de
intervalo com a crença de que nada sabe e que deve aprender com o professor,
legítimo detentor do conhecimento válido. Almeja, assim, as mesmas práticas da
cultura escolar vigente à época em que saiu da escola, ainda que estas tenham sido
em boa parte as responsáveis pelo seu anterior afastamento.
Cavalcante afirma na possibilidade da educação de jovens e adultos
dar certo:

[...] porque é necessário alfabetizar para manter os alunos estudando.


Mostrar que a escola se modernizou. Ensinar as disciplinas como elas
aparecem na vida e usar a experiência da turma como base das aulas.
Ampliar os horizontes culturais dos estudantes e Integrar os jovens e
adultos aos demais alunos (2006, p.52).
Sendo assim, o aluno após o processo de alfabetização, ou seja, ao
apropriar-se da leitura, da escrita e das noções básicas de cálculo tem condições de
melhorar o seu conhecimento.
Os alunos da Educação de Jovens e Adultos devem estudar todas as
disciplinas citadas no currículo escolar. Pelo fato de ser a Educação de Jovens e
Adultos não significa que tenha que realizar um estudo simplificado. Com relação a
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usar a experiência da turma como base das aulas é indispensável, pois deve-se
levar em conta o que o aluno sabe, mesmo que ele não seja alfabetizado, o
conhecimento do senso comum muitas vezes é precioso. E, a partir dos
conhecimentos prévios, superá-lo e adquirir o conhecimento historicamente
acumulado e tido como válido para nossa sociedade.
Para Sato (2009, p. 38) o processo da aprendizagem da educação de
jovens e adultos devem ser em três dimensões: “a individual, a profissional e a
social”. A primeira considera a pessoa como um ser incompleto, que tem a
capacidade de buscar seu potencial pleno e se desenvolver, aprendendo sobre si
mesmo e sobre o mundo. Na profissional, está incluída a necessidade de todas as
pessoas se atualizarem em sua profissão. Um médico, um engenheiro, um físico,
todos os profissionais precisam se requalificar. Em momentos de crise, como o
atual, isso fica ainda mais necessário. É comum o trabalhador ter de aprender um
novo ofício para se inserir no mercado. Na esfera social (que é a capacidade de
viver em grupo), um cidadão, para ser ativo e participativo, necessita ter acesso a
informações e saber avaliar criticamente o que acontece. Além dessas, há outra
dimensão de aprendizagem muito pertinente neste momento: a relação das pessoas
com o meio ambiente. Todos nós temos a necessidade de nos reeducarmos no que
se refere a essa questão.

Educação e Trabalho: função social da escola

As instituições escolares devem ser as primeiras a dialogar e


responder as transformações ocorridas na sociedade, conforme Hernández
1) Nos saberes disciplinares com conhecimentos que permitam definir e enfrentar
novos problemas;
2) Na sociedade, sobretudo pelas mudanças na representação de mundo que
estão gerando as tecnologias de informação e a comunicação e reorganização do
mundo do trabalho;
3) Na função da escola, cuja função principal além de repassar conhecimentos
deve preparar para o mundo do trabalho e deve responder as transformações
que os alunos vivem e com as que se relacionam na vida diária (1998, p. 54).

Neste sentido, trata-se de responder as demandas de transformação


na educação e na função da escola. Pois, na maioria das vezes a escola recebe
numa sala de aula, principalmente de adultos, alunos com interesses diferentes e
por isso precisa pensar numa proposta que atenda a todos e a cada um. Há de
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intentar, mesmo frente as dificuldades de, sem abrir mão dos conhecimentos que
resistiram ao tempo, e por isso são ‘clássicos’, também lidar com os dilemas da
contemporaneidade e as questões do mundo do trabalho.
Segundo Nelson (2005, p. 24) “na educação de jovens e adultos o
professor deve ficar atento aos conhecimentos trazidos pelo aluno e a partir daí
propor estratégias adequadas”. Significa que a escola deve partir daquilo que o
aluno traz, principalmente a sua experiência, do conhecimento do senso comum
para depois chegar ao formal ou sistematizado, proporcionar a passagem do senso
comum para o conhecimento científico, eis a matéria-prima que a escola deve
trabalhar e lapidar.
Novaes (1992, p. 63) confirma que “o avanço tecnológico traz para o
mundo do trabalho desafios constantes”, porque acarreta mudanças nas próprias
organizações, face às novas necessidades e expectativas dos trabalhadores. Essa
constatação remete para a urgência das organizações em atentarem para as
condições da qualidade de vida no trabalho e fora dele, configurando-se cada vez
mais o fato de que abrir a oportunidade para que cada trabalhador possa ter
assegurada a realização de suas próprias metas e necessidades pessoais.
Sabe-se que existe uma busca para se compreender as relações
entre o mundo da educação e do trabalho. Para Laudares (1999, p.72) existem três
momentos para a capacitação e atualização profissionais: “formação escolar,
qualificação pela prática do trabalho e requalificação pela educação continuada”.
Neste sentido, a qualificação para o trabalho é a formação no nível da escolaridade
formal. Novas exigências de capacidade de abstração, de tomada de decisão, de
intervenção nos processos produtivos trazem impacto direto sobre o fluxo das
atividades laborais, como um dos graus de produtividade a partir da intervenção do
trabalhador. Muitas empresas brasileiras exigem nos testes de seleção de pessoal a
escolaridade básica, mesmo que o posto de trabalho não seja qualificado para tal.
No que tange ao papel da escola, Menezes (2000, p.33) menciona
que “cabe à escola preparar o trabalhador não mais para executar uma tarefa, mas
para desempenhar uma função”. Em consequência do desempenho funcional, a
demanda para o trabalho não é mais de uma qualificação específica, mas de uma
qualificação mais geral, principalmente na ação coletiva das equipes, dos grupos e
dos times. A formação acadêmica, dessa forma, em consonância com o mundo do
trabalho, promove o pluralismo, a interdisciplinaridade, os intercâmbios dos
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conteúdos, de uma forma integrada e não mais discreta nos departamentos


estanques. Uma escola a desenvolver as potencialidades dos indivíduos com sólida
formação geral.

Da Intervenção Pedagógica às Análises dos Resultados

Pautamo-nos na premissa de que a EJA, segundo a LDB 9394/96 no


seu artigo 37, “[...] será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade
de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria”. Assim essa
modalidade de ensino não existe só para contornar a situação, mas sim oferecer a
esse aluno todas as oportunidades possíveis para se apropriar dos conhecimentos
científicos e auxiliá-lo para que, de fato, participe da vida em sociedade. Só é livre,
quem conhece, e, deste modo, dar ao aluno da EJA a sonhada “liberdade”, é
possível por intermédio do conhecimento, este que dará a possibilidade de transitar
em diversos espaços sociais.
A escola que oferece a modalidade da EJA não deve tê-la como mais
uma oferta de ensino ou apenas para ter um número maior em sua estatística, mas
deve destacar atenção especial.
Fundamentando-se nas palavras dos autores citados ao longo deste
escrito, no início do ano letivo de 2014, foi aplicado o Projeto de Intervenção, no
Colégio Estadual Professora Maria Muziol Jaroskievicz - Ensino Fundamental e
Médio - para os alunos da Educação de Jovens e Adultos.
Sendo do conhecimento da direção da escola a aplicação do projeto,
na Semana Pedagógica apresentamos e solicitamos a colaboração dos demais
colegas em algumas atividades.
Estando definido o público alvo, iniciou-se a aplicação do projeto com
o resultado da pesquisa realizada com o objetivo de analisar quem eram os nossos
alunos da EJA e, principalmente, sobre as suas respectivas atividades profissionais.
Apresentamos cada gráfico, comentamos o coletado e os alunos
ficaram indignados com alguns dos resultados e, ao longo da intervenção,
começaram a entender o porquê do projeto e a necessidade de melhorar como
pessoa e como profissional. Como o foco principal é o trabalho, para esclarecer
ilustramos com o gráfico 1 que indica essa informação.
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Exercendo Atividade Profissional

37%
Sim
Não
63%

Gráfico 1 – Elaborado pelo autor (2013).

O gráfico demonstra a porcentagem dos alunos que exercem uma


atividade profissional (63%) e os que ainda não a exercem (37%). Sendo que as
atividades profissionais exercidas em 2013 eram:

Atividade Profissional Quantidade de alunos


Cultura do tomate em estufa 37
Pedreiro 18
Doméstica 13
Diarista (prestação de serviço em casa, quintal ou 5
agricultura)
Borracheiro 3
Agente Civil 2
Costureira 5
Mecânico 3
Eletricista 3
Técnico de Informática 2
Vendedor (a) 4
Operador de máquinas agrícolas 2
Secretária 4
Horticultura (orgânica) 1
Manicure 2
Auxiliar de Enfermagem 1
Caixa (loja, supermercado e outros) 2
Total 107
Tabela 1 – Elaborada pelo autor (2013).

A segunda atividade da intervenção pedagógica foi o estudo do texto


“O Homem e o Trabalho”, de Wilma Colina Mangabeira e Leila Maria Alvarenga
Barbosa. Fez-se a leitura do texto (individual e coletiva) e, em seguida, comentou-se
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sobre o texto e os alunos responderam algumas questões. Os alunos apresentaram


algumas dificuldades, principalmente na interpretação, e foi uma oportunidade de
trabalhar com esta limitação.
Na sequência assistimos ao Filme “Serra Pelada” (documentário de
Victor Lopes). Após assistir, iniciou-se um debate a respeito do filme: O que foi
observado? Como cada um vê essa questão da “Serra Pelada”? Observamos com
esta atividade dificuldade dos alunos em se expressarem tanto na forma escrita
como oral.
Ademais de atividade escrita, leituras, filmes, leitura de imagens,
também visitamos espaços do trabalhador, como: Sindicato dos Trabalhadores
Rurais e Sindicato do Produtor Rural (Patronal). Em ambas as visitações a finalidade
era entender o funcionamento destes espaços. Ainda, sob solicitação do alunado,
visitamos a feira do produtor que é organizada pelo Sindicato do Produtor Rural. A
visita à feira oportunizou alguns registros, quanto: os produtos que são vendidos, os
preços, a qualidade dos produtos, o local da feira, a organização, o que forneceu
mais material para debate em sala. Os alunos admitiram que a feira do produtor
funciona como uma atividade econômica para que se possam vender a produção
local e oferece uma opção de compra para os consumidores.
Também tivemos como atividade uma palestra sobre “Legislação
Trabalhista”, com um advogado. Os alunos demonstraram interesse pelo assunto,
fizeram perguntas e esclareceram dúvidas.
Passamos a realizar algumas atividades sobre “Documentos do
Mundo Laboral”. Nesta a previsão era aprender a fazer curriculum vitae,
requerimento, ofício, pesquisar anúncio de emprego, responder comunicado, bem
como apresentar-se para entrevistas. Foi incluída nessa atividade a leitura e a
observação de seus documentos pessoais. Na oportunidade os alunos foram para a
sala de informática e iniciaram algumas atividades em sites de oferta de emprego,
como enviar Curriculum por e-mail.
A palestra sobre legislação trabalhista foi a que mais despertou
interesse nos alunos. Diante desta situação, prolongamos a discussão em sala,
abordando a questão salarial, o direito à cesta básica, direitos do trabalhador, mas
também os seus deveres. Na oportunidade fizemos uma simulação em sala de aula,
em que um aluno fez o papel de empregador (patrão) e os demais eram os possíveis
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candidatos a uma vaga naquela empresa. Os alunos preenchiam os seus currilucum


e se apresentavam, e o empregador fazia algumas perguntas.
No que tange ao GTR (Grupo de Trabalho em Rede), teve a sua
contribuição no sentido de reforçar a necessidade de trabalhar com os alunos da
Educação de Jovens e Adultos os conteúdos curriculares básicos definidos pelas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná. Justifica-se este projeto por
complementar o conhecimento dos alunos da EJA, porque a maioria é de adultos e
exerce uma atividade profissional, e aqueles que ainda não exercem precisam estar
preparados para o mercado de trabalho.
Sabe-se que a EJA não é uma escola profissionalizante, mas durante
as atividades do programadas para a aplicação do projeto foi possível esclarecer
muitas dúvidas a respeito do mundo laboral. Os participantes do GTR foram
unânimes em concordar, pois mesmo não estando em sala de aula sabe-se que,
quanto mais o professor fornecer atividades diversificadas para o aluno, melhor será
a sua aprendizagem, principalmente quando se proporcionam atividades que
interessam aos alunos.

Considerações Finais

Sabe-se que a escola almeja a formação do ser humano, como


define Arroyo (2005, p.39) “um ser concreto que vive num mundo concreto e
determinado ideologicamente”. Por isso a escola não pode se ater apenas num
aspecto e sim numa totalidade que realmente ajude a formação do ser humano. No
caso da EJA, não se pode ter em mente que essa modalidade de ensino é um
resumo do que o aluno estudaria no ensino regular, e essa ideia não é aceita por
nós. É necessário que alunos, professores e toda comunidade escolar, onde é
ofertado a EJA tenha consciência e procurem fazer o melhor para que obtenham o
conhecimento científico e historicamente acumulado, e que a aprendizagem dos
bancos escolares se estenda para fora dela e vice-versa.
A atuação no PDE oportunizou obter maior conhecimento por
intermédio de leituras, participação em debates, seminário, realização e tutoria no
GTR (Grupo de Trabalho em Rede), elaboração e aplicação do projeto e do caderno
temático. A satisfação é resultante da contribuição dada a um grupo de alunos que
pode melhor se qualificar para o mercado de trabalho. Sobretudo, oportunizou a
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estes educandos ter como tema - o trabalho - ação que mais desempenham em
sociedade e, neste exercício, aprendem.
O que se observa, em geral, é a EJA “deixada de lado”, como uma
modalidade de ensino à parte e excluída das atividades escolares e extra-escolares,
por achar que não conseguem participar. Ao contrário, os alunos da EJA são
competentes e querem condições para aprender, atendo suas especificidades.
Em suma, foi muito satisfatório a escolha deste tema e da
modalidade de ensino, pois, além de conhecer melhor a realidade dos participantes,
percebemos que a gestão escolar deve dedicar-se com mais atenção a EJA, pois
necessitam de apoio, atenção e precisam conciliar os conteúdos aprendidos na
escola com os conhecimentos que trazem da experiência de vida.

Referências

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responsabilidade pública. Belo Horizonte: Dimensão, 2005.

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