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ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES

Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como Lugar intergeracional

Inês dos Santos Oom de Sousa

Projeto Final de Mestrado para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura


(Mestrado Integrado em Arquitetura)

Orientação Científica:
Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite
Professora Doutora Ana Marta das Neves Santos Feliciano

Júri:
Presidente: Professor doutor Francisco Carlos Almeida do Nascimento e Oliveira
Vogal: Professor doutor Ricardo Jorge Fernandes da Silva Pinto
Vogal e orientador: Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite

Documento definitivo
Lisboa, FaULisboa, Março de 2019
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como Lugar intergeracional

Inês dos Santos Oom de Sousa

Projeto Final de Mestrado para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura


(Mestrado Integrado em Arquitetura)

Orientação Científica:
Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite
Professora Doutora Ana Marta das Neves Santos Feliciano

Júri:
Presidente: Professor doutor Francisco Carlos Almeida do Nascimento e Oliveira
Vogal: Professor doutor Ricardo Jorge Fernandes da Silva Pinto
Vogal e orientador: Professor Doutor António Miguel Neves da Silva Santos Leite

Documento definitivo
Lisboa, FaULisboa, Março de 2019
Documento redigido segundo o novo acordo ortográfico

| IV
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

V|
TÍTULO | Arquitetura de proximidade entre gerações

SUB-TÍTULO | Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como Lugar


intergeracional

ALUNO | Inês dos Santos Oom de Sousa

ORIENTADORES | Professor Doutor, António Miguel Neves da Silva Santos Leite e


Professora Doutora, Ana Marta das Neves Santos Feliciano

Mestrado Integrado em Arquitetura

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa

Lisboa, Março de 2019

| VI
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

RESUMO

Com o crescimento populacional derivado do aumento da longevidade da


geração idosa, constata-se uma população cada vez mais envelhecida e
consequentemente um afastamento acentuado entre as gerações mais afastadas
e dependentes da sociedade: a geração infantil e a geração sénior.

A arquitetura ao ser uma realidade que abrange vários temas distintos,


surge como pretexto para uma abordagem social que pretende aproximar estas
gerações que pelas suas características complementam-se positivamente,
podendo trazer benefícios às suas vivências.

Deste modo, a interligação de equipamentos destinados a cada uma das


gerações contribui para a sustentabilidade dos mesmos e suscita à
intergeracionalidade, oferecendo espaços de convívio e interação que convidam
ao envolvimento das gerações proporcionando o seu conhecimento e respeito
mútuo a par de um sentimento de pertença a um determinado lugar.

Numa idealização arquitetónica, o lugar é um elemento vital que através


da sua essência fornece uma intimidade relevante para uma determinada temática.
Neste contexto, a abordagem arquitetónica proposta procura agregar várias
experiências geracionais entre o ‘antigo’ e o ‘novo’ na Quinta da Marquesa em
Carnide que se desenvolve num território repleto de memória e transformado pelo
tempo, facilitando uma relação constante com a comunidade envolvente.

Palavras-chave: Intergeracional; Lar/Residência sénior; Equipamentos de


educação infantil; Reabilitação arquitetónica; Casa senhorial.

VII |
TITLE | Architecture for proximity between generations

SUB-TITLE | Rehabilitation of Quinta da Marquesa in Carnide as an Intergenerational


Place

STUDENT | Inês dos Santos Oom de Sousa

ADVISORS | Professor Doutor, António Miguel Neves da Silva Santos Leite e


Professora Doutora, Ana Marta das Neves Santos Feliciano

Masters Degree in Architecture

Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa

Lisboa, March 2019

| VIII
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

ABSTRACT

With the population growth caused by the improvement in the longevity of


the elderly generation, there is an aging population and consequently a strong
separation between the most remote and society-dependent generations: the infant
generation and the senior generation.

Architecture, being a reality that covers several distinct themes, appears


as an allegation for a social approach of reconnect generations that by their
characteristics, complement each other positively bringing benefits to their
experiences.

In this way, the interconnection between equipment destined to each of


the generations contributes to its sustainability and raises intergenerationality,
offering spaces of interaction that invite the generations involvement by providing
their knowledge and mutual respect along with the feeling of belonging to a place.

In an architectural idealization, the place is a vital element that through its


essence provides a relevant intimacy for a certain theme. In this context, this
architectural approach seeks to aggregate several generational experiences
between the 'old' and the 'new' in Quinta da Marquesa in Carnide that develops in
a territory replete with memory and transformed by time, promoting a constant
relationship with the surrounding community.

Keywords

Intergenerational; Home / Senior Residence; Infant education equipment;


Architectural Rehabilitation; Manor house.

IX |
|X
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho representa uma etapa a chegar ao fim. Uma etapa
desafiante que apenas foi possivel pelo apoio constante daqueles que me
acompanharam no caminho.

Aos meus orientadores, pelos ensinamentos e acompanhamento disponibilizado


durante o periodo de trabalho.

À minha família, por todas as palavras de força e incentivo.

Ao meu pai, pelo exemplo, pela partilha constante e pela compreensão.

À minha mãe, pela confiança depositada, pela presença e pela sinceridade.

Aos meus irmãos, pela genuinidade e simplicidade com que me contagiam


diariamente.

À Cata, pelo apoio, incentivo e partilha.

Às minhas avós, Nena e Isabel, a quem dedico este trabalho

Aos meus amigos de longa data, que estão sempre presentes.

Aos que se vão encontrando debaixo do tapete, que me acompanharam de perto


nas longas horas de trabalho, pela sua motivação, espirito de entreajuda e apoio.
Em especial à Tita pelos conselhos, pela força transmitida e pelo carinho.

Ao Henrique, pela presença e paciência incondicional durante todo o caminho, por


me fazer olhar para as coisas de outra perspetiva e acima de tudo por acreditar em
mim.

XI |
| XII
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

| ÍNDICE

RESUMO VII
ABSTRACT IX
AGRADECIMENTOS XI
| ÍNDICE DE FIGURAS XV
| ÍNDICE DE QUADROS XXV

1 INTRODUÇÃO 1

1.1 | TEMA E PROBLEMÁTICA 3


1.2 | OBJETIVOS E QUESTÕES DE TRABALHO 5
1.3 | METODOLOGIA 7
1.4 | ESTRUTURA 8

2 ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES 11

2.1 | CONTEXTO SOCIODEMOGRÁFICO PORTUGUÊS 13


2.2 | ARQUITETURA PARA UMA SOCIEDADE MAIS SOLIDÁRIA 15
2.3 | AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMÍLIA 19
2.3.1 | GERAÇÃO INFANTIL – A VIVÊNCIA POR PARTE DAS CRIANÇAS 20
2.3.2 | GERAÇÃO SÉNIOR - A VIVÊNCIA POR PARTE DOS IDOSOS 23
2.4 | A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA 27
2.4.1 | A INSTITUIÇÃO PARA A GERAÇÃO INFANTIL – CRESCER EM COMUNIDADE
31
2.4.2 | A INSTITUIÇÃO PARA A GERAÇÃO SÉNIOR – ENVELHECER EM
COMUNIDADE 39
2.5 | UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES 49
2.5.1 | A INTERGERACIONALIDADE 50
2.5.2 | AS RELAÇÕES INTERGERACIONAIS – PROBLEMÁTICAS E BENEFÍCIOS 52
2.5.3 | A INSTITUIÇÃO INTERGERACIONAL – VIVER EM COMUNIDADE E RELAÇÃO
DE VIZINHANÇA 56

XIII |
2.6 | RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL 59
2.6.1 | CASOS DE ESTUDO 61
2.7 | SÍNTESE - UM LUGAR PARA TODAS AS GERAÇÕES 75

3 O LUGAR 79

3.1 | A ESSÊNCIA DE UM LUGAR 81


3.2 | MEMÓRIA E PATRIMÓNIO – A REABILITAÇÃO 83
3.3 | CARACTERIZAÇÃO DA FREGUESIA DE CARNIDE NO CONTEXTO DA CIDADE 87
3.3.1 | A AUTENTICIDADE DO LUGAR DE CARNIDE – QUINTAS DE RECREIO 91
3.3.2 | A CASA SENHORIAL EM ESTUDO 94
3.4 | A QUINTA DA MARQUESA – ANÁLISE E ENQUADRAMENTO 97

4 A PROPOSTA 103

4.1 | PROGRAMA 107


4.2 | LINHAS CONCEPTUAIS DA PROPOSTA 109
4.2.1 | OS PERCURSOS 109
4.2.2 | AS RELAÇÕES VISUAIS 112
4.3 | INTERVENÇÃO URBANA 115
4.3.1 | INTENÇÕES NO EXTERIOR DA QUINTA 115
4.3.2 | INTENÇÕES NO INTERIOR DA QUINTA 116
4.4 | INTERVENÇÃO ARQUITETÓNICA 119
4.4.1 | NÚCLEO PREEXISTENTE 120
4.4.2 | INTERVENÇÃO NOVA 122
4.4.3 | NÚCLEOS INTERGERACIONAIS 134
4.4.4 | A PRAÇA 138

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 143

6 BIBLIOGRAFIA 149

6.1 | REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 151


6.2 | REGULAMENTOS 154
6.3 | WEBGRAFIA 155

7 APÊNDICES 159

8 ANEXOS 225

| XIV
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

| ÍNDICE DE FIGURAS

Figura da Capa: Introdução à temática intergeracional


(Registo gráfico da autora)

Figura 1. (à esquerda) Gráfico referente às transformações dos grupos etários em Portugal |


entre 1950 e 2011 - p.14
Fonte: AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-
2011): Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco
Manuel dos Santos, 2014; pág.404.- adaptado pela autora)

Figura 2. (à direita) Gráfico referente às diferenças da estrutura populacional em 1950 e 2011


- p.14
Fonte: AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-
2011): Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco
Manuel dos Santos, 2014; pág.452.
(adaptado pela autora)

Figura 3. Arquitetura que permite aos idosos uma uma vivência íntima e digna | De Dre hoven,
Hertzberger - p.18
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/30/34/70/303470a40def32d266b39f27b014cd54.jpg

Figura 4. Creche de 1980 | Evidência para uma vivência e aprendizagem coletiva - p.21
Fonte: PROST, Antoine – “Fronteiras e espaços do privado”; in AA.VV. “História da vida
privada, 5: Da Primeira Guerra a nossos dias”; organização Antoine Prost, Gérard Vincent;
tradução Denise Bottmann; Dorothée de Bruchard, posfácio. — São Paulo: Companhia das
Letras, 2009, Volume 5; pág.83.

Figura 5. Vivência e interação social entre idosos quando as atividades e os espaços e são
convidativos para tal | Lar de idosos De Overloop, Hertzberger, 1984, Holanda - p.25
https://analisecriticaarquitetura.wordpress.com/2015/06/26/arquitetura-coletiva-para-
especificos-gero-habitacao/
(adaptada pela autora)

Figura 6. (à esquerda) Apropriação de um espaço semi-público exterior para a realização de


uma atividade pessoal | Lar de idosos De Overloop, Hertzberger, 1984, Holanda - p.28
https://analisecriticaarquitetura.files.wordpress.com/2015/06/b-new-doc-2_9-2.jpg

Figura 7. (à direita) Apropriação do mesmo espaço para o convívio pontual | Lar de idosos De
Overloop, Hertzberger, 1984, Holanda - p.28
https://analisecriticaarquitetura.files.wordpress.com/2015/06/b-new-doc-2_9-2.jpg

Figura 8. Perspetiva do falanstério de Charles Fourier - p.30


Fonte: http://platea.pntic.mec.es/~macruz/fourier/cadaver.html

XV |
Figura 9. (em baixo) Planta esquemática do falanstério de Fourier - p.30
Fonte: http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/Fourier.pdf

Figura 10. Fotografia do interior do falanstério - p.30


Fonte: https://www.histoire-image.org/fr/etudes/palais-social-ouvriers

Figura 11. (à esquerda) Planta de localização do bloco social habitacional Kensal house |
Projeto de Maxwell Fry e Elizabeth Denby | Londres, 1936 - p.34
Fonte: http://www.hiddenarchitecture.net/2017/09/gender-resistance-kensal-house.html

Figura 12. (à direita) Planta da escola infantil de Kensal house - p.34


Fonte: DUDEK, Mark – “Kindergarten Architecture: space for the imagination”; London: Spon
Press, Second edition; 2000; figura 2.7; pág.36.

Figura 13. Fotografia do ambiente externo central de Kensal House - p.34


Fonte: http://www.hiddenarchitecture.net/2017/09/gender-resistance-kensal-house.html

Figura 14. (à esquerda) Fotografia no terraço da ‘Unité d’Habitation’ | Atividade da escola |


Marselha, 1952 - p.34
Fonte: http://snobberyfields.blogspot.com/2011/07/unite-d-habitation-marseilles.html
Figura 15. (à direita) Fotografia no terraço da ‘Unité d’Habitation’ | diversidade e dinâmica dos
espaços | Marselha, 1952 - p.34
Fonte: http://snobberyfields.blogspot.com/2011/07/unite-d-habitation-marseilles.html
Figura 16. (em cima, à esquerda) Método não-convencional de Montessori | Ambiente de ma
sala de aula | 1907 - p.36
Fonte: https://pumpkin.pt/familia/crescer-criancas/aprender/tudo-precisa-saber-maria-
montessori-metodo/
Figura 17. (em cima, à direita) método não-convencional de Montessori | diversidade
tipologica das zonas de aprendizagem num espaço polivalente | 1907 - p.36
Fonte: https://www.vs.de/montessori/en/detail/333/
Figura 18. (em baixo, à esquerda) Primeira escola Waldorf | Estugarda, 1919 - p.36
Fonte: http://regenerationeducation.org/educational-philosophy/why-waldorf/waldorf-history

Figura 19. (em baixo, à direita) Planta orgânica do infantário Steiner Nant-Y-Cwm | baseado
na tipologia do método Waldorf | País de Gales, 1979 - p.36
Fonte: BIGODE, Luísa – “Espaços para a infância” – O projecto centrado na criança”; Lisboa:
IST, 2013; Tese de Mestrado, pág.29.

Figura 20. (à esquerda) Alçado principal e planta do 1º Jardim-Escola João de Deus |


desenhado pelo arquiteto Raul Lino | Coimbra, 1911 - p.37
Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/09/jardins-escolas-joao-de-deus.html

Figura 21. (em cima, à direita) Sala de aula do Jardim-Escola João de Deus na Avenida Álvares
Cabral | Lisboa, 1917 - p.37
Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/09/jardins-escolas-joao-de-deus.html
Figura 22. (em baixo, à direita) Sala polivalente do Jardim-Escola João de Deus na Avenida
Álvares Cabral | Lisboa, 1917 - p.37
Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/09/jardins-escolas-joao-de-deus.html

Figura 23. (em cima) Planta do hospital Laboisière | Paris, 1839 - p.41
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.41.

| XVI
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 24. Sanatório de Waiblingen | Projetado por Richard Dõcker | 1926 - p.41
https://journals.openedition.org/insitu/11102

Figura 25. (à esquerda) Fachada principal do lar para idosas de childs & Smith | Evanston,
Ilinóis, 1954 - p.42
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.45.

Figura 26. (à direita) Planta tipo do lar para idosas de childs & Smith | Ilinóis, 1954 - p.42
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.46.

Figura 27. Fachada principal do lar Don Orione | Boston, Massachussets, 1954 - p.43
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.47.

Figura 28. Planta do 2ºandar do lar Don Orione | Massachussets, 1954 - p.43
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.48.

Figura 29. (em baixo) Ambiente interior do quarto duplo do lar Don Orione | Massachussets,
1954 - p.43
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.49.

Figura 30. (em cima, à esquerda) Ambiente interior das residências das casas Needham de
Wiliam Hoskins Brown Associates | Divisória parcial da habitação | Nedham, Massachusetts,
1962 - p.44
Figura 31. (em cima, à direita) Plantas tipo das residências duplas das casas Needham |
Massachusetts, 1962 - p.44
Figura 32. (em baixo à esquerda) Fachada externa do conjunto das casas Needham |
Massachusetts, 1962 - p.44
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.54.

Figura 33. (em baixo à direita) Ambiente do pátio interno da peninsula volunteers de Skidmore,
Owings e Merrill | Vista da galeria exterior interna | Menlo Park, Califórnia, 1962 - p.44
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.56.

Figura 34. (à esquerda) Vista da fachada Este das residências para idosos e centro
comunitário | Projeto de usos mistos projetado por Walter Thiem | Alemanha, 1975 - p.45
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.59.

Figura 35. (à direita) Planta do piso térreo das residências para idosos, centro comunitário e
igreja de Walter Thiem | Alemanha, 1975 - p.45
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.58.

XVII |
Figura 36. (em baixo) Plantas dos tipos de unidades da peninsula volunteers | Califórnia, 1962
- p.45
Fonte: QUEVEDO, Ana –– “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002;
Programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.57.

Figura 37. Ligação Intergeracional entre as gerações mais afastadas da sociedade - p.50
Fonte: https://www.algarveprimeiro.com/d/municipio-de-lagos-quer-reforcar-relacao-entre-
avos-e-netos/17760-1

Figura 38. Esquema das relações entre gerações na família - p.51


Fonte: https://www.algarveprimeiro.com/d/municipio-de-lagos-quer-reforcar-relacao-entre-
avos-e-netos/17760-1

Figura 39. Compreensão das gerações através da realização de atividades intemporais - p.53
https://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2015/06/19/para-ensinar-criancas-a-
respeitarem-idosos-creche-funciona-dentro-de-asilo.htm
(adaptada pela autora)

Figura 40. Aproximação entre as gerações por um simples contar de uma história - p.54
http://www.50emais.com.br/preconceito-ve-no-envelhecer-um-defeito-que-precisa-de-
conserto/
(adaptada pela autora)

Figura 41. (em cima à esquerda) Implantação das Escolas Apollo | Esquiço do arquiteto |
1983 - p.63
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_96mg-
x8WUig/StxXBTZnWwI/AAAAAAAAAMc/kHGzZGjC9AA/s1600/apollo+9.JPG

Figura 42. (em cima à direita) “Hall-anfiteatro” | Átrio central do piso térreo - p.63
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_96mg-
x8WUig/StxbMBOpmHI/AAAAAAAAAO0/dh7t9NlyI4Y/s1600/Apollo+Schools+-
+Montessori+School+and+Willemspark+School+Amsterdam,+The+Netherlands+4.JP
G

Figura 43. (em baixo à esquerda) Espaço envolvente do átrio central do piso térreo - p.63
Fonte: https://www.flickr.com/photos/krokorr/5473821621/

Figura 44. (em baixo à direita) Zona de estudo intermédia - p.63


Fonte: https://www.flickr.com/photos/krokorr/5474457500/in/photostream/

Figura 45. Planta do piso térreo | Relação das salas de aula com as zonas de estudo
intermédias e o “Hall-anfiteatro” - p.63
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_96mg-
x8WUig/StxYq5d69RI/AAAAAAAAANk/RAUQeqzMG8g/s1600/apollo+5.JPG

Figura 46. Corte Transversal | Dinâmica dos níveis do edifício - p.63


Fonte: http://hertzbergertca.blogspot.pt/2009/10/apollo-schools-montessori-school-and.html

Figura 47. Ambiente interior diurno das escolas Apollo | Hall-anfiteatro - p.65
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_96mg-
x8WUig/Stxbg06KFPI/AAAAAAAAAO8/JNRtkeqvo1I/s1600/Apollo+Schools+-
+Montessori+School+and+Willemspark+School,+Amsterdam,+The+Netherlands.JPG

Figura 48. Crianças a usofruir do espaço comum | Escada com 2 níveis de degraus - p.65
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_96mg-
x8WUig/StxYRoNr5lI/AAAAAAAAANM/yEzTHLuhtiI/s1600/Apollo+Schools+-

| XVIII
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

+Montessori+School+and+Willemspark+School,+Amsterdam,+The+Netherlands+2.J
PG

Figura 49. Planta do piso térreo | Relação dos vários blocos na envolvente - p.66
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 50. (em cima, à esquerda) ‘pátio’ | Relação espacial entre os setores - p.67
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 51. (em cima, à direita) Ambiente da relação interior-Exterior do ‘pátio’ com o edificado
- p.67
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 52. (ao meio, à esquerda) Zona central comum | Polivalência e adaptação dos espaços
- p.67
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 53. (ao meio, à direita) Ambiente interior de transição entre espaços | Adaptação ao
espaço por parte do morador - p.67
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 54. (em baixo, à esquerda) Ambiente interior de transição para a intimidade do quarto
(‘alpendre’) | Adaptação ao espaço por parte do morador - p.67
Fonte: http://hicarquitectura.com/2017/03/herman-hertzberger-housing-for-old-and-disabled-
people/

Figura 55. (em baixo, à direita) ‘Meias-portas’ | Ambiente interior de transição entre o convívio
e a intimidade - p.67
Fonte: https://analisecriticaarquitetura.files.wordpress.com/2015/06/drie-1.jpg

Figura 56. (em cima, à esquerda) Fachada Sudoeste da residência | evidência do ambiente
ajardinado e da variação de materialidades - p.69
Fonte: http://www.proap.pt/pt-pt/projecto/assisted-living-residences-of-parede/

Figura 57. (em cima, à direita) Jardim de inverno | ambiente interior proporcionado pela
claraboia e as galerias dos vários pisos - p.69
Fonte: https://www.fvarq.com/residencia-parede

Figura 58. (em baixo, à esquerda) Jardim de inverno | Pormenor da divisão de espaços com
uma característica translúcida - p.69
Fonte: https://www.fvarq.com/residencia-parede

Figura 59. (em baixo, à direita) Fachada Oeste da residência | Relação de complementariedade
entre materialidades tão distintas - p.69
Fonte: https://www.fvarq.com/residencia-parede

Figura 60. (em cima, à esquerda) Planta de implantação do centro paroquial e comunitário |
Relação de frontalidade entre os elementos do complexo - p.71
Fonte: http://www.snpcultura.org/obs_13_igreja_santo_antonio_portalegre.html
(adaptada pela autora)

XIX |
Figura 61. (em cima, à direita) Adro do centro paroquial e comunitário | evidência da
simplicidade e dos planos brancos e relação de próximidade tando da cidade como dos
elementos constituintes - p.71
Fonte: http://www.snpcultura.org/obs_13_igreja_santo_antonio_portalegre.html

Figura 62. (em baixo, à esquerda) Ambiente interior da igreja | Relação do edificado com o
material natural existente (rocha) - p.71
Fonte: http://www.snpcultura.org/obs_13_igreja_santo_antonio_portalegre.html

Figura 63. (em baixo, à direita) Adro do centro paroquial e comunitário | Influência da luz no
edificado - p.71
Fonte: http://interioresminimalistas.com/2012/03/21/arquitectura-religiosa-y-minimalismo-
blancos-por-joao-luis-carrilho-da-graca/

Figura 64. Implantação do centro paroquial e comunitário Senhora da Boa Nova - p.73
Fonte: https://www.joaomorgado.com/pt/reportagens/igreja-nossa-senhora-da-boa-nova

Figura 65. (em cima, à esquerda) Ambiente exterior do complexo | evidência da


homogeneidade de cor e materialidades apesar da divercidade das formas - p.73
Fonte: https://www.joaomorgado.com/pt/reportagens/igreja-nossa-senhora-da-boa-nova

Figura 66. (em cima, à direita) Fachada do centro comunitário | Crianças a brincar no recreio
exterior que corresponde à ‘praça’ - p.73
Fonte: https://www.joaomorgado.com/pt/reportagens/igreja-nossa-senhora-da-boa-nova

Figura 67. (em baixo, à esquerda) Praça de envolvência dos três elementos do edificado |
Qualidade das relações interior/exterior - p.73
Fonte: https://www.joaomorgado.com/pt/reportagens/igreja-nossa-senhora-da-boa-nova

Figura 68. (em baixo, à direita) Relação entre o centro paroquial e o edifício da escola primária
- p.73
Fonte: https://www.joaomorgado.com/pt/reportagens/igreja-nossa-senhora-da-boa-nova

Figura 69. Coreto do Alto do Poço (Coreto de Carnide) | 1929 Error! Bookmark not defined.
- p.80
Fonte: http://lisboadeantigamente.blogspot.com/2018/03/coreto-do-alto-do-poco-coreto-de-
carnide.html

Figura 70. Coreto do Alto do Poço (Coreto de Carnide) | 1961 Error! Bookmark not defined.
- p.80
Fonte: http://lisboadeantigamente.blogspot.com/2018/03/coreto-do-alto-do-poco-coreto-de-
carnide.html

Figura 71. Localização da Freguesia de Carnide inserida no concelho de Lisboa - p.86


(mapa elaborado pela autora)

Figura 72. Plantas de Júlio A. V. da Silva Pinto, 1908 | Antigo núcleo urbano e quintas - p.88
Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa (AML), https://ecarnide.hypotheses.org/carnide-em-lisboa
(adaptada pela autora)

Figura 73. Bloco habitacional de Carnide | Promontório Arquitectos, 2002 - p.89


Fonte: http://olharquitectura-2.blogspot.com/2013/03/bloco-habitacional-carnide.html

Figura 74. Mapa de usos relevantes para a temática proposta em Carnide - p.90
(elaborado pela autora)

Figura 75. (à esquerda) Ambiência de uma rua do núcleo urbano antigo de Carnide - p.92
Fonte: https://ecarnide.hypotheses.org/carnide-em-lisboa

| XX
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 76. (à direita) Azinhaga - p.92


Fonte: https://ecarnide.hypotheses.org/carnide-em-lisboa

Figura 77. Localização das antigas Quintas de Carnide - p.96


Fonte: Google earth Pro
(adaptada pela autora)

Figura 78. (em cima) Evidência do caminho preexistente como ligação longitudinal do terreno
| Plantas de Júlio A. V. da Silva Pinto, 1908 - p.98
Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa (AML), https://ecarnide.hypotheses.org/carnide-em-lisboa
(adaptada pela autora)

Figura 79. (em baixo) Vista aérea atual da Quinta da Marquesa - p.98
Fonte: https://www.google.pt/maps
(adaptada pela autora)

Figura 80. Enquadramento da Quinta da Marquesa - p.99


(elaborada pela autora)

Figura 81. (em baixo) Evolução morfológica da Casa senhorial da Quinta - p.100
(Registo gráfico da autora)

Figura 82. (à esquerda) Quinta da Marquesa de Dentro e parte do seu terreno | Fotografia
aérea - p.100
Fonte: https://www.bing.com/maps/aerial

Figura 83. (à direita) Quinta da Marquesa de Dentro | Fachada principal - p.100


Fonte: http://colegiodomeninojesus.blogspot.pt/

Figura 84. Situação atual da Fachada da Casa Senhorial da Quinta da Marquesa - p.101
(Fotografias da autora)

Figura 85. Plantas da Casa Senhorial - p.101


(Registo gráfico da autora)

Figura 86. Perspetiva geral da proposta projetual - p.103


(Desenho elaborado pela autora)

Figura 87. Alçado Principal incluindo a intervenção nova proposta e as gerações a que se
destina | Rua do Norte - p.104
(Registo gráfico da autora)

Figura 88. Esquema das relações entre as gerações para criar um lugar intergeracional - p.106
(elaborado pela autora)

Figura 89. Esquema de composição da proposta - p.108


(elaborado pela autora)

Figura 90. Vista paronâmica do local de intervenção - p.109


(Fotografia da autora)

Figura 91. Habitações da antiga ruralidade anexadas ao terreno - p.110


(Fotografia da autora)

Figura 92. (à esquerda) Caminho pré-existente em direção à Casa Senhorial - p.110


(Fotografia da autora)

XXI |
Figura 93. (à direita) Caminho pré-existente em direção ao portão secundário - p.110
(Fotografia da autora)

Figura 94. Variedade dos percursos propostos | Relação com as zonas verdes e com a água
- p.111
(Registo gráfico da autora)

Figura 95. Enquadramento paisagístico proposto - p.112


(Registo gráfico da autora)

Figura 96. Alinhamentos das vistas principais - p.113


(Registo gráfico da autora)

Figura 97. Relação de frontalidade entre os vários núcleos - p.113


(desenho elaborado pela autora)

Figura 98. ‘Quebra’ do núcleo habitacional | Dinâmica de vistas - p.114


(desenho elaborado pela autora)

Figura 99. Praça intergeracional enquadrada pelos núcleos - p.114


(desenho elaborado pela autora)

Figura 100. Praças e largos exteriores propostos que criam relação com a comunidade - p.116
(Registo gráfico da autora)

Figura 101. Relação harmoniosa entre o conjunto de núcleos e a praça central - p.118
(desenho elaborado pela autora)

Figura 102. Localização do núcleo pré-existente - p.120


(Registo gráfico da autora)

Figura 103. Planta esquemática do piso inferior do núcleo pré-existente | Zonas de estar, salas
polivalentes, galerias e café - p.121
(Registo gráfico da autora)

Figura 104. Planta esquemática do piso superior do núcleo pré-existente | Zonas de estar,
salas polivalentes, galerias e zona administrativa - p.121
(Registo gráfico da autora)

Figura 105. Identificação dos núcleos da intervenção nova - p.122


(Registo gráfico da autora)

Figura 106. Fachada exterior do Hospital do Mar | Pinearq, 2015, Boubadela - p.122
Fonte: https://www.hospitaldomar.pt/lisboa/pt/

Figura 107. Corte transversal esquemático da relação entre os dois corpos principais |
Evidência para os Pés-direitos totais nas zonas de circulação com a entrada de luz zenital nos
pisos superiores; e para os variados níveis de entrada - p.123
(Registo gráfico da autora)

Figura 108. (à esquerda) Imagem do projeto | Vista para a galeria de circulação interior do
nível inferior parcialmente enterrado do núcleo escolar - p.123
(Registo gráfico da autora)

Figura 109. (à direita) Imagem do projeto | Vista para a galeria de circulação interior do nível
térreo do núcleo habitacional - p.123
(Registo gráfico da autora)

| XXII
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 110. Localização do núcleo escolar - p.123


(Registo gráfico da autora)

Figura 111. Planta esquemática da entrada principal no nível intermédio do núcleo escolar |
Receção e átrio de entrada com uma relação direta para a zona de refeições para as crianças
da creche - p.124
(Registo gráfico da autora)

Figura 112. (à esquerda) Planta esquemática parcial do nível inferior parcialmente enterrado
do núcleo escolar | Salas do Jardim de infância - p.124
(Registo gráfico da autora)

Figura 113. (à direita) Planta esquemática parcial do nível intermédio do núcleo escolar | Salas
do ensino básico - p.124
(Registo gráfico da autora)

Figura 114. Planta esquemática parcial do nível inferior do núcleo escolar | Refeitório aliado a
um átrio de saída para o exterior - p.125
(Registo gráfico da autora)

Figura 115. (à direita) Planta esquemática parcial do nível inferior do núcleo escolar | Anfiteatro
exterior de acesso ao ginásio das crianças com duplo pé direito - p.125
(Registo gráfico da autora)

Figura 116. (à esquerda) Corte transversal temático do volume a Oeste do núcleo escolar |
Sala do jardim de infância no nível inferior e sala da creche no nível intermédio - p.125
(Registo gráfico da autora)

Figura 117. (à direita) Corte transversal temático do volume a Este do núcleo escolar | Salas
do ensino básico com as zonas de transição - p.125
(Registo gráfico da autora)

Figura 118. Galeria de recreio interior com uma zona de transição das crianças no jardim de
infância com cacifos e outros recantos para estar - p.126
(desenho elaborado pela autora)

Figura 119. Arcada exterior da escola João de Deus | Alvaro Siza Vieira, 1991, Penafiel - p.127
Fonte: https://www.flickr.com/photos/josecarlosmelodias/5926477354

Figura 120. Galeria exterior do nível inferior | Relação com as salas do jardim de infância -
p.127
(desenho elaborado pela autora)

Figura 121. Galeria exterior do nível intermédio | Relação com as salas do ensino básico -
p.127
(desenho elaborado pela autora)

Figura 122. Localização do núcleo habitacional - p.128


(Registo gráfico da autora)

Figura 123. Entrada principal do núcleo habitacional | Largo da Residência com vista para o
Jardim interior - p.128
(desenho elaborado pela autora)

Figura 124. Ligação dos dois volumes do núcleo habitacional - p.129


(desenho elaborado pela autora)

XXIII |
Figura 125. Entrada principal do núcleo habitacional | Vista da galeria interior para o jardim
iterior - p.129
(desenho elaborado pela autora)

Figura 126. (em cima, à esquerda) Imagem do projeto | Vista da entrada com acesso direto à
praça intergeracional exterior - p.130
(Registo gráfico da autora)

Figura 127. (em cima, à direita) Imagem do projeto | Vista da entrada para o largo da
residência com a comunidade - p.130
(Registo gráfico da autora)

Figura 128. (em baixo, à esquerda) Imagem do projeto | enquadramento da zona de refeições
com a galeria interior - p.130
(Registo gráfico da autora)

Figura 129. (em baixo, à direita) Imagem do projeto | Vista da galeria para a entrada
relacionada com o jardim interior - p.130
(Registo gráfico da autora)

Figura 130. (à esquerda) Planta esquemática parcial do nível inferior do núcleo habitacional |
Átrio de entrada da residência como distribuidor dos restantes espaços - p.131
(Registo gráfico da autora)

Figura 131. (à direita) Planta esquemática parcial do nível inferior do núcleo habitacional |
Relação dos quartos com acesso direto ao exterior - p.131
(Registo gráfico da autora)

Figura 132. Quarto do lar de Peter Rosegger com recantos que permitem a apropriação pessoal
do espaço | Dietger Wissounig Architekten, 2014, Áustria - p.131
Fonte: https://analisecriticaarquitetura.wordpress.com/2015/06/26/arquitetura-coletiva-para-
especificos-gero-habitacao/

Figura 133. Planta esquemática parcial do nível intermédio do núcleo habitacional | Relação
dos quartos com a sala de estar no cruzmento dos dois volumes | evidência para a variedade
de zonas de estadia e descanso acessiveis ao longo da galeria interior - p.132
(Registo gráfico da autora)

Figura 134. Corte transversal esquemático do núcleo habitacional | Relação dos quartos com
a galeria interior através das zonas de transição - p.132
(Registo gráfico da autora)

Figura 135. ‘meia-porta’ na zona de transição entre a galeria e o quarto do lar De Overloop |
Hertzberger, 1984, Holanda - p.132
Fonte: https://analisecriticaarquitetura.wordpress.com/2015/06/26/arquitetura-coletiva-para-
especificos-gero-habitacao/

Figura 136. Galeria interior de circulação do nível superior do núcleo habitacional | Evidência
para os vários espaços de estadia aliados às zonas resguardadas de transição para os quartos
(desenho elaborado pela autora) - p.133

Figura 137. Galeria interior de circulação do nível inferior do núcleo habitacional | Variação
dos planos das fachadas para a criação de espaços exteriores e interiores que se relacionam
em termos de vistas - p.133
(desenho elaborado pela autora)

Figura 138. Localização do núcleo intergeracional de Multiusos - p.134


(Registo gráfico da autora)

| XXIV
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 139. Planta esquemática do nível inferior do núcleo intergeracional de multiusos |


Entrada com duplo pé direio e salas polivalentes - p.135
(Registo gráfico da autora)

Figura 140. Planta esquemática do nível superior do núcleo intergeracional de multiusos |


Zona de biblioteca e ludoteca com zoonas de trabalho e de leitura - p.135
(Registo gráfico da autora)

Figura 141. Vista para para a praça intergeracional exterior a partir do nível superior do espaço
Multiusos - p.135
(desenho elaborado pela autora)

Figura 142. Localização do núcleo intergeracional do complexo desportivo - p.136


(Registo gráfico da autora)

Figura 143. Planta esquemática do nível inferior do núcleo intergeracional do complexo


desportivo com uma ligação direta com os serviços do núcleo habitacional | Zona da piscina
com uma receção, zona de duche, gabinete de apoio, instalações sanitárias, sauna, banho
turco e arrumos e salas técnicas - p.136
(Registo gráfico da autora)

Figura 144. Planta esquemática do nível intermédio do núcleo intergeracional do complexo


desportivo com uma ligação com o núcleo habitacional através de um átrio com um jardim
interior | Zona de distribuição do complexo com a receção e balneários - p.137
(Registo gráfico da autora)

Figura 145. Planta esquemática do nível superior do núcleo intergeracional do complexo


desportivo com uma visão priviligiada para o programa restante | Zona de Ginásio com
Gabinetes de fisioterapia, gabinete médico e arrumos - p.137
(Registo gráfico da autora)

Figura 146. Vista para para a praça intergeracional exterior a partir da zona da piscina no nível
inferior - p.138
(desenho elaborado pela autora)

Figura 147. Caracterização das zonas exteriores propostas no terreno - p.139


(Registo gráfico da autora)

Figura 148. Corte transversal parcial do terreno | Relevância do anfiteatro exterior como
elemento de ligação dos espaços - p.139
(Registo gráfico da autora)

Figura da Contra-capa: Consequência da relação intergeracional


(desenho elaborado pela autora)

| ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Censos de Carnide (2001) | evidência da elevada pupulação adulta e idosa face à
infantil e juvenil - p.89
(elaborado pela autora, baseado em dados estatísticos da Freguesia)
https://www.jf-
carnide.pt/xms/files/FREGUESIA/A_FREGUESIA/ESTATISTICAS/Censos_Carnide_2001.pdf

XXV |
| XXVI
1 INTRODUÇÃO

“(…) o verdadeiro problema das sociedades envelhecidas não está tanto no


envelhecimento da sua população, mas no que as sociedades não mudaram
desde que começaram a envelhecer. “

Maria João Valente Rosa

1|
INTRODUÇÃO

|2
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

1.1 | TEMA E PROBLEMÁTICA

A arquitetura, para além do que se vê, é a possibilidade de criação de


experiências físicas e psicológicas que se tornam insubstituíveis em determinados
espaços. Estes ao serem projetados de uma maneira especial e estudada,
conseguem transmitir certas sensações e possibilidades que visam melhorar as
nossas vivências. Considera-se então a arquitetura uma arte capaz de mudar
ambientes e criar atmosferas, que ao proporcionar diferentes abordagens, tem a
possibilidade de ajudar certas pessoas com determinadas características a
viverem confortáveis e a ter um diferente estilo de vida.

A abordagem social sempre foi assumida por mim como um tema de


grande impacto que se tem vindo a intensificar com o elevado crescimento
populacional facilmente observado pelo estado das grandes cidades1, e com o
consequente afastamento dos vários grupos sociais presentes principalmente nas
zonas mais antigas das mesmas. Há por isso uma grande preocupação
relacionada com o futuro das diferentes gerações e com a ideia que estas possam
ter umas das outras, assim como o seu papel na sociedade, mais concretamente
as geraçõs infantil e sénior.

Dada a importância deste tema e a possibilidade de interferir no mesmo


através da arquitetura, este é então um ponto que podemos e devemos abordar.

Os espaços públicos, se proporcionados para o convívio, podem ajudar a


dinamizar e harmonizar a cidade, tendo em conta estes problemas atuais da

1
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.17.

3|
INTRODUÇÃO
Tema e problemática

sociedade. Uma possivel solução pode ser a dinamização de ações


intergeracionais, que proporcionam diferentes vivências e que melhoram a vida de
muitos, criando uma cidade destinada a todas as idades.

Esta proposta pretende criar um equipamento misto, género IPSS


(Instituto Particular de Solidariedade Social), integrando a Casa Senhorial da
Quinta da Marquesa em Carnide, que pode ajudar no romper do isolamento e no
aumento da autoestima. Um espaço versátil que funcione e contribua, de certa
forma, para a integração social tanto da sociedade sénior, proporcionando um
envelhecimento ativo, como das sociedades infantil e juvenil, e que consiga
também desenvolver e estabelecer relações não só entre estas gerações mas
também com a comunidade.

Os mais velhos precisam dos mais novos, da sua energia e criatividade,


para se tornarem mais ativos e dinâmicos, os mais novos precisam de outros
ensinamentos que vêm de experiências e testemunhos de vida, e a sociedade por
sua vez precisa de saber integrar as diferenças e minimizar os preconceitos
existentes. Se estas gerações conviverem num mesmo ambiente, aprendendo
novos modos de estar sem perder a sua própria identidade, vão romper com o
isolamento e melhorar a autoestima de ambas, o que acaba por contribuir também
para uma amenização do espaço temporal entre as mesmas e das dificuldades
que possuem ou a que estão sujeitas, como por exemplo a segregação para os
idosos e a ingenuinidade para as crianças.

Uma zona que é familiar e com a qual tenho contacto diariamente, em que
está presente toda esta diversidade económica, tipológica e social, é a Freguesia
de Carnide, que por todos os seus avanços e recuos ao longo do tempo se tornou
numa zona confusa e com elevadas discrepâncias quer nos tipos de edifícios quer
nas pessoas que lá habitam.

A freguesia já tem algumas valências sociais tanto na vertente infantil


como na vertente sénior, mas as necessidades das gerações têm-se modificado
ao longo do tempo e grande parte dos equipamentos de cariz social já não
conseguem satisfazer as necessidades atuais, não correspondendo inteiramente
às necessidades inerentes de cada uma das tipologias.

|4
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Para este trabalho seleciona-se então o terreno da Quinta da Marquesa


em Carnide como pretexto para o desenvolvimento prático de uma temática
relacionada com a parte social das cidades, que inclui uma reabilitação e
intervenção urbana, que se foca na idealização e projeção de um equipamento que
possibilita e proporciona as relações intergeracionais e a integração social da
geração infantil, da geração sénior e da comunidade envolvente.

Esta abordagem pode ser um verdadeiro lugar onde todas as gerações se


podem relacionar, sendo uma possível alternativa ao que o mercado fornece hoje
e uma solução a ter perante esta nova realidade.

1.2 | OBJETIVOS E QUESTÕES DE TRABALHO

De um ponto de vista social, sendo Portugal um país com uma taxa de


envelhecimento elevada, existe necessidade e vontade de fazer com que as
pessoas idosas não fiquem afastadas da sociedade e se tornem mais ativas e
vividas, ajudando à diminuição do envelhecimento precoce, enquanto as novas
gerações necessitam de ajuda para adquirir outro tipo de conhecimento, ter bons
exemplos de vida e experiências, para que se possam tornar melhores pessoas.

Ao colocarmos estas duas gerações em contacto vamos ao encontro de


uma intervenção comunitária que tenta diminuir os preconceitos associados à
idade criados entre as várias faixas etárias.

O objetivo principal surge então, neste território que é a freguesia de


Carnide, com a criação de um lugar que consiga ajudar a promover a interação,
relação e proximidade entre os mais velhos e os mais novos, de modo a criar
relações entre eles para seu benefício.

Em relação à ideia de planeamento multigeracional propriamente dito, o


objetivo é mesmo tornar uma zona específica num espaço que seja acessível para
todas as gerações, permitindo às crianças e aos idosos uma permanência
diferente e possivelmente melhorada do sítio onde passam mais tempo do seu

5|
INTRODUÇÃO
Objetivos e questões de trabalho

dia. Assim, o equipamento será constituído por um complexo educacional


destinado a crianças até aos 10 anos, por um complexo residencial destinado aos
idosos e por outras valências direcionadas para a intergeracionalidade, que
integrem tanto as gerações em estudo, como a comunidade envolvente.

Os espaços públicos e de convívio podem ser a parte dinamizadora das


relações intergeracionais, mas a criação de um espaço intergeracional não
depende apenas dos espaços públicos, estas tipologias têm características
diferentes e existem muitos fatores específicos e particulares para a criação de
cada um destes espaços. O objetivo é então adequar os espaços tanto às
vontades individuais de cada geração como às vontades em conjunto.

Com isto surgem questões tais como: Será que é possível fazer com que
estas realidades sejam compatíveis? Como podemos construir uma relação de
solidariedade entre gerações com ideias tão diferentes? E em relação ao projeto,
como podemos articular as necessidades básicas de cada geração, sendo
gerações tão distintas e afastadas pelo tempo?

Em relação à Quinta da Marquesa, o objetivo passa também por estudar


a Casa Senhorial, como esta pode oferecer condições para um espaço
intergeracional, relaciona-la e integra-la na envolvente com as pré-existências já
consolidadas e reabilita-la não tirando a sua identidade nem memória,
funcionando assim como o ponto mais próximo com a comunidade, facilitando,
à partida, o envolvimento da mesma em relação ao novo equipamento a ser
implantado.

Já em relação ao espaço novo de equipamento articulado com o palacete,


o objetivo é integra-lo na morfologia do terreno e na memória da casa, transformar
a funcionalidade da Quinta através do mesmo, mas com o cuidado de não a
desarticular, pois passará de um espaço íntimo e simples habitacional para um
conjunto de equipamentos.

Por fim, vai ser importante criar e redesenhar espaços exteriores que
consigam estabelecer relações entre os vários equipamentos propostos e a
envolvente e que enfatizem o propósito intergeracional do lugar.

|6
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

1.3 | METODOLOGIA

O presente trabalho partiu de pensamentos relativos à sociedade e aos


problemas que existem hoje relacionados com a população, no intuito de poder
contribuir diretamente a uma civilização procurando responder às suas
necessidades atuais. Assim, dentro de várias opções surgiu o tema do
envelhecimento da população que envolve tanto as gerações mais velhas como
as mais novas, que, complementado pela temática da intergeracionalidade pode
ser atenuado.

Após a decisão do tema procedeu-se à recolha de informação teórica


acerca da intergeracionalidade de uma perspetiva global, e a exemplos reais,
maioritariamente arquitetónicos, onde essa questão já foi explorada e em alguns
casos concretizada, pois é um tema que pode ser abordado por várias temáticas
distintas.

A partir do momento em que o tema se tornou mais familiar a pesquisa


de informação passou a ser mais específica para os pontos até onde este trabalho
de projeto/dissertação final de mestrado podia chegar. Compreendendo as partes
diretamente afetadas, entendidas pelas crianças, pelos idosos e pelas instutuições
onde estes se inserem, e outras vertentes relacionadas com o lugar, como as
quintas de recreio e a casa senhorial, que são espaços de memória e de possível
reabilitação, e a freguesia de Carnide, onde se insere a Quinta para a concretização
projetual deste trabalho.

7|
INTRODUÇÃO
Metodologia e Estrutura

Após a recolha da informação, foi elaborado um processo crítico da


mesma, que corresponde à parte teórica do trabalho, e foram aplicados na parte
prática os princípios concluídos.

A ideia do projeto foi sendo desenvolvida ao longo da pesquisa mais


específica de conteúdo teórico, iniciando com a documentação da câmara relativa
à Quinta e ao espaço envolvente, e com o levantamento presencial da Quinta e da
presente Casa senhorial, tendo sido depois aprofundada a partir dos projetos de
referência e dos casos de estudo que foram surgindo.

Por fim, sendo o reflexo conclusivo do estudo realizado à priori, foi


formulada e mais tarde finalizada a proposta arquitetónica que corresponde às
necessidades previstas para o lugar e para a população.

1.4 | ESTRUTURA

O trabalho está dividido em duas componentes que se designam pela


parte teórica, relativa ao estudo e compreensão dos conceitos abordados, e pela
parte prática relativa à proposta projetual que dá resposta aos mesmos.

Numa primeira abordagem teórica é realizado um enquadramento acerca


do contexto sociodemográfico em Portugal, pois foi a partir deste que surgiu a
problemática, bem como uma pequena refexão sobre a maneira como este
influencia a sociedade de hoje, tornando-a casa vez menos solidária, e qual o
papel que a arquitetura pode ter a esse respeito.

Numa segunda fase são expostas as ideias acerca das gerações infantil e
sénior, e das instituições às quais estão associadas, numa visão histórica e
temporal em separado e em conjunto, para melhor compreender qual a melhor
abordagem para o projeto.

De seguida é feita a relação morfológica e tipológica da arquitetura de um


ponto de vista intergeracional, a partir do entendimento dos pontos anteriores e

|8
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

complementada com casos de estudo que ajudam a uma melhor perceção das
caracteristicas espaciais dos programas específicos propostos.

Por último, ainda nesta componente, é realizada uma síntese que servirá
de ponto de partida para a componente prática a seguir desenvolvida.

No primeiro capítulo da componente prática são feitas descrições do sítio


onde se irá desenvolver o projeto, mais concretamente do lugar, que se entende
pela freguesia de Carnide, e da Quinta, onde se introduz o conceito de memória e
reabilitação e se exploram as características da casa senhorial a ser estudada.

Nos capítulos seguintes é realizada uma memória descritiva da proposta,


onde é apresentado o programa detalhado do projeto e onde são descritas e
fundamentadas as principais opções escolhidas ao longo do processo.

Por último são apresentadas as considerações finais que resumem as


respostas dadas às questões de projeto iniciais e aos desafios que foram
surgindo.

9|
| 10
2 ARQUITETURA DE PROXIMIDADE
ENTRE GERAÇÕES

“O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações


e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade.”

Octavio Paz

11 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES

| 12
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.1 | CONTEXTO SOCIODEMOGRÁFICO PORTUGUÊS

O envelhecimento demográfico traduz-se pela “progressiva diminuição do


peso das gerações mais jovens a favor das gerações mais velhas”2, e é um
conceito que tem vindo a ganhar importância por tudo o que provoca na
sociedade. Em virtude das inovações que apareceram, principalmente ao nível da
saúde a esperança média de vida aumentou consideravelmente, ocorrendo uma
mudança considerável na pirâmide etária. Essa mudança trouxe muitos benefícios
para a sociedade, mas fez também com que a população ficasse cada vez mais
envelhecida.

Ao longo do tempo, Portugal foi sofrendo várias mudanças económicas,


sociais e políticas. Mas foi na segunda metade do século XX que o envelhecimento
passou a ser mais evidente, quando a natalidade ainda permanecia elevada mas
a emigração da população ativa para outros países europeus se revelava também
intensa. Dados estatísticos do INE comprovam que de 1950 a 2011, a
percentagem de idosos no país aumentou 11,4%3, passando a haver mais
pessoas com idades superiores a 65 anos.

Entretanto, a evolução das ciências, também proporcionou um


decréscimo da natalidade, associado à banalização dos métodos contracetivos,
ao facto das mulheres começarem a participar ativamente no mercado de
trabalho, e essencialmente, à falta de estabilidade financeira que o trabalho

2
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.17.
3
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.50.

13 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Contexto sociodemográfico em Portugal

proporciona em Portugal. A partir do momento em que também a natalidade


depende de outros fatores externos, como a economia do país, o envelhecimento
torna-se automático, mesmo que a natalidade não esteja a diminuir ao mesmo
nível de proporção, o que afeta a dinâmica da estrutura da população, tornando-a
desiquelibrada.4

Tudo isto levou a mudanças demográficas sérias e consideráveis,


nomeadamente na composição da pirâmide etária, que pela primeira vez em
Portugal no ano de 2000, mostrou um número de jovens inferior ao número de
idosos (Fig.1).5

Hoje, a pirâmide está cada vez mais invertida evidenciando a população


envelhecida no topo e, consequentemente, a terciarização da sociedade (Fig.2).

Com as alterações que se deram na estrutura da população e na


mentalidade das diferentes gerações, estabelecem-se novos desafios
económicos, sociais, e políticos e, surge o problema do distanciamento da
população idosa em relação à sociedade e/ou comunidade, problema este que
está longe de ser resolvido.

Podemos concluir que vai sempre existir variedade nas tendências


demográficas, mas essa variedade tem vindo a aumentar, o que torna as
projeções demográficas mais complexas, e cada vez é mais necessário analisar
e explorar “novas metodologias”6, pois a sociedade envelhecida em que vivemos
já não está a saber lidar com o seu próprio envelhecimento demográfico. Figura 1. (à esquerda)
Gráfico referente às
transformações dos grupos
etários em Portugal | entre
1950 e 2011

Figura 2. (à direita) Gráfico


referente às diferenças da
estrutura populacional em
1950 e 2011

4
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.18.
5
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.27.
6
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.426.

| 14
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.2 | ARQUITETURA PARA UMA SOCIEDADE MAIS SOLIDÁRIA

“(…) para a efetivação da intergeracionalidade é necessário retomar o senso de


coletividade e solidariedade, ultrapassando o individualismo predominante na
sociedade contemporânea neoliberal.“7

A solidariedade devia ser um ideal presente na cultura portuguesa fazendo


parte dela como um dos seus elementos constitutivos.

Hoje em dia “(…) a identidade social das pessoas depende


fundamentalmente da sua relação com o mundo do trabalho (…) “8 que por ser a
sua única fonte de rendimento regular, traz insatisfação e consequentemente
problemas psicológicos e sociais, que foram tornando a sociedade cada vez mais
individualista.

A par disso, podemos considerar as gerações infantil e sénior como as


mais fracas e desprotegidas da sociedade, pois podem ser facilmente excluídas
de participar nos hábitos e costumes da mesma por serem desvalorizadas. A
geração mais nova por ainda não ter experiência nem conhecimento suficiente do
que é participar ativamente numa comunidade e a sénior por já não estar
atualizada aos ideais de hoje.

Acrescentando, Maria João Valente Rosa afirma que o problema da


sociedade portuguesa é o passado e não o futuro, pois as circunstâncias foram

7
Maria Clotilde Barbosa Nunes Maia de Carvalho – “Relações Intergeracionais Alternativa para minimizar
a exclusão social do idoso”; REVISTA PORTAL de Divulgação, n.28. Ano III. Dez. 2012; Pág.84.
8
Jorge Matias - Extratos de: “Sociedade Solidária”; A. Bruto da Costa – 1995; pág.1.

15 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Arquitetura para uma sociedade mais solidária

mudando, mas as mentalidades mantiveram-se como antigamente, pelo menos


para as pessoas mais velhas, que se vêm agora deslocadas num mundo
totalmente diferente do que estavam habituados. Há por isso, algo na sociedade
de hoje que é muito difícil de mudar, como a forma de pensar das pessoas, mais
relativa aos direitos, aos deveres e aos papéis que certos indivíduos devem ou
não desempenhar9. Aqui, a solidariedade, “(…) aparece como um elemento
crucial para a reconstrução da noção de um futuro comum (…)”10, em que a
situação demográfica em que o país se encontra pode ser “(…) uma oportunidade
para a concretização de novas formas de habitar e de apropriação do espaço,
nestas gerações com novas necessidades e objetivos.”11.

A partir do momento em que a sociedade é mais solidária quando as


gerações respeitam as suas diferenças é que surge o problema, pois dadas as
circunstâncias atuais, esse respeito tem vindo a diminuir. As gerações já não se
conhecem, e por isso nasce a vontade de gerar “(…) uma nova consciência
coletiva (…)”12 que visa a novas harmonias para uma sociedade fragmentada.
Aqui, a função das crianças é fundamental, pois a educação inicial molda a
natureza humana, e uma dinâmica de aprendizagem diferente pode fazer a
diferença na criação de uma nova sociedade, mais tolerante à diversidade.

Por outro lado, o valor social atribuído à idade não vai desaparecer, sendo
jovens, adultos/ativos, ou idosos, pois apesar de sermos a mesma pessoa, temos
uma participação social diversa consoante a etapa que estamos a viver. O
problema, é que esse valor generalizado do conhecimento não liga às reais
capacidades dos indivíduos. Por essa razão, o mais importante não é arranjar
formas de combater o envelhecimento demográfico, mas sim tentar minimizar as
dificuldades inerentes que isso traz, procurando maneiras que possam potenciar

9
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.14.
10
Jorge Matias - Extratos de: “Sociedade Solidária”; A. Bruto da Costa – 1995; pág.1.
11
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.12.
12
Jorge Matias - “Reinventar a Solidariedade”; vd. Público, 2016; pág.1.

| 16
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

os seus benefícios ou pelo menos evitar as ruturas sociais ou geracionais a ele


relacionadas13, como por exemplo a partilha de experiências.

Com o aumento da longevidade, quer-se que exista uma sobrevivência


mais saudável dos últimos anos da população mais idosa. Para isso, para além
das intervenções, são necessárias várias mudanças a vários níveis incluindo
socialmente. Ao transformar a sociedade individualista numa sociedade mais
solidária, a maneira de pensar dos indivíduos pode ser reorganizada, de modo a
diminuir os preconceitos existentes e transformar as mentalidades. Assim, o
processo de envelhecer deixa de implicar o deixar de se desenvolver, fazendo o
idoso manter as suas ‘redes sociais’, deixando-o mais saudável durante mais
tempo. Ao fazer uma intervenção que ajude a reorganizar essas ideias e formas
de pensar, embora lenta, está a trazer-se um benefício à sociedade, mas para isso
acontecer, é necessário ainda que não exista uma resistência à mudança e que a
mentalidade das pessoas esteja apta a mudar.

Com este tema é pertinente realçar o Ano Europeu do Envelhecimento


Activo e da Solidariedade entre Gerações, que trouxe em 2012, pelo Parlamento
Europeu, um programa que visava a sensibilidade dos cidadãos para o desafio do
envelhecimento. Programa este que foi adotado em Portugal na altura, com ações
e atividades sociais, que o eurodeputado Martin Kastler14 afirmou servir para
"Manter a vitalidade dos mais idosos, respeitar a dignidade de todos, promover o
seu envolvimento na sociedade, na vida familiar, associativa, religiosa e política,
além da remoção das barreiras entre gerações (…)"15.

Nos tempos de hoje, em que a projeção de espaços é cada vez mais


marcada pela versatilidade e mudança, a arquitetura, associada a ações
intergeracionais, pode ser considerada um elemento importante, mais simples,
mais concreto e por isso mais positivo, para tornar uma sociedade mais solidaria.
Podendo influenciar e atenuar a resistência à mudança já referida, e assim fazer a

13
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012;
pág.14-15.
14
Político Alemão e membro do Parlamento Europeu no período de 2009 a 2014.
15
ATUALIDADE, Parlamento Europeu – “2012: Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade
entre Gerações. Disponível em: http://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/eu-
affairs/20120106STO34946/2012-ano-europeu-do-envelhecimento-activo-e-da-solidariedade-entre-
geracoes [consultado a 20-09-2018].

17 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Arquitetura para uma sociedade mais solidária

diferença para aproximar as gerações e consequentemente a sociedade,


simplesmente por criar espaços dinâmicos que potenciem o conhecimento das
várias gerações e o convívio expontâneo entre elas, às vezes sem se aperceberem,
para as tornar mais abertas às suas diferenças e ao que é novo ou velho.

Hertzberger16 é um arquiteto que procura este género de arquitetura social


e que através de diferentes espaços consegue proporcionar uma visão digna da
sociedade e de diferentes gerações, afirmando: “Alguns chamam-me de arquiteto
social (…), mas eu estou apenas à procura da dignidade das pessoas (…). As
dimensões devem basear-se na vida, e essas dimensões desaparecem
completamente na arquitetura, muitas manipulações da arquitetura hoje não estão
a fazer ou a dar mais dignidade às pessoas (...). Os arquitetos devem melhorar as
condições das mesmas, com a escala de onde estão e do que fazem, para que
estas tenham a melhor aparência e sentimento espiritual.”17 (Fig.3).

Figura 3. Arquitetura que


permite aos idosos uma uma
vivência íntima e digna | De
Dre hoven, Hertzberger

16
Herman Hertzberger nasceu a 6 de julho de 1932 em Amesterdão, e é considerado um arquiteto
holandês contemporâneo de destaque. É também professor emérito e foi o último arquiteto holandês a
receber a medalha real de ouro.
17
Herman Hertzberger – “Social Architecture”; DRIE, sfuduthdesign.ca; 2015. Disponível em:
https://vimeo.com/133877065?ref=em-share [consultado a 23-07-2018]. Tradução livre. Citação
original: “Some call me social architect (…) but I’m just after dignity of people (…). The dimensions
should be based on the life, and those dimensions are completely gone in architecture, many
architecture manipulations today are not making or giving people more dignity (…). Architects
should make people better, with the scale of where they are and what they are doing, so that they
come to the best appearance and spiritual feeling.”.

| 18
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.3 | AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMÍLIA

Uma geração é compreendida por um grupo de pessoas que vivem num


determinado período com certas experiências culturais, morais e tecnológicas que
as fazem ver o mundo de forma diferente.

Para um lugar destinado a varias gerações com premissas específicas e


distintas é necessário compreender como é que estas estão tanto na sociedade
como na família, o que inclui a sua forma de estar na vida e num determinado
espaço, e qual a sua evolução temporal, tendo em conta que os dias de hoje são
o reflexo dos acontecimentos de antigamente, e que a forma de estar foi variando
consoante a cultura vivida.

As alterações culturais e sociais que foram ocorrendo têm hoje muito


impacto no que diz respeito a valores e vivências, tanto para as crianças como
para os idosos. Vivências estas que foram seguindo, de certa forma, o
pensamento arquitetónico.

O conceito de ‘vivência’18, traduz-se na maneira individual de como se


experiencia a vida, o que está diretamente relacionado com conceitos como o
‘habitar’, ‘residir’, morar’, conceitos que têm em comum o sentido figurado do
‘estar’, do ‘povoar’ e do ‘permanecer’ num determinado lugar. Lugar este que tem
significados diferentes para cada uma das gerações tendo em conta que os idosos

18
"VIVÊNCIA", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, https://dicionario.priberam.org/VIV%C3%8ANCIA [consultado a 21-09-2018].
1. Processo ou manifestação de estar vivo. = VIDA
2. Experiência ou modo de vida.

19 |
AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMILIA
A geração infantil

passam mais tempo nas suas casas e que as crianças, de um modo geral,
passam mais tempo na escola.

A par do sítio onde passam mais tempo, a casa faz parte da sua rotina e
consequentemente influencia a sua vida. Antigamente a noção de habitação não
implicava nenhum grau de parentesco, era o sítio onde habitava um agregado de
pessoas que partilhavam as atividades domésticas e que tinham possivelmente
um trabalho comum. Para além disso a funcionalidade dos diferentes espaços da
casa não era delineada, existindo ocasionalmente uma coincidência de usos. Só
a partir do séc.XIX é que surge uma transição para a privacidade, como uma
inovação na organização social, por parte da burguesia.19

Ainda assim, até à segunda metade do séc.XX, ainda existiam muitos


conflitos no seio familiar pois a individualidade de cada elemento não era
reconhecida, havendo muito contato entre as várias gerações mas de uma forma
pouco saudável, principalmente relativa aos relacionamentos das gerações infantil
e sénior.

Deste modo, é relevante perceber como é que cada geração ‘vive em


casa’ no seu seio familiar e como é que vive num espaço coletivo, pois a vivência
de cada uma pode gerar formações diferentes para um determinado espaço.

2.3.1 | GERAÇÃO INFANTIL – A VIVÊNCIA POR PARTE DAS CRIANÇAS

Esta geração tem presente a constante mudança e crescimento, tratando-


se de crianças no início do seu desenvolvimento. São por isso sujeitas a algumas
limitações, apenas por dependerem dos seus pais e das atividades associadas
aos mesmos.

19
António Santos Leite – “A Casa Romântica: Uma Matriz para a Contemporaneidade”; Lisboa:
Caleidoscópio, 2015; pág.46.

| 20
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Por essa razão, para esta geração mais nova, a adaptação ao espaço
habitacional é fundamental nas suas vivências, por ser um espaço de interação
familiar e conseguir fornecer um sentimento de pertença, conforto e segurança.

Inerente a esta geração está também a constante aprendizagem, sendo a


instrução um dos princípios nas suas vivências.

Antigamente as crianças aprendiam em casa até que estivessem


preparadas para se introduzirem no mundo laboral, situação que mudou por volta
do séc.XVII, com o progresso da sociedade que levou à consequente noção do
‘privado’, mesmo dentro do seio familiar. O ensino e a educação passaram a ser
valorizados também no mundo exterior, em que a criança, ao invés de ficar no seu
‘casulo’, convivia com outros da sua idade e ficava mais preparada para o futuro.

As crianças passam assim a frequentar as escolas, instituições


educacionais, que ao início se tratavam de internatos, em que as mesmas ficavam
afastadas das famílias por mais tempo, mas que, simultaneamente, eram
coagidas para se relacionarem (Fig.4).

No séc.XX, com todos os lugares destiados às crianças, a sua vivência


acontece maioritariamente fora da sua habitação, o que faz com que o
afastamento em relação aos pais se torne mais evidente. Para além disso,
associado também a ocorrências como as mulheres entrarem no meio do
trabalho, ao distanciamento dos homens que iam para a guerra, e aos fluxos

Figura 4. Creche de 1980 |


Evidência para uma vivência e
aprendizagem coletiva

21 |
AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMÍLIA
A geração infantil – A vivência por parte das crianças

migratórios que iam acontecendo, a relação dos pais com os filhos vai sendo cada
vez mais escassa, o que proporciona uma reaproximação dos avós face às
crianças e ao espaço familiar, algo que se tinha perdido com a privatização do lar,
e que passa a ser imprescindível na base famíliar.20

Mais tarde, com o acentuar das divisões privadas dentro de casa e com
as inovações tecnológicas, as crianças mudam de entretenimentos e começam a
passar mais tempo em casa, nos sítios privados a elas destinados, o que faz com
que, não só a ‘rua’ perca a definição de ‘recreio’ que tinha até então, como deixa
de existir a socialização com as outras crianças fora do tempo escolar.

Hoje, crianças e jovens vivem perante uma incerteza social marcada pela
transitoriedade, que é frágil e se transforma com facilidade, levando a uma
instabilidade que afeta tanto as relações pessoais como o trabalho futuro.21 Assim,
para um adequado desenvolvimento da criança é fundamental que esta, entre os
2 e os 7 anos, tenha um contato ativo com alguém adulto que transmita os
ensinamentos essenciais.22

Podemos concluir que a principal diferença entre a evolução e


crescimento da criança de antigamente para a atualidade é maioritariamente
relativa à sociabilização, que anteriormente era mais acessível e natural dentro das
suas vivências e que hoje, pela variedade de espaços individuais, é efémera.
Tornando-se cada vez mais necessária a criação de outros momentos que
proporcionem relações entre crianças da mesma idade e de outras, pois “Se a
nossa sociedade precisa de se regenerar, deve começar com a primeira
infância.”23.

20
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.23.
21
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.172.
22
Cristina Maria Nunes de Oliveira – “Relações intergeracionais: um estudo na área de Lisboa”; Lisboa:
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2011; Dissertação de Mestrado; pág. 9.
23
“Arquitectura Viva - Primera infância – Doce escuelas en España, dos en Italia e dos en Japón”; In Rv.
nº126, 2009; pág.3. Tradução livre. Citação original: “Si nuestra sociedad ha de regenerarse, debe
comenzar por la primera infancia.”.

| 22
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.3.2 | GERAÇÃO SÉNIOR - A VIVÊNCIA POR PARTE DOS IDOSOS

Com as diversas transformações demográficas já abordadas, a ‘velhice’


é um conceito que tem sofrido algumas alterações. Anteriormente era mais
frequente enaltecer a velhice e os idosos, como sendo pessoas sábias e anciãs
essenciais na vida familiar, que ensinavam os costumes e que pela sua
experiência de vida eram respeitados em frequente submissão, devendo-se
também ao facto de chegarem à velhice ainda com uma idade saudável, sendo
que na altura a esparança média de vida era reduzida.24

Por outro lado, mesmo neste tempo, em certos assuntos mais perto do
final da vida, a velhice era também tomada como um fardo ou até repudiada,
associada à falta de capacidade motora, levando já ao abandono dos idosos.
Situação que se intensificou entre o séc.XVIII e XIX com a revolução industrial,
pela quantidade de novos trabalhos que exigiam um esforço físico superior ao
‘normal’, para os quais os idosos já não estavam aptos, apesar de serem ainda
ativos e saudaveis, sendo substituídos pelas gerações mais jovens.

Este fenómeno foi contribuindo para a segregação desta geração. Os


idosos foram sendo postos de parte nas atividades da sociedade, envelhecendo
em casa, muitas vezes excluidos e na solidão, tornando-se uma geração isolada
simplesmente pela circunstância da diminuição das famílias associada à baixa
natalidade.

No séc.XX, com a esperança média de vida mais alongada, o pensamento


altera-se ligeiramente, quem passa para a reforma já é considerado ‘velho’, e por
isso ‘não ativo’. O Conceito de velhice passa a ser associado a uma forma mais
negativa, como por exemplo à morte, o que leva a que os próprios idosos se
consciencializem que é a ultima fase da vida humana, uma fase em que os
projetos para o futuro parecem insignificantes e em que a deterioração física do
individuo toma conta de tudo o resto. Passam a existir sentimentos relacionados

24
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.20.

23 |
AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMLIA
A geração sénior – A vivência por parte dos idosos

com uma falta de protagonismo ao que representavam anteriormente, como o


desalento, a frustração e a infelicidade.25

Além disso, foi ocorrendo uma certa “(…) inadaptação do idoso aos
padrões ideais estabelecidos pela sociedade (…)”26, pela sua maneira de ser e de
pensar desatualizada que os foi afastando cada vez mais. Todavia, apesar dos
costumes já não serem os mesmos e de existir ainda esta duplicidade de
perspetivas de antigamente em relação à velhice, a capacidade dos idosos está a
transformar-se a par do seu pensamento cada vez mais acessível.27

Atualmente, a velhice é um termo usado que ainda remete para uma


observação de invalidez mas que que já não se designa a uma geração inteira e já
não é fixo em termos de idade, pois depende da pessoa, “ (…) da sua vivência
passada, hábitos, estilos de vida, género, condicionantes genéticas e da própria
sociedade em que se vive.”28. Podendo ser visto do ponto de vista biológico, com
incapacidades físicas, ou de um ponto de vista social, marcado pela passagem à
reforma. Ainda assim, não é uma doença, é apenas uma fase do crescimento que
faz parte do desenvolvimento do ser humano e que é inevitável.29 Tudo isto,
juntamente com o afastamento de companheiros e amigos, também causados
pelo fim de vida, cria um efeito próprio de solidão social.

Contudo, a valorização do estado do idoso pode ser favorecida com a sua


acumulação de sabedoria e experiência em atividades perante certas áreas, como
por exemplo a artística ou a de investigação30. Hoje em dia há idosos que ficam
em casa, segregados da população, porém também há aqueles que representam
papéis importantes na família e são ativos na sociedade.

25
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.21.
26
Natália Maria Moura Medeiros – “Co.Habite; Uma experiência de habitação para a terceira idade”;
Fortaleza, Brasil, Universidade Federal do CEARÁ; Centro de tecnologia; Curso de arquitetura e
urbanismo; 2017; Trabalho Final de Graduação; pág.20.
27
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.21.
28
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.20.
29
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.420 e 421.
30
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.22.

| 24
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Deste modo, as pessoas idosas não devem ser vistas como inativas, mais
pobres ou menos instruídas que o resto da população, até porque isso não ajuda
à sua autonomia, que é um dos pontos essenciais para um envelhecimento
saudável, sendo uma das suas necessidades básicas, que influenciam aspetos
que necessitam para assumir o controlo da sua vida, como a sua integridade,
dignidade e independência31. O envelhecimento ativo subentende a interação
social, que os torna mais comunicativos e abertos (Fig.5), pressupondo de uma
cultura da idade que defende o direito ao trabalho qualquer que ele seja.”32, e
incentivando a que os idosos façam exercícios “(…) de uma qualquer atividade,
profissional ou outra (de utilidade social ou não).”33.

Com isto, está implícito que a idade não pode nem deve ser um fator que
determine se o idoso pode ou não desempenhar algum tipo de atividade, porque
cada idoso é diferente e a idade já não define a capacidade.

Figura 5. Vivência e interação


social entre idosos quando as
atividades e os espaços são
convidativos para tal | Lar de
idosos De Overloop,
Hertzberger, 1984, Holanda

31
Natália Maria Moura Medeiros – “Co.Habite; Uma experiência de habitação para a terceira idade”;
Fortaleza, Brasil, Universidade Federal do CEARÁ; Centro de tecnologia; Curso de arquitetura e
urbanismo; 2017; Trabalho Final de Graduação; pág.24.
32
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.426.
33
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.60.

25 |
AS GERAÇÕES NA SOCIEDADE E NA FAMLIA
A geração sénior – A vivência por parte dos idosos

Os idosos de hoje, entendidos pela população com mais de 65 anos, já


têm melhores recursos escolares do que os de antigamente, mas ao mesmo
tempo os níveis de rendimento das suas reformas, que marcam o cessamento da
atividade, têm vindo a agravar-se, provocando um final de vida ativa cada vez mais
precário.34 Apesar disso, as suas aptidões escolares, estão a transformar os seus
estilos de vida pós-reforma, que englobam a autonomia e a capacidade de
interação social e de intervir socialmente35, tornando-os mais ativos. Isso vai
melhorar a visão exterior e pré-definida que se tem das pessoas idosas.

Podemos concluir que a idade avançada é “(…) um estado difuso, vivido,


sentido e percepcionado de forma diversa, desde o seu enaltecimento até ao
repúdio.”36, e que o apoio social é um dos fatores mais importantes para o idoso,
que apenas quer o seu reconhecimento na sociedade. Cabe agora tentar enaltecer
esta idade durante mais tempo e de forma subtil e cuidada, não só através de
atividades adequadas às suas reais capacidades relacionadas com as suas
formações, como através do conforto e lazer.

34
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.106.
35
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.107.
36
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.22.

| 26
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.4 | A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA

As gerações infantil e sénior, ainda que separadas pelo tempo, têm


necessidades em comum que a geração adulta e ativa pode prescindir com mais
facilidade, mais concretamente referentes às questões de acessibilidade e de
saúde. Dito isto, as duas gerações podem estar relacionadas em aspetos como o
espaço em que vivem e habitam, lugar onde passam mais tempo, e a comunidade
em que estão inseridas.

Segundo Heidegger37, para habitar, não é necessário existir um espaço


construído, pois é uma ação inerente à condição humana, afirmando: “(…) habitar
é o modo como os mortais são e estão sobre a terra.”38, mas a construção não
deixa de ser um meio que facilite essa vivência, reconhecendo que “(…) a
essência de construir é deixar habitar.”39.

Havendo um espaço construído num lugar, subentende-se uma certa


individualidade, como sendo um tipo de ‘separação’ do resto, tal como uma noção
de convivência e comunidade se um espaço for projetado para tal, pois uma
construção é um conceito vago que pode determinar vários lugares distintos. Um
lugar habitado é aquele que o sujeito, ao perceber e apropriando-se da sua
essência consegue tornar-lo seu ainda de que seja de outros também, assim até

37
Martin Heidegger (1889 – 1976) foi um filósofo, escritor, professor universitário e reitor alemão, que
foi "amplamente reconhecido como um dos filósofos mais originais e importantes do século 20”.
38
Martin Heidegger – “Construir, Habitar, Pensar”; in AA.VV. “Ensaios e Conferências”; Trad. Maria Sá
Cavalcante Schuback; Petrópoles, 2002; pág.128.
39
Martin Heidegger – “Construir, Habitar, Pensar”; in AA.VV. “Ensaios e Conferências”; Trad. Maria Sá
Cavalcante Schuback; Petrópoles, 2002; pág.139.

27 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
A instituição – Uma vivência coletiva

um espaço público pode ser habitado, se tiver presente uma ideia de hábito e
repetição que fornece a alguém uma determinada vivência (Fig.6 e 7).

Após uma abordagem ao tipo de vivência de cada geração40, podemos


dizer que ambos os espaços, residência e escola, associados a cada uma, não
são apenas lugares de passagem nem correspondem a ‘não-lugares’, entendidos
como lugares intermédios de espaços realmente habitados que são o oposto dos
espaços personalizados.41 São sim, espaços onde há uma certa “(…) ideia de
costume, frequência, repetição (…)”42, onde a pessoa interage em continuidade,
e vai formando memórias e sentimentos que se assemelham ao processo de
habitar e consequentemente de ‘viver’, um processo que perdura, através da
criação de relações tanto com as pessoas como com os espaços.

O homem, desde que existe o conceito de ‘familia’ que sabe habitar num
espaço em conjunto, numa habitação, mas habitar num espaço com outros sem
pertencerem ao seu seio familiar já é um pouco diferente, como acontece numa
instituição.

Considera-se uma instituição como sendo uma organização ou um


estabelecimento que proporciona uma vivência coletiva, pressupondo de espaços
de interação, direcionada a uma temática específica para trazer benefícios aos
indivíduos que lá habitam. Para as gerações em causa, a escola é a instituição
direcionada à criança e o lar/residência sénior, é a instituição direcionada ao

Figura 6. (à esquerda)
Apropriação de um espaço
semi-público exterior para a
realização de uma atividade
pessoal | Lar de idosos De
Overloop, Hertzberger, 1984,
Holanda

Figura 7. (à direita) Apropriação


do mesmo espaço para o
convívio pontual | Lar de
idosos De Overloop,
Hertzberger, 1984, Holanda

40
Ver Capítulo 2.3. “As gerações na sociedade e na família”; pág.19.
41
Marc Augé – “Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade”; Tradução de Maria
Lúcia Pereira; Brasil: Campinas, SP; Papirus, 1994 – (Coleção Travessia do século).
42
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.13.

| 28
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

idoso, ainda que mais perto do fim da vida tendo em conta que as suas ‘casas’
são a sua prioridade.

Associado a uma instituição ou até mesmo a uma casa, está presente


também a divisão entre público e privado, conceitos que influênciam a noção de
‘privacidade’ apenas explorada a partir do séc.XIX. Esta divisão é um fator
importante para entender a evolução dos espaços institutivos programáticos, pois
ambos têm presentes espaços públicos e privados, que têm sofrido alterações ao
longo do tempo por serem realidades históricas que foram sendo construídas de
maneiras diferentes e por sociedades distintas, que podem influenciar um espaço
criando condicionamentos ou possibilidades.43

Na Idade Média, a ideia do ‘privado’ era escassa, havendo uma


sobrevalorização da solidariedade em que as pessoas se preocupavam mais com
o ‘coletivo’. Ainda assim existiam ‘vazios’, em determinados lugares comunitários,
que ofereciam zonas de intimidade através de espaços de descanso quer dentro
das habitações quer fora, em espaços naturais, como por exemplo os recantos
das janelas, embebidas em grandes paredes, que proporcionavam lugares
particulares e de refexão.44

Apenas na Idade Moderna, a partir do séc. XVII, é que a configuração do


privado ligeiramente, quando surgiram sítios destinados à atividade das relações
sociais e coletivas, como os clubes e cafés, fazendo com que a casa perdesse
“(…) o carácter de lugar público que possuía em certos casos (…)”45 e ganhasse
uma atividade de vida íntima e familiar.

A partir daí, em finais do séc.XVIII e inícios do séc.XIX, surgem diferentes


abordagens com o intuito de fornecer maior conforto e segurança aos indivíduos,
proporcionando espaços específicos, coletivos ou individuais, que separassem o
lazer, a família e o trabalho. Tornando o individualismo o precedente desta época.

43
Antoine Prost – “Fronteiras e espaços do privado”; in AA.VV. “História da vida privada, 5: Da Primeira
Guerra a nossos dias”; organização Antoine Prost, Gérard Vincent; tradução Denise Bottmann; Dorothée
de Bruchard, posfácio. — São Paulo: Companhia das Letras, 2009, Volume 5; pág.15.
44
Philippe Ariès – “Para uma história da vida privada”; in AA.VV. “História da Vida Privada: Do
Renascimento ao Século das Luzes”; Dir. de Philippe Ariès e Georges Duby; Trad. Fátima Martins; Porto:
Afrontamento, 1990, Volume 3; pág.8.
45
Philippe Ariès – “História Social da Criança e da Família”; Trad. Dora Flaksman; 2ª Edição. Rio de
Janeiro: Zahar, 1981; pág.274,

29 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
A instituição – Uma vivência coletiva

Neste contexto, introduz-se o conceito de ‘falanstério’ criado por Charles


Fourier46, que ao estudar a sociedade, o crescimento urbano e a industrialização,
percebeu que a preferência do Homem pelo anonimato e introspeção era evidente,
propondo, como resposta ao individualismo e para não se perder a noção de
comunidade, uma estrutura arquitetónica autossuficiente que se desenvolvesse
no meio rural com terrenos agrículas adjacentes (Fig.8). Assemelhando-se assim
a uma cidade que seria como uma base para a transformação social, em que as
unidades de trabalho (fábricas) e as unidades de habitação para os trabalhadores,
acompanhadas por jardins que funcionavam como locais de convívio, fossem
iguais para todos proporcionando uma vida confortável (Fig.10).

Contudo, apesar da proposta de uma vida de forma cooperativa ser


chamativa numa altura de depressão económica e de ideias individualistas, o seu

Figura 8. Perspetiva do
falanstério de Charles Fourier

Figura 9. (em baixo) Planta


esquemática do falanstério
de Fourier

Figura 10. Fotografia do


interior do falanstério

46
Charles Fourier (1772 – 1837) foi um socialista francês da primeira parte do século XIX, considerado
um dos pais do cooperativismo e que se opunha à industrialização.

| 30
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

fracasso foi inevitável devido ao seu rápido crescimento que cativou muitos que
não estavam preparados.47

Por conseguinte, as atividades relacionadas com a comunidade, por


serem interesse de todos num conjunto, passam a ser responsabilidade do
estado, e em simultâneo, com a transformação e evolução da habitação,
começam a aparecer pequenas bibliotecas e escritórios para uso pessoal dentro
do espaço caseiro, o que proporciona uma pivacidade cada vez mais saudável.

Esta privacidade saudável torna-se então, no séc.XX, ponte para “(…)


novas formas de ‘habitar em conjunto’ (…)”48, dando lugar a instituições como a
escola e a residência sénior.

No âmbito desta reflexão e para este projeto, posteriormente a entender


como as gerações estão na sociedade, é necessário compreender então como se
formaram estas instituições, lugares vividos regularmente ao longo do tempo
pelas gerações em estudo, de um ponto de vista arquitetónico, com a finalidade
de explorar e apurar formas de conexão entre estes programas coletivos, distintos
e privados, para que as gerações possam conviver no mesmo lugar mantendo as
suas individualidades.

2.4.1 | A INSTITUIÇÃO PARA A GERAÇÃO INFANTIL – CRESCER EM


COMUNIDADE

Um lugar, representado num contexto arquitetónico espacial, não só é


associado a um espaço de casa e/ou habitação como pode ser associado a outros
contextos sociais específicos, assegurando carências físicas e psicológicas.
Assim uma instituição para a geração infantil compreende desde escolas até

47
Historia del mundo contemporáneo – “Falansterio”; Javier; Janeiro de 2016. Disponível em:
http://historietasdeayerydehoy.blogspot.com/2016/01/unidad-3-actividades-imagenes.html [consultado
a 25-09-2018].
48
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.22.

31 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração infantil – crescer em comunidade

espaços ludicos ou de saúde. Porém, a escola é considerada o principal contexto


social da criança, uma ‘segunda casa’ onde esta cresce em comunidade, ganha
conhecimento, identidade e vai projetando aos poucos o seu futuro, como
evidencia Luis Fernández-Galiano49 quando afirma que “Poucos anos são tão
críticos quanto os primeiros da criança, e talvez poucas influências tão decisivas
quanto os espaços onde ela cresce: nenhuma arquitetura tem maior importância
no nosso desenvolvimento do que a das escolas infantis, onde nos tornamos tanto
indivíduos autônomos como seres sociais, modelados por um ambiente
construído que nos fala em silêncio.”50 É por isso relavante compreender de que
forma é que o espaço construído impacta e influencia a criança, tendo em conta
que a instituição escolar é um ambiente destinado a uma geração que está no
começo do seu desenvolvimento e que vai aí formar as suas primeiras memórias
e desenvolver o seu carácter.

Por desempenhar um papel decisivo na vida futura de uma criança, a


solução arquitetónica deste tipo de equipamento foi sofrendo várias alterações ao
longo do tempo de modo a criar e proporcionar a “matriz nutritiva”51 necessária a
esta geração.

A necessidade de existir um espaço para a instrução da criança surge no


séc.XVII por parte de religiosos e percetores, mas estes eram poucos pela
persistência das famílias em quererem educar as crianças no seio familiar. É
apenas a partir do séc.XIX que começam a aparecer mais unidades escolares
infantis como as que conhecemos hoje, acompanhadas pela necessidade de
proteção das crianças face à envolvência industrial trazida pela revolução,
associada também à inserção das mulheres no mundo laboral.

Estas unidades escolares foram formando a sua própria arquitetura


consoante os métodos de pedagogia que foram aparecendo, desde “(…)

49
Luis Fernández-Galiano é um arquiteto espanhol, professor universitário na Escola de Arquitetura da
Universidade Politécnica de Madri (ETSAM) e diretor da revista “Arquitetura Viva”.
50
“Arquitectura Viva - Primera infância – Doce escuelas en España, dos en Italia e dos en Japón”; In Rv.
nº126, 2009; pág.3. Tradução livre. Citação original: “Pocos años tan críticos como los primeros del
niño, y acaso pocas influencias tan decisivas como los espacios donde crece: ninguna arquitectura
tiene importancia mayor en nuestro desarrollo que la de las escuelas infantiles, donde nos hacemos
a la vez individuos autónomos y seres sociales, modelados por un entorno construido que nos habla
en silencio.”.
51
“Arquitectura Viva - Primera infância – Doce escuelas en España, dos en Italia e dos en Japón”; In Rv.
nº126, 2009; pág.3, “(…) matriz nutricia (…)”.

| 32
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Pestalozzi, Froebel, Steiner ou Montessori (…)”52 até ao método funcionalista


mais comum, e que cada sociedade foi adotando consoante o que pretendia
ensinar.

A primeira abordagem que surge, relativa a espaços para as crianças,


remete para a associação das mesmas com o ‘pátio’ ou ‘jardim’, associada à ideia
de brincar ao ar livre e da sua inocência, de onde aparece a expressão de
‘Kindergarden’ criada por Froebel53, fundador do primeiro jardim de infância. Este,
seguidor dos princípios de Pestalozzi54, defendia que o ensino, não sendo uma
obrigação, dependia dos interesses de cada um, em que as ‘brincadeiras’ são o
meio primário que leva à aprendizagem e as atividades expontâneas que as
crianças desenvolvem funcionam para a sua “auto-educação”.55

Mais tarde, ainda no séc.XIX, conhecendo as expressões dos educadores


acima referidos, Owen56 cria, a que viria a ser uma das primeiras referências do
que hoje se conhece como educação comunitária, “the new Institute for the
Formation of Character”57, este defendia que a criança devia começar o seu ‘treino
social’ o quanto antes e que a presença da comunidade era essencial para o seu
desenvolvimento ativo.58

No séc.XX a presença da escola é finalmente consolidada na vida dos


indivíduos, mas é apenas no fim da 1ª guerra mundial, pela necessidade de novos
equipamentos no ambiente do pós-guerra, que se começa a expandir
rapidamente, integrando o estilo do movimento moderno da época. Como é o caso
da “Kensal house” (Fig.11 a 13), a mais antiga habitação social britânica

52
“Arquitectura Viva - Primera infância – Doce escuelas en España, dos en Italia e dos en Japón”; In Rv.
nº126, 2009; pág.3,
53
Friedrich Fröbel (1782-1852) era um pedagogo e pedagogista alemão.
54
Pestalozzi (1746-1827) foi um educador suíço que que acreditava que os sentimentos podiam
despertar uma autonomia de instrução na criança,e que por isso era essencial uma educação integral,
que não se baseava apenas no conhecimento, dando valor à disciplina interior moral, o que proporcionou
à criança um afeto especial pela sala de aula, que não era conseguido noutras escolas da época.
55
Márcio Ferrari – “ Friedrich Froebel, o formador das crianças pequenas”; Nova escola, pensadores da
educação; Outubro de 2008; pág. 2.
56
Robert Owen (1771-1858) era um reformista social e foi um importante socialista utópico do Reino
Unido.
57
Luísa Bigode – “Espaços para a infância: o projeto centrado na criança”; Lisboa: IST, 2013; Tese de
mestrado; pág.17. Este instituto era destinado a crianças dos 18 meses aos 10 anos e todo o espaço
era projetado para as mesmas.
58
Ian Donnachie – “Education in Robert Owen’s New Society: The New Lanark Institute and Schools”; in
the encyclopedia of informal education; 2003. Disponível em: www.infed.org/thinkers/et-owen.htm.

33 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração infantil – crescer em comunidade

modernista projetada para trabalhadores com uma escola infantil, incluída na obra
numa disposição semi-circular em frente ao bloco habitacional, o que a faz manter
um contacto dinâmico, próximo e permanente com um ambiente familiar, e realçar
a importância que têm as crianças numa sociedade em mudança.59 Esta escola
infantil, que por sua vez, foi influênciada pela tipologia de escola infantil “Caryl
Peabody”60 projetada por Gropios61 que enfatizava a divisão das árias funcionais,

Figura 11. (à esquerda) Planta


de localização do bloco social
habitacional Kensal house |
Projeto de Maxwell Fry e
Elizabeth Denby | Londres,
1936

Figura 12. (à direita) Planta da


escola infantil de Kensal
house

Figura 13. Fotografia do


ambiente externo central de
Kensal House

Figura 14. (à esquerda)


Fotografia no terraço da ‘Unité
d’Habitation’ | Atividade da
escola | Marselha, 1952

Figura 15. (à direita)


Fotografia no terraço da
‘Unité d’Habitation’ |
diversidade e dinâmica dos
espaços | Marselha, 1952

59
Mark Dudek – “Kindergarten Architecture: space for the imagination”; London: Spon Press, Second
edition; 2000; pág.36.
60
Projeto que, apesar de relevante na história tipológica escolar, nunca foi construído.
61
Walter Gropios (1883 – 1969) era um Arquiteto alemão, pioneiro da arquitetura moderna, que defendia
os princípios funcionalistas. Em 1919 fundou a escola Bauhaus, uma referência na arquitetura e no
design, e em 1937 foi ainda diretor do curso de arquitetua na Universidade de Harvard.

| 34
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

separando as áreas destinadas às crianças das restantes, e a relação da


construção com o ambiente exterior (Fig.13).

Outro exemplo, é o terraço que Le corbusier62 projetou como parte


integrante do bloco habitacional ‘Unité d’Habitation’, um edifício imponente que
procurava recuperar a prática da vida urbana em comunidade. Realçando a
importância do papel social das crianças numa comunidade por incluir, no terraço,
um espaço longe do ruído urbano, uma creche e uma escola infantil, dispostas
num ambiente dinâmico emocionante para a mente criativa das crianças (Fig.14
e 15).63

Relativo aos princípios educacionais desta época, destacam-se ainda


Montessori64 e Steiner65 que pelos seus ideais educacionais trouxeram novas
influências para a arquitetura. Montessori acreditava que cada criança era
relevante, e que o ensino se devia direcionar para a particularidade de cada uma,
que desenvolvia naturalmente capacidades intelectuais apenas por se relacionar
mentalmente com o ambiente construído polivalente (Fig.16 e 17). De outra parte,
Steiner, defendia que o desejo à aprendizagem devia ser verdadeiro e que as
atividades menos convencionais eram mais significativas do que os ensinamentos
formais, dando origem ao método ‘Waldorf’, uma pedagogia que ligava a arte à
aprendizagem (Fig.18).

A arquitetura, em coerência com os dois métodos que se baseiam num


processo natural de crescimento das crianças, deve evidenciar este processo
evitando as formas convencionais de modo a parecer estar também em constante
mutação, como acontece por exemplo com as formas dinâmicas e/ou mais
orgânicas, que concedem às crianças um equilíbrio de sentidos (Fig.19).66

62
Le Corbusier (1887-1965) era um arquiteto e artista suíço considerado um dos arquitetos mais
influentes do séc.XX.
63
Luísa Bigode – “Espaços para a infância: o projeto centrado na criança”; Lisboa: IST, 2013; Tese de
mestrado; pág.27.
64
Maria Montessori (1870-1952) era uma médica e pedagoga italiana que através da observação das
crianças, desenvolveu um método que se baseava na atividade e no estímulo das mesmas, criando a
sua primeira escola em itália, a “Casa dei Bambini” (Casa das Crianças), com a tipologia que se espalhou
pelo mundo.
65
Rudolf Steiner (1861-1925) era um fisosofo austríaco, que foi um dos pedagogos pioneiros do início
do sécXX.
66
Luísa Bigode – “Espaços para a infância: o projeto centrado na criança”; Lisboa: IST, 2013; Tese de
mestrado; pág.21.

35 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração infantil – crescer em comunidade

Em Portugal, a conceção de escola infantil chegou mais tarde, quando


Casimiro Freire, em 1882, com o método de João de Deus67, criou a associação
das escolas móveis68. Em 1911 foi então inaugurado o primeiro ‘Jardim-Escola
João de Deus’ (Fig.20), que consistia num espaço central do qual todas as outras
áreas funcionais divergiam69, uma arquitetura que serviu de exemplo para as
próximas escolas desta tipologia (fig.21 e 22).

Através da perceção desta evolução dos espaços destinados às crianças,


tanto no mundo como em Portugal, notamos que existe uma diversidade de
abordagens consoante o que era necessário ao longo dos tempos, mas apesar
dessa diversidade, todas as iniciativas funcionaram à sua maneira pois tinham
sempre por base o bem-estar da criança.

Podemos concluir então que a criação de espaços para as crianças não


é linear, pois existem várias etapas de ensino, e por isso temáticas específicas
para cada idade. Apesar disso, todas devem transmitir tanto uma qualidade

Figura 16. (em cima, à


esquerda) Método não-
convencional de Montessori |
Ambiente de ma sala de aula |
1907

Figura 17. (em cima, à direita)


método não-convencional de
Montessori | diversidade
tipologica das zonas de
aprendizagem num espaço
polivalente | 1907

Figura 18. (em baixo, à


esquerda) Primeira escola
Waldorf | Estugarda, 1919

Figura 19. (em baixo, à direita)


Planta orgânica do infantário
Steiner Nant-Y-Cwm | baseado
na tipologia do método Waldorf
| País de Gales, 1979

67
Método que o poeta e pedagogo João de Deus Ramos (1830-1896) desenvolveu pelo problema da
analfabetização do país, que consistia num ensino de leitura que este designou por “Cartilha Maternal”,
por ser um ensino destinado a ser feito pelas mães.
68
Hoje em dia considerada uma IPSS.
69
Restos de Colecção - “Jardins-escolas João de Deus”; Setembro de 2014. Disponivel em:
http://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/09/jardins-escolas-joao-de-deus.html [consultado a 24-
11-2018].

| 36
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 20. (à esquerda) Alçado


principal e planta do 1º Jardim-
Escola João de Deus |
desenhado pelo arquiteto Raul
Lino | Coimbra, 1911

Figura 21. (em cima, à direita)


Sala de aula do Jardim-Escola
João de Deus na Avenida
Álvares Cabral | Lisboa, 1917

Figura 22. (em baixo, à direita)


Sala polivalente do Jardim-
Escola João de Deus na
Avenida Álvares Cabral |
Lisboa, 1917

pública, de modo a proporcionar uma valência social, proporcionando à criança


uma intrepertação natural do meio urbano, como habitacional, para transmitir à
mesma um ambiente caseiro e confortável.

O posicionamento da arquitetura e da sala está relacionada com o método


de ensino usado, a forma como a sala de aula recebe os alunos, a disposição das
mesas e das cadeiras, os campos de visão dos alunos ou até de onde o professor
está sentado, são ocorrências que podem interagir com o método de ensino e
com o aproveitamento das crianças.

Hoje não se sabe se algum dos métodos acima referidos é o mais correto,
mas independentemente do tipo de ensino, sabe-se que tal como um edifício pode
transmitir sensações diferentes consoante a sua funcionalidade, uma boa escola
deve reforçar e proporcionar a alegria de viver, através de espaços criativos de
aprendizagem que tenham versatilidade para proporcionar à criança uma
‘perceção que complementa o sonho’.

Dito isto, algumas premissas a considerar para a construção destes


espaços, que ajudem concretamente à aprendizagem, podem baseiar-se em:
projeções de formas dinâmicas não-convencionais, em que um ‘corredor’ do qual

37 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração infantil – crescer em comunidade

divergem as salas não é uma preferência, pois é um sistema organizacional antigo


e formal que se aplicava ao conceito de convento, o que não se justifica numa
escola onde a criança precisa de expandir a sua imaginação; em espaços
versáteis, onde uma sala de aula possa ter liberdade para várias atividades,
incluindo práticas mais espontâneas, como as artes plásticas e o teatro70; e em
que a abundância de luz natural é evidente ou até ‘alcançada’, através de uma
ligação direta com o exterior e com a natureza.

Para além disso, os artigos do Programa nacional para o reordenamento


da rede escolar do ensino básico e da educação pré-escolar71 defendem que as
experiências com outras valências associadas à própria instituição escolar, como
por exemplo bibliotecas, salas polivalentes, e envolvente exterior, são
enriquecedoras, pois a abertura da escola à comunidade é uma vertente que a tem
vindo a sobressair e a marcar pela positiva, pela valorização que se da à relação
de complementaridade e proximidade da criança com a escola e com outros
equipamentos urbanos.72

Afirmando assim, que num plano urbano prévio, é aconselhado a que lhes
agreguem, sempre que possível, equipamentos sociais partilhados com as
comunidades locais, desde jardins e parques a outros centros escolares ou de
terceira idade73.

Por fim, podemos reconhecer que qualquer proposta que apoie as


premissas descritas, e permita a partilha de recursos e a colaboração de espaços
com equipamentos sociais, mediante uma “(…) linguagem abstrata (...)” que
afasta a “(...) percepção restrita (…)”74, traz à geração em causa vantagens e
benefícios não só pessoais, mas também culturais e sociais.

70
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.36.
71
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Programa nacional para o reordenamento da rede escolar do ensino
básico e da educação pré-escolar I e II.
72
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – “I- Pressupostos de enquadramento do programa nacional para o
reordenamento da rede escolar do ensino básico e da educação pré-escolar”; pág.2.
73
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – “I- Pressupostos de enquadramento do programa nacional para o
reordenamento da rede escolar do ensino básico e da educação pré-escolar”; pág.2.
74
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.37.

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ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.4.2 | A INSTITUIÇÃO PARA A GERAÇÃO SÉNIOR – ENVELHECER EM


COMUNIDADE

A instituição para o idoso não apareceu ao mesmo tempo que a instituição


para a criança, pois para a geração sénior, e com o avançar da idade, cada vez
mais as suas casas são o ‘cenário’ central das suas vidas, no sentido em que a
casa, entendida como o espaço caseiro de intimidade plena, é onde a maior parte
das suas vivências é passada e onde ainda há memórias do passado75. Por essa
razão surge o conceito de ‘aging in place’76, em que os idosos preferem
envelhecer na sua casa, no seu meio confortável, “(…) integrando constituintes
do ambiente interno (habitação), do ambiente externo de proximidade e do
ambiente em torno das redes locais de suporte (…)”77, deduzindo que, “(…) não
só a habitação própria, mas, igualmente, a vivência de outras situações
estruturadas na comunidade (…)”78 envolvente onde habitam e com a qual são
próximas e estão em contacto diariamente, é considerada o seu meio natural,
ainda que o espaço, não sendo projetado dinamicamente para todas as gerações,
não seja já compatível com as suas necessidades, principalmente relacionadas
com as fragilidades de mobilidade.

Dito isto, o aparecimento da instituição deve-se à necessidade de uma


nova casa, que não só dá apoio ao idoso nas tarefas do dia-a-dia, como pode dar
resposta às carências de saúde e ajudar na interação social, por ser um espaço

75
Michelle Perrot – “Maneiras de habitar”; in AA.VV. “História da Vida Privada: Da Revolução à Grande
Guerra”; Dir. Michelle Perrot; Trad. Armando Luís de Carvalho; Porto: Afrontamento, 1990, Volume 4;
pág.323.
76
Em português: Envelhecer em casa.
77
Ignacio Martin; Gonçalo Santinha; Susana Rito; Rosa Almeida – “Habitação para pessoas idosas:
problemas e desafios em contexto português”; in “Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto” (tema: Envelhecimento demográfico); 2012; pág.181. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10586.pdf [Consultado a 22-09-2018].
78
Ignacio Martin; Gonçalo Santinha; Susana Rito; Rosa Almeida – “Habitação para pessoas idosas:
problemas e desafios em contexto português”; in “Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto” (tema: Envelhecimento demográfico); 2012; pág.179. Disponível em:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/10586.pdf [Consultado a 22-09-2018].

39 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração sénior – envelhecer em comunidade

onde o encontro com outros é quase inevitável. Fazendo surgir o conceito de


‘assisted living’79.

A preocupação de um espaço para os idosos surgiu a partir dos mesmos


no séc.VI, quando tiveram a necessidade de um lugar tranquilo e de repouso, lugar
este que lhes era apenas fornecido através de retiros em mosteiros. A partir daí
os mosteiros começaram a criar alojamentos que deram origem ao primeiro plano
de “(...) asilo de idosos (...)”80, um conceito que começava a evidenciar o refúgio
e isolamento da sociedade mais velha.

A par dos mosteiros, já existiam enfermarias em equipamentos


hospitalares, necessárias na assistência médica daqueles que se encontravam
delebitados na velhice e não só, eram espaços que dispunham de salas amplas e
inúmeras camas que serviam para tratar doentes com a única preocupação de
prevenir os contágios com o resto da sociedade81 e acolher qualquer um que
precisasse de abrigo.

Mais tarde, no séc.XVIII o contexto do hospital alterou-se, tendo em conta


alguns avanços na medicina, deixando “(...) de ser apenas um espaço onde se
está à espera da morte para passar a oferecer uma expectativa de cura.”82. Assim,
os asilos passam a acolher somente doentes, crianças e idosos e a ter mais
condições, como a ventilação, a separação dos espaços consoante a patologia e
novas zonas especificas que ajudavam à funcionalidade, seguindo sempre o
esquema de cruz similar ao dos hospitais, com o intuito de utilizar o espaço
longitudinal proporcionado pela nave central.83 Fazendo surgir, em França a partir
do séc.XII, hospitais com utilidades particulares.84

79
Em português: Viver com assistência.
80
Alberto Montoya – “Habitar na Velhice - Evolução dos dispositivos arquitectónicos”; Porto: FAUP,
2010; pág.1.
81
Alberto Montoya – “Habitar na Velhice - Evolução dos dispositivos arquitectónicos”; Porto: FAUP,
2010; pág.2.
82
Alberto Montoya – “Habitar na Velhice - Evolução dos dispositivos arquitectónicos”; Porto: FAUP,
2010; pág.2.
83
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.34.
84
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.29.

| 40
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

No séc.XIX segue-se o esquema de pavilhão, considerado ideal para


projetos hospitalares, após o exemplo do hospital Laboisière (Fig.23), por poder
abergar um numero consideravel de utentes e conseguir adaptar os espaços
consoante as nessecidades.85

Posteriormente, a carência dos asilos foi sendo alterada e surge uma


tendência arquitetonica que implica a implantação de um grupo de edifícios em
lugar da construção singular que existia até então, proporcionando vantagens
como a diminuição dos corredores longitudinais e a maior abundância de luz,
proporcionando maior conforto ao idoso.86 Como é o caso do Sanatório de
Waiblingen de 1926 (Fig.24).

Já no séc.XX, devido aos novos ideais terapêuticos propostos pelos


geriatras, os principios arquitetónicos voltam a transformar-se para assegurar os
ambientes necessários aos novos programas. Nesta altura, já se considerava
importante que os idosos continuassem nas suas casas, em constante relação
com a comunidade mais proxima, ainda assim, aparece o conceito de ‘lar de
idosos’, composto por “(...) um programa completo de cuidados orientados

Figura 23. (em cima) Planta do


hospital Laboisière | Paris,
1839

Figura 24. Sanatório de


Waiblingen | Projetado por
Richard Dõcker | 1926

85
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.39 e 40.
86
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.40 e 41.

41 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração sénior – envelhecer em comunidade

(...)”87, um tipo de instituição dedicado exclusivamente à geração mais velha, com


zonas de tratamento e reabilitação para aqueles sem condições para morarem
sozinhos, tentando oferecer a esta geração uma alternativa de habitação com uma
comodidade semelhante à das suas casas.

Como é o caso do lar de idosas Childs & Smith (Fig.25 e 26), que já se
encontrava em envolvente urbana e proporcionava atividades sociais,
demonstrando a intenção da inclusão da comunidade na vida dos idosos, e dividia
os vários serviços por pisos, incluindo dormitórios, áreas recreativas, de terâpia e
tratamento, e os serviços comuns, mantendo sempre as areas de maior
permanência a sul; e do Retiro Don Orione (Fig 27 a 29), com as mesmas
características funcionais e uma composição mais longitudinal.88

Até então, os lares apoiavam idosos de todas as idades se estes se


encontrassem dependentes por alguma razão, e é em 1956 que se definem as
fases de dependência dos mesmos, decompondo-os em níveis de total
dependência, dependência parcial e independência, que ajudaram nas conceções
arquitetónicas que tinham de dar resposta a determinados tipos de mobilidade,
propondo diferentes estabelecimentos de residência para os determinados níveis,
evidênciando “(...) a diferença entre, o que é ter uma vida independente e uma
vida institucional.”89. Havendo desde unidades hospitalares de assistência médica

Figura 25. (à esquerda)


Fachada principal do lar para
idosas de childs & Smith |
Evanston, Ilinóis, 1954

Figura 26. (à direita) Planta


tipo do lar para idosas de
childs & Smith | Ilinóis,
1954

87
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.42.
88
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.45 a 49.
89
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.52.

| 42
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 27. Fachada principal


do lar Don Orione | Boston,
Massachussets, 1954

Figura 28. Planta do 2ºandar


do lar Don Orione |
Massachussets, 1954

Figura 29. (em baixo) permanente até pequenas unidades habitacionais que se adaptavam à mobilidade
Ambiente interior do quarto
duplo do lar Don Orione | do utente e já justificavam o idoso independente e ‘ativo’, tendo sempre por base
Massachussets, 1954
uma valência género hoteleira.90

A partir da decada de 70, aparecem mais equipamentos institucionais


localizados nos arredores da cidade, com uma visão que dava mais dignidade aos
utentes, dando um tipo de apoio menos evidente à geração evitando a
especificidade institucional, proporcionando dinâmicas comunitárias, e
incorporando uma tipologia arquitetónica de apartamentos autónomos próximos
de enfermarias, que diferenciavam parcialmente no seu interior as áreas íntimas
das áreas sociais, como é o caso das Casas Needham (Fig. 30 a 32) e da
Península Volunteers (Fig. 33 e 36), com apartamentos ligados à natureza graças
a vistas transversais e dispostos à volta de um pátio, servidos por uma galeria
exterior interna.91

90
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.53.
91
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.54 a 56.

43 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração sénior – envelhecer em comunidade

Figura 30. (em cima, à esquerda)


Ambiente interior das residências
das casas Needham de Wiliam
Hoskins Brown Associates |
Divisória parcial da habitação |
Nedham, Massachusetts, 1962

Figura 31. (em cima, à direita)


Plantas tipo das residências
duplas das casas Needham |
Massachusetts, 1962

Figura 32. (em baixo à esquerda)


Fachada externa do conjunto das
casas Needham |
Massachusetts, 1962

Figura 33. (em baixo à direita)


Ambiente do pátio interno da
peninsula volunteers de
Skidmore, Owings e Merrill |
Vista da galeria exterior interna |
Menlo Park, Califórnia, 1962

Dentro deste contexto, é evidente a intenção de proporcionar otimismo a


esta geração, como acontece no projeto de uma residência para idosos por Walter
Thiem92 (Fig. 34 e 35), em que o “(...) projeto está concebido a partir da ideia de
evitar tanto o caráter triste de uma residência de anciãos, quanto o de uma igreja.”,
interligando os serviços base com os apartamentos, a comunidade envolvente e
uma igreja, como fonte espiritual, propiciando à partilha das zonas comuns com
outras gerações.93

Em suma, podemos dizer que tal como nas instituições para a geração
mais nova, a dualidade de qualidades é evidente, neste caso a residêncial e a
hospitalar, e que os espaços destinados aos idosos foram mudando consoante
os ideais da sociedade no que toca ao entendimento do conceito de velhice e da
perceção de terceira ou quarta idade94, passando de asilos e hospitais públicos,
para unidades acessíveis perto de comunidades até unidades assistidas com um

92
Walter Thiem (1938-2017) foi um arquiteto alemão veterano do exército dos EUA, que trabalhou
grande parte da sua vida na Corp of Engineers.
93
Ana María Fenegra Quevedo – “Residências para idosos: critérios de projeto”; Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2002; Programa de
pesquisa e pós-graduação em arquitetura; pág.58 a 60.
94
A terceira e quarta idade caracterizam a idade biológica e social de um idoso, considerando as
mudanças físicas que levam às alterações bio-psicológicas do mesmo, sendo que a quarta idade é a
que evidência as transformações mais elevadas.

| 44
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 34. (à esquerda)


Vista da fachada Este das
residências para idosos e
centro comunitário | Projeto
de usos mistos projetado por
Walter Thiem | Alemanha,
1975

Figura 35. (à direita) Planta


do piso térreo das
residências para idosos,
centro comunitário e igreja
de Walter Thiem | Alemanha,
1975

carater mais pessoal e privativo. No entanto, nesta evolução variada de espaços


para idosos podemos realçar algumas características arquitetónicas comuns que
podem realmente fazer diferência à vivência dos mesmos, como projetos que se
Figura 36. (em baixo) Plantas
dos tipos de unidades da organizam longitudinalmente, com poucos andares, complementados por jardins
peninsula volunteers |
Califórnia, 1962
que podem dar um contato direto com a natureza.

Em Portugal a maioria da população vive nas cidades, consequentemente,


o processo de envelhecimento vai acontecer com maior abundância nos meios
urbanos95. Além disso, numa instituição é importante considerar a vida que o
idoso leva, que na cidade pode ser mais ativa e dinâmica, pela acessibilidade que
esta fornece a diferentes locais, confrontando a situação de alguns lares existentes
nas periferias das cidades, sendo por isso importante que existam mais lares no
meio urbano96. Um lar não deve ter elementos envolventes que possam perturbar
a estadia dos residentes, mas isso não invalida o facto de não poder situar-se na
cidade, antes pelo contrário. Promover as relações é tão importante dentro como
fora das instalações do equipamento, é essencial para o idoso a saída regular do
lar para a criação de uma rotina que difere de dia para dia, ajudando assim no seu
desenvolvimento social e pessoal.

A par disso, apesar da presença da família ser salvaguardada e um fator


que desenvolve um efeito de abrandamento no afastamento da população idosa e

95
Apesar de no meio rural ser frequente haver população da geração mais velha.
96
Hoje existem poucos apoios para a geração mais idosa que não pára de crescer, e este défice de
serviços tende a agravar-se, para além de que estes equipamentos séniores costumavam ser construidos
em terrenos mais baratos longe das cidades, e por isso longe da sociedade, não se promovem as trocas
sociais, o que leva ao aumento do abismo entre a geração sénior e o resto da população.

45 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração sénior – envelhecer em comunidade

na sua institucionalização, o número de indivíduos institucionalizados tem


tendência para vir a aumentar, pois com o aumento de viúvos e divorciados em
idades mais avançadas, cada vez é mais difícil manter os idosos nas suas
residências, especialmente os mais dependentes, com 85 e mais anos.97 Ainda
assim, como o idoso prefere a família como opção principal de ajuda, as
instituições devem fornecer sentimentos como segurança e intimidade que a
família consegue transmitir.

A questão que se coloca é então se a instituição consegue promover o


que a família consegue e ajudar no processo de envelhecimento, não o piorando,
pois há manifestações patológicas que podem formar perturbações relacionadas
com a dependência e possível regressão da regeneração que acontecem pelo
efeito que a instituição pode transmitir se for mais hospitalizada do que
residencial.98

O artigo da Direcção-Geral da Acão Social99 afirma que a premissa deste


tipo de instituições, tanto de lares como de residências sénior, que são diferentes
lugares de estadia, seja ajudar na integração social do idoso, um tema que hoje
em dia tem vindo a ser mais necessário por razões já referidas100, através de um
alojamento coletivo, de estadia temporária ou permanente, com serviços
adequados a cada pessoa e às suas problemáticas relacionadas com fatores
biológicos, psicológicos e/ou sociais.101

Lugares que procuram proporcionar à geração sénior os serviços


adequados e necessários para a sua satisfação e bem-estar, “(…) fomentando o
convívio e propiciando a animação social e a ocupação dos tempos livres dos

97
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.432.
98
AA.VV. – “Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento Da População Portuguesa (1950-2011):
Evolução e Perspectivas”; Direção Mário Leston Bandeira; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos
Santos, 2014; pág.121.
99
Direção Geral de Acão Social (DGAS); “Guia Prático; Como criar um Lar para Idosos”; Propriedade da
Associação Nacional de Jovens Empresários; Da autoria de Suzana Alípio (Academia dos
Empreendedores) AIP; pág.1.
100
Ver Capitulo 2.3.2 - “GERAÇÃO SÉNIOR - A VIVÊNCIA POR PARTE DOS IDOSOS”; pág.23.
101
Direcção-Geral da Acção Social (Condições de implantação, localização, instalação e funcionamento)
Lisboa, Dezembro de 1996; Núcleo de Documentação Técnica e Divulgação; Da autoria de Catarina de
Jesus Bonfim, Manuel Martins Garrido, Maria Eugénia Saraiva e Sofia Mercês Veiga; pág.7.

| 46
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

utentes.”102, de forma a estabilizar ou até mesmo retardar o envelhecimento, e


ajudando, se possivel, a ter condições que incentivem e preservem as relações
intrafamiliares, podendo acolher idosos que à partida não tenham muitas
alternativas em relação à sua situação social, familiar, económica e/ou de saúde,
isto é, desde idosos que querem estar num lar ou que estão ao abandono, até
idosos numa situação de maior risco de perder a sua independência e autonomia.

Dito isto, uma iniciativa institucional devia promover só por si a diminuição


da segregação a que o idoso estaria sujeito se vivesse sozinho, pelo facto de
existirem mais como ele, criam-se relações, empatias, situações e vivências que
ajudam à dinamização da vida do mesmo, mas ao juntar todos os idosos num
mesmo sitio podemos estar a ciar um problema, pois nem todos estão aptos a
conviver e os que não estão podem trazer desconforto aos outros residentes.

A privacidade foi identificada então como uma dificuldade que influencia


o modo de viver e habitar, que não tem sido preservada. Existe “(…) a
necessidade de regular a interação com os outros de acordo com a experiência
prévia de privacidade, e o contacto permanente com residentes com capacidades
cognitivas muito diferenciadas (…)”103, pois ter alternativas para permitir a
privacidade pode facilitar a interação social104. Ou seja, é tão importante haver a
noção do coletivo como cada um poder controlar a sua convivência, pois a
convivência com outros idosos em pior estado ou com as mesmas
características, necessidades e problemas pode não ser benéfica, podendo levar
ao envelhecimento precoce e até ao aparecimento de demências mais cedo do
que seria de esperar.

Um lar não deve ser considerado um asilo, mas um novo espaço para
habitar que promove tanto espaços intimos e como de atividades, que ajudam à
integração de cada idoso no que o rodeia, ponderando a diferença de capacidades
que cada um tem de realizar certas atividades.

102
Direção Geral de Acão Social (DGAS); “Guia Prático; Como criar um Lar para Idosos”; Propriedade
da Associação Nacional de Jovens Empresários; Da autoria de Suzana Alípio (Academia dos
Empreendedores) AIP; pág.1.
103
Patrícia Guimarães Cabrita Matias- “Soluções residenciais para idosos em Portugal no séc.XXI,
Design de Ambientes e Privacidade”; Lisboa, Agosto de 2016; Doutoramento em Design; pág.V.
104
Victor Regnier – “Design for Assisted Living, Guidelines for Housing the Physically and Mentally Frail”;
Nova Iorque; John Wiley & Sons, 2002; pág.256.

47 |
A INSTITUIÇÃO – UMA VIVÊNCIA COLETIVA
A instituição para a geração sénior – envelhecer em comunidade

Deste modo, há muitos fatores sociais e humanos que podem atuar na


conceção da privacidade e na estabilidade “(…) entre o respeito pela autonomia
e o apoio na dependência (…)”105, mas estes podem ser também
complementados pelas áreas do design e da arquitetura, pois a perceção do
espaço pode e deve ajudar nesses fatores.

Podemos concluir então que, em termos arquitetónicos, a maneira de


proporcionar uma diferente vivência dos espaços para fatores de privacidade,
conforto e bem-estar necessários é evidenciar certos espaços coletivos e/ou
públicos e certos espaços privados, bem articulados, sem obstaculos e com
diversos lugares complementares de estadia, desde recantos das janelas até
zonas de estar, que estimulem e proporcionem momentos de sociabilização,
convívio e familiaridade,106 possibilitando a adaptabilidade desses espaços de
acordo com as vontades dos residentes e através da abundância da luz e de
materialidades naturais que transmitem conforto, como por exemplo a madeira.

105
Patrícia Guimarães Cabrita Matias- “Soluções residenciais para idosos em Portugal no séc.XXI,
Design de Ambientes e Privacidade”; Lisboa, Agosto de 2016; Doutoramento em Design; pág.V.
106
Patrícia Guimarães Cabrita Matias- “Soluções residenciais para idosos em Portugal no séc.XXI,
Design de Ambientes e Privacidade”; Lisboa, Agosto de 2016; Doutoramento em Design; pág.V.

| 48
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.5 | UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES

“Aproximar gerações é objetivo do trabalho social que busca quebrar barreiras


geracionais, eliminar preconceitos e vencer discriminações”107

‘Proximidade entre gerações’ implica a relação entre duas ou mais


gerações, geralmente com características diferentes, num determinado lugar.
Esse lugar deve então responder às características particurares de cada uma e,
ao mesmo tempo, ser um espaço com elementos e situações que propiciem à
sua interação.

Podemos considerar que a vida se desenvolve em três fases principais: a


formação, a vida ativa e a reforma. Fases estas que ao serem interligadas,
principalmente por parte das pessoas da geração mais velha, podem levar a um
pensamento mais positivo e até de satisfação em relação à fase por qual estão a
passar108. A junção evidente de pelo menos duas destas fases num mesmo lugar,
a formação e a reforma, faz com que a sua proximidade seja mais fácil de alcançar
por parte tanto das gerações mais velhas como das mais novas, por partilharem
semelhanças como impotência e auxílio.

A par disso a relação entre gerações pressupõe também de uma


consciência de comunidade, nunca excluindo outras gerações com as quais a
partilha pode ser ocasional mas também mais prática e harmoniosa, sendo por

107
Dirceu Nogueira Magalhães; Serafim Fortes Paz – “Intergeracionalidade e cidadania”; Artigo; 2000;
pág.153.
108
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012.

49 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Uma instituição de proximidade entre gerações

isso relevante que se envolva a geração ativa da sociedade como ‘elo intermédio’
de ligação.

Uma institução que suporte este conceito pode ser então um conjunto de
espaços que consigam agregar atividades das várias gerações para
aproveitamento de todos.

2.5.1 | A INTERGERACIONALIDADE

A ‘intergeracionalidade’109 vem de uma ligação de intermediação e relação


entre várias gerações, apontada como uma dinâmica positiva para a sociedade,
porque promove uma integração de todas as partes envolvidas e por ser um
convivio que implica a solidariedade entre as partes110, sendo um dos grandes
desafios do séc.XXI.

Cada geração tem interesses particulares que sucedem das decisões e


vontades individuais e próprias, e de influências sociais, culturais, económicas e
politicas, relativas principalmente à atualidade. Mas isso não quer dizer que não
possam concordar em algumas questões associadas às mesmas. Dessa

Figura 37. Ligação


intergeracional entre as
gerações mais afastadas da
sociedade

109
“Intergeracional”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, Disponível
em: http://www.priberam.pt/DLPO/intergeracional [consultado a 13-11-2017].
110
Ver capítulo 2.2 – “ARQUITETURA PARA UMA SOCIEDADE MAIS SOLIDÁRIA”; pág.15.

| 50
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

desigualdade e “(…) diversidade é que surge a possibilidade de transmitir e


adquirir novos saberes, a partir das semelhanças e diferenças de cada
geração”.111

Podemos referir que as relações familiares são a primeira abordagem a este


tema, pois é um meio que envolve várias gerações e em que a prática relacional
remota desde sempre, mostrando a relação entre netos e avós como a real
manifestação do contato intergeracional.112

Esta relação entre netos e avós ja sofreu muitas alterações, começou por
ser valorizada, quando os idosos representavam o nome de família, até à 2ª guerra
mundial, em que, com os pais na guerra, os avós passam a ser apenas uma
necessidade de apoio como alternativa, até aos anos 60, em que a mudança do
FAMÍLIA
conceito de família torna os avós como personalidades quase nulas na vida dos
GRAU DE RELAÇÃO

netos. A partir dos anos 90, com o começo do aumento da longevidade dos
idosos, as familias vêm-se no dever de apoiar os membros familiares mais velhos,
promovendo o alargamento dos agregados familiares.113
CRIANÇAS IDOSOS
GRAU DE DISTANCIAMENTO
Hoje, o esquecimento das relações familiares das crianças com os seus
Figura 38. Esquema das avós é acentuado, uma convivência que devia fazer parte da sua natureza vai-se
relações entre gerações na
família perdendo, e as crianças crescem sem o interesse por esta geração, perdendo-se
os possíveis ensinamentos através de vivências, experiências e partilhas (Fig.38).

Podemos reconhecer que, com tantas mudanças socioculturais, as trocas


intergeracionais, apesar de estarem mais presentes no seio familiar até meados
do séc.XX, passaram a necessitar de ajudas externas, fazendo surgir, por volta
dos anos 60, o conceito institucional intergeracional nos EUA que viria a responder
positivamente à discriminação existente face à idade, através de programas
sociológicos que unissem os mais velhos e os jovens.114 Um exemplo deste tipo
de iniciativa é o projeto “Entre Gerações” proposto pela Gulbenkian que para

111
Maria Clotilde Barbosa Nunes Maia de Carvalho – “Relações Intergeracionais Alternativa para
minimizar a exclusão social do idoso”; REVISTA PORTAL de Divulgação, n.28. Ano III. Dez. 2012; pág.86.
112
Cristina Maria Nunes de Oliveira – “Relações intergeracionais: um estudo na área de Lisboa”; Lisboa:
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2011; Dissertação de Mestrado; pág. 4.
113
Stella António – “Avós e Netos: Relações intergeracionais. A Matriliniaridade dos Afectos”; Lisboa:
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2010; pág.22 e 23.
114
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.48.

51 |
UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
A intergeracionalidade

estimular o relacionamento entre gerações e o espírito para uma comunidade


coesa, interveio com várias iniciativas, como por exemplo a articulação de lares e
centros de dia com escolas, tanto em Portugal como no Reino Unido.115

As associações intergeracionais que foram aparecendo têm então como


objetivo primordial aproximar pessoas de várias idades, através de atividades
comuns, benéficas a cada uma, que criem a oportunidade de coompreensão e
respeito das mesmas pela pluralidade inerente numa sociedade.

2.5.2 | AS RELAÇÕES INTERGERACIONAIS – PROBLEMÁTICAS E


BENEFÍCIOS

As relações podem ter vários significados consoante o contexto em que


estão inseridas, mas é um conceito sempre mencionado quando se quer dar
enfase à conexão afetiva entre dois elementos. Na vertente intergeracional esta
relação pode ser vista como um vínculo que se estabelece entre indivíduos de
idades diferentes que estão em diferentes fases do seu desenvolvimento,
proporcionando e “ (…) possibilitando o cruzamento de experiências (…)
contribuindo para a unidade dentro da multiplicidade.”116.

O ‘Idadismo’ (ageism)117 “(…) significa discriminação, habitualmente


negativa, das pessoas com base na idade.”118, situação que está a ser cada vez
mais intensificada tanto na visão da sociedade e dos jovens e crianças em relação
aos idosos como ao contrário. No entanto, está associada a argumentos muito
discutíveis, como a menor capacidade produtiva do idoso, que como já foi

115
Laurinda Alves - “Entre Gerações”; Lisboa: Gulbenkian, Março de 2012.
116
Cristina Maria Nunes de Oliveira – “Relações intergeracionais: um estudo na área de Lisboa”; Lisboa:
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 2011; Dissertação de Mestrado; pág. 4.
117
Todd D. Nelson - “Ageism: Stereotyping and Prejudice against Older Persons”; MIT Press, A Bradford
Book, 2002.
118
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.56.

| 52
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

referido119, depende do envelhecimento individual de cada um. Isto cria um


problema que se define pelo afastamento acentuado, principalmente entre as
crianças e os idosos.

As relações intergeracionais não só podem melhorar o desenvolvimento


individual, como também trazer “(...) vantagens ao nível institucional e
económico.”120. Em relação ao primeiro por permitirem às gerações mostrar a sua
maneira de estar num espaço comum às mesmas, havendo automáticamente
uma maior abertura, compreensão e até valorização das características de cada
uma, por se tratar de um ambiente com uma noção de comunidade, que fornece
um sentimento de pertença, tolerância e compreensão (Fig.39 e 40). E em relação
à instituição e economia, por evidenciar uma melhoria social política e ao mesmo
tempo uma atenuação dos recursos, tornando-se estruturas complementares
com os recursos divididos e por isso mais sustentadas financiamente, e
implementadas em conjunto fornecendo programas mais eficientes e
interligados.121

Para a geração infantil concretamente, já se referiu que a interação com


entidades adultas ou sériores contribuem para o seu crescimento equilibrado por

Figura 39. Compreensão das


gerações através da
realização de atividades
intemporais

119
Ver capítulo 2.3.2 – “GERAÇÃO SÉNIOR - A VIVÊNCIA POR PARTE DOS IDOSOS”; pág.23.
120
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.50.
121
Willem Van Vliet – “Creating Livable Cities for All Ages: Intergenerational Strategies and Initiatives”. in
“UN-Habitat’s Global Dialogue on Harmonious Cities for All Age Groups at the World Urban Forum IV”;
[Em linha]. Nanjing, 2008; pág.14 a 17. Disponível em:
http://www.colorado.edu/cye/sites/default/files/attached-files/CYE-WP1-
2009%20website%20verson.pdf ; [consultado a 21-10-2018].

53 |
UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
As relações intergeracionais – Problemáticas e benefícios

Figura 40. Aproximação entre


as gerações por um simples
contar de uma história

transmitirem à mesma uma noção do todo, ademais, a aprendizagem que adquire,


por vir de testemunhos de vida reais, através de conselhos e apoio emocional, traz
competências práticas, mais ricas e verdadeiras.122

Para a geração sénior, a intergeracionalidade pode funcionar como um


“(…) processo de desenvolvimento e manutenção da capacidade funcional que
permite alcançar o bem-estar da terceira idade.”123, em que a interação social a
que são expostos pode faze-los retornar a uma vida completa e com sentido, pois
a energia, o afeto e a vitalidade contagiante das crianças transmitem ao idoso uma
renovação de sentimentos associados a conforto e satisfação, para além de uma
maior vontade de conviver, um fator comprovado pelo programa “Entre Gerações”
em que os idosos tiveram “(...) melhorias tanto físicas como mentais (...)”124.
Assim, a atividade não profissional, mas de ensinamentos, como ‘ser professor’
da sua sabedoria e experiências, transmitem à criança vários valores úteis, e
ajudam na vivência ativa do idoso, ainda que com pouca agilidade, pelo
entusiasmo que este tem ao dar à criança o que tem de mais valioso,
enriquecendo as suas relações.125

122
Natália Maria Moura Medeiros – “Co.Habite; Uma experiência de habitação para a terceira idade”;
Fortaleza, Brasil, Universidade Federal do CEARÁ; Centro de tecnologia; Curso de arquitetura e
urbanismo; 2017; Trabalho Final de Graduação; pág.23.
123
Natália Maria Moura Medeiros – “Co.Habite; Uma experiência de habitação para a terceira idade”;
Fortaleza, Brasil, Universidade Federal do CEARÁ; Centro de tecnologia; Curso de arquitetura e
urbanismo; 2017; Trabalho Final de Graduação; pág.24.
124
Fundação Calouste Gulbenkian – “A necessidade” [Em linha]. Disponível em:
http://intergenerationall.org/main-page/about/the-need/?lang=pt [consultado a 21-12-2018].
125
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.56.

| 54
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Contudo, independentemente de todos estes benefícios, está intrínseca a


problemática não só da diferença de idades como da situação social em que as
gerações se inserem, que pode restringir algumas atividades que poderiam ter
em conjunto. Reforçando a ideia de que não só é importante ter um bom
aproveitamento das áreas coincidentes, como realçar a individualidade de cada
um pertencente a uma geração com necessidades específicas, através de
espaços dinâmicos que respeitem essa singularidade.126

A conexão de programas que dão apoio a cada uma das gerações pode ser
um ponto de partida para a sua interação pontual. Deste modo, as gerações neste
tipo de iniciativas devem complementar-se de alguma forma, nem que seja por
serem opostos, tornando a ‘coexistência’ em ‘coeducação’. Em que o contato
entre gerações é de transmissão mútua e educativo para ambas, podendo
modificar a percepção, normalmente negativa, de cada uma.127

126
Willem Van Vliet – “Creating Livable Cities for All Ages: Intergenerational Strategies and Initiatives”. in
“UN-Habitat’s Global Dialogue on Harmonious Cities for All Age Groups at the World Urban Forum IV”;
[Em linha]. Nanjing, 2008; pág.19 e 20. Disponível em:
http://www.colorado.edu/cye/sites/default/files/attached-files/CYE-WP1-
2009%20website%20verson.pdf ; [consultado a 21-10-2018].
127
Maria Clotilde Barbosa Nunes Maia de Carvalho – “Relações Intergeracionais Alternativa para
minimizar a exclusão social do idoso”; in REVISTA PORTAL de Divulgação, n.28. Ano III. Dez. 2012; pág.
85.

55 |
UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES

2.5.3 | A INSTITUIÇÃO INTERGERACIONAL – VIVER EM COMUNIDADE


E RELAÇÃO DE VIZINHANÇA

“Esse espaço é o lugar do conhecimento mútuo: cada qual é conhecido num certo
número de particularidades de sua vida privada por pessoas que não são parentes
(…) e que no entanto não são estranhas (…). A proximidade espacial cria um
conhecimento mútuo pelo menos aproximativo (…)”128

Atualmente, basta observar as mentalidades para perceber que as


instituições para as gerações não estão a conseguir evitar a segregação por parte
dos idosos, simplesmente por serem localizadas em locais mais segregados o
que leva também à repetição dos mesmos. Assim é importante ligar o conceito
intergeracional ao contexto urbano a partir de um “planeamento
multigeracional”129 que implica a relação com a vizinhança, em que, para além
das gerações mais vulneráveis, o bairro se pode integrar também nesta
diversidade de relações e até ajudar com algumas abordagens cívicas de apoio,
promovendo a todos os elementos essenciais e permitindo à criança e ao idoso
crescer e envelhecer em ‘casa’.

Deste modo, a primeira abordagem deve ser convidar os residentes a


conviver com a comunidade envolvente, participando em iniciativas que procuram
servir também a comunidade vizinha, podendo tornar os idosos menos fechados
e absorvidos em si próprios e as crianças mais extrovertidas, fomentando o
contacto social.

Hoje em dia os espaços e lugares de apoio social já são “(…) concebidos


através da noção de mutação e versatilidade, necessárias para os tempos
atuais.”130, pois há cada vez mais diversidade na população. Como já foi referido,

128
Antoine Prost – “Fronteiras e espaços do privado”; in AA.VV. “História da vida privada, 5: Da Primeira
Guerra a nossos dias”; organização Antoine Prost, Gérard Vincent; tradução Denise Bottmann; Dorothée
de Bruchard, posfácio. — São Paulo: Companhia das Letras, 2009, Volume 5; pág.116.
129
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.52.
130
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.1.

| 56
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

para formar esta ideia de lugar intergeracional, apesar de ser um sítio com um uso
misto, deve ter-se em consideração as necessidades distintas de cada grupo para
o equipamento.

Apesar disso, pode dizer-se que as gerações partilham vários interesses,


necessidades e preocupações, mais concretamente a procura de lugares
tranquilos, habitações acessíveis e serviços necessários próximos, como por
exemplo os transportes, elementos que se inexistentes podem provocar o
aumento da dependência, tanto dos idosos como das crianças e jovens.131

Um apoio social pode vir de várias maneiras, inclusive na realização de


trabalhos ou atividades em grupo, pois o contato social promove o cultivo de
hábitos mais saudaveis quer das crianças quer dos idosos. Para além disso, a
observação a outros diariamente, de uma maneira informal só por si, já estimula
lembranças e vontades, principalmente se se tratarem de crianças, que por serem
cheias de vida e genuinidade, transmitem recordações da infância.

Para além dos serviços já referidos, Existem várias maneiras de


estabelecer uma ligação e possível relação com a comunidade, como por exemplo
por meio de bibliotecas, centros desportivos e até mesmo capelas.132

Uma instituição intergeracional pode ser então complementada com estes


elementos e/ou um complexo habitacional, em que as relações entre as gerações
podem existir tanto nas atividades regulares programadas entre as mesmas, como
de uma forma mais natural com a comunidade envolvente. Traduzindo-se numa
comunidade dinâmica no sentido em que um edifício ou um agregado destes
podem preservar a ideia de bairro para todas as gerações, através de um ‘centro’
“(...) que alberga as necessidades de todas as idades, ou de um grupo de
idades.”133.

131
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.52 e 53.
132
Victor Regnier – “Design for Assisted Living, Guidelines for Housing the Physically and Mentally Frail”;
Nova Iorque; John Wiley & Sons, 2002;pág.6.
133
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.53.

57 |
UMA INSTITUIÇÃO DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
A instituição intergeracional – Viver em comunidade e relação de vizinhança

| 58
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.6 | RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA


INTERGERACIONAL

Em termos arquitetónicos, considerando a transformação dos lugares


destinados a todas as gerações, as tipologias aplicadas tiveram sempre a intenção
de englobar várias temáticas, através da “(...) subjetividade das funções dos
espaços (...)”134, em que os espaços não são projetados para um único uso,
sendo amplos e tendo possibilidades de mutação consoante a necessidade de
utilização.

Hertzberger defende que os arquitetos não têm influência por exemplo no


ensino propriamente dito, mas que podem sugerir ambientes em que o processo
pedagógico aconteça da maneira mais convidativa possível, com a ajuda de
variados espaços versáteis de interação135. Assim, com uma arquitetura que
procura a dignidade das pessoas, defende que a visão é um ponto fulcral na
idealização de um projeto, e concebe os seus projetos com espaços comuns e
dinâmicos para que as pessoas entrem em contato umas com as outras, “Eu faço
arquitetura para que as pessoas estejam ou possam fazer contato entre elas, (...)
não precisam de se estar encontrar o tempo todo, apenas é importante ter sempre
uma visão do que acontece ao seu redor, como uma rede física.”136. Se a isso

134
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.53.
135
Carlos Elson Cunha– “A lição magistral de Arquitetura, de Herman Hertzberger”; SlideShare; Janeiro
de 2012; pág.45.
136
Herman Hertzberger – “Social Architecture”; DRIE, sfuduthdesign.ca; 2015. Disponível em:
https://vimeo.com/133877065?ref=em-share [consultado a 23-07-2018]. Tradução livre. Citação
original: “I make things so that people are or can make contact with each oder, (…) they don’t need
to meet each oder all the time, It’s important just to always have a sort of view of wat’s going on
around, like a physical network.”.

59 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Relação morfológica e tipológica da arquitetura intergeracional

juntar locais onde os indivíduos possam conversar perto de objetos pessoais, não
tão longe dos seus quartos, da sua ‘casa’, a convivência torna-se mais intima e
familiar, e por isso mais simples e fácil.137

Ainda assim, é complicado juntar gerações tão diferentes num lugar


comum, sendo frequênte a utilização de espaços diferentes para cada uma e
apenas algumas zonas específicas de interação.

A este tipo de dinâmica estão associados alguns centros paroquiais, que


pela sua temática e vocação espiritual evidenciam essa atenção, presentiando a
população com uma variedade de valências que tentam ligar a comunidade, tanto
crianças e idosos como jovens e adultos.

Neste contexto, um lugar que sirva todas as gerações tem de ser


dinamizado para vários usos, quer no interior quer no exterior do edificado. Usos
estes que devem estar associados às necessidades urgentes de cada
comunidade, que podem ser espaços de estar e de passeio, como bibliotecas,
cafés ou zonas de exposição, e espaços de recreação, desporto e convívio, como
campos desportivos, ginásios e hortas comunitárias.138

Dito isto, a morfologia e tipologia da arquitetura intergeracional é encarada


com premissas formais que criam ambientes físicos de dupla função e de ligação,
através de espaços agradáveis que se adaptam para fornecer a atividade essencial
para uma noção de pertença, tanto no conjunto como na circundante urbana.

137
Victor Regnier – “Design for Assisted Living, Guidelines for Housing the Physically and Mentally Frail”;
Nova Iorque; John Wiley & Sons, 2002;pág.81 e 256.
138
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.54.

| 60
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.6.1 | CASOS DE ESTUDO

Em termos de casos de estudo é importante ter referências sobre cada


uma das temáticas propostas, o lar/residência Sénior, o infantário/jardim-de-
infância e ensino básico, e ainda analisar obras que relacionem as duas gerações
juntamente com uma terceira - a geração adulta.

Assim apresentam-se casos-de-estudo relevantes tanto para cada uma


das gerações em causa, nomeadamente as Escolas Apollo, o lar De Drie Hoven e
a residência assistida Domus Vida; tanto para a ideia intergeracional, que é ainda,
em Portugal, uma ideia mais presente em centros paroquiais, como é o caso da
Igreja de Santo António e Centro Paroquial, em Portalegre, e o Centro Paroquial e
Comunitário Senhora da Boa Nova, no Estoril.

Com estes casos de estudo pretende-se demonstrar que os problemas


sociais já referidos, com a ajuda de conhecimentos espaciais e arquitetónicos,
podem ser abordados com espaços simples e inteligentes. Deste modo, por
serem projetos com uma escala semelhante à proposta neste trabalho, as
dinâmicas projetuais analisadas nos mesmos focam-se tanto nos programas
temáticos, como nas intervenções urbanas, volumetrias usadas, e espaços
interiores existentes, que consiguem promover diferentes tipos de relações.

61 |
RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL
Casos de estudo

| ESCOLAS APOLLO

Arquiteto: Herman Hertzberger


Ano: 1980
Localização: Amsterdão, Holanda
Temática: Escola Willemspark e Escola Montessori de ensino básico

A escola Willemspark e escola Montessori são conhecidas como as


escolas Apollo e cada uma tem o seu método de ensino. Os dois edifícios estão
dispostos no mesmo lote a noventa graus e são muito semelhantes entre si
(Fig.41). Pela maneira como estão implantadas, têm diferenças relevantes
relacionadas com a orientação e com o próprio tipo de ensino que desempenham.
Apesar disso, fazendo parte do mesmo programa de condições espaciais,
desenvolvem-se num projeto em comum onde foram usadas premissas
arquitetónicas idênticas para responder a determinadas questões, dando sempre
aos espaços o potencial de serem transformados consoante a sua ocupação.139

Os edifícios têm vários elementos que permitem que meros espaços


insignificantes ganhem vida, promovendo uma afinidade emocional das crianças
com o espaço à sua volta, fazendo a criança capaz de se apropriar naturalmente
do espaço, de se sentir bem e de ser responsável por ele. Uma das principais
características das escolas Apollo são as zonas sociais, uma característica
comum nas obras de Hertzberger, que proporcionam o ensino e o
desenvolvimento das crianças criando oportunidades para fortalecer a
comunidade escolar. Neste projeto, o arquiteto optou por não fragmentar as áreas
comuns com os típicos corredores escolares internos, criando um espaço amplo
e aberto que chama e facilita à interação social.140

139
Polyanna Alves Gonçalves – “HERMAN HERTZBERGER – EDIFÍCIOS ESCOLARES”; Teoria e crítica da
Arquitetura; Outubro de 2009
140
Polyanna Alves Gonçalves – “HERMAN HERTZBERGER – EDIFÍCIOS ESCOLARES”; Teoria e crítica da
Arquitetura; Outubro de 2009

| 62
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 41. (em cima à


esquerda) Implantação das
Escolas Apollo | Esquiço do
arquiteto | 1983

Figura 42. (em cima à direita)


“Hall-anfiteatro” | Átrio central
do piso térreo

Figura 43. (em baixo à


esquerda) Espaço
envolvente do átrio central
do piso térreo

Figura 44. (em baixo à


direita) Zona de estudo
intermédia

Figura 45. Planta do piso


térreo | Relação das salas
de aula com as zonas de
estudo intermédias e o
“Hall-anfiteatro”

Figura 46. Corte


Transversal | Dinâmica
dos níveis do edifício

63 |
CASOS DE ESTUDO
Escolas Apollo

As salas de aula são então dispostas em redor de uma atmosfera social


e comunitária que funciona como o ‘coração’ do edifício (Fig. 42 e 43), com a
ajuda dos pisos desalinhados que diminuem as distâncias. As crianças tendem
assim a ir automaticamente para o centro, gerando mais possibilidades de
contatos aleatórios entre alunos de turmas e anos distintos, e entre professores.

O ‘Hall-anfiteatro’ (Fig.47 e 48) é uma tipologia de espaço central e de


encontro, que só é possível com a alternância dos pisos utilizada141 (Fig.46), que
não só aumenta o campo visual, em relação às escolas tradicionais com uma
compartimentação rigorosa entre pisos sobrepostos sucessivos, como é um
espaço polivalente que pode acolher aulas ou outras atividades e que pelo seu
material acolhedor, a madeira, convida ao uso ativo das crianças nos intervalos.
Os professores estão também em salas conjugadas com os corredores, espaços
comunitários e salas de aula, estando num local de visão mutua142 que lhes
permite estar ao dispor das crianças seja qual for o momento.143

À entrada de cada sala há um pequeno ‘alpendre’ (Fig.44 e 45) que


funciona como espaço de transição, e que serve como lugar para a criança
estudar sozinha, fazer trabalhos em pequenos grupos ou simplesmente conversar
com mais privacidade. Esta zona de estudo traduz-se por uma mesa de trabalho
e com uma pequena vitrina que destaca alguns dos trabalhos das crianças. As
meias portas são usadas nas portas das salas de aula para suavizar a transição
dos ambientes consoante as atividades que se propõe.144

Hertzberger defende a ideia de tornar um edifício o mais convidativo


possível, reforçando cada elemento. Um exemplo disso é que cada espaço vazio
é um pretexto para um degrau ou uma saliência que torne o lugar num espaço
para ser usado, como é o caso da escada com 2 níveis de degraus (Fig.48). A
diferença dos sítios comuns para os privados que é também evidente pelas

141
Carlos Elson Cunha – “A lição magistral de Arquitetura, de Herman Hertzberger”; SlideShare; Janeiro
de 2012; pág.21.
142
Carlos Elson Cunha – “A lição magistral de Arquitetura, de Herman Hertzberger”; SlideShare; Janeiro
de 2012; pág.17.
143
Polyanna Alves Gonçalves – “HERMAN HERTZBERGER – EDIFÍCIOS ESCOLARES”; Teoria e crítica da
Arquitetura; Outubro de 2009
144
Herman Hertzberger – “Lições de Arquitetura”; São Paulo; Livraria Martins Fontes; 1999; pág.31.

| 64
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

claraboias que oferecem uma forte iluminação natural e visibilidade máxima, torna
também os espaços comuns mais iluminados e por isso mais chamativos.145

Por último, Hertzberger propunha nunca esconder os elementos


estruturais e/ou construtivos, pois na sua opinião, o utilizador deve perceber o
edifício que está a usar para se apropriar e cuidar do espaço da melhor maneira.146

Figura 47. Ambiente interior


diurno das escolas Apollo |
Hall-anfiteatro

Figura 48. Crianças a usofruir


do espaço comum | Escada
com dois níveis de degraus

145
Polyanna Alves Gonçalves – “HERMAN HERTZBERGER – EDIFÍCIOS ESCOLARES”; Teoria e crítica da
Arquitetura; Outubro de 2009
146
Carlos Elson Cunha – “A lição magistral de Arquitetura, de Herman Hertzberger”; SlideShare; Janeiro
de 2012; pág.39.

65 |
RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL
Casos de estudo

| DE DRIE HOVEN

Arquiteto: Herman Hertzberger


Ano: 1974
Localização: Amsterdão, Holanda Figura 49. Planta do piso
térreo | Relação dos vários
Temática: Lar de idosos blocos na envolvente

O lar De Drie Hoven, é de grande dimensão e foi projetato no âmbito da


comunidade, tendo vários serviços e funcionando como uma pequena cidade,
permitindo aos utentes que se acomodem naturalmente no ambiente. Deste modo,
apesar de amplo, o lar tem uma estrutura regular que permite espaços idênticos
que podem determinar usos diferentes consoante a sua ocupação,
proporcionando uma qualidade espacial sempre adaptada para uma possível
restituição e uma grande diversidade de atividades que nunca afetam o convívio
visual e a organização do todo, permitindo sempre as mesmas perceções dos
espaços, caminhos e distâncias para os idosos mais debilitados.147

Em termos organizacionais, o edifício desenvolve-se em vários setores,


cada um com o seu próprio espaço central, que convergem no bloco central
detentor da sala comum principal. Assim, a sua disposição remete para o sentido
de vizinhança, em que os ‘pátios’, espaços abertos delimitados em parte pelos
blocos, são o que traz o contexto do conjunto e as relações sociais inerentes ao
mesmo, por ser onde se realizam quase todos os dias atividades tipo festas, feiras
ou apresentações (Fig.49).

Por ser um complexo destinado a idosos, incorpora vários tipos de


intalações, que se definem por zonas de asilo e assistência, zonas habitacionais
autónomas e áreas mais centrais destinadas ao lazer (Fig.50 a 52). Por serem
setores diferentes, o projeto geral teve de conciliar algumas premissas
arquitetónicas necessárias às temáticas, que se refletiram num aglomerado de

147
“Arquitetura coletiva para a terceira idade:gero-habitação” – “De Drie Hoven (Holanda, 1974) de H.
Hertzberger”; in Análise Crítica da Arquitetura: Um olhar crítico do fenômeno arquiteônico; Junho de
2015; Disponível em: https://analisecriticaarquitetura.wordpress.com/2015/06/26/arquitetura-coletiva-
para-especificos-gero-habitacao/ [consultado a 27-12-2018].

| 66
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

edifícios próximos com uma funcionalidade flexível, acomodando variações não


só de quartos mas também de corredores, e com facilidade na deslocação,
permitindo ao morador o conceito já referido de ‘aging in place’ (Fig. 53 e 54)148.

Em situações concretas, alguns pormenores são relevantes para a estadia


confortável, como os ‘alpendres’, localizados à entrada dos blocos e dos próprios
quartos, que concedem condições de transição atendendo à privacidade, e como
as ‘meias-portas’ (Fig.55), com uma atitude de convite para a conversa casual
possibilitando ao mesmo tempo à permanência na intimidade.149

Figura 50. (em cima, à


esquerda) ‘pátio’ | Relação
espacial entre os setores

Figura 51. (em cima, à direita)


Ambiente da relação interior-
Exterior do ‘pátio’ com o
edificado

Figura 52. (ao meio, à


esquerda) Zona central
comum | Polivalência e
adaptação dos espaços

Figura 53. (ao meio, à direita)


Ambiente interior de transição
entre espaços | Adaptação ao
espaço por parte do morador

Figura 54. (em baixo, à


esquerda) Ambiente interior
de transição para a intimidade
do quarto (‘alpendre’) |
Adaptação ao espaço por
parte do morador

Figura 55. (em baixo, à direita)


‘Meias-portas’ | Ambiente
interior de transição entre o
convívio e a intimidade

148
Ver capítulo: 2.4.2 - A INSTITUIÇÃO PARA A GERAÇÃO SÉNIOR – ENVELHECER EM COMUNIDADE;
pág.39.
149
Herman Hertzberger – “Lições de Arquitetura”; São Paulo; Livraria Martins Fontes; 1999; pág.35 e
40.

67 |
RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL
Casos de estudo

| RESIDÊNCIA DOMUS VIDA

Arquiteto: Frederico Valsassina Arquitectos


Ano: 2006
Localização: Parede, Portugal
Temática: Unidades de residências assistidas

A residência Domus Vida foi projetada para responder a problemas


específicos de uma população envelhecida, dando assistência a necessidades
específicas de idosos com limitações quer físicas, quer mentais, através de
cuidados paliativos que visam a atenuar o sofrimento. Dito isto, é considerada
uma residência assistida que, apesar de serviços tipo hotel, consegue
proporcionar o conforto e a privacidade ideias para cada individuo.150

Assim, para além de programas médicos, de enfermagem e geriatria,


também possui restaurante, cabeleireiro, um espaço de biblioteca, salas
polivalentes, ginásio e piscina. Espaços que fornecem atividades dinâmicas
diárias para todos os gostos, que incluem por exemplo exercício físico e trabalhos
plásticos, para que o utente se sinta ao máximo como em sua casa, isto é, com
indepêndencia para fazer aquilo que deseja e ao mesmo tempo poder convidar a
familia para realizar algumas das atividades proporcionadas.

Além disso, por ser uma residência cuja infra-estrutura se desenvolve


consoante a condição do indivíduo, tomou em consideração alguns aspetos
arquitetónicos que facilitam os vários usos, tendo espaços amplos e bem
iluminados, que através da variação de matrialidades se conseguem distinguir
suavemente e são marcados pelo uso abundante da madeira, tanto exterior como
interior, proporcionando vários espaços de comodidade e de estadia ao longo de
todo o complexo (Fig.56).

150
“Residências assistidas” – “Domus Vida Estoril”; in JOSÉ DE MELLO: Residências e serviços;
Disponivel em: http://www.jmellors.pt/residencias-assistidas/domus-vida-estoril/caracterizacao
[consultado a 17-07-2018].

| 68
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

O espaço ajardinado é interior e exterior e ajuda nos ambientes de


transição entre os mesmos, permitindo uma ligação direta com a natureza. Assim,
as zonas sociais da residência que se encontram no piso térreo são servidas por
uma zona ajardinada exterior, que através de elevações ajardinadas proteje
visualmente e acusticamente a relação quase direta com a marginal sem destruir
a paisagem natural do mar, e convida ao lazer e ao convívio nesse espaço (Fig.
59), e por uma zona ajardinada interior, ou ‘jardim de inverno’, com pé direito total
que funciona como pátio que fornece luz natural às zonas mais interiores do
edifício e, por poder ser observado pelas varandas interiores, ajuda à interação
social dos utentes (Fig.57 e 58).151

Figura 56. (em cima, à


esquerda) Fachada Sudoeste
da residência | evidência do
ambiente ajardinado e da
variação de materialidades

Figura 57. (em cima, à direita)


Jardim de inverno | ambiente
interior proporcionado pela
claraboia e as galerias dos
vários pisos

Figura 58. (em baixo, à


esquerda) Jardim de inverno |
Pormenor da divisão de
espaços com uma
característica translúcida

Figura 59. (em baixo, à direita)


Fachada Oeste da residência |
Relação de
complementariedade entre
materialidades tão ditintas

151
“RESIDÊNCIAS ASSISTIDAS DA PAREDE” – “Unidades de Residências Assistidas”; in PROAP;
Disponível em: http://www.proap.pt/pt-pt/projecto/assisted-living-residences-of-parede/ [consultado a
17-07-2018].

69 |
RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL
Casos de estudo

| IGREJA DE SANTO ANTÓNIO E CENTRO PAROQUIAL

Arquiteto: João Carrilho da Graça


Ano: 2008
Localização: Portalegre, Portugal
Temática: Igreja, centro paroquial e centro comunitário, com berçário e creche

Este complexo foi implantado numa zona central de um bairro nos


arredores de Portalegre para servir como espaço dinamizador da urbanização e
referência para relações entre os habitantes. Além disso, é considerado um
equilibrio arquitetónico entre duas realidades distintas, expondo alguns aspetos
contemporâneos, nomeadamente o recurso ao minimalismo, pela simplicidade
dos planos brancos (Fig. 61 e 63), complementado-os com alguns aspetos
arquiteturais do Alentejo, que incidem no recurso evidente da natureza, como por
exemplo o uso pontual da rocha existente, ajudando a transmitir a essência do
local (Fig.62).

É um lugar que, segundo o arquiteto, tem o objetivo de propiciar a


liberdade das pessoas, e fazer das mesmas os elementos principais do espaço,152
utilizando uma arquitetura simples que, “(...) sem perder identidade, se apaga para
dar lugar e primazia à comunidade.”153.

Em termos organizacionais, a igreja desenvolve-se então no elemento


central do qual se distribuem as alas laterais, correspondentes ao centro paroquial
e ao centro comunitário (Fig. 60), visíveis e acessíveis no exterior pela transição
das grandes rampas (Fig.61). Todos os elementos do edificado encontram-se
assim interligados e ‘abrem’ os seus espaços para o centro, desenvolvendo-se
em redor do ‘adro’, que funciona, neste caso, como pátio, local de encontro e/ou
de contemplação, materializado também com a rocha e dispondo de luz zenital.

152
José Luís Carrilho da Graça – “João Luís Carrilho da Graça, Igreja de Stº António e Centro Paroquial,
Portalegre”; in Rv. “arq|a Arquitectura e Arte – Silêncios Espaciais”, nº 65, Janeiro de 2009; pág. 22.
153
João Alves da Cunha– “Arquitectura: Igreja de Santo António, Portalegre”; in secretariado nacional da
pastoral da cultura; Abril de 2010; Disponível em:
https://www.snpcultura.org/obs_13_igreja_santo_antonio_portalegre.html [consultado a 18-07-2018].

| 70
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Deste modo, em todos os elementos, as atividades que envolvem a comunidade


estão presentes no piso térreo coincidindo com os espaços direcionados à igreja,
mais concretamente as salas polivalentes de catequese e outras atividades na ala
do centro paroquial e o refeitório e outros serviços, como cozinha, arrumos e
lavandaria na outra ala. Nos pisos superiores, resguardados da atividade social do
pátio desenvolven-se outros serviços paroquiais e um berçário e uma creche.

Figura 60. (em cima, à


esquerda) Planta de
implantação do centro
paroquial e comunitário |
Relação de frontalidade entre
os elementos do complexo

Figura 61. (em cima, à


direita) Adro do centro
paroquial e comunitário |
evidência da simplicidade e
dos planos brancos e
relação de próximidade
tando da cidade como dos
elementos constituintes

Figura 62. (em baixo, à


esquerda) Ambiente interior
da igreja | Relação do
edificado com o material
natural existente (rocha)

Figura 63. (em baixo, à


direita) Adro do centro
paroquial e comunitário |
Influência da luz no edificado

71 |
RELAÇÃO MORFOLÓGICA E TIPOLÓGICA DA ARQUITETURA INTERGERACIONAL
Casos de estudo

| CENTRO PAROQUIAL E COMUNITÁRIO SENHORA DA BOA NOVA

Arquitetos: Filipa Roseta e Frencisco Vaz Monteiro


Ano: 2010
Localização: Estoril, Portugal
Temática: Igreja e centro paroquial, centro comunitário e escola primária

Este complexo foi construido num bairro carênciado e incide na intenção


de transformar a sociedade a partir de uma arquitetura que pelo seu programa,
responde às necessidades da população, funcionando como um ‘meio’ para
atenuar divergências, promovendo a interação humana e a envolvência cultural.

O projeto foi assim pensado para abergar as várias intenções da paroquia,


com um programa que envolve três edifícios: o centro paroquial, composto pela
igreja, espaços de apoio à mesma e auditório; o centro comunitário onde se
desenvolve um berçário, creche e jardim-de-infância, o centro de dia, refeitório e
ginásio; e a escola primária (Fig. 64).

Deste modo, pela diversidade de atividades presentes neste complexo, a


intergeracionalidade acontece entre pessoas de diversas idades e em momentos
concretos. Esses momentos são possíveis pela arquitetura, através da
organização e sequência dos vários espaços, como por exemplo a posição
planeada do refeitório, que faz as crianças atravessarem diariamente o centro de
dia, sugerindo à interação, ainda que breve, das mesmas com a geração idosa.
Assim, o refeitório, destinado a todos os indivíduos que usufruem do complexo,
funciona como ‘ponto unificador’ das várias gerações, possuindo um horário de
utilização para cada faixa etária e podendo ser usado como sala polivalente para
outras atividades, tal como a ‘praça’ exterior existente, formada pelos vários
elementos do edificado, convida à presença dos idosos nas atividades das
crianças, não só em circunstâncias festivas mas também em situações regulares
de recreio (Fig.65 a 68).

| 72
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Por fim, esta obra, ainda que formalmente distinta, utiliza conceitos
arquitetónicos que evidenciam a sua harmonia, como a homogeneidade da cor e
materialidade, e a ambiência de relação interior/exterior icorporada em todos os
edifícios, fazendo dos percursos ligações naturais do conjunto.

Figura 64. Implantação do


centro paroquial e
comunitário Senhora da Boa
Nova

Legenda:

1 - Centro paroquial;
2 - Centro comunitário;
3 – escola primária
1 3

Figura 65. (em cima, à


esquerda) Ambiente exterior
do complexo | evidência da
homogeneidade da cor e
materialidades apesar da
divercidade das formas

Figura 66. (em cima, à


direita) Fachada do centro
comunitário | Crianças a
brincar no recreio exterior
que corresponde à ‘praça’

Figura 67. (em baixo, à


esquerda) Praça de
envolvência dos três
elementos do edificado |
Qualidade das relações
interior/exterior

Figura 68. (em baixo, à


direita) Relação entre o
centro paroquial e o edifício
da escola primária

73 |
SÍNTESE

| 74
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

2.7 | SÍNTESE - UM LUGAR PARA TODAS AS GERAÇÕES

Para a síntese realizada até este momento abordou-se uma metologia


adequada que se compreende numa reflexão acerca de algumas das ideias
conceptuais e noções fundamentais a seguir para o tema a abordar.

Em relação ao contexto sociodemográfico evidenciou-se o estado


português acerca do envelhecimento realçando as possibilidades de evolução
para novas formas de vivência visando sempre a um ‘envelhecimento ativo’ por
parte dos idosos. Ainda assim, o ‘corpo’ das gerações mais novas tem tendência
a diminuir e pela evolução do conceito de ‘velhice’, este desenvolvimento inclina-
se para uma observação negativa e não para uma oportunidade positiva de
mudança. Aqui, entra a geração adulta, que por representar a maior parte da
população ativa, terá de apoiar as gerações mais dependentes respondendo às
suas necessitades principais através da sua envolvência com as mesmas,
podendo ajudar a fazer a ponte entre as duas gerações e entre estas e a população
envolvente.

No mesmo contexto, a arquitetura aparece como um ‘meio para atingir o


fim’ funcionando como uma oportunidade de intervenção para a restabelecer
relações ou até ideais.

Posto isto, foi necessária a percepção das vivências espaciais de cada


geração, quer em separado, na sua casa, quer em conjunto, numa instituição
coletiva. Assim, a casa, associada ao conceito de familia que se foi alterando,
remete para uma ideia de privacidade, por ser um espaço habitado que consegue
privatizar tanto o ambiente íntimo familiar das adversidades exteriores, como o
próprio individuo na sua zona preferêncial de ‘retiro’, como por exemplo um

75 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Síntese – Um lugar para todas as gerações

escritório ou uma zona de recanto na sala de estar. Assumindo-se então, a casa,


como um elemento base na vida quotidiana de cada um, sendo um refúgio seguro
adaptado às características de quem lá habita, onde cada entidade se sente
realmente confortável para não se ‘esconder’ da sua individualidade.

Nesta perspetiva, as crianças e os idosos podem ter, de certa forma,


vivências semelhantes, no sentido em que ambos têm limitações de mobilidade e
outras carências específicas que definem a idealização dos espaços, concluindo
que um projeto destinado a todos implica tanto uma atenção especial para o
conforto e segurança como para a liberdade e adaptabilidade dos espaços.

Para uma vivência em conjunto relacionaram-se as metodologias e os


espaços na sua evolução, separadamente das escolas e dos lares. Para as
crianças, o conceito escolar começou da aprendizagem individual no seio familiar,
que pela ‘privatização do lar’, passou para as escolas coletivas que conhecemos
hoje, que convidam a criança a relacionar-se com outros e que distanciam de
certa maneira a instrução da criança do ambiente caseiro, ajudando com que esta
fortaleça as relações que tem em casa. Para estes espaços destacaram-se
abordagens que associaram a criança diretamente com a natureza, esta que se
desenvolve naturalmente, adaptando-se com facilidade a qualquer ambiente
construído com uma relação especial a um algum ambiente natural, daí o conceito
de ‘Jardim-de-infância’.

Por outro lado, os espaços destinados aos idosos, não tiveram uma
sequência regular, sendo primeiramente espaços tranquilos proporcionados por
estabelecimentos religiosos, contudo foi maioritariamente em espaços
hospitalares que estes encontraram os cuidados que realmente precisavam,
servindo-se de ‘abrigos’ como enfermarias e asilos, que por tratarem dos doentes
se encontravam distanciados da população, levando ao afastamento progressivo
da geração idosa face à comunidade. As residências ou lares foram surgindo
então no âmbito de assistir os idosos mais perto da urbanização, da comunidade
e de outros serviços essenciais. Posto isto, ambos os espaços, isto é, escolas e
residências, caracterizam-se por um relacionamento livre com a natureza, onde
esta é considerada a força dinamizadora da vida diária das gerações em causa.

| 76
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Neste enquadramento surge uma nova forma de vivência denominada por


intergeracionalidade, que cria uma relação de proximidade entre as várias
gerações e traz benefícios tanto para uma comunidade mais solidária como para
a duplicidade de serviços e apoios monetários.

Chega-se à conclusão que uma das vertentes mais influentes para esta
interação entre gerações é a possibilidade de observação de comportamentos e
modos de estar, pois o convivio entre gerações é muitas vezes conflituoso, pelas
opiniões diferestes relativas à realidade contemporânea, mas se essas diferenças
forem trabalhadas o convivio pode ser solidário e cooperativo.154 Trazendo às
gerações melhores capacidades de socializar, aos idosos pela alegria fornecida
pelas crianças e a estas uma sabedoria inteletual e experiêncial pelos idosos. Dito
isto, os espaços destinados às duas gerações não precisam nem devem ser
apenas um edifício, pois a sua interação permanente pode ser prejudicial, contudo
podem sim ser uma harmonia de edificações que se relacionem entre si e
permitam a individualidade de cada uma e ao mesmo tempo a aproximação entre
as duas, por um encontro e observação.

Assim, este tipo de equipamentos deve estar inserido numa comunidade,


para não deixar que exista isolamento e discriminação relacionada com qualquer
geração de que não se conhece.

Um lugar para todas as gerações pesupõe de um ideal de partilha que


convida principalmente ao que é comum, mantendo sempre a individualidade de
cada parte. Precisando então de apoios sociais e económicos, e de serviços que
facilitem a habitação e as mesmas oportunidades para todos, incluindo a
comunidade envolvente, sendo esta o ‘elo’ dinamizador das atividades essencias
para uma interação saudável das diferenças.

154
Maria Clotilde Barbosa Nunes Maia de Carvalho – “Relações Intergeracionais Alternativa para
minimizar a exclusão social do idoso”; in REVISTA PORTAL de Divulgação, n.28. Ano III. Dez. 2012;
pág.84.

77 |
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Síntese – Um lugar para todas as gerações

| 78
3 O LUGAR

“O espaço concreto do bairro ou da vila é um espaço aberto a todos, regido por


regras coletivas, mas que tem como ‘foco’, no sentido ótico, um lugar fechado,
um lar. É um exterior definido a partir de um interior, um público cujo centro é um
privado.”

Antoine Prost (Trad.)

79 |
O LUGAR

Figura 69. Coreto do Alto do


Poço (Coreto de Carnide) |
1929

Figura 70. Coreto do Alto do


Poço (Coreto de Carnide) |
1961

| 80
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

3.1 | A ESSÊNCIA DE UM LUGAR

Na arquitetura, um lugar pressupõe sempre da presença do homem, pois


a partir do seu caráter e das suas vontades dá ao lugar parte da sua essência.
Assim tanto pode ser uma praça como um objeto construído, desde que exista
um ‘convite’ especial para uma determinada vida envolvente. Deste modo, a partir
do momento que um lugar já transmite a sua identidade e sobressai relativamente
a outros, a escolha de um lugar para uma deteminada temática nunca é
imprevísivel, sendo fundamental a perceção da essência do mesmo.155

Dito isto, um lugar é como uma “fusão de tempos”156, que pela ‘sua vida’,
reconhece o passado, está em conformidade com o presente e considera um
futuro, possuindo várias ‘camadas’ temporais que o definem.

Assim, ao iniciar um projeto, o lugar é o protagonista principal e a


compreensão deste é a base para perceber se a temática escolhida é adequada
ao mesmo. Pois o lugar vai também influênciar a vivência do ser, no sentido em
que este se apropria do lugar a partir da sua consciência juntamente com o que
lhe consegue transmitir.157

Em projetar algo num lugar esta ainda intrínseca uma ligação entre a
paisagem e a arquitetura, esta que funciona como uma requalificação do lugar e

155
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.4. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].
156
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional””; Lisboa: Faculdade de Arquiteura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.73.
157
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.3. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].

81 |
O LUGAR
A essência de um lugar

pode enfatizar a essência deste. Se o lugar já ‘guardar em si’ elementos físicos de


memória, esses devem ser valorizados para além de outros registos que revelem
o que foi outrora.158

Tendo em conta estas premissas, a escolha de um lugar para esta


temática de um lugar de permanência de diferentes tipos de pessoas, foi pensada
de maneira a relacionar as vivências que já existem na envolvência do sítio com o
que é proposto. Neste caso, optou-se pela freguesia de Carnide que não só tem
uma presença de memórias muito evidente, marcada por lugares específicos
como o largo do coreto de carnide que transmitem uma autenticidade que
preserva a tenacidade dos vestígios da ruralidade anterior e convidam à
proximidade e interação entre habitantes, como é uma freguesia cheia de
diversidade cujas iniciativas são centradas em dinâmicas benéficas que apoiam e
unem uma comunidade divergente.

158
Álvaro Siza Vierira - “Textos 01 – Álvaro Siza”; Coleção Arquitectura; Porto: Livraria Civilização
Editora; pág.37.

| 82
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

3.2 | MEMÓRIA E PATRIMÓNIO – A REABILITAÇÃO

“O monumento tradicional, sem qualitativo, estava universalmente distribuído,


mas fazia reviver passados particulares de comunidades particulares.(...)”.159

Antigamente a sustentabilidade não era um problema, quando existia um


edifício abandonado ou que não era adequado a determinadas funções, a
prioridade era construir um novo, que correspondesse de uma forma mais eficaz
às necessidades das funções previstas, deixando-se os edifícios a deteriorar sem
os valorizar, uma realidade comprovada pelo INE que afirma que hoje em dia
existem em Portugal cerca de 1 milhão de edifícios antigos degradados e por
reabilitar.160 Fato que por sua vez influenciou no desenvolvimento das cidades e
na presença de contrastes, como acontece na freguesia de Carnide.

Desde a crise que se intensificou em Portugal, e do aumento da população


residente, é posto em causa o modelo de crescimento das cidades. A
sustentabilidade passa a ser relevante fazendo o foco passar para a regeneração
urbana, que se entende por uma requalificação das cidades e a consequente
reabilitação dos edifícios.

Dito isto, a reabilitação arquitetónica faz parte de um ramo de intervenção


na arquitetura com a finalidade de conservar e proteger o património construído
ou a presença histórica constatada com os valores culturais intrínsecos em
determinados lugares.

159
Françoise Choay – “Alegoria do património”; Lisboa: Edições 70; Janeiro de 2015; pág.149.
160
CASASSAPO - “Existem cerca de 1 milhão de edifícios para reabilitar no país”; In Jornal Económico;
Novembro de 2016.

83 |
O LUGAR
Memória e património – A reabilitação

Para a uma reabilitação é preciso ter em conta o património arquitetónico


e a memória. O património arquitetónico entende-se pelas construções e edifícios
representativos de uma época em particular ou de aldeias históricas, sendo
edifícios com um determinado valor, caracterizados pelos seus estilos,
materialidades, técnicas de construção, e pela respetiva particularidade com um
carater singular e identitário.161 A memória, na mesma linha apesar de não estar
apenas presente em edifícios patrimoniais, faz parte da definição do património,
sendo um dos principais pretextos na classificação do mesmo, pois entende-se
pelo que um determinado edifício transmite da sua história trazendo à memória
lembranças antigas como um ‘viajar no tempo’ fazendo “(...) reviver no presente
um passado engolido pelo tempo.(...)”162, podendo ser uma construção que
individualmente não possui um valor excecional mas que num núcleo urbano
consegue definir o essencial de antigos centros da cidade.

Para além do edifício construído, a envolvente paisagística, se a houver,


deve ser considerada parte da memória, pois consegue englobar a presença do
meio ambiente exterior, que resulta dos lugares já modificados pelo tempo e da
interação entre os indivíduos no exterior, sendo de elevada importância para o
fator coletivo da envolvente e para a valorização do território.163

Assim afirma-se que a memória tem valores diversos associados a


vertentes, tanto históricas e sociais, como artísticas, técnicas, e científicas,
estando iminente um confronto vários tempos e maneiras diferentes de pensar e
projetar.164 Desta maneira, os modos e processos da reabilitação arquitetónica
são diferentes dependendo da intervenção que se pretende fazer, para além de
procurarem as compatibilidades que existem com as soluções construtivas
contemporâneas, conjugando as novas condições legais e as técnicas
construtivas atuais com o lugar de memória a fim de presenvar um pouco da
nossa história. Neste contexto, uma reabilitação pode ir desde apenas uma
alteração do uso anteriormente presente, até uma abordagem total, ou quase total,

161
Françoise Choay – “Alegoria do património”; Lisboa: Edições 70; Janeiro de 2015; pág.16.
162
Françoise Choay – “Alegoria do património”; Lisboa: Edições 70; Janeiro de 2015; pág.25.
163
PATRIMÓNIO CULTURAL (Direção Geral do Património Cultural) – “Paisagens culturais e jardins
históricos”; Disponível em: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-
imovel/patrimonio-arquitetonico/ [consultado a 30-05-2018].
164
Françoise Choay – “Alegoria do património”; Lisboa: Edições 70; Janeiro de 2015; pág.120.

| 84
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

se o imóvel estiver num estado grave de degradação e precisar de uma


intervenção significativa.

Sendo um objeto antigo, com uma determinada paisagem cultural, a


estratégia de conservação é baseada na recolha e análise de informações do
edifício construído, através da sua compreensão profunda incluindo os problemas
e valores do edificado ou do sítio onde este se encontra, e no conhecimento
intrínseco das pré-existências e dos pormenores construtivos.

Todas estas intervenções mais ou menos significativas no objeto


construído ou paisagístico, devem zelar e atender às valências e expressões que
caracterizam o lugar mantendo-o único e insubstituível.165

165
PATRIMÓNIO CULTURAL (Direção Geral do Património Cultural) – “Património arquitetónico,
preocupações e potencialidades”; Disponível em:
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/patrimonio-arquitetonico/
[consultado a 30-05-2018].

85 |
O LUGAR

Figura 71. Localização da


Freguesia de Carnide
inserida no concelho de
Lisboa
| 86
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

3.3 | CARACTERIZAÇÃO DA FREGUESIA DE CARNIDE NO


CONTEXTO DA CIDADE

“Marcada por sucessivas sedimentações históricas e culturais, a freguesia de


Carnide tem um perfil próprio identificado no seu património e nas vivências
sociais que interessa preservar e valorizar, na medida em que eles podem
estruturar e referenciar a própria dimensão da imagem urbana e da vida
contemporânea.”166

Hoje em dia colocam-se grandes questões nas áreas do planeamento


urbano, da habitação e da proteção e valorização dos núcleos históricos ainda
existentes, de forma a dar um sentido coerente a espaços orgânicos
historicamente dispersos, com vários aglomerados de alguma qualidade de
edificado e com diferentes concentrações habitacionais.

A freguesia, destinada a este projeto, possui esta valência histórica e


localiza-se no extremo noroeste do concelho da cidade Lisboa, tendo sido uma
das freguesias mais antigas, estruturada em 1279, ainda que integrada no
perímetro urbano apenas em 1885 (Fig.71). Esta, com o fenómeno do êxodo rural,
foi envolvida no crescimento urbano intenso da cidade de Lisboa, que por sua vez
aconteceu de forma acelerada e nem sempre constante ou planeada, tornando-se
numa freguesia retalhada e de contrastes entre o ‘antigo’ e o ‘moderno’,
consideranda um território que, para além de muitas diversidades, apresenta
vários elementos singulares dispersos e desarticulados em termos de urbanismo

166
Junta de Freguesia de Carnide – “Identificação e peril histórico – Da ruralidade à urbanidade”; in
CARN!DE - A Freguesia: História e Curiosidades; Lisboa, 2012. Disponível em: http://www.jf-
carnide.pt/freguesia/a-freguesia/historia-e-curiosidades/[consultado a 13-11-2017];

87 |
O LUGAR
Caracterização da Freguesia de Carnide no contexto da cidade

e funcionalidade.167 Afirmando-se assim, que a configuração administrativa da


freguesia, já não se adequa a esta época, e que por isso também é pouco
significativa em relação ao crescimento populacional que se tem vindo a
acentuar168.

Até ao séc.IV, quando o aumento da população começou a ser evidente,


causa do aparecimento da Igreja de Nossa Senhora da Luz e do hospital da Luz169,
as povoações existentes viviam de explorações agrícolas numa freguesia
tipicamente rural (Fig.72). Neste contexto, a presença da nobreza no território
levou a uma dinâmica económica local que, no séc.XVI, tornou Carnide numa
aldeia, que cruzava várias camadas sociais e era constituída por dois núcleos
denominados por Carnide e Luz, este último considerado um foco de atração,
onde aconteciam feiras e romarias que traziam muitos visitantes e contavam
sempre com a presença dos nobres. Mais tarde, o aparecimento de fábricas nos
arredores da cidade, incentivaram à presença de operários, o que levou ao
abandono das propriedades por parte da sociedade aristocrata à procura de
melhores ofertas, e consequentemente a lugares devolutos ansiando por um novo
ofício, maioritariamente quintas e casas senhoriais, que fizeram Carnide perder
tradições relacionadas com os ambientes locais, como por exemplo a
agricultura.170

Hoje, Carnide ainda é uma freguesia ‘confusa’ e em expansão, pois a sua


delimitação foi muitas vezes alterada e está em constante modificação, contudo,

Figura 72. Plantas de Júlio A. V.


da Silva Pinto, 1908 | Antigo
núcleo urbano e quintas

167
Junta de Freguesia de Carnide – “Identificação e peril histórico – Da ruralidade à urbanidade”; in
CARN!DE - A Freguesia: História e Curiosidades; Lisboa, 2012. Disponível em: http://www.jf-
carnide.pt/freguesia/a-freguesia/historia-e-curiosidades/ [consultado a 13-11-2017];
168
Junta de Freguesia de Carnide – “Identificação e peril histórico – Da ruralidade à urbanidade”; in
CARN!DE - A Freguesia: História e Curiosidades; Lisboa, 2012. Disponível em: http://www.jf-
carnide.pt/freguesia/a-freguesia/historia-e-curiosidades/ [consultado a 13-11-2017];
169
Atualmente corresponde ao núcleo histórico do Colégio mílitar que é considerado património.
170
PORTUGAL EM PORMENOR! - “Carnide”; in Memória Portuguesa; Lisboa, Janeiro de 2010.
Disponível em: http://www.memoriaportuguesa.pt/carnide-lisboa [consultado a 03-12-2018].

| 88
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

existe uma problemática relativa à elevada procura de urbanização na mesma e


ao seu consequente crescimento populacional, dado que, atualmente, todas as
operações urbanísticas que se têm feito têm servido para a inserção de uma
classe alta que já não encontra lugar no centro da cidade. Fato este comprovado
entre 2001 e 2011, por uma redução relativa ao número de edifícios
simultaneamente com um aumento considerável de indivíduos, famílias e
alojamentos.171

Quadro 1. Censos de
Carnide (2001) | evidência
da elevada pupulação adulta
e idosa face à infantil e
juvenil

Estas mudanças constantes, para além de refletirem o contexto


sociodemográfico português já referido172(quadro 1), fazem com que exista uma
divisão na sociedade que vive atualmente em Carnide, proveniente das diferenças
das realidades das comunidades novas e antigas da zona, existindo zonas com
uma realidade mais precária, como os bairros sociais Padre Cruz e Horta Nova, e
com um tipo de realidade mais ‘Estável’, como é por exemplo o bloco habitacional
de Carnide (Fig.73).

Com todas estas diferenças e apesar das mesmas, Carnide pode ser
considerada um ’bairro’, no sentido de que é uma zona familiar e tranquila com a
abundância de vizinhos próximos e uma experiência social dinâmica nos
ambientes exteriores, possuindo vários tipos de comércios locais e tendo
Figura 73. Bloco
habitacional de Carnide | presentes várias gerações a usufruir simultaneamente do território. Reunindo
Promontório Arquitectos,
2002 algumas valências sociais tanto nas vertentes infantil e juvenil, como é o caso do
infantário “A casa amarela”, do “Externato da Luz”, da “Escola básica Luz-
Carnide” e do colégio mílitar, como na vertente sénior, como a “Casa do artista”,
o “Espassus 3G – Academia sénior de Carnide”, o Lar de Idosos “Associação das

171
CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA – Site da CML; juntas de freguesia. Disponível em: http://www.cm-
lisboa.pt/municipio/juntas-de-freguesia/freguesia-de-carnide [consultado a 10-05-2018].
172
Ver capítulo 2.1 – “CONTEXTO SOCIODEMOGRÁFICO EM PORTUGAL”; pág.13.

89 |
O LUGAR
Caracterização da Freguesia de Carnide no contexto da cidade

Antigas Alunas do Instituto de Odivelas”, as residências sénior “Casas da Cidade”

3
12
20
9
17 14 19 11
1
7
21
18 13
8 10
5 22
23
2 16 4

15

0 50 100 200

| 90
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 74. Mapa de usos e a Confraria de S. Vicente de Paulo, proprietária do edifício complementar do
relevantes para a temática
proposta em Carnide convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide173, que por sua vez é composto
por um lar de idosas e um Jardim-de-infância, considerando-se assim um lugar
Legenda:
intergeracional, que contudo, não foi planeado nem pensado corretamente para
Equipamentos escolares:
1-Infantário “A casa tal temática. Dito isto, apesar de existir já uma diversidade de equipamentos a
amarela”
2-Escola básica Luz-
Carnide
relação entre estes que é necessária para a mentalidade da população ainda não
3-Externato da Luz
4-Colégio Militar é muito frequente (Fig74).
5-Universidade Europeia
Por fim, apesar de uma presença vasta da natureza e de vestigios da
Equipamentos séniores:
6-“Casas da Cidade”-
Residências sénior
antiga ruralidade, é uma localidade com poucas zonas naturais e de lazer
7-Lar de Idosos –
“Associação das destinadas à comunidade. Ainda assim, o largo que envolve o coreto do Alto do
antigas alunas do
Instituto de Odivelas poço é considerado uma das centralidades históricas do lugar, sendo um espaço
8-“Espassus 3G”-
Academia sénior de socialmente dinâmico, maioritariamente pedonal, com alguns restaurantes e
Carnide
9-Confraria de S.Vicente esplanadas e com facilidade de mutação, onde se realizam algumas festas e
Paulo
encontros com atividades temáticas organizadas pela comunidade, que visam à
Equipamentos de Cariz
religioso:
10-Igreja da Nossa
agregação da mesma (Fig. 69 e 70).
Senhora da Luz
11-Seminário da Luz
12-Convento de São João
da Cruz
13-Igreja de São Lourenço
14-Convento de Santa
Teresa de Jesus de
Carnide 3.3.1 | A AUTENTICIDADE DO LUGAR DE CARNIDE – QUINTAS DE
Equipamentos significativos: RECREIO
15-Hospital da Luz Lisboa
16-Junta de Freguesia de
Carnide
17-Metropolitano de
Lisboa
18-Casa do Artista
Carnide possui uma identidade muito própria, revelando a sua riqueza nos
19-Teatro da Luz
20-Teatro de Carnide variados contrastes entre o urbano e o rural (Fig. 75), e o velho e o novo, estes
Largos: que criam os ambientes concretos especiais da zona marcados por sucessivas
21-Jardim da luz
22-Coreto de Carnide sedimentações culturais e históricas que definem as suas vivências sociais e o
23-Chafariz do Malvar
seu património, património este que se encontra disperso pela zona antiga, que
corresponde às antigas quintas e casas senhoriais que transmitem parte da
Lugar de intervenção da
proposta essência do local, dispostas ao longo de caminhos estreitos e azinhadas (fig.76),
cercadas por muros imponentes e portões enigmáticos que deixam contemplar a
‘arquitetura escondida’.

173
Convento situado na Rua do Norte, também conhecido por Convento de Santa Teresa de Jesus da
Ordem das Carmelitas Descalças e de Santo Alberto e considerado património local.

91 |
CARACTERIZAÇÃO DA FREGUESIA DE CARNIDE NO CONTEXTO DA CIDADE
A autenticidade do lugar de Carnide – Quintas de Recreio

Figura 75. (à esquerda)


Ambiência de uma rua do
núcleo urbano antigo de
Carnide

Figura 76. (à direita)


Azinhaga

As Quintas de Requeio surgem a partir de uma mudança cultural, entre o


séc.XV e XVII, como resposta a conceções que apareceram na época que
defendiam a valorização do Homem, fugindo dos princípios espaciais presentes
na idade média. Assim, ao contrario dos espaços fechados em si mesmos,
manifesta-se a necessidade de relacionar o Homem com a natureza, a partir de
uma arquitetura que procura “(...) a vivência da Vilegiatura (...)”174, ou seja, que
apresente uma tipolgia que ‘ostente o poder’ dos nobres, como por exemplo as
características humanistas do renascimento, que contemple os espaços naturais,
e que proporcione a proximidade com a cultura do local.175

Neste enquadramento, as ‘Quintas’ são maioritariamente fixadas nos


arredores das cidades para benefíciarem tanto da ruralidade como da urbanidade,
desenvolvendo-se em grandes áreas que visam tanto à habitação, onde a ‘Casa’
é a (...) realização física e arquitetónica do lugar (...)”176, como à exploração
agrícula, ou até espaços de lazer, de onde apareceu o conceito de ‘Quinta de
Recreio’.

Para além dos elementos já referidos, a implantação das construções


eram de acordo com a centralidade territorial que os ‘Senhores’ pretendiam,
criando os caminhos que delimitavam os terrenos e que faziam parte do mesmo
como eixos organizadores, valorizando sempre o declive e construindo ‘casas

174
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.4. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].
175
Ana Marta Feliciano; António Santos Leite –“ A Casa Senhorial como Matriz da Territorialidade: A
Região de Torres Vedras entre o Tempo Medieval e o Final do Antigo Regime”; Lisboa: Caleidoscópio,
Novembro de 2015; pág.109.
176
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.5. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].

| 92
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

longitudinais’ paralelemente à encosta frontal. Esta forma de implantação


possibilitou o que se conhece como ‘pátio abrigado’ ou ‘terreiro’ na cota mais
baixa do terreno, funcionando como zona de transição não só da entrada para o
terreno, como da casa principal para a casa secundária destinada a visitas ou
eventos de cerimónia, evidenciando uma hierarquia de funções.177 Toda esta zona
principal de entrada, onde eram ostentados elementos decorativos sensoriais
referentes à data, principalmente religiosos colocados por exemplo nos portões
de entrada de modo a exuberar o cenário territorial, era associada a um ‘jardim
nobre’ regrado, onde aconteciam alguns encontros sociais, contrastando com
uma envolvente mais afastada de cultivo e paisagem, isto é, a ‘horta’ e o
‘bosque’.178 Ainda nesta descrição do lugar, é relevante mencionar a presença da
água como um fator mais ‘romântico’ do terreno, que não só tem uma função de
rega, como se apresenta com tanques ou fontes, funcionando como elementos
ornamentativos que caracterizam o lugar.179

Deste modo, afirma-se que ao longo do tempo as quintas foram formando


a essência dos lugares com uma mística associada à ‘fusão’ de entidades a que
pertenceram, nomeadamente condes e senhores, que entregaram um pouco de si
a todos os espaços e os foram prosperando graças aos seus recursos. Contudo,
muito do património, incluindo zonas naturais e equipamentos agrícolas, já
desapareceu ou encontra-se ameaçado pela elevada procura da urbanização, o
que faz das Quintas e das casas senhoriais elementos primordiais no intuito de
restabelecer a gênese do lugar que é Carnide.180

177
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.15. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].
178
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.21. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].
179
Amílcar de Gil e Pires –“ O lugar da quinta de recreio na periferia de Lisboa”; in Revista “Tritão”, nº1;
Lisboa, Dezembro de 2012; pág.18. Disponível em: http://revistatritao.cm-
sintra.pt/images/revista1/amilcarpires/tritao_Amilcar-Pires.pdf [consultado a 07-12-2018].
180
Junta de Freguesia de Carnide – “Identificação e peril histórico – Da ruralidade à urbanidade”; in
CARN!DE - A Freguesia: História e Curiosidades; Lisboa, 2012. Disponível em: http://www.jf-
carnide.pt/freguesia/a-freguesia/historia-e-curiosidades/ [consultado a 13-11-2017];

93 |
O LUGAR
Caracterização da Freguesia de Carnide no contexto da cidade

3.3.2 | A CASA SENHORIAL EM ESTUDO

"A casa senhorial é (…) uma afirmação de privilégios, expectativas ou pretensões


face a uma comunidade, em que o lugar ocupado por uma família na hierarquia
dos grandes variava conforme o apoio do rei, a liquidez financeira, as vicissitudes
da guerra, as ligações matrimoniais ou a dinâmica pessoal dos seus elementos
(…) "181

No seu enquadramento histórico, o título de “casa senhorial” surgiu como


resultado ao sistema feudal. Este apareceu no início da Idade Média, no séc. V, e
é posto em causa mais tarde no fim da Idade Moderna no séc. XVIII com os ideais
da Revolução Francesa, por ser um sistema social e político assente nas relações
servo-contratuais, em que não existia a ideia de homem livre e os estratos sociais
definiam a hierarquia que era feita, apenas com a ideia do senhor e dos seus
súbditos.

Assim, a casa senhorial ou a casa do senhor, era como uma


representação simbólica do estatuto do senhor que se encontrava no topo da
hierarquia social. Quanto maior era o seu território, maior era a sua autonomia, e
maior era o poder e honra que a sua família tinha na hierarquia no contexto da
sociedade em que estava inserida.182

Estas casas ao longo dos tempos sempre foram mais do que simples
casas de habitação. Devido ao seu extenso território rural e agrícola e aos seus
senhores, sempre assumiram formas e modelos de uma elevada importância
territorial que podiam considerar-se como “palácios urbanos”, no sentido em que
eram casas vastas e sumptuosas inseridas na cidade, com terrenos que
permitiam a solares nobres e rurais.183

181
Hélder Carita; António Homem Cardoso - "A casa senhorial em Portugal"; Lisboa: Leya, dezembro de
2015; Pág.8.
182
Hélder Carita; António Homem Cardoso - "A casa senhorial em Portugal"; Lisboa: Leya, dezembro de
2015; Pág.10.
183
Hélder Carita; António Homem Cardoso - "A casa senhorial em Portugal"; Lisboa: Leya, dezembro de
2015; Pág.11.

| 94
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Juntamente a estes, a ‘capela’ passou a ser frequente a partir do séc.XVII


para retratar a fé presente na época. Esta podia ser ou não anexada à ‘casa matriz’,
mas era sempre identificada pela sua imponência arquitetónica.

Relativamente ao interior da habitação, eram casas particulares que


evidênciavam o estatuto do Senhor com grandes espaços cerimoniais destinados
a visitas e outros momentos festivos. Tendo portanto uma hieraquia de usos
apesar da inexistência de corredores e de poucos espaços especializados,
definindo uma planta reticulada com transições diretas entre espaços.184 No
entanto, a zona da cozinha era especializada, e relevante por ser um elemento
íntimo de permanência, localizando-se em sítios com facilidade de acesso tanto
do interior como do exterior.

Mesmo após a revolução Francesa e o fim deste sistema feudal, estas


casas não deixaram de ser exemplo para o conceito de habitar, nem de transmitir
relevo, importância e cultura ao território em que estavam inseridos. Hoje em dia
a maior parte destas casas, mesmo que degradadas, funcionam como matrizes
“(...) das ‘permanências de um território’ (...)”185 estruturando-o e às respetivas
envolventes, simbolizando de certa forma o exemplo primário de construção e
organização do local como um todo que é intrínsecamente continuo e orgânico
nas suas permeabilidades

A casa senhorial é assim considerada, tal como as quintas de recreio em


que está normalmente inserida nas suas diferentes formas e abordagens e em
bom ou mau estado, um testemunho das transformações que a sociedade
assume ao longo do tempo, “(...) resultado de um processo cultural orgânico
construído pelas múltiplas gerações que o conformaram e o conformam e que
hoje lhe dão sentido.(...)’186, em que a mudança de interesses e a diferença de

184
Ana Marta Feliciano; António Santos Leite –“ A Casa Senhorial como Matriz da Territorialidade: A
Região de Torres Vedras entre o Tempo Medieval e o Final do Antigo Regime”; Lisboa: Caleidoscópio,
Novembro de 2015; pág.182.
185
Ana Marta Feliciano; António Santos Leite –“ A Casa Senhorial como Matriz da Territorialidade: A
Região de Torres Vedras entre o Tempo Medieval e o Final do Antigo Regime”; Lisboa: Caleidoscópio,
Novembro de 2015; pág.13.
186
Ana Marta Feliciano; António Santos Leite –“ A Casa Senhorial como Matriz da Territorialidade: A
Região de Torres Vedras entre o Tempo Medieval e o Final do Antigo Regime”; Lisboa: Caleidoscópio,
Novembro de 2015; pág.11.

95 |
CARACTERIZAÇÃO DA FREGUESIA DE CARNIDE NO CONTEXTO DA CIDADE
A Casa Senhorial em estudo

vivências têm uma grande influência na morfologia e funcionalidade, na decoração


arquitetónica, na decoração interna e até na implantação na paisagem.

Quinta dos Quinta da Quinta das Quinta dos Condes Quinta da Luz
azuleijos Marquesa pimenteiras de Carnide

Figura 77. Localização das


antigas Quintas de Carnide

| 96
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

3.4 | A QUINTA DA MARQUESA – ANÁLISE E ENQUADRAMENTO

A Quinta de análise selecionada para este projeto situa-se na zona


histórica de Carnide e formou-se no início do séc. XVIII, sendo denominada por
“Quinta da Marquesa de Ravara” ou Quinta da Marquesa de Fora”, por ter
pertencido nos primeiros sessenta anos a uma Marquesa estrangeira.187

Esta Quinta não estando classificada como património, é de elevada


importância territorial, localizando-se próxima do largo do coreto e diante da
Quinta dos azuleijos e do convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide,
pertencendo ao conjunto monumental da Luz e ao núcleo tradicional de Carnide,
onde para além dos respetivos palácios também se incluem a Quinta dos Condes
de Carnide, a Quinta das Pimenteiras (atualmente edifício da Junta de Freguesia),
a Quinta da Luz, a Quinta de Santo António, e a Quinta das Barradas (Fig.77).

Posteriormente à Marquesa de Ravara, a propriedade pertenceu aos


Marqueses de Aveiro, e mais tarde à família Serzedello no séc.XIX. Ainda neste
século foi adquirida por José de Nascimento, um agricultor, que por ter ficado em
divida após a compra, acabou por transformar grande parte dos jardins em hortas
e campos de sementeira188. Hoje, estas hortas ainda se encontram parcialmente
instaladas no terreno mas não são usadas pelos atuais proprietários.

187
Colégio Menino Jesus - “O colégio está Implantado”; in ASA (Associação socorro e amparo) ;
Dezembro de 2009.
188
Colégio Menino Jesus - “O colégio está Implantado”; in ASA (Associação socorro e amparo) ;
Dezembro de 2009.

97 |
O LUGAR
A Quinta da Marquesa – análise e enquadramento

A Quinta é então de cariz urbana constituída por um terreno com uma área
de implantação de 20,515m2, à qual pertenciam o ‘palácio’ e os jardins nobres
juntamente com uma grande área de terrenos agrículas.

Para entender o conjunto da Quinta da Marquesa, a Casa Senhorial deve


ser primeiramente analisada pois apresenta o elemento físico e conceptual de
entrada que define a organização do terreno (Fig.78 e 79). Deste modo, a entrada
é feita por um ‘pátio abrigado’ retângular que funciona como um ‘terreiro’ central
de distribuição para a ‘Casa Senhorial’ e a ‘casa de fora’189 (Fig.80). Por sua vez,
este é separado da via pública por um muro no mesmo plano da fachada da casa
que incorpora um portal por onde se acede (Fig.83). A partir do terreiro
desenvolvia-se ainda o Jardim nobre principal cujo acesso era encaminhado
através de um portão e uma passagem entre o edificado.

O edificado é de raiz seiscentista, contudo foi modificado ao longo do


Figura 78. (em cima)
tempo (Fig.81) e consequentemente descaracterizado. Apesar disso, as suas Evidência do caminho
preexistente como ligação
fachadas principais, viradas para a rua e para o terreiro, continuam a ter linhas longitudinal do terreno |
Plantas de Júlio A. V. da Silva
equilibradas e uma imponência própria da época. Alguns elementos do séc.XVII Pinto, 1908

ainda estão presentes tanto no exterior, como é o exemplo do portão do pátio entre Figura 79. (em baixo) Vista
pilastras com um frontão, como no interior com lambris de azulejos setecentistas, aérea atual da Quinta da
Marquesa
estuques pintados ao estilo romântico, quer sobre os lambris quer em faixas nas
sancas, e tetos em tela pintada, a maior parte em mau estado de conservação.190

Hoje, apesar de um pouco degradada, a casa está dividida interiormente


em dois elementos: um principal que engloba o edifício mais ‘volumoso’ do
palacete atualmente adaptado para uma escola191; e um secundário, menos

189
Uma casa mais pequena que teria pertencido aos caseiros ou a trabalhadores da Quinta.
190
Ver anexo IV – “Levantamento do interior da Casa Senhorial”; pág.234.
191
Esta denomina-se por “Colégio do Menino Jesus – A. S. A.” que funciona como creche e jardim-de-
infância. Este colégio faz parte de uma IPSS - a Associação Socorro e Amparo (A. S. A.) - que visa ao
apoio das camadas mais jovens da população através da educação pré-escolar, tendo como objetivo
primordial, o de inserir as crianças na sociedade como seres autónomos, livres e solidários, compondo
ao todo onze salas para diferentes idades, compreendidas desde meses até 5 anos de idade.

| 98
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

3 2 1 4

0 10 20 40

Figura 80. Enquadramento da imponente com uma fachada mais assimétrica, que funciona como vivenda
Quinta da Marquesa
privada (Fig.84).
Legenda:
Deste modo, o volume principal é acessivel por uma pequena escadaria
Delimitação atual da Quinta
Indicação das entradas apresentando-se numa cota mais elevada, evidêncianda no exterior por uma barra
Caminho pré-existente
Tanques horizontal associada às cantarias das janelas (Fig. 83) e desenvolvendo-se
Percurso de agua
1 – ‘Pátio abrigado’/terreiro; segundo um eixo central que faz a distribuição para os restantes espaços. No piso
2 – Volume principal da Casa
Senhorial;
3 – Volume secundário da Casa
térreo desenvolviam-se os serviços principais, como cozinhas e arrumos e no
Senhorial
4 – ‘Casa de fora’. piso superior os espaços mais intimos e privados destinados apenas aos
familiares com vistas para todas as envolventes afirmando o ‘poder’ da família.

Por outro lado, o elemento secundário (Fig. 80, 84 e 85) tem uma ligação
interior para o principal e desenvolve-se em torno de um pequeno pátio acessível

99 |
O LUGAR
A Quinta da Marquesa – análise e enquadramento

por todos os compartimentos presentes no piso térreo. Este elemento possui Figura 81. (em baixo)
Evolução morfológica da
ainda acessos diretos para a rua, para um terreiro secundário e para o resto do Casa Senhorial da Quinta

terreno, para além de ter um segundo piso em duas das arestas, dispondo no
entanto de pés-direitos consideravelmente menores que o elemento principal.
2011- 2018
Ainda no contexto do edificado, a ‘casa de fora’ diante da entrada principal
da Casa Senhorial, funciona como anexo delimitador do ‘terreiro’, com uma
volumetria menor mas com igual relevância para a presença da memória do local 1940 - 1950
(Fig. 82).

Relativamente ao terreno, a Quinta apresenta um declive favorável ao


1904 - 1911
escoamento das águas benéfico para a irrigação dos vários setores.
Apresentando-se com uma pendente contínua que se inicia numa cota mais baixa
- o ‘terreiro’ - e continua pelo antigo jardim nobre até à zona mais selvagem na
Origem – inicio do Séc.XVIII
cota superior, caracterizada por algumas árvores e arbustos de pequeno porte.

Atravessando o terreno existe um caminho pré-existente que faz uma


ligação entre a entrada principal da Quinda na Rua do Norte até uma entrada
‘traseira’ na Travessa do Pregoeiro, reforçando a ideia de perspetiva valorizada
naquele tempo. Ao longo desta encontram-se três ‘tanques’ estratégicamene
posicionados para a antiga irrigação dos campos, caracterizados à maneira da
época tendo sido usufruidos para outras atividades de lazer (Fig 80).

No que diz respeiro à morfologia, o terreno é regular e delimitado por


‘muros pesados’ que não permitem à visão do interior pelo exterior. No entanto,
no seu enquadramento sul, a delimitação é feita por pequenas casas habitacionais
que não conseguem usufruir do terreno mas privilegiam da vista para este.

Por fim, constata-se que a Quinta sofreu alterações até 2011 data em que
a escola fez as suas últimas intervenções. Assim, apesar de algumas ostentações

Figura 82. (à esquerda)


Quinta da Marquesa de
Dentro e parte do seu terreno
| Fotografia aérea

Figura 83. (à direita) Quinta


da Marquesa de Dentro |
Fachada principal

| 100
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

já referidas, é uma Quinta pouco ornamentada se relacionada com outras da


Figura 84. Situação atual da mesma época, evidênciando os vários proprietários modestos e a vocação
Fachada da Casa Senhorial da
Quinta da Marquesa | Relação agrícula ao longo do tempo. Porém, é pela sua imponência arquitetónica clara e
entre os volumes principal e
secundário da Casa Senhorial simples, que continua a transparecer a essência de antigamente.

Volume secundário – Atualmente uma ivência privada Volume intermédio de ligação Volume principal – atualmente uma escola

Figura 85. Plantas da Casa


Senhorial

Legenda:

Indicação das entradas


Eixo de desenvolvimento do
elemento habitacional
paralelo ao desenvolvimento
do terreno

Planta do piso superior

Planta do piso térreo

0 5 10 20

101 |
| 102
4 A PROPOSTA

“O que nos conecta emocionalmente com o meio construído é, acima de tudo, a


qualidade das experiências por ele promovidas.”

Vera Damásio

103 |
A PROPOSTA

Figura 86. Perspetiva geral da


proposta projetual

Figura 87. Alçado Principal


incluindo a intervenção nova
proposta e as gerações a que
se destina| Rua do Norte

| 104
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Dado o problema da “(…) inadequação da sociedade ao curso dos


factos.”192, em que a população mudou e os modelos que a organizavam
permaneceram intactos, é necessário fazer determinadas adaptações aos
modelos, adaptações estas que abrangem várias dimensões, incluindo a relação
com o trabalho, com os outros e com o lazer. Este projeto, que visa a
intergeracionalidade, surge então como uma reflexão contemporânea de
adaptação ao modelo populacional de hoje, em que todas as gerações podem
habitar um mesmo espaço.

Como referido anteriormente193, para uma ponderação contemporânea


sobre um espaço de projeto marcado pelo tempo, é preciso ter em conta a
memória e as características inerentes ao mesmo. Posto isto, apresenta-se a
proposta de reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar
intergeracional não só por ser um dos ‘vazios’ naturais da cidade com história e
identidade que tem a necessidade de presença e reabilitação, como é um lugar
adequado e propício para os programas selecionados.

Um lugar de abordagem de histórias e memórias entre os tempos, que


relaciona culturas tanto geracionais como arquitetónicas , onde se desenvolve o
cruzamento de experiências entre a a comunidade, a ‘geração nova’ e a ‘geração
antiga’, e onde uma construção nova se pode alicerçar e complementar uma
construção antiga.

192
Maria João Valente Rosa – “O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”; Coleção “Ensaios da
Fundação Francisco Manuel dos Santos”; Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012; pág.49.
193
Ver sub-capítulo “3.2.Memória e património – A reabilitação”; pág.83.

105 |
A PROPOSTA

Figura 88. Esquema das


relações entre as gerações
para criar um lugar
intergeracional

| 106
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

4.1 | PROGRAMA

“Oferecer incentivos que despertem associações nos usuários que, por sua vez,
conduzam a ajustamentos específicos adequados a situações específicas”194

A proposta surge como um incentivo à dinâmica social da freguesia, no


sentido em que procura unir as gerações locais através de espaços específicos
que levam a situações essenciais, propondo um lugar natural de permanência que
potencie à interação coletiva.

Neste contexto, o programa tenta responder às necessidades da


população em causa, que pelas iniciativas da freguesia se insere na relação entre
a comunidade e as gerações afastadas e na necessidade da requalificação dos
espaços.

Deste modo, a proposta de reabilitação da Quinta da Marquesa vai incidir


numa nova habitabilidade institucional proporcionada pela Casa Senhorial como
matriz que estrutura o território. Assim, sugere-se uma IPSS como lugar
intergeracional com um carater privado e semi-privado, que cria momentos de
interação entre crianças e idosos para seu benefício e que se define num complexo
constituído por quatro tipos de núcleos espaciais: o preexistente, o escolar, o
habitacional e os intergeracionais.

O núcleo preexistente é definido pelo edifício da Casa Senhorial e pela


‘casa de fora’, que representam espaços tanto amplos como articulados,

194
Herman Hertzberger – “Lições de Arquitetura”; São Paulo; Livraria Martins Fontes; 1999; pág.169.

107 |
A PROPOSTA
O programa

destinados quer ao conjunto proposto quer à população envolvente,


considerando-se o ponto base do qual partem de todos os edifícios novos
programáticos.

A intervenção nova é então composta pelos restantes edifícios. O núcleo


escolar propõe uma abordagem mais contemporânea e destina-se à vivência
diária de crianças até aos 10 anos, servido de vários espaços educacionais e de
recreio. Na mesma linha contemporânea, o núcleo habitacional destina-se à
permanência de idosos a partir dos 65 anos, e propõe zonas privadas e de
convívio que colaboram para a dignidade dos mesmos.

Por fim, os núcleos intergeracionais que se dividem em biblioteca e


complexo desportivo, são os que se entendem por estarem destinados ao convivio
das duas gerações, propondo a sua interação com atividades que podem ser
realizadas por cada uma ou pelas duas em conjunto.

A praça, como espaço de lazer central da Quinta destinada à interação


entre gerações, é evidenciada pela implantação dos núcleos no terreno e é o
elemento dinamizador principal da intergeracionalidade. Esta é facilmente
acessível por todos os núcleos e interliga tanto os espaços novos entre si como
com o antigo, proporcionando a interação entre as gerações através de um
Figura 89. Esquema de
‘cenário de vistas’ para os espaços de estadia e recreio de cada uma e de todas composição da proposta

no conjunto.

+ + + =

Núcleo Pré- Núcleo Núcleo Núcleos


existente Escolar Habitacional Intergeracionais

| 108
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

4.2 | LINHAS CONCEPTUAIS DA PROPOSTA

Numa primeira abordagem à proposta, para a valorização dos princípios


básicos do programa, procurou-se um entendimento dos elementos essenciais
da Quinta e uma aproximação à perspetiva intergeracional. A partir daí surgiram
os pressupostos do projeto como forma de requalificação do espaço que se
basearam respetivamente em conceitos como os percursos e as relações
visuais.

4.2.1 | OS PERCURSOS

Os percursos foram entendidos pela composição delimitadora do terreno,


através dos limites e dos eixos intrínsecos que levam a elementos de memória
como a água e as zonas verdes.

Nos limites do terreno apresenta-se o muro como presença envolvente


constante (Fig.90), remetendo para uma ‘ideia antiga’ de defesa do território que
permitia a intimidade da Quinta e das suas áreas de lazer e de cultivo. Hoje,
qualquer zona entre muros continua a transmitir uma atmosfera tranquila e privada
que convida à introspeção, esta que para a dinâmica entre gerações proposta,
Figura 90. Vista paronâmica
do local de intervenção facilita a um relacionamento regular dos habitantes do lugar. Assim sendo, a

109 |
LINHAS CONCEPTUAIS DA PROPOSTA
Os percursos

Figura 91. Habitações da


antiga ruralidade anexadas
ao terreno

Figura 92. (à esquerda)


Caminho pré-existente em
direção à Casa Senhorial

Figura 93. (à direita)


Caminho pré-existente em
direção ao portão
secundário
requalificação dos limites é relevante para unificar o programa no local a par das
pequenas habitações a sul que por terem visibilidade para o interior do terreno
remetem para uma ideia rural que também aproxima a comunidade (Fig.91).

A partir dos limites, surge o caminho preexistente central da Quinta que


não só era o percurso principal de ligação longitudinal entre a Casa e o portão
secudário (Fig.92 e 93), valorizando o jardim formal da Quinta face às restantes
áreas verdes, como ajudava a dividir as diversas zonas agrículas. Atualmente, este
caminho que se inicia na Casa pode funcionar como eixo organizador base do
programa sob o terreno que ‘divide’ as temáticas ‘novas’ propostas, interliga o
espaço intergeracional exterior e preserva a memória do local, enfatizando o
percurso da água e as extensas zonas verdes.

| A ÁGUA

A água é um elemento frequente em zonas de terrenos agrícolas e só por


si já remete para uma natureza que transmite tranquilidade.

Na Quinta da Marquesa a linha da água acompanha o declive do terreno e


vem a descoberto ao longo da estrada preexistente, criando pontos específicos
no terreno caracterizados por tanques. Neste contexto, o percurso da água
começava com o primeiro tanque localizado a Este, passava pela zona

| 110
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

correspondente às áreas de cultivo com a presença de dois tanques menores e


acabaria a Oeste perto da Casa Senhorial com a fonte central do jardim formal
atualmente inexistente.

Estas peças territoriais remetem então para uma infraestrutura antiga que
alimentava todo o espaço natural do terreno levando à reminiscência da época.
Assim sendo, pela vontade de revitalizar a memória do local, a requalificação
destes elementos não só vai permitir à proposta uma essência de antigamente,
como vai ajudar a delimitar zonas ajardinadas e criar espaços pontuais dinâmicos
de permanência quando complementados com os novos espelhos de água
propostos (Fig 95).

| AS ZONAS VERDES

Tendo em conta a área do terreno e a implantação da Casa, é percetível a


importância do espaço verde nas quintas com bons terrenos agrículas. Em
carnide, este tipo de quintas são muito frequêntes pela qualidade dos terrenos
para o cultivo.

Dito isto, a proposta procura valorizar e preservar a estrutura verde em


que se insere, mantendo e requalificando os jardins formais da Quinta, criando
hortas neste terreno propício para o usufruto das gerações e proporcionando
vastas áreas verdes lazer que mantêm o lugar permeável e se complementam ao
edificado.

Neste contexto, as árvores não tinham uma presença muito relevante em


terrenos de cultivo como é o caso do terreno da proposta, mas são importantes
para manter o ambiente natural e proporcionar espaços de lazer exteriores com
mais caracter. Assim a maior parte das arvores existentes vão ser respeitadas e
as restantes vão ser implantadas quer de uma forma regular acompanhando os
percursos, quer de uma forma orgânica para um contato mais natural com a
natureza. Para enfatizar a ideia de perspetiva e valorizar a sua centralidade,
Figura 94. Variedade dos
percursos propostos | Relação caminho preexistente irá ser ladeado por arvores regulando-o e dando-lhe um
com as zonas verdes e com a
água contexto de avenida.

111 |
LINHAS CONCEPTUAIS DA PROPOSTA
Os percursos

Figura 95. Enquadramento


paisagístico proposto

Legenda:

Zonas verdes
Curso de agua proposto

Os caminhos exteriores irão ter várias valências para criar espaços de


estadia variados. Assim, alguns vão ser rebaixados em relação aos espaços
verdes e outros que se relacionam diretamente com estes (Fig.94).

4.2.2 | AS RELAÇÕES VISUAIS

Dentro do contexto da pesquisa para espaços destinados às duas


gerações, é percétivel a relação das mesmas apenas através do elemento visual.
Assim, as relações visuais surgem como o primeiro pretexto para uma interação
imediata.

Ao observar, inconscientemente analisamos e refletimos acerca da


situação que estamos presenciar. Para as gerações em causa, a observação pode
gerar a intergeracionalidade e trazer as vantagens que esta implica para a

| 112
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

sociedade. Deste modo, a forma do complexo proposto é determinante para uma


relação saudável entre as gerações.

| A FORMA

A forma do edificado foi assim pensada para uma ideia de ‘ver e ser visto’
quer de cada geração entre si, quer das duas gerações.

Deste modo, foi desenvolvida através de vários edifícios lineares


alinhados a partir de eixos presentes no terreno, apresentando algumas ‘quebras’

Figura 96. Relação de


no conjunto provenientes das mudanças de direção que evidenciam as entradas
frontalidade entre os vários
dos núcleos e fornecem diferentes percursos com vários pontos de vista (Fig.96
núcleos
e 98). Os núcleos interligam-se em contexto de frontalidade dando lugar à praça
exterior que encaminha todos para um ponto central, seja a partir do contato físico
ou apenas do olhar, permitindo que exista uma relação intergeracional mesmo
com aqueles que se mantêm no interior e observam o conjunto à sua frente
(Fig.96).

Para além das relações visuais, os próprios edifícios novos vão funcionar
como ‘muros de divisão’ entre espaços semipúblicos, identificados pelos lugares
distributivos exteriores e de acessos tanto para veículos como para habitantes, e
espaços semiprivados, como por exemplo a praça intergeracional de intuito
Figura 97. Relação de pedonal como área de lazer tanto para as gerações propostas como para a
frontalidade entre os vários
núcleos comunidade presente pontualmente (Fig 98).

113 |
LINHAS CONCEPTUAIS DA PROPOSTA
As relações visuais

| 114
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

4.3 | INTERVENÇÃO URBANA

4.3.1 | INTENÇÕES NO EXTERIOR DA QUINTA

Dentro da malha urbana de Carnide, o projeto deve comunicar bem com


o bairro, de modo a manter a comunidade viva apesar do envelhecimento. Existem
Figura 98. ‘Quebra’ do portanto ligações necessárias e essenciais com a envolvente próxima para uma
núcleo habitacional |
Dinâmica de vistas comunidade viva e saudável.

Dito isto, a existência de encontros exteriores no quotidiano de todas as


gerações, mas principalmente dos habitantes sénior da proposta, contribui para o
seu desenvolvimento motor e psicologico. Assim, a criação ou requalificação de
largos de transição entre a Quinta da Marquesa e a envolvente pode ser um ponto
de partida para ‘convidar’ indivíduos à relação geracional no exterior da Quinta.

Neste enquadramento são introduzidas três intervenções específicas de


dinamização do território: a requalificação do antigo largo proporcionado pelo
Convento de Santa Teresa de Jesus de Carnide, que para além de uma ligação
‘direta’ com um dos jardins formais da Quinta da Marquesa com acesso para a
zona de cafetaria da casa senhorial, fornece uma ligação espiritual e religiosa com
a população crente; a valorização do pequeno largo existente no cruzamento da
Rua Parreiras e da Rua Mestra com o Beco Norte, com um acesso facilitado para
Figura 99. Praça uma entrada independente do núcleo habitacional; e a criação do largo de acesso
intergeracional
enquadrada pelos núcleos à entrada principal da residência sénior como ‘continuidade’ da envolvente
(Fig.100).

115 |
INTERVENÇÃO URBANA
Intenções no exterior da Quinta

Figura 100. Praças e largos


exteriores propostos que criam
relação com a comunidade

Largo da Residência

Largo do Beco

Largo de Santa Teresa

4.3.2 | INTENÇÕES NO INTERIOR DA QUINTA

Em termos morfológicos, a intervenção no interior da Quinta não vai ser


muito intensificada no edifício em si, por este se encontrar atualmente em uso
apesar de não estar num ideal estado de conservação, no entanto vai ser
intensificada em termos urbanos e paisagísticos, de forma a recordar alguns dos
espaços que se perderam ao longo do tempo.

Na proposta é necessária uma abordagem que leve a uma leitura


harmoniosa do conjunto não criando um impacto substâncial do edificado novo
inserido na urbanização. Dito isto, uma relação da continuidade ‘estética’ da
intervenção nova com o núcleo preexistete é essencial para transmitir a noção do
conjunto. As fachadas da Casa Senhorial variam de tonalidades evidênciando a

| 116
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

passagem dos tempos, contudo têm predominante a côr amarela quando não
revestida a azuleijos. Deste modo, os restantes núcleos irão ter uma tonalidade
neutra para se complementarem com o preexistente, que é ao mesmo tempo
neutra com planos simples fazendo dos habitantes os principais elementos do
conjunto.195

Para preservar a memória que se vê das ruas envolventes da Quinta, os


edifícios novos desenvolvem-se no interior do terreno. No mesmo contexto, as
altimetrias do edificado envolvente demonstram maioritariamente dois ou três
pisos, deste modo, a altura da intevenção nova vai gerir-se a partir da combinação
da Casa Senhorial e das casas presentes na proximidade da Quinta, sendo
desenvolvida até uma altura máxima de 12m.

Os espaços exteriores e de enquadramento paisagístico devem ser


igualmente pensados, de uma forma harmoniosa e homogénea com o edificado
pois os jardins são fatores que influenciam para um certo desenvolvimento da
sensibilidade tando dos idosos como das crianças, ajudando ao conforto e
tranquilidade nos idosos e à concentração e entusiasmo das crianças.196

Para além destes, um lugar coletivo que visa a proximidade entre gerações
tem implícita a presença de elementos que relacionem as vidas distintas. O
edificado segue então algumas “(...) linhas estruturantes do edificado antigo.”197
numa intenção de percurso evidenciando e encaminhando as pessoas para a
praça urbana central bem como promovendo a divição entre esta e as zonas de
entrada e acessos exteriores do terreno (Fig.101). Este tipo de elemento é
importante nestas temáticas pois oferece a oportunidade a que todos se
encontrem no dia-a-dia ou em momentos específicos,198 ajudando a estimula-los
a fazerem coisas juntos simplesmente por se cruzarem mais regularmente.

195
Ver capítulo 2.6.1 – “CASOS DE ESTUDO”,”Igreja de Santo António e Centro Paroquial”; pág.70.
196
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – “II- Alguns referenciais técnicos para a
construção/ampliação/requalificação de escolas na perspectiva do centro escolar”; pág.6.
197
Vera Pacheco de Miranda de Sanches Osório – “Um Habitar entre gerações; A Reabilitação da Quinta
de Santa Theresa como Lugar Intergeracional”; Lisboa: Faculdade de Arquitetura, março de 2016;
Dissertação/projeto de Mestrado; pág.107.
198
Polyanna Alves Gonçalves – “HERMAN HERTZBERGER – EDIFÍCIOS ESCOLARES”; Teoria e crítica da
Arquitetura; Outubro de 2009.

117 |
INTERVENÇÃO URBANA
Intenções no interiorda Quinta

Por último, refere-se que todos os elementos propostos funcionam como


pretexto da continuidade e dos relacionamentos entre gerações para além das
atividades pontuais propostas que vão ajudar na harmonia dentro da diversidade,
podendo ser desenvolvida juntamente com a comunidade em ações específicas.

Figura 101. Relação


harmoniosa entre o conjunto
de núcleos e a praça central

| 118
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

4.4 | INTERVENÇÃO ARQUITETÓNICA 199

“Um lugar para sentar oferece uma oportunidade de apropriação temporária, ao


mesmo tempo que cria as circunstâncias para o contacto com outros”200

Na implantação de edifícios com os programas selecionados, a


temperatura, a qualidade do ar, a luminosidade, a cor, e o conforto acústico são
níveis de conforto que influenciam o bem-estar dos idosos e das crianças201, que
podem ser criados naturalmente através das características do edificado, como
por exemplo as suas formas, direções e materialidades.

Deste modo a dinâmica dos alinhamentos do edificado, que assumem


alguns elementos estruturantes das preexistencias, permitem orientações
diferentes e consequentemente uma variedade de espaços de estadia que
permitem a cada habitante a vivência que procuram. Neste contexto, a proposta
desenvolve a maior parte dos espaços de permanência orientados a sul e os de
circulação a norte, ambos sempre com a presença de ‘recantos’ que possibilitam
a apropriação ocasional por parte do ocupante, seja este uma criança ou um
idoso.

Aliadas aos diferentes espaços, as materialidades têm a particularidade


de poder transmitir e despertar determinados sentimentos quer no interior quer no
exterior de qualquer edificado, tendo sido escolhidas no intuito de valorizar as
vivências.

199
Acompanhar este capítulo com o apêndice VI – “peças desenhadas provisórias”, pág.184.
200
Herman Hertzberger – “Lições de Arquitetura”; São Paulo; Livraria Martins Fontes; 1999; pàg.177.
201
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – “II- Alguns referenciais técnicos para a
construção/ampliação/requalificação de escolas na perspectiva do centro escolar”; pág.7.

119 |
A PROPOSTA
Intervenção arquitetónica

4.4.1 | NÚCLEO PREEXISTENTE

Para este projeto, a Casa Senhorial da Quinta escolhida em Carnide não é


classificada como património arquitetónico nacional mas não deixa de ter a
presença da memória, deste modo, a intervenção de reabilitação vai ter de ser
bem cuidada. Em termos funcionais, a reabilitação da Casa vai ser mais
significativa pelo que existe atualmente no espaço, que é um tema muito
específico e diferente da temática que se quer abordar para o espaço do edificado
existente a reabilitar. Deste modo, no interior da Casa, as intervenções serâo Figura 102. Localização do
núcleo pré-existente
pontuais para melhor responderem às funcionalidades propostas.

Sendo o espaço mais antigo e por isso mais ligado à população local, o
núcleo preexistente vai ser destinado ao usufruto de todos e funcionar como
entrada principal do complexo para a comunidade de Carnide, considerada um
elemento de ligação fundamental para as relações positivas de proximidade entre
as gerações.

A entrada principal para os elementos do núcleo preexistente faz-se a


partir do terreiro que direciona os ocupantes para a Casa principal e para a ‘casa
de fora’. A Casa Principal será então o espaço de administração e de união de
toda a IPSS através de valências que consigam introduzir a comunidade no lugar
e que apoiem dinâmicas intergeracionais não só entre as crianças e os idosos.
Sendo assim, para além de conter as salas administrativas de apoio ao complexo,
irá contemplar galerias de exposição e salas polivalentes, no âmbito de expor
alguns projetos desenvolvidos na instituição ou de realizar eventos para a
comunidade, e uma cafetaria que circunda o pequeno pátio central da Casa com
zonas de estar e de leitura que permitam a ideia de ‘ver e ser visto’ num espaço
de convívio mais tradicional e acolhedor que atua como complemento do espaço
de biblioteca pertencente no edifício multiusos da intervenção nova. Este espaço
de café, sendo destinado a todos, tem um acesso facilitado para o edifício
multiusos e para jardim formal secundário da Quinta, para além de poder ser
acessado pela população diretamente pelo exterior através do Largo do Convento
de Santa Teresa através de um portão secundário da Quinta. Para a ‘casa de fora’
opta-se por uma abordagem mais específica destinada aos idosos, uma vez que

| 120
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

contém uma ligação direta com o núcleo habitacional através de um corpo


tansparente. Assim, esta casa terá uma valência de convivio direcionada à
geração sénior e às suas famílias, através de zonas de estar e de lazer num espaço
com memória (Fig.103 e 104).

Figura 103. Planta


esquemática do piso inferior
do núcleo pré-existente |
Zonas de estar, salas
polivalentes, galerias e café

Figura 104. Planta


esquemática do piso superior
do núcleo pré-existente |
Zonas de estar, salas
polivalentes, galerias e zona
administrativa

121 |
A PROPOSTA
Intervenção arquitetónica

4.4.2 | INTERVENÇÃO NOVA

Como referido anteriormente, a intervenção nova da proposta é composta


por quatro núcleos, todos com uma intencionalidade horizontal no terreno com o
intuito de corresponder às características altimétricas da envolvente,
desenvolvendo-se a partir do núcleo preexistente e crescendo nas suas cérceas a
‘acompanhar’ a pendente.

Na mesma linha da preexistencia, a materialidade das fachadas exteriores


Figura 105. Identificação
adota uma abordagem relacionada com a côr característica da casa senhorial. dos núcleos da intervenção
nova
Deste modo, tendo em conta que é uma intervenção ‘moderna’, vão ser aplicados
planos simples com qualidades específicas atuais que evidênciem as valorizações
referidas. Os elementos horizontais das fachadas, entendidos pelas lajes salientes,
serão então apresentados em betão à vista revelando a sua importância face aos
planos verticais entendidos pelas paredes exteriores. Estas, por sua vez, seguirão
uma tonalidade cromática que remete para a ‘ambiência’ da Casa Senhorial, uma
qualidade visivel no projeto de reabilitação do Hospital do Mar (Fig.106). Neste
cenário arquitetónico, a presença dos envidraçados vai ser o elemento leve que
proporciona as vistas intergeracionais e faz uma ligação mais concreta com a
natureza.

A par dos materiais, os dois corpos mais longos do novo edificado que
se desenvolvem horizontalmente no terreno diante um do outro, encontram-se
perpendiculares à pendente, interligando assim diferentes cotas e proporcionando
vários níveis de entradas (Fig 107). Neste contexto, dispõe das mesmas cotas e
malha estrutural, tornando a sua relação evidente, contudo a sua organização
dentro de cada proprama tem algumas variações consoante as cotas do terreno e

Figura 106. Fachada exterior do


Hospital do Mar | Pinearq,
2015, Boubadela

| 122
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 107. Corte transversal


esquemático da relação entre os
dois corpos principais | Evidência
para os Pés-direitos totais nas
zonas de circulação com a
entrada de luz zenital nos pisos
superiores; e para os variados
níveis de entrada

Figura 108. (à esquerda) Imagem


do projeto | Vista para a galeria
de circulação interior do nível
inferior parcialmente enterrado do
núcleo escolar

Figura 109. (à direita) Imagem do


projeto | Vista para a galeria de
circulação interior do nível térreo
do núcleo habitacional

as nessecidades de cada temática, evidênciando diferentes planos de fachada


com benefícios específicos para a geração que servem.

A par disso, ambos têm acessos independentes da envolvente para o


interior da Quinta que direcionam os habitantes para as entradas principais de
cada edificado e permitem o acesso às zonas de estacionamento pontuais da
proposta. Por último, os dois possuem uma entrada de luz zenital nos pisos
superiores vinda da cobertura sobre as galerias longitudinais, direcionada para as
zonas de abertura de laje que proporcionam vários pés direitos totais ao longo dos
percursos das galerias que promovem a presença de mais luz natural nos espaços
virados a norte nos pisos inferioes (Fig.108 e 109) e uma dinâmica de vistas que
proporciona mais uma vez o encontro entre gerações diferentes e entre individuos
da mesma geração que habitam o mesmo espaço (Fig.98).

Figura 110. Localização do núcleo


escolar

| NÚCLEO ESCOLAR – ESCOLA PRIMÁRIA

Em termos programáticos, o núcleo escolar destina-se a crianças desde


meses até aos 10 anos, contemplando um berçario com sala parque e sala de
repouso, duas salas de creche, três salas de jardim de infância e quatro salas de
ensino básico. A par destes espaços formativos a escola ainda contém espaços

123 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo escolar – Escola primária

polivalentes que se destinam ao cruzamento de idades entre as várias crianças


como os átrios de entrada e recreio interior, o refeitório grande, o ginásio com
apoio de balneários, a sala multiusos e outra sala menor para as crianças mais
novas visivel através do átrio principal, podendo servir até de zona de lanche. Para
além destes também existem espaços destinados a situações específicas como
é o caso da receção e sala de professores situadas perto do àtrio principal, da
cozinha que apoia o refeitório e do estacionamento enterrado destinado aos Figura 111. Planta
esquemática da entrada
professores e cargas e descargas. principal no nível intermédio
do núcleo escolar | Receção
Em termos formais, o núcleo é composto por dois volumes que se e átrio de entrada com uma
relação direta para a zona de
destinguem pela sua cércea e pela sua direção, interligando-se na ‘dobra’ que refeições para as crianças da
creche
evidência o ponto central de articulação das duas direções. O volume a Oeste
contém dois pisos e encontra-se parcialmente enterrado no nível inferior à cota
Figura 112. (à esquerda)
100.05, tendo no entanto, acesso direto ao nível mais baixo da praça central, Planta esquemática parcial do
nível inferior parcialmente
enquanto que o volume a Este contém três pisos, sendo que os dois inferiores enterrado do núcleo escolar |
Salas do Jardim de infância
correspondem aos do volume anteriormente referido (Fig.116 e 117).
Figura 113. (à direita) Planta
esquemática parcial do nível
Deste modo, a entrada principal (Fig.111) da escola acontece na fachada intermédio do núcleo escolar
| Salas do ensino básico
norte da ‘dobra’ no piso intermédio dos dois volumes à cota 104.10
Zonas de transição
correspondente ao nível 1 de todo o complexo, relacionando-se diretamente com

| 124
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 114. Planta


esquemática parcial do nível
inferior do núcleo escolar |
Refeitório aliado a um átrio
de saída para o exterior
a zona de acesso independente com estacionamento. A partir desta entrada, com
Figura 115. (à direita) Planta
esquemática parcial do nível
uma visão privilegiada para o espaço central do programa, desenvolvem-se o piso
intermédio do núcleo escolar
inferior e superior com a mesma organização, apresentando as galerias orientadas
| Anfiteatro exterior de
acesso ao ginásio das a Norte e os espaços sociais e formativos a Sul. Neste contexto, tendo em conta
crianças com duplo pé-
direito a relação do edificado com as cotas do terreno, a maior parte das salas tem
acesso direto para a praça exterior central, quer à cota do nível 1, quer à cota do
nível 0, promovendo uma ligação facilitada ao recreio exterior e à natureza,
intensificando o propósito intergeracional (Fig.112 e 113).

É no ponto central do edifício que se desenvolvem as àreas destinadas a


todas as crianças, como os átrios centrais e refeitório (Fig.114) e nas
estremidades que se estendem as áreas formativas e sociais específicas de cada
grau de escolaridade a par da sala polivalente e do ginásio parcialmente enterrado
que dispõe de um pequeno anfiteatro exterior diposto de maneira a promover
também a polivalência deste espaço (Fig.115). As salas serão agrupadas para
uma melhor organização dos núcleos e serão lugares que permitirão zonas para
várias atividades de aprendizagem, proporcionando o trabalho sentado à mesa ou
Figura 116. (à esquerda)
Corte transversal temático
do volume a Oeste do núcleo
escolar | Sala do jardim de
infância no nível inferior e
sala da creche no nível
intermédio
Figura 117. (à direita) Corte
transversal temático do
volume a Este do núcleo
escolar | Salas do ensino
básico com as zonas de
transição

Zonas de transição

125 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo escolar – Escola primária

Figura 118. Galeria de recreio


interior com uma zona de
transição das crianças no jardim
de infância com cacifos e outros
recantos para estar

no chão, e em grupo ou individual, contendo mesas dispostas aleatóriamente,


uma bancada ao fundo com um pequeno lavatório e uma zona evidênciada para
o quadro através da mudança de pavimento, permitindo a mutação do espaço
para todo o tipo de atividades. A par das salas, é possível um acesso pontual à
cobertura por parte das crianças acompanhadas pelos professores que lhes traz
um ambiente formativo não habitual que por sua vez oferece uma perceção do
todo incluindo a envolvente.

Em termos de vivências as cores fortes irão ser um elemento pontual no


interior do edificado aliadas às paredes de cor neutra e aos pavimentos de madeira
e linólio, evidênciando as zonas de percursos e de estadia respetivamente,
proporcionando à criança uma ambiência simples e natural que a torna
protagonista do espaço (Fig. 118, 120 e 121). Ademais, as formas não
convêncionais do conjunto de núcleos e as dinâmicas de vistas proporcionadas
pelos mesmos e pelas galerias interiores e exteriores permitem às crianças
espaços dinâmicos e diferentes do tradicional que as cativam e estimulam para
uma ‘dimensão que completa o sonho’.

| 126
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 119. Arcada exterior da


escola João de Deus | Alvaro
Siza Vieira, 1991, Penafiel

Figura 120. Galeria exterior do


nível inferior | Relação com as
salas do jardim de infância

Figura 121. Galeria exterior do


nível intermédio | Relação
com as salas do ensino básico

Neste contexto, as galerias interiores apropiam-se da luz que vem das


aberturas das lajes e das próprias salas de aula orientadas a sul (Fig.108 e 115)
para se tornarem espaços de recreio, deixando de ser apenas ‘habitadas’ durante
os percursos. Deste modo, tendo em conta a relação entre a sala de aula e a
galeria, surgem espaços que suavisam a transição entre os ambientes, com

127 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo escolar – Escola primária

cacifos e zonas intermédias de trabalho que permitem à criança uma zona mais
resguardada com a possibilidade de apropriação de um espaço mais intimo de
recreio (Fig.112, 113, 116 e 117), como acontece nas Escolas Apollo.202

Para além destas, as galerias exteriores deste núcleo inspiradas na arcada


exterior do Jardim escola João de Deus em penafiel (Fig.119) promovem uma
zona de recreio exterior coberta e dinâmica que não afeta à visão do idoso e que
permite uma incidência de luz suave quer aos espaços dos níveis superiores quer
aos inferiores (Fig.120 e 121).

| NÚCLEO HABITACIONAL – RESIDÊNCIA SÉNIOR

A ideia da residência é poder criar um meio-termo entre a ‘casa’ e lar, no


intuito de promover a assistência ao idoso e proporcionar ao mesmo tempo um
lugar familiar atraindo à convivência com outros indivíduos da mesma ou de
outras gerações.

Em termos programáticos, a residência destina-se a idosos com idades


iguais ou superiores a 65 anos dispondo de quartos individuais ou duplos Figura 122. Localização do
núcleo habitacional
destinados a um total de 38 residentes. Para além das habitações, o núcleo
também dispõe de zonas comuns e de estadia regular, como as salas de estar, a
sala de refeições e o cabeleireiro; de serviços minimos relativos às condições de
saúde dos residentes correspondentes aos espaços clínicos de enfermaria; e de

Figura 123. Entrada principal


do núcleo habitacional | Largo
da Residência com vista para o
Jardim interior

202
Ver capítulo 2.6.1 – “CASOS DE ESTUDO”,”Escolas Apollo”; pág.62.

| 128
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

serviços de funcionamento da residência como os acessos verticais, a cozinha de


apoio à sala de refeições, a lavandria, o espaço destinado à aos funcionarios e o
estacionamento enterrado com zonas de armazém e instalações técnicas.

À semelhança do núcleo escolar, este edíficio desenvolve-se também em


dois volumes ligados numa ‘dobra’ (Fig.124) facilitando a indicação da zona
central do volume para os residentes tendo a particularidade de fornecer uma
ambiência mais natural e iluminada através de um jardim interior que acompanha
as divisões centrais do piso térreo e dos dois níves superiores do volume a Este
correspondentes às zonas de estar e permanência (Fig.123 e 125).

Em termos organizacionais, o edifício desenvolve-se como a escola,


partindo das galerias orientadas a norte (Fig.128 e 129) aos espaços de serviço e

Figura 124. Ligação dos dois


volumes do núcleo
habitacional

Figura 125. Entrada principal


do núcleo habitacional | Vista
da galeria interior para o jardim
iterior

129 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo habitacional – Residência sénior

Figura 126. (em cima, à


esquerda) Imagem do projeto |
Vista da entrada com acesso
direto à praça intergeracional
exterior

Figura 127. (em cima, à direita)


Imagem do projeto | Vista da
entrada para o largo da
residência com a comunidade

Figura 128. (em baixo, à


esquerda) Imagem do projeto |
enquadramento da zona de
refeições com a galeria interior

Figura 129. (em baixo, à


direita) Imagem do projeto |
Vista da galeria para a
entrada relacionada com o
jardim interior

de permanência a Sul, quer intimos que correspondem aos quartos, quer sociais
que correspondem as salas comuns. Deste modo a entrada para a residência é
feita também na ‘dobra’ pelo piso térreo à cota 100.05 orientada a Sul, com uma
visão direta para a praça intergeracional central (Fig.126, 127 e 130). Neste piso,
com acesso ao exterior a todo o comprimento, desenvolvem-se os serviços gerais
já evidenciados, a par de quatro quartos com uma característica mais
independentes relativamente aos restantes que se desenvolvem nos pisos
superiores, possuindo acessos facilitados aos serviços gerais do piso e um
acesso direto ao exterior através de um telheiro apropriado segundo as vontades
do habitante (Fig.131).

Os quartos correspondem às zonas mais intimas dos residentes, por essa


razão são cuidados com características que procuram transmitir familiaridade.
Neste contexto, possuem apenas duas tipologias com tamanhos e elementos
idênticos como a casa-de-banho de fácil acesso aos enfermeiros que podem
auxiliar o residênte com um banho geriátrico no intimo da sua habitação, e os
armários que apenas variam na sua disposição fornecendo mais privacidade ou
não. Ambas as temáticas têm a capacidade de serem utilizadas como quartos
duplos ou individuais adequando-se à necessidade de cada ocupante, sendo que

| 130
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 130. (à esquerda) qualquer uma destas consegue ser espaçosa o suficiente e garantir a privacidade
lanta esquemática parcial
do nível inferior do núcleo também um sentimento de pertença aos habitantes regulares do espaço dando-
habitacional | Átrio de
entrada da residência como lhes uma ideia mais aproximada de ‘casa’, pela facilidade de apropriação através
distribuidor dos restantes
espaços dos recantos como no lar de idosos de Peter Rosegger (Fig.132) e pela
Figura 131. (à direita) possibilidade de poderem receber visitas dentro do seu espaço residêncial.
Planta esquemática parcial
do nível inferior do núcleo
habitacional | Relação dos Em termos de ambiências, a madeira vai ser uma das materialidades
quartos com acesso direto
ao exterior
interiores principais do edificado, transmitindo bem estar e ajudando à divisão dos
espaços através das suas mudanças de direção. Aliados às materialidades, os
espaços promovem possibilidades para uma interação tanto ativa como passiva,
relacionando os espaços privados e coletivos203 conciliando-os e mantendo-os
perto de maneira a que os idosos tenham maior controlo e autonomia de onde
estão e de onde passam o seu tempo, com vários lugares de descanso e estadia
com vista para o exterior e com uma certa familiaridade enquanto conversam e
Figura 132. Quarto do lar de observam o ambiente lá fora (Fig.133). Neste enquadramento, a galeria interior
Peter Rosegger com
recantos que permitem a também proporciona espaços de estadia com acesso a varandas direcionadas
apropriação pessoal do
espaço | Dietger para a praça central, intercalando-se com as aberturas das lajes que levam de
Wissounig Architekten,
2014, Áustria novo à intergeracionalidade (Fig.98).

203
Referido no Capítulo “2.4.2. A instituição para a geração sénior”; pág.39.

131 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo habitacional – Residência sénior

Figura 133. Planta


esquemática parcial do nível
intermédio do núcleo
habitacional | Relação dos
quartos com a sala de estar
no cruzmento dos dois
volumes | evidência para a
variedade de zonas de estadia
e descanso acessiveis ao
longo da galeria interior

Espaços de estadia
e descanso

Zonas de transição
para os quartos

Figura 134. Corte transversal


esquemático do núcleo
habitacional | Relação dos
quartos com a galeria interior
através das zonas de
transição

Figura 135. ‘Meia-porta’ na


zona de transição entre a
galeria e o quarto do lar De
Overloop | Hertzberger, 1984,
Dito isto, as entradas dos quartos simetricamente dispostos ao longo do Holanda

edificado são recuadas criando zonas de transição ao longo da galeria como nos
espaços escolares, neste caso entre a zona coletiva da galeria e a zona privada
da habitação, onde estão presentes as caixas de correio de cada habitação além
de prateleiras com objetos familiares à vista que proporcionam um sentimento de
pertença ao espaço (Fig.134 e 136). A par de todas as características que visam
a uma ambiência caseira, nesta pequena zona de transição, as portas duplas dos
quartos caracterizam-se também como ‘meias-portas’ como acontece no lar De
Drie Hoven204 e no lar Overloop (Fig.135) proporcionando ao convivio entre os

204
Ver capítulo 2.6.1 – “CASOS DE ESTUDO”,”De Drie Hoven”; pág.66.

| 132
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

residentes e à visão intergeracional mesmo quando estes se preferem manter na


intimidade do seu quarto, tendo ainda na sua proximidade bancos que funcionam
como zonas de descanso pontuais para os residentes geralmente com menos
mobilidade.

Figura 136. Galeria interior de


circulação do nível superior do
núcleo habitacional | Evidência
para os vários espaços de
estadia aliados às zonas
resguardadas de transição para
os quartos

Figura 137. Galeria interior de


circulação do nível inferior do
núcleo habitacional | Variação
dos planos das fachadas para a
criação de espaços exteriores e
interiores que se relacionam em
termos de vistas

133 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleo habitacional – Residência sénior

Em termos de relação interior/exterior, este núcleo não possui galeria


exterior mas promove diferentes planos de fachada que levam a ambiências
agradáveis sempre com a possibilidade de visão de outros e a outros (Fig.137).

Por último, este núcleo, por ser destinado a idosos com menos
modalidade que necessitam de um determinado conforto para o seu bem-estar,
possui ligações facilitadas com a ‘casa de fora’ do núcleo pré-existente como
mais um lugar de estadia e com o complexo despotivo, que por sua vez apoia os
idosos regularmente com atividades específicas.

4.4.3 | NÚCLEOS INTERGERACIONAIS

Estes, a par do núcleo preexistente, têm temáticas que convidam, mais


uma vez, à interação entre as gerações com a particularidade de serem destinados
maioritariamente às crianças e aos idosos, proporcionando atividades que fazem
parte da sua rotina vivêncial.

| ESPAÇO MULTIUSOS

Este núcleo com intuito intergeracional proporciona salas polivalentes no


piso térreo destinados a atividades para as duas gerações em conjunto, e um
espaço de biblioteca e ludoteca no piso superior, com zonas de leitura e de
trabalho e ainda com computadores destinados a todas as gerações e a aulas
pontuais para as crianças no ensino básico (Fig.139 e 140).

Em termos formais o núcleo encontra-se entre a casa senhorial e o edifício


Figura 138. Localização do
escolar, tendo a possibilidade de acesso direto por parte deste, e relacionando-se núcleo intergeracional de
Multiusos
com os dois a partir da sua cércea de XXm. Organiza-se interiormente sob um
eixo central que divide os espaços a partir de uma entrada com pé direito duplo
que dispõe de uma fachada envidraçada direcionada para a praça mais uma vez
realçando as relações visuais entre os habitantes (Fig.141).

| 134
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Figura 139. Planta


esquemática do nível inferior
do núcleo intergeracional de
multiusos | Entrada com
duplo pé direio e salas
polivalentes

Figura 140. Planta


esquemática do nível superior
do núcleo intergeracional de
multiusos | Zona de biblioteca
e ludoteca com zoonas de
trabalho e de leitura

Figura 141. Vista para a praça


intergeracional exterior a partir
do nível superior do espaço
Multiusos

135 |
INTERVENÇÃO NOVA
Núcleos intergeracionais

| COMPLEXO DESPORTIVO

Na continuidade do núcleo residêncial, na zona mais a Este do terreno,


desenvolve-se o espaço destinado ao desporto e lazer, sendo composto por
balneáreos e piscina destinados às crianças e aos idosos, e um ginásio para
tratamentos específicos para a geração sérior, juntamente com outros espaços
complementares e de especificidades técnicas inerentes a cada um destes
espaços.
Figura 142. Localização do
Em termos formais, este núcleo é semelhante ao edifício multiusos núcleo intergeracional do
complexo desportivo
organizando-se segundo um eixo longitudinal que faz a distribuição dos espaços.
No nível intermédio, correspondente ao nível 1 de todo o complexo à cota 104.10,
desenvolve-se a receção direcionada a partir do átrio interior de ligação entre a
residência e o complexo desportivo, e os balneários que têm acesso ao nível
superior de ginásio ou ao inferior da a piscina através de acessos verticais
privados (Fig.143, 144 e 145). A zona da piscina à cota 100.05 corresponde ao
nível 0 de todo o complexo e prolonga-se até ao cruzamento de arestas com a

Figura 143. Planta


esquemática do nível
inferior do núcleo
intergeracional do complexo
desportivo com uma ligação
direta com os serviços do
núcleo habitacional | Zona
da piscina com uma
receção, zona de duche,
gabinete de apoio,
instalações sanitárias,
sauna, banho turco e
arrumos e salas técnicas

| 136
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

residência, aproveitando a água como elemento de ligação à envolvente criando a


piscina na continuidade da linha de água existente da Quinta. Sendo a piscina
situada no piso térreo com uma relação visual direta com um exterior (Fig.146.),
foi também necessário um elemento que ajudasse à privacidade do espaço mas
que permitisse alguma entrada de luz natural, deste modo surge um espelho de

Figura 144. Planta


esquemática do nível
intermédio do núcleo
intergeracional do complexo
desportivo com uma ligação
com o núcleo habitacional
através de um átrio com um
jardim interior | Zona de
distribuição do complexo com
a receção e balneários

Figura 145. Planta


esquemática do nível superior
do núcleo intergeracional do
complexo desportivo com uma
visão priviligiada para o
programa restante | Zona de
Ginásio com Gabinetes de
fisioterapia, gabinete médico e
arrumos

137 |
NÚCLEOS INTERGERACIONAIS
Complexo desportivo

Figura 146. Vista para para a


praça intergeracional exterior a
partir da zona da piscina no
nível inferior

água a partir do preexistente que evidência o programa a realizar nesse espaço


semi-enterrado.

Por fim, ainda à semelhança do espaço multiusos, as fachadas


direcionadas para a praça são maioritariamente envidraçadas permitindo de novo
uma visão priveligiada das cotas mais altas para todo o complexo intergeracional.

4.4.4 | A PRAÇA

Esta, como ponto central do projeto, é caracterizada com elementos tanto


arquitetónicos, com evidência para o anfiteatro exterior, a rampa de ligação entre
os dois níveis da praça (Fig.148) e os tanques preexistentes; como paisagísticos,
referindo-se às zonas ‘naturais’ verdes que incluem os jardins e as hortas, no
intuito de proporcionar diferentes espaços exteriores que levem a vivências
variadas destinadas a cada uma das gerações ou as duas em conjunto sempre
observadas a partir dos vários núcleos do complexo (Fig.147).

| 138
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

As materialidades para além de impactarem ambientalmente também


conseguem fazer persistir a memória de certos locais. Assim, tendo em conta a
história agrícula da Quinta da Marquesa, os espaços exteriores não só irão
proporcionar pavimentos permeáveis como também uma certa recordação dos
tempos antigos. Deste modo para os pavimentos exteriores de circulação principal
propõe-se lajetas de betão, relacionando-os de uma forma harmoniosa com o
edificado, e para os restantes com um caráter mais secundário o saibro.

Parque infantil

Campo de jogos

Zonas verdes de recreio

Rampa de ligação
Anfiteatro exterior

Hortas
Caixa de areia

Zona verde de recreio

Jardim formal

Figura 147. Caracterização


das zonas exteriores
propostas no terreno

Figura 148. Corte transversal


parcial do terreno | Relevância
do anfiteatro exterior como
elemento de ligação dos
espaços

139 |
INTERVENÇÃO NOVA
A praça

A par dos espaços que proporcionam vivências variadas, as hortas com


um caráter comunitário fazem parte da proposta paisagística do complexo por ser
uma prática cultural específica que valoriza o ambiente e que reúne o interesse
das duas gerações em vista, sendo um trabalho coletivo que leva tanto à partilha
de conhecimentos ambientais, como à intergeracionalidade e interculturalidade,
melhorando a vida ativa do idoso, estimulando a aprendizagem das crianças e
promovendo a sensibilidade ambiental de todos os envolvidos.

| 140
141 |
| 142
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Beauty is he harmony of purpose and form”

Alval Aalto, 1928

143 |
CONSIDERAÇÕES FINAIS

| 144
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Encontramo-nos numa sociedade que se está a tornar cada vez mais


envelhecida tornando-se fundamental a reflexão relativa às gerações que mais
precisam de apoio, concretamente as gerações infantil e sénior, que possuem
arquiteturas específicas para as suas vivências.

O vínculo dessas vivências não só ajuda na sustentabilidade dos espaços


destinados a cada uma das gerações e envolventes, como permite à sociedade
sentimentos como a aceitação e compreensão. Este projeto surge então como
uma possível ideia conceptual de concretização das formas de habitar para um
envelhecimento ativo da população idosa e um crescimento mais abrangente da
geração mais nova, pois a interação a que podem estar sujeitas, simultâneamente
com a comunidade proxima, permite um desenvolvimento saudável com
experiências reais e genuinas que ajudam à sua integridade.

A par disso, este tipo de programa deve ter uma relação intrínseca com o
‘Lugar’, no sentido em que este tem uma identidade própria que fornece uma
ligação positiva com a comunidade. Assim, a articulação entre os elementos
construidos do lugar e do programa deve ser também harmoniosa distinguindo as
suas identidades mas mantendo a ideia de conjunto.

Neste caso, a proposta propôs a agregação entre o ‘novo’ e o ‘antigo’,


interligando-se através do espaço natural que transmite a memória da Quinta da
Marquesa transmitindo uma analogia entre a relação edificada e as gerações em
causa, que se complementam apesar de afastadas pelo tempo.

Considera-se então a proposta como uma reabilitação do território, não


só dos espaços físicos existentes como da mentalidade das pessoas envolvidas,
pela crianção de um ‘Lugar’ antigo que se liga a vertentes novas que oferecem a
todos um espaço de estar em comunidade que provoca uma nova consciência

145 |
CONSIDERAÇÕES FINAIS

em relação ao mundo. Uma abordagem que implicou o conhecimento


aprofundado das partes através de uma pesquisa intensa no intuito de encontrar
pontos que as várias gerações pudessem ter em comum.

Em termos práticos, compreendeu-se que o projeto devia procurar afirmar


a independência de cada geração a par de espaços que oferecessem
pontualmente a sua interação quer visual quer física. Tornando-se crucial que
todas as circulações se confinem aos espaços centrais de cada núcleo e ao
espaço central do conjunto de modo a que os habitantes retornem sempre aos
mesmos cruzando-se inevitavelmente, permitindo um intercâmbio continuo de
pontos de vista que permitem a capacidade de ‘ver e ser visto’ a qualquer
momento do dia e, ao mesmo tempo, a privacidade de cada vivência.

Neste contexto a organização interna dos espaços procurou uma


flexibilidade funcional arquitetónica, hospedando várias qualidades funcionais que
respondem aos usos pontuais e necessários a todas as gerações.

Em suma, esta a intervenção promove uma requalificação da qualidade


histórica do lugar e um ‘movimento cultural’ que transforma a noção de
comunidade, num lugar onde a transmissão da alegria de viver e de uma herança
de saber é valorizada como uma cultura co-educativa. Esta temática surge como
uma nova refexão para proporcionar a intergeracionalidade, através da arquitetura
como uma forma prática que não impõe mas que cria as sensibilidades e vontades
para tal.

Com este trabalho foi possível uma sensibilidade às qualidades humanas,


em que a arquitetura deve ser para as pessoas no sentido em que influencia as
vivências diárias concretas daqueles que usufruem do espaço, conseguindo até
juntar duas realidades à partida tão distintas que se encontram e complementam
quando sentem que podem ter algo para dar. Surge então o desejo de continuar a
pensar na arquitetura como forma de explorar mais possibilidades e oportunidades
de atmosferas e lugares concretos que podem enriquecer e dar sentido à vida de
muitos. Pois mesmo que ao principio pareçam irrealistas, é possível se houver a
procura de conhecer as realidades e assumir que perguntar faz parte para
continuar.

| 146
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

“ O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político,


manifestando-se em todas as acções que procuram construir um mundo melhor.”

(Papa Francisco, in Carta Encíclica Laudato si’)

147 |
| 148
6 BIBLIOGRAFIA

149 |
BIBLIOGRAFIA

| 150
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

6.1 | REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN 853080291-8.

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Tese de mestrado.

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BIBLIOGRAFIA
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MINISTÉRIO DA SOLIDARIEDADE E DA SEGURANÇA SOCIAL – “Portaria nº 67/2012” in


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| 154
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

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Webgrafia

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Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

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157 |
| 158
7 APÊNDICES

APÊNDICE I | LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO DO LOCAL DE INTERVENÇÃO 160

APÊNDICE II | LEVANTAMENTO DAS PRÉ-EXISTÊNCIAS 168

APÊNDICE III | PROCESSO DE MAQUETAS 174

APÊNDICE IV | PROCESSO DE DESENHO 182

APÊNDICE V | MAQUETAS FINAIS 186

APÊNDICE VI | PEÇAS DESENHADAS FINAIS 194

159 |
APÊNDICES

APÊNDICE I | LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO DO LOCAL DE INTERVENÇÃO

Fotografias da autora

| 160
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

161 |
APÊNDICES
Apêmdice I – Levantamento fotográfico do local de intervenção

| 162
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

163 |
APÊNDICES
Apêmdice I – Levantamento fotográfico do local de intervenção

| 164
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

165 |
APÊNDICES
Apêmdice I – Levantamento fotográfico do local de intervenção

| 166
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

167 |
APÊNDICES

APÊNDICE II | LEVANTAMENTO DAS PRÉ-EXISTÊNCIAS

Registos gráficos elaborados pela autora, baseados nas plantas do Arquivo


Municipal de Lisboa – Ver Anexo III, p.230

| 168
A
B
E
D
C C

A
B
E
D

A
B
E
D

C C
104.45 105.05
A
B
E
D

A
B
E
D

105.05

C C
104.45 105.05
A
B
E
D

A
B
E
D

102.3

102.45

105.05

C C
102.3

104.45 105.05
102.62
A
B
E
D

A
B
E
D

100.10

99.52

100.00
99.52
99.22

100.05
99.52
100.35
99.50

C C
100.60

100.05 99.22
99.89
99.59
99.62

100.35
99.50

100.60
99.50
99.20
99.22

100.35
99.55

99.80
A
B
E
D

Casa Senhorial | Esc.1:500


108.8

105.8

103.5

Alçado Poente (Principal)

113.3

108.8

107.5
106.7
105.8 106.0

99.22 99.50
99.22

Corte C-C'

Alçado Nascente

Alçado Sul da 'Casa de Fora' Alçado Sul da Casa Principal (Corte A-A')

99.4

Alçado Norte da 'Casa de Fora' (Corte B-B') Corte D-D'

Corte E-E'

Casa Senhorial | Esc.1:500


ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

173 |
APÊNDICES

APÊNDICE III | PROCESSO DE MAQUETAS

Maquetas elaboradas pela autora

| 174
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Maquete 1. Maquete urbana |


Estado atual do terreno |
Esc.1:500

175 |
APÊNDICES
Apêndice III – Processo de maquetas

Maquete 2. Primeiras
abordagens projetuais |
Esc.1:500

| 176
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

177 |
APÊNDICES
Apêndice III – Processo de maquetas

| 178
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Maquete 4. Consolidação dos


núcleos propostos |
Esc.1:500

179 |
APÊNDICES
Apêndice III – Processo de maquetas

Maquete 4. Estudo dos


espaços exteriores |
Esc.1:500

| 180
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

181 |
APÊNDICES

APÊNDICE IV | PROCESSO DE DESENHO

Esquiços elaboradas pela autora

| 182
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

183 |
APÊNDICES
Apêndice IV – Processo de desenho

| 184
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

185 |
APÊNDICES

APÊNDICE V | MAQUETAS FINAIS

Maquetas elaboradas pela autora

| 186
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Maquete 1. Enquadramento da
Freguesia de Carnide na
cidade de Lisboa |
Esc.1:40000

187 |
APÊNDICES
Apêndice V – Maquetas finais

Maquete 2. Relação
volumétrica dos núcleos
propostos com a envolvente |
Esc.1:500
| 188
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

189 |
APÊNDICES
Apêndice V – Maquetas finais

Maquete 3. Proposta projetual


| Esc.1:200

| 190
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Maquete 3. Proposta projetual


| Orientação a Sul | Esc.1:200

191 |
APÊNDICES
Apêndice V – Maquetas finais

Maquete 3. Proposta projetual


| Orientação a Norte |
Esc.1:200

| 192
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Maquete 3. Proposta projetual


| Orientação a Poente |
Esc.1:200

193 |
APÊNDICES

APÊNDICE VI | PEÇAS DESENHADAS FINAIS

Registos gráficos da autora:

• Organização geral da exposição dos paineis na parede 195


• Paineis – 1 a 17 197 a 221

| 194
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

223 |
| 224
8 ANEXOS

ANEXO I | CARTOGRAFIAS ANTIGAS DA FREGUESIA DE CARNIDE 226

ANEXO II| DADOS POPULACIONAIS DA FREGUESIA DE CARNIDE 228

ANEXO III| DADOS DAS PRÉEXISTÊNCIAS DA QUINTA DA MARQUESA 230

ANEXO IV| LEVANTAMENTO DO INTERIOR DA CASA SENHORIAL 234

225 |
ANEXOS

ANEXO I | CARTOGRAFIAS ANTIGAS DA FREGUESIA DE CARNIDE

| 226
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Cartografias Antigas de Silva Pinto, datadas de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q e 6Q


(Fonte: https://ecarnide.hypotheses.org/carnide-em-lisboa)

Imagem 1 | Cartografia Antiga do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q

Imagem 1 | Cartografia Antiga do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q

Imagem 1 | Cartografia Antiga do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q

Imagem 1 | Cartografia Antiga do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q

Cartografia antiga de Lisboa, Zona de Carnide, datada de 1940 a 1950

Imagem 1 | Cartografia Antiga do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q
227 |

Imagem 3 | Cartografia antiga de Lisboa, Zona de Carnide, datada de 1940 a 1950


ANEXOS

ANEXO II| DADOS POPULACIONAIS DA FREGUESIA DE CARNIDE

Estatísticas baseadas nos censos de Carnide de 2001

(Fonte: INE, Recenseamento Geral da População e habitação, 2001, Resultados


Definitivos. Também disponível em: https://www.jf-
carnide.pt/xms/files/FREGUESIA/A_FREGUESIA/ESTATISTICAS/Censos_Carnide
_2001.pdf)

| 228
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Quadro da população residente


total

Imagem 1 | Cartografia Antiga do


Silva Pinto, datada de 1904 a 1911
- Lx_Silva Pinto_5Q

Imagem 1 | Cartografia Antiga do


Silva Pinto, datada de 1904 a 1911
- Lx_Silva Pinto_5Q
Quadro da população residente com 15 ou mais anos, segundo o grupo etário, por condição perante a atividade económica e sexo.

229 |
Imagem 1 | Cartografia Antiga do
Imagem
Silva Pinto,1datada
| Cartografia
de 1904Antiga
a 1911do Silva Pinto, datada de 1904 a 1911 - Lx_Silva Pinto_5Q
- Lx_Silva Pinto_5Q
ANEXOS

ANEXO III| DADOS DAS PRÉ-EXISTÊNCIAS DA QUINTA DA MARQUESA

(Fonte: Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa)

| 230
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Planta atual de parte da Casa senhorial da Quinta da Marquesa em Carnide – R/C

Planta atual de parte da Casa senhorial da Quinta da Marquesa em Carnide – 1ºAndar

Planta atual de parte da Casa senhorial da Quinta da Marquesa em Carnide – Planta de cobertura

231 |
ANEXOS
Dados das pré-existências da Quinta da Marquesa

Corte A-B; Corte C-D; alçado Sul de parte da Casa senhorial da Quinta da Marquesa em Carnide

Alçados Norte, Nascente e Poente de parte da Casa senhorial da Quinta da Marquesa em Carnide

| 232
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

233 |
ANEXOS

ANEXO IV| LEVANTAMENTO DO INTERIOR DA CASA SENHORIAL

Informação escassa devido às funções atuais dos vários volumes da Casa

(Fonte: http://colegiodomeninojesus.blogspot.com/)

| 234
ARQUITETURA DE PROXIMIDADE ENTRE GERAÇÕES
Reabilitação da Quinta da Marquesa em Carnide como lugar intergeracional

Teto em tela pintada (gosto romântico da época)

Predominância dos Lambris de azuleijos setecentistas e


espaços de recanto

235 |

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