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1 Graduação e mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, e doutorado em
Engenharia de Produção pela mesma Universidade.
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Leitura Obrigatória
Seção 1
Teoria das elites
A teoria das elites surgiu por volta do século XIX com o filósofo italiano e
estudioso do pensamento político, Gaetano Mosca. Em sua obra História das
Doutrinas Políticas (MOSCA; BOUTHOUL, 1987), Mosca traça os primeiros
roteiros de uma “teoria da classe política” a qual permite verificar que, através da
história, existiu uma classe política que, segundo sua compreensão, conduziu o
sistema de ideias que governou e determinou a vida política e social.
A questão da desigualdade se torna mais explícita à medida que a teoria das elites
transpõe para o âmbito do debate político, a formação da classe política dirigente,
o que na Itália tornou-se conhecido como “fórmula política” (MOSCA; BOUTHOUL,
1987).
Assim, deduziu o autor que as interações sociais têm uma lógica determinada
por níveis de desigualdade – lógico e não lógico – que definiriam o poder das
elites, as quais estariam classificadas de acordo com dois tipos de poderes: o
econômico e o político.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
Bobbio et al. (2004) citam também Michels, seguidor de Pareto e Mosca, o qual,
baseado na teoria das elites, teria estudado a estrutura dos grandes partidos
de massa, em especial o partido social democrata alemão como uma grande
organização que, semelhante aos partidos de massas, funcionaria com um poder
concentrado nas mãos de um grupo restrito de pessoas. A esse grupo de poder
Michels deu o nome de oligarquia.
A obra de Lasch tem sido interpretada como uma denúncia sobre os valores
advindos de uma nova ordem social que ameaça a democracia quando
argumenta que a elite política norte-americana tem tido um papel decisivo na
produção e reprodução do Estado liberal para salvaguardar os interesses das
elites econômicas. O autor aponta como um dos sintomas a massificação de
hábitos internalizados por meio de novas instituições, que estariam a serviço dos
interesses da sociedade de consumo.
Lasch critica essas novas funções, as quais se tornariam mais eficazes enquanto
agências de motivação e de desenvolvimento de novos padrões culturais e de
administração de sentimentos de caráter individualistas, capazes de produzir um
abismo entre o verdadeiro sentimento humano, ou seja, as necessidades reais,
e uma vida orientada pelo que ele denomina de “democracia da autoestima”,
privilegia o culto ao corpo e direciona a atenção das pessoas para os apelos das
imagens produzidas pela industria cultural e para os sentimentos mais supérfluos
do “bazar global”.
Na referência que Lasch faz à obra de Ortega, quando alude à A Rebelião das
Massa, em nota introdutória, do capítulo II, como o domínio político das massas,
à ela responde: “a classe trabalhadora industrial que foi o esteio dos movimentos
socialistas, tornou-se um vestígio deplorável de si mesma” (LASCH, 1995, p. 39).
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Leitura Obrigatória
Lasch classifica como abismo a condição das elites e a distância que, segundo
ele, separaria das demais classes sociais. Conclui que as elites que decidem
sobre a vida das pessoas teriam perdido o contato com o povo, visto que
elas fazem parte de um mundo que não tem sintonia com os anseios e as
necessidades das massas.
Apesar da aparente disjunção entre o mundo das elites e o mundo das massas,
Lasch observa a contradição da meritocracia que se faz de modo velado, visto
que ao mesmo tempo em que internaliza o desejo de romper com a tradição
reage com desdém a ela, mas preserva a mesma tradição quando evoca a
experiência hereditária das elites políticas para a Administração Pública e para os
cargos públicos.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
Seção 2
Grupos de pressão
O ponto de partida da teoria dos grupos de pressão é a constituição dos
grupos. Esta, por sua vez, é uma categoria conceitual considerada tipicamente
sociológica. Conceitualmente, a sociologia entende o grupo como um sistema
social que envolve a interação regular entre seus membros e uma identidade
coletiva comum.
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Leitura Obrigatória
Conhecido como lobbyng, esse tipo de atividade grupal se define pelo apoio a
candidatos, grupos ambientalistas e por oferecer consultoria. O reconhecimento
formal desses grupos os tornam reconhecidos formalmente como testemunhas,
podendo depor em audiências públicas, atuar como interlocutores de grupos com
parlamentares para discutir e influir na legislação, fazer protestos e passeatas
para chamar atenção das autoridades ou detentores do poder público. Nos casos
de empresas ou sindicatos, o lobby é, segundo Johnson (1997), secundário
porque se constituiria numa variedade de outras atividades de grupos de pressão.
Bobbio et al. (2004, p. 563) também definem o grupo de pressão como grupo de
interesse e, da mesma forma, Johnson (1997) identifica a atuação do lobbyng
com a pressão que os grupos de interesse fazem junto aos parlamentares nos
corredores dos edifícios ou nos saguões dos hotéis onde “frequentemente podem
localizar os parlamentares”.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
A esse respeito, Kimball (apud LASCH, 1995) faz referência à necessidade de uma
cultura comum, que separasse o lobby do interesse e da propaganda partidária.
Para o autor, os grupos de pressão não atuariam sem interesse corporativo ou de
maneira imparcial, orientados por valores de consentimento universal.
Seção 3
Mudança política e movimentos sociais
O tema da mudança social ocupou lugar central nas ciências sociais. Aristóteles
já havia construído sua teoria do desenvolvimento a partir da ideia de que todo
universo tem um télos – um fim ou um propósito que lhe é próprio, e o érgon – o
seu trabalho ou tarefa de levar a cabo a sua função – que é a dynamis.
Com esse processo, Aristóteles quer dizer que existe uma predisposição que é
inerente aos seres vivos para o movimento ou evolução. Augusto Comte fundou a
sociologia com o mesmo argumento de que a ordem social é dinâmica da mesma
forma que o é a maneira de pensar do homem. Assim, argumentou que o espírito
humano teria passado por três fases evolutivas: a primeira fase corresponderia à
idade teológica; a segunda, a passagem para a idade metafísica; e a terceira, a
idade positiva.
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Leitura Obrigatória
Para este autor, foi na Grã-Bretanha que o radicalismo, com o qual as instituições
políticas e sociais formais se transformaram durante as mudanças, converteu
o país num Estado industrial e capitalista. A resistência ao desenvolvimento do
capitalismo e o aparato institucional obsoleto, principalmente por um sistema
jurídico anacrônico, contribuíram para mobilizar as forças políticas do campo
contra a cidade.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
O Capitalismo, sistema econômico que surgiu na Europa nos séculos XVI e XVII, na
concepção marxista é organizado em torno do conceito de capital, da propriedade
privada e do controle dos meios de produção pelo emprego de trabalhadores
para produzir bens e serviços em troca de salário. O capitalismo como sistema
social abrange três formas de relação de produção: 1) trabalhadores; 2) meios
de produção (fábricas, máquinas, ferramentas, terra e assim por diante; 3) os
detentores da propriedade desses meios de produção ou os que controlam esses
meios que são os capitalistas.
É nesse contexto que Marx torna-se crítico do capitalismo pela mudança com
que o lucro se torna o único fundamento da produção, e é também aí que as suas
ideias contribuem significativamente para a consciência da luta de classes.
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Leitura Obrigatória
Assim, o avanço das conquistas pela cidadania vai ampliar para além dos
direitos do trabalho uma participação maior nas decisões políticas, dando à
democracia um significado muito mais amplo no qual se inscrevem as lutas como
prerrogativas da cidadania.
A questão que o autor lança por meio da reflexão sobre o conceito de democracia
vem a propósito de um debate crescente nos últimos anos em torno da
legitimidade da representação.
Com isso, para Alain Touraine o movimento social, como um projeto cultural,
é sempre definido por referência a um sujeito que manifesta sob uma forma
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religiosa, classe social, ou nação. Portanto, nega o autor que o movimento social
possa ser confundido com um discurso de reivindicação, porque, enquanto
projeto de vida este englobaria a liberdade e o respeito à dignidade humana,
sobretudo os direitos fundamentais que não podem ser reduzidos a vantagens
políticas ou ganhos materiais.
Para o autor, os direitos culturais não podem ser tomados como uma extensão
dos direitos políticos à medida que esses direitos deveriam ser definidos
como direitos de todos os cidadãos. Na nova ordem social, os direitos dos
homossexuais, dos muçulmanos, das mulheres, das crianças, do adolescente, do
idoso, etc., na concepção do referido autor, teriam que ser harmonizados como
condições de vida particulares de atores coletivos, as quais são a base dos novos
movimentos sociais.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
Os partidos políticos aparecem pela primeira vez nos países que adotaram formas
de governo representativo, denominado de sistema partidário. Tornaram-se, nas
democracias representativas, as instituições mais importantes da vida política do
país (BASTOS, 1999).
A teoria dos sistemas partidários ganhou relevância nas ciências políticas pelo
grau de institucionalização que garante a representação nas democracias
modernas. Mainwaring (2001) afirma que o grau de institucionalização é critério
central para compreender os sistemas partidários. Observa que até 1990 a
maioria dos estudos sobre partidos políticos não considerou esse critério.
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Leitura Obrigatória
Considerações finais
Nesta leitura você estudou temas que conectam o poder das elites com a
democracia liberal e esta com a participação que contrasta com o conceito de
liberdade e igualdade. O tema dos movimentos sociais forneceu elementos para
você refletir sobre a liberdade, uma condição dos direitos civis garantido pelas
constituições democráticas.
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Elites, grupos de pressão, mudanças políticas e movimentos sociais
Referências
ARON, R. Vilfredo Pareto. In: ______. As etapas do pensamento sociológico.
Brasília: Editora UnB, 1982. p. 377-453.
BOKOLO, E.; TOURAINE, A.; WALZER, M. Qué Democracia Para el Futuro?. In:
______. Claves para el siglo XXI. Barcelona: Ediciones Unesco, 2002.
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HARVEY, D. et. al. Occupy: movimentos de protestos que tomaram as ruas. São
Paulo: Boitempo/Carta Maior, 2012.
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