Você está na página 1de 4

5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA.

PROCESSO Nº 0002988-48.2014.8.05.0079
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA
RECORRIDO: MANOEL ALVES GOMES
JUIZ PROLATOR: ROBERTO COSTA DE FREITAS JÚNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA.


DÍVIDA IMPUTADA AO ATUAL PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL,
EFETIVO CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE CONSUMO QUE NÃO
INCLUI O ANTIGO RESPONSÁVEL PELA UNIDADE. AUTOR
APRESENTOU O NÚMERO DE PROTOCOLO DE SOLICITAÇÃO
DE TRANSFERÊNCIA DA TITULARIDADE DA RELAÇÃO
CONTRATUAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA JUNTO AOS ÓRGÃOS
RESTRITIVOS DE CRÉDITO. PRESTAÇÃO DEFEITUOSA DO
SERVIÇO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
ARBITRAMENTO DE INDENIZAÇÃO EM VALOR MODERADO.
MANUTENÇÃO INTEGRAL DO JULGADO. NÃO PROVIMENTO
DO RECURSO.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Recorrente, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, pretende a reforma da sentença lançada nos autos que, considerando
indevida a cobrança empreendida, já que a dívida discutida não foi contraída pelo antigo
responsável pelo imóvel informado, ora Recorrido, MANOEL ALVES GOMES, que
ensejou a inscrição do nome deste junto aos órgãos restritivos de crédito, condenou-a ao
pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 7.200,00 (sete mil e duzentos
reais), com ordem de exclusão da restrição empreendida.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros
desta Egrégia Turma.

VOTO

A sentença recorrida, tendo analisado corretamente todos os aspectos do


litígio, merece confirmação integral, não carecendo, assim, de qualquer reparo ou
complemento dentro dos limites traçados pelas razões recursais, culminando o julgamento do
recurso com a aplicação da regra inserta na parte final do art. 46 da Lei nº 9.099/95, que
exclui a necessidade de emissão de novo conteúdo decisório para a solução da lide, ante a
integração dos próprios e jurídicos fundamentos da sentença guerreada.

1
A título de ilustração apenas, fomentada pelo amor ao debate e para realçar
o feliz desfecho encontrado para a contenda pela MM. Juíza que atuou no primeiro grau,
alongo-me na fundamentação do julgamento, nos seguintes termos:

Restou evidenciado que a dívida cobrada pela Recorrente se refere a


consumo de energia elétrica apurado em período posterior à venda do imóvel pelo Recorrido,
que, assim, por envolver outra relação de consumo, não deve ser responsabilizado pelo
pagamento, estando o devedor, efetivo consumidor, devidamente identificado.

Ademais, tendo o Recorrido apresentado o número do protocolo do diálogo


mantido para solicitação de transferência da titularidade da relação contratual, cabia à
Requerida evidenciar, por ser a única na relação jurídica a dispor da prova, o conteúdo dessa
conversa e, assim, afastar a versão construída pelo consumidor, ônus de que não se
desincumbiu, trazendo verossimilhança às alegações contidas na inicial.

Com isso, inexistindo relação obrigacional entre a concessionária e o


antigo proprietário do imóvel1, há de se dar guarida à pretensão de cancelamento do débito
atribuído indevidamente à parte recorrida.

Restando evidenciada a prestação defeituosa do serviço, especialmente no


que concerne às cobranças realizadas após a transferência de titularidade do serviço, que
ensejaram a inscrição do nome do consumidor junto aos órgãos restritivos do crédito,
mostra-se imprescindível a condenação da Recorrente ao pagamento de indenização pelos
inegáveis danos morais impingidos ao Recorrido.

Encontrando previsão no sistema geral de proteção ao consumidor inserto


no art. 6º, inciso VI, do CDC, com recepção no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, e
repercussão no art. 186, do Código Civil, o dano eminentemente moral, sem consequência
patrimonial, não há como ser provado, nem se investiga a respeito do animus do ofensor.
Consistindo em lesão de bem personalíssimo, de caráter subjetivo, satisfaz-se a ordem
jurídica com a demonstração do fato que o ensejou. Ele existe simplesmente pela conduta
ofensiva, sendo dela presumido, tornando prescindível a demonstração do prejuízo concreto.

Com isso, uma vez constatada a conduta lesiva e definida objetivamente


pelo julgador, pela experiência comum, a repercussão negativa na esfera do lesado, surge a
obrigação de reparar o dano moral.

Na situação em análise, o Recorrido não precisava fazer prova da


ocorrência efetiva dos danos morais informados. Os danos dessa natureza se presumem,
sobretudo pelas cobranças indevidas, aliado à inscrição imerecida em cadastro de
1
{...} “A relação existente do contrato de fornecimento de energia elétrica é entre a concessionária e o consumidor, de sorte que
não havendo relação obrigacional entre aquela e o proprietário do imóvel, não pode ser exigido deste o pagamento de contas em
atraso como condição de religação da energia" (RS nº 2001.009136-4/0000-00 - 2ª Turma Cível - DJ 22.11.2002).
{...} “O vínculo decorrente do contrato de fornecimento de energia elétrica é entre a concessionária e o real consumidor, de sorte
que inexiste relação obrigacional entre aquela e o novo proprietário do imóvel, não se podendo exigir deste último o pagamento de
faturas em atraso como condição para o restabelecimento do serviço. (TJMS - AC-Lei Especial 2003.009948-4/0000-00 - Campo
Grande - 1ª T.Cív. - Rel. Des. Joenildo de Sousa Chaves - J. 13.02.2007)
- EFETIVO CONSUMIDOR - ENERGIA ELÉTRICA - INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO - DÉBITOS PRETÉRITOS -
INADMISSIBILIDADE - Havendo elementos suficientes a indicar que a fraude constatada no medidor de energia elétrica teve
início no período de vigência do contrato de locação, o débito deve ser exigido do devedor, ou seja, do locatário, que foi o efetivo
consumidor, e não do proprietário do imóvel. Tratando-se de débito antigo, que inclusive está sendo discutido judicialmente, não
pode a concessionária suspender o fornecimento de energia elétrica como meio coercitivo para obtenção do valor devido. (TJMG -
AG 1.0324.08.064069-5/001 - 5ª C.Cív. - Rel. Antônio Hélio Silva - J. 15.09.2008)

2
inadimplentes, fatos que, inegavelmente, vulneram sua intangibilidade pessoal, sujeitando-o
ao constrangimento, grave aborrecimento, transtorno e incômodo, oriundos da atividade
negligente da Recorrente.

Não se tratou, assim, de um aborrecimento tolerável pelo homem médio


que vive em sociedade e que deve se acostumar com seus acasos. Não se pode considerar
como razoavelmente cabível que uma empresa do porte da parte recorrente trate o
consumidor com o descaso apresentado. Seu dever é primar pela prestação de serviço ágil,
mas eficiente, sendo inaceitável qualquer espécie de atividade que venha causar prejuízo. O
consumidor não pode ser obrigado a suportar as consequências da má organização e
ineficiência daqueles que devem um comportamento sem reparos, mostrando-se, portanto,
absolutamente acertada a condenação da parte recorrente ao pagamento de indenização por
danos morais.

Quanto ao valor da indenização, entendo que, não se distanciando muito


das lições jurisprudenciais, deve ser prestigiado o arbitramento do juiz de primeiro grau que,
próximo dos fatos, pautado pelo bom senso e atentando para o binômio razoabilidade e
proporcionalidade, respeita o caráter reparatório e inibitório-punitivo da indenização, que
dever trazer compensação indireta ao sofrimento do ofendido e incutir temor no ofensor para
que não dê mais causa a eventos semelhantes.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e


NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto pela Recorrente, COELBA –
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA., confirmando,
consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada, condenando-a ao pagamento das
custas e honorários advocatícios que arbitro em 20% (vinte por cento) sobre o valor da
condenação pecuniária imposta.

Salvador-Ba, Sala das Sessões, 30 de junho de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0002988-48.2014.8.05.0079
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA
RECORRIDO: MANOEL ALVES GOMES
JUIZ PROLATOR: ROBERTO COSTA DE FREITAS JÚNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. SERVIÇO DE ENERGIA ELÉTRICA.


DÍVIDA IMPUTADA AO ATUAL PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL,
EFETIVO CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE CONSUMO QUE NÃO

3
INCLUI O ANTIGO RESPONSÁVEL PELA UNIDADE. AUTOR
APRESENTOU O NÚMERO DE PROTOCOLO DE SOLICITAÇÃO
DE TRANSFERÊNCIA DA TITULARIDADE DA RELAÇÃO
CONTRATUAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA JUNTO AOS ÓRGÃOS
RESTRITIVOS DE CRÉDITO. PRESTAÇÃO DEFEITUOSA DO
SERVIÇO. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
ARBITRAMENTO DE INDENIZAÇÃO EM VALOR MODERADO.
MANUTENÇÃO INTEGRAL DO JULGADO. NÃO PROVIMENTO
DO RECURSO.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto
pela Recorrente, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA., confirmando, consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada,
condenando-a ao pagamento das custas e honorários advocatícios que arbitro em 20%
(vinte por cento) sobre o valor da condenação pecuniária imposta.

Salvador-Ba, Sala das Sessões, 30 de junho de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

Você também pode gostar