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Referir-se a si próprio na terceira pessoa virou sinônimo de vaidade desde que Pelé -
e outras celebridades menos votadas - caíram nessa tentação. O autor de O Filho
Eterno se enquadra na categoria dos que falam de si próprios na terceira pessoa por
outro motivo: o excesso de pudor na hora de subir à ribalta para se expor aos olhos
do público. É compreensível. O fato de a narração ser feita na terceira pessoa (o
narrador e o pai da criança doente não são a mesma pessoa: o primeiro não participa
da narrativa, apenas mostra o que os personagens pensam e sentem; o segundo é um
dos personagens principais da obra) é, provavelmente, o único detalhe que impede
O Filho Eterno de se enquadrar na categoria de autobiografia.
O Filho Eterno poderia também ser qualificada como uma peça do chamado "novo
jornalismo", uma reportagem irretocável, merecedora de todo aplauso numa época
em que texto jornalístico, golpeado pelos "idiotas da objetividade", cabeceia,
também ele, como se fosse um boi no corredor de um matadouro. O livro não deixa
de ser uma bela reportagem autobiográfica de um pai que toma para si uma tarefa
dificílima: a de narrar uma dor inenarrável ou, para usar uma palavra que é cara ao
autor, "irredimível".
"Os escritores brasileiros somos pequenos ladrões de sardinha, Brás Cubas inúteis",
diz, a certa altura do livro. Imagina-se, lá pelas tantas, autor de livros que ninguém
lerá - e pai de um filho que não poderia amar. Mas persiste, porque, para ele,
escrever é uma escolha radical, uma predestinação que não depende de coisas tão
pequenas quanto os humores das editoras ou as leis de mercado.
Com pequenas conquistas, como os primeiros passos e a ida à escola, Filipe vai
conquistando o seu lugar de filho. O pai já não o vê mais como uma espécie de
maldição, mas como alguém que precisa de carinho e cuidado. Ao falar sobre o
crescimento e desenvolvimento do primogênito, o autor apresenta algumas
informações sobre a síndrome de Down e mostra que, apesar de serem lentos e
demorados, os avanços de Filipe são gratificantes. A paixão pelo futebol é um dos
elementos cotidianos que ajuda a unir pai e filho.
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Trechos de O Filho Eterno, em que o pai recebe a notícia de que o filho tinha sido
diagnosticado como portador da Síndrome de Down:
"Se eu escrever um livro sobre ele, ou para ele, o pai pensa, ele jamais conseguirá lê-
lo"
"Eu não posso ser destruído pela literatura; eu também não posso ser destruído pelo
meu filho - eu tenho um limite: fazer, bem-feito, o que posso e sei fazer, na minha
medida. Sem pensar, pega a criança no colo, que se larga saborosamente sobre o pai,
abraçando-lhe o pescoço, e assim sobem as escadas até a porta de casa."
Fonte:
http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/145190/
http://www.geneton.com.br/archives/000256.html