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Carlito Azevedo - Sob A Noite Física (1996, 7letras) PDF
Carlito Azevedo - Sob A Noite Física (1996, 7letras) PDF
SETTE LETRAS
SOB A NOITE FÍSICA
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Carlito Azevedo
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SETTE LETRAS
Copyright © 1996 Carlito Azevedo
Projeto gráfico.-
Jorge Viveiros de Castro
Editoração eletrônica:
Ligia Baireto Gonçalves
Rei isâo:
Mariela Cunha
ISBN 85-85625-78-3
1997
Livraria Sette Letras Ltda.
Rua Maria Angélica 171 loja 102
Jardim Botânico - Rio de Janeiro - RJ
CEP 22470-200 - Tel/Fax (021) 537-2414
Para M onique
A via-láctea se despenteia.
Os corpos se gastam contra a luz.
Sem artifícios, a pedra
acende sua m ancha sobre a praia.
Do lixo da esquina partiu
o últim o vôo da varejeira
contra um século convulsivo.
11
AO RÉS DO CHÃO
vertiginosas e em revolução,
antes de explodirem ao rés do chão
16
III
17
IV
18
VENTO
19
“LE BEL AUJOURD’HUr
Ali
a beleza
sutilm ente encorpava
com o só as
delicadas exalações de fumaça
do chá, da chaleirinha sibilante,
l'as sim ples aparências das coisas
m agnificando-se até o símbolo",
e ainda que o assim cham ado
belo
hoje queira seguir abrigando
novos territórios
e eu m esm o
geralm ente o prefira convulsivo-ou-nào-será
o certo é que
sem que se precisasse pedir
o dia contorceu-se até o último avesso
para nos dar
um a noite com o esta
(sobre corpos transidos
claudicava a luz, os
po deres germ inais
de milícias de
tílias)
20
LAGOA
T endo às costas
(com o asas pensas que a tarde
abre e fecha) o dorso cobreado da
m ontanha e os reflexos de cobre da lagoa,
a m enina com o gato traduz, à mais que perfeição,
os veios profundos, invisíveis e subterrâneos,
a nos unir a quem amam os, e q u an d o ele lhe
estira sobre o colo as patas ponteadas,
ela, para não acordá-lo, até seu
olhar põe na ponta dos pés.
BELO HOJE
n o fo ye u r so upault e breton
posam com m áscaras navajo
25
VIEIRA DA SILVA
Para ítalo Moriconi
1. o s jo g a d o res de cartas
a verrum a
é o trunfo
a aresta
é o naipe
a água do
relógio
marca a hora
cio desastre
(lisboa é
o naipe
provença é
o trunfo
ponteiros
de água
e a hora
no búzio)
a luz
é o trunfo
o olho
é o naipe
as mãos
em baralham
o frio e
a am izade
26
(o quarto é
o naipe
o escorpião é
o trunfo
o incenso
do jade
aceso
no escuro)
a trama
é o trunfo
o en genho
é o naipe
arom as
caçadores
nas cores
do xale
(a m ulher é
o naipe
o hom em é
o trunfo
na pérgola
do outeiro
a glória
do m undo)
2,7
2. o quarto de cavaletes
Para Josely Vianna Baptista
e Francisco Faria
28
3. a biblioteca
não
se p o d e
distinguir
título algum (idéias
sem caule)
tanto
vetm e l i o i$oleil cou coupê)
p orém não m ente:
deve haver
um lautréam ont
por ali
29
PENNA: UMA EXPOSIÇÃO
Na fazenda — o n d e os insetos
ganham residência no cristal;
na casa em Botafogo — esm agada
pela luz e pelo pulso da pedra;
ou na paz final das Laranjeiras:
a caixinha-de-m úsica fia
— pela eternidade adentro —
o sono da m enina morta.
30
m ira
nada tão
distante do
branco de susto e do
aram e do calafrio
quanto essas
associações limpas
da tela
( denlelle)
e do grafite: as
quase-frutas bolas-de-m eia
o quadrado-em -ecos a
não-abolida linha (que (
milagre ou perícia) perdura
equilibrada sobre a
própria falta de espessura)
o risco que desafia
o imóvel e ao maleável
se recusa (talvez a dizer
que a vida até no pouco
do nào-dique de telas-vazio
nadas-brancura
tam bém sem resistência
se depura?)
31
COPPÉLIA
Para Cecília Costa Moreira
Cai o pano
(cai silêncio
no piano)
Cai o pano
(o n d e estamos?
cotidiano)
Cai o pano
(e caím os nós
voltando
para o plano
tão dem asi
ado hum ano)
32
NO SERIAL DA AVENIDA
33
COMO UM TÍTULO DE MAX ERNST
35
AVENIDA RIO BRANCO: AFLUENTES
a b
o rascante os rasgões
meio-dia de ex-cartazes
reconstrói esgarçados
esgarçados desconstróem
ex-cartazes o rascante
rasgados meio-dia
36
VERS DE CIRCONSTANCE
Para Hélio de Assis, leitor e amigo de Fraga
“Mais que todos deserdamos
desse nosso oblíquo modo
um menino inda não nado
(e melhor não fora nado)’’
C. D. A.
Nado de arraia-miúda,
no serial da avenida,
por que fui dar nessa boca
que me fere intimativa?
37
TEMA & VOLTAS
38
MALDOROR
“Va-t-il nous déch irer”
S. M.
vês
a mesa?
e sobre a? virado
de lá para cá por preciosos
instrumentos cirúrgicos
— sonda? chumbo? bomba? —
o pulm ãozinho do
rouxinol?
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A MARGARIDA-PÉROLA
40
MULHER
Rude calcário
lacera a pele
fina, de arroz;
carícia oculta
corais, e luvas
mudam-se em puas;
cristal, graveto,
farpa, granito:
qualquer palavra
novo esqueleto:
interno em gume,
externo em grito).
41
A MESMA
brotando do
azul coado
(coagido)
do olhar
grossas
lágrimas
lhe riscaram
sobre o rosto
uma frase
áspera
(rastilho
de signos
que ninguém
— nem ele —
poderia
mais
ou
apagar
ou
ler)
42
RELENDO SAXÍFRAGA
43
O DIA O QUE TRAZ CONSIGO?”
Manhã asselvajada
Jardim utópico
Narciso errático
44
3 VARIAÇÕES CABRALINAS
45
NA NOITE FÍSICA
(desentranhado de um poem a de
Charles Peixoto)
46
ELLE
47
3 SONETOS DO CORPO
O corpo formiga
de noite, de ausência,
ferido por frios
punhais de dormência
A dor no entressonho,
com seu grão de lixo,
se infiltra (formiga
51
QUATORZE PARA O MElO-DIA
sublima um terceiro
que é todo espinhaço
de luz (como são
as horas de perda,
os páramos, certas
manhãs de verão).
52
SALTO
Um grito, um prelúdio,
vibrados, penetram
o quarto que (aberto
p or mão ou descuido)
ao sol desabriga
um corpo sinuoso
costurando as linhas
do sangue e do sono.
53
NA GÁVEA
NA NOITE GRIS
(2a versão, 1996)
Na noite gris
nenhum fulgor
no ar. Tigres
ausentes? Vultos
no breu convulso:
latas de lixo.
Lixas de unhas
mortas, roídas
até o sabugo.
Nenhuma pele
cede ao apelo
liqüido, escuro
da sede (cegos,
engavetados,
carros se matam).
57
LEOPOLDO MARÍA PANERO
II
e ilumina, na loucura
de vísceras explodidas,
da alm a negra a noite escura.
58
NA GÁVEA
Enquanto o vento
sopra contra a flor caduca
da pedra, um som mais belo que o som das
fontes nos seduz a invocar do cubo de treva
nosso de cada noite que nos dê — não outro dia,
chuva nos cabelos, lampejos do sublime entre pilotis
de azul e abril, mas apenas a vertigem do ato,
o vermelho do rapto, a chegada ao fundo
mais ardente, onde tornar a reunir
cada fragmento nosso, perdido,
de dor e de delicadeza.
59
DE UMA FOTO
60
II
6l
AGRADECIMENTOS
C. A.
SUMÁRIO
L im ia r .................................................................................. 11
PARTE V: NA GÁVEA....................................................55
Na noite g r is ..............................................................57
Leopoldo Maria P an ero ...........................................58
Na G á v e a ................................................................... 59
De uma fo to ...............................................................60
DO AUTOR
Poesia
Tradução