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Identidade
Da mesma forma que o jazz nos Estados Unidos e a salsa (derivada do mambo
e da rumba) em muitos dos países caribenhos, o samba é indiscutivelmente o
gênero musical que confere identidade ao Brasil. Nascido da influência de
ritmos africanos para cá transplantados, sincretizados e adaptados, foi
sofrendo inúmeras modificações por contingências das mais diversas -
econômicas, sociais, culturais e musicais - até chegar no ritmo que conhecemos.
E a história é mais ou menos a mesma para os similares caribenho e americano.
Entre essas doceiras estavam tia Amélia (mãe de Donga), tia Prisciliana (mãe
de João de Baiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana), tia Mônica (mãe de
Pendengo e Carmen do Xibuca) e a mais famosa de todas, tia Ciata, pois
justamente de sua casa, à rua Visconde de Itaúna 117 (Cidade Nova), é que
"viria a ganhar forma o samba destinado a tornar-se, quase simultaneamente
um gênero de música popular do morro e da cidade" 9.
Se por um lado o samba como dança e festa coletiva explodia nos quintais,
tomava as ruas e se exibia nos desfiles de cordões, por outro, o samba como
música e composição autoral dava os seus primeiros passos em casa de tia
Ciata. O elemento comum eram os estribilhos, cantados e dançados tanto num
lugar como no outro.
O chefe da polícia
Pelo telefone
Mandou me avisar
Que na Carioca
Tem uma roleta para se jogar...
Ismael:
Se você jurar
Que me tem amor
Eu posso me regenerar
Mas se é
Para fingir, mulher
A orgia, assim não vou deixar
Lundu
Polca
"... a semelhança de ritmo com o lundu permite uma fusão que poderia às
vezes ser nominal, mas que garante ao gênero de dança saído do batuque a
possibilidade de ser, afinal, admitido livremente nos salões sob o nome mágico
de polca-lundu."
Chula
"Antes de falá samba, a gente falava chula. Chula era qualquer verso
cantado. Por exemplo. Os versos que os palhaço cantava era chula de palhaço.
Os que saía vestido de palhaço nos cordão-de-velho tinha chula de palhaço de
guizo. Agora, tinha a chula raiada, que era o samba do partido alto. Podia chamá
chula raiada ou samba raiado. Era a mesma coisa. Tudo era samba de partido-
alto. E tinha samba corrido".
Maxixe
"Um fato até então inédito acontece: os clubes carnavalescos, que nunca
tocavam a mesma música em seus desfiles, entraram na Av. Central tocando
Pelo telefone". 21
"O registro do samba (nº 3295) não teve a repercussão que teria hoje.
Música de muitos não era de ninguém. Não tinha dono, como mulher de
bêbado..."
'Do Grêmio Fala Gente recebemos a seguinte nota: Será cantado domingo, na
av. Rio Branco, o verdadeiro tango Pelo telefone, dos inspirados carnavalescos,
o imortal João da Mata, o mestre Germano, a nossa velha amiguinha Ciata e o
inesquecível bom Hilário; arranjo exclusivamente pelo bom e querido pianista J.
Silva (Sinhô), dedicado ao bom e amigo Mauro, repórter da Rua, em 6 de agosto
de 1916, dando ele o nome de Roceiro'.
Pelo telefone
A minha boa gente
Mandou me avisar
Que o meu bom arranjo
Era oferecido
Para se cantar.
Ai, ai, ai
Leva a mão na consciência, meu bem.
Ai, ai, ai
Mas pra que tanta presença, meu bem?
Uma outra polêmica até hoje não totalmente desvendada diz respeito à letra
original do samba - que teria recebido inúmeras alterações e paródias ao longo
do tempo, gerando confusões.
"Os versos expressivos e bem feitos eram uma glosa sutil a um fato
importante. O então chefe da polícia Aurelino Leal determinara em fins de
outubro daquele ano (1916), em ofício publicado amplamente na imprensa, que
os delegados distritais lavrassem auto de apreensão de todos os objetos de
jogatina encontrados nos clubes. Antes de qualquer providência, porém,
ordenara que lhe fosse dado aviso pelo telefone oficial."
Para se brincar
A Donga se deve pelo menos o fato de ter percebido que o samba, ainda em
seu nascedouro, surgiria a partir daquela data não mais como uma dança ou
festa coletiva, mas como um bem cultural digno de ser comercializado e
divulgado no rádio, então único meio de comunicação de massa, ávido para ter o
que tocar. Os últimos comentários a esse respeito são de Almirante, citado no
livro de Edigar de Alencar 26:
Cabe assinalar ainda que a música recebeu uma versão teatral de Henrique
Júnior com o mesmo título, que teve sua estréia em 7 de agosto de 1917 no
Teatro Carlos Gomes, ficando menos de uma semana em cartaz.
"O estilo (antigo) não dava para andar. Eu comecei a notar que havia uma
coisa. O samba era assim: tan tantan tan tantan. Não dava. Como é que um
bloco ia andar na rua assim? Aí a gente começou a fazer um samba assim:
bumbum paticumbumpruburundum." 27
Até essa data o que se via nas ruas durante o carnaval era o desfile das
Grandes Sociedades, dos ranchos carnavalescos (também conhecidos como
blocos de cordas, pois possuíam um cordão de isolamento e proteção) e dos
blocos propriamente ditos (mais modestos em sua administração). A
diferenciação entre esses dois últimos é pequena. De acordo com a autora
Eneida Moraes 28, citando Renato de Almeida, "os ranchos eram cordões
civilizados e os blocos, mistos de cordões e ranchos".
1.
ALVES, Henrique. Sua Ex.a o samba. São Paulo. Símbolo, 1976, p. 17.
2.
DEBRET, Jean Baptiste. Desenhista e pintor francês (Paris 1768 - 1848) cuja obra é de
grande importância para o estudo da história brasileira no início do século XIX.
3.
SOARES, Maria Teresa Mello. São Ismael do Estácio - O sambista que foi rei. RJ, Funarte,
1985, p. 88.
4.
ANDRADE, Mário de. Dicionário Musical Brasileiro. São Paulo, Edusp, 1989, p.454.
5.
SAMPAIO, Teodoro. Tupi na Geografia Nacional, citado por Henrique Alves em Sua Ex.a o
samba. São Paulo. Símbolo, 1976, p. 18.
6.
ALVES, Henrique. Sua Ex.a o samba. São Paulo. Símbolo, 1976, p. 18.
7.
Idem 4.
8.
TINHORÃO, José Ramos. História da Música Popular Brasileira - Samba. São Paulo, Abril
Cultural, 1982. p. 3.
9.
Idem, p. 4
10.
Idem, p. 5
SOARES, Maria Theresa Mello. São Ismael do Estácio - O sambista que foi rei. Rio de
11.
13.
Dicionário de Música Popular Brasileira - Erudita, Folclórica e Popular . São Paulo, Art, 1977,
p. 619.
19.
CALADO, Carlos. O jazz como espetáculo. São Paulo, Perspectiva, 1990, p. 232.
SOARES, Maria Theresa Mello. São Ismael do Estácio - o sambista que foi rei. Rio de
20.
VIVACQUA, Renato. Música Popular Brasileira: histórias de sua gente . Brasília, Thesaurus,
21.
1984, p. 117.
ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
22.
VIVACQUA, Renato. Música Popular Brasileira: histórias de sua gente . Brasília, Thesaurus,
23.
1984, p. 121.
24.
Idem, p.p. 117/118.
25.
ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
Brasília, 1985. p. 118.
26.
Idem, p. 123.
27.
SOARES, Maria Theresa Mello. São Ismael do Estácio - O sambista que foi rei. Rio de
Janeiro, Funarte, 1985, p. 95. Depoimento de Ismael Silva dado ao jornalista Sérgio Cabral,
citado no livro.
28.
MORAES, Eneida. História do carnaval carioca. Rio de Janeiro, Record, 1987.
29.
CAVALCANTI, Maria Laura. Viveiros de Castro. Ed. Funarte, UFRJ, p.p. 22/23.
SOARES, Maria Theresa Mello. São Ismael do Estácio: o sambista que foi rei. Rio de
30.
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular Brasileira: um tema em debate. Saga, RJ, 1966. p.
31.
76/77.
SOARES, Maria Theresa Mello. São Ismael do Estácio: o sambista que foi rei. Rio de
32.
33.
Informações obtidas através das seguintes fontes:
Dicionário Musical Brasileiro, Mário de Andrade
Brasil Musical - Viagens pelos ritmos e sons brasileiros. Tarik de Souza e outros