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Crítica Cinematográfica - Eletrodoméstica (2015) , Kleber Mendonça

Aluna: Amália Coelho de Souza

O filme Eletrodoméstica (2015) de Kleber Mendonça apresenta de forma


cômica e provocadora a cotidiano doméstico de uma família da classe média baixa
brasileira. As cenas iniciais do filme manifestam o tom provocador e instigante da
trama, explorando a arquitetura dos condomínios da classe média na cidade de
Recife. Os planos atentam para o caráter distintivo de classe a partir de seus muros,
grades, antenas e carros típicos da década de 90. A trilha sonora “Eu queria morar
em Beverly Hills” de Wander Wildner conduz o espectador ao tom irônico, bastante
adotado nos filmes de Kleber, das cenas que se seguirão.
O diretor aborda de forma cômica e provocadora as tensões e os dilemas de
uma classe média decadente que mantêm, entretanto, sua distintividade de classe a
partir da aquisição de bens de consumo. O filme retrata o cotidiano de uma dona de
casa e seus filhos, envoltos em uma esfera doméstica aborrecida. A personagem
tenta se desviar de sua rotina intensa de trabalho doméstico em pequenas
atividades de fuga, entoadas pelo ritmo fabril dos eletrodomésticos de sua casa. O
corpo da personagem vive uma relação paradoxal com os aparelhos eletrônicos que
de um lado entoam sua rotina extensiva de trabalho doméstico e por outro exercem
um papel regozijante, atuando como facilitadores de suas fugas. A cena final em
que a personagem se masturba com a máquina de lavar, brinca com o caráter quase
fálico da presença de eletroeletrônicos como traço distintivo de uma classe média,
que se, por um lado ostenta a sua diferenciação a partir de de bens de consumo,
enclausurados em suas grades e controles remotos, por outro, vive o cotidiano
extensivo de trabalho não deixando portanto seu caráter de classe subjugada. A
personagem que aproxima a rotina intensa de trabalho doméstico à esfera do prazer,
explora as contradições desta distinção.

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