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Universidade Federal de Pernambuco – CAA

Comunicação Social - 2019.1

Aluno: Gabriel Gomes Vila Nova

Recife Frio: uma reflexão cômica sobre como o clima influencia na cultura

Recife Frio é um curta-metragem brasileiro, escrito e dirigido por Kleber


Mendonça Filho, renomado diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema brasileiro.
Ele também é reconhecido por outros dois filmes premiados no Brasil e no exterior: “O
Som ao meu redor” e “Aquarius”. Ambos já foram incluídos na lista dos 10 melhores
filmes do ano do jornal norte-americano The New York Times. Além disso, Kleber
divide com Juliano Dornelles a produção do filme “Bacurau”, recém-premiado no
conceituado Festival de Cannes desse ano (2019) e com estreia nos cinemas prevista
para o dia 29 de agosto.

O curta Recife Frio foi lançado em 17 de dezembro de 2010 e é exibido na


forma de um documentário narrado por um repórter espanhol sobre uma mudança
climática em Recife que, inexplicavelmente, passa a ser fria após a queda misteriosa de
um meteoro no litoral da cidade. Isso gera mudanças no comportamento da população
e em toda uma cultura que sempre viveu em clima quente.

Embora seja classificado como ficção científica, o curta pode muito bem ser
classificado também como comédia. A descrição irônica das situações ocasionadas
pela mudança climática carrega o filme de comicidade, característica que também é
alimentada pela disparidade entre as peças de música clássica e as cenas do novo
cotidiano comum da cidade em que as peças são a trilha sonora.

Uma observação bastante importante é o quão profunda é a narração das


mudanças na cena cultural da cidade afetada pela mudança climática, o que traz uma
reflexão para o quão as características geofísicas são importantes para a cultura de
uma determinada região. Dessa forma, o filme explora as mudanças ocasionadas pelo
novo clima em diversas vertentes como religião, artesanato, turismo e espaço urbano.
Essa imersão na cultura da cidade ainda é enriquecida pela presença de
personalidades populares no Recife, como a memorável jornalista Graça Araújo e a
artista Lia de Itamaracá.

Além disso, não é porque o filme seja uma ficção científica que suas críticas
sociais não sejam contundentes no mundo real. Entre essas críticas do filme, pode-se
destacar a que é feita à classe alta da sociedade, que, em seus apartamentos, tem o
quarto da empregada pequeno nos fundos da casa e às vezes em janelas, o que o filme
diz ser um fantasma moderno da senzala e uma herança da escravidão. Outras críticas
sociais interessantes são às feitas contra a especulação imobiliária sem controle,
insegurança e espaço urbano caótico do Recife.

Vale destacar que, ainda que seja uma ficção científica, poucos são os efeitos
especiais do filme. E, quando aparecem, não são de alta qualidade. Isso pode ser
notado no efeito de vapor ao se falar em locais frios, perceptível na fala de vendedores
no início do curta e quando Lia de Itamaracá canta no final. Entretanto, esse efeito
parece cair como uma luva na comicidade do filme de tal forma que é capaz de gerar a
dúvida de que sua baixa qualidade se deu realmente a uma deficiência técnica ou fora
proposital.

Dessa forma, Kleber transforma o desejo de um Recife mais frio, frequente


entre os que moram ou já visitaram a cidade, no cerne de um curta-metragem.

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