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Funeral Blues, de W.H.

Auden

W.H. Auden (1907-1973), poeta e crítico inglês, foi a grande voz dos jovens intelectuais de
esquerda dos anos 30. Sua poesia é sempre perturbadora, seja quando aborda temas sociais e
políticos, seja quando fala de assuntos espirituais e de impulsos homossexuais reprimidos.
Quando T.S. Eliot, na época editor da Faber & Faber, publicou a primeira coletânea de
Auden, Poemas (1930), ele foi imediatamente reconhecido como porta-voz de sua geração.
Auden foi amigo de Stephen Spender e Christopher Isherwood, com quem escreveu peças
teatrais.

As ideias de Auden mudaram radicalmente com o tempo. Ardente defensor do socialismo e da


psicanálise na juventude, na sua fase mais tardia a sua preocupação central passou a ser o
Cristianismo e a teologia dos protestantes modernos. Em 1939, Auden mudou-se com
Isherwood para a América, onde conheceu seu companheiro Chester Kallman. Com ele, escrevu
libretos de ópera, incluindo The rake's progress, para Stravinsky.

O poema Funeral Blues foi escrito por Auden em 1936, como a Canção 9 do livro Twelve songs,
e costuma ser citado como expressão exemplar de um forte sentimento de perda e de luto,
individual ou coletivo. Representativo do controle extraordinário do verso e da habilidade na
manipulação da métrica do autor, o poema ganhou popularidade internacional no filme Quatro
casamentos e um funeral, numa cena em que o personagem Matthew homenageia seu
companheiro morto. Funeral Blues foi musicado por Benjamin Britten. Segue o original e
algums traduções, que mostram como é difícil o desafio de se traduzir bem boa poesia.

Stop all the clocks, cut off the telephone,


Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead


Scribbling on the sky the message 'He is Dead'.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,


My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.

April 1936
___

Que parem os relógios, cale o telefone,


jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.

Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,


escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto — um laço no pescoço —
e os guardas usem finas luvas cor-de-breu.

Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto


viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.

É hora de apagar estrelas — são molestas —


guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.
(tradução de Nelson Ascher)
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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,


Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,


Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,


A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;


Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.

(tradução de Maria de Lourdes Guimarães)


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Parem já os relógios, corte-se o telefone,


dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,
emudeçam pianos, com rufos abafados
transportem o caixão, venham enlutados.

Descrevam aviões em círculos no céu


a garatuja de um lamento: Ele Morreu.
no alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,
polícias-sinaleiros tinjam de preto as luvas.
Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego
dos dias da semana, Domingo de sossego,
meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;
julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.

Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;


enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;
esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.
Nada mais vale a pena agora do que resta.

(tradução de Vasco Graça Moura)


______

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,


Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e abafem o tambor
Tragam o caixão, deixem passar a dor.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,


Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe nos pescoços das pombas da região,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,


A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: “não tinha razão”.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;


Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram a floresta;
Pois agora nada mais de bom nos resta.

(tradução de ???)
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Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo.

Que os aviões voem em círculos, gemendo


e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu.
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste


Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto.
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado

As estrelas não são mais necessárias; apague-as uma por uma


Guarde a lua, desmonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era.

(tradução de ???)
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Parem todos os relógios, desliguem o telefone,


Impeçam os cães de ladrar com um osso apetitoso,
Calem-se os pianos e com ribombares abafados
Tragam o caixão, que as carpideiras chorem.

Que os aviões circulem gemendo sobre nós


Escrevendo no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham fitas crepe nos pescoços brancos das pombas públicas,
Que os polícias de trânsito usem luvas de algodão preto.

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,


A minha semana de trabalho e o meu descanso de Domingo,
O meu dia, a minha noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensava que o amor durava para sempre: estava errado.

As estrelas já não são desejadas; apaguem uma a uma;


Embalem a lua e desmanchem o sol;
Despejem o oceano e varram as florestas;
Pois já nada pode vir a ser bom.

(tradução de ???)

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