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Modernismo

Segunda fase: prosa e poesia


Modernismo - 2ª fase

Contexto

• 1929: Quebra da Bolsa de Nova York – abalo do mercado financeiro


mundial, instabilidade;

• 1930 - 1945: Revolução de 30 - Era Vargas;

• 1939 - 1945 : Segunda Guerra Mundial.


Modernismo - 2ª fase
Características

• A poesia de 30 segue caminhos que vão da reflexão


filosófico-existencialista ao espiritualismo e da metalinguagem ao
sensualismo;
• Mantem-se as conquistas da geração anterior, mas também retoma-se
formas desprezadas e combatidas pela geração anterior (versos
metrificados, sonetos, rondós, madrigais etc);
• Liberdade formal: versos livres e brancos convivem com versos
rimados e de métrica fixa;
• Seleção das palavras: opção pela simplicidade, abordagem de temas
relacionados ao cotidiano;
• Principais representantes: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de
Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes e Cecília Meireles
(cronologia).
Vinícius de Moraes
(1913-1980)

• Compositor e poeta da 2ª geração modernista;


• Foi um dos fundadores, na década de 1950, da bossa nova;
• Integra o grupo dos poetas religiosos das décadas de 1930 e 1940;
• Sua obra divide-se em duas fases: a primeira, transcendental, mística,
resultante de sua fase cristã (até 1936); a segunda, há a aproximação do
mundo material.
Características gerais

• Lirismo: tom sentimental, subjetivo, revelação de estados de alma;


• Presença da natureza, principalmente, do mar e da praia;
• Musicalidade sempre presente;
• Uso de formas fixas (soneto);
• Linguagem: - 1ª fase: abstrata e alegórica; 2ª fase: simples e direta;
• Temas: - 1ª fase: poesia transcendental, com influências simbolistas;
espiritualidade católica; 2ª fase: amor sensual, mulher, cotidiano;
1ª fase - Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo
[da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
1ª fase
A música das almas
"Le mal est dans le monde comme un esclave qui fait monter l’eau."
Claudel

Na manhã infinita as nuvens surgiram como a Loucura numa alma


E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que
[estrangularam a terra
Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.
2ª fase
A rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
2ª fase
Não comerei da alface a verde pétala

Não comerei da alface a verde pétala


Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas


Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois


Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; deem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati


E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
2ª fase
Soneto de Montevidéu
Não te rias de mim, que as minhas lágrimas
São água para as flores que plantaste
No meu ser infeliz, e isso lhe baste
Para querer-te sempre mais e mais.

Não te esqueças de mim, que desvendaste


A calma ao meu olhar ermo de paz
Nem te ausentes de mim quando se gaste
Em ti esse carinho em que te esvais.

Não me ocultes jamais teu rosto; dize-me


Sempre esse manso adeus de quem aguarda
Um novo manso adeus que nunca tarda

Ao amante dulcíssimo que fiz-me


À tua pura imagem, ó anjo da guarda
Que não dás tempo a que a distância cisme.
Trechos de crônicas

“Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei
sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.
E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse
mais que lutar:
Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho...”

“O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e
sublime. Seu instrumento é a palavra.
Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações,
sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é
passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo
da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será
nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos.”

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