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A Doutrina Reformada da Predestinação

por
Loraine Boettner D.D.a
Copyright 1932
by
Loraine Boettner
Retirado do site:
http://www.monergismo.net.br/
SEÇÃO I
I. Introdução............................................................................................1
II. Enunciado da Doutrina
III. Deus Tem Um Plano

IV. A Soberania de Deus

V. A Providência de Deus

VI. A Pré Ciência de Deus

VII. Apresentação dos Sistemas

VIII. As Escrituras são A Autoridade Final Pela Qual Os Sistemas Serão Julgados

IX. Um Alerta Contra A Especulação Indevida

Os Cinco Pontos do Calvinismo

Encarte: "Calvinismo versus


Arminianismo"............................................................................................................41

SEÇÃO II
Os Cinco Pontos do Calvinismo
X. Incapacidade Total..................................................................................................41

XI. Eleição Incondicional

XII. Expiação Limitada

XIII. Graça Eficaz

XIV. A Perseverança Dos Santos...............................................................................144

SEÇÃO III
Objeções Comumente Levantadas Contra a Doutrina Reformada da
Predestinação
XV. Que É
Fatalismo ?.................................................................................................................144

XVI. Que É Inconsistente Com O Livre Arbítrio E Com A Responsabilidade Moral


do Homem

XVII. Que Faz Deus O Autor do Pecado

XVIII. Que Desencoraja Todos Motivos Para Esforço

XIX. Que Representa Deus Como Discriminador de Indivíduos, Ou Como


Injustamente Parcial

XX. Que É Desfavorável À Boa Moralidade

XXI. Que Impossibilita Uma Sincera Oferta Do Evangelho Aos Não Eleitos

XXII. Que Contradiz As Passagens Universais Das Escrituras................................213

SEÇÃO IV
Objeções Comumente Levantadas Contra a Doutrina Reformada da
Predestinação

XXIII. Salvação Pela Graça.......................................................................................213

XXIV. Garantia Pessoal De Que Alguém Está Entre Os Eleitos

XXV. Predestinação No Mundo Físico

XXVI. Uma Comparação Com a Doutrina Maometana da Predestinação


XXVII. A Importância Prática Da Doutrina..............................................................255

SEÇÃO V
XXVIII. Calvinismo Na História.............................................................255 - 301

Capítulo 1 Introdução
O propósito deste livro não é estabelecer um novo sistema de pensamento teológico,
mas dar um novo testemunho ao grande sistema conhecido como a Fé Reformada ou
Calvinismo, e mostrar que sem nenhuma dúvida é o ensino da razão e da Bíblia.
A doutrina da Predestinação recebe comparativamente pouca atenção em nossos dias
e é muito - imperfeitamente - compreendida mesmo por aqueles que supostamente
deveriam sustentá-la mais lealmente. É uma doutrina, contudo, que faz parte do credo
da maioria das igrejas evangélicas e que tem tido uma influência notável em ambos,
Igreja e Estado. Os regimentos de várias ramificações das Igrejas Presbiteriana e
Reformada na Europa e nos EUA são plenamente Calvinistas. As Igrejas Batista e
Congregacional, embora não tenham credos formulados, foram no princípio
Calvinistas, se pudermos julgar pelos escritos e ensinos dos teólogos que as
representam. A grande igreja livre da Holanda e quase todas as igrejas da Escócia são
Calvinistas. A Igreja Estabelecida da Inglaterra e sua filha, a Igreja Episcopal da
América, têm um credo Calvinista nos "Trinta e nove Artigos". Os Metodistas de
Whitefield em Gales até hoje mantêm o nome de "Metodistas Calvinistas".
Entre os que advogaram esta doutrina no passado e os que ainda o fazem no presente,
podemos encontrar alguns dos maiores e mais sábios homens do mundo. Foi ensinado
não somente por Calvino, mas por Lutero, Zuínglio, Melancton (embora ele mais
tarde se retratasse numa posição mais Semi-Pelagiana), por Bullinger, Bucer e todos
os grandes líderes da Reforma. Enquanto diferissem em alguns pontos, eles
concordavam com esta doutrina da Predestinação e ensinaram-na enfaticamente. O
trabalho principal de Lutero, "The bondage of de Will", mostra que ele mergulhou na
doutrina tão ardorosamente quanto Calvino o fizera. Ele inclusive discorreu sobre ela
mais apaixonadamente e percorreu-a mais profunda e detalhadamente do que Calvino
o fizera. E a Igreja Luterana hoje, a julgar pela "Fórmula de Concórdia" sustenta a
doutrina da Predestinação numa forma modificada. Os Puritanos na Inglaterra e
aqueles que no passado estabeleceram-se na América, tanto quanto os "Covenanters"
na Escócia e os Huguenotes na França, foram Calvinistas; e aqui pouco crédito para
os historiadores em geral, por tão grande silêncio haver sido mantido sobre tal fato.
Esta fé também foi por algum tempo sustentada pela Igreja Católica Romana, e em
nenhuma ocasião foi repudiada abertamente por ela. A doutrina da Predestinação, de
Agostinho, colocou contra ele próprio todos aqueles elementos na Igreja que jogou-o
contra cada homem que subestimava a soberania de Deus. Ele os sobrepassou, e a
doutrina da Predestinação adentrou à crença da igreja Universal. A grande maioria
dos credos históricos da Cristandade têm estabelecido as doutrinas da Eleição, da
Predestinação e da Perseverança final, como prontamente será visto por qualquer um
que proceda a um estudo profundo e minucioso estudo do assunto. Por outro lado, o
Arminianismo existiu por séculos somente como uma heresia nos arrebaldes da
verdadeira religião, e de fato não foi eleito como campeão pela igreja Cristã
organizada até o ano de 1784, a qual época foi incorporado ao sistema da doutrina da
Igreja Metodista na Inglaterra. Os grandes teólogos da história, Agostinho, Wycliffe,
Lutero, Calvino, Zuínglio, Zanchius, Owen, Whitefield, Toplady, e em tempos mais
receintes Hodge, Dabney, Cunningham, Smith, Shedd, Warfield e Kuyper, abraçaram
esta doutrina e a ensinaram com entusiasmo. Que eles tenham sido luzes e
ornamentos do mais alto tipo de Cristianismo, será admitido por praticamente todos
os Protestantes. Mais ainda, suas obras neste tão importante tema nunca tiveram
réplica. Então, também, quanto paramos para considerar que entre as religiões não
cristãs o Islamismo tem tantos milhões que crêem em alguma forma de
Predestinação, que a doutrina do Fatalismo tem sido de uma forma ou de outra
sustentada em várias nações não convertidas e que as filosofias mecanísticas e
determinísticas têm exercido influência tão grande na Inglaterra, Alemanha e
América, vemos que pelo menos vale a pena estudar tal tipo de doutrina.
Desde a época da Reforma até mais ou menos duzentos anos atrás, estas doutrinas
eram bravamente trazidas à baila pela grande maioria dos ministros e mestres nas
igrejas Protestantes, mas hoje em dia encontramos a grande maioria sustentando e
ensinando outros sistemas. É muito raro nos depararmos com aqueles chamados
"Calvinistas sem reserva". Podemos muito apropriadamente aplicar às nossas
próprias igrejas as palavras de Toplady com relação à Igreja da Inglaterra: "Idos são
os tempos em que as doutrinas Calvinistas eram consideradas e defendidas como o
Palladium de nossa Igreja Estabelecida; pelos seus bispos e clero, pelas universidades
e por todo o povo leigo. Foi, durante os reinados de Eduardo VI, Rainha Elizabeth,
Tiago I e a grande parte de Carlos I, tão difícil encontrar um clérigo que não pregasse
as doutrinas da Igreja da Inglaterra, como é agora difícil encontrar alguém que o faça.
Temos genericamente abandonado os princípios da Reforma, e "Ichabod" , ou 'a
glória se foi', tem sito escrito na maioria de nossos púlpitos e das portas de nossas
igrejas, desde então." 1
A tendência neste nossa era mais iluminada, é olharmos para o Calvinismo como um
credo surrado e obsoleto. No começo do seu esplêndido artigo "A Fé Reformada no
Mundo Moderno", o Professor F. E. Hamilton diz, "Parece ser tacitamente assumido
por um grande número de pessoas na Igreja Presbiteriana atual que o Calvinismo
cresceu demasiado nos círculos religiosos. Na verdade, um membro comum de uma
igreja, ou mesmo ministro do Evangelho, tendem a olhar para uma pessoa que declara
acreditar na Predestinação, com um misto de divertida tolerância. Parece-lhes incrível
que ainda exista tal curiosidade intelectual como um Calvinista real numa época de
iluminismo como a presente. Quanto a examinar seriamente os argumentos do
Calvinismo, tal idéia nunca entra em suas cabeças. Considera-se tão fora de questão
como a Inquisição, ou como um mundo criado ("a partir da e pela vontade de uma
força maior"), e olha-se para isso como se fosse uma daquelas fantásticas linhas de
raciocínio que os homens tinham antes da idade da ciência moderna." Por causa desta
atitude atualmente tomada com relação ao Calvinismo, e por causa da falta geral de
informação com relação a estas doutrinas, reputamos o tema deste livro como de
suma importância.
Foi Calvino quem fermentou e trabalhou este sistema de pensamento teológico com
tal ênfase e clareza lógica que desde então tem sido referido pelo seu próprio nome. É
claro que ele não originou o sistema, mas simplesmente trabalhou com o que lhe
pareceu ressaltar com brilho especial nas páginas das Sagradas Escrituras. Agostinho
havia ensinado o básico, o essencial do sistema mil anos antes do nascimento de
Calvino, e todo o corpo de líderes do movimento da Reforma ensinou o mesmo. Mas
foi Calvino, com seu profundo conhecimento das Esctirutas, seu destacado intelecto e
gênio sistemático, quem alinhou e defendeu estas verdades mais clara e habilmente
do que alguém jamais houvera feito.
Nós nos referimos a este sistema de doutrina como "Calvinismo", e aceitamos o
termo "Calvinista" como nosso emblema de honra; ainda que nomes sejam meras
conveniências. "Nós podemos,", diz Warburton, "bem apropriadamente, e igualmente
com toda razão, referirmo-nos à gravidade como 'Newtonismo', porque os princípios
da gravidade foram primeiramente trabalhados e demonstrados pelo grande filósofo
Newton. Muito antes que Newton nascesse, a humanidade já convivia com os fatos
da gravidade. Tais fatos eram visíveis a qualquer um desde o primeiro dia da criação
do mundo, tanto quanto gravidade foi uma das leis que Deus ordenou e decretou para
a organização e o equilíbrio do universo. Mas os princípios da gravidade não eram
totalmente conhecidos, e os efeitos do poder e da influência da gravidade não eram
totalmente conhecidos até que fossem 'descobertos' por Sir Isaac Newton. Assim,
também aconteceu com o que os homens denominam Calvinismo. Os princípios
inerentes ao Calvinismo têm existido por eras e eras antes que Calvino nascesse. Tais
princípios de fato têm estado visíveis como fatores patentes na história do mundo
desde o tempo da criação do homem. Mas tanto quanto foi Calvino quem primeiro
formulou estes princípios em um sistema mais ou menos completo, tal sistema, ou
credo, como queira referir-se a tal, e consoantemente aqueles princípios que são
arrolados nele, vieram a ter o seu nome." 2 Nos podemos ainda adicionar que os
nomes "Calvinista", "Luterano", "Puritano", "Peregrino", "Metodista", "Batista" e
ainda o nome "Cristão", foram originalmente apelidos. Mas a sua utilização veio a
estabelecer a validade e o bom entendimento dos seus significados.
O atributo que proporcionou tal força ao ensino de Calvino foi seu apego à Bíblia e à
sua inspiração e autoridade. Calvino foi mencionado como o mais proeminente
teólogo bíblico de sua época. Até onde a Bíblia o guiou ele foi; parando
peremptoriamente onde quer que as respostas ou indicações na Bíblia cessassem. Esta
sua recusa em seguir mais adiante do que estivesse escrito, juntamente com sua
pronta aceitação do que a Bíblia ensinava, deu às suas declarações um ar de
finalidade e positividade que tornaram-no ofensivo aos seus críticos. Devido ao seu
discernimento afiado e ao seu poder de raciocínio lógico ele quase sempre era
rotulado como um mero teólogo especulativo. Que ele tinha um gênio especulativo de
primeira grandeza, é claro, não pode ser negado; e na relevância pertinência de sua
análise lógica ele teve uma arma que o fez terrível para seus inimigos. Mas não era
desses dons que ele dependia primariamente enquanto formulando e desenvolvendo o
seu sistema teológico.
O intelecto poderoso e ativo de Calvino levava-o a explorar o íntimo de cada objeto
que tocasse. Foi longe em suas investigações sobre Deus e o plano da redenção,
penetrando em mistérios com os quais a maioria dos homens raramente sonha,
quando muito. Ele trouxe à luz um lado das Escrituras que até então havia sempre
estado em sombras e enfatizou aquelas verdades profundas que comparativamente
haviam escapado à atenção da igreja nos tempos que precederam a Reforma. Ele
trouxe à luz doutrinas do apóstolo Paulo que estavam no esquecimento, as colocou
inteira e completamente no entendimento de uma grande parte da Igreja Cristã.
Talvez esta doutrina da Predestinação tenha provocado uma grande tempestade de
oposição, e sem dúvida tem sido mais erroneamente interpretada e caricaturada, que
qualquer outra doutrina das Escrituras Sagradas. "Para dizer antes de outra coisa," diz
Warburton, "é como balançar a proverbial bandeira vermelha na frente de um touro
irado. Tal ato desperta as paixões mais ferozes de sua natureza, e traz à tona uma
torrente de abuso e calúnia. Mas, porque os homens têm lutado contra tal, ou porque
eles odeiem, ou talvez não compreendam, não há uma causa lógica ou razoável por
que deveríamos abandonar a doutrina ao léu, ou livrarmo-nos dela. A questão real, o
ponto crucial não é 'Como os homens a recebem?' mas, 'Será que é verdadeira?' " 3
Um motivo pelo qual muita gente, até pessoas supostamente educadas, são tão
rápidos em rejeitar a doutrina da Predestinação é a pura ignorância do que realmente
a doutrina é e o que a Bíblia ensina com relação a ela. Esta ignorância não é de fato
surpreendente quando considerando a quase mais completa falta de treinamento
Bíblico nos nossos dias. Um estudo meticuloso da Bíblia convenceria muitas pessoas
de que ela é um livro muito diferente do que assumem que seja. A tremenda
influência que esta doutrina tem exercido na história da Europa e da América deveria
pelo menos qualificá-la a uma atenção mais respeitosa. Além do mais, consideramos
que de acordo com todas as leis da lógica e da razão, nenhum indivíduo tem o direito
de negar a verdade de uma doutrina sem primeiro haver estudado de forma imparcial
a evidência de ambos lados. Esta é uma doutrina que lida com algumas das mais
profundas verdades reveladas nas Escrituras e é certo que abundantemente
beneficiará os Cristão que minuciosamente a estudarem. Se alguém estiver disposto a
rejeitá-la sem antes estudá-la cuidadosamente seus preceitos, então não devemos nos
esquecer que ela foi o cerne da firme convicção de multidões dos mais sábios e
melhores homens que já viveram, e que deve haver, portanto, fortes motivos
favoráveis à sua verdade.
Talvez algumas palavras de cuidado devessem ser dadas aqui, no sentido de que
enquanto a doutrina da Predestinação é uma verdade grande e abençoada das
Escrituras e uma doutrina fundamental de várias igrejas, ela não deve ser encarada
como sendo o cerne e a substância da Fé Reformada. Como o Dr Kuyper disse, "É
um erro descobrir o caráter específico do Calvinismo na doutrina da Predestinação,
ou na autoridade da Bíblia. Para o Calvinismo tudo isso é conseqüência lógica, não o
ponto de partida -as folhagens testemunham a beleza e a riqueza do seu crescimento,
mas não a raiz de onde brotou." Se a doutrina for separada da sua associação natural
com outras verdades e exibida sozinha, o efeito é exagerado. O sistema então estará
distorcido e mal interpretado. Um testemunho de qualquer princípio, para ser
verdadeiro, deve apresentar (aquele princípio) em harmonia com todos os demais
elementos dos sistema do qual ele faz parte. A Confissão de Fé de Westminster é um
testemunho equilibrado deste sistema como um todo, e dá a devida proeminência
àquelas doutrinas, tais como a da Trindade, a da Divindade de Cristo, a da
personalidade do Espírito Santo, a da Inspiração das Escrituras, a dos Milagres, a da
Reconciliação, a da Ressurreição, a da volta de Cristo, e assim por diante. Ademais,
nós não negamos que os Arminianos sustentam muitas verdades importantes. Mas
nós sustentamos que uma exposição completa e detalhada do sistema Cristão pode ser
dada somente com base na verdade apresentada pelo sistema Calvinista.
Na mente da maioria das pessoas a teoria da Predestinação e o Calvinismo são
praticamente sinônimos. Contudo, não deveria ser este o caso, e a identificação muito
próxima dos dois sem dúvida contribuiu grandemente para o preconceito de muitas
pessoas contra o indubitavelmente tem contribuído muito para o preconceito de
muitas pessoas contra o sistema Calvinista. O mesmo é verdadeiro também com
relação a uma mui próxima identificação do Calvinismo e "Os Cinco Pontos", como
será mostrado adiante. Enquanto a Predestinação e Os Cinco Pontos são elementos
essenciais do Calvinismo, eles de forma alguma constituem a sua íntegra.
A doutrina da Predestinação tem sido o tema de discussões infindáveis, muitas das
quais, é preciso admitir, ocorreram com o intuito de suavizar suas formas ou mesmo
de explicá-la. "A consideração desta grande doutrina," diz Cunningham, "atinge os
mais profundos e inacessíveis assuntos que podem ocupar as mentes dos homens, - a
natureza e os atributos, os propósitos e os atos do infinito e incompreensível Jeová, -
vista especialmente nos seus comportamentos quanto aos destinos eternos das Suas
criaturas inteligentes. A natureza peculiar do assunto certamente requer, com justa
razão, que deva ser sempre abordada com a mais profunda humildade, cautela e
reverência, já que ela nos põe em contato, por um lado, com um assunto tão terrível e
avassalador quanto a eterna miséria de uma multidão inumerável de nossos
semelhantes. Muitos homens têm discutido o assunto nesse espírito, mas muitos
também têm se satisfeito com especulação muito presunçosa e irreverente sobre o
tema. Não há provavelmente nenhum outro assunto que tenha ocupado mais a
atenção de homens inteligentes em qualquer época que a doutrina da Predestinação.
Ela tem sido exaustivamente discutida em todos os seus aspectos, filosófico,
teológico e prático; e se houver algum motivo de especulação com relação ao qual
nós somos assegurados em dizer que ela tem sido esmiuçada, é este.
"Pelo menos alguns dos tópicos arrolados sob o título geral foram discutidos por
quase todos filósofos de eminência tanto na antigüidade como nos tempos modernos.
* * * Todos os argumentos que a maior capacidade, genialidade e acuracidade podem
elencar foram trazidos à baila na discussão deste tema, e as dificuldades relacionadas
ao mesmo nunca foram completamente eliminadas, e nós estamos bem seguros em
afirmar que elas nunca o serão, a menos que Deus nos revele mais amplamente ou
nos dê capacidades maiores, - embora, talvez, fosse mais correto dizer que, desde a
própria natureza do caso, um ser finito nunca possa compreende-la totalmente, desde
que tal implicaria que aquele próprio ser finito seria capaz de compreender totalmente
a mente infinita." 4
No desenvolvimento deste livro utilizou-se muito de outras obras, de forma que
pudesse conter a nata e a mais pura essência dos melhores escritores do tema.
Consequentemente muitos dos argumentos aqui encontrados são de homens muito
superiores a este escritor. De fato, quando observando o conjunto, sou inclinado a
dizer com um celebrado escritor Francês, "Colhi um buquê de variadas flores dos
jardins dos homens, e nada é realmente meu, senão o fitilho que as mantém unidas."
Ainda assim muito é seu próprio, especialmente no que refere-se à organização e
arranjo dos materiais.
No decorrer deste livro, os termos "predestinação" e "préordenação" são usados como
sinônimos exatos, a escolha tendo sido determinada somente pelo gosto. Se desejar-se
distinção, o termo "préordenação" pode talvez ser melhor utilizado quando o sujeito
em referência for um evento na história ou na natureza, enquanto que o termo
"predestinação" pode referir-se principalmente ao destino final das pessoas. As
cotações das Escrituras foram extraídas da "Versão Americana" da Bíblia, ao invés da
"Versão King James", já que a primeira é mais acurada.
O autor deseja agradecer particularmente ao Dr. Samuel G. Craig, Editor da
CHRISTIANITY TODAY, ao Dr. Frank H. Stevenson, Presidente do Conselho
Curador do Seminário Teológico Westminster, ao Dr Cornelius Van Til, Professor de
Apologética no Seminário Teológico Westminster, ao Dr. C. W. Hodge, Professor de
Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Princeton, sob a supervisão de quem
este trabalho num formato muito mais curto foi originalmente preparado, e ao Rev.
Henry Atherton, Secretário Geral da União Soberana Graça, em Londres, Inglaterra,
pela valiosa assistência.
Este livro, repetimos, é designado a apresentar e a defender a Fé Reformada,
comumente conhecida como Calvinismo. Ele não é direcionado contra nenhuma
denominação em particular, mas contra o Arminianismo em geral. O autor é
Presbiteriano, mas ele está bem ciente do afastamento radical que tropas de
Presbiterianos têm feito do seu próprio credo. O livro é posto adiante com a
esperança de que aqueles que professam sustentar a Fé Reformada possam ter um
melhor entendimento das grandes verdades que são aqui tratadas e possam mais
altamente valorizar sua herança; e que aqueles que não têm conhecimento deste
sistema, ou que se opõem ao mesmo, possam ser convencidos da sua verdade e
venham a amá-lo.
A questão que então se nos apresenta é esta: - Deus, desde toda a eternidade, pré-
ordenou todas as coisas que vieram e que virão a acontecer? Se sim, que evidência
disto nós temos, e como pode o fato ser consistente com o livre arbítrio das criaturas
racionais e com a Suas próprias perfeições?
Capítulo 2 Enunciado da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, que estabelece as crenças das Igrejas
Presbiteriana e Reformada e a qual é a mais perfeita expressão da Fé Reformada,
lemos: "Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da Sua
própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de
modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura,
nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas."
E mais adiante, "Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas
as circunstâncias imagináveis, Ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto
como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições."
A doutrina da Predestinação representa os propósitos de Deus como absolutos e
incondicionais, independentes de toda a criação finita, e como originados somente no
conselho eterno da Sua vontade. Deus é visto como o grande e poderoso Rei que
apontou o curso da natureza e quem direciona o curso da história até os seus menores
detalhes. Seu decreto é eterno, imutável, santo, sábio e soberano. Estende-se não
meramente ao curso do mundo físico mas a cada acontecimento na história humana
desde a criação até o juízo final, e inclui todas as atividades dos santos e anjos no céu
e dos condenados e dos demônios no inferno. Abrange todo escopo da existência das
criaturas, através do tempo e da eternidade, compreendendo imediatamente todas as
coisas que já foram ou que virão a ser em suas causas, condições, sucessões, e
relações. Tudo fora do próprio Deus está incluso neste decreto todo abrangente, e
muito naturalmente, já que todas as demais coisas viventes devem a sua existência e a
sua continuidade em existência ao Seu poder criativo e sustentador. Possibilita
controle providencial sob o qual todas as coisas concorrem para o fim que Deus há
determinado; e o objetivo é: "Um distante acontecimento divino; Em direção do qual
toda a criação se move."
Desde que a criação finita em toda a sua extensão existe como um meio através do
qual Deus manifesta a Sua glória, e desde que ela é absolutamente dependente dEle,
de si própria não poderia criar condição alguma que limitasse ou abatesse a
manifestação daquela glória. Desde toda a eternidade Deus estabeleceu fazer
justamente o que Ele está fazendo. Ele é o Regente soberano do universo, e "...e
segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não
há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?"[Daniel 4:35]. Desde que o
universo tem a sua origem em Deus e depende dEle para a continuação da sua
existência, deve, em toda parte e em todo momento, sujeitar-se ao Seu controle para
que nada aconteça contrário ao que Ele expressamente decreta ou permite. Assim o
propósito eterno é representado como um ato soberano de predestinação ou
preordenação, e incondicionado por qualquer fato subsequente ou mudança no tempo.
Destarte é representada como sendo a base da pré ciência divina de todos
acontecimentos futuros, e não condicionada por aquela pré ciência ou por qualquer
coisa originada pelos mesmos acontecimentos.
Os teólogos reformados lógica e consistentemente aplicaram às esferas da criação e
da providência aqueles grandes princípios que foram mais tarde arrolados no
Westminster Standards. Eles viram a mão de Deus em cada acontecimento em toda a
história da humanidade e em todos os prodígios da natureza física, de modo que o
mundo fosse a completa realização do ideal eterno no tempo. O mundo como um
todo e em todas as suas partes e movimentos e mudanças foi unificado em uma
unidade pela atividade governante, permeadora e harmonizadora vontade divina, e o
seu propósito era manifestar a glória divina. Enquanto a concepão deles era de uma
divnia ordenação de todo o curso da história em todos os detalhes, eles estavam
especialmente preocupados com a relação entre aquela ordenação e a salvação do
homem. Calvino, teólogo sistemático e brilhante da Reforma, colocou o assunto
assim: "Chamamos Predestinação o decreto eterno de Deus, pelo qual Ele em Si
mesmo determinou, o que Ele faria de cada indivíduo da raça humana. Pois eles não
são criados com um destino em comum, mas a vida eterna é pré ordenada para alguns
enquanto que a morte eterna pré ordenada para outros. Cada homem, portanto, tendo
sido criado para um ou outro daqueles destinos, dizemos que é predestinado seja para
a vida ou para a morte." 1
Lutero era tão zeloso pela predestinação absoluta quanto Calvino, como vemos em
seu comentário sobre Romanos, onde ele escreveu: "Todas as coisas, o que quer que
seja, provém de, e dependem do apontamento divino; através do qual foi pré
ordenado quem deveria receber a palavra da vida, e quem deveria descrer dela,; quem
deveria ser livrado dos seus pecados, e quem deveria permanecer neles; e quem
deveria ser justificado e quem deveria ser condenado." E Melancton, seu amigo
pessoal e companheiro de trabalho, diz: "Todas as coisas acontecem de acordo com a
divina predestinação; não somente as obras que fazemos externamente; mas mesmo
os nossos pensamentos interiores"; e novamente, "Não há tal coisa como acaso, ou
sorte; nem há nenhum caminho imediato para ganhar o temor de Deus, e para colocar
toda a nossa confiança nEle, que não seja cabalmente versado na doutrina da
Predestinação."
"A ordem é a primeira lei do céu." Do ponto de vista divino há uma linha intacta,
contínua de ordem e de progresso desde o princípio da criação até o final do mundo e
a instalação do reino dos céus em toda a sua glória. O propósito e plano divinos em
nenhum momento é interrompido ou derrotado; aquilo que muitas vezes nos parece
ser derrota não o é realmente, mas somente aparenta sê-lo, porque a nossa natureza
finita e imperfeita não nos permite ver todas as partes no inteiro nem o inteiro em
todas as suas partes. Se num relance nós pudéssemos vislumbrar "o grandioso
espetáculo do mundo natural e o drama complexo da história humana," veríamos
então o mundo como uma unidade em harmonia manifestando a perfeição gloriosa de
Deus.
"Embora o mundo pareça estar girando a esmo," diz Bishop, "e acontecimentos serem
amontoados num caos cego e rude desordem, ainda assim, Deus vê e conhece a
concatenação de todas as causas e efeitos, e tanto os governa que Ele faz perfeita
harmonia daquilo tudo que parece confusões e desordens. É muito necessário que
devamos ter nossos corações bem estabelecidos na sólida e firme crença desta
verdade, que o que quer que venha a acontecer, seja bom ou mal, nós possamos olhar
para a autoridade, para Deus. Com respeito a Deus, não há nada casual nem
contingência no mundo. Se um mestre deva enviar um servo a um certo lugar e
ordenar-lhe que permaneça lá até tal momento, e depois mandar um outro servo ao
mesmo lugar, o encontro desses dois é totalmente casual com relação a eles próprios,
mas ordenado e previsto pelo mestre que os enviou. As coisas acontecem
inesperadamente para nós, mas não para Deus. Ele prevê e Ele aponta todas as
vicissitudes das coisas." 2
O salmista exclamou, "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em
toda a terra!"[Salmo 8:9] e o escritor de Eclesiastes diz, "Tudo fez formoso em seu
tempo..."[Eclesiastes 3:11]. Na visão que o profeta Isaías teve, o serafim cantava,
"...Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua
glória."[Isaías 6:3]. Quando vemos a partir deste ponto de vista divino, cada
acontecimento no curso da vida humana em todas as eras e em todas as nações tem,
não importa quão insignificante possa parecer-nos, seu lugar exato no
desenvolvimento do plano eterno. Tem relações com as causas precedentes e exerce
influência sempre crescente através dos seus efeitos, de maneira a estar relacionada
com todo o sistema de coisas e desempenha sua parte individual na manutenção do
perfeito equilíbrio desta ordem mundial. Muios exemplos podem ser dados para
mostrar que acontecimentos da maior importância têm muitas vezes dependido do
que à época pareceu ser acontecimentos dos mais fortuitos e triviais. A inter relação e
conexão de acontecimentos é tal que se um destes fosse omitido ou modificado, toda
a seqüência seria também modificada ou simplesmente não aconteceria. Assim, a
certeza de que a administração divina apoia-se na pré ordenação de Deus estendida a
todos acontecimentos, sejam pequenos ou grandes. E, especificamente, nenhum
acontecimento é pequeno demais; cada um tem o seu lugar exato no plano divino, e
alguns somente alguns são relativamente maiores que outros. O curso da história,
portanto, é infinitamente complexo, ainda assim uma unidade à vista de Deus. Esta
verdade, junto com a razão para tanto, é lindamente sumarizada no Catecismo Menor,
que diz que, "Os Decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o conselho da
sua vontade, pelo qual, para a sua própria glória, ele preordenou tudo o que
acontece."
O Dr Abraham Kuyper, da Holanda, que é reconhecido como um dos mas destacados
teólogos calvinistas nos anos recentes, dá-nos um pensamento valioso no seguinte
parágrafo: "A determinação da existência de todas as coisas a serem criadas, se uma
flor vai ser uma camélia ou um copo-de-leite, se um pássaro vai ser um rouxinol ou
um corvo; se um animal vai ser um cervo ou um porco, e igualmente entre os
homens, a determinação de nossas próprias pessoas, se alguém vai nascer como um
menino ou menina, rico ou pobre, tolo ou inteligente, branco ou de cor, ou mesmo
como Abel ou Caim, é a mais tremenda predestinação concebível no céu ou na terra;
e ainda vemo-la acontecer ante nossos próprios olhos todos os dias, e nós mesmos
somos sujeitos a ela em nossa inteira personalidade; durante toda a nossa existência,
nossa própria natureza, nossa posição na vida sendo inteiramente dependente dela.
Esta predestinação, que abrange a tudo e a todos, os Calvinistas a colocam não nas
mãos do homem, e ainda menos nas mãos de cegas forças da natureza, mas nas mãos
de Deus Todo-Poderoso, soberano Criador e Dono do céu e da terra; e é na ilustração
do oleiro e do barro que a Bíblia tem exposto a nós esta eleição que a tudo e todos
domina, desde os tempos dos profetas. Eleição na criação, eleição na providência, e
também eleição para a vida eterna; eleição no reino da graça, tanto quanto no reino da
natureza." 3
Nós não podemos apreciar adequadamente esta ordem mundial até que a vejamos
como um sistema poderoso através do qual Deus está concretizando os Seus planos.
O teísmo claro e consistente de Calvino proporcionou-lhe um senso intenso da
infinita majestade do Deus Todo-Poderoso, em cujas mãos repousam todas as coisas,
e fez dele um 'predestinacionista' de vulto. Em sua doutrina do propósito eterno e
incondicional do Deus onisciente e onipotente, ele encontrou o programa da história
da queda e da redenção da raça humana. Ele aventurou-se destemida mas
reverentemente sobre a borda daquele abismo de especulação onde todo o
conhecimento humano perde-se em mistério e adoração.
A Fé Reformada, então, oferece-nos um grande Deus que é realmente o soberano
Regente do Universo. "Tal grande princípio," diz Bayne, "é a contemplação do
universo de Deus revelado em Cristo. Em todos lugares, em todos tempos, de
eternidade a eternidade, o Calvinismo vê a Deus." Nossa era, que enfatiza a
democracia, não gosta de tal visão, e talvez nenhuma outra era tenha gostado menos.
A tendência hoje é exaltar o homem e dar a Deus somente uma parte muito limitada
nos acontecimentos do mundo. Como o Dr. A. A. Hodge disse, "A nova teologia,
postulando a limitação da antiga, está descartando a pré ordenação de Jeová como um
artifício surrado das escolas, desacreditado pela cultura avançada do presente. Esta
não é a primeira vez que as corujas, confundindo as sombras de um eclipse
passageiro com a noite, prematuramente guincharam para as águias, convencidas de
que o que lhes era invisível não poderia possivelmente existir." 4
Esta é, em geral, a concepção ampla da predestinação, como foi sustentada pelos
grandes teólogos das Igrejas Presbiteriana e Reformada.
A Pré Ordenação é mostrada de maneira explícita nas Escrituras.

Atos 4:27, 28 : "[27] Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu
santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com
os gentios e os povos de Israel; [28] para fazerem tudo o que a tua mão e o teu
conselho predeterminaram que se fizesse."
Efésios 1:5 : "e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,"
Efésios 1:11 : "nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade,"
Romanos 8:29, 30 : "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a
estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou."
I Coríntios 2:7 : "mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a
qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória;"
Atos 2:23 : "a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de
Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;"
Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do
Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
Efésios 2:10 : "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus antes preparou para que andássemos nelas."
Romanos 9:23 : "para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos
vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
Salmo 139:16 : "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro
foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando
ainda não havia nem um deles."
Capítulo 3 DEUS tem um plano
É impensável que um Deus de sabedoria e poder infinitos criasse um mundo sem um
plano definido para aquele mundo. E porque Deus é assim infinito Seu plano deve
extender-se a cada detalhe da existência do mundo. Se nós pudéssemos enxergar o
mundo em todas as suas relações, passado, presente, e futuro, veríamos que segue um
curso pré-determinado com precisão exata. Entre as coisas criadas, podemos procurar
onde quisermos, tanto quanto o microscópio e o telescópio possibilitam nossos olhos
a ver, encontramos organização em todo lugar. Grandes formas resolvem-se em
partes, e estas partes, por sua vez, são nada menos que organizadas em partes
menores, até onde possamos infinitamente perceber.
Cada ser humano, que nada mais é que a criatura de um dia e sujeito a todas formas
de erros, desenvolve um plano antes de agir; e um ser humano que age sem
planejamento e propósito é considerado tolo. Antes de iniciarmos uma viagem ou
empreendermos qualquer tipo de trabalho, todos nós estabelecemos nosso objetivo e
então trabalhamos para alcançá-lo, tanto quanto sejamos capazes para tanto.
Independentemente de como algumas pessoas possam opor-se à Predestinação em
teoria, todos nós em nossas vidas diárias somos "predestinarianos" práticos. Como E.
W. Smith diz, um homem sãbio "primeiro determina o objetivo que deseja atingir, e
então as melhores maneiras de fazê-lo. Antes que o arquiteto comece seu edifício, ele
desenha as plantas e forma seus planos, até os mínimos detalhes da construção. Na
cabeça do arquiteto, o edifício já está completo, em todas as suas partes, mesmo antes
que a primeira pedra seja assentada. Assim também com o comerciante, o advogado,
o fazendeiro, e todos os homens inteligentes e racionais. Suas atividades seguem a
linha de propósitos previamente formados, tanto quanto suas capacidades finitas o
permitirem, de planos pré-concebidos." 1
Quanto maior for a nossa jornada, o mais importante é que deveremos ter um plano;
caso contrário todo o nosso trabalho acabará em fracasso. Alguém poderia ser
considerado mentalmente desarranjado se se propusesse a construir um navio, ou uma
estrada de ferro, ou governar uma nação sem um plano. Aprendemos que antes que
Napoleão começasse a invasão da Rússia, ele tinha um plano detalhado, mostrando
que linha de marcha cada divisão de seu exército deveria seguir, onde deveria estar a
determinado tempo, que equipamentos e provisões deveriam ter, etc. O que quer que
fosse que ele quisesse naquele plano, era devido às limitações de poder e sabedoria
humanos. Tivesse a visão de Napoleão sido perfeita e seu controle sobre os eventos
sido absoluto, seu plano - ou podemos dizer seus pré-comandos - teriam sido
extendidos a cada ato de cada soldado que fêz aquela marcha.
E se tal é fato para o homem, quanto mais é verdadeiro para Deus! "Um universo sem
decretos", diz A. J. Gordon. "seria tão irracional e horrível como seria um trem
expresso à noite sem farol nem maquinista." Nós não podemos conceber Deus
trazendo à existência um universo sem um plano que se extendesse a tudo o que fosse
feito naquele universo. Como as Escrituras ensinam que o controle providencial de
Deus se extende a todos eventos, mesmo o menor; elas assim ensinam que Seu plano
é igualmente compreensível. É uma das Suas perfeiçoes que Ele tenha o plano melhor
possível, e que Ele conduza o curso da história para o seu final já apontado. E admitir
que Ele tem um plano o qual ele controla é admitir Predestinação. "O plano de Deus é
mostrado ser um em sua efetuação," dis Dabney. "Causa é ligada ao efeito, e o que
era efeito torna-se causa; as influências de eventos no inter relacionamento de
eventos entre sí, e descendendo em correntes cada vez mais descêntricas para eventos
subseqüentes; de maneira que o resultado do complexo todo seja através de cada
parte. Como os astrônomos supõem que a remoção de um planeta do nosso sistema
modificaria mais ou menos o equilíbrio e a órbita dos demais, assim a falha de um
evento neste plano prejudicaria o todo, direta ou indiretamente." 2
Se Deus não tivesse de antemão ordenado o curso de eventos mas esperasse até que
uma condição indeterminada fosse ou não cumprida, Seus decretos não poderial ser
nem eternos nem imutáveis. Nós sabemos, contudo, que Ele é incapaz de erro, e que
Ele não pode ser surpreendido por quaisquer inconveniências imprevistas. Seu reino
está nos céus e Ele rege sobre tudo. Seu plano deve, portanto, incluir cada evento no
âmbito completo da história.
Que mesmo os menores eventos tenham seu lugar neste plano, e que eles devem ser
como são, é facilmente percebido. Todos nós sabemos de certos "acontecimentos ao
acaso" que tem realmente mudado o curso de nossas vidas. Os efeitos destes
extendem-se através de toda a história posterior, com influências cada vez mais
abrangentes, causando outros "acontecimentos ao acaso". É dito que certa vez Roma
foi salva pelo grasnado de alguns gansos. Se historicamente verdade ou não, serve
como uma boa ilustração. Não tivessem os gansos acordado os guardas que fizeram
soar o alarme e levantado o exército defensor, Roma teria caído e o curso da história
daquele momento em diante teria sido radicalmente diferente. Tivessem aqueles
gansos permanecido em silêncio, quem pode imaginar que impérios poderiam existir
atualmente, ou onde os centros de cultura poderiam estar? Durante a batalha, uma
bala não acerta o general por apenas uma polegada. Sua vida é poupada, ele segue
comandando suas tropas, vence uma vitória decisiva, e é feito o governador supremo
de seu país por muitos anos, -como foi o caso de George Washington. Assim mesmo,
que curso diferente a história teria seguido se o soldado do outro lado tivesse mirado
um pouquinho só mais para cima ou para baixo! O grande incêndio de Chicago em
1871, que destruiu mais da metade da cidade, começou, somos informados, quando
uma vaca deu um coice num lampião. Quão diferente teria sido a história de Chicago
se aquele movimento tivesse sido ligeiramente diferente! "O controle dos maiores
deve incluir o controle dos menores, pois não somente as grandes coisas são feitas de
pequenas coisas, mas a história mostra o quão verdadeiramente aqueles mínimos
traços estão continuamente provando serem pivôs das importantes consequências nas
quais os eventos se revolvem. A persistência de uma aranha encorajaram um homem
extremamente desanimado, quase apático, a atitudes e esforços laboriosos que
formaram o futuro de uma nação. O Deus que predestinou o curso da história
Escocesa deve ter planejado e presidido sobre movimentos daquele pequenino inseto
que salvou Robert Bruce do desespero." 3 Exemplos deste tipo poderiam multiplicar-
se indefinidamente.
Os Pelagianos negam que Deus tenha um plano; os Arminianos dizem que Deus tem
um plano geral mas não específico; mas os Calvinistas dizem que Deus tem um plano
específico, que engloba todos os eventos em todas as épocas. Em reconhecendo que o
Deus eterno tem um plano eterno no qual está pré-determinado cada evento que
venha a acontecer, os Calvinistas simplesmente reconhecem que Deus é Deus, e O
liberam de quaisquer limitações humanas. As Escrituras representam Deus como uma
pessoa, tal como outras pessoas alí. Seus atos são cheios de propósitos, mas
diferentemente de outras pessoas alí. Ele é onisciente em Seus planos e onipotente em
Sua performance. Eles vêem o universo como o produto do Seu poder criativo, e
como o teatro no qual são apresentadas Suas perfeições gloriosas, e o qual deve em
toda sua forma e toda sua história, até o menor detalhe, corresponder com o Seu
propósito em construi-lo.
Num artigo muito iluminado sobre "Predestinação", Dr Benjamin B. Warfield, quem
na opinião do presente escritor emergiu como destacado teólogo desde João Calvino,
nos diz que os escritores das Escrituras viram o plano divino como "largo o bastante
para conter todo o universo de coisas, e pequeno o bastante para relacionar-se com os
menores detalhes, e atualizar-se com certeza inevitável na ocorrência de cada
evento." "Na sabedoria infinita do Senhor de toda a terra, cada evento cai com
precisão exata em seu próprio lugar no desdobramento de Seu plano eterno; nada,
mesmo pequeno, mesmo estranho, acontece sem a Sua ordem, ou sem a capacidade
de caber, de amoldar-se ao seu lugar devido, para a ocorrência dos Seus propósitos; e
o fim de tudo deverá ser a manifestação da Sua glória, e a acumulação do Seu louvor.
Esta é a filosofia tanto do Velho como do Novo Testamentos, da visão terrestre dos
universos, a qual atinge unidade concreta em um decreto absoluto, ou propósito, ou
plano do qual tudo o que vem a passar é o desenvolvimento no tempo." 4
A própria essência de teísmo consistente é que Deus teria um plano exato para o
mundo, conheceria antecipadamente as ações de todas as criaturas que Ele propôs-se
a criar, e através de Sua ôni-abrangente providência controlaria o sistema inteiro. Se
ele previamente ordenara somente certos eventos isolados, a confusão seria
introduzida no sistema em ambos, no mundo natural e nas atividades humanas e Ele
precisaria estar constantemente desenvolvendo novos planos para atingir o que
desejasse. Seu governo no mundo então seria um trabalho caprichoso de novos
expedientes que no máximo governaria somente de uma maneira geral, e seria tanto
quanto ignorante acerca do futuro. Mas ninguém com idéias próprias sobre Deus crê
que Ele tenha de mudar de opinião a cada alguns dias para acomodar acontecimentos
inesperados os quais não estavam incluídos em Seu plano original. Se a perfeição do
plano divino for negada, nenhum ponto consistente de parada será encontrado em que
não haja o ateísmo.
Em primeiro lugar não havia a necessidade de Deus criar tudo. Ele agil com perfeita
liberdade quando ele trouxe este mundo à existência. Quando Ele escolheu criar havia
à sua frente um número infinito de possíveis planos. Mas a bem da verdade nós
achamos que Ele escolheu este plano particular no qual nos encontramos agora. E
desde que ele sabia perfeitamente todos eventos de todas espécies os quais estariam
envolvidos nesta específica espécie de mundo, Ele muito obviamente pre-determinou
cada evento que aconteceria quando ele escolhesse este plano. Sua escolha do plano,
ou Sua certeza de que a criação devesse ser nesta ordem, nós chamamos Sua prévia
ordenação ou sua predestinação.
Mesmo os atos pecaminodos dos homens estão incluídos neste plano. Eles são
previstos, permitidos, e têem seu exato lugar. Eles são controlados e a glória divina
prevalece sobre os mesmos. A crucifixação de Cristo, que admitidamente é o pior
crime em toda a história da raça humana, teve, foi expressivamente dito, seu exato e
necessário lugar no plano (Atos 2:23; 4:28). Esta maneira particular de redenção não
é um expediente para o qual Deus foi levado depois de ter sido derrotado e
desapontado pela queda do homem. Antes, é "segundo o eterno propósito que
estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor," (Efésios 3:11). Pedro nos diz que Cristo
como um sacrifício pelo pecado foi "conhecido, com efeito, antes da fundação do
mundo,..." (I Pedro 1:20). Crentes foram escolhidos "...nele, antes da fundação do
mundo,..." (Efésios 1:4). Nós somos salvos não pelas nossas próprias e temporárias
obras, "..., mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus, antes dos tempos eternos." (II Timóteo 1:9). E se a crucifixação de
Cristo, ou Sua oferta de Si mesmo como sacrifício pelo pecado, era parte do plano
eterno, então também a queda de Adão e todos os demais pecado que tornaram aquele
sacrifício necessário eram parte do plano, não importando o quão indesejável parte do
plano eles possam ter sido.
A história em todos os seus detalhes, até o mais ínfimo minuto, nada mais é que os
propósitos eternos de Deus. Seus decretos não são sucessivamente formados quando
surge a emergência, mas são todos partes de um só "oni-compreensivo" plano, e nós
nunca deveríamos pensar em Deus como se Ele de repente estabelecesse um plano ou
fizesse qualquer coisa a qual Ele não tivesse pensado antes.
O fato de as Escrituras muitas vezes falarem de um propósito de Deus como
dependente do resultado de outro ou das ações dos homens, não constitui objeção
contra estra doutrina. As Escrituras estão escritas na linguagem cotidiana de homens,
e eles muitas vezes descrevem um ato ou uma coisa como parece ser, ao invés de
como realmente é. A Bíblia fala "...desde os quatro confins da terra." (Isaías 11:12), e
de "...os fundamentos da terra,..." (Salmo 104:5); ainda assim ninguém entende tais
textos como a terra sendo quadrada, ou que ela realmente repousa sobre uma
fundação. Nós falamos do sol nascendo e pondo-se, ainda assim nós sabemos que não
é o movimento do sol, senão a da terra, quando revolve-se sobre seu próprio eixo
causa tal fenômeno. Similarmente, quando as Escrituras falam do arrependimento de
Deus, por exemplo, ninguém com idéias próprias de Deus entende como se Ele vê
que tenha tomado um caminho errado e muda de opinião. Simplesmente significa que
Suas ações, quando vistas sob a ótica do ser humano, parecem ser como as de alguém
que se arrepende. Em outras partes as Escrituras falam das mãos, ou braços, ou olhos
de Deus. Estes são conhecidos como "antropoformismos", exemplos nos quais Deus é
referrido como se Ele fosse um homem. Quando a palavra "arrepender-se", por
exemplo, é usada no sentido estrito, nunca foi dito que Deus tenha se arrependido:
"Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa."
(Números 23:19); e novamente, "...a glória de Israel não mente, nem se arrepende,
porquanto não é homem, para que se arrependa." (I Samuel 15:29).
A contemplação deste grande plano deve redundar em louvor da sabedoria insondável
e do poder ilimitado dAquele quem o idealiza e executa. E o quem pode dar ao
Cristão mais satisfação e alegria do que saber que a trajetória inteira do mundo é
ordenada com referência ao estabelecimento do Reino dos céus e a manifestação da
glória Divina; e que ele (o Cristão) é o objeto sobre o qual amor e misericórdia
infinitos são derramados em profusão?

PROVAS NAS ESCRITURAS

01. O plano de Deus é eterno:


II Timóteo 1:9: "que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as
nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus, antes dos tempos eternos."
Salmo 33:11: "O conselho do Senhor permanece para sempre, e os intentos do seu
coração por todas as gerações."
Isaías 37:26: "Não ouviste que já há muito tempo eu fiz isso, e que já desde os dias
antigos o tinha determinado?"
Isaías 46:9, 10: "...que eu sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro
semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as
coisas que ainda não sucederam;..."
II Tessalonicenses 2:13: "...Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação
do espírito e a fé na verdade,"
Mateus 25:34: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de
meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo;"
I Pedro 1:20: "[Cristo] o qual [como sacrifício pelo pelcado], na verdade, foi
conhecido ainda antes da fundação do mundo,..."
Jeremias 31:3: "...o Senhor me apareceu, dizendo: Pois que com amor eterno te amei,
também com benignidade te atraí."
Atos 15:18: "diz o Senhor que faz estas coisas, que são conhecidas desde a
antiguidade."

Salmo 139:16: "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro
foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando
ainda não havia nem um deles."
02. O plano de Deus é imutável:
Tiago 1:17: "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação."
Isaías 14:24: "O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e
como determinei, assim se efetuará."
Isaías 46:10, 11: "...O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade; ... sim,
eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o executarei."
Números 23:19: "Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que
se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o
cumprirá?"
Malaquias 3:6: "Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois
consumidos."

03. O plano divino inclui os atos futuros do homem:


Daniel 2:28: "mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios; ele, pois, fez saber
ao rei Nabucodonosor o que há de suceder nos últimos dias. ..."
João 6:64: "... Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e
quem era o que o havia de entregar."
Mateus 20:18, 19: "Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue
aos principais sacerdotes e aos escribas, e eles o condenarão à morte, e o entregarão
aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem e crucifiquem; e ao terceiro dia
ressuscitará.
(Todas as profecias das Escrituras que são predições de eventos futuros são também
arroladas neste tópico. Veja especialmente: Miquéias 5:2 - comparando com Mateus
2:5,6 e Lucas 2:1-7; Salmo 22:18 - comparando com João 19:24; Salmo 69:21 -
comparando com João 19:29; Zacarias 12:10 - comparando com João 19:37; Marcos
14:30; Zacarias 11:12, 13 - comparando com Mateus 27:9, 10; Salmo 34:19, 20 -
comparando com João 19:33, 36).

04. O plano divino inclui os eventos fortuitos ou acontecimentos ao acaso:


Provérbios 16:33: "A sorte se lança no regaço; mas do Senhor procede toda a
disposição dela."
Jonas 1:7: "E dizia cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos sortes, para
sabermos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu
sobre Jonas."
Atos 1:24, 26: "[24] E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de
todos, mostra qual destes dois tens escolhido [26] Então deitaram sortes a respeito
deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze
apóstolos."
Jó 36:32: "Cobre as mãos com o relâmpago, e dá-lhe ordem para que fira o alvo."
I Reis 22:28, 34: "[28] Replicou Micaías: Se tu voltares em paz, o senhor não tem
falado por mim... [34] Então um homem entesou o seu arco, e atirando a esmo, feriu
o rei de Israel por entre a couraça e a armadura abdominal."
Jó 5:6: "Porque a aflição não procede do pó, nem a tribulação brota da terra;"
Marcos 14:30: "Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes
que o galo cante duas vezes, três vezes tu me negarás." (comparando com Gênesis
37:28 e 45:5; também comparando com I Samuel 9:15, 16 e 9:5-10).
05. Alguns eventos são gravados ou fixados com certeza inevitável:
Lucas 22:22: "Porque, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está
determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!"
João 8:20: "Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no
templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora."
Mateus 24:36: "Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem
o Filho, senão só o Pai."
Gênesis 41:32: "Ora, se o sonho foi duplicado a Faraó, é porque esta coisa é
determinada por Deus, e ele brevemente a fará."
Habacuque 2:3: "Pois a visão é ainda para o tempo determinado, e até o fim falará, e
não mentirá. Ainda que se demore, espera-o; porque certamente virá, não tardará."
Lucas 21:24: "E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos;
e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos destes se completem."
Jeremias 15:2: "quando te perguntarem: Para onde iremos? dir-lhes-ás: Assim diz o
Senhor: Os que para a morte, para a morte; e os que para a espada, para a espada; e os
que para a fome, para a fome; e os que para o cativeiro, para o cativeiro."
Jó 14;5: "Visto que os seus dias estão determinados, contigo está o número dos seus
meses; tu lhe puseste limites, e ele não poderá passar além deles."
Jeremias 27;7: "Todas as nações o servirão a ele, e a seu filho, e ao filho de seu filho,
até que venha o tempo da sua própria terra; e então muitas nações e grandes reis se
servirão dele."

05. Mesmo os atos pecaminosos dos homens estão incluídos no plano e são
controlados para o bem.
Gênesis 50:20: "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim (José); Deus, porém,
o intentou para o bem, ..."
Isaías 45:7: "Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o
Senhor, que faço todas estas coisas."
Amós 3:6: "...Sucederá qualquer mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?"
Atos 3:18: "Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus
profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer."
Mateus 21:42: "Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os
edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; ..."
Romanos 8:28: "E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."
Capítulo 4 A Soberania de DEUS
Toda pessoa que pensa, rapidamente vê que alguma soberania rege sua vida. Não lhe
foi perguntado se ele existiria; nem quando, onde ou como nasceria; se no século
vinte ou antes do dilúvio; se branco ou negro, se na América ou na China. É
reconhecido pelos Cristãos de todas as épocas que Deus é o Criador e o Regente do
universo, e que como o Criador e Regente do universo, Ele é a única fonte de todo o
poder que é encontrado nas criaturas. Assim nada pode passar à parte de Sua soberana
vontade; e quando nós permanecemos nesta verdade, percebemos que ela envolve
considerações que estabelecem a posição Calvinista e desaprovam a posição
Arminiana.
Pelo fato de Deus ter criado tudo o que existe, Ele é o Dono absoluto e Regulador de
tudo o quanto Ele fez. Ele não exerce influência meramente, mas na verdade rege o
mundo que Ele criou. As nações da terra, em sua insignificância, são como grãos de
poeira na balança, quando comparadas com a Sua grandeza; e muito mais cedo
poderá o sol parar o seu curso, que Deus ser impedido em Seu trabalho ou em Sua
vontade. Em meio a todas as aparentes derrotas e inconsistências da vida Deus
realmente move-se adiante, em imperturbável majestade. Mesmo os atos
pecaminosos dos homens podem ocorrer somente com a Sua permissão. E desde que
ele assim o permite, não relutantemente mas voluntariamente, tudo o que venha a
existir - incluindo as ações e o destino final dos homens - devem estar, de alguma
forma, de acordo com os Seus desejos e propósitos. Na mesma proporção em que tal
é negado Deus é excluído do governo do mundo. Naturalmente alguns problemas
aparecem aqui, os quais nós em nosso presente estado de conhecimento não somos
totalmente capazes de resolver, mas isto não é razão suficiente para rejeitar o que as
Escrituras e os plenos princípios regentes da razão afirmam ser verdadeiro.
Se o poder de um soberano terreno É lei em seu reino, quanto mais ainda será a
palavra de Deus no Seu reino! Por exemplo, os Cristãos sabem que o dia certamente
está chegando quando, voluntária ou involuntariamente todo joelho se dobrará e toda
língua confessará que Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Nas Escrituras Ele
nos está representado como Deus ONIPOTENTE, que assenta-se no trono do
domínio universal. Ele sabe e conhece desde o princípio o resultado e os meios a
serem utilizados para que tal resultado seja atingido. Ele é capaz de fazer por nós
excedentemente e abundantemente mais do que nós pedimos ou mesmo pensamos. A
categoria do impossível não existe para Ele "porque para Deus tudo é possível,"
[Marcos 10:27 ; também Mateus 19:26]. Isto, contudo, não significa que Deus tenha
poder para fazer o que seja contra a Sua natureza, "operar contradições. É impossível
para Deus mentir, ou fazer alguma coisa que seja moralmente errada. Ele não pode
fazer com que dois mais dois totalize quatro, nem pode Ele fazer uma roda girar e
permanecer parada ao mesmo tempo. Sua onipotência é tão certamente uma garantia
de que o curso do mundo será conforme o Seu plano, quanto a Sua santidade é uma
garantia de que todas as Suas obras serão certas.
Não somente no Novo Testamento mas também no Velho testamento nós podemos
encontrar esta doutrina da soberania de Deus consistentemente desenvolvida. Dr
Warfield diz com relação à doutrina como pode ser encontrado em: "O Todo
Poderoso Criador de tudo está representado igualmente como o irresistível Regente
de tudo o quanto Ele fez" ; "Senhor se assenta como rei, perpetuamente" [Salmo
29:10]. Ele segue dizendo que os escritores raramente utilizam expressões tais como
"está chovendo"; eles instintivamente falam de Deus mandando chuva, etc. As
possibilidades de acidente e acaso são excluídas e mesmo "que sorte fosse uma
maneira de obter a decisão de Deus" (como em Josué 7:16 ; 14:2 : 18:6 ; I Samuel
10:19 ; Jonas 1:7). Todas coisas, sem exceção, realmente são dispostas por Ele, e a
sua vontade é a responsável por tudo o quanto acontece. Céu e terra e tudo o que
neles existe são instrumentos através dos quais Ele opera os Seus propósitos.
Natureza, nações, e destino de indivíduos apresentam igualmente em todas as suas
mudanças a transcrição dos Seus propósitos. Os ventos são Seus mensageiros, a
flama flamejante é Sua serva; cada fenômeno natural Seus atos; prosperidade a Sua
dádiva, e se calamidade cai sobre o homem, é o senhor quem o permitiu (veja Amós
3:5,6 ; Lamentações 3:33-38 ; Isaías 47:7 ; Eclesiastes 7:14 ; Isaías 54:16). É Ele
quem direciona os passos dos homens, saibam eles para onde ou não; Ele que ergue e
derruba; que abre e endurece o coração; e cria os pensamentos e intenções da alma."
1
E não devemos crer que Deus pode converter um pecador quando Lhe convier? Não
pode o Todo-Poderoso, o onipotente Soberano do universo, mudar o caráter das
criaturas que Ele fez? Ele transformou a água em vinho em Caná, e converteu Saulo
na estrada para Damasco. O leproso disse: "Senhor, se quiseres podes purificar-me", e
com uma palavra sua lepra foi curada. Deus é capaz de limpar tanto a alma como o
corpo, e nós cremos que se Ele decidir faze-lo, Ele pode levantar uma multidão de
ministros Cristãos, missionários e obreiros de várias categorias que o mundo seria
convertido num espaço de tempo muito curto. Se Ele realmente se propusesse a
salvar todos os homens, Ele poderia enviar legiões de anjos para instruí-los e para
fazer prodígios sobrenaturais na terra. Ele mesmo poderia operar maravilhas no
coração de cada pessoa para que ninguém se perdesse. Desde que o mal existe
somente por Sua permissão, Ele poderia, caso Ele escolhesse, simplesmente eliminar
a sua existência. Seu poder, nesse respeito, foi mostrado pelo trabalho do anjo
destruidor que em uma noite massacrou todos os primogênitos dos Egípcios (Êxodo
12:29), e que em outra noite executou 185.000 do exército Assírio (II Reis 19:35). Foi
mostrado quando a terra abriu-se e engoliu Corá e seus aliados rebeldes (Números
16:31-33). Ananias e Safira foram atingidos (Atos 5:1-11); Herodes foi atingido e
morreu de uma maneira horrível (Atos 12:23). Deus não perdeu nenhum pouco do
Seu poder, e é altamente desonroso para Ele supor que Ele estaria disputando com a
raça humana fazendo o melhor que Ele pode mas incapaz de atingir os Seus
propósitos.
Embora a soberania de Deus seja universal e absoluta, não é a soberania de poder
cego. É aliada a sabedoria infinita, santidade e amor. E esta doutrina, quando
apropriadamente compreendida, é muito confortadora e digna de confiança. Quem
não preferiria ter todos a sua vida nas mãos de um Deus de poder, sabedoria,
santidade e amor infinitos, do que ter de deixá-la à mercê do acaso, do destino ou de
irrevogável lei natural, ou de ego pervertido e sem visão? Aqueles que rejeitam a
soberania de Deus deveriam considerar que outras alternativas existem.
Como, então, são controladas e guiadas as ações do universo? "De acordo com o
propósito dAquele que desenvolveu todas as coisas de conforme a Sua vontade." A
tendência atual é de deixar de lado doutrinas de Soberania Divina e Predestinação de
modo a obter espaço para a autocracia da vontade humana. O orgulho e a presunção
do homem, de um lado, e a sua ignorância e depravação do outro, levam-no a excluir
Deus e a exaltar-se a si próprio tanto quanto ele é capaz; e estas duas tendências
combinadas afastam a maioria da raça humana para longe do Calvinismo.
A idéia Arminiana que assume que as intenções sérias do caminho de Deus sejam em
alguns casos no mínimo anuladas, e que o homem, quem não é somente uma criatura
mas uma criatura singular, possa exercer poder de veto sobre os planos de Deus
Todo-Poderoso, está diretamente em confronto com a idéia Bíblica de Sua
imensurável exaltação por Ele está separado de toda a fraqueza da humanidade. Que
os planos de homens não sejam sempre executados é devido a uma falta de poder, ou
uma falta de sabedoria; mas desde que Deus é ilimitado nestes e em todos os outros
recursos, nenhuma emergência imprevista pode ocorrer, e para Ele causas para
mudanças não existem. Supor que os Seus planos falhem e que ele Se esforce para
nada, é reduzi-Lo ao nível de Suas criaturas.
PROVAS NAS ESCRITURAS
Daniel 4:35: "...ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há
quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?"
Jeremias 32:17: "Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu
grande poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil!"
Mateus 28:18: "E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a
autoridade no céu e na terra."
Efésios 1:22: "e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre
todas as coisas o deu à igreja,"
Efésios 1:11: "nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade,"
Isaías 14:24,27: "[24] - O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim
sucederá, e como determinei, assim se efetuará. [27] Pois o Senhor dos exércitos o
determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar
atrás?
Isaías 46:9 - 11: "[9] - Lembrai-vos das coisas passadas desde a antigüidade; que eu
sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; [10] que
anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as coisas que ainda não
sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade; [11]
chamando do oriente uma ave de rapina, e dum país remoto o homem do meu
conselho; sim, eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o
executarei."
Gênesis 18:14: "Há, porventura, alguma coisa difícil ao Senhor?..."
Jó 42:2: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser
impedido."
Salmo 115:3: "Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz."
Salmo 135:6: "Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e
em todos os abismos."
Isaías 55:11: "assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim
vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei."
Romanos 9:20,21: "[20] Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura
a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?[21] Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?"
Capítulo 5 A Providência de DEUS
As obras da providência de Deus são a Sua maneira muito santa, sábia e poderosa de
preservar e governar todas as Suas criaturas, e todas as ações delas (Catecismo Menor
de Westminster, resposta à pergunta 11). As Escrituras muito claramente ensinam que
tudo o quanto existe fora Deus deve-Lhe, não meramente a sua criação original, mas
também a ontínua existência, com todos os seus atributos e poderes, à vontade de
Deus. Ele é quem sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3). Ele é
antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas (Cl 1:17). "Tu, só tu, és
Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra
e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles já, e tu os conservas a
todos,..." (Nee 9:6). "porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; ..." (At
17:28). "...sobre todos, e por todos e em todos." (Ef 4:6)
Em toda a Bíblia as leis da natureza, o curso da história, a sorte variável de
indivíduos, são sempre atribuídas ao controle providencial de Deus. Todas as coisas,
seja no céu ou na terra, desde o serafim até a menor partícula atômica, são ordenadas
por sua nunca falha providência. Tão íntima é a sua relação com a criação toda, que
um leitor descuidado pode ser levado a conslusões panteísticas. Ainda assim, tanto
personalidades individuais como segundas causas são reconhecidas não como
independentes de Deus, mas como tendo seu próprio lugar em Seu plano. E
paralelamente à esta doutrina de Sua Essência, os escritores da Bíblia também
apresentam também a correlata doutrina de Sua Transcendência, na qual Deus é
apresentado como totalmente separado e superior à toda criação.
Ainda com relação à providência de Deus, entendemos que Ele intimamente
relaciona-se com todo detalhe das ações dos homens e do curso da natureza. "Supor
que qualquer coisa seja grande demais para estar sob Seu controle", diz Dr Charles
Hodge, "ou qualquer coisa seja tão pequena ao ponto de escapar à Sua observação; ou
que a infinidade de detalhes possa distrair a Sua atenção, é esquecer-se de que Deus é
infinito. . . . O sol que propaga a sua luz no espaço tão facilmente como em qualquer
ponto. Deus está tão presente em todo lugar, e com tudo o quanto existe, como se Ele
estivesse presente em somente um lugar, e tivesse nada mais a não ser um objeto de
Sua atenção." E ainda, "Ele está presente em toda folha de grama, ainda assim
guiando o curso de uma estrela (nota do tradutor: no original "Arcturus" à do Grego
"Arktouros", literalmente significando "observador de urso": uma estrela fixa de
primeira magnitude, na constelação "Bootes", no Hemisfério Norte), coordenando as
estrelas como seu organizador, chamando-as pelos seus nomes; presente também em
cada alma humana, dando entendimento, provendo-a e suprindo-a, trabalhando nela
em ambos sentidos, no querer e no fazer. O coração humano está em Suas mãos, e Ele
o transforma e acalma, como as águas dos rios nos remansos." 1
É quase que universalmente admitido que Deus determina quando, onde, e sob quais
circunstâncias, cada indivíduo de nossa raça deve nascer, viver e morrer, se será
macho ou fêmea, branco ou preto, sábio ou tolo. Para alguns Ele dá requeza, a outros
honra, a outros saúde, para outros certos talentos e dons para música, oratória, arte,
financas, políticas, etc. Já outros são pobres, desconhecidos, nascidos em desonra, as
vítimas de doenças, e vivem vidas de miséria. Alguns são colocados em lugares
Cristãos onde recebem os benefícios do Evangelho; outros vivem e morrem nas
trevas do ateísmo. Alguns são trazidos através da fé à salvação; outros perecem
descrentes. E numa importância extrema, estes sinais externos, que não são resultado
da escolha individual, decidem o curso de vida da pessoa e o destino eterno. É
mostrado e ensinado por ambas, as Sagradas Escrituras e a experiência diária que
Deus dá a alguns o que Ele não concede a outros. Se Lhe fosse perguntado por que
Ele assim procede, ou por que Ele não salva a todos, a única resposta disponível
estaria nas palavras do Senhor Jesus, "Sim , ó Pai , porque assim te aprouve." (Mt
11:26). So a doutrina da queda e redenção mostrada nas Escrituras nos proporciona
luz no que vemos sobre nós mesmos.
É para ser relembrado que os que recebem estes dons, sejam espirituais ou temporais,
recebem-nos através da pura graça, enquanto que com relação aos outros, Deus
simplesmente abstem-Se de proporcionais tais talentos, os quais Ele não tinha a
obrigação de dar. Nações, tanto quanto indivíduos, estão assim nas mãos de Deus,
que aponta os limites de sua habitação, e controla os seus destinos. Ele controla-os
tão absolutamente quanto um homem controla um bastão ou uma bengala. Eles estão
em Suas mãos, e Ele usa-os para alcançar os Seus propósitos. Ele os quebra em
pedaços como um oleiro faz com um vaso, ou Ele exalta-os e eleva-os a grandezas,
conforme a Sua vontade. Ele dá a paz e abundância de colheitas, propriedade e
felicidade, ou Ele envia as desolações da guerra, da fome, da seca e pestilência. Todas
estas coisas estão à disposição de Deus, e são designadas para utilizadores
inteligentes, sob a Sua universal providência. Deus não é um mero expectador do
universo. Ele o fez, mas está presente e ativo em todo lugar, o sustentáculo de tudo e
o poder governante de tudo o quanto existe.
Embora o valor de um pardal seja pequeno, e o seu vôo pareça ser descoordenado e
sem controle, ainda assim ele não cai ao chão, nem desvia-se para lugar algum, sem o
seu Pai. "Sua onisciente providência já de antemão determina em qual galho ele
pousará; que migalhas ele apanhará; onde ele construirá seu ninho e descansará; onde
ele viverá e onde ele morrerá." 2
Cada gota de chuva e cada floco de neve que caem das nuvens, cada inseto que se
move, cada planta que nasce e cresce, gada partícula de poeira que flutua no ar têem
certas causas definitivas e terão certos efeitos definitivos. Cada um é um elo na
corrente de eventos e muitos dos grandes eventos da história aconteceram devido a
estas coisinhas aparentemente insignificantes.
Através de todo o curso de eventos existe progresso, em direção a um fim pré-
determinado. Dr Warfield muito apropriadamente escreveu: "Não foi um acidente que
levou Rebeca ao poço, para dar as boas vindas ao servo de Abraão (veja Gn 24), ou
que levou José ao Egito (veja Gn 45:8 ; 50:20. 'Deus assim o quis, para o bem'), ou
guiou a filha do Faraó até a arca no meio dos juncos (Êx 2), ou que mais tarde,
direcionou a pedra do moinho que quebrou o crânio de Abimeleque (Jz 9:53), ou
guiou a flecha (atirada a esmo) que feriu o rei por entre as juntas da armadura (1 Rs
22:34). Cada evento histórico é na realidade tratado ou como um ítem na correta
ordem de acontecimentos do propósito Divino pré-estabelecido; e o historiador
mantem-se continuamente ciente da Sua presença na história, que dá até mesmo ao
relâmpago que risca os céus uma tarefa específica (Jó 36:32). 2
Nas grandes estações de trem", disse o Dr Clarence E. Macartney, "você pode ver um
lápis metálico aparecer e escrever em letras grandes na parede os horários de chegada
ou de partida dos trens. O lápis metálico parece escrever por sí próprio, mas nós
sabemos que escondido em algum escritório existe um funcionário, cuja mente e
mãos operam o lápis. Também em nossa própria vida, notamos nossas próprias
deliberações e escolhas e decisões, e ainda na construção do nosso destino, parecem
haver outras cordas, cordas que não respondem ao nosso comando. Eventos
aparentemente triviais desempenham sua parte em grandes acontecimentos." 4
O senso de responsabilidade moral e dependêndia do homem, e o seu instintivo apelo
a Deus em horas de perigo, mostram o quão universal e inata é a convicção de que
Deus realmente governa o mundo e todos os eventos humanos. Mas enquanto a
Bíblia repetidamente ensina que o controle providencial é universal, Poderoso, sábio
e sando, em nenhum lugar as Escrituras intentam informar-nos como reconciliar tal
com a liberdade do homem. Tudo o que precisamos saber é que Deus governa as Suas
criaturas e que o Seu controle sobrfe elas é tal que nenhuma violência aplica-se às
suas naturezas. Talves a relação entre a Soberania Divina e a liberdade humana possa
ser melhor expressada nas palavras: Deus tão presente nos estímulos externos que o
homem age de acordo com a sua própria natureza, e ainda assim faz exatamente o
que Deus tem planejado para que ele faça.
Este assundo, tanto quanto relaciona-se com a responsabilidade humana, será mais
amplamente tratado no capítulo sobre Livre Arbítrio.

PROVAS NAS ESCRITURAS


A doutrina Bíblica da Providência é tão clara que é admitida por muitos cuja visão
filosófica leva-os a rejeitá-la por si mesmos. Nós apresentaremos agora um sumário
das provas nas Escrituras, mostrando que todos os eventos têem um local e propósito
determinados, apontados, que a providência de Deus é universal, e que Ele destarte
assegura o completo termo dos Seus planos. O controle providencial de Deus
abrange:
(a) Natureza do mundo físico. "...o Senhor tem o seu caminho no turbilhão e na
tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés."[Naum 1:3] "Somente na terra de
Gósem onde se achavam os filhos de Israel, não houve saraiva."[Êx 9:26] "...porque
ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos."[Mt
5:45] A fome no Egito pareceu aos homens ser somente a conseqüência de causas
naturais; mas José podia dizer, "...é porque esta coisa é determinada por Deus, e ele
brevemente a fará."[Gn 41:32] "Além disso, retive de vós a chuva, quando ainda
faltavam três meses para a ceifa; e fiz que chovesse sobre uma cidade, e que não
chovesse sobre outra cidade;..."[Am 4:7] "...dando-vos chuvas do céu e estações
frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações."[At 14:17]
"Quem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e
recolheu numa medida o pó da terra e pesou os montes com pesos e os outeiros em
balanças,"[Is 40:12]
(b) A criação animal. "Não se vendem dois passarinhos por um asse? e nenhum deles
cairá em terra sem a vontade de vosso Pai."[Mt 10:29] "Olhai para as aves do céu,
que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as
alimenta..."[Mt 6:26] "O meu Deus enviou o seu anjo, e fechou a boca dos leões, e
eles não me fizeram mal algum; ..."[Dn 6:26] "Os leões novos os animais bramam
pela presa, e de Deus buscam o seu sustento."[Sl 104:21] "De modo que Deus tem
tirado o gado de vosso pai, e mo tem dado a mim."[Gn 31:9].
(c) Nações. (a humiliação de Nabocodonosor foi) "...a fim de que conheçam os
viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer,
e até o mais humilde dos homens constitui sobre eles."[Dn 4:17] "Eis que as nações
são consideradas por ele como a gota dum balde, e como o pó miúdo das balanças;
eis que ele levanta as ilhas como a uma coisa pequeníssima."[Is 40:15] "Alegre-se o
céu, e regozije-se a terra; e diga-se entre as nações: O Senhor reina."[I Cro 16:31]
"Pois Deus é o Rei de toda a terra; ..."[Sl 47:7] "Ele muda os tempos e as estações;
ele remove os reis e estabelece os reis; é ele quem dá a sabedoria aos sábios e o
entendimento aos entendidos."[Dn 2:21] "O Senhor desfaz o conselho das nações,
anula os intentos dos povos."[Sl 33:10] "E o Senhor lhes deu repouso de todos os
lados, .... , mas a todos o Senhor lhes entregou nas mãos."[Jos 21:44] "Mas os filhos
de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor os entregou na mão
de Midiã por sete anos."[Jz 6:1] "... Sucederá qualquer mal à cidade, sem que o
Senhor o tenha feito?"[Am 3:6] "Pois eis que suscito os caldeus, essa nação feroz e
impetuosa, que marcha sobre a largura da terra para se apoderar de moradas que não
são suas."[Hab 1:6]
(d) Homens individuais. "Como corrente de águas é o coração do rei na mão do
Senhor; ele o inclina para onde quer."[Prov 21:1] "Confirmados pelo Senhor são os
passos do homem..."[Sl 37:23] "O coração do homem propõe o seu caminho; mas o
Senhor lhe dirige os passos."[Prov 16:9] "Em lugar disso, devíeis dizer: Se o Senhor
quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo."[Tg 4:15] "Porque dele, e por ele, e para
ele, são todas as coisas; ..."[Rm 11:36] "Pois, quem te diferença? E que tens tu que
não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras
recebido?"[I Cor 4:7] "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os
livra."[Sl 34:7] "Eis que o nosso Deus a quem nós servimos pode nos livrar da
fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará da tua mão, ó rei."[Dn 3:17] "O Senhor é
por mim, não recearei; que me pode fazer o homem?"[Sl 118:6] "Mas agora, ó
Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das
tuas mãos."[Is 64:8] "...e a mão do nosso Deus estava sobre nós, e ele nos livrou da
mão dos inimigos, e dos que nos armavam ciladas pelo caminho."[Esd 8:31] "...e que
Deus tinha dissipado o conselho deles,..."[Neem 4:15] "Mas contra os filhos de Israel
nem mesmo um cão moverá a sua língua, nem contra homem nem contra animal;
para que saibais que o Senhor faz distinção entre os egípcios e os filhos de Israel."[Êx
11:7] "E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te
cales; porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, ..."[At
18:9,10)
(e) Os atos livres dos homens. "porque Deus é o que opera em vós tanto o querer
como o efetuar, segundo a sua boa vontade."[Fil 2:13] "E o Senhor deu ao povo graça
aos olhos dos egípcios, de modo que estes lhe davam o que pedia; ..."[Êx 12:36] "este
Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés, que o Senhor
Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu Deus, que estava sobre ele,
o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira."[Esd 7:6] "...porque o Senhor os tinha alegrado,
tendo mudado o coração do rei da Assíria a favor deles, para lhes fortalecer as mãos
na obra da casa de Deus, o Deus de Israel."[Esd 6:22] "Ainda porei dentro de vós o
meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças,
e as observeis."[Eze 36:27]
(f) Os atos pecaminosos dos homens. "Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta
cidade, contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também
Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a tua
mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse."[At 4:27,28] "Respondeu-lhe
Jesus (a Pilatos): Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado;
por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem."[Jo 19:11] "Disse, porém, o
rei (Davi a Abisai, com relação a Simei): ...Por ele amaldiçoar e por lhe ter dito o
Senhor: Amaldiçoa a Davi; ... Deixai-o; deixai que amaldiçoe, porque o Senhor lho
ordenou."[II Sam 16:10,11] "Na verdade a cólera do homem redundará em teu
louvor, e do restante da cólera tu te cingirás."[Sl 76:10] "Eis que eu endurecerei o
coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e glorificar-me-ei em Faraó e em
todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros."[Êx 14:17]
(g) Os eventos fortuitos ou "acontecimentos ao acaso" [referir-se à seção 4 (Cap
III)] : "O plano divino inclui os eventos fortuitos ou acontecimentos ao acaso": "A
sorte se lança no regaço; mas do Senhor procede toda a disposição dela."[Prov 16:33]
"E dizia cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos sortes, para sabermos por
causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre
Jonas."[Jon 1:7] "[24] E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de
todos, mostra qual destes dois tens escolhido [26] Então deitaram sortes a respeito
deles e caiu a sorte sobre Matias, e por voto comum foi ele contado com os onze
apóstolos."[At 1:24, 26] "Cobre as mãos com o relâmpago, e dá-lhe ordem para que
fira o alvo."[ Jó 36:32] "[28] Replicou Micaías: Se tu voltares em paz, o senhor não
tem falado por mim... [34] Então um homem entesou o seu arco, e atirando a esmo,
feriu o rei de Israel por entre a couraça e a armadura abdominal."[I Rs 22:28, 34]
"Porque a aflição não procede do pó, nem a tribulação brota da terra;"[Jó 5:6]
"Replicou-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que o galo cante
duas vezes, três vezes tu me negarás."[Mc 14:30] (compare com Gn 37:28 e 45:5;
também compare com I Sam 9:15, 16 e 9:5-10).
Capítulo 6 A Presciência de DEUS
A objeção Arminiana contra a predestinação também igualmente vai de encontro à
'pré ciência' de Deus. O que Deus sabe e conhece antecipadamente deve, na própria
natureza do caso, ser tão fixo e certo como o que seja pré ordenado; e se a pré
ordenação for inconsistente com o livre arbítrio do homem, assim também o será a
pré ciência de Deus (e vice e versa). Pré ordenação resulta em eventos certos,
enquanto pré ciência pressupõe que eles sejam certos.
Mas, se os eventos futuros são 'pré conhecidos' por Deus, eles não podem, qualquer
que seja a possibilidade, ocorrerem de forma diversa do Seu conhecimento. Se o
curso dos eventos futuros é 'pré sabido', a história seguirá um curso que é tão
definitivo e certo quanto uma locomotiva se desloca pelos trilhos entre uma cidade e
outra. A doutrina Arminiana, por rejeitar a predestinação, rejeita também a base teísta
da pré ciência. O senso comum nos diz que nenhum evento pode ser previamente
conhecido a menos que por alguma maneira, seja física ou mental, tenha sido
predeterminado. Nossa escolha quanto a o que determina a certeza de eventos futuros
afunila-se então em duas alternativas - a pré ordenação do sábio e misericordioso Pai
celeste; ou a obra do acaso, físico e cego.
Os "Socinianos" e Unitarianos, enquanto não tão evangélicos como os Arminianos,
são neste ponto mais consistentes, pois após rejeitar a predestinação de Deus, eles
também negam que Ele possa conhecer antecipadamente os atos de agentes livres.
Eles sustentam que, na própria natureza do caso, pode ser antecipadamente sabido
como a pessoa agirá, até que chegue a hora e que a escolha seja feita. Esta visão é
claro transforma as profecias das Escrituras - na melhor das hipóteses - em
adivinhações e palpites perigosos, irresponsáveis, abusivos e obsoletos; e destrói a
visão Cristão da Inspiração das Escrituras. É um ponto de vista que nunca foi aceito
por nenhuma igreja Cristão reconhecida. Alguns dos "Socinianos" e Unitarianos têm
sido intrépidos o bastante para reconhecer que a razão que os levou a negar certa pré
ciência de Deus quanto aos atos futuros dos homens, é que se assim fosse admitido,
seria impossível refutar a teoria Calvinista da Predestinação.
Muitos Arminianos sentiram a força deste argumento, e enquanto não tenham seguido
os Unitarianos na negação da pré ciência de Deus, deixaram claro que tranqüilamente
o negariam, se assim pudessem ou se atrevessem. Alguns falaram depreciativamente
da doutrina da pré ciência sugerindo que, em sua opinião, era de pouca importância
se alguém cresse ou não. Alguns foram mais longe, ao ponto de afirmar claramente
que os homens melhor fariam rejeitando a pré ciência do que admitir a Predestinação.
Outros sugeriram que Deus pode voluntariamente negligenciar o conhecimento de
alguns dos atos dos homens de maneira a deixá-los livres; mas isso é claro destrói a
onisciência de Deus. Ainda outros sugeriram que a onisciência de Deus pode implicar
somente que Ele sabe todas as coisas, se Ele assim escolher, justamente como a Sua
onipotência implica que ele pode todas as coisas, caso Ele assim opte. Mas a
comparação não é sustentável, pois aqueles certos atos [dos homens] não são meras
possibilidades, mas sim realidades, embora ainda futura; e imputar ignorância
daqueles aspectos a Deus é negar-Lhe o atributo da onisciência. Esta explicação
resultaria no absurdo de uma onisciência que não é onisciente.
Quando confrontado com o argumento da pré ciência de Deus, o Arminiano admite
que eventos futuros estão certos ou fixos. Mas quando lhe é apresentada a questão do
livre arbítrio, ele tende a desejar manter que os atos livres são incertos e em última
instância dependentes da escolha da pessoa - o que é uma posição plenamente
inconstante. Um ponto de vista que sustente que os atos livres de homens sejam
incertos, sacrifica a soberania de Deus de modo a preservar a liberdade dos homens.
Além do mais, se os atos livres são eles próprios incertos, Deus precisa então esperar
até que o evento tenha ocorrido antes de fazer os Seus planos. Na tentativa de
converter uma alma, seria esperado que Ele agisse da mesma maneira que diz-se
sobre Napoleão ao marchar para batalha - com três ou quatro planos diferentes em
mente, de modo que se o primeiro falhasse, ele poderia sua estratégia para o segundo,
e se aquele falhasse, ele moveria sua tática para o terceiro e assim por diante - um
ponto de vista que é no geral inconsistente com a verdadeira visão de Sua natureza.
Ele então ignoraria muito do futuro e estaria ganhando diariamente vastas
quantidades de conhecimento. Seu governo do mundo também, naquele caso, seria
muito incerto e mutável, dependente quanto fosse da conduta imprevista dos homens.
Negar a Deus as perfeições da pré ciência e da imutabilidade é representá-Lo como
um ser desapontado e infeliz, que é freqüentemente colocado em cheque e derrotado
por Suas criaturas. Mas quem pode realmente crer que na presença do homem o
Grande Jeová deva permanecer sentado, questionando "O que ele fará?" Ainda a
menos que o Arminianismo negue a pré ciência de Deus, ficará sem defesa ante a
lógica consistência do Calvinismo; pois a pré ciência implica em certeza e certeza
implica em predestinação.
Falando através do profeta Isaías, o Senhor disse: "...que eu sou Deus, e não há outro;
eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio,
e desde a antigüidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho
subsistirá, e farei toda a minha vontade;"[Isaías 46:10]. "...de longe entendes o meu
pensamento" escreveu o salmista [Salmo 139:2]. "E Deus, que conhece os
corações,..."[Atos 15:8] "E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas
as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar
contas."[Hebreus 4:13]
Muito da dificuldade relacionada com a doutrina da Predestinação é devido ao caráter
finito de nossa mente, que pode somente captar poucos detalhes de cada vez, e que
entende somente uma parte das relações entre os mesmos. Nós somos criaturas de
tempo, e freqüentemente falhamos ao levar em consideração o fato de que Deus não é
limitado como somos. O que se nos aparece como "passado......presente", e "futuro" é
tudo "presente" para a Sua mente. É um eterno "agora". Ele é o "...Alto e o Excelso,
que habita na eternidade..."[Isaías 57:15]. "...mil anos aos teus olhos são como o dia
de ontem que passou, e como uma vigília da noite."[Salmo 90:4]. Isto posto, os
eventos que vemos passar no tempo são somente os eventos que ele apontou e
determinou ante Si mesmo deste a eternidade. O tempo é uma propriedade da criação
finita e é objetivo para Deus. Ele está acima do tempo e vê o tempo, mas não está
condicionado pelo tempo. Ele também é independente de espaço, que é outra
propriedade da criação finita. Da mesma forma que Ele vê num relance a estrada que
liga duas Barretos a São Paulo, enquanto nós somente vemos uma pequena porção da
mesma à medida em que por ela trafegamos; também Ele pode ver todos os eventos
na história, passado presente e futuro num relance. Quando nos damos conta de que o
processo completo da história está perante Ele num eterno "agora", e que Ele é o
Criador de toda a existência finita, a doutrina da Predestinação passa no mínimo a ser
uma doutrina "mais fácil".
Nas eras eternas antes da criação não poderia haver nenhuma certeza quanto aos
eventos futuros a menos que Deus tenha formado um decreto neste sentido. Eventos
passam da categoria de coisas que podem ou não ser, para a de coisas que deverão
certamente ser, ou de possibilidade para realização, somente quando Deus emite um
decreto para tal efeito. Esta "certeza" ou "fixação" não poderia haver tido suas bases
em qualquer lugar fora da mente Divina, pois na eternidade nada mais existe. Diz o
Dr R. L. Dabney: "A única maneira pela qual um objeto pode por qualquer
possibilidade passar da visão de Deus do possível para o Sua pré ciência do real, é
pelo Seu próprio propósito de assim proceder, ou intencionalmente e
propositadamente permitir que assim se processe através de algum outro agente que
Ele expressa e propositadamente tenha permitido vir a existir. Isto é claro. Um efeito
concebido em poder somente vem a tornar-se real pela virtude de causa ou causas
eficientes. Se os efeitos são previstos na infinita pré ciência de Deus, os quais serão
produzidos por outros agentes, ainda, em determinando a existência desses outros
agentes, com infinita pré ciência, Deus virtualmente determinou à existência, ou ao
propósito, todos os efeitos dos quais eles seriam eficientes." 1
E para o mesmo efeito o teólogo Batista, Dr. A. B. Strong, que por vários anos foi
Presidente e Professor no Seminário Teológico Rochester, escreve: "Na eternidade
não poderia ter havido nenhuma causa para a futura existência do universo, fora do
próprio Deus, desde que nenhum ser existiu senão o próprio Deus. Na eternidade
Deus anteviu que a criação do mundo e a Instituição de suas leis resultariam na
história real, mesmo aos detalhes mais insignificantes. Mas Deus decretou criar e
instituir aquelas leis. E em assim fazendo Ele necessariamente decretou tudo o que
estava por vir. Em suma, Deus certamente anteviu os eventos futuros do universo,
porque Ele tinha decretado a criação dos mesmos; mas esta determinação em criar
envolveu também a determinação de todos os resultados reais da criação; ou em
outras palavras, Deus decretou também os resultados."
Pré ciência não deve ser confundida com predeterminação (predestinação). Pré
ciência pressupõe predeterminação mas não é em si própria predeterminação. As
ações de agentes livres não terão lugar porque eles são previstos, mas eles são
previstos porque são certos de ocorrerem. Assim Strong diz, "Logicamente, embora
não cronologicamente, decretos ocorrem antes da pré ciência. Quando eu digo, 'Eu sei
o que farei,' é evidente que já determinei, e que o meu conhecimento não precede
determinação, mas vem após ela e é baseado nela."
Desde que a pré ciência de Deus é completa, Ele conhece o destino de cada pessoa, e
não meramente antes que tal pessoa tenha tomado sua decisão na vida, mas desde a
eternidade. E desde que Ele conhece seus destinos antes que eles tenham sido criados,
e então prossiga criando-os, é fato que os salvos e os perdidos da mesma forma
completem o Seu plano para eles; pois se Ele não planejasse que alguns em particular
se perderiam, Ele poderia pelo menos refrear-se de criá-los.
Concluímos, então, que a doutrina Cristão da Pré Ciência de Deus prova também a
Sua Predestinação. Uma vez que tais eventos são pré sabidos, eles são coisas fixas e
estabelecidas; e nada pode haver fixado-os e estabelecido-os, exceto o bom prazer de
Deus, - a grande primeira causa, - livremente e imutavelmente pré ordenando o que
quer que venha a acontecer. Toda a dificuldade reside no fato de serem certos (pré
sabidos, pré ordenados) os atos dos agentes livres; mas ainda a certeza é requerida
para a pré ciência tanto quanto para a pré ordenação. Os argumentos Arminianos, se
válidos, desaprovariam ambas, a pré ciência e a pré ordenação. E desde que eles
provam demais, nós concluímos que eles não provam nada.
Capítulo 7 Apresentação dos Sistemas
Há na verdade somente três sistemas que alegam apresentar um caminho de salvação
através de Cristo. São eles:
(1) Universalismo, - que sustenta que Cristo morreu por todos os homens e que
eventualmente todos serão salvos, seja nesta vida ou através de provação futura. Esta
visão talvez apele mais fortemente aos nossos sentimentos, mas não é Bíblica, e
nunca teve nenhum suporte de qualquer igreja Cristã organizada.
(2) Arminianismo, - que sustenta que Cristo morreu igual e indiscriminadamente por
todo indivíduo da raça humana, por aqueles que perecem não menos que por aqueles
que são salvos: que a eleição não é um ato incondicional e eterno de Deus; que a
graça salvadora é oferecida a todo homem, graça esta que ele pode receber ou rejeitar,
conforme lhe aprouver; que o homem pode com sucesso resistir ao poder regenerador
do Espírito Santo caso ele escolha faze-lo; que a graça salvadora não é
necessariamente permanente, mas que aqueles que são os amados de Deus,
indistintamente por Cristo, e nascidos de novo do Espírito Santo, podem (deixe Deus
querer e lutar ao máximo, contra) jogá-la fora e perecer eternamente.
O Arminianismo na sua forma radical e mais fortemente desenvolvida é
essencialmente uma recrudescência do Pelagianismo, um tipo de "salvação própria".
Na verdade, origem do Arminianismo pode ser rastreada até o Pelagianismo, tão
definitivamente quanto o Calvinismo pode ser rastreado até o Augustinianismo. Pode
ainda ser, talvez, mais apropriadamente, chamado de "Pelagianismo", considerando-
se que os seus princípios vieram a existir aproximadamente mil e duzentos anos antes
que Armínio nascesse. O Pelagianismo nega a depravação humana, e a necessidade
da graça eficaz, e exalta a vontade humana acima da divina. "Suas doutrinas
satisfizeram o gosto natural do ser humano, odiando, como todos homens odeiam, a
doutrina da depravação universal. Dizer que o homem pudesse crescer santo e
imaculado, que ele poderia assegurar para si próprio a graça de Deus, e ater-se à
salvação por um ato de sua própria e livre vontade, foi ensinamento que atraiu, tanto
quanto ainda atrai, milhares." 1
O Arminianismo é no máximo uma tentativa vaga e indefinida de reconciliação,
flutuando no meio do caminho entre os destacados sistemas de Pelágio e de
Agostinho, eliminando as fronteiras de cada um, e pendendo ora na direção de um,
ora na direção do outro. Dr A. A. Hodge refere-se ao Arminianismo como um
"sistema de compromisso elástico e multi faces". Sua idéia principal é que a graça
divina e a vontade humana juntas completam o propósito da conversão e santificação,
e que o homem tem o direito soberano de aceitar ou rejeitar. Afirma que o homem é
fraco como resultado da queda, mas nega que toda a habilidade tenha sido perdida. O
homem portanto meramente precisa da graça divina para assistir (ajudar,
complementar) seus esforços pessoais. Ou, colocando de uma outra forma, ele é
doente, mas não morto; ele realmente não pode ajudar a si mesmo, mas ele pode
receber a ajuda de um médico, e pode tanto aceitar como rejeitar a ajuda, quando
oferecida. Ele assim tem poder para cooperar com a graça de Deus no que se refere à
salvação. Esta vista exalta a liberdade do homem à custa da soberania de Deus. Tem
alguma autoridade Bíblica aparente, mas não real; e é cabalmente contradita por
outras partes das Escrituras.
A história mostra plenamente que a tendência do Arminianismo é comprometer e
afastar gradualmente de uma base evangélica. Assim é que até hoje um corpo lógico e
sistemático de teologia Arminiano nunca foi desenvolvido. Há, na Igreja Metodista
por exemplo, um credo breve e informal, em aproximadamente vinte e cinco artigos;
mas o contraste entre aquele testemunho e a cuidadosamente desenvolvida Confissão
de Westminster é visto num relance.
(3) O terceiro sistema que apresenta um caminho de salvação através de Cristo é o
Calvinismo. O Calvinismo sustenta que como resultado da queda no pecado todos os
homens são culpados, corrompidos, completamente perdidos; que daquela massa
caída Deus soberanamente elege alguns para a salvação através de Cristo, enquanto
que a outros não; que Cristo foi enviado para redimir o Seu povo com uma
reconciliação puramente substitutiva; que o Espírito Santo eficazmente aplica esta
redenção aos eleitos; e que todos os eleitos são infalivelmente trazidos à salvação.
Esta vista somente é consistente com a Bíblia e com o que nós vemos no mundo ao
nosso redor.
O Calvinismo sustenta que a queda deixou o homem totalmente incapaz de fazer
qualquer coisa para merecer a salvação, que ele é totalmente dependente da graça
divina para a geração e o desenvolvimento de uma vida espiritual. A grande falta do
Arminianismo é o seu reconhecimento insuficiente da parte que Deus toma na
redenção. O Arminianismo gosta de admirar a força e a dignidade do homem; o
Calvinismo se perde na adoração da graça e da onipotência de Deus. O Calvinismo
posiciona o homem nas profundezas da humiliação e do desespero, de modo a elevá-
lo nas asas da graça até uma força sobrenatural. Um bajula o orgulho natural; o outro
é um evangelho para pecadores penitentes. Como aquele que exalta o homem à sua
própria vista e ri das suas gracinhas é mais benvindo ao coração natural do homem do
que aquele que o rebaixa, o Arminianismo provavelmente provará ser mais popular.
Ainda assim o Calvinismo está mais próximo aos fatos, em que pese quão dolorosos,
desagradáveis e proibitivos tais fatos possam parecer. "Não é sempre que a
medicação mais agradável venha também a ser a mais eficaz. A experiência do
apóstolo João é um exemplo vívido, de que o livrinho que teve sabor tão agradável
como o mel na boca, depois fosse amargo no estômago. Cristo crucificado foi
perplexidade para uma classe de pessoas e tolice para outra, e ainda assim Ele era, e
é, o poder de Deus e a sabedoria de deus para a salvação de todo aquele que crê." 2
Os homens constantemente desapontam-se por postular seus próprios sentimentos e
opiniões peculiares como axioma moral. Para alguns é evidentemente verdadeiro que
um Deus santo não possa permitir o pecado; assim eles inferem que não há Deus.
Para outros é evidente que um Deus misericordioso não pode permitir que uma parte
de Suas criaturas racionais sejam para sempre vítimas do pecado e da miséria, e
conseqüentemente neguem a doutrina do castigo eterno. Alguns assumem que
inocentes não podem justamente serem punidos pelos culpados, e são levados a negar
o sofrimento e morte vicários e substitutivos de Cristo. E para outros é um axioma
que as ações livres de livres agentes não possam ser certas e estar sob o controle de
Deus, então negam a pré ordenação, ou mesmo a pré ciência, de tais atos.
Não temos a liberdade, contudo, de desenvolver um sistema ao nosso capricho. "A
questão de qual desses sistemas é verdadeiro," diz o Dr Charles Hodge, um advogado
zeloso e inflexível advogado do Calvinismo, "não é para ser decidido por precisar-se
qual é o mais agradável aos nossos sentimentos ou o mais plausível ao nosso
entendimento, mas qual é consistente com as doutrinas da Bíblia e os fatos da
experiência." "É o dever de cada teólogo subordinar suas teorias à Bíblia, e ensinar
não o que lhe pareça ser verdadeiro ou razoável, mas simplesmente o que a Bíblia
ensina," E de novo, "Não haveria o fim da controvérsia, nem segurança de qualquer
verdade que fosse, se às fortes convicções pessoais de mentes individuais fosse
permitido determinar qual é, ou qual não é verdadeiro, o que pode, e o que não pode
ser permitido à Bíblia ensinar." 3
Como no caso das outras doutrinas que são comuns ao sistema Cristão, não há lugar
na Bíblia onde estas doutrinas Calvinistas dinstintivas sejam estabelecidas em uma
forma sistemática e completa. A Bíblia não é uma obra de Teologia Sistemática, mas
o único veio de onde a pedra para a construção de tal templo pode ser obtida. Ao
invés de prover-nos com um testemunho formal de um sistema teológico, ela nos dá
uma massa de matéria prima que precisa ser organizada e sistematizada e trabalhada
até as suas relações orgânicas. Em nenhum lugar, por exemplo, nós encontramos um
testemunho formal da doutrina da Trindade, ou das pessoas de Cristo, ou da
inspiração das Escrituras. Ela nos fornece uma análise (consideração, justificativa) da
origem do povo Hebreu e dos fundamentos do Cristianismo, e os fatos doutrinários
são dados com pouca referência às suas relações lógicas. Estes fatos precisam ser
classificados e arranjados num sistema lógico e assim transformados em teologia.
Este fato, de que o material na Bíblia não está ordenado num sistema teológico, está
de acordo com o proceder de Deus em outros aspectos. Ele não nos deu um sistema
totalmente desenvolvido de biologia, ou astronomia, ou política. Nós simplesmente
encontramos os fatos não organizados, não arranjados, não ordenados na natureza e
na experiência e temos então de desenvolvê-los num sistema o melhor que pudermos.
E desde que doutrinas não são destarte apresentadas em uma maneira formal e
sistemática, fica muito mais fácil o aparecimento de falsas interpretações.
Capítulo 8 As Escrituras são a Autoridade Final pela qual os Sistemas serão
julgados
As Escrituras são a Autoridade Final Pela Qual os Sistemas Serão Julgados
Em todos assuntos polêmicos entre Cristãos as Escrituras são aceitas como o mais
privilegiado foro para dirimir quaisquer controvérsias. Historicamente elas têm sido a
autoridade comum da Cristandade. Cremos que elas contêm um sistema completo e
harmonioso de doutrina; que todas as suas partes são consistentes entre si, e que é
nosso dever procurar tal consistência através de uma investigação cuidadosa do
significado de passagens em particular. 1
"A Palavra de Deus," diz Warburtons, com relação a estas doutrinas, "é o tribunal
maior e final ante o qual elas devem ser trazidas, e pelo qual elas devem ser julgadas.
E a verdade ou a falsidade de nossa crença é medida pela correspondente
concordância com, ou pela correspondente diversidade, da forma de doutrina que é
mostrada pela inerrante revelação que Deus nos tem dado através de sua Palavra
inspirada. É por este critério que o Calvinismo deve ser julgado. É por este critério
que o Arminianismo ou o Pelagianismo deve ser julgado. É por este critério, e
somente por este critério, que qualquer forma de crença, seja ela religiosa ou
científica, deve ser julgada; e se não falarem de acordo com esta Palavra, é porque
não há luz nelas . . . Nos cremos na inspiração total, verbal da Palavra de Deus. Nós
sustentamo-la como sendo a única autoridade em todos os assuntos e concordamos
que nenhuma doutrina pode ser verdadeira, ou essencial, se não encontrar lugar nesta
Palavra." 2
É óbvio que a verdade ou a falsidade desta profunda doutrina da Predestinação pode
ser decidida somente por revelação divina. Nenhuma pessoa, agindo meramente por
suas observações e julgamentos, pode saber quais são os princípios básicos do plano
que Deus está seguindo. Especulação filosófica e todo o arrazoado abstrato devem ser
mantidos suspensos até que tenhamos primeiro conhecido o testemunho da Bíblia, - e
quando o conhecermos, devemos humildemente submetermo-nos. Tomara tivéssemos
mais pessoas com aquele mesmo nobre caráter dos Bereanos, que procuravam nas
Escrituras diariamente, buscando conhecimento sobre todas as coisas.
Com relação a cada uma das doutrinas discutidas neste livre, apresentamos uma
grande massa de evidência Bíblica - evidência em ambos aspectos, direto e inferente -
evidência que não pode ser respondida ou explicada - evidência em muito superior
em peso, extensão e explicitude, a qualquer que possa ser arrolada em contrapartida.
A Bíblia desdobra um esquema de redenção que é Calvinista do princípio ao fim, e
todas as doutrinas são ensinadas com clareza tão inescapável que a questão é aceita
por todos aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus. Estas doutrinas são
estabelecidas da maneira mais impressionante, e o modo não erudito, a naturalidade e
simplicidade com que são transmitidas fazem-nas ainda mais impressionantes. Se
alguém nos perguntasse, "Existe alguma estrela nos céus?", nossa resposta seria, "Os
céus estão cheios de estrelas"[Salmo 8:3, 4]. Ou novamente, "Há peixes no mar?",
nossa resposta seria "O mar está cheio de peixes"[Salmo 104:25, 27]. Ou de novo,
"Há alguma árvore na floresta?", nós ainda uma vez mais replicaríamos, "A floresta
está cheia de árvores". E de maneira similar, se fôssemos inquiridos com a pergunta,
"A doutrina da Predestinação está na Bíblia?", nossa resposta deveria ser, "A Bíblia
está cheia dela, desde o Gênesis até o Apocalipse."
Que doutrinas tais como a da Trindade, a da Divindade de Cristo, a da personalidade
do Espírito Santo, a da pecaminosidade do homem, e a da realidade de castigos
futuros, são Bíblicas, não é negado nem por aqueles que recusam-se a admiti-las
como doutrinas verdadeiras. É comum para os racionalistas e os assim chamados
altos críticos admitir que os apóstolos creram e ensinaram as doutrinas evangélicas e
Calvinistas, e que com a aplicação direta das regras de exegese os seus testemunhos
não admitem qualquer outra interpretação; mas é claro, aquelas pessoas não se
consideram passíveis de submissão à autoridade de qualquer apóstolo. Por exemplo,
eles referem-se à crença dos apóstolos nestas doutrinas, como sendo "as noções
erradas de uma era bruta e incivilizada." Contudo, isto não diminui e valor dos seus
testemunhos, de que tais passagens Bíblicas, se criticamente interpretadas, não podem
ter nenhum outro significado. Mais ainda, preferiríamos dizer com os racionalistas
que as Escrituras ensinam estas doutrinas mas que as Escrituras não são autoridade
para nós, do que professar a aceitação dos ensinamentos deles enquanto
inteligentemente evadindo a força do seu argumento.
Mostraremos agora que não há grande dificuldade - nem a necessidade de pressão ou
de violência indevida - para consistentemente interpretar com a nossa doutrina as
passagens que são apresentadas pelos Arminianos, enquanto que é impossível, sem a
mais injustificável e não natural força e pressão, reconciliar a doutrinas deles com as
nossas passagens. Mais ainda, nossa doutrina não poderia ser derrotada meramente
por trazer-se à baila outras passagens que contradiriam aquelas passagens, pois tanto,
no máximo nos daria uma Bíblia contraditória consigo mesma.
À luz da exegese moderna, fica bem evidente que as objeções que são levantadas
contra a Teologia Reformada são mais emocionais ou filosóficas, do que exegéticas.
E tivessem os homens se contentado em interpretar a linguagem das Escrituras de
acordo com os princípios reconhecidos de interpretação, a fé dos Cristãos poderia ser
muito mais harmoniosa. Nossos oponentes, diz Cunningham, são capazes de "discutir
com alguma plausibilidade somente quando estão lidando com passagens isoladas, ou
classes particulares de passagens, mas mantendo fora do escopo, ou relegando a
posição de fundo, a massa geral de evidências Bíblicas que versam sobre o tema
como um todo. Quando temos uma visão conjunta de todo o corpo dos ensinamentos
Bíblicos, manifestamente entendidos a mostrar-nos a natureza, as causas e
conseqüências da morte de Cristo, tanto literal como figuradamente - vemo-los
combinados entre si - e razoavelmente compreendemos o que eles estão propostos a
ensinar-nos, não há terreno propício para dúvida quanto às conclusões gerais que
deveríamos sentirmo-nos compelidos a adotar." 3
Tanto quanto nos atermos ao princípio Reformado de que as Escrituras Sagradas têm
de ser aceitas como a única autoridade em matéria de doutrina Calvinista, o sistema
se manterá como o único que adequadamente versa sobre Deus, homem e redenção.
Capítulo 9 Um Aviso Contra a Especulação Indevida
Neste ponto, daremos algumas palavras de aviso contra a especulação indevida e a
curiosidade em lidar com esta nobre doutrina da Predestinação. Talvez não possamos
fazer melhor que parafrasear as palavras do próprio Calvino, que são encontradas na
primeira seção deste tratado sobre este tema: "A discussão da Predestinação - um
tema em si mesmo intrincado - é feita muito complicada, e portanto perigosa, pela
curiosidade humana, a qual nenhuma barreira pode impedir de embrenhar-se em
labirintos proibidos, e de elevar-se para além de sua esfera, como se determinada a
não deixar nenhum dos segredos Divinos inexplorados ou intocados . . .Primeiro,
então, deixemo-los recordar que quando inquirem sobre a Predestinação, eles
penetram nos mais recônditos recessos da sabedoria divina, onde o intruso confiante e
descuidado não obterá satisfação para a sua curiosidade . . . Pois nós sabemos que
quando tivermos excedido os limites da palavra, entraremos num curso errante e
tedioso, no qual erros, escorregões e quedas serão inevitáveis. Em primeiro lugar,
então, tenhamos em mente que desejar qualquer maior conhecimento da
Predestinação do que nos foi revelado pela Palavra de Deus, indica tão grande tolice
quanto querer caminhar através de caminhos impossíveis, ou enxergar na escuridão.
Nem tenhamos vergonha de sermos ignorantes de algumas coisas relativas a um
assunto no qual há uma espécie de ignorância aprendida." 1
Não estamos sob a obrigação de "explicar" estas verdades; estamos somente sob a
obrigação de dizer o que Deus tem revelado na Sua palavra, e vindicar estas verdades
o mais longe possível de concepção errada e de objeções. Na natureza do caso, tudo o
que podemos conhecer acerca de tais profundas verdades é o que ao Espírito aprouve
revelar com relação a elas, estando confiantes de que o que quer que Deus tenha
revelado é indubitavelmente verdadeiro e deve ser crido embora talvez possamos não
ser capazes de sondar suas profundidades com a linha da nossa razão. Em nossa
ignorância dos Seus propósitos inter-relacionados, não estamos aptos a ser Seus
conselheiros. "...quão profundos são os teus pensamentos!", disse o salmista [Salmo
92:5]. Tanto quanto possa o homem tentar atravessar o oceano a nado, também
compreender os juízos de Deus. O homem conhece muitíssimo pouco que o
justifique-o tentar explicar os mistérios da lei de Deus.
A importância do tema discutido deveria guiar-nos a proceder somente com a mais
profunda reverência e cautela. Enquanto é verdadeiro que mistérios devem ser
lidados com cuidado, e enquanto especulações inseguras e presunçosas com relação
às coisas divinas devem ser evitadas, ainda se pregássemos o Evangelho em toda a
sua pureza e plenitude, devemos ser cuidadosos para não privar dos crentes o que está
declarado nas Escrituras acerca da Predestinação. Que algumas dessas verdades serão
pervertidas e abusadas pelos não devotos deve ser esperado. Não importa o quão
corretamente seja ensinado na Bíblia, as mentes não iluminadas consideram absurdo,
por exemplo, que um Deus exista em três pessoas, ou que Deus devesse saber de
antemão o curso inteiro dos eventos e acontecimentos do mundo, uma vez que Seu
plano devesse incluir o destino de cada pessoa. E enquanto nós possamos conhecer
sobre Predestinação somente o tanto que a Deus pareça cabível revelar, é importante
que o saibamos; caso contrário tanto não teria sido a nós revelado. Para onde as
Escrituras nos guiarem, podemos seguir em segurança.
Capítulo 9 (cont.) Os Cinco Pontos do Calvinismo
O sistema Calvinista enfatiza principalmente cinco doutrinas distintas. Estas são
conhecidas tecnicamente como "Os Cinco Pontos do Calvinismo", e são os pilares
principais sobre os quais está baseada a super estrutura. Neste capítulo nós
examinaremos cada um destes pilares, oferecendo base Bíblica e os argumentos
racionais que as sustém. Consideraremos então as objeções que são comumente
apresentadas contra eles.
Como será mostrado, a Bíblia contém abundante material para o desenvolvimento de
cada uma daquelas doutrinas. Adicionalmente, não trata-se de doutrinas isoladas e
independentes, mas são tão inter-relacionadas que formam um sistema simples,
harmonioso e consistente; e a forma como se completam como componentes de um
todo bem ordenado tem conquistado a admiração de pensadores de todos os credos.
Em se provando que somente uma delas é verdadeira todas as consequentemente
também o serão, como partes lógicas e necessárias de um sistema. Se provar-se que
uma delas é falsa, todo o sistema terá de ser abandonado. Encaixam-se perfeitamente
uma na outra. São elos na grande cadeia de causas; de onde nem mesmo uma delas
poderia ser tirada sem comprometer e subverter todo o plano Evangélico de salvação
por intermédio de Cristo. Não se pode conceber que um arranjo desta magnitude
aconteça meramente por acaso, nem mesmo que seja possível; a menos que estas
doutrinas sejam verdadeiras.
Tenhamos em mente que neste livro não nos propomos a discutir em detalhes as
outras doutrinas das Escrituras que são aceitas pela Cristandade evangélica, mas sim
apresentar e defender aquelas que são peculiares ao sistema Calvinista. A menos que
isto esteja claro, muito da força e beleza reais do Calvinismo genérico estará perdido,
e o então chamado "Cinco Pontos do Calvinismo", --que historicamente e na
realidade são o oposto ao assim chamado "Cinco Pontos do Arminianismo",
--assumirá uma proeminência indevida no sistema. Deixemos então que o leitor
guarde-se de assumir uma identificação muito próxima dos Cinco Pontos com o
sistema Calvinista, porquanto os Cinco Pontos sejam elementos essenciais, o sistema
na realidade inclui muito mais. Como escrito na Introdução, a Confissão de
Westminster é um testemunho equilibrado da Fé Reformada ou Calvinismo, e dá a
devida projeção às outras doutrinas Cristãs.
Os Cinco Pontos podem ser mais facilmente lembrados se forem associados com a
palavra "T-U-L-I-P", representando cada uma das letras um dos Cinco Pontos {"T" =
Total Inability (Depravação Total ou Incapacidade Total); "U" = Unconditional
Election (Eleição Incondicional); "L" = Limited Atonement (Expiação Limitada); "I"
= Irresistible [Efficacious] Grace (Graça Irresistível [ou Eficaz]), e "P" =
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).
Capítulo 9 (cont.) Apêndice: "Calvinismo versus Arminianismo"
O material a seguir extraído de "Romanos: Uma Apresentação Interpretativa"
[páginas 144 - 147] escrito por David N. Steel e Curtis C. Thomas, contrasta os Cinco
Pontos do Arminianismo com os Cinco Pontos do Calvinismo, da maneira mais clara
e concisa que já vimos em qualquer lugar. Também pode ser encontrado no livreto,
"Os Cinco Pontos do Calvinismo" [páginas 16 - 19]. Ambos livros foram publicados
pela "The Presbyterian and Reformed Publishing Co., Philadelphia (1963. Os
senhores Steele e Thomas foram pastores por vários anos de uma Igreja Batista do
sul, em Little Rock, Arkansas.

OS "CINCO PONTOS" DO OS "CINCO PONTOS" DO


ARMINIANISMO CALVINISMO
1. Livre Arbítrio ou Capacidade 1. Incapacidade Total ou Total
Humana Depravação

Embora a natureza humana tenha Por causa da queda, o homem é


sido seriamente afetada pela queda, o incapaz por si mesmo de crer no
homem não foi deixado numa evangelho para a sua salvação. O
condição de abandono espiritual. pecador está morto, surdo e cego
Deus capacita graciosamente cada para as coisas de Deus; seu coração
pecador a arrepender-se e crer, mas é injusto e desesperadamente
Ele não interfere na liberdade corrupto. Sua vontade não é livre,
humana. Cada pecador possui livre está unida à sua natureza má,
arbítrio, e seu destino eterno depende portanto ele não será - na realidade
de como ele o utiliza. A liberdade do ele não pode - escolher o bem ao
homem consiste em sua capacidade invés do mal, no aspecto espiritual.
de escolher o bem ao invés do mal no Consequentemente, é necessário
que se refere a assuntos espirituais; mais que a assistência do Espírito
sua vontade não é escrava de sua Santo para trazer um pecador até
natureza pecadora. O pecador tem o Cristo - é necessário regeneração,
poder de ou cooperar com o Espírito pela qual o Espírito Santo faz com
de Deus e ser regenerado ou resistir à que o pecador viva e dá-lhe uma
graça de Deus e perecer. O pecador nova natureza. Fé não é algo com
perdido necessita da assistência do que o homem contribui para a
Espírito, mas ele não tem de ser salvação, mas em si mesma é parte
regenerado pelo Espírito antes que do dom de Deus para a salvação - é
possa crer, pois a fé é um ato do dádiva de Deus para o pecador, não
homem e precede no novo um presente do pecador para Deus.
nascimento. A Fé é presente que o
pecador dá para Deus; é a
contribuição do homem para a
salvação.

2. Eleição Condicional
2. Eleição Incondicional
A escolha de Deus de certos
indivíduos para a salvação antes da O fato de Deus escolher - antes da
fundação do mundo foi baseada na fundação do mundo - certos
sua visão antecipada de que eles indivíduos para a salvação, repousa
poderiam responder à sua chamada. somente sobre a Sua soberana
Ele selecionou somente aqueles que vontade. Sua escolha, de certos
Ele sabia que creriam livremente no pecadores em particular, não foi
Evangelho. Eleição portanto foi baseada em nenhuma resposta ou
determinada por ou condicionada ao obediência da parte deles, tal como
que o homem faria. A fé que Deus fé, arrependimento e etc. Ao
anteviu e na qual Ele baseou a Sua contrário, Deus concede a fé e o
escolha não foi dada ao pecador por arrependimento a cada indivíduo a
Deus (ela não foi criada pelo poder quem Ele escolhe. Tais atos são o
regenerador do Espírito Santo) mas resultado, não a causa da escolha de
resultou somente da vontade do Deus. A eleição portanto não foi
homem. Ela foi deixada totalmente à determinada ou condicionada por
escolha do homem, quanto a em nenhuma qualidade virtuosa ou ato
quem crer; e portanto quanto a quem antevisto do homem. Àqueles a
deveria ser eleito para a salvação. quem Deus soberanamente elegeu
Deus escolheu aqueles que Ele sabia, Ele traz através do poder do Espírito
através da sua própria vontade, que Santo à uma pronta aceitação de
escolheriam a Cristo. Assim, o Cristo. Assim a escolha de Deus
pecador escolhendo a Cristo; e não quanto ao pecador, é em última
Cristo escolhendo o pecador, é em instância a causa da salvação.
última instância causa da salvação.

3. Redenção Universal ou Expiação 3. Redenção Pessoal ou Expiação


Geral Limitada

A obra redentora de Cristo A obra redentora de Cristo foi


possibilitou a cada um ser salvo, mas intencionada para salvar os eleitos
na realidade não assegurou a somente; e realmente assegurou a
salvação de ninguém. Embora Cristo sua salvação. Sua morte foi um
morreu por todos, somente aqueles pagamento substitutivo das faltas do
que crêem nEle estão salvos. A Sua pecado no lugar de certos pecadores
morte possibilitou a Deus perdoar os em particular. Adicionalmente a
pecadores na condição de que eles colocar de lado os pecados do Seu
cressem, mas na realidade não povo, a redenção de Cristo
colocou à parte o pecado de ninguém. assegurou tudo o que fosse
A Redenção de Cristo se torna efetiva necessário par a sua salvação,
incluindo a fé, que os une a Ele. O
dom da fé é infalívelmente
somente se o homem escolher aceitá- dispensado pelo Espírito Santo a
la. todos por quem Cristo morreu,
portando assegurando a sua
salvação.

4. A Resistência ao Espírito Santo é 4. A Graça Eficaz; ou a Graça


Possível Irresistível

O Espírito Santo chama Adicionalmente à expansiva e geral


"internamente" a todos aquels que chamada à salvação, que é feita a
são chamados "externamente" pelo todos que ouvem a palavra do
convite do Evangelho; Ele faz tudo o Evangelho, o Espírito Santo estende
quanto Ele pode para trazer cada aos eleitos um convite especial que
pecador à salvação. Mas tanto quanto inevitavelmente os traz à salvação.
o homem é livre, ele pode resistir O convite eterno (que é feito a todos
com sucesso à chamada do Espírito sem distinção) pode ser, e
Santo. O Espírito Santo não pode invariavelmente o é, rejeitado;
regererar o pecador até que este creia; enquanto sempre resulte em
a fé (que é a contribuição do homem) conversão. Por intermédio deste
precede e faz possível o novo convite especial, o Espírito Santo
nascimento. Assim, o livre arbítrio do irrestivelmente traz os pecadores até
homem limita o Espírito Santo na Cristo. Ele não é limitado na Sua
aplicação, na efetivação da obra obra de aplicar a salvação à vontade
salvadora de Cristo. O Espírito Santo do homem, nem é ele dependente da
somente pode trazer até Cristo cooperação do homem para o Seu
aqueles que permitam que Ele possa sucesso. O Espírito graciosamente
vir até eles. Até que o pecador faz com que o pecador eleito
responda, o Espírito não pode dar a coopere, arrependa-se e venha
vida. A graça de Deus, portanto, não pronta e livremente a Cristo. Graça
é invencível. Ela pode, e muitas de Deus. Portanto, é invencível,
encontra, resistência por parte do nunca falha na salvação daqueles
homem; e é relegada por ele. que foram eleitos.

5. Caindo da Graça 5. Perseverança dos Santos

Aqueles que crêem e estão Todos aqueles que são escolhidos


verdadeiramente salvos não podem por Deus, redimidos por Cristo, e a
perder a sua salvação por haverem quem a fé foi dada pelo Espírito
falhado em manter a sua fé, etc. Santo estão salvos eternamente. Eles
Todos Arminianos não têm são mantidos na fé pelo poder de
concordado neste ponto, alguns têm Deus Onipotente e assim
sustentado que os crentes estão perseverarão até o fim.
eternamente seguros em Cristo - que
uma vez que um pecador é
regenerado, ele não pode nunca
perder-se.

De Acordo com o Arminianismo: De Acordo com o Calvinismo:

A Salvação é conseguida através dos A Salvação acontece através do


esforços conjuntos de Deus (que poder supremo do Deus Triúno. O
toma a iniciativa) e do homem (que Pai escolhe um povo, o Filho
deve corresponder) - a resposta do morreu por eles, o Espírito Santo faz
homem sendo o fator determinante. com que a morte de Cristo seja
Deus providenciou a salvação para efetiva em trazer os eleitos à fé e ao
todos, mas as suas provisões vêm a arrependimento, destarte fazendo
ser efetivas somente para aqueles com que eles prontamente
que, através de seu livre arbítrio, obedeçam ao Evangelho. Todo o
"escolher" e "decidir" a cooperar com processo (eleição, redenção e
Ele e aceitar a Sua Graça. Neste regeneração) é a obra de Deus e
ponto crucial, a vontade do homem ocorre somente através da sua graça.
tem uma parte decisiva; assim o Assim Deus, não o homem,
homem, não Deus, determina quem determina quem será o recipiente do
será o recipiente do dom da salvação. dom da salvação.

REAFIRMADO
REJEITADA
pelo Sínodo de Dort
pelo Sínodo de Dort
Este sistema teológico foi
Este foi o sistema constante da
reafirmado pelo Sínodo de Dort em
"Remonstância" (embora os "cinco
1619 como a doutrina da salvação
pontos" não estivessem originalmente
contida nas Sagradas Escrituras. O
assim ordenados). Foi submetido
sistema foi à época formulado em
pelos Arminianos à Igreja da Holanda
"cinco pontos" (em resposta aos
para adoção em 1610, mas foi
"cinco pontos" submetidos pelos
rejeitado pelo Sínodo de Dort em
Arminianos) e desde então tem sido
1619, nas bases de que não era
conhecido como "os cinco pontos do
Bíblico.
Calvinismo".

Sessão II
Capítulo 10
Incapacidade Total
1. Apresentação da Doutrina. 2. A Extensão e os Efeitos do Pecado Original. 3. Os
Defeitos das Virtudes Comuns do Homem. 4. A Queda do Homem. 5. O Princípio
Representativo. 6. A Bondade e a Severidade de Deus. 7. Provas nas Escrituras.
1. Apresentação da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, a doutrina da Depravação Total (Incapacidade
Total) é apresentada como se segue: "O homem, caindo em um estado de pecado,
perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que
acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse
bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo
preparar-se para isso." {Referências: Rm. 5:6 e 8:7-8; Jo 15:5; Rm. 3:9-10, 12, 23;
Ef.2:1, 5; Col. 2:13; Jo 6:44, 65; I Co. 2:14; Tt 3:3-5.} 1
Paulo, Agostinho, e Calvino têm seus pontos de partida no fato de que toda a
humanidade pecou em Adão, e que todos os homens estão "sem desculpas", conforme
Romanos 2:1 [Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas,
porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas,
praticas o mesmo.] Vez após outra Paulo nos diz que estamos mortos em pecados e
transgressões, alienados de Deus, e sem defesa. Ao escrever aos Cristãos de Éfeso,
ele lembrou-os que antes que haverem recebido o Evangelho, eles estavam
"...naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos
pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo."[Efésios 2:12]. Ali
notamos a "ênfase de cinco partes", à medida em que ele acumula frase sobre frase,
para reforçar esta verdade.

2. A Extensão e Os Efeitos do Pecado Original


A doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), que declara que os homens
estão mortos no pecado, não quer dizer que todos os homens são igualmente maus,
nem que algum homem seja tão mau quanto ele pudesse sê-lo, ou ainda que algum
homem seja totalmente destituído de virtude, nem que a natureza humana seja má em
si mesma, ou que o espírito do homem seja inativo, e muito menos ainda significa
que o corpo esteja morto. O que significa na verdade é que desde a queda o homem
permanece sob a maldição do pecado, que ele agiu conforme princípios errados, e que
ele é completamente incapaz de amar a Deus ou de fazer o que seja para merecer
salvação. Sua corrupção é extensa, mas não necessariamente intensa.
É neste sentido que os homens, desde a queda, são "...totalmente indispostos,
adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal,..."[CFW, cap. VI, par.
iv]. O homem possui uma tendência fixa do mal contra Deus, e instintivamente e
voluntariamente volta-se para o mal. Ele é um estrangeiro por nascimento, e um
pecador por escolha. A incapacidade (depravação) sob a qual ele se move não é
incapacidade de exercer poder de escolha, mas uma incapacidade de estar pronto a
fazer escolhas santas. E é esta fase que levou Lutero a declarar que "Livre arbítrio é
um termo vazio, cuja realidade está perdida. E uma liberdade perdida, de acordo com
a minha gramática, não é liberdade." 2 Em matérias pertinentes à sua salvação, o
homem ainda não regenerado, obstinado, não tem então liberdade para escolher entre
o bem e o mal, mas somente escolher entre mal maior ou menor, o que não é
propriamente livre arbítrio. O fato de o homem caído ainda ser capaz de certos atos
moralmente bons em si próprios não prova que ele possa agir para o mérito da
salvação, pois seus motivos podem estar completamente errados.
O homem é um agente livre mas ele não pode começar (originar, criar) o amor de
Deus em seu coração. Sua vontade é livre no sentido de que não seja controlada por
nenhuma força fora de si próprio. Como o pássaro com uma asa quebrada é "livre"
para voar mas não é capaz de faze-lo, assim o homem natural é livre para vir a amar a
Deus, mas é incapaz. Como ele pode arrepender-se do seu pecado quando ele O ama?
Como ele pode vir a Deus quando ele O odeia? Esta é a incapacidade da vontade sob
a qual o homem vive. Jesus disse, "O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e
os homens amaram mais a as trevas que a luz; porque as suas obras eram más."[João
3:19]; e de novo, "Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida."[João 5:40]. A
ruína do homem está na sua própria e perversa vontade. Ele não pode vir, porque ele
não quer. Auxílio bastante é providenciado, se ele somente quisesse aceitá-lo. Paulo
nos diz, "Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à
lei de Deus, nem mesmo pode estar."[Romanos 8:7].
Assumir que porque o homem tem a capacidade para amar ele então tem também
capacidade para amar a Deus, é tão sábio quanto assumir que a água, já que tem a
capacidade de fluir, tem portanto a capacidade de fluir morro acima; ou raciocinar
que porque o homem tem o poder de não atirar-se precipício abaixo, ele portanto tem
igual poder para transportar-se desde o fundo do precipício até o topo.
O homem caído não vê nada desejável no "Aquele que é igualmente amável, o mais
junto em dez mil." Ele pode admirar a Jesus como um homem, mas ele não quer ter
nada a ver como Ele como Deus, e ele resiste contra a santa influência do Espírito
Santo, com todas as suas forças. Pecado e não retidão, tem sido seu elemento natural,
de maneira que ele não tem o desejo da salvação.
A natureza caída do homem cria uma mais obtusa cegueira, estupidez, e oposição
relativa às coisas de Deus. Sua vontade está sob o controle de uma compreensão
obscura, a qual troca o doce pelo amargo, e o amargo pelo doce, o bem pelo mal e o
mal pelo bem. Tanto quanto refere-se à suas relações com Deus, ele quer somente o
que é mal, embora sua vontade seja livre. Espontaneidade e escravidão realmente
coexistem.
Em outras palavras, o homem caído é tão moralmente cego que uniformemente
prefere e escolhe o mal ao invés do bem, como o fazem os anjos caídos e os
demônios. Quando o Cristão é completamente santificado ele alcança um estado no
qual ele uniformemente prefere e escolhe o bem, como fazem os santos anjos. Ambos
estados são consistentes com liberdade e responsabilidade de agentes morais. Ainda
quando o homem caído age assim uniformemente ele nunca é compelido a pecar, mas
ele o faz livremente e regozija-se em faze-lo. Suas disposições e desejos são tão
inclinadas, e ele age sabendo e desejando, desde a espontânea batida do seu coração.
Esta tendência ou apetite natural pelo mal é característica da natureza caída e
corrompida do homem, de modo que Jó diz, ele "...bebe a iniqüidade como
água!"[15;16]
Nós lemos que "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente."[I Co 2:14]. Nós estamos perdidos quanto a entender como alguém
pode entender, tem uma vista plena desta passagem da Bíblia e ainda assim enfrentar
a doutrina da capacidade humana. O homem em seu estado natural não pode ao
menos ver o reino de Deus, muito menos adentrar nele. Uma pessoa inculta pode
olhar para uma linda obra de arte como um mero objeto, sem contudo poder apreciar
a sua excelência. Ele pode ver figuras numa equação matemática complexa, mas estas
figuras terão nenhum significado para ele. Cavalos e bois podem são capazes de
enxergar o mesmo maravilhoso por do sol, ou qualquer outro fenômeno da natureza
que o homem vê, mas no entanto são cegos quanto à beleza artística dos mesmos.
Assim é quando o Evangelho da cruz é apresentado para aquela pessoa ainda não
resgatada. Ela pode ter um conhecimento intelectual dos fatos e das doutrinas da
Bíblia, mas não terá todo o discernimento espiritual da excelência daqueles fatos e
doutrinas, e não encontrará nenhum contentamento ou alegria neles. O mesmo Cristo
é, para alguns, sem a forma ou a beleza e santidade para que O desejassem; para
outros, Ele é o Príncipe da vida e o Salvador do mundo, Deus manifesto na carne, a
quem é impossível não adorar, amar e obedecer.
Esta depravação total (incapacidade total), contudo, advém não meramente de uma
natureza moral pervertida, mas também da ignorância. Paulo escreveu que os gentios
"...que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios
pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da
ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,"[Efésios 4:17,18]. E antes
disso, havia escrito, "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem,
mas para nós, que somos salvos, poder de Deus."[I Coríntios 1:18]. Quando ele
escreveu das coisas que "...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam."
ele fez referência, não às glórias do estado celestial como comumente suposto, mas às
realidades espirituais nesta vida, as quais não podem ser vistas por uma mente ainda
não resgatada, como é plenamente apresentado no verso seguinte: "Mas Deus no-lo
revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as
profundezas de Deus." [I Coríntios 2:9,10]. Numa ocasião Jesus disse, "...Ninguém
conhece o filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem
o filho o quiser revelar."[Mateus 11:27]. Neste versículo nós somos plenamente
advertidos que o homem em sua natureza não resgatada, não iluminada, não conhece
a Deus em nenhum sentido que valha o nome, e que o Filho é soberano para escolher
quem deverá adentrar a este salvador conhecimento de Deus.
O homem caído tem falta do poder espiritual do discernimento. Sua razão ou
compreensão é cega, e o gosto e sentidos são pervertidos. E desde que este estado de
memória é inato, como uma condição da natureza do homem, está além do poder da
vontade de muda-lo. Antes, controla ambos, as afeições e as vontades. O efeito da
regeneração é claramente ensinado na divina comissão que Paulo recebeu quando de
sua conversão, momento em que a ele foi dito que ele estaria sendo enviado aos
gentios "para lhe abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade
de Satanás para Deus,..."[Atos 26:18]
Jesus ensinou a mesma verdade sob um figuração diferente, quando ele disse aos
Fariseus, "Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? È porque sois
incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis
satisfazer-lhe os desejos. ..."[João 8:43,44]. Eles não podiam compreender, nem
mesmo ouvir as Suas palavras em qualquer maneira inteligente. Para eles, as Suas
palavras eram somente tolices, loucuras; e eles O acusaram de estar possuído pelo
demônio (vv 48, 52). Somente os Seus discípulos podiam saber a verdade (vv 31,32);
os fariseus eram crianças do Diabo (vv 42,44) e conservos do pecado (v 34), embora
pensassem ser livres (v 33).
Em outra ocasião, Jesus ensinou que uma árvore boa não poderia dar frutos ruins,
nem tampouco uma árvore ruim poderia dar frutos bons. E que nesta similaridade
árvores representam homens bons e maus, o que significa senão que uma classe de
homens é governada por um conjunto de princípios básico, enquanto outra classe é
governada por outro conjunto? Os frutos desses dois tipos de árvores são os atos,
palavras, pensamentos dos quais, se bons, procedem de uma boa natureza, enquanto
que se ruins procedem de uma natureza má. É impossível, então, proceder da mesma
raiz frutos de diferentes tipos. E é assim que negamos no homem a existência de um
poder que possa agir de qualquer uma das formas, no terreno lógico que ambos,
virtude e vício não podem proceder da mesma condição moral do agente. E
afirmamos que as ações humanas que referem-se a Deus procedem tanto de uma
condição moral que necessariamente produz boas ações como de uma condição moral
a qual produz necessariamente ações más.
Na Epístola de Paulo aos Efésios, ele assim declara. Antes da manifestação do
Espírito de Deus, cada alma jaz morda em transgressões e pecados. Agora, será com
certeza admitido que estar morto, e estar morto no pecado, é evidência clara e
positiva de que não há nem atitude nem poder suficientes para a realização de
nenhuma ação espiritual. Se um homem estivesse morto, no sentido físico e natural,
estaria imediatamente claro que não haveria qualquer possibilidade de tal homem ser
capaz de performar quaisquer ações físicas. Um cadáver não pode agir de qualquer
forma que seja, e se alguém dissesse o contrário, seria tomado como estando fora de
si. Se um homem está morto espiritualmente, portanto, é certo e igualmente evidente
que ele não é capaz de performar quaisquer ações espirituais, e destarte a doutrina da
incapacidade moral do homem baseia-se em forte evidência Bíblica." 3
"No princípio de que nenhuma coisa pura não pode proceder do que é impuro [Jó
14:4], todos que são nascidos de mulher são declarados serem 'abomináveis e
corruptos', aos quais somente a natureza iníqua é atrativa [Jó 15:14-16]. De igual
forma, para tornarem-se pecadores, os homens não esperam até a idade da razão.
Antes, eles são apóstatas desde o útero, e logo que nascem desviam-se, proferindo
mentiras [Salmo 58:3]; são até mesmo moldados em iniqüidade, e concebidos em
pecado [Salmo 51:5]. A propensão de seus corações é para o mal desde a sua infância
[Gênesis 8:21], e é do coração que todas as fontes da vida procedem [Provérbios
4:23, 20:11]. Atos de pecado são portanto a expressão do coração natural, o qual é
enganoso mais que todas as coisas e excedentemente corrupto [Jeremias 17:9]." 4
Ezequiel apresenta a mesma verdade em linguagem gráfica, e nos dá o quadro do
bebê indefeso que estava ainda banhado em seu próprio sangue e deixado para
morrer, mas que o Senhor graciosamente encontrou e cuidou dele [capítulo16].
Esta doutrina do pecado original supõe que os homens caídos têm o mesmo tipo e o
mesmo grau de liberdade para pecar sob a influência de uma natureza corrupta, como
a têm o Diabo e os demônios; ou que os santos anjos têm para agir corretamente sob a
influência de uma natureza santa. Quer dizer, homens e anjos agem conforme a suas
naturezas. Como os santos e os anjos são confirmados em santidade, -- ou seja,
possuídos por uma natureza que é completamente inclinada à retidão e aversa ao
pecado, -- também a natureza do homem caído e de demônios é tal que eles não são
capazes de um único ato com motivos justos para de Deus. Daí a necessidade de que
Deus soberanamente mude o caráter da pessoa, em regeneração.
A cerimônia de circuncisão do bebê recém nascido de acordo com o Velho
Testamento, e a da purificação da mãe, foram concebidas para ensinar que o homem
vem ao mundo em pecado desde que a natureza do homem é corrupta na própria
origem. Paulo escreveu esta verdade em uma outra e, se possível, ainda mais forte em
II Coríntios 4:3,4: "[3] Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, é naqueles
que se perdem que está encoberto, [4] nos quais o deus deste século {pelo qual ele
refere-se ao Diabo} cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus."
Resumindo, então, os homens caídos, sem a intervenção do Espírito de Deus, estão
sob o governo de satã. São por ele levados cativos, à sua vontade [II Timóteo 2:26].
Então, enquanto este "valente, totalmente armado" não for molestado pelo que é
"mais forte que ele" ele mantém seu reino em paz e seus cativos prontamente o
obedecem. Mas quando o "mais forte que ele" o derrotou, arrancou a sua armadura, e
libertou uma parte dos seus cativos [Lucas 11:21, 22]. Agora Deus exerce o direito de
libertar aqueles que Ele deseja; e todos Cristãos nascidos de novo são pecadores
resgatados daquele reino.
A Bíblia declara que o homem caído é cativo, um escravo do pecado, e
completamente incapaz de livrar-se da servidão e da corrupção. Ele é incapaz de
entender, e muito menos de fazer, as coisas de Deus. Há o que pode ser chamado de
"a liberdade da escravidão", --um estado no qual o cativo é livre somente para fazer a
vontade de seu mestre, neste caso o pecado. Foi a isso que Jesus se referiu quando
disse, "...todo aquele que comete pecado é escravo do pecado."[João 8:34]
E sendo tal a profundeza da corrupção do homem, é completamente além de suas
próprias forças livrar-se dela. Sua única esperança de uma mudança de vida está
portanto em uma mudança de coração, mudança esta que lhe é oferecida pelo poder
soberano e re-criador do Espírito Santo, que opera quando e onde e como Lhe apraz.
Da mesma forma que alguém pode tentar bombear água para fora de um barco que
afunda, sem contudo reparar o furo por onde entra a água, assim também regenerar
um pecador sem a mudança interior. Ou então, a um Etíope seria possível mudar sua
pele, ou o leopardo suas pintas, se a quem está acostumado a fazer o mal corrigir os
seus próprios caminhos. Esta transferência da morte espiritual para a vida espiritual
chamamos "regeneração". A ela a Bíblia se refere com vários termos: "regeneração",
"vivificação", "chamado das trevas para a luz", "renovação", "trocar um coração de
pedra por um coração de carne", etc., operações estas que são exclusivamente obras
do Espírito Santo. Como resultado de tal mudança, o homem passa a enxergar a
verdade e alegremente a aceita. Seus instintos e impulsos íntimos são transferidos
para o lado da lei, obediência à qual passa a ser a expressão espontânea de sua
natureza. É dito que a Regeneração é operada por aquele mesmo poder sobrenatural
que Deus operou em Cristo quanto O ressuscitou de entre os mortos [Efésios 1:18-
20]. O homem não possui o poder para sua própria regeneração, e até que ocorra
aquela mudança interior, ele não pode ser convencido da verdade do Evangelho por
qualquer tipo de testemunho, de exemplo externo. "Se não ouvirem a Moisés e os
profetas, não serão persuadidos se alguém levantar de entre os mortos."

3. OS DEFEITOS NAS VIRTUDES COMUNS DO HOMEM


O homem não regenerado pode, através de graça comum, amar a sua família, bem
como ser um bom cidadão. Ele pode doar um milhão de dólares para a construção de
um hospital, mas não é capaz de dar nem mesmo um copo d'água a um discípulo no
nome de Jesus. Se alcoólatra, ele pode abster-se da bebida por propósitos altruístas,
mas não pode faze-lo como resultado de amor a Deus. Todas as suas virtudes comuns
ou boas obras têm um defeito fatal no qual seus motivos, que o motivam a faze-las,
não são para glorificar a Deus, -- um defeito tão vital que atira às sombras qualquer
elemento de bondade do homem. Não importa quão boas as obras possam ser em si
mesmas, pois desde que o que as faz não esteja em harmonia com Deus, nenhuma
delas são espiritualmente aceitáveis. Além do mais, as boas obras do não regenerado
não tem fundações estáveis, pois sua natureza ainda não foi mudada: e tão natural e
certo quanto a porca lavada volta a revolver-se na lama, ele cedo ou tarde retornará
aos seus maus caminhos.
Na esfera moral, é regra que a moralidade do homem deve preceder a moralidade da
ação. Alguém pode falar em línguas de homens e de anjos; ainda assim se ele não
tiver o princípio interior de amor para com Deus, ele será como um címbalo, ou como
o tocar de um sino. Ele poderá doar todos os seus bens para os pobres, e poderá dar o
seu próprio corpo para ser queimado; porém se a ele faltar aquele princípio interior,
não se lhe resultará em nada. Como seres humanos nós sabemos que uma ação
rendida a nós (qualquer que sejam os motivos altruístas) por alguém que no coração
seja nosso inimigo, não merece nosso amor aprovação. A explicação para o
testemunho Bíblico de que "Sem fé é impossível agradar a Deus" é esta, que a fé é a
fundação, o alicerce de todas as demais virtudes, e nada é aceitável para Deus se não
fluir dos sentimentos certos.
Um ato moral deve ser julgado pelo padrão de amor a Deus, amor que é, como se
fosse, a alma de todas as demais virtudes, e o qual é derramado sobre nós somente
por intermédio da graça. Agostinho não negou a existência de outras virtudes, tais
como moderação, honestidade, generosidade, que constituem um certo mérito entre
os homens; mas ele traçou uma linha de separação entre estas e as graças Cristãs
específicas (fé, amor e gratidão a Deus, etc.), as quais somente são boas no sentido
estrito da palavra, e as quais somente têm valor perante Deus. Esta distinção é
plenamente ilustrada num exemplo dado por W. D. Smith. Diz ele: "Num bando de
piratas podemos encontrar muitas coisas que em si mesmas são boas. Embora eles
estejam em rebelião feroz contra as leis do governo, eles têm suas próprias leis e
regras, às quais obedecem estritamente. Encontramos entre eles coragem e fidelidade,
com muitas outras coisas que os recomendará como piratas. Eles também são capazes
de fazer muitas coisas, que as leis do governo exigem, mas elas não são feitas porque
o governo as exigiu, mas em obediência às suas próprias leis. Por exemplo, o governo
requer honestidade e eles podem ser estritamente honestos, uns para com os outros,
em suas transações e na divisão de qualquer espólio. Mesmo assim, com relação ao
governo e ao princípio geral, sua vida toda é exemplo da mais feroz desonestidade.
Agora, é certo, que enquanto eles continuam em sua rebelião, não podem fazer nada
que os recomende ao governo como cidadãos. Seu primeiro passo deve ser desistir da
rebelião, reconhecer sua obediência ao governo e procurar por misericórdia. Então
todos os homens, no seu estado natural, são rebeldes contra Deus, e mesmo que eles
possam fazer muitas coisas que a lei de Deus exige, e as quais os recomendará como
homens, ainda nada é feito, com referência a Deus e à Sua lei. Ao contrário, as regras
da sociedade, respeito pela opinião pública, interesse próprio, seu próprio caráter à
vista do mundo, ou algum outro motivo sórdido ou mundano, reinam supremamente;
e Deus, a quem eles devem seus corações e suas vidas, é esquecido; ou, se porventura
pensam nEle, os Seus mandamentos são perfidamente rejeitados, Seus conselhos
desprezados, e o coração, obstinadamente rebelde, rejeita obedece-LO. Mas é certo
que enquanto o coração continua neste estado o homem é um rebelde contra Deus, e
pode fazer nada que o recomende para o Seu favor. O primeiro passo é desistir da
rebelião, arrepender-se dos seus pecados, voltar-se para Deus e suplicar por perdão e
reconciliação através do Salvador. Por si mesmo o homem não está preparado para
fazer tudo isto, até que ele seja mudado. Ele ama os seus pecados, e continuará a
amá-los, até que o seu coração seja mudado."
As boas ações dos homens não regenerados, continua Smith, "não são por si mesmas
positivamente pecaminosas, mas pecaminosas por defeito. Falta-lhes o princípio, que
somente pode faze-las corretas à vista de Deus. No caso dos piratas é fácil ver que
todas as suas ações são faltas contra o governo. Enquanto continuarem piratas, suas
navegações, reparos e suprimentos do navio e mesmo seu comer e beber, são todos
crimes aos olhos do governo, como são também meros expedientes que os capacita a
seguir adiante em sua carreira de pirataria, e são partes de sua vida de rebelião. Assim
também com pecadores. Enquanto seus corações estiverem errados, denigrem tudo à
vista de Deus, mesmo suas mais ordinárias ocupações; pelo que é certo, a inequívoca
linguagem de Deus diz, '... tal lâmpada dos ímpios é pecado.'[Provérbos 21:4]". 5
É esta a incapacidade que as Escrituras ensinam quando declaram que "e os que estão
na carne não podem agradar a Deus"[Romanos 8:8]; "...e tudo o que não provém da
fé é pecado."[Romanos 14:23] e "Ora, sem fé é impossível agradar a
Deus..."[Hebreus 11:6]. Portanto mesmo as virtudes do homem não regenerado nada
são senão como flores murchas. Foi por causa disso que Jesus disse aos Seus
discípulos, "Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e
fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus."[Mateus 5:20]. E porque as
virtudes do homem não regenerado são de sua própria natureza, elas são
consequentemente temporárias. Aquele que as possui é como a semente que cai em
solo pedregoso, que talvez germine prometendo boa safra, mas logo seca ao sol
porque não tem raiz.
Acrescente-se também o que foi dito que a salvação é SOMENTE E
ABSOLUTAMENTE FRUTO DA GRAÇA, -- que Deus é livre, em consistência com
as infinitas perfeições da Sua natureza, para salvar nenhum, uns poucos ou todos,
conforme o soberano bel prazer da sua vontade. Também acrescente-se que a
salvação não é baseada em nenhum mérito da criatura, e que depende de Deus, e não
de homens, que terão e que não terão a vida eterna. Deus age como soberano quando
salva alguns e quando deixa que outros recebam a justa recompensa pelos seus
pecados. Pecadores são comparados a homens mortos, ou mesmo a ossos secos em
sua total falta de defesa. Nesta maneira são todos iguais. A escolha de alguns para a
vida eterna é algo tão soberano quanto foi o fato de Cristo haver passado por um
cemitério e levantado alguns e deixando outros; a razão para restaurar um à vida
enquanto outro é deixado na tumba pode ser encontrada somente em Sua santa
vontade, e não nos mortos. Assim é que o mandamento de que somos pré ordenados
de acordo com o bel prazer da Sua vontade, e não conforme as nossas próprias boas
ações; e de forma que possamos ser santos, não porque somos santos [Efésios 1:41]
"como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor;". "Desde que todos os homens igualmente
mereceram somente a ira de Deus e renegaram a dádiva de o Seu único Filho ter
morrido no lugar de malfeitores, como a única maneira possível de expiar as suas
culpas, a mais estupenda exibição de favor imerecido e amor pessoal que o universo
jamais testemunhou." 6

4. A QUEDA DO HOMEM
A queda da raça humana num estado de pecado e miséria é a base e a fundação do
sistema da redenção que é mostrado nas Escrituras, assim como também é a base do
sistema que ensinamos. Somente os Calvinistas parecem levar realmente a sério a
doutrina da queda. Ainda assim, a Bíblia desde o início até o fim declara que o
homem está arruinado - totalmente arruinado - que ele está num estado de culpa e
depravação do qual ele é totalmente incapaz de livrar-se, e que Deus pode em justiça
ter deixado-o a perecer. No Velho Testamento a narrativa da queda é encontrada no
terceiro capítulo de Gênesis; enquanto que no Novo Testamento referências diretas
são feitas a ela em Romanos 5:12-21; I Coríntios 15:22; II Coríntios 11:3; I
Timóteo2:13,14 e etc. Embora o Novo Testamento enfatize literalmente não o fato
histórico da queda do homem, mas o fato ético que o homem está caído. Os escritores
do Novo Testamento interpretaram a queda literalmente e nela basearam a sua
teologia. Para Paulo Adão foi tão real como Cristo, a queda tão real quanto a
expiação. Pode ser dito que os apóstolos estavam errados, mas não pode negar-se que
esta era a sua opinião.
O Dr A.A. Hodge nos deu uma ótima apresentação da doutrina da queda, o qual
teremos o privilégio de parafrasear: --"Do mesmo modo como uma provação justa
não poderia, na natureza do caso, ser dada a cada novo membro em pessoa, quando
vem ao mundo como um bebê ainda não desenvolvido, Deus, como guardião da raça
(humana) e para o melhor do seu interesse, deu a todos os seus membros um
julgamento na pessoa de Adão, sob as circunstâncias mais favoráveis - fazendo o para
aquela mesma finalidade o representante e substituto pessoal de cada um dos seus
descendentes naturais. Ele fez com ele um pacto de obras e de vida, ou seja, Ele deu a
ele para si próprio, e no nome de todos os que ele representava, uma promessa de
vida eterna, condicionada à perfeita obediência, quer dizer, a obras. A obediência
demandada era um teste específico por um período temporário, período o qual
deveria terminar, seja pela recompensa devida à obediência, ou a morte como
conseqüência da desobediência. A 'recompensa' prometida era a vida eterna, que era
uma graça incluindo muito mais do que havia sido originalmente pactuado com Adão
em sua criação, uma dádiva que teria elevado a raça humana a uma condição de gozo
e de santidade inquestionável para sempre. O 'castigo' ameaçado e executado era a
morte; '...; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.'[Gênesis 2:17].
A natureza da morte ameaçada neste versículo pode ser determinada somente a partir
de uma consideração de tudo o que estava envolvido na maldição realmente imposta.
Isto nós sabemos haver sido incluído no instante em que foram retirados o favor
divino e a intercomunicação espiritual dos quais a vida do homem dependia. Daí a
alienação e a maldição imposta por Deus; o senso de culpa e a corrupção da natureza,
conseqüentes transgressões reais, as misérias da vida, a dissolução do corpo, as dores
do inferno." 7
As conseqüências do pecado de Adão estão todas compreendidas sob o termo morte,
no seu sentido mais amplo. Paulo nos dá o mandamento sumário de que "... o salário
do pecado é a morte"[Romanos 6:23]. O peso total da morte que foi imposta a Adão
somente pode ser vislumbrado em se considerando todas as conseqüências terríveis
que o homem tem desde a queda. Primeiramente foi a morte espiritual, ou a eterna
separação de Deus, a qual foi imposta; e a morte física, ou a morte do corpo, que é
um dos primeiros frutos e conseqüência relativamente sem importância daquele
castigo maior. Adão não morreu fisicamente até 930 anos após a queda, mas ele
morreu sim, espiritualmente, no mesmo instante em que ele caiu no pecado. Ele
morreu simplesmente como um peixe morre quando tirado da água, ou como uma
planta morre quando é arrancada do solo.
"Em geral nós abraçamos uma idéia muito errada de como Adão caiu .... Adão não foi
tentado por Satã de uma forma direta .... Eva foi tentada por Satã, que a enganou e a
fez cair. Mas nós temos evidência inspirada provando que Adão não foi enganado [I
Timóteo 2:14]"E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão;". Ele foi pego não pelas vontades de Satã, mas o que ele fez, ele o fez
de livre, espontânea e deliberada vontade. E a consciência do que ele estava fazendo,
com uma perfeita compreensão das solenes conseqüências envolvidas, ele
deliberadamente escolheu seguir a sua mulher no seu ato de desobediência
pecaminosa. Foi a vontade deliberada do pecado do homem que constituiu o seu
caráter hediondo. Tivesse ele sido atacado por Satã, e forçado a render-se como
resultado de um poder avassalador ser imposto contra ele, nós poderíamos tentar
encontrar alguma desculpa para a sua queda. Mas quando, com os olhos bem abertos,
e com a mente perfeita e inteiramente ciente da terrível natureza do seu ato, ele usou
o seu livre arbítrio para responder ao clamor da natureza em desafio ao Criador,
nenhuma desculpa ele poderia dar para a sua queda. Seu ato, na realidade, foi
deliberado, rebelião desafiadora, e com isto ele abertamente transferiu a sua lealdade
de Deus para Satã." 8
E não houvesse havido uma queda - uma queda aterradora? Quanto mais nós
estudamos a natureza humana como é manifesta no mundo ao nosso redor, mais fácil
nos é crer nesta grande doutrina do pecado original. Considere o mundo como um
todo, cheio como está de assassinatos, roubos, bebedeiras, guerras, lares destruídos, e
crimes de toda a espécie. As milhares de formas geniais que o crime e o vício
assumiram nas mãos de praticantes contumazes são todos peças que nos contam uma
estória aterrorizante. Uma grande porção da raça humana hoje em dia, assim como
nas eras passadas, é abandonada para viver e morrer na escuridão do paganismo, sem
esperanças desviados de Deus. O modernismo e negação de todo tipo são
incontroláveis atém mesmo na Igreja. Mesmo a assim chamada imprensa religiosa,
está fortemente tingida com descrença. Observe a aversão generalizada à oração, ao
estudo da Bíblia, ou a falar de assuntos espirituais. Não é o homem agora, como seu
progenitor Adão, fugindo da presença de Deus, não querendo comunicar-se com Ele,
e com inimizade em seu coração, para com o seu Criador? Certamente a natureza
humana é radicalmente errada. Os jornais diários nos dão conta de eventos, mesmo
numa terra abençoada como a América, mostrando que o homem é pecador, está
perdido de Deus, e é norteado por princípios que não são santos. E a única e
adequada explicação para tudo isso é o castigo da morte, que foi alertado ao homem
antes da queda; e agora encontra-se na raça humana.
Nós vivemos num mundo perdido, um mundo que se deixado à sua própria vontade,
degeneraria em sua própria corrupção de eternidade a eternidade, -- um mundo
recendendo a iniqüidade e blasfêmia. Os efeitos da queda são tais que a vontade
própria do homem tende somente afundar mais e mais no pecado e na lascívia. De
fato, Deus não permite que a raça humana venha a tornar-se tão corrupta o quanto
naturalmente seria se deixada à sua própria vontade. Ele põe em prática influências
que restringem, incitando os homens a amarem-se uns aos outros, a serem honestos,
filantrópicos; e a preocuparem-se com o bem estar de cada um. Se Deus assim não
fizesse, se Ele não exercitasse essas influências, os homens perniciosos se tornariam
piores e piores, sobrepassando convenções e barreiras sociais, até que o zênite da
impunidade e da falta de lei e de ordem fosse alcançado, e a terra se tornasse então
tão inteiramente corrupta que os eleitos não mais poderiam nela viver.
5. O PRINCÍPIO DA REPRESENTATIVIDADE
É fácil entender como uma pessoa pode agir através de um representante. O povo de
um estado age através dos parlamentares que os representam na Legislatura. Se um
país tem um bom presidente ou rei, todo o povo partilhará os bons resultados de sua
administração; se por outro lado tiver um mau presidente ou rei, todos sofrerão as
conseqüências. Num sentido muito real, pais atuam como representantes, e num
sentido mais amplo, decidem os destinos dos seus filhos. Se os pais forem sábios,
virtuosos, bons administradores do orçamento doméstico, as crianças colhem as
bênçãos; mas se eles forem indolentes e imorais as crianças sofre. De mil maneiras
diferentes o bem estar de indivíduos está condicionado aos atos e atitudes de outros,
tão íntimo é o princípio da representatividade na nossa vida humana. Assim, uma vez
que na doutrina da Bíblia Adão era o cabeça oficial e representante do seu povo,
temos somente a aplicação de um princípio que vemos ativo em todos nós.
O Dr. Charles Hodge tratou o assunto com grande habilidade, na seguinte seção: --
"O princípio da representatividade permeia toda a Bíblia. A imputação do pecado de
Adão à posteridade não é um fato isolado. É somente uma ilustração de um princípio
geral que caracteriza as dispensações de Deus deste o princípio do mundo. Deus
declarou-Se a Si mesmo a Moisés, como o que visita a iniqüidade dos pais nos filhos,
e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta gerações {veja em Êxodo 34:6,7}....... A
maldição proferida em Canaã caiu sobre a sua prosperidade. O fato de Esaú haver
vendido sua primogenitura, tirou a sua descendência do pacto da promessa. Os filhos
de Moabe e de Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre,
porque seus ancestrais se opuseram aos Israelitas quando eles saíram do Egito. No
caso de Datã e de Abirão, como no de Acã, 'suas esposas, e seus filhos, e seus
pequeninos pereceram pelos pecados dos seus pais.' Deus disse a Eli, que a
iniqüidade da sua casa não deveria ser purgada para sempre com sacrifícios e
oferendas. Para Davi foi dito, 'Agora, pois, a espada jamais se apartará da tua casa,
porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua
mulher.'[II Samuel 12:10]. Para o desobediente Geazi foi dito: "Portanto a lepra de
Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre."[II Reis 5:27]. A sina de
Jeroboão e dos homens da sua geração determinaram o destino das dez tribos para
sempre. A imprecação dos Judeus quando demandaram a crucificação de Cristo, '...O
seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.'[Mateus, 27:25], ainda pesa sobre o
povo disperso de Israel ..... Este princípio corre através das Escrituras. Quando Deus
pactuou com Abraão, não foi somente para ele mesmo, mas também para a sua
posteridade. Ele tornaram-se ligados a todas as estipulações do pacto. Eles
compartilharam das promessas e dos alertas de castigo, e em centenas de casos o
castigo da desobediência veio sobre aqueles que nem tinham parte pessoal nas
transgressões. Crianças sofreram igualmente com adultos nos julgamentos. Fosse
fome, peste, ou guerra, que viesse sobre o povo em conseqüência dos seus
pecados ..... E os Judeus até hoje estão sofrendo o castigo pelos pecados dos seus
pais, pela rejeição dAquele sobre quem Moisés e os profetas falaram. O plano inteiro
da rejeição baseia-se neste mesmo princípio. Cristo é o representante do Seu povo, e
nestas bases os seus pecados são imputados nEle e a Sua retidão para eles .....
Nenhum homem que creia na Bíblia pode fechar seus olhos ao fato de que ela em
todos os lugares reconhece o caráter representativo dos pais, e que as dispensações de
Deus têm desde o começo sido encontradas no princípio de que as crianças sofrem
pela iniqüidade dos seus pais. Esta é uma das razões que os infiéis assinalam ao
rejeitar a origem divina das Escrituras. Mas a infidelidade não proporciona alívio. A
história está tão cheia desta doutrina como está a Bíblia. O castigo do perverso
também envolve sua família na desgraça e na miséria. O perdulário e o alcoólatra
trazem a pobreza e a miséria sobre todos os que são conectados consigo. Não há
nenhuma nação da terra hoje, cujas condições de prosperidade ou de miséria não
sejam em muito determinadas pela conduta dos seus ancestrais .... A idéia da
transferência de culpa ou de castigo vicário encontra-se verdadeiramente na base de
todas as ofertas expiatórias do Velho Testamento, e da grande expiação sob a nova
dispensação. Pecar, conforme a linguagem Bíblica, e carregar o castigo do pecado. A
vítima (o animal sacrificado) carregava em si o pecado daquele que oferecia o
sacrifício. Mãos eram impostas sobre a cabeça do animal antes do abate, para
expressar a transferência de culpa. O animal devia ser livre de qualquer defeito, de
modo a ser mais aparente que o seu sangue era vertido não por suas próprias
deficiências, mas pelo pecado de outrem. Tudo isso era típico e simbólico .... E é isto
que as Escrituras ensinam com relação à expiação de Cristo. Ele levou sobre si os
nossos pecados; Ele foi feito maldição por nós; Ele sofreu o castigo da lei em nosso
lugar. Tudo isto procede, faz sentido, tem valor no terreno em que os pecados de um
homem podem ser justamente, em casos adequados, imputados a outro." 9
As Escrituras nos dizem que, "...pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores,..."[Romanos 5:19], "...por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porquanto todos pecaram."[Romanos 5:12], "...assim como por uma só ofensa veio o
juízo sobre todos os homens para condenação, ..."[Romanos 5:18]. É como se Deus
tivesse dito: Se o pecado entrar, deixemos que entre somente por um homem, de
modo que a retidão também possa entrar por um homem.
Adão foi feito não somente o pai, mas também o representante de toda a raça
humana. E se nós compreendermos corretamente a estreiteza da relação entre ele e
eles nós entenderíamos finalmente a justiça da transmissão do seu pecado a eles. O
pecado de Adão é imputado aos seus descendentes na mesma maneira que a retidão
de Cristo é imputada àqueles que crêem nEle. Os descendentes de Adão são, é claro,
não mais pessoalmente culpados pelo pecado dele do que os remidos por Cristo são
pessoalmente merecedores da Sua retidão.
Sofrimento e morte são declarados serem a conseqüência do pecado, e a razão porque
todos estão mortos é que "todos pecaram". Agora sabemos que muitos sofrem e
morrem na infância, antes que tenham cometido qualquer pecado. A lógica diz então
que ou Deus é injusto em castigar o inocente, ou que aquelas crianças são de alguma
forma criaturas culpadas. E se culpadas, como teriam pecado? É impossível explicar
tal fato por qualquer outra suposição que não seja a que elas (as crianças) pecaram em
Adão (I Coríntios 15:22; Romanos 5:12, 18); e não poderiam haver pecado em Adão,
a não ser pela representatividade.
Mas enquanto nós não somos pessoalmente culpados do pecado de Adão, nós somos,
não obstante, passíveis de castigo por ele. "A culpa pelo pecado público de Adão," diz
o Dr A.A. Hodge, "é por um ato judicial de Deus imediatamente debitada na conta de
cada um dos seus descendentes a partir do momento em que eles passam a existir, e
antecedentemente a qualquer um dos seus próprios atos. Já que todos os homens vêm
ao mundo privados de todas aquelas influências do Espírito Santo, das quais dependm
a sua vida moral e espiritual dependem .... e com uma tendência anterior para o
pecado prevalecendo na natureza deles; tendência a qual é ela mesma da natureza do
pecado, e portanto passível de castigo. A natureza humana desde a queda mantém
suas faculdades constitucionais de razão, consciência e livre arbítrio, e assim o
homem continua a ser um agente moral responsável. Ainda assim ele está
espiritualmente morto, e totalmente avesso e incapaz de livrar-se de qualquer desses
pesos que impedem o seu relacionamento com Deus, e totalmente incapaz de mudar
suas próprias e maléficas disposições ou tendências morais inatas, ou dispor-se a tal
empreendimento, ou cooperar com o Espírito Santo na efetivação de tal mudança." 10
E para o mesmo efeito geral, o Dr. R. L. Dabney, o renomado teólogo da Igreja
Presbiteriana do Sul, diz, "A explicação apresentada pela doutrina da imputação é
demandada por todos exceto os Pelaginaos e Socinianos. O ser humano é uma raça
espiritualmente morta e condenada. Veja Efésios 2:1-5 e seguintes. Ele obviamente
está sob uma maldição de alguma espécie, desde o início de sua vida. Testemunha a
depravação nativa das crianças, e sua herança de miséria e de morte. Agora, ou o
homem foi julgado e caiu em Adão, ou ele foi condenado sem um julgamento. Ou ele
está sob a maldição (como ela permanece nele desde o início da sua existência) pela
culpa de Adão, ou por nenhuma culpa que seja. Juiz que é honorável a Deus, uma
doutrina que, embora mistério profundo, representa-O como concedendo ao homem
uma provação justa e mais favorável sobre sua cabeça; ou que faz com Deus condene
o homem sem julgamento, e mesmo antes que ele venha a existir." 11
6. A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS
Uma pesquisa sobre a queda e os seus desdobramentos é um trabalho humiliante.
Prova ao homem que todas as suas alegações de bondade são infundadas, e mostra-
lhe que sua única esperança está na soberana graça de Deus Todo-Poderoso. A
"graciosamente restaurada habilidade" de que os Arminianos falam não é consistente
com os fatos. As Sagradas Escrituras, a história e a experiência Cristã se nenhuma
forma avalizam tal como sendo uma visão favorável da condição moral do homem
como o sistema Arminiano ensina. Ao contrário, cada um deles nos proporciona um
quadro pessimista de uma corrupção horrível e de uma inclinação universal para o
mal, a qual somente pode ser ultrapassada pela intervenção da divina graça. O
sistema Calvinista ensina uma queda muito mais profunda no pecado e uma muito
mais gloriosa manifestação da graça redentora. Dessas profundezas o Cristão é
levado a desprezar-se a si mesmo, largando-se incondicionalmente nos braços de
Deus, e permanecer na graça imerecida, somente a qual pode salva-lo.
Nós deveríamos ver a piedade de Deus e também a Sua severidade nas esferas
espiritual e física. Em toda a Bíblia, e especialmente nas palavras do próprio Cristo,
os tormentos finais dos maus são descritas de tal maneiras a mostrar-nos que são
indescritivelmente horríveis. No Evangelho de Mateus somente, vemos nas passagens
5:29,30; 7:19; 10:28; 11:21-24; 13:30,41,42,49,50; 18:8,9,34; 21:41; 24:51;
25:12,30,41; e 26:24. Certamente uma doutrina que recebeu tal ênfase dos lábios de
Cristo, Ele mesmo, não pode passar em silêncio, embora tão desagradável que possa
ser. No próximo mundo os perversos, com todas as barreiras removidas, mergulharão
de cabeça no pecado, na blasfêmia e nas ofensas a Deus, piorando e piorando
enquanto afundam cada vez mais no buraco. Castigo sem fim é a recompensa de
pecado sem fim. Mais ainda, a glória de Deus é tanta enquanto Ele castiga o perverso,
como é quando Ele recompensa o justo. Muito da negligente indiferença para com o
Cristianismo nos nossos dias é devida à falha dos ministros Cristãos em enfatizar
estas doutrinas que Cristo ensinou tão repeditamente.
No âmbito físico nós vemos a severidade de Deus em guerras, fome, enchentes,
desastres, doenças, sofrimentos, mortes, e crimes de toda espécie que avassalam tanto
justos como injustos da mesma forma. Tudo isso existe num mundo que está sob o
completo controle de Deus, que é infinito nas Suas perfeições.
"Considera pois a bondade e a severidade de Deus..."[Romanos 11:22]. O
Naturalismo não faz justiça a nenhum desses. O Arminianismo magnifica o primeiro
mas nega o segundo. O Calvinismo é o único sistema que faz justiça a ambos.
Somente este sistema adequadamente estabelece os fatos com relação ao eterno e
infinito amor de Deus, que O levou a propiciar redenção para o Seu povo, mesmo
com o grande custo de mandar o Seu Filho unigênito para morrer numa cruz; e
também com relação ao terrível abismo que existe entre o homem pecador e o Deus
santo. É verdade que "Deus é Amor", mas juntamente com esta verdade também há
que ser colocada outra, que "...o nosso Deus é um fogo consumidor"[Hebreus 12:29].
Qualquer sistema teológico que omita ou que não enfatize alguma dessas verdades
será um sistema mutilado, não importa o quão plausível ele possa soar aos homens.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) do homem é terrivelmente
pesada, severa, proibitiva. Mas deve ser lembrado que nós não temos a liberdade para
desenvolver um sistema teológico que satisfaça a nossa vontade. Devemos considerar
os fatos como os encontramos. Tais exibições do verdadeiro estado da raça humana
são, é claro, geralmente ofensivas ao homem não regenerado, e muitos têm tentado
encontrar um sistema de doutrinas que seja mais agradável á mente popular. O estado
do homem caído é tal que ele prontamente dá ouvidos a qualquer teoria que faça-o
mesmo que parcialmente independente de Deus; ele deseja ser o mestre do seu
destino e o capitão da sua alma. O estado de perdição e de ruína do pecador precisa
ser constantemente mostrado a ele; pois até que a ele seja feito sentir tal estado, ele
nunca buscará ajuda, onde somente tal ajuda pode ser encontrada. Pobre homem!
Verdadeiramente carnal e com a alma sob o jugo do pecado, não somente sem
nenhum poder mas também sem inclinação para mover-se na direção de Deus; e o
que é ainda mais terrível, numa presunção real, blasfemosamente rival do Grande
Jeová.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), ou do Pecado Original, foi
tratada com alguma extensão, de maneira a estabelecer a base fundamental sobre a
qual encontra-se a doutrina da Predestinação. Este lado do quadro é negro, na
realidade muito negro; mas o suplemento é a glória de Deus na redenção. Cada uma
dessas verdades deve ser vista na sua verdadeira luz, antes que a outra possa ser
verdadeira e adequadamente apreciada.
7. PROVAS NAS ESCRITURAS
I Coríntios 2:14 : "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente."
Gênesis 2:17 : "mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."
Romanos 5:12 : "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto
todos pecaram."
II Coríntios 1:9 : "portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que
não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;"
Efésios 2:1-3 : "[1] Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, [2] nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de
desobediência, [3] entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza
filhos da ira, como também os demais."
Efésios 2:12 : "estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de
Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no
mundo."
Jeremias 13:23 : "pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas?
então podereis também vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal."
Salmo 51:5 : "Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concedeu minha
mãe."
João 3:3 : "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
Romanos 3:10-12 : "[10] como está escrito: Não há justo, nem sequer um. [11] Não
há quem entenda; não há quem busque a Deus. [12] Todos se extraviaram; juntamente
se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só."
Jó 14:4 : "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém."
I Coríntios 1:18 : "Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem;
mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus."
Atos 13:41 : "Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma
obra em vossos dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar."
Provérbios 30:12 : "Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada
da sua imundícia."
João 5:21 : "Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o
Filho dá vida a quem ele quer."
João 6:53 : "Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a
carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos."
João 8:19 : "Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me
conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também
conheceríeis a meu Pai."
Mateus 11:25 : "Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do
céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos."
II Coríntios 5:17 : "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."
João 14:16 : "[16]E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique
convosco para sempre.[17] a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode
receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita
convosco, e estará em vós."
João 3:19 : "E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes
as trevas que a luz, porque as suas obras eram más."
Capítulo 11 Eleição Incondicional
1. Apresentação da Doutrina 2. Prova da Bíblia 3. Prova da Razão 4. Fé e Boas Obras
são os Frutos e a Prova, não as Bases, da Eleição 5. Rejeição 6. Infralapsarianismo e
Supralapsarianismo 7. Muitos são Escolhidos 8. Uma Raça ou Mundo Redimido 9.
Vastidão da Multidão de Redimidos 10. O Mundo está Ficando Melhor 11. Salvação
Infantil 12. Sumário

1. APRESENTAÇÃO DA DOUTRINA
A doutrina da Eleição deve ser encarada somente sob uma aplicação particular da
doutrina geral da Predestinação ou Pré Ordenação conforme relaciona-se com a
salvação de pecadores; e desde que as Escrituras estão preocupadas mais com a
redenção de pecadores, esta parte da doutrina é naturalmente colocada em um lugar
de proeminência especial. Ela compartilha todos os elementos da doutrina geral; e
desde que é o ato de uma Pessoa moral infinita, é representada como sendo a
determinação eterna, absoluta, imutável efetiva da Sua vontade, dos objetos de Suas
operações salvíficas. E nenhum aspecto desta escolha eletiva é mais constantemente
enfatizado do que o da sua absoluta soberania.
A Fé Reformada tem se apegado à existência de um decreto eterno, divino, o qual,
antecedentemente a qualquer diferença ou excelência nos próprios homens, separa a
raça humana em duas porções e ordena uma para a vida eterna e a outra para a morte
eterna. Tanto quanto tal decreto é relacionado aos homens e designa o conselho de
Deus referente àqueles que tiveram uma chance supremamente favorável em Adão
para ganhar a salvação, mas que perderam tal chance. Como resultado da queda eles
são culpados e corruptos, seus motivos são errados e eles não podem operar a sua
própria salvação. Eles perderam todas causas ente a misericórdia de Deus, e podem
simplesmente terem sido deixados para sofrer o castigo da sua desobediência como
todos os anjos caídos também o foram. Mas ao contrário, os membros eleitos desta
raça são resgatados deste estado de culpa e pecado e são trazidos a um estado de
santidade e bênçãos. Os não eleitos são simplesmente deixados em seu estado prévio
de ruína, e estão condenados pelos seus pecados. Eles não sofrem nenhum tipo de
castigo não merecido, pois Deus está tratando-os não meramente como homens, mas
como pecadores.
A Confissão de Fé de Westminster apresenta a doutrina desta forma [Capítulo III -
Dos Eternos Decretos de Deus]: "Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua
glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros
preordenados para a morte eterna."[ Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31,
41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.]
"Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e
imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser
nem aumentado nem diminuído." [Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19]
"Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito
da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a
glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua
gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de
fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a
isso o movesse, como condição ou causa."[Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9;
I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.]
"Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui
livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os
que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são
eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo
devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio
da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo."[Ref. I Pedro 1:2; Ef.
1:4 e 2: 10; II Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5;
João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I João 2:19.]
"Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou
recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as
suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus
servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus
pecados."[Ref. Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8.]"
É importante que tenhamos uma clara compreensão desta doutrina da Eleição divina,
pois a nossa visão relacionada a ela é o que determina a nossa visão de Deus, o
homem, o mundo, e a redenção. Como Calvino corretamente disse, "Nós nunca
estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que a nossa salvação
provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados
com esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não
adota todos indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que
recusa a outros. Ignorância deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e
diminui a real humildade." 2 Calvino admite que esta doutrina levantou questões
muito perplexas nas mentes de alguns, pois, diz ele, "eles não consideram nada mais
irracional do que, da massa comum da raça humana, alguns deverial estar
predestinados à salvação; e outros à destruição."
Os teólogos Reformados consistentemente aplicaram este princípio à experiência real
do fenômeno espiritual, o qual eles mesmos sentiram e viram nos outros ao seu redor.
O propósito divino, ou Predestinação, sozinho poderia explicar a distinção entre bem
e mal, entre o santo e o pecador.

2. PROVA DA BÍBLIA
A primeira questão que devemos perguntarmo-nos então, é, "Encontramos esta
doutrina ensinada nas Sagradas Escrituras?" Voltemo-nos então para a Epístola de
Paulo aos Efésios. Lá podemos ler: "[4] como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; [5] e
nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade,"[Efésios 1:4,5]. Na carta aos Romanos lemos
que a corrente dourada da redenção estende-se desde a eternidade já passada até a
eternidade ainda porvir -- "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que
chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também
glorificou."[Romanos 8:29,30]. Pré-sabido, preordenados, chamados, justificados,
glorificados, sempre com as mesmas pessoas incluídas em cada grupo, e onde um
desses fatores estiver presente, todos os demais estarão em princípio, também
presentes.
Paulo redigiu o versículo conjugando os verbos no tempo passado porque com Deus
o propósito é em princípio executado quando formado, tão certamente é o seu
cumprimento. "Estes cinco elos dourados", diz o Dr. Warfield, "são todos unidos em
uma corrente inquebrável, de modo que todos os que estão sob a graciosa vista
diferenciadora de Deus são carregados por Sua graça somente, passo a passo, até a
grande consumação da glorificação que completa a prometida conformidade à
imagem do próprio Filho de Deus. Veja, é a 'eleição' que faz tudo isso; a 'quem Ele
justificou, . . . . . eles também glorificou'." 3
As Escrituras Sagradas representam a eleição como um acontecimento no passado,
sem relacionamento com o mérito pessoal, e totalmente soberana, -- "[11] (pois não
tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o
propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor. [13] Como
está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú."[Romanos 9:11-13]. Agora, se a doutrina
da eleição não for verdadeira, podemos seguramente desafiar qualquer homem a
dizer-nos o que o apóstolo Paulo quis dizer com tal tipo de linguagem. "Nos é
ilustrada a soberana aceitação de Isaque e a rejeição de Ismael, e a escolha de Jacó e
não a de Esaú antes mesmo dos seus nascimentos e portanto antes que tivessem
praticado qualquer bem ou mal; nos é explicitamente dito que no que tange à
salvação não de um que quer ou de outro que corre, mas de Deus que mostra
misericórdia, e que Ele tem misericórdia para com quem Ele quer e a quem Ele
confirma; somos pertinentemente direcionados a observar em Cristo, o oleiro que faz
os vasos que procedem de Sua mão, um para cada finalidade que Ele aponta, para que
Ele possa operar a Sua vontade através deles. É seguro dizer que não se pode escolher
linguagem melhor adaptada para ensinar Predestinação no seu ápice." 4
Mesmo se não tivéssemos quaisquer outros testemunhos inspirado que aqueles
escritos por Paulo, tão claros e precisos são aqueles mesmos que seríamos
constrangidos a admitir que a doutrina da Eleição encontra lugar na Bíblia. Em se
olhando às referências Bíblicas na Confissão de Fé, vemos que a mesma é
abundantemente sustentada pela Bíblia. Se admitimos a inspiração da Bíblia; se
admitimos que os escritos dos profetas e apóstolos foram soprados pelo Espírito de
Deus, e são assim infalíveis, então o que lá encontrarmos será suficiente; e assim no
testemunho irrefutável das Escrituras devemos reconhecer que a Eleição, ou a
Predestinação são uma verdade estabelecida, e que devemos receber se tomamos
posse do conselho de Deus. Cada Cristão deve crer em alguma forma de eleição; pois
enquanto as Escrituras deixam muitas coisas inexplicadas a respeito da doutrina da
Eleição, elas deixam muito claro o FATO de que houve uma eleição.
Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, "Vós não me escolhestes a mim mas
eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ..."[João 15:16],
pelo que Ele fez primária a escolha de Deus e a do homem somente secundária, como
resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos, contudo, em fazendo com que a
salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça proferida inverte
esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não
há lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-
vistas atitudes da criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da
criatura para as suas determinações.
Novamente a soberania desta escolha é claramente ensinada quando Paulo declara
que Deus provou o Seu amor para conosco pelo fato de haver Cristo morrido por nós
enquanto éramos ainda pecadores (Romanos 5:8), e que Cristo morreu pelos ímpios
(Romanos 5:6). Aqui vemos que o Seu amor não foi estendido até nós porque éramos
bons, mas apesar do fato de que nós éramos maus. É Deus quem escolhe a pessoa e
faz com que ele se aproxime dEle (Salmo 65:4). O Arminianismo tira tal escolha das
mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Qualquer sistema teológico que
substitua a eleição feita pelo homem cai sob o ensino Bíblico deste assunto.
Nos dias mais negros da apostasia de Israel, como em qualquer outra época, foi este
princípio de eleição que fez diferença ente a raça humana e manteve seguro um
remanescente. "Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se
dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou." [I Reis 19:18]. Aqueles sete mil não
permaneceram por sua própria força e poder; está expressamente dito que Deus
reservou-os para Si mesmo, que eles pudessem ser um remanescente.
É para o bem dos eleitos que Deus governa o curso de toda a história (Marcos 13:20
= "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa
dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias."). Ele são o "sal da terra", e a "luz do
mundo"; e até agora pelo menos na história do mundo eles são os poucos através de
quem os muitos são abençoados, -- Deus abençoa a casa de Potifar para o bem de
José; e dez justos teriam salvo a cidade de Sodoma. Sua eleição, é claro, inclui a
oportunidade de ouvir o Evangelho e receber os dons da graça, pois sem estes
grandes meios o fim grandioso que é a eleição não seria alcançado. Eles são, de fato,
eleitos para tudo o que está incluído na idéia de vida eterna.
À parte da eleição de indivíduos para a vida, tem havido o que poderíamos chamar de
uma eleição natural, ou a divina predestinação de nações e de comunidades a um
conhecimento da verdadeira religião e aos privilégios externos do Evangelho. Deus
indubitavelmente escolhe algumas nações para receber bênçãos temporais e
espirituais maiores que outras. Esta forma de eleição sem sido bem ilustrada na nação
Judia, em certas nações e comunidades Européias, e na América. O contraste é
violento, quando comparamos estas com outras nações tais como China, Japão, Índia,
etc.
Em todo o Velho Testamento, é repetidamente mostrado que os Judeus eram um povo
escolhido. "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; ..."[Amós
3:2]. "Não fez assim a nenhuma das outras nações; ..."[Salmo 147:20]. "Porque tu és
povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, a fim de lhe seres o
seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a terra."[Deuteronômio 7:6].
Porém, é igualmente feito certo que Deus não encontrou nenhum mérito ou dignidade
nos próprios Judeus, que O fizessem escolhe-los em detrimento de outros povos. "[7]
- O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais
numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que
qualquer povo; [8] - mas, porque o Senhor vos amou, e porque quis guardar o
juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos resgatou da
casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito."[Deuteronômio 7:7,8]. E de novo,
"Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua
descendência depois deles, isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se
vê."[Deuteronômio 10:15]. Nesta passagem é cuidadosamente explicado, que Israel
foi honrado com a escolha divina, em contraste com o tratamento dispensado a todos
os demais povos da terra, que a escolha proveio só e unicamente do amor imerecido
de Deus; e que não havia base nenhuma em Israel para tanto.
Quando Paulo foi proibido pelo Espírito Santo de pregar o Evangelho na província da
Ásia, e lhe foi dada a visão de um homem na Europa clamando através das águas,
"Venha até a Macedônia e ajude-nos", uma seção do mundo foi soberanamente
excluída dos privilégios do Evangelho, enquanto que a outra seção os mesmos
privilégios foram soberanamente dados. Tivesse a chamada divinamente direcionada
sido feita mais para a Índia, a Europa e a América poderiam ser hoje menos
civilizadas que os nativos do Tibete. Foi a escolha soberana de Deus que trouxe o
Evangelho aos povos da Europa e mais tarde da América, enquanto que os povos do
leste, e norte, e sul foram deixados em trevas. Nós não podemos assinalar razão
alguma, por exemplo, por que deveriam ter sido escolhidos os povos da semente de
Abraão, e não a semente dos Egípcios ou dos Assírios; ou por que a Grã Bretanha e a
América, que à época do aparecimento de Cristo na Terra encontravam-se num estado
de tão completa ignorância, deveriam atualmente possuir tão abundantemente para si
mesmas, e disseminarem tão grandemente para outros, tão importantes privilégios
espirituais. As diversificações relacionadas aos privilégios religiosos em diferentes
nações não podem ser atribuídas a nada mais que o prazer de Deus.
Uma terceira forma de eleição ensinada na Bíblia é a de indivíduos no sentido
externo da graça, tais como a audição e a leitura do Evangelho, associação com o
povo de Deus, e compartilhar os benefícios da civilização que floresceu onde esteve o
Evangelho. Ninguém jamais teve a chance de dizer em que época em particular na
história do mundo, ou em que país, alguém teria nascido, se seria ou não um membro
da raça branca, ou alguma outra. Uma criança nasce com saúde, abundância, e honra
num lugar favorecido, num lar Cristão, e cresce com todas as bênçãos que
acompanham a plenitude do Evangelho. Uma outra criança nasce na pobreza e na
desonra de pais separados e cheios de pecado, e destituída das influências Cristãs.
Todas estas coisas são soberanamente decididas por elas (as crianças). Certamente
nenhum insistiria que a criança favorecida tenha qualquer mérito que pudesse ser
motivo para tal diferença. Além do mais, não foi de Deus próprio a escolha da criação
de seres humanos, à Sua própria imagem, quando Ele poderia haver criado-nos gado,
ou cavalos, ou cachorros? Ou quem permitiria aos idiotas blasfemar contra Deus por
sua condição de vida, como se a distinção fosse injusta? Todas estas coisas são
devidas à providência de Deus, que prevalece. "Os Arminianos têm batalhado para
reconciliar tudo isto, na verdade, com seus pontos de vista errôneos e defeituosos
quanto a soberania Divina, e com suas doutrinas não Bíblicas da graça universal e da
redenção universal; mas eles usualmente não se satisfazem com suas próprias
tentativas de explicar, e têm comumente no mínimo admitido, que houve mistérios
neste assunto, os quais não poderiam ser explicados, e os quais devem ser resolvidos
na soberania de Deus e na inescrutabilidade dos Seus conselhos." 5
Talvez nós possamos mencionar um quarto tipo de eleição, a de indivíduos com
certas vocações, -- os dons de talentos especiais que fazem com que uma pessoa
venha a tornar-se um estadista, que outra venha a ser um doutor, ou advogado, ou
fazendeiro, ou músico, ou artesão; dons de beleza pessoal, inteligência, disposição,
etc. Estes quatro tipos de eleição são, em princípio, o mesmo. Os Arminianos não têm
dificuldade em admitir o segundo, o terceiro e o quarto tipo de eleição, enquanto que
negam o primeiro. Em cada instância Deus dá a alguns o que ele retém de outros.
Tanto nossa experiência na vida diária como condições amiúde no mundo nos
mostram que as bênçãos dispensadas são soberanas e incondicionais, sem qualquer
relação com o mérito ou a ação por parte daqueles que são escolhidos. Se somos
altamente favorecidos, podemos somente ser gratos por Suas bênçãos; se não
altamente favorecidos, não temos razão nenhuma para reclamar. Por que
precisamente este ou aquele é colocado em circunstâncias que levam à fé salvadora,
enquanto que outros não são também colocados, é de fato um mistério. Não podemos
explicar as obras da Providência; mas sabemos que o Juiz de toda a terra fará o certo,
e que quando nos ativermos ao perfeito conhecimento, veremos que ele tem razões
suficientes para todos os Seus atos.
Ademais, pode ser dito que em geral as condições exteriores que cercam o indivíduo
determinam o seu destino, -- pelo menos neste ponto, que aqueles de quem o
Evangelho é suprimido não têm chance alguma de salvação. Cunningham escreveu
isto muito bem no seguinte parágrafo: -- "Há uma conexão invariável estabelecida no
governo de Deus sobre o mundo, entre o prazer de privilégios exteriores, ou os meios
da graça, por um lado; e fé e salvação por outro, nesse sentido e neste ponto, que a
negação do primeiro implica na negação do segundo. O significado de toda a Bíblia
nos assegura que onde Deus, em Sua soberania, deixa de proporcionar aos homens o
prazer dos meios da graça, -- uma oportunidade de familiarizarem-se com o único
meio de salvação, -- Ele ao mesmo tempo, e através dos mesmos métodos, em
ordenação, retém deles a oportunidade e o poder de crerem e de serem salvos." 6
Os Calvinistas mantêm que Deus lida não somente com a massa da raça humana, mas
também com os indivíduos que são realmente salvos, que Ele elegeu pessoas em
particular para a vida eterna e para todos os meios necessários para que aquela vida
eterna seja alcançada. Eles admitem que algumas das passagens nas quais a eleição é
mencionada ensinam somente uma eleição de nações, ou uma eleição para os
privilégios externos, mas mantêm que muitas outras passagens ensinam exclusiva e
somente uma eleição de indivíduos para a vida eterna.
Há alguns, é claro, que negam ter havido algo como eleição. Segundo eles, a começar
pelo próprio vocábulo, como se fosse um espectro que de repente aparecesse das
trevas, sem nunca antes ter sido visto. Todavia, somente no Novo Testamento, as
palavras 'eklektos', 'ekloga', e 'eklego'; eleito, eleição, escolhido, são encontrados
quarenta e sete ou quarenta e oito vezes (referência para a lista completa é a "Young's
Analytical Concordance). Outros aceitam o vocábulo mas tentam minimizar a
importância do assunto com explicações vagas. Eles professam crer em uma "eleição
condicional", baseada, como supõem, numa fé prevista e na obediência evangélica
dos seus objetos. Isto, é claro, destrói a eleição em qualquer senso inteligível do
termo, e a reduz a um mero reconhecimento ou profecia que em algum tempo futuro
algumas pessoas serão possuídas por aquelas qualidades. Se baseado na fé e
obediência evangélica, então, como tem sido cinicamente fraseado, Deus é cuidadoso
ao escolher somente aqueles a quem Ele prevê que se elegerão a si próprios. No
sistema teológico Arminiano, a eleição é reduzida a um mero vocábulo ou nome, do
qual o uso somente tende a envolver o sujeito numa maior obscuridade e confusão.
Um mero reconhecimento que aquelas qualidades estarão presentes em algum tempo
futuro é, claro, algo falsamente chamado de "eleição", ou simplesmente nenhuma
eleição qualquer que seja. E alguns Arminianos, consistentemente levando a cabo as
suas próprias doutrinas que o ser humano pode ou não aceitar, e se ele efetivamente
aceitar ele pode cair novamente, identificam o tempo deste decreto da eleição com a
morte do crente, como se somente então a sua salvação viesse a ser certa.
A Eleição aplica-se não somente aos homens mas também e igualmente aos anjos,
desde que eles também fazem parte da criação de Deus e estão sob o Seu governo.
Alguns destes são santos e felizes, outros são cheios de pecado e miseráveis. As
mesmas razões que levam-nos a crer numa predestinação de homens também nos
fazem crer numa predestinação de anjos. As Escrituras confirmam este ponto de vista
através de referências a "anjos eleitos"[I Timóteo 5:21], e "anjos santos" [Marcos
8:38], os quais contrastam com "anjos maus" ou "demônios". Lemos que Deus "...
não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos
abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;"[II Pedro 2:4]; lemos também
acerca do "... fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41]; e de
"... anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação,
ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande
dia"[Judas 6]; e da "... guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o
dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,"[Apocalipse 12:7]. Um estudo dessas
passagens nos mostra que, conforme Dabney diz, "há dois tipos de espíritos, nesta
ordem; santos e pecadores - os anjos, servos de Cristo e os servos de Satã; que foram
criados num estado de santidade e de felicidade, e habitavam na região chamada Céu
(a bondade e a santidade de Deus são prova suficiente de que Ele não os criaria de
outra forma); que os anjos maus volutariamente perderam seu estado [de santidade e
felicidade] ao pecarem, e foram excluídos para sempre do Céu e da santidade; que
aqueles que mantiveram seu estado [de santidade e felicidade] foram doravante
eleitos por Deus, e que o seu estado de santidade e beatitude é agora assegurado para
sempre." 7
Paulo não faz nenhuma tentativa de explicar como Deus pode ser justo ao mostrar
misericórdia e passa-la a quem Ele quiser. Em resposta à pergunta do opositor, "Por
que se queixa ele ainda?" (com aqueles a quem Ele não estendeu a misericórdia
salvadora), ele (Paulo) resolve a questão toda simplesmente evocando a soberania de
Deus, ao replicar, "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?"[vide Romanos 9:19-21] (e note-se que Paulo aqui diz os
vasos não são feitos de diferentes espécies ou tipos de barro, mas que é "da mesma
massa", que Deus, o oleiro, faz um vaso para honra e outro para a desonra.) Paulo não
tira Deus do Seu trono e O coloca perante a nossa razão humana para ser questionado
e examinado. Estes Seus conselhos secretos, os quais mesmo aos anjos, que adoram
com tremor e desejo de conhecer, não são explicados; exceto que são ordenados a ser
conforme o Seu próprio prazer. E depois que Paulo assim afirma, ele como se
colocando sua mão à frente, nos proíbe de ir adiante. Fosse verdadeira a hipótese
assumida pelos Arminianos, nominalmente, que a todos os homens é dada suficiente
graça e que cada um é recompensado ou punido, castigado conforme o seu próprio
uso ou abuso de tal graça, não teria havido nenhuma dificuldade a que fazer conta.
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
-- II Tessalonicenses 2:13 : "... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a
santificação do espírito e a fé na verdade,"
-- Mateus 24:24 : "porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão
grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os
escolhidos."
-- Mateus 24:31 : "E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os
quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade
dos céus."
-- Marcos 13:20 : "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas
ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias." (quando da destruição
de Jerusalém).
-- I Tessalonicenses 1:4 : "conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;"
-- Romanos 11:7 : "... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,"
-- I Timóteo 5:21 : "Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos
eleitos ..."
-- Romanos 8:33 : "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus
quem os justifica;"
-- Romanos 11:5 : "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente
segundo a eleição da graça."
-- II Timóteo 2:10 : "... tudo suporto por amor dos eleitos."
-- Tito 1:1 : "Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos
eleitos de Deus..."
-- I Pedro 1:1 : "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ..." (algumas
traduções como "eleitos"
-- I Pedro 5:13 : "A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho
Marcos."
-- I Pedro 2:9 : "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o
povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz;"
-- I Tessalonicenses 5:9 : "porque Deus não nos destinou para a ira, mas para
alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
-- Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do
Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
-- João 17:9 : "Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que me tens dado, porque são teus;"
-- João 6:37 : "Todo o que o Pai me dá virá a mim ..."
-- João 6:65 : "... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido."
-- João 13:18 : "Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ..."
-- João 15:16 : "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ..."
-- Salmo 105:6 : "vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus
escolhidos."
-- Romanos 9:23 : "... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos
9:11-13, 8:29, 30 e etc).

3. PROVAS DA RAZÃO
Se a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) ou Pecado Original for
admitida, a doutrina da Eleição Incondicional segue a mais inescapável lógica. Se,
como as Escrituras e a experiência nos dizem, todos os homens estão por natureza
num estado de culpa e depravação do qual eles são totalmente incapazes de livrarem-
se a si mesmos e não têm nenhum direito, qualquer que seja, para que Deus os
resgate, segue-se então que se qualquer um for salvo Deus deve então escolher
aqueles que deverão ser objeto da Sua graça. O Seu amor para com os homens caídos
expressa-se na escolha de uma multidão inumerável deles para a salvação, e na
provisão de um redentor, quem, agindo como seu cabeça e representante, assumiu a
sua culpa, sofreu o seu castigo, e ganhou para eles a salvação. É sempre ao amor de
Deus que a Bíblia atribui o decreto eletivo, e ela nunca se cansa de elevar nossos
olhos do decreto em si, para o motivo e razão que encontra-se por trás dele. A
doutrina de que os homens são salvos somente através do imerecido amor e da
imerecida graça de Deus encontra sua honesta e completa expressão somente nas
doutrinas do Calvinismo.
Através da eleição de indivíduos o caráter verdadeiramente gracioso da salvação é
mostrado de forma mais clara. Aqueles que declaram que a salvação é inteiramente
obra da graça de Deus, e todavia negam a doutrina da eleição, adotam uma posição
inconsistente. Os escritores inspirados utilizam-se de todos meios para guiar-nos ao
fato de que a eleição dos homens por Deus é uma eleição absolutamente soberana,
alicerçada unicamente no Seu amor que é imerecido pelo homem, e destinada a
mostrar aos homens e aos anjos a Sua graça e misericórdia salvadoras.
Como Juiz e Soberano, Deus tem a liberdade de lidar com um mundo de pecadores
conforme o Seu beneplácito. Ele tem todo o direito perdoar alguns e condenar outros;
tem todo o direito de dar a Sua graça salvadora a um e não dá-la a outro. Desde que
todos pecaram estão destituídos da Sua glória, Ele é livre para ter misericórdia de
quem Ele quiser ter misericórdia. Não é pela vontade do homem, nem pelas obras do
homem, mas por Deus, que mostrou misericórdia, e o motivo pelo qual um é salvo, e
a razão pela qual um é salvo enquanto que outro não é, podem ser encontrados
somente no beneplácito dEle, que ordenou todas as coisas após o conselho da Sua
própria vontade. É por esta razão que antes que Deus criasse o mundo Ele escolheu
todos aqueles a quem Ele daria gratuitamente a herança das bênçãos eternas, e os
escritores Bíblicos tomam cuidados especiais para dar a cada crente na enorme
multidão dos salvos a segurança de que desde toda a eternidade ele mesmo tem sido
objeto peculiar da escolha divina, e que ele somente agora está atingindo o alto
destino preparado para ele desde a fundação do mundo.
Esta doutrina da eleição eterna e incondicional tem algumas sido chamada algumas
vezes de "o coração" da Fé Reformada. Ela enfatiza a soberania e a graça de Deus na
salvação, enquanto que o ponto de vista Arminiano enfatiza a obra da fé e da
obediência do homem, que decide aceitar a graça oferecida. No sistema teológico
Calvinista, é somente Deus quem escolhe aqueles que serão os herdeiros do céu,
aquels com quem Ele compartilhará as Suas riquezas na glória; enquanto que no
sistema Arminiano é, em última análise, o homem quem determina tanto, -- um
princípio no qual, de alguma forma falta humildade, para dizer o mínimo.
Pode ser questionado, "Por que Deus salva a alguns e a outros não?" Mas a resposta
pertence aos Seus conselhos secretos, somente. Precisamente por que este homem
recebe a salvação, e aquele homem não a recebe, quando nenhum dos dois merecia
recebê-la, nós não sabemos. Que Deus ficou satisfeito em estabelecer sobre nós a Sua
graça eletiva, deve ser-nos para sempre um tema de adorável maravilha. Certamente
nada havia em nós, seja qualidade ou feito (obra), que pudesse atrair Sua atenção
favoravelmente ou faze-LO parcial a nós; pois estávamos mortos nos nossos delitos e
pecados e filhos da ira, como também os demais (vide Efésios 2:1-3). Podemos
somente admirar, e maravilharmo-nos, e exclamar em coro com Paulo, "Ó
profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!"[Romanos
11:33]. A maravilha das maravilhas não é que Deus, nos Seus infinitos amor e justiça,
não tenha elegido para a salvação a todos desta raça culpada, mas que Ele tenha
elegido a alguns. Quando consideramos, por um lado, quão abominável é o pecado,
junto com o merecimento de punição; e por outro lado, o que a santidade é, junto com
a perfeita aversão de Deus pelo pecado; a maravilha é como Deus poderia ter o
consentimento da Sua natureza santa para salvar um único pecador. Mais ainda, o
motivo pelo qual Deus não escolheu a todos para a vida eterna não foi porque Ele não
desejasse salvar a todos, mas que por razões as quais nós não conseguimos explicar
totalmente, uma escolha universal teria sido inconsistente com a Sua perfeita retidão.
Nem ninguém pode fazer objeção que este ponto de vista represente Deus agindo
arbitrariamente e sem razão. Postular tal seria afirmar mais do que qualquer homem
sabe. As Suas razões, os Seus motivos para salvar uns em particular enquanto
deixando outros de lado não nos são revelados. "... e segundo a sua vontade ele opera
no exército do céu e entre os moradores da terra;"[Daniel 4:35]. Alguns são
preordenados como filhos, "... segundo o beneplácito de sua vontade"[Efésios 1:5].
Quando um regimento é dizimado por insubordinação, o fato de cada décimo homem
ser escolhido para a morte tem suas razões, mas as razões não estão nos homens.
Indubitavelmente Deus tem os melhores motivos para escolher um e rejeitar outro,
embora Ele não nos tenha dito quais são.
"May not the Sov'reign Lord on
high "Não pode o Soberano Senhor nas alturas
Dispense His favors as He will; Dispensar Seus favores como quiser;
Choose some to life, while others Escolher alguns para a vida, enquanto
die, outros morrem,
And yet be just and gracious still? E todavia ainda ser justo e gracioso?

Shall man reply against the Lord, Pode o homem replicar contra Deus,
And call his Maker's ways unjust? E chamar os caminhos de Seu Criador de
The thunder whose dread word injustos?
Can crush a thousand worlds to O trovão cujo bramido
dust. Pode transformar mil mundos em pó.
But, O my soul, if truths so bright Mas minha alma, se a verdade tão brilhante
Should dazzle and confound thy
sight, Ofusca e confunde tua visão,
'Yet still His written will obey, Ainda assim, a Sua palavra obedecerás,
And wait the great decisive day!"8 e o grande e decisivo dia aguardarás!" 8

4. FÉ E BOAS OBRAS SÃO OS FRUTOS E AS PROVAS, NÃO A BASE, DA


ELEIÇÃO
Nem a predestinação em geral, ou a eleição daqueles que serão salvos, está baseada
na previsão de Deus de qualquer ação da criatura. Este princípio da Fé Reformada foi
bem apresentado na Confissão de Westminster, onde lemos: "Ainda que Deus sabe
tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não
decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de
acontecer em tais e tais condições."[Capítulo III - 'Dos Eternos Decretos de Deus' -
parágrafo II (Referências At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23;
Rom. 9:11-18.)] e ainda, "Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de
Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes
manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança, edificam os seus irmãos,
adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a Deus,
cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu
fruto em santificação, tenham no fim a vida eterna."[Capítulo XVI - 'Das Boas Obras'
- parágrafo II (Referências Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II
Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim. 4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedr. 2:12,
15; Fil. 1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.)]; "O poder de fazer boas obras não é de
modo algum dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo. A fim
de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma
influência positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer
segundo o seu beneplácito; contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como
se não fossem obrigados a cumprir qualquer dever senão quando movidos
especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça de Deus
que há neles."[Capítulo XVI - 'Das Boas Obras' - parágrafo III (Referências João
I5:4-6; Luc. 11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa.
64:7.)]
Fé prevista e boas obras não podem, então, nunca serem vistas como sendo a cauda
da eleição Divina. Elas são mais os frutos e a prova da mesma. Elas mostram que a
pessoa foi escolhida e regenerada. Fazer delas a base da eleição nos envolve
novamente num pacto de obras, e coloca os propósitos de Deus no sentido temporal,
ao invés de eterno. Não seria pré-destinação, mas sim pós-destinação, uma inversão
do que a Bíblia apresenta, a qual faz a fé e a santidade serem o resultado, e não a
causa da eleição (conforme Efésios 1:4; João 15:16; Tito 3:5). A declaração de que
nós fomos escolhidos em Cristo "antes da fundação do mundo" exclui qualquer
consideração de mérito nosso; pois no idioma Hebraico, algo feito "antes da fundação
do mundo" quer dizer "algo feito na eternidade". E quando à declaração de Paulo que
"... não por causa das obras, mas por aquele que chama", o Arminiano responde que
trata-se de obras futuras, ele simplesmente contradiz-se com as palavras do próprio
apóstolo.
Que o decreto da eleição fosse de qualquer forma baseado na pré ciência é refutado
por Paulo quando ele diz que o propósito era "...para sermos santos..."[Efésios 1:4].
Ele insiste que a salvação é "não vem das obras, para que ninguém se glorie." Em II
Timóteo 1:9 lemos que é Deus "que nos salvou, e chamou com uma santa vocação,
não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos
foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,". Os Calvinistas portanto
sustentam que a eleição precede, e não é baseada em nenhuma boa obra que a pessoa
faça. A própria essência da doutrina é que na obra da redenção Deus não é movido
por nenhuma consideração de mérito ou de bondade da parte dos objetos de sua
misericórdia salvadora. "Que não é porque o homem corra, ou porque ele intente, mas
é de Deus, que demonstra misericórdia, que o pecador obtém a salvação, é a
testemunha confiável de toda a Bíblia, demandado tão reiteradamente e em conexões
tão variadas que excluem a possibilidade de que possa esconder-se por trás do ato da
eleição qualquer consideração de caracteres, atos ou circunstâncias previstos -- todos
os quais aparecem como resultado da eleição." 10
Preordenação em geral não pode apoiar-se na pré ciência; pois somente aquilo que é
certo pode ser pré sabido, e só o que é predeterminado pode ser certo. O Todo-
Poderoso e Onipotente Rei do universo não governa a Si próprio embasado numa pré
ciência das coisas que podem graciosamente virem a acontecer. Nas Escrituras
Sagradas, a pré ciência divina é sempre considerada como dependente do propósito
divino, e Deus sabe somente porque Ele predeterminou. Seu conhecimento é somente
a transcrição da Sua vontade quanto ao que existirá no futuro; e o rumo que o mundo
toma sob o Seu providencial controle é somente a execução do Seu plano todo
abrangente. Sua pré ciência do que ainda será, seja relacionado ao mundo como um
todo ou relacionado aos detalhes da vida de cada indivíduo, baseia-se no Seu plano
pré organizado (vide Jeremias ':5; Salmo 139:14-16; Jó 23:13, 14: 28:26, 27; Amós
3:7).
Voltemos agora a nossa atenção para uma passagem na Bíblia que é comumente
mostrada como ensinamento de que geralmente a eleição ou mesmo a pre-ordenação
são baseadas na pré ciência. Em Romanos 8:29, 30, lemos: "[29] Porque os que
dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos que
predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e
aos que justificou, a estes também glorificou." A palavra "conhecer" é usada algumas
vezes num sentido diferente do que simplesmente ter uma percepção intelectual de
algo mencionado. Ocasionalmente pode significar que as pessoas "conhecidas" são os
objetos especiais e peculiares do favor de Deus, como foi escrito a respeito dos
Judeus: "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido ..."[Amós 3:2].
Paulo escreveu, "Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele."[I Coríntios
8:3]. Jesus, está escrito, "conhece" o Seu rebanho [João 10:14, 27]; e aos perversos
Ele dirá, "... Nunca vos conheci..."[Mateus 7:23]. No primeiro capítulo do livro dos
Salmos, lemos: "...o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos
ímpios conduz à ruína."[Salmo 1:6]
Mais que uma percepção ou um reconhecimento mental estão envolvidos nestas
passagens, pois Deus os tem tanto do perverso como do justo. É um tipo de
conhecimento, de ciência, que tem como objeto e está conectado só com os eleitos,
ou em outras palavras é o mesmo que amor, favor e aprovação. Aqueles em Romanos
8:29 são pré conhecidos no sentido de que eles foram pré designados a serem os
objetos especiais do Seu favor. Tal é mostrado mais claramente em Romanos 11:2.5,
onde lemos: "Deus não rejeitou ao seu povo que antes conheceu." (uma comparação é
feita com a época de Elias, quando Deus "separou para Si" os sete mil que não
dobraram seus joelhos a Baal) e no verso [5] ele complementa: "Assim, pois, também
no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça." Aqueles que
'antes foram conhecidos' como no versículo [2] e aqueles que são segundo a eleição
da graça são o mesmo povo; assim é que eles foram pré conhecidos no sentido de
haverem sido pré apontados, pré designados para serem objetos dos Seus graciosos
propósitos. Note especialmente que em Romanos 8:29 não diz que eles foram pré
conhecidos como perpetradores de boas obras, mas que eles foram pré conhecidos
como indivíduos a quem Deus estenderia a graça da eleição. E seja notado também
que se Paulo tivesse aqui usado o termo "pré conhecer" no sentido de que a eleição
estava baseada meramente na pré ciência, sua afirmação seria contraditória com todas
as demais passagens, que afirmam que a eleição é segundo o beneplácito de Deus.

O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do
homem. Isto faz com que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às
precárias vontades de homens apóstatas e transforma eventos temporais em motivos
para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou um conjunto de seres
soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é
assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o
que é certo, mas que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior,
Deus é apresentado como tendo evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido
tão geralmente derrotado que já mandou inumeravelmente mais pessoas para o
inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos como conclusão não
somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus.
Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em
Suas perfeições, que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e
quem realmente detém o governo sobre todos os assuntos na vida dos homens.
A Bíblia e a experiência Cristã nos ensinam que a própria fé e o arrependimento
através dos quais nós somos salvos, são eles próprios dádivas de Deus. "Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;"[Efésios
2:8]. Os Cristãos em Acaia "... pela graça haviam crido."[Atos 18:27]. Um homem
não está salvo por crer em Cristo, ele crê em Cristo porque está salvo. Mesmo o
princípio da fé, a disposição para procurar salvação, é obra da graça dádiva de Deus.
Paulo costumeiramente diz que somos salvos "através", "por meio" da fé (ou seja,
como a causa instrumental), mas nenhuma vez ele diz que somos salvos "por conta"
da fé (como sendo a causa meritória). E no mesmo sentido nós podemos dizer que os
redimidos serão recompensados em proporção às suas boas obras, mas não em razão
delas. E de acordo com isto, Agostinho diz que "Os eleitos de Deus são escolhidos
por Ele para serem Seus filhos, de maneira que possam vir a crer, não porque Ele pré
viu que eles creriam."
Quanto ao arrependimento, é igualmente declarado ser uma dádiva. "Ouvindo eles
estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus
concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida."[Atos 11:18]; "sim,
Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o
arreendimento e remissão de pecados;"[Atos 5:31]. Paulo criticou aqueles que não se
deram conta de que era a benignidade de Deus que os levou ao arrependimento [veja
Romanos 2:4]. Jeremias clamou "... restaura-me, para que eu seja restaurado, pois tu
és o Senhor meu Deus ...... arrependi-me; e depois que fui instruído,"[Jeremias 31:18,
19]. O que, por exemplo, tinha João Batista a ver com o fato de estar "cheio do
Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe"[Lucas 1:15] ? Jesus disse aos Seus
discípulos que para eles havia sido dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas
que a outros o mesmo não havia sido dado (veja Mateus 13:11). Basear a eleição em
fé prevista é o mesmo que dizer que nós somos ordenados para a vida eterna porque
nós cremos, enquanto que as Escrituras declaram o contrário: "...e creram todos
quantos haviam sido destinados para a vida eterna."[Atos 13:48]
Nossa salvação é "não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas
segundo a Sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação
pelo Espírito Santo,"[Tito 3:5]. Nós somos encorajados a efetuar a nossa própria
salvação com temor e tremor, pois é Deus quem operou em nós tanto o querer como o
efetuar da Sua boa vontade. E simplesmente porque Deus opera em nós, é que
buscamos desenvolver e efetuar a nossa própria salvação (vide Filipenses 2:12,13). O
Salmista nos diz que o povo do Senhor oferece-se voluntariamente no dia do Seu
poder (vide Salmo 110:3). Assim é que a conversão é uma dádiva peculiar e soberana
de Deus. O pecador não tem poder para voltar-se a Deus, mas é voltado ou renovado
pela graça divina antes que ele possa fazer qualquer coisa espiritualmente boa. De
acordo com esta premissa Paulo nos ensina que o amor, o gozo, a paz, a
longanimidade, domínio próprio, etc., não são as bases meritórias da salvação, mas
antes "os frutos do Espírito," (veja Gálatas 5:22, 23). O próprio Paulo foi escolhido
de forma que viesse a conhecer e fazer a vontade de Deus, não porque houvesse sido
previsto que ele o faria (veja Atos 22:14, 15). Agostinho nos diz que, "A graça de
Deus não encontra homens para serem eleitos, mas faz com que sejam"; e novamente,
"A natureza da bondade Divina não é somente para abrir àqueles que batem, mas
também para faze-los bater e pedir." Lutero expressou a mesma verdade quando
disse, "Somente Deus pelo seu Espírito opera em nós o mérito e a recompensa." João
nos diz que, "Nós amamos, porque ele nos amou primeiro."[I João 4:19]. Estas
passagens ensinam-nos sem margem para erros que a fé e as boas obras são os frutos
da obra de Deus em nós. Não somos escolhidos porque somos bons, mas para que
possamos vir a tornarmo-nos bons.
Mas enquanto boas obras não são o terreno da salvação, elas são absolutamente
essenciais para tanto, como sendo os seus frutos e as suas evidências. Elas são
produzidas pela fé tão naturalmente como as uvas são produzidas pela parreira. E
todavia não nos façam justos perante Deus, elas são tão ligadas à fé que a verdadeira
fé não pode ser encontrada sem elas. Nem podem as boas obras, no sentido estrito,
serem encontradas em lugar algum sem a fé. Nossa salvação não provém "de obras",
mas "para boas obras" (veja Efésios 2:9, 10); e o Cristão genuinamente salvo ver-se-á
em seu elemento natural somente quando produzindo boas obras. Este é o mesmo
princípio que Jesus estabeleceu quando Ele declarou que o caráter de uma árvore é
mostrado por seus frutos, e que uma boa árvore não pode dar frutos maus. As boas
obras são tão naturais para o Cristão quanto o é respirar; ele não respira para ter vida;
ele respira porque ele tem vida, e por esta mesma razão ele não pode evitar respirar.
Boas obras são a sua glória, por isso é que Jesus diz, "Assim resplandeça a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai,
que está nos céus."[Mateus 5:16], a quem verdadeiramente todo o crédito é devido.
A visão Calvinista é a única lógica, se aceitarmos a declaração Bíblica de que a
salvação é pela graça. Qualquer outra nos envolve num caos de pontos de vista sem
saída, que são contraditórios às Escrituras. Há, é claro, mistérios conectados com esta
visão Calvinista, e certamente não é a visão que o homem natural teria, tivesse ele
sido chamado para sugerir um plano. Mas jogar fora a doutrina Bíblica da
Predestinação, simplesmente porque ela não se adequa aos nossos preconceitos e
noções pré concebidas, é agir tolamente. Faze-lo é colocar o Criador no banco dos
réus no tribunal da razão humana, é negar a sabedoria e a retidão dos Seus atos só
porque não podemos sondá-Los, e então declarar que a Sua revelação é falsa e
enganosa.
"É uma atitude perigosa para os homens tomarem sobre si mesmos, ignorantemente,
desvendar os profundos mistérios de Deus com sua razão carnal, onde o grande
apóstolo posta-se clamando em assombro, 'Ó profundidade das riquezas, tanto da
sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos!'[Romanos 11:33]. Tivesse Paulo sido da persuasão
Arminiana, ele teria continuado, 'Aqueles que estão eleitos são os que foram pré
vistos acreditar e perseverar' "11. E não haveria mistério algum, se a salvação fosse
baseada naquelas palavras.
Então, temos um sistema teológico do qual todo discurso vanglorioso é excluído, e no
qual salvação em todos as suas partes é vista como o produto de pura graça, que
resulta em boas obras, sem contudo estar centrado nelas.

5. REJEIÇÃO
Proposição -- Comentários de Calvino, Lutero e Warfield -- Prova da Bíblia --
Baseada na Doutrina do Pecado Original -- Nenhuma Injustiça é Imputada aos Não-
Eleitos -- Estado de Ateísmo -- Propósitos do Decreto da Rejeição -- Arminianos de
Centro Atacam esta Doutrina -- Sem Nenhuma Obrigação de Explicar todas Estas
Coisas.
Logicamente, é claro que a doutrina da Predestinação absoluta sustenta que alguns
são preordenados à morte tão certamente quanto outros são preordenados à vida. Os
termos "eleitos" e "eleição" correspondem aos termos "não eleitos" e "rejeição".
Quando alguns são escolhidos outros não o são. Os altos privilégios e o destino
glorioso daqueles escolhidos não são compartilhados com os outros que não o foram.
Cremos que desde toda a eternidade Deus decidiu que parte da posteridade de Adão
permaneceria no seu pecado, e que o fator decisivo na vida de cada um é deve ser
encontrado somente na vontade de Deus. Como Mozley disse, a raça humana inteira,
depois da queda, era uma "massa de perdição", e "pareceu bem a Deus em Sua
soberana misericórdia resgatar alguns e deixar outros onde encontravam-se; elevar
alguns para a glória, dando-lhes tal graça quanto os qualificou para recebe-la,
abandonando o resto, de quem ele reteve aquela mesma graça, para o castigo eterno."
12
A maior dificuldade com a doutrina da Eleição, claro, emerge com relação aos não
salvos; e as Escrituras não nos dão explicação detalhada para a condição e o estado
deles. Uma vez que a missão de Jesus no mundo foi salvar o mundo ao invés de
julgá-lo, este aspecto do assunto é chamado menos à atenção.
Em todos os credos Reformados que chegam a lidar com a doutrina da Rejeição, o
tema é tratado como uma parte essencial da doutrina da Predestinação. A Confissão
de Westminster, depois de apresentar a doutrina da eleição, acrescenta: "Segundo o
inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa
misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas
criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido
não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus
pecados."[Capítulo III - Dos Eternos Decretos de Deus - parágrafo VII (referências
Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8)]." 13
Aqueles que adotam e sustentam a doutrina da Eleição mas negam a doutrina da
Rejeição não podem alegar consistência. Afirmar a primeira e ao mesmo tempo negar
a segunda faz do decreto da predestinação um decreto ilógico e sem qualquer
simetria. O credo que apresenta a Eleição e no entanto nega a Rejeição se parecerá
como uma ave ferida tentando levantar vôo com somente uma asa. No interesse de
um "Calvinismo moderado" alguns tem-se inclinado a abandonar a doutrina da
Rejeição, e este termo (em si mesmo um termo muito inocente) tem sido usado como
cunha para ataques injuriosos contra o Calvinismo puro e simples. "Calvinismo
Moderado" é sinônimo Calvinismo doente, e doença, se não curada, é o princípio do
fim.
Comentários de Calvino, Lutero, e Warfield
Calvino não hesitou em basear a rejeição dos perdidos, assim como a eleição dos
salvos, no propósito eterno de Deus. Temos já mencionado-o no sentido de que "nem
todos homens são criados com um destino similar mas a vida eterna é preordenada
para alguns, e a danação eterna para outros. Cada homem, portando, criado para um
ou outro destes fins, dizemos, é predestinado seja para a vida ou para a morte." 14.
Que a segunda alternativa levante problemas que não são fáceis de serem resolvidos,
ele prontamente admite, mas advoga tal como a única explicação inteligente e Bíblica
dos fatos.
Lutero também, tão certamente quanto Calvino, atribui a perdição eterna dos
perversos, assim como a salvação eterna dos justos, ao plano de Deus. "Pode muito
bem ofender a nossa natureza racional, que Deus, de Sua própria e imparcial vontade,
deixasse alguns homens entregues a si próprios, endurecesse-os e os condenasse; mas
Ele demonstra abundante e continuamente, que este é realmente o caso; quer dizer,
que a única razão pela qual alguns são salvos e outros perecem, procede da Sua
vontade a salvação de alguns e a perdição de outros, conforme o que escreveu Paulo,
Ele 'Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.'[Romanos
9:18] " E de novo, "Pode parecer absurdo à sabedoria humana que Deus devesse
endurecer, cegar e entregar alguns homens a um senso corrupto; que Ele
primeiramente os deixasse à mercê do mal, e depois os condenasse por aquele mesmo
mal; mas o crente, o homem espiritual não vê absurdo em tudo isso; sabendo que
Deus não seria um mínimo menos bom, mesmo que Ele destruísse todos os homens."
Lutero segue, então, dizendo que isto não deve ser compreendido como se Deus
encontra homens bons, sábios, obedientes e os transforma em homens maus, tolos e
obtusos, mas que tais homens já são depravados e caídos e que aqueles homens que
não são regenerados, ao invés de tornarem-se melhores sob os comandos e as
influências divinos, sua reação é somente a de piorarem. Referindo-se aos capítulos
IX, X e IX da Epístola de Paulo aos Romanos, Lutero diz que "Absolutamente todas
as coisas acontecem a partir da e dependem do comando Divino; por onde foi
préordenado quem deveria receber a palavra da vida e quem deveria não aceitá-la;
quem deveria ser livrado dos seus pecados e quem deveria ser endurecido neles,
quem seria justificado e quem seria condenado." 15
"Os escritores Bíblicos," diz o Dr. Warfield, "estão tão longe quanto possível de
obscurecer a doutrina da eleição por causa de quaisquer idéias ou proposições
aparentemente desagradáveis que advém dela. Ao contrário, eles expressamente
separam tais idéias ou proposições as quais freqüentemente são assim designadas, e
as fazem uma porção do seus estudos explícitos. Sua doutrina da eleição, eles nos
dizem livremente, por exemplo, certamente envolve uma correspondente doutrina da
preterição. O próprio termo adotado no Novo Testamento assim o expressa --
eklegomai, que como Meyer diz com justiça (Efésios 1:4), 'sempre tem, e deve ter
por uma necessidade lógica, uma referência a outros a quem os eleitos, sem a
'ekloga', ainda pertenceriam' -- encorpando uma declaração do fato que na sua eleição
outros são passados e deixados sem a dádiva da salvação; a apresentação inteira da
doutrina é tal que ou ela implica ou ela abertamente declara, na sua própria
emergência, a remoção dos eleitos pela pura graça de Deus, não só e meramente de
um estado de condenação, mas também da companhia dos condenados -- uma
companhia em quem a graça de Deus não tem nenhum efeito salvador, e que são
portanto deixados sem esperança em seus pecados; e a positiva e justa condenação
dos impenitentes por seus pecados é explícita e repetidamente ensinada em acentuado
contraste com a salvação gratuita dos eleitos apesar dos seus pecados." 16
E novamente ele diz: "A dificuldade que é sentida por alguns quanto a seguir o
argumento do apóstolo (vide Romanos 11 f), podemos suspeitar, tem raízes em parte
num resumo do que lhes parece um desígnio arbitrário de homens para destinos
diversos sem qualquer consideração do seu merecimento. Certamente Paulo afirma
explicitamente tanto a soberania da rejeição quanto da eleição, -- se estas idéias
gêmeas forem, de fato, separáveis mesmo que seja em pensamento; se ele representar
a Deus como soberanamente amando a Jacó, ele igualmente O representará como
soberanamente odiando a Esaú; se declarar que Ele tem misericórdia de quem Ele
quer, ele também declarará, igualmente, que Ele endurece a quem Ele quer. Sem
dúvida a dificuldade normalmente sentida é, em parte, conseqüência de uma
realização insuficiente da concepção fundamental de Paulo quanto ao estado do
homem, em muito como pecadores condenados perante um Deus irado. Ele apresenta
Deus lidando com um mundo cheio de pecadores, e a partir daquele mesmo mundo, a
construção de um Reino de Graça. Não fossem todos os homens pecadores, talvez
ainda existisse uma eleição, tão soberana como agora, e em havendo uma eleição,
ainda haveria uma rejeição também soberana; mas a rejeição não seria uma rejeição
para castigo, para destruição, para morte eterna, mas para algum outro destino
consoante com o estado daqueles não eleitos, onde eles devessem ser deixados. Não
é, de fato, porque os homens são pecadores que eles são deixados 'não eleitos'; a
eleição é livre, e em assim sendo a rejeição também deve ser igualmente livre; mas é
somente porque os homens são pecadores que o que é deixado aos não eleitos é a
destruição. E é nesse universalismo de ruína, ao invés de em um universalismo de
salvação, que Paulo realmente tem as raízes da sua defesa da bondade e onipotência
de Deus. Quando todos merecem a morte, é uma maravilha de pura graça que alguém
receba a vida; e quem poderia negar o direito dAquele que mostra misericórdia tão
miraculosa, de ter misericórdia de quem Ele quer, e endurecer a quem Ele quer?" 17
Prova das Escrituras
Esta é, admitidamente, uma doutrina desagradável. Ela não é ensinada com o
propósito de ganhar o favor dos homens, mas o é somente o pleno ensino das
Escrituras e a contrapartida lógica da doutrina da Eleição. Nós veremos que algumas
passagem ensinam esta doutrina com uma clareza incontestável. Tais passagens
deveriam ser suficientes para qualquer um que aceite a Bíblia como a palavra de
Deus. "O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do
mal"[Provérbios 16:4]. A respeito de Cristo, é dito quanto ao ímpio: "...Como uma
pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo
desobedientes; para o que também foram destinados"[I Pedro 2:8]. "Porque se
introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados
para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus,
e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo."[Judas 4]. "Mas estes, como
criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do
que não entendem, perecerão na sua corrupção"[II Pedro 2:12]. "Porque Deus lhes
pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à
besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus."[Apocalipse 17:17]. Com
relação à besta da visão de João, é dito, "E adora-la-ão todos os que habitam sobre a
terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo."[Apocalipse 13:8]. E podemos ainda contrastar estas passagens
com os discípulos a quem Jesus disse: "Contudo, não vos alegreis porque se vos
submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos
céus."[Lucas 10:20], e com o que Paulo disse aos seus colaboradores: "E peço
também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo
no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes
estão no livro da vida"[Filipenses 4:3]
Paulo declara que os "vasos da ira" que pelo Senhor foram "preparados para a
destruição," foram "suportou com muita paciência" de modo que Ele pudesse
"mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder"; e estes vasos da ira contrastados
com os "vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória" de modo "que
[Ele] também desse a conhecer as riquezas da sua glória", naqueles mesmos vasos
{na Epístola aos Romanos, 9:22, 23}. Com relação aos ímpios, é dito que "Deus, por
sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não
convêm;"[Romanos 1:28]; e do perverso, "a tua dureza e teu coração impenitente,
entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus"[Romanos
2:5].
Com relação àqueles que perecem, Paulo diz que "...por isso Deus lhes envia a
operação do erro, para que creiam na mentira;"[II Tessalonicenses 2:11]. Eles são
chamados a sustentarem tais coisas (erro, mentira - n.t.) de um modo aparente,
admirá-las e depois perecer nos seus pecados. Ouçam as palavras de Paulo na
sinagoga em Antioquia em Psídia: "...porque realizo uma obra em vossos dias, obra
em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar."[Atos 13:41]
O apóstolo João, depois de narrar que o povo ainda não cria, embora Jesus houvesse
feito tantos sinais na sua frente, acrescenta, "[39] Por isso não podiam crer, porque,
como disse ainda Isaías: [40] Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para
que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os
cure."[João 12:39, 40].
O mandamento de Cristo aos perversos no julgamento final, "...Apartai- vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41] é
o decreto de rejeição mais forte possível; e é o mesmo em princípio, seja comandado
no tempo ou na eternidade. O que é certo para Deus fazer no tempo, não é errado para
que Ele inclua no Seu plano eternal.
Em uma ocasião, o próprio Jesus declarou: "...Eu vim a este mundo para juízo, a fim
de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos."[João 9:39]. E em
outra oportunidade, Ele disse, "...Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos."[Mateus 11:25]. É difícil para nós aceitar que o Redentor adorável e o
único Salvador dos homens seja, para alguns, pedra de tropeço e rocha de ofensa;
todavia é exatamente isto que a Bíblia O declara ser. Mesmo antes do Seu
nascimento, foi dito que Ele estava designado (ou seja, apontado) para a queda, tanto
quanto para o levantamento, de muitos em Israel {"E Simeão os abençoou, e disse a
Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de
muitos em Israel, e para ser alvo de contradição."[Lucas 2:34]}. E quando, em sua
oração de intercessão no jardim do Getsêmane, Ele disse, "Eu rogo por eles; não rogo
pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado..."[João 17:9] , os não eleitos foram
repudiados com todas as palavras.

Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era
porque a verdade poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada.
Deixemos a história sagrada falar por si própria: "[10] E chegando-se a ele os
discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? [11] Respondeu-lhes
Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não
lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não
tem, até aquilo que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque
eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre
a profecia de Isaías, que diz..."[Mateus 13:10-14]:
"[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade,
mas não percebeis. [10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e
fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e
entenda com o coração, e se converta, e seja sarado."[Isaías 6:9, 10]
Nessas palavras podemos ver uma aplicação das próprias palavras de Jesus, "Não
deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas..."[Mateus 7:6].
Ele que afirma que Cristo designado para dar a Sua verdade salvadora para cada um
contradiz em cheio ao próprio Cristo. Aos não eleitos, a Bíblia é um livro selado; e
somente aos verdadeiros Cristãos é "dado" ver e entender todas essas coisas. Tão
importante é esta verdade que o Espírito Santo se compraz em repetir por seis vezes
no Novo Testamento o escrito pelo profeta Isaías (compare em Mateus 13:14, 15 ;
Marcos 4:12 ; Lucas 8:10 ; João 12:40 ; Atos 28:27 , Romanos 11:9, 10). Paulo nos
diz que pela graça a "eleição" recebeu salvação, e que o resto foi endurecido; então
acrescenta, "...Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e
ouvidos para não ouvirem..."[Romanos 11:8]. E mais adiante, lembra as palavras de
Davi, para o mesmo propósito: "[9] E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e
em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; [10] escureçam-se-lhes os olhos para
não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas."[Romanos 11:9, 10].
Assim, com relação a alguns, as proclamações evangélicas foram designadas para
ferir, e não para curar.
Esta mesma doutrina encontra expressão em muitas outras partes da Bíblia. Moisés
disse às crianças de Israel, "Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por
sua terra, porquanto o Senhor teu Deus lhe endurecera o espírito, e lhe fizera
obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se vê."[Deuteronômio
2:30]. Referindo-se às tribos Canaatitas que marcharam contra Josué, está escrito,
"Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra
contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade
alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés."[Josué
11:20]. Hofni e Finéias, os filhos de eli, quando reprovados por sua perversidade,
"...eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."[I Samuel
2:25]. Embora o Faraó houvesse agido muito arrogante e perversamente para com os
Israelitas, Paulo não assinala nenhuma outra razão senão a que ele era um dos
rejeitados cujas más ações seriam sobrepassadas pelo bem: "Pois diz a Escritura a
Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja
anunciado o meu nome em toda a terra."{[Romanos 9:17] - veja também em [Êxodo
9:16 : "mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra."]}. Em todos os
rejeitados há uma cegueira e um obstinado endurecimento de coração; e quando de
algum, como o Faraó por exemplo, é dito ter sido endurecido por Deus, nós podemos
estar certos de que eles já eram valorizados com tendo sido entregues a Satã. Os
corações dos perversos são, é claro, nunca endurecidos através de uma influência
direta de Deus -- Ele simplesmente permite que alguns homens sigam os impulsos de
maldade que já estão nos seus corações, de modo que, como resultado das suas
próprias escolhas, eles se tornem mais e mais "calejados" e obstinados. E enquanto é
dito, por exemplo, que Deus endureceu o coração do Faraó, também é dito que o
Faraó endureceu o seu próprio coração (compare em Êxodo 8:15; 8:32, 9:34). Uma
descrição é dada a partir do ponto de vista divino, a outra é fornecida a partir do
ponto de vista humano. Em última instância Deus é responsável pelo endurecimento
do coração, tanto quanto Ele é quem permite que isto ocorra, e o escritor inspirado,
em linguagem gráfica simplesmente diz que Deus o faz; mas nunca devemos nós
entender que Deus seja a causa imediata e eficiente.
Embora esta doutrina seja difícil, ela é, não obstante, Bíblica. E desde que ela é tão
plenamente ensinada nas Escrituras, nós não podemos assinalar nenhuma outra razão
para a oposição que ela tem enfrentado, a não ser a pura ignorância e o preconceito
irracional com que as mentes dos homens têm sido cheias quando eles se propõem a
estudá-la. Quão aplicáveis aqui são as palavras de Rice: -- "Que felicidade seria para
a Igreja de Cristo e para o mundo, se os ministros Cristãos e o povo Cristão se
contentassem em serem discípulos, -- APRENDIZES; se, conscientes das suas
faculdades limitadas, da sua ignorância quanto às coisas divinas, e da sua inclinação
para o erro através da sua depravação e do seu preconceito, eles poderiam ser
induzidos a sentarem-se aos pés de Jesus e aprender dEle. A Igreja tem sido
corrompida e amaldiçoada em quase todas as eras pela indevida confiança dos
homens no seu próprio poder de raciocínio. Eles têm se proposto a pronunciarem-se
sobre a racionabilidade ou a irracionabilidade de doutrinas infinitamente acima da sua
razão, as quais são necessariamente matéria de pura revelação. Na sua presunção eles
têm tentado compreender 'as profundezas de Deus' e têm interpretado as Escrituras,
não conforme o seu sentido óbvio, mas conforme as decisões da razão finita." E ele
diz novamente, "Ninguém nunca estudou as obras da Natureza ou o Livro do
Apocalipse sem encontrar-se rodeado por todos os lados por dificuldades, por
enigmas que ele não poderia solucionar. O filósofo é obrigado a satisfazer-se com
fatos; e o teólogo deve contentar-se com as declarações de Deus."18
É estranho afirmar que, muitos daqueles que insistem que quando o povo passa a
estudar a doutrina da Trindade eles devem colocar de lado quaisquer noções pré
concebidas e apoiar-se somente na razão humana, sem ajuda, para decidir o que pode
e o que não pode ser verdade acerca de Deus, e quem insiste que as Escrituras devem
ser aceitas aqui como guia autoritativo e inquestionável, não estão na realidade
dispostos a seguir aqueles regras no estudo da doutrina da predestinação.

A doutrina da rejeição é Baseada na Doutrina do Pecado Original; Nenhuma Injustiça


é Feita aos Não Eleitos.
É óbvio que esta parte da doutrina da Predestinação, que afirma que Deus tem, por
um decreto eterno e soberano, escolhido uma porção da espécie humana para a
salvação, enquanto deixando a outra porção destinada a destruição, nos atinge como
sendo oposta às nossas idéias comuns de justiça, e assim precisa de defesa. A defesa
da doutrina da Rejeição encontra-se na predecessora doutrina do Pecado Original ou
da Depravação Total (Incapacidade Total). Este decreto encontra toda a raça humana
caída. Ninguém tem qualquer direito à graça de Deus. Mas ao invés de deixar todos à
sua justa punição, Deus gratuitamente confere felicidade imerecida para aquela
porção da espécie humana, -- um ato de pura misericórdia e graça ao qual ninguém
pode opor-se, -- enquanto a outra porção é simplesmente deixada de lado. Nenhuma
miséria imerecida é direcionada sobre aquele grupo. Assim, ninguém tem qualquer
direito de opor-se a esta parte do decreto. Se o decreto lida simplesmente com
homens inocentes, seria injusto assinalar uma porção para a condenação; mas desde
que ele lida com homens num estado particular, estado o qual é de culpa e de pecado,
ele portanto não é injusto. "A concepção do mundo como um mundo que encontra-se
no mal e portanto já julgado (veja João 3:18), de forma que sobre aqueles que não são
removidos do mal do mundo a ira de Deus não é derramada, mas simplesmente sobre
eles ela permanece (veja João 3:36; confirme com I João 3;14); é fundamental para
esta apresentação. É por outro lado, portanto, que Jesus a Si próprio Se representa
como tendo vindo não ára condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por
Ele (veja em João 3:17 ; 8:12 ; 9:5 ; 12:47 , confirme com João 4:42); e tudo o quanto
Ele faz, tendo por motivo a introdução da vida no mundo (veja João 6:33, 51); o
mesmo mundo já condenado não precisa de mais condenação, precisa de salvação."
19
O homem culpado perdeu os seus direitos e cai sob a vontade de Deus. A soberania
absoluta de Deus agora entra em cena e quando Ele em alguns casos demonstra
misericórdia, não podemos opor-nos à sua justiça em outros, a não ser que estejamos
questionando o Seu governo do universo. Visto sob este prisma, o decreto da
Predestinação encontra na raça humana uma massa de perdição e permite que
somente uma parte dela permaneça em tal estado. Quando todos, antecedentemente
mereceram castigo, não era injusto para alguns serem antecedentemente consignados
a tanto; caso contrário a execução de uma justa sentença seria injusta.
Quando o Arminiano diz que fé e obras constituem as bases da eleição nós
discordamos," diz Clark. "mas se ele disser que crença prevista e desobediência
constituem a base da rejeição nós assentimos bastante prontamente. Um homem não é
salvo com base nas suas virtudes mas ele é condenado com base no seu pecado.
Como Calvinistas convictos nós insistimos que enquanto alguns homens são salvos
de sua descrença e desobediência, nas quais todos encontram-se envolvidos, e outros
não o são, é ainda a pecaminosidade do pecador que constitui a base da sua rejeição.
A eleição e a rejeição procedem de diferentes bases; uma é a graça de Deus, a outra é
o pecado do homem. É uma caricatura do Calvinismo dizer que porque Deus elege
um homem para a salvação independentemente de seu caráter ou merecimentos, que
portanto Ele eleja outro homem para a danação independentemente de seu caráter ou
merecimentos." 20
Esta rejeição ou "deixar de lado os não eleitos" não é fundamentada meramente numa
previsão da sua continuidade no pecado; pois se a fé tivesse sido uma causa própria,
rejeição teria sido a sina de todos os homens, pois todos foram pré vistos como
pecadores. Nem poderia ser dito que aqueles que foram "deixados de lado" fossem
em todo caso piores pecadores que aqueles trazidos à vida eterna. As Escrituras
sempre atribuem a fé e o arrependimento ao beneplácito de Deus e a operação
especialmente graciosa do Seu Espírito. Aqueles que concebem a raça humana como
inocente e merecedora da salvação ficam escandalizados, naturalmente, quando a
qualquer parte da raça seja antecedentemente consignado o castigo. Mas quando a
doutrina do Pecado Original, que é ensinada tão clara e repetidamente na Bíblia, é
vista e analisada em seu escopo adequado, as objeções à predestinação desaparecem e
a condenação dos perversos parece nada mais que natural. Assim, a salvação procede
somente do Senhor, e a danação procede inteiramente de nós. Os homens perecem
por não virem a Cristo; todavia se eles tiverem a vontade de vir, é o Bem que opera
tal vontade neles. A Graça, a graça que elege, promove ambas coisas, desperta a
vontade e a mantém firme; e à graça seja todo o louvor.
Ademais, num mundo cheio de pecado e rebeldia, ninguém vale a pena ser salvo, por
si mesmo. Deus graciosamente escolheu alguns quando ele poderia ter passado ao
largo por todos, como ele fez com os anjos caídos (veja em II Pedro 2:4 ; Judas 6).
Ele levou tudo sobre si para prover a redenção através da qual o Seu povo é salvo. A
expiação, portanto, é Sua propriedade; e Ele certamente pode, como Ele muito
certamente o fará, qualquer coisa que seja da Sua vontade, através da Sua própria
Graça, dada para um e negada a outro, conforme melhor Lhe convenha. Deve ser
notado que o fato de a não dispensação da Sua graça ao não eleito não se constitui a
causa do perecer, tanto como a ausência do médico ao lado do enfermo é a ocasião,
não a causa eficiente, da sua morte. "À vista de um Deus infinitamente bom e
misericordioso," diz o Dr. Charles Hodge, "era necessário que alguns integrantes da
rebelde raça humana devessem sofrer o castigo pela lei que todos em conjunto
haviam quebrado. É uma prerrogativa de Deus determinar quais serão vasos de
misericórdia e quais serão deixados à justa recompensa do seus pecados." 21
Desde que o homem levou-se a si mesmo até este estado de pecado, a sua condenação
é justa, e cada demanda por justiça resultaria no seu castigo. A consciência nos diz
que o homem perece justamente, desde que ele decida seguir a Satã ao invés de
seguir a Deus. "mas não quereis vir a mim para terdes vida!"[João 5:40]. E neste
sentido a palavras do Prof. F. E. Hamilton é muito apropriada: "Tudo o que Deus faz
é deixá-lo só (o não regenerado) e permitir que ele trilhe o seu próprio caminho sem
interferência. É da sua natureza ser mau, e Deus simplesmente pré ordenou deixar
que aquela natureza permanecesse sem modificação. O quadro muitas vezes pintado
por oponentes do Calvinismo, de um Deus cruel que recusa-Se a salvar aqueles que
de há muito deveriam ser salvos, é uma caricatura grotesca. Deus salva todos quantos
queiram ser salvos, mas ninguém cuja natureza não seja modificada quer ser salvo."
Aqueles que estão perdidos, perdidos estão porque eles deliberadamente escolheram
caminhar na senda do pecado; e isto será mesmo o inferno dos infernos, que os
homens tenham destruído a si próprios.
Muita gente discute se a salvação é um direito inato do homem. E esquecidos do fato
de que o homem perdeu a sua supremamente favorável chance em Adão, eles nos
dizem que Deus seria injusto se ele não desse a todos os seres culpados uma
oportunidade para serem salvos. Com relação à idéia de que a salvação é dada em
retribuição a algo feito pela pessoa, Lutero diz, "Mas suponhamos, eu lhes rogo, que
Deus devesse ser tal, que tivesse respeito para com o mérito naqueles que estão
danados. Não deveríamos nós, semelhantemente, também requerer e acreditar que Ele
também devesse ter respeito para com aqueles que serão salvos? Pois se vamos seguir
a razão, é igualmente injusto, que os que não merecem devessem ser coroados, tanto
quanto que os que merecem devessem ser condenados." 22
Ninguém com idéias próprias acerca de Deus supõe que Ele de repente faça algo
sobre o que Ele não tenha pensado antes. Uma vez que os Seus propósitos são
eternos, o que Ele faz no tempo é o que Ele propôs-Se a fazer desde a eternidade.
Aqueles a quem Ele salva são aqueles a quem Ele propôs-Se a salvar desde a
eternidade, e aqueles a quem Ele deixa a perecer são aqueles a quem Ele propôs-Se
deixar desde a eternidade. Se é justo para Deus fazer uma determinada coisa no
tempo, também é, pela paridade do argumento, justo para Ele resolver sobre
determinado assunto e decretar como tal desde a eternidade, pois o princípio da ação
é o mesmo em ambos casos. E se nós somos justificados em dizer que desde toda a
eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua misericórdia ao perdoar a vasta
multidão de pecadores, por que algumas pessoas objetam tão estressadamente quando
dizemos que desde toda a eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua justiça ao
castigar outros pecadores?
Assim é que, se é justo para Deus reter-Se de salvar algumas pessoas depois que elas
nascem, foi também justo para Ele formar aquele propósito antes que elas nascessem,
ou na eternidade. E desde que a vontade determinante de Deus é onipotente, ela não
pode ser obstruída ou anulada. Em sendo verdade, segue-se que Ele nunca antes, nem
mesmo agora, quis ou quer que cada indivíduo da raça humana seja salvo. Se Ele
assim quisesse, nenhuma só alma, nunca, poderia ou teria se perdido, "...Pois, quem
resiste à sua vontade?"[Romanos 9:19]. Se Ele quisesse que ninguém se perdesse, Ele
teria certamente dado para todos os homens aqueles meios efetivos de salvação, sem
os quais não podem tê-la. Agora, Deus poderia dar aqueles meios tão facilmente para
toda a humanidade, como para somente alguns, mas a experiência prova que Ele não
o faz. Assim é que, logicamente, não é nenhum propósito secreto de Deus ou um
decreto da Sua vontade que todos devam ser salvos. De fato, as duas verdades, que o
que Deus faz Ele o faz desde a eternidade, e que somente uma parte da raça humana é
salva, são suficientes para completar as doutrinas da Eleição e da Rejeição.
O Estado dos Ateus
O fato de que, na obra providencial de Deus, alguns homens são deixados sem o
Evangelho e os outros meios da graça, virtualmente envolve o princípio estabelecido
na doutrina Calvinista da Predestinação. Nós vemos que em todas as épocas a grande
parte da humanidade tem sido deixada destituída dos meios externos da graça. Por
séculos os Judeus, cujo número era pequeno, foram o único povo a quem aprouve a
Deus revelar-Se de maneira especial. Jesus restingiu o Seu ministério público quase
que exclusivamente a eles e proibiu os Seus discípulos de andarem no meio de outros
até passado o dia de Pentecostes (veja Mateus 10:5, 6; 28:19; Marcos 16:15; Atos
1:4). Multidões foram deixadas sem a oportunidade de ouvir o Evangelho, e
consequentemente morreram em seus pecados. Se Deus tivesse a intenção de salvá-
los, indubitavelmente Ele teria enviado a eles os meios de salvação. Se Ele tivesse
escolhido cristianizar a Índia e a China há mil anos atrás, Ele mais que certamente
poderia ter atingido o Seu propósito. Ao contrário, eles permaneceram em densas
trevas e descrença. Para o estado passado e presente do mundo, com todo o seu
pecado, miséria e morte, não pode haver outra explicação senão aquela que é dada na
Bíblia, -- nominalmente, que a raça caiu em Adão e que em misericórdia Deus
soberanamente escolheu trazer uma multidão inumerável à salvação através de uma
redenção que Ele pessoalmente providenciou. É uma visão pervertida e desonrosa de
Deus, imaginá-lo lutando e batalhando com homens desobedientes, fazendo o Seu
melhor para converte-los, mas incapaz de atingir o Seu propósito.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, nominalmente, que Cristo morreu por todos
os homens e que os benefícios da Sua morte são realmente aplicados a todos homens,
seria de se esperar que Deus tivesse provisionado para que o Evangelho fosse
comunicado a todos os homens. O problema com os ateus, com aqueles povos que
vivem e morrem sem o Evangelho, tem sido sempre um problema muito difícil para
os Arminianos, que insistem que todos os homens têm graça suficiente se eles
simplesmente quiserem fazer uso dela. Poucos negarão que a salvação está
condicionada à pessoa que ouve e que aceita o Evangelho. A Igreja Cristã tem
praticamente sido unânime ao declarar que os ateus como uma classe estão perdidos.
Que isto seja um ensinamento claro na Bíblia, nós podemos facilmente mostrar: ---
"E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há,
dado entre os homens, em que devamos ser salvos."[Atos 4:12]. "Porque todos os que
sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei
serão julgados."[Romanos 2:12]. "Porque ninguém pode lançar outro fundamento,
além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo."[I Coríntios 3:11]. "Eu sou a videira;
vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer."[João 15:5]. "...Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai, senão por mim."[João 14:6]. "Quem crê no Filho tem a vida
eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece
a ira de Deus."[João 3:36]. "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de
Deus não tem a vida."[I João 5:12]. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti,
como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste."[João 17:3].
"Ora, sem fé é impossível agradar a Deus ..."[Hebreus 11:6]. "[13] Porque: Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. [14] Como pois invocarão aquele
em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram falar? e como
ouvirão, se não há quem pregue?"[Romanos 10:13, 14] (ou, em outras palavras, como
podem os ateus possivelmente serem salvos quando eles nunca sequer ouviram falar
de Cristo, que é o único caminho para a salvação?). "Disse-lhes Jesus: Em verdade,
em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o
seu sangue, não tereis vida em vós mesmos."[João 6:53]. Quando aquele que vigia vê
o perigo se aproximando mas não avisa, não alerta o povo e eles morrem na sua
iniqüidade, {"Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não falares
para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o
seu sangue eu o requererei da tua mão."[Ezequiel 33:8]} -- verdade, seremos
responsabilizados se não falarmos, se não avisarmos, todavia isto não muda a sorte do
povo. Jesus declarou que mesmo os Samaritanos que tinham privilégios muito mais
altos que as nações fora da Palestina, adoravam o que não conheciam, e que a
salvação vinha dos Judeus. Veja também o primeiro e o segundo capítulos da Epístola
de Paulo aos Romanos. As Escrituras, então, são plenas em declarar que sob
condições ordinárias, normais, aqueles que não têm a Cristo e o Evangelho estão
perdidos.
E de acordo com isto, a Confissão de Fé de Westminster, depois de declarar que
aqueles que rejeitam a Cristo não podem ser salvos, acrescenta: "...muito menos
poderão ser salvos por qualquer outro meio os que não professam a religião cristã,
por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz da natureza e
com a lei da religião que professam ..." [parte da seção IV, Capítulo X, = referências
Bíblicas: Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5;
João 6:64-66, e 8:24; At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8;
I Cor. 16:22].
Na verdade, a crença de que os ateus, aqueles que vivem sem o Evangelho estão
perdidos tem sido um dos mais fortes argumentos a favor da missões estrangeiras. Se
crermos que as suas próprias religiões têm luz e verdade suficientes para salvá-los, a
importância de pregar o Evangelho a eles é então diminuída consideravelmente.
Nossa atitude quanto às missões estrangeiras é muito grandemente determinada pela
resposta que damos àquela questão.
Não negamos que Deus pode salvar até mesmo alguns dos ateus adultos se Ele
escolher fazê-lo, pois o Seu Espírito opera quando e onde e como Lhe apraz, com ou
sem meios. Se qualquer um dos tais é salvo, contudo, é por um milagre de pura graça.
Certamente o método normal de Deus é reunir, separar os Seus eleitos da parte
evangelizada da humanidade, embora devemos admitir a possibilidade de, através de
um método extraordinário, alguns dos Seus eleitos possam ser reunidos, separados da
parte não evangelizada. (A sina, o destino daqueles que morrem na infância em terras
pagãs é tema a ser discutido sob o tópico "Salvação Infantil", mais adiante).
É irracional supor que povos podem apropriar-se de alguma coisa da qual não sabem
nada. Isto pode ser facilmente visto tanto quanto os ateus (os povos ainda não
alcançados) são deixados de lado no que se refere a muitos prazeres, a alegrias e
oportunidades relacionados com este mundo; e segundo o mesmo princípio, seria de
se esperar que fossem também deixados de lado também no próximo. Aqueles que
são providencialmente colocados nas trevas pagãs da China setentrional não podem
aceitar a Cristo como Salvador mais do que podem aceitar o rádio, o avião ou o
sistema Copérnico de astronomia, coisas a respeito das quais são totalmente
ignorantes. Quando Deus coloca pessoas em tais condições, podemos estar certos de
que Ele não tem intenção de que elas sejam salvas, mais do que ele teria intenção que
o solo ao norte da Sibéria, que permanece congelado durante o ano inteiro, devesse
produzir grãos de trigo. Tivesse Ele querido o contrário, Ele teria suprido os meios
que levassem ao fim determinado. Há também multidões nas terras nominalmente
Cristãs, a quem o Evangelho nunca foi apresentado de qualquer forma adequada, que
não têm nem mesmo as condições externas para a salvação, sem mencionar o estado
de indefesa dos seus corações.
É claro que isto não significa que todos os perdidos sofrerão o mesmo grau de
castigo. Nós cremos que a partir de um 'ponto zero' em comum haverá todos graus de
recompensas bem como todos os graus de punições; e que a recompensa ou o castigo
de uma pessoa serão, até determinada extensão, baseados na oportunidade que ela
tenha tido neste mundo. Jesus Ele próprio declarou que no dia do julgamento, seria
mais tolerável para a cidade pagã de Sodoma que para aquelas cidades da Palestina,
que ouviram a Sua mensagem mas a rejeitaram (veja em Lucas 10:12-14); e ele
concluiu a parábola dos servos fiéis e infiéis com as palavras: "[47] O servo que
soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade,
será castigado com muitos açoites; [48] mas o que não a soube, e fez coisas que
mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado,
muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá."[Lucas
12:47, 48]. Então, enquanto os ateus, os pagãos (enfim, povos não alcançados pelo
Evangelho) estão perdidos, eles deverão sofrer relativamente menos que aqueles que
ouviram o Evangelho e o rejeitaram.
Assim, com relação a esta questão das raças pagãs, os Arminianos estão, em muito,
envolvidos em dificuldades que subvertem seu sistema por completo, dificuldades
das quais eles nunca foram capazes de safarem-se. Eles admitem que somente em
Cristo há salvação; todavia eles vêm que multidões morrem sem sequer haverem
ouvido falar de Cristo ou do Evangelho. Ao sustentar que graça suficiente ou
oportunidade devem ser proporcionadas a cada homem antes que ele seja condenado,
muitos deles têm sido levados a postular uma provação futura, -- isto contudo não é o
que a Bíblia advoga, mas é contrário às Sagradas Escrituras. Como Cunningham diz,
"os Calvinistas têm sempre tido como um forte argumento contra as doutrinas
Arminiadas da graça universal e da redenção universal, e em favor dos seus próprios
pontos de vista dos soberanos propósitos de Deus; que, ponto pacífico, tão grande a
porção da raça humana que tem sido sempre deixada em completa ignorância da
misericórdia de Deus, e do caminho da salvação revelado no Evangelho; nem, em tais
circunstâncias como, para todas as aparências, atirar obstáculos insuperáveis no seu
caminho para alcançar aquele conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, que é a vida
eterna." 23
Somente no Calvinismo, com a sua doutrina da culpa e da corrupção de toda a
humanidade através da queda, e sua doutrina da graça através da qual alguns são
soberanamente resgatados e trazidos à salvação enquanto outros são deixados de
lado, é que encontramos uma explicação adequada para o fenômeno do mundo pagão,
do mundo ainda não alcançado pelo Evangelho.

Propósitos do Decreto da Rejeição


A condenação dos não eleitos é primariamente designada a fornecer uma exibição
eterna, diante dos homens e dos anjos, da animosidade, do ódio de Deus com relação
ao pecado, ou, em outras palavras, é uma manifestação eterna da justiça de Deus.
(Deve ser recordado que a justiça de Deus tão certamente demanda o castigo do
pecado, como demanda a recompensa da retidão.) Este decreto mostra um dos
atributos divinos o qual, se separado daquele decreto, nunca seria apreciado
adequadamente. A salvação de alguns através de um redentor destina-se a demonstrar
os atributos do amor, da misericórdia e da santidade. Os atributos da sabedoria, do
poder e da soberania são demonstrados no tratamento dispensado a ambos grupos.
Assim é que a verdade do testemunho das Escrituras que, "O Senhor fez tudo para um
fim; sim, até o ímpio para o dia do mal."[Provérbios 16:4]; como também o
testemunho de Paulo que este arranjo estava intencionado por um lado "para que
também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de
antemão preparou para a glória." por outro lado para "mostrar a sua ira, e dar a
conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para
a perdição"[Romanos 9:23, 22]
Este decreto da rejeição também serve para subordinar propósitos relacionados com
os eleitos; pois, ao observar a rejeição e o estado final dos maus, (1) eles aprendem
que eles também teriam sofrido, não tivesse a graça agido em seu cuidado; e eles
entendem mais profundamente as riquezas do amor divino que os levantou do pecado
e os trouxe para a vida eterna, enquanto outros não mais culpados um de valor menor
que eles foram deixados para a destruição eterna. (2) Provê um motivo muito
poderoso para estarem gratos por haverem recebido tão altas bênçãos. (3) São levados
a uma confiança mais profunda no Pai celeste que supre todas as suas necessidades
nesta vida e na próxima. (4) A consciência do que eles têm recebido resulta na razão
mais forte possível para que eles amem seu Pai celeste, e vivam vidas tão puras
quanto possível. (5) Leva-os a um maior horror ao pecado. (6) Leva-os a caminharem
mais próximos com Deus e uns com os outros, especialmente com aqueles herdeiros
escolhidos do reino dos céus. (7) Quanto ao argumento da soberana rejeição dos
Judeus, Paulo aniquila na fonte qualquer acusação de que eles foram deixados de fora
sem razão. "Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De
maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar
à emulação."[Romanos 11:11]. Assim, vemos que a rejeição por Deus, dos Judeus,
teve um propósito muito sábio e definitivo; ou seja, que a salvação pudesse ser dada
aos Gentios, e de maneira tal que reagiria para a salvação dos próprios Judeus.
Historicamente, vemos que a Igreja Cristã tem sido quase que exclusivamente uma
Igreja Gentia. Mas em cada era os Judeus têm sido convertidos ao Cristianismo, e
cremos que com o passar do tempo, números muito maiores serão "provocados ao
ciúme" ('incitados à emulação') e feitos com que se voltem a Deus. Vários versos no
décimo primeiro capítulo da Epístola aos Romanos indicam que números
consideráveis serão convertidos e que eles serão extremamente zelosos pela retidão.

O Ataque Arminiano Central a Esta Doutrina


A doutrina da Rejeição é a que os Arminianos mais gostam de atacar. Eles
costumeiramente a isolam e enfatizam-na como se ela fosse a essência e a substância
do Calvinismo, enquanto que as outras doutrinas tais como a da Soberania de Deus, o
puramente gracioso caráter da Eleição, a Perseverança dos santos, etc., as quais tanta
glória dão a Deus, são deixadas de lado com pouco ou nenhum comentário. No
Sínodo de Dort, os Arminianos insistiram em primeiro discutir o tema da Rejeição, e
reclamaram como se fosse um grande sofrimento quando o Sínodo recusou-se a faze-
lo. Até hoje, eles tem geralmente buscado esta mesma política. Seu objetivo é claro,
pois eles sabem quão fácil é deturpar esta doutrina, bem como apresentá-la sob ótica
tal que incitará preconceitos nos sentimentos dos homens contra ela. Eles usualmente
distorcem os pontos de vista que são sustentados pelos Calvinistas, fazendo em
seguida todas as alegações que podem contra a doutrina; eles argumentam que desde
que não pode haver tal coisa como a Rejeição, tampouco pode haver coisa alguma
como a Eleição. A ênfase injusta nesta doutrina indica qualquer coisa menos uma
busca pela verdade, sincera e sem preconceitos. Quiçá eles tornassem-se para o lado
positivo do sistema; quiçá eles argumentassem e considerassem a grande quantidade
de evidências que foram coletadas em favor desse sistema teológico.
Por outro lado, Calvinistas freqüentemente apresentam primeiro a evidência em favor
da doutrina da Eleição e então, tendo estabelecido esta, eles mostram que o que eles
sustentam com relação à doutrina da Rejeição ocorre naturalmente. Eles, de fato, não
interpretam a segunda como sendo dependente da primeira exatamente pelas provas
que ela apresenta. Eles crêem que ela é sustentada por provas independentes, nas
Escrituras; eles todavia crêem que se o que eles sustentam com relação à doutrina da
Eleição é provadamente verdadeiro, então o que eles sustentam com relação à
doutrina da Rejeição seguirá a lógica necessária. Uma vez que as Escrituras nos dão
mais informação acerca do que Deus faz ao produzir fé e arrependimento naqueles
que estão salvos do que elas nos dão com relação ao Seu procedimento com relação
àqueles que continuam impenitentes e descrentes, a razão demanda que
investiguemos primeiro a doutrina da Eleição, e depois consideremos a doutrina da
Rejeição. Esta última consideração nos mostra a injustiça interior dos Arminianos em
dar tal proeminência à doutrina da Rejeição. Como já dito anteriormente, esta é
admitidamente uma doutrina desagradável. Os Calvinistas não se retraem de discuti-
la; ainda que naturalmente, por causa do seu caráter terrível, eles não encontrem
satisfação em argumentar a respeito dela. Eles também compreendem que aqui os
homens devem ser particularmente cuidadosos para não serem tentados a serem mais
sábios do que o que está escrito, uma vez que muitos são inclinados a fazerem o que
lhes apetece em presunçosas especulações acerca de assuntos os quais estão muito
elevados para eles.
Sem Nenhuma Obrigação de Explicar Todas Estas Coisas
Deve ser relembrado que estamos sob nenhuma obrigação de explicar todos os
mistérios relacionados com estas doutrinas. Estamos somente sob a obrigação de
estabelecer o que as Escrituras Sagradas ensinam com relação a elas, e vindicar tal
ensinamento tanto quanto possível, desde as objeções que são alegadas contra as
mesmas. O "Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado."[Mateus 11:26, Lucas
10:21], foi, para o nosso Senhor, um testemunho cabal e em si mesmo suficiente da
Sua onipotência, face a todas diversas interações com os homens. A resposta única e
suficiente que Paulo dá aos argumentadores vãos que penetrariam mais fundo nestes
mistérios é que eles são resolvidos pela sabedoria e soberania divinas. Aqui, as
palavras de Toplady são apropriadas de uma maneira especial: "Não digam, portanto,
como os opositores dessas doutrinas o fizeram nos dias de Paulo: 'Por que Deus acha
falta no ímpio? Pois quem é capaz de resistir à Sua vontade? Se Ele, O único que
pode converte-lo, não o faz, que razão há para culpar a eles, que perecem, sabendo
ser impossível resistir à vontade do Onipotente?' Satisfaçam-se com a resposta de
Paulo, 'Ó homem, quem és tu para replicar contra Deus?'. O apóstolo centraliza todo
o tema, inteiramente, na absoluta soberania de Deus. É ali que ele o deposita; e é ali
que deve permanecer." 24
O homem não pode mensurar a justiça de Deus através da sua própria compreensão; e
a nossa modéstia deveria ser tal que quando os motivos para alguma das obras de
Deus nos for encoberto, nós não obstante creiamos que Ele é justo. Se qualquer um
pensar que esta doutrina representa a Deus com um Deus injusto, será somente
porque ele não se dá conta do que é a doutrina Bíblica do Pecado Original, nem a que
ele está comprometido, por intermédio dela. Deixe que ele pense sobre a existência
de um motivo doentio, real, antecedente ao pecado real; e a condenação lhe parecerá
justa e natural. Dado o primeiro passo, o segundo não apresentará realmente nenhuma
dificuldade.
É difícil compreendermos que muitos daqueles bem à nossa volta (em alguns casos
nossos amigos chegados e mesmo parentes) estão provavelmente preordenados ao
castigo eterno; e tanto quanto nos damos conta disso ficamos inclinados a nutrir certa
simpatia por eles. Todavia, quando vista à luz da eternidade essa nossa simpatia pelos
perdidos provará ter sido um sentimento não merecido e mal colocado. Aqueles que
estão fatalmente perdidos serão então vistos como eles realmente são, inimigos de
Deus, inimigos de toda a justiça, e amantes do pecado, sem qualquer desejo de
salvação ou da presença do Senhor. Podemos ainda acrescentar que, desde que Deus é
perfeitamente justo, ninguém será mandado para o inferno exceto aqueles que para lá
merecem ir; e quando virmos seus reais caracteres, estaremos satisfeitos com o que
Deus fez.
A bem da verdade, os Arminianos não se safam de nenhuma dificuldade neste ponto.
Pois desde que eles admitem que Deus tem o pré conhecimento de todas as coisas
eles devem explicar por que Ele cria aqueles que ele ante vê que viverão vidas
pecaminosas, rejeitarão o Evangelho, morrerão impenitentes, e sofrerão eternamente
no inferno. Os Arminianos realmente têm um problema mais difícil do que os
Calvinistas agora; pois os Calvinistas mantém que aqueles a quem Deus assim cria,
sabendo que estarão perdidos, são os não eleitos que voluntariamente escolhem o
pecado e em cujo merecido castigo Deus determina a manifestação da Sua justiça,
enquanto que os Arminianos devem dizer que Deus deliberadamente cria aqueles a
quem ele ante vê que serão criaturas pobres, tão miseráveis que sem serventia para
qualquer bom propósito trarão a destruição sobre si mesmos e passarão a eternidade
no inferno, apesar do fato de que o Próprio Deus sinceramente deseja traze-los para o
paraíso, e que Deus se entristecerá para sempre ao ver que eles estão onde Ele não
desejava que estivessem. Será que isto não representa Deus como se agindo muito
tolamente, ao trazer sobre Si próprio tal dissatisfação e sobre algumas de Suas
criaturas miséria tal, enquanto Ele poderia, pelo menos, não havê-las criado, já que
Ele mesmo anteviu que estariam perdidas?
Talvez existam alguns que, ao ouvirem sobre a doutrina da Predestinação, colocar-se-
ão no grupo dos rejeitados; e estarão inclinados a mergulhar fundo no pecado, com a
desculpa de que já estão perdidos, de qualquer forma. Mas faze-lo é o mesmo que
envenenar-se, é atirar-se de volta à Idade das Pedras. Ninguém tem o direito de
julgar-se rejeitado nesta vida, e daí viver em desespero; pois a desobediência final (o
único infalível sinal de rejeição) não pode ser descoberto até o momento da morte.
Nenhuma pessoa não convertida nesta vida sabe ao certo se Deus não irá convertê-la
e salvá-la, muito embora ela esteja ciente de que tal mudança ainda não aconteceu.
Assim, ela não tem o direito de numerar-se, de colocar-se em definitivo no grupo dos
não eleitos. Deus não nos disse quem entre os não convertidos ele ainda tem o
propósito de regenerar e salvar. Se qualquer homem sente e ouve os gemidos
angustiantes da sua consciência, estes podem muito bem ser os próprios meios que
Deus está usando para chamá-lo.
Utilizamos um espaço considerável para a discussão da doutrina da Rejeição, porque
tem sido impedimento e bloqueio à compreensão para muitos daqueles que rejeitam o
sistema teológico Calvinista. Nós cremos que se esta doutrina puder ser provada
Bíblica e razoável, as demais partes do sistema serão prontamente aceitas.

6. INFRALAPSARIANISMO E SUPRALAPSARIANISMO
Entre aqueles que a si mesmos chamam-se Calvinistas tem freqüentemente havido
diferenças de opinião sobre a ordem dos eventos no plano Divino. A questão aqui é a
seguinte, Quando os decretos de eleição e de rejeição vieram a existir os homens
eram considerados como caídos ou como não caídos? Os objetos desses decretos
foram contemplados como membros de uma massa corrupta e pecadora, ou foram
contemplados meramente como homens a quem Deus criaria? De acordo com o
ponto de vista do "infralapsarianismo" a ordem dos eventos foi a seguinte: Deus
propôs (1) criar; (2) permitir a queda; (3) eleger dessa massa de homens caídos uma
multidão para a vida eterna e bênçãos; e deixar outros, como Ele deixou o Diabo e os
anjos caídos, para sofrer o justo castigo por seus pecados; (4) dar o Seu Filho, Jesus
Cristo, para a redenção dos eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar aos
eleitos a redenção que havia sido comprada por Cristo. De acordo com o ponto de
vista "supralapsariano" a ordem dos eventos foi a seguinte: (1) eleger alguns homens
'criáveis' (isto é, homens que seriam criados) para a vida e condenar outros para a
destruição; (2) criar; (3) permitir a queda; (4) enviar Cristo para redimir os eleitos; e
(5) enviar o Espírito Santo para aplicar tal redenção aos eleitos. A questão agora é
quanto a se a eleição precede a queda.
Um dos principais motivos no esquema "supralapsariano" é enfatizar a idéia da
discriminação e forçar esta idéia. No veio da natureza do caso, esta idéia não pode ser
consistentemente levada a efeito, por exemplo, na criação, e especialmente na queda.
Não foram meramente alguns dos membros da raça humana que foram objetos do
decreto da criação, mas toda a espécie humana, e isto com a mesma natureza. E não
foi meramente a alguns homens, mas toda a raça, a quem foi permitida a queda. O
"supralapsarianismo" vai em frente até o extremo, de um lado, como o faz o
"universalismo", de outro. Somente o esquema "infralapsariano" é em si consistente
com outros fatos.
Com relação a esta diferença, o Dr. Warfield escreve: "O mero colocar da questão
parece trazer consigo a resposta. Pois o que está em questão é o tratamento real
dispensado aos homens, que é igual para ambas classes; aqueles que são eleitos e
aqueles que são deixados de lado, condicionados em pecado. Não se pode falar de
salvação mais do que de rejeição sem postular o pecado. O pecado é necessariamente
precedente em pensamento. Na realidade, não até a idéia abstrata da percepção, mas
ao instante concreto da percepção, que está em questão; a percepção relacionada a um
destino, que envolve ou salvação ou castigo. Deve haver pecado em intenção, para
fundamentar um decreto de salvação, tão verdadeiramente quanto um decreto de
punição. Não se pode falar de um decreto referente à salvação e castigo, que seja
discriminatório entre homens, portanto; sem postular a intenção dos homens como
pecadores, de acordo com a lógica original do decreto." 25
E no mesmo sentido o Dr. Charles Hodge diz: "É um princípio Bíblico claramente
revelado, que onde não há pecado não há condenação ... Ele teve misericórdia para
um e não para com outro, conforme a Sua própria vontade, porque todos são
igualmente pecadores e culpados . . . Em todo lugar, como em Romanos 1:24, 26, 28,
a rejeição é declarada ser judicial, baseada na pecaminosidade do que é rejeitado. De
outra forma não seria uma manifestação da justiça de Deus." 26
Não está em harmonia com as idéias de Deus conforme mostradas na Bíblia, que
homens inocentes, homens que não são contemplados como pecadores, estivessem
pré ordenados para a miséria e morte eternas. Não se deveria estudar o decreto
relacionado com os salvos e os perdidos baseado somente em soberania abstrata.
Deus é verdadeiramente soberano, mas esta soberania não é exercida de maneira
arbitrária. Antes, é uma soberania exercida em harmonia com os Seus outros
atributos, especialmente a Sua justiça, a Sua santidade e a Sua sabedoria. Deus não
peca; e nesse respeito Ele é limitado, embora fosse mais acurado falar da sua
incapacidade de pecar como sendo uma perfeição. Há, é claro, mistério relacionado
com qualquer um dos sistemas, mas o sistema "Supralapsariano" parece ir além do
mistério, e na contradição.
As Escrituras Sagradas são praticamente "infralapsarianas", -- os Cristãos são ditos
terem escolhidos "do" mundo (veja em João 15:19 = "Se fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo,
por isso é que o mundo vos odeia"); o oleiro tem o direito sobre o barro (veja em
Romanos 9:21 = "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa
fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?"); e os eleitos e não
eleitos são reputados com estando originalmente num estado comum de miséria.
Sofrer e morrer estão uniformemente representados como os salários do pecado. O
esquema "infralapsariano" naturalmente a si mesmo relaciona-se com as nossas idéias
de justiça e de misericórdia, e ao menos é isento da objeção Arminiana de que Deus
simplesmente cria alguns homens para danação. Agostinho e a grande maioria
daqueles que têm sustentado a doutrina da eleição desde a sua promulgação foram e
são "infralapsarianos", -- quer dizer, eles crêem que foi da massa de homens caídos
que alguns foram eleitos para a vida eterna, enquanto que outros foram sentenciados
à morte eterna em razão dos seus pecados. Não há nenhuma confissão Reformada que
ensine o ponto de vista "supralapsariano"; mas por outro lado, um número
considerável ensina abertamente a visão "infralapsariana", que assim emerge como a
forma típica do Calvinismo. Até os dias de hoje é provavelmente dizer que não mais
que um Calvinista dentre cem sustenta a visão "supralapsariana". Nós somos
Calvinistas o bastante, mas não somos "altos Calvinistas". O termo "alto Calvinista"
aplica-se àquele que sustenta a visão "supralapsariana".
É sem dúvida verdadeiro que a escolha soberana de Deus está disseminada em
qualquer dos sistemas e a salvação como um todo é obra de Deus. Os oponentes
usualmente enfatizam o sistema "supralapsariano", por ser o que, sem explicação, é
mais provável de vir a conflitar com os sentimentos e as impressões naturais do
homem. Também é verdadeiro que há algumas coisas que não podem ser formatadas
no tempo, -- que estes eventos não estão na mente Divina como encontram-se na
nossa mente, por uma sucessão de atos, um após outro, mas que por um único ato
Deus ordenou, todas essas coisas de uma só vez. Na mente Divina o plano é uno,
cada parte do qual constituída com referência a um estado de fatos, os quais
intencionados por Deus, como sendo resultados das outras partes. Todos esses
decretos são eternos. Eles têm uma relação lógica, mas não cronológica. Todavia, de
maneira a podermos raciocinar inteligentemente sobre eles, devemos ter nossos
pensamentos numa certa ordem. Nós, muito naturalmente, temos a opinião de que a
dádiva de Cristo, em santificação e em glorificação, foi posterior aos decretos da
criação e da queda.
Com relação ao ensinamento da Confissão de Westminster, o Dr. Charles Hodge faz o
seguinte comentário: "Twiss, presidente oficial daquele corpo venerável (a
Assembléia de Westminster), era um "supralapsariano" zeloso; a grande maioria de
seus membros, contudo, estavam do outro lado. Os símbolos daquela Assembléia,
enquanto claramente implicando numa visão "infralapsariana", foram todavia tão
emoldurados de maneira a evitar qualquer ofensa àqueles que adotaram a teoria
"supralapsariana". Na 'Confissão de Westminster', é dito que Deus apontou os eleitos
para a vida eterna, e o restante da espécie humana, a Deus pareceu bem, conforme o
inescrutável conselho da Sua própria vontade, através do qual Ele estende ou retrai a
misericórdia conforme Lhe apraz, para a glória do Seu soberano poder sobre as Suas
criaturas, deixar de lado, e ordená-los à desonra e à ira pelo seu pecado, para o louvor
da Sua gloriosa justiça: Neste ponto é ensinado que aqueles a quem Deus deixa de
lado são 'o resto da espécie humana; não o restante de ideais ou homens possíveis,
mas o restante daqueles seres humanos que constituem a espécie humana, ou a raça
humana. Em segundo lugar, a passagem cotada mostra e ensina que os não eleitos são
deixados de lado e ordenados à ira 'pelo seu pecado'. Isto implica que eles foram
contemplados como cheios de pecado antes desta pré ordenação para julgamento. A
visão "infralapsariana" é assumida ainda mais obviamente na resposta às questões 19ª
e 20ª no 'Pequeno Catecismo'. Ali é ensinado que toda a humanidade perdeu
comunicação com Deus quando da queda, e que está desde então sob a Sua ira e
maldição, e que Deus, do Seu próprio beneplácito elegeu alguns (alguns daqueles sob
a Sua ira e maldição), para a vida eterna. Tal tem sido a doutrina da grande massa de
Agostinianos, desde o tempo de Agostinho até os dias de hoje." 27

7. MUITOS SÃO ESCOLHIDOS


Quando a doutrina da Eleição é mencionada muita gente imediatamente assume que
ela significa que a grande maioria da humanidade estará perdida. Mas por que alguém
deveria chegar a tal conclusão? Deus é livre, na eleição, para escolher tantos quantos
Lhe aprouver, e nós cremos que Ele, que é infinitamente misericordioso e
benevolente e santo escolherá a grande maioria para a vida. Não há uma boa razão
pela qual Ele devesse limitar-se a uns poucos somente. Nos é dito que Cristo terá a
preeminência em todas as coisas, e nós não cremos que ao Diabo será permitido
emergir vitorioso, mesmo em números.
O nosso posicionamento neste respeito foi mui habilmente apresentado pelo Dr. W.
G. T. Shedd nas seguintes palavras: "Note-se que a questão 'quantos estão eleitos e
quantos estão rejeitados', não tem nada a ver com a questão 'se Deus pode eleger ou
rejeitar pecadores'. Se estiver intrinsecamente correto para Ele eleger ou não eleger,
salvar ou não salvar aqueles 'agentes morais livres' que, por sua própria falta
atiraram-se no pecado e na ruína, números não são importantes para estabelecer-se
estatística correta. E se estiver intrinsecamente errado, números não são importantes
para estabelecer-se estatística errada. Nem tampouco há qualquer necessidade de que
o número dos eleitos seja pequeno, e consequentemente o de não eleitos seja grande,
ou vice versa. A eleição e a não eleição, assim como os números dos eleitos e dos não
eleitos são ambos um assunto da soberania e decisão opcional. Ao mesmo tempo,
alivia a solenidade e o horror que pairam sobre o decreto da rejeição, ao lembrar que
as Escrituras Sagradas ensinam que o número dos eleitos é muito maior que o dos não
eleitos. O reino do Redentor neste mundo caído é sempre descrito como muito maior
e grandioso que o de Satã. A operação da graça na terra é uniformemente
representada como mais poderosa que a do pecado. 'Onde abunda o pecado, a graça
superabundou.' E o número final dos redimidos é dito ser um 'número o qual nenhum
homem pode contar,' mas o (número) dos perdidos não é tão magnificado e
enfatizado." 28
Há, no entanto, uma prática muito comum entre os escritores Arminianos, de
representar os Calvinistas como tendendo a consignar à miséria eterna uma grande
parte da raça humana, que eles admitiriam às glórias do céu. É uma mera caricatura
do Calvinismo, representá-lo como se baseado no princípio que os salvos serão
somente um punhado, ou uns poucos arrancados das chamas. Quando os Calvinistas
insistem na doutrina da Eleição, sua ênfase reside no fato de que Deus lida
pessoalmente com cada alma individual, ao invés de simplesmente lidar com a
humanidade como um todo; e é algo totalmente à parte da proporção relativa que
deve existir entre os salvos e os perdidos. Em resposta àqueles que são inclinados a
dizer, "De acordo com esta doutrina somente Deus pode salvar a alma; haverá poucos
salvos," responder que a sua ponderação poderia muito bem ser, "Uma vez que
somente Deus pode criar estrelas, pode haver somente poucas estrelas." A objeção
não é muito bem aceita. A doutrina da Eleição em si mesma não nos diz nada a
respeito do que deverá ser a proporcionalidade no final. O único limite estabelecido é
o de que nem todos serão salvos.
Tanto quanto diz respeito aos princípios de soberania e de eleição pessoal, não há
razão por que um Calvinista não deva sustentar que todos os homens serão finalmente
salvos; e alguns Calvinistas têm na verdade sustentado este ponto de vista. "O
Calvinismo", escreveu W. P. Patterson, da Universidade de Edinburgh, "é o único
sistema teológico que contém princípios -- nas suas doutrinas da eleição e da graça
irresistível -- que poderia dar credibilidade à uma teoria de salvação universal." E o
Dr. S. G. Craig, Editor da revista 'Cristianismo Hoje', e um dos mais destacados
homens na Igreja Presbiteriana da atualidade, diz que "Sem dúvida que muitos
Calvinistas, assim como muitos não Calvinistas, têm, em obediência aos supostos
ensinamentos das Escrituras, sustentado que poucos serão salvos, mas não há
nenhuma boa razão pela qual os Calvinistas não possão crer que os salvos serão, em
última instância, a imensa maioria da raça humana. De qualquer forma, os nossos
mais importantes teólogos -- Charles Hodge, Robert L. Dabney, W. G. T. Shedd e B.
B. Warfield -- assim têm se manifestado."
Como citado por Peterson, o Calvinismo, com a sua ênfase na relação pessoal e
íntima entre Deus e cada alma individualmente, é o único sistema teológico que
ofereceria uma base para o universalismo, não fosse tal ponto de vista contraditório
com as Sagradas Escrituras. E em contrasto com isto, não deveria então o Arminiano
admitir que, comparativamente de acordo com os seus princípios, somente alguns
poucos seriam realmente salvos? Ele deve admitir que na história humana, uma
grande proporção de adultos, mesmo em paragens nominalmente Cristãs, no
exercício do seu "livre arbítrio" com uma "habilidade graciosamente restaurada" têm
morrido sem aceitar a Cristo. E a menos que Deus esteja trazendo o mundo para um
destino já apontado, que bases existem para supor-se que, tanto quanto a natureza
humana permanecer como está, a situação seria materialmente diferente, mesmo que
o mundo durasse ainda hum bilhão de anos?
8. UM MUNDO OU UMA RAÇA REDIMIDA
Uma vez que foi o mundo, ou a raça humana, que caiu em Adão, foi também o
mundo, ou a raça humana que foi redimida por Cristo. Isto, contudo, não significa
que cada indivíduo será salvo, mas que a raça como raça será salva. Deus Jeová não é
uma mera deidade tribal, mas é "O Deus de toda a terra"; e a salvação que Ele teve
em mente não pode estar limitada a um pequeno e seleto grupo, ou a poucos
favorecidos. O Evangelho não foi meramente um 'jornaleco' para umas poucas vilas e
cidades na Palestina, mas foi uma mensagem mundial; e o testemunho abundante e
constante da Bíblia é que o reino de Deus encherá a terra, "...o seu domínio se
estenderá de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades da terra."[Zacarias 9:10]

No começo, no Antigo Testamento, temos a promessa de que "...a glória do Senhor


encherá toda a terra,"[Números 14:21]; e Isaías repete a promessa de que toda a carne
verá a glória de Jeová [veja em Isaías 40:5: "A glória do Senhor se revelará; e toda a
carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o disse."]. Israel foi chamado de 'luz
para os Gentios' ["Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as
tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz
das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra."(Isaías 49:6)] e
'para a salvação da terra' ["porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos
gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra."(Atos 13:47)]. Joel
declarou abertamente que nos dias de bênção vindouros, o Espírito então dado
somente a Israel seria derramado sobre toda a terra. "Acontecerá depois que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne..."[Joel 2:28]; e Pedro aplicou a profecia
ao derramamento que iniciou-se no Pentecostes ["Mas isto é o que foi dito pelo
profeta Joel"(Atos 2:16)].
Ezequiel nos dá o retrato do fluxo crescente de águas curadoras que vertem de sob a
soleira do templo, águas que estavam primeiro à altura dos tornozelos, depois dos
joelhos, então dos quadris e em seguida um grande rio, águas que não se podiam
atravessar {"(1) Depois disso me fez voltar à entrada do templo; e eis que saíam umas
águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava
para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar. (2)
Então me levou para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta
pelo caminho de fora até a porta exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que
corriam umas águas pelo lado meridional. (3) Saindo o homem para o oriente, tendo
na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas águas, águas
que me davam pelos artelhos. (4) De novo mediu mil, e me fez passar pelas águas,
águas que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas,
águas que me davam pelos lombos. (5) Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu
não podia atravessar; pois as águas tinham crescido, águas para nelas nadar, um rio
pelo qual não se podia passar a vau."[Ezequiel 47:1-5]}. A interpretação de Daniel
para o sonho do Rei Nabucodonosor nos ensina a mesma verdade. O rei viu uma
grande imagem, com várias partes em ouro, prata, bronze, ferro e barro. Então ele viu
uma pedra cortada ser cortada sem o auxílio de mãos, pedra esta que feriu a estátua
de modo que o ouro, a prata, o bronze, o ferro e o barro foram esmiuçados e levados
pelo vento sem que se pudesse deles achar qualquer vestígio. Estes vários elementos
representavam os grandes impérios do mundo, que seriam despedaçados e
completamente varridos, enquanto que a pedra cortada sem o auxílio de mãos
representava um reino espiritual que o Próprio Deus estabeleceria e que se tornaria
uma grande montanha e encheria toda a terra. "Mas, nos dias desses reis, o Deus do
céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste
reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para
sempre."[Daniel 2:44]. À luz do Novo Testamento, vemos que este reino era aquele
que Cristo estabeleceu. Na visão que Daniel teve, a besta guerreou com os santos e
prevaleceu, ainda, por um tempo, -- mas, até que "...chegou o tempo em que os santos
possuíram o reino."[Daniel 7:22].
Jeremias transmitiu a promessa de que o tempo vem quando "...não ensinarão mais
cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor;
porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o
Senhor..."[Jeremias 31:34]. O salmista escreveu "Pede-me, e eu te darei as nações por
herança, e as extremidades da terra por possessão"[Salmo 2:8]. O último livro do
Antigo Testamento contém a promessa que "Mas desde o nascente do sol até o poente
é grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome
incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o
Senhor dos exércitos."[Malaquias 1:11]
Encontramos no Novo Testamento o mesmo ensino. Quando o Senhor finalmente
mandar chuvas de bênçãos espirituais para o Seu povo, "o resto dos homens" e "todos
os Gentios" "busquem ao Senhor" (veja em Atos 15:17). "E Ele (Cristo) é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de
todo o mundo."[I João 2:2]. E ainda, "(16) Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna. (17) Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para
que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele."[João 3:16, 17]. E
depois, "...o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo."[I João 4:14] ; "...Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."[João 1:29] ; "...nós mesmos temos
ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo."[João 4:24] ;
"...Eu sou a luz do mundo..."[João 8:12] ; "...Eu vim, não para julgar o mundo, mas
para salvar o mundo."[João 12:47] ; "E eu, quando for levantado da terra, todos
atrairei a Mim."[João 12:32] ; "...Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo..."[II Coríntios 5:19]. Acerca do reino dos céus, é dito ser "...semelhante ao
fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar
tudo levedado."[Mateus 13:33]
No décimo primeiro capítulo da Carta de Paulo aos Romanos, ele escreve que a
aceitação do Evangelho pelos Judeus será como "vida dentre os mortos" em suas
bênçãos espirituais para o mundo. Através da sua queda o Evangelho foi dado aos
Gentios - "Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza
dos gentios, quanto mais a sua plenitude!" . . . . "Porque, se a sua rejeição é a
reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?". O
domínio universal e completo de Cristo é ensinado novamente, quando somos ditos
que Ele está sentado à direita de Deus Pai até que todos os inimigos tenham sido
postos sob os Seus pés.
Assim, forte ênfase é aplicada na universalidade da obra redentora de Cristo, e nos é
ensinado que nossos olhos ainda verão um mundo Cristianizado. E, desde que nada é
mencionado com relação a quanto tempo a terra continuará a existir após aquele
objetivo ter sido alcançado, possivelmente podemos esperar uma "era dourada" de
prosperidade espiritual, continuadamente por séculos, ou mesmo milênios, durante
qual tempo o Cristianismo triunfará em toda a terra, e durante qual tempo uma grande
proporção mesmo de adultos será salva. Parece que o número dos redimidos será
multiplicado até que em muito ultrapasse o número dos perdidos.
Não podemos, é claro, fixar nem mesmo uma data aproximada para o fim do mundo.
Em vários lugares na Bíblia nos é dito que Cristo voltará no fim desta presente ordem
mundial, que a Sua vinda será pessoal, visível, e em grande poder e glória, que a
ressurreição geral e o julgamento geral então terão lugar; e que o céu e o inferno
então virão a existir em sua plenitude. Mas também tem sido expressamente revelado
que o temo da vinda do nosso Senhor permanece "entre as coisas secretas que
pertencem ao Senhor nosso Deus." "Pois quanto àquele dia ninguém sabe, nem
mesmo os anjos no céu nem o Filho, mas somente o Pai," disse Jesus antes da Sua
crucificação; e depois da Sua ressurreição Ele disse, "A vós não vos compete saber os
tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade."[Atos 1:7].
Portanto, aqueles que atrevem-se a vaticinar quando será o fim do mundo,
simplesmente falam sem conhecimento. À vista do fato de que já transcorreram 2.000
anos desde que Cristo veio ao mundo pela primeira vez, pode ser, tanto quanto
sabemos e conhecemos, que outros 2.000 anos transcorrerão até que ele retorne, --
talvez muito mais tempo, talvez muito menos que isso.
Neste aspecto, o Dr. S. G. Craig disse: "Sabemos que certos eventos, tais como a
pregação do Evangelho entre todas as nações (veja em Mateus 24:14), a conversão
dos Judeus (veja em Romanos 11:25-27), a queda de 'todo domínio e toda autoridade
e poder' que sejam opositores de Cristo (veja em I Coríntios 15:24); ocorrerão antes
do retorno do nosso Senhor. Parece claro, portanto, que enquanto o tempo do retorno
do nosso Senhor não é conhecido, ainda assim tal fato permanece um tanto quanto
distante no futuro. Quanto mais ainda no futuro, não temos como saber. Sem dúvida,
se os eventos moverem-se tão lentamente no futuro como moveram-se no passado, a
vinda do nosso Senhor dar-se-á num futuro distante. Mas tendo em vista, contudo,
que acontecimentos movem-se muito mais rapidamente que os que já se passaram,
tanto quanto o que antigamente demorava séculos para ser conseguido, para ser
alcançado, atualmente é alcançado, conseguido somente em poucos anos; é possível
que o retorno de Cristo esteja para ocorrer então num futuro comparativamente
próximo. Se futuro próximo ou remoto como medido na escala humana, podemos
estar certos de que acontecerá num futuro próximo, conforme medido pela escala de
Deus, para quem mil anos são como um dia somente. Contudo, nas presentes
condições, parece haver pouco ou nada nas Escrituras Sagradas que garanta a noção
de que Jesus retornará dentro do período de vida desta geração." 29
O mundo talvez ainda seja jovem. Certamente Deus não nos deu nenhuma exibição
do que ele pode fazer com um mundo verdadeiramente convertido à retidão e justiça.
O que temos visto parece ser somente o estágio preliminar, uma vitória temporária do
diabo, cuja obra será completamente derrotada. A obra de Deus estende-se através
dos séculos. Mesmo os milênios são insignificantes para Aquele que habita a
eternidade. Quando associamos nossa teologia com nossa astronomia, vemos que
Deus opera em uma incrivelmente vasta escala. Ele criou e estabeleceu milhões,
mesmo bilhões talvez, de flamejantes sóis em todo o universo, -- algo como dez
milhões já foram catalogados. Os astrônomos nos contam, por exemplo, que a terra
encontra-se a 92.000.000 milhas (algo em torno de 147.200.000 Km - n.t.) de
distância do sol e que a luz, viajando à velocidade de 300.000 Km por segundo leva
somente oito minutos para atravessar aquela distância. Eles vão além, ao dizer que a
estrela fixa mais próxima encontra-se tão longe que são necessários quatro anos para
que a luz dela chegue até nós; que o brilho, a luz da estrela polar que hoje vemos
esteve a caminho durante 450 anos. À vista do que a ciência moderna revela,
podemos perceber que o período de tempo durante o qual o homem tem vivido na
terra é comparativamente insignificante. Para a raça humana, Deus pode ter reservado
desenvolvimentos tais que poderão ser assombrosos, -- desenvolvimentos dos quais
não podemos sequer remotamente sonhar.
9. A VASTA MULTIDÃO DOS REDIMIDOS
O decreto do amor de Deus, que elege e que predestina, embora discriminativo e
particular, é, não obstante, muito extensivo. "...vi, e eis grande multidão que ninguém
podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e
diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e
clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao
Cordeiro..."[Apocalipse 7:9, 10]. Deus o Pai elegeu milhões incontáveis da raça
humana para a salvação e gozo eternos. Apenas que proporção da família humana Ele
incluiu em Seu propósito de misericórdia, nós não sabemos; mas, à vista dos dias
futuros de prosperidade que estão prometidos à Igreja, pode-se inferir que a maior
parte deles serão eventualmente encontrados entre o número dos Seus eleitos.
No capítulo dezenove do Livro do Apocalipse escrito pelo apóstolo João, está
relatada uma visão que mostra em termos figurativos a luta entre as forças do bem e
do mal, no mundo. Com relação àquela descrição, o Dr. Warfield diz: "A seção abre-
se com uma visão da vitória da Palavra de Deus, o Rei dos Reis e Senhor dos
Senhores sobre todos os Seus inimigos. Nós O vemos chegar do céu em um corcel de
guerra, seguido pelos exércitos do céu; as aves que voam no céu são convocadas para
a festa de cadáveres que será preparada para elas; os exércitos do inimigo -- os
animais e os reis da terra -- estão reunidos contra Ele e são totalmente destruídos; e
todas as aves se fartaram da sua carne (Ap 19:11-21). Temos aqui um retrato vívido
de uma vitória completa, uma conquista por inteiro; e o cenário de guerra e batalha é
usado para dar vida a tal retrato. Este é o símbolo. O que está simbolizado é
obviamente a vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes de perversos.
Somente um único traço deste significado é proporcionado pela linguagem descritiva,
mas é o bastante. Em duas ocasiões somos cuidadosamente informados que a através
da qual a vitória é conquistada procede da boca do conquistador (versículos 15 e 21).
Não devemos pensar, enquanto lemos, num combate manual ou numa guerra literal,
portanto; a conquista é alcançada pela palavra falada -- em resumo, pela pregação do
Evangelho. Ou seja, temos diante de nós uma figura da carreira vitoriosa do
Evangelho de Cristo no mundo. Todo imaginativo da batalha ferrenha e seus detalhes
sangrentos são mostrados para dar-nos a impressão exata de quão completa é a
vitória. O Evangelho de Cristo vai conquistar a terra; Ele vencerá a todos os Seus
inimigos." 30
Para nós que vivemos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, é dado a conhecer
o palco da batalha. Não nos é dito, contudo, quanto tempo levará até que seja coroada
com a vitória, ou quanto tempo o mundo convertido esperará a vinda do Senhor. Hoje
vivemos num período que é relativamente dourado se comparado com o primeiro
século da era Cristã, e este progresso deve perdurar até que aqueles que viverem nesta
terra presenciem um cumprimento prático da oração, "Venha o Teu reino, seja feira a
Tua vontade assim na terra como no Céu." Quando temos uma visão mais ampla da
maneira graciosa de Deus lidar com o mundo pecador, vemos também que Ele não
distribuiu a graça da Sua eleição com a mão fechada, mas que o Seu propósito foi o
da restauração do mundo todo para Si.
A promessa foi feita a Abraão que a sua posteridade seria uma vasta multidão, -- "que
deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas
dos céus e como a areia na praia do mar ..."[Gênesis 22:17]; "Farei a tua
descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da
terra, então se contará também a tua descendência."[Gênesis 13:16]. E no Novo
Testamento descobrimos que esta promessa refere-se não meramente aos Judeus
como um povo separado, mas que aqueles que são Cristãos estão no mais alto
conceito de verdadeiros "filhos de Abraão". "Sabeis, pois, que os da fé é que são
filhos de Abraão"; e de novo, "E, se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão e herdeiros segundo a promessa."[Gálatas 3:7, 29].
Isaías declarou que a vontade de Jeová prosperaria nas mãos do Messias, que Ele
veria o trabalho penoso de Sua alma e ficaria satisfeito. E em vista do que Ele sofreu
no Calvário nós sabemos que Ele não seria facilmente satisfeito.
A idéia de que o número dos salvos em muito superará o dos perdidos também é
mostrado nos contrastes encontrados na linguagem das Escrituras. O Céu é
uniformemente retratado como o próximo mundo, como um grande reino, um país,
uma cidade, enquanto que por outro lado o inferno é uniformemente representado
como um lugar comparativamente pequeno, uma prisão, um lago (de fogo e enxofre),
uma vala (funda, talvez, mas estreita), (vide Lucas 20:35; I Timóteo 6:17; Apocalipse
21:1, Mateus 5:3; Hebreus 11:16; I Pedro 3:19; Apocalipse 19:20; 20:10, 14, 15;
21:8-27). Quando os anjos e os santos são mencionados na Bíblia, é dito estarem em
hostes, miríades, uma multidão inumerável, dez mil vezes dez mil e milhares de
milhares mais; mas tais figuras de linguagem não são nunca usadas com relação aos
perdidos, e por contraste o seu número parece ser relativamente insignificante (Lucas
2:13; Isaías 6:3; Apocalipse 5:11). "O círculo da eleição de Deus," diz Shedd, "é um
grande círculo dos céus e não o de uma moenda. O reino de Satã é insignificante em
contraste com o reino de Cristo. Na imensa amplidão do domínio de Deus, o bem é a
regra, e o mal é a exceção. O pecado é um ponto na brancura da eternidade; uma
mancha no sol. O inferno é somente um canto do universo."
A julgar por estas considerações então parece (se pudermos arriscar um palpite) que o
número daqueles que são salvos pode eventualmente ser de proporção tal para o
número daqueles que estão perdidos como o número de cidadãos livres em nossas
comunidades hoje em dia tem para com o número daqueles que estão em prisões e
penitenciárias; ou que a companhia dos salvos pode ser comparada às árvores que
crescem e florescem, enquanto que os perdidos comparam-se aos ramos e gravetos
que são cortados fora e que queimam nas fogueiras. Quem mesmo entre os não
Calvinistas não gostaria que isto fosse verdade?
Mas, pode ser questionado, será que os versículos, "...estreita é a porta, e apertado, o
caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela," e, "...muitos
são chamados, mas poucos, escolhidos." [Mateus 7:14; 22:14] ensinam que muitos
mais são perdidos do que salvos? Nós cremos que tais versículos intencionavam
serem compreendidos num sentido temporal, como descrevendo as condições que
Jesus e os Seus discípulos encontraram na Palestina em sua época. A grande maioria
das pessoas ao seu redor não estavam trilhando caminhos de justiça e retidão, e as
palavras são proferidas muito mais do ponto de vista do momento do que do ponto de
vista do Dia do Julgamento ainda distante. Nessas palavras é nos apresentado um
quadro que era verdadeiro para a vida como eles a viam, e que descreveria, naquele
sentido, o mundo como tem sido mesmo até os dias de hoje. "Mas", pergunda o Dr.
Warfield, "à medida em que os anos e os séculos passam, será que nunca poderá ser --
ou será que não é para ser -- que a proporção seguindo "os dois caminhos" se
reverta?"
Aqueles versículos também têm a incumbência de ensinar-nos que o caminho da
salvação é de dificuldade e de sacrifício, e que é nossa tarefa ater-nos a ele com
diligência e com persistência. Ninguém deve assumir que a sua salvação como ponto
pacífico. Aqueles que adentram ao reino dos céus assim o fazem através de muitas
tribulações; daí o comando, "...Esforçai-vos por entrar pela porta estreita..."[Lucas
13:24]. A escolha na vida é representada como uma escolha entre duas estradas, uma
larga, bem pavimentada e fácil de trafegar, mas que conduz à destruição. A outra é
estreita e difícil, e conduz à vida. "Não há mais razão para supor que tal similitude
ensina-nos que os salvos serão em menor número que os perdidos, do que supor que a
parábola das Dez Virgens [Mateus 25:1 e subsequentes] nos ensina que os números
de ambos, salvos e perdidos, serão precisamente iguais, e há muito menos razão para
supor que tal similitude mostra que os salvos serão em menor número
comparativamente aos perdidos do que supor que a parábola do Joio [Mateus 13:24 e
subsequentes] ensina-nos que os perdidos serão de número inconsiderável quando
comparados com os salvos -- pois tal é, verdadeiramente, uma parte importante do
ensinamento daquela parábola." 31. E nós podemos acrescentar que não há mais
razão para supor que a referência aos dois caminhos ensina que o número dos salvos
será menor que o número dos perdidos do que para supor que a parábola da ovelha
perdida ensina que somente um dentre uma centena será perdido e ainda assim será
eventualmente resgatado, o que seria verdadeiramente caso de absoluto
'restauracionismo'.

10. O MUNDO ESTÁ MELHORANDO


A redenção do mundo é um processo longo e vagaroso, estendendo-se pelos séculos,
todavia certamente aproximando-se de um objetivo já apontado. Vivemos dia de
vitória crescente e testemunhamos a conquista tomar lugar.
Há períodos de prosperidade espiritual e períodos de depressão; todavia há progresso
em geral. Olhando para os dois mil anos passados desde que Cristo veio ao mundo,
podemos ver que tem havido progresso maravilhoso. Este curso será completado, e
antes que Cristo venha novamente nós veremos um mundo Cristianizado. Isto não
quer dizer que todo o pecado será erradicado -- sempre haverá algum joio no meio do
trigo até a hora da colheita, e mesmo os justos, enquanto permanecerem neste mundo,
algumas vezes cairão vítimas do pecado e da tentação. Mas isto significa que como
hoje vemos alguns grupos e comunidades Cristãos, também eventualmente veremos
um mundo Cristão.
"A verdadeira forma de julgar o mundo é comparar seu presente com a condição
passada e notar em qual direção ele se move. Estará indo para trás ou para frente,
piorando ou melhorando? Pode estar envolto num lusco-fusco, mas será a luz do
anoitecer ou do raiar do dia? Estarão as sombras se aprofundando como numa noite
sem estrelas ou estarão elas dissipando-se ante o nascer do sol? .... Um vislumbre do
mundo como ele é hoje comparado ao que era a dez ou vinte séculos atrás nos mostra
que passou por um grande arco e que move-se em direção da manhã." 32
Hoje em dia há muito mais riqueza consagrada ao serviço da Igreja que nunca dantes;
e, apesar da triste tendência ao Modernismo em muitos lugares, cremos que há hoje
muito mais atividade evangelística e missionária realmente honesta que jamais se
tenha tido notícia. O número de Escolas Bíblicas, colégios Cristãos, e seminários nos
quais a Bíblia é sistematicamente estudada está crescendo muito mais rapidamente
que a própria população. No último ano mais de 11.000.000 exemplares ou porções
da Bíblia foram distribuídos em vários idiomas somente pela Sociedade Bíblica
Americana, seja no seu próprio país como no estrangeiro -- um fato que significa que
a Bíblia está sendo propagada como nunca antes.
A Igreja Cristã tem feito grande progresso em muitas partes do mundo, e
especialmente durante os últimos dois ou três séculos ela desenvolveu milhares e
milhares de igrejas individuais e tem sido uma influência benéfica poderosa na vida
de milhões de pessoas. Através dela foram fundadas inúmeras escolas e hospitais.
Sob a sua influência benigna, o serviço social e a ética cultural avançaram
grandemente no mundo todo, e os padrões morais das nações são hoje em dia muito
mais elevados que quando a Igreja foi primeiramente estabelecida.
"A Igreja já penetrou em cada continente e estabeleceu-se em cada ilha e estende seus
estandartes através da linha do equador e de um polo ao outro. Ela é hoje em dia a
maior organização na terra, é "o" empreendimento no mundo. E os resultados não são
desalentadores. No nosso país ( * ) a Cristandade tem crescido no mínimo cinco
vezes mais rápido que a população. Cem anos atrás havia um Cristão professo em
cada quinze habitantes, ao passo em que hoje há um em cada três, e isso excluindo-se
crianças, um em dois. Ao redor do mundo os resultados são impressionantes. No ano
de 1500 AD havia no mundo todo 100 milhões de Cristãos nominais; no ano de 1800
seu número era de 200 milhões; e as últimas estatísticas mostram que, de uma
população total de 1.646.491.000 pessoas ( * * ) cerca de 564.510.000 ( * * ) são
Cristãos nominais, ou seja, aproximadamente um terço da população total da terra. O
Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos anteriores."
33 (*= nos EUA ; **= à época em que o presente trabalho foi escrito/publicado à nota
do tradutor)
A afirmação de que o Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos
oitocentos anos anteriores parece ser aproximadamente correta. De acordo com as
estatísticas, em 1950, o Cristianismo tem um número consideravelmente maior de
adeptos que o total combinado de qualquer outras duas religiões do mundo. Estes
números mostram que há aproximadamente 640.000.000 de Cristãos, 300.000.000 de
Confuncionistas (incluindo os Taoístas), 230.000.000 de Hinduístas, 220.000.000 de
Maometanos, 150.000.000 de Budistas, 125.000.000 de Animistas, 20.000.000 de
Shintoístas e 15.000.000 de Judeus (e enquanto muitos dos que arrolados como
Cristãos o sejam só "nominalmente", a proporção de Cristãos verdadeiros é
provavelmente tão grande ou maior que a proporção de qualquer outra das religiões
pagãs). Todas essas outras religiões, com exceção do Maometanismo, são muito mais
antigas que o Cristianismo. Ademais, só o Cristianismo é capaz de crescer e florescer
sob a civilização moderna, enquanto todas as demais religiões cedo desintegram-se
quando expostas à sua brilhante luz.
Somente no último século é que as missões internacionais realmente vieram a existir.
Uma vez que elas foram desenvolvidas recentemente, com grandes organizações
eclesiásticas na retaguarda, elas estão em posição de desenvolver um trabalho de
evangelismo em países ateus, tal como nunca antes o mundo pode testemunhar. É
seguro dizer que a geração presente vivendo na Índia, na Coréia e no Japão tem tido
maiores chances na religião, na sociedade e no governo do que ocorreu nos dois mil
anos anteriores. E quando contrastamos o rápido desenvolvimento do Cristianismo
nos anos recentes com a rápida desintegração que está ocorrendo com todas as
demais religiões do mundo, parece bastante claro que o Cristianismo é a futura
religião mundial. À luz desses fatos nós encaramos o futuro confiantes de que o
melhor ainda está por vir.
11. SALVAÇÃO INFANTIL
Muitos teólogos Calvinistas têm sustentado que aqueles que morrem durante a
infância estão salvos. As Escrituras Sagradas parecem ensinar bastante claramente
que os filhos de crentes são salvos; mas elas praticamente silenciam quanto aos filhos
dos ateus. A Confissão de Westminster não faz nenhum julgamento quanto aos filhos
de ateus que morrem antes de chegarem à idade da razão. Onde a Bíblia silencia, a
Confissão de Westiminster também preserva o silêncio. Nossos destacados teólogos,
contudo, cientes do fato de que "as doces misericórdias de Deus estão sobre toda as
Suas obras," e dependendo em Sua misericórdia ser dispensada tão amplamente
quanto possível, têm entretido uma esperança caridosa de que desde aqueles infantes
não tenham eles próprios cometido nenhum pecado real, sua herança de pecado seria
perdoada e eles seriam salvos na totalidade dos princípios evangélicos.
Esta é, por exemplo, a posição sustentada por Charles Hodge, W. G. T. Shedd e B. B.
Warfield. Com relação àqueles que morrem durante a infância, o Dr. Warfield diz que
"Seu destino é determinado não importa a sua escolha, por um decreto incondicional
de Deus, cuja execução não é suspensa por nenhum ato deles próprios; e a sua
salvação é assedurada por uma aplicação incondicional da graça de Cristo para com
as suas almas, através da operação imediata e irresistível do Espírito Santo, anterior e
sem qualquer relação com qualquer ação proveniente da sua própria vontade . . . E se
a morte durante a infância depende da providência de Deus, é seguramente Deus em
Sua providência que seleciona a vasta multidão a participar da Sua salvação
incondicional . . . Isto é dizer nada menos que eles foram incondicionalmente
predestinados para a salvação desde a fundação do mundo. Se somente uma única
criança, ainda fora da idade da responsabilidade, que morrer durante a infância for
salva, todo o princípio Arminiano é contestado. Se todos os infantes que morrerem
forem salvos, não somente a maioria dos salvos, mas indubitavelmente a maioria da
raça humana destarte, veio a existir através de uma maneira que não a Arminiana." 34
Certamente não há nada no sistema teológico Calvinista que nos preveniria de crer
nisto; e até que seja provado que Deus não poderia predestinar para a vida eterna
todos aqueles a quem Lhe aprouvesse chamar durante a infância, nós podemos aceitar
este ponto de vista.
Os Calvinistas, é claro, sustentam que a doutrina do pecado original aplica-se tanto às
crianças como aos adultos. Como todos os demais filhos de Adão, os infantes são
verdadeiramente culpados por causa do pecado da raça e podem justamente serem
castigados por isso. A sua "salvação" é real. Ela é possível somente através da graça
de Cristo e é tão imerecida como é a salvação de adultos. Ao invés de minimizar o
demérito e o castigo que lhes é devido em decorrência do pecado original, o
Calvinismo magnifica a misericórdia de Deus na sua salvação. A sua salvação
significa algo, pois é a remissão de almas culpadas do tormento eterno. E é custosa,
pois foi paga pelo sofrimento de Cristo na crus. Aqueles que assumem outra visão do
pecado original, a saber, que não é propriamente pecado e que não merece castigo
eterno, fazem com que o mal do que as crianças são "salvas" seja muito pequeno e
consequentemente o amor e a gratidão que eles devem a Deus pequeno também.
A doutrina da salvação infantil encontra um lugar lógico no sistema Calvinista; pois a
redenção da alma é assim infalivelmente determinada, sem nada a ver com qualquer
fé, arrependimento ou boas obras, seja real ou prevista. Não encontra, contudo, um
lugar lógico no Arminianismo ou em qualquer outro sistema teológico. Ademais,
seria como se um sistema como o Arminianismo, que detém a salvação num ato
pessoal de escolha racional, logicamente demandasse que, ou outro período de
provação devesse ser concedido àqueles que morrem durante a infância, de maneira
que o seu destino pudesse ser afixado; ou que eles devessem ser aniquilados.
Com relação a esta questão, o Dr. S. G. Craig escreveu: "Assumimos que nenhuma
doutrina da salvação infantil é Cristã se ela não professar que os infantes são
membros perdidos de uma raça perdida, para quem não há salvação a não ser em
Cristo. Deve ser óbvio para todos, portanto, que a doutrina de que todos os que
morrem durante a infância são salvos não se encaixa com as linhas de pensamento
Católico Romano ou Anglo-Católico, com os seus ensinamentos de uma regeneração
batismal; já que claramente a maioria daqueles que morreram durante a infância não
haviam ainda sido batizados. Também é óbvio que a linha de pensamento Luterana
não prevê lugar para a noção de que todos quantos morrem durante a infância estão
salvos por causa da necessidade que tal fato implicitamente anexa aos métodos da
graça, especialmente a Palavra e os Sacramentos. Se a graça está somente nos meios
da graça -- no caso dos infantes no batismo -- parece claro que a maioria daqueles
que morreram durante a infância não foram recipientes da graça. Parece igualmente
claro que o Arminiano não tem o direito de acreditar na salvação de todos quantos
morrem durante a infância; de fato, não é assim tão claro que ele tenha qualquer
direito de acreditar na salvação de qualquer um que tenha morrido durante a infância.
Pois de acordo com os Arminianos, mesmo os Arminianos evangélicos, Deus em Sua
graça meramente proveu os homens com uma oportunidade para a salvação. Não
parece, contudo, que uma mera oportunidade para a salvação possa ser de qualquer
valia para aqueles que morrem na infância." 35
Embora rejeitando a doutrina da regeneração batismal, e esvaziando o batismo dos
não eleitos, o Calvinismo, por outro lado, estende a graça salvadora muito além das
fronteiras da Igreja visível. Se é verdade que todos quantos morrem na infância, tanto
em terras pagãs quanto em nações Cristãs, são salvos, então mais da metade da raça
humana até hoje está entre os salvos. Ademais, pode ser dito que desde que os
Calvinistas assumem que a fé salvadora em Cristo é o único requerimento para a
salvação da parte dos adultos, eles nunca poderiam fazer com que o fato de ser
membro na Igreja externa de Cristo seja um requerimento ou uma garantia de
salvação. Eles crêem que muitos adultos que não têm nenhuma conexão com a Igreja
externa são, contudo, salvos. Cada Cristão consistente submeterá, é claro, a si mesmo
ao batismo, de acordo com o mandamento pleno da Bíblia e se tornará um membro
da Igreja externa; todavia muitos outros, seja por causa da fraqueza de sua fé ou
porque eles não tenham a oportunidade, não cumprirão tal mandamento.
Tem sido constantemente acusado que a Confissão de Fé de Westminster, ao declarar
que "Infantes eleitos, morrendo durante a infância, são regenerados e salvos por
Cristo" (Capítulo X, seção III), implica que não há infantes não eleitos, que,
morrendo durante a infância estão perdidos, e que a Igreja Presbiteriana tem ensinado
que alguns que morrem durante a infância estão perdidos. Com relação a isto, o Dr.
Craig diz: "A história da frase 'Infantes eleitos que morrem durante a infância' deixa
claro que o contraste implícito não era entre 'infantes eleitos que morrem durante a
infância' e 'infantes não eleitos que morrem durante a infância', mas sim entre
'infantes eleitos morrem durante a infância' e 'infantes eleitos que vivem e crescem'."
Contudo, de maneira a salvaguardar de qualquer mal entendido, seguido por
inamistosas controvérsias, a Igreja Presbiteriana nos EUA adotou em 1903 uma
Declaração de Posicionamento que diz o seguinte: "Com referência ao Capítulo X,
Seção III, da Confissão de Fé, o conteúdo não deve ser considerado como
ensinamento de que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido. Cremos
que todos quantos morrem durante a infância estão inclusos na eleição da graça, e
estão regenerados e salvos por Cristo através do Espírito, que opera quando e onde e
como Lhe apraz."
Com relação a esta Declaração de Posicionamento, o Dr. Craig diz: "É óbvio que a
Declaração de Posicionamento vai além do ensinado no Capítulo X, Seção III da
Confissão de Fé, tanto quanto positivamente declara que todos quantos morrem na
infância estão salvos. Alguns detêm que a Declaração de Posicionamento vai além da
Bíblia ao ensinar que todos aqueles que morrem durante a infância estão salvos; mas,
seja como for, torna impossível para qualquer pessoa ao menos plausivelmente
manter que os Presbiterianos ensinam que há crianças não eleitas que morrem durante
a infância. Sem dúvida, tem havido indivíduos Presbiterianos que sustentam que
alguns daqueles que morrem na infância estão perdidos; mas tal nunca foi o
ensinamento oficial da Igreja Presbiteriana e como o tema agora se apresenta, tal
posição é contradita pelo credo da Igreja." 36
Algumas vezes tem sido taxado que Calvino ensinou a danação real de alguns
daqueles que morrem na infância. Um exame cuidadoso dos seus escritos, contudo,
não sustenta tal acusação. Ele explicitamente ensinou que alguns dos eleitos morrem
na infância e que eles são salvos como infantes. Ele também ensinou que houveram
infantes rejeitados, pois ele sustentava que tanto a rejeição como a eleição são
eternas, e que os não eleitos vêem à vida rejeitados. Mas em nenhum lugar ele
ensinou que os rejeitados que morrem enquanto infantes estão perdidos. Ele é claro
rejeitou o ponto de vista Pelagiano que negava o pecado original e fundamentava a
salvação daqueles que morrem na infância na suposta inocência e falta de pecado. Os
pontos de vista Calvinistas a esse respeito têm sido investigados minuciosamente pelo
Dr. R. A. Webb e as suas descobertas são resumidas no seguinte parágrafo: "Calvino
ensina que os rejeitados 'procuram' -- (suas próprias palavras) -- 'procuram' sua
própria destruição; e eles procuram a sua destruição com os seus próprios atos
pessoais e conscientes de 'impiedade', de 'perversidade,' e 'rebeldia'. Agora, crianças
rejeitadas, embora a culpa do pecado original e sob a condenação, não podem,
enquanto crianças, portanto 'procurar' a sua própria destruição através de atos
pessoais de impiedade, perversidade e rebeldia. Eles deveriam, portanto, viver até os
anos de responsabilidade moral de maneira a perpetrar atos de impiedade,
perversidade e rebeldia, os quais Calvino define como o modelo através do qual eles
procuram a sua própria destruição. Portanto, enquanto Calvino ensina que há infantes
rejeitados, e que aqueles estarão finalmente perdidos, ele em lugar algum ensina que
eles estarão perdidos como infantes, e enquanto eles são infantes; mas, ao contrário,
ele declara que todos os rejeitados 'procuram' a sua própria rejeição com atos pessoais
de impiedade, perversidade e rebeldia. Consequentemente, seu próprio raciocínio o
compele a sustentar (de maneira a ser consistente consigo mesmo), que nenhuma
criança rejeitada pode morrer durante a infância, mas todos que assim o são devem
viver até a idade de responsabilidade moral, e traduzir o pecado original para pecado
real." 37
Em nenhum dos escritos de Calvino ele diz, seja diretamente ou através de inferência
boa e necessária, que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido.
Muitas das passagens que são mencionadas por oponentes para provar este ponto são
meramente asserções da sua doutrina bem conhecida do pecado original, na qual ele
ensina a culpa universal e a depravação de toda a raça. Muitas delas estão em
altamente controversas seções onde ele discute outras doutrinas, e onde ele fala sem
restrições, mas quando consideradas no contexto o significado fica invariavelmente
em dúvida. Calvino simplesmente diz de todos os infantes o que Davi
especificamente disse dele próprio: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me
concebeu minha mãe."[Salmo 51:5]; ou o que Paulo disse, "...em Adão, todos
morrem..." ou ainda, que todos são "...por natureza, filhos da ira..."[Efésios 2:3].
Acreditamos haver mostrado que a doutrina da eleição é Bíblica em cada aspecto e
um ditado pleno de bom senso. Aqueles que se opõem a esta doutrina assim o fazem
seja porque não entendem ou porque não consideram a majestade e a santidade de
Deus, ou a corrupção e a culpa de sua própria natureza. Eles esquecem-se de que se
colocam ante o seu Criador não como quem justamente pode reclamar a Sua
misericórdia, mas como criminosos condenados que somente merecem castigo.
Ademais, eles querem ser independentes para efetuar o seu próprio esquema de
salvação, ao invés de aceitar o plano de Deus, o qual é pela graça. Esta doutrina da
eleição não se harmonizará com qualquer pacto de obras, nem com um pacto híbrido
de obras e graça; mas é a única saída plausível de um pacto de pura graça.
12. SUMÁRIO DA DOUTRINA REFORMADA DA ELEIÇÃO
A Eleição é ato livre e soberano de Deus, através do qual Ele determina quem será
feito herdeiro do céu.
O decreto da eleição foi feito na eternidade.
O decreto da eleição contempla a raça humana como já caída.
Os eleitos são trazidos de um estado de pecado para um estado de bênçãos e de gozo.
A eleição é pessoal e determina que indivíduos em particular serão salvos.
A eleição inclui tanto meios como fins, -- eleição para a vida eterna inclui a eleição
para uma vida justa neste mundo.
O decreto eleitor é feito efetivo pela obra eficiente do Espírito Santo, que opera
quando, e onde, e como Lhe apraz.
A graça de Deus inclinaria todos os homens ao bem, se não fosse resistida.
O decreto eleitor deixa aqueles que não são eleitos -- outros que sofrem as justas
conseqüências do seu pecado.
A alguns homens é permitido seguir o mal, que eles livremente escolhem, para a sua
própria destruição.
Deus, em Sua soberania, poderia regenerar a todos homens, se Ele assim escolhesse.
O Juiz de toda a terra exercerá direito, e estenderá a Sua graça salvadora até
multidões não merecedoras.
A eleição não está baseada em fé prevista ou em boas obras, mas somente no
soberano beneplácito de Deus.
Muito maior é a porção da raça humana que foi eleita para a vida.
Todos quantos morrem durante a infância estão entre os eleitos.
Tem também havido uma eleição de indivíduos e de nações para os favores e
privilégios temporais e externos -- uma eleição que não contempla a salvação.
A doutrina da eleição é repetidamente ensinada e enfatizada em toda a Bíblia.

Capítulo 12 Expiação Limitada


1. ENUNCIADO DA DOUTRINA

A questão que nós discutiremos sobre o assunto da "Expiação Limitada" é: Cristo


ofereceu a Si mesmo como sacrifício por toda raça humana, por cada indivíduo sem
distinção ou exceção; ou Sua morte teve especial referência aos eleitos ? Em outras
palavras, foi o sacrifício de Cristo meramente tencionado a fazer a salvação de todos
homens possível, ou ela foi pretendida a fazer certa a salvação daqueles que foram
dados a Ele pelo Pai ? Os Arminianos sustentam que Cristo morreu da mesma forma
por todos homens, enquanto que os Calvinistas sustentam que na intenção e no
secreto plano de Deus, Cristo morreu somente pelos eleitos, e que Sua morte tem
somente uma referência incidental para os outros até que eles sejam participantes da
graça comum. O sentido pode ser mais salientado claramente se nós usarmos a frase
"Redenção Limitada" ao invés de "Expiação Limitada." A Expiação é, com certeza,
estritamente uma transação infinita; a limitação vem, teologicamente, na aplicação
dos benefícios da expiação, que é na redenção. Mas desde que a frase "Expiação
Limitada" tem sido bem estabelecida no uso teológico e seu significado é bem
conhecido, nós continuaremos usando-o.
Concernente esta doutrina a Confissão de Westminster diz: ". . . Os que, portanto, são
eleitos, achando-se caídos em Adão, são redimidos por Cristo, são eficazmente
chamados para a fé em Cristo pelo Seu Espírito, que opera no tempo devido; são
justificados, adotados, santificados, e guardados pelo Seu poder por meio da fé
salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja redimido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado, e salvo."
1
Poderá ser entendido de imediato que esta doutrina necessariamente segue a doutrina
da eleição. Se desde a eternidade Deus tem planejado salvar uma porção da raça
humana e não outra, parece ser uma contradição dizer que Sua obra [salvadora] tem
igual referência a ambas porções, ou que Ele enviou Seu Filho para morrer por
aqueles que Ele tem predestinado não salvar, como verdadeiramente e no mesmo
sentido que Ele foi enviado para morrer por aqueles que Ele tem escolhido para
salvação. Essas duas doutrinas [eleição e expiação limitadas] devem permanecer ou
cair juntamente. Nós não podemos logicamente aceitar uma e rejeitar a outra. Se
Deus tem eleito alguns e não outros para vida eterna, então claramente o propósito
primário da obra de Cristo foi redimir os eleitos.
2. O INFINITO VALO DA EXPIAÇÃO DE CRISTO
Esta doutrina não significa que qualquer limite pode ser ficado para o valor ou poder
da expiação que Cristo fez. O valor da expiação depende de, e é medida pela
dignidade da pessoa que a fez; e desde que Cristo sofreu como uma pessoa humana e
Divina, o valor de Seu sofrimento foi infinito. Os escritores da Escritura nos contam
claramente que o "Senhor da glória" foi crucificado (1 Coríntios 2:8); que homens
ímpios "mataram o Príncipe da vida" (Atos 3:15); e que Deus "comprou" a Igreja
"com Seu próprio sangue" (Atos 20:28). A expiação, então, foi infinitamente
meritória e poderia ter salvo cada membro da raça humana, tivesse este sido o plano
de Deus. Ela foi limitada somente no sentido que ela foi intentada para, e é aplicada
para pessoas particulares; em outras palavras, para aqueles que são realmente salvos.

Alguns mal-entendidos ocasionalmente se levantam aqui, por causa da falsa


suposição de que os Calvinistas ensinam que Cristo sofreu tanto por uma alma, e
tanto por outra, e que Ele deveria ter sofrido mais se mais almas tivessem sido salvas.
Nós cremos, no entanto, que mesmo se muito menos dos da raça humana tivessem
sido perdoados e salvos, uma expiação de infinito valor deveria ter sido necessária
para fazer segura para eles aquelas bênçãos; e mesmo que muito mais pessoas, ou
mesmo que todos homens tivessem sido perdoados e salvos, o sacrifício de Cristo
teria sido amplamente suficiente como o fundamento ou base da salvação deles.

Da mesma forma que é necessário que o sol emita tanto calor se somente uma planta
deva crescer sobre a terra como se a terra devesse ser coberta com vegetação, assim
era necessário Cristo sofrer tanto quanto se somente uma alma devesse ser salva
como se um largo número ou mesmo toda humanidade devessem ser salvas. Visto
que o pecador tem ofendido uma Pessoa de infinita dignidade, e havia sido
sentenciado para sofrer eternamente, nada exceto um sacrifício de infinito valor
poderá expiá-lo. Ninguém supõe que, visto que o pecado de Adão foi o fundamento
da condenação da raça, ele pecou tanto por um homem e tanto por outro, e que
poderia ter pecado mais se houvesse existido mais pecadores .Por que então eles
devem fazer a suposição com respeito ao sofrimento de Cristo ?

3. A EXPIAÇÃO É LIMITADA NO PROPÓSITO E APLICAÇÃO

Apesar do valor da expiação ter sido suficiente para salvar toda humanidade, ela foi
eficiente para salvar somente os eleitos. Ela está indiferentemente bem adaptada à
salvação de um homem como de outro, assim fazendo a salvação de cada homem
objetivamente possível; todavia, por causa de dificuldades subjetivas, aparecendo por
causa da inabilidade dos pecadores para ver ou apreciar as coisas de Deus, somente
aqueles [os eleitos] são salvos, os quais são regenerados e santificados pelo Espírito
Santo. A razão porque Deus não aplica esta graça a todos homem não tem sido
revelada completamente. Quando a expiação é feita universal, o seu valor inerente é
destruído. Se ela é aplicada a todos os homens, e se alguns se perdem, a conclusão é
que isto faz a salvação objetivamente possível para todos os homens, porém que não
salva realmente a qualquer um.

Segundo a teoria Arminiana, a expiação tem simplesmente tornado possível para


todos os homens o cooperar com a divina graça e assim, salvar a si mesmos - se eles
assim quiserem. Porém, conte-nos de um curado de enfermidade e todavia morto de
câncer, e a história será igualmente luminosa com a de um expiado do pecado, porém
que pereceu através da incredulidade. A natureza da expiação determina sua extensão.
Se ela meramente fez a salvação possível, ela foi aplicada a todos os homens. Se ela
efetivamente assegura a salvação, ela teve referência somente aos eleitos. Como o Dr.
Warfield disse: "As coisas que tenho de escolher são entre uma expiação de alto
valor, ou uma expiação de larga extensão. As duas coisas não podem andar juntas". A
obra de Cristo pode ser universalmente somente pela evaporação de sua substância.
Não deixemos haver mal-entendido neste ponto. O Arminiano limita a expiação tão
certamente como o faz o Calvinista. O Calvinista limita a extensão dela, ao dizer que
ela não se aplica a todas pessoas (ainda que, como se tem demonstrado já, ele creia
que é eficaz para a salvação de uma larga proporção da raça humana); enquanto o
Arminiano limita o poder dela, porque ele diz que ela em si mesma, não salva
realmente ninguém. O Calvinista a limita quantitativamente, mas não
qualitativamente; o Arminiano a limita qualitativamente, mas não quantitativamente.
Para o Calvinista ela é como uma ponte estreita que vai até o fim do caminho acima
da correnteza; para o Arminiano ela é como uma grande e larga ponte que vai
somente até a metade do caminho. Na verdade, o Arminiano põe limitações mais
severas na obra de Cristo do que o Calvinista.

4. A OBRA DE CRISTO COMO UMA PERFEITA SATISFAÇÃO DA LEI


Se os benefícios da expiação são universais e ilimitados, ela deve ter sido o que os
Arminanos a representam ter sido - meramente um sacrifício para apagar a maldição
que repousava sobre a raça humana através da queda de Adão, um mero substituto da
execução da lei que Deus em Sua soberania achou certo aceitar em lugar do que o
pecador era obrigado a render, e não uma perfeita satisfação que cumpriu as
demandas da justiça. Significaria que Deus não mais demanda perfeita obediência
como Ele fez com Adão, porém que Ele agora oferece salvação em termos inferiores.
Deus, então, tirará obstáculos legais e aceitará tal fé e obediência evangélica que a
pessoa com uma capacidade graciosamente restaurada pode render se assim escolher,
o Espírito Santo certamente ajudando em uma maneira geral. Dessa forma, a graça
seria estendida em que Deus oferece uma caminho fácil de salvação - Ele aceita
cinqüenta cents de dólar, aparentemente, visto que o pecador inválido não pode pagar
mais.

Por outro lado, os Calvinistas sustentam que a lei de perfeita obediência que foi
originalmente dada a Adão foi "permanente", que Deus nunca tem feito qualquer
coisa que conduziria a impressão que a lei era rígida demais em seus requerimentos,
ou severa demais em suas penalidades, ou que tampouco ela estivesse em necessidade
de abolição ou derrogação. A Divina justiça demanda que o pecador seja punido, em
si mesmo ou em seu substituto. Nós sustentamos que Cristo atuou de uma maneira
estritamente substitutiva pelo Seu povo, que Ele fez uma completa satisfação pelos
pecados deles, dessa forma apagando a maldição de Adão e todos pecados temporais
deles; e que pela Sua vida inocente, Ele perfeitamente guardou por eles a lei que
Adão quebrou, deste modo adquirindo para o Seu povo a recompensa da vida eterna.
Nós cremos que o requerimento para salvação agora como originalmente, é a perfeita
obediência, que os méritos de Cristo são imputados a Seu povo como o única
fundamento da salvação deles, e que eles entram no céu vestidos somente com o
manto de Sua perfeita justiça e absolutamente destituídos de qualquer mérito
propriamente deles. Assim graça, pura graça, é estendida não em se reduzir os
requerimentos para salvação, mas na substituição de Cristo pelo Seu povo. Ele tomou
o lugar deles diante da lei, e fez por eles o que eles não poderiam fazer por si
mesmos. Este princípio Calvinista é adaptado em cada caminho para impressionar
sob nós a absoluta perfeição e imutável obrigação da lei que foi originalmente dada a
Adão. Ela não foi afrouxada ou desprezada, porém é apropriadamente honrada de
forma que sua excelência é demonstrada. Em benefício daqueles que são salvos, por
quem Cristo atuou, e em benefício daqueles que são submetidos ao castigo eterno, a
lei em sua majestade se executa e se faz cumprir.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, ela compreenderia que milhões daqueles por
quem Cristo morreu são no final perdidos, e que a salvação é dessa forma nunca
aplicada a muitos daqueles por quem ela foi adquirida. Que benefícios, por exemplo,
nós podemos apontar para as vidas dos pagãos e dizer que eles tem recebido da
expiação ? Isto pode também significar que os planos de Deus muitas vezes tem sido
frustados e desmoronados pelas Suas criaturas e que, enquanto Ele pode fazer de
acordo com Sua vontade com os exército dos céus, Ele não faz assim entre os
habitantes da terra.
"O pecado de Adão", disse Charles Hodge, "não fez a condenação de todos os
homens meramente possível; ele foi o fundamento da real condenação deles. Assim, a
justiça de Cristo não fez a salvação dos homens meramente possível, ela assegurou a
real salvação daqueles por quem Ele morreu." O grande pregador Batista Charles H.
Spurgeon disse: "Se Cristo morreu por você, você nunca poderá perecer. Deus não irá
punir duas vezes uma mesma coisa. Se Deus puniu a Cristo pelos seus pecados, Ele
não pode te punir. O pagamento da justiça de Deus não pode ser demandado duas
vezes; primeiro, da mão sangrenta do Salvador, e então da minha. Como pode Deus
ser justo se Ele puniu Cristo, o substituto, e então o próprio homem mais tarde"?
5. UM RESGATE
Cristo é dito ter sido um resgate para Seu povo: "O Filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir, e para dar a sua vida em regaste de muitos", Mateus 20:28.
Note, este verso não diz que Ele deu Sua vida em resgate de todos, mas por muitos. A
natureza de um resgate é tal que quando paga e aceita, ela automaticamente liberta as
pessoas por quem ela foi pretendida. De outra forma, ele não seria um verdadeiro
resgate. A justiça demanda que aqueles por quem ela foi paga, sejam livres de
qualquer obrigação adicional. Se o sofrimento e morte de Cristo foi um resgate para
todos os homens antes que somente para os eleitos, então os méritos de Sua obra
devem ser comunicados a todos igualmente e a penalidade do eterno castigo não pode
ser justamente infligido em alguém. Deus seria injusto se Ele exigisse essa penalidade
duas vezes, primeiramente do substituto e então das próprias pessoas. A conclusão é
que a expiação de Cristo não estende a todos os homens, mas que ela é limitada
àqueles por quem Ele pagou a fiança ; isto é, àqueles que compõem Sua verdadeira
Igreja.

6. O PROPÓSITO DIVINO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO


Se a morte de Cristo intencionou salvar a todos os homens, eles devem dizer que
Deus ou foi incapaz ou indisposto em realizar os Seus planos. Mas, desde que a obra
de Deus é sempre eficiente, aqueles por quem a expiação foi feita e aqueles que são
realmente salvos devem ser as mesmas pessoas. Os Arminianos supõe que os
propósitos de Deus são mutáveis, e que Seus propósitos podem falhar. Em afirmar
que Ele enviou Seu Filho para redimir todos os homens, mas que depois vendo que
tal plano poderia não ser executado, Ele "elegeu" aqueles que Ele previu que teriam
fé e se arrependeriam, eles O representam como querendo o que nunca ocorre, - como
suspendendo Seus propósitos e planos sob a volições e ações de criaturas que são
totalmente dependentes dEle. Nenhum ser racional que tenha a sabedoria e poder para
realizar seus planos, pretende o que Ele nunca realiza ou adota planos para um fim
que nunca será alcançado. Muito menos pode Deus, cujo poder e sabedoria são
infinitos, trabalhar desta maneira. Nós podemos descansar assegurados que se alguns
homens se perdem, Deus nunca tencionou sua salvação, e nunca desenvolve e
colocou em operação meios determinados a efetuar este fim.
O próprio Jesus limitou o propósito de Sua morte quando Ele disse: "Dou a minha
vida pelas ovelhas." Se, então, Ele deu Sua vida pelas ovelhas, o caráter expiatório de
Sua obra não foi universal. Em outra ocasião Ele disse aos Fariseus, "não sois das
minhas ovelhas;" e outra vez, "vós tendes por pai ao diabo." Irá alguém manter que
Ele deu Sua vida por estes, vendo que Ele tão explicitamente os excluiu ? O anjo que
apareceu a José disse-lhe que o filho de Maria deveria ser chamado JESUS, porque
Sua missão no mundo era salvar Seu povo de seus pecados. Ele então não veio
meramente para fazer a salvação possível, mas para realmente salvar o Seu povo; e o
que Ele veio fazer, podemos confiadamente esperar que Ele consumou.

Visto que a obra de Deus nunca é em vão, aqueles que são escolhidos por Deus,
aqueles que são redimidos pelo Filho, e aqueles que são santificados pelo Espírito
Santo, - ou em outras palavras, eleição, redenção e santificação, - devem incluir as
mesmas pessoas. A doutrina Arminiana de uma expiação universal faz estes desiguais
e através disso destroi a perfeita harmonia dentro da Trindade. A redenção universal
significa salvação universal.
Cristo declarou que os eleitos e os redimidos são as mesmas pessoas quando na
oração intercessória Ele disse: "Eram teus, e tu mos deste", e "Eu rogo por eles: não
rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas
coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado." (João
17:6,9,10). E outra vez, "Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das
minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o
Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas." (João 10:14,15). O mesmo ensino é
encontrado quando somos ordenados a "apascentar a igreja de Deus, que Ele resgatou
com seu próprio sangue." (Atos 20:28) Somos informados que "Cristo amou a Igreja,
e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25); e que Ele deu Sua vida pelos Seus
amigos. (João 15:13) Cristo morreu por Paulo assim como por João, e não morreu por
Faraó assim como não morreu por Judas, que eram bodes e não ovelhas. Nós não
podemos dizer que Sua morte foi intencionada a todos, a menos que digamos que
Faraó, Judas, etc., eram das ovelhas, amigos, e Igrejas de Cristo.

Além do mais, quando é dito que Cristo deu Sua vida por Sua Igreja, ou por Seu
povo, nós encontramos impossível acreditar que Ele Se Deu tanto quanto para os
reprovados como para aqueles que Ele intencionou salvar. A humanidade é dividida
em duas classes e o que é distintamente afirmada de uma é implicitamente negada de
outra. Em cada caso algo é dito daqueles que pertencem a um grupo que não é
verdadeiro daqueles que pertencem ao outro. Quando se diz que um homem trabalha
e sacrifica a saúde e força para suas crianças, através disso é negado que o motivo
que o controla é meramente filantropia, ou que o desígnio que tem em vista é o bem
da sociedade. E quando é dito que Cristo morreu pelo Seu povo, é negado que Ele
morreu igualmente por todos os homens.

7. A EXCLUSÃO DOS NÃO-ELEITOS


Não era, então, um amor geral e indiscriminado do qual todos os homens eram
igualmente os objetos, mas um peculiar, misterioso, e infinito amor por Seus eleitos,
que fez Deus enviar Seu Filho ao mundo para sofrer e morrer. Toda teoria que negar
esta grande e preciosa verdade, e que explicar este amor como benevolência
meramente indiscriminada ou filantrópica, a qual teve todos os homens por seus
objetos, muitos dos quais são permitidos perecer, deve ser anti-Escriturística. Cristo
não morreu para uma multidão desordenada, mar por Seu povo, Sua noiva, Sua
Igreja.
Um fazendeiro estima seu campo. Mas ninguém supõe que ele se importa igualmente
por cada planta que cresce ali, pelas "ervas daninhas" assim como pelo "trigo". O
campo de Deus é o mundo, Mateus 13:38, e Ele o ama com um olho exclusivo para
sua "boa semente", as crianças do reino, e não as crianças do maligno. Não é todo da
humanidade que é igualmente amado de Deus e confusamente redimido por Cristo.
Deus não é necessariamente comunicador de Sua bondade, como o sol de sua luz, ou
a árvore de sua sombra refrescante, que não escolhe seus objetos, mas serve a todos
indiferentemente sem variação ou distinção. Isto seria fazer Deus de não mais
entendimento do que o sol, que brilha não onde lhe agrada, mas onde deve. Ele é uma
pessoa compreensiva, e tem um direito soberano de escolher Seus próprios objetos.

Em Gênesis lemos que Deus "colocou inimizade" entre a semente da mulher e a


semente da serpente. Agora quem foram significados por semente da mulher e
semente da serpente ? No primeiro pensamento, podemos supor que a semente da
mulher significa a raça humana inteira descendente de Eva. Mas em Gálatas 3:16
Paulo usa este termo "semente", e o aplica a Cristo como um indivíduo. "Não diz: E
às sementes, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua semente, que é
Cristo."
Em uma investigação mais avançada, nós encontraremos também que a semente da
serpente não significa descendentes literais do Diabo, mas aqueles membros não-
eleitos da raça humana, que participam de sua natureza pecaminosa. Jesus disse de
Seus inimigos: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso
pai" (João 8:44). Paulo denunciou Elimas, o encantador, como um filho do Diabo e
um inimigo de toda justiça. Judas é até chamado de um diabo (João 6:70). Então, a
semente da mulher e a semente da serpente são cada uma parte da raça humana. Em
outras partes das Escrituras, encontramos que Cristo e Seu povo são "um", que Ele
habita neles e é unido com eles assim como a videira e os ramos são unidos. E desde
que no extremo princípio Deus "colocou inimizade" entre estes dois grupos, é claro
que Ele nunca amou todos igualmente, nem intentou redimir a todos igualmente. A
redenção universal e a sentença de Deus na serpente não podem nunca andar juntas.

Há também um paralelo para ser observado entre o sumo sacerdote do antigo Israel e
Cristo que é o nosso sumo sacerdote; porque o primeiro, como sabemos, era um tipo
do último. No grande dia da expiação, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos
pecados das doze tribos de Israel. Ele intercedia por eles e por eles somente.
Semelhantemente, Cristo não orou pelo mundo, mas pelo Seu povo. A intercessão do
sumo sacerdote assegurava para os Israelitas bênçãos das quais todos outros povos
estavam excluídos; e a intercessão de Cristo, que também é limitada porém de uma
ordem muito maior, certamente será eficaz em elevado sentido, porque Ele, o Pai
sempre ouve. Além do mais, não é necessário que a misericórdia de Deus se estenda a
todos os homens sem exceção para que possa ser chamada verdadeiramente e
propriamente infinita; porque todos homens tomados juntos não constituíram uma
multidão estritamente e propriamente infinita. As Escrituras claramente nos ensina
que o Diabo e os anjos caídos foram deixados fora de Seus benevolentes propósitos.
Mas Sua misericórdia é infinita nisso: ela resgata a grande multidão de Seus eleitos
do indiscritível e eterno pecado e miséria para a indiscritível e eterna bem-
aventurança.

Enquanto os Arminianos sustentam que Cristo morreu igualmente por todos os


homens e que Ele obteve suficiente graça para capacitar todos os homens a
arrepender-se, crer, e perseverar, se eles conseguem somente cooperar com ela, eles
também sustentam que aqueles que recusam a cooperar, deverão prestar contas e
através de toda eternidade serem castigados mais severamente do que se Cristo nunca
tivesse morrido por eles de nenhuma maneira. Nós vemos que até aqui, na história da
raça humana, a larga proporção da população adulta tem falhado em cooperar e tem
dessa forma sido permitido trazer para si mesmos grande miséria do que se Cristo
nunca tivesse vindo. Certamente, uma visão que permite a obra da redenção de Deus
ser lançada em semelhante falência, e que projeta tão pequena glória na expiação de
Cristo, não pode ser verdadeira. Vastamente, mais do amor e misericórdia de Deus
pelo Seu povo é visto nas doutrinas Calvinistas da eleição incondicional e expiação
limitada do que é vista na doutrina Arminiana da eleição condicional e expiação
ilimitada.
8. O ARGUMENTO DA PRESCIÊNCIA DE DEUS

O argumento da presciência de Deus é em si mesmo, suficiente para provar esta


doutrina. Não é a mente de Deus infinita ? Não são as suas percepções perfeitas ?
Quem pode crer que Ele, como um débil mortal, poderia "disparar no comboio sem
perceber os pássaros individuais ?" Visto que Ele conhece antes aqueles que seriam
salvos - e que a maioria dos Arminianos evangélicos admitem que Deus tem uma
presciência exata de todos eventos - Ele não teria enviado a Cristo intentando salvar
aqueles que Ele positivamente previu que se perderiam. Porque, como Calvino
adverte, "Onde estaria a consistência de Deus para Si mesmo, assim como Ele sabe
que nunca sucederá?". Se um homem sabe que em uma sala há dez laranjas, sete das
quais são boas e três das quais são podres, ele não ira para a sala esperando adquirir
dez unidades boas. Ou se é conhecido de antemão que dentre um grupo de cinqüenta
homens que foram convidados para um banquete, certo dez homens não virão, o
anfitrião não enviará convites esperando que aqueles dez assim como os outros o
aceitem. Eles apenas enganam a si mesmos, admitindo a presciência de Deus,
dizendo que Cristo morreu por todos os homens; porque que isso senão atribuir
estupidez a Ele, cujos caminhos são perfeitos ? Representar a Deus como aspirando
ardentemente acontecer o que Ele sabe que não acontecerá, é representá-LO como
agindo loucamente.
9. CERTOS BENEFÍCIOS QUE SE EXTENDEM A TODA HUMANIDADE
EM GERAL
Em conclusão, permita ser dito que os Calvinistas não negam que a humildade em
geral recebem alguns importantes benefícios da expiação de Cristo. Os Calvinistas
admitem que ela interrompe a punição que deveria Ter sido infligida sobre toda a raça
humana por causa do pecado de Adão; que ela forma uma base para a pregação do
Evangelho e assim introduz muitas influências morais no mundo e restringe muitas
influências perversas. Paulo pode dizer ao povo pagão de Listra que Deus "não se
deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e
tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações," Atos
14:17. Deus faz Seu sol brilhar sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e
injustos. Muitas bênçãos temporais se asseguram assim para todos os homens, ainda
que estas não cheguem a ser suficientes para garantir a salvação. Cunningham
expressou a crença do Calvinista mui claramente no seguinte parágrafo: - "Não é
negado pelos advogados da redenção particular, ou da expiação limitada, que a
humanidade em geral, até mesmos aqueles que no final das contas perecem,
desfrutam de algumas vantagens ou benefícios da morte de Cristo; e nenhuma
posição que sustentam lhes requer negar isto. Eles crêem que importantes benefícios
se tem acrescentado à toda raça humana pela morte de Cristo, e que nestes benefícios
aqueles que são finalmente impenitentes e incrédulos participam. O que eles negam é
isto: que Cristo intentou alcançar, ou procurou, para todos homens aquelas bênçãos
que são frutos próprios e peculiares de Sua morte, em seu caráter específico como
uma expiação, - que Ele procurou ou comprou redenção - perdão e reconciliação -
para todos os homens. Muitas bênçãos fluem para a humanidade amplamente pela
morte de Cristo, colateralmente e incidentemente, na conseqüência da relação na qual
os homens, vistos coletivamente, permanecem unidos um ao outro. Todos estes
benefícios foram certamente previstos por Deus, quando Ele resolveu enviar Seu
Filho ao mundo; eles [os benefícios] foram contemplados ou designados por Ele, em
relação a como os homens deveriam receber e gozá-los. Devem ser estimadas e
recebidas como concedidas por Ele, e como deste modo desvelando Sua glória,
indicando Seu caráter, e realmente cumprindo Seus propósitos; e devem ser vistos
como vindo aos homens através do canal da mediação de Cristo, - de Seu sofrimento
de morte." ." 2
Há, portanto, um certo sentido no qual Cristo morreu por todos, e não contestamos ao
dogma Arminiano com uma negativa desqualificada. Porém que mantemos que a
morte de Cristo teve especial referência aos eleitos no que era eficaz para sua
salvação, e que os efeitos que são produzidos nos outros são somente incidentais
[secundários] a este único grande propósito.
.Capítulo 13 A Vocação Eficaz
1. Ensinamentos da Confissão de Westminster. 2. Necessidade de Mudança. 3.
Uma Mudança Interna Provocada por poder Sobrenatural. 4. O Efeito
Produzido na Alma. 5. A Suficiência da Obra de Cristo -- Evangelicalismo. 6. A
Visão Arminiana da Graça Universal. 7. Não Violação do Livre Arbítrio do
Homem. 8. Graça Comum

1. ENSINAMENTOS DA CONFISSÃO DE WESTMINSTER


A Confissão de Fé de Westminster assim apresenta a doutrina da Graça Eficaz: -- "I.
Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo
por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu
Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão
por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os
seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a
salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne,
renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é
bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui
livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça." (Capítulo X, Seção I -
Referências Bíblicas: João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess.
5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10;
At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Çor. 4:6; Eze. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6;
João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37;
Mat. 11:28; Apoc. 22:17. ).
"II. Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de
qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até
que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e
a receber a graça nela oferecida e comunicada." (Capítulo X, Seção II - Referências
Bíblicas: II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João
6:37; Eze. 36:27; João5:25.) 1
E o Catecismo Menor, respondendo à questão "O que é vocação Eficaz?" diz,
"Vocação eficaz é a obra do Espírito de Deus, pela qual, convencendo-nos de nosso
pecado e de nossa miséria, iluminando nossos entendimentos no conhecimento de
Cristo, e renovando nossa vontade, nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, que
nos é oferecido de graça no Evangelho." (Pergunta nº 31 - Referências Bíblicas: II
Tm 1.9,9; Ef 1.18,20; At 2.37; At 26.18; Ez 11.19; Ez 36.26,27; Jo 6.44,45; Fp 2.13;
Dt 30.6; Ef 2.5). 2

2. NECESSIDADE DE MUDANÇA
Os méritos da obediência e do sofrimento de Cristo são, adaptados e gratuitamente
oferecidos a todos os homens. A pergunta com que nos deparamos então é, 'Por que
um é salvo enquanto que o outro é perdido? O que faz com que alguns homens
arrependam-se e creiam, enquanto outros, com os mesmos privilégios externos ,
rejeitem o Evangelho e continuem em impenitência e descrença?' Os Calvinistas
dizem que é Deus quem faz tal diferença, que Ele eficazmente persuade alguns a
virem até Ele; mas os Arminianos atribuem-na aos próprios homens.
Como Calvinistas, sustentamos que a condição dos homens desde a queda é tal que se
deixados por sua própria conta eles continuariam no mesmo estado de rebelião e
recusariam todas ofertas de salvação. Cristo, então, teria morrido em vão. Mas desde
que havia sido prometido que Ele veria o trabalho de Sua alma e se satisfaria, os
resultados daquele sacrifício não têm sido suspensos à mercê dos caprichos da
vontade pecadora e mutável do homem. Ao contrário, a obra de Deus na redenção
têm tido efetivo resultado, através da missão do Espírito Santo, que então opera
naquelas pessoas escolhidas, de forma que eles são trazidos ao arrependimento e à fé,
e assim feito herdeiros da vida eterna.
O ensinamento das Escrituras Sagradas é tal que devemos dizer que o homem em seu
estado natural é radicalmente corrupto, e que ele nunca pode tornar-se santo através
de qualquer poder próprio. Ele está espiritualmente morto, e se salvo, deve sê-lo por
Cristo. O senso comum nos diz que se um homem é tão caído ao ponto de hostil para
com Deus, tal hostilidade deve ser removida antes que ele tenha qualquer desejo de
fazer a vontade de Deus. Se um pecador deve desejar a redenção através de Cristo,
ele deve receber uma nova disposição. Ele deve nascer de novo, e do alto (veja em
João 3:3). É fácil o bastante para nós vermos que o Diabo e os demônios teriam então
de serem soberanamente mudados, se fosse o caso de serem salvos; todavia os
princípios inatos que atuam no homem caído são da mesma natureza, embora não tão
intensos quanto aqueles que atuam nos anjos caídos. Se o homem está morto no
pecado, então nada, nenhum poder menor que o poder do Espírito Santo, sobrenatural
e doador de vida, poderá fazer com que ele venha a agir de modo espiritualmente
bom. Se lhe fosse possível entrar no céu ainda possuído pela velha natureza, então,
para ele, o céu seria tão ruim quanto o inferno; pois ele estaria fora de harmonia com
o seu meio ambiente. Ele detestaria a própria atmosfera e estaria em miséria quando
na presença de Deus. Daí a necessidade da obra interna do Espírito Santo.
Na natureza do caso, o primeiro movimento em direção à salvação não mais pode vir
do homem, tanto quanto do seu próprio corpo, quando morto, poderia vir a vida. A
regeneração é uma dádiva soberana de Deus, graciosamente ofertada àqueles a quem
Ele escolheu; e somente Deus é competente para realizar obra tão grandiosa e re-
criadora. A regeneração não pode ser creditada à pré visão de nenhum bom atributo
naqueles que são objeto desta mudança salvadora, pois em sua natureza não
regenerada, eles são incapazes de boas ações para com Deus; daí que nenhum deles
poderia possivelmente ser pré visto. Neste estado não regenerado o homem nunca
compreende adequadamente sua condição íntima de indefesa. Ele imagina ser capaz
de reformar-se, de regenerar-se a si mesmo e voltar-se a Deus, caso assim escolha.
Ele até imagina ser capaz de neutralizar os desígnios da Sabedoria infinita, e de
derrotar o próprio poder da Onipotência. Como o Dr. Warfield diz, "O homem
pecaminoso permanece na necessidade, não de motivos ou de assistência, de ajuda
para salvar-se, mas precisamente de salvação; e Jesus Cristo veio não para alertar, ou
incitar, ou cortejar, ou ajudar o homem a salvar-se, mas para salvá-lo."

3. UMA MUDANÇA INTERIOR PROVOCADA POR PODER


SOBRENATURAL
Esta mudança, na Bíblia, é chamada de regeneração (veja em Tito 3:5 = "não em
virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito
Santo"), uma ressurreição espiritual que é provocada pelo mesmo poder
extraordinário com o qual Deus operou em Cristo quando Ele O ressuscitou dos
mortos [veja em Efésios 1:19, 20 = "(19) e qual a suprema grandeza do seu poder
para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, (20) que
operou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita
nos céus"], um chamado de entre as trevas para a maravilhosa luz de Deus (veja em I
Pedro 2:9 = "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo
adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz"), uma passagem desde a morte para a vida (veja em João 5:24 =
"Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele
que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a
vida."), um novo nascimento (veja em João 3:3 = "Respondeu-lhe Jesus: "Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino
de Deus."), uma 'vivificação' (veja em Colossenses 2:13 = "a vós, quando estáveis
mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente
com ele, perdoando-nos todos os delito"), uma substituição de um coração de pedra
por um coração de carne (veja em Ezequiel 11:19 = "E lhes darei um só coração, e
porei dentro deles um novo espírito; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes
darei um coração de carne"); e daquele que é sujeito à mudança é dito ser uma nova
criatura (veja II Coríntios 5:17 = "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é;
as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."). Todas essas descrições
refutam completamente a noção Arminiana de que a regeneração é primariamente um
ato do homem, induzido por persuasão moral ou a mera influência da verdade como
apresentada de maneira geral pelo Espírito Santo. E simplesmente porque esta
mudança é produzida pelo poder do alto, que é o florescer de uma vida nova e re-
criada, é irresistível e permanente.
A regeneração da alma é algo que é provocado, que é operado em nós; e não um ato
por nós performado. É uma mudança instantânea, da morte espiritual para a vida
espiritual. Não é nem mesmo algo do que estejamos conscientes no momento em que
ocorre, mas sim alguma coisa que se encontra mais profunda que a consciência. No
momento em que acontece, a alma está tão passiva quanto estava Lázaro quando foi
chamado por Jesus de volta à vida. No que diz respeito à regeneração da alma,
Charles Hodge diz: "É o objeto, e não o agente da mudança. A alma coopera, ou, é
ativa no que precede e no que se segue à mudança, mas a mudança é alguma coisa do
que se tem experiência, não que se faça. O cego e o coxo que vieram até Cristo,
podem ter tido muito trabalho para conseguir chegar até a Sua presença, e eles
alegremente exerceram o novo poder com que foram presenteados, mas eles
permaneceram inteiramente passivos durante o instante da cura. Eles, de nenhuma
forma, cooperaram na produção do resultado. O mesmo é verdadeiro quanto à
regeneração." 3 E de novo Charles Hodge diz, "A mesma doutrina sobre este tema é
ensinada com outras palavras quando a regeneração é declarada como sendo um novo
nascimento. Ao vir ao mundo a criança adentra um novo estado de existência. O
nascimento não é um ato do próprio bebê. O bebê é trazido ao mundo. Ele vêm de um
estado de escuridão, no qual os objetos adaptados à sua natureza não podem agir nele
ou mesmo despertar as suas atividades. Tão logo ele venha ao mundo, todas as suas
faculdades estarão despertas; ele vê, ele sente e ouve, e gradualmente desenvolve
todas as suas faculdades tanto como um ser físico como moral e racional. As
Escrituras ensinam que assim também é na regeneração. A alma adentra a um novo
estado. Ela é introduzida num mundo novo. Toda uma nova classe de objetos
anteriormente desconhecidos ou não compreendidos são revelados à ela; e doravante
exercem sobre ela sua apropriada influência." 4
A regeneração envolve uma mudança de caráter essencial. É o transformar a árvore
em boa árvore, de modo que os seus frutos também sejam bons frutos. Como
resultado dessa mudança, a pessoa passa de um estado de descrença para um estado
de fé salvadora, não por qualquer processo de pesquisa ou de argumento ou de
discussão, mas através de uma experiência interior. E como no caso do nosso
nascimento físico não temos nem podemos fazer nada, a não ser recebê-lo como uma
dádiva soberana de Deus, de igual forma também nada temos nem podemos fazer no
caso do nosso nascimento espiritual, a não ser recebê-lo como uma dádiva soberana.
Cada um deles ocorre sem qualquer demonstração do nosso próprio poder, e mesmo
sem o nosso consentimento. Não resistimos mais ao segundo que resistimos ao
primeiro. E à medida em que vamos em frente e vivemos nossas vidas naturais depois
de havermos nascido, também vamos em frente e trabalhamos na nossa própria
salvação depois de havermos sido regenerados.
As Escrituras Sagradas ensinam enfaticamente que um pré requisito para a entrada no
Reino de Deus é uma transformação radical operada, provocada pelo próprio Espírito
de Deus. E desde que esta obra na alma é soberana e sobrenatural, ela pode tanto ser
concedida como reprimida, de acordo com o beneplácito de Deus.
Consequentemente, a salvação, para quem quer que ela possa ser concedida, é
inteiramente de graça. O Cristão nascido de novo passa a ver que Deus é, na realidade
"o autor e o consumador" da sua fé (veja em Hebreus 12:2 = "olhando firmemente
para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava
proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra
do trono de Deus."), e que nesse aspecto Ele operou uma obra em favor dele (o
Cristão nascido de novo), a qual Ele não operou em favor do seu vizinho não
convertido. Em resposta à questão, "Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu
que não tenhas recebido?..."[I Coríntios 4:7], ele responde que é Deus quem tem feito
a diferença entre homens, especialmente entre os redimidos e os perdidos. Se
qualquer pessoa crer, é porque Deus assim o fez proceder; e se qualquer pessoa deixa
de crer, é porque Deus reprimiu dele aquela graça a qual Ele não estava sob a
obrigação de conceder. Falando estritamente, não há algo como alguém que seja
resultado de "produção própria"; a mais alta categoria de ser humano é aquele que
pode dizer como Paulo, "pela graça de Deus, eu sou o que sou."
Quando Jesus disse, "Lázaro, venha para fora," um poder espetacular acompanhou o
comando de voz e tornou-o efetivo. Lázaro, é claro, não estava consciente de
qualquer outro senão do seu próprio poder; mas quando ele mais tarde entendeu a
situação ele indubitavelmente viu que ele tinha sido chamado de entre os mortos para
a vida, inteira e completamente pelo poder divino. O poder de Deus foi o primário, o
seu próprio poder foi o secundário, e nunca haveria sido exercido, exceto em resposta
ao poder divino. É nesta maneira que cada alma redimida é trazida da morte espiritual
para a vida espiritual. E tanto como o Lázaro morto foi primeiramente chamado de
volta à vida e depois respirou e comeu, também a alma morta no pecado é
primeiramente transferida para a vida espiritual e depois então exercita a fé e o
arrependimento e produz boas obras.
O apóstolo Paulo enfatizou este mesmo ponto quanto ele disse que muito embora
Paulo pudesse plantar e que Apolo pudesse regar, é Deus quem proporciona o
crescimento. O mero esforço humano é inválido. Se uma semente de trigo deve
germinar, o homem pode fazer somente as coisas mais externas e mecânicas na
tentativa de atingir tal objetivo. É Deus quem proporciona a germinação e o
crescimento através do controle soberano de forças que encontram-se inteiramente
fora da esfera de influência do homem. Igualmente, com relação à alma, não importa
o quão eloqüente o pregador possa ser; a menos que Deus abra o coração não haverá
conversão. Especialmente neste ponto, o homem faz somente as coisas mais externas
e mecânicas; e é o Espírito Santo quem transmite o novo princípio de vida espiritual.
A doutrina Bíblica da queda apresenta o homem como moralmente arruinado, incapaz
por natureza de fazer qualquer coisa boa. O Cristão verdadeiramente convertido,
passa a enxergar sua inabilidade e sabe que ele não se faz merecedor do céu por conta
das suas próprias boas obras e méritos. Ele compreende que ele não pode mover-se
espiritualmente mas que ele é movido; como os galhos de uma árvore, ele é incapaz
de germinar, nem produzir folhas, nem tampouco frutos, exceto se ele receber a seiva
da raiz. Ou como Calvino diz, "Nenhum homem transforma-se a si mesmo em uma
ovelha, mas é assim criado, pela graça divina." Os eleitos ouvem o Evangelho e
crêem -- nem sempre quando O ouvem pela primeira vez, mas no tempo divinamente
apontado -- os não eleitos ouvem mas não crêem, não porque lhes falte suficientes
evidências, mas porque a sua natureza interior é oposta à santidade. A razão para os
dois tipos de resposta deve ser rastreado até uma fonte externa. "Dar-vos-ei coração
novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei
coração de carne."[Ezequiel 36:26]. O vocábulo "coração" em linguagem Bíblica
inclui todo o homem interior.
Sob os temos do pacto eterno que foi feito entre o Pai e o Filho, Cristo foi exaltado
como o Governante mediador sobre toda a terra, de maneira que Ele possa dirigir o
reino em desenvolvimento. Esta é uma das recompensas da Sua obediência e do Seu
sofrimento. O Seu poder direcionador é exercido pela da ação do Espírito Santo,
através de quem a Sua redenção comprada é aplicada em todos aqueles a quem a
mesma foi intencionada e sob as condições precisas de tempo e circunstância
predeterminados no pacto. A nós foi dito que não é através de nenhuma providência
ordinária de Deus que um homem crê, mas é através do mesmo poder extraordinário
operado quando Cristo foi levantado de entre os mortos [veja em Efésios 1:19, 20 =
"(19) e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo
a operação da força do seu poder, (20) que operou em Cristo, ressuscitando-o dentre
os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus."]. Tão certamente como aquele
poder foi efetivo na ressurreição de Cristo, também certamente será efetivo quando
aplicado num indivíduo, seja na ressurreição física ou espiritual.
O mundo físico e o mundo espiritual são cada um uma criação de Deus. No mundo
físico a água é soberanamente transformada em vinho, e o leproso é curado por um
toque somente. Os Arminianos prontamente admitem o poder miraculoso de Deus no
mundo físico; por que, então, eles negam o mesmo poder no mundo espiritual, como
se os espíritos dos homens estivessem além do Seu controle? Nós cremos que Deus
pode transformar um homem mau num homem bom quando Lhe convier. É uma
forma de autoridade, que é de direito, do Criador sobre a criatura. É um dos meios
pelos quais o mundo é governado; e quando Deus vê que em assim operando é o
melhor para em estar do indivíduo e para o desenvolvimento do Seu reino, não é
somente permissível, mas de direito que assim Ele o faça. O efeito segue
imediatamente quando da decisão tomada, como quando Ele comandou: 'Haja luz'.
"O ato salvador Divino", diz Mozley, "é a dádiva desta graça irresistível. O alvo da
predeterminação Divina, por um ato de poder absoluto é resgatado do domínio do
pecado, é tirado de lá como se fosse, por força, convertido, enchido com o amor a
Deus e ao seu próximo, e infalivelmente qualificado para um estado de máxima
recompensa." 5
Como o olho físico uma vez cego não pode ser restaurado por qualquer quantidade ou
intensidade de luz aplicada sobre ele, assim também a alma quando morta em pecado
não pode adquirir visão espiritual seja qual for a quantidade da verdade do Evangelho
que lhe seja apresentada. Assim como a visão é impossível, no caso do olho, a menos
que uma cirurgia ou um milagre restaure o olho à sua condição normal; assim
também no caso da alma, e a menos que ela seja regenerada, ela nunca vai
compreender e aceitar a verdade do Evangelho. Na regeneração, Deus faz com que o
pecador viva; e ele vive, imediatamente, cheio com uma nova vida espiritual. Lídia, a
vendedora de púrpura na cidade de Tiatira, prestou atenção às coisas ditas por Paulo,
porque o Senhor primeiro lhe abriu o coração (veja em Atos 16:14 = "E certa mulher
chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que temia a Deus, nos
escutava e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia.")
Cristo ensinou esta mesma verdade quando em Sua oração de intercessão Ele disse a
respeito de Si mesmo que Deus "assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne,
para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado."[João 17:2]; e
novamente, "Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também
o Filho dá vida a quem ele quer."[João 5:21].
Sob o pacto feito com Adão, o destino do homem dependia das suas próprias obras.
Sabemos qual foi o resultado daquele julgamento. Agora, se o homem não podia
operar a sua própria salvação enquanto ele 'estava na vertical', que chance tem ele
depois de haver caído? Felizmente para nós, Deus tomou o assunto em Suas próprias
mãos, desta vez. E se Deus novamente deu ao homem livre arbítrio para que ele
pudesse operar a sua própria salvação, o que estaria Ele fazendo, a não ser instituir
novamente a dispensação que já foi tentada e que resultou em falha? Suponha que um
homem é levado por uma correnteza à qual ele é incapaz de resistir, seria razoável ou
sábio resgatá-lo daquela correnteza somente para que recupere sua energia, para uma
segunda tentativa? Não seria como uma ridícula imprudência salvá-lo, somente para
repetir o processo? Desde que Deus não repete as Suas dispensações, podemos dizer
que na segunda vez Ele ordenaria a salvação com um plano diferente. Se obras
adicionais deverão ser operadas, então Deus, não o homem, será o autor; e a nova
dispensação, tanto quanto a antiga, é ajustada ao estado no qual o homem se encontra.
Estamos seguros de que nenhum atributo, nenhuma qualidade pode aliar-se à vontade
do homem, seja ele caído ou não, e levá-lo para além do alcance do controle soberano
de Deus. Saulo foi chamado no ápice da sua perseguição zelosa e foi transformado no
apóstolo Paulo. O ladrão crucificado foi chamado na última hora da sua vida terrena.
Quando Paulo pregou em Antioquia, "...creram todos quantos haviam sido destinados
para a vida eterna."[Atos 13:48]. Se o propósito de Deus é que todos os homens
devessem ser salvos, ele mais que certamente poderia traze-los todos à salvação. Mas
por razões que só nos têm sido reveladas parcialmente, Ele deixa a muitos
impenitentes. Através de todas as Suas obras, no entanto, vemos que nada do que
Deus faz é inconsistente com a natureza humana, como sendo o homem um ser
racional e responsável.
Um dos maiores defeitos do Arminianismo tem sido a falha em reconhecer a
necessidade da obra sobrenatural do Espírito Santo no coração. Ao contrário, o
Arminianismo resumiu a regeneração numa mudança mais ou menos gradual, que é
levada a cabo pelo indivíduo, uma simples mudança de propósito na mente do
pecador, que é resultado de persuasão moral e da força geral da verdade. O
Arminianismo tem insistido no "livre arbítrio", "no poder de escolher o contrário",
etc., e tem ensinado acima de tudo que o pecador determina o seu próprio destino.
Nas suas formas mais consistentes, o Arminianismo faz do homem um "co-salvador"
com Cristo, como se a glória na redenção pudesse ser dividida entre a graça de Cristo
e a vontade do homem, este último também dividindo os espólios com o primeiro.
Se, como os Arminianos dizem, Deus está sinceramente tentando convencer a cada
pessoa, Ele está falhando grandemente com a Sua obra; pois no meio da população
adulta do mundo até o momento, onde ele obteve sucesso em salvar um, Ele tem feito
com que talvez uns vinte e cinco fossem para o inferno. Tal ponto de vista concede
muito pouca glória à Majestade Divina. Com relação à doutrina Arminiana da graça
irresistível, Toplady diz que é "uma doutrina que representa a Onipotência como
querendo, tentando e esrforçando-se para nada. Conforme este princípio, Deus, ao
tentar (pois parece que nada mais é que tentativa) converter os pecadores, estes
pecadores podem enganá-LO, derrotá-LO e desapontá-LO; Ele pode estabelecer um
cerco à alma, e aquela alma pode, na fortaleza impenetrável do livre arbítrio, levantar
uma bandeira desafiadora ao Próprio Deus, e por uma contínua obstinação de defesa,
e alguns assaltos do livre arbítrio farão com que Ele levante o cerco. Numa palavra, o
Espírito Santo, depois talvez por anos haver tentado aproximação e aceitação pelo
livre arbítrio do homem, pode ao final, como se fosse um general derrotado ou um
político que não logrou êxito, ser vergonhosamente jogado na derrota, ou dispensado
com desdém, em vão, sem haver alcançado o objetivo para o qual Ele havia sido
enviado."
Não é razoável supor que o pecador pode assim derrotar o poder criativo do Deus
Todo Poderoso. "Toda autoridade me foi dada no céu e na terra," disse o Senhor ao
ascender ao céu. Nenhum limite é estabelecido para tal autoridade. ""Há, porventura,
alguma coisa difícil ao Senhor?"[Gênesis 18:14]; "...e segundo a sua vontade ele
opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a
mão, nem lhe dizer: Que fazes?"[Daniel 4:35]. Em vista destas e de muitas outras
passagens cuja mensagem é a mesma, parece-nos doentio imaginar que Deus está
pelejando com o homem da melhor maneira que Ele consegue, persuadindo,
exortando, implorando, mas incapaz de alcançar os Seus propósitos, se as Suas
criaturas quiserem diferentemente. Se o chamado de Deus não é efetivo, nós podemos
imaginá-LO dizendo, "Eu quero que todos os homens sejam salvos, não obstante, tal
deve finalmente ser, não como Eu quero mas sim como eles querem." Assim fosse,
Deus estaria então sendo colocado na mesma extremidade com o Rei Dario, que
podia e que alegremente teria salvo Daniel, mas não podia (veja em Daniel 6).
Nenhum Cristão que seja familiar com o que as Escrituras Sagradas ensinam a
respeito da soberania de Deus pode crer que Ele seja de tal forma derrotado em Suas
criaturas. Não é necessário que uma criatura deva ter poder para desafiar e opor-se
aos propósitos do Deus Todo-Poderoso antes que as suas ações sejam recompensadas
ou punidas. Ademais, se Deus estivesse realmente sem poder perante a majestade da
vontade do homem, seria de pouca utilidade orar para que Ele converta quem quer
que seja. Seria então mais razoável que as nossas preces fossem dirigidas ao próprio
homem.

4. O EFEITO PRODUZIDO NA ALMA


O efeito importante e imediato desta mudança interior, purificadora da natureza é que
a pessoa ame a retidão e a justiça e confie em Cristo para a sua salvação. Enquanto
que o seu elemento natural era o pecado, agora passa a ser santidade; o pecado torna-
se repulsivo para ele, e ele ama fazer o bem. Esta graça irresistível e efetiva converte
a própria vontade e forma um caráter santo na pessoa, através de um ato criativo. Ela
remove o apetite do homem por coisas pecaminosas de maneira que ele se abstém do
pecado, não com o dispéptico recusa comer as delicias que ele adora, já que em
fazendo-o poderia ser punido com as agonias da doença, mas sim porque ele odeia o
pecado pelo seu próprio bem. A santa e total submissão à vontade de Deus, a qual o
convertido antes lutava e resistia, ele agora ama e aprova. Obediência se torna não
somente obrigatória, mas o bem preferível.
Mas enquanto as pessoas permanecerem neste mundo elas estarão todas sujeitas às
tentações e terão ainda os resquícios da velha natureza 'grudados' neles. Daí é que são
constantemente enganados, e comentem pecado; todavia estes pecados são somente
os ataques da morte e tentativas alucinadas da natureza antiga, que já recebeu o golpe
mortal. Os regenerado também sofrem dores, doenças, desencorajamento e até
mesmo a morte, embora eles estejam avançando firmemente em direção à completa
salvação.
Neste ponto muitas pessoas confundem regeneração com santificação. A regeneração
é obra exclusiva de Deus, e um ato de Sua graciosa graça, com a qual Ele implanta
um novo princípio de vida espiritual na alma. Acontece por intermédio de poder
sobrenatural e se completa num instante. Por outro lado, santificação é um processo
através do qual os traços, os resquícios de pecado na vida exterior são gradualmente
removidos, de modo que, como diz o Catecismo Menor, nós somos habilitados a
morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão. Trata-se de um trabalho
conjunto entre Deus e homem. Consiste no triunfo gradativo da nova natureza
implantada em regeneração sobre o mal que ainda permanece depois de o coração
haver sido renovado. Ou, em outras palavras, podemos dizer que a completa
santificação desenvolve-se como que em efeito retardado, após a vida tenha em
princípio ganha para Deus. Retidão perfeita é o alvo estabelecido a todos nós nesta
vida; e de cada Cristão seria esperado um progresso contínuo na direção de tal alvo. A
santificação, no entanto, não é inteiramente completa até a hora da morte, momento
no qual o Espírito Santo limpa a alma de todo e qualquer vestígio de pecado,
fazendo-a santa e até elevando-a acima da possibilidade de pecar.
De modo mais preciso, podemos dizer que a redenção não é inteiramente completa
até que os salvos tenham recebido os seus corpos ressuscitados. Em um sentido foi
completa quando Cristo morreu no Calvário, ainda que seja aplicada só
gradualmente, pelo Espírito Santo. E uma vez que o Espírito Santo efetivamente
assim aplica aos eleitos os méritos do sacrifício de Cristo, a sua salvação é muito
infalivelmente certa e não pode de forma alguma ser evitada. Daí a certeza de que a
vontade de Deus para a salvação do Seu povo não é de forma alguma desapontada ou
anulada, por Suas criaturas.

5. A SUFICIÊNCIA DA OBRA DE CRISTO -- EVANGELICALISMO


Passamos agora a discutir a suficiência da obra de Cristo no que diz respeito à
redenção. Nós cremos que através do Seu sacrifício vicário e da Sua morte, Ele pagou
o débito que o Seu povo tinha para com a justiça divina, assim livrando-os das
conseqüências do pecado; e que por haver mantido a lei da perfeita obediência e
vivido uma vida sem pecado, Ele ganhou para eles a recompensa da vida eterna. A
obra de Cristo integralmente proveu o seu resgate do pecado e o seu estabelecimento
no céu. Algumas vezes tem sido referido a estas duas fases da obra de Cristo como
sendo a Sua obediência ativa e passiva. A doutrina da suficiência da Sua obra é
apresentada na Confissão de Westiminster, que nos diz que "O Senhor Jesus, pela sua
perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo, . . . . . satisfez plenamente à justiça
do Pai. e para todos aqueles que o Pai lhe deu adquiriu não só a reconciliação, como
também uma herança perdurável no Reino dos Céus." (Capítulo VIII, Seção V =
Referências Bíblicas: Rom. 5: 19 e :25-26; Heb. 10: 14; Ef. 1: 11, 14; Col.1:20; II
Cor.5: 18; 20; João 17:2; Heb.9:12,15.) 6 Tivesse ele somente sofrido o castigo pelo
pecado, sem também ganhar a recompensa da vida eterna, o Seu povo teria sido
somente elevado até o marco zero. Eles estariam então no mesmo ponto e no mesmo
plano em que encontrava-se Adão antes da queda, e ainda estariam sob a obrigação de
ganhar para si próprios a vida eterna. Ao que Paulo declarou, que Cristo é tudo em
todos em matéria de salvação (veja Colossenses 3:11 = "onde não há grego nem
judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo é
tudo em todos."), podemos acrescentar que o homem não é nada de nada quanto
àquela obra, e não tem em si próprio nada que mereça salvação. Deveríamos lembrar
que o Evangelho não são bons conselhos, mas sim boas novas. Ele não dos diz o que
devemos fazer para ganhar a salvação, mas proclama a nós o que Cristo fez para
salvar-nos.
Por em dúvida que todos por quantos Cristo morreu serão salvos, ou que a retidão
triunfará, é o mesmo que duvidar da suficiência de Jesus Cristo quanto ao que Ele
tomou sobre si em nosso lugar. Na cruz Jesus declarou que Ele havia terminado a
obra de redenção que o Pai deu-Lhe para fazer. Mas, como Toplady assinala, "a
pessoa com poder para aceitar ou rejeitar, como lhe convenha, deve dizer: "Não, não
terminastes a obra de redenção que vos foi dada para fazer; na realidade fizeste uma
parte dela, mas eu devo pessoalmente acrescentar algo a ela, ou vosso trabalho inteiro
não terá valido nada."
Somente aqueles pontos de vista que atribuem a Deus todo o poder na salvação de
pecadores são evangélicos e consistentes, já que a palavra "evangélico" significa que
é somente Deus quem salva. Se porventura a fé e a obediência deverem ser
acrescentadas, dependendo da escolha independente do homem, não mais teremos
evangelicalismo. O evangelicalismo, com uma expiação universal leva à salvação
universal; e na medida em que o Arminianismo sustenta que Cristo morreu por todos
os homens e que o Espírito luta para aplicar esta redenção a todos homens mas
somente alguns são salvos, ele não é evangélico.
Ilustremos adicionalmente este princípio de evangelicalismo, imaginando um grupo
de pessoas que são acometidas de uma doença terminal. Aí, se um médico lhes
administrar um remédio que é cura certa, todos quantos tomarem o remédio se
recuperarão. Da mesma forma, se a obra de Cristo for efetiva, e se for aplicada a
todos homens pelo Espírito Santo, todos serão salvos. Portanto, para tornar-se
evangélico, o Arminiano deve tornar-se um universalista. Só o Calvinismo, que
defende ao evangelicalismo com uma expiação limitada e declara que a obra de
Cristo alcança o objetivo a que estava proposta, é consistente com os fatos Bíblicos e
com a experiência.

6. O PONTO DE VISTA ARMINIANO DA GRAÇA UNIVERSAL


A nota universalista está sempre presente no sistema teológico Arminiano. Um
exemplo típico é encontrado na asserção do Prof. Henry C. Sheldon, que por muitos
anos esteve ligado à Universidade de Boston. Diz ele: "Nossa peleja é pela
universalidade da oportunidade de salvação, em oposição a uma incondicional e
exclusiva escolha de indivíduos para a vida eterna." 7. Aqui podemos notar não
somente ( 1 ) a ênfase, o 'stress' Arminiano característico no universalismo, mas
tantém ( 2 ) o reconhecimento que, numa análise final, tudo o que Deus faz para a
salvação dos homens a ninguém salva realmente, mas que somente abre um caminho
de salvação, de maneira que os homens possam salvarem-se a si mesmos, -- e assim,
para todos os propósitos práticos, estamos devolta ao plano do puro naturalismo!
Talvez a asserção mais forte da construção Arminiana seja encontrada no credo da
denominação 'União Evangélica', ou os chamados "Morisonianos", cujo propósito foi
protestar contra a eleição incondicional. Um sumário das suas "Três Universalidades"
é fundamentado no credo assim: "O amor de Deus o Pai, na dádiva e no sacrifício de
Jesus para todos os homens em todos lugares sem distinção, exceção ou respeito de
pessoas; o amor de Deus o Filho, na dádiva e no sacrifício de Si próprio como uma
verdadeira propiação pelos pecados do mundo todo; o amor de Deus o Espírito Santo,
na Sua obra pessoal e contínua, aplicando às almas de todos os homens as provisões
da divina graça." 8
Certamente, se Deus ama igualmente a todos os homens, e se Cristo morreu
igualmente por todos os homens, e se o Espírito Santo aplica as benesses daquela
redenção igualmente a todos os homens, uma das duas conclusões a seguir é
aplicável. ( 1 ) Todos os homens igualmente estão salvos (o que é contradito pelas
Sagradas Escrituras), ou, ( 2 ) tudo o que Deus faz para o homem não o salva, mas
deixa-o para que se salve a si mesmo! No que então se transforma o nosso
evangelicalismo, que sustenta que é somente Deus quem salva os pecadores? Se
aceitarmos que depois de Deus haver feito toda a Sua obra, ainda assim é deixado ao
homem a alternativa de "aceitar" ou "não resistir", concedemos ao homem o poder de
veto sobre a obra do Poderoso Deus e a salvação permanece, em última instância, nas
mãos do homem. Neste sistema teológico, não importa quão grande seja a proporção
da obra de salvação que Deus possa fazer, o homem é o fator decisivo final. E o
homem que vem até a salvação, tem algum mérito pessoal; ele tem alguma base para
vangloriar-se sobre aqueles que estão perdidos. Ele pode apontar-lhes o dedo do
escárnio e dizer, "Você teve tão boa chance quanto eu tive. Eu aceitei e você rejeitou
a oferta. Portanto, você merece sofrer." Quão diferente isto é da declaração de Paulo
que a salvação "não vem das obras, para que ninguém se glorie"[Efésios 2:9] e que
"...Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor."[I Coríntios 1:31].
A tendência em todos estes sistemas teológicos universalistas nos quais o homem
orgulhosamente toma as rédeas e proclama-se o mestre do seu destino, é reduzir o
Cristianismo a uma religião de obras. Lutero tinha este mesmo ponto em mente
quanto ele satiricamente comentou referindo-se aos moralistas do seu tempo, "Nós
sempre estamos querendo virar a mesa e fazer nosso próprio bem para aquele pobre
homem, Deus nosso Senhor, de Quem nós deveríamos é receber tal bem."
Zanchius diz que o Arminianismo sussurra gentilmente no ouvido do homem que
mesmo no seu estado de queda ele tem "ambos, a vontade e o poder para fazer o que
é bom e aceitável para Deus: -- que a morte de Cristo é aceita por Deus como uma
expiação universal para todos os homens; de maneira que cada um pode, se assim
desejar, salvar-se a si mesmo através do seu livre arbítrio e boas obras: -- que no
exercício de nossos poderes naturais, nós podemos chegar a perfeição, mesmo no
nosso estado de vida presente." "A questão", diz o Dr. Warfield, "é realmente
fundamental, e é claramente proposta. É o Senhor Deus quem nos salva, ou somos
nós mesmos? E será que o Senhor Deus nos salva, ou Ele meramente abre perante
nós o caminho da salvação e deixa para a nossa escolha, trilhá-lo ou não? A
encruzilhada é a mesma velha encruzilhada entre o Cristianismo e o 'auto soterismo'.
É certo que somente pode chamar-se de evangélico aquele que com plena consciência
descansa inteira e diretamente em Deus, e somente em Deus, para a sua salvação." 9
"As obras das minhas mãos
Não podem satisfazer a Tua lei;
"Not the labors of my hands
O meu zelo pode ser incansável
Can fulfill Thy law's commands;
Minhas lágrimas rolar para
Could my zeal no respite know,
sempre
Could my tears forever flow,
Tudo isso não poderia meu
All for sin could not atone
pecado expiar
Thou must save, and Thou alone.
Tu podes salvar-me, e Tu
somente
"Nothing in my hands I bring - "Nada trago nas mãos -
Simply to Thy cross I cling; Simplesmente me apego à Tua
Naked come to Thee for dress - cruz;
Helpless look to Thee for grace; Venho nú a Ti, para vestir-me -
Indefeso, busco a graça em Ti;
Foul, I to thy fountain fly -
Sujo, eu corro até a Tua fonte -
Wash me, Saviour, or I die!" 10
Lava-me, Salvador, ou morro!"
10

7. NENHUMA VIOLAÇÃO DA LIBERDADE DO HOMEM


É comum ao oponentes referirem-se a esta doutrina como se implicasse que os
homens são forçados a crer e voltar-se a Deus contra os seus desejos, ou, que ela
reduzisse os homens ao nível de autômatos no que refere-se à salvação. Trata-se de
referência ou representação errônea. Os Calvinistas não sustentam tal opinião; e na
verdade o enunciado completo da doutrina exclui ou contradiz tais alusões. A
Confissão de Fé de Westminster, depois de declarar que esta Vocação Eficaz ("Graça
Eficaz") que resulta na conversão é um exercício de onipotência e não pode ser
derrotada, acrescenta que, "...eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela
sua graça."[Final da Seção I, Capítulo X - Referências Bíblicas: João 15:16; At.
13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6;
Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-
18; II Çor. 4:6; Eze. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped.
1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17]. O poder
pelo qual a obra da regeneração é efetuada não provém de natureza exterior ou
forçosa. A Regeneração não produz mais violência à alma que a demonstração produz
ao intelecto, ou a persuasão ao coração. A regeneração não lida com o homem como
se ele fosse uma pedra ou um pedaço de madeira. Nem tampouco ele é tratado como
um escravo, e guiado contra a sua própria vontade, até a salvação. Antes, a mente é
iluminada, e é transformado todo o conjunto de concepções com relação a Deus, a si
próprio e ao pecado. Deus envia o Seu Santo Espírito e, de uma maneira que
redundará eternamente em louvor da Sua graça e misericórdia, docemente faz com
que a pessoa se renda. O homem regenerado encontra-se então governado por novos
motivos e novos desejos, e as coisas que ele antes odiava agora são amadas e
buscadas. Esta mudança não é conseguida através de qualquer compulsão exterior,
mas através de um novo princípio de vida, que foi criado dentro da alma e que busca
o alimento que somente pode satisfaze-lo.
A lei espiritual, como a lei civil, não é "terror para o bom trabalho, mas para o mal"; e
nesse sentido encontramos uma boa analogia para com os assuntos humanos.
Compare o cidadão cumpridor da lei e o criminoso. O cidadão que cumpre a lei vive
o seu dia a dia inconsciente da maioria das leis do estado e da nação onde vive. Ele
encara os oficiais do governo e a polícia como seus amigos. Eles representam a
autoridade constituída a qual ele respeita e com a qual ele se satisfaz. É um homem
livre. Para ele, a lei existe somente para proteger a sua vida, os seus amados, e o seu
patrimônio. Mas quando nos referimos ao criminoso, o quadro é diferente. Ele
provavelmente sabe mais acerca dos estatutos do que qualquer outro homem que seja
cumpridor da lei. Ele os estuda para que possa evadir-se deles e desrespeitar os seus
propósitos. Vive com medo. Ele defende o seu esconderijo com portas à prova de
bala, e carrega sempre uma arma por temer o que a polícia ou o povo possam fazer
consigo. Ele está sob servidão constante. Sua idéia de liberdade é eliminar a polícia,
corromper os tribunais, e trazer à desgraça geral as leis e os costumes da sociedade a
qual ele tenta arruinar.
Todos nós temos tido experiências em nossas vidas diárias, quando nos recusamos a
fazer certas coisas, mas quando da introdução de novos fatores mudamos nossa idéia
e grata e livremente fazemos o que anteriormente nos opúnhamos. Certamente não há
nada desta doutrina que garanta a representação que, de acordo com os princípios
Calvinistas, os homens sejam forçados a arrepender-se e crer, seja esta a sua escolha
ou não.
Mas, alguém pode questionar, as passagens na Bíblia, tais como, "Se obedecerdes",
"Se vos voltardes a Jeová", "Se fizeres o que é mal", e assim por diante; não
implicam, pelo menos, que o homem tem livre arbítrio e capacidade? Não se segue,
contudo, que meramente porque Deus ordena é que o homem capaz de obedecer.
Muitas vezes os pais 'brincam' com seus filhos dizendo-lhes para fazerem isto ou
aquilo, quando seu principal propósito é mostrar-lhes a sua incapacidade e induzi-los
a buscar pelo auxílio dos pais. Quando os homens do mundo ouvem tal tipo de
linguagem eles assumem terem suficiente poder em si próprios, e, como o auto-
conceituado doutor da lei a quem Jesus respondeu, "...Respondeste bem; faze isso, e
viverás."[Lucas 10:28], eles vão adiante crendo serem capazes de alcançar a salvação
através de boas obras. Mas quando o verdadeiro homem espiritual ouve este mesmo
tipo de linguagem, ele é levado a enxergar que ele não pode cumprir o mandamento,
e então clama ao Pai para que Ele faça a obra por ele. Nestas passagens o homem é
ensinado não o que ele pode fazer, mas sim o que é esperado que ele faça; e em
débito está aquele que é tão cego que não consegue enxergar esta verdade, pois até
que ele possa ele nunca poderá entender a obra de Cristo. Em resposta ao lamento
desesperado dos pecadores, as Escrituras Sagradas revelam uma salvação que é
inteiramente de graça, a dádiva gratuita do amor e da misericórdia de Deus em Cristo.
E o que a si mesmo vê assim salvo pela graça, instintivamente clama com Davi,
"...Quem sou eu, Senhor Jeová, e que é a minha casa, para me teres trazido até
aqui?"[II Samuel 7:18]
A graça especial à qual nos referimos como eficaz é algumas vezes chamada de
irresistível. Este termo, contudo, é um tanto quanto não apropriado, uma vez que
sugere que um certo poder arrasador seja exercido sobre a pessoa, em conseqüência
do qual ele é compelido a agir contrariamente aos seus desejos, ao passo que o
significado intencionado, como já dito anteriormente, é que os eleitos sejam tão
influenciados pelo poder, que o seu agir a partir de então seja um ato de escolha
voluntária.

8. GRAÇA COMUM
Além dessa graça especial que resulta na salvação dos seus objetos, há o que
podemos chamar de "graça comum", ou influências gerais do Espírito Santo que, a
um nível maior ou menor são experimentadas por todos homens. Deus faz com que o
Seu sol nasça sobre o mau e sobre o bom, e manda chuva sobre o justo e sobre o
injusto. Ele provê estações frutíferas e dá muitas coisas as quais contribuem para a
felicidade da humanidade em geral. Entre as bênçãos mais comuns que devem ser
atribuídas à esta fonte, podemos enumerar a saúde, a prosperidade material, a
inteligência em geral, os talentos para a arte, música, oratória, literatura, arquitetura,
comércio, invenções e etc. Em muitos casos, os não eleitos recebem estas bênçãos em
abundância maior do que os eleitos, pois muitas vezes vemos que os filhos deste
mundo são para a sua própria geração mais sábios que os filhos da luz. A graça
comum é a fonte de toda a ordem, o refinamento, a cultura, a virtude comum, etc.,
que encontramos no mundo, e através dela é que o poder moral da verdade no
coração e na consciência é aumentado, e as paixões maléficas dos homens são
restringidas. Ela não leva à salvação, mas livra esta terra de transformar-se em
inferno. Ela prende a efetivação do pecado, tanto quanto o discernimento humano
prende a fúria de bestas selvagens. Ela previne o pecado de ser manifestado em toda
sua hedionda expressão, e assim bloqueia a explosão das chamas da fogueira
fumegante. Como a pressão da atmosfera, é poderosa e universal, ainda que não
sentida.
A graça comum, no entanto, não mata essência do pecado, e portanto não é capaz de
produzir uma conversão genuína. Por intermédio da luz da natureza, das obras da
consciência, e especialmente por intermédio da apresentação exterior do Evangelho é
possível ao homem saber o que ele deveria fazer, mas isto não proporciona o poder
do qual o homem necessita. As Escrituras Sagradas ensinam constantemente que o
Evangelho torna-se efetivo somente quando é auxiliado pelo poder iluminador do
Espírito, e sem este poder ele é pedra de tropeço para os Judeus e tolice para os
Gentios. Assim é que o homem não regenerado nunca pode conhecer a Deus, exceto
de uma maneira exterior, e por este motivo a retidão exterior dos escribas e dos
Fariseus é declarada não ser retidão de forma alguma. Jesus disse aos Seus discípulos
que o mundo não poderia receber o Espírito da verdade, "...porque não o vê nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós."[João
14:17]. A doutrina Arminiana acaba com a distinção entre graça comum e graça
eficaz (vocação eficaz), ou quando muito faz com que a graça eficaz seja uma
assistência sem a qual a salvação é impossível, enquanto que a doutrina Calvinista faz
dela uma assistência pela qual a salvação é certa.
Com relação às transformações, às reformas produzidas pela graça comum, o Dr.
Charles Hodge diz: -- "Freqüentemente acontece de os homens que têm sido imorais
em suas vidas mudarem completamente o curso de suas vidas. Eles passam a ser
exteriormente corretos em seu comportamento, em sua têmpera, passam a ser puros,
honestos e bondosos. É uma grande e louvável mudança. É extremamente benéfica
àqueles que dela são objetos, e a todos quantos eles estiverem ligados. Pode ser
produzida por diferentes causas, pela força da consciência, ou por uma consideração
pela autoridade de Deus e um temor da Sua desaprovação, ou por uma consideração
ao bom conceito de homens, ou pela mera força de uma consideração iluminada de
interesse próprio. Mas qualquer que seja a causa próxima de tal reforma, de tal
transformação, ela está sempre bem longe de santificação. As duas coisas diferem em
natureza tanto quanto um coração limpo difere de uma roupa limpa. Tal
transformação externa pode deixar o caráter íntimo do homem não transformado, não
modificado à luz de Deus. Ele pode permanecer destituído de amor para com Deus,
ou de fé em Cristo, e de todos os santos exercícios ou afeições." 11 E diz o Dr.
Hewlitt: "Poderia o cadáver no cemitério ser levantado através da mais doce música
já composta, ou pelo ribombar do maior trovão, que parece estremecer os pólos da
Terra? Assim que o pecador, morto em pecado e ofensas, possa ser movido pelo
trovão da lei, ou pela melodia do Evangelho; poderá então o Etíope mudar a cor da
sua pele, ou o leopardo as suas malhas." "...então podereis também vós fazer o bem,
habituados que estais a fazer o mal..."[Jeremias 13:23]. 12
O parágrafo seguinte, escrito pelo Dr. S. G. Craig estabelece de maneira muito clara
as limitações da graça comum: -- "O Cristianismo entende que educação e cultura,
que deixam Jesus Cristo fora de consideração, enquanto possam fazer homens mais
inteligentes, polidos, brilhantes, não têm o poder para mudar dos seus caracteres.
Quando muito tais coisas em si mesmas podem limpar o exterior do recipiente, sem
no entanto afetar a natureza do seu conteúdo. Aqueles que depositam a sua confiança
na educação, na cultura e em coisas afins, assumem que tudo o que seja necessário
para transformar uma oliveira selvagem numa oliveira boa é regar, podar, cultivar e
assim por diante, enquanto que o que a árvore precisa, em primeiro lugar, é seja
enxertada com um broto de uma oliveira boa. E até que isto seja feito, todo trabalho
dispensado à árvore é na maior parte jogado fora. Nós não subestimamos o valor da
educação e da cultura, e todavia alguém poderia tanto supor-se capaz de purificar as
águas de um rio simplesmente em melhorando as margens do mesmo, como também
supor que estas coisas, próprias de si mesmos são capazes de transformar os corações
dos filhos dos homens .... como um antigo provérbio Judeu diz: "pegue uma árvore de
frutos amargos e plante-a no jardim do Éden e regue-a com as águas dali; e deixe o
anjo Gabriel cuidar dela, e a árvore ainda assim produzirá frutos amargos." 13

Capítulo 14 A Perseverança Dos Santos


1. Enunciado da Doutrina. 2. Perseverança Não Depende das Boas Obras do
Indivíduo, Mas Da Graça de Deus. 3. Embora Verdadeiramente Salvos, Os
Cristãos Podem Temporariamente Degenerar-se e Voltar a Pecar. 4. Uma
Profissão Exterior de Retidão Não É Garantia que O Indivíduo Seja Um Cristão
Verdadeiro. 5. O Senso de Insegurança Arminiano. 6. Propósito dos Alertas das
Escrituras Contra A Apostasia. 7. Prova Na Bíblia.

1. ENUNCIADO DA DOUTRINA
A doutrina da Perseverança dos Santos é apresentada na Confissão de Fé de
Westminster com as seguintes palavras: "Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os
que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do
estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de
perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos."[Capítulo XVII, Seção
I. Referências Bíblicas: Fil. 1: 6; João 10: 28-29; I Ped. 1:5, 9.]. (1). Ou, em outras
palavras, cremos que aqueles que uma vez tornaram-se Cristãos não podem cair do
estado de graça e perderem-se, --- que enquanto eles possam cair temporariamente
em pecado, eles retornarão eventualmente, e serão salvos.
Esta doutrina não se sustenta sozinha, mas é uma parte necessária do sistema de
teologia Calvinista. As doutrinas da Eleição e da Vocação Eficaz ("Graça Eficaz")
implicam logicamente na salvação certa daqueles que recebem tais bênçãos. Se Deus
escolheu homens incondicional e absolutamente para a vida eterna, e se o Seu
Espírito Santo aplica efetivamente àqueles homens os benefícios da redenção, a
conclusão inescapável é que tais indivíduos serão salvos. E, historicamente, esta
doutrina tem sido sustentada por todos Calvinistas, e negada por praticamente todos
Arminianos.
Aqueles que têm corrido até Jesus por refúgio têm uma fundação, um alicerce firme
sobre o qual construir. Embora ondas de erros inundem a terra, embora Satã levante
todos os poderes da terra e as iniqüidades dos seus próprios corações contra eles, eles
nunca falharão; mas, perseverando até o fim, eles herdarão aquelas mansões que
foram preparadas para eles desde a fundação do mundo. Os santos no céu são mais
felizes, mas não mais seguros do que os verdadeiros crentes aqui neste mundo. Uma
vez que a fé e o arrependimento são dádivas de Deus, o conceder destas dádivas é
uma revelação do propósito de Deus para salvar aqueles a quem elas são dadas. É
uma evidência de que Deus predestinou os receptáculos de tais dádivas para serem
conforme à imagem do Seu Filho, i.e. para serem iguais a Ele em caráter, destino, e
glória, e que Ele infalivelmente alcançará o Seu propósito. Ninguém pode arrancá-los
das Suas mãos. Aqueles que tornam-se Cristãos uma vez, têm dentro de si o princípio
da vida eterna, princípio este que é o Espírito Santo; e desde que o Espírito Santo faz
morada neles, eles são então potencialmente santos. É verdade que passam por muitas
provas, e que não sabem o que será deles, mas eles devem saber que o que foi
começado neles será completo, até o fim, e que a própria presença de conflitos dentro
deles é o sinal de vida e a promessa de vitória.
Com relação àqueles que tornam-se Cristãos verdadeiros, mas que, como os
Arminianos alegam, 'caem', por que Deus não os tira do mundo enquanto eles ainda
encontram-se no estado de salvos? Certamente ninguém dirá que é porque Ele não
possa, ou que é porque Ele não prevê a sua futura apostasia. Por que, então, Ele deixa
estes objetos da Sua afeição aqui, para caírem novamente em pecado e perecer? A
Sua dádiva de vida continuada para estes Cristãos eqüivale a uma maldição infinita
imposta sobre eles. Mas quem é que pode realmente crer que o Pai Celeste não cuida
melhor dos Seus filhos? Esta doutrina errônea dos Arminianos ensina que uma pessoa
pode ser um filho de Deus hoje e um filho do Diabo amanhã, que ela pode mudar de
um estado para outro tão rapidamente quanto muda de opinião. Ensina que a pessoa
pode ser nascida do Espírito, justificada, santificada, tudo menos glorificada, e que
mesmo assim ela pode tornar-se rejeitada e perecer eternamente, sendo a sua própria
vontade e curso de conduta o fator determinante. Certamente que um Deus soberano
e amoroso não permitiria que seus filhos resgatados caíssem dessa forma e
perecessem.
Adicionalmente, se Deus sabe que um certo Cristão vai rebelar-se e perecer, será que
Ele pode amá-lo com qualquer tipo de afeição profunda mesmo antes da sua
apostasia? Se soubéssemos que alguém que é nosso amigo hoje seria levado a tornar-
se nosso inimigo e trair-nos amanhã, não seríamos capazes de recebê-lo com a
intimidade e confiança que de outra forma seriam naturais. Nosso conhecimento dos
seus atos futuros destruiriam em grande monta o nosso presente amor por ele.
Ninguém nega que os redimidos no céu serão preservados em santidade. Todavia se
Deus é capaz de preservar os Seus santos no céu sem violar a sua liberdade, não pode
Ele também preservar os Seus santos na terra sem violar a sua liberdade?
A natureza da mudança que ocorre na regeneração é uma garantia suficiente de que a
vida concedida será permanente. A regeneração é uma mudança radical e sobrenatural
da natureza íntima, através da qual a alma é tornada viva espiritualmente, e a nova
vida implantada é imortal. Uma vez a regeneração trata de uma mudança da natureza
íntima, ela ocorre numa esfera na qual o homem não tem controle. Nenhuma criatura
tem a liberdade de mudar os princípios fundamentais da sua natureza, pois que tal é a
prerrogativa de Deus, na qualidade de Criador. Daí que nada menos que um outro ato
sobrenatural de Deus poderia reverter esta mudança e fazer com que a nova vida se
perdesse. O Cristão nascido de novo não pode mais perder sua condição de filho do
Pai Celeste, tanto quanto um filho aqui na terra não pode perder sua condição de filho
de um pai daqui da terra. A idéia que um Cristão pode 'cair' e perecer provém de uma
concepção errada do princípio de vida espiritual que foi concedido à alma na
regeneração.

2. NOSSA PERSEVERANÇA NÃO DEPENDE DAS NOSSAS BOAS OBRAS,


MAS DA GRAÇA DE DEUS.
Paulo ensina que os crentes não encontram-se sob a lei, mas sob a graça, e que desde
que eles não encontram-se sob a lei eles não podem ser condenados por haverem
violado a lei. "...não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça."[Romanos 6:14].
Pecado adicional não pode possivelmente resultar a sua queda, pois eles encontram-
se sob um sistema de graça e não são tratados de acordo com os seus merecimentos.
"Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é
graça."[Romanos 11:6]. "Porque a lei opera a ira; mas onde não há lei também não há
transgressão."[Romanos 4:15]. "...porquanto onde não há lei está morto o pecado" (ou
seja, onde a lei é abolida o pecado não pode mais sujeitar o indivíduo ao castigo).
[Romanos 7:8]. "Assim também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei
mediante o corpo de Cristo..."[Romanos 7:4]. Aquele que tenta ganhar mesmo a
menor porção da sua salvação através de boas obras torna-se "obrigado a guardar
toda a lei."(ou seja, prestar perfeita obediência em sua própria capacidade, e assim
ganhar a sua salvação) [Gálatas 5:3]. Aqui nos defrontamos com dois sistemas de
salvação radicalmente diferentes, dois sistemas os quais, na realidade, são
diametralmente opostos um ao outro.
O infinito, misterioso e eterno amor de Deus para com o Seu povo é uma garantia de
que eles nunca se perderão. Tal amor não é sujeito a variações ou mudanças, mas é
tão imutável quanto o Seu próprio Ser. Também é gratuito, e se apega a nós muito
mais rapidamente do que nós a Ele. Não está alicerçado na atratividade dos seus
objetos. "Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou a nós, e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados."[I João
4:10]. "(8) Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos
ainda pecadores, Cristo morreu por nós. (9) Logo muito mais, sendo agora
justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. (10) Porque se nós,
quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho,
muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida."[Romanos 5:8-
10]. Enfatizado aqui o ponto em que o nosso estar com Deus não é baseado nos
nossos merecimentos. Foi "enquanto éramos inimigos" que fomos trazidos para a
vida espiritual através da graça soberana; e se Ele já fez o maior, não fará Ele o
menor? O escritor da carta aos Hebreus também ensina que é impossível para alguém
escolhido por Deus perder-se, quando ele diz que Cristo é ambos, "o Autor e o
Consumador da nossa fé." Somos ensinados que o rumo, a direção completa da nossa
salvação é divinamente planejada e divinamente guiada. A graça de Deus ou a sua
continuidade não nos são dadas de acordo com os nossos méritos. Portanto se
qualquer Cristão 'cair', será porque Deus retirou dele a Sua graça e mudou o Seu
método de procedimento --- ou, em outras palavras, porque Ele colocou a pessoa
novamente sob um sistema de lei.
Robert L. Dabney expressou esta verdade com muita habilidade, no seguinte
parágrafo: "O amor soberano e imerecido é a causa da chamada efetiva do crente
(veja em Jeremias 31:3 = "...Pois que com amor eterno te amei, também com
benignidade te atraí." Veja também em Romanos 8:30 = "e aos que predestinou, a
estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou." Agora, se a causa é imutável, também imutável
é o efeito. É o efeito é este, a comunicação constante da graça ao crente em quem
Deus começou boa obra. Deus não foi induzido a conceder a Sua graça renovadora
em primeiro lugar, por qualquer coisa que Ele visse, atrativa ou digna de mérito, no
pecador arrependido; e portanto a subsequente ausência de qualquer bem no pecador
não seria motivo para que Ele retirasse a Sua graça. Quando Ele primeiramente
concedeu tal graça, Ele sabia que o pecador ao qual ele a concedeu estava totalmente
depravado, só e inteiramente cheio de ódio para com a santidade divina; e portanto
nenhum momento de ingratidão ou de falta de fé, de que o pecador pode vir a ser
culpado após a sua conversão, podem vir a transformarem-se em qualquer tipo de
provocação a Deus, para que Ele mude de opinião, e retire por completo a Sua graça,
que o sustenta. Deus de antemão soube de toda esta ingratidão. Ele a castigará, ao
retirar temporariamente o Seu Espírito Santo, ou as Suas misericórdias providenciais;
mas se Ele não tivesse a intenção desde o início, de seguir adiante, e de perdoá-la em
Cristo, Ele não teria chamado o pecador através da Sua graça, em primeiro lugar.
Numa palavra, somente em Deus; e não no pecador, permanecem as causas pelas
quais Ele determinou conceder o Seu amor eletivo ao pecador; e assim, nada no
coração ou na conduta do crente podem finalmente mudar tal propósito de amor (veja
em Isaías 54:10 = "Pois as montanhas se retirarão, e os outeiros serão removidos;
porém a minha benignidade não se apartará de ti, nem será removido ao pacto da
minha paz, diz o Senhor, que se compadece de ti." Veja também em Romanos 11:29 =
"Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis."). Agora compare
cuidadosamente as passagens em [Romanos 5:8 e 8:32] com todo o contexto de
[Romanos 8:28 até o final do capítulo]. Esta passagem ilustre nada mais é que um
argumento pela nossa proposição; "O que nos separará do amor de Cristo?" 2
"O amor de Deus neste aspecto," diz o Dr. Charles Hodge, "é comparável ao amor
materno. Uma mãe não ama seu filho simplesmente porque ele é adorável. O seu
amor leva-a a fazer tudo o quanto pode para torná-lo atraente e desta forma mantê-lo.
Assim também o amor de Deus, ocorrendo de maneira misteriosa, não sendo culpável
por nada nos seus objetos, adorna os Seus filhos com as graças do Seu Santo Espírito,
e cerca-os com toda a beleza da santidade. É um erro lastimável supor que Deus nos
ama pela nossa bondade, o que pode levar alguém a supor que o Seu amor depende
da nossa auto sustentada atratividade." 3
Referindo-se à salvação dos eleitos, Lutero diz, "O decreto Divino da predestinação é
firme e certo; e a necessidade resultante dele é, de certa forma, imutável, e não pode
deixar de acontecer. Pois em nós mesmos somos tão fracos, que se o assunto fosse
deixado em nossas mãos, muito poucos, ou melhor nenhum de nós, seria salvo; mas
Satã nos conquistaria a todos."
Quanto mais pensamos sobre tais assuntos, mais gratos nos tornamos, que nossa
perseverança em santidade e certeza de salvação não dependa da nossa própria
natureza fraca, mas sim do poder sustentador e constante de Deus. Podemos dizer
com Isaías, "Se o Senhor dos exércitos não nos deixara alguns sobreviventes, já como
Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra."[Isaías 1:9]. O Arminianismo nega esta
doutrina da Perseverança, porque é um sistema teológico não de pura graça e obras;
no qual o indivíduo deve provar-se pelo menos parcialmente merecedor.

3. EMBORA VERDADEIRAMENTE SALVOS, OS CRISTÃOS PODEM


TEMPORARIAMENTE DEGENERAR-SE E VOLTAR A PECAR.
A doutrina da Perseverança não significa que os Cristãos não caiam,
temporariamente, vítimas do pecado, o que tristemente é muito comum. Mesmo os
melhores homens voltam ao pecado, temporariamente. Mas eles nunca são
completamente derrotados; pois Deus, exercitando a Sua graça nos seus corações,
infalivelmente previne mesmo o mais fraco dos santos, da apostasia final. Como
porém temos este tesouro em vasos de barro, a grandeza, a excelência do poder (ou
da glória) pode ser de Deus, e não de nós mesmos. ["Temos, porém, este tesouro em
vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte"(II
Coríntios 4:7)].
Com referência à nossa experiência pessoal, mesmo o grande apóstolo Paulo pode
escrever: "[19] Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse
pratico. [20] Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que
habita em mim. [21] Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o
bem, o mal está comigo. [22] Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei
de Deus; [23] mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu
entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros. [24]
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? [25] Graças a
Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento
sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado."[Romanos 7:19-25]. Nestas
linhas, cada Cristão verdadeiro lê a sua própria experiência.
É claro que é inconsistente para o Cristão cometer pecado, e o escritor do livro de
Hebreus diz que aqueles que cometem pecado "estão crucificando de novo o Filho de
Deus, e o expondo ao vitupério."[Hebreus 6:6]. Depois de haver pecado e
arrependido-se, Davi ouviu do profeta Natã que o seu pecado seria perdoado, mas no
entanto através dele ele havia "..com este feito deste lugar a que os inimigos do
Senhor blasfemem..."[II Samuel 12:14]. Davi e Pedro caíram temporariamente, mas
os princípios básicos das suas naturezas os chamaram de volta. Judas caiu
permanentemente porque faltava-lhe aqueles princípios básicos.
Tanto quanto o crente permaneça neste mundo ele estará em estado de guerra. Ele
sofre reveses temporários e pode, por um tempo, parecer haver perdido toda a sua fé;
todavia se ele foi verdadeiramente salvo uma vez, ele não pode 'cair completamente'
da graça. Se uma vez ele experimentou a mudança interior que advém através da
regeneração, ele mais cedo ou mais tarde retornará ao aprisco e será salvo. Quando
ele cair em si ele confessa os seus pecados e implora perdão, nunca duvidando que
está salvo. Seu lapso no pecado pode feri-lo seriamente e pode trazer destruição a
outros; mas tanto quanto refere-se a ele pessoalmente, é somente temporário. Paulo
ensinou que as obras das vidas de muitas pessoas deveriam ser queimadas, uma vez
haverem sido construídas com materiais errados, embora elas próprias devam ser
salvas como que pelo fogo ["(12) E, se alguém sobre este fundamento levanta um
edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, (13) a obra de cada um
se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo
provará qual seja a obra de cada um. (14) Se permanecer a obra que alguém sobre ele
edificou, esse receberá galardão. (15) Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele
prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo"(I Coríntios 3:12-15)]; e
foi este o ensinamento que Jesus trouxe na parábola da ovelha perdida, pela qual o
pastor procurou e a qual o pastor trouxe de volta ao aprisco.
Se verdadeiros crentes caem, então os seus corpos, que são chamados de "templos do
Espírito Santo", tornar-se-iam a habitação do Diabo, o que é claro faria com que o
Diabo se regozijasse e insultasse a Deus (veja em I Coríntios 6:19 = "Ou não sabeis
que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da
parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?"). "Os Cristãos são como um homem
que sobe uma colina, quem ocasionalmente escorrega e cai, contudo mantém sempre
sua face voltada para o cume. O homem não regenerado tem sua face voltada sempre
para baixo, e ele continuamente escorrega, durante todo o caminho," - A. H. Strong.
"O crente, como um homem numa embarcação, pode cair várias vezes no
tombadilho, mas ele nunca cairá por sobre a amurada." - C. H. Spurgeon.
Cada um dos eleitos é como o filho pródigo nisto, que durante algum tempo ele é
iludido pelo mundo e desviado do caminho pelo seu próprio apetite carnal. Ele tenta
alimentar-se de alfarrobas, mas elas não o satisfazem. E cedo ou tarde ele é obrigado
a dizer, Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e
diante de ti." E quando ele tiver a mesma recepção, sinais de amor imutável; e um
'benvindo' caloroso na voz do pai ecoa através da alma, e derrete o coração do pobre
coitado que caiu, --- "Este meu filho estava morto, e agora está vivo de novo; e estava
perdido, e foi achado." Note-se que esta é uma parábola inteiramente Calvinista, ao
transmitir que o pródigo era um filho, e não poderia perder tal condição. Aqueles que
não são filhos nunca sentem o desejo de levantar-se e irem de encontro ao Pai.
Nossos julgamentos podem às vezes serem errados, como era o dos Gálatas
insensatos (veja em Gálatas 3:1 = "Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós,
ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado?"); e nossas afeições
podem ser frias, como na Igreja em Éfeso (veja em Apocalipse 2:4 = "Tenho, porém,
contra ti que deixaste o teu primeiro amor."). a Igreja pode tornar-se indolente, ainda
assim o seu coração vela (veja em Cantares 5:2 = "Eu dormia, mas o meu coração
velava..."). A graça pode as vezes parecer perdida para um filho de Deus, quando na
verdade não está. O sol é encoberto no eclipse, mas reaparece em todo o seu
esplendor. As árvores perdem todas as suas folhas e frutos no inverno, mas brotos
novos aparecem na primavera. Israel bate em retirada de ante os seus inimigos uma
ou mesmo duas vezes, e ainda assim conquista a terra prometida. O Cristão, também,
pode 'cair' muitas vezes, mas ao final ele é salvo. É impensável que os eleitos de Deus
perdessem a salvação. "Não há nenhuma possibilidade de escaparem ao poder
onipotente de Deus. Assim é que, como Jonas, que fugiu e escondeu-se da vontade de
Deus, que era levar a mensagem à cidade de Nínive, e todavia foi persuadido -
mesmo dentro do ventre do grande peixe - pelo poder de Deus, até que com prazer ele
obedeceu ao comando de Deus, assim também eles retornarão, eventualmente, ao
Salvador, e depois de confessarem receberão o perdão pelos seus pecados e serão
salvos." 4

4. UMA PROFISSÃO EXTERIOR DE RETIDÃO NÃO É UMA GARANTIA


DE QUE O INDIVÍDUO SEJA UM CRISTÃO VERDADEIRO.
Não encontramos grande dificuldade para explicarmos aqueles casos onde
aparentemente crentes verdadeiros entram em apostasia final. Tanto a Bíblia como a
experiência nos ensinam que freqüentemente erramos ao julgarmos nosso próximo,
que algumas vezes é praticamente impossível sabermos com certeza se são Cristãos
verdadeiros. Joio nunca foi trigo, e peixe ruim nunca foi bom, apesar de a sua
natureza verdadeira não ter sido reconhecida a princípio. Uma vez que Satã pode
modificar a sua aparência para ser confundido com um anjo de luz (veja em II
Coríntios 11:14 = "...porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz."), não é
de se admirar que algumas vezes os seus ministros também se disfarcem em bem
feitores, com a mais enganadora aparência de santidade, devoção, piedade e zelo.
Certamente uma profissão externa não é sempre uma garantia de que a alma está
salva. Como os Fariseus no passado, eles podem desejar somente "fazer grandes
sinais e prodígios", e enganar a muitos. Jesus alertou os Seus discípulos, que "...hão
de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo
que, se possível fora, enganariam até os escolhidos."[Mateus 24:24] e Ele lembrou o
profeta Isaías neste sentido, que "...este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e
com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o
seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens..."[Isaías 29:13] [veja
em Marcos 7:6 - 7 = "(6) Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós,
hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração,
porém, está longe de mim; (7) mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são
preceitos de homens"]. Paulo alertou contra os que eram "Pois os tais são falsos
apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo."[II Coríntios
11:13]. E aos Romanos ele escreveu, "(6) Não que a palavra de Deus haja falhado.
Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; (7) nem por serem descendência
de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua
descendência"[Romanos 9:6 - 7]. João menciona aqueles que "...se dizem apóstolos e
não o são, e os achaste mentirosos"[Apocalipse 2:2]; e um pouco mais tarde ele
acrescenta, "Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Isto diz aquele que tem os sete
espíritos de Deus, e as estrelas: Conheço as tuas obras; tens nome de que vives, e
estás morto."[Apocalipse 3:1].
Mas embora estes possam efetivamente enganar os homens, Deus sempre conhece
"...a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de
Satanás."[Apocalipse 2:9]. Vivemos dias em que multidões clamam o nome de
"Cristãos" e são destituídas de conhecimento, de experiência e de caráter Cristãos;
dias em que em muitos lugares, a distinção entre a Igreja e o mundo tem sido
eliminada. Como Samuel, somos freqüentemente iludidos pela aparência externa, e
dizemos, "Certamente eis aqui o ungido do Senhor", quando se realmente
soubéssemos os motivos por trás das suas obras, concluiríamos o contrário.
Freqüentemente erramos em nosso julgamento dos outros, apesar das melhores
precauções que podemos tomar. João nos deu a verdadeira solução para tais casos ao
escrever: "Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos
nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse
que não são dos nossos."[I João 2:19]. Todos quantos caem permanentemente
pertencem a esta categoria.
Algumas pessoas professam grandemente a religião, embora sem saber coisa alguma
do Senhor Jesus com sinceridade e em verdade. Tais pessoas podem arrebanhar
muitos seguidores humildes em conhecimento, e por algum tempo podem até enganar
os próprios eleitos; todavia durante todo o tempo os seus corações nunca foram
tocados. No dia do julgamento, muitos daqueles que em algum momento de suas
vidas foram externamente associados à Igreja dirão, "...Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu
nome não fizemos muitos milagres?" e então Ele lhes responderá, "...Nunca vos
conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade."[Mateus 7:22, 23]; o
que, é claro, não seria verdade se em algum momento Ele os houvesse conhecido
como Cristãos reais. Quando cada homem aparecer em suas próprias cores, quando
os segredos de todos os corações se fizerem manifestos, muitos que em alguma época
pareceram ser Cristãos verdadeiros serão vistos como nunca tendo sido parte do povo
de Deus. Alguns abandonam uma profissão de fé, mas ninguém cai da graça
salvadora de Deus. Aqueles que caem é porque nunca a conheceram, nunca a
experimentaram. São os ouvintes tipo solo pedregoso, que não dispõem de raízes em
si mesmos, mas que abraçam a Palavra por algum tempo; e quando a tribulação e a
perseguição aparecem, eles imediatamente escorregam e caem. São então referidos
como haverem abandonado ou haverem destroçado aquela fé que nunca possuíram, a
não ser em aparência. Alguns destes tornam-se suficientemente instruídos no sistema
de doutrinas do Evangelho que são capazes de pregar ou de ensiná-la a outros, e
todavia são eles próprios completamente destituídos da real graça salvadora. Quando
estes tais caem, não se constituem provas ou exemplos da apostasia final dos
realmente santos.
Serem simplesmente membros de igreja não é, claro, garantia alguma de que
indivíduos sejam Cristãos reais. Não é todo membro da Igreja militante que se tornará
membro da Igreja triunfante. Para certos propósitos, eles fazem uma pública profissão
do Evangelho, que os obriga por um tempo a serem externamente morais e se
associarem com o povo de Deus. Ele parecem ter fé verdadeira e assim permanecem
por um tempo. Então ou as suas peles de cordeiro rasgam-se, ou eles mesmos as
jogam fora, e voltam novamente para o mundo. Se pudéssemos ver os motivos reais
dos seus corações, descobriríamos que em nenhum momento sequer eles agiram por
verdadeiro amor a Deus. Durante todo o tempo eles eram bodes, e não ovelhas; lobos
vorazes, e não mansos cordeiros. Daí Pedro haver dito de tais pessoas, "Deste modo
sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro; Volta o cão ao seu vômito, e a
porca lavada volta a revolver-se no lamaçal"[II Pedro 2:22]. Desta forma eles
mostram que nunca pertenceram ao número dos eleitos.
Muitos dos não convertidos ouvem a pregação do Evangelho como Herodes ouviu a
João Batista. A Bíblia nos diz que "...Herodes temia a João, sabendo que era varão
justo e santo, e o guardava em segurança; e, ao ouvi-lo, ficava muito perplexo,
contudo de boa mente o escutava."[Marcos 6:20]. Todavia, ninguém que tenha
conhecimento do decreto de Herodes que resultou na morte de João Batista, ou que
conheça a vida de Herodes, dirá que ele alguma vez foi Cristão.
Adicionalmente ao que já foi dito, deve ser admitido que muitas vezes as operações
comuns do Espírito Santo na consciência 'instruída' conduz à reforma e a uma vida
religiosa visível. Aqueles assim influenciados são comumente muito rígidos na sua
conduta e diligentes nas suas tarefas religiosas. Ao pecador desperto as promessas do
Evangelho e a exibição do plano de salvação contido na Bíblia parecem não somente
como verdadeiros, mas também como adequados à sua situação. Ele os recebe com
alegria, e crê com uma fé fundamentada na força moral da verdade. Esta fé perdura
tanto quanto dura o estado de consciência através do qual ela é produzida. Quando tal
estado modifica-se, ele retorna à sua condição usual de insensibilidade, e a sua fé
desaparece. E é a esta classe de pessoas que Cristo referiu-se quando Ele falou
daqueles que recebem a Palavra em lugares pedregosos ou entre espinhos. Vários
exemplos desta fé temporária são encontrados nas Escrituras Sagradas e são
freqüentemente vistos na vida cotidiana. Estas experiências sempre precedem ou
acompanham uma conversão genuína; mas em muitos casos não são seguidas por
uma mudança real do coração. Elas podem ocorrer repetidamente, e ainda assim
aqueles que as vivem retornam ao seu estado normal de mundanismo e indiferença.
Muitas vezes é impossível para um observador ou mesmo para a própria pessoa
distinguir estas experiências daquelas experiências vividas pelos que são
verdadeiramente regenerados. "Pelos seus frutos os conhecereis..."[Mateus, 7:16], é o
último teste dado por nosso Senhor. Somente quando estas experiências resultam
numa vida consistentemente santa, é que seu caráter distintivo pode ser conhecido.

5. O SENSO DE INSEGURANÇA ARMINIANO


Um Arminiano consistente com as suas doutrinas do livre arbítrio e da queda da
graça, não pode nunca nesta vida estar certo da sua salvação eterna. Ele pode, é
verdade, ter a segurança da sua salvação presente, mas pode ter somente uma
esperança da salvação final. Ele pode considerar a salvação final como altamente
provável, mas não pode sabê-la com certeza. Ele tem presenciado muitos dos seus
companheiros Cristãos caírem e perecerem, depois de haverem tido um bom começo.
Por que ele não poderia fazer o mesmo? Tanto quanto os homens permaneçam neste
mundo, eles têm os vestígios da antiga natureza pecadora agarrados a eles; eles estão
cercados pelos mais atrativos e enganosos prazeres do mundo e pelas mais súbitas
tentações do Diabo. Em muitas das igrejas supostamente Cristãos eles ouvem os
falsos ensinamentos de ministros 'modernos' - e portanto não Cristãos. Se o
Arminianismo fosse verdadeiro, os Cristãos estariam em posições muito perigosas,
com o seu destino eterno suspenso sobre a probabilidade de que as suas vontades, de
criaturas fracas, continuassem a fazer a escolha certa. Ademais, o Arminianismo
sustentaria - logicamente - que nenhuma confirmação em santidade é possível, nem
mesmo no céu; pois mesmo lá o indivíduo ainda teria o seu livre arbítrio e poderia
cometer pecado a qualquer ocasião em que assim ele escolhesse.
Por comparação o Arminiano é como aquela pessoa que herdou uma fortuna, vamos
dizer que sejam R$ 100.000. Ele sabe que muitas outras pessoas que herdarão
quantias similares perderam-nas, seja como resultado de um julgamento errôneo,
fraude, calamidade, etc., mas ele tem suficiente confiança na sua própria habilidade
para lidar com dinheiro de modo sábio, que ele não tem dúvida que manterá o
dinheiro. Sua segurança é grandemente baseada na auto-confiança. Outros falharam,
mas ele está confiante de que não falhará. Mas em que desilusão esta mesma situação
se revela, quando aplicada ao cenário espiritual ! Que pena, que qualquer um que seja
ciente da sua própria tendência para o pecado, baseie a sua segurança de salvação
nestes mesmos parâmetros ! Este sistema teológico coloca a causa da sua
perseverança, não nas mãos do Deus Todo-Poderoso e Imutável; mas nas mãos do
homem fraco e pecador.
E a lógica do sistema teológico Arminiano não nos diz que o melhor para o Cristão é
morrer o mais cedo possível e assim confirmar a herança que para ele é de valor
infinito? À vista do fato de que tantos têm caído, compensa para o Cristão
permanecer aqui e arriscar a sua salvação eterna simplesmente por um pouco mais de
vida neste mundo? O que pensariam de um empresário que, para ganhar um
pouquinho mais de dinheiro arriscaria toda a sua fortuna em algum empreendimento
reconhecidamente questionável? Na verdade, será que aquele sistema teológico não
sugere, no mínimo, que o Senhor cometeu muitos erros em não remover aquele povo
enquanto eles eram verdadeiros Cristãos? Pelo menos o escritor está convencido de
que se ele sustentasse o ponto de vista Arminiano e soubesse ele próprio ser um
Cristão salvo, ele quereria morrer o mais rápido possível, e assim assegurar que a sua
salvação estivesse além de qualquer dúvida possível.
Com relação a assuntos espirituais, dúvida é equivalente a miséria. A segurança de
que os Cristãos nunca serão separados do amor de Deus é um dos grandes confortos
da vida Cristã. Negar esta doutrina é destruir as bases de qualquer júbilo entre os
santos na terra; pois que tipo de júbilo podem ter aqueles que crêem poder, a qualquer
momento, serem iludidos, enganados e levados a desviar-se? Se o nosso senso de
segurança estiver baseado nas nossas naturezas mutáveis e oscilantes, nunca
poderemos experimentar a calma e paz interiores, que deveriam caracterizar o
Cristão. Diz McFetridge, em seu pequeno livro, muito esclarecedor, 'Calvinismo na
História' ("Calvinism in History", n.t.): "Posso muito bem entender o terror para uma
alma sensível, da negra incerteza quanto à salvação, e daquela sempre presente
consciência da horrível possibilidade de cair da graça após uma vida Cristã longa e
sofrida, como é ensinado pelo Arminianismo. Para mim, uma doutrina como esta
apresenta horrores que fariam com que eu me distanciasse dela para sempre, e que me
encheriam com constantes e indizíveis perplexidades. Sentir-me como que cruzando
o perigoso e tempestuoso mar da vida, com a minha segurança final dependendo dos
atos da minha própria natureza pérfida seria o suficiente para que me alarme
perpetuamente. Se for possível, quero saber que o barco no qual eu confio a minha
vida é navegável, e que, havendo uma vez a bordo, chegarei seguro ao meu destino."
(página 112).
Até compreendermos devidamente esta maravilhosa verdade, que a nossa salvação
não está suspensa no nosso fraco e oscilante amor a Deus, mas antes no Seu amor
eterno e imutável para conosco, não poderemos ter paz e certeza na vida Cristã. E
somente aquele Calvinista, que sabe estar absolutamente seguro nas mãos de Deus, é
que pode ter tal sentimento interno de paz e segurança, sabendo que nos esternos
conselhos de Deus ele foi escolhido para ser lavado e glorificado e que nada pode
deturpar tal propósito. Ele sabe-se conectado à retidão por um poder espiritual, que é
tão incansável e invariável como a força da gravidade, e tão necessário para o
desenvolvimento do espírito quanto a luz do sol e as vitaminas o são para o corpo.

6. PROPÓSITO DOS ALERTAS DAS ESCRITURAS CONTRA A APOSTASIA.


Os Arminianos algumas vezes trazem das Escrituras os alertas contra a apostasia e a
queda, alertas estes que são endereçados aos crentes, e quais, é discutido, implicam
na possibilidade de virem a cair. É claro que, há um sentido de acordo com o qual é
possível para os crentes caírem, --- quando são vistos simplesmente como eles
mesmos, com relação aos seus próprios poderes e capacidades, e separados dos
propósitos ou desígnios de Deus para as suas vidas. É também admitido por todos que
os crentes podem cair em pecado, temporariamente. O propósito primário de tais
passagens, no entanto, é induzir os homens a sinceramente cooperarem com Deus,
visando o cumprimento dos Seus propósitos. Trata-se de chamadas, induções, alertas
que produzem humildade constante, cuidado e diligência. Da mesma forma, um pai
ou uma mãe, para obter cooperação sincera de uma criança, dizem-lhe para ter
cuidado e ficar fora do caminho de um carro que se aproxima, enquanto em todos os
momentos tal pai ou tal mãe não têm intenção nenhuma de permitir que a criança
chegue a estar numa posição tal que carro possa feri-la. O fato de Deus moldar uma
alma em deixando-a ser atacada pelos medos da queda, não prova de maneira
nenhuma que Ele nos Seu propósito secreto tenha a intenção de permitir que ela caia.
Estes medos podem muito bem ser os próprio métodos que Deus designou para evitar
que ela caia. Em segundo lugar, as exortações de Deus para as tarefas, para o trabalho
são perfeitamente consistentes com o Seu propósito de dar graça suficiente para o
cumprimento destas mesmas tarefas, deste mesmo trabalho. Num momento somos
comandados a amar o Senhor nosso Deus de todo o nosso coração; em outro, Deus
diz, "...porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus
estatutos."[ Ezequiel, 36:27]. Agora, ou estes devem ser consistentes, ou então o
Espírito Santo está em contradição. Certamente que não é esta última hipótese. Em
terceiro lugar, estes alertas são, mesmo para os crentes, incitações para a oração e
para uma fé maior. Em quarto lugar, os alertas servem para mostrar ao homem o seu
dever, e não a sua habilidade; e a sua fraqueza ao invés da sua força. Em quinto lugar,
os alertas convencem os homens da sua vontade de serem santos e da sua
dependência de Deus. E em sexto lugar, os alertas servem para restringir os
incrédulos e para deixá-los sem desculpas.
Nem é mais provado pelas passagens Bíblicas, "...Não faças perecer por causa da tua
comida aquele por quem Cristo morreu"[Romanos 14:15]; e, "Pela tua ciência, pois,
perece aquele que é fraco, o teu irmão por quem Cristo morreu."[I Coríntios 8:11]. Da
mesma maneira, pode ser dito que a influência de uma pessoa em particular, quando
observada individualmente e em separado, destrói a civilização Americana; todavia a
América continua, segue em frente e prospera, porque outras influências mais que
obscurecem a daquela pessoa em particular. Nestas passagens o princípio levantado é
simplesmente este: qualquer que seja a segurança divina, a responsabilidade daquele
que atira uma pedra no caminho do seu irmão não é diminuída; e que qualquer um
que atire uma pedra no caminho do seu irmão está na verdade a cooperar para a
destruição do seu irmão.

7. PROVA NA BÍBLIA.
As Sagradas Escrituras provam esta doutrina de forma clara e abundante.
"(35) quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a
perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (36) Como está escrito:
Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas
para o matadouro. (37) Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por
aquele que nos amou. (38) Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem
anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, (39) nem
a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor
de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." [Romanos 8:35-39]
"Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça." [Romanos 6:14]; "...Aquele que crê tem a vida eterna." [João
6:47]; "...quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna
e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida." [João 5:24]. A partir do
momento que alguém crê, a vida eterna torna-se realidade, uma possessão presente e
não meramente uma dádiva condicional do futuro. "Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida
do mundo é a minha carne." [João 6:51]. Ele não diz que temos de comer muitas
vezes, mas que se comermos, viveremos para sempre. "mas aquele que beber da água
que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma
fonte de água que jorre para a vida eterna" [João 4:14].
"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus." [Filipenses 1:6] ; "O Senhor aperfeiçoará o
que me diz respeito..." [Salmo 138:8] ; "...os dons e a vocação de Deus são
irretratáveis." [Romanos 11:29] ; "E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida
eterna, e esta vida está em seu Filho." [I João 5:11] ; "Estas coisas vos escrevo, a vós
que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna." [I
João 5:13] ; "Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão
sendo santificados." [Hebreus 10:14]. "o Senhor me livrará de toda má obra, e me
levará salvo para o seu reino celestial..." [II Timóteo 4:18]. "(29) Porque os que
dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; (30) e aos que
predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e
aos que justificou, a estes também glorificou." [Romanos 8:29 - 30]. "e nos
predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade," [Efésios 1:5].
Jesus declarou, "[28] Eu lhes dou (às Soas 'ovelhas', quer dizer, aos verdadeiros
seguidores) a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.
[29] Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da
mão de meu Pai." [João 10:28 - 29]. Vemos aqui que a nossa segurança e a
onipotência de Deus são iguais; pois a primeira está fundamentada na segunda. Deus
é mais poderoso que o mundo inteiro, e nem os homens nem o Diabo podem roubar
dEle uma das Suas jóias preciosas. Seria tão fácil como arrancar uma estrela do
fundamento, tirar um santo da mão do Pai. A salvação dos santos está no Seu poder
invencível e eles encontram-se além do perigo da destruição. Temos a promessa de
Cristo de que os portões do inferno não prevalecerão contra a Sua Igreja; todavia se o
Diabo pudesse arrebatar um aqui e outro acolá e grandes números em algumas
congregações, os portões do inferno prevaleceriam em grande extensão contra a
Igreja de Cristo. Em princípio, se um somente pudesse se perder, todos poderiam
perder-se, e assim a segurança de Cristo estaria reduzida a palavras vãs.
Quando ouvimos que "...hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes
sinais e prodígios; de modo que, SE POSSÍVEL FORA, enganariam até os
escolhidos." [Mateus 24:24], o crente livre de preconceitos prontamente compreende
que é IMPOSSÍVEL enganar os escolhidos.
A união mística que existe entre Cristo e os crentes é uma garantia de que eles
continuarão fiéis. "...porque eu vivo, e vós vivereis." [João 14:19]. O resultado dessa
união é que os crentes participam da Sua vida. Cristo está em nós (veja em Romanos
8:10 = "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do
pecado, mas o espírito vive por causa da justiça."). Não somos que vivemos, mas é
Cristo que vive em nós (veja em Gálatas 2:20 = "Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."). Cristo
e os crentes têm uma vida comum tal como a que existe na parreira e nas uvas. O
Espírito Santo habita de tal forma nos redimidos que cada Cristão é dotado de uma
reserva de força inesgotável.
Paulo alertou aos Efésios, "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes
selados para o dia da redenção." [Efésios 4:30]. Ele não temia apostasia, pois podia
também declarar com confiança, "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos
conduz em triunfo, e por meio de nós difunde em todo lugar o cheiro do seu
conhecimento." [II Coríntios 2:14]. O Senhor, falando através do profeta Jeremias,
disse, "...com amor eterno te amei." [Jeremias 31:3]. Uma das melhores provas de
que o amor de Deus não terá fim é que ele não tem começo, mas é eterno. Na
parábola das duas casas, o ponto enfatizado era que a casa cujo alicerce estava na
Rocha (Cristo) não caiu quando vieram as tempestades e tormentas da vida. O
Arminianismo estabelece um outro sistema teológico no qual alguns daqueles que
estão alicerçados na Rocha efetivamente caem. No Salmo XXIII nós lemos, "E
habitarei na casa do Senhor para todo o sempre." O Cristão verdadeiro não é um
visitante temporário, mas um morador permanente na casa do Senhor. Como alguns
roubam deste salmo o seu ensinamento mais rico e profundo, ao ensinar que a graça
de Deus é algo temporário !
Cristo intercede pelo Seu povo (veja em Romanos 8:34 = "Quem os condenará?
Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à
direita de Deus, e também intercede por nós." Veja também em Hebreus 7:25 =
"Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus,
porquanto vive sempre para interceder por eles."); e somos ensinados que o Pai
sempre O ouve (veja em João 11:42 = "Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa
da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me
enviaste."). Assim é que os Arminianos, ao sustentarem que os Cristãos podem cair,
devem negar as passagens Bíblicas que declaram que Cristo intercede pelo Seu povo,
ou então eles devem negar que as Suas preces (de Cristo) sempre são ouvidas pelo
Pai. Consideremos aqui quão bem protegidos nós estamos: Cristo está à direita de
Deus rogando por nós, e adicionalmente, o Espírito Santo intercede por nós com
gemidos inexprimíveis (veja em Romanos 8:26 = "...mas o Espírito mesmo intercede
por nós com gemidos inexprimíveis.).
Na promessa maravilhosa de Jeremias 32:40, Deus prometeu preservar os crentes dos
seus próprios desvios: "farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-
lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim."
E em Ezequiel 11:19, 20, Ele promete tirar deles o "coração de pedra", e dar-lhes um
"coração de carne", para que eles possam caminhar nos Seus estatutos e manter as
Suas ordenanças, e para que eles possam ser o Seu povo e Ele o seu Deus. Pedro nos
diz que Cristãos nunca caem, pois "que pelo poder de Deus sois guardados, mediante
a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo."[I Pedro
1:5]. Paulo diz que "...Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim
de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra." [II
Coríntios 9:8]. Ele também declara que o servo do Senhor "...estará firme, porque
poderoso é o Senhor para o firmar." [Romanos 14:4]
E os Cristãos têm ainda mais a promessa de que "Não vos sobreveio nenhuma
tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados
acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para
que a possais suportar." [I Coríntios 10:13]. O fato de os Cristãos serem livrados de
certas tentações, que estariam além da sua capacidade de resistir, é uma dádiva
absoluta e graciosa de Deus, desde que trata-se inteiramente de um arranjo da Sua
providência que tentações eles encontrarão no curso de sua vida, e de quais eles serão
livrados. "Mas fiel é o Senhor, o qual vos confirmará e guardará do maligno." [II
Tessalonicenses 3:3]. E ainda, "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o
temem, e os livra." [Salmo 34:7]. No meio de todas as suas provações e dificuldades
extremas, Paulo ainda podia dizer, "(8) Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desesperados; (9) - perseguidos, mas não
desamparados; abatidos, mas não destruídos; . . . . (14) - sabendo que aquele que
ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará
convosco." [II Coríntios 4:8, 9, 14].
Os santos, mesmo neste mundo, são comparados a uma árvore cuja folha não cai
(veja Salmo 1:3 = "Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a
qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai..."); aos cedros que
florescem no Monte Líbano (veja Salmo 92:12 = "Os justos florescerão como a
palmeira, crescerão como o cedro no Líbano."); ao Monte Sião, inabalável (veja
Salmo 125:1 = "Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não
pode ser abalado, mas permanece para sempre."); e a uma casa construída na rocha
(veja Mateus 7:24 = "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em
prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha.").
O Senhor está com eles na sua velhice (veja Isaías 46:4 = "Até a vossa velhice eu sou
o mesmo, e ainda até as cãs eu vos carregarei; eu vos criei, e vos levarei; sim, eu vos
carregarei e vos livrarei."), e será o seu guia até a morte (veja Salmo 48:14 = "Porque
este Deus é o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até a morte."), de
modo que eles não se perderão, total ou finalmente.
Outro forte argumento, deve ser notado com relação ao livro da vida do Cordeiro. Os
discípulos foram instruídos para terem júbilo, não tanto pelo fato de os demônios
estarem sujeitos a eles, mas por estarem os seus nomes inscritos no livro da vida do
Cordeiro. Este livro é um catálogo, uma relação dos eleitos, determinados pelo
conselho inalterável de Deus, e não podem nem ser aumentados nem ser diminuídos.
Os nomes dos retos são encontrados ali; mas os nomes daqueles que perecem nunca
foram lá escritos, desde a fundação do mundo. Deus não comete o erro de escrever no
livro da vida um nome o qual Ele mais tarde virá a excluir. Daí é que nenhum dos que
são do Senhor jamais perecerão. Jesus disse aos Seus discípulos para alegrarem-se
sim, porque os seus nomes estavam escritos no céu (veja Lucas 10:20 = "...alegrai-
vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus."); todavia eles teriam
menos razão para alegrarem-se quanto a isso, se os seus nomes - escritos no céu
naquele dia - pudessem vir a ser deletados no próximo. Paulo escreveu aos Filipenses,
"...a nossa pátria está nos céus..."[Filipenses 3:20]; e a Timóteo ele postou, "...O
Senhor conhece os seus..."[II Timóteo 2:19]. Quanto ao ensino Bíblico relativo ao
livro da vida, veja Lucas 10:20 ("Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem
os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus");
Filipenses 4:3 ("E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes,
porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus
cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida"); Apocalipse 3:5 ("O que vencer
será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do
livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus
anjos."), 13:8 ("E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes
não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo."),
17:8 ("A besta que viste era e já não é; todavia está para subir do abismo, e vai-se
para a perdição; e os que habitam sobre a terra e cujos nomes não estão escritos no
livro da vida desde a fundação do mundo se admirarão, quando virem a besta que era
e já não é"), 20:12 ("E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e
abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram
julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras."), 20:15
("E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de
fogo.") , 21:27 ("E não entrará nela coisa alguma impura, nem o que pratica
abominação ou mentira; mas somente os que estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro.").
Aqui, então, são bastante claros e simples as declarações de que o Cristão
permanecerá na graça, o motivo sendo que o Senhor toma sobre Si o encargo de
preservá-lo em tal estado. Nestas promessas os eleitos são assegurados em ambos
lados. Não somente Deus não Se afastará deles, mas Ele também inculcará nos seus
corações o Seu temor, para que eles não se afastem dEle. É certo que nenhum Cristão
educado pelo Espírito pode duvidar que esta doutrina é ensinada na Bíblia. Parece
que o homem, pobre, miserável e impotente como ele é, aceitaria de bom grado uma
doutrina que assegura para ele as possessões da felicidade eterna, apesar de todos
ataques externos e todas as tendências maléficas internas. Mas não é assim. Ele, o
homem, recusa a doutrina, e argumenta contra ela. El as causas, as razões não são
difíceis de serem notadas. Em primeiro lugar ele tem mais confiança em si mesmo do
que tem qualquer direito de ter. Em segundo, o esquema é tão contrário ao que ele
está acostumado no mundo natural que ele a si mesmo persuade que não pode ser
verdadeiro. Em terceiro lugar, ele percebe que se esta doutrina for admitida, as outras
doutrinas da graça eficaz logicamente se seguirão. Assim, ele torce o significado das
passagens nas Escrituras que a ensinam, e agarra-se a uma que pareça, na superfície,
favorecer os seus pontos de vista pré concebidos. Na verdade, um sistema de salvação
pela graça é tão completamente diferente da sua experiência cotidiana, diária, na qual
ele vê cada coisa e cada pessoa tratados conforme obras e méritos, que ele tem grande
dificuldade em acreditar que possa ser verdade. Ele deseja ganhar a sua própria
salvação, embora ele certamente espere salários bem altos por obras tão pobres.
Capítulo 15 O Que É Fatalismo ???
Muitos mal-entendidos se apresentam através da confusão da Doutrina Cristã da
Predestinação com a doutrina pagã do Fatalismo. Há, na realidade, somente um ponto
de acordo entre as duas, o qual é, que ambos assumem a absoluta certeza de todos
eventos futuros. A essencial diferença entre eles é que o Fatalismo não tem lugar para
um Deus pessoal. A Predestinação sustenta que os eventos ocorrem porque um Deus
infinitamente sábio, poderoso e santo tem assim lhes apontado. O Fatalismo sustenta
que todos eventos ocorrem através de uma força cega, não-inteligente, não-moral que
não pode ser distinguida por necessidade física, e que nos carrega desamparadamente
dentro de seu alcance como um poderoso rio carrega um pedaço de madeira.
Predestinação ensina que desde a eternidade Deus tem tido um plano especial ou
propósito o qual Ele está trazendo a perfeição através desta ordem do mundo de
eventos. Ela sustenta que todos Seus decretos são determinações racionais
fundamentadas em suficiente razão, e que Ele tem fixado um único grande objetivo
"para o qual toda a criação se move." Predestinação sustenta que os desígnios finais
neste plano são primeiro, a glória de Deus; e segundo, o bem de Seu povo. Por outro
lado, o Fatalismo exclui a idéia de causas finais. Ele arrebata as rédeas do império
universal das mãos de infinita sabedoria e amor, e as dá às mãos de uma necessidade
cega. Ele atribui o curso da natureza e as experiências do gênero humano a uma força
desconhecida e irresistível, contra a qual é vão lutar e infantil amofinar-se.
De acordo com a doutrina da Predestinação, a liberdade e responsabilidade do
homem são completamente preservadas. No meio da certeza, Deus ordenou a
liberdade humana. Porém, o Fatalismo não permite poder de escolha, nem auto-
determinação. Ele faz os atos dos homens serem totalmente fora de seu controle
assim como são as leis da natureza pessoal, energia abstrata; não tem nenhum lugar
para as idéias morais, enquanto que a Predestinação faz destas a regra de ação para
Deus e o homem. O Fatalismo não tem lugar para e não oferece nenhum incentivo
para a religião, amor, misericórdia, santidade, justiça, ou sabedoria, enquanto que a
Predestinação dá a estes a base concebível mais forte. E finalmente, o Fatalismo
conduz cepticismo e desespero, enquanto que a Predestinação apresenta as glórias de
Deus e de Seu reino em todo seu esplendor e dá uma segurança que nada pode abalar.
A Predestinação, portanto, difere do Fatalismo tanto como os atos de um homem
difere dos atos de uma máquina, ou tanto como o amor infalível do Pai celestial
difere da força da gravitação.
"Ela nos revela", diz Smith, "a gloriosa verdade que nossas vidas e nossos corações
sensíveis estão guardados, não nas rodas dentadas de ferro de um vasto e cruel
Destino, nem no tear giratório de uma louca Chance, mas nas todo-poderosas mãos
de um infinitamente bom e sábio Deus". 1
Calvino enfaticamente repudiou a acusação que sua doutrina era Fatalista. "Fatal
[destino]", disse ele, "é um termo dado pelo Estóicos a sua doutrina de necessidade,
que eles tinham formado como resultado de um labirinto de raciocínios
contraditórios; uma doutrina calculada para chamar o próprio Deus para ordenar, e
para fixar Suas leis segundo as quais trabalha. Predestinação eu defino ser, de acordo
com as Sagradas Escrituras, aquele livre e irrestrito conselho de Deus pelo qual Ele
governa toda a humanidade, e todos os homens e coisas, e também todas as partes e
partículas do mundo por Sua infinita sabedoria e incompreensível justiça". E outra
vez,"...., tivesse você apenas estado disposto a olhar para meus livros, haveria se
convencido imediatamente quão ofensivo para mim é o profano termo fatal [destino]:
e além disso, você deve ter estudado que este mesmo termo abominável foi
arremessado nos dentes de Agostinho pelos seus oponentes." 2
Lutero disse que a doutrina do Fatalismo entre os pagãos é um prova de que "o
conhecimento da Predestinação e da Presciência de Deus, não foi menos abandonada
do que a noção da própria divindade" 3 . Na história da filosofia Materialista
comprovou-se a si mesma essencialmente fatalística. O Panteísmo também tem sido
fortemente modificado com isto.
Nenhum homem pode ser um fatalista consistente. Porque para ser consistente, ele
teria que considerar algo como isto: "Se eu morrer hoje, não me fará nenhum bem
comer, porque morrer de qualquer jeito. Nem necessito comer se devo viver muitos
anos todavia, porque viverei de qualquer jeito. Portanto, não mais comerei". É
desnecessário dizer que, se Deus predestinou que um homem viverá, Ele também pre-
ordenou que ele será guardado da loucura suicida de recusar comer.
"Esta doutrina", diz Hamilton, "é somente superficialmente semelhante ao "fatal"
pagão. O Cristão não está nas mãos de um determinismo frio e imutável, mas de um
quente e amoroso Pai celestial, que nos amou e deu Seu Filho para morrer por nós no
Calvário ! O Cristão sabe que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito". O
Cristão pode confiar em Deus porque ele sabe que Ele é todo-sábio, amoroso, justo e
santo. Ele vê o fim desde o princípio, de modo que não há razão para nos
apavorarmos quando as coisas parecem ir contra nós."
Portanto, somente uma pessoa que não examinou a doutrina da Predestinação, ou
alguém que é maliciosamente inclinado, irá imprudentemente declarar que ela é
Fatalismo. Não há escusa para qualquer um, que sabe o que Predestinação é e o que
Fatalismo é, cometer este engano.
Visto que o universo é uma unidade sistematizada, devemos escolher entre o
Fatalismo que elimina em última instância mente e propósito, e esta bíblica doutrina
da Predestinação, que sustenta que Deus criou todas as coisas, que Sua providência
estende a todas Suas obras, e que enquanto Ele mesmo é livre, também providenciou
que nós fossemos livres dentro dos limites de nossas naturezas. No lugar de nossa
doutrina da Predestinação ser idêntica com a doutrina pagã do Fatalismo, ela é seu
absoluto oposto e somente alternativa.

Capítulo 16 Que É Inconsistente Com a Liberdade e a Responsabilidade Moral


do Homem
1. O Problema da Liberdade do Homem. 2. Esta Objeção Opõe-se Igualmente À Pré
Ciência. 3. A Certeza é Consistente com A Liberdade. 4. A Vontade Natural do
Homem é Escrava do Mal. 5. Deus Controla as Mentes dos Homens e Dá ao Seu
Povo o Desejo de vir. 6. A Maneira pela Qual a Vontade é Determinada. 7. Provas na
Bíblia.
1. O PROBLEMA DA LIBERDADE DO HOMEM.
O problema com que nos deparamos agora é: Como pode uma pessoa ser um agente
livre e responsável se as suas ações foram pré ordenadas desde a eternidade? Por 'um
agente livre e responsável' entendemos 'uma pessoa inteligente que age com auto
determinação racional'; e por 'pré ordenação' entendemos que desde a eternidade
Deus fez certo o curso real dos eventos que têm lugar na vida de cada pessoa e na
natureza. É admitido por todos que os atos de uma pessoa devem ser sem compulsão
e em conformidade com os seus próprios desejos e inclinações, ou ele não pode ser
responsabilizado por eles. Se os atos de um agente livre são - em sua própria natureza
- incertos e contingentes, está claro então que a pré-ordenação e a liberdade são
inconsistentes.
O filósofo que está convencido da existência de um vasto Poder pelo qual todas as
coisas existem e são controladas, é forçado a questionar onde o finito pode encontrar
expressão sob o reino do Infinito. A solução verdadeira para esta pergunta difícil
relacionada com a soberania de Deus e a liberdade do homem, não pode ser
encontrada na negação de nenhuma delas, mas sim numa reconciliação tal que
proporcione a cada uma delas importância total, todavia proporcionando uma
preeminência à divina soberania, correspondente à exaltação infinita do Criador sobre
a criatura pecadora. O mesmo Deus que ordenou todos os eventos também ordenou a
liberdade humana em meio a tais eventos, e esta liberdade é tão certamente fixa
quanto o é qualquer outra coisa. O homem não é uma mera máquina ou um mero
autômato. No plano Divino, que é infinito em variedade e complexidade que abrange
do sempiterno ao sempiterno, e que inclui milhões de agentes livres que agem e
interagem entre si, Deus ordenou que os seres humanos mantenham a sua liberdade
sob a Sua soberania. Ele não tentou dar-nos uma explicação formal destas coisas, e
nossa limitada sabedoria humana não é totalmente capaz de solucionar o problema.
Uma vez que os escritores Bíblicos não hesitaram em afirmar o controle de Deus
sobre os pensamentos e as intenções do coração, eles não ficaram embaraçados ao
incluir também os atos de agentes livres no Seu todo envolvente plano. O que aqueles
que redigiram a Confissão de Fé de Westminster reconheceram ser plena a liberdade
do homem; pois imediatamente após declararem que "Desde toda a eternidade, Deus,
pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e
inalteravelmente tudo quanto acontece..." eles acrescentaram, "...porém de modo que
nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a
liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas."(Referências
na Bíblia: Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5;
Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34."[Capítulo III, Seção I].
Enquanto o ato permanece sendo do indivíduo, o mesmo é, não obstante, de certa
forma devido à pré-disposta instrumentalidade e eficácia de poder divino exercido de
maneira legal. Até certo ponto isto pode ser ilustrado no caso do homem que decide
construir um prédio. Ele assim o decide nos seus planos. Então ele contrata
carpinteiros, pedreiros, encanadores e etc., para fazer o trabalho. Estes homens, estes
profissionais não são forçados a fazerem o serviço. Nenhuma compulsão de qualquer
espécie é utilizada. O proprietário simplesmente oferece os atrativos necessários, na
forma de salário, condições de trabalho e assim por diante, de maneira que os
profissionais trabalhem livremente e de bom grado. Estes fazem - em detalhes -
simplesmente o que aquele planejou, o que aquele idealizou que fariam. Sua foi a
vontade primária, e deles a secundária, na construção do edifício. Nós muitas vezes
influenciamos, direcionamos a vontade dos nossos semelhantes sem contudo
infringirmos a sua liberdade ou responsabilidade. De maneira similar, e num grau
infinitamente maior, Deus pode direcionar as nossas ações. A Sua vontade é a causa
primária para o curso de eventos; e a vontade do homem é a causa secundária; e
ambas trabalham juntas em perfeita harmonia.
De uma maneira nós podemos dizer que o reino do céu é um reino democrático, tão
paradoxal quanto possa soar. O princípio essencial de uma democracia é que ela se
baseia "no consentimento dos governados". O céu será verdadeiramente um reino,
Deus sendo o Governador Supremo; e todavia se baseará no consentimento dos que
são por Ele governados. O Seu governo não é forçado nos crentes contra a sua
vontade. Eles são tão influenciados que anseiam, e aceitam o Evangelho, e descobrem
ser o prazer de suas vidas cumprir a vontade do seu Soberano.

2. ESTA OBJEÇÃO OPÕE-SE IGUALMENTE À PRÉ-CIÊNCIA.


Deve ser notado que a objeção que a pré-ordenação é inconsistente com a liberdade
do homem, igualmente o é contra a doutrina da pré-ciência de Deus. Se Deus conhece
com antecedência um evento no futuro, deve ser tão inevitavelmente certo como se
fora pré-ordenado; e se a pré-ordenação é inconsistente com a liberdade, também o é
a pré-ciência. Isto é freqüente e francamente admitido; e os Unitarianos, enquanto
não evangélicos, são neste ponto mais consistentes que os Arminianos. Eles dizem
que Deus sabe tudo o quanto há para ser sabido, mas que os atos livres são incertos e
que não há desonra para Deus no dizer que Ele não os sabe.
Descobrimos, contudo, que as Escrituras contém predições de muitos eventos,
grandes e pequenos, os quais foram perfeitamente cumpridos através das ações de
agentes livres. Usualmente tais agentes nem tinham a consciência de que estavam
cumprindo uma profecia divina. Eles agiram livremente, todavia exatamente como
havia sido predito. Alguns exemplos são: a rejeição de Jesus pelos Judeus, o repartir
das vestes e a sorte lançada pelos soldados Romanos, as negações de Pedro com
relação a Jesus; o cantar do galo, o ferimento a lança, a captura de Jerusalém e os
Judeus sendo levados em cativeiro, a destruição de Babilônia, etc. É fato que os
escritores da Bíblia criam que os atos dos agentes livres eram totalmente pré-sabidos
pela mente divina e portanto absolutamente certos de serem performados. A pré-
ciência de Deus não destruiu a liberdade de Judas ou de Pedro -- pelo menos eles
próprios não pensaram assim, pois Judas mais tarde voltou e disse "Pequei, traindo o
sangue inocente..."[Mateus 27:4] e quando Pedro ouviu o cantar do galo e lembrou-se
das palavras de Jesus, saiu e soluçou amargamente.
Com relação aos eventos conectados com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém,
está escrito: "Os seus discípulos, porém, a princípio não entenderam isto; mas quando
Jesus foi glorificado, então eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a
respeito dele, e de que assim lhe fizeram"[João 12:16]. Será que alteraria a sua
natureza, ou prejudicaria a liberdade dos seus atos, o fato de sabemos de antemão que
um juiz recusará uma propina, e que um miserável agarrará fortemente uma pepita de
ouro? E se nós, com o nosso conhecimento muito limitado acerca das naturezas de
outros homens e das influências que eles sofrerão, somos capazes de predizer as suas
ações com razoável precisão, quanto mais Deus, que compreende perfeitamente as
suas naturezas e aquelas influências, não saberá exatamente no que consistirão as
suas ações?
Assim é que a certeza de uma ação é consistente com a liberdade do agente em
executá-la; caso contrário Deus não poderia pré conhecer tais ações como certas. A
pré-ciência não faz com que os atos e eventos futuros sejam certos, mas somente
assume-os como tal; e é uma contradição de termos dizer que Deus sabe com
antecedência, que conhece como certo um evento que em sua própria natureza é
incerto. Devemos ou dizer que os eventos futuros são certos e que Deus conhece o
futuro, ou que eles são incertos e que Deus não conhece o futuro. As doutrinas da pré-
ciência de Deus e da pré-ordenação de Deus ou permanecem ou caem, juntas.

3. CERTEZA É CONSISTENTE COM LIBERDADE.


Nem tampouco pode ser assumido que a certeza absoluta dos atos de uma pessoa
significa que ela não poderia agir de outra forma. Ela poderia sim agir
diferentemente, se ela assim o escolhesse. Muitas vezes um homem tem o poder e a
oportunidade para fazer aquilo que é absolutamente certo que ele não fará, e reprimir-
se de fazer o que é absolutamente certo que ele fará. Isto é, nenhuma influência
externa determina as suas ações. Nossos atos estão de acordo com os decretos, mas
não necessariamente tanto, que podemos agir de outra forma, e muitas vezes deviam.
Judas e seus comparsas foram deixados para cumprir os seus propósitos, e eles o
fizeram como as suas inclinações perversas os guiaram. Daí Pedro haver imputado-
lhes o crime, mas ao mesmo tempo declarando que eles agiram de acordo com o
propósito de Deus, -- "a este, que foi entregue pelo determinado conselho e
presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;"[Atos
2:23].
Em outras situações também pode ser mostrado que certeza é consistente com
liberdade. Muitas vezes nós estamos absolutamente certos de como agiremos sob
determinadas condições, tanto quanto tenhamos liberdade para agir. Um pai pode ter
a certeza de que acudirá um filho em perigo, e que em assim fazendo ele agirá
livremente. Deus é um agente livre, contudo é certo de que Ele sempre fará o que é
certo. Os santos anjos e os santos redimidos são agentes livres, todavia é certo de que
eles nunca pecarão; caso contrário não haveria nenhuma segurança da sua
permanência no céu. Por outro lado, é certo que o Diabo, os demônios e os homens
caídos cometerão pecado, embora eles também sejam agentes livres. Um pai sempre
sabe como o seu filho agirá sob determinadas circunstâncias, e ao controlá-las ele
determina de antemão o curso de ação que o filho segue, mesmo assim o filho age
livremente. Se ele planejar que o filho será um doutor, ele o encoraja naquela direção,
persuade-o a ler certos livros, a freqüentar determinadas escolas, e assim apresenta os
incentivos externos para que o seu plano dê certo. Na mesma maneira e numa
extensão infinitamente maior, Deus controla as nossas ações de forma que elas sejam
certas, muito embora nós sejamos livres. O Seu decreto não produz o evento, mas
somente assegura que seja certa a sua ocorrência; e o mesmo decreto que determina a
certeza da ação, ao mesmo tempo determina a liberdade do agente, no ato.
4. A VONTADE NATURAL DO HOMEM É ESCRAVA DO MAL.
Estritamente falando, podemos dizer que o homem tem livre arbítrio somente no
sentido de que ele não se encontra sob nenhuma compulsão externa que interfira com
a sua liberdade de escolha ou com a sua justa responsabilidade. No seu estado caído,
ele somente tem o que pode ser chamada de "a liberdade da escravidão". Ele está
sujeito ao pecado e segue a Satã espontaneamente. Ele não tem a habilidade ou o
incentivo para seguir a Deus. Agora, perguntamos, será que vale alguma coisa a
expressão "livre"? e a resposta é, Não. Não 'livre arbítrio', mas sim 'auto arbítrio'
descreveria mais apropriadamente a condição do homem desde a queda. Deve ser
lembrado que o homem não foi criado como cativo do pecado, mas tornou-se assim
devido à sua própria falta; e um prejuízo que ele trouxe sobre si mesmo não o isenta
da responsabilidade. Após a redenção do homem ser completa, ele espontaneamente
seguirá a Deus, como o fazem os santos anjos; mas ele nunca será o seu próprio
mestre.
E é inegável o fato de ser esta uma doutrina de Lutero. No seu livro, "A Sujeição da
Vontade", cujo propósito principal era provar que a vontade do homem é
naturalmente escrava somente do pecado, e que por apreciar tal condição de
escravidão é que tal vontade é dita ser "livre"; ele declarou: "O que quer que o
homem faça, ele o faz por necessidade, embora sem qualquer compulsão sensível, e
ele somente pode fazer o que foi da vontade e da presciência de Deus desde a
eternidade, vontade de Deus esta que deve ser efetiva e Sua presciência que deve ser
certa . ...Nem a vontade Divina nem a humana farão qualquer coisa por
constrangimento, e o que quer que o homem faça, seja bom ou mau, ele assim o faz
com tanto apetite e vontade como se a sua vontade fosse realmente livre. Mas, ao
final, a vontade de Deus é certa e inalterável, e é o nosso governo." 1 Em outra
passagem ele diz, "Quando é concedido e estabelecido, que o 'Livre arbítrio', uma vez
havendo perdido a sua liberdade, é compulsivamente ligado ao serviço do pecado, e
não pode fazer nada que seja bom; destas palavras eu posso entender nada além de
que o termo "Livre arbítrio" é vazio, cuja realidade está perdida. E uma liberdade
perdida, de acordo com a minha gramática, não é liberdade." 2 Ele (Lutero, em seu
livro), refere-se ao livre arbítrio como "uma simples mentira", 3 e mais tarde
acrescenta, "Portanto, é também essencialmente necessário e importante para os
Cristãos saberem que Deus não tem presciência de nada por contingência, mas que
Ele vê, planeja e faz todas as coisas de acordo com a Sua vontade imutável, eterna e
infalível. E por isto, como se fora por um raio, o 'livre arbítrio' é prostrado,
completamente despedaçado .... Segue-se inalteravelmente, que todas coisas que
fazemos, embora possam parecer serem feitas mutável e contingentemente, e mesmo
que possam ser feitas assim contingentemente por nós, são todavia, na realidade,
feitas necessária e imutavelmente, com respeito à vontade de Deus. Pois a vontade de
Deus é efetiva e não pode ser obstruída; porque o poder de Deus é natural a Ele, e a
Sua sabedoria é tal que Ele não pode ser enganado." 4
Algumas vezes é colocado que a menos que a vontade do homem seja completamente
livre, Deus o comanda para fazer o que Ele não pode fazer. Em vários lugares nas
Escrituras, contudo, aos homens é comandado fazer coisas as quais de acordo com a
sua própria força e capacidade eles são completamente incapazes. Ao homem com a
mão seca foi dito para abri-la. Ao paralítico foi ordenado levantar-se e andar; o
homem doente recebeu ordem para levantar, pegar sua cama e caminhar. A Lázaro
morto foi ordenado que viesse para fora do túmulo. Homens são comandados para
crer, todavia a fé é dita ser a "dádiva de Deus". "...Desperta, tu que dormes, e levanta-
te dentre os mortos, e Cristo te iluminará."[Efésios 5:14]. "Sede vós, pois, perfeitos,
como é perfeito o vosso Pai celestial."[Mateus 5:48]. A incapacidade auto imposta ao
homem na esfera moral não o exime da obrigação.

5. DEUS CONTROLA AS MENTES DOS HOMENS E DÁ AO SEU POVO O


DESEJO DE VIR
Deus tanto governa os sentimentos interiores, o meio ambiente externo, os hábitos, os
desejos, os motivos e etc., dos homens, que eles livremente fazem o que é o Seu
propósito. Tal operação é inescrutável, mas não obstante real; e o simples fato de que
no nosso estado presente de conhecimento não somos totalmente capazes de explicar
como esta influência é exercida sem destruir a liberdade do homem, certamente não
prova que ela não possa ser exercida.
No entanto, nós temos conhecimento o bastante para saber que a soberania de Deus e
a liberdade do homem são realidades, e que elas trabalham juntas em perfeita
harmonia. Paulo semeia, e Apolo rega, mas é Deus quem dá o crescimento. Paulo
escreveu aos Filipenses, "porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade"[Filipenses 2:13]. E o salmista declarou, "O teu
povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder..."[Salmo 110:3].
As ações de uma criatura são em grande monta predeterminados quando Deus lhe
concede uma "natureza" particular quando da sua criação. Se lhe é dada natureza
humana, as suas ações serão aquelas comuns aos homens; se lhe é dada natureza de
cavalo, então aquelas ações comuns a cavalos; ou se natureza vegetal, aquelas ações
comuns ao mundo vegetal. É fato que àqueles a quem é dada natureza humana foram
pré ordenados não andar sobre quatro pés, nem relinchar como um cavalo. Um ato
não é livre se determinado de fora; mas é livre se racionalmente determinado de
dentro, e é isto precisamente o que faz a pré ordenação de Deus. O decreto
compreensivo provê que cada homem seja um agente livre, possuidor de um certo
caráter, cercado por um determinado meio ambiente, sujeito a certas influências
externas, internamente movido por certas afeições, desejos, hábitos, etc., e que em
vista de todos estes ele seja livre e escolha, racionalmente. Que a escolha será uma
coisa e não outra, é certo; e Deus, que sabe, que conhece e que controla as causas
exatas de cada influência, sabe o que aquela escolha será, e em um senso real, a
determina. Zanchius expressou esta idéia muito claramente quando ele declarou que o
homem era um agente livre, e então acrescentou, "todavia ele age, desde o primeiro
até o último momento da sua vida, em absoluta subserviência (embora, talvez ele não
o saiba nem a designe) para os propósitos e decretos de Deus com relação a ele;
apesar do que, ele é sensível a nenhuma compulsão, mas age livre e voluntariamente,
como se ele não estivesse sujeito a nenhum controle, e senhor absoluto de si mesmo."
E Lutero diz, "Os homens, ambos, bons e maus, embora com suas ações eles
completem os decretos e apontamentos de Deus, todavia não são forçosamente
constrangidos a fazer qualquer coisa, mas agem voluntariamente."
De acordo com isto nós então cremos que, sem destruir ou incapacitar a liberdade dos
homens, Deus pode exercer sobre eles uma providência particular e operar neles
através do Seu Santo Espírito de forma que eles venham a Cristo e perseverem no
Seu serviço. Cremos ainda que ninguém tem esta vontade e desejo exceto aqueles a
quem Deus tenha previamente feito querer e desejar; e que Ele dá esta vontade e este
desejo a ninguém senão aos Seus eleitos. Mas enquanto assim induzidos, os eleitos
permanecem tão livres quanto o homem a quem você pode persuadir a caminhar ou a
investir em papéis do governo.
Uma ilustração que bem demonstra a relação de Deus com ambos os salvos e os
perdidos é dada por H. Johnson, -- "Aqui temos duzentos homens na prisão, por
haverem violado a lei. Eu faço provisão para eles do perdão, de forma que a justiça
seja satisfeita e a lei seja cumprida, enquanto ainda assim os prisioneiros possam ser
livres. As portões da prisão são abertos, as trancas arrancadas, e a promessa de perdão
absoluto é feita e a segurança é dada para cada prisioneiro, de que ele pode agora
caminhar como homem livre. Mas ninguém se move. Suponha agora que eu
determine que a minha provisão para o perdão deles não seja em vão. Então eu
pessoalmente vou até cento e cinqüenta desses homens culpados e condenados, e
através de uma violência amorosa eu os persuado a saírem. Isto é eleição. Mas eu
mantive os outro cinqüenta dentro? A provisão para perdão é ainda suficiente, os
portões da prisão continuam abertos, as portas das celas ainda estão destrancadas e
abertas, e a liberdade é prometida a cada um que saia para fora e dela se aposse; e
cada homem naquela prisão sabe que ele pode ser um homem livre, se ele quiser. Será
que eu mantive os outros cinqüenta presos?" 5
O velho princípio Pelagiano, algumas vezes adotada pelos Arminianos, de que tanto a
honorabilidade da virtude como a execrabilidade do vício derivam do poder do
indivíduo de escolher com antecipação uma ou outro, logicamente leva a negar a
bondade dos anjos no céu, ou dos santos na glória, ou mesmo ao próprio Deus, já que
é impossível para os anjos, para os santos, ou para Deus pecar. A virtude, então, no
estado celeste deixaria de ser meritória, uma vez que seria necessário o esforço da
escolha. A idéia de que o poder de escolha entre o bem e o mal é o que enobrece e
dignifica a vontade é uma concepção errada. Tal pensamento verdadeiramente eleva o
homem acima da criação bruta; mas não é a perfeição da sua vontade. Mozley disse:
"O perfeito e o mais alto estado da vontade é um estado de necessidade; e o poder de
escolha, bem longe de ser essencial a uma vontade genuína e verdadeira, é na
realidade o seu defeito e a sua fraqueza. Isto pode ser uma característica ainda maior
de uma vontade imperfeita e imatura, com o bem e o mal perante ela, ficaria indecisa,
ficaria em suspense quanto a o que fazer?" 6 Nesta vida, em que a graça da qual as
boas ações necessariamente procedem não é dada com uniformidade, e
consequentemente mesmo os regenerados pecam ocasionalmente; mas na vida por
vir, a graça será ou constantemente dada ou retirada de vez e totalmente, e então a
determinação da vontade será constante, seja para o bem ou para o mal.
Talvez alguma idéia sobre a maneira na qual o Divino e o humano harmonizam-se
para produzir uma obra possa ser adquirida da consideração sobre a maneira na qual
as Bíblia foi escrita. Pois a Bíblia é, no mais alto sentido, e ao mesmo tempo, as
palavras de Deus e também as palavras de homens. Não são somente algumas partes
ou elementos que são atribuídos a Deus ou a homens; mas antes toda a Escritura em
todas as suas partes, na forma de expressão tanto quanto na substância do ensino, é de
Deus, e também de homens. "Por inspiração", diz Hamilton, "não queremos dizer que
Deus usou os escritores como autômatos, ou que Ele ditou a eles o que eles deveriam
escrever, mas queremos dizer que o Seu Espírito Santo guiou e controlou os
escritores de tal forma que o eles escreveram foi verdadeiro, e foi a verdade particular
que Deus quis que fosse transmitida por escrito ao Seu povo. Deus permitiu que os
escritores utilizassem os seus próprios intelectos, suas próprias linguagens e os seus
próprios estilos, mas quando eles escreveram, o Espírito Santo de Deus
sobrenaturalmente fez com que as escritas fossem livres de quaisquer erros, e
apresentassem a exata verdade que Deus quis que fosse apresentada ao Seu povo
através dos tempos. A Bíblia torna-se desta forma uma unidade, partes da qual não
podem ser cortadas fora, não podem ser retiradas sem que se faça injúria irreparável
ao seu todo." 7
Há, indubitavelmente, uma contradição em supor-se que "o acaso acontece", ou que
eventos produzidos por agentes livres podem ser objetos de presciência limitada, ou
objetos de algum tipo de prévio arranjo. Na própria natureza do caso eles devem ser
ambos, radicalmente e eventualmente incertos, "de modo que", como diz Toplady,
"quem quer que defenda a auto-determinação, tendo intenção ou não, é na verdade
um cultuador da personalidade ateísta chamada Sorte, e um depositor ideal da
providência, do seu trono.
A menos que Deus pudesse governar as mentes dos homens, Ele estaria
constantemente engajado em planejar novos expedientes para compensar os
resultados das influências introduzidas pelos milhões de criaturas Suas. Se os homens
tivessem realmente livre arbítrio, então na tentativa de governar ou de converter um
indivíduo, Deus teria de abordá-lo da mesma forma como um homem aborda a um
semelhante seu, com vários planos em mente, de modo que se o primeiro falhar ele
possa usar o segundo, e se aquele não funcionar, então o terceiro, e assim por diante.
Se os atos de agentes livres são incertos, Deus é ignorante do futuro, exceto em uma
maneira mais generalizada. Ele então é surpreendido vezes sem conta, e o Seu
conhecimento aumenta diariamente, em grande monta. Mas este ponto de vista é
desonroso para com Deus, e é tanto irracional como não Bíblico. A menos que a
onisciência de Deus seja negada, devemos sustentar que Ele conhece toda a verdade,
o passado, o presente e o futuro; e enquanto eventos possam parecer incertos do
ponto de vista humano, do ponto de vista de Deus eles são fixos e certos. Este
argumento é tão conclusivo que a força do mesmo é geralmente admitida. A fraca
objeção algumas vezes evocada, de que Deus voluntariamente decide não saber
alguns dos atos futuros dos homens, de maneira a deixá-los livres, não tem nenhum
suporte, seja nas escrituras ou na razão. Ademais, representa Deus como agindo no
papel de pai de um bando de garotos malvados, que vai e se esconde porque teme vê-
los fazendo algo que ele não aprovaria. Se o nosso Deus fosse limitado, seja por
forças externas ou pelos Seus próprios atos, somente teríamos um deus finito.
A teoria Arminiana de que Deus tenta ansiosamente converter os pecadores mas é
capaz de somente exercer poder persuasivo sem violentar as suas naturezas, na
realidade é o mesmo que o antigo ponto de vista Persa, de que haviam dois princípios
eternos, o bem e o mal, combatendo entre si, sendo que nenhum deles era capaz de
vencer o outro. O livre arbítrio arranca as rédeas do governo das mãos de Deus, e
rouba-Lhe o Seu poder. O livre arbítrio coloca as criaturas além do Seu controle
absoluto e em alguns aspectos dá-lhe o poder de veto sobre a Sua vontade e propósito
eternos. Torna - ainda - possível que anjos e santos no céu possam pecar, que possa
ainda existir uma rebelião geral no céu igual à que supõe-se ter ocorrido quando Satã
e os anjos caídos foram expulsos, e que o mal pode tornar-se dominante ou universal.

6. A MANEIRA PELA QUAL A VONTADE É DETERMINADA


Sendo o homem um agente racional, deve haver sempre motivo suficiente para o seu
agir de maneira específica. Pois a vontade de decidir a favor do motivo mais fraco e
contra o mais forte, ou sem quaisquer motivos, é o mesmo que ter um efeito sem uma
causa suficiente. A consciência nos ensina que nós sempre temos razões para as
coisas que fazemos, e que depois de agir nós somos conscientes de que podemos ter
agido diferentemente, houvessem outros pontos de vista ou sentimentos sido
apresentados. A razão, o motivo para um ato em particular pode não ser forte e pode
até mesmo haver sido baseada em um falso julgamento, mas em cada caso em
particular, é forte o bastante para controlar. A balança penderá na direção contrária
somente quanto houver uma causa para o efeito. Alguém pode escolher aquilo que em
alguns aspectos é desagradável; mas em cada situação, algum outro motivo está
presente, que influencia a pessoa a uma escolha a uma decisão que caso contrário não
teria sido feita. Por exemplo, uma pessoa pode concordar com a extração de um
dente; mas ela não o fará a menos que algum tipo de indução estiver presente, o qual,
pelo menos no momento faz com que seja esta a inclinação mais forte. Como já foi
dito, "um homem não pode preferir contra a sua preferência e não pode escolher
contra a sua escolha." Uma pessoa que prefira viver em Barretos não pode, por um
mero ato de vontade, preferir viver em São Paulo.
As escolhas do homem são, na verdade, governadas por sua própria natureza, e estão
de acordo com os desejos, disposições, inclinações, conhecimento e caráter da
pessoa. O homem não é independente de Deus, nem de leis mentais ou físicas, e
todos estes exercem suas influências particulares nas escolhas, nas decisões que o
homem toma. Ele sempre age da maneira a qual as inclinações e os motivos mais
fortes o guiam; e a consciência nos diz que as coisas que apelam a nós de maneira
mais poderosa na ocasião são as coisas que determinam nossas escolhas. Diz o Dr.
Hodge, "A escolha não é determinada por nenhuma lei de necessidade, não é
independente, indiferente ou auto determinada, mas é sempre determinada pelo
estado da mente que a precede; de forma que um homem é livre desde que as suas
escolhas sejam a expressão consciente da sua mente; ou desde que a sua atividade
seja determinada e controlada por sua razão e por seus sentimentos." 8
A menos que as escolhas de um indivíduo estivessem baseadas no seu caráter e
fossem por ele determinadas, elas não seriam realmente suas, e ele não poderia ser
responsabilizado por elas. Nos nossos relacionamentos com os nossos semelhantes,
nós instintivamente assumimos que as suas escolhas, sejam boas ou más, são
determinadas por um caráter bom ou mau, e julgamo-los conforme. "(16) Pelos seus
frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos
abrolhos? (17) Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz
frutos maus. (18) Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar
frutos bons. (19) Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.
(20) Portanto, pelos seus frutos os conhecereis."[Mateus 7:16-20]. E novamente,
"...pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca."[ Mateus, 12:34]. A
árvore não é livre para produzir frutos bons ou ruins ao acaso, mas é governada por
sua natureza. Não é o fato de o fruto ser bom que causa a bondade da árvore, mas o
contrário. E de acordo com a parábola de Jesus, a mesma verdade aplica-se ao
homem. E a menos que a conduta realmente revele o caráter, como podemos saber
que o homem que faz o bem é realmente um bom homem, ou que o homem que
pratica maldades é realmente um homem mau? Enquanto alguns, em nome do
argumento, possam insisti que a vontade, que o arbítrio é livre; na vida diária todos
homens assumem que a vontade é ao mesmo tempo um produto e uma revelação da
natureza da pessoa. Quando um homem exerce uma vontade, uma escolha que resulta
em roubo ou em assassinato, nós instintivamente concluímos que é um indicativo
verdadeiro do seu caráter, e lidamos com tal homem de acordo com tal conclusão.
A própria essência da racionalidade é que as escolhas devem estar baseadas na
compreensão, nos princípios, sentimentos, etc., e a pessoa cujas escolhas não estão aí
baseadas são consideradas como tolas. Se após cada decisão tomada, a vontade, o
arbítrio retornar a um estado de indecisão e oscilação, equilibrando-se entre o bem e o
mal, a base para confiança nos nossos semelhantes estaria acabada. Na realidade,
alguém cuja vontade, cujo arbítrio fosse realmente "livre", seria alguém muito
perigoso; os seus atos seriam irracionais e não haveria meio de saber o que ele
poderia fazer, sob quaisquer condições.
É este fato (que decisões são uma expressão verdadeira da natureza da pessoa), que
garante a permanência dos estados dos salvos e dos perdidos no próximo mundo. Se a
mera liberdade necessariamente expusesse a pessoa ao pecado, não haveria a certeza
de que mesmo os redimidos no céu não cometeriam pecado e seriam atirados ao
inferno, como o foram os anjos caídos. Os santos, no entanto, possuem uma
necessidade ao lado da bondade, e são portanto livres no sentido mais elevado. Existe
uma falta de competição, e a sua vontade, confirmada em santidade, segue adiante
produzindo atos e impulsos bons, com a facilidade e com a uniformidade da lei física.
Por outro lado, o estado dos perversos também é permanente. Depois que as
influências limitadoras do Espírito Santo são retiradas, eles tornam-se corajosos,
desafiadores, blasfemadores, e pecam com obstinação irremediável. Eles passaram a
uma disposição permanente de malícia e de perversidade e de ódio. Já não são mais
"convidados" e "estranhos", mas sim cidadãos e residentes, na terra do pecado.
Ademais, se a teoria do livre arbítrio fosse verdadeira, ela tornaria possível o
arrependimento após a morte; pois não seria razoável crer que pelo menos alguns dos
perdidos, depois de começarem a sofrer os tormentos do inferno, veriam o seu erro e
retornariam para Deus? Se neste mundo, onde castigos 'medianos' são efetivos em
fazer com que homens arrependam-se e deixem o pecado; por que não seriam as
punições e os castigos 'mais severos' no próximo mundo, mais efetivos? Somente o
princípio Calvinista de que a vontade, o arbítrio é determinado pela natureza da
pessoa e os incentivos apresentados; é que alcança uma conclusão harmoniosa com o
que as Sagradas Escrituras afirmam, que "há um grande abismo", que ninguém pode
atravessar, -- que o estado dos salvos e o estado dos perdidos são ambos permanentes.
Aquele indivíduo que não presta qualquer atenção especial ao assunto, assume ter
uma grande liberdade. Mas quando ele passa a examinar esta tal liberdade um
pouquinho mais atentamente, ele descobre que ser muito mais limitado do que
pareceu à primeira vista. Pois ele tem a limitação das leis do mundo físico, a
limitação do meio ambiente em que se encontra, dos seus hábitos, do seu treinamento
passado, dos seus costumes sociais, do seu medo de castigo ou de desaprovação, dos
seus desejos, das suas ambições, etc., de forma que ele está na realidade longe de ser
o mestre absoluto das suas ações. A qualquer momento, em qualquer circunstância,
ele é muito mais o que o seu próprio passado fez dele. Mas tanto quanto ele tenha os
seus atos sob o controle da sua própria natureza e determine suas ações a partir do seu
íntimo, ele tem toda a liberdade que uma criatura é capaz de ter. qualquer outro tipo
de liberdade é anarquia.
Um homem leva um aquário com peixinhos dourados para qualquer lugar que queira;
todavia, os peixinhos dourados sentem-se livres dentro do seu mundo, dentro do
aquário. A ciência da Física nos ensina acerca do movimento molecular cercado pela
imobilidade do corpo, -- quando olhamos para um pedaço de pedra, ou madeira, ou
metal, parecem-nos a olho nu estarem completamente iméveis; todavia se
dispuséssemos de lentes de aumento possantes o suficiente para poder ver as
moléculas e os átomos e os elétrons, veríamos que estão circulando em suas órbitas,
em velocidades incríveis.
A Predestinação e a liberdade são as colunas gêmeas de um grande templo, que
sobem e encontram-se acima das nuvens, onde o olho humano não consegue alcançar.
Ou ainda, podemos dizer que a Predestinação e a liberdade são linhas paralelas; e
enquanto Calvinistas podem não ser capazes de fazer delas uma só reta, os
Arminianos não conseguem faze-las encontrarem-se. Ademais, se admitirmos o livre
arbítrio no sentido de que a determinação absoluta dos eventos é colocada nas mãos
do homem, podemos também escrever o termo com "L" e com "A" maiúsculos; pois
então o homem terá se tornado como Deus, -- um primeiro motivo, uma ação
original, -- e teremos tantos "semi-deuses" como teremos "livres-arbítrios". A menos
que a soberania de Deus se acabe, não podemos permitir tal independência do
homem. É bastante notável -- e em um sentido é até reconfortante observar o fato --
que filósofos materialistas e metafísicos negam tão completamente como o fazem os
Calvinistas, esta coisa que é chamada de livre arbítrio. Eles raciocinam que cada
efeito deve ter uma causa suficiente; e para cada ação da vontade, buscam encontrar
um motivo o qual o momento seja ao menos forte o bastante para controlar.

7. PROVAS NA BÍBLIA.
As Escrituras Sagradas ensinam que a soberania Divina e a liberdade humana co-
operam em perfeita harmonia; que enquanto Deus é o Governador soberano e a causa
primária, o homem é livre dentro dos limites da sua natureza e é a causa secundária; e
que Deus tanto controla os pensamentos e as vontades dos homens que eles
livremente e voluntariamente fazem o que Ele planejou para eles fazerem.
Um exemplo clássico da cooperação da soberania Divina e da liberdade humana é
encontrado na história de José. José foi vendido ao Egito, onde ele cresceu em
autoridade e prestou um grande serviço, ao prover alimentos em tempos de escassez e
fome. Foi, é claro, um ato muito pecaminoso dos filhos de Jacó, o fato de haverem
vendido o seu irmão caçula como escravo para um povo ateu, de um país ateu. Eles
tinham consciência de estarem agindo livremente, e anos mais tarde eles admitiram a
sua inteira culpa. (veja em Gênesis 42:21 = "Então disseram uns aos outros: Nós, na
verdade, somos culpados no tocante a nosso irmão, porquanto vimos a angústia da
sua alma, quando nos rogava, e não o quisemos atender; é por isso que vem sobre nós
esta angústia." e também em Gênesis 45:3 = "Disse, então, José a seus irmãos: Eu sou
José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, pois estavam
pasmados diante dele."). José, todavia, pôde dizer-lhes, "Agora, pois, não vos
entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido para cá; porque para
preservar vida é que Deus me enviou adiante de vós .... Assim não fostes vós que me
enviastes para cá, senão Deus..." e ainda, "Vós, na verdade, intentastes o mal contra
mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é,
conservar muita gente com vida."[Gênesis 45:5, 8 e 50:20]. Os irmãos de José
simplesmente seguiram as tendências más das suas naturezas; todavia o seu ato foi
um elo na cadeia de eventos através da qual Deus atingiu o Seu propósito; e a sua
culpa não foi diminuída ou considerada menor por haver sido, o mal que intentaram,
anulado pelo bem.
Faraó agiu muito injustamente para com o povo que governava, os Filhos de Israel;
todavia ele foi simplesmente instrumento para o cumprimento do propósito de Deus,
como Paulo escreveu, "Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para
em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a
terra."[Romanos 9:17 (veja também Êxodo 9:16 = "mas, na verdade, para isso te hei
mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja
anunciado em toda a terra."; e Êxodo 10:1, 2 = "Depois disse o Senhor a Moisés: vai
a Faraó; porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus servos, para
manifestar estes meus sinais no meio deles, e para que contes aos teus filhos, e aos
filhos de teus filhos, as coisas que fiz no Egito, e os meus sinais que operei entre eles;
para que vós saibais que eu sou o Senhor.")]. Alguns dos planos de Deus são
executados em se reprimindo os atos pecaminosos dos homens. Quando os Israelitas
iam até Jerusalém três vezes ao ano, para as festas, Deus reprimiu a cobiça das tribos
vizinhas, para que a terra dos Israelitas não fosse molestada (veja em Êxodo 34;24 =
"porque eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei as tuas fronteiras;
ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante
do Senhor teu Deus."). Ele pôs no coração de Ciro, o rei ateu da Pérsia, o reconstruir
do templo em Jerusalém (veja em Esdras 1:1-3 = "No primeiro ano de Ciro, rei da
Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca de Jeremias,
despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar
por todo o seu reino, de viva voz e também por escrito, Assim diz Ciro, rei da Pérsia:
O Senhor Deus do céu me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe
edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós de todo o seu
povo (seja seu Deus com ele) suba para Jerusalém, que é em Judá, e edifique a casa
do Senhor, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém."). A Bíblia nos diz,
"Como corrente de águas é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para
onde quer."[Provérbios 21:1]. E se Ele inclina o coração do rei com tal facilidade,
certamente Ele também pode inclinar o coração de homens comuns.
Em Isaías 10:5-15 nós encontramos uma ilustração notável, da maneira pela qual a
soberania Divina e a liberdade humana agem juntas em perfeita harmonia: "(5) Ai da
Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas
mãos. (6) Eu a envio contra uma nação ímpia; e contra o povo do meu furor lhe dou
ordem, para tomar o despojo, para arrebatar a presa, e para os pisar aos pés, como a
lama das ruas. (7) Todavia ela não entende assim, nem o seu coração assim o
imagina; antes no seu coração intenta destruir e desarraigar não poucas nações. (8)
Pois diz: Não são meus príncipes todos eles reis? (9) Não é Calnó como Carquêmis?
não é Hamate como Arpade? e Samária como Damasco? (10) Do mesmo modo que a
minha mão alcançou os reinos dos ídolos, ainda que as suas imagens esculpidas eram
melhores do que as de Jerusalém e de Samária. (11) como fiz a Samária e aos seus
ídolos, não o farei igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos? (12) Por isso acontecerá
que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então
castigará o rei da Assíria pela arrogância do seu coração e a pomba da altivez dos
seus olhos. (13) Porquanto diz ele: Com a força da minha mão o fiz, e com a minha
sabedoria, porque sou entendido; eu removi os limites dos povos, e roubei os seus
tesouros, e como valente abati os que se sentavam sobre tronos. (14) E achou a minha
mão as riquezas dos povos como a um ninho; e como se ajuntam os ovos
abandonados, assim eu ajuntei toda a terra; e não houve quem movesse a asa, ou
abrisse a boca, ou chilreasse. (15) Porventura gloriar-se-á o machado contra o que
corta com ele? ou se engrandecerá a serra contra o que a maneja? como se a vara
movesse o que a levanta, ou o bordão levantasse aquele que não é pau!" Com relação
a esta passagem, Rice diz: "Qual é o significado óbvio desta passagem? Ela ensina,
em primeiro lugar, e da forma mais direta e sem qualquer equívoco, que o rei da
Assíria, embora um homem ímpio e orgulhoso, nada mais era que um instrumento
nas mãos de Deus, como o machado, ou a serra, ou um caniço nas mãos de um
pescador, para executar os propósitos de Deus sobre os Judeus; e que Deus tinha
controle perfeito dele. Esta passagem também ensina, em segundo lugar, que a
liberdade de ação do rei não foi destruída ou amputada por aquele controle, mas que
ele era perfeitamente livre para fazer os seus próprios planos e para ser governado
pelos seus próprios desejos. Pois está declarado que ele não tinha intenção de
executar os propósitos de Deus, mas sim de promover os seus próprios projetos
ambiciosos. 'Seja como for, ele não intentou, nem o seu coração desejou; mas no seu
coração estava sim o propósito de destruir e dizimar nações, não só uns poucos.'
Consequentemente, tal fato ensina, em terceiro lugar, que o rei foi justamente
responsabilizado pelo seu orgulho, e perversidade, embora Deus tenha prevalecido
sobre ele de tal forma que ele cumpriu os Seus sábios propósitos. Deus decretou punir
e purificar os Judeus pelos seus pecados. Ele escolheu usar o rei da Assíria para
executar tal propósito, e portanto fez com que marchasse contra eles. Ele mais tarde
puniria o rei pelos seus planos perversos. Não é evidente, então, além de toda
contestação, que as Escrituras Sagradas ensinam que Deus pode e verdadeiramente
controla os homens, mesmo homens perversos, de forma a fazer com que os Seus
propósitos se concretizem, sem contudo interferir com a sua liberdade?" 9
Para qualquer um que aceite a Bíblia como a Palavra de Deus, é absolutamente certo
que a crucificação de Cristo -- o evento mais pecaminoso de toda a história -- foi pré
ordenado: "(27) Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o Teu
santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com
os gentios e os povos de Israel; (28) para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu
conselho predeterminaram que se fizesse."[Atos 4:27, 28]; "a Este, que foi entregue
pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-O pelas
mãos de iníquos"[Atos 2:23]; e "Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca
de todos os Seus profetas havia anunciado que o Seu Cristo havia de padecer."[Atos
3:18]. "(27) Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não
conheceram a este Jesus, condenando-O, cumpriram as mesmas palavras dos profetas
que se ouvem ler todos os sábados. (28) E, se bem que não achassem nEle nenhuma
causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto. (29) Quando haviam
cumprido todas as coisas que dEle estavam escritas, tirando-O do madeiro, O
puseram na sepultura."[Atos 13:27-29].
E não somente a crucificação em si mesma foi pré ordenada, mas também muitos dos
fatos que ocorreram durante o evento, tais como: o repartir das vestes e o lançar da
sorte por sua túnica (veja em Salmo 22:18 = "Repartem entre si as minhas vestes, e
sobre a minha túnica lançam sortes"; e João 19:23, 24 = "Tendo, pois, os soldados
crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram delas quatro partes, para cada
soldado uma parte. Tomaram também a túnica; ora a túnica não tinha costura, sendo
toda tecida de alto a baixo. Pelo que disseram uns aos outros: Não a rasguemos, mas
lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será [para que se cumprisse a escritura
que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, e lançaram sortes]. E, de fato, os
soldados assim fizeram."); o haverem Lhe oferecido fel e vinagre para beber (veja em
Salmo 69:21 = "Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber
vinagre."; e Mateus 27:34 = "deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele,
provando-o, não quis beber.", e João 19:29 = "Estava ali um vaso cheio de vinagre.
Puseram, pois, numa cana de hissopo uma esponja ensopada de vinagre, e lha
chegaram à boca."); a pilhéria por parte do povo (veja em Salmo 22:6-8 = "...opróbrio
dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim,
arreganham os beiços e meneiam..."; e Mateus 27:39 = "E os que iam passando
blasfemavam dele, meneando a cabeça"); o fato de O haverem associado a ladrões
(veja em Isaías 53:12 = "Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os
poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi
contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos
transgressores intercedeu."; e Mateus 27:38 = "Então foram crucificados com ele dois
salteadores, um à direita, e outro à esquerda."); que nenhum dos Seus ossos seria
quebrado (veja em Salmo 34;20 = "Ele lhe preserva todos os ossos; nem sequer um
deles se quebra."; e João 19:33, 36 = "mas vindo a Jesus, e vendo que já estava
morto, não lhe quebraram as pernas" ... "Porque isto aconteceu para que se cumprisse
a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado."); o traspassar com a lança (veja
em Zacarias 12:10 = "...e olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão
como quem pranteia por seu filho único...", e João 19:34-37 = "contudo um dos
soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água" ... "Também há
outra escritura que diz: Olharão para aquele que traspassaram."); assim como vários
outros eventos que foram descritos e gravados. Ouça à babel do inferno ao redor da
cruz, e diga se aqueles homens não eram livres! Todavia leia todas as previsões e
profecias e recorde novamente a tragédia e diga se cada um daqueles incidentes não
havia sido pré ordenado por Deus! Ademais, estes mesmos eventos não poderiam
haver sido preditos pelos profetas do Antigo Testamento, séculos antes eles viessem a
acontecer, a menos que eles fossem absolutamente certos no plano pré ordenado de
Deus. Todavia, enquanto pré ordenados, aqueles eventos foram executados, foram
levados a efeito por agentes que eram ignorantes acerca de quem Cristo realmente
era, e que eram igualmente ignorantes do fato de que eles estavam cumprindo,
estavam realizando os decretos divinos (veja em Atos 13:27; 13:29; 3:17,18= "Pois,
os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a Este
Jesus, condenando-O, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler
todos os sábados." ... "Quando haviam cumprido todas as coisas que Dele estavam
escritas, tirando-O do madeiro, O puseram na sepultura" ... "Agora, irmãos, eu sei que
o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades. Mas Deus assim
cumpriu o que já dantes pela boca de todos os Seus profetas havia anunciado que o
Seu Cristo havia de padecer."). Assim é que se engolimos o camelo ao acreditar que o
mais pecaminoso evento em toda a história estava no plano pré ordenado de Deus, e
que tal fato foi sobrepujado pela redenção do mundo, engasgaremos com o mosquito
em recusarmo-nos a acreditar que também os menores eventos nas nossas vidas
diárias fazem parte daquele plano, e que são todos designados para bons propósitos?
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
Provérbios 16:9 = "O coração do homem propõe o seu caminho; mas o Senhor lhe
dirige os passos."
Jeremias 10:23 = "Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem é do
homem que caminha o dirigir os seus passos."
Êxodo 12:36 = "E o Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, de modo que
estes lhe davam o que pedia; e despojaram aos egípcios."
Esdras 6:22 = "e celebraram a festa dos pães ázimos por sete dias com alegria; porque
o Senhor os tinha alegrado, tendo mudado o coração do rei da Assíria a favor deles,
para lhes fortalecer as mãos na obra da casa de Deus, o Deus de Israel."
Esdras 7:6 = "este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés,
que o Senhor Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu Deus, que
estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira."
Isaías 44:28 = "que digo de Ciro: Ele é meu pastor, e cumprira tudo o que me apraz;
de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do
templo será lançado."
Apocalipse 17:17 = "Porque Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele,
chegarem a um acordo, e entregarem à besta o seu reino, até que se cumpram as
palavras de Deus."
I Samuel 2:25 = "Se um homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um
homem pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a
voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."
I Reis 12:11, 15 = "Assim que, se meu pai vos carregou dum jugo pesado, eu ainda
aumentarei o vosso jugo; meu pai vos castigou com açoites; eu, porém, vos castigarei
com escorpiões.", "O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque esta mudança vinha
do Senhor, para confirmar a palavra que o Senhor dissera por intermédio de Aías, o
silonita, a Jeroboão, filho de Nebate."
II Samuel 17:14 = "Então Absalão e todos os homens e Israel disseram: Melhor é o
conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel: Porque assim o Senhor o
ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, a fim de trazer o mal sobre
Absalão."

Capítulo 17 Que Faz Deus o Autor do Pecado


1. O Problema do Mal. 2. Situações nas Quais O Pecado Foi Sobrepujado pelo Bem.
3. A Queda de Adão Estava Incluída no Plano Divino. 4. O Resultado da Queda de
Adão. 5. As Forças do Mal Estão Sob o Perfeito Controle de Deus. 6. Ações
Pecaminosas Somente Ocorrem Pela Permissão Divina. 7. Provas nas Escrituras
Sagradas. 8. Comentários de Smith e Hodge. 9. A Graça de Deus É Mais
Profundamente Apreciada Após a Pessoa Ter sido Vítima do Pecado. 10. O
Calvinismo Oferece Solução Mais Satisfatória Para O Problema Do Mal, Do Que
Qualquer Outro Sistema Teológico.

1. O PROBLEMA DO MAL
A objeção pode aparecer, que se Deus pré ordenou inteiramente o curso de eventos
neste mundo, Ele deve ser o Autor do Pecado. Para começar, nós prontamente
admitimos que a existência de pecado num universo que está sob o controle de um
Deus que é infinito na Sua sabedoria, no Seu poder, na Sua santidade e na Sua justiça,
é um mistério inescrutável que no nosso estado presente de conhecimento não
podemos explicar a contento. Todavia, nós somente vemos através de lentes
obscurecidas. O pecado não pode nunca ser explicado no terreno da lógica ou da
razão, pois é essencialmente ilógico e irracional. O simples fato de o pecado existir,
tem sido freqüentemente levantado por ateístas e cépticos, como um argumento não
simplesmente contra o Calvinismo, mas contra o teísmo em geral.
Os padrões de Westminster, no tratamento do aterrador mistério do mal, são muito
cuidadosos em guardar o caráter de Deus até mesmo da sugestão do mal. O pecado é
referido à liberdade que é dada ao agente, e de todos atos pecaminosos, quaisquer que
sejam, eles enfaticamente afirmam que "a pecaminosidade dessas transgressões
procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo,
não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo."(Capítulo V, seção IV.
Referências na Bíblia: Isa. 45:7; Rom. 11:32-34; At. 4:27-28; Sal. 76:10; II Reis
19:28; At.14:16; Gen. 50:20; Isa. 10:12; I João 2:16; Sal. 50:21; Tiago 1:17.).
E enquanto não é para nós o explicar como Deus nos Seus conselhos secretos rege e
sobrepuja os atos pecaminosos dos homens, é para nós o saber que o que quer que
seja que Deus faça, Ele nunca se desvia da Sua própria e perfeita justiça. Em todas as
manifestações do Seu caráter, ele Se mostra preeminentemente O Sagrado. Estas
obras profundas de Deus são mistérios que são para serem adorados, e não
questionados; e não fosse pelo fato de que algumas pessoas persistem em declarar
que a doutrina da Predestinação faz Deus o autor do pecado, poderíamos dar o
assunto por encerrado.
Uma explicação parcial do pecado pode ser encontrada no fato de que enquanto o
homem é constantemente comandado, exortado pelas Escrituras Sagradas a não
cometer, a ele é, não obstante, permitido cometer, caso seja esta a sua escolha.
Nenhuma compulsão é impingida ao indivíduo; ele simplesmente é deixado para
exercitar livremente a sua natureza, e somente ele é responsável. Isto, contudo, nunca
é uma permissão vazia, pois com o completo conhecimento da natureza do indivíduo
e da sua tendência para pecar, Deus permite-lhe ou permite que ele encontre-se num
certo ambiente, sabendo perfeitamente bem que um pecado específico será cometido.
Mas enquanto Deus permite o pecado, a sua conexão com o mesmo é puramente
negativa e de fato o pecado é coisa abominável, que Ele odeia com intensa
animosidade. O motivo que Deus tem para permiti-lo e o motivo que o homem tem
para comete-lo são radicalmente diferentes. Muitas pessoas são iludidas nestes
aspectos por falharem em considerar que Deus quer e deseja, de maneira justa e reta,
aquelas coisas que os homens fazem de maneira perversa. Ademais, a consciência de
cada indivíduo, após ele haver pecado, lhe diz que ele e somente ele é responsável e
que ele não precisava haver cometido tal pecado se ele não houvesse voluntariamente
decidido, escolhido assim fazer.
Os Reformadores reconheceram o fato de que o pecado, tanto na sua entrada no
mundo como em todas subsequentes aparições, estava envolvido no plano divino; que
a explicação para a sua existência, tanto quanto qualquer explicação pudesse ser
dada, seria encontrada no fato de que o pecado se encontrava completamente sob o
controle de Deus; e que seria sobrepujado por uma manifestação mais alta da Sua
glória. Podemos descansar certos de que Deus nunca teria permitido que o pecado
entrasse no mundo, a menos que, através da Sua providência soberana e secreta, Ele
fosse capaz de exercer uma influência direta nas mentes dos ímpios, de modo que o
bem seja o resultado do mal que intentaram. Ele opera não somente todas as afeições
santas e boas, que são encontradas nos corações do Seu povo, mas Ele também
controla perfeitamente todas as afeições ímpias e depravadas dos perversos, e as
transforma como Lhe apraz, de modo que eles tenham o desejo de concretizar aquilo
que Ele tenha planejado ser concretizado por intermédio deles. Os perversos muitas
vezes vangloriam-se com a concretização dos seus propósitos; mas como Calvino
disse, "o acontecimento, com o passar do tempo prova que eles somente estavam
cumprindo e concretizando o que já havia sido ordenado por Deus, e que também,
contra a sua própria vontade, enquanto eles de nada sabiam." Mas enquanto Deus
sobrepuja as afeições depravadas de homens para o cumprimento dos Seus próprios
propósitos, Ele não obstante os pune pelo seu pecado e faz com que eles sejam
condenados pelas suas próprias consciências.
"Um governante pode proibir traição; mas o seu comando não o obriga a fazer tudo o
que esteja em seu poder para prevenir que aquela proibição seja desobedecida. Ser
traído pode resultar em bem para o seu reino, e o traidor ser punido conforme a lei.
Que à vista deste bem resultante ele escolha não prevenir a traição, não implica em
nenhuma contradição ou oposição " 1
Com relação ao problema do mal, o Dr. A. H. Strong adianta as seguintes
considerações: "(1) Que a liberdade de escolha é necessária à virtude; (2) que Deus
sofre com o pecado, mais que o pecador; (3) que, com a permissão do pecado, Deus
proveu a redenção; e, (4) que Deus, eventualmente sobrepujará todo o mal com o
bem." E então ele acrescenta, "É possível que os anjos eleitos pertençam a um
sistema moral no qual o pecado seja evitado por motivos inibidores. Não podemos
negar que Deus preveniria o pecado num sistema moral. Mas é muito duvidoso se
Deus poderia prevenir o pecado no melhor sistema moral. A mais perfeita liberdade é
indispensável para que a mais alta virtude seja alcançada." 2 Fairbairn nos deu alguns
bons pensamentos no seguinte parágrafo: "Mas por que Deus criou um ser capaz de
pecar? Somente se ele pudesse criar um ser capaz de obedecer. A capacidade de fazer
o bem implica na capacidade de fazer o mal. Um motor não é capaz de obedecer ou
de desobedecer; e a criatura que estivesse sem esta capacidade dupla poderia ser uma
máquina, mas não poderia ser uma criança. Perfeição moral pode ser alcançada, mas
não pode ser criada; deus pode fazer um ser capaz de performar ações morais, mas
não um ser com todos os frutos de ação moral armazenados dentro de si."

2. SITUAÇÕES NAS QUAIS O PECADO FOI SOBREPUJADO PELO BEM


Em toda a Bíblia nós encontramos numerosas situações nas quais atos pecaminosos
foram permitidos e então sobrepujados pelo bem. Vejamos primeiramente alguns
exemplos no Velho Testamento. O fato de Jacó haver enganado ao seu pai, velho e
cego, embora sendo um ato pecaminoso em si mesmo, foi permitido e usado como
um elo na cadeia de eventos através dos quais o plano de Deus, já anteriormente
revelado fosse executado, de que o mais velho serviria ao mais moço. Ao Faraó e aos
Egípcios foi permitido escravizar e usar os Israelitas, sendo que pelos seus atos as
maravilhas de Deus fossem multiplicadas na terra do Egito (veja em Êxodo 11:9 =
"Pois o Senhor dissera a Moisés: Faraó não vos ouvirá, para que as minhas
maravilhas se multipliquem na terra do Egito."), que estas coisas pudessem ser
contadas às gerações futuras [veja em Êxodo 10:1, 2 = "(1) Depois disse o Senhor a
Moisés: vai a Faraó; porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus
servos, para manifestar estes meus sinais no meio deles, (2) e para que contes aos teus
filhos, e aos filhos de teus filhos, as coisas que fiz no Egito, e os meus sinais que
operei entre eles; para que vós saibais que eu sou o Senhor."], e que a Sua glória
pudesse ser declarada em toda a terra (veja em Êxodo 9:16 = "mas, na verdade, para
isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome
seja anunciado em toda a terra."). A maldição que Balaão tentou proferir sobre os
Israelitas foi transformada em bênção (veja em Números 24:10 = "Pelo que a ira de
Balaque se acendeu contra Balaão, e batendo ele as palmas, disse a Balaão: Para
amaldiçoares os meus inimigos é que te chamei; e eis que já três vezes os
abençoaste." veja também em Neemias 13:2 = "porquanto não tinham saído ao
encontro dos filhos de Israel com pão e água, mas contra eles assalariaram Balaão
para os amaldiçoar; contudo o nosso Deus converteu a maldição em benção."). O rei
da Assíria, ateu e orgulhoso, inconscientemente tornou-se o servo de Jeová, ao
executar vingança sobre o povo apóstata: "(5) Ai da Assíria, a vara da minha ira,
porque a minha indignação é como bordão nas suas mãos. (6) Eu a envio contra uma
nação ímpia; e contra o povo do meu furor lhe dou ordem, para tomar o despojo, para
arrebatar a presa, e para os pisar aos pés, como a lama das ruas. (7) Todavia ela não
entende assim, nem o seu coração assim o imagina; antes no seu coração intenta
destruir e desarraigar não poucas nações. (8) Pois diz: Não são meus príncipes todos
eles reis? (9) Não é Calnó como Carquêmis? não é Hamate como Arpade? e Samária
como Damasco? (10) Do mesmo modo que a minha mão alcançou os reinos dos
ídolos, ainda que as suas imagens esculpidas eram melhores do que as de Jerusalém e
de Samária. (11) como fiz a Samária e aos seus ídolos, não o farei igualmente a
Jerusalém e aos seus ídolos? (12) Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado
toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigará o rei da Assíria pela
arrogância do seu coração e a pomba da altivez dos seus olhos. (13) Porquanto diz
ele: Com a força da minha mão o fiz, e com a minha sabedoria, porque sou
entendido; eu removi os limites dos povos, e roubei os seus tesouros, e como valente
abati os que se sentavam sobre tronos. (14) E achou a minha mão as riquezas dos
povos como a um ninho; e como se ajuntam os ovos abandonados, assim eu ajuntei
toda a terra; e não houve quem movesse a asa, ou abrisse a boca, ou chilreasse. (15)
Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? ou se engrandecerá a
serra contra o que a maneja? como se a vara movesse o que a levanta, ou o bordão
levantasse aquele que não é pau!"[Isaías 10:5-15]. As calamidades que vieram sobre
Jó, quando vistas do ponto de vista humano, parecem serem apenas falta de sorte,
acidentes, acontecimentos ao acaso. Mas com um pouquinho mais de entendimento
vemos Deus por trás de tudo, exercendo o controle completo, dando permissão ao
Diabo para afligir Jó até determinado ponto, não mais, designando os eventos para o
desenvolvimento da paciência e do caráter de Jó; e usando mesmo a destruição
aparentemente sem significado provocada pela tempestade para atingir os seus altos
propósitos de amor.
No Novo Testamento encontramos o mesmo ensinamento. A morte de Lázaro,
quando analisada do ponto de vista de Marta, de Maria e daqueles que vieram
pranteá-lo, foi uma infelicidade muito grande; mas quando analisada do ponto de
vista divino, não foi "...para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de
Deus seja glorificado por ela."[João 11:4]. A maneira pela qual Pedro morreu (que
aparentemente foi por crucificação), foi para glorificar a Deus (veja em João 21;19 =
"Ora, isto ele disse, significando com que morte havia Pedro de glorificar a Deus. E,
havendo dito isto, ordenou-lhe: Segue-me."). Quando Jesus cruzou o mar da Galiléia
com os Seus discípulos Ele poderia ter evitado a tempestade e providenciado a eles
uma travessia agradável, mas se assim acontecesse, não teria sido muito para a Sua
glória e para a confirmação da fé dos Seus discípulos, como o foi o seu salvamento.
Paulo, nas suas severas reprimendas, fez os Coríntios contristados para o
arrependimento, segundo Deus [veja em II Coríntios 7:9, 10 = "(9) agora folgo, não
porque fostes contristados, mas porque o fostes para o arrependimento; pois segundo
Deus fostes contristados, para que por nós não sofrêsseis dano em coisa alguma. (10)
Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz
pesar; mas a tristeza do mundo opera a morte."]. O Senhor, muitas vezes, entrega uma
pessoa temporariamente a Satã, de modo que seus sofrimentos físicos e mentais
possam reagir para a sua salvação, (veja em I Coríntios 5:5 = "seja entregue a Satanás
para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.").
Paulo, falando das adversidades que ele próprio sofria, disse "E quero, irmãos, que
saibais que as coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do
evangelho."[Filipenses 1:12]. Quando ele viu que o seu "espinho na carne" era algo
que lhe havia sido divinamente enviado, "um mensageiro de Satanás para esbofeteá-
lo", de modo que ele "não se exaltasse demais", ele aceitou-o com as palavras, "Pelo
que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então é que sou forte."[II
Coríntios 12:7-10]. Naquela ocasião, Deus fez do veneno do monstro mais cruel e
pecador de todos os tempos, um antídoto para curar o orgulho do apóstolo.
Até certa altura, podemos dizer que a razão para a permissão do pecado é que,
"...onde o pecado abundou, superabundou a graça."[Romanos 5:20]. Tal graça
profunda e imensurável nunca poderia ter sido mostrada se o pecado tivesse sido
excluído.
Na verdade, nós ganhamos mais através da salvação em Cristo do que perdemos pela
queda em Adão. Quando Cristo encarnou, foi como se a natureza humana fosse
colocada no próprio colo da Deidade, e os redimidos alcançam uma posição muito
mais exaltada através da união com Cristo do que Adão poderia ter atingido, não
tivesse ele caído e fosse admitido no céu.
Esta verdade geral foi expressada por Calvino nas seguintes palavras: Mas, Deus,
quem uma vez comandou que houvesse luz das trevas, pode maravilhosamente trazer,
se Lhe aprouver, a salvação do próprio inferno, e assim transformar as próprias trevas
em luz. Mas o que Satã operou? Num determinado sentido, operou a obra de Deus!
Ou seja, Deus, ao manter Satã contido em obediência à Sua Providência, vira-o para
qualquer lugar que seja da Sua vontade, e assim utiliza as tentativas e artimanhas do
grande inimigo para o cumprimento dos Seus próprios princípios eternos." 3
Mesmo as perseguições que são permitidas advir sobre os justos são designadas para
bons propósitos. Paulo declara que "...a nossa leve e momentânea tribulação produz
para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória."[II Coríntios 4:17].
Sofrer com Cristo é estar mais intimamente unido a Ele, e grande recompensa no céu
está prometida àqueles que sofrem por causa dEle [veja em Mateus 5:10-12 = "(10)
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. (11) Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e,
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. (12) Alegrai-vos e exultai,
porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas
que foram antes de vós."]. Aos Filipenses foi escrito, "pois vos foi concedido, por
amor de Cristo, não somente o crer nele, mas também o padecer por ele,"[Filipenses
1:29]; e lemos que depois de os apóstolos haverem sido publicamente açoitados, eles
"Retiraram-se pois da presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados
dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus."[Atos 5:41]. O escritor do livro de
Hebreus declarou esta mesma verdade ao escrever, "Na verdade, nenhuma correção
parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um
fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados."[Hebreus 12:11].
"As ações dos perversos na perseguição da Igreja primitiva," diz o Dr. Charles
Hodge, "foram ordenados de Deus como os meios para uma mais ampla e mais
rápida proclamação do Evangelho. Os sofrimentos dos mártires foram os meios não
somente para a extensão, mas para a purificação da Igreja. A apostasia do homem
pecador sendo predita, foi predeterminada. A destruição dos Huguenotes na França, a
perseguição dos Puritanos na Inglaterra, estabeleceram a fundação para o plantio na
América do Norte com uma raça de homens de Deus enérgicos, os quais viveram
para fazer desta terra a terra de refúgio para as nações, o lar da liberdade, civil e
religiosa. Se o povo de Deus fosse persuadido de que Deus não pré ordena tudo o que
vem a acontecer, isto destruiria a sua confiança nEle. É porque o Senhor reina, e faz o
que Lhe apraz no céu e na terra, que eles repousam tranqüila e despreocupadamente
em perfeita segurança sob a Sua direção e proteção." 4
Muitos dos atributos divinos foram demonstrados através da criação e governo do
mundo, mais o atributo de justiça somente poderia ser mostrado a criaturas
merecedoras de punição, e o atributo de graça e misericórdia poderia ser mostrado
somente a criaturas na miséria. Até a queda do homem no pecado, e sua redenção
dali, estes atributos, tanto quanto podemos aprender, não haviam sido mostrados nem
exercidos, e consequentemente eram desconhecidos para quem quer que fosse, exceto
ao Próprio Deus, desde toda a eternidade. Não tivesse o pecado sido admitido na
criação, estes atributos teriam permanecido enterrados numa noite eterna. E o
universo, sem o conhecimento desses atributos, seria tal como a terra sem a luz do
sol. O pecado então, é permitido de maneira que a misericórdia de Deus possa ser
mostrada no seu perdão; e que a Sua justiça possa ser mostrada nos seus castigos. A
entrada do pecado é o resultado de um desígnio estabelecido por Deus, o qual Ele
formou na eternidade, e através do qual ele objetivou revelar-Se a Si mesmo para as
Suas criaturas racionais tão formado e completo, em todas perfeições concebíveis.

3. A QUEDA DE ADÃO ESTAVA INCLUÍDA NO PLANO DIVINO.


Mesmo a queda de Adão, e através dele a queda da raça humana, não ocorreu por
acidente ou acaso, mas foi sim ordenada nos secretos conselhos de Deus. A nós é dito
que Cristo "...na verdade, foi conhecido (como sacrifício pelo pecado) ainda antes da
fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por amor de vós."[I Pedro
1:20]. Paulo fala do "o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso
Senhor,"[Efésios 3:11]. O escritor do livro de Hebreus refere-se ao "sangue do pacto
eterno"[13:20]. E uma vez que o plano de redenção é assim rastreado até a
eternidade, o plano de permitir que o homem caísse em pecado do qual ele seria então
redimido deve também estender-se de volta até a eternidade; caso contrário não
haveria ocasião para redenção. Na verdade o plano para o curso completo dos eventos
do mundo, incluindo a queda, a redenção, e todos os demais eventos, estava perante
Deus na sua totalidade, antes que Ele tivesse ao menos trazido a criação à existência;
e Ele deliberadamente ordenou que esta série de eventos, e não outras séries, se
tornassem reais.
E a menos que a queda estivesse no plano de Deus, em que se transformaria a nossa
redenção através de Cristo? Será que foi somente um 're arranjo' que Deus
providenciou de maneira a obscurecer a rebelião do homem? Perguntar tal questão é
respondê-la. Em toda a Bíblia a redenção é representada como o propósito livre e
gracioso de Deus desde a eternidade. Na mesma hora do primeiro pecado do homem,
Deus interveio soberanamente com uma promessa gratuita de resgate. Enquanto a
glória de Deus é mostrada em toda a esfera da criação, ela foi especificamente
mostrada na obra da redenção. A queda do homem, portanto, foi somente uma parte -
e uma parte necessária - do plano; e mesmo Watson, embora um Arminiano decidido,
diz, "A redenção do homem por Cristo certamente não foi uma idéia que ocorreu
depois da apostasia do homem; foi uma provisão, e quando o homem caiu ele
encontrou a justiça, de mãos dadas com a misericórdia." 5 Das ruínas da queda, Deus
fez uma nova criação espiritual, muito mais gloriosa do que a primeira.
O Arminianismo consistente, contudo, pinta Deus como se fosse um ídolo, espectador
inativo sentado, em dúvida, enquanto Adão caía; e bem surpreendido e frustrado pela
criatura das Suas mãos. Em contraste com isto, nós sustentamos que Deus tanto pré
planejou como anteviu a queda; que a mesma de forma nenhuma veio-Lhe como uma
surpresa; e que depois de haver acontecido Ele não se sentiu como se tivesse
cometido um erro ao criar o homem. Tivesse Ele assim desejado, Ele poderia ter
evitado a entrada de Satã no jardim e teria preservado Adão num estado de santidade,
como Ele fez com os anjos santos. O simples fato de que Deus anteviu a queda é
prova suficiente de que Ele não esperava que o homem O glorificasse por continuar
num estado de santidade.

Todavia, Deus de forma alguma compeliu o homem a cair. Ele simplesmente


reprimiu aquela imerecida graça constrangedora, com a qual Adão infalivelmente não
teria caído, graça esta que Ele não tinha nenhuma obrigação de conceder. Com
relação a si próprio, Adão poderia ter prevalecido, tivesse ele assim escolhido; mas
com relação a Deus, era certo de que ele cairia. Ele agiu tão livremente como se não
houvesse nenhum decreto, e mesmo assim tal infalivelmente quanto se não houvesse
nenhuma liberdade. Os Judeus, tanto quanto dizia respeito à sua própria liberdade,
poderiam ter quebrado os ossos de Cristo; contudo na realidade não era-lhes possível
fazê-lo, pois estava escrito que, "Preserva-lhe todos os ossos, nem um deles sequer
será quebrado."[Salmo 34:20] e: "E isto aconteceu para se cumprir a Escritura:
Nenhum dos seus ossos será quebrado."[João 19:36]. O decreto de Deus não tira a
liberdade do homem; e na queda, Adão exercitou livremente as emoções naturais da
sua própria vontade.
A razão para a queda está assinalada em que "...Deus a todos encerrou na
desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos."[Romanos 11:32]; e
novamente, "...já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não
confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos;"[II Coríntios 1:9]; e seria
difícil encontrar uma linguagem que demonstrasse o controle Divino e a iniciativa
Divina mais explicitamente que isto. Por sábias razões, Deus satisfez-Se ao permitir
que nossos primeiros pais fossem tentados e caíssem; e então em sobrepujar o seu
pecado com a Sua própria glória. Todavia aquela permissão e o sobrepujar o pecado
não O fazem o autor do pecado. Parece que ele permitiu a queda de modo a mostrar o
que o livre arbítrio faria; e então, por sobrepujá-lo, Ele mostrou o que podem fazer as
bênçãos da Sua graça e os julgamentos da Sua justiça.
Pode muito bem ser justo, neste ponto, dizer algo mais sobre a natureza da queda.
Adão teve a mais favorável oportunidade de assegurar a vida eterna e as bênçãos para
si e para a sua posteridade. Ele foi criado santo e foi colocado num mundo livre de
pecado. Ele estava cercado por toda a beleza do paraíso e lhe foi graciosamente dada
permissão para comer de todas as frutas com exceção de uma, o que certamente não
se tratava de uma restrição constrangedora. O Próprio Deus descia até o Jardim e
fazia companhia para Adão. Numa linguagem inequivocamente clara, Adão foi
alertado, foi avisado que se ele comesse da fruta ele certamente morreria. Ele foi
então colocado frente a um puro teste de obediência, uma vez que o fato de comer da
fruta não teria sido por si só moralmente certo ou moralmente errado. A obediência é
aqui colocada como a virtude a qual, na criatura racional, é como fosse a mãe e a
guardiã de todas as demais virtudes.

4. O RESULTADO DA QUEDA DE ADÃO.


Mas, apesar de todas as suas vantagens, Adão deliberadamente desobedeceu, e a
sentença de morte imposta foi executada. Isto plenamente inclui mais que a
dissolução do corpo. A palavra "morte" como usada nas Escrituras com referência aos
efeitos do pecado inclui toda e qualquer forma de mal que é imposta quando da
punição do pecado. Significa primariamente a morte espiritual, ou a separação de
Deus, que é ambas, temporal e eterna -- uma perda do Seu favor, de todas as
maneiras. Significou o oposto da recompensa prometida, a qual era a vida eterna e
abençoada no Céu. Significou, portanto, as misérias eternas do inferno, junto com o
gosto de tais misérias, os quais são sentidos nesta vida. A sua natureza pode ser
parcialmente vista nos efeitos do pecado, que tem realmente caído sobre a raça
humana. E finalmente, a natureza da morte que sobreveio a Adão e seus
descendentes, pode ser vista em contraste com a vida a qual os redimidos têm com
Cristo. Foi uma morte que resultou no pecado, ao invés de santidade, tornar-se o
elemento natural do homem, de modo que agora, em sua natureza não regenerada, o
Evangelho e todas as coisas santas lhe são repulsivos. Ele é tão completamente
incapaz de compreender a redenção através da fé em Cristo, quanto um homem morto
o é de ouvir os sons deste mundo. Que a morte sentenciada não era primariamente
uma morte física é mostrado pelo fato de que Adão viveu ainda muitos anos após a
queda, enquanto que espiritualmente ele foi imediatamente alienado de Deus e
expulso do Paraíso. Neste estado caído, o homem é aterrorizado por qualquer
aparição do sobrenatural. E mesmo com relação à morte física, que num sentido
também foi imediatamente executada; pois embora nossos primeiros pais vivessem
ainda muitos anos, eles imediatamente começaram a envelhecer. Desde a queda, a
vida tem se tornado uma marcha incessante em direção ao túmulo. Charles Hodge
diz: "No dia em que Adão comeu a fruta proibida ele morreu com efeito. O castigo
imposto não foi uma imposição momentânea, mas uma sujeição permanente a todos
os males os quais fluem do reto e justo desprazer de Deus." 6
Ademais, todo o mundo Cristão tem crido que na queda, Adão, como a cabeça natural
e federal da raça humana, feriu não somente a si mesmo, mas a toda a sua
posteridade, de modo que, como diz o Dr. Hodge, "em virtude da união, natural e
federal, entre Adão e a sua posteridade, o seu pecado, embora não perpetrado pela sua
descendência, é tão imputado a eles que é base judicial para a que a penalidade
sentenciada contra ele também venha sobre eles . . . Imputar pecado, numa linguagem
teológica e Bíblica, é imputar a culpa pelo pecado. E por culpa entende-se não a
criminalidade, ou psicose, ou demérito, muito menos poluição moral, mas a
obrigação judicial de satisfazer a justiça," 7 O seu pecado é debitado em sua conta.
Mesmo os infantes, que não têm nenhum pecado pessoal próprio, sofrem dores e
morte. Agora, as Escrituras uniformemente representam o sofrer e a morte como o
salário do pecado. Seria injusto para Deus executar o castigo naqueles que não são
culpados. Desde que a penalidade cai também sobre as crianças, eles devem ser
culpados; e desde que eles não têm pessoalmente cometido nenhum pecado, eles
devem ser culpados pelo pecado de Adão. Todos aqueles que tenham herdado a
natureza humana de Adão estavam nele como a fruta no broto, e têm, como fosse, se
desenvolvido e crescido uma pessoa com ele. Pela queda Adão foi completamente e
absolutamente arruinado. Perdeu-se o estado original de retidão ou santidade no qual
ele foi criado; e seu lugar foi tomado por um avassalador estado de pecado, o qual foi
trazido à tona tão efetivamente quanto o furar os olhos de uma pessoa a envolve em
escuridão perpétua. A maldição e a ira de Deus permaneceram sobre ele e ele foi
possuído por um sentimento de culpa, de vergonha, de poluição, de degradação, um
terror como castigo; e um desejo de fugir da presença de Deus.
Na verdade, há um paralelo entre a maneira na qual a culpa de Adão nos é imputada e
a maneira na qual a retidão de Cristo nos é imputada, de forma que uma ilustra a
outra. Nós fomos amaldiçoados através de Adão e fomos redimidos através de Cristo,
embora é claro, não éramos mais pessoalmente culpados pelo pecado de Adão do que
somos pessoalmente merecedores por causa da retidão de Cristo. É intimamente
absurdo agarrarmo-nos à salvação através de Cristo, a menos que também nos
agarremos à danação através de Adão, pois o Cristianismo está baseado neste
princípio representativo. A menos que a raça humana tenha sido amaldiçoada através
de Adão, não teria havido ocasião para Cristo havê-la redimido. A história da queda,
gravada de forma tão profunda e ao mesmo tempo tão infantil no terceiro capítulo do
livro do Gênesis, tem, portanto, uma significação universal. E somente o Calvinismo
faz justiça à idéia de que a unidade orgânica da raça humana, e ao profundo paralelo
traçado por Paulo entre o primeiro e o segundo Adão.

5. AS FORÇAS DO MAL ESTÃO SOB O PERFEITO CONTROLE DE DEUS.


Nós cremos que Deus realmente governa sobre os assuntos dos homens, que os Seus
decretos são absolutos, e que os mesmos incluem todos eventos. Consequentemente,
cremos que todas as nações e todos indivíduos são predestinados para todas e cada
espécie de bem e de mal que lhes acontece. Quando obtemos a visão mais ampla,
vemos que mesmo os atos pecaminosos dos homens têm o seu lugar no plano divino,
e que é somente por causa da nossa natureza imperfeita e finita, a qual não
compreende todas as relações e conexões, que estes atos parecem ser contrários
àquele plano. Para ilustrar isto; quando vemos a fita perfurada de música sendo
passada através da leitora numa pianola, nós prontamente entendemos como ela
funciona; mas se encontrássemos o mesmo papel separadamente da pianola e nunca a
tivéssemos visto sendo usada, nós poderíamos também prontamente concluir que
tratava-se simplesmente de papel de embrulho, e um tipo de papel de embrulho
bastante pobre, já que estava cheio de furos. Todavia, quando colocado em seu lugar
apropriado, este papel produz a música mais bela. A menos que realmente creiamos
que Deus ordenou o curso inteiro de eventos, e que são bons os cursos que ele
preparou para as nossa vidas individuais, é certo nos desencorajarmos em tempos de
adversidade. Como Jacó, de idade, que à face dos aparentes infortúnios
imediatamente antes de encontrar-se com o seu filho favorito, José, concluiu, "Todas
estas coisas estão contra mim," nós podemos tornarmo-nos desencorajados quando
talvez naquele exato momento o Senhor esteja preparando grandes coisas para nós.
A doutrina das Escrituras, como já anteriormente apresentada, é que Deus restringe o
pecado dentro de certos limites, que Ele traz o bem como resultados do mal
intencionado, e sobrepuja o mal com a Sua própria glória. Desde que Deus é infinito
em poder e sabedoria, o pecado não poderia existir senão com a Sua permissão. Deus
era livre para criar, ou não criar; para criar esta forma particular de mundo, ou uma
outra inteiramente diferente. Todas as forças do mal estão sob o Seu absoluto controle
e poderiam ser eliminadas da existência num instante, se Ele assim o desejasse. O
assassino é mantido vivo e está em débito para com Deus, pela força para matar a sua
vítima, bem como pela oportunidade. Quando Jesus disse a Satanás, "Cala-te e sai"
(veja em Lucas 4:33), Satanás imediatamente se foi; e quando Jesus ordenou aos
espíritos maus que se calassem e saíssem das pessoas por eles possuídas, eles
obedeceram imediatamente. O salmista expressou a sua confiança no poder de Deus
para derrotar os pecadores quando ao contemplar as suas obras ele escreveu, "Ri-se
aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles."[2:4]. Jó disse, "...seu é o que erra
e o que faz errar."[12:16]; com o que ele quis dizer que ambos, tanto os homens bons
quanto os maus estão sob o controle providencial de Deus.
A menos que o pecado aconteça de acordo com o propósito divino e com a permissão
de Deus, ele ocorre ao acaso. O mal então torna-se um princípio independente e
incontrolável; e a idéia pagã do dualismo é introduzida na teoria do universo. A
doutrina de que há os poderes do pecado, rebelião, e trevas na própria natureza da
liberdade, os quais podem provar serem uma derrota para a onipotência divina, põe
em perigo até mesmo a segurança e a felicidade eternas dos santos na glória.
Lutero expressou sua crença com relação a esta questão nas seguintes palavras: "O
que eu digo e pelo que eu luto é isto: -- que Deus, onde Ele opera sem a graça do Seu
Espírito, opera tudo em tudo, mesmo nos que não têm Deus; e que Ele sozinho se
move, age e concretiza pela moção da Sua onipotência, todas aquelas coisas 'que Ele
sozinho criou, cuja movimentação daquelas coisas não pode ser mudada ou evitada,
senão seguem e obedecem, cada uma de acordo com a medida de poder dada por
Deus: -- assim todas as coisas, mesmo as que não têm Deus cooperam com Deus." 8
E Zanchius escreveu, "Nós deveríamos, portanto, termos cuidado para não desistir da
onipotência de Deus sob uma pretensa exaltação da Sua santidade; pois Ele é infinito
em ambas, de forma que nenhuma delas deveria ser posta de lado ou obscurecida.
Dizer que Deus absolutamente anula o ser e a comissão do pecado, enquanto que a
experiência nos convence de que o pecado acontece a cada dia, é representar a
Deidade como um ser impotente, fraco, que gostaria que as coisas acontecessem de
maneira diversa da que ocorrem, mas é incapaz de atingir o Seu intento." 9
Um dos melhores e mais recentes comentários é o de E. W. Smith no seu admirável
livreto, 'O Credo dos Presbiterianos' : "Crêssemos nós, que algo tão forte e temível
como o pecado, tivesse invadido a ordem santa e original do universo, desafiando o
propósito de Deus; e que esteja agora em guerrilha desafiando o Seu poder,
poderíamos muito bem rendermo-nos ao terror e ao desespero. É conforto e alento
indescritíveis a segurança das Escrituras, quanto aos nossos Padrões (V:4), de que
debaixo de toda essa movimentação e agitação selvagens dos propósitos e dos
agentes do mal, encontra-se um propósito Divino, poderoso controlador de tudo e de
todos. Sobre o pecado e sobre tudo o mais, Deus reina supremo. A sua soberana
Providência 'estende-se até a primeira queda e a todos os outros pecados de anjos e de
homens'; que eles tanto são verdadeiramente partes e resultados da Sua Providência,
quanto o são os movimentos dos astros ou as atividades dos espíritos e anjos não
caídos, no próprio céu. Havendo escolhido, pelas mais sábias e santas razões, embora
não reveladas a nós, admitir o pecado, Ele juntou a esta simples permissão um fator
'limitador mais poderoso e sábio' de todo o pecado, de forma que nunca é possível
ultrapassar as linhas que Ele prescreveu para a sua prisão, e tal ato de 'ordem e de
governo' assegurará alcançar 'Seus próprios santos objetivos', e manifestar na
consumação final não somente o Seu 'absoluto Poder', mas também a Sua
'inescrutável Sabedoria' e a Sua 'infinita Bondade'." (p. 177)
E Floyd E. Hamilton escreveu: "Deus criou o ser humano com a possibilidade de
pecar; e Ele tem o poder para interferir a qualquer momento, para prevenir as más
ações. Embora não seja Seu propósito atuar na permissão do ato, a própria permissão
do ato quanto Ele tem o poder para interferir, coloca a responsabilidade em última
instância pelo ato diretamente sobre Deus. Ademais, se Ele não tem o propósito de
atuar, então Ele é certamente repreensível por não prevenir o ato! Tenta-se evitar esta
conclusão ao dizer-se que Deus não interfere porque fazê-lo seria tirar a liberdade do
homem. Neste caso, a liberdade do homem é considerada como mais valiosa que a
sua salvação eterna! Mas, mesmo isto, não tira de Deus a responsabilidade final pela
permissão da má ação; Deus tem o poder para preveni-la, não tem o propósito de
atuar na permissão dela, mas não obstante, de forma a proteger a liberdade do
homem, permite que ele traga sobre si o castigo eterno! Seguramente, aquele seria um
tipo bem pobre de deus!" 10
Assim é que o Próprio Deus é, em última instância responsável pelo pecado, no que
Ele tem poder para evitá-lo mas não o faz, embora a responsabilidade imediata recaia
somente sobre o homem. Deus, é claro, não é nunca a causa eficiente na produção do
pecado. Agostinho, Lutero e Calvino várias vezes enfatizaram esta verdade, do
controle soberano e total de Deus, ao provar que o mundo hoje seque o curso que
desde a eternidade Deus planejou que devesse ser seguido.
6. AÇÕES PECAMINOSAS SOMENTE OCORREM PELA PERMISSÃO DIVINA
As boas ações dos homens são feitas certas pelo decreto positivo de Deus; e as ações
pecaminosas ocorrem somente com a Sua permissão. É, todavia, mais que uma
simples permissão pela qual os atos de pecado acontecem, pois isto deixaria incerto
se eles seriam ou não praticados. Com relação ao tema, David S. Clark diz: "A
explicação mais razoável é que a natureza pecadora irá até o limite, até a fronteira
estabelecida pela permissão de Deus, pelo que esta fronteira importa por Deus ao
pecado torna certo o que e quanto acontecerá. Satã não faria com Jó mais do que
Deus permitiu; mas é certo que ele iria tão longe quanto Deus permitisse." 11 E
também de acordo está o testemunho de W. D. Smith: "Quando é sabido, com certeza,
que será feito a menos que seja evitado, e existe uma determinação para não ser
evitado, é tido como certo tanto quanto tivesse sido assim decretado, de forma
positiva. Num caso, o evento é tornado certo por meios ativos (ativamente,
positivamente); e, no outro caso, é igualmente feito certo por meios reprimidos
(passivamente, permissivamente). Trata-se, em ambos casos, de um decreto imutável.
Os pecados de Judas, e a crucificação do Salvador, foram imutavelmente decretados,
permissivamente, assim como a vinda do Salvador ao mundo foi decretada
positivamente. A partir daí pode-se perceber a consistência da Confissão de Fé com o
senso comum, quando ela diz, que 'Deus desde toda a eternidade pré ordenou, livre e
imutavelmente, através do mais sábio e santo conselho da Sua própria vontade, o que
quer que seja que venha a acontecer,' etc. Percebe-se, também, estar claramente
conciliável com o sentimento, 'Ele não é o autor do pecado,' etc. 12
Agostinho expressou um pensamento similar ao dizer: "Portanto os poderosos feitos
de Deus, excelentemente perfeitos, de acordo com cada disposição da Sua vontade,
são tais que, numa maneira maravilhosa e inefável, que inexiste sem a vontade de
Deus, a qual é até mesmo feita contrária à Sua vontade, porque não poderia de
qualquer forma ser feita, a menos que Ele assim o permitisse; e todavia, Ele não o
permite relutantemente, mas prontamente. Tampouco, como o Deus da bondade,
permitiria Ele algo ser feito maldosamente, a menos que, como o Deus da
onipotência, Ele pudesse operar o bem mesmo a partir do mal praticado." 13
Mesmo as obras de Satã são tão controladas e limitadas que elas servem aos
propósitos de Deus. Enquanto Satã ansiosamente deseja a destruição dos perversos e
diligentemente age para torná-la realidade; todavia a destruição procede de Deus. Em
primeiro lugar, é Deus quem decreta que os ímpios devam sofrer, e a Satã é
meramente permitido aplicar o castigo sobre eles. Os motivos, as razões que
sustentam os propósitos de Deus e aqueles que sustentam os de Satã são, é claro,
infinitamente diferentes. Deus desejou a destruição de Jerusalém; Satã também
desejou o mesmo, porém por diferentes motivos. Como Agostinho nos diz, Deus
deseja com uma boa vontade o que Satã deseja com uma vontade maléfica, -- como
foi o caso na crucificação de Cristo, o qual foi derrotado para a redenção do mundo.
Algumas vezes Deus usa as vontades perversos e as paixões dos homens, ao invés da
boa vontade dos Seus próprios servos, para concretizar os Seus propósitos. Esta
verdade foi muito claramente expressada pelas palavras do Dr. Warfield: "Todas as
coisas encontram a sua unidade no Seu plano eterno; e não a sua unidade meramente,
mas a sua justificação também; mesmo o mal, embora retendo sua característica
como mal e odiável para o santo Deus, e certamente para ser lidado como odiável,
todavia não acontece sem que seja através da Sua provisão ou contra a Sua vontade,
mas aparece no mundo que Ele criou somente como o instrumento através do qual
Ele opera o bem mais alto." 14

7. PROVAS NAS ESCRITURAS.


Que esta é a doutrina das Escrituras, é abundantemente pleno. A venda de José ao
Egito, pelos seus irmãos, foi um ato muito perverso; todavia podemos ver que tal foi
sobrepujado não somente para o bem de José, mas também para o bem dos seus
próprios irmãos. Quando o fato é rastreado de volta ao seu início, vemos que Deus foi
o autor. O acontecimento tinha o seu exato lugar no plano divino. José mais tarde
disse aos seus irmãos, "Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos aborreçais por me
haverdes vendido para cá; porque para preservar vida é que Deus me enviou adiante
de vós."[Gênesis 45:5] . . . "Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão
Deus..."[Gênesis 45:8] . . . "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus,
porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita
gente com vida"[Gênesis 50:20]. Assim foi escrito, que Deus endureceu o coração de
Faraó (veja em Êxodo 4:21 = "Disse ainda o Senhor a Moisés: Quando voltares ao
Egito, vê que faças diante de Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua mão;
mas eu endurecerei o seu coração, e ele não deixará ir o povo." Veja também Êxodo
9:12 = "Mas o Senhor endureceu o coração de Faraó, e este não os ouviu, como o
Senhor tinha dito a Moisés."); e as próprias palavras que Deus endereçou a Faraó
foram, "mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra."[Êxodo 9:16]. E a
Moisés, Deus disse, "Eis que eu endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão
(no Mar Vermelho) atrás deles; e glorificar-me-ei em Faraó e em todo o seu exército,
nos seus carros e nos seus cavaleiros."[Êxodo 14:17].
Simei amaldiçoou Davi, porque Jeová tinha dito, "Amaldiçoa a Davi"; e quando Davi
soube disso, ele disse, "Deixai-o; deixai que amaldiçoe, porque o Senhor lho
ordenou."[conforme em II Samuel 16:10, 11]. E depois que Davi tinha sofrido a
violência injusta dos seus inimigos ele reconheceu que "Deus fez tudo isto." Dos
Canaanitas foi dito "Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações
para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não
achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado
a Moisés."[Josué 11:20]. Quanto a Hofni e Finéias, os dois filhos maus de Eli,
"Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."[I
Samuel 2:25].
Mesmo Satã e os espíritos maus são feitos para levar a efeito o propósito divino.
Como um instrumento da divina vingança na punição dos perversos, a um espírito
mau foi abertamente dado o comando para ir e enganar os profetas do rei Acabe:
"(20) Perguntou o Senhor: Quem enganará a Acabe, para que suba e caia em Ramote-
Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de outra. (21) Então, saiu um espírito, e se
apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com
que? (22 ) Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus
profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim.
(23) Eis que o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e
o Senhor falou o que é mau contra ti."[I Reis 22:20-23]. Com relação a Saul, está
escrito, "...e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor."[I Samuel
16:14]. "Deus suscitou um espírito mau entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém; e
estes procederam aleivosamente para com Abimeleque;"[Juízes 9:23]. Assim, é de
Jeová que procedem os espíritos maus para atormentar os pecadores. E é a partir dele
que os maus impulsos que surgem nos corações dos pecadores tomam esta ou aquela
forma específica (veja em II Samuel 24:1 = "A ira do Senhor tornou a acender-se
contra Israel, e o Senhor incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a
Judá.").
Numa passagem nos é dito que Deus, de forma a punir um povo rebelde, moveu o
coração de Davi para numerá-los (vide referência Bíblica no parágrafo anterior = II
Samuel 24:1); mas noutra passagem que refere-se ao mesmo ato, lemos que foi Satã
quem instigou o orgulho de Davi e fez com que ele os numerasse (veja em I Crônicas
21:1 = "Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel.").
Nisto vemos que Satã foi feito a vara da ira de Deus, e que Deus impele até os
corações dos homens pecadores e os demônios, quem quer que seja que Ele assim
queira. Enquanto todos os intercursos incestuosos e de adultério são abomináveis
para Deus, Ele algumas vezes usa pecados tais como estes para punir outros pecados,
como foi o caso quando Ele usou tais atos em Absalão, para punir o adultério de
Davi. Antes que Absalão tivesse cometido o seu pecado já havia sido anunciado a
Davi que esta era a forma que o seu castigo tomaria: "Assim diz o Senhor: Eis que
suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus
olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres à luz deste
sol."[II Samuel 12:11]. Destarte, estes atos não foram de forma alguma contrários à
vontade de Deus.
Em I Crônicas 10:4, lemos que "...então tomou Saul a sua espada, e se lançou sobre
ela." Este foi um ato de pecado seu, deliberado. Ainda assim, tal ato executou a
justiça Divina e concretizou um propósito divino que havia sido revelado anos antes,
com relação a Davi; pois um pouco mais adiante lemos, "(13) Assim morreu Saul por
causa da sua infidelidade para com o Senhor, porque não havia guardado a palavra do
Senhor... (14) e não buscou ao Senhor; pelo que ele o matou, e transferiu o reino a
Davi, filho de Jessé."[Crônicas 10:13, 14]. Há uma linha de pensamento na qual é
dito que Deus faz o que Ele permite ou impele as Suas criaturas a fazerem.
O mal sentenciado contra Jerusalém devido à sua apostasia é descrito como enviado
diretamente de Deus (II Reis 22:20 = "Pelo que eu te recolherei a teus pais, e tu serás
recolhido em paz à tua sepultura, e os teus olhos não verão todo o mal que hei de
trazer sobre este lugar..."). O salmista reconheceu que mesmo o ódio pelos inimigos,
era despertado por Jeová, para punir um povo rebelde (Salmos 105:25 = "Mudou o
coração destes para que odiassem o seu povo, e tratassem astutamente aos seus
servos."). Isaías viu que mesmo a apostasia e a desobediência de Israel estavam no
plano divino (Isaías 63:17 = "Por que, ó Senhor, nos fazes errar dos teus caminhos?
Por que endureces o nosso coração, para te não temermos?..."). Em I Crônicas 5:22,
lemos: "pois muitos caíram mortos, porque de Deus era a peleja;...". As palavras tolas
de Roboão, que causaram a dissensão do reino foi "...porque esta mudança vinha do
Senhor, para confirmar a palavra que o Senhor dissera..."[I Reis 12:15]. Todas estas
coisas estão, enfim, encontram-se resumidas na passagem escrita por Isaías: "Eu
formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço
todas estas coisas."[Isaías 45:7]; e também por Amós: "Tocar-se-á a trombeta na
cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá qualquer mal à cidade, sem que o Senhor
o tenha feito?"[Amós 3:6].

Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos que a mesma doutrina é ali


apresentada. Já mostramos que a crucificação de Cristo era parte do plano divino.
Embora torturado pelas mãos de homens sem lei, que não compreendiam a
importância do evento do qual participavam, o qual levavam a efeito, "Mas Deus
assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado
que o seu Cristo havia de padecer."[Atos 3:18]. A crucificação foi o cálice que o Pai
havia dado para que Ele bebesse (João 18:11 = "...não hei de beber o cálice que o Pai
me deu?"). Assim foi escrito: "...Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se
dispersarão."[Mateus 26:31]. Quando Moisés e Elias apareceram para Jesus no Monte
da Transfiguração, eles falavam "...da sua partida que estava para cumprir-se em
Jerusalém."[Lucas 9:31]. Referindo-Se à Sua própria morte, Jesus disse, "Porque, na
verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele
homem por quem é traído."[Lucas 22;22]; e novamente "...Nunca lestes nas
Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular;
pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos?"[Mateus 21:42; e nunca
Ele ensinou tão plenamente que a cruz era parte do plano divino do que quando
estavam no jardim do Getsêmane, Ele disse: "...não seja como eu quero, mas como tu
queres."[Mateus 26:39]. Jesus rendeu-se, deliberadamente, para ser crucificado,
quando poderia ter chamado para a sua defesa "mais que doze legiões de anjos",
tivesse Ele assim escolhido (veja em Mateus 26:53 = "Ou pensas tu que eu não
poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze
legiões de anjos?"). Pilatos, embora tivesse todo o poder crucificar ou para libertar a
Jesus como lhe aprouvesse; mas Jesus lhe disse que ele não teria poder algum sobre
Si, exceto o que lhe fora dado de cima [veja em João 19:10, 11 = "(10) Disse-lhe,
então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e
autoridade para te crucificar? (11) Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias
sobre mim, se de cima não te fora dado..."]
Estava no plano de Deus, que Cristo viesse ao mundo, que Ele sofresse, que ele
morresse uma morte violenta, para assim fazer expiação pelo Seu povo. Assim foi
que Deus simplesmente permitiu que homens pecadores, pecaminosamente,
impusessem aquele sofrimento nEle; e então sobrepujou e derrotou os seus atos com
a própria glória dEle, na redenção do mundo. Aqueles que crucificaram a Cristo,
agiram em perfeita harmonia com a liberdade das suas próprias naturezas pecadoras,
e sozinhos foram responsáveis pelos seus pecados. Nesta ocasião, como em muitas
outras, Deus fez com que a ira do homem O louvasse. Seria difícil encontrar palavras,
que pudessem mais explicitamente demonstrar a idéia de que o plano de Deus se
estende a tudo quanto existe, do que as que foram utilizadas pelos escritores da
Bíblia. Portanto, a crucificação no Calvário não foi uma derrota, mas sim uma vitória;
e o brado "Está consumado!", anunciou a concretização com sucesso, da obra da
redenção, a qual havia sido comissionada ao Filho. Aquilo que "está escrito acerca de
Jesus no Antigo Testamento, tem a sua concretização certa nEle; e que o bastante foi
escrito acerca dEle, de modo a assegurar aos Seus seguidores que no curso da Sua
vida, e no - para eles - estranho e inesperado final da mesma, Ele não era a presa do
acaso, nem era Ele a vítima de homens hostis, para a descaracterização da Sua obra,
ou talvez mesmo para a derrota completa da Sua missão; mas Ele estava seguindo,
passo a passo, diretamente para o objetivo, o caminho dantes predestinado e
estabelecido para Ele nos conselhos da eternidade, e suficientemente revelado desde a
antigüidade, de modo a capacitar todos os que não fossem 'tolos e de coração duro,
para crerem em tudo o que os profetas haviam falado,' para perceberem que Cristo
precisava ter vivido justamente esta vida; e concretizado justamente este destino." 15
Outros acontecimentos registrados no Novo Testamento também ensinam-nos a
mesma lição. Quando Deus dispersou os Judeus, não foi uma destruição sem
propósito, nem meramente "de modo que caíssem"; mas "antes pelo seu tropeço veio
a salvação aos gentios, para os incitar à emulação.", de forma que eles também
pudessem abraçar o Cristianismo (Romanos 11:11). Quanto à cegueira de um homem,
foi questionado se era por causa do pecado dos seus pais, mas de forma que Jesus
tivesse uma chance de demonstrar o Seus poder e glória restaurando a visão, ou,
como o escritor coloca, "...para que nele se manifestem as obras de Deus."[João 9:3].
O testemunho do Antigo Testamento, de que o propósito que Deus tinha ao levantar
Faraó era mostrar o Seu poder e proclamar o Seu nome em toda a terra, é repetido em
[Romanos 9:17]. Tal ensinamento geral atinge seu clímax com a declaração de Paulo
de que "...sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."[Romanos 8:28].
Ninguém pode racionalmente negar que Deus pré ordenou o pecado se, conforme as
Escrituras assim apresentam, Ele pré ordenou a crucificação de Cristo, e os demais
eventos aos quais nos referimos. Que os atos de pecado têm o seu lugar no plano
divino, é repetidamente ensinado. E se quaisquer pessoas estiverem inclinadas a se
ofenderem com isto, que considerem elas então quantas vezes as Escrituras declaram
serem os julgamentos de Deus uma "grande profundeza". Assim é que aqueles que
hostilmente acusam que a nossa doutrina faz Deus o autor do pecado, trazem tal
acusação não somente sobre nós, mas sobre o Próprio Deus; pois a nossa doutrina é a
doutrina claramente revelada nas Sagradas Escrituras.

8. COMENTÁRIOS POR SMITH E HODGE.


A relação de Deus com o pecado é admiravelmente ilustrada no seguinte parágrafo,
registrado no livro "O Que É Calvinismo?", escrito por W. D. Smith, o qual
tomaremos a liberdade de parafrasear: "Suponha você que um vizinho, dono de uma
destilaria ou uma loja de bebidas, a qual é uma perturbação para todos ao redor --
pessoas se ajuntando, bebendo, brigando até mesmo no Dia do Senhor,
consequentemente com miséria e desentendimento nas famílias, etc. Suponha, ainda,
que eu possua a capacidade de conhecer os acontecimentos futuros; e possa ver, com
absoluta certeza, uma cadeia de eventos que serão decorrentes de um plano de
operações que eu tenha em mente, plano este que será para o bem daquela
vizinhança. Eu vejo que, por pregar a Palavra de Deus ali, eu serei o instrumento da
conversão, e da conseqüente reforma, do dono da destilaria; e portanto eu tomo a
decisão de ir em frente. E, em assim fazendo, eu positivamente decreto a reforma
daquele homem; isto é, eu determino fazer aquilo que resultará na sua transformação
certa e cumpro o meu decreto de maneira positiva. Mas, ao olhar um pouquinho mais
na cadeia de eventos futuros, eu descubro, com a mesma absoluta certeza, que os seus
clientes alcoólatras se encherão de ira, e muitos pecados serão cometidos, ao
despejarem a sua malícia sobre ele e eu. Eles não somente proferirão impropérios e
blasfêmias contra Deus e contra a religião, mas eles até queimarão a sua casa, e
tentarão queimar a minha também. Agora, é possível perceber que este mal, que
penetra no meu plano, não pode ser imputado a mim, embora eu seja o autor do plano
que, no seu desenrolar, eu sei que o produzirá. Assim, fica claro que, qualquer ser
inteligente pode estabelecer e por em prática um plano de ação, plano no qual que ele
saiba, com absoluta certeza, que o mal penetrará, e todavia ele não é o autor do
pecado, ou de qualquer forma responsável por isso . . . . Ao observar um pouco mais
adiante na cadeia de eventos, eu vejo que, se lhes for permitido, aqueles homens
perversos tirarão a vida do dono da destilaria; e vejo, ademais, que se a sua vida for
poupada, ele então será tão notório para o bem, como ele era para o mal, e provará ser
fonte de ricas bênçãos para a vizinhança e para a sociedade . . . . Portanto, frente ao
plano inteiro, eu determino agir; e em fazendo-o, eu - de maneira positiva - decreto a
transformação daquele homem e o bem conseqüente; ao mesmo tempo em que eu -
permisivamente - decreto os atos perversos dos outros; porém, é bem claro que eu
não sou, de forma alguma, responsável pelos pecados deles. Agora, numa ou noutra
dessas formas, Deus 'pré ordenou o que quer que seja que venha a acontecer'. " (P. 33-
35).
E neste sentido, Charles Hodge diz: "Um juiz reto, ao pronunciar a sentença para um
criminoso, pode estar seguro de que causará sentimentos amargos e odiosos na mente
daquele criminoso, ou nos corações dos seus amigos, todavia o juiz não tem culpa
nenhuma. Um pai, ao excluir da família um filho depravado, pode ver que as
conseqüência inevitável de tal exclusão será o aumento da perversidade dele, e ainda
assim tal pai estará correto. É a conseqüência certa de Deus deixar os anjos caídos e
os finalmente impenitentes por sua própria conta, que eles continuarão em pecado; e
todavia a santidade de Deus permanece imaculada. A Bíblia ensina claramente que
Deus judicialmente abandona homens aos seus pecados, deixando-os com suas
mentes depravadas, e ali Ele é o mais Santo e Justo. Não é verdade, portanto, que um
agente seja responsável por todas as conseqüências certas dos seus atos. Pode ser, e
indubitavelmente o é, infinitamente sábio e justo a Deus permitir a ocorrência de
pecado, e adotar um plano do qual o pecado seja uma conseqüência ou elemento
certo; todavia, nem Ele causa o pecado nem Ele tenta os homens para que o
cometam; Ele não aprova nem Ele é o autor do pecado." 16

9. A GRAÇA DE DEUS É MAIS PROFUNDAMENTE APRECIADA APÓS A


PESSOA TER SIDO VÍTIMA DO PECADO.
Muitas vezes nos é permitido cair em pecado, que, após termos sido livrados dele,
apreciaremos muito mais a nossa salvação. Na parábola dos dois devedores, um devia
quinhentos dinheiros e o outro, cinqüenta. Quando eles não dispunham de nada com
que pagar, o credor perdoou a ambos. Qual deles, portanto, o amaria mais?
Naturalmente aquele a quem ele perdoou mais. Quando Jesus contou esta parábola,
eles estavam à mesa, e a aplicação foi dada a Simão o Fariseu e à mulher penitente
que havia aplicado perfume nos Seus pés. A ela muito lhe foi perdoado e ficou
profundamente grata, mas ele não recebeu tal favor e não sentiu gratidão. "...aquele a
quem pouco se perdoa, pouco ama."[leia a parábola em Lucas 7:41:50].
Algumas vezes a pessoa, tal como o filho pródigo, não aprecia a casa do Pai, nem
respeita a Sua autoridade, até que tenha experimentado os efeitos devastadores do
pecado e a dor lancinante da fome, da culpa e da desgraça. Parece que o homem, com
a sua liberdade, deve, até certo ponto, aprender por experiência antes que seja
totalmente capaz de apreciar, de sentir-se bem com relação aos caminhos de retidão e
render inquestionável obediência e honra a Deus. Já mencionamos a declaração de
Paulo, no sentido de que "...Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, a fim
de usar de misericórdia para com todos."[Romanos 11:32], e que "...já em nós
mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em
Deus, que ressuscita os mortos."[II Coríntios 1:9]. A criatura não pode apreciar
adequadamente a misericórdia de Deus até que tenha sido resgatada de um estado de
miséria. Depois de o mendigo coxo de nascença haver sido curado por Pedro e João à
porta do templo, ele apreciou a sua saúde como nunca antes; e "...Começou a andar e
entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus."[Atos 3:8]. E
depois de sermos resgatados do poder e da culpa do pecado, apreciamos a Graça de
Deus como nunca antes poderíamos havê-lo feito. Lemos que mesmo o Nosso Senhor
Jesus Cristo, na Sua natureza humana, foi "aperfeiçoado através de sofrimentos" (veja
em Hebreus 2:10 = "Hebreus, 2:10 "Porque convinha que aquele, para quem são
todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória,
aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles."); embora Ele estivesse, é
claro, completa e totalmente separado de todo e qualquer pecado.

10. O CALVINISMO OFERECE SOLUÇÃO MAIS SATISFATÓRIA PARA O


PROBLEMA DO MAL, DO QUE QUALQUER OUTRO SISTEMA TEOLÓGICO.
A dificuldade real com que aqui nos deparamos, é explicar por que um Deus de
infinita santidade, poder e sabedoria, teria trazido à existência uma criação em que o
mal moral pudesse prevalecer tão extensivamente; e especialmente para explicar por
que teria sido permitido a este mal promover a infindável miséria de tantas de Suas
criaturas. Esta dificuldade, contudo, existe não somente contra o Calvinismo, mas
contra o Teísmo em geral; e enquanto outros sistemas teológicos provam ter
explicações para o pecado inteiramente inadequadas, o Calvinismo é capaz de
fornecer uma explicação bem adequada, no que reconhece que Deus é em última
instância responsável, desde que Ele poderia haver evitado o pecado; e o Calvinismo
adicionalmente declara que Deus tem um propósito definido, na permissão de cada
pecado individual, havendo ordenado o mesmo "para a Sua própria glória". Como diz
Hamilton, "Se devemos aceitar o teísmo, o único tipo respeitável de teísmo é o
Calvinismo." "O Calvinismo ensina que Deus não somente sabia o que Ele estava
fazendo quando Ele criou o homem, mas Ele tinha um propósito, mesmo ao permitir
o pecado." E que explicação melhor que esta pode ser proposta por quem quer que
seja que creia que Deus é o Criador e o Governador deste universo?
Com relação à primeira queda do homem, declaramos que a causa mais aproximada
foi a instigação do Diabo e o impulso do próprio coração do homem; e quando
estabelecemos isto, removemos toda a culpa de Deus. Paulo nos diz que Deus "habita
na luz da qual nenhum homem pode aproximar-se". Nossa visão moral não pode
compreender mais os Seus profundos mistérios do que os nossos olhos físicos sem
ajuda de qualquer proteção podem agüentar a luz do sol. Quando o apóstolo
contemplou estas coisas ele clamou, ""Ó profundidade das riquezas, tanto da
sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos!" [Romanos, 11:33]. E desde que os nossos intelectos
humanos não podem elevar-se a alturas tão estupendas, é de nós adorar com
reverência, temor e tremor, mas não explicar aquele mistério que é alto demais e
profundo demais mesmo para os próprios anjos penetrarem. Lembremo-nos também,
de que juntamente com este pecado, Deus providenciou a redenção, graciosamente
operada por Ele mesmo, e não há dúvida de que é devido às nossas limitações que
não enxergamos ser esta a total e suficiente explicação. O decreto da redenção é tão
antigo quanto o decreto da apostasia; e Ele, que ordenou o pecado, também ordenou
uma maneira de escaparmos dele.
Uma vez que as Escrituras nos dizem que Deus é perfeitamente reto e justo; e desde
que em todos os Seus atos pelos quais nós somos capazes de passar pelo julgamento,
nós vemos que Ele é perfeitamente reto e justo, confiamos nEle naqueles aspectos
que ainda não nos foram revelados, crendo que Ele tem as soluções para os
problemas os quais nós não somos capazes de resolver. Podemos ficar seguros de que
o Juiz de toda a terra fará o que é correto, e como o Seu plano é mais completamente
revelado a nós, aprendemos a agradecê-Lo por aquilo que é passado e confiar nEle
por aquilo que é futuro.
Não avaliza em nada, é claro, dizer que Deus previu o mal mas não o incluiu no Seu
plano, -- pois se Ele previu o mal e apesar de tê-lo feito ainda assim trouxe o mundo à
existência, as más ações foram certamente uma parte do plano, embora uma parte
indesejável. Negar esta previsão faz Deus ser cego; e dEle seria então imaginado que
trabalha em alguma coisa mais ou menos como aquele aluno que mistura produtos
químicos no laboratório, desconhecendo o que pode acontecer. Na verdade, não
poderíamos nem mesmo respeitar um Deus que trabalhasse daquela forma. E
ademais, aquele ponto de vista ainda deixa a responsabilidade pelo pecado, em última
instância, sobre Deus, pois pelo menos ele poderia ter-Se restringido de criá-lo.
Que os atos pecaminosos dos homens têm o seu lugar e um lugar necessário no plano
divino é plenamente visto no curso da história. Por exemplo, o assassinato do
Presidente McKinley foi um ato de pecado, -- todavia daquele ato dependeu o papel
que o Sr Theodore Roosevelt desempenharia como Presidente dos EUA; e se um só
elo na cadeia de eventos tivesse sido diferente, todo o curso da história desde aquele
momento até o fim do mundo teria sido radicalmente diferente. O mesmo é
verdadeiro no caso do Presidente Lincoln. Se fosse intenção de Deus que o mundo
atingisse este estado no qual nos encontramos hoje em dia, aqueles eventos eram
indispensáveis. Uma rápida consideração nos convencerá de que todos, até mesmo os
aparentemente mais insignificantes eventos têm o seu exato lugar, que eles
rapidamente começam a desenvolver influências, as quais cedo se estendem até os
confins da terra; e que se somente um deles fosse omitido, digamos há cinqüenta anos
atrás, o mundo hoje seria muito diferente.
Uma outra prova importante que Paulo ensinou a doutrina que os Calvinistas
entendem haver sido ensinada por ele, pode ser encontrada nas objeções que ele
colocou nas bocas daquele que eram os seus oponentes, -- que ela representava Deus
como injusto: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo
nenhum."[Romanos 9:14]; e ela destruía a responsabilidade do homem: "Dir-me-ás
então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?"[Romanos
9:19]. Estas são as mesmas objeções que hoje em dia, numa primeira instância,
brotam nas mentes dos homens, em oposição à doutrina Calvinista da Predestinação;
mas elas não têm nem mesmo a menor plausibilidade, quando direcionadas contra a
doutrina Arminiana. Uma doutrina que nem mesmo oferece as mínimas bases para
estas objeções não pode ser aquela que o Apóstolo ensinou.
Capítulo 18
Que Desencoraja Todos Motivos Para Colocação Na Prática

1. Os Meios, Tanto Quanto os Fins, São Pré Ordenados. 2. Resultados Práticos

1. OS MEIOS, TANTO QUANTO OS FINS, SÃO PRÉ ORDENADOS.


A objeção quanto à doutrina da Predestinação, de que ela desencoraja todos motivos
para que seja colocada em prática, está baseada na falácia de que os fins são pré
determinados, sem referência aos meios. Não se trata meramente de uns poucos
eventos aqui e ali que tenham sido pré ordenados, mas a cadeia inteira de eventos,
com todas as suas inter-relações e conexões. Todas as partes formam uma unidade, no
plano Divino. Se os meios falhassem, também falhariam os fins. Se a intenção de
Deus fosse a de que o homem devesse ceifar, também seria Sua intenção que ele
semeasse. Se Deus ordenou o homem para ser salvo, Ele também ordenou que ele
ouça o Evangelho; e que ele creia e que arrependa-se. Como bem pode o fazendeiro
recusar-se a arar o solo de acordo com as leis estabelecidas pela natureza e pela
experiência, até que ele tenha primeiro conhecido qual era o propósito secreto de
Deus, a ser executado na Sua providência com relação à frutificação da próxima
estação; assim também qualquer um pode recusar-se a trabalhar nas esferas moral e
espiritual por não saber que tipo de frutos Deus poderá fazer nascer a partir do seu
trabalho. Sabemos, no entanto, que abundância de frutos é comumente concedida
onde o trabalho preliminar tenha sido fielmente levado a efeito. Se nos engajamos no
serviço do Senhor e diligentemente utilizamos os meios que Ele prescreveu, teremos
o grande encorajamento de saber que é exatamente através destes meios que Ele
determinou a conclusão da Sua grande obra.
Mesmo aqueles que aceitam a Declaração Bíblica de que Deus "operou todas as
coisas conforme após o conselho da Sua vontade"; e declarações similares, ao efeito
de que a providência e o controle de Deus estendem-se a todos os eventos das suas
vidas, sabem que este fato não interfere ao mínimo, com a sua liberdade. Será que
aqueles que fazem tal objeção permitem a sua crença na soberania Divina determinar
a sua conduta em assuntos seculares? Rejeitam alimento quando estão famintos, ou
medicamentos quando doentes, porque Deus apontou o momento e a maneira da sua
morte? Negligenciam as maneiras pelas quais adquirir saúde e distinção porque Deus
dá honra e riqueza a quem Lhe apraz? Quando em assuntos fora da religião, alguém
até pode reconhecer a soberania de Deus, trabalhando todavia no exercício de
liberdade consciente; não é pecaminosidade e tolice oferecer como uma desculpa para
negligenciar seus assuntos espirituais e eternos a alegação de que ele não é livre nem
responsável? A sua consciência não testifica que a única razão porque ele não é um
seguidor de Jesus Cristo é que ele nunca sentiu vontade de segui-Lo? Suponha que
quando o homem paralítico foi trazido até Jesus e ouviu as palavras: "Levanta-te e
anda", ele tivesse simplesmente respondido: "Eu não posso; eu sou paralítico!".
Tivesse ele agido assim, ele morreria paralítico. Mas, reconhecendo a sua própria
condição de indefeso e confiando nAquele que deu a ordem, ele simplesmente
obedeceu e foi feito são. Este é O mesmo Salvador que chama os pecadores mortos
em pecado para virem até Ele; e podemos estar seguros de que aquele que vem não
verá que os seus esforços foram em vão. O fato é, que a menos que consideremos
Deus como o Dispensador Soberano de todos os eventos, Quem no meio da certeza
ordenou a liberdade humana, temos muito pouco encorajamento para trabalhar. Se
crermos que o nosso sucesso e o nosso destino era primariamente dependente do
prazer e da boa vontade de criaturas fracas e pecadoras, teríamos quase nenhum
incentivo para a aplicação da doutrina.
"De joelhos, o Arminiano se esquece dos quebra-cabeças que destorceram a sua
compreensão da Predestinação e, pronta e gratamente reconhece que a sua conversão
deveu-se à precedente graça de Deus, sem a qual nenhuma simples vontade ou obras
suas jamais teriam feito dele uma nova criatura. Ele ora pelo derramar do Espírito de
Deus para restringir, para convencer, para renovar e para santificar os homens; pelo
direcionamento divino dos eventos humanos, e o destruir dos conselhos e o frustrar
dos planos dos homens perversos; ele rende glórias e honras ao Senhor pelo que
realmente é feito neste sentido, o que implica em que Deus reina, que Ele é O
soberano dispensador de todos os eventos, e que todo o bem e que toda a aniquilação
do mal Lhe são devidos, enquanto que o mal é em si próprio devido à criatura. Ele
reconhece a totalidade da presciência divina como parte inseparável da sabedoria dos
Seus propósitos eternos. Suas preces pela certeza da esperança, ou o seu presente
desfrutar dela, pressupõem a fé de que Deus pode proteger e que Ele protegerá os
seus pés de tropeçarem, assim como o céu de rebelião; e que o Seu propósito forma
uma ligação tão infalível entre a graça presente e a glória eterna, que nada poderá
separá-lo do amor de Deus, o qual é em Cristo Jesus nosso Senhor." 1
Uma vez que os eventos futuros são ocultos e desconhecidos a nos, devemos então
ser tão laboriosos em nossas obras e tão sinceros no desenvolver das nossas
obrigações, como se nada houvesse ainda sido decretado quanto ao futuro. Muitas
vezes tem sido dito que deveríamos orar como se tudo dependesse de Deus; e
trabalhar como se tudo dependesse de nós mesmos. A observação feita por Lutero
nesse aspecto foi: "Somos comandados a trabalhar mais por esta mesma razão,
porque todas as coisas futuras nos são incertas; como dito em Eclesiastes, 'Pela
manhã semeia a tua semente, e à tarde não retenhas a tua mão; pois tu não sabes qual
das duas prosperará, se esta, se aquela, ou se ambas serão, igualmente
boas.'[Eclesiastes 11:6]. Todas as coisas futuras, eu digo que nos são incertas ao
conhecimento, mas necessárias à ocorrência. A necessidade golpeia em nós o temor a
Deus, que não presumimos ou tornamo-nos seguros, enquanto que a incerteza opera
em nós a confiança de que não afundaremos no desespero. 2
O fazendeiro que, depois de ouvir um sermão sobre os decretos de Deus, ao voltar
para casa foi pela estrada acidentada ao invés de seguir pelo caminho seguro e em
conseqüência sofreu um acidente, concluiu antes do final da jornada que ele de forma
alguma tinha sido predestinado para ser um tolo; e que tinha feito certas a sua
chamada e a sua eleição." 3
Numa ocasião, depois que o Dr. Charles Hodge houvera terminado uma palestra
teológica, aproximou-se dele uma senhora que lhe disse, "Então o senhor crê, Dr.
Hodge, que o que tiver de ser será?" "Sim senhora, madame, eu creio," ele replicou.
"Por que a senhora quer que eu acredite que o que tiver de ser não será?"
E somos ainda lembrados, neste ponto, de alguém na Escócia, acusado e condenado
por assassinato, que disse ao juiz: "Eu estava predestinado desde toda a eternidade
para fazer o que fiz." Ao que o juiz replicou: "Pois que seja, então eu estava desde a
eternidade predestinado a sentenciá-lo para ser enforcado pelo pescoço, o que faço
agora."
Alguns podem estar inclinados a dizer que, se nada além do poder criativo de Deus
pode habilitar-nos a arrepender e crer, então tudo o que podemos fazer é esperar
passivamente até que tal poder seja exercido. Ou pode ser perguntado, se não
podemos efetivar a nossa salvação, por que então trabalhar por ela? Em frente da lida
humana, no entanto, encontramos que o resultado depende da cooperação de causas
sobre as quais não temos nenhum controle. Temos simplesmente que utilizar os meios
apropriados e confiar na cooperação das outras causas. Nós temos a promessa
expressa de Deus, que aqueles que procuram encontrarão, que aqueles que pedem
receberão, e que aqueles que batem abrir-se-lhes-á. Isto é muito mais do que é dado
aos homens do mundo, para estimulá-los em sua busca de riqueza, conhecimento ou
posição; e mais do que isto não pode ser racionalmente demandado. Aquele que lê e
que medita na Palavra de Deus, é cabalmente regenerado pelo Espírito Santo, talvez
no próprio ato da leitura da Palavra. "Enquanto Pedro ainda dizia estas coisas, desceu
o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra."[Atos 10:44]. O dramaturgo
William Sheakespeare fez um dos seus personagens dizer: "A falha, caro Brutus, não
está nas nossas estrelas, mas em nós mesmos, que somos subordinados," (Julius
Caesar, 1:2).
A incapacidade o pecador de salvar-se a si mesmo, portanto, não deveria fazer dele
menos diligente na busca da sua salvação, da maneira que Deus indicou. Algum
leproso, quando Cristo estava na terra, pode ter ponderado que, uma vez que ele não
podia curar-se, ele devia simplesmente esperar que Cristo viesse e o curasse. O efeito
natural, no entanto, da convicção de ser íntima e completamente indefeso é o que
impele um indivíduo a buscar diligentemente a fonte, a origem, de onde - somente - a
ajuda pode vir. O homem é uma criatura caída, arruinada e indefesa; e até que ele se
conscientize disso, ele estará vivendo no mundo, sem esperança e sem Deus.

2. RESULTADOS PRÁTICOS.
A tendência genuína dessas verdades não é fazer com que os homens tornem-se
indolentes e descuidados, mas energizá-los e estimulá-los a redobrar seus esforços.
Heróis e conquistadores, tais como César e Napoleão, muitas vezes foram possuídos
por um senso de destino o qual eles iriam cumprir. Esta sensação torna os nervos em
aço, redobra a coragem, e fixa um propósito indomável de seguir adiante com a tarefa
até uma conclusão com sucesso. Objetivos grandes e difíceis podem somente ser
alcançados por homens que tenham confiança em si mesmos, e que não permitam que
obstáculos os desencorajem. "Esta idéia de destino uma vez abraçada", diz Mozley,
"como é o efeito natural do senso de poder, em contrapartida acrescenta grandemente
ao mesmo. O indivíduo, assim que refere-se a si próprio como predestinado a
alcançar algum grande objetivo, age com constância e com força tão maior para a sua
obtenção; ele não é dividido por dúvidas, ou enfraquecido por medos ou escrúpulos;
ele totalmente crê que conseguirá, e tal crença é a maior assistência para o sucesso. A
idéia de um destino completa-se num grau considerável . . . . . Deve observar-se que
isto é verdadeiro no moral e espiritual, tanto quanto no homem natural, e aplica-se
aos objetivos e propósitos religiosos, tanto quanto àqueles relacionados com a glória
humana." 4
E. W. Smith, no seu valioso livro, "O Credo dos Presbiterianos", escreve o seguinte:
"A mais confortante e enobrecedora é também a mais energizante das fés. Que a sua
caricatura sombria, o fatalismo, tenha desenvolvido nos corações humanos uma
energia ao mesmo tempo sublime e alarmante, é um dos lugares-comuns da história.
A onda avassaladora de ataque do Maometanismo, que varreu o Oriente e quase que
destruiu o Ocidente, foi devido à convicção dos seus devotos que nas suas conquistas
eles estavam somente executando os decretos de Alá. Átila o Huno foi guiado no seu
curso terrível e destrutivo pela crença de que ele era o "Flagelo de Deus". A energia e
a audácia que fizeram Napoleão tentar e conseguir resultados aparentemente
impossíveis, nasceu da convicção secreta de que ele era o 'homem do destino'. O
Fatalismo gerou uma raça de Titãs. A Sua energia é sobre-humana, porque eles criam
serem instrumentos de poder sobre humano.
"Se a caricatura desta doutrina possibilitou tal energia, a doutrina em si deve inspirar
energia ainda mais elevada, pois tudo o que nela é energizante permanece com força
adicional quando, por um destino cego ou uma deidade fatalista, substituímos um
Deus, sábio e governador. Que eu sinta que em cada comando de ação, em cada
necessidade de reforma, eu esteja somente desenvolvendo um propósito eterno de
Jeová; que em cada batalha pelo direito, eu ouça às minhas costas o som da marcha
das Reservas Infinitas; e que eu seja elevado acima do medo do homem ou da
possibilidade de falha final." (pp. 180, 181).
Na edição de 18 de Abril de 1929 do tablóide Inglês, "The Daily Express", lemos a
seguinte matéria, relativa a Earl Haig, que foi o Comandante-em-Chefe dos exércitos
Britânicos na Primeira Guerra Mundial; e que era Escocês e Presbiteriano Calvinista:
"O mais notável com relação à própria personalidade de Haig é a revelação de que
este homem formal, frio e reservado tinha uma profunda fé, e nas maiores crises da
guerra ele acreditou implicitamente que a ajuda viria do alto; e tinha a si próprio
como o escolhido do Senhor, o protetor que poderia sozinho destruir o inimigo. Ele
estava genuinamente convencido que a posição à qual ele agora havia sido chamado
para ocupar no exército Britânico poderia ser ocupada por ele e somente por ele. Não
era modéstia. Não havia nenhum homem que fosse menos inclinado para super
estimar o seu próprio valor ou capacidade; era a opinião baseada no discernimento de
todos os fatores. Ele passou a referir-se a si mesmo com fé quase Calvinista, como o
instrumento predestinado da Providência para a obtenção da vitória das forças
Britânicas. Sua auto confiança abundante foi reforçada por esta concepção de si
mesmo como o filho do destino."
A tendência genuína dessas verdades, então, como já apresentado, não é fazer com
que homens tornem-se indolentes e descuidados, nem de fazê-los adormecer no colo
da presunção e da segurança carnal, mas energizá-los e inspirar-lhes confiança. Tanto
a razão como a experiência nos ensinam que quanto maior a esperança de sucesso de
uma pessoa, mais forte torna-se o motivo para exercê-lo. A pessoa que está segura do
sucesso na utilização de meios apropriados tem o mais forte dos incentivos para
trabalhar, enquanto que por outro lado, onde há pouca esperança haverá pouca
disposição para exercitar-se; e onde não houver esperança, não haverá a prática. O
Cristão, então, que tem à sua frente os mandamentos definitivos de Deus, e a
promessa de que será abençoada a obra daqueles que obedientemente e
reverentemente beneficiam-se dos meios apontados, tem os motivos mais altos
possíveis para a prática. Ademais, ele é elevado e inspirado pela firme convicção de
estar marcado para uma coroa celeste.
Quem jamais apresentou a doutrina da eleição mais plenamente e em linguagem mais
forte do que fez o Apóstolo Paulo? E todavia quem foi mais zeloso e mais incansável
na sua labuta que Paulo? Sua teoria fez dele um missionário e o impeliu a apresentar
o Cristianismo como final e triunfante. Quão festivo deve ter sido para ele em
Corinto, ouvir as palavras, "...Não temas, mas fala e não te cales; porque eu estou
contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta
cidade."[Atos 18:9-10]. Que maior incentivo para a ação poderia ter sido dado a ele
do que este, que a sua pregação era o meio divinamente indicado para a conversão de
muitos daquele povo escolhido? Note, Deus não lhe disse quantas pessoas Ele tinha
naquela cidade, nem quem eram os indivíduos. O ministro do Evangelho pode ir
adiante confiante no sucesso, sabendo que através deste meio indicado Deus
determinou salvar um vasto número da família humana em cada idade. Na verdade,
um dos mais fortes apelos para missões e que o evangelismo é a vontade de Deus
para o mundo inteiro; e somente aquele que reconhece a soberania de Deus em cada
esfera, em cada aspecto da vida é quem pode ter a paixão mais profunda pela glória
Divina.
A experiência da Igreja em todas as eras tem sido a de que esta doutrina tem levado
homens, não a negligenciar, nem a uma indiferença impassiva, nem a oposição
rebelde contra Deus; mas a submissão e a uma confiança certa no poder Divino. A
promessa feita a Jacó de que a sua posteridade seria uma grande nação não evitou
nem um pouco que ele usasse todos os meios disponíveis para proteção, quando
parecia que Esaú pudesse matá-lo e à sua família. Quando Daniel entendeu pelas
profecias de Jeremias que o tempo para a restauração de Israel estava próximo, ele
sinceramente pôs-se a orar por isto [veja em Daniel 9:2, 3 = "(2) no ano primeiro do
seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falara o
Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de Jerusalém, era de
setenta anos. (3) Eu, pois, dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com
oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza."]. Imediatamente após ter sido revelado
a Davi que Deus estabeleceria a sua casa, ele orou sinceramente por aquele mesmo
motivo [veja em II Samuel 7:27-29 = "(27) Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de
Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Por isso o
teu servo se animou a fazer-te esta oração. (28) Agora, pois, Senhor Jeová, tu és
Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este bem. (29) Sê,
pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre
diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a casa do teu
servo será, abençoada para sempre."]. Embora Cristo soubesse o que havia sido
apontado para o Seu povo, Ele orou sinceramente pela preservação deles (veja em
João 17). E embora a Paulo tivesse sido dito que ele devia ir para Roma e dar
testemunho, isto não fez com que ele fosse descuidado com a sua vida. Ele tomou
toda precaução para proteger-se contra um julgamento injusto pela turba em
Jerusalém, e contra uma viagem imprudente [veja em Atos 23:11 = "Na noite
seguinte, apresentou-se-lhe o Senhor e disse: Tem bom ânimo: porque, como deste
testemunho de mim em Jerusalém, assim importa que o dês também em Roma";
25:10, 11 = "(10) Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde devo ser
julgado; nenhum mal fiz aos judeus, como muito bem sabes. (11) Se, pois, sou
malfeitor e tenho cometido alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas se
nada há daquilo de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo
para César."; 27:9, 10 = "(9) Havendo decorrido muito tempo e tendo-se tornado
perigosa a navegação, porque já havia passado o jejum, Paulo os advertia, (10)
dizendo-lhes: Senhores, vejo que a viagem vai ser com avaria e muita perda não só
para a carga e o navio, mas também para as nossas vidas."]. O decreto de Deus era
que todos aqueles a bordo da embarcação fossem salvos, mas tal decreto tomou a
atividade habilidosa, corajosa e livre dos marinheiros. Sua liberdade e
responsabilidade não foram nem um pouco diminuídas. O efeito prático desta
doutrina, então, tem sido guiar os homens a orações freqüentes e ferventes, sabendo
que os seus tempos estão nas mãos de Deus e que cada evento em suas vidas são da
Sua disposição.
Ademais, pode ser dito que tanto quanto o pecador permaneça ignorante da sua
condição perdida e indefesa, ele permanece negligente. Provavelmente não há no
mundo um pecador descuidado que não creia em sua perfeita capacidade de tornar-se
a Deus a qualquer hora que lhe convenha; e por causa desta crença ele põe de lado o
arrependimento, inteiramente tencionando vir a Deus numa hora mais conveniente.
Em proporção justa à sua crença no aumento da sua capacidade própria, seu descuido
também aumenta, e ele levado a adormecer na beira do terrível abismo da ruína
eterna. Somente quando ele é levado a sentir sua completa falta de defesa e
dependência da graça soberana, é que ele procura ajuda somente onde ela pode ser
alcançada.
Capítulo 19
Que Representa a Deus como Discriminador de Pessoas, ou Como Injustamente
Parcial
1. Dificuldades Enfrentadas Por Todos Os Sistemas. 2. Deus Não É Discriminador de
Pessoas. 3. Deus Claramente Não Trata Todos Os Povos Igualmente; Ele Dá A
Alguns O Que Ele Retém De Outros. 4. A Parcialidade De Deus É Em Parte
Explicada Pelo Fato De Que Ele É Soberano E Que As Suas Dádivas São Dádivas de
Graça.
1. DIFICULDADES ENFRENTADAS POR TODOS OS SISTEMAS.
Se todos os homens estão mortos em pecados; e destituídos do poder para
restaurarem-se a si mesmos para a vida espiritual, por que, pergunta-se, Deus exercita
o Seu maravilhoso poder para regenerar alguns, enquanto Ele deixa outros a perecer?
Justiça, é dito, demanda que todos devessem ter igual oportunidade; que devessem
ter, seja por natureza ou pela graça, poder para assegurar a sua própria salvação. Deve
ser lembrado, contudo, que objeções como estas não são apresentadas somente contra
o sistema Calvinista de teologia. Elas são na verdade levantadas por ateístas contra o
Teísmo. É questionado, se Deus é infinito em poder e santidade, por que Ele permite
tanto pecado e miséria existirem no mundo? E por que aos perversos é tantas vezes
permitido prosperarem durante longos períodos de tempo, enquanto que os retos e
justos muitas vezes amargam pobreza e sofrimentos?
É claro o bastante que os sistemas anti-Calvinistas não podem oferecer soluções reais
para estas dificuldades. Admitindo-se que a regeneração é ato dos próprios pecadores
e que cada homem tem habilidade, capacidade e conhecimento suficientes para
garantir a sua própria salvação; continua sendo verdade que no presente estado do
mundo somente - comparativamente - alguns são salvos, e que Deus não Se interpõe
para evitar que a maioria dos homens adultos pereçam nos seus pecados. Os
Calvinistas não negam que estas dificuldades existam, eles somente mantém que tais
problemas não são peculiares ao seu sistema, e se contentam com a solução parcial
deles, a qual é dada pelas Escrituras. A Bíblia ensina que o homem foi criado santo;
que ele deliberadamente desobedeceu a lei divina e caiu em pecado; que como
resultado disso a posteridade de Adão veio ao mundo num estado de morte espiritual;
que Deus nunca força-os a pecarem mais, mas que ao contrário Ele exerce influências
as quais deviam induzir as criaturas racionais a arrependerem-se e a procurar a Sua
graça santificadora; que todos os que sinceramente arrependem-se e buscam esta
graça são salvos; e que pelo exercício do Seu maravilhoso poder, vastas multidões
que do contrário teriam continuado no seu pecado são trazidas à salvação.

2. DEUZ NÃO É DISCRIMINADOR DE PESSOAS.


Um "discriminador de pessoas" é aquele que, agindo como um juiz, não trata aqueles
que vêm até si conforme o seu caráter, mas que reprime de alguns o que deles é com
justiça e dá a outros o que não é justamente deles -- aquele que é guiado por
preconceito e motivos sinistros, ao invés de lei e justiça. As Escrituras negam que
Deus seja um discriminador de pessoas neste sentido; e se a doutrina da
Predestinação representasse a Deus como fazendo tais coisas, admitimos que ela
então O estaria acusando com injustiça.
Nas Escrituras Sagradas, está escrito que Deus não é discriminador de pessoas, pois
Ele não escolhe um e rejeita outro por causa de circunstâncias exteriores tais como
raça, nacionalidade, riqueza, poder, nobreza e etc. Pedro diz que Deus não discrimina
pessoas porque Ele não faz distinção entre Judeus e Gentios. Sua conclusão, após ser
divinamente enviado a pregar ao centurião Romano, Cornélius, foi que "...Na verdade
reconheço que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é aceitável aquele que,
em qualquer nação, o teme e pratica o que é justo."[Atos 10:34, 35]. Durante toda a
sua história passada, os Judeus tinham crido que eram como nação, os objetos
exclusivos do favor de Deus. Uma leitura cuidadosa de Atos 10:1 até 11:18 mostrará
que idéia revolucionária era a de que o Evangelho devesse ser pregado também aos
Gentios.
Igualmente, Paulo diz: "(10) glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o
bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego; (11) 11 - pois para com Deus não
há acepção de pessoas."[Romanos 2:10, 11]. E novamente, "Não há judeu nem grego;
não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus."[Gálatas 3:28]. E então ele acrescenta que não são aqueles que são
Judeus exteriormente, mas aqueles que são de Cristo é que são - no mais alto sentido
- "a semente de Abraão", e "herdeiros conforme a promessa"[vv 29]. Noutra carta,
tanto aos escravos como os mestres é comandado tratarem uns aos outros justamente;
pois Deus, que é o Mestre de ambos, não discrimina ninguém [veja em Efésios 6:5-9
= "(5) Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor,
na sinceridade de vosso coração, como a Cristo, (6) não servindo somente à vista,
como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a
vontade de Deus, (7) servindo de boa vontade como ao Senhor, e não como aos
homens. (8) Sabendo que cada um, seja escravo, seja livre, receberá do Senhor todo
bem que fizer. (9) E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as
ameaças, sabendo que o Senhor tanto deles como vosso está no céu, e que para com
ele não há acepção de pessoas."]; e igualmente na carta aos Colossenses 3:18-25 as
relações entre pais e filhos e entre esposas e maridos são incluídas (vv 25 = "...e não
há acepção de pessoas."). Tiago escreveu que Deus não é discriminador porque Ele
não faz distinção entre o rico e o pobre, nem entre aqueles que vestem roupas finas e
aqueles que vestem-se sordidamente [veja em Tiago 2:1-9 = "(1) Meus irmãos, não
tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.
(2) Porque, se entrar na vossa reunião algum homem com anel de ouro no dedo e com
traje esplêndido, e entrar também algum pobre com traje sórdido. (3) e atentardes
para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de
honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés,
(4) não fazeis, porventura, distinção entre vós mesmos e não vos tornais juizes
movidos de maus pensamentos? (5) Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus
os que são pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino que
prometeu aos que o amam? (6) Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não são os
ricos os que vos oprimem e os que vos arrastam aos tribunais? (7) Não blasfemam
eles o bom nome pelo qual sois chamados? (8) Todavia, se estais cumprindo a lei real
segundo a escritura: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem. (9) Mas se
fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como
transgressores"]. O termo "pessoa" nestes versos significa, não o homem interior, ou
a alma, mas a aparência externa, a qual muitas vezes carrega tantas influências
conosco. Assim é que quanto as Escrituras dizem que Deus não é discriminador de
pessoas (i.e. que Ele não faz acepção de pessoas), não significa que Ele trata a todos
igualmente, mas que a razão para que Ele salve um enquanto rejeita outro não é por
um ser Judeu e o outro um Gentio, ou que porque um é rico e o outro pobre, etc.

3. DEUS CLARAMENTE NÃO TRATA TODOS OS POVOS IGUALMENTE; ELE


DÁ A ALGUNS O QUE ELE RETÉM DE OUTROS.
É fato que no Seu providencial governo do mundo Deus não confere os mesmos ou
iguais favores a todas as pessoas. A desigualdade é muito brilhante para ser negada.
As Escrituras nos dizem, e a experiência no dia a dia da vida nos confirma, que existe
a grande variação na distribuição daqueles favores, -- e tão justamente, pois todos
eles são de graça, e não de débito. Aqui o Calvinista retrocede, recua ante a realidade
experimentada dos fatos. É verdade, e nenhum argumento pode provar o contrário,
que os homens neste mundo descobrem serem desigualmente favorecidos, tanto numa
disposição interior como em circunstâncias exteriores. Uma criança nasce com saúde,
para honra, em riqueza, com pais eminentemente bons e sábios que criam-na e a
educam desde a infância na sustentação e na admoestação do Senhor, e que lhe
proporcionam toda oportunidade de receber o ensino da verdade como apresentada
nas Escrituras Sagradas. Outra criança, no entanto, nasce para a doença, para a
desonra, na pobreza, com pais depravados e dispersos que rejeitam e ridicularizam e
desprezam o Cristianismo, e que cuidam de evitar que seus filhos venham a estar sob
a influência do Evangelho. Alguns nascem com consciência e com corações
suscetíveis, os quais fazem com que vidas de inocência e de pureza sejam-lhes
naturais; outras nascem com paixões violentas, ou mesmo com tendências distintas
para o mal, as quais são aparentemente herdades e inconquistáveis. Alguns são
felizes, outros são miseráveis. Alguns nascem em países, em nações, em terras Cristãs
onde são cuidadosamente cuidados e educados; outros nascem em trevas de completo
ateísmo. Como regra geral, a criança que é cercada pelas influências Cristãs
apropriadas torna-se Cristão devoto e vive uma vida de grandes serviços, enquanto
que a outra cujo caráter é formado sob a influência de ensinamentos e de exemplos
corruptos, vive na perversidade, na impiedade, e morre impenitente. Uma é salva e a
outra é perdida. E alguém negará que as influências favoráveis para a salvação, as
quais são trazidas a trabalhar sobre alguns indivíduos são muito mais favoráveis que
aquelas trazidas a trabalhar sobre outros? Não será admitido por toda pessoa honesta,
imparcial e sem preconceitos que, se uma pessoa trocasse de lugar com outra, elas
provavelmente também trocariam os seus caracteres? -- que se o filho de pais
reverentes a Deus fosse o filho de infiéis, e tivesse vivido sob as mesmas influências
corruptoras ele teria - com todas probabilidades - morrido nos seus pecados? Em Sua
misteriosa providência, Deus colocou pessoas sob influências extremamente
diferentes, e os resultados são também extremamente diferentes. É claro que Ele
previu estes resultados diferentes antes que as pessoas nascessem. Tais são fatos os
quais ninguém pode negar ou explicar. E se crermos que o mundo é governado por
um Ser pessoal e inteligente, devemos crer também que estas desigualdades não
apareceram por acaso ou por acidente, mas através de um propósito e de um desígnio,
e que a porção de cada indivíduo foi determinada pelo beneplácito soberano de Deus.
"Mesmo os Arminianos", diz N. L. Rice, "são obrigados a reconhecer que Deus não
faz grandes diferenças no tratamento da família humana, não somente na distribuição
de bênçãos temporais, mas de dádivas espirituais também, -- uma diferença que os
compele, se eles fossem consistentes, a sustentar a doutrina da eleição . . . . . Se o
enviar do Evangelho a um povo, com a influência divina o acompanhando, não
equivaler a uma eleição pessoal, então muito seguramente o reprimi-lo de um povo
geralmente equivale à reprovação." 1
Os Calvinistas meramente assumem que na dispensação da Sua graça Deus age
precisamente como Ele faz ao conceder outros favores. Se em princípio fosse injusto
para Deus ser parcial na distribuição de bens espirituais, seria não menos injusto para
Ele ser parcial na Sua distribuição de bens temporais. Mas a bem da verdade, vemos
que no exercício da Sua absoluta soberania, Ele faz as distinções maiores possíveis
entre homens no nascimento, e que Ele assim o faz sem vínculo com quaisquer
méritos pessoais na distribuição de bens temporais e dos meios essenciais para
salvação. Assim é que a declaração que o Espírito Santo agiu "...distribuindo
particularmente a cada um como quer."[I Coríntios 12:11]; e em nenhum lugar das
Escrituras é dito que Deus é imparcial na comunicação da sua graça. Com relação ao
Seu tratamento para com as nações, vemos que Deus favoreceu alguns muito mais
grandemente que outros, -- nominalmente, Israel nos tempos antigos e Europa e
América nos tempos hodiernos; enquanto que a África e o Oriente permaneceram em
trevas e sob a maldição de religiões falsas, -- e tal é um fato que todos devem admitir.
Embora os Judeus fossem uma nação pequena e desobediente, Deus conferiu sobre
eles favores os quais Ele não deu às outras nações do mundo. "De todas as famílias
da terra só a vós vos tenho conhecido..."[Amós 3:2]. "Não fez assim a nenhuma das
outras nações; e, quanto às suas ordenanças, elas não as conhecem..."[Salmo 147:20].
E de novo, "(1) Que vantagem, pois, tem o judeu? ou qual a utilidade da circuncisão?
(2) Muita, em todo sentido; primeiramente, porque lhe foram confiados os oráculos
de Deus."[Romanos 3:1,2]. Estes favores não foram concedidos por causa de
quaisquer méritos dos Judeus neles mesmos, pois eles foram repetidamente
repreendidos por serem "Mas este povo é de coração obstinado e
rebelde;..."[Jeremias, 5:23]. Em Mateus 11:25-26 lemos de uma oração na qual Jesus
disse, "...Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas
aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi
do teu agrado." Com aquelas palavras Ele agradeceu ao Pai por fazer exatamente os
que os Arminianos exclamam contra como sendo algo injusto; e censuram como
sendo algo parcial.
Se for perguntado, Por que Deus não concede as mesmas bênçãos ou bênçãos
equivalentes sobre todos os povos? Podemos responder somente, que tal não foi
completamente revelado. Vemos na nossa vida real, que Ele não trata a todos
igualmente. Por sábias razões somente a Ele mesmo conhecidas, Ele tem dado a
alguns bênçãos às quais eles não tinham direito -- assim fazendo-os grandes
devedores para com a Sua graça -- e Ele tem retido de outros dádivas as quais Ele não
tinha nenhuma obrigação de conceder.
Não há, na verdade, nenhum membro desta raça caída que não seja tratado pelo seu
Criador de melhor forma do que ele mereça. E desde que a graça é favor concedido
ao que não merece, Deus tem o poder soberano de conceder mais graça sobre um
objeto do que sobre outro. "O conceder da graça comum sobre os não eleitos," diz W.
G. T. Shedd, "mostra que a não eleição não exclui do reino do céu por eficiência
Divina, porque a graça comum não é um convite para crer e arrepender-se, mas uma
ajuda real para tanto; e uma ajuda que é anulada somente por uma ação preventiva de
Deus. A falta ou a falha da graça comum em salvar o pecador, é imputável somente
no próprio pecador; e ele não tem nenhum direito de pleitear que uma falta sua
própria seja a razão pela qual ele é qualificado a uma graça especial." 2
Se for objetado que Deus deve dar a cada homem uma oportunidade para ser salvo,
respondemos que a chamada geral dá, efetivamente, a quem quer que a ouça, uma
oportunidade para ser salvo. A mensagem é: "...Crê no Senhor Jesus e serás salvo,..."[
Atos 16:31]. Esta é uma oportunidade para ser salvo; e nada fora da própria natureza
do homem evitará a sua crença. Shedd expressou esta idéia muito bem nas seguintes
palavras: "Um mendigo que veementemente rejeita $5 oferecidos por um homem
benevolente, não pode acusá-lo de não lhe dar $10, após ele haver rejeitado os $5.
Qualquer pecador que reclama de Deus não haver-lhe concedido a graça da
regeneração após ele haver abusado da graça comum, está virtualmente dizendo ao
Alto e Santo que habita na eternidade, 'Tu tentaste uma vez converter-me do meu
pecado; agora tenta novamente, e tenta com mais afinco.'" 3
Um argumento forte contra a objeção Arminiana de que esta doutrina faz Deus
injustamente parcial, é encontrado no fato de que enquanto Deus estendeu a Sua
graça salvadora aos homens caídos, Ele não fez provisões para a redenção do Diabo e
dos anjos caídos. Se foi consistente com a justiça e com a bondade infinitas de Deus
não redimir todo o conjunto de anjos caídos e deixá-los sofrer as conseqüências dos
seus pecados, então é certamente consistente com a Sua justiça e com a Sua bondade
não faze-lo também, para com alguns da raça de homens caídos e deixá-los no seu
pecado. Quando o Arminiano admite que Cristo não morreu pelos anjos caídos ou
pelos demônios, mas somente pelos homens caídos, ele admite uma expiação limitada
e, em princípio, faz o mesmo tipo de distinção que o Calvinista faz quando diz que
Cristo morreu somente pelos eleitos.
Os homens, com o seu conhecimento limitado e muitas vezes errôneo, não têm o
direito de censurar a distribuição que Deus faz da Sua graça. Tão irracional quanto
acusá-Lo injustamente de não haver feito anjos de todas as Suas criaturas e por não
haver preservado-as todas em Santidade, como Ele fez com os anjos no céu (e Ele
tinha o poder para faze-lo); seria acusá-Lo também injustamente de não haver
redimido toda a humanidade. É tão difícil para nós compreender por que Ele permite
que alguns pereçam eternamente, quanto o é difícil entender por que Ele salva alguns
e não outros. Ele plenamente não evita, não previne a perdição daqueles que, além de
qualquer dúvida, Ele tem o poder de salvar. E se aqueles que admitem a providência
de Deus disserem que Ele tem razões sábias para permitir que tantos da nossa raça
pereçam, aqueles que advogam a Sua soberania podem dizer que Ele tem sábias
razões para salvar alguns e não outros. Também pode ser razoavelmente argumentado
que uma vez que Deus pune alguns, Ele deveria punir a todos; mas ninguém vai tão
longe.
Pode ser admitido que, do nosso ponto de vista humano, seria mais plausível e mais
consistente com o caráter de Deus que ao pecado e à miséria nunca deveriam ter sido
permitido entrarem no universo; ou se, quando eles entraram, provisões deveriam ter
sido feitas para a sua eliminação do sistema, de modo que assim, todas as criaturas
racionais seriam perfeitamente santas e felizes por toda a eternidade. Não haveria fim
para tais planos, se cada pessoa tivesse a liberdade de construir, de estabelecer um
plano de operações divinas de acordo com os seus próprios pontos de vista quanto ao
que seria melhor e mais sábio. Fechamo-nos, contudo, para os fatos como são
encontrados na Bíblia, nas obras providenciais a nosso respeito e nas nossas próprias
experiências religiosas; e descobrimos que somente o sistema Calvinista de teologia é
satisfeito pelos mesmos.
4. A PARCIALIDADE DE DEUS É EM PARTE EXPLICADA PELO FATO DE
QUE ELE É SOBERANO E QUE AS SUAS DÁDIVAS SÃO DÁDIVAS DE
GRAÇA.
Não pode ser dito que Deus age injustamente para com aqueles que não estão
incluídos neste plano de salvação. As pessoas que fazem esta objeção negligenciam-
se a levar em consideração o fato de que Deus está lidando não simplesmente com
criaturas, mas com criaturas pecadoras e condenadas que não têm quaisquer direitos
ante a Sua misericórdia. Agostinho bem disse: "Danação é destinada aos perversos a
título de débito, de justiça e de merecimento, enquanto que a graça dada àqueles aos
quais entregue é livre e imerecida, de modo que pecador condenado não possa alegar
que não merece o castigo, nem o santo gabar ou vangloriar como se fosse merecedor
da recompensa. Assim, em todo o desenrolar deste procedimento, não há
discriminação de pessoas. Aqueles que são condenados e os que são libertos
constituíram ambos originalmente e somente um bando, igualmente infetado pelo
pecado e condenáveis à vingança. Daí o homem justificado aprender que a
condenação do resto é a que teria sido o seu próprio castigo, não tivesse ele sido
resgatado pela graça de Deus." E no mesmo sentido Calvino diz: "O Senhor, portanto,
pode dar a Sua graça a quem Ele queira, porque Ele é misericordioso, e todavia não a
dá a todos porque Ele é um Juiz justo; Ele pode manifestar a sua graça livre ao dar a
alguns o que eles não merecem nunca, enquanto que não dando a todos Ele declara o
demérito de todos."
O termo "parcialmente", no sentido comumente utilizado por aqueles que apresentam
objeções, é impossível de existir na esfera da graça. Tal palavra pode existir somente
na esfera da justiça, onde as pessoas envolvidas têm certas demandas e certos
direitos. Podemos dar uma esmola a um mendigo e não a outro, pois não devemos
nada a nenhum deles. A parábola dos talentos foi contada pelo nosso Senhor para
ilustrar a doutrina da Divina soberania no conceder dádivas imerecidas; e a
regeneração é uma das maiores dentre estas dádivas.
O ensinamento central na parábola dos trabalhadores na vinha é que Deus é soberano
na dispensação das Suas dádivas. Tanto aos salvos como aos não salvos igualmente
Ele pode dizer, "...Amigo, não te faço injustiça; . . . . Porventura, não me é lícito fazer
o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?"[Mateus
20:13, 15]. Foi dito a Moisés: "...terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e
me compadecerei de quem eu me compadecer."[Êxodo 33:19]; e Paulo acrescenta:
"Pois Ele disse a Moisés: terei misericórdia . . . . . . Logo, tem ele misericórdia de
quem quer e também endurece a quem lhe apraz."[Romanos 9:15, 18]. Ele estenderá
a Sua misericórdia a alguns e infligirá justiça em outros, e será glorificado por todos.
Justamente como um homem pode dar esmola a alguns e não a outros, assim Deus
pode dar a Sua graça, que é esmola celeste, a quem Lhe aprouver. A graça, desde a
sua própria natureza, deve ser livre; e exatamente a desigualdade na sua distribuição
demonstra que ela é gratuita. Se alguém pudesse demandá-la justamente, ela cessaria
de ser graça e passaria a ser dívida. Se Deus for roubado na Sua soberania, nesse
respeito, a salvação então passa a ser obrigatória, passa a ser devida a cada pessoa.
Se dez homens devem a certo credor hum mil reais e ele, por razões próprias, perdoa
o débido de sete mas cobra dos outros três, aqueles últimos não têm razão alguma
para reclamar. Se três criminosos são sentenciados à forca por haverem cometido
assassinato e se dois deles forem mais tarde perdoados da pena de morte -- talvez seja
descoberto haverem eles prestado serviços notáveis para o seu país em tempos de
guerra -- isto faria com que a execução do terceiro fosse injusta? Francamente, Não;
pois no seu caso não há nenhuma causa interveniente quanto a por que ele não
devesse sofrer pelo seu crime. E se um governo na terra pode com justiça assim
proceder, não poderá o Senhor soberano de todo o universo agir da mesma forma
para com os Seus objetos rebeldes? Quando toda a humanidade pode ter sido punida,
como poderá Deus ser acusado de injustiça se Ele castigar somente uma parte dela? --
e sem dúvida, uma parte comparativamente pequena dela.
Warburtons dá uma ilustração muito apropriada, neste ponto. Ele supõe um caso no
qual uma senhora vai até um orfanato e das centenas de crianças ali alojadas, ela
escolhe uma, adota-a como seu próprio filho e deixa os outros. "Ela poderia ter
escolhido outros; tivesse ela como manter outros; mas ela escolheu somente um. Você
dirá que aquela mulher é injusta? Você dirá que ela não é bondosa, ou que não agiu
com retidão, porque no exercício do seu direito e privilégio inquestionáveis ela
escolheu aquela uma criança para desfrutar dos confortos da sua casa, e tornar-se
herdeira das suas posses, e deixou as demais, possivelmente para perecer na vontade,
ou afundar na condição miserável de crianças abandonadas? . . . . . Você já ouviu falar
de qualquer acusação de injustiça, ou de falta de retidão, contra qualquer pessoa que
tenha agido desta forma? Será que os homens, muito pelo contrário, não
considerariam tal ação (a de ir até um orfanato e escolher uma criança para adoção)
como uma ação digna de aplauso? Eles não falam nos mais altos termos acerca do
amor, da piedade e da compaixão de tal pessoa? Agora, por que fazem isso? Por que
eles não condenam o escolher de uma criança somente, e o deixar as restantes? Por
que eles não reclamam ser tal ato injusto por haver sido aquela uma em particular
escolhida, e não outra, ou todas? . . . . A razão é esta -- porque os homens sabem --
como nós também o sabemos -- que todas as crianças encontravam-se exatamente na
mesma condição e que nem uma delas tinha qualquer reclamação, ou o mínimo
vestígio de reclamação, quanto à pessoa cuja vontade e prazer era de adotar uma
somente, para ser sua . . . . Você vê, ou você pode ver, alguma diferença entre o ato de
Deus e o daquela senhora? As crianças naquele orfanato não tinham nenhum motivo
para reclamar daquela senhora. Tampouco tiveram os homens caídos nenhuma razão
para reclamar de Deus, e da escolha livre de Deus, portanto, pois tanto como foi
gratuita e imerecida, também foi reta e justa. E esta pré escolha de Deus, livre e
imerecida, à vista da ruína do homem procurada e buscada por ele mesmo, é tudo o
que significa a doutrina Calvinista da Predestinação."
Desde que os méritos do sacrifício de Cristo foram de valor infinito, o plano que
usualmente primeiro se sugere aos nossos corações é o de que Deus deveria ter salvo
a todos. Mas Ele escolhe fazer uma exibição eterna da Sua justiça tanto quanto da
Sua misericórdia. Se cada pessoa tivesse sido salvo, não teria sido visto o que o
pecado merecia; se nenhuma pessoa tivesse sido salva, não teria sido visto o que a
graça podia conceder. Ademais, o fato de que a salvação foi provida, não a todos, mas
somente para alguns, faz com que seja muito mais apreciada por aqueles a quem é
concedida. De tudo por tudo, foi de longe o melhor para o universo que a alguns
fosse permitido terem os seu próprio caminho e assim mostrar que coisa horrível é a
oposição a Deus.
Mas alguém pode perguntar: "E quanto ao homem não regenerado, este dos não
eleitos que é deixado em pecado, sujeito ao castigo eterno, incapaz de sequer ver o
reino de Deus?" Nós respondemos, volte até a doutrina do pecado original, -- em
Adão, que foi apontado como o cabeça e o representante federal de todos os seus
descendentes, a raça teve a mais justa e favorável oportunidade de ganhar a salvação,
mas perdeu-a. A justificação para a eleição de alguns e não de outros é que "todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Sem dúvida que existem os melhores
motivos para a escolha de uns e não de outros, mas estas não foram feitas conhecidas
a nós. Sabemos, no entanto, que nenhum dos perdidos sofre qualquer castigo
imerecido. Neste mundo eles desfrutam das coisas boas da providência em comum
com os filhos de Deus, e muito freqüentemente numa escala bem mais elevada. A
consciência e a experiência testificam que somos membros de uma raça apóstata, e
que cada homem que fica sem a vida eterna sabe que a responsabilidade está
primariamente sobre si mesmo. Ademais, se todos os homens estão em sua presente
condição perdida e arruinada pela operação de princípios justos da parte de Deus (e
quem dirá que não estão?), eles podem - com justiça - serem deixados para merecer
punição. É absurdo dizer que eles são justamente deixados expostos à miséria eterna,
e ainda assim que seria injusto para eles sofrer, pois é o mesmo que dizer que a
execução de uma penalidade justa é injusta. Também pode ser acrescentado que o
homem no seu estado caído não tem desejo de salvação, e que desta massa corrupta
Deus "tem misericórdia de quem Ele quer e também endurece a quem lhe apraz."
Este é o ensinamento uniforme das Escrituras. Aquele que nega isto, nega o
Cristianismo e questiona o governo do mundo, por Deus.
Na verdade, todos nós somos parciais. Nós tratamos os membros da nossa própria
família, ou os nossos amigos, com grande parcialidade, embora no momento
saibamos que eles não são mais merecedores, ou talvez menos merecedores do que
muitos outros com quem nos relacionamos. Não segue que, se dispensamos favores a
alguns, devemos dispensar os mesmos favores, ou favores equivalentes, a todos.
Todavia o Arminiano prescreve tal como regra absoluta ao Todo-Poderoso, que Ele
deva estender Sua riqueza a todos igualmente, como se um tesouro público. "Devesse
um amigo terreno", diz Toplady, "dar-me de presente dez mil libras, não seria
irracionalidade, ingratidão e presunção da minha parte recusar o presente e revidar ao
meu amigo, somente porque pode não ser seu prazer conferir o mesmo favor ao meu
vizinho?"
Assim é que, então, à objeção de que a doutrina da Predestinação representa Deus
como "parcial", nós respondemos, certamente que faz. Mas insistimos que ela não O
representa como injustamente parcial.
Capítulo 20
Que É Desfavorável À Boa Moralidade

1. Tanto Os Meios Como Os Fins São Pré Ordenados. 2. Amor E Gratidão A Deus
Pelo Que Ele Fez Por Nós É A Mais Forte e Única Base Permanente Para A
Moralidade. 3. Os Frutos Práticos Do Calvinismo Na História São A Sua Melhor
Vindicação.

1. TANTO OS MEIOS COMO OS FINS SÃO PRÉ ORDENADOS.


A objeção algumas vezes é feita, de que este sistema encoraja os homens a serem
descuidados e indiferentes quanto à sua conduta moral e ao seu crescimento na graça,
nas bases de que a sua eternidade já foi assegurada. Esta objeção é primariamente
direcionada contra as doutrinas da Eleição, e da Perseverança dos Santos.
Tal objeção, contudo, como a outra no sentido de que este sistema desencoraja todos
as razões para a prática, é respondida completamente pelo grande princípio o qual
sustentamos e ensinamos, nominalmente, que os meios, tanto quanto os fins, são pré
ordenados. O decreto de Deus que a terra devesse ser frutífera não excluiu, mas sim
incluiu, a luz do sol, as chuvas, o cultivar da terra, etc. Se Deus pré ordenou um
homem para ter uma lavoura de milho, Ele também pré ordenou-o para preparar o
solo, plantar, cultivar e fazer todas as demais coisas necessárias para assegurar a
colheita. Tanto quanto um propósito de construir inclui o lavrar das pedras, o aplainar
das madeiras; e a preparação de todas as demais coisas que farão parte da estrutura; e
como uma declaração de guerra implica em armas, munição, navios e todos os
demais equipamentos; assim também a eleição de alguns para o gozo eterno do céu
inclui a sua eleição para a santidade aqui na terra. Não é o indivíduo como tal, mais o
indivíduo como um ser virtuoso e santo, que é predestinado para a vida eterna.
Na mais plena das linguagens, Paulo ensinou que o propósito da eleição é, "...para
sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor"[Efésios 1:4]; que somos
predestinados para sermos "...conforme à imagem do Seu Filho,..."[Romanos 8:29]; e
que "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do
Espírito e fé na verdade,"[II Tessalonicenses 2:13]. "E creram todos os que haviam
sido destinados para a vida eterna."[Atos 13:48]. Os predestinados, chamados,
justificados, ordenados são os mesmos [veja em Romanos 8:29, 30 = "(29) Porquanto
aos que de angtemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (30) E
aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou."]. Portanto, o propósito de
Deus de acordo com a eleição deve prevalecer [veja em Romanos 9:11 = "E ainda
não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o
propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que
chama)."]
A crença dos Calvinistas com relação a este assunto é bem expressa na Confissão de
Fé de Westminster, onde lemos: "Assim como Deus destinou os eleitos para a glória,
assim também, pelo eterno e mui livre propósito da sua vontade, preordenou todos os
meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em
Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu
Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e
guardados pelo seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum
outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado,
santificado e salvo."[Capítulo III seção VI. Referências Bíblicas: I Pedro 1:2; Ef. 1:4
e 2: 10; II Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5; João
6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I João 2:19].
"Deus decretou que quinze anos deveriam ser acrescentados à vida de Ezequias; isto
não o fez nem descuidado com a sua saúde, nem negligente com a sua alimentação;
ele não disse, 'Mesmo que eu ande dentro do fogo, ou dentro da água, ou beba
veneno, eu não obstante viverei tanto tempo'; mas a natural providência, no devido
emprego de meios cooperou para mantê-lo naquele período de tempo que lhe fora
pré-ordenado." 1 Uma vez que todos eventos estão mais ou menos intimamente
conectados, e uma vez que Deus opera os meios, se Ele não determinasse os meios
tanto quanto os eventos, a certeza quanto aos próprios eventos seria destruída. Na
redenção do homem, Ele determinou não somente a obra de Cristo e do Espírito
Santo, mas também a fé, o arrependimento e a perseverança de todo o Seu povo.
Quando esta mesma doutrina foi pregada por Paulo em uma outra ocasião e esta
mesma objeção foi trazida à tona contra ela -- nominalmente, que ele "tornou a lei de
ninguém efetiva através da fé," ou em outras palavras, que uma vez que somos salvos
através da fé nós não precisamos de seguir a lei moral -- a sua resposta enfática for:
"Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a
lei."[Romanos 3:31]. Há, então, uma conexão invariável, estabelecida entre a
salvação eterna como um fim, e a fé e a santidade como um meio que conduz até
aquele fim.
O Cristão ideal, é claro, não cometeria nenhum pecado. Embora certamente salvo, ele
é salvo para as boas obras, e é comandado não dar "...nenhum motivo de escândalo
em coisa alguma, para que o ministério não seja censurado."[II Coríntios 6:3]. As
Escrituras Sagradas não sabem de nenhuma perseverança a qual não seja
perseverança em santidade; e elas não dão nenhum encorajamento a nenhum tipo de
segurança que não esteja conectado com uma presente e sempre crescente santidade.
A virtude e a piedade, portando, são os efeitos e não a causa da eleição, pois causa
alguma é para ser assinalada senão a soberania e o beneplácito de Deus. É verdade
que alguns tornam-se muito mais avançados em santidade aqui e continuam em tal
estado durante um período de tempo muito mais longo que outros. Todavia é em vão,
para qualquer um que não tenham algum degrau de santidade neste mundo, ter
esperança de algum gozo e felicidade no próximo. Todos aqueles a quem Cristo
designou estarem perfeitamente felizes na eternidade, Ele designou faze-los, em
parte, felizes neste mundo; e como a santidade é essencial para a felicidade duma
criatura inteligente, então já começou dentro deles, neste mundo, aquela santidade
sem a qual ninguém verá ao Senhor.
2. AMOR E GRATIDÃO A DEUS PELO QUE ELE FEZ POR NÓS E A MAIS
FORTE E A ÚNICA BASE PERMANENTE PARA A MORALIDADE.
Os que fazem a objeção que estamos agora a considerar, assumem que crentes --
aqueles que através do todo poderoso poder de Deus têm sido trazidos da morte para
a vida, do pecado para a santidade; que têm parcialmente experimentado o amor e a
glória de Deus como revelados em Cristo -- ainda são incapazes de serem
influenciados por quaisquer motivos, exceto aqueles que nascem de uma relação
exclusiva e egoísta com a sua própria segurança e felicidade. E, como diz
Cunnigham, eles virtualmente confessam, "primeiro, que nenhuma decência exterior
que a sua conduta possa no momento exibir, seja devido somente ao medo de serem
punidos; e, segundo, que se eles se sentissem seguros somente com relação à punição,
eles encontrariam satisfação muito maior em servir ao Diabo do que em servir a
Deus; e que eles nunca pensariam em mostrar qualquer gratidão a Ele, que lhes
conferiu a segurança na qual eles colocam tanta confiança.
O contraste entre as bases Calvinista e Arminiana para a moralidade é claramente
apresentado na seguinte seção de McFetridge: "As duas grandes molas pelas quais os
homens são movidos são, de um lado, convicção e idéia, do outro, emoção e
sentimento; como elas controlam, assim o caráter moral será formado. O homem que
é guiado por convicções e idéias é homem de estabilidade; ele não pode ser mudado
até que a sua consciência seja mudada; e o homem que é guiado por emoção e
sentimento, é homem de instabilidade. Agora, o apelo do Arminianismo é
capitaneado aos sentimentos. Com relação ao homem como tendo o controle moral
livre e absoluto de si mesmo, e como capaz de a qualquer momento determinar o seu
próprio estado eterno, ele (o Arminianismo) aplica-se ao arroubo das suas emoções.
O que quer que seja que possa legalmente despertar os sentimentos é considerado
expediente. Concomitantemente, os sentidos, acima de todas coisas, devem ser
buscados e afetados. Daí ser o Arminiano, religiosamente, um homem de emoção, de
sentimento, e consequentemente à disposição de todas as coisas que interessem ao
olho e agradem ao ouvido. A sua moralidade, portanto, como dependendo
principalmente das emoções, é, na natureza do caso, sujeita a freqüentes flutuações,
subindo ou decendo com a onda da sensação sobre a qual ela surfa. O Calvinismo,
por outro lado, é um sistema teológico que apela mais para a idéia do que para o
sentimento, mais para a consciência do que para a emoção. À vista dele (do
Calvinismo), todas as coisas encontram-se sob um grande e perfeito sistema de leis
divinas, as quais operam em desafio dos sentimentos, e as quais devem ser
obedecidas com o risco da alma . . . . . Sua linha de pensamento não é de sentimento,
mas de convicção . . . . . Ele faz da voz de Deus, falando na alma, um guia para toda
conduta. Ele procura antes convencer os homens do que enchê-los com uma sensação
passageira. Assim, um profundo senso de dever é a maior coisa na vida moral do
Calvinista. A sua primeira e última questão é, 'Isto é certo?' Daquilo ele precisa em
primeiro lugar estar convencido. Assim é que a sua consciência tem o primeiro lugar
em todas as questões práticas . . . . . Na concepção Calvinista, Deus marcou,
delimitou o caminho no qual o homem andará -- um caminho o qual Ele não mudará;
e ao homem é requerido andar em tal caminho, triste ou prazerosamente, com tanto
ou com tão pouco sentimento como lhe convenha. Daí que o Calvinista não é,
religiosamente, uma pessoa de demonstrações, mas antes alguém, de racionalidade e
atenção; de forma que a sua moralidade, ou o que quer que possa ser, ao contrário, é
caracterizada pela força e pela estabilidade, as quais também podem, algumas vezes,
tornarem-se em obstinação e desconforto."
O nosso amor para com Deus seria, no máximo, somente 'morno', se crêssemos que o
Seu amor e o Seu favor para conosco dependesse somente do nosso bom
comportamento. O Seu amor para conosco é como um sol imenso, que brilhou sem
um começo e que brilhará sem um final, enquanto que o nosso amor para com Ele é,
no máximo, somente como uma pequenina chama. Assim é que a segurança que aos
objetos do amor de Deus nunca será permitido cair. Amor que é alicerçado em
interesse próprio é comumente reconhecido como não sendo moral, no sentido mais
alto; todavia o Calvinismo é o único sistema de fé que apresenta um motivo
puramente não egoísta, que é a consciência de que é a graça gratuita e o amor
imerecido de Deus, à exclusão de todo o mérito humano, que salvam os homens.
Quando o Cristão lembra-se de que ele foi salvo somente através do sofrimento e da
morte de Cristo seu substituto, amor e gratidão transbordam seu coração; e, como
Paulo, ele sente que o mínimo que ele pode oferecer a Cristo em retorno é a sua vida
inteira em serviço amoroso. Vendo a si mesmo salvo somente pela graça, ele aprende
a amar a Deus somente por Ele mesmo, e encontra a felicidade da sua vida ao servi-
Lo com todo o seu coração. A obediência torna-se então não somente o bem
obrigatório, mas o bem preferível.
O motivo que atua nos santos na terra é o mesmo em princípio, embora não tão
intenso, como o que atua nos santos na glória, cujo deleite constante é conduzir as
mais nobres ações e serviços, nominalmente, de louvar a Deus, e de pontualmente
efetuar a Sua vontade sem quaisquer interrupções ou falhas. "Como eles têm sempre
um sentimento arrebatador da Sua bondade para consigo, então eles exercitam suas
mentes perfeitamente puras em manifestações de glória e de louvor a Ele por havê-los
resgatado da merecida ruína, e colocado-os nas mansões celestiais onde eles se
encontram possuídos por êxtase, gozo, complacência e glória totalmente imerecidos."
4
Amor e gratidão a Deus puros, e não medo egoísta, são exatamente o combustível de
uma obediência aceitável, e são os elementos a partir dos quais somente, qualquer
coisa como a alta e pura moralidade poderá proceder. Jesus não temia que um sentido
de segurança eterna levasse os Seus discípulos à licenciosidade, pois Ele disse a eles,
"Não obstante, alegrai-vos, . . .porque o vosso nome está arrolado nos céus."[Lucas
10:20]. Os eleitos, portanto, têm maior a razão para louvar e para glorificar a Deus,
que quaisquer outros seres podem ter, e é uma calúnia inqualificável representar a
doutrina da Predestinação como tendendo para a licenciosidade e como não favorável
à boa moralidade.

3. OS FRUTOS PRÁTICOS DO CALVINISMO NA HISTÓRIA SÃO A SUA


MELHOR VINDICAÇÃO.
O Calvinismo responde à acusação de não ser favorável à boa moralidade, não
simplesmente por opor razão contra razão, mas por apresentar fatos de reputação
mundial contra estas reclamações fictícias. O Calvinismo simplesmente pergunta,
Que oposição os outros sistemas podem apresentar, se apontarmos para os feitos dos
líderes Protestantes do período da Reforma; e para a alta sinceridade moral dos
Puritanos? Lutero, Calvino, Zuínglio, e os seus colaboradores imediatos, foram todos
"Calvinistas roxos", e o grande re-avivamento espiritual de todos os tempos
aconteceu sob a sua influência. Aqueles na Inglaterra que sustentaram este sistema de
fé foram tão rígidos com relação à pureza da doutrina, pureza de louvor, e pureza de
vida diária, que pelos seus próprios inimigos, que destarte eram as suas melhores
testemunhas, eles foram chamados de "Puritanos". Os 'Puritanos' (Puritans) na
Inglaterra, os 'Pactuantes' (Covenanters) na Escócia e os 'Huguenotes' (Huguenots) na
França, foram homens com a mesma fé religiosa e também qualidades morais. Que o
sistema teológico de Calvino devesse ter desenvolvido precisamente o mesmo tipo de
homens em cada um desses países diferentes, é uma prova do seu poder na formação
do caráter.
Com relação aos Puritanos nos EUA, McFtridge diz: "Dentre todos os povos nas
colônias Americanas, eles (os Puritanos, Calvinistas de New England), eram
moralmente sem iguais. Eles eram os homens e as mulheres de consciência, de
convicções da mais alta qualidade. Eles não eram, de fato, muito dados ao
sentimentalismo. Não tinham nenhuma simpatia com cerimônias espetaculares de
religião. A vida para eles era uma experiência por demais nobre, e séria, e solene para
ser aos poucos feita em pedaços em exclamações e manifestações pias e rapsódias
emocionais. Eles criam com toda a sua alma num Deus justo, num céu e num inferno.
Eles sentiam, no mais profundo dos seus corações, que a vida era curta e grandes as
responsabilidade. Assim é que a sua religião era a sua vida. Todos os seus
pensamentos e relações eram nela imbuídos. Não somente os homens, mas os animais
também, estavam sob as influências favoráveis da sua religião. A crueldade com
animais era uma ofensa civil. Nesse aspecto eles estavam dois séculos adiante do
resto da humanidade. Eles eram trabalhadores diligentes, frugais e empreendedores; e
consequentemente encontraram a abundância nos seus caminhos, e também a sua
descendência, até os seus filhos e os filhos dos seus filhos. Bebedeira, vulgaridade e
mendicância eram coisas pouco conhecidas por eles. Eles não precisavam de
cadeados ou de grades para segurar suas posses honestamente conseguidas. Uma
simples taramela era suficiente para protege-los e à sua riqueza, onde a honestidade
era a regra de vida. Como o resultado de uma vida assim, eles eram saudáveis e
vigorosos. Felizes, eles alcançavam longevidade, criavam famílias grandes e devotas,
e desciam à cova como seca o milharal após haver frutificado, em paz com Deus e
com os seus semelhantes, regozijando-se na esperança de uma ressurreição
abençoada." 5
Deve ainda ser lembrado como um diadema na testa da moralidade Calvinista, que
em toda a história dos Puritanos, não há registro de um caso de divórcio sequer. Que
necessidade gritante existe hoje em dia, de influência tal como aquela! Criminalidade
de maneira geral era quase que desconhecida, se conhecida fosse, entre os Puritanos.
Então, se o Calvinismo era realmente não favorável à moralidade, como acusado,
seria realmente uma estranha coincidência que onde houve o mais de Calvinismo,
houve o menos de crime. "Este é o problema", diz Froude, "Uvas não crescem em
espinheiros. Naturezas ilustres não se formam a partir de teorias cruéis. A vida
espiritual está cheia de aparentes paradoxos . . . . O efeito prático de uma crença é o
teste real da sua solidez. Onde vemos vida heróica aparecendo como o fruto uniforme
de uma opinião particular, é criancice argumentar à face do fato de que o resultado
devesse ter sido diferente." 6
"Não há nenhum sistema", diz Henry Ward Beecher, "que se equipare ao Calvinismo
ao intensificar, ao máximo, idéias de excelência moral e de pureza de caráter. Nunca
houve um sistema teológico desde que o mundo existe, que coloque sobre o homem
tais razões para santidade, ou que desole o terreno do pecado com artilharia tão
pesada. Eles nos dizem que o Calvinismo molda os homens com martelo e cinzel. E o
faz; e o resultado é um mármore monumental. Outros sistemas deixam os homens
macios e sujos; enquanto o Calvinismo, faz deles mármore branco, que dura para
sempre." 7
Ao invés de ser um sistema teológico que leve à imoralidade e ao desespero, o
Calvinismo tem resultado exatamente o oposto, na vida diária. Nenhum outro sistema
tem incendiado as pessoas com ideais de liberdade civil e religiosa, nem levado a tão
altos ideais de moralidade e propósito em todas fases da vida humana. Onde quer que
seja que a Fé Reformada tenha chegado, ela tem feito a nação desabrochar como a
rosa, muito embora pudesse ter sido um país pobre como a Holanda, ou como a
Escócia, ou a Nova Inglaterra. Isto foi admitido por Macaulay e muitos outros, e é um
pensamento muito confortante.
Capítulo 21
Que Impede Uma Oferta Sincera do Evangelho Aos Não Eleitos

1. A Mesma Objeção Aplica-se Contra a Presciência de Deus. 2. A Oferta É Feita


Sinceramente.

1. A MESMA OBJEÇÃO APLICA-SE CONTRA A PRESCIÊNCIA DE DEUS.


Embora o Evangelho seja oferecido a muitos que não aceitarão, e que por razões
subjetivas não podem aceitá-lo, ele é, não obstante, sinceramente oferecido a todos. A
objeção tão energicamente levantada em algumas ocasiões pelos Arminianos, no
sentido de que se a doutrina da Predestinação for verdadeira o Evangelho não pode
ser oferecido sinceramente aos não eleitos, deveria ser suficientemente respondida
pelo fato de que a mesma apresenta-se com força igual contra a doutrina da
Presciência de Deus. Nós podemos perguntar, Como a oferta da salvação pode ser
feita sinceramente àqueles que Deus já sabe que a desprezarão e a rejeitarão,
especialmente quando a sua culpa e condenação somente aumentarão como resultado
da sua recusa? Os Arminianos admitem que Deus sabe de antemão quem aceitará e
quem rejeitará a mensagem; todavia eles sabem que eles próprios estão sob o
comando divino de pregar o Evangelho a todos os homens, e eles não se sentem
insinceros ao faze-lo.
A dificuldade em ambos casos é, contudo, puramente subjetiva, e é devida ao nosso
entendimento limitado e à nossa incapacidade de compreender os métodos de Deus,
os quais são 'past finding out'. Nós sabemos que o Juiz de toda a terra fará o que é
certo, e confiamos nEle mesmo embora o nosso fraco raciocínio não possa sempre
seguir os Seus meios. Sabemos, definitivamente, que provisão abundante foi feita
para todos os que virão, e que cada um que aceite sinceramente será salvo. Dos
próprios lábios de Cristo temos uma parábola que ilustra o amor de Deus para com os
seus filhos. O Pai viu o filho pródigo voltando quando ele ainda encontrava-se muito
longe, e correu ao seu encontro, e abraçou-o, e beijou-o. E as boas vindas dadas
àquele filho pródigo, Deus está desejoso de dar a qualquer filho pródigo.

2. A OFERTA É FEITA SINCERAMENTE.


Deus comandou a Moisés para juntar os anciãos de Israel, para irem até o Faraó e
demandar que permitissem irem numa jornada de três dias no deserto, para
oferecerem sacrifícios a Deus. Todavia, justamente no versículo seguinte, o Próprio
Deus lhe diz, "Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, a não ser por uma
forte mão."[veja em Êxodo 3;18, 19]. Se não for inconsistente com a sinceridade de
Deus comandar todos os homens para amá-Lo, ou para serem perfeitos (veja em
Lucas 10:27 = "...Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento..." Veja também em
Mateus 5:48 = "Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial."),
também não é inconsistente com a Sua sinceridade que Ele comande os homens para
arrependerem-se e crerem no Evangelho. Um homem pode ser bem sincero ao fazer
um convite que ele sabe que será recusado. Um pai que sabe que seus filhos vão agir
erradamente, sente-se incomodado a dizer-lhes o que é certo. Seus pedidos e seus
alertas são sinceros, o problema é com os garotos.
Irá alguém argumentar que Deus não pode sinceramente oferecer salvação a um
agente moral livre, a menos que adicionalmente ao convite Ele exerça uma influência
especial a qual induzirá a pessoa a aceitá-lo? Depois de uma guerra civil num país,
sempre acontece de o general vitorioso oferecer livre perdão a todos aqueles que
faziam parte do exército oponente, desde que eles deixem suas armas, vão para suas
casas e vivam pacificamente, embora ele saiba que pelo orgulho próprio ou pela
malícia, muitos deles recusarão. Ele faz a oferta de boa fé, mesmo que por razões
sábias ele determine não forçar a aceitação dela, supondo que ele possua tal poder.
Podemos imaginar o caso de um navio com muitos passageiros a bordo, naufragando
a alguma distância da costa. Um homem aluga um barco num porto ali por perto e vai
em resgate da sua família. Indicentalmente, acontece que o barco que ele usa é grande
o suficiente para acomodar todos os passageiros, então ele convida todos aqueles que
estão no navio a naufragar para virem a bordo do seu barco, embora ele saiba que
muitos deles, seja por falta de consciência do perigo, ou por causa de algo pessoal
contra ele, ou por outras razões, não aceitarão. Ainda assim, será que tais razões
fariam a sua oferta menos sincera? "Se a família de um homem estivesse sendo
mantida em cativeiro, juntamente com outras pessoas, e por amor deles e com o
propósito da sua redenção, um resgate fosse oferecido, suficiente para a liberdade de
todos os cativos, é pleno e certo que a oferta pela liberdade poderia ser estendido a
todos nas bases daquele resgate, embora especialmente entendido para somente uma
parte deles. Ou, um homem pode organizar um banquete para os seus amigos e as
provisões serem tão abundantes que ele pode vir a abrir as portas da sua casa para
todos aqueles que desejarem vir e banquetear-se. É precisamente isto o que Deu, de
acordo com a doutrina Calvinista, na realidade fez. Do Seu amor especial para com o
Seu povo, e com o desígnio de assegurar a sua salvação, Ele enviou o Seu Filho para
fazer o que justifica a oferta pela salvação de todos quantos escolhem aceitá-la. 1
Quando o Evangelho é apresentado à humanidade em geral, nada mais que uma falta
de vontade pecadora da parte de alguns evita que eles o aceitem e desfrutem dele.
Nenhuma pedra de tropeço é colocada no seu caminho. Tudo o que a chamada
contém é verdadeiro; é adaptado às condições de todos os homens e gratuitamente
oferecido se eles arrependerem-se e crerem. Nenhuma influência exterior os
constrange a rejeitá-lo. Os eleitos aceitam, os não eleitos podem aceitar se o
desejarem, e nada a não ser a sua própria natureza determina que façam o contrário.
"De acordo com o esquema Calvinista", diz o Dr. Hodge, "os não eleitos têm todas as
vantagens o oportunidades de assegurar a sua salvação que, de acordo com qualquer
outro esquema, é garantida à humanidade indiscriminadamente. O Calvinismo ensina
que um plano de salvação adaptado a todos os homens e adequado para a salvação de
todos, é livremente, gratuitamente oferecido para a aceitação de todos, embora no
propósito secreto de Deus, Ele tinha em mente que tivesse precisamente o resultado
que é visto ter na prática, na experiência. Ele designou salvar o Seu próprio povo, na
adoção daquele plano, mas consistentemente oferece os benefícios para todos quantos
estiverem dispostos a recebe-los. Mais do que isto, nenhum anti Calvinista pode
demandar." 2
Os Arminianos objetam que Deus não poderia oferecer o Evangelho àqueles que no
Seu conselho secreto não estavam designados a aceitá-lo; todavia vemos as Escrituras
declararem que é exatamente o que Ele faz. Seus comandos ao Faraó já referiam-se a
isto. Isaías foi comissionado a pregar aos Judeus, e nos versículos 18 e 19 do capítulo
1, encontramos que ele estendeu oferta graciosa de perdão e de limpeza ["(18) Vinde,
pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata,
eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim,
tornar-se-ão como a lã. (19) Se quiserdes, e me ouvirdes, comereis o bem desta
terra."]. Mas em Isaías 6:9-13, imediatamente após a sua visão gloriosa e ao seu
chamado, Isaías é informado que a sua pregação é destinada ao endurecimento dos
seus conterrâneos e à sua quase que destruição universal ["(9) Disse, pois, ele: Vai, e
dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não
percebeis. (10) Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe
os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com
o coração, e se converta, e seja sarado. (11) Então disse eu: Até quando, Senhor? E
respondeu: Até que sejam assoladas as cidades, e fiquem sem habitantes, e as casas
sem moradores, e a terra seja de todo assolada, (12) e o Senhor tenha removido para
longe dela os homens, e sejam muitos os lugares abandonados no meio da terra. (13)
Mas se ainda ficar nela a décima parte, tornará a ser consumida, como o terebinto, e
como o carvalho, dos quais, depois de derrubados, ainda fica o toco. A santa semente
é o seu toco."]. Ezequiel foi enviado para falar à casa de Israel, mas foi de antemão
avisado de que eles não ouviriam [veja em Ezequiel 3:4-7 = "(4) Disse-me ainda:
Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras. (5) Pois
tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de
Israel; (6) nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não
possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos. (7) Mas a
casa de Israel não te quererá ouvir; pois eles não me querem escutar a mim; porque
toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração."]. Em Mateus 23:33-37
nos é apresentado o mesmo ensinamento ["(33) Serpentes, raça de víboras! como
escapareis da condenação do inferno? (34) Portanto, eis que eu vos envio profetas,
sábios e escribas: e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros os perseguireis de
cidade em cidade; (35) para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi
derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias,
filho de Baraquias, que mataste entre o santuário e o altar. (36) Em verdade vos digo
que todas essas coisas hão de vir sobre esta geração. (37) Jerusalém, Jerusalém, que
matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os
teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!"].
Nestas passagens, Deus declara que Ele faz exatamente o que os Arminianos dizem
que Ele não deve. Daí que, a objeção ora em consideração surgiu não por causa de
nenhuma falsa declaração Calvinista quanto ao plano divino, mas através de
presunções erradas feitas pelos próprios Arminianos.
O decreto da eleição é um decreto secreto. E uma vez que nenhuma revelação foi
dada ao pregador quanto a quais entre os seus ouvintes são eleitos e quais não o são,
não lhe é possível portanto apresentar o Evangelho somente àqueles que são eleitos.
É sua tarefa olhar com esperança a todos aqueles a quem ele está pregando o
Evangelho, e orar por eles, que eles possam estar entre os eleitos. De maneira a
oferecer a mensagem aos eleitos, ele deve oferece-la a todos; e o mandamento nas
Escrituras Sagradas é pleno, no sentido de que a Palavra deve ser oferecida a todos.
Mesmo os eleitos devem ouvi-la, antes que creiam e aceitem [veja em Romanos
10:13-17 = "(13) Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (14)
Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem
não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue? (15) E como pregarão,
se não forem enviados? assim como está escrito: Quão formosos os pés dos que
anunciam coisas boas! (16) Mas nem todos deram ouvidos ao evangelho; pois Isaías
diz: Senhor, quem deu crédito à nossa mensagem? (17) Logo a fé é pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Cristo."]. O leitor atento, contudo, perceberá que os convites
não são, no sentido estrito da palavra, gerais; mas que eles são endereçados aos
"cansados", aos "que têm sede", aos "que têm fome", àqueles "que labutam e cujo
fardo é pesado"; e não àqueles que estão inconscientes de qualquer necessidade e
inconscientes do desejo de serem reformados. Enquanto as mensagens são pregadas a
todos, é Deus quem escolhe entre os ouvintes aqueles a quem Ele fala, e ele faz esta
seleção ser conhecida a eles através do testemunho íntimo do Espírito Santo. Os
eleitos, então, recebem as mensagens como a promessa de salvação, mas aos não
eleitos ela parece ser somente tolice, ou se a sua consciência estiver desperta, como
um julgamento para condenação. Como regra, os não eleitos não se preocupam
quanto à salvação, não invejam a esperança de salvação dos eleitos, mas antes riem e
zombam deles. E uma vez que o segredo quanto a quais na audiência pertencem aos
eleitos é oculto ao pregador, usualmente ele não sabe quem recebeu a mensagem para
a salvação e quem recebeu-a para julgamento. Entre os próprios eleitos há tantas
fraquezas, e por outro lado o inimigo é tão hábil em parecer-se como anjo de luz e
fazer uma demonstração, um show exterior de boas ações e palavras, que o pregador
normalmente não pode assegurar-se do resultado. O efeito da pregação não está nas
mãos do pregador, mas sim nas mãos de Deus; e muitas vezes acontece de aquele
sermões que pareciam ser fracos e inócuos serem fortalecidos e tornados efetivos
pelo Espírito Santo.
Todavia, enquanto é certo de que os não eleitos não se voltarão para Deus, não se
arrependerão dos seus pecados e não viverão vidas moralmente boas, é, contudo, sua
tarefa faze-lo. Embora membros de uma raça caída, eles ainda são agentes morais
livres, responsáveis pelo seu caráter e pela sua conduta. Deus e, portanto,
perfeitamente consistente no comandá-los a arrependerem-se. Pois não faze-lo, seria
como se Ele desistisse dos mandamentos da Sua própria lei. É muito comum
ouvirmos a idéia expressa de que o homem não encontra-se sob a obrigação de fazer
coisa alguma para a qual ele não tenha total e perfeita capacidade em si próprio. O
raciocínio, no entanto, é falacioso; pois o homem labuta sob uma incapacidade auto
adquirida. Ele foi criado ereto; e voluntariamente afogou-se no pecado. Ele é,
portanto, tão responsável como é aquele jovem que, de maneira a escapar do serviço
militar deliberadamente mutila uma mão ou um olho. Se a incapacidade cancelasse a
obrigação, então Satã com a sua depravação herdade estaria sob nenhuma obrigação
de agir correto, e sua extremamente perversa, sua diabólica inimizade para com Deus
e os homens não seria pecado. Os pecadores em geral seriam então elevados acima da
lei moral.
Para concluir, pode ser ainda dito que mesmo com relação aos não eleitos a pregação
não é de todo em vão; pois eles são destarte feitos os objetos de um constrangimento,
de um incômodo geral e de influências direcionadoras, os quais previnem que
pequem, tanto quanto o fariam de outra forma.
Capítulo 22
Que Contradiz As Passagens Universalistas da Bíblia

1. Os Termos "Vontade" e "Todos". 2. O Evangelho Tanto É Para Judeus como Para


Gentios.
3. O Termo "Mundo" É Usado Em Vários Sentidos. 4. Considerações Gerais.
1. OS TERMOS "DESEJO", "VONTADE", E "TODOS"
Pode ser questionado, A doutrina da Predestinação não é direta e completamente
contradita pelas Escrituras, as quais declaram que Cristo morreu por "todos os
homens", ou por "todo o mundo", e que Deus quer a salvação de todos os homens?
Em I Timóteo 2:3, 4 Paulo refere-se a "...Deus nosso Salvador, o qual deseja que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (e a
palavra "todos", nos é dogmaticamente informada por nossos oponentes, deve
significar cada ser humano). Em Ezequiel 33:11 lemos, "...Vivo eu, diz o Senhor
Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim em que o ímpio se converta
do seu caminho, e viva."; e em II Pedro 3:9 lemos que Deus está "...não querendo que
ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se." Esta mesma passagem,
'Versão King James', é lida, "Não desejando que nenhuma alma pereça..."
Estes versículos simplesmente ensinam que Deus é benevolente, e que ele não tem
prazer nos sofrimentos das Suas criaturas não mais do que um pai tem prazer no
castigo que algumas vezes ele inflige no seu filho. Deus não quer 'decretivamente'
(como por decreto Seu) a salvação de todos os homens, não importa o quanto Ele
possa desejá-la; e se quaisquer versículos ensinassem que Ele 'decretivamente'
desejou ou intencionou a salvação de todos os homens, eles contradiriam aquelas
outras passagens das Escrituras que ensinam que Deus soberanamente governa e que
o Seu propósito é deixar alguns homens para serem punidos.
A palavra "querer" é utilizada em sentidos diferentes tanto na Bíblia como em nossas
conversas diárias. Ela é algumas vezes usada no sentido de "decreto", ou "propósito",
e algumas vezes no sentido de "desejo", ou "vontade". Um juiz reto e justo não
quererá (no sentido de desejo) que ninguém seja enforcado ou sentenciado à prisão,
todavia ele quer (pronunciando sentença, ou decretos) que a pessoa culpada seja
assim punida, castigada. No mesmo sentido e por razões suficientes, um homem pode
querer ou decidir ter um membro removido ou um olho extraído, muito embora ele
certamente não o deseje. Os vocábulos Gregos "thelo" e "boulomai", os quais são
algumas vezes traduzidos por "querer", são também utilizados no sentido de "desejo"
ou "vontade"; por exemplo, Jesus disse à mãe de Tiago e de João, "...Que
queres?..."[Mateus 20:21]; dos escribas foi escrito que eles "...querem andar com
vestes compridas..."[Lucas 20:46]; certos Escribas e Fariseus disseram a Jesus,
"...Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal."[Mateus 12:38]; Paulo disse, "...eu
antes quero falar cinco palavras com o meu entendimento, para que possa também
instruir os outros, do que dez mil palavras em língua."[I Coríntios 14:19].
De maneira similar, a palavra "todos" é sem qualquer erro usada em sentidos
diferentes nas Escrituras. Em alguns casos ela certamente não significa cada
indivíduo; por exemplo, acerca de João Batista foi dito, "E saíam a ter com ele toda a
terra da Judéia, e todos os moradores de Jerusalém; e eram por ele batizados no rio
Jordão, confessando os seus pecados."[Marcos 1:5]. Depois de Pedro e João haverem
curado o paralítico à porta do templo, lemos que "......todos glorificavam a Deus pelo
que acontecera."[Atos 4:21]. Jesus disse aos Seus discípulos que eles seriam
"...odiados de todos..."[Lucas 21:17] por causa do Seu nome. Paulo foi acusado de ser
"...o homem que por toda parte ensina a todos contra o povo, contra a lei, e contra
este lugar..."[Atos 21:28]. Quando Jesus disse, "E eu, quando for levantado da terra,
todos atrairei a mim."[João 12:32], ele queria dizer plenamente não cada indivíduo da
raça humana, pois a história mostra que nem todos indivíduos foram atraídos a Ele.
Ele certamente não atrai a Si os muitos milhões de ateus que morrem em ignorância
absoluta acerca do Deus verdadeiro. O que Ele quis dizer foi, que uma grande
multidão de todas as nações e classes seria salva; e isto é o que vemos começar a
ocorrer. Em Hebreus 2:9, lemos que Jesus provou a morte por cada homem [N.T.: a
versão da Bíblia utilizada durante a presente tradução (i.e.
http://www.jesussite.com.br/bibliaonline.asp) apresenta o versículo com as seguintes
palavras: "vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus,
coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de
Deus, provasse a morte por todos.) O original em Grego, no entanto, não utiliza a
palavra "homem", mas simplesmente a palavra "cada". Então, em princípio, se o
significado não é para ser limitado àqueles que são realmente salvos, por que limitá-
lo aos homens? Por que não incluir os anjos caídos, mesmo o próprio Diabo, e os
animais irracionais?
O versículo em I Coríntios 15:22 é provavelmente aquele mais freqüentemente
cotado pelos Arminianos para refutar o Calvinismo. Nele lê-se: "Pois como em Adão
todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados." O versículo é,
contudo, inteiramente irrelevante. Tal versículo é do famoso 'capítulo da ressurreição'
escrito por Paulo, e o contexto deixa claro que ele não está falando sobre a vida nesta
era, seja vida física ou espiritual, mas acerca da vida ressurreta. Nos versos 20 e 21,
lemos: "(20) Mas na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as
primícias dos que dormem. (21) Porque, assim como por um homem veio a morte,
também por um homem veio a ressurreição dos mortos." Em seguida vem o versículo
22, "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão
vivificados."; que ele refere-se não à regeneração ou a uma vivificação neste mundo
presente, mas à nova vida a qual é dada na ressurreição, é deixado bem claro nos
versículos subsequentes: "(23) - Cada um, porém, na sua ordem: Cristo as primícias,
depois os que são de Cristo, na sua vinda. (24) Então virá o fim quando ele entregar o
reino a Deus o Pai..." Cristo é o primeiro a entrar na vida ressurreta, então, quando
ele vier, o Seu povo também entrará na sua vida ressurreta. Então virá o fim, isto é, o
fim do mundo, e a introdução do céu em sua plenitude; e o que Paulo diz é que
naquela hora uma vida ressurreta gloriosa se tornará realidade para todos aqueles que
estão em Cristo. Isto é possível porque Cristo é a sua cabeça federal e seu
representante. Através do Seu poder todos os Seus povos serão elevados a uma nova
vida com Ele. E este ponto é ilustrado pelo bem compreendido fato de que a raça caiu
em Adão, que agiu como a cabeça federal e representante de toda a raça. O que Paulo
diz com efeito é isto: "Pois como em Adão todos morrem, do mesmo modo em Cristo
todos serão vivificados." O versículo 22, então, não a algo passado, nem tampouco a
alguma coisa no presente, mas sim a algo no futuro; e não tem absolutamente nada a
ver com a controvérsia Arminiana - Calvinista.
Não foi a totalidade da humanidade que foi igualmente amada de Deus e
indiscriminadamente redimida por Cristo. O louvor de João, "Àquele que nos ama, e
pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos fez reino, sacerdotes para
Deus, seu Pai..."[Apocalipse 1:5], evidentemente procede na hipótese de uma eleição
definitiva e uma expiação limitada, uma vez que o amor de Deus foi a causa e o
sangue de Cristo foi o meio eficaz para a redenção deles. A declaração de que Cristo
morreu "por todos" fica ainda mais clara pela canção que os redimidos agora entoam
ante o trono do Cordeiro: "Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque
foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua,
e povo e nação"[Apocalipse 5:9]. A palavra 'todos' deve ser entendida como
significando todos os eleitos, toda a Sua Igreja, todos aqueles a quem o Pai deu o
Filho, etc., não todos homens universalmente e cada homem individualmente. A
multidão de redimidos será constituída de homens de todas as classes e condições de
vida, de príncipes e de mendigos, de ricos e de pobres, de prisioneiros e de homens
livres, de homens e de mulheres, de jovens e de idosos, de Judeus e de Gentios,
homens de todas as nações, e raças, do norte até o sul, e do leste até o oeste.

2. O EVANGELHO TANTO É PARA JUDEUS COMO PARA GENTIOS.


Em algumas instâncias, a palavra "todos" é utilizada de maneira a ensinar que o
Evangelho é para os Gentios tanto quanto para os Judeus. Através de muitos séculos
da sua história passada, os Judeus foram, com poucas exceções, os recipientes
exclusivos da graça salvadora de Deus. Eles grandemente abusaram dos seus
privilégios como a nação escolhida. Eles supunham que esta mesma distinção seria
mantida durante a era Messiânica; e eles sempre estiveram inclinados a apropriar-se
do Messias exclusivamente para si mesmos. O exclusivismo Farisaico era tão rígido
que os Gentios eram chamados estrangeiros, cães, comuns, impuros; e não era de
conformidade com a lei que um Judeu acompanhasse ou tivesse qualquer coisa a ver
com um Gentio [veja em João 4:9 = "Disse-lhe então a mulher samaritana: Como,
sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (Porque os
judeus não se comunicavam com os samaritanos.)" e em Atos 10:28 = "e disse-lhes:
Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros;
mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo" e em
Atos 11:3 = "dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com
eles"]. A salvação dos Gentios era um mistério que não foi feito conhecido em outras
épocas [veja em Efésios 3:4-6 = "(4) pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha
compreensão do mistério de Cristo, (5) o qual em outras gerações não foi
manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus
santos apóstolos e profetas, (6) a saber, que os gentios são co-herdeiros e membros do
mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho"
e em Colossenses 1:27 = "a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da
glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória"].
Foi por esta razão que Pedro foi arrebatado em êxtase para a tarefa; pela Igreja em
Jerusalém após ele haver pregado o Evangelho a Cornélio, e quase que podemos
ouvi-los engasgando maravilhados, na exclamação dos líderes, quando após a defesa
de Pedro eles disseram: "...Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o
arrependimento para a vida."[Atos 11:18]. Para entender que idéia revolucionária era
esta, leia o texto todo, em Atos 10:1-11, 18. Consequentemente esta era uma verdade
a qual foi peculiarmente necessário enfatizar, e foi trazida à tona nos termos mais
fortes e mais completos. Paulo tinha de ser uma testemunha "para todos os homens",
isto é, tanto para Judeus como para Gentios", do que ele havia visto e ouvido (veja
em Atos 22:15 = "Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do
que tens visto e ouvido"). Como utilizada neste sentido, a palavra "todos" não tem
nenhuma referência com indivíduos, mas significa a humanidade em geral.

3. O TERMO "MUNDO" É USADO EM VÁRIOS SENTIDOS.


Quando é dito que Cristo morreu "...não somente pelos nossos, mas também pelos de
todo o mundo."[I João 2:2], ou que Ele veio para "...para salvar o mundo."[João
12:47], o significado é que não meramente os Judeus, mas os Gentios também estão
incluídos na Sua obra salvadora; o mundo como um mundo ou a raça como uma raça
será redimido. Quando João Batista disse, "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo."[João 1:29] ele não estava fazendo um discurso teológico para os santos,
mas pregando para pecadores; e a coisa não natural então teria sido que ele
discursasse sobre Expiação Limitada ou qualquer outra doutrina a qual pudesse ser
compreendida somente por santos. Nos é dito que João Batista "...veio como
testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio
dele."[João 1:7]. Mas dizer que o ministério de João proporcionava uma oportunidade
para cada ser humano ter fé em Cristo seria irracional. João nunca pregou para os
Gentios. A sua missão era fazer com que Cristo "...fosse manifestado a Israel..."[João
1:31]; e na natureza do caso somente um número limitado dos Judeus poderia ser
trazido para ouvi-lo.

Algumas vezes o termo "mundo" é usado quando somente refere-se a uma grande
parte do mundo, como quando é dito que o Diabo é "o enganador de todo o mundo",
ou que "toda a terra" maravilhou-se e seguiu a besta (Apocalipse 13;3). Se ao
escrever o versículo em I João 5:19, "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo
inteiro jaz no Maligno" o autor quis dizer cada indivíduo da raça humana, então ele e
aqueles para quem ele escreveu estavam também no maligno, e ele estaria em
contradição consigo mesmo, ao dizer que eles eram de Deus. Algumas vezes este
termo significa somente que uma relativamente pequena parte do mundo, como
quando Paulo escreveu à nova Igreja Cristã em Roma que "...em todo o mundo é
anunciada a vossa fé"[Romanos 1:8]. Ninguém a não ser os crentes aplaudiriam
àqueles Romanos por sua fé em Cristo, e na verdade o mundo no sentido mais amplo
da palavra nem sequer sabia que existia tal Igreja em Roma. Assim é que Paulo quis
dizer somente que 'o mundo crente' ou a Igreja Cristã, o que era então uma parte
comparativamente insignificante do mundo real. Um pouco antes que Jesus nascesse,
"...saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse
recenseado . . . . E todos iam alistar-se..."[Lucas 2:1, 3]; todavia sabemos que o
escritos tinha em mente somente aquela comparativamente pequena parte do mundo
que era controlada por Roma. Quando foi dito que no dia de Pentecostes, "Habitavam
então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do
céu."[Atos 2:5], entendia-se tratar somente aquelas nações que eram imediatamente
conhecidas dos Judeus, já que os versículos de números 9, 10 e 11 listavam todas as
que ali estavam representadas. Paulo diz que o Evangelho "...foi pregado a toda
criatura que há debaixo do céu..."[Colossenses 1:23]. Da deusa dos Efésios, Diana,
foi dito ter sido adorada por "toda a Ásia e o mundo..."[Atos 19:27]. A nós foi dito
que a fome que veio sobre o Egito no tempo de José "...prevaleceu em todas as terras"
e que "...de todas as terras vinham ao Egito, para comprarem de José..."[Gênesis
41:57].
Numa conversação normal, muitas vezes falamos do mundo dos negócios, do mundo
educacional, do mundo político, etc., mas não queremos dizer que toda pessoa no
mundo é um executivo, ou graduado, ou um político. Quando dizemos que um certo
fabricante de automóveis vende automóveis para todo mundo, não queremos com
isso dizer que eles realmente vendem para cada indivíduo, mas que eles vendem
carros para todo aquele que quiser pagar o seu preço. Podemos dizer de um professor
de literatura numa cidade, que ele leciona para todo mundo, -- não que todo o mundo
estude com ele, mas todos aqueles que pelo menos estudam, naquela cidade, o fazem
com ele. A Bíblia é escrita na linguagem plena do povo, e deve ser assim entendida.
Versículos como João 3:16, "Pois Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu
Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida
eterna", dá prova abundante de que a redenção que os Judeus pensaram em
monopolizar é universal tanto quanto o espaço. Deus amou o mundo de tal maneira,
não uma pequena porção do mundo, mas o mundo inteiro, que Ele deu o Seu Filho
Unigênito para a sua redenção. E não somente a extensão, mas a intensidade do amor
de Deus são claramente demonstradas pela importante expressão adverbial 'de tal
maneira', -- Deus amou o mundo de tal maneira; Deus amou o mundo tanto, apesar da
perversidade, da impiedade do mundo, que Ele deu o Seu Filho Unigênito para
morrer por ele. Mas onde está a tão propalada prova da sua universalidade para com
os indivíduos? Este versículo é algumas vezes pressionado a tal extremo que Deus é
representado como amoroso demais para punir qualquer um, e tão cheio de
misericórdia que Ele não lidará com os homens de acordo com nenhum standard,
nenhum padrão rígido de justiça, independentemente dos seus merecimentos. O leitor
atento, ao comparar este versículo com outros na Bíblia, verá que alguma restrição
precisa ser colocada na palavra "mundo". Um escritor perguntou, "Amou Deus a
Faraó?" (veja em Romanos 9:17 = "Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo
te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado
por toda a terra."). Amou Ele os Amalequitas (veja em Êxodo 17:14 = "Então, disse o
Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué; porque Eu
hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu."). Amou Deus os
Canaanitas, a quem Ele comandou serem exterminados sem misericórdia? (veja em
Deuteronômio 20:16 = "Porém, das cidades destas nações que o Senhor, teu Deus, te
dá em herança, não deixarás com vida tudo o que tem fôlego."). Amou Deus os
Amonitas e Moabitas, a quem Ele comandou não serem recebidos na congregação
para sempre? (veja em Deuteronômio 23:3 = "Nenhum Amonita ou Moabita entrará
na assembléia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do
Senhor, eternamente."). Ama Deus os que praticam a iniqüidade? (veja em Salmos
5:5 = "Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam
a iniqüidade."). Ele ama os vasos de ira preparados para destruição, os quais Ele
suporta com muita longanimidade? (veja em Romanos 9:22 = "Que diremos, pois, se
Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita
longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,"). Amou Deus a Esaú?
(veja em Romanos 9:13 = "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de
Esaú.")."
4. CONSIDERAÇÕES GERAIS.
Nem o convite profético, "Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós,
os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem
dinheiro e sem preço, vinho e leite."[Isaías 55:1] e outras referências no mesmo
sentido, contradizem este ponto de vista; pois a maioria da humanidade não está
sedenta mas morta, morta em pecado, sem esperança e servidores aplicados de Satã, e
em nenhum estado de fome e de sede, atrás da retidão. O convite gracioso de vir a
Cristo é rejeitado, não porque haja qualquer coisa fora a sua própria pessoa que
impeça a sua vinda, mas porque até que lhes seja graciosamente dado um novo
nascimento através do operar do Espírito Santo eles não têm nem a vontade nem o
desejo de aceitar. É Deus Quem dá esta vontade e Quem excita este desejo naqueles
que são predestinados para a vida (veja em Romanos 11:7, 8 = "Que diremos, pois? O
que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram
endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para
não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje." e em Romanos 9:18 = "Logo,
tem Ele misericórdia que quem quer e também endurece a quem Lhe apraz."). Ele
que quer, pode vir; mas uma pessoa que está completamente imersa em ateísmo, por
exemplo, não tem chance de ouvir a oferta do Evangelho e não pose possivelmente
vir. "E, assim, a fé vem pela pregação..."[Romanos 10:17]; e onde não há fé, não pode
haver salvação. Nem pode vir aquela pessoa que ouviu o Evangelho mas que ainda é
governada por princípios e desejos que fazem com que ela O odeie. Ele é um escravo
do pecado e age de acordo. Ele, que quer, pode escapar de um prédio em chamas
enquanto as escadas ainda estiverem seguras; mas ele que está dormindo, ou ele que
não pensa seriamente no incêndio o bastante para fugir dele, não tem a vontade, e
perece nas chamas. Clark diz, "Os Arminianos são fãs de dizerem: 'quem quer que
seja que queira, virá', ou 'Quem quer que creia', implicando assim que a crença e a
decisão são na totalidade atos de homem, e que tal fato é um golpe na soberana
eleição. Verdadeiras como estas declarações são, elas não tocam no ponto em
discussão. A quilômetros mais abaixo, está o ponto vital; como uma pessoa passa a
querer? Se alguém quer, ele pode certamente escolher; mas a natureza pecaminosa
avessa a Deus precisa ser modificada, para passar a querer, pela palavra de Deus, pela
graça de Deus, pelo Espírito de Deus, ou por uma intervenção soberana." 1
Estritamente falando, estas não são ofertas divinas que são feitas
indiscriminadamente a toda a humanidade, mas são endereçadas a um povo escolhido
e são incidentalmente ouvidas por outros.
Se as palavras em I Timóteo 2:4, que Deus "O Qual deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.", fossem tomadas no
sentido Arminiano, seguiria que, ou Deus está desapontado nos Seus desejos, ou
todos os homens são salvos, sem exceção. Ademais, a doutrina que imputa
desapontamento à Deidade, contradiz a classe de passagens Bíblicas as quais ensinam
a soberania de Deus. A Sua vontade neste aspecto tem sido a mesma através dos
séculos. E se Ele tivesse querido que os Gentios fossem salvos, por que foi que Ele
confinou o conhecimento do meio de salvação aos limites estreitos da Judéia?
Certamente ninguém negará que Ele poderia tão facilmente ter feito o Seu Evangelho
conhecido tanto aos Gentios como aos Judeus. Onde Ele não proveu os meios,
podemos estar seguros de que Ele não designou os fins. Vale a pena citar a resposta
de Agostinho àqueles que adiantaram esta objeção no seu tempo: "quando o nosso
Senhor lamenta que embora Ele desejasse juntar os filhos de Jerusalém como uma
galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas ela (Jerusalém) não quis,
devemos considerar que a vontade de Deus foi sobrepujada por um número de
homens fracos, de modo que Ele que era o Deus Onipotente não poderia fazer o que
Ele desejasse ou o que Ele quisesse fazer? Se é assim, no que se transforma então
aquela onipotência pela qual Ele fez todas as coisas que O agradaram tanto no céu
como na terra? Mais ainda, quem será encontrado tão irracional para dizer que Deus
não pode converter as vontades más dos homens, os quais Lhe aprouver, quando Lhe
aprouver, e como Lhe aprouver, em boas? Agora, quando Ele assim o faz, Ele o faz
em misericórdia, e quando Ele não o faz, em julgamento Ele não faz." Versículos
como I Timóteo 2:4 parecem ser melhor compreendidos não referirem-se aos homens
individualmente, mas como um ensinamento da verdade geral que Deus é
benevolente e que Ele não se alegra nos sofrimentos e na morte das suas criaturas.
Pode ser ainda assinalado que se as passagens universalistas forem tomadas num
sentido evangélico e aplicadas tão largamente quanto os Arminianos desejam aplicá-
las, elas provarão a salvação universal, -- um resultado que é contradito pela
Escritura, e o qual na verdade não é sustentado nem pelos próprios Arminianos.
Como apresentado no capítulo sobre a Expiação Limitada, há um sentido no qual
Cristo de fato morreu pela humanidade em geral. Nenhuma distinção é feita quanto a
idade ou país, caráter ou condição. A raça caiu em Adão e a raça no sentido coletivo
foi redimida em Cristo. A obra de Cristo arrestou a execução imediata do castigo do
pecado, como relacionado a toda a raça. Sua obra também traz muitas bênçãos
temporais e físicas à humanidade em geral, e estabelece a fundação para a oferta do
Evangelho a todos quantos O ouçam. Estes são os resultados admitidos serem da Sua
obra e aplicados à toda a humanidade. Todavia isto não quer dizer que Ele morreu
igualmente e que com o mesmo desígnio para todos.
É verdade que alguns versículos isolados parecem realmente implicar na posição
Arminiana. Isto, contudo, reduziria a Bíblia a uma massa de contradições; pois há
outros versículos os quais ensinam a Predestinação, a Incapacidade (Depravação), a
Eleição, a Perseverança e etc., e os quais não podem por quaisquer meios legítimos
serem interpretados em harmonia com o Arminianismo. Assim é que nesses casos, o
significado do escritor sagrado pode ser determinado somente pela analogia da
Escritura. Uma vez que a Bíblia é a palavra de Deus, ela é consistente em si mesma.
Consequentemente, se encontramos uma passagem a qual em si mesma é capaz de
duas interpretações, uma que harmoniza-se com o restante das Escrituras, enquanto
que a outra não, é nosso dever então aceitar a primeira. É um princípio de
interpretação reconhecido que as passagens mais obscuras devem ser interpretadas à
luz de passagens mais claras, e não vice versa. Tem sido mostrado a nós que à
evidência a qual é trazida à tona em defesa do Arminianismo, e a qual à primeira vista
parece possuir considerável plausibilidade, pode legitimamente ser dada uma
interpretação que se harmoniza com o Calvinismo. À vista das muitas passagens
Calvinistas, e da ausência de qualquer uma passagem genuinamente Arminiana, nós
sem hesitação fazemos a assertiva de que o sistema teológico Calvinista é o sistema
verdadeiro.
Este é o verdadeiro universalismo das Escrituras Sagradas -- a Cristianização
universal do mundo e a derrota completa das forças de perversidade, de impiedade
espiritual. 'isto, é claro, não significa que cada indivíduo será salvo, pois muitos estão
inquestionavelmente perdidos. Tanto quanto na salvação do indivíduo, perde-se muito
possível serviço a Cristo e muitos pecados são cometidos antes que a salvação seja
completa, assim também o é na salvação do mundo. Um número considerável são
perdidos; todavia o processo de salvação terminará num grande triunfo, e os nossos
olhos ainda verão "o espetáculo glorioso de um mundo salvo." As palavras do Dr.
Warfield são aqui muito apropriadas: "A raça humana prossegue para o objetivo para
o qual ela foi criada, e o pecado não arranca isto das mãos de Deus; o propósito
primário de Deus para com ela (a raça humana) é alcançado; e através de Cristo, a
raça humana, embora caída no pecado, é recuperada para Deus e alcança o seu
destino original." 2
Então, enquanto o Arminianismo nos oferece um universalismo espúrio, o qual é no
máximo um universalismo de oportunidade, o Calvinismo nos oferece o
universalismo verdadeiro, na salvação da raça. E somente o Calvinista, com a sua
ênfase nas doutrinas da Eleição soberana e da graça Eficaz, pode olhar para o futuro
com confiança, esperando ver um mundo redimido.
Capítulo 23
Salvação Pela Graça

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1. Méritos Malignos do Homem. 2. Deus Pode Dar ou Restringir a Graça, Como Lhe
Aprouver. 3. Salvação Não Para Ser Ganhada Pelo Homem. 4. Provas Nas Escrituras. 5.
Observações Adicionais.
A Bíblia declara que a salvação do pecador é assunto da graça. Na passagem Bíblica em
Efésios 1;7-10 ["(7) em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos
delitos, segundo as riquezas da sua graça, (8) que ele fez abundar para conosco em toda
a sabedoria e prudência, (9) fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o
seu beneplácito, que nele propôs (10) para a dispensação da plenitude dos tempos, de
fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão
na terra"] aprendemos que o propósito primário de Deus na obra da redenção foi
demonstrar a gloria deste atributo divino, de modo que através das eras subsequentes o
universo inteligente pudesse admirar-se como é feita conhecida através do Seu amor
imerecido e bondade sem fronteira para com as criaturas indefesas, criaturas culpadas,
criaturas vis. Bem de acordo, todos os homens são representados como afogados num
estado de pecado e de miséria, do qual eles não podem intimamente, salvarem-se a si
mesmos. Quando eles mereciam somente a ira e a maldição de Deus, Ele determinou que
proveria graciosamente a redenção para eles, ao enviar o Seu Filho Eterno para assumir a
sua natureza e culpa e para sofrer e obedecer no seu lugar; e o Seu Espírito Santo para
aplicar a redenção comprada pelo Filho. No mesmo princípio representativo pelo qual o
pecado de Adão é imputado a nós, isto é, debitado em nossa conta de tal maneira que
somos inteiramente responsabilizados por ele e sofremos as conseqüências dele, nosso
pecado por sua vez é imputado a Cristo e a Sua retidão é imputada a nós. Isto também é
rapidamente, ainda que claramente, expressado no Pequeno Catecismo, o qual diz:
"Justificação é um ato da livre graça de Deus, no qual ele perdoa todos os nossos pecados
e nos aceita como justos diante de si, somente por causa da justiça de Cristo a nós
imputada, e recebida só pela fé."[Resposta à pergunta 33 "O Que É Justificação?".
Referências na Bíblia: Ef 1.7; II Co 5.19,21; Rm 4.5; Rm 3.22-25; Rm 5.17-19; Rm 4.6-8;
Rm 5.1; At 10.43; Gl 2.16; Fp 3.9]
Deveríamos manter sempre muito claramente na mente a distinção entre os dois pactos: o
pacto de obras, sob o qual Adão foi colocado e o qual resultou na queda da raça no
pecado; e o pacto da graça, sob o qual Cristo foi enviado com Redentor. Como
apresentado noutra conexão, o Sistema teológico Arminiano não faz nenhuma distinção
em princípio entre o pacto de obras e o pacto da graça, a menos que agora Deus ofereça
a salvação em termos mais baixos e ao invés de demandar uma obediência perfeita Ele
aceite somente tanta fé e obediência evangélica quanto o pecador aleijado seja capaz de
render. Naquele sistema o fardo da obediência é ainda jogado sobre o próprio homem; e a
sua salvação depende em primeiro lugar das suas próprias obras.
A palavra "graça" no seu sentido apropriado significa o amor gratuito e imerecido de Deus,
exercido para com aqueles que não o merecem, os pecadores. É algo que é dado a
despeito de qualquer valor no homem; e introduzir obras ou mérito em qualquer parte
deste sistema vicia a sua natureza e frustra seu desígnio. Apenas porque é graça, não é
dada em bases de méritos anteriores. Como o próprio nome importa, é necessariamente
gratuita; e desde que o homem está escravizado pelo pecado até que seja dada, todos os
méritos anteriores ele possa ter - anteriores a ela - são méritos ruins e merecem somente
punição, não dádivas, ou favores. O que quer que seja que os homens tenham de bom,
Deus é quem deu; e o que eles não têm, porque, é claro, Deus não deu. E desde que a
graça é dada sem qualquer relação com méritos precedentes, é portanto soberana e é
concedida somente àqueles a quem Deus selecionou para recebê-la. É esta soberania da
graça, e não a sua previsão ou a preparação para tal, o que coloca os homens nas mãos
de Deus e pendura a salvação absolutamente na Sua misericórdia ilimitada. Nisto
encontramos a base para a Sua eleição ou rejeição, de determinadas pessoas.
Por causa da sua perfeição moral absoluta, Deus requer pureza impecável e obediência
perfeita nas suas criaturas inteligentes. Esta perfeição é providenciada pela retidão
impecável de Cristo sendo imputada a elas; e quando Deus olha para os redimidos, Ele os
vê vestidos com as vestes da retidão impecável de Cristo e com nenhuma outra
vestimenta que seja delas mesmas. Nos é distintamente dito que Cristo sofreu como um
substituto, "o justo pelo injusto"; e quando o homem é encorajado a pensar que ele deve
a sua salvação a algum tipo de poder ou de arte de si mesmo, quando na realidade tudo é
somente da graça e pela graça, Deus é roubado de parte da Sua glória. Por nenhuma
ginástica de imaginação as boas obras do homem nesta vida podem ser justamente
consideradas como equivalentes para as bênçãos da vida eterna. Benjamin Franklin,
embora de forma alguma fosse Calvinista, bem expressou esta idéia quando escreveu:
"Aquele que, por haver dado um pouco de água a alguém com sede, esperasse ser pago
com uma boa plantação, seria modesto em sua demanda, comparado com aqueles que
pensam que merecem o céu, pelo pouco que fazem na terra." Somos, na verdade, nada
mais que recebedores; nós nunca trazemos nenhuma recompensa adequada a Deus,
estamos sempre recebendo dEle, e assim será até toda a eternidade.

2. DEUS PODE DAR OU RESTRINGIR A GRAÇA, COMO LHE APROUVER


Uma vez que Deus proveu esta redenção ou expiação às Suas próprias custas, ela é
propriedade Sua e Ele é absolutamente soberano ao escolher quem devesse ser salvo
através dela. Não há nada mais sistematicamente enfatizado na doutrina Escritural da
redenção do que o caráter absolutamente gracioso da redenção. Assim, pela separação da
massa original, não através de alguma obra própria mas somente através da graça livre de
Deus, os vasos de misericórdia vêm quão grande dádiva foi a eles concedida. Ver-se-á que
muitos que herdam o céu foram pecadores muito piores neste mundo, do que o foram
muitos outros, que se perdem.
A doutrina da Predestinação reduz toda a imaginação 'auto justificada', a qual
subestimaria a glória de Deus. A doutrina convence aquele que é salvo de que ele pode
ser eternamente grato por Deus have-lo salvo. Daí que, no sistema teológico Calvinista,
toda bravata é excluída e a honra e a glória, que pertencem a Deus, totalmente
preservadas. "O maior dos santos", diz Zanchius, "não pode triunfar sobre o mais
abandonado dos pecadores, mas é levado a creditar a sua salvação, tanto do pecado
como do inferno, à simples boa vontade e propósito soberano de Deus, quem
graciosamente o fez diferente do mundo, que jaz na perversidade e iniquidade." 1

3. SALVAÇÃO NÃO PARA GANHADA PELO HOMEM.


Todos os homens naturalmente sentem que deveriam ganhar a sua salvação; e um
sistema teológico que faz alguma provisão naquele sentido apela a eles, rapidamente. Mas
Paulo desce o machado em tal raciocínio quando diz, "...porque, se fosse dada uma lei
que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei."[Gálatas 3:21]; e Jesus
disse aos Seus discípulos, "Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for
mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos somente o que devíamos fazer."[Lucas
17:10]
A nossa própria justiça, diz o profeta, é nada mais que roupa suja -- ou, como escrito na
Bíblia Versão King James, trapos imundos -- à vista de Deus (veja em Isaías 64:6 = "Pois
todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia...").
E quando o próprio Isaías escreveu, "Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e
os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e
sem preço, vinho e leite."[Isaías 55:1], ele convidou os completamente sem dinheiro, os
famintos, os sedentos, para virem e tomarem posse, e fartarem-se, livre de quaisquer
custos, como se tudo já estivesse sido pago. E comprar sem ter dinheiro deve significar
que o produto já foi produzido e disponibilizado, às custas de outrem. Quanto mais
avançamos na vida Cristã, o menos que somos inclinados a atribuir qualquer mérito a nos
mesmos, e o mais que agradecemos a Deus por tudo. O crente não somente anseia pela
vida eterna, mas também olha para trás para a eternidade antes do mundo e encontra, no
propósito do divino amor, o começo e a âncora da sua salvação.
Se a salvação é da graça, como as Escrituras tão claramente o ensinam, ela não pode ser
das obras, sejam reais ou previstas. Não há mérito algum no crer, já que a fé em si
mesma é dom de Deus. Deus dá ao Seu povo um operar íntimo do Espírito de forma que
eles possam crer; e a fé é somente o ato de receber a dádiva proferida. Ela é, então,
somente a causa instrumental e não a causa meritória da salvação. O que Deus ama em
nós não é o nosso mérito próprio, mas sim a Sua própria dádiva, o Seu próprio dom; pois
a sua imerecida graça precede às nossas obras meritórias. A graça não é meramente
concedida quando oramos por isso, mas a graça em si mesma faz com que oremos pelo
seu aumento e por sua continuidade.
No Livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos que mesmo a própria incepção da fé é
assinalada à graça (veja em 18:27 = "...aos que pela graça haviam crido."); que somente
aqueles que foram ordenados à vida eterna é que creram (veja em 13:48 = "...e creram
todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."); e que é prerrogativa de Deus
abrir o coração de forma que apegue-se ao Evangelho (veja em 16:14 = "...e o Senhor lhe
abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia."). A fé é então referida aos
conselhos de eternidade, os eventos no tempo sendo somente as obras de acabamento.
Paulo atribui à graça de Deus que sejamos "feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas
obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas."[Efésios 2:10]. As boas
obras, então, não são em nenhum sentido a base meritória, mas sim os frutos e a prova
da salvação.
Lutero ensinou esta mesma doutrina quando ele disse de alguns que "Eles atribuem ao
Livre-Arbítrio realmente muito pouco, todavia ensinam-nos que por aquele muito pouco
nós podemos atingir a retidão e a graça. Eles nem respondem a questão, 'Por que Deus
justifica um e deixa o outro?', de outra forma a não ser por enfatizarem a liberdade da
vontade, e dizer, 'Porque um esforça-se e o outro não; e Deus respeita aquele que é
esforçado, e despreza o outro por sua falta de esforço'; por temer que, se fizesse de outra
forma, pareceria ser injusto." 2
Foi dito que Jeremy Taylor caminhava acompanhado por outra pessoa numa rua em
Londres, quando depararam-se com um homem embriagado deitado na sarjeta. O outro
homem fez um comentário depreciativo sobre o bêbado. Mas Jeremy Taylor, parando e
olhando para ele disse, "Mas pela graça de Deus, ali está Jeremy Taylor!" O espírito que
estava em Jeremy Taylor naquele momento é o espírito que deveria estar em cada Cristão
resgatado do pecado. Foi repetidamente ensinado que Israel devia a sua separação dos
outros povos do mundo não a nada de bom ou desejável em si mesmo, mas somente ao
amor gracioso de Deus, que persistiu fielmente, apesar da apostasia, do pecado, e da
rebelião.
Paulo diz, com relação a quem baseie a salvação nos seus próprios méritos, que,
"...procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus."[ Romanos,
10:3] e estavam, portanto, não na Igreja de Cristo. Ele deixa claro que "a justiça de Deus"
nos é dada através da fé, e que entramos no céu somente implorando os méritos de
Cristo.
A razão para este sistema de graça é que aqueles que glorificam deveriam glorificar no
Senhor; e que nenhuma pessoa deveria jamais ter motivo para vangloriar-se sobre outra.
A redenção foi comprada a um custo infinito para o Próprio Deus; e portando pode ser
dispensada a quem Ele queira, numa maneira puramente graciosa. Como disse o poeta:
"None of the ransomed ever knew, " Nenhum dos resgatados jamais soube
How deep were the waters crossed, Quão profundas eram as águas,
Nor how dark was the night that the Nem quão negra foi a noite que
Lord passed through, O Senhor enfrentou
E'er He found His sheep that was lost." Até que Ele encontrasse a Sua ovelha perdida."

4. ENSINO NAS ESCRITURAS.


Vejamos agora algumas daquelas passagens Bíblicas que ensinam que os nossos pecados
foram imputados a Cristo; e depois vejamos algumas que ensinam que a Sua justiça é
imputada a nós.
"(4) Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as
nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. (5) Mas ele foi
ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades;
o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados."[Isaías 53:4,5]. "(11) Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito;
com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniqüidades deles
levará sobre si. (12) Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os
poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi
contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos
transgressores intercedeu.[Isaías 53:11, 12]. "Àquele que não conheceu pecado, Deus o
fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus."[II Coríntios 5:21].
Aqui ambas verdades são claramente apresentadas, -- os nossos pecados são debitados
na Sua conta; e a Sua justiça, na nossa. Não há nenhum outro sentido concebível no qual
Ele pudesse ser "feito pecado", ou nós "sermos feitos justiça de Deus." Foi Cristo que,
"levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos
para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados."[I
Pedro 2:24]. Aqui, novamente, ambas verdades são lançadas juntas. "Porque também
Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus;
sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito"[I Pedro 3:18]. Estes, e
muitos outros versículos, provam a doutrina da Sua substituição em nosso lugar, tão claro,
tão pleno como a linguagem pode colocá-lo. Se eles não provarem que a morte de Cristo
foi um sacrifício verdadeiro e apropriado pelo pecado, em nosso lugar, então a linguagem
humana não pode expressá-lo.
O fato de que a Sua justiça nos é imputada, é ensinado com igual clareza. "(20)
porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem
pela lei é o pleno conhecimento do pecado. (21) Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a
justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas; (22) isto é, a justiça de Deus
pela fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; pois não há distinção. (23) Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (24) sendo justificados gratuitamente pela
sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, (25) ao qual Deus propôs como
propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua
paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos; (26) para demonstração da sua
justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que
tem fé em Jesus. (27) Onde está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras?
Não; mas pela lei da fé. (28) concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as
obras da lei."[Romanos 3:20-28]. "(18) Portanto, assim como por uma só ofensa veio o
juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça
veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida. (19) Porque, assim como pela
desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim também pela
obediência de um muitos serão constituídos justos."[Romanos 5:18, 19]. O testemunho de
Paulo com relação a si próprio foi: "(8) sim, na verdade, tenho também como perda todas
as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a
perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo,
(9) e seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem
pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé."[Filipenses 3:8, 9]. Agora,
não é estranho que qualquer um que finja ser guiado pela Bíblia, pudesse, à vista de toda
esta linguagem clara e inequívoca, sustentar que a salvação, em qualquer que seja o grau,
dá-se pelas obras?
Paulo escreveu aos Romanos: "Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não
estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." [Romanos 6:14]. Isto é, Deus tirou-os de
sob um sistema de lei e colocou-os sob um sistema de graça; e como o seu Soberano, não
era Seu propósito deixá-los cair novamente sob o domínio do pecado. Na verdade, se eles
caíssem, não seria porque Deus os tivesse tirado de sob a graça e colocado-os novamente
sob a lei, de modo que as suas próprias obras determinassem o seu destino. Na própria
naturesa do caso, tanto quanto a pessoa está sob a graça, ela é totalmente livre de
qualquer caso, de qualquer acusação que a lei tenha contra ela, através do pecado. Pois
alguém ser salvo através da graça significa que Deus não está mais tratando-o como ele
merece, mas que Ele soberanamente pôs a lei de lado e que Ele o salva, apesar do seu
demérito, limpando-o do seu pecado; é claro, antes que ele seja digno de adentrar à
Divina presença.
Paulo sofre grandes dores para deixar claro que a graça de Deus não é 'ganhada por nós',
não é assegurada por nós de nenhuma forma; mas é simplesmente dada a nós. Se ela for
'ganhada por nós', através dos nossos merecimentos, acaba o fato de ela ser graça (veja
em Romanos 11:6 = "Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça
já não é graça").
6. OBSERVAÇÕES ADICIONAIS.
Na presente situação da raça, todos os homens estão perante Deus, não como cidadãos
de um estado, todos devendo ser tratados igualmente e dados a mesma "chance" para
salvação; mas antes como criminosos culpados e condenados perante um juiz justo e reto.
Nenhum deles tem qualquer direito à salvação. A surpresa é, não que Deus não salva a
todos, mas que quando todos são culpados, Ele perdoa a tantos; e a resposta à questão
'Por que Ele não salva a todos?' é encontrada não na negação dos Arminianos da
onipotência da Sua graça, mas no fato de que, como diz o Dr. Warfield, "Deus, no Seu
amor, da raça culpada do homem salva a tantos quantos Ele consegue da Sua inteira
natureza, o consentimento para salvar." 3 Por razões por Ele próprio conhecidas, Ele vê
que não é o melhor perdoar a todos, mas que a alguns deveria ser permitido terem o seu
próprio caminho e serem deixados para o castigo eterno, de modo que seja mostrado que
coisa horrível é o pecado e a rebelião contra Deus.
Vez após vez as Escrituras repetem a afirmação de que a salvação e de graça, como se
antecipando a dificuldade que os homens teriam em chegar à conclusão de que eles não
podem ganhar a salvação através das suas próprias obras. Assim elas também é destruída
por elas (as Escrituras) a noção tão disseminada de que Deus deve a salvação para quem
quer que seja. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie."[Efésios 2:8, 9]. "Mas se é
pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça"[Romanos
11:6]. "porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o
que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado"[Romanos 3:20]. "Ora, ao que
trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida"[Romanos
4:4]. "Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido?..." [I Coríntios
4:7]. "Mas pela graça de Deus sou o que sou..."[I Coríntios 15:10]. "Ou quem Lhe deu
primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado?"[Romanos 11:35]. "Porque o salário do
pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso
Senhor."[Romanos 6:23].
Graça e obras são mutualmente exclusivas; e como bem podemos tentar colocar os dois
pólos juntos, para o efeito de uma coalisão da graça e das obras na salvação, também
podemos falar de uma "dádiva comprada", como falar de "graça condicional"; pois quando
a graça deixa de ser absoluta, ela deixa de ser graça. Portanto, quando as Escrituras
dizem-nos que a salvação é de graça, devemos entender que ela é inteiramente, através
de todo o seu processo, a obra de Deus; e que qualquer obra, quaisquer feitos
verdadeiramente meritórios feito pelo homem, são o resultado da mudança que já tem
sido operada.
O Arminianismo destrói este caráter puramente gracioso da salvação e substitui por um
sistema de graça mais obras. Não importa quão pequena parte estas obras possam
desempenhar, elas são necessárias e são a base da distinção entre os salvos e os
perdidos; e ofereceriam então ocasião para os salvos se vangloriarem sobre os perdidos,
uma vez que cada um teve igual oportunidade. Mas Paulo diz que toda a vanglória, toda a
jactância são excluídas, e que aquele que se gloria, deveria gloriar-se no Senhor (veja em
Romanos 3:27 = "Onde está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não;
mas pela lei da fé." E veja também em I Coríntios 1:31 = "para que, como está escrito:
Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor"). Mas se salvo pela graça, o redimido lembra-se
do lamaçal de onde foi içado; e sua atitude contra os perdidos é de simpatia e de piedade.
Ele sabe que não fora pela graça de Deus ele também teria estado na mesma condição
daqueles que perecem, e o seu canto é: "Não a nós, Senhor, não a nós, Senhor, mas ao
Teu nome dá glória; por amor da Tua misericórdia, e da Tua fidelidade."
Capítulo 24
Segurança Pessoal

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1. Bases Para Segurança. 2. Ensinamentos das Escrituras. 3. Conclusão

1. BASES PARA SEGURANÇA


Todos os verdadeiros Cristão podem e devem saber que eles estão entre aqueles que
foram predestinados para a vida eterna. Desde que a fé em Cristo, que é uma dádiva
de Deus, é o meio para a salvação, e desde que tal meio não é dado para qualquer um,
mas para somente para os eleitos, a pessoa que sabe que tem esta fé pode estar segura
de que está entre os eleitos. A simples presença da fé, não importa o quão fraca ela
possa ser, desde que seja uma fé real, é uma prova de salvação. "...creram todos
quantos (e somente eles, N.A.) haviam sido destinados para a vida eterna."[Atos
13:48]. A fé é um milagre da graça dentro daqueles que já foram salvos -- uma
evidência espiritual de que a sua salvação foi "terminada" na cruz; e certificada na
manhã da ressurreição. Os verdadeiramente salvos sabem que o amor de Deus foi
irradiado, foi derramado nos seus corações e que os seus pecados foram perdoados.
No livro "O Peregrino", lemos que quando os pecados do Cristão foram perdoados,
um pesado fardo caiu dos seus ombros e que ele experimentou um grande alívio.
Cada homem convertido deveria saber que encontra-se entre os eleitos, pois o
Espírito Santo renova somente aqueles que são escolhidos pelo Pai e redimidos pelo
Filho. "É tolice iludir-se que um amante sincero de Jesus Cristo, que confia nEle
como o seu Salvador e amorosamente O ama como seu Senhor, possa possivelmente
perder a eleição de Deus. É somente porque ele é um dos eleitos de Deus que ele
pode crer em Cristo para a salvação da sua alma, e seguir após Cristo na conduta da
sua vida.... É impossível, que um crente em Cristo não ser eleito de Deus, porque é
somente pela eleição de Deus que ele se torna crente em Cristo.... Não precisamos,
não devemos, buscar em nenhum outro lugar pela prova da nossa eleição. Se cremos
em Cristo e O obedecemos, nós somos os seus filhos eleitos." 1
Cada um que ama a Deus e tem um desejo sincero de salvação em Cristo está entre os
eleitos, pois os não eleitos nunca têm este amor ou este desejo. Ao contrário, eles
amam o mal e odeiam a justiça, de conformidade com as suas naturezas pecadoras.
"Um homem cumpre a sua tarefa para com Deus e para com o seu vizinho? Ele é
honesto, caridoso, puro? Se ele o é, e se ele tem consciência do poder para continuar
a sê-lo, tanto quanto ele possa depender dessa consciência, tanto quanto ele pode
razoavelmente crer ser ele próprio predestinado para a felicidade futura." 2
"Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos.
Quem não ama permanece na morte."[I João 3:14]. "Aquele que é nascido de Deus
não peca habitualmente; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode
continuar no pecado, porque é nascido de Deus."[I João 3:9]. Ou seja, é contra os
seus princípios íntimos cometer pecado. Quando ele pensa profunda e sobriamente a
respeito disso, o pecado lhe é repulsivo e ele o odeia. Tanto quanto um bom cidadão
Brasileiro não faz nada que seja em detrimento do seu país, também o verdadeiro
crente nada faz que seja para injúria do reino de Deus. Como prática, ninguém neste
mundo vive uma vida perfeita sem pecado; todavia tal é o standard ideal o qual ele
procura alcançar.
Diz o Dr. Warfield, "Pedro nos exorta, em II Pedro 1:10 ("Portanto, irmãos, procurai
mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto,
nunca jamais tropeçareis"), a fazer o nosso chamado e a nossa eleição firmes,
precisamente pela diligência nas boas obras. Ele não quer dizer que através das boas
obras nós podemos assegurar de Deus um decreto de eleição no nosso nome. Ele quer
dizer que em expandindo o germe da vida espiritual que recebemos de Deus, até o
seu total florescer, por 'trabalhar' a nossa salvação, claro que não sem Cristo mas em
Cristo, nós possamos fazer-nos seguros de que realmente recebemos a eleição que
reclamamos... As obras de Deus tornam-se assim a marca e o teste da eleição; e
quando tomado no sentido compreensivo no qual Pedro aqui está pensando deles, eles
são as únicas marcas e os únicos testes de eleição. Nós nunca podemos saber que
somos eleitos de Deus para a vida eterna, exceto pelo manifestar dos frutos da eleição
nas nossas vidas -- fé e virtude, conhecimento e temperança, paciência e bondade,
amor de irmãos..... É inútil, sem propósito, buscar a segurança da eleição fora da
santidade da vida. Precisamente para o que Deus escolheu o Seu povo antes da
fundação do mundo, foi que eles fossem santos. Santidade, porque é o produto
necessário, é portanto o sinal seguro da eleição." 3
Como diz Toplady, "Alguém que pelo menos seja familiar com a vida espiritual sabe
certamente se realmente tem prazer na luz da face de Deus, ou se caminha em trevas,
como o viajante sabe se viaja sob a luz do sol ou na chuva."
Como posso saber se encontro-me entre os eleitos? Alguém bem pode perguntar
'Como é que eu sei que sou um cidadão Brasileiro leal, ou como eu consigo distinguir
entre preto e branco, ou entre doce e amargo?' Cada um sabe instintivamente o que a
sua atitude é para com o seu país; e as Escrituras e a consciência nos dão evidência
tão clara quanto a se estamos ou não entre o povo escolhido de Deus, quanto nos dão
o preto e o branco com relação à sua cor, ou o doce e o amargo com relação ao seu
sabor. Cada pessoa que já é um filho de Deus deveria estar plenamente consciente do
fato. Paulo exortou aos Coríntios, "Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé;
provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está
em vós? Se não é que já estais reprovados."[II Coríntios 13:5].
2. ENSINAMENTOS DAS ESCRITURAS.
Nós temos a segurança de que "O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus."[Romanos 8:16]. "Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo
tem o testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o faz, porque não crê no
testemunho que Deus de seu Filho dá". [I João 5:10]. "(11) E o testemunho é este:
Que Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. (12) Quem tem o Filho
tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. (13) Estas coisas vos
escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a
vida eterna."[I João 5:11-13]. O Cristão nascido de novo dão as boas vindas para o
Evangelho no seu coração, mas o não regenerado O expulsa: "Nós somos de Deus;
quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é que
conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro." [I João 4:6]. "Quem guarda os
seus mandamentos, em Deus permanece e Deus nele. E nisto conhecemos que ele
permanece em nós: pelo Espírito que nos tem dado." [I João 3:24]. "E, porque sois
filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba,
Pai." [Gálatas 4:6]. A pessoa regenerada instintivamente reconhece a Deus como o
seu Pai. "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os
irmãos. Quem não ama permanece na morte."[I João 3:14]. "Todo aquele que crê que
Jesus é o Cristo, é o nascido de Deus..." [I João 5:1], -- quer dizer, todos os que O
confessam como seu Senhor -- que abençoada segurança ! ! "...sabeis que todo aquele
que pratica a justiça é nascido dele.[I João 2:29]. Aqueles que ouvem e que recebem o
Evangelho são ativados por este salvador princípio íntimo.
"Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus."[João 3:36]. "Portanto vos quero fazer
compreender que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! e
ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! senão pelo Espírito Santo."[I Coríntios 12:3].
Através disto somos ensinados que uma pessoa verdadeiramente salva não pode
descartar a Jesus nem vituperá-Lo; e que qualquer um que olhe para Jesus como o
Senhor e seu Senhor, foi regenerado e está entre os eleitos. Isto, então, é uma prova
da sua salvação. Cada pessoa sabe o que a sua atitude para com Jesus é; e sabendo
isto, ela é capaz de julgar se está ou não salva. Que cada um faça a si mesmo esta
pergunta, 'O que é a minha atitude para com Cristo? Ficaria contente se Ele
aparecesse e viesse ao meu encontro neste momento? Receberia-O como meu Amigo,
ou me retrairia de encontrar-me com Ele?' Aqueles que anseiam com alegria pela
vinda de Cristo podem estar certos de que estão salvos.
Uma vez que certas marcas de salvação são estabelecidas nas Escrituras, um
indivíduo, ao examinar-se honestamente, pode saber se encontra-se ou não entre o
povo de Deus. E pela mesma regra ele pode, com cautela, observar os outros; pois se
neles virmos os frutos exteriores da eleição e estivermos convencidos da sua
sinceridade, podemos racionalmente concluir que eles também são eleitos. Paulo
estava seguro com relação aos Crentes em Tessalônica, pois ele escreveu: "(4)
conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição; (5) porque o nosso evangelho
não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo e em
plena convicção, como bem sabeis quais fomos entre vós por amor de vós."[I
Tessalonicenses 1:4,5]. Ele também sabia que Deus havia escolhido os Efésios em
Cristo, pois ele lhes escreveu: "(4) como também nos elegeu nele antes da fundação
do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; (5) e nos
predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade,"[Efésios 1:4,5].
3. CONCLUSÃO.
Mas, por outro lado, não deveríamos dizer que nenhum indivíduo vivo não é eleito,
não importa o quão pecador ele seja hoje; pois até mesmo o mais vilão dentre os
vilões, tanto quanto sabemos, pode ser trazido à fé e ao arrependimento pelo Espírito
Santo. A conversão de muitos dos eleitos ainda é futura. Assim é que ninguém tem o
direito de declarar positivamente que ele ou qualquer outra pessoa esteja entre os não
eleitos, pois ele não sabe o que Deus tem reservado para ele ou para eles. Podemos,
no entanto, dizer que aqueles que morrem impenitentes estão certamente mortos, pois
as Escrituras Sagradas são explícitas neste ponto.
Não podemos dizer que cada Cristão verdadeiro tem esta segurança, pois ela só
nasce, apropriadamente, do conhecimento dos próprios recursos morais e da força de
alguém; e aquele que subestima a si mesmo pode estar inocentemente sem tal
conhecimento. O Cristão pode às vezes tornar-se desencorajado por causa de fé fraca,
mas isto não prova que ele esteja entre os não eleitos. Quando a fé é fortalecida e
pontos de vista errôneos quanto à salvação são clareados, o privilégio e a tarefa de
cada Cristão é conhecer-se a si próprio com salvo, e fugir daquele temor de apostasia,
o qual deve assombrar constantemente cada Arminiano consistente, tanto quanto ele
continue nesta vida. Assim é que, enquanto a segurança é desejável e facilmente
obtenível para qualquer um que tenha progredido no caminho Cristão, ela não pode
ser sempre feita de teste para um verdadeiro Cristão.
Através das Escrituras, Deus repetidamente nos dá as promessas de que aqueles que
vêm até Ele em Cristo não serão de forma alguma jogados fora, que quem quer que
queira pode beber da água da vida sem dinheiro e sem preço, e que aquele que pede
receberá. As bases para a nossa segurança, então, estão tanto dentro como fora de
nós. Se, portanto, algum crente verdadeiro perde a segurança de que ele está salvo
para sempre entre o povo de Deus, a falta encontra-se nele próprio, e não no plano de
salvação, nem nas Escritura
Capítulo 25
A Predestinação No Mundo Físico

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1. A Uniformidade Da Lei Natural. 2. Comentários de Cientistas e Teólogos. 3. Só O


Sistema Teológico Calvinista Harmoniza-se Com A Ciência Moderna E Com A
Filosofia.

1. A UNIFORMIDADE DA LEI NATURAL


Tanto quanto refere-se ao universo material fora da ação do homem, não temos
nenhum problema em acreditar na absoluta Predestinação. O curso dos eventos que se
seguiria foi, num sentido muito estrito, imutavelmente predeterminado quando Deus
criou o mundo e implantou as leis naturais da gravidade, luz, magnetismo, afinidade
química, fenômenos elétricos, etc. Deixando de lado a interferência de milagres ou do
homem, o curso da natureza é uniforme e previsível. Os objetos materiais que
manuseamos são governados por leis fixas. Se tivermos um conhecimento acurado de
todos os fatores envolvidos, podemos determinar exatamente qual será o efeito de
uma pedra que caia, de uma explosão, ou de um terremoto. O telescópio revela-nos
milhões de distantes sóis em chamas, cada qual seguindo um curso predeterminado,
exato; e as suas posições podem ser preditas milhares de anos à frente.
Dentro do sistema solar, os planetas e satélites fazem evoluções perfeitas em suas
órbitas, e eclipses podem ser previstos com exatidão. Antes do eclipse do sol em
1924, os astrônomos anunciaram o curso que a sombra da lua percorreria na terra e
calcularam o horário exato, até os segundos, em que certas cidades ficariam no
escuro. Quando ocorreu o eclipse, viram que havia uma diferença nos cálculos de
somente quatro segundos!
Os astrônomos nos dizem que os mesmos princípios que regem o nosso sistema solar
são também encontrados nos milhões de estrelas que encontram-se a trilhões de
quilômetros de distância. Físicos analisam a luz que vem do sol e das estrelas e
dizem-nos que não somente os mesmos elementos, tais como ferro, carbono, oxigênio
e etc., que são encontrados na terra também existem nos astros, mas que estes
elementos são lá encontrados praticamente na mesma proporção que aqui.
Da lei da gravidade nós aprendemos que cada objeto material no universo atrai cada
outro objeto material com uma força a qual é diretamente proporcional à suas massas
e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre os seus centros. Daí, que
cada grão de areia no deserto ou na beira do mar está ligado com cada sol no
universo. A terra inerte cresce em montes para encontrar-se com os flocos de neve
que caem. O microscópio revela surpresas tão maravilhosas como aquelas reveladas
pelo telescópio. A providência de Deus estende-se aos átomos tanto quanto às
estrelas, e cada um exerce a sua influência particular, pequena mas exata. Há perfeita
ordem em todos os lugares e Deus opera em todos os lugares.

2. COMENTÁRIOS DE CIENTISTAS E TEÓLOGOS


Huxley (NT: Aldous Huxley, cientista e escritor, autor entre outros, de "Admirável
Mundo Novo) uma vez disse que se o homem possuísse conhecimento exato das leis
naturais antes que plantas e animais surgissem na terra, ele poderia ter predito não
somente o contorno geográfico e as condições climáticas de uma determinada região,
mas também a flora e a fauna exatas as quais seriam ali encontradas, -- surgindo,
como ele supunha, através da geração expontânea de vida a partir da matéria
inanimada, -- e enquanto nós não aceitamos tal testemunho extremo sobre a origem
da vida, ele, não obstante, nos dá uma idéia da uniformidade que um grande cientista
espera encontrar nas leis da natureza.
Este escritor participou certa vez de um grupo de discussão conduzido pelo Dr. H. N.
Russel, chefe do Departamento de Astronomia na Universidade de Princeton e um
dos mais notáveis astrônomos do nosso tempo. Neste grupo o Dr. Russel declarou
que, sem contar a influência da mente no mundo, ele cria numa predestinação
absoluta, feita efetiva através das leis fixas da natureza.
"A uniformidade das leis da natureza", diz o Dr Charles Hodge, "é uma revelação
constante da imutabilidade de Deus. Elas são hoje o que elas eram no início dos
tempos, e elas são as mesmas em toda parte do universo. Não menos estáveis são as
leis que regulam as operações da razão e da consciência." E novamente ele diz:
"Como em todos estes departamentos menores da Sua obra, Deus age de acordo com
um plano pré concebido. Não é para se supor que nas esferas mais altas das Suas
operações, as quais dizem respeito ao destino dos homens, tudo seria deixado ao
acaso e que fosse permitido tomar rumo indeterminado em direção a um fim
indeterminado. Em concordância, vemos que as Escrituras Sagradas declaram
distintivamente em referência às dispensações de graça, não somente que Deus vê o
fim desde o início, mas que Ele opera todas as coisas conforme o conselho da Sua
vontade, ou, de acordo com o Seu propósito eterno." 1
O Dr. Abraham Kuyper, quem era admitidamente um dos um dos mais notáveis
teólogos do último século, nos diz: "É um fato, que o mais completo
desenvolvimento da ciência na nossa era quase que unanimemente decidiu em favor
do Calvinismo, com relação à antítese entre a unidade e a estabilidade do decreto de
Deus, o qual o Calvinismo professa, e a superficialidade e a informalidade, as quais
os Arminianos preferiram. Os sistema dos grandes filósofos são, quase que como um
só, em favor da unidade e da estabilidade." Ele segue adiante, dizendo que estes
sistemas "claramente demonstram que o desenvolvimento da ciência na nossa era
pressupõe um cosmo que não se torna presa dos caprichos do acaso, mas existe e se
desenvolve a partir de um princípio, de acordo com uma ordem firme, em direção a
um plano fixado. Esta é uma alegação que é, como claramente parece,
diametricalmente oposta ao Arminianismo; e em completa harmonia com a crença
Calvinista, de que há uma vontade suprema em Deus, a causa de todas as coisas que
existem, sujeitando-as a ordens e direcionando-as em direção a um plano pré
estabelecido." E novamente, ele pergunta, O que a doutrina da pré ordenação
significa, exceto que "todo o cosmo, ao invés de ser um brinquedo do capricho e do
acaso, obedece lei e ordem; e que lá existe uma vontade firme que desempenha seus
desígnios em ambas, na natureza e na história?" 2

3. SÓ O SISTEMA TEOLÓGICO CALVINISTA HARMONIZA-SE COM A


CIÊNCIA MODERNA E COM A FILOSOFIA.
O ponto de vista Calvinista mundo e vida, o qual enfatiza tanto a certeza e a fixação
do curto dos eventos, está assim em notável harmonia com a Ciência moderna e com
a Filosofia. Quão absurda é a alegação a qual algumas vezes é feita, de que não
importa quão claramente a doutrina da Predestinação seja ensinada nas Escrituras, ela
é anulada por verdades estabelecidas a partir de outras fontes! Tal alegação é feita por
muitos que desejam estabelecer um sistema teológico diferente. Mas qualquer um que
seja um mínimo familiar com Ciência moderna e com Filosofia (com psicologia
fisiológica, por exemplo), com suas ênfases nas leis naturais universalmente fixas,
sabe que verdadeiro é justamente o contrário. Testemunha a ênfase de hoje em dia no
behaviorismo, no determinismo, e na hereditariedade. E o que é a lei de Mendel,
senão a Predestinação no campo da Genética? A tendência é fortemente contra o livre
e o contingente. O Universo é concebido como se de um inteiro sistemático,
interrelacionado em todas as suas partes, e seguindo um curso definitivo, pré
arranjado. Com uma nomenclatura diferente e uma idéia diferente quanto ao
sobrenatural, os cientistas e filósofos mais modernos defendem o ponto de vista
Calvinista com relação ao mundo como uma unidade. Eles podem negar a liberdade
de Deus, ou mesmo a Sua personalidade, e as suas metafísicas 'necessitarianas'
podem variar radicalmente da doutrina da Sua graça e providência; eles podem tentar
explicar o processo de pensamento do cérebro, e mesmo a própria vida, através de
leis químicas e físicas; todavia a sua impressão quanto aos fatos coordenados da vida
e da natureza são inteiramente Calvinistas.
Sem fé na unidade, na estabilidade e na ordem de coisas tais como aquelas às quais a
Predestinação nos leva, é impossível para a Ciência ir além do que meras conjecturas.
A ciência é baseada em fé nas inter conexões orgânicas ou unidade do universo, uma
convicção firme de que as nossas vidas devem estar todas sob a influência de leis ou
princípios estabelecidos por algum Poder ou Criador extra mundano. Quanto mais
aprendemos sobre Ciência, mais claramente vemos a unidade que sublinha tudo.
E quando estudamos História, vemos que é uma "cadeia de eventos". Tanto quanto
cada grão de areia está relacionado com cada sol no universo, também cada evento
tem o seu lugar exato e necessário no desenrolar da História. Todos nós nos
lembramos de coisas comparativamente insignificantes, as quais mudaram o curso
das nossas vidas; e tivesse um desses elos sido omitido, o resultado teria sido então
radicalmente diferente. Muitas vezes uma coisa pequena desencadeia um curso de
eventos que põe o mundo em convulsão, como foi o caso em 1914, quando um
conspirador Sérvio disparou contra o Arquiduque da Áustria, e seguiu-se a I Guerra
Mundial. Bem naturalmente muitas pessoas têm se retraído de atribuir todos esses
atos livres de homens e anjos, e especialmente os seus atos pecaminosos, à pré
ordenação de Deus. Não obstante, se Deus governa o mundo, o Seu plano e o Seu
controle providencial deve estender-se a todos eventos, não somente no mundo
natural, mas também na esfera dos assuntos humanos; e as Escrituras Sagradas
ensinam claramente que os atos livres de homens e de anjos são tão certamente pré
ordenados de Deus, quanto o são os eventos no mundo material.
Este argumento de quatro faces, de Ciência, de Filosofia, de História e de Escrituras
Sagradas, não é para ser 'levemente' encarado. Na Ciência, na Filosofia, e na História,
a doutrina é reduzida à fria severidade de força impessoal. Mas quando a luz radiante
do Evangelho glorioso é jogada sobre ela, mostrando que as escolhas raciais, as
eleições pessoais, as chamadas divinas, são feitas através de graça soberana e não
simplesmente através de vontade soberana, vemos que os propósitos eternos de Deus
estão a favor do homem e não contra ele; e o coração encontra descanso e conforto no
fato de que o amor a misericórdia de Deus são tão suaves quanto fortes são os Seus
propósitos.
Capítulo 26
Uma Comparação com a Doutrina Maometana da Predestinação

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1. Elementos Que As Duas Doutrinas Têm Em Comum. 2. Tendência Maometana
Para o Fatalismo. 3. A Doutrina Cristã Não É Derivada Do Maometanismo. 4. O
Contraste Entre As Duas Doutrinas.

1. ELEMENTOS QUE AS DUAS DOUTRINAS TÊM EM COMUM.


Enquanto o Maometanismo é uma religião falsa e totalmente destituída de poder para
salvar a alma do pecado, há certos elementos de verdade no sistema, e temos a
obrigação de honrar a verdade, não importando a fonte da qual ela procede. "A força
do Maometanismo", diz Froude, "foi que ele ensina a onipotência e a onipresença de
um Espírito eterno, o Criador e Governador de todas coisas, através do poder de
quem todas as coisas eram, e cuja vontade todas as coisas devem obedecer." 1 A
semelhança notável entre as doutrinas da Predestinação segundo a Bíblia e segundo o
Alcorão foi notada por muitos escritores. O Dr. Samuel M. Zwemer, a quem num
sentido muito real podemos nos referir como "o apóstolo para o mundo Islâmico",
chama a atenção para o estranho paralelo entre a Reforma na Europa sob Calvino e
aquela na Arábia, sob Maomé. Ele diz: "O Islã é realmente, em muitos aspectos, o
Calvinismo do Oriente; também foi uma chamada para o reconhecimento da
soberania da vontade de Deus. 'Não á outro senão Deus'. Islão também viu na
natureza, e buscou em revelação a majestade da presença e do poder de Deus, e as
manifestações da Sua glória, transcendente e onipotente. 'Deus', diz Maomé, 'não há
outro deus senão Ele, O que vive, O auto-subsistente, Aquele que não dorme nem
dormita -- o Seu trono envolve os céus e a terra e ninguém pode interceder com Ele
salvo pela Sua permissão. Somente ele é grande e exaltado' . . . . É este o princípio
teísta vital que explica a vitória do Islã sobre a Cristandade idólatra, fraca e dividida,
do Oriente no século VI . . . . . A Mensagem de Maomé, quando ele primeiro
desfraldou a bandeira, 'Não há outro deus senão Deus; Deus é rei, e você deve e irá
obedecer a Sua vontade', foi uma das mais simples considerações da natureza de
Deus e do Seu relacionamento com o homem jamais oferecidas . . . . . Isto era o Islã,
como foi oferecido ao fio da espada ao povo, que tinha perdido o poder de
compreender qualquer outro argumento." 2
Adicionalmente ao Alcorão, há várias traduções ortodoxas que alegam dar os
ensinamentos de Maomé acerca do assunto. Algumas destas falam numa linguagem
quase idêntica como antes do nascimento de uma pessoa um anjo desce e escreve o
seu destino. É dito que o anjo pergunta: "Oh meu Senhor; abençoado ou miserável? e
mediante a resposta, um ou outro é escrito; e: Oh meu Senhor; macho ou fêmea? e
mediante a resposta, um ou outro é escrito. Ele também escreve a conduta moral do
novo ser, sua carreira, o fim da sua vida, e o seu quinhão de bondade. Então (lhe é
dito): Feche o rolo, pois nenhuma adição será feita, nem nada será tirado." Em outra
tradição, lemos sobre um mensageiro de Deus falando assim: "Não há nenhum de
vocês -- não há nenhuma alma nascida cujo lugar, Paraíso ou Inferno, não tenha sido
predeterminado por Deus, e que não tenha sido registrado de antemão como
miserável ou abençoado." 3
Mas enquanto o Alcorão e as tradições ensinam uma estrita pré ordenação de conduta
moral e de destino futuro, eles também apresentam uma doutrina de liberdade
humana que faz necessário qualificarmos como em harmonia com as asserções da
Predestinação divina. E aqui, também, como nas Escrituras Sagradas, não é feita
nenhuma tentativa para explicar como as verdades aparentemente opostas de
soberania Divina e liberdade humana podem ser reconciliadas.
2. A TENDÊNCIA MAOMETANA PARA O FATALISMO.
Contudo, na verdade, o Maometanismo coloca tal ênfase em Deus como a única
causa de todos os eventos e que quaisquer segundas causas são praticamente
excluídas. A idéia de que o homem é de qualquer maneira a causa dos seus próprios
atos quase deixou de existir; e o Fatalismo, a crença normal dos Árabes no seu estado
de semi civilização antes de Maomé, é a força controladora nas especulações e
práticas do mundo Muçulmano. "De acordo com estas tradições", diz o Dr. Zwemer,
"e a interpretação delas por mais de dez séculos na vida dos Muçulmanos, este tipo de
Predestinação deveria ser chamada de Fatalismo e nada mais. Pois Fatalismo é a
doutrina de uma necessidade inevitável e implica num poder onipotente e arbitrário."
4
O Maometanismo, praticamente se atém a uma predestinação de fins nada tendo a ver
com meios. O contraste com o sistema Cristão é visto na seguinte estória. Um navio
cheio de Ingleses e Muçulmanos lutava contra as ondas. Acidentalmente, um dos
passageiros caiu por sobre a amurada. Os Muçulmanos olharam-no com indiferença,
dizendo: "Se estiver escrito no livro do destino que ele deve ser salvo, ele será salvo
sem nós; e se estiver escrito que ele perecerá, não podemos fazer nada"; e com isso
deixaram-no. Mas os Ingleses disseram: "Talvez esteja escrito que nós devêssemos
salvá-lo." Eles então jogaram uma corda e ele foi salvo.

3. A DOUTRINA CRISTÃ NÃO É DERIVADA DO MAOMETANISMO.


Mas o que quer se diga sobre a doutrina da Predestinação, ninguém racionalmente
acusará que a doutrina Cristã foi emprestada do Maometanismo. Agostinho, que é
admitido tanto por Protestantes como por Católicos ter sido o homem notável da
Igreja Cristã do seu tempo, e quem os protestantes reputam como o maior entre Paulo
e Lutero, ensinou a doutrina com grande convicção mais de dois séculos antes que o
Maometanismo existisse; e ela também foi agressivamente ensinada por Cristo e
pelos apóstolos no início da era Cristã, para não dizer do lugar que ela ocupou no
Antigo Testamento.
Um estudo da história e dos ensinos do Maometanismo revela ser ele composto por
três partes, uma que foi 'emprestada' dos Judeus, outra dos Cristãos e a terceira, dos
Árabes ateus. Daí que uma parte do sistema é nada mais nada menos que o
Cristianismo numa 'segunda mão'. Mas seria razoável que o Cristão desistisse de
certos artigos do seu credo só porque Maomé os adotou no seu? Que grandes falhas
uma conduta deste tipo faria no nosso credo, podem ser vislumbradas quando
estudamos que Maomé cria em somente um Deus verdadeiro, que ele intimamente
abolia toda adoração a ídolos, que ele cria em anjos, em uma ressurreição geral e em
um julgamento, em céu e inferno, que ele permitia ambos o Antigo e o Novo
Testamentos; e que reconhecia a ambos, Moisés e Cristo como profetas de Deus. É
maravilha pouca, então, que elementos da doutrina Cristã da Predestinação fossem
incorporados no sistema Maometano e unidos com a doutrina atéia do Fatalismo.
Ademais, um estudo histórico deste assunto mostra-nos que os Maometanos tiveram
sua parte de Arminianos tão verdadeiramente como nós; e que as questões da
Predestinação e do Livre Arbítrio foram agitadas entre os doutores Maometanos com
tanto calor e veemência como também o foram na Cristandade. Os Turcos do séquito
de Omar sustentam a doutrina da Predestinação absoluta, enquanto que os Persas do
séquito de Ali negam a Predestinação e proclamam o Livre Arbítrio com tanto fervor
quanto qualquer Arminiano.

4. O CONTRASTE ENTRE AS DUAS DOUTRINAS.


Embora os termos utilizados para descrever as doutrinas Reformada e Maometana da
Predestinação tenham muita similaridade, os resultados dos raciocínios estão tão
longe um do outro como o Leste está do Oeste. Na verdade, quanto mais adiante for a
investigação, mais superficial torna-se a semelhança entre elas. Sua grande
semelhança parece estar nos ensinamentos que cada uma tem, de que tudo o que
acontece só acontece de acordo com a vontade de Deus. Todavia, idéias muito
diferentes são representadas pelo termo "vontade de Deus". O Islã reduz Deus a uma
categoria da vontade e faz Dele um déspota, um déspota oriental, que se posiciona
numa altura abissal sobre a humanidade. Ele não dá a mínima para o caráter e
preocupa-se somente com a submissão. O único negócio dos homens é obedecer os
Seus decretos, tanto que Zanquius diz que a Predestinação se torna "uma espécie de
ímpeto rápido, cego e avassalador, que, certo ou errado, com ou sem significado,
atropela violentamente tudo ante si, com pouca ou nenhuma atenção à respectiva e
peculiar natureza das segundas causas." E com relação à liberdade humana, o Dr.
Zwemer diz que na doutrina do Islã, "A onipotência de Deus é tão absoluta que exclui
todas atividades próprias por parte da criatura... Qualquer que seja a liberdade
permitida é somente sob termo 'Kasb'; isto é, a apropriação de um ato como seu
próprio, o qual, na realidade, ele é compelido a executar como parte da vontade de
Deus.
O Alcorão e as tradições ortodoxas têm praticamente nada a dizer quanto aos
conceitos de pecado e de responsabilidade moral; e a moralidade do sistema
Maometano é notoriamente defectiva. No Islã é difícil evitar a conclusão que Deus é
o autor do pecado. A origem do pecado e o seu caráter são conceitos inteiramente
diferentes no Islã e no Cristianismo.
No Islã não há nenhuma doutrina da Paternidade de Deus e nenhum propósito de
redenção para amenizar a doutrina dos decretos. Deus é representado como tendo
arbitrariamente criado um grupo de pessoas para o paraíso e outro grupo para o
inferno; e os eventos da vida de cada pessoa são tão ordenados que pouco lugar é
deixado para a responsabilidade moral e para a culpa. Eles negam que tenha havido
qualquer eleição em Cristo para a graça e para a glória, e que Cristo morreu uma
morte sacrificial por seu povo. Eles não têm nada a dizer sobre a eficácia da graça
salvadora ou sobre a perseverança, e mesmo com relação à predestinação de eventos
temporais as idéias são muitas vezes brutas e confusas. O atributo do amor é ausente
em Alá. As idéias de que Deus deve amar-nos ou que nós devemos amar a Deus são
idéias estranhas ao Islã; e o Alcorão dificilmente refere-se a este assunto, do qual a
Bíblia está tão repleta.
Concluindo, pode ser dito que o credo Arminiano tem pouco apelo para o
Maometano. Tanto quanto refere-se ao trabalho de missão, as igrejas Calvinistas
entraram no mundo do Islã mais cedo e mais vigorosamente do que qualquer outro
grupo de igrejas; e por mais do que cem anos eles e somente eles têm desafiado o Islã
na terra do seu nascimento. Eles têm ocupado centros estratégicos e hoje em dia
fazem de longe a maior parte do trabalho de missão no mundo Muçulmano. Com a
soberania de Deus como base, com a glória de Deus como objetivo; e com a vontade
de Deus como motivo, as igrejas Presbiterianas e Reformadas estão peculiarmente
equipadas para ganhar corações Muçulmanos para a causa de Cristo; e estão
enfrentando, com esperanças brilhantes de sucesso, aquele que é o mais difícil de
todos os desafios missionários, a evangelização do mundo Muçulmano.
Capítulo 27
A Importância Prática da Doutrina
1. Influência Da Doutrina Na Vida Diária. 2. Uma Fonte De Segurança E Coragem. 3.
A Ênfase Do Divino Agir Na Salvação Do Homem. 4. Somente O Calvinismo
Resistirá A Todas As Provas.
5. Estas Doutrinas Não São Irracionais Quando Compreendidas. 6. A Assembléia de
Westminster e a Confissão de Fé de Westminster. 7. Estas Doutrinas Deveriam Ser
Ensinadas e Pregadas Em Público. 8. Os Votos De Ordenação e a Obrigação Do
Ministro. 9. A Igreja Presbiteriana É Verdadeiramente Aberta e Tolerante. 10. Razões
Para O Pouco Sucesso Do Calvinismo No Presente.
1. INFLUÊNCIA DA DOUTRINA NA VIDA DIÁRIA.
A Doutrina Reformada da Predestinação não é uma teoria especulativa, fria, vazia,
não é um sistema artificial de doutrinas estranhas tal como muitas pessoas são
inclinadas a acreditar; mas sim uma mais viva e quente, um relato mais importante e
mais vivo das relações de Deus com os homens. É um sistema de grandes verdades
práticas, as quais são designadas e adaptadas sob a influência do Espírito Santo, para
moldar as afeições do coração e para dar direção certa à conduta. O próprio
testemunho de Calvino a esse respeito é: "Eu rogaria, em primeiro lugar, aos meus
leitores para que mantivessem cuidadosamente na memória a admoestação que
ofereço; que este grande tema não é, como muitos imaginam, uma simples disputa
controversa e barulhenta, nem uma especulação que sobrecarrega as mentes dos
homens sem qualquer resultado; mas uma discussão sólida eminentemente adaptada
ao serviço do divino, porque ela faz com que cresçamos solidamente na fé, treina-nos
na humildade, e nos eleva numa admiração da ilimitada bondade de Deus para
conosco, enquanto que leva-nos a louvar esta bondade com a nossas notas mais altas.
Pois não há maneira mais efetiva de construir a nossa fé do que o ofertar nossos
ouvidos abertos à eleição de Deus, a qual o Espírito Santo sela nos nossos corações
enquanto ouvimos; mostrando-nos que ela encontra-se na eterna e imutável boa
vontade de Deus para conosco; e que, portanto, não pode ser movida ou alterada por
quaisquer tempestades do mundo, por quaisquer assaltos de Satanás, por quaisquer
mudanças, por quaisquer flutuações ou fraquezas da carne. Pois a nossa salvação é
então assegurada a nós, quando encontramos a sua causa, a sua razão, no seio de
Deus." 1 Estas, pensamos, são palavras verdadeiras de que precisamos muito, hoje
em dia.
O Cristão que tem esta doutrina no seu coração sabe que está seguindo uma rota na
direção do céu; que a sua rota foi pré ordenada para ele pessoalmente; e que é uma
boa rota. Ele todavia não entende todos os detalhes, mas mesmo nas adversidades ele
pode mirar o futuro com confiança, sabendo que o seu destino eterno está fixado e
para sempre abençoado; e que nada pode possivelmente roubá-lo este tesouro sem
preço. Ele compreende que depois que ele finalizar o seu curso de vida aqui, ele
olhará para trás e verá que cada evento em particular foi designado por Deus para um
propósito particular; e que ele agradecerá por ter sido guiado através daquelas
experiências em particular. Uma vez convencido dessas verdades, ele sabe que o dia
certamente está chegando quando a todos aqueles que o magoaram ou perseguiram-
no, ele poderá dizer, como disse José aos seus irmãos, "Vós, na verdade, intentastes o
mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem..."[Gênesis, 50:20]. Esta
concepção exaltada de Deus como O alto e O elevado, todavia pessoalmente
envolvido mesmo com os menores eventos não deixa espaço para o que os homens
comumentemente chamam de acaso, ou sorte, ou fortuna. Quando uma pessoa vê a si
mesma como um dos escolhidos do Senhor e sabe que cada um dos seus atos tem um
significado eterno, ela compreende mais claramente o quão séria é a vida, e é
incendiada com nova determinação para fazer com que a sua vida conte para grandes
coisas.

2. UMA FONTE DE SEGURANÇA E CORAGEM.


"É a doutrina de uma providência particular", diz Rice, "que dá aos justos um
sentimento de segurança no meio de perigo; que dá-lhes a certeza de que o caminho
do trabalho é o caminho de segurança e de prosperidade; e que os encoraja à prática
da virtude, mesmo quando ela os expõe aos maiores desgraças e perseguições. Quão
freqüente, mesmo quando nuvens e trevas parecem juntar-se sobre eles, eles
regozijam-se na segurança dada pelo seu Salvador, 'Não te deixarei, nem te
desampararei'[Hebreus13:5]" 2 A sensação de segurança que esta doutrina
proporciona ao santo que luta é resultado da segurança de que ele não está
comprometido com o seu próprio poder, ou melhor fraqueza, mas nas mãos firmes do
Pai Todo-Poderoso, -- que sobre ele está a bandeira do amor e que sob ele estão os
braços sempiternos. Ele entende que mesmo o Diabo e os homens ímpios, não
importa quaisquer tumultos que eles possam provocar, são não somente reprimidos
por Deus, mas são compelidos a agir conforme a Sua vontade. Eliseu, sozinho e
esquecido, viu serem aqueles que estavam do seu lado mais do que os que estavam
contra ele, porque ele viu as carruagens e os cavaleiros do Senhor movendo-se nas
nuvens (veja em II Reis 6:16, 17 = "(16) Respondeu ele (Eliseu): Não temas; porque
os que estão conosco são mais do que os que estão com eles. (17) E Eliseu orou, e
disse: Ó senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os
olhos do moço, e ele viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo
em redor de Eliseu."). Os discípulos, sabendo que os seus nomes estavam escritos no
céu, estavam preparados para sofrerem perseguições e, numa ocasião lemos que
depois de serem açoitados e vituperados, eles "Retiraram-se pois da presença do
sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de
Jesus."[Atos 5:41].
"A consideração divina da predestinação e nossa eleição em Cristo", diz o artigo
décimo sétimo do credo da Igreja da Inglaterra ('Church of England', N.T.), "é cheia
de conforto, agradável e indizível, para com os pios." O mandamento de Paulo foi,
"Não andeis ansiosos por coisa alguma..." [Filipenses 4:6]. E é somente quando
sabemos que Deus realmente reina desde o trono do universo, e que Ele nos ordenou
para amados Seus; que podemos ter esta íntima paz nos nossos corações.
O Dr. Clarence E. Macarney, num sermão sobre a Predestinação, disse: "Os assim
chamados infortúnios e adversidades da vida, assumem uma coloração diferente
quanto os olhamos através desta lente (N.T. a Predestinação). É triste ouvir as pessoas
tentando reviver as suas vidas e dizendo a si mesmas: 'Se eu tivesse escolhido uma
profissão diferente', 'Se eu tivesse tomado um rumo diferente na estrada', 'Se eu
tivesse casado com outra pessoa'. Tudo isso é fraco e não Cristão. Tecemos a teia do
destino, num certo sentido, com as nossas próprias mãos, e todavia Deus teve a Sua
parte nela. É a parte de Deus, e não a nossa, que nos dá fé e esperança." E Blaise
Pascal, numa carta maravilhosa a um amigo enlutado, ao invés de repetir os lugares
comuns de consolação, confortou-o com a doutrina da Predestinação, dizendo: "Se
considerarmos este evento, não como um resultado do acaso, não tão fatal como a
necessidade da natureza, mas como um resultado inevitável, justo, santo, de um
decreto da Providência de Deus, concebido desde toda a eternidade, a ser executado
num determinado ano, dia, hora e em determinado local e de determinada forma;
adoraremos em silenciosa humildade a grandeza insondável dos Seus secretos; e
veneraremos a santidade dos Seus decretos; glorificaremos os atos da sua
providência; e unindo nossa vontade com a do Próprio Deus, desejaremos com ele,
nEle e por Ele, o que Ele desejou em nós e para nós desde toda a eternidade."
Uma vez que o verdadeiro Calvinista vê a mão e o sábio propósito de Deus em tudo,
ele sabe que mesmo os seus sofrimentos, tristezas, perseguições, derrotas, etc., não
são resultados de acaso ou de acidente, mas que foram pré vistos e pré apontados, e
que são as purificações ou disciplinas designadas para o Seu próprio bem. Ele
entende que Deus não afligirá desnecessariamente o Seu povo; que no plano divino
estes são todos ordenados em número, peso e tamanho; e que não continuarão nem
por um momento a mais do que Deus entenda necessário. Em pesar o seu coração
instintivamente agarra-se a esta fé, sentimento que por razões sábias e graciosas,
embora desconhecidas, a aflição foi enviada. Mesmo que aflições pontiagudas
possam a princípio machucar, um pensamento um pouco mais racional rapidamente o
traz de volta a si; e os pesares e as tribulações, em grande parte, tornam-se sem
sentido.
E as Escrituras dizem o seguinte, com relação a isto: "E sabemos que todas as coisas
concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito."[Romanos 8:28]; "(5) ...Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; (6) pois o
Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho."[Hebreus 12:5, 6].
"...Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos seus olhos."[I Samuel 3:18]. "Pois
tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a
glória que em nós há de ser revelada."[Romanos 8:18]. "(11) Bem-aventurados sois
vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós
por minha causa. (12) Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos
céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós."[Mateus 5:11,
12]. "se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos
negará."[II Timóteo 2:12]. "...O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do
Senhor."[Jó 1:21]. E quando alguém nos ofender e disser falso testemunho a nosso
respeito, no mínimo não nos zangaremos tanto, se lembrarmo-nos o que Davi disse,
"...Deixai-o; deixai que amaldiçoe, porque o Senhor lho ordenou."[II Samuel 16:11].
A nossa predestinação é a nossa garantia segura de salvação. Outras coisas podem
confortar-nos, mas somente esta pode dar-nos a certeza. Ela faz o Evangelho ser o
que a palavra realmente significa, "Boas Novas". Qualquer outro sistema teológico
que sustente que o sacrifício de Cristo na realidade não salvou ninguém mas que
meramente fez a salvação possível para todos caso eles atendessem a certos termos,
reduz o Evangelho a um simples "bom conselho"; e qualquer sistema teológico que
traga com o Evangelho somente uma "chance" de salvação, também trará junto, de
necessidade lógica, uma "chance" de perdição. E que diferença faz ao homem caído
quanto a se o Evangelho é Boas Novas ou bom conselho!! O mundo está repleto de
bons conselhos; mesmo os livros de filósofos ateus continham muito disso; mas só o
Evangelho contém para o homem a boa nova de que Deus o redimiu.
Este sistema, embora possa ser lógico e severo, não entristece nem silencia ninguém,
mas o faz corajoso e ativo. Sabendo-se imortal até que sua obra esteja completa, a
coragem é resultado natural. A estimativa de Smith quanto ao Calvinista é expressada
nas seguintes palavras: "Seus pés arrancados da cova e plantados na Rocha Eterna,
seu coração excitado com gratidão adoradora, sua alma cônscia de um amor Divino
que nunca o renuncia e de uma energia Divina que nele e através dele está operando
propósitos eternos do bem, ele é dotado de força invencível. Num sentido mais nobre
do que Napoleão jamais sonhou, ele sabe-se ser um 'homem do destino.' " E ele diz
novamente, "O Calvinismo é de uma vez, dentre os credos, o mais estimulante e o
que mais satisfaz.." 3
Todavia, junto com estes motivos para coragem, encontram-se outros, que mantêm o
indivíduo apropriadamente humilde e agradecido. Na situação atual do mundo, ele se
vê como uma acha tirada da fogueira. Sabendo ter sido salvo não por qualquer mérito
ou sabedoria próprios, mas somente pela graça e pela misericórdia de Deus, ele é
profundamente cônscio da sua dependência em Deus, e tem o maior incentivo para
um viver reto. Em tudo por tudo, não se achará nenhuma maneira mais certa para
preencher a mente ao mesmo tempo com reverência, humildade, paciência e gratidão,
do que tê-la inteiramente saturada com esta doutrina da Predestinação.
3. A ÊNFASE CALVINISTA DO DIVINO AGIR NA SALVAÇÃO DO HOMEM.
Será somente um Cristão muito imperfeito, aquele que não conhecer estas verdades
mais profundas, as quais são trazidas à luz pela doutrina da Predestinação. Ele não
pode apreciar adequadamente a glória de eus, nem as riquezas da graça, as quais lhe
são dadas através da redenção em Cristo, pois em nenhum outro lugar a glória de
Deus brilha tão refulgentemente quanto na predestinação dos eleitos para a vida, não
obscurecida nem tampouco manchada por qualquer tipo de obras humanas. Ela
mostra-nos que tudo o que somes e tudo quanto temos que seja desejável, devemos à
Sua graça. Ela rebaixa o orgulho humano e exalta a misericórdia Divina. Ela faz com
que o homem seja nada e com que Deus seja tudo, e assim preserva o relacionamento
apropriado entre a criatura e o infinitamente exaltado Criador. Ela exalta um
Soberano absoluto, que é o Regente universal, e humilha todos os outros soberanos
antes dEle, assim mostrando que todos os homens em si mesmos e separados do favor
especial de Deus encontram-se no mesmo nível. A doutrina da Predestinação tem
defendido os direitos da humanidade aonde quer que tenha ido, no Estado tanto
quanto na Igreja.
A doutrina da Predestinação enfatiza o lado Divino da salvação, enquanto que seu
sistema teológico rival, o lado humano. Ela estampa em nós o fato de que a nossa
salvação é puramente da graça, e que nós não éramos melhores do que aqueles que
são deixados a sofrer pelos seus pecados. Ela nos leva a ser mais caridosos e
tolerantes para com os não salvos e a ser eternamente gratos por Deus haver-nos
salvo. Mostra-nos que no nosso estado caído a nossa sabedoria é ignorante e que a
nossa força é fraca, e de conta nenhuma a nossa justiça. Ensina-nos que a nossa
esperança está em Deus, e que dEle deve vir toda a nossa esperança. Ensina-nos
aquela lição da qual muitos são fatalmente ignorantes, a lição abençoada do
desespero próprio. Lutero nos diz que ele "freqüentemente costumava ofender-se em
muito com esta doutrina", porque ela levava-o a desesperar-se; mas que ele depois
viu que este tipo de desespero era lucrativo e parente da graça divina. Na verdade não
vamos muito longo ao dizer que ela é fundamental às concepções religiosas dos
escritores Bíblicos, e que erradicá-la seja do Velho ou do Novo Testamentos seria
transformar inteiramente a representação Escritural. O assunto foi muito bem
colocado pelo Dr. J. Gresham Machen quando ele disse, "Um Calvinista é levado a
considerar a teologia Arminiana como um sério empobrecimento da doutrina Bíblica
da graça divina; e séria igualmente é a visão que o Arminiano deve ter quanto às
doutrinas das Igrejas Reformadas." 4
Deve estar evidente de que há apenas duas teorias que podem ser mantidas pelos
Cristãos evangélicos neste importante assunto; que todos homens que o estudaram, e
que alcançaram quaisquer conclusões aceitáveis com relação ao mesmo, devem ser
ou Calvinistas ou Arminianos. Não há nenhuma outra posição que um "Cristão" possa
tomar. Aqueles que negam a natureza sacrificial da morte de Cristo tornam-se para
um sistema de auto salvação ou naturalismo, e não podem ser chamados de
"Cristãos" no histórico e unicamente apropriado sentido do termo.
Por comparação, podemos dizer que a Igreja Luterana enfatiza o fato de que a
salvação acontece somente pela fé; que a Igreja Batista enfatiza a importância dos
sacramentos, particularmente o batismo, e o direito de indivíduos e de congregações
de exercer julgamento privado em questões religiosas; que a Igreja Metodista enfatiza
o amor de Deus para com os homens, e a responsabilidade do homem para com Deus;
que a Igreja Congregacional enfatiza o direito de julgamento privado e de
congregações locais gerenciarem os seus assuntos próprios; que a Igreja Católica
Romana enfatiza a unidade da Igreja, e a importância de uma conexão com a igreja
Apostólica. Mas de todas estas, enquanto boas em si mesmas, são empalidecidas pela
grande doutrina da soberania e da majestade de Deus, a qual é enfatizada pelas
Igrejas Presbiteriana e Reformada. Enquanto os outros são princípios mais ou menos
antropológicos, esta doutrina é um princípio teológico, e representa-nos um DEUS
GRANDE, que é alto e elevado, que está assentado no trono do domínio universal.
O Dr. Warfield nos deu uma boa análise dos princípios formativos que sublinham as
Igrejas Luterana e Reformada. Após dizer que a distinção não é que os Luteranos
neguem a soberania de Deus, nem que os Reformados neguem que a salvação é só
pela fé, ele acrescenta: "O Luteranismo, brotando da agonia de uma alma ardendo em
culpa, buscando paz com Deus, encontra a paz na fé e ali mesmo permanece . . . .
Conhecerá nada além da paz da alma justificada. O Calvinismo faz a mesma
pergunta, com a mesma ansiedade como o Luteranismo: 'O que farei para ser salvo?'
e a responde precisamente como o Luteranismo o faz. Mas não pode parar por aí. A
questão mais profunda o pressiona, 'De onde vem esta fé pela qual eu sou
justificado?' . . . . . Zela pela salvação, não há dúvida disso, mas o seu mais alto zelo é
pela honra de Deus, e esta é a questão que acelera suas emoções e vitaliza seus
esforços. Ela começa, centraliza-se e termina com a visão de Deus na Sua glória; e
coloca-se antes de todas as coisas para render a Deus os Seus direitos em cada esfera
de atividade da vida." 5 E novamente ele diz: "Numa palavra, é a visão de Deus em
Sua majestade, que encontra-se na fundação do pensamento Calvinista", e depois que
um homem tenha tido esta visão, ele "é por um lado cheio com um sentido da sua
própria incapacidade de permanecer à vista de Deus, como uma criatura, e muito
mais como um pecador; e por outro lado com admiração adoradora de que não
obstante este Deus é um Deus que recebe os pecadores." Toda dependência de si
mesmo se vai, e ele joga-se só na graça de Deus. Na natureza, na história, na graça,
em todos lugares, desde a eternidade até a eternidade, ele enxerga a onipresente
atividade de Deus.
Se Deus tem um plano definido para a redenção do homem, é muito importante
sabermos em que consiste tal plano. A pessoa que olha para uma máquina complicada
mas que ignora os resultados os quais ela foi designada alcançar e ignora também a
relação entre as suas várias partes, deverá ser incapaz de entende-la ou de utilizá-la
corretamente. Da mesma forma, se formos ignorantes quanto ao plano de salvação, o
grande objetivo ao qual ele aponta ou a relação entre as suas várias partes, ou se não
as compreendermos, nossos pontos de vista serão confusos e errôneos; seremos
incapazes de aplicá-lo apropriadamente a nós mesmos, ou de exibi-lo a outros. Uma
vez que a doutrina da Predestinação revela tanto com relação à salvação; e uma vez
que ela dá ao Cristão conforto e segurança tão grandes, ela é uma grande e abençoada
verdade.
Sem hesitação afirmamos que este sistema de crença e de doutrina, dado por
inspiração do Espírito Santo, é o sistema de Filosofia verdadeiro e final. Ademais, a
Teologia estuda o Próprio Deus, enquanto que as ciências físicas e as artes liberais
estudam somente as Suas vestes. Na própria natureza do caso, portanto, a Teologia
deve ser a "Rainha das Ciências". Filosofia, como tem sido usualmente estudada
pelas diferentes escolas de pensamento, é realmente a base e a senhora das ciências
meramente humanas, mas é ela mesma somente uma ciência auxiliar no estudo de
Teologia.
A Teologia Calvinista é o maior assunto que jamais exercitou a mente humana. Seu
próprio ponto de partida é uma profunda compreensão da exaltação e da perfeição de
Deus. Com as suas doutrinas sublimes da soberana graça, do poder e da glória de
Deus, ela eleva-se mais alto do que qualquer outro sistema teológico. Na verdade,
aquele a quem ela é apresentada é movido a clamar com o salmista, "Tal
conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso
atingir."[Salmo 139:6]; ou exclamar com o apóstolo Paulo, "Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus
juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!"[Romanos 11:33]. É um assunto que
tem desafiado os intelectos de todos os grande pensadores em épocas de peso; e não
se admira de sermos ditos que estas são as coisas as quais os anjos desejam olhar.
Passar de outros sistemas teológicos para este é como passar pela foz de um rio e
lançar-se em mar aberto. Deixamos o raso para trás e sentimo-nos navegando na
grande e profunda imensidão.

4. SOMENTE O CALVINISMO RESISTIRÁ A TODAS AS PROVAS


A harmonia que existe entre todas as ramificações da doutrina das Escrituras
Sagradas é tal que verdade ou erro com relação a qualquer uma delas quase que
inevitavelmente produz verdade ou erro, em maior ou menor grau, com relação a
todas as demais, -- o que significa que somente os Calvinistas atêm-se a pontos de
vistas que são, em todos aspectos, Bíblicos, com relação a qualquer uma das
doutrinas líderes, do Cristianismo. Isto não quer dizer que a substância principal das
doutrinas mais importantes, tais como a Divindade de Cristo, Sua morte sacrificial,
Sua ressurreição, a obra do Espírito Santo, etc., não sejam também sustentadas por
outros sistemas; mas que a tendência geral de pontos de vista errôneos com relação a
estes tópicos distintivamente Calvinistas é levar a separações maiores de doutrinas
sólidas, em outros assuntos. Como uma regra geral os anti-Calvinistas tão seriamente
empobrecem doutrinas tais como a da expiação, do agir do Espírito Santo, da culpa e
da incapacidade do homem, da regeneração e etc., que freqüentemente tornam-se
pouco mais que palavras vazias; e junto com este empobrecimento vai também a
tendência a negligenciá-las por completo. Os anti-Calvinistas geralmente fazem
pouca distinção entre a obra objetiva por nós e a obra subjetiva em nós; e para todos
propósitos práticos a expiação é reduzida a pouco ou nada mais que uma prova e
exibição do amor indiscriminado de Deus para com os homens, através do qual é
mostrado que Deus está pronto e preparado para perdoar. A tendência de outros
sistemas teológicos é para a teoria da "persuasão moral" da expiação, enquanto que o
Calvinismo sustenta que o sofrimento de Cristo foi uma satisfação total para com a
justiça de Deus, -- que os Seus martírios foram plenamente equivalentes àqueles que
eram devidos ao Seu povo, pelos seus pecados.
Vivemos hoje uma época na qual vemos praticamente todas as igrejas Protestantes
históricas atacadas por uma falta de crença 'de dentro', pelo ceticismo. Muitas delas já
sucumbiram; e a linha descendente tem sido invariavelmente do Calvinismo para o
Arminianismo, e do Arminianismo para o Modernismo ou Unitarianismo; e este
último estado tem sido provadamente auto-destrutivo. Nós cremos firmemente que as
fortunas, as benesses do Cristianismo estão ligadas às fortunas, às benesses do
Calvinismo. Certamente que a história do Modernismo e do Unitarianismo neste país
(nos EUA, N.T.) tem provado serem eles fracos demais para manterem-se. Onde os
princípios do Calvinismo são abandonados, há uma tendência poderosa guiando para
baixo, às profundezas do Naturalismo. Alguns têm declarado, -- e corretamente
acreditamos -- que não há chão consistente entre o Calvinismo e o Ateísmo.
Estas distinções que temos apresentado, entre o Calvinismo e o Arminianismo, são
grandes e importantes; e até que alguém tenha feito um estudo especial destas
verdades ele não se dá conta de que uma grande quantidade de heresia tem sido
incorporada ao sistema teológico Arminiano. Se um sistema é verdadeiro, o outro é
radicalmente falso. Como Calvinistas estritos, nós cremos que estas doutrinas
incorporam a verdade final e são eternamente corretas. Nós cremos ser este o único
sistema de verdade Cristã que é ensinado na Bíblia e o único que pode ser lógica e
respeitavelmente defendido perante o mundo. E certamente é muito mais fácil
defender um tipo de Cristianismo que esteja em harmonia com ambas, as Escrituras e
a razão, do que defender qualquer outro tipo de Cristianismo. Nós cremos que o
Calvinismo e teísmo consistente não têm meramente pontos de contato, mas que são
idênticos; e que sair do Calvinismo é separar-se por certo, em muito de uma
concepção verdadeiramente teísta do universo. O Dr. Warfield disse que o
Calvinismo é o "Teísmo chegado aos seus direitos", que é o "Evangelicalismo na sua
única expressão pura e estável," que é a "religião no pico da sua concepção." Nós
cremos que o futuro do Cristianismo -- tanto quanto o seu passado o foi -- repousa
nas mãos do Calvinismo; e que à medida em que o Cristianismo progride no mundo,
este sistema de doutrina gradualmente tomará a frente.
Por causa da posição inconsistente do Arminianismo como uma medida 'no meio do
caminho' ente uma religião da graça e uma religião de obras, ele tem oferecido pouca
resistência às tendências naturalistas dos últimos poucos anos. Praticamente todas
igrejas Arminianas professas têm sido engolidas pelo Liberalismo do presente.
"Se não somente defendermos o Cristianismo contra os ataques modernos", diz o Dr.
S. G. Craig, "mas também o apresentarmos com qualquer esperança de sucesso ao
mundo moderno, devemos empreender a tarefa armados com um ponto de vista do
mundo e da vida consistente e cientificamente concebido, que apoie-se em fatos e em
princípios Cristãos . . . . . . eu fico com aqueles que crêem que tal ponto de vista
Cristão e consistente do mundo e da vida nos é dado somente no Calvinismo, e assim
que um renascimento do Calvinismo é uma necessidade gritante dos tempos, se
tivermos de defender com sucesso mesmo o que chamamos de Cristianismo comum,
no foro do pensamento mundial." O falecido Henry B. Smith estava certo a princípio,
quando escreveu: "Uma coisa é certa -- que a ciência infiel destruirá tudo, com
exceção da completa ortodoxia Cristã. Todas as teorias flácidas, e as formações tais
quais moluscos, e os purgatórios imediatos da especulação sucumbirão. A luta será
entre uma ortodoxia severa e completa, e uma infidelidade severa e completa. Será,
como por exemplo, Agostinho ou Comte, Atanásio ou Hegel, Lutero ou
Schopenhauer, J. S. Mill ou João Calvino." A luta é entre o naturalismo da ciência e o
sobrenaturalismo do Cristianismo; todos os esquemas comprometedores estão
fadados à ruína. (Entenda-se, neste ponto, que não temos nenhuma disputa, nenhuma
altercação com a ciência verdadeira como tal. Reconhecemos o grande valor da
Biologia, da Química, da Física, da Astronomia e etc., e entendemos que muito do
progresso do nosso século vinte foi possível somente através das contribuições feitas
por estas ciências. Acolhemos a verdade seja qual for a sua fonte, e acreditamos que
no final será visto que ela substancia o Cristianismo. O salmista declarou, "Os céus
proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos."[Salmo
19:1]; e novamente, "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda
a terra, tu que puseste a tua glória dos céus!"[Salmo 8:1]; e certamente quanto mais
soubermos acerca destas coisas melhor compreenderemos Deus. Nossa altercação,
nosso argumento é com certos cientistas incrédulos que tentam trazer suas teorias
anti-Cristãs ou mesmo ateístas às esferas da religião e da filosofia, e que professam
falar com autoridade de assuntos sobre os quais eles são ignorantes.).
É muito interessante notar como, na história da Igreja, outros sistemas de teologia
apareceram e caíram, enquanto que este sistema, o Calvinismo, tem resistido
estavelmente. O Arminianismo, pelo menos na sua forma presente, é de data
comparativamente recente. Desde a época da Reforma até fins do século dezoito, foi
consistentemente banido pelos conselhos e credos da Igreja Protestante. Tampouco se
deu bem na Igreja Católica. No século catorze, Agostinho conseguiu fazer da sua
doutrina da Predestinação a doutrina reconhecida da Cristandade e em nenhum
momento a Igreja Católica adotou consistente e oficialmente os tópicos do
Arminianismo. Igualmente, o Neatorianismo, o Arianismo, o Pelagianismo, o Semi-
Pelagianismo, o Socianismo, etc., apareceram, tiveram o seu momento, e
desapareceram; enquanto que este sistema, conhecido em épocas diferentes como
Agostinianismo ou Calvinismo, permaneceu fundamentalmente o mesmo nos seus
princípios básicos. Não é em si mesmo uma prova contundente de que trata-se do
sistema verdadeiro? Com relação ao Calvinismo da Confissão de Fé de Westminster,
o Dr. C. W. Hodge disse: "As mais recentes modificações do Calvinismo já passaram,
e esta forma pura e consistente de sobrenaturalismo e de evangelicalismo permanece
como barreira intransponível contra as enchentes de naturalismo que ameaçam
submergir todas as igrejas na Cristandade."
Só no Calvinismo a mente lógica e consistente encontra abrigo. Que trata-se de um
sistema lógico, é admitido até por seus oponentes. Alguém que esteja familiarizado
com o Calvinismo, poderá ou amá-lo ou odiá-lo, mas mesmo que o odeie, não poderá
manifestar-se a seu respeito senão de maneira respeitosa. A crítica é feita algumas
vezes, de que este sistema põe demasiada ênfase na lógica e muito pouca na emoção.
É verdade que este Calvinismo como carvão mineral não queima como palha; mas
também é verdade que uma vez aceso, produz calor firme e intenso. "O Calvinismo",
diz o Prof. H. H. Meeter, "tem a distinção entre os grupos religiosos de ser altamente
intelectual. O Calvinismo é conhecido por sua dialética. Os Calvinistas são
reconhecidos como os lógicos por excelência dentre os teólogos. Oliver Wendel
Holmes foi mesmo tão longe quanto satirizar este aspecto do Calvinismo no seu
burlesco: 'A Obra de Arte do Diácono'. A antiga 'charrete' de um varal só, tão bem
construída que cada parafuso e cada porca e cada barra e cada raio era de igual força
e desmontou-se por completo defronte ao local de reunião, era para ele a estória do
Calvinismo. Como uma obra de arte de lógica, o Calvinismo havia continuado por
séculos, mas considerava-se haver sido desmantelado quando o transcendentalismo
ganhou ascendência na Nova Inglaterra." 6
No entanto, a objeção de que ele super enfatiza a lógica, não conta com base
adequada, como qualquer um que aproxime-se dele sem preconceitos poderá, de
imediato, ver. Todavia, se errarmos, de qualquer lado, será provavelmente melhor
errarmos no lado do intelecto, do que no lado das emoções. Mas quem já ouviu falar
de um sistema ser descartado por ser lógico demais? Ao contrário, gloriamo-nos em
sua glória e consistência.

5. ESTAS DOUTRINAS NÃO SÃO IRRACIONAIS QUANDO


COMPREENDIDAS.
Talvez nenhum outro sistema de pensamento tenha sido tergiversado tão grosseira e
deploravelmente, e às vezes tão deliberadamente quanto tem sido o Calvinismo.
Muitos dos que criticaram o Calvinismo fizeram-no sem fazer qualquer estudo
adequado do sistema, e pode verdadeiramente ser dito que os nossos oponentes em
geral conhecem pouco das nossas opiniões, exceto o que captaram por ouvir dizer, no
que não há conexão nem consistência. A doutrina da Predestinação certamente faz da
sabedoria do mundo motivo de riso, e em troca a sabedoria do mundo ridiculariza a
Predestinação. Se qualquer doutrina for para os Judeus uma pedra de tropeço e para
os Gentios loucura, certamente é esta. Cruamente apresentada, a doutrina da
Predestinação parece ser paradoxal; e aqueles que são familiarizados com não mais
do que o seu mero enunciado, provavelmente sentir-se-ão surpresos que ela possa ter
sido mantida pelas mentes pensativas e piedosas que a têm mantido. Mas neste caso,
como em muitos outros, quando examinamos cuidadosamente suas bases e
construções, seu caráter paradoxal é no mínimo diminuído, se não desaparecer por
completo.
Daí pedirmos que este sistema teológico seja examinado sem paixão e que seja
estudado nas suas relações e consistência lógica. Já temos visto que é
abundantemente estabelecido, alicerçado na autoridade da Bíblia; e quando
acrescentamos a isto a evidência que vem das leis da Natureza e os fatos da vida,
torna-se inteiramente possível, provável, justo e reto. Analisado sob este prisma ele
deixa de ser a doutrina arbitrária, ilógica e imoral que os seus oponentes deleitam-se
em pintar, e torna-se uma doutrina que irradia glória na Majestade divina. É claro que
estas não são as doutrinas que o homem natural espera encontrar. A salvação pelas
obras é o sistema que apela mais naturalmente à razão não iluminada; e se tivéssemos
de desenvolver um sistema, dificilmente haveria uma chance em mil que
desenvolvêssemos um no qual um redentor agindo na sua capacidade representativa
teria ganhado estas bênçãos e as dado graciosamente ao seu povo. Diz Zanchius, "A
mente carnal, ou a mera razão não regenerada, horroriza-se com esta verdade; mas,
ao contrário, a mente de um homem espiritual abraça-la-á com afeto", (p. 152). "Se o
Arminianismo é o sistema que mais apela aos nossos sentimentos", diz Froude, o
Calvinismo está mais próximo dos fatos, em que pese serem aqueles fatos duros e
proibitivos, ameaçantes." Está claro que o Calvinismo faz o seu apelo à revelação
Divina, ao invés da razão humana; a fatos ao invés de sentimentos, ao conhecimento
ao invés da suposição, à consciência ao invés da emoção.
Como dito anteriormente, muitas pessoas não vêm nada neste sistema, a não ser uma
estranha espécie de tolice. Mas quando estudadas com um pouquinho de cuidado,
estas doutrinas mostram não serem nem tão incertas nem tão difíceis como os homens
nos levariam a crer; e a sua incerteza e a sua dificuldade são em grande parte devidas
ao nosso orgulho, amor ao pecado, e ignorância do real estado do nosso coração.
Aqueles que vieram a aceitar este sistema teológico quase que se sentem vivendo
num mundo diferente, tão diferente é a sua visão da vida. "Para onde quer que os
filhos de Deus voltem seu olhos", diz Calvino, "podem ver exemplos tais de tremenda
cegueira, ignorância e insensibilidade, como que para enche-los de terror; enquanto
que eles, no meio de tais trevas, receberam iluminação Divina, e o sabem, e o sentem,
ser realmente assim." 7
Se parafrasearmos as palavras do Papa, podemos muito acertadamente dizer deste
assunto: "Um pouco de Predestinação é algo perigoso. Então beba bastante, ou não
toque no manancial sagrado." Aqui, como em outras circunstâncias, os primeiros
goles confundem e perturbam a mente, mas goles maiores vencem os efeitos que
intoxicam e nos trazem de volta aos nossos sentidos.
Esta filosofia sublime da soberania de Deus e da liberdade do homem é encontrada
em todas as partes da Bíblia. No entanto, nenhuma tentativa é feita para explicar-nos
como estes dois fatores se relacionam. A suposição invariável é que Deus é o
Soberano Governador que rege mesmo os pensamentos e sentimentos e impulsos
mais íntimos dos homens; todavia, por outro lado, o homem nunca é representado
como algo que não seja um agente moral livre e inteligente, que é responsável por
seus atos. As doutrinas da pré ordenação, da soberania, e do controle providencial
efetivo, andam lado a lado com aquelas da liberdade e da responsabilidade das
criaturas racionais. Não é reclamado que a doutrina da Predestinação seja livre de
todas dificuldades, mas é sim afirmado que o negá-la traz consigo mais e maiores
dificuldades. Que um Ser de sabedoria, poder e bondade infinitos criasse um universo
e depois o deixasse à deriva como se fosse um grande navio sem piloto, é uma
suposição que subverte nossas idéias básicas de Deus, que contradiz o testemunho
repetido nas Escrituras, e que é contrário à nossa experiência diária e ao senso
comum. Charles Hodge prefaciou sua discussão sobre "Os Decretos de Deus", com a
seguinte declaração: "Deve ser lembrado que Teologia não é Filosofia. Ela não
assume descobrir a verdade, ou reconciliar o que ensina como verdadeiro com todas
as outras verdades. Seu terreno é simplesmente declarar o que Deus revelou na Sua
palavra, e vindicar aquelas declarações o mais longe possível de falsas interpretações
e de objeções. É especialmente necessário ter em conta este humilde e limitado ofício
de Teologia , quando viermos a falar dos atos e propósitos de Deus. '...as coisas de
Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus.'[I Coríntios 2:11].
Portanto, em se tratando dos decretos de Deus, tudo o que é proposto é simplesmente
declarar o que o Espírito houve por bem revelar neste aspecto." 8

6. A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER E A CONFISSÃO DE WESTMINSTER


Este sistema de Teologia, ao qual usualmente refere-se como Calvinismo ou a Fé
Reformada, encontra a sua mais perfeita expressão na Confissão de Westminster. A
Assembléia de Westminster foi constituída pelo Parlamento Inglês. Seu trabalho
estendeu-se por um período de cinco anos e meio, e terminou em 1648. Tratava-se de
um corpo representativo, feito de cento e vinte e hum ministros ou teólogos, onze
lordes, vinte comuns, de todos os condados da Inglaterra e das Universidades de
Oxford e Cambridge, com sete comissionários da Escócia. E a julgar-se pela extensão
e habilidade dos seus trabalhos, ou pela influência exercida sobre as gerações
posteriores, ela permanece como o primeiro entre os concílios Protestantes. O
produto mais importante da Assembléia foi a Confissão de Fé, um compêndio sem
igual de verdade Bíblica que foi o que de mais nobre se alcançou durante o melhor
período do Protestantismo Britânico. Foi corretamente chamada de a obra de arte
teológica dos últimos quatro séculos. O Dr. Warfield disse com relação à Confissão
de Westminster, que foi "A mais completa, a mais totalmente elaborada e
cuidadosamente guardada, a mais perfeita, e a de mais vital expressão que jamais foi
preparada pela mão do homem, de tudo o que entra naquilo que chamamos religião
evangélica, e de tudo o que deve ser salvaguardado se a religião evangélica persistir
no mundo."
O Dr. F. W. Loetsche, num discurso ante a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana,
E.U.A. em 1929, referiu-se aos Padrões de Westminster como, "estas obras
incomparáveis de gênio teológico e religioso"; "aqueles mais nobres produtos do
grande re-avivamento religioso que chamamos de Reforma; aqueles formulários sem
iguais que pelo menos a Cristandade de língua Inglesa veio a considerar como a
incorporação mais compreensível, precisa e adequada do puro Evangelho da graça de
Deus." E no mesmo discurso, ele também disse, "Eu entendo que tal caracterização
destes veneráveis documentos parecerão a muitos, mesmo entre aqueles a quem tenho
a honra de dirigir-me nesta ocasião, como um exagero injustificável, senão um
anacronismo desqualificado. Pois a moda do dia minimiza o valor dos credos, e a
nossa Confissão, como muitas outras, deve sempre sofrer a experiência dolorosa de
ser amaldiçoada, pela falsa exaltação, mesmo nas casas dos que supostamente a ela
aderiram.
O Dr. Curry, que por algum tempo foi Editor do "Methodist Advocate" de Nova
Iorque, num editorial a respeito de Credos, chamou a Confissão de Westminster de "o
mais capaz, mais claro e mais compreensivo sistema de doutrina Cristão jamais
formulado -- um monumento maravilhoso à grandeza intelectual dos seus redatores."
Nestes padrões nós temos a maior concepção da verdade teológica que jamais
adentrou a mente do homem. Como um sistema ele exibe muito mais profundidade
de visão teológica que qualquer outro; e merece a admiração das eras. É um sistema
que produz homens de fortes convicções doutrinárias. A pessoa que o abraça tem uma
base de crença definida e não é "levado para lá e para cá e carregado por cada vento
de doutrina; por estratagemas ardilosos de homens, astúcias da sedução do erro."
Mas enquanto a Confissão de Westminster é tão logicamente trabalhada, tão clara e
compreensiva nas suas declarações, quão tristemente ela é negligenciada hoje em dia
pelos membros e mesmo pelos ministros das Igrejas Presbiteriana e Reformada ! "A
Confissão de Fé", diz o Dr. Frank H. Stevenson, primeiro presidente da Junta de
Diretores do Seminário Teológico de Westminster, "permanece na Constituição da
Igreja Presbiteriana, negligenciada, quase esquecida, mas sem nenhuma emenda nem
correção durante vinte e cinco anos de confusão doutrinária. A Confissão de Fé de
Westminster é o credo da igreja, e cada linha sua sustenta plataforma corajosa. Não
por ser o que é, mas porque ela dá toda honra a Cristo, ela é estandarte digno, sob o
qual continuarmos o que Paulo chamou profeticamente de 'o bom combate para ser
combatido'. " 9 Com estas palavras, concordamos plenamente.

7. ESTAS DOUTRINAS DEVERIAM SER ENSINADAS E PREGADAS EM


PÚBLICO.
A doutrina da Predestinação soberana, tanto quanto as outras doutrinas distintivas do
sistema teológico Calvinista, deveriam ser ensinadas publicamente e pregadas, de
maneira que os verdadeiros crentes pudessem conscientizar-se como objetos especiais
do amor e da misericórdia de Deus; e que fossem confirmados e fortalecidos na
segurança da sua salvação. Que infortúnio é para a verdade que reflete tanta glória no
seu Autor e que é a própria fundação da felicidade do homem, ser inibida ou
confinada somente àqueles que se especializam em Teologia ! Para o Cristão, esta
deveria ser uma das mais confortadoras doutrinas em todas as Sagradas Escrituras.
Ademais, existe dificilmente uma doutrina Cristã que possa ser pregada em sua
pureza e plenitude sem uma referência à Predestinação. Estas doutrinas são tão
reciprocamente relacionadas e mescladas que qualquer uma delas é parte das outras; e
a doutrina da Predestinação é a que une e organiza todas as demais. Fora dela as
outras não podem ser vistas na sua proporção verdadeira, nem a sua importância
relativa ser apropriadamente estimada. Com relação ao lugar da doutrina da
Predestinação no sistema teológico Cristão, Zanchius escreve o seguinte: "Todas as
artes têm uma espécie de vínculo e conexão mútuos, e por uma espécie de
relacionamento recíproco são unidas e entrelaçadas umas com as outras. O mesmo
pode ser dito a respeito desta importante doutrina; ela é o vínculo que une e que
mantém unido todo o sistema Cristão, que sem ela, seria tal como um sistema
edificado na areia, pronto a desmoronar-se. Ela é o cimento que mantém o edifício de
pé; e mais ainda, é a própria alma que anima o corpo inteiro. A doutrina da
Predestinação e todo o esquema da doutrina do Evangelho são tão unidos e
entremeados que quando a primeira é excluída, o segundo sangra até a morte." 10
Somos mandados a ir e "pregar o Evangelho"; mas tanto quanto qualquer parte dele
for mutilada ou silenciarmo-nos a seu respeito, somos infiéis àquele mandamento.
Certamente que nenhum ministro Cristão tem a liberdade de pegar a tesoura e cortar
da sua Bíblia todas aquelas passagens que não são do seu agrado. Ainda assim, para
todos aspectos práticos, não é isto que acontece quando doutrinas importantes são
deixadas de lado, em silêncio? Paulo poderia dizer aos seus convertidos Cristãos,
"(20) ...não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que útil seja..."; e de novo,
"(26) Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. (27)
Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus."[Atos 20]. Se o
ministro Cristão de hoje for capaz de dizer o mesmo, que ele cuide de não omitir esta
tão importante verdade. Paulo referia-se a estas doutrinas repetidamente. Suas cartas
aos Romanos (capítulos 08 até 11) e aos Efésios (capítulos 01 e 02) são as mais
proeminentes nesse aspecto. Ao escrever aos Romanos ele estava, com efeito,
trazendo estas coisas para o mundo todo, e 'carimbando-as' com uma sanção, uma
aprovação universal; e se ele as considerava tão importantes que devessem ser
escritas aos Cristãos primitivos na sua jovem igreja em Roma, a qual ele não havia
visitado, podemos estar seguros de que elas são importantes para os Cristãos da
atualidade. Cristo e os apóstolos pregaram estas coisas, e não o fizeram simplesmente
para algumas pessoas, mas para as multidões. Não há quase que nenhum capítulo no
Evangelho segundo João que não mencione ou implique em eleição ou rejeição.
Quando alguém de bom senso, direto e justo perguntar: "A doutrina da Predestinação
é ensinada na Bíblia?", a resposta deveria ser na afirmativa, -- que ela é
constantemente ensinada em ambos, tanto no Antigo como no Novo Testamentos.
Mais ainda, a Confissão de Fé de Westminster a apresenta de forma muito explícita.
Assim é que devemos ensiná-la e explicá-la tanto quanto nos for possível. Paulo
conclama-nos a "vestirmos toda a armadura de Deus"; todavia quão grande parte
daquela armadura uma pessoa deixa de vestir, se for ignorante quanto a esta grande
doutrina da Predestinação!
Agostinho admoestou aqueles que, na sua época, silenciavam-se acerca da doutrina
da Predestinação, e quando ele foi algumas vezes acusado de prega-la muito
abertamente ele refutou a acusação dizendo que aonde as Escrituras guiarem-nos,
devemos seguir. Lutero, e especialmente Calvino, enfatizaram de maneira muito forte
estas verdades; e Calvino desenvolveu-as de maneira tão forte e clara que o sistema
desde então tem sido chamado de "Calvinismo". Não somente nos países onde a
Reforma apresentava seu melhor resultado, mas posteriormente na Holanda, Escócia,
Inglaterra à época da Assembléia de Westminster; e na América durante os
primórdios da sua história, estas doutrinas eram pregadas rotineiramente e
constituíam-se nos meios de desenvolver convicções religiosas mais fortes em todas
as classes de pessoas.
Calvino estava convicto de que a doutrina da Eleição devia ser o próprio centro da
confissão da igreja, e que se não fosse assim enfatizada, a Igreja deveria preparar-se
para presenciar o esquecimento e o enterro desta tão maravilhosa doutrina. Tão
corretos eram os seus pontos de vista, que aqueles grupos que não enfatizaram a
doutrina da Eleição o bastante, fosse na Inglaterra, Escócia, Holanda, Estados Unidos
ou Canadá, perderam-na por completo, para todos propósitos práticos.
Aquele a quem é confiada a mensagem do Rei deve dá-la como a recebeu; e
certamente que a maior das mensagens, aquela da predestinação para a vida, não
deveria ser deixada em silêncio. "Um embaixador", diz Zanchius, "tem de entregar a
mensagem com a qual foi confiado por completo. Não deve omitir nenhuma parte
dela, mas deve sim declarar o pensamento do soberano que ele representa,
completamente e sem reservas. Ele não deve dizer nem mais nem menos do que
exigem as instruções da sua corte, de outra forma ele será desprezado, talvez até
perca sua cabeça. Que o ministro de Cristo pese bem isto." 11 Estas são doutrinas que
tem sido expressamente dadas através de divina revelação. Elas inteiram a glória
divina, trazendo conforto e coragem aos eleitos, e deixando os pecadores sem
desculpas. É verdade que o homem não gosta que lhe digam que é um pecador e
incapaz de ajudar-se a si mesmo. Tal doutrina é muito humilhante. Mas se ele está
perdido sem Cristo, quanto antes ele o souber, melhor. Para nós, recusarmos pregar
esta doutrina é sermos falsos para com o nosso Senhor e negligentes em nosso dever
para com os nossos próximos. Ignorá-la seria agir como um médico que recusa-se a
operar e salvar a vida de um paciente por saber que a operação lhe causará dor. Se
estas verdades fossem pregadas corajosa e destemidamente, o Modernismo e a
descrença não cresceriam em nossas igrejas tanto quanto crescem. O grupo de
Cristãos professos talvez fosse menor, mas certamente mais leal e efetivo nas obras
Cristãs.
A pregação destas doutrinas fomentará, é claro, alguma controvérsia. Mas
controvérsia não deve ser encarada como pura maldade. Tanto quanto exista erro,
deve haver controvérsia. Os ataques que foram feitos às doutrinas da Igreja pelos
pagãos e hereges durante os primeiros séculos da Era Cristã e na Idade Média,
forçaram a Igreja a uma re-análise das suas doutrinas, a desenvolve-las, explicá-las,
purificá-las e fortificá-las. Elas, as doutrinas, compeliram a um estudo mais
aprofundado da Bíblia. Um número de homens brilhantes apareceu; e escreveram
livros e artigos sobre a Fé Cristã, e como resultado, a Igreja foi grandemente
enriquecida pelos frutos intelectuais e espirituais assim produzidos.
É um erro dizer que as pessoas não mais ouvem à pregação doutrinária. Que o
ministro creia em suas doutrinas; que ele as apresente com convicção e como
verdades vivas; e ele encontrará audiências receptivas. Vemos hoje milhares de
pessoas que voltam as costas às discussões de púlpito que versam sobre eventos
cotidianos, tópicos sociais, temas políticos e mesmo meras questões éticas; e tentam
encher-se com as palhas do ocultismo e com filosofias pueris. De muitas formas,
somos muito mais pobres espiritualmente do que deveríamos, porque na nossa
desorientação e confusão teológica, falhamos em fazer justiça àqueles grandes
princípios doutrinários. Se pregadas corretamente, estas doutrinas são do maior
interesse e de melhores resultados. A experiência do autor como professor da Bíblia
tem lhe mostrado que nenhum outro assunto é tão eletrizante e prende mais a atenção
dos alunos do que estes. Ademais, podemos questionar, Que desculpas tem a Igreja
Presbiteriana para a sua existência continuada como uma denominação separada, se o
Calvinismo dever ser descartado como não essencial? Muito da nossa fraqueza atual
é devido ao fato de que a nossa gente tem tido quase que nenhuma instrução com
referência a estas doutrinas distintivas do sistema teológico Presbiteriano, e esta falta
de instrução tem levado diretamente ao movimento ecumênico, pelo qual tentativas
estão sendo feitas para unificar igrejas de tipos muito diferentes, com somente um
mínimo de doutrina.
A doutrina da Predestinação é uma doutrina de Cristãos genuínos. Considerável
cautela deve ser exercida ao pregá-la aos não convertidos. É quase que impossível
convencer um não Cristão da sua veracidade; e na verdade o coração do homem não
regenerado usualmente se revolta contra ela. Se enfatizada antes que as verdades mais
simples do sistema Cristão sejam dominadas, muito provavelmente será
incompreendida e nesse caso pode somente levar a pessoa a um desespero mais
profundo. Ao pregar aos não convertidos ou àqueles que são iniciantes na vida Cristã,
nossa tarefa consiste principalmente em apresentar e enfatizar a contribuição do
homem na obra da salvação, -- fé, arrependimento, mudança moral, etc. Estes são os
passos elementares, tanto quanto desdobrar-se a consciência humana. Naquele estágio
inicial, pouco precisa ser dito a respeito das verdades mais profundas, que referem-se
à atuação de Deus. Como no estudo da matemática, não começamos com álgebra e
cálculos, mas sim com os mais simples problemas e exercícios de aritmética, também
aqui a melhor forma é apresentar as verdades elementares. Então, depois que a Pessoa
é salva e tiver trilhado já algum trecho do caminho Cristão, ela passa a enxergar que
na sua salvação o operar de Deus foi primário e o seu foi somente secundário, que ela
foi salva através da graça, e não por suas próprias obras. Como o próprio Calvino
colocou, a doutrina da Predestinação "não é assunto para crianças refletirem muito"; e
Strong diz que, "Esta doutrina é um dos ensinamentos avançados das Escrituras, o
qual requer para o seu entendimento uma mente madura e uma experiência profunda.
O neófito na vida Cristã pode não enxergar o seu valor ou mesmo a sua verdade, mas
com o decorrer dos anos ela se tornará esteio onde se apoiar." 12 Mas, enquanto seja
verdade que esta doutrina não pode ser adequadamente apreciada pelo não convertido
nem por aqueles que estão apenas iniciando-se na vida Cristã, ela deveria ser
propriedade comum de todos aqueles que já percorreram alguma distância naquele
caminho.
É digno de nota que ao desenvolver as suas "Institutas", Calvino não tratou da
doutrina da Predestinação nos primeiros capítulos. Ele primeiro desenvolveu as
outras doutrinas do sistema teológico Cristão e deliberadamente esquivou-se dela em
diversas casos, onde naturalmente esperaríamos encontrá-la. Então, na última parte da
sua discussão teológica, ela é desenvolvida por completo e feita a coroa e a glória do
sistema inteiro.
Pode ser adicionalmente dito que ao pregar esta doutrina deve-se zelar para que não
haja exagero de quaisquer declarações, e também mostrar que não encontra-se
fundamentada numa vontade arbitrária, mas na sabedoria e no amor infinitos.

8. OS VOTOS DE ORDENAÇÃO E A OBRIGAÇÃO DO MINISTRO.


Cada ministro e cada ancião que é ordenado nas igrejas Presbiteriana e Reformada,
toma solenemente os votos perante Deus e os homens, que ele sinceramente recebe e
adota a Confissão de Fé da sua igreja como contendo os sistema de doutrina ensinado
pelas Sagradas Escrituras (Igreja Presbiteriana EUA, veja 'Formas de Governo',
XIII :IV; XV :XII). 13 Desde que estas confissões são totalmente Calvinistas, isto
quer dizer que ninguém senão os Calvinistas podem honesta e inteligentemente
aceitar esta ordenação. Um Arminiano não tem o menor direito de ser ministro numa
igreja Calvinista, e a qualquer Arminiano que venha a tornar-se ministro numa igreja
Calvinista, falta-lhe boa moralidade, tanto quanto boa teologia. Declarar uma coisa e
crer no contrário dificilmente é consistente com o caráter de um homem honesto. E
todavia, enquanto os nossos votos de ordenação são Calvinistas por completo, quão
poucos ministros existem que proclamam estas doutrinas! Dificilmente alguém
poderia dizer, a partir do que se ouve nos púlpitos das igrejas nominalmente
Calvinistas de hoje em dia, o que realmente são as verdades essenciais da Fé
Reformada. Nossos púlpitos, tanto quanto as publicações da nossa igreja, nossas
escolas e seminários, enchem-se com as doutrinas Arminianas do mérito e do livre
arbítrio. Nos dias de hoje as Igrejas Presbiteriana e Reformanda não parecem ter uma
concepção adequada da importância fundamental da sua grande herança doutrinária.
Os escritos de Calvino e de Lutero, dos grandes clérigos Puritanos e dos grandes
teólogos desde aquela época deveriam ser melhor conhecidos dos nossos jovens
teólogos, muitos mais que simplesmente por seus títulos. A forma escolástica e o
estilo rebuscado dessas obras talvez tenham desencorajado muitos de estudá-los a
fundo, mas deveríamos lembrarmo-nos que o estudo da Teologia não é gratificante
simplesmente pelo prazer que proporciona. Não esperamos encontrar romances ao
abrirmos as grandes obras dos velhos mestres em Teologia.
Muitos jovens adentram ao ministério sem uma familiaridade com a doutrina da
Igreja na qual eles intentam servir, e quando eles ouvem de alguém que pregue em
conformidade com os Padrões de Westminster, eles consideram-no como
"apresentadores de estranhas doutrinas". A grande necessidade da Igreja hoje em dia é
de homens de firmes convicções e mentes estáveis, ao invés dos do tipo tolerantes [o
autor utilizou a expressão em Inglês "latitudinarian", utilizada para designar "Um
membro de um grupo de Cristãos Anglicanos ativo desde o século XVII até o século
XIX, que se opunham às posições dogmáticas da Igreja da Inglaterra e permitiam o
raciocínio para julgamentos e interpretações teológicos informais." ('The American
Heritage® Dictionary of the English Language', Quarta Edição. Copyright © 2000
Houghton Mifflin Company) N.T.] Modernistas ou Liberais que vagueiam para lá e
para cá vangloriando-se de não terem opiniões dogmáticas e nenhuma preferência
teológica. Parece que a maioria dos nossos ministros não mais crêem nessas doutrinas
Calvinistas; e que muitos deles, contrariamente aos seus votos solenes da ordenação,
estão fazendo, através de métodos desonestos e artificiosos, todo o possível para
destruir a fé que eles juraram solenemente haverem sido movidos pelo Espírito Santo
para defender. Se estas doutrinas são verdadeiras elas deveriam ser claramente e
agressivamente ensinadas e defendidas nas nossas igrejas, nos nossos seminários e
nos nossos colégios. Se não forem verdadeiras, deveriam então serem eliminadas da
Confissão de Fé. A honestidade é tão importante na teologia quanto o é no comércio e
nos negócios, tão importante numa denominação religiosa quanto o é num partido
político. Um ministro Presbiteriano não é um autônomo, mas é um presbítero que se
comprometeu com este sistema de doutrina. Aqueles que negam estas doutrinas num
púlpito Presbiteriano estão sendo falsos para com os seus votos de ordenação; e
portanto deveriam retirar-se para denominações que apoiem os seus pontos de vista.
Certamente que nenhum oficial de igreja tem o direito de aceitar as honras e
remunerações que advém da aceitação exterior de um credo no qual ele não creia ou o
qual ele não ensine.
"O credo de uma Igreja", diz Schedd, "é um contrato solene entre os membros da
igreja: ainda muito mais que a plataforma de um partido o é entre políticos. Algumas
pessoas parecem não perceber imoralidade da violação do contrato quando refere-se a
uma denominação religiosa; mas quando um partido político é a organização afetada
pela quebra de compromisso, aquelas mesmas pessoas são as primeiras a perceber e a
denunciar, com grande veemência, a violação. Se uma facção aparecesse dentro do
partido Republicano, por exemplo, e se dispusesse a modificar a plataforma do
mesmo enquanto ainda utilizando-se das instalações e desfrutando dos salários os
quais lhes foram assegurados por professarem lealdade ao partido e prometerem
adotar os princípios fundamentais sobre os quais ele foi fundado e através dos quais
ele distingue-se do Partido Democrata e de outros partidos políticos, a acusação de
desonestidade política repercutiria através de todo o Republicanismo. E se, quando do
exercício de disciplina do partido tais faccionistas são exonerados das suas funções e
talvez expulsos da organização política, porventura levantar-se protesto contra as
medidas disciplinares tentando-se impugná-las como sendo perseguição política,
certamente que a imprensa republicana ignoraria tal protesto por completo. Quando a
desonestidade política reclama tolerância sob o pretexto de políticas "mais liberais"
do que as adotadas pelo partido, e ainda assim os políticos desonestos aterem-se às
verbas alocadas pelo partido enquanto advogando sentimentos diferentes daqueles da
massa do partido, é de imediato dito que ninguém é obrigado a filiar-se ao partido
Republicano ou a permanecer nele, mas que se uma pessoa se afiliar a ele ou nele
permanecer, deve adotar estritamente o credo do partido e não tentar, seja
abertamente ou em secreto, alterá-lo. Que um credo Republicano é para os
Republicanos e não para outros, é algo com o que todos parecem estar de acordo; mas
que um credo Calvinista é para os Calvinistas e não para outros, parece ser colocado
em dúvida por alguns . . .
"Se, no seio do partido Democrata, aparecesse uma facção que reclamasse o direito -
ainda que permanecendo no partido - de adotar os princípios e medidas Republicanos,
dir-se-ia que o melhor lugar para ela seria fora da Democracia, não dentro. O direito
da facção às suas opiniões próprias não seria discutido, mas o direito de mante-las e
propagá-las com a utilização dos fundos e das influências do partido Democrata lhes
seriam negados . . . . . . Eles diriam aos descontentes 'Não desejamos e nem podemos
evitar que vocês tenham os seus próprios e peculiares pontos de vista, mas vocês não
têm o direito de ventilá-los dentro da nossa organização'." 14
As igrejas Calvinistas são algumas vezes acusadas de intolerância e de perseguição,
quando com base em desvios do credo da igreja ocorrem investigações judiciais.
Sustentamos, contudo, que tal acusação é injusta e que a igreja encontra-se
completamente dentro dos seus direitos ao exigir que as pregações dos seus ministros
e os ensinamentos dos seus professores estejam em conformidade com os padrões
denominacionais.
Dessas considerações, ficará claro por que muitos de nós têm tão pouco entusiasmo
pelos movimentos de união da igreja, os quais uniriam grupos que sustentam sistemas
de doutrina diferentes. Acreditamos que o sistema Calvinista seja o único ensinado
nas Escrituras e vindicado pela razão; e portanto o mais estável e de influência maior
no estabelecimento da justiça. Todavia, para todos que discordam de nós,
cordialmente permitimos o direito de um julgamento privado, e regozijamos
sinceramente no bem que serão capazes de alcançar. Regozijamo-nos que outros
sistemas de teologia se aproximem do nosso; ainda assim não podemos consentir no
empobrecimento da nossa mensagem, ao proclamar menos do que vemos ensinado
pelas Escrituras. Se uma união pudesse ser consumada, na qual o Calvinismo fosse
aceito como o sistema da verdade ensinado na Bíblia, ficaríamos felizes em participar
dela; mas cremos que para nós contentarmo-nos com qualquer coisa menos que isso
seria desistir da verdade vital; e que qualquer coisa vaga o bastante para abraçar tanto
o Calvinismo como outros sistemas de doutrina, não valeria a pena propagar. Nós
cremos que a vantagem superficial em números, resultante de uma união como esta,
seria muito pouco quando comparada com a discórdia espiritual que inevitavelmente
seguiria. Assim é que, desejamos permanecer Presbiterianos até que as Doutrinas da
Fé Reformada, as quais são simplesmente as doutrinas da Palavra de Deus, venham a
tornar-se as doutrinas da igreja Universal.
Estas doutrinas, agora desrespeitadas ou desconhecidas, se não com oposição aberta,
foram universalmente cridas e mantidas pelos reformadores, e após a Reforma foram
incorporadas aos credos, aos catecismos, ou artigos de cada uma das igrejas
Protestantes. Qualquer um que comparar os sermões pregados nos púlpitos hoje em
dia com aqueles dos Reformadores, não terá dificuldade nenhuma em perceber o
quão contraditórios e irreconciliavelmente hostis eles são entre si.

9. A IGREJA PRESBITERIANA É VERDADEIRAMENTE ABERTA E


TOLERANTE.
Enquanto a Igreja Presbiteriana é uma Igreja preeminentemente doutrinal, ela nunca
demanda a aceitação completa dos seus padrões por qualquer que aplique à admissão
no seu quadro de membresia. Uma acreditável profissão de fé em Cristo é a única
condição imposta por ela, para tornar-se membro. Ela demanda que os seus ministros
e anciãos (presbíteros; N.T.) sejam Calvinistas; ainda assim ela nunca o demanda dos
membros arrolados. Como Calvinistas nós alegremente reconhecemos como nossos
irmãos Cristãos quaisquer que confiem em Cristo para a sua salvação,
independentemente do quão consistente suas demais crenças possam ser. Nós
acreditamos, contudo, que o Calvinismo é o único sistema o qual é inteiramente
verdadeiro. E enquanto alguém possa ser um Cristão sem no entanto crer em toda a
Bíblia, o seu Cristianismo será imperfeito na proporção em que ele parte do sistema
Bíblico de doutrina. Com relação a isto o Prof. F. E. Hamilton disse muito bem: "Um
homem cego, surdo e mudo pode, é verdade, saber algo a respeito do mundo ao seu
redor através dos sentidos remanescentes, mas o seu conhecimento será muito
imperfeito e provavelmente inacurado. Num sentido similar, um Cristão que nunca
conhece ou que nunca aceita os ensinamentos mais profundos da Bíblia os quais o
Calvinismo incorpora, pode ser um Cristão, mas ele será um Cristão imperfeito; e
deveria ser tarefa daqueles que conhecem toda a verdade tentar guiá-lo até o único
depósito que contem as riquezas completas do verdadeiro Cristianismo." "O
Calvinista", diz o Dr. Craig, não difere dos outros Cristãos em espécie, mas somente
em grau, como espécimes mais ou menos bons de algo diferem de espécimes mais ou
menos ruins de algo." Nós não somos todos Calvinistas enquanto trilhamos o
caminho para o céu, mas seremos todos Calvinistas quando chegarmos lá. É a nossa
firme convicção que cada alma redimida no céu será uma alma Calvinista em todos
os sentidos. Os Cristãos em geral devem admitir que quando todos nós "...chegarmos
à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus..."[Efésios 4:13], e
conhecermos a verdade em toda a sua plenitude, seremos ou todos Calvinistas, ou
todos Arminianos.
Deve ser sempre tido em mente que o Calvinismo inclui muito mais que aquelas
características peculiares as quais o distinguem do Arminianismo. O Calvinismo
sustenta firmemente as grandes doutrinas da Trindade, da Divindade de Cristo, dos
Milagres, da Expiação, da Ressurreição, da Inspiração das Sagradas Escrituras, etc.,
as quais formam a fé comum da Cristandade evangélica.
Com relação à natureza 'aberta' e 'tolerante' da Igreja Presbiteriana, tomaremos agora
o privilégio de parafrasear, um tanto quanto extensivamente, o admirável livro do Dr.
E. W. Smith, "O Credo dos Presbiterianos", -- mais de sessenta e cinco mil cópias do
qual já foram distribuídas.
"A catolicidade do Presbiterianismo, a sua liberalidade de pensamento e de
sentimento, a sua liberdade da estreiteza e intolerância sectárias, é uma das suas
características que o coroam . . . . A catolicidade do Presbiterianismo não é um mero
sentimento. Não é algo de profissão individual ou plataforma de declamação. Está
enraizado no nosso credo. Está proclamado nos nossos padrões. Está incorporado na
nossa doutrina da Igreja. 'A Igreja visível', diz a nossa Confissão, 'que também é
católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes
sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira
religião, juntamente com seus filhos.' (C.F.W. Capítulo XXV, Seção II. Referências
Bíblicas: I Cor. 1:2, e 12:12-13,; Sal .2:8; I Cor. 7 :14; At. 2:39; Gen. 17:7; Rom.
9:16; Mat. 13:3 Col. 1:13; Ef. 2:19, e 3:15; Mat. 10:32-33; At. 2:47). Assim,
formalmente e publicamente, nós repudiamos o nome de "A" igreja e reclamamos
sermos somente uma igreja de Jesus Cristo. Não somente os nossos Padrões não
contém nenhuma denúncia dos pontos de vista antagônicos de igrejas Evangélicas
irmãs, como eles são ditos serem os únicos Padrões eclesiásticos em existência os
quais fazem reconhecimento explícito e autoritário de outras igrejas evangélicas
como 'ramificações verdadeiras da Igreja de Jesus Cristo.' (Livro da Ordem da Igreja,
Capítulo II, Seção II, parágrafo II). À 'Comunhão dos Santos', a nossa Confissão
dedica um capítulo inteiro. Somos ensinados que a nossa '...santa sociedade e
comunhão..." nos dons e nas graças de cada um, nos serviços de amor e de louvor,
'deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome do Senhor
Jesus.'(C.F.W., Capítulo XXVI, Seção II. Referências Bíblicas: Heb.10:24-25;
At.2:42,46; I João3:17; At. 11:29-30.)."
"A catolicidade dos nossos padrões encontra expressão bela na atitude Presbiteriana
com relação a todas as demais igrejas evangélicas. Enquanto um ramo da Cristandade
evangélica possa "descongregar" todas as denominações irmãs, tal atitude aborrece o
sentimento Presbiteriano e é desconhecido na prática Presbiteriana. Os Membros e os
Ministros de outras igrejas evangélicas são tratados por nós, em todos os aspectos,
como verdadeiros membros e ministros igualmente conosco, da Igreja de Cristo."
"Enquanto várias destas igrejas declinam de dar cartas de transferência suas próprias,
para outras comunidades, nós não fazemos distinção. Damos cartas de transferência a
membros para congregações Batistas, Episcopais ou outras, precisamente da mesma
forma e com a mesma confiança irrestrita, como se estivessem transferindo-se para
igrejas da nossa própria denominação."
"Algumas denominações evangélicas negam a validade de ordenanças perpetradas
por igrejas irmãs; e quando um ministro ou um membro vir até elas de uma
denominação irmã, aquele deve ser re-ordenado, o outro re-batizado. Tal negativa é
intimamente contrária ao espírito e ao uso Presbiteriano. Nós nunca repetimos o rito.
Aceitamos a ordenança de uma igreja irmã como não menos válida que se tivesse
sido perpetrada por nós mesmos."
"Enquanto ministros de igrejas irmãs são excluídos de muitos púlpitos evangélicos,
ou da co-oficialização de cerimônias sagradas, nós nunca praticamos tal exclusão,
pois este procedimento é estranho ao coração e hábito Presbiterianos. Somos livres e
cordiais ao convidar ministros Episcopais, Batista ou de outra denominação
evangélica para ocupar nossos púlpitos, ou assistir-nos oficialmente na administração
da Ceia do Senhor, tanto quanto convidamos nossos próprios pastores."
"Não excluímos de nossas congregações ninguém que seja verdadeiro Cristão. Não
rejeitamos nenhuma ordenação ministerial. Não repudiamos nenhum sacramento
Bíblico administrado por uma igreja irmã. Respondemos ao mal com o bem,
reconhecemos o nosso co-irmão clérigo da igreja anglicana como um verdadeiro
ministro de Cristo; e a nossos irmãos batizados por imersão como tendo sido
validamente batizados. Respondemos com todo o nosso coração ao 'Amém' dos
Metodistas; entoamos junto com nossos irmãos, salmos que coroem a Jesus Cristo; e
muito amorosamente convidamos aos nossos irmãos na fé, de todo nome e de toda
denominação, a compartilharem conosco dos elementos do corpo e do sangue de
Jesus Cristo. Não temos preconceito, nem exclusividade, ou mesmo caprichos de
qualquer tipo, que restrinja nossas simpatias para com Cristãos e forme um fosso
entre nós e outros servos do nosso Mestre. Nossa catolicidade é imensa, tanto quanto
a Cristandade," (pp. 189 - 193).
E de novo ele diz: "A catolicidade da Igreja Presbiteriana aparece na sua única
condição para membresia. Ela requer absolutamente nada para admissão nos seus
quadros, exceto uma confissão respaldada pela vida de fé no Senhor Jesus Cristo. Ao
candidato não é exigido subscrever aos nossos Padrões ou aquiescer à nossa teologia.
Dele não é requerido que seja um Calvinista, mas somente que seja um Cristão. Ele
não é examinado quanto à sua ortodoxia, mas somente quanto à '...sua fé em Cristo e
obediência a Ele...'(C.F.W. Capítulo XXVII, Seção IV. Referências Bíblicas: At. 9:18;
Gen. 17:7, 9; Gal. 3:9, 14; Rom. 4:11-12; At. 2:38-39). Ele pode ter noções
imperfeitas com relação à Trindade e à Expiação; ele pode questionar o batismo
infantil, a eleição e a perseverança final; mas se ele confiar em Cristo e obedecê-Lo
como o seu Senhor e Salvador pessoal, as portas da Igreja Presbiteriana estão abertas
para ele; e todos os privilégios da comunhão da Igreja Presbiteriana também são seus.
Quando as igrejas prescrevem condições de membresia que sejam outras senão as
condições simples de salvação, elas são culpadas de tornarem mais difícil a entrada
na Igreja do que no céu. Contra tal tirania e exclusivismo eclesiástico, a Igreja
Presbiteriana posiciona-se com íntimo contraste. Os seus Padrões e Normas declaram
que como a simples fé em Cristo nos faz membros da família de Deus, também
aqueles que professam a fé em Cristo têm todos os direitos e privilégios da Igreja.'
(Livro da Ordem da Igreja, III, 3). Assim, com uma catolicidade ampla e linda, os
portões da nossa Sião Presbiteriana abrem-se como os portões do céu, para receber
todos os filhos de Deus," (pp. 199, 200).
Após declarar que os Presbiterianos e os Reformados constituem a maior família
Protestante no mundo, o Dr. Smith, numa linguagem eloqüente, dá o seguinte
sumário magnífico das conquistas missionárias daquelas igrejas: "Ainda mais católica
e imponente que a quantidade de comunidades Presbiterianas é a extensão mundial
do império Presbiteriano. Enquanto que os adeptos de outras comunidades
Protestantes estão mais ou menos concentrados em países únicos; os Luteranos na
Alemanha, os Episcopais na Inglaterra, os Metodistas e os Batistas nos Estados
Unidos, a linha da Igreja Presbiteriana alcança todos os confins da terra. A Igreja
Presbiteriana está presente em mais continentes, num número maior de países,
nacionalidades e idiomas do que qualquer outra igreja evangélica do mundo. Como
testemunha na Europa Continental, ela conta com as históricas Igrejas Presbiterianas
Reformadas na Áustria, Boêmia, Galícia, Morávia, Hungria, Bélgica, França,
Alemanha, Itália, Grécia, Países Baixos; na Rússia, Suíça e Espanha. Ela enraizou-se
e frutificou na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, na Nova
Zelândia, nas Antilhas Holandesas, -- os povos que professam esta fé e ordem
recobrem a terra. O Presbiterianismo possui um poder de adaptação sem paralelo com
qualquer outro sistema. Ela tem produzido uma proporção indubitavelmente grande
de destacados pregadores, evangelistas, editores, autores, educadores, estadistas e
líderes cívicos; e da sua abundante vida espiritual emanam as poderosas forças das
missões Cristãs para todo o mundo pagão," (p. 211).
10. RAZÕES PARA O POUCO SUCESSO DO CALVINISMO NO PRESENTE.
A que se deve a pouca aceitação do Calvinismo hoje em dia? Que as célebres cinco
pontas da estrela Calvinista não estejam brilhando tão refulgentemente é algo que
dificilmente alguém questionará. Quando consideramos a tendência do pensamento
moderno, concluímos facilmente que as influências do Calvinismo (se podemos
alternar as posições) encontram-se num nível muito baixo. Em muitos lugares onde
ele uma vez floresceu, agora quase que desapareceu. Quase que não há mais nenhum
"Calvinista sem reserva" entre os reconhecidos líderes do pensamento religioso na
França, na Suíça ou na Alemanha; onde o Calvinismo uma vez teve tão grande força.
Na Inglaterra, o Calvinismo praticamente desapareceu. Na América já não existe
nenhuma igreja considerada grande em sua capacidade que agressivamente mantenha
a herança Calvinista. Quanto à Escócia, no entanto, alegramo-nos ao notar que a
heróica Igreja Livre ainda levanta a sua voz em meio à triste deficiência das igrejas
maiores. E na grande igreja livre da Holanda, a "Gereformeerde kerken", temos uma
igreja verdadeiramente Calvinista no mundo moderno, -- igreja na qual a religião
Cristã é agressivamente sustentada e apresentada nas bases da Santa Escritura, na Fé
Reformada.
A História nos mostra o quão plenamente, contudo, os períodos de prosperidade
espiritual alternam-se com períodos de depressão espiritual. Mas acima de tudo, nós
cremos na invencibilidade da verdade. "A verdade atirada ao chão levantar-se-á
novamente. Os anos infindáveis de Deus são seus."
Não é de se admirar que o Calvinismo tem muitos adversários. Enquanto perdurar o
fato de que "...o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para
ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente."[I
Coríntios 2:14], também o Calvinismo se constituirá um sistema teológico estranho e
tolo aos olhos do homem natural. Tanto quanto a natureza caída do homem
permanecer assim, e tanto quanto o decreto for válido, de que o Próprio Cristo deve
ser "Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo..."[I Pedro 2:8], estas doutrinas
soarão como ofensa a muitos. Também não é de se admirar que o imortal reformador
Suíço, que ocupou lugar de proeminência no desenvolvimento e na defesa destas
doutrinas fosse por uns o mais apaixonadamente admirado e amado; enquanto que
por outros fosse amargamente odiado e caluniado, entre os destacados líderes da
Igreja.
Desde que a fé e o arrependimento são dádivas especiais de Deus, não deveríamos
surpreendermo-nos com a descrença do mundo; pois mesmo os homens mais sábios e
acurados não conseguem crer a não ser que recebam aquelas mesmas dádivas. São
muitíssimo apropriadas as palavras, "...Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei
a sabedoria o entendimento dos entendidos."[I Coríntios 1:19]; e também, "(19)
Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele
apanha os sábios na sua própria astúcia; (20) e outra vez: O Senhor conhece as
cogitações dos sábios, que são vãs. (21) Portanto ninguém se glorie nos homens;
porque tudo é vosso."[I Coríntios 3:19-21]. A causa, o motivo que faz com que
qualquer pessoa creia é a vontade de Deus; e se o som exterior do Evangelho lhe
atinge os ouvidos, o faz em vão; até que seja da vontade de Deus tocar-lhe o coração.
Este é um sistema teológico que tem sempre recebido forte oposição do mundo; e tal
oposição é hoje tão forte como jamais o foi. Realmente, como poderia ser ao
contrário, quando o homem por sua própria natureza é inimigo e está em guerra com
Ele, mente do qual estas doutrinas emanaram? Não é de se esperar que Deus em Sua
sabedoria e o homem na sua estultice estivessem de acordo. Deus é totalmente sábio e
Santo e Poderoso Senhor Absoluto; o homem não regenerado é um rebelde cego pelo
pecado, que não quer governador sobre si e muito menos um Senhor Absoluto. Desde
que a inimizade do coração do homem para com as doutrinas distintivas da Cruz é tão
grande e intensa como nunca, um sistema como o Pelagianismo ou Naturalismo, que
ensina a salvação pelas nossas próprias boas obras, ou como o Arminianismo, que
ensina a salvação parcialmente por obras e parcialmente pela graça; provoca uma
resposta mais rápida no coração não regenerado. Quando o Evangelho torna-se
aceitável ao homem natural, tal evangelho deixa de ser o Evangelho que Paulo
pregava. E é digno de lembrança, que quase que em cada cidade que Paulo pregou o
seu Evangelho, de fato ocorreram reavivamentos ou brigas e escaramuças e não
raramente ambos. "O Calvinismo pode não ser popular em alguns lugares", diz
McFetridge. "Mas e daí? Ele não pode ser mais impopular que as doutrinas do pecado
e da graça como reveladas no Novo Testamento."
Uma outra razão para o pouco sucesso do Calvinismo hoje em dia é a tremenda
ênfase colocada no sobrenatural. Em todos os eventos e em todas as coisas, de
eternidade a eternidade, o Calvinismo enxerga a Deus. Sua mão está visível em todos
os fenômenos da natureza e em todos os eventos da história. Seu propósito crescente
permeia todos os acontecimentos. Nós vivemos hoje numa época que é totalmente
oposta ao sobrenatural; e por conseguinte, distintivamente hostil ao Calvinismo.
Atualmente a ênfase está nas ciências físicas, no racionalismo dos pensamentos e dos
sentimentos. Mesmo no Cristianismo atual a tendência é considerar a Bíblia como
uma produção meramente humana e encarar a Cristo meramente como um homem
extraordinário. O Modernismo de hoje em dia, que na sua forma consistente é
naturalismo puro e também auto esotérico, é a própria antítese do Calvinismo. E o
resultado de tudo isto é uma religião naturalista que exclui a Deus como que dizendo-
Lhe, "Tire as mãos!"; e assim não é estranho que o Calvinismo, com sua grande
ênfase no sobrenatural, não seja popular. Não precisamos surpreendermo-nos, então,
ao vermos que os adeptos destas doutrinas encontrarem-se em minoria. A verdade ou
a falsidade das doutrinas das Escrituras Sagradas não podem ser deixadas à
dependência do voto popular.
Nas palavras seguintes o Dr. B. B. Warfield, aquele gigante da ação e do pensamento,
nos proporciona uma boa análise da atitude que o mundo tomou contra o Calvinismo
nos anos recentes. Depois de dizer que o Calvinismo é "O verdadeiro Teísmo", que é
"a religião na sua mais sublime concepção", e que é "o evangelicalismo na sua única
expressão e estável", ele acrescenta: "Consideremos o orgulho do homem, a sua
asserção da liberdade, o alarde de poder, sua recusa em reconhecer a influência da
vontade de outrem. Considere a arraigada confiança do pecador na sua própria boa
natureza e a sua completa capacidade de cumprir com tudo o que seja justamente
demandado dele.
"É estranho que neste mundo -- nesta época específica do mundo -- seja difícil
preservar não somente ativa, mas vívida e dominante, a percepção da onipotente e
determinante mão de Deus, o senso de dependência absoluta nEle, a convicção da
nossa própria incapacidade para perpetrar o menor dos atos para resgatar-nos do
pecado -- na sua mais alta concepção? Não justificativa suficiente para qualquer
depressão que o Calvinismo possa estar sofrendo no mundo atual, apontar para a
dificuldade natural -- nesta época materialista, consciente dos seus poderes recentes
sobre as forças da natureza e cheia plena de orgulho pelas êxitos e de bem estar
material -- de guardar a em toda a sua perfeição a nossa percepção da mão governante
de Deus em todas as coisas; de manter o nosso sentido de dependência num poder
supremo; de preservar na sua profundidade o nosso sentimento de pecado, de
impotência e de indignidade? A depressão sofrida pelo Calvinismo não é, tanto
quanto seja real, uma simples conseqüência disto -- que na nossa época a visão de
Deus tornou-se tanto quanto obscurecida em meio aos triunfos abundantes, que a
emoção religiosa em certa monta deixou de ser a força determinante na vida; e que a
atitude evangélica da completa dependência em Deus para a salvação não se aplica
prontamente a homens acostumados a agarrarem com suas próprias mãos qualquer
outra coisa que desejem; e que portanto não vêm razão pela qual também não possam
alcançar o céu à força?" 15
Todavia não há motivo para que os Calvinistas sintam-se desencorajados. A religião
fácil de hoje em dia, com a sua ênfase em problemas sociais mais do que na doutrina,
tem trazido à Igreja multidões que em outras épocas permaneceriam do lado de fora;
e o simples fato de que os Calvinistas não chamem tanto a atenção na congregação
não significa necessariamente que o seu número real tenha caído. "Muito
provavelmente há hoje em dia no mundo mais Calvinistas do que jamais houve", diz
o Dr. Warfield. "Mesmo relativamente, as Igrejas professadamente Calvinistas estão,
sem dúvida, mantendo as suas posições. Há importantes tendências de pensamento
moderno que de uma maneira ou de outra acabam por vir a estarem a favor desta ou
daquela concepção Calvinista. Acima de tudo, há almas humildes em todos lugares,
que, na quietude das suas vidas separadas, têm captado uma visão de Deus na Sua
glória e que mantém afetuosamente nos seus corações aquela chama vital da
completa dependência nEle, a qual é a própria essência do Calvinismo." 16 E
novamente, "Eu creio inteiramente que o Calvinismo, como supriu o Cristianismo
evangélico com vitalidade no passado, também é a sua força no presente; e a sua
esperança para o futuro."
E em plena conformidade com isto, o Dr. F. W. Loetscher disse: "Não é surpresa que
a nossa época, insana pelo seu próprio conhecimentos, irreverente do passado,
impaciente com os credos e dogmas, intolerante com a autoridade divina tanto quanto
humana, arrastada pelas correntes do Naturalismo ateísta e da Evolução panteísta;
direcione a sua mais pesada artilharia de descrença contra o Calvinismo, como a mais
forte cidadela de redenção e revelação sobrenatural. E como o Professor Henry B.
Smith profetizou uma geração atrás: 'Uma coisa é certa -- a ciência atéia destruirá
tudo, exceto a verdadeira ortodoxia Cristã.' Aceitemos, então, resolutamente, este
desafio. E regozijemo-nos, pois é impossível que o Calvinismo pereça na face da
terra, tanto quanto que o homem pecador perca seu sentido íntimo de dependência de
Deus, ou o Todo-Poderoso abdique do Seu trono de domínio universal."
O notável mestre de História da Igreja na Universidade de Oxford - Inglaterra - James
Anthony Froude, disse a respeito da religião tão sem vida que tornou-se tão comum
no nosso tempo: "Esta não era a religião dos vossos pais; não era o Calvinismo que
destruiu a fraqueza espiritual, que destronou reis e que libertou a Inglaterra e a
Escócia, ao menos por algum tempo, de mentiras e de charlatanismo. O Calvinismo é
o espírito que cresce em revolta contra a mentira, o espírito que, como vos tenho
mostrado, surgiu e ressurgiu, e que no devido tempo surgirá novamente, a menos que
Deus seja uma ilusão e que o homem seja a besta que perece."
"O Calvinismo não somente tem um futuro", diz o Dr. Abraham Kuyper, "ele tem o
futuro. Tudo o mais desmorona e desvanece. Teologicamente, há muita fadiga em
todo o nosso redor; e há muito esforço desnecessário ante os povos, porque o
Calvinismo lhes é demais. Mas simplesmente por ser tal poder, o Calvinismo captura
os espíritos e não os soltará."
É apropriado, neste ponto, dizer que o autor deste livro não cresceu numa igreja
Calvinista; e que ele se lembra muito bem do quão revolucionárias estas doutrinas lhe
pareceram quando do seu primeiro contato com elas. Durante umas férias de verão no
seu curso na faculdade, aconteceu de ele ler o primeiro volume do livro de Charles
Hodge "Teologia Sistemática", o qual contém um capítulo sobre "Os Decretos de
Deus"; e o qual apresentou estas verdades com tal força que ele nunca mais foi capaz
de distanciar-se delas. Ademais, ele tem orgulho do fato de que ele atingiu esta
posição somente após uma luta mental e espiritual um tanto quanto severa; e que ele
se sente profundamente simpático àqueles que podem ter sido chamados a passar por
experiência similar. Ele conhece o sacrifício exigido para retirar-se da igreja da sua
juventude quando ele se convenceu de que aquela igreja ensinava um sistema que
continha muitos erros. Muitos dos seus amigos e parentes mais próximos pertenciam
àquela igreja; e ele será talvez perdoado se ele trair-se num pouquinho de intolerância
com relação àqueles "nascidos Presbiterianos", que continuam membros da Igreja
Presbiteriana, enquanto abertamente opõem-se ou ridicularizam estas doutrinas.
Capítulo 28
Calvinismo Na História
1. Antes da Reforma. 2. A Reforma. 3. Calvinismo na Inglaterra. 4. Calvinismo na
Escócia. 5. Calvinismo na França. 6. Calvinismo na Holanda. 7. Calvinismo na
América. 8. Calvinismo e Governo Representativo. 9. Calvinismo e Educação. 10.
João Calvino. 11. Conclusão.

1. ANTES DA REFORMA.
Pode ocasionar alguma surpresa descobrir que a doutrina da Predestinação não foi
objeto de estudo especial até próximo do final do século quarto. Os pais da igreja
antiga punham grande ênfase em boas obras tais como fé, arrependimento, caridade,
orações, submissão ao batismo e etc., como a base da salvação. Eles, é claro,
ensinavam que a salvação é através de Cristo; ainda assim eles assumiam que o
homem tinha todo poder para aceitar ou rejeitar o Evangelho. Alguns dos seus
escritos contém passagens nas quais é reconhecida a soberania de Deus; todavia
paralelamente a estas passagens há outras que ensinam a liberdade absoluta da
vontade humana. Desde que não puderam reconciliar as duas, eles teriam negado a
doutrina da Predestinação e talvez também a da absoluta Presciência de Deus. Eles
ensinaram um tipo de sinergia na qual havia uma cooperação entre a graça e o livre
arbítrio. Foi difícil para o homem desistir da idéia de que ele podia operar a sua
própria salvação. Mas no fim, como resultado de um processo longo, demorado, o
homem chegou à grande verdade de que a salvação é uma dádiva soberana que foi
concedida não importando o mérito; que foi fixada na eternidade; e que Deus é o
Autor da mesma, em todos os seus estágios. Esta verdade cardeal do Cristianismo foi
vista claramente primeiro por Agostinho, o grande teólogo cheio do Espírito do
Ocidente. Em suas doutrinas de graça e pecado, ele foi muito além do que os teólogos
do passado, ensinou uma eleição de graça incondicional; e restringiu os propósitos de
redenção ao círculo definido dos eleitos. Ninguém que conheça a História da Igreja
poderá negar que Agostinho foi um bom homem, vulto eminentemente grande; e que
as suas obras e escritos contribuíram mais para a promoção de sólida doutrina e do re-
avivamento da religião verdadeira, do que qualquer outro homem entre Paulo e
Lutero.
Anteriormente à época de Agostinho, o tempo havia sito grandemente empregado na
correção de heresias dentro da Igreja e em refutar ataques do mundo pagão no qual
ela se encontrava. Consequentemente muito pouca ênfase foi colocada no
desenvolvimento sistemático da doutrina. E que a doutrina da Predestinação recebeu
tão pouca atenção naquela época, foi sem dúvida devido em parte à tendência para
confundi-la com a doutrina Pagã do Fatalismo, a qual era tão largamente aceita e
praticada em todo o Império Romano. Mas no século quarto experimentou-se uma
época um pouco mais calma, o amanhecer de uma nova era em teologia; e os
teólogos passaram a enfatizar mais o conteúdo doutrinário da sua mensagem.
Agostinho foi levado a desenvolver suas doutrinas do pecado e da graça em parte
através da sua própria experiência de ter-se convertido ao Cristianismo após uma vida
mundana; e em parte através da necessidade de refutar os ensinos de Pelágio, que
ensinava que o homem em seu estado natural tinha total capacidade para operar a sua
própria salvação, que a queda de Adão teve somente um pequeno efeito na raça,
exceto no sentido de estabelecer um mau exemplo o qual é perpetuado, que a vida de
Cristo tem valor para os homens principalmente como um exemplo, que na Sua morte
Cristo foi pouco mais que o primeiro mártir Cristão; e que não nos encontramos sob
nenhuma providência especial de Deus. Contra estes pontos de vista, Agostinho
desenvolveu exatamente o oposto. Ele ensinou que a raça inteira caiu com Adão, que
todos os homens são depravados e estão espiritualmente mortos por natureza, que a
vontade é livre tanto quanto refere-se ao pecado mas não é livre com relação ao bem
para com Deus, que Cristo enfrentou sofrimento vicário pelo Seu povo, que Deus
elege aqueles a quem Lhe apraz sem qualquer relação com seus méritos; e que a
graça salvadora é eficazmente aplicada aos eleitos pelo Espírito Santo. Assim ele
tornou-se o primeiro intérprete verdadeiro de Paulo e alcançou sucesso em assegurar
a aceitação da sua doutrina pela igreja.
Depois de Agostinho, houve retrocesso ao invés de progresso. Nuvens de ignorância
cegaram os povos. A Igreja adotou mais e mais rituais e pensava-se que a salvação
ocorria através da Igreja externa. O sistema de mérito cresceu até atingir o clímax,
com as "indulgências". O papado passou a exercer poder enorme, tanto político como
eclesiástico; e em toda a Europa Católica a situação da moral ficou quase que
intolerável. Mesmo o clero tornou-se desesperadamente corrupto e em todo o
catálogo de pecados e vícios humanos nenhum é mais corrupto ou mais ofensivo que
aqueles desgraçaram as vidas de papas tais como João XXIII e Alexandre VI.
Desde a época de Agostinho até a da Reforma, muito pouca ênfase foi dada à
doutrina da Predestinação. Mencionaremos somente dois nomes deste período:
Gottschalk, que foi aprisionado e condenado por ensinar a Predestinação; e o Inglês
Wycliffe, "A Estrela Matutina da Reforma". Ele foi um reformador do tipo Calvinista,
proclamando a soberania absoluta de Deus e a Pré Ordenação de todas as coisas. Seu
sistema de crença era muito similar àquele que mais tarde foi ensinado por Lutero e
por Calvino. Os Waldesianos também devem ser mencionados, pois eles foram, num
sentido, "Calvinistas" antes da Reforma, uma de sua doutrinas tendo sido a da
Predestinação.

2. A REFORMA.
A Reforma foi essencialmente um reviver do Agostinianismo; e através dela o
Cristianismo foi novamente Cristianismo. Deve ser lembrado que Lutero, o primeiro
líder da Reforma, foi um monge Agostiniano e que foi a partir daquela teologia
rigorosa que ele formulou seu grande princípio da justificação somente pela fé.
Lutero, Calvino, Zuínglio e todos os outros reformadores notáveis daquele período
eram adeptos e sustentavam por inteiro a predestinação. Em sua obra, "Da Vontade
Cativa", Lutero apresentou a doutrina tão enfaticamente e numa forma bastante
extrema como pode ser encontrado entre as obras de qualquer dos teólogos
reformados. Melâncton, nos seus primeiros escritos designou o princípio da
Predestinação como o princípio fundamental do Cristianismo. Mais tarde ele
modificou sua posição, contudo, e trouxe um tipo de "sinergia" na qual Deus e o
homem supostamente cooperavam no processo de salvação. A posição assumida pela
antiga Igreja Luterana foi modificada gradualmente. Mais tarde os Luteranos
deixaram a doutrina por completo, condenaram-na em sua forma Calvinista; e
passaram a adotar uma doutrina de graça e expiação universais, doutrina esta que
desde então passou a ser a doutrina aceita da Igreja Luterana. Com relação a esta
doutrina, a posição de Lutero na Igreja Luterana é similar à de Agostinho na Igreja
Católica Romana, -- isto é, um herege de tão inquestionável autoridade, que é mais
admirado do que censurado.
Em grande parte, Calvino construiu sobre os alicerces assentados por Lutero. Sua
visão mais clara dos princípios básicos da Reforma capacitaram-no a trabalhá-los
mais completamente e aplicá-los mais extensamente. E pode ainda ser apontado que
Lutero enfatizou a salvação pela fé e que o seu princípio fundamental era mais ou
menos subjetivo e antropológico, enquanto que Calvino enfatizou o princípio da
soberania de Deus; e desenvolveu um princípio que era mais objetivo e teológico. O
Luteranismo era mais a religião de um homem que após uma busca longa e dolorosa
tinha encontrado a salvação; e que contentava-se simplesmente em satisfazer-se na
luz da presença de Deus, enquanto que o Calvinismo, não contente em ficar por ali,
pressionava em questionar como e por que Deus salvou o homem.
"As congregações Luteranas", diz Froude, "eram só como que meio emancipadas da
superstição; e hesitavam em levar o combate a extremos; e meia medidas
significavam meio encorajamento, convicções que eram meio convicções; e verdade
com uma mistura de falsidade. Meias medidas, no entanto, não poderiam extinguir as
fogueiras de Philip da Espanha, ou levantar homens na França ou na Escócia que
enfrentassem os príncipes da casa de Lorraine. Os Reformadores requeriam uma
posição mais afiada e definida, e um líder mais rígido; e aquele líder eles encontraram
em João Calvino . . . . Para tempos difíceis é preciso homens duros; e intelectos os
quais possam penetrar até as raízes onde verdade e mentiras encontram-se. É muito
ruim para com os soldados da religião quando 'o abominável' está em campo. E a
respeito de Calvino deve ser dito, tanto quanto o estado de conhecimento permitia,
nenhum olho poderia haver enxergado mais precisamente os pontos frágeis do credo
da Igreja, nem em toda a Europa houve Reformador tão resoluto para identificar e
destruir o que era distintamente falso -- tão resoluto para conduzir o que era
verdadeiro ao seu devido lutar; e fazer da verdade, até a sua última fibra, regra de
vida prática." 1
Este é o testemunho do famoso historiador da Universidade de Oxford. Os escritos de
Froude deixam claro que ele não morria de amores pelo Calvinismo; e na verdade ele
é muitas vezes chamado de crítico do Calvinismo. Aquelas suas palavras
simplesmente expressam suas conclusões imparciais, as de um grande catedrático que
estuda o sistema e o homem; do qual o sistema carrega o nome, a partir de uma base
vantajosa, de investigação e de aprendizado.
Em outra ocasião, Froude disse: "Os Calvinistas têm sido chamados de intolerantes. A
intolerância de um inimigo que tenta matar-lhe, parece-me um estado de espírito
perdoável . . . . Os Católicos escolheram acrescentar ao seu já incrível credo um novo
artigo; que eles tinham o direito de enforcar e de queimar aqueles que diferissem
deles; e nesse ponto os Calvinistas, com suas Bíblias nas mãos, apelaram ao Deus das
batalhas. Eles tornaram-se mais poderosos, mais ferrenhos, -- e se você quiser, mas
fanáticos. Era extremamente natural que eles o fossem. Eles descansaram, como os
homens piedosos são aptos a fazê-lo, em sofrimento e pesar, no poder todo
envolvente da Providência. Seu fardo tornou-se mais leve na medida em que eles
consideravam que Deus havia assim determinado que eles devessem carregá-lo. Mas
eles atraíram para as suas divisões quase que todo homem na Europa Ocidental que
'odiasse uma mentira'. Eles foram massacrados, mas ergueram-se novamente. Eles
foram pisados e feridos, mas nenhum poder poderia dobrá-los ou dissolvê-los. Eles
aborreceram, como nenhum grupo de homens jamais aborreceu, toda a falsidade, toda
impureza, todo tipo de faltas morais, tanto quanto pudessem reconhecê-los. Qualquer
temor quanto à prática do mal que exista hoje em dia na Inglaterra e na Escócia, é
resultado das convicções gravadas pelos Calvinistas nos corações das pessoas.
Embora eles tivessem falhado em destruir o Romanismo, embora o Romanismo
sobreviva e possa ainda sobreviver por muito tempo como uma opinião, eles o
desmascararam; eles o forçaram a abandonar aquele princípio odiável, que era o de
que ter o direito de assassinar aqueles que lhe fossem antagônicos. Tampouco pode
ser afirmado que por haver posto o Romanismo em posição de vergonha,
desmascarando sua corrupção prática, que os Calvinistas tenham-no capacitado a
reviver." 2
Na época da Reforma a Igreja Luterana não rompeu completamente com a Igreja
Católica, como o fizeram as Igrejas Reformadas. Na verdade, alguns Luteranos
afirmam orgulhosamente que o Luteranismo foi uma "Reforma Moderada". Enquanto
todos os protestantes apelavam à Bíblia como autoridade final, a tendência no
Luteranismo era manter tanto do sistema antigo, quanto não tivesse de ser jogado
fora, enquanto que a tendência na Igreja Reformada era de excluir, de jogar fora tudo
o que não tivesse de ser mantido. E quanto ao relacionamento que existia entre a
Igreja e o Estado, os Luteranos contentavam-se em permitir grande influência dos
príncipes na Igreja ou mesmo permitir-lhes que determinassem a religião dentro dos
seus domínios -- uma tendência que levaria ao estabelecimento de uma Igreja do
Estado -- enquanto que os Reformados logo vieram a demandar uma completa
separação entre Estado e Igreja.
Como já dito, a Reforma foi essencialmente um reviver do Agostinianismo. As
primeiras Igrejas Luteranas e Reformadas tinham os mesmos pontos de vista com
relação ao Pecado Original, à Eleição, à Graça Eficaz, à Perseverança e etc. Isto,
então, era a verdadeira Predestinação. "O princípio da Predestinação Absoluta", diz
Hastie, "era o próprio calcanhar de Aquiles da jovem Reforma, pelo qual na
Alemanha, não menos que em qualquer outro lugar, estrangulou as serpentes da
superstição e da idolatria, e quando perdeu força na sua própria casa, continuou sendo
a própria espinha e medula da fé na Igreja Reformada, e o poder que a conduziu
vitoriosamente através de todas as lutas e contendas." 3 "É um fato que fala alto pelo
Calvinismo", diz Rice, que a revolução mais gloriosa já registrada na história da
Igreja e do mundo, desde os dias dos Apóstolos, foi propiciado pelas bênçãos de Deus
sobre as doutrinas daquela revolução." 4 Desnecessário é dizer que, o Arminianismo
como um sistema era desconhecido nos dias da Reforma; e que não até 1784, 260
anos mais tarde, foi adotado e proclamado por uma igreja organizada. Como no
século quinto haviam existido dois sistemas adversários, conhecidos como
Agostinianismo e Pelagianismo, mais tarde com o surgimento do Semi-Pelagianismo,
então na Reforma haviam dois sistemas, o Protestantismo o Catolicismo Romano,
com o posterior surgimento do Arminianismo, ou o que podemos chamar de Semi-
Protestantismo. Em cada caso haviam dois sistemas fortemente oponentes, com o
subsequente aparecimento de um sistema comprometido.
3. O CALVINISMO NA INGLATERRA.
Uma olhadela na história da Inglaterra de imediato nos mostra que foi o Calvinismo
que fez o Protestantismo triunfante naquela terra. Muitos dos líderes Protestantes que
fugiram para Genebra durante o reinado da Rainha Mary, mais tarde conquistaram
altas posições na Igreja, no reinado da Rainha Elizabeth. Entre eles estavam os
tradutores da versão de Genebra da Bíblia, a qual deve muito a Calvino e a Beza; e a
que foi a versão Inglesa mais popular até meados do século dezessete, quando foi
ultrapassada pela versão King James. A influência de Calvino é demonstrada nos
Trina e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, especialmente no Artigo XVII, que
apresenta a doutrina da Predestinação. Cunningham mostrou que todos os grandes
teólogos da Igreja Estabelecida, durante os reinados de Henry VIII, Edward VI e
Elizabeth eram adeptos por completo da Predestinação; e que o Arminianismo de
Laud e dos seus sucessores era um desvio daquela posição original.
Se buscarmos pelos verdadeiros heróis da Inglaterra, os encontraremos naquele nobre
grupo de Calvinistas Ingleses cuja insistência por uma forma mais pura de culto bem
como uma vida mais pura, conquistaram para si o apelido de "Puritanos", a quem
Macaulay refere-se como "talvez o mais notável grupo de homens os quais o mundo
jamais produziu." "Que o povo Inglês tenha se tornado Protestante", diz Bancroft,
"foi devido aos Puritanos". Já Smith nos diz: "A importância deste fato está além da
imaginação. O Protestantismo Inglês, com sua Bíblia aberta, sua liberdade intelectual
e espiritual, significaram o Protestantismo não somente das colônias Americanas, mas
da raça viril e multiplicadora, a qual durante três séculos tem levado o idioma , a
religião e as instituições Anglo-Saxônicas a todo o mundo. 5
Cronwell, o grande líder Calvinista e membro da Câmara dos Comuns, plantou-se na
sólida rocha do Calvinismo e chamou a si soldados que haviam se plantado naquela
mesma rocha. O resultado foi um exército o qual, por pureza e heroísmo, sobrepujou
qualquer coisa que o mundo jamais tivesse visto. "Nunca encontraram", diz
Macaulay, "fosse nas Ilhas Britânicas ou no Continente, um inimigo que pudesse
enfrentá-los. Na Inglaterra, na Escócia, na Irlanda, na Bélgica, os guerreiros
Puritanos, muitas vezes cercados por dificuldades, algumas vezes batalhando contra
grandes revezes, não somente nunca deixaram de conquistar, como também nunca
deixaram de destruir e quebrar em partes quaisquer forças que se lhes opusessem. Ao
final, passaram a referir-se ao dia de batalha como o dia de triunfo certo, e
marchavam contra os mais renomados batalhões da Europa com destemida confiança.
Mesmo os Cavaleiros banidos sentiam uma emoção de orgulho nacional quando viam
uma brigada de seus compatriotas, em número muito menor que o inimigo e
abandonados pelos amigos, avançar à sua frente, em linha direta contra a mais valente
cavalaria da Espanha; e forçar caminho até a conquista de uma colina que era tida
como inexpugnável pelos mais hábeis dos marechais da França." E novamente, "O
que mais distinguia o exército de Cromwell dos outros exércitos, era a moralidade
austera e o temor de Deus que existia em todas os níveis. É reconhecido pelos
Roialistas mais zelosos que, naquele campo singular, não se ouvia nenhum
impropério ou se presenciava nenhuma cena de aposta ou de embriaguez; e que,
durante o longo domínio do exército, as propriedades dos cidadãos pacíficos e a
honra das mulheres eram tidos como sagrados. Nenhuma serva reclamou de qualquer
tipo de galanteio rude por parte dos 'casacos vermelhos'. Nem sequer uma grama de
prata foi saqueada das lojas ou das joalherias." 6
O Prof. John Fiske, considerado um dos dois maiores historiadores Americanos, diz,
"Não é demais dizer que no século dezessete todo o futuro político da humanidade foi
posto em jogo sobre as questões levantadas na Inglaterra. Não tivesse sido pelos
Puritanos, a liberdade política provavelmente teria desaparecido do mundo. Se
houveram jamais homens dispostos a darem suas vidas pela causa de toda a
humanidade, foram os Puritanos, cujas palavras de ordem eram textos da Bíblia
Sagrada, cujos gritos de guerra eram hinos de louvor." 7
Quando os mártires Protestantes morriam nos vales de Piedmont, e o autocrata papal
sentava-se no seu trono em luxúria, ajeitando suas vestes manchadas de sangue, foi o
próprio Cromwell, o Puritano, suportado por um conselho e uma nação da mesma
persuasão, quem escreveu demandando o fim das perseguições.
Em três diferentes ocasiões foi oferecido a Cromwell, e insistiu-se que aceitasse, a
Coroa da Inglaterra, mas a cada vez ele recusou. Vemos que doutrinariamente os
Puritanos eram os descendentes lineares e literais de João Calvino; e que somente
eles mantiveram viva a preciosa centelha da liberdade dos Ingleses. À vista destes
fatos, ninguém pode negar a justiça da conclusão de Fiske, que "Seria difícil dever
mais do que a humanidade deve a João Calvino."
Em seu esplêndido livro "Calvinismo na História", McFetridge diz, "Se perguntarmos
novamente, Quem trouxe a grande propiciação à liberdade Inglesa? a nos será dada
pela história, O Ilustre Calvinista, William, Príncipe de Orange, quem, como diz
Macaulay, encontrou na lógica forte e irrefutável da escola de Genebra algo que
satisfez sua têmpera e seu intelecto; a chave da religião da doutrina da Predestinação;
e quem, com sua visão aguçada e lógica, declarou que se abandonasse a doutrina da
Predestinação, ele deveria também deixar totalmente de crer em uma Providência
suprema, e deveria tornar-se um Epicureano. E ele estava certo, pois a Predestinação
e uma Providência suprema são uma só e a mesma coisa. Se aceitamos uma, devemos
- consistentemente - aceitar a outra," (p. 52).

4. CALVINISMO NA ESCÓCIA.
A melhor forma de descobrir os frutos práticos de um sistema de religião é examinar
um povo ou uma nação onde, por gerações, tal sistema tenha mantido governo
incontestado. Ao fazer tal teste com o Catolicismo Romano, voltamo-nos para alguns
países como Espanha, Itália, Colômbia ou México. Lá, quer na vida política ou na
religiosa das pessoas, vemos os efeitos do sistema. Aplicando o mesmo teste com
relação ao Calvinismo, podemos referirmo-nos a um país no qual o Calvinismo foi
durante muito tempo praticamente a única religião; e tal país é a Escócia. McFetridge
nos diz que antes que o Calvinismo chegasse à Escócia, "trevas espessas cobriam a
nação e pairava sobre os sentidos e faculdades do povo." 8 "Quando o Calvinismo
alcançou o povo Escocês", diz Smith, "eles eram vassalos da igreja Romana,
dominados por sacerdotes, ignorantes, miseráveis, degradados em corpo, mente e
moral. Buckle os descreve como 'imundos tanto pessoalmente como em suas casas',
pobres e miseráveis', 'excessivamente ignorantes e supersticiosos em excesso', -- 'com
a superstição indelevelmente marcada nos seus caracteres'. Maravilhosa foi a
transformação na Escócia, quando as grandes doutrinas, aprendidas por Knox da
Bíblia e mais profundamente em Genebra, enquanto sentado aos pés de Calvino;
iluminaram as mentes dos Escoceses. Foi como se o sol nascesse repentinamente, à
meia noite . . . Knox fez do Calvinismo a religião da Escócia; e o Calvinismo fez da
Escócia o padrão moral para o mundo. Trata-se de um fato certamente significante,
que no país onde o Calvinismo é mais forte, também seja a nação com a
criminalidade mais baixa; que de todos os povos do mundo hoje em dia, aquela nação
que é confessadamente a de padrão moral mais elevado seja também a mais
completamente Calvinista; que na terra onde o Calvinismo tem tido a supremacia no
governo e na influência, a moralidade individual e nacional tenha alcançado seu nível
mais elevado." 9 Já Carlyle diz, "O que Knox fez por seu país pode realmente ser
chamado de ressurreição dos mortos." "John Knox", diz Froude, "foi o homem sem o
qual a Escócia, como o mundo moderno a conhece, não existiria."
Num sentido bem real, a Igreja Presbiteriana da Escócia é filha da Igreja Reformada
de Genebra. A Reforma na Escócia, embora tendo ocorrido algum tempo mais tarde,
foi em muito mais consistente e radical que a na Inglaterra; e resultou no
estabelecimento de um Presbiterianismo Calvinista no qual somente Cristo é
reconhecido como o cabeça da Igreja.
Trata-se de tarefa fácil, é claro, identificar aquele homem que foi o principal
instrumento, nas mãos da Providência, na reforma da Escócia. Aquele homem era
João Knox. Foi ele quem plantou as sementes da liberdade civil e religiosa e quem
revolucionou a sociedade. A ele o povo Escocês devem a sua existência nacional.
"Knox foi o maior dentre os Escoceses, como Lutero foi o maior dos Alemães", disse
Philip Schaff.
"O herói da Reforma Escocesa", diz Schaff, "embora quatro anos mais velho que
Calvino, sentou-se humildemente aos seus pés e tornou-se mais Calvinista que o
próprio Calvino. John Knox passou os cinco anos do seu exílio (entre 1554 até 1559),
durante o reinado de 'Bloody Mary' (*), principalmente em Genebra, onde encontrou
'a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos'. Depois daquele
exemplo ele conduziu o povo Escocês, com energia e coragem sem iguais, de um
semi barbarismo medieval até a luz da civilização moderna, e conquistou nome que,
junto aos de Lutero, de Zuínglio e de Calvino, é o maior na história da Reforma
Protestante." 10

[(*) (Mary I, filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, casada com Philip II da
Espanha. Reinou na Grã Bretanha entre 1553 até 1558. Foi responsável por repelir a
legislação protestante de seu irmão, Edward VI e atirou a Inglaterra numa fase de
severa perseguição religiosa. Inteiramente comprometida com o intuito de
restabelecer o Catolicismo, foi responsável pela morte de cerca de 300 pessoas,
incluindo o antigo arcebispo de Canterbury e muitos dos mais proeminentes membros
da sociedade; queimados na fogueira sob a acusação de heresia, o que lhe rendeu o
apelido de 'Bloody Mary' ou 'Mary Sangrenta', literalmente). N. T.]
"Nenhum vulto maior que Knox", diz Froude, "pode ser encontrado em toda a
história da Reforma nesta ilha . . . . O tempo é chegado, quando a história da
Inglaterra pode fazer justiça àquele pelo qual a Reforma ocorreu entre nós; pois o
espírito criado por Knox salvou a Escócia; e se a Escócia tivesse sido Católica
novamente, nem a visão dos ministros da Rainha Elisabeth, ou os ensinamentos dos
seus bispos, nem seus próprios subterfúgios, teriam preservado a Inglaterra de uma
revolução. Ele foi a voz que ensinou o camponês dos 'Lothians" (N.T.: Regiões ao
redor da cidade de Edinburgh, que eram, na época da Reforma, constituíam-se de
muitos povoados pequenos, porém importantes centros de produção rural) que ele era
um homem livre, à vista de Deus igual ao nobre mais orgulhoso ou ao prelado que
pisoteara os seus antepassados. Ele o antagonista a quem a Rainha Mary Stuart não
podia enfraquecer (N.T.: Mary Stuart, nascida em 08/12/1542, declarada Rainha da
Escócia aos 6 dias de idade. Acusada de traição e assassinato, foi decapitada em
08/02/1587); e nem seus inimigos enganar; foi ele quem levantou a gente humildo do
seu país e transformou-os num povo determinado e de forte caráter, que podia ser
rude, de estreita visão, supersticioso e fanático, mas a quem - não obstante - nenhum
homem, nem reis, nem nobres ou sacerdotes podiam forçar a novamente submeterem-
se à tirania. E a sua recompensa foi a ingratidão daqueles que mais deveriam haver
honrado a sua memória." 11
A teologia Escocesa reformada inicial era baseada no princípio da predestinação.
Knox recebeu sua teologia diretamente de Calvino em Genebra; e sua obra teológica
principal foi o tratado sobre a Predestinação, tratado forte, afiado e resolutamente
polêmico contra pontos de vista desencontrados que começavam a espalhar-se na
Inglaterra e em outros locais. Durante os séculos dezessete e dezoito, temas como
predestinação, eleição, rejeição, a extensão e o valor da expiação, a perseverança dos
santos, eram de absorvente interesse para a classe social humilde na Escócia.
Daquelas terras as doutrinas espalharam-se em direção ao sul até partes da Inglaterra
e Irlanda e através do Atlântico, para o oeste. Num sentido muito real, a Escócia pode
ser chamada de "A Nação Mãe do Presbiterianismo moderno."

5. CALVINISMO NA FRANÇA.
A França também, naquela época, era toda calorosa para com o espírito livre,
irrequieto e progressivo do Calvinismo. "Na França os Calvinistas eram chamados de
Huguenotes. O mundo conhece o caráter dos Huguenotes. Seu heroísmo e pureza
moral, seja quando perseguidos em sua pátria ou desterrados em exílio, eram
admirados por todos, aliados ou inimigos." 12 "A sua história", consta na
Enciclopédia Britânica, "é uma maravilha notável, ilustrando o resistente poder de
uma forte convicção religiosa." Os Huguenotes formavam a classe de artesãos
industriais da França; e ser "tão honesto quanto um Huguenote" tornou-se provérbio,
denotando seu mais alto nível de integridade.
Num domingo, 24 de Agosto de 1572, dia de São Bartolomeu, muitos Protestantes
foram perfidamente assassinados em Paris, e nos dias seguintes as cenas chocantes
repetiram-se em outras partes da França. O número total dos que perderam suas vidas
no massacre de São Bartolomeu foi estimado com variações, desde 10.000 até 50.000
pessoas. Schaff estimou o total em 30.000. Estas perseguições furiosas fizeram com
que centenas de milhares de Protestantes Franceses fugissem para a Holanda,
Alemanha, Inglaterra e América. A perda para a França foi irreparável. O historiador
Inglês Macaulay, escreve o seguinte, quanto àqueles que estabeleceram-se na
Inglaterra: "Os mais humildes dentre os refugiados eram moral e intelectualmente
acima da média do povo comum, de qualquer reino na Europa." O grande historiador
Lecky, ele mesmo um racionalista de sangue frio, escreveu: "A destruição dos
Huguenotes pela revogação do Edito de Nantes foi a destruição do elemento mais
sólido, mais modesto, mais virtuoso e geralmente mais iluminado da nação Francesa;
e abriu caminho para a degradação inevitável do caráter nacional, e foi removida a
última séria muralha que poderia proteger, que poderia ter quebrado a força da
corrente do ceticismo e do vício, que, um século mais tarde, prostraram ao chão, em
merecida ruína a ambos, o altar e o trono." 13
"Se você leu a sua história", diz Warburton, "você deve saber o quão cruéis e injustas
foram as perseguições instigadas contra eles. O melhor sangue da França inundou o
campo de batalha, o mais brilhante gênio da França sofreu a negligência e a fome na
prisão; e os caracteres mais nobres que a França jamais possuiu foram caçados como
feras selvagens na floresta, e abatidos sem piedade." E novamente, "Em todos
aspectos eles eram imensuravelmente superiores a todo o restante dos seus
compatriotas. A estrita sobriedade de suas vidas, a pureza dos seus atos morais, seus
hábitos diligentes; e sua completa separação da sensualidade tola que corrompeu por
completo a vida nacional da França naquele período, foram sempre maneiras efetivas
de trair os princípios que eles sustentavam, e foram tão considerados pelos seus
inimigos." 14
A orgia e dissipação dos soberanos descendeu através da aristocracia até o povo
comum; a religião tornou-se uma massa de corrupção, consistente somente com a sua
própria crueldade; os monastérios passaram a ser criadouros de iniqüidade; o celibato
provou ser uma fonte revoltante de libertinagem e impureza; a imoralidade, a
licenciosidade, o despotismo e a extorsão, tanto no Estado como na Igreja eram
indescritíveis; o perdão dos pecados podia ser comprado por dinheiro; e um
vergonhoso tráfico de indulgências ocorria sob a sanção do papa; alguns dos papas
eram verdadeiros monstros de iniqüidade; a ignorância era terrível; a educação estava
confinada ao clero e à nobreza; e até muitos dos sacerdotes eram incapazes de ler ou
de escrever; e a sociedade em geral havia ruído em pedaços.
É uma descrição parcial, nublada, mas não exagerada. É verdadeira em todo sentido,
e necessita somente ser complementada pelo lado mais claro; ou seja, de que muitos
Católicos Romanos honestos trabalhavam diligentemente pela reforma dentro da
Igreja. Esta, contudo, estava numa condição 'irreformável'. Qualquer mudança, caso
viesse a acontecer, teria de vir de fora. As alternativas eram que, ou não haveria
qualquer reforma, ou esta seria em oposição a Roma.
Mas, gradualmente as idéias Protestantes foram gradualmente se infiltrando na
França, vindas da Alemanha. Calvino iniciou sua obra em Paris e logo foi
reconhecido na França como um dos líderes do novo movimento. O seu zelo levantou
a oposição às autoridades da Igreja e foi preciso que ele fugisse, para preservar sua
vida. Em embora Calvino nunca retornasse à França, depois de haver se estabelecido
em Genebra, ele continuou sendo o líder da Reforma Francesa e era consultado a
cada passo. Ele deu aos Huguenotes o seu credo e forma de governo. Durante o
período seguinte, conforme o testemunho unânime da história, foi o sistema de fé que
chamamos de Calvinismo a inspiração dos Protestantes Franceses em sua luta com o
papado e seus partidários na realeza.
O que os Puritanos eram na Inglaterra, os "Covenanters" (os 'Pactuantes') eram na
Escócia; e os Huguenotes, na França. A prova mais notável do poder do Calvinismo
na formação do caráter, é que ele desenvolveu o mesmo tipo de homens em cada um
destes vários países.
O Calvinismo espalhou-se tão rapidamente por toda a França, que o historiador
Fisher, no seu livro História da Reforma, escreveu que em 1561, os Calvinistas
somavam a quarta parte de toda a população. Já McFetridge coloca um número ainda
maior: "Em menos de meio século", diz ele, "esse sistema de crença considerado tão
rude e desagradável, penetrou em cada região do país; e ganhou para suas fileiras
quase que a metade da população e quase que todas mentes brilhantes da nação. Os
que a ele aderiram se tornaram tão numerosos e poderosos que por um momento
pareceu como se a nação inteira fosse aderir aos seus pontos de vista." 15 Smiles, no
seu livro "Huguenotes na França", escreve: "É curioso refletir sobre a influência que
a religião de Calvino, ele próprio um Francês, poderia ter exercido na história da
França tanto no caráter individual do cidadão Francês, tivesse o balanço das forças
levado a nação inteira para o Protestantismo, como por muito pouco aconteceu,
próximo ao final do século dezesseis," (p. 100). Certamente que a história da nação
teria sido muito diferente de como o foi.

6. CALVINISMO NA HOLANDA.
Na luta que libertou os Países Baixos do poder dominador do Papado e do jugo cruel
da Espanha, temos outro capítulo glorioso da história do Calvinismo e da
humanidade. As torturas da Inquisição ali também foram aplicadas, como o foram em
alguns outros lugares. O Duque de Alva gabava-se de haver entregue 18.600 hereges
para execução, no curto espaço de tempo de cinco anos.
"O patíbulo", diz Motley, "tinha as suas vítimas diárias, mas não converteu um
só . . . . Houveram homens que ousaram e sofreram tanto quanto é possível aos
homens sofrerem neste mundo; e pela causa mais nobre que pode inspirar a
humanidade." Ele descreve a nós "o heroísmo com o qual os homens davam-se as
mãos e caminhavam fogueira adentro, ou com o qual as mulheres entoavam hinos de
vitória enquanto o coveiro jogava terra sobre seus rostos vivos." E em outra passagem
ele diz: "O número de Holandeses que foram queimados, estrangulados, decapitados
ou enterrados vivos, em obediência aos editos de Charles V, e pela ofensa de ler as
Escrituras Sagradas, de olhar com desaprovação à uma imagem esculpida, ou
ridicularizar a suposta presença real do corpo e do sangue de Cristo num biscoito; foi
informado pelas autoridades distintas ser tão alto quanto cem mil; e nunca foi
informado ser menor que cinqüenta mil." 16 Durante aquela batalha memorável de
oito anos, mais Protestantes foram mortos pelos Espanhóis por causa de sua crença
consciente; que Cristãos foram martirizados por imperadores Romanos nos primeiros
séculos. A história certamente coroa o Calvinismo na Holanda como o credo dos
mártires, dos santos e dos heróis.
Durante quase três gerações a Espanha, a mais forte nação na Europa àquela época,
batalhou para excluir o Protestantismo e a liberdade política nos Países Baixos
Calvinistas, mas falhou. Porque eles buscavam louvar a Deus de acordo com os
ditames das suas consciências e não sob os vexadores grilhões de um clero corrupto
seu país havia sido invadido; e o povo sujeitado às torturas mais cruéis que os
Espanhóis podiam inventar. E se perguntado a quem o resgate havia de ser creditado,
a resposta é, ao Calvinista Príncipe de Orange, conhecido na história como
Guilherme o Silencioso (N.T.: "William The Silent" ou William de Orange à William
I - 1533 / 1584, estadista Holandês, principal fundador da Independência da
Holanda), junto com aqueles que partilhavam do mesmo credo. Diz o Dr. Abraham
Kuyper, "Se o poder de Satã naquela época não houvesse sido quebrado pelo
heroísmo do espírito Calvinista, a história da Holanda, da Europa e do mundo teria
sido tão dolorosa, tão triste e tão negra como agora, graças ao Calvinismo, é brilhante
e inspiradora." 17
Se o espírito do Calvinismo não tivesse surgido na Europa Ocidental em seguida à
ocorrência da Reforma, o espírito do ateísmo teria ganho o dia na Inglaterra, na
Escócia e na Holanda. O Protestantismo nesses países não poderia ter se mantido; e,
através das medidas comprometedoras de um Protestantismo Romanizado, a
Alemanha teria sido com toda probabilidade trazida novamente sob a influência da
Igreja Católica Romana. Tivesse o Protestantismo falhado em qualquer um daqueles
países, é muito provável que o resultado tivesse sido fatal também nos outros, tão
intimamente estavam as suas sortes unidas umas às outras. Num sentido bem real, o
destino futuro das nações dependia do resultado daquela batalha nos Países Baixos.
Tivesse a Espanha saído vitoriosa na Holanda, é provável que a Igreja Católica se
fortalecesse tanto que subjugasse o Protestantismo também na Inglaterra. E, mesmo
como as coisas aconteceram, pareceu por um tempo como se a Inglaterra retornasse
ao Romanismo. Nesse caso, o desenvolvimento da América seria automaticamente
evitado e com toda probabilidade todo o continente Americano permaneceria sob o
controle da Espanha.
Lembremo-nos ainda que praticamente todos os mártires naqueles vários países eram
Calvinistas, os Luteranos e os Arminianos sendo somente um punhado, em
comparação. Como o Professor Fruin aponta com justiça, "Na Suíça, na França, na
Holanda, na Escócia e na Inglaterra, e onde quer que o Protestantismo tenha se
estabelecido ao fio da espada, foi o Calvinismo que ganhou o dia." No entanto, o
ponto a ser explicado é que é verdade que os Calvinistas foram os únicos
combatentes Protestantes.
Há ainda o outro serviço prestado pela a Holanda, do qual não podemos nos esquivar.
Os Peregrinos, depois de haverem sido expulsos da Inglaterra por perseguições
religiosas e antes da sua vinda para a América, foram para a Holanda e lá entraram
em contato com uma vida religiosa, que do ponto de vista Calvinista foi benéfica ao
extremo. Seus líderes mais importantes foram Clyfton, Robinson e Brewster; três
homens da Universidade de Cambridge, que formavam um trio tão nobre e heróico
quanto se pode encontrar na história de qualquer nação. Eles eram Calvinistas
fervorosos que sustentavam todos os pontos de vista fundamentais propostos pela
Reforma de Genebra. O historiador Americano Bancroft está correto quando
simplesmente os chama de 'Peregrinos-pais', "homens da mesma fé que Calvino."
J. C. Monsma, no seu livro "O Que O Calvinismo Fez Pela América", nos dá o
seguinte sumário da vida dos peregrinos na Holanda: "Quando os Peregrinos
deixaram Amsterdã com direção a Leyden, o Rev. Clyfton, seu líder, decidiu
permanecer onde estava; e então o Rev. John Robinson, primeiro assistente de
Clyfton foi assim eleito líder, ou pastor, pelo povo. Robinson era um Calvinista
convencido e opunha-se aos ensinamentos de Armínio sempre quando surgia uma
oportunidade. "Temos o inquestionável testemunho de Edward Winslow, de que
Polyander, Festus Homilus e outros teólogos Holandeses solicitaram a Robinson, na
época quando o Arminianismo ganhava terreno rapidamente na Holanda, que tomasse
parte nas disputas com Episcopius, o novo líder dos Arminianos, disputas estas que
diariamente aconteciam na academia de Leyden. Robinson aquiesceu e aceitou seu
pedido e rapidamente foi conhecido como um dos maiores teólogos de Gomarian. Em
1624 o pastor Peregrino escreveu um tratado excepcional, intitulado "Uma Defesa da
Doutrina Proposta Pelo Sínodo de Dort, etc." Como o Sínodo de Dordrecht, de fama
internacional, foi caracterizado por um Calvinismo estrito em todas as suas decisões,
nada mais precisa ser dito quanto às tendências religiosas de Robinson.
"Os Peregrinos estavam perfeitamente unidos com as igrejas Reformadas
(Calvinistas) na Holanda e demais localidades. Na sua Apologia, publicada em 1619,
um ano antes que os Peregrinos deixassem a Holanda, Robinson escreveu de maneira
muito solene, 'Nós professamos perante Deus e perante os homens que tal é o nosso
acordo, no caso de religião, com as Igrejas Holandesas Reformadas, que estamos
prontos a subscrever a todos e cada artigo de fé na mesma Igreja, como estiverem
apresentados na Harmonia das Confissões de Fé, publicadas naquele nome.' " (p. 72,
73)

7. CALVINISMO NA AMÉRICA
Quando passamos a estudar a influência do Calvinismo como uma força política na
história dos Estados Unidos da América, deparamo-nos com uma das páginas mais
brilhantes de toda a história Calvinista. O Calvinismo chegou à América no navio
"Mayflower"; e Bancroft, o maior dos historiadores Americanos, proclama os
Peregrinos Pais "Calvinistas na sua fé de acordo com o sistema mais reto." 18 John
Endicott, o primeiro governador da Colônia da Baía de Massachusetts; John
Winthrop, o segundo governador daquela Colônia; Thomas Hooker, o fundador de
Connecticut; John Davenport, o fundador da Colônia de New Haven; e Roger
Williams, o fundador da Colônia de Rhode Island, eram todos Calvinistas. William
Pen era discípulo dos Huguenotes. Estima-se que dos três milhões de Americanos à
época da Revolução Americana, novecentos mil deles eram de origem Escocesa ou
Escocesa-Irlandesa, seiscentos mil eram Ingleses Puritanos; e quatrocentos mil eram
Alemães ou Holandeses Reformados. Adicionalmente a este fato, os Episcopais
tinham uma confissão Calvinista nos seus 'Trinta e Nove Artigos'; e muitos Franceses
Huguenotes também tinham vindo para este mundo setentrional. Assim, vemos que
aproximadamente dois terços da população colonial havia sido treinada na escola de
Calvino. Nunca na história do mundo uma nação havia sido fundada por pessoas tais
como estas. Ademais, esta gente veio para a América não primariamente em busca de
ganhos ou vantagens comerciais, mas por causa de profundas convicções religiosas.
Parece que as perseguições religiosas em vários países Europeus tinham sido
providencialmente usadas para selecionar os mais instruídos e mais progressivos,
para a colonização da América. Qualquer que seja a proporção, é geralmente
admitido que os Ingleses, Escoceses, Alemães e Holandeses foram os povos mais
dominantes na Europa. Lembre-se que os Puritanos, que formavam a grande maioria
de colonizadores em New England, trouxeram consigo um Protestantismo Calvinista,
que eram inteiramente devotados às doutrinas dos grandes Reformadores, que tinham
aversão ao formalismo e à opressão na Igreja ou no Estado; e que naquela colônia o
Calvinismo permaneceu como a teologia governante durante todo o período colonial.

Com este pano de fundo, não devemos nos surpreender ao ver que os Presbiterianos
tomaram parte muito proeminente na Revolução Americana. Nosso historiador
Bancroft diz: "A Revolução de 1776, tanto quanto foi afetada pela religião, foi uma
medida Presbiteriana. Foi a conseqüência natural dos princípios legados pelo
Presbiterianismo do Mundo Antigo aos seus filhos, os Ingleses Puritanos, os
Escoceses Pactuantes, os Franceses Huguenotes, os Holandeses Calvinistas, e os
Presbiterianos do Ulster." Tão intensos, universais e agressivos eram os
Presbiterianos no seu zelo pela liberdade que falava-se da guerra na Inglaterra, como
"A Rebelião Presbiteriana". Um colono, ardente partidário do Rei George III,
escreveu a parentes na Inglaterra: "Eu ponho toda a culpa por estes procedimentos
extraordinários nos Presbiterianos. Eles têm sido os chefes e os instrumentos
principais de todos estes atos inflamatórios. Eles sempre agem e sempre agirão contra
o governo, a partir daquele espírito incansável, turbulento e anti-monárquico o qual
os tem distinguido em qualquer lugar." 19 Quando as novas "destes extraordinários
procedimentos" alcançaram a Inglaterra, o Primeiro Ministro Horace Walpole
discursou no Parlamento, "A prima América fugiu com um pastor Presbiteriano"
(John Witherspoon, presidente de Princeton, signatário da Declaração da
Independência).
A história é eloqüente ao declarar que a democracia Americana nasceu do
Cristianismo; e que tal Cristianismo era o Calvinismo. O grande conflito
Revolucionário que resultou na formação da nação Americana, foi levado a cabo
principalmente por Calvinistas, muitos dos quais haviam sido treinados na rígida
Faculdade Presbiteriana em Princeton, e que esta nação é o seu presente a todos os
povos amantes da liberdade.
J. R. Sizoo nos diz: "Quando Cornwallis foi acossado à última batalha e rendição em
Yorktown, todos os coronéis do Exército Colonial eram à uma anciãos Presbiterianos.
Mais da metade de todos os soldados e oficiais do Exército Americano durante a
Revolução eram Presbiterianos." 20
O testemunho de Emilio Castelar, o famoso estadista Espanhol, orador e catedrático,
é valioso e interessante. Castelar havia sido professor de Filosofia na Universidade de
Madri antes que enveredasse pela política; e foi feito presidente da república
estabelecida pelos Liberais em 1873. Como Católico Romano, ele detestava Calvino
e o Calvinismo. Diz ele: "Foi necessário para o movimento republicano que devesse
existir um moralismo mais austera que o de Lutero, o moralismo de Calvino; e uma
Igreja mais democrática que a Alemã, a Igreja de Genebra. A democracia Anglo-
Saxônica tem, por sua ascendência, um livro de uma sociedade primitiva -- a Bíblia.
É o produto de uma teologia severa, aprendida pelos poucos Cristãos fugitivos das
obscuras cidades da Holanda e da Suíça, por onde ainda vagueia a sombra
melancólica de Calvino . . . E ela permanece serenamente em sua magnificência,
formando a porção mais iluminada e mais moral da raça humana." 21
Diz Motley: "Na Inglaterra, as sementes de liberdade, embaladas no Calvinismo e
acumuladas através de muitos anos de tentativas, seguiram afinal, através de mar e
terra; destinadas a propiciar as maiores ceifas de liberdade moderada para grandes
comunidades que ainda não nascidas. 22 "Os Calvinistas fundaram as comunidades
da Inglaterra, da Holanda e da América." E de novo, "Aos Calvinistas mais que a
qualquer outra classe de homens, são devidas as liberdades políticas da Inglaterra, da
Holanda e da América." 23
O testemunho de outro historiador famoso, o Francês Taine, que não professava
nenhuma fé religiosa, é digno de consideração. Com relação aos Calvinistas ele disse:
"Estes homens são verdadeiros heróis da Inglaterra. Eles fundaram a Inglaterra,
apesar da corrupção dos Stuarts, pelo exercício da tarefa, pela prática da justiça, pelo
trabalho obstinado, pela vindicação de direito, pela resistência à opressão , pela
conquista da liberdade, pela repressão do vício. Eles fundaram a Escócia; eles
fundaram os Estados Unidos; e hoje eles, através dos seus descendentes, estão
fundando a Austrália e colonizando o mundo." 24
No seu livro "O Credo dos Presbiterianos", E. W. Smith questiona com relação aos
colonos Americanos, "Onde eles aprenderam aqueles princípios imortais dos direitos
do homem, da liberdade humana, da igualdade e do auto-governo, nos quais eles
basearam a sua República; e os quais formam hoje a glória distintiva da nossa
civilização americana ? Na escola de Calvino eles os aprenderam. Lá o mundo
moderno os aprendeu. Assim a história ensina," (p.121).
Passaremos agora a considerar a influência que a Igreja Presbiteriana, como Igreja,
exerceu na formação da República. "A Igreja Presbiteriana", diz o Dr. W. H. Roberts
num discurso perante a Assembléia Geral, "foi por três quartos de um século, a única
representante neste continente, de um governo republicano como agora organizado na
nação." E ele então continua: "Desde 1706 até o início da luta revolucionária o único
corpo existente que resistiu pela nossa presente organização política foi o Sínodo
Geral da Igreja Presbiteriana Americana. Ela sozinha exerceu a autoridade entre as
organizações eclesiásticas e político coloniais, derivada dos próprios colonos, sobre
os corpos de Americanos espalhados em todas as colônias, desde Nova Inglaterra até
a Geórgia. As colônias nos séculos dezessete e dezoito, deve ser lembrado, enquanto
dependiam todas da Grã Bretanha, eram independentes umas das outras. Uma
organização tal como o Congresso Continental não existiu até 1774. A condição
religiosa do país era similar à condição política. As Igrejas Congregacionais da Nova
Inglaterra não tinham nenhuma conexão entre si; e tinham poder algum, fora o do
governo civil. A Igreja Episcopal não era organizada nas colônias, dependia da ajuda
e de um ministro da Igreja Estabelecida da Inglaterra; e era cheia com uma lealdade
intensa para com a monarquia Britânica. A Igreja Reformada Holandesa não se tornou
uma organização independente antes de 1771; e a Igreja Reformada Alemã não
alcançou tal condição antes de 1793. As Igrejas Batistas eram organizações
separadas, os Metodistas eram praticamente desconhecidos; e os Quakers não eram
combatentes."
Os delegados reuniam-se anualmente no Sínodo Geral; e como o Dr. Roberts nos diz,
a Igreja tornou-se "um elo de união e de correspondência entre grandes elementos na
população das colônias divididas". "É de se admirar", ele continua, "que sob uma
influência incentivadora, os sentimentos de verdadeira liberdade, tanto quanto as
doutrinas de um evangelho sólido, fossem pregados em todo o território desde Long
Island até a Carolina do Sul; e que acima de tudo, um sentimento de unidade entre as
Colônias começasse vagarosa mas certamente a estabelecer-se? Não se pode por
muita ênfase, com relação à origem da nação, na influência daquela república
eclesiástica, a qual desde 1706 e até 1774 era a única representante neste continente,
de instituições republicanas federais inteiramente desenvolvidas. Os Estados Unidos
da América devem muito àquelas Repúblicas Americanas mas antigas, a Igreja
Presbiteriana." 25
É claro que não se alega que a Igreja Presbiteriana fosse a única fonte da qual
verteram os princípios sobre os quais a república está fundamentada, mas é
reclamado que os princípios fundados nos Padrões de Westminster foram a base
principal para a república, e que "A Igreja Presbiteriana ensinou, praticou e manteve
por inteiro, primeiro nesta terra, aquela forma de governo de acordo com a qual a
República foi organizada." (Roberts).
A abertura da luta Revolucionária encontrou as igrejas e os ministros Presbiterianos
solidamente alinhados do lado dos colonos; e Bancroft credita-lhes haverem feito o
primeiro movimento importante em direção à independência. 26 O Sínodo que
reuniu-se na Filadélfia em 1775 foi o primeiro organismo religioso a declarar aberta e
publicamente por uma separação da Inglaterra. Aquele organismo urgiu o povo sob a
sua jurisdição a não deixar de fazer nada que pudesse promover o objetivo em vista, e
conclamou-os todos a orar pelo Congresso que estava, então, em sessão.
A Igreja Episcopal uniu-se então à Igreja da Inglaterra; e opôs-se à Revolução. Um
número considerável de cidadãos dentro daquela Igreja, no entanto, labutaram com
afinco pela independência e deram toda a sua riqueza e influência para assegurá-la.
Deve ser lembrado também que o Comandante em Chefe dos Exércitos Americanos,
"o pai do nosso país", era um membro daquela comunidade. O próprio Washington
comparecia; e ordenava a todos os seus homens que comparecessem aos cultos
celebrados pelos seus capelães, que eram clérigos de várias igrejas. Ele doou quarenta
mil dólares para o estabelecimento de uma Faculdade Presbiteriana no seu estado
natal, o qual levou o seu nome em honra à doação, tornando-se a Faculdade
Washington.
N. S. McFetridge jogou luz sobre outro desenvolvimento maior do Período
Revolucionário. De modo que permaneça acurado e completo, temos o privilégio de
repetir suas palavras, de maneira tanto quanto extensa. "Um outro fator importante no
movimento independente", diz ele, "foi o que é conhecido como a 'Declaração de
Mecklenburg', proclamada pelos Presbiterianos Escoceses-Irlandeses da Carolina do
Norte em 20 de maio de 1775, mais de um ano antes da Declaração (da
Independência) do Congresso. Aquilo foi o cumprimento novo, de coração, dos
Escoceses e Irlandeses aos seus irmãos combatentes no Norte, e seu desafio maior ao
poder da Inglaterra. Eles haviam observado atentamente o progresso da luta entre as
colônias e a Coroa; e quando eles ouviram sobre o discurso proferido pelo Congresso
ao Rei, declarando que as colônias encontravam-se realmente em rebelião, eles
consideraram chegada a hora de os patriotas falarem. De conformidade, eles
convocaram em reunião um corpo de representantes em Charlotte, Carolina do Norte,
o qual por resolução unânime declarou o povo livre e independente, e que todas as
leis e comissionamentos do rei tornavam-se a partir de então nulos e cancelados. Na
sua Declaração constavam resoluções tais como estas: 'A partir de agora nós
dissolvemos os laços políticos que nos conectavam à pátria-mãe; e a partir de agora
isentamo-nos de toda a obrigação de lealdade para com a coroa Britânica' ..... 'Nós
doravante nos declaramos uma nação livre e independente; somos, e de direito
devemos ser, uma associação soberana e auto-governante, sob o controle de poder
algum a não ser o do nosso Deus e o do governo geral do Congresso; à manutenção
do qual nós solenemente confiamos uns aos outros as nossas vidas e a nossa mútua
cooperação, nossos bens e a nossa honra mais sagrada.' ..... Aquela assembléia foi
composta de vinte e sete Calvinistas comprometidos, apenas um terço dos quais eram
anciãos na ativa na Igreja Presbiteriana, incluindo o presidente e o secretário; e um
era um clérigo Presbiteriano. O homem que redigiu aquele documento importante e
famoso foi o secretário, Ephraim Brevard, um ancião na ativa na Igreja Presbiteriana
e graduado na Faculdade Princeton. O historiador Bancroft diz que, 'com efeito, uma
declaração tão completa quanto um sistema de governo.' (História dos EUA, volume
VIII, 40). Aquele documento foi enviado através de mensageiro especial ao
Congresso na Filadélfia; e publicado no 'Cape Fear Mercury' e largamente distribuído
em todo o país. É claro que também foi rapidamente transmitido à Inglaterra, onde
tornou-se motivo de excitação intensa.
"A identidade de sentimento e a similaridade de expressão entre esta Declaração e a
grande Declaração escrita por Jefferson não poderia escapar aos olhos dos
historiadores; assim foi que Tucker, em sua obra 'A Vida de Jefferson' diz: 'Cada um
deve persuadir-se de que um desses papéis deve ter sido emprestado do outro'. Mas é
certo que Brevard não poderia haver 'emprestado' de Jefferson, pois ele o escreveu
mais de um ano antes de Jefferson; daí é que Jefferson, de acordo com o seu biógrafo,
deve tê-lo 'emprestado' de Brevard. Mas foi um plágio feliz, pelo qual o mundo
sinceramente o perdoará. Na correção do seu primeiro rascunho da Declaração, pode
ser visto pelo menos em algumas partes, que Jefferson apagou as palavras originais e
inseriu aquelas que ele havia primeiramente encontrado na Declaração de
Mecklenberg. Ninguém pode duvidar que Jefferson tinha diante de si as resoluções
escritas por Brevard enquanto escrevia a sua Declaração imortal." 27
Esta surpreendente similaridade entre os princípios apresentados na Forma de
Governo da Igreja Presbiteriana e aqueles apresentados na Constituição dos Estados
Unidos da América tem causado muito comentário. "Quando os pais da nossa
República sentaram-se para preparar um sistema de governo representativo e
popular", diz o Dr. E. W. Smith, "a sua tarefa não era tão difícil quanto alguém
poderia imaginar. Eles tinham um modelo para seguir." 28
Se fosse perguntado a um cidadão Americano quem foi o fundador da América, o
verdadeiro autor daquela grande República, poderia ser-lhe difícil para responder.
Podemos imaginar sua surpresa ao ouvir a resposta desta questão, dada pelo famoso
historiador Alemão, Ranke, um dos mais profundos catedráticos da atualidade. Diz
Ranke, 'João Calvino foi o fundador virtual da América.' " 29
D'Aubigne, cuja história da Reforma é um clássico, escreve: "Calvino foi o fundador
das maiores repúblicas. Os Peregrinos que deixaram o seu país no reinado de James I;
e fincaram pé na terra barrenta da Nova Inglaterra, fundaram colônias populosas e
poderosas, eram seus filhos, seus diretos e legítimos filhos; e aquela nação Americana
que temos visto crescer tão rapidamente proclama como seu pai o humilde
Reformador na praia do Lago Leman." 30
O Dr. E. W. Smith diz, "Estes princípios revolucionários de liberdade republicana e
de auto governo, ensinados e incorporados no sistema de Calvino, foram trazidos
para a América; e nestas novas terras onde eles frutificaram tão imensamente um
cultivo foi plantado, pelas mãos de quem? -- as mãos dos Calvinistas. A relação vital
de Calvino e do Calvinismo para com a fundação das instituições livres da América,
conquanto estranha para alguns ouvidos possa ter parecido a declaração de Ranke, é
reconhecida e afirmada por historiadores de todas as terras e de todos os credos." 31
Isso tudo foi inteiramente compreendido e candidamente reconhecido por
historiadores e filosóficos tais como Bancroft, que embora estivesse tão longe de ser
um Calvinista nas suas convicções pessoais, chama Calvino simplesmente de "o pai
da América", e acrescenta: "Aquele que não honra a memória e respeita a influência
de Calvino não conhece nada da origem da liberdade Americana."
Quando lembramos que dois terços da população à época da Revolução tinha sido
treinada na escola de Calvino, e quando lembramos do quão unida e
entusiasticamente os Calvinistas labutaram pela causa da independência, nós
prontamente vemos o quão verdadeiros são os testemunhos acima.
Não havia praticamente Metodista algum na América à época da Revolução; e, na
verdade, a Igreja Metodista não foi organizada oficialmente como tal, na Inglaterra,
até o ano de 1784, o que foi três anos após a Revolução Americana. John Wesley,
embora fosse um grande vulto e bom homem, era um "Tory" [N.T.: (a) membro do
Partido Conservador Inglês. (b) designação de quaisquer Americanos que, durante o
período da Revolução, estivessem do lado Britânico. Também chamados de
'Lealistas'] e cria na não resistência política. Ele escreveu contra a "rebelião"
Americana, mas aceitou o resultado providencial. McFetridge nos diz: "Os
Metodistas dificilmente tinham um pé nas colônias, quando a guerra começou. Em
1773 eles somavam aproximadamente cento e sessenta membros. Seus ministros
eram quase que todos, senão todos, da Inglaterra; e eram ferrenhos partidários da
Coroa contra a Independência Americana. Assim é que, quando a guerra estourou eles
foram compelidos a saírem do país. Seus pontos de vista políticos estavam
naturalmente de acordo com aqueles do seu grande líder, John Wesley, que
habilmente exercia todo o poder da sua eloqüência e influência contra a
independência das colônias. (Bancroft, História dos E.U.A., Vol. VII, p. 261). Ele não
previu que a América independente era para ser o terreno no qual sua nobre Igreja
ceifaria suas maiores colheitas; e que naquela Declaração à qual ele se opôs tão
bravamente se encontrasse a segurança das liberdades dos seus seguidores." 32
Na Inglaterra tanto quanto na América, os conflitos pela liberdade civil e religiosa
nasceram no Calvinismo, foram inspirados pelo Calvinismo; e largamente levados a
cabo por homens que eram Calvinistas. E porque a maioria dos historiadores nunca
estudaram o Calvinismo seriamente, eles nunca foram capazes de dar-nos conta, de
maneira completa e verdadeira, do que foi feito nesses países. É somente necessária a
luz da investigação histórica para mostrar-nos como os nossos bisavós criam no
Calvinismo e eram por ele controlados. Hoje vivemos numa época em que os
serviços dos Calvinistas na fundação deste país têm sido em muito esquecidos; e
dificilmente alguém pode tratar deste assunto sem parecer ser um mero elogiador do
Calvinismo. Nós bem podemos honrar aquele credo que rendeu frutos tão doces e ao
qual a América tanto deve.

8. CALVINISMO E GOVERNO REPRESENTATIVO.


Enquanto a liberdade religiosa e a liberdade civil não têm nenhuma conexão
orgânica, elas não obstante têm uma afinidade muito forte entre si; e onde falta uma,
a outra não sobreviverá por muito. A história é eloqüente ao declarar que a religião de
um povo depende sempre da sua liberdade ou do seu jugo. É uma questão de suprema
importância em que doutrinas eles crêem, que princípios eles adotam: pois estes
devem servir como a base sobre a qual encontra-se a super estrutura das suas vidas e
do seu governo. O Calvinismo foi revolucionário. Ele ensinou a igualdade natural
entre os homens; e a sua tendência natural era acabar com todas as distinções de
classe e todas as alegações de superioridade as quais apoiavam-se em riqueza ou
privilégios adquiridos. A alma do Calvinista, amante da liberdade, fez dele um
guerreiro numa cruzada contra aquelas distinções artificiais as quais elevavam alguns
homens sobre os demais.
Politicamente, o Calvinismo tem sido a principal fonte de governo republicano
moderno. O Calvinismo e o republicanismo são tão relacionados um com o outro
como causa e efeito; e onde um povo esteja possuído pelo primeiro, o segundo cedo
se desenvolverá. O próprio Calvino sustentava que a Igreja, sob Deus, era uma
república espiritual; e ele certamente era um republicano em teoria. James I estava
bem ciente dos efeitos quando disse: "O Presbitério concorda tanto com a monarquia,
como Deus concorda com o Diabo." Bancroft fala do "caráter político do Calvinismo,
que conjunta e instintivamente os monarcas daquele tempo temiam como
republicanismo." Um outro historiador Americano, John Fiske, escreveu, "Seria
difícil ultrapassar o débito que a humanidade tem para com Calvino. O pai espiritual
de Coligny, de William The Silent e de Cromwell, deve ocupar o mais alto posto
entre os campeões da democracia moderna . . . . A promulgação desta teologia foi um
dos mais largos passos que a humanidade já deu em direção à liberdade pessoal." 33
Emilio Castelar, o líder dos Liberais Espanhóis, diz que "A democracia Anglo-
Saxônica é o produto de uma teologia severa, aprendida nas cidades da Holanda e da
Suíça." Buckle, na sua obra "História da Civilização" diz, "O Calvinismo é
essencialmente democrático," (I, 669). E do hábil escritor político Alexis de
Tocqueville, chama o Calvinismo de "Uma religião democrática e republicana." 34
O sistema não somente imbuiu seus convertidos com o espírito de liberdade, mas
deu-lhes treinamento prático nos direitos e deveres como homens livres. Cada
congregação elegia os seus próprios oficiais e conduzia sua própria administração.
Fiske refere-se a ele como "uma das escolas mais efetivas que jamais existiram, para
treinar homens em assuntos de governo local de base." 35 A liberdade espiritual é a
fonte e a força de todas as demais liberdades; e não precisamos surpreendermo-nos
quando nos é dito que os princípios pelos quais eram governados em assuntos
eclesiásticos moldaram seus pontos de vista políticos. Eles instintivamente preferiam
um governo representativo e obstinadamente ofereciam resistência a todos
governantes injustos. Depois que o despotismo religioso é deposto, o despotismo civil
não mais pode continuar.
Podemos dizer que a república espiritual fundada por Calvino encontra-se baseada
em quatro princípios básicos. Estes foram sumariados por um eminente estadista e
jurista Inglês, Sir James Stephen, no seguinte: "Estes princípios eram, primeiramente
que a vontade do povo era a fonte legítima de poder dos governantes; em segundo,
que o poder era mais apropriadamente delegado pelo povo, aos seus governantes,
através de eleições, nas quais cada homem adulto pode exercer seu direito de
sufrágio; em terceiro, que um governo eclesiástico, a classe clerical e a classe de
membros tinham ambas o direito a uma autoridade igual e coordenada; e em quarto,
que entre a Igreja e o Estado, nenhuma aliança, ou dependência mútua, ou outra
relação definida, existia necessária ou apropriadamente." 36
O princípio da soberania de Deus, quando aplicado aos assuntos relativos ao governo
provaram ser muito importantes. Deus é o supremo Governante, foi investido com
soberania, e qualquer que seja a soberania encontrada no homem, esta lhe foi
graciosamente concedida. Tomamos as Escrituras Sagradas como autoridade final,
uma vez que contém os princípios eternos que são reguladores para todas as idades e
em todos os povos. Nas seguintes palavras, as Escrituras declaram o Estado como
sendo uma instituição divinamente estabelecida: "(1) Toda alma esteja sujeita às
autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que
existem foram ordenadas por Deus. (2) Por isso quem resiste à autoridade resiste à
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. (3)
Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para
os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás
louvor dela; (4) porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal,
teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira
contra aquele que pratica o mal. (5) Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos,
não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência. (6) Por esta
razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso
mesmo. (7) Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem
imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra."[Romanos 13:1-7].
No entanto, nenhum tipo de governo, seja ele uma democracia, uma república ou
monarquia, foi imaginado haver sido divinamente ordenado para determinada época
ou determinado povo, embora o Calvinismo mostrasse uma preferência pelo tipo
republicano. "Qualquer que seja o sistema de governo", diz Meeter, "seja monarquia
ou democracia ou qualquer outra forma; em cada caso o governante (ou governantes)
devia agir como um representante de Deus; e administrar os assuntos do governo de
conformidade com a lei de Deus. O princípio fundamental supria ao mesmo tempo o
maior incentivo para a preservação da lei e da ordem entre os seus cidadãos, sujeitos
que eram, para a glória de Deus, render obediência aos poderes mais altos, quaisquer
que estes pudessem ser. Assim é que o Calvinismo foi feito para governos altamente
estáveis.
"Por outro lado, este mesmo princípio da soberania de Deus operava como uma
poderosa defesa das liberdades dos cidadãos contra governantes tirânicos. Sempre
quando soberanos ignorassem a Vontade de Deus, pisoteassem os direitos dos
governados e se tornassem tiranos, passava a ser o privilégio e o dever dos sujeitos, à
vista da responsabilidade mais alta para com o Soberano supremo, Deus, recusar
obediência e até mesmo, se necessário, depor o tirano, através da autoridades
menores, apontadas por Deus para a defesa dos direitos dos governados." 37
As idéias Calvinistas com referência a governos e governantes foram habilmente
expressas por J. C. Monsma no seguinte e muito lúcido parágrafo: "Governos são
instituídos por Deus através da instrumentalidade do povo. Nenhum rei ou presidente
tem qualquer poder inerente em si mesmo; qualquer poder que ele possua, qualquer
soberania que ele exerça, é poder e é soberania que derivam da grande Fonte, do alto.
Não força, mas direito; e direito fluindo da eterna Fonte de justiça. Para o Calvinista é
extremamente fácil respeitar as leis e os estatutos do governo. Se o governo não fosse
nada mais que um grupo de homens, unidos para concretizar os desejos de uma
maioria popular, sua alma amante da liberdade se rebelaria. Mas agora, ao seu
entendimento e em conformidade com a sua crença fixa, -- por trás do governo
encontra-se Deus e ante Ele, ele se põe de joelhos na mais profunda reverência. Aqui
também está a razão fundamental para aquele profundo e quase que fanático amor
pela liberdade, também a liberdade política, a qual tem sempre sido uma
característica do Calvinista genuíno. O governo é servo de Deus. Isto quer dizer que,
COMO HOMENS, todos os oficiais do governo encontram-se em passo igual com os
seus subordinados; não têm o direito de reclamar qualquer superioridade em qualquer
que seja o sentido. Pela mesma razão, exatamente, o Calvinista prefere a forma de
governo republicana, ante qualquer outra. Em nenhum outro tipo de governo a
soberania de Deus, o caráter derivativo dos poderes do governo e a igualdade de
homens como homens, encontram uma expressão mais clara e mais eloqüente." 38
A teologia dos Calvinistas exaltava um Soberano e humilhava todos outros soberanos
perante a Sua maravilhosa majestade. O direito divino de reis e os decretos infalíveis
de papas não mais podiam existir entre um povo que colocava a soberania somente
em Deus. Mas enquanto esta teologia exaltava infinitamente a Deus como o
Governante Todo-Poderoso do céu e da terra e colocava todos os homens em posição
de humildade perante Ele, ela também engrandecia a dignidade do indivíduo e
ensinava-lhe que todos os homens são iguais como homens. O Calvinista temia a
Deus; e ao temer a Deus ele não temia a mais ninguém. Sabendo ter sido ele mesmo
escolhido nos conselhos da eternidade e marcado para as glórias do céu, ele possuía
algo que dissipava o sentimento de honrarias para com homens e que obscurecia o
brilho de toda magnificência terrena. Se uma aristocracia traçasse sua linha de
ascendência através de gerações de ancestrais nobres, os Calvinistas, com orgulho
mais exaltado, invadiam o mundo invisível; e do livro da vida mostravam o registro
da mais nobre cidadania, decretada deste a eternidade pelo Rei dos reis. Por uma
linhagem genealógica mais alta que qualquer outra linhagem terrena, eles eram
cidadãos da nobreza celeste porque eram filhos e sacerdotes de Deus, co-herdeiros
com Cristo, reis e sacerdotes de Deus, por unção e consagração divinas. Coloque a
verdade da soberania de Deus na mente e no coração de um homem; e estará
colocando aço no seu sangue. A Fé Reformada prestou serviço mais valioso, ao
ensinar ao indivíduo os seus direitos.
Em contraste gritante com estas tendências democráticas e republicanas que são
vistas serem inerentes à Fé Reformada, vemos que o Arminianismo tem uma
tendência muito pronunciadamente aristocrática. Nas Igrejas Presbiterianas e
Reformadas, o presbítero vota no Presbitério ou Sínodo ou Assembléia Geral em
completa igualdade com o seu pastor; mas nas igrejas Arminianas o poder encontra-
se muito mais nas mãos do clérigo, enquanto que o leigo tem muito pouca autoridade
real. O Episcopado enfatiza o governo pela hierarquia. O Arminianismo e o
Catolicismo Romano (o qual é praticamente Arminiano) prospera sob monarquia, ao
passo que ali o Calvinismo tem sua vida dificultada. Por outro lado, o Romanismo,
especialmente, não progride numa república; que é onde o Calvinismo se encontra
mais em casa. Uma forma aristocrática de governo de igreja tende para o lado da
monarquia em assuntos civis, enquanto que uma forma republicana de governo de
igreja tende mais para a democracia, nos mesmos assuntos. McFetridge diz, "O
Arminianismo é desfavorável à liberdade civil; enquanto que o Calvinismo é
desfavorável ao despotismo. Os governantes déspotas dos tempos passados eram
rápidos ao observar a clareza dessas proposições; e, reclamando o divino direito de
reis, temiam o Calvinismo como o próprio republicanismo." 39

9. CALVINISMO E EDUCAÇÃO.
Novamente, a história apresenta testemunho muito claro de que Calvinismo e
educação têm sido intimamente associados. Onde quer que o Calvinismo tenha ido,
levou consigo a escola e deu impulso poderoso à educação popular. É um sistema que
demanda hombridade intelectual. Na verdade, podemos dizer que a própria existência
do Calvinismo encontra-se unida à educação do povo. Treinamento mental é
requerido para dominar o sistema e mapear tudo o quanto ele envolve. O Calvinismo
apela da maneira mais forte possível à razão humana e insiste que o homem deve
amar a Deus não somente com todo o seu coração, mas também com toda a sua
mente. Calvino sustentava que "uma fé verdadeira deve ser uma fé inteligente"; e a
experiência tem mostrado que a piedade sem o aprendizado é um longo caminho tão
perigoso quanto o é o aprendizado sem piedade. Ele viu claramente que a aceitação e
a difusão do seu esquema de doutrina era dependente não somente do treinamento
dos homens que o deveriam apresentar, mas também na inteligência das grandes
massas de humanidade que deveriam aceitá-lo. Calvino coroou seu trabalho em
Genebra com o estabelecimento da Academia. Milhares de alunos peregrinos da
Europa Continental e das Ilhas Britânicas sentaram-se aos seus pés e depois levaram
as suas doutrinas a cada canto da Cristandade. Knox retornou de Genebra
inteiramente convencido de que a educação das massas era a muralha mais forte do
Protestantismo e a mais certa fundação do Estado. "Com o Romanismo vai o padre;
com o Calvinismo vai o professor" é um ditado antigo, a verdade do qual não será
negada por qualquer um que venha a examinar os fatos.
Este amor Calvinista pelo aprendizado, colocando a mente acima do dinheiro,
inspirou um número incontável. de famílias Calvinistas na Escócia, na Inglaterra, na
Holanda e na América, a sacrificarem-se para educar seus filhos. O famoso dito de
Carlile, "Que qualquer ser com capacidade de aprendizado pereça ignorante, a isto eu
chamo de tragédia," expressa uma idéia que é Calvinista até o cerne. Aonde quer que
o Calvinismo tenha ido, lá o conhecimento e o aprendizado foram encorajados e lá
uma raça vigorosa de pensadores foi treinada. Os Calvinistas não construíram
grandes catedrais, mais foram construtores de escolas, de faculdades e de
universidades. Quando os Puritanos da Inglaterra, os Pactuantes da Escócia e os
Reformados da Holanda e da Alemanha vieram para a América, eles trouxeram
consigo não somente a Bíblia e a Confissão de Fé de Westminster, mas também a
escola. E é por isso que o Calvinismo Americano nunca
"Teme as fracas mãos dos céticos, ("Dreads the skeptic's puny hands,
Enquanto perto da escola estiver a torre da sua igreja, (While near her school the
church spire stands
Nem teme a regra cega dos intolerantes, (Nor fears the blinded bigot's rule,
Enquanto perto da torre da igreja estiver uma escola." (While near her church spire
stands a school."
Nossas três universidades Americanas de grande importância histórica, Harvard, Yale
e Princeton, foram originalmente fundadas por Calvinistas, como escolas Calvinistas
fortes, destinadas a proporcionar aos alunos uma base sólida em teologia tanto quanto
em outros segmentos do aprendizado. Harvard, estabelecida em 1636, foi
primariamente destinada a ser escola de treinamento para ministros; e mais da metade
das suas primeiras classes a graduarem-se seguiram o caminho do ministério. Yale,
algumas vezes chamada de "a mãe das Faculdades", foi por um período de tempo
considerável uma rígida instituição Puritana. E Princeton, fundada pelos
Presbiterianos Escoceses, estava alicerçada em bases inteiramente Calvinistas.
"Orgulhamo-nos", diz Bancroft, "das nossas escolas regulares; Calvino foi o pai da
educação popular -- o inventor do sistema de escolas livres." 40 "Onde quer que o
Calvinismo tenha ganhado domínio", ele diz novamente, "invocou a inteligência para
as pessoas; e cada paróquia plantou uma escola regular." 41
"O nosso orgulhoso sistema escolar regular", diz Smith, está em débito por sua
existência àquela corrente de influências que vieram da Genebra de Calvino, através
da Escócia e da Holanda até a América; e, durante os duzentos primeiros anos da
nossa história quase que cada colégio e seminário e quase que cada academia e escola
regular foi construído e sustentado por Calvinistas." 42
A relação que existe entre o Calvinismo e a educação foi muito bem colocada nos
próximos dois parágrafos, escritos pelo Prof. H. H. Meeter, da Faculdade Calvino: "A
ciência e a arte foram dádivas da graça comum de Deus; e devem como tais serem
desenvolvidos e utilizados. A natureza é obra das mãos de Deus; o incorporar das
Suas ideias, na sua forma pura o reflexo das Suas virtudes. Deus foi o pensamento
unificador de toda ciência, uma vez que tudo foi o desdobrar do Seu plano. Mas junto
com tais razões teóricas, há razões muito práticas porque o Calvinista tem sempre
estado intensamente interessado em educação; e porque escolas para iniciação escolar
de crianças tanto quanto escolas para aprendizado mais alto aparecerem lado a lado
com igrejas Calvinistas; e porque os Calvinistas foram em tão grande medida a
vanguarda do movimento universal para a educação moderna. Estas razões práticas
estão intimamente associadas com a sua religião. Os Católicos Romanos podem
convenientemente passar sem a educação das massas. Para eles a classe clerical --
distintamente dos leigos -- eram os que decidiam sobre matérias relativas à doutrina e
ao governo da igreja. Assim, os interesses não requeriam o treinamento das massas.
Para a salvação, tudo de que o leigo precisava era uma fé implícita naquilo que a
igreja acreditava. Não era necessário ser capaz de explicar de maneira inteligente as
doutrinas da sua fé. Nos cultos, não o sermão, mas o sacramento era o importante
portador das bênçãos da salvação; o sermão era menos necessário. E, novamente, o
sacramento não requeria inteligência, uma vez que operava ex opere operato [N.T.: O
ensinamento Católico de que a graça de um sacramento é sempre conferida pelo
próprio sacramento. Literalmente quer dizer "da obra realizada"].
"Pois as matérias Calvinistas eram justamente o contrário. O governo da igreja era
posto nas mãos dos presbíteros, homens leigos; e estes tinham de decidir sobre os
assuntos de política da igreja e os assuntos de peso da doutrina. Ademais, o próprio
leigo tinha o grave dever, sem a intermediação de uma ordem sacerdotal, de trabalhar
na sua própria salvação; e não poderia faze-lo com uma fé implícita no que a igreja
acreditava. Ele devia ler a sua Bíblia. Ele devia conhecer e saber o seu credo. E nisso
era um intelectual altamente errado. Mesmo para o Luterano, a educação das massas
não era tão urgente quanto para o Calvinista. É verdade que o Luterano também
situava o homem diante da responsabilidade pessoal de trabalhar na própria salvação.
Mas nos círculos Luteranos, os leigos eram excluídos do ofício do governo da igreja e
destarte também da tarefa de decidir sobre assuntos de doutrina. A partir dessas
considerações, fica evidente porque o Calvinista devia ser um ferrenho advogado da
educação. Se por um lado a Deus era devida a soberania no campo da ciência; e se o
sistema Calvinista, muito religioso exigia a educação das massas para a sua própria
existência, não é de surpreender-nos que o Calvinista pressionasse o aprendizado ao
limite. Para o Calvinista, a educação é uma questão de ser ou não ser." 43
Os padrões tradicionalmente altos das Igrejas Presbiteriana e Reformada, para o
treinamento ministerial, são dignas de nota. Enquanto muitas outras igrejas ordenam
homens como ministros e missionários e permitem que preguem com muito pouca
educação; as Igrejas Presbiteriana e Reformada insistem que o candidato ao
ministério seja graduado em uma faculdade e que tenha estudado por no mínimo dois
anos, com um professor de teologia aprovado (vide Formas de Governo, cap. XIV,
seções III e VI). Como resultado, uma grande proporção desses ministros têm sido
capazes de administrar assuntos influentes das igrejas nas cidades. Isto pode
significar um menor número de ministros, mas também significa ministros melhor
preparados e melhor remunerados.

10. JOÃO CALVINO.


João Calvino nasceu em 10 de Julho de 1509, em Noyon, França; uma cidade com
uma catedral antiga, aproximadamente 70 milhas (N.T. aproximadamente 110 Km) a
nordeste de Paris. Seu pai, um homem de caráter tanto quanto duro e severo,
mantinha a posição como secretário apostólico do bispo de Noyon; e era íntimo das
melhores famílias da vizinhança. Sua mãe era notada por sua beleza e piedade, mas
morreu ainda jovem.
Ele recebeu a melhor educação que a França da sua época podia proporcionar,
estudando sucessivamente nas três universidades mais importantes de Orleans,
Bourges e Paris, entre 1528 até 1533. Seu pai tencionava prepará-lo para a profissão
legal, uma vez que do direito normalmente surgiam aqueles que galgariam posições
de riqueza e influência. Mas não sentindo nenhuma vocação, nenhum chamado em
particular para aquele rumo, Calvino voltou-se para o estudo da Teologia; e ali
encontrou a esfera de labor para a qual ele estava particularmente preparado por uma
habilidade, um dom natural, além de escolha pessoal. Ele foi descrito como sendo de
natureza introspecta e tímida, muito estudioso e pontual nos seus trabalhos, animado
por um rigoroso sentido de dever, e excessivamente religioso. Muito cedo ele
mostrou-se possuído por um intelecto capaz de argumentos convincentes e claros,
além de análise lógica. Através de excessivo treinamento ele armazenou sua mente
com informação valiosa, mas que prejudicou a sua saúde. Ele avançou tão
rapidamente que era, ocasionalmente, convidado a tomar o lugar dos mestres; e era
considerado pelos outros estudantes mais como um doutor, do que como um auditor.
Calvino era, na sua época, um Católico de carácter irrepreensível. Uma carreira
brilhante como humanista, ou advogado, ou clérigo, estava aberta à sua frente,
quando ele foi de repente convertido ao Protestantismo; e viu-se jogado à sua sorte,
com o grupo dos pobres perseguidos.
Sem qualquer intenção de sua parte, e mesmo contra o seu próprio desejo, Calvino
tornou-se o cabeça do partido evangélico em Paris, em menos de um ano após a sua
conversão. Seu conhecimento profundo e sinceridade de discurso eram tais que
ninguém podia ouvi-lo sem sentir-se fortemente impressionado. Pelo presente ele
permaneceu na Igreja Católica, esperando que a sua reforma acontecesse no seu seio
e se expandisse, ao invés de vir de fora para dentro. Shaff relembra-nos que "todos os
Reformadores nasceram, foram batizados, confirmados e educados na histórica Igreja
Católica, que os expulsou; como os Apóstolos foram circuncidados e treinados na
Sinagoga, que os expulsou." 44
O zelo e a sinceridade do novo Reformador não ficaram por muito tempo sem serem
desafiados; e logo tornou-se necessário que Calvino escapasse, fugindo por sua vida.
O seguinte relato, da sua fuga é dado pelo historiador da Igreja, Philip Schaff:
"Nicholas Cop, o filho de um distinto médico da corte (William Cop, da Basiléia), e
um amigo de Calvino, foi eleito Reitor da Universidade em 10 de Outubro de 1533; e
apresentou o discurso inaugural no dia de todos os santos, 01 de Novembro; perante
uma grande assembléia na Igreja dos Mathurins. Este discurso, por solicitação do
novo Reitor, havia sido preparado por Calvino. Era um pedido por uma reforma nas
bases do Novo Testamento; e um ataque frontal aos teólogos escolásticos daquele
tempo, que estavam representados como um conjunto de sofistas, ignorantes do
Evangelho .... A Sorbonne e o Parlamento consideraram este discurso acadêmico
como um manifesto de guerra contra a Igreja Católica, e o condenaram à fogueira.
Cop foi avisado e fugiu para os seus parentes na Basiléia. (Trezentas coroas foram
oferecidas por sua captura, vivo ou morto). Foi dito que Calvino, o verdadeiro autor
do estrago, desceu de uma janela através de lençóis; e escapou de Paris com a capa de
um podador de jardim, com uma enxada ao ombro. Seus aposentos foram
vasculhados e seus livros e papéis foram apreendidos pela polícia .... Vinte e cinco
Protestantes inocentes foram queimados vivos em lugares públicos da cidade, entre
10 de Novembro de 1534 até 05 de Maio de 1535 .... Muitos mais foram multados,
aprisionados e torturados; e um considerável número, entre eles Calvino e Du Tillet,
escaparam para Strassburg .... Durante quase três anos Calvino vagueou como
evangelista fugitivo, usando nomes falsos, de lugar a lugar no sul da França, na Suíça
e na Itália; até chegar a Genebra, seu destino final." 45
Pouco depois, senão antes, a primeira edição das suas Institutas aparecerem, em
Março de 1536, Calvino e Louis Du Tillet cruzaram os Alpes até a Itália, onde a
literatura e artes Renascentistas tiveram origem. Lá ele trabalhou como evangelista
até que a Inquisição começou seu trabalho de destruir ambos, a Renascença e a
Reforma, como se fossem duas serpentes da mesma espécie. Ele então divergiu seu
caminho, provavelmente através de Asota e sobre o Grande São Bernardo, para a
Suíça. De Basel ele fez uma última visita à sua cidade natal de Noyon, de forma a
resolver de vez alguns assuntos familiares. Então, junto com seu irmão mais novo
Antoine e sua irmã Marie, ele deixou a França para sempre, esperando fixar-se em
Basel ou em Strassburg e de lá levar a pacata vida de catedrático e de autor. Devido
ao fato de que um estado de guerra existia entre Charles V e Francis I, a rota direta
através do Lorraine estava fechada, o que o obrigou a fazer uma jornada alternativa,
através de Genebra.
Era intenção de Calvino parar somente por uma noite em Genebra, mas a Providência
havia decretado o contrário. Sua presença foi sabida por Farel, o reformador
Genebriano, que instintivamente sentiu que Calvino era o homem para completar e
salvar a Reforma em Genebra. Uma fina descrição desta reunião entre Calvino e
Farel é dada por Schaff. Diz ele: "Farel chamou Calvino imediatamente e segurou-o
rápido, como se por comando divino. Calvino protestou, alegando sua juventude, sua
inexperiência, sua necessidade de mais estudos, sua timidez natural e sua introversão,
que não o qualificavam para a ação pública. Mas tudo em vão. Farel, 'que queimava
de um zelo maravilhoso para avançar o Evangelho', ameaçou-o com a maldição do
Deus Todo-Poderoso caso ele preferisse os estudos ao invés do trabalho do Senhor, e
o seu próprio interesse ao invés da causa de Cristo. Calvino ficou aterrorizado e
tremia com estas palavras do destemido evangelista; e sentiu 'como se Deus
estendesse do alto a Sua mão'. Ele submeteu-se e aceitou a chamada para o
ministério, como professor e pastor da Igreja Evangélica de Genebra." 46
Calvino era vinte e seis anos mais moço que Lutero e Zuínglio; e teve e a grande
vantagem de construir sobre o alicerce que eles haviam preparado. Os primeiros dez
anos da carreira pública de Calvino foram contemporâneos aos últimos dez anos da
carreira de Lutero, embora os dois nunca tenham se encontrado pessoalmente.
Calvino era íntimo de Melancton contudo, e eles trocaram correspondência até a sua
morte.
À época em que Calvino apareceu em cena, não havia ainda sido determinado se
Lutero seria o herói de um grande sucesso, ou a vítima de uma grande falha. Lutero
havia produzido novas idéias; a obra de Calvino era trabalhá-las num sistema,
preservar e desenvolver o que havia começado de maneira tão nobre. Ao movimento
Protestante faltava unidade e corria o risco de afundar na areia movediça da disputa
doutrinária, mas foi bravamente salvo daquela sina pelo novo impulso, que lhe foi
proporcionado pelo Reformador em Genebra. A Igreja Católica trabalhou como uma
unidade poderosa e buscava rotular, através de métodos justos ou não, os diferentes
grupos Protestantes que haviam surgido no Norte. Zuínglio havia visto este perigo e
tinha tentado unir os Protestantes contra seu inimigo comum. Em Marburg, depois de
apelos e com lágrimas nos olhos, ele estendeu a Lutero a mão da amizade, a despeito
das diferenças de opinião entre eles, quanto à maneira da presença de Cristo na Ceia
do Senhor; mas Lutero recusou-a, inibido por uma estreita consciência dogmática.
Calvino também, trabalhando na Suíça, com imensa oportunidade de realizar a união
da Igreja Italiana, enxergou a necessidade de união e labutou para manter junto o
Protestantismo. Para Cranmer, na Inglaterra, ele escreveu, "Eu anseio por uma santa
comunhão entre os membros de Cristo. Quanto a mim, se puder ser útil, ficaria
contente em cruzar dez oceanos de maneira a concretizar esta unidade." A sua
influência, como exercida através de seus livros, cartas; e alunos, era poderosamente
sentida nos vários países; e a afirmação de que ele salvou o movimento Protestante da
destruição não parece ser exagero.
Durante trinta anos o interesse absorvente de Calvino era o avanço da Reforma. Reed
diz, "Ele labutou exaustivamente para isso até o último limite de suas forças, lutou
por isso com uma coragem que nunca esmoreceu, sofreu por isso com uma força de
vontade inabalável; e estava pronto para morrer por isso a qualquer momento. Ele
literalmente derramou cada gota da sua vida nisso, generosamente, sem hesitação. A
história será dissecada em vão, na busca de um homem que tenha se entregado a um
propósito definido com persistência mais inalterável, e com mais profusão de auto
entrega que Calvino deu a si mesmo pela causa da Reforma do século dezesseis." 47
Provavelmente nenhum servo de Cristo desde os dias dos Apóstolos tenha sido ao
mesmo tempo tão amado e tão odiado, admirado e aborrecido, exortado e condenado,
abençoado e amaldiçoado, do que o fervoroso, destemido e imortal Calvino. Vivendo
numa época forçosamente polêmica, e a postos na torre de vigia do movimento da
reforma na Europa Ocidental, ele foi o observado de todos os observadores, e foi
exposto a ataques de todos os lados. Paixões religiosas e sectárias são as mais fortes e
mais profundas; e à vista do bem e do mal que sabidamente existe na natureza
humana neste mundo, não deve nos surpreender a recepção dada aos escritos e aos
ensinamentos de Calvino.
Calvino tinha apenas vinte e seis anos de idade, quando publicou em Latim as suas
"Institutas da Religião Cristã". A primeira edição continha num breve enunciado
todos os elementos essenciais do seus sistema, e, considerando a tenra idade do autor,
tratava-se de uma maravilha de precocidade intelectual. Foi mais tarde aumentada
para cinco vezes o tamanho do original e publicada em Francês, mas ele nunca se
apartou radicalmente de quaisquer doutrinas apresentadas na primeira edição. Quase
que imediatamente, as Institutas alcançaram o primeiro lugar, como a melhor
exibição e melhor defesa da causa Protestante. Outros escritos mal lidaram com
certas fases do movimento, mas aqui estava um que tratava dele como uma unidade.
"O valor de tal presente para a Reforma", diz Reed, "não pode ser facilmente
exagerado. Protestantes e Romanistas ambos igualmente testemunharam para a sua
validade. Os primeiros exaltavam-no como uma bênção; os outros execravam-no com
as maldições mais amargas. A obra foi queimada por ordem da Sorbonne em Paris e
em outras localidades; e em todos lugares ela suscitava os mais violentos assaltos, de
línguas e de canetas. Florimond de Raemond, um teólogo Católico Romano, chamou-
a de 'o Alcorão, o Talmude da heresia, a causa mais importante da nossa queda'.
Kampachulte, outro Católico Romano, testifica que 'foi o arsenal comum do qual os
opositores da Igreja Antiga emprestaram suas armas mais poderosas', e que 'nenhum
escrito da era da Reforma foi mais temido pelos Católicos Romanos, mais
zelosamente combatido, e mais amargamente amaldiçoado do que as Institutas de
Calvino'. A sua popularidade foi evidenciada pelo fato de que as edições foram
seguindo, em rápida sucessão; foi traduzida para a maioria dos idiomas da Europa
ocidental; tornou-se livro principal de textos nas escolas das Igrejas Reformadas, e
supriu o material com o qual os seus credos foram feitos." 48
"De todos os serviços prestados por Calvino à humanidade", diz o Dr. Warfield, " -- e
não foram nem poucos nem pequenos -- o maior deles foi indubitavelmente seu
presente para o afresco deste sistema de pensamento religioso, acelerado numa nova
vida pelas forças do seu gênio." 49
As Institutas foram de imediato aclamadas pelos Protestantes com exortações
entusiásticas, como a mais clara, a mais lógica e a mais convincente defesa das
doutrinas Cristãs desde os dias dos Apóstolos. Schaff caracteriza-as muito bem
quando ele diz que nelas "Calvino proporcionou uma exposição sistemática da
religião Cristã em geral, e em particular uma vindicação da fé evangélica, com o
objetivo prático e apologético de defender os crentes Protestantes contra a calúnia e a
perseguição às quais eles encontravam-se expostos, especialmente na França." 50 A
obra é permeada por uma sinceridade intensa e por uma argumentação severa e
destemida a qual apropriadamente subordina a razão e a tradição à suprema
autoridade das Escrituras Sagradas. É admitidamente o maior livro do século, e
através dela os princípios Calvinistas foram propagados numa escala imensa.
Albrecht Ritschl chama-a de "a obra de arte da teologia Protestante". O Dr. Warfield
nos diz que "depois de três séculos e meio ela mantém a sua preeminência
inquestionada como o maior e mais influente de todos os tratados dogmáticos." E
novamente ele diz, "Mesmo do ponto de vista de simples literatura, ela detém uma
posição tão suprema na sua classe que todos que conhecessem os melhores livros do
mundo, devem familiarizar-se com ela. O que os Thucydides é entre os Gregos, ou
Gibbon entre os historiadores Ingleses do século dezoito, o que Platão é entre os
filósofos, ou a Ilíada entre as obras épicas, ou Shakespeare entre os dramaturgos, é o
que as Institutas de Calvino são entre os tratados teológicos." 51 A obra 'Institutas'
consternou a Igreja Romana e foi uma poderosa força unificadora entre os
Protestantes. Ela mostrou que ser Calvino o mais hábil controversialista no
Protestantismo e como o mais formidável antagonista com o qual os Romanistas
tiveram de contender. Na Inglaterra as Institutas desfrutaram de uma quase que
indisputada popularidade; e foram usadas como um livro de textos nas universidades.
Elas foram logo traduzidas para nove idiomas Europeus diferentes; e é simplesmente
devido à séria falta na maioria das contas históricas que a sua importância não tem
sido devidamente apreciada em anos recentes.
Umas poucas semanas depois da publicação das Institutas, Bucer, considerado como
terceiro entre os Reformadores na Alemanha, escreveu a Calvino: "É evidente que o
Senhor o elegeu como o Seu órgão para o conceder da mais rica e completa bênção
sobre a Sua Igreja." Lutero não escreveu nenhuma teologia sistemática. Embora os
seus escritos fossem volumosos, eles versavam sobre assuntos dispersos e muitos
deles lidavam com os problemas práticos da sua época. Foi então deixado para
Calvino, dar uma exibição sistemática da fé evangélica.
Calvino foi, primeiramente, um teólogo. Ele e Agostinho facilmente classificam-se
como os dois mais notáveis expositores sistemáticos do Cristianismo desde Paulo.
Melancton, quem era ele mesmo o príncipe dos teólogos luteranos, e quem, depois da
morte de Lutero, foi reconhecido como o "Preceptor da Alemanha", chamou Calvino
preeminentemente de "o teólogo".
Se o idioma das Institutas parece ser difícil em algumas passagens, devemos lembrar
que esta foi a marca e a fraqueza da controvérsia teológica naquela época. Os tempos
nos quais Calvino viveu eram polêmicos. Os Protestantes estavam engajados numa
batalha de vida ou morte com Roma; e as provocações até a impaciência eram sérias
e numerosas. No entanto, Calvino foi sobrepujado por Lutero na utilização de
linguagem rude, como será prontamente visto num exame da última obra, "A
Escravidão da Vontade", que foi uma polêmica escrita contra as idéias do livre
arbítrio de Erasmo. E ademais, nenhum dos escritos Protestantes daquele período
foram tão rudes e abusivos quanto o foram os decretos Católicos Romanos de
excomunhão, de anátemas e etc., os quais foram dirigidos contra os Protestantes.
Adicionalmente às Institutas, Calvino escreveu comentários sobre aproximadamente
todos os livros de ambos, o Antigo e o Novo Testamentos. Estes comentários, na
tradução em Inglês, compreendem cinquenta e cinco grandes volumes, e, com relação
às suas demais obras, são nada menos que maravilhosos. A qualidade desses escritos
era tal que eles cedo chegaram ao primeiro lugar entre as obras de exegese sobre as
Escrituras; e entre todos os antigos comentaristas, ninguém é mais frequentemente
citado pelos melhores catedráticos modernos do que Calvino. Ele foi, além de
qualquer questionamento, o maior exegeta do período da Reforma. Como Lutero foi
o príncipe dos tradutores, também Calvino foi o príncipe dos comentaristas. [N.A.:
Uma nova edição dos comentários de Calvino, em Inglês, foi recentemente publicada
(1948), pela Wm. B. Eerdmans Publishing Co., Grand Rapids.]
E mais ainda, para que se possa estimar o verdadeiro valor dos comentários de
Calvino, deve-se ter em mente que eles foram baseados nos princípios de exegese os
quais eram raros no seu tempo. "Ele mostrou o caminho", diz R. C. Reed, "ao
descartar o costume de fazer alegorias com as Escrituras, um costume que vinha
desde os primeiros séculos do Cristianismo e o qual havia sido sancionado pelos
maiores nomes da Igreja, de Orígenes a Lutero, um costume o qual converte a Bíblia
num nariz de cera, e faz de sonhos ao vivo a qualificação primaz dum exegeta." 52
Calvino aderiu estritamente ao espírito e à carta do autor e assumiu que o escritor
tinha um pensamento definido o qual estava expressado em linguagem natural e
cotidiana. Ele expôs sem perdão as doutrinas e práticas corruptas da Igreja Católica
Romana. Seus escritos inspiraram os amigos da reforma e supriram-nos com a mais
mortal das munições. Podemos dificilmente sobrestimar a influência de Calvino no
salvaguardar e no perpetuar da Reforma.
Calvino foi um mestre no aprendizado patrístico e escolástico. Tendo sido educado
nas mais importantes universidades da sua época, ele possuía um conhecimento
completo de Latim e de Francês; e um bom conhecimento de Grego e Hebraico. Seus
comentários principais apareceram em ambas versões, em Francês e em Latim; e
constituem-se obras de grande abrangência. Elas são eminentemente justas e francas;
e mostram que o autor ter sido possuidor de singulares balanço e moderação de
julgamento. As obras de Calvino tinham um efeito adicional, ao dar forma e
permanência ao então instável idioma Francês, em muito da mesma forma em que a
tradução da Bíblia por Lutero moldou o idioma Alemão.
Um outro testemunho, o qual não deveríamos omitir, é o de Armínio, o originador do
sistema teológico rival. Certamente que temos aqui um testemunho que provém de
uma fonte não tendenciosa. "Em seguida ao estudo das Escrituras", ele diz, "Eu
exorto meus alunos a buscarem os comentários de Calvino, os quais eu exalto em
termos mais elevados do que o próprio Helmick (N.A.: helmick era um teólogo
Holandês); pois eu afirmo que ele excede além de comparação na interpretação das
Escrituras; e que os seus comentários devem ser valorizados mais altamente do que
tudo o que nos é entregue pela biblioteca dos pais; assim é que eu o reconheço como
ter tido mais que muitos outros, ou ainda acima que todos outros homens, o que pode
ser chamado de uma dádiva eminente de profecia." 53
A influência de Calvino foi ainda mais propalada através de volumosa
correspondência que ele manteve com líderes de igrejas, príncipes e nobres, em toda
a Cristandade Presbiteriana. Mais de trezentas dessas cartas estão ainda hoje
preservadas; e como regra elas não tratam de breves trocas de amizade, mas de
tratados longos e elaborados, apresentando de forma maestral os seus admiráveis
pontos de vista sobre questões eclesiástico teológicas. Nesta forma, também foi
profunda a sua influência ao guiar a Reforma em toda a Europa.
Devido a uma tentativa de Calvino e Farel, para forçar um sistema de disciplina
muito severo em Genebra, veio a ser necessário que eles deixassem a cidade
temporariamente. Isto ocorreu dois anos após a vinda de Calvino. Ele foi para
Strassburg, no sudoeste da Alemanha, onde foi calorosamente recebido por Bucer e
os líderes da Reforma Alemã. Ali ele passou os três anos seguintes, em trabalhos
quietos e úteis, como professor, pastor e autor; e veio a estar em contato com o
Luteranismo em primeira mão. Ele tina uma grande apreciação pelos líderes
Luteranos e sentiu-se proximamente aliado à Igreja Luterana, embora fosse
desfavoravelmente impressionado com a falta de disciplina e com a dependência do
clero para com os governantes seculares. Ele mais tarde acompanhou o progresso da
Reforma na Alemanha, passo a passo, com o mais cálido interesse, como é mostrado
na sua correspondência e em diversos escritos. Durante a sua ausência de Genebra, os
assuntos alcançaram tal crise que parecia que os frutos da Reforma seriam perdidos; e
lhe foi então requerido que retornasse com urgência. Depois de repetidas solicitações
de várias fontes, ele assim o fez; e retomou o trabalho de onde ele o havia
interrompido.
A cidade de Genebra, localizada às margens de um lago que leva o mesmo nome, foi
o lar de Calvino. Ali, entre os Alpes cobertos de neve, ele passou a maior parte a sua
vida adulta; e dali a Igreja Reformada se estendeu por toda a Europa e até a América.
Nos assuntos da Igreja, tanto quanto nos assuntos de Estado, o pequeno país da Suíça
exerceu uma influência desproporcional ao seu tamanho.
A influência de Calvino em Genebra nos dá uma boa amostra do poder transformador
do seu sistema teológico. "Os habitantes de Genebra", diz o eminente historiador da
igreja, Philip Schaff, "eram despreocupados, um povo alegre, fã de divertimentos
públicos; danças, cantos, bailes de máscaras e festas ruidosas. Comportamentos
inconseqüentes, apostas, bebedices, adultério, blasfêmias; e toda sorte de vícios
abundavam. A prostituição era sancionada pela autoridade do Estado, e sua
superintendente era uma mulher chamada de 'Reine de bordel'. O povo era ignorante.
O padre não tinha se preocupado em instruí-los e havia dado-lhes um mau exemplo."
Num estudo de história contemporânea, vemos que pouco antes de Calvino ir para
Genebra, os monges e mesmo o bispo eram culpados de crimes que hoje em dia são
puníveis com a pena capital. O resultado do trabalho de Calvino em Genebra foi que
a cidade tornou-se mais conhecida pela vida quieta, ordeira dos seus cidadãos, do que
anteriormente, por sua devassidão. John Knox, como milhares de outros que vieram a
sentar-se como estudantes admirados aos pés de Calvino, encontraram o que
chamaram de "a mais perfeita escola de Cristo que jamais houve na terra, desde os
dias dos Apóstolos."
Através da obra de Calvino, Genebra tornou-se asilo para os perseguidos; e um centro
de treinamento para a Fé Reformada. Refugiados de todos as nações da Europa
afluíam a este refúgio; e ao voltar, levavam consigo os claramente ensinados
princípios da Reforma. Genebra, assim, era como um centro de onde emanava poder
espiritual e forças educacionais, as quais guiaram e moldaram a Reforma nos países
vizinhos. Bancroft diz, "Mais verdadeiramente benevolente para a raça humana do
que Solon, mais negador de si mesmo do que Lycurgus, o gênio de Calvino
introduziu elementos duradouros nas instituições de Genebra e fez para o mundo
moderno a fortaleza inexpugnável da liberdade popular, o solo fértil para a semeadura
da democracia." 54
Encontramos uma testemunha de quão efetivas eram as influências que emanavam de
Genebra, numa das cartas do Católico Romano Francis de Sales ao duque de Savoy,
exortando a supressão de Genebra como a capital do que a Igreja Romana chama de
heresia. "Todos os hereges", escreve ele, "respeitam Genebra como a asilo da sua
religião...... Não há nenhuma cidade na Europa que ofereça mais facilidades para o
encorajamento da heresia, pois Genebra é portão para a França, para a Itália e para a
Alemanha; de modo que qualquer um encontra lá pessoas de todas as nações --
Italianos, Franceses, Alemães, Poloneses, Espanhóis, Ingleses; e de países ainda mais
remotos. Além disso, todo mundo sabe do grande número de ministros ali formados.
No ano passado Genebra enviou vinte deles para a França. Até a Inglaterra recebe
ministros vindos de Genebra. O que dizer das magníficas gráficas de impressão, a
partir das quais a cidade inunda o mundo com a sua literatura ímpia; e vai mais longe,
ao ponto de distribuí-los às custas dos cofres públicos? .....Todas as empreitadas
levadas a efeito contra a Santa Sé e contra os príncipes Católicos tiveram o seu início
em Genebra. Nenhuma cidade na Europa recebe mais apóstatas de todas as classes,
seculares e regulares. Disso tudo eu concluo que se Genebra for destruída, isto
naturalmente levará à dissipação da heresia." 55
Um outro testemunho é o de um dos inimigos mais amargos do Protestantismo, Philip
II da Espanha. Ele escreveu ao rei da França: "Esta cidade é a fonte de todos os
infortúnios da França, o inimigo mais formidável de Roma. A qualquer tempo, eu
estou pronto para assistir à sua destruição, com todo o poder do meu reino." E quando
esperava-se que o Duque de Alva passasse com o seu exército perto de Genebra, o
Papa Pio V solicitou-lhe desviar e "destruir aquele ninho de diabos e de apóstatas."
A famosa academia de Genebra foi aberta em 1558. Junto com Calvino, haviam se
associado dez professores experientes e hábeis, que instruíam em gramática, lógica,
matemática, física, música; e línguas antigas. A escola teve admirável sucesso.
Durante o primeiro ano, mais de novecentos alunos, a maioria refugiados de vários
países Europeus matricularam-se; e quase outro tanto atendeu às suas palestras sobre
teologia, preparando-se para serem evangelistas e professores nos seus países de
origem e estabelecerem igrejas segundo o modelo que haviam visto em Genebra. Por
mais de dois séculos a academia permaneceu como a principal escola de Teologia
Reformada e cultura literária.
Calvino foi o primeiro dos Reformadores a demandar a separação completa entre a
Igreja e o Estado; e assim ele avançou outro princípio que tem sido de valor
inestimável. A Reforma Alemã foi decidida pela vontade do príncipe; a Reforma
Suíça, pela vontade do povo; embora em cada caso houvesse uma simpatia entre os
governantes e a maioria da população. Os Reformadores Suíços, no entanto, vivendo
na república em Genebra, desenvolveram uma Igreja livre num Estado livre,
enquanto que Lutero e Melâncton, com a sua reverência nativa às instituições
monárquicas e ao Império Alemão, ensinavam obediência passiva na política e
trouxeram a Igreja à uma servidão sob a autoridade civil.
Calvino morreu no ano de 1564; com a pouca idade de cinqüenta e cinco anos. Seu
amigo próximo e sucessor, Beza, descreveu a sua morte como havendo chegado
calmamente, durante o sono, e acrescenta: "Assim recolheu-se ao céu, ao mesmo
tempo como ocaso do sol, aquela luminária mais brilhante, que era a lâmpada da
Igreja. Na noite e no dia seguintes, houve angústia e lamentação intensas em toda a
cidade; pois a República havia perdido seu mais sábio cidadão, a Igreja o seu
fervoroso pastor; e a Academia, um professor incomparável."
Num livro comparativamente recente, o Professor Harkness escreveu: "Calvino
viveu, e morreu, como homem pobre. Sua casa era parcamente mobiliada; e suas
roupas eram simples. Ele livremente dava àqueles que necessitavam, mas ele gastava
muito pouco consigo mesmo. O Conselho, uma vez deu-lhe um sobretudo, como para
expressar sua estima; e como uma proteção necessária contra o frio do inverno. Isto,
ele o aceitou com gratidão, mas em outras ocasiões ele recusava assistência financeira
oferecida e declinava de aceitar qualquer coisa adicionalmente ao seu salário
modesto. Durante a sua última doença, o Conselho desejava pagar pelos
medicamentos usados mas Calvino declinou a oferta, dizendo que ele tinha
escrúpulos quanto a receber mesmo o seu salário normal enquanto ele não podia
trabalhar. Ao morrer, deixou herança espiritual de valor inestimável e patrimônio
terreno de valor entre mil e quinhentos a dois mil dólares." 56
Schaff descreve Calvino como "um daqueles caracteres que comandam respeito e
admiração ao invés de afeição, e inibem aproximação familiar mas ganham num
relacionamento mais próximo. Quanto mais é conhecido, mais é admirado e
estimado." E com relação à sua morte, Schaff diz: "Calvino tinha proibido
expressamente toda pompa no seu funeral, assim como que fosse erigido qualquer
monumento sobre a sua sepultura. Ele desejava ser enterrado como Moisés, longe do
alcance de idolatria. Tal desejo era consistente com a sua teologia, a qual humilha o
homem e exalta a Deus." 57 Mesmo o lugar do seu túmulo, no cemitério de Genebra,
é desconhecido. Uma lápide simples, com as iniciais "J. C", é mostrada aos estranhos
como sendo o lugar onde encontra-se o seu corpo, mas isto, não se sabe com que
autoridade. Ele próprio solicitou que nenhum monumento devesse marcar sua cova.
O seu real monumento, no entanto, como diz S. L. Morris, é "cada governo
republicano na terra, o sistema de escola pública de todas nações, e 'As Igrejas
Reformadas em todo o mundo, que adotam o Sistema Presbiteriano'."
E Harkness, embora não sendo sempre um escritor amigável, diz novamente isto:
"Aqueles que vêem em Calvino somente austeridade insensível, deixa de enxergar a
gentileza quase que feminina a qual ele demonstrava em muitos dos seus
relacionamentos paroquiais. Ele angustiava-se com o seu povo nos seus problemas e
rejubilava-se com eles nas suas alegrias. Algumas das suas cartas àqueles que haviam
sofrido perdas familiares são verdadeiras obras de arte de amorosa simpatia. Quando
de algum casamento, ou quando um bebê chegava para alegrar um lar, ele
demonstrava caloroso interesse pessoal no evento. Não era difícil para ele parar na
rua, no meio de assuntos importantíssimos, para um tapinha das costas e uma palavra
de incentivo a uma criança a caminho da escola. Os seus inimigos podem rotulá-lo de
papa, ou rei, ou califa; os seus amigos o têm na memória como seu irmão e líder
amado." 58 Numa de suas cartas a um amigo, ele escreveu: "Em breve eu devo ir
visitá-lo, e então vamos dar juntos umas boas risadas."
Devemos agora considerar um evento na vida de Calvino que, até determinada
extensão, projetou uma sombra sobre o seu nome justo, e o qual o expôs à carga da
intolerância e à perseguição. Referimo-nos à morte de Servetus, que ocorreu em
Genebra durante o período em que Calvino lá vivia e trabalhava. Aquilo foi um erro,
admitido por todos. A história conhece somente um ser sem quaisquer manchas -- o
Salvador dos pecadores. Todos, todos os demais têm marcas, de defeitos ou de
fraquezas, que proíbem a sua idolatria.
No entanto, Calvino tem sido freqüentemente criticado com severidade indevida,
como se a responsabilidade fosse sua somente, quando a bem da verdade Servetus
passou por um julgamento de tribunal que durou mais de dois meses e foi sentenciado
numa sessão do Conselho municipal, de conformidade com as leis que eram então
reconhecidas em toda a Cristandade. E longe de incentivar a aplicação mais severa da
sentença, Calvino implorou que a espada substituísse o fogo, no que foi derrotado.
Calvino e os homens da sua época não devem ser julgados estrita e unicamente pelos
padrões avançados do nosso século vinte, mas devem sê-lo à luz da situação no seu
próprio século dezesseis. Temos visto grandes desenvolvimentos no que se refere à
tolerância civil e religiosa, reforma penitenciária, abolição da escravidão e do tráfico
de escravos, feudalismo, caça e queima de bruxas, melhoria das condições dos pobres
e etc., o que são resultados posteriores mas genuínos dos ensinamentos Cristãos. O
erro daqueles que advogaram e praticaram o que hoje seria considerado intolerância,
era o erro geral da época. Não deveria, com justiça, ser permitido dar uma impressão
desfavorável dos seus caracteres e dos seus motivos; e muito menos deveria ser
permitido o nosso preconceito contra as suas doutrinas em assuntos outros e mais
importantes.
Os Protestantes haviam recém se libertado do jugo de Roma e na sua luta para
defenderem-se eles foram muitas vezes forçados a lutar contra a intolerância com
intolerância. Durante os séculos dezesseis e dezessete, a opinião pública em todas as
nações Européias justificavam o direito e o dever dos governos civis para proteger e
amparar a ortodoxia e para punir a heresia, sustentando que hereges obstinados e
blasfemos deveriam ser tornados inofensivos com a morte, se necessário. Os
Protestantes diferiam dos Romanistas principalmente na definição de heresia; e numa
moderação maior na punição dela. A heresia era considerara um pecado contra a
sociedade; em alguns casos pior que homicídio; pois enquanto o suicídio destruía
somente o corpo, a heresia destruía também a alma. Hoje, nos direcionamos para o
outro extremo; e a opinião pública manifesta uma indiferença permissiva para com a
verdade ou o erro. Durante o século dezoito, o reino da intolerância foi gradualmente
minado. A Inglaterra e a Holanda Protestantes lideraram o estender da liberdade civil
e religiosa; e a Constituição dos Estados Unidos completou a teoria, colocando todas
as denominações Cristãs em paridade perante a lei e ao garantir-lhe o completo
desfrutar de direitos iguais.
A conduta de Calvino com relação a Servetus foi completamente aprovada por todos
os Reformadores líderes da época. Melancton, a cabeça teológica da Igreja Luterana,
total e repetidamente justificou a conduta de Calvino e do Conselho de Genebra; e até
mesmo os apontou como modelos para serem seguidos. Quase que um ano após a
morte de Servetus ele escreveu a Calvino: "Eu li o seu livro, no qual você refutou
ardentemente as blasfêmias horríveis de Servetus .... A você a Igreja agora deve
gratidão, e continuará a dever, até a última posteridade. Eu concordo plenamente com
a sua opinião. Também afirmo que os seus magistrados agiram corretamente ao punir,
depois de um julgamento normal, este homem blasfemo." Bucer, classificado como
ocupante do terceiro lugar entre os Reformadores na Alemanha, Bullinger, o amigo
chegado e digno sucessor de Zuínglio, tanto quanto Farel e Beza na Suíça, apoiaram
Calvino. Lutero e Zuínglio já haviam morrido na época e pode ser questionado se eles
teriam ou não aprovado esta execução, embora Lutero e os teólogos de Wittenberg
tivessem aprovado as sentenças de morte para alguns Anabatistas na Alemanha, a
quem eles consideravam hereges perigosos, -- acrescentando ser cruel puni-los,
porém mais cruel seria permitir que continuassem arruinando o ministério da Palavra
e destruindo o reino do mundo; e Zuínglio não teve objeções quanto à sentença de
morte contra um grupo de seis Anabatistas na Suíça. A opinião pública passou por
uma grande mudança com relação a este evento; e a execução de Servetus, que foi
totalmente aprovada pelos melhores homens do século dezesseis encontra-se
completamente fora de harmonia com os pensamentos no nosso século vinte.
Como dito anteriormente, a Igreja Católica Romana neste período era
desesperadamente intolerante para com os Protestantes; e os Protestantes, até
determinado ponto e de maneira defensiva, foram forçados a seguir o exemplo
daqueles. Com relação às perseguições Católicas, Philip Schaff escreve o seguinte:
"Precisamos somente referirmo-nos às cruzadas contra os Albigenses e Waldenses,
que foram sancionadas por Inocêncio III, um dos maiores e melhores papas; às
torturas e os autos da fé da Inquisição Espanhola, que foram celebrados com
festividades religiosas; e aos cinqüenta mil ou mais Protestantes que foram
executados durante o reinado do Duque de Alva nos Países Baixos (1567-1573); as
várias centenas de mártires que foram queimados em Smithfield sob o reinado de
bloody Mary; e as repetidas perseguições no atacado, de Waldenses inocentes na
França e em Piedmont, os quais choravam ao céu por vingança. É em vão jogar a
responsabilidade sobre o governo civil. O papa Gregório XIII comemorou o massacre
de São Bartolomeu não somente com um Te Deum nas igrejas de Roma, mas mais
deliberadamente e permanentemente com uma medalha que representa 'A Matança
dos Huguenotes' por um anjo de ira." 59
E então o Dr. Schaff continua: "A Igreja Romana perdeu o poder, e a uma grande
extensão também a disposição, para perseguir pelo fogo e pela espada. Alguns dos
seus mais altos dignatários francamente repudiam o princípio da perseguição,
especialmente na América, onde eles desfrutam de todos os benefícios da liberdade
religiosa. Mas a cúria Romana nunca repudiaram oficialmente a teoria na qual a
prática da perseguição está baseada. Ao contrário, vários papas desde a Reforma têm-
na endossado ......... O papa Pio IX, no Syllabus de 1864, expressamente condenou,
entre os erros desta época, a doutrina da liberdade e da tolerância religiosa. E este
papa foi declarado ser oficialmente infalível pelo decreto do Vaticano em 1870, o
qual também abrange todos os seus predecessores (não obstante o perversamente
irracional caso de Honório I) e todos os seus sucessores no trono de São Pedro" (p.
669). E em outro lugar, o Dr. Schaff acrescenta, "Se os Romanistas condenaram
Calvino, eles o fizeram da hostilidade do homem; e o condenaram por haver seguido
o seu próprio exemplo, mesmo neste caso em particular."
Servetus era Espanhol e opunha-se ao Cristianismo, fosse na forma Católica Romana
ou Protestante. Schaff refere-se a ele como "um incansável fanático, um panteísta
pseudo reformador, e o herege mais audacioso e mesmo blasfemo, do século
dezesseis". 60 E em outra ocasião, Schaff declara que Servetus era "orgulhoso,
desafiador, contencioso, vingativo, de linguajar irreverente, enganador e falso"; e
acrescenta que ele abusou dos Reformadores tanto quanto do papado, com linguagem
irracional. 61 Bullinger declara que se o próprio Satã viesse do inferno, ele não
poderia usar linguagem mais blasfema contra a Trindade do que este Espanhol. O
Católico Romano Bolsec, na sua obra sobre Calvino, chama Servetus de "um homem
muito arrogante e insolente", "um monstro herege", que mereceu ser exterminado.
Servetus havia fugido para Genebra procedente de Vienne, na França, e enquanto o
julgamento em Genebra estava em progresso, o Conselho municipal recebeu uma
mensagem dos juizes Católicos em Vienne, juntamente com uma cópia da sentença
de morte que lá havia sido passada contra ele, solicitando que ele fosse enviado de
volta de forma que a sentença pudesse ser executada nele próprio, uma vez que já
havia sido executada nos seus livros e na sua efígie. Esta solicitação o Conselho
recusou, mas prometeu fazer justiça completa no caso. O próprio Servetus preferiu
ser julgado em Genebra, uma vez que ele somente podia vislumbrar uma pira
funerária esperando por ele em Vienne. A comunicação de Vienne provavelmente fez
com que o Conselho em Genebra se tornasse mas zeloso pela ortodoxia, uma vez que
eles não desejavam estar atrás da Igreja Romana, naquele aspecto.
Antes de ir para Genebra, Servetus havia se recomendado à atenção de Calvino,
através de uma longa série de cartas. Por um tempo Calvino respondeu a estas em
considerável detalhe, mas vendo que nenhum resultado satisfatório estava sendo
alcançado, ele parou de responde-las. Servetus, no entanto, continuou a escrever e as
suas cartas passaram a ter um tom de maior arrogância e até mesmo de insulto. Ele
considerava Calvino como o papa do Protestantismo ortodoxo, a quem ele estava
determinado a converter ou destruir. Na época em que Servetus veio a Genebra, o
partido Libertino, que era em oposição a Calvino, estava no controle do Conselho
municipal. Aparentemente Servetus planejava ingressar neste partido e assim
expulsar Calvino. Ao que parece, Calvino previu este perigo e não estava disposto a
permitir que Servetus propagasse os seus erros em Genebra. Daí é que ele considerou
seu dever desarmar homem tão perigoso; e determinou-se a traze-lo ou a uma
retratação ou à punição merecida. Servetus foi prontamente preso e trazido à corte.
Calvino conduziu a parte teológica do julgamento e Servetus foi condenado de
heresia fundamental, falsidade e blasfêmia. Durante o longo julgamento, Servetus
encorajou-se e tentou sobrepor-se a Calvino, derramando sobre ele injúrias do tipo
mais vulgar. 62 O resultado do julgamento foi deixado para o Conselho municipal,
que promulgou a sentença de morte na fogueira. Calvino fez um apelo infrutífero
para que a espada substituísse a fogueira; pelo que então a responsabilidade final pelo
queimar na fogueira fica com o Conselho.
O Dr. Emilé Doumergue, autor de 'Jean Calvin', que é além de qualquer comparação a
obra mais exaustiva e autoritária jamais publicada sobre Calvino, tem o seguinte a
dizer sobre a morte de Servetus: "Calvino fez com que Servetus fosse preso quando
ele chegou a Genebra, e apareceu como seu acusador. Ele o queria condenado à
morte, mas não morte na fogueira. Em 20 de Agosto de 1553, Calvino escreveu para
Farel: 'Eu espero que Servetus seja condenado à morte, mas desejo que ele fosse
poupado da crueldade do castigo' -- ele se referia à crueldade da fogueira. Farel
respondeu-lhe em 08 de Setembro: 'Eu não aprovo muito o sentimentalismo do
coração', e segue adiante ao alertá-lo para ser cuidadoso que 'ao desejar que a
crueldade do castigo de Servetus seja aliviada, estais agindo como amigo para com
um homem que é vosso maior inimigo. Mas rogo a ti que te conduzas de tal maneira
que, no futuro, ninguém terá a ousadia de publicar tais doutrinas, e causar problemas
com impunidade por tanto tempo quanto este homem tem feito'.
"Calvino, neste sentido, não mudou de opinião, mas ele não podia faze-la prevalecer.
Em 29 de Outubro ele escreveu novamente a Farel: 'Amanhã Servetus será executado.
Nós fizemos o nosso melhor para mudar o tipo da morte, mas em vão. Quando nos
encontrarmos contar-te-ei por que não tivemos sucesso'. (Opera, XIV, pp. 509, 613-
657).
Assim, com o que Calvino é mais desaprovado -- a morte de Servetus na fogueira --
ele era diametralmente contra. Ele não é responsável por isto. Ele fez o que ele podia
fazer para salvar Servetus da pira. Mas, que reprimendas, mais ou menos eloqüentes,
para o que esta pira com as suas chamas e fumaça abriram espaço! A verdade é que
sem a pira, sem a fogueira, a morte de Servetus teria quase que passado
despercebida."
Doumérgue vai além, ao dizer-nos que a morte de Servetus foi "o erro da época, um
erro pelo qual Calvino não era particularmente responsável. A sentença de
condenação à morte foi pronunciada somente após as Igrejas Suíças haverem sido
consultadas, várias das quais estavam longe de um bom relacionamento com Calvino
(mas todas elas deram o seu consentimento) ..... Além do mais, o julgamento foi
pronunciado por um Conselho municipal no qual, os inimigos inveterados de
Calvino, os do pensamento livre, eram a maioria." 63
Que o próprio Calvino rejeitou a responsabilidade está claro nos seus escritos
posteriores. "Desde o tempo em que Servetus foi culpado de sua heresia", disse ele,
"eu não manifestei uma palavra sequer sobre o seu castigo, como todos homens
honestos testemunharão". 64 E em uma das suas últimas respostas a um ataque que
havia sido feito contra ele, ele diz: "Por que ato particular meu você me acusa de
crueldade, eu estou ansioso para saber. Eu mesmo sei nada sobre tal ato, a menos que
seja com referência à morte do seu grande mestre Servetus. Mas que eu mesmo
sinceramente me empenhei para que ele pudesse não ser posto à morte, seus próprios
juizes são testemunhas, dentre os quais haviam dois que eram seus verdadeiros
favoritos e defensores". 65
Antes da prisão de Servetus e durante as primeiras etapas do julgamento, Calvino
advogou a pena de morte, baseando seu argumento principalmente na lei Mosaica,
que era "E aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente será morto; toda a
congregação certamente o apedrejará. Tanto o estrangeiro como o natural, que
blasfemar o nome do Senhor, será morto."[Levítico 24:16] -- uma lei a qual Calvino
considerava tão unificador como o decálogo; e aplicável também à heresia. Todavia
ele deixou o aplicar da sentença inteiramente ao Conselho municipal. Ele considerava
Servetus o maior inimigo da Reforma e acreditava honestamente ser direito e
obrigação do Estado punir aqueles que ofendessem a Igreja. Ele também sentia-se
providencialmente chamado para purificar a Igreja de todas corrupções, e até o dia da
sua morte ele nunca mudou seus pontos de vista nem arrependeu-se da sua conduta
com relação a Servetus.
O Dr. Abraham Kuyper, o teólogo estadista da Holanda, ao falar para uma audiência
Americana não muitos anos atrás, expressou alguns pensamentos nesta conexão, os
quais são dignos de repetirmos. Disse ele: "A tarefa do governo de extirpar cada
forma de falsa religião e de idolatria não era uma descoberta do Calvinismo, mas data
desde os tempos de Constantino o Grande e foi a reação contra as horríveis
perseguições as quais seus predecessores pagãos no trono Imperial tinham infligido
sobre o grupo do Nazareno. Desde aquele dia este sistema tem sido defendido por
todos os teólogos Romanos e aplicados por todos príncipes Cristãos. No tempo de
Lutero e Calvino, era uma convicção universal de que aquele sistema era o
verdadeiro sistema. Cada teólogo famoso daquele período, Melancton primeiro de
todos, aprovou a morte de Servetus na fogueira; e o patíbulo erigido pelos Luteranos,
em Leipsig, para Kreel, Calvinista absoluto; era infinitamente mais repreensível,
quando visto do ponto de vista Protestante.
Mas enquanto os Calvinistas, na idade da Reforma, renderam-se como mártires,
dezenas de milhares deles, no patíbulo ou na estaca (dificilmente valendo a pena
contar as dos Luteranos e dos Católicos Romanos), a história tem sido culpada da
injustiça enorme e de longo de sempre trazerem nos dentes esta uma execução na
fogueira, de Servetus, como sendo um 'crimen nefandum'.
"Não obstante tudo isso eu não somente deploro aquela sentença, mas eu a desaprovo
incondicionalmente; todavia não como se fosse a expressão de uma característica
especial do Calvinismo, mas ao contrário como o fatal efeito posterior de um sistema,
grisalho com a idade, o qual o Calvinismo encontrou em existência, sob o qual o
Calvinismo cresceu, e do qual o Calvinismo ainda não tinha sido capaz de libertar-se
por completo." 66
Portanto, quando estudamos esta ocorrência à luz do século dezesseis e consideramos
estes aspectos diferentes do caso, -- nominalmente, a aprovação de outros
reformadores, a opinião pública que aborrecia a tolerância como envolvendo
indiferença para com a verdade e que justificava a pena de morte para a blasfêmia e a
heresia obstinada, a sentença também promulgada a Servetus pelas autoridades
Católicas Romanas, o caráter de Servetus e a sua atitude para com Calvino, sua ida a
Genebra com o propósito de causar problemas, o fato de a sentença haver sido
promulgada por uma corte civil fora do controle de Calvino; e o apelo de Calvino
para uma forma de punição mais branda, -- chegamos à conclusão de que houveram
numerosas circunstâncias atenuantes, e que o que quer que seja dito adicionalmente,
o próprio Calvino agiu a partir de um estrito sentido de justiça. Analise-o de qualquer
ângulo que queira; pinte-o como Cromwell pediu que fosse ele mesmo pintado --
"defeitos e tudo o mais" -- e, como disse Schaff, "Ele melhora com o
relacionamento". Ele foi, além de qualquer questionamento, um enviado de Deus, um
encorajador; tal como aparecem somente algumas poucas vezes na história do
mundo.

11. CONCLUSÃO.
Nós examinamos o sistema teológico Calvinista em considerável detalhe; e vimos a
sua influência na Igreja, no Estado, na sociedade e na educação. Também
consideramos as objeções que são usualmente feitas contra ele; e consideramos a
importância prática do sistema. Resta-nos agora fazer algumas observações gerais
com relação ao sistema como um todo.
Um teste certo do caráter de indivíduos ou de sistemas é encontrado nas próprias
palavras de Cristo: "Pelo seu fruto os conhecereis". Por aquele teste os Calvinistas e o
Calvinismo terão prazer em serem julgados. As vidas e as influências daqueles que
sustentaram a Fé Reformada é um dos melhores e mais conclusivos argumentos em
seu favor. Smith refere-se "ao Calvinismo exuberante e divinamente vital, o criador
do mundo moderno, a mãe de heróis, de santos e de mártires em número inumerável,
cuja história, julgando a árvore pelos frutos, coroa como o maior credo da
Cristandade." 67 O veredito imparcial da história é que como formador de caráter e
como proclamador de liberdade a homens e nações, o Calvinismo mantém-se
supremo entre todos os sistemas religiosos de mundo. Ao chamar a lista dos grandes
homens do nosso próprio país, o número de presidentes, legisladores, juristas,
autores, editores, professores e homens de negócio Presbiterianos e vastamente
desproporcional ao número de membros da Igreja. Todo historiador imparcial
admitirá que foi a revolta protestante contra Roma que deu ao mundo moderno o
primeiro gosto da genuína religião e liberdade civil; e que as nações que alcançaram e
desfrutaram da maior das liberdades foram aquelas que foram mais completamente
trazidas sob a influência do Calvinismo. Ainda mais que o Calvinismo fez fluir sobre
as planícies da história moderna aquela grande torrente vivificante da liberdade civil
e religiosa. Quando comparamos países tais como Inglaterra, Escócia e América, com
países tais como França, Espanha e Itália, que nunca vieram a estar sob a influência
do Calvinismo, prontamente vemos quais são os resultados práticos. A depressão
moral e econômica em países Católicos Romanos trouxe tal diminuição até mesmo na
taxa de natalidade, que a população naqueles países tornou-se quase que estacionária,
enquanto que a população naqueles outros países tem mostrado crescimento estável.
Uma análise breve da história da Igreja, ou dos credos históricos do Protestantismo,
também logo nos mostra que as doutrinas que hoje são conhecidas como Calvinismo
foram as que foram trouxeram a Reforma e que preservaram os seus benefícios.
Quem estiver familiarizado com a história da Europa e da América prontamente
concordará com a brilhante declaração do Dr. Cunningham que, "depois de Paulo,
João Calvino fez muito pelo mundo". E o Dr. Smith disse muito bem: "Certamente
que deveria fechar as bocas dos que falam mal do Calvinismo, lembrar que dos
homens daquele credo nós herdamos, como os frutos do seu sangue e do seu esforço,
de suas preces e dos seus ensinamentos; a nossa liberdade civil, a nossa fé
Protestante, os nossos lares Cristãos. O leitor pensativo, ao notar que estas três
bênçãos repousam na raiz de tudo o que é de melhor e maior no mundo moderno,
pode surpreender-se com a reivindicação implícita de que a nossa presente civilização
Cristã nada mais é que a frutificação do Calvinismo." 68
Somente repetimos o testemunho muito claro da história, quando dizemos que o
Calvinismo foi o credo de santos e de heróis. "Qualquer que seja a causa", diz
Froude, "os Calvinistas foram os únicos Protestantes que combateram. Foram eles
cuja fé deu-lhes coragem para levantar-se pela Reforma, e não fosse por eles a
Reforma teria sido perdida." Durante aqueles séculos nos quais a tirania espiritual
enumerava as suas vítimas aos milhares; quando na Inglaterra, na Escócia, na
Holanda e na Suíça o Protestantismo tinha de manter-se pela espada, o Calvinismo
provou-se o único sistema capaz de enfrentar e destruir os grandes poderes da Igreja
Romana. Seu pelotão inigualável de mártires é uma das suas coroas de glória. No
discurso da Conferência Metodista à Aliança Presbiteriana de 1896, foi
graciosamente dito: "Sua Igreja proporcionou o espetáculo memorável e inspirador,
não simplesmente o de uma alma heróica aqui e ali, mas o de gerações de almas
fervorosas prontas a irem alegremente para a prisão ou mesmo para a morte pelo
benefício de Cristo e da Sua verdade. Esta rara honra vocês corretamente estimam
como a parte mais preciosa da sua herança que não tem preço." "Não há nenhum
outro sistema de religião no mundo", diz McFetridge, que tenha tal conjunto de
mártires pela fé. "Quase que todo homem e mulher que caminharam nas chamas, ao
invés de negar a sua fé ou de deixar uma mancha na consciência, foi na verdade o
seguidor ou a seguidora devotos, não somente, e acima de tudo do Filho de Deus,
mas também daquele ministro de Deus, que fez de Genebra a luz da Europa, João
Calvino." 69 "À divina vitalidade e frutificação deste sistema o mundo moderno tem
um débito de gratidão, débito este o qual em anos recentes o mundo está
vagarosamente começando a reconhecer, mas que nunca poderá pagar.
Dissemos que a teologia Calvinista desenvolve um povo amante da liberdade. Onde
ela floresce, o despotismo não consegue existir. Como seria de se esperar, ela cedo
fez com que uma forma revolucionária de governo de Igreja aparecesse, na qual o
povo da Igreja seria governado e ministrado, não por aqueles apontados por algum
homem ou conjunto de homens que se situassem acima deles, mas por pastores e por
oficiais eleitos por eles próprios. A religião estava então com o povo, não sobre ele. O
testemunho de uma fonte notável quanto à eficiência deste tipo de governo é aquele
dado pelo distinto Católico Romano, Arcebispo Hughes, de Nova Iorque: "Embora
seja meu privilégio referir-me à autoridade exercida pela Assembléia Geral como
usurpação, ainda assim eu devo dizer, em coro com dada homem que tenha
conhecimento da maneira na qual ela é organizada, que pelo propósito de governo
político e popular sua estrutura é pouco inferior ao do próprio Congresso. Ela age no
princípio de um centro de irradiação, e é sem igual ou rival entre as demais
denominações do país." 70
Da liberdade e da responsabilidade na Igreja, era somente um passo para a liberdade e
para a responsabilidade no Estado; e historicamente a causa da liberdade não
encontrou campeões mais bravos ou mais resolutos do que os seguidores de Calvino.
"O Calvinismo", diz Warburton, "não é um credo teórico ou sonhador. Ele não, --
apesar de todas as asserções dos seus adversários, -- encoraja alguém a cruzar os
braços num espírito de indiferença fatalística e ignorar as necessidades daqueles à sua
volta, juntamente com os males que permanecem, como úlceras putrefatas na face da
sociedade." 71 Onde quer que o Calvinismo tenha ido, maravilhosas transformações
morais têm seguido o seu rastro. Pela pureza da vida, pela temperança, pela indústria
e pela caridade, não tem havido ninguém superior aos Calvinistas.
James Anthony Froude foi reconhecido como um dos mais capazes historiadores e
literatos Ingleses. Durante muitos anos ele foi professor de História em Oxford, a
maior universidade da Inglaterra. Enquanto ele aceitou para si outro sistema
teológico; e enquanto os seus escritos sejam tais que a ele usualmente refere-se como
um oponente do Calvinismo, ele não tinha preconceito; e os ataques ignorantes contra
o Calvinismo que tornaram-se tão comuns em anos recentes, acenderam nele a
inflamada e justa impaciência de catedrático.
"Eu vou pedir-lhes para considerarem", diz Froude, "como pode ser possível que, se o
Calvinismo for realmente o credo rude e irracional que o iluminismo moderno
declara ser, ele fosse, no passado, para alguns dos maiores homens que jamais
viveram, atraente de maneira tão singular; e como -- sendo como nos é dito, fatal para
a moralidade, por negar o livre arbítrio -- o primeiro sintoma da sua atuação, onde
quer que tenha se estabelecido, foi obliterar a distinção entre crimes e pecados, e
fazer da lei moral a regra para Estados tanto quanto para indivíduos. E devo
perguntar-lhes, novamente, por que, se este é um credo de servidão intelectual, ele foi
capaz de inspirar e de sustentar os mais bravos esforços jamais feitos pelo homem
para quebrar o jugo de autoridade injusta. Quando tudo o mais falhou, -- quando o
patriotismo cobriu sua face e a coragem humana desapareceu, -- quando o intelecto
rendeu-se, como diz Gibbon, 'com um sorriso ou um esgar', satisfeito por filosofar no
gabinete, e longe de casa cultuar com os comuns, -- quando a emoção, e o
sentimento, e aquela falsa piedade suave tornaram-se criadas da superstição, e
abstraíram-se no esquecimento de que existe uma diferença entre verdade e mentiras,
-- a forma de crença barata chamada Calvinismo, numa ou em outra das suas muitas
formas, proporcionou uma barreira tão inflexível contra a ilusão e a falsidade,
preferindo antes ser moída até o pó como o sílex, do que dobrar-se ante a violência ou
dissolver-se sob destruidora tentação."
Para ilustrar isto, Froude menciona William the Silent, Lutero, Calvino, Knox,
Coligny, Cromwell, Milton e Bunyan; e deles diz: "Estes homens são possuídos por
todas as qualidades que dão nobreza e grandeza à natureza humana, -- homens cuja
vida foi tão ereta quanto o seu intelecto era comandante e seus objetivos públicos não
maculados pelo egoísmo; inalteravelmente justos onde o dever exigia que fossem
austeros, mas com corações delicados como o coração feminino; francos,
verdadeiros, alegres, de bom humor, tão diferentes de fanáticos amargos como é
possível imaginar alguém; e capazes de alguma forma soar o diapasão em resposta ao
qual cada coração leal e valente em toda a Europa vibrava instintivamente." 72
Voltaremos agora a nossa atenção para o Calvinismo como uma força evangelizadora.
Um teste muito prático para qualquer sistema de doutrina religiosa é, "Tem ele, em
comparação com outros sistemas, provado ser um sucesso na evangelização do
mundo?" Salvar pecadores e converte-los a Deus é o propósito chefe da Igreja neste
mundo; e o sistema que não se adequar a isto deve ser posto de lado, não importa o
quão popular ele possa ser em outros aspectos.
O primeiro grande avivamento, no qual três mil pessoas converteram-se, aconteceu
depois do discurso de Pedro em Jerusalém, que empregou tal linguagem como:
"sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o
matastes, crucificando-o por mãos de iníquos."[Atos 2:23]. E a companhia dos
discípulos, em fervente oração pouco depois, falaram assim: "(27) porque
verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, o qual
ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, (28) para fazerem
tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram;"[Atos 4:27, 28]. Isto, é
Calvinismo rígido o bastante.
O próximo grande avivamento na Igreja, que ocorreu no século quatro através da
influência de Agostinho, foi baseado nestas doutrinas, como é de imediato visto por
qualquer um que leia a literatura disponível sobre aquele período. A Reforma, a qual
é admitida por todos ter sido incomparavelmente o maior dos avivamentos da
verdadeira religião desde a época do Novo Testamento, aconteceu sob os
inescusadamente Predestinatários sermões de Lutero, Zuínglio e Calvino. Para
Calvino e para o Almirante Colignyh pertence o credito de haver inspirado o primeiro
empreendimento missionário Protestante no estrangeiro, a expedição ao Brasil em
1555. É verdade que a missão provou ser infrutífera; e as guerras religiosas na Europa
tornaram a repetição da missão inviável por um período considerável.
McFetridge nos deu alguns fatos interessantes e comparativamente desconhecidos a
respeito do crescimento da Igreja Metodista. Ele diz: "Falamos do começo da Igreja
Metodista haver acontecido num avivamento. E assim foi. Mas o primeiro e principal
ator naquele avivamento não foi Wesley, mas Whitefield (um Calvinista não
comprometido). Embora mais jovem que Wesley, foi ele o primeiro a ir à frente,
pregando nos campos e reunindo multidões de seguidores; e levantando fundos e
construindo igrejas. Foi Whitefield quem invocou os dois Wesleys para ajudar-lhe. E
ele teve de usar de muita argumentação e persuasão para sobrepor-se aos seus
preconceitos contra o movimento. Whitefield começou a grande obra em Bristol e
Kingswood; e teve milhares caminhando ao seu lado, prontos para serem organizados
em igrejas, quando ele apelou a Wesley por ajuda. Wesley, com todo o seu zelo, bem
que era um Alto Clérigo, sob muitos dos seus pontos de vista. Ele cria na imersão
mesmo das crianças; e demandava que dissidentes fossem re-batizados antes de
serem novamente aceitos na Igreja. Ele não podia sequer imaginar uma pregação em
qualquer lugar que não fosse numa igreja. 'Ele devia pensar', como ele disse, 'que a
salvação de almas fosse quase um pecado, se não fosse feita numa igreja'. Assim,
quando Whitefield chamou John Wesley para juntar-se a ele no movimento popular,
ele retrocedeu. Finalmente, ele rendeu-se à persuasão de Whitefield, mas, ele
permitiu-se ser guiado em sua decisão pelo que muitos qualificariam de superstição.
Ele e Charles primeiro abriram suas Bíblias ao acaso para ver se seus olhares
recairiam em algum texto que pudesse decidir por eles. Mas os textos eram todos
estranhos ao assunto. Então eles recorreram ao sortilégio, e jogaram sortes para
decidir sobre o assunto. Aconteceu de sair a sorte marcada por ele como consentindo
na empreitada, então ele aceitou-a. Assim, ele foi levado a aceitar desde então a obra
com a qual o seu nome tem sido tão intimamente e honoravelmente associado.
Tanto devia o movimento Metodista a Whitefield, que ele era chamado de 'o
estabelecedor Calvinista do Metodismo', e até o fim da sua vida ele permaneceu
como o representante disto aos olhos do mundo. Walpole, em suas Cartas, fala
somente uma vez de Wesley com relação ao aparecimento do Metodismo, enquanto
que ele freqüentemente menciona Whitefield, relacionando-o com o tema. Mant, no
desenrolar das suas palestras contra o Metodismo, fala dele como um tema
inteiramente Calvinista. nem o mecanismo ou a força que fez com que o Metodismo
aparecesse e se levantasse originou-se com Wesley. As Pregações ao ar livre, que
deram ao movimento Metodista como um todo a característica de agressividade; e o
armasse e o capacitasse para fazer frente às agências poderosas que se armaram
contra ele, começou com Whitefield, enquanto que 'Wesley encontrava-se confinado
à relutância.' Na linguagem polida, do tempo em que 'Calvinismo' e 'Metodismo'
eram termos sinônimos, e os Metodistas eram chamados 'outra faceta dos
Presbiterianos.'.....
"Foi o Calvinismo, e não o Arminianismo, que originou (tanto quanto qualquer
sistema de doutrina originou) o grande movimento religioso no qual a Igreja
Metodista nasceu.
"Portanto, enquanto Wesley deve ser honrado por seu trabalho em nome daquela
Igreja, não devemos nos esquecer do grande Calvinista, George Whitefield, que deu
àquela Igreja seus começos e o seu caráter mais distintivo. Tivesse ele vivido mais
tempo, e não se afastado do pensamento de ser o fundador de uma Igreja, muito
diferente teriam sido os resultados das suas labutas. Como foi, ele reuniu
congregações para que outros organizassem em Igrejas, e construiu templos para que
outros pregassem neles." 73
Neste ponto, deveria ser dito que Wesley acreditava em bruxarias. Deixar de acreditar
em bruxas ser-lhe-ia creditado como uma concessão para infiéis e racionalistas.
Muitos dos seus biógrafos passaram por este assunto em silêncio, embora alguns
deles, muito amigavelmente para com a sua causa tenham admitido que ele declarou
as suas crenças com palavras que não podem ser incompreendidas. No seu diário,
lemos este relato de uma garota que estava sofrendo convulsões: "Quando perguntado
qual era o problema com ela, o velho Doutor Alexander respondeu, 'É o que
antigamente eles chamariam estar enfeitiçada'. E por que eles não chamariam assim
hoje? Porque os infiéis gritaram e espantaram a feitiçaria do mundo; e os Cristãos
complacentes, em grande número, uniram-se a eles nos seus gritos." Embora Calvino
tivesse vivido como duzentos e vinte e cinco anos antes de Wesley e não tivesse as
vantagens do progresso intelectual e científico que foi conquistado naquele período,
não encontramos nele esta estranha credulidade. Seus escritos são não somente
isentos de brucharias, mas contém numerosos alertas contra tal crença.
O famoso Batista Inglês Charles Hadden Spurgeon (1834 - 1892), um dos maiores
pregadores do mundo, pronunciou-se como segue:
"Eu nunca me envergonho de apresentar-me publicamente como um Calvinista. Eu
não hesito em tomar o nome de Batista; mas se for perguntado o que é o meu credo,
eu respondo, 'É Jesus Cristo.' "
E de novo, "Muitos dos nossos pregadores Calvinistas não alimentam o povo de
Deus. Eles crêem na eleição, mas não pregam sobre ela. Eles consideram verdadeira a
redenção particular, mas guardam-na do cofre do seu credo e nunca a proclamam
abertamente no seu ministério. Eles sustentam a perseverança final, mas eles
perseveram em manterem-se calados a respeito. Eles acham que existe coisa tal como
chamada eficaz, mas eles não acham que sejam chamados freqüentemente para
pregar a respeito. A grande falta que encontramos neles é que eles não falam
abertamente sobre o que crêem. Você não saberia, se os ouvisse cinqüenta vezes, se
as doutrinas de que falaram eram doutrinas do Evangelho, ou qual era o seu sistema
de salvação. E assim é que o povo de Deus passa fome."
Quando passamos ao estudo de missões estrangeiras, vemos que este sistema de
crença tem sido a agência mais importante na multiplicação do Evangelho para
nações pagãs. St. Paul, quem os oponentes mais liberais do Calvinismo admitem ter
sido responsável pela casta Calvinista do pensamento teológico da Igreja, foi o maior
e mais influente dos missionários. Se enumeramos o time de heróis de Missões
Protestantes, vemos que quase que sem exceção eles foram discípulos de Calvino.
Encontramos Carey e Martin na Índia, Livingstone e Moffat na África, Morrison na
China, Paton nos Mares do Sul; e uma multidão de outros. Estes homens professavam
e possuíam um Calvinismo não estático, mas dinâmico; não era somente o seu credo,
mas a sua conduta.
E com relação a missões estrangeiras, o Dr. F. W. Loetscher disse: "Embora como
todas nossas Igrejas irmãs nós tenhamos motivos para, à vista dos nossos recursos
sem precedentes e da necessidade gritante das terras pagãs, lamentar que não
tenhamos conseguido mais, podemos pelo menos agradecer a Deus que os nossos
venerados pais começaram tão bem, ao estabelecer missões em todo o mundo; que as
Igrejas Calvinistas hoje em dia ultrapassam todas as demais nas suas contribuições
para esta causa; e em particular que a nossa própria denominação tenha a honra e o
privilégio ímpares de descarregar as suas responsabilidades de longo alcance por
realmente confrontar cada uma das grandes religiões não Cristãs, e pregar o
Evangelho em mais continentes, e entre mais nações, povos e línguas, do que
qualquer outra Igreja evangélica no mundo." 74
Embora para alguns possa parecer como um exagero injustificável, não hesitamos
dizer que através dos séculos o Calvinismo, destemidamente e com polêmico alarde
na sua insistência pela, e na defesa da sã doutrina, tem sido a verdadeira força da
Igreja Cristã. Os padrões tradicionalmente elevados das Igrejas Calvinistas com
relação à cultura e ao treinamento ministerial, têm propiciado uma grande seara no
trazer as multidões até os pés de Jesus, não em excitação efêmera, mas num pacto
perpétuo. A julgar pelos frutos, o Calvinismo tem se provado ser incomparavelmente
a maior força evangelizadora no mundo.
Os inimigos do Calvinismo não são capazes de honestamente confrontar o
testemunho da história. Certamente que um recorde glorioso pertence a este sistema
teológico, na história da civilização moderna. Nenhum mais nobre pode ser
encontrado em qualquer lugar. "Tem sido um mistério constante para os assim
chamados liberais", diz Henry Ward Beecher, "que os Calvinistas, com o que eles
consideram doutrinas e pontos de vista rígidos e toscamente déspotas, fossem sempre
os defensores mais ferrenhos e mais bravos da liberdade. O operar para a liberdade,
destes severos princípios nas mentes de todos aqueles que os adotaram tem sido um
mistério. Mas a verdade está aqui: O Calvinismo tem feito o que nenhuma outra
religião jamais foi capaz de fazer. Ele apresenta o mais alto ideal humano para o
mundo, e elimina totalmente a estrada para a destruição, com a bateria mais poderosa
que se possa jamais imaginar.
"O Calvinismo intensifica, além de todos exemplos, a individualidade do homem e
mostra, numa luz clara e super potente, a sua responsabilidade para com Deus e suas
relações com a eternidade. Ele aponta o homem como adentrando à vida sob o peso
duma tremenda responsabilidade, tendo na sua marcha em direção ao túmulo, este
único consolo -- da segurança do céu e do livramento do inferno.
"Assim o Calvinista vê o homem pressionado, incomodado, exortado, pelas forças
mais poderosamente influentes. Ele está na marcha para a eternidade, e cedo deverá
estar sendo coroado no céu ou queimando no inferno, e assim continuará por toda a
eternidade. Quem ousará deter tal criatura? Saia do seu caminho! Não interfira, ou
faça-o com o risco da sua própria alma. Deixe-o livre para encontrar o seu caminho
para Deus. Não interfira com ele ou com os seus direitos. Deixe-o operar a sua
própria salvação conforme puder. Não se pode pressionar ou empurrar uma criatura
que esteja em tal corrida como esta -- uma corrida cujo final será a glória eterna ou a
inalterável danação para sempre e sempre." 75
"Esta árvore", para adotar o parágrafo eloqüente de outro, "pode ter, aos olhos
preconceituosos, a casca muito grossa, o tronco cheio de nós e galhos feios
retorcidos, conferindo-lhe formas totalmente sem graciosidade. Mas, lembre-se, não
estamos falando de salgueiros de outrora. Estes galhos foram retorcidos com a força
de tempestades sofridas por mil anos; este tronco foi marcado por relâmpagos e
ganhou cicatrizes das faíscas e dos desastres; e a casca em toda sua extensão traz as
marcas do machado de batalha e das balas. Este velho carvalho não tem a graça
maleável ou a maciez aveludada de uma planta de estufa, mas tem uma majestade
acima da graciosidade, e uma grandeza além da beleza. Suas raízes podem ser
estranhamente retorcidas, mas algumas delas foram enriquecidas com o sangue de
gloriosos campos de batalha, algumas delas enrodilharam-se ao redor de estacas
fincadas para o suplício e morte de mártires; algumas delas podem estar agora
escondidas em celas de prisões ou em bibliotecas vazias, onde grandes pensadores
meditaram e oraram profundamente, como numa Patmos apocalíptica; e esta grande
raiz muda de rumo até torcer-se, envolvendo e abraçando amorosamente a cruz do
Calvário. Os seus galhos podem ser retorcidos, mas eles vestem-se com tudo o quanto
é mais rico e mais forte na civilização e no Cristianismo da história humana." 76
A medida em que pesquisamos este sistema, sentimo-nos como alguém defronte ao
manual de um grande órgão. Nossos dedos tocam as teclas, e toque após toque vamos
abrindo os registros, até que todo o coro responda, numa grande harmonia. O
Calvinismo toca a música da vida, porque primeiro e acima de tudo busca o Criador e
O encontra em todos lugares. Ou de novo, como se estivéssemos fora, no espaço; a
grande redoma celestial sobre nós, a extrema expansão da eternidade em toda a volta
das nossas almas e acima de tudo, está DEUS. Ou de novo, se encontrássemo-nos,
como se fosse, sobre rochedos; o descampado às nossas costas, uma ravina à nossa
frente, o poderoso rio do tempo com sua torrente em direção à eternidade, o sol no
zênite sobre nós, tudo em radiante luz e calor, e a um primeiro sussurro, nossas almas
ecoam de volta as palavras, "Ó profundidade da riqueza!" Pois o Calvinismo nos
mostra Deus e segue Suas pegadas, -- Deus, em toda a Sua grandeza, em toda a Sua
majestade, em toda a Sua sabedoria, em toda a Sua justiça, em todo o Seu amor. O
Calvinismo nos mostra Deus alto e elevado; e nossas almas clamam novamente, 'que
é o homem, para que te lembres dele?'[Salmo 8:4]."
Não se trata de um elogio vão e vazio ao Calvinismo. Com os fatos e observações
acima, cada leitor da história, esclarecido e imparcial, concordará. Ademais, o autor
deseja dizer deste livro o que o Dr. E. W. Smith disse no seu livro "O Credo dos
Presbiterianos", no final do capítulo I - "O Credo Testado Pelos Seus Frutos", --
nominalmente que estes fatos e observações são "apresentados, não para estimular
vaidade denominacional, mas para encher-nos com gratidão a Deus por aquela
história passada e aquele eminência do presente, que deveria ser para cada um de nós.
'Um terreno vantajoso para a nobreza'; e acima de tudo, atiçar nos nossos corações
um entusiasmo santo por aquele sistema Divino da verdade, o qual, sob Deus, tem
sido o fator mais importante na construção da América e do mundo moderno."
Para concluir, diríamos que o leitor encontrou neste livro uma divindade bem antiga
-- divindade tão antiga quanto a Bíblia, tão antiga e mais antiga que o próprio mundo,
uma vez que este plano de redenção estava oculto nos eternos conselhos de Deus.
Nenhuma tentativa foi feita para ocultar o fato de que as doutrinas advogadas e
defendidas nestas páginas são verdadeiramente maravilhosas e verdadeiramente
impressionantes. Elas são suficientes para eletrizar o pecador adormecido que
presumiu durante toda a sua vida que poderia 'ajeitar as coisas' com Deus a qualquer
momento que lhe convenha; e estas doutrinas são suficientes para horrorizar o "santo"
adormecido que tem se iludido na tranqüilidade amortecida de uma religião carnal.
Mas por que não deveriam elas causar espanto? As maravilhas não abundam na
natureza? Porque não revelação? Uma pessoa precisa ler somente um pouco para ver
de que a Ciência traz à luz muitas verdades assombrosas que alguém não instruído
acha difícil, senão impossível de acreditar; então por que não deveria ser assim
também com relação às verdades de Revelação e aquele espiritualmente sem
instrução? Se o Evangelho não atemorizar e assustar e maravilhar um indivíduo
quando lhe apresentado, então não se trata do verdadeiro Evangelho. Mas quem
jamais maravilhou-se com o Arminianismo, com a sua doutrina de que cada homem
constrói o seu próprio destino? Não satisfará, simplesmente ignorar ou ridicularizar
estas doutrinas, como muitos estão inclinados a fazer. A questão é, Estas doutrinas
são verdadeiras? Se elas são verdadeiras, por que ridicularizá-las? Se elas não são
verdadeiras, refute-as. Terminamos com a declaração de que este grandioso sistema
de religião, pensamento o qual carrega o nome de Calvino, não é nada mais e nada
menos que a esperança do mundo.

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