Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Doutrina Reformada Da Predestinacao Loraine Boettner PDF
A Doutrina Reformada Da Predestinacao Loraine Boettner PDF
por
Loraine Boettner D.D.a
Copyright 1932
by
Loraine Boettner
Retirado do site:
http://www.monergismo.net.br/
SEÇÃO I
I. Introdução............................................................................................1
II. Enunciado da Doutrina
III. Deus Tem Um Plano
V. A Providência de Deus
VIII. As Escrituras são A Autoridade Final Pela Qual Os Sistemas Serão Julgados
SEÇÃO II
Os Cinco Pontos do Calvinismo
X. Incapacidade Total..................................................................................................41
SEÇÃO III
Objeções Comumente Levantadas Contra a Doutrina Reformada da
Predestinação
XV. Que É
Fatalismo ?.................................................................................................................144
XXI. Que Impossibilita Uma Sincera Oferta Do Evangelho Aos Não Eleitos
SEÇÃO IV
Objeções Comumente Levantadas Contra a Doutrina Reformada da
Predestinação
SEÇÃO V
XXVIII. Calvinismo Na História.............................................................255 - 301
Capítulo 1 Introdução
O propósito deste livro não é estabelecer um novo sistema de pensamento teológico,
mas dar um novo testemunho ao grande sistema conhecido como a Fé Reformada ou
Calvinismo, e mostrar que sem nenhuma dúvida é o ensino da razão e da Bíblia.
A doutrina da Predestinação recebe comparativamente pouca atenção em nossos dias
e é muito - imperfeitamente - compreendida mesmo por aqueles que supostamente
deveriam sustentá-la mais lealmente. É uma doutrina, contudo, que faz parte do credo
da maioria das igrejas evangélicas e que tem tido uma influência notável em ambos,
Igreja e Estado. Os regimentos de várias ramificações das Igrejas Presbiteriana e
Reformada na Europa e nos EUA são plenamente Calvinistas. As Igrejas Batista e
Congregacional, embora não tenham credos formulados, foram no princípio
Calvinistas, se pudermos julgar pelos escritos e ensinos dos teólogos que as
representam. A grande igreja livre da Holanda e quase todas as igrejas da Escócia são
Calvinistas. A Igreja Estabelecida da Inglaterra e sua filha, a Igreja Episcopal da
América, têm um credo Calvinista nos "Trinta e nove Artigos". Os Metodistas de
Whitefield em Gales até hoje mantêm o nome de "Metodistas Calvinistas".
Entre os que advogaram esta doutrina no passado e os que ainda o fazem no presente,
podemos encontrar alguns dos maiores e mais sábios homens do mundo. Foi ensinado
não somente por Calvino, mas por Lutero, Zuínglio, Melancton (embora ele mais
tarde se retratasse numa posição mais Semi-Pelagiana), por Bullinger, Bucer e todos
os grandes líderes da Reforma. Enquanto diferissem em alguns pontos, eles
concordavam com esta doutrina da Predestinação e ensinaram-na enfaticamente. O
trabalho principal de Lutero, "The bondage of de Will", mostra que ele mergulhou na
doutrina tão ardorosamente quanto Calvino o fizera. Ele inclusive discorreu sobre ela
mais apaixonadamente e percorreu-a mais profunda e detalhadamente do que Calvino
o fizera. E a Igreja Luterana hoje, a julgar pela "Fórmula de Concórdia" sustenta a
doutrina da Predestinação numa forma modificada. Os Puritanos na Inglaterra e
aqueles que no passado estabeleceram-se na América, tanto quanto os "Covenanters"
na Escócia e os Huguenotes na França, foram Calvinistas; e aqui pouco crédito para
os historiadores em geral, por tão grande silêncio haver sido mantido sobre tal fato.
Esta fé também foi por algum tempo sustentada pela Igreja Católica Romana, e em
nenhuma ocasião foi repudiada abertamente por ela. A doutrina da Predestinação, de
Agostinho, colocou contra ele próprio todos aqueles elementos na Igreja que jogou-o
contra cada homem que subestimava a soberania de Deus. Ele os sobrepassou, e a
doutrina da Predestinação adentrou à crença da igreja Universal. A grande maioria
dos credos históricos da Cristandade têm estabelecido as doutrinas da Eleição, da
Predestinação e da Perseverança final, como prontamente será visto por qualquer um
que proceda a um estudo profundo e minucioso estudo do assunto. Por outro lado, o
Arminianismo existiu por séculos somente como uma heresia nos arrebaldes da
verdadeira religião, e de fato não foi eleito como campeão pela igreja Cristã
organizada até o ano de 1784, a qual época foi incorporado ao sistema da doutrina da
Igreja Metodista na Inglaterra. Os grandes teólogos da história, Agostinho, Wycliffe,
Lutero, Calvino, Zuínglio, Zanchius, Owen, Whitefield, Toplady, e em tempos mais
receintes Hodge, Dabney, Cunningham, Smith, Shedd, Warfield e Kuyper, abraçaram
esta doutrina e a ensinaram com entusiasmo. Que eles tenham sido luzes e
ornamentos do mais alto tipo de Cristianismo, será admitido por praticamente todos
os Protestantes. Mais ainda, suas obras neste tão importante tema nunca tiveram
réplica. Então, também, quanto paramos para considerar que entre as religiões não
cristãs o Islamismo tem tantos milhões que crêem em alguma forma de
Predestinação, que a doutrina do Fatalismo tem sido de uma forma ou de outra
sustentada em várias nações não convertidas e que as filosofias mecanísticas e
determinísticas têm exercido influência tão grande na Inglaterra, Alemanha e
América, vemos que pelo menos vale a pena estudar tal tipo de doutrina.
Desde a época da Reforma até mais ou menos duzentos anos atrás, estas doutrinas
eram bravamente trazidas à baila pela grande maioria dos ministros e mestres nas
igrejas Protestantes, mas hoje em dia encontramos a grande maioria sustentando e
ensinando outros sistemas. É muito raro nos depararmos com aqueles chamados
"Calvinistas sem reserva". Podemos muito apropriadamente aplicar às nossas
próprias igrejas as palavras de Toplady com relação à Igreja da Inglaterra: "Idos são
os tempos em que as doutrinas Calvinistas eram consideradas e defendidas como o
Palladium de nossa Igreja Estabelecida; pelos seus bispos e clero, pelas universidades
e por todo o povo leigo. Foi, durante os reinados de Eduardo VI, Rainha Elizabeth,
Tiago I e a grande parte de Carlos I, tão difícil encontrar um clérigo que não pregasse
as doutrinas da Igreja da Inglaterra, como é agora difícil encontrar alguém que o faça.
Temos genericamente abandonado os princípios da Reforma, e "Ichabod" , ou 'a
glória se foi', tem sito escrito na maioria de nossos púlpitos e das portas de nossas
igrejas, desde então." 1
A tendência neste nossa era mais iluminada, é olharmos para o Calvinismo como um
credo surrado e obsoleto. No começo do seu esplêndido artigo "A Fé Reformada no
Mundo Moderno", o Professor F. E. Hamilton diz, "Parece ser tacitamente assumido
por um grande número de pessoas na Igreja Presbiteriana atual que o Calvinismo
cresceu demasiado nos círculos religiosos. Na verdade, um membro comum de uma
igreja, ou mesmo ministro do Evangelho, tendem a olhar para uma pessoa que declara
acreditar na Predestinação, com um misto de divertida tolerância. Parece-lhes incrível
que ainda exista tal curiosidade intelectual como um Calvinista real numa época de
iluminismo como a presente. Quanto a examinar seriamente os argumentos do
Calvinismo, tal idéia nunca entra em suas cabeças. Considera-se tão fora de questão
como a Inquisição, ou como um mundo criado ("a partir da e pela vontade de uma
força maior"), e olha-se para isso como se fosse uma daquelas fantásticas linhas de
raciocínio que os homens tinham antes da idade da ciência moderna." Por causa desta
atitude atualmente tomada com relação ao Calvinismo, e por causa da falta geral de
informação com relação a estas doutrinas, reputamos o tema deste livro como de
suma importância.
Foi Calvino quem fermentou e trabalhou este sistema de pensamento teológico com
tal ênfase e clareza lógica que desde então tem sido referido pelo seu próprio nome. É
claro que ele não originou o sistema, mas simplesmente trabalhou com o que lhe
pareceu ressaltar com brilho especial nas páginas das Sagradas Escrituras. Agostinho
havia ensinado o básico, o essencial do sistema mil anos antes do nascimento de
Calvino, e todo o corpo de líderes do movimento da Reforma ensinou o mesmo. Mas
foi Calvino, com seu profundo conhecimento das Esctirutas, seu destacado intelecto e
gênio sistemático, quem alinhou e defendeu estas verdades mais clara e habilmente
do que alguém jamais houvera feito.
Nós nos referimos a este sistema de doutrina como "Calvinismo", e aceitamos o
termo "Calvinista" como nosso emblema de honra; ainda que nomes sejam meras
conveniências. "Nós podemos,", diz Warburton, "bem apropriadamente, e igualmente
com toda razão, referirmo-nos à gravidade como 'Newtonismo', porque os princípios
da gravidade foram primeiramente trabalhados e demonstrados pelo grande filósofo
Newton. Muito antes que Newton nascesse, a humanidade já convivia com os fatos
da gravidade. Tais fatos eram visíveis a qualquer um desde o primeiro dia da criação
do mundo, tanto quanto gravidade foi uma das leis que Deus ordenou e decretou para
a organização e o equilíbrio do universo. Mas os princípios da gravidade não eram
totalmente conhecidos, e os efeitos do poder e da influência da gravidade não eram
totalmente conhecidos até que fossem 'descobertos' por Sir Isaac Newton. Assim,
também aconteceu com o que os homens denominam Calvinismo. Os princípios
inerentes ao Calvinismo têm existido por eras e eras antes que Calvino nascesse. Tais
princípios de fato têm estado visíveis como fatores patentes na história do mundo
desde o tempo da criação do homem. Mas tanto quanto foi Calvino quem primeiro
formulou estes princípios em um sistema mais ou menos completo, tal sistema, ou
credo, como queira referir-se a tal, e consoantemente aqueles princípios que são
arrolados nele, vieram a ter o seu nome." 2 Nos podemos ainda adicionar que os
nomes "Calvinista", "Luterano", "Puritano", "Peregrino", "Metodista", "Batista" e
ainda o nome "Cristão", foram originalmente apelidos. Mas a sua utilização veio a
estabelecer a validade e o bom entendimento dos seus significados.
O atributo que proporcionou tal força ao ensino de Calvino foi seu apego à Bíblia e à
sua inspiração e autoridade. Calvino foi mencionado como o mais proeminente
teólogo bíblico de sua época. Até onde a Bíblia o guiou ele foi; parando
peremptoriamente onde quer que as respostas ou indicações na Bíblia cessassem. Esta
sua recusa em seguir mais adiante do que estivesse escrito, juntamente com sua
pronta aceitação do que a Bíblia ensinava, deu às suas declarações um ar de
finalidade e positividade que tornaram-no ofensivo aos seus críticos. Devido ao seu
discernimento afiado e ao seu poder de raciocínio lógico ele quase sempre era
rotulado como um mero teólogo especulativo. Que ele tinha um gênio especulativo de
primeira grandeza, é claro, não pode ser negado; e na relevância pertinência de sua
análise lógica ele teve uma arma que o fez terrível para seus inimigos. Mas não era
desses dons que ele dependia primariamente enquanto formulando e desenvolvendo o
seu sistema teológico.
O intelecto poderoso e ativo de Calvino levava-o a explorar o íntimo de cada objeto
que tocasse. Foi longe em suas investigações sobre Deus e o plano da redenção,
penetrando em mistérios com os quais a maioria dos homens raramente sonha,
quando muito. Ele trouxe à luz um lado das Escrituras que até então havia sempre
estado em sombras e enfatizou aquelas verdades profundas que comparativamente
haviam escapado à atenção da igreja nos tempos que precederam a Reforma. Ele
trouxe à luz doutrinas do apóstolo Paulo que estavam no esquecimento, as colocou
inteira e completamente no entendimento de uma grande parte da Igreja Cristã.
Talvez esta doutrina da Predestinação tenha provocado uma grande tempestade de
oposição, e sem dúvida tem sido mais erroneamente interpretada e caricaturada, que
qualquer outra doutrina das Escrituras Sagradas. "Para dizer antes de outra coisa," diz
Warburton, "é como balançar a proverbial bandeira vermelha na frente de um touro
irado. Tal ato desperta as paixões mais ferozes de sua natureza, e traz à tona uma
torrente de abuso e calúnia. Mas, porque os homens têm lutado contra tal, ou porque
eles odeiem, ou talvez não compreendam, não há uma causa lógica ou razoável por
que deveríamos abandonar a doutrina ao léu, ou livrarmo-nos dela. A questão real, o
ponto crucial não é 'Como os homens a recebem?' mas, 'Será que é verdadeira?' " 3
Um motivo pelo qual muita gente, até pessoas supostamente educadas, são tão
rápidos em rejeitar a doutrina da Predestinação é a pura ignorância do que realmente
a doutrina é e o que a Bíblia ensina com relação a ela. Esta ignorância não é de fato
surpreendente quando considerando a quase mais completa falta de treinamento
Bíblico nos nossos dias. Um estudo meticuloso da Bíblia convenceria muitas pessoas
de que ela é um livro muito diferente do que assumem que seja. A tremenda
influência que esta doutrina tem exercido na história da Europa e da América deveria
pelo menos qualificá-la a uma atenção mais respeitosa. Além do mais, consideramos
que de acordo com todas as leis da lógica e da razão, nenhum indivíduo tem o direito
de negar a verdade de uma doutrina sem primeiro haver estudado de forma imparcial
a evidência de ambos lados. Esta é uma doutrina que lida com algumas das mais
profundas verdades reveladas nas Escrituras e é certo que abundantemente
beneficiará os Cristão que minuciosamente a estudarem. Se alguém estiver disposto a
rejeitá-la sem antes estudá-la cuidadosamente seus preceitos, então não devemos nos
esquecer que ela foi o cerne da firme convicção de multidões dos mais sábios e
melhores homens que já viveram, e que deve haver, portanto, fortes motivos
favoráveis à sua verdade.
Talvez algumas palavras de cuidado devessem ser dadas aqui, no sentido de que
enquanto a doutrina da Predestinação é uma verdade grande e abençoada das
Escrituras e uma doutrina fundamental de várias igrejas, ela não deve ser encarada
como sendo o cerne e a substância da Fé Reformada. Como o Dr Kuyper disse, "É
um erro descobrir o caráter específico do Calvinismo na doutrina da Predestinação,
ou na autoridade da Bíblia. Para o Calvinismo tudo isso é conseqüência lógica, não o
ponto de partida -as folhagens testemunham a beleza e a riqueza do seu crescimento,
mas não a raiz de onde brotou." Se a doutrina for separada da sua associação natural
com outras verdades e exibida sozinha, o efeito é exagerado. O sistema então estará
distorcido e mal interpretado. Um testemunho de qualquer princípio, para ser
verdadeiro, deve apresentar (aquele princípio) em harmonia com todos os demais
elementos dos sistema do qual ele faz parte. A Confissão de Fé de Westminster é um
testemunho equilibrado deste sistema como um todo, e dá a devida proeminência
àquelas doutrinas, tais como a da Trindade, a da Divindade de Cristo, a da
personalidade do Espírito Santo, a da Inspiração das Escrituras, a dos Milagres, a da
Reconciliação, a da Ressurreição, a da volta de Cristo, e assim por diante. Ademais,
nós não negamos que os Arminianos sustentam muitas verdades importantes. Mas
nós sustentamos que uma exposição completa e detalhada do sistema Cristão pode ser
dada somente com base na verdade apresentada pelo sistema Calvinista.
Na mente da maioria das pessoas a teoria da Predestinação e o Calvinismo são
praticamente sinônimos. Contudo, não deveria ser este o caso, e a identificação muito
próxima dos dois sem dúvida contribuiu grandemente para o preconceito de muitas
pessoas contra o indubitavelmente tem contribuído muito para o preconceito de
muitas pessoas contra o sistema Calvinista. O mesmo é verdadeiro também com
relação a uma mui próxima identificação do Calvinismo e "Os Cinco Pontos", como
será mostrado adiante. Enquanto a Predestinação e Os Cinco Pontos são elementos
essenciais do Calvinismo, eles de forma alguma constituem a sua íntegra.
A doutrina da Predestinação tem sido o tema de discussões infindáveis, muitas das
quais, é preciso admitir, ocorreram com o intuito de suavizar suas formas ou mesmo
de explicá-la. "A consideração desta grande doutrina," diz Cunningham, "atinge os
mais profundos e inacessíveis assuntos que podem ocupar as mentes dos homens, - a
natureza e os atributos, os propósitos e os atos do infinito e incompreensível Jeová, -
vista especialmente nos seus comportamentos quanto aos destinos eternos das Suas
criaturas inteligentes. A natureza peculiar do assunto certamente requer, com justa
razão, que deva ser sempre abordada com a mais profunda humildade, cautela e
reverência, já que ela nos põe em contato, por um lado, com um assunto tão terrível e
avassalador quanto a eterna miséria de uma multidão inumerável de nossos
semelhantes. Muitos homens têm discutido o assunto nesse espírito, mas muitos
também têm se satisfeito com especulação muito presunçosa e irreverente sobre o
tema. Não há provavelmente nenhum outro assunto que tenha ocupado mais a
atenção de homens inteligentes em qualquer época que a doutrina da Predestinação.
Ela tem sido exaustivamente discutida em todos os seus aspectos, filosófico,
teológico e prático; e se houver algum motivo de especulação com relação ao qual
nós somos assegurados em dizer que ela tem sido esmiuçada, é este.
"Pelo menos alguns dos tópicos arrolados sob o título geral foram discutidos por
quase todos filósofos de eminência tanto na antigüidade como nos tempos modernos.
* * * Todos os argumentos que a maior capacidade, genialidade e acuracidade podem
elencar foram trazidos à baila na discussão deste tema, e as dificuldades relacionadas
ao mesmo nunca foram completamente eliminadas, e nós estamos bem seguros em
afirmar que elas nunca o serão, a menos que Deus nos revele mais amplamente ou
nos dê capacidades maiores, - embora, talvez, fosse mais correto dizer que, desde a
própria natureza do caso, um ser finito nunca possa compreende-la totalmente, desde
que tal implicaria que aquele próprio ser finito seria capaz de compreender totalmente
a mente infinita." 4
No desenvolvimento deste livro utilizou-se muito de outras obras, de forma que
pudesse conter a nata e a mais pura essência dos melhores escritores do tema.
Consequentemente muitos dos argumentos aqui encontrados são de homens muito
superiores a este escritor. De fato, quando observando o conjunto, sou inclinado a
dizer com um celebrado escritor Francês, "Colhi um buquê de variadas flores dos
jardins dos homens, e nada é realmente meu, senão o fitilho que as mantém unidas."
Ainda assim muito é seu próprio, especialmente no que refere-se à organização e
arranjo dos materiais.
No decorrer deste livro, os termos "predestinação" e "préordenação" são usados como
sinônimos exatos, a escolha tendo sido determinada somente pelo gosto. Se desejar-se
distinção, o termo "préordenação" pode talvez ser melhor utilizado quando o sujeito
em referência for um evento na história ou na natureza, enquanto que o termo
"predestinação" pode referir-se principalmente ao destino final das pessoas. As
cotações das Escrituras foram extraídas da "Versão Americana" da Bíblia, ao invés da
"Versão King James", já que a primeira é mais acurada.
O autor deseja agradecer particularmente ao Dr. Samuel G. Craig, Editor da
CHRISTIANITY TODAY, ao Dr. Frank H. Stevenson, Presidente do Conselho
Curador do Seminário Teológico Westminster, ao Dr Cornelius Van Til, Professor de
Apologética no Seminário Teológico Westminster, ao Dr. C. W. Hodge, Professor de
Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Princeton, sob a supervisão de quem
este trabalho num formato muito mais curto foi originalmente preparado, e ao Rev.
Henry Atherton, Secretário Geral da União Soberana Graça, em Londres, Inglaterra,
pela valiosa assistência.
Este livro, repetimos, é designado a apresentar e a defender a Fé Reformada,
comumente conhecida como Calvinismo. Ele não é direcionado contra nenhuma
denominação em particular, mas contra o Arminianismo em geral. O autor é
Presbiteriano, mas ele está bem ciente do afastamento radical que tropas de
Presbiterianos têm feito do seu próprio credo. O livro é posto adiante com a
esperança de que aqueles que professam sustentar a Fé Reformada possam ter um
melhor entendimento das grandes verdades que são aqui tratadas e possam mais
altamente valorizar sua herança; e que aqueles que não têm conhecimento deste
sistema, ou que se opõem ao mesmo, possam ser convencidos da sua verdade e
venham a amá-lo.
A questão que então se nos apresenta é esta: - Deus, desde toda a eternidade, pré-
ordenou todas as coisas que vieram e que virão a acontecer? Se sim, que evidência
disto nós temos, e como pode o fato ser consistente com o livre arbítrio das criaturas
racionais e com a Suas próprias perfeições?
Capítulo 2 Enunciado da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, que estabelece as crenças das Igrejas
Presbiteriana e Reformada e a qual é a mais perfeita expressão da Fé Reformada,
lemos: "Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da Sua
própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de
modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura,
nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas."
E mais adiante, "Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas
as circunstâncias imagináveis, Ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto
como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições."
A doutrina da Predestinação representa os propósitos de Deus como absolutos e
incondicionais, independentes de toda a criação finita, e como originados somente no
conselho eterno da Sua vontade. Deus é visto como o grande e poderoso Rei que
apontou o curso da natureza e quem direciona o curso da história até os seus menores
detalhes. Seu decreto é eterno, imutável, santo, sábio e soberano. Estende-se não
meramente ao curso do mundo físico mas a cada acontecimento na história humana
desde a criação até o juízo final, e inclui todas as atividades dos santos e anjos no céu
e dos condenados e dos demônios no inferno. Abrange todo escopo da existência das
criaturas, através do tempo e da eternidade, compreendendo imediatamente todas as
coisas que já foram ou que virão a ser em suas causas, condições, sucessões, e
relações. Tudo fora do próprio Deus está incluso neste decreto todo abrangente, e
muito naturalmente, já que todas as demais coisas viventes devem a sua existência e a
sua continuidade em existência ao Seu poder criativo e sustentador. Possibilita
controle providencial sob o qual todas as coisas concorrem para o fim que Deus há
determinado; e o objetivo é: "Um distante acontecimento divino; Em direção do qual
toda a criação se move."
Desde que a criação finita em toda a sua extensão existe como um meio através do
qual Deus manifesta a Sua glória, e desde que ela é absolutamente dependente dEle,
de si própria não poderia criar condição alguma que limitasse ou abatesse a
manifestação daquela glória. Desde toda a eternidade Deus estabeleceu fazer
justamente o que Ele está fazendo. Ele é o Regente soberano do universo, e "...e
segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não
há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?"[Daniel 4:35]. Desde que o
universo tem a sua origem em Deus e depende dEle para a continuação da sua
existência, deve, em toda parte e em todo momento, sujeitar-se ao Seu controle para
que nada aconteça contrário ao que Ele expressamente decreta ou permite. Assim o
propósito eterno é representado como um ato soberano de predestinação ou
preordenação, e incondicionado por qualquer fato subsequente ou mudança no tempo.
Destarte é representada como sendo a base da pré ciência divina de todos
acontecimentos futuros, e não condicionada por aquela pré ciência ou por qualquer
coisa originada pelos mesmos acontecimentos.
Os teólogos reformados lógica e consistentemente aplicaram às esferas da criação e
da providência aqueles grandes princípios que foram mais tarde arrolados no
Westminster Standards. Eles viram a mão de Deus em cada acontecimento em toda a
história da humanidade e em todos os prodígios da natureza física, de modo que o
mundo fosse a completa realização do ideal eterno no tempo. O mundo como um
todo e em todas as suas partes e movimentos e mudanças foi unificado em uma
unidade pela atividade governante, permeadora e harmonizadora vontade divina, e o
seu propósito era manifestar a glória divina. Enquanto a concepão deles era de uma
divnia ordenação de todo o curso da história em todos os detalhes, eles estavam
especialmente preocupados com a relação entre aquela ordenação e a salvação do
homem. Calvino, teólogo sistemático e brilhante da Reforma, colocou o assunto
assim: "Chamamos Predestinação o decreto eterno de Deus, pelo qual Ele em Si
mesmo determinou, o que Ele faria de cada indivíduo da raça humana. Pois eles não
são criados com um destino em comum, mas a vida eterna é pré ordenada para alguns
enquanto que a morte eterna pré ordenada para outros. Cada homem, portanto, tendo
sido criado para um ou outro daqueles destinos, dizemos que é predestinado seja para
a vida ou para a morte." 1
Lutero era tão zeloso pela predestinação absoluta quanto Calvino, como vemos em
seu comentário sobre Romanos, onde ele escreveu: "Todas as coisas, o que quer que
seja, provém de, e dependem do apontamento divino; através do qual foi pré
ordenado quem deveria receber a palavra da vida, e quem deveria descrer dela,; quem
deveria ser livrado dos seus pecados, e quem deveria permanecer neles; e quem
deveria ser justificado e quem deveria ser condenado." E Melancton, seu amigo
pessoal e companheiro de trabalho, diz: "Todas as coisas acontecem de acordo com a
divina predestinação; não somente as obras que fazemos externamente; mas mesmo
os nossos pensamentos interiores"; e novamente, "Não há tal coisa como acaso, ou
sorte; nem há nenhum caminho imediato para ganhar o temor de Deus, e para colocar
toda a nossa confiança nEle, que não seja cabalmente versado na doutrina da
Predestinação."
"A ordem é a primeira lei do céu." Do ponto de vista divino há uma linha intacta,
contínua de ordem e de progresso desde o princípio da criação até o final do mundo e
a instalação do reino dos céus em toda a sua glória. O propósito e plano divinos em
nenhum momento é interrompido ou derrotado; aquilo que muitas vezes nos parece
ser derrota não o é realmente, mas somente aparenta sê-lo, porque a nossa natureza
finita e imperfeita não nos permite ver todas as partes no inteiro nem o inteiro em
todas as suas partes. Se num relance nós pudéssemos vislumbrar "o grandioso
espetáculo do mundo natural e o drama complexo da história humana," veríamos
então o mundo como uma unidade em harmonia manifestando a perfeição gloriosa de
Deus.
"Embora o mundo pareça estar girando a esmo," diz Bishop, "e acontecimentos serem
amontoados num caos cego e rude desordem, ainda assim, Deus vê e conhece a
concatenação de todas as causas e efeitos, e tanto os governa que Ele faz perfeita
harmonia daquilo tudo que parece confusões e desordens. É muito necessário que
devamos ter nossos corações bem estabelecidos na sólida e firme crença desta
verdade, que o que quer que venha a acontecer, seja bom ou mal, nós possamos olhar
para a autoridade, para Deus. Com respeito a Deus, não há nada casual nem
contingência no mundo. Se um mestre deva enviar um servo a um certo lugar e
ordenar-lhe que permaneça lá até tal momento, e depois mandar um outro servo ao
mesmo lugar, o encontro desses dois é totalmente casual com relação a eles próprios,
mas ordenado e previsto pelo mestre que os enviou. As coisas acontecem
inesperadamente para nós, mas não para Deus. Ele prevê e Ele aponta todas as
vicissitudes das coisas." 2
O salmista exclamou, "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em
toda a terra!"[Salmo 8:9] e o escritor de Eclesiastes diz, "Tudo fez formoso em seu
tempo..."[Eclesiastes 3:11]. Na visão que o profeta Isaías teve, o serafim cantava,
"...Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua
glória."[Isaías 6:3]. Quando vemos a partir deste ponto de vista divino, cada
acontecimento no curso da vida humana em todas as eras e em todas as nações tem,
não importa quão insignificante possa parecer-nos, seu lugar exato no
desenvolvimento do plano eterno. Tem relações com as causas precedentes e exerce
influência sempre crescente através dos seus efeitos, de maneira a estar relacionada
com todo o sistema de coisas e desempenha sua parte individual na manutenção do
perfeito equilíbrio desta ordem mundial. Muios exemplos podem ser dados para
mostrar que acontecimentos da maior importância têm muitas vezes dependido do
que à época pareceu ser acontecimentos dos mais fortuitos e triviais. A inter relação e
conexão de acontecimentos é tal que se um destes fosse omitido ou modificado, toda
a seqüência seria também modificada ou simplesmente não aconteceria. Assim, a
certeza de que a administração divina apoia-se na pré ordenação de Deus estendida a
todos acontecimentos, sejam pequenos ou grandes. E, especificamente, nenhum
acontecimento é pequeno demais; cada um tem o seu lugar exato no plano divino, e
alguns somente alguns são relativamente maiores que outros. O curso da história,
portanto, é infinitamente complexo, ainda assim uma unidade à vista de Deus. Esta
verdade, junto com a razão para tanto, é lindamente sumarizada no Catecismo Menor,
que diz que, "Os Decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o conselho da
sua vontade, pelo qual, para a sua própria glória, ele preordenou tudo o que
acontece."
O Dr Abraham Kuyper, da Holanda, que é reconhecido como um dos mas destacados
teólogos calvinistas nos anos recentes, dá-nos um pensamento valioso no seguinte
parágrafo: "A determinação da existência de todas as coisas a serem criadas, se uma
flor vai ser uma camélia ou um copo-de-leite, se um pássaro vai ser um rouxinol ou
um corvo; se um animal vai ser um cervo ou um porco, e igualmente entre os
homens, a determinação de nossas próprias pessoas, se alguém vai nascer como um
menino ou menina, rico ou pobre, tolo ou inteligente, branco ou de cor, ou mesmo
como Abel ou Caim, é a mais tremenda predestinação concebível no céu ou na terra;
e ainda vemo-la acontecer ante nossos próprios olhos todos os dias, e nós mesmos
somos sujeitos a ela em nossa inteira personalidade; durante toda a nossa existência,
nossa própria natureza, nossa posição na vida sendo inteiramente dependente dela.
Esta predestinação, que abrange a tudo e a todos, os Calvinistas a colocam não nas
mãos do homem, e ainda menos nas mãos de cegas forças da natureza, mas nas mãos
de Deus Todo-Poderoso, soberano Criador e Dono do céu e da terra; e é na ilustração
do oleiro e do barro que a Bíblia tem exposto a nós esta eleição que a tudo e todos
domina, desde os tempos dos profetas. Eleição na criação, eleição na providência, e
também eleição para a vida eterna; eleição no reino da graça, tanto quanto no reino da
natureza." 3
Nós não podemos apreciar adequadamente esta ordem mundial até que a vejamos
como um sistema poderoso através do qual Deus está concretizando os Seus planos.
O teísmo claro e consistente de Calvino proporcionou-lhe um senso intenso da
infinita majestade do Deus Todo-Poderoso, em cujas mãos repousam todas as coisas,
e fez dele um 'predestinacionista' de vulto. Em sua doutrina do propósito eterno e
incondicional do Deus onisciente e onipotente, ele encontrou o programa da história
da queda e da redenção da raça humana. Ele aventurou-se destemida mas
reverentemente sobre a borda daquele abismo de especulação onde todo o
conhecimento humano perde-se em mistério e adoração.
A Fé Reformada, então, oferece-nos um grande Deus que é realmente o soberano
Regente do Universo. "Tal grande princípio," diz Bayne, "é a contemplação do
universo de Deus revelado em Cristo. Em todos lugares, em todos tempos, de
eternidade a eternidade, o Calvinismo vê a Deus." Nossa era, que enfatiza a
democracia, não gosta de tal visão, e talvez nenhuma outra era tenha gostado menos.
A tendência hoje é exaltar o homem e dar a Deus somente uma parte muito limitada
nos acontecimentos do mundo. Como o Dr. A. A. Hodge disse, "A nova teologia,
postulando a limitação da antiga, está descartando a pré ordenação de Jeová como um
artifício surrado das escolas, desacreditado pela cultura avançada do presente. Esta
não é a primeira vez que as corujas, confundindo as sombras de um eclipse
passageiro com a noite, prematuramente guincharam para as águias, convencidas de
que o que lhes era invisível não poderia possivelmente existir." 4
Esta é, em geral, a concepção ampla da predestinação, como foi sustentada pelos
grandes teólogos das Igrejas Presbiteriana e Reformada.
A Pré Ordenação é mostrada de maneira explícita nas Escrituras.
Atos 4:27, 28 : "[27] Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu
santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com
os gentios e os povos de Israel; [28] para fazerem tudo o que a tua mão e o teu
conselho predeterminaram que se fizesse."
Efésios 1:5 : "e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,"
Efésios 1:11 : "nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade,"
Romanos 8:29, 30 : "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para
serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a
estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou."
I Coríntios 2:7 : "mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a
qual Deus preordenou antes dos séculos para nossa glória;"
Atos 2:23 : "a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de
Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;"
Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do
Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
Efésios 2:10 : "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as
quais Deus antes preparou para que andássemos nelas."
Romanos 9:23 : "para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos
vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
Salmo 139:16 : "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro
foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando
ainda não havia nem um deles."
Capítulo 3 DEUS tem um plano
É impensável que um Deus de sabedoria e poder infinitos criasse um mundo sem um
plano definido para aquele mundo. E porque Deus é assim infinito Seu plano deve
extender-se a cada detalhe da existência do mundo. Se nós pudéssemos enxergar o
mundo em todas as suas relações, passado, presente, e futuro, veríamos que segue um
curso pré-determinado com precisão exata. Entre as coisas criadas, podemos procurar
onde quisermos, tanto quanto o microscópio e o telescópio possibilitam nossos olhos
a ver, encontramos organização em todo lugar. Grandes formas resolvem-se em
partes, e estas partes, por sua vez, são nada menos que organizadas em partes
menores, até onde possamos infinitamente perceber.
Cada ser humano, que nada mais é que a criatura de um dia e sujeito a todas formas
de erros, desenvolve um plano antes de agir; e um ser humano que age sem
planejamento e propósito é considerado tolo. Antes de iniciarmos uma viagem ou
empreendermos qualquer tipo de trabalho, todos nós estabelecemos nosso objetivo e
então trabalhamos para alcançá-lo, tanto quanto sejamos capazes para tanto.
Independentemente de como algumas pessoas possam opor-se à Predestinação em
teoria, todos nós em nossas vidas diárias somos "predestinarianos" práticos. Como E.
W. Smith diz, um homem sãbio "primeiro determina o objetivo que deseja atingir, e
então as melhores maneiras de fazê-lo. Antes que o arquiteto comece seu edifício, ele
desenha as plantas e forma seus planos, até os mínimos detalhes da construção. Na
cabeça do arquiteto, o edifício já está completo, em todas as suas partes, mesmo antes
que a primeira pedra seja assentada. Assim também com o comerciante, o advogado,
o fazendeiro, e todos os homens inteligentes e racionais. Suas atividades seguem a
linha de propósitos previamente formados, tanto quanto suas capacidades finitas o
permitirem, de planos pré-concebidos." 1
Quanto maior for a nossa jornada, o mais importante é que deveremos ter um plano;
caso contrário todo o nosso trabalho acabará em fracasso. Alguém poderia ser
considerado mentalmente desarranjado se se propusesse a construir um navio, ou uma
estrada de ferro, ou governar uma nação sem um plano. Aprendemos que antes que
Napoleão começasse a invasão da Rússia, ele tinha um plano detalhado, mostrando
que linha de marcha cada divisão de seu exército deveria seguir, onde deveria estar a
determinado tempo, que equipamentos e provisões deveriam ter, etc. O que quer que
fosse que ele quisesse naquele plano, era devido às limitações de poder e sabedoria
humanos. Tivesse a visão de Napoleão sido perfeita e seu controle sobre os eventos
sido absoluto, seu plano - ou podemos dizer seus pré-comandos - teriam sido
extendidos a cada ato de cada soldado que fêz aquela marcha.
E se tal é fato para o homem, quanto mais é verdadeiro para Deus! "Um universo sem
decretos", diz A. J. Gordon. "seria tão irracional e horrível como seria um trem
expresso à noite sem farol nem maquinista." Nós não podemos conceber Deus
trazendo à existência um universo sem um plano que se extendesse a tudo o que fosse
feito naquele universo. Como as Escrituras ensinam que o controle providencial de
Deus se extende a todos eventos, mesmo o menor; elas assim ensinam que Seu plano
é igualmente compreensível. É uma das Suas perfeiçoes que Ele tenha o plano melhor
possível, e que Ele conduza o curso da história para o seu final já apontado. E admitir
que Ele tem um plano o qual ele controla é admitir Predestinação. "O plano de Deus é
mostrado ser um em sua efetuação," dis Dabney. "Causa é ligada ao efeito, e o que
era efeito torna-se causa; as influências de eventos no inter relacionamento de
eventos entre sí, e descendendo em correntes cada vez mais descêntricas para eventos
subseqüentes; de maneira que o resultado do complexo todo seja através de cada
parte. Como os astrônomos supõem que a remoção de um planeta do nosso sistema
modificaria mais ou menos o equilíbrio e a órbita dos demais, assim a falha de um
evento neste plano prejudicaria o todo, direta ou indiretamente." 2
Se Deus não tivesse de antemão ordenado o curso de eventos mas esperasse até que
uma condição indeterminada fosse ou não cumprida, Seus decretos não poderial ser
nem eternos nem imutáveis. Nós sabemos, contudo, que Ele é incapaz de erro, e que
Ele não pode ser surpreendido por quaisquer inconveniências imprevistas. Seu reino
está nos céus e Ele rege sobre tudo. Seu plano deve, portanto, incluir cada evento no
âmbito completo da história.
Que mesmo os menores eventos tenham seu lugar neste plano, e que eles devem ser
como são, é facilmente percebido. Todos nós sabemos de certos "acontecimentos ao
acaso" que tem realmente mudado o curso de nossas vidas. Os efeitos destes
extendem-se através de toda a história posterior, com influências cada vez mais
abrangentes, causando outros "acontecimentos ao acaso". É dito que certa vez Roma
foi salva pelo grasnado de alguns gansos. Se historicamente verdade ou não, serve
como uma boa ilustração. Não tivessem os gansos acordado os guardas que fizeram
soar o alarme e levantado o exército defensor, Roma teria caído e o curso da história
daquele momento em diante teria sido radicalmente diferente. Tivessem aqueles
gansos permanecido em silêncio, quem pode imaginar que impérios poderiam existir
atualmente, ou onde os centros de cultura poderiam estar? Durante a batalha, uma
bala não acerta o general por apenas uma polegada. Sua vida é poupada, ele segue
comandando suas tropas, vence uma vitória decisiva, e é feito o governador supremo
de seu país por muitos anos, -como foi o caso de George Washington. Assim mesmo,
que curso diferente a história teria seguido se o soldado do outro lado tivesse mirado
um pouquinho só mais para cima ou para baixo! O grande incêndio de Chicago em
1871, que destruiu mais da metade da cidade, começou, somos informados, quando
uma vaca deu um coice num lampião. Quão diferente teria sido a história de Chicago
se aquele movimento tivesse sido ligeiramente diferente! "O controle dos maiores
deve incluir o controle dos menores, pois não somente as grandes coisas são feitas de
pequenas coisas, mas a história mostra o quão verdadeiramente aqueles mínimos
traços estão continuamente provando serem pivôs das importantes consequências nas
quais os eventos se revolvem. A persistência de uma aranha encorajaram um homem
extremamente desanimado, quase apático, a atitudes e esforços laboriosos que
formaram o futuro de uma nação. O Deus que predestinou o curso da história
Escocesa deve ter planejado e presidido sobre movimentos daquele pequenino inseto
que salvou Robert Bruce do desespero." 3 Exemplos deste tipo poderiam multiplicar-
se indefinidamente.
Os Pelagianos negam que Deus tenha um plano; os Arminianos dizem que Deus tem
um plano geral mas não específico; mas os Calvinistas dizem que Deus tem um plano
específico, que engloba todos os eventos em todas as épocas. Em reconhecendo que o
Deus eterno tem um plano eterno no qual está pré-determinado cada evento que
venha a acontecer, os Calvinistas simplesmente reconhecem que Deus é Deus, e O
liberam de quaisquer limitações humanas. As Escrituras representam Deus como uma
pessoa, tal como outras pessoas alí. Seus atos são cheios de propósitos, mas
diferentemente de outras pessoas alí. Ele é onisciente em Seus planos e onipotente em
Sua performance. Eles vêem o universo como o produto do Seu poder criativo, e
como o teatro no qual são apresentadas Suas perfeições gloriosas, e o qual deve em
toda sua forma e toda sua história, até o menor detalhe, corresponder com o Seu
propósito em construi-lo.
Num artigo muito iluminado sobre "Predestinação", Dr Benjamin B. Warfield, quem
na opinião do presente escritor emergiu como destacado teólogo desde João Calvino,
nos diz que os escritores das Escrituras viram o plano divino como "largo o bastante
para conter todo o universo de coisas, e pequeno o bastante para relacionar-se com os
menores detalhes, e atualizar-se com certeza inevitável na ocorrência de cada
evento." "Na sabedoria infinita do Senhor de toda a terra, cada evento cai com
precisão exata em seu próprio lugar no desdobramento de Seu plano eterno; nada,
mesmo pequeno, mesmo estranho, acontece sem a Sua ordem, ou sem a capacidade
de caber, de amoldar-se ao seu lugar devido, para a ocorrência dos Seus propósitos; e
o fim de tudo deverá ser a manifestação da Sua glória, e a acumulação do Seu louvor.
Esta é a filosofia tanto do Velho como do Novo Testamentos, da visão terrestre dos
universos, a qual atinge unidade concreta em um decreto absoluto, ou propósito, ou
plano do qual tudo o que vem a passar é o desenvolvimento no tempo." 4
A própria essência de teísmo consistente é que Deus teria um plano exato para o
mundo, conheceria antecipadamente as ações de todas as criaturas que Ele propôs-se
a criar, e através de Sua ôni-abrangente providência controlaria o sistema inteiro. Se
ele previamente ordenara somente certos eventos isolados, a confusão seria
introduzida no sistema em ambos, no mundo natural e nas atividades humanas e Ele
precisaria estar constantemente desenvolvendo novos planos para atingir o que
desejasse. Seu governo no mundo então seria um trabalho caprichoso de novos
expedientes que no máximo governaria somente de uma maneira geral, e seria tanto
quanto ignorante acerca do futuro. Mas ninguém com idéias próprias sobre Deus crê
que Ele tenha de mudar de opinião a cada alguns dias para acomodar acontecimentos
inesperados os quais não estavam incluídos em Seu plano original. Se a perfeição do
plano divino for negada, nenhum ponto consistente de parada será encontrado em que
não haja o ateísmo.
Em primeiro lugar não havia a necessidade de Deus criar tudo. Ele agil com perfeita
liberdade quando ele trouxe este mundo à existência. Quando Ele escolheu criar havia
à sua frente um número infinito de possíveis planos. Mas a bem da verdade nós
achamos que Ele escolheu este plano particular no qual nos encontramos agora. E
desde que ele sabia perfeitamente todos eventos de todas espécies os quais estariam
envolvidos nesta específica espécie de mundo, Ele muito obviamente pre-determinou
cada evento que aconteceria quando ele escolhesse este plano. Sua escolha do plano,
ou Sua certeza de que a criação devesse ser nesta ordem, nós chamamos Sua prévia
ordenação ou sua predestinação.
Mesmo os atos pecaminodos dos homens estão incluídos neste plano. Eles são
previstos, permitidos, e têem seu exato lugar. Eles são controlados e a glória divina
prevalece sobre os mesmos. A crucifixação de Cristo, que admitidamente é o pior
crime em toda a história da raça humana, teve, foi expressivamente dito, seu exato e
necessário lugar no plano (Atos 2:23; 4:28). Esta maneira particular de redenção não
é um expediente para o qual Deus foi levado depois de ter sido derrotado e
desapontado pela queda do homem. Antes, é "segundo o eterno propósito que
estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor," (Efésios 3:11). Pedro nos diz que Cristo
como um sacrifício pelo pecado foi "conhecido, com efeito, antes da fundação do
mundo,..." (I Pedro 1:20). Crentes foram escolhidos "...nele, antes da fundação do
mundo,..." (Efésios 1:4). Nós somos salvos não pelas nossas próprias e temporárias
obras, "..., mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus, antes dos tempos eternos." (II Timóteo 1:9). E se a crucifixação de
Cristo, ou Sua oferta de Si mesmo como sacrifício pelo pecado, era parte do plano
eterno, então também a queda de Adão e todos os demais pecado que tornaram aquele
sacrifício necessário eram parte do plano, não importando o quão indesejável parte do
plano eles possam ter sido.
A história em todos os seus detalhes, até o mais ínfimo minuto, nada mais é que os
propósitos eternos de Deus. Seus decretos não são sucessivamente formados quando
surge a emergência, mas são todos partes de um só "oni-compreensivo" plano, e nós
nunca deveríamos pensar em Deus como se Ele de repente estabelecesse um plano ou
fizesse qualquer coisa a qual Ele não tivesse pensado antes.
O fato de as Escrituras muitas vezes falarem de um propósito de Deus como
dependente do resultado de outro ou das ações dos homens, não constitui objeção
contra estra doutrina. As Escrituras estão escritas na linguagem cotidiana de homens,
e eles muitas vezes descrevem um ato ou uma coisa como parece ser, ao invés de
como realmente é. A Bíblia fala "...desde os quatro confins da terra." (Isaías 11:12), e
de "...os fundamentos da terra,..." (Salmo 104:5); ainda assim ninguém entende tais
textos como a terra sendo quadrada, ou que ela realmente repousa sobre uma
fundação. Nós falamos do sol nascendo e pondo-se, ainda assim nós sabemos que não
é o movimento do sol, senão a da terra, quando revolve-se sobre seu próprio eixo
causa tal fenômeno. Similarmente, quando as Escrituras falam do arrependimento de
Deus, por exemplo, ninguém com idéias próprias de Deus entende como se Ele vê
que tenha tomado um caminho errado e muda de opinião. Simplesmente significa que
Suas ações, quando vistas sob a ótica do ser humano, parecem ser como as de alguém
que se arrepende. Em outras partes as Escrituras falam das mãos, ou braços, ou olhos
de Deus. Estes são conhecidos como "antropoformismos", exemplos nos quais Deus é
referrido como se Ele fosse um homem. Quando a palavra "arrepender-se", por
exemplo, é usada no sentido estrito, nunca foi dito que Deus tenha se arrependido:
"Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa."
(Números 23:19); e novamente, "...a glória de Israel não mente, nem se arrepende,
porquanto não é homem, para que se arrependa." (I Samuel 15:29).
A contemplação deste grande plano deve redundar em louvor da sabedoria insondável
e do poder ilimitado dAquele quem o idealiza e executa. E o quem pode dar ao
Cristão mais satisfação e alegria do que saber que a trajetória inteira do mundo é
ordenada com referência ao estabelecimento do Reino dos céus e a manifestação da
glória Divina; e que ele (o Cristão) é o objeto sobre o qual amor e misericórdia
infinitos são derramados em profusão?
Salmo 139:16: "Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro
foram escritos os dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando
ainda não havia nem um deles."
02. O plano de Deus é imutável:
Tiago 1:17: "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação."
Isaías 14:24: "O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e
como determinei, assim se efetuará."
Isaías 46:10, 11: "...O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade; ... sim,
eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o executarei."
Números 23:19: "Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que
se arrependa. Porventura, tendo ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o
cumprirá?"
Malaquias 3:6: "Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois
consumidos."
05. Mesmo os atos pecaminosos dos homens estão incluídos no plano e são
controlados para o bem.
Gênesis 50:20: "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim (José); Deus, porém,
o intentou para o bem, ..."
Isaías 45:7: "Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o
Senhor, que faço todas estas coisas."
Amós 3:6: "...Sucederá qualquer mal à cidade, sem que o Senhor o tenha feito?"
Atos 3:18: "Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus
profetas havia anunciado que o seu Cristo havia de padecer."
Mateus 21:42: "Disse-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os
edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular; ..."
Romanos 8:28: "E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."
Capítulo 4 A Soberania de DEUS
Toda pessoa que pensa, rapidamente vê que alguma soberania rege sua vida. Não lhe
foi perguntado se ele existiria; nem quando, onde ou como nasceria; se no século
vinte ou antes do dilúvio; se branco ou negro, se na América ou na China. É
reconhecido pelos Cristãos de todas as épocas que Deus é o Criador e o Regente do
universo, e que como o Criador e Regente do universo, Ele é a única fonte de todo o
poder que é encontrado nas criaturas. Assim nada pode passar à parte de Sua soberana
vontade; e quando nós permanecemos nesta verdade, percebemos que ela envolve
considerações que estabelecem a posição Calvinista e desaprovam a posição
Arminiana.
Pelo fato de Deus ter criado tudo o que existe, Ele é o Dono absoluto e Regulador de
tudo o quanto Ele fez. Ele não exerce influência meramente, mas na verdade rege o
mundo que Ele criou. As nações da terra, em sua insignificância, são como grãos de
poeira na balança, quando comparadas com a Sua grandeza; e muito mais cedo
poderá o sol parar o seu curso, que Deus ser impedido em Seu trabalho ou em Sua
vontade. Em meio a todas as aparentes derrotas e inconsistências da vida Deus
realmente move-se adiante, em imperturbável majestade. Mesmo os atos
pecaminosos dos homens podem ocorrer somente com a Sua permissão. E desde que
ele assim o permite, não relutantemente mas voluntariamente, tudo o que venha a
existir - incluindo as ações e o destino final dos homens - devem estar, de alguma
forma, de acordo com os Seus desejos e propósitos. Na mesma proporção em que tal
é negado Deus é excluído do governo do mundo. Naturalmente alguns problemas
aparecem aqui, os quais nós em nosso presente estado de conhecimento não somos
totalmente capazes de resolver, mas isto não é razão suficiente para rejeitar o que as
Escrituras e os plenos princípios regentes da razão afirmam ser verdadeiro.
Se o poder de um soberano terreno É lei em seu reino, quanto mais ainda será a
palavra de Deus no Seu reino! Por exemplo, os Cristãos sabem que o dia certamente
está chegando quando, voluntária ou involuntariamente todo joelho se dobrará e toda
língua confessará que Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Nas Escrituras Ele
nos está representado como Deus ONIPOTENTE, que assenta-se no trono do
domínio universal. Ele sabe e conhece desde o princípio o resultado e os meios a
serem utilizados para que tal resultado seja atingido. Ele é capaz de fazer por nós
excedentemente e abundantemente mais do que nós pedimos ou mesmo pensamos. A
categoria do impossível não existe para Ele "porque para Deus tudo é possível,"
[Marcos 10:27 ; também Mateus 19:26]. Isto, contudo, não significa que Deus tenha
poder para fazer o que seja contra a Sua natureza, "operar contradições. É impossível
para Deus mentir, ou fazer alguma coisa que seja moralmente errada. Ele não pode
fazer com que dois mais dois totalize quatro, nem pode Ele fazer uma roda girar e
permanecer parada ao mesmo tempo. Sua onipotência é tão certamente uma garantia
de que o curso do mundo será conforme o Seu plano, quanto a Sua santidade é uma
garantia de que todas as Suas obras serão certas.
Não somente no Novo Testamento mas também no Velho testamento nós podemos
encontrar esta doutrina da soberania de Deus consistentemente desenvolvida. Dr
Warfield diz com relação à doutrina como pode ser encontrado em: "O Todo
Poderoso Criador de tudo está representado igualmente como o irresistível Regente
de tudo o quanto Ele fez" ; "Senhor se assenta como rei, perpetuamente" [Salmo
29:10]. Ele segue dizendo que os escritores raramente utilizam expressões tais como
"está chovendo"; eles instintivamente falam de Deus mandando chuva, etc. As
possibilidades de acidente e acaso são excluídas e mesmo "que sorte fosse uma
maneira de obter a decisão de Deus" (como em Josué 7:16 ; 14:2 : 18:6 ; I Samuel
10:19 ; Jonas 1:7). Todas coisas, sem exceção, realmente são dispostas por Ele, e a
sua vontade é a responsável por tudo o quanto acontece. Céu e terra e tudo o que
neles existe são instrumentos através dos quais Ele opera os Seus propósitos.
Natureza, nações, e destino de indivíduos apresentam igualmente em todas as suas
mudanças a transcrição dos Seus propósitos. Os ventos são Seus mensageiros, a
flama flamejante é Sua serva; cada fenômeno natural Seus atos; prosperidade a Sua
dádiva, e se calamidade cai sobre o homem, é o senhor quem o permitiu (veja Amós
3:5,6 ; Lamentações 3:33-38 ; Isaías 47:7 ; Eclesiastes 7:14 ; Isaías 54:16). É Ele
quem direciona os passos dos homens, saibam eles para onde ou não; Ele que ergue e
derruba; que abre e endurece o coração; e cria os pensamentos e intenções da alma."
1
E não devemos crer que Deus pode converter um pecador quando Lhe convier? Não
pode o Todo-Poderoso, o onipotente Soberano do universo, mudar o caráter das
criaturas que Ele fez? Ele transformou a água em vinho em Caná, e converteu Saulo
na estrada para Damasco. O leproso disse: "Senhor, se quiseres podes purificar-me", e
com uma palavra sua lepra foi curada. Deus é capaz de limpar tanto a alma como o
corpo, e nós cremos que se Ele decidir faze-lo, Ele pode levantar uma multidão de
ministros Cristãos, missionários e obreiros de várias categorias que o mundo seria
convertido num espaço de tempo muito curto. Se Ele realmente se propusesse a
salvar todos os homens, Ele poderia enviar legiões de anjos para instruí-los e para
fazer prodígios sobrenaturais na terra. Ele mesmo poderia operar maravilhas no
coração de cada pessoa para que ninguém se perdesse. Desde que o mal existe
somente por Sua permissão, Ele poderia, caso Ele escolhesse, simplesmente eliminar
a sua existência. Seu poder, nesse respeito, foi mostrado pelo trabalho do anjo
destruidor que em uma noite massacrou todos os primogênitos dos Egípcios (Êxodo
12:29), e que em outra noite executou 185.000 do exército Assírio (II Reis 19:35). Foi
mostrado quando a terra abriu-se e engoliu Corá e seus aliados rebeldes (Números
16:31-33). Ananias e Safira foram atingidos (Atos 5:1-11); Herodes foi atingido e
morreu de uma maneira horrível (Atos 12:23). Deus não perdeu nenhum pouco do
Seu poder, e é altamente desonroso para Ele supor que Ele estaria disputando com a
raça humana fazendo o melhor que Ele pode mas incapaz de atingir os Seus
propósitos.
Embora a soberania de Deus seja universal e absoluta, não é a soberania de poder
cego. É aliada a sabedoria infinita, santidade e amor. E esta doutrina, quando
apropriadamente compreendida, é muito confortadora e digna de confiança. Quem
não preferiria ter todos a sua vida nas mãos de um Deus de poder, sabedoria,
santidade e amor infinitos, do que ter de deixá-la à mercê do acaso, do destino ou de
irrevogável lei natural, ou de ego pervertido e sem visão? Aqueles que rejeitam a
soberania de Deus deveriam considerar que outras alternativas existem.
Como, então, são controladas e guiadas as ações do universo? "De acordo com o
propósito dAquele que desenvolveu todas as coisas de conforme a Sua vontade." A
tendência atual é de deixar de lado doutrinas de Soberania Divina e Predestinação de
modo a obter espaço para a autocracia da vontade humana. O orgulho e a presunção
do homem, de um lado, e a sua ignorância e depravação do outro, levam-no a excluir
Deus e a exaltar-se a si próprio tanto quanto ele é capaz; e estas duas tendências
combinadas afastam a maioria da raça humana para longe do Calvinismo.
A idéia Arminiana que assume que as intenções sérias do caminho de Deus sejam em
alguns casos no mínimo anuladas, e que o homem, quem não é somente uma criatura
mas uma criatura singular, possa exercer poder de veto sobre os planos de Deus
Todo-Poderoso, está diretamente em confronto com a idéia Bíblica de Sua
imensurável exaltação por Ele está separado de toda a fraqueza da humanidade. Que
os planos de homens não sejam sempre executados é devido a uma falta de poder, ou
uma falta de sabedoria; mas desde que Deus é ilimitado nestes e em todos os outros
recursos, nenhuma emergência imprevista pode ocorrer, e para Ele causas para
mudanças não existem. Supor que os Seus planos falhem e que ele Se esforce para
nada, é reduzi-Lo ao nível de Suas criaturas.
PROVAS NAS ESCRITURAS
Daniel 4:35: "...ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há
quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?"
Jeremias 32:17: "Ah! Senhor Deus! És tu que fizeste os céus e a terra com o teu
grande poder, e com o teu braço estendido! Nada há que te seja demasiado difícil!"
Mateus 28:18: "E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a
autoridade no céu e na terra."
Efésios 1:22: "e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre
todas as coisas o deu à igreja,"
Efésios 1:11: "nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o
conselho da sua vontade,"
Isaías 14:24,27: "[24] - O Senhor dos exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim
sucederá, e como determinei, assim se efetuará. [27] Pois o Senhor dos exércitos o
determinou, e quem o invalidará? A sua mão estendida está, e quem a fará voltar
atrás?
Isaías 46:9 - 11: "[9] - Lembrai-vos das coisas passadas desde a antigüidade; que eu
sou Deus, e não há outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; [10] que
anuncio o fim desde o princípio, e desde a antigüidade as coisas que ainda não
sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade; [11]
chamando do oriente uma ave de rapina, e dum país remoto o homem do meu
conselho; sim, eu o disse, e eu o cumprirei; formei esse propósito, e também o
executarei."
Gênesis 18:14: "Há, porventura, alguma coisa difícil ao Senhor?..."
Jó 42:2: "Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser
impedido."
Salmo 115:3: "Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz."
Salmo 135:6: "Tudo o que o Senhor deseja ele o faz, no céu e na terra, nos mares e
em todos os abismos."
Isaías 55:11: "assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim
vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei."
Romanos 9:20,21: "[20] Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura
a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?[21] Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?"
Capítulo 5 A Providência de DEUS
As obras da providência de Deus são a Sua maneira muito santa, sábia e poderosa de
preservar e governar todas as Suas criaturas, e todas as ações delas (Catecismo Menor
de Westminster, resposta à pergunta 11). As Escrituras muito claramente ensinam que
tudo o quanto existe fora Deus deve-Lhe, não meramente a sua criação original, mas
também a ontínua existência, com todos os seus atributos e poderes, à vontade de
Deus. Ele é quem sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1:3). Ele é
antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas (Cl 1:17). "Tu, só tu, és
Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra
e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles já, e tu os conservas a
todos,..." (Nee 9:6). "porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; ..." (At
17:28). "...sobre todos, e por todos e em todos." (Ef 4:6)
Em toda a Bíblia as leis da natureza, o curso da história, a sorte variável de
indivíduos, são sempre atribuídas ao controle providencial de Deus. Todas as coisas,
seja no céu ou na terra, desde o serafim até a menor partícula atômica, são ordenadas
por sua nunca falha providência. Tão íntima é a sua relação com a criação toda, que
um leitor descuidado pode ser levado a conslusões panteísticas. Ainda assim, tanto
personalidades individuais como segundas causas são reconhecidas não como
independentes de Deus, mas como tendo seu próprio lugar em Seu plano. E
paralelamente à esta doutrina de Sua Essência, os escritores da Bíblia também
apresentam também a correlata doutrina de Sua Transcendência, na qual Deus é
apresentado como totalmente separado e superior à toda criação.
Ainda com relação à providência de Deus, entendemos que Ele intimamente
relaciona-se com todo detalhe das ações dos homens e do curso da natureza. "Supor
que qualquer coisa seja grande demais para estar sob Seu controle", diz Dr Charles
Hodge, "ou qualquer coisa seja tão pequena ao ponto de escapar à Sua observação; ou
que a infinidade de detalhes possa distrair a Sua atenção, é esquecer-se de que Deus é
infinito. . . . O sol que propaga a sua luz no espaço tão facilmente como em qualquer
ponto. Deus está tão presente em todo lugar, e com tudo o quanto existe, como se Ele
estivesse presente em somente um lugar, e tivesse nada mais a não ser um objeto de
Sua atenção." E ainda, "Ele está presente em toda folha de grama, ainda assim
guiando o curso de uma estrela (nota do tradutor: no original "Arcturus" à do Grego
"Arktouros", literalmente significando "observador de urso": uma estrela fixa de
primeira magnitude, na constelação "Bootes", no Hemisfério Norte), coordenando as
estrelas como seu organizador, chamando-as pelos seus nomes; presente também em
cada alma humana, dando entendimento, provendo-a e suprindo-a, trabalhando nela
em ambos sentidos, no querer e no fazer. O coração humano está em Suas mãos, e Ele
o transforma e acalma, como as águas dos rios nos remansos." 1
É quase que universalmente admitido que Deus determina quando, onde, e sob quais
circunstâncias, cada indivíduo de nossa raça deve nascer, viver e morrer, se será
macho ou fêmea, branco ou preto, sábio ou tolo. Para alguns Ele dá requeza, a outros
honra, a outros saúde, para outros certos talentos e dons para música, oratória, arte,
financas, políticas, etc. Já outros são pobres, desconhecidos, nascidos em desonra, as
vítimas de doenças, e vivem vidas de miséria. Alguns são colocados em lugares
Cristãos onde recebem os benefícios do Evangelho; outros vivem e morrem nas
trevas do ateísmo. Alguns são trazidos através da fé à salvação; outros perecem
descrentes. E numa importância extrema, estes sinais externos, que não são resultado
da escolha individual, decidem o curso de vida da pessoa e o destino eterno. É
mostrado e ensinado por ambas, as Sagradas Escrituras e a experiência diária que
Deus dá a alguns o que Ele não concede a outros. Se Lhe fosse perguntado por que
Ele assim procede, ou por que Ele não salva a todos, a única resposta disponível
estaria nas palavras do Senhor Jesus, "Sim , ó Pai , porque assim te aprouve." (Mt
11:26). So a doutrina da queda e redenção mostrada nas Escrituras nos proporciona
luz no que vemos sobre nós mesmos.
É para ser relembrado que os que recebem estes dons, sejam espirituais ou temporais,
recebem-nos através da pura graça, enquanto que com relação aos outros, Deus
simplesmente abstem-Se de proporcionais tais talentos, os quais Ele não tinha a
obrigação de dar. Nações, tanto quanto indivíduos, estão assim nas mãos de Deus,
que aponta os limites de sua habitação, e controla os seus destinos. Ele controla-os
tão absolutamente quanto um homem controla um bastão ou uma bengala. Eles estão
em Suas mãos, e Ele usa-os para alcançar os Seus propósitos. Ele os quebra em
pedaços como um oleiro faz com um vaso, ou Ele exalta-os e eleva-os a grandezas,
conforme a Sua vontade. Ele dá a paz e abundância de colheitas, propriedade e
felicidade, ou Ele envia as desolações da guerra, da fome, da seca e pestilência. Todas
estas coisas estão à disposição de Deus, e são designadas para utilizadores
inteligentes, sob a Sua universal providência. Deus não é um mero expectador do
universo. Ele o fez, mas está presente e ativo em todo lugar, o sustentáculo de tudo e
o poder governante de tudo o quanto existe.
Embora o valor de um pardal seja pequeno, e o seu vôo pareça ser descoordenado e
sem controle, ainda assim ele não cai ao chão, nem desvia-se para lugar algum, sem o
seu Pai. "Sua onisciente providência já de antemão determina em qual galho ele
pousará; que migalhas ele apanhará; onde ele construirá seu ninho e descansará; onde
ele viverá e onde ele morrerá." 2
Cada gota de chuva e cada floco de neve que caem das nuvens, cada inseto que se
move, cada planta que nasce e cresce, gada partícula de poeira que flutua no ar têem
certas causas definitivas e terão certos efeitos definitivos. Cada um é um elo na
corrente de eventos e muitos dos grandes eventos da história aconteceram devido a
estas coisinhas aparentemente insignificantes.
Através de todo o curso de eventos existe progresso, em direção a um fim pré-
determinado. Dr Warfield muito apropriadamente escreveu: "Não foi um acidente que
levou Rebeca ao poço, para dar as boas vindas ao servo de Abraão (veja Gn 24), ou
que levou José ao Egito (veja Gn 45:8 ; 50:20. 'Deus assim o quis, para o bem'), ou
guiou a filha do Faraó até a arca no meio dos juncos (Êx 2), ou que mais tarde,
direcionou a pedra do moinho que quebrou o crânio de Abimeleque (Jz 9:53), ou
guiou a flecha (atirada a esmo) que feriu o rei por entre as juntas da armadura (1 Rs
22:34). Cada evento histórico é na realidade tratado ou como um ítem na correta
ordem de acontecimentos do propósito Divino pré-estabelecido; e o historiador
mantem-se continuamente ciente da Sua presença na história, que dá até mesmo ao
relâmpago que risca os céus uma tarefa específica (Jó 36:32). 2
Nas grandes estações de trem", disse o Dr Clarence E. Macartney, "você pode ver um
lápis metálico aparecer e escrever em letras grandes na parede os horários de chegada
ou de partida dos trens. O lápis metálico parece escrever por sí próprio, mas nós
sabemos que escondido em algum escritório existe um funcionário, cuja mente e
mãos operam o lápis. Também em nossa própria vida, notamos nossas próprias
deliberações e escolhas e decisões, e ainda na construção do nosso destino, parecem
haver outras cordas, cordas que não respondem ao nosso comando. Eventos
aparentemente triviais desempenham sua parte em grandes acontecimentos." 4
O senso de responsabilidade moral e dependêndia do homem, e o seu instintivo apelo
a Deus em horas de perigo, mostram o quão universal e inata é a convicção de que
Deus realmente governa o mundo e todos os eventos humanos. Mas enquanto a
Bíblia repetidamente ensina que o controle providencial é universal, Poderoso, sábio
e sando, em nenhum lugar as Escrituras intentam informar-nos como reconciliar tal
com a liberdade do homem. Tudo o que precisamos saber é que Deus governa as Suas
criaturas e que o Seu controle sobrfe elas é tal que nenhuma violência aplica-se às
suas naturezas. Talves a relação entre a Soberania Divina e a liberdade humana possa
ser melhor expressada nas palavras: Deus tão presente nos estímulos externos que o
homem age de acordo com a sua própria natureza, e ainda assim faz exatamente o
que Deus tem planejado para que ele faça.
Este assundo, tanto quanto relaciona-se com a responsabilidade humana, será mais
amplamente tratado no capítulo sobre Livre Arbítrio.
2. Eleição Condicional
2. Eleição Incondicional
A escolha de Deus de certos
indivíduos para a salvação antes da O fato de Deus escolher - antes da
fundação do mundo foi baseada na fundação do mundo - certos
sua visão antecipada de que eles indivíduos para a salvação, repousa
poderiam responder à sua chamada. somente sobre a Sua soberana
Ele selecionou somente aqueles que vontade. Sua escolha, de certos
Ele sabia que creriam livremente no pecadores em particular, não foi
Evangelho. Eleição portanto foi baseada em nenhuma resposta ou
determinada por ou condicionada ao obediência da parte deles, tal como
que o homem faria. A fé que Deus fé, arrependimento e etc. Ao
anteviu e na qual Ele baseou a Sua contrário, Deus concede a fé e o
escolha não foi dada ao pecador por arrependimento a cada indivíduo a
Deus (ela não foi criada pelo poder quem Ele escolhe. Tais atos são o
regenerador do Espírito Santo) mas resultado, não a causa da escolha de
resultou somente da vontade do Deus. A eleição portanto não foi
homem. Ela foi deixada totalmente à determinada ou condicionada por
escolha do homem, quanto a em nenhuma qualidade virtuosa ou ato
quem crer; e portanto quanto a quem antevisto do homem. Àqueles a
deveria ser eleito para a salvação. quem Deus soberanamente elegeu
Deus escolheu aqueles que Ele sabia, Ele traz através do poder do Espírito
através da sua própria vontade, que Santo à uma pronta aceitação de
escolheriam a Cristo. Assim, o Cristo. Assim a escolha de Deus
pecador escolhendo a Cristo; e não quanto ao pecador, é em última
Cristo escolhendo o pecador, é em instância a causa da salvação.
última instância causa da salvação.
REAFIRMADO
REJEITADA
pelo Sínodo de Dort
pelo Sínodo de Dort
Este sistema teológico foi
Este foi o sistema constante da
reafirmado pelo Sínodo de Dort em
"Remonstância" (embora os "cinco
1619 como a doutrina da salvação
pontos" não estivessem originalmente
contida nas Sagradas Escrituras. O
assim ordenados). Foi submetido
sistema foi à época formulado em
pelos Arminianos à Igreja da Holanda
"cinco pontos" (em resposta aos
para adoção em 1610, mas foi
"cinco pontos" submetidos pelos
rejeitado pelo Sínodo de Dort em
Arminianos) e desde então tem sido
1619, nas bases de que não era
conhecido como "os cinco pontos do
Bíblico.
Calvinismo".
Sessão II
Capítulo 10
Incapacidade Total
1. Apresentação da Doutrina. 2. A Extensão e os Efeitos do Pecado Original. 3. Os
Defeitos das Virtudes Comuns do Homem. 4. A Queda do Homem. 5. O Princípio
Representativo. 6. A Bondade e a Severidade de Deus. 7. Provas nas Escrituras.
1. Apresentação da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, a doutrina da Depravação Total (Incapacidade
Total) é apresentada como se segue: "O homem, caindo em um estado de pecado,
perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que
acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse
bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se ou mesmo
preparar-se para isso." {Referências: Rm. 5:6 e 8:7-8; Jo 15:5; Rm. 3:9-10, 12, 23;
Ef.2:1, 5; Col. 2:13; Jo 6:44, 65; I Co. 2:14; Tt 3:3-5.} 1
Paulo, Agostinho, e Calvino têm seus pontos de partida no fato de que toda a
humanidade pecou em Adão, e que todos os homens estão "sem desculpas", conforme
Romanos 2:1 [Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas,
porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu que julgas,
praticas o mesmo.] Vez após outra Paulo nos diz que estamos mortos em pecados e
transgressões, alienados de Deus, e sem defesa. Ao escrever aos Cristãos de Éfeso,
ele lembrou-os que antes que haverem recebido o Evangelho, eles estavam
"...naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos
pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo."[Efésios 2:12]. Ali
notamos a "ênfase de cinco partes", à medida em que ele acumula frase sobre frase,
para reforçar esta verdade.
4. A QUEDA DO HOMEM
A queda da raça humana num estado de pecado e miséria é a base e a fundação do
sistema da redenção que é mostrado nas Escrituras, assim como também é a base do
sistema que ensinamos. Somente os Calvinistas parecem levar realmente a sério a
doutrina da queda. Ainda assim, a Bíblia desde o início até o fim declara que o
homem está arruinado - totalmente arruinado - que ele está num estado de culpa e
depravação do qual ele é totalmente incapaz de livrar-se, e que Deus pode em justiça
ter deixado-o a perecer. No Velho Testamento a narrativa da queda é encontrada no
terceiro capítulo de Gênesis; enquanto que no Novo Testamento referências diretas
são feitas a ela em Romanos 5:12-21; I Coríntios 15:22; II Coríntios 11:3; I
Timóteo2:13,14 e etc. Embora o Novo Testamento enfatize literalmente não o fato
histórico da queda do homem, mas o fato ético que o homem está caído. Os escritores
do Novo Testamento interpretaram a queda literalmente e nela basearam a sua
teologia. Para Paulo Adão foi tão real como Cristo, a queda tão real quanto a
expiação. Pode ser dito que os apóstolos estavam errados, mas não pode negar-se que
esta era a sua opinião.
O Dr A.A. Hodge nos deu uma ótima apresentação da doutrina da queda, o qual
teremos o privilégio de parafrasear: --"Do mesmo modo como uma provação justa
não poderia, na natureza do caso, ser dada a cada novo membro em pessoa, quando
vem ao mundo como um bebê ainda não desenvolvido, Deus, como guardião da raça
(humana) e para o melhor do seu interesse, deu a todos os seus membros um
julgamento na pessoa de Adão, sob as circunstâncias mais favoráveis - fazendo o para
aquela mesma finalidade o representante e substituto pessoal de cada um dos seus
descendentes naturais. Ele fez com ele um pacto de obras e de vida, ou seja, Ele deu a
ele para si próprio, e no nome de todos os que ele representava, uma promessa de
vida eterna, condicionada à perfeita obediência, quer dizer, a obras. A obediência
demandada era um teste específico por um período temporário, período o qual
deveria terminar, seja pela recompensa devida à obediência, ou a morte como
conseqüência da desobediência. A 'recompensa' prometida era a vida eterna, que era
uma graça incluindo muito mais do que havia sido originalmente pactuado com Adão
em sua criação, uma dádiva que teria elevado a raça humana a uma condição de gozo
e de santidade inquestionável para sempre. O 'castigo' ameaçado e executado era a
morte; '...; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.'[Gênesis 2:17].
A natureza da morte ameaçada neste versículo pode ser determinada somente a partir
de uma consideração de tudo o que estava envolvido na maldição realmente imposta.
Isto nós sabemos haver sido incluído no instante em que foram retirados o favor
divino e a intercomunicação espiritual dos quais a vida do homem dependia. Daí a
alienação e a maldição imposta por Deus; o senso de culpa e a corrupção da natureza,
conseqüentes transgressões reais, as misérias da vida, a dissolução do corpo, as dores
do inferno." 7
As conseqüências do pecado de Adão estão todas compreendidas sob o termo morte,
no seu sentido mais amplo. Paulo nos dá o mandamento sumário de que "... o salário
do pecado é a morte"[Romanos 6:23]. O peso total da morte que foi imposta a Adão
somente pode ser vislumbrado em se considerando todas as conseqüências terríveis
que o homem tem desde a queda. Primeiramente foi a morte espiritual, ou a eterna
separação de Deus, a qual foi imposta; e a morte física, ou a morte do corpo, que é
um dos primeiros frutos e conseqüência relativamente sem importância daquele
castigo maior. Adão não morreu fisicamente até 930 anos após a queda, mas ele
morreu sim, espiritualmente, no mesmo instante em que ele caiu no pecado. Ele
morreu simplesmente como um peixe morre quando tirado da água, ou como uma
planta morre quando é arrancada do solo.
"Em geral nós abraçamos uma idéia muito errada de como Adão caiu .... Adão não foi
tentado por Satã de uma forma direta .... Eva foi tentada por Satã, que a enganou e a
fez cair. Mas nós temos evidência inspirada provando que Adão não foi enganado [I
Timóteo 2:14]"E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão;". Ele foi pego não pelas vontades de Satã, mas o que ele fez, ele o fez
de livre, espontânea e deliberada vontade. E a consciência do que ele estava fazendo,
com uma perfeita compreensão das solenes conseqüências envolvidas, ele
deliberadamente escolheu seguir a sua mulher no seu ato de desobediência
pecaminosa. Foi a vontade deliberada do pecado do homem que constituiu o seu
caráter hediondo. Tivesse ele sido atacado por Satã, e forçado a render-se como
resultado de um poder avassalador ser imposto contra ele, nós poderíamos tentar
encontrar alguma desculpa para a sua queda. Mas quando, com os olhos bem abertos,
e com a mente perfeita e inteiramente ciente da terrível natureza do seu ato, ele usou
o seu livre arbítrio para responder ao clamor da natureza em desafio ao Criador,
nenhuma desculpa ele poderia dar para a sua queda. Seu ato, na realidade, foi
deliberado, rebelião desafiadora, e com isto ele abertamente transferiu a sua lealdade
de Deus para Satã." 8
E não houvesse havido uma queda - uma queda aterradora? Quanto mais nós
estudamos a natureza humana como é manifesta no mundo ao nosso redor, mais fácil
nos é crer nesta grande doutrina do pecado original. Considere o mundo como um
todo, cheio como está de assassinatos, roubos, bebedeiras, guerras, lares destruídos, e
crimes de toda a espécie. As milhares de formas geniais que o crime e o vício
assumiram nas mãos de praticantes contumazes são todos peças que nos contam uma
estória aterrorizante. Uma grande porção da raça humana hoje em dia, assim como
nas eras passadas, é abandonada para viver e morrer na escuridão do paganismo, sem
esperanças desviados de Deus. O modernismo e negação de todo tipo são
incontroláveis atém mesmo na Igreja. Mesmo a assim chamada imprensa religiosa,
está fortemente tingida com descrença. Observe a aversão generalizada à oração, ao
estudo da Bíblia, ou a falar de assuntos espirituais. Não é o homem agora, como seu
progenitor Adão, fugindo da presença de Deus, não querendo comunicar-se com Ele,
e com inimizade em seu coração, para com o seu Criador? Certamente a natureza
humana é radicalmente errada. Os jornais diários nos dão conta de eventos, mesmo
numa terra abençoada como a América, mostrando que o homem é pecador, está
perdido de Deus, e é norteado por princípios que não são santos. E a única e
adequada explicação para tudo isso é o castigo da morte, que foi alertado ao homem
antes da queda; e agora encontra-se na raça humana.
Nós vivemos num mundo perdido, um mundo que se deixado à sua própria vontade,
degeneraria em sua própria corrupção de eternidade a eternidade, -- um mundo
recendendo a iniqüidade e blasfêmia. Os efeitos da queda são tais que a vontade
própria do homem tende somente afundar mais e mais no pecado e na lascívia. De
fato, Deus não permite que a raça humana venha a tornar-se tão corrupta o quanto
naturalmente seria se deixada à sua própria vontade. Ele põe em prática influências
que restringem, incitando os homens a amarem-se uns aos outros, a serem honestos,
filantrópicos; e a preocuparem-se com o bem estar de cada um. Se Deus assim não
fizesse, se Ele não exercitasse essas influências, os homens perniciosos se tornariam
piores e piores, sobrepassando convenções e barreiras sociais, até que o zênite da
impunidade e da falta de lei e de ordem fosse alcançado, e a terra se tornasse então
tão inteiramente corrupta que os eleitos não mais poderiam nela viver.
5. O PRINCÍPIO DA REPRESENTATIVIDADE
É fácil entender como uma pessoa pode agir através de um representante. O povo de
um estado age através dos parlamentares que os representam na Legislatura. Se um
país tem um bom presidente ou rei, todo o povo partilhará os bons resultados de sua
administração; se por outro lado tiver um mau presidente ou rei, todos sofrerão as
conseqüências. Num sentido muito real, pais atuam como representantes, e num
sentido mais amplo, decidem os destinos dos seus filhos. Se os pais forem sábios,
virtuosos, bons administradores do orçamento doméstico, as crianças colhem as
bênçãos; mas se eles forem indolentes e imorais as crianças sofre. De mil maneiras
diferentes o bem estar de indivíduos está condicionado aos atos e atitudes de outros,
tão íntimo é o princípio da representatividade na nossa vida humana. Assim, uma vez
que na doutrina da Bíblia Adão era o cabeça oficial e representante do seu povo,
temos somente a aplicação de um princípio que vemos ativo em todos nós.
O Dr. Charles Hodge tratou o assunto com grande habilidade, na seguinte seção: --
"O princípio da representatividade permeia toda a Bíblia. A imputação do pecado de
Adão à posteridade não é um fato isolado. É somente uma ilustração de um princípio
geral que caracteriza as dispensações de Deus deste o princípio do mundo. Deus
declarou-Se a Si mesmo a Moisés, como o que visita a iniqüidade dos pais nos filhos,
e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta gerações {veja em Êxodo 34:6,7}....... A
maldição proferida em Canaã caiu sobre a sua prosperidade. O fato de Esaú haver
vendido sua primogenitura, tirou a sua descendência do pacto da promessa. Os filhos
de Moabe e de Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre,
porque seus ancestrais se opuseram aos Israelitas quando eles saíram do Egito. No
caso de Datã e de Abirão, como no de Acã, 'suas esposas, e seus filhos, e seus
pequeninos pereceram pelos pecados dos seus pais.' Deus disse a Eli, que a
iniqüidade da sua casa não deveria ser purgada para sempre com sacrifícios e
oferendas. Para Davi foi dito, 'Agora, pois, a espada jamais se apartará da tua casa,
porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua
mulher.'[II Samuel 12:10]. Para o desobediente Geazi foi dito: "Portanto a lepra de
Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre."[II Reis 5:27]. A sina de
Jeroboão e dos homens da sua geração determinaram o destino das dez tribos para
sempre. A imprecação dos Judeus quando demandaram a crucificação de Cristo, '...O
seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.'[Mateus, 27:25], ainda pesa sobre o
povo disperso de Israel ..... Este princípio corre através das Escrituras. Quando Deus
pactuou com Abraão, não foi somente para ele mesmo, mas também para a sua
posteridade. Ele tornaram-se ligados a todas as estipulações do pacto. Eles
compartilharam das promessas e dos alertas de castigo, e em centenas de casos o
castigo da desobediência veio sobre aqueles que nem tinham parte pessoal nas
transgressões. Crianças sofreram igualmente com adultos nos julgamentos. Fosse
fome, peste, ou guerra, que viesse sobre o povo em conseqüência dos seus
pecados ..... E os Judeus até hoje estão sofrendo o castigo pelos pecados dos seus
pais, pela rejeição dAquele sobre quem Moisés e os profetas falaram. O plano inteiro
da rejeição baseia-se neste mesmo princípio. Cristo é o representante do Seu povo, e
nestas bases os seus pecados são imputados nEle e a Sua retidão para eles .....
Nenhum homem que creia na Bíblia pode fechar seus olhos ao fato de que ela em
todos os lugares reconhece o caráter representativo dos pais, e que as dispensações de
Deus têm desde o começo sido encontradas no princípio de que as crianças sofrem
pela iniqüidade dos seus pais. Esta é uma das razões que os infiéis assinalam ao
rejeitar a origem divina das Escrituras. Mas a infidelidade não proporciona alívio. A
história está tão cheia desta doutrina como está a Bíblia. O castigo do perverso
também envolve sua família na desgraça e na miséria. O perdulário e o alcoólatra
trazem a pobreza e a miséria sobre todos os que são conectados consigo. Não há
nenhuma nação da terra hoje, cujas condições de prosperidade ou de miséria não
sejam em muito determinadas pela conduta dos seus ancestrais .... A idéia da
transferência de culpa ou de castigo vicário encontra-se verdadeiramente na base de
todas as ofertas expiatórias do Velho Testamento, e da grande expiação sob a nova
dispensação. Pecar, conforme a linguagem Bíblica, e carregar o castigo do pecado. A
vítima (o animal sacrificado) carregava em si o pecado daquele que oferecia o
sacrifício. Mãos eram impostas sobre a cabeça do animal antes do abate, para
expressar a transferência de culpa. O animal devia ser livre de qualquer defeito, de
modo a ser mais aparente que o seu sangue era vertido não por suas próprias
deficiências, mas pelo pecado de outrem. Tudo isso era típico e simbólico .... E é isto
que as Escrituras ensinam com relação à expiação de Cristo. Ele levou sobre si os
nossos pecados; Ele foi feito maldição por nós; Ele sofreu o castigo da lei em nosso
lugar. Tudo isto procede, faz sentido, tem valor no terreno em que os pecados de um
homem podem ser justamente, em casos adequados, imputados a outro." 9
As Escrituras nos dizem que, "...pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores,..."[Romanos 5:19], "...por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porquanto todos pecaram."[Romanos 5:12], "...assim como por uma só ofensa veio o
juízo sobre todos os homens para condenação, ..."[Romanos 5:18]. É como se Deus
tivesse dito: Se o pecado entrar, deixemos que entre somente por um homem, de
modo que a retidão também possa entrar por um homem.
Adão foi feito não somente o pai, mas também o representante de toda a raça
humana. E se nós compreendermos corretamente a estreiteza da relação entre ele e
eles nós entenderíamos finalmente a justiça da transmissão do seu pecado a eles. O
pecado de Adão é imputado aos seus descendentes na mesma maneira que a retidão
de Cristo é imputada àqueles que crêem nEle. Os descendentes de Adão são, é claro,
não mais pessoalmente culpados pelo pecado dele do que os remidos por Cristo são
pessoalmente merecedores da Sua retidão.
Sofrimento e morte são declarados serem a conseqüência do pecado, e a razão porque
todos estão mortos é que "todos pecaram". Agora sabemos que muitos sofrem e
morrem na infância, antes que tenham cometido qualquer pecado. A lógica diz então
que ou Deus é injusto em castigar o inocente, ou que aquelas crianças são de alguma
forma criaturas culpadas. E se culpadas, como teriam pecado? É impossível explicar
tal fato por qualquer outra suposição que não seja a que elas (as crianças) pecaram em
Adão (I Coríntios 15:22; Romanos 5:12, 18); e não poderiam haver pecado em Adão,
a não ser pela representatividade.
Mas enquanto nós não somos pessoalmente culpados do pecado de Adão, nós somos,
não obstante, passíveis de castigo por ele. "A culpa pelo pecado público de Adão," diz
o Dr A.A. Hodge, "é por um ato judicial de Deus imediatamente debitada na conta de
cada um dos seus descendentes a partir do momento em que eles passam a existir, e
antecedentemente a qualquer um dos seus próprios atos. Já que todos os homens vêm
ao mundo privados de todas aquelas influências do Espírito Santo, das quais dependm
a sua vida moral e espiritual dependem .... e com uma tendência anterior para o
pecado prevalecendo na natureza deles; tendência a qual é ela mesma da natureza do
pecado, e portanto passível de castigo. A natureza humana desde a queda mantém
suas faculdades constitucionais de razão, consciência e livre arbítrio, e assim o
homem continua a ser um agente moral responsável. Ainda assim ele está
espiritualmente morto, e totalmente avesso e incapaz de livrar-se de qualquer desses
pesos que impedem o seu relacionamento com Deus, e totalmente incapaz de mudar
suas próprias e maléficas disposições ou tendências morais inatas, ou dispor-se a tal
empreendimento, ou cooperar com o Espírito Santo na efetivação de tal mudança." 10
E para o mesmo efeito geral, o Dr. R. L. Dabney, o renomado teólogo da Igreja
Presbiteriana do Sul, diz, "A explicação apresentada pela doutrina da imputação é
demandada por todos exceto os Pelaginaos e Socinianos. O ser humano é uma raça
espiritualmente morta e condenada. Veja Efésios 2:1-5 e seguintes. Ele obviamente
está sob uma maldição de alguma espécie, desde o início de sua vida. Testemunha a
depravação nativa das crianças, e sua herança de miséria e de morte. Agora, ou o
homem foi julgado e caiu em Adão, ou ele foi condenado sem um julgamento. Ou ele
está sob a maldição (como ela permanece nele desde o início da sua existência) pela
culpa de Adão, ou por nenhuma culpa que seja. Juiz que é honorável a Deus, uma
doutrina que, embora mistério profundo, representa-O como concedendo ao homem
uma provação justa e mais favorável sobre sua cabeça; ou que faz com Deus condene
o homem sem julgamento, e mesmo antes que ele venha a existir." 11
6. A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS
Uma pesquisa sobre a queda e os seus desdobramentos é um trabalho humiliante.
Prova ao homem que todas as suas alegações de bondade são infundadas, e mostra-
lhe que sua única esperança está na soberana graça de Deus Todo-Poderoso. A
"graciosamente restaurada habilidade" de que os Arminianos falam não é consistente
com os fatos. As Sagradas Escrituras, a história e a experiência Cristã se nenhuma
forma avalizam tal como sendo uma visão favorável da condição moral do homem
como o sistema Arminiano ensina. Ao contrário, cada um deles nos proporciona um
quadro pessimista de uma corrupção horrível e de uma inclinação universal para o
mal, a qual somente pode ser ultrapassada pela intervenção da divina graça. O
sistema Calvinista ensina uma queda muito mais profunda no pecado e uma muito
mais gloriosa manifestação da graça redentora. Dessas profundezas o Cristão é
levado a desprezar-se a si mesmo, largando-se incondicionalmente nos braços de
Deus, e permanecer na graça imerecida, somente a qual pode salva-lo.
Nós deveríamos ver a piedade de Deus e também a Sua severidade nas esferas
espiritual e física. Em toda a Bíblia, e especialmente nas palavras do próprio Cristo,
os tormentos finais dos maus são descritas de tal maneiras a mostrar-nos que são
indescritivelmente horríveis. No Evangelho de Mateus somente, vemos nas passagens
5:29,30; 7:19; 10:28; 11:21-24; 13:30,41,42,49,50; 18:8,9,34; 21:41; 24:51;
25:12,30,41; e 26:24. Certamente uma doutrina que recebeu tal ênfase dos lábios de
Cristo, Ele mesmo, não pode passar em silêncio, embora tão desagradável que possa
ser. No próximo mundo os perversos, com todas as barreiras removidas, mergulharão
de cabeça no pecado, na blasfêmia e nas ofensas a Deus, piorando e piorando
enquanto afundam cada vez mais no buraco. Castigo sem fim é a recompensa de
pecado sem fim. Mais ainda, a glória de Deus é tanta enquanto Ele castiga o perverso,
como é quando Ele recompensa o justo. Muito da negligente indiferença para com o
Cristianismo nos nossos dias é devida à falha dos ministros Cristãos em enfatizar
estas doutrinas que Cristo ensinou tão repeditamente.
No âmbito físico nós vemos a severidade de Deus em guerras, fome, enchentes,
desastres, doenças, sofrimentos, mortes, e crimes de toda espécie que avassalam tanto
justos como injustos da mesma forma. Tudo isso existe num mundo que está sob o
completo controle de Deus, que é infinito nas Suas perfeições.
"Considera pois a bondade e a severidade de Deus..."[Romanos 11:22]. O
Naturalismo não faz justiça a nenhum desses. O Arminianismo magnifica o primeiro
mas nega o segundo. O Calvinismo é o único sistema que faz justiça a ambos.
Somente este sistema adequadamente estabelece os fatos com relação ao eterno e
infinito amor de Deus, que O levou a propiciar redenção para o Seu povo, mesmo
com o grande custo de mandar o Seu Filho unigênito para morrer numa cruz; e
também com relação ao terrível abismo que existe entre o homem pecador e o Deus
santo. É verdade que "Deus é Amor", mas juntamente com esta verdade também há
que ser colocada outra, que "...o nosso Deus é um fogo consumidor"[Hebreus 12:29].
Qualquer sistema teológico que omita ou que não enfatize alguma dessas verdades
será um sistema mutilado, não importa o quão plausível ele possa soar aos homens.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) do homem é terrivelmente
pesada, severa, proibitiva. Mas deve ser lembrado que nós não temos a liberdade para
desenvolver um sistema teológico que satisfaça a nossa vontade. Devemos considerar
os fatos como os encontramos. Tais exibições do verdadeiro estado da raça humana
são, é claro, geralmente ofensivas ao homem não regenerado, e muitos têm tentado
encontrar um sistema de doutrinas que seja mais agradável á mente popular. O estado
do homem caído é tal que ele prontamente dá ouvidos a qualquer teoria que faça-o
mesmo que parcialmente independente de Deus; ele deseja ser o mestre do seu
destino e o capitão da sua alma. O estado de perdição e de ruína do pecador precisa
ser constantemente mostrado a ele; pois até que a ele seja feito sentir tal estado, ele
nunca buscará ajuda, onde somente tal ajuda pode ser encontrada. Pobre homem!
Verdadeiramente carnal e com a alma sob o jugo do pecado, não somente sem
nenhum poder mas também sem inclinação para mover-se na direção de Deus; e o
que é ainda mais terrível, numa presunção real, blasfemosamente rival do Grande
Jeová.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), ou do Pecado Original, foi
tratada com alguma extensão, de maneira a estabelecer a base fundamental sobre a
qual encontra-se a doutrina da Predestinação. Este lado do quadro é negro, na
realidade muito negro; mas o suplemento é a glória de Deus na redenção. Cada uma
dessas verdades deve ser vista na sua verdadeira luz, antes que a outra possa ser
verdadeira e adequadamente apreciada.
7. PROVAS NAS ESCRITURAS
I Coríntios 2:14 : "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente."
Gênesis 2:17 : "mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."
Romanos 5:12 : "Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto
todos pecaram."
II Coríntios 1:9 : "portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que
não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;"
Efésios 2:1-3 : "[1] Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, [2] nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos de
desobediência, [3] entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da
nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza
filhos da ira, como também os demais."
Efésios 2:12 : "estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de
Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no
mundo."
Jeremias 13:23 : "pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas?
então podereis também vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal."
Salmo 51:5 : "Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concedeu minha
mãe."
João 3:3 : "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
Romanos 3:10-12 : "[10] como está escrito: Não há justo, nem sequer um. [11] Não
há quem entenda; não há quem busque a Deus. [12] Todos se extraviaram; juntamente
se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só."
Jó 14:4 : "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém."
I Coríntios 1:18 : "Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem;
mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus."
Atos 13:41 : "Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma
obra em vossos dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar."
Provérbios 30:12 : "Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada
da sua imundícia."
João 5:21 : "Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o
Filho dá vida a quem ele quer."
João 6:53 : "Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a
carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos."
João 8:19 : "Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me
conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também
conheceríeis a meu Pai."
Mateus 11:25 : "Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do
céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos."
II Coríntios 5:17 : "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo."
João 14:16 : "[16]E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique
convosco para sempre.[17] a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode
receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita
convosco, e estará em vós."
João 3:19 : "E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes
as trevas que a luz, porque as suas obras eram más."
Capítulo 11 Eleição Incondicional
1. Apresentação da Doutrina 2. Prova da Bíblia 3. Prova da Razão 4. Fé e Boas Obras
são os Frutos e a Prova, não as Bases, da Eleição 5. Rejeição 6. Infralapsarianismo e
Supralapsarianismo 7. Muitos são Escolhidos 8. Uma Raça ou Mundo Redimido 9.
Vastidão da Multidão de Redimidos 10. O Mundo está Ficando Melhor 11. Salvação
Infantil 12. Sumário
1. APRESENTAÇÃO DA DOUTRINA
A doutrina da Eleição deve ser encarada somente sob uma aplicação particular da
doutrina geral da Predestinação ou Pré Ordenação conforme relaciona-se com a
salvação de pecadores; e desde que as Escrituras estão preocupadas mais com a
redenção de pecadores, esta parte da doutrina é naturalmente colocada em um lugar
de proeminência especial. Ela compartilha todos os elementos da doutrina geral; e
desde que é o ato de uma Pessoa moral infinita, é representada como sendo a
determinação eterna, absoluta, imutável efetiva da Sua vontade, dos objetos de Suas
operações salvíficas. E nenhum aspecto desta escolha eletiva é mais constantemente
enfatizado do que o da sua absoluta soberania.
A Fé Reformada tem se apegado à existência de um decreto eterno, divino, o qual,
antecedentemente a qualquer diferença ou excelência nos próprios homens, separa a
raça humana em duas porções e ordena uma para a vida eterna e a outra para a morte
eterna. Tanto quanto tal decreto é relacionado aos homens e designa o conselho de
Deus referente àqueles que tiveram uma chance supremamente favorável em Adão
para ganhar a salvação, mas que perderam tal chance. Como resultado da queda eles
são culpados e corruptos, seus motivos são errados e eles não podem operar a sua
própria salvação. Eles perderam todas causas ente a misericórdia de Deus, e podem
simplesmente terem sido deixados para sofrer o castigo da sua desobediência como
todos os anjos caídos também o foram. Mas ao contrário, os membros eleitos desta
raça são resgatados deste estado de culpa e pecado e são trazidos a um estado de
santidade e bênçãos. Os não eleitos são simplesmente deixados em seu estado prévio
de ruína, e estão condenados pelos seus pecados. Eles não sofrem nenhum tipo de
castigo não merecido, pois Deus está tratando-os não meramente como homens, mas
como pecadores.
A Confissão de Fé de Westminster apresenta a doutrina desta forma [Capítulo III -
Dos Eternos Decretos de Deus]: "Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua
glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros
preordenados para a morte eterna."[ Ref. I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31,
41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.]
"Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e
imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser
nem aumentado nem diminuído." [Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19]
"Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito
da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a
glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua
gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de
fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a
isso o movesse, como condição ou causa."[Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9;
I Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.]
"Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui
livre propósito da sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os
que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são
eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo
devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder por meio
da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo."[Ref. I Pedro 1:2; Ef.
1:4 e 2: 10; II Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5;
João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I João 2:19.]
"Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou
recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as
suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus
servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus
pecados."[Ref. Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8.]"
É importante que tenhamos uma clara compreensão desta doutrina da Eleição divina,
pois a nossa visão relacionada a ela é o que determina a nossa visão de Deus, o
homem, o mundo, e a redenção. Como Calvino corretamente disse, "Nós nunca
estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que a nossa salvação
provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados
com esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não
adota todos indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que
recusa a outros. Ignorância deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e
diminui a real humildade." 2 Calvino admite que esta doutrina levantou questões
muito perplexas nas mentes de alguns, pois, diz ele, "eles não consideram nada mais
irracional do que, da massa comum da raça humana, alguns deverial estar
predestinados à salvação; e outros à destruição."
Os teólogos Reformados consistentemente aplicaram este princípio à experiência real
do fenômeno espiritual, o qual eles mesmos sentiram e viram nos outros ao seu redor.
O propósito divino, ou Predestinação, sozinho poderia explicar a distinção entre bem
e mal, entre o santo e o pecador.
2. PROVA DA BÍBLIA
A primeira questão que devemos perguntarmo-nos então, é, "Encontramos esta
doutrina ensinada nas Sagradas Escrituras?" Voltemo-nos então para a Epístola de
Paulo aos Efésios. Lá podemos ler: "[4] como também nos elegeu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; [5] e
nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade,"[Efésios 1:4,5]. Na carta aos Romanos lemos
que a corrente dourada da redenção estende-se desde a eternidade já passada até a
eternidade ainda porvir -- "Porque os que dantes conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que
chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também
glorificou."[Romanos 8:29,30]. Pré-sabido, preordenados, chamados, justificados,
glorificados, sempre com as mesmas pessoas incluídas em cada grupo, e onde um
desses fatores estiver presente, todos os demais estarão em princípio, também
presentes.
Paulo redigiu o versículo conjugando os verbos no tempo passado porque com Deus
o propósito é em princípio executado quando formado, tão certamente é o seu
cumprimento. "Estes cinco elos dourados", diz o Dr. Warfield, "são todos unidos em
uma corrente inquebrável, de modo que todos os que estão sob a graciosa vista
diferenciadora de Deus são carregados por Sua graça somente, passo a passo, até a
grande consumação da glorificação que completa a prometida conformidade à
imagem do próprio Filho de Deus. Veja, é a 'eleição' que faz tudo isso; a 'quem Ele
justificou, . . . . . eles também glorificou'." 3
As Escrituras Sagradas representam a eleição como um acontecimento no passado,
sem relacionamento com o mérito pessoal, e totalmente soberana, -- "[11] (pois não
tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o
propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor. [13] Como
está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú."[Romanos 9:11-13]. Agora, se a doutrina
da eleição não for verdadeira, podemos seguramente desafiar qualquer homem a
dizer-nos o que o apóstolo Paulo quis dizer com tal tipo de linguagem. "Nos é
ilustrada a soberana aceitação de Isaque e a rejeição de Ismael, e a escolha de Jacó e
não a de Esaú antes mesmo dos seus nascimentos e portanto antes que tivessem
praticado qualquer bem ou mal; nos é explicitamente dito que no que tange à
salvação não de um que quer ou de outro que corre, mas de Deus que mostra
misericórdia, e que Ele tem misericórdia para com quem Ele quer e a quem Ele
confirma; somos pertinentemente direcionados a observar em Cristo, o oleiro que faz
os vasos que procedem de Sua mão, um para cada finalidade que Ele aponta, para que
Ele possa operar a Sua vontade através deles. É seguro dizer que não se pode escolher
linguagem melhor adaptada para ensinar Predestinação no seu ápice." 4
Mesmo se não tivéssemos quaisquer outros testemunhos inspirado que aqueles
escritos por Paulo, tão claros e precisos são aqueles mesmos que seríamos
constrangidos a admitir que a doutrina da Eleição encontra lugar na Bíblia. Em se
olhando às referências Bíblicas na Confissão de Fé, vemos que a mesma é
abundantemente sustentada pela Bíblia. Se admitimos a inspiração da Bíblia; se
admitimos que os escritos dos profetas e apóstolos foram soprados pelo Espírito de
Deus, e são assim infalíveis, então o que lá encontrarmos será suficiente; e assim no
testemunho irrefutável das Escrituras devemos reconhecer que a Eleição, ou a
Predestinação são uma verdade estabelecida, e que devemos receber se tomamos
posse do conselho de Deus. Cada Cristão deve crer em alguma forma de eleição; pois
enquanto as Escrituras deixam muitas coisas inexplicadas a respeito da doutrina da
Eleição, elas deixam muito claro o FATO de que houve uma eleição.
Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, "Vós não me escolhestes a mim mas
eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ..."[João 15:16],
pelo que Ele fez primária a escolha de Deus e a do homem somente secundária, como
resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos, contudo, em fazendo com que a
salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça proferida inverte
esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não
há lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-
vistas atitudes da criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da
criatura para as suas determinações.
Novamente a soberania desta escolha é claramente ensinada quando Paulo declara
que Deus provou o Seu amor para conosco pelo fato de haver Cristo morrido por nós
enquanto éramos ainda pecadores (Romanos 5:8), e que Cristo morreu pelos ímpios
(Romanos 5:6). Aqui vemos que o Seu amor não foi estendido até nós porque éramos
bons, mas apesar do fato de que nós éramos maus. É Deus quem escolhe a pessoa e
faz com que ele se aproxime dEle (Salmo 65:4). O Arminianismo tira tal escolha das
mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Qualquer sistema teológico que
substitua a eleição feita pelo homem cai sob o ensino Bíblico deste assunto.
Nos dias mais negros da apostasia de Israel, como em qualquer outra época, foi este
princípio de eleição que fez diferença ente a raça humana e manteve seguro um
remanescente. "Todavia deixarei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se
dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou." [I Reis 19:18]. Aqueles sete mil não
permaneceram por sua própria força e poder; está expressamente dito que Deus
reservou-os para Si mesmo, que eles pudessem ser um remanescente.
É para o bem dos eleitos que Deus governa o curso de toda a história (Marcos 13:20
= "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa
dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias."). Ele são o "sal da terra", e a "luz do
mundo"; e até agora pelo menos na história do mundo eles são os poucos através de
quem os muitos são abençoados, -- Deus abençoa a casa de Potifar para o bem de
José; e dez justos teriam salvo a cidade de Sodoma. Sua eleição, é claro, inclui a
oportunidade de ouvir o Evangelho e receber os dons da graça, pois sem estes
grandes meios o fim grandioso que é a eleição não seria alcançado. Eles são, de fato,
eleitos para tudo o que está incluído na idéia de vida eterna.
À parte da eleição de indivíduos para a vida, tem havido o que poderíamos chamar de
uma eleição natural, ou a divina predestinação de nações e de comunidades a um
conhecimento da verdadeira religião e aos privilégios externos do Evangelho. Deus
indubitavelmente escolhe algumas nações para receber bênçãos temporais e
espirituais maiores que outras. Esta forma de eleição sem sido bem ilustrada na nação
Judia, em certas nações e comunidades Européias, e na América. O contraste é
violento, quando comparamos estas com outras nações tais como China, Japão, Índia,
etc.
Em todo o Velho Testamento, é repetidamente mostrado que os Judeus eram um povo
escolhido. "De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; ..."[Amós
3:2]. "Não fez assim a nenhuma das outras nações; ..."[Salmo 147:20]. "Porque tu és
povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, a fim de lhe seres o
seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a terra."[Deuteronômio 7:6].
Porém, é igualmente feito certo que Deus não encontrou nenhum mérito ou dignidade
nos próprios Judeus, que O fizessem escolhe-los em detrimento de outros povos. "[7]
- O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais
numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que
qualquer povo; [8] - mas, porque o Senhor vos amou, e porque quis guardar o
juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos resgatou da
casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito."[Deuteronômio 7:7,8]. E de novo,
"Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua
descendência depois deles, isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se
vê."[Deuteronômio 10:15]. Nesta passagem é cuidadosamente explicado, que Israel
foi honrado com a escolha divina, em contraste com o tratamento dispensado a todos
os demais povos da terra, que a escolha proveio só e unicamente do amor imerecido
de Deus; e que não havia base nenhuma em Israel para tanto.
Quando Paulo foi proibido pelo Espírito Santo de pregar o Evangelho na província da
Ásia, e lhe foi dada a visão de um homem na Europa clamando através das águas,
"Venha até a Macedônia e ajude-nos", uma seção do mundo foi soberanamente
excluída dos privilégios do Evangelho, enquanto que a outra seção os mesmos
privilégios foram soberanamente dados. Tivesse a chamada divinamente direcionada
sido feita mais para a Índia, a Europa e a América poderiam ser hoje menos
civilizadas que os nativos do Tibete. Foi a escolha soberana de Deus que trouxe o
Evangelho aos povos da Europa e mais tarde da América, enquanto que os povos do
leste, e norte, e sul foram deixados em trevas. Nós não podemos assinalar razão
alguma, por exemplo, por que deveriam ter sido escolhidos os povos da semente de
Abraão, e não a semente dos Egípcios ou dos Assírios; ou por que a Grã Bretanha e a
América, que à época do aparecimento de Cristo na Terra encontravam-se num estado
de tão completa ignorância, deveriam atualmente possuir tão abundantemente para si
mesmas, e disseminarem tão grandemente para outros, tão importantes privilégios
espirituais. As diversificações relacionadas aos privilégios religiosos em diferentes
nações não podem ser atribuídas a nada mais que o prazer de Deus.
Uma terceira forma de eleição ensinada na Bíblia é a de indivíduos no sentido
externo da graça, tais como a audição e a leitura do Evangelho, associação com o
povo de Deus, e compartilhar os benefícios da civilização que floresceu onde esteve o
Evangelho. Ninguém jamais teve a chance de dizer em que época em particular na
história do mundo, ou em que país, alguém teria nascido, se seria ou não um membro
da raça branca, ou alguma outra. Uma criança nasce com saúde, abundância, e honra
num lugar favorecido, num lar Cristão, e cresce com todas as bênçãos que
acompanham a plenitude do Evangelho. Uma outra criança nasce na pobreza e na
desonra de pais separados e cheios de pecado, e destituída das influências Cristãs.
Todas estas coisas são soberanamente decididas por elas (as crianças). Certamente
nenhum insistiria que a criança favorecida tenha qualquer mérito que pudesse ser
motivo para tal diferença. Além do mais, não foi de Deus próprio a escolha da criação
de seres humanos, à Sua própria imagem, quando Ele poderia haver criado-nos gado,
ou cavalos, ou cachorros? Ou quem permitiria aos idiotas blasfemar contra Deus por
sua condição de vida, como se a distinção fosse injusta? Todas estas coisas são
devidas à providência de Deus, que prevalece. "Os Arminianos têm batalhado para
reconciliar tudo isto, na verdade, com seus pontos de vista errôneos e defeituosos
quanto a soberania Divina, e com suas doutrinas não Bíblicas da graça universal e da
redenção universal; mas eles usualmente não se satisfazem com suas próprias
tentativas de explicar, e têm comumente no mínimo admitido, que houve mistérios
neste assunto, os quais não poderiam ser explicados, e os quais devem ser resolvidos
na soberania de Deus e na inescrutabilidade dos Seus conselhos." 5
Talvez nós possamos mencionar um quarto tipo de eleição, a de indivíduos com
certas vocações, -- os dons de talentos especiais que fazem com que uma pessoa
venha a tornar-se um estadista, que outra venha a ser um doutor, ou advogado, ou
fazendeiro, ou músico, ou artesão; dons de beleza pessoal, inteligência, disposição,
etc. Estes quatro tipos de eleição são, em princípio, o mesmo. Os Arminianos não têm
dificuldade em admitir o segundo, o terceiro e o quarto tipo de eleição, enquanto que
negam o primeiro. Em cada instância Deus dá a alguns o que ele retém de outros.
Tanto nossa experiência na vida diária como condições amiúde no mundo nos
mostram que as bênçãos dispensadas são soberanas e incondicionais, sem qualquer
relação com o mérito ou a ação por parte daqueles que são escolhidos. Se somos
altamente favorecidos, podemos somente ser gratos por Suas bênçãos; se não
altamente favorecidos, não temos razão nenhuma para reclamar. Por que
precisamente este ou aquele é colocado em circunstâncias que levam à fé salvadora,
enquanto que outros não são também colocados, é de fato um mistério. Não podemos
explicar as obras da Providência; mas sabemos que o Juiz de toda a terra fará o certo,
e que quando nos ativermos ao perfeito conhecimento, veremos que ele tem razões
suficientes para todos os Seus atos.
Ademais, pode ser dito que em geral as condições exteriores que cercam o indivíduo
determinam o seu destino, -- pelo menos neste ponto, que aqueles de quem o
Evangelho é suprimido não têm chance alguma de salvação. Cunningham escreveu
isto muito bem no seguinte parágrafo: -- "Há uma conexão invariável estabelecida no
governo de Deus sobre o mundo, entre o prazer de privilégios exteriores, ou os meios
da graça, por um lado; e fé e salvação por outro, nesse sentido e neste ponto, que a
negação do primeiro implica na negação do segundo. O significado de toda a Bíblia
nos assegura que onde Deus, em Sua soberania, deixa de proporcionar aos homens o
prazer dos meios da graça, -- uma oportunidade de familiarizarem-se com o único
meio de salvação, -- Ele ao mesmo tempo, e através dos mesmos métodos, em
ordenação, retém deles a oportunidade e o poder de crerem e de serem salvos." 6
Os Calvinistas mantêm que Deus lida não somente com a massa da raça humana, mas
também com os indivíduos que são realmente salvos, que Ele elegeu pessoas em
particular para a vida eterna e para todos os meios necessários para que aquela vida
eterna seja alcançada. Eles admitem que algumas das passagens nas quais a eleição é
mencionada ensinam somente uma eleição de nações, ou uma eleição para os
privilégios externos, mas mantêm que muitas outras passagens ensinam exclusiva e
somente uma eleição de indivíduos para a vida eterna.
Há alguns, é claro, que negam ter havido algo como eleição. Segundo eles, a começar
pelo próprio vocábulo, como se fosse um espectro que de repente aparecesse das
trevas, sem nunca antes ter sido visto. Todavia, somente no Novo Testamento, as
palavras 'eklektos', 'ekloga', e 'eklego'; eleito, eleição, escolhido, são encontrados
quarenta e sete ou quarenta e oito vezes (referência para a lista completa é a "Young's
Analytical Concordance). Outros aceitam o vocábulo mas tentam minimizar a
importância do assunto com explicações vagas. Eles professam crer em uma "eleição
condicional", baseada, como supõem, numa fé prevista e na obediência evangélica
dos seus objetos. Isto, é claro, destrói a eleição em qualquer senso inteligível do
termo, e a reduz a um mero reconhecimento ou profecia que em algum tempo futuro
algumas pessoas serão possuídas por aquelas qualidades. Se baseado na fé e
obediência evangélica, então, como tem sido cinicamente fraseado, Deus é cuidadoso
ao escolher somente aqueles a quem Ele prevê que se elegerão a si próprios. No
sistema teológico Arminiano, a eleição é reduzida a um mero vocábulo ou nome, do
qual o uso somente tende a envolver o sujeito numa maior obscuridade e confusão.
Um mero reconhecimento que aquelas qualidades estarão presentes em algum tempo
futuro é, claro, algo falsamente chamado de "eleição", ou simplesmente nenhuma
eleição qualquer que seja. E alguns Arminianos, consistentemente levando a cabo as
suas próprias doutrinas que o ser humano pode ou não aceitar, e se ele efetivamente
aceitar ele pode cair novamente, identificam o tempo deste decreto da eleição com a
morte do crente, como se somente então a sua salvação viesse a ser certa.
A Eleição aplica-se não somente aos homens mas também e igualmente aos anjos,
desde que eles também fazem parte da criação de Deus e estão sob o Seu governo.
Alguns destes são santos e felizes, outros são cheios de pecado e miseráveis. As
mesmas razões que levam-nos a crer numa predestinação de homens também nos
fazem crer numa predestinação de anjos. As Escrituras confirmam este ponto de vista
através de referências a "anjos eleitos"[I Timóteo 5:21], e "anjos santos" [Marcos
8:38], os quais contrastam com "anjos maus" ou "demônios". Lemos que Deus "...
não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos
abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;"[II Pedro 2:4]; lemos também
acerca do "... fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41]; e de
"... anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação,
ele os tem reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande
dia"[Judas 6]; e da "... guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o
dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,"[Apocalipse 12:7]. Um estudo dessas
passagens nos mostra que, conforme Dabney diz, "há dois tipos de espíritos, nesta
ordem; santos e pecadores - os anjos, servos de Cristo e os servos de Satã; que foram
criados num estado de santidade e de felicidade, e habitavam na região chamada Céu
(a bondade e a santidade de Deus são prova suficiente de que Ele não os criaria de
outra forma); que os anjos maus volutariamente perderam seu estado [de santidade e
felicidade] ao pecarem, e foram excluídos para sempre do Céu e da santidade; que
aqueles que mantiveram seu estado [de santidade e felicidade] foram doravante
eleitos por Deus, e que o seu estado de santidade e beatitude é agora assegurado para
sempre." 7
Paulo não faz nenhuma tentativa de explicar como Deus pode ser justo ao mostrar
misericórdia e passa-la a quem Ele quiser. Em resposta à pergunta do opositor, "Por
que se queixa ele ainda?" (com aqueles a quem Ele não estendeu a misericórdia
salvadora), ele (Paulo) resolve a questão toda simplesmente evocando a soberania de
Deus, ao replicar, "Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a
coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o
oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e
outro para uso desonroso?"[vide Romanos 9:19-21] (e note-se que Paulo aqui diz os
vasos não são feitos de diferentes espécies ou tipos de barro, mas que é "da mesma
massa", que Deus, o oleiro, faz um vaso para honra e outro para a desonra.) Paulo não
tira Deus do Seu trono e O coloca perante a nossa razão humana para ser questionado
e examinado. Estes Seus conselhos secretos, os quais mesmo aos anjos, que adoram
com tremor e desejo de conhecer, não são explicados; exceto que são ordenados a ser
conforme o Seu próprio prazer. E depois que Paulo assim afirma, ele como se
colocando sua mão à frente, nos proíbe de ir adiante. Fosse verdadeira a hipótese
assumida pelos Arminianos, nominalmente, que a todos os homens é dada suficiente
graça e que cada um é recompensado ou punido, castigado conforme o seu próprio
uso ou abuso de tal graça, não teria havido nenhuma dificuldade a que fazer conta.
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
-- II Tessalonicenses 2:13 : "... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a
santificação do espírito e a fé na verdade,"
-- Mateus 24:24 : "porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão
grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os
escolhidos."
-- Mateus 24:31 : "E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os
quais lhe ajuntarão os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade
dos céus."
-- Marcos 13:20 : "Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas
ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias." (quando da destruição
de Jerusalém).
-- I Tessalonicenses 1:4 : "conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;"
-- Romanos 11:7 : "... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,"
-- I Timóteo 5:21 : "Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos
eleitos ..."
-- Romanos 8:33 : "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus
quem os justifica;"
-- Romanos 11:5 : "Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente
segundo a eleição da graça."
-- II Timóteo 2:10 : "... tudo suporto por amor dos eleitos."
-- Tito 1:1 : "Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos
eleitos de Deus..."
-- I Pedro 1:1 : "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ..." (algumas
traduções como "eleitos"
-- I Pedro 5:13 : "A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho
Marcos."
-- I Pedro 2:9 : "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o
povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz;"
-- I Tessalonicenses 5:9 : "porque Deus não nos destinou para a ira, mas para
alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo,
-- Atos 13:48 : "Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do
Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna."
-- João 17:9 : "Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por
aqueles que me tens dado, porque são teus;"
-- João 6:37 : "Todo o que o Pai me dá virá a mim ..."
-- João 6:65 : "... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido."
-- João 13:18 : "Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ..."
-- João 15:16 : "Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ..."
-- Salmo 105:6 : "vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus
escolhidos."
-- Romanos 9:23 : "... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,"
(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos
9:11-13, 8:29, 30 e etc).
3. PROVAS DA RAZÃO
Se a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) ou Pecado Original for
admitida, a doutrina da Eleição Incondicional segue a mais inescapável lógica. Se,
como as Escrituras e a experiência nos dizem, todos os homens estão por natureza
num estado de culpa e depravação do qual eles são totalmente incapazes de livrarem-
se a si mesmos e não têm nenhum direito, qualquer que seja, para que Deus os
resgate, segue-se então que se qualquer um for salvo Deus deve então escolher
aqueles que deverão ser objeto da Sua graça. O Seu amor para com os homens caídos
expressa-se na escolha de uma multidão inumerável deles para a salvação, e na
provisão de um redentor, quem, agindo como seu cabeça e representante, assumiu a
sua culpa, sofreu o seu castigo, e ganhou para eles a salvação. É sempre ao amor de
Deus que a Bíblia atribui o decreto eletivo, e ela nunca se cansa de elevar nossos
olhos do decreto em si, para o motivo e razão que encontra-se por trás dele. A
doutrina de que os homens são salvos somente através do imerecido amor e da
imerecida graça de Deus encontra sua honesta e completa expressão somente nas
doutrinas do Calvinismo.
Através da eleição de indivíduos o caráter verdadeiramente gracioso da salvação é
mostrado de forma mais clara. Aqueles que declaram que a salvação é inteiramente
obra da graça de Deus, e todavia negam a doutrina da eleição, adotam uma posição
inconsistente. Os escritores inspirados utilizam-se de todos meios para guiar-nos ao
fato de que a eleição dos homens por Deus é uma eleição absolutamente soberana,
alicerçada unicamente no Seu amor que é imerecido pelo homem, e destinada a
mostrar aos homens e aos anjos a Sua graça e misericórdia salvadoras.
Como Juiz e Soberano, Deus tem a liberdade de lidar com um mundo de pecadores
conforme o Seu beneplácito. Ele tem todo o direito perdoar alguns e condenar outros;
tem todo o direito de dar a Sua graça salvadora a um e não dá-la a outro. Desde que
todos pecaram estão destituídos da Sua glória, Ele é livre para ter misericórdia de
quem Ele quiser ter misericórdia. Não é pela vontade do homem, nem pelas obras do
homem, mas por Deus, que mostrou misericórdia, e o motivo pelo qual um é salvo, e
a razão pela qual um é salvo enquanto que outro não é, podem ser encontrados
somente no beneplácito dEle, que ordenou todas as coisas após o conselho da Sua
própria vontade. É por esta razão que antes que Deus criasse o mundo Ele escolheu
todos aqueles a quem Ele daria gratuitamente a herança das bênçãos eternas, e os
escritores Bíblicos tomam cuidados especiais para dar a cada crente na enorme
multidão dos salvos a segurança de que desde toda a eternidade ele mesmo tem sido
objeto peculiar da escolha divina, e que ele somente agora está atingindo o alto
destino preparado para ele desde a fundação do mundo.
Esta doutrina da eleição eterna e incondicional tem algumas sido chamada algumas
vezes de "o coração" da Fé Reformada. Ela enfatiza a soberania e a graça de Deus na
salvação, enquanto que o ponto de vista Arminiano enfatiza a obra da fé e da
obediência do homem, que decide aceitar a graça oferecida. No sistema teológico
Calvinista, é somente Deus quem escolhe aqueles que serão os herdeiros do céu,
aquels com quem Ele compartilhará as Suas riquezas na glória; enquanto que no
sistema Arminiano é, em última análise, o homem quem determina tanto, -- um
princípio no qual, de alguma forma falta humildade, para dizer o mínimo.
Pode ser questionado, "Por que Deus salva a alguns e a outros não?" Mas a resposta
pertence aos Seus conselhos secretos, somente. Precisamente por que este homem
recebe a salvação, e aquele homem não a recebe, quando nenhum dos dois merecia
recebê-la, nós não sabemos. Que Deus ficou satisfeito em estabelecer sobre nós a Sua
graça eletiva, deve ser-nos para sempre um tema de adorável maravilha. Certamente
nada havia em nós, seja qualidade ou feito (obra), que pudesse atrair Sua atenção
favoravelmente ou faze-LO parcial a nós; pois estávamos mortos nos nossos delitos e
pecados e filhos da ira, como também os demais (vide Efésios 2:1-3). Podemos
somente admirar, e maravilharmo-nos, e exclamar em coro com Paulo, "Ó
profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!"[Romanos
11:33]. A maravilha das maravilhas não é que Deus, nos Seus infinitos amor e justiça,
não tenha elegido para a salvação a todos desta raça culpada, mas que Ele tenha
elegido a alguns. Quando consideramos, por um lado, quão abominável é o pecado,
junto com o merecimento de punição; e por outro lado, o que a santidade é, junto com
a perfeita aversão de Deus pelo pecado; a maravilha é como Deus poderia ter o
consentimento da Sua natureza santa para salvar um único pecador. Mais ainda, o
motivo pelo qual Deus não escolheu a todos para a vida eterna não foi porque Ele não
desejasse salvar a todos, mas que por razões as quais nós não conseguimos explicar
totalmente, uma escolha universal teria sido inconsistente com a Sua perfeita retidão.
Nem ninguém pode fazer objeção que este ponto de vista represente Deus agindo
arbitrariamente e sem razão. Postular tal seria afirmar mais do que qualquer homem
sabe. As Suas razões, os Seus motivos para salvar uns em particular enquanto
deixando outros de lado não nos são revelados. "... e segundo a sua vontade ele opera
no exército do céu e entre os moradores da terra;"[Daniel 4:35]. Alguns são
preordenados como filhos, "... segundo o beneplácito de sua vontade"[Efésios 1:5].
Quando um regimento é dizimado por insubordinação, o fato de cada décimo homem
ser escolhido para a morte tem suas razões, mas as razões não estão nos homens.
Indubitavelmente Deus tem os melhores motivos para escolher um e rejeitar outro,
embora Ele não nos tenha dito quais são.
"May not the Sov'reign Lord on
high "Não pode o Soberano Senhor nas alturas
Dispense His favors as He will; Dispensar Seus favores como quiser;
Choose some to life, while others Escolher alguns para a vida, enquanto
die, outros morrem,
And yet be just and gracious still? E todavia ainda ser justo e gracioso?
Shall man reply against the Lord, Pode o homem replicar contra Deus,
And call his Maker's ways unjust? E chamar os caminhos de Seu Criador de
The thunder whose dread word injustos?
Can crush a thousand worlds to O trovão cujo bramido
dust. Pode transformar mil mundos em pó.
But, O my soul, if truths so bright Mas minha alma, se a verdade tão brilhante
Should dazzle and confound thy
sight, Ofusca e confunde tua visão,
'Yet still His written will obey, Ainda assim, a Sua palavra obedecerás,
And wait the great decisive day!"8 e o grande e decisivo dia aguardarás!" 8
O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do
homem. Isto faz com que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às
precárias vontades de homens apóstatas e transforma eventos temporais em motivos
para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou um conjunto de seres
soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é
assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o
que é certo, mas que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior,
Deus é apresentado como tendo evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido
tão geralmente derrotado que já mandou inumeravelmente mais pessoas para o
inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos como conclusão não
somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus.
Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em
Suas perfeições, que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e
quem realmente detém o governo sobre todos os assuntos na vida dos homens.
A Bíblia e a experiência Cristã nos ensinam que a própria fé e o arrependimento
através dos quais nós somos salvos, são eles próprios dádivas de Deus. "Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus;"[Efésios
2:8]. Os Cristãos em Acaia "... pela graça haviam crido."[Atos 18:27]. Um homem
não está salvo por crer em Cristo, ele crê em Cristo porque está salvo. Mesmo o
princípio da fé, a disposição para procurar salvação, é obra da graça dádiva de Deus.
Paulo costumeiramente diz que somos salvos "através", "por meio" da fé (ou seja,
como a causa instrumental), mas nenhuma vez ele diz que somos salvos "por conta"
da fé (como sendo a causa meritória). E no mesmo sentido nós podemos dizer que os
redimidos serão recompensados em proporção às suas boas obras, mas não em razão
delas. E de acordo com isto, Agostinho diz que "Os eleitos de Deus são escolhidos
por Ele para serem Seus filhos, de maneira que possam vir a crer, não porque Ele pré
viu que eles creriam."
Quanto ao arrependimento, é igualmente declarado ser uma dádiva. "Ouvindo eles
estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus
concedeu também aos gentios o arrependimento para a vida."[Atos 11:18]; "sim,
Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o
arreendimento e remissão de pecados;"[Atos 5:31]. Paulo criticou aqueles que não se
deram conta de que era a benignidade de Deus que os levou ao arrependimento [veja
Romanos 2:4]. Jeremias clamou "... restaura-me, para que eu seja restaurado, pois tu
és o Senhor meu Deus ...... arrependi-me; e depois que fui instruído,"[Jeremias 31:18,
19]. O que, por exemplo, tinha João Batista a ver com o fato de estar "cheio do
Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe"[Lucas 1:15] ? Jesus disse aos Seus
discípulos que para eles havia sido dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas
que a outros o mesmo não havia sido dado (veja Mateus 13:11). Basear a eleição em
fé prevista é o mesmo que dizer que nós somos ordenados para a vida eterna porque
nós cremos, enquanto que as Escrituras declaram o contrário: "...e creram todos
quantos haviam sido destinados para a vida eterna."[Atos 13:48]
Nossa salvação é "não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas
segundo a Sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação
pelo Espírito Santo,"[Tito 3:5]. Nós somos encorajados a efetuar a nossa própria
salvação com temor e tremor, pois é Deus quem operou em nós tanto o querer como o
efetuar da Sua boa vontade. E simplesmente porque Deus opera em nós, é que
buscamos desenvolver e efetuar a nossa própria salvação (vide Filipenses 2:12,13). O
Salmista nos diz que o povo do Senhor oferece-se voluntariamente no dia do Seu
poder (vide Salmo 110:3). Assim é que a conversão é uma dádiva peculiar e soberana
de Deus. O pecador não tem poder para voltar-se a Deus, mas é voltado ou renovado
pela graça divina antes que ele possa fazer qualquer coisa espiritualmente boa. De
acordo com esta premissa Paulo nos ensina que o amor, o gozo, a paz, a
longanimidade, domínio próprio, etc., não são as bases meritórias da salvação, mas
antes "os frutos do Espírito," (veja Gálatas 5:22, 23). O próprio Paulo foi escolhido
de forma que viesse a conhecer e fazer a vontade de Deus, não porque houvesse sido
previsto que ele o faria (veja Atos 22:14, 15). Agostinho nos diz que, "A graça de
Deus não encontra homens para serem eleitos, mas faz com que sejam"; e novamente,
"A natureza da bondade Divina não é somente para abrir àqueles que batem, mas
também para faze-los bater e pedir." Lutero expressou a mesma verdade quando
disse, "Somente Deus pelo seu Espírito opera em nós o mérito e a recompensa." João
nos diz que, "Nós amamos, porque ele nos amou primeiro."[I João 4:19]. Estas
passagens ensinam-nos sem margem para erros que a fé e as boas obras são os frutos
da obra de Deus em nós. Não somos escolhidos porque somos bons, mas para que
possamos vir a tornarmo-nos bons.
Mas enquanto boas obras não são o terreno da salvação, elas são absolutamente
essenciais para tanto, como sendo os seus frutos e as suas evidências. Elas são
produzidas pela fé tão naturalmente como as uvas são produzidas pela parreira. E
todavia não nos façam justos perante Deus, elas são tão ligadas à fé que a verdadeira
fé não pode ser encontrada sem elas. Nem podem as boas obras, no sentido estrito,
serem encontradas em lugar algum sem a fé. Nossa salvação não provém "de obras",
mas "para boas obras" (veja Efésios 2:9, 10); e o Cristão genuinamente salvo ver-se-á
em seu elemento natural somente quando produzindo boas obras. Este é o mesmo
princípio que Jesus estabeleceu quando Ele declarou que o caráter de uma árvore é
mostrado por seus frutos, e que uma boa árvore não pode dar frutos maus. As boas
obras são tão naturais para o Cristão quanto o é respirar; ele não respira para ter vida;
ele respira porque ele tem vida, e por esta mesma razão ele não pode evitar respirar.
Boas obras são a sua glória, por isso é que Jesus diz, "Assim resplandeça a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai,
que está nos céus."[Mateus 5:16], a quem verdadeiramente todo o crédito é devido.
A visão Calvinista é a única lógica, se aceitarmos a declaração Bíblica de que a
salvação é pela graça. Qualquer outra nos envolve num caos de pontos de vista sem
saída, que são contraditórios às Escrituras. Há, é claro, mistérios conectados com esta
visão Calvinista, e certamente não é a visão que o homem natural teria, tivesse ele
sido chamado para sugerir um plano. Mas jogar fora a doutrina Bíblica da
Predestinação, simplesmente porque ela não se adequa aos nossos preconceitos e
noções pré concebidas, é agir tolamente. Faze-lo é colocar o Criador no banco dos
réus no tribunal da razão humana, é negar a sabedoria e a retidão dos Seus atos só
porque não podemos sondá-Los, e então declarar que a Sua revelação é falsa e
enganosa.
"É uma atitude perigosa para os homens tomarem sobre si mesmos, ignorantemente,
desvendar os profundos mistérios de Deus com sua razão carnal, onde o grande
apóstolo posta-se clamando em assombro, 'Ó profundidade das riquezas, tanto da
sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos!'[Romanos 11:33]. Tivesse Paulo sido da persuasão
Arminiana, ele teria continuado, 'Aqueles que estão eleitos são os que foram pré
vistos acreditar e perseverar' "11. E não haveria mistério algum, se a salvação fosse
baseada naquelas palavras.
Então, temos um sistema teológico do qual todo discurso vanglorioso é excluído, e no
qual salvação em todos as suas partes é vista como o produto de pura graça, que
resulta em boas obras, sem contudo estar centrado nelas.
5. REJEIÇÃO
Proposição -- Comentários de Calvino, Lutero e Warfield -- Prova da Bíblia --
Baseada na Doutrina do Pecado Original -- Nenhuma Injustiça é Imputada aos Não-
Eleitos -- Estado de Ateísmo -- Propósitos do Decreto da Rejeição -- Arminianos de
Centro Atacam esta Doutrina -- Sem Nenhuma Obrigação de Explicar todas Estas
Coisas.
Logicamente, é claro que a doutrina da Predestinação absoluta sustenta que alguns
são preordenados à morte tão certamente quanto outros são preordenados à vida. Os
termos "eleitos" e "eleição" correspondem aos termos "não eleitos" e "rejeição".
Quando alguns são escolhidos outros não o são. Os altos privilégios e o destino
glorioso daqueles escolhidos não são compartilhados com os outros que não o foram.
Cremos que desde toda a eternidade Deus decidiu que parte da posteridade de Adão
permaneceria no seu pecado, e que o fator decisivo na vida de cada um é deve ser
encontrado somente na vontade de Deus. Como Mozley disse, a raça humana inteira,
depois da queda, era uma "massa de perdição", e "pareceu bem a Deus em Sua
soberana misericórdia resgatar alguns e deixar outros onde encontravam-se; elevar
alguns para a glória, dando-lhes tal graça quanto os qualificou para recebe-la,
abandonando o resto, de quem ele reteve aquela mesma graça, para o castigo eterno."
12
A maior dificuldade com a doutrina da Eleição, claro, emerge com relação aos não
salvos; e as Escrituras não nos dão explicação detalhada para a condição e o estado
deles. Uma vez que a missão de Jesus no mundo foi salvar o mundo ao invés de
julgá-lo, este aspecto do assunto é chamado menos à atenção.
Em todos os credos Reformados que chegam a lidar com a doutrina da Rejeição, o
tema é tratado como uma parte essencial da doutrina da Predestinação. A Confissão
de Westminster, depois de apresentar a doutrina da eleição, acrescenta: "Segundo o
inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa
misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas
criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido
não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus
pecados."[Capítulo III - Dos Eternos Decretos de Deus - parágrafo VII (referências
Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8)]." 13
Aqueles que adotam e sustentam a doutrina da Eleição mas negam a doutrina da
Rejeição não podem alegar consistência. Afirmar a primeira e ao mesmo tempo negar
a segunda faz do decreto da predestinação um decreto ilógico e sem qualquer
simetria. O credo que apresenta a Eleição e no entanto nega a Rejeição se parecerá
como uma ave ferida tentando levantar vôo com somente uma asa. No interesse de
um "Calvinismo moderado" alguns tem-se inclinado a abandonar a doutrina da
Rejeição, e este termo (em si mesmo um termo muito inocente) tem sido usado como
cunha para ataques injuriosos contra o Calvinismo puro e simples. "Calvinismo
Moderado" é sinônimo Calvinismo doente, e doença, se não curada, é o princípio do
fim.
Comentários de Calvino, Lutero, e Warfield
Calvino não hesitou em basear a rejeição dos perdidos, assim como a eleição dos
salvos, no propósito eterno de Deus. Temos já mencionado-o no sentido de que "nem
todos homens são criados com um destino similar mas a vida eterna é preordenada
para alguns, e a danação eterna para outros. Cada homem, portando, criado para um
ou outro destes fins, dizemos, é predestinado seja para a vida ou para a morte." 14.
Que a segunda alternativa levante problemas que não são fáceis de serem resolvidos,
ele prontamente admite, mas advoga tal como a única explicação inteligente e Bíblica
dos fatos.
Lutero também, tão certamente quanto Calvino, atribui a perdição eterna dos
perversos, assim como a salvação eterna dos justos, ao plano de Deus. "Pode muito
bem ofender a nossa natureza racional, que Deus, de Sua própria e imparcial vontade,
deixasse alguns homens entregues a si próprios, endurecesse-os e os condenasse; mas
Ele demonstra abundante e continuamente, que este é realmente o caso; quer dizer,
que a única razão pela qual alguns são salvos e outros perecem, procede da Sua
vontade a salvação de alguns e a perdição de outros, conforme o que escreveu Paulo,
Ele 'Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.'[Romanos
9:18] " E de novo, "Pode parecer absurdo à sabedoria humana que Deus devesse
endurecer, cegar e entregar alguns homens a um senso corrupto; que Ele
primeiramente os deixasse à mercê do mal, e depois os condenasse por aquele mesmo
mal; mas o crente, o homem espiritual não vê absurdo em tudo isso; sabendo que
Deus não seria um mínimo menos bom, mesmo que Ele destruísse todos os homens."
Lutero segue, então, dizendo que isto não deve ser compreendido como se Deus
encontra homens bons, sábios, obedientes e os transforma em homens maus, tolos e
obtusos, mas que tais homens já são depravados e caídos e que aqueles homens que
não são regenerados, ao invés de tornarem-se melhores sob os comandos e as
influências divinos, sua reação é somente a de piorarem. Referindo-se aos capítulos
IX, X e IX da Epístola de Paulo aos Romanos, Lutero diz que "Absolutamente todas
as coisas acontecem a partir da e dependem do comando Divino; por onde foi
préordenado quem deveria receber a palavra da vida e quem deveria não aceitá-la;
quem deveria ser livrado dos seus pecados e quem deveria ser endurecido neles,
quem seria justificado e quem seria condenado." 15
"Os escritores Bíblicos," diz o Dr. Warfield, "estão tão longe quanto possível de
obscurecer a doutrina da eleição por causa de quaisquer idéias ou proposições
aparentemente desagradáveis que advém dela. Ao contrário, eles expressamente
separam tais idéias ou proposições as quais freqüentemente são assim designadas, e
as fazem uma porção do seus estudos explícitos. Sua doutrina da eleição, eles nos
dizem livremente, por exemplo, certamente envolve uma correspondente doutrina da
preterição. O próprio termo adotado no Novo Testamento assim o expressa --
eklegomai, que como Meyer diz com justiça (Efésios 1:4), 'sempre tem, e deve ter
por uma necessidade lógica, uma referência a outros a quem os eleitos, sem a
'ekloga', ainda pertenceriam' -- encorpando uma declaração do fato que na sua eleição
outros são passados e deixados sem a dádiva da salvação; a apresentação inteira da
doutrina é tal que ou ela implica ou ela abertamente declara, na sua própria
emergência, a remoção dos eleitos pela pura graça de Deus, não só e meramente de
um estado de condenação, mas também da companhia dos condenados -- uma
companhia em quem a graça de Deus não tem nenhum efeito salvador, e que são
portanto deixados sem esperança em seus pecados; e a positiva e justa condenação
dos impenitentes por seus pecados é explícita e repetidamente ensinada em acentuado
contraste com a salvação gratuita dos eleitos apesar dos seus pecados." 16
E novamente ele diz: "A dificuldade que é sentida por alguns quanto a seguir o
argumento do apóstolo (vide Romanos 11 f), podemos suspeitar, tem raízes em parte
num resumo do que lhes parece um desígnio arbitrário de homens para destinos
diversos sem qualquer consideração do seu merecimento. Certamente Paulo afirma
explicitamente tanto a soberania da rejeição quanto da eleição, -- se estas idéias
gêmeas forem, de fato, separáveis mesmo que seja em pensamento; se ele representar
a Deus como soberanamente amando a Jacó, ele igualmente O representará como
soberanamente odiando a Esaú; se declarar que Ele tem misericórdia de quem Ele
quer, ele também declarará, igualmente, que Ele endurece a quem Ele quer. Sem
dúvida a dificuldade normalmente sentida é, em parte, conseqüência de uma
realização insuficiente da concepção fundamental de Paulo quanto ao estado do
homem, em muito como pecadores condenados perante um Deus irado. Ele apresenta
Deus lidando com um mundo cheio de pecadores, e a partir daquele mesmo mundo, a
construção de um Reino de Graça. Não fossem todos os homens pecadores, talvez
ainda existisse uma eleição, tão soberana como agora, e em havendo uma eleição,
ainda haveria uma rejeição também soberana; mas a rejeição não seria uma rejeição
para castigo, para destruição, para morte eterna, mas para algum outro destino
consoante com o estado daqueles não eleitos, onde eles devessem ser deixados. Não
é, de fato, porque os homens são pecadores que eles são deixados 'não eleitos'; a
eleição é livre, e em assim sendo a rejeição também deve ser igualmente livre; mas é
somente porque os homens são pecadores que o que é deixado aos não eleitos é a
destruição. E é nesse universalismo de ruína, ao invés de em um universalismo de
salvação, que Paulo realmente tem as raízes da sua defesa da bondade e onipotência
de Deus. Quando todos merecem a morte, é uma maravilha de pura graça que alguém
receba a vida; e quem poderia negar o direito dAquele que mostra misericórdia tão
miraculosa, de ter misericórdia de quem Ele quer, e endurecer a quem Ele quer?" 17
Prova das Escrituras
Esta é, admitidamente, uma doutrina desagradável. Ela não é ensinada com o
propósito de ganhar o favor dos homens, mas o é somente o pleno ensino das
Escrituras e a contrapartida lógica da doutrina da Eleição. Nós veremos que algumas
passagem ensinam esta doutrina com uma clareza incontestável. Tais passagens
deveriam ser suficientes para qualquer um que aceite a Bíblia como a palavra de
Deus. "O Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do
mal"[Provérbios 16:4]. A respeito de Cristo, é dito quanto ao ímpio: "...Como uma
pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo
desobedientes; para o que também foram destinados"[I Pedro 2:8]. "Porque se
introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados
para este juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus,
e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo."[Judas 4]. "Mas estes, como
criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do
que não entendem, perecerão na sua corrupção"[II Pedro 2:12]. "Porque Deus lhes
pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à
besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus."[Apocalipse 17:17]. Com
relação à besta da visão de João, é dito, "E adora-la-ão todos os que habitam sobre a
terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a
fundação do mundo."[Apocalipse 13:8]. E podemos ainda contrastar estas passagens
com os discípulos a quem Jesus disse: "Contudo, não vos alegreis porque se vos
submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos
céus."[Lucas 10:20], e com o que Paulo disse aos seus colaboradores: "E peço
também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo
no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes
estão no livro da vida"[Filipenses 4:3]
Paulo declara que os "vasos da ira" que pelo Senhor foram "preparados para a
destruição," foram "suportou com muita paciência" de modo que Ele pudesse
"mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder"; e estes vasos da ira contrastados
com os "vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória" de modo "que
[Ele] também desse a conhecer as riquezas da sua glória", naqueles mesmos vasos
{na Epístola aos Romanos, 9:22, 23}. Com relação aos ímpios, é dito que "Deus, por
sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não
convêm;"[Romanos 1:28]; e do perverso, "a tua dureza e teu coração impenitente,
entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus"[Romanos
2:5].
Com relação àqueles que perecem, Paulo diz que "...por isso Deus lhes envia a
operação do erro, para que creiam na mentira;"[II Tessalonicenses 2:11]. Eles são
chamados a sustentarem tais coisas (erro, mentira - n.t.) de um modo aparente,
admirá-las e depois perecer nos seus pecados. Ouçam as palavras de Paulo na
sinagoga em Antioquia em Psídia: "...porque realizo uma obra em vossos dias, obra
em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar."[Atos 13:41]
O apóstolo João, depois de narrar que o povo ainda não cria, embora Jesus houvesse
feito tantos sinais na sua frente, acrescenta, "[39] Por isso não podiam crer, porque,
como disse ainda Isaías: [40] Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para
que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e Eu os
cure."[João 12:39, 40].
O mandamento de Cristo aos perversos no julgamento final, "...Apartai- vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;"[Mateus 25:41] é
o decreto de rejeição mais forte possível; e é o mesmo em princípio, seja comandado
no tempo ou na eternidade. O que é certo para Deus fazer no tempo, não é errado para
que Ele inclua no Seu plano eternal.
Em uma ocasião, o próprio Jesus declarou: "...Eu vim a este mundo para juízo, a fim
de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos."[João 9:39]. E em
outra oportunidade, Ele disse, "...Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos."[Mateus 11:25]. É difícil para nós aceitar que o Redentor adorável e o
único Salvador dos homens seja, para alguns, pedra de tropeço e rocha de ofensa;
todavia é exatamente isto que a Bíblia O declara ser. Mesmo antes do Seu
nascimento, foi dito que Ele estava designado (ou seja, apontado) para a queda, tanto
quanto para o levantamento, de muitos em Israel {"E Simeão os abençoou, e disse a
Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de
muitos em Israel, e para ser alvo de contradição."[Lucas 2:34]}. E quando, em sua
oração de intercessão no jardim do Getsêmane, Ele disse, "Eu rogo por eles; não rogo
pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado..."[João 17:9] , os não eleitos foram
repudiados com todas as palavras.
Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era
porque a verdade poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada.
Deixemos a história sagrada falar por si própria: "[10] E chegando-se a ele os
discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? [11] Respondeu-lhes
Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não
lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não
tem, até aquilo que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque
eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre
a profecia de Isaías, que diz..."[Mateus 13:10-14]:
"[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade,
mas não percebeis. [10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e
fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e
entenda com o coração, e se converta, e seja sarado."[Isaías 6:9, 10]
Nessas palavras podemos ver uma aplicação das próprias palavras de Jesus, "Não
deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas..."[Mateus 7:6].
Ele que afirma que Cristo designado para dar a Sua verdade salvadora para cada um
contradiz em cheio ao próprio Cristo. Aos não eleitos, a Bíblia é um livro selado; e
somente aos verdadeiros Cristãos é "dado" ver e entender todas essas coisas. Tão
importante é esta verdade que o Espírito Santo se compraz em repetir por seis vezes
no Novo Testamento o escrito pelo profeta Isaías (compare em Mateus 13:14, 15 ;
Marcos 4:12 ; Lucas 8:10 ; João 12:40 ; Atos 28:27 , Romanos 11:9, 10). Paulo nos
diz que pela graça a "eleição" recebeu salvação, e que o resto foi endurecido; então
acrescenta, "...Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e
ouvidos para não ouvirem..."[Romanos 11:8]. E mais adiante, lembra as palavras de
Davi, para o mesmo propósito: "[9] E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e
em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; [10] escureçam-se-lhes os olhos para
não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas."[Romanos 11:9, 10].
Assim, com relação a alguns, as proclamações evangélicas foram designadas para
ferir, e não para curar.
Esta mesma doutrina encontra expressão em muitas outras partes da Bíblia. Moisés
disse às crianças de Israel, "Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por
sua terra, porquanto o Senhor teu Deus lhe endurecera o espírito, e lhe fizera
obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se vê."[Deuteronômio
2:30]. Referindo-se às tribos Canaatitas que marcharam contra Josué, está escrito,
"Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra
contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade
alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés."[Josué
11:20]. Hofni e Finéias, os filhos de eli, quando reprovados por sua perversidade,
"...eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."[I Samuel
2:25]. Embora o Faraó houvesse agido muito arrogante e perversamente para com os
Israelitas, Paulo não assinala nenhuma outra razão senão a que ele era um dos
rejeitados cujas más ações seriam sobrepassadas pelo bem: "Pois diz a Escritura a
Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o meu poder, e para que seja
anunciado o meu nome em toda a terra."{[Romanos 9:17] - veja também em [Êxodo
9:16 : "mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra."]}. Em todos os
rejeitados há uma cegueira e um obstinado endurecimento de coração; e quando de
algum, como o Faraó por exemplo, é dito ter sido endurecido por Deus, nós podemos
estar certos de que eles já eram valorizados com tendo sido entregues a Satã. Os
corações dos perversos são, é claro, nunca endurecidos através de uma influência
direta de Deus -- Ele simplesmente permite que alguns homens sigam os impulsos de
maldade que já estão nos seus corações, de modo que, como resultado das suas
próprias escolhas, eles se tornem mais e mais "calejados" e obstinados. E enquanto é
dito, por exemplo, que Deus endureceu o coração do Faraó, também é dito que o
Faraó endureceu o seu próprio coração (compare em Êxodo 8:15; 8:32, 9:34). Uma
descrição é dada a partir do ponto de vista divino, a outra é fornecida a partir do
ponto de vista humano. Em última instância Deus é responsável pelo endurecimento
do coração, tanto quanto Ele é quem permite que isto ocorra, e o escritor inspirado,
em linguagem gráfica simplesmente diz que Deus o faz; mas nunca devemos nós
entender que Deus seja a causa imediata e eficiente.
Embora esta doutrina seja difícil, ela é, não obstante, Bíblica. E desde que ela é tão
plenamente ensinada nas Escrituras, nós não podemos assinalar nenhuma outra razão
para a oposição que ela tem enfrentado, a não ser a pura ignorância e o preconceito
irracional com que as mentes dos homens têm sido cheias quando eles se propõem a
estudá-la. Quão aplicáveis aqui são as palavras de Rice: -- "Que felicidade seria para
a Igreja de Cristo e para o mundo, se os ministros Cristãos e o povo Cristão se
contentassem em serem discípulos, -- APRENDIZES; se, conscientes das suas
faculdades limitadas, da sua ignorância quanto às coisas divinas, e da sua inclinação
para o erro através da sua depravação e do seu preconceito, eles poderiam ser
induzidos a sentarem-se aos pés de Jesus e aprender dEle. A Igreja tem sido
corrompida e amaldiçoada em quase todas as eras pela indevida confiança dos
homens no seu próprio poder de raciocínio. Eles têm se proposto a pronunciarem-se
sobre a racionabilidade ou a irracionabilidade de doutrinas infinitamente acima da sua
razão, as quais são necessariamente matéria de pura revelação. Na sua presunção eles
têm tentado compreender 'as profundezas de Deus' e têm interpretado as Escrituras,
não conforme o seu sentido óbvio, mas conforme as decisões da razão finita." E ele
diz novamente, "Ninguém nunca estudou as obras da Natureza ou o Livro do
Apocalipse sem encontrar-se rodeado por todos os lados por dificuldades, por
enigmas que ele não poderia solucionar. O filósofo é obrigado a satisfazer-se com
fatos; e o teólogo deve contentar-se com as declarações de Deus."18
É estranho afirmar que, muitos daqueles que insistem que quando o povo passa a
estudar a doutrina da Trindade eles devem colocar de lado quaisquer noções pré
concebidas e apoiar-se somente na razão humana, sem ajuda, para decidir o que pode
e o que não pode ser verdade acerca de Deus, e quem insiste que as Escrituras devem
ser aceitas aqui como guia autoritativo e inquestionável, não estão na realidade
dispostos a seguir aqueles regras no estudo da doutrina da predestinação.
6. INFRALAPSARIANISMO E SUPRALAPSARIANISMO
Entre aqueles que a si mesmos chamam-se Calvinistas tem freqüentemente havido
diferenças de opinião sobre a ordem dos eventos no plano Divino. A questão aqui é a
seguinte, Quando os decretos de eleição e de rejeição vieram a existir os homens
eram considerados como caídos ou como não caídos? Os objetos desses decretos
foram contemplados como membros de uma massa corrupta e pecadora, ou foram
contemplados meramente como homens a quem Deus criaria? De acordo com o
ponto de vista do "infralapsarianismo" a ordem dos eventos foi a seguinte: Deus
propôs (1) criar; (2) permitir a queda; (3) eleger dessa massa de homens caídos uma
multidão para a vida eterna e bênçãos; e deixar outros, como Ele deixou o Diabo e os
anjos caídos, para sofrer o justo castigo por seus pecados; (4) dar o Seu Filho, Jesus
Cristo, para a redenção dos eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar aos
eleitos a redenção que havia sido comprada por Cristo. De acordo com o ponto de
vista "supralapsariano" a ordem dos eventos foi a seguinte: (1) eleger alguns homens
'criáveis' (isto é, homens que seriam criados) para a vida e condenar outros para a
destruição; (2) criar; (3) permitir a queda; (4) enviar Cristo para redimir os eleitos; e
(5) enviar o Espírito Santo para aplicar tal redenção aos eleitos. A questão agora é
quanto a se a eleição precede a queda.
Um dos principais motivos no esquema "supralapsariano" é enfatizar a idéia da
discriminação e forçar esta idéia. No veio da natureza do caso, esta idéia não pode ser
consistentemente levada a efeito, por exemplo, na criação, e especialmente na queda.
Não foram meramente alguns dos membros da raça humana que foram objetos do
decreto da criação, mas toda a espécie humana, e isto com a mesma natureza. E não
foi meramente a alguns homens, mas toda a raça, a quem foi permitida a queda. O
"supralapsarianismo" vai em frente até o extremo, de um lado, como o faz o
"universalismo", de outro. Somente o esquema "infralapsariano" é em si consistente
com outros fatos.
Com relação a esta diferença, o Dr. Warfield escreve: "O mero colocar da questão
parece trazer consigo a resposta. Pois o que está em questão é o tratamento real
dispensado aos homens, que é igual para ambas classes; aqueles que são eleitos e
aqueles que são deixados de lado, condicionados em pecado. Não se pode falar de
salvação mais do que de rejeição sem postular o pecado. O pecado é necessariamente
precedente em pensamento. Na realidade, não até a idéia abstrata da percepção, mas
ao instante concreto da percepção, que está em questão; a percepção relacionada a um
destino, que envolve ou salvação ou castigo. Deve haver pecado em intenção, para
fundamentar um decreto de salvação, tão verdadeiramente quanto um decreto de
punição. Não se pode falar de um decreto referente à salvação e castigo, que seja
discriminatório entre homens, portanto; sem postular a intenção dos homens como
pecadores, de acordo com a lógica original do decreto." 25
E no mesmo sentido o Dr. Charles Hodge diz: "É um princípio Bíblico claramente
revelado, que onde não há pecado não há condenação ... Ele teve misericórdia para
um e não para com outro, conforme a Sua própria vontade, porque todos são
igualmente pecadores e culpados . . . Em todo lugar, como em Romanos 1:24, 26, 28,
a rejeição é declarada ser judicial, baseada na pecaminosidade do que é rejeitado. De
outra forma não seria uma manifestação da justiça de Deus." 26
Não está em harmonia com as idéias de Deus conforme mostradas na Bíblia, que
homens inocentes, homens que não são contemplados como pecadores, estivessem
pré ordenados para a miséria e morte eternas. Não se deveria estudar o decreto
relacionado com os salvos e os perdidos baseado somente em soberania abstrata.
Deus é verdadeiramente soberano, mas esta soberania não é exercida de maneira
arbitrária. Antes, é uma soberania exercida em harmonia com os Seus outros
atributos, especialmente a Sua justiça, a Sua santidade e a Sua sabedoria. Deus não
peca; e nesse respeito Ele é limitado, embora fosse mais acurado falar da sua
incapacidade de pecar como sendo uma perfeição. Há, é claro, mistério relacionado
com qualquer um dos sistemas, mas o sistema "Supralapsariano" parece ir além do
mistério, e na contradição.
As Escrituras Sagradas são praticamente "infralapsarianas", -- os Cristãos são ditos
terem escolhidos "do" mundo (veja em João 15:19 = "Se fôsseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo,
por isso é que o mundo vos odeia"); o oleiro tem o direito sobre o barro (veja em
Romanos 9:21 = "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa
fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?"); e os eleitos e não
eleitos são reputados com estando originalmente num estado comum de miséria.
Sofrer e morrer estão uniformemente representados como os salários do pecado. O
esquema "infralapsariano" naturalmente a si mesmo relaciona-se com as nossas idéias
de justiça e de misericórdia, e ao menos é isento da objeção Arminiana de que Deus
simplesmente cria alguns homens para danação. Agostinho e a grande maioria
daqueles que têm sustentado a doutrina da eleição desde a sua promulgação foram e
são "infralapsarianos", -- quer dizer, eles crêem que foi da massa de homens caídos
que alguns foram eleitos para a vida eterna, enquanto que outros foram sentenciados
à morte eterna em razão dos seus pecados. Não há nenhuma confissão Reformada que
ensine o ponto de vista "supralapsariano"; mas por outro lado, um número
considerável ensina abertamente a visão "infralapsariana", que assim emerge como a
forma típica do Calvinismo. Até os dias de hoje é provavelmente dizer que não mais
que um Calvinista dentre cem sustenta a visão "supralapsariana". Nós somos
Calvinistas o bastante, mas não somos "altos Calvinistas". O termo "alto Calvinista"
aplica-se àquele que sustenta a visão "supralapsariana".
É sem dúvida verdadeiro que a escolha soberana de Deus está disseminada em
qualquer dos sistemas e a salvação como um todo é obra de Deus. Os oponentes
usualmente enfatizam o sistema "supralapsariano", por ser o que, sem explicação, é
mais provável de vir a conflitar com os sentimentos e as impressões naturais do
homem. Também é verdadeiro que há algumas coisas que não podem ser formatadas
no tempo, -- que estes eventos não estão na mente Divina como encontram-se na
nossa mente, por uma sucessão de atos, um após outro, mas que por um único ato
Deus ordenou, todas essas coisas de uma só vez. Na mente Divina o plano é uno,
cada parte do qual constituída com referência a um estado de fatos, os quais
intencionados por Deus, como sendo resultados das outras partes. Todos esses
decretos são eternos. Eles têm uma relação lógica, mas não cronológica. Todavia, de
maneira a podermos raciocinar inteligentemente sobre eles, devemos ter nossos
pensamentos numa certa ordem. Nós, muito naturalmente, temos a opinião de que a
dádiva de Cristo, em santificação e em glorificação, foi posterior aos decretos da
criação e da queda.
Com relação ao ensinamento da Confissão de Westminster, o Dr. Charles Hodge faz o
seguinte comentário: "Twiss, presidente oficial daquele corpo venerável (a
Assembléia de Westminster), era um "supralapsariano" zeloso; a grande maioria de
seus membros, contudo, estavam do outro lado. Os símbolos daquela Assembléia,
enquanto claramente implicando numa visão "infralapsariana", foram todavia tão
emoldurados de maneira a evitar qualquer ofensa àqueles que adotaram a teoria
"supralapsariana". Na 'Confissão de Westminster', é dito que Deus apontou os eleitos
para a vida eterna, e o restante da espécie humana, a Deus pareceu bem, conforme o
inescrutável conselho da Sua própria vontade, através do qual Ele estende ou retrai a
misericórdia conforme Lhe apraz, para a glória do Seu soberano poder sobre as Suas
criaturas, deixar de lado, e ordená-los à desonra e à ira pelo seu pecado, para o louvor
da Sua gloriosa justiça: Neste ponto é ensinado que aqueles a quem Deus deixa de
lado são 'o resto da espécie humana; não o restante de ideais ou homens possíveis,
mas o restante daqueles seres humanos que constituem a espécie humana, ou a raça
humana. Em segundo lugar, a passagem cotada mostra e ensina que os não eleitos são
deixados de lado e ordenados à ira 'pelo seu pecado'. Isto implica que eles foram
contemplados como cheios de pecado antes desta pré ordenação para julgamento. A
visão "infralapsariana" é assumida ainda mais obviamente na resposta às questões 19ª
e 20ª no 'Pequeno Catecismo'. Ali é ensinado que toda a humanidade perdeu
comunicação com Deus quando da queda, e que está desde então sob a Sua ira e
maldição, e que Deus, do Seu próprio beneplácito elegeu alguns (alguns daqueles sob
a Sua ira e maldição), para a vida eterna. Tal tem sido a doutrina da grande massa de
Agostinianos, desde o tempo de Agostinho até os dias de hoje." 27
Da mesma forma que é necessário que o sol emita tanto calor se somente uma planta
deva crescer sobre a terra como se a terra devesse ser coberta com vegetação, assim
era necessário Cristo sofrer tanto quanto se somente uma alma devesse ser salva
como se um largo número ou mesmo toda humanidade devessem ser salvas. Visto
que o pecador tem ofendido uma Pessoa de infinita dignidade, e havia sido
sentenciado para sofrer eternamente, nada exceto um sacrifício de infinito valor
poderá expiá-lo. Ninguém supõe que, visto que o pecado de Adão foi o fundamento
da condenação da raça, ele pecou tanto por um homem e tanto por outro, e que
poderia ter pecado mais se houvesse existido mais pecadores .Por que então eles
devem fazer a suposição com respeito ao sofrimento de Cristo ?
Apesar do valor da expiação ter sido suficiente para salvar toda humanidade, ela foi
eficiente para salvar somente os eleitos. Ela está indiferentemente bem adaptada à
salvação de um homem como de outro, assim fazendo a salvação de cada homem
objetivamente possível; todavia, por causa de dificuldades subjetivas, aparecendo por
causa da inabilidade dos pecadores para ver ou apreciar as coisas de Deus, somente
aqueles [os eleitos] são salvos, os quais são regenerados e santificados pelo Espírito
Santo. A razão porque Deus não aplica esta graça a todos homem não tem sido
revelada completamente. Quando a expiação é feita universal, o seu valor inerente é
destruído. Se ela é aplicada a todos os homens, e se alguns se perdem, a conclusão é
que isto faz a salvação objetivamente possível para todos os homens, porém que não
salva realmente a qualquer um.
Por outro lado, os Calvinistas sustentam que a lei de perfeita obediência que foi
originalmente dada a Adão foi "permanente", que Deus nunca tem feito qualquer
coisa que conduziria a impressão que a lei era rígida demais em seus requerimentos,
ou severa demais em suas penalidades, ou que tampouco ela estivesse em necessidade
de abolição ou derrogação. A Divina justiça demanda que o pecador seja punido, em
si mesmo ou em seu substituto. Nós sustentamos que Cristo atuou de uma maneira
estritamente substitutiva pelo Seu povo, que Ele fez uma completa satisfação pelos
pecados deles, dessa forma apagando a maldição de Adão e todos pecados temporais
deles; e que pela Sua vida inocente, Ele perfeitamente guardou por eles a lei que
Adão quebrou, deste modo adquirindo para o Seu povo a recompensa da vida eterna.
Nós cremos que o requerimento para salvação agora como originalmente, é a perfeita
obediência, que os méritos de Cristo são imputados a Seu povo como o única
fundamento da salvação deles, e que eles entram no céu vestidos somente com o
manto de Sua perfeita justiça e absolutamente destituídos de qualquer mérito
propriamente deles. Assim graça, pura graça, é estendida não em se reduzir os
requerimentos para salvação, mas na substituição de Cristo pelo Seu povo. Ele tomou
o lugar deles diante da lei, e fez por eles o que eles não poderiam fazer por si
mesmos. Este princípio Calvinista é adaptado em cada caminho para impressionar
sob nós a absoluta perfeição e imutável obrigação da lei que foi originalmente dada a
Adão. Ela não foi afrouxada ou desprezada, porém é apropriadamente honrada de
forma que sua excelência é demonstrada. Em benefício daqueles que são salvos, por
quem Cristo atuou, e em benefício daqueles que são submetidos ao castigo eterno, a
lei em sua majestade se executa e se faz cumprir.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, ela compreenderia que milhões daqueles por
quem Cristo morreu são no final perdidos, e que a salvação é dessa forma nunca
aplicada a muitos daqueles por quem ela foi adquirida. Que benefícios, por exemplo,
nós podemos apontar para as vidas dos pagãos e dizer que eles tem recebido da
expiação ? Isto pode também significar que os planos de Deus muitas vezes tem sido
frustados e desmoronados pelas Suas criaturas e que, enquanto Ele pode fazer de
acordo com Sua vontade com os exército dos céus, Ele não faz assim entre os
habitantes da terra.
"O pecado de Adão", disse Charles Hodge, "não fez a condenação de todos os
homens meramente possível; ele foi o fundamento da real condenação deles. Assim, a
justiça de Cristo não fez a salvação dos homens meramente possível, ela assegurou a
real salvação daqueles por quem Ele morreu." O grande pregador Batista Charles H.
Spurgeon disse: "Se Cristo morreu por você, você nunca poderá perecer. Deus não irá
punir duas vezes uma mesma coisa. Se Deus puniu a Cristo pelos seus pecados, Ele
não pode te punir. O pagamento da justiça de Deus não pode ser demandado duas
vezes; primeiro, da mão sangrenta do Salvador, e então da minha. Como pode Deus
ser justo se Ele puniu Cristo, o substituto, e então o próprio homem mais tarde"?
5. UM RESGATE
Cristo é dito ter sido um resgate para Seu povo: "O Filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir, e para dar a sua vida em regaste de muitos", Mateus 20:28.
Note, este verso não diz que Ele deu Sua vida em resgate de todos, mas por muitos. A
natureza de um resgate é tal que quando paga e aceita, ela automaticamente liberta as
pessoas por quem ela foi pretendida. De outra forma, ele não seria um verdadeiro
resgate. A justiça demanda que aqueles por quem ela foi paga, sejam livres de
qualquer obrigação adicional. Se o sofrimento e morte de Cristo foi um resgate para
todos os homens antes que somente para os eleitos, então os méritos de Sua obra
devem ser comunicados a todos igualmente e a penalidade do eterno castigo não pode
ser justamente infligido em alguém. Deus seria injusto se Ele exigisse essa penalidade
duas vezes, primeiramente do substituto e então das próprias pessoas. A conclusão é
que a expiação de Cristo não estende a todos os homens, mas que ela é limitada
àqueles por quem Ele pagou a fiança ; isto é, àqueles que compõem Sua verdadeira
Igreja.
Visto que a obra de Deus nunca é em vão, aqueles que são escolhidos por Deus,
aqueles que são redimidos pelo Filho, e aqueles que são santificados pelo Espírito
Santo, - ou em outras palavras, eleição, redenção e santificação, - devem incluir as
mesmas pessoas. A doutrina Arminiana de uma expiação universal faz estes desiguais
e através disso destroi a perfeita harmonia dentro da Trindade. A redenção universal
significa salvação universal.
Cristo declarou que os eleitos e os redimidos são as mesmas pessoas quando na
oração intercessória Ele disse: "Eram teus, e tu mos deste", e "Eu rogo por eles: não
rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas
coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado." (João
17:6,9,10). E outra vez, "Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das
minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o
Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas." (João 10:14,15). O mesmo ensino é
encontrado quando somos ordenados a "apascentar a igreja de Deus, que Ele resgatou
com seu próprio sangue." (Atos 20:28) Somos informados que "Cristo amou a Igreja,
e a si mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25); e que Ele deu Sua vida pelos Seus
amigos. (João 15:13) Cristo morreu por Paulo assim como por João, e não morreu por
Faraó assim como não morreu por Judas, que eram bodes e não ovelhas. Nós não
podemos dizer que Sua morte foi intencionada a todos, a menos que digamos que
Faraó, Judas, etc., eram das ovelhas, amigos, e Igrejas de Cristo.
Além do mais, quando é dito que Cristo deu Sua vida por Sua Igreja, ou por Seu
povo, nós encontramos impossível acreditar que Ele Se Deu tanto quanto para os
reprovados como para aqueles que Ele intencionou salvar. A humanidade é dividida
em duas classes e o que é distintamente afirmada de uma é implicitamente negada de
outra. Em cada caso algo é dito daqueles que pertencem a um grupo que não é
verdadeiro daqueles que pertencem ao outro. Quando se diz que um homem trabalha
e sacrifica a saúde e força para suas crianças, através disso é negado que o motivo
que o controla é meramente filantropia, ou que o desígnio que tem em vista é o bem
da sociedade. E quando é dito que Cristo morreu pelo Seu povo, é negado que Ele
morreu igualmente por todos os homens.
Há também um paralelo para ser observado entre o sumo sacerdote do antigo Israel e
Cristo que é o nosso sumo sacerdote; porque o primeiro, como sabemos, era um tipo
do último. No grande dia da expiação, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios pelos
pecados das doze tribos de Israel. Ele intercedia por eles e por eles somente.
Semelhantemente, Cristo não orou pelo mundo, mas pelo Seu povo. A intercessão do
sumo sacerdote assegurava para os Israelitas bênçãos das quais todos outros povos
estavam excluídos; e a intercessão de Cristo, que também é limitada porém de uma
ordem muito maior, certamente será eficaz em elevado sentido, porque Ele, o Pai
sempre ouve. Além do mais, não é necessário que a misericórdia de Deus se estenda a
todos os homens sem exceção para que possa ser chamada verdadeiramente e
propriamente infinita; porque todos homens tomados juntos não constituíram uma
multidão estritamente e propriamente infinita. As Escrituras claramente nos ensina
que o Diabo e os anjos caídos foram deixados fora de Seus benevolentes propósitos.
Mas Sua misericórdia é infinita nisso: ela resgata a grande multidão de Seus eleitos
do indiscritível e eterno pecado e miséria para a indiscritível e eterna bem-
aventurança.
2. NECESSIDADE DE MUDANÇA
Os méritos da obediência e do sofrimento de Cristo são, adaptados e gratuitamente
oferecidos a todos os homens. A pergunta com que nos deparamos então é, 'Por que
um é salvo enquanto que o outro é perdido? O que faz com que alguns homens
arrependam-se e creiam, enquanto outros, com os mesmos privilégios externos ,
rejeitem o Evangelho e continuem em impenitência e descrença?' Os Calvinistas
dizem que é Deus quem faz tal diferença, que Ele eficazmente persuade alguns a
virem até Ele; mas os Arminianos atribuem-na aos próprios homens.
Como Calvinistas, sustentamos que a condição dos homens desde a queda é tal que se
deixados por sua própria conta eles continuariam no mesmo estado de rebelião e
recusariam todas ofertas de salvação. Cristo, então, teria morrido em vão. Mas desde
que havia sido prometido que Ele veria o trabalho de Sua alma e se satisfaria, os
resultados daquele sacrifício não têm sido suspensos à mercê dos caprichos da
vontade pecadora e mutável do homem. Ao contrário, a obra de Deus na redenção
têm tido efetivo resultado, através da missão do Espírito Santo, que então opera
naquelas pessoas escolhidas, de forma que eles são trazidos ao arrependimento e à fé,
e assim feito herdeiros da vida eterna.
O ensinamento das Escrituras Sagradas é tal que devemos dizer que o homem em seu
estado natural é radicalmente corrupto, e que ele nunca pode tornar-se santo através
de qualquer poder próprio. Ele está espiritualmente morto, e se salvo, deve sê-lo por
Cristo. O senso comum nos diz que se um homem é tão caído ao ponto de hostil para
com Deus, tal hostilidade deve ser removida antes que ele tenha qualquer desejo de
fazer a vontade de Deus. Se um pecador deve desejar a redenção através de Cristo,
ele deve receber uma nova disposição. Ele deve nascer de novo, e do alto (veja em
João 3:3). É fácil o bastante para nós vermos que o Diabo e os demônios teriam então
de serem soberanamente mudados, se fosse o caso de serem salvos; todavia os
princípios inatos que atuam no homem caído são da mesma natureza, embora não tão
intensos quanto aqueles que atuam nos anjos caídos. Se o homem está morto no
pecado, então nada, nenhum poder menor que o poder do Espírito Santo, sobrenatural
e doador de vida, poderá fazer com que ele venha a agir de modo espiritualmente
bom. Se lhe fosse possível entrar no céu ainda possuído pela velha natureza, então,
para ele, o céu seria tão ruim quanto o inferno; pois ele estaria fora de harmonia com
o seu meio ambiente. Ele detestaria a própria atmosfera e estaria em miséria quando
na presença de Deus. Daí a necessidade da obra interna do Espírito Santo.
Na natureza do caso, o primeiro movimento em direção à salvação não mais pode vir
do homem, tanto quanto do seu próprio corpo, quando morto, poderia vir a vida. A
regeneração é uma dádiva soberana de Deus, graciosamente ofertada àqueles a quem
Ele escolheu; e somente Deus é competente para realizar obra tão grandiosa e re-
criadora. A regeneração não pode ser creditada à pré visão de nenhum bom atributo
naqueles que são objeto desta mudança salvadora, pois em sua natureza não
regenerada, eles são incapazes de boas ações para com Deus; daí que nenhum deles
poderia possivelmente ser pré visto. Neste estado não regenerado o homem nunca
compreende adequadamente sua condição íntima de indefesa. Ele imagina ser capaz
de reformar-se, de regenerar-se a si mesmo e voltar-se a Deus, caso assim escolha.
Ele até imagina ser capaz de neutralizar os desígnios da Sabedoria infinita, e de
derrotar o próprio poder da Onipotência. Como o Dr. Warfield diz, "O homem
pecaminoso permanece na necessidade, não de motivos ou de assistência, de ajuda
para salvar-se, mas precisamente de salvação; e Jesus Cristo veio não para alertar, ou
incitar, ou cortejar, ou ajudar o homem a salvar-se, mas para salvá-lo."
8. GRAÇA COMUM
Além dessa graça especial que resulta na salvação dos seus objetos, há o que
podemos chamar de "graça comum", ou influências gerais do Espírito Santo que, a
um nível maior ou menor são experimentadas por todos homens. Deus faz com que o
Seu sol nasça sobre o mau e sobre o bom, e manda chuva sobre o justo e sobre o
injusto. Ele provê estações frutíferas e dá muitas coisas as quais contribuem para a
felicidade da humanidade em geral. Entre as bênçãos mais comuns que devem ser
atribuídas à esta fonte, podemos enumerar a saúde, a prosperidade material, a
inteligência em geral, os talentos para a arte, música, oratória, literatura, arquitetura,
comércio, invenções e etc. Em muitos casos, os não eleitos recebem estas bênçãos em
abundância maior do que os eleitos, pois muitas vezes vemos que os filhos deste
mundo são para a sua própria geração mais sábios que os filhos da luz. A graça
comum é a fonte de toda a ordem, o refinamento, a cultura, a virtude comum, etc.,
que encontramos no mundo, e através dela é que o poder moral da verdade no
coração e na consciência é aumentado, e as paixões maléficas dos homens são
restringidas. Ela não leva à salvação, mas livra esta terra de transformar-se em
inferno. Ela prende a efetivação do pecado, tanto quanto o discernimento humano
prende a fúria de bestas selvagens. Ela previne o pecado de ser manifestado em toda
sua hedionda expressão, e assim bloqueia a explosão das chamas da fogueira
fumegante. Como a pressão da atmosfera, é poderosa e universal, ainda que não
sentida.
A graça comum, no entanto, não mata essência do pecado, e portanto não é capaz de
produzir uma conversão genuína. Por intermédio da luz da natureza, das obras da
consciência, e especialmente por intermédio da apresentação exterior do Evangelho é
possível ao homem saber o que ele deveria fazer, mas isto não proporciona o poder
do qual o homem necessita. As Escrituras Sagradas ensinam constantemente que o
Evangelho torna-se efetivo somente quando é auxiliado pelo poder iluminador do
Espírito, e sem este poder ele é pedra de tropeço para os Judeus e tolice para os
Gentios. Assim é que o homem não regenerado nunca pode conhecer a Deus, exceto
de uma maneira exterior, e por este motivo a retidão exterior dos escribas e dos
Fariseus é declarada não ser retidão de forma alguma. Jesus disse aos Seus discípulos
que o mundo não poderia receber o Espírito da verdade, "...porque não o vê nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós."[João
14:17]. A doutrina Arminiana acaba com a distinção entre graça comum e graça
eficaz (vocação eficaz), ou quando muito faz com que a graça eficaz seja uma
assistência sem a qual a salvação é impossível, enquanto que a doutrina Calvinista faz
dela uma assistência pela qual a salvação é certa.
Com relação às transformações, às reformas produzidas pela graça comum, o Dr.
Charles Hodge diz: -- "Freqüentemente acontece de os homens que têm sido imorais
em suas vidas mudarem completamente o curso de suas vidas. Eles passam a ser
exteriormente corretos em seu comportamento, em sua têmpera, passam a ser puros,
honestos e bondosos. É uma grande e louvável mudança. É extremamente benéfica
àqueles que dela são objetos, e a todos quantos eles estiverem ligados. Pode ser
produzida por diferentes causas, pela força da consciência, ou por uma consideração
pela autoridade de Deus e um temor da Sua desaprovação, ou por uma consideração
ao bom conceito de homens, ou pela mera força de uma consideração iluminada de
interesse próprio. Mas qualquer que seja a causa próxima de tal reforma, de tal
transformação, ela está sempre bem longe de santificação. As duas coisas diferem em
natureza tanto quanto um coração limpo difere de uma roupa limpa. Tal
transformação externa pode deixar o caráter íntimo do homem não transformado, não
modificado à luz de Deus. Ele pode permanecer destituído de amor para com Deus,
ou de fé em Cristo, e de todos os santos exercícios ou afeições." 11 E diz o Dr.
Hewlitt: "Poderia o cadáver no cemitério ser levantado através da mais doce música
já composta, ou pelo ribombar do maior trovão, que parece estremecer os pólos da
Terra? Assim que o pecador, morto em pecado e ofensas, possa ser movido pelo
trovão da lei, ou pela melodia do Evangelho; poderá então o Etíope mudar a cor da
sua pele, ou o leopardo as suas malhas." "...então podereis também vós fazer o bem,
habituados que estais a fazer o mal..."[Jeremias 13:23]. 12
O parágrafo seguinte, escrito pelo Dr. S. G. Craig estabelece de maneira muito clara
as limitações da graça comum: -- "O Cristianismo entende que educação e cultura,
que deixam Jesus Cristo fora de consideração, enquanto possam fazer homens mais
inteligentes, polidos, brilhantes, não têm o poder para mudar dos seus caracteres.
Quando muito tais coisas em si mesmas podem limpar o exterior do recipiente, sem
no entanto afetar a natureza do seu conteúdo. Aqueles que depositam a sua confiança
na educação, na cultura e em coisas afins, assumem que tudo o que seja necessário
para transformar uma oliveira selvagem numa oliveira boa é regar, podar, cultivar e
assim por diante, enquanto que o que a árvore precisa, em primeiro lugar, é seja
enxertada com um broto de uma oliveira boa. E até que isto seja feito, todo trabalho
dispensado à árvore é na maior parte jogado fora. Nós não subestimamos o valor da
educação e da cultura, e todavia alguém poderia tanto supor-se capaz de purificar as
águas de um rio simplesmente em melhorando as margens do mesmo, como também
supor que estas coisas, próprias de si mesmos são capazes de transformar os corações
dos filhos dos homens .... como um antigo provérbio Judeu diz: "pegue uma árvore de
frutos amargos e plante-a no jardim do Éden e regue-a com as águas dali; e deixe o
anjo Gabriel cuidar dela, e a árvore ainda assim produzirá frutos amargos." 13
1. ENUNCIADO DA DOUTRINA
A doutrina da Perseverança dos Santos é apresentada na Confissão de Fé de
Westminster com as seguintes palavras: "Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os
que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do
estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de
perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos."[Capítulo XVII, Seção
I. Referências Bíblicas: Fil. 1: 6; João 10: 28-29; I Ped. 1:5, 9.]. (1). Ou, em outras
palavras, cremos que aqueles que uma vez tornaram-se Cristãos não podem cair do
estado de graça e perderem-se, --- que enquanto eles possam cair temporariamente
em pecado, eles retornarão eventualmente, e serão salvos.
Esta doutrina não se sustenta sozinha, mas é uma parte necessária do sistema de
teologia Calvinista. As doutrinas da Eleição e da Vocação Eficaz ("Graça Eficaz")
implicam logicamente na salvação certa daqueles que recebem tais bênçãos. Se Deus
escolheu homens incondicional e absolutamente para a vida eterna, e se o Seu
Espírito Santo aplica efetivamente àqueles homens os benefícios da redenção, a
conclusão inescapável é que tais indivíduos serão salvos. E, historicamente, esta
doutrina tem sido sustentada por todos Calvinistas, e negada por praticamente todos
Arminianos.
Aqueles que têm corrido até Jesus por refúgio têm uma fundação, um alicerce firme
sobre o qual construir. Embora ondas de erros inundem a terra, embora Satã levante
todos os poderes da terra e as iniqüidades dos seus próprios corações contra eles, eles
nunca falharão; mas, perseverando até o fim, eles herdarão aquelas mansões que
foram preparadas para eles desde a fundação do mundo. Os santos no céu são mais
felizes, mas não mais seguros do que os verdadeiros crentes aqui neste mundo. Uma
vez que a fé e o arrependimento são dádivas de Deus, o conceder destas dádivas é
uma revelação do propósito de Deus para salvar aqueles a quem elas são dadas. É
uma evidência de que Deus predestinou os receptáculos de tais dádivas para serem
conforme à imagem do Seu Filho, i.e. para serem iguais a Ele em caráter, destino, e
glória, e que Ele infalivelmente alcançará o Seu propósito. Ninguém pode arrancá-los
das Suas mãos. Aqueles que tornam-se Cristãos uma vez, têm dentro de si o princípio
da vida eterna, princípio este que é o Espírito Santo; e desde que o Espírito Santo faz
morada neles, eles são então potencialmente santos. É verdade que passam por muitas
provas, e que não sabem o que será deles, mas eles devem saber que o que foi
começado neles será completo, até o fim, e que a própria presença de conflitos dentro
deles é o sinal de vida e a promessa de vitória.
Com relação àqueles que tornam-se Cristãos verdadeiros, mas que, como os
Arminianos alegam, 'caem', por que Deus não os tira do mundo enquanto eles ainda
encontram-se no estado de salvos? Certamente ninguém dirá que é porque Ele não
possa, ou que é porque Ele não prevê a sua futura apostasia. Por que, então, Ele deixa
estes objetos da Sua afeição aqui, para caírem novamente em pecado e perecer? A
Sua dádiva de vida continuada para estes Cristãos eqüivale a uma maldição infinita
imposta sobre eles. Mas quem é que pode realmente crer que o Pai Celeste não cuida
melhor dos Seus filhos? Esta doutrina errônea dos Arminianos ensina que uma pessoa
pode ser um filho de Deus hoje e um filho do Diabo amanhã, que ela pode mudar de
um estado para outro tão rapidamente quanto muda de opinião. Ensina que a pessoa
pode ser nascida do Espírito, justificada, santificada, tudo menos glorificada, e que
mesmo assim ela pode tornar-se rejeitada e perecer eternamente, sendo a sua própria
vontade e curso de conduta o fator determinante. Certamente que um Deus soberano
e amoroso não permitiria que seus filhos resgatados caíssem dessa forma e
perecessem.
Adicionalmente, se Deus sabe que um certo Cristão vai rebelar-se e perecer, será que
Ele pode amá-lo com qualquer tipo de afeição profunda mesmo antes da sua
apostasia? Se soubéssemos que alguém que é nosso amigo hoje seria levado a tornar-
se nosso inimigo e trair-nos amanhã, não seríamos capazes de recebê-lo com a
intimidade e confiança que de outra forma seriam naturais. Nosso conhecimento dos
seus atos futuros destruiriam em grande monta o nosso presente amor por ele.
Ninguém nega que os redimidos no céu serão preservados em santidade. Todavia se
Deus é capaz de preservar os Seus santos no céu sem violar a sua liberdade, não pode
Ele também preservar os Seus santos na terra sem violar a sua liberdade?
A natureza da mudança que ocorre na regeneração é uma garantia suficiente de que a
vida concedida será permanente. A regeneração é uma mudança radical e sobrenatural
da natureza íntima, através da qual a alma é tornada viva espiritualmente, e a nova
vida implantada é imortal. Uma vez a regeneração trata de uma mudança da natureza
íntima, ela ocorre numa esfera na qual o homem não tem controle. Nenhuma criatura
tem a liberdade de mudar os princípios fundamentais da sua natureza, pois que tal é a
prerrogativa de Deus, na qualidade de Criador. Daí que nada menos que um outro ato
sobrenatural de Deus poderia reverter esta mudança e fazer com que a nova vida se
perdesse. O Cristão nascido de novo não pode mais perder sua condição de filho do
Pai Celeste, tanto quanto um filho aqui na terra não pode perder sua condição de filho
de um pai daqui da terra. A idéia que um Cristão pode 'cair' e perecer provém de uma
concepção errada do princípio de vida espiritual que foi concedido à alma na
regeneração.
7. PROVA NA BÍBLIA.
As Sagradas Escrituras provam esta doutrina de forma clara e abundante.
"(35) quem nos separará do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a
perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (36) Como está escrito:
Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas
para o matadouro. (37) Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por
aquele que nos amou. (38) Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem
anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, (39) nem
a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor
de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." [Romanos 8:35-39]
"Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça." [Romanos 6:14]; "...Aquele que crê tem a vida eterna." [João
6:47]; "...quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna
e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida." [João 5:24]. A partir do
momento que alguém crê, a vida eterna torna-se realidade, uma possessão presente e
não meramente uma dádiva condicional do futuro. "Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida
do mundo é a minha carne." [João 6:51]. Ele não diz que temos de comer muitas
vezes, mas que se comermos, viveremos para sempre. "mas aquele que beber da água
que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma
fonte de água que jorre para a vida eterna" [João 4:14].
"Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a
aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus." [Filipenses 1:6] ; "O Senhor aperfeiçoará o
que me diz respeito..." [Salmo 138:8] ; "...os dons e a vocação de Deus são
irretratáveis." [Romanos 11:29] ; "E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida
eterna, e esta vida está em seu Filho." [I João 5:11] ; "Estas coisas vos escrevo, a vós
que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna." [I
João 5:13] ; "Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão
sendo santificados." [Hebreus 10:14]. "o Senhor me livrará de toda má obra, e me
levará salvo para o seu reino celestial..." [II Timóteo 4:18]. "(29) Porque os que
dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; (30) e aos que
predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e
aos que justificou, a estes também glorificou." [Romanos 8:29 - 30]. "e nos
predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade," [Efésios 1:5].
Jesus declarou, "[28] Eu lhes dou (às Soas 'ovelhas', quer dizer, aos verdadeiros
seguidores) a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.
[29] Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da
mão de meu Pai." [João 10:28 - 29]. Vemos aqui que a nossa segurança e a
onipotência de Deus são iguais; pois a primeira está fundamentada na segunda. Deus
é mais poderoso que o mundo inteiro, e nem os homens nem o Diabo podem roubar
dEle uma das Suas jóias preciosas. Seria tão fácil como arrancar uma estrela do
fundamento, tirar um santo da mão do Pai. A salvação dos santos está no Seu poder
invencível e eles encontram-se além do perigo da destruição. Temos a promessa de
Cristo de que os portões do inferno não prevalecerão contra a Sua Igreja; todavia se o
Diabo pudesse arrebatar um aqui e outro acolá e grandes números em algumas
congregações, os portões do inferno prevaleceriam em grande extensão contra a
Igreja de Cristo. Em princípio, se um somente pudesse se perder, todos poderiam
perder-se, e assim a segurança de Cristo estaria reduzida a palavras vãs.
Quando ouvimos que "...hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes
sinais e prodígios; de modo que, SE POSSÍVEL FORA, enganariam até os
escolhidos." [Mateus 24:24], o crente livre de preconceitos prontamente compreende
que é IMPOSSÍVEL enganar os escolhidos.
A união mística que existe entre Cristo e os crentes é uma garantia de que eles
continuarão fiéis. "...porque eu vivo, e vós vivereis." [João 14:19]. O resultado dessa
união é que os crentes participam da Sua vida. Cristo está em nós (veja em Romanos
8:10 = "Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do
pecado, mas o espírito vive por causa da justiça."). Não somos que vivemos, mas é
Cristo que vive em nós (veja em Gálatas 2:20 = "Já estou crucificado com Cristo; e
vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."). Cristo
e os crentes têm uma vida comum tal como a que existe na parreira e nas uvas. O
Espírito Santo habita de tal forma nos redimidos que cada Cristão é dotado de uma
reserva de força inesgotável.
Paulo alertou aos Efésios, "E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes
selados para o dia da redenção." [Efésios 4:30]. Ele não temia apostasia, pois podia
também declarar com confiança, "Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos
conduz em triunfo, e por meio de nós difunde em todo lugar o cheiro do seu
conhecimento." [II Coríntios 2:14]. O Senhor, falando através do profeta Jeremias,
disse, "...com amor eterno te amei." [Jeremias 31:3]. Uma das melhores provas de
que o amor de Deus não terá fim é que ele não tem começo, mas é eterno. Na
parábola das duas casas, o ponto enfatizado era que a casa cujo alicerce estava na
Rocha (Cristo) não caiu quando vieram as tempestades e tormentas da vida. O
Arminianismo estabelece um outro sistema teológico no qual alguns daqueles que
estão alicerçados na Rocha efetivamente caem. No Salmo XXIII nós lemos, "E
habitarei na casa do Senhor para todo o sempre." O Cristão verdadeiro não é um
visitante temporário, mas um morador permanente na casa do Senhor. Como alguns
roubam deste salmo o seu ensinamento mais rico e profundo, ao ensinar que a graça
de Deus é algo temporário !
Cristo intercede pelo Seu povo (veja em Romanos 8:34 = "Quem os condenará?
Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à
direita de Deus, e também intercede por nós." Veja também em Hebreus 7:25 =
"Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus,
porquanto vive sempre para interceder por eles."); e somos ensinados que o Pai
sempre O ouve (veja em João 11:42 = "Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa
da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me
enviaste."). Assim é que os Arminianos, ao sustentarem que os Cristãos podem cair,
devem negar as passagens Bíblicas que declaram que Cristo intercede pelo Seu povo,
ou então eles devem negar que as Suas preces (de Cristo) sempre são ouvidas pelo
Pai. Consideremos aqui quão bem protegidos nós estamos: Cristo está à direita de
Deus rogando por nós, e adicionalmente, o Espírito Santo intercede por nós com
gemidos inexprimíveis (veja em Romanos 8:26 = "...mas o Espírito mesmo intercede
por nós com gemidos inexprimíveis.).
Na promessa maravilhosa de Jeremias 32:40, Deus prometeu preservar os crentes dos
seus próprios desvios: "farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-
lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim."
E em Ezequiel 11:19, 20, Ele promete tirar deles o "coração de pedra", e dar-lhes um
"coração de carne", para que eles possam caminhar nos Seus estatutos e manter as
Suas ordenanças, e para que eles possam ser o Seu povo e Ele o seu Deus. Pedro nos
diz que Cristãos nunca caem, pois "que pelo poder de Deus sois guardados, mediante
a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo."[I Pedro
1:5]. Paulo diz que "...Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim
de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra." [II
Coríntios 9:8]. Ele também declara que o servo do Senhor "...estará firme, porque
poderoso é o Senhor para o firmar." [Romanos 14:4]
E os Cristãos têm ainda mais a promessa de que "Não vos sobreveio nenhuma
tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados
acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para
que a possais suportar." [I Coríntios 10:13]. O fato de os Cristãos serem livrados de
certas tentações, que estariam além da sua capacidade de resistir, é uma dádiva
absoluta e graciosa de Deus, desde que trata-se inteiramente de um arranjo da Sua
providência que tentações eles encontrarão no curso de sua vida, e de quais eles serão
livrados. "Mas fiel é o Senhor, o qual vos confirmará e guardará do maligno." [II
Tessalonicenses 3:3]. E ainda, "O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o
temem, e os livra." [Salmo 34:7]. No meio de todas as suas provações e dificuldades
extremas, Paulo ainda podia dizer, "(8) Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desesperados; (9) - perseguidos, mas não
desamparados; abatidos, mas não destruídos; . . . . (14) - sabendo que aquele que
ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará a nós com Jesus, e nos apresentará
convosco." [II Coríntios 4:8, 9, 14].
Os santos, mesmo neste mundo, são comparados a uma árvore cuja folha não cai
(veja Salmo 1:3 = "Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a
qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai..."); aos cedros que
florescem no Monte Líbano (veja Salmo 92:12 = "Os justos florescerão como a
palmeira, crescerão como o cedro no Líbano."); ao Monte Sião, inabalável (veja
Salmo 125:1 = "Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não
pode ser abalado, mas permanece para sempre."); e a uma casa construída na rocha
(veja Mateus 7:24 = "Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em
prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha.").
O Senhor está com eles na sua velhice (veja Isaías 46:4 = "Até a vossa velhice eu sou
o mesmo, e ainda até as cãs eu vos carregarei; eu vos criei, e vos levarei; sim, eu vos
carregarei e vos livrarei."), e será o seu guia até a morte (veja Salmo 48:14 = "Porque
este Deus é o nosso Deus para todo o sempre; ele será nosso guia até a morte."), de
modo que eles não se perderão, total ou finalmente.
Outro forte argumento, deve ser notado com relação ao livro da vida do Cordeiro. Os
discípulos foram instruídos para terem júbilo, não tanto pelo fato de os demônios
estarem sujeitos a eles, mas por estarem os seus nomes inscritos no livro da vida do
Cordeiro. Este livro é um catálogo, uma relação dos eleitos, determinados pelo
conselho inalterável de Deus, e não podem nem ser aumentados nem ser diminuídos.
Os nomes dos retos são encontrados ali; mas os nomes daqueles que perecem nunca
foram lá escritos, desde a fundação do mundo. Deus não comete o erro de escrever no
livro da vida um nome o qual Ele mais tarde virá a excluir. Daí é que nenhum dos que
são do Senhor jamais perecerão. Jesus disse aos Seus discípulos para alegrarem-se
sim, porque os seus nomes estavam escritos no céu (veja Lucas 10:20 = "...alegrai-
vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus."); todavia eles teriam
menos razão para alegrarem-se quanto a isso, se os seus nomes - escritos no céu
naquele dia - pudessem vir a ser deletados no próximo. Paulo escreveu aos Filipenses,
"...a nossa pátria está nos céus..."[Filipenses 3:20]; e a Timóteo ele postou, "...O
Senhor conhece os seus..."[II Timóteo 2:19]. Quanto ao ensino Bíblico relativo ao
livro da vida, veja Lucas 10:20 ("Contudo, não vos alegreis porque se vos submetem
os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus");
Filipenses 4:3 ("E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes,
porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus
cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida"); Apocalipse 3:5 ("O que vencer
será assim vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do
livro da vida; antes confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus
anjos."), 13:8 ("E adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes
não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo."),
17:8 ("A besta que viste era e já não é; todavia está para subir do abismo, e vai-se
para a perdição; e os que habitam sobre a terra e cujos nomes não estão escritos no
livro da vida desde a fundação do mundo se admirarão, quando virem a besta que era
e já não é"), 20:12 ("E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e
abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram
julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras."), 20:15
("E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de
fogo.") , 21:27 ("E não entrará nela coisa alguma impura, nem o que pratica
abominação ou mentira; mas somente os que estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro.").
Aqui, então, são bastante claros e simples as declarações de que o Cristão
permanecerá na graça, o motivo sendo que o Senhor toma sobre Si o encargo de
preservá-lo em tal estado. Nestas promessas os eleitos são assegurados em ambos
lados. Não somente Deus não Se afastará deles, mas Ele também inculcará nos seus
corações o Seu temor, para que eles não se afastem dEle. É certo que nenhum Cristão
educado pelo Espírito pode duvidar que esta doutrina é ensinada na Bíblia. Parece
que o homem, pobre, miserável e impotente como ele é, aceitaria de bom grado uma
doutrina que assegura para ele as possessões da felicidade eterna, apesar de todos
ataques externos e todas as tendências maléficas internas. Mas não é assim. Ele, o
homem, recusa a doutrina, e argumenta contra ela. El as causas, as razões não são
difíceis de serem notadas. Em primeiro lugar ele tem mais confiança em si mesmo do
que tem qualquer direito de ter. Em segundo, o esquema é tão contrário ao que ele
está acostumado no mundo natural que ele a si mesmo persuade que não pode ser
verdadeiro. Em terceiro lugar, ele percebe que se esta doutrina for admitida, as outras
doutrinas da graça eficaz logicamente se seguirão. Assim, ele torce o significado das
passagens nas Escrituras que a ensinam, e agarra-se a uma que pareça, na superfície,
favorecer os seus pontos de vista pré concebidos. Na verdade, um sistema de salvação
pela graça é tão completamente diferente da sua experiência cotidiana, diária, na qual
ele vê cada coisa e cada pessoa tratados conforme obras e méritos, que ele tem grande
dificuldade em acreditar que possa ser verdade. Ele deseja ganhar a sua própria
salvação, embora ele certamente espere salários bem altos por obras tão pobres.
Capítulo 15 O Que É Fatalismo ???
Muitos mal-entendidos se apresentam através da confusão da Doutrina Cristã da
Predestinação com a doutrina pagã do Fatalismo. Há, na realidade, somente um ponto
de acordo entre as duas, o qual é, que ambos assumem a absoluta certeza de todos
eventos futuros. A essencial diferença entre eles é que o Fatalismo não tem lugar para
um Deus pessoal. A Predestinação sustenta que os eventos ocorrem porque um Deus
infinitamente sábio, poderoso e santo tem assim lhes apontado. O Fatalismo sustenta
que todos eventos ocorrem através de uma força cega, não-inteligente, não-moral que
não pode ser distinguida por necessidade física, e que nos carrega desamparadamente
dentro de seu alcance como um poderoso rio carrega um pedaço de madeira.
Predestinação ensina que desde a eternidade Deus tem tido um plano especial ou
propósito o qual Ele está trazendo a perfeição através desta ordem do mundo de
eventos. Ela sustenta que todos Seus decretos são determinações racionais
fundamentadas em suficiente razão, e que Ele tem fixado um único grande objetivo
"para o qual toda a criação se move." Predestinação sustenta que os desígnios finais
neste plano são primeiro, a glória de Deus; e segundo, o bem de Seu povo. Por outro
lado, o Fatalismo exclui a idéia de causas finais. Ele arrebata as rédeas do império
universal das mãos de infinita sabedoria e amor, e as dá às mãos de uma necessidade
cega. Ele atribui o curso da natureza e as experiências do gênero humano a uma força
desconhecida e irresistível, contra a qual é vão lutar e infantil amofinar-se.
De acordo com a doutrina da Predestinação, a liberdade e responsabilidade do
homem são completamente preservadas. No meio da certeza, Deus ordenou a
liberdade humana. Porém, o Fatalismo não permite poder de escolha, nem auto-
determinação. Ele faz os atos dos homens serem totalmente fora de seu controle
assim como são as leis da natureza pessoal, energia abstrata; não tem nenhum lugar
para as idéias morais, enquanto que a Predestinação faz destas a regra de ação para
Deus e o homem. O Fatalismo não tem lugar para e não oferece nenhum incentivo
para a religião, amor, misericórdia, santidade, justiça, ou sabedoria, enquanto que a
Predestinação dá a estes a base concebível mais forte. E finalmente, o Fatalismo
conduz cepticismo e desespero, enquanto que a Predestinação apresenta as glórias de
Deus e de Seu reino em todo seu esplendor e dá uma segurança que nada pode abalar.
A Predestinação, portanto, difere do Fatalismo tanto como os atos de um homem
difere dos atos de uma máquina, ou tanto como o amor infalível do Pai celestial
difere da força da gravitação.
"Ela nos revela", diz Smith, "a gloriosa verdade que nossas vidas e nossos corações
sensíveis estão guardados, não nas rodas dentadas de ferro de um vasto e cruel
Destino, nem no tear giratório de uma louca Chance, mas nas todo-poderosas mãos
de um infinitamente bom e sábio Deus". 1
Calvino enfaticamente repudiou a acusação que sua doutrina era Fatalista. "Fatal
[destino]", disse ele, "é um termo dado pelo Estóicos a sua doutrina de necessidade,
que eles tinham formado como resultado de um labirinto de raciocínios
contraditórios; uma doutrina calculada para chamar o próprio Deus para ordenar, e
para fixar Suas leis segundo as quais trabalha. Predestinação eu defino ser, de acordo
com as Sagradas Escrituras, aquele livre e irrestrito conselho de Deus pelo qual Ele
governa toda a humanidade, e todos os homens e coisas, e também todas as partes e
partículas do mundo por Sua infinita sabedoria e incompreensível justiça". E outra
vez,"...., tivesse você apenas estado disposto a olhar para meus livros, haveria se
convencido imediatamente quão ofensivo para mim é o profano termo fatal [destino]:
e além disso, você deve ter estudado que este mesmo termo abominável foi
arremessado nos dentes de Agostinho pelos seus oponentes." 2
Lutero disse que a doutrina do Fatalismo entre os pagãos é um prova de que "o
conhecimento da Predestinação e da Presciência de Deus, não foi menos abandonada
do que a noção da própria divindade" 3 . Na história da filosofia Materialista
comprovou-se a si mesma essencialmente fatalística. O Panteísmo também tem sido
fortemente modificado com isto.
Nenhum homem pode ser um fatalista consistente. Porque para ser consistente, ele
teria que considerar algo como isto: "Se eu morrer hoje, não me fará nenhum bem
comer, porque morrer de qualquer jeito. Nem necessito comer se devo viver muitos
anos todavia, porque viverei de qualquer jeito. Portanto, não mais comerei". É
desnecessário dizer que, se Deus predestinou que um homem viverá, Ele também pre-
ordenou que ele será guardado da loucura suicida de recusar comer.
"Esta doutrina", diz Hamilton, "é somente superficialmente semelhante ao "fatal"
pagão. O Cristão não está nas mãos de um determinismo frio e imutável, mas de um
quente e amoroso Pai celestial, que nos amou e deu Seu Filho para morrer por nós no
Calvário ! O Cristão sabe que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito". O
Cristão pode confiar em Deus porque ele sabe que Ele é todo-sábio, amoroso, justo e
santo. Ele vê o fim desde o princípio, de modo que não há razão para nos
apavorarmos quando as coisas parecem ir contra nós."
Portanto, somente uma pessoa que não examinou a doutrina da Predestinação, ou
alguém que é maliciosamente inclinado, irá imprudentemente declarar que ela é
Fatalismo. Não há escusa para qualquer um, que sabe o que Predestinação é e o que
Fatalismo é, cometer este engano.
Visto que o universo é uma unidade sistematizada, devemos escolher entre o
Fatalismo que elimina em última instância mente e propósito, e esta bíblica doutrina
da Predestinação, que sustenta que Deus criou todas as coisas, que Sua providência
estende a todas Suas obras, e que enquanto Ele mesmo é livre, também providenciou
que nós fossemos livres dentro dos limites de nossas naturezas. No lugar de nossa
doutrina da Predestinação ser idêntica com a doutrina pagã do Fatalismo, ela é seu
absoluto oposto e somente alternativa.
7. PROVAS NA BÍBLIA.
As Escrituras Sagradas ensinam que a soberania Divina e a liberdade humana co-
operam em perfeita harmonia; que enquanto Deus é o Governador soberano e a causa
primária, o homem é livre dentro dos limites da sua natureza e é a causa secundária; e
que Deus tanto controla os pensamentos e as vontades dos homens que eles
livremente e voluntariamente fazem o que Ele planejou para eles fazerem.
Um exemplo clássico da cooperação da soberania Divina e da liberdade humana é
encontrado na história de José. José foi vendido ao Egito, onde ele cresceu em
autoridade e prestou um grande serviço, ao prover alimentos em tempos de escassez e
fome. Foi, é claro, um ato muito pecaminoso dos filhos de Jacó, o fato de haverem
vendido o seu irmão caçula como escravo para um povo ateu, de um país ateu. Eles
tinham consciência de estarem agindo livremente, e anos mais tarde eles admitiram a
sua inteira culpa. (veja em Gênesis 42:21 = "Então disseram uns aos outros: Nós, na
verdade, somos culpados no tocante a nosso irmão, porquanto vimos a angústia da
sua alma, quando nos rogava, e não o quisemos atender; é por isso que vem sobre nós
esta angústia." e também em Gênesis 45:3 = "Disse, então, José a seus irmãos: Eu sou
José; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam responder, pois estavam
pasmados diante dele."). José, todavia, pôde dizer-lhes, "Agora, pois, não vos
entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido para cá; porque para
preservar vida é que Deus me enviou adiante de vós .... Assim não fostes vós que me
enviastes para cá, senão Deus..." e ainda, "Vós, na verdade, intentastes o mal contra
mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é,
conservar muita gente com vida."[Gênesis 45:5, 8 e 50:20]. Os irmãos de José
simplesmente seguiram as tendências más das suas naturezas; todavia o seu ato foi
um elo na cadeia de eventos através da qual Deus atingiu o Seu propósito; e a sua
culpa não foi diminuída ou considerada menor por haver sido, o mal que intentaram,
anulado pelo bem.
Faraó agiu muito injustamente para com o povo que governava, os Filhos de Israel;
todavia ele foi simplesmente instrumento para o cumprimento do propósito de Deus,
como Paulo escreveu, "Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para
em ti mostrar o meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a
terra."[Romanos 9:17 (veja também Êxodo 9:16 = "mas, na verdade, para isso te hei
mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja
anunciado em toda a terra."; e Êxodo 10:1, 2 = "Depois disse o Senhor a Moisés: vai
a Faraó; porque tenho endurecido o seu coração, e o coração de seus servos, para
manifestar estes meus sinais no meio deles, e para que contes aos teus filhos, e aos
filhos de teus filhos, as coisas que fiz no Egito, e os meus sinais que operei entre eles;
para que vós saibais que eu sou o Senhor.")]. Alguns dos planos de Deus são
executados em se reprimindo os atos pecaminosos dos homens. Quando os Israelitas
iam até Jerusalém três vezes ao ano, para as festas, Deus reprimiu a cobiça das tribos
vizinhas, para que a terra dos Israelitas não fosse molestada (veja em Êxodo 34;24 =
"porque eu lançarei fora as nações de diante de ti, e alargarei as tuas fronteiras;
ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante
do Senhor teu Deus."). Ele pôs no coração de Ciro, o rei ateu da Pérsia, o reconstruir
do templo em Jerusalém (veja em Esdras 1:1-3 = "No primeiro ano de Ciro, rei da
Pérsia, para que se cumprisse a palavra do Senhor proferida pela boca de Jeremias,
despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia, de modo que ele fez proclamar
por todo o seu reino, de viva voz e também por escrito, Assim diz Ciro, rei da Pérsia:
O Senhor Deus do céu me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe
edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós de todo o seu
povo (seja seu Deus com ele) suba para Jerusalém, que é em Judá, e edifique a casa
do Senhor, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém."). A Bíblia nos diz,
"Como corrente de águas é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para
onde quer."[Provérbios 21:1]. E se Ele inclina o coração do rei com tal facilidade,
certamente Ele também pode inclinar o coração de homens comuns.
Em Isaías 10:5-15 nós encontramos uma ilustração notável, da maneira pela qual a
soberania Divina e a liberdade humana agem juntas em perfeita harmonia: "(5) Ai da
Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas
mãos. (6) Eu a envio contra uma nação ímpia; e contra o povo do meu furor lhe dou
ordem, para tomar o despojo, para arrebatar a presa, e para os pisar aos pés, como a
lama das ruas. (7) Todavia ela não entende assim, nem o seu coração assim o
imagina; antes no seu coração intenta destruir e desarraigar não poucas nações. (8)
Pois diz: Não são meus príncipes todos eles reis? (9) Não é Calnó como Carquêmis?
não é Hamate como Arpade? e Samária como Damasco? (10) Do mesmo modo que a
minha mão alcançou os reinos dos ídolos, ainda que as suas imagens esculpidas eram
melhores do que as de Jerusalém e de Samária. (11) como fiz a Samária e aos seus
ídolos, não o farei igualmente a Jerusalém e aos seus ídolos? (12) Por isso acontecerá
que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então
castigará o rei da Assíria pela arrogância do seu coração e a pomba da altivez dos
seus olhos. (13) Porquanto diz ele: Com a força da minha mão o fiz, e com a minha
sabedoria, porque sou entendido; eu removi os limites dos povos, e roubei os seus
tesouros, e como valente abati os que se sentavam sobre tronos. (14) E achou a minha
mão as riquezas dos povos como a um ninho; e como se ajuntam os ovos
abandonados, assim eu ajuntei toda a terra; e não houve quem movesse a asa, ou
abrisse a boca, ou chilreasse. (15) Porventura gloriar-se-á o machado contra o que
corta com ele? ou se engrandecerá a serra contra o que a maneja? como se a vara
movesse o que a levanta, ou o bordão levantasse aquele que não é pau!" Com relação
a esta passagem, Rice diz: "Qual é o significado óbvio desta passagem? Ela ensina,
em primeiro lugar, e da forma mais direta e sem qualquer equívoco, que o rei da
Assíria, embora um homem ímpio e orgulhoso, nada mais era que um instrumento
nas mãos de Deus, como o machado, ou a serra, ou um caniço nas mãos de um
pescador, para executar os propósitos de Deus sobre os Judeus; e que Deus tinha
controle perfeito dele. Esta passagem também ensina, em segundo lugar, que a
liberdade de ação do rei não foi destruída ou amputada por aquele controle, mas que
ele era perfeitamente livre para fazer os seus próprios planos e para ser governado
pelos seus próprios desejos. Pois está declarado que ele não tinha intenção de
executar os propósitos de Deus, mas sim de promover os seus próprios projetos
ambiciosos. 'Seja como for, ele não intentou, nem o seu coração desejou; mas no seu
coração estava sim o propósito de destruir e dizimar nações, não só uns poucos.'
Consequentemente, tal fato ensina, em terceiro lugar, que o rei foi justamente
responsabilizado pelo seu orgulho, e perversidade, embora Deus tenha prevalecido
sobre ele de tal forma que ele cumpriu os Seus sábios propósitos. Deus decretou punir
e purificar os Judeus pelos seus pecados. Ele escolheu usar o rei da Assíria para
executar tal propósito, e portanto fez com que marchasse contra eles. Ele mais tarde
puniria o rei pelos seus planos perversos. Não é evidente, então, além de toda
contestação, que as Escrituras Sagradas ensinam que Deus pode e verdadeiramente
controla os homens, mesmo homens perversos, de forma a fazer com que os Seus
propósitos se concretizem, sem contudo interferir com a sua liberdade?" 9
Para qualquer um que aceite a Bíblia como a Palavra de Deus, é absolutamente certo
que a crucificação de Cristo -- o evento mais pecaminoso de toda a história -- foi pré
ordenado: "(27) Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o Teu
santo Servo Jesus, ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com
os gentios e os povos de Israel; (28) para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu
conselho predeterminaram que se fizesse."[Atos 4:27, 28]; "a Este, que foi entregue
pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-O pelas
mãos de iníquos"[Atos 2:23]; e "Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca
de todos os Seus profetas havia anunciado que o Seu Cristo havia de padecer."[Atos
3:18]. "(27) Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não
conheceram a este Jesus, condenando-O, cumpriram as mesmas palavras dos profetas
que se ouvem ler todos os sábados. (28) E, se bem que não achassem nEle nenhuma
causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto. (29) Quando haviam
cumprido todas as coisas que dEle estavam escritas, tirando-O do madeiro, O
puseram na sepultura."[Atos 13:27-29].
E não somente a crucificação em si mesma foi pré ordenada, mas também muitos dos
fatos que ocorreram durante o evento, tais como: o repartir das vestes e o lançar da
sorte por sua túnica (veja em Salmo 22:18 = "Repartem entre si as minhas vestes, e
sobre a minha túnica lançam sortes"; e João 19:23, 24 = "Tendo, pois, os soldados
crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram delas quatro partes, para cada
soldado uma parte. Tomaram também a túnica; ora a túnica não tinha costura, sendo
toda tecida de alto a baixo. Pelo que disseram uns aos outros: Não a rasguemos, mas
lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será [para que se cumprisse a escritura
que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, e lançaram sortes]. E, de fato, os
soldados assim fizeram."); o haverem Lhe oferecido fel e vinagre para beber (veja em
Salmo 69:21 = "Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber
vinagre."; e Mateus 27:34 = "deram-lhe a beber vinho misturado com fel; mas ele,
provando-o, não quis beber.", e João 19:29 = "Estava ali um vaso cheio de vinagre.
Puseram, pois, numa cana de hissopo uma esponja ensopada de vinagre, e lha
chegaram à boca."); a pilhéria por parte do povo (veja em Salmo 22:6-8 = "...opróbrio
dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim,
arreganham os beiços e meneiam..."; e Mateus 27:39 = "E os que iam passando
blasfemavam dele, meneando a cabeça"); o fato de O haverem associado a ladrões
(veja em Isaías 53:12 = "Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os
poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi
contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos
transgressores intercedeu."; e Mateus 27:38 = "Então foram crucificados com ele dois
salteadores, um à direita, e outro à esquerda."); que nenhum dos Seus ossos seria
quebrado (veja em Salmo 34;20 = "Ele lhe preserva todos os ossos; nem sequer um
deles se quebra."; e João 19:33, 36 = "mas vindo a Jesus, e vendo que já estava
morto, não lhe quebraram as pernas" ... "Porque isto aconteceu para que se cumprisse
a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado."); o traspassar com a lança (veja
em Zacarias 12:10 = "...e olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão
como quem pranteia por seu filho único...", e João 19:34-37 = "contudo um dos
soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água" ... "Também há
outra escritura que diz: Olharão para aquele que traspassaram."); assim como vários
outros eventos que foram descritos e gravados. Ouça à babel do inferno ao redor da
cruz, e diga se aqueles homens não eram livres! Todavia leia todas as previsões e
profecias e recorde novamente a tragédia e diga se cada um daqueles incidentes não
havia sido pré ordenado por Deus! Ademais, estes mesmos eventos não poderiam
haver sido preditos pelos profetas do Antigo Testamento, séculos antes eles viessem a
acontecer, a menos que eles fossem absolutamente certos no plano pré ordenado de
Deus. Todavia, enquanto pré ordenados, aqueles eventos foram executados, foram
levados a efeito por agentes que eram ignorantes acerca de quem Cristo realmente
era, e que eram igualmente ignorantes do fato de que eles estavam cumprindo,
estavam realizando os decretos divinos (veja em Atos 13:27; 13:29; 3:17,18= "Pois,
os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a Este
Jesus, condenando-O, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler
todos os sábados." ... "Quando haviam cumprido todas as coisas que Dele estavam
escritas, tirando-O do madeiro, O puseram na sepultura" ... "Agora, irmãos, eu sei que
o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades. Mas Deus assim
cumpriu o que já dantes pela boca de todos os Seus profetas havia anunciado que o
Seu Cristo havia de padecer."). Assim é que se engolimos o camelo ao acreditar que o
mais pecaminoso evento em toda a história estava no plano pré ordenado de Deus, e
que tal fato foi sobrepujado pela redenção do mundo, engasgaremos com o mosquito
em recusarmo-nos a acreditar que também os menores eventos nas nossas vidas
diárias fazem parte daquele plano, e que são todos designados para bons propósitos?
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
Provérbios 16:9 = "O coração do homem propõe o seu caminho; mas o Senhor lhe
dirige os passos."
Jeremias 10:23 = "Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho; nem é do
homem que caminha o dirigir os seus passos."
Êxodo 12:36 = "E o Senhor deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, de modo que
estes lhe davam o que pedia; e despojaram aos egípcios."
Esdras 6:22 = "e celebraram a festa dos pães ázimos por sete dias com alegria; porque
o Senhor os tinha alegrado, tendo mudado o coração do rei da Assíria a favor deles,
para lhes fortalecer as mãos na obra da casa de Deus, o Deus de Israel."
Esdras 7:6 = "este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de Moisés,
que o Senhor Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu Deus, que
estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira."
Isaías 44:28 = "que digo de Ciro: Ele é meu pastor, e cumprira tudo o que me apraz;
de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do
templo será lançado."
Apocalipse 17:17 = "Porque Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele,
chegarem a um acordo, e entregarem à besta o seu reino, até que se cumpram as
palavras de Deus."
I Samuel 2:25 = "Se um homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um
homem pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a
voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir."
I Reis 12:11, 15 = "Assim que, se meu pai vos carregou dum jugo pesado, eu ainda
aumentarei o vosso jugo; meu pai vos castigou com açoites; eu, porém, vos castigarei
com escorpiões.", "O rei, pois, não deu ouvidos ao povo; porque esta mudança vinha
do Senhor, para confirmar a palavra que o Senhor dissera por intermédio de Aías, o
silonita, a Jeroboão, filho de Nebate."
II Samuel 17:14 = "Então Absalão e todos os homens e Israel disseram: Melhor é o
conselho de Husai, o arquita, do que o conselho de Aitofel: Porque assim o Senhor o
ordenara, para aniquilar o bom conselho de Aitofel, a fim de trazer o mal sobre
Absalão."
1. O PROBLEMA DO MAL
A objeção pode aparecer, que se Deus pré ordenou inteiramente o curso de eventos
neste mundo, Ele deve ser o Autor do Pecado. Para começar, nós prontamente
admitimos que a existência de pecado num universo que está sob o controle de um
Deus que é infinito na Sua sabedoria, no Seu poder, na Sua santidade e na Sua justiça,
é um mistério inescrutável que no nosso estado presente de conhecimento não
podemos explicar a contento. Todavia, nós somente vemos através de lentes
obscurecidas. O pecado não pode nunca ser explicado no terreno da lógica ou da
razão, pois é essencialmente ilógico e irracional. O simples fato de o pecado existir,
tem sido freqüentemente levantado por ateístas e cépticos, como um argumento não
simplesmente contra o Calvinismo, mas contra o teísmo em geral.
Os padrões de Westminster, no tratamento do aterrador mistério do mal, são muito
cuidadosos em guardar o caráter de Deus até mesmo da sugestão do mal. O pecado é
referido à liberdade que é dada ao agente, e de todos atos pecaminosos, quaisquer que
sejam, eles enfaticamente afirmam que "a pecaminosidade dessas transgressões
procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo,
não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo."(Capítulo V, seção IV.
Referências na Bíblia: Isa. 45:7; Rom. 11:32-34; At. 4:27-28; Sal. 76:10; II Reis
19:28; At.14:16; Gen. 50:20; Isa. 10:12; I João 2:16; Sal. 50:21; Tiago 1:17.).
E enquanto não é para nós o explicar como Deus nos Seus conselhos secretos rege e
sobrepuja os atos pecaminosos dos homens, é para nós o saber que o que quer que
seja que Deus faça, Ele nunca se desvia da Sua própria e perfeita justiça. Em todas as
manifestações do Seu caráter, ele Se mostra preeminentemente O Sagrado. Estas
obras profundas de Deus são mistérios que são para serem adorados, e não
questionados; e não fosse pelo fato de que algumas pessoas persistem em declarar
que a doutrina da Predestinação faz Deus o autor do pecado, poderíamos dar o
assunto por encerrado.
Uma explicação parcial do pecado pode ser encontrada no fato de que enquanto o
homem é constantemente comandado, exortado pelas Escrituras Sagradas a não
cometer, a ele é, não obstante, permitido cometer, caso seja esta a sua escolha.
Nenhuma compulsão é impingida ao indivíduo; ele simplesmente é deixado para
exercitar livremente a sua natureza, e somente ele é responsável. Isto, contudo, nunca
é uma permissão vazia, pois com o completo conhecimento da natureza do indivíduo
e da sua tendência para pecar, Deus permite-lhe ou permite que ele encontre-se num
certo ambiente, sabendo perfeitamente bem que um pecado específico será cometido.
Mas enquanto Deus permite o pecado, a sua conexão com o mesmo é puramente
negativa e de fato o pecado é coisa abominável, que Ele odeia com intensa
animosidade. O motivo que Deus tem para permiti-lo e o motivo que o homem tem
para comete-lo são radicalmente diferentes. Muitas pessoas são iludidas nestes
aspectos por falharem em considerar que Deus quer e deseja, de maneira justa e reta,
aquelas coisas que os homens fazem de maneira perversa. Ademais, a consciência de
cada indivíduo, após ele haver pecado, lhe diz que ele e somente ele é responsável e
que ele não precisava haver cometido tal pecado se ele não houvesse voluntariamente
decidido, escolhido assim fazer.
Os Reformadores reconheceram o fato de que o pecado, tanto na sua entrada no
mundo como em todas subsequentes aparições, estava envolvido no plano divino; que
a explicação para a sua existência, tanto quanto qualquer explicação pudesse ser
dada, seria encontrada no fato de que o pecado se encontrava completamente sob o
controle de Deus; e que seria sobrepujado por uma manifestação mais alta da Sua
glória. Podemos descansar certos de que Deus nunca teria permitido que o pecado
entrasse no mundo, a menos que, através da Sua providência soberana e secreta, Ele
fosse capaz de exercer uma influência direta nas mentes dos ímpios, de modo que o
bem seja o resultado do mal que intentaram. Ele opera não somente todas as afeições
santas e boas, que são encontradas nos corações do Seu povo, mas Ele também
controla perfeitamente todas as afeições ímpias e depravadas dos perversos, e as
transforma como Lhe apraz, de modo que eles tenham o desejo de concretizar aquilo
que Ele tenha planejado ser concretizado por intermédio deles. Os perversos muitas
vezes vangloriam-se com a concretização dos seus propósitos; mas como Calvino
disse, "o acontecimento, com o passar do tempo prova que eles somente estavam
cumprindo e concretizando o que já havia sido ordenado por Deus, e que também,
contra a sua própria vontade, enquanto eles de nada sabiam." Mas enquanto Deus
sobrepuja as afeições depravadas de homens para o cumprimento dos Seus próprios
propósitos, Ele não obstante os pune pelo seu pecado e faz com que eles sejam
condenados pelas suas próprias consciências.
"Um governante pode proibir traição; mas o seu comando não o obriga a fazer tudo o
que esteja em seu poder para prevenir que aquela proibição seja desobedecida. Ser
traído pode resultar em bem para o seu reino, e o traidor ser punido conforme a lei.
Que à vista deste bem resultante ele escolha não prevenir a traição, não implica em
nenhuma contradição ou oposição " 1
Com relação ao problema do mal, o Dr. A. H. Strong adianta as seguintes
considerações: "(1) Que a liberdade de escolha é necessária à virtude; (2) que Deus
sofre com o pecado, mais que o pecador; (3) que, com a permissão do pecado, Deus
proveu a redenção; e, (4) que Deus, eventualmente sobrepujará todo o mal com o
bem." E então ele acrescenta, "É possível que os anjos eleitos pertençam a um
sistema moral no qual o pecado seja evitado por motivos inibidores. Não podemos
negar que Deus preveniria o pecado num sistema moral. Mas é muito duvidoso se
Deus poderia prevenir o pecado no melhor sistema moral. A mais perfeita liberdade é
indispensável para que a mais alta virtude seja alcançada." 2 Fairbairn nos deu alguns
bons pensamentos no seguinte parágrafo: "Mas por que Deus criou um ser capaz de
pecar? Somente se ele pudesse criar um ser capaz de obedecer. A capacidade de fazer
o bem implica na capacidade de fazer o mal. Um motor não é capaz de obedecer ou
de desobedecer; e a criatura que estivesse sem esta capacidade dupla poderia ser uma
máquina, mas não poderia ser uma criança. Perfeição moral pode ser alcançada, mas
não pode ser criada; deus pode fazer um ser capaz de performar ações morais, mas
não um ser com todos os frutos de ação moral armazenados dentro de si."
2. RESULTADOS PRÁTICOS.
A tendência genuína dessas verdades não é fazer com que os homens tornem-se
indolentes e descuidados, mas energizá-los e estimulá-los a redobrar seus esforços.
Heróis e conquistadores, tais como César e Napoleão, muitas vezes foram possuídos
por um senso de destino o qual eles iriam cumprir. Esta sensação torna os nervos em
aço, redobra a coragem, e fixa um propósito indomável de seguir adiante com a tarefa
até uma conclusão com sucesso. Objetivos grandes e difíceis podem somente ser
alcançados por homens que tenham confiança em si mesmos, e que não permitam que
obstáculos os desencorajem. "Esta idéia de destino uma vez abraçada", diz Mozley,
"como é o efeito natural do senso de poder, em contrapartida acrescenta grandemente
ao mesmo. O indivíduo, assim que refere-se a si próprio como predestinado a
alcançar algum grande objetivo, age com constância e com força tão maior para a sua
obtenção; ele não é dividido por dúvidas, ou enfraquecido por medos ou escrúpulos;
ele totalmente crê que conseguirá, e tal crença é a maior assistência para o sucesso. A
idéia de um destino completa-se num grau considerável . . . . . Deve observar-se que
isto é verdadeiro no moral e espiritual, tanto quanto no homem natural, e aplica-se
aos objetivos e propósitos religiosos, tanto quanto àqueles relacionados com a glória
humana." 4
E. W. Smith, no seu valioso livro, "O Credo dos Presbiterianos", escreve o seguinte:
"A mais confortante e enobrecedora é também a mais energizante das fés. Que a sua
caricatura sombria, o fatalismo, tenha desenvolvido nos corações humanos uma
energia ao mesmo tempo sublime e alarmante, é um dos lugares-comuns da história.
A onda avassaladora de ataque do Maometanismo, que varreu o Oriente e quase que
destruiu o Ocidente, foi devido à convicção dos seus devotos que nas suas conquistas
eles estavam somente executando os decretos de Alá. Átila o Huno foi guiado no seu
curso terrível e destrutivo pela crença de que ele era o "Flagelo de Deus". A energia e
a audácia que fizeram Napoleão tentar e conseguir resultados aparentemente
impossíveis, nasceu da convicção secreta de que ele era o 'homem do destino'. O
Fatalismo gerou uma raça de Titãs. A Sua energia é sobre-humana, porque eles criam
serem instrumentos de poder sobre humano.
"Se a caricatura desta doutrina possibilitou tal energia, a doutrina em si deve inspirar
energia ainda mais elevada, pois tudo o que nela é energizante permanece com força
adicional quando, por um destino cego ou uma deidade fatalista, substituímos um
Deus, sábio e governador. Que eu sinta que em cada comando de ação, em cada
necessidade de reforma, eu esteja somente desenvolvendo um propósito eterno de
Jeová; que em cada batalha pelo direito, eu ouça às minhas costas o som da marcha
das Reservas Infinitas; e que eu seja elevado acima do medo do homem ou da
possibilidade de falha final." (pp. 180, 181).
Na edição de 18 de Abril de 1929 do tablóide Inglês, "The Daily Express", lemos a
seguinte matéria, relativa a Earl Haig, que foi o Comandante-em-Chefe dos exércitos
Britânicos na Primeira Guerra Mundial; e que era Escocês e Presbiteriano Calvinista:
"O mais notável com relação à própria personalidade de Haig é a revelação de que
este homem formal, frio e reservado tinha uma profunda fé, e nas maiores crises da
guerra ele acreditou implicitamente que a ajuda viria do alto; e tinha a si próprio
como o escolhido do Senhor, o protetor que poderia sozinho destruir o inimigo. Ele
estava genuinamente convencido que a posição à qual ele agora havia sido chamado
para ocupar no exército Britânico poderia ser ocupada por ele e somente por ele. Não
era modéstia. Não havia nenhum homem que fosse menos inclinado para super
estimar o seu próprio valor ou capacidade; era a opinião baseada no discernimento de
todos os fatores. Ele passou a referir-se a si mesmo com fé quase Calvinista, como o
instrumento predestinado da Providência para a obtenção da vitória das forças
Britânicas. Sua auto confiança abundante foi reforçada por esta concepção de si
mesmo como o filho do destino."
A tendência genuína dessas verdades, então, como já apresentado, não é fazer com
que homens tornem-se indolentes e descuidados, nem de fazê-los adormecer no colo
da presunção e da segurança carnal, mas energizá-los e inspirar-lhes confiança. Tanto
a razão como a experiência nos ensinam que quanto maior a esperança de sucesso de
uma pessoa, mais forte torna-se o motivo para exercê-lo. A pessoa que está segura do
sucesso na utilização de meios apropriados tem o mais forte dos incentivos para
trabalhar, enquanto que por outro lado, onde há pouca esperança haverá pouca
disposição para exercitar-se; e onde não houver esperança, não haverá a prática. O
Cristão, então, que tem à sua frente os mandamentos definitivos de Deus, e a
promessa de que será abençoada a obra daqueles que obedientemente e
reverentemente beneficiam-se dos meios apontados, tem os motivos mais altos
possíveis para a prática. Ademais, ele é elevado e inspirado pela firme convicção de
estar marcado para uma coroa celeste.
Quem jamais apresentou a doutrina da eleição mais plenamente e em linguagem mais
forte do que fez o Apóstolo Paulo? E todavia quem foi mais zeloso e mais incansável
na sua labuta que Paulo? Sua teoria fez dele um missionário e o impeliu a apresentar
o Cristianismo como final e triunfante. Quão festivo deve ter sido para ele em
Corinto, ouvir as palavras, "...Não temas, mas fala e não te cales; porque eu estou
contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta
cidade."[Atos 18:9-10]. Que maior incentivo para a ação poderia ter sido dado a ele
do que este, que a sua pregação era o meio divinamente indicado para a conversão de
muitos daquele povo escolhido? Note, Deus não lhe disse quantas pessoas Ele tinha
naquela cidade, nem quem eram os indivíduos. O ministro do Evangelho pode ir
adiante confiante no sucesso, sabendo que através deste meio indicado Deus
determinou salvar um vasto número da família humana em cada idade. Na verdade,
um dos mais fortes apelos para missões e que o evangelismo é a vontade de Deus
para o mundo inteiro; e somente aquele que reconhece a soberania de Deus em cada
esfera, em cada aspecto da vida é quem pode ter a paixão mais profunda pela glória
Divina.
A experiência da Igreja em todas as eras tem sido a de que esta doutrina tem levado
homens, não a negligenciar, nem a uma indiferença impassiva, nem a oposição
rebelde contra Deus; mas a submissão e a uma confiança certa no poder Divino. A
promessa feita a Jacó de que a sua posteridade seria uma grande nação não evitou
nem um pouco que ele usasse todos os meios disponíveis para proteção, quando
parecia que Esaú pudesse matá-lo e à sua família. Quando Daniel entendeu pelas
profecias de Jeremias que o tempo para a restauração de Israel estava próximo, ele
sinceramente pôs-se a orar por isto [veja em Daniel 9:2, 3 = "(2) no ano primeiro do
seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falara o
Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de Jerusalém, era de
setenta anos. (3) Eu, pois, dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com
oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza."]. Imediatamente após ter sido revelado
a Davi que Deus estabeleceria a sua casa, ele orou sinceramente por aquele mesmo
motivo [veja em II Samuel 7:27-29 = "(27) Pois tu, Senhor dos exércitos, Deus de
Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Por isso o
teu servo se animou a fazer-te esta oração. (28) Agora, pois, Senhor Jeová, tu és
Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo este bem. (29) Sê,
pois, agora servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre
diante de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a casa do teu
servo será, abençoada para sempre."]. Embora Cristo soubesse o que havia sido
apontado para o Seu povo, Ele orou sinceramente pela preservação deles (veja em
João 17). E embora a Paulo tivesse sido dito que ele devia ir para Roma e dar
testemunho, isto não fez com que ele fosse descuidado com a sua vida. Ele tomou
toda precaução para proteger-se contra um julgamento injusto pela turba em
Jerusalém, e contra uma viagem imprudente [veja em Atos 23:11 = "Na noite
seguinte, apresentou-se-lhe o Senhor e disse: Tem bom ânimo: porque, como deste
testemunho de mim em Jerusalém, assim importa que o dês também em Roma";
25:10, 11 = "(10) Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde devo ser
julgado; nenhum mal fiz aos judeus, como muito bem sabes. (11) Se, pois, sou
malfeitor e tenho cometido alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas se
nada há daquilo de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo
para César."; 27:9, 10 = "(9) Havendo decorrido muito tempo e tendo-se tornado
perigosa a navegação, porque já havia passado o jejum, Paulo os advertia, (10)
dizendo-lhes: Senhores, vejo que a viagem vai ser com avaria e muita perda não só
para a carga e o navio, mas também para as nossas vidas."]. O decreto de Deus era
que todos aqueles a bordo da embarcação fossem salvos, mas tal decreto tomou a
atividade habilidosa, corajosa e livre dos marinheiros. Sua liberdade e
responsabilidade não foram nem um pouco diminuídas. O efeito prático desta
doutrina, então, tem sido guiar os homens a orações freqüentes e ferventes, sabendo
que os seus tempos estão nas mãos de Deus e que cada evento em suas vidas são da
Sua disposição.
Ademais, pode ser dito que tanto quanto o pecador permaneça ignorante da sua
condição perdida e indefesa, ele permanece negligente. Provavelmente não há no
mundo um pecador descuidado que não creia em sua perfeita capacidade de tornar-se
a Deus a qualquer hora que lhe convenha; e por causa desta crença ele põe de lado o
arrependimento, inteiramente tencionando vir a Deus numa hora mais conveniente.
Em proporção justa à sua crença no aumento da sua capacidade própria, seu descuido
também aumenta, e ele levado a adormecer na beira do terrível abismo da ruína
eterna. Somente quando ele é levado a sentir sua completa falta de defesa e
dependência da graça soberana, é que ele procura ajuda somente onde ela pode ser
alcançada.
Capítulo 19
Que Representa a Deus como Discriminador de Pessoas, ou Como Injustamente
Parcial
1. Dificuldades Enfrentadas Por Todos Os Sistemas. 2. Deus Não É Discriminador de
Pessoas. 3. Deus Claramente Não Trata Todos Os Povos Igualmente; Ele Dá A
Alguns O Que Ele Retém De Outros. 4. A Parcialidade De Deus É Em Parte
Explicada Pelo Fato De Que Ele É Soberano E Que As Suas Dádivas São Dádivas de
Graça.
1. DIFICULDADES ENFRENTADAS POR TODOS OS SISTEMAS.
Se todos os homens estão mortos em pecados; e destituídos do poder para
restaurarem-se a si mesmos para a vida espiritual, por que, pergunta-se, Deus exercita
o Seu maravilhoso poder para regenerar alguns, enquanto Ele deixa outros a perecer?
Justiça, é dito, demanda que todos devessem ter igual oportunidade; que devessem
ter, seja por natureza ou pela graça, poder para assegurar a sua própria salvação. Deve
ser lembrado, contudo, que objeções como estas não são apresentadas somente contra
o sistema Calvinista de teologia. Elas são na verdade levantadas por ateístas contra o
Teísmo. É questionado, se Deus é infinito em poder e santidade, por que Ele permite
tanto pecado e miséria existirem no mundo? E por que aos perversos é tantas vezes
permitido prosperarem durante longos períodos de tempo, enquanto que os retos e
justos muitas vezes amargam pobreza e sofrimentos?
É claro o bastante que os sistemas anti-Calvinistas não podem oferecer soluções reais
para estas dificuldades. Admitindo-se que a regeneração é ato dos próprios pecadores
e que cada homem tem habilidade, capacidade e conhecimento suficientes para
garantir a sua própria salvação; continua sendo verdade que no presente estado do
mundo somente - comparativamente - alguns são salvos, e que Deus não Se interpõe
para evitar que a maioria dos homens adultos pereçam nos seus pecados. Os
Calvinistas não negam que estas dificuldades existam, eles somente mantém que tais
problemas não são peculiares ao seu sistema, e se contentam com a solução parcial
deles, a qual é dada pelas Escrituras. A Bíblia ensina que o homem foi criado santo;
que ele deliberadamente desobedeceu a lei divina e caiu em pecado; que como
resultado disso a posteridade de Adão veio ao mundo num estado de morte espiritual;
que Deus nunca força-os a pecarem mais, mas que ao contrário Ele exerce influências
as quais deviam induzir as criaturas racionais a arrependerem-se e a procurar a Sua
graça santificadora; que todos os que sinceramente arrependem-se e buscam esta
graça são salvos; e que pelo exercício do Seu maravilhoso poder, vastas multidões
que do contrário teriam continuado no seu pecado são trazidas à salvação.
1. Tanto Os Meios Como Os Fins São Pré Ordenados. 2. Amor E Gratidão A Deus
Pelo Que Ele Fez Por Nós É A Mais Forte e Única Base Permanente Para A
Moralidade. 3. Os Frutos Práticos Do Calvinismo Na História São A Sua Melhor
Vindicação.
Algumas vezes o termo "mundo" é usado quando somente refere-se a uma grande
parte do mundo, como quando é dito que o Diabo é "o enganador de todo o mundo",
ou que "toda a terra" maravilhou-se e seguiu a besta (Apocalipse 13;3). Se ao
escrever o versículo em I João 5:19, "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo
inteiro jaz no Maligno" o autor quis dizer cada indivíduo da raça humana, então ele e
aqueles para quem ele escreveu estavam também no maligno, e ele estaria em
contradição consigo mesmo, ao dizer que eles eram de Deus. Algumas vezes este
termo significa somente que uma relativamente pequena parte do mundo, como
quando Paulo escreveu à nova Igreja Cristã em Roma que "...em todo o mundo é
anunciada a vossa fé"[Romanos 1:8]. Ninguém a não ser os crentes aplaudiriam
àqueles Romanos por sua fé em Cristo, e na verdade o mundo no sentido mais amplo
da palavra nem sequer sabia que existia tal Igreja em Roma. Assim é que Paulo quis
dizer somente que 'o mundo crente' ou a Igreja Cristã, o que era então uma parte
comparativamente insignificante do mundo real. Um pouco antes que Jesus nascesse,
"...saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse
recenseado . . . . E todos iam alistar-se..."[Lucas 2:1, 3]; todavia sabemos que o
escritos tinha em mente somente aquela comparativamente pequena parte do mundo
que era controlada por Roma. Quando foi dito que no dia de Pentecostes, "Habitavam
então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de todas as nações que há debaixo do
céu."[Atos 2:5], entendia-se tratar somente aquelas nações que eram imediatamente
conhecidas dos Judeus, já que os versículos de números 9, 10 e 11 listavam todas as
que ali estavam representadas. Paulo diz que o Evangelho "...foi pregado a toda
criatura que há debaixo do céu..."[Colossenses 1:23]. Da deusa dos Efésios, Diana,
foi dito ter sido adorada por "toda a Ásia e o mundo..."[Atos 19:27]. A nós foi dito
que a fome que veio sobre o Egito no tempo de José "...prevaleceu em todas as terras"
e que "...de todas as terras vinham ao Egito, para comprarem de José..."[Gênesis
41:57].
Numa conversação normal, muitas vezes falamos do mundo dos negócios, do mundo
educacional, do mundo político, etc., mas não queremos dizer que toda pessoa no
mundo é um executivo, ou graduado, ou um político. Quando dizemos que um certo
fabricante de automóveis vende automóveis para todo mundo, não queremos com
isso dizer que eles realmente vendem para cada indivíduo, mas que eles vendem
carros para todo aquele que quiser pagar o seu preço. Podemos dizer de um professor
de literatura numa cidade, que ele leciona para todo mundo, -- não que todo o mundo
estude com ele, mas todos aqueles que pelo menos estudam, naquela cidade, o fazem
com ele. A Bíblia é escrita na linguagem plena do povo, e deve ser assim entendida.
Versículos como João 3:16, "Pois Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu
Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida
eterna", dá prova abundante de que a redenção que os Judeus pensaram em
monopolizar é universal tanto quanto o espaço. Deus amou o mundo de tal maneira,
não uma pequena porção do mundo, mas o mundo inteiro, que Ele deu o Seu Filho
Unigênito para a sua redenção. E não somente a extensão, mas a intensidade do amor
de Deus são claramente demonstradas pela importante expressão adverbial 'de tal
maneira', -- Deus amou o mundo de tal maneira; Deus amou o mundo tanto, apesar da
perversidade, da impiedade do mundo, que Ele deu o Seu Filho Unigênito para
morrer por ele. Mas onde está a tão propalada prova da sua universalidade para com
os indivíduos? Este versículo é algumas vezes pressionado a tal extremo que Deus é
representado como amoroso demais para punir qualquer um, e tão cheio de
misericórdia que Ele não lidará com os homens de acordo com nenhum standard,
nenhum padrão rígido de justiça, independentemente dos seus merecimentos. O leitor
atento, ao comparar este versículo com outros na Bíblia, verá que alguma restrição
precisa ser colocada na palavra "mundo". Um escritor perguntou, "Amou Deus a
Faraó?" (veja em Romanos 9:17 = "Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo
te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado
por toda a terra."). Amou Ele os Amalequitas (veja em Êxodo 17:14 = "Então, disse o
Senhor a Moisés: Escreve isto para memória num livro e repete-o a Josué; porque Eu
hei de riscar totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu."). Amou Deus os
Canaanitas, a quem Ele comandou serem exterminados sem misericórdia? (veja em
Deuteronômio 20:16 = "Porém, das cidades destas nações que o Senhor, teu Deus, te
dá em herança, não deixarás com vida tudo o que tem fôlego."). Amou Deus os
Amonitas e Moabitas, a quem Ele comandou não serem recebidos na congregação
para sempre? (veja em Deuteronômio 23:3 = "Nenhum Amonita ou Moabita entrará
na assembléia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na assembléia do
Senhor, eternamente."). Ama Deus os que praticam a iniqüidade? (veja em Salmos
5:5 = "Os arrogantes não permanecerão à tua vista; aborreces a todos os que praticam
a iniqüidade."). Ele ama os vasos de ira preparados para destruição, os quais Ele
suporta com muita longanimidade? (veja em Romanos 9:22 = "Que diremos, pois, se
Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita
longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,"). Amou Deus a Esaú?
(veja em Romanos 9:13 = "Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de
Esaú.")."
4. CONSIDERAÇÕES GERAIS.
Nem o convite profético, "Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós,
os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem
dinheiro e sem preço, vinho e leite."[Isaías 55:1] e outras referências no mesmo
sentido, contradizem este ponto de vista; pois a maioria da humanidade não está
sedenta mas morta, morta em pecado, sem esperança e servidores aplicados de Satã, e
em nenhum estado de fome e de sede, atrás da retidão. O convite gracioso de vir a
Cristo é rejeitado, não porque haja qualquer coisa fora a sua própria pessoa que
impeça a sua vinda, mas porque até que lhes seja graciosamente dado um novo
nascimento através do operar do Espírito Santo eles não têm nem a vontade nem o
desejo de aceitar. É Deus Quem dá esta vontade e Quem excita este desejo naqueles
que são predestinados para a vida (veja em Romanos 11:7, 8 = "Que diremos, pois? O
que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram
endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para
não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje." e em Romanos 9:18 = "Logo,
tem Ele misericórdia que quem quer e também endurece a quem Lhe apraz."). Ele
que quer, pode vir; mas uma pessoa que está completamente imersa em ateísmo, por
exemplo, não tem chance de ouvir a oferta do Evangelho e não pose possivelmente
vir. "E, assim, a fé vem pela pregação..."[Romanos 10:17]; e onde não há fé, não pode
haver salvação. Nem pode vir aquela pessoa que ouviu o Evangelho mas que ainda é
governada por princípios e desejos que fazem com que ela O odeie. Ele é um escravo
do pecado e age de acordo. Ele, que quer, pode escapar de um prédio em chamas
enquanto as escadas ainda estiverem seguras; mas ele que está dormindo, ou ele que
não pensa seriamente no incêndio o bastante para fugir dele, não tem a vontade, e
perece nas chamas. Clark diz, "Os Arminianos são fãs de dizerem: 'quem quer que
seja que queira, virá', ou 'Quem quer que creia', implicando assim que a crença e a
decisão são na totalidade atos de homem, e que tal fato é um golpe na soberana
eleição. Verdadeiras como estas declarações são, elas não tocam no ponto em
discussão. A quilômetros mais abaixo, está o ponto vital; como uma pessoa passa a
querer? Se alguém quer, ele pode certamente escolher; mas a natureza pecaminosa
avessa a Deus precisa ser modificada, para passar a querer, pela palavra de Deus, pela
graça de Deus, pelo Espírito de Deus, ou por uma intervenção soberana." 1
Estritamente falando, estas não são ofertas divinas que são feitas
indiscriminadamente a toda a humanidade, mas são endereçadas a um povo escolhido
e são incidentalmente ouvidas por outros.
Se as palavras em I Timóteo 2:4, que Deus "O Qual deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.", fossem tomadas no
sentido Arminiano, seguiria que, ou Deus está desapontado nos Seus desejos, ou
todos os homens são salvos, sem exceção. Ademais, a doutrina que imputa
desapontamento à Deidade, contradiz a classe de passagens Bíblicas as quais ensinam
a soberania de Deus. A Sua vontade neste aspecto tem sido a mesma através dos
séculos. E se Ele tivesse querido que os Gentios fossem salvos, por que foi que Ele
confinou o conhecimento do meio de salvação aos limites estreitos da Judéia?
Certamente ninguém negará que Ele poderia tão facilmente ter feito o Seu Evangelho
conhecido tanto aos Gentios como aos Judeus. Onde Ele não proveu os meios,
podemos estar seguros de que Ele não designou os fins. Vale a pena citar a resposta
de Agostinho àqueles que adiantaram esta objeção no seu tempo: "quando o nosso
Senhor lamenta que embora Ele desejasse juntar os filhos de Jerusalém como uma
galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas ela (Jerusalém) não quis,
devemos considerar que a vontade de Deus foi sobrepujada por um número de
homens fracos, de modo que Ele que era o Deus Onipotente não poderia fazer o que
Ele desejasse ou o que Ele quisesse fazer? Se é assim, no que se transforma então
aquela onipotência pela qual Ele fez todas as coisas que O agradaram tanto no céu
como na terra? Mais ainda, quem será encontrado tão irracional para dizer que Deus
não pode converter as vontades más dos homens, os quais Lhe aprouver, quando Lhe
aprouver, e como Lhe aprouver, em boas? Agora, quando Ele assim o faz, Ele o faz
em misericórdia, e quando Ele não o faz, em julgamento Ele não faz." Versículos
como I Timóteo 2:4 parecem ser melhor compreendidos não referirem-se aos homens
individualmente, mas como um ensinamento da verdade geral que Deus é
benevolente e que Ele não se alegra nos sofrimentos e na morte das suas criaturas.
Pode ser ainda assinalado que se as passagens universalistas forem tomadas num
sentido evangélico e aplicadas tão largamente quanto os Arminianos desejam aplicá-
las, elas provarão a salvação universal, -- um resultado que é contradito pela
Escritura, e o qual na verdade não é sustentado nem pelos próprios Arminianos.
Como apresentado no capítulo sobre a Expiação Limitada, há um sentido no qual
Cristo de fato morreu pela humanidade em geral. Nenhuma distinção é feita quanto a
idade ou país, caráter ou condição. A raça caiu em Adão e a raça no sentido coletivo
foi redimida em Cristo. A obra de Cristo arrestou a execução imediata do castigo do
pecado, como relacionado a toda a raça. Sua obra também traz muitas bênçãos
temporais e físicas à humanidade em geral, e estabelece a fundação para a oferta do
Evangelho a todos quantos O ouçam. Estes são os resultados admitidos serem da Sua
obra e aplicados à toda a humanidade. Todavia isto não quer dizer que Ele morreu
igualmente e que com o mesmo desígnio para todos.
É verdade que alguns versículos isolados parecem realmente implicar na posição
Arminiana. Isto, contudo, reduziria a Bíblia a uma massa de contradições; pois há
outros versículos os quais ensinam a Predestinação, a Incapacidade (Depravação), a
Eleição, a Perseverança e etc., e os quais não podem por quaisquer meios legítimos
serem interpretados em harmonia com o Arminianismo. Assim é que nesses casos, o
significado do escritor sagrado pode ser determinado somente pela analogia da
Escritura. Uma vez que a Bíblia é a palavra de Deus, ela é consistente em si mesma.
Consequentemente, se encontramos uma passagem a qual em si mesma é capaz de
duas interpretações, uma que harmoniza-se com o restante das Escrituras, enquanto
que a outra não, é nosso dever então aceitar a primeira. É um princípio de
interpretação reconhecido que as passagens mais obscuras devem ser interpretadas à
luz de passagens mais claras, e não vice versa. Tem sido mostrado a nós que à
evidência a qual é trazida à tona em defesa do Arminianismo, e a qual à primeira vista
parece possuir considerável plausibilidade, pode legitimamente ser dada uma
interpretação que se harmoniza com o Calvinismo. À vista das muitas passagens
Calvinistas, e da ausência de qualquer uma passagem genuinamente Arminiana, nós
sem hesitação fazemos a assertiva de que o sistema teológico Calvinista é o sistema
verdadeiro.
Este é o verdadeiro universalismo das Escrituras Sagradas -- a Cristianização
universal do mundo e a derrota completa das forças de perversidade, de impiedade
espiritual. 'isto, é claro, não significa que cada indivíduo será salvo, pois muitos estão
inquestionavelmente perdidos. Tanto quanto na salvação do indivíduo, perde-se muito
possível serviço a Cristo e muitos pecados são cometidos antes que a salvação seja
completa, assim também o é na salvação do mundo. Um número considerável são
perdidos; todavia o processo de salvação terminará num grande triunfo, e os nossos
olhos ainda verão "o espetáculo glorioso de um mundo salvo." As palavras do Dr.
Warfield são aqui muito apropriadas: "A raça humana prossegue para o objetivo para
o qual ela foi criada, e o pecado não arranca isto das mãos de Deus; o propósito
primário de Deus para com ela (a raça humana) é alcançado; e através de Cristo, a
raça humana, embora caída no pecado, é recuperada para Deus e alcança o seu
destino original." 2
Então, enquanto o Arminianismo nos oferece um universalismo espúrio, o qual é no
máximo um universalismo de oportunidade, o Calvinismo nos oferece o
universalismo verdadeiro, na salvação da raça. E somente o Calvinista, com a sua
ênfase nas doutrinas da Eleição soberana e da graça Eficaz, pode olhar para o futuro
com confiança, esperando ver um mundo redimido.
Capítulo 23
Salvação Pela Graça
Índice Geral
Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
1. Méritos Malignos do Homem. 2. Deus Pode Dar ou Restringir a Graça, Como Lhe
Aprouver. 3. Salvação Não Para Ser Ganhada Pelo Homem. 4. Provas Nas Escrituras. 5.
Observações Adicionais.
A Bíblia declara que a salvação do pecador é assunto da graça. Na passagem Bíblica em
Efésios 1;7-10 ["(7) em quem temos a redenção pelo seu sangue, a redenção dos nossos
delitos, segundo as riquezas da sua graça, (8) que ele fez abundar para conosco em toda
a sabedoria e prudência, (9) fazendo-nos conhecer o mistério da sua vontade, segundo o
seu beneplácito, que nele propôs (10) para a dispensação da plenitude dos tempos, de
fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão
na terra"] aprendemos que o propósito primário de Deus na obra da redenção foi
demonstrar a gloria deste atributo divino, de modo que através das eras subsequentes o
universo inteligente pudesse admirar-se como é feita conhecida através do Seu amor
imerecido e bondade sem fronteira para com as criaturas indefesas, criaturas culpadas,
criaturas vis. Bem de acordo, todos os homens são representados como afogados num
estado de pecado e de miséria, do qual eles não podem intimamente, salvarem-se a si
mesmos. Quando eles mereciam somente a ira e a maldição de Deus, Ele determinou que
proveria graciosamente a redenção para eles, ao enviar o Seu Filho Eterno para assumir a
sua natureza e culpa e para sofrer e obedecer no seu lugar; e o Seu Espírito Santo para
aplicar a redenção comprada pelo Filho. No mesmo princípio representativo pelo qual o
pecado de Adão é imputado a nós, isto é, debitado em nossa conta de tal maneira que
somos inteiramente responsabilizados por ele e sofremos as conseqüências dele, nosso
pecado por sua vez é imputado a Cristo e a Sua retidão é imputada a nós. Isto também é
rapidamente, ainda que claramente, expressado no Pequeno Catecismo, o qual diz:
"Justificação é um ato da livre graça de Deus, no qual ele perdoa todos os nossos pecados
e nos aceita como justos diante de si, somente por causa da justiça de Cristo a nós
imputada, e recebida só pela fé."[Resposta à pergunta 33 "O Que É Justificação?".
Referências na Bíblia: Ef 1.7; II Co 5.19,21; Rm 4.5; Rm 3.22-25; Rm 5.17-19; Rm 4.6-8;
Rm 5.1; At 10.43; Gl 2.16; Fp 3.9]
Deveríamos manter sempre muito claramente na mente a distinção entre os dois pactos: o
pacto de obras, sob o qual Adão foi colocado e o qual resultou na queda da raça no
pecado; e o pacto da graça, sob o qual Cristo foi enviado com Redentor. Como
apresentado noutra conexão, o Sistema teológico Arminiano não faz nenhuma distinção
em princípio entre o pacto de obras e o pacto da graça, a menos que agora Deus ofereça
a salvação em termos mais baixos e ao invés de demandar uma obediência perfeita Ele
aceite somente tanta fé e obediência evangélica quanto o pecador aleijado seja capaz de
render. Naquele sistema o fardo da obediência é ainda jogado sobre o próprio homem; e a
sua salvação depende em primeiro lugar das suas próprias obras.
A palavra "graça" no seu sentido apropriado significa o amor gratuito e imerecido de Deus,
exercido para com aqueles que não o merecem, os pecadores. É algo que é dado a
despeito de qualquer valor no homem; e introduzir obras ou mérito em qualquer parte
deste sistema vicia a sua natureza e frustra seu desígnio. Apenas porque é graça, não é
dada em bases de méritos anteriores. Como o próprio nome importa, é necessariamente
gratuita; e desde que o homem está escravizado pelo pecado até que seja dada, todos os
méritos anteriores ele possa ter - anteriores a ela - são méritos ruins e merecem somente
punição, não dádivas, ou favores. O que quer que seja que os homens tenham de bom,
Deus é quem deu; e o que eles não têm, porque, é claro, Deus não deu. E desde que a
graça é dada sem qualquer relação com méritos precedentes, é portanto soberana e é
concedida somente àqueles a quem Deus selecionou para recebê-la. É esta soberania da
graça, e não a sua previsão ou a preparação para tal, o que coloca os homens nas mãos
de Deus e pendura a salvação absolutamente na Sua misericórdia ilimitada. Nisto
encontramos a base para a Sua eleição ou rejeição, de determinadas pessoas.
Por causa da sua perfeição moral absoluta, Deus requer pureza impecável e obediência
perfeita nas suas criaturas inteligentes. Esta perfeição é providenciada pela retidão
impecável de Cristo sendo imputada a elas; e quando Deus olha para os redimidos, Ele os
vê vestidos com as vestes da retidão impecável de Cristo e com nenhuma outra
vestimenta que seja delas mesmas. Nos é distintamente dito que Cristo sofreu como um
substituto, "o justo pelo injusto"; e quando o homem é encorajado a pensar que ele deve
a sua salvação a algum tipo de poder ou de arte de si mesmo, quando na realidade tudo é
somente da graça e pela graça, Deus é roubado de parte da Sua glória. Por nenhuma
ginástica de imaginação as boas obras do homem nesta vida podem ser justamente
consideradas como equivalentes para as bênçãos da vida eterna. Benjamin Franklin,
embora de forma alguma fosse Calvinista, bem expressou esta idéia quando escreveu:
"Aquele que, por haver dado um pouco de água a alguém com sede, esperasse ser pago
com uma boa plantação, seria modesto em sua demanda, comparado com aqueles que
pensam que merecem o céu, pelo pouco que fazem na terra." Somos, na verdade, nada
mais que recebedores; nós nunca trazemos nenhuma recompensa adequada a Deus,
estamos sempre recebendo dEle, e assim será até toda a eternidade.
Índice Geral
Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
Índice Geral
Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
Índice Geral
Capítulo Anterior
Próximo Capítulo
1. Elementos Que As Duas Doutrinas Têm Em Comum. 2. Tendência Maometana
Para o Fatalismo. 3. A Doutrina Cristã Não É Derivada Do Maometanismo. 4. O
Contraste Entre As Duas Doutrinas.
1. ANTES DA REFORMA.
Pode ocasionar alguma surpresa descobrir que a doutrina da Predestinação não foi
objeto de estudo especial até próximo do final do século quarto. Os pais da igreja
antiga punham grande ênfase em boas obras tais como fé, arrependimento, caridade,
orações, submissão ao batismo e etc., como a base da salvação. Eles, é claro,
ensinavam que a salvação é através de Cristo; ainda assim eles assumiam que o
homem tinha todo poder para aceitar ou rejeitar o Evangelho. Alguns dos seus
escritos contém passagens nas quais é reconhecida a soberania de Deus; todavia
paralelamente a estas passagens há outras que ensinam a liberdade absoluta da
vontade humana. Desde que não puderam reconciliar as duas, eles teriam negado a
doutrina da Predestinação e talvez também a da absoluta Presciência de Deus. Eles
ensinaram um tipo de sinergia na qual havia uma cooperação entre a graça e o livre
arbítrio. Foi difícil para o homem desistir da idéia de que ele podia operar a sua
própria salvação. Mas no fim, como resultado de um processo longo, demorado, o
homem chegou à grande verdade de que a salvação é uma dádiva soberana que foi
concedida não importando o mérito; que foi fixada na eternidade; e que Deus é o
Autor da mesma, em todos os seus estágios. Esta verdade cardeal do Cristianismo foi
vista claramente primeiro por Agostinho, o grande teólogo cheio do Espírito do
Ocidente. Em suas doutrinas de graça e pecado, ele foi muito além do que os teólogos
do passado, ensinou uma eleição de graça incondicional; e restringiu os propósitos de
redenção ao círculo definido dos eleitos. Ninguém que conheça a História da Igreja
poderá negar que Agostinho foi um bom homem, vulto eminentemente grande; e que
as suas obras e escritos contribuíram mais para a promoção de sólida doutrina e do re-
avivamento da religião verdadeira, do que qualquer outro homem entre Paulo e
Lutero.
Anteriormente à época de Agostinho, o tempo havia sito grandemente empregado na
correção de heresias dentro da Igreja e em refutar ataques do mundo pagão no qual
ela se encontrava. Consequentemente muito pouca ênfase foi colocada no
desenvolvimento sistemático da doutrina. E que a doutrina da Predestinação recebeu
tão pouca atenção naquela época, foi sem dúvida devido em parte à tendência para
confundi-la com a doutrina Pagã do Fatalismo, a qual era tão largamente aceita e
praticada em todo o Império Romano. Mas no século quarto experimentou-se uma
época um pouco mais calma, o amanhecer de uma nova era em teologia; e os
teólogos passaram a enfatizar mais o conteúdo doutrinário da sua mensagem.
Agostinho foi levado a desenvolver suas doutrinas do pecado e da graça em parte
através da sua própria experiência de ter-se convertido ao Cristianismo após uma vida
mundana; e em parte através da necessidade de refutar os ensinos de Pelágio, que
ensinava que o homem em seu estado natural tinha total capacidade para operar a sua
própria salvação, que a queda de Adão teve somente um pequeno efeito na raça,
exceto no sentido de estabelecer um mau exemplo o qual é perpetuado, que a vida de
Cristo tem valor para os homens principalmente como um exemplo, que na Sua morte
Cristo foi pouco mais que o primeiro mártir Cristão; e que não nos encontramos sob
nenhuma providência especial de Deus. Contra estes pontos de vista, Agostinho
desenvolveu exatamente o oposto. Ele ensinou que a raça inteira caiu com Adão, que
todos os homens são depravados e estão espiritualmente mortos por natureza, que a
vontade é livre tanto quanto refere-se ao pecado mas não é livre com relação ao bem
para com Deus, que Cristo enfrentou sofrimento vicário pelo Seu povo, que Deus
elege aqueles a quem Lhe apraz sem qualquer relação com seus méritos; e que a
graça salvadora é eficazmente aplicada aos eleitos pelo Espírito Santo. Assim ele
tornou-se o primeiro intérprete verdadeiro de Paulo e alcançou sucesso em assegurar
a aceitação da sua doutrina pela igreja.
Depois de Agostinho, houve retrocesso ao invés de progresso. Nuvens de ignorância
cegaram os povos. A Igreja adotou mais e mais rituais e pensava-se que a salvação
ocorria através da Igreja externa. O sistema de mérito cresceu até atingir o clímax,
com as "indulgências". O papado passou a exercer poder enorme, tanto político como
eclesiástico; e em toda a Europa Católica a situação da moral ficou quase que
intolerável. Mesmo o clero tornou-se desesperadamente corrupto e em todo o
catálogo de pecados e vícios humanos nenhum é mais corrupto ou mais ofensivo que
aqueles desgraçaram as vidas de papas tais como João XXIII e Alexandre VI.
Desde a época de Agostinho até a da Reforma, muito pouca ênfase foi dada à
doutrina da Predestinação. Mencionaremos somente dois nomes deste período:
Gottschalk, que foi aprisionado e condenado por ensinar a Predestinação; e o Inglês
Wycliffe, "A Estrela Matutina da Reforma". Ele foi um reformador do tipo Calvinista,
proclamando a soberania absoluta de Deus e a Pré Ordenação de todas as coisas. Seu
sistema de crença era muito similar àquele que mais tarde foi ensinado por Lutero e
por Calvino. Os Waldesianos também devem ser mencionados, pois eles foram, num
sentido, "Calvinistas" antes da Reforma, uma de sua doutrinas tendo sido a da
Predestinação.
2. A REFORMA.
A Reforma foi essencialmente um reviver do Agostinianismo; e através dela o
Cristianismo foi novamente Cristianismo. Deve ser lembrado que Lutero, o primeiro
líder da Reforma, foi um monge Agostiniano e que foi a partir daquela teologia
rigorosa que ele formulou seu grande princípio da justificação somente pela fé.
Lutero, Calvino, Zuínglio e todos os outros reformadores notáveis daquele período
eram adeptos e sustentavam por inteiro a predestinação. Em sua obra, "Da Vontade
Cativa", Lutero apresentou a doutrina tão enfaticamente e numa forma bastante
extrema como pode ser encontrado entre as obras de qualquer dos teólogos
reformados. Melâncton, nos seus primeiros escritos designou o princípio da
Predestinação como o princípio fundamental do Cristianismo. Mais tarde ele
modificou sua posição, contudo, e trouxe um tipo de "sinergia" na qual Deus e o
homem supostamente cooperavam no processo de salvação. A posição assumida pela
antiga Igreja Luterana foi modificada gradualmente. Mais tarde os Luteranos
deixaram a doutrina por completo, condenaram-na em sua forma Calvinista; e
passaram a adotar uma doutrina de graça e expiação universais, doutrina esta que
desde então passou a ser a doutrina aceita da Igreja Luterana. Com relação a esta
doutrina, a posição de Lutero na Igreja Luterana é similar à de Agostinho na Igreja
Católica Romana, -- isto é, um herege de tão inquestionável autoridade, que é mais
admirado do que censurado.
Em grande parte, Calvino construiu sobre os alicerces assentados por Lutero. Sua
visão mais clara dos princípios básicos da Reforma capacitaram-no a trabalhá-los
mais completamente e aplicá-los mais extensamente. E pode ainda ser apontado que
Lutero enfatizou a salvação pela fé e que o seu princípio fundamental era mais ou
menos subjetivo e antropológico, enquanto que Calvino enfatizou o princípio da
soberania de Deus; e desenvolveu um princípio que era mais objetivo e teológico. O
Luteranismo era mais a religião de um homem que após uma busca longa e dolorosa
tinha encontrado a salvação; e que contentava-se simplesmente em satisfazer-se na
luz da presença de Deus, enquanto que o Calvinismo, não contente em ficar por ali,
pressionava em questionar como e por que Deus salvou o homem.
"As congregações Luteranas", diz Froude, "eram só como que meio emancipadas da
superstição; e hesitavam em levar o combate a extremos; e meia medidas
significavam meio encorajamento, convicções que eram meio convicções; e verdade
com uma mistura de falsidade. Meias medidas, no entanto, não poderiam extinguir as
fogueiras de Philip da Espanha, ou levantar homens na França ou na Escócia que
enfrentassem os príncipes da casa de Lorraine. Os Reformadores requeriam uma
posição mais afiada e definida, e um líder mais rígido; e aquele líder eles encontraram
em João Calvino . . . . Para tempos difíceis é preciso homens duros; e intelectos os
quais possam penetrar até as raízes onde verdade e mentiras encontram-se. É muito
ruim para com os soldados da religião quando 'o abominável' está em campo. E a
respeito de Calvino deve ser dito, tanto quanto o estado de conhecimento permitia,
nenhum olho poderia haver enxergado mais precisamente os pontos frágeis do credo
da Igreja, nem em toda a Europa houve Reformador tão resoluto para identificar e
destruir o que era distintamente falso -- tão resoluto para conduzir o que era
verdadeiro ao seu devido lutar; e fazer da verdade, até a sua última fibra, regra de
vida prática." 1
Este é o testemunho do famoso historiador da Universidade de Oxford. Os escritos de
Froude deixam claro que ele não morria de amores pelo Calvinismo; e na verdade ele
é muitas vezes chamado de crítico do Calvinismo. Aquelas suas palavras
simplesmente expressam suas conclusões imparciais, as de um grande catedrático que
estuda o sistema e o homem; do qual o sistema carrega o nome, a partir de uma base
vantajosa, de investigação e de aprendizado.
Em outra ocasião, Froude disse: "Os Calvinistas têm sido chamados de intolerantes. A
intolerância de um inimigo que tenta matar-lhe, parece-me um estado de espírito
perdoável . . . . Os Católicos escolheram acrescentar ao seu já incrível credo um novo
artigo; que eles tinham o direito de enforcar e de queimar aqueles que diferissem
deles; e nesse ponto os Calvinistas, com suas Bíblias nas mãos, apelaram ao Deus das
batalhas. Eles tornaram-se mais poderosos, mais ferrenhos, -- e se você quiser, mas
fanáticos. Era extremamente natural que eles o fossem. Eles descansaram, como os
homens piedosos são aptos a fazê-lo, em sofrimento e pesar, no poder todo
envolvente da Providência. Seu fardo tornou-se mais leve na medida em que eles
consideravam que Deus havia assim determinado que eles devessem carregá-lo. Mas
eles atraíram para as suas divisões quase que todo homem na Europa Ocidental que
'odiasse uma mentira'. Eles foram massacrados, mas ergueram-se novamente. Eles
foram pisados e feridos, mas nenhum poder poderia dobrá-los ou dissolvê-los. Eles
aborreceram, como nenhum grupo de homens jamais aborreceu, toda a falsidade, toda
impureza, todo tipo de faltas morais, tanto quanto pudessem reconhecê-los. Qualquer
temor quanto à prática do mal que exista hoje em dia na Inglaterra e na Escócia, é
resultado das convicções gravadas pelos Calvinistas nos corações das pessoas.
Embora eles tivessem falhado em destruir o Romanismo, embora o Romanismo
sobreviva e possa ainda sobreviver por muito tempo como uma opinião, eles o
desmascararam; eles o forçaram a abandonar aquele princípio odiável, que era o de
que ter o direito de assassinar aqueles que lhe fossem antagônicos. Tampouco pode
ser afirmado que por haver posto o Romanismo em posição de vergonha,
desmascarando sua corrupção prática, que os Calvinistas tenham-no capacitado a
reviver." 2
Na época da Reforma a Igreja Luterana não rompeu completamente com a Igreja
Católica, como o fizeram as Igrejas Reformadas. Na verdade, alguns Luteranos
afirmam orgulhosamente que o Luteranismo foi uma "Reforma Moderada". Enquanto
todos os protestantes apelavam à Bíblia como autoridade final, a tendência no
Luteranismo era manter tanto do sistema antigo, quanto não tivesse de ser jogado
fora, enquanto que a tendência na Igreja Reformada era de excluir, de jogar fora tudo
o que não tivesse de ser mantido. E quanto ao relacionamento que existia entre a
Igreja e o Estado, os Luteranos contentavam-se em permitir grande influência dos
príncipes na Igreja ou mesmo permitir-lhes que determinassem a religião dentro dos
seus domínios -- uma tendência que levaria ao estabelecimento de uma Igreja do
Estado -- enquanto que os Reformados logo vieram a demandar uma completa
separação entre Estado e Igreja.
Como já dito, a Reforma foi essencialmente um reviver do Agostinianismo. As
primeiras Igrejas Luteranas e Reformadas tinham os mesmos pontos de vista com
relação ao Pecado Original, à Eleição, à Graça Eficaz, à Perseverança e etc. Isto,
então, era a verdadeira Predestinação. "O princípio da Predestinação Absoluta", diz
Hastie, "era o próprio calcanhar de Aquiles da jovem Reforma, pelo qual na
Alemanha, não menos que em qualquer outro lugar, estrangulou as serpentes da
superstição e da idolatria, e quando perdeu força na sua própria casa, continuou sendo
a própria espinha e medula da fé na Igreja Reformada, e o poder que a conduziu
vitoriosamente através de todas as lutas e contendas." 3 "É um fato que fala alto pelo
Calvinismo", diz Rice, que a revolução mais gloriosa já registrada na história da
Igreja e do mundo, desde os dias dos Apóstolos, foi propiciado pelas bênçãos de Deus
sobre as doutrinas daquela revolução." 4 Desnecessário é dizer que, o Arminianismo
como um sistema era desconhecido nos dias da Reforma; e que não até 1784, 260
anos mais tarde, foi adotado e proclamado por uma igreja organizada. Como no
século quinto haviam existido dois sistemas adversários, conhecidos como
Agostinianismo e Pelagianismo, mais tarde com o surgimento do Semi-Pelagianismo,
então na Reforma haviam dois sistemas, o Protestantismo o Catolicismo Romano,
com o posterior surgimento do Arminianismo, ou o que podemos chamar de Semi-
Protestantismo. Em cada caso haviam dois sistemas fortemente oponentes, com o
subsequente aparecimento de um sistema comprometido.
3. O CALVINISMO NA INGLATERRA.
Uma olhadela na história da Inglaterra de imediato nos mostra que foi o Calvinismo
que fez o Protestantismo triunfante naquela terra. Muitos dos líderes Protestantes que
fugiram para Genebra durante o reinado da Rainha Mary, mais tarde conquistaram
altas posições na Igreja, no reinado da Rainha Elizabeth. Entre eles estavam os
tradutores da versão de Genebra da Bíblia, a qual deve muito a Calvino e a Beza; e a
que foi a versão Inglesa mais popular até meados do século dezessete, quando foi
ultrapassada pela versão King James. A influência de Calvino é demonstrada nos
Trina e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, especialmente no Artigo XVII, que
apresenta a doutrina da Predestinação. Cunningham mostrou que todos os grandes
teólogos da Igreja Estabelecida, durante os reinados de Henry VIII, Edward VI e
Elizabeth eram adeptos por completo da Predestinação; e que o Arminianismo de
Laud e dos seus sucessores era um desvio daquela posição original.
Se buscarmos pelos verdadeiros heróis da Inglaterra, os encontraremos naquele nobre
grupo de Calvinistas Ingleses cuja insistência por uma forma mais pura de culto bem
como uma vida mais pura, conquistaram para si o apelido de "Puritanos", a quem
Macaulay refere-se como "talvez o mais notável grupo de homens os quais o mundo
jamais produziu." "Que o povo Inglês tenha se tornado Protestante", diz Bancroft,
"foi devido aos Puritanos". Já Smith nos diz: "A importância deste fato está além da
imaginação. O Protestantismo Inglês, com sua Bíblia aberta, sua liberdade intelectual
e espiritual, significaram o Protestantismo não somente das colônias Americanas, mas
da raça viril e multiplicadora, a qual durante três séculos tem levado o idioma , a
religião e as instituições Anglo-Saxônicas a todo o mundo. 5
Cronwell, o grande líder Calvinista e membro da Câmara dos Comuns, plantou-se na
sólida rocha do Calvinismo e chamou a si soldados que haviam se plantado naquela
mesma rocha. O resultado foi um exército o qual, por pureza e heroísmo, sobrepujou
qualquer coisa que o mundo jamais tivesse visto. "Nunca encontraram", diz
Macaulay, "fosse nas Ilhas Britânicas ou no Continente, um inimigo que pudesse
enfrentá-los. Na Inglaterra, na Escócia, na Irlanda, na Bélgica, os guerreiros
Puritanos, muitas vezes cercados por dificuldades, algumas vezes batalhando contra
grandes revezes, não somente nunca deixaram de conquistar, como também nunca
deixaram de destruir e quebrar em partes quaisquer forças que se lhes opusessem. Ao
final, passaram a referir-se ao dia de batalha como o dia de triunfo certo, e
marchavam contra os mais renomados batalhões da Europa com destemida confiança.
Mesmo os Cavaleiros banidos sentiam uma emoção de orgulho nacional quando viam
uma brigada de seus compatriotas, em número muito menor que o inimigo e
abandonados pelos amigos, avançar à sua frente, em linha direta contra a mais valente
cavalaria da Espanha; e forçar caminho até a conquista de uma colina que era tida
como inexpugnável pelos mais hábeis dos marechais da França." E novamente, "O
que mais distinguia o exército de Cromwell dos outros exércitos, era a moralidade
austera e o temor de Deus que existia em todas os níveis. É reconhecido pelos
Roialistas mais zelosos que, naquele campo singular, não se ouvia nenhum
impropério ou se presenciava nenhuma cena de aposta ou de embriaguez; e que,
durante o longo domínio do exército, as propriedades dos cidadãos pacíficos e a
honra das mulheres eram tidos como sagrados. Nenhuma serva reclamou de qualquer
tipo de galanteio rude por parte dos 'casacos vermelhos'. Nem sequer uma grama de
prata foi saqueada das lojas ou das joalherias." 6
O Prof. John Fiske, considerado um dos dois maiores historiadores Americanos, diz,
"Não é demais dizer que no século dezessete todo o futuro político da humanidade foi
posto em jogo sobre as questões levantadas na Inglaterra. Não tivesse sido pelos
Puritanos, a liberdade política provavelmente teria desaparecido do mundo. Se
houveram jamais homens dispostos a darem suas vidas pela causa de toda a
humanidade, foram os Puritanos, cujas palavras de ordem eram textos da Bíblia
Sagrada, cujos gritos de guerra eram hinos de louvor." 7
Quando os mártires Protestantes morriam nos vales de Piedmont, e o autocrata papal
sentava-se no seu trono em luxúria, ajeitando suas vestes manchadas de sangue, foi o
próprio Cromwell, o Puritano, suportado por um conselho e uma nação da mesma
persuasão, quem escreveu demandando o fim das perseguições.
Em três diferentes ocasiões foi oferecido a Cromwell, e insistiu-se que aceitasse, a
Coroa da Inglaterra, mas a cada vez ele recusou. Vemos que doutrinariamente os
Puritanos eram os descendentes lineares e literais de João Calvino; e que somente
eles mantiveram viva a preciosa centelha da liberdade dos Ingleses. À vista destes
fatos, ninguém pode negar a justiça da conclusão de Fiske, que "Seria difícil dever
mais do que a humanidade deve a João Calvino."
Em seu esplêndido livro "Calvinismo na História", McFetridge diz, "Se perguntarmos
novamente, Quem trouxe a grande propiciação à liberdade Inglesa? a nos será dada
pela história, O Ilustre Calvinista, William, Príncipe de Orange, quem, como diz
Macaulay, encontrou na lógica forte e irrefutável da escola de Genebra algo que
satisfez sua têmpera e seu intelecto; a chave da religião da doutrina da Predestinação;
e quem, com sua visão aguçada e lógica, declarou que se abandonasse a doutrina da
Predestinação, ele deveria também deixar totalmente de crer em uma Providência
suprema, e deveria tornar-se um Epicureano. E ele estava certo, pois a Predestinação
e uma Providência suprema são uma só e a mesma coisa. Se aceitamos uma, devemos
- consistentemente - aceitar a outra," (p. 52).
4. CALVINISMO NA ESCÓCIA.
A melhor forma de descobrir os frutos práticos de um sistema de religião é examinar
um povo ou uma nação onde, por gerações, tal sistema tenha mantido governo
incontestado. Ao fazer tal teste com o Catolicismo Romano, voltamo-nos para alguns
países como Espanha, Itália, Colômbia ou México. Lá, quer na vida política ou na
religiosa das pessoas, vemos os efeitos do sistema. Aplicando o mesmo teste com
relação ao Calvinismo, podemos referirmo-nos a um país no qual o Calvinismo foi
durante muito tempo praticamente a única religião; e tal país é a Escócia. McFetridge
nos diz que antes que o Calvinismo chegasse à Escócia, "trevas espessas cobriam a
nação e pairava sobre os sentidos e faculdades do povo." 8 "Quando o Calvinismo
alcançou o povo Escocês", diz Smith, "eles eram vassalos da igreja Romana,
dominados por sacerdotes, ignorantes, miseráveis, degradados em corpo, mente e
moral. Buckle os descreve como 'imundos tanto pessoalmente como em suas casas',
pobres e miseráveis', 'excessivamente ignorantes e supersticiosos em excesso', -- 'com
a superstição indelevelmente marcada nos seus caracteres'. Maravilhosa foi a
transformação na Escócia, quando as grandes doutrinas, aprendidas por Knox da
Bíblia e mais profundamente em Genebra, enquanto sentado aos pés de Calvino;
iluminaram as mentes dos Escoceses. Foi como se o sol nascesse repentinamente, à
meia noite . . . Knox fez do Calvinismo a religião da Escócia; e o Calvinismo fez da
Escócia o padrão moral para o mundo. Trata-se de um fato certamente significante,
que no país onde o Calvinismo é mais forte, também seja a nação com a
criminalidade mais baixa; que de todos os povos do mundo hoje em dia, aquela nação
que é confessadamente a de padrão moral mais elevado seja também a mais
completamente Calvinista; que na terra onde o Calvinismo tem tido a supremacia no
governo e na influência, a moralidade individual e nacional tenha alcançado seu nível
mais elevado." 9 Já Carlyle diz, "O que Knox fez por seu país pode realmente ser
chamado de ressurreição dos mortos." "John Knox", diz Froude, "foi o homem sem o
qual a Escócia, como o mundo moderno a conhece, não existiria."
Num sentido bem real, a Igreja Presbiteriana da Escócia é filha da Igreja Reformada
de Genebra. A Reforma na Escócia, embora tendo ocorrido algum tempo mais tarde,
foi em muito mais consistente e radical que a na Inglaterra; e resultou no
estabelecimento de um Presbiterianismo Calvinista no qual somente Cristo é
reconhecido como o cabeça da Igreja.
Trata-se de tarefa fácil, é claro, identificar aquele homem que foi o principal
instrumento, nas mãos da Providência, na reforma da Escócia. Aquele homem era
João Knox. Foi ele quem plantou as sementes da liberdade civil e religiosa e quem
revolucionou a sociedade. A ele o povo Escocês devem a sua existência nacional.
"Knox foi o maior dentre os Escoceses, como Lutero foi o maior dos Alemães", disse
Philip Schaff.
"O herói da Reforma Escocesa", diz Schaff, "embora quatro anos mais velho que
Calvino, sentou-se humildemente aos seus pés e tornou-se mais Calvinista que o
próprio Calvino. John Knox passou os cinco anos do seu exílio (entre 1554 até 1559),
durante o reinado de 'Bloody Mary' (*), principalmente em Genebra, onde encontrou
'a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos'. Depois daquele
exemplo ele conduziu o povo Escocês, com energia e coragem sem iguais, de um
semi barbarismo medieval até a luz da civilização moderna, e conquistou nome que,
junto aos de Lutero, de Zuínglio e de Calvino, é o maior na história da Reforma
Protestante." 10
[(*) (Mary I, filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, casada com Philip II da
Espanha. Reinou na Grã Bretanha entre 1553 até 1558. Foi responsável por repelir a
legislação protestante de seu irmão, Edward VI e atirou a Inglaterra numa fase de
severa perseguição religiosa. Inteiramente comprometida com o intuito de
restabelecer o Catolicismo, foi responsável pela morte de cerca de 300 pessoas,
incluindo o antigo arcebispo de Canterbury e muitos dos mais proeminentes membros
da sociedade; queimados na fogueira sob a acusação de heresia, o que lhe rendeu o
apelido de 'Bloody Mary' ou 'Mary Sangrenta', literalmente). N. T.]
"Nenhum vulto maior que Knox", diz Froude, "pode ser encontrado em toda a
história da Reforma nesta ilha . . . . O tempo é chegado, quando a história da
Inglaterra pode fazer justiça àquele pelo qual a Reforma ocorreu entre nós; pois o
espírito criado por Knox salvou a Escócia; e se a Escócia tivesse sido Católica
novamente, nem a visão dos ministros da Rainha Elisabeth, ou os ensinamentos dos
seus bispos, nem seus próprios subterfúgios, teriam preservado a Inglaterra de uma
revolução. Ele foi a voz que ensinou o camponês dos 'Lothians" (N.T.: Regiões ao
redor da cidade de Edinburgh, que eram, na época da Reforma, constituíam-se de
muitos povoados pequenos, porém importantes centros de produção rural) que ele era
um homem livre, à vista de Deus igual ao nobre mais orgulhoso ou ao prelado que
pisoteara os seus antepassados. Ele o antagonista a quem a Rainha Mary Stuart não
podia enfraquecer (N.T.: Mary Stuart, nascida em 08/12/1542, declarada Rainha da
Escócia aos 6 dias de idade. Acusada de traição e assassinato, foi decapitada em
08/02/1587); e nem seus inimigos enganar; foi ele quem levantou a gente humildo do
seu país e transformou-os num povo determinado e de forte caráter, que podia ser
rude, de estreita visão, supersticioso e fanático, mas a quem - não obstante - nenhum
homem, nem reis, nem nobres ou sacerdotes podiam forçar a novamente submeterem-
se à tirania. E a sua recompensa foi a ingratidão daqueles que mais deveriam haver
honrado a sua memória." 11
A teologia Escocesa reformada inicial era baseada no princípio da predestinação.
Knox recebeu sua teologia diretamente de Calvino em Genebra; e sua obra teológica
principal foi o tratado sobre a Predestinação, tratado forte, afiado e resolutamente
polêmico contra pontos de vista desencontrados que começavam a espalhar-se na
Inglaterra e em outros locais. Durante os séculos dezessete e dezoito, temas como
predestinação, eleição, rejeição, a extensão e o valor da expiação, a perseverança dos
santos, eram de absorvente interesse para a classe social humilde na Escócia.
Daquelas terras as doutrinas espalharam-se em direção ao sul até partes da Inglaterra
e Irlanda e através do Atlântico, para o oeste. Num sentido muito real, a Escócia pode
ser chamada de "A Nação Mãe do Presbiterianismo moderno."
5. CALVINISMO NA FRANÇA.
A França também, naquela época, era toda calorosa para com o espírito livre,
irrequieto e progressivo do Calvinismo. "Na França os Calvinistas eram chamados de
Huguenotes. O mundo conhece o caráter dos Huguenotes. Seu heroísmo e pureza
moral, seja quando perseguidos em sua pátria ou desterrados em exílio, eram
admirados por todos, aliados ou inimigos." 12 "A sua história", consta na
Enciclopédia Britânica, "é uma maravilha notável, ilustrando o resistente poder de
uma forte convicção religiosa." Os Huguenotes formavam a classe de artesãos
industriais da França; e ser "tão honesto quanto um Huguenote" tornou-se provérbio,
denotando seu mais alto nível de integridade.
Num domingo, 24 de Agosto de 1572, dia de São Bartolomeu, muitos Protestantes
foram perfidamente assassinados em Paris, e nos dias seguintes as cenas chocantes
repetiram-se em outras partes da França. O número total dos que perderam suas vidas
no massacre de São Bartolomeu foi estimado com variações, desde 10.000 até 50.000
pessoas. Schaff estimou o total em 30.000. Estas perseguições furiosas fizeram com
que centenas de milhares de Protestantes Franceses fugissem para a Holanda,
Alemanha, Inglaterra e América. A perda para a França foi irreparável. O historiador
Inglês Macaulay, escreve o seguinte, quanto àqueles que estabeleceram-se na
Inglaterra: "Os mais humildes dentre os refugiados eram moral e intelectualmente
acima da média do povo comum, de qualquer reino na Europa." O grande historiador
Lecky, ele mesmo um racionalista de sangue frio, escreveu: "A destruição dos
Huguenotes pela revogação do Edito de Nantes foi a destruição do elemento mais
sólido, mais modesto, mais virtuoso e geralmente mais iluminado da nação Francesa;
e abriu caminho para a degradação inevitável do caráter nacional, e foi removida a
última séria muralha que poderia proteger, que poderia ter quebrado a força da
corrente do ceticismo e do vício, que, um século mais tarde, prostraram ao chão, em
merecida ruína a ambos, o altar e o trono." 13
"Se você leu a sua história", diz Warburton, "você deve saber o quão cruéis e injustas
foram as perseguições instigadas contra eles. O melhor sangue da França inundou o
campo de batalha, o mais brilhante gênio da França sofreu a negligência e a fome na
prisão; e os caracteres mais nobres que a França jamais possuiu foram caçados como
feras selvagens na floresta, e abatidos sem piedade." E novamente, "Em todos
aspectos eles eram imensuravelmente superiores a todo o restante dos seus
compatriotas. A estrita sobriedade de suas vidas, a pureza dos seus atos morais, seus
hábitos diligentes; e sua completa separação da sensualidade tola que corrompeu por
completo a vida nacional da França naquele período, foram sempre maneiras efetivas
de trair os princípios que eles sustentavam, e foram tão considerados pelos seus
inimigos." 14
A orgia e dissipação dos soberanos descendeu através da aristocracia até o povo
comum; a religião tornou-se uma massa de corrupção, consistente somente com a sua
própria crueldade; os monastérios passaram a ser criadouros de iniqüidade; o celibato
provou ser uma fonte revoltante de libertinagem e impureza; a imoralidade, a
licenciosidade, o despotismo e a extorsão, tanto no Estado como na Igreja eram
indescritíveis; o perdão dos pecados podia ser comprado por dinheiro; e um
vergonhoso tráfico de indulgências ocorria sob a sanção do papa; alguns dos papas
eram verdadeiros monstros de iniqüidade; a ignorância era terrível; a educação estava
confinada ao clero e à nobreza; e até muitos dos sacerdotes eram incapazes de ler ou
de escrever; e a sociedade em geral havia ruído em pedaços.
É uma descrição parcial, nublada, mas não exagerada. É verdadeira em todo sentido,
e necessita somente ser complementada pelo lado mais claro; ou seja, de que muitos
Católicos Romanos honestos trabalhavam diligentemente pela reforma dentro da
Igreja. Esta, contudo, estava numa condição 'irreformável'. Qualquer mudança, caso
viesse a acontecer, teria de vir de fora. As alternativas eram que, ou não haveria
qualquer reforma, ou esta seria em oposição a Roma.
Mas, gradualmente as idéias Protestantes foram gradualmente se infiltrando na
França, vindas da Alemanha. Calvino iniciou sua obra em Paris e logo foi
reconhecido na França como um dos líderes do novo movimento. O seu zelo levantou
a oposição às autoridades da Igreja e foi preciso que ele fugisse, para preservar sua
vida. Em embora Calvino nunca retornasse à França, depois de haver se estabelecido
em Genebra, ele continuou sendo o líder da Reforma Francesa e era consultado a
cada passo. Ele deu aos Huguenotes o seu credo e forma de governo. Durante o
período seguinte, conforme o testemunho unânime da história, foi o sistema de fé que
chamamos de Calvinismo a inspiração dos Protestantes Franceses em sua luta com o
papado e seus partidários na realeza.
O que os Puritanos eram na Inglaterra, os "Covenanters" (os 'Pactuantes') eram na
Escócia; e os Huguenotes, na França. A prova mais notável do poder do Calvinismo
na formação do caráter, é que ele desenvolveu o mesmo tipo de homens em cada um
destes vários países.
O Calvinismo espalhou-se tão rapidamente por toda a França, que o historiador
Fisher, no seu livro História da Reforma, escreveu que em 1561, os Calvinistas
somavam a quarta parte de toda a população. Já McFetridge coloca um número ainda
maior: "Em menos de meio século", diz ele, "esse sistema de crença considerado tão
rude e desagradável, penetrou em cada região do país; e ganhou para suas fileiras
quase que a metade da população e quase que todas mentes brilhantes da nação. Os
que a ele aderiram se tornaram tão numerosos e poderosos que por um momento
pareceu como se a nação inteira fosse aderir aos seus pontos de vista." 15 Smiles, no
seu livro "Huguenotes na França", escreve: "É curioso refletir sobre a influência que
a religião de Calvino, ele próprio um Francês, poderia ter exercido na história da
França tanto no caráter individual do cidadão Francês, tivesse o balanço das forças
levado a nação inteira para o Protestantismo, como por muito pouco aconteceu,
próximo ao final do século dezesseis," (p. 100). Certamente que a história da nação
teria sido muito diferente de como o foi.
6. CALVINISMO NA HOLANDA.
Na luta que libertou os Países Baixos do poder dominador do Papado e do jugo cruel
da Espanha, temos outro capítulo glorioso da história do Calvinismo e da
humanidade. As torturas da Inquisição ali também foram aplicadas, como o foram em
alguns outros lugares. O Duque de Alva gabava-se de haver entregue 18.600 hereges
para execução, no curto espaço de tempo de cinco anos.
"O patíbulo", diz Motley, "tinha as suas vítimas diárias, mas não converteu um
só . . . . Houveram homens que ousaram e sofreram tanto quanto é possível aos
homens sofrerem neste mundo; e pela causa mais nobre que pode inspirar a
humanidade." Ele descreve a nós "o heroísmo com o qual os homens davam-se as
mãos e caminhavam fogueira adentro, ou com o qual as mulheres entoavam hinos de
vitória enquanto o coveiro jogava terra sobre seus rostos vivos." E em outra passagem
ele diz: "O número de Holandeses que foram queimados, estrangulados, decapitados
ou enterrados vivos, em obediência aos editos de Charles V, e pela ofensa de ler as
Escrituras Sagradas, de olhar com desaprovação à uma imagem esculpida, ou
ridicularizar a suposta presença real do corpo e do sangue de Cristo num biscoito; foi
informado pelas autoridades distintas ser tão alto quanto cem mil; e nunca foi
informado ser menor que cinqüenta mil." 16 Durante aquela batalha memorável de
oito anos, mais Protestantes foram mortos pelos Espanhóis por causa de sua crença
consciente; que Cristãos foram martirizados por imperadores Romanos nos primeiros
séculos. A história certamente coroa o Calvinismo na Holanda como o credo dos
mártires, dos santos e dos heróis.
Durante quase três gerações a Espanha, a mais forte nação na Europa àquela época,
batalhou para excluir o Protestantismo e a liberdade política nos Países Baixos
Calvinistas, mas falhou. Porque eles buscavam louvar a Deus de acordo com os
ditames das suas consciências e não sob os vexadores grilhões de um clero corrupto
seu país havia sido invadido; e o povo sujeitado às torturas mais cruéis que os
Espanhóis podiam inventar. E se perguntado a quem o resgate havia de ser creditado,
a resposta é, ao Calvinista Príncipe de Orange, conhecido na história como
Guilherme o Silencioso (N.T.: "William The Silent" ou William de Orange à William
I - 1533 / 1584, estadista Holandês, principal fundador da Independência da
Holanda), junto com aqueles que partilhavam do mesmo credo. Diz o Dr. Abraham
Kuyper, "Se o poder de Satã naquela época não houvesse sido quebrado pelo
heroísmo do espírito Calvinista, a história da Holanda, da Europa e do mundo teria
sido tão dolorosa, tão triste e tão negra como agora, graças ao Calvinismo, é brilhante
e inspiradora." 17
Se o espírito do Calvinismo não tivesse surgido na Europa Ocidental em seguida à
ocorrência da Reforma, o espírito do ateísmo teria ganho o dia na Inglaterra, na
Escócia e na Holanda. O Protestantismo nesses países não poderia ter se mantido; e,
através das medidas comprometedoras de um Protestantismo Romanizado, a
Alemanha teria sido com toda probabilidade trazida novamente sob a influência da
Igreja Católica Romana. Tivesse o Protestantismo falhado em qualquer um daqueles
países, é muito provável que o resultado tivesse sido fatal também nos outros, tão
intimamente estavam as suas sortes unidas umas às outras. Num sentido bem real, o
destino futuro das nações dependia do resultado daquela batalha nos Países Baixos.
Tivesse a Espanha saído vitoriosa na Holanda, é provável que a Igreja Católica se
fortalecesse tanto que subjugasse o Protestantismo também na Inglaterra. E, mesmo
como as coisas aconteceram, pareceu por um tempo como se a Inglaterra retornasse
ao Romanismo. Nesse caso, o desenvolvimento da América seria automaticamente
evitado e com toda probabilidade todo o continente Americano permaneceria sob o
controle da Espanha.
Lembremo-nos ainda que praticamente todos os mártires naqueles vários países eram
Calvinistas, os Luteranos e os Arminianos sendo somente um punhado, em
comparação. Como o Professor Fruin aponta com justiça, "Na Suíça, na França, na
Holanda, na Escócia e na Inglaterra, e onde quer que o Protestantismo tenha se
estabelecido ao fio da espada, foi o Calvinismo que ganhou o dia." No entanto, o
ponto a ser explicado é que é verdade que os Calvinistas foram os únicos
combatentes Protestantes.
Há ainda o outro serviço prestado pela a Holanda, do qual não podemos nos esquivar.
Os Peregrinos, depois de haverem sido expulsos da Inglaterra por perseguições
religiosas e antes da sua vinda para a América, foram para a Holanda e lá entraram
em contato com uma vida religiosa, que do ponto de vista Calvinista foi benéfica ao
extremo. Seus líderes mais importantes foram Clyfton, Robinson e Brewster; três
homens da Universidade de Cambridge, que formavam um trio tão nobre e heróico
quanto se pode encontrar na história de qualquer nação. Eles eram Calvinistas
fervorosos que sustentavam todos os pontos de vista fundamentais propostos pela
Reforma de Genebra. O historiador Americano Bancroft está correto quando
simplesmente os chama de 'Peregrinos-pais', "homens da mesma fé que Calvino."
J. C. Monsma, no seu livro "O Que O Calvinismo Fez Pela América", nos dá o
seguinte sumário da vida dos peregrinos na Holanda: "Quando os Peregrinos
deixaram Amsterdã com direção a Leyden, o Rev. Clyfton, seu líder, decidiu
permanecer onde estava; e então o Rev. John Robinson, primeiro assistente de
Clyfton foi assim eleito líder, ou pastor, pelo povo. Robinson era um Calvinista
convencido e opunha-se aos ensinamentos de Armínio sempre quando surgia uma
oportunidade. "Temos o inquestionável testemunho de Edward Winslow, de que
Polyander, Festus Homilus e outros teólogos Holandeses solicitaram a Robinson, na
época quando o Arminianismo ganhava terreno rapidamente na Holanda, que tomasse
parte nas disputas com Episcopius, o novo líder dos Arminianos, disputas estas que
diariamente aconteciam na academia de Leyden. Robinson aquiesceu e aceitou seu
pedido e rapidamente foi conhecido como um dos maiores teólogos de Gomarian. Em
1624 o pastor Peregrino escreveu um tratado excepcional, intitulado "Uma Defesa da
Doutrina Proposta Pelo Sínodo de Dort, etc." Como o Sínodo de Dordrecht, de fama
internacional, foi caracterizado por um Calvinismo estrito em todas as suas decisões,
nada mais precisa ser dito quanto às tendências religiosas de Robinson.
"Os Peregrinos estavam perfeitamente unidos com as igrejas Reformadas
(Calvinistas) na Holanda e demais localidades. Na sua Apologia, publicada em 1619,
um ano antes que os Peregrinos deixassem a Holanda, Robinson escreveu de maneira
muito solene, 'Nós professamos perante Deus e perante os homens que tal é o nosso
acordo, no caso de religião, com as Igrejas Holandesas Reformadas, que estamos
prontos a subscrever a todos e cada artigo de fé na mesma Igreja, como estiverem
apresentados na Harmonia das Confissões de Fé, publicadas naquele nome.' " (p. 72,
73)
7. CALVINISMO NA AMÉRICA
Quando passamos a estudar a influência do Calvinismo como uma força política na
história dos Estados Unidos da América, deparamo-nos com uma das páginas mais
brilhantes de toda a história Calvinista. O Calvinismo chegou à América no navio
"Mayflower"; e Bancroft, o maior dos historiadores Americanos, proclama os
Peregrinos Pais "Calvinistas na sua fé de acordo com o sistema mais reto." 18 John
Endicott, o primeiro governador da Colônia da Baía de Massachusetts; John
Winthrop, o segundo governador daquela Colônia; Thomas Hooker, o fundador de
Connecticut; John Davenport, o fundador da Colônia de New Haven; e Roger
Williams, o fundador da Colônia de Rhode Island, eram todos Calvinistas. William
Pen era discípulo dos Huguenotes. Estima-se que dos três milhões de Americanos à
época da Revolução Americana, novecentos mil deles eram de origem Escocesa ou
Escocesa-Irlandesa, seiscentos mil eram Ingleses Puritanos; e quatrocentos mil eram
Alemães ou Holandeses Reformados. Adicionalmente a este fato, os Episcopais
tinham uma confissão Calvinista nos seus 'Trinta e Nove Artigos'; e muitos Franceses
Huguenotes também tinham vindo para este mundo setentrional. Assim, vemos que
aproximadamente dois terços da população colonial havia sido treinada na escola de
Calvino. Nunca na história do mundo uma nação havia sido fundada por pessoas tais
como estas. Ademais, esta gente veio para a América não primariamente em busca de
ganhos ou vantagens comerciais, mas por causa de profundas convicções religiosas.
Parece que as perseguições religiosas em vários países Europeus tinham sido
providencialmente usadas para selecionar os mais instruídos e mais progressivos,
para a colonização da América. Qualquer que seja a proporção, é geralmente
admitido que os Ingleses, Escoceses, Alemães e Holandeses foram os povos mais
dominantes na Europa. Lembre-se que os Puritanos, que formavam a grande maioria
de colonizadores em New England, trouxeram consigo um Protestantismo Calvinista,
que eram inteiramente devotados às doutrinas dos grandes Reformadores, que tinham
aversão ao formalismo e à opressão na Igreja ou no Estado; e que naquela colônia o
Calvinismo permaneceu como a teologia governante durante todo o período colonial.
Com este pano de fundo, não devemos nos surpreender ao ver que os Presbiterianos
tomaram parte muito proeminente na Revolução Americana. Nosso historiador
Bancroft diz: "A Revolução de 1776, tanto quanto foi afetada pela religião, foi uma
medida Presbiteriana. Foi a conseqüência natural dos princípios legados pelo
Presbiterianismo do Mundo Antigo aos seus filhos, os Ingleses Puritanos, os
Escoceses Pactuantes, os Franceses Huguenotes, os Holandeses Calvinistas, e os
Presbiterianos do Ulster." Tão intensos, universais e agressivos eram os
Presbiterianos no seu zelo pela liberdade que falava-se da guerra na Inglaterra, como
"A Rebelião Presbiteriana". Um colono, ardente partidário do Rei George III,
escreveu a parentes na Inglaterra: "Eu ponho toda a culpa por estes procedimentos
extraordinários nos Presbiterianos. Eles têm sido os chefes e os instrumentos
principais de todos estes atos inflamatórios. Eles sempre agem e sempre agirão contra
o governo, a partir daquele espírito incansável, turbulento e anti-monárquico o qual
os tem distinguido em qualquer lugar." 19 Quando as novas "destes extraordinários
procedimentos" alcançaram a Inglaterra, o Primeiro Ministro Horace Walpole
discursou no Parlamento, "A prima América fugiu com um pastor Presbiteriano"
(John Witherspoon, presidente de Princeton, signatário da Declaração da
Independência).
A história é eloqüente ao declarar que a democracia Americana nasceu do
Cristianismo; e que tal Cristianismo era o Calvinismo. O grande conflito
Revolucionário que resultou na formação da nação Americana, foi levado a cabo
principalmente por Calvinistas, muitos dos quais haviam sido treinados na rígida
Faculdade Presbiteriana em Princeton, e que esta nação é o seu presente a todos os
povos amantes da liberdade.
J. R. Sizoo nos diz: "Quando Cornwallis foi acossado à última batalha e rendição em
Yorktown, todos os coronéis do Exército Colonial eram à uma anciãos Presbiterianos.
Mais da metade de todos os soldados e oficiais do Exército Americano durante a
Revolução eram Presbiterianos." 20
O testemunho de Emilio Castelar, o famoso estadista Espanhol, orador e catedrático,
é valioso e interessante. Castelar havia sido professor de Filosofia na Universidade de
Madri antes que enveredasse pela política; e foi feito presidente da república
estabelecida pelos Liberais em 1873. Como Católico Romano, ele detestava Calvino
e o Calvinismo. Diz ele: "Foi necessário para o movimento republicano que devesse
existir um moralismo mais austera que o de Lutero, o moralismo de Calvino; e uma
Igreja mais democrática que a Alemã, a Igreja de Genebra. A democracia Anglo-
Saxônica tem, por sua ascendência, um livro de uma sociedade primitiva -- a Bíblia.
É o produto de uma teologia severa, aprendida pelos poucos Cristãos fugitivos das
obscuras cidades da Holanda e da Suíça, por onde ainda vagueia a sombra
melancólica de Calvino . . . E ela permanece serenamente em sua magnificência,
formando a porção mais iluminada e mais moral da raça humana." 21
Diz Motley: "Na Inglaterra, as sementes de liberdade, embaladas no Calvinismo e
acumuladas através de muitos anos de tentativas, seguiram afinal, através de mar e
terra; destinadas a propiciar as maiores ceifas de liberdade moderada para grandes
comunidades que ainda não nascidas. 22 "Os Calvinistas fundaram as comunidades
da Inglaterra, da Holanda e da América." E de novo, "Aos Calvinistas mais que a
qualquer outra classe de homens, são devidas as liberdades políticas da Inglaterra, da
Holanda e da América." 23
O testemunho de outro historiador famoso, o Francês Taine, que não professava
nenhuma fé religiosa, é digno de consideração. Com relação aos Calvinistas ele disse:
"Estes homens são verdadeiros heróis da Inglaterra. Eles fundaram a Inglaterra,
apesar da corrupção dos Stuarts, pelo exercício da tarefa, pela prática da justiça, pelo
trabalho obstinado, pela vindicação de direito, pela resistência à opressão , pela
conquista da liberdade, pela repressão do vício. Eles fundaram a Escócia; eles
fundaram os Estados Unidos; e hoje eles, através dos seus descendentes, estão
fundando a Austrália e colonizando o mundo." 24
No seu livro "O Credo dos Presbiterianos", E. W. Smith questiona com relação aos
colonos Americanos, "Onde eles aprenderam aqueles princípios imortais dos direitos
do homem, da liberdade humana, da igualdade e do auto-governo, nos quais eles
basearam a sua República; e os quais formam hoje a glória distintiva da nossa
civilização americana ? Na escola de Calvino eles os aprenderam. Lá o mundo
moderno os aprendeu. Assim a história ensina," (p.121).
Passaremos agora a considerar a influência que a Igreja Presbiteriana, como Igreja,
exerceu na formação da República. "A Igreja Presbiteriana", diz o Dr. W. H. Roberts
num discurso perante a Assembléia Geral, "foi por três quartos de um século, a única
representante neste continente, de um governo republicano como agora organizado na
nação." E ele então continua: "Desde 1706 até o início da luta revolucionária o único
corpo existente que resistiu pela nossa presente organização política foi o Sínodo
Geral da Igreja Presbiteriana Americana. Ela sozinha exerceu a autoridade entre as
organizações eclesiásticas e político coloniais, derivada dos próprios colonos, sobre
os corpos de Americanos espalhados em todas as colônias, desde Nova Inglaterra até
a Geórgia. As colônias nos séculos dezessete e dezoito, deve ser lembrado, enquanto
dependiam todas da Grã Bretanha, eram independentes umas das outras. Uma
organização tal como o Congresso Continental não existiu até 1774. A condição
religiosa do país era similar à condição política. As Igrejas Congregacionais da Nova
Inglaterra não tinham nenhuma conexão entre si; e tinham poder algum, fora o do
governo civil. A Igreja Episcopal não era organizada nas colônias, dependia da ajuda
e de um ministro da Igreja Estabelecida da Inglaterra; e era cheia com uma lealdade
intensa para com a monarquia Britânica. A Igreja Reformada Holandesa não se tornou
uma organização independente antes de 1771; e a Igreja Reformada Alemã não
alcançou tal condição antes de 1793. As Igrejas Batistas eram organizações
separadas, os Metodistas eram praticamente desconhecidos; e os Quakers não eram
combatentes."
Os delegados reuniam-se anualmente no Sínodo Geral; e como o Dr. Roberts nos diz,
a Igreja tornou-se "um elo de união e de correspondência entre grandes elementos na
população das colônias divididas". "É de se admirar", ele continua, "que sob uma
influência incentivadora, os sentimentos de verdadeira liberdade, tanto quanto as
doutrinas de um evangelho sólido, fossem pregados em todo o território desde Long
Island até a Carolina do Sul; e que acima de tudo, um sentimento de unidade entre as
Colônias começasse vagarosa mas certamente a estabelecer-se? Não se pode por
muita ênfase, com relação à origem da nação, na influência daquela república
eclesiástica, a qual desde 1706 e até 1774 era a única representante neste continente,
de instituições republicanas federais inteiramente desenvolvidas. Os Estados Unidos
da América devem muito àquelas Repúblicas Americanas mas antigas, a Igreja
Presbiteriana." 25
É claro que não se alega que a Igreja Presbiteriana fosse a única fonte da qual
verteram os princípios sobre os quais a república está fundamentada, mas é
reclamado que os princípios fundados nos Padrões de Westminster foram a base
principal para a república, e que "A Igreja Presbiteriana ensinou, praticou e manteve
por inteiro, primeiro nesta terra, aquela forma de governo de acordo com a qual a
República foi organizada." (Roberts).
A abertura da luta Revolucionária encontrou as igrejas e os ministros Presbiterianos
solidamente alinhados do lado dos colonos; e Bancroft credita-lhes haverem feito o
primeiro movimento importante em direção à independência. 26 O Sínodo que
reuniu-se na Filadélfia em 1775 foi o primeiro organismo religioso a declarar aberta e
publicamente por uma separação da Inglaterra. Aquele organismo urgiu o povo sob a
sua jurisdição a não deixar de fazer nada que pudesse promover o objetivo em vista, e
conclamou-os todos a orar pelo Congresso que estava, então, em sessão.
A Igreja Episcopal uniu-se então à Igreja da Inglaterra; e opôs-se à Revolução. Um
número considerável de cidadãos dentro daquela Igreja, no entanto, labutaram com
afinco pela independência e deram toda a sua riqueza e influência para assegurá-la.
Deve ser lembrado também que o Comandante em Chefe dos Exércitos Americanos,
"o pai do nosso país", era um membro daquela comunidade. O próprio Washington
comparecia; e ordenava a todos os seus homens que comparecessem aos cultos
celebrados pelos seus capelães, que eram clérigos de várias igrejas. Ele doou quarenta
mil dólares para o estabelecimento de uma Faculdade Presbiteriana no seu estado
natal, o qual levou o seu nome em honra à doação, tornando-se a Faculdade
Washington.
N. S. McFetridge jogou luz sobre outro desenvolvimento maior do Período
Revolucionário. De modo que permaneça acurado e completo, temos o privilégio de
repetir suas palavras, de maneira tanto quanto extensa. "Um outro fator importante no
movimento independente", diz ele, "foi o que é conhecido como a 'Declaração de
Mecklenburg', proclamada pelos Presbiterianos Escoceses-Irlandeses da Carolina do
Norte em 20 de maio de 1775, mais de um ano antes da Declaração (da
Independência) do Congresso. Aquilo foi o cumprimento novo, de coração, dos
Escoceses e Irlandeses aos seus irmãos combatentes no Norte, e seu desafio maior ao
poder da Inglaterra. Eles haviam observado atentamente o progresso da luta entre as
colônias e a Coroa; e quando eles ouviram sobre o discurso proferido pelo Congresso
ao Rei, declarando que as colônias encontravam-se realmente em rebelião, eles
consideraram chegada a hora de os patriotas falarem. De conformidade, eles
convocaram em reunião um corpo de representantes em Charlotte, Carolina do Norte,
o qual por resolução unânime declarou o povo livre e independente, e que todas as
leis e comissionamentos do rei tornavam-se a partir de então nulos e cancelados. Na
sua Declaração constavam resoluções tais como estas: 'A partir de agora nós
dissolvemos os laços políticos que nos conectavam à pátria-mãe; e a partir de agora
isentamo-nos de toda a obrigação de lealdade para com a coroa Britânica' ..... 'Nós
doravante nos declaramos uma nação livre e independente; somos, e de direito
devemos ser, uma associação soberana e auto-governante, sob o controle de poder
algum a não ser o do nosso Deus e o do governo geral do Congresso; à manutenção
do qual nós solenemente confiamos uns aos outros as nossas vidas e a nossa mútua
cooperação, nossos bens e a nossa honra mais sagrada.' ..... Aquela assembléia foi
composta de vinte e sete Calvinistas comprometidos, apenas um terço dos quais eram
anciãos na ativa na Igreja Presbiteriana, incluindo o presidente e o secretário; e um
era um clérigo Presbiteriano. O homem que redigiu aquele documento importante e
famoso foi o secretário, Ephraim Brevard, um ancião na ativa na Igreja Presbiteriana
e graduado na Faculdade Princeton. O historiador Bancroft diz que, 'com efeito, uma
declaração tão completa quanto um sistema de governo.' (História dos EUA, volume
VIII, 40). Aquele documento foi enviado através de mensageiro especial ao
Congresso na Filadélfia; e publicado no 'Cape Fear Mercury' e largamente distribuído
em todo o país. É claro que também foi rapidamente transmitido à Inglaterra, onde
tornou-se motivo de excitação intensa.
"A identidade de sentimento e a similaridade de expressão entre esta Declaração e a
grande Declaração escrita por Jefferson não poderia escapar aos olhos dos
historiadores; assim foi que Tucker, em sua obra 'A Vida de Jefferson' diz: 'Cada um
deve persuadir-se de que um desses papéis deve ter sido emprestado do outro'. Mas é
certo que Brevard não poderia haver 'emprestado' de Jefferson, pois ele o escreveu
mais de um ano antes de Jefferson; daí é que Jefferson, de acordo com o seu biógrafo,
deve tê-lo 'emprestado' de Brevard. Mas foi um plágio feliz, pelo qual o mundo
sinceramente o perdoará. Na correção do seu primeiro rascunho da Declaração, pode
ser visto pelo menos em algumas partes, que Jefferson apagou as palavras originais e
inseriu aquelas que ele havia primeiramente encontrado na Declaração de
Mecklenberg. Ninguém pode duvidar que Jefferson tinha diante de si as resoluções
escritas por Brevard enquanto escrevia a sua Declaração imortal." 27
Esta surpreendente similaridade entre os princípios apresentados na Forma de
Governo da Igreja Presbiteriana e aqueles apresentados na Constituição dos Estados
Unidos da América tem causado muito comentário. "Quando os pais da nossa
República sentaram-se para preparar um sistema de governo representativo e
popular", diz o Dr. E. W. Smith, "a sua tarefa não era tão difícil quanto alguém
poderia imaginar. Eles tinham um modelo para seguir." 28
Se fosse perguntado a um cidadão Americano quem foi o fundador da América, o
verdadeiro autor daquela grande República, poderia ser-lhe difícil para responder.
Podemos imaginar sua surpresa ao ouvir a resposta desta questão, dada pelo famoso
historiador Alemão, Ranke, um dos mais profundos catedráticos da atualidade. Diz
Ranke, 'João Calvino foi o fundador virtual da América.' " 29
D'Aubigne, cuja história da Reforma é um clássico, escreve: "Calvino foi o fundador
das maiores repúblicas. Os Peregrinos que deixaram o seu país no reinado de James I;
e fincaram pé na terra barrenta da Nova Inglaterra, fundaram colônias populosas e
poderosas, eram seus filhos, seus diretos e legítimos filhos; e aquela nação Americana
que temos visto crescer tão rapidamente proclama como seu pai o humilde
Reformador na praia do Lago Leman." 30
O Dr. E. W. Smith diz, "Estes princípios revolucionários de liberdade republicana e
de auto governo, ensinados e incorporados no sistema de Calvino, foram trazidos
para a América; e nestas novas terras onde eles frutificaram tão imensamente um
cultivo foi plantado, pelas mãos de quem? -- as mãos dos Calvinistas. A relação vital
de Calvino e do Calvinismo para com a fundação das instituições livres da América,
conquanto estranha para alguns ouvidos possa ter parecido a declaração de Ranke, é
reconhecida e afirmada por historiadores de todas as terras e de todos os credos." 31
Isso tudo foi inteiramente compreendido e candidamente reconhecido por
historiadores e filosóficos tais como Bancroft, que embora estivesse tão longe de ser
um Calvinista nas suas convicções pessoais, chama Calvino simplesmente de "o pai
da América", e acrescenta: "Aquele que não honra a memória e respeita a influência
de Calvino não conhece nada da origem da liberdade Americana."
Quando lembramos que dois terços da população à época da Revolução tinha sido
treinada na escola de Calvino, e quando lembramos do quão unida e
entusiasticamente os Calvinistas labutaram pela causa da independência, nós
prontamente vemos o quão verdadeiros são os testemunhos acima.
Não havia praticamente Metodista algum na América à época da Revolução; e, na
verdade, a Igreja Metodista não foi organizada oficialmente como tal, na Inglaterra,
até o ano de 1784, o que foi três anos após a Revolução Americana. John Wesley,
embora fosse um grande vulto e bom homem, era um "Tory" [N.T.: (a) membro do
Partido Conservador Inglês. (b) designação de quaisquer Americanos que, durante o
período da Revolução, estivessem do lado Britânico. Também chamados de
'Lealistas'] e cria na não resistência política. Ele escreveu contra a "rebelião"
Americana, mas aceitou o resultado providencial. McFetridge nos diz: "Os
Metodistas dificilmente tinham um pé nas colônias, quando a guerra começou. Em
1773 eles somavam aproximadamente cento e sessenta membros. Seus ministros
eram quase que todos, senão todos, da Inglaterra; e eram ferrenhos partidários da
Coroa contra a Independência Americana. Assim é que, quando a guerra estourou eles
foram compelidos a saírem do país. Seus pontos de vista políticos estavam
naturalmente de acordo com aqueles do seu grande líder, John Wesley, que
habilmente exercia todo o poder da sua eloqüência e influência contra a
independência das colônias. (Bancroft, História dos E.U.A., Vol. VII, p. 261). Ele não
previu que a América independente era para ser o terreno no qual sua nobre Igreja
ceifaria suas maiores colheitas; e que naquela Declaração à qual ele se opôs tão
bravamente se encontrasse a segurança das liberdades dos seus seguidores." 32
Na Inglaterra tanto quanto na América, os conflitos pela liberdade civil e religiosa
nasceram no Calvinismo, foram inspirados pelo Calvinismo; e largamente levados a
cabo por homens que eram Calvinistas. E porque a maioria dos historiadores nunca
estudaram o Calvinismo seriamente, eles nunca foram capazes de dar-nos conta, de
maneira completa e verdadeira, do que foi feito nesses países. É somente necessária a
luz da investigação histórica para mostrar-nos como os nossos bisavós criam no
Calvinismo e eram por ele controlados. Hoje vivemos numa época em que os
serviços dos Calvinistas na fundação deste país têm sido em muito esquecidos; e
dificilmente alguém pode tratar deste assunto sem parecer ser um mero elogiador do
Calvinismo. Nós bem podemos honrar aquele credo que rendeu frutos tão doces e ao
qual a América tanto deve.
9. CALVINISMO E EDUCAÇÃO.
Novamente, a história apresenta testemunho muito claro de que Calvinismo e
educação têm sido intimamente associados. Onde quer que o Calvinismo tenha ido,
levou consigo a escola e deu impulso poderoso à educação popular. É um sistema que
demanda hombridade intelectual. Na verdade, podemos dizer que a própria existência
do Calvinismo encontra-se unida à educação do povo. Treinamento mental é
requerido para dominar o sistema e mapear tudo o quanto ele envolve. O Calvinismo
apela da maneira mais forte possível à razão humana e insiste que o homem deve
amar a Deus não somente com todo o seu coração, mas também com toda a sua
mente. Calvino sustentava que "uma fé verdadeira deve ser uma fé inteligente"; e a
experiência tem mostrado que a piedade sem o aprendizado é um longo caminho tão
perigoso quanto o é o aprendizado sem piedade. Ele viu claramente que a aceitação e
a difusão do seu esquema de doutrina era dependente não somente do treinamento
dos homens que o deveriam apresentar, mas também na inteligência das grandes
massas de humanidade que deveriam aceitá-lo. Calvino coroou seu trabalho em
Genebra com o estabelecimento da Academia. Milhares de alunos peregrinos da
Europa Continental e das Ilhas Britânicas sentaram-se aos seus pés e depois levaram
as suas doutrinas a cada canto da Cristandade. Knox retornou de Genebra
inteiramente convencido de que a educação das massas era a muralha mais forte do
Protestantismo e a mais certa fundação do Estado. "Com o Romanismo vai o padre;
com o Calvinismo vai o professor" é um ditado antigo, a verdade do qual não será
negada por qualquer um que venha a examinar os fatos.
Este amor Calvinista pelo aprendizado, colocando a mente acima do dinheiro,
inspirou um número incontável. de famílias Calvinistas na Escócia, na Inglaterra, na
Holanda e na América, a sacrificarem-se para educar seus filhos. O famoso dito de
Carlile, "Que qualquer ser com capacidade de aprendizado pereça ignorante, a isto eu
chamo de tragédia," expressa uma idéia que é Calvinista até o cerne. Aonde quer que
o Calvinismo tenha ido, lá o conhecimento e o aprendizado foram encorajados e lá
uma raça vigorosa de pensadores foi treinada. Os Calvinistas não construíram
grandes catedrais, mais foram construtores de escolas, de faculdades e de
universidades. Quando os Puritanos da Inglaterra, os Pactuantes da Escócia e os
Reformados da Holanda e da Alemanha vieram para a América, eles trouxeram
consigo não somente a Bíblia e a Confissão de Fé de Westminster, mas também a
escola. E é por isso que o Calvinismo Americano nunca
"Teme as fracas mãos dos céticos, ("Dreads the skeptic's puny hands,
Enquanto perto da escola estiver a torre da sua igreja, (While near her school the
church spire stands
Nem teme a regra cega dos intolerantes, (Nor fears the blinded bigot's rule,
Enquanto perto da torre da igreja estiver uma escola." (While near her church spire
stands a school."
Nossas três universidades Americanas de grande importância histórica, Harvard, Yale
e Princeton, foram originalmente fundadas por Calvinistas, como escolas Calvinistas
fortes, destinadas a proporcionar aos alunos uma base sólida em teologia tanto quanto
em outros segmentos do aprendizado. Harvard, estabelecida em 1636, foi
primariamente destinada a ser escola de treinamento para ministros; e mais da metade
das suas primeiras classes a graduarem-se seguiram o caminho do ministério. Yale,
algumas vezes chamada de "a mãe das Faculdades", foi por um período de tempo
considerável uma rígida instituição Puritana. E Princeton, fundada pelos
Presbiterianos Escoceses, estava alicerçada em bases inteiramente Calvinistas.
"Orgulhamo-nos", diz Bancroft, "das nossas escolas regulares; Calvino foi o pai da
educação popular -- o inventor do sistema de escolas livres." 40 "Onde quer que o
Calvinismo tenha ganhado domínio", ele diz novamente, "invocou a inteligência para
as pessoas; e cada paróquia plantou uma escola regular." 41
"O nosso orgulhoso sistema escolar regular", diz Smith, está em débito por sua
existência àquela corrente de influências que vieram da Genebra de Calvino, através
da Escócia e da Holanda até a América; e, durante os duzentos primeiros anos da
nossa história quase que cada colégio e seminário e quase que cada academia e escola
regular foi construído e sustentado por Calvinistas." 42
A relação que existe entre o Calvinismo e a educação foi muito bem colocada nos
próximos dois parágrafos, escritos pelo Prof. H. H. Meeter, da Faculdade Calvino: "A
ciência e a arte foram dádivas da graça comum de Deus; e devem como tais serem
desenvolvidos e utilizados. A natureza é obra das mãos de Deus; o incorporar das
Suas ideias, na sua forma pura o reflexo das Suas virtudes. Deus foi o pensamento
unificador de toda ciência, uma vez que tudo foi o desdobrar do Seu plano. Mas junto
com tais razões teóricas, há razões muito práticas porque o Calvinista tem sempre
estado intensamente interessado em educação; e porque escolas para iniciação escolar
de crianças tanto quanto escolas para aprendizado mais alto aparecerem lado a lado
com igrejas Calvinistas; e porque os Calvinistas foram em tão grande medida a
vanguarda do movimento universal para a educação moderna. Estas razões práticas
estão intimamente associadas com a sua religião. Os Católicos Romanos podem
convenientemente passar sem a educação das massas. Para eles a classe clerical --
distintamente dos leigos -- eram os que decidiam sobre matérias relativas à doutrina e
ao governo da igreja. Assim, os interesses não requeriam o treinamento das massas.
Para a salvação, tudo de que o leigo precisava era uma fé implícita naquilo que a
igreja acreditava. Não era necessário ser capaz de explicar de maneira inteligente as
doutrinas da sua fé. Nos cultos, não o sermão, mas o sacramento era o importante
portador das bênçãos da salvação; o sermão era menos necessário. E, novamente, o
sacramento não requeria inteligência, uma vez que operava ex opere operato [N.T.: O
ensinamento Católico de que a graça de um sacramento é sempre conferida pelo
próprio sacramento. Literalmente quer dizer "da obra realizada"].
"Pois as matérias Calvinistas eram justamente o contrário. O governo da igreja era
posto nas mãos dos presbíteros, homens leigos; e estes tinham de decidir sobre os
assuntos de política da igreja e os assuntos de peso da doutrina. Ademais, o próprio
leigo tinha o grave dever, sem a intermediação de uma ordem sacerdotal, de trabalhar
na sua própria salvação; e não poderia faze-lo com uma fé implícita no que a igreja
acreditava. Ele devia ler a sua Bíblia. Ele devia conhecer e saber o seu credo. E nisso
era um intelectual altamente errado. Mesmo para o Luterano, a educação das massas
não era tão urgente quanto para o Calvinista. É verdade que o Luterano também
situava o homem diante da responsabilidade pessoal de trabalhar na própria salvação.
Mas nos círculos Luteranos, os leigos eram excluídos do ofício do governo da igreja e
destarte também da tarefa de decidir sobre assuntos de doutrina. A partir dessas
considerações, fica evidente porque o Calvinista devia ser um ferrenho advogado da
educação. Se por um lado a Deus era devida a soberania no campo da ciência; e se o
sistema Calvinista, muito religioso exigia a educação das massas para a sua própria
existência, não é de surpreender-nos que o Calvinista pressionasse o aprendizado ao
limite. Para o Calvinista, a educação é uma questão de ser ou não ser." 43
Os padrões tradicionalmente altos das Igrejas Presbiteriana e Reformada, para o
treinamento ministerial, são dignas de nota. Enquanto muitas outras igrejas ordenam
homens como ministros e missionários e permitem que preguem com muito pouca
educação; as Igrejas Presbiteriana e Reformada insistem que o candidato ao
ministério seja graduado em uma faculdade e que tenha estudado por no mínimo dois
anos, com um professor de teologia aprovado (vide Formas de Governo, cap. XIV,
seções III e VI). Como resultado, uma grande proporção desses ministros têm sido
capazes de administrar assuntos influentes das igrejas nas cidades. Isto pode
significar um menor número de ministros, mas também significa ministros melhor
preparados e melhor remunerados.
11. CONCLUSÃO.
Nós examinamos o sistema teológico Calvinista em considerável detalhe; e vimos a
sua influência na Igreja, no Estado, na sociedade e na educação. Também
consideramos as objeções que são usualmente feitas contra ele; e consideramos a
importância prática do sistema. Resta-nos agora fazer algumas observações gerais
com relação ao sistema como um todo.
Um teste certo do caráter de indivíduos ou de sistemas é encontrado nas próprias
palavras de Cristo: "Pelo seu fruto os conhecereis". Por aquele teste os Calvinistas e o
Calvinismo terão prazer em serem julgados. As vidas e as influências daqueles que
sustentaram a Fé Reformada é um dos melhores e mais conclusivos argumentos em
seu favor. Smith refere-se "ao Calvinismo exuberante e divinamente vital, o criador
do mundo moderno, a mãe de heróis, de santos e de mártires em número inumerável,
cuja história, julgando a árvore pelos frutos, coroa como o maior credo da
Cristandade." 67 O veredito imparcial da história é que como formador de caráter e
como proclamador de liberdade a homens e nações, o Calvinismo mantém-se
supremo entre todos os sistemas religiosos de mundo. Ao chamar a lista dos grandes
homens do nosso próprio país, o número de presidentes, legisladores, juristas,
autores, editores, professores e homens de negócio Presbiterianos e vastamente
desproporcional ao número de membros da Igreja. Todo historiador imparcial
admitirá que foi a revolta protestante contra Roma que deu ao mundo moderno o
primeiro gosto da genuína religião e liberdade civil; e que as nações que alcançaram e
desfrutaram da maior das liberdades foram aquelas que foram mais completamente
trazidas sob a influência do Calvinismo. Ainda mais que o Calvinismo fez fluir sobre
as planícies da história moderna aquela grande torrente vivificante da liberdade civil
e religiosa. Quando comparamos países tais como Inglaterra, Escócia e América, com
países tais como França, Espanha e Itália, que nunca vieram a estar sob a influência
do Calvinismo, prontamente vemos quais são os resultados práticos. A depressão
moral e econômica em países Católicos Romanos trouxe tal diminuição até mesmo na
taxa de natalidade, que a população naqueles países tornou-se quase que estacionária,
enquanto que a população naqueles outros países tem mostrado crescimento estável.
Uma análise breve da história da Igreja, ou dos credos históricos do Protestantismo,
também logo nos mostra que as doutrinas que hoje são conhecidas como Calvinismo
foram as que foram trouxeram a Reforma e que preservaram os seus benefícios.
Quem estiver familiarizado com a história da Europa e da América prontamente
concordará com a brilhante declaração do Dr. Cunningham que, "depois de Paulo,
João Calvino fez muito pelo mundo". E o Dr. Smith disse muito bem: "Certamente
que deveria fechar as bocas dos que falam mal do Calvinismo, lembrar que dos
homens daquele credo nós herdamos, como os frutos do seu sangue e do seu esforço,
de suas preces e dos seus ensinamentos; a nossa liberdade civil, a nossa fé
Protestante, os nossos lares Cristãos. O leitor pensativo, ao notar que estas três
bênçãos repousam na raiz de tudo o que é de melhor e maior no mundo moderno,
pode surpreender-se com a reivindicação implícita de que a nossa presente civilização
Cristã nada mais é que a frutificação do Calvinismo." 68
Somente repetimos o testemunho muito claro da história, quando dizemos que o
Calvinismo foi o credo de santos e de heróis. "Qualquer que seja a causa", diz
Froude, "os Calvinistas foram os únicos Protestantes que combateram. Foram eles
cuja fé deu-lhes coragem para levantar-se pela Reforma, e não fosse por eles a
Reforma teria sido perdida." Durante aqueles séculos nos quais a tirania espiritual
enumerava as suas vítimas aos milhares; quando na Inglaterra, na Escócia, na
Holanda e na Suíça o Protestantismo tinha de manter-se pela espada, o Calvinismo
provou-se o único sistema capaz de enfrentar e destruir os grandes poderes da Igreja
Romana. Seu pelotão inigualável de mártires é uma das suas coroas de glória. No
discurso da Conferência Metodista à Aliança Presbiteriana de 1896, foi
graciosamente dito: "Sua Igreja proporcionou o espetáculo memorável e inspirador,
não simplesmente o de uma alma heróica aqui e ali, mas o de gerações de almas
fervorosas prontas a irem alegremente para a prisão ou mesmo para a morte pelo
benefício de Cristo e da Sua verdade. Esta rara honra vocês corretamente estimam
como a parte mais preciosa da sua herança que não tem preço." "Não há nenhum
outro sistema de religião no mundo", diz McFetridge, que tenha tal conjunto de
mártires pela fé. "Quase que todo homem e mulher que caminharam nas chamas, ao
invés de negar a sua fé ou de deixar uma mancha na consciência, foi na verdade o
seguidor ou a seguidora devotos, não somente, e acima de tudo do Filho de Deus,
mas também daquele ministro de Deus, que fez de Genebra a luz da Europa, João
Calvino." 69 "À divina vitalidade e frutificação deste sistema o mundo moderno tem
um débito de gratidão, débito este o qual em anos recentes o mundo está
vagarosamente começando a reconhecer, mas que nunca poderá pagar.
Dissemos que a teologia Calvinista desenvolve um povo amante da liberdade. Onde
ela floresce, o despotismo não consegue existir. Como seria de se esperar, ela cedo
fez com que uma forma revolucionária de governo de Igreja aparecesse, na qual o
povo da Igreja seria governado e ministrado, não por aqueles apontados por algum
homem ou conjunto de homens que se situassem acima deles, mas por pastores e por
oficiais eleitos por eles próprios. A religião estava então com o povo, não sobre ele. O
testemunho de uma fonte notável quanto à eficiência deste tipo de governo é aquele
dado pelo distinto Católico Romano, Arcebispo Hughes, de Nova Iorque: "Embora
seja meu privilégio referir-me à autoridade exercida pela Assembléia Geral como
usurpação, ainda assim eu devo dizer, em coro com dada homem que tenha
conhecimento da maneira na qual ela é organizada, que pelo propósito de governo
político e popular sua estrutura é pouco inferior ao do próprio Congresso. Ela age no
princípio de um centro de irradiação, e é sem igual ou rival entre as demais
denominações do país." 70
Da liberdade e da responsabilidade na Igreja, era somente um passo para a liberdade e
para a responsabilidade no Estado; e historicamente a causa da liberdade não
encontrou campeões mais bravos ou mais resolutos do que os seguidores de Calvino.
"O Calvinismo", diz Warburton, "não é um credo teórico ou sonhador. Ele não, --
apesar de todas as asserções dos seus adversários, -- encoraja alguém a cruzar os
braços num espírito de indiferença fatalística e ignorar as necessidades daqueles à sua
volta, juntamente com os males que permanecem, como úlceras putrefatas na face da
sociedade." 71 Onde quer que o Calvinismo tenha ido, maravilhosas transformações
morais têm seguido o seu rastro. Pela pureza da vida, pela temperança, pela indústria
e pela caridade, não tem havido ninguém superior aos Calvinistas.
James Anthony Froude foi reconhecido como um dos mais capazes historiadores e
literatos Ingleses. Durante muitos anos ele foi professor de História em Oxford, a
maior universidade da Inglaterra. Enquanto ele aceitou para si outro sistema
teológico; e enquanto os seus escritos sejam tais que a ele usualmente refere-se como
um oponente do Calvinismo, ele não tinha preconceito; e os ataques ignorantes contra
o Calvinismo que tornaram-se tão comuns em anos recentes, acenderam nele a
inflamada e justa impaciência de catedrático.
"Eu vou pedir-lhes para considerarem", diz Froude, "como pode ser possível que, se o
Calvinismo for realmente o credo rude e irracional que o iluminismo moderno
declara ser, ele fosse, no passado, para alguns dos maiores homens que jamais
viveram, atraente de maneira tão singular; e como -- sendo como nos é dito, fatal para
a moralidade, por negar o livre arbítrio -- o primeiro sintoma da sua atuação, onde
quer que tenha se estabelecido, foi obliterar a distinção entre crimes e pecados, e
fazer da lei moral a regra para Estados tanto quanto para indivíduos. E devo
perguntar-lhes, novamente, por que, se este é um credo de servidão intelectual, ele foi
capaz de inspirar e de sustentar os mais bravos esforços jamais feitos pelo homem
para quebrar o jugo de autoridade injusta. Quando tudo o mais falhou, -- quando o
patriotismo cobriu sua face e a coragem humana desapareceu, -- quando o intelecto
rendeu-se, como diz Gibbon, 'com um sorriso ou um esgar', satisfeito por filosofar no
gabinete, e longe de casa cultuar com os comuns, -- quando a emoção, e o
sentimento, e aquela falsa piedade suave tornaram-se criadas da superstição, e
abstraíram-se no esquecimento de que existe uma diferença entre verdade e mentiras,
-- a forma de crença barata chamada Calvinismo, numa ou em outra das suas muitas
formas, proporcionou uma barreira tão inflexível contra a ilusão e a falsidade,
preferindo antes ser moída até o pó como o sílex, do que dobrar-se ante a violência ou
dissolver-se sob destruidora tentação."
Para ilustrar isto, Froude menciona William the Silent, Lutero, Calvino, Knox,
Coligny, Cromwell, Milton e Bunyan; e deles diz: "Estes homens são possuídos por
todas as qualidades que dão nobreza e grandeza à natureza humana, -- homens cuja
vida foi tão ereta quanto o seu intelecto era comandante e seus objetivos públicos não
maculados pelo egoísmo; inalteravelmente justos onde o dever exigia que fossem
austeros, mas com corações delicados como o coração feminino; francos,
verdadeiros, alegres, de bom humor, tão diferentes de fanáticos amargos como é
possível imaginar alguém; e capazes de alguma forma soar o diapasão em resposta ao
qual cada coração leal e valente em toda a Europa vibrava instintivamente." 72
Voltaremos agora a nossa atenção para o Calvinismo como uma força evangelizadora.
Um teste muito prático para qualquer sistema de doutrina religiosa é, "Tem ele, em
comparação com outros sistemas, provado ser um sucesso na evangelização do
mundo?" Salvar pecadores e converte-los a Deus é o propósito chefe da Igreja neste
mundo; e o sistema que não se adequar a isto deve ser posto de lado, não importa o
quão popular ele possa ser em outros aspectos.
O primeiro grande avivamento, no qual três mil pessoas converteram-se, aconteceu
depois do discurso de Pedro em Jerusalém, que empregou tal linguagem como:
"sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o
matastes, crucificando-o por mãos de iníquos."[Atos 2:23]. E a companhia dos
discípulos, em fervente oração pouco depois, falaram assim: "(27) porque
verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, o qual
ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, (28) para fazerem
tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram;"[Atos 4:27, 28]. Isto, é
Calvinismo rígido o bastante.
O próximo grande avivamento na Igreja, que ocorreu no século quatro através da
influência de Agostinho, foi baseado nestas doutrinas, como é de imediato visto por
qualquer um que leia a literatura disponível sobre aquele período. A Reforma, a qual
é admitida por todos ter sido incomparavelmente o maior dos avivamentos da
verdadeira religião desde a época do Novo Testamento, aconteceu sob os
inescusadamente Predestinatários sermões de Lutero, Zuínglio e Calvino. Para
Calvino e para o Almirante Colignyh pertence o credito de haver inspirado o primeiro
empreendimento missionário Protestante no estrangeiro, a expedição ao Brasil em
1555. É verdade que a missão provou ser infrutífera; e as guerras religiosas na Europa
tornaram a repetição da missão inviável por um período considerável.
McFetridge nos deu alguns fatos interessantes e comparativamente desconhecidos a
respeito do crescimento da Igreja Metodista. Ele diz: "Falamos do começo da Igreja
Metodista haver acontecido num avivamento. E assim foi. Mas o primeiro e principal
ator naquele avivamento não foi Wesley, mas Whitefield (um Calvinista não
comprometido). Embora mais jovem que Wesley, foi ele o primeiro a ir à frente,
pregando nos campos e reunindo multidões de seguidores; e levantando fundos e
construindo igrejas. Foi Whitefield quem invocou os dois Wesleys para ajudar-lhe. E
ele teve de usar de muita argumentação e persuasão para sobrepor-se aos seus
preconceitos contra o movimento. Whitefield começou a grande obra em Bristol e
Kingswood; e teve milhares caminhando ao seu lado, prontos para serem organizados
em igrejas, quando ele apelou a Wesley por ajuda. Wesley, com todo o seu zelo, bem
que era um Alto Clérigo, sob muitos dos seus pontos de vista. Ele cria na imersão
mesmo das crianças; e demandava que dissidentes fossem re-batizados antes de
serem novamente aceitos na Igreja. Ele não podia sequer imaginar uma pregação em
qualquer lugar que não fosse numa igreja. 'Ele devia pensar', como ele disse, 'que a
salvação de almas fosse quase um pecado, se não fosse feita numa igreja'. Assim,
quando Whitefield chamou John Wesley para juntar-se a ele no movimento popular,
ele retrocedeu. Finalmente, ele rendeu-se à persuasão de Whitefield, mas, ele
permitiu-se ser guiado em sua decisão pelo que muitos qualificariam de superstição.
Ele e Charles primeiro abriram suas Bíblias ao acaso para ver se seus olhares
recairiam em algum texto que pudesse decidir por eles. Mas os textos eram todos
estranhos ao assunto. Então eles recorreram ao sortilégio, e jogaram sortes para
decidir sobre o assunto. Aconteceu de sair a sorte marcada por ele como consentindo
na empreitada, então ele aceitou-a. Assim, ele foi levado a aceitar desde então a obra
com a qual o seu nome tem sido tão intimamente e honoravelmente associado.
Tanto devia o movimento Metodista a Whitefield, que ele era chamado de 'o
estabelecedor Calvinista do Metodismo', e até o fim da sua vida ele permaneceu
como o representante disto aos olhos do mundo. Walpole, em suas Cartas, fala
somente uma vez de Wesley com relação ao aparecimento do Metodismo, enquanto
que ele freqüentemente menciona Whitefield, relacionando-o com o tema. Mant, no
desenrolar das suas palestras contra o Metodismo, fala dele como um tema
inteiramente Calvinista. nem o mecanismo ou a força que fez com que o Metodismo
aparecesse e se levantasse originou-se com Wesley. As Pregações ao ar livre, que
deram ao movimento Metodista como um todo a característica de agressividade; e o
armasse e o capacitasse para fazer frente às agências poderosas que se armaram
contra ele, começou com Whitefield, enquanto que 'Wesley encontrava-se confinado
à relutância.' Na linguagem polida, do tempo em que 'Calvinismo' e 'Metodismo'
eram termos sinônimos, e os Metodistas eram chamados 'outra faceta dos
Presbiterianos.'.....
"Foi o Calvinismo, e não o Arminianismo, que originou (tanto quanto qualquer
sistema de doutrina originou) o grande movimento religioso no qual a Igreja
Metodista nasceu.
"Portanto, enquanto Wesley deve ser honrado por seu trabalho em nome daquela
Igreja, não devemos nos esquecer do grande Calvinista, George Whitefield, que deu
àquela Igreja seus começos e o seu caráter mais distintivo. Tivesse ele vivido mais
tempo, e não se afastado do pensamento de ser o fundador de uma Igreja, muito
diferente teriam sido os resultados das suas labutas. Como foi, ele reuniu
congregações para que outros organizassem em Igrejas, e construiu templos para que
outros pregassem neles." 73
Neste ponto, deveria ser dito que Wesley acreditava em bruxarias. Deixar de acreditar
em bruxas ser-lhe-ia creditado como uma concessão para infiéis e racionalistas.
Muitos dos seus biógrafos passaram por este assunto em silêncio, embora alguns
deles, muito amigavelmente para com a sua causa tenham admitido que ele declarou
as suas crenças com palavras que não podem ser incompreendidas. No seu diário,
lemos este relato de uma garota que estava sofrendo convulsões: "Quando perguntado
qual era o problema com ela, o velho Doutor Alexander respondeu, 'É o que
antigamente eles chamariam estar enfeitiçada'. E por que eles não chamariam assim
hoje? Porque os infiéis gritaram e espantaram a feitiçaria do mundo; e os Cristãos
complacentes, em grande número, uniram-se a eles nos seus gritos." Embora Calvino
tivesse vivido como duzentos e vinte e cinco anos antes de Wesley e não tivesse as
vantagens do progresso intelectual e científico que foi conquistado naquele período,
não encontramos nele esta estranha credulidade. Seus escritos são não somente
isentos de brucharias, mas contém numerosos alertas contra tal crença.
O famoso Batista Inglês Charles Hadden Spurgeon (1834 - 1892), um dos maiores
pregadores do mundo, pronunciou-se como segue:
"Eu nunca me envergonho de apresentar-me publicamente como um Calvinista. Eu
não hesito em tomar o nome de Batista; mas se for perguntado o que é o meu credo,
eu respondo, 'É Jesus Cristo.' "
E de novo, "Muitos dos nossos pregadores Calvinistas não alimentam o povo de
Deus. Eles crêem na eleição, mas não pregam sobre ela. Eles consideram verdadeira a
redenção particular, mas guardam-na do cofre do seu credo e nunca a proclamam
abertamente no seu ministério. Eles sustentam a perseverança final, mas eles
perseveram em manterem-se calados a respeito. Eles acham que existe coisa tal como
chamada eficaz, mas eles não acham que sejam chamados freqüentemente para
pregar a respeito. A grande falta que encontramos neles é que eles não falam
abertamente sobre o que crêem. Você não saberia, se os ouvisse cinqüenta vezes, se
as doutrinas de que falaram eram doutrinas do Evangelho, ou qual era o seu sistema
de salvação. E assim é que o povo de Deus passa fome."
Quando passamos ao estudo de missões estrangeiras, vemos que este sistema de
crença tem sido a agência mais importante na multiplicação do Evangelho para
nações pagãs. St. Paul, quem os oponentes mais liberais do Calvinismo admitem ter
sido responsável pela casta Calvinista do pensamento teológico da Igreja, foi o maior
e mais influente dos missionários. Se enumeramos o time de heróis de Missões
Protestantes, vemos que quase que sem exceção eles foram discípulos de Calvino.
Encontramos Carey e Martin na Índia, Livingstone e Moffat na África, Morrison na
China, Paton nos Mares do Sul; e uma multidão de outros. Estes homens professavam
e possuíam um Calvinismo não estático, mas dinâmico; não era somente o seu credo,
mas a sua conduta.
E com relação a missões estrangeiras, o Dr. F. W. Loetscher disse: "Embora como
todas nossas Igrejas irmãs nós tenhamos motivos para, à vista dos nossos recursos
sem precedentes e da necessidade gritante das terras pagãs, lamentar que não
tenhamos conseguido mais, podemos pelo menos agradecer a Deus que os nossos
venerados pais começaram tão bem, ao estabelecer missões em todo o mundo; que as
Igrejas Calvinistas hoje em dia ultrapassam todas as demais nas suas contribuições
para esta causa; e em particular que a nossa própria denominação tenha a honra e o
privilégio ímpares de descarregar as suas responsabilidades de longo alcance por
realmente confrontar cada uma das grandes religiões não Cristãs, e pregar o
Evangelho em mais continentes, e entre mais nações, povos e línguas, do que
qualquer outra Igreja evangélica no mundo." 74
Embora para alguns possa parecer como um exagero injustificável, não hesitamos
dizer que através dos séculos o Calvinismo, destemidamente e com polêmico alarde
na sua insistência pela, e na defesa da sã doutrina, tem sido a verdadeira força da
Igreja Cristã. Os padrões tradicionalmente elevados das Igrejas Calvinistas com
relação à cultura e ao treinamento ministerial, têm propiciado uma grande seara no
trazer as multidões até os pés de Jesus, não em excitação efêmera, mas num pacto
perpétuo. A julgar pelos frutos, o Calvinismo tem se provado ser incomparavelmente
a maior força evangelizadora no mundo.
Os inimigos do Calvinismo não são capazes de honestamente confrontar o
testemunho da história. Certamente que um recorde glorioso pertence a este sistema
teológico, na história da civilização moderna. Nenhum mais nobre pode ser
encontrado em qualquer lugar. "Tem sido um mistério constante para os assim
chamados liberais", diz Henry Ward Beecher, "que os Calvinistas, com o que eles
consideram doutrinas e pontos de vista rígidos e toscamente déspotas, fossem sempre
os defensores mais ferrenhos e mais bravos da liberdade. O operar para a liberdade,
destes severos princípios nas mentes de todos aqueles que os adotaram tem sido um
mistério. Mas a verdade está aqui: O Calvinismo tem feito o que nenhuma outra
religião jamais foi capaz de fazer. Ele apresenta o mais alto ideal humano para o
mundo, e elimina totalmente a estrada para a destruição, com a bateria mais poderosa
que se possa jamais imaginar.
"O Calvinismo intensifica, além de todos exemplos, a individualidade do homem e
mostra, numa luz clara e super potente, a sua responsabilidade para com Deus e suas
relações com a eternidade. Ele aponta o homem como adentrando à vida sob o peso
duma tremenda responsabilidade, tendo na sua marcha em direção ao túmulo, este
único consolo -- da segurança do céu e do livramento do inferno.
"Assim o Calvinista vê o homem pressionado, incomodado, exortado, pelas forças
mais poderosamente influentes. Ele está na marcha para a eternidade, e cedo deverá
estar sendo coroado no céu ou queimando no inferno, e assim continuará por toda a
eternidade. Quem ousará deter tal criatura? Saia do seu caminho! Não interfira, ou
faça-o com o risco da sua própria alma. Deixe-o livre para encontrar o seu caminho
para Deus. Não interfira com ele ou com os seus direitos. Deixe-o operar a sua
própria salvação conforme puder. Não se pode pressionar ou empurrar uma criatura
que esteja em tal corrida como esta -- uma corrida cujo final será a glória eterna ou a
inalterável danação para sempre e sempre." 75
"Esta árvore", para adotar o parágrafo eloqüente de outro, "pode ter, aos olhos
preconceituosos, a casca muito grossa, o tronco cheio de nós e galhos feios
retorcidos, conferindo-lhe formas totalmente sem graciosidade. Mas, lembre-se, não
estamos falando de salgueiros de outrora. Estes galhos foram retorcidos com a força
de tempestades sofridas por mil anos; este tronco foi marcado por relâmpagos e
ganhou cicatrizes das faíscas e dos desastres; e a casca em toda sua extensão traz as
marcas do machado de batalha e das balas. Este velho carvalho não tem a graça
maleável ou a maciez aveludada de uma planta de estufa, mas tem uma majestade
acima da graciosidade, e uma grandeza além da beleza. Suas raízes podem ser
estranhamente retorcidas, mas algumas delas foram enriquecidas com o sangue de
gloriosos campos de batalha, algumas delas enrodilharam-se ao redor de estacas
fincadas para o suplício e morte de mártires; algumas delas podem estar agora
escondidas em celas de prisões ou em bibliotecas vazias, onde grandes pensadores
meditaram e oraram profundamente, como numa Patmos apocalíptica; e esta grande
raiz muda de rumo até torcer-se, envolvendo e abraçando amorosamente a cruz do
Calvário. Os seus galhos podem ser retorcidos, mas eles vestem-se com tudo o quanto
é mais rico e mais forte na civilização e no Cristianismo da história humana." 76
A medida em que pesquisamos este sistema, sentimo-nos como alguém defronte ao
manual de um grande órgão. Nossos dedos tocam as teclas, e toque após toque vamos
abrindo os registros, até que todo o coro responda, numa grande harmonia. O
Calvinismo toca a música da vida, porque primeiro e acima de tudo busca o Criador e
O encontra em todos lugares. Ou de novo, como se estivéssemos fora, no espaço; a
grande redoma celestial sobre nós, a extrema expansão da eternidade em toda a volta
das nossas almas e acima de tudo, está DEUS. Ou de novo, se encontrássemo-nos,
como se fosse, sobre rochedos; o descampado às nossas costas, uma ravina à nossa
frente, o poderoso rio do tempo com sua torrente em direção à eternidade, o sol no
zênite sobre nós, tudo em radiante luz e calor, e a um primeiro sussurro, nossas almas
ecoam de volta as palavras, "Ó profundidade da riqueza!" Pois o Calvinismo nos
mostra Deus e segue Suas pegadas, -- Deus, em toda a Sua grandeza, em toda a Sua
majestade, em toda a Sua sabedoria, em toda a Sua justiça, em todo o Seu amor. O
Calvinismo nos mostra Deus alto e elevado; e nossas almas clamam novamente, 'que
é o homem, para que te lembres dele?'[Salmo 8:4]."
Não se trata de um elogio vão e vazio ao Calvinismo. Com os fatos e observações
acima, cada leitor da história, esclarecido e imparcial, concordará. Ademais, o autor
deseja dizer deste livro o que o Dr. E. W. Smith disse no seu livro "O Credo dos
Presbiterianos", no final do capítulo I - "O Credo Testado Pelos Seus Frutos", --
nominalmente que estes fatos e observações são "apresentados, não para estimular
vaidade denominacional, mas para encher-nos com gratidão a Deus por aquela
história passada e aquele eminência do presente, que deveria ser para cada um de nós.
'Um terreno vantajoso para a nobreza'; e acima de tudo, atiçar nos nossos corações
um entusiasmo santo por aquele sistema Divino da verdade, o qual, sob Deus, tem
sido o fator mais importante na construção da América e do mundo moderno."
Para concluir, diríamos que o leitor encontrou neste livro uma divindade bem antiga
-- divindade tão antiga quanto a Bíblia, tão antiga e mais antiga que o próprio mundo,
uma vez que este plano de redenção estava oculto nos eternos conselhos de Deus.
Nenhuma tentativa foi feita para ocultar o fato de que as doutrinas advogadas e
defendidas nestas páginas são verdadeiramente maravilhosas e verdadeiramente
impressionantes. Elas são suficientes para eletrizar o pecador adormecido que
presumiu durante toda a sua vida que poderia 'ajeitar as coisas' com Deus a qualquer
momento que lhe convenha; e estas doutrinas são suficientes para horrorizar o "santo"
adormecido que tem se iludido na tranqüilidade amortecida de uma religião carnal.
Mas por que não deveriam elas causar espanto? As maravilhas não abundam na
natureza? Porque não revelação? Uma pessoa precisa ler somente um pouco para ver
de que a Ciência traz à luz muitas verdades assombrosas que alguém não instruído
acha difícil, senão impossível de acreditar; então por que não deveria ser assim
também com relação às verdades de Revelação e aquele espiritualmente sem
instrução? Se o Evangelho não atemorizar e assustar e maravilhar um indivíduo
quando lhe apresentado, então não se trata do verdadeiro Evangelho. Mas quem
jamais maravilhou-se com o Arminianismo, com a sua doutrina de que cada homem
constrói o seu próprio destino? Não satisfará, simplesmente ignorar ou ridicularizar
estas doutrinas, como muitos estão inclinados a fazer. A questão é, Estas doutrinas
são verdadeiras? Se elas são verdadeiras, por que ridicularizá-las? Se elas não são
verdadeiras, refute-as. Terminamos com a declaração de que este grandioso sistema
de religião, pensamento o qual carrega o nome de Calvino, não é nada mais e nada
menos que a esperança do mundo.