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IWoz A Verdadeira Historia Da Apple Segundo Seu Cofundador Steve Wozniak e Gina Smith PDF
IWoz A Verdadeira Historia Da Apple Segundo Seu Cofundador Steve Wozniak e Gina Smith PDF
Esqueci de mencionar que meu pai era, de certa maneira, famoso. Ele
foi um jogador de futebol americano de sucesso na Caltech.* As pessoas
costumavam me dizer o tempo todo que iam assistir aos jogos somente
para ver Jerry Wozniak. E minha mãe foi fantástica para mim e para meus
irmãos menores. Ela nos esperava em casa quando chegávamos da escola e
era agradável e interessante; sempre nos dava algo especial para comer – e
era sempre divertida! Penso que foi dela – definitivamente não de meu pai
– que puxei meu senso de humor. As peças que gosto de pregar nas
pessoas; as piadas. Venho aprontando brincadeiras com os outros já há
muitos anos. Penso que se possa agradecer à minha mãe por isso. Ela tinha
um maravilhoso senso de humor.
Em 1962, quando estava no sexto ano, minha mãe defendia totalmente
a política do Partido Republicano. Ela deu enorme apoio a Richard Nixon
quando ele disputou o governo da Califórnia. Certa vez, houve um evento
em San Jose no qual Nixon faria um discurso e ela disse: “Oh, Steve, por que
você não vem junto?”. Minha mãe tinha um plano, uma brincadeira que eu
poderia aprontar. Ela queria que eu me encontrasse com Nixon e lhe
dissesse, abrindo um pedaço de papel, que eu representava os Operadores
de Radioamador da Escola da Serra, e que nosso grupo apoiava
unanimemente a eleição dele para governador. A brincadeira estava no fato
de eu ser o único operador de radioamador do sexto ano da escola, e
provavelmente o mais jovem em todo o estado. Mas fiz isso. Caminhei até
Nixon e apresentei-lhe o papel, que escrevemos com um lápis de cera um
pouco antes de sair de casa.
Eu disse: “Tenho algo para você”. Nixon parecia gentil e sorriu para
mim. Achei-o bastante polido. Ele assinou um de meus cadernos da escola.
Eu ainda o guardo com a caneta que ele me deu depois de assinar. Cerca de
vinte flashes pipocaram e eu acabei aparecendo na primeira página do San
Jose Mercury News. Eu! O único operador de radioamador da escola, e
provavelmente o mais jovem em todo o estado, representando um clube
composto por ninguém mais a não ser eu mesmo, entregando a Nixon um
certificado falso. E todos acreditaram. Nossa!
Foi divertido e tudo, mas algo me incomodou, e digo que continua me
incomodando até hoje. Por que ninguém percebeu a brincadeira? Ninguém
checa os fatos? A chamada do jornal dizia algo como: “Steve Wozniak, aluno
do sexto ano, representa um grupo da escola a favor de Nixon”. Eles não
entenderam que não existia grupo algum da escola, que era tudo uma
brincadeira que minha mãe havia preparado para mim. Isso me fez pensar
ser possível contar qualquer coisa a um jornalista ou a um político que eles
simplesmente acreditariam. Isso me deixou chocado – foi uma brincadeira
que todos consideraram fato sem nem mesmo pensar duas vezes a
respeito. Aprendi com isso que, em geral, as pessoas acreditam no que
contam para elas – tanto brincadeiras quanto histórias malucas.
Meu Herói
Tom Swift Jr. era o herói de toda uma série de histórias de aventuras infantis publicadas
pela mesma editora (Stratemeyer Publishing) que publicava Nancy Drew e Hardy Boys.
James Lawrence, que disse ter profundo interesse em ciência e tecnologia, foi autor da
maioria dos livros. Já mencionei Bud Barclay, melhor amigo de Tom Swift Jr., mas as
histórias tinham outros elementos em comum. Todos que as leram devem se lembrar dos
espiões covardes dos países do Leste Europeu, como “Brungaria”, e um elemento
surpreendentemente capaz chamado “Tomasite”, que conseguia fazer qualquer coisa
movida a energia atômica.
Um enredo famoso – acredito que no volume 22 – envolveu dinossauros regenerados
cientificamente. E isso décadas antes de O parque dos dinossauros.
No sexto ano, aprendi passo a passo a montar portas AND (E) e portas
OR (OU), elementos básicos da tecnologia da computação. Os circuitos
digitais descobrem tudo – e quero dizer tudo mesmo – com base no que
está ligado (os 1s) e no que está desligado (os 0s).
Eu estava aprendendo Lógica de verdade. Meu pai me ajudou a
entender Lógica utilizando o clássico jogo da velha com caneta e papel. Se
compreender Lógica, você jamais, nunca, perde esse jogo. E foi nisso que
baseei meu próximo projeto: uma máquina de jogo da velha. A máquina
que desenvolvi nunca perderia. O jogo da velha é um jogo totalmente
lógico, mas também é um jogo psicológico, porque pode-se vencer alguém
que pensa ser impossível ser derrotado. Se o X está aqui e o outro X está ali,
qual deve ser o resultado? O tabuleiro de compensado coberto de peças foi
um enorme projeto. Ter um enorme projeto é uma boa parte do
aprendizado de Engenharia – do aprendizado de qualquer coisa,
provavelmente.
Executar trabalhos bastante longos, que não são simples e rápidos de
executar como uma lanterna, mas projetos que levam semanas para ser
realizados, de fato demonstra que a pessoa dominou algo grande. Como,
por exemplo, criar uma máquina computadorizada de jogo da velha que de
fato funcionasse pela Lógica.
Infelizmente, porém, o sistema não venceu. Ele explodiu. Explico: na
noite anterior à competição, alguns dos transistores começaram a soltar
fumaça. Obviamente, algo estava errado. Eu sabia que demoraria muito
para descobrir que pedaço do equipamento havia explodido e que de forma
nenhuma conseguiria consertar a tempo para participar da competição.
Esse episódio foi um grande desapontamento porque gosto de vencer.
Desde que consigo me lembrar, sempre quis ser o melhor em tudo. E fui
muitas vezes, quando tive sorte.
Mas também pensei na época que, para mim, não era fundamental
apenas vencer a feira de ciências, porque eu sabia, assim como meu pai,
que eu de fato criara uma máquina de lógica bastante complicada e que ela
havia funcionado.
O que quero dizer é o seguinte: mesmo sendo criança, era óbvio para
mim, já naquela época, o que deveria ser considerado realmente
importante. Assim, pensei: Veja, mostrar para alguém um prêmio ganho em
uma feira de ciências não é tão importante quanto saber que você já tem o
prêmio em algum lugar de sua casa. E isso, por sua vez, não é tão importante
quanto tê-lo ganho, mesmo que você não tenha o prêmio em casa. E isso não é
tão importante quanto a coisa mais importante de todas: o fato de você ter
aprendido e feito tudo sozinho. Aprendi isso com minha máquina de jogo da
velha e ela chegou muito perto de ser concluída. Ainda tenho orgulho disso.
Para mim, o que mais importa é a Engenharia, não a glória.
Durante a maior parte do ensino básico, fui um pouco tímido, mas pelo
menos tive muitos amigos e era realmente atlético. Eu era o líder de fato
dos Garotos Eletrônicos, porque possuía conhecimentos suficientes sobre
tudo que precisávamos saber para criar o que queríamos. Esse era um
grupo muito unido, formado por garotos da vizinhança, o que era muito
bom. Eu adorava me superar nas mais variadas atividades e ser
reconhecido por isso. Não por ego, mas apenas por um impulso de ser o
melhor.
Eu era bom em natação e em futebol americano e participei do All-
Stars* da liga infantil, onde os outros garotos me disseram que fui o melhor
rebatedor, corredor e arremessador dos times pelos quais passei. No
quinto ano eu era o aluno mais inteligente da classe, pelo menos de acordo
com meus professores, e fui eleito vice--presidente dos representantes de
classe. Parece que estou me exibindo? Sei que parece, mas não é minha
intenção. Simplesmente tenho muito orgulho disso tudo. Todas essas
atividades elevaram minha autoestima e foram parte importante de meu
desenvolvimento como pessoa.
Porém, a situação mudou no sexto ano. Eu não era mais tão popular. De
fato, era como se eu repentinamente tivesse ficado invisível. De uma hora
para outra, os outros garotos deixaram de me valorizar pelos meus
conhecimentos em Matemática e Ciências, o que de fato me incomodou.
Afinal, eu era o melhor justamente nisso. Foi uma época em que muitos
alunos começaram a flertar com as meninas e a se envolver em todo tipo de
conversa fiada que não me interessava. Assim, eu não era incluído. Minha
timidez natural colocou-me para baixo no sexto ano. Parei de gostar tanto
da escola. Do ponto de vista social, fui direto para o fundo do poço.
Penso nos anos seguintes, em especial no sétimo e no oitavo, como
anos terríveis. Foi uma época em que, se antes eu era popular, andava de
bicicleta e tudo mais, de uma ora para outra passei a ser colocado de lado.
Parecia que ninguém mais gastava muito tempo para falar comigo. Eu fazia
parte das classes avançadas e tirava boas notas, mas não via muito prazer
nisso.
A título de exemplo, lembro-me de poucos professores com os quais
tive aula naquela época.
Minha única explicação para isso é que quando garotos dessa idade
começam a se socializar, sua posição no grupo passa a ter importância para
muitas pessoas. Vi isso acontecer com meus filhos e com os meninos para
os quais dou aula. Quem são os que conversam? Quem toma as decisões?
Quem vai para o topo? Pelo fato de ter--me tornado tão tímido ao atingir a
adolescência, eu simplesmente desapareci. O que foi um tremendo choque
para mim. Exceto pelos projetos de ciências, que ainda me traziam
reconhecimento por parte dos professores e dos adultos, eu me sentia
terrivelmente estranho. Não conseguia mais me identificar com os outros
garotos de minha idade. A forma como falavam – sentia como se não
entendesse mais a linguagem deles. E tinha muito medo de falar porque
pensava que iria dizer a coisa errada.
Ao mesmo tempo, comecei a me sentir sempre um passo à frente em
termos de Ciências e de eletrônica, e sentia estar sendo evitado por todos
aqueles garotos, que, de repente e sem nenhum motivo que eu pudesse
compreender, simplesmente não me aceitavam mais. Fiz eletrônica quando
muitos outros começaram a sair, ir a festas, beber – e a namorar.
Tendo começado no sexto ano, de muitas maneiras, essa timidez ainda
está comigo. Mesmo hoje. Tenho amigos que simplesmente conversam com
todo mundo. Eles são agradáveis e fazem amizade com muita facilidade.
Conseguem entabular conversas triviais. Eu não consigo. Dou palestras
porque tenho trinta anos de experiência na minha área de atuação e utilizo
técnicas para tornar minha apresentação mais fácil; técnicas que adquiri
aos poucos, ao longo dos anos, por falar em público. Faço um monte de
piadas para todo mundo rir. Ou crio e mostro algum dispositivo eletrônico
para as pessoas virem falar comigo sobre ele.
Ou – e talvez você saiba disso a meu respeito – simplesmente quebro o
gelo e faço as pessoas rir com as brincadeiras que faço com elas. Com
certeza eu poderia escrever um livro inteiro só com essas brincadeiras.
Mais tarde, muito mais tarde, encontrei um grupo no qual ser nerd era
mais legal. Em meados da década de 1970, alguns anos antes de fundarmos
a Apple, entrei em um clube chamado Homebrew Computer Club [Clube de
Aplicativos Caseiros de Computador]. Eu adorava esse grupo e participei de
quase todas as reuniões, desde a época em que os membros começaram a
se encontrar na garagem de Gordon French, em Menlo Park, todas as
quartas-feiras, de 1975 até 1977 (ano em que fundamos a Apple). Essas
pessoas tinham o mesmo sonho que eu: desenvolver um computador que
todo mundo pudesse comprar e utilizar. Portanto, eram minha turma. O
primeiro foco do grupo foi um aparelho do tipo “faça você mesmo”
chamado Altair (que poderia ser expandido para um computador utilizável
desde que se gastasse uma enorme quantidade de dinheiro) e as coisas que
se podia fazer com ele. O grupo costumava separar uma hora ou mais para
pronunciamentos diversos (chamado “período de acesso aleatório”), tempo
durante o qual qualquer um que tivesse algo a dizer poderia falar, bastava
levantar a mão.
Eu tinha muito a falar, mas não conseguia levantar a mão ou dizer
qualquer coisa. Eu costumava ficar sentado na ponta da cadeira ouvindo os
outros contar todos os rumores da indústria sobre quais seriam as
próximas tecnologias disponíveis. Eu era tímido a esse ponto. Ficava
sentado na última fila, exatamente como no ensino fundamental.
Por fim, acabei tendo de me levantar e mostrar para todos os membros
do Homebrew dois computadores que eu havia desenvolvido (um deles se
tornou a base para os projetos do Apple I). Assim que as pessoas viram o
que eu havia feito, e que era algo realmente impressionante, de repente
todos nós passamos a ter assunto para conversar.
Do ensino fundamental em diante, mesmo até o início da Apple e mais
além, eu utilizava meus projetos engenhosos como um meio mais fácil e
confortável de me comunicar com as pessoas. Acredito que todo ser
humano tenha em si a necessidade de socializar. No meu caso, ela surgiu
principalmente ao fazer algumas coisas impressionantes, como aparelhos
eletrônicos, e outras vistosas e inteligentes, como pregar peças nos outros.
Foi provavelmente a timidez que me colocou, do sexto ano em diante,
na caça de revistas sobre eletrônica. Dessa forma, eu poderia ler sobre esse
assunto sem realmente precisar me dirigir a alguém para fazer perguntas.
Eu era muito tímido até para ir à biblioteca e pedir um livro sobre
computadores chamado Computers [Computadores]. Por ser muito tímido
para aprender da forma normal, acabei obtendo acidentalmente o que para
mim considero o conhecimento mais importante do mundo.
Então, no ensino médio, tudo mudou mais uma vez. Grande parte disso
tem a ver com o senhor McCollum, professor de eletrônica, que exerceu
enorme influência em mim.
O senhor McCollum era um sujeito interessante. Um dos motivos para
tal é que ele havia sido militar antes de ser professor, o que significava que
ele contava um monte de piadas, até mesmo piadas de mau gosto. Portanto,
dava-se muito bem com seus alunos. É preciso ter em mente que, naquela
época, uma classe de eletrônica era composta principalmente por alunos de
menor desempenho escolar. A eletrônica era como um curso técnico. Havia
poucos estudantes de eletrônica, como eu, que eram bons em outras
matérias. Lembre-se de que eu era um prodígio da Matemática, tanto que
ganhei um prêmio quando me graduei no ensino fundamental, além de
alguns prêmios anuais de Matemática durante o ensino médio.
Junte Matemática com eletrônica e o resultado é o que chamamos
Engenharia.
O senhor McCollum ficava lá parado diante de nós fazendo cálculos
com sua grande régua de cálculo amarela. Ele fazia mais cálculos com essa
régua do que costumávamos fazer em Química. Foi um curso bastante
intensivo, que o senhor McCollum idealizou sozinho. Ele escreveu apostilas
que seguiam uma ordem lógica – passo a passo, subindo a escada da
eletrônica. Aprendíamos algo sobre resistores, depois um tema um pouco
mais complicado, em seguida aprendíamos algo mais simples e de forma
mais rápida, e depois tirávamos nossas conclusões. Era uma maneira tão
boa de ensinar eletrônica que a utilizei mais tarde, quando dei aula em meu
próprio curso de informática.
O senhor McCollum tinha uma coleção fantástica de equipamentos
eletrônicos; alguns aparelhos eram realmente avançados. Todos eram
equipamentos de testes que eu nunca poderia comprar sozinho – e
melhores até mesmo que os existentes em muitos laboratórios de colégio
da época. O senhor McCollum era pródigo em obter novos recursos, prova
disso é que fez a escola comprar kits de eletrônica mais baratos nos
primeiros anos do Colégio Homestead de Ensino Médio. À medida que seus
alunos iam aprendendo eletrônica, montavam kits de equipamentos que os
levavam um passo além. Em meu último ano de escola, tínhamos
laboratórios bastante completos.
Assim, tínhamos muitos equipamentos. Era uma aula divertida.
Criávamos coisas que funcionavam. Não parávamos de descobrir coisas que
havíamos esquecido ou feito errado até que nossas criações funcionassem.
Aprendíamos sobre o que acontece quando as coisas dão errado, que é a
primeira coisa que ex-alunos de eletrônica sempre se lembram sobre as
aulas. De vez em quando, todos nós levávamos choques acidentais. Certa
vez, levei um choque de 22 mil volts de um aparelho de televisão que me
fez voar cerca de um metro e meio. Mas juro que quem mexe com vários
tipos de equipamentos eletrônicos como eu mexia na época acaba se
acostumando. Crescemos sem tanto medo de choque como as outras
pessoas.
Hoje tenho uma roleta-russa de choque: quatro pessoas com uma
vareta em seus polegares e, com o acompanhamento de música e luzes
piscando, a roleta vai gradualmente parando de girar até que alguém leve
um choque. O pessoal que trabalha com hardware participa desse jogo, mas
o pessoal de software é muito medroso.
O senhor McCollum me deixava fazer o que eu quisesse – até me
impediu de ficar entediado deixando-me ir trabalhar às sextas-feiras em
uma empresa durante o horário da aula. Essa empresa chamava-se Sylvania
e localizava-se em Sunnyvale. Foi nela que aprendi a programar um
computador. O senhor McCollum dizia que eu sabia tudo do curso dele e
que ficava apenas pregando peças nos outros alunos. A verdade é que não
tínhamos um computador na escola, logo, na Sylvania, foi a primeira vez
que realmente fiquei frente a frente com um computador que pudesse
programar, e depois dessa experiência não havia mais como voltar atrás.
Nunca pensei que ficaria perto de um computador em minha vida.
Pensei: Oh, meu Deus! Computadores! Comprei um livro de programação na
linguagem FORTRAN e disse a mim mesmo que aprenderia como
programar. Um engenheiro da Sylvania me ensinou como utilizar uma
perfuradora de cartões. Lembro-me de digitar meu primeiro pequeno
programa e dele me ajudando a colocá-lo no computador para rodar.
O primeiro programa de verdade que tentei desenvolver chamava-se
Knight’s Tour [Passeio do Cavaleiro]. Nele o cavalo era movido por todo o
tabuleiro de xadrez, mas somente através do movimento válido para o
cavalo, segundo as regras do jogo. O objetivo era fazê-lo ocupar cada uma
das 64 casas do tabuleiro exatamente uma única vez. Não é algo fácil de
fazer. Desenvolvi meu programa para subir duas casas, depois uma para
cada lado, tentando todos os movimentos até o cavalo não poder mais se
mexer. Se o cavalo não atingisse todas as casas quando ficava imobilizado, o
programa voltava e mudava um movimento para tentar novamente a partir
daquele ponto. Ele voltava tantas vezes quantas fossem necessárias e
depois seguia avançando. Aquele computador podia calcular um milhão de
instruções por segundo, portanto, imaginei que seria uma barbada e que o
problema seria resolvido rapidamente.
E lá estava eu com o programa, planejando como ele seria apenas o
início, que depois dele eu iria resolver todos os problemas sofisticados do
mundo, mas adivinhem o que aconteceu? O computador não devolveu
nada. Suas luzes deram uma piscada e depois simplesmente ficaram
paradas. Nada estava acontecendo. Meu amigo engenheiro deixou o
programa rodar um pouco mais e disse: “Bem, provavelmente está em
loop”. Então ele me mostrou o que é um loop infinito – quando um
programa fica preso fazendo a mesma coisa sem parar e sem nunca
terminar (apenas como parênteses, o nome da rua onde atualmente se
localiza a sede da Apple chama-se Infinite Loop, ou seja, Loop Infinito). De
qualquer forma, voltei na semana seguinte e desenvolvi meu programa de
forma que eu pudesse acionar um interruptor para imprimir qualquer que
fosse o arranjo do tabuleiro que ele estivesse trabalhando naquele instante.
Lembro-me de que recolhi os impressos e os estudei naquele mesmo dia,
percebendo algo. O programa estava realmente funcionando da forma
como eu o havia concebido. Eu não tinha feito nada de errado. Mas ele
simplesmente não chegaria a uma solução em 1025 anos. Uma soma de
tempo bem maior que o tempo de existência do universo.
Isso me fez perceber que um milhão de vezes por segundo não resolvia
tudo. Velocidade pura nem sempre é a solução. Muitos problemas
compreensíveis precisam de uma abordagem inteligente e bem pensada
para ter sucesso. A propósito, a abordagem que o computador utiliza para
resolver algo, as regras, os passos e os procedimentos que ele segue
chamam-se algoritmo.
O único problema é que meu pai disse que seria muito caro. Comparada
a algumas universidades estaduais da Nova Inglaterra, ela cobrava a
segunda maior mensalidade dos Estados Unidos para estudantes de fora do
estado do Colorado.
Mas no final, conseguimos estabelecer um acordo. Ele disse que eu
poderia ir para o Colorado em meu primeiro ano e depois, no segundo ano,
para De Anza, uma faculdade pública que ficava perto de casa. Depois disso,
no terceiro ano, eu me transferiria para a Universidade da Califórnia, em
Berkeley, onde o ensino seria muito mais barato. Também me inscrevi em
Berkeley – meus pais me forçaram – e enviei a documentação no último dia
permitido.
Fui aceito no Colorado e meus pais pagaram tudo adiantado naquele
verão, incluindo as taxas de matrícula e de moradia estudantil. Mas depois
meu pai ficou implorando para que eu fosse para De Anza, muito mais
próxima de casa e bem mais barata. Nesse caso, ele poderia me dar um
carro.
Então fui me inscrever em De Anza e vi que as aulas de Química, Física
e Cálculo estavam todas lotadas. O quê? Não pude acreditar. Lá estava eu –
aluno brilhante de Ciências e Matemática no colégio e todo preparado para
ser um engenheiro –, e os três cursos mais importantes, dos quais eu
precisava, já estavam fechados.
Foi horrível. Liguei para o professor de Química e ele me disse que se
eu aparecesse provavelmente conseguiria entrar, mas não consegui afastar
a sensação de que meu futuro estava sendo ameaçado. Eu podia vê-lo se
fechando bem diante de mim. Senti que toda minha carreira acadêmica
seria uma bagunça desde o começo. E foi nesse momento que mudei de
ideia e decidi ver se ainda seria possível ir para o Colorado.
Lá a escola já havia começado, mas após alguns telefonemas, descobri
que ainda poderia me inscrever. Eu tinha tudo organizado: o horário de voo
e tudo o mais. Comprei as passagens, fui até o Aeroporto de San Jose e voei
para o Colorado no dia seguinte. Bem a tempo para o terceiro dia de aulas.
Lembro-me de quando cheguei ao campus, no outono, e de pensar
como era bonito o Colorado no início de setembro. As folhas eram
amareladas, alaranjadas e douradas, e senti que tivera muita sorte.
Meu colega de quarto chamava-se Mike. A primeira coisa que percebi
quando entrei no dormitório com minhas malas foi que ele havia colado
cerca de vinte pôsteres da Playboy nas paredes. Nossa! Aquilo era
diferente! Mas achei Mike um sujeito legal, e gostava de ficar ouvindo as
histórias de vida dele como filho de militar, sobre o colégio na Alemanha e
todas as experiências que ele tivera até aquele momento. Ele é bem mais
avançado sexualmente, pensei. Em certas noites, Mike me dizia que queria o
quarto só para ele, e eu sabia o motivo. Então eu respondia: “Está bem. Vou
levar meu gravador comigo e algumas fitas” – Simon & Garfunkel eram
meus favoritos na época. “Vou ficar no quarto de Rich Zenkerer e voltarei
bem mais tarde.” Certa vez, eu estava dormindo em nosso quarto e ele
chegou com uma garota mórmon no meio da noite. Mike era realmente
uma figura.
Além de Mike, eu saía com outros amigos que fiz no dormitório. Fui aos
jogos de futebol americano. Nossa mascote era um búfalo chamado Ralphie
(um nome humilhante para qualquer um!), e um bando de estudantes
vestidos de caubóis corriam com ele em volta do campo antes da partida.
Ralphie era um búfalo de verdade. Lembro-me de meu amigo Rich Zenkere
ter-nos contado que vinte anos antes, o principal rival do Colorado na
época, a Academia da Força Aérea americana, havia conseguido sequestrá-
lo. Quando os jogadores da Academia apareceram para a grande partida,
eles tinham cozinhado e comido o pobre Ralphie.
Acreditei na história na época, mas nunca se sabe quando se trata de
Rich. Ele levava a vida de forma leve e fácil, sempre sorrindo e brincando
com os assuntos mais sérios. Porém, era um tanto desonesto. Nós
trabalhávamos juntos lavando louça no dormitório das meninas e ele
acabou sendo despedido por falsificar cartões de ponto e material.
Passei bastante tempo no dormitório de Rich com os dois colegas de
quarto dele, Randy e Bud, jogando copas, pôquer e bridge. Randy era
interessante para mim por ser um cristão sério – um cristão recém-
convertido –, e os outros dois o atormentavam por causa disso. Como se ele
fosse bobo por ter feito tal escolha. Mas eu costumava passar bastante
tempo conversando com ele sobre suas crenças. Eu nunca tinha tido
nenhum tipo de formação religiosa, por isso ficava impressionado quando
ele dizia coisas como “dar a outra face” e sobre o perdão. Definitivamente,
tornei-me seu amigo. Assim, nós geralmente jogávamos cartas até tarde da
noite, e eu me lembro de pensar: Este é o melhor ano de minha vida. Afinal,
aquela era a primeira vez que eu podia decidir o que fazer com meu tempo
– o que comer, o que vestir, a que aulas assistir e quantas.
Eu estava conhecendo todo tipo de pessoas interessantes. A coisa do
bridge acabou se tornando muito importante para mim. Começamos
jogando aos finais de semana e depois ficamos viciados nisso. Jogávamos
sem ter tido nenhuma experiência antes. Não tínhamos livros, mesas ou
qualquer outra coisa que os jogadores normais de bridge utilizavam.
Simplesmente descobríamos por conta própria quais apostas funcionavam
e quais não funcionavam. Quer dizer, na minha cabeça, o bridge é mais
sofisticado que outros jogos.
Muitos jogos de cartas baseiam-se em “vazas”, nas quais uma pessoa
abaixa uma carta e os outros jogadores a seguem com as próprias cartas, e
a carta de maior valor com o mesmo naipe da primeira carta abaixada
vence. Isso é uma vaza. Já em copas, o objetivo é tentar evitar pegar certas
cartas: por exemplo, cada carta do naipe de copas que uma pessoa pega em
uma rodada conta contra ela. Em espadas tem-se uma primeira rodada de
leilão, em que um jogador aposta quantas vazas fará com seu parceiro – a
pessoa do outro lado da mesa em um jogo com quatro jogadores. Se alguém
apostar que fará cinco vazas e conseguir, ganhará 50 pontos. Mas se uma
pessoa apostar em excesso e não conseguir tantas vazas quantas pensou
que poderia, ela perderá essa mesma quantidade de pontos. Em espadas,
todas as cartas do naipe de espadas têm a característica especial de ser
trunfos em relação às demais.
Mas o bridge é o máximo. Você não apenas aposta em quantas vazas
consegue fazer com seu parceiro (cuja mão você não pode ver), como
também que naipe será o trunfo que baterá todos os demais.
O bridge tem um bom equilíbrio entre estratégias de ataque e defesa.
Ao mesmo tempo, um jogador olha para a própria mão e tenta adivinhar o
que os outros podem ter e passar sinais para o leilão. É preciso jogar
considerando muitos aspectos de uma só vez. Como disse, começamos a
jogar bridge sem conhecer nada. Assim, todos se divertiram, pois
jogávamos no mesmo nível.
O engraçado é que pensávamos ser verdadeiros jogadores de bridge,
mas nunca poderíamos competir com os verdadeiros jogadores. Alguns
anos mais tarde, quando estava trabalhando na Hewlett-Packard, tentei me
juntar a um clube de bridge no edifício onde morava e não consegui sequer
começar a jogar com aquelas mulheres. Quer saber: nunca decorei de fato
todas essas regras de quanto se deve apostar quando se tem determinadas
mãos. Assim, tudo que acabei fazendo foi atrapalhar minha parceira.
Hoje, consigo jogar bridge bastante bem, mas somente porque por anos
a fio, todos os dias, eu lia a coluna de bridge no jornal até decorar as
fórmulas.
O que é FORTRAN?
FORTRAN é uma linguagem de computador desenvolvida nos anos 1950 e ainda bastante
utilizada em computação científica e computação numérica meio século depois. O nome
vem do termo Formula Translation [Tradução de Fórmulas]. Por ser uma linguagem
compilada, é normalmente mais rápida e mais eficiente que uma linguagem interpretada
como o BASIC.
O Golfo de Tonkin
Nem todos que lerem isto vão se lembrar desse incidente, mas o fato de ele ter vindo à
tona foi fundamental na mudança de meus sentimentos em relação à Guerra do Vietnã.
O incidente do Golfo de Tonkin ocorreu em agosto de 1964. Trata-se do alegado ataque,
realizado por barcos de guerra do Vietnã do Norte, contra dois destróieres americanos (o
USS Maddox e o USS C. Turner Joy). Uma investigação posterior indicou que a maior parte
desses supostos ataques de fato não ocorreu.
De acordo com os Papéis do Pentágono e vários outros relatos, tais ataques foram em
grande parte inventados pela administração do presidente americano Lyndon B. Johnson.
A Marinha dos Estados Unidos apoiava o regime sul-vietnamita, que vinha atacando
instalações de processamento de petróleo no Vietnã do Norte, mas foi a CIA que ajudou a
planejar e a apoiar esse episódio, dando assim, ao governo americano, um bom motivo
para envolver os Estados Unidos no conflito.
Depois disso, percebi que o governo faria o que pudesse para obter
vantagem sobre o cidadão, que tudo não passava de um jogo. E isso era
exatamente o oposto da imagem que até aquele momento eu sempre tivera
do governo americano. Esse episódio ensinou-me uma importante lição
sobre governo, autoridade, e até mesmo sobre a polícia: não se pode
confiar que farão a coisa certa.
Então tive de voltar ao conselho de alistamento e solicitar que
mantivessem meu 1A – o que eu seria de qualquer forma, naquele
momento ou mais tarde – e o mesmo número sorteado. Felizmente eles
concordaram.
Não consigo sequer descrever o choque e o desgosto que senti em
relação ao governo dos Estados Unidos: que eles jogariam esse tipo de jogo
com minha vida, que eles não se preocupavam com as pessoas da forma
que meu pai havia me ensinado. Eu pensava que o governo existia para
proteger as pessoas, mas estava enganado. A partir daquele momento,
passei a acreditar que o governo estava disposto a fazer o bem somente
para ele próprio, e que mentiria sobre qualquer coisa que pudesse a fim de
conseguir o que queria. Eles não estavam lá para tomar atitudes sensatas, e
haviam brincado com minha vida da pior maneira possível.
Dali em diante, meu pai e eu entramos em completo desacordo. Nunca
mais confiei em autoridade alguma depois disso. O que é ruim, porque
desde a fundação da Apple e tudo mais, encontrei muitas pessoas boas no
governo americano. Mas ainda assim, essa sensação de desconfiança paira
sobre mim. Dificilmente acredito em algo que leio.
Portanto, entre o tempo em que era criança, quando meu pai me
ensinou uma ética extrema, e o tempo em que percebi o que estava
acontecendo com a Guerra do Vietnã, mudei profundamente; uma mudança
de 180 graus. Tornei-me cético. Parei de acreditar cegamente nas coisas.
Foi um importante ponto de ruptura. Perdi a confiança que sempre tivera
nas instituições, uma confiança que nunca mais voltou.
Jurei a mim mesmo empenhar minha vida para não deixar que algo
como a Guerra do Vietnã algum dia voltasse a acontecer com os jovens.
Talvez você já tenha visto algumas fotos minhas dos tempos de
juventude e achado que eu parecia um hippie. Talvez um pouco. Mas deixe-
me dizer uma coisa: nunca fui, de fato, um hippie.
Até tentei, mas jamais consegui ser o que eles eram – nem nos últimos
anos do colégio nem na faculdade, onde inúmeros protestos estavam
acontecendo. Tentei me entrosar com os hippies porque tínhamos os
mesmos pontos de vista políticos, mas como não usava drogas, eles
normalmente me pediam para ir embora. Mas mesmo assim eu queria ficar
perto deles, pois sentia que minha mente era muito aberta – tão aberta
quanto a deles – e que tinha dentro de mim tudo o que defendiam. Queria
que fossem abertos comigo, mas as drogas ficavam no caminho. Os hippies
não confiavam em mim porque eu não usava drogas com eles.
Eu acreditava em quase tudo que eles estavam tentando fazer. Sabia
que tudo o que lia sobre os hippies e suas crenças no final dos anos 1960 –
movimento do amor livre, pôr flores nas armas e tal – tinha a ver com quem
eu era e com quem eu queria ser. Acreditava (da mesma forma que os
hippies) que todos deveriam ser capazes de se dar bem uns com os outros e
ajudar uns aos outros a viver qualquer que fosse o tipo de vida que
desejassem. Acreditava também ser possível um mundo sem estruturas,
leis, organização ou política.
As pessoas deveriam simplesmente concordar em viver juntas e ser
boas. Eu acreditava nisso de verdade. Fui tremendamente influenciado
pelos pensamentos e filosofias hippies.
Na época, eu usava um tipo de faixa indígena na cabeça, tinha o cabelo
bastante comprido e havia deixado a barba crescer. Do pescoço para cima
eu parecia Jesus Cristo, mas do pescoço para baixo ainda usava roupas de
jovens normais, roupas de um jovem engenheiro: calças compridas e
camisa com colarinho. Nunca usei as roupas estranhas dos hippies. Eu ainda
estava no meio-termo; ainda me portava do jeito que havia sido criado. Não
importava quanto tentasse, era como se não conseguisse sair do normal.
Hippie era um modo de vida, não apenas uma questão de roupas ou cabelo,
e eu não levava aquele tipo de vida. Não morava em lugares estranhos, sem
dinheiro, e com estranhas cortinas nas janelas. E não usava drogas. Não
queria.
Naqueles tempos, o fato de não usar drogas e de não beber tornou-me
realmente um sujeito diferente. Isto é, na época, em especial durante meu
segundo ano na De Anza e nos anos seguintes, as pessoas diziam coisas
como: “Oh, usar LSD pode expandir sua mente”. Lembro-me de um sujeito –
chamava-se John – que afirmava que todos os As que tirara na escola ele os
havia conseguido quando estava drogado.
Pensei comigo: Bem, se as drogas forem realmente boas para a mente e
puderem fazer as pessoas pensar melhor, então espere um minuto! Quando se
usa drogas, é a pessoa mais as drogas que estão funcionando, certo? Não é
apenas a pessoa. E eu realmente queria ser bem-sucedido na vida apenas
por mim e por minha mente (sozinha). Eu sabia que era brilhante e que
meu cérebro me levaria longe. Não queria conseguir as coisas com um
cérebro “aditivado”. Queria ser julgado pela minha capacidade, pelo que fiz
ou pensei sozinho. Essa era minha opinião sobre as drogas, e repito: nunca
usei nenhuma.
O mesmo valia para as bebidas: nunca fiquei bêbado até 1980, quando
tinha 30 anos de idade. E isso aconteceu em meu primeiro voo
internacional, com destino ao Sri Lanka. Como estava extremamente
apavorado, comecei a beber. E como não tinha certeza se deixavam
passageiros embriagados sair do avião, procurei desembarcar sem ajuda, e
acabei contando uma piada horrível para um funcionário da alfândega:
“Uma moça que nunca havia visto um elefante antes viu um perdido no
quintal dela. Gritando, ela chamou a polícia. ‘Tem um animal enorme no
meu quintal’, ela disse. ‘Ele está pegando os legumes com o rabo! E você
não vai acreditar onde ele os está colocando!’”.
Não me lembro se ele riu ou não. Acho que não. Não é uma piada que
eu normalmente contaria. É boba e um pouco grosseira.
Seja como for, nunca gostei de álcool. Ele faz as pessoas agir de maneira
ruidosa e descontrolada. Meu pai, por exemplo, costumava beber martínis.
E sempre notei como ele raciocinava de forma diferente quando ficava
bêbado. Principalmente quando ficou mais velho, achei que o tanto que ele
bebia e depois gritava com minha mãe havia saído do controle, afinal, meu
pai não era assim quando não estava sob efeito do álcool.
Portanto, eu não bebia nem consumia drogas, e, como já disse, isso era
um pouco esquisito para os hippies com quem queria fazer amizade
(pessoas que pensavam como eu em todos os outros assuntos). Uma coisa
triste. Durante o segundo ano na De Anza, lembro-me de quando dirigi meu
primeiro carro até Santa Cruz. Isso foi na época em que havia gente
pedindo carona em todos os lugares (o carro que eu dirigia era um
conversível de cor violeta que denominei Hubbs, em homenagem a um
professor de Química esquisito que eu tinha, mas essa piada não teve lá
muita graça, pois nem o carro nem o professor eram de fato tão esquisitos
assim).
Seja como for, parei e dei carona para um grupo de pessoas.
Definitivamente, eram todos hippies. Levei-os até Santa Cruz. Lá, passamos
algum tempo juntos, caminhando pelas passarelas de madeira, quando
percebi que uma das moças, sentada em um banco, estava amamentando.
Amamentando! Nunca tinha visto aquilo antes! Virei o rosto bem
rapidamente, mas a visão de tal cena causou uma forte impressão em mim.
Comecei a conversar com ela e imediatamente me apaixonei tanto por ela
quanto por seu bebê. Acontece que ela, o bebê e um bando de gente viviam
todos juntos em uma comunidade próxima à minha casa em Sunnyvale.
Assim, passei a ir muitas vezes de bicicleta a essa comunidade, onde parava
em um parque perto da casa deles e lia meus livros. Eu ia até lá e ficava com
eles. Nós comíamos e entoávamos mantras de ioga e coisas parecidas. Eles
me levavam aos seus encontros com professores de filosofia oriental,
realmente me expondo aos pensamentos orientais sobre paz e quietude. Eu
ouvia os princípios de meditação e ficava ali sentado, tentando levar
sozinho minha cabeça para um lugar tranquilo.
O triste dessa história é que, no final, até mesmo eles não quiseram
mais andar comigo: eu os deixava incomodados pelo fato de não usar
drogas.
Sem dúvida, foi uma época muito difícil para mim em termos sociais.
Lembro-me de uma ocasião em que estava tendo aulas noturnas na
Universidade San Jose e uma linda garota se aproximou de minha mesa na
lanchonete e disse: “Olá!”. Então simplesmente começou a falar comigo, e
eu estava tão nervoso que a única coisa que consegui pensar em perguntar
foi qual o curso que ela estava fazendo. Ela respondeu: “Cientologia”. Nunca
tinha ouvido falar naquilo, mas ela me assegurou que era uma profissão, e
eu acreditei.
Ela me convidou para ir a uma reunião sobre Cientologia e, é claro, fui.
Acabei por ficar na plateia assistindo a um sujeito fazer uma incrível
apresentação sobre como é possível ter um melhor controle sobre si
mesmo e, com isso, ser realmente feliz.
Após a reunião, a garota que conheci na lanchonete sentou comigo em
um pequeno escritório por uma hora, tentando me vender vários cursos
para ser uma pessoa melhor. Eu teria de pagar por eles.
Então disse a ela: “Já sou feliz. Tenho minhas próprias chaves para a
felicidade. Não preciso de nada. Não estou procurando esse tipo de coisa”. E
era verdade. A única coisa que eu poderia querer àquela altura era uma
namorada, isso com certeza; mas o resto, eu já possuía. Eu tinha senso de
humor e uma atitude em relação à vida que me deixava espaço para ser
feliz. Eu sabia que se desejasse ser feliz, o seria sempre por minha escolha,
somente por minha escolha.
Além disso, eu tinha os valores com os quais cresci. E já possuía uma
sensação de paz dentro de minha cabeça. Até hoje, sou daquelas pessoas
cuja cabeça simplesmente flutua. De fato, sentia-me feliz na maior parte do
tempo. E ainda me sinto.
A conclusão, claro, é que ela não me vendeu curso algum ou qualquer
outra coisa. Na verdade, ela simplesmente se afastou e nunca mais
apareceu. Quando eu disse que não estava interessado em comprar curso
algum, ela saiu andando e me deixou lá sentado, sozinho. Fiquei esperando
ela voltar. Quando percebi que isso não ia acontecer, fui embora também.
Pensei: Puxa, que coisa chata. Ela só estava querendo vender cursos; só isso.
O que é RAM?
RAM, abreviatura de random access memory [memória de acesso aleatório], era um novo
tipo de armazenamento de dados em computador em 1970. Eram chips cujos conteúdos
podiam ser acessados em qualquer ordem (isto é, aleatório). Hoje, todos os
computadores possuem chips RAM dentro deles para armazenar dados – não
permanentemente, mas enquanto seu computador estiver ligado com você trabalhando.
Quando o computador é desligado, o conteúdo da memória RAM é apagado. Por isso é
que você precisa salvar seus programas no disco.
Um dia minha mãe ligou para o jornal Peninsula Times e contou para
eles sobre o Computador Cream Soda. Um repórter veio até em casa, fez
algumas perguntas e tirou fotos. Mas assim que terminou, pisou
acidentalmente no cabo de fornecimento de energia e explodiu o
computador. O Cream Soda de fato soltou fumaça! Mas o artigo foi
publicado mesmo assim, o que foi muito legal.
Mas bem no fundo eu sabia que não importava o fato de haver montado
aquele computador. Não importava porque ele não fazia nada de útil. Não
rodava jogos e não resolvia problemas de Matemática. Afinal, tinha
pouquíssima memória. O único aspecto importante da experiência é que eu
havia podido, finalmente, montar um computador de verdade. Meu
primeiro computador. Foi um marco extraordinário nesse sentido.
Cinco anos mais tarde, as empresas estariam fabricando e vendendo
kits de computador quase do mesmo nível do Computador Cream Soda:
tinham a mesma quantidade de memória e o mesmo painel frontal
esquisito cheio de luzes e interruptores.
Olhando para trás, vejo-o como uma espécie de ponto de partida para
mim. E cheguei lá cedo.
Quando conheci Steve Jobs, eu ainda saía com um outro amigo que
conhecia desde o ensino médio, Allen Baum.
Quando o vi pela primeira vez no colégio, Allen era um tipo magro,
nerd, e que usava óculos. Pertencíamos à superelite dos estudantes não
apenas por estarmos nas classes mais difíceis, mas por sermos alunos com
desempenho muito superior ao de todos os demais. Éramos selecionados
pelos professores para participar de competições de Matemática ou fazer
apresentações e palestras, esse tipo de coisa. Assim, nos conhecíamos bem.
Os outros garotos nos consideravam uma espécie de outsiders,* e Allen era
ainda menor, esquelético e mais estranho que eu. Era até mais nerd.
Mais tarde, ele se envolveu muito com coisas dos hippies e com músicas
do tipo “São Francisco”, como Grateful Dead e Jefferson Airplane, mas no
começo ele era completamente – muito mesmo – estranho.
Desde os tempos do colégio eu gostava de ir à casa de Allen. Gostava
dos pais dele, um casal de judeus cujos parentes haviam morrido em
campos de concentração nazistas; um fato chocante e muito novo para
mim. O pai de Allen, Elmer, era um engenheiro com muito bom humor – ele
era incrivelmente engraçado – e um ativista pelos direitos civis. A mãe de
Allen, Charlotte, também era assim. Eu via Elmer e Charlotte como sendo
muito parecidos comigo – apenas pessoas simples e divertidas.
Assim, como disse, eu estava andando muito com Allen quando Steve
Jobs, que àquela altura estava no primeiro ano do ensino médio no Colégio
Homestead, teve uma ideia. Ele queria fazer em um lençol imenso uma faixa
com o desenho gigante de um gesto obsceno – a famosa saudação com o
dedo do meio –, para aparecer exatamente durante a cerimônia de
graduação. Ele imaginou que na faixa poderia estar escrito “Muitas
Felicidades”.
Então fomos direto ao trabalho. Conseguimos um lençol bem grande –
que havia sido tingido, porque Allen e seus irmãos tingiam tudo na época –
e o abrimos no quintal de Allen. Assim, começamos a esboçar nosso
desenho com giz – uma mão enorme com o dedo do meio esticado. A mãe
de Allen até nos ajudou a desenhar – ela mostrou como fazer sombra para
que ficasse mais parecido com uma mão de verdade e menos com uma
caricatura. Lembro-me de como ela percebeu o que a mão estava fazendo
quando ainda estava parcialmente pronta, mas apenas riu e disse: “Eu sei o
que é isso”. Ela não nos impediu. Acho que não sabia exatamente o que
planejávamos fazer.
No lençol assinamos SWAB JOB [TRABALHO LIMPO]. O “S” e o “W”
eram de Steve Wozniak; o “A” e o “B”, de Allen Baum; e o “JOB”, de Steve
Jobs. Terminamos o lençol e o enrolamos. Já bem tarde naquela noite,
subimos até o topo do edifício C, onde planejávamos abri-lo. A ideia era
amarrá-lo com uma linha de pesca para 20 quilos e desenrolá-lo quando os
formandos do Colégio Homestead passassem.
Praticamos e descobrimos que não se pode simplesmente desenrolar
um lençol de um telhado e fazê-lo ficar bem aberto e esticado. Ele não desce
fácil, carrega um monte de sujeira do telhado à medida que abre, e depois
de aberto, fica esticado de uma maneira estranha.
Assim, na noite seguinte, tentamos fazer um pequeno carrinho com um
eixo e duas rodas que podíamos puxar. A ideia era fazer o lençol descer aos
poucos. O eixo tinha quase 20 centímetros de largura. Mas descobrimos
que uma das rodas ficava sempre presa em seu pequeno trilho. Não
conseguíamos fazer com que funcionasse corretamente.
Lá pela quarta noite de tentativa, Allen e eu estávamos trabalhando
sozinhos. Steve simplesmente não tinha resistência para ficar acordado e
trabalhar a noite toda. Foi quando tivemos outra ideia. Sem usar o eixo,
mas mantendo as rodas. Montamos um pequeno mecanismo no telhado,
instalando-o em um local ainda mais alto de onde o lençol ficaria, e
amarramos nele a linha de pesca e um par de esqueites. Então testamos: do
telhado, soltamos a linha de pesca e vimos os pequenos esqueites rolar em
suas rampas e puxar juntos os lados direito e esquerdo do lençol. Os dois
lados. Funcionou perfeitamente.
A propósito, quase fomos pegos naquela noite. Tentamos testar o
mecanismo mais uma vez, mas um zelador apareceu. Escondemo-nos no
próprio telhado, procurando ficar o mais abaixados que podíamos. Lembro-
me do zelador apontando a lanterna para todos os lados e da luz passando
pela minha mão. Mas antes que ele pudesse chamar alguém, saímos
correndo de lá feito loucos.
A formatura seria alguns dias depois. Acordei na manhã do evento com
o telefone tocando. Era Steve ligando da escola com más notícias. Acontece
que alguém, provavelmente um outro estudante, tinha cortado a linha de
pesca e desenrolado o lençol. Então Steve ficou em apuros – acho que
SWAB JOB nos entregou e nunca chegamos a fazer nossa brincadeira.
Mais tarde, pensei bastante sobre o ocorrido, e finalmente cheguei à
conclusão que, embora nossa faixa não tivesse funcionado, ela não foi um
fracasso. Alguns projetos valem pela energia e valem que se gaste bastante
tempo neles, mesmo que não funcionem perfeitamente.
Com essa brincadeira aprendi sobre trabalho em equipe, dificuldade e
paciência – e aprendi a nunca fazer alarde de minhas brincadeiras, porque
um ano depois descobri que Steve Jobs havia mostrado nossa brincadeira
para alguns estudantes, gabando-se. E o sujeito que me contou isto – que
Steve Jobs havia-lhe mostrado a faixa – disse que foi ele mesmo quem
desenrolou o lençol.
Uma das primeiras coisas que fiz após ler o artigo foi chamar meu
amigo Steve Jobs. Ele estava para começar o último ano do ensino médio no
Colégio Homestead, o mesmo que eu frequentara. Comecei a lhe contar
sobre o artigo incrível da Esquire e como ele, realmente, fazia sentido em
termos tecnológicos. Contei a Steve que, de acordo com a história
supostamente de ficção, todo o sistema telefônico podia ser capturado.
Atacado, até. E comentei também como os engenheiros espertos retratados
na matéria conseguiram se apropriar do sistema e utilizá-lo.
Aparentemente, eles sabiam mais sobre o sistema telefônico que os
próprios engenheiros da companhia telefônica. Se o artigo era real, e eu
achava que poderia ser, isso significava que todos os segredos da
companhia telefônica estavam por aí. E significava também que pessoas
como nós haviam começado a criar pequenas redes para explorá-los.
Isso era simplesmente a coisa mais excitante para dois jovens como
nós conversar a respeito. Na época, eu tinha 20 anos de idade; Steve estava
provavelmente com 17 anos.
Enquanto eu falava ao telefone com Steve naquela tarde, lembro-me de
parar no meio de uma frase e fazer uma observação: “Espera aí, Steve, esse
artigo é muito real. Eles colocaram frequências reais, como 700 Hz e 900
Hz. Artigos de ficção não fazem isso. Eles mostram a maneira de discar ‘1’,
‘2’ e ‘3’. E até dão o código para fazer uma ligação para a Inglaterra”.
“Textos de fato fictícios não fornecem informações como essas, que
podem ser verificadas e reconhecidas”, completei. Então delineamos um
plano para descobrir o que havia realmente de verdade naquilo tudo.
Não vou dizer que chegar a uma Caixa Azul que de fato funcionasse
tenha sido algo instantâneo. Não é assim que acontece em Engenharia. E
além disso, eu estava na faculdade, tendo aulas. Mas quando finalmente
projetei todo o dispositivo, a montagem levou apenas um dia.
Depois de pronto, levei-o para a casa de Steve a fim de testá-lo no
telefone dele. Realmente funcionou. Nossa primeira ligação da Caixa Azul
foi para um número em Orange County, na Califórnia – um número
qualquer.
Steve ficou gritando: “Estamos ligando da Califórnia! Da Califórnia!
Com uma Caixa Azul!”. Ele não percebeu que o código de área era da
própria Califórnia!
Então entramos em meu carro e fomos para meu dormitório em
Berkeley. Havíamos prometido aos nossos pais, que sabiam de nosso
projeto, que nunca o usaríamos em casa. A ligação feita para Orange County
seria a única ilegal feita da casa de um deles.
Eu queria fazer a coisa certa. Não queria roubar da companhia
telefônica, mas fazer o que o artigo da Esquire disse que os hackers de
telefone fizeram: utilizar a Caixa Azul para descobrir falhas no sistema de
telefonia. Naqueles dias, os hackers de telefone evitavam os que só
desejavam roubar.
Além disso, eu adoraria encontrar o Capitão Crunch, que foi realmente
o centro de tudo. Ou qualquer outro hacker de telefone: mas isso parecia
impossível, afinal, nunca encontrei alguém com uma Caixa Azul.
Agora que eu possuía uma Caixa Azul, através da qual podia fazer
ligações para qualquer lugar, mesmo internacionais, eu me divertia
bastante ligando para linhas de piada em todo o mundo. Eu me dirigia até
um telefone público, discava algum número de ligação gratuita, capturava a
linha com a Caixa Azul, apertava o botão automático – bip bip bip –, e lá
estava ele de novo: Happy Ben, cantando “Dias felizes estão aqui
novamente”. Era um dos meus passatempos favoritos.
Mas não havia me esquecido de qual deveria ser a verdadeira missão
do hacker de telefone: não bagunçar o sistema, mas encontrar falhas,
aspectos curiosos e segredos que a companhia telefônica nunca contou a
ninguém. Eu realmente me mantinha firme nessa questão de honestidade:
quando fazia ligações para amigos, parentes, pessoas para as quais de fato
precisava telefonar, eu fazia questão de pagar. Não usava a Caixa Azul. Para
mim, isso seria roubar, e essa não era minha praia.
Porém, gostava de usar a Caixa Azul para ver até onde conseguiria
chegar. Por exemplo, eu fazia uma ligação para uma operadora e fingia ser
um operador de Nova York tentando estender a linha para medição de fase,
e ela me conectava com Londres. Depois eu pedia para a operadora me
conectar com Tóquio. Ocasionalmente, eu viajava ao redor do mundo
assim, três vezes ou mais.
Quando isso acontecia, eu ficava ótimo em parecer oficial, ou em
utilizar sotaques, apenas para enganar operadoras em todo o mundo.
Lembro-me de uma vez, bem tarde da noite, quando decidi telefonar para o
papa. Por que o papa? Não sei. Por que não? Então comecei usando a Caixa
Azul para ligar para o interior da Itália (código de país 121), depois pedi
por Roma, e então cheguei ao Vaticano. Com forte sotaque, anunciei que era
Henry Kissinger telefonando em nome do presidente Nixon e disse:
“Estamos em uma reunião de cúpula em Moscou e precisamos falar com o
papa”.
Uma mulher disse: “Aqui são 5 e meia da manhã. O papa está
dormindo”. Ela me manteve na linha por um instante e depois disse que
estavam mandando alguém para acordá-lo, então perguntou se eu podia
ligar novamente. Eu disse que sim, em uma hora.
Bem, uma hora depois, liguei novamente e ela disse: “OK, vou colocar o
bispo na linha. Ele será o tradutor”. Então falei com o tal bispo, ainda com
um forte sotaque: “Aqui é o senhor Kissinger”. E ele respondeu: “Escute
aqui, acabei de falar com o senhor Kissinger uma hora atrás”. Veja só: eles
verificaram minha história e telefonaram para o verdadeiro Kissinger em
Moscou.
Ah! Mas eu não desliguei. Apenas disse: “Você pode verificar meu
número e me ligar de volta”. Então dei ao bispo um número nos Estados
Unidos, que chamaria de volta um outro número, de forma que não seria
possível descobrir de onde eu, de fato, estava ligando. Mas eles nunca
ligaram de volta, o que foi muito chato.
Anos mais tarde, porém, não consegui parar de rir quando li uma
entrevista com o Capitão Crunch no qual ele falava de mim. Ele disse que eu
estava ligando para o papa para me confessar!
Por muito tempo, sempre falei para as pessoas que eu era um hacker de
telefone ético, pois sempre paguei pelas minhas ligações pessoais e estava
apenas investigando o sistema. E isso era verdade. Eu costumava receber
contas de telefone enormes, embora tivesse minha Caixa Azul, que me
permitia fazer qualquer ligação de graça.
Mas um dia Steve Jobs me procurou e disse: “Ei, vamos vender isso”.
Então, ao vender o aparelho, nós realmente estávamos repassando a
tecnologia para pessoas que a usariam para telefonar para as namoradas,
ou algo parecido, e economizar dinheiro com as ligações. Assim, olhando
para trás, acho que na verdade fui cúmplice nesse crime.
Nós tínhamos uma forma bem interessante de vender a Caixa Azul.
Primeiro, eu e Steve buscávamos grupos de pessoas em vários dormitórios
em Berkeley. Eu era sempre o chefe, posição que não era muito comum
para mim. Era eu quem conduzia toda a conversa. E quer saber: eu achava
que ia ficar famoso fazendo isso, mas o engraçado é que eu não sabia que
para ter meu apelido de hacker de telefone (o meu era Berkeley Blue)
publicado em artigos era preciso conversar com um repórter.
Seja como for, a maneira que escolhemos para vender nossa invenção
foi simplesmente bater na porta das pessoas. Como sabíamos que não
estávamos abordando alguém que iria nos entregar para a polícia? Alguém
que pudesse ver aquilo como um crime? Na verdade, batíamos na porta
(geralmente uma porta do dormitório masculino) e perguntávamos por
alguém que não existia, como: “O Charlie Johnson está?”. Então a pessoa à
porta respondia: “Quem é Charlie Johnson?”.
E eu dizia: “Você sabe, o sujeito que faz todos aqueles telefonemas
grátis”. Se a pessoa parecesse legal – e dava para saber, a julgar pela cara
que fazia, se ela denunciaria algo tão ilícito quanto fazer telefonemas
gratuitamente –, eu acrescentava: “Você sabe, ele tem a Caixa Azul”.
Às vezes alguém dizia: “Ah, meu Deus, já ouvi falar sobre esse negócio”.
Se a pessoa de fato parecesse ser suficientemente legal, e às vezes era,
então Steve Jobs ou eu tirava uma Caixa Azul do bolso. Daí ouvíamos
comentários como: “Nossa! Ela é assim? É de verdade?”.
Dessa forma, sabíamos que estávamos com o sujeito certo e que ele não
nos entregaria. Então um de nós propunha: “Quer saber, voltaremos às 7
horas da noite; se algum de vocês conhecer alguém de um país estrangeiro,
nós faremos uma demonstração”.
Então voltávamos às 7 horas da noite. Passávamos um fio pelo quarto
da pessoa interessada no aparelho e o ligávamos a um gravador. Dessa
forma, tudo era gravado – cada venda que fizemos foi gravada. Só para
evitar riscos.
Ganhamos um pouco de dinheiro vendendo Caixas Azuis. Na época era
o suficiente. A princípio, eu comprava as peças para montar manualmente
cada uma por 80 dólares. O distribuidor em Mountain View, de quem eu
comprava os chips (nenhuma loja de produtos eletrônicos vendia chips),
cobrava caro por pequenas quantidades. No final, montamos placas de
circuito impresso e, fazendo dez ou vinte de cada vez, reduzimos o custo
para talvez 40 dólares. Assim, vendíamos as caixas por 150 dólares e
dividíamos o lucro.
Portanto, era uma proposta de negócio bastante boa, exceto por um
detalhe. As Caixas Azuis eram ilegais e nós estávamos sempre preocupados
em ser pegos.
Uma vez, eu e Steve tínhamos uma Caixa Azul pronta para vender.
Steve precisava de algum dinheiro extra e queria muito que vendêssemos a
caixa naquele dia. Era um domingo. Antes de seguirmos para Berkeley para
vender a Caixa Azul, paramos em uma pizzaria em Sunnyvale. Enquanto
comíamos nossa pizza, notamos alguns sujeitos na mesa ao lado. Eles
pareciam legais e começamos e conversar com eles. Passado algum tempo,
ficaram interessados em ver o aparelho e em comprá-lo.
Fomos então para um corredor no fundo da pizzaria onde havia um
telefone público. Steve pegou a Caixa Azul. Eles nos deram um número em
Chicago (código de área 312) para testá-la. A linha capturada começou a
chamar, mas ninguém respondeu.
Os três sujeitos ficaram realmente animados e nos disseram que
queriam a Caixa Azul, mas que não poderiam pagar. Eu e Steve saímos da
pizzaria e fomos direto para o estacionamento. Mas assim que entramos no
carro de Steve, antes que ele pudesse dar a partida no motor, um dos
sujeitos se aproximou do vidro do lado do motorista com uma grande
pistola negra apontada diretamente para nós.
Ele pediu a Caixa Azul.
Steve, muito nervoso, entregou-a para ele. O ladrão se afastou.
Enquanto estávamos lá sentados, atônitos, uma coisa incrível aconteceu.
Um dos sujeitos voltou até nosso carro e explicou que ainda não tinha o
dinheiro, mas que queria a Caixa Azul. Disse ainda que, mais tarde, nos
pagaria, e escreveu em um pedaço de papel um nome e um número de
telefone para o qual poderíamos ligar. Seu nome era Charles.
Após alguns dias, Steve ligou para o tal número. Alguém atendeu, e
quando perguntamos pelo Charles, a pessoa nos deu um número de
telefone público – sabíamos disso por causa dos quatro últimos dígitos.
Steve ligou para o novo número e Charles atendeu. Ele disse que mais
tarde nos pagaria pela Caixa Azul, mas que naquele momento precisava
descobrir como usá-la.
Steve tentou convencer o sujeito a nos devolver o aparelho. Então
Charles disse que queria nos encontrar em algum lugar. Estávamos com
muito medo de encontrá-lo novamente, mesmo em um lugar público. Então
pensei em explicar para ele um método de uso que o faria ser cobrado por
cada ligação. Também pensei em ensinar ao tal Charles uma maneira de
usá-la que o faria ser pego. Algo como ligar para telefones de informações,
o que pareceria suspeito se um mesmo telefonema durasse horas.
Se eu fosse mais sacana, poderia ensiná-lo a capturar uma linha
discando de início um número da central de polícia.
Mas não recomendei nada disso, e no final, Steve desligou. Estávamos
com muito medo para fazer algo a respeito, e certamente Charles e os
outros sujeitos nunca aprenderam como usar a Caixa Azul.
8 HP e fazendo bicos como Polaco Maluco
Mais sobre a HP
A Hewlett-Packard foi fundada em 1939, na garagem de dois graduados de Stanford: Bill
Hewlett e Dave Packard. Muitas pessoas confundem essa história com a história da
fundação da Apple, dizendo que nós a começamos em uma garagem. Não é verdade. A HP
é que começou em uma garagem. No caso da Apple, eu trabalhava no quarto, em meu
apartamento, e Steve trabalhava no quarto dele na casa dos pais. Somente a última parte
da montagem dos computadores é que fazíamos na garagem de Steve.
Mas é assim que acontece com as histórias.
O primeiro produto da HP foi um oscilador de áudio de precisão chamado Model 200A.
Ele media ondas de som e custava menos de 50 dólares (que era um quarto do preço de
osciladores menos confiáveis fabricados por outras empresas). Eis um fato legal: um dos
primeiros clientes da HP foi a Walt Disney Productions, que utilizou oito osciladores de
áudio Model 200B para testar o sistema de som para o filme Fantasia.
– Uma em cada duas ligações de hoje foram para reclamar sobre o Dial-
a-Joke – ela disse parecendo realmente frustrada. Então abri um grande
sorriso. Senti como se tivesse tido meu grande momento.
Sim, o tal técnico apareceu naquele dia às 5 horas da tarde – com seu
supervisor. Permiti que o sujeito entrasse para substituir a secretária
eletrônica, mas deixei o supervisor lá fora, na chuva, com um livro para ler
chamado I’m Sorry, the Monopoly You Have Reached Is Not in Service
[Desculpe, o Monopólio para o Qual Você Ligou Não Está em Serviço], de K.
Aubrey Stone. Um livro realmente ruim, mas acho que ele mereceu.
No final das contas, porém, precisei desistir do Dial-a-Joke porque não
conseguia mantê-lo com meu pequeno salário de engenheiro na HP.
Embora gostasse demais dele.
Durante os quatro anos que fiquei na HP, dos 22 aos 26 anos de idade,
sempre desenvolvi à parte meus projetos de equipamentos eletrônicos.
Isso sem falar no Dial-a-Joke. E alguns desses projetos foram realmente
incríveis.
Quando olho para trás, vejo que todas aquelas ideias, além dos projetos
de ciência que fiz quando criança e tudo que meu pai me ensinou, foram na
verdade tópicos de conhecimento que convergiram para meu projeto do
primeiro e do segundo computadores da Apple.
Depois do Dial-a-Joke eu ainda estava namorando a Alice, ainda morava
no mesmo apartamento em Cupertino (meu primeiro apartamento), e
ainda voltava para casa todas as noites para assistir a Jornada nas Estrelas
na TV e trabalhar em meus projetos. Quase sempre havia algo do tipo para
trabalhar porque, depois de um tempo, o pessoal da HP começou a
comentar com amigos sobre minhas habilidades como projetista, assim,
passei a receber encomendas dessas pessoas. Coisas do tipo: poderia ir à
casa de fulano e projetar um equipamento eletrônico para ele? Engenhocas,
coisas assim. Eu sempre aceitava e nunca cobrava. Eu dizia: “Apenas me
ponha em um voo para Los Angeles que eu trago o projeto e faço-o
funcionar”. Nunca cobrei por esse tipo de serviço porque, afinal, era meu
objetivo de vida – projetar equipamentos – e o que eu adorava fazer. Como
disse antes, era minha paixão.
Uma vez meu chefe, Stan Mintz, me procurou com um projeto para
fazer um jogo de pinball em casa. Os amigos dele queriam desenvolver um
pequeno jogo de pinball com guias para as bolinhas, botões e paletas,
igualzinho às utilizadas em fliperamas. Então eu basicamente projetei um
aparelho digital que pudesse orientar o sistema, monitorar os sinais,
mostrar a pontuação, acionar as campainhas e tudo o mais. Mas havia um
circuito bastante complicado que deixou Stan confuso. Lembro-me dele
falando: “Não, está errado. Não vai funcionar”. Mas mostrei a ele por que
funcionaria, e eu estava certo.
Eu simplesmente adorava toda vez que outros engenheiros,
principalmente meu chefe, se surpreendiam com meus projetos. Isso
sempre me deixava feliz.
Foi dessa forma que me envolvi com um dos projetos mais incríveis de
que tinha tido oportunidade de participar até então. Alguém me pediu para
ajudar a projetar a parte digital do primeiro sistema interno de filmes em
hotel, sistema baseado nos primeiríssimos videocassetes. Claro que
ninguém ainda tinha videocassete na época. Eu pensava: Meu Deus! Isso vai
ser incrível – projetar sistemas de filmes para hotéis! Eu estava muito
animado.
O esquema no tal hotel era o seguinte. Foram alinhados cerca de seis
videocassetes. Como o hotel tinha um método para enviar canais especiais
de TV para todos os quartos, podiam ser passados filmes nesses canais.
Havia um filtro em cada quarto para bloquear esses canais, mas a recepção
do hotel podia enviar um sinal e desbloquear o filtro em um quarto
específico. Assim, o hóspede conseguia assistir ao filme que havia solicitado
em sua TV. Alguém na sala dos videocassetes precisava literalmente iniciar
o filme, mas ainda assim era um sistema legal.
Outro projeto que fiz foi para uma empresa que lançou o primeiro
videocassete de uso doméstico, antes ainda do Betamax. A empresa
chamava-se Cartrivision, e o videocassete tinha um fantástico motor dentro
dele com uma placa de circuito própria, que girava enquanto fazia o motor
funcionar. Em outras palavras, a placa de circuito de giro era de fato o
dispositivo eletrônico que fazia o motor funcionar! Era muito estranho.
Na HP, ouvi um rumor de que a Cartrivision estava falindo e que eles
possuíam cerca de 8 mil videocassetes em cores para vender por um bom
preço. Quer dizer, na época, um videocassete em preto e branco custava
quase mil dólares. Mas a Cartrivision os estava vendendo a um preço muito
baixo. Então eu e meus amigos fomos até a fábrica em San Jose.
Caminhamos pelo edifício, simplesmente espantados com as centenas de
videocassetes coloridos ainda nas caixas. Eles não vinham em gabinetes
como estamos acostumados a ver hoje os equipamentos eletrônicos, mas
meio abertos, por isso dava para ver todos os circuitos internos. Seja como
for, levamos vários engenheiros até a fábrica e compramos cada aparelho
por 60 dólares cada.
Isso se tornou imediatamente uma enorme parte de minha vida.
Estudei os tipos de circuitos que o videocassete utilizava, como ele
funcionava, e analisei todos os manuais. Tentei entender como eles
processavam as cores, de que modo a cor ficava registrada na fita, como
funcionava o suprimento de energia. Todas essas informações foram
realmente muito úteis quando fizemos os computadores coloridos da
Apple. Depois, comprei caixas de madeira para colocar os videocassetes
coloridos dentro delas. Veja bem: eu tinha um videocassete colorido
funcionando em meu apartamento em Cupertino quando ninguém,
absolutamente ninguém no mundo tinha um videocassete em casa.
Havia poucos filmes disponíveis na época. O primeiro a que assisti em
casa foi Os produtores. Assisti diretamente em meu Cartrivision. Para tanto,
abri minha TV, olhei no esquema para identificar onde estava o sinal de
vídeo, e descobri uma forma de compatibilizá-lo com o Cartrivision. Assim
eu poderia gravar programas também. Uma das coisas que gravei foi a
renúncia de Nixon. Portanto, devo ser uma das únicas pessoas no mundo a
ter uma fita de vídeo com essas imagens, porque em 1974, quando se deu a
renúncia, não havia absolutamente nenhum videocassete disponível no
mercado para consumo residencial.
E foi naquela mesma noite que comecei a esboçar no papel o que mais
tarde seria conhecido como Apple I. Olhando para trás, foi um projeto
rápido. Desenhar no papel levou poucas horas, embora eu tenha levado
alguns meses para obter as peças necessárias e estudar suas especificações.
Trabalhei nesse projeto por muitos motivos. Por um lado, para mostrar
às pessoas no Homebrew que era possível montar um computador
bastante acessível – um computador real que poderia ser programado pelo
preço do Altair – com apenas alguns chips. Nesse sentido, era uma
excelente forma de mostrar meu verdadeiro talento, meu talento em
desenvolver projetos inteligentes, eficientes e acessíveis, isto é, projetos
que utilizariam a menor quantidade possível de componentes.
Também projetei o Apple I porque queria dá-lo gratuitamente a outras
pessoas, como aos participantes do Homebrew, para os quais forneci os
diagramas esquemáticos para a montagem de meu computador na próxima
reunião do clube de que participei.
Essa era minha maneira de me socializar e de obter reconhecimento.
Eu precisava criar algo para mostrar aos outros. Eu queria que os
engenheiros do Homebrew montassem sozinhos os próprios
computadores, não que apenas admirassem equipamentos como o Altair.
Queria também que eles soubessem que não dependiam de um
computador como aquele, com todas aquelas luzes e interruptores “difíceis
de entender”. Naquela época, todo os computadores pareciam um painel de
controle de avião, como o Computador Cream Soda: com interruptores e
luzes que precisavam ser acionados e lidos.
Em vez disso, eles poderiam montar sozinhos algo que funcionasse com
uma TV e um teclado de verdade, como uma máquina de escrever. Um
computador como o que eu tinha em mente.
Àquela altura, eu já tinha desenvolvido um terminal que permitia
digitar palavras e frases e enviá-las para um computador remoto, que
poderia reenviar tais palavras de volta para a TV. Assim, apenas decidi
inserir o computador – meu microprocessador com memória – dentro
dessa mesma caixa, como esse terminal que eu já havia montado.
Então pensei: Por que não fazer o computador remoto ser um pequeno
microprocessador dentro da caixa?
Percebi que com o uso de um teclado, o painel frontal seria
desnecessário. As informações poderiam ser introduzidas por meio de
digitação e visualizadas na tela. Afinal, tinha-se o computador, a tela e o
teclado.
Hoje, as pessoas dizem que tal ideia foi vanguardista – combinar meu
terminal com um microprocessador –, mas para mim, foi apenas o próximo
passo lógico.
O primeiro computador Apple que projetei – embora ainda não o
tivesse chamado de Apple ou de qualquer outra coisa – só foi possível
quando tudo isso se encaixou. E digo mais. Antes do Apple I, todos os
computadores possuíam um painel frontal difícil de entender, e nada de
telas ou teclados. Depois do Apple I, todos passaram a ter tela e teclado.
O que é ROM?
Read-only memory [memória apenas para leitura], ou ROM, como é mais comumente
utilizado, é um termo que mencionarei muito neste livro a partir daqui. Um chip ROM só
pode ser programado uma vez e mantém a informação que foi inserida nele mesmo
depois de o equipamento ter sido desligado. Em geral, um chip ROM contém programas
que são importantes para um computador funcionar, por exemplo: o que fazer quando se
liga a máquina, o que exibir, como reconhecer aparelhos conectados ao computador,
como teclados, impressoras ou monitores. No projeto de meu Apple I, tirei a ideia de
utilizar chips ROM das calculadoras HP (que funcionavam com dois desses chips). Então
pude desenvolver um programa “monitor” para que o computador pudesse controlar que
botões haviam sido pressionados, e assim por diante.
Meu estilo ao criar projetos sempre foi gastar bastante tempo em sua
concepção até deixá-los prontos para ser montados. Então, quando percebi
que meu próprio computador poderia se tornar realidade, comecei a reunir
informações sobre todos os componentes e chips que pudessem ser
aplicados em tal projeto.
Eu me dirigia de manhã bem cedo para o trabalho – algumas vezes bem
cedo mesmo, como 6h30 da manhã – e lá, sozinho, lia rapidamente revistas
de Engenharia e manuais de chips. Estudei as especificações e os diagramas
dos chips nos quais estava interessado, como o Motorola 6800 de 40
dólares que o Myron havia me contado a respeito. Enquanto isso, ia
delineando mentalmente o projeto.
O Motorola 6800 tinha 40 pinos – conectores – e eu precisava saber
precisamente como cada um daqueles pinos funcionava. Pelo fato de
trabalhar em tal projeto somente parte do tempo, todo o processo foi
bastante longo e lento. Várias semanas se passaram sem que qualquer
desenvolvimento real de fato acontecesse. Por fim, certa noite, resolvi
colocar o projeto no papel. Antes eu o havia esboçado de forma mais
grosseira. Mas naquela noite estava decidido, então desenhei-o
cuidadosamente em minha prancheta de projeto na Hewlett-Packard.
Depois, para a montagem do computador, foi preciso somente um
pequeno passo. Afinal, a partir daquele momento, eu só precisaria das
peças.
A primeira vez que mostrei meu projeto foi com o static RAM (SRAM) –
o tipo de memória que estava em meu Computador Cream Soda. Mas as
revistas sobre eletrônica que eu lia vinham falando sobre um novo chip de
memória chamado dynamic RAM (DRAM), que teria 4 Kbytes por chip.
Essas revistas vinham anunciando a DRAM como a primeira vez que
uma memória de chip de silício seria mais barata que uma memória de
núcleo magnético, pois, até então, todos os principais computadores, como
os sistemas da IBM e da Data General, ainda utilizavam memória de núcleo
(core).
Percebi que os 4 Kbytes da DRAM – que eu precisava como mínimo –
utilizariam somente 8 chips, em vez dos 32 chips SRAM que eu havia pego
emprestado de Myron. Meu objetivo desde o colégio foi sempre utilizar a
menor quantidade de chips possível, então aquele seria o caminho a seguir.
A maior diferença entre a SRAM e a DRAM é que esta precisava ser
continuamente atualizada ou perderia seu conteúdo; ou seja, o
microprocessador teria de atualizar eletricamente cerca de 128 endereços
diferentes da DRAM a cada dois milésimos de segundo para evitar que seus
dados fossem esquecidos.
Assim, adicionei DRAM desenvolvendo as especificações na tela –
segurei o sinal de relógio (clock) do microprocessador estável, mantendo as
transições desligadas, durante um período de tempo chamado de
“atualização horizontal”.
Você sabe como a TV rastreia uma linha de cada vez em seu aparelho,
de cima para baixo? Ela leva cerca de 65 microssegundos (milionésimos de
segundo) para varrer cada uma. Acontece que cerca de 40 desses
microssegundos são visíveis e os outros 25 não o são. Durante esse tempo
de 25 microssegundos, o chamado período de atualização, inseri 16
endereços exclusivos para a DRAM (obtive esses endereços de graça,
utilizando os contadores do terminal, que estavam gerando sinais de
vídeo).
Eu tinha chips de seleção que selecionavam os endereços que vinham
dos chips contadores horizontais e verticais do terminal durante esse
período. Surpreendentemente, foram precisos somente dois desses chips
de seleção e talvez mais um ou dois chips em termos de lógica para fazer
todo o processo. Assim, na verdade, roubei alguns ciclos do
microprocessador para atualizar a DRAM.
Não tinha ideia alguma de como obter um chip DRAM, mas por sorte,
bem naquela época, alguém do clube que trabalhava na AMI estava
vendendo alguns chips DRAM de 4 Kytes por um preço razoável. Isso foi
antes sequer de eles chegarem ao mercado. Vejo agora que alguém deve tê-
los roubado da AMI, mas não perguntei nada a respeito.
Comprei 8 deles do sujeito da AMI por cerca de 5 dólares cada e
modifiquei meu projeto. Acrescentei alguns fios ao conector de memória na
placa do Apple I para que ela pudesse acomodar tanto uma placa SRAM
como uma placa DRAM. Instalei a nova placa DRAM e ela funcionou desde o
primeiro instante.
Antes de o contrato social ser firmado, percebi algo e falei para Steve.
Disse-lhe que pelo fato de eu ter trabalhado na HP, tudo que havia
projetado durante a vigência de meu vínculo empregatício com eles
pertencia à HP.
Se isso aborreceu Steve ou não, não saberia dizer. Mas não me
importava, pois acreditava que era minha obrigação contar para a HP sobre
o que eu havia projetado enquanto trabalhava para eles. Seria a atitude
mais eticamente correta a tomar. Além do mais, eu realmente gostava
daquela empresa e acreditava que eles poderiam fabricar meu computador.
Afinal, sabia que um sujeito chamado Miles Judd, hierarquicamente três
níveis acima do meu na estrutura da empresa, havia gerido um grupo de
Engenharia na divisão da HP em Colorado Springs responsável pelo
desenvolvimento de um computador de mesa.
Não era nem um pouco parecido com o nosso – destinava-se a
engenheiros e cientistas e era muito caro –, mas utilizava o BASIC como
linguagem de programação.
Contei para meu chefe, Pete Dickinson, que eu havia projetado um
computador de mesa barato, que poderia ser vendido por um preço abaixo
de 800 dólares, e que rodaria o BASIC. Ele concordou em agendar uma
reunião para eu falar com Miles a respeito.
Lembro-me de quando me dirigi à grande sala de reuniões para
encontrar Pete, o chefe dele, Ed Heinsen, e o chefe de Ed, Miles. Fiz minha
apresentação e mostrei-lhes meu projeto.
“OK”, disse Miles após pensar alguns minutos sobre o que tinha
acabado de ver. “Existe um possível problema quando você diz que tem
saída para a TV. O que acontece se ela não for compatível com todas as
TVs? Quer dizer, se falhar em uma TV da RCA, da Sears ou em um produto
da HP?”
Ele me disse que acompanhava de perto o controle de qualidade. Se a
HP não pode controlar em que TV o cliente está usando o computador,
como garantir que o cliente tenha uma boa experiência? Indo mais
diretamente ao ponto: a divisão de Miles não tinha pessoas ou dinheiro
para executar um projeto como o meu. Portanto, ele rejeitou o produto.
Fiquei desapontado e saí da reunião logo depois. A partir daquele
momento, eu estava livre para entrar na sociedade com Steve e Ron na
Apple. Mantive meu emprego, mas depois do episódio com Miles, eu estava
oficialmente fazendo um bico, afinal, todos na HP sabiam sobre a placa de
computador que iríamos vender.
Ao longo dos meses seguintes, Miles continuou mantendo contato
comigo. Ele conhecia sobre computadores programáveis em BASIC por
causa da divisão que comandava em Colorado Springs, e embora não
quisesse meu projeto, afirmou estar intrigado com a ideia de existir o
projeto de uma máquina tão barata que qualquer um poderia comprar e
programar. Ele ficava me dizendo que havia perdido o sono desde que
ouvira minha ideia.
Mas olhando para trás, vejo que Miles estava certo. Como a HP poderia
fabricar aquele computador? Ela não poderia. Ele estava longe de ser um
produto científico completo e acabado para engenheiros. Todos sabiam que
computadores menores e mais baratos seriam a próxima novidade, mas a
HP não poderia justificá-los como um produto. Ainda não. Mesmo se
tivessem concordado, vejo agora que a HP o teria feito da maneira errada.
Isto é, quando finalmente fabricaram um computador, em 1979, fizeram da
maneira errada. Aquela máquina da HP não foi a lugar algum.
Algumas semanas após a reunião, a placa PC estava concluída e
funcionando. E eu estava na HP mostrando-a para alguns engenheiros
quando o telefone tocou na bancada do laboratório.
Era Steve.
– Você está sentado?
– Não – respondi.
– Bem, você não vai acreditar. Recebi um pedido de 50 mil dólares.
– O quê?
Steve então explicou que o dono de uma loja de computadores da
região havia me visto em uma reunião do Homebrew e queria comprar 100
computadores nossos. Totalmente montados, por 500 dólares cada.
Fiquei chocado com aquilo, simplesmente chocado. Cinquenta mil
dólares era mais que o dobro de meu salário anual. Jamais poderia prever
algo parecido.
Foi o primeiro e mais impressionante sucesso da Apple. Nunca
esquecerei daquele momento.
Decidi que deveria consultar a coisa toda com a HP mais uma vez. Falei
novamente com Pete. Ele me disse para consultar o departamento jurídico,
que por sua vez consultou todas as outras divisões da empresa. O processo
todo levou cerca de duas semanas.
Mas a HP continuava não interessada, então recebi um documento do
departamento jurídico dizendo que a empresa abria mão de quaisquer
direitos sobre meu projeto.
Foi assim que desenvolvi a interface de fita cassete para o Apple I. Além
de mudar o tipo de RAM de estática para dinâmica, essa foi a única
mudança em meu projeto original desde as primeiras reuniões no
Homebrew, na primavera de 1975. Projetei um circuito para que uma fita
cassete normal pudesse guardar o BASIC, e quando eu ligasse o
computador, esse BASIC seria automaticamente carregado na memória
para ser utilizado.
Quando o BASIC estava pronto e já havia sido facilmente inserido a
partir de uma fita cassete, descobri algo terrível. Eu havia cometido um
erro: pensei que todas as versões do BASIC eram mais ou menos iguais, e
que todos os 101 jogos em BASIC que eu possuía naquele livro rodariam
automaticamente se eu os digitasse. Não foi o que aconteceu. O tipo de
BASIC que desenvolvi – assim como o BASIC HP que originalmente estudei
– era totalmente diferente do BASIC Microsoft de Bill Gates, que era
baseado no BASIC DEC da época. Que furada!
Conclusão: quem quisesse inserir jogos do 101 Basic Computer Games
no Apple I teria de fazer mudanças no programa para conseguir.
Mas consegui fazer alguns jogos funcionar no Apple I. Havia um jogo
popular em BASIC chamado Star Trek, como o seriado Jornada nas estrelas.
Eu o adaptei para meu BASIC e ele rodou muito bem.
Mas àquela altura, ninguém havia visto o Apple II. Eu ainda estava
finalizando-o, e naquele momento, ainda trabalhávamos em nossas casas:
eu trabalhava em meu apartamento e Steve trabalhava pelo telefone de seu
dormitório na faculdade. Ainda testávamos computadores na garagem da
casa dos pais dele. E eu ainda estava montando calculadoras na HP e
pensando que a Apple era apenas um hobby. Eu ainda planejava trabalhar
na HP para sempre.
Mas não demorou muito para eu ter um Apple II funcionando logo após
a entrega das placas do Apple I para Paul Terrell. E como eu disse antes: o
Apple II não era apenas duas vezes melhor. Era algo como dez vezes
melhor.
Concluí a placa, que era o núcleo do Apple II, em agosto de 1976.
Lembro--me disso muito bem porque foi nesse mesmo mês que Steve e eu
viajamos para a mostra PC’ 76, em Atlantic City.
A primeira vez que encontrei Mike, achei-o a pessoa mais legal que já
tinha conhecido. Era um rapaz jovem com uma bela casa nas colinas com
vista para as luzes de Cupertino. Ele tinha uma vista deslumbrante, uma
esposa maravilhosa, todo o pacote.
E ainda melhor: ele realmente adorou nosso computador! E não
conversou conosco como se estivesse escondendo coisas e pensando em
como nos enganar. Ele foi verdadeiro, o que ficou óbvio desde o início. E
que, de fato, fazíamos algo muito importante.
Mike estava verdadeiramente interessado no Apple II. Ele nos
perguntou quem éramos, qual era nossa formação, quais eram nossos
objetivos com a Apple, e até onde achávamos que ela poderia chegar. Ele
deu indicações de que teria algum interesse em nos financiar: falava em
cerca de 250 mil dólares ou algo assim para fabricar mil unidades.
Mike demonstrava bom senso, falando normalmente em termos de
qual poderia ser o futuro de uma nova indústria de computadores de uso
doméstico. Porém, eu sempre pensara que o Apple II seria algo como o
hobby de pessoas que quisessem simular uma situação do trabalho ou jogar
videogame.
Mas Mike falava de algo diferente. Ele falava em introduzir o
computador na vida de pessoas normais, em casas normais, fazendo em
casa atividades como procurar a receita favorita ou conferir o saldo
bancário. “Isso é o que vem vindo”, ele disse. Ele tinha a visão do Apple II
como um verdadeiro computador residencial.
Claro que Steve e eu já vínhamos atuando um pouco em torno de tal
ideia. Isto é, Paul Terrell da Byte Shop já tinha nos pedido algo inovador e
pronto para usar. E nós planejávamos seguir naquela direção, além de
utilizar gabinetes de plástico. Tínhamos até planejado contratar um amigo
de Steve, Rod Holt, para criar uma fonte de alimentação com comutação
muito mais eficiente que a fonte anteriormente disponível – e sabíamos que
isso geraria menos calor, fator necessário para colocarmos a placa e nossa
fonte de alimentação em um gabinete de plástico.
Mas quando Mike concordou em assinar ele nos disse: “Seremos uma
empresa da Fortune 500* em dois anos. Este é o início de uma indústria. E
acontece uma vez em cada década”.
Quer saber? Acreditei nele somente por causa de sua reputação e
posição na vida. Ele era o tipo de pessoa que, se fazia tal afirmação – e era
possível ver sinceridade nele –, era porque realmente acreditava no que
estava dizendo. Porém, achei que a Fortune 500 estaria fora de nosso
alcance. Quer dizer: uma empresa de 5 milhões de dólares seria imensa e
inacreditável.
Se alguém sabe fazer certos julgamentos melhor que eu, não tento usar
minha lógica e meu raciocínio para desafiá-lo. Posso ser cético, mas se
alguém realmente sabe sobre o que está falando, então deve receber um
voto de confiança.
Acontece que mesmo Mike estava subestimando nosso sucesso. Mas
estou me adiantando nos acontecimentos.
Logo após a West Coast Computer, feira onde lançamos o Apple II,
surgiram outros computadores pessoais prontos para uso, como o TRS-80 e
o PET, que viriam a ser nossos concorrentes diretos.
Mas foi o Apple II que acabou dando o pontapé inicial em toda a
revolução dos computadores pessoais, afinal, ele possuía várias
características inovadoras. E o uso da cor era a maior delas.
Projetei o Apple II para que funcionasse com a TV colorida que as
pessoas já tinham em casa. Além disso, ele possuía controles de jogos e som
embutido, o que o tornou o primeiro computador para o qual as pessoas
queriam projetar jogos parecidos com os de fliperama. O Apple II tinha até
um modo de alta resolução, no qual um programador de jogos poderia
desenhar muito rapidamente pequenas formas especiais. Era possível
programar cada pixel na tela – em qualquer cor, estando ele ligado ou
desligado –, e tal recurso nunca havia sido utilizado antes com um
computador de baixo custo.
No começo, esse recurso não significou muito, mas no final, foi um
passo enorme em direção aos vários tipos de jogos de computador que se
vê hoje, nos quais tudo é feito com alta resolução e os gráficos são, de fato,
muito reais.
E por funcionar com a TV que o usuário já tinha em casa, o custo total
do Apple II acabou sendo muito menor que o de qualquer computador
concorrente. Ele vinha com um teclado real para digitar – um teclado
normal –, o que já era, em si, um grande negócio. E assim que era ligado, já
rodava o BASIC com a memória ROM.
Como eu disse, poucos meses depois, a Commodore e a Radio Shack
lançaram computadores que também rodavam o BASIC assim que eram
ligados. Mas o Apple II era bem superior aos dois. O TRS-80, da Radio
Shack, e o PET, da Commodore, tinham memória DRAM como o Apple II,
mas estavam limitados a somente 4 Kbytes. O Apple II poderia expandir
para até 48 Kbytes na placa-mãe, e ainda mais nos slots. O TRS-80 e o PET
vinham somente nos modelos 4K e 8K, e não podiam ser expandidos. O
Apple II tinha 8 slots para expansão; os outros computadores não tinham
nenhum. Por fim, o PET e o TRS-80 possuíam teclados frágeis, com teclas
pequenas, e suas telas eram em preto e branco. A nossa era em cores.
O Apple II tinha espaço para crescer no futuro e era uma máquina
muito versátil, por isso tornou-se líder de mercado.
Como eu disse, o Apple II usava uma fita cassete para armazenar dados.
Até então, eu nunca havia utilizado ou mesmo estado perto de um disquete
na vida. Porém, eles existiam. Já tinha ouvido falar de disquetes que
poderiam ser comprados e usados com kits de computador no estilo Altair,
e, claro, os caros minicomputadores da época também os utilizavam.
Porém, todos tinham 20 centímetros, ou seja, giravam em discos
magnéticos de 20 centímetros de diâmetro. E apesar do tamanho, era
possível armazenar somente cerca de 100 Kbytes de dados em cada
disquete: o que corresponde a apenas 100 mil caracteres digitados. O que
não é muito pelos padrões de hoje.
Mas Mike Markulla me disse em uma reunião que deveríamos ter
disquetes no Apple II. Ele ficava irritado com o fato de a fita cassete levar
uma eternidade para carregar seu pequeno programa de controle de saldo
bancário. Por girar com muito mais velocidade e armazenar dados de
maneira mais compacta, o disquete carregaria o programa que ele desejava
de forma muito mais rápida também.
Por exemplo, um computador conseguia ler mil bits por segundo de
uma fita, mas leria 100 mil bits por segundo de um disquete.
Eu sabia que o Consumer Electronics Show (CES) em Las Vegas estava
para começar. Seria o primeiro CES em que as empresas de informática e
tecnologia poderiam demonstrar seus computadores, e apenas o pessoal de
marketing da Apple estava escalado para ir.
Perguntei ao Mike se eu também poderia ir à exposição em Vegas se
terminasse a tempo a leitora de disquete. Ele respondeu que sim.
Tinha, então, somente duas semanas para projetar um drive de
disquete para o Apple II; um dispositivo que nunca vi funcionando antes e
que nunca havia utilizado, mas em relação ao qual eu tinha uma motivação
artificial (artificial, porque, logicamente, eu poderia ter ido ao CES se
quisesse) para novamente tentar impressionar o pessoal da Apple.
Trabalhei dia e noite entre o Natal e o Ano Novo tentando terminá-lo.
Randy Wiggington, que àquela altura estava cursando o ensino médio no
Colégio Homestead (mesma escola em que Steve e eu estudamos), ajudou-
me bastante no projeto.
Para me ajudar a começar, Steve me contou algo que havia ouvido: uma
empresa chamada Shugart, a principal fabricante de unidades de leitura de
disquetes na época, estava para lançar um drive de 12 centímetros –
conhecidos como 3/4 – (Alan Shugart inventara os disquetes anos antes,
quando trabalhava na IBM). Steve estava sempre buscando tecnologias
novas, vantajosas, e que provavelmente seriam uma nova tendência, e a
nova leitora de disquetes da Shugart era, definitivamente, o caso.
Então ele conseguiu para mim o novo drive Shugart de 12 centímetros
para que eu tentasse fazê-lo funcionar com o Apple II. Mas para tanto eu
precisaria projetar uma placa de controle – uma placa que seria conectada
dentro do Apple II – que permitisse tanto ler dados do disquete quanto
gravar dados nele. A primeira coisa que fiz, portanto, foi examinar o drive e
sua placa de controle e verificar como funcionavam. Então copiei o manual.
Por fim, estudei os diagramas esquemáticos de seus circuitos e o circuito de
um disquete da Shugart, que possuía um conector e um protocolo de como
os sinais seriam aplicados para escrever os dados. No final, decidi que dos
22 ou mais chips, cerca de 20 não seriam necessários. Para fazer o disquete
funcionar, seria preciso combinar um circuito que eu teria de projetar com
o circuito existente na leitora Shugart. Eliminei 20 chips dele, a fim de
reduzir 20 chips em meu produto final. Sempre pensara que as coisas
deveriam ser daquela forma. Eu poderia rodar os dados direto do meu
próprio controlador de disquete para a cabeça de leitura/gravação e
implementar quaisquer dos meus próprios protocolos de começar/parar
em codificação no computador. Para dizer a verdade, aquilo tudo era
menos trabalhoso para o computador que gerar os protocolos engraçados
que Shugart queria. Então sentei e concebi um circuito bastante simples,
que gravaria dados na velocidade do disquete e os leria. E isso acabou
sendo um verdadeiro desafio.
Aquela foi uma noite da qual eu e Randy nunca vamos nos esquecer.
Afinal, foi a primeira vez que vimos as luzes de Las Vegas. Ficamos
deslumbrados com elas. Era, então, uma cidade muito diferente e muito
menor do que é hoje, com hotéis menores. Não existiam tantos hotéis
quanto agora, e muitos eram velhos e minúsculos. Porém, foi
impressionante. Com certeza, nunca havíamos visto algo tão iluminado!
Nosso motel era o lugar mais barato da cidade, o Villa Roma. Ficava
perto do Circus Circus, e estudamos o caminho de lá até o Las Vegas
Convention Center. Eu e Randy caminhamos bastante naquela noite.
Mostrei a Randy, que estava com 17 anos de idade, como jogar dados, e ele
ganhou algo em torno de 35 dólares. No centro de convenções, observamos
a montagem de todos os estandes. Fomos até nosso estande e trabalhamos
para deixar tudo funcionando até às 6 horas da manhã.
Em um dado momento, fiz algo bastante inteligente. Eu estava muito
cansado e queria dormir, mas sabia que valia a pena fazer uma cópia de
nosso disquete, com todos os dados corretos.
Eu tinha levado alguns programas curtos que me permitiam ler e
gravar trilhas inteiras. O disquete possuía 36 trilhas. Então decidi fazer
uma cópia daquele disquete único, no qual havíamos trabalhado tão
arduamente e por tanto tempo. Como tinha apenas dois disquetes comigo,
decidi copiar o que estava preparado no que estava em branco. Inseri o
disquete e entrei alguns dados na memória para fazê--la ler a trilha 0.
Depois pus o disquete em branco e utilizei os mesmos dados para gravar a
“trilha 0” nele. Fiz o mesmo em todas as 36 trilhas. Sempre digo que fazer
cópias é uma atitude inteligente.
Quando terminei a cópia, olhei para os dois disquetes sem etiquetas e
tive uma profunda sensação de que havia seguido um padrão de rotina,
mas na verdade, o que tinha acabado de fazer foi copiar o disquete em
branco no disquete com os dados, apagando assim tudo o que havia
gravado. Um teste rápido determinou ter sido exatamente isso que
aconteceu. Fazemos coisas assim quando estamos extremamente cansados.
Dessa forma, minha ideia inteligente levou a um resultado burro e infeliz.
Portanto, em virtude de nosso cansaço, não teríamos o disquete pronto
para mostrar quando a CES começasse, dali a poucas horas. Que coisa
desagradável!
Voltamos ao motel Villa Roma e dormimos. Às 10 horas da manhã,
acordei e fui trabalhar. Queria tentar refazer todo o processo, afinal, o
programa estava todo em minha cabeça. Assim sendo, consegui
restabelecê-lo até o meio-dia e levei o disquete ao nosso estande, onde o
inserimos no Apple II e começamos a demonstrá-lo.
Não consigo encontrar palavras para expressar o enorme sucesso que
ele fez naquela exposição, principalmente em comparação com o PET da
Commodore e o TRS-80 da Radio Shack, que também estavam lá.
Lembra-se de quando contei que Mike nos fez usar as leis do copirraite
no software? Foi um passo muito acertado.
Após a CES, ficamos sabendo de um novo computador de uma empresa
chamada Franklin, que, supostamente, era bastante parecido com o nosso.
Quando chegou à sede da Apple, era tão parecido com o Apple II que fiquei
interessado.
Pensei: Que ótimo. Eles copiaram meu projeto. Então fiquei imaginando
quanto eles haviam copiado. Não esperava que tivessem copiado muito.
Acho que os engenheiros estudam para inventar e conceber produtos
próprios. Um engenheiro nunca iria olhar para o projeto de outra pessoa e
simplesmente copiá-lo, não é verdade? Não é para isso que eles vão para a
faculdade. Eles estudam para aprender a projetar as próprias invenções.
Caminhei até o edifício principal para dar uma olhada nele. Lá estava; e
fiquei chocado. A placa de circuito impresso dentro dele era exatamente do
mesmo tamanho que a nossa. Cada característica e cada fio eram iguais aos
nossos. Era como se tivessem feito um xerox da placa do Apple II. Como se
tivessem um xerox da placa em branco do Apple II e colocassem nela
exatamente os mesmos chips. A Franklin havia feito algo que engenheiros
honrados jamais fariam no esforço de projetar os próprios computadores.
Eu não podia acreditar.
Na exposição seguinte de computadores de que participei, fui
imediatamente para o estande deles e falei para o presidente que estava
presente: “Ei! Isso é simplesmente uma cópia do nosso”. Eu estava
absolutamente contrariado.
“Isso é ridículo”, disse para ele. “Você copiou nossa placa.
Simplesmente copiou. O que significa que sou seu diretor de Engenharia, e
que você sequer me deu crédito por isso.”
O presidente olhou para mim e disse: “OK. Você é nosso diretor de
Engenharia”.
Fiquei feliz e fui embora, mas agora que estou pensando melhor sobre
isso, acho que deveria ter pedido um salário para ele!
Mais tarde nós os processamos, e foi quando descobri o argumento
deles para agir como agiram. Eles alegaram que havia razões jurídicas que
lhes davam o direito de copiar o Apple II: como havia uma enorme base de
softwares para o Apple II, seria injusto excluí-los. Alegaram, portanto, ter o
direito de fabricar um computador que pudesse rodar a tal base de
softwares, mas certamente esse argumento não fazia sentido para mim.
A disputa com a Franklin levou alguns anos. Eles perderam e tiveram
de nos pagar. Porém, foram apenas algumas centenas de milhares de
dólares, não os milhões que eu achava que ganharíamos. Mas foi o
suficiente para fazê-los parar.
* Initial Public Offering [Oferta Pública Inicial] – lançamento oficial das ações de uma empresa na
Bolsa de Valores. (N. T.)
** Lei de Direitos Autorais. (N. T.)
15 O Plano Woz
Acho que no fundo Steve pensou que fui um fraco por agir assim –
como se estivesse descartando um pouco a empresa, como se fosse uma
liquidação. Mas vendi as ações por cerca de 5 dólares cada cota para 40
pessoas dentro do Plano Woz – 2 mil cotas para cada uma –, e depois pude
comprar uma casa realmente bonita para mim e Alice. Comprei-a em
dinheiro. Achei ótimo ter uma casa própria. Só é preciso se preocupar com
a manutenção da casa quando não se tem emprego ou algum tipo de renda.
Portanto, comprei a casa e tomei posse dela imediatamente.
Não era uma casa grande, mas era uma casa boa. Provavelmente, de
todas as casas que tive na vida, foi a de que mais gostei. Ela era
simplesmente linda – localizada no meio de Santa Cruz Mountains, em
Scotts Valley. Era uma casa toda de madeira – pinho nodoso com furos na
madeira. Havia um enorme quarto de casal no andar de cima. Lembro-me
de poder atravessar o quarto, sair para uma varanda e olhar para a sala de
estar lá embaixo, e para um pequeno aviário com um monte de janelas.
Havia um portão na frente com uma pequena casa de madeira que fiz para
os cachorros. Tive meu primeiro husky siberiano lá. Eu gostava de tudo
naquela casa.
Entretanto, eu e Alice não ficamos juntos naquela casa por muito
tempo. Embora naquele momento tivéssemos dinheiro como nunca
sonháramos ter, não foi suficiente para compensar o fato de que tínhamos
interesses diferentes. Ela queria sair todas as noites com as amigas. Não era
meu estilo. Eu queria ficar em casa e trabalhar. Não queria me divorciar –
nunca quis me divorciar. Sempre fui o tipo de sujeito que quer ficar casado
com alguém por toda a vida, e queria isso com Alice.
Mas o que eu podia fazer? Isto é, naquela época, as ações da Apple
valiam muitas centenas de milhões de dólares, e ela disse ao terapeuta de
casais que estávamos consultando que ela queria redescobrir quem era
sem que eu estivesse a seu lado, isto é, queria viver sem mim. Em nenhum
momento ela disse ao terapeuta que eu trabalhava demais, que é uma
espécie de mito sobre meu divórcio que surgiu na imprensa mais tarde.
Não, não foi isso que ela disse. Ela disse que queria viver sozinha.
Quero dizer que me opus com todas as minhas forças ao nosso
divórcio. Nunca quis me divorciar. Porém, finalmente percebi que não
havia maneira de evitá-lo. Então levei Alice até um parque em Cupertino,
desejei tudo de bom para ela e disse adeus. Voltei para a Apple me sentindo
realmente diferente. Diferente no sentido de que era hora de seguir
adiante. Alice havia ido embora.
Foi o IPO de maior sucesso até então. Estava nas primeiras páginas de
todos os grandes jornais e revistas. De repente éramos lendários. E ricos.
Realmente ricos.
Sem dúvida, foi uma conquista incrível. Afinal, havíamos começado
praticamente do nada. Mike Markulla estava certo. De fato, caminhávamos
para ser, dali a cinco anos, uma empresa da Fortune 500.
Apenas um ano depois, estávamos disputando cabeça a cabeça com o
primeiro computador pessoal da IBM, o PC. Não obstante, tivemos um
imenso IPO. Também tínhamos o Apple III, uma máquina direcionada às
empresas, de uso corporativo, portanto, que estava para ser lançado –
havia apenas rumores sobre o assunto –, e acho que isso era parte da razão
de o timing estar correto. (Outro motivo era que, pelo fato de tantas
pessoas terem recebido participações da empresa, o aborrecimento gerado
pelos relatórios administrativos foi mais difícil de lidar que a decisão de
abrir as ações para o público!)
O Apple III foi uma declaração bastante forte para o mundo dos
negócios. Era como se de repente, após o incrível fenômeno do Apple II,
passássemos a ser capazes de competir, na época, com o novo PC da IBM.
Entretanto, o Apple III tinha alguns problemas terríveis. Não era nem
um pouco parecido com o Apple II, uma máquina sempre confiável. Estou
falando sério. Se alguém comprasse hoje um Apple II no eBay ele
funcionaria. Não há um produto moderno que seja tão confiável. Em todas
minhas palestras, converso com pessoas que dizem ainda ter um Apple II
operando, e bem, mesmo após todos esses anos.
O Apple III tinha problemas de hardware bastante sérios. Ele chegava
na loja, por exemplo, ligava algumas vezes, e depois podia travar. Algumas
vezes nem chegava a ligar. Naquela época, meu irmão tinha uma loja de
informática em Sunnyvale e ele me disse que os engenheiros da Apple
vinham consertar, mas nunca conseguiam que uma máquina funcionasse
direito. Nunca. Os primeiros meses do Apple III se passaram, e muitas das
lojas onde ele era comercializado tinham a mesma experiência. Cada Apple
III chegava sem funcionar. O que você faz quando é um vendedor de
computadores e isso acontece? Você para de vendê-lo e continua vendendo
a máquina original, o Apple II. Foi assim que o Apple II continuou sendo o
computador mais vendido do mundo por pelo menos mais três anos. Na
verdade, em 1983, ele atingiria um marco enorme: foi o primeiro
computador a vender um milhão de unidades!
Por que o Apple III teve tantos problemas se todos os nossos outros
produtos funcionaram tão bem? Essa pergunta eu posso responder. Porque
o Apple III não foi desenvolvido por apenas um único engenheiro ou por
uma dupla de engenheiros. Ele foi desenvolvido por um comitê e pelo
departamento de marketing. Por executivos da empresa que tinham
bastante poder para decidir colocar todo seu dinheiro e recursos na
realização das ideias que tinham sobre o que deveria ser um computador.
O departamento de marketing constatou que a comunidade
empresarial seria o maior mercado. Eles perceberam que o típico pequeno
empresário ia para uma loja de informática, comprava um Apple II, uma
impressora, o programa de planilhas eletrônicas VisiCalc e duas placas
adicionais: uma placa de memória para rodar planilhas maiores; e uma
placa para 80 colunas, que permitia apresentar 80 colunas na tela do vídeo
em vez das normais 40, que era o limite das TVs americanas naquele início
de anos 1980.
Assim, eles tiveram a ideia de juntar tudo isso em uma única máquina:
o Apple III.
Inicialmente, não havia quase nenhum software concebido para o
Apple III. Porém, existiam centenas de programas que podiam ser
comprados para o Apple II. Dessa forma, a fim de ter vários softwares
imediatamente disponíveis aos usuários, a Apple fabricou o Apple III como
um computador duplo – havia uma chave que permitia selecionar se o
computador iniciaria como um Apple II ou como um Apple III (o hardware
do Apple III foi concebido para ser totalmente compatível com o Apple II,
que era difícil de aperfeiçoar). Ele não poderia ser ambos de uma só vez.
Mas um grande erro foi cometido exatamente nesse ponto. Os
executivos da Apple queriam estabelecer para o público que o Apple III era
um computador de uso empresarial, enquanto o Apple II se posicionaria
como um computador de uso doméstico, de entretenimento. O irmão
menor da família. Mas ocorreu o seguinte: o departamento de marketing
nos fez adicionar chips – e, portanto, custo e complexidade – ao Apple III
para desabilitar a memória extra e o modo 80 colunas caso ele fosse ligado
como Apple II.
Foi isso que matou as chances do Apple III desde o início, pois um
empresário comprando um Apple II para uso profissional poderia
facilmente dizer: “Vou comprar um Apple III e usá-lo no modo Apple II, que
já estou acostumado, mas ainda assim terei uma máquina mais moderna”.
Mas ao desabilitar as características do Apple II (memória extra e modo em
80 colunas) pelas quais os empresários estavam comprando o Apple III, a
Apple acabou matando o produto.
Desde o início, o Apple III obteve bastante publicidade, mas não havia
quase nada que se pudesse rodar nele. Como eu disse, não era um
equipamento confiável. E para operar no modo Apple II, ele tinha sido
aleijado.
Até hoje isso me causa espanto. Não é a maneira como um engenheiro
pensaria – ou qualquer pessoa racional – a respeito. Fiquei decepcionado
com o fato de empresas grandes chegarem a trabalhar de tal maneira.
De 1980 a 1983, a Apple fez do Apple III sua maior prioridade. Seria
justo dizer que a Apple se tornou a companhia Apple III. Uma companhia
Apple III que só vendia Apple II.
Em 1983, todos dentro da Apple eram forçados a ter um Apple III em
sua mesa de trabalho. De repente, em todos os cantos da empresa, ouvia-se
comentários como: “Meu Deus! Você viu aquele novo software rodando no
Apple III?”. Mas quem se importava? Naqueles tempos, eu viajava por todos
os Estados Unidos dando palestras para grupos de informática e
conversava com pessoas de todos os lugares, e a proporção sempre era 90
pessoas com o Apple II e 3 pessoas com o Apple III.
Por que a Apple aparentava ser uma companhia Apple III quando na
verdade não era? Era isso que eu não entendia.
Afinal, durante todos aqueles anos, o Apple II foi o computador mais
vendido no mundo. Era ele que nos carregava. Porém, naquela época, quase
todo anúncio da Apple publicado em grandes revistas, como a Time e a
Newsweek, mostrava um Apple III, nunca um Apple II. A equipe executiva
cortou por completo os planos de fabricação e desenvolvimento para todos
os produtos Apple II. Deixaram somente alguns poucos produtos
relacionados à educação.
Apesar disso tudo, o Apple II ainda pagava o salário de todos dentro da
Apple e gerava imensos lucros para a empresa. E isso sem fazer
propaganda sobre ele. Durante aquele período, de 1980 a 1983, o único
salário pago pela Apple gasto no Apple II era do sujeito que imprimia as
listas de preços.
Foram tempos terríveis. Isto é, todos os recursos da Apple – todos os
empregados e o capital da empresa – estavam sendo dirigidos para o Apple
III e nada se recebia em retorno. E a contabilidade não registrava dessa
maneira. A companhia perdeu muito dinheiro no Apple III naqueles dias –
pelo câmbio de hoje, poderíamos computar em pelo menos 1 bilhão de
dólares (na época, calculei que havíamos perdido cerca de 300 milhões de
dólares). Isso pela minha estimativa.
O Apple II não apenas estava carregando toda a empresa e um desastre
como o Apple III, mas também estava escondendo do mundo as reais
deficiências do Apple III. Ninguém no mundo real, mas ninguém mesmo,
tratava o Apple III como se fosse um equipamento significativo.
Nenhum de nossos usuários tinham a mínima ideia, estou-lhe dizendo.
Porque quem abria uma revista de informática da época via 50 anúncios
para o Apple II – e não feitos pela Apple, mas pelos revendedores e por
todas as pequenas lojas que estavam desenvolvendo diversos jogos e
acessórios para o Apple II.
Quanto às revistas de informática, em quase todas as análises
publicadas sobre o Apple III, elas reconheciam que havia sido um fracasso
de mercado. Nunca reconheceram que tivesse sido uma parte importante
dos negócios da Apple. As reportagens davam a impressão para os
consumidores de que nós éramos, em grande parte, uma companhia Apple
II – um produto enormemente bem-sucedido –, e que havia um grande
grupo ainda trabalhando, por algum motivo, no fracassado Apple III.
Devo destacar que também por volta de 1983 Mike Scott – o presidente
que abriu o capital da Apple e o sujeito que nos conduziu pela IPO
incrivelmente bem--sucedida – havia partido. Durante o período em que o
Apple III estava sendo desenvolvido, ele achou que tínhamos ficado um
pouco grandes demais. Certamente havia bons engenheiros, mas havia
também um monte de péssimos engenheiros andando por ali – o que
acontece em qualquer grande empresa.
A propósito, tal fato não é necessariamente culpa dos péssimos
engenheiros. Sempre pode haver algum desencontro entre os interesses
dos engenheiros e o trabalho que estão realizando.
Seja como for, Scotty havia pedido ao nosso gerente de Engenharia,
Tom Whitney, que este tirasse uma semana de férias. Enquanto isso, fez
algumas pesquisas. Depois conversou com todos os engenheiros da
companhia e descobriu o que cada um estava fazendo; quem trabalhava e
quem não fazia nada.
Em seguida, despediu todo um grupo de pessoas, no que ficou
conhecido como Segunda-feira Sangrenta. Ou, pelo menos, é como acabou
sendo chamado nos livros de história da Apple. Acho que ele acabou
despedindo as pessoas corretas. Os que trabalhavam com menos empenho,
quero dizer.
No final, o próprio Mike Scott foi despedido. O conselho ficou bastante
irritado que ele tivesse tomado tal atitude sem muito apoio da
administração da empresa e sem o correto procedimento, que, imagina-se,
deva ser seguido em uma grande empresa.
Além disso, Mike Markulla me contou que Mike Scott vinha tomando
muitas decisões precipitadas e incorretas. Assim, Mike achou que Scotty
não era realmente capaz de lidar com a empresa dado o ponto e o tamanho
que ela atingira.
Fiquei bastante descontente com a história toda. Eu gostava muito de
Scotty como pessoa. Gostava de seu jeito de pensar. Gostava de seu jeito de
ser capaz de brincar e de ser sério. Com Scotty eu não vi muitas coisas
escaparem por entre os dedos. Além disso, sentia que ele respeitava o bom
trabalho que eu havia feito – o trabalho de engenharia. Ele veio da
Engenharia.
E como disse antes, Scotty foi nosso presidente, nosso líder desde o
primeiro dia da constituição da Apple como empresa até sua abertura de
capital em uma das maiores IPOs da história dos Estados Unidos. Agora,
quase de repente, ele era simplesmente colocado de lado e esquecido.
Acho triste como os livros de hoje parecem nem se lembrar dele.
Ninguém sabe seu nome. No entanto, Mike Scott foi o presidente que nos
conduziu desde os primeiros dias.
Eu e a URSS
O fato de fazer a ponte de satélite com a União Soviética a partir do US Festival levou-me
a destinar mais de um milhão de dólares ao longo dos dez anos seguintes para os esforços
de paz entre Estados Unidos e União Soviética. A ideia era diplomacia pessoal. Tentei
fazer que pessoas comuns de cada país, não funcionários do governo, se encontrassem.
Em 4 de julho de 1988, patrocinei o primeiro grande concerto da URSS, em um estádio na
periferia de Moscou, reunindo importantes grupos soviéticos e americanos no mesmo
palco. Entre os grupos americanos estavam Dobbie Brothers, James Taylor, Santana e
Bonnie Raitt. Encontrei uma guitarra barata de 25 dólares em uma loja da Rússia, e fiz
que todos os grupos a autografassem. Ainda tenho essa guitarra. O concerto ocorreu ao
final de uma grande marcha pela paz.
Por fazer essas coisas, como a primeira ponte espacial entre o US Festival e a URSS, e esse
concerto, acabei ficando bastante conhecido na URSS. Mas quer saber? A imprensa dos
Estados Unidos não se importou nem um pouco. Quase não houve cobertura.
Em 1990, patrocinei viagens de duas semanas para 240 pessoas comuns – professores,
por exemplo – para fazer turismo em terras americanas e ficar na casa de membros do
Rotary Club daqui.
Então fiz as três primeiras pontes espaciais na União Soviética. Nessa mesma época,
talvez em 1989, a ABC considerou um programa nacional de TV como sendo a primeira
ponte espacial já feita. Na verdade, eu paguei pelas conexões da transmissão simultânea,
mas a ABC sequer mencionou meu nome, levando todo o crédito de ter sido a primeira.
Na verdade, ela foi a quarta!
Eu estava tão cansado, andando por toda parte no concerto, quando ele
começou, e havia um médico me injetando algo para me manter de pé –
vitaminas, ele disse. Mas eu tinha de dar todas aquelas entrevistas – uma
com Peter Jennings, por exemplo, e uma com Sting ao meu lado. Eles
ficavam me perguntando sobre a multidão de espectadores, e eu
simplesmente dei respostas horríveis porque estava muito cansado.
Mas existe uma foto maravilhosa – minha foto favorita. Ela mostra o
momento em que subi no palco no primeiro dia do concerto com Jesse
recém-nascido em meus braços. Disse a todos que aquele era o nascimento
de algo grande. Claro que eu queria dizer o Jesse, mas também o concerto.
As pessoas ficaram doidas, gritando e aplaudindo.
Nunca vou esquecer daquele momento.
Paranoia?
Em minha primeira viagem para a URSS decidi levar alguns amigos comigo.
Uma tarde, meu amigo Dan Sokol tentava tirar uma soneca, mas se sentia incomodado
com uma música russa que vinha de dentro de seu quarto. Acho que ele estava muito
cansado para encontrar o pequeno botão da música próximo da porta. Bastaria acionar o
botão para reduzir o som da música ambiente.
Em vez disso, ele forçou uma pequena abertura no teto, próxima ao lugar de onde vinha o
som. Ele viu alguns fios e os puxou com força. Os fios se soltaram, mas a música
continuava. Então Dan subiu em uma cadeira e encontrou outro alto-falante no teto. Ele
puxou o fio deste também, mas o som continuou. Ele examinou o quarto até encontrar
outro alto-falante que fazia parte de um sistema de interfone.
Espera aí!, ele pensou, é dessa forma que eles escutam você! Quando ele arrancou este, o
som parou. Dan levou o crédito por haver encontrado o sistema de vigilância da URSS.
Como se estivessem espionando-o. Dei risada, pois pensei: Tudo isso para você Dan; um
paranoico metido em teorias de conspiração.
Nós contamos esta história sobre o dispositivo de vigilância russo para alguns amigos
nossos que depois foram para a URSS. No ano seguinte, um amigo de Jim Valentine foi
para São Petersburgo para instalar um equipamento de som em uma discoteca. Pensando
na história de Dan, ele esquadrinhou seu quarto em busca do dispositivo de vigilância
escondido que Dan havia descrito. Sob o tapete ele sentiu um pequeno volume. Levantou
o tapete e viu uma placa de bronze presa por quatro grandes parafusos. Com uma chave
de fenda ele tirou os quatro parafusos.
Quando o último parafuso saiu, um lustre caiu no chão no andar de baixo.
Também por volta dessa época conheci uma menina (eu já estava separado de Candi) de
nome russo, Masha. Ela era intérprete e viria a se tornar uma namorada distante pelo
próximo semestre.
Na Rússia, meus amigos começariam a apontar para vários sinais de que eu mesmo
estaria sendo “observado”. Eles achavam que certos empregados russos – motoristas e
outros do gênero – eram agentes da KGB mantendo-se bem perto de mim o tempo todo.
Uma vez, para ter algum tempo sozinho com Masha, montei um esquema para me perder
das pessoas que poderiam estar me seguindo. Em vez de sair do concerto em meu
próprio carro fornecido pelos soviéticos, consegui que outro motorista nos levasse (eu e
Masha) para meu hotel, onde teríamos cerca de 20 minutos sozinhos para conversar.
No dia seguinte, Masha e eu passeamos em um museu de arte no Kremlin. Lá dentro ela
me disse com toda naturalidade, sem mesmo erguer a sobrancelha, que eu estava sendo
seguido pela KGB. Ri da informação, mas Masha apontou para um homem ainda jovem
em um belo terno parado na sala em que estávamos. Ela disse: “Ele é da KGB”.
Ela disse que sempre conseguia identificar a KGB por conhecer vários sujeitos da escola
de espionagem; ela conseguia sempre apontá-los pela forma com que se comportavam e
pela aparência que tinham. Decidi pagar o blefe de Masha e disse--lhe: “Você quer dizer
que se retrocedermos algumas salas ele irá nos seguir?”. Ela respondeu com toda
naturalidade e com total confiança: “Sim”.
Então voltamos algumas salas e ficamos conversando sobre diversos assuntos e
admirando um quadro na parede quando dei uma olhada para os lados. Lá estava ele. O
mesmo sujeito do outro lado da sala olhando para uma caixa de vidro.
Essa aposta eu perdi.
De certa forma, ele estava certo, pois mais tarde aconteceram vários
concertos enormes: Live Aid, Farm Aid, todos eles. Porém, todos esses
concertos foram realizados em estádios, portanto, em locais já construídos.
Quem mais na história ergueu uma instalação como aquela, um lugar bom o
suficiente para receber e dar condições para tantas pessoas apreciarem um
show?
Para o público e para mim, os dois US Festival foram o ponto alto de
minha vida. Ganhar dinheiro ou perder dinheiro é importante. Mas realizar
um belo show é o mais importante de tudo!
* Feriado nacional nos Estados Unidos, observado na última segunda-feira do mês de maio. Nesse dia
se homenageia os soldados americanos mortos em combate. (N. T.)
18 Deixando a Apple e mudando
para a Cloud Nine
A primeira atitude que tomei foi telefonar para o chefe de meu chefe na
divisão Apple II, Wayne Rosing, e contar-lhe que eu estava saindo para
começar uma empresa de controle remoto. Quer saber: eu tinha um
emprego e precisava dizer para alguém: “Estou saindo. Estou saindo para
começar uma empresa”.
Não telefonei para Steve ou Mike Markulla ou qualquer outro no
conselho. Eu tinha um emprego em engenharia e achava que deveria dizer
para alguém que eu me reportasse, para que eles ficassem sabendo.
Sentei com eles, esquematizei minha ideia e a descrevi exatamente
como a descrevi aqui. Eu lhes disse que faria um controle remoto que seria
único para trabalhar com todos os eletroeletrônicos que alguém possuísse.
Seria um único controle remoto com um único botão; bastante simples. Isso
não competia com nada que a Apple fazia.
Eles rapidamente me liberaram dizendo que viram meu projeto e que
não havia nada nele que representasse uma concorrência. A carta também
me desejava sorte.
Eu saí em uma semana, mas ainda fiquei na folha de pagamento como
empregado da Apple. Estou até hoje. Eu tenho o menor salário que um
empregado em tempo integral pode possuir. Desta forma ainda represento
a Apple em clubes de informática.
Steve provavelmente ouviu falar que eu estava saindo no mesmo dia
em que quase todos no mundo ouviram isso (instantaneamente): no dia em
que uma notícia foi publicada em The Wall Street Journal. Mas a notícia saiu
toda errada.
O repórter me telefonou no mesmo dia em que eu estava saindo,
enquanto eu empacotava tudo, e disse: “Entendi que você está começando
uma nova empresa?”. Então o boato já estava circulando. Eu disse que sim e
ele me perguntou do que se tratava. Eu contei para ele.
Ele perguntou: “Existe algo que você não esteja feliz com a Apple?”. E
eu lhe disse a verdade. Eu disse que sim e que me colocava na defesa das
pessoas com as quais trabalhei que estavam ofendidas pela falta de
respeito que receberam.
Na época em que eu estava saindo, as pessoas do grupo Apple II
estavam sendo tratadas como desimportantes pelo restante da empresa.
Isso apesar do fato de o Apple II ser de longe o produto mais vendido em
nossa empresa há muito tempo, e que ainda continuaria sendo nos
próximos anos. Apenas recentemente ele foi superado como número um no
mundo pelo PC da IBM, que possuía conexões no mundo empresarial que
nós não tínhamos.
Quem trabalhava na divisão Apple II não conseguia obter o dinheiro de
que precisava ou as peças de que precisava da mesma forma que
conseguiria se trabalhasse, por exemplo, na divisão do novo Macintosh. Eu
achava que isso não era justo.
Ele ficava reduzido a certos tipos de despesas, que tipo de
componentes seria permitido comprar de outras empresas, quanto
dinheiro estava alocado para trabalhar em projetos; tudo isso apesar de ter
este computador com imenso sucesso no mundo. Como eu disse, muitas
coisas estavam sendo cortadas.
Também havia limitações para o Apple II em termos de fazer uso das
vantagens dos novos avanços na tecnologia. Nós ouvíamos: “Não, o Apple II
continuará sendo o Apple II, e não deixaremos que ele se mova para áreas
mais novas e mais avançadas”. Coisas desse tipo.
Assim, fiz vários comentários como estes acima e depois o repórter
perguntou: “Então este é o motivo de você sair da empresa?”.
E eu respondi categoricamente: “Oh não, este não é o motivo. Estou
saindo porque quero fazer este controle remoto”.
Mas The Wall Street Journal imprimiu o artigo sugerindo que eu estava
zangado com a Apple e que esta era a razão de eu estar saindo. Isso foi
errado, muito errado; eu me desdobrei para contar a história toda sem
confundir o repórter. Talvez eles tivessem achado mais interessante
compor a história da forma como ela foi publicada. Eles apenas deixaram
de fora algumas poucas palavras: “Não é por isso que estou saindo”, e isso
foi o mesmo de querer dizer que esta foi a razão por eu ter saído.
Oh, meu Deus! Eu tendo a achar que isso foi um acidente, mas deixe-me
dizer uma coisa. Desde então isso foi colocado em cada livro e em cada
trecho de história sobre a empresa. Isso está errado. Quer dizer, eles
perguntaram especificamente: “Este é o motivo para você sair da
empresa?”. E eu me desdobrei para dizer: “Não”. Mas não foi impresso
desta forma. Todo mundo acabou achando que eu saí por estar zangado
com a Apple, ou algo assim.
O único motivo por eu ter deixado meu emprego diário na Apple é que
fiquei entusiasmado com a ideia de realizar esse novo projeto que nunca
havia sido feito antes. Eu vi que os controles remotos se tornariam mais
importantes nas vidas das pessoas quando fossem lançadas as TVs por
satélite e outros aparelhos. Lembre--se de que ainda não havia uma loja
onde fosse possível comprar uma TV por satélite. Era preciso fazer parte de
um seleto grupo de pessoas para saber como até mesmo comprar um
receptor feito sob encomenda para isso.
Se não tivesse passado pela minha cabeça a ideia do controle remoto,
eu teria permanecido exatamente onde estava. Mas essa foi uma ideia legal.
E nós nos movemos bem rápido.
Fazendo doações
Não fundei a Apple para que pudesse ganhar mais dinheiro do que precisaria para viver.
Nunca planejei em minha vida buscar uma grande riqueza. Sempre me senti inspirado
pelas histórias daqueles que doaram para realizar boas ações na vida.
Portanto, senti que esta era a coisa certa a fazer. E foi bom. Fiquei cercado por pessoas
nos conselhos dos museus e do balé que eram mais inclinadas para a atividade social.
Eram menos voltados às piadas e ao humor; não tanto quanto eu, pelo menos. Mas eram
boas pessoas que acreditavam naquilo que faziam, e eu acreditava nelas.
O primeiro projeto que financiei foi o Museu Children’s Discovery de San Jose. Eu o
financiei inteiramente por muitos anos, chegando no final à casa de alguns milhões.
Depois ajudei a dar início no museu de informática The Tech, no Vale do Silício. Também
promovi o financiamento inicial do San Jose Cleveland Ballet, agora conhecido como
Ballet of Silicon Valley. Por que balé? Novamente, foram as pessoas. Eles eram ótimos e
eu confiava neles.
Também contribuí para a expansão do Center for the Performing Arts em San Jose, que
beneficiava tanto o balé quanto a orquestra. Esta foi uma doação que beneficiaria
diretamente a cidade de San Jose. É muito bom doar para uma cidade.
Embora não esperasse isso, em 1988, o prefeito de San Jose, Tom McEnery, telefonou-me
para dizer que iriam colocar meu nome em uma rua da cidade. Na verdade seria a mesma
rua onde ficaria localizado o Museu Children’s Discovery. O nome da rua é Woz Way. Esta
é uma das coisas de que mais tenho orgulho em minha vida – ter uma rua com nome em
minha homenagem! Não um nome tolo, mas um nome legal. Teria sido uma chatice ter
uma rua com um nome que soasse esquisito em sua homenagem.
19 O chapeleiro maluco
Adorei ser pai. Foi ótimo. Eu não li livros sobre a paternidade. Eu não
queria ler nada sobre regras estruturadas. Eu queria me relacionar e me
comunicar com a criança. Porque se você consegue falar com eles, então
eles conseguem-lhe contar sobre a maior parte das coisas em suas vidas. Eu
queria expô-los a uma reflexão criativa. Eu queria mostrar-lhes que você
não precisa estreitar e restringir seu pensamento da forma que tantas
pessoas fazem. Nem uma vez tentei imprimir nem mesmo meus próprios
valores na vida em qualquer um de meus filhos.
Eu queria ser como meu pai. Lembro-me de suas conversas comigo; ele
sempre apontava todos os lados de uma questão. Eu queria saber o que ele
pensava sobre determinado assunto, mas ele fazia com que eu chegasse às
minhas próprias decisões, que muitas vezes acabavam sendo iguais às dele.
Ele foi um professor muito, muito bom. Então eu também pretendia ser
assim.
Eu e a Candi tivemos três filhos. O primeiro foi Jesse, que nasceu na
noite anterior ao US Festival naquele fim de semana do Dia do Trabalho em
1982. Sara chegou dois anos depois. E Gary nasceu em 1987, depois que eu
e Candi já estávamos divorciados. De modo que foi difícil.
0 E 0 = 0 1 E 0 = 0 1 E 1 = 1
0 OU 0 = 0 1 OU 0 = 1 1 OU 1 = 1
átomo A menor partícula que pode combinar com outros átomos para
formar elementos físicos.
caractere Símbolo que pode ser impresso na tela que normalmente retrata
texto, numeral ou sinal de pontuação. Nos computadores, há um número
limitado de símbolos que podem ser usados como caractere. A norma
vigente é chamada de “conjunto ASCII”, acrônimo para American
Standard Committee [Comitê de Padrão Americano].
hertz Unidade de frequência igual a ciclos por segundo. Recebeu esse nome
em homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz.
0 0 0
1 1 1
10 2 2
11 3 3
100 4 4
101 5 5
110 6 6
111 7 7
1000 8 8
1001 9 9
1010 10 A
1011 11 B
1100 12 C
1101 13 D
1110 14 E
1111 15 F
10000 16 10
10001 17 11
A porta NAND opera como uma porta AND seguida por uma porta NOT.
Ela atua como uma operação lógica “e” seguida por uma negação. A saída
é “falsa” se ambas as entradas forem “verdadeiras”. Caso contrário, a
saída é “verdadeira”.
As pessoas costumavam ir aos jogos da Caltech só para ver meu pai jogar.
Aqui está ele com o uniforme do time. (Fotografia cedida por cortesia de
Margaret Wozniak)
Esta é a foto de casamento de mamãe e papai. (Fotografia cedida por
cortesia de Margaret Wozniak)
Meus pais me contaram que comecei a ler com 3 anos de idade. (Fotografia
cedida por cortesia de Margaret Wozniak)
Meu pai e os três filhos. A partir da esquerda, eu, Mark e Leslie. (Fotografia
cedida por cortesia de Margaret Wozniak)
Nesta foto estou com minha segunda esposa, Candi, e um dos astros do Van
Halen na época, David Lee Roth. Estávamos na festa antes de uma das
aparições da banda no US Festival. (Fotografia cedida por cortesia de Dan
Sokol)
A cantora Emmylou Harris é minha amiga de muito tempo. Ela cantou em
meu casamento e tocou no US Festival. (Fotografia cedida por cortesia de
Dan Sokol)
Aqui estou com minha segunda esposa, Candi. Ela é a mãe de meus três
filhos. (Fotografia cedida por cortesia de Dan Sokol)
Eu e Steve Jobs rindo juntos na Macworld 2005. (Fotografia cedida por
cortesia de Alan Luckow)
Nesta foto estou com um de meus Segways. Eu andava o tempo todo com
um deles. Um grande meio de transporte individual inventado por Dean
Kamen. (Fotografia cedida por cortesia de Dan Sokol)