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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA – UCAN

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO l

Professor: José Dias Amaral


INTRODUÇÃO
Síntese histórica
- O crescimento económico sustentado constitui uma das principais preocupações dos
países subdesenvolvidos, por ser o pilar fundamental para o desenvolvimento.
- O crescimento económico gera riqueza que contribui para o combate à pobreza
através de medidas de política económica de criação de emprego e da redistribuição
do rendimento.
- O crescimento económico é um elemento necessário do processo de
desenvolvimento mas não suficiente, pois não integra as dimensões social, cultural,
ambiental, política, liberdade, entre outras.
Crescimento económico ≠ Desenvolvimento
- Existem diferentes teorias e modelos que explicam o crescimento, desde William
Petty, François Quesnay, Adam Smith, David Ricardo, no campo das ideias, até as
teorias mais moderna como as de Rostow, Harrod-Domar, Lewis, Solow - cujo
modelo de crescimento contribuiu para revolucionar as ideias de crescimento então
existentes.
- Os primeiros contributos para a teoria do crescimento económico são devidos a
William Petty e François Quesnay ao procurarem estabelecer os determinantes
da constituição da riqueza, cujos esforços desenvolvidos foram aprofundados
por Adam Smith com base em análises reais.
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William Petty
National income accounting
Petty introduces in the first two chapters of ''Verbum Sapienti'' the first rigorous
assessments of [[national income]] and wealth. To him, it was all too obvious that a
country's wealth lay in more than just gold and silver. He worked off an estimation that
the average personal income was £6 13s 4d per annum, with a population of six million,
meaning that national income would be £40m. Petty produces estimates, some more
reliable than others, for the various components of national income, including land,
ships, personal estates and housing. He then distinguishes between the stocks (£250m)
and the flows yielding from them (£15m). The discrepancy between these flows and his
estimate for national income (£40m) leads Petty to postulate that the other £25m is the
yield from what must be £417m of labour stock, the ''value of the people''. This gives a
total wealth for England in the 1660s of £667m.

Laissez faire governance


This is one of the major themes of Petty's writings, summed up by his use of the phrase
vadere sicut vult, whence we get laissez-faire. Petty warned against over-interference
by the government in the economy, seeing it as analogous to a physician tampering
excessively with his patient. He applied this to monopolies, controls on the exportation
of money and on the trade of commodities.
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William Petty
In another work, Political Arithmetic, Petty also recognised the
importance of economies of scale. He described the phenomenon
of the division of labour, asserting that a good is both of better
quality and cheaper, if many work on it. Petty said that the gain is
greater 'as the manufacture itself is greater.
Summary and legacy
He influenced not only immediate successors such as [[Richard
Cantillon]] but also some of the greatest minds in economics,
including [[Adam Smith]], [[Karl Marx]] and [[John Maynard
Keynes]]. With Adam Smith, he shared a world view that believed in
a harmonious natural world. The parallels in their canons of
taxation epitomise their joint belief in natural [[liberty]] and [[Equal
opportunity|equality]]. They both saw the benefits of specialisation
and the [[division of labour]]. Furthermore, Smith and Petty
developed labour theories of value, as did [[David Ricardo]], [[Henry
George]], and Karl Marx in the 19th century.

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Quesnay
Com os fisiocratas inicia-se a época dos fundadores da ciência
económica. Assim, os fisiocratas foram não só uma escola de
pensamento económico, como uma escola de acção política.
Os fisiocratas explicam os fenómenos económicos
fundamentando-se em factos e utilizam argumentos de
natureza económica.
Cada indivíduo saberá, natural e livremente, encontrar o
caminho que lhe é mais vantajoso. É desnecessária qualquer
coação social.
O homem não deve intervir nesta ordem natural. Sem a sua
intervenção o mundo marcha por si mesmo. É a doutrina do
laisser faire, que não significava, todavia, que um governo
nada tivesse a fazer: cabia-lhe suprimir os entraves criados à
ordem natural, assegurar a propriedade e a liberdade,
descobrir as leis naturais e ensiná-las.
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Quesnay
Os fisiocratas, definiram riqueza como a totalidade dos bens
comercializáveis produzidos anualmente (Quesnay).
Estabeleceram uma síntese teórica da distribuição dos
rendimentos: pretenderam demonstrar que as riquezas
circulam na sociedade por elas próprias, de uma classe para a
outra.
Quesnay distinguia três classes sociais: a classe produtiva,
composta pelos agricultores; a classe proprietária, que abrangia
não só os proprietários, mas igualmente os que exerciam, a
qualquer título, a soberania; a classe estéril, que englobava os
que se dedicavam à indústria, ao comércio e às profissões
liberais.
No seu Quadro, Quesnay descreveu como os rendimentos se
distribuíam desigualmente por estas três classes.
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Quesnay
O Quadro mostrava como esta riqueza se repartia:
- a classe agrícola conservava uma parte das riquezas que
produzira, para a sua própria manutenção e para assegurar
a reprodução da riqueza. Uma outra parte dos bens
produzidos, ou as quantias em dinheiro que lhes
correspondiam, era transferida para a classe proprietária.
- A classe agrícola tinha de comprar bens industriais ou de
pagar serviços à classe estéril.
- A classe estéril utilizava o dinheiro que recebera das suas
vendas e serviços às outras classes na sua subsistência e na
compra de matérias-primas necessárias à sua indústria. Em
ambos os casos, as somas recebidas pela classe estéril
eram recuperadas pela agricultura.

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INTRODUÇÃO
• Adam Smith destaca que o Estado devia abster-se de intervir na
economia e sustenta que se as pessoas ao actuarem de acordo
com os seus interesses, a soma dos esforços de cada um
contribuirá para aumentar a riqueza da Nação. Esses esforços,
segundo ele, estariam controlados por uma mão invisível que os
convertiria em beneficíos para todos.
• Na sua obra (A riqueza das Nações) Adam Smith trata de
questões como o progresso técnico, a produtividade e o
crescimento, tendo este como base a divisão do trabalho a
acumulação de capital e o progresso tecnológico, que actuam
sujeitas às forças do mercado. Para Smith a liberdade era uma
questão importante que levaria à máxima riqueza possível.
• Smith também mencionou na sua obra como um sistema de
livre comércio podería beneficiar países pobres através de países
ricos.
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Adam Smith
A obra de Adam Smith constitui uma das mais importantes
contribuições para a economia política sendo a fonte de
estudo de economistas posteriores (como John Stuart Mill
ou Karl Marx) que a utilizariam para tratar de establecer
com objectividade que é o que realmente gera a riqueza e o
seu crescimento.

No séc. XIX, David Ricardo (precursor da Escola Clássica, com


Smith) preocupou-se, igualmente, com as causas do crescimento
económico. Introduziu o conceito de rendimentos decrescentes
ao enunciar que os investimentos adicionais na agricultura
conduziam a níveis de produção cada vez menores, e por
consequência níveis de crescimento menores.

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INTRODUÇÃO

• No séc. XX, com a crise económica de 1929 surgem as teorias


económicas de John Maynard Keynes que apresenta um modelo
macroeconómico para explicar a determinação do rendimento e do
emprego numa economia monetaria moderna ("Teoria geral do
emprego, o juro, e o dinheiro (1936)).
A principal contribuição de Keynes foi o reconhecimento de que o
investimento públicos é um complemento do investimento privado.
A diferença das teorías clássicas é que no modelo Keynesiano o
estado participa da actividade económica, incorporando-a.
A teoria Keynesiana foi acolhida em países como a Suécia, Alemanha
e Inglaterra como um modelo de estado denominado de bem-estar,
intervencionista ou social.

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David Ricardo
• A principal preocupação de David Ricardo era a tendência
decrescente dos rendimentos que considerava como inevitável na
economia inglesa, facto verificado há muitos anos.
Ricardo entendia que só com o apoio do comércio externo seria
possivel contratriar tal tendência, mas, ao contrário de Adam Smith,
que apoiava a exportação de bens manufacturados, Ricardo afirmava
que o comério externo deveria ser orientado para a importação de
cereais baratos de modo a impedir o aumento de salários,
aumentando assim os benefícios e a acumulação necessária para
garantir o crescimento.

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Keynes
• Keynes refuta alguns pressupostos neoclássicos, como o do
pleno emprego, considerando que no sistema económico
capitalista existem situações permanentes de desemprego,
que não é necessariamente voluntário.
Segundo Keynes, os sindicatos não estarão dispostos a aceitar
mais trabalho por menos salário.
No modelo Keynesiano o rendimento e o emprego devem
determinar-se conjuntamente a partir da procura global. Para
manter o volume de rendimento e emprego deve-se investir a
diferença entre o rendimento e o consumo, ou seja a
poupança. O investimento é assim um factor do aumento do
emprego, mas se o investimento privado não é suficiente para
atingir o nível de receita de pleno emprego, então o estado
deve intervir com investimento, para atingir-se esse objectivo.

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INTRODUÇÃO
• Em 1937 Von Neuman publica “Um modelo do equilibrio
económico geral”, em que analisa o crescimento económico
relacionado-o com o a taxa de juro e estabelece que a taxa de
crescimento tem que ser igual a taxa de juro real sujeita a condição
de que todos os benefícios sejam reinvestidos. Esta teoría deu, mais
tarde, lugar aos estudos do crescimento óptimo.
• Contudo, depois da 2ª GM, as teorias económicas dos países
desenvolvidos não contemplavam os problemas dos países cujas
economias dependiam do sector primário - dos países com
estruturas económicas atrasadas (não modernas). Além do mais,
não haviam gozado da experiência herdada do “Plano Marshall”.
Assim, como o “Plano Marshall” contribuiu para a recuperação da
europa pós 2ª GM, tal experiência se aplicada aos países pobres
proporcionar-lhes-ia crescimento seguido de desenvolvimento.
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INTRODUÇÃO
• É neste contexto que surgem as teorias das “etapas lineares”
(etapas de crecimento económico) que sugerem que cada país
deve realizar certos passos para atingir o crescimento (o
desenvolvimento).
Estas teorias pressupõem que uma combinação adequada de
poupança, investimento e ajuda externa é tudo o que se
necessita para que os países do terceiro mundo cresçam
economicamente e se desenvolvam.

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ROSTOW
• Rostow estabelecia que cada sociedade, de acordo com
a sua dimensão económica, deveria ser considerada
dentro de uma das seguintes "etapas": 1) a sociedade
tradicional; 2) as condições prévias para o arraque
rumo ao crescimento auto-sustentado; 3) o arranque;
4) o caminho até a maturação; 5) o consumo em
massa.
Na 1ª etapa, os países subdesenvolvidos alcançariam
um nível de crescimento auto-sustentado sempre que
seguissem um conjunto de regras, dentro das quais se
ressaltam o fomento da poupança interna e externa de
forma a proporcionarem os recursos necessários para
manter un nível de investimento suficientemente capaz
de gerar crescimento.
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INTRODUÇÃO
●Com base na teoria de crescimento económico do pós-guerra, que
enfatiza o crescimento económico de longo prazo, defendida por
Keynes, Harrod e Domar preocuparam-se em saber como é que uma
economia poderia crescer até atingir o seu estado estacionário –
estado em que a produção e o emprego crescem de uma forma
proporcional e constante, assim como a poupança e os investimentos
capazes de gerar o capital suficiente para manter fixa a relação capital/
produto.
Harrod e Domar desenvolvem um modelo em que consideram a
produção de uma única mercadoria composta, que pode consumir-se ou
acumular como existências de capital, sendo a oferta de trabalho
homogénea.
Quer a teoría das etapas de crescimento de Rostow, quer o modelo
Harrod-Domar, não resolvem o problema do crescimento dos países
subdesenvolvidos sob o desígnio da implementação de um “Plano
Marshall” pois, a diferença das condições entre os países europeus
depois da 2ª GM e os subdesenvolvidos não proporcionará que o fluxo
massiço de capital sob a forma de investimentos se traduza em
crescimento, e muito menos em desenvolvimento.
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INTRODUÇÃO
● Na década dos anos 50 e 60 do séc. XX, Arthur Lewis procurou
superar alguns dos problemas da teoria do crescimento por
etapas ao desenvolver os “modelos neoclássicos de mudança
estrutural”, também conhecidos como “modelo dos sectores
com excesso de mão de obra”.
Lewis centra a sua teoria (a teoria da mudança estrutural) na
análise da forma como os países subdesenvolvidos (que
possuem estruturas económicas de subsistência) modificam a
sua estrutura para se tranformarem em sociedades mais
modernas e complexas, dando maior importância ao papel da
indústria e dos serviços na economia.
● A teoria da mudança estrutural tem por base um sector
tradicional ou agrícola onde a produtividade marginal é nula,
razão pela qual existe um "excedente" de trabalhadores que
podem ser retirados da actividade agrícola, sem reduzir a
produção, transferindo-os para o sector industrial, que possui
elevados níveis de produtividade.
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INTRODUÇÃO
● Por outro lado, a teoría neoclássica do crescimento surge no final dos anos
50 e nos anos 60 dando ênfase aos determinantes do crescimento do PIB
per capita e da produção total. Com a teoria neoclássica pretende-se
establecer que o capital e o trabalho são os principais determinantes do
crescimento económico.
Desenvolve-se um modelo de crescimento que procura demonstrar que a
economia está em equilíbrio no longo prazo, denominado de estado
estacionário. O estado estacionario é uma combinação entre o PIB per
capita e o capital per capita em que a economia está em repouso.
● No processo de crescimento da economia a relação fundamental é a da
taxa de poupança e investimento comparada com a taxa de depreciação e
de crescimento da população (investimento necessário).
● Por exemplo, se a taxa de poupança e de investimento efectiva for inferior
a taxa de investimento necessária à relação entre o capital e o trabalho
diminuirá até atingir o estado estacionário; ou seja, a relação capital
trabalho diminui até atingir o valor em que o investimento efectivo e a
poupança agregada correspondentes a essa relação sejam exactamente
iguais ao investimento necessário.
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INTRODUÇÃO
● Em 1956 Solow e Swan publicam um trabalho em que são aceites
todos os pressupostos de Harrod-Domar excepto o das proporções
fixas da tecnologia, permitindo desse modo a substituição de capital
por trabalho na produção (admitindo progresso técnico).
Com os resultados do estudo de Robert Solow a acumulação do stock
de capital deixa de ser o principal determinante do crescimento
económico.
● Nos anos 80 Robert Lucas e Paul Romer (Universidade de Chicago)
resgataram o trabalho de Solow e atacaram as questões medológicas
deixadas em aberto no seu primeiro trabalho.
● Robert Barro (Harvard) e outros passaram a testar empiricamente as
teorias.

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INTRODUÇÃO
● Pressupostos da teoria neoclásica de crescimento:
1) O modelo supõe a não existência de progresso
técnico e que a produtividade marginal do capital é
decrescente.
2) O investimento é função da população (que cresce
a uma taxa constante (n)) e da taxa de depreciação
( (d)). é uma proporção constante do stock do
capital
- A taxa de crescimento da população possui uma
relação inversamente proporcional à produção per
capita e uma relação directamente proporcional à
produção agregada.

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INTRODUÇÃO
●Algumas implicações da teoria neoclássica do desenvolvimento:

1- No estado estacionário a relação capital e trabalho e a relação


capital/produto são constantes.
2- Se a relação capital produto é constante em equilíbrio, então
a produção cresce com a taxa da população, porque,
segundo esta teoria, a taxa de crescimento do PIB = Taxa de
crescimento do PIBpc + taxa de crescimento da população.
3-. A taxa de crescimento no longo prazo não depende da taxa
da poupança
4- Se a taxa de crescimento da população aumenta, diminui o
nível de capital per capita e a produção per capita
corresponde ao estado estacionário.
5- Se a taxa de crescimento da população diminui, diminui a
taxa de crescimento da produção agregada correspondente
ao estado estacionário.

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INTRODUÇÃO

FIM

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CONCEITOS
Desenvolvimento económico (DE)
• Economia de desenvolvimento é o ramo da ciência económica
que estuda as experiências de transformação das economias
dos países pobres (economias atrasadas), nomeadamente da
África, Ásia e da América Latina, em economias desenvolvidas
(economias modernas), como resultado da combinação da
teoria económica tradicional com novos modelos económicos.
São conceitos afins ao do economia do desenvolvimento os
conceitos da teoria económica tradicional e clássica e o de
economia política, acrescidos dos mecanismos económicos
sociais e políticas (públicas e privadas).

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CONCEITOS
● O crescimento económico é intrínseco ao DE (não há desenvolvimento sem
crescimento).
O crescimento económico resulta da aplicação da ciência aos problemas
da produção económica, que por sua vez conduz à industrialização, a
urbanização e ao aumento da população.
O crescimento económico é o aumento do PNB ou do PNBpc.
● O Desenvolvimento económico é um processo multifacetado que envolve
mudanças nas estruturas sociais, nas atitudes das pessoas e nas
instituições nacionais, redução das desigualdades e redução da pobreza.
O DE promove e implementa o direito a uma vida digna, assim
caracterizada (valores nucleares do desenvolvimento): sustento
(alimentação, alojamento e proteção); saúde, educação, autoestima e
liberdade (capacidade para fazer escolhas económicas, políticas, etc.).
DE = CE + HID + Liberdade
● Objectivos do Desenvolvimento económico:
- aumentar a oferta de bens e serviços básicos à população;
- elevar o nível de vida das populações;
- ampliar o domínio das escolhas económicas e sociais dos
indivíduos e nações.
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CONCEITOS
• Classificação dos países:
- Baixo rendimento ˂ usd: 785/pc;
- usd: 785/pc ˂ rendimento Médio ˂ usd: 9636
- rendimento Alto ˃ usd: 9637
• Caraterísticas dos países em desenvolvimento
1- baixo nível de taxas de crescimento real do rendimento per capita;
2- distribuição desigual do rendimento: 20% mais ricos recebem 5 a 10
vezes mais do que 40% dos mais pobres da população;
3- A maior parte da população vive na pobreza extrema ˂ usd: 370/ano )
cerca de 1 000 a 1 300 milhões de pessoas no mundo);
4- a maioria da população está sujeita a doenças, má nutrição e a altas
taxas de mortalidade infantil;
5- altas taxas de analfabetismo e de desistência escolar, baixas taxas de
escolarização, currículos inadequados e irrelevantes instruções;
6- grande dependência das exportações de produtos do sector primário;
7- rápida migração do campo para a cidade;
8- elevado peso do sector agrícola no PIB e no emprego.

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CONCEITOS
Medidas tradicionais do desenvolvimento económico
- o PIBpc (residentes e não residentes);
- o PIBpc acrescido de indicadores sociais
- PNB mais incicadores sociais: Taxa de analfabetismo, taxa de escolarização,
taxa de morbilidade e mortalidade.
- o PNBpc
- grau de industrialização.
Desenvolvimento humano:
- O que é relevante não são as coisas que o indivíduo possua mas sim o que o
indivíduo é e o que pode fazer com tais coisas (Amartya Sen);
- Sen define “capacidade” como sendo a liberdade que uma pessoa tem em
termos de escolha de “funcionalidades” dado as suas características pessoais
e do domínio que tem sobre as mercadorias.
- São tidos como exemplo de países com “crescimento sem desenvolvimento”
os países que têm pobres padrões de educação e saúde mesmo que tenham
algum rendimento (Amartya Sen);
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CONCEITOS
- Índice de Desenvolvimento Humano (IDH):
DH = 1/3 (IR + IEV + IE)
IR = Índice de Rendimento;
IEV = Índice de Esperança de Vida;
IE= Índice de Educação
Classificação dos países:
IDH:
0 – 0,499 (Baixo rendimento);
0,5 – 0,799 (Médio rendimento);
0,8 -1,0 (Alto rendimento)
Críticas (IDH):
1- As taxas brutas de escolarização sobrestimam a magnitude da educação.
2- Os mesmos pesos específicos aos seus componentes assumem juízos de
valor que por sua vez são de difícil determinação.
3- Não há considerações sobre a qualidade.

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CONCEITOS
 Teorias de desenvolvimento (Todaro e Smith)
1- Teoria dos estágios lineares de desenvolvimento (década 50 - princípios da
década de 60)
O processo de desenvolvimento é uma sucessão de estágios de
crescimento económico pelos quais passam todos os países. Poupança +
Investimento + Ajuda internacional é a condição necessária e suficiente
para o desenvolvimento. Exemplo, Modelo de Harrod e Domar.
2- Teoria e padrões de mudança estrutural (década 70)
Procura-se a mudança estrutural de economias subdesenvolvidas ,
caracterizadas por serem predominantemente agrícola e de subsistência,
transformando-as em estruturas modernas, urbanizadas e em economias
industrializadas e de serviços. Exemplo: Modelo de Lewis.
3- Teoria (revolução) da dependência internacional (década de 70)
Enfatiza as restrições políticas e institucionais internas e externas do
desenvolvimento económico. No contexto do crescimento económico,
preconiza políticas para erradicar a pobreza, criar e diversificar
oportunidades de emprego e reduzir as desigualdades.
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CONCEITOS
Exemplos: Modelo da Dependência Neocolonial: o Modelo do Falso Paradigma
e a Tese Dualista do Desenvolvimento:
3.1- O Modelo da Dependência Neocolonial é caraterizado por relações
desiguais de poder entre o centro (países desenvolvidos), e a periferia
(países subdesenvolvidos), o que torna impossível os países
subdesenvolvidos dependerem económica e politicamente de si
próprios.
3.2- O Modelo do Falso Paradigma atribui o subdesenvolvimento aos
deficientes e inadequados conselhos dos bem intencionados, mas
frequentemente mal informados, enviesados e etnocêntricos peritos
de ajuda dos países desenvolvidos e das organizações doadoras
internacionais.
3.3- A Tese Dualista do Desenvolvimento explicita a ideia de que o
subdesenvolvimento é o resultado da coexistência e persistência de
crescente divergências entre países ricos e países pobres e pessoas
ricas e pobres a vários níveis.

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CONCEITOS
4- Teoria (contra-revolução) neoclássica (década de 80)
O subdesenvolvimento é devido a má alocação dos recursos
(porquê?). O crescimento económico é determinado por
incrementos do produto e qualidade do trabalho (através do
crescimento da população e da educação) e pelo incremento
do capital (através da poupança e do investimento) e pelo
progresso tecnológico. Exemplo, Modelo de Solow.
5- Teoria do crescimento endógeno (fins da década de 80 -
princípios da década de 90)
Explica como os países divergem e porquê que os governos
desempenham um importante papel no desenvolvimento.
Exemplo: Modelo AK de Rebelo.

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CONCEITOS
 Juízo de valor
a) Uma teoria de desenvolvimento não pode prescindir de um
modelo de crescimento económico:
a1) Teorias de estágios lineares de crescimento (Harrod-Domar) –
os modelo pós - Keynesiano identificaram a acumulação do
capital físico e o seu uso eficiente como factores de
desenvolvimento.
a2) Teoria neoclássica – os modelos neoclássicos identificaram o
progresso tecnológico exógeno como a locomotiva do
desenvolvimento.
a3) teoria do crescimento endógeno – identificaram a produção e
disseminação de novas ideias aplicadas ao processo produtivo
e tornaram o motor de desenvolvimento inerente ao próprio
sistema económico e às decisões dos seus entes.

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CONCEITOS

FIM

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MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
● Os modelos de crescimento procuram responder às seguintes
questões:
1- O que explica a falta de convergência das taxas de crescimento?
2- É possível diminuir ou acabar com o “gap” entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos?
3- Que papel os governos podem desempenhar na aceleração das
taxas de crescimento?
● Dados do crescimento económico:
Observações de experiências económicas dos últimos 100 anos
permitiram a percepção de certas regularidades que servem a teoria
do crescimento económico como fonte de orientação para o
desenvolvimento de modelos abstratos e como objecto de
comparação com as implicações lógicas dos modelos. Assim:
i) Há uma enorme variabilidade do rendimento per capita das
economias. Os países mais pobres têm rendimentos per capita
que são inferiores a 5% dos observados nos países mais ricos.

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MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

ii) As taxas de crescimento económico variam ao longo do


tempo tantos para os países, considerados individualmente,
como para a economia global. Até ao séc. XV a taxa de
crescimento a nível global (mundial) era próxima de zero,
conhecendo-se uma forte acelaração a partir do séc. XX. A
estimativa do per capita no ano de 1500 era cerca de $500,
hoje é mais de 10 vezes superior.
iii) As taxas de crescimento económico variam substancialmente
entre os diversos países. (Robert Lucas chama a atenção para
a “regra de bolso” para se calcular o tempo gasto por uma
economia para dobrar a magnitude do PIB: T= 70/ taxa de
crescimento – assim, uma economia que cresça 7% ao ano,
levará 10 anos para duplicar).
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“REGRA DE BOLSO”
T = 70/g
Demonstração:
Suponhamos uma aplicação financeiro de Y0 com uma taxa de juro r ao ano,
termos:
ao ano: Yt = Y0 (1 + r)
ao trimestre: Yt = Y0 (1 + r/4)4
no período n: Yt = Y0 (1 + r/n)nt
fazendo n  Yt = Y0 ( 1 + 1/n)nt ; r= 1
N (1 + 1/n)n
1 2,0
2 2,25
… …
10 2,593742
… …
1 000 2,716923
… …
10 000 2,7182163

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“REGRA DE BOLSO”
Então:
no período n: Yt = Y0 (1 + 1/n)nt = Y0 ((1 + 1/n)n/r)rt
Yt = Y0 ert
ert = 2
rt = ln (2)  t = ln(2)/r  t = 0,7/r
fazendo r = 0,07; t = 0,7/0,07 = 10 ; t = 70/7 = 10
T= 70/g c.q.d.

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MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
iv) A posição relativa de um país, no que respeita à distribuição do rendimento per
capita pode mudar: os países podem empobrecer, estagnar ou enriquecer (as
pesquisas na área do crescimento económico buscam factores macroeconómicos
(desde 1980) e microeconómicos (desde 1990) que afectam a trajectórias de
países).
v) Nos EUA a taxa real de retorno flutua em volta de uma média (sem tendência
ascendente ou descendente) bem como as proporções do trabalho e do capital na
renda total. Além disso, a taxa real de crescimento do PIB mantém-se relativamente
constante.
vi) O crescimento do PIB e o crescimento do volume do Comércio Internacional são
fortemente correlacionados.
vii) Trabalhadores qualificados e não qualificados tendem a migrar dos países pobres
para os países ricos.
● Tipos de modelos de crescimento:
a) Clássico (Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus),
b) Keynesiano (Damodar-Harrod, Kaldor),
c) Neoclássico (Solow)
c) Endógeno de crescimento(Lucas e Romer)

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MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
O MODELO HARROD – DOMAR
• Caracterização:
1- A população e a mão-de-obra crescem a uma taxa proporcional
constante (n) e são determinadas exogenamente.
2- A proporção da poupança líquida e investimento liquido em relação
ao produto líquido é invariável ou fixa.
3- Não existe troca tecnológica. A tecnologia está representada por
coeficientes fixos que são: a força de trabalho necessária para cada
unidade de produção e a relação capital/produto (Ɵ) (nivel de capital
necessário para cada unidade de produção).
• Harrod e Domar estabelecem que estes presupostos são válidos para
"economias em crescimento" se e somente se a poupança for igual ao
produto da relação capital/produto pela taxa de crescimento da
população ou da mão-de-obra, ou seja s = Ɵn. Só assim é que uma
economia chega ao seu estado estacionário.
José Dias Amaral 38
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
O modelo de crescimento de Harod-Domar está determinado
em função da poupança nacional e da relação capital/produto:
PNB = F(s,Ɵ). Assim, estabelece que uma política económica
orientada para poupar e investir é suficiente para garantir o
crescimento, o que não é verdade (é necessária mas não
suficiente).
Pressupostos do modelo:
1- St = sYt; (a poupança é uma fração do produto);
2- Yt= (1/Ɵ)Kt; 1/Ɵ é o coeficiente produto/capital;
3- St=It; (equilíbrio entre poupança e investimento –
economia fechada);
4- n; Taxa de crescimento da população;

José Dias Amaral 39


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
• Sistema de equações:
5 - Yt = St + Ct ; produto; (1)
6 - Kt+1= (1 - ) Kt + It (equação dinâmica do stock do K; , taxa se
depreciação do K ) (2)
• Solução:
Se Yt= (1/Ɵ)Kt  Yt+1 = (1/Ɵ)Kt+1  ƟYt+1= Kt+1 (3)
Então: ƟYt+1= (1 - ) Kt + sYt (eq. de Harrod-Domar (produto)) (4)
Dividindo ambos os membros da expressão (4) por Lt temos:
(ƟYt+1/Lt+1)(Lt+1 /Lt )= (1 - ) (Kt/Lt) + (It/Lt) (5)
sendo yt = Yt/Lt (rendimento pc), (Lt+1/Lt) = 1 + n (taxa de
crescimento da população)
Ɵyt+1 (1 + n) = (1 - ) Ɵyt + st yt (6)
Dividindo a expressão (6) por yt:
José Dias Amaral 40
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
(Ɵyt+1/yt)(1 + n) = (1 - ) Ɵ + s (7)
sendo (yt+1/yt) = 1 + gY (taxa de crescimento do rendimento pc):
Ɵ (1 + g) (1 + n) = (1 - ) Ɵ + s
s = Ɵ (1 + gY) (1 + n) - (1 - ) Ɵ
(s/Ɵ) = (1 + gy) (1 + n) - (1 - )  g y + n + 
gy = (s/Ɵ) - n -  (Equação de Domar produto per capita) (8)
• Interpretação económica:
1- Se a propensão para investir e poupar (s) forem baixas, origina baixas taxas de
crescimento dos rendimentos (gy);
2- Se a eficiência produtiva (1/Ɵ) é baixa as gy são baixas;
3- Se as taxas da população e da depreciação são elevadas, as gy também são baixas.
• Limitações do modelo de Harrod-Domar
a) Se assumir-se que K e L são utilizados em proporções fixas na função produção, o
modelo gera equilíbrio no fio da navalha;
b) Se L e K crescem a taxas diferentes, a economia exprimentará estrangulamentos.
Nota: Estas limitações dão-se se as taxas de poupança e crescimento populacional forem
exógenas e as tecnologias que utiliza K e L em proporções fixas.
José Dias Amaral 41
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
• Questão:
Que tipo de trajectória temporal do investimento I(t) satisfaz a condição de
equilíbrio no modelo de Harrod – Domar?
- Pressupostos:
1- A mudança da taxa anual de Investimento afecta a procura agregada
assim como a capacidade produtiva da economia.
2- Um aumento de I(t) produz um acréscimo de Y(t) através do
multiplicador 1/s, em que s é a propensão marginal a poupar dada
(constante):
Y(t) = a + bY(t) + I(t) ; Y(t) - bY(t) = a + I(t) ; Y(t) = a/(1-b) + I(t)/(1-b) ;
dY(t)/dt = (1/s)dI(t)/dt ; s = (1-b)
3- O efeito do investimento sobre a capacidade de produção é medido pela
variação do nível potencial da economia:
 (letra grega kapa) = fluxo de produção potencial por ano (= capacidade
produtiva); (  / K) =  (constante);  = K (a função produção)
d  /dt = (dK/dt) = I.
José Dias Amaral 42
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
Como no modelo de Domar a capacidade produtiva é usada plenamente, a
economia está em equilíbrio quando a procura agregada seja igual a
capacidade produtiva potencial do período, ou seja: Y =  , então:
dY/dt = d /dt
Dado os pressupostos, vamos determinar a trajectória temporal do
investimento I(t) para satisfazer essa condição de equilíbrio por todo o
tempo :
- Solução:
dY(t)/dt = (1/s)dI(t)/dt pressuposto 2
como dY(t)/dt = I pressuposto 3
logo: (1/s)dI(t)/dt = I  dI(t)/Idt = s

José Dias Amaral 43


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
- integrando, temos:
(1/I(t) dI(t)/dtdt = sdt
(1/I(t))dI(t) = sdt Nota: (1/x)dx = ln x + c
lnI(t) + c = st  lnI(t) = st + c  elnI(t) = est + c  I(t) = est e c
e c = A  I(t) = Aest fazendo t = 0 temos: I(0) = Ae0 ou seja: A = I(0)
então, a trajectória temporal será: I(t) = I(0)est (fio da navalha)
I(t)

I(0)est

I(0)

0 t

Interpretação:
Para que o equilíbrio entre a procura e a capacidade seja mantido no tempo, é
necessário que o fluxo de investimento cresça à taxa exponencial s.

José Dias Amaral 44


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
O fio da navalha
Se r  s o que acontecerá? (r = taxa real de crescimento)
então: I(t) = I(0) ert  dI(t)/t = rI(0) ert
(nota: rt= w ; I(t) = I(0) ew ; dI/t = (dI/dw) (dw/dt) = r = I(0) ert)

Assim: dY(t)/dt = (1/s)dI(t)/dt = (1/s)rI(0)ert


relacionando dY(t)/dt com d  /dt : [(1/s)rI(0)ert]/I(0)ert = r/s
Se r  s então dY(t)/dt  d  (t)/dt, o efeito criador da procura será maior que o
efeito gerador da capacidade; r < s ocorrerá uma deficiência da procura agregada
e portanto, um excesso da capacidade produtiva. O único meio de evitar tanto
uma escassez como um excesso de capacidade produtiva é guiar cuidadosamente
o fluxo de investimento mantendo-o sempre na trajectória de equilíbrio r = s.
● Limitações do modelo Harrod-Domar
1- As taxas de poupança e de crescimento populacional exógenas e a tecnologia que
utiliza capital e força de trabalho em proporções fixas constituem limitações do
modelo.
2- Ao assumir que o capital e trabalho devem ser usados em proporções fixas na
função produção o modelo gera o equilíbrio no fio da navalha; se a força de
trabalho e o capital cresceram a taxas diferentes a economia experimentará
estrangulamentos.
José Dias Amaral 45
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
O Modelo Básico de Solow
Solow ao assumir que o capital e o trabalho podem combinar-se em
proporções variáveis , resolve o problema de equilíbrio no fio da navalha de
Harrod e Domar.
● Pressupostos do modelo:
1- Todos os pressuposto assumidos no modelo de Harrod e Domar, com
excepção de que os factores da função produção sejam fixos.
2- A função produto por trabalhador, que tem taxas de retorno
decrescentes em relação ao capital por trabalhador é: yt = f(kt)
Yt = F (Kt;Lt) ; dividindo por Lt , temos: yt = f(kt).
3- Condição de equilíbrio: syt = it
Yt = Ct + It ; sendo Ct = (1-s) Yt  Yt = (1-s)Yt + It  sYt = It
dividindo por Lt temos: syt = it
4- Dinâmica do stock de capital: Kt+1= (1 - ) Kt + It (condição de Domar)
José Dias Amaral 46
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMIO
Solução:
- Dividindo a condição de equilíbrio (4) por Lt e subtraindo desta a
expressão (1 + n)kt obtém-se como aproximação:
(Kt+1)/Lt+1)(Lt+1 /Lt) = (1 - ) (Kt/Lt) + (It/Lt)  kt+1(1+n) = (1 - )kt + sf(kt) (1)
- subtraindo (1 + n)Kt a ambos os termos da igualdade, temos:
kt+1(1+n) - (1 + n)kt = (1 - )kt + sf(kt) - (1 + n)kt 
 kt+1 - kt  sf(kt) - (+n)kt (2)
- dividido a equação por kt obtém-se a taxa de crescimento de equilíbrio:
gk = (kt+1 – kt)/Kt = (sf(kt)/kt) - (+n) (3)
- interpretação:
a) o stock de capital per capita cresce se a poupança per capita (sf(kt)/kt)
exceder a taxa de depreciação do capital ajustada ao crescimento da
população.

José Dias Amaral 47


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMIO

y (n+)k

sf(k)

k1 k* k2 k
b) No estado estacionário (steady-state) ou equilíbrio de longo prazo, todas as
variáveis ( produto, capital e população) crescem a taxas iguais. Assim, gk = 0 e a
equação (3) será igual a sf(k t) = (+n)kt. Assim, no longo prazo não existe
crescimento económico, ou seja, o rendimento per capita é constante, a economia
deve repor o capital depreciado e dotar os novos trabalhadores do capital
necessário.
No longo prazo, o modelo prescreve que o rendimento per capita é constante. Não existe
crescimento económico.
Questões:
i) Análise o impacto resultante do aumento da taxa de poupança.
ii) Análise o impacto resultante do incremento da taxa da população.
José Dias Amaral 48
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
Dinâmica do modelo de Solow
Variáveis:
y = f(k) função produção
i = sf(k) função investimento (é em função da produção)
k = depreciação do capital
Análise gráfica:
Y k consumo

f(k)
sf(k)
investimento
depreciação

k k* k
k* = estado estacionário
k  k* então k  k  sf(k)  K + (vai-se aproximando-se de k*)
i  k  0 aumento de K (há criação de capital).
- Qual o comportamento de k* se k* k, Y e n
José Dias Amaral 49
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMIO

● Modelo de Solow com progresso tecnológico


Este modelo difere do anterior porque considera que o progresso
tecnológico (Et) (determinado de forma exógena) aumenta a eficiência do
trabalhador.
Descrição:
 ~
 ~
1- yt  Et f  k t  , função produção, onde: k t 
Kt
  Et Lt
2- Kt+1= (1 - ) Kt + It (equação dinâmica do stock do K (modelo Harrod)
~ ~   
~ ~
3 - k t 1  k t  sf kt  n k t 
(equação dinâmica do stock de K por trabalhador, onde  é a taxa
de crescimento exógeno do progresso tecnológico).
A dinâmica de transição para o equilíbrio de longo prazo é a mesma que a
do modelo de Solow, só que agora existe crescimento económico.

José Dias Amaral 50


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
No equilíbrio a longo prazo, o stock de capital, o número de trabalhadores efectivos
~ eo
produto crescem à taxa, +n, enquanto o stock de capital por trabalhador, k , é
constante;

dEt ~ ~
d f ´(k t ) d (k t )
4- g y t 
Et ~ dt
f (k t )
~
dkt dEt / d t
No estado estacionário, pelo que g y 
0  ; o rendimento per capita cresce
dt Et
à mesma taxa que o progresso tecnológico, .
dkt
~
k
- Partindo de k t  E t Lt obtém-se no estado estacionário dt 
g  n  g
t K t
k EL

- Com este modelo existe convergência incondicional para o mesmo estado estacionário
entre países com características iguais, e condicional em países com diferentes
características; porém, um país abaixo do seu estado estacionário registará taxas de
crescimento maiores do que as do seu próprio estado estacionário.
Dada a sua distribuição não uniforme pelos países, o progresso tecnológico explica a
inexistência de convergência incondicional.

José Dias Amaral 51


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

Assim, levantam-se as seguintes questões:


a) É o progresso tecnológico endógeno ou exógeno
(isto é, resulta ou não das decisões dos agentes
económicos)?
b) Haverá efeitos de transbordamento tecnológico dos
países desenvolvidos para os países em
desenvolvimento? Se sim, como explicar a
divergência das taxas de crescimento?

José Dias Amaral 52


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
●O Modelo de solow
O Modelo de Solow também é conhecido por modelo neoclássico ou modelo de
crescimento exógeno.
O equilíbrio de longo prazo (y = 0) dá-se quando i = .
Base do modelo:
C
- Função produção: Y = F(K,L)  1-
V = K L (Cobb – Douglas)
- Acumulação de capital: KC = sY - k ; K = k/t
- 0    1 ; sY = invtº bruto;
V s = tx de poupança ;  = tx de depreciação do capital

Mercado de concorrência perfeita:


Sendo, KL1- a função produção; rk o que se paga pelo capital e rw o que se paga
pelo trabalho. O problema do produtor será:
Max: K L1- - rK – WL
k, L
Condições de 1ª ordem:
1) (F/K) = K-1L1- - r = 0  r = K-1L1-
2) (F/L) = K(1-)L- - w = 0  w = K(1-)L-
José Dias Amaral 53
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
dividindo por Y ambas as expressões:
r/Y = (K-1 L-)/(KL-) = (K-1)/K = K-1
r/Y = /K  rK/Y =  (participação do capital no sector)
w/Y = (1 - )(kL-)/(KL1-) = (1 - )k/L- (participação do salário no
rendimento)
Nota: o total de pagamento dos factores é igual ao produto:
K-1L1-K + (1-) KL-)L = KL1-  ( = 0) (mercado de concorrência
perfeita)
Seja:
Y/L = y (rendimento per capita) ; K/L = k (capital per capita)
Então, Y = KL1-  y = (K/L ) = (K/L ) = k  (em termos per capita)
Assim:
a) yt= kt  lnyt = lnkt  (lnyt)/t = (lnkt)/t  (lnyt)(y/t) =
= (lnkt)(k/t)  (1/y)(y) = (1/k)(k) = (y/y) = (k/k)
(y/y) = taxa da variação do produto per capita.
José Dias Amaral 54
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

b) kt = Kt/Lt  lnkt = lnKt - lnLt  kt/kt = (Kt/Kt) - (Lt/Lt) (1)


sendo Kt = sYt - Kt (versão contínua de Kt+1 - Kt)
dividindo por Kt
Kt/Kt = sYt/Kt -  = taxa de crescimento do K (2)
substituindo Kt/Kt em kt/kt temos:
kt/kt = sYt/Kt -  - L/L (3)
Assumindo que o número de trabalhadores cresce à mesma taxa
que a população então,
Lt = L0 ent  lnLt = lnL0 + lnent
derivando em
C ordem a t, obtém-se:
V
Lt/Lt = n (taxa de crescimento dos trabalhadores) (4)
substituindo (4) em (3):
kt/kt = (sYt/Kt)- ( + n) (5)
José Dias Amaral 55
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

Dividindo Yt e Kt por Lt temos a equação de Solow:


kt/kt = syt/kt -  -n  kt = sy t- ( + n)kt (6)
Representação gráfica:

y (+n)k

sk

0 k* k

No longo prazo o modelo não há crescimento económico. Para que o capital se


mantenha constante a economia deve poupar para repor o capital depreciado e dotar
os novos trabalhadores do capital necessário.

José Dias Amaral 56


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

• Exemplo numérico:
sendo s = 0,4 ;  = 0,09 ; k1= 4
o algoritmo para cada período é o seguinte:
- no período 1: y= k1/2 y = 41/2 = 2
como c = (1 – s)y e s = 0,4  c = 0,6y = 1,2
como i = sy  i = (0,4)(2) = 0,8
k = (0,09)(4) = 0,36
k = sy - k  k = (0,4)(2) – 0,36 = 0,44
- no período 2:
k2 = k1+ k  k2 = 4 + 0,44 = 4,44
y = 2,107 ; c= 1,264 ; i = 0,842 ; k = 0,399 ; k = 0,44

- nos períodos seguintes:

José Dias Amaral 57


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMIO

período k y c i k k
1 4 2 1.2 0,8 0,36 0,44
2 4.44 2.107 1.264 0,842 0,399 0,443
… … … … … … …
12 8.344 2.889 1.733 1.155 0,751 0,404
… … … … … … …
 19.749 4.44 2.667 1.777 1.777 0,000

Em equilíbrio: sf(k) = k

José Dias Amaral 58


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
● Modelos de crescimento endógeno (Paul Romer-1987)
A teoria do crescimento endógeno considera inaceitável atribuir o
crescimento económico a factores exógenos e procura explicá-lo de
forma considerada técnica e cientificamente aceitável.
Pressupostos e prescrições do modelo:
1- Capital humano (nutricional, educação e habilitações
profissionais):
a) A poupança ocorre sob a forma de capital fisico, k, e de
capital humano, h;
b) A função de produção tem o capital físico e o capital
humano como seus argumentos, e exibe taxas de retorno
constantes à escala da produção;
c) A população é constante (é igual a unidade para maior
simplificação);
José Dias Amaral 59
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

 1
2 yt  kt ht (função produção)
3- kt 1  kt  syt (acumulação de capital físico)
ht 1  ht  qyt (acumulação de capital humano)
Fazendo rt  ht / kt , substituindo yt nas equações dinâmicas de stock de capital e
dividindo pela variável relevante obtêm-se as taxas de crescimento de capital físico,
capital humano e do produto:
kk
 sr 1 (taxa de crescimento do K)
t 1 t
g 
k k t
t
ht 1  ht 
 gh   qrt (taxa de crescimento do H)
ht
yt 1  yt 1 
 gy  srt  (1 )qrt (taxa de crescimento do Y)
yt

José Dias Amaral 60


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
No longo prazo o capital físico e o capital humano devem crescer à mesma taxa:
srt
1
 qr t , obtém-se: rt  r  q s - valor de equilíbrio de longo prazo do rácio
de capital humano e do capital físico. Usando as equações gk e gy , obtém-se:
Prescrições do modelo
 1
gk  gh  g y  s q
a) as taxas de retorno de acordo com g k e g y tomados em conjunto
não implicam convergência das economias;
b) ao contrário do modelo e Solow, alterações das taxas de poupança
têm efeitos de crescimento e, consequentemente, as políticas
governamentais são mais eficazes;
c) controlado o efeito do capital humano os países pobres (com
menores stocks de capital físico) crescerão a taxas maiores (há
convergência condicional).

José Dias Amaral 61


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

● O Modelo AK (Modelo de Sergio Rebelo -1991)


Controlado o efeito do nível de partida do rendimento per capita, países com
maior taxa de acumulação de capital humano crescerão a taxas maiores
(divergência condicional).
O modelo AK é um modelo específico da teoria do crescimento endógeno.
Pressupostos:
A função Cobb-Douglas que descreve o sistema económico é:
 1-
a) y t  Ak t , de Yt  AK t L t ,  1;
Onde: A, é uma constante positiva que reflete o nivel da tecnología; K é o
capital (físico e humano); y= AK output per capita, o produto médio e o
marginal são constantes para A  0.
Fazendo na equação dinâmica do modelo de Solow f (k t )  Ak t teremos:
b) k t1 kt  sAkt (  n)kt , de k t1 kt  sf (k t )(  n)kt

José Dias Amaral 62


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
Desta equação (2) obtém-se a taxa de crescimento do stock de capital
(gk) por trabalhador, que é igual a taxa de crescimento do rendimento
per capita.
 g k sA(d  n)
Implicações do modelo:
É possível gerar crescimento sem progresso tecnológico
determinado exogenamente se sA  (d  n) e, tudo o demais
constante, incrementos de taxas de poupança geram taxas
crescimentos maiores.
Assim os países com baixas taxas de poupança (países
subdesenvolvidos) crescerão a taxas menores do que países com
altas taxas de poupança (países recentemente industrializados).
Questão:
- O que acontece a gy, na equação do modelo de Romer, se dado ht, reduzir-se
kt? José Dias Amaral 63
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
O Modelo de Arthur Lewis (1965)
Lewis desenvolveu um modelo económico duma economia dual, economia
em que coexistem dois sectores - um capitalista e outro de subsistência -,
eventualmente com pouca interação entre si.
Este modelo explica o crescimento de uma economia em desenvolvimento e
analisa a transição entre dois sectores - o moderno e o tradicional -,
permitindo, assim, o estudo da mudança estrutural duma economia e da
migração do campo para a cidade .
O sector tradicional é caracterizado por utilizar o trabalho intensivo e adopta
formas traicionais de organização, baseadas no trabalho familiar. O sector
moderno emprega força de trabalho assalariada, explora novas tecnologias
de exploração intensiva de capital e adopta formas organizativas da
actividade económica visando o lucro.

José Dias Amaral 64


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
A mudança estrutural dá ênfase a forma pela qual se transfere o excesso da
mão-de-obra e ao aumento da produção e do emprego no sector moderno:
1) O aumento da produção dentro do sector moderno provoca
crescimento de emprego e transferência de mão de obra;
2) A transferência de trabalhadores do sector tradiconal para o sector
moderno realiza-se de forma gradual;
3) O ritmo de crescimento da produção do sector moderno e a
velocidade com que absorve a força de trabalho do sector tradicional
depende da taxa de investimento e da acumulação de capital no
sector;
4) No sector tradicional a força de trabalho é, virtualmente, ilimitada e a
produtividade marginal do trabalho é igual a zero (o custo trabalho
excedente é zero);
5) Os "capitalistas" obtêm receitas maiores que os salários que pagam e
reinvestem tudo sem seu benefício;
José Dias Amaral 65
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
6) O salário do sector moderno é fixo e igual ao salário médio do sector
tradicional mais uma pequena margem, e emprega mão-de-obra até que
o salário seja igual ao produto marginal do trabalhador;
7) No sector tradicional os agricultores repartem o produto entre os membros
da sua família de forma igualitária. O salário é igual ao produto médio.
8) Em equilíbrio de longo prazo a economia torna-se predominantemente
industrial.
Nota: O sector moderno existe em concorrência perfeita (o salário real é igual
a produtividade marginal do trabalho). Como o salário do sector
tradicional é fixo (e menor que o do sector moderno) o excedente de
trabalhadores que possui prefere oferecer a sua mão-de-obra no sector
industrial podendo os empresários contratarem trabalhadores sem terem
que aumentar o salário real. Assim se realiza a transferência de
trabalhadores de um sector para o outro.
José Dias Amaral 66
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
Dinâmica da mudança estrutural [Lewis-Ranis-Frei (1961)] (ver gráfico)
a) A redução da força de trabalho na agricultura gera um excedente
agrícola (Y W ) , que dividido pelo número de trabalhadores agrícolas
transferidos

para o sector industrial obtém-se o excedente agrícola
médio (Y ) .

b) O produto agrícola médio (Y ) diminui com a redução da força de
trabalho porque o produto agrícola desce, mas o salário agrícola
mantém-se (situação de desemprego disfarçado).
 pI
d) O salário industrial* 
w w( ), onde pI e pA são os níveis de preços
pA
industrial e agrícola, respectivamente, cresce para compensar os
trabalhadores pela queda dos preços relativos.
e) Quando o produto marginal for superior ao salário médio, o salário
agrícola cresce à medida que a força de trabalho agrícola diminui
(termina o desemprego disfarçado e ocorre a comercialização).

José Dias Amaral 67


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
f) O excedente médio decresce ainda mais e os salários industriais
devem compensar quer a queda dos preços relativos, quer o maior
custo de oportunidade dos trabalhadores transferidos do sector
agrícola para o sector industrial (obtém-se o salário industrial de
equilíbrio).
g) O reinvestimento dos lucros gera um novo equilíbrio caracterizado por
um maior número de trabalhadores empregados no sector industrial
(moderno). Assiste-se a um processo auto-sustentado do produto e
do emprego no sector moderno, até que se verifique a absorção de
todo o trabalho excedentário no setor tradicional pelo sector
moderno. A partir daqui, todo o trabalhador retirado do sector rural
provoca um queda do produto agrícola.

Conclusão:
A acumulação de capital é o motor de crescimento e da mudança
estrutural e institucional da economia.
José Dias Amaral 68
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
 Limitações do modelo de Lewis
1- Os benefícios dos empresários nem sempre são reinvestidos;
2- Quando os benefícios dos empresários são reinvestidos são-no na
medida em que se transfere trabalho e se cria emprego no sector
moderno, não sendo necesariamente proporcional à taxa de acumulação
nesse sector.
Nota 1:
- Qual será o equilíbrio se os lucros forem reinvestidos em tecnologias cada
vez mais intensivas em capital?
3- Não se pode assegurar a existência de excesso de mão-de-obra no sector
rural e pleno emprego nas zonas urbanas".
Nota 2:
- Trata-se de trabalho excedentário ou de trabalhadores excedentários? No
modelo de Lewis trata-se de trababalho excedentário , porque reduzindo o
trabalho agrícola não implica uma diminuição da produção alimentar.
José Dias Amaral 69
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
- Se se considerar o conceito de trabalhadores excedentários, a remoção de
trabalhadores do sector tradicional (por ex; através da migração do campo
para a cidade), não implica a queda da produção agrícola se os restantes
trabalhadores compensarem o trabalho dos que deixam o sector (apesar
duma produtividade marginal do trabalho positiva, o sector terá trabalho
excedentário).

4- O mercado de trabalho do sector industrial das economias


subdesenvolvidas não funciona em concorrência perfeita.
Não obstante as limitações do modelo económico de Lewis, pode servir para
discussão de algumas questões de política económica:
a) A nível da tributação:
A manutenção do rendimento per capita fixo no sector tradicional pode
ser explicada pela tributação dos agicultores à medida que o trabalho é
removido (o modelo de Lewis assume implicitamente a tributação)
Se não se cobrassem impostos os salários do sector tradicional
cresceriam, implicando que os salários do sector moderno teriam que crescer
se se quisesse atrair trabalhadores rurais (os lucros diminuiriam).

José Dias Amaral 70


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
A tributação dos rendimentos no sector tradicional reduzirá os custos
de produção dos latifundiários e ajudará a reduzir os salários das
empresas do sector moderno. Os trabalhadores de ambos os sectores (e
os pequenos agricultores) opor-se-ão à tributação dos seus
rendimentos, sendo que a tributação dos rendimentos do sector
tradicional gerará também maior concorrência para os postos de
trabalho disponíveis no sector moderno.
Nota: A tributação no sector agrícola pode ter efeitos de longo prazo; os
agricultores poderão não ter incentivos para investir, innovar e aumentar
a sua eficiência, porque os seus rendimentos são sistematicamente
tributados.
a) A nível dos preços agrícolas:
Os salários podem ser mantidos baixos através da política de
preços: O governo pode subsidiar os preços dos produtos
agrícolas e/ou o preço dos factores de produção.
José Dias Amaral 71
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
 Migração do Campo para a cidade
Com o modelo de Lewis a migração do campo para cidade é benéfica porque
transfere trabalho do sector tradicional onde a produtividade é zero para o
sector moderno onde a produtividade é positiva, devido a acumulação de
capital.
Na realidade, o que se observa nos países em desenvolvimento é que a taxa
de emigração excede a taxa de criação de postos de trabalho nas zonas
urbanizadas, assistindo-se a criação de aglomerados populacionais nas áreas
suburbanas, onde as pessoas vivem em condições sub-humanas, sem água
energia, saneamento básico, condições de habitabilidade, etc., e
oportunidades de integração no sector formal da economia urbana.
É a luta pela sobrevivência dos “deserdados urbanos” a que se deve a criação
dos mercados informais da economia urbana, caracterizados pela sua
desorganização; não regulamentação; força de trabalho sem qualificação ou
pouco qualificada; pequenas unidades de produção ou de prestação de
serviços que são propriedade individual ou familiar; variedade de actividades
desenvolvidas (venda ambulante, recolha e seleção de lixo ...); sem proteção
social, etc.
José Dias Amaral 72
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
Questões:
a) É o sector informal um fenómeno permanente com enorme potencial para gerar
emprego na economia urbana?
b) Deve o sector informal ser promovido ou combatido?

O Modelo de Harris e Todaro


Dada a sua juventude, os indivíduos emigram do campo para a cidade se o valor presente
(ou actualizado) do fluxo de rendimentos esperados do sector urbano for superior ao do
sector rural, mesmo que, nos primeiros dia se encontrem desempregados.
Pressupostos do modelo:
1- Funções de produção:
a) YA  F ( LA  K A )
b) Y  F ( L  K M )
M M

2- Mercado de trabalho:
L  força de trabalho total fixa na economia
L  LA  LUS
LUS  LM  LI  LU
José Dias Amaral 73
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
LM  força de trabalho no sector industrial
LI  força de trabalho no sector informal
LU  força de trabalho desempregada

O salário W M é fixado institucionalmente e é superior aos salários fixados livremente


nos sectores urbano e rural. Se os salários excederem W M haverá excesso de oferta
de trabalho. As empresas do sector moderno maximizam os seus lucros se for
satisfeita a condição MPLM W M . No sector rural os salários são flexíveis (não existe
desemprego) e o equilíbrio do mercado observa-se quando MPLA W A .
.
● O equilíbrio migratório
LM
Os trabalhadores rurais emigrarão se: WA W M LUS ;
LM
LUS  probabilidade de emprego no sector industrial

O equilíbrio migratório obtém-se quando o rendimento agrícola e o rendimento


industrial esperado se igualam: WA W M LL ; M
US

José Dias Amaral 74


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

O equilíbrio de Harris e Todaro é sub-óptimo (o produto marginal do


trabalho no sector urbano excede ao do sector rural) e caracterizado
por desemprego.

WM WA

WM

WA

LM LA
José Dias Amaral 75
MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO
 Políticas que visam a redução do sector informal da economia:
1- O sector informal poderá, eventualmente, reduzir (criação de postos de trabalho)
com políticas de incentivos fiscais e financeiros ao investimento. Porém, no
modelo de Harris e Todaro eventualmente o sector informal crescerá em
consequência de tal política, pois, a dimensão do sector industrial é endógena, e
a emigração também é endógena (Paradoxo de Todaro. Como se explica?).
2- No mercado de concorrência perfeita a procura por trabalho é dada pelo produto
marginal do trabalho. No caso dos produtos marginais de trabalho dos dois
sectores forem diferentes da transferência de trabalho do sector menos produtivo
para o mais produtivo, causará um incremento do rendimento nacional.
3- Se for concedido um subsídio S* que assegure

um nível de emprego óptimo no
sector urbano, os empregadores pagam WM  S * e trabalhadores recebem WM .
A alocação no sector agrícola é subvertida. Assim os salários praticados no sector
moderno são superiores aos praticados o sector tradicional, sendo estes
obrigados a fixarem-se no meio rural. Trata-se de uma medida de política
desagradável e pouco atrativa.

José Dias Amaral 76


MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO

FIM

José Dias Amaral 77


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
● Desigualdade económica:
Há desigualdade económica quando existem disparidades na distribuição do
rendimento (fluxos) e da riqueza (stocks de activos), ou ainda do rendimento
permanente (níveis esperados de rendimentos ganhos e obtidos pelos
indivíduos).
Deve ser tida em conta a distribuição pessoal do rendimento (distribuição dos
factores de produção) e a distribuição funcional (remuneração dos factores
de produção).
1- Critérios para medição da desigualdade económica
Para se comparar distribuições de rendimento ou de riqueza em diferentes
situações (países, regiões, momentos, etc.), são construídos índices de
desigualdade: I=I(y1, y2, y3, …yn); é uma função que atribui um valor de
desigualdade a cada possível distribuição do rendimento nacional.
Princípios a observar
a) Princípio do anonimato – É irrelevante saber quem obtém o
rendimento. Uma distribuição do rendimento é sempre possível ser
ordenada a partir do indivíduo mais pobre ao mais rico:
y1 < y2 < y3, … < yn
José Dias Amaral 78
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
b) Princípio populacional
O tamanho da população é irrelevante. O que interessa é o
agrupamento das distribuições de rendimento das populações por
classes:
I(y1, y2, y3, …yn) = I(y1, y2, y3, …yn ; I(y1, y2, y3, …yn)
c) Princípio do rendimento relativo
Os rendimentos relativos (não os absolutos) são os mais relevantes:
I(y1, y2, y3, …yn) = I(λy1, λ y2, λ y3, … λ yn), 0
Este indicador permite-nos comparar rendimentos de países com
rendimentos médios diferentes.
d) Princípio de Dalton
Se se realizar uma transferência regressiva de rendimento ( yi y j) a
nova distribuição será mais desigual que a anterior:
I(y1, y2,…yi-δ, yi+1 … yj+δ … yn)  I(y1, y2, …, yi, yi+1, …, yj, …yn)
José Dias Amaral 79
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
2- Curva de Lorenz
Estabelece uma correspondência entre a percentagem de indivíduos, X, e
a percentagem de rendimentos, Y, que aqueles recebem:
100

0 X 100
Em qualquer dos pontos da curva a sua inclinação mede a contribuição
individual para a percentagem acumulada do rendimento nacional.
Quanto mais afastada da diagonal estiver a curva, maior será a desigualdade.

José Dias Amaral 80


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
Os rácios de Kuznetes são rácios de proporções de rendimentos dos x%
mais ricos e dos y% mais pobres, assumindo x e y valores tais como 10,
20 ou 40.
a) Coeficiente de variação
Coeficiente de variação é o desvio padrão dividido pelo rendimento
médio:
1 m nj
C 
 J 1 n j
( y   ) 2

O coeficiente de variação satisfaz os quatro princípios e é consistente


em termos de Lorenz.
b) Coeficiente de Gini (Corrado Gini – 1912)
O coeficiente de Gini corresponde ao quociente da área abaixo da
diagonal da curva de Lorenz, por um lado; e área do triângulo abaixo
da curva de Lorenz, por outro lado.
O coeficiente de Gini varia entre 0 (perfeita igualdade) e 1 (perfeita
desigualdade).

José Dias Amaral 81


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME

A Curva de Lorenz tem duas limitações:


- A curva de Lorenz não expressa numericamente a
desigualdade económica.
- Se as cuvas de Lorenz se cruzarem não permitirão ordenar
as distribuições, nem fazer juízos de valor com base na
desigualdade dos rendimentos relativos.
3- Rácios de Kuznets
Seja:
m – distintas classes de rendimento;
n – indivíduos em cada classe de rendimento j
1 m
  n j y j ; é o rendimento médio
n J 1

José Dias Amaral 82


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
O coeficiente de Gini obtém-se dividindo a soma de todos os valores absolutos das
diferenças entre todos os pares de rendimentos pelo dobro do produto do quadrado
da população com o rendimento médio:
m m
1
G 
2n  j 1 k 1
2
n j nk y j  yk

O coeficiente de Gini pode ser também calculado usando a Fórmula de Brown, que é
mais prática: K n1
G 1  ( X k 1 X k )(Y k 1Y k )
K 0

Onde, X = proporção acumulada da variável população; e Y = proporção


acumulada da variável renda.
Se as curvas de Lorenz se cruzarem os coeficientes de variação e de Gini darão
informações contraditórias. Assim, será aconselhável olhar para mais de um índice.
Existem outras medidas, como a amplitude e o desvio médio absoluto. Contudo, estas
medidas não satisfazem o princípio de Dalton.
a) Amplitude – é a diferença entre os rendimentos do indivíduo mais rico e o mais
pobre, dividido pelo rendimento médio:
1
R ( y m  yi )

José Dias Amaral 83
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
b) Desvio médio absoluto – Assume que a desigualdade é proporcional à
distância do rendimento. É a divisão da soma de todos os valores
absolutos dos desvios dos rendimentos da população em relação ao
rendimento médio pelo rendimento médio total:
1 m
M 
n j 1
n j y j 

● Desigualdade, rendimento e crescimento


Como é que os agregados como rendimento, emprego, riqueza e crescimento
serão afectados pela desigualdade? Como é que estas variáveis macro
económicas influenciarão a evolução da desigualdade?
a) A hipótese do U-invertido de Kuznets (eixo das abcissas: rendimentos
per capita; eixo das ordenadas: desigualdades). Existe uma relação
entre rendimento e desigualdade. Kuznets adoptou o rácio das
proporções do rendimento detido pelos 20% dos indivíduos mais ricos e
pelos 60% mais pobres, comparou distribuições de rendimento de
países desenvolvidos com as de países em desenvolvimento e
constatou:
José Dias Amaral 84
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
- primeiro: proporções de rendimento dos grupos mais ricos dos países em
desenvolvimento [Índia (1,96); Sri Lanka (1,67) e Porto Rico (2,33)] eram
superiores às daqueles grupos em países desenvolvidos [EUA (1,29); Reino
Unido da Grã – Bretanha e Irlanda do Norte (1,25)].
- segundo: que as proporções de rendimentos do primeiro grupo de países eram
superiores aos do segundo grupo.
Desta evidência empírica decorre que o desenvolvimento económico é
fundamentalmente um processo desigual. Na fase inicial. Quando alguns grupos
são deixados para trás, a desigualdade aumenta. Depois, quando todos
recuperam o atraso, os benefícios do desenvolvimento repartem-se por um maior
número de indivíduos e, consequentemente, a desigualdade diminui.
Limitações dos testes econométricos de Kuznets
Por falta de séries temporais os estudos analisaram variações de desigualdade
entre países que se encontram em estágios de desenvolvimento diferentes,
contendo, por isso, as seguintes limitações:
i) Os resultados dos estudos devem ser tomados com precaução, a não ser
que se adopte um método sistemático das variações inter-países – que
existem e são significativas.
José Dias Amaral 85
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
ii) Assume-se que a curva de desigualdade versus rendimento é a mesma para
todos os países.
Há autores, como Fields e Jakuboson (1994) e Deininger e Squire (1966) cujos
estudos concluem que diferenças estruturais entre países ou regiões podem criar
a ilusão da existência de uma relação desigualdade vs rendimento per capita do
tipo U-invertido, quando, na realidade, tal não existe.

Desigualdade e poupança
A análise da relação entre desigualdade económica e poupança – em
que se utiliza o conceito de poupança marginal e não o de poupança
total do indivíduo – determina uma relação complexa entre
rendimento e poupança:
a) Se a taxa marginal de poupança é crescente, incrementos de
desigualdade geram incrementos da poupança nacional (num
país bastante pobre, a redistribuição do rendimento a favor dos
pobres levará ao decréscimo da poupança nacional).

José Dias Amaral 86


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
b) Se a taxa marginal de poupança for decrescente, incrementos de
desigualdade darão lugar a decréscimos da poupança nacional (em
países de rendimento médio, políticas de redistribuição podem gerar
uma grande classe média, com aspirações a uma vida melhor,
implicando, consequentemente, incrementos da poupança nacional).
c) Se a taxa de poupança for independente do nível de rendimento,
variações dos níveis de desigualdade não afectarão a poupança
nacional.
Contudo, a taxa de poupança é determinada não só pelo rendimento,
mas também pelas aspirações dos indivíduos a uma vida melhor.
Assim, dado que as aspirações dependem da distribuição inicial do
rendimento:
i) Os pobres pouparão cada vez menos, a desigualdade aumentará,
ao longo do tempo, e sociedades inicialmente desiguais, tornar-se-
ão ainda mais desiguais;
José Dias Amaral 87
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
ii) Os indivíduos da classe média pouparão cada vez mais e, como resultado, observar-
se-á uma grande mobilidade de indivíduos da classe média para a classe rica,
enquanto o gap de rendimento entre estes grupos e os pobres cresce.
● Desigualdade e crescimento
A distribuição do rendimento assume duas formas:
a) Distribuição da riqueza existente:
Exemplos: a reforma agrária e a imposição de tributos que transfiram riqueza
para o governo e deste para os pobres. São políticas de difícil
implementação.
b) A tributação dos rendimentos de riqueza.
É a forma de distribuição de riqueza mais comum. No entanto, altos níveis de
tributação podem refrear o crescimento porque reduzem os incentivos para
acumulação da riqueza e, consequentemente, as taxas de crescimento
económico.
A evidência empírica resultante dos trabalhos de Alesina e Rodrik (1994), parece
haver uma forte correlação negativa entre desigualdade e crescimento. No entanto,
não se sabe ainda se o efeito se produz através da poupança, do investimento ou de
qualquer outro canal.
José Dias Amaral 88
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
● Desigualdade e mercado de capital
Para se ter acesso ao crédito é necessário dispor do respectivo colateral, e os
pobres por não o disporem em magnitude suficiente não têm acesso ao
crédito. Assim, um inexistente ou imperfeito mercado creditício é
característica fundamental das sociedades desiguais.
Modelo simples de Crédito
Assume-se que para se tornar empresário, o agente económico tem de obter
um empréstimo. Assim, dotado de riqueza inicial (W) um devedor amortizará
o crédito se:

I (1 r ) W (1 r ) F q mw(t )


onde: I = investimento (valor do empréstimo bancário); m = nº de
trabalhadores; r = taxa de juro; q = produto industrial; w(t) = o salário
industrial e a sanção por default {F+ [q-mw(t)]} no serviço da dívida: F e λ as
partes fixa e dos lucros pagos desta última.

José Dias Amaral 89


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
Deduzindo o valor de W, temos:
F  q mw ( t ) 
W I  1 r
Ou seja: o serviço da dívida não pode exceder o valor pago como sanção
por inadimplemento. Para um nível de riqueza inferior ao valor crítico W*
- valor da dotação inicial necessário para a obtenção do crédito – os
pobres não poderão tornar-se empresários mesmo que o queiram. (se F e
λ = 0, todo o investimento tem de ser autofinanciado. O mercado de
crédito colapsa.)
Desigualdade económica e o mercado creditício e de trabalho
A desigualdade económica e o mercado creditício podem interagir de
forma a gerar multiplicidade de equilíbrio no mercado e trabalho, o qual
tem as seguintes implicações:
a) o grau de eficiência será tanto maior quanto menor for a
desigualdade na distribuição do rendimento, em consequência de
menores restrições no mercado de creditício;
José Dias Amaral 90
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
b) nada diz que no longo prazo a desigualdade económica desapareça, se o
governo não implementar políticas de redistribuição de rendimentos.
● Desigualdade e capital humano
Ao contrário do capital físico, o capital humano não pode ser aceite como
colateral. Assim, as restrições ao acesso ao crédito para a educação são mais
severas. Os pobres têm que autofinanciar a educação.
Na ausência de crédito para a educação as desigualdades iniciais aumentam e
perpectua-se gerando uma multiplicidade de equilíbrios. Exemplos:
i) Altos níveis de desigualdade, baixos níveis de educação primária e
mercados ineficientes, podem caracterizar um equilíbrio;
ii) Baixos níveis de desigualdade, altas taxas de escolarização primária, taxas
de retorno do investimento em educação iguais, entre vários grupos
sociais, e mercados eficientes, podem ser propriedades de outro
equilíbrio.

José Dias Amaral 91


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
● Pobreza e fome
A pobreza (condições precárias de saúde, educação e mal nutrição) destrói as
aspirações, a esperança e a fruição da vida futura. O que é a pobreza? Pode a
pobreza ser medida? Pode a fome ocorrer, na ausência de escassez de oferta de
bens alimentares?
Conceito de linha de pobreza
A linha de pobreza é o limiar crítico de acesso a bens e serviços,
representando um mínimo aceitável de participação económica, numa
determinada sociedade e num determinado momento, abaixo do qual os
indivíduos são considerados pobres. Dada a escassez de dados tem-se usado a
despesa total (a capacidade de consumo) para identificar os pobres, em vez da
cesta básica de consumo observado.
O conceito de linha de pobreza deve considerar os conceitos de pobreza
absoluta (necessidades básicas de nutrição e vestuário) e o de pobreza relativa
(padrões mínimos de lazer e propriedade de meios de transporte, em relação
aos padrões económicos e sociais existentes).

José Dias Amaral 92


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
Para efeitos de definição de políticas para a sua erradicação deve-se distinguir
pobreza estrutural (ou crónica) de pobreza temporária (resultante de choques
económicos negativos. Exemplo, seca (ou baixa de preços) que empurram o
indivíduo para baixo da linha da pobreza.
Finalmente, devem-se observar as famílias ou os indivíduos? A adopção de
padrões de consumo médio pode ocultar a distribuição intra-familiar e a
presença de crianças.
Assim, as macro estimativas da pobreza devem ser complementadas por
micro estudos e pela construção de escalas de consumo em unidades de
equivalência para adulto, quando existam crianças.

Medidas de pobreza
Considerando o rendimento indivíduo por yi, com i = 1, 2, … n, sendo n a
população total, p a linha de pobreza (liminar de rendimento como mínimo
necessário para uma adequada participação na vida económica) e μ o
rendimento médio da economia em causa, definem-se as seguintes medidas:
José Dias Amaral 93
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
- taxa de incidência da pobreza; rácio do fosso da pobreza e o rácio
do fosso de rendimento.
a) Taxa de Incidência da Pobreza (TIP)

TIP  H
n

H, é o número de indivíduos i, tal que yi < p


Limitações:
i) Não capta a magnitude da diferença entre o rendimento
do indivíduo e a linha da pobreza;
ii) Não é sensível à distribuição dos rendimento entre os
pobres e privilegia políticas de distribuição que favorecem
os menos pobres, porque estes podem cruzar a linha de
pobreza com pequenos incrementos dos seus rendimentos;

José Dias Amaral 94


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME

b) Rácio do Fosso da Pobreza (RFP)


É o quociente do rendimento médio adicional, que permita a
todos os pobres atingir a linha da pobreza, e do rendimento médio da
sociedade:
yi  p  p yi 
RFP  n

Limitações:
i) É mais uma medida dos recursos necessários à irradicação
da pobreza do que um medida da pobreza;
ii) Dá uma incorrecta impressão do fenómeno da pobreza, em
países ricos mas com distribuição de rendimento altamente desigual,
pois que para tais países o RFP é bastante pequeno.

José Dias Amaral 95


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME

c) Rácio do Fosso de Rendimento (RFR)


yi  p  p yi 
RFR  pH

O RFP e o RFR apenas captam a intensidade per capita da pobreza, o


que não acontece com o TIP. Assim, deverão se considerados ambos
os tipos para caracterizar a pobreza. Contudo, os rácios aqui descritos
ignoram a questão da privação relativa entre os pobres, isto é, a
desigualdade entre os pobres.
Algumas características da pobreza:
i) As famílias pobres são maiores do que a família média e
têm uma alta taxa de dependência demográfica (essencialmente
influenciada por crianças, cujo número por família está altamente
correlacionado com a pobreza);
José Dias Amaral 96
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
ii) Famílias chefiadas por mulheres são uma grande proporção das famílias
pobres;
iii) A pobreza é significativamente maior nas zonas rurais do que nas zonas
urbanas;
iv) A pobreza está altamente correlacionada com a ausência de propriedade
sobre activos fixos e baixos stocks de capital humano, e com a falta de
acesso ao mercado de trabalho, de crédito e de seguros;
v) Existe uma relação estreita entre pobreza e subnutrição.
A fome e a abordagem de entitlement (direito do indivíduo sobre activos)
O que é um faminto regular e o que é a fome?
Faminto regular é o estado de um indivíduo com um nível de consumo de
alimentos aquém do necessário, de acordo com padrões internacionais.
Fome é uma violenta sujeição de um indivíduo à condição de faminto, causada
pelo decréscimo no nível de consumo de alimentos.
Nem toda a fome é explicada pela oferta de escassez de alimento, segundo Sen
(1981), as pessoas passam fome porque existem falhas de entitlement, isto é,
porque são incapazes, por meios legais, de obter alimentos suficientes.
José Dias Amaral 97
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
A teoria do entitlement assenta nos conceitos de dotação e troca, por um lado,
e falhas de direitos, por outro lado.
O conjunto de entitlement do indivíduo i, Ei, é constituído por todas as cestas
alternativas de bens, que o indivíduo pode possuir, dependendo da dotação do
indivíduo (cesta de que o indivíduo proprietário); e a correspondência de troca
do entitlement que o indivíduo pode demandar no mercado, para cada cesta
de dotação.

Limitações:
a) pode haver ambiguidades na especificação dos direitos;
b) existirão defeitos da abordagem quando transferências ilegais
(pilhagem) sejam importantes;
c) o consumo alimentar pode ser inferior aquele que seria determinado
pelos direitos do indivíduo, por razões como ignorância e hábitos
alimentares fixos.

José Dias Amaral 98


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
● Género, trabalho infantil e pobreza
No estudo das ligações entre género e pobreza, levantam-se as seguintes questões:
Como identificar e determinar a dimensão da discriminação de mulheres e crianças?
Quais são as causas de tal discriminação?
A pobreza está associada à discriminação do género, podendo esta ser determinada
pelos métodos directo e indirecto:
- Método directo: compara padrões de consumo observados com as
necessidades de cada categoria de membros da família.
Limitações:
i) baixa qualidade dos dados devida a tendência para ocultar a real
situação da família;
ii) inexistência de consenso quanto à determinação das necessidades das
várias categorias dos membros da família;
- Método indirecto: este método concentra-se na observação da
discriminação do género.
Na ausência de discriminação do género as mulheres têm maior esperança de vida
que os homens. Assim, rácios mulheres versus homens inferiores a 1 conclui-se que as
mulheres têm menor acesso à alimentação e aos serviços médicos.
José Dias Amaral 99
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
Em algumas regiões do mundo [dados relativos a 1995 (Lahiri)], os
rácios mulher-homem da esperança de vida [Africa Austral (0,989];
estrutura populacional [Índia (0,933); Paquistão (0,933)] e Actividade
económica [Africa Sub-Sahariana (0,650)]; Ásia Austral (0,336); Ásia
oriental (0,610); são menores que 1.
As diferenças através das regiões e países parecem ser explicadas pela
condição económica da mulher.
Quando a participação da mulher no rendimento familiar é
relativamente elevada, existe menor discriminação contra as mulheres,
e estas podem satisfazer melhor as sua necessidades básicas e a dos
seus filhos.
Programas para melhorar a nutrição e a saúde pública são mais
eficazes quando têm a mulher como alvo.

José Dias Amaral 100


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
Se a mulher estiver completamente integrada no processo de crescimento os
objectivos do desenvolvimento económico serão com maior probabilidade
realizados porque os benefícios no capital humano são transferidos para as
gerações futuras.
Pobreza trabalho infantil
Trabalho infantil é o trabalho desenvolvidos por um indivíduo com idade
inferior a quinze anos que se encontre economicamente activo,
independentemente da sua ocupação ou status.
O trabalho infantil tem implicações negativas no processo de acumulação de
capital humano, freando assim, no longo prazo, o desenvolvimento, pois que:
a) Reduz o tempo dedicado as actividades escolares, se as crianças não
forem impedidas de frequentarem a escola;
b) Sujeitam-se as crianças a péssimas condições de trabalho e a longas
jornadas de trabalho;
c) As crianças que trabalham têm a saúde mais debilitada e o crescimento
retardado.

José Dias Amaral 101


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
[Considerações sobre estatísticas (pg. 109), o modelo de trabalho infantil
(pg.109) e eliminação do trabalho infantil (pg .111].

● Estratégia de redução da pobreza


A estratégia de redução da pobreza é uma consequência decorrente da
Cimeira sobre Desenvolvimento Social realizada em 1995, onde 180 Chefes de
Estado e de Governo se comprometeram em formular ou estabelecer planos
de erradicação da pobreza, através da remoção das suas causas estruturais,
cuja iniciativas conheceram no PNUD, no apoio do governo Norueguês e
outros paceiros laterias, seus principais promotores, com o lançamento do
programa da Iniciativa das Estratégias da Pobreza.

- Em 1999 o BM anunciou o Quadro de Desenvolvimento Abrangente (QDA)


aos países recipientes da sua assistência para eliminar limitações da Ajuda ao
Desenvolvimento.
José Dias Amaral 102
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME
- Em 2001 foi aprovado pelo FMI e pelo BM o Programa de Erradicação da Pobreza
(ERP) - é um programa de políticas macroeconómicas estruturais e sociais que,
identificando também necessidades de financiamento externo tem como
objectivos a promoção de investimento económico e a redução da pobreza.
O ERP tem as seguintes características:
a) Está baseada na apropriação pelos países dos seus respectivos programas
de desenvolvimento;
b) Reduz o custo da fragmentação dos dadores. Ao constituir-se num veículo
de coordenação e harmonização entre aqueles;
c) A ajuda assumiu – no caso em que há história de bom desempenho
macroeconómico – a forma de apoio directo ao orçamento dos países ao
invés de apoio a projectos específicos;
d) Promoveu a diminuição da excessiva condicionalidade da ajuda.
Para os países em desenvolvimento as ERP são o veículo de ligação entre as
sua políticas, programas e necessidades de recursos, por um lado, e os objectivos
do desenvolvimento do milénio, por outro lado.
José Dias Amaral 103
DESIGUALDADE, POBREZA E FOME

Nota: Em 2004, 42 países encontravam-se a implementar ERP,


dos quais 21 eram africanos (quantos são actualmente?).
Análise da evolução da taxa de incidência da pobreza (pgs. 113,
114).

José Dias Amaral 104


DESIGUALDADE, POBREZA E FOME

FIM

José Dias Amaral 105


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
A população tem um papel central no conceito de desenvolvimento
económico, uma vez que os objectivos deste se devem reportar aos valores
nucleares daquela.
Este capítulo procura responder às seguintes questões:
– Quais são os padrões de crescimento populacional observados nos
países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento?
– Que factores económicos e sociais determinam , ao nível das famílias, as
taxas de fertilidade?
– Quais são os efeitos de crescimento populacional sobre o
desenvolvimento económico?
Conceitos
● Taxa de crescimento populacional – é a diferença entre as taxas de
natalidade e mortalidade, medida como número de nascimentos e mortes
por cada mil habitantes (taxa de crescimento natural). No caso de um país
aberto com movimentos migratórios a taxa de crescimento populacional
será igual a taxa de crescimento natural mais o saldo migratório
(imigrantes menos emigrantes) a dividir pela população total.
José Dias Amaral 106
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
● Distribuição etária de uma população – é o conjunto de percentagens da
população em diferentes grupos etários em relação à população total.
● Taxa de fertilidade específica a um grupo etário – é o número médio de
crianças nascidas por mulher de determinado grupo etário durante um
período de tempo, geralmente um ano.
● Taxa de fertilidade total – é a soma das taxas de fertilidade específicas dos
vários grupos , e exprime-se como o número de crianças que se espera que
uma mulher tenha ao longo da sua vida.
● Tendências – a distribuição etária dos PSD é significativamente mais jovem
do que a dos PD. Este facto leva a que os PSD tenham altas taxas de
crescimento das populações jovens.
● Transição demográfica – é o processo de declínio gradual das taxas de
fertilidade de níveis altos para o nível de substituição dos casais, ocorrendo
nas três fases seguintes:
a) na primeira fase coexistem altas taxas de natalidade e de mortalidade, o
que determinam baixas e estáveis taxas de crescimento da população.
José Dias Amaral 107
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
b) na segunda fase, baixas taxas de mortalidade interagem com altas taxas de
natalidade determinando altas taxas de crescimento da população, devido
aos avanços da medicina e ao incremento da produtividade na produção
de bens alimentares, dentre outros bens.
c) na terceira fase, as taxas de natalidade decrescem ao mesmo tempo que
diminuem as taxas de mortalidade determinando baixas taxas de
crescimento (ou até nulas, se as taxas de natalidade e de mortalidade
convergirem).
O processo de transição demográfica ocorreu em quase todos os países da
Europa e da América do Norte.
Os PSD passam agora pelas fases de transição demográfica, estando todos os
países do mundo na segunda ou na terceira fase da transição demográfica.

● As teorias de Thomas Malthus (1798)


No seu “Ensaio sobre o Princípio da População” afirma que a população
crescerá a uma taxa geométrica (duplicando em cada período de 30 ou 40
anos) enquanto que a oferta alimentar crescerá apenas a taxas aritméticas.

José Dias Amaral 108


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Com o decréscimo da produção alimentar o per capita decresceria
para níveis consistentes para uma população estável e vivendo com
rendimento quase ao de subsistência (armadilha populacional de
Malthus). nível
g(y), g(L)

B C
3 g(L)
A
2 g(y)

1
Yo Y1 Y2 Y3 Y4 Y5

José Dias Amaral 109


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Yo - é o nível de rendimento per capita correspondente ao estado de pobreza
absoluta, caracterizado por taxas de natalidade e mortalidade iguais (1ª fase
de transição demográfica). A direita de Yo a população cresce como resultado
maiores rendimentos e de taxas decrescente de mortalidade (2ª fase de
transição demográfica).
Elevadas taxas de crescimento da população mantêm-se até Y4, a partir do
qual as taxas de crescimento da população começam a decrescer (3ª fase de
transição demográfica). Y3 – é o ponto de taxas de retorno decrescente do
modelo de Malthus.
O ponto de equilíbrio B é instável. Se o rendimento per capita der um salto
(por exemplo, em resultado do investimento) para a direita de Y2 a economia
crescerá até ao equilíbrio C, que é estável, do mesmo modo, um movimento
para a esquerda de Y2 levará a economia para o equilíbrio A.
O equilíbrio A é estável porque a qualquer afastamento do rendimento para a
direita ou para a esquerda, seguir-se-á um movimento de retorno do
rendimento per capita para Y1 (armadilha da população).

José Dias Amaral 110


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Limitações da teoria de Malthus
1- ignora os incrementos das taxas de crescimento do produto, a todos
os níveis do rendimento per capita, devido ao impacto do progresso
tecnológico. Em consequência deste, o rendimento per capita cresce de
forma sustentada e todos os países podem escapar da armadilha
populacional de Malthus.
2- assume que as taxas de crescimento da população estão
directamente e positivamente correlacionadas com o nível do rendimento per
capita, quando pela evidência empírica parece não haver qualquer correlação
entre aquelas variáveis.
3- Concentra-se na variável rendimento per capita como sendo o
determinante das taxas de crescimento da população.

● TEORIA MICROECONÓMICA DA FERTILIDADE


Nesta abordagem, o principal factor determinante da decisão familiar de ter
mais ou menos filhos é o nível de vida individual e não o rendimento per
capita.
José Dias Amaral 111
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
A teoria microeconómica da fertilidade assenta na teoria neoclássica de
consumo e do comportamento familiar.
As crianças são tidas como um tipo especial de bens de consumo (e de
investimento, nos países em desenvolvimento), de modo que a fertilidade
torna-se uma decisão económica racional da família, determinada pela
procura por filhos em relação a outros bens.
A procura por filhos [C(d)] é dada por:

Cd  F (Y ,Pc ,PX ,t x )
Onde:
Y, é o rendimento familiar; Pc , o preço por filho; Px , o preço de
outros bens; e tx, a preferência por outros bens em relação a crianças. O
custo total dpor filhos incorpora custos directos (alimentação, vestuário, etc)
e custos indirectos (para pais que trabalham, salário horário multiplicado pelo
número de horas dedicados ao filho).

José Dias Amaral 112


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
– Propriedades da procura por filhos Cd:
a) quanto maior for o rendimento, maior será a procura por filhos
sobrevivos, Cd y  0 ;
b) quanto maior o preço por filho, menor a procura por filhos Cd ;
0
Pc

c) quanto maior preço de outros bens em relação ao preço por filhos maior
será a procura por filhos: Cd ; 0
Px
d) quanto maior a preferência por outros bens em relação aos filhos,
menor será a procura por filhos Cd tx  0,

José Dias Amaral 113


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

G(P)

G(2) E
I2
I1

c2 b C(d)

G(p) – quantidade de bens consumidos pelos filhos


A inclinação da recta orçamental ab mede o preço relativo de filhos e de outros bens ou o
custo de oportunidade de ter-se filhos.
José Dias Amaral 114
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
● Análise de Sustentabilidade
– Um incremento do rendimento familiar pode aumentar o preço relativo
por filhos, provocando desse modo um efeito rendimento (deslocação da
restrição orçamental para a direita) ou um efeito substituição (rotação da
restrição orçamental para a esquerda). O efeito total depende intensidade
relativa de ambos os efeitos. Porém, assumindo que as mulheres cuidam dos
filhos e não trabalham, o efeito substituição domina o efeito rendimento, um
incremento de oportunidades de emprego das mulheres implica a queda do
número de filhos.
– Aumento do preço por filhos causará a diminuição do número de filhos
a favor de outros bens.
– Existe uma externalidade quanto ao número de filhos, quando o
número de filhos escolhidos excede o ótimo social. As externalidades serão
transversais às famílias quando há serviços públicos (educação, saúde) que
não são internalizados por elas , o que implica que os custos privados de ter
mais um filho são menores do que os custos sociais.
José Dias Amaral 115
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

– As externalidades são intra-familiares quando em famílias extensas, os


familiares cuidam das crianças, suportando, desse modo, custos que os pais não
consideram.
Assim, uma forma para induzir as famílias terem menos filhos aumenta-se o
custo de oportunidade de os ter (criando maiores oportunidades de emprego
paras as mulheres e pagando-lhes maiores salários).
Em relação PSD, devido à factores culturais e psicológicos na determinação do
tamanho da família, os primeiros dois ou três filhos são vistos como bens de
“consumo” insensíveis aos preços relativos, pelo que a teoria microeconómica da
fertilidade só é aplicável aos filhos adicionais àqueles.
Há também explicações como a de que os filhos são um investimento para
acudirem os pais na velhice, sendo vistos por essa razão como tendo um potencial
de geração de rendimento presente e futuro.
A discriminação do género pode implicar famílias alargadas nos PSD em que se
considera que só os membros do sexo masculino podem cuidar dos pais na
terceira idade.
José Dias Amaral 116
POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
● População e desenvolvimento económico
Nos modelos de crescimento os indivíduos decidem sobre como consumo e
poupança; capital e população crescem ao longo do tempo. Quais são as
consequências do crescimento da população?
Efeitos negativos
– Modelo de Harrod e Domar: neste modelo as taxas de crescimento da
população geram decréscimos da taxa de crescimento do rendimento per capita.
k s

– Modelo de Solow: sendo o estado estacionário y n  , aumentos da taxa

de crescimento da população diminuem o nível do rendimento per capita no


longo prazo (o rácio capital -trabalho é menor, logo, o produto per capita também
é menor)
Efeitos positivos
O crescimento da população cria necessidades económicas, o que por sua vez
forçam ao aparecimento de novas ideias para aumentar a capacidade produtiva.
Em consequência, grandes populações poderão ter maiores taxas de mudança e
progresso tecnológico.

José Dias Amaral 117


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
Consenso (segundo Todadro)
– primeiro: o crescimento da população não é o principal factor
dos baixos níveis de vida, da desigualdade e da limitada liberdade de
escolha. As causas fundamentais encontram-se na natureza dualista da
ordem económica e social nacional e internacional. Contudo, o
crescimento da população intensifica os problemas do
desenvolvimento.
– segundo: o problema do crescimento populacional envolve a
qualidade de vida e o bem estar material.
– terceiro: os problemas decorrem não tanto do tamanho da
população como da sua concentração nas áreas urbanas.
Assim, a estratégia para limitar o crescimento da população deve
abordar as questões que lhe são subjacente e inerentes ao
desenvolvimento: pobreza, desigualdade, altas taxas de desemprego,
discriminação do género, serviços de saúde e de educação, etc

José Dias Amaral 118


POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

FIM

José Dias Amaral 119


AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
● Ambiente e crescimento
A redistribuição do rendimento a favor dos pobres diminui a degradação
do meio ambiente. Contudo à medida que o rendimento per capita
aumenta, é provável que haja um efeito líquido de degradação do
ambiente.
A sustentabilidade económica pode traduzir-se no bem-estar per capita
não decrescente, seja qual for o indicador do desenvolvimento acordado.
Desenvolvimento económico sustentável é a satisfação das necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
satisfazem as suas próprias necessidades (Relatório Bruntland).
Está implícito nesta definição que a política económica incorpore custos
ambientais no processo de decisão económica, uma vez que o conceito de
capital, para além de integrar o capital físico e humano, deve, igualmente,
contemplar o capital ambiental.

José Dias Amaral 120


AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
Neste contexto, o rendimento sustentável líquido (PNL) será:
PNL = PNB – D(f) – D(a) – C(ra) – C(ia)
Ou seja, o PNL igual ao PNB deduzido da depreciação do capital físico, da
depreciação do capital ambiental, custo de reposição do capital ambiental e
custo para inverter a destruição do capital ambiental.
Contudo, se a taxa do progresso tecnológico exceder a percentagem do stock
dos recursos efectivos utilizados por ano, conseguir-se-á provavelmente
inverter a exaustão dos recursos não renováveis.
A degradação do ambiente é devida a poluição e escassez de água
(responsáveis por milhões de mortes e de doenças); a redução das reservas
piscícolas; a contaminação dos recursos hídricos no subsolo pelos resíduos
sólidos e às restrições a actividade produtiva, devido aos custos a elas
inerentes.
A seca e a desflorestação são, igualmente, factores que contribuem para a
degradação do ambiente e responsáveis pela diminuição da produtividade,
quer pelo seu impacto na produção agrícola, quer por permitir a erosão dos
solos e diminuir a capacidade de absorção de carbono.
José Dias Amaral 121
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO
● Desenvolvimento urbano e ambiente
Industrialização e poluição do ar
A poluição urbana tende primeiro a crescer com a rendimento nacional e
depois a diminuir, descrevendo, desse modo, a curva de “kuznets ambiental”.
Pois, quando maior for o rendimento maior é o acesso a tecnologias limpas,
podendo, no entanto, tendência ser invertida mediante regulamentação
governamental.
A poluição do ar constitui uma externalidade negativa cujas fontes,
associadas à modernização, são: a energia, a poluição automóvel, a produção
industrial e a construção. A sua internalização decorre da formulação
medidas de política (imposto pigouviano, negociação bilateral, criação de
mercados de poluição, programas de redução de pobreza) e de controlo -
imposição de níveis standart de poluição - pelos governos.
Os factores ambientais que afectam a saúde dos habitantes pobres das áreas
urbanas são o acesso a àgua potável e ao saneamento básico, responsáveis
por altas taxas de mortalidade.

José Dias Amaral


122
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO

FIM

José Dias Amaral

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