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O significado do passado

Alguns autores têm argumentado que as concepções de tempo na história e


filosofia da ciência são complexas e multidisciplinares por natureza. Além do aspecto
histórico e filosófico, há ainda uma discussão sobre o tempo nas teorias físicas.1
Tem sido destacado que no campo da filosofia uma discussão sobre o tempo
remete ao filósofo Platão que pode ser encontrada no TIMEU. Há ali "uma
contraposição entre aquilo que nunca se transforma e sempre "é", que pode ser
apreendido pela razão e pela inteligência, e as coisas que mudam e nunca "são", a
respeito das quais temos somente um conhecimento temporário e imperfeito: a
opinião."2 Tem sido destacado também que para Plotino, cujo pensamento influenciou
Santo Agostino e outros teólogos cristãos posteriores, há três tempos: o presente atual,
que na verdade já pertence ao passado, o presente do passado, que se chama memória, e
o presente do futuro, apenas imaginado por esperança ou nosso medo.3
David Lowenthal argumentou que a consciência do passado é, por inúmeras
razões, essencial ao nosso bem-estar.4 Lowenthal também observou que tomamos
consciência do passado lembrando-nos das coisas, lendo e ouvindo histórias e crônicas,
e vivendo entre relíquias de épocas anteriores.5 O autor ainda destacou: o passado nos
cerca e nos preenche; cada cenário, cada declaração, cada ação conserva um conteúdo
residual de tempos pretéritos: "toda consciência atual se funda em percepções e atitudes
do passado (...)”.6
Vicent Colapietro destacou o papel importante do filósofo C.S. Peirce em
esclarecer pragmaticamente o que a história significa.7 Ainda segundo ao autor, o

1 O Conceito de Tempo (Teses USP).<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-


30112004-183841/.../04capitulo2.pdf>

2O Conceito de Tempo (Teses USP).<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-


30112004-183841/.../04capitulo2.pdf>

3 O Conceito de Tempo (Teses USP).<www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-


30112004-183841/.../04capitulo2.pdf>

4 LOWENTHAL, David. Como Conhecemos o passado. Disponível


em:<https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/11110/8154> Acessado em: 15/01/2019.

5 LOWENTHAL, David. Como Conhecemos o passado. Disponível


em:<https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/11110/8154> Acessado em: 15/01/2019.
6 LOWENTHAL, David. Como Conhecemos o passado. Disponível
em:<https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/11110/8154> Acessado em: 15/01/2019.
7 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
envolvimento do filósofo com a história, levou-o a refletir sobre as práticas
historiográficas. Colapietro argumentou que o entendimento de Peirce sobre a própria
história exige uma consideração mais cuidadosa, muito mais profunda do que a que já
recebeu:8
Seu foco principal é uma distinção fundamental, mas implícita,
a distinção entre conhecimento histórico e consciência. (...) Seu
pensamento abrangia a consciência da historicidade (...) e, além disso,
a implicações mais salientes de seu caráter essencialmente histórico.
Essa distinção é, no entanto, relacionada a outra crucial, entre uma
definição abstrata e uma clarificação pragmática do passado histórico.
Aqui, como em outras partes, o pragmatismo de Peirce não
compromete seu realismo: quando abstratamente definido, o passado
permanece na alteridade irredutível ao presente, mas quando
pragmaticamente esclarecido, é o que os investigadores experimentais
podem reconstruir de forma mais ou menos confiável com base em
evidências históricas como monumentos, documentos e outros
vestígios do passado.

Assim, pragmaticamente definido, o passado histórico é, no sentido mais


rudimentar, o passado que se pode descobrir (algo havia ocorrido e havia assumido uma
forma determinável e detectável no fluxo da história).9
Em suas formas mais refinadas, o esclarecimento pragmático do passado
histórico ultrapassa o conhecimento histórico e leva à consciência histórica: os
pesquisadores experimentais adquirem, assim, uma percepção mais ou menos explícita
do drama histórico em que são agentes implicados.10
Tem sido destacado que o entendimento de Peirce sobre a história é de fato sutil,
com nuances e, em grande medida, elusivo. “Está ligado a virtualmente todas as suas
doutrinas mais importantes, mais notavelmente seu realismo, pragmatismo, senso
comum (...).11 Colapietro argumentou que no realismo e no pragmatismo de Peirce, bem
como na consideração de seu sinocismo (ou doutrina de continuidade), o passado é

8 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
9 Assim em: COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a
pragmatic clarification of historical Consciousness. Disponível
em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627> Acessado em: 15/01/2019.
10 Assim em: COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a
pragmatic clarification of historical Consciousness. Disponível
em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627> Acessado em: 15/01/2019.
11 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
tomado como passado, mas é contínuo com o presente:12 “O que não é mais real, no
sentido mais forte possível, não deixa de ser real e, além disso, mesmo real em um
sentido atenuado”. Assim, como tem sido observado, o passado é uma instância de
realidade.13 Mas a atualidade do passado está em marcante contraste com a atualidade
do presente.14 Desse modo, o nosso conhecimento do passado pode contribuir para um
“sentido histórico” no presente vivo: “Como esse é um sentido agencial, adquirido e
desenvolvido por agentes envolvidos no fluxo da historicidade, é inelutavelmente um
sentido dramático”.15 Essa perspectiva dos agentes, está implicada em práticas evoluídas
e evolutivas, cujos resultados estão em jogo, torna-se em parte a de um participante
autoconsciente em um drama que se desdobra.16Esse sentido está, no entanto, amarrado,
mas não redutível a tal conhecimento. Por isso, é necessário distinguir entre
conhecimento histórico e consciência histórica (ou imaginação). Existe, por um lado, o
conhecimento obtido por atores históricos e, por outro, a consciência por parte de tais
atores da natureza de seu empreendimento. Estes são distintos, mas no final são
inseparáveis.17

12 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
13 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
14 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
15 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
16 COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a pragmatic
clarification of historical Consciousness. Disponível em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627>
Acessado em: 15/01/2019.
17 Assim em: COLAPIETRO, Vicent. The historical past and the dramatic present - Toward a
pragmatic clarification of historical Consciousness. Disponível
em:<https://journals.openedition.org/ejpap/627> Acessado em: 15/01/2019.

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