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Deformações Impostas
Júri
Maio de 2010
Resumo
A presente dissertação pretende documentar o que tem sido feito ao longo dos últimos 40
anos em relação ao tema da mesma, ou seja, sobre o controlo da fendilhação devido às
deformações impostas e com esse fim realizou-se uma razoável pesquisa bibliográfica,
baseado nos estudos efectuados no Instituto Superior Técnico. Neste documento apresenta-se
e analisa-se os resultados obtidos por diversas investigações nesta área de uma forma que
possa contribuir para o esclarecimento dos efeitos das deformações impostas nas estruturas
de betão armado, sendo que estas acções devem ser consideradas fundamentalmente na
verificação das condições de serviço da estrutura (Estados Limites de Utilização), salientando-
se que se devem considerar no dimensionamento à rotura somente no caso de eventuais
esforços de segunda ordem e na verificação da ductilidade disponível. Também se apresentam
as mais recentes disposições regulamentares para ter em consideração estes efeitos, alguns
critérios propostos para o dimensionamento estrutural e situações de actuação das
deformações impostas em estruturas.
i
Abstract
This work aims to summarize much of what has been done over the past forty years on the
topic of cracking control due to imposed deformations; for this purpose a
reasonable bibliographical research has been performed, based on the studies that took place
at I.S.T. This document presents and analyzes the results obtained by many researches in this
field intending to help to clarify the effects due to imposed deformations in the reinforced
concrete structures. These actions must be thoroughly considered in regards of the structure
service’s condition (Serviceability Limit States). Design for Ultimate Limit States must be
considered only in case of eventual second order effects and for the analysis of available
ductility verification. It also illustrates the most recent codes indications in such cases and some
proposed criteria for structural design for the situations in which structure's imposed deformation
are important.
ii
Agradecimentos
Agradeço a ajuda valiosa prestada pelo colega de curso, Pedro Arruda, e pelo colega de
trabalho, Pedro Sousa, na modelação do tanque.
Agradeço à Cláudia Pona pela ajuda na concepção e revisão de texto e pelo auxílio que
prestou ao longo de toda a tese.
Agradeço ao meu irmão, Ruben Tavares, que como Designer Gráfico deu o seu contributo
no tratamento de imagem e na concepção de algumas figuras apresentadas nesta dissertação.
Agradeço aos meus pais, Rui Tavares e Maria João Tavares, pelo apoio prestado em todo o
meu percurso escolar e, em particular, nesta fase, sendo exemplos em dedicação e amor dado
aos filhos.
iii
Índice
1.1. Introdução........................................................................................................................... 1
iv
3.2. Deformação imposta com efeito de flexão, com sobreposição de cargas verticais ........ 50
5.2.2. Tanque – sobreposição de cargas (acção da água) a deformação imposta axial ... 81
Bibliografia ................................................................................................................................. 90
Anexo A ...................................................................................................................................... 93
v
Índice de figuras
Figura II. 1 – Comportamento de um tirante de betão armado, solicitado por um esforço axial de
tracção crescente [19] ................................................................................................................. 10
Figura II. 2 – Comportamento global da abertura de fenda num elemento estrutural [25] ......... 11
Figura II. 3 – Comportamento do tirante de betão armado solicitado por uma deformação
imposta axial crescente [25] ........................................................................................................ 12
Figura II. 4 – Evolução dos esforços e abertura de fendas num tirante sujeito a uma
deformação imposta: a) sem armadura mínima; b) com armadura superior à mínima. [32] ...... 13
Figura II. 5 – Relação Momento-Curvatura para as várias fases da estrutura no caso de flexão
simples ........................................................................................................................................ 15
Figura II. 8 – Diagramas de tensões na secção imediatamente antes e após fendilhar ............ 18
Figura II. 9 – Comparação de resultados entre deformação imposta externa (a) e a retracção do
betão (b) [11] ............................................................................................................................... 19
Figura II. 10 – Distribuição de tensões numa secção sujeita ao efeito da retracção num
elemento estrutural inserido numa estrutura hiperstática [25] .................................................... 20
Figura II. 12 – Resposta não linear para a acção isolado de uma deformação imposta externa
[26] ............................................................................................................................................... 22
Figura II. 13 – Estado do elemento estrutural e respectivas tensões, para extensões próximas
de 0,3 e 0,5‰, para o caso 4 [11] ............................................................................................... 23
Figura II. 14 – Tensões na armadura (σs) e respectiva abertura de fenda (w) em função da
extensão média, caso 4 [26] ....................................................................................................... 24
Figura II. 15 – Resposta não linear para a acção isolado de uma deformação imposta interna
[26] ............................................................................................................................................... 24
Figura II. 16 – Estado do elemento estrutural e suas tensões, para extensões próximas de 0,3 e
0,5‰, para o caso 4 [11] ............................................................................................................. 25
vi
Figura II. 17 – Tensões na armadura (σs) e respectiva abertura de fenda (w) em função da
extensão média para o caso 4 [26] .......................................................................................... 26
Figura II. 19 – Estimativa do parâmetro kc, em função da tensão média no elemento [25] ....... 29
Figura II. 20 – Equilíbrio de tensões ao longo do elemento, na fase de formação de fendas [25]
..................................................................................................................................................... 30
Figura II. 24 – Comparação de distribuição de tensão no centro das paredes com as dum
tirante em função da razão l/b [19] .............................................................................................. 35
Figura II. 26 – Características geométricas da parede utilizada nas análises de Luís [26] e
Teixeira [32] ................................................................................................................................. 37
Figura II. 28 – Diâmetro máximo dos varões para o controlo da fendilhação, função da tensão
nas armaduras [17] ..................................................................................................................... 39
Figura II. 29 – Espaçamento máximo dos varões para o controlo da fendilhação, função das
tensões nas armaduras [17] ........................................................................................................ 39
Figura II. 30 – Variação das resultantes de tensões ao longo da parede para o caso 1 [26] .... 41
Figura II. 31 – Evolução da tensão média e abertura de fendas ao longo da parede para o caso
1, para deformação imposta externa e interna respectivamente [26] ......................................... 43
Figura II. 32 – Variação da força ao longo da parede, para o caso 1 (armadura mínima) [32] .. 44
Figura II. 36 – Fendilhação que ocorre num muro sem juntas ................................................... 47
Figura II. 37 – Variação da tensão (azul) e valor médio (cinzento), na secção central da parede
aquando da formação das fendas seguintes para: a) caso 1; b) caso 2; c) caso3 [32] ............. 47
vii
Figura III. 1 – Sobreposição do efeito de flexão de uma deformação imposta (por exemplo,
assentamento diferencial de apoio ou variação linear de temperatura) com a flexão simples
devido às cargas verticais ........................................................................................................... 50
Figura III. 3 – Comportamento estrutural num caso usual de sobreposição dos efeitos de
deformações impostas aos das cargas [13] ................................................................................ 51
Figura III. 4 – Relação entre as rigidezes dos Estados I e II em flexão simples para diferentes
percentagens de armadura [13] .................................................................................................. 52
Figura III. 6 – Sobreposição de uma deformação imposta axial com cargas verticais ............... 54
Figura III. 7 – Comportamento à flexão simples e composta com esforço axial constante [14] . 54
Figura III. 8 – Deformação imposta externa e interna, sem e com sobreposição de efeitos [11]
..................................................................................................................................................... 55
Figura III. 9 – Resultados da análise não linear em termos de N-εm para deformação imposta
externa [11].................................................................................................................................. 56
Figura III. 10 – Distribuição das tensões nas armaduras, caso 4, para sobreposição de efeitos –
deformação imposta externa [25] ................................................................................................ 57
Figura III. 12 – Resultados da análise não linear em termos de N-εm para deformação imposta
interna [11]................................................................................................................................... 59
Figura III. 13 – Distribuição das tensões nas armaduras, caso 4, para sobreposição de efeitos –
deformação imposta interna [25] ................................................................................................. 60
Figura IV. 2 – Exemplo da resposta de uma viga bi-encastrada a uma variação linear de
temperatura para uma análise linear (a) e não linear (b) [13] ..................................................... 64
Figura V. 2 – Fendilhação junto à abertura do elemento traccionado (N crA e NcrB – esforço axial
de fendilhação na zona A e B, respectivamente) ........................................................................ 71
viii
Figura V. 3 – Situação de colocação de armadura mínima de tracção na consola de um edifício
[13] ............................................................................................................................................... 72
Figura V. 5 – Situação de colocação de armadura mínima na laje devido aos elementos rígidos
[13] ............................................................................................................................................... 73
Figura V. 8 – Distância máxima entre juntas de dilatação segundo EC2-parte3 [17] ................ 75
®
Figura V. 13 – Modelação do tanque em SAP2000 .................................................................. 82
ix
Índice de Tabelas
Tabela II. 2 – Quadro 7.2N e 7.3N do EC2 [16] – limitação da tensão no aço, para efeitos de
controlo de abertura máxima de fenda, admitindo a situação de flexão (diâmetros equivalentes)
..................................................................................................................................................... 27
Tabela II. 4 – Percentagens de armadura e tipos de materiais utilizados na análise não linear
de Luís [26] .................................................................................................................................. 41
Tabela II. 5 – Valores do esforço axial estabilizado (N) para os 3 casos analisados [26] .......... 42
Tabela IV. 1 – Valores aproximados de 𝝃 para avaliação dos momentos devido às deformações
impostas [11] (realçam-se os valores médios para acções de curto e longo prazo) .................. 65
Tabela IV. 2 – Coeficientes de redução de esforço axial de fendilhação para uma deformação
imposta axial [11] salientam-se os valores médios de referência ............................................... 67
Tabela V. 2 – Armaduras mínimas para dois tipos de espessura da parede do muro ............... 77
x
Simbologia
c – Recobrimento da armadura
My – Momento de cedência
xi
I. Enquadramento Geral
1.1. Introdução
No passado, estas acções foram muitas vezes menos bem consideradas, mas a partir dos
anos 70/80 começou a ficar claro que uma parte considerável de danos, deficiências e mau
desempenho em serviço resultava não da actuação das cargas, mas do efeito das
deformações impostas. Assim, nos últimos anos, efectuaram-se diversos trabalhos de
investigação com o objectivo de clarificar o comportamento em serviço destas estruturas.
Também, no Instituto Superior Técnico, foram desenvolvidos alguns trabalhos sobre os efeitos
das deformações impostas. Assim, pretende-se com este documento resumir e analisar a
investigação efectuada e as disposições de dimensionamento associadas para o controlo dos
efeitos das deformações impostas nas estruturas de betão armado. Primeiramente, é
necessário entender os fenómenos físicos que envolvem os três tipos de deformação imposta
acima referidos, os quais são explanados nos próximos parágrafos.
1
1.2. Tipos de deformação imposta
𝑓
𝜀𝑖𝑚𝑝 = 𝜀𝛥𝑇 + 𝜀𝑐𝑠 𝑚𝑎𝑥 ≈ 0,6 × 10−3 ≫ 𝜀𝑐𝑡𝑚 = 𝐸𝑐𝑡𝑚 ≈ 0,1 × 10−3 (I.1)
𝑐,𝑚
2
1.2.1. Retracção
A retracção do betão é uma propriedade reológica do material e que consiste numa diminuição
gradual do volume do betão ao longo do processo de endurecimento, na ausência de cargas
aplicadas. Em geral são referidos cinco tipos de retracção (plástica, química, de carbonatação,
térmica e hídrica) que ocorrem por processos físico-químicos diferentes e em distintas fases do
endurecimento do betão, sendo que os dois mais relevantes, para o trabalho em causa, são
analisados seguidamente, de acordo com [7, 13, 20, 22, 24, 32].
A retracção propriamente dita, ou seja, a hídrica, é a parcela que mais contribui para a
retracção global dos elementos de betão. Este tipo de retracção ocorre devido à perda de água
do interior do betão, segundo dois processos distintos: o processo endógeno e a secagem. O
Eurocódigo 2 [16], considera a retracção total como sendo a soma destes dois processos (ver
expressão I.2).
3
de hidratação consomem toda a água dos poros maiores, a retracção endógena é mais
significativa.
A exposição ao meio ambiente provoca nas estruturas variações de temperatura que decorrem
de forma cíclica ao longo da vida útil das mesmas. As variações de temperatura devem-se
sobretudo à exposição directa das estruturas aos raios solares. Assim, as condições
climatéricas locais, a orientação da estrutura, a sua massa e o tipo de revestimento são
factores que condicionam as variações térmicas dos elementos estruturais.
4
Figura I. 2 – Diagrama representativo do efeito da temperatura numa secção [18]
5
confinante como escavações ou aterros e variações no nível freático podem causar
assentamentos das fundações da estrutura.
As acções sobre uma estrutura de betão armado são denominadas de acções directas ou
indirectas. As acções directas são cargas verticais ou horizontais (vento) que geram reacções e
esforços, essenciais ao equilíbrio das estruturas. As acções indirectas são as deformações
impostas, as quais somente no caso de estruturas hiperestáticas geram reacções exteriores
auto-equilibradas que dependem da rigidez, da geometria, dos materiais e do seu estado de
fendilhação. Se no caso das acções directas é requerida sempre uma dada capacidade
resistente, nas acções indirectas há que exigir sobretudo uma certa capacidade de
deformação. De facto, para este tipo de acções verifica-se uma diminuição de esforços
relativamente aos valores elásticos, que dependem do estado da rigidez da estrutura.
Segundo Camara [13], um comportamento dúctil das estruturas é conseguido por meio da
escolha de um aço com características de ductilidade adequadas, da concepção das secções
6
tal que o parâmetro x/d seja limitado na rotura, e, se se tratar da flexão composta, tal que o
nível de esforço axial reduzido não seja elevado. Finalmente, a adopção de estribos, não muito
espaçados e bem amarrados, que garantam o confinamento do betão comprimido é a forma de
melhorar a ductilidade disponível e, por conseguinte, também aumentar a capacidade de
deformação plástica das zonas da estrutura em causa.
7
refere uma ordem de grandeza da abertura de fenda visível em função da distância do
observador à mesma, como se pode observar na figura seguinte.
Figura I. 4 – Percepção humana comum do fenómeno da fendilhação em função da distância, l, do observador [23]
Este trabalho tem como objectivo principal dar uma contribuição para fazer um ponto de
situação sobre alguma investigação realizada e as disposições de dimensionamento para o
controlo dos efeitos das deformações impostas nas estruturas de betão estrutural. Há, de facto,
a necessidade de se sistematizar a informação relativa à forma de encarar essas acções tanto
na concepção como no dimensionamento e pormenorização das estruturas de betão.
8
No capítulo II analisa-se o comportamento do betão estrutural quando solicitado por
deformações impostas axiais ou com efeito de flexão, distinguindo-se também as deformações
impostas externas das internas. Apresenta-se, ainda, a formulação proposta pelo EC2 [16] para
a definição da armadura mínima e uma análise da actuação das deformações impostas em
situações de condições de fronteira diferentes, como no caso de muros de suporte ou paredes
laterais de tanques.
No capítulo III estudam-se as situações de sobreposição dos efeitos de flexão gerados por
cargas aplicadas, com efeitos de flexão ou axiais provocados pelas deformações impostas.
9
II. Efeito de acções isoladas
O elemento estrutural mais simples é, como referido, o de um tirante. Nesse sentido começa-se
por descrever a sua resposta quando solicitado por uma força de tracção, para posteriormente
se compreender o comportamento do mesmo quando solicitado por uma deformação imposta
axial. Essa descrição foi efectuada com recurso a referências bibliográficas [12, 22, 24, 32].
Para uma acção crescente, neste caso decorrente da aplicação de uma força de tracção
pura (N), o tirante de betão armado evolui em três fases até atingir a rotura, como se pode
verificar na Figura II. 1, que são as seguintes: inicialmente verifica-se um estado não fendilhado
e posteriormente uma situação de fendilhação, que, por sua vez, se subdivide em duas etapas
– a primeira correspondendo à formação de fendas e a segunda à fendilhação estabilizada – e,
por fim, o estado de rotura que se inicia com a cedência do aço. De seguida, apresenta-se uma
breve descrição esquemática dos estados acima referidos, envolvidos no mecanismo de
fendilhação.
Figura II. 1 – Comportamento de um tirante de betão armado, solicitado por um esforço axial de tracção crescente
[19]
10
No estado não fendilhado o tirante exibe um comportamento elástico-linear, Estado I, no
qual as tensões de tracção são inferiores às da resistência do betão, f ctm, sendo de salientar o
peso pouco significativo do aço. Quando a solicitação no tirante ultrapassa a resistência
disponível nalguma zona verifica-se o aparecimento da primeira fenda, iniciando-se o estado
fendilhado.
Figura II. 2 – Comportamento global da abertura de fenda num elemento estrutural [25]
Refira-se que em todo o estado fendilhado a estimativa da deformação média pode ser
obtida como um valor intermédio entre os estados I e II tal que:
𝑁𝑐𝑟 2
𝜁 =1−𝛽 (II.2)
𝑁
11
Em que 𝛽 é um coeficiente que se obtêm do produto de 𝛽1 que define a influência do tipo de
varões e propriedades de aderência da armadura com 𝛽2 que define a influência da duração da
aplicação e o carácter de repetição da mesma.
No caso de uma deformação imposta, observa-se que, após a formação da cada nova
fenda, ocorre uma redução brusca do esforço N sob uma deformação, ∆L, mantida constante,
como se poderá observar na Figura II. 3. Essa é a principal diferença de comportamento, pois
enquanto que no caso da força aplicada, após a abertura de uma fenda, a extensão aumenta
para o mesmo nível de força aplicada, na resposta a uma deformação imposta acontece o
oposto, ou seja, após a abertura de fenda a deformação mantém-se e a força diminui. Este
aspecto deve-se à diferença do tipo de acção em causa, pois quando se trata de uma força
aplicada é necessário que essa força seja equilibrada, logo, quando a rigidez de uma secção
diminui (com a abertura de uma nova fenda) ocorre obrigatoriamente um aumento de
deformação, quando a força no elemento é devido a uma deformação imposta, ela é tanto
maior quanto maior for a rigidez, assim, ao se abrir uma nova fenda, a perda de rigidez origina
uma diminuição da força instalada no elemento (Figura II. 3).
Figura II. 3 – Comportamento do tirante de betão armado solicitado por uma deformação imposta axial crescente
[25]
12
aumenta, o processo repete-se até que ocorra a sua estabilização, para um valor de extensão
de aproximadamente 1,0 a 1,5‰. A partir dessa extensão, a deformação imposta desenvolve-
se com rigidez próxima de Estado II até que a cedência seja alcançada. Como referido no
capítulo anterior, na prática, a deformação imposta axial normalmente não ultrapassa valores
da ordem de 0,5 a 0,7‰, logo, os elementos estruturais encontram-se usualmente na fase de
formação de fendas.
Figura II. 4 – Evolução dos esforços e abertura de fendas num tirante sujeito a uma deformação imposta: a) sem
armadura mínima; b) com armadura superior à mínima. [32]
13
2.1.2. Conceito da armadura mínima para o efeito axial
Como referido, para que ocorra o processo de formação de fendas é necessário evitar a
plastificação da armadura o que, para o caso de uma deformação imposta, se resume em
prever uma certa quantidade de armadura, a armadura mínima. Neste caso, depois da
formação da primeira fenda é fundamental haver condições para que se possa atingir de novo
a tensão resistente de tracção do betão, fctm, permitindo-se assim a formação de outras fendas,
como explicado anteriormente.
𝑓𝑐𝑡𝑚 𝐴𝑠 𝑓𝑐𝑡
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝐴𝑐 × 𝜌= ≥ 𝜌𝑚𝑖𝑛 = (II.4)
𝑓 𝑦𝑘 𝐴𝑐 𝑓𝑦
Para que, no caso de uma deformação imposta maior, se possa garantir a ocorrência de
todo o processo de formação das fendas, a expressão anterior deveria ser multiplicada por um
coeficiente da ordem de 1,3, que equivale ao aumento do esforço de fendilhação entre a
formação da primeira e última fenda (ver Figura II. 4).
Após a análise da resposta estrutural do elemento de betão armado sujeito ao efeito axial,
examina-se de seguida o comportamento de uma viga sujeita ao efeito de flexão.
14
verificar quando se inicia o processo de formação de fendas, pois a distribuição de curvaturas
passa a ser variável.
Assim, no caso da flexão pode observar-se pela Figura II. 5 que existe uma resposta
estrutural semelhante ao verificado para o caso da tracção, mas para as variáveis
correspondentes, em que se define a curvatura média no elemento como deformação
associada ao momento.
Figura II. 5 – Relação Momento-Curvatura para as várias fases da estrutura no caso de flexão simples
A curvatura média do elemento pode assim ser estimada pela expressão II.5 proposta por
Jacoud e Favre [19].
15
1 𝑀 𝜀 𝑠𝑚 −𝜀 𝑐𝑚 1 1
= = ≅ 1−𝜁 +𝜁 (II.5)
𝑟𝑚 𝐸𝐼𝑚 𝑑 𝑟𝐼 𝑟 𝐼𝐼
𝑀𝑐𝑟 2
𝜁 =1−𝛽 (II.6)
𝑀
Verifica-se que as perdas de rigidez por fendilhação são menores no caso da flexão, por
comparação com a situação de tracção, pois esta só se verifica na zona traccionada e a
curvatura é uma média das deformações das zonas comprimidas e traccionadas.
No que diz respeito a uma deformação imposta de flexão num elemento de betão estrutural
pode observar-se pela Figura II. 6 que existe uma resposta estrutural semelhante ao observado
para o caso da deformação imposta axial de um tirante.
16
Como se pode observar nos exemplos da Figura II. 7, uma deformação imposta com efeito
de flexão pode ocorrer quando se dá uma variação diferencial de temperatura ou um
assentamento diferencial de apoio que podem provocar fendas se os esforços gerados
atingirem os de fendilhação.
Figura II. 7 – Exemplos de deformação imposta com de flexão a) variação diferencial de temperatura, b)
assentamento de apoio
Um aspecto que diferencia em parte a resposta por flexão ou tracção quando submetidos a
uma deformação imposta é que, se no caso a) da figura anterior em que o diagrama de
esforços da deformação imposta é constante, como no caso usual da tracção, na situação b)
da mesma figura, bem mais corrente na prática, verifica-se que o diagrama de momentos tem
uma variação linear fazendo com que os efeitos da deformação imposta se concentrem numa
zona mais limitada (neste caso junto ao apoio). Nestes casos, o efeito da deformação imposta
mesmo actuando isoladamente pode fazer com que se chegue a atingir a fase de fendilhação
estabilizada naquela zona. Assim, nas situações de flexão, normalmente, os efeitos das acções
indirectas, concentram-se em determinadas zonas da estrutura, ao contrário da resposta
estrutural para situações de tracção, onde há claramente tendência para a uniformidade dos
efeitos das acções ao longo do elemento.
1
𝐹𝑡 ≤ 𝑁𝑦𝑘 𝐴𝑐𝑡 × 𝑓𝑐𝑡 ≤ 𝐴𝑠 × 𝑓𝑦𝑘 (II.7)
2
17
1 𝑓𝑐𝑡
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 2 𝐴𝑐𝑡 × (II.8)
𝑓𝑦
𝑏×
Onde 𝐹𝑡 , é a força de tracção no betão e 𝐴𝑐𝑡 = , é a área de betão na zona traccionada.
2
Assim, em rigor, a armadura mínima de flexão, referida à área total da secção, é obtida da
seguinte forma:
2 𝐴𝑐 1 2
𝑀𝑐𝑟 = 𝐹𝑇 × 3 = × 2 𝑓𝑐𝑡 × 3 = 𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 × 𝑓𝑠𝑦𝑘 × 𝑧 (II.9)
2
1
𝐴𝑐 𝑓𝑐𝑡 = 0,81𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 𝑓𝑠𝑦𝑘 (II.10)
6
1 𝑓𝑐𝑡𝑚 1𝑓
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 ≅ 5 𝐴𝑐 𝑓 𝑦𝑘
𝜌𝑚𝑖𝑛 = 5 𝑓𝑐𝑡 (II.11)
𝑦
Logo, verifica-se que a percentagem de armadura mínima para o caso da flexão pura
equivale a cerca de 20% da correspondente à tracção simples, mas a colocar somente na face
mais traccionada da secção.
18
betão à tracção no caso da flexão relacionando-a com a resistência à tracção axial que é a
seguinte:
Figura II. 9 – Comparação de resultados entre deformação imposta externa (a) e a retracção do betão (b) [11]
Para uma situação de deformação imposta global cada nova fenda forma-se para um valor
de esforço axial próximo de Ncr, enquanto no caso da retracção do betão o esforço axial
resultante para formar cada nova fenda tem tendência a ser inferior a Ncr e menor do que o
valor da anterior fenda. Tal facto é justificado pelo efeito restritivo da acção da armadura
relativamente ao livre encurtamento do betão, gerando tensões auto-equilibradas na secção,
com tracção no betão e compressão no aço, conforme se pode observar na Figura II. 10. Estas
tensões no betão, que aumentam à medida que se processa o fenómeno da retracção, é tal
que diminui a reserva para que se atinja de novo a tensão de resistência do betão e,
19
consequentemente, o valor de esforço axial na abertura de cada nova fenda. O campo auto-
equilibrado de tensões que se vai gerando no elemento faz diminuir a máxima tensão na
armadura à medida que a situação se vai processando e formando-se as fendas.
Figura II. 10 – Distribuição de tensões numa secção sujeita ao efeito da retracção num elemento estrutural inserido
numa estrutura hiperstática [25]
®
Luís [25], com o auxilio de um programa de cálculo de análise não linear, ATENA ,
examinou o efeito das acções indirectas, deformações impostas interna e externa, quando
actuadas isoladamente. O estudo foi baseado na situação apresentada na Figura II. 11, no qual
o elemento de betão armado apresenta uma armadura disposta de forma simétrica
relativamente ao seu eixo de desenvolvimento e que se encontra fixo em ambas as
extremidades.
20
Figura II. 11 – Modelo base utilizado no estudo [25]
Percentagem
Casos de de
As,adoptado
análise
Armadura (%) C25/30:
2
1 8Ø10 (6,28 cm ) 0,52 Ec=30,5 GPa
2
2 7Ø12 (7,92 cm ) 0,66 fct= 2,5 MPa
2
3 9Ø12 (10,18 cm ) 0,85 A500:
2
4 11Ø12 (12,44 cm ) 1,04 Es=200 GPa
2
5 10Ø16 (20,11 cm ) 1,68 fyk=500 MPa
Tabela II. 1 – Percentagens de armadura e tipos de materiais utilizados na análise [25]
21
Figura II. 12 – Resposta não linear para a acção isolado de uma deformação imposta externa [26]
Depois de se formar a primeira fenda observa-se que quanto maior for a percentagem de
armadura menores são as perdas de esforço axial na formação de cada fenda. É expectável
esse tipo de comportamento, visto que uma maior percentagem de armadura equivale a uma
maior rigidez na zona fendilhada e, por conseguinte, do tirante no seu conjunto.
22
Na Figura II. 13 estão representadas as tensões na armadura em todo o comprimento do
elemento, para valores de extensão próximos de 0,3 e 0,5‰, os quais correspondem a
máximos de tensão, para o caso 4 (ρ=1,04%).
Figura II. 13 – Estado do elemento estrutural e respectivas tensões, para extensões próximas de 0,3 e 0,5‰, para o
caso 4 [11]
Nas secções fendilhadas os valores da tensão na armadura são muito semelhantes entre si,
sendo estaticamente equivalentes ao esforço axial global. Depois de se formar uma nova
fenda, a tensão em todos os picos sofre um igual decréscimo, equivalente às quebras de
esforço axial global, mas após a abertura da fenda e continuando a aumentar a extensão, estes
pontos atingem novamente um valor de tensão idêntica à verificada na fenda anterior. O nível
de tensões nas armaduras, entre fendas consecutivas, aumenta à medida que a distância entre
fendas diminui.
Na Figura II. 14 apresenta-se a evolução das tensões nas armaduras e das aberturas de
fendas observadas nalgumas secções. Observa-se que o aumento da tensão na armadura
antes de se formar a primeira fenda ocorre segundo a relação E sεimp e após a formação da
fenda verifica-se um salto de tensão na armadura devido ao facto de deixar de haver
participação do betão, Estado II. No entanto, devido à diminuição do esforço axial, aquando da
abertura de uma fenda, a armadura só atinge o valor máximo mesmo antes da formação da
fenda subsequente.
23
Figura II. 14 – Tensões na armadura (σs) e respectiva abertura de fenda (w) em função da extensão média, caso 4
[26]
Figura II. 15 – Resposta não linear para a acção isolado de uma deformação imposta interna [26]
24
Da análise do gráfico verifica-se novamente um comportamento elástico na fase inicial,
embora a fendilhação ocorra para um esforço um pouco inferior. O fim da fase de formação de
fendas ocorre para valores de extensão idênticos aos verificados para a deformação imposta
externa, mas com um nível de esforço axial inferior.
Figura II. 16 – Estado do elemento estrutural e suas tensões, para extensões próximas de 0,3 e 0,5‰, para o caso 4
[11]
Na Figura II. 17 apresenta-se a evolução das tensões nas armaduras e das aberturas de
fendas.
25
Figura II. 17 – Tensões na armadura (σs) e respectiva abertura de fenda (w) em função da extensão média para o
caso 4 [26]
Constata-se que o nível de tensão nas armaduras decresce e verifica-se que isso ocorre até
a um patamar de tensão constante, garantindo que caso não se verifique a cedência das
armaduras após a formação das primeiras fendas, esta não ocorrerá nem durante, nem após o
processo de formação de fendas. Verifica-se que esta diminuição se desenvolve segundo uma
relação de aproximadamente o inverso do módulo de elasticidade do aço (1/E s), em tudo
idêntico ao que se verifica para o esforço axial global. Esse facto verifica-se igualmente com a
armadura em zona não fendilhada, que se vai comprimindo com o mesmo andamento, até se
formar uma fenda.
Pode-se verificar assim que existem aspectos de comportamento para uma deformação
imposta interna ou externa que são idênticos, como a necessidade de uma armadura mínima
para garantir o processo de formação de fendas e, especialmente, que a ordem de grandeza
das aberturas de fendas em ambos os casos é semelhante apesar do nível de tensões nas
armaduras diminuir no caso da acção de retracção do betão. Este aspecto é muito importante
porque mostra que em termos de controlo da abertura de fendas a diferença entre o facto da
deformação imposta ser externa ou interna é pouco relevante.
26
2.4. Cálculo da armadura mínima de acordo com o EC2 [16]
O Eurocódigo2 [16] apresenta uma formulação que possibilita calcular a área mínima de
armadura necessária para o controlo da fendilhação num elemento sujeito a tensões de tracção
devidas ao impedimento das deformações impostas. Essa formulação, para o cálculo da
armadura mínima, considera quer o caso de deformação imposta axial, quer o caso de
deformação imposta de flexão, de forma a garantir que a estrutura não apresente aberturas de
fendas não controladas. Nesse documento na parte 1, na secção 7.3.2, a expressão para esse
cálculo é a seguinte:
𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝑘𝑐 × 𝑘 × 𝐴𝑐𝑡 × (II.13)
𝜍𝑠
em que,
Tensão no Diâmetros máximos dos varões (mm) Espaçamentos máximos dos varões (mm)
aço
[MPa] wk=0,40 mm wk=0,30 mm wk=0,20 mm wk=0,40 mm wk=0,30 mm wk=0,20 mm
𝑓𝑐𝑡 é o valor médio da tensão de resistência à tracção do betão, à data que se prêve que
possam formar as primeiras fendas. Normalmente assume-se 𝑓𝑐𝑡 ,𝑒𝑓 = 𝑓𝑐𝑡𝑚 ;
k considera o efeito da distribuição não uniforme das tensões auto-equilibradas, que por
gerarem tracções, implicam uma diminuição da resistência efectiva à tracção, fct,ef. Este
27
valor varia com a espessura ou altura do elemento, conforme apresentado na Figura II.
18.
𝜍𝑐
𝑘𝑐 = 0,4 × 1 − ≤1 (II.14)
𝑘1 𝑓
∗ 𝑐𝑡
Na qual,
𝑁𝐸𝑑
𝜍𝑐 = (II.15)
𝑏
28
2 ∗
𝑘1 = , se NEd for um esforço de tracção.
3
Na Figura II. 19 apresenta-se um gráfico que ilustra a aplicação da expressão II.14 para três
secções tipo em função da tensão média.
Figura II. 19 – Estimativa do parâmetro kc, em função da tensão média no elemento [25]
Como já mencionado, as limitações para a abertura de fendas visam assegurar que a estrutura
possa cumprir adequadamente as funções para as quais foi projectada e ainda que tenha uma
durabilidade adequada.
A armadura mínima é essencial para se formarem várias fendas, mas pode não ser
suficiente para o controlo da abertura de fendas. A quantificação da abertura de fenda é
29
complicada, em vista, da complexidade em modelar o comportamento na zona das fendas. Na
Figura II. 20 apresenta-se o diagrama tipo de tensões num elemento sujeito à tracção na fase
de formação de fendas.
Figura II. 20 – Equilíbrio de tensões ao longo do elemento, na fase de formação de fendas [25]
Observa-se que a distribuição de tensões no elemento variam entre o estado I e o estado II,
sendo que, nas zonas fissuradas encontra-se em estado II e as secções que se apresentam a
uma distância maior ou igual que l0 da fenda encontram-se em estado I. No comprimento l0,
constata-se que a distribuição de tensões nos materiais varia rapidamente entre o estado I e II.
Esta transição ocorre por mobilização da ligação entre o aço e o betão, gerando-se tensões de
aderência entre os dois materiais que diminuem desde a zona da fenda até se efectuar a
transferência de tensões da armadura para o betão, ao longo desse comprimento. Assim, a
distância l0 denomina-se de comprimento de transferência de tensões.
Como a abertura de fenda é uma característica do comportamento estrutural que tem uma
grande variabilidade, só é possível, efectuar uma estimativa da abertura de fenda, sendo o seu
valor característico, segundo o Eurocódigo 2 [16], dado pela expressão:
30
𝑙0
𝑁𝑟 = 0
𝜏𝑏 × 𝜋∅ × 𝑑𝑥 𝐴𝑐,𝑒𝑓 × 𝑓𝑐𝑡 = 𝜏𝑏𝑚 × 𝜋∅ × 𝑙0 (II.17)
𝐴𝑐,𝑒𝑓 𝑓𝑐𝑡 ∅ 1 ∅
𝑙0 = 𝜋 ∅2
× × = ×𝑘× (II.18)
𝜏 𝑏𝑚 4 4 𝜌 𝑒𝑓
4
Como se constata da observação da Figura II. 20 é de prever que sempre que uma nova
fenda se forme, esta aconteça nas zonas em estado I, ou seja, para além do comprimento l0.
Logo, l0, corresponde à menor distância possível entre fendas, sendo que o EC2 [16] apresenta
∅
𝑆𝑚𝑖𝑛 = 0,25𝑘1 𝑘2 (II.19)
𝜌 𝑒𝑓
Mas, o mesmo regulamento, avalia a abertura característica de fendas com base numa
expressão de espaçamento máximo entre fendas:
∅ ∅
𝑆𝑟,𝑚𝑎𝑥 = 1,7 × (2𝑐 + 0,25𝑘1 𝑘2 ) = 3,40𝑐 + 0,425𝑘1 𝑘2 (II.20)
𝜌 𝑒𝑓 𝜌 𝑒𝑓
31
Onde,
traccionada;
∅ é o diâmetro dos varões, sendo que, no caso de serem utilizados, na mesma secção
transversal, varões com diâmetros diferentes, deve ser utilizado na expressão um diâmetro
𝑛 𝑖 ∅2𝑖
equivalente ∅𝑒𝑞 = , em que 𝑛𝑖 é o número de varões de diâmetro ∅𝑖
𝑛 𝑖 ∅𝑖
𝐴𝑠
𝜌𝑒𝑓 = , na qual a área efectiva, que representa a zona de betão mobilizada por
𝐴𝑐,𝑒𝑓
Na qual,
32
Figura II. 22 – Secções efectivas de betão traccionado [16]
No que concerne à extensão média relativa entre o aço e o betão entre fendas, o mesmo
regulamento apresenta a seguinte expressão para a sua avaliação:
𝜍𝑠 𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓𝑓 (1+𝛼 𝑒 𝜌 𝑒𝑓 ) 𝜍𝑠
𝜀𝑠𝑚 − 𝜀𝑐𝑚 = − 𝑘𝑡 ≥ 0,6 (II.23)
𝐸𝑠 𝐸𝑠 𝜌 𝑒𝑓 𝐸𝑠
Onde,
𝑘𝑡 é um factor que tem em conta a duração das cargas. Tomando o valor de 0,6 para
acções de curta duração e 0,4 para acções de longa duração.
33
fendas dependerá do diâmetro do varão porque tal determina a superfície de contacto entre o
betão e o aço e consequentemente a transmissão de tensões entre os dois materiais e a
quantidade de armadura na zona de betão mobilizada por aderência facilita a transmissão de
tensões.
Verifica-se que uma forma simples de efectuar o controlo da abertura de fendas, sem
cálculo directo, consiste em controlar dois dos parâmetros atrás referidos (σs e Ø). Como já foi
referido, no caso das deformações impostas esse controlo é feito assegurando que os
diâmetros dos varões e as tensões nas armaduras não ultrapassem os valores da Tabela II. 2,
obtendo-se assim a quantidade de armadura condicionada por esses parâmetros. De salientar,
que os valores de diâmetro máximo apresentados na Tabela II. 2 devem ser corrigidos, com o
objectivo de respeitar as seguintes situações:
𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓𝑓 𝑘 𝑐 𝑐𝑟
∅𝑠 = ∅∗𝑠 (II.24)
2,9 2 −𝑑
𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓𝑓 𝑐𝑟
∅𝑠 = ∅∗𝑠 (II.25)
2,9 8 −𝑑
Nestas expressões, ∅𝑠 é o diâmetro a adoptar, ∅𝑠∗ o diâmetro lido na Tabela II. 2 e hcr a
espessura da zona de tracção imediatamente antes da fendilhação, considerando os valores
característicos de pré-esforço e esforços axiais sob a combinação quase-permanente de
acções.
De facto, a verificação do estado limite de abertura de fendas deve, em geral, ser realizada
de forma directa avaliando explicitamente a abertura pela expressão II.16.
Outros casos em que as deformações impostas geram um efeito axial são os muros de suporte
e paredes laterais de caves de edifícios. As fundações, em geral mais espessas, restringem o
livre encurtamento das paredes sob o efeito das deformações impostas, resultando no
aparecimento tracções nas paredes. Estas tensões têm uma pequena variação em altura,
tendendo para uma distribuição quase uniforme na zona central, como se pode observar na
Figura II. 23.
34
Figura II. 23 – a) geometria geral da parede; b) distribuição de tensões antes de formar a 1ªfenda; c) Resultante das
tensões longitudinais antes de formar a 1ª fenda [32]
Figura II. 24 – Comparação de distribuição de tensão no centro das paredes com as dum tirante em função da razão
l/b [19]
35
pela expressão II.13, em que 𝑘 = 𝑘(), sendo h a espessura das paredes laterais e 𝑘𝑐 = 1,0
para tracção pura.
Logo, a área de armadura mínima em paredes laterais é definida pela seguinte expressão:
𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓 𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓
𝐴𝑠,𝑚𝑖𝑛 = 𝑘𝑐 × 𝑘 × 𝐴𝑐𝑡 × = 1,0 × 𝑘 × × 𝑐𝑚2 𝑚 (II.26)
𝜍𝑠 𝑓 𝑦𝑘
Segundo Luís [26], depois da formação da primeira fenda transversal e consequente perda
de rigidez longitudinal, a resultante de tensões transversais na parede aquando da formação de
uma segunda fenda deixa de apresentar um valor aproximadamente constante ao longo desse
elemento (ver Figura II. 25). O mesmo autor verificou também que, à medida que a deformação
imposta evoluía, novas fendas eram formadas e que nas secções previamente fendilhadas o
nível de esforço axial não voltava mais a tomar o valor correspondente ao de fendilhação, mas
apenas cerca de metade desse valor.
Figura II. 25 – Características imediatamente antes da formação da 2ª fenda: a) Parede, b) Distribuição de tensões,
c) Resultantes de tensões, para um comportamento não linear [19]
Recentemente, Luís [26], através de uma análise não linear, e Teixeira [32], através de
análises lineares e um processo iterativo, estudaram a acção das deformações impostas em
paredes laterais. Em ambos os casos simulou-se uma parede com as seguintes características
geométricas (ver Figura II. 26): 30 metros de comprimento, 3 metros de altura e 0,3 metros de
espessura. A fundação da parede foi modelada com restrição total, pois o processo de
retracção da laje de fundo, no momento da betonagem da parede, encontra-se numa etapa
mais avançada e dá-se mais lentamente, devido à sua maior espessura e condições de
exposição ambiental mais desfavorável à evolução da retracção.
36
Figura II. 26 – Características geométricas da parede utilizada nas análises de Luís [26] e Teixeira [32]
Seguidamente, expõem-se os mais recentes critérios regulamentares do EC2 [17] para este
tipo de estrutura, para posteriormente se apresentar os resultados e as implicações das
conclusões de Luís [26] e Teixeira [32] sobre as características da resposta estrutural às
deformações impostas em paredes laterais.
Para o caso de reservatórios, o controlo da abertura de fendas apresentado pelo EC2 – parte 1
[16] é insuficiente para as exigências de estanquidade próprias à funcionalidade destas obras,
sendo necessário seguir as recomendações do EC2 – parte 3 [17], que cobrem aqueles
aspectos.
Classe de
Requisitos em matéria de fugas
estanquidade
37
Assim, são escolhidos valores limites adequados para a fendilhação em função da
classificação do elemento estrutural. Na falta de requisitos mais específicos, a regulamentação
[17], propõe que se sigam as seguintes indicações:
Para a Classe 0 poderão ser adoptadas as disposições de 7.3.1 do EC2 – parte 1 [16];
Para a Classe 1 deve ser limitada a wk1 a largura de quaisquer fendas que se preveja
atravessarem a espessura total da secção ou então deve ser limitada ao estipulado em
7.3.1 [16], com um valor da altura da área comprimida de pelo menos Xmin (fissuras não
transversais, sendo recomendado o valor de 50mm), calculada para a combinação
mais desfavorável e considerando a resistência de tracção do betão como nula;
Para a Classe 2 há que evitar fendas que possam vir a atravessar a espessura total da
secção, a não ser que venham a ser adoptadas medidas adequadas (por exemplo,
revestimentos ou perfis de estanquidade);
Para a Classe 3 são necessárias medidas especiais, tais como, revestimentos ou pré-
esforços, com o objectivo de garantir a estanquidade à água.
As figuras 7.103N [17] e 7.104N [17], apresentadas nas Figura II. 28 e Figura II. 29,
respectivamente, fornecem os valores máximos dos diâmetros e dos espaçamentos dos varões
para diversas larguras de cálculo das fendas, no caso de secções totalmente traccionadas.
38
Figura II. 28 – Diâmetro máximo dos varões para o controlo da fendilhação, função da tensão nas armaduras [17]
Figura II. 29 – Espaçamento máximo dos varões para o controlo da fendilhação, função das tensões nas armaduras
[17]
Os máximos diâmetros das armaduras dadas pelo gráfico da Figura II. 28 devem ser
modificados através da expressão seguinte:
𝑓 𝑐𝑡 ,𝑒𝑓𝑓
∅𝑠 = ∅∗𝑠 (II.27)
2,9 10 −𝑑
Onde,
39
d é a distância do centro de gravidade da camada exterior das armaduras à face oposta do
betão.
Desta expressão é importante salientar que, sendo em geral h-d da ordem de 4 a 5 cm, para
espessuras da ordem de 0,40m a 0,50m os valores dos diâmetros de referencia do quadro não
necessitam de adaptação mas que, para menores espessuras, as exigências são
significativamente maiores.
Das Figura II. 28 e Figura II. 29 constata-se que o grau de exigência em relação à tensão
admissível nas armaduras é elevado para valores de abertura característica de fendas da
ordem de 0,05mm a 0,1mm. Refira-se, ainda, que se tem valores da mesma ordem de
grandeza para os limites de tensões na armadura, para aberturas características de 0,2mm e
0,3mm, entre os apresentados no EC2 – parte 1 [16], para o controlo indirecto da abertura de
fendas (ver Tabela II. 2) e os apresentados no EC2 – parte 3 [17] (ver Figura II. 28). No
entanto, deve-se salientar que os valores do Quadro da parte 1 do EC2 foram avaliados para
situações de flexão (k2=0,5) e têm uma expressão de correcção para a tracção (expressão
II.25) com um 8 no denominador, em vez do 10, da relação na expressão II.27.
Os dois estudos [26, 32] efectuados sobre o comportamento de paredes laterais apontam para
conclusões no mesmo sentido no que diz respeito à variação das tensões em altura da parede
e à evolução da tensão média nas armaduras. Nos próximos parágrafos esses resultados
serão analisados e, posteriormente, apresentar-se-ão os resultados decorrentes da análise da
tensão na zona central da parede, desenvolvida por Teixeira [32].
Luís [26] estudou a resposta das paredes laterais à acção das deformações impostas
®
efectuando uma análise não linear, com o ATENA . Simulou no modelo analítico três situações
de distribuição da armadura, indicadas na Tabela II. 4, sendo que o caso 1 corresponde à
armadura mínima regulamentar, definida pela expressão II.26, e as restantes situações
correspondem a quantidades inferiores (caso 2) e superiores (caso3) a essa.
40
Betão:
Percentagem
Casos de de
As,adoptado Ec=30,5 GPa
análise
Armadura (%)
fct= 2,35 MPa
2
1 Ø12//0,15 (2x7,54 cm /m) 0,50 A500:
2
2 Ø10//0,15 (2x5,14 cm /m) 0,35 Es=200 GPa
2
3 Ø16//0,15 (2x13,41 cm /m) 0,89 fyk=500 MPa
Tabela II. 4 – Percentagens de armadura e tipos de materiais utilizados na análise não linear de Luís [26]
Figura II. 30 – Variação das resultantes de tensões ao longo da parede para o caso 1 [26]
Pela observação da figura verifica-se que a formação das fendas ocorre das extremidades
para o centro da parede, devido a picos de tensões de tracção na proximidade da zona de
ligação parede/fundação. Pode notar-se que, à medida que se formam as fendas, o esforço
axial não se mantém constante ao longo da parede, o que constitui um comportamento distinto
do verificado no tirante sujeito a uma deformação imposta axial. Neste último caso o esforço
axial, por equilíbrio, é necessariamente o mesmo em todas as secções, ao passo que na
situação das paredes laterais tal não acontece, porque a distribuição das tensões tangenciais e
normais em altura, ao longo dessas paredes, devido à ligação inferior parede/fundação,
distingue-se da que ocorre no tirante.
41
Analisando a Figura II. 30 constata-se, como já foi mencionado, que, com o crescimento da
deformação imposta, na zona das fendas anteriormente formadas, o nível de esforço axial
nunca retoma o valor correspondente ao de fendilhação, Ncr, tomando antes valores máximos
da ordem de grandeza de metade Ncr, como indicado na Tabela II. 5. É de salientar que para
deformações impostas elevadas o esforço axial resultante, dependente da quantidade de
armadura, converge para um valor quase uniforme ao longo da parede, sendo que no caso 1
esse valor corresponde a 1000 kN.
Deformação Deformação
Casos de imposta externa imposta interna
ρ (%)
Análise
N (kN) N/Ncr N (kN) N/Ncr
É interessante notar também que o esforço axial estabilizado no caso de a acção ser uma
deformação imposta interna é inferior ao que se verifica no caso de essa ser externa; tal é
explicado pela existência das tensões auto-equilibradas, exactamente pela mesma razão
constatada no subcapítulo 2.3. Na Figura II. 31 apresenta-se os resultados obtidos por Luís [26]
em relação à evolução da tensão nas armaduras (corresponde à média das tensões ao longo
da altura da parede) e a abertura de fendas nas secções previamente fendilhadas.
42
Figura II. 31 – Evolução da tensão média e abertura de fendas ao longo da parede para o caso 1, para deformação
imposta externa e interna respectivamente [26]
Os resultados apresentados revelam que antes da formação da primeira fenda ocorre uma
pequena variação de tensão na armadura, a qual se deve ao comportamento elástico da
secção. Quando se forma a primeira fenda observa-se um aumento significativo da tensão,
apesar da queda do esforço axial global, conforme também ocorre no caso do tirante. Há
também uma diminuição ligeira da tensão no aço quando se forma uma nova fenda, de uma
forma semelhante ao caso do tirante. Na Figura II. 31 também se verifica que os níveis de
abertura de fendas são da ordem de 0,20mm e que esses valores são semelhantes para
ambos os casos de deformação imposta. É de notar que os níveis de tensão nas armaduras
para os dois tipos de deformação imposta (externa e interna) são inferiores aos que se
verificam no tirante e à tensão de cedência, mesmo para a situação em que se adopta uma
quantidade de armadura inferior à mínima (caso 2), aspecto realçado por Luís [26].
43
zona. A avaliação da perda de rigidez baseou-se num modelo simplificado da abertura de
fendas, referido por Favre [19], onde se admite que na zona da fenda, e num comprimento de
0,35l0 para cada lado, a rigidez do elemento só depende das armaduras, rigidez em Estado II.
Betão:
Casos de
As,adoptado ρef(%) Ec=30,5 GPa
análise
fctm= 2,6 MPa
2
1 Ø10//0,10 (2x7,85 cm /m) 0,785 A500:
2
2 Ø10//0,15 (2x5,24 cm /m) 0,524 Es=200 GPa
2
3 Ø12//0,10 (2x11,31 cm /m) 1,131 fyk=500 MPa
Tabela II. 6 – Percentagens de armadura e tipos de materiais utilizados na análise linear de Teixeira [32] para uma
parede encastrada na base e com espessura de 0,30m
Figura II. 32 – Variação da força ao longo da parede, para o caso 1 (armadura mínima) [32]
Reconhece-se que os resultados obtidos da análise linear, com introdução, após a formação
de cada fenda, de uma redução de rigidez, são qualitativamente e mesmo quantitativamente
semelhantes aos da análise não linear. Um exemplo disso é o facto de se ter chegado a
valores de esforço axial máximo gerado nas secções anteriormente fendilhadas bastante
próximos. Teixeira [32] também conclui que quanto menor a quantidade de armadura, maior o
44
abaixamento dos esforços globais nas zonas previamente fendilhadas, pois há uma diminuição
mais expressiva da rigidez e, simultaneamente, o valor da deformação imposta para formar os
mesmos números de fendas é maior (a diminuição da tensão e de rigidez aquando da
formação de uma nova fenda, são maiores). Aquele autor verificou ainda, que quanto maior a
quantidade de armadura, mais fendas se formam.
Da análise das tensões médias nas armaduras Teixeira [32] atestou o mesmo que Luís [26],
ou seja, que mesmo para uma armadura inferior à mínima, a tensão média máxima, antes da
formação da fenda seguinte, é bastante inferior à tensão característica de cedência. No
entanto, o facto de se considerar, nesta avaliação, valores médios ao longo da altura da parede
implica que se está a desconsiderar a existência de tensões superiores nalgumas zonas da
parede. Para a avaliação da abertura máxima de fendas dever-se-ia, portanto, tomar,
eventualmente, valores de tensão superiores.
Figura II. 33 – Distribuição de tensão, na secção central da parede imediatamente antes da formação da 1ª fenda,
para o caso 1 [32]
45
Na Figura II. 34 apresenta-se a distribuição de tensão nas armaduras na 1ª fenda para a
situação imediatamente antes da formação da 2ª e 3ª fenda. É de referir que nesta análise
linear por etapas a primeira fenda aparece na zona central da parede, ao contrário do que
aconteceu na análise não linear, na qual as fendas se formaram da extremidade para o centro.
Como já se aferiu, tal diferença não afecta as conclusões relativamente às características
gerais de comportamento aqui discutidas.
Figura II. 34 – Distribuição de tensão, na secção central da parede imediatamente antes da 3ª fenda, no caso 1 [32]
Figura II. 35 – Deformada ao longo do comprimento da parede, para a situação imediatamente antes da formação
das 4ª e 5ª fendas [32]
46
Figura II. 36 – Fendilhação que ocorre num muro sem juntas
Figura II. 37 – Variação da tensão (azul) e valor médio (cinzento), na secção central da parede aquando da formação
das fendas seguintes para: a) caso 1; b) caso 2; c) caso3 [32]
47
cedência mas não são aceitáveis em termos de exigência em serviço, pois os valores das
aberturas de fendas expectáveis, com tensões desta ordem de grandeza, podem tomar valores
não admissíveis em termos de durabilidade e/ou aspecto, segundo o EC2 [16]. Como se pode
constatar na Tabela II. 2, o valor limite de tensão no aço, para os diâmetros adoptados (10mm)
e abertura de fenda característica, wk, inferior a 0,40 mm, é de 360 MPa, ou seja, inferior às
tensões máximas geradas nos casos 1 e 2.
Para valores mais exigentes de abertura de fendas, com o fim de assegurar boas
características em termos de estanquidade, Teixeira [32] concluiu que eram necessárias
quantidades de armaduras superiores às do caso 3. Apesar desta constatação, o mesmo autor
admitiu que o facto de se poder ter formação de fendas com esforços axiais inferiores aos da
fórmula da armadura mínima para deformações impostas, permite assegurar, determinados
níveis de exigências, com menores quantidades de armadura.
48
III. Análise de sobreposição de cargas com deformações
impostas
A análise dos efeitos das acções quer sejam directas ou indirectas, não deve ser realizada de
forma separada, mas sobrepondo esses dois tipos de efeitos, pois, como se irá verificar,
também neste capítulo, o nível das tensões induzidas pelas deformações impostas dependem
da rigidez e, como os esforços introduzidos pelas acções directas provocam a fendilhação do
elemento de betão estrutural, os esforços provocados pelas deformações impostas diminuem
numa situação de sobreposição de efeitos.
49
3.2. Deformação imposta com efeito de flexão, com sobreposição de
cargas verticais
No caso em que os efeitos de flexão das deformações impostas se sobrepõem aos efeitos das
cargas (ver Figura III. 1), é indispensável saber se as armaduras calculadas para a situação
última de rotura, tendo em conta apenas as cargas, são suficientes para garantirem um
comportamento aceitável em serviço, considerando agora também as acções indirectas,
conforme apresentado no subcapítulo 1.3.
Figura III. 1 – Sobreposição do efeito de flexão de uma deformação imposta (por exemplo, assentamento diferencial
de apoio ou variação linear de temperatura) com a flexão simples devido às cargas verticais
Figura III. 2 – Diferentes incrementos de momento devido à mesma deformação imposta dependente da rigidez
estrutural [11]
50
Nesta situação de sobreposição, os esforços desenvolvidos variam consoante o valor da
rigidez da estrutura seja maior ou menor e o facto de já ter sido iniciada ou não a fase
fendilhada. O efeito das deformações impostas manifesta-se por um acréscimo de curvatura e
por um possível aumento dos momentos flectores, estando estes dependentes do estado e do
nível de esforço em que o elemento se encontra. Se estiver em estado não fendilhado, o
incremento de esforços devido às acções indirectas, correspondem aos valores de cálculo
elástico, quanto muito tendo em conta o efeito da fluência, se a acção se desenvolver ao longo
do tempo. No entanto, se houver zonas em estado fendilhado, os incrementos de esforços não
poderão ser avaliados de forma elástica, pois esta não contempla a menor rigidez da peça
naquela situação, que faz com que os incrementos globais de esforços sejam inferiores. Este
aspecto diferencia a actuação das deformações impostas do efeito das cargas, pois para estas
o comportamento não linear interfere na distribuição de esforços entre secções da estrutura,
mas não numa redução global de esforços [12].
Figura III. 3 – Comportamento estrutural num caso usual de sobreposição dos efeitos de deformações impostas aos
das cargas [13]
51
Da observação da figura ressalta que, na situação de sobreposição a rigidez, para a acção
da deformação imposta, é diferente ao longo da viga. Na zona do apoio corresponde à rigidez
fendilhada, na zona de vão à rigidez de descarga e no restante à elástica. Assim, o incremento
de esforços devido à acção da deformação imposta não é independente do valor da carga
actuante pois é afectada pelo nível de esforços e sua distribuição devidas às cargas. O valor do
incremento de esforços depende das rigidezes incrementais das diferentes zonas, da extensão
das zonas fendilhadas, das percentagens de armadura e do sentido de variação dos esforços
(ver Figura III. 3), conforme Camara [13] pôde constatar.
Apresenta-se na Figura III. 4 a relação entre as rigidezes à flexão dos Estados I e II para
diferentes quantidades de armadura de uma secção de betão armado.
Figura III. 4 – Relação entre as rigidezes dos Estados I e II em flexão simples para diferentes percentagens de
armadura [13]
52
É interessante também realçar a diferença das consequências da resposta de um elemento
de betão estrutural às deformações impostas, quando dimensionado às cargas com
percentagens de armadura diferentes. Como se pode observar pela Figura III. 5, para uma
maior diferença entre o momento devido às cargas aplicadas em serviço e o momento de
cedência, maior será a capacidade do elemento para suportar eventuais acréscimos de
momento flector devido a eventuais deformações impostas, sem que este atinja a cedência.
53
3.3. Deformação imposta axial, com sobreposição de cargas verticais
Numa estrutura de betão armado quando existe restrição à deformação livre nos pisos dos
edifícios a situação mais comum é a de ocorrer a sobreposição do efeito da flexão provocada
por cargas verticais com deformações impostas axiais, conforme a Figura III. 6 exemplifica. De
salientar, que os efeitos dessas acções indirectas são as mais desfavoráveis no que concerne
ao comportamento em serviço do betão estrutural.
Figura III. 6 – Sobreposição de uma deformação imposta axial com cargas verticais
Figura III. 7 – Comportamento à flexão simples e composta com esforço axial constante [14]
54
Assim, se, por um lado, o esforço axial de tracção afecta as características da relação M-
1/Rm, por outro lado, a presença de flexão, modifica alguns aspectos de comportamento N-ɛm,
em particular, para a situação que nos interessa neste contexto de acção de um efeito axial
devido a uma deformação imposta.
Figura III. 8 – Deformação imposta externa e interna, sem e com sobreposição de efeitos [11]
55
Apresenta-se seguidamente a extensão do estudo da análise não linear apresentado no
subcapítulo 2.3 às situações de sobreposição de efeitos axiais de uma deformação imposta a
uma estrutura já carregada por acções verticais.
Luís [25] com o mesmo modelo e nos mesmos casos mencionados no subcapítulo 2.3
procedeu à análise não linear da resposta estrutural para cargas verticais em sobreposição
com acções indirectas axiais. Os níveis de carga correspondentes às combinações quase
permanentes, que supostamente actuariam na estrutura, foram avaliados a partir da armadura
ordinária adoptada, obtendo-se para o caso 4 (ρ=1,04%) uma carga vertical distribuída de
11,98 kN/m. Para analisar a resposta à deformação imposta, para um nível mais baixo de
carga, definiu um segundo nível correspondente a metade das cargas quase permanentes. De
referir que a sequência de aplicação das acções foi a seguinte:
Figura III. 9 – Resultados da análise não linear em termos de N-εm para deformação imposta externa [11]
56
Como se pode observar, no caso da sobreposição de efeitos, o elemento fendilha para
extensões menores do que para a situação de deformação imposta isolada e para níveis de
esforço axial global inferiores, sendo antecipada a perda de rigidez axial devido às fendas por
flexão. O elemento também fendilha para extensões tanto menores quanto maior o momento
flector devido às cargas.
Figura III. 10 – Distribuição das tensões nas armaduras, caso 4, para sobreposição de efeitos – deformação imposta
externa [25]
Observa-se que a fendilhação se concentra nas secções de maior momento flector, na face
traccionada por este. Nota-se que, se para uma deformação imposta isolada a tensão máxima
é a mesma para ambos os níveis de extensão imposta (ver Figura II. 13), para a situação de
sobreposição de efeitos (apresentada na Figura III. 10) a máxima tensão depende do valor da
57
deformação imposta, bem como, da distribuição do esforço de flexão devido às cargas
verticais. As tensões máximas sobre os apoios são maiores na situação de sobreposição
devido ao efeito de flexão/tracção. Ainda referente ao caso da sobreposição de efeitos, na zona
de momentos nulos não há fissuração devido ao facto do esforço axial ser inferior ao esforço
de fendilhação, Ncr, pois o momento flector é baixo e há a mesma redução do esforço de
tracção.
Conforme se constata, pela comparação da Figura III. 10 com a Figura II. 13 (capítulo II) e
como seria de esperar, o espaçamento entre fendas na situação da sobreposição de efeitos é
inferior ao verificado para a situação da deformação imposta isolada, devido à distribuição de
tensões em regiões submetidas à flexão composta.
Figura III. 11 – Variação de tensões nas armaduras e respectivas aberturas de fendas em função da extensão média
– deformação imposta externa [11]
Observa-se que os valores de tensão e de abertura de fendas têm uma ligeira tendência
para aumentar devido à semelhante evolução da força axial. Na face superior, junto ao apoio,
devido à distribuição do momento flector verifica-se que as secções fendilham para valores de
extensão diferentes. Verifica-se que quanto mais próximas as secções estiverem do apoio,
menores serão as extensões para as quais essas fendilham, tratando-se de zonas em que o
momento é superior.
58
Luís [25] concluiu que para valores de extensão imposta na ordem de 0,3‰ a 0,5‰ os
valores de tensão e abertura de fendas registados são aceitáveis para critérios comuns de
dimensionamento em serviço.
Por comparação dos 5 casos, Luís [25] constatou que se formam um maior número de
fendas, quer no apoio, quer no vão, para quantidades de armadura maiores. No caso 1, da
armadura mínima de tracção, registou-se um comportamento estrutural menos conveniente,
tendo-se formado somente duas fendas e próximo do apoio.
Figura III. 12 – Resultados da análise não linear em termos de N-εm para deformação imposta interna [11]
59
ou seja, o nível de esforço axial tender para valores semelhantes apesar de diferentes níveis
de carga.
Figura III. 13 – Distribuição das tensões nas armaduras, caso 4, para sobreposição de efeitos – deformação imposta
interna [25]
Verifica-se que os picos de tensão obtidos são ligeiramente menores em comparação com
os resultados obtidos para a sobreposição com a deformação imposta externa. Tal como se
verificou para a deformação imposta externa, as zonas de momento nulo não apresentam
fendas e os espaçamentos de fendas são semelhantes em ambas situações.
60
Figura III. 14 – Variação de tensões nas armaduras e respectivas aberturas de fendas em função da extensão média
– deformação imposta interna [11]
61
IV. Critérios de dimensionamento propostos
Com base na bibliografia analisada, em particular nos trabalhados apresentados nos capítulos
anteriores, é possível resumir algumas orientações para critérios de dimensionamento no caso
da actuação isolada da deformação imposta e para situações de sobreposição de cargas com
deformações impostas. No presente capítulo proceder-se-á à descrição de alguns dos critérios
propostos, a considerar no dimensionamento estrutural, no âmbito da verificação do
comportamento em serviço, para as situações de actuação de deformações impostas
isoladamente ou em conjunto com acções directas.
Para uma melhor explicação sobre este aspecto, analisemos a título de exemplo a actuação
de uma extensão imposta com valor de 0,3‰. Conforme se observa na figura abaixo, se o
esforço normal provocado pela deformação fosse obtido por um cálculo elástico, N el, resultaria
um valor bastante acima do que realmente se verifica para aquela extensão.
Figura IV. 1 – Comparação de esforços elásticos com os esforços resultantes de uma deformação imposta
62
Por isso, visto que o início da fendilhação ocorre, para valores médios das características do
betão, com uma extensão de 0,1‰ e, tendo em conta que a deformação imposta axial
normalmente não ultrapassa o valor da ordem de 0,5 a 0,7‰, os elementos estruturais
encontram-se usualmente na fase de formação de fendas, como já referido no subcapítulo
2.1.1. Assim, e como em geral a deformação imposta actuando isoladamente não atinge a
fendilhação estabilizada, o esforço máximo gerado por essa acção corresponde ao que é
necessário para a formação de uma nova fenda e é muito inferior ao que resultaria de uma
análise elástica. Esse esforço máximo é da ordem de grandeza dos esforços de fendilhação e,
consequentemente, é independente do valor da acção imposta. Logo, para valores de extensão
imposta da ordem de 0,1‰ a 1,0‰, o esforço axial devido à actuação isolada da deformação
imposta corresponde ao esforço de fendilhação, Ncr (ver expressão IV.1), que deve portanto ser
adoptado na avaliação do comportamento em serviço.
Já no caso da retracção do betão, deformação imposta interna (ver Figura II. 9), com o fim
de garantir a não plastificação da armadura poder-se-ia utilizar um valor inferior para o esforço
axial, da ordem de 0,80 a 0,90Ncr.
Luís [26] sugeriu, caso o objectivo seja o de limitar a abertura característica de fendas a um
determinado valor, adoptar para esforço axial o valor resultante dos índices da Tabela II. 5,
sendo que, em alternativa, e conservativamente, poder-se-á utilizar 2/3fct,effAct e 1/2fct,effAct, para
deformações impostas externas e internas, respectivamente. O mesmo autor concluiu que para
a situação de deformação imposta interna deve ser usada para o cálculo da extensão relativa
média na avaliação da abertura de fendas, a seguinte expressão:
63
𝜀𝑠𝑟𝑚 = 𝜀𝑠𝑚 − 𝜀𝑐𝑚 + 𝜀𝑐𝑠 (IV.2)
Camara [13] realçou o sentido em contabilizar este aspecto na quantificação dos efeitos das
deformações impostas com efeito de flexão, dando como exemplo o caso de uma viga bi-
encastrada submetida a uma variação diferencial de temperatura instantânea sobreposta a
uma carga distribuída, conforme se representa na Figura IV. 2.
Figura IV. 2 – Exemplo da resposta de uma viga bi-encastrada a uma variação linear de temperatura para uma
análise linear (a) e não linear (b) [13]
64
Como se pode observar, os esforços gerados são inferiores aos elásticos e a variação de
curvaturas no elemento é do tipo representado na Figura IV. 2 b. Nas zonas fendilhadas, nas
quais o aumento de esforços é do mesmo sinal do das cargas, os incrementos de curvatura
dão-se para uma rigidez aproximadamente igual à rigidez do Estado II; por sua vez, nas zonas
em descarga estes incrementos dão-se para a rigidez de descarga e no resto da estrutura para
a rigidez de Estado I. Caso se considere a rigidez de descarga igual à do Estado I obtém-se
uma distribuição de curvaturas com um andamento similar ao representado na Figura IV. 2 b.
Com base neste exemplo e noutros correspondentes a análises não lineares efectuadas,
Camara [11, 12, 13] expôs um método aproximado para a avaliação do momento devido a uma
deformação imposta, sendo que, no caso da flexão, este resulta da aplicação da expressão
anteriormente apresentada (expressão IV.3 b). Assim, com base em análises não lineares,
aquele autor, definiu que 𝜉, denominado de coeficiente de comportamento (que constitui um
coeficiente de redução do esforço elástico), poderia assumir os valores apresentados na
Tabela IV. 1, dependendo da situação de fendilhação do elemento, do nível de carga vertical
distribuída, da percentagem da armadura e do tempo de imposição da acção.
ξ
φ=0 φ=2,5
𝜌𝑓𝑙𝑒𝑥 ã𝑜
r r
Na qual:
𝐴𝑠
𝜌𝑓𝑙𝑒𝑥 ã𝑜 = (IV.4)
𝑏𝑑
𝑒𝑙 á𝑠𝑡
𝑀𝑔 +𝜓 2𝑞 ×𝑀𝑞 +𝑀𝑑𝑖
𝑟= (IV.5)
𝑀𝑐𝑟
65
coeficiente é ainda menor e menos dependente da fendilhação e quantidades de armadura,
apresentando valores em torno dos 30%.
Analisando os factores de redução conclui-se que o esforço real resultante das deformações
impostas é, desde que exista alguma fendilhação, sempre inferior a 70% do obtido por meio de
uma análise elástica linear. Com o decorrer do tempo os seus efeitos vão diminuindo até
valores da ordem dos 20 a 30% do valor elástico. Verifica-se assim que os danos causados
nas estruturas pelas deformações impostas de flexão quando sobrepostas a cargas não são
tão relevantes como uma análise elástica poderia fazer, eventualmente, supor.
Por fim, conforme apresentado por Camara [12, 13] e explicado no subcapítulo 3.2 e na
Figura III. 5, o importante é garantir que a reserva em relação à não cedência das armaduras
em situação de flexão é suficiente para acomodar o efeito da deformação imposta, ou seja, há
que cumprir, no mínimo, a seguinte condição:
Salienta-se, como referido anteriormente, que para uma maior diferença entre o momento
devido às cargas aplicadas em serviço e o momento de cedência (casos de necessidade de
percentagens de armaduras maior na verificação de segurança à rotura devido às cargas),
maior será a capacidade do elemento estrutural em admitir eventuais acréscimos de momento
flector devido à acção das deformações impostas, sem que se atinja a cedência ou as
aberturas de fendas sejam mais importantes.
No entanto, há que notar que o estudo desenvolvido por Luís [25] foi restrito, não tendo
considerado toda a variabilidade possível de factores que influenciam a resposta estrutural,
sendo discutível estabelecer critérios gerais de dimensionamento. Apesar disso, o referido
autor conseguiu clarificar alguns aspectos importantes do comportamento estrutural nas
situações de sobreposição e até mesmo considerou possível fornecer indicações muito
66
credíveis para a avaliação do esforço axial devido às deformações impostas naquelas
situações de sobreposição de efeitos.
Assim, Luís [11, 24] estimou os coeficientes 𝜉∆𝑇 e 𝜉𝑐𝑠 , definidos em função da percentagem
de armadura e do nível de extensão imposta. Os valores propostos para esses coeficientes são
apresentados na tabela seguinte:
Como se pode observar, o coeficiente de redução não varia muito com as diferentes
percentagens de armadura e, como tal, Luís [11] propôs que os valores a considerar
correspondessem a 𝜌=0,80%. Uma aproximação suplementar seria tomar 𝜉 igual a 0,6 ou 0,4
(deformação imposta externa e interna, respectivamente) independentemente do valor da
deformação imposta. Como já mencionado no capítulo II e apresentado pelo EC2 [16], para a
verificação ao estado limite de fendilhação para deformações impostas é necessário considerar
dois critérios de dimensionamento: a garantia de não plastificação da armadura e o critério de
controlo directo ou indirecto da abertura de fendas.
𝑁 = 𝜉 × 𝑁𝑐𝑟 (IV.10)
Para a avaliação directa da abertura de fendas, com sobreposição dos efeitos das cargas e
os dois tipos de deformação imposta em simultâneo, podem ser consideradas duas
alternativas, apresentadas pelo mesmo autor [11]. As alternativas são descritas pelas seguintes
equações:
𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎𝑠 +∆𝑇+𝑐𝑠
𝑤𝑚 = 𝑆𝑟 × (𝜀𝑠2 + |𝜀𝑐𝑠 |) (IV.11)
67
𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎𝑠 +∆𝑇𝑒𝑞
𝑤𝑚 = 𝑆𝑟 × (𝜀𝑠2 ) (IV.12)
Com a aplicação da expressão IV.11, o esforço axial terá de ser obtido pelas expressões
IV.10 e IV.9. Quanto à expressão IV.12, esta trata-se de uma forma equivalente mais directa de
obter a estimativa da abertura de fendas, na qual se considera ambas as extensões impostas
exteriores ao elemento, sendo o esforço axial obtido pela expressão IV.7. Assim,
∆𝑇𝑒𝑞 corresponde a uma variação de temperatura equivalente, a qual contempla também o
efeito da retracção e pode ser obtida da seguinte forma:
𝜉𝑐𝑠
∆𝑇𝑒𝑞 = ∆𝑇 + 𝑐𝑜𝑚 𝛼 = 1 × 10−5 (IV.12)
𝛼
Enveredando por esta segunda alternativa de cálculo e pelas análises apresentadas nos
capítulos anteriores obtém-se uma boa estimativa da abertura de fendas.
Uma vez avaliado o esforço axial combinado com os esforços das cargas verticais é então
possível analisar a situação em flexão composta.
Definida uma distribuição de armaduras, deve-se então efectuar a análise de tensões, tendo
em conta a sobreposição de efeitos. Para isso há que ter em linha de conta os seguintes
aspectos:
68
5. Selecciona-se o critério de análise para a definição do nível da redução de esforço
axial a considerar. Nas zonas da estrutura onde o esforço axial avaliado anteriormente
seja superior a Ncr, aquele deve ser avaliado aplicando o factor de redução, ξ (ver
Tabela IV. 2), ao valor de Ncr. Nas zonas onde o esforço axial avaliado em 4 seja
inferior a Ncr, então aplicar-se-á aquele coeficiente de redução a esse esforço axial;
6. Numa análise da flexão composta há que avaliar o nível das tensões nas armaduras
em secção fissurada, definindo a adequabilidade da percentagem de armadura
colocada de acordo com os limites do comportamento em serviço;
7. Atendendo ao resultado do passo anterior, poderá ser conveniente modificar as
quantidades de armadura definidas em 1, de forma a baixar a tensão na armadura e
limitar mais a abertura de fendas nalgumas zonas.
69
V. Situações de deformações impostas nas estruturas
Existem dois tipos básicos de estruturas nas quais as deformações impostas se podem
desenvolver: as isostáticas e as hiperstáticas. É de salientar que, apesar de no primeiro caso,
as deformações impostas ocorrerem livremente, não se desenvolvendo esforços, é possível
haver fendilhação neste tipo de estruturas, nomeadamente se ocorrerem efeitos de
deformações impostas diferenciais nas secções. Este fenómeno ocorre no caso da retracção
térmica diferencial na secção, que pode provocar um estado de tensão auto-equilibrado com
resultante de esforços nula ao nível da secção.
A grande maioria das estruturas são no seu conjunto hiperstáticas e, naturalmente, neste
tipo de estrutura existem várias restrições ao desenvolvimento de deformações livres que, por
sua vez, induzem o aparecimento de fendas. Por exemplo, no caso de um pórtico, um dos
efeitos importantes a considerar na concepção e dimensionamento estruturais é o das
deformações impostas aos pilares devido à deformação dos elementos horizontais das
estruturas, conforme representadas na Figura V. 1.
Figura V. 1 – Efeito das deformações impostas nas estruturas de edifício em pórtico e em pontes [13]
70
Neste caso, os esforços provocados pelo efeito da acção indirecta, nos elementos verticais
(pilares), dependem da rigidez do elemento e da distância do mesmo ao centro de rigidez da
estrutura. Assim, os momentos nos pilares são tanto maiores quanto mais afastados estiverem
do centro de rigidez, optando-se, por vezes, pela adopção de juntas estruturais com o objectivo
*
de diminuir esses efeitos.
Figura V. 2 – Fendilhação junto à abertura do elemento traccionado (NcrA e NcrB – esforço axial de fendilhação na
zona A e B, respectivamente)
*
Gonilha [22] estudou estas situações, no contexto da análise das necessidades de juntas estruturais em estruturas de edifícios.
71
Em edifícios são várias as situações em que é necessário considerar os efeitos das
deformações impostas, sendo a colocação de, pelo menos, uma armadura mínima de tracção a
solução conveniente. Uma dessas situações é a de uma consola que possua uma extensão
considerável ao longo da fachada de um edifício (como é o caso de varandas), conforme se
pode observar na Figura V. 3. Nesta deve colocar-se a armadura mínima necessária, disposta
segundo a direcção y, para o controlo da fendilhação devida ao efeito restritivo que a estrutura
do edifício exerce sobre a deformação livre da consola provocada pelas deformações impostas
(a laje interior constitui o impedimento ao livre encurtamento da consola). Neste tipo de
situações um bom comportamento em serviço pode ser garantido sem necessidade de juntas
de dilatação, apesar da quantidade de armadura necessária poder ser consideravelmente
maior à que seria prevista como construtiva ou de distribuição da principal.
Outra situação que carece da consideração do conceito da deformação imposta para efeitos
do dimensionamento em serviço é a de uma viga com uma laje suportada na parte inferior e
dimensionada para as cargas na direcção longitudinal, como representada na Figura V. 4.
Conforme constatado por Camara [13], nestes casos a armadura tradicional de distribuição a
colocar na laje na direcção y pode ser insuficiente para controlar a fendilhação nas zonas onde
a viga está submetida a momentos positivos devida à deformação imposta axial que a viga, na
sua deformação por flexão, provoca no painel da laje. Nestes casos, o controlo da fendilhação
na direcção y exige uma armadura mínima de tracção.
Este caso é especial pois trata-se de uma deformação imposta de uma parte da estrutura (a
viga) à outra (a laje) mas devido à acção de cargas verticais.
72
Figura V. 4 – Situação de colocação de armadura mínima de tracção numa laje suportada na parte inferior e
dimensionada para as cargas em x [13]
Figura V. 5 – Situação de colocação de armadura mínima na laje devido aos elementos rígidos [13]
73
Figura V. 6 – Situação comum na qual o piso enterrado se encontra submetido à sobreposição do efeito das cargas
verticais com deformação imposta axial [25]
Para além da já rebatida importância de se colocar uma armadura mínima nos diferentes
elementos das secções, eventualmente sujeitas a tracções, há casos, como referido neste
trabalho, em que há necessidade de adopção de mais armadura para que as fendas sejam
limitadas de acordo com as condições de funcionalidade exigidas. Haverá, evidentemente,
formas alternativas de limitar tal fendilhação, como por exemplo a previsão de juntas de
dilatação e a aplicação de pré-esforço. Contudo, há que reconhecer que, independentemente
do método que se adopte, é muito difícil assegurar à partida a não fendilhação do betão
estrutural, mesmo sendo pré-esforçado.
74
O betão da parede do muro fica sujeito a tensões de tracção horizontais, que irão provocar
fendas verticais, conforme se analisou no subcapítulo 2.5. Estas fendas verticais ou
transversais (denominadas na Figura V. 7 por fendas principais), conforme Luís [25] explica,
além de atravessarem toda a espessura do elemento, são as que condicionam a estanquidade
do mesmo. Por outro lado, fendas, essencialmente de flexão verificam-se junto a uma das
faces e não necessitam do mesmo nível de preocupação em termos de funcionalidade. O risco
da fendilhação que ocorre nestes casos pode também ser contrariado limitando a elevação de
temperatura devida à hidratação do betão, com betonagens em etapas ou, como se analisou
nesta tese, com disposições apropriadas de armadura. Outra opção, para contrariar a
fendilhação, é a execução de juntas de dilatação colocadas a distâncias apropriadas, visando
evitar a ocorrência de fendilhação significativa entre as mesmas. O EC2-parte 3 [17], no anexo
N, propõe um espaçamento máximo de 5,0 metros ou de 1,5 vezes a altura da parede (ver
Figura V. 8).
75
No caso concreto dos tanques, há, em geral, situações claras de sobreposição de efeitos de
uma deformação imposta axial e da acção do impulso da água nas paredes com flexão, na
mesma direcção. Este caso, típico de uma situação de sobreposição de efeitos de acções
directas e indirectas, será analisado no próximo subcapítulo no segundo exemplo de aplicação
(subcapítulo 5.2.2).
Nos dois subcapítulos seguintes apresentam-se dois casos de estudo: análise da parede de
um muro de suporte sujeito à restrição das deformações impostas e de um tanque em que
ocorre a sobreposição dos efeitos de carga com deformações impostas axiais.
Analisa-se um muro de suporte com 5 metros de altura e com duas espessuras, sem juntas de
dilatação (ver Figura V. 10). Dimensiona-se armadura longitudinal da parede à acção das
deformações impostas, pois nessa direcção a armadura seria construtiva ou de distribuição,
caso não se considerassem estes efeitos. A parede deve ser armada horizontalmente de tal
maneira que a abertura máxima de fendas seja inferior a um determinado limite, a definir de
acordo com o grau de exigência, em termos de funcionalidade.
76
Na tabela seguinte apresenta-se as características dos materiais adoptados.
As armaduras mínimas definidas pela expressão II.26 para valores de espessura da parede
de 0,3m e 0,6m são as indicadas na Tabela V. 2:
2
h (m) k As,min (cm /m) As,min adoptar
2
0,30 1,00 15,60 Ø10//0,10 (15,7 cm /m)
2
0,60 0,79 24,65 Ø16//0,15 (26,7 cm /m)
Tabela V. 2 – Armaduras mínimas para dois tipos de espessura da parede do muro
Assim, da base até meio da parede do muro, ao longo de 2,5m (ver Figura V. 10), a
2 2
armadura mínima a adoptar seria de 26,7 cm /m e, do meio até ao topo, 15,7 cm /m. Pode ser
discutível a avaliação destas quantidades de armaduras para o caso desta geometria, com
duas espessuras, mas considera-se a opção aceitável, até porque não seria evidente outra
alternativa.
Estimou-se, então, a abertura característica de fenda, que ocorre para aquelas quantidades
mínimas de armadura, pela expressão II.16, com o fim de verificar se obtêm valores aceitáveis.
Para o cálculo da distância máxima entre fendas utilizou-se a expressão II.20, na qual:
Para o cálculo da extensão média relativa entre o aço e o betão utilizou-se a expressão
II.23, com kt=0,4 (acção lenta no tempo). No cálculo da percentagem de armadura na área
efectiva considerou-se:
77
para h=0,30m,
para h=0,60m,
A estimativa da abertura de fenda foi efectuada para dois esforços axiais: Ncr e Ndim=0,7Ncr
(esforço axial máximo após fendilhação para uma deformação imposta interna conforme
explicado em 4.2). No cálculo do esforço axial de fendilhação, para a espessura de 0,60m, foi
considerada uma redução da resistência efectiva à tracção por meio de um factor multiplicativo
de 0,79 (ver subcapítulo 2.4 e Figura II. 18). Na Tabela V. 3 apresenta-se os resultados
obtidos.
78
fctm=fct,ef), e admitindo, por exemplo, a tensão na armadura de 250 MPa, os seguintes valores
para os diâmetros e quantidades de armadura (no cálculo de As utilizou-se a expressão II.26 na
qual se substitui fyk por σs=250MPa):
*
h σs As ∅s ∅s
2 As,adoptar
(m) (MPa) (cm /m) (mm) (mm)
0,30 250,0 31,2 20 13,4 Ø16//0,20 + Ø12//0,20
0,60 250,0 49,3 20 23,9 Ø20//0,125
Tabela V. 4 – Diâmetros e quantidades de armadura para wk=0,3mm e Ncr
*
h σs As ∅s ∅s
2 As,adoptar
(m) (MPa) (cm /m) (mm) (mm)
0,30 250,0 21,84 20 13,4 Ø12//0,10
0,60 250,0 34,51 20 23,9 Ø20//0,30 + Ø16//0,25
Tabela V. 5 – Diâmetros e quantidades de armadura para wk=0,3mm e 0,7Ncr
Se por motivos de estanquidade, para a classe 1 (ver Tabela II. 3), pretender-se limitar a
abertura característica de fenda a wk1 (ver Figura II. 27) ter-se-ia, então:
Por controlo indirecto (ver Figura II. 28) obter-se-ia, por exemplo, depois de aplicar
também o coeficiente de correcção da expressão II.27 (considerando fctm=fct,ef), os seguintes
valores para os diâmetros e quantidades de armadura (no cálculo de As utilizou-se a expressão
II.26 na qual se substitui fyk por um nível de tensão adequado):
*
h σs As ∅s ∅s
2 As,adoptar
(m) (MPa) (cm /m) (mm) (mm)
0,30 180,0 43,33 20 13,4 Ø16//0,20 + Ø12//0,10
0,60 220,0 56,02 16 19,2 Ø20//0,10
Tabela V. 6 – Diâmetros e quantidades de armadura para wk=0,175mm e Ncr
Mais uma vez, os resultados apontam para quantidades de armaduras que se diria não
fazerem quase sentido prático. Por outro lado, se se admitir que o esforço axial nas secções
fendilhadas não ultrapassa 0,7Ncr os resultados seriam os seguintes, bastante mais razoáveis:
79
*
h σs As ∅s ∅s
2 As,adoptar
(m) (MPa) (cm /m) (mm) (mm)
0,30 180,0 30,33 20 13,4 Ø16//0,20 + Ø12//0,20
0,60 220,0 39,21 16 19,2 Ø16//0,10
Tabela V. 7 – Diâmetros e quantidades de armadura para wk=0,175mm e 0,7Ncr
wk h N As σs
Sr,máx εsm-εcm 2
(mm) (mm) (kN/m) (cm /m) (MPa)
2,522 × 10−6
− 3,41 × 10−5
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
780,0 52,6 148,3
2,34 × 10−6
>
0,001442 𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
0,30 0,119 +
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚) 1,352 × 10−6
− 3,41 × 10−5
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
546,0 42,7 127,8
1,64 × 10−6
<
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
0,175
4,784 × 10−6
− 3,41 × 10−5
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
1232,4 78,3 157,5
3,70 × 10−6
>
0,001442 𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
0,60 0,119 +
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚) 2,936 × 10−6
− 3,41 × 10−5
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
862,7 57,7 149,5
2,59 × 10−6
>
𝐴𝑠 (𝑚2 /𝑚)
Tabela V. 8 – Resultados do controlo directo da fendilhação
80
5.2.2. Tanque – sobreposição de cargas (acção da água) a deformação imposta
axial
Para esta análise, com sobreposição dos efeitos das cargas com deformação imposta,
considera-se um tanque com dimensões em planta de 10m por 15m, sendo a espessura da
parede constante de 0,30m e a altura de 5,0m (ver Figura V. 11). O tanque não se encontra
enterrado e no interior deverá conter água. As características dos materiais considerados são
as mesmas apresentadas para o caso anterior (ver Tabela V. 1).
Nesta situação ocorre uma sobreposição de efeitos, da acção do impulso da água sobre as
paredes do tanque, que gera efeitos de flexão e tracção, com o efeito axial da deformação
imposta nas mesmas, conforme se ilustra, na direcção longitudinal, na figura seguinte.
Figura V. 12 – Representação, em planta, da sobreposição de efeitos no tanque: a) acção da água nas paredes; b)N,
esforço normal devido às deformações impostas e à acção da água e Mcp, momentos devido à acção da água
81
O esforço axial associado ao início da fendilhação por efeito axial isolado tem o seguinte
valor:
®
As paredes e a laje de fundo foram modeladas no SAP2000 como elementos shells, sendo
que foram consideradas apoios, só com deslocamentos impedidos, na base do tanque, como
se pode observar na figura seguinte.
®
Figura V. 13 – Modelação do tanque em SAP2000
Definiu-se a deformação imposta como sendo uma variação de temperatura equivalente por
meio da aplicação da expressão IV. 12, tendo-se obtido:
0,3×10 −3
∆𝑇𝑒𝑞 = 15 + 1×10 −5
= 45℃ (V. 7)
82
Figura V. 14 – Distribuição do esforço axial resultante, devido à deformação imposta, na parede de 15m de
comprimento
Para o Estado Limite de Utilização, aplicando a metodologia proposta por Luís [25] e
apresentada no subcapítulo 4.3, optou-se por, nas zonas da estrutura onde o esforço axial
devido à deformação imposta seja superior a Ncr, aplicar-se o factor de redução, ξ=0,6 (ver
Tabela IV. 2), ao valor de Ncr. Nas zonas onde o esforço axial seja inferior a N cr, aplicou-se
também aquele coeficiente de redução a esse esforço axial. Na Figura V. 15 apresenta-se
graficamente os valores obtidos para a zona central da parede para o esforço axial elástico
devido à deformação imposta, obtido do programa de cálculo automático, e o de
dimensionamento (para o comportamento em serviço), ou seja, com aplicação da metodologia
anterior.
1500,0
Esforço Axial (kN/m)
1250,0
1000,0 N do SAP2000
750,0 Ndim
Ncr
500,0
250,0
Figura V. 15 – Variação do esforço axial, devido à deformação imposta, na zona central da parede de 15m de
comprimento
83
Numa análise da flexão composta há que avaliar o nível das tensões nas armaduras em
secção fissurada, definindo a adequabilidade da percentagem de armadura colocada de acordo
com os limites do comportamento em serviço.
Assim, dividiu-se a parede em duas zonas iguais, a superior e a inferior, na zona central da
referida parede, sendo que os seus pontos médios se encontram a 1,25m de distância da base
(região B) e a outra a 3,75m (região A), conforme se pode observar na Figura V.16.
Zona A:
𝑁𝑠𝑑 = 1,5 × 41,9 = 62,9 𝑘𝑁 𝑚 ; 𝑀𝑠𝑑 = 1,5 × 33,3 = 50,0 𝑘𝑁𝑚 𝑚 (V. 8)
𝑀 𝑁 50 62,9
𝐴𝑠1 : 𝐹𝑠1 = + = + = 240,9 𝑘𝑁 𝑚 (V. 9)
0,9𝑑 2 0,9 × 0,265 2
84
𝐹𝑠1 240,9
𝐴𝑠1 = = × 10−4 = 5,54 𝑐𝑚2 𝑚 (V. 10)
𝑓𝑦𝑑 435 × 103
Zona B:
Nesta zona não se considerou a influência do esforço axial devido às cargas, pois é muito
reduzido.
𝑀 40,7
𝐴𝑠2 : 𝐹𝑠2 = = = 169,5 𝑘𝑁 𝑚 (V. 13)
0,9𝑑 0,9 × 0,265
𝐹𝑠2 169,5
𝐴𝑠2 = = × 10−4 = 3,89 𝑐𝑚2 𝑚 (V. 14)
𝑓𝑦𝑑 435 × 103
85
Zona A:
𝑁𝑐𝑞𝑝 = 𝑁𝑑𝑖 + 𝑁𝑐𝑝 = 451,8 + 26 = 477,8 𝑘𝑁 𝑚 ; 𝑀𝑐𝑞𝑝 = 𝑀𝑐𝑝 = 18,9 𝑘𝑁𝑚 𝑚 (V. 15)
Zona B:
𝑁𝑐𝑞𝑝 = 𝑁𝑑𝑖 + 𝑁𝑐𝑝 = 468 − 6,4 = 461,6 𝑘𝑁 𝑚 ; 𝑀𝑐𝑞𝑝 = 𝑀𝑐𝑝 = 45,2 𝑘𝑁𝑚 𝑚 (V. 19)
86
Apresenta-se na tabela seguinte as tensões nas armaduras condicionantes e abertura de
fendas média e máxima (para o cálculo da distância máxima entre fendas, Sr,máx, utilizou-se a
expressão II.20, com um k2=0,7 (flexão composta)) .
10,05
Zona (Ø16//0,20) N=461,6kN/m
0,76 62,1 425,2 0,00141 0,51 0,87
B Armadura M=-45,2kNm/m
interior
Tabela V. 9 – Abertura média e característica de fendas para as armaduras condicionantes
Observa-se que as aberturas de fendas para este caso não são de forma alguma
admissíveis. Assim, é necessário, para obter um melhor comportamento ao Estado Limites de
Fendilhação, dispor de outras quantidades de armadura, de forma a assegurar características
de comportamento adequadas à sua funcionalidade. Assim, optou-se por na zona A colocar
Ø16//0,15 como armadura interior e Ø16//0,10 como armadura exterior e na zona B, optou-se
pelo inverso desta disposição. Apresenta-se na Tabela V.10 as tensões e abertura de fendas
para aquelas quantidades de armadura com o fim de obter um melhor comportamento em
serviço.
20,11
Zona (Ø16//0,10) N=461,6kN/m
1,52 37,0 212,49 0,00069 0,15 0,25
B Armadura M=-45,2kNm/m
interior
Tabela V. 10 – Disposição de armaduras condicionantes para obtenção de abertura de fendas menores
Verifica-se neste exemplo que, efectuando o cálculo das armaduras para os Estados Limites
Últimos, teríamos uma quantidade de armaduras insuficiente e que, para garantir exigências de
estanquidade, de acordo com a Figura II. 27, se chega à conclusão que são necessárias
quantidades de aço ainda superiores às propostas nesta última tabela.
87
VI. Conclusões
88
maior ou menor e o facto de já ter sido iniciada ou não a fase fendilhada. O efeito das
deformações impostas manifesta-se por um acréscimo de curvatura e por um possível aumento
dos momentos flectores, estando estes dependentes do estado e do nível de esforço em que o
elemento se encontra. Constatou-se que para uma maior diferença entre o momento devido às
cargas aplicadas em serviço e o momento de cedência, maior será a capacidade do elemento
estrutural em admitir eventuais acréscimos de momento flector devido à acção das
deformações impostas, sem que se atinja a cedência ou as aberturas de fendas sejam mais
importantes.
Dos exemplos de aplicação foi interessante verificar, no primeiro exemplo do muro sujeito
à restrição das deformações impostas, que com a quantidade mínima de armadura as
estimativas da largura máxima das fendas são elevadas, por comparação às diferentes
exigências regulamentares e que a garantia da estanquidade por limitação da abertura de
fendas a limites apertados conduz a quantidades muito significativos de armadura, mesmo
adoptando para o dimensionamento o esforço axial de 0,7Ncr. Verificou-se, ainda, que pelo
cálculo directo, as quantidades de armadura necessárias para um dado nível de exigência são
superiores às obtidas para o controlo indirecto, tendo-se constatado, uma diferença com um
factor da ordem de 1,4 entre os dois tipos de controlo, o que justifica que este aspecto seja, no
futuro, clarificado.
89
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90
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91
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de Doutoramento, Instituto Superior Técnico, Março de 1998;
[36] www.eng-tips.com
92
Anexo A
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
distância à base (m)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
-10,0
Variação do esforço axial resultante, devido ao peso próprio e impulso da água, na zona central da parede de 15m
de comprimento
-50,0
(kN.m/m)
-40,0
-30,0
-20,0
-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
Variação do momento flector, devido ao impulso da água, na zona central da parede de 15m
93
-120,0
(kN.m/m)
-100,0
-80,0
-60,0
-40,0
-20,0
0,0
20,0
40,0
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0 7,5 9,0 10,5 12,0 13,5 15,0 (m)
Variação do momento flector, devido ao impulso da água, ao longo do comprimento da parede de 15m de
comprimento, a uma distância de 4,0m da base
94