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AVALIAÇÃO DO SISTEMA CONSTRUTIVO EM MADEIRA DE

PAREDES PORTANTES: RE-ESTUDO DE CASOS APÓS DEZ ANOS

Rosa Maria Bittencourt

RESUMO: Na última década aumentou significativamente as pesquisas brasileiras


enfatizando os sistemas construtivos em madeira. Este aumento reflete os esforços de centros
de pós-graduação das Universidades, em criar linhas de pesquisas visando o desenvolvimento
da tecnologia da madeira na construção civil. Tendo como objetivo incrementar os resultados
da pesquisa de avaliação pós-ocupação efetuada no sistema construtivo de madeira de paredes
portantes, há aproximadamente dez anos, o presente trabalho retoma estes dados para
subsidiar uma nova análise técnica através de uma amostragem das habitações anteriormente
estudadas, procurando detectar o desempenho destas após este período. Na primeira parte do
trabalho apresenta-se a metodologia, os resultados da primeira pesquisa em campo e as
avaliações realizadas neste sistema naquela oportunidade. A segunda parte, expõe os critérios
e parâmetros para escolha e re-avaliação de uma amostragem pré determinada destas
habitações. A relevância do estudo encontra-se na implementação de uma sistemática de
avaliação contínua dos sistemas construtivos em madeira, considerando que uma das maiores
argumentações contra os sistemas construtivos em madeira trata-se da sua rápida deterioração.
Desta forma, pretende-se monitorar estas habitações sob determinadas condições de uso e
verificar o desempenho global do sistema.
Palavras-chave: sistema construtivo em madeira, avaliação pós-uso.

THE EVALUATION OF THE TIMBER CONSTRUCTIVE SYSTEM OF


STRUCTURAL WALL: RE-EVALUATING THE CASES AFTER TEN YEARS.

ABSTRACT: In the last decade, Brazilians research had a significantly rise emphasizing
timber constructive system. This rise reflect the University’s mastership efforts in creating
research lines aiming at environmental of timber technology in civil constructions. The
purpose is to increase, in approximately ten years, the research result about post-occupancy
evaluation effectuated in timber structural wall constructive system. The present work
recovers these data to subsidize a new technical analysis over a sample from habitations
studied before trying to detect their performance after this period. On the first part of this
work it is show the methodology, the first research result in field and the evaluation realized
in this system in that opportunity. The second part shows the rule and analogy for the choice
and re-evaluation from a predetermined sample of this habitations.
The importance of this study is on the implementation of the constant systematic evaluation
timber constructive system, considering that one of the biggest argumentations against wood
constructive system is its fast deterioration.
In this way, it is intended to monitor this habitations in aspects under specific conditions of
use and verify the global system performance.
Keywords: post-occupancy evaluation, constructive system.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho expõe os resultados das análise efetuadas em habitações em madeira de paredes
portantes, efetuadas em dois momentos com intervalo de dez anos. O estudo original
realizado no final da década de 80, foi objeto de um trabalho acadêmico da disciplina
“Avaliação pós-uso”, da Faculdade de Arquitetura da USP. Resgatando estes dados, em uma
segunda fase, efetuou-se a avaliação de algumas destas unidades habitacionais, procurando
detectar o desempenho destas após este período.

O principal objetivo do presente trabalho é o estudo de uma metodologia adequada para a


implementação de uma sistemática de avaliação contínua dos sistemas construtivos em
madeira, considerando que uma das maiores argumentações contra os sistemas construtivos
em madeira trata-se da sua rápida deterioração. Desta forma, pretende-se criar condições para
um monitoramento das habitações sob determinadas condições de uso e verificar o
desempenho global do sistema. Além deste objetivo global, a pesquisa apresenta as análises
efetuadas das habitações estudadas; com estas, possibilitar um estudo e reformulações críticas,
por parte da empresa fabricante, para atender as necessidades dos usuários.

2. DESENVOLVIMENTO
A metodologia adotada para o estudo das habitações, como mencionada, foi a “avaliação pós-
uso”, portanto cabe um pequeno aparte para esclarecer a compreensão que se tem sobre este
método.
Introduzida no Brasil a partir de 1984, a metodologia de avaliação pós-uso vem conquistando
espaços entre os técnicos na sistematização das avaliações de edifícios. Em junho de 1989,
após cinco anos de suas primeiras aplicações, realizou-se na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo – USP, São Paulo, o primeiro seminário de “Avaliações Pós-Uso” com o objetivo
de expor os trabalhos realizados nestes anos e discutir as perspectivas da metodologia no
Brasil. Neste seminário firmou-se a tendência de adotar “avaliação pós-uso”, concluindo-se
que na introdução da metodologia no Brasil houve tradução literal do termo “post-occupancy
evaluation” para “avaliação pós-ocupação”. Sendo pertinente tal consideração, no trabalho
adota-se o termo avaliação pós-uso, com a sigla APU.
O prof. Wolfgang F. E. Preiser da Universidade do Novo México, em Albuquerque, EUA, do
Institute for Environemental Education da School of Architecture and Planning, concebeu a
metodologia da APU tendo como princípio a coleta de informações do edifício junto ao
usuário. A metodologia visa diagnosticar globalmente o edifício, abordando aspectos técnicos
(construtivos e materiais), funcionais e comportamentais.

O estudo foi realizado em habitações em madeira de paredes portantes, sistema construtivo


definido basicamente por duas peças: os painéis de fechamento montados com peças macho e
fêmea na horizontal e ligando-as, os montantes. As moradias pesquisadas são da Casema
Industria e Comércio que no presente trabalho será identificada por “empresa fabricante”.

3. PRIMEIRA PESQUISA - 1989


Originalmente, a opção em avaliar um sistema construtivo em madeira deveu-se a:
1. afinidade com o material madeira;
2. estudar a produção e comercialização de um sistema construtivo que está se firmando no
mercado, apesar de todo o preconceito que prevalece sobre a madeira;
3. após a utilização, verificar como o usuário interpreta as condições construtivas, funcionais
e em relação ao comportamento do usuário sobre a sua residência.

No presente artigo, as questões da caracterização do sistema construtivo, da fabricação e da


comercialização deste foram excluídas pois acredita-se que este sistema, no meio técnico, já
encontra-se bastante conhecido e divulgado. Restringe-se portanto na avaliação pós-uso
propriamente dita.

3.1 Metodologia da pesquisa


Estabeleceu-se que as pesquisas a serem efetuadas seriam:
1. Entrevista e coleta de dados com os diretores da empresa nas áreas: comercial, técnica e
de produção.
2. Pesquisa com o usuário sobre a habitação.
3. Pesquisa sobre a habitação realizada pelos técnicos – laudo técnico.
No decorrer das discussões sobre a metodologia, concluiu-se sobre a necessidade de efetuar
pesquisas junto aos carpinteiros que estão cadastrados e são usualmente recomendados pela
empresa fabricante do kit. O item 1, como referido, não será tratado neste trabalho.
Especificamente para a formulação da pesquisa do usuário e do profissional técnico – laudo
técnico, discutiu-se sobre os seguintes aspectos em três momentos distintos: a) Planejamento,
produção e comercialização de um Kit habitacional; b) Processo construtivo do kit em
madeira; e, c) Uso e manutenção da habitação.

Elaborou-se a pesquisa piloto, que foi aplicada em três residências na grande São Paulo. Em
conseqüência da pesquisa piloto, chegou-se a conclusão que alguns itens deveriam ser
suprimidos, sendo em maior número a supressão dos itens do laudo técnico.

A pesquisa do usuário foi composta pela discussão sobre os aspectos: segurança (conjunto,
estrutural, roubo); durabilidade; estanqueidade; conforto ambiental (acústica, higrotérmico);
instalações (elétrica, hidráulica); aparência (interior, exterior); adequação do espaço
(dimensionamento dos cômodos, áreas funcionais, circulação e integração); processo
construtivo (facilidade, prazos, custos); expectativa do usuário (opção pela madeira, avaliação
após uso); e, caracterização do usuário (cultural, econômica, social).

3.2 Aplicação da pesquisa

As pesquisas foram aplicadas na região da grande São Paulo e na área urbana de Atibaia/SP.
Em média gastou-se 40 minutos para aplicar a pesquisa; enquanto o usuário respondia ao
questionário, o técnico preenchia o laudo. As três pesquisas piloto foram incorporadas às
dezenove pesquisas posteriores para serem tabuladas. Das nove pesquisas com os carpinteiros,
cinco foram efetuadas indo nas residências destes em Atibaia e as quatro últimas foram
realizadas na fábrica de Bom Jesus dos Perdões, quando nas segundas-feiras freqüentemente
os montadores procuram se informar sobre os futuros serviços.

3.3 Padrão de referência

Para a elaboração da pesquisas, definiu-se o padrão de referência composto pelos critérios de


avaliação do sistema construtivo com o objetivo de fundamentar as avaliações do laudo
técnico. Desta maneira, os pesquisadores do grupo puderam realizar pesquisas isoladamente
sem comprometer subjetivamente as respostas caso o critérios e parâmetros de análise não
tivessem sido definidos. Foram os estabelecidos quinze itens pela equipe, cada um destes foi
classificado em cinco padrões de referência sendo: ótimo, bom, regular, precário e péssimo.
Exemplificando esta questão, apresenta-se o item Estrutura com seus padrões de referências
estabelecidos:
OTIMO – Paredes portantes com dimensões e resistência mínimas exigidas por norma,
recebendo cargas distribuídas, aplicadas paralelas as fibras. Existência de montantes com
função de fixação e travamento das paredes portantes.
BOM - Paredes portantes com dimensões e resistência mínimas exigidas por norma,
recebendo cargas distribuídas, aplicadas paralelas as fibras. Existência de montantes com
função apenas de fixação das paredes portantes. Travamento da estrutura dado pela
cobertura.
REGULAR – Paredes portantes com dimensões e resistência mínimas exigidas por norma,
recebendo cargas aplicadas perpendiculares as fibras, que não excedam as tensões
máximas estipuladas em norma. Existência de montantes com função de fixação e
travamento das paredes portantes.
PRECÁRIO – Paredes portantes com dimensões abaixo das exigidas por norma, recebendo
cargas aplicadas perpendiculares as fibras, que não excedam as tensões máximas
estipuladas em norma. Existência de montantes com função apenas de fixação das
paredes portantes. Travamento da estrutura dado pela cobertura.
PÉSSIMO – Paredes portantes com dimensões e resistência abaixo das mínimas exigidas por
norma, recebendo cargas perpendiculares as fibras. Travamentos inadequados.
Os itens avaliados no laudo realizado pelo técnico encontram-se especificados no Quadro 01.

3.4 Tabulação dos dados

Anteriormente mencionou-se que a pesquisa foi aplicada junto aos usuários e aos carpinteiros.
O denominado laudo técnico corresponde a avaliação feita pelo técnico sobre as habitações. A
tabulação da pesquisa foi efetuada através de um programa existente da Unidade de
Processamento de Dados da UNESP – Campus de Guaratinguetá. Este programa trabalha os
dados por itens e não por pesquisa, desta forma os dados são apresentados na forma de tabela
onde encontra-se a freqüência das respostas e as correspondentes porcentagens; após, o
intervalo onde pode ser verificada a possibilidade de se obter a resposta em cada item. A
confiança no intervalo é de 90%.

3.5 Síntese dos resultados

Pesquisa com o usuário


O usuário da Empresa pertence a classe média alta, família padrão de 5 pessoas. O comprador
tem mais de 30 anos, sendo a maioria de nível universitário. A tendência é da casa ser de
moradia permanente. Escolheu o sistema por gostar do material, por seu custo mais baixo e
maior rapidez de execução.

Morar em casa de madeira é uma experiência nova para quase todos. Gostam do projeto
padrão, mas quase sempre introduzem pequenas modificações no projeto. Não existe
restrições quanto ao transporte do kit ser feito pelo proprietário e a obra também é tocada pelo
mesmo. A maioria seguiu orientação da Empresa na escolha da mão de obra e gostou. O
custo final da obra é considerado bom. Gostou da aparência da casa. Apresenta restrições
quanto as dimensões da área de serviço e sanitários. Aprovou as distribuições dos ambientes.

Não há tendência de se introduzir modificações na arquitetura após o uso. Existe alguma


preocupação quanto a segurança contra incêndio, mas nenhuma em relação a segurança
estrutural, na qual todos confiam.
As vedações das paredes, quanto a penetração de água de chuva e vento, preocupa uma
significativa parcela dos usuários. Gostam da maneira como é resolvida a questão dos
condutores. A manutenção da pintura e da caixilharia representa preocupação para uma
parcela bem grande dos entrevistados.

Consideram agradável quanto a temperatura no inverno e no verão, a ventilação e a umidade.


Uma parcela razoável considera problemático os ruídos interiores e a pouca iluminação
natural quando os cômodos são envernizados. Em síntese, construiriam outra casa de
madeira no mesmo sistema.

Pesquisa com os carpinteiros


A maioria dos entrevistados apresenta experiência profissional apesar de ter iniciado
construção de casas de madeira na Empresa; estes são treinados e trabalham exclusivamente
para empresa.

O kit foi considerado regular por uma boa parte dos entrevistados, quanto ao transporte,
identificação das peças e manuseio. Acham precário ou regular a estocagem do kit na obra.
Considera boa a qualidade do material do kit.
Os caixilhos não são aprovados por todos. A estrutura é confiável para todos e o sistema
como um todo é tido como durável, mas a execução de reformas e ampliações não é fácil.
Considera fácil a execução principalmente da paredes, entretanto difícil a colocação dos
caixilhos. A montagem de todo o kit é feita em menos de 30 dias para uma área de 100m2.
Todos aprovam o projeto de montagem fornecido pela Empresa.

3.6 Justificativa da avaliação


O Quadro 01 apresenta as avaliações do laudo técnico por item, a seguir as justificativas das
avaliações que foram realizadas a partir do padrão de referência.
Quadro 01 – Avaliações do laudo técnico
Tópicos O B R Pr Pe
01 Fundações
01.1 Terreno plano sem movimento de terra
01.2 Terreno declive ou aclive - movimento de terra
02 Estrutura
03 Estrutura da cobertura
04 Forro
05 Piso interno
06 Piso externo
07 Revestimento interno nas paredes molhadas
08 Esquadrias
09 Instalações elétricas
10 Instalações hidráulicas
10.1 Distribuição de água fria
10.2 Esgoto
11 Segurança contra fogo
12 Durabilidade
13 Estanqueidade
14 Conforto ambiental
14.1 Iluminação
14.2 Ventilação
15 Adequação de espaços Durabilidade
1. Fundações
1.1 – Em função do tipo e intensidade das cargas aplicadas ao solo a sapata corrida é
tecnicamente e economicamente adequada ao sistema, não seja a ser ótimo porque a
execução exagerada de embasamento em alvenaria, perde para o radier que dispensaria o
contrapiso.
2. Estrutura: o desempenho estrutural do sistema construtivo é considerado precária
devido a grande responsabilidade destinada a cobertura como elemento de travamento de
todo o conjunto; um defeito construtivo na cobertura pode comprometer toda a
edificação. Ressalva-se que em termos de resistência a estrutura satisfaz; as tensões
aplicadas às paredes e demais peças estruturais estão dentro dos limites estabelecidos por
norma.
3. Estrutura da cobertura: esta não foi avaliada como ótima porque tem a função de
travamento de todo o sistema construtivo; com ligações cobertura/parede que poderiam
ser melhoradas.
4. Forro: a avaliação levou em conta que a execução do forro depende exclusivamente do
acabamento que a mão de obra lhe dispensa.
5. Piso interno: tendo em vista que os usuários pertencem a uma classe mais privilegiadas
economicamente e culturalmente tendo a adquirir um produto de boa qualidade e exigir
uma boa execução. Não foi considerado ótimo em função da compatibilização dos
serviços complementares e o kit.
6. Piso externo: considerou-se regular devido a maioria das edificações não apresentarem o
calçamento externo dimensionado adequadamente em relação a largura, a altura e a
inclinação para escoar as águas pluviais.
7. Revestimento interno: em função da empresa trabalhar com madeira verde diminuiu as
alternativas para revestimento interno. Os que são executados apresentam defeitos de
acabamento comprometidos devido as pranchas das paredes.
8. Esquadrias: Na maioria das casas elas apresentaram defeitos de funcionamento, tais
como: dificuldade de manipulação, empenamentos, frestas indesejáveis; explica-se
principalmente em função da concepção dos caixilhos.
9. Instalações elétricas: Considerada precária porque os fios estão em contato direto com a
madeira sem qualquer proteção contra incêndio.
10.1 Instalações hidráulicas: A rede de distribuição de água fria não considerou-se ótima em
decorrência de ser predominantemente enterradas e solução para o apoio da caixa d’água
não ser o mais indicado inclusive dificilmente utilizados pelo consumidores.
10.2 Instalações hidráulicas: O esgoto não foi considerado ótimo por uma razão que
independe do próprio sistema, a rede não ser pública.
11. Segurança contra fogo: Principalmente pela concepção dos conduites da rede elétrica,
agravada pela implantação da edificação no lote urbano que não leva em conta os
afastamentos desejáveis para minimizar o risco de propagação do fogo.
12. Durabilidade: Não considerou-se ótima devido o sistema construtivo apresentar pontos
críticos, como o revestimento das paredes dos sanitários que quando ocorrem infiltrações
podem comprometer a durabilidade das pranchas das paredes; nestes casos dificilmente
podem ser detectados os problemas.
13. Estanqueidade: A opção por madeira verde acarreta a necessidade de deixar frestas para
a acomodação do sistema ente paredes/cobertura e paredes/caixilhos, e a própria secagem
das pranchas de forma não homogênea e temporal dificulta o encaixe entre as mesmas.
Esses problemas se somam os defeitos provenientes da concepção dos caixilhos.
14. Conforto ambiental
14.1 Iluminação: A maioria das residências não utilizam pintura interna o que dificulta a
reflexão da luz.
14.2 Ventilação: Concepção inadequada do caixilho.
15. Adequação dos espaços: Não considerou-se ótima devido a superposição de funções,
mas que não são conflitantes. De maneira geral, acaba agradando o consumidor porque
introduz pequenas modificações às tipologias disponíveis.

Os itens insolação, conforto térmico e acústico não foram mencionados no padrão de


deferência em função de:
a) falta de formação dos técnicos envolvidos para formular critérios de avaliação de
desempenho térmico, acústico e de insolação;
b) falta de conhecimento do manuseio de equipamento específico para a leitura das
medições;
c) falta de disponibilidade de equipamento suficiente para os técnicos efetuarem as leituras,
simultaneamente tendo em vista a proposta de divisão de trabalho; e,
d) não estava dentro das preocupações fundamentais do trabalho, um aprofundamento
técnico destas questões, apenas consideram-se a avaliação do usuário.

4. SEGUNDA PESQUISA – 2000

A segunda pesquisa teve como objetivo verificar as condições atuais de uso destas habitações.
Infelizmente, foi possível aplicar os questionário em apenas vinte e cinco porcento das
residências anteriormente analisadas; entretanto, acredita-se que a pesquisa tem seus méritos
pois expõe uma metodologia cada vez mais utilizada para avaliar edificações em condições
de uso.

4.1 Pesquisas aplicadas

Nesta fase do trabalho, foram aplicados os questionários do usuário e do técnico – laudo


técnico. Para tal, foi necessário adaptar os questionários originais, pois alguns itens como o
que questiona sobre a etapa de construção, não tinha mais sentido realizá-lo.
O questionário do usuário ficou restrito aos itens: identificação e caracterização da edificação;
aparência e adequação espacial; análise da residência quanto segurança, vedações,
durabilidade, instalações, manutenção e conservação; conforto ambiental; expectativa do
usuário e sua caracterização. O laudo técnico não sofreu modificação significativa.

4.2 Resultados da pesquisa


Das informações obtidas, destacam-se aquelas que tanto na primeira pesquisa como na atual,
foram evidenciadas pelos usuários e pelos técnicos:

Laudo técnico
• A verticalidade das paredes apesar de ser considerada boa na maioria das edificações,
apresenta-se em alguns casos regular.
• A quantidade do material não chegou a ser ótimo na maioria das edificações, ficando entre
bom e regular. O mesmo acontece com o material de forro.
• A estrutura da cobertura não apresenta deformações visíveis em grande parte das
edificações, sendo que há uma parcela onde estas deformações foram detectadas. O
madeirame usado na cobertura é considerado bom na maioria dos casos. Não existindo
materiais precários ou péssimos.
• A impermeabilização da fundação e do contrapiso é boa. Nas edificações onde o piso
interno é de madeira este foi considerado bom, já no caso de pisos cerâmicos há uma
parcela que foi considerado regular. O calçamento externo apresenta-se bom na maioria
das edificações, entretanto há uma parcela não desprezível com calçamentos regulares.
• Metade das edificações não apresenta qualquer revestimento na cozinha ou sanitários; onde
eles existem foram considerados entre regular e bom.
• Quanto a pintura em verniz nas paredes internas, foram consideradas entre bom e regular.
A pintura em óleo ou esmalte em aproximadamente metade da residência foi considerada
regular. Quanto a pintura externa em verniz a maioria é regular; e uma parcela (~5%)
péssima.
• A maioria das esquadrias de janelas ou portas apresentou-se entre precário e regular.
• A instalação elétrica é considerada boa em relação a quantidade de distribuição dos pontos
de luz, interruptores e tomadas. Os conduites (canaletas de madeira) da instalação elétrica
dividem-se entre bom e regular.
• A proteção das tubulações de hidráulica foi considerada boa na maioria dos casos.
• De um modo geral, as instalações hidráulicas foram consideradas boas.

Pesquisa com o usuário


A. Funcionalidade
• A grande maioria aprova bem a aparência exterior e interior da casa; consideram as
dimensões dos quartos, sala e varanda entre boa e ótima. As dimensões dos sanitários são
aprovados por uma parcela menor. Neste item, uma pequena parcela considera precário e
regular. Quanto a dimensão da área de serviço, a aprovação é bem menor; sendo que uma
parcela significativa, considera entre precário e péssimo.
• Em termos globais de dimensionamento a aprovação é quase unânime. A distribuição dos
ambientes é aprovada por todos.
• A maioria não introduziu modificação na arquitetura após o uso. Quanto a possibilidade de
reformas e ampliação, a maioria aprova o sistema; sendo que parcela significativa
considerou regular e menos de 10% considerou entre péssimo e precário.

B. Técnico
• Não existe unanimidade quanto a segurança contra o roubo; as respostas são eqüitativas
nas avaliações. Quanto a segurança contra incêndio mais da metade considera regular. É
unanime a aprovação em relação a segurança estrutural.
• É quase unanime a aprovação contra chuva e vento, tanto na cobertura como no piso. As
vedações das paredes é considerada regular, por uma parcela significativa dos usuários.
• Todos consideram entre bom e ótima a durabilidade dos materiais que compõem a parede e
a cobertura.
• A iluminação artificial também é aprovada pela maioria, sendo que uma parcela
considerou regular e alguns poucos, consideraram-na péssima.
• Quanto a manutenção da pintura, apesar da maioria tê-la aprovada, uma parcela
significativa a considera regular.
• O funcionamento da caixilharia não tem aprovação, sendo que quase a metade a considera
entre precária e regular.
C. Comportamental
• A aprovação é unanime quanto a ventilação interna.
• Os aspectos que menos agradam os usuários são em ordem de: tipo de acabamento, pouca
luminosidade, ruídos internos e tamanhos de alguns cômodos.
• Os aspectos que mais agradam os usuários correspondem: conforto ambiental, aparência
estética e disposição dos ambientes. É interessante notar que a porcentagem (13,6%) dos
que acham desagradável o tamanho dos cômodos é exatamente a mesma dos que considera
este item um dos mais agradáveis.
• A grande maioria (90,9%) teve suas expectativas correspondidas tanto quanto ao sistema
como ao material, ninguém considerou precário ou péssimo; estes construiriam outra casa
de madeira no mesmo sistema.

5. CONCLUSÕES DAS AVALIAÇÕES PÓS-USO


5.1 Tipologia construtiva
Em termos de resistência, a estrutura da edificação é satisfatória. Seria recomendável que se
estudasse maneiras de se estabilizar as paredes independentemente da estrutura da cobertura.
Caso seja inviável esta alternativa, sugere-se que as ligações dos elementos que formam a
estrutura da cobertura sejam melhor projetados, tais como o uso de parafusos ou conectores.
Cuidados especiais devem ser dispensados à questão dos revestimentos das áreas molhadas
procurando evitar infiltrações nestes que possam a vir comprometer o madeirame.
As esquadrias representam um ponto crítico do sistema construtivo e seu projeto deverá ser
repensado para atender a maior flexibilidade nas soluções de ventilação e iluminação, como
também dotá-las de maior rigidez estrutural. No manual de construção deverá ser
recomendado a utilização de conduites e não simplesmente os espaçadores de fiação.

Ao comprador deverá ser dada a opção de definir as dimensões da caixa d’água de forma a
satisfazer as suas necessidades; o sistema impõe apenas uma opção que freqüentemente é
insuficiente. A locação e apoio estrutural da caixa d’água deverá ser melhor estudado.

Quando em lotes urbanos a Empresa deveria sugerir aos proprietários afastamentos adequados
das edificações vizinhas de forma a evitar a propagação do fogo; tendo em vista que os
Códigos Municipais são omissos à estas questões. A qualidade do produto final, em parte,
está muito dependente da habilidade e cuidado construtivo dispensado pela mão de obra
contratada e assim como depende do comportamento do material (madeira verde) em função
de fatores climáticos nem sempre previsíveis.

5.2 Tipologia espacial

As tipologias propostas pela empresa atendem satisfatoriamente as necessidades dos usuários,


com execução das dimensões da área de serviço que para as residências permanente estão
aquém das desejáveis.

5.3 Conforto ambiental


Em relação ao conforto ambiental dois itens devem ser salientados, o primeiro corresponde
aos ruídos internos dos ambientes, já que as paredes de madeira não apresentam boa isolação
acústica. A solução deste problema apresenta-se difícil pois qualquer tratamento acústico a ser
dado as paredes ou forro, fica sujeito as movimentações oriundas do processo de secagem, in
loco, do material.
O segundo item diz respeito a questão da iluminação dos ambientes, prejudicado pela cor
natural da madeira. Embora o manual de construção recomende a utilização de pintura
completa pelo menos em uma das paredes dos ambientes; esta solução é pouco utilizada pelos
usuários.

5.4 Expectativa do usuário em relação ao sistema construtivo


Os usuários normalmente pesquisam no mercado dos sistemas construtivos em madeira
disponíveis, portanto quando optam por um, conhecem bem o produto e serviços que irão
receber.
De maneira geral ficam satisfeitos com o relacionamento mantido com o fornecedor
entretanto lhes desagradam os efeitos decorrentes da utilização da madeira verde tais como
ruídos, frestas remanescentes, dá não perfeita acomodação durante o processo de secagem da
madeira, o que acarreta a necessidade de manutenção a posteriori que é considerada bastante
desagradável, podendo lhes gerar custos extras.

A maior motivação pela escolha do sistema se dá pela grande afinidade que o usuário tem
com o material ; isto faz com que este relegue ao segundo plano os inconvenientes do sistema
construtivo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEXANDER, C. et ali Un lenguaje de patrones. Barcelona, Editorial Gustavo Gili S.A.,
1980.
BITTENCOURT, R.M. ; REBELLO, Y.C. P. Avaliação pós-uso sistema construtivo em
madeira. Caso específico: CASEMA (Trabalho na disciplina AUT.805 – Avaliação pós-
uso das edificações, apresentado em julho/89)
MANUAL DA CASEMA Publicação da CASEMA Ind. e Comércio, 1989. (O trabalho
somente foi possível pois contou com a colaboração da diretoria e departamento técnico
da Casema, seja na época da primeira pesquisa como atualmente).
ORNSTEIN, S. W. Avaliação pós-ocupação (APO) como metodologia de Projeto. In:
Sinopses 9. São Paulo, FAU-USP, 1986, p.261 – 266.
______________ e outros. Um modelo de análise do processo produtivo da habitação auto
construído – O caso do Promorar do Jardim São Luiz. São Paulo, 1985 (trabalho
realizado a nível de pós-graduação, sob orientação do Prof. Dr. Ualfrido Del Carlo).
______________. A avaliação da habitação auto-gerida no Terceiro Mundo. São Paulo, 1988
(Tese de Doutorado, FAU-USP).
PICARELLI, M. Alternativas Tecnológicas: Sistemas Construtivos. In: Sinopses 4. São
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PREISER, W. F. E.; RABINOWITZ, H. Z.; WHITE, E. T. Post-Occupancy Evaluation.
New York, Van Nostrand Reinhold Company Inc., 1987.
ROMERO, M. A. Avaliação pós-ocupação (APO) – Conjunto Habitacional de Vila Nova
Cachoeirinha. São Paulo (trabalho realizado para disciplina de pós-graduação FAU-
USP, sob a orientação do Prof. Dr. Ualfrido Del Carlo).

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