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CAPÍTULO 10

Autonomismo Marxista, Movimentos Sociais e


Educação Popular por Steve Wright

Steve Wright

Fonte: Fotografia por Ginevra Wright.

Steve Wright vive em Melbourne com sua parceira Rosa,os filhos Ginevra e Sean,
gato Tiger e cadela Bonnie. Ele trabalha na Caulfield School of Information Technology
[Faculdade Caulfield de Tecnologia da Informação] na Universidade de Monash, onde
leciona gerenciamento da informação. Seu primeiro livro Storming Heaven (2002) é
uma introdução ao operaísmo italiano, e seus interesses de pesquisa atuais são a
criação e utilização de documentos em movimentos sociais radicais.
Neste capítulo o Dr. Steve Wright, o acadêmico Marxista australiano,
desenvolve os temas que ele discutiu em seu livro Storming Heaven (2002),
relacionando a teoria italiana Autonomista/Operaísta e a influência dos
movimentos sociais na Itália a questões de educação popular. Ao fazer
referência ao que ele vê como contribuições distintas de autores como Antonio
Negri, Sergio Bologna e Mario Tronti, Steve discute a relação entre os Centros
Sociais italianos e as tradições associadas à pedagogia crítica e educação
popular. Steve foi entrevistado por Stephen Cowden em Londres, em novembro
de 2008.

SC: Steve, eu gostaria de começar perguntando sobre seu livro Storming


Heaven (Pluto Press, 2002). Esse foi um livro que buscou mostrar um amplo
contorno da tradição italiana operaísta, também conhecida como Marxismo
Autonomista para o público falante de língua inglesa. Esse foi um interesse que
você desenvolveu juntamente com seu ativismo político e trabalho em
Melbourne, na Austrália. Dentro da tradição operaísta italiana, o que chamou
sua atenção sob a luz de outras correntes políticas marxistas de esquerda que
estavam disponíveis em Melbourne nos anos 70 e 80?

SW: Há trinta anos atrás, enquanto eu estudava história e política na


graduação, eu me identifiquei com uma tradição conhecida como 'conselhismo';
um movimento político que se baseia na ideia da auto-organização do local de
trabalho, ao invés de sindicatos ou partidos políticos, como base para uma
transformação social radical. O que me chamou atenção sobre esse tipo de
Marxismo foi o fato de ele ser o movimento que levou mais a sério a noção de
que os trabalhadores precisavam de emancipação, e ninguém mais poderia
ajudá-los. Na verdade, eu passei de anarquista a conselhista precisamente
porque parecia haver uma continuidade em muitas das perspectivas políticas
dentro do conselhismo, e o conselhismo tinha uma crítica política e econômica
que pareceu muito superior a qualquer coisa que eu tenha encontrado dentro
do anarquismo àquele ponto.

Mas eu também nutria uma ambição provavelmente não-tão-secreta


como um estudante de graduação de me tornar um historiador da classe
trabalhadora australiana. Eu realmente queria entender a classe política de
onde eu vivia – de onde ela vinha e para onde iria – então eu estava buscando
diferentes estruturas que poderiam me ajudar a entender o que ocorria na
Austrália em termos de política de classe. De alguma maneira, eu me deparei
com alguns escritos de Sergio Bologna e de outras pessoas sobre os ciclos de
luta na Europa e nos Estados Unidos durante o primeiro terço do século
passado.

SC: Sergio Bologna foi um teórico importante do movimento operaísta italiano.


SW: Sim, ele é um dos mais proeminentes e influentes dos que continua a
escrever, atualmente ele escreve menos sobre historia, apesar de ainda falar
sobre pesquisa histórica. Eu descobri um trabalho que ele escreveu em 1967
sobre o movimento conselhista na Europa que também falava sobre os
Trabalhadores Industriais do Mundo (IWW) nos Estados Unidos. Bologna foi
um dos primeiros operaístas a aplicar a categoria de composição de classe
com mais detalhes, e eu fiquei intrigado com o trabalho que ele havia feito. E
também porque na Austrália o IWW havia sido muito importante, e me fez
pensar se seria possível tornar esse trabalho relevante na Austrália.

Não muito tempo depois, comecei a encontrar escritos em inglês sobre o


que estava acontecendo na Itália na época, e descobri que pessoas como
Sergio Bologna não estavam escrevendo apenas peças históricas
interessantes, mas também eram politicamente ativas e estavam envolvidas
em uma série de movimentos. Eu decidi que tinha que tentar entender tudo
aquilo caso eu realmente quisesse ser um historiador – e então me vi tão
imerso naquilo que nunca mais consegui sair. Então eu nunca consegui
escrever muito sobre a história da classe trabalhadora da Austrália, apesar de
esperar que ela esteja mudando cada vez mais nos próximos anos.

SC: Você mencionou que o que o atraiu à tradição da classe trabalhadora


italiana foi a noção de que a classe trabalhadora deve se libertar. O que para
mim se parece muito com a ideia central do trabalho de Marx – você poderia
dizer porque essa é uma ideia tão importante?

SW: Essa ideia realmente diz respeito à relação entre pedagogia e atividade
política. Fiquei fascinado por ela quando descobri que alguns dos conselhistas
originais, como Otto Rühle (1874 – 1943), haviam sido educacionalistas. Muitas
das questões sobre as diferentes maneiras de aprender são paralelas ao
engajamento político, de maneira que em um extremo há a transmissão da
teoria do conhecimento, que talvez você conheça como Educação Bancária no
trabalho de Paulo Freire, onde o educador ou especialista detém todo o
conhecimento e de alguma maneira o compartilha com o aluno ou as vezes
não, e cria todos os tipos de problemas, especialmente ao manter uma relação
autoritária que reproduza a dependência. Mas também há tipos diferentes de
práticas educacionais, por exemplo, a noção de andaime e as maneiras pelas
quais se aceita que uma das partes saiba menos que a outra, mas que juntas
talvez aqueles que saibam mais no início possam apoiar a outra parte para que
ela possa aprender também – e até mesmo no processo de que ambas as
partes possam aprender, que como você disse, talvez seja algo central no
trabalho de Marx. E eu acho que os dois lados da atividade política e da
educação podem ser ligados parcialmente naquela noção de antecipação – a
classe trabalhadora somente pode ser o trabalho da própria classe
trabalhadora – juntamente à ideia geral de sobre como o educador deve ser
educado.
Eu nunca simpatizei com os tipos de esquerdismos comuns no final dos
anos 70 e no início dos anos 80 quando nos encontramos em Melbourne, os
que eram formas diferentes de Leninismo. Eles sempre implicaram em que
havia um pequeno grupo de pessoas detentores de algum tipo de verdade
revelada, as que sabiam mais que todos os outros, e então desde o início
estava implícito que os trabalhadores deveriam ser guiados, e que se algum
conhecimento fosse criado, o mesmo deveria mover-se em uma direção, do
especialista para o principiante. O principiante era sempre o trabalhador e o
especialista era sempre o político, e eu achava que isso era um problema.

SC: Uma das coisas sobre as quais você escreveu e discutiu em seu trabalho é
o movimento dos centros sociais italianos. Você poderia dizer algo sobre a
relação deles com o operaísmo, bem como sobre seu papel no ativismo político
e na educação política – o que estamos descrevendo como pedagogia?

SW: Não tenho tanta certeza o quanto os centros sociais são conhecidos na
Itália, mas há espaços semelhantes também na Espanha e na Alemanha, na
Holanda, Dinamarca e Estados Unidos, e até mesmo na Austrália
ocasionalmente. Na segunda metade da década de 70 havia novas gerações
de jovens, especialmente nas cidades italianas, que se frustraram com as
políticas leninistas que encontraram. Eles também encontraram o movimento
feminista que influenciou suas políticas. O que era interessante é que muitos
jovens então deixaram os principais grupos de extrema Esquerda, mas ao
invés de simplesmente deixar a política, o que muitas vezes ocorria de onde eu
venho, eles decidiram continuar trabalhando com seus amigos fora das
estruturas formais da extrema Esquerda. E, em geral, no processo eles
passavam a utilizar prédios abandonados em seus bairros como base para se
reunir com amigos, socializar, mas também tentar engajar a comunidade local
ou utilizar o espaço como base para campanhas políticas.

SC: Você poderia dar alguns exemplos dos tipos de campanha políticas que
foram geridas por alguns dos centros sociais?

SW: Em Veneza alguns dos locais ocupados ou invadidos também envolviam


trabalhadores petroquímicos das grandes usinas próximas ao porto da cidade.
Havia campanhas nos bairros para barrar os aumentos nas contas de serviços
de utilidade pública, aumentos nas taxas de eletricidade e gás. Aquele foi um
movimento que na verdade antecedeu os centros sociais, porém eles
permaneceram até a segunda metade da década de 70. Caso o preço da
eletricidade subisse eles se recusariam a pagar o aumento, e de vizinhança em
vizinhança as pessoas se organizariam para entregar as contas pagando o
preço antigo, e as vezes eles até diziam 'Vamos pagar o mesmo que os
empregadores', que chegava a um terço ou um quarto do que as residências
pagavam.
Havia campanhas para encontrar lugares para as pessoas morarem,
uma vez que moradia era um problema sério. Blocos inteiros de apartamentos
eram ocupados ilegalmente, e muitas vezes geridos pelos centros sociais.
Também havia campanhas contra a heroína e o tráfico de heroína, ao ponto de
as pessoas saírem e lidarem diretamente com os traficantes de heroína
também.

SC: O último tipo de atitude mencionado talvez estivesse associado ao


ativismo vigilante de direita na Inglaterra.

SW: No final dos anos 70, ao menos entre os movimentos de extrema


Esquerda, vender heroína era uma atividade muitas vezes ligada a alguns dos
grupos fascistas. Portanto, lutar contra os traficantes de heroína também
significava confrontar partes da extrema Direita, pois argumentava-se que a
heroína estava deliberadamente sendo disseminada entre as comunidades da
classe trabalhadora como uma forma de tentar romper com as comunidades
que estavam sendo formadas.

De qualquer modo, o movimento dos anos 70 foi esmagado no final


daquela década, e milhares de pessoas terminaram na cadeia. A maior parte
da extrema esquerda havia entrado em colapso de muitas formas naquele
ponto, e as campanhas nos locais de trabalho haviam quase desaparecido.
Aparentemente só restaram os centros sociais, eles tenderam ou para o
autonomismo ou para o anarquismo: também havia outros tipos de culturas
naquele contexto, mas essas duas eram as mais comuns. Durante uma boa
parte dos anos 80, muitos dos centros sociais recuaram e tornaram-se
pequenos guetos. O lado positivo disso era que eles mantiveram certos tipos
de comunidades que eram capazes de se ligar umas às outras e engajar em
campanhas contra, por exemplo, a construção de usinas nucleares, o que era
uma grande campanha nos anos 80.

Quando as coisas realmente começaram a revolver em outras partes da


sociedade italiana na segunda metade da década de 80, não foi fácil para
alguns dos centros sociais relacionarem-se a essas mudanças. Somente no
início dos anos 90, quando houve um novo movimento nas universidades, os
centros sociais enfim começaram a encontrar vida nova e mais e mais centros
foram estabelecidos.

Hoje, os centros sociais italianos parecem estar em crise novamente,


mas certamente, em meados dos anos 90 houve uma vitalidade real, cerca de
150 deles em todo o país. Então eles ofereceram um espaço no qual grupos
musicais que não encontravam espaço em outros locais poderiam conseguir
público. Na Itália então, os centros sociais eram os únicos lugares onde certos
tipos de música alternativa, de música industrial a hip-hop, poderia encontrar
espaço, de forma que as bandas mais conhecidas da Itália dos anos 90, na
verdade, surgiram e se identificaram explicitamente com os centros sociais.
SC: A ligação entre ativismo político, educação política e cultura é muito
importante aqui.

SW: Houve um escritor italiano, que infelizmente morreu há cerca de 10 anos,


Primo Moroni. Ele foi um grande ativista da política operaísta durante todo esse
período, e ele era muito associado a esse centro específico em Milão. Ele foi
um dos autores que mais escreveu e pensou sobre o que era característico nos
muitos centros sociais italianos. Ele afirmava que em sua melhor forma, os
centros poderiam unir as pessoas abertamente politizadas a uma rede de
trabalho mais contra-cultural, e que quando os centros sociais trabalhavam
muito bem, eles na verdade, combinavam essas duas experiências. Embora,
como ele também apontou, o mais comum era que ambas situações co-
existissem – não necessariamente com tanta facilidade – com um elemento
tipicamente dominante. Moroni afirmou que em retrospecto, é possível notar
como os movimentos de contra-cultura na Itália da primeira metade dos anos
60 anteciparam o aumento da política no final dos anos 60. Ele também sugeriu
que valia explorar essa relação nas sociedades contemporâneas, e que em
geral os movimentos de contra-cultura que não parecem ser abertamente
políticos da maneira como tendemos a definir a palavra, podem na verdade ser
precursores de algo novo.
SC: Que tipo de razões Moroni ofereceu para explicar porque aqueles
movimentos de contra-cultura podem prever movimentos abertamente
políticos?
SW: No sentido de serem transgressores, de tentar desafiar os ritmos diários
nos quais nos encontramos. Na Itália dos anos 60, os ‘beats’ eram uma
pequena minoria de pessoas que queriam de alguma forma viver de uma
maneira diferente, de modo que carregassem uma crítica implícita ao que era
visto como normal na sociedade capitalista. Ao ponto de tais círculos
encontrarem um público e poderem engajar outras pessoas, isso sugeriu que
deveria haver uma preocupação maior sobre a rotina aparentemente normal e
aceitável. Talvez houvesse correntes subversivas onde mais e mais pessoas
estivessem insatisfeitas com suas vidas, e ainda não conhecessem uma saída
para essa insatisfação. Não quero trabalhar esse ponto, mas de todas as
pessoas no movimento operaísta, Moroni é um dos mais interessantes e
importantes, e seus trabalhos quase nunca aparecem em inglês. [Steve
escreveu mais detalhadamente sobre Primo Moroni, e está disponível em
<http://libcom.org/history/cattivi-maestri-some-reflections-legacy-guido-
bianchini-luciano-ferrari-bravo-primo-moro>].
SC: Em se tratando do atual estado da corrente operaísta italiana, por que
você acha que há um interesse renovado entre os trabalhos de pessoas como
Toni Negri? Pergunto isso devido a influência do livro Império (2001) que Negri
escreveu com Michael Hardt e que foi muito bem recebido entre ativistas do
movimento anti-globalização. Isso significou que Negri tornou-se uma figura
bem conhecida entre os falantes de língua inglesa. Isso sugere que há algo no
operaísmo italiano atual que precisa ser ou que está sendo re-descoberto?
SW: O que é mais surpreendente para mim sobre a descoberta de pessoas
como Negri é que elas fizeram parte do movimento operaísta e autonomista
dos anos 60 e 70, porém quando começou haver um maior interesse em seus
trabalhos, especialmente nos países de língua inglesa, eles viram seu trabalho
ganhar mais notoriedade do que 20 anos antes. O trabalho deles tem gerado
um certo fascínio e eu acredito que uma das razões é que ele se encaixa bem
em um tipo de ativismo que, no lugar de usar um partido tradicional, procura
desenvolver redes, por exemplo. Mas ao mesmo tempo eu suspeito que haja
muito pouco interesse, especialmente nos países de língua inglesa, sobre a
origem de pessoas como o Negri. Isso é diferente da situação presente na Itália
onde há um ressurgimento do interesse no movimento operaísta dos anos 60;
pessoas na Itália estão publicando livros sobre o assunto agora, supondo que
eles irão recuperar os custos da produção, então há uma crença de haja algum
tipo de mercado lá.
Alguns italianos me perguntaram como se explica o modo com que
Império se mostrou um sucesso no início da década. Não que eles achem que
o livro não tenha valor, mas o que eles não compreendem são os motivos para
tanta influência nos países de língua inglesa: de repente todas as pessoas
pareciam estar carregando ele por aí.
SC: Eu achei muito curioso na verdade, pois Negri era muito influente nos anos
60 e 70, e então ele pareceu ter desaparecido sem deixar rastros – ele ficou na
prisão por bastante tempo. Ele saiu da prisão e pareceu falar por um momento
específico. Em um momento em que eu acho que as pessoas da Esquerda
sentiam-se muito desmoralizadas, ele pareceu ser uma figura muito
inspiradora.
Talvez por falar sobre classe de uma maneira nova e que apelasse para
pessoas que talvez – com certeza na Grã-Bretanha – fossem comprometidas
com definições de classe e identidade de classe muito tradicionais, após a
derrota dos mineiros e dos trabalhadores de imprensa em meados dos anos
80. Muitas pessoas pensaram que uma linguagem tradicional de classe que
vinha do socialismo britânico não era mais de grande relevância, e
possivelmente Negri era alguém capaz de falar com aquele momento novo. O
lado negativo é que Negri não é tão bom em definir os projetos políticos atuais
e coisas reais.
Voltando à ideia de Marx de que a libertação da classe trabalhadora tem
que ser alcançada pela própria classe trabalhadora, você acha que essa
corrente libertária, também presente no trabalho de Negri, poderia ser uma
alternativa às tradições Trabalhistas do socialismo na Grã-Bretanha que são
muito descendentes?
SW: Se você observar as experiências dos próprios operaístas, você vai
descobrir que há uma tensão constante entre aquela ênfase libertária sobre
auto-organização, e então momentos em sua prática política nos quais muitos
deles ficam tão frustrados que quando os trabalhadores se movem, eles não se
movem na direção em que deveriam. Sempre houve tentativas por parte de
alguns dos operaístas de tentar e forçar as coisas, empurrá-las, e sempre
houve então um retorno para algum tipo de Leninismo.
Todavia a tradição operaísta em sua melhor forma nos anos 60 e 70 – e
aqui ela teve influência sobre algum ativismo político contemporâneo também –
envolve ideias que tiraram de algumas outras pessoas próximas a eles, como
Danilo Montaldi, que surgiram com a noção daquilo que eles chamam de co-
pesquisa. Em outras palavras, que o conhecimento da situação, na qual
trabalhadores se encontram é algo que pode ser desenvolvido por
trabalhadores e outros que querem trabalhar junto com eles politicamente.
Esse é um projeto político, mas ao mesmo tempo é uma forma de auto-
educação coletiva. Em sua melhor forma, o operaísmo é fruto de muita co-
pesquisa, e por vezes análises muito detalhadas feitas por trabalhadores sobre
os tipos de situação nas quais eles se encontram, e tentando identificar os
modos com os quais eles podem superar as divisões a eles impostas no local
de trabalho e na comunidade.
SC: Eu gostaria de mencionar um artigo em particular, 'Conricerca as political
action' escrito por Guido Borio, Francesca Pozzi e Gigi Roggero, que aparece
em um livro chamado Utopian Pedagogy (2007). Os autores desse artigo
levantam uma série de questões importantes sobre o que eles chamam de
'contra-subjetividade'; isso significa que a pesquisa não é simplesmente sobre
descobrir o que as pessoas estão pensando, sentindo e fazendo, mas observar
o modo como a vida das pessoas é localizada de modo ambivalente – no
mundo, mas também contra ele.
SW: Aqueles autores também são interessantes pois em 2002 produziram o
primeiro livro italiano sério sobre o operaísmo dos anos 60 e 70. Eles
entrevistaram dezenas de pessoas que participaram daquele movimento, ou se
envolveram em outras partes da Esquerda e quiseram oferecer suas próprias
perspectivas do operaísmo também. O que também foi importante sobre Borio,
Pozzo e Roggero é que eles foram ativos nos centros sociais, de forma que o
artigo pode ser visto como o que de melhor o movimento produziu na Itália.
Alguns dos centros sociais foram muito inovadores na política cultural que eles
tentaram gerar, enquanto que outros se preocuparam mais em preservar algo
dos últimos ciclos de lutas.
SC: Esses autores criticam um tipo de retórica de classe na qual as pessoas da
classe trabalhadora são heróicas e sacrificam tudo e sempre se empenham em
lutas muito significativas. Eles argumentam que é necessário deixar de lado o
que era visto como mitologia socialista-comunista da classe trabalhadora, e
tentaram investigar o que os trabalhadores estavam realmente pensando,
sentindo e fazendo. Essa questão está ligada à tradição da pedagogia radical
de Marx – a ideia que movimentos políticos tratam da auto-emancipação das
pessoas, que elas chegam a uma compreensão por si próprias. Isso me leva a
questão do papel do ativista político, que obviamente é importante.
Uma das ideias com as quais sempre simpatizei em termos de
pedagogia radical/pedagogia crítica é a noção de intelectuais orgânicos de
Antonio Gramsci. Porém eu entendo que dentro da tradição operaísta italiana,
Gramsci não apareceu como uma figura positiva.
SW: Os operaístas tinham uma relação muito peculiar com Gramsci, que havia
sido virtualmente glorificado dentro da cultura comunista italiana após a
Segunda Guerra Mundial. Mas a leitura específica de Gramsci que foi
dominante dentro do partido comunista italiano durante os anos 50 era sobre
uma figura que esperava por uma estrada nacional-popular para uma nova
sociedade. Era precisamente o tipo de noção que os operaístas mais
criticavam, pois o que ele queriam enfatizar certamente não era o que Gramsci
e outros haviam chamado de a questão sulista – o aparente retrocesso do sul
do país quando tanta militância tradicional da Esquerda estava concentrada no
norte, até mesmo no interior. O que os operaístas disseram, de modo atrevido,
foi 'queremos explorar a questão do norte', o que é a formação de uma classe
trabalhadora industrial e suas práticas. E particularmente nos anos 50, a nova
classe trabalhadora industrial, que havia migrado do sul em busca de trabalho,
e que o partido comunista italiano e o partido socialista italiano, e os sindicatos
associados a eles tinham muita dificuldade em tentar entender.
No primeiro momento, os operaístas não deram as costas a Gramsci por
ele ser Gramsci, mas devido a uma interpretação particular de seus escritos.
Mas ao invés de tentar salvá-lo, eles quiseram começar do zero e fazer algo
novo. Apenas nos anos 70 alguns dos operaístas perceberam que eles talvez
tivessem se precipitado ao descartar Gramsci completamente, e
reconsideraram alguns de seus trabalhos no que dizia respeito aos conselhos
de fábricas que apareceram após a Primeira Guerra Mundial. Esse é um tipo
diferente de Gramsci daquele enfatizado pelo partido comunista, o Gramsci do
final dos anos 20 e início dos anos 30 que estava pensando sobre qual
mudança radical poderia ser significativa dentro do contexto nacional da Itália.
Então parte dos escritos de Gramsci foi rejeitada devido à maneira com a qual
era utilizada, e não havia leitura semelhante sobre Marx por parte do partido
comunista ou do partido socialista, desde que, embora, todos na Esquerda,
salvo os anarquistas, se disseram Marxistas, pouco se leu de Marx na Itália
durante o final dos anos 50 e início dos anos 60.
Os operaístas não eram os únicos, mas estavam entre os primeiros no
período pós guerra na Itália a tentar seriamente a ler Marx, além de O Capital.
Eles descobriram que certos elementos no trabalho de Marx condiziam com o
que eles estavam vendo nas novas fábricas e com a introdução dos processos
de produção de massa que estavam sendo introduzidos nas fábricas naquela
época. Finalmente, existiam categorias Gramscianas – acima de todos aqueles
intelectuais orgânicos – que os operaístas viam com ceticismo, uma vez que
eles viam tais figuras como orgânicas apenas para o partido comunista, como
os selos intelectuais treinados do partido comunista. Eles não eram mais
intelectuais orgânicos como os descritos por Gramsci: eles não eram orgânicos
para a classe trabalhadora em si: eles eram funcionários, remunerados ou não,
lá para justificar e aumentar e glorificar o que o partido e sua burocracia
significavam.
SC: Enquanto o termo intelectuais orgânicos é entendido no contexto britânico
como ativistas pioneiros que articulam um trabalho específico, em geral, não
ligados a um caminho político.
SW: Nesse sentido, os operaístas estavam com certeza tentando se engajar
àquelas pessoas, porém não estavam pensando neles em termos
Gramscianos, porque certos ou errados, eles pensavam que não era possível
libertar Gramsci de uma estrutura nacional-popular.
SC: Outro ponto da sua fala é o modo com que os operaístas italianos
tentaram ler Marx novamente, de uma maneira diferente. Quais eram os temas
específicos vistos por eles em O Capital de Marx, especificamente no que diz
respeito ao que eles chamaram de massa trabalhadora: o trabalhador que
havia migrado do sul da Itália, menos desenvolvido economicamente, para o
norte entrando nas fábricas de lá nos anos 60 e 70?
SW: Esse termo, 'trabalhador de massa' descreve um trabalhador que
tipicamente encontrava-se trabalhando em linhas de produção, envolvidos com
um trabalho pelo qual não nutriam amor ou conexão. Desse encontro os
operaístas começaram a desenvolver categorias novas, afirmando que lutar
contra a forma com a qual o trabalho é organizado, e tentar reduzir a
quantidade de trabalho, e ter mais dinheiro e tempo para aproveitar a vida,
como oposição ao trabalho, e trabalhar menos intensamente são fundamentais
para a luta por uma sociedade melhor.
Em termos do Volume 1 de O Capital, eles estavam particularmente
interessados em como Marx entende o modo pelo qual no local de trabalho o
capital tenta subordinar os trabalhadores ao maquinário, e como a criatividade
dos trabalhadores – especialmente em um contexto de linha de montagem – é
colocada de lado e subordinada ao modo como o trabalho em si é organizado,
de modo que as pessoas, literalmente, tornam-se dentes da engrenagem ou
amortecedores dentro de um sistema.
Alguém com uma influência muito grande entre os operaístas, com quem
eles trabalharam no final dos anos 50 e início dos 60, foi outro italiano chamado
Raniero Panzieri. Panzieri prolonga a noção em Marx de que a ciência e a
tecnologia não são tão dominantes quanto o Marxismo as trata, elas são
apenas ferramentas neutras que qualquer um pode utilizar. Ele afirmou que
elas eram estampadas pela sociedade na qual se desenvolveram, e dessa
maneira, em uma sociedade capitalista elas deveriam ser vistas como algo
infundido nos valores e nas práticas capitalistas.
Por exemplo, uma linha de montagem não poderia simplesmente ser
dominada e utilizada de uma maneira nova, anti-capitalista. A tecnologia em si
deveria ser considerada um produto social, e as implicações daquilo deveriam
ser consideradas. Outra ideia desenvolvida por Panzieri, e que influenciou
muito os operaístas, foi a de desafiar a suposição (que também era então parte
do bom senso da Esquerda italiana) de que o planejamento – o planejamento
de produção ou o planejamento do desenvolvimento econômico feito pelo
governo – era inerentemente anti-capitalista. Porque durante muito tempo no
século 20, especialmente uma vez que a União Soviética havia sido fundada,
uma economia planejada tradicionalmente fazia contraste com uma economia
de mercado – a primeira como uma forma de socialismo, e a segunda como
uma forma de capitalismo.
O que Panzieri afirmou, também voltando ao Volume 1 de O Capital de
Marx, foi que no local de trabalho o chefe nem mesmo pode iniciar a produção
ao menos que ele ou ela a planeje. Planejar a maneira com que ela é feita, de
modo que os trabalhadores façam o que lhes é dito e que tudo ocorra
suavemente em direção ao objetivo de fazer lucro, é inerente à natureza do
capitalismo. É muito simplista contrastar o planejamento e o mercado da
maneira que Marxistas (dominantes) haviam feito. O próprio Marx uma vez
comentou sobre como no capitalismo da sua época, houve planejamento na
área de trabalho e anarquia no mercado, enquanto Panzieri afirmava que o
capitalismo, nesse sentido, havia mudado desde a época de Marx.
SC: Essa leitura de Marx novamente levanta questões das subjetividades reais
dos trabalhadores, ao invés de idealizar o trabalhador na linha de produção.
Você está olhando como essa pessoa realmente se sente sobre estar nessa
linha de produção, onde há esse tipo de trabalho que é extremamente
repetitivo, fisicamente exaustivo.
O mesmo período também gerou algumas correntes feministas muito
importantes, que também levaram em conta esses pontos sobre a significância
do trabalho e da natureza opressiva do dia de trabalho e das horas de trabalho
para fazer uma análise do trabalho doméstico. Um dos exemplos mais
importantes disso foi o livro de Mariarosa Dalla Costa e Selma James 'The
Power of Women and the Subversion of the Community' (1975). Dalla Costa foi
uma figura que surgiu de uma das maiores organizações operaístas (Potere
Operaio – Poder dos Trabalhadores),e formou uma organização chamada Lotta
Femminista (Luta Feminista). Você poderia dizer algo sobre a relação entre
aquelas análises feministas do trabalho doméstico e sua relação com o dia de
trabalho e as análises autônomas daquelas ideias?
SW: A Poder dos Trabalhadores formou-se no final dos anos 60, e focou-se
muito na massa trabalhadora: mais nos homens trabalhadores da linha de
produção em uma fábrica grande, que odiavam seu trabalho, não achavam que
o sindicato entendesse seus problemas, que não viam razão para a existência
dessa hierarquia de pagamento complexa no local de trabalho, que com seus
colegas de trabalho exigiam que todos recebessem promoções automáticas,
que os aumentos de salário fossem iguais para todos, que os aumentos
nivelassem os salários de todos, ao invés aumentar 3% para cada trabalhador
de modo a manter as hierarquias e diferenciais.
Algumas das mulheres nessa organização estavam mais e mais
interessadas no que estava acontecendo nos Estados Unidos e em outros
locais, onde novos grupos de mulheres estavam surgindo, e pensando nas
implicações disso durante todo o dia de trabalho. Elas descobriram que elas
não estavam sendo levadas a sério dentro da organização operaísta à qual
pertenciam, ao ponto de decidirem sair. A análise que elas desenvolveram
focou muito no papel da mulher de reproduzir a capacidade dos trabalhadores
de trabalhar, de reproduzir força de trabalho. Elas viram aquilo como um
momento fundamental que foi ignorado ao manter e sustentar o capitalismo.
Não vou tentar explicar o argumento em detalhes aqui, mas a parte
essencial do argumento de Marx sobre o que acontece no local de trabalho
remunerado, é que os trabalhadores produzem trabalho não remunerado, o
que é mascarado pela forma particular do trabalhar assalariado. As feministas
operaístas afirmavam que da mesma forma que havia uma quantidade de
trabalho não remunerado no local de trabalho assalariado, também havia uma
quantidade significativa de trabalho não remunerado que estava sendo feito em
casa – sobretudo pelas mulheres – de reproduzir trabalhadores, preparar as
crianças para irem para a escola e treiná-las para também tornarem-se
trabalhadores no final.
Elas discutiam que da mesma forma que os trabalhadores estavam
exigindo mais pagamento e menos trabalho na fábrica ou escritório, as
mulheres deveriam estar exigindo mais pagamento e menos trabalho e acesso
ao controle de seu próprio pagamento, ao invés de todo o dinheiro ir para seus
maridos caso elas estivesse fazendo apenas o trabalho não remunerado – de
modo a também terem acesso ao dinheiro como forma de poder. E aquilo
tornou-se uma corrente que tinha uma certa influência nos países de língua
inglesa também. Há outras correntes feministas importantes na Itália, mas
aquela foi certamente a primeira a se tornar conhecida fora da Itália:
provavelmente mais que muitas das correntes operaístas masculinas,
ironicamente suficiente.
Elas também influenciaram homens operaístas nos países de língua
inglesa, com números de jornais como o Zerowork nos EUA em meados dos
anos 70 e então o Midnight Notes, que nasceu nos anos 80 e ainda existe.
Essas eram publicações produzidas em sua maioria por homens que haviam
sido influenciados por políticos italianos autonomistas, mas que também
levaram os argumentos de Mariarosa Dalla Costa e Leopoldina Fortunati, entre
outras, muito mais a sério que a maioria de seus correspondentes italianos.
SC: Há uma entrevista com Mariarosa Dalla Costa no livro Utopian Pedagogy
que vale a leitura. É impressionante como quantos daqueles argumentos
reapareceram, por exemplo, no trabalho das feministas socialistas americanas
Barbara Ehrenreich e Arlene Hochschild – especialmente no trabalho de
Hochschild, 'The Second Shift' (2003). Esse livro aborda a alocação do trabalho
doméstico entre os casais onde ambos trabalham. O que ela observa é
primeiro que com as mulheres agora sendo mais de 50% da força de trabalho,
e as crianças indo para creches e escolas cada vez mais novas, a mulher ainda
é responsável pela casa. É notável o quão presciente essa parte do operaísmo
feminista era em termos de questões daquela época e que ainda estão entre
nós.
SW: Esse trabalho mais recente refere-se explicitamente aos gostos de Dalla
Costa? Alguém como Barbara Ehrenreich obviamente estaria ciente daqueles
debates, uma vez que ela participava deles.
SC: Acho que o que faz falta é o fato de o material mais recente ser a crítica ao
trabalho, a crítica ao dia de trabalho, a exigência na redução da carga-horária.
Percebe-se aqui que com o colapso da Esquerda, essas questões foram
desligadas umas das outras, a fraqueza da negociação sindical, a posição
enfraquecida dos trabalhadores, e particularmente das mulheres, no local de
trabalho como resultado do neoliberalismo.
Para concluir: um dos pontos tocados antes por você foi a crítica
operaísta ao planejamento como uma atividade inerentemente anti-capitalista,
e à economia planejada como sendo de interesse dos trabalhadores. Estamos
entrando em um período onde o colapso de tantos bancos e instituições
financeiras mudou radicalmente o modo com que o capitalismo é defendido. A
figura que ressurgiu em meio a tudo isso é John Maynard Keynes, o
economista que afirmou que o estado deveria se envolver ativamente na
economia para estimular a demanda, ou o contrário se for o caso. Minha
compreensão era a de que os operaístas eram muito críticos às exigências, em
face ao surgimento da globalização, de trazer Keynes de volta. Com a
ascensão do Thatcherismo e de Reagan e do surgimento de uma ortodoxia
econômica neoliberal, Keynes foi expulso. Ele agora está curiosamente
retornando com o colapso dos sistemas bancários e financeiros. Você tem algo
a dizer, sob a luz do seu entendimento do que é operaísmo, sobre esse retorno
de Keynes, e os perigos que isso pode representar como uma estratégia
alternativa contra-hegemônica.
SW: Vale dizer desde o início que nos anos 60 os operaístas eram fascinados
por Keynes. Uma das correntes que diferenciam o operaísmo de outras partes
da esquerda da época é o argumento que não podemos rejeitar todos os tipos
de entendimentos que vêm de nossos inimigos. Nesse contexto, inimigos são
pessoas que explicitamente veem seu papel de fazer tudo o que podem para
garantir que o capitalismo continua a existir, mas não podemos apenas assumir
que todos eles sejam simplesmente apologistas e que não tenham nada de
interessante a dizer. Admirava-se muito, portanto, a habilidade de Keynes de
compreender alguns dos fundamentos sobre o que fez o capitalismo funcionar
– e não funcionar – em seu próprio tempo.
Na verdade, um dos operaístas, Mario Tronti, em seu estilo comum de
tentar dizer algo tão provocativo quanto é possível, sugeriu que a ideia de
Keynes sobre a rigidez da tendência de baixa dos salários era a maior
descoberta do Marxismo ocidental. O que é até certo ponto uma maneira
inteligente e eloquente de dizer que Keynes percebeu que era absurdo, de um
ponto de vista capitalista, dizer que se a economia estava se contraindo, a
melhor coisa a se fazer, como aconteceu mais de uma vez no passado, era
cortar os salários dos trabalhadores. Essa seria uma maneira de manter os
custos sob controle, mas como Keynes apontou, isso, em parte, amorteceria a
demanda no ciclo econômico. Ao contrário, o que Keynes afirmou foi que o
salário do trabalhador poderia ser aumentado, ao passo que a produtividade
aumentasse mais rápido que seu pagamento. Isso, na verdade, poderia ter
feito o bolo crescer – e até onde os operaístas sabiam esse bolo ainda era um
bolo capitalista, que ainda estava preso na lógica do capitalismo. Mas eles
também pensaram que esse era um entendimento muito profundo, então eles
focaram nessa questão e discutiram, com a noção da luta contra o trabalho,
que trabalhadores precisavam romper a ligação entre salários e produtividade e
exigir maiores salários e redução na jornada de trabalho.
Em termos de retorno do Keynianismo, uma estratégia Keynesiana é
viável hoje em dia? Certamente na Austrália, o governo Trabalhista atual está
conversando seriamente sobre embarcar em um plano tradicionalmente
Keynesiano de aumentar os gastos do governo para estimular a economia.
SC: Barack Obama já adotou esse discurso algumas vezes.
SW: O perigo é lembrar que tal estratégia – mesmo que ainda seja sobre
manter o nível dos salários – é a premissa de fazer as pessoas trabalharem
mais, que alguém terá de pagar por tudo isso. Mas acho que estamos vivendo
um período fascinante, e certamente as coisas nos últimos meses têm mudado
em um ritmo que eu não esperava. Recentemente, li uma análise útil sobre a
crise financeira atual onde o autor citou o que ele chamou de um provérbio
Marxista antigo: 'há épocas em que os anos parecem passar como se fossem
dias, e as vezes há dias que pareceram passar como se tivessem sido anos'.
Aconteceram coisas nas últimas 6 a 8 semanas onde, como você disse, caso já
não tenham sido negadas, então o neoliberalismo realmente foi humilhado
publicamente, ao ponto de não termos certeza se seus defensores seriam
capazes de criar os mesmos tipos de argumentos que já criaram. Não tenho
certeza sobre o quanto seus defensores estão tentando se reinventar, e agora
há esse retorno a Keynes, que eu pensei que tivesse sido banido para sempre
– o que é fascinante.
Para concluir a nota que você levantou no início, sobre a relação entre
aprender e pensar, e sobre como podemos realmente mudar isso. Todos
estamos em um ponto no tempo onde realmente precisamos entender esses
processos e eu não tenho certeza, ao menos no momento atual, de ter
encontrado alguma abordagem específica que nos ajude entender a política do
dinheiro que pareça fazer alguma diferença – e normalmente um tipo ruim de
diferença – nas vidas de tantas pessoas, seja na Grã-Bretanha ou América do
Norte ou Austrália, ou nas tão chamadas nações em desenvolvimento, onde o
custo da alimentação, por exemplo, tem aumentado dramaticamente nos
últimos anos. Estamos todos enfrentando uma curva de aprendizagem, e o que
será fascinante é se poderemos criar maneiras de entender esses processos,
ou se é algo que deixaremos para que os especialistas falem. Porque ao
menos que entendamos o que o dinheiro significa e qual sua relação com a
classe, então estaremos todos em um grande problema.
Referências
Além do livro de Steve Wright (2002) Storming Heaven: Class Composition and
Struggle in Italian Autonomist Marxism . Pluto Press, Londres, há agora uma
quantidade de textos introdutórios sobre o operaísmo italiano e movimentos
relacionados disponíveis em inglês:
Edwards, P. (2009) 'More Work! Less Pay! Rebellion and Repression in Italy',
1972–7. Manchester University Press, Manchester.
Murphy, M. (2012) Antonio Negri . Polity Press, Cambridge.
Patrick Cuninghame (2002) Autonomia: A Movement of Refusal: Social
Movements and Social Conflict in Italy in the 1970s. Tese de PhD, Universidade
de Middlesex. Disponível em: <http://eprints.mdx.ac.uk/6688/>.

Também há Hardt, M e Negri, T (2001) Império. Harvard University Press.

Também há traduções de uma gama de textos de Sergio Bologna, Mariarosa


Dalla Costa, Fortunati, Mario Tronti e outros operaístas italianos no site
<libcom.org>. A entrevista também menciona o livro Power of Women and the
Subversion of the Community escrito por Mariarosa Dalla Costa e Selma James
(1975) Falling Wall Press, Londres, e Hochshild, A e Machnung, A. (2003). The
Second Shift . Penguin, Londres e Nova York

Um dos outros livros mencionados na entrevista foi editado por Mark Cote,
Richard Day e Greig de Peuter (eds) (2007). Utopian Pedagogy. University of
Toronto Press, Toronto & Londres. Esse livro contém o artigo escrito por Borio,
Pozzi and Roggero 'Conricera as Political Action' e também uma entrevista com
Mariarosa Dalla Costa, 'The Diffused Intellectual: Women's Autonomy and the
Labour of Reproduction'.

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