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Johan van Lengen

BASON
SANITÁRIO SECO

TÉCNOLOGIA INTUITIVA E BIO-ARQUITETURA


1

INTRODUÇÃO

A orientação da pesquisa que resultou no atual modelo do bason, em


cuja fabricação a comunidade pode ser amplamente envolvida, atendeu
à compreensão de Johan van Lengen, de que a questão do saneamento,
constante nas áreas mais carentes de integração cultural e econômica,
deve ser encaminhada de forma coletiva, servindo assim como elo na
construção do tecido social.

ÍNDICE
O bason para nós é instrumento de um trabalho educacional mais
amplo para a cidadania a onde se incluem, além das questões
INTRODUÇÃO 1 ambientais mais prementes, a construção da saúde social como um
todo. Não deve ser considerado peça isolada deste elenco. Acreditamos
PRODUÇÃO 5 que a ilusão projetada em soluções puramente “tecnológicas” (inclusive
as alternativas) só contribui para alienar, cada vez mais, a possibilidade
efetiva de construção comum de horizontes de identidade mais dignos
INSTALAÇÃO 15
e co-responsáveis.
MANUTENÇÃO 18
Um outro fator é que quando se constrói um bason por esta via, adquire-
BOLETIM 22 se domínio de todas as possibilidades criativas do ferrocimento, o que
pode resultar em pias, tanques, banheiras, caixas-d'água, silos, telhas,
FOTOS 24 manilhas e assim por diante. A criatividade é naturalmente estimulada,
e para nós liberdade e criatividade se conjugam com o mesmo espírito.

Por tudo isto, recomendamos que os programas de implantação do


sistema bason estejam atentos e sensíveis à efetiva participação
criativa da toda a comunidade, visto que a consciência ambiental é uma
construção ética e coletiva com desdobramentos poderosos no
Copyright 2004 de Johan van lengen conjunto das relações humanas.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por
qualquer meio, sem autorização prévia por escrito de seu autor.
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APRESENTAÇÃO COMO FUNCIONA UM BASON

O bason é um sistema sanitário de tratamento a seco dos dejetos A câmara de compostagem fica sob o assento e recebe todo o lixo
orgânicos domésticos, os humanos inclusive. É uma alternativa orgânico doméstico, dejetos humanos (fezes e urina) e material
eficiente e de baixo custo para a solução dos problemas de orgânico adicional como folhas secas, papel higiênico, serragem ou
saneamento básico. grama cortada.

O processo biológico empregado é o da compostagem aeróbica, onde O processo de compostagem aeróbica exige constante aeração
na presença do ar, bactérias e microorganismos transformam os para a nutrição dos micro-organismos e bactérias. Para isto o a
dejetos em matéria orgânica estabilizada, própria para ser usada como bason dispõe de sistema de aeração que se constitui de uma rede
adubo. Este sistema é idêntico ao que se usa em agricultura para a de ventilação e de uma manivela para expor as camadas internas da
fabricação de composto. massa de composto à presença do ar. Esta rede de ventilação se
encarrega também da exaustão dos gases e da umidade liberados
A compostagem aeróbica se dá a seco, eliminando-se assim o pelo processo de compostagem.
consumo de metade da água potável doméstica, que é quanto
consomem os sistemas convencionais de descarga líquida. Os odores desprendidos pelo bason são discretos e completamente
diferentes do mau-cheiro que caracteriza os processos de
Os sistemas convencionais implicam ainda em redes de esgoto e compostagem "líquidos" como o das fossas ou das "casinhas", que
estações de tratamento ou em uma escala menor em fossas e tem forte desprendimento de sulfetos.
sumidouros. Acrescente-se a isto a não absorção do lixo orgânico
doméstico, o que aumenta o volume da coleta por parte do HISTÓRICO
município.Tudo isto se economiza quando se usa um bason.
O bason deriva do sanitário seco clivus multrum criado em 1939 na
E finalmente, por ser o bason uma câmara completamente Suécia por R. Lindstrom. Sua invenção foi registrada posteriormente
impermeável, interrompe-se por completo a progressão de vetores nos Estados Unidos aonde iniciou-se a produção industrial usando-se
patogênicos que empregam a água como veículo, eliminando-se em sua fabricação a fibra-de-vidro. É adotado nos parques nacionais,
assim a contaminação do solo, lençóis d'água, rios, lagos e oceanos. em casas-de-campo e em regiões de difícil acesso.

Os vetores patogênicos encontram no interior do bason condições Pela análise da Organização Mundial de Saúde, este sistema destacava-
extremamente desfavoráveis a seu desenvolvimento e são ainda se por sua grande eficiência e absoluta proteção ambiental. Sua
atacados e consumidos pela população extremamente ativa de recomendação para emprego nos países em desenvolvimento era
microorganismos envolvidos nos processos de decomposição desaconselhada, no entanto, pelo alto custo de sua produção industrial.

Nos anos setenta, um arquiteto latino americano, Álvaro Ortega,


desenvolveu uma versão artesanal em alvenaria para autoconstrução
e de baixo custo. Esta versão foi adotada, com sucesso, pelo governo
Mexicano em um programa nacional de saneamento a partir de 1984.
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O sistema bason vem sendo empregado e difundido no Brasil pelo MATERIAIS


Arquiteto Johan van Lengen e seu equipe do TIBÁ desde 1987.
1 placa de madeirit (eucatex) 120 X 240, espessura 6mm
Paralelamente a esta difusão, desenvolveu-se pesquisa que culminou
1 saco de cimento 50kg
em processos de pré-fabricação em argamassa armada, diminuindo o
areia meia-fina 100kg
custo em relação ao modelo de bason feito com tijolos.
1 vergalhão (3/8 de polegada) de 2 metros
compensada (meia placa) espessura 1cm
assento plástico de vaso (com tampa)
TÉCNICAS 1 tubo plastico de 100mm (de 3 metros)
joelho de 100mm
Para se criar um bason necessitamos respeitar algumas características 1 chapéu de zinco (para o tubo)
básicas, como a forma (volume), a impermeabilização, o ângulo da tela de mosquiteira (pedaço de 50 x 50 cms)
rampa de fundo(30 graus), as telas de proteção contra insetos e um arame de cerca (queimado) 5 metros
sistema de aeração e ventilação como indicados nas páginas seguintes.

Quanto aos materiais e aos processos construtivos podemos ter bastante


liberdade desde que atendam as exigências citadas acima.

O presente manual trata da construção de basons a partir de um


processo artesanal de pré-fabricação baseado na técnica da argamassa
armada.

Esta técnica emprega cimento, areia e tela, para a construção de


"cascas" estruturais que são sempre de fácil modelagem e que de
acordo com a imaginação e a necessidade, como citado anteriormente,
se transformam em variados utensílios.

Somados portanto neste manual, encontramos os elementos que


caracterizam um sistema bason e a sua feitura a partir do método da
argamassa armada, sua instalação, manutenção e em anexo um
pequeno esquema sugestivo para a montagem de uma fábrica
comunitária.
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PREPARAÇÃO DA MASSA BASON PRÉ- FABRICADO

a
b
A massa é feita de uma parte de cimento e duas de areia fina,
peneirada. Acrescenta-se a água com muito cuidado para que não f c
passe do ponto pois a massa deve estar quase seca. O método mais
comum é fazer furos bem finos no fundo de uma lata conseguindo-se e
d
assim um chuveiro ralo. c
Para montar este tipo de a
bason é preciso fazer g
nove placas, com as
seguintes dimensões:

50 70 70 68 70 70
15
52 a b c d e f

50
70

75

60
70

55
2X

70
2X 55 g

50
50
102 70

Para testar se a mistura está certa, pega-se um punhado com a Nas peças do tipo c, coloca-se um pedacinho de tubo de meia polegada
mão e se aperta. Se sair água por entre os dedos é que está molhada para receber a manivela.
demais. Se ao abrir a mão o bolo se desfaz, quer dizer que tem que
colocar um pouco mais de água. Na peça b, que será o assento, usar duas placas de compensado de
1/2 cm em forma oval para a abertura.
Na peça d
d, da mesma forma, deixa-se uma abertura circular de 10 cm
de diâmetro e uma fresta de 1x 15 cm.
A mistura está certa
quando, ao se abrir a Na peça ff, deixa-se uma abertura de 30 x 40 cm, com uma borda externa
mão, o bolo mantém a de 2 cm.
forma. Para fazer os moldes das placas usamos ripas de 1/2 cm de espessura,
esticadas no chão ou pregadas numa placa de compensado.
Com 4 destas, ripas de 8 cm de largura e 1/2 de espessura moldam-se
todas as placas, menos a a.
8 9

A placa a cabe num quadrado de 102cm. Esta é uma medida para um A MONTAGEM DO BASON
tamanho básico. Pode-se aumentar o volume: por exemplo, aumentando
a largura do bason de 70 para 100 em todas as placas com exceção da
plca a.
Começa-se com uma peça do tipo a no chão, e a partir dela pode-se
1 Preparar moldes sobre fixar as outras placas, partindo da placa d. Junta-se as placas
superfície plana e fixar amarrando os arames das quinas.
com pequenas estacas

2 Encher com massa de


cimento e areia na
proporção 1:2, formando
uma camada de apenas
1/2 cm.

3 Cobrir com um pedaço de saco plástico ( do tipo usado para


transporte de frutas e verduras) . As fibras do saco devem permitir
a passagem da massa. Deixar uma sobra de 3 cm de plástico,
formando abas para fora das tiras. Colocar arames dobrados em
forma de "U" nos cantos.

tamanho real
das fibras do
saco.

arame

Depois dobra-se as abas do plástico e aplica-se massa nas juntas,


4 Colocar um outro molde deixando uma nervura.
do mesmo tamanho
sobre o primeiro e encher
com mais 1/2 cm de Observar durante a montagem, que uma peça c tem abertura para cima
massa. e a outra , para baixo.

Após 10 minutos, retirar com cuidado as estacas e as tiras de madeira. Fechar com a outra placa a e unir com massa, do lado de fora e de
Deixar secar por 1 semana, protegido do sol. Nos primeiros dias, molhar dentro. Deve-se deixar secar pelo menos 1 semana, e só então colocar
de vez em quando. o bason de pé e por mais massa nas outras juntas.
10 11

MANIVELA

d
Os microorganismos responsáveis pela decomposição aeróbica no Passando um pedaço de vergalhão
interior da câmara do bason, necessitam do oxigênio do ar para sua pela abertura da peça d pode-se
atividade. alinhar a posição dos buracos por
onde deve ser colocado o tubo que
A manivela é o mecanismo utilizado para reoxigenar o material que se recebe a manivela.
encontra abaixo da superfície .

A ação da manivela é criar espaços, câmaras de ar no meio da massa Podemos construir a manivela a partir de um pedaço de dois metros de
do composto, realimentando a atividade dos microorganismos. vergalhão liso, de 3/8 de polegada, que se dobra da seguinte maneira
Recomendamos que isto seja feito a cada três dias e nunca antes disto. com o auxílio de pregos fixados em uma tábua.
Bastam poucos movimentos de vaivém a cada vez.
50 50

O berço onde se encaixa a ponta da manivela pode ser feito com um 30


pedaço de cinco centímetros do mesmo tubo de ferro usado para fazer
os mancais.
40

Serramos uma de suas pontas deixando uma


pequena língua saliente que é então dobrada
fechando a extremidade do tubo. Isto impede A manivela gira apoiada dentro dos
que a ponta da manivela perfure o cimento. Este dois berços v fixados nas placas c.
berço é cimentado na parede da subcâmara do
c
assento sendo o seu eixo alinhado com o das
duas luvas das divisórias. c
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ASSENTO

Pode-se usar um assento de plástico comprado em loja. O chapéu do tubo de ventilação pode ser feito de
uma lâmina de metal, de onde cortamos um círculo
Neste caso deve-se verificar que a tampa feche bem justa contra o com 20 cm de diâmetro .
assento para evitar a entrada de insetos por baixo dela.

Para fixar o assento se põe um pouco de mistura de cimento/areia em Cortamos o círculo até o centro e dobramos como
volta da abertura e se pressiona o assento na massa, com cuidado para indicado no desenho, encaixando depois as duas
que não fiquem ranhuras por onde entrariam insetos. dobras formando o chapéu.

A tampa do assento do bason Na parte de baixo deste chapéu pregamos duas


deve estar sempre fechada. lâminas compridas que se dobram de forma a
poderem se encaixar nas bordas do anel de vedação,
como se vê no desenho.

Este anel também é feito de lâmina metálica (lata) e


Podemos também construir um assento de madeira juntando-se umas é colocado externamente fixando a tela mosquiteira
tábuas. que envolve a boca do tubo. Protege-se assim o
bason contra a chuva e contra os insetos.
Para um ajuste perfeito entre a tampa e o assento, pregamos na tampa
uma mangueira fina fazendo um círculo completo. Esta mangueira A altura da borda do chapéu em relação à boca do
funciona como um anel de vedação. tubo é de uma polegada, permitindo a passagem do
ar mas protegendo das chuvas de vento.
A regulagem das dobradiças entre a tampa e o assento garante uma
pressão uniforme sobre o anel. Todas as peças construídas com lâmina metálica
devem ser pintadas a óleo para que não enferrugem.

TUBO DE VENTILAÇÃO TAMPA


O tubo deve ter dez centímetros de diâmetro e tem que sair mais alto que A subcâmara de adubo se localiza na parte baixa da rampa e nela se
o telhado pelo menos um metro. Esta parte externa do tubo é então acumula o material já transformado em composto. Periodicamente
pintada de preto para que absorva energia solar e aqueça assim o ar em recolhe-se este material esvaziando-se a subcâmara. Estimamos que
seu interior. O ar aquecido fica mais leve e sobe provocando uma para o atual modelo do bason isto se dê a cada três meses
corrente através do bason. Assim se faz a exaustão.
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A subcâmara de adubo deve ter uma


tampa móvel que atenda a todos os
cuidados de vedação contra insetos e
INSTALAÇÃO
contra água.
Localiza-se o bason de tal maneira que a parte de cima do tubo, que
Recomendamos que seja construída em
pintamos de preto, não fique sombreada por árvores ou casas vizinhas.
madeira e depois de pronta pintada a
óleo. Em terrenos inclinados evita-se o lado da casa que dá para a subida do
Nela encontra-se também a entrada de ar terreno pois quando chove, este lado transforma-se em uma calha
que alimenta o sistema de ventilação do natural, acumulando muita água que desce contra a parede da casa o
bason. entrada de ar que aumenta o risco de infiltração no bason..

Esta peça em forma de u será a janela de


ventilação e aí fixaremos um pedaço de
tela mosquiteira.
Recortamos em um pedaço de placa de
compensado ou madeirit (que é mais Em casas já construídas localiza-se o
as partes e suas dimensões bason pelo lado de fora colado à parede
barato) as peças nos formatos e nas
medidas indicadas no desenho. do banheiro.
As quatro peças menores formam um 42
Quando construímos a casa e o bason na
quadro que veste a borda saliente da
mesma ocasião, este se localiza dentro
abertura da subcâmara de adubo.
do banheiro ficando para fora a parte da
É bom conferirmos a medida final desta
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subcâmara de adubo. Esta fica enterrada
borda para que o quadro se ajuste só até a dez centímetros do topo da câmara
corretamente. Se necessário corrigimos de adubo
às medidas do quadro da tampa para que
tudo se ajuste. 4 Em zonas rurais, onde comumente os
O pedaço maior é a parte de cima que banheiros se localizam fora da casa,
avança para adiante, por sobre o lado da
8 deve-se evitar a proximidade do poço.
entrada de ar para proteger da chuva.
8 E também, se o lençol d`água for muito à
No final pintamos a tampa com tinta óleo 4 flor da terra, deve-se construir o bason
para completa proteção e resistência à elevado do chão.
chuva e umidade. 8
4
E na hora de colocar no lugar, lacramos 28 Prevenimos assim possíveis infiltrações
toda a volta da base da tampa , para que que alterariam o processo de
não entrem insetos. compostagem no interior da câmara..
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CONSTRUÇÃO Uma vez assentado o bason, sobre o leito da escavação, e ajustado o


ângulo da rampa do fundo e o prumo do centro do assento, aterramos
em toda a volta (inclusive pelo lado de dentro da fundação) até o nível
A parte de cima da câmara, aonde se localizam as aberturas para o
da metade da altura da câmara de adubo.
assento e para o tubo de ventilação, deve estar no mesmo nível do piso
acabado do banheiro.
Para o assento, constrói-se uma manilha que tenha a altura de 40
centímetros, que é a altura padrão para um vaso convencional.
Esta manilha ou gola do assento pode ser facilmente modelada usando-
se como forma um balde de plástico que tenha a altura necessária.
Mantida esta relação entre os níveis, estamos livres para instalar um
bason em qualquer pavimento. Para tanto devemos atender as
recomendações anteriores quanto a exposição ao sol da parte externa
do tubo, e também possibilitar o acesso à tampa da câmara de adubo.

Quando a habitação é térrea, o


terreno é plano e o nível do lençol
d`água estiver abaixo de dois Quando paredes e teto estiverem prontos, poderemos instalar o tubo
metros nos meses de chuva, de ventilação e colocar o assento. É hora também de se colocar a
podemos instalar o bason tampa da subcâmara de adubo.
enterrado sob o banheiro. Neste
lugar deixa-se uma abertura na
A abertura para a colocação do tubo de ventilação deve estar na parte
fundação, onde se cava um buraco
mais alta da câmara. O tubo penetra somente o necessário para a sua
para receber a câmara já moldada.
fixação, não atravessando para o interior da câmara. Esta medida
permite o completo escoamento dos gases e vapores presentes no
processo de compostagem.
Colocamos aí primeiro a parte de baixo sobre terreno firme ou sobre
uma base de pedras no fundo da escavação. As dimensões desta
escavação correspondem às dimensões da câmara montada e a Na localização da abertura para a saída do tubo
inclinação de seu leito corresponde a do fundo da câmara que é de 30 de ventilação deve-se considerar o movimento
graus. de abrir e fechar da tampa do assento que
escolhermos. A subida do tubo não deve interferir
Muito importante lembrar que a câmara só pode ser aterrada até à com este movimento. Um outro detalhe importante
metade da altura da câmara de adubo. Isto previne a entrada de água é que o tubo deve subir diretamente sem o uso de
de enxurrada, pela abertura da tela de ventilação. conexões como joelhos que tirariam a sua
eficiência.
18 19

MANUTENÇÃO Finalmente verificamos se a camada de base feita de folhas, humus,


palhas e serragem grossa está com a espessura correta ( 30
centímetros) e pronta para o funcionamento.
Verificamos primeiro se a instalação foi bem feita: A tampa do assento deve estar sempre fechada.
VENTILAÇÃO
Quando fica aberta o sistema de circulação de ar fica alterado trazendo
A parte alta do tubo de ventilação está pintada de preto e gases e vapores para dentro do banheiro e retardando a desidratação
exposta ao sol? do material.

O tubo sobe sem desvios ou joelhos, saindo da parte mais Todas as sobras orgânicas da cozinha podem ser lançadas no bason.
alta da câmara e penetrando nesta apenas o necessário Isto inclui também cascas de ovos,de frutas, de verduras, ossos ou
para a fixação? papel. Devemos cuidar apenas de escorrer a água quando estiverem
molhadas, antes de lançá-las na câmara.
Caso esteja subindo pelo lado de fora da casa, a sua
conexão está bem vedada contra a chuva? Quando o volume do lixo orgânico doméstico for reduzido, devemos
lançar no interior da câmara, sempre através da abertura do assento,
O chapéu que cobre o topo está bem seguro contra ventos grama cortada, serragem grossa ou folhas secas partidas. A quantidade
fortes? de matéria orgânica por pessoa/dia a ser lançada na câmara é de dois
punhados bem cheios.
INSETOS
Não se joga plásticos, vidros, latas, detergentes ou remédios pois
A tela mosquiteira está bem justa na entrada de ar e na causam alteração no processo de compostagem.
saída do tubo de ventilação?
De três em três dias fazemos um movimento de vaivém com a
Quando se fecha a tampa do assento esta fica manivela.
perfeitamente vedada de maneira a não passar insetos?

ÁGUA
De três em três meses esvazia-se a
A drenagem da casa passa próxima ao bason causando
subcâmara de adubo lançando na horta, no
o risco de águas paradas contra suas paredes?
jardim ou no pomar o material retirado.
A cada pessoa lhe corresponde um balde
As águas do banheiro (chuveiro, pia) estão à uma
de adubo produzido por ano com este
distância segura para que não respinguem ou penetrem
sistema.
na câmara?

A conexão do tubo quando saindo por dentro do banheiro


está bem vedada contra águas?
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OPÇÕES Uma outra lâmpada, (colocada no interior do tubo de exaustão) ajuda


a subida do ar. Para isto devemos ter uma visita na parede do tubo, de
Tratamos até agora de detalhar desde o equipamento mínimo modo a possibilitar a manutenção. Esta visita deve ter uma vedação
necessário ao funcionamento de um bason, em condições normais de perfeita. A subida do ar pode ser também ajudada por uma pequena
temperatura e umidade. Para condições extremas devemos ter mais ventoinha colocada no interior do tubo, tendo acesso pela mesma
algumas opções. visita que a lâmpada. Esta ventoinha pode inclusive ser alimentada
por um pequeno painel solar fotovoltáico.
Além da oxigenação, a temperatura do ar ambiente influi diretamente
na capacidade de processamento do bason . Assim, em condições Quanto à aeração, uma excelente opção adicional é o uso de
extremas de frio e umidade, quando a atividade biológica é reduzida, minhocas, que podem e devem tranquilamente ser colocadas no bason.
podemos aquecer a câmara através do ar que circula em seu interior,
reequilibrando o processo.
Quando um número expressivo de moradores de uma comunidade
compreende os benefícios do sistema bason e decide adotá-lo
Isto também vale para as situações em que o tubo de exaustão se
coletivamente, pode-se pensar na instalação de uma pequena fábrica
situa em uma zona de sombra constante.
cooperativa. O custo para os cooperados participantes evidentemente
Para aquecermos o ar que entra, podemos forçar sua passagem ficaria mínimo.
através de um tubo que tenha uma lâmpada no meio. A distância
entre a lâmpada e as paredes do tubo deve ser a mínima possível, Como cabe ao poder público a infraestrutura de saneamento básico e
para que o ar se aqueça. Este então é canalizado para a entrada de ar como no sistema bason este custo cai a zero, podemos naturalmente
da tampa da subcâmara de adubo. considerar a possibilidade de parceria por parte do poder público em
iniciativas semelhantes, pois estaria assim cumprindo o seu papel e a
Para que não se perca o calor, todo este sistema deve ser isolado. um custo muitas vezes mais baixo do que com os sistemas
Isto pode ser feito colocando-se o tubo dentro de uma caixa e convencionais.
envolvendo todas as partes com papel amassado. A entrada deste
tubo deve ter uma tela mosquiteira. Temos que cuidar para que não
Esta fábrica cooperativa também poderia atender à demanda de outras
haja superaquecimento, com risco de incêndio.
comunidades. Isto geraria empregos e recursos, além de viabilizar
fisicamente a multiplicação imediata da adoção do sistema bason em
O aquecimento do ar também pode ser conseguido através de um mais comunidades, trazendo junto o positivo impacto social e ambiental.
coletor solar. Este é um aparato, construído de tal forma, que força a
passagem do ar por sobre uma superfície escura que se expõe ao sol.
Para começar devemos ter algumas pessoas iniciadas na técnica
Desta forma o ar é aquecido, podendo então ser canalizado, como
argamassa armada. Estes serão instrutores dos futuros participantes
no exemplo anterior, para a entrada de ar da câmara.
cooperados. Como espaço físico, um galpão com uma pequena área
fechada para guarda de ferramentas e materiais.
Este processo de aquecimento do ar tem que ser controlado, para
que não seque por completo a umidade do composto, o que também
interromperia significativamente a atividade biológica. Entretanto, em Uma tal fábrica poderia também facilmente produzir caixas-d'água
condições de excesso de líquido, via urina ou umidade extrema, banheiras, tanques de lavar, pias e toda a gama de artefatos possíveis
podemos extender este tempo de aquecimento e secagem. de serem feitos com o ferrocimento.
23
A ESCASSEZ PROGRESSIVA DA ÁGUA A OUTRA MANEIRA

Graças à contaminação do subsolo, ao uso intensivo de Os altos índices de contaminação dos lençóis dágua na
pastagens e à salinização do solo, regiões cada vez Suécia, nos anos 30, levaram um engenheiro local à
mais extensas de nossa planeta, tornam-se desérticas. criação do sistema sanitário seco chamado “clivus
A água torna-se progressivamente escassa, exigindo multrum”. Este sistema, em uma versão pré-fabricada
que se vençam distâncias sempre maiores no esforço em fibra-de-vidro, vem sendo usado desde os anos 60
de se trazer água potável às habitações. em países industrializados do hemisfério norte.
Durante os dez últimos anos, uma versão “artesanal”,
Poderemos sempre aumentar as taxas sobre o consumo em alvenaria, denominada “bason”, tornou o sistema
e mesmo perfurar poços profundos, destilar água do accessível, às muitas comunidades rurais mexicanas,
mar ou ainda, transportar “icebergs” desde os polos. por intermédio de um programa de saneamento
Entretanto, torna-se evidente o custo excessivo de tais promovido pelo govemo e que usava folhetos e cartazes
“alternativas”. didáticos como meio de comunicação com os “arquitetos
descalços”.
Talvez devamos reconsiderar a maneira como usamos Este mesmo sistema, vem sendo difundido no Brasil,
a água em nossos dias. Como nos mostram as tabelas desde 1987 pela equipe do Instituto TIBÁ. Paralelamente
o consumo diário por pessoa é de 240 litros, sendo que a esta difusão desenvolveu-se uma pesquisa que
deste total, 40 a 50 % estão destinados ao uso em culminou no desenvolvimento de um processo de pré-
esgotos sanitários, ou seja, como transporte de dejetos fabricação, em plasto-cimento (cimento, areia e tela
humanos, a partir do sistema convencional de descarga plástica), barateando mais ainda o seu custo.
líquida. O bason, em alvenaria custava já um terço apenas do
sistema convencional (sanitário + fossa + sumidouro).
Após tanto investimento para canalizar, purificar,
distribuir, nós empregamos quase metade de toda a
água potável, que trazemos a nossas habitações, como
esgoto sanitário, devolvendo à natureza, em seguida,
esta mesma água, sob a forma de contaminação, para
lençóis dágua, rios, lagos e oceanos.
BOLETIM

“BASON” O sistema anterior, em alvenaria, facilitava a solução


individual imediata do problema. No sistema atual,
SANITÁRIO SECO através da pré-fabricação, a comunidade se vê
amplamente envolvida. A escolha da pré-fabricação,
como partido da pesquisa, atendeu à compreensão,
pela equipe do Instituto, de que a questão do saneamento,
nas áreas mais carentes de integração cultural e
TECNOLOGIA INTUITIVA econômica, deve ser encaminhada de forma coletiva e
Será esta a forma mais inteligente de lidarmos com servir ainda como elo na construção de um tecido social
E BIO-ARQUITETURA o problema? co-responsável.
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Acreditamos que esta questão, com suas necessárias O sistema de ventilação converge para uma chaminé USO DE ÁGUA
implicações educativas, passa sempre pela qualidade por onde se faz a exaustão de odores e umidade.
das relações de identidade existentes entre indivíduos, Conforme a situação do bason dentro da habitação, a água água água
comunidades e meio ambiente. chaminé em seu caminho para cima, ou atravessa o teto litros / pessoa / dia pura negra cínza
ou sobe pelo lado de fora da casa. Sua parte mais alta (recicláveis)
COMO FUNCIONA O BASON é pintada de negro e, quando exposta aos raios solares,
naturalmente se aquece, o que provoca uma corrente sanitário 110 110 0
O princípio de funcionamento deste sanitário seco é o de ar quente ascendente dentro do tubo o que ajuda em
mesmo da compostagem, usada em agricultura, aonde muito a aeração e a exaustão. chuveiro 70 0 70
os dejetos animais são misturados ao lixo orgânico,
sendo então decompostos por bactérias aeróbicas que COLOCAÇÃO DO SANITÁRIO pía 7 0 7
trabalham transformando toda a mistura em adubo. DENTRO DA CASA
No bason, a câmara de compostagem fica sob o assento. cozinhar 15 0 15
Esta câmara é completamente impermeável em toda O bason pode ser integrado às instalações comuns de
sua volta. um banheiro, com o cuidado de não estar exposto aos louças 12 0 12
Para uma família típica, o volume da câmara mínimo é respingos do chuveiro, evitando-se assim que a água
de 1,5 m3. Para escolas ou lugares públicos, estas penetre danificando a compostagem. Em caso de lavar roupas 26 0 26
dimensões são aumentadas. contato com o piso da área de banho, este piso tem que
O material decomposto, após certo período de tempo, estar perfeitamente impermeabilizado, bem como as total em litros 240 110 130
apresenta redução de 90% em seu volume total. Assim paredes do bason e especialmente aquelas mais
apenas periodicamente, uma ou duas vezes ao ano, se expostas a uma possível infiltração provocada pelo
esvazia o compartimento inferior do bason podendo VANTAGENS DO SISTEMA COMBINADO
escoamento das águas.
seu conteúdo ser incorporado ao solo pois já está
transformado em adubo, e de excelente qualidade! Em primeiro lugar, dá-se uma grande redução no uso de
Para maior oxigenação do composto, o bason dispõe de água potável, quase metade, o que significa, uma
sistema de aeração e ventilação protegido contra insetos, economia considerável para a municipalidade, em
através de tela mosquiteira, em sua entrada e saída. O instalação, distribuição e manutenção do sistema de
sistema de aeração compõe-se de vias por onde o ar abastecimento.
circula, através da mistura, contribuindo assim para Em segundo lugar, as águas servidas podendo ser
estimular a ação natural das bactérias. filtradas, já não se tornam veículos de contaminação
ambiental, sendo reutilizáveis para limpeza ou irrigação.
Por último, elimina-se a necessidade de uma rede de
esgoto sanitário e mais estações de tratamento.
SISTEMA BASON INTEGRADO À
FILTRAGEM DAS ÁGUAS SERVIDAS Este Boletim integra um conjunto de informações sobre
métodos alternativos adequados à vida cotidiana.
Como vemos, o bason elimina o desperdício de água Para maiores informações, dirija-se a:
em esgoto sanitário, as chamadas águas negras. Para
as águas servidas, águas cinzas, que saem de pias, TIBÁ
tanques, chuveiros, etc, desde que não transportem TECNOLOGIA INTUITIVA E BIO - ARQUITETURA
substâncias danosas à saúde, pode ser instalado um Rua Ingles de Souza 296 - 101 Jardim Botanico
sistema de filtragem feito com brita e areia. Após a CEP 22460-110 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
fiitragem, estas águas podem ser re-utilizadas em tel/fax: (21) 2274-1762
limpeza, irrigação ou então ser liberadas de volta ao tiba@tibarose.com
ambiente, pois já não causarão mais danos. www.tibarose.com
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TIBÁ é um lugar de encontros, criado em 1987 por Rose e Johan van Lengen, e
voltado para a realização de uma consciência ambiental mais plena.

Através da integração entre arte e ciência, intuição e lógica, razão e sentimento, a


comunicação será enriquecida. A cada individuo se dá a possibilidade de trocar suas
própias experiências, de fazer parte de um coletivo verdadeiro, usando comunicação e
criatividade em grupo.

O TIBÁ oferece assessoria em toda a extensão de seus programas, atendendo


comunidades e organizações, por exemplo, nas áreas de bio-arquitetura e no
planejamento de eco-pousadas. Mantém ainda convênios e intercâmbios com
instituições, grupos e pessoas direcionadas para os mesmos fins.

Pesquisamos e desenvolvemos protótipos de moradias. Também produzimos materiais


didáticos, na forma de cartazes, vídeos, jogos, boletins, manuais e livros.

Nossa equipe está disponível para realizar oficinas de trabalho e cursos fora do Tibá.
Já apresentam seminários em outros países da América Latina, Europa e na Índia.

TECNOLOGIA INTUITIVA E BIO - ARQUITETURA


Rua Ingles de Souza 296 - 101 Jardim Botanico
CEP 22460-110 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
tel/fax: (21) 2274-1762

tiba@tibarose.com
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