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XXI Seminário Nacional de Distribuição de Energia Elétrica

SENDI 2014 - 08 a 13 de novembro


Santos - SP - Brasil

Luciano Vasconcelos Antunes Ricardo Nunes Wazen


Companhia Paranaense de Energia Copel Transmissão S.A.
luciano.antunes@copel.com ricardo.wazen@copel.com

Análise de Queda e Reconstrução de Estruturas na Linha de Transmissão 138kV Irati - Sabará

Palavras-chave

Estruturas Metálicas
Fundação
Linhas de Transmissão
Quedas de Estruturas
Reconstrução de Linha de Transmissão

Resumo

As linhas de transmissão (LT) aéreas estão expostas a diversos riscos associados ao meio, às alterações de
características construtivas e às variações climáticas. Muitas vezes estes riscos podem trazer sérios danos,
incorrendo na interrupção temporária do fornecimento de energia a determinadas localidades ou mesmo em
quedas de estruturas, afetando diretamente a capacidade de transmitir energia por alguns dias. A queda de uma
estrutura pode causar a interrupção do fornecimento de energia de uma localidade por longo período, bem
como gera custos associados a reconstrução de trechos do sistema elétrico, ao lucro cessante da
concessionária e a indenizações decorrentes da falta de energia. Este artigo procura evidenciar o processo de
reconstrução de trecho danificado da LT 138 kV Irati – Sabará, devido a queda de duas torres e
comprometimento de uma terceira, além das causas que levaram estas torres ao colapso. Através do
levantamento sucinto de dados e fatos, os autores chegaram a causa raiz, solo de baixa agregação e
estabilidade, que provocou a queda das torres.

1. Introdução

No dia 08 de fevereiro de 2010, o sistema supervisório da COPEL identificou a atuação de dispositivos de proteção da
Linha de Transmissão de 138kV Irarti – Sabará (LT IRT/SBR). As atuações das proteções direcionaram as avaliações
buscando evidenciar uma falta fase-terra ao longo da referida LT, sem ter informações concretas do real motivo do
desligamento. A proteção de distância estimou um trecho onde a probabilidade de falha seria maior. Foi destacada uma
equipe de manutenção de LTs para fazer a inspeção na região próxima a distância apontada pelo relé de distância. No

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local próximo ao ponto determinado foram visualizadas duas estruturas tombadas e uma terceira seriamente danificada.
Após verificação complementar da LT, foram iniciados os procedimentos para a recuperação das três estruturas
metálicas.

2. Desenvolvimento

Durante o levantamento das informações, as ações foram tomadas visando à rápida recuperação da LT para o sistema
elétrico paranaense. Desta forma, este artigo apresentará as informações numa sequência bem próxima às recebidas
até a escolha da solução adotada para a recuperação definitiva.

1 ANÁLISE DO DESLIGAMENTO

Conforme dados coletados do sistema de supervisão, o primeiro desligamento ocorreu às 20h15 do dia 08 de fevereiro
de 2010. Após este, houve novas tentativas de religamento e atuações dos sistemas de proteção.

1.1 INSPEÇÃO EM CAMPO


A identificação das estruturas caídas ocorreu no dia seguinte e as imagens das estruturas podem ser visualizadas nas
figuras 1, 2 e 3.

2 PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE NOVAS ESTRUTURAS

A partir das informações coletadas no local e na documentação da linha, foi possível identificar a forma do perfil da
região e as características técnicas dos componentes afetados e suas capacidades elétricas e mecânicas. Utilizando as
informações da documentação técnica, foi feita uma prévia do projeto de reconstrução.

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O projeto inicial contemplava o deslocamento das novas estruturas apenas 10 metros a ré das anteriores. A figura 4 nos
apresenta a posição sugerida para a implantação e os dados calculados pelo sistema PLSCAD. Porém, na verificação
da compatibilidade do projeto com o local, concluiu-se a inviabilidade da implantação das torres 95 e 96 nos pontos
inicialmente sugeridos. Após a confirmação da inviabilidade, foi iniciada a etapa de verificação das restrições do relevo e
condições do solo, para a definição dos melhores locais para implantação das estruturas.

De acordo com as verificações das restrições de solo e vegetação, foi definido que a estrutura 95 deveria ser situada a
225 metros a ré da anterior. Esta mudança gerou a necessidade de implantação de torre mais alta, devido o aumento do
vão entre as torres 95 e 96. Conforme a nova avaliação considerando os tipos de torres disponíveis, alturas máximas
possíveis e os vãos criados foi possível chegar ao trecho apresentado na figura 5.

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Comparando as imagens dos perfis, é possível perceber que a distribuição das estruturas não ficou tão uniforme quanto
à primeira opção, porém visualiza-se que as torres foram locadas nas partes mais altas do terreno, evitando posicionar
as novas fundações nas regiões muito úmidas ou com mata fechada. Nesta nova situação todos os limites das
estruturas foram respeitados, seja de altura prevista para os cabos em situação de temperatura máxima, seja nos
esforços mecânicos sobre as mísulas das torres.

3 SERVIÇOS REALIZADOS

Definido o projeto de reconstrução, transportados os materiais, os equipamentos, o ferramental necessário e a presença


de profissionais capacitados para a execução da obra, as atividades foram realizadas conforme os serviços abaixo:

3.1 Locação das estruturas

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De acordo com o projeto realizado, foram definidos os pontos de implantação das novas estruturas. Com base nos
dados, foram realizadas as locações utilizando uma estação total. Foi definido que as estruturas seriam construídas no
mesmo alinhamento das anteriores. Para iniciar a atividade de locação, foram usadas como referência as torres 93 e 97,
pois estas estavam íntegras e adjacentes ao trecho das estruturas danificadas. Com a estação posicionada no centro da
estrutura 93 e com o eixo definido, foi marcado o ponto central das novas estruturas. O perfil projetado já contemplava
os comprimentos de todos vãos entre as estruturas 93 e 97. A partir do ponto central de cada torre e do eixo da LT, a
estação total foi posicionada sobre este ponto, com seu ângulo interno de referência zerado sobre o eixo. Girando a
estação nos ângulos de 45, 135, 225 e 315º, as diagonais das bases foram definidas. Como cada uma das torres possui
uma composição específica, o comprimento das diagonais variam de acordo com as alturas totais e tipos de pés
selecionados.

3.2 Montagem da nova estrutura 94


A estrutura foi implantada em meio à plantação de soja existente. Como podemos observar nas imagens de projeto, o
perfil neste ponto apresentava desnível no solo. Este desnível foi suficiente para que a fundação fosse escavada em
solo de boa qualidade, optando-se pela utilização de grelhas metálicas.

Toda a torre foi montada manualmente, utilizando pau-de-carga para a elevação de ferragens e ferramental, ver figura 6
(abaixo à esquerda). Na imagem 7, pode-se visualizar a estrutura montada, mas sem os cabos, cadeias de isoladores e
acessórios aéreos de conexão. Na própria figura 7 é possível visualizar as divisões no terreno, observando a plantação
de soja, a faixa de terreno alagadiço com mato rasteiro e a vegetação nativa (não sendo possível identificar a presença
de um rio em meio a mata).

3.3 Montagem da nova estrutura 95


No projeto inicial, a intenção seria a implantação desta em local próximo a antiga torre 95, porém, devido às
características do solo, alagadiço, foi necessário um grande deslocamento para a sua implantação. Com este

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deslocamento a altura da estrutura teve que ser aumentada em 17 metros, aumentando a carga de esforços sobre a
fundação. Esta situação, conciliada as características do solo, gerou a necessidade de uso de fundação tipo Stub (ver
figura 8) , manilhas de concreto com estrutura revestida de material metálico.

Com a fundação da torre pronta, foi possível dar sequencia a montagem da parte aérea. Foi realizada a montagem dos
pés e do restante da estrutura utilizando equipamentos para a elevação manual das ferragens e ferramental, através de
pau-de-carga e moitões. Na figura 10 é possível visualizar a torre após a montagem e reaperto das ferragens, iniciando
a instalação das cadeias de isoladores.

3.4 Montagem da nova estrutura 96


A estrutura 96 foi construída a 10 metros da antiga, em meio à vegetação mais densa. Devido à dificuldade de acesso,
não foram utilizados retroescavadeira e guindauto para o transporte ou construção da torre. Por isso todas atividades
foram realizadas manualmente. A fundação foi escavada por equipe da empresa contratada e a estrutura foi construída
conforme projeto fornecido.

3.5 Lançamento dos Cabos


Os cabos foram preparados para o lançamento. Foram instalados reparos nos pontos onde houve danos superficiais e
rompimentos de tentos, onde o cabo rompeu, o trecho foi substituído. A substituição parcial ocorreu de forma que os
pontos com emenda não ficassem no mesmo vão, com isto uma emenda ficou no vão 94-95 e a outra no vão 95-96. Em
dois cabos condutores, ou seja, em duas fases, não ocorreu substituição de cabo e como o projeto não previu alteração
nos valores de tração dos cabos, foi feita a bandolagem dos cabos e o grampeamento. Para este, bastou a elevação dos
cabos até as cadeias e a marcação no cabo do ponto de grampeamento, ponto onde a cadeia ficou no prumo. Com os
cabos já na bandola da nova estrutura 96, a antiga foi desmontada a partir do topo e os estais foram removidos
conforme a desmontagem era realizada. O cabo substituído foi marcado e cortado conforme o flechamento das outras
fases, as três fases foram grampeadas tendo como referência o prumo das cadeias de isoladores.

4 ANÁLISE DA CAUSA

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4.1 Sobre a queda das Estruturas
Foram feitas avaliações nas estruturas danificadas e nas suas bases a fim de identificar possíveis causas para a queda
das estruturas. Observando o relevo, a vegetação e a posição das estruturas tombadas, foi possível observar que a
estrutura 96 ficou danificada devido à queda da estrutura 95 e que ela não caiu devido os cabos aliviarem os esforços,
pois estes se apoiaram na mata ciliar, conforme visualiza-se na figura 11.

Os danos na torre 96 ocorreram por consequência de esforços mecânicos acima do suportável pela estrutura, já que a
mesma não suportaria a sustentação dos cabos do vão 95-96 somado ao peso da torre 95. Em alguns trechos das
linhas de transmissão existem situações em que a perda de uma estrutura pode causar a queda das adjacentes, desde
que estas não suportem os pesos dos cabos e das torres danificadas. Caso não haja “barreiras naturais” que evitem que
o esforço incida sobre a estrutura, a mesma pode vir a cair. Observando o perfil de uma LT é possível verificar que há
casos em que a queda de uma torre causaria a queda da torre adjacente e dos cabos até o chão. Nesta situação o peso
dos cabos não é mais sustentado pelas torres adjacentes, mas pelo próprio solo. Sendo assim, as torres adjacentes
teriam resistência mecânica suficiente para suportar apenas o peso do cabo nos vãos, isto é, não teriam de suportar o
peso da estrutura que caiu.

A partir da figura 12 é possível ter uma visualização da situação do trecho antes da queda das estruturas. Esta vista nos
mostra que no caso de queda da torre 95, esta dificilmente alcançaria o solo sem antes causar sobre-esforços nas torres
94 e 96. No caso de queda da torre 94, devido ao comprimento do vão 93-94 e do relevo, sua queda geraria danos
apenas na torre 95, mas a torre 93 poderia não sofrer os mesmos efeitos.

Nas situações de quedas de estruturas causadas por ventos acima de sua capacidade de projeto, é encontrado relevos
que favorecem os corredores de vento, ou seja, as torres estão posicionadas de forma que o vento incida com uma força
perpendicular ao sentido da LT. Para isto ocorrer, tanto o relevo como a vegetação devem “colaborar” para a formação
do corredor. Porém, pela observação do local, não foi possível identificar pontos de formação de corredor de vento
próximo às estruturas 94 e 95. Aliado a isto, é possível observar os valores de velocidade de vento identificados pela
estação de medição do Simepar, ver figura 13, localizada em Ponta Grossa, que apresentava informações de baixos
índices de velocidade na região para os horários próximos aos da contingência.

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Os dados coletados evidenciam a baixa probabilidade da causa da queda das estruturas ter sido por fortes rajadas de
vento, ou mesmo por temporais que tenham ocorrido na região durante o início da noite do dia 08/02/2010. Durante a
obra de reconstrução foi possível avaliar no local as condições das fundações e do solo nas bases. A observação da
fundação consiste na verificação da movimentação das grelhas. As grelhas fora de posição indica a probabilidade de
esforços no topo da torre ter movimentado a base da mesma. Para os casos em que fortes ventos causam as quedas, é
comum verificar que as fundações de um lado sofrem esforços de compressão que causam o afundamento dos pés e no
outro lado as fundações sofrem esforços de tração, a ponto dos pés sofrerem arrancamento. Para os casos em que o
solo possui boa agregação e rigidez suficiente para manter a torre estável, a movimentação é superficial, apenas
entortando as ferragens. Na avaliação da torre 94, o solo encontrava-se praticamente normal e nada evidenciava que as
fundações teriam se movimentado. Para a torre 95, foi diagnosticado que as fundações estavam completamente fora de
posição. Na figura 16, observamos que a torre está bem rente ao solo e percebe-se que as ferragens dos montantes
estão bem tortos próximo à base da torre. Em uma observação mais detalhada, encontramos duas fundações com mais
de 0,5 m para fora da superfície do solo. Em contrapartida, as outras duas fundações encontravam-se mais de 1,0 m
para baixo do solo. As figuras 14 e 15 mostram dois pés distintos da antiga torre 95 enterrados e retorcidos sob a
superfície do solo.

Um fato a ser observado é a quantidade de água presente na base da fundação. Além disto, a terra nesta região possuia
um aspecto escurecido com forte odor, igual ao de uma região pantanosa. Durante a escavação dos pés observou-se
que este solo encharcado estava muito solto, assim como toda a região até o rio, aproximadamente 100 metros no
sentido da torre 96. Para uma simples verificação, foi pego uma haste de ferro de 2 metros de comprimento e foi
tentado cravá-la manualmente no solo, próximo aos pés. Sem muito esforço esta ferragem foi enterrada em mais de 1
metro, provando que pelo menos 1 metro de solo das fundações não possuía capacidade de manter a estabilidade da
estrutura.

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3. Conclusões

Pelo levantamento de dados e observação das características do local da queda das torres, pode-se afirmar que a
primeira torre a cair foi a de número 95. Com sua queda, a torre 94 foi puxada pelos cabos até ir ao solo e a torre 96 foi
puxada, até que o peso da torre e dos cabos fossem sustentados pela mata ciliar do rio, o suficiente para comprometer
definitivamente a capacidade de sustentação da mesma.

Desta forma, conforme a análise realizada, a causa principal da queda da estrutura 95 foi o solo encharcado com terra
de baixa agregação, o qual não foi capaz de sustentar o peso da estrutura 95, causando o colapso desta e das
estruturas adjacentes.

4. Referências bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5422 (1985). Projeto de linhas aéreas de transmissão
de energia elétrica. Rio de Janeiro.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA – COPEL (2014). Disponível em www.copel.com.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (2007). Atlas do Potencial Eólico do Estado do Paraná. Curitiba.

Fuchs, R. D. (1977).Transmissão de Energia Elétrica: Linhas Aéreas – Volume 1. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora.

Labegalini, P. R., Labegalini, J. A. Fuchs, S. R. D., Almeida, M. T. (1992). Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de
Transmissão. 2ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher.

Wazen, R. N. (2011). Avaliação da Suscetibilidade de Falhas em Estruturas Metálicas de Linhas de Transmissão.


Dissertação de Mestrado da Universidade Federal do Paraná, 2011.

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