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DOSSIÊ
desigualdade racial nos Estados Unidos da América
Aldon Morris*
Vilna Bashi Treitler**
Este artigo investiga o papel da raça e do racismo nos Estados Unidos da América. Ele trata de raça como con-
ceito, explorando, primordialmente, o motivo da existência de categorias raciais e da desigualdade racial. Também,
nele, examinamos a atual situação da raça nos Estados Unidos ao expor suas manifestações sociais, econômicas e
políticas. Após explorar a magnitude da desigualdade racial nos Estados Unidos, trabalhamos para desvendar os
mecanismos que perpetuam e sustentam, tanto estrutural quanto culturalmente, as disparidades raciais. Em razão
de ações e crenças racistas terem sempre sofrido resistências por parte dos movimentos sociais, atos coletivos, e
resistência individual, nós analisamos a natureza e os resultados dos esforços da luta contra o racismo norte-amer-
icano. Concluímos com uma análise das perspectivas atuais relativas à transformação racial e das possibilidades
para a emergência da igualdade racial. Assim, neste artigo, trazemos uma análise abrangente da situação atual das
dinâmicas raciais nos Estados Unidos e das forças determinadas a combater o racismo.
Palavras-chave: Raça. Racismo. Regimes raciais. Movimentos negros. Desigualdade.
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i85.27828 15
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que os Estados Unidos passassem de uma eco- categorias distintas de acordo com uma cons-
nomia muito parecida com a de um país pobre telação de traços físicos, cognitivos e cultu-
atual para uma economia gigante com uma pu- rais, cuja existência se acredita ser hereditá-
jante economia agrícola (Steinberg, 2001), ten-
ria, distintiva e largamente inescapável (Bashi
do tal trabalho não branco levado o país a seu
Treitler, 2016). Contudo os seres humanos não
estado atual, que rivaliza com o de outros im-
podem ser classificados dessa maneira. Não
périos brancos da Europa Ocidental, os quaisvivemos o suficiente em nosso planeta para
têm um histórico colonial. terem surgido as diferentes subespécies que
Em suma, os colonizadores europeus atualmente chamamos de raças (Gould, 1994).
cunharam raças, para si mesmos e para outrosNão há traço biológico ou genético que marque
seres humanos, criando sua própria suprema- definitivamente um indivíduo como membro
cia branca, à medida que construíam uma hie-de um grupo racial em detrimento de outro;
rarquia racial, sujeitando a ela todos os demais
tampouco há qualquer outra característica que
(Mills, 1999). Colonizadores brancos assegura-
identifique todos os membros de um único
ram a dominação, a supremacia branca e o pri-
grupo racial como distintos de todos os outros
vilégio com a categorização de fenótipos ou tons
grupos raciais (King, J., 1981). De fato, mais de
de pele e com a exploração – todos esses atos en-
100 anos de evidência científica demonstraram
trelaçados, apesar de terem sido criados de modo
que raças humanas (por exemplo, subespécies
inconsistente e ilógico. Assim, alguns europeus
raciais atreladas a um fenótipo e outras carac-
do Norte e seus descendentes mantiveram-se no
terísticas genéticas ou biológicas) não existem.
topo da hierarquia racial, elaborando sistemas
A crença na possibilidade de se categorizar
de classificação racial e criando crenças raciais
cientificamente seres humanos (por exemplo,
juntamente com sistemas de sanção para aque-o racialismo) deriva da fé no positivismo (a
les que não cumprissem tal lógica racial. Como
crença que o conhecimento advém de métodos
os brancos estruturaram a vida social para que
científicos que podem ser aplicados, de modo
pudessem continuar como a “raça” dominante? preciso e empírico, ao comportamento huma-
O que é raça? Como categorias raciais incorpo-
no). Todavia o positivismo é apenas uma cren-
ram não brancos, especialmente quando novas ça, tal como o é o racialismo; nenhum desses
pessoas surgem através de processos de conquis-
sistemas de crenças pode apresentar a ideia de
ta, imigração ou movimentos identitários? Como
raça como cientificamente válida.
um grupo dominante, criando hierarquias de se- Nos Estados Unidos, tendemos a pensar
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mente válido para classificar humanos em ra- construção tem consequências consideráveis.
ças, cientistas sociais estão cada vez mais cer- Norte-americanos partilham um conjunto co-
tos de que raça é uma construção social. Sig- mum de ideias sobre como rotular uma pessoa
nifica dizer que raças são ficções criadas pelo como membro de uma determinada categoria
Homem, criações da mente humana baseadas social, ou, caso se prefira, há um senso comum
em fatores que não têm significado, embora lhe racial. Tal senso comum não apenas é aplicado
seja atribuído um significado por construções na forma como se rotula alguém, como também
feitas por nós e que com as quais (alguns de dita expectativas sobre seu comportamento, e
nós) concordamos. O esquema classificatório define como tais pessoas devem se comportar
mais comum emprega o fenótipo: racialistas diante de pessoas racialmente diversas. Quan-
(e racistas) acreditam que pessoas com certas do expectativas sobre comportamento racial
características físicas (textura ou curvatura ca- não são cumpridas, surgem sanções raciais.
pilar, grau ou ausência de melanina na pele, Elas podem ser brandas – por exemplo, quando
cor da íris, espessura dos lábios) podem ser as- o membro de uma família desaprova a escolha,
sociadas a uma “raça”. Atores sociais decidem por parte de um ente querido, de um amigo ou
utilizar características fenotípicas para atribuir parceiro fora da linha divisória racial –, ou po-
pessoas a raças, declarando pessoas como ra- dem ser rigorosas e duras – por exemplo, quan-
cialmente parecidas. Contudo, quando faze- do alguém se encontra nas mãos de membros
mos tais atribuições, ignoramos, de modo in- de um grupo de ódio, que constitui uma milícia
coerente, a enorme lista de elementos que dis- racial destinada a defender uma ordem racial
tinguem tais pessoas, incluindo naturalidade, estrita. Esses fundamentos que organizam a
língua, cultura, parentalidade e ancestralidade. ordem racial – categorias raciais, hierarquias,
Por exemplo, nos EUA, ilogicamente, acredita- senso comum, e sanção – são vistos como es-
mos que a prole de uma pessoa “branca” com truturantes do paradigma racial dos Estados
uma pessoa “negra” necessariamente será “ne- Unidos (Bashi Treitler, 2016).
gra”, devido à aderência a uma regra de hipo- De forma geral, nos EUA, pessoas que
descendência aplicada a pessoas com qualquer acreditam em raças acabaram por se afastar de
grau de “negritude” – exceto se tal indivíduo ideias atreladas a noções antigas da biologia
for “branco” o suficiente e viver de modo a evi- ou das ciências naturais relativas à raça. Es-
tar sua detecção como uma pessoa negra. Cate- sas pessoas passaram a crer que designações
gorias raciais estão em constante uso nos EUA, raciais se relacionam com o caráter de um gru-
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sucesso econômico, habilidades parentais, ou res racializados. Logo, faz sentido começar a
comportamento criminal) que pode ser aplica- tratar das desigualdades raciais no nascimento
do a grupos raciais, ainda que a forma de se e na morte. Os EUA são notoriamente pobres
classificarem os seres humanos seja variada eentre os países mais desenvolvidos no que
desorganizada (primeiro através da aparência tange aos cuidados com os recém-nascidos e
física e do sangue e, mais recentemente, atra-
com as recém-mães, tendo caído no ranking do
vés dos genes), levando a categorias raciais em
6º ao 26º lugar nos últimos 50 anos (Matoba;
constante mutação e que são nebulosas (Mor- Collins, 2017). A cada ano, 23.000 recém-nas-
ning, 2011). Por certo, os antirracistas necessi-
cidos morrem nos EUA, antes de seu primeiro
tam lutar contra todas essas desigualdades e as
aniversário. Os resultados têm influência de
crenças que as sustentam (Kendi, 2016). questões raciais, uma vez que a maior parte
Em 1860, o Senador Jefferson Davis fezdessas mortes envolve não brancos. Na capital
seu infame discurso no senado, opondo-se às do país, Washington DC, o distrito mais pobre
verbas federais para educação de negros e de-(Ward 8, onde residentes negros são maioria)
clarando que a indiferença racial existia desde o
tem uma taxa de mortalidade infantil que é
início em um governo que “não foi fundado por10 vezes maior que aquela observada no dis-
negros nem para negros, [...] mas por homens trito mais rico (Ward 3, com residentes predo-
brancos para homens brancos” (Kendi, 2016, p.minantemente brancos). Na costa oposta, em
2). A Guerra Civil Americana começaria no anoSão Francisco, mães negras têm 8 vezes mais
seguinte e terminaria em 1865, com a liberta-chances de sofrer com a morte de seu filho re-
ção daqueles tornados escravos pela escravidão
cém-nascido do que as mães brancas. Tem se
racial. As ficções raciais que historicamentetornado claro que a razão de tal disparidade se
tornaram a escravidão uma realidade continu- vincula a uma questão de racismo, não sendo
aram a moldar inequidades raciais contempo- apenas decorrente do fato de elas se situarem
râneas. Decerto, as desigualdades raciais e as
em classificações raciais distintas (Carpenter,
crenças que as justificam assombram a história
2017). Em que pese a taxa de mortalidade in-
dos EUA, moldando nossas políticas socioeco- fantil geral ter caído desde 1950, a diferença
nômicas e nossos comportamentos até a data entre a mortalidade infantil de negros e bran-
de hoje. Elas informam como compreendemos cos, em verdade, cresceu nas quatro décadas
um ao outro como seres étnicos, formando subsequentes (Singh; Yu, 1995) e chega, ago-
nosso conhecimento quanto a quem pertence ra, à situação na qual um número 50% maior
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à nação e quem nunca será incluído, também de crianças negras morre no primeiro ano de
contribuindo para nosso julgamento quanto a vida, em comparação com o de crianças bran-
se devemos culpar a hierarquia racial ou os so-
cas (Firger, 2017). Quando negros norte-ameri-
cialmente excluídos pela situação difícil desses
canos sobrevivem à infância, eles têm a menor
últimos. A seguir, examinaremos, brevemente, expectativa de vida (74,6 anos) dentre todos os
até onde essa falácia de pensamento racial nos
grupos raciais, enquanto asiáticos e latinos têm
levou, dois séculos após a declaração de Davis.
a maior expectativa, no patamar de 86,5 e 82,8
anos, respectivamente, e brancos têm a expec-
tativa de 78,9 anos (Kaiser Foundation, 2009).
O ESTADO ATUAL DAS RELAÇÕES A qualidade de vida de uma pessoa, en-
RACIAIS NOS EUA tre seu nascimento e sua morte, varia de forma
enormemente desigual entre as “raças”. A títu-
As inequidades raciais norte-ameri- lo de exemplo, negros e indígenas (“indígenas
canas são evidentes quando a vida começa e norte-americanos” e nativos do Alasca) têm
continuam presentes ao longo da vida dos se- uma performance muito pior do que brancos
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na maioria dos indicadores de saúde, enquan- carcerados e jogados nas amarras do sistema
to latinos e asiáticos (particularmente certos de justiça criminal tem efeitos devastadores
grupos étnicos asiáticos) têm um desempenho nas comunidades dessas pessoas (Alexander,
pior em alguns e melhor em outros. Pessoas 2010). A existência de ficha criminal torna o
adultas não brancas têm mais chances de estar acesso ao mercado de trabalho excessivamen-
sem seguro de saúde para promover melhores te difícil para ex-detentos não brancos (Pager,
condições de assistência (Artiga et al., 2016). 2003). A alta taxa de encarceramento diminui
Contudo enormemente as possibilidades de matrimô-
nio para mulheres não brancas, afetando ne-
Disparidades raciais e étnicas existem mesmo quan-
do há similaridades em termos de cobertura por se-
gativamente a renda e a estabilidade familiares
guro de saúde, renda, idade, e gravidade de condi- (Wilson, 1987). Além disso, o encarceramento,
ções médicas. Por ser a taxa de mortalidade de cân- muitas vezes, leva à exclusão política de pes-
cer, doenças cardíacas e diabetes significantemente soas negras, a tal ponto que acadêmicos come-
maior entre minorias raciais e étnicas do que entre çam a considerá-la a reencarnação do regime
brancos, tais disparidades são inaceitáveis (Nelson,
de opressão de Jim Crow (Alexander, 2010). É
2002, p. 6).
justo concluir que o encarceramento em mas-
Nos EUA, raças têm vidas segregadas, e sa, tendente à prisão de pessoas não brancas,
todas as grandes cidades nos EUA são hiperse- eleva a opressão racial nos Estados Unidos a
gregadas, significando dizer que a segregação níveis alarmantes, na contemporaneidade.
racial é claramente evidente, independente- Outros indicadores de qualidade de vida
mente de como seja medida. A segregação é demonstram disparidades raciais similares. O
um fator que contribui para uma série de pro- relatório publicado pelo Centro de Pobreza
blemas, dentre eles o não menos importante ra- (CPI) e Desigualdade da Universidade de Stan-
cismo do meio ambiente, uma vez que, quando ford no ano de 2017 se concentrou em 10 áreas
comparados aos brancos, os negros sofrem com de desigualdade (emprego, pobreza, uso de se-
maiores níveis de exposição a toxinas, tanto guridade social, moradia, educação, encarce-
em razão da segregação geográfica, quanto pelo ramento, saúde, renda, riqueza e mobilidade),
fato de empresas poluírem mais em áreas habi- tendo concluído que profundas desigualdades
tadas por pessoas negras (Newkirk, 2018). existem e persistem em muitos desses setores,
Os Estados Unidos também se torna- e que as diferenças entre brancos dominantes
ram infames em razão da sua posição global e não brancos são substanciais e sua diminui-
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de ferro de dominação humana (Morris, 1993). traficantes de escravos e seus vigilantes tinham
Pesquisadores da escravidão norte-americana de se manter sempre alertas para prevenir re-
(Aptheker, 1974; Franklin, 1967) concordam beliões e controlar aquelas que se iniciavam
que a escravidão racial foi um complexo sis- em condições desafiadoras. Em muitos casos,
tema de sujeição. O sistema escravagista utili- escravos rebelados tomavam os navios negrei-
zava medidas duras – assassinato, castigo com ros, matavam traficantes brancos e retornavam
chicote, formas brutais de punição, restrições à África. Alguns navios vagavam eternamente
ao deslocamento e a relações sexuais, ignorân- no mar quando rebeliões os tiravam de curso.
cia imposta, violência ideológica e mental e Também era comum que escravos se jogassem
monitoração constante – para que se manter. no mar, optando pela morte em vez da escra-
A escravatura norte-americana durou por mais vidão em uma terra desconhecida. Decerto, o
de dois séculos, pois, como notou Aptheker protesto negro contra a escravidão nasceu den-
(1974, p. 67), “Atrás do dono e seus agentes tro de navios negreiros, pois sua carga humana
pessoais, existia um sistema elaborado e com- lutou implacavelmente pela liberdade.
plexo de controle militar [...] praticamente to- Escravos que chegavam ao solo norte-a-
dos os homens adultos brancos eram respon- mericano se rebelavam, apesar da brutalidade
sáveis pelo serviço de patrulhamento”. O sis- hostil e da intensa vigilância que acompanha-
tema também se manteve devido ao uso, pela va sua condição de escravos. Através de pro-
aristocracia, das classes trabalhadoras brancas testos, escravos aumentaram os custos da sua
como controladoras e vigilantes, as quais eram subordinação racial e do terror que era utiliza-
recompensadas com rendas escassas e um sta- do para mantê-los subordinados, transforman-
tus modesto com base na ideia de que eram do a instituição cruel em um negócio arriscado
melhores do que os escravos negros (Du Bois, e perigoso, o que levou, posteriormente, à sua
1935). Assim, através da exploração brutal de derrubada. Escravos negros, nos EUA, frequen-
escravos, a aristocracia branca sulista acumu- temente interrompiam os mecanismos da es-
lou enorme riqueza e construiu um elaborado cravidão através de atos individuais de resis-
império fundado na produção de algodão, ta- tência, que incluíam automutilação, suicídio,
baco e outras commodities. As elites europeias abortos indetectáveis, envenenamento de se-
também dependiam da escravidão negra, na nhores e a provocação de incêndios.
América e em outros lugares, para alimentar Com o acúmulo de anos de servidão, os
seus gananciosos impérios. Sob a escravidão, a escravos ensinaram a si mesmos a construir
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escravos organizadas que ameaçavam as fun- 1863 a 1877), um enorme número de ex-escra-
dações do terrível regime. Aptheker, ao co- vos foi deixado indefeso, sem armas, terras,
mentar sobre a relevância das revoltas de es- riqueza, renda ou abrigo. Após a guerra, o go-
cravos, afirmou: “Rebelião e conspiração para verno nacional retirou as forças que protegiam
rebelar refletem a maior forma de protesto [...] os escravos, deixando a aristocracia branca su-
[e também refletem] uma profunda e ampla in- lista perdedora livre para recapturar ex-escra-
quietação: a insurreição ou o plano correspon- vos e forçá-los ao trabalho com novas formas
diam ao clarão de luz que mostrava o profundo de extrema exploração econômica, política e
distúrbio atmosférico que o criava” (Aptheker, social (Morris, 1984). O regime Jim Crow per-
1974 apud Morris, 1993, p. 34). Revoltas de mitiu que brancos capitalistas do Sul levassem
escravos negros continuaram a balançar o re- os negros de volta às plantações, forçando-os a
gime da supremacia branca, criando instabi- trabalhar em troca de uma compensação que
lidade e possibilitando, eventualmente, que a mal gerava uma renda de subsistência, num
escravidão fosse frontalmente atacada. sistema de débito servil. Como possuidores de
Em seu livro clássico, Black Reconstruc- fração da terra cultivada, os antigos escravos
tion (1935), W. E. B. Du Bois elucidou como ficavam endividados perante seus antigos se-
os escravos negros libertaram a si mesmos, no nhores, presos num sistema de contabilidade
contexto da Guerra Civil Americana, a qual que tornava impossível o acúmulo de dinheiro
correspondeu a um conflito entre os estados suficiente para se tornarem economicamente
nortistas (“a União”), que temiam uma domi- independentes ou providenciarem abrigo e co-
nação da economia escravagista e mais robusta mida de forma adequada às suas famílias. Sob
do Sul, e os estados escravagistas sulistas (“a o regime Jim Crow, as elites brancas prospera-
Confederação”). Os escravos foram bem suce- ram, e as classes trabalhadoras brancas conti-
didos na interrupção da economia sulista com nuaram a servir como intermediárias raciais,
enormes greves, participando dos esforços de possuindo uma renda um pouco maior do que
guerra e provendo serviços de apoio essen- aquela obtida por negros. Tais disparidades ra-
ciais, bem como lutando como soldados que ciais de renda e o bônus do privilégio racial
derramavam seu sangue em prol da liberdade. foram suficientes para desencorajar a união
Du Bois demonstrou que a Confederação teria entre trabalhadores brancos e negros em uma
provavelmente ganhado a guerra, não fosse pe- classe (Du Bois, 1935). O regime em questão
las determinadas insurreições de escravos e os correspondia a um sistema tripartite de domi-
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danos que elas causaram ao Sul. Através dos nação (Morris, 1984), uma vez que controlava
anos de aparentemente interminável servidão, os negros política, social e economicamente.
os protestos de escravos enfraqueceram a ins- Durante as nove décadas do regime Jim Crow,
tituição, levando à sua completa queda. Eles os negros do Sul não possuíam direitos políti-
provaram que Frederick Douglas estava corre- cos que os brancos devessem respeitar. A ex-
to: “Aquele que seria livre deve dar o primeiro clusão dos negros significava que eles não po-
golpe” (Douglass, 1863). diam participar como jurados em júris popu-
Mesmo após a libertação, contudo, a lares, nem eleger membros da classe política.
autodeterminação provou ser algo difícil, uma Sem direitos políticos, as pessoas negras não
vez que as severas construções raciais da Era podiam proteger seus interesses. Além disso,
Jim Crow substituíram a escravidão, colidindo elas eram constantemente restringidas, políti-
com os sonhos de liberdade dos ex-escravos. ca e socialmente, por ameaças constantes de
Como afirmou Du Bois, o regime Jim Crow era terror, inclusive linchamento.
a escravidão com um novo nome. No breve A dominação racial que os negros vi-
período da Reconstrução Pós-Guerra Civil (de venciaram sob o regime Jim Crow foi pessoal e
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Na década de 1950, a comunidade negra diretas não violentas passaram a incluir outros
havia passado por considerável urbanização boicotes, grandes marchas, sit-ins, detenções
em razão da migração de negros do Sul para em massa, demonstrações em massa e outras
as cidades do Norte, e instituições urbanas, técnicas deliberativamente criadas para inco-
em especial a igreja, eram mais fortes e mais modar a ordem do regime Jim Crow. A ação
capazes de mobilizar e apoiar um movimento direta não violenta modificou a distribuição
de massa contra o regime Jim Crow (Morris, de poder entre os dominadores e os domina-
1984). O boicote ao ônibus em Montgomery dos em razão da sua capacidade de perturbar
teve como base essas instituições e organiza- a ordem social de forma simples e eficiente.
ções comunitárias negras e logo evoluiu para Sistemas de dominação perduram, pois mono-
um movimento de massa. Liderado pelo ca- polizam o poder nas mãos daqueles em posi-
rismático líder Martin Luther King Jr., o mo- ções altas e impõem uma ausência de poder
vimento escolheu o método de ação direta não aos dominados. Os movimentos sociais podem
violenta como uma tática principal para der- gerar a força necessária para a mudança atra-
rotar o regime Jim Crow. Também nova para vés da mobilização; uma comunidade faz um
o movimento foi a mobilização em massa. Em pacto para explicitamente recusar que as coi-
tempos anteriores à ação de Montgomery, as sas funcionem como sempre. Os participantes
lutas antirracistas tendiam a ser iniciadas por do Movimento dos Direitos Civis aperfeiçoa-
indivíduos ou travadas por poucos litigantes e ram o uso efetivo de ações diretas não violen-
advogados na justiça. O boicote ao ônibus se tas a partir de meados da década de 1950 e na
diferenciou enormemente de tais esforços: ele década de 1960. Quando grandes mobilizações
envolveu as massas negras diretamente numa forçaram o governo federal a passar a Lei de
atividade organizada que pretendia perturbar Direitos Civis de 1964, a qual baniu todas as
o status quo. O Reverendo James Lawson, um formas de segregação racial, uma grande vitó-
grande estrategista do movimento, explicou a ria contra o regime de Jim Crow foi finalmente
diferença que fez a ação direta de massa não alcançada. Outras mobilizações, em 1965, fo-
violenta: “Muitas pessoas, quando sofrem e mentaram a adoção, pelo governo federal, da
veem seu povo sofrendo, querem participação Lei de Direitos de Voto, a qual trouxe a inclu-
direta. Então, você põe nas mãos de todos os ti- são dos negros do Sul e retirou outro pilar do
pos de pessoas comuns uma alternativa positi- regime Jim Crow, que vedava a participação
va à impotência e à frustração. Essa é uma das política de pessoas negras.
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grandes coisas da ação direta” (Lawson, 1978 Se, por um lado, tais conquistas foram
apud Morris, 1984, p. 124). notáveis, por volta de 1955 ficava claro que a
Martin Luther King, concordando com remoção das barreiras estabelecidas pelo regi-
Lawson, explicou como o poder da perturba- me Jim Crow não excluiria os efeitos de sécu-
ção foi utilizado para a obtenção da mudan- los de opressão econômica e social que debili-
ça: “A ação direta não violenta objetiva criar tara pessoas negras, suas economias e comu-
uma crise e estabelecer uma tensão criativa, de nidades. Uma intervenção direta, na forma de
modo que uma comunidade que sempre se re- ação afirmativa, era necessária para que fosse
cusou a negociar é forçada a confrontar a ques- endereçada essa privação e, em 1965, o Presi-
tão” (King JR., 1963, p. 1). dente Johnson apoiou sua adoção para que fos-
Assim, o boicote ao ônibus mudou in- sem remediadas as dificuldades sofridas pelas
teiramente a lógica da resistência antirracista, pessoas negras, tendo afirmado:
e o sucesso de tal ação foi confirmado com o Mas Liberdade não é suficiente. Não se podem var-
término da segregação nos ônibus de Mont- rer as cicatrizes de séculos ao dizer: ‘Agora vocês
gomery. Partindo de tal vitória, grandes ações estão livres para ir para onde quiserem, fazer o que
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quiserem, e escolher os líderes que lhes agradam’. lização, devido à grande abrangência da tese
Não se pega uma pessoa que, por anos, ficou acor- em questão em várias instituições norte-ame-
rentada e a liberta, trazendo-a para a linha de iní-
ricanas, incluindo a mídia, o mercado de tra-
cio de uma corrida, dizendo: ‘Você está livre para
competir com todos os outros’, acreditando-se que
balho, as escolas e universidades, concursos de
tal situação é justa. Assim, não é suficiente apenas beleza, sendo que visões da supremacia branca
abrir os portões da oportunidade. Todos os nossos estavam presentes em cada um desses contex-
cidadãos precisam ter a possibilidade de caminhar tos. Mas um novo movimento – o Movimento
por esses portões (Johnson, 1965). Black Power – surgiu no final da década de 1960
e no início da década de 1970, para erradicar a
Em apenas uma década, o Movimento tese de inferioridade negra e para buscar o po-
dos Direitos Civis tinha derrubado o regime der, em vez de uma mera integração racial. Esse
formal de Jim Crow e aberto a possibilidade de Movimento defendia um novo modo de se olhar
execução de medidas tangíveis que eram ne- para a negritude: “Negro é lindo” (“Black is be-
cessárias para a equalização da qualidade de autiful”). Tal tema já se fazia presente nas obras
vida entre as raças. A queda do regime certa- de acadêmicos negros anteriores, incluindo
mente abriu a oportunidade para novas possi- Du Bois, Jessie Fauset e o historiador Carter G.
bilidades, incluindo a eleição de Barack Oba- Woodson. Também era um tema central na arte
ma, o primeiro presidente negro dos Estados e na literatura do movimento de Renascimento
Unidos, quatro décadas mais tarde. do Harlem, na década de 1920. Similarmente,
Como resta claro a partir da seção ante- o Movimento Garvey, da década de 1920, con-
rior, que descreve as diferenças entre a vida de tribuiu para essa perspectiva empoderada, ao
não brancos e brancos, os EUA ainda sofrem promover o orgulho negro. O Movimento Black
com dimensões relevantes de racismo que Power popularizou essa perspectiva nas massas,
continuam intocadas, apesar do sucesso dos lutando pelo estabelecimento de Estudos Ne-
movimentos. Europeus e pessoas brancas de gros (“Black Studies”), especialmente em uni-
ascendência europeia oficialmente rotularam versidades, explorando nobres heranças negras
os negros americanos como uma raça inferior, presentes na Diáspora Africana.
ao implementarem a escravidão na América O Movimento Black Power defendia o
do Norte, e tal rótulo perdura. Essa marca se controle comunitário da polícia e o empode-
tornou útil para justificar séculos de opressão ramento econômico como parte de sua luta
contra homens e mulheres negros em uma ter- para o ganho real de poder e para levá-lo às
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Power revelou a grande magnitude das dispari- tal fenômeno, incluindo “racismo simbólico”
dades raciais no Norte. Formalmente, o regime (Kinder; Sears, 1981), “racismo laissez faire”
Jim Crow pode não ter afetado o Norte, mas a (Bobo; Kluegel; Smith, 1996), “racismo sem
segregação racial e a opressão, de fato, encon- distinção de cor” (Bonilla-Silva, 2006) e “novo
travam-se espalhadas pelas cidades nortistas. Jim Crow” (Alexander, 2010). Todas essas pers-
Tal como no movimento sulista não violento, o pectivas concordam que o racismo continua
Movimento Black Power obteve concessões do sendo uma clara realidade nos EUA contempo-
governo, apesar de ser difícil traçar sua origem râneos, que se faz presente num amplo discur-
diretamente do movimento. so público somente de formas mais furtivas.
Nos Estados Unidos do século XXI, a es- A pobreza concentrada em bairros ne-
cravidão e a opressão legal do regime de Jim gros e em áreas degradadas, as quais lembram
Crow estão rigidamente proibidas por lei. De colônias internas, continua a ser um problema
fato, a discriminação racial é amplamente con- perturbador e persistente. Em tais localidades,
siderada como politicamente incorreta, mes- residentes negros e pessoas de cor vivenciam
mo no contexto atual, no qual a direita intole- altos índices de desemprego, escolas inferio-
rante tem tido mais espaço, em razão do apoio res, alta criminalidade, intensa violência e al-
explícito e tácito do 45º Presidente dos Estados tos níveis de encarceramento. Essas áreas das
Unidos. A maioria dos brancos nos EUA acre- cidades dos EUA lembram favelas da América
dita que o racismo é uma coisa do passado e do Sul e de outras localidades do mundo onde
crê que ser chamado de “racista branco” é algo se concentram os pobres. O problema assusta-
inexprimível e horrível. Mesmo no ambiente dor é que não há soluções óbvias à vista que
mais gentil dos anos de Obama, vimos negros possam imediatamente transformar tais cida-
ficarem bem atrás de brancos no que diz res- des negras devastadas nos EUA. Do ponto de
peito às chances de uma melhor qualidade de vista do poderoso, essas favelas estão “fora da
vida. Em outros termos, a desigualdade racial vista” e “fora da mente”, não merecendo qual-
institucionalizada é prevalente nos EUA, e tal- quer atenção ou injeção de recursos aptos a
vez seja até óbvia. Ainda assim, nos Estados transformá-las. Ainda assim, mesmo as pesso-
Unidos, não é fácil tratar do racismo de forma as de cor com uma boa qualidade de vida vi-
aberta. A desigualdade, o ânimo e a violência venciam o racismo rotineiramente e estão bem
racistas são amplamente difundidos, mas falar atrás de seus pares brancos, especialmente no
do assunto não é algo tolerado. Parece inaceitá- que diz respeito à riqueza, uma vez que são
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vel para uma sonora parcela da população que incapazes de transferir recursos através das ge-
alguém ajoelhe em silêncio, enquanto o hino rações, devido a uma inexistência de heranças,
nacional é tocado antes de uma partida espor- gerada pelo legado da escravidão e pelo regime
tiva, para dar atenção ao silêncio do próprio Jim Crow.
governo quanto aos homicídios frequentes de Atualmente, encontros violentos com a
pessoas negras e desarmadas, cometidos por polícia advindos da sujeição criminal racial
policiais (Branch, 2017). E aparentemente não (racial profiling) ocorrem diariamente durante
importa que a face do movimento tenha sido atividades rotineiras, havendo problemas re-
considerada a “Pessoa do Ano de 2017” pela levantes raciais que necessitam ser resolvidos
revista Time (Gregory, 2017). Contradições nos EUA do século XXI. A fim de proteger os
entre atos claramente racistas e um maior si- interesses de grupos dominantes, a vigilância e
lêncio da sociedade quanto à injustiça racial o policiamento dos pobres e oprimidos consti-
têm desafiado acadêmicos a compreenderem o tuem altas prioridades. Atividades criminosas
que parece ser um novo regime de opressão ra- baseadas em uma economia subterrânea com-
cial. Acadêmicos têm atribuído vários nomes a pensam a inexistência de empregos viáveis,
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Aldon Morris, Vilna Bashi Treitler
mas também justificam (nas mentes dos bran- com movimentos anteriores, os quais tinham
cos dominantes) os altos índices de vigilância fortes elementos homofóbicos ou temiam que a
policial em comunidades negras e de cor, onde participação gay pudesse deslegitimar sua luta.
tais pessoas sofrem com a sujeição criminal, e Os novos movimentos antirracistas também
incessantes abordagens para revista (stop-and- optaram pela descentralização da liderança no
-frisk). Essas práticas, conduzidas muitas vezes lugar da burocratização e de processos decisó-
por policiais brancos, criam interações hostis e rios formais; eles resistem a estratégias “de cima
até mesmo violentas entre agentes de contro- para baixo” e utilizam amplamente as redes so-
le social e pessoas de cor. Ademais, levam a ciais para a mobilização e para a organização
detenções em massa, ferimentos e até mesmo de suas estratégias (Fleming; Morris, 2015). Fi-
à morte. O número de assassinatos de jovens nalmente, os novos movimentos antirracistas
negros – e, cada vez mais, também de mulhe- tendem a ter objetivos limitados, buscando, por
res negras – tem se tornado um barômetro pelo exemplo, o fim da violência policial e do encar-
qual o clima racial é medido (Crenshaw, 1989). ceramento em massa.
Independentemente da existência de evidên- A questão que perdura é se tais movi-
cias, raramente há condenações de policiais mentos serão bem sucedidos. Eles enfrentam
que causam ferimentos ou matam pessoas ne- assustadores desafios, incluindo o de poderem
gras e de cor. Cada uma das absolvições causa sustentar a si próprios, devido à sua organização
revolta, pois elas revelam a injustiça e o caráter ser solta e suas práticas decisórias serem infor-
tendencioso do sistema de justiça criminal e mais. A situação racial nos EUA também atinge
da sociedade em si (Van Cleve, 2016). acadêmicos e ativistas de cor, que têm dificulda-
Novos movimentos sociais, incluindo des para tratar de questões de raça e racismo em
o Dream Defenders, o Black Lives Matter e o instituições de ensino superior que são predomi-
#SayHerName foram organizados para a con- nantemente brancas. Eles sofrem mais com o es-
frontação do moderno regime racista norte-a- gotamento (burnout) e com a “fadiga da batalha
mericano, dando nomes às vítimas e perpetra- racial”, devido à complexidade de seu trabalho e
dores, compartilhando notícias de violência do seu senso de urgência sobre o estado de injus-
antinegra e de desigualdade racial, e educando tiça racial (Gorski, 2018). Talvez o grande desafio
o público para que todos nós tomemos nota do enfrentado por ativistas contemporâneos, tanto
que ocorre. Tais movimentos foram desenvolvi- de dentro quanto de fora da academia, seja a pos-
dos como uma resposta ao grande número de sibilidade de movimentos antirracistas, ampla-
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Aldon Morris, Vilna Bashi Treitler
THE RACIAL STATE OF THE UNION: ÉTAT RACIAL DE L’UNION: comprendre la race et
understanding race andr acial inequality in the les inégalités raciales aux États-Unis d’Amérique
United States of America
This paper interrogates the role of race and racism Notre article évaluera le rôle de la race et du racisme
in the United States of America. The paper grapples en Amérique. Le document aborde conceptuellement
with race conceptually as it explores why racial la race en explorant pourquoi les catégories raciales
categories and racial inequality exist in the first et l’inégalité raciale existent en premier lieu. Le
place. We also examine the current state of race in document passe à l’examen de l’état actuel de la
North America by laying bare it social, economic race en Amérique en mettant à nu les manifestations
and political manifestations. After exploring sociales, économiques et politiques. Étant donné
the magnitude of racial inequality in the United l’ampleur de l’inégalité raciale aux États-Unis, le
States, we labor to unravel the mechanisms both document cherche à démêler les mécanismes à
structurally and culturally that perpetuates and la fois structurels et culturels qui perpétuent et
sustains racial disparities. Because racist actions maintiennent les disparités raciales. Parce que le
and beliefs have always been resisted by social mouvement raciste a toujours été combattu en
movements, collection action, and resistance at the Amérique par des mouvements sociaux, des actions
personal level, we assess the nature and outcomes de collecte et de résistance au niveau personnel,
of struggles to overthrow North American racism. le journal évaluera la nature et les résultats des
We conclude by assessing the current prospects for luttes pour renverser le racisme américain. Ainsi,
racial transformation and the possibilities for the l’article fournira une analyse de l’état actuel de la
emergence of racial equality. Thus, in this paper, dynamique raciale aux États-Unis ainsi que des
we provide an overarching analysis of the current forces déterminées à démanteler le racisme.
state of racial dynamics in the United States and the
forces determined to dismantle racism.
Mots-clés: Race. Racisme. Régimen racial. Movement
Key words: Race. Racism. Racial regimes. Black nègre. Inegalité.
movements. Inequality.
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