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Funeral das Rosas

Toshio Matsumoto, cineasta e artista visual falecido em 2017, filma a noite


LGBT+ de Tóquio do final dos anos 1960. Uma das principais obras da nouvelle vague
japonesa, citado por Kubrick como uma referência ao filme Laranja mecânica, O funeral
das rosas foi restaurado em 4k a partir de seu negativo original.

Nesse Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, a permeabilidade das influências


externas é evidente: o rock, a pop art, o personagem Guevara, o pôster dos Beatles na
parede. A avalanche de informações invade também a forma do filme: os limites entre
documentário e ficção inexistem, com Edie (a própria personagem principal) dando
depoimento sobre sua participação ficcional, outras tantas cenas filmadas nas ruas de
Shinjuku, onde as atrizes interagem com ativistas do movimento estudantil, além do uso
gráfico dos balões dos quadrinhos, para ficar em apenas alguns exemplos.

“Cada homem tem a sua própria máscara, a qual esculpiu por muito tempo.”
Ouvida por Edie em visita a uma exposição no início do filme, numa gravação que faz às
vezes de voz off, como comentário onisciente, a frase aponta uma direção neste filme que
é repleto de camadas justapostas (ou máscaras). Os corpos entrelaçados em transformação
nessa sociedade turbulenta nos são oferecidos de maneira aproximada, abstrata em suas
formas. Os rostos são recriados, às vezes até derretidos. Tal metamorfose do rosto e do
corpo é uma recorrência em outros trabalhos de Matsumoto, como Mona Lisa (1973), em
que a famosa pintura é sinuosamente distorcida por efeitos do recém-surgido vídeo
analógico. Em Atman (1975), Matsumoto retoma a ideia da máscara e dos movimentos
corporais: Atman é o nome de uma das primeiras divindades budistas, que é associada à
destruição. Fotografadas quadro a quadro, a máscara, as coreografias e a trilha trazem
referências do teatro nô. Opção formal igualmente presente em O funeral das rosas, a
imagem e as máscaras são fundidas numa acelerada montagem em stop motion, em que
distorção e abstração são elementos-chave da implosão ficcional.

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