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Dinâmica do Manto e Deformação Continental

Book · September 2008

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1 author:

Sérgio P. Neves
Federal University of Pernambuco
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Available from: Sérgio P. Neves


Retrieved on: 20 October 2016
Projeto Gráfico:
Autor
Montagem e Impressão:
Editora Universitária
Revisão ortográfica:
Ângela Santos

Imagem da cobertura:
5-Minute Gridded Global Relief Data Collection (ETOPO5).
Globo terrestre mostrando o relevo continental e a batimetria do assoalho oceânico. As feições
fisiográficas mais marcantes são: o sistema de cadeias de montanhas Himalaia-Tibete (centro); o
rifte proto-oceânico entre a África e a Arábia (Golfo de Aden e Mar Vermelho; esquerda); os
traços de hotspots Reunião e Ninetyeast, no oceano Índico (abaixo); e os arcos de ilhas e fossas
oceânicas relacionados com subducção das placas do Pacífico e das Filipinas (direita). Este
material não é sujeito à proteção de direitos autorais e pode ser acessado através do site
www.ngdc.noaa.gov
Dedicado à
Jandira e Olga

ii
Sumário

Prefácio .........................................................................................................................................ix

1. Petrologia e Geoquímica: Revisão de Alguns Conceitos


1.1. Introdução...........................................................................................................................................1
1.2. Elementos maiores e traço ..................................................................................................................1
1.3. Fusão parcial, compatibilidade e incompatibilidade ..........................................................................1
1.4. Empobrecimento e enriquecimento; fertilidade e infertilidade ..........................................................2
1.5. Minerais e rochas................................................................................................................................3
1.6. Classificação de rochas ígneas e séries magmáticas ..........................................................................3
1.7. Rochas e fácies metamórficas ............................................................................................................4
Referências selecionadas ...........................................................................................................................5

2. Geocronologia
2.1. Introdução...........................................................................................................................................7
2.2. Conceitos básicos ...............................................................................................................................7
2.3. Método Rb-Sr .....................................................................................................................................8
2.4. Método Sm-Nd ...................................................................................................................................9
2.5. Método U-Pb ....................................................................................................................................11
2.5.1. Generalidades ............................................................................................................................11
2.5.2. Curva concórdia ........................................................................................................................11
2.5.3. Métodos .....................................................................................................................................12
2.5.4. Aplicações .................................................................................................................................13
2.6. Termocronologia ..............................................................................................................................14
2.6.1. Método 40Ar – 39Ar ....................................................................................................................14
2.6.2. Datação por traços de fissão ......................................................................................................15
2.6.3. Aplicações .................................................................................................................................15
2.7. A escala do tempo geológico............................................................................................................15
Referências Selecionadas ........................................................................................................................16

3. Estrutura e Composição do Interior da Terra


3.1. Introdução.........................................................................................................................................17
3.2. Ondas sísmicas .................................................................................................................................17
3.3 Características sísmicas das camadas da Terra .................................................................................18
3.4. Composição da crosta .......................................................................................................................20
3.4.1. Crosta continental ......................................................................................................................20

iii
3.4.2. Crosta oceânica..........................................................................................................................21
3.5. Tipos e províncias crustais ...............................................................................................................21
3.5.1. Tipos crustais.............................................................................................................................21
3.5.2. Províncias crustais .....................................................................................................................23
3.6. Composição do manto ......................................................................................................................24
3.6.1. Manto superior ..........................................................................................................................25
3.6.2. Zona de baixa velocidade ..........................................................................................................25
3.6.3. Zona de transição e manto inferior ............................................................................................26
3.6.4. Camada D’’ ...............................................................................................................................27
3.7. Composição do núcleo .....................................................................................................................27
Referências selecionadas .........................................................................................................................28

4. Convecção Mantélica e Tectônica de Placas


4.1. Introdução.........................................................................................................................................31
4.2. Características térmicas e mecânicas da litosfera .............................................................................31
4.3. Tectônica de Placas ..........................................................................................................................32
4.4. Evidências indicando atuação da tectônica de placas .......................................................................34
4.4.1. Distribuição de hipocentros de terremotos ................................................................................35
4.4.2. Terremotos e mecanismos focais...............................................................................................36
4.4.3. Tomografia sísmica ...................................................................................................................37
4.4.4. Reversões do campo magnético e faixas de anomalias magnéticas no assoalho oceânico .......40
4.4.5. Idades do assoalho oceânico ......................................................................................................44
4.4.6. Paleomagnetismo.......................................................................................................................44
4.4.7. Sedimentos oceânicos, fluxo térmico e batimetria do assoalho oceânico .................................45
4.4.8. Movimento de placas no presente .............................................................................................46
4.5. Descrevendo o movimento das placas tectônicas .............................................................................46
4.6. Forças responsáveis pela tectônica de placas ...................................................................................48
4.7. Simulações numéricas ......................................................................................................................49
Referências selecionadas .........................................................................................................................50

5. Convecção Mantélica, Plumas e Hotspots


5.1. Introdução.........................................................................................................................................53
5.2. Evidências indicando a existência de plumas ...................................................................................54
5.2.1. Tomografia sísmica ...................................................................................................................54
5.2.2. Anisotropia sísmica ...................................................................................................................55
5.2.3. Superdomos e anomalias do geóide ..........................................................................................55
5.2.4. Argumentos petrológicos ..........................................................................................................56
5.2.5. Argumentos geoquímicos ..........................................................................................................58
5.2.6. Argumentos isotópicos ..............................................................................................................58

iv
5.3. Hotspots sem relação com plumas ...................................................................................................59
5.4. Traços de hotspots e velocidades absolutas de placas ......................................................................60
5.5. Plumas e tectônica de placas ............................................................................................................60
5.6. Uma visão global da dinâmica e evolução do manto .......................................................................62
Referências selecionadas .........................................................................................................................63

6. Ambientes Tectônicos: Estrutura e Associações Petrotectônicas


Características
6.1. Introdução.........................................................................................................................................65
6.2. Riftes continentais ............................................................................................................................65
6.2.1. Características gerais e mecanismos de formação.....................................................................65
6.2.2. Controles na formação e evolução de riftes continentais ..........................................................67
6.2.3. Associações petrotectônicas ......................................................................................................68
6.3. Margens passivas e assoalho oceânico .............................................................................................68
6.4. Dorsais oceânicas .............................................................................................................................69
6.4.1. Classificação e morfologia ........................................................................................................69
6.4.2. Magmatismo ..............................................................................................................................70
6.4.3. Petrologia e geoquímica ............................................................................................................71
6.4.4. Hidrotermalismo e metamorfismo .............................................................................................72
6.5. Margens ativas e arcos de ilhas ........................................................................................................73
6.5.1. Características gerais .................................................................................................................73
6.5.2. Início do processo de subducção ...............................................................................................74
6.5.3. Vulcanismo ................................................................................................................................75
6.5.4. Petrologia e geoquímica ............................................................................................................76
6.5.5. Deformação e metamorfismo ....................................................................................................77
6.5.6. Associações petrotectônicas em arcos: síntese ..........................................................................78
Referências selecionadas .........................................................................................................................78

7. Orogênese
7.1. Introdução.........................................................................................................................................81
7.2. Tipos de orógenos ............................................................................................................................82
7.3. Ofiolitos ............................................................................................................................................83
7.4. Orógenos relacionados a zonas de subducção ..................................................................................84
7.4.1. Orógenos acrescionários............................................................................................................84
7.4.2. Orógenos do tipo Andino ..........................................................................................................85
7.4.3. Orógenos do tipo Laramide .......................................................................................................85
7.4.4. Orógenos extensionais-contracionais ........................................................................................86
7.4.5. Convergência oblíqua e transpressão ........................................................................................86
7.5. Orógenos colisionais ........................................................................................................................87

v
7.5.1. Fatores que tornam complexo o fenômeno da colisão continental ............................................87
7.5.2. Subducção continental, metamorfismo de pressão alta e ultra-alta e slab break-off .................88
7.5.3. Domínios em um orógeno colisional maduro ...........................................................................89
7.5.4. Platôs orogênicos, fluxo canalizado e extrusão .........................................................................90
7.5.5. Escape lateral .............................................................................................................................91
7.6. Orógenos intracontinentais ...............................................................................................................92
7.7. Extensão sin- a pós-orogênica ..........................................................................................................93
7.7.1. Colapso orogênico .....................................................................................................................93
7.7.2. Complexos de núcleo metamórfico ...........................................................................................94
7.7.3. Domos gnaissicos ......................................................................................................................95
7.7.4. Vulcanismo................................................................................................................................95
7.8. Plutonismo sinorogênico ..................................................................................................................96
7.9. Metamorfismo regional ....................................................................................................................97
7.9.1. Tipos de metamorfismo e ambientes tectônicos ........................................................................97
7.9.2. Trajetórias P-T-t ........................................................................................................................98
7.10. Distinção entre os diferentes tipos de orógenos: síntese ................................................................98
Referências selecionadas .........................................................................................................................99

8. Origem e Diferenciação da Terra


8.1. Introdução.......................................................................................................................................103
8.2 Meteoritos e a formação do sistema Solar .......................................................................................103
8.2.1. Tipos de meteoritos .................................................................................................................103
8.2.2. Formação do Sistema Solar .....................................................................................................104
8.3. Diferenciação primária da Terra.....................................................................................................105
8.4. Formação do Sistema Terra-Lua ....................................................................................................106
8.5. Formação da atmosfera e hidrosfera...............................................................................................106
8.5.1. Origem da atmosfera ...............................................................................................................106
8.5.2. Origem da hidrosfera ...............................................................................................................108
8.5.3. Atmosfera rica em oxigênio ....................................................................................................108
8.6. Formação e crescimento da crosta continental ...............................................................................109
8.6.1. A crosta e o manto primitivos .................................................................................................109
8.6.2. Crescimento da crosta continental ...........................................................................................111
8.7. Os primeiros 700 Ma: síntese .........................................................................................................112
Referências selecionadas .......................................................................................................................113

9. O Arqueano: Geologia e Regimes Tectônicos


9.1. Introdução.......................................................................................................................................115
9.2. Distribuição dos terrenos arqueanos ...............................................................................................116
9.3. Geologia dos terrenos arqueanos ....................................................................................................117

vi
9.3.1. Terrenos de alto grau ...............................................................................................................117
9.3.2. Terrenos granito-greenstone ....................................................................................................118
9.4. Regimes tectônicos arqueanos........................................................................................................119
9.4.1. Evolução térmica do manto .....................................................................................................119
9.4.2. Tectônica de placas no Arqueano? ..........................................................................................119
9.4.3. Ausência de tectônica de placas no Arqueano? .......................................................................120
9.4.4. Regimes mistos, avalanches no manto, crescimento continental episódico ............................121
9.5. TTGs e greenstone belts: ambientes tectônicos..............................................................................122
9.5.1. TTGs........................................................................................................................................122
9.5.2. Greenstones .............................................................................................................................122
9.5.3. Associações TTG/greenstone ..................................................................................................123
9.6. Cratonização ...................................................................................................................................123
Referências selecionadas .......................................................................................................................124

10. Cinturões Orogênicos Proterozóicos, Supercontinentes e Superplumas


10.1. Introdução.....................................................................................................................................127
10.2. A transição Arqueano-Proterozóico e os primeiros continentes ..................................................127
10.3. Distribuição e geologia de províncias orogênicas proterozóicas..................................................128
10.4. Eventos orogênicos proterozóicos ................................................................................................129
10.4.1. Paleoproterozóico ..................................................................................................................130
10.4.2. Mesoproterozóico ..................................................................................................................132
10.4.3. Neoproterozóico ....................................................................................................................132
10.5. Reconstituições paleogeográficas .................................................................................................133
10.6. Magmatismo anorogênico ............................................................................................................135
10.7. Superplumas e supercontinentes...................................................................................................136
Referências selecionadas .......................................................................................................................137

11. Cinturões Orogênicos Fanerozóicos e o Supercontinente Pangéia


11.1. Introdução.....................................................................................................................................139
11.2. Reconstruções paleogeográficas para o Paleozóico .....................................................................139
11.3. Cinturões orogênicos paleozóicos ................................................................................................141
11.3.1. Orógenos colisionais .............................................................................................................141
11.3.2. Orógenos relacionados a zonas de subducção .......................................................................143
11.3.3. Orógenos intracontinentais ....................................................................................................143
11.4. Reconstruções paleogeográficas para o Meso-Cenozóico............................................................144
11.5. Cinturões orogênicos mesozóicos ................................................................................................144
11.5.1. Orógenos colisionais .............................................................................................................144
11.5.2. Orógenos relacionados a zonas de subducção .......................................................................144
11.5.3. Orógenos intracontinentais ....................................................................................................147

vii
11.6. Cinturões orogênicos cenozóicos .................................................................................................147
11.6.1. Orógenos colisionais .............................................................................................................147
11.6.2. Orógenos relacionados a zonas de subducção .......................................................................150
11.6.3. Orógenos intracontinentais ....................................................................................................152
11.7. O futuro ........................................................................................................................................152
Referências selecionadas .......................................................................................................................153

Fontes das Figuras ....................................................................................................................................157


Índice remissivo ..........................................................................................................................163

viii
Prefácio

O rápido esgotamento da primeira edição deste livro tornou patente o anseio da


comunidade geológica pela publicação de textos didáticos de Geologia. Embora a
estruturação geral da edição original tenha sido mantida, de certa forma este é outro
livro: o texto foi totalmente reescrito, a maioria das figuras substituída ou redesenhada e
outras figuras e tabelas adicionadas. Como é inevitável, isto resultou em um volume
com um número maior de páginas que o original. De qualquer maneira, acredita-se que
os assuntos abordados possam ser cobertos numa disciplina normal de graduação com
45 ou 60 horas de aula. O livro foi escrito tendo em mente o estudante de graduação,
embora possa servir como introdução para cursos mais avançados. Para tornar a leitura
o mais simples possível, optou-se pela não citação de referências bibliográficas no texto,
como é usual em livros mais avançados ou artigos em periódicos científicos. Ao invés
disto, ao final de cada capítulo, uma série de artigos ou livros é listada. As referências
selecionadas obedeceram a dois critérios: (1) livros, capítulos de livros ou artigos de
revisão foram escolhidos para proporcionar uma visão mais abrangente dos tópicos
tratados no capítulo e/ou fornecerem um histórico da evolução das idéias que levaram
ao desenvolvimento dos modelos mais aceitos atualmente; (2) artigos recentes (a
maioria publicados nos últimos dez anos) foram selecionados para ilustrar o estado da
arte de um tema particular. A partir dessas fontes, o estudante poderá complementar ou
avançar no estudo de tópicos específicos.
O livro tem como objetivo apresentar, de maneira sucinta, as idéias atuais sobre a
dinâmica interna da Terra, correlacionando a formação de cinturões orogênicos com o
mecanismo mais geral de convecção mantélica, do qual o movimento relativo das placas
tectônicas é apenas a expressão superficial. Ele está dividido em onze capítulos. Os dois
primeiros apresentam uma revisão breve de alguns conceitos de Geoquímica e
Petrologia (Capítulo 1) e dos principais métodos de datação geocronológicos (Capítulo
2), conhecimento prévio requerido para a compreensão dos capítulos subseqüentes. As
informações contidas nos capítulos 3 a 5 refletem o conhecimento atual sobre a
estrutura (Capítulo 3) e a dinâmica da Terra, enfocando a tectônica de placas (Capítulo
4) e a formação de plumas mantélicas (Capítulo 5) no contexto da atuação de convecção
no manto. Os dois capítulos seguintes são devotados à dinâmica da litosfera. O Capítulo
6 descreve as principais características dos diferentes ambientes relacionados com a
tectônica de placas e o Capítulo 7 é dedicado à descrição e discussão dos processos que
levam à formação de cadeias de montanhas orogênicas.
A formação da Terra, sua diferenciação primária em manto e núcleo, a origem da
hidrosfera e da atmosfera, e o debate sobre a existência ou não de continentes no
período pré-Arqueano constituem o objeto do Capítulo 8. Os capítulos finais são
dedicados à evolução dos continentes no decorrer do tempo. No Capítulo 8, são
descritas as principais características geológicas dos terrenos arqueanos. Com base
nestes dados e em modelos teóricos e numéricos, são discutidos os possíveis regimes
tectônicos vigentes no Arqueano e a questão da formação e preservação da crosta
continental. O Capítulo 10 começa apresentando os principais fatores que diferenciam o
Arqueano do Proterozóico e prossegue com a descrição dos principais eventos
orogênicos proterozóicos. No final do capítulo, são discutidas a existência de
supercontinentes proterozóicos, suas possíveis configurações e as causas do
magmatismo anorogênico que caracteriza o Mesoproterozóico. O leitor deve ter em
mente, ao ler os capítulos 8-10, a ausência de registro geológico para os primeiros 500

ix
milhões de anos da Terra e as incertezas quanto à interpretação de eventos
precambrianos. Estes fatores fazem com que modelos para a evolução dos continentes
ou de orógenos individuais contenham uma boa dose de especulação. Assim, modelos
consensuais ou quase consensuais no presente podem vir a ser descartados no futuro.
Finalmente, o Capítulo 11 apresenta e discute, com base em reconstituições
paleogeográficas, os eventos orogênicos paleozóicos que resultaram na formação do
supercontinente Pangéia, a fragmentação do supercontinente e a formação de cinturões
orogênicos meso/cenozóicos.

O autor é grato aos colegas Gorki Mariano, José Maurício Rangel da Silva, Otaciel de
Oliveira Melo, Ignez de Pinho Guimarães, Adejardo Francisco da Silva Filho e
Hermanilton Azevedo Gomes por sugestões ao manuscrito original, pela leitura critica
de partes do texto atual e/ou pelo constante encorajamento. Agradecimentos são
também devidos ao CNPq porque, ao rejeitar sistematicamente todos os projetos de
pesquisa submetidos nos últimos dez anos, permitiu que parte do tempo e energia
requerida para a execução dos mesmos fosse canalizada para esta obra.

x
1. Petrologia e Geoquímica: Revisão de Alguns Conceitos

1.1. Introdução Elementos maiores são medidos em


Os deslocamentos e deformações percentagem enquanto os elementos-traço
sofridos pela crosta e pela porção mais normalmente são expressos em partes por
superior do manto terrestre, bem como milhão (ppm). Os elementos maiores são O,
fenômenos superficiais (vulcanismo, Si, Al, Fe, Mg, Ca, Na e K, embora este
terremotos, formação de cadeias de último seja um elemento traço no manto.
montanhas, etc.), estão relacionados com Como o oxigênio é o elemento mais
processos que ocorrem em profundidade. Um abundante na crosta e no manto, a
conhecimento sobre a estrutura, o estado composição química das rochas normalmente
físico e a composição do interior da Terra é é expressa em forma de óxidos de elementos
fundamental para a compreensão dos maiores (SiO2, Al2O3, FeO, MgO, etc.). Uma
mecanismos responsáveis por esses maneira usual de representar graficamente a
processos. Para tanto, uma abordagem composição química de um grupo de rochas é
multidisciplinar se faz necessária, através dos diagramas de Harker, nos quais a
combinando-se as ferramentas das disciplinas porcentagem dos óxidos dos elementos
clássicas da Geologia (Sedimentologia, maiores e a concentração dos elementos-
Estratigrafia, Geologia Estrutural, Tectônica, traço são projetadas versus o teor de sílica
Petrologia) com o uso de métodos geofísicos (Fig. 1.1).
(particularmente sismológicos), geodésicos,
geoquímicos e da física dos minerais. 1.3. Fusão parcial, compatibilidade e
Igualmente importante é quantificar as incompatibilidade
diferentes escalas de tempo nas quais os Uma vez que a maioria dos minerais
processos geológicos ocorrem, o que é formadores de rocha são soluções sólidas, a
possível através dos diversos métodos fusão de uma rocha se dá em um intervalo de
geocronológicos atualmente disponíveis. temperatura. Isto significa que rochas no
Adicionalmente, modelos analógicos e interior da Terra sofrem apenas fusão parcial,
simulações em computador (Geodinâmica) já que a temperatura exigida para fusão total
permitem a investigação dos processos é muito elevada para ser atingida durante
dinâmicos em atuação no interior da Terra. processos geológicos normais. A temperatura
Este capítulo introduz alguns termos e necessária para que uma rocha comece a
conceitos de Petrologia e Geoquímica que sofrer fusão parcial depende da pressão. O
serão necessários para a compreensão dos solidus de uma rocha é a curva, em um
capítulos subseqüentes. As técnicas de diagrama pressão-temperatura, unindo todos
datação mais comuns são descritas no os pontos que marcam o inicio da fusão
capítulo 2. Métodos geofísicos, modelos parcial (Fig. 1.2). Da mesma maneira, outra
geodinâmicos e experimentos sob condições curva (chamada de liquidus) marca o inicio
elevadas de pressão e temperatura são da cristalização de um magma.
abordados nos capítulos 3, 4 e 5. Fusão parcial pode resultar de três
mecanismos (Fig. 1.2): (a) diminuição de
1.2. Elementos maiores e traço pressão (descompressão), (b) elevação de
Elementos maiores são aqueles que temperatura, e (c) rebaixamento do solidus (o
constituem os principais minerais formadores que pode ser causado pela adição de fluidos).
de rochas. Os demais elementos (chamados Processos geológicos que podem acarretar
de traço) têm de se ajustar à estrutura desses uma (ou mais de uma) dessas situações são
minerais ou formar minerais acessórios. discutidos no Capítulo 6.
afinidade com o ferro são chamados
siderófilos (p.ex., Ni, Co, Au).

Figura 1.2. Solidus e liquidus. O solidus é a curva


que marca o início da fusão parcial de uma rocha,
enquanto o liquidus corresponde a uma fusão
completa. No caso de um magma, o liquidus
representa o início da cristalização e o solidus
uma cristalização completa. Para que haja fusão
parcial, uma rocha situada a uma determinada
profundidade deve ser levada a uma profundidade
menor, ter sua temperatura elevada, ou ter seu
solidus rebaixado (linha tracejada).

1.4. Empobrecimento e enriquecimento;


fertilidade e infertilidade
Uma rocha é dita empobrecida
quando apresenta uma pequena concentração
de elementos incompatíveis. Isto pode ser
Figura 1.1. Diagramas de Harker para rochas devido à extração desses elementos durante
graníticas (círculos) e dioríticas (quadrados) do
batólito Caruaru-Arcoverde, Pernambuco. processos de fusão parcial ou migração de
uma fase fluida. Uma rocha enriquecida é
Um elemento traço é incompatível se obviamente o contrário.
sua tendência é entrar na fase líquida durante O empobrecimento ou
eventos de fusão parcial, enquanto que os enriquecimento é expresso relativamente a
elementos compatíveis tendem a permanecer um padrão e representado em diagramas
no resíduo da fusão. A partição de um chamados aranhagramas (spiderdiagrams,
elemento entre as fases sólida e líquida em inglês). Nestes diagramas os elementos-
depende de seu grau de ajustamento à traço são colocados na abscissa em ordem
estrutura cristalina dos minerais, o que, em decrescente de incompatibilidade (da
boa parte, é condicionado pelo raio e carga esquerda para a direita) e suas concentrações
iônica do elemento. Elementos com raio normalizadas na ordenada (Fig. 1.3). Um
iônico grande são incompatíveis. Eles são caso particular é o dos elementos terras raras
chamados de elementos litófilos de raio (Fig. 1.4). Padrões comumente utilizados são
iônico grande (ou LILE, da sigla em inglês o condrito (um tipo de meteorito pétreo; ver
para large ion lithophile element). Estes Capítulo 8), o manto primitivo (manto
incluem Cs, Rb, Th, U e os elementos terras superior+crosta continental; ver Capítulo 6) e
raras leves. Elementos compatíveis que têm basaltos oceânicos (N-MORB na figura 1.3;
ver Capitulo 6).
2
onde estas situações podem ocorrer são
discutidos no Capítulo 6.

1.5. Minerais e rochas


Os principais minerais formadores de
rocha são silicatos (olivina, piroxênios,
anfibólios, feldspatos, quartzo). Minerais
máficos ou ferromagnesianos são escuros.
Eles são os principais constituintes das
rochas máficas (gabros, anortositos, etc.) e
ultramáficas (dunito, peridotito, etc.). Rochas
félsicas (granitos, granodioritos, etc.), por
outro lado, são formadas dominantemente
por minerais claros (quartzo, feldspatos).
Figura 1.3. Aranhagrama ilustrando a variação
Rochas formadas próximas à
composicional de granitóides do batólito Caruaru- superfície da Terra (sedimentares, vulcânicas
Arcoverde, Estado de Pernambuco. e subvulcânicas) são chamadas de
supracrustais. Este termo é empregado
mesmo no caso de elas terem sido
metamorfizadas. Rochas supracrutais
compostas por argilas são chamadas de
pelitos e por quartzo e/ou feldspatos de
psamitos. Os termos metapelito e
metapsamito são empregados para os
equivalentes metamórficos. Rochas
paraderivadas e ortoderivadas são aquelas
resultantes do metamorfismo de rochas
sedimentares e ígneas, respectivamente
(p.ex., paragnaisse, ortoanfibolito).

1.6. Classificação de rochas ígneas e séries


Figura 1.4. Padrão de elementos terras raras para magmáticas
dioritos do batólito Caruaru-Arcoverde, Estado de Rochas ígneas podem ser
Pernambuco. classificadas de acordo com sua mineralogia
A fertilidade de uma rocha é sua ou composição química. Esta última
capacidade de produzir magmas por fusão abordagem é particularmente útil no caso de
parcial e depende dos elementos maiores. rochas vulcânicas. Como todos os minerais
Uma rocha pode ser empobrecida e fértil ao formadores de rocha são silicatos (com raras
mesmo tempo. Uma pequena percentagem de exceções, como em carbonatitos) o principal
fusão parcial pode deixar um resíduo componente destas rochas é SiO2. Assim,
bastante empobrecido em elementos uma primeira classificação é baseada no teor
incompatíveis, mas esta rocha mantém sua de sílica. Rochas ácidas, intermediárias,
capacidade de produzir magmas se for sujeita básicas e ultrabásicas têm teores de SiO2,
a uma temperatura suficientemente alta em respectivamente: acima de 66%; entre 52% e
um evento futuro. Por outro lado, rochas que 66%; entre 45% e 52%; e abaixo de 45%.
passaram por episódios de fusão parcial Exemplos de cada uma destas categorias são
elevadas podem ser posteriormente riolito, andesito, basalto e komatiito.
enriquecidas em elementos incompatíveis Basaltos constituem o tipo de lava
pela percolação de fluidos. Casos específicos mais abundante na Terra e são subdivididos

3
em quartzo toleítos, olivina toleítos e álcali- de alto-K. Rochas básicas a intermediárias
olivina basaltos de acordo com seus minerais com valores elevados de K2O são incluídas
normativos. A composição normativa de uma na série shoshonítica. A suíte toleítica
rocha (ou norma CIPW, acrônimo formado geralmente apresenta uma variação
pelas iniciais do sobrenome dos petrólogos composicional mais restrita em comparação
que propuseram o procedimento de cálculo) é com a suíte cálcio-alcalina.
derivada a partir da composição química. Ela
fornece os minerais que a rocha teria caso (a)
tivesse sido completamente cristalizada sob
condições anidras. Quartzo toleítos, olivina
toleítos e álcali-olivina basaltos têm como
minerais normativos, respectivamente:
quartzo+hiperstênio; olivina+hiperstênio; e
nefelina.
Na maioria das rochas, o óxido mais
abundante, depois de SiO2, é Al2O3. Uma
classificação muito empregada,
principalmente para rochas graníticas, utiliza
as razões Al2O3/(Na2O+K2O+CaO), chamado
índice de saturação em alumina, e (b)
Al2O3/(Na2O+K2O):
Rochas peraluminosas
Al2O3/(Na2O+K2O+CaO)>1
Rochas metaluminosas
Al2O3/(Na2O+K2O+CaO)<1<Al2O3/(Na2O+
K2O)
Rochas peralcalinas
Al2O3/( Na2O+K2O)<1
Nestas razões, as percentagens em
peso de cada óxido são convertidas em massa
molecular dividindo-se pelo seu peso
molecular.
Outro modelo de classificação
considera os teores de Na2O+K2O em uma
suíte de rochas (Fig. 1.5a). Rochas ricas em
álcalis são chamadas de alcalinas e
caracterizadas petrograficamente pela Figura 1.5. (a) Diagrama (Na2O+K2O)-sílica
presença de feldspatóides, anfibólio sódico mostrando os campos das suítes alcalinas e
e/ou piroxênio sódico (p.ex., nefelinito, subalcalinas. (b) Diagrama K2O-sílica mostrando a
subdivisão da suite subalcalina. Triângulos e
fonolito, sodalita sienito, riebeckita granito). quadrados correspondem, respectivamente, a
Rochas subalcalinas são bem mais comuns amostras de rochas dioríticas e graníticas do
que rochas alcalinas e subdivididas nas suítes batólito Caruaru-Arcoverde, Pernambuco.
toleítica, cálcio-alcalina e shoshonítica (Fig.
1.5b). A suíte cálcio-alcalina para rochas
vulcânicas inclui basaltos, andesitos, dacitos 1.7. Rochas e fácies metamórficas
+/- riolitos, sendo andesito a rocha Fácies metamórficas são campos de
característica. A suíte cálcio-alcalina pode pressão e temperatura caracterizados por
ainda ser subdividida de acordo com o teor associações minerais típicas (Fig. 1.6). As
de K2O numa série de médio-K e numa série principais fácies do metamorfismo regional

4
para condições de temperatura e pressão de Rochas formadas a pressões ou
moderadas a altas (>300ºC e >200 MPa) são temperaturas extremamente elevadas têm
xisto-verde, anfibolito e granulito. As fácies sido descritas com cada vez mais freqüência
xisto-azul (ou glaucofana-lawsonita) e e estendem o campo do metamorfismo para
eclogito são típicas de pressão elevada (>1 pressões superiores a 2 GPa e temperaturas
GPa). Rochas máficas metamorfizadas sob de até 1150ºC. Rochas de pressão ultra-alta
condições das fácies anfibolito e eclogito são caracterizadas pela presença de coesita
consistem, dominantemente, de anfibólio e e/ou diamante. As associações minerais em
plagioclásio, no primeiro caso, e de granulitos de temperatura ultra-alta incluem
clinopiroxênio e granada, no segundo. Estas ortopiroxênio aluminoso-sillimanita-quartzo,
rochas recebem a mesma denominação das safirina-quartzo e espinélio-quartzo.
fácies que elas caracterizam, isto é, anfibolito
e eclogito, respectivamente. A rocha Referências selecionadas
metamórfica da fácies granulito também Best, M.G., 2003. Igneous and Metamorphic
recebe este nome, podendo ser paraderivada Petrology, Blackwell Publishing, 2ª Ed.
Philpotts, A.R., 1990. Principles of Igneus and
ou ortoderivada, máfica ou félsica. A Metamorphic Petrology, Prentice-Hall.
associação característica é ortopiroxênio, Winter, J.D., 2001. An Introduction to Igneus and
clinopiroxênio, plagioclásio ± granada. Metamorphic Petrology. Prentice-Hall.
(disponível gratuitamente on-line na página do
autor: http://people.whitman.edu/~winterj/).

Figura 1.6. Diagrama P-T esquemático mostrando as


principais fácies do metamorfismo regional,
ressaltando em sombreado os campos para
metamorfismo de pressão e temperatura ultra-altas.
Linhas tracejadas correspondem a condições não-
metamórficas (esquerda) e ao início de fusão parcial
em sistemas graníticos na presença de água (direita).
Também são mostradas as curvas de reação quartzo-
coesita e grafita-diamante.

5
6
2. Geocronologia

se os métodos Ar-Ar e de traços de fissão em


2.1. Introdução apatita.
O princípio da datação de rochas por Os dois últimos grupos diferem dos
métodos geocronológicos reside no fato de dois primeiros porque resultam da produção
alguns elementos possuírem um ou mais de isótopos radioativos pela interação de
isótopos instáveis. Estes isótopos, chamados raios cósmicos com a atmosfera ou a
de radioativos, sofrem desintegração para superfície da Terra (sendo, por isso,
gerar isótopos radiogênicos pela emissão de igualmente referidos como métodos de
partículas α, β ou γ. A taxa de desintegração datação por nuclídeos cosmogênicos). A
radioativa (λ) é característica para cada idade de exposição de superfícies a raios
isótopo e, geralmente, expressa em termos de cósmicos pode ser estimada pela quantidade
sua meia-vida (t1/2), definida como o tempo dos isótopos cosmogênicos 26Al, 10Be e 36Cl
necessário para que o número de átomos do produzidos in situ. Um exemplo do quarto
isótopo radioativo originalmente presente caso é a colisão de raios cósmicos com
seja reduzido à metade. núcleos de nitrogênio para produzir carbono
Os métodos de datação através de uma reação (n, p), onde n é um
geocronológicos podem ser utilizados para: nêutron e p é um próton:
(a) determinar idades de cristalização de
14
minerais e rochas; (b) estudar a história N + n → 14C + p
térmica de rochas (métodos
termocronológicos); (c) estabelecer a idade O 14C produzido decai para o 14N com
de exposição de superfícies; (d) determinar a uma meia vida de cerca de 5700 anos. A
idade de morte de organismos. quantidade de 14C na atmosfera é o resultado
No primeiro grupo, incluem-se os de um equilíbrio entre produção cosmogênica
métodos Rb-Sr, Sm-Nd e U-Pb. e decaimento radioativo. Cada organismo
Conhecendo-se o tempo de meia-vida e as mantém um equilíbrio com a atmosfera ou o
concentrações dos isótopos radiogênico e oceano enquanto vivo, mas após sua morte
radioativo em uma rocha ou mineral é esta troca cessa e o 14C começa a diminuir.
teoricamente possível calcular a idade de sua Assim, a idade da morte pode ser
formação. Quando a idade obtida determinada pela quantidade de 14C
corresponde à idade de cristalização de remanescente.
rochas ou minerais a partir de um magma, Os isótopos com tempos de meia vida
esta é uma idade ígnea. Quando os minerais longos, representados pelos dois primeiros
em uma rocha são produtos de cristalização grupos, são os de maior utilidade em estudos
ou recristalização no estado sólido, obtém-se tectônicos e de evolução crustal. Os isótopos
uma idade metamórfica. mais comuns empregados, com suas
Os métodos termocronológicos respectivas constantes de decaimento e
baseiam-se no fato de que, a temperaturas tempos de meia-vida, são mostrados na
elevadas, o sistema pode ser aberto com Tabela 2.1.
respeito ao isótopo radiogênico. Nestas
situações, a idade obtida corresponde ao 2.2. Conceitos básicos
tempo decorrido após os minerais ou rochas A taxa de desintegração de um
terem resfriado até uma temperatura elemento radioativo é dada por:
suficientemente baixa para permitir a dN/dt = -λN → dN/N = -λdt
retenção do isótopo radiogênico na estrutura
cristalina dos minerais. Neste grupo incluem-
7
Tabela 2.1. Sistemas de decaimentos radioativos mais comuns usados na datação de rochas e minerais.
Isótopo radioativo Isótopo radiogênico λ (a-1) Meia vida
87 87
Rb Sr 1,42 X 10-11 48,8 Ga
238 206
U Pb 1,55 X 10-10 4,47 Ga
235 207
U Pb 9,85 X 10-10 0,70 Ga
232 208
Th Pb 4,95 X 10-11 14,0 Ga
147 143
Sm Nd 6,54 X 10-12 106 Ga
40 40
K Ar 5,81 X 10-11 11,93 Ga

87
onde N é o número de átomos do elemento Sr ocorre naturalmente em rochas
radioativo no tempo t. Por integração, independentemente do Rb. Portanto, o
obtém-se: número de átomos de 87Sr inicialmente
presente [(87Sr)o] tem de ser adicionado ao
lnN = - λt + c número de isótopos produzidos por
decaimento radioativo. Assim, o número
Para t = 0, c = lnN0, onde N0 é o número de total de átomos de 87Sr é dado por:
átomos do isótopo radioativo originalmente
87
presente. Substituindo-se c por lnN0 na Sr = (87Sr)o + 87Rb (eλt – 1)
equação acima, tem-se:
Esta equação pode ser modificada
lnN-lnN0 = -λt → lnN/N0 = -λt → N0 = dividindo-se cada termo pelo número de
Neλt átomos de 86Sr, o qual é constante, uma vez
que este isótopo é estável e não resulta do
Se, depois de decorrido um tempo t, decaimento de isótopos de outros elementos.
o número de átomos do isótopo radiogênico A razão deste procedimento é que a
produzido é F, o número de átomos do determinação das razões isotópicas de
isótopo radioativo restante é N = N0 – F. elementos por espectrometria de massa é
Logo: mais precisa que suas concentrações
absolutas. Fazendo-se isto, obtém-se:
F = N0 – N → F = Neλt – N, ou
87
F = N (eλt – 1) Sr/ 86Sr = (87Sr/ 86Sr)o + 87Rb/ 86Sr (eλt – 1)

A equação acima é a fórmula geral A equação acima constitui a base da


que permite a datação de rochas e/ou determinação de idades pelo método Rb-Sr.
minerais. A partir dela, pode-se ver que o Ela é uma equação da linha reta da forma Y
tempo de meia vida (isto é, quando F = N) é = Ro + mX, onde m (o declive da reta ) é
dado por: igual a (eλt – 1). Esta reta é chamada de
isócrona e o valor de Ro de razão inicial
1 = (eλt1/2 – 1) → eλt1/2 = 2 → t1/2 = ln2/λ (Fig. 2.1).
Considere um grupo de rochas ígneas
cogenéticas ou minerais comagmáticos (1, 2
2.3. Método Rb-Sr e 3 na Fig. 2.1). Na época de formação, a
No caso do decaimento de 87Rb para razão 87Sr/ 86Sr deveria ser a mesma para
87 todas as rochas (ou minerais) porque a
Sr, a equação fundamental da
geocronologia se torna: cristalização de um magma não fraciona os
isótopos de Sr, já que a diferença de massa
87
Sr = 87Rb (eλt – 1) entre eles é muito pequena. As razões Rb/Sr
(e, portanto 87Rb/86Sr), por outro lado,
podem variar devido à diferença de

8
comportamento geoquímico entre o Rb e o 0,702-0,705, granitos crustais podem
Sr. Como o Rb é mais incompatível que o apresentar valores superiores a 0,710-0,720.
Sr, devido ao seu maior raio iônico,
amostras mais ácidas normalmente têm
valores mais elevados da razão 87Rb/86Sr.
Igualmente, a razão Rb/Sr é diferente em
diferentes minerais (por exemplo, é bem
mais baixa em plagioclásio que em
ortoclásio). Após a cristalização e
resfriamento do magma, a razão 87Rb/86Sr
nas amostras ou minerais começa a diminuir
enquanto a razão 87Sr/86Sr aumenta na
mesma proporção (Fig. 2.1). Assim, se as
razões 87Sr/86Sr e 87Rb/ 86Sr forem
projetadas umas contra as outras, o tempo t e
a razão inicial podem ser determinados pelo
declive da reta de melhor ajuste aos pontos e Figura 2.2. Isócrona Rb-Sr (rocha total) para o
plúton Queimadas (Estado da Paraíba). Notar que a
pela interseção com o eixo das ordenadas, escala vertical é expandida em relação à escala
respectivamente. Um exemplo de datação horizontal. Sem este exagero, a isócrona seria
por rocha total é mostrado na Figura 2.2. quase horizontal. MSWD (mean squared weighted
deviates) representa a dispersão dos pontos com
respeito à linha de regressão calculada pela técnica
dos mínimos quadrados. Em princípio, quanto
menor este valor mais confiável é a idade obtida.

O 87Sr resultante do decaimento de


87
Rb ocupa posições instáveis na rede
cristalina de minerais ricos em Rb, como
ortoclásio e biotita, e tende a ser expulso
desses minerais durante eventos térmicos.
Por esta razão, eventos metamórficos podem
Figura 2.1. Ilustração do princípio de aplicação do
perturbar o sistema Rb-Sr e, assim, este
método Rb-Sr usando a mesma escala para os eixos método é cada vez menos empregado para
x e y. Amostras cogenéticas ou minerais obter idades de cristalização. No entanto, em
comagmáticos (1, 2, 3) movem-se ao longo de circunstâncias favoráveis, o sistema pode ser
linhas retas com declividade -1. A idade de aberto na escala do mineral, mas fechado na
cristalização será tanto mais antiga quanto maior o
declive da isócrona. Na prática, como o decaimento
escala de amostra de mão. Nestes casos, o Sr
do Rb87 é muito lento, o eixo y é expandido para liberado pelas fases ricas em Rb será
poder mostrar o declive da isócrona num formato incorporado nas fases minerais vizinhas
adequado. ricas em Sr, como plagioclásio e apatita.
Uma isócrona construída com minerais
A razão inicial é um indicador da pobres e ricos em Rb pode, portanto,
derivação crustal ou mantélica de uma fornecer a idade do metamorfismo. Nos
rocha. Rb é extraído preferencialmente do casos mais favoráveis, tanto a idade de
manto e incorporado na crosta durante cristalização quanto a do metamorfismo
episódios de fusão parcial. Assim, razões podem ser determinadas.
iniciais elevadas refletem protólitos crustais.
Por exemplo, enquanto muitos basaltos 2.4. Método Sm-Nd
recentes têm razões iniciais no intervalo

9
A equação para o cálculo de idades pequena em rochas terrestres, o parâmetro
pelo método Sm-Nd é similar à empregada epsilon Nd (εNd) é mais utilizado para
para o método Rb-Sr, utilizando-se o isótopo comparar rochas com diferentes razões
estável 144Nd como isótopo de referência: iniciais. Esta notação é definida
matematicamente como:
143
Nd/144Nd =
(143Nd/144Nd)o + 147Sm/144Nd (eλt – 1) εNd = {[(143Nd/144Nd)0/(143Nd/144Nd)CHUR] -
1} x 104
Ao contrário do Rb e Sr, que exibem
comportamento geoquímico contrastantes, onde (143Nd/144Nd)CHUR corresponde ao
Sm e Nd têm propriedades químicas valor da razão 143Nd/144Nd em meteoritos
similares. Isto torna difícil a obtenção de condríticos para a idade considerada (CHUR
amostras de rocha total com variações = chondritic uniform reservoir).
significativas na razão Sm/Nd, Como se assume que a Terra foi
impossibilitando uma aplicação ampla do formada por material semelhante ao de
método. No entanto, ele é muito útil para meteoritos condríticos, rochas com valores
rochas que têm baixas concentrações de Rb εNd próximos a zero teriam sido derivadas do
e/ou não contêm zircão, não podendo ser manto primitivo. No entanto, como a crosta
datadas pelos métodos Rb-Sr ou U-Pb. Este continental cresceu à custa do manto (ver
é o caso de algumas classes de meteoritos e Cap. 8) e o Nd é mais incompatível que o
de rochas máficas. Além disso, Sm e Nd são Sm, por ter raio iônico um pouco maior,
imóveis durante eventos metamórficos que com o decorrer do tempo o manto adquire
podem perturbar mesmo o sistema U-Pb. razões Sm/Nd maiores que o CHUR (Fig.
Nesses casos, o método Sm-Nd pode ser o 2.4). Este manto é chamado empobrecido
único a fornecer a idade de cristalização de devido à perda de elementos litófilos.
rochas metamorfizadas em alto grau. Um Razões Sm/Nd (e, portanto, 143Nd/144Nd)
exemplo é mostrado na Figura 2.3. mais elevadas que o CHUR implicam
valores εNd positivos. Assim, rochas com εNd
143 144
positivo são interpretadas como derivadas
Nd/ Nd
0,5133
do manto empobrecido. A crosta
continental, por outro lado, tem valores
0,5131
Sm/Nd menores que o CHUR e, assim,
magmas formados por sua fusão parcial têm
0,5129
valores negativos de εNd.
A idade modelo de uma rocha (TDM,
0,5127
DM = depleted mantle) corresponde ao
Idade = 782 +/- 100 Ma tempo no qual seu εNd era igual ao do manto
MSWD = 5,2
0,5125
empobrecido. Por exemplo, a Fig. 2.4
mostra que as rochas do Complexo Itapetim
0,5123
0,10 0,14 0,18 0,22 0,24 e do Batólito Fazenda Nova têm idades-
147
Sm/ Nd
144
modelo, respectivamente, em torno de 1,4
Figura 2.3. Isócrona Sm-Nd (rocha total) para Ga e entre 1,8 e 2,0 Ga. Estas idades são
anfibolitos da seqüência metavulcanossedimentar consideravelmente mais velhas que as
Mara Rosa, Goiás. idades de cristalização dos plútons (em torno
de 0,6 Ga).
Como no caso do método Rb-Sr, a Apenas rochas crustais derivadas do
razão inicial 143Nd/144Nd também indica a manto (ou de protólitos derivados do manto)
origem crustal ou mantélica de uma rocha. têm idades-modelo idênticas à sua idade de
Porém, como a variação desta razão é muito cristalização (esta última normalmente

10
obtida pelo método U-Pb em zircão). Estas positivos e idades-modelo idênticas à idade
rochas são chamadas de juvenis e suas de cristalização. Como essas rochas têm
idades correspondem a eventos de formação razões Sm/Nd menores que o CHUR, com o
crustal. passar do tempo, elas adquirem εNd negativo.
Fusão parcial dessas rochas, num evento
posterior, vai gerar granitos com valores εNd
negativos e TDM arqueano ou proterozóico.
Se o magma gerado contiver um
componente juvenil por mistura com
magmas máficos (caso a), os valores εNd
podem ser positivos ou negativos e o TDM
será intermediário entre a idade de
cristalização da rocha e a idade do protólito
granítico. Se houver mistura com magmas
de origem crustal (caso b), o εNd será
negativo.
Figura 2.4. Diagrama de evolução isotópica de Nd
para amostras do Complexo Itapetim (IG) e do 2.5. Método U-Pb
Batólito Fazenda Nova (FN) (Província Borborema, 2.5.1. Generalidades
NE Brasil). Para o decaimento do 238U para 206Pb
235
e do U para 207Pb, tem-se as seguintes
equações:
206
Pb = 206Pb0 + 238U (eλt – 1)
207
Pb = 207Pb0 + 235U (eλt – 1)

Em princípio, essas equações podem


ser utilizadas para construir isócronas U-Pb,
como nos métodos Rb-Sr e Sm-Nd,
utilizando-se 204Pb como isótopo de
referência. Esta abordagem tem sido
empregada no caso de carbonatos marinhos,
os quais são de difícil datação por outros
métodos. No entanto, como urânio é um
Figura 2.5. Diagrama ilustrando como idades
modelo podem não corresponder a eventos de elemento extremamente móvel, isócronas
formação crustal. Granitos arqueanos e construídas com amostra de rocha total são
proterozóicos têm TDM igual à idade de pouco confiáveis.
cristalização, mas granitos de fontes híbridas Minerais acessórios que contenham
(crosta+manto; caso a) ou inteiramente crustais
U, mas não Pb, na sua estrutura (como é o
(caso b) têm TDM mais antigo que a idade de
cristalização. caso de zircão, monazita e titanita) são
ideais para datação pelo método U-Pb.
Rochas derivadas de fontes Nestes casos, a razão inicial é igual a zero e
exclusivamente crustais ou de fontes as equações acima são simplificadas para:
híbridas têm idades-modelo sempre mais 206
antigas que sua idade de formação, podendo, Pb = 238U (eλt – 1)
207
ou não, ter um componente juvenil. Isto é Pb = 235U (eλt – 1)
ilustrado na Figura 2.5. Granitóides
arqueanos e proterozóicos, derivados direta 2.5.2. Curva concórdia
ou indiretamente do manto, têm valores εNd

11
A vantagem do método U-Pb sobre térmica em um espectrômetro de massa. O
os demais métodos de datação reside no fato acrônimo TIMS (das iniciais em inglês para
de o urânio possuir dois isótopos espectrometria de massa por ionização
radioativos, o que permite o cálculo de térmica) também é frequentemente
idades pelas duas expressões seguintes: empregado para descrever este método.
Atualmente, é possível obter idades pela
t = 1/λ238 ln (206Pb/238U + 1) dissolução de apenas um ou de uns poucos
t = 1/λ235 ln (207Pb/235U + 1) grãos de zircão.
Datação in situ de domínios no
Projetando-se as razões 206Pb/238U interior de grãos individuais de zircão pode
versus 207Pb/235U para diferentes valores de ser realizada com o uso de microssonda
t, obtém-se uma curva chamada concórdia iônica, cujo instrumento mais sensível é
(Fig. 2.6). Minerais que se comportam como denominado SHRIMP (de Sensitive High
um sistema fechado para U e Pb desde a sua Resolution Ion Microprobe), e por
formação devem fornecer idades 238U-206Pb espectrometria de massa com plasma
e 235U-207Pb idênticas e, portanto, cair sobre indutivamente acoplado com ablasão a laser
a concórdia. Estas idades são chamadas de (LA-ICP-MS, das iniciais de laser ablation
concordantes. inductively coupled plasma mass
spectrometry). Com estes dois
equipamentos, em combinação com imagens
obtidas por microscopia eletrônica de
varredura ou catoluminescência, é possível
determinar a idade de domínios no interior
de grãos complexos. Nestes casos, idades
diferentes podem estar presentes (Fig. 2.7) e
datação pelo método convencional
forneceria uma média das idades.

Figura 2.6. Diagrama concórdia U-Pb mostrando


a linha concórdia calibrada em milhões de anos.

Em alguns casos, análises isotópicas


de zircões derivados de uma mesma amostra
definem uma linha, ao invés de se
projetarem sobre a concórdia. Esta linha é
chamada de discórdia e as idades obtidas de
discordantes. Apesar disso, os interceptos
superior e inferior da discórdia com a Figura 2.7. Idades U-Pb por LA-ICP-MS no
concórdia podem fornecer informações interior de um grão de zircão de uma amostra de
geológicas importantes. paragnaisse pelítico do Complexo Surubim, Estado
de Pernambuco.
2.5.3. Métodos
O método mais comum para Uma técnica distinta das descritas
determinação de idades U-Pb em minerais acima é a chamada datação química de Pb.
acessórios (usualmente chamado método Assumindo-se que todo o chumbo presente
convencional) envolve a dissolução de grãos em um mineral seja radiogênico, a
de zircão por métodos químicos. A concentração total do chumbo (CPb) é
determinação das abundâncias isotópicas de relacionada às concentrações de urânio (CU)
urânio e chumbo é feita por ionização e de tório (CTh). Essas concentrações podem

12
ser determinadas por microssonda eletrônica cristalinas, zonação oscilatória (Fig. 2.7) e
(em ppm) e utilizadas para a obtenção de razão Th/U > 0,1. Monazita é mais comum
uma idade aproximada pela equação: como mineral metamórfico que zircão e está
se tornando o mineral padrão para a
CPb ~ 0,897 CTh(eλ232t – 1) + determinação de idades de metamorfismo
0,006 CU(eλ235t – 1) + 0,589 CU(eλ238t – 1) pela técnica de datação química de Pb.
Idades discordantes, normalmente,
onde λ232, λ235 e λ238 são as taxas de resultam da perda de Pb durante eventos
decaimento radioativo de 232Th, 235U e 238U, metamórficos. Neste caso, análises de
respectivamente. zircões (ou outros minerais apropriados)
derivados de uma mesma amostra caem
2.5.4. Aplicações sobre a discórdia. Os interceptos superior e
Se um mineral é fechado com inferior da discórdia são interpretados como
respeito à perda ou ganho dos isótopos as idades de cristalização e do evento
radioativos e radiogênicos desde sua metamórfico, respectivamente (Fig. 2.9).
formação, as idades obtidas devem ser
concordantes e correspondem a idades de
cristalização. No caso de rochas ígneas, isto
permite a datação de eventos magmáticos
(Fig. 2.8).

Figura 2.9. Idades discordantes resultantes de


perda de Pb durante a orogênese brasiliana em
ortognaisse paleoproterozóico. Idades obtidas por
LA-ICP-MS.

Discórdias também podem resultar


Figura 2.8. Diagrama concórdia U-Pb para zircões
do plúton Cachoeirinha, Estado de Pernambuco.
da presença de zircões herdados da fonte ou
Idades obtidas por LA-ICP-MS. de perda contínua de Pb. No primeiro caso,
o intercepto inferior fornece a idade da
Em rochas metamórficas rocha e o superior dá a indicação da idade de
ortoderivadas, os zircões presentes seu protólito (Fig. 2.10). No segundo caso, o
comumente são zircões ígneos e fornecem a intercepto superior corresponde à idade da
idade de cristalização do protólito. No rocha e o inferior é forçado para zero.
entanto, zircões metamórficos também Um grande número de análises pode
podem ser encontrados em rochas ser realizado em tempo relativamente curto
metamórficas (tanto paraderivadas como por SHRIMP e LA-ICP-MS. Isto tem feito
ortoderivadas) ou como sobrecrescimentos com que estes métodos sejam cada vez mais
em torno de cristais ígneos. Zircões ígneos utilizados em estudos de proveniência de
podem ser distinguidos de zircões seqüências supracrustais, permitindo inferir
metamórficos pela presença de faces as possíveis áreas fontes que forneceram

13
detritos para a bacia sedimentar (Fig. 2.11). Os três isótopos naturais do argônio
Estes estudos também fornecem a idade são 36Ar, 38Ar e 40Ar. Este último é o mais
máxima de deposição, que deve ser mais abundante (99,6%) e resulta do decaimento
jovem que a do zircão mais novo analisado. do 40K:
40
Ar = 40K (eλt – 1)
O K também produz 40Ca por decaimento
40

radioativo e a equação acima deve ser


corrigida para levar este fato em
consideração. No entanto, sendo a meia vida
do 40Ca muito menor que a do 40Ar, a
equação é válida como uma primeira
aproximação e constitui a base do cálculo de
idades pelo método K-Ar. O problema com
este método reside no fato do Ar ser um gás
e, assim, facilmente perdido do sistema,
fazendo com que as idades obtidas sejam,
em geral, imprecisas. Atualmente, o método
K-Ar só é empregado para rochas
Figura 2.10. Discórdia resultante da presença de relativamente jovens e inalteradas, tendo
grãos de zircão herdados da fonte no Granito sido suplantado pelo método Ar-Ar.
Cabanas, Estado de Pernambuco. Idades obtidas O método de datação Ar-Ar depende
por LA-ICP-MS.
do bombardeamento de 39K por nêutrons em
um reator nuclear para produzir 39Ar. A
reação é:
39
K + n → 39Ar + p

Onde n é um nêutron e p um próton. A


proporção de 39Ar produzido é proporcional
à quantidade de 39K presente na amostra
antes da irradiação:
39
Ar = c39K

Combinando-se esta equação com a primeira


obtém-se:
40
Ar/39Ar = 40K/c39K (eλt – 1) = (eλt – 1)/D
Figura 2.11. Diagrama mostrando a distribuição
de idades concordantes de zircões (obtidas por Se uma amostra de idade conhecida tS for
LA-ICP-MS) de um paragnaisse pelítico do irradiada juntamente com a amostra
Complexo Surubim, Pernambuco. As análises
mostram que o gnaisse foi derivado de fontes com estudada, o termo D pode ser determinado:
idades paleoproterozóicas, mesoproterozóicas e
neoproterozóicas e que a deposição da seqüência D = (eλts – 1) 39Ars/40Ars
ocorreu após 665 Ma.
Logo:
40
2.6. Termocronologia Ar/39Ar = (eλt – 1)/(eλts – 1) 40Ars/39Ars
2.6.1. Método 40Ar – 39Ar

14
Uma idade t pode ser obtida a partir da a granulação e a taxa do resfriamento. As
equação acima para diferentes temperaturas. temperaturas de fechamento para
Para datar uma rocha ou mineral pelo hornblenda, muscovita e biotita (minerais
método Ar-Ar, a amostra é aquecida passo a mais comumente utilizados para datação
passo a diferentes temperaturas. A razão pelo método Ar-Ar) são, respectivamente,
40
Ar/39Ar do gás liberado em cada etapa é da ordem de 530º, 380º e 300ºC.
medido em um espectrômetro de massa. Os
resultados são apresentados em um gráfico, 2.6.2. Datação por traços de fissão
onde as idades calculadas são projetadas A fissão espontânea do 238U produz
contra a percentagem de gás liberado (Fig. nuclídeos que se movimentam em direções
2.12). Idealmente, as idades determinadas a opostas. Isto causa um dano na estrutura
cada temperatura deveriam ser idênticas, cristalina do mineral, deixando um traço que
mas considera-se que o resultado é pode ser observado ao microscópio. Se a
satisfatório se as idades forem coincidentes temperatura é elevada, este traço é
para três ou mais passos correspondendo a rapidamente cicatrizado. No caso da apatita,
mais de 70% do gás liberado. Esta idade é os traços de fissão têm cerce de 14 µm e
chamada idade platô. Na técnica 40Ar/39Ar podem ser, em boa parte, preservados para
clássica é utilizada uma população de temperaturas abaixo de cerca de 100ºC.
numerosos grãos de um mineral, os quais Assim, a densidade de traços de fissão em
são aquecidos em um forno. O método um cristal é proporcional ao tempo
40
Ar/39Ar por sonda laser, introduzido mais decorrido após a rocha ter atingido essa
recentemente, permite a datação de grãos temperatura.
individuais (Fig. 2.12) e mesmo de zonas
locais no interior do grão. 2.6.3. Aplicações
O método Ar-Ar pode ser utilizado
para obter idades de cristalização de rochas
ígneas que tenham resfriado rapidamente ou
de rochas metamórficas de baixo grau. No
caso de rochas ígneas e metamórficas de alto
grau que sofreram resfriamento lento, a
idade (ou idades) 40Ar/39Ar não corresponde
à idade de cristalização, mas sim ao tempo
que a rocha foi resfriada abaixo da
temperatura de fechamento do mineral
analisado (note a diferença de idade entre
grãos de anfibólio e biotita na Fig. 2.12). Em
combinação com o método U-Pb e/ou de
traços de fissão em apatita, isto permite que
Figura 2.12. Espectro de idades aparentes
40
Ar/39Ar para grãos de anfibólio e biotita de um
estimativas de taxas de resfriamento crustal
ortognaisse diorítico na região de Taquaritinga do sejam feitas, o que é muito importante em
Norte, Estado de Pernambuco. P = idade platô. estudos metamórficos. O método de traços
de fissão é ainda empregado em estudos de
O argônio não pode ser retido no denudação e erosão.
interior de um mineral até que uma
temperatura suficientemente baixa, chamada 2.7. A escala do tempo geológico
temperatura de fechamento, tenha sido Para o Fanerozóico, as subdivisões
atingida. A temperatura de fechamento da escala do tempo geológico são baseadas
depende de vários fatores, dentre os quais os em critérios paleontológicos e
mais importantes são a estrutura do mineral, estratigráficos. Ela é numericamente

15
calibrada pela datação de rochas apropriadas (International Union of Geological
e tem sido continuamente refinada à medida Sciences; IUGS), mas não tem sido
que progressos nas técnicas geocronológicas amplamente empregada e não será utilizada
permitem a obtenção de idades com precisão neste livro. Quando necessário, termos
e exatidão cada vez maior. informais como Paleoproterozóico inferior e
Para o Precambriano, a subdivisão do Mesoproterozóico superior, por exemplo,
tempo geológico é puramente cronológica. serão utilizados e não os períodos
O limite entre os éons Arqueano e equivalentes propostos pela IUGS
Proterozóico é colocado a 2,5 Ga e eles (Sideriano, Esteniano). Uma escala do
correspondem, respectivamente, a mais de tempo geológico simplificada é mostrada na
um terço e à quase metade da história Figura 2.13.
geológica da Terra. O Arqueano é
subdividido em Paleoarqueano, Referências Selecionadas
Mesoarqueano e Neoarqueano, e o Dickin, A.P., 2005. Radiogenic Isotope Geology, 2ª
Proterozóico, em Paleoproterozóico, Ed., Cambridge University Press.
Faure, G., 1986. Principles of Isotope Geology, 2ª
Mesoproterozóico e Neoproterozóico. O éon Ed., Wiley.
pré-arqueano é conhecido como Hadeano. Foster, G., Parrish, R.R., Horstwood, M.S.A.,
Chenery, S., Pyle, J.Gibson, H.D., 2004. The
generation of prograde P-T-t points and paths: a
textural, compositional, and chronological study
of metamorphic monazite. Earth and Planetary
Science Letters 228, 125-142.
Hanchar, J.M., Hoskin, P.W.O. (eds.), 2003. Zircon.
Reviews in Mineralogy and Geochemistry 59,
469-500.
Hodges, K.V., 2005. Geochronology and
thermochronology in orogenic systems. In:
Rudnick, R.L. (ed.) The Crust. Treatise on
Geochemistry 3, 263-292, Elsevier.
Jackson, S.E., Pearson, N.J., Griffin, W.L.,
Belousova, E.A., 2004. The application of laser
ablation-inductively coupled plasma-mass
spectrometry to in situ U-Pb zircon
geochronology. Chemical Geology 211, 47-69.
Patchett, P.J., Samson, S.D., 2005. Ages and growth
of the continental crust from radiogenic isotopes.
In: Rudnick, R.L. (ed.) The Crust. Treatise on
Geochemistry 3, 321-348, Elsevier.
Silva, L.C., 2006. Geocronologia aplicada ao
Figura 2.13. Esquema mostrando as principais mapeamento regional, com ênfase na técnica U-
subdivisões do tempo geológico. Pb SHRIMP e ilustrada com exemplos
brasileiros. Publicações Especiais do Serviço
Uma divisão das eras do Geológico do Brasil 1, 1-132.
Proterozóico em períodos foi proposta pela
União Internacional das Ciências Geológicas

16
3. Estrutura e Composição do Interior da Terra

3.1. Introdução
O principal método para determinar a
estrutura interna da Terra é o estudo da
propagação de ondas elásticas através do seu
interior. O ramo da geofísica que se ocupa
desse estudo é chamado de Sismologia. A
determinação da composição das diferentes
camadas da terra revelada pela sismologia é
feita por uma combinação de métodos.
Dentre estes, destacam-se estudos
geoquímicos e petrológicos de rochas
presentes na superfície ou transportadas para
a superfície durante eventos magmáticos ou Figura 3.1. Diagrama em duas dimensões
ilustrando a diferença entre ondas P e S.
tectônicos, e a determinação das
propriedades físicas dos minerais em
laboratório sob condições variáveis de As ondas P podem se propagar em
pressão e temperatura. meios sólidos, líquidos ou gasosos. As ondas
S só se propagam em meios sólidos porque
3.2. Ondas sísmicas líquidos não apresentam resistência se
Uma rocha submetida a um esforço submetidos a esforços cisalhantes. Quando
sofre, inicialmente, uma deformação elástica. uma onda em propagação passa de um meio
Terremotos são gerados quando o esforço para outro com propriedades físicas
aplicado supera a resistência da rocha, diferentes, ela pode sofrer refração e/ou
levando à sua ruptura. Quando isto ocorre, a reflexão e aumentar ou diminuir a
energia elástica armazenada é subitamente velocidade. São essas variações de direção e
liberada e se propaga em todas as direções de velocidade que permitem a determinação
por meio de ondas sísmicas. Existem vários da estrutura interna da Terra. Regiões
tipos de ondas sísmicas. As mais importantes caracterizadas por um aumento ou
para o estudo da estrutura do interior da diminuição brusca na velocidade de
Terra são as ondas P e S (Fig. 3.1). propagação das ondas sísmicas são chamadas
As ondas P são chamadas primárias, de descontinuidades sísmicas.
porque sua velocidade de propagação é maior Os estudos sismológicos podem
que a das ondas S (secundárias) e, assim, elas utilizar ondas sísmicas produzidas por fontes
chegam mais rapidamente a uma estação de passivas ou ativas. No primeiro caso, as
registro sismológico. A direção de ondas sísmicas são provenientes de
propagação das ondas P é paralela à direção terremotos naturais distantes e registradas em
de vibração, como no caso das ondas estações sismológicas. No segundo caso, as
sonoras. Por isso, elas são também fontes de energia são geradas artificialmente
conhecidas como ondas longitudinais ou e medidas em receptores espalhados ao longo
compressionais (Fig. 3.1). Nas ondas S, a de linhas sísmicas. Os tremores podem ser
direção de vibração é perpendicular à direção causados por explosões com tempo
de propagação, sendo elas, também, controlado ou por vibrações produzidas por
chamadas de transversais ou cisalhantes (Fig. caminhões especialmente equipados para este
3.1). fim.

17
3.3 Características sísmicas das camadas variando de 14 a 80 km e, a da segunda,
da Terra tipicamente de 6 a 8 km. Em algumas regiões
A Figura 3.2 mostra um modelo da continentais, é observado um contato
variação das velocidades sísmicas com o gradual, ocorrendo a profundidades entre 12
aumento da profundidade obtido a partir da e 20 km, dependendo do local, chamado
análise de um grande número de medidas. A “descontinuidade” de Conrad, que separa a
partir dela, infere-se que as principais crosta superior da crosta média/inferior. Na
divisões sismológicas da Terra são a crosta, o maioria das regiões, porém, a crosta
manto e o núcleo, sendo o manto subdividido continental é mais bem descrita como
em três camadas e o núcleo em duas (Fig. constituída por uma estrutura com três
3.3). A crosta é separada do manto pela camadas. Um exemplo é mostrado na Figura
descontinuidade de Mohorovicic (ou 3.4. Na crosta superior (<15 km),
simplesmente Moho), a qual se situa, velocidades de ondas P (VP ou α) entre 6,0 e
tipicamente, entre 30 e 50 km de 6,3 km/s são características; valores entre 6.8
profundidade, em regiões continentais, e a 10 e 7.2 km/s predominam na crosta inferior
km de profundidade, em regiões oceânicas. A (abaixo de 30 km). A crosta oceânica
espessura da crosta é tão pequena quando consiste de três camadas sísmicas: a camada
comparada com raio da Terra, que ela quase 1 tem baixos valores de VP (em torno de 2
não é visível na Figura 3.2. O manto é km/s), na camada 2 os valores de VP são
separado do núcleo por uma descontinuidade ainda baixos, mas atingem até 6 km/s, e a
que ocorre a 2890 km de profundidade, a camada 3 tem VP entre 6,8 e 7,3 km/s (Fig.
qual é, às vezes, chamada descontinuidade de 3.5).
Gutenberg. Ondas S não se propagam através
do núcleo externo, indicando que o mesmo é
líquido.

Figura 3.2. Variação de velocidades sísmicas (α -


ondas P, β - ondas S) e de densidade (ρ) com o
Figura 3.3. Principais subdivisões do interior da
aumento da profundidade no interior da Terra.
Terra de acordo com a terminologia mais
freqüentemente utilizada.
A divisão da camada mais externa da
Terra em crosta continental e crosta oceânica A descontinuidade de Mohorovicic é,
é baseada, primariamente, na profundidade geralmente, bem definida, tanto em regiões
da Moho, com a espessura da primeira continentais como oceânicas, e marcada pelo

18
aumento de velocidade das ondas P de 7,2- no manto.
7,3 km/s na base da crosta para 8,0-8,1 km/s

Figura 3.4. Perfis de velocidades de ondas P e S (acima) e modelo 2D de velocidades de ondas P (abaixo) para a
Faixa Brasília e porção ocidental do cráton São Francisco ao longo da linha sísmica mostrada no mapa da
esquerda.

Duas descontinuidades bem marcadas


ocorrem dentro do manto a profundidades de
410 e 660 km (Figs. 3.2 e 3.3). A região
acima da descontinuidade de 410 km
corresponde ao manto superior. Neste, uma
zona de atenuação das ondas sísmicas,
estendendo-se de profundidades entre 50-100
km até 150-200 km, é observada em muitas
regiões oceânicas, mas nem sempre
encontrada abaixo de regiões continentais,
especialmente de suas partes mais antigas.
Esta região é chamada zona de baixa
velocidade ou simplesmente LVZ (das
iniciais em inglês para low velocity zone). A
região entre as descontinuidades de 410 e
660 km é chamada zona de transição e,
abaixo dela, tem-se o manto inferior. Os
gradientes de velocidades na porção inferior
do manto indicam que esta região, chamada
de camada D´´, é lateral e verticalmente
heterogênea, com espessuras variando de
Figura 3.5. Correlação entre a estrutura sísmica da
crosta oceânica e os tipos litológicos presentes a
menos de 150 km até mais de 300 km.
diferentes profundidades em uma seqüência Na base do manto, a velocidade das
ofiolítica completa. ondas P decresce bruscamente de 14 km/s
para 8 km/s e as ondas S deixam de se

19
propagar. Uma descontinuidade a 5150 km Tabela 3.1. Estimativa para a composição química da
de profundidade separa o núcleo externo crosta continental (Rudnick e Gao, 2005). Óxidos em
%; elementos em ppm.
líquido do núcleo interno sólido. Alguns Óxido/ Crosta Crosta Crosta Crosta
autores intitulam esta descontinuidade de Elemento superior média inferior total
Lehmann, mas outros utilizam este termo SiO2 66,6 63,5 53,4 60,6
para a base da LVZ. TiO2 0,64 0,69 0,82 0,72
Al2O3 15,4 15,0 16,9 15,9
FeOT 5,04 6,02 8,57 6,71
3.4. Composição da crosta MnO 0,10 0,10 0,10 0,10
3.4.1. Crosta continental MgO 2,48 3,59 7,24 4,66
A composição da crosta continental CaO 3,59 5,25 9,59 6,41
superior é bem conhecida, porque seções Na2O 3,27 3,39 2,65 3,07
representando níveis crustais diferentes estão K 2O 2,80 2,30 0,61 1,81
P2O5 0,15 0,15 0,10 0,13
expostas na superfície, podendo ser
Sc 14,0 19 31 21,9
estudadas diretamente no campo. Galerias e V 97 107 196 138
furos de sonda estendem a observação direta Cr 92 76 215 135
das rochas até 13 km de profundidade. Estes Co 17,3 22 38 26,6
estudos mostram que a crosta continental Ni 47 33,5 88 59
Cu 28 26 26 27
superior é constituída predominantemente de
Zn 67 69,5 78 72
rochas ígneas e metamórficas capeadas por Ga 17,5 17,5 13 16
uma cobertura de rochas sedimentares que Rb 82 65 11 49
representam apenas uma pequena fração de Sr 320 282 348 320
seu volume. Os seguintes métodos são Y 21 20 16 19
Zr 193 149 68 132
empregados para estimar a composição
Nb 12 10 5 8
química da crosta continental superior: (a) Ag 53 48 65 56
determinação de médias ponderadas da Sn 2,1 1,30 1,7 1,7
composição de rochas expostas na superfície; Sb 0,4 0,28 0,10 0,2
(b) determinação das composições médias de Ba 628 532 259 456
La 31 24 8 20
elementos insolúveis em sedimentos clásticos
Ce 63 53 20 43
finos (argilitos); (c) determinação da Pr 7,1 5,8 2,4 4,9
composição química média de depósitos Nd 27 25 11 20
glaciais e loess. Diferentes estimativas Sm 4,7 4,6 2,8 3,9
mostram que a composição média aproxima- Eu 1,0 1,4 1,1 1,1
Gd 4,0 4,0 3,1 3,7
se da de um granodiorito (Tabela 3.1).
Tb 0,7 0,7 0,48 0,6
A composição da crosta continental Dy 3,9 3,8 3,1 3,6
mais profunda é inferida a partir de dados Ho 0,83 0,82 0,68 0,77
sísmicos e daqueles provenientes da Er 2,3 2,3 1,9 2,1
petrologia experimental e do estudo de Tm 0,30 0,32 0,24 0,28
Yb 2,0 2,2 1,5 1,9
xenólitos encontrados em algumas rochas Lu 0,31 0,4 0,25 0,30
vulcânicas. Embora existam discrepâncias Hf 5,3 4,4 1,9 3,7
entre diferentes estimativas, a combinação Ta 0,9 0,6 0,6 0,7
dos resultados provenientes desses diferentes W 1,9 0,60 0,60 1
campos mostra que, em geral, a crosta Re 0,198 0,18 0,188
Os 0,031 0,05 0,041
continental torna-se mais máfica com o Ir 0,022 0,05 0,037
aumento da profundidade. A crosta inferior Pt 0,5 0,85 2,7 1,5
consiste de rochas na fácies granulito e é Au 1,5 0,66 1,6 1,3
quimicamente equivalente a gabro, enquanto Hg 0,05 0,0079 0,014 0,03
a crosta média é composta de rochas na Pb 17 15,2 4 11
Th 10,5 6,5 1,2 5,6
fácies anfibolito e tem composição U 2,7 1,3 0,2 1,3
intermediária (Tabela 3.1).

20
As velocidades das ondas sísmicas em ultramáficos (Camada 3). Assim, a
rochas félsicas, intermediárias e máficas, composição química média da crosta
medidas em laboratório sob condições de oceânica é máfica, similar, portanto, à da
pressão e temperatura apropriadas para a crosta continental inferior.
crosta continental, coincidem,
respectivamente, com aquelas determinadas 3.5. Tipos e províncias crustais
pela sismologia para a crosta superior, média 3.5.1. Tipos crustais
e inferior. Assim, existe uma boa Um tipo crustal é um segmento
correspondência entre as estimativas da contínuo da crosta com características
composição da crosta, obtidas pela geológicas e geofísicas similares. Os
geoquímica, com os resultados experimentais principais parâmetros utilizados para
e sismológicos. Em vista disto, é amplamente diferenciar tipos crustais são a espessura e
aceito que a composição global da crosta estrutura sísmica (Fig. 3.7), mas tipos
continental é andesítica (diorítica). crustais geralmente coincidem com feições
Embora o volume da crosta fisiográficas maiores na superfície da Terra
continental corresponda a, apenas, cerca de (Fig. 3.6).
0,6 % do volume total da Terra, ela concentra O tipo crustal mais extenso é
uma proporção significativa dos elementos- representado pelas bacias oceânicas, cuja
traço incompatíveis (35-55% de Rb, Ba, K, estrutura é mostrada na Figura 3.5. Bacias
Th e U). oceânicas têm 6 a 8 km de espessura,
superfície aplainada, e uma cobertura de
3.4.2. Crosta oceânica lâmina d’água com 5 a 7 km (Fig. 3.6).
A composição da crosta oceânica é Cadeias ou dorsais oceânicas são cadeias de
estimada a partir de amostras dragadas do montanhas submarinas que se elevam 2 a 3
assoalho oceânico; de testemunhos colhidos km acima do fundo oceânico, podendo,
através de perfurações; de amostras obtidas eventualmente, emergir, a exemplo da
com o uso de submersíveis em zonas de Islândia. Seu comprimento total é superior a
fratura, onde porções mais profundas da 65.000 km (Fig. 3.6) e espessuras entre 3 e 6
crosta podem ser observadas; e por km. A Camada 1 é ausente ou muito delgada
comparação com a composição de ofiolitos. nas dorsais oceânicas e aumenta de espessura
Ofiolitos são seqüências interpretadas como em direção aos continentes. Também
fragmentos da crosta oceânica e da porção presentes em regiões oceânicas são os arcos
mais superior do manto, posicionadas nos de ilhas, cadeias de ilhas vulcânicas com
continentes como resultado de esforços formas arqueadas. A espessura da crosta em
tectônicos (ver Capítulo 7). arcos de ilhas varia de 10 a 40 km (Fig. 3.7).
A combinação desses métodos mostra Além da espessura maior, arcos de ilhas
que as três camadas definidas pelo estudo das podem ser distinguidos das dorsais oceânicas
ondas sísmicas consistem de (Fig. 3.5): (a) por serem margeados, de um lado, por fossas
sedimentos inconsolidados (chert, argila oceânicas, sulcos profundos no assoalho que
vermelha e calcáreo) ricos em podem atingir até 11 km de profundidade, e,
microorganismos planctônicos (Camada 1); do lado oposto, por bacias marginais ou
(b) derrames de basaltos toleíticos com retro-arco (Fig. 3.6). A crosta oceânica nas
estruturas em almofada (pillow lavas), na bacias retro-arco é mais espessa que nas
posição superior, e enxames de diques de bacias oceânicas (10 km, em média) devido a
diabásio verticais (interpretados como os uma maior espessura da camada sedimentar.
condutos para os basaltos sobrejacentes), na Em contraste com os arcos de ilhas, ilhas
porção inferior (Camada 2); (c) gabros e oceânicas marcam a terminação de cadeias
metagabros com intercalações de lineares de vulcões extintos. Finalmente, são,
plagiogranito, serpentinito e cumulados ainda, encontradas nos oceanos feições não

21
lineares representadas por platôs submarinos oceânicos é discutida com mais detalhes nos
(ou oceânicos). A estrutura, bem como a capítulos 5 e 6.
origem, desses diferentes tipos crustais

Figura 3.6. Topografia da Terra mostrando as feições principais abaixo dos oceanos e nos continentes.

Figura 3.7. Estrutura sísmica de diferentes tipos crustais continentais e de arcos de ilhas.

22
Quatro tipos crustais principais são riftes continentais são observadas ao longo
reconhecidos nos continentes. Escudos e de margens rifte ou margens continentais
plataformas são regiões estáveis compostas passivas. Apesar de situadas abaixo do nível
de rochas precambrianas. Escudos possuem do mar, a estrutura e composição das
pouca ou nenhuma cobertura sedimentar, margens rifte indicam que elas são formadas
enquanto as plataformas têm uma cobertura por crosta continental. A passagem de uma
de rochas supracrustais, tipicamente com 1 a margem passiva para a crosta oceânica típica
3 km de espessura. Escudos e plataformas pode ser gradual ou relativamente brusca.
têm relevo pouco acentuado e espessura
média de 42 km (Fig. 3.7). Uma plataforma 3.5.2. Províncias crustais
pode envolver vários escudos. Por exemplo, Províncias crustais são segmentos da
na plataforma Sul-Americana, ou seja, na crosta que possuem o mesmo intervalo de
região a leste dos Andes, são reconhecidos idades geocronológicas e histórias
os escudos Atlântico, Brasil Central e da geológicas similares. Os limites entre
Guiana. províncias podem ser marcados por falhas
Cinturões orogênicos paleozóicos ou zonas de cisalhamento, inconformidades,
são cinturões alongados e curvilineares rápidas mudanças no grau metamórfico ou
formados por deformação e metamorfismo por contatos intrusivos. Províncias crustais
durante o Paleozóco. Exemplos incluem os podem ser orogênicas ou anorogênicas.
Apalaches, no leste da América do Norte, e Estas últimas podem ser ígneas ou
os Pirineus, entre a Espanha e a França. A sedimentares, como exemplificados,
espessura desse tipo crustal é um pouco respectivamente, pelas bacias do Paraná e
menor que a de escudos e plataformas, Parnaíba e por grandes derrames basálticos.
variando de 30 a 40 km (Fig. 3.7), e sua Províncias orogênicas são resultantes de
expressão superficial é o de cadeias de deformação e metamorfismo. Exemplos,
montanhas erodidas, geralmente com 1 a 2 com idades variando do Arqueano até o
km de altitude. Cinturões orogênicos meso- presente, são discutidos nos capítulos 9 a 11.
cenozóicos, por outro lado, formam cadeias O termo cráton normalmente é empregado
de montanhas com relevo bastante para províncias orogênicas tectonicamente
acentuado e podem apresentar espessuras de estabilizadas pelo menos desde o início do
até 70-80 km (Fig. 3.7). Exemplos incluem Neoproterozóico, mas alguns autores
os Andes, no oeste da América do Sul; o preferem restringir o termo para escudos ou
Himalaia, na Índia e Paquistão; e os Alpes, plataformas de idade arqueana. Províncias
na Europa. orogênicas são, também, chamadas cinturões
Riftes continentais são regiões orogênicos ou faixas móveis.
caracterizadas pela presença de um vale Os termos tipo crustal e província
(tipicamente com 30-75 km de largura) crustal não são sinônimos, embora possam
limitado por falhas extensionais, comumente coincidir em algumas situações, como no
com 25 a 35 km de espessura (Fig. 3.7). caso de cinturões orogênicos fanerozóicos.
Embora presentes em regiões de crosta No entanto, uma província pode apresentar
continental atenuada, como resultado de variações de espessura e não
deformação extensional, as altitudes não são necessariamente consiste de um segmento
necessariamente baixas. Por exemplo, de crosta contínuo. Por exemplo, vulcões de
altitudes acima de 3 km são comuns ao mesma idade distribuídos em uma região
longo do sistema de riftes do leste da África, relativamente grande compõem uma
o mais extenso sistema de riftes província crustal, como é o caso da
continentais, com um comprimento de 6.500 província alcalina de Poços de Caldas. Por
km (Fig. 6.2). Espessuras similares à de outro lado, um tipo crustal pode englobar

23
vários segmentos de crosta com idades derivada por este procedimento é chamada
diferentes, isto é, várias províncias. Por de pirólito.
exemplo, um escudo pode englobar um ou A Tabela 3.2 mostra estimativas da
mais crátons e faixas móveis proterozóicas, composição química do manto, utilizando
como no caso do escudo canadense. diferentes metodologias. Os resultados são
similares e mostram que os óxidos SiO2,
3.6. Composição do manto MgO e FeO representam mais de 90% de
Várias linhas de evidência são seu peso.
utilizadas para a determinação da
composição química e mineralógica do Tabela 3.2. Estimativas para a composição química
manto. Evidências diretas provêem de do manto segundo diferentes metodologias (óxidos
exposições do manto superior no assoalho em %; elementos em ppm). (1) Pirólito
oceânico, de xenólitos em magmas (McDonough, 1995); (2) xenólitos em vulcões
continentais intraplaca (Pearson et al., 2005); (3)
kimberlíticos e basálticos, e da seção basal Manto empobrecido (Salters e Stracke, 2004); (4)
de seqüências ofiolíticas. A parte mais Manto primitivo (Palme e O’Neil, 2005).
superficial do manto pode aflorar no Óxido/ (1) (2) (3) (4)
assoalho oceânico como resultado de Elemento
exumação por falhas normais ou SiO2 45,0 44,33 44,87 45,4
TiO2 0,20 0,10 0,20 0,16
transformantes ou devido à ausência de Al2O3 4,45 2,41 4,33 4,49
crosta oceânica. Se as rochas se soerguem FeO 8,05 8,07 8,09 8,1
acima do nível do mar, como é o caso das MnO 0,13 0,13 0,15 0,14
ilhas de São Paulo e São Pedro, uma MgO 37,8 41,84 38,13 36,77
observação direta é possível. Caso contrário, CaO 3,55 4,85 3,52 3,65
Na2O 0,36 0,29 0,42
amostras podem ser obtidas por dragagem K2O 0,03 0,01 0,02
ou perfurações. Estudos termobarométricos P2O5 0,02 0,03 0,01
indicam a extração de xenólitos mantélicos Sc 16,2 12 16,3 16,5
de fontes situadas até cerca de 250 km, V 82 59 79 86
permitindo a caracterização das rochas Cr 2625 2819 2500 2520
Co 105 102 106 102
presentes até esta profundidade. Ni 1960 2147 1960 1860
A parte acessível do manto tem Cu 30 30 20
composição química comparável à de certos Zn 55 56 53,5
tipos de meteoritos. Assumindo-se que esses Ga 4 3,2 4,4
meteoritos são remanescentes do material a Rb 0,6 0,09 0,6
Sr 19,9 9,8 20,3
partir do qual a Terra foi formada, sua Y 4,3 4,1 4,37
composição química reflete a composição Zr 10,2 7,94 10,81
global da Terra. As composições do manto e Nb 0,66 0,21 0,59
do núcleo podem, então, ser calculadas a Sn 0,13 0,1 0,14
partir da composição global levando-se em Ba 6,6 1,2 6,75
La 0,65 0,23 0,69
consideração seus volumes relativos. A Nd 1,25 0,71 1,32
composição do manto derivada dessa forma Sm 0,41 0,27 0,43
corresponde à do manto primitivo, isto é, Eu 0,15 0,11 0,16
antes da formação da crosta continental (ver Gd 0,54 0,39 0,57
capítulos 2, 6 e 8). Dy 0,67 0,53 0,71
Ho 0,15 0,12 0,16
Finalmente, a composição química Er 0,44 0,37 0,46
das rochas requerida para fornecer os Yb 0,44 0,4 0,46
magmas basálticos erupcionados na Hf 0,28 0,2 0,04
superfície da Terra pode ser calculada por Pb 0,15 0,02 0,18
modelagem geoquímica. A rocha hipotética Th 0,08 0,01 0,08
U 0,02 0,005 0,02

24
As possíveis rochas presentes no
manto devem ter propriedades físicas
condizentes com aquelas obtidas a partir de
estudos sismológicos. Atualmente, já é
possível reproduzir em laboratório as
condições de pressão e temperatura
correspondentes até a base do manto.
Comparando-se os dados provenientes da
física dos minerais com os dados
sismológicos é possível predizer as fases
minerais presentes a diferentes
profundidades (Fig. 3.8).

3.6.1. Manto superior


As linhas de evidência acima
indicam que a descontinuidade de
Mohorovicic resulta de uma mudança de
composição, de rochas máficas na crosta
inferior para rochas ultramáficas no manto
superior. A mineralogia do manto superior
corresponde, portanto, à de um peridotito,
com olivina sendo o mineral mais abundante
(Fig. 3.8). Além dos constituintes normais
de um peridotito (olivina, clinopiroxênio,
Figura 3.8. Proporções relativas dos minerais
ortopiroxênio), outra fase mineral deve estar presentes no manto a profundidades superiores a 80
presente para incorporar o Al2O3, que km. (Mg, Fe)O – magnesiowüstita; MgPv – Mg-
representa cerca de 4% do manto (Tabela perovskita; CaPv – Ca-perovskita.
3.2). A natureza desta fase depende da
pressão (Fig. 3.9). Plagioclásio é a fase
estável em pressões baixas (<1 GPa), sendo
substituído por espinélio entre 1 e 2 GPa. A
pressões mais elevadas que 2 GPa, ocorre a
formação de granada. As reações
simplificadas que descrevem a
transformação de plagioclásio peridotito
para espinélio peridotito e, daí, para granada
peridotito são:

CaAl2Si2O8 (An) + 2Mg2SiO4 (Fo) =


MgAl2O4 (Sp) + Mg2Si2O6 (Opx) +
CaMgSi2O6 (Cpx)
Figura 3.9. Diagrama P-T mostrando as transições
de fase entre plagioclásio peridotito, espinélio
MgAl2O4 (Sp) + 2Mg2Si2O6 (Opx) = peridotito e granada peridotito.
Mg3Al2Si3O12 (Py) + Mg2SiO4 (Fo)

onde An, Fo, Cpx, Opx, Sp e Py são, 3.6.2. Zona de baixa velocidade
respectivamente, anortita, forsterita, A existência da zona de baixa
clinopiroxênio, ortopiroxênio, espinélio e velocidade no manto superior pode resultar
piropo. da presença de água, de fusão parcial

25
incipiente, ou da orientação preferencial de existência de um alinhamento horizontal dos
cristais de olivina. As duas últimas cristais de olivina.
explicações são as mais aceitas e
possivelmente atuam em conjunto. 3.6.3. Zona de transição e manto inferior
Resultados experimentais mostram Estudos experimentais mostram que,
que água livre não pode coexistir com os com o aumento da profundidade, piroxênio
minerais anidros presentes no manto entra progressivamente em solução sólida na
superior. Para pressões correspondentes a estrutura da granada. Assim, a base do
profundidades inferiores a 100 km, água é manto superior consiste essencialmente de
incorporada na estrutura de minerais olivina e granada. O mineral resultante da
hidratados, como anfibólio ou flogopita. Em solução sólida completamente
profundidades maiores, a presença de água homogeneizada de granada+piroxênio é
rebaixa o solidus do peridotito e causa fusão denominado majorita e é uma fase estável na
parcial incipiente (Fig. 3.10). Mesmo se a zona de transição (Fig. 3.8). Sob as
percentagem de fusão é muito baixa condições de pressão e temperatura
(<0,1%), isto pode causar uma redução correspondentes à descontinuidade de 410
substancial na velocidade das ondas km, olivina sofre uma alteração na sua
sísmicas. estrutura e é convertida para um polimorfo
chamado de fase β ou wadsleyita (Fig. 3.8).
Esta transformação resulta em um aumento
de densidade de cerca de 8%, suficiente para
explicar o aparecimento da descontinuidade
sísmica. Assim, embora mudanças
composicionais possam contribuir para a
descontinuidade de 410 km, o principal fator
responsável pela mesma é uma transição de
fase.
A transição de olivina para a fase β é
causada pelo empacotamento mais denso
dos átomos de oxigênio com o aumento da
pressão. Isto faz com que o Si mude de uma
coordenação tetraédrica para octaédrica. Na
fase β, parte dos átomos de Si têm número
Figura 3.10. Presença de água no manto rebaixa de coordenação 4 e parte número de
o solidus do peridotito. A geoterma cruza o coordenação 6. A transformação completa
solidus hidratado (o que resulta em fusão da fase β para a fase γ (ou ringwoodita),
parcial) numa profundidade equivalente àquela onde todos os átomos de Si têm coordenação
detectada sismicamente para o topo da LVZ.
6, dá-se a profundidades entre 510 e 540 km.
A metade inferior da zona de transição
Além de composição, temperatura e
consiste, portanto, de majorita+ringwoodita
estado físico, a velocidade de propagação
(Fig. 3.8).
das ondas sísmicas é, ainda, influenciada
A descontinuidade de 660 km é
pela microestrutura das rochas presentes em
atribuída a outra mudança de fase, desta vez
profundidade. No caso da olivina, o mineral
envolvendo a transformação de ringwoodita
mais abundante no manto superior (Fig.
((Mg,Fe)2SiO4) para Mg-perovskita
3.8), a velocidade é máxima paralelamente
((Mg,Fe)SiO3) e magnesiowüstita (ou
ao comprimento maior do grão. Este efeito é
ferropericlásio) ((Mg,Fe)O) (Fig. 3.8):
chamado de anisotropia sísmica. Uma menor
velocidade de propagação das ondas
(Mg,Fe)2SiO4 = (Mg,Fe)SiO3 + (Mg,Fe)O
sísmicas na LVZ pode, portanto, refletir a

26
laboratório. Esta descoberta sugere que a
Embora seja consenso que a pós-perovskita é o mineral preponderante na
descontinuidade de 660 km resulta da camada D´´ (Fig. 3.11).
transição de fase acima, ainda é debatido se Na base da camada D´´, foi, também,
o manto inferior tem ou não a mesma recentemente detectada uma região
composição do manto superior. Em descontínua, com 7-8 km de espessura,
particular, tem sido sugerido que o manto apresentando uma redução de, pelo menos,
inferior é relativamente enriquecido em 10% na velocidade de propagação das ondas
ferro ou em sílica em comparação com o sísmicas. A presença desta região de ultra-
manto superior. No entanto, devido à baixa velocidade (ULVZ, das iniciais em
consistência entre observações sismológicas inglês para ultra-low velocity zone) indica a
e resultados experimentais, a opinião existência de mais de 15% de fusão parcial.
dominante é que o manto inferior tem uma Estas descobertas têm importantes
composição similar à do manto superior. implicações para a dinâmica do manto e
No manto inferior, a maior parte do serão abordadas nos próximos capítulos.
Al2O3 contido na majorita é acomodada na
estrutura da Mg-perovskita, enquanto CaO
forma outro silicato também com a estrutura
da perovskita (Ca-perovskita; CaSiO3).
Na2O, NiO e Cr2O3, os três outros óxidos
mais abundantes no manto, entram na
estrutura da magnesiowüstita.
Algumas inclusões encontradas em
diamantes e em xenólitos em rochas
vulcânicas foram interpretadas como
consistindo de majorita, Mg-perovskita, Ca-
perovskita e Fe-periclásio. Isto representaria
uma confirmação direta da mineralogia da
Figura 3.11. Proporções minerais relativas no
zona de transição e do manto inferior manto. Cpx+Opx – clino- e ortopiroxênio, Ol –
determinada em laboratório, mas estas olivina, Mj – majorita, CaPv – cálcio-perovskita,
observações ainda são disputadas. MgPv – magnésioperovskita, Mw – magnésio-
Em contraste com o manto superior e wüstita, Post-Pv – pós-perovskita.
o manto inferior, a solubilidade de H2O nos
minerais presentes na zona de transição é
elevada (1-3%). O manto superior é 3.7. Composição do núcleo
praticamente anidro (0,01% H2O) e a Uma série de evidências indica que
concentração de H2O no manto inferior é ferro metálico deve ser o principal
muito baixa (0,05% H2O), mas estimativas constituinte do núcleo: (a) analogias com
para a concentração de água na zona de meteoritos (ver Capítulo 8); (b)
transição variam de 0,1 a 2%. disponibilidade durante o crescimento da
Terra, já que ferro é o elemento pesado mais
3.6.4. Camada D’’ abundante no Sol e, portanto, existiria em
Mg-perovskita é estável até quantidades significativas no início de
profundidades de 2550-2750 km, formação do sistema solar; (c) similaridade
correspondentes ao topo da camada D´´, o entre a densidade do núcleo e a velocidade
que o torna o mineral mais abundante na de propagação das ondas P para o ferro
Terra (Fig. 3.11). Uma transição de determinadas experimentalmente em
perovskita para uma fase denominada pós- laboratório ou inferidas a partir de estudos
perovskita foi, recentemente, observada em teóricos; (d) o requerimento de um núcleo

27
líquido metálico para gerar o campo Earth’s core. Earth. Earth and Planetary Science
magnético da Terra. Devido à abundância de Letters 254, 233-238.
Bina, C.R., 2005. Seismological constraints upon
Ni e de seu caráter siderófilo, este elemento mantle composition. In: Carlson, R.W. (ed.) The
também deve ser um elemento maior no Mantle and Core. Treatise on Geochemistry 2,
núcleo (cerca de 5%). Pela mesma razão, 39-59.
quantidades substanciais de Cr, Co, Mn e Cu Bercovici, D., Karato, S.-I., 2003. Whole-mantle
também são prováveis (Tabela 3.3). convection and the transition-zone water filter.
Nature 425, 39-44.
Bodinier, J.L., Godard, M., 2005. Orogenic,
Tabela 3.3. Estimativas para a composição química ophiolitic, and abyssal peridotites. In: Carlson,
do núcleo externo. (1) Allègre et al. (1995); (2) R.W. (ed.) The Mantle and Core. Treatise on
McDonough (2005); (3) Badro et al. (2007). Geochemistry 2, 103-170.
Óxido/ (1) (2) (3) Christensen, N.I., Mooney, W.D., 1995. Seismic
Elemento velocity structure and composition of the
Fe (%) 79,4 85,5 continental crust: a global view. Journal of
Ni (%) 4,9 5,2 Geophysiacl Research 100, B7, 9761-9788.
Si (%) 7,3 6 2,8 Collerson, K.D., Hapugoda, S., Kamber, B.S.,
S (%) 2,3 1,9 0 Williams, Q., 2000. Rocks from the mantle
O (%) 4,1 0 5,3 transition zone: majorite-bearing xenoliths from
C (%) 0 0,2 Malaita, southwest Pacific. Science 288, 1215-
P (%) 0,11 0,2 1223.
Cr (%) 0,78 0,9 Drake, M.J., Righter, K., 2002. Determining the
Co (%) 0,28 0,25 composition of the Earth. Nature 416, 39-44.
Mn 5820 300 Hayman, C.P., Kopylova, M.G., Kaminsky, F.V.,
(ppm) 2005. Lower mantle diamonds from Rio Soriso
(Juina area, Mato Grosso, Brazil). Contributions
A densidade do núcleo externo é to Mineralogy and Petrology 149, 430-445.
Helffrich, G.R., Wood, B.J., 2001. The Earth’s
cerca de 10% inferior à do ferro nas
mantle. Nature 412, 501-507.
condições de pressão e temperatura Hirose, K., 2006. Postperovskite phase transition and
correspondentes. Isto requer a presença de its geophysical implications. Reviews of
elementos mais leves em quantidades Geophysics 44, doi: 2005RG000186.
razoáveis (10-15%). Os elementos leves Li, J., Fei, Y., 2005. Experimental constraints on core
composition. In: Carlson, R.W. (ed.) The Mantle
propostos como componentes principais são
and Core. Treatise on Geochemistry 2, 521-546.
O, Si, C, P e S (Tabela 3.3). Embora alguns McDonogh, W.F., 2005. Compositional model of the
resultados experimetnais recentes sugiram Earth’s core. In: Carlson, R.W. (ed.) The Mantle
que O e Si possam coexistir, a maioria dos and Core. Treatise on Geochemistry 2, 547-568.
estudos sugerem que eles são mutuamente McDonogh, W.F., Sun, S.S., 1995. The composition
of the Earth. Chemical Geology 120, 223-253.
excludentes. Dessa maneira, atualmente, Si é
McLennan, S.M., 2001. Relationships between the
favorecido como o principal elemento leve trace element composition of sedimentary rocks
no núcleo. Como o núcleo externo, o núcleo and upper continental crust. Geochemistry
interno também deve conter um elemento de Geophysics Geosystems 2, doi: 2000GC000109.
número atômico baixo para explicar suas Nguyen, J.H., Holmes, N.C., 2004. Melting of iron at
the physical conditions of the Earth's core.
propriedades físicas, porém a quantidade
Nature 427, 339-342.
requerida é menor (3-7%). Palme, H., O’Neill, H.St.C., 2005. Cosmochemical
estimates of mantle composition. In: Carlson,
Referências selecionadas R.W. (ed.) The Mantle and Core. Treatise on
Allègre, C.J., Poirier, J.P., Humler, E.,Hofmann, Geochemistry 2, 1-38.
A.W., 1995. The chemical composition of the Pearson, D.P., Canil, D., Shirey, S.B., 2005. Mantle
Earth. Earth and Planetary Science Letters 134, samples included in volcanic rocks: xenoliths
515-526. and diamonds. In: Carlson, R.W. (ed.) The
Badro, J., Fiquet, G., Guyot, F., Gregoryanz, E., Mantle and Core. Treatise on Geochemistry 2,
Occelli, F., Antonangeli, D., d’Astuto, M., 2007. 171-275.
Effect of light elements on the sound velocities
in solid iron: implications for the composition of

28
Romanowickz, B., 2008. Using seismic waves to Mantle: Structure, Composition, and Evolution.
image Earth’s internal structure. Nature 451, Geophysical Monograph Series 160, 261-280.
266-268. Taylor, S.R., McLennan, S.M., 1995. The
Rudnick, R.L., Fountain, D.M., 1995. Nature and geochemical evolution of the continental crust.
composition of the continental crust: a lower Reviews of Geophysics 33, 241-265.
crustal perspective. Reviews of Geophysics 33, Thybo, H., 2006. The heterogeneous upper mantle
267-309. low velocity zone. Tectonophysics 416, 53-79.
Rudnick, R.L., Gao, S., 2005. Composition of the Thybo, H., Ross, A.R, Egorkin, A.V., 2003.
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J.D., Matas, J., Trampert, J. (eds.) Earth’s Deep Geophysical Monograph Series 160, 187-199.

29
30
4. Convecção Mantélica e Tectônica de Placas

4.1. Introdução contrabalançar este efeito. Se a densidade da


O manto é aquecido por condução de litosfera supera a da astenosfera, ela se torna
calor proveniente do núcleo e pelo calor gravitacionalmente instável. Este é o caso da
resultante da desintegração de elementos Terra, onde a litosfera é dividida em uma
radioativos (K, Th, U), e é resfriado por série de placas chamadas placas tectônicas ou
perda de calor para a superfície (Fig. 4.1). litosféricas. É a descida dessas placas na
Embora o manto seja sólido (o que permite a astenosfera que, dominantemente, controla a
transmissão de ondas S através do seu ocorrência de convecção no manto. Assim,
interior), as temperaturas elevadas (Fig. 4.2) tectônica de placas e convecção mantélica são
fazem com que ele se comporte como um diferentes expressões de um mesmo processo.
fluido numa escala de tempo geológico. Outro estilo de convecção no manto é
Fluidos tendem a entrar em convecção representado pela subida de material de sua
quando a diferença de temperatura entre o base em direção à superfície por meio de
topo e a base do sistema ultrapassa um valor plumas. Estes dois modos de convecção são,
crítico. Cálculos teóricos e modelos em grande parte, independentes.
numéricos e analógicos mostram que esta
diferença é mais que suficiente para induzir
convecção no manto terrestre.

Figura 4.1. Esquema mostrando a distribuição de


temperatura com a profundidade em um fluido
aquecido internamente. Figura 4.2. Diagrama mostrando a distribuição de
temperatura no interior da Terra. A largura da faixa
sombreada corresponde à incerteza associada com
Fortes gradientes de temperatura a estimativa.
estão presentes nas porções superiores e
inferiores do manto (Figs. 4.1 e 4.2). Estas
regiões são chamadas, na terminologia da 4.2. Características térmicas e mecânicas
mecânica dos fluidos, de camadas da litosfera
termicamente limitadas. Em corpos A litosfera se estende abaixo da
planetários, a camada termicamente limitada descontinuidade de Mohorovicic,
superior é denominada litosfera. A região compreendendo a crosta e a porção mais
situada abaixo da litosfera, onde as rochas superior do manto. Do ponto de vista
são quentes o suficiente para se deformar reológico, o limite entre a litosfera e a
por fluxo dúctil, constitui a astenosfera. Pelo astenosfera, normalmente, é considerado
fato de a temperatura média da litosfera ser como a profundidade equivalente à isoterma
relativamente baixa, ela apresenta um de 1280ºC. A esta temperatura, olivina (o
comportamento rígido. Isto pode, principal mineral no manto superior; ver Fig.
eventualmente, resultar em sua imobilidade, 3.8) se deforma exclusivamente por
mas o aumento de densidade resultante das plasticidade intracristalina. Como a
temperaturas mais baixas pode transmissão de calor na astenosfera se dá por

31
convecção, seu gradiente geotérmico é típicos são: 180 a 250 km para crátons
aproximadamente adiabático, isto é, a arqueanos, 180 a 140 km para terrenos
elevação de temperatura com a profundidade proterozóicos e 100 a 140 km para regiões
decorre, apenas, da diminuição de volume fanerozóicas (Fig. 4.4).
causada pelo aumento de pressão (Fig. 4.3).
Na litosfera, ao contrário, a transmissão de
calor se dá por condução. Assim, sua base é
marcada por um rápido decréscimo no
gradiente da temperatura com a
profundidade. A parte superior da litosfera,
mais fria e resistente, é chamada de litosfera
mecânica (Fig. 4.3).
Figura 4.4. Diagrama esquemático mostrando a
correlação entre espessura litosférica e idade de
regiões continentais. N.M.: nível do mar.

Além de suas características sísmicas,


térmicas e reológicas, o manto litosférico
continental também difere da astenosfera
mineralogicamente e geoquimicamente. A
litosfera continental é bem menos fértil que a
astenosfera, indicando que ela foi modificada
pela extração de magmas resultantes de sua
fusão parcial. Petrologicamente, isto se reflete
em percentagens modais menores de granada
e clinopiroxênio, pela ocorrência comum de
harzburgitos (peridotitos sem clinopiroxênio)
Figura 4.3. Estrutura térmica da litosfera entre os xenólitos de derivação litosférica, e
assumindo uma temperatura potencial (Tp) de por teores mais baixos de CaO, Al2O3 e FeO.
1280ºC na astenosfera. A linha tracejada
corresponde à diminuição de temperatura, caso a
Um resultado disso é que, para uma mesma
astenosfera suba adiabaticamente (isto é, sem temperatura, a litosfera continental é menos
perda de calor) para a superfície. A espessura da densa que a astenosfera, onde a razão
litosfera depende do gradiente geotérmico de cada FeO/MgO é maior.
região.
4.3. Tectônica de Placas
Em regiões oceânicas, a base da A tectônica de placas descreve os
litosfera é definida por uma redução brusca deslocamentos relativos entre as placas
na velocidade de propagação das ondas S, litosféricas, as interações entre elas, e as
coincidindo com o topo da zona de baixa conseqüências dessas interações. No modelo
velocidade. Sua espessura, tipicamente, mais recente, quatorze placas maiores e trinta
varia de 60 a 100 km. Nos continentes, esta e oito placas menores são reconhecidas (Fig.
redução, em geral, é mais sutil. No entanto, 4.5). As placas maiores são as do Pacífico,
o cálculo de geotermas e, por extrapolação, Africana (ou Núbica), Antártica, Sul-
da espessura da litosfera, pode ser feito a Americana, Norte Americana, Australiana,
partir do fluxo térmico medido na superfície Eurasiática, Índica, Arábica, Caribenha, de
e por estudos termobarométricos de Cocos, de Juan de Fuca, de Nazca e das Filipinas.
xenólitos de peridotitos em rochas Uma placa tectônica pode consistir, na sua
vulcânicas. Observa-se uma correlação entre porção superior, apenas de crosta oceânica,
a idade das rochas expostas na superfície e a como é o caso da placa do Pacífico, ou de
espessura da litosfera continental. Valores

32
crosta oceânica e continental, como nos demais casos de placas maiores.

Figura 4.5. Mapa mostrando as cinqüenta e duas placas tectônicas. As áreas hachuradas correspondem a
regiões que estão sofrendo deformação e, nesse sentido, não podem ser consideradas parte de placas rígidas.
AF – Africana, AM – Amar, AN – Antarctica, AP – Altiplano, AR – Arábica, AS – Mar Egeu, AT – Anatólia,
AU – Australiana, BH – Birds Head, BR – Balmoral Reef, BS – Banda, BU – Burma, CA – Caribenha, CL –
Carolina, CO – Cocos, CR – Conway Reef, EA – Páscoa, EU – Eurasiática, FT – Futuna, GP – Galápagos, IN
– Índica, JF – Juan de Fuca, JZ – Juan Fernandez, MA – Mariana, MN – Manus, MO – Maoke, MS – Moluca,
NA – Norte-Americana, NB – Norte Bismarck, ND – Norte Andes, NH – Nova Hébridas, NI – Niuafo’ou, NZ
– Nazca, OK – Okhotsk, ON – Okinawa, PA – Pacífico, PM – Panamá, PS – Filipinas, RI – Rivera, AS – Sul-
Americana, SB – Sul Bismarck, SC – Escósia, SL – Shetland, SO – Somália, SS – Mar de Salomão, SU –
Sunda, SW – Sandwich, TI – Timor, TO – Tonga, WL – Woodlark, YA – Yangtze.

Existem três tipos de contatos de e marcados por depressões no assoalho


placas (Fig. 4.6). O contato onde duas placas oceânico (fossas oceânicas).
adjacentes estão se separando é chamado de Ambientes onde ocorre apenas
divergente. Nestes locais, a ascensão de deslocamento relativo de placas adjacentes ao
material do manto, para preencher o espaço longo de falhas transformantes (Fig. 4.6), sem
que está sendo criado, gera nova litosfera que haja nem criação nem destruição da
oceânica. Devido a isto, este tipo de contato litosfera, são chamados de contatos
é chamado, também, de construtivo. conservativos. Falhas transformantes diferem
Contatos divergentes são representados de falhas de rejeito direcional, porque o
pelas dorsais oceânicas (Fig. 3.6); riftes sentido de movimento relativo aos segmentos
continentais podem caracterizar contatos de cadeias rejeitados é o oposto do predito
divergentes incipientes. pelo movimento transcorrente (Fig. 4.7).
Contatos ao longo dos quais duas As placas tectônicas estão
placas estão se aproximando são chamados continuamente mudando de forma e
de convergentes. Para que o processo dimensão. Uma placa pode aumentar ou
continue é necessário que uma placa diminuir de tamanho de acordo com os tipos
mergulhe sob a outra e desça para a de contato que a limitam (Fig. 4.8). As placas
astenosfera (Fig. 4.6). Locais onde isto Africana e Antártica, que são, em grande
ocorre são chamados de zonas de subducção parte ou na totalidade, circundadas por

33
cadeias oceânicas, estão crescendo, continentes (proposta nas primeiras décadas
enquanto a placa do Pacífico é limitada em do século vinte) foi baseada no pressuposto de
toda sua extensão norte e oeste por zonas de que, antes do Mesozóico, todos os continentes
subducção e está diminuindo de tamanho. estavam reunidos em uma massa continental
única, chamada de Pangéia. Os principais
(a) argumentos utilizados em favor dessa
hipótese foram: (a) o ajuste geométrico dos
continentes, em particular das linhas de costa
da África e América do Sul; (b) a presença de
sedimentos, cuja deposição é sensível ao
clima, em latitudes inesperadas (por exemplo,
depósitos glaciais próximos ao equador ou
recifes de corais em latitudes superiores a
30º); (c) a presença de plantas e animais
fósseis de um mesmo gênero em continentes
(b) separados por grandes oceanos; (d) estruturas
e províncias orogênicas similares em
continente opostos que se ajustam, caso o
oceano entre eles seja fechado.
Um dos principais problemas
enfrentados pela hipótese da deriva
continental foi encontrar um mecanismo
Figura 4.6. (a) Bloco-diagrama ilustrando o plausível para explicar a migração dos
modelo da tectônica de placas. (b) Visão em continentes. Pensava-se que estes se moviam
planta dos três tipos possíveis de contato entre
duas placas litosféricas. sobre um substrato basáltico ou sobre a
descontinuidade de Mohorovicic. Os
principais empecilhos foram: (a) a
demonstração geofísica que os continentes
têm raízes no manto (Capítulo 3 e Fig. 4.4), e
(b) cálculos numéricos, mostrando a
impossibilidade de gerar os esforços
requeridos para mover os continentes sobre o
manto ou a crosta oceânica. Estas objeções
foram removidas quando se reconheceu que
são as placas litosféricas, e não os
continentes, que se deslocam.
O conceito da expansão do assoalho
Figura 4.7. Comparação entre falhas oceânico foi formulado no início dos anos
transformante (esquerda) e transcorrente (direita).
A separação entre dois segmentos de uma cadeia sessenta para explicar a fisiografia (Fig. 3.6) e
oceânica permanece constante no primeiro caso e as propriedades físicas recém-descobertas das
o rejeito é o oposto daquele observado ao longo bacias oceânicas e margens continentais. O
de uma falha transcorrente. alto fluxo térmico observado acima das
dorsais oceânicas, em combinação com o
ambiente tectônico extensional, foi
4.4. Evidências indicando atuação da interceptado como resultado de subida de
tectônica de placas material do manto para formar nova crosta
A teoria da tectônica de placas foi oceânica nestes locais.
precedida pelas hipóteses da deriva dos Um grande número de evidências tem
continentes e da expansão do assoalho sido acumulado desde a proposição da
oceânico. A idéia da migração dos
34
tectônica de placas, em meados da década de litosféricas. As mais decisivas são revistas nas
sessenta, confirmando a existência do próximas seções.
deslocamento relativo das placas

Figura 4.8. Mapa mostrando as placas tectônicas maiores, suas velocidades relativas e os tipos de contatos entre
elas.

exemplo, na Figura 4.9, que, na placa sul-


4.4.1. Distribuição de hipocentros de americana, epicentros de terremotos com
terremotos focos cada vez mais profundos situam-se
Os terremotos são classificados mais para o interior do continente. Seções
quanto à profundidade do hipocentro (ou verticais através de arcos de ilhas e margens
foco, o local onde o terremoto é gerado) em ativas mostram que os hipocentros ocorrem
rasos (<70 km), intermediários (70-300 km) em uma faixa relativamente estreita,
e profundos (>300 km). A distribuição dos chamada zona de Wadati-Benioff (Fig. 4.10).
epicentros dos terremotos (o local na Zonas de Wadati-Benioff são interpretadas
superfície imediatamente acima do como a porção superior da placa subduzida.
hipocentro) mostra que a quase totalidade da Elas têm mergulhos muito variáveis (5º a
atividade sísmica atual situa-se ao longo de 90º) e suas profundidades podem atingir até
arcos de ilhas, de margens continentais 700 km (Fig. 4.10).
bordejadas pelo Pacífico, de riftes A origem dos terremotos mais
continentais, do sistema de cadeias profundos ainda é controversa. Terremotos
oceânicas, e do sistema de montanhas são produzidos quando o esforço aplicado
Alpino-Himalaiano (compare a Fig. 4.9 com excede a resistência das rochas presentes a
a Fig. 4.8). Quando somente terremotos com uma dada profundidade, provocando sua
hipocentros superiores a 70 km são ruptura. No entanto, esse mecanismo é
analisados, constata-se que os mesmos estão fortemente inibido por aumentos de pressão e
concentrados, apenas, nas proximidades de temperatura. A hipótese mais aceita é que
fossas oceânicas e de cadeias de montanhas olivina persiste de forma meta-estável no
jovens, com terremotos profundos centro da placa subduzida, enquanto sua
praticamente restritos à região do Pacífico. temperatura estiver abaixo de cerca de
A profundidade dos focos dos 600ºC. Quando ocorre um pequeno
terremotos em contatos de placas aquecimento adicional, ela sofre uma rápida
convergentes aumenta da fossa em direção ao transformação para a fase-β. Os terremotos
continente ou arco de ilha. Note-se, por profundos seriam frutos da súbita redução de

35
volume resultante desse processo. Isto sugere mais rasos, são gerados no centro e não na
que esses terremotos, ao contrário daqueles porção superior da placa subduzida.

Figura 4.9. Distribuição de epicentros de terremotos com magnitude superior a 6 ocorridos entre 1990 e 2006.
As cores correspondem à profundidade do foco mostrado na escala do lado direito.

4.4.2. Terremotos e mecanismos focais corresponde à falha e qual é o plano auxiliar.


O método sismológico que permite No entanto, observações de campo,
determinar a orientação e o sentido de normalmente, permitem superar esta
deslocamento ao longo de planos de falhas, ambigüidade. Uma vez estabelecido o plano
denominado solução de mecanismo focal ou de falha, é possível determinar o seu tipo
solução de plano de falha, é ilustrado na (Fig. 4.11b): o arranjo dos quadrantes
Figura 4.11. Quando um terremoto ocorre, a contracionais e extensionais indica o sentido
falha e o plano perpendicular a ela e próximo de deslocamento.
ao foco (chamado de plano auxiliar) dividem Terremotos rasos nas dorsais
o espaço em quatro regiões: duas que estão oceânicas são limitados a uma estreita zona
sofrendo contração e duas que estão sofrendo ao longo da crista da cadeia. Soluções de
extensão (Fig. 4.11a). Se as ondas sísmicas mecanismos focais indicam que estes
emitidas nestas regiões alternadas forem terremotos são associados com falhas
registradas em várias estações sismológicas normais. Por outro lado, terremotos rasos em
(S1, S2, S3 e S4) e os dados projetados em um zonas de subducção têm mecanismos focais
estereograma, é possível traçar dois planos indicando falhas de empurrão. Estas
perpendiculares, dividindo o estereograma observações são consistentes com os
em quatro quadrantes. A partir dessa análise, ambientes extensional e convergente,
não é possível dizer qual dos dois planos

36
respectivamente, postulado pela tectônica de movimento ao longo do segmento ativo é
placas, para estas duas regiões. transcorrente. No entanto, o sentido é oposto
Os terremotos ao longo de falhas ao do predito analisando-se a separação entre
transformantes ocorrem quase que os segmentos de cadeia (Fig. 4.12). Esta
exclusivamente na porção da falha que observação é, portanto, consistente com o
conecta dois segmentos de cadeia, indicando modelo proposto para a formação das falhas
que apenas esta porção é sismicamente ativa. transformantes (Fig. 4.7).
Soluções de plano de falha mostram que o

Figura 4.10. Distribuição de hipocentros de terremotos abaixo de alguns sistemas de arcos modernos. T - fossa;
V - cadeia vulcânica recente.

esperadas abaixo das cadeias oceânicas, onde


4.4.3. Tomografia sísmica material mais profundo e, portanto, mais
Uma conseqüência esperada da quente, sobe para preencher o espaço criado
atuação da tectônica de placas é o pela separação entre as placas. Tais variações
desenvolvimento de heterogeneidades de temperatura podem ser detectadas através
laterais no manto. Como a temperatura da do estudo de ondas sísmicas, uma vez que a
litosfera é inferior à da astenosfera (Fig. 4.3) velocidade de propagação das mesmas é
e silicatos são mal condutores de calor, a inversamente proporcional à temperatura.
diferença de temperatura entre placas A técnica utilizada para mapear
subduzidas e o manto profundo deve persistir variações de temperatura é chamada de
por longos períodos de tempo. Da mesma tomografia sísmica e fornece uma visão
forma, temperaturas mais elevadas são tridimensional do manto. As imagens são

37
produzidas a partir da análise de milhares de terremotos ou explosões artificiais, até sua
medidas do tempo decorrido entre a chegada às estações de registro sismológico
produção de ondas P ou S, causadas por mundiais.

(a) (b)
Figura 4.11. (a) Representação esquemática mostrando a divisão do espaço em regiões contracionais (em cinza)
e extensionais (em branco) produzidas durante um terremoto causado por uma falha sinistral. (b) Soluções de
mecanismos focais para os principais tipos de falhas. As setas indicam o sentido do movimento (do quadrante
extensional para o quadrante compressivo).

Figura 4.12. Exemplo de soluções de planos de falhas para terremotos ocorridos entre 1992 e 1998 nas falhas
transformantes Romanche e Chain (dorsal mesoatlântica). Notar que o rejeito aparente sinistral dos segmentos da
dorsal (realçados pelas linhas) é o oposto daquele determinado pelas soluções de mecanismos focais (dextral).

38
Figura 4.13. Modelo tomográfico mostrando variações laterais na velocidade de propagação de ondas S a
diferentes profundidades no manto. Azul e vermelho correspondem, respectivamente, a velocidades acima e
abaixo da média.

podem ser correlacionadas com locais onde


Estudos de tomografia sísmica subducção ocorre no presente ou ocorreu no
mostram que a estrutura abaixo dos passado (compare as Figuras 4.13 e 4.8). As
continentes difere daquela presente abaixo da imagens tomográficas mostram claramente
crosta oceânica. Escudos e plataformas são que placas subduzidas podem atingir o manto
marcados por velocidades mais altas até inferior. Isto pode ser observado melhor em
profundidades de 250 km (Fig. 4.13). No perfis verticais através de zonas de
manto mais superior, velocidades baixas são subducção atuais (Fig. 4.14). Assim, a
associadas com dorsais oceânicas. Essas ausência de terremotos a profundidades
anomalias desaparecem para profundidades acima de 700 km resulta apenas das elevadas
maiores que 250-400 km (Fig. 4.13). Em condições de pressão e temperatura vigentes
contraste, anomalias de velocidades altas são no manto inferior, e não de uma interrupção
dominadas por feições lineares longas que na subducção da placa.

39
Figura 4.14. Perfis tomográficos verticais através de algumas zonas de subducção atuais. AA’ – arco helênico,
BB’ – arco Curila, CC’ – arco Izu Bonin, DD’ – arco de Sunda (Java) EE’ – Arco de Tonga, FF’ -– arco
centro-americano. CMB: contato manto/núcleo (core/mantle boundary).

Devido ao aumento da densidade e velocidade altas nos perfis DD’, EE’ e FF’
viscosidade que acompanha a transformação (Fig. 4.14), quando comparadas com a
de olivina para perovskita, é possível que espessura típica de 100 km para a litosfera
uma placa seja retida, em alguns casos, pela oceânica.
descontinuidade de 660 km antes de
mergulhar no manto inferior (perfis BB’ e 4.4.4. Reversões do campo magnético e
CC' na Fig. 4.14). Além disso, devido ao faixas de anomalias magnéticas no assoalho
aumento de viscosidade com a profundidade oceânico
e ao progressivo aquecimento, uma placa Historicamente, a descoberta das
pode se deformar antes de atingir a base do faixas de anomalias magnéticas e sua
manto. As placas podem, portanto, ser interpretação, em termos de expansão do
defletidas e dobradas. Isto é sugerido pela assoalho oceânico, foi o principal suporte que
grande largura (> 400 km) das anomalias de levou à aceitação da tectônica de placas. Esta
40
evidência é bastante forte. Seu entendimento temperaturas elevadas durante um evento
requer algumas considerações prévias sobre o metamórfico subseqüente.
campo magnético terrestre e o magnetismo
de rochas.

Figura 4.16. Orientação do campo magnético total


(H), inclinação (I) e declinação (D) para um ponto
localizado no hemisfério norte.

O campo magnético terrestre é


causado por correntes de convecção no
núcleo externo, embora o mecanismo preciso
Figura 4.15. O campo magnético da Terra é ainda não seja conhecido. Ele é bastante
próximo ao gerado por um dipolo magnético no próximo ao campo que seria gerado por um
seu centro. Como as linhas de força são dipolo localizado no centro da Terra, mas
dirigidas de sul para norte, o pólo norte do
dipolo situa-se no hemisfério sul. Por com seu eixo ligeiramente deslocado em
convenção, a interseção do eixo do dipolo com a relação ao eixo de rotação (Fig 4.15). As
superfície no hemisfério norte é o norte linhas de força do campo magnético são,
geomagnético (NM). I – inclinação magnética. aproximadamente, paralelas à superfície nas
proximidades do equador, e apontam para o
A existência do campo magnético exterior no hemisfério sul e para o interior no
terrestre faz com que os minerais de ferro hemisfério norte (Fig. 4.15). O ângulo
presentes em uma rocha ígnea adquiram uma formado entre as linhas de força e a
magnetização espontânea, denominada horizontal é a inclinação magnética, que
termoremanescente, quando a temperatura da varia de 0º (próximo ao equador) a 90º
mesma cai abaixo de um determinado valor. (próximo aos pólos). O ângulo entre a
Esta temperatura crítica é chamada ponto de projeção horizontal das linhas de força e as
Curie. Ela varia de acordo com o mineral linhas de longitude geográficas é a
(580ºC, no caso da magnetita) e é inferior à declinação magnética (Fig. 4.16).
temperatura de cristalização, implicando que A magnetização termoremanescente
uma rocha só se torna magnetizada depois de em rochas de diferentes idades, provenientes
decorrido algum tempo de sua formação. A de uma única localidade, pode ter a mesma
magnetização termoremanescente tem a inclinação ou uma inclinação oposta à do
mesma orientação do campo magnético campo magnético atual (Fig. 4.17). No
existente na época em que a rocha foi primeiro caso, diz-se que a rocha apresenta
resfriada abaixo do ponto de Curie e é maior uma polaridade normal; no segundo, uma
que aquela induzida pelo campo atual. Dessa polaridade inversa. A ocorrência de rochas
forma, ela pode persistir indefinidamente, a com polaridade inversa indica que o campo
não ser que a rocha seja submetida a
41
magnético sofreu reversões com o decorrer
do tempo geológico. Estudos detalhados em
seqüências de rochas vulcânicas mostram que
mudanças de polaridade são quase
instantâneas numa escala de tempo geológico
(1000-2000 anos).

Figura 4.17. Perfil hipotético de uma seqüência de


derrames de lava mostrando a orientação da
magnetização termoremanescente (setas) em
amostras coletadas em diferentes níveis. Rochas
com polaridades normal e inversa são mostradas,
respectivamente, em preto e em branco.

Combinando-se a escala do tempo


geológico e dados estratigráficos e
paleontológicos com intervalos de tempo de
polaridade normal e inversa, foi possível a
construção de uma escala do tempo de
polaridades geomagnéticas para o período
Cenozóico e parte do Mesozóico (Fig. 4.18).
Cada intervalo de tempo de polaridade
magnética é denominado chron (abreviatura Figura 4.18. Escala do tempo de polaridades
geomagnéticas. Chrons de polaridade normal em
da palavra inglesa chronology). preto e de polaridade inversa em branco.
Os chrons mais importantes de
polaridade normal até 125 Ma atrás são
numerados de um a trinta e quatro. O chron Levantamentos magnetométricos ao
atual (1) estende-se até 700.000 anos atrás e longo de perfis perpendiculares às dorsais
o chron mais longo (34) vai de 83 Ma a 125 oceânicas mostram que o campo magnético
Ma. Para idades mais antigas que 125 Ma, os ou é mais forte ou mais fraco que o esperado,
chrons de polaridade inversa são numerados indicando a presença de rochas magnetizadas
como M0, M1,..., M29 (M de Mesozóico). A no assoalho oceânico. Estas anomalias
imprecisão nas idades absolutas aumenta resultam da presença de magnetita na crosta
com o tempo. Ela é de algumas dezenas de oceânica máfica. As anomalias são
milhares de anos para rochas com menos de arranjadas segundo um padrão, com faixas
5 Ma a vários milhões de anos para rochas alternadas de anomalias magnéticas positivas
mais antigas que o Cretáceo. Dado que, com e negativas, simétricas com respeito ao eixo
exceção do chron 34, intervalos de das dorsais (Fig. 4.19). A interpretação mais
polaridade tipicamente têm duração de óbvia é a de que anomalias magnéticas
centenas de milhares a alguns milhões de positivas resultam da presença de rochas
anos, uma escala do tempo de polaridades formadas em períodos de polaridade normal,
geomagnéticas para idades mais antigas que o que reforça o campo atual. Inversamente,
150 Ma é bem menos refinada que para o anomalias negativas indicam a presença de
Cenozóico e o Cretáceo. rochas formadas em épocas de polaridade
inversa.

42
Figura 4.19. Campo magnético produzido pelas rochas do assoalho oceânico ao longo da dorsal meso-atlântica ao sul
da Islândia. (a) Faixas de anomalias magnéticas (polaridade normal em preto). Notar a simetria das faixas mais largas
(B e C) com respeito à faixa central A. (b) Perfis ao longo de diferentes linhas magnéticas (numeradas 7, 12, etc.).

Figura 4.20. Esquema ilustrando a formação de faixas de anomalias magnéticas no hemisfério norte. As setas
representam a inclinação magnética. A. Separação continental e formação de um segmento de crosta oceânica.
B. Reversão do campo magnético durante a continuação da expansão. Uma nova faixa com polarização inversa
se forma no meio da faixa antiga. C. Nova reversão e geração de uma faixa com polarização normal.

A interpretação das faixas de da época (Fig. 4.20a). Se o campo sofre uma


anomalias magnéticas, em termos de reversão e a expansão continua, uma nova
expansão do assoalho oceânico, é ilustrada na faixa se forma no meio da antiga (Fig.
Figura 4.20. A crosta oceânica produzida 4.20b). Reversões subseqüentes constroem,
numa cadeia oceânica gera uma faixa de sucessivamente, um padrão de faixas
assoalho oceânico magnetizada numa direção positivas e negativas que é simétrico com
que registra a direção do campo magnético respeito ao eixo da cadeia (Fig. 4.20c). Em

43
placas limitadas, de um lado, por um contato paleontológicos e estratigráficos, bem como
divergente e, do outro, por um contato a obtenção de idades absolutas em basaltos
convergente, esta simetria é perdida. Ao do fundo oceânico permitem determinar com
longo de contatos convergentes, a ausência relativa precisão a distribuição de idades no
de faixas de anomalias magnéticas que estão assoalho oceânico. Como previsto pela
presentes do outro lado da dorsal indica que tectônica de placas, as rochas mais jovens
parte da placa sofreu subducção abaixo da são encontradas próximas às dorsais
fossa. oceânicas e sua idade aumenta
progressivamente ao se afastar delas (Fig.
4.4.5. Idades do assoalho oceânico 4.21). As rochas mais antigas, com cerca de
A descoberta das faixas de anomalias 180 Ma, são encontradas ao longo das
magnéticas, a elaboração da escala do tempo margens passivas opostas do oeste da África
de polaridades geomagnéticas, a datação de e do leste da América do Norte, e na porção
sedimentos oceânicos por métodos noroeste da placa do Pacífico.

Figura 4.21. Mapa de idades do assoalho oceânico.

4.4.6. Paleomagnetismo magnético na época de formação da rocha,


Estudos paleomagnéticos assumem enquanto a inclinação permite calcular sua
que o campo magnético da Terra pode ser paleolatitude. Se o paleopólo determinado não
aproximado por um dipolo com eixo coincide com o pólo atual, isto implica que,
paralelo ao eixo de rotação. Assim, medidas ou o pólo magnético ou o continente, onde a
da inclinação e da declinação magnética em amostra foi coletada, migrou com o tempo. A
amostras de rochas com idades conhecidas linha unindo os pólos paleomagnéticos
fornecem indicações sobre deslocamentos e calculados para rochas de diferentes idades de
rotações sofridos pelos continentes: a um mesmo continente é chamada de curva de
declinação magnética dá a direção do pólo deriva polar aparente (Fig. 4.22).

44
De acordo com a da tectônica de
placas, afastando-se das dorsais oceânicas, o
assoalho oceânico se torna mais antigo (Fig.
4.20). Isto é consistente com a inexistência
de sedimentos ao longo do eixo das dorsais,
com o aumento em sua espessura ao afastar-
se delas, e com a relação direta entre a idade
dos sedimentos imediatamente acima da
crosta basáltica e sua distância do eixo da
cadeia.

Figura 4.22. Paleopólos (abaixo) e trajetórias de


deriva polar aparente (acima) para a América do
Norte durante o Mesozóico e Cenozóico. As
elipses em torno dos pólos são os limites de
confiança a 95%.

Caso as trajetórias de deriva polar


aparente em um dado intervalo de tempo Figura 4.23. Curvas de migração polar aparente
fossem as mesmas para todos os continentes, para a Europa e América do Norte. Em cinza
isto implicaria ausência de movimentos escuro são mostradas as regiões de proveniência
relativos entre eles e, conseqüentemente, das amostras analisadas. Os pólos só coincidem no
migração polar verdadeira. No entanto, tempo presente, indicando o movimento relativo
dos continentes. NG: norte geográfico.
continentes distintos (ou mesmo segmentos
de um mesmo continente) têm diferentes
curvas de deriva polar aparentes. Isto Medições batimétricas mostram que a
demonstra que são os continentes, e não os profundidade do assoalho oceânico aumenta
pólos magnéticos, que se movem. Por com a distância de uma dorsal (Fig. 4.24a),
exemplo, a Figura 4.23 mostra que as curvas ou seja, varia com a idade. Este
de deriva polar para o norte da América do comportamento é explicado pelo
Norte e a Europa, nos últimos 300 Ma, são resfriamento da litosfera por condução de
semelhantes, mas não coincidentes. Isto calor. Ao se afastar do eixo da dorsal, onde
implica que as placas das quais estas massas ela é gerada, a litosfera oceânica se resfria,
continentais fazem parte deslocaram-se sofre contração e aumenta de densidade,
relativamente uma à outra. causando, assim, subsidência da superfície do
assoalho oceânico. Usando as equações de
4.4.7. Sedimentos oceânicos, fluxo térmico e condução de calor, é possível demonstrar que
batimetria do assoalho oceânico a profundidade (d) é proporcional à raiz
quadrada da idade (t): d ~ t1/2. As medições

45
batimétricas ajustam-se razoavelmente bem à massa envolvidos na expansão do assoalho
curva predita teoricamente (Fig. 4.24a). oceânico (Figs. 4.6 e 4.20).

(a) 4.4.8. Movimento de placas no presente


A localização de pontos na superfície
da Terra pode ser feita atualmente de forma
bastante precisa, por meio de três métodos
geodésicos (Geodésia é a ciência que estuda
o tamanho e forma da Terra). O primeiro,
chamado interferometria de linha de base
muito longa (Very Long Baseline
Interferometry, VLBI), usa radiotelescópios
como fontes receptoras de ondas de rádio
emitidas por quasares. O segundo utiliza
pulsos de laser emitidos por satélites
(Satellite Laser-Ranging, SRL). No terceiro
método, chamado sistema de posicionamento
global (Global Positioning System, GPS),
vários satélites posicionados a uma altitude
de 20.000 km transmitem continuamente
sinais de radio para a superfície.
Medindo-se a variação da distância
(b) entre dois pontos, em certo intervalo de
Figura 4.24. Batimetria (a) e valores médios do tempo, por qualquer dos métodos acima é
fluxo térmico (b) nos oceanos Pacífico Norte possível determinar as taxas e direções do
(círculos) e Atlântico Norte (quadrados) versus deslocamento das placas litosféricas (Fig.
idade do assoalho oceânico. Linhas 4.25). Os resultados confirmam o movimento
cheias são curvas teóricas preditas pela relativo das placas no presente e indicam que
teoria de condução do calor. hfu: heat as velocidades atuais são comparáveis com
flow unit (= 41,84 mW/m2). aquelas determinadas por métodos geofísicos
para os últimos milhões de anos (compare as
Da mesma forma que a profundidade,
figuras 4.25 e 4.8).
o fluxo térmico nos oceanos também é
relacionado com a raiz quadrada da idade,
4.5. Descrevendo o movimento das placas
decrescendo com o aumento da distância
tectônicas
para o eixo da dorsal (Fig. 4.24b). Acima da
O local onde três placas tectônicas se
dorsal, o fluxo térmico é superior a 300
encontram é chamado ponto ou junção
mW/m2 e decresce para cerca de 50 mW/m2
tríplice. Quando a litosfera consiste de mais
acima do assoalho oceânico mais antigo. O
de duas placas, a ocorrência de junções
valor médio (100 mW/m2) é cerca de duas
tríplices é inevitável porque, devido à
vezes maior que o encontrado em regiões
geometria de uma esfera, esta é a única
continentais, o qual se situa tipicamente entre
maneira com que um contato de placas pode
40 e 60 mW/m2. Esta observação é o oposto
terminar. Na notação usada para classificar
do esperado, uma vez que a crosta
os diferentes tipos de junções tríplices, uma
continental é muito mais rica em elementos
cadeia oceânica é escrita como R (de ridge,
radioativos (K, Th, U) que a crosta oceânica
dorsal), uma falha transformante como F (de
(Capítulo 3). Isto pode ser explicado pelo
fault, falha) e uma zona de subducção como
transporte de calor do interior em direção à
T (de trench, fossa). Dessa forma, o encontro
superfície pelos movimentos verticais de
de três dorsais oceânicas é uma junção RRR,

46
de uma cadeia oceânica, uma fossa e uma Nazca; FFR – Norte Americana, Sul
falha transformante é uma junção RTF, e Americana e Africana; FFT - Cocos, Nazca e
assim por diante. Existem dezesseis Caribe (Fig. 11.14); RTF – Juan de Fuca,
combinações possíveis de R, T e F, mas Norte Americana e Pacífico (Fig. 11.12). A
apenas seis são comuns: RRR, TTR, TTF, configuração das placas tectônicas muda
FFR, FFT e RTF. Alguns exemplos incluem continuamente e junções tríplices podem
o encontro das seguintes placas (ver Figs. 4.8 migrar geograficamente, passando de um tipo
e 4.25): RRR - Antártica, do Pacífico e de a outro (Fig. 4.26).
Nazca; TTR - Antártica, Sul Americana e de .

Figura 4.25. Velocidades relativas para as placas litosféricas determinadas por GPS para o período 1993-2000. A
sigla REVEL-2000 denota Recent velocities e a data do último ano incluído no modelo. A abreviatura das placas
é ligeiramente diferente da mostrada na Figura 4.28. A placa Africana é designada aqui de Núbica (Nu).

O movimento relativo de duas placas pólo. A determinação do pólo de rotação


em uma esfera pode ser descrito como uma para placas em lados opostos de dorsais
rotação angular em torno de um eixo que oceânicas pode ser feita utilizando-se falhas
passa pelo centro da Terra (teorema de transformantes, uma vez que estas devem
Euler). A interseção do eixo de rotação com representar pequenos círculos em torno do
a superfície é chamado de pólo e a pólo: os grandes círculos perpendiculares a
velocidade angular ω em torno do eixo duas ou mais falhas transformantes devem
define a magnitude do movimento relativo se interceptar no pólo de rotação (Fig.
entre as duas placas (Fig. 4.27a). Assim, a 4.27b).
velocidade tangencial entre elas varia de um Uma maneira de quantificar o
mínimo próximo ao pólo de rotação até um movimento das placas, nos últimos 200 Ma,
máximo para pontos localizados a 90º do é correlacionar faixas de anomalias

47
magnéticas do assoalho oceânico (Fig. 4.19 gradientes se desenvolvem em conseqüência
e 4.20) com a escala do tempo de de contrastes de densidade entre a litosfera e
polaridades geomagnéticas (Fig. 4.18). a astenosfera. A litosfera é mais fria e densa
Comparando-se a idade de uma anomalia longe das dorsais oceânicas do que nas suas
com sua distância da cadeia oceânica, é proximidades. Placas jovens e, portanto,
possível calcular a taxa de expansão do quentes têm densidade similar ou menor que
assoalho oceânico. Por exemplo, as a astenosfera, mas placas com idades
anomalias magnéticas de número 5 (≈ 10 superiores a 10-20 Ma são mais densas. O
Ma) de um lado e outro da dorsal contraste de densidade aumenta com a idade
mesoatlântica na Figura 4.19 estão separadas e, eventualmente, atinge um valor suficiente
por uma distância de cerca de 220 km. Isto para iniciar o processo de subducção. Esta
corresponde a uma velocidade média de 2,2 força é, freqüentemente, chamada em inglês
cm/ano para os últimos milhões de anos. de slab-pull (puxão da placa, em tradução
livre).

(a)

Figura 4.26. Evolução da configuração entre três


placas. Em (b) duas junções tríplices (FFT e RTF)
são formadas. Em (c), outra junção tríplice (TTR)
aparece e o ponto entre A, C e B1 migrou para sul
e tornou-se uma junção tríplice FFT.

Numa escala global, as taxas de (b)


expansão para os diferentes oceanos podem
ser calculadas a partir do padrão de idades
mostrado na Figura 4.21. Ela varia de 1
cm/ano, na dorsal Ártica, até 18 cm/ano, na
cadeia do Pacífico Leste. As velocidades
medidas ao longo de riftes continentais são
cerca de duas vezes menores que as
encontradas nas cadeias oceânicas mais
lentas. Por exemplo, o rifte Leste Africano
está dividindo a placa Africana da placa
Somaliana a uma taxa de 6 mm/ano.
Figura 4.27. (a) O movimento relativo entre duas
4.6. Forças responsáveis pela tectônica de placas pode ser descrito como uma rotação em
placas torno de um eixo. (b) O pólo de rotação entre duas
Em modelos de convecção térmica placas oceânicas ocorre na interseção entre
do manto, a camada termicamente limitada grandes círculos perpendiculares ás falhas
superior representa a litosfera. O transformantes.
deslocamento das placas tectônicas é
Uma vez que uma placa subduzida
causado por gradientes horizontais de
atinge certa profundidade, as transições de
pressão nesta camada (Fig. 4.28). Estes

48
gabro para eclogito na crosta oceânica e de manto em zonas de subducção. Isto é
olivina para a fase-β na porção mantélica consistente com a observação de que a
contribuem para aumentar o efeito velocidade de placas que estão atualmente
gravitacional negativo. A conversão de sofrendo subducção é, aproximadamente,
olivina para wadsleyita na placa ocorre a quatro vezes maior que a de placas não
uma profundidade consideravelmente menor limitadas por contatos convergentes. Neste
que a descontinuidade de 410 km (Fig. cenário, a subida da astenosfera, ao longo
4.28). Isto acontece porque a reação olivina das dorsais oceânicas, é meramente passiva,
→ wadsleyita é exotérmica (libera calor), consistente com a observação que a
diminuindo a energia interna do sistema. anomalia térmica associada com elas não se
Assim, o declive da curva de reação em um estende a profundidades muito maiores que
diagrama pressão-temperatura, calculado 300 km (Fig. 4.13).
pela equação de Clausius-Clapeyron (dP/dT
= ∆S/∆V, onde ∆S é a variação de entropia e
∆V a variação de volume) é positivo, desde
que ∆S e ∆V são negativos (Fig. 4.29). A
natureza mais rasa da conversão aumenta a
densidade relativa da litosfera subduzida,
favorecendo seu contínuo afundamento. Esta
força é denominada em inglês de slab
suction (sucção da placa em tradução livre).
Figura 4.29. Diagrama P-T esquemático mostrando que
reações exotérmicas (abaixo) e endotérmicas (acima)
têm declives positivos e negativos, respectivamente. A
transição olivina → wadsleyita é exotérmica, enquanto
a transformação de ringwoodita para perovskita e
magnesiowüstita é endotérmica. Em uma placa
subduzida, a distribuição de temperatura situa-se à
esquerda da geoterma. Já materiais ascendendo
adiabaticamente do manto profundo têm temperaturas
mais elevadas que a da geoterma a uma dada
Figura 4.28. Esquema ilustrando como o profundidade.
movimento descendente da placa subduzida
dominantemente controla o deslocamento Placas que não são limitadas por
horizontal das placas e o fluxo do manto (linha
tracejada). O tamanho das setas corresponde à
zonas de subducção, como no caso da placa
contribuição relativa das forças de ridge push Sul Americana, aparentemente contradizem
(RP), slab pull (SP) e slab suction (SS). A figura a dedução que o excesso de densidade da
não está em escala. litosfera em zonas de subducção
proporciona a maior parte da força requerida
Outra força agindo sobre as placas para mover as placas. No entanto, a
resulta da subida de material abaixo das geometria atual das placas não reflete
dorsais oceânicas e da diferença de necessariamente sua configuração passada.
topografia entre a dorsal e o assoalho Uma possibilidade é que a fragmentação do
oceânico. Esta força, chamada em inglês de supercontinente Pangéia e a abertura do
ridge push (empurrão da dorsal, em tradução oceano Atlântico tenham sido causadas por
livre) contribui com menos de 10% para o esforços oriundos de zonas de subducção
balanço de forças que promovem o com mergulho para oeste no oceano que
movimento das placas (Fig. 4.28). Assim, as precedeu o oceano Pacífico.
forças mais importantes responsáveis pela
tectônica de placas são representadas pelas 4.7. Simulações numéricas
próprias placas, quando elas mergulham no

49
Modelos numéricos visando velocidade de 5 cm/ano, o tempo requerido
reproduzir o comportamento mecânico da seria de cerca de 60 Ma. Os resultados
Terra têm sido continuamente aperfeiçoados mostram ainda que a mudança de fase
nos últimos anos. Os resultados mostram correspondente à descontinuidade de 660
que, mesmo quando a densidade de uma km, não impede a penetração da placa para o
placa supera a da astenosfera, regiões de manto mais profundo, embora ela possa
baixa viscosidade (correspondentes a falhas, ficar temporariamente retida nessa
no mundo real) são necessárias para induzir descontinuidade.
o processo de subducção (Fig. 4.30). Embora muitos dos modelos
numéricos sejam bidimensionais, resultados
obtidos com modelos tridimensionais
revelam características semelhantes.
Modelos levando em conta a esfericidade da
Terra também têm sido produzidos, mas
argumentos teóricos demonstram que os
efeitos impostos pela esfericidade (por
exemplo, uma assimetria das células de
convecção, já que a largura da base será
menor que a do topo) são bem menos
importantes que aqueles resultantes do calor
interno da Terra e de variações de
viscosidade com a profundidade.

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descer e começa a exibir dobramentos ao se Magnetic domains to
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num comportamento similar ao revelado por
edição eletrônica no site http:
tomografia sísmica para placas subduzidas //www.geo.arizona.edu/Paleomag/).
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numéricos, para que uma placa atinja a base motion history below the northeast Pacific
do manto (várias dezenas até algumas Ocean from seismic images of the subducted
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centenas de milhões de anos; Fig. 4.30) é
Chu, D., Gordon, R.G., 1999. Evidence for motion
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tectônicas. Por exemplo, assumindo-se uma Southwest India ridge. Nature 398, 64-87.

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51
52
5. Convecção Mantélica, Plumas e Hotspots

5.1. Introdução Geralmente, se assume que plumas


Subducção de placas litosféricas e são originadas na base do manto, embora
ascensão de material a partir de camadas plumas geradas na interface da zona de
termicamente limitadas quentes (Fig. 4.1) são transição com o manto inferior também
feições complementares de convecção no sejam plausíveis (Fig. 5.2). Outra
manto. Experimentos de laboratório e possibilidade é a de que plumas profundas
modelos numéricos mostram que o fluxo sejam detidas pela descontinuidade de 660
ascendente se dá através de condutos km e dêem origem a plumas menores no
cilíndricos (Fig. 5.1). Isto contrasta com o manto superior. De acordo com os
estilo de convecção representado pela experimentos, plumas geradas na base do
tectônica de placas, o qual é controlado pela manto devem ter um diâmetro (em torno de
subducção de placas tabulares. O material 1000 km) aproximadamente quatro vezes
ascendente é denominado pluma e sua forma maior que o daquelas originadas na
típica é a de uma esfera (a cabeça da pluma) descontinuidade de 660 km (cerca de 250
ligada através de uma cauda estreita (o km). Ao chegar à base da litosfera, a cabeça
pescoço) à região fonte (Fig. 5.1). da pluma se achata e seu diâmetro duplica
(Figs. 5.1 e 5.2). Estimativas do diâmetro de
(a) caudas de plumas variam de 100 a 400 km.

(b)

(c)
Figura 5.2. Diferentes modelos de plumas
mantélicas.

O termo hotspot (ponto quente) é


empregado para centros vulcânicos ativos
que não estão associados com limites entre
placas tectônicas, como no caso do Havaí, e
para segmentos de dorsais oceânicas
caracterizados por um volumoso vulcanismo,
Figura 5.1. Plumas produzidas em experimentos como no caso da Islândia. Hotspots ocorrem
de laboratório (a) e em simulações numéricas tanto nas bacias oceânicas quanto nos
bidimensionais (b) e tridimensionais (c). λ é o continentes (Fig. 5.3). Estimativas do número
contraste de viscosidade entre o material da
pluma e o manto.
total de hotspots são variáveis, com cerca de
quarenta sendo bem documentados.

53
Figura 5.3. Batimetria residual do assoalho oceânico (diferença entre a profundidade real e seu valor médio),
distribuição de hotspots (estrelas), e valores 87Sr/86Sr em basaltos (círculos). Notar a correlação entre hotspots e
locais com batimetria residual positiva. Abreviaturas: hotspots centrados em dorsais ou nas suas proximidades.
Af, Afar; As, Ascensão; Az, Açores; Ba, Balleny; Bo, Bowie; Bv, Bouvet; Co, Cobb; Cr, Crozet; ES, Páscoa;
Ga, Galápagos; Go, Gough; Gu, Guadalupe; Ic, Islândia; JM, Jan Mayen; Ke, Kerguelen; Lo, Louisville; Ma,
Marion; Re, Reunião; SA, São Paulo-Amsterdã; Sh, Shona; SH, Santa Helena; Tr, Tristão da Cunha.

A temperatura de plumas geradas na


5.2. Evidências indicando a existência de base do manto deve ser mais alta que a do
plumas manto adjacente. É de se esperar, portanto,
Embora plumas sejam facilmente que nelas as mudanças de fase que
produzidas em experimentos de laboratório produzem as descontinuidades de 410 km e
e em simulações numéricas de convecção no 660 km se processem a profundidades
manto, sua forma, dimensão e, mesmo sua maiores e menores, respectivamente, que as
existência, são tópicos bastante debatidos. profundidades normais (Figs. 4.29 e 5.4). O
Isto resulta, principalmente, de dois fatores: efeito pode ser suficientemente grande para
(1) condutos cilíndricos são mais difíceis de ser detectado sismicamente e foi observado
detectar por métodos geofísicos que placas em alguns locais. Por exemplo, a espessura
frias tabulares; (2) muitos hotspots são da zona de transição abaixo da Islândia, do
localizados em regiões oceânicas, onde Havaí e do hotspot de Afar é,
poucas estações sísmicas estão disponíveis. respectivamente, cerca de 20 km, 40-50 km
Apesar disso, vários argumentos sugerem e 20-30 km menor que a média para o
fortemente que plumas existem e que a manto.
maioria é proveniente do manto inferior. Amplas regiões (superplumas) com
anomalias de velocidades baixas
5.2.1. Tomografia sísmica (implicando temperaturas mais elevadas que
54
a média) são observadas no manto mais horizontal amplamente distribuída na
profundo (>2200-2800 km) em praticamente camada D’’. Abaixo do Havaí, foi detectada
todos os modelos de tomografia sísmica (por a mudança dessa trama horizontal para uma
exemplo, Fig. 4.13). Duas superplumas trama vertical. Isto sugere o fluxo lateral de
maiores estão presentes abaixo do sul da material para alimentar um conduto de
África e do centro do oceano Pacífico (Fig. pluma na base do manto. No manto superior,
4.13). Uma comparação entre as figuras 4.13 igualmente, em geral, observa-se uma trama
e 5.3 mostra que superplumas situam-se horizontal e uma forte correlação entre
imediatamente abaixo de locais onde direções de anisotropias rápidas na
numerosos hotspots são encontrados. Elas astenosfera e a direção do movimento das
são, portanto, interpretadas como o local placas. Este padrão é perturbado nas
onde plumas são geradas. proximidades de hotspots, proporcionando
evidência indireta da presença de plumas.

Fig. 5.4. A espessura da zona de transição é


menor na vizinhança de um conduto de pluma
porque a profundidade para as descontinuidades
de 410 e 660 km aumentam e diminuem
respectivamente, com a elevação de temperatura.

Até recentemente, a resolução dos


modelos tomográficos era insuficiente para
detectar condutos de plumas no manto
inferior, mas esta limitação está começando
a ser superada. Nos últimos anos, modelos
sísmicos mais sofisticados permitiram uma
visualização de plumas através de todo o
manto. Como exemplo, a Figura 5.5 mostra
seções tomográficas a diferentes
profundidades abaixo dos hotspots do Taiti e
da Ilha Cook. As ilhas são vizinhas, mas
resultam de anomalias separadas emanando
da região central da superpluma do Pacífico.
Plumas profundas foram também
identificadas abaixo dos hotspots de
Ascensão, Açores, Canárias, Cabo Verde,
Crozet, Páscoa, Kerguelen, Havaí e Samoa.
Nas imagens tomográficas, apenas as Figura 5.5. Visão tridimensional mostrando
plumas de Seychelles e Eifel são anomalias negativas de velocidade de ondas S
indiscutivelmente limitadas ao manto abaixo do Taiti (TH) e da ilha Cook (CI).
superior.

5.2.2. Anisotropia sísmica 5.2.3. Superdomos e anomalias do geóide


Estudos de anisotropia de ondas Hotspots geralmente são centrados
sísmicas indicam a existência de uma trama em regiões dômicas (swells) com 1000-2000

55
km de diâmetro, elevadas cerca de 1 km em superfície e vulcanismo. Este efeito é,
relação a regiões vizinhas. Superdomos também, detectado por anomalias do geóide,
(superswells) com milhares de quilômetros a superfície equipotencial do campo
de diâmetro estão presentes no sul da África gravitacional terrestre coincidente com a
e no Pacífico, onde o maior número de superfície dos oceanos. Anomalias do
hotspots é encontrado (Fig. 5.3). A geóide resultam de variações de densidade
existência de plumas proporciona uma no interior da Terra. Anomalias positivas
explicação para estas feições. A chegada de coincidem com a localização de superdomos
material menos denso e aquecido na base da e com regiões de baixas velocidades
litosfera, ou nas proximidades de dorsais sísmicas em modelos tomográficos do
oceânicas, ocasiona soerguimento da manto.

Figura 5.6. Distribuição de grandes províncias ígneas e traços de hotspots.

5.2.4. Argumentos petrológicos e platôs oceânicos são depósitos espessos de


Muitos hotspots oceânicos marcam a basaltos, acumulados, respectivamente, nos
terminação de cadeias lineares de vulcões continentes e em bacias oceânicas. Suas
extintos, cujas idades aumentam áreas podem atingir dois milhões de
progressivamente afastando-se deles. O quilômetros quadrados. Eles constituem as
exemplo clássico é o da cadeia havaiana, chamadas grandes províncias ígneas (LIPs,
mas muitos outros são visíveis em mapas de large igneous provinces). Os principais
batimétricos dos oceanos. Estes traços de derrames continentais de platô são: Paraná
hotspots podem ser unidos, em muitos casos, (Brasil e Paraguai), Etendeka e Karoo (sul
a derrames continentais de platô e a platôs da África), Decão (sul da Índia), e Sibéria
oceânicos (Fig. 5.6). Basaltos continentais (Fig. 5.6). Platôs oceânicos cobrem cerca de
de platô (CFB, de continental flood basalts) dez por cento da superfície dos oceanos e

56
elevam-se 2 a 4 km acima do assoalho de 150º a 400ºC. Isto é consistente com a
oceânico adjacente. A crosta oceânica nestes origem profunda assumida para plumas.
locais tem 20 a 40 km de espessura,
consideravelmente maior que a espessura
típica de 7 km. Os maiores platôs oceânicos
são os de Kerguelen, ao norte da Antártica, e
Ontong Java, no oeste do oceano Pacífico
(Fig. 5.6).
Estudos geocronológicos detalhados
mostram que, na maioria dos casos, o
vulcanismo associado a LIPs ocorreu em um
curto intervalo do tempo geológico (alguns
milhões a menos de um milhão de anos). A
taxa de produção de magmas, nestes casos,
é, assim, bem maior que em ambientes
relacionados a limites de placas (ver
Capítulo 6). Essas taxas elevadas e a
associação espacial entre LIPs e traços de
hotspots podem ser explicadas pela ascensão
e fusão parcial de plumas. Ao chegar à base
da litosfera, a cabeça de uma pluma sofre
fusão parcial por descompressão,
produzindo um volumoso vulcanismo
basáltico (Fig. 5.7a, b). Com o deslocamento
da placa, será agora a vez da cauda da pluma
sofrer fusão parcial, gerando um volume
bem menor de magma e um hotspot (Fig.
5.7c). Com a continuação do movimento, o
vulcanismo cessa neste hotspot e um novo
centro vulcânico se forma. Eventualmente,
um traço de vulcões extintos, ligando um
hotspot ativo a um LIP, é formado (Fig.
5.7d). Figura 5.7. Estágios sucessivos da interação entre
Os magmas dominantes, tanto nos uma pluma gerada na base do manto, o
deslocamento da litosfera (seta) e convecção
LIPs, quanto em ilhas oceânicas, são mantélica (elipses com setas).
basaltos toleíticos. Álcali-basaltos e rochas
alcalinas (nefelinitos, fonolitos, etc.) podem
A formação de kimberlitos,
estar presentes em CFBs e em ilhas
carbonatitos e rochas relacionadas é
oceânicas e são atribuídos a uma menor
atribuída, também, à fusão parcial de plumas
porcentagem de fusão parcial, em
mantélicas. Inclusões encontradas em alguns
combinação, ou não, com cristalização
diamantes de kimberlitos (majorita,
fracionada. Basaltos picríticos (basaltos
magnesiowüstita) indicam uma origem no
ricos em MgO) presentes em alguns CFBs
manto inferior. A composição peculiar de
são interpretados como fusão parcial da
magmas kimberlíticos e carbonatíticos
porção central, e, portanto, mais quente, da
(teores elevados de MgO e de elementos
cabeça de plumas. Estimativas da diferença
incompatíveis, como K, elementos terras
de temperatura de basaltos em LIPs e
raras, Nb e Ti) parece ser adquirida pela
hotspots oceânicos e de basaltos
assimilação de porções metassomatizadas da
erupcionados nas dorsais oceânicas variam
litosfera por magmas ultramáficos.

57
Kimberlitos ocorrem apenas em regiões concentrações mais baixas de elementos
continentais estáveis antigas (> 1,7 Ga), incompatíveis (Fig. 5.8), refletindo a maior
onde a litosfera é bastante espessa (200-250 percentagem de fusão parcial em cabeças de
km), mas carbonatitos estão também plumas que em suas caudas. Variações
presentes em riftes continentais. composicionais mais acentuadas também
são esperadas em basaltos continentais,
5.2.5. Argumentos geoquímicos devido à maior espessura da litosfera
Devido ao crescimento da crosta continental, o que dificulta a ascensão dos
continental, o manto tem sido magmas. Isto favorece a atuação de
progressivamente empobrecido em processos de cristalização fracionada e uma
elementos incompatíveis com o decorrer do maior interação dos magmas com a litosfera,
tempo geológico (Capítulo 8). Magmas o que pode resultar em sua contaminação,
derivados por fusão parcial do manto seja por assimilação de material crustal, seja
superior, como aqueles extravasados nas por mistura com magmas derivados de fusão
dorsais oceânicas, têm concentrações parcial do manto litosférico e/ou da crosta.
extremamente baixas desses elementos (Fig.
5.8 e Capítulo 6). Em contraste, basaltos de 5.2.6. Argumentos isotópicos
ilhas oceânicas (OIBs, de ocean island Estudos isotópicos corroboram a
basalts) e de derrames continentais de platô distinção entre OIBs e basaltos de dorsais
têm concentrações bem mais elevadas, oceânicas. Lavas de hotspots tendem a ser
particularmente dos elementos mais enriquecidas nos isótopos radiogênicos de Sr
incompatíveis (Rb, Ba, Th, Nd, La; Fig. e Pb e empobrecidas no isótopos
5.8). Isto indica derivação de uma fonte que radiogênico de Nd. Por exemplo, a variação
foi menos afetada pela formação da crosta da razão 87Sr/86Sr em basaltos de dorsais
continental e reteve, assim, uma maior oceânicas é, tipicamente, 0,702-0,703,
proporção de seus elementos incompatíveis. enquanto em hotspots é 0,703-0,705 (Fig.
Esta fonte, presumivelmente, deve ser mais 5.3).
profunda, consistente com a derivação de As variações isotópicas observadas
plumas a partir do manto inferior. em diferentes hotspots requerem a existência
de, pelo menos, três reservatórios com
características isotópicas distintas (Fig. 5.9):
(1) HIMU (de high µ; onde µ é a razão
238
U/204Pb) caracterizado por altas razões
206
Pb/204Pb; (2) EM1 (de enriched mantle,
tipo 1), com razões relativamente baixas de
206
Pb/204Pb e moderadas de 87Sr/86Sr; (3)
EM2 (de enriched mantle, tipo 2), com
razões 206Pb/204Pb moderadas e 87Sr/86Sr
elevadas. Algumas ilhas têm composições
próximas da composição de um desses
componentes extremos, mas a maioria
Figura 5.8. Diagrama de elementos traço mostra uma dispersão de valores, sugerindo
(normalizados em relação ao manto) comparando mistura de dois ou mais componentes e/ou
composições médias de basaltos de cadeias com o manto fonte dos MORBs (Fig. 5.9).
oceânicas (MORB), de hotspots (OIB) e de Geograficamente, as composições EM1 e
derrames continentais de platô (Paraná, Decão e
EM2 estão concentradas em hotspots
Rio Columbia).
localizados ao sul do equador. Esta feição é
Comparado com OIBs, basaltos freqüentemente referida como anomalia
continentais de platô tendem a ter DUPAL.

58
resultado da introdução de sedimentos
continentais, via subducção, na região fonte
dos OIBs.
Muitos hotspots são, ainda,
caracterizados isotopicamente por razões
3
He/4He mais elevadas que em MORBs.
Uma vez que 4He é produzido pelo
decaimento radioativo de U e Th, razões
3
He/4He elevadas podem ser interpretadas
pela proveniência de plumas de uma fonte
profunda, menos afetada pela perda de
voláteis durante a evolução da Terra.
Em síntese, os dados sugerem que a
diversidade isotópica observada em hotspots
resulta da derivação de plumas de porções
Figura 5.9. Razões isotópicas de Sr e Nd em
basaltos de dorsais oceânicas (MORB) e de do manto afetadas pelo crescimento da
hotspots (OIB). Amostras dominadas pelos crosta continental, como no caso de
componentes HIMU, EM1 e EM2 são mostradas MORBs, mas que foram variavelmente
em vermelho, laranja e amarelo, respectivamente. reenriquecidas por subducção de
PRIMA é a composição inferida para o manto
componentes litosféricos, tanto continentais
primitivo. Em diagramas isotópicos ternários Sr-
Nd-Pb as composições de ilhas individuais podem quanto oceânicos. Em vista da evidência
convergir para um ponto. FOZO (abreviatura de geofísica indicando a descida de placas até a
focal zone, zona focal) e C (abreviatura de base do manto, isto suporta a origem
common, comum) são as projeções de dois desses profunda das plumas.
pontos neste diagrama binário.
5.3. Hotspots sem relação com plumas
Uma possível explicação para o valor Nem todos hotspots estão
elevado da razão 238U/204Pb no componente relacionados a plumas provenientes do
HIMU é sua proveniência de porções do manto inferior. Isto é o caso do vulcanismo
manto que não foram afetadas pela extração no Maciço Central (França) e do hotspot
de U para a crosta continental, isto é, manto Eifel (Alemanha), os quais resultam de
primitivo. No entanto, a razão 87Sr/86Sr plumas relativamente pequenas no manto
desse componente é semelhante à de superior. Outros hotspots, aparentemente,
basaltos em dorsais oceânicas (Fig. 5.9), não têm relação com plumas, como no caso
sugerindo, ao contrário, fonte similar à dos de pequenos vulcões submarinos isolados e
MORBs, isto é, manto empobrecido. Por do vulcanismo associado com alguns riftes
isso, a explicação mais aceita é a presença continentais. Nestas situações, o mecanismo
de crosta oceânica subduzida na região fonte mais comumente invocado para a produção
dos hotspots dominados pelo componente do magmatismo intraplaca é a concentração
HIMU. Nesta interpretação, a alta razão de esforços extensionais na litosfera,
238
U/204Pb é atribuída à perda preferencial de ocasionando seu fraturamento e fusão
Pb nos fluidos liberados durante a parcial por descompressão da astenosfera.
subducção da placa oceânica (Capítulo 6). Concentrações de esforços podem ocorrer,
A origem do componente EM1 é por exemplo, pelo encurvamento da litosfera
atribuída à introdução na região fonte dos na proximidade de uma zona de subducção.
OIBs de sedimentos pelágicos subduzidos Outros mecanismos, comumente
ou de porções da litosfera continental invocando para a formação de hotspots, são
delaminadas durante eventos orogênicos o aquecimento espontâneo do manto abaixo
(Capítulo 7). A elevada razão 87Sr/86Sr no de grandes continentes/supercontinentes e
componente EM2 é interpretada como
59
convecção em pequena escala. Neste cadeia do Havaí têm idades aumentando
segundo caso, variações de espessura progressivamente para noroeste de zero até
litosférica, como observada entre um cráton 43 Ma (Fig. 5.11). Como o comprimento da
arqueano e litosfera mais jovem (Fig. 4.4), trilha é cerca de 3600 km, isto indica que a
produzem diferenças laterais de temperatura placa do Pacífico tem se movido para
na astenosfera. A instabilidade gravitacional noroeste a uma velocidade média de
resultante pode fazer com que a astenosfera aproximadamente 80 km/Ma (= 8 cm/ano)
mais fria, próxima ao cráton, desça e induza durante este intervalo de tempo. O ângulo de
um fluxo contrário da astenosfera mais 120º entre as cadeias do Havaí e Imperador
profunda e quente, a qual pode sofrer fusão (Fig. 5.11), por sua vez, indica uma
por descompressão ao se aproximar da mudança na direção do movimento da placa
superfície. do Pacífico, a qual seria quase N-S entre 43
Finalmente, a formação de algumas e 80 Ma.
LIPs tem sido atribuída ao alívio de pressão Estudos paleomagnéticos mostram
subseqüente ao impacto de meteoritos. que alguns hotspots não são fixos. No
entanto, o movimento relativo entre hotspots
localizados numa mesma placa é
insignificante. Numa escala global, a
magnitude do movimento entre hotspots
localizados nos oceanos Atlântico e Índico e
aqueles localizados no oceano Pacífico tem
sido estimada em uns poucos milímetros por
ano até cerca de 1 cm/ano.

Figura 5.10. Esquema ilustrativo de como a


descontinuidade vertical de temperatura ao longo
do limite entre um cráton e a litosfera mais fina
adjacente pode induzir instabilidades
gravitacionais e convecção na astenosfera

5.4. Traços de hotspots e velocidades


absolutas de placas
Modelos numéricos sugerem que o
local onde uma pluma é produzida
permanece fixo com o decorrer do tempo. Se
hotspots são também relativamente fixos, a
trilha deixada pela passagem da litosfera
sobre um hotspot (Fig. 5.7) fornece um Figura 5.11. Idade versus distância para a trilha
referencial para se determinar as velocidades de hotspot Havaí-Imperador.
absolutas do movimento das placas. Isto tem
uma grande vantagem sobre os métodos
geofísicos e geodésicos descritos no capítulo 5.5. Plumas e tectônica de placas
anterior, porque todos eles fornecem, O fato de a localização de hotspots
apenas, velocidades relativas. não apresentar uma correlação forte com a
No modelo de hotspot, a direção e a configuração atual dos limites entre as
velocidade do movimento de uma placa são diferentes placas tectônicas indica que os
obtidas, respectivamente, pela direção da modos de convecção do manto,
trilha e pela progressão de idades ao longo representados pela tectônica de placas e por
dela. Por exemplo, vulcões ao longo da plumas, são, em grande parte,

60
independentes. No entanto, interações entre extensionais na porção superior da litosfera,
plumas e placas podem acontecer em várias os quais podem provocar o desenvolvimento
situações. As mais comuns são descritas de falhas normais. Finalmente, o
abaixo: amolecimento (softening) reológico, causado
1. Numa escala global, modelos pela elevação da temperatura, facilita a
tomográficos mostram que plumas formam- deformação extensional da litosfera.
se preferencialmente afastadas de locais 5. Erosão térmica por plumas pode
onde ocorre subducção profunda (Fig. 4.13). produzir uma redução na espessura da
Este efeito é esperado, porque a descida de litosfera continental, facilitando o
placas litosféricas para a base do manto deslocamento da placa na qual ela está
provoca um resfriamento da camada situada. A rápida migração da Índia para o
termicamente limitada inferior, diminuindo norte, a velocidades de até 20 cm/ano,
o contraste de viscosidade e densidade subseqüente à sua separação do
requerido para o desenvolvimento de supercontinente Gondwana (Capítulo 11) é
plumas. atribuída a este fator.
2. Plumas podem ser afetadas pela
convecção em larga escala do manto
resultante do movimento das placas
tectônicas, causando uma curvatura do
conduto para a direção do deslocamento da
litosfera (Fig. 5.7d-e). Uma deflexão mais
acentuada é esperada na porção mais
superior do manto (onde o fluxo cisalhante
resultante do deslocamento horizontal das
placas é maior) e abaixo de placas rápidas.
3. Plumas podem coincidir Figura 5.12. Esquema ilustrando a interação de
espacialmente com dorsais oceânicas, como uma pluma com a litosfera continental. Em
no caso da Islândia. Isto afeta a morfologia regiões onde a litosfera é espessa, fusão parcial
da dorsal, que tende a apresentar uma ocorre apenas imediatamente acima do conduto,
onde a temperatura é mais elevada.
batimetria positiva (Fig. 5.3), bem como o
volume e a composição dos magmas
6. No caso de plumas chegando
produzidos nestes locais. A chegada de uma
abaixo de regiões continentais, fusão parcial
pluma nas proximidades de uma dorsal
e formação de basaltos continentais de platô
pode, ainda, provocar mudanças na sua
é condicionada pela espessura da litosfera.
geometria, induzindo uma relocalização do
No modelo de impacto, fusão parcial da
eixo para a proximidade do hotspot, onde as
cabeça da pluma se dá concomitantemente
temperaturas são mais elevadas.
com sua chegada na base da litosfera. O
4. A coincidência temporal, em
resultado é a produção de um grande volume
alguns casos, entre o quebramento de
de magma em curto intervalo de tempo (< 1
continentes e a atividade de plumas sugere
Ma) e uma influência limitada da litosfera
que elas podem influenciar a localização do
na sua composição. No modelo de
rompimento e, talvez, causar a separação de
incubação, a presença de uma litosfera
pequenos blocos. Três causas, atuando em
espessa, abaixo dos continentes, inibe fusão
conjunto, podem ser responsáveis por isto.
por descompressão. Nestes casos, a litosfera
Primeiro, ao chegar à base da litosfera, uma
deve ser adelgaçada e removida por
pluma exerce um esforço normal, forçando a
condução antes que fusão parcial ocorra, o
mesma a se deslocar horizontalmente.
que requer certo tempo, resultando em
Segundo, o soerguimento da superfície
magmatismo mais prolongado (≥10 Ma).
causado pela pluma gera esforços
Neste último caso, a própria litosfera pode
61
sofrer fusão parcial, especialmente se fluidos A defesa de um manto estratificado é
e elementos incompatíveis foram baseada em cálculos de balanço de massa
adicionados a ela durante eventos que permitem estimar a fração do manto
geológicos pretéritos. Assim, os magmas afetada pelo crescimento da crosta
extravasados podem conter uma mistura de continental. Isto pode ser feito, em tese,
componentes da pluma e da litosfera conhecendo-se a concentração de um
continental. Finalmente, interação de plumas elemento incompatível no manto primitivo
com heterogeneidades da litosfera, em (normalmente obtida a partir de estudos de
particular variações de espessura, pode meteoritos; ver Capítulo 8) e suas
provocar uma dispersão do magmatismo na concentrações atuais na crosta e no manto.
superfície (Fig. 5.12). Alternativamente, razões elementais ou
isotópicas também podem ser empregadas.
5.6. Uma visão global da dinâmica e Os resultados obtidos variam de 40% a 94%.
evolução do manto Os valores mais baixos requerem, apenas, a
Existe, agora, ampla evidência participação da porção do manto acima da
geofísica de que a descontinuidade de 660 descontinuidade de 660 km no processo de
km não constitui uma barreira intransponível criação da crosta continental. Isto apoiaria o
para a descida de placas em direção ao modelo de convecção em duas camadas
manto inferior. Embora com menos porque, se a convecção fosse global, o
segurança, os dados geofísicos também contraste composicional entre o manto
sugerem que muitas plumas são geradas na superior e o manto inferior revelado pelas
base do manto. Estas informações implicam diferenças entre MORBs e OIBs tenderia a
que convecção envolve todo o manto (Fig. desaparecer com o passar do tempo. As
5.13). Em contraste, argumentos estimativas mais recentes favorecem, no
geoquímicos favorecem um manto entanto, os valores mais elevados, indicando
estratificado, com ocorrência de convecção que uma fração significativa do manto não
em duas camadas isoladas, uma acima e possui mais uma composição primitiva (Fig.
outra abaixo da descontinuidade de 660 km. 5.13).

Figura 5.13. Modelo esquemático ilustrando um possível cenário para a estrutura e dinâmica do manto onde
fragmentos de placas subduzidas antigas e porções remanescentes do manto primitivo persistem em uma matriz
empobrecida em elementos incompatíveis.

Mesmo que uma quantidade esteja presente no manto, ocorrência de


significativa de material primordial ainda convecção global não é invalidada. Modelos

62
numéricos recentes sugerem que até 50% de Davies, G.F., 1999. Dynamic Earth: Plates, Plumes
material primitivo pode estar presente no and Mantle Convection. Cambridge University
Press.
manto. Ele ocorreria na forma de pequenos Davies, J.H., 2005. Steady plumes produced by
domínios espalhados, fortemente cisalhados downwellings in Earth-like vigor spherical
e dobrados (Fig. 5.13). Os cálculos sugerem whole mantle convection models.
que estas heterogeneidades geoquímicas Geochemistry, Geophysics, Geosystems 6, doi:
podem sobreviver por períodos de tempo 10.1029/2005GC001042.
Davies, J.H., Bunge, H.P., 2006. Are splash plumes
maiores que a idade da Terra. the origin of minor hotspots? Geology 34, 349-
Enquanto movimentos de convecção 352.
tendem a homogeneizar o manto, a Eldholm, O., Coffin, M.F., 2000. Large igneous
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primitivo, de manto empobrecido e de Ernst, R.E., Buchan, K.L., Campbell, I.H., 2005.
diversos componentes litosféricos. É, Frontiers in Large Igneous Province research.
portanto, de se esperar que os produtos de Lithos 79, 271-297.
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sua fusão parcial apresentem uma grande thermal plume paradigm. Geophysical Research
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estrutura, dinâmica e evolução do manto, lived hot spots, mantle plumes, D’’, and plate
uma convergência de dados geofísicos, tectonics. Reviews of Geophysics 42, doi:
geoquímicos e isotópicos, de experimentos 10.1029/2003RG000144.
numéricos e laboratoriais, e de modelos Ito, G., Lin, I., Graham, D., 2003. Observational and
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teóricos sugere um cenário similar ao plume-mid-ocean ridge interaction. Reviews of
ilustrado na Figura 5.13. Geophysics 41, doi: 10.1029/2002RG000117.
Jurine, D., Jaupart, C., Brandeis, G., 2005.
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implications for the motion of hot spots and

64
6. Ambientes Tectônicos: Estrutura e Associações
Petrotectônicas Características

6.1. Introdução 6.2.1. Características gerais e mecanismos


A constatação da inexistência de de formação
crosta oceânica mais antiga que 200 Ma Riftes e sistemas de riftes continentais
(Capítulo 4) levou à proposição de que a são cinturões da litosfera continental sujeitos
abertura e fechamento de oceanos ocorrem à extensão. Sistemas de riftes comumente são
ciclicamente na história da Terra. Este estreitos (<100 km) e alongados (>1000 km),
conceito é agora conhecido como o ciclo de como no caso do sistema de riftes do leste da
Wilson (Fig. 6.1). África (Fig. 6.2), mas, também, podem
O ciclo de Wilson tem início com a resultar de extensão difusa de grandes áreas,
formação de um rifte continental, sendo algumas com larguras superiores a 1000 km.
seguido pela abertura de uma bacia oceânica Isto é o caso da província Basin and Range
com margens continentais passivas de ambos (Fig. 11.12), no oeste dos Estados Unidos, e
os lados (Fig. 6.1a-d). Com a progressiva do Platô Tibetano (Fig. 7.2). Esta segunda
expansão do assoalho oceânico, a litosfera situação, normalmente, resulta do
oceânica se torna mais velha e, adelgaçamento de uma crosta previamente
conseqüentemente, mais densa e espessada durante eventos orogenéticos e
gravitacionalmente instável. Eventualmente, será detalhada no próximo capítulo.
zonas de subducção se desenvolvem de um
ou de ambos os lados do oceano recém
formado (Fig. 6.1e). Se a taxa com que a
litosfera é consumida na(s) zona(s) de
subducção supera a taxa com que ela é criada
na dorsal oceânica, a bacia oceânica começa
a se fechar, culminando na colisão de dois
continentes (Fig. 6.1f,g). O continente
resultante pode, posteriormente, sofrer
rifteamento e dar início a um novo ciclo.
Associações de rochas supracrustais
(sedimentares e vulcânicas) que caracterizam
os diferentes ambientes tectônicos
relacionados com o ciclo de Wilson são
chamadas de associações petrotectônicas.
Neste capítulo, são descritas as associações
petrotectôncias formadas durante as fases de
divergência e convergência de placas Figura 6.1. Seqüência idealizada de eventos em
um ciclo de Wilson. (a) Cráton; (b) Rifte
litosféricas, bem como suas principais continental; (c) Rifte oceânico incipiente; (d)
características morfológicas, estruturais e Rifte oceânico e margens continentais passivas;
metamórficas. Feições relacionadas com a (e) Formação de uma zona de subducção; (f)
fase de colisão são abordadas no próximo Fechamento oceânico, com subducção da dorsal;
capítulo. (g) Colisão continental.

Dependendo do mecanismo de
6.2. Riftes continentais formação, riftes continentais podem ser

65
classificados como ativos ou passivos (Fig. diques radiais com raio superior a 1000 km
6.3). (Fig. 6.4).
Riftes passivos são produzidos por
fraturamento da litosfera, em resposta a
esforços resultantes do movimento das placas
tectônicas. Neste caso, extensão significativa
é necessária antes que fusão por
descompressão da astenosfera seja possível
(Fig. 6.3). Um exemplo é o Rifte Baikal, na
parte central da Eurásia, o qual,
provavelmente, formou-se como uma
resposta distal da colisão Índia-Ásia. Entre as
zonas ativas no presente, este rifte é o que
está associado com o menor volume de
rochas vulcânicas na superfície.

Figura 6.2. Mapa esquemático do sistema de riftes do


leste da África e rochas vulcânicas cenozóicas
associadas.

Riftes ativos (também chamados de


termicamente ativados) são produzidos em
resposta à subida de plumas do manto (Fig.
6.3). Isto causa, inicialmente, domeamento e,
subseqüentemente, fraturamento da litosfera.
Neste caso, grandes volumes de derrames
continentais de platô são erupcionados antes
da ocorrência de extensão significativa. No
rifteamento ativo, tipicamente, três riftes
formando um ângulo de 120º entre si se
desenvolvem (Fig. 6.4). Os três ramos podem
evoluir até a formação de uma bacia
oceânica, porém, mais comumente, dois Figura 6.3. Estágios sucessivos na evolução de
ramos se conectam para formar uma margem riftes ativos e passivos. No primeiro caso,
passiva, enquanto o outro é abandonado. Este domeamento (A) e vulcanismo (B) ocorrem antes
último é chamado de rifte abortado. O termo de extensão significativa (C). No segundo,
aulacógeno é empregado para um rifte extensão (A, B) precede soerguimento (B) e
magmatismo (C).
abortado que sofreu contração em ângulo
elevado com a direção do rifte durante um
evento deformacional posterior. Em regiões A formação de bacias
antigas, rifteamento ativo pode ser intracontinentais (também chamadas bacias
reconhecido pela ocorrência de enxames de intracratônicas ou sinéclises) pode estar
associada com uma fase inicial de

66
rifteamento. Durante esta fase, a maior sujeita a ruptura e desenvolvimento de falhas
proximidade da astenosfera da superfície lístricas ou em dominó de uma placa inferior
causa uma elevação regional da temperatura. deformada ductilmente.
Uma vez cessada a extensão, a contração
térmica subseqüente pode desenvolver
depressões amplas. O efeito será tanto maior
quanto maior o volume de magma
acompanhando a extensão. Se a atividade
magmática for intensa, a intrusão de magmas
máficos na crosta inferior (Fig. 6.3C) pode
manter a espessura da crosta mais ou menos
constante. Com o preenchimento das
depressões com sedimentos, o processo de
subsidência é acentuado, devido ao peso da
coluna sedimentar, até que uma situação de
equilíbrio é atingida.
Figura 6.5. Modelos simplificados de extensão da
litosfera continental por (a) cisalhamento puro e
(b) cisalhamento simples.

Estruturas prévias na litosfera


continental exercem um grande controle na
orientação e localização da deformação
extensional em sistemas de rifte. Por
exemplo, o sistema de riftes do leste da
África segue a orientação das estruturas
formadas durante a orogênese Pan-Africana
do Neoproterozóico Superior e a presença do
cráton da Tanzânia, mais rígido, condicionou
a formação dos ramos leste e oeste (Fig. 6.2).
Figura 6.4. Evolução de uma junção tríplice Quando estruturas preexistentes não são
formada por rifteamento ativo com intrusão de perpendiculares à direção de estiramento
enxames de diques radiais. Uma dorsal oceânica regional, rifteamento oblíquo pode ocorrer.
incipiente se forma pela conexão de dois ramos e
Nestes casos, falhas com rejeitos oblíquos
término de extensão no terceiro.
podem ser formadas (Fig. 6.6a).
Alternativamente, pode ocorrer uma partição
6.2.2. Controles na formação e evolução de da deformação entre regiões sujeitas à
riftes continentais extensão e regiões sujeitas a um regime
O rifteamento da litosfera pode dar-se transcorrente (Fig. 6.6b). Ambientes onde
por cisalhamento puro ou por cisalhamento ocorre divergência oblíqua de blocos são
simples (Fig. 6.5). No primeiro caso, horsts e chamados transtrativos.
grábens múltiplos simétricos são produzidos A formação de um sistema de riftes se
durante extensão rúptil da crosta superior, inicia com uma série de falhas desconectadas
enquanto a crosta inferior e o manto que começam a interferir umas com as outras
litosférico sofrem extensão dúctil. No durante seu crescimento. Isto, tipicamente,
segundo caso, o rifteamento é assimétrico. produz segmentos de rifte com traçados
Uma falha de descolamento grada a uma sinuosos. Regiões onde dois segmentos de
zona de cisalhamento em profundidade, a rifte se conectam são chamadas zonas de
qual pode penetrar toda a litosfera. O acomodação. Em alguns casos, zonas de
descolamento separa uma placa superior acomodação são formadas unicamente por

67
falhas de rejeito direcional. Estas são derivadas de plumas mantélicas, do manto
chamadas de falhas de transferência e podem litosférico, ou da astenosfera (Fig. 6.3) e
evoluir para falhas transformantes, se o rifte exibem graus variados de contaminação pela
chegar ao estágio oceânico. crosta continental. Os membros félsicos são,
comumente, menos abundantes que os
máficos e incluem fonolitos, nefelinitos e
riolitos. Embora essas rochas possam, em
alguns casos, ser produzidas por cristalização
fracionada dos membros máficos, dados
geoquímicos e isotópicos indicam que a
maioria é de origem crustal, sendo gerados
por fusão parcial da crosta inferior,
promovida pelos magmas basálticos.
Com o decorrer da abertura de um
rifte continental, rochas máficas derivadas da
astenosfera mudam de dominantemente
alcalinas a dominantemente toleíticas, até
que, com a formação de assoalho oceânico,
sua composição começa a se aproximar da
dos basaltos de dorsais oceânicas (seção 6.4).
A sigla BVAC (da abreviação em
inglês para bimodal volcanics, arkose,
conglomerate) é comumente usada para se
Figura 6.6. Esquema mostrando que a referir à associação petrotectõnica
deformação em zonas de divergência oblíqua
pode ser acomodada por falhas de rejeito oblíquo
característica de riftes continentais.
(A) ou por uma partição da deformação (B).
6.3. Margens passivas e assoalho oceânico
Margens continentais passivas são
6.2.3. Associações petrotectônicas formadas com a separação completa de dois
Riftes continentais são caracterizados continentes. A largura e estrutura de margens
por sedimentos clásticos terrígenos imaturos continentais dependem de vários fatores. Elas
(arcósios, quartzitos feldspáticos e podem conter uma grande abundância ou
conglomerados) derivados da erosão de serem carentes em rochas vulcânicas (Fig.
blocos falhados soerguidos. Sedimentos 6.7). No último caso, seções do manto
lacustres finos também podem ser superior podem aflorar no assoalho oceânico.
encontrados. Quando a subsidência é Devido à reação com a água do mar, os
suficiente para trazer o assoalho do rifte peridoditos mantélicos mostram,
abaixo do nível do mar, evaporitos são freqüentemente, um grau avançado de
depositados. Com a continuação da extensão, serpentinização. Um exemplo de tal situação
o rifte é progressivamente inundado por água é a margem continental da Ibéria. Quando o
do mar, e arenitos, argilitos e carbonatos rifteamento é assimétrico (Fig. 6.5b), a
marinhos são depositados. margem que se desenvolve na placa inferior é
Rochas ígneas em riftes continentais bem mais larga e apresenta uma seqüência
são caracterizadas por suítes vulcânicas sedimentar mais espessa que a margem da
bimodais, com rochas de composição placa superior. Margens evoluídas de regiões
intermediária (andesitos, por exemplo) sendo transtrativas tendem a ser mais estreitas que
raras. Os membros máficos consistem margens formadas por extensão ortogonal.
dominantemente de basaltos toleíticos e Três regiões são reconhecidas em
basaltos alcalinos. Estas rochas podem ser margens continentais da linha de costa para o

68
oceano: a plataforma continental, o talude que acompanha o movimento nas falhas
continental e a elevação continental. As extensionais.
rochas sedimentares típicas da plataforma Sedimentos depositados em bacias
continental são sedimentos clásticos maturos oceânicas afastadas de regiões continentais
de águas rasas (arenitos, siltitos e argilitos) e são chamados de sedimentos pelágicos. Eles
carbonatos. Estas rochas também incluem sedimentos abissais (siltitos e
predominam em bacias intracratônicas, com argilitos) de origem terrígena, que são, em
os carbonatos sendo depositados durante parte, eólicos, bem como calcários
ciclos transgressivos, que resultam na fossilíferos e cherts. Estes dois últimos
formação de mares rasos extensos. A sigla resultam, respectivamente, do acúmulo de
QPC (da abreviação em inglês para quartzite, microorganismos com carapaças carbonáticas
pelite, carbonate) é comumente usada para se (predominantemente foraminíferos) e
referir a esta associação. Espessas silicosas (diatomáceas e radiolários).
acumulações de turbiditos ocorrem no talude
e na elevação continental. Turdiditos 6.4. Dorsais oceânicas
caracteristicamente apresentam estratificação 6.4.1. Classificação e morfologia
gradacional, com camadas de granulação A taxa de expansão é a principal
mais grossa na base e mais fina no topo. Este variável observada ao longo do sistema de
ordenamento interno é chamado seqüência de dorsais oceânicas. De acordo com este
Bouma. critério, elas são classificadas em rápidas (>
7 cm/ano), intermediárias (5-7 cm/ano),
lentas (2-5 cm/ano) e ultralentas (< 2
cm/ano). Dados geofísicos mostram que a
espessura da crosta oceânica é mais ou
menos constante para taxas de expansão
iguais ou superiores a 2 cm/ano. Para valores
inferiores a este, ela decresce rapidamente
com a diminuição da taxa de expansão.
Ainda se discute se a taxa de expansão global
média permaneceu relativamente constante
nos últimos 180 Ma de anos ou se ocorreram
Figura 6.7. Esquema ilustrando diferenças na variações significativas. Por exemplo, alguns
estrutura de margens continentais amagmáticas estudos sugerem que a taxa de expansão
(acima) e magmáticas (abaixo). durante o Cretáceo foi maior que durante o
Cenozóico (Fig. 6.8).
O estiramento da crosta continental Dorsais rápidas, como no caso da
cessa quando o assoalho oceânico é formado. cadeia do leste do Pacífico, elevam-se
No entanto, falhas extensionais continuam a suavemente a partir do assoalho oceânico e
se desenvolver na seqüência sedimentar da podem atingir larguras de até 1500 km (Fig.
plataforma continental. Estes falhamentos 6.9a, b), enquanto cadeias lentas, como a
resultam apenas de forças gravitacionais e dorsal meso-Atlântica, são, relativamente,
ocorrem devido ao declive da margem estreitas (algumas centenas de quilômetros de
passiva. Tipicamente, os níveis evaporíticos largura; Fig. 6.9a, c). Estas diferenças
na base da seqüência servem como morfológicas acontecem porque, para uma
descolamentos basais para as falhas normais mesma distância do eixo da dorsal, a litosfera
(geralmente com geometria lístrica) que se oceânica em uma dorsal lenta é mais velha e,
desenvolvem durante o deslizamento dos portanto, mais densa que em uma dorsal
sedimentos para o lado oceânico. Diápiros de rápida. Dorsais lentas apresentam uma
sal podem ascender devido ao alívio de carga topografia bastante acidentada e são

69
caracterizadas por um vale axial com 20 a 40 exposições do manto, ocorram por distâncias
km de largura e 1 a 2 km de profundidade de até 50 km.
(Fig. 6.9c). No entanto, esta morfologia pode
ser modificada nas proximidades de hotspots,
como no caso da Islândia, o que,
freqüentemente, resulta em dorsais com
forma em V, onde o vale axial torna-se mais
aberto e elevado em direção ao centro do
hotspot.

Figura 6.9. (a) Perfis esquemáticos de dorsais


rápidas (cinza claro) e lentas (cinza escuro). (b,
c) Detalhe do eixo da dorsal. Dorsais rápidas
apresentam um alto axial (b) enquanto dorsais
lentas têm um vale axial (c)

Figura 6.8. Estimativas da taxa de expansão 6.4.2. Magmatismo


média global com a idade.
Dorsais oceânicas são responsáveis
Dorsais com velocidades de expansão pela produção de mais de 85% de todo o
intermediárias, como alguns segmentos da volume de magma produzido na Terra. Com
dorsal do Pacífico, têm características base em estudos geofísicos de dorsais
também intermediárias, apresentando um oceânicas atuais e no estudo estrutural de
vale axial não tão bem desenvolvido como no ofiolitos, este magmatismo é explicado pela
caso de dorsais lentas. Em outros casos, subida passiva do manto, em resposta à
dorsais intermediárias apresentam segmentos separação entre as placas litosféricas (Fig.
com morfologias alternadas, apresentando 6.10a). Fusão parcial por descompressão
características sejam de dorsais rápidas, começa entre 60 e 80 km de profundidade e
sejam de dorsais lentas. aumenta com a diminuição da profundidade.
Peridotitos serpentinizados afloram, Estimativas recentes sugerem que a
ocasionalmente, ao longo de vales axiais e de percentagem de fusão parcial média seja
falhas transformantes associadas com cadeias relativamente baixa (6-10%).
lentas. É o caso do arquipélago São Pedro e Com a progressão da fusão parcial,
São Paulo, ao longo da falha transformante magma começar a se separar do resíduo
São Paulo, no Atlântico equatorial. Estas sólido, convergindo de uma zona bastante
exposições do manto são interpretadas como larga para a região axial da dorsal (Fig.
resultantes de produção insuficiente de 6.10a). A segregação e transporte dos
magma para gerar crosta oceânica contínua magmas podem ocorrer por fluxo poroso ou
nestes locais. Tal situação se torna mais canalizado. O primeiro processo refere-se à
comum nas dorsais ultralentas, como na migração de magmas ao longo dos contatos
dorsal Ártica e no segmento sudoeste da de grãos, enquanto o outro envolve a
dorsal Índica. Nestes locais, vulcanismo formação de condutos tabulares.
intermitente faz com que grandes segmentos Uma câmara magmática estável rasa
amagmáticos contínuos, formados por (1-2 km de profundidade) está presente
abaixo de segmentos de cadeia rápidos (Fig.

70
6.10b). Esta câmara superpõe uma zona consistir de uma zona mush tabular abaixo do
mush, onde magma e cristais coexistem, vale axial, circundada por uma zona de
estendendo-se até a base da crosta. transição bem mais estreita que em dorsais
Lateralmente a esta região, ocorre uma zona rápidas (Fig. 6.10c), com bolsões discretos de
de transição, separando rochas parcialmente magma se formando episodicamente. Falhas
e totalmente solidificadas (Fig. 6.10b). penetram profundamente na crosta oceânica e
(a) podem ser enraizadas na zona parcialmente
fundida.

6.4.3. Petrologia e geoquímica


Como no caso de LIPs e de ilhas
oceânicas (Capítulo 5), os produtos
magmáticos característicos de cadeias
oceânicas são basaltos toleíticos. Estes
basaltos são denominados de MORB (de
mid-ocean ridge basalt) e têm composições
bastante uniformes em termos de elementos
maiores, sendo caracterizados por valores
relativamente constantes de SiO2 (≈ 50%),
(b) baixas concentrações de potássio (K2O
geralmente menor que 0,2%) e baixas razões
K/Na (Tabela 6.1). MORBs em cadeias
lentas têm razões Mg/Fe tipicamente mais
elevadas (são mais primitivas no jargão
geoquímico) que em cadeias rápidas. Isto é
devido à possibilidade de cristalização
fracionada mais acentuada em dorsais
rápidas, durante a residência dos magmas em
câmaras magmáticas rasas (Fig. 6.10b).
(c)
Tabela 6.1. Composições médias de elementos
maiores de basaltos de dorsais oceânicas: (1) Dorsal
meso-Atlântica; (2) dorsal do Pacífico leste; (3)
dorsais no oceano Índico.
Óxido/ (1) (2) (3)
Elemento
SiO2 50,68 50,19 50,93
TiO2 1,49 1,77 1,19
Al2O3 15,60 14,86 15,15
Figura 6.10. (a) Subida passiva de magmas abaixo
FeO 9,85 11,36 10.32
de uma dorsal oceânica (linhas cheias) em
MgO 7,69 7,10 7,69
resposta ao movimento divergente das placas
CaO 11,44 11,44 11,84
tectônicas (linhas tracejadas). (b, c) Modelos
Na2O 2,71 2,66 2,32
esquemáticos da estrutura da crosta oceânica
K2O 0,17 0,16 0,14
abaixo de dorsais rápidas (b) e lentas (c).
P2O5 0,12 0,14 0,10
Embora uma câmara magmática tenha
Grande parte da variação
sido recentemente identificada abaixo de um
composicional observada em MORBs resulta
segmento da dorsal meso-Atlântica, é pouco
de processos de cristalização fracionada,
provável que câmaras magmáticas estáveis
envolvendo olivina, plagioclásio cálcico e
sejam uma feição comum em dorsais lentas.
clinopiroxênio. Como o fracionamento
Mais comumente, a estrutura da dorsal deve
desses minerais tem efeito menos acentuado
71
sobre a concentração de sílica que sobre a pluma) em oposição aos MORBs normais
concentração de magnésio, a variação (N-MORBs). Eles apresentam concentrações
composicional de MORBs é, normalmente, mais elevadas de elementos terras raras leves
representada projetando-se os óxidos dos (Fig. 6.12) e demais elementos
elementos maiores versus MgO (Fig. 6.11). incompatíveis, bem como razões 87Sr/86Sr
O valor de MgO nos magmas parentais é mais altas (Fig. 5.3). Basaltos com
estimado em torno de 8%. características intermediárias entre E- e N-
MORBS são chamados de T-MORBs (T de
transicionais).

6.4.4. Hidrotermalismo e metamorfismo


Sistemas hidrotermais em dorsais
oceânicas são responsáveis por,
aproximadamente, 20% do calor perdido pela
Terra. Ao longo do eixo ou dos flancos das
dorsais, água fria penetra através de fissuras
na crosta oceânica, é aquecida e retorna para
o oceano em fontes térmicas. Durante este
Figura 6.11. Diagrama de variação para mais de percurso, a crosta oceânica é alterada,
11000 amostras de taquilitos (vidros de incorporando alguns dos constituintes da
composição basáltica) de dorsais oceânicas. água do mar, como Na, Mg e sulfatos,
enquanto outros componentes como Si, Fe e
outros metais (Mn, Ag, Zn, Cu) são extraídos
(Fig. 6.13). Quando o fluido aquecido retorna
para o oceano, os metais dissolvidos se
combinam rapidamente com enxofre para
formar sulfetos. Se a temperatura do fluido é
muito alta (podendo atingir até 350ºC), a
mistura se dá acima da crosta oceânica,
dando ao fluido a aparência de uma fumaça
negra. Estas fontes hidrotermais são
chamadas fumarolas negras (black smokers).
Quando a temperatura é mais baixa, a
Figura 6.12. Padrões de elementos terras raras mistura do fluido com a água do mar ocorre
para N-MORBs e E-MORBS. abaixo do assoalho oceânico e o fluido
extravasado tem coloração clara, sendo
Em termos de elementos-traço, a chamado de fumarola branca (white smoker).
principal característica de MORBs são as Os metais precipitados (pirita, calcopirita,
baixas concentrações de elementos esfalerita, galena) formam importantes
incompatíveis, como K, Rb, Ba, Cs, U e Th depósitos minerais chamados de sulfetos
(Fig. 5.8). Isto se reflete em baixas razões maciços.
iniciais Sr87/Sr86 e elevadas razões O metamorfismo resultante da
Nd143/Nd144 (Fig. 5.9). alteração da crosta oceânica causada pela
Os MORBs resultam de fusão parcial circulação de fluidos hidrotermais depende
da astenosfera (Fig. 6.10a), mas em da profundidade. Em níveis mais superficiais,
segmentos de cadeia centrados em hotspots, onde a temperatura é baixa (< 100ºC),
como na Islândia, pode ocorrer contaminação carbonatos, zeólitas e argilas são formadas e
por plumas. Esses basaltos são chamados de a alteração comumente não é penetrativa. Na
E- ou P-MORBs (E de enriquecidos, P de porção mais inferior dos derrames basálticos

72
e nos enxames de diques, os minerais continente ou sob outra placa oceânica. Um
primários são, tipicamente, substituídos por perfil ao longo de um arco de ilha ativo típico
associações minerais da fácies xisto-verde é mostrado na Figura 6.14. Do oceano para o
(clorita, epidoto, albita). Basaltos e diabásios, continente tem-se: a elevação externa; a
onde quase todo o cálcio foi substituído por fossa; o complexo da zona de subducção
sódio, são convertidos em rochas ricas em (também chamado prisma de acresção), com
albita chamadas de espilitos. Na porção bacias ante-arco (forearc) sobrejacentes; o
plutônica, gabros são convertidos para arco magmático; e a bacia retro-arco (back-
anfibolitos. Fusão parcial desses anfibolitos arc).
gera tonalitos extremamente empobrecidos A formação da fossa e da elevação
em elementos incompatíveis, denominados externa é uma resposta à flexão da litosfera,
plagiogranitos. Isto pode ocorrer devido à quando a placa inferior se encurva para
chegada de magmas primários na base da mergulhar no manto. Para um referencial fixo
crosta oceânica ou num evento bem no manto, o local onde isto ocorre migra em
posterior, associado ao alojamento de direção ao oceano com o decorrer do tempo
ofiolitos (Capítulo 7). Em dorsais lentas, (Fig. 6.1e, f). Este processo é chamado de
água do mar pode atingir o manto, recuo (roll-back). Quando o recuo da fossa é
promovendo a substituição de olivina e mais rápido que o deslocamento da placa
piroxênio por serpentina e/ou talco. superior, a região atrás do arco entra em
extensão, ocasionando a formação de uma
bacia retro-arco. Estas zonas de subducção
extensionais são denominadas de tipo
Mariana. Se o recuo da fossa é mais lento
que o avanço da placa superior, esforços
compressivos se desenvolvem, provocando
contração na região atrás do arco e a
formação de um cinturão de empurrões e
dobramentos. Zonas de subducção, nas quais
o arco está sob compressão, são chamadas de
tipo Chileno (ou Andino).
A formação de zonas de subducção
do tipo Mariana é favorecida quando a placa
subduzida é antiga e fria. Zonas de
subducção do tipo Chileno resultam da
subducção de litosfera oceânica jovem e
Figura 6.13. Etapas esquemáticas envolvidas na
quente, de segmentos de dorsais ou, ainda, de
atividade hidrotermal associada com dorsais
oceânicas. (1) Água fria penetra na crosta através segmentos litosféricos com crosta oceânica
de fraturas. (2, 3) Remoção de oxigênio e potássio anomalamente espessa, como platôs
(2) e de cálcio, sulfato e magnésio (3) da água do oceânicos, ilhas vulcânicas e arcos de ilhas.
mar. (4) O fluido aquecido remove sódio, cálcio e Em todos estes casos, a densidade média da
potássio da crosta oceânica. (5, 6) Metais (Cu, Zn,
litosfera é diminuída, dificultando a
Fe) e enxofre entram no fluido e este começa a
subir. (7) Black smoker. subducção e reduzindo o ângulo de mergulho
da placa. Em conseqüência, zonas de
subducção rasas, com mergulhos inferiores a
6.5. Margens ativas e arcos de ilhas 10-20º, são formadas.
6.5.1. Características gerais O nome arco de ilha resulta do fato de
Margens continentais ativas e arcos que vulcões ativos na superfície se dispõem
de ilhas resultam, respectivamente, da em forma arqueada. A curvatura de arcos de
subducção de uma placa oceânica sob um ilhas pode ter várias causas. Ela pode ser uma

73
feição formada desde o começo da recuo da fossa na sua proximidade; a
subducção, devido à própria esfericidade da presença de heterogeneidades dentro da
Terra, ou resultar do encurvamento de um litosfera resultantes de diferenças de idade,
arco originalmente retilíneo. Situações onde novamente causando variações na velocidade
este último caso pode ocorrer incluem a do recuo; e deslocamentos causados por
chegada de traços de hotspots a uma zona de falhas transformantes.
subducção, o que reduz a velocidade de

Figura 6.14. Seção esquemática de um arco de ilha do tipo Mariana mostrando suas principais divisões
tectônicas.

6.5.2. Início do processo de subducção A nucleação de zonas de subducção


Quando a litosfera oceânica pode dar-se espontaneamente ou ser
envelhece e esfria ao afastar-se de uma induzida por esforços compressivos (Fig.
dorsal oceânica, sua densidade também 6.15). Estão incluídas, na primeira categoria,
aumenta, eventualmente, superando a zonas de subducção iniciadas ao longo de
densidade da astenosfera. A partir daí, ela margens continentais passivas e de falhas
torna-se gravitacionalmente instável. No transformantes. Modelos numéricos sugerem
entanto, a resistência da litosfera oceânica que o início de subducção em margens
também aumenta com a diminuição da passivas requer uma carga sedimentar da
temperatura. Assim, para que o processo de ordem de 10 km de espessura e hidratação
subducção tenha início, é necessária uma do manto litosférico. Falhas transformantes
localização da deformação em regiões de podem colocar lado a lado litosferas
baixa resistência, onde uma instabilidade oceânicas de idades bastante diferentes.
pode se desenvolver e propagar (Fig. 4.30). Assim, a litosfera mais velha e espessa pode
Estes locais incluem (Fig. 6.15): a transição começar a descer para a astenosfera, ao
crosta oceânica/crosta continental, ao longo longo dessa descontinuidade.
de margens passivas; dorsais oceânicas; No caso de nucleação induzida, uma
falhas transformantes; e bacias retro-arco. zona de subducção preexistente é bloqueada

74
pela chegada na fossa de material de baixa mergulho, na idade da placa subduzida, na
densidade (continentes, microcontinentes, velocidade de convergência e na estrutura
platôs oceânicos). A Figura 6.15 mostra térmica da placa superior, embora a
duas situações possíveis. No caso de contribuição relativa de cada um desses
transferência, a continuação da convergência fatores ainda seja debatida. A largura do
faz com que uma nova zona de subducção se arco magmático apresenta uma correlação
forme no lado oceânico do bloco colidente. positiva com o ângulo de mergulho e o
No outro caso, um arco oceânico colide com volume de magma erupcionado decresce,
uma margem passiva. Como a litosfera do afastando-se da frente vulcânica.
arco é quente e, portanto, menos resistente,
uma zona de subducção com sentido de
mergulho oposto ao da zona de subducção
precedente pode ser nucleada.

Figura 6.16. Estrutura térmica de zonas de


subducção normais (a) e quentes (b).

Modelos térmicos indicam que a


crosta oceânica subduzida não atinge uma
temperatura suficiente para sofrer fusão
parcial em zonas de subducção normais
(Fig. 6.16a). Assim, a geração de magmas
Figura 6.15. Possíveis situações responsáveis pelo em zonas de subducção, geralmente, é
início do processo de subducção. atribuída à fusão parcial da cunha do manto
acima da placa subduzida (Fig. 6.14).
Estudos experimentais mostram que
6.5.3. Vulcanismo hornblenda, a principal fase mineral presente
O vulcanismo em zonas de em metabasaltos, é estável até cerca de 100
subducção começa, em geral, abruptamente km de profundidade. A partir daí, ela sofre
em uma frente vulcânica situada 150 a 350 desidratação e a água liberada migra em
km de distância da fossa oceânica associada direção à superfície. A adição de fluidos à
(Fig. 6.14). Estimativas da profundidade astenosfera rebaixa seu solidus, promovendo
onde fusão parcial ocorre para produzir estes fusão parcial e geração de magmas
magmas variam de 60 a 170 km. Estas basálticos ricos em água.
variações refletem diferenças no ângulo de
75
Fusão da crosta oceânica só é basaltos andesíticos. Andesitos e rochas
esperada quando: (a) a litosfera é muito mais félsicas dominam em margens
jovem (menos de 5 Ma) e, portanto, quente continentais ativas, refletindo o maior
(Fig. 6.16b); (b) a subducção é suborizontal, envolvimento da crosta continental e/ou a
permitindo que a placa subduzida seja maior percentagem de cristalização
aquecida pelo manto sobrejacente (Fig. fracionada. Embora andesitos sejam, via de
6.17); (c) segmentos de dorsais oceânicas regra, produtos de cristalização fracionada
são subduzidos. Zonas de subducção rasas de basaltos, é possível que alguns andesitos
podem ser provocadas pela chegada à fossa ricos em magnésio tenham sido formados
de crosta oceânica espessada (platôs diretamente por fusão parcial do manto.
oceânicos, por exemplo), o que reduz a
densidade média da litosfera e dificulta a
subducção (Fig. 6.17).

Figura 6.17. Modelo de subducção rasa para fusão


parcial da crosta oceânica.
Figura 6.18. Diagrama K2O x SiO2 mostrando a
variação composicional de lavas em arcos
6.5.4. Petrologia e geoquímica oceânicos (Izu-Bonin e Mariana) e continentais
Em contraste com MORBs e basaltos (Andes). Lavas cálcio-alcalinas de médio a alto
de ilhas oceânicas, basaltos em zonas de potássio são típicas. O triângulo corresponde à
composição média de MORBs.
subducção são, comumente, quartzo
normativos e hidratados (contendo até 6%
de H2O), e possuem valores elevados de Quando fusão parcial da crosta
Al2O3 (16-20%) e de K2O (Fig. 6.18). Eles oceânica é possível, são gerados magmas
são dominantemente da suíte cálcio-alcalina, andesíticos e dacíticos. Estas rochas,
mas basaltos pertencentes à suíte toleítica chamadas de adakitos, apresentam
podem predominar em alguns arcos de ilhas características geoquímicas distintas de
intraoceânicos. Basaltos em zonas de lavas intermediárias e félsicas, resultantes da
subducção normais podem sofrer grandes cristalização fracionada de basaltos. Em
variações composicionais subseqüentemente particular, um empobrecimento acentuado
à sua formação, em conseqüência de em elementos terras raras pesados e em Y é
cristalização fracionada e contaminação com observado (Fig. 6.19a). Isto resulta em
sedimentos subduzidos. Adicionalmente, em padrões de elementos terras raras
margens continentais ativas, assimilação de extremamente fracionados e altas razões
rochas da crosta continental e mistura com Sr/Y (Fig. 6.19b). Estas feições são
magmas crustais também pode ocorrer. atribuídas à retenção dos elementos terras
Devido a estes diferentes processos, as lavas raras pesados e de Y em anfibólio e/ou
extravasadas em ambientes de zonas de granada na rocha fonte.
subducção são bem mais diversificadas que Em bacias retro-arco, fusão por
aquelas encontradas em ilhas e cadeias descompressão da astenosfera pode ocorrer,
oceânicas (Fig. 6.18). se a extensão for suficientemente acentuada
As rochas vulcânicas dominantes em (Fig. 6.14). Os basaltos gerados neste
arcos de ilhas intraoceânicos são basaltos e ambiente são menos contaminados pelos

76
fluidos liberados durante a subducção da do Ti, pela presença de ilmenita e, no caso
placa oceânica e adquirem composições do Nb, pelo aumento da compatibilidade
semelhantes à de MORBs com a progressão deste elemento quando uma fase fluida está
da extensão. presente, fazendo com que ele seja, também,
preferencialmente retido na placa subduzida.
(a)

(b)

Figura 6.20. Diagrama esquemático comparando a


composição isotópica de arcos magmáticos, ilhas
oceânicas e MORBs.

(c)
Em comparação com MORBs,
rochas de arcos de ilhas são enriquecidas e
empobrecidas, respectivamente, nos
isótopos radiogênicos de Sr e Nd. Isto indica
que, como regra geral, elas não são
derivadas de fusão parcial de crosta
oceânica. Os valores mais elevados de Sr em
relação aos basaltos de ilhas oceânicas
refletem interação com água do mar e
Figura 6.19. (a, b) Comparação entre lavas cálcio-
envolvimento de um componente
alcalinas e adakíticas em termos de elementos continental na gênese dessas rochas.
terras raras (a) e da razão Sr/Y (b). (c)
Aranhagrama comparando composições de 6.5.5. Deformação e metamorfismo
basaltos em arcos de ilhas oceânicos (OAB; Durante o processo de subducção, a
oceanic arc basalt) e continentais (CAB;
continental arc basalt) e em dorsais oceânicas (N-
superfície da placa inferior é cisalhada
MORB). contra a borda da placa superior. Em
conseqüência, os sedimentos adicionados ao
Basaltos de arco exibem anomalias prisma de acresção são deformados por
de Ti, Zr, Hf, Ta e Nb em diagramas de falhas reversas, cujo mergulho aumenta em
elementos traço normalizados, com a direção ao continente (Fig. 6.14). O material
anomalia negativa de Nb sendo, acrescido consiste de sedimentos pelágicos,
particularmente, bem marcada (Fig. 6.19c). de sedimentos derivados da erosão do arco
Os processos responsáveis pelo magmático e de depósitos piroclásticos,
desenvolvimento dessas anomalias ainda são podendo, também, conter fragmentos da
debatidos. A opinião dominante é que elas litosfera oceânica. O material intensamente
resultam da retenção desses elementos na cisalhado, contendo fragmentos de rochas de
placa subduzida. Isto seria causado, no caso tamanho e origens diversas, é chamado de

77
mélange. Além da adição lateral de material, de cerca de 100 km. A partir daí, anfibólio
em algumas zonas de subducção ocorre, começa a sofrer desidratação e eclogitos são
ainda, acresção basal, com adição de formados. Como a temperatura da placa
material para a base do arco. Em alguns permanece relativamente fria até
casos, quando o prisma torna-se bastante profundidades significativas (Fig. 6.16), o
espesso, a energia gravitacional pode metamorfismo é do tipo alta P/baixa T.
superar a resistência do material, A adição contínua de magmas ao
provocando a formação de falhas normais na arco vulcânico resulta em seu crescimento
porção mais superficial do prisma. vertical, fazendo com que as rochas
Em alguns arcos, pouco ou nenhum vulcânicas e plutônicas alojadas inicialmente
crescimento ocorre. Isto pode ser causado sejam progressivamente soterradas. Com o
seja por sedimentação insuficiente na fossa aumento da pressão, associações minerais
seja porque houve erosão causada por típicas das fácies xisto-verde, anfibolito e,
subducção. Este último caso, normalmente, dependendo do caso, granulito ou eclogito
ocorre quando anomalias batimétricas (ilhas são formadas. Devido ao elevado gradiente
e platôs oceânicos, dorsais oceânicas, etc.) geotérmico, o metamorfismo é do tipo baixa
provocam abrasão mecânica da porção basal P/alta T. O termo metamorfismo
da placa superior. O material erodido pode emparelhado é empregado para as
ser transportado, juntamente com associações minerais contrastantes
sedimentos pelágicos, para o manto mais encontradas na fossa e no arco magmático.
profundo em grábens presentes na placa
subduzida. 6.5.6. Associações petrotectônicas em
O aumento de temperatura e pressão, arcos: síntese
à medida que uma placa mergulha para o Várias associações litológicas são
interior da Terra, provoca metamorfismo da características de arcos de ilhas e margens
própria placa e do manto sobrejacente. O ativas, embora não exclusivamente limitadas
manto litosférico da placa superior pode ser a estes ambientes. As rochas vulcânicas
extensivamente serpentinizado em típicas pertencem à associação cálcio-
profundidades rasas pela liberação da água alcalina, com andesitos dominantes em
contida em poros ou em minerais hidratadas margens continentais ativas. Boninitos
de baixa estabilidade, como zeólitas, [andesitos ricos em magnésio e pobre em
presentes em sedimentos e na porção titânio (<0,5% TiO2)], shoshonitos (basaltos
superior da placa oceânica subduzida (Fig. e andesitos ricos em potássio) e adakitos são
6.14). Na placa inferior, basaltos hidratados também distintivos. Dentre as rochas
formados em conseqüência de circulação sedimentares, um componente significativo
hidrotermal nas dorsais oceânicas (seção consiste de grauvacas e sedimentos
6.4.4) são convertidos para xistos azuis em vulcanoclásticos de composição andesítica a
profundidades relativamente baixas (<30 dacítica. Em mélanges, estas rochas ocorrem
km) e, em seguida, para eclogitos. Os imbricadas com sedimentos pelágicos e
minerais hidratados presentes em abissais e fragmentos de litosfera oceânica
metapelitos (principalmente biotita, fengita, (basaltos, gabros e peridotitos variavelmente
talco, cloritóide e clorita) podem persistir até serpentinizados). Finalmente, rochas
pressões iguais ou superiores a 2,5-3,0 GPa. supracrustais máficas metamorfizadas nas
No entanto, devido à sua baixa densidade, fácies xisto azul e eclogito são diagnósticas
apenas uma pequena fração de sedimentos de ambientes de zonas de subducção.
pode ser subduzida a grandes profundidades.
Anfibolitos resultantes da alteração de Referências selecionadas
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79
80
7. Orogênese

7.1. Introdução Dois mecanismos principais são


Orogênese (ou orogenia) significa, responsáveis pelo suporte isostático de
literalmente, criação de cadeias de cinturões orogênicos (Fig. 7.1). No primeiro,
montanhas. Este termo é, freqüentemente, o excesso na topografia é compensado pela
empregado nesse sentido porque os processos presença de raízes crustais no manto (modelo
tectônicos que ocorrem em regiões de Airy). No segundo, o peso da cadeia de
orogênicas geralmente também produzem montanhas é compensado pela flexão da
elevações topográficas. Isto é uma resposta litosfera, repartindo a carga sobre uma região
ao espessamento crustal causado pela atuação bem mais ampla (modelo de Vening-
de esforços compressivos e pela adição de Meinesz). Neste último caso, isto resulta na
magmas à crosta continental. Como rochas formação de depressões laterais ao orógeno.
crustais são menos densas que rochas do
manto, o espessamento causa um
soerguimento da superfície (este processo é
chamado de isostasia). No entanto:
(1) cadeias de montanhas podem se formar
na ausência de esforços compressivos, como
no caso de domeamento crustal associado
com plumas do manto (Capítulo 5). A
topografia, neste caso, não é resultante de
anomalias de massa na litosfera, sendo
chamada de topografia dinâmica.
(2) os esforços podem não ser suficientes
para produzir relevo significativo, como no
caso do prisma de acresção em alguns arcos Figura 7.1. Mecanismos de compensação isostática
de ilhas (Capítulo 6). segundo Airy (a) e Vening-Meinesz (b).
(3) regiões orogênicas antigas podem não
apresentar mais qualquer expressão O predomínio de um mecanismo
topográfica, devido à atuação de processos sobre o outro depende dominantemente da
erosivos. rigidez da litosfera, a qual por sua vez, é
Devido aos fatores acima, o termo função de sua idade média (Capítulo 3).
orogênese é, normalmente, restringido para Assim, quando a litosfera é muito rígida,
regiões afetadas, no presente ou no passado, cadeias de montanhas elevadas podem se
por deformação contracional intensa formar sem o desenvolvimento de raízes
(indicando que elas são ou foram sujeitas a profundas. Este é o caso do Himalaia, onde a
esforços compressivos), independentemente crosta tem uma espessura de
de apresentarem expressão geomorfológica. aproximadamente 55 km, isto é, apenas 15
Deformação orogênica é caracterizada por km a mais que a crosta continental em
dobramentos e falhamentos de amplas regiões estáveis. Os Andes, por outro lado,
regiões, sendo, em geral, acompanhada de apresentam uma espessura crustal de até 80
vulcanismo, plutonismo e metamorfismo km, indicando que sua elevação é controlada
regional. As regiões sujeitas a estes processos dominantemente pela baixa resistência da
são chamadas de faixas ou cinturões litosfera.
orogênicos, faixas ou cinturões orogenéticos, Uma orogênese pode compreender
orógenos ou faixas móveis. vários episódios deformacionais discretos ou
81
ser produto de um evento único, produzido litosféricos maiores. Eles podem ser
durante deformação progressiva. No primeiro classificados em três grandes grupos:
caso, fala-se de deformação polifásica. Uma orógenos relacionados com subducção;
mesma região pode ser afetada por mais de orógenos produzidos por colisão continental;
uma orogênese e, neste caso, diz-se que ela e orógenos resultantes de deformação
apresenta uma evolução policíclica. intracontinental (Fig. 7.2).
Orogêneses têm, tipicamente, duração de Para que ocorra orogênese em
algumas dezenas de milhões até uma centena associação com zonas de subducção, é
de milhão de anos. Regiões policíclicas necessário que esforços compressivos
afetadas por uma orogênese, em certa época, significativos sejam transmitidos para a placa
podem permanecer centenas de milhões de superior. Assim, nem todo arco de ilha ou
anos a alguns bilhões de anos sem sofrer margem continental ativa é um cinturão
deformação até serem novamente envolvidas orogênico. Eventos deformacionais, nestes
em uma nova orogênese. ambientes, ocorrem durante mudanças
bruscas na velocidade ou no mergulho das
7.2. Tipos de orógenos placas ou quando terrenos oceânicos
Cinturões orogênicos são formados relativamente grandes ou microcontinentes
em resposta à convergência entre blocos chegam à fossa oceânica.

Figura 7.2. Mapas mostrando o relevo de exemplos atuais de cinturões orogênicos. (a) Orógeno relacionado
com subducção de placa oceânica (Andes). (b) Orógeno colisional (Himalaia) e orógenos intracontinentais (Tien
Shan, Altai, Gobi-Altai).

82
Orógenos colisionais são aqueles cobertura de sedimentos oceânicos pelágicos
formados pelo choque entre dois continentes (Fig. 3.5). O processo de alojamento de
anteriormente separados por um oceano (Fig. ofiolitos é chamado de obducção, em
6.1) ou, em menor escala, pela colisão entre oposição à situação mais comum
um arco de ilha e um continente. Estes representada por zonas de subducção, onde a
orógenos, portanto, são subseqüentes ao litosfera oceânica mergulha sob a litosfera
consumo de litosfera oceânica em uma zona continental.
de subducção.
Em contraste com orógenos
colisionais, orógenos intracontinentais são
formados na ausência de consumo
significativo de litosfera oceânica. Eles
podem se desenvolver quando a
convergência entre dois blocos continentais
começa antes da formação expressiva de
crosta oceânica, ou seja, sem que haja uma
separação completa entre as placas antes da
orogênese. Deformação intracontinental
pode, ainda, resultar da transmissão de
esforços para o interior de um continente,
causada por um contato convergente de
placas situado a centenas ou mesmo milhares
de quilômetros de distância. Este é o caso dos
orógenos Tien Shan e Altai (Fig. 7.2b).
Cinturões orogênicos raramente são
retilíneos. Os termos encurvamento oroclinal
(oroclinal bending) ou oroclíneo (orocline)
são empregados para se referir a uma
mudança na direção do orógeno ao longo de
seu comprimento. Se o encurvamento é
superior a 90º, o termo sintaxe (syntaxis) é
empregado. Por exemplo, o encurvamento do
Andes em torno da latitude 20ºS (Fig. 7.2a) e
do noroeste do Himalaia (Fig. 7.2b) são Figura 7.3. Mecanismos de alojamento de
conhecidos, respectivamente, como oroclíneo ofiolitos. (a) Ofiolito do tipo MOR transportado a
boliviano e sintaxe de Nanga-Parbat. uma margem continental passiva por um empurrão
originalmente intraoceânico. (b) Ofiolito de
suprasubducção formado pelo transporte de
7.3. Ofiolitos litosfera de arco sobre uma margem passiva. (c)
Uma característica distintiva de Ofiolito do tipo MOR alojado sobre uma margem
orógenos relacionados tanto com subducção ativa.
como com colisão é a ocorrência de ofiolitos,
fragmentos de litosfera oceânica colocados Ofiolitos são colocados, mais
sobre rochas continentais. Uma seqüência freqüentemente, sobre margens continentais
ofiolítica completa consiste de (da base para passivas (Fig. 7.3a, b) que sobre margens
o topo): rochas ultramáficas (lherzolitos, ativas (Fig. 7.3c). No primeiro caso, uma
harzburgitos, dunitos, comumente zona de cisalhamento basal, apresentando
serpentinizados), gabros, enxames de diques metamorfismo inverso (ver seção 7.9), separa
básicos, rochas basálticas extrusivas a base do ofiolito dos sedimentos
(comumente derrames em almofada), e uma plataformais subjacentes. Rochas de origem

83
oceânica metamorfizadas na fácies anfibolito
ou mesmo granulito passam, estruturalmente, 7.4.1. Orógenos acrescionários
para baixo, para rochas sedimentares Orógenos acrescionários são
metamorizadas na facies xisto-verde. Alguns formados pela adição (colagem) de
ofiolitos são alojados em margens ativas, fragmentos oceânicos (platôs oceânicos,
particularmente, durante o início de colisão segmentos de dorsais oceânicas, arcos de
continental (Fig. 7.3c). Neste caso, uma falha ilhas) ou continentais (microcontinentes)
de empurrão antitética desenvolve-se na para uma margem continental ativa. Estes
placa oceânica e transporta uma lasca da segmentos litosféricos, de origem diversa,
litosfera oceânica sobre a margem são chamados de terrenos
continental. tectonoestratigráficos, exóticos ou alóctones.
Ofiolitos são classificados, quanto ao O termo terreno suspeito é empregado
local de geração, em dois tipos. Ofiolitos do quando sua origem não pode ou ainda não foi
tipo MOR (de mid-ocean ridge) são gerados estabelecida com segurança.
em dorsais oceânicas. Durante uma fase de
convergência, empurrões intraoceânicos se
desenvolvem e a placa superior é
transportada até uma margem passiva (Fig.
7.3a). Obducção pode estar relacionada a um
aumento na velocidade de convergência das
placas durante períodos de atividade de
plumas. Isto colocaria as margens em
compressão e induziria a flambagem e
ruptura da placa oceânica, produzindo um
empurrão intraoceânico.
Figura 7.4. Bloco diagrama esquemático
Ofiolitos gerados acima de zonas de mostrando a estrutura de um orógeno
subducção intraoceãnicas são referidos como acrescionário hipotético formado pela colagem de
do tipo SSZ (de supra-subduction zone; Fig. um ofiolito, um arco de ilhas e um platô oceânico
7.3b). Estes ofiolitos são bem mais comuns e a uma margem continental ativa.
melhor preservados que aqueles do tipo
MOR. Eles apresentam características A acresção de platôs oceânicos, de
geoquímicas de arcos de ilhas juntamente arcos de ilhas e de ofiolitos é resultado seja
com uma estrutura típica de crosta oceânica. da maior espessura da crosta oceânica nestes
Isto é interpretado como resultado de locais (platôs e arcos), seja porque a litosfera
expansão oceânica na região ante-arco no oceânica é jovem e, portanto, quente
início de formação de uma zona de (ofiolitos do tipo MOR), o que dificulta a
subducção. Em alguns casos, obducção pode subducção. Se a acresção é frontal, os
ocorrer antes que a placa subduzida atinja diferentes terrenos são separados por falhas
uma profundidade suficiente para formar um inversas (Fig. 7.4), mas quando a
arco magmático maduro e um ofiolito do tipo convergência é oblíqua eles são separados
SSZ pode passar gradualmente a um ofiolito por falhas transcorrentes, cujo rejeito pode
do tipo MOR (Fig. 7.3b3). superar várias centenas de quilômetros ou
mesmo atingir alguns milhares de
7.4. Orógenos relacionados a zonas de quilômetros. As feições fundamentais de
subducção terrenos são, portanto, que seus limites são
Orógenos relacionados com definidos por falhas maiores e que eles
subducção podem ser subdivididos nos tipos possuem histórias geológicas distintas
acrescionário (ou Cordilheirano), Andino, daquelas de terrenos adjacentes. Terrenos
Laramide e extensional-contracional. são, comumente, também separados por

84
faixas estreitas de rochas ofiolíticas ou de Em contraste com orógenos
alta pressão, chamadas de suturas. colisionais (seção 7.5), grandes
Orógenos acrescionários podem deslocamentos horizontais ao longo de
terminar sua história pelo fechamento de um cavalgamentos não estão presentes na região
oceano entre dois continentes. Neste caso, o interna da montanha (chamada de
termo orógeno do tipo túrquico é, às vezes, hinterlândia ou além-país). No entanto,
empregado. No entanto, outros orógenos cinturões de empurrões e dobramentos
acrescionários não apresentam evidências ocorrem entre a hinterlândia e a região
para uma colisão continente-continente continental estável (chamada de antepaís). Os
terminal. empurrões afetam essencialmente a porção
sedimentar, com pouco ou nenhum
7.4.2. Orógenos do tipo Andino envolvimento do embasamento. Este tipo de
Em contraste com orógenos do tipo deformação é denominado de tectônica
Cordilheirano, pouca ou nenhuma adição pelicular delgada (thin-skinned tectonics).
lateral de material ocorre durante a formação Grandes volumes de ignimbritos
de orógenos do tipo Andino. Inclusive, um podem estar presentes na hinterlândia. Este
prisma de acresção pode ser inexistente. A magmatismo félsico pode estar relacionado
carência de sedimentos na fossa pode ser com processos de fusão parcial em
causada por falta de sedimentação, devido a profundidade. De fato, regiões de baixas
fatores climáticos, ou pela subducção do velocidades sísmicas abaixo dos Andes são
prisma de acresção. Espessamento crustal observadas a profundidades entre 15 e 25 km
não é restrito ao arco magmático (Fig. 7.5), e interpretadas como resultado de fusão
indicando que o encurtamento horizontal parcial, indicando metamorfismo de alta
responsável pela formação de platôs elevados temperatura e baixa pressão na crosta média.
é de origem tectônica e não magmática. No A origem do elevado gradiente geotérmico
entanto, em alguns casos, adição de magmas na hinterlândia pode ser devido a processos
pode contribuir significativamente para o de delaminação litosférica (ver seção 7.7).
espessamento.

Figura 7.5. Bloco diagrama esquemático mostrando a estrutura de um orógeno do tipo Andino.

orogênese Laramide (80-50 Ma atrás), e das


7.4.3. Orógenos do tipo Laramide Serras Pampeanas no oeste da Argentina.
Cadeias de montanhas, às vezes, são Orógenos do tipo Laramide são,
encontradas a uma distância da fossa bem usualmente, atribuídos à subducção rasa.
superior que as esperadas durante períodos Quando o mergulho de uma placa muda de
de subducção normal. Isto é o caso das um ângulo normal para um ângulo pequeno
Montanhas Rochosas no oeste dos Estados (5-10º), a astenosfera é deslocada e
Unidos (Fig. 11.12), formadas durante a comprimida na direção da subducção. Em

85
conseqüência, a litosfera na região do antigo superior, juntamente com a transmissão de
arco aumenta de resistência devido ao esforços para o interior do continente,
resfriamento resultante de sua justaposição induzem compressão e espessamento crustal
com a litosfera oceânica mais fria. Ao na região atrás do arco. A deformação, nesse
mesmo tempo, o magmatismo se propaga na caso, envolve tanto o embasamento quanto a
mesma direção da cunha da astenosfera (Fig. cobertura e é referida como tectônica
6.17), aumentando a temperatura e pelicular espessa (thick-skinned tectonics).
diminuindo a resistência do antepaís. Os Falhas reversas têm mergulhos variáveis (5º-
esforços cisalhantes na base da placa 80º) e podem cruzar toda a crosta.

Figura 7.6. Perfis esquemáticos mostrando o início do desenvolvimento de um orógeno do tipo Laramide. (a)
Subducção rasa causa a extinção do magmatismo de arco e compressão na região do antepaís. (b) Detalhe
mostrando o término da deformação na região do arco e retro-arco e o desenvolvimento de falhas reversas
afetando o embasamento no antepaís.

7.4.4. Orógenos extensionais-contracionais o metamorfismo deve ser dominantemente de


Este tipo de orógeno, reconhecido alta temperatura e baixa pressão.
mais recentemente, resulta de períodos
alternados de extensão e contração na região 7.4.5. Convergência oblíqua e transpressão
retro-arco. Durante a fase distensiva, nova Uma observação comum em orógenos
crosta oceânica é criada na bacia retro-arco. relacionados com subducção é a ocorrência
Durante a fase compressiva, a bacia é de falhas de rejeito direcional na região do
fechada e o material, dominantemente de arco magmático ou nas suas proximidades,
origem mantélica, é deformado e incorporado enquanto contração ocorre no prisma de
à crosta continental, podendo sofrer fusão acresção e na região retro-arco. (Fig. 7.7).
parcial e gerar magmas graníticos. Eventos Isto é atribuído à convergência oblíqua entre
sucessivos de extensão e contração podem, a placa oceânica e a placa continental. A
assim, resultar em crescimento continental partição da deformação em componentes
significativo, analogamente ao caso de paralelos e perpendiculares à margem
orógenos acrescionários. No entanto, neste continental tipifica um regime transpressivo.
caso, rochas de alta pressão, típicas de zonas A localização da deformação em falhas de
de sutura, não são encontradas. Ao contrário, rejeito direcional é facilitada pelo trend
linear e paralelo à margem do arco
86
magmático e pelo aquecimento causado pelo A dimensão, a forma e as estruturas
suprimento contínuo de magmas. internas de um orógeno formado por colisão
Quando a formação de falhas continental dependem de vários fatores,
transcorrentes resulta de uma mudança na sendo os mais importantes o tamanho das
geometria das placas (ver Fig. 4.26), elas são massas continentais colidentes, a velocidade
posteriores ao desenvolvimento do arco e, de convergência entre as placas, o ângulo de
portanto, podem truncar estruturas convergência, a geometria das margens
desenvolvidas previamente. continentais e as propriedades mecânicas das
duas placas.

Figura 7.7. Transpressão resultante da


convergência oblíqua (indicada pela seta) entre
uma placa oceânica e uma placa continental.

7.5. Orógenos colisionais


7.5.1. Fatores que tornam complexo o
fenômeno da colisão continental
Orógenos colisionais resultam do
comportamento reológico contrastante entre
as litosferas oceânica e continental. A
litosfera oceânica normal consiste de uma
crosta com apenas alguns quilômetros de
espessura e, assim, sua reologia é controlada
pela porção mantélica. À medida que a Figura 7.8. Comparação entre a posição dos limites
de placas e a elevação da topografia (em cinza)
litosfera oceânica resfria ao afastar-se de uma
resultante da colisão Índia-Ásia (a) e da colisão da
dorsal, sua densidade aumenta, placa adriática com a placa européia (b).
eventualmente ultrapassando a densidade da
astenosfera. A partir desse ponto, ela torna-se Os dois primeiros fatores
passível de subducção. No caso da litosfera condicionam a dimensão da área afetada pela
continental, a presença de uma crosta espessa deformação. Esta será tanto maior quanto
(~40 km) faz com que sua densidade média maiores forem o tamanho dos blocos e suas
seja sempre inferior à da astenosfera. Dessa velocidades relativas (Fig. 7.8). O ângulo de
forma, a litosfera continental é convergência determina se a colisão será
intrinsecamente não submergível. Quando frontal ou oblíqua. No segundo caso,
duas placas continentais colidem em resposta normalmente se observa uma partição da
ao fechamento de uma bacia oceânica, elas deformação entre falhas transcorrentes e
resistem à subducção e os esforços empurrões que acomodam, respectivamente,
compressivos desenvolvidos provocam o deslocamento paralelo ao orógeno e o
deformação contracional e espessamento encurtamento normal a ele (Fig. 7.9).
crustal (Fig. 6.1).

87
Se as margens continentais dos início da colisão, a litosfera continental da
continentes colidentes não forem retilíneas, placa inferior ainda está acoplada com a
como normalmente é o caso, as litosfera oceânica.
irregularidades presentes (reentrâncias e A ocorrência, em zonas de sutura, de
saliências) podem ocasionar variações coesita e diamante em gnaisses demonstram
laterais no estilo estrutural e/ou na que materiais continentais podem ser
intensidade de deformação. Sintaxes, como subduzidos até profundidades superiores a
aquele observado no caso do Himalaia (Fig. 120 km, atingindo, talvez, até 200-300 km.
7.2b), ocorrem quando as dimensões laterais Com o aumento da profundidade, no entanto,
das placas são diferentes. o esforço requerido para continuar a afundar
o material crustal pouco denso é maior que
sua resistência. Assim, ele se destaca do
manto litosférico e começa a retornar
rapidamente em direção à superfície,
incorporando fragmentos da crosta oceânica
e da cunha do manto sobrejacente (Fig.
7.10b).

Figura 7.9. Transpressão resultante da colisão


oblíqua entre duas placas continentais.

O contraste reológico entre a placa


superior e a placa inferior irá determinar se
apenas a primeira sofrerá deformação
significativa ou se ambas serão afetadas.
Como regra geral, a placa superior é sempre
menos resistente que a placa inferior, devido
ao aquecimento provocado pelo magmatismo
de arco durante seu estágio prévio como uma
margem ativa. No caso da colisão Índia-Ásia,
a maior parte do encurtamento horizontal (e
conseqüente soerguimento) é compensada
pela deformação da placa asiática (Fig. 7.8a).
Nos Alpes, em contraste, tanto a placa
européia superior quanto a placa adriática
inferior exibem deformação significativa e
topografia elevada (Fig. 7.9b). Figura 7.10. Esquema ilustrando subducção da
crosta continental (a) e seu retorno em direção à
7.5.2. Subducção continental, metamorfismo superfície devido à baixa densidade (b). (c)
de pressão alta e ultra-alta e slab break-off Ruptura litosférica: com a separação da porção
Durante uma colisão dominantemente oceânica, a placa inferior também tende a subir.
frontal, a placa contendo a antiga margem Quando a litosfera oceânica se separa
continental passiva pode ser parcialmente da litosfera continental, a ascensão da crosta
empurrada abaixo da zona de sutura entre as continental prossegue, mas, agora, o manto
duas placas (Fig. 7.10a). Este processo de litosférico continental também tende a subir
subducção continental é possível porque, no

88
(Fig. 7.10c). Subducção continental pode dobras isoclinais recumbentes, ou como uma
continuar, mas ao longo de uma superfície de falha de empurrão. Um caso particular é o
mergulho baixo separando a placa superior das nappes ofiolíticas (Fig. 7.3).
da placa inferior. O processo de separação A bacia de antepaís contém
das litosferas continental e oceânica é sedimentos clásticos derivados da erosão da
chamado de slab break-off (ruptura da placa cadeia de montanhas em soerguimento. Estes
ou ruptura litosférica). A ascensão da sedimentos sinorogênicos, às vezes
astenosfera para preencher o vazio decorrente denominados de molassa, podem ser
da separação pode resultar em fusão parcial. subseqüentemente deformados pela
progressão da deformação no cinturão de
7.5.3. Domínios em um orógeno colisional dobras e empurrões adjacente. Este consiste,
maduro predominantemente, de sedimentos da
Nos estágios avançados de uma margem continental passiva, podendo conter,
colisão frontal, os seguintes componentes ainda, sedimentos continentais mais antigos.
tectônicos podem ser reconhecidos (da placa Estas rochas preorogênicas apresentam um
inferior para a placa superior; Fig. 7.11): uma aumento no grau metamórfico em direção ao
bacia de antepaís (foredeep ou foreland núcleo da cadeia de montanhas
basin); um cinturão de cavalgamentos e (hinterlândia), onde a temperatura pode ser
dobras de antepaís (foreland fold-and-thrust suficiente para provocar fusão parcial. A
belt); nappes e empurrões, imbricando sutura é uma zona de cisalhamento dúctil
sedimentos plataformais metamorfizados; separando rochas da margem continental
uma zona de sutura; e nappes e empurrões, passiva daquelas derivadas do arco
envolvendo sedimentos pelágicos e magmático. Ela contém fragmentos de rochas
seqüências de arco metamorfizadas. O termo das duas placas continentais, restos da bacia
nappe é empregado para se referir a corpos oceânica (ofiolitos) e rochas continentais de
rochosos tabulares transportados de seu local pressão alta e ultra-alta.
de origem. Eles podem ser originados como

Figura 7.11. Perfil esquemático de um cinturão orogênico colisional.

Cinturões orogênicos podem ter uma bilateral, com empurrões dirigidos para lados
vergência única, como no caso ilustrado na opostos da sutura (Fig. 7.12a). Mesmo
Figura 7.11, ou apresentar uma simetria orógenos originalmente monovergentes

89
podem ter sua geometria modificada pelo resistência da placa superior; (c) subducção
desenvolvimento de retro-empurrões (back- intracontinental de porções mais resistentes
thrusts) e retrodobras (back-folds) nos da placa superior. Em qualquer caso, uma
estágios mais avançados da colisão. Em crosta com cerca do dobro da espessura
alguns casos, fatias podem ser cisalhadas do normal (60-80 km) é produzida, com o
topo da placa inferior e empurradas sobre a equilíbrio isostático subseqüente causando o
placa superior (Fig. 7.12b). Essas fatias são soerguimento da superfície. Também tem
chamadas flacas (flakes) ou alóctones e sido sugerido que o soerguimento pode ser
podem se deslocar por centenas de resultante, em parte, da conversão de eclogito
quilômetros. Perfis sísmicos mostram que para granulito na raiz da crosta espessada,
estruturas semelhantes podem estar presentes uma vez que granulitos têm densidade menor
em níveis profundos, indicando o que eclogitos.
imbricamento da litosfera continental por
empurrões com vergências opostas (Fig.
7.12c).

Figura 7.13. Modelos esquemáticos propostos para


explicar a formação de platôs orogênicos. (a)
Figura 7.12. Perfis esquemáticos mostrando outras Underthrusting. (b) Encurtamento homogêneo. (c)
estruturações possíveis em cinturões orogênicos Subducção intracontinental.
colisionais (a) Orógeno bivergente. (b) Tectônica
de flacas. (c) Imbricamento subcrustal. Uma vez desenvolvidos, platôs têm
uma grande influência sobre a evolução
posterior do sistema orogênico. Devido à
7.5.4. Platôs orogênicos, fluxo canalizado e elevação de temperatura com a profundidade,
extrusão a resistência da crosta atinge um mínimo na
Em cinturões orogênicos maiores, um sua base. Assim, a crosta inferior pode
platô orogênico pode se desenvolver na placa formar uma camada de baixa viscosidade
superior. Platôs orogênicos são entre o manto mais rígido e a crosta média
caracterizados por uma topografia elevada mais fria. Se a viscosidade é suficientemente
(até 5 km de altitude), mas relativamente baixa, a crosta inferior pode fluir em resposta
plana, como no caso do Platô Tibetano (Fig. a variações laterais na carga litostática. Este
7.2b). Sua formação é atribuída a um dos processo é chamado fluxo canalizado ou
seguintes fatores ou a uma combinação deles fluxo em condutos (channel flow). O termo
(Fig. 7.13): (a) mergulho subhorizontal tunelamento (tunneling) é usado quando o
(underthrusting) da placa inferior sob a placa fluxo de material é dominantemente
superior, em seguida ao processo de ruptura horizontal. Uma camada de baixa
litosférica (Fig. 7.10c); (b) espessamento viscosidade pode, também, ocorrer na crosta
crustal homogêneo, resultante da baixa média, se a temperatura for suficiente para

90
causar fusão parcial de litologias férteis, relativa entre a crosta superior e o material
como metapelitos. extrudido.

7.5.5. Escape lateral


Grandes zonas de cisalhamento
transcorrentes podem ser encontradas em
orógenos colisionais, mesmo quando a
convergência é dominantemente frontal,
como no caso da colisão Índia-Ásia. O papel
atribuído a essas transcorrências na tectônica
continental é polarizado entre dois modelos
antagônicos.
No modelo de endentação, também
chamado tectônica de escape ou de extrusão,
deslocamentos laterais de blocos ocorrem ao
longo de zonas de cisalhamento litosféricas
com rejeitos da ordem de centenas ou,
mesmo, milhares de quilômetros. Nessa
interpretação, os blocos entre as falhas são
considerados relativamente rígidos, e sua
expulsão lateral pelas zonas de cisalhamento
Figura 7.14. Mapa e perfis esquemáticos ilustrando
é responsável pelo avanço continuado da
o conceito de fluxo canalizado, levando a um placa inferior em direção à placa superior
crescimento do platô para nordeste (a), e à extrusão (Fig. 7.15).
do canal na cadeia orogênica (b).

Quando o tunelamento ocorre


afastando-se da hinterlândia, isto resulta no
crescimento periférico do platô pela injeção
de material na zona de transição entre ele e a
crosta com espessura normal (Fig. 7.14a).
Este crescimento será condicionado pela
reologia da crosta circundante, podendo dar-
se dominantemente em uma direção ou de
forma mais difusa. Quando o deslocamento é
na direção da hinterlândia, o canal pode ser Figura 7.15. Esquema ilustrando como o escape de
exumado em uma frente de denudação blocos ao longo de falhas transcorrentes pode criar
localizada na cadeia de montanhas (Fig. espaço para o avanço de um bloco convergente
rígido.
7.14b). Este processo é chamado de extrusão
(extrusion) e é um dos processos No segundo modelo, as zonas de
responsáveis pela ocorrência de rochas cisalhamento são interpretadas como
metamórficas de alto grau no núcleo de descontinuidades em um campo de
cadeias de montanhas. O canal é limitado, deformação regional contínuo. Nessa visão, o
acima e abaixo, por zonas de cisalhamento. A avanço da placa inferior é acomodado por
zona de cisalhamento basal é sempre um fluxo canalizado na crosta inferior (Fig. 7.14)
cavalgamento, mas a zona de cisalhamento ou por underthrusting (Fig. 7.13a), e as
superior pode ter uma geometria normal ou falhas são restritas à crosta e acomodam
de empurrão, dependendo da velocidade deslocamentos relativamente modestos,

91
inferiores a umas poucas centenas de metassomatismo e enriquecimento em
quilômetros. elementos radioativos em um evento prévio.

7.6. Orógenos intracontinentais


Para que deformação orogênica
ocorra afastada de limites de placas é
necessário que: (a) esforços compressivos se
desenvolvam no interior de um continente;
(b) haja uma localização da deformação em
locais onde a resistência da litosfera é menor.
O desenvolvimento de esforços
compressivos pode ou não estar relacionado
com processos de tectônica de placas. Neste
segundo caso, os esforços podem resultar do
desenvolvimento e propagação de
instabilidades causadas, por exemplo, por
variações na topografia da base da litosfera.
A amplificação dessas instabilidades pode,
em seguida, promover encurtamento Figura 7.16. Diagrama esquemático ilustrando que
litosférico e a conseqüente formação de um variações na espessura da litosfera (a) podem ser
cinturão orogênico (Fig. 7.16). Mais amplificadas, induzindo espessamento crustal (b).
comumente, deformação resulta da
transmissão de esforços para o interior de um
continente, a partir de contatos de placas
distantes, que podem ser convergentes ou
colisionais. A Figura 7.17 mostra o caso de
uma colisão continental, em que um dos
continentes apresenta uma região de baixa
resistência, levando a uma localização da
deformação.
Como temperatura é o principal fator
que controla a resistência da litosfera, a
localização da deformação é favorecida em
regiões nas quais o gradiente geotérmico é
mais elevado que em regiões vizinhas.
Gradientes geotérmicos elevados podem
resultar de vários processos, dentre eles: (1)
elevada produção de calor, em conseqüência
do soterramento de embasamento granítico
rico em elementos radioativos abaixo de
sedimentos mal condutores de calor; (2) Figura 7.17. Formação de um orógeno
aquecimento causado por uma fase distensiva intracontinental pela transmissão de esforços a
imediatamente precedendo a fase de partir de uma colisão continental e localização da
compressão, como no caso de fechamento de deformação em uma região de baixa resistência.
riftes continentais ou oceânicos imaturos e de
Como nos demais tipos, a geometria
bacias retro-arco; (3) condução de calor
interna de orógenos intracontinentais
devido à chegada de uma pluma mantélica na
depende do ângulo de convergência entre os
base da litosfera; (4) elevada produção de
blocos crustais. Por exemplo, enquanto o
calor no manto litosférico, resultante de
orógeno Tian Shan (Fig. 7.2b) apresenta uma

92
estruturação controlada por empurrões com (Figs. 7.19a, b). Remoção convectiva da
vergência para sul, os orógenos Altai e Gobi- litosfera (lithospheric convective removal),
Altai (Fig. 7.2b) são transpressivos. por sua vez, envolve a erosão térmica da raiz
litosférica pela astenosfera adjacente (Fig.
7.7. Extensão sin- a pós-orogênica 7.19c). Em ambos os casos, a substituição da
7.7.1. Colapso orogênico litosfera fria e densa pela astenosfera quente
Quando as forças tectônicas são pode promover um soerguimento da
removidas ao término de uma orogênese, a superfície antes que o orógeno seja rebaixado
topografia associada é reduzida, ao longo do devido à extensão resultante do aumento na
tempo, por erosão e/ou colapso extensional. elevação e no potencial gravitacional do
No entanto, extensão pode ter início mesmo orógeno.
quando o regime ainda é dominantemente
contracional. Nesse caso, empurrões e zonas
de cisalhamento extensionais podem atuar
sincronicamente. O termo colapso orogênico
é empregado para se referir ao conjunto de
processos que levam a redução na elevação
do orógeno.
Na maioria dos casos, extensão ocorre
numa direção paralela à da convergência,
mas, também, pode dar-se numa direção
perpendicular. Por exemplo, falhas normais
norte-sul indicam que o Platô Tibetano está
atualmente sofrendo extensão leste-oeste, isto
é, ortogonal à direção de convergência Índia-
Ásia (Fig. 7.2b).
Existem várias hipóteses para explicar Figura 7.18. (a) Perfil esquemático mostrando os
a formação de estruturas extensionais em estágios iniciais de colapso orogênico por uma
orógenos. No modelo de colapso combinação de fluxo dúctil na crosta inferior e
falhamentos normais na crosta superior. (b) Bloco
gravitacional, espessamento crustal por diagrama esquemático ilustrando um estágio mais
contração progride até que a diferença de avançado, resultando na exumação de rochas de
topografia entre o orógeno e as regiões alta temperatura. Note que falhas de empurrão
adjacentes gere esforços que não podem mais podem se desenvolver na periferia do orógeno.
ser suportados pela resistência das rochas na
crosta superior. A partir deste ponto, ela entra Quando a crosta inferior espessada é
em extensão, decrescendo a topografia e a removida juntamente com o manto
espessura. Outro modelo sugere que extensão litosférico, o processo é chamado de
na crosta superior é resultante de fluxo afundamento (foundering; Fig. 7.20). Esta
canalizado na crosta média ou inferior. Estes situação é esperada em orógenos do tipo
dois processos podem atuar em conjunto andino nos quais uma proporção significativa
(Fig. 7.18). do espessamento é devido à adição de
Nos dois casos acima, as forças magmas máficos à crosta inferior. Com a
responsáveis pela extensão estão localizadas cristalização dos magmas e subseqüente
na crosta continental. Outros modelos conversão para eclogito, ocorre um aumento
atribuem extensão a processos no manto expressivo da densidade da raiz crustal,
subcontinental. Pelo mecanismo de tornando-a gravitacionalmente instável.
delaminação (delamination), parte ou a Embora colapso extensional seja
totalidade do manto litosférico espessado é comum, sua ocorrência não é universal.
removido e substituído pela astenosfera Observações geológicas indicam que apenas

93
cinturões orogênicos largos sofrem espessura crítica, necessária para causar
afinamento pós-colisional. Isto é, remoção da litosfera continental, seja
provavelmente, devido ao fato de orógenos atingida. Outra possibilidade é a conversão
estreitos (< 300 km de largura) serem mais incompleta de rochas máficas para eclogito
eficientemente resfriados. Assim, eles têm na crosta inferior porque eclogitização da
uma resistência maior e não sofrem base da crosta tem um papel importante no
delaminação (ou outro processo de remoção processo de delaminação. Como presença de
da litosfera). fluidos é requerida para que as reações
metamórficas que levam à produção de
eclogitos prossigam, sua disponibilidade
pode determinar se um orógeno irá ou não
sofrer colapso extensional.

Figura 7.20. Perfil sísmico mostrando que parte da


raiz crustal abaixo da Serra Nevada (EUA) foi
removida e substituída pela astenosfera.

7.7.2. Complexos de núcleo metamórfico


Colapso extensional em combinação
com erosão são mecanismos pelos quais
rochas de alta temperatura e pressão são
expostas na superfície (Fig. 7.18b). Quando a
extensão é extrema, rochas não-
metamórficas, deformadas ruptilmente, são
encontradas superpostas a rochas plutônicas e
metamórficas de alto grau. Separando as duas
regiões, ocorre uma zona de cisalhamento
dúctil extensional apresentando uma trama
milonítica (Fig. 7.21). Estas estruturas são
denominadas complexos de núcleo
Figura 7.19. (a, b) Delaminação litosférica metamórfico (metamorphic core complexes)
completa (a) e parcial (b). (c) Estágios sucessivos porque, freqüentemente, apresentam uma
envolvidos na remoção convectiva da litosfera estrutura dômica, com as rochas de alto grau
provocada por aquecimento pela astenosfera
quente adjacente. ocorrendo no núcleo. O domeamento da
estrutura na região mais distendida pode
Uma possibilidade para explicar a resultar unicamente de soerguimento
ausência de extensão em alguns orógenos isostático. No entanto, sua formação pode ser
maiores é a interrupção da convergência auxiliada por ascensão diapírica, se fusão
entre os blocos crustais antes que uma parcial tornar as rochas presentes em

94
profundidade menos densas que rochas mais normalmente, muito baixos, a origem dessas
superficiais. rochas está relacionada com fusão parcial de
porções do manto que foram sujeitas a
processos metassomáticos, levando a seu
enriquecimento em elementos incompatíveis.
Uma fonte no manto litosférico continental é,
geralmente, assumida, porque estudos
isotópicos mostram que muitas vezes o
enriquecimento é antigo, e não relacionado
com processos em zonas de subducção
contemporâneas.

Figura 7.21. Seções esquemáticas mostrando uma


possível seqüência de eventos durante a formação
de um complexo de núcleo metamórfico.

7.7.3. Domos gnaissicos


Complexos de núcleo metamórfico
ditos do tipo cordilheirano resultam de
extensão pós-orogênica. Eles fazem parte da
categoria mais geral de domos gnaissicos,
que incluem ainda complexos de núcleo
metamórfico formados durante extensão
Figura 7.22. Possíveis mecanismos para formação
sinorogênica e domos gnaíssicos manteados de domos gnáissicos manteados. (a) Diapirismo.
por rochas metassedimentares de alto grau. (b) Empurrões. (c) Redobramento.
Estes últimos podem ser formados por vários
outros mecanismos além de extensão. Entre Modelagem geoquímica e estudos
eles, incluem-se: diapirismo (Fig. 7.22a), experimentais mostram que uma pequena
concomitante ou não com esforços percentagem de fusão parcial (< 5%) de uma
compressivos ou extensionais; exumação fonte peridotítica, contendo flogopita e/ou
contracional de rochas da crosta pargasita, fornece líquidos com a composição
média/inferior por imbricação de empurrões adequada para gerar magmas
e rápida denudação (Fig. 7.22b); e potássicos/ultrapotássicos. Um possível
interferência de dobras (Fig. 7.22c). cenário para sua geração é mostrado na
Figura 7.19c, onde o aquecimento da
7.7.4. Vulcanismo litosfera pela astenosfera resulta em fusão
O magmatismo relacionado com parcial. O mesmo efeito pode ser produzido
extensão sin- a pós-orogênica é por delaminação parcial (Fig. 7.19b) ou slab
dominantemente potássico a ultrapotássico break-off (Fig. 7.10). Se a extensão é
(Fig. 7.23), incluindo andesitos e basaltos suficientemente grande a astenosfera pode,
cálcio-alcalinos de alto K, shoshonitos, e também, sofrer fusão parcial por
lavas ultrabásicas (lamproítos, lamprófiros). descompressão num estágio posterior,
Como os teores de K2O no manto são,

95
gerando magmas alcalinos ricos em Na (Fig. magmático. Estes granitóides são, às vezes,
7.19c). referidos como granitos cordilheiranos.
Adakitos também podem ser Granitos cuja gênese inferida é fusão parcial
encontrados em associação com rochas de rochas metaigneas são ditos do tipo I, em
potássicas/ultrapotássicas (Fig. 7.23). Sua oposição aos granitos do tipo S (Fig. 7.24),
formação é atribuída à fusão parcial da crosta cujo protólito é metassedimentar.
inferior máfica espessada, a qual, por sua
vez, pode ser devida ao aquecimento causado
pela passagem dos magmas potássicos
através da crosta continental.

Figura 7.23. Diagrama K2O versus SiO2 Figura 7.24. Diagrama mostrando a variação
mostrando a variação composicional de adakitos e composicional de alguns grupos de granitos.
rochas vulcânicas potássicas/ultrapotássicas
formadas durante extensão do platô tibetano.
Em orógenos colisionais, os batólitos
cálcio-alcalinos do estágio andino precursor
7.8. Plutonismo sinorogênico podem ser deformados, metamorfizados e
Rochas plutônicas são comuns em convertidos para ortognaisses, constituindo
cinturões orogênicos nos quais níveis mais intrusões pré-tectônicas. Normalmente, toda
profundos foram expostos por erosão ou atividade ígnea cessa nos estágios iniciais de
colapso orogênico. Em margens continentais uma colisão devido à perda do magmatismo
ativas, este magmatismo é caracterizado por associado com a zona de subducção. Com a
grandes batólitos cálcio-alcalinos, continuação da convergência entre os
constituídos por proporções variáveis de continentes e o conseqüente aumento na
rochas máficas (gabros), intermediárias espessura crustal, o orógeno começa a se
(dioritos) e félsicas (dominantemente aquecer espontaneamente pelo aumento na
tonalitos e granodioritos). Os membros radioatividade interna e pela condução de
félsicos são metaluminosos (Fig. 7.24) e calor do manto adjacente. Assim,
interpretados como derivados, temperaturas suficientemente elevadas para
dominantemente, da fusão parcial de rochas ocasionar fusão parcial de metapelitos com
máficas na crosta inferior. muscovita podem ser atingidas. Embora o
Granitos peraluminosos (Fig. 7.24) tempo requerido normalmente seja da ordem
também são encontrados em orógenos do de 20 a 30 Ma, os granitos produzidos neste
tipo Andino. Sua origem pode estar estágio são chamados de sincolisionais.
relacionada com fusão parcial de protólitos Tipicamente, são leucogranitos a duas micas,
metassedimentares e/ou metaigneos, podendo conter também granada e/ou
formados num estágio anterior, ou do turmalina, e fortemente peraluminosos, como
embasamento continental antigo do arco exemplificado pelos leucogranitos
himalaianos (Fig. 7.24). Estes granitos são
96
geoquimicamente distintos dos granitos tipo Metamorfismo de alta pressão a
S (Fig. 7.24), que incluem dominantemente temperaturas relativamente baixas é típico de
biotita cordierita granitos. A gênese destes zonas de subducção (seção 6.5.5). Xistos
últimos ainda é debatida, embora, azuis e eclogitos são as rochas diagnósticas
provavelmente, envolva fusão parcial de deste ambiente, sendo caracterizadas,
fontes contendo uma proporção significativa respectivamente, pelas associações
de metagrauvaca. glaucofana+lawsonita e granada+onfacita.
O maior volume de rochas plutônicas Este tipo de metamorfismo é, portanto,
em muitos cinturões orogênicos colisionais ausente ou limitado em orógenos
pertence às associações cálcio-alcalinas de intracontinentais.
alto potássio e shoshonítica. Em contraste Em orógenos colisionais, o
com os batólitos cálcio-alcalinos de margens metamorfismo de alta pressão precede a fase
ativas, os membros félsicos dominantes são de metamorfismo de pressão ultra-alta e a
monzogranitos e sienogranitos. Estas rochas fase principal de metamorfismo regional. Um
são intrudidas em um ambiente claramente cinturão metamórfico de pressão ultra-alta
intraplaca e, por isso, são chamadas de pós- consiste tipicamente de lentes de eclogito
colisionais, estando, freqüentemente, envoltos por gnaisses quartzo-feldspáticos.
associadas com zonas de cisalhamento Embora os gnaisses apresentem associações
transcorrentes. No entanto, pode haver uma minerais da fácies anfibolito, inclusões de
superposição no tempo com a intrusão de coesita e diamante em zircões indicam
granitos peraluminosos sincolisionais. subducção da crosta continental para
O magmatismo peraluminoso pode profundidades superiores a 100 km. Dessa
ser retomado durante a fase de colapso forma, a associação de pressão mais baixa
orogênico, enquanto granitos relativamente reflete reequilíbrio durante o retorno do
alcalinos e de alta temperatura podem ser material para a superfície.
intrudidos num estágio pós-orogênico O metamorfismo regional relacionado
avançado. A proximidade da astenosfera a espessamento crustal dá-se, tipicamente,
(Fig. 7.19c) da base da crosta explica a sob condições de média pressão e
ocorrência de fusão parcial de uma crosta temperatura (metamorfismo barroviano).
previamente submetida à extração de Uma vez que, caminhando-se na direção da
magmas e, portanto, menos fértil. hinterlândia, rochas de temperatura mais
No caso de orógenos intracontinentais elevada são encontradas acima de rochas de
formados por inversão de riftes, intrusões temperatura mais baixa (Fig. 7.11), o
pré-tectônicas são caracterizadas por granitos metamorfismo é dito inverso.
peraluminosos ou alcalinos formados durante Metamorfismo de baixa pressão-alta
o estágio rifte. Plútons sin- a pós-orogênicos temperatura pode ocorrer nos estágios mais
podem ter características bastante variáveis, avançados de uma colisão em associação
mas os membros máficos, quando presentes, com colapso orogênico. Este tipo de
normalmente refletem derivação litosférica, metamorfismo também acontece em
enquanto os membros félsicos têm fontes orógenos intracontinentais, quando a fase
metassedimentares ou são derivados de rifte é seguida imediatamente por
metagranitóides antigos ou de protólitos convergência de blocos ou pelo fechamento
ígneos do tipo cálcio-alcalino de alto de bacias retro-arco em ambientes de
potássio. subducção.
Metamorfismo de temperatura ultra-
7.9. Metamorfismo regional alta (> 900ºC) tem sido documentado em um
7.9.1. Tipos de metamorfismo e ambientes número cada vez maior de cinturões
tectônicos orogênicos. Paragêneses minerais
diagnósticas incluem safirina+quartzo,

97
ortopiroxênio+sillimanita+quartzo, espinélio trajetórias associadas com metamorfismo de
+quartzo e osumilita+granada. Embora ainda pressão ultra-alta (curva 4) e de temperatura
seja debatido como temperaturas ultra-alta (curva 5).
extremamente elevadas podem ser atingidas a Gradientes geotérmicos inferidos para
pressões relativamente baixas, isto a porção das curvas correspondentes ao
provavelmente requer uma grande aumento progressivo de pressão e
proximidade da crosta continental e da temperatura variam de 4-10ºC/km para o
astenosfera. Circunstâncias que podem levar metamorfismo de pressão alta/ultra-alta a
a esta situação incluem a remoção da >30ºC/km para o metamorfismo de
litosfera, durante colapso orogênico, e a temperatura ultra-alta.
formação e rápido fechamento de bacias
retro-arco.

7.9.2. Trajetórias P-T-t


Estudos termobarométricos e
geocronológicos são essenciais para se
entender a evolução de cinturões orogênicos.
Os resultados são, normalmente, sintetizados
como curvas, chamadas trajetórias P-T-t, em
diagramas pressão versus temperatura
(curvas 1-5; Fig. 7.25). Para isto, é necessário
que diferentes paragêneses, representando
momentos de tempo distintos (t1, t2, t3 na Fig.
7.25), estejam presentes na amostra
analisada. As idades das paragêneses de alta
temperatura, normalmente, são determinadas
por datação U-Pb de zircão e/ou monazita,
enquanto as de mais baixa temperatura são Figura 7.25. Diagrama mostrando trajetórias P-T-t
esquemáticas construídas pela combinação de
estabelecidas pela datação Ar-Ar de dados termobarométricos e geocronológicos em
anfibólios ou micas (Capítulo 2). três momentos distintos (t1 > t2 > t3). Ver
As trajetórias P-T-t em orógenos discussão no texto e Fig. 1.6 para a definição dos
colisionais (curva 1) são tipicamente diferentes campos mostrados.
horárias, porque pressões máximas são
atingidas antes das temperaturas máximas, as
quais podem continuar a se elevar durante a 7.10. Distinção entre os diferentes tipos de
descompressão. O oposto (trajetórias P-T-t orógenos: síntese
anti-horárias) ocorre em orógenos A distinção entre cinturões
intracontinentais (curva 2), resultantes da orogênicos acrescionários, colisionais e
inversão de riftes continentais, ou em bacias intracontinentais pode ser estabelecida, em
retro-arco invertidas, pois o aquecimento da princípio, pelo estudo de associações de
crosta pelo manto se dá antes do rochas que caracterizam ambientes tectônicos
espessamento crustal. específicos. Deve-se, no entanto, ter em
Em zonas de subducção (curva 3), as mente que um sistema orogênico colisional
trajetórias são horárias, mas com um declive maior pode conter faixas intracontinentais, e
bem mais acentuado que no caso de colisão que muitos orógenos de acresção apresentam
continental, porque as rochas começam a uma fase colisional terminal. A distinção é
voltar em direção à superfície antes que mais fácil no caso de cinturões jovens ou que
temperaturas elevadas sejam atingidas. A não sofreram erosão muito acentuada,
Figura 7.25 mostra, ainda, possíveis tornando-se progressivamente mais

98
complicada em cinturões mais antigos, onde trigger? Earth and Planetary Science Letters 258,
apenas a infra-estrutura do sistema pode ser 428-441.
Beccaluva, L., Coltorti, M., Giunta, G., Siena, F.,
analisada. Neste último caso, estudos mais 2004. Tethyan vs. Cordilleran ophiolites: a
aprofundados, envolvendo métodos reappraisal of distinctive tectono-magmatic
geocronológicos, isotópicos, sísmicos e features of supra-subduction complexes in
paleomagnéticos, são requeridos e, nem relation to the subduction mode. Tectonophysics
sempre, são conclusivos. 393, 165-174.
Bellot, J.P., 2007. Pre- to syn-extension melt-assisted
A geologia de orógenos nucleation and growth of extensional gneiss
intracontinentais é caracterizada por domes: the western French Massif Central
sequências de rifte deformadas e (Variscan belt). Journal of Structural Geology
metamorfizadas (metaconglomerados, 29, 863-880.
quartzitos, paragnaisses arcosianos, Bonin, B., 2004. Do coeval mafic and felsic magmas
in post-collisional to within-plate regimes
metabasaltos e metariolitos), apresentando necessarily imply two contrasting, mantle and
volumes significativos, mas variáveis, de crustal, sources? Lithos 78, 1-24.
rochas crustais mais antigas retrabalhadas e Burg, J.-P., Sokoutis, D., Bonini, M., 2002. Model-
de metassedimentos derivados de associações inspired interpretation of seismic structures in the
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progressivamente incorporados ao complexo Cunningham, D., 2005. Active intracontinental
da zona de subducção. As rochas vulcânicas transpressional mountain building in the
e plutônicas típicas deste ambiente pertencem Mongolian Altai: defining a new class of orogen.
à associação cálcio-alcalina. Um orógeno Earth and Planetary Science Letters 240, 436-
pode ser caracterizado como de acresção se 444.
Darby, B.J., Ritts, B.D., Yue, Y., Meng, Q., 2005. Did
falhas separam terrenos com histórias the Altyn Tagh fault extend beyond the Tibetan
geológicas contrastantes. Isto é o caso, por Plateau? Earth and Planetary Science Letters
exemplo, de seqüências supracrustais de um 240, 425-435.
lado e outro de uma falha que apresentam Dickerson, P.W., 2003. Intraplate mountain building
conteúdos fossilíferos diferentes e in response to continent-continent colision - the
Ancestral Rocky Mountains (North America)
incompatíveis com as latitudes atuais, ou de and inferences from the Tien Shan (Central
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Orógenos relacionados com subducção Dilek, Y., Furnes, H., Shallo, M., 2007. Supra-
continuada, que passaram por estágios subduction zone ophiolite formation along the
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bacias retro-arco, podem ser confundidos English, J.M., Johnston, S.T., 2004. The Laramide
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101
102
8. Origem e Diferenciação da Terra

pela presença de côndrulos, pequenos objetos


8.1. Introdução esféricos com diâmetros de 1 mm, compostos
As rochas mais antigas encontradas de olivina e/ou piroxênio (Fig.8.1). A textura
na Terra, até o presente, têm cerca de quatro porfirítica de muitos côndrulos indica
bilhões de anos, mas idades bem mais antigas formação por cristalização de magmas a
são obtidas em meteoritos e rochas lunares, temperaturas 50º-200º C abaixo do liquidus.
indicando que a formação do sistema solar Os condritos são classificados em enstatita
teve inicio centenas de milhões de anos condritos, condritos ordinários (ou comuns) e
antes. Assim, a reconstituição dos processos condritos carbonosos. A distinção entre eles é
que levaram à formação e à aquisição da baseada na proporção de ferro metálico para
estrutura concêntrica atual da Terra, com um Fe+2, com os condritos carbonosos
núcleo rico em ferro, um manto silicático e representando os termos mais oxidados.
uma crosta envolta pela hidrosfera e
atmosfera, é feita com base em analogias
com meteoritos e outros corpos planetários e
modelos geoquímicos e isotópicos. A
descoberta de zircões com idades de até 4,4
Ga sugere, ainda, que algum tipo de crosta
continental pode ter estado presente na
superfície do planeta 100-200 Ma após sua
formação.

8.2 Meteoritos e a formação do sistema


Solar
O estudo da origem e evolução do
Sistema Solar é baseado, principalmente, no
estudo de meteoritos e em observações
astronômicas de regiões onde estrelas estão
se formando no presente. A maior parte dos
meteoritos tem sua fonte no cinturão de
asteróides entre Marte e Júpiter, embora
alguns possam ser fragmentos das superfícies
de Marte ou da Lua.

8.2.1. Tipos de meteoritos Figura 8.1. Fotomicrografias em nicóis cruzados


Os meteoritos são classificados em de condritos carbonosos com côndrulos de olivina
(a) e de piroxênio (b).
pétreos, pétreo-ferrosos e ferrosos,
dependendo da proporção de silicatos para a Os condritos carbonosos sofreram
fase metálica Fe-Ni. Os meteoritos pétreos apenas processos geológicos menores após
são compostos, principalmente, de olivina e sua formação e são considerados materiais
ortopiroxênio e são subdivididos em primitivos remanescentes da formação do
condritos e acondritos. Alguns acondritos sistema solar. Como o nome indica, eles têm
apresentam texturas ígneas, assemelhando-se um teor de carbono maior que os condritos
a rochas terrestres máficas e ultramáficas comuns. Estes meteoritos tipicamente contêm
comuns, indicando cristalização a partir de argilas e óxidos e podem ser cortados por
magmas. Os condritos são caracterizados veios de carbonatos e sulfatos, indicando

103
alteração por fluidos ricos em água. Apesar decaimento de 26A durante 1-4 Ma, sendo,
da alteração, eles têm concentrações de posteriormente, incorporados aos corpos
elementos não-voláteis similares às parentais dos meteoritos carbonosos. A onda
estimativas feitas para o Sol. Isto indica sua de choque resultante da explosão teria
natureza primitiva, já que o Sol contém a forçado a nuvem de gás e poeira primitiva a
quase totalidade da matéria do sistema solar. entrar em colapso gravitacional (Fig. 8.2a).
Assim, a alteração é atribuída à fusão de gelo
pelo calor produzido por desintegração de
elementos radioativos de meia-vida curta no
corpo parental, e não por interação com a
atmosfera ou com a hidrosfera terrestre.

8.2.2. Formação do Sistema Solar


Condritos carbonosos não podem ter
sido aquecidos a temperaturas superiores a
200º C após sua formação, caso contrário os
minerais hidratados presentes teriam sido
desestabilizados. Estima-se que a
temperatura não superou 50ºC no caso dos
condritos CI, o tipo mais primitivo. Por outro
lado, a textura ígnea e estudos petrológicos
mostram que côndrulos são formados por
cristalização de magmas, cujas temperaturas,
provavelmente, eram superiores a 1300º C. A Figura 8.2. Estágios envolvidos na formação do
presença de côndrulos em condritos Sistema Solar. (a) Colapso da nuvem de gás e
carbonosos pode ser explicada pelo estudo de poeira primitiva. (b) Nebulosa solar. (c) Disco
protoplanetário.
outro tipo de inclusão comum neste tipo de
meteorito. Estas inclusões (chamadas CAIs,
de Ca-Al inclusions) são objetos milimétricos Modelos teóricos e modelagem
a centimétricos ricos em cálcio e alumínio, numérica mostram que o colapso produz um
cujas idades (4,566 Ga) são as mais antigas objeto central (o proto-Sol) circundado por
encontradas no Sistema Solar. um disco achatado (chamado nebulosa solar)
CAIs contêm um isótopo de Mg em apenas 0,1 Ma (Fig. 8.2b). O tempo
(26Mg) que é produzido pelo decaimento necessário para o início de reações
radioativo de 26Al. Como a meia vida do 26Al termonucleares no proto-Sol é estimado em
é de apenas 0,7 Ma, a formação dos CAIs 40 Ma. A formação do proto-Sol é
não deve ter demorado mais do que cerca de acompanhada pela condensação de matéria,
um milhão de anos após a produção deste sua agregação em corpos cada vez maiores e
isótopo. A teoria mais aceita para a formação pela migração para o plano médio da
dos CAIs é uma elevação transitória de nebulosa (Fig. 8.2b). A formação dos
temperatura, causada pela explosão de uma planetas ocorre por um processo de
supernova vizinha à nuvem de gás e poeira fragmentação gravitacional da nebulosa, da
precursora do sistema solar. Este aumento de qual resultam regiões ricas em corpos sólidos
temperatura teria sido suficiente para (Fig. 8.2c). Estes objetos, chamados de
produzir fusão instantânea de sólidos planetesimais, têm dimensões variando de 1 a
preexistentes, com a conseqüente formação 10 km na zona dos planetas terrestres e de 10
dos CAIs e dos côndrulos com idades mais a 100 km na zona dos planetas gigantes.
antigas. Côndrulos continuaram a ser O tempo para a acumulação de
produzidos por aquecimento causado pelo planetesimais em protoplanetas e, daí, em
planetas é estimado em cerca de cem milhões
104
de anos no caso da Terra, mas com boa parte (~8%; Tabela 3.2) é bem menor que em
do crescimento ocorrendo nos primeiros 25 condritos. Assim, independentemente do tipo
Ma. A formação de Júpiter e de Saturno foi específico de material a partir do qual a Terra
bem mais rápida (alguns milhões a uma foi formada, é consensual que sua
dezena de milhões de anos). A atração diferenciação primária em manto e núcleo
gravitacional exercida por Júpiter perturbou a envolveu a separação de ferro da porção
acumulação planetesimal na região dos silicática.
asteróides, impedindo a formação de um Devido à grande quantidade de
planeta neste local. Observação de estrelas energia liberada pelo impacto de
próximas mostra que a remoção completa do planetesimais, é provável que uma porção
disco de poeira ocorre em escalas de tempo significativa da Terra tenha sido totalmente
da ordem de 300 a 400 Ma. fundida durante seu crescimento, dando
origem a um oceano magmático profundo.
8.3. Diferenciação primária da Terra Como magmas metálicos são imiscíveis e
O tipo específico de material que deu bem mais densos que magmas silicáticos, o
origem à Terra ainda é debatido. O modelo modelo preferido para a origem do núcleo
com maior aceitação é o de acresção advoga a acumulação de metal entre o
homogênea de planetesimais com oceano magmático e o manto parcialmente
composição semelhante à dos condritos fundido abaixo e sua subseqüente segregação
carbonosos do tipo CI. Variantes do modelo para o centro da Terra (Fig. 8.4).
de acresção homogênea sugerem, no entanto,
que condritos ordinários, enstatita condritos
ou côndrulos seriam mais prováveis como
materiais parentais. Outros modelos propõem
ainda acresção heterogênea, com a
composição dos planetesimais mudando, com
o decorrer do tempo, de enstatita condritos
para condritos comuns e, finalmente, para
condritos carbonosos.

Figura 8.4. Modelo sumarizando os processos de


separação silicato-metal durante a formação do
núcleo.

A avaliação mais recente é de que a


formação do núcleo foi muito rápida, com
boa parte do crescimento ocorrendo em 10
Figura 8.3. Diagrama ternário MgO-FeO-SiO2 Ma e estando, praticamente, concluído em 30
mostrando a variação composicional de
meteoritos condríticos. Ma. Isto significa que o núcleo se formou
concomitantemente com a acresção da Terra.
Meteoritos condríticos são A principal linha de evidência para o rápido
caracterizados quimicamente por crescimento do núcleo é proporcionada pelo
abundâncias similares de sílica, magnésio e sistema Hf-W. 182Hf sofre decaimento
ferro (Fig. 8.3). O teor de ferro no manto radioativo para 182W com uma meia vida de

105
apenas 9 Ma. Uma vez que Hf é um elemento Gigante, é que ela se formou quando um
litófilo enquanto W é um elemento siderófilo, corpo aproximadamente com o tamanho de
a remoção de W para o núcleo aumenta a Marte (chamado, por alguns, de Teia) atingiu
razão Hf/W. O manto apresenta um excesso a Terra cerca de 60 Ma de anos após o
de 182W em comparação com condritos, colapso da nebulosa solar (Fig. 8.5). Um
indicando que a separação do núcleo ocorreu impacto de tal ordem inevitavelmente levaria
quando ainda havia 182Hf em quantidade à fusão de grande parte do manto e à
suficiente no manto, caso contrário, a amálgama do núcleo do corpo impactante
composição isotópica do manto e de com o núcleo da Terra. A Lua seria formada
condritos seria similar. subseqüentemente pela condensação dos
A formação do núcleo resultou no silicatos vaporizados, em grande parte
empobrecimento de elementos siderófilos derivados do impactante (~80%), que
(cobalto, níquel, ouro, platina, irídio, cósmio, ficaram circundando a órbita da Terra. A
paládio, etc.) no manto da Terra. No entanto, estimativa de que o impacto ocorreu nos
apesar da baixa abundância desses estágios finais de diferenciação da Terra é
elementos, ela ainda é maior que a esperada. consistente com a pequena dimensão do
Isto é atribuído à adição de 0,4 a 1% de núcleo lunar (340 km de raio).
material condrítico (cuja abundância em A Lua tem uma crosta
elementos siderófilos é 150 a 300 vezes dominantemente anortosítica, cuja existência
superior àquela presente no manto atual) só pode ser explicada pela flotação de
após a formação do núcleo. plagioclásio sobre um magma de extensão
global. Uma vez que esta crosta tem 30 a 60
8.4. Formação do Sistema Terra-Lua km de espessura, isto indica que a Lua
A hipótese mais popular para a também passou por um estágio de fusão total,
origem da Lua, o Modelo do Impacto com um oceano magmático profundo.

Figura 8.5. Simulação numérica do impacto que deu origem à Lua. Cores correspondem à energia interna do
sistema.

8.5. Formação da atmosfera e hidrosfera Kr) em comparação com o Sol e com os


8.5.1. Origem da atmosfera meteoritos carbonosos. Como estes gases são
A Terra é significativamente muito grandes e pesados, é improvável que
empobrecida nos gases nobres (Ar, Ne, Xe e suas baixas concentrações sejam devidas a

106
uma perda gradual para o espaço. Logo, a significativas de 40Ar, indicando rápida
atmosfera atual não pode ter sido formada liberação de voláteis pelo manto nas
pela retenção de elementos voláteis da primeiras dezenas de milhões de anos
nebulosa solar nos estágios finais de acresção subseqüentes ao impacto gigante. A liberação
da Terra. Embora uma atmosfera primordial de gases pelo manto continua até o presente,
deva ter existido, a energia liberada pelo porém a uma taxa bem menor. A idade média
impacto que formou a Lua deve ter causado da atmosfera estimada pela sistemática dos
não só a perda dessa atmosfera primordial, gases raros é de 4,4 Ga.
mas também da quase totalidade dos
elementos voláteis no manto. Uma pequena
fração dos gases primitivos pode ter ficado
retida no manto mais profundo e ser
responsável pelas razões elevadas 3He/4He
em magmas relacionados com plumas.
O modelo preferido para a formação
da atmosfera envolve o transporte de gases
para a superfície por magmas de derivação
mantélica. Isto implica que o manto foi
reenriquecido pela adição tardia de material
dominantemente condrítico (0,4-1% da
massa da Terra, como estimada a partir da
concentração de elementos siderófilos no
manto; seção 8.3). A quantidade de Figura 8.6. Modelos para a liberação de Ar do
nitrogênio e água suprida por esta manto para a atmosfera. As curvas superiores são
contribuição tardia é consistente com as as mais condizentes com os dados atuais. O tempo
concentrações estimadas para a Terra. Outro é contado a partir da formação da Terra.
modelo, menos aceito, advoga que a
atmosfera foi formada diretamente pela Por comparação com a composição
vaporização do material tardio antes de seu do manto em elementos voláteis, a atmosfera
impacto com a superfície. primitiva deveria ser composta
A taxa com que elementos voláteis predominantemente de H2O, CO2, N2 e CO.
são liberados do manto para a atmosfera pode NH3 e CH4 também deviam estar presentes,
ser estimada com base em medidas da mas estes gases são prontamente destruídos
composição isotópica atual dos gases nobres por radiação ultravioleta e sua concentração
nos diferentes reservatórios terrestres. Isto não deveria ser grande. No entanto,
será exemplificado pelo caso do argônio. O concentrações de metano de até 1000 ppm
argônio representa cerca de 1% do volume da podem ter persistido até a formação de uma
atmosfera, sendo que a maior parte dele atmosfera rica em oxigênio. Uma atmosfera
(99,6%) consiste do isótopo 40Ar, produzido rica em CO2 é atestada pelos enormes
pela desintegração radioativa de 40K volumes de carbonatos, depositados desde o
(Capítulo 2). Como a meia-vida do 40K é Arqueano, e de carvão e petróleo produzidos
muito longa, a concentração de 40Ar deveria durante o Fanerozóico. Se todo o carvão
ser muito baixa logo após a formação da contido nestes depósitos fosse convertido
Terra. A razão 40Ar/36Ar nos MORBs pode para CO2, a concentração desse gás na
chegar a 44000, indicando valores também atmosfera aumentaria várias centenas de
elevados no manto, enquanto na atmosfera vezes (Figura 8.7).
atual ela é relativamente baixa (295,5). Isto Uma elevada concentração de CO2 na
implica que a formação da atmosfera ocorreu atmosfera primitiva explica o ‘paradoxo do
antes da produção de quantidades Sol fraco’. Modelos para a evolução do Sol

107
indicam que durante o Arqueano sua consideravelmente superiores a 100ºC. Ainda
luminosidade correspondia apenas a 75-80% se discute quando a temperatura declinou
do valor atual e, assim, a temperatura média para valores similares às atuais. Este ponto
da superfície da Terra deveria ser bem menor está intimamente relacionado com modelos
que no presente. O paradoxo consiste no fato de formação da crosta continental e será
de que registros de glaciação no arqueano são abordado na seção 8.6.1.
esparsos, indicando que o efeito estufa A química do oceano primitivo não
provocado pelo CO2 contrabalançou a menor deveria diferir muito daquela do oceano
luminosidade solar. atual. Tanto Cl como Na são voláteis em
magmas de alta temperatura e devem ter sido
incorporados ao oceano quando o manto
ainda estava total ou parcialmente fundido.
NaCl é a espécie estável de cloreto porque
HCl é extremamente reativo. Assim, NaCl,
na fase sólida ou em solução, devia estar
presente no oceano primitivo. Por reação
com rochas aquecidas próximas da
superfície, Na e Cl são incorporados na
estrutura de minerais hidratados, como
anfibólio, o que deve ter contribuído para
rebaixar a salinidade do oceano no decorrer
do Hadeano.
Atualmente, a maior parte das
Figura 8.7. Estimativa para a variação da
substâncias dissolvidas na água do mar é
concentração de CO2 na atmosfera (relativa ao resultante do intemperismo nos continentes e
valor atual) com o decorrer do tempo. deve ter sido assim desde que continentes
tornaram-se emersos. O balanço entre a
adição de NaCl por intemperismo e sua
8.5.2. Origem da hidrosfera remoção em sistemas hidrotermais em
Por comparação com a evolução da dorsais oceânicas (Fig. 6.13) ou sistemas
atmosfera, é provável que uma grande fração equivalentes são os principais mecanismos
dos oceanos também tenha sido formada nos reguladores para manter a salinidade do mar
100 Ma seguintes à acresção da Terra. O aproximadamente constante. Isto explica
efeito estufa, resultante das elevadas porque seqüências minerais e estratigráficas
concentrações de CO2 na atmosfera e o alto são similares em evaporitos de todas as
fluxo térmico interno logo após a formação idades, sugerindo que a salinidade do mar
da Lua, contribuíram para manter a superfície não variou por fatores superiores a dois ou
da Terra aquecida. No entanto, convecção três com o decorrer do tempo geológico.
intensa no manto e reação de CO2 com
basalto para formar carbonatos rapidamente 8.5.3. Atmosfera rica em oxigênio
reduziram a importância desses dois fatores. A atmosfera primitiva deve ter
Estimativas para o tempo requerido a fim de contido pouco ou nenhum oxigênio, porque,
manter a superfície aquecida acima do ponto na ausência de fotossíntese, a única maneira
de ebulição da água variam de menos de 1 de produzir este gás é por fotodissociação:
Ma de anos até no máximo 20 Ma. Assim, a 2H2O + radiação ultravioleta = 2H2 +O2.
Terra já deveria estar coberta por oceanos Como hidrogênio é um gás leve, pode se
logo após sua formação. Devido à maior difundir para o espaço, deixando uma
pressão atmosférica, água na forma líquida atmosfera enriquecida em oxigênio. Este
pode ter existido a temperaturas processo é, no entanto, autolimitado porque

108
parte do O2 produzido combina-se para similares aos atuais foram atingidos no
formar ozônio (O3), o que protege contra a Cretáceo/Terciário Inferior.
radiação ultravioleta. Dessa forma, a
produção de oxigênio em grande escala só 8.6. Formação e crescimento da crosta
começou com o surgimento de organismos continental
capazes de realizar fotossíntese. 8.6.1. A crosta e o manto primitivos
É amplamente aceito que oxigênio só A crosta é definida como a porção
começou a se acumular na atmosfera entre mais externa dos corpos planetários, podendo
2,45 e 2,2 Ga atrás (Fig. 8.8). Antes disso, ser classificada como primária, secundária, e
grande parte do oxigênio disponível deve ter terciária. Uma crosta primária é aquela
sido utilizada para oxidar o Fe+2 presente nos formada pela cristalização de um oceano
oceanos para Fe+3. Isto explica os enormes magmático, como no caso da crosta
volumes de formações de ferro bandadas anortosítica da Lua. Crostas secundárias
(BIFs) depositados durante o Arqueano e o resultam de fusão parcial nos mantos
Paleoproterozóico e seu desaparecimento, planetários e têm, tipicamente, composição
juntamente com o de depósitos de pirita e basáltica, como a crosta oceânica terrestre, os
uraninita (cuja formação requer um ambiente basaltos lunares e grande parte da crosta de
redutor), após 1,9 Ga. Por outro lado, isto Marte e de Vênus. Uma crosta terciária é
coincide com o aparecimento de sedimentos aquela que não resulta diretamente de fusão
formados como resultado de oxidação parcial do manto, seu crescimento
subaérea, como redbeds, e sulfatos. envolvendo o retrabalhamento e
diferenciação de crostas primárias e/ou
secundárias. A crosta continental terrestre é o
exemplo típico (e provavelmente único no
nosso Sistema Solar) deste tipo de crosta.
Alguns autores sugerem que uma
crosta primária de composição anortosítica
ou andesítica pode ter se formado na Terra.
No entanto, a opinião dominante é de que
isto não foi possível. O manto lunar é
praticamente anidro, enquanto o oceano
magmático terrestre devia conter uma
proporção significativa de água. Estudos
Fig. 8.9. Concentração de oxigênio na atmosfera experimentais mostram que a densidade de
com o decorrer do tempo relativamente ao valor magmas ultramáficos hidratados é inferior à
atual (PAL = present atmospheric level). Notar a densidade do plagioclásio, o que impediria o
escala logarítmica.
acúmulo desse mineral na superfície. Uma
A partir de 2,0 Ga, a concentração de crosta primária de composição máfica pode,
oxigênio na atmosfera começou a aumentar no entanto, ter sido produzida pela
gradativamente, mas uma rápida elevação, segregação do magma residual resultante da
provavelmente, ocorreu apenas no cristalização do oceano magmático.
Neoproterozóico, atingindo 10% a 20% do Metassedimentos paleoarqueanos
valor atual no inicio do Fanerozóico (Fig. derivados do intemperismo e erosão de
8.8). A expansão das plantas terrestres e a protólitos mantélicos exibem razões
142
formação de grandes depósitos de carvão, Nd/144Nd elevadas. Isto indica um episódio
durante o Paleozóico Superior, provocaram de fracionamento Sm/Nd logo após a
um rápido aumento de O2 e uma diminuição formação da Terra, uma vez que 142Nd é
de CO2 na atmosfera. Valores de oxigênio produzido pelo decaimento radioativo do
146
Sm, cuja meia-vida é de apenas 103 Ma.

109
No entanto, este dado não pode distinguir basálticos. Zircões derivados do manto têm
entre crostas derivadas da cristalização de um valores δO18 em torno de 5,3‰ (por mil).
oceano magmático, de fusão parcial do Rochas sedimentares que reagiram com água
manto ou geração de crosta continental. à baixa temperatura, por sua vez, são
O tempo necessário para a enriquecidas em O18.
cristalização do oceano magmático lunar é
estimado em 45 Ma, a partir da idade das
rochas lunares mais antigas e de estudos
isotópicos. Estimativas para a duração desse
processo na Terra variam de menos de 1 Ma
até 100 Ma. As discrepâncias resultam de
considerações térmicas. Se, por um lado, a
Terra é bem maior que a Lua, implicando que
o tempo de cristalização também deveria ser
maior, a possível ausência de uma crosta
primária facilita a perda de calor para a
superfície, levando a uma cristalização mais
rápida. No entanto, a radiação para o espaço
é drasticamente reduzida pela formação de
serpentina e anfibólio por reações entre o
manto e a hidrosfera. Assim, um oceano
magmático pode ter persistido por várias
dezenas de milhões de anos, mesmo na
ausência de uma crosta primária.
Existem três modelos antagônicos
sobre qual seria a feição da Terra durante o Figura 8.9. Modelos para a Terra após a
Hadeano. No primeiro (Fig. 8.9a), o exterior cristalização do oceano magmático (4,4-4,3 Ga
do planeta estaria coberto por uma crosta atrás). (a) Inexistência de crosta estável. (b) Crosta
máfica/ultramáfica fina e instável, contendo máfica espessa. (c) Proto-tectônica de placas.
minerais hidratados. O manto estaria
sofrendo forte convecção, talvez mesmo Valores de δO18 acima de 5,3‰
turbulenta. No segundo (Fig. 8.9b), a Terra foram encontrados em zircões com idades
seria coberta por uma crosta máfica espessa superiores a 4 Ga (Fig. 8.10). Estes dados
separada de um manto estável e inativo. No foram interpretados como resultado da
terceiro (Fig. 8.9c), a temperatura da Terra cristalização dos zircões em magmas gerados
teria caído suficientemente 4,4 Ga atrás para por fusão parcial de rochas
permitir a atuação de processos similares aos metassedimentares ou contaminados por
atuais (proto-tectônica de placas), levando à rochas supracrustais. De acordo com esta
produção de uma crosta siálica. Convecção interpretação, a Terra teria oceanos com
no manto seria intensa, mas não a ponto de temperaturas não muito diferentes das atuais
reciclar totalmente a crosta recém-formada. há 4,3-4,4 Ga. Em adição, estudos
Este último modelo se baseia em geotermométricos nesses zircões antigos
estudos detalhados de zircões hadeanos e sugerem cristalização em torno de 700ºC,
paleoarqueanos, em particular na composição condizentes com as temperaturas esperadas
isotópica de oxigênio. Embora zircão seja um em magmas graníticos hidratados.
mineral tipicamente crustal, ele também pode Finalmente, a descoberta de inclusões de
ser formado por cristalização de baixas diamante em zircões com até 4,25 Ga, e sua
percentagens de fusão no manto ou nos semelhança mineralógica com diamantes
estágios finais de cristalização de magmas resultantes de metamorfismo de pressão

110
ultra-alta, implicaria a existência de uma pelo impacto de grandes planetesimais entre
litosfera continental espessa. 4,0 e 3,8 Ga. Este evento, conhecido como o
Intenso Bombardeio Tardio (Late Heavy
Bombardment), formou a maior parte das
crateras observadas na Lua. A causa desse
evento, mais de 600 Ma após a formação do
Sistema Solar, ainda é debatida, mas pode
estar ligada a uma rápida migração dos
planetas gigantes, o que teria desestabilizado
a órbita do cinturão de asteróides.

8.6.2. Crescimento da crosta continental


Vários modelos têm sido propostos
para o crescimento da crosta continental com
o decorrer do tempo (Fig. 8.11). Os modelos
mais antigos foram baseados, principalmente,
na distribuição geográfica de idades
geocronológicas nos continentes, sugerindo
Figura 8.10. Isótopos de oxigênio em zircões com
idades superiores a 4 Ga. rápido crescimento crustal após o Arqueano
(curva 5 na Fig. 8.11). Estes modelos não são
O ponto de vista de que continentes mais considerados válidos porque a maioria
com composição similar à atual já existiam dos dados foi obtida por datações K-Ar e Rb-
no Hadeano (Fig. 8.9c) começa a Sr, as quais fornecem apenas a idade do
preponderar. Porém, os argumentos último evento térmico experimentado pelas
favoráveis a esse modelo têm sido rochas, e não sua idade de formação.
questionados, de tal forma que cautela ainda
é requerida. Por exemplo: (a) valores
elevados de δO18 poderiam ser explicados
pela assimilação de carbonatos por magmas
basálticos; (b) temperaturas de cristalização
baixas foram também obtidas em zircões da
crosta oceânica recente; (c) zircões mais
antigos que 4,0 Ga apresentam
microestruturas indicativas de múltiplos
eventos de crescimento, sugerindo um
regime tectônico instável; (d) diamantes em
zircões hadeanos poderiam resultar da Figura 8.11. Modelos esquemáticos propostos para
conversão de inclusões de grafita em um o crescimento da crosta continental. 1 – Rápido
evento bem posterior à cristalização dos crescimento pós-acresção da Terra. 2 –
zircões hospedeiros (e) zircões herdados Crescimento inversamente proporcional ao
ainda não foram encontrados em rochas resfriamento do manto. 3 – Crescimento
aproximadamente linear. 4 - Crescimento
paleoarqueanas. episódico. 5 – Rápido crescimento pós-Arqueano.
A ausência de registro geológico para
rochas pré-arqueanas é atribuída, geralmente, Outros modelos propõem que
a uma vigorosa convecção do manto, crescimento substancial pode ter ocorrido no
provocando a reincorporarão, quase Hadeano (curvas 1, 2 e 3). No modelo mais
completa, para ele de qualquer material extremo, um volume praticamente idêntico
siálico produzido. Outra possibilidade é a ao da crosta continental atual teria sido
destruição da crosta continental primitiva produzido logo após a formação da Terra

111
(curva 1). Taxas equivalentes de criação de onde as taxas de criação de crosta continental
nova crosta e reciclagem de crosta antiga são bem mais rápidas.
teriam contribuído para que esta proporção Curvas cumulativas de crescimento
permanecesse mais ou menos constante com crustal são construídas considerando-se a
o decorrer do tempo. Curvas de crescimento distribuição areal de províncias juvenis (Fig.
aproximadamente linear (curva 3) ou 8.12). Numa escala global, tem sido sugerido
inversamente proporcional ao decaimento do que períodos maiores de crescimento crustal
fluxo térmico da Terra (curva 2), também ocorreram há 2,7, 1,9 e 1,2 Ga atrás. No
foram propostas, porém os modelos mais entanto, com respeito ao pico de 1,9 Ga, a
aceitos atualmente são os de crescimento contribuição da América do Sul e do centro e
episódico (curva 4). oeste da África pode ter sido subestimada, já
que resultados recentes indicam que o
período principal de crescimento ocorreu
entre 2,2 e 2,0 Ga (Capítulo 10).

8.7. Os primeiros 700 Ma: síntese


A Figura 8.13 apresenta um sumário
da cronologia de eventos, inferida a partir
dos estudos mais recentes, para os primeiros
700 milhões de anos de história do Sistema
Solar e da Terra.

Figura 8.12. Comparação da área do embasamento


(acima) estimada a partir dos mapas geológicos da
América do Norte (a) e da América do Sul (b) com
idades U-Pb (abaixo) de zircões detríticos nos rios
MacKenzie e Amazonas.

Modelos de crescimentos episódicos


são baseados na distribuição de idades da
crosta continental, utilizando-se uma
combinação dos métodos U-Pb e Sm-Nd. Figura 8.13. Cronologia de eventos nos primeiros
Quando as idades U-Pb coincidem com as 700 milhões de anos do Sistema Solar e da Terra.
idades modelo Sm-Nd isto indica que a
crosta foi recém-extraída do manto, ou seja, A formação do Sistema Solar, o início
ela representa adição de material juvenil para de reações termonucleares no Sol e a
a crosta continental. Idades U-Pb mais jovens diferenciação primária da Terra ocorreram,
que idades Sm-Nd implicam em muito provavelmente, nos 30-40 Ma
retrabalhamento de material crustal mais subseqüentes ao colapso da nuvem de gás
antigo e, portanto, que crescimento primitiva. A Lua desenvolveu-se apenas 60
continental significativo pode não ter Ma após o nascimento do Sistema Solar
ocorrido (seção 2.4). A aplicação desta (~4,5 Ga), quando a Terra já tinha
sistemática sugere que períodos de lento praticamente adquirido toda sua massa.
crescimento são intercalados por períodos
112
Ainda é incerto se uma crosta Mount Narryer, Western Australia: evidence for
primária, formada pela cristalização do diverse >4.0 Ga source rocks. Journal of
Geology 113, 239-263.
oceano magmático, e/ou uma crosta siálica Day, J.M.D., Pearson, D.G., Taylor, L.A., 2007.
estável existiram durante o Hadeano. Highly siderophile element constraints on
Igualmente, é incerto se a alta produção de accretion and differentiation of the Earth-Moon
calor interno e a presença de uma atmosfera System. Science 315, 217-219.
rica em CO2 contribuíram para manter a Gomes, R., Levison, H.F., Tsiganis, K., Morbidelli,
A., 2005. Origin of the cataclysmic Late Heavy
superfície do planeta a temperaturas elevadas Bombardment period of the terrestrial planets.
ou, alternativamente, se a baixa luminosidade Nature 435, 466-469.
solar tornou possível a existência de oceanos Habing, H.J., Dominik, C., Jourdain de Muizon, M.,
com temperaturas não muito diferentes das Kessler, M.F., Laureijs, R.J. Leech, K., Metcalfe,
atuais. Se uma crosta primitiva existiu, ela L., Salama, A., Siebenmorgen, R., Trams, N.,
1999. Disappearence of stellar debris disks
deve ter sido completamente reciclada (seja around main-sequence stars after 400 million
como resultado de convecção bem mais years. Nature 401, 456-458.
intensa no manto, ou do Intenso Bombardeio Halliday, A.N., 2000. Terrestrial accretion rates and
Tardio) ou, simplesmente, ainda não foi the origin of the Moon. Earth and Planetary
descoberta. 700 Ma após a formação da Science Letters 176, 17-30.
Hawkesworth, C.J., Kemp, A.I.S., 2006. The
Terra, as condições tornaram-se propícias differentiation and rates of generation of the
para a geração e preservação, pelo menos continental crust. Chemical Geology 226, 134-
parcial, de crosta continental siálica, 143.
marcando o início da história geológica da Hawkesworth, C.J., Kemp, A.I.S., 2006. Evolution of
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844.

114
9. O Arqueano: Geologia e Regimes Tectônicos

9.1. Introdução de poucas dezenas de quilômetros quadrados.


O início do tempo geológico é O segmento crustal contínuo mais antigo e
marcado pela idade das rochas mais antigas. extenso é representado pelos gnaisses
No momento, estas são os gnaisses Acasta, Amîtsok (também denominados Itsaq), no
na Província Slave (noroeste do Canadá), oeste da Groenlândia, com idades de até 3,87
com idades U-Pb em zircão de 4,00-4,03 Ga Ga. No Brasil, as idades U-Pb mais velhas
(Fig. 9.1). Depois destes, as idades mais (3,4-3,5 Ga) foram obtidas em ortognaisses
antigas (3,93 Ga) foram obtidas em um nos estados do Rio Grande do Norte
ortognaisse no leste da Antártica. A área de (Província Borborema) e Bahia (Cráton do
exposição dessas rochas, nestes dois casos, é São Francisco).

Figura 9.1. Mapa mostrando a distribuição de idades nos continentes, a localização das rochas mais antigas
(estrelas) e o contorno aproximado de alguns dos principais crátons arqueanos/paleoproterozóicos.

As associações de rochas águas superficiais e, portanto, a existência de


supracrustais mais antigas (cinturão Isua) continentes emersos desde o princípio do
também foram descritas no oeste da Arqueano.
Groenlândia (Fig. 9.1), ocorrendo como Zircões detríticos com até 4,3-4,4 Ga
lentes nos gnaisses Amîtsoq. A idade sugerem a existência de crosta continental no
principal de deposição/vulcanismo do Hadeano (Capítulo 8) e as rochas mais
cinturão Isua é 3,81 Ga, mas diques com antigas exibem evidência de retrabalhamento
idade de 3,87 Ga, cortando formações de de crosta continental ainda mais antiga.
ferro bandadas, indicam que a deposição Dessa maneira, a possibilidade da descoberta
começou antes desta data. Parte das de segmentos crustais com idades superiores
supracrustrais consiste de sedimentos a 4 Ga não pode ser completamente
clásticos. Isto indica a atuação de processos descartada, de tal forma que o início do
de intemperismo, erosão e transporte por Precambriano permanece em aberto.

115
neoarqueanas são bem mais comuns e, em
9.2. Distribuição dos terrenos arqueanos geral, maiores que esses crátons mais
Rochas arqueanas ocorrem em antigos. O maior de todos eles é a Província
crátons pouco afetados por eventos Superior, no Canadá (Fig. 9.4). Embora os
orogênicos posteriores ou formando o crátons Slave e Wyoming (Fig. 9.1)
embasamento de cinturões orogênicos mais contenham rochas paleo- a mesoarqueanas,
jovens (Fig. 9.1). Embora a área total das sua consolidação ocorreu apenas no
províncias arqueanas preservadas represente Neoarqueano. Na Austrália, além de Pilbara,
apenas 16% das áreas continentais emersas, a ocorrem ainda os crátons Yilgarn (Fig. 9.2) e
maioria das estimativas aponta para um Gawler (Fig. 9.1). Os zircões mais antigos
volume de produção de crosta continental são provenientes do Complexo Gnáissico
durante este éon próximo ou superior a 50% Narryer (localidades Mount Narryer e Jack
(Fig. 8.11). Hills), no Cráton Yilgarn (Fig. 9.2). Na placa
Eurasiática, tem-se os crátons Karelia/Kola
(Finlândia e Rússia), Siberiano e Dharwar
(sul da Índia); na África, o Cráton da
Tanzânia e o bloco Angola-Kasai (parte sul
do Cráton do Congo).

Figura 9.3. Localização do cráton Kaapvaal e mapa


geológico simplificado mostrando o greenstone belt
Barberton e ortognaisses/granitóides adjacentes
(idades em Ma).
Figura 9.2. Mapa esquemático mostrando os
crátons Yilgarn e Pilbara e a localização do Na América do Sul, apenas a
Complexo Gnaíssico Narryer. Província Amazônica Central (parte do
Crátons arqueanos preservados de Cráton Amazônico; Fig. 9.5) pode ser
eventos tectônicos posteriores são considerado um cráton arqueano genuíno.
encontrados em todos os continentes (Fig. Embora o Cráton do São Francisco seja
9.1). Os crátons mais antigos, com idades formado dominantemente por rochas de
dominantemente paleo- a mesoarqueanas idade mesoarqueana (Fig. 9.1), sua
(3,6-3,0 Ga), são os de Pilbara (noroeste da consolidação ocorreu apenas no
Australia; Fig. 9.2) e Kaapvaal (sul da Paleoproterozóico. O mesmo pode ser dito
Àfrica; Fig. 9.3). Crátons com idades
116
com respeito aos crátons Oeste-Africano, do gnaisses (terrenos granito-greenstone). Um
Congo e do Norte da China (Fig. 1). exemplo clássico deste último tipo é
representado pelo greenstone belt Barberton,
na África do Sul (Fig. 9.3).
Os terrenos de alto grau representam
de 80 a 85% da área de muitos crátons, mas
em alguns deles, como na Província Superior
(Fig. 9.4), os terrenos granito-greenstone
podem dominar.

9.3.1. Terrenos de alto grau


Ortognaisses com composição
tonalítica, trondhjemítica e granodiorítica
constituem o tipo petrográfico dominante nos
terrenos arqueanos de alto grau. Esta
associação é, freqüentemente, referida como
TTG (de trondhjemito-tonalito-granodiorito)
Figura 9.4. Mapa geológico simplificado da e, embora ocorra em períodos mais jovens, é
Província Superior (Canadá), com os nomes de típica do Arqueano. Trondhjemitos são
algumas subprovíncias. leucotonalitos ricos em Na e Al,
caracterizados por conter plagioclásio sódico
(oligoclásio), em oposição aos tonalitos
comuns, onde o plagioclásio é mais cálcico
(dominantemente andesina). Os membros da
associação TTG são caracterizados,
geoquimicamente, por padrões de elementos
terras raras extremamente fracionados,
normalmente sem anomalias de Eu (Fig. 9.6).
Isto se reflete nas elevadas razões La/Yb de
TTGs quando comparadas com a de outros
granitóides (Fig. 9.6).

Figura 9.5. Províncias do Cráton Amazônico.

9.3. Geologia dos terrenos arqueanos


As províncias arqueanas podem ser
divididas em dois tipos de terrenos: (a)
Figura 9.6. Comparação entre padrões de
cinturões dominados por ortognaisses elementos terras raras para TTGs e granitóides pós-
metamorfizados em alto grau (terrenos arqueanos e os campos para estes dois grupos de
gnáissicos de alto grau); (b) sucessões rochas num diagrama La/Yb versus Yb.
dominantemente vulcânicas, metamorfizadas
em baixo grau, envolvidas por granitos e Numerosos estudos experimentais
mostram que TTGs são gerados por fusão

117
parcial de metabasaltos no campo de obscurecer todas as características primárias
estabilidade da granada, indicando pressões das rochas.
elevadas. Granada anfibolito é considerada a Greenstone belts ocorrem como
principal rocha fonte, mas eclogito também é faixas alongadas ou irregulares, bordejadas
uma possibilidade. O padrão extremamente ou intrudidas por granitóides variavelmente
fracionado de terras raras nos TTGs pode ser gnaissificados. Uma estrutura em domos e
explicado pela fusão parcial de eclogito ou quilhas é típica em muitos terrenos granito-
granada anfibolito, já que os elementos terras greenstone, com os greenstones formando
raras pesados são retidos na estrutura da sinformes envoltos por domos batolíticos.
granada Este é o caso do greenstone belt Barberton,
Uma grande variedade de rochas na África do Sul (Fig. 9.3). No entanto,
supracrustais e de rochas metabásicas e outros terrenos apresentam estruturação com
metaultrabásicas pode ser encontrada como faixas lineares alternadas de rochas
intercalações nos ortognaisses da associação metassedimentares, rochas metavulcânicas e
TTG. A maioria dessas rochas não apresenta ortognaisses, como é o caso da Província
grandes disparidades quando comparadas Superior (Fig. 9.4).
com aquelas encontradas em terrenos mais Greenstone belts são caracterizados
jovens. Dois casos, no entanto, merecem pela presença de derrames de rochas
menção: (1) grafita é bem mais comum em vulcânicas máficas (toleítos) e ultramáficas
micaxistos arqueanos, refletindo o ambiente (komatiitos). Komatiitos são lavas ricas em
redutor resultante da ausência de oxigênio na magnésio, típicas do Arqueano, sendo
atmosfera (seção 8.5); (2) anortositos incomuns em seqüências vulcânicas
arqueanos são associados com rochas proterozóicas e muito raras no Fanerozóico.
máficas e ultramáficas e têm plagioclásio Os elevados teores de MgO (>18%) nessas
com teores elevados de anortita (80-100%), rochas requerem, pelo menos, 30-40% de
enquanto anortositos pós-arqueanos são mais fusão parcial do manto. Petrograficamente,
comumente associados com granitos komatiitos são caracterizados pela textura
anorogênicos e seu plagioclásio é andesina spinifex, um arranjo paralelo ou radial de
ou labradorita. cristais extremamente alongados de olivina
O metamorfismo nos terrenos de alto ou piroxênio, com até alguns decímetros de
grau varia de anfibolito alto a granulito e comprimento. O crescimento exagerado
corresponde ao tipo de baixa/média pressão desses cristais é atribuído ao grande intervalo
do metamorfismo regional. Pressões e de temperatura (> 500ºC) entre o solidus e o
temperaturas da ordem de 800 a 1200 MPa e liquidus de magmas ultramáficos.
700 a 900ºC são típicas. Komatiitos e toleítos arqueanos são
enriquecidos em elementos incompatíveis,
9.3.2. Terrenos granito-greenstone quando comparados com N-MORBs, tendo
Greenstone belts (cinturões de rochas uma composição mais próxima às de E-
verdes) são sucessões de rochas supracrustais MORBS (Fig. 9.7), sugerindo derivação de
dominadas por rochas vulcânicas, um manto menos diferenciado.
deformadas e metamorfizadas, Os greenstone belts mais antigos (>3
dominantemente, sob condições da fácies Ga) contêm, em geral, um volume maior de
xisto-verde. Como resultado do komatiitos e uma dominância de sedimentos
metamorfismo, rochas máficas são de águas rasas na seqüência sedimentar,
convertidas para xistos-verdes caracterizados quando comparados com greenstone belts
pela associação mineral clorita-epidoto- neoarqueanos. Nestes últimos, normalmente,
actinolita-albita. No entanto, o grau de basaltos toleíticos a cálcio-alcalinos e dacitos
alteração raramente é tão elevado a ponto de dominam na seqüência vulcânica, enquanto

118
grauvacas são dominantes na seqüência de calor. De fato, estudos petrológicos de
sedimentar. toleítos arqueanos sugerem que a temperatura
do manto foi apenas 50º-100ºC mais elevada
no Arqueano que no presente (e não centenas
de graus Celsius, como predito teoricamente;
Fig. 9.8).

Figura 9.7. Padrões de elementos terras raras


(normalizados pelo E-MORB) para toleítos e
komatiitos arqueanos.

9.4. Regimes tectônicos arqueanos


9.4.1. Evolução térmica do manto
O regime tectônico atual é dominado Figura 9.8. Estimativas para o fluxo térmico (H) e a
por dois estilos de convecção: um temperatura interna do manto com o decorrer do
representado por plumas mantélicas, e outro, tempo.
pela tectônica de placas (Caps. 4 e 5). A Uma dissipação de calor mais efetiva
formação de plumas é condicionada pela pode ser conseguida por um dos seguintes
condução de calor do núcleo para o manto e, processos (ou uma combinação deles): (1)
portanto, não depende muito da temperatura velocidade maior das placas tectônicas; (2)
absoluta deste último. Por outro lado, a comprimento maior das dorsais oceânicas;
subducção de placas oceânicas, considerado (3) maior percentagem de fusão parcial nas
o principal motor da tectônica de placas dorsais para produzir MORBs. Em qualquer
(seção 4.6.), depende da estrutura térmica, um desses casos, a obtenção de uma
mecânica e composicional da litosfera; estes flutuabilidade negativa crítica necessária para
fatores, por sua vez, são fortemente iniciar o processo de subducção é dificultada.
condicionados pela temperatura do manto. Isto se dá, nos dois primeiros casos, porque a
A produção de calor no interior da temperatura da litosfera ainda seria elevada
Terra foi duas a quatro vezes maior no quando da chegada da placa a uma zona de
Arqueano do que no presente (Fig. 9.8), subducção, e, no terceiro, porque a crosta
porque a concentração dos isótopos oceânica seria mais espessa e, portanto, a
radioativos decresce exponencialmente com densidade média da litosfera, menor.
o tempo. Assim, seria de se esperar Adicionalmente, uma maior temperatura do
temperaturas bem mais elevadas no manto manto implica numa espessura menor da
arqueano que no manto atual (Fig. 9.8). No litosfera para qualquer idade considerada.
entanto, este modelo implicitamente
considera que uma produção de calor mais 9.4.2. Tectônica de placas no Arqueano?
elevada resulta em um aumento homogêneo Apesar da dificuldade de subducção
da temperatura em todas as partes do manto. de placas litosféricas inerentemente menos
Alternativamente, a maior produção de calor densas, uma maior temperatura do manto no
poderia ser acomodada por convecção mais Arqueano também reduz a viscosidade da
intensa e por uma dissipação mais eficiente astenosfera, o que, por sua vez, facilita a

119
penetração das placas para o manto mais zonas de subducção rasas até que a
profundo. Neste cenário, a evolução para um temperatura das placas foi suficientemente
regime tectônico similar ao atual poderia ter rebaixada para permitir a formação de zonas
sido gradual, com uma dominância inicial de de subducção de alto ângulo (Fig. 9.9a).

Figura 9.9. Cenários para o regime tectônico no Arqueano. (a) Tectônica de placas, com geração de magmas
félsicos por fusão parcial de crosta oceânica normal ou espessada. (b) Tectônica vertical, com geração de
magmas félsicos pela fusão parcial da base de platôs acima de plumas do manto ou de regiões espessadas acima
de células de convecção descendentes na astenosfera

Várias observações geológicas 9.1), sua associação com basaltos em


sugerem a atuação da tectônica de placas no almofada, gabros e rochas ultramáficas, bem
Arqueano, particularmente após 3,2 Ga. Os como afinidades geoquímicas com MORBs e
principais argumentos são descritos abaixo. boninitos, foi interpretada como indicativo de
Uma trama suborizontal é dominante expansão oceânica e subducção em arcos
em muitos terrenos arqueanos. Isto sugere intraoceânicos 3,8 Ga atrás. A ausência de
deslocamentos causados por forças tectônicas outros ofiolitos arqueanos é atribuída à maior
horizontais e, presumivelmente, interações espessura da crosta oceânica, de tal maneira
entre placas. Dobras normais e zonas de que, normalmente, apenas a porção vulcânica
cisalhamento transcorrentes/transpressivas mais superficial seria obduzida.
regionais também são comuns. Falhas Finalmente, dados paleomagnéticos
extensionais e complexos de núcleo para os crátons Pilbara e Kaapvaal sugerem
metamórfico são mais raros, mas também são deslocamentos relativos entre eles,
descritos. O estilo estrutural é, portanto, requerendo geração e consumo de litosfera
similar ao de orógenos modernos oceânica entre esses blocos.
relacionados com colisões entre placas
litosféricas. Esta interpretação é reforçada 9.4.3. Ausência de tectônica de placas no
por perfis sísmicos, exibindo reflexões com Arqueano?
mergulhos baixos, similares aos encontrados Argumentos contrários à atuação da
em orógenos recentes. Em alguns casos, tectônica de placas no Arqueano incluem: (a)
reflexões cruzam a Moho e podem inexistência de rochas de pressão ultra-alta,
representar suturas ou contatos entre terrenos xistos azuis e ofiolitos; (b) diferenças entre
alóctones (Fig. 9.10). associações de rochas modernas e antigas,
Muitos komatiitos e basaltos em em particular a raridade de komatiitos em
greenstone belts têm afinidades geoquímicas seqüências supracrustais pós-arqueanas; (c) a
com o magmatismo basáltico associado com estrutura em domos e quilhas típica de
plumas. No entanto, uma proporção muitos greenstone belts. Os dois primeiros
significativa exibe afinidades cálcio- argumentos são explicados, pelos defensores
alcalinas, sugerindo geração em ambientes de de uma tectônica mobilista, como resultado
arcos de ilhas. A descoberta de um complexo de temperaturas mais elevadas no manto
de enxames de diques no cinturão Isua (Fig. arqueano.

120
Figura 9.10. (a) Perfil sísmico de reflexão entre o greenstone belt Abitibi e o terreno de alto grau Opatica,
sudeste da Província Superior (Fig. 9.4). (b) Interpretação sugerindo existência de dobras normais, empurrões e a
possível subducção da subprovíncia Abitibi sob a subprovíncia Opatica.

Se a tectônica de placas não era das zonas de subducção resultaria numa


possível ou era limitada no Arqueano, a diminuição no vigor da tectônica de placas
superfície do planeta deveria ser coberta por e, eventualmente, em sua interrupção. O
uma camada relativamente rígida e imóvel. retorno ao regime móvel ocorreria por
Convecção ainda seria possível no manto, delaminação da porção inferior dos platôs,
mas o regime tectônico e a formação de causada pela conversão de basalto para
crosta continental seriam dominados pela eclogito, ou pelo aumento na intensidade de
tectônica vertical de plumas (Fig. 9.9b). convecção no manto sublitosférico.
Neste cenário, tramas suborizontais são Uma situação como a descrita acima
explicadas pelo fluxo dúctil da crosta poderia explicar o rápido crescimento
média/inferior devido à menor resistência continental ocorrido no final do Arqueano
das rochas resultante do gradiente (seção 8.6.2). Outra possibilidade, mais
geotérmico mais elevado. aceita, é que o pico na produção de crosta
continental entre 2,75 e 2,65 Ma, observado
9.4.4. Regimes mistos, avalanches no manto, em muitos crátons, seria conseqüência de
crescimento continental episódico um evento global de plumas do manto. Este
Um terceiro comportamento possível evento tem sido relacionado ao acúmulo de
no Arqueano é aquele no qual o modo de litosfera oceânica na descontinuidade de 660
convecção alternaria entre o regime móvel km, seguido de sua descida catastrófica para
da tectônica de placas e o regime estagnado. o manto inferior, um processo chamado de
Devido ao imbricamento de placas avalanche mantélica (Fig. 9.11). O modelo é
oceânicas convergentes (resultante de sua baseado no pressuposto de que um manto
baixa densidade) e à maior atividade de mais quente favoreceria convecção em duas
plumas, extensas regiões de crosta oceânica camadas. No entanto, simulações numéricas
anormalmente espessada e, portanto, de recentes sugerem que a penetração de placas
difícil subducção, poderiam ser produzidas para o manto inferior pode ocorrer sem
episodicamente. A redução no comprimento

121
dificuldade nas condições do manto 9.5.2. Greenstones
arqueano. Greenstone belts dominados por
basaltos e komatiitos são convencionalmente
interpretados como produtos de fusão
parcial, a pressões e temperaturas elevadas,
de plumas do manto (Fig. 9.9b). Este parece
ser o caso de komatiitos extravasados em
crosta siálica mais antiga. No entanto,
estimativas para o teor de H2O em alguns
komatiitos são bem mais elevadas (>2-3%)
que em basaltos relacionados com plumas
(CFBs, OIBs; Capítulo 6), os quais contêm
menos de 0,5% H2O. Para explicar estes
casos, uma interpretação proposta é a fusão
parcial do manto nos estágios iniciais de
formação de zonas de subducção (Fig.
Figura 9.11. Modelo esquemático do processo de 9.12a). Nesta situação, o rápido mergulho da
avalanche mantélica. A descida catastrófica de placa causaria a subida da astenosfera e
litosfera oceânica acumulada na descontinuidade introduziria um grande volume de água na
de 660 km (a) induz o influxo de material do
região ante-arco, induzindo elevadas
manto inferior para o manto superior (b),
resultando numa intensa atividade de plumas. percentagens de fusão parcial sob condições
hidratadas.

9.5. TTGs e greenstone belts: ambientes


tectônicos
9.5.1. TTGs
Existe um consenso de que a
associação TTG é produzida por fusão
parcial de crosta oceânica metamorfizada.
No entanto, o ambiente tectônico onde isto
ocorre é bem mais controverso. Existem,
pelo menos, cinco cenários propostos para a
formação de TTGs. Uma das principais
hipóteses é sua geração em arcos
magmáticos pela fusão parcial de crosta
oceânica quente, com o mergulho da placa
inferior podendo variar de baixo a forte (Fig.
9.9a). Outra hipótese popular é fusão parcial
da base de platôs basálticos formados acima
de plumas do manto ou de células de
convecção descendentes (Fig. 9.9b). Outras
possibilidades incluem: (a) fusão parcial da Figura 9.12. Modelos para explicar a coexistência
base de platôs oceânicos formados pelo de komatiitos e magmas cálcio-alcalinos em
imbricamento de crosta oceânica; (b) fusão greenstone belts. (a) Fusão em larga escala do
parcial de underplating basáltico na base de manto nos estágios iniciais de subducção. (b)
Maturação da zona de subducção, com formação
crosta continental preexistente ou de arcos de um arco vulcânico. (c) Chegada de uma pluma
oceânicos; (c) fusão parcial de crosta abaixo de uma zona de subducção preexistente.
oceânica delaminada.

122
Greenstone belts consistindo, pela fusão parcial de plumas (Fig. 9.13a).
dominantemente, de basaltos toleíticos a Esta inversão de densidade e o
cálcio-alcalinos e de dacitos são amolecimento térmico da crosta subjacente
caracterizados por anomalias negativas de permitiriam o afundamento de parte da
Ta, Nb, Ti e P. Eles são, portanto, seqüência vulcânica (este processo é
correlacionados, por muitos, com zonas de denominado ‘sagducção’) e a conseqüente
subducção intraoceânicas (Fig. 9.12b). subida diapírica de domos gnássicos
Bacias retro-arco constituem outro ambiente produzidos por fusão parcial da crosta (Fig.
possível para a geração de greenstone belts 9.13b).
dominados por rochas vulcânicas cálcio-
alcalinas. Porém, se zonas de subducção rasa
dominaram a tectônica no Arqueano,
extensão na região retro-arco é inibida,
tornando este ambiente desfavorável, como
caso geral, para a produção de magmas.
A ocorrência conjunta das
associações basalto-komatiito e basalto-
dacito é observada em vários greenstone
belts. Isto poderia resultar da maturação de
zonas de subducção (Figs. 9.12a e 9.12b).
Outra possibilidade para explicar esta
coexistência é a interação de plumas e zonas
de subducção (Fig. 9.12c). Esta influência
mútua deve ter sido mais freqüente no Figura 9.13. Modelo de inversão parcial da crosta,
resultando na formação de terrenos granito-
Arqueano, devido a uma atividade de greenstone com estrutura em domos e quilhas. (a)
plumas mais intensa e/ou ao maior número Derrames basáltico-komatiíticos espessos são
de placas que no presente. Ainda, outra extravasados sobre crosta continental ou platôs
possibilidade é a acresção de platôs oceânicos. (b) A elevação de temperatura da crosta,
oceânicos gerados sobre plumas do manto a por aquecimento provocado pela pluma e por
radioatividade interna, resulta em amolecimento
um arco magmático. térmico, fusão parcial, afundamento da cobertura
vulcânica e ascensão de domos gnaíssicos.
9.5.3. Associações TTG/greenstone
A associação de greenstone belts e Os diferentes modelos propostos para
terrenos de alto grau lineares (Fig. 9.4) é a geração de TTGs e greenstone belts não
interpretada, pela maioria dos autores, como são todos mutuamente excludentes. Na
resultante da colisão de arcos, platôs realidade, o mais provável é que vários dos
oceânicos e microcontinentes durante processos discutidos tenham estado
tectônica de acresção. No entanto, alguns envolvidos na consolidação de crátons
greenstone belts, particularmente os mais arqueanos, seja ao mesmo tempo ou em
antigos, como aqueles presentes nos crátons diferentes épocas. Isto é exemplificado, na
Pilbara, Kaapvaal e Dharwar, apresentam Fig. 9.14, com o caso do cráton Pilbara.
uma estrutura em domos e quilhas (Fig. 9.3)
e a atuação de uma tectônica compressiva 9.6. Cratonização
horizontal não é documentada neles. Um O processo responsável pela
modelo popular para a formação destes estabilização de vastos segmentos crustais é
últimos envolve a inversão convectiva chamado de cratonização. A cratonização
parcial de crosta continental ou crosta dos continentes arqueanos envolveu a
oceânica espessada, devido à sobreposição formação de uma litosfera bastante espessa
de basaltos e komatiitos densos produzidos (> 200 km) abaixo deles (Fig. 4.4). Existem

123
três modelos concorrentes, mas não pode tornar-se mais denso que a astenosfera
necessariamente mutuamente excludentes, (Capítulo 7). O manto litosférico arqueano é,
para explicar como isto ocorreu. No no entanto, mais empobrecido em Ca, Al e
primeiro, o manto litosférico constituiria o Fe (devido às percentagens mais elevadas de
resíduo da fusão parcial de grandes plumas fusão parcial), fazendo com que ele seja
(Fig. 9.14; meio). No segundo, a formação menos denso que a astenosfera (Fig. 9.15),
de uma litosfera espessa envolveria a independentemente de sua espessura. Dessa
acresção e imbricamento de litosfera maneira, o desenvolvimento de raízes
oceânica. Finalmente, no terceiro, o litosféricas profundas deve ter protegido a
espessamento resultaria da colisão de arcos e crosta continental arqueana sobrejacente,
continentes (Fig. 9.14; topo). De acordo com dificultando seu envolvimento em eventos
o primeiro modelo, peridotitos cratônicos orogênicos subseqüentes, o que explica sua
seriam o resíduo sólido deixado pela persistência até os dias atuais.
extração de magmas formados por elevadas
percentagens de fusão parcial a altas
temperaturas e pressões. Nos dois últimos
cenários, fusão parcial ocorreria a
temperaturas e pressões mais baixas, seguida
pelo transporte dos peridotitos residuais para
profundidades maiores.

Figura 9.15. Diagrama CaO versus Al2O3 exibindo


a variação composicional para o manto litosférico,
estimada com base em estudos de xenólitos de
peridotito de várias idades. São mostradas, ainda,
as proporções relativas médias de olivina (Oliv),
ortopiroxênio (Opx), clinopiroxênio (Cpx) e
granada (Gnt), e o teor do componente forsterita
(Fo) da olivina.

Figura 9.14. Diagrama esquemático mostrando uma


possível seqüência de eventos envolvida na Referências selecionadas
formação do cráton Pilbara. Aulbach, S., Griffin, W.L., Pearson, N.J., O"Reilly,
S.Y., Doyle, B.J., 2007. Lithosphere formation
Em orógenos fanerozóicos, o in the central Slave Craton (Canada): plume
espessamento da litosfera pode resultar em subcretion or lithosphere accretion?
delaminação porque o manto litosférico frio

124
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126
10. Cinturões Orogênicos Proterozóicos, Supercontinentes e
Superplumas

10.1. Introdução plataformais com idades entre 2,78 a 2,60


Ao contrário do limite Proterozóico- Ga, indicam que, se isto ocorreu, eles foram
Fanerozóico, e das demais subdivisões do separados ainda no Arqueano. É possível
Fanerozóico, que são baseados em eventos que, no final do Arqueano, os crátons
específicos, o limite Arqueano-Proterozóico, existentes tenham sido agregados em um
bem como as subdivisões do Precambriano, é único supercontinente (denominado
puramente cronométrico. Embora não exista Kenorlândia) ou em vários crátons maiores.
nenhum evento geológico de escala global Por exemplo: Superia (formado pela junção
ocorrido exatamente há 2,5 Ga atrás, vários dos crátons Superior e Karelia); Sclavia (do
fatores foram levados em consideração para qual o cráton Slave seria remanescente); e
se arbitrar esta idade como limite entre os Kalahari (formado pela colisão dos crátons
éons Arqueano e Proterozóico. Diferenças Kaapvaal e Zimbabwe; embora seja debatido
entre a geologia dos terrenos arqueanos e se isto ocorreu no Arqueano ou, apenas, no
proterozóicos são atribuídas, direta ou Paleoproterozóico).
indiretamente, ao processo de cratonização, e
conseqüente estabilização dos continentes, (a)
ocorrido no Neoarqueano; ao declínio na
temperatura do manto com o decorrer do
tempo; e ao advento de uma atmosfera rica
em oxigênio.

10.2. A transição Arqueano-Proterozóico e


os primeiros continentes
O grande volume de crosta
continental produzido no Neoarqueano
contrasta com a escassez de rochas juvenis
no período entre 2,6 e 2,4 Ga (Fig. 10.1). Isto (b)
é, geralmente, interpretado como indicativo
da existência de um, ou mais, grandes
continentes estáveis, sujeitos apenas a
eventos de rifteamento. No entanto, é
possível, também, que a limitada produção
de crosta juvenil, neste período, resulte de
processos orogênicos colisionais, durante os
quais ocorre, dominantemente, Figura 10.1. (a) Histograma de crescimento
retrabalhamento de crosta preexistente. continental, com base em idades U-Pb em zircão
Em vista da similaridade geológica e de rochas juvenis, no intervalo 3,0-1,0 Ga. (b)
de idades entre os terrenos TTG e granito- Histograma de crescimento continental para a
América do Sul, baseado em idades modelo Sm-
greenstone nos crátons Kaapvaal e Pilbara, Nd, no período 3,7-0,7 Ga. Notar o pico em 2,1 Ga.
eles podem ter feito parte do primeiro grande
continente (denominado Vaalbara). No A existência de massas continentais
entanto, diques máficos, seqüências de rifte, lateralmente extensas no final do Arqueano
vulcanismo bimodal, e seqüências possibilitou a deposição de vastas seqüências

127
de rochas supracrustais. Grandes bacias cerca de 66 000 km2, é o maior corpo ígneo
sedimentares remanescentes desse período do mundo, sendo também o maior depósito
incluem aquelas de Witwatersrand e Pongola, de mineralizações magmáticas (associação
no Cráton Kaapvaal, Hamersley, no Cráton Cr-Ni-Pt-Cu). Da mesma maneira, granitos
Pilbara, e Carajás, no Cráton Amazônico. potássicos (monzogranitos e sienogranitos),
Coberturas sedimentares do embora também ocorram no Arqueano, só se
Paleoproterozóico inferior são comuns em tornam abundantes no Proterozóico.
todos os demais crátons arqueanos.
As seqüências supracrustais 10.3. Distribuição e geologia de províncias
neoarqueanas e paleoproterozóicas orogênicas proterozóicas
consistem, caracteristicamente, de Províncias orogênicas proterozóicas
sedimentos maturos, como quartzitos e ocorrem, caracteristicamente, circundando
pelitos, indicando um ambiente tectônico crátons arqueanos, ou como faixas,
estável, presumivelmente representado por separando terrenos arqueanos (Figs. 9.1, 9.2,
bacias intracratônicas e plataformas 9.5, 10.2-10.5). O primeiro caso é bem
continentais. Quartzitos são comumente ilustrado pelo Cráton Amazônico, onde a
intercalados com formações de ferro Província Amazônia Central, arqueana, é
bandadas. A ausência de depósitos de pirita e circundada, no norte, pela Província Maroni-
uraninita, após 2,4 Ga, coincide com o Itacaiunas (2,2-2,0 Ga) e, no sul e sudoeste,
declínio na deposição de BIFs, indicando o por províncias que se tornam
início do acúmulo de oxigênio na atmosfera. progressivamente mais jovens para o sul
Embora enxames de diques máficos (Fig. 9.5). Na América do Norte, igualmente,
ocorram no Arqueano (como é o caso do províncias progressivamente mais jovens são
Grande Dique do Zimbábue, com idade de observadas ao sul da Província Superior (Fig.
2575 Ma, o maior dique máfico conhecido, 10.2). Províncias mais jovens podem manter
com 480 km de comprimento), eles são bem o mesmo trend ou truncar aqueles de
mais freqüentes no Proterozóico. O grande províncias mais antigas, como no caso do
volume de diques máficos intrudidos entre cinturão Grenville (Fig. 10.2).
2,4 e 2,0 Ga, indicativos de tentativas de A geologia das províncias crustais
fragmentação continental, argumentam a proterozóicas é bastante variada. Algumas
favor da existência de grandes continentes consistem dominantemente de rochas
estáveis no final do Arqueano/início do juvenis, enquanto outras resultam quase
Proterozóico. Tem sido sugerido, ainda, que exclusivamente de retrabalhamento de rochas
o período 2,5-2,45 Ga foi marcado por uma mais antigas. Em geral, as rochas presentes
intensa atividade de plumas. Derrames podem ser grupadas nos seguintes tipos, com
basálticos com estas idades, encontrados em sua proporção variando de um orógeno para
vários crátons, seriam remanescentes de outro:
CFBs. (a) Complexos arqueanos reativados
Intrusões ígneas estratiformes são (ortognaisses e rochas associadas dos
típicas do Proterozóico, embora meta- terrenos de alto grau e greenstone belts
anortositos e rochas metabásicas e desmembrados e deformados).
mataultrabásicas arqueanas possam ser (b) Ortognaisses juvenis da associação TTG.
fragmentos de corpos ígneos maiores Estas rochas são mais comuns nos
deformados e metamorfizados. O Complexo orógenos proterozóicos mais antigos e
Stillwater (Montana), com idade de 2,7 Ga, é refletem uma continuação de processos
o único exemplo arqueano bem preservado. associados com colisão de platôs
O Complexo Bushveld, na África do Sul, oceânicos e/ou subducção rasa no
com 2,05 Ga, aflorando em uma área com Paleoproterozóico.

128
Figura 10.2. Províncias crustais arqueanas e proterozóicas na América do Norte e sua extensão para a
Groenlândia e Escandinávia.

(c) Ortognaisses cálcio-alcalinos. Estas volumes significativos de granitóides


rochas são dominantes em orógenos potássicos, implicando que diferenciação
caracterizados por uma tectônica crustal pode ter sido mais importante que
acrescionária, envolvendo a colisão de crescimento continental. Isto é
arcos de ilhas, ou subducção do tipo particularmente válido para os cinturões
andino. mais jovens.
(d) Seqüências supracrustais. Estas são
bastante variadas e um mesmo orógeno 10.4. Eventos orogênicos proterozóicos
pode incluir rochas metassedimentares e Numerosos eventos orogênicos,
metavulcânicas indicativas de deposição muitos dos quais podem ser correlacionados
em ambiente tectônico estável, como com um dos diferentes tipos de orogêneses
plataformas continentais e bacias discutidas no Capítulo 7, são reconhecidos no
intracratônicas, em riftes continentais, e Proterozóico. Quatro destes eventos são
em margens continentais ativas. registrados em vários ou em todos os
(e) Rochas plutônicas variadas. Em continentes, dois datando do
comparação com o Arqueano, o Paleoproterozóico, um do final do
magmatismo, em muitas províncias Mesoproterozóico e outro do final do
proterozóicas, é caracterizado por Neoproterozóico. Os três mais antigos foram

129
responsáveis por substancial crescimento África também consiste de rochas de idade
continental pós-arqueano (Fig. 10.1). paleoproterozóica.

Figura 10.4. Crátons arqueanos e bacias e orógenos


proterozóicos na Austrália.

Os crátons São Francisco e Congo são


Figura 10.3. Crátons e cinturões orogênicos formados por rochas dominantemente de
proterozóicos no centro e sul da África. idade arqueana (cerca de 80%), mas no
Cráton Oeste-Africano e na Província
Maroni-Itacaiunas dominam rochas juvenis
10.4.1. Paleoproterozóico do paleoproterozóico. Modelos tectônicos
Registros esparsos de orogêneses para a evolução dessas províncias invocam a
ocorridas entre 2,5 e 2,2 Ga são encontrados atuação da tectônica de placas. Colisão entre
em vários continentes, mas o evento blocos arqueanos com adição local de crosta
orogênico importante mais antigo é o Ciclo juvenil parece ter sido o processo dominante
Transamazônico/Eburneano (2,2-2,0 Ga). no caso dos crátons São Francisco e Congo,
Este evento foi responsável pela formação de enquanto os crátons Amazônico e Oeste-
uma proporção significativa da Plataforma Africano teriam crescido pela colagem de
Sul-Americana e do centro e noroeste da arcos magmáticos juvenis e blocos arqueanos
África. Dele, resultaram a consolidação dos menores.
crátons São Francisco, Congo e Oeste Os eclogitos mais antigos descobertos
Africano, e o crescimento do Cráton até agora foram encontrados no orógeno
Amazônico, pela adição da Província Usagarano, no leste da África (Fig. 10.3),
Maroni-Itacaiunas à Província Amazônia cuja idade (2,0 Ga) corresponde à do evento
Central (Fig. 9.5). Exposições menores de Eburneano no oeste desse continente. A
crosta paleoproterozóica na América do Sul, ocorrência desses eclogitos é uma evidência
representando a parte aflorante de províncias direta de litosfera oceânica e, portanto, da
crustais maiores, são os crátons São Luís, atuação da tectônica de placas no
Luís Alves e Rio de la Plata (Fig. 10.5). Paleoproterozóico. No entanto, o ambiente de
Adicionalmente, uma proporção significativa formação ainda é debatido. Os modelos mais
do embasamento das províncias orogênicas recentes favorecem rifteamento da margem
neoproterozóicas no Brasil e no oeste da leste do cráton da Tanzânia e o subseqüente

130
fechamento da pequena bacia oceânica sistema Himalaia-Tibete, seja o cinturão
formada. Nesta interpretação, o orógeno Trans-Hudsoniano (Figs. 10.3, 10.8), onde
Usagarano seria essencialmente acresção pré-colisional de blocos crustais foi
intracontinental. seguida pelo desenvolvimento de uma
margem do tipo andino e, finalmente, pela
colisão entre a Província Superior (placa
inferior) e as províncias Wyoming e Rae-
Hearne (placa superior).

Figura 10.5. Crátons arqueanos/paleoproterozóicos


e cinturões Brasilianos/Pan-Africanos na América
do Sul e África. Crátons: AM – Amazônico, CC –
Congo, LA – Luís Alves, SF – São Francisco, SL –
São Luís, WA – Oeste-Africano. Províncias
neoproterozóicas: A – Araguaia, BP – Borborema,
CA - Camarões, M – Mantigueira, N – Nigeria, T –
Tocantins.

O segundo grande período orogênico


proterozóico ocorreu entre 2,0 e 1,8 Ga.
Orogêneses nesse intervalo de idades são Figura 10.6. Evolução inferida para o orógeno
documentadas em todos os continentes, Wopmay, Canadá: (a, b) Colagem do terreno
recebendo denominações locais. Na América Hottah; (c) desenvolvimento de uma margem
continental ativa; (d) colagem do terreno Fort
do Sul, ele é representado pela Província
Simpson.
Ventuari-Tapajós, no sudoeste do cráton
Amazônico (Fig. 9.5). A ocorrência de Ao contrário dos exemplos acima,
associações petrotectônicas típicas e o estilo crescimento crustal significativo não ocorreu
estrutural/metamórfico dos orógenos melhor durante o desenvolvimento dos orógenos
estudados desse período evidenciam a Thelon, no Canadá (Fig. 10.2), e Capricórnio
atuação de processos de tectônica de placas e Paterson, na Austrália (Fig. 10.4). O
semelhantes aos atuais. Exemplos de primeiro é interpretado, por alguns, como um
orógenos interpretados como resultantes da orógeno colisional e, por outros, como um
colagem de arcos de ilhas e prismas de orógeno intracontinental. O Orógeno
acresção incluem o orógeno Wopmay (Fig. Capricórnio é atribuído à colisão oblíqua
10.6), no Canadá, o cinturão Ketilidiano, na entre os crátons Pilbara e Yilgarn, tendo sido
Groenlândia, e o orógeno sueco-finlandês retrabalhado durante uma orogênese
(Fig. 10.2). intracontinental ocorrida no final do
Talvez o melhor exemplo de um Paleoproterozóico (Orogenia Mongaroon).
orógeno colisional, similar em escala ao
131
arqueanos e cinturões paleoproterozóicos
norte-americanos e do norte da Eurásia são
chamados, respectivamente, Laurentia (ou
Laurência) e Báltica (Fig. 10.8).

Figura 10.7. Mapas esquemáticos ilustrando as


similaridades estruturais e de escala entre o
cinturão Trans-Hudsoniano e o sistema Himalaia-
Tibete. Figura 10.8. Mapa esquemático mostrando, em
verde, as áreas afetadas pela orogênese Grenville,
numa possível reconstituição do supercontinente
10.4.2. Mesoproterozóico Rodínia. Abreviações: AM – Amazônia; B –
Báltica; C-Sf – Congo/São Francisco; K –
Orogêneses ocorridas do final do Kalahari; NG – Norte China; S – Siberia; TxP –
Paleoproterozóico ao Mesoproterozóico Texas; WA – Oeste África.
médio podem ser importantes em um
determinado continente (como por exemplo,
no sudoeste da Amazônia (Fig. 9.5) e sudeste 10.4.3. Neoproterozóico
da América do Norte (Fig. 10.2)), mas não O quarto grande evento orogênico
constituem eventos de escala global. proterozóico, a orogênese Brasiliana/Pan-
O terceiro grande evento orogênico Africana, do final do Neoproterozóico, afetou
proterozóico é denominado, na América do grande parte dos continentes africano e sul
Norte, de orogênese Grenville. Ele culminou americano (Fig. 10.5). Embora seja
com uma série de colisões continentais entre dominante nos continentes do hemisfério sul,
1,2 e 1,0 Ga atrás, tendo afetado o sudoeste registros de uma tectônica do final do
do cráton Amazônico (Província Sunsás; Fig. Precambriano são, também, encontrados no
9.5), todo o leste da América do Norte (Fig. noroeste da Europa, onde é chamada
10.2), o centro e sul da África (orógenos orogênese Cadomiana.
Kibarano, Namaqua-Natal, Irumide; Fig. Muitos orógenos Brasilianos/Pan-
10.3) e partes da Austrália (orógenos Albany- africanos consistem, dominantemente, de
Fraser e Musgrave; Fig. 10.4) e do escudo rochas mais antigas retrabalhadas, como a
báltico (orógeno sueco-norueguês). O Província Borborema, no nordeste do Brasil,
sistema orogênico como um todo tem mais e as províncias Nigeriana e Camaronesa, no
de 10 000 km de comprimento (Fig. 10.8) e oeste da África. Uma evolução em ambiente
parte dele foi continuamente formado pela intracontinental tem sido proposta para
adição progressiva de orógenos alguns orógenos, enquanto em outros casos a
acrescionários entre 1,8 e 1,0 Ga. Os dois ocorrência de colisão continental é bem
grandes continentes formados pelos crátons documentada. Em outros casos, crescimento

132
continental por acresção de arcos juvenis (ou descartar) a existência do supercontinente
variou de importante, como nas províncias Colúmbia.
Tocantins, no Brasil central, e Hoggar, no (a)
norte da África, a dominante, como no
escudo Arábico, representando uma
contribuição significativa para o crescimento
da crosta continental.
As ocorrências mais antigas de xistos
azuis datam do Neoproterozóico e ofiolitos
também só se tornam abundantes a partir
dessa Era. A ausência de xistos azuis em
cinturões orogênicos paleo- a
mesoproterozóicos reflete, provavelmente, o
resfriamento secular da Terra. Antes de 1 Ga,
os gradientes geotérmicos em zonas de
subducção seriam ainda muito elevados para
estabilizar glaucofana. No entanto, é
possível, também, que a ausência de xistos
azuis e rochas de pressão ultra-alta reflitam,
em parte, problemas de preservação,
retrogressão durante exumação, ou alteração (b)
durante eventos metamórficos posteriores.

10.5. Reconstituições paleogeográficas


Dados paleomagnéticos e correlações
geológicas em diferentes continentes
sugerem aglutinação episódica de massas
continentais para formar alguns poucos ou
um único supercontinente. Além da possível
existência do supercontinente Kenorlândia
(final do Arqueano/início do
Paleoproterozóico), dois outros
supercontinentes foram propostos para o
Proterozóico. O mais antigo, denominado
Colúmbia (Fig. 10.9a), teria sido formado Figura 10.9. Reconstruções propostas para o
como resultado de eventos colisionais globais supercontinente Colúmbia.
ocorridos entre 2,1 e 1,8 Ga (Fig. 10.9b). É provável que outro supercontinente,
Na configuração proposta denominado Rodínia (Fig. 10.8), tenha sido
inicialmente (Fig. 10.9a), Colúmbia formado no final do Mesoproterozóico, em
consistiria de três grandes blocos: Ur, Ártica conseqüência da orogênese Grenville,
e Atlântica. Ur incluiria os crátons arqueanos embora não necessariamente englobando
sul-africanos, australianos, indianos e todas as massas continentais existentes na
antárticos; Ártica, os crátons arqueanos época. A configuração proposta
norte-americanos, groenlandês e siberiano; e originalmente é conhecida como SWEAT e
Atlântica, os crátons da América do Sul e do coloca o sudoeste (SW) da América do Norte
centro e noroeste da África. As evidências em contato com o leste da Antártica (EAT)
geológicas e paleomagnéticas não são (Figs. 10.8 e 10.10a). Outras reconstruções
suficientemente fortes, ainda, para avalizar de Rodínia receberam as denominações
AUSWUS (Fig. 10.10b) e AUSMEX (Fig.

133
10.10c). Na primeira, seria a Austrália Neoproterozóico, completamente distinta de
(AUS), e não a Antártica, que estaria ligada à Rodínia, é conhecida como Paleopangéia
margem oeste dos Estados Unidos (WUS). (Fig. 10.11). Nela, Laurentia e Báltica são
Na segunda, a Austrália estaria conectada à separados da Austrália-Antártica pelo
porção sudoeste de Laurentia, correspondente continente Atlântica.
ao México (MEX) atual.

Figura 10.11. Reconstrução do supercontinente


Paleopangéia.

Se a configuração de Rodínia é aceita,


evidências geológicas e paleomagnéticas
requerem sua fragmentação em torno de 750
Ma. A reunificação dos fragmentos no final
do Neoproterozóico, com exceção de
Laurentia/Báltica, teria sido responsável pelo
desenvolvimento dos cinturões orogênicos
Brasilianos/Pan-Africanos e a formação do
continente Gondwana (Fig. 10.12). No caso
do supercontinente Paleopangéia, os dados
paleomagnéticos são compatíveis com sua
persistência até o final do Neoproterozóico.
Se esta última interpretação for correta, os
cinturões orogênicos do Gondwana Oeste
seriam, dominantemente, intracontinentais
(Fig. 10.13).
Apesar de avanços recentes, os dados
paleomagnéticos, geológicos e
Figura 10.10. Diferentes reconstruções propostas geocronológicos ainda são insuficientes para
para o supercontinente Rodínia: (a) SWEAT; (b) reconstituir com segurança a paleogeografia
AUSWUS; (c) AUSMEX. Também mostrada a
curva de migração polar aparente para Laurentia.
dos continentes durante o Proterozóico. Com
respeito à história de amalgamação e
Uma reconstrução para a fragmentação da América de Sul e oeste da
configuração dos continentes no África, vários elementos sugerem que a

134
Amazônia Central e os crátons São retrabalhada durante o Brasiliano/Pan-
Francisco, Gongo e Oeste Africano uniram- Africano. Assim, por exemplo, o oceano
se, no Paleoproterozóico, para formar uma entre os crátons São Francisco/Congo e
massa continental única, (Fig. 10.9). Muitas Amazônia/Oeste África mostrado na Figura
reconstruções do supercontinente Rodínia 10.8 deixaria de existir, ou seria bem menor,
mostram, no entanto, os crátons Congo/São caso o embasamento das províncias
Francisco, Amazônico e Oeste Africano Borborema, da Nigéria e da República dos
separados por grandes oceanos há 1 Ga (p. Camarões fosse incluído na reconstituição.
ex., Fig. 10.12). Se esta dedução estiver
correta, isto significa que eles se separaram
no decorrer do Proterozóico e convergiram,
no final do Neoproterozóico, para se juntar
com a mesma configuração que tinham no
Paleoproterozóico, o que parece bastante
improvável. Igualmente controverso, é se o
cráton São Francisco/Congo fez (Fig. 10.8),
ou não (Fig. 10.12), parte de Rodínia.

Figura 10.13. Cenário proposto para a formação


das províncias Borborema, Nigéria e Camarões
(PBNC) por extensão e subseqüente compressão de
uma massa continental incluindo seu embasamento
e os crátons Amazônico (A), Oeste Africano (WA)
e São Francisco/Congo (SCC).

10.6. Magmatismo anorogênico


Uma feição proeminente do intervalo
Figura 10.12. Reconstruções mostrando um
cenário proposto para a formação do continente de tempo entre 1,9 e 1,2 Ga é o magmatismo
Gondwana. bimodal envolvendo granitos e anortositos.
Granitos rapakivi, caracterizados pela
Um problema com as diferentes presença de megacristais ovóides de
reconstruções de Rodínia é que elas não feldspato potássico, manteados por
incluem segmentos crustais consistindo de oligoclásio, são típicos dessa associação.
crosta de idade arqueana/paleoproterozóica Um dos exemplos mais antigos é o dos
135
granitos rapakivi no leste da Província similares à de CFBs. Fusão crustal causada
Amazônia Central, com idade de 1,88 Ga, por este magmatismo básico é outra
mas os mais estudados e volumosos são os da explicação para a produção de granitos
Finlândia, com idades entre 1,67-1,47 Ga. anorogênicos.
Em vários casos, foi demonstrado que essas
intrusões pós-datam, em dezenas ou centenas
de milhões de anos, o último evento
orogênico a afetar uma dada região. Este é o
caso da Amazônia e da Finlândia, onde os
granitos rapakivi intrudem, respectivamente,
rochas arqueanas (>2,8 Ga) e
paleoproterozóicas (> 1,75 Ga). Por isso, o
termo magmatismo anorogênico é,
freqüentemente, utilizado ao se referir aos
granitos rapakivi e rochas associadas. No
entanto, estudos realizados em outros locais
mostraram que alguns granitos interpretados
como anorogênicos foram intrudidos durante
eventos de deformação contracional e
metamorfismo regional, sugerindo que, em
Figura 10.14. Mapa esquemático mostrando a
alguns casos, o magmatismo intracratônico extensão do enxame de diques radiais Mckenzie
pode resultar do efeito de colisões (Canadá), com idade de 1270 Ma.
continentais distais.
A existência de um supercontinente
mesoproterozóico é, freqüentemente, 10.7. Superplumas e supercontinentes
sugerida como a causa do abundante A relação entre a formação e
magmatismo anorogênico que caracteriza fragmentação de supercontinentes,
esta Era. Modelos numéricos sugerem que o aquecimento do manto, e eventos de
isolamento térmico do manto, resultante da superplumas são tópicos bastante debatidos
formação de mega/supercontinentes, pode atualmente.
provocar um aumento de temperatura de até Eventos de superplumas têm sido
100ºC. Isto é suficiente para promover fusão correlacionados com a descida catastrófica de
parcial do manto e, subseqüentemente, da placas oceânicas, acumuladas na
crosta. O efeito isolante de supercontinentes descontinuidade de 660 km, para o manto
deve ter sido mais acentuado no passado, inferior (Fig. 9.11). Para alguns, rápido
quando o fluxo térmico do manto era mais crescimento continental e aglutinação
elevado. supercontinental seriam conseqüências desse
Magmatismo intracontinental também processo. O desenvolvimento de depressões
pode resultar da ascensão de plumas do no manto superior, imediatamente acima das
manto inferior. No Fanerozóico, este avalanches, atrairia fragmentos da litosfera
magmatismo é dominado por derrames continental, levando à formação de um
continentais de platô (CFBs; Cap. 5). Devido supercontinente. Devido à produção de
à atuação de processos erosivos, CFBs numerosos platôs oceânicos, difíceis de
extensos são pouco comuns no Proterozóico, serem subduzidos, volumes consideráveis de
mas o magmatismo relacionado a plumas material juvenil seriam, assim, adicionados à
pode ser reconhecido pela presença de crosta. No entanto, para outros, avalanches
enxames de diques máficos (Fig. 10.14) e por mantélicas ocorreriam após a formação de
sills e intrusões acamadadas que apresentem um supercontinente. A subida subseqüente de
características petrológicas e geoquímicas superplumas levaria, eventualmente, à sua

136
fragmentação. Finalmente, para outros, Ernst, R.E., Buchan, K.L., 2003. Recognizing mantle
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138
11. Cinturões Orogênicos Fanerozóicos e o Supercontinente
Pangéia

11.1. Introdução América do Norte (Fig. 11.2). Laurentia e


Reconstruções paleogeográficas, Báltica incluíam, respectivamente, a América
obtidas a partir do padrão de idades do do Norte, Groenlândia, Irlanda e noroeste da
assoalho oceânico (Fig. 4.21), permitem Escócia, e a Escandinávia, Rússia Européia e
recompor com precisão considerável a Polônia.
seqüência de eventos que levaram à O oceano separando Laurência de
formação dos cinturões orogênicos meso- Gondwana e Báltica é denominado Iapetus e
cenozóicos. O método consiste na remoção o oceano menor entre Gondwana e Báltica,
sucessiva de faixas da crosta oceânica, Mar de Tornquist.
formadas num mesmo intervalo de tempo, de
tal maneira que a configuração pretérita dos
continentes pode ser reconstituída. Quando
toda crosta oceânica é removida, os
continentes são reunidos em uma
configuração única, o supercontinente
Pangéia.
Embora o método acima não possa
ser empregado para o Paleozóico, o conjunto
de dados paleomagnéticos, geológicos e
paleontológicos para esta Era é
suficientemente elevado para permitir
reconstruções paleogeográficas bem mais
precisas do que para o Precambriano. Os
resultados são consistentes com a
convergência contínua dos continentes e a
aglutinação do Pangéia, a partir de colisões
continentais sucessivas. Assim, a história
geológica do Fanerozóico é dominada pela
formação e subseqüente fragmentação do
supercontinente Pangéia.

11.2. Reconstruções paleogeográficas para


o Paleozóico
Existiam quatro grandes massas
continentais no início do Paleozóico (Fig.
11.1): Gondwana, Laurentia, Báltica e
Sibéria. Gondwana englobava a maior parte
das massas continentais e, assim, pode ser
considerado um supercontinente. Ele Figura 11.1. Reconstruções paleogeográficas para
continha a América do Sul, África, Arábia, o Paleozóico. B – Báltica; G – Gondwana; L –
Madagascar, Antártica, Índia e Austrália, Laurentia; S – Sibéria.
bem como fragmentos menores que,
atualmente, fazem parte da Europa, Ásia e O movimento das placas no
Paleozóico foi caracterizado pela
139
convergência contínua entre as diferentes Sibéria e o complexo de arcos de ilhas do
massas continentais existentes (Figs. 11.1 e Cazaquistão começaram a coalescer e os
11.2). No final do Ordoviciano ou início do continentes que, agora, constituem o norte e
Siluriano, Báltica e Laurência colidiriam. O o sul da China se separaram de Gondwana e
continente resultante desta junção é, às vezes, migraram para o norte. Do Carbonífero
chamado de Laurússia. No final do médio até o inicio do Permiano (320-280
Devoniano (cerca de 360 Ma), por sua vez, a Ma) a consolidação do Pangéia foi
América do Norte e a América do Sul se completada pelas colisões de Sibéria com
chocaram. A bacia oceânica entre a Europa e Laurússia e do norte e sul da China com o
o norte da África já tinha praticamente Cazaquistão. O oceano reentrante entre a
desaparecido nesta época. Durante o porção norte de Pangéia (Laurússia) e
Carbonífero Inferior (cerca de 340 Ma), Gondwana é chamado Paleo-Tethys.

Figura 11.2. Reconstruções paleozóicas mostrando a separação das microplacas Armorica (laranja), Avalonia
(roxo) e norte e sul da China do supercontinente Gondwana e a posterior incorporação de Armorica e Avalonia à
Europa e América do Norte, respectivamente. Notar que a Ibéria (IB.), França (Fr), Turquia (TURK), Irã
(IRAN) e Tibete (LHASA, QIANTANG) eram também parte de Gondwana. Azul escuro: arcos de ilhas.

140
11.3. Cinturões orogênicos paleozóicos Apalaches continuou até o fechamento da
11.3.1. Orógenos colisionais bacia oceânica entre Laurência e Gondwana,
Durante todo Paleozóico, o produzindo a Orogênese Alleghaniana do
supercontinente Gondwana permaneceu Carbonífero Superior/Permiano (Fig. 11.2).
praticamente intacto (Figs. 11.1 e 11.2). O final dessa orogênese foi caracterizado
Assim, os principais cinturões orogênicos pelo desenvolvimento de grandes zonas de
colisionais desta era estão presentes nos cisalhamento transcorrentes dextrais
continentes norte-americano e euro-asiático. paralelas à direção do cinturão.
Os principais são o cinturão Caledoniano-
Apalachiano, que se estende da Escandinávia
até o México (Fig. 11.3); o cinturão
Herciniano (ou Variscano), no sudeste da
Europa e noroeste da África (Fig. 11.3); e o
cinturão Uraliano, entre a Europa e a Ásia.

Figura 11.3. Mapa esquemático mostrando as


áreas afetadas pelas orogêneses caledoniana e
herciniana numa reconstituição do Pangéia.
Abreviações geográficas: Esc – Escandinávia; Fr –
França; GB – Grã-Bretanha; Gr – Groenlândia; Ib
– Ibéria; Ir –Irlanda.

A formação do cinturão Caledoniano-


Apalachiano resultou do fechamento do
oceano Iapetus e da colisão entre os
continentes Laurência, Báltica e Avalonia
(Fig. 11.2), envolvendo vários eventos de
acresção e colisão entre o Cambriano e o
Siluriano. Um modelo para o ciclo orogênico Figura 11.4. Modelo para a formação do cinturão
caledoniano na Escandinávia. A-B: colisão arco-
caledoniano na Escandinávia é mostrado na microcontinente; C-D: acresção do terreno
Figura 11.4. A colisão final entre Báltica e composto à Báltica; E: colisão final entre Báltica e
Laurentia (Fig. 11.4E) foi aproximadamente Laurentia.
contemporânea com a acresção de Avalonia à
América do Norte, durante a orogênese A orogênese Alleghaniana foi coeva
Acadiana (Fig. 11.2). A evolução dos com a orogênese herciniana, a qual resultou
141
da amalgamação de microplacas entre das zonas de sutura remanescentes dos
Laurússia e África no Devoniano e oceanos Rheic e Proto-Tethys (Fig. 11.5). A
Carbonífero, com o fechamento de dois continuação da convergência entre
oceanos: proto-Tethys (ou Maciço Central), Gondwana e Laurússia resultou na produção
no sul, e Rheic, no norte (Fig. 11.2). Estes de grandes zonas de cisalhamento
oceanos provavelmente não foram muito transcorrentes e no contínuo espessamento
largos porque arcos vulcânicos bem crustal. Isto culminou com o colapso
desenvolvidos não são documentados. extensional do orógeno, levando à formação
Granitos colisionais indicam que o de bacias intracontinentais e complexos de
fechamento das bacias oceânicas ocorreu núcleo metamórfico, intrusão de granitos
antes de 350 Ma. O orógeno tem uma pós-colisionais, e metamorfismo de baixa
simetria bilateral, com empurrões dirigidos pressão/alta temperatura.
para o norte e sul, respectivamente, a partir

Figura 11.5. (a) Mapa esquemático mostrando, em cinza, o embasamento herciniano na Península Ibérica e
França. (b, c) Perfis esquemáticos através da Ibéria (b) e França (c). Nappes ofiolíticas e suturas são mostradas
em negro; abreviações correspondem às principais zonas de cisalhamento transcorrentes, com o sentido de
movimento indicado com os símbolos convencionais.

O último passo na formação do entre a Europa e a Ásia. Os Urais apresentam


Pangéia foi o fechamento dos oceanos entre como principais feições geológicas: (a) a
Sibéria, Cazaquistão e Báltica para produzir existência de uma faixa estreita ao longo do
o supercontinente Laurásia. Os Urais foram eixo da cadeia, com 2000 km de
produzidos em conseqüência. A cadeia de comprimento, de rochas metamórficas de alta
montanhas resultante da orogênese uraliana, pressão/baixa temperatura, marcando a
com 3000 km de comprimento na direção N- sutura; (b) um grande número de maciços
S e 400-450 km de largura, ainda tem ofiolíticos e fatias de rochas ultramáficas,
expressão fisiográfica significativa no indicando o consumo de litosfera oceânica;
presente e é utilizada como limite geográfico (c) a presença de complexos de arcos de

142
ilhas. Ao contrário do cinturão herciniano, definidos). Embora rochas de alta pressão e
colapso extensional é restrito, de tal maneira ofiolitos sejam encontradas localmente, este
que raízes crustais com até 60 km de orógeno é distinto dos orógenos
profundidade são localmente preservadas. acrescionários clássicos, onde terrenos
alóctones são claramente delimitados por
11.3.2. Orógenos relacionados a zonas de suturas. As principais feições do orógeno são
subducção a predominância de turbiditos e
Com exceção do norte da África, metavulcânicas máficas, típicas de sucessões
Gondwana não foi afetado pelas colisões oceânicas, e o grande volume de granitos,
continentais que levaram à formação do sem uma distribuição de idades uniforme. Os
Pangéia. Dessa forma, orogêneses modelos mais recentes propõem um ambiente
paleozóicas não apresentam um estágio associado com uma grande bacia oceânica
colisional final. O termo Australides (ou marginal, desenvolvida em crosta continental
Terra Australis) é usado para se referir atenuada (tipo Mar do Japão) ou em crosta
coletivamente à região afetada por eventos oceânica (tipo Mar das Filipinas). Neste
orogênicos paleozóicos na periferia do último caso, talvez com múltiplas zonas de
Gondwana (Fig. 11.6). Embora claramente subducção menores internas (Fig. 11.7).
relacionados com subducção, ainda existem
muitas controvérsias sobre como estes
orógenos se formaram.

Figura 11.7. Dois cenários propostos para a origem


do Orógeno Lachlan. (a) Bacia marginal com
zonas de extensão e compressão. (b) Bacia
marginal com zonas de subducção menores
internas.

O Cinturão Orogênico Centro-


Figura 11.6. Regiões do supercontinente Asiático, igualmente chamado de Altaides,
Gondwana afetadas por orogêneses paleozóicas localizado entre o cráton Siberiano e os
relacionadas com subducção. crátons Tarim e Norte da China (Fig. 11.8), é
um enorme orógeno acrescionário
No caso da margem oeste da América paleozóico. Sua largura atinge 800 km e os
do Sul, uma corrente considera que ela componentes tectônicos maiores incluem
constituía uma margem continental ativa, ofiolitos, arcos de ilhas, prismas de acresção,
episodicamente sujeita a períodos orogênicos ilhas oceânicas e microcontinentes. Estima-se
do tipo andino. Outra corrente interpreta o que, pelo menos, 50% do orógeno seja
embasamento paleozóico como um mosaico constituído por rochas juvenis.
de terrenos acrescionários. A evolução do
Orógeno Tasmânio (ou Tasmanides), que 11.3.3. Orógenos intracontinentais
corresponde a um terço do território da Em adição aos eventos orogênicos
Austrália (Fig. 11.6), também é bastante relacionados com subducção ao longo de sua
discutida, particularmente da porção melhor margem leste, a Austrália também sofreu
exposta e conhecida, o Orógeno Lachlan dois importantes episódios de deformação
(onde os granitos tipos I e S foram intracontinental no Paleozóico. O mais

143
antigo, a orogênese Petermann, ocorreu entre último e a abertura do oceano Tethys (Fig.
o final do Neoproterozóico (~560 Ma) e o 11.9).
início do Paleozóico (~520 Ma), e o mais A história subseqüente à formação do
jovem, a orogênese Alice Springs, no supercontinente Pangéia é marcada pela sua
Carbonífero (~360-300 Ma). Na América do progressiva desintegração, a partir do início
Norte, as Montanhas Rochosas Ancestrais do Jurássico, e a colisão dos fragmentos
foram formadas em resposta à colisão resultantes para gerar cinturões orogênicos
Laurentia-Gondwana. colisionais cenozóicos. No Cretáceo, o
oceano Atlântico já estava formado e a Índia
tinha se separado de Madagascar, mas a
América do Norte e a Eurásia, bem como a
Austrália e a Antártica, ainda estavam unidas
(Fig. 11.10). Há cerca de 55 Ma a Índia
colidiu com a Ásia para formar o Himalaia, a
Austrália se separou da Antártica, e a
América do Norte e a Groenlândia se
separaram da Europa (Fig. 11.10). Os
eventos de rifteamento mais recentes
ocorreram nos últimos 20 Ma: a abertura do
Mar Vermelho, do Golfo de Aden e o
desenvolvimento do sistema de riftes do leste
da África (Fig. 6.2); a abertura do Mar do
Japão; e a formação do Golfo da Califórnia.

11.5. Cinturões orogênicos mesozóicos


Figura 11.8. Mapa esquemático mostrando a área 11.5.1. Orógenos colisionais
afetada pela orogênese centro-asiática (Altaides). Durante o Mesozóico, a acresção de
continentes derivados de Gondwana para a
margem ativa da Eurásia produziu uma série
11.4. Reconstruções paleogeográficas para
de cinturões orogênicos colisionais. De norte
o Meso-Cenozóico
para sul, os principais blocos crustais no
Devido à convergência continental
Tibete são os terrenos Kunlun, Songpan-
ocorrida durante o Paleozóico, todos os
Ganzi, Qiangtang e Lhasa, com as suturas
continentes estavam estreitamente agrupados
entre eles marcadas por ocorrências de
no final do Carbonífero. Enquanto a margem
ofiolitos (Fig. 11.11). Na China, a colisão
sul do Gondwana esteve sujeita a processos
entre os blocos Norte da China (ou Sino-
de subducção (Fig. 11.7), rifteamento
Coreano) e Yangtze (ou Sul da China)
dominou na margem nordeste (Fig. 11.9). A
produziu o Cinturão Orogênico Central da
separação de vários microcontinentes, que
China, subdividido, de oeste para leste, nos
atualmente constituem a China, o Tibete, o
orógenos Qinling, Dabie e Sulu,
sudeste asiático, o Irã e Turquia (Fig. 11.9),
caracterizados pela ocorrência freqüente de
levou ao crescimento continuado de Laurásia
rochas de pressão ultra-alta.
durante o final do Paleozóico e o início do
Mesozóico. O oceano global circundando o
11.5.2. Orógenos relacionados a zonas de
supercontinente Pangéia é chamado
subducção
Pantalassa e seu ramo entre Laurásia e os
O Cinturão Cordilheirano (Fig. 11.12)
continentes cimerianos de Paleo-Tethys. A
representa o orógeno de acresção clássico,
migração para norte dos continentes
tendo sido o primeiro a ser interpretado como
cimerianos ocasionou o fechamento desse
resultante da colagem de terrenos exóticos. A

144
maioria dos terrenos foi adicionada à oceânica obduzida, arcos de ilhas, platôs
margem oeste da América do Norte entre o oceânicos, plataformas carbonáticas
Jurássico e o Cretáceo Médio. A geologia oceânicas, prisma de acresção e fragmentos
dos terrenos é muito variada, incluindo crosta continentais (Fig. 11.12).

Figura 11.9. Reconstruções paleogeográficas para o supercontinente Pangéia no Triássico (237 Ma) e início do
Jurássico (195 Ma). Notar a separação dos continentes cimerianos (Cimeria: Turquia, Irã e Tibete) e sua
incorporação à Laurásia, com o conseqüente fechamento do oceano Paleo-Tethys.

Vários episódios orogênicos, com convergência das placas. Grandes volumes


idades variando do final do Permiano ao de magmas cálcio-alcalinos foram intrudidos
início do Cenozóico, são reconhecidos no continuamente durante o Mesozóico, mas
cinturão Cordilheirano. Eles são associados com picos de produção em torno de 160 e 90
com períodos principais de acresção ou com Ma. Como resultado, imensos batólitos
mudanças na direção ou velocidade de graníticos foram formados, estendendo-se, ao

145
longo da costa, da Califórnia até ao Canadá. Peninsular Ranges (Fig. 11.12). Granitos
Eles são agrupados em quatro grandes peraluminosos formados por fusão parcial do
cinturões batolíticos, denominados, de norte embasamento são também abundantes mais
para sul: Costeiro, Idaho, Sierra Nevada e para o interior do continente.

Figura 11.10. Reconstruções paleogeográficas para o Cretáceo superior e Cenozóico inferior, mostrando a
fragmentação do supercontinente Pangéia, o fechamento do Mar de Tethys e a abertura do Atlântico.

Enquanto magmatismo de arco e principal expressão fisiográfica da orogênese


encurtamento continuou ininterruptamente Laramide são as Montanhas Rochosas (Fig.
nas porções norte e sul do cinturão 11.12), cuja característica estrutural mais
Cordilheirano, a orogênese Laramide (80-50 marcante é a formação de grandes falhas
Ma), no oeste dos Estados Unidos, ocorreu a reversas, com vergência para oeste, numa
mais de 1000 km da fossa. Isto é, geralmente, tectônica pelicular espessa (Fig. 7.6). Mais
atribuído à subducção suborizontal da placa ou menos da mesma idade que a orogênese
Farallon neste segmento, (Fig. 11.13). A Laramide, a orogênese Sevier, mais a oeste,
146
envolveu apenas a cobertura sedimentar, numa tectônica pelicular delgada.

Figura 11.11. (a, b) Mapas esquemáticos mostrando: (a) as principais unidades geológicas no leste da Ásia
(OCA – Orógeno Centro-Asiático, OCC – Orógeno Central da China; CCN e CCS – Crátons Norte e Sul da
China; TIB – Tibete, HIM – Himalaia); (b) os terrenos maiores no Tibete e as suturas entre eles. (c) Evolução
proposta para os terrenos tibetanos durante o Mesozóico inferior.

11.5.3. Orógenos intracontinentais


Efeitos distais das diferentes colisões
mesozóicas na Ásia são registrados nas
montanhas Tian Shan e Altai, porém o
principal orógeno intracontinental
mesozóico, com 1300 km de largura é o
cinturão Huanan, no sul da China. Como no
caso da orogênese Laramide, a formação do
orógeno Huanan é atribuída a processos de
subducção rasa, mas, em contraste com este
último, a área afetada e a intensidade dos
processos tectônicos foram bem maiores.

11.6. Cinturões orogênicos cenozóicos


11.6.1. Orógenos colisionais
O principal cinturão colisional do
Cenozóico é o Himalaia, produzido pela
colisão entre a Índia e a Ásia. Para oeste dele,
uma série de outras colisões continentais
formou as cadeias de montanhas Zagros
(Arábia com Irã), Dinarides e Helenides
Figura 11.12. Mapa esquemático mostrando as
principais feições geológicas do oeste da América
(Grécia e Turquia com os Bálcãs), e Alpes
do Norte. (Itália com França e Suíça). Embora
deformação continue até o presente, acredita-

147
se que estes orógenos estão no estágio final leste do Himalaia, e de um arco insular
de sua evolução. (Kohistan-Ladakh), no oeste, e foi marcado
pela intrusão de batólitos cálcio-alcalinos
cretácicos e paleocênicos.

Figura 11.14. Mapa (a) e perfil (b) esquemáticos


mostrando as principais estruturas no Himalaia e
Tibete.

A sutura entre a placa Indiana e a


Ásia (Indus-Zangbo, também chamada
Yarlung-Zangbo; Fig. 11.11) é marcada por
uma zona de empurrão (Main Mantle Thrust,
MMT; Fig. 11.14) contendo faixas de
ofiolitos, melanges ofiolíticas, glaucofana
xistos e eclogitos. Ao sul do MMT, rochas da
margem norte da placa Indiana foram
empurradas para o sul, metamorfisadas e
intrudidas por leucogranitos. O Main Central
Thrust (MCT) separa as seqüências de alto
grau do Alto Himalaia das rochas de mais
baixo grau ou não metamórficas do Baixo
Himalaia (Fig. 11.14). Extensão ao longo do
Figura 11.13. Reconstituição do movimento das South Tibetan Detachment (STD) ocorreu
placas tectônicas no nordeste do Pacífico durante o simultaneamente com deslocamento no
Cretáceo. H, Y – Hotspots Hawaii e Yellowstone.
MCF. O Main Boundary Thrust (MBT)
coloca as rochas do Baixo Himalaia sobre
11.6.1.1. O Sistema Himalaia-Tibete sedimentos cenozóicos não deformados.
O Himalaia foi formado como Deformação continua progredindo para o sul,
resultado da separação da Índia da Austrália no presente.
e Madagascar há 80-90 Ma, e de sua colisão Apesar da formação do Platô
com o Tibete entre 55 e 45 Ma (Fig. 11.10). Tibetano estar relacionada à convergência
O período pré-colisional resultou de contínua entre a Índia e a Ásia, ainda é
subducção da litosfera oceânica, ao longo de bastante debatido quando e como ele se
uma margem continental ativa, no centro- formou. A principal feição do Platô Tibetano

148
é a ausência de gradientes topográficos para as falhas seria insuficiente para explicar
internos, a despeito de sua elevada altitude o escape dos blocos.
(em torno de 5000 m). Isto tem sido atribuído As falhas normais de direção N-S
a vários mecanismos, alguns dos quais são (Fig. 11.14a), indicativas de extensão leste-
excludentes (ver Figs. 7.13 e 7.14): oeste, que caracterizam o regime tectônico
espessamento crustal homogêneo resultante atual no Platô Tibetano, começaram a se
de encurtamento norte-sul; mergulho desenvolver apenas nos últimos 2 Ma.
suborizontal da crosta inferior da Índia sob a
Ásia; fluxo dúctil da crosta inferior; remoção 11.6.1.2. O Cinturão Alpino
convectiva da litosfera. No sentido restrito, os Alpes são uma
cadeia de montanhas que se estende da
Áustria até o leste da França. No entanto, a
orogênese Alpina compreende uma área que
se estende da Espanha e noroeste da África
até o Oriente Médio (isto é, dos Pirineus até
as montanhas Zagros; Fig. 11.16). Embora os
Alpes sejam a cadeia de montanhas melhor
conhecida do mundo, aspectos de sua
evolução tectônica ainda são debatidos
devido à grande complexidade geológica.

Figura 11.15. Modelo de escape tectônico para o


sudeste asiático causado pelo deslocamento do
Tibete para leste.

O papel das grandes falhas


transcorrentes que limitam ou cortam o Platô
Tibetano (Fig. 11.14a) também é debatido.
Alguns autores propõem que a penetração da
Índia na Ásia foi, em parte, compensada pelo
transporte lateral de blocos ao longo dessas
falhas. Isto teria causado o deslocamento do
Tibete para leste e da Indochina para sudeste Figura 11.16. Mapa esquemático mostrando as
cadeias de montanhas resultantes da convergência
(Fig. 11.15). Outros autores questionam esse entre as placas afro/arábica e eurasiática.
modelo, porque o deslocamento estimado

Figura 11.17. Perfil esquemático através dos Alpes suíços.

149
A orogênese Alpina resultou da a província Basin-and-Range e o Rifte Rio
colisão de microplacas derivadas da África Grande, uma região elevada, o Plateau do
(Apulia ou Adriática, Turquia, Irã) com Colorado (Fig. 11.12), exibe rochas
Eurásia. Os Alpes propriamente ditos foram precambrianas, capeadas por rochas
formados pelo fechamento do oceano vulcânicas, sem deformação interna
piemontês (nome local do Mar de Tethys) cenozóica significativa.
entre Apulia (placa superior) e Europa (placa
inferior), 45 Ma atrás. O soerguimento da
cadeia começou há cerca de 30 Ma e o
movimento da placa Adriática para o norte
ainda continua no presente. Empurrões e
nappes dirigidos para o norte foram
sucedidos por retro-empurrões nos estágios
avançados da colisão, dando origem à
simetria bilateral do orógeno (Fig. 11.17).
À medida que o oceano piemontês era
fechado, o mar Mediterrâneo era aberto. No
presente, a litosfera oceânica formada faz
parte da placa Africana e está sendo
subduzida abaixo dos arcos calabrês,
helênico e cipriota (Fig. 11.16).

11.6.2. Orógenos relacionados a zonas de


subducção
11.6.2.1. Cinturão Cordilheirano
Deformação contracional relacionada
à orogênese Laramide continuou nas
Montanhas Rochosas até cerca de 40 Ma
atrás, quando, aparentemente, o ângulo de
subducção da placa Farallon tornou-se mais
empinado. A transformação da zona de
subducção na falha transformante de San
Andreas começou há cerca de 30 Ma, quando
a placa Norte Americana cavalgou a dorsal
oceânica entre as placas Pacífico e Farallon,
causando a segmentação desta última nas
placas Juan de Fuca, ao norte, e Cocos, ao sul
(Figs. 11.12 e 11.18).
O desenvolvimento da Falha de San
Andreas ocorreu concomitantemente com
colapso orogênico. Em conseqüência, uma
ampla zona de extensão continental, Figura 11.18. Reconstituição do movimento das
placas tectônicas no nordeste do Pacífico durante
caracterizada por numerosos complexos de o Cenozóico. H, Y – Hotspots Hawaii e
núcleo metamórfico e magmatismo pós- Yellowstone.
orogênico, produziu a província Basin-and-
Range (Fig. 11.12). Em contraste, extensão Em adição ao magmatismo resultante
ao longo do Rifte Rio Grande, mais a leste, é de processos tectônicos, vulcanismo terciário
simétrica, indicando rifteamento intenso no parque Yellowstone é atribuído à
essencialmente por cisalhamento puro. Entre

150
passagem da placa Norte Americana sobre da placa Caribenha da placa de Farallon.
um hotspot (Fig. 11.18). Atualmente, o norte dos
Andes está acomodando deformação
11.6.2.2. Os Andes associada com subducção para SE da placa
O soerguimento da Cordilheira Caribenha abaixo do noroeste da Colômbia e
Andina acima do nível do mar começou a a subducção para leste da placa Nazca na
menos de 30 Ma. Ele resultou, margem oeste.
dominantemente, do espessamento crustal
produzido pelo encurtamento horizontal da
litosfera da placa Sul Americana, estimando-
se que a adição de magmas contribuiu com
menos de 10%. O espessamento crustal é,
geralmente, atribuído ao aumento na
velocidade de convergência entre as placas
Nazca e Sul Americana, mas pode resultar,
também, de uma diminuição no aporte de
sedimentos para a fossa, resultando em um
aumento dos esforços cisalhantes entre as
placas superior e inferior.
As maiores elevações são encontradas
nos Andes Centrais e correlacionam-se com
o local onde o segmento da placa de Nazca
tem um mergulho de cerca de 30º (Fig.
11.19). O platô Altiplano/Puna, com altitude
média de 4 km e 350-400 km de largura, é o
segundo maior platô orogênico do mundo.
Ao norte e ao sul desse platô, os Andes
estreitam-se consideravelmente e a placa
subductante torna-se quase horizontal. Nestes
locais de subducção rasa, vulcanismo está
ausente e uma tectônica pelicular espessa
(estilo Laramide) é observada nos pampas
argentinos entre as latitudes de 28º e 33ºS. O
encurvamento oroclinal dos Andes Centrais,
conhecido como Oroclínio Boliviano, pode
refletir o formato original da margem
continental, encurtamento longitudinal
variável (sendo maior na região dos platôs Figura 11.19. Mapa esquemático mostrando o
Altiplano e Puna), ou ambas as vulcanismo nos Andes e a forma da placa
possibilidades. subductante abaixo da América do Sul.
O norte dos Andes é uma região
complexa, refletindo interações entre as Os Andes ao sul da junção tríplice
placas Farallon/Cocos, Nazca, Caribenha e entre as placas Nazca, Sul-Americana e
Sul Americana. A formação da placa Antártica (Fig. 11.19) desenvolveram-se
Caribenha é atribuída à passagem da placa como resultado do soerguimento associado
Farallon sobre o hotspot Galápagos. O início com a colisão entre a dorsal oceânica e a
de subducção da crosta oceânica antiga do fossa. A zona vulcânica é caracterizada pela
oceano Atlântico, abaixo do espesso platô presença de magmas adakíticos, interpretados
oceânico produzido, levou à individualização

151
como fusão parcial de crosta oceânica originalmente, da margem norte do
subduzida. continente Australiano, começou a colidir
com um arco de ilhas há cerca de 20 Ma e a
convergência continua no presente (Fig.
11.20). Eventualmente, os arcos de ilhas e
bacias marginais presentes entre a Austrália e
a Ásia serão consumidos e/ou incorporados a
um cinturão orogênico comparável em
dimensão ao orógeno centro-asiático.

11.6.3. Orógenos intracontinentais


Os principais exemplos de orógenos
intracontinetnais cenozóicos são as cadeias
de montanhas Tien Shan, Altai e Gobi-Altai,
na Ásia (Fig. 7.2b), e os Pirineus, entre a
França e a Espanha. Nos três primeiros casos,
orogênese está ocorrendo a distâncias
superiores a 1000 km da sutura Índia-Ásia,
sendo atribuída à transmissão de esforços
resultantes dessa colisão. As montanhas Tien
Shan são um cinturão de cavalgamentos com
vergência para sul e as montanhas Altai e
Gobi-Altai constituem um orógeno
transpressivo. Os Pirineus, por sua vez,
resultaram da inversão de um rifte
extensional/transtracional, desenvolvido
durante a quebra do Pangéia, induzida pela
convergência entre a África e a Europa.

11.7. O futuro
Mantidas as atuais direções e
velocidades relativas entre as diferentes
placas tectônicas, é relativamente simples
prever a configuração dos continentes nos
Figura 11.20. Mapa esquemático ilustrando o
deslocamento da Austrália para o norte nos últimos próximos 10-20 Ma. Algumas deduções em
25 Ma. Em cinza escuro é mostrada a plataforma ambientes divergentes, convergentes e
continental. PPG - Papua/Nova Guiné. transformantes, respectivamente, incluem:
(1) a continuação da expansão do oceano
Atlântico e a individualização da placa
11.6.2.3. SE Asiático e Austrália Somaliana, com a formação de assoalho
O cinturão acrescionário/colisional oceânico ao longo do sistema de riftes do
mais jovem de todos está sendo formado pela leste da África (Figs 4.5 e 6.2); (2) a
convergência entre a Austrália, as Filiianas e continuação do movimento para o norte das
o arquipélago Indonésio (Fig. 11.20). A placas Índica e Australiana; (3) a separação
Austrália tem se movido para o norte da Baixa Califórnia do continente Norte
continuamente nos últimos 45 Ma, embora a Americano, resultante do deslocamento ao
uma velocidade bem menor que a da Índia, longo da Falha San Andreas (Fig. 11.12), e
talvez por ter uma litosfera mais espessa. A sua eventual colisão com o arco das Aleutas.
Papua/Nova Guiné, que fazia parte,

152
Cenários plausíveis ainda podem ser os lados), eventualmente levando ao seu
projetados 50 Ma no futuro. Assim, é fechamento. No primeiro caso, as Américas
provável que o oceano Atlântico ainda esteja acabarião colidindo com o leste da Ásia (Fig.
em expansão nesta época e que os mares 11.21a). O possível supercontinente formado
Vermelho e Mediterrâneo tenham sido pela amálgama das placas Eurasiática,
fechados pela colisão da África com a Arábia Australiana e Norte e Sul Americanas é
e a Europa, respectivamente. Para períodos denominado Amásia (América+Ásia). Na
de tempo mais longos, as incertezas segunda situação, a América do Norte
aumentam consideravelmente. Especulações colidiria com a África, enquanto o sul da
sobre a geometria futura dos continentes América do Sul (Patagônia) entraria em
divergem, principalmente, sobre o destino do contato com a Indonésia, envolvendo o
oceano Atlântico, isto é, se as atuais margens oceano remanescente do oceano Índico (Fig.
passivas persistirão como tal ou se zonas de 11.21b). O supercontinente assim formado é
subducção irão se formar (de um ou ambos chamado Pangea Ultima.

Figura 11.21. Configurações hipotéticas propostas para as massas continentais 250 Ma no futuro. (a) Amásia. (b)
Pangea Ultima.

Accretionary complex structure and kinematics


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Figura 7.3b: Modificada de Dilek, Y., Furnes, H., Shallo, M., 2007. Suprasubduction zone ophiolite formation
along the periphery of Mesozoic Gondwana. Gondwana Research 11, 453-475.
Figura 7.6: Baseada em Ramos, V.A., Cristallini, E.O. and Pérez, D.J., 2002. The Pampean flat-slab of the Central
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Figuras 7.7, 7.9: Fig. 19.24 de Van der Pluijm, B.A., Marshak, S., 2005. Earth Structure, 2ª Ed., Norton.
Figura 7.9: Robl, J., Stüwe, K., 2005. Continental collision with finite indenter strength: 1. Concept and model
formulation. Tectonics 24, doi: 10.1029/2004TC001727.
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Figuras 7.12b, 7.12c: Cook, F.A., van der Velden, A.J., Hall, K.W. and Roberts, B.J., 1998. Tectonic delamination
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and mechanical consequences. American Journal of Science 294, 307-336.
Figura 7.20: Gilbert, H., Jones, C., Owens, T.J., Zandt, G., 2007. Imaging Sierra Nevada lithospheric sinking. Eos
88, 225-229.
Figura 7.23: Modificado de Guo, Z., Wilson, M., Liu, J., 2007. Post-collisional adakites in south Tibet: products of
partial melting of subduction-modified lower crust. Lithos 96, 205-224.
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basalt with metamorphic rocks. Journal of Geophysical Research 100, 15623-15639.

Capítulo 8
Figura 8.1: http://www.cas.usf.edu/~jryan/meteorites.html
Figura 8.3: Geochemistry of Igneous Rocks (http://www.geokem.com/)
Figura 8.4: Modificado de Rubie, D.C., Melosh, H.J., Reid, J.E., Liebske, C., Righter, K., 2003. Mechanisms of
metal–silicate equilibration in the terrestrial magma ocean Earth and Planetary Science Letters 205, 239-255.
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formation. Nature 412, 708-712. Reproduzida com permissão da Nature Publishing Group.
Figura 8.6:. Taylor, G., 1989. The outgassing history of the Earth’s atmosphere. Journal of the Geological Sociuety,
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159
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Figura 8.8:. Kump, L.R., 2008. The rise of atmospheric oxygen. Nature 451, 277-278. Reproduzida com permissão
da Nature Publishing Group.
Figura 8.10: Trail, D., Mojzsis, S.J., Harrison, T.M., Schmitt, A.K., Watson, E.B., Young, E.D., 2007. Constraints
on Hadean zircon protoliths from oxygen isotopes, Ti-thermometry, and rare earth elements. Geochemistry,
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Figura 8.12: Rino, S., Komiya, T., Windley, B.F., Katayama, I., Motoki, A., Hirata, T., 2004. Major episodic
increases of continental crustal growth determined from zircon ages of river sands: implications for mantle overturns
in the Early Precambrian. Physics of the Earth and Planetary Interiors 146, 369-394. Reproduzida com permissão da
Elsevier.

Capítulo 9
Figura 9.1: Artemieva, I.M., 2006. Global 1º x 1º thermal model TC1 for the continental lithosphere: implications
for lithospheric secular evolution. Tectonophysics 416, 245-277. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Fig.ura9.2: Compilada a partir de mapas do site Geoscience Australia (http://www.ga.gov.au/)
Figura 9.3: Diener, J., Stevens, G., Kisters, A., 2005. High-pressure intermediate-temperature metamorphism in the
southern Barberton granitoid-greenstone terrain, South Africa: a consequence of subduction-driven overthickening
and collapse of mid-Archean continental crust. In: Benn, K., Mareschal, J.C., Condie, K. (eds.), Archean
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Figura 9.4: Benn,K., 2005. Tectonic delamination of the lower crust during late Archean collision of the Abitibi-
Opatica and Pontiac terranes, Superior Province, Canada. In: Benn, K., Mareschal, J.C., Condie, K. (eds.), Archean
geodynamics and environments. Geophysical Monograph Series 164, American Geophysical Union, 239-254.
Figura 9.5: Tassinari, C.C.G., Macambira, M.J.B., 1999. Geochronological provinces of the Amazonian craton.
Episodes 22, 174-181.
Figura 9.6: Martin, H., 1987. Archean and modern graniutoids as indicators of changes in geodynamic processes.
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Figura 9.7: Geochemistry of Igneous Rocks (http://www.geokem.com/index.html).
Figura 9.8: Korenaga, J., 2006. Archean geodynamics and the thermal evolution of Earth. In: Benn, K., Mareschal,
J.C., Condie, K. (eds.), Archean geodynamics and environments. Geophysical Monograph Series 164, American
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Figura 9.10: Calvert, A.J., Lundden, J.N., 1999. Archean continental assembly in the southeastern Superior
Province of Canada. Tectonics 18, 412-429.
Figura 9.12: Grove, T.L., Parman, S.W., 2004. Thermal evolution of the Earth as recorded by komatiites. Earth and
Planetary Science Letters 219, 173-187. Reproduzida com permissão da Elsevier.
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greenstone blanketing to the 2.75-2.65 Ga global crisis. Precambrian Research 127, 43-60. Reproduzida com
permissão da Elsevier.
Figura 9.14: Modificada de Van Kranendonk, M.J., Smithies, R.H., Hickman, A.H., Champion, D.C., 2007.
Review: secular tectonic evolution of Archean continental crust: interplay between horizontal and vertical processes
in the formation of the Pilbara Craton, Australia. Terra Nova 19, 1-38.
Figura 9.15: O’Reilly, S.Y., Griffin, W.L., Djomani, Y.H.P., Morgan, P., 2001. Are lithospheres forever? Tracking
changes in subcontinental lithospheric mantle through time. GSA Today 11, 4-10.

Capítulo 10
Figura 10.1a: Condie, K.C., 2000. Episodic continental growth models: afterthoughts and extensions.
Tectonophysics 322, 153-162. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura 10.1b: Cordani, U.G., Sato, K., 1999. Crustal evolution of the South American Platform, based on Nd
isotopic systematics on granitoid rocks. Episodes 22, 167-173.
Figura 10.2: Karlstrom, K.E., Ahäll, K.I., Harlan, S.S., Williams, M.L., McLelland, j., Geissmann, J.W., 2001.
Long-lived (1.8-1.0 Ga) convergent orogen in the southern Laurentia, its extensions to Australia and Baltica, and
implications for refining Rodinia. Precambrian Research 111, 5-30. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura10.4: Myers, J.S., Shaw, R.D., Tyler, I.M., 1996. Tectonic evolution of Proterozoic Australia. Tectonics 15,
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Figura 10.6: Cook, F.A., Van den Velden, A.J., Hall, K.W., Roberts, B.J., 1999. Frozen subduction in Canada's
Northwest Territories: Lithoprobe deep lithospheric reflection profiling of the western Canadian Shield. Tectonics
18, 1-24.

160
Figura 10.7: St-Onge, M.R., Searle, M.P., Wodicka, N., 2006. Trans-Hudson Orogen of North America and
Himalaya-Karakoram-Tibetan Orogen of Asia: Structural and thermal characteristics of the lower and upper plates.
Tectonics 25, doi:10.1029/2005TC001907.
Figura 10.8: Dalziel, I.W.D., 1997. Neoproterozoic-Paleozoic geography and tectonics: review, hypothesis,
environmental speculation. Bulletin of the Geological Society of America 109, 16-42.
Figura 10.9a: Rogers, J.J.W. and Santosh, M., 2002. Configuration of Columbia, a Mesoproterozoic supercontinent.
Gondwana Research 5, 5-22. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura 10.9b: Zhao, G., Sun, M., Wilde, S.A. and Li, S., 2004. A Paleo-Mesoproterozoic supercontinent: assembly,
growth and breakup Earth-Science Reviews 67, 91-123. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura 10.10: Modificado de Wingate, M.T.D., Pisarevsky, S.A. Evans, D.A.D., 2002. Rodinia connections
between Australia and Laurentia: no SWEAT, no AUSWUS? Terra Nova 14, 121-128.
Figura 10.11: Piper, J.D.A., 2007. The Neoproterozoic supercontinent Palaeogangea. Gondwana Research 12, 202-
227. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura 10.12: Tohver, E., D'Agrella-Filho, M.S., Trindade, R.I.F., 2006. Paleomagnetic record of Africa and South
America for the 1200-500 Ma interval, and evaluation of Rodinia and Gondwana assemblies. Precambrian Research
147, 193-222. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figura 10.14: Ernst, R.E., Buchan, K.L., 2001. The use of mafic dike swarms in identifying and locating mantle
plumes. In: Ernst, R.E., Buchan, K.L. (eds.) Mantle plumes: their identification through time. GSA Am. Spec. Pap.
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Capítulo 11
Figura 11.1: McElhinny, M.W., Powell, C.M., Pisarevsky, S.A., 2003. Paleozoic terranes of eastern Australia and
the drift history of Gondwana. Tectonophysics 362, 41-65. Reproduzida com permissão da Elsevier.
Figuras 11.2 e 11.5: Matte, P., 2001. The Variscan collage and orogeny (480±290 Ma) and the tectonic definition of
the Armorica microplate: a review. Terra Nova 13, 122-128. Reproduzidas com permissão da Blackwell Publishing.
Figura 11.4: Brueckner, H.K., van Roermund, H.L.M., 2004. Dunk tectonics: A multiple subduction/eduction
model for the evolution of the Scandinavian Caledonides. Tectonics 23, doi: 10.1029/2003TC001502.
Figura 11.6: Vaughan, A.P.M., Leat, P., Pankhurst, R.J., 2005. Terrane processes at the margins of Gondwana:
Introduction. Geological Society, London, Special Publications 246, 1-26.
Figura11.7: Modificado de Gray, D.R., Foster, D.A., 2004. Tectonic evolution of the Lachlan Orogen, southeast
Australia: historical review, data synthesis and modern perspectives. Australian Journal of Earth Sciences 51, 773-
817.
Figuras 11.9, 11.10: http://www.scotese.com
Figura 11.12: http://pubs.usgs.gov/gip/dynamic/Pangaea.html.
Figuras 11.13, 11.18: Atwater, T., 1989. Plate tectoinic history of the northeast Pacific and western North America.
In: Winterer, E.L., Hussong, D.M., Decker, R.W. (eds.), The geology of North America, Vol. N, Geological Society
of America, 21-27.
Figura 11.16: Sokoutis, D. Bonini, M.,Medvedev, S., Boccaletti, M., Talbot, C.J., Koyi, H., 2000. Indentation of a
continent with a built-in thickness change: experiment and nature Tectonophysics 320, 243-270. Reproduzida com
permissão da Elsevier.
Figura 11.17: Pfiffner, O.A., Schlunegger, F., Buiter, S.J.H., 2002. The Swiss Alps and their peripheral foreland
basin: Stratigraphic response to deep crustal processes. Tectonics 21, doi:10.1029/2000TC900039.
Figura 11.19: Lamb, S., Davis, P., 2003. Cenozoic climate change as a possible cause for the rise of the Andes.
Nature 425, 792-797. Reproduzida com permissão da Nature Publishing Group.

Observação: 1. Figuras não listadas foram confeccionadas pelo autor ou são de domínio público. 2. Permissão
escrita não é requerida para a reprodução de figuras de livros e periódicos publicados pela American
Geophysical Union (editora dos periódicos Eos, Geochemistry, Geophysics, Geosystems; Geophysical
Research Letters; Journal of Geophysical Research; Reviews of Geophysics; Tectonics) e Geological Society
of America (editora dos periódicos Geology, GSA Today, GSA Bulletin, Geosphere). 3. Mapas e figuras em
sites institucionais (NASA, NOAA, USGS, etc.) também não precisam de autorização prévia para sua
utilização.

161
162
Acasta, 115, 125 boninitos, 78 terciária, 109
acondritos, 103 Brasiliano/Pan-Africano, 133 curva de deriva polar aparente, 44
adakitos, 76, 78 Bushveld, 128, 138
Alice Springs, 144 BVAC, 68 Dabie, 144
alóctones, 84, 90, 120, 143 declinação magnética, 41, 44
Alpes, 23, 88, 147, 149, 150 CAI, 104 delaminação, 85, 93, 94, 95, 121,
Altai, 83, 93, 99, 147, 152, 155 Caledoniano-Apalachiano, 141 124
Altaides, 143 camada D´´, 19, 27 deriva dos continentes, 34
Amásia, 153 campo magnético, 28, 40, 41, 42, descontinuidades sísmicas, 17
Amîtsok, 115 43, 44 410 km, 19, 26, 49, 54
Andes, 23, 81, 83, 85, 100, 151, 154 reversão, 43 660 km, 19, 26, 27, 40, 50, 53,
andesito, 3, 4 Capricórnio, 132 54, 62, 121, 137
andesitos, 4, 68, 76, 78, 95 Carajás, 128, 137 Conrad, 18, 51, 79
anfibólio, 3, 4, 5, 15, 26, 76, 78, 98, carbonatitos, 3, 57 Gutenberg, 18
108, 110 Cenozóico, 42, 69, 144, 145, 147 Lehmann, 20
anfibolitos, 73 CFB, 56 Mohorovicic, 18, 25, 31, 34
anisotropia sísmica, 26 channel flow, 90 Dharwar, 116, 123, 125
anomalia negativa de Nb, 77 chert, 21 diagramas de Harker, 1
anortositos, 3, 118, 128, 136 chron, 42 diamante, 5, 88, 97, 110
antepaís, 85, 86, 89 CHUR, 10, 11 diapirismo, 95
Apalaches, 23, 141 ciclo de Wilson, 65 discórdia, 12, 13
arco magmático, 73, 75, 77, 78, 84, ciclo Transamazônico/Eburneano, domos gnaissicos, 95
85, 86, 89, 96, 123 130 dorsais oceânicas, 21, 33, 34, 36,
arcos de ilhas, 21, 35, 73, 76, 77, cinturões orogênicos, 23, 81, 82, 83, 39, 42, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 53,
78, 81, 84, 120, 129, 131, 140, 89, 90, 93, 96, 97, 98, 116, 133, 56, 57, 58, 59, 61, 68, 69, 70, 71,
143, 145, 152 135, 139, 141, 144, 147 72, 74, 76, 78, 84, 108
arqueano, 11, 16, 23, 60, 107, 108, CIPW, 4 intermediárias, 70
109, 111, 115, 116, 117, 118, clinopiroxênio, 5, 25, 32, 71 lentas, 69
119, 120, 121, 122, 123, 127, coesita, 5, 88, 97 rápidas, 69
128, 130, 133 colagem, 84, 131, 144 ultralentas, 70
Ártica. Consulte supercontinente colapso gravitacional, 93, 104 DUPAL, 58
associação cálcio-alcalina, 78, 99 colapso orogênico, 93, 96, 97, 98,
associações petrotectônicas, 65, 131 150 elemento
astenosfera, 31, 32, 33, 37, 48, 49, Colúmbia. Consulte supercontinente compatível, 2, 135
50, 55, 59, 60, 66, 67, 68, 72, 74, complexo da zona de subducção, incompatível, 2, 3, 7, 8, 9, 10,
75, 76, 85, 87, 89, 93, 95, 97, 98, 73, 99 62, 20, 21, 24, 28, 31, 46, 57,
119, 122, 124 complexos de núcleo metamórfico, 58, 62, 71, 72, 73, 76, 77, 92,
Atlântica. Consulte supercontinente 95 95, 104, 106, 107, 117, 118
atmosfera concórdia, 11, 12 litófilo, 2, 10
primitiva, 107, 108 condrito, 2, 103, 104, 105, 106 maior, 1, 3, 71, 72
primordial, 107 côndrulos, 103, 104, 105 siderófilo, 2, 106, 107
rica em oxigênio, 108 contatos de placas, 33, 35, 92 terras raras, 2, 57, 72, 76, 117,
aulacógeno, 66 Cordilheirano, 84, 85, 144, 145, 118
AUSMEX, 134 146, 150 traço, 1, 2, 15, 21, 57, 72, 77
Australides, 143 cráton, 23, 60, 67, 116, 123, 127, elevação externa, 73
AUSWUS, 134, 138 131, 132, 135, 143 EM1, 58, 59
avalanche mantélica, 121 Cráton Amazônico, 116, 128, 130 EM2, 58, 59
Avalonia, 141 Cráton do São Francisco, 115, 116 encurvamento oroclinal, 83, 151
cratonização, 123, 127 enxames de diques radiais, 66
bacias Cretáceo, 42, 69, 109, 144 escudos, 23, 39
ante-arco, 73 crosta espilitos, 73
intracontinentais, 66, 142 continental, 2, 10, 18, 20, 21, 23, espinélio, 5, 25, 97
oceânicas, 21 24, 33, 46, 58, 59, 62, 68, 69, estrutura em domos e quilhas, 118,
retro-arco, 21, 73, 74, 76, 86, 97, 74, 76, 81, 86, 88, 93, 96, 120, 123
98, 99, 123 97, 98, 103, 108, 109, 110, expansão do assoalho oceânico, 34,
back-arc, 73 111, 112, 113, 115, 116, 121, 40, 43, 46, 48, 65
Báltica, 132, 134, 135, 139, 140, 122, 123, 124, 127, 133 taxa, 48
141, 142 oceânica, 18, 21, 23, 24, 32, 33, extrusão, 90, 91
Barberton, 117, 118 34, 39, 42, 43, 46, 49, 57, 59, extrusion, 91, 100
basalto, 3, 108, 121, 123 65, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75,
basaltos continentais de platô, 56 76, 77, 78, 83, 84, 86, 88, fácies metamórfica, 4
Basin and Range, 65, 154 109, 111, 119, 120, 121, 122, anfibolito, 5, 20, 78, 84, 97, 118
Basin-and-Range, 150 123, 139, 143, 145, 151 eclogito, 5, 49, 78, 90, 93, 94,
BIF, 109, 128 primária, 109, 110 97, 118, 121
black smokers, 72 secundária, 109 glaucofana-lawsonita, 5

163
granulito, 5, 20, 78, 84, 90, 118 Herciniano, 141 LVZ, 19, 20, 26
xisto-azul, 5 hidrosfera, 103, 104, 106, 108, 110
xisto-verde, 5, 73, 78, 84, 118 Himalaia, 23, 81, 83, 88, 132, 144, magmatismo anorogênico, 136
faixas de anomalias magnéticas, 40, 147, 148 magnesiowüstita, 26, 27, 57
43, 44, 48 HIMU, 58, 59 magnetita, 41, 42
faixas móveis, 23, 24, 81 hinterlândia, 85, 89, 91, 97 magnetização
falhas transformantes, 33, 37, 47, Hoggar, 133 polaridade inversa, 41, 42
68, 70, 74 hornblenda, 15, 75 polaridade normal, 41
Fanerozóico, 15, 107, 109, 118, hotspot, 53, 54, 57, 59, 60, 61, 63, termoremanescente, 41
127, 136, 139 70, 151 majorita, 26, 27, 57
Farallon, 50, 146, 150, 151 traços de, 56, 57, 74 manto
fase β, 26 empobrecido, 10, 59, 63
fase γ, 26 Iapetus, 139, 141 inferior, 19, 26, 27, 39, 40, 53,
feldspato, 3 idade modelo, 10 54, 55, 57, 58, 59, 62, 63,
feldspatóides, 4 idade platô, 15 121, 136, 137
ferropericlásio, 26 idades concordantes, 12, 13 primitivo, 2, 10, 24, 59, 62, 63
flacas, 90 idades discordantes, 12, 13 superior, 2, 19, 24, 25, 26, 27,
flakes, 90 idades-modelo, 10 31, 53, 55, 58, 59, 62, 68,
flogopita, 26, 95 ilhas oceânicas, 21, 57, 58, 63, 71, 137
fluidos hidrotermais, 72 76, 77, 143 margens continentais passivas, 23,
fluxo canalizado, 90, 91, 93 Impacto Gigante, 106 65, 74, 83
fluxo em condutos, 90 inclinação magnética, 41 margens rifte, 23
fluxo térmico, 32, 34, 45, 46, 108, Intenso Bombardeio Tardio, 111, mélange, 78
112, 136 113 Mesoproterozóico, 16, 130, 132,
forearc, 73 isócrona, 8, 9 134, 135
foredeep, 89 isostasia, 81 Mesozóico, 34, 42, 135, 144, 145
foreland basin, 89, 154 Airy, 81 metamorfismo
foreland fold-and-thrust belt, 89 Vening-Meinesz, 81 barroviano, 97
formações de ferro bandadas, 109, isótopos, 7, 8, 12, 13, 14, 58, 77, emparelhado, 78
115, 128 119 metamorphic core complexes, 94
fossas, 21, 33, 35 cosmogênicos, 7 metapelito, 3
foundering, 93 radioativos, 7, 8, 12, 13, 31, 46, métodos geocronológicos, 1, 7, 99
40
frente vulcânica, 75 92, 104, 119 Ar-39Ar, 14
fusão parcial, 1, 2, 3, 9, 10, 25, 26, radiogênicos, 7, 13, 58, 77 K-Ar, 14, 111
27, 32, 57, 58, 59, 61, 63, 68, 70, Isua, 113, 115, 120 Rb-Sr, 7, 8, 9, 10, 11, 111, 138
72, 75, 76, 77, 85, 86, 89, 91, 94, Sm-Nd, 7, 9, 10, 11, 112, 138
95, 96, 97, 109, 110, 117, 118, Jack Hills, 113, 114, 116 U-Pb, 7, 10, 11, 12, 15, 16, 98,
119, 122, 123, 124, 136, 146, junção tríplice, 46, 151 112, 113, 115, 125, 138
151 minerais
Kaapvaal, 116, 120, 123, 127, 128 ferromagnesianos, 3
gabro, 20, 49 Kalahari, 127, 137 máficos, 3, 11, 67, 68, 93, 97,
gabros, 3, 21, 73, 78, 83, 96, 120 Kenorlândia, 127, 133 127, 128, 136
geóide, 55, 56 Ketilidiano, 131 modelos numéricos, 31, 50, 53
Gondwana, 51, 61, 64, 99, 100, 125, kimberlitos, 57 Moho. Consulte descontinuidades
135, 137, 138, 139, 140, 141, komatiito, 3, 12, 118, 120, 122, 123 sísmicas
142, 143, 144, 154 Montanhas Rochosas, 85, 146, 150
GPS, 46 Lachlan, 143, 154, 160 MORB, 3, 58, 59, 62, 71, 72, 76,
granada, 5, 25, 26, 32, 76, 96, 97, LA-ICP-MS, 12, 13 77, 79, 107, 118, 119, 120
117 Laramide, 84, 85, 99, 146, 147, 150,
Grande Dique do Zimbábue, 128 151, 154 nappes, 89, 150
granitos, 3, 9, 11, 96, 97, 117, 118, Laurásia, 142, 144 nebulosa solar, 104, 106, 107
128, 136, 142, 143 Laurência, 132, 139, 140, 141 Neoproterozóico, 16, 23, 67, 109,
peraluminosos, 96, 97, 146 Laurentia, 132, 134, 135, 137, 138, 130, 133, 134, 135, 144
pós-colisionais, 97 139, 141, 154 núcleo, 18, 20, 27, 28, 31, 41, 103,
rapakivi, 136, 137 Laurússia, 140, 142 105, 106, 119
sincolisionais, 96, 97 leucogranitos himalaianos, 96 externo, 18, 20, 28, 41
tipos I e S, 96, 143 LILE, 2 interno, 20, 28
granodiorito, 20, 117 LIP, 56, 57, 60, 63, 71
granodioritos, 3, 96 liquidus, 1, 103, 118 obducção, 83, 84
greenstone belt, 117, 118 litosfera, 31, 32, 33, 37, 40, 45, 46, oceano magmático, 105, 106, 109,
Grenville, 129, 132, 134 48, 49, 53, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 110, 113
63, 65, 66, 67, 69, 73, 74, 75, 76, ofiolitos, 21, 83, 84
Hadeano, 16, 108, 110, 111, 113, 77, 78, 81, 83, 84, 86, 87, 88, 90, OIB, 58, 59, 62, 122
115 92, 93, 94, 95, 98, 111, 119, 120, olivina, 3, 4, 25, 26, 31, 35, 40, 49,
Hamersley, 128 121, 123, 124, 131, 137, 139, 71, 73, 103, 118
harzburgito, 32, 83 142, 148, 149, 150, 151, 152

164
ondas sísmicas, 17, 19, 21, 26, 27, Precambriano, 16, 115, 127, 133, shoshonitos, 78, 95
36, 37, 55 139 SHRIMP, 12, 13, 16, 125, 138
P, 17, 18, 19, 27, 28, 38 prisma de acresção, 73, 77, 81, 85, sintaxe, 83
S, 17, 18, 19, 28, 29, 31, 32, 38 86, 145 slab break-off, 88, 89, 95
oroclíneo, 83 proterozóico, 11, 16, 127, 128, 130, slab suction, 49, 51
orogênese, 67, 81, 82, 83, 85, 93, 131, 132, 133, 135, 136 slab-pull, 48
130, 132, 133, 134, 141, 142, Província Amazônia Central, 116, Slave, 115, 116, 124, 127
144, 146, 147, 149, 150, 152 128, 130, 136 solidus, 1, 26, 75, 118
Pan-Africana, 67 Província Borborema, 115, 133 spinifex, 118, 125
orogenia, 81 Província Maroni-Itacaiunas, 130 SRL, 46
orógenos, 81, 82, 83, 85, 86, 89, 91, Província Sunsás, 132 suíte cálcio-alcalina, 4, 76
92, 93, 94, 96, 97, 98, 99, 120, Província Superior, 116, 117, 118, suíte toleítica, 4, 76
124, 129, 131, 132, 133, 143, 128, 132 Sulu, 144
144, 148, 152 Província Ventuari-Tapajós, 131 supercontinentes, 59, 133, 136, 137
acrescionários, 84, 85 províncias crustais, 23 superdomos, 56
colisionais, 83, 87, 141, 144, superplumas, 54, 136, 137
147 Qinling, 144 suturas, 85, 120, 143, 144
do tipo Andino, 85 QPC, 69 SWEAT, 134, 138
do tipo Laramide, 85 quartzo, 3, 4, 5, 76, 97 syntaxis, 83
do tipo túrquico, 85
intracontinentais, 83, 98 razão inicial, 8, 9, 10, 11 Tasmanides, 143
ortopiroxênio, 5, 25, 97, 103 recuo da fossa, 73, 74 TDM, 10, 11
Rheic, 142, 154 tectônica de escape, 91
Paleopangéia. Consulte ridge push, 49 tectônica de placas, 31, 32, 34, 35,
supercontinente rifte abortado, 66 37, 40, 44, 45, 48, 49, 53, 60, 92,
Paleoproterozóico, 16, 109, 116, riftes continentais, 23, 65, 68 110, 119, 120, 121, 131
127, 128, 129, 130, 131, 132, ativos, 66 tectônica pelicular delgada, 85, 147
133, 135 passivos, 66 tectônica pelicular espessa, 86, 146,
Paleo-Tethys., 140, 144 ringwoodita, 26 151
Paleozóico, 109, 139, 141, 143, 144 riolito, 3 temperatura de fechamento, 15
Pangea Ultima, 153 rochas termocronologia, 14
Pangéia, 34, 49, 139, 140, 142, 143, ácidas, 3, 9 terrenos gnáissicos de alto grau, 117
144 alcalinas, 4, 57, 68, 97, 120, 123 terrenos granito-greenstone, 117,
paradoxo do Sol fraco, 108 básicas, 3, 4 118
Paterson, 132 félsicas, 3, 21, 76, 96 terrenos tectonoestratigráficos, 84
pelitos, 3, 128 ígneas, 3, 8, 13, 15, 20, 23, 56, Tethys, 140, 142, 144, 150
peridotito, 3, 25, 26 68, 103, 128 Thelon, 132
perovskita, 26, 27, 40 intermediárias, 3, 4, 21, 69, 70, Tian Shan, 93, 147
Petermann, 144 72, 76, 96 Tibete, 132, 144, 148, 149
Pilbara, 116, 120, 123, 125, 127, juvenis, 11, 112, 127, 129, 131, TIMS, 12
128, 132 133, 143 tipo crustal, 21, 23
Pirineus, 23, 149, 152 máficas, 3, 5, 10, 21, 25, 68, 78, toleítos, 4, 118, 119
pirólito, 24 94, 96, 103, 118, 143 tomografia sísmica, 37, 39, 50, 55
piroxênio, 3 metaluminosas, 4 topografia dinâmica, 81
placas litosféricas, 32, 34, 35, 46, metamórficas, 4, 13, 15, 20, 65, traços de fissão, 7, 15
53, 61, 65, 70, 119, 120 91, 94, 142, 148 Trans-Hudsoniano, 132
placas tectônicas, 31, 33, 46, 48, 50, ortoderivadas, 3, 13 trondhjemitos, 117
53, 60, 61, 66, 119, 152 paraderivadas, 3, 13 TTG, 117, 118, 122, 127, 129
plagiogranito, 21 peralcalinas, 4 tunelamento, 90, 91
plagiogranitos, 73 peraluminosas, 4 tunneling, 90
planetesimais, 104, 105, 111 sedimentares, 20, 78 turbiditos, 69, 99, 143
plataformas, 23, 39, 128, 129, 145 subalcalinas, 4 underthrusting, 90, 91
Platô Tibetano, 65, 90, 93, 149 supracrustais, 3, 13, 23, 65, 78,
platôs orogênicos, 90 99, 110, 115, 118, 120, 128, Ur. Consulte supercontinente
plumas, 31, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 129 Urais, 142
59, 60, 61, 62, 66, 68, 72, 81, 84, ultrabásicas, 3, 95 Uraliano, 141
107, 119, 120, 121, 122, 123, ultramáficas, 3, 25, 83, 103, 118, Usagarano, 131
128, 136, 137 120, 142
polaridades geomagnéticas, 42, 44, vulcânicas, 3, 4, 20, 21, 27, 32, Variscano. Consulte Herciniano
48 42, 65, 66, 68, 73, 76, 78, 99, VLBI, 46
pólo magnético, 44 117, 118, 123, 150
pólos paleomagnéticos, 44 Rodínia. Consulte supercontinente wadsleyita, 26, 49
Pongola, 128 roll-back, 73 white smoker, 72
ponto de Curie, 41 Witwatersrand, 128, 138
pós-perovskita, 27 seqüência de Bouma, 69 Wopmay, 131
serpentinito, 21

165
Yilgarn, 116, 132 zonas de subducção, 33, 34, 36, 39, tipo Mariana, 73
49, 65, 73, 74, 75, 76, 78, 82, 83, εNd, 10, 11
zona de baixa velocidade, 19, 25, 32 84, 95, 97, 98, 99, 120, 121, 122,
zona de transição, 19, 26, 27, 53, 54 123, 133, 143, 144, 150, 153
zona de Wadati-Benioff, 35 tipo Chileno, 73

166

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