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Edgard Cayce, O Clarividente

Anuário Esp írita/1973

Ainda que pouco c onhecido no


Brasil, Edgard Cayce foi um dos
grandes médiuns da história do
Espiritismo e, nos Estados
Unidos, tão famoso quanto o
própr io Andrew Jac kson Davies.
Nasceu no dia 18 de março de
Cayce - 1910
1877, em Hopkinsville, EUA.

Cayce desencar nou no dia 5 de j aneiro de 1945, em


Virginia Beac h, levando uma das mais estranhas e
espetaculares faculdades psíquicas de que se tem
notícia e que ele próprio nunc a pôde explicar,
faculdade que espantou o seu possuidor no dec orrer
de toda a sua vida.

Cayce era dotado de um extr aor dinário poder de


vidência que lhe permitia, sem jamais errar,
estabelecer diagnósticos médicos e indic ar o
tratamento ou medicamento específico que c onvinha
sempre com perfeita exatidão. Para isso tinha que
entr ar em um estado de sonambulismo hipnótico
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profundo, sem o que não er a possível o exercício da
faculdade.

Nascido de uma família da z ona rur al, Cayce iniciou


sua vida como tr abalhador agríc ola em casa de um
tio. Mais tarde se fez empr egado de uma livr aria na
cidadezinha de Hopkinsville, depois enfim, foi
propr ietár io de um pequeno laboratór io fotogr áfic o,
ramo em que pretendia fixar-se. Mas o destino ia
atirá-lo em uma extraordinária aventur a e, malgrado
seu desejo, forçá-lo a se transformar em uma espéci e
de taumatur go- médico, coisa que se rec usava ser.

Tudo, porém, começou quando o pequeno Edgard,


com 11 anos foi vítima de um acidente durante uma
par tida de base-ball. Receber a um golpe violento na
base da coluna ver tebr al. A pancada fora tão rude
que o médico da r egião, que não abandonava sua
cabeceir a, não conseguira tirá- lo do estado de coma.
Ora, de repente, para estupefação geral, a voz do
garoto se elevou clara e tranqüila do leito, embor a
ele parecesse dor mir profundamente e disse:

- Apressai-vos, o cér ebro corr e risco de ser atingido!


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Sob hipnose o médium pr escreveu a administraç ão de Depois de alguma agitação e ao acaso, decidiram- se
uma dose de beladona, em breve espaç o de um aplicar a preparaç ão indicada.
antídoto.
Nessa mesma noite, como por milagre, a febr e caía.
Passando por cima das objeç ões dos médicos a mãe No dia seguinte o gar oto estava de pé, tão bem
insistiu em dar, ela própr ia, a dose do veneno. disposto como se nada lhe houvesse acontecido. Ele
desconhecia a maior ia das plantas que indic ara e nã o
Quase de imediato as convulsões cessar am. tinha a menor idéia do que se passara.

Depois que o antídoto foi administrado, a criança Assim começou uma das histór ias mais estr anhas de
afrouxou os membros, ficou calma e dormiu que se tem conhecimento no campo da mediunidade
tranqüilamente. de cura. Todavia, de princípio, Cayce negou- se a
fazer uso de seu dom. Sentia- se ignor ante e queixava-
Existe uma fundação chamada Fundação Edgard se de não ser uma pessoa comum, como as outras.
Cayce, onde os médicos, filósofos e psic ólogos do
mundo todo estudam ainda hoje os "dossier s" Uma sér ie de circunstânc ias e sob pr essão de uma
acumulados por sua família. amiga de infância, sua futur a esposa, Gertr udes, foi
persuadido de que não tinha o dir eito de reservar s eu
Edgard Cayce é conhecido c omo o mais puro, o menos maravilhoso poder para si mesmo, mas que deveria
discutível, o mais espantoso dos casos de pô-lo a serviço de quantos tivessem dele necessidade.
clarividência.
Foi quando um amigo de Edgar d, Al Layne, se
apresentou enfer mo.

Agravando- se a situação, Cayce concorda em


submeter-se ao sono pelo qual tentar á verificar a
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causa do sofr imento do companheiro. E assim o faz, Diferindo um pouc o de outros casos, Cayce começ ou a
par ticulariz ando os medicamentos que dever á descrever o estado físico da enferma como se seus
empregar par a a cur a. olhos tivessem raios X.

Desper to, mas, aterr orizado, grita: Indicou que um dente do siz o estava de um j eito que
compr imia o nervo c ervical.
- Eu não conheço a metade das palavr as que estão
anotadas aqui. N ão tome estas dr ogas, poderia ser Era prec iso extrair o dente par a suprimir a pressão e
perigoso. Eu nada c onheço de medicamento, tudo isto reconduzir a moç a ao seu estado nor mal.
é um absurdo!
Examinou- se a boca da doente e verific ou- se a
Tranc a-se em seu ateliê, recusando-se a ver Al. Uma exatidão do diagnóstico.
semana se passa e este se apresenta, forçando um
encontr o com o amigo. Está transformado: nunca se Depois da extraç ão a moç a recuperou o juízo.
sentiu tão bem em toda a sua vida. Os medicamentos
prescritos durante o sonambulismo tinham realizado Uma outra j ovem de Kentuc ky deu à luz um
maravilhas. E a histór ia corre a região. Toda a vil a prematuro.
comenta o acontecido, as solicitaç ões de consulta se
acumulam. Cayce resiste. Aos quatro meses, a crianç a enfer miça desde o
nasc imento, teve um ataque de convulsão tão gr ave
- Não é porque eu fale dor mindo que vou me meter a que os três médicos que a assistiam, entre os quais
tratar de doentes! seu próprio pai, acharam que não passaria daquele
dia.
Mas a pressão em torno dele cresce. Por fim c ede,
mas com a c ondição expr essa de não ver os doentes, Desesperada a mãe pediu a Cayce um diagnóstic o.
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alimentos nem abr igo, sofrer a cruelmente durante temeroso de que, vendo-os seu espírito pudesse ser
três dias e três noites, desenvolvendo um supr emo influenciado.
esforço para desligar seu espírito do cor po, o que por
fim conseguiu. Sua presente vida er a uma espécie de Exige também que os médicos assistam às sessões e
teste para sua alma, ocasião que lhe era dada par a impõe que não seja aceito um únic o ceitil pelo
servir ao gêner o humano com altr uísmo, para suprimir trabalho de socorr o.
assim seu orgulho, materialismo e sensualidade do
passado. Seus diagnósticos são de tal pr ecisão, as prescrições
tão perfeitamente adaptadas aos c asos, que os
E o conseguiu, a j ulgar-se pela história de sua vid a. médicos, em breve, se c onvencer am de que ele era
um companheir o camuflado.
Dois episódios podem ser consider ados notáveis entre
as sessões realiz adas por Cayc e. Cayce limita- se a duas sessões por dia, não porque os
estados sonambúlic os o fatiguem, pois que se sente
Uma jovem de Selma, no Alabama, perdeu bem repousado, mas porque necessita cuidar de seu
subitamente a razão e foi inter nada em um hospício. pequeno estúdio fotográfico. Observam que ele não
faz, apesar de tudo quanto sucede, o menor esforç o
Seu ir mão, desorientado, pr ocur ou Cayce que se por adquirir c onhecimentos médic os. Mostra- se
estendeu em um leito, fez algumas respir ações inteir amente desinteressado dos livr os e r evistas
profundas e adormeceu. especializados que lhe chegam às mãos. Continua
sendo o mesmo homem rústico, c om um simples
Recebeu então sugestão par a que examinasse o cor po diploma pr imário. Também não se ac omoda ao seu
da jovem e fizesse o diagnóstico. dom. Aqui sur ge um pequeno detalhe c urioso. A cada
vez que se vai negar , tor na-se afônico.
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A um dos magnatas das estradas de ferr o americana, Um outr o exemplo ainda mais notável da exatidão
James Andrews, que vem consultá-lo, posto em histórica das "leituras" de Cayce e inteiramente
estado sonambúlico, prescreve uma série de independente do que o consciente do médium podia
medicamentos, entr e eles um trazendo o nome de conhecer, é uma r eferência a Jean Poquelin, cuja
Água de Or vale. mãe falecera quando ele era ainda rapazinho.

Esse remédio não é encontr ado na América. Feita a verificação viu- se que, ador mecido, Cayce
citar a exatamente o verdadeiro nome de Molièr e,
Andr ews resolve c oloc ar anúncios em jornais e episódios de sua vida e a mor te prematura de sua
revistas médicas, disposto a desc obrir o que seja essa mãe.
água desconhec ida.
E Cayce, quem fora em precedente existência?
Ora, o apar ente sempre benfeitor fez com que uma
das publicações caísse nas mãos de um jovem médic o Qual a origem de sua notável clar ividência?
francês, parisiense, cujo pai era o inventor dessa
fórmula altamente complexa e que tinha deixado de As "leitur as" de suas vidas, feitas por ele pr ópr io,
ser explorada havia 50 anos. ador mecido, revelaram que há vários séculos for a
sumo-sacerdote no Egito e que possuír a, então,
Em uma sessão, pouco antes, Cayce conseguia ditar a notáveis faculdades.
fórmula que foi reconhec ida conforme à do autor,
como se ver ificou em seguida. Perder a-as por sua obstinação e sensualidade.

Diante de tais fatos o Dr. John Blaksbur n, Presiden te Numa reencar naç ão ulterior, na Pér sia fora médico.
do Sindicato Médico, se apaixonou pelo c aso Cayce.
Ferido cer ta vez no decurso de uma batalha no
deserto e deixado na areia par a morrer só, sem água,
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anteriores, fora soldado sulista da Guerra de Organizou uma comissão de membr os, os quais
Secessão. passar am a assistir as sessões, mostrando-se cada vez
mais estupefatos.
Soube ainda que viver am em Henrico County, na
Virgínia, e que, se desejasse, poder ia achar tr aços Disso resulta que o Sindicato Ger al Amer icano
oficiais dessa existência. reconheceu as faculdades de Cayce e, após muitas
reuniões, fato único na história da medicina no
O homem aproveitou a primeira ocasião para ir a mundo, autor izou-o a dar c onsultas mediúnic as.
Henr ico County, onde não achou os registros, mas um
funcionário infor mou que os antigos doc umentos Por esse tempo Cayce tinha se casado e possuía um
haviam sido rec entemente r emetidos para a filhinho de oito anos que, brincando com fósforos fez
biblioteca histór ica do Estado da Vir gínia. explodir um estoque de magnésium. Seus olhos são
cruelmente atingidos, os especialistas concluem por
Ali o nosso homem foi encontr ar registr os em nome de uma progressiva cegueira e propõe a ablação de um
Barnett A. Seay, que engaj ara em 1862, na idade de dos globos ocular es. Profundamente angustiado Cayce
21 anos, no exército do gener al Lee, como porta- se entrega ao sono sonambúlic o. Em transe vai
bandeira. energeticamente c ontra a medida e propõe um
tratamento de quinze dias com compressas de ácido
Em outro c aso disse que a pessoa em precedente tânico. Os espec ialistas pr otestam, chamam à
existência, for a um mergulhador de tamboreto. prescriç ão uma louc ura, mas Cayce, se bem que presa
de terr íveis angústias, não ousa resistir ao espíri to
Cayce não sabia o que er a isso, mas descobriu que t al que o anima e que sempr e verificou estar certo.
título se ligava ao antigo c ostume em uso na América Quinze dias de expectativas dolorosas se seguem e e m
do N orte, de se amarrar os supostos feiticeir os num seguida o j ovem Cayce se cura.
assento e mer gulhá- los em lagos de água gelada.
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Um dia, ao curso de uma sessão, ele prescreve um Cayce r ecebesse uma sugestão hipnótica mais
medicamento ao qual denomina Coridon, indicando o apropriada, bem como a fór mula necessária.
laboratór io que o fabrica, em Chicago. Telefonam ao
estabelec imento e a direção espantada pergunta: Eis c omo isso se pr ocessava:

- Como sabeis que possuímos esse medicamento? N ão - Ide à presença de. .. nascida a..., em.. . e indicareis
falamos dele a ninguém, ele não está ainda à venda! as relaç ões entre essa pessoa e o univer so e as forças
Sua fórmula acaba de ser concluída e ainda agora universais, dando as tendências que são como
demos a ela esse nome de Cor idon! personalidades latentes ou aparentes na presente
vida.
O mais extraordinário, entretanto, ocorreu quando,
ao curso de outra sessão, profundamente ador mecido, Dareis também as personalidades anteriores no plano
Cayce ditou quatro receitas muito prec isas, sem que terrestr e, com a indicação de tempo, lugar e nome, e
ninguém atinasse para quem se dirigiam. direis o que, em cada uma dessas experiências,
contr ibuiu par a adiantar ou retar dar o
Quar enta e oito horas mais tar de, porém, quatro desenvolvimento dela.
doentes se apr esentam e se percebe então que as
receitas eram a eles destinadas. De ordinár io as "leituras" davam os nomes exatos das
pessoas em suas vidas anter ior es e, algumas vezes,
Atingido por um mal incur ável, que não deixava indicavam igualmente o lugar em que poderiam achar
ninguém perceber, Cayce desenc arnou no dia e à hora as pr ovas ligadas ao caso: or a um livr o, ora um antigo
exatos que predissera, isto é, 5 de janeiro de 1945, registr o, or a uma pedra tumular.
às 17 horas.
O melhor exemplo de tais c asos talvez seja este: foi
Interr ogado em estado de sono comum, ou de dito a certo homem que em uma das suas vidas
sonambulismo, o que é diferente, quanto ao pr ocesso
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de sua faculdade, respondera um dia que se punha em
Para Lammers, que er a muito lido e estava contacto c om um ou vár ios cérebros cuj os
familiariz ado com as doutr inas mais impor tantes conhec imentos se aplicavam aos diagnósticos e aos
sobr e o destino humano, foram elas eletr izantes. tratamentos, na medida em que se apr esentavam.
Significavam elas que a visão supranor mal de Cayce
admitia c omo fato a antiga doutrina da r eencar nação. Muitas são as obras publicadas acerc a de Cayce e suas
faculdades.
Foi daí que começar am as novas exper iências.
A Dr a. Gina Cer minara, em sua obra "Many Mansions",
Cayce concordou com elas depois que lhe foi título que se refere à passagem evangélica "Há muitas
explicado o que er a reencar naç ão e que na Bíblia moradas na c asa de meu pai", tr ata, mais
haviam muitos ensinos velados de Cristo a seu exclusivamente daquilo se denomina "leituras de
respeito. vidas", uma das fac uldades de Cayce.

Lammer s fazia suas per guntas e as "leituras" as Essa faculdade possibilitava-lhe descrever as
respondiam, agora com mais precisão e detalhes, reencar nações anter iores das pessoas.
tanto no que diz respeito às exper iências de sua
própr ia vida anterior como sobr e outr as questões. Conservam-se em Virginia Beach, onde residia,
dezenas de milhares de dossiers contendo,
Tudo isso parecia muito bizarro a Cayce, mas a estenogr afadas as "leituras" e diagnóstic os do
curiosidade o impelia a continuar as "leitur as" que médium. Cayce, que só conhecia a Bíblia, ficou
Lammer s lhe pedia. estupefato quando soube que, nas suas "leitur as",
fizera referências às vidas anteriores de seus
Elas lhe fiz eram compreender que as informações que consulentes, pois nada conhecia sobr e a
poderiam ter sobr e as vidas anter iores ser iam reencar nação.
melhores se deixassem de pedir hor óscopos e se
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No começo, seus poderes de recepção eram dirigidos
para o inter ior, isto é, para as par tes não visíveis do Lammer s se inter essava pela Astr ologia, ele pretend ia
corpo humano. que, se a Astr ologia fosse verdadeir a, poderia haver
aí uma forma de análise que r eligar ia o homem ao
Não foi senão mais tarde que se cer tificou do fato de universo, de modo inteligível.
que tais poderes poder iam ser igualmente dirigidos
para o exterior, para o pr ópr io universo, par a as Pareceu então ter c hegado a oportunidade de iniciar
relações do homem e do universo e par a os problemas suas investigações.
do destino humano.
E quando Cayc e se deitou naquela tarde de outubr o
Eis c omo tal ac ontec eu: de 1923, num quarto do velho Hotel Phillips, de
Dayton, foi-lhe sugerido não olhar o interior do corpo
Arthur Lammer s, pr óspero impr essor de Dayton, no de Lammer s, mas fazer seu hor óscopo.
Ohio, ouvir a falar de Cayce por um dos seus sócios e
estava pronto par a uma viagem a Selma, no Alabama, Obedecendo como de hábito à sugestão rec ebida,
onde Cayce vivia. Cayce, ador mecido respondeu por um horóscopo em
frases br eves, telegr áficas.
Não se tr atava de sua saúde e, depois de ter
observado durante vár ios dias tais leituras, ficou E depois, quase no fim da leitur a e sempre no mesmo
convencido da autenticidade de Cayce. Lammer s er a estilo descansado e impessoal, veio uma frase
instruído, possuía viva inteligência e r efletiu que, se curiosa:
um espírito er a capaz de perceber r ealidades que
escapavam à vista normal ele devia poder faz er a luz -Outr ora ele foi um monge!
sobr e pr oblemas de significação mais universal que o
funcionamento do fígado de um enfermo ou as Pequena fr ase, de pouc as palavr as, mas quanto daí
complicações do tubo digestivo. resultou!

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