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Programa de Capacitação

TÉCNICO – SFN
Técnico do Banco Central do Brasil

2014
APOSTILA PROCAP CONCURSO 2013
TÉCNICO – SFN
Sumário

INTRODUÇÃO AO MÓDULO I ..... 4


MÓDULO I – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ..... 5
UNIDADE 1 – EVOLUÇÃO DO SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS
E ENTIDADES SUPERVISORAS ..... 5
INTRODUÇÃO ..... 5
1 EVOLUÇÃO DO SFN A PARTIR DE 1944 ..... 5
1.1 Do pós-guerra às reformas de 1964-1965 ..... 5
1.2 Das Reformas de 1964-1965 até 1988 ..... 6
1.3 De 1988 a 1994 ..... 7
1.4 De 1994 aos dias atuais ..... 7
2 ÓRGÃOS NORMATIVOS DO SFN ..... 8
3 ENTIDADES SUPERVISORAS DO SFN ..... 8

UNIDADE 2 – ENTIDADES OPERADORAS ..... 10


INTRODUÇÃO ..... 10
1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS CAPTADORAS DE DEPÓSITO À VISTA ..... 10
2 BOLSAS DE MERCADORIAS E FUTUROS ..... 11
3 RESSEGURADORES ..... 11
4 DEMAIS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ..... 12
5 OUTROS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS ..... 16

UNIDADE 3 – OUTROS PARTICIPANTES E TEMAS RELEVANTES NO SFN ..... 18


INTRODUÇÃO ..... 18
1 CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CFSFN) ..... 18
2 FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS (FGC) ..... 20
3 FUNDO GARANTIDOR DE COOPERATIVISMO DE CRÉDITO (FGCOOP) ..... 21
4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE CRÉDITO (SCR) ..... 22
5 SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH) ..... 24
6 INCLUSÃO FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA ..... 25
6.1 Parceria Nacional para Inclusão Financeira ..... 27
7 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS ..... 27
8 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO ..... 28
REFERÊNCIAS ..... 31

MÓDULO II – BANCOS CENTRAIS E BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 39


UNIDADE 1 – ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS, HISTÓRIA
DO BANCO CENTRAL DO BRASIL E FUNÇÕES DE MONOPOLISTA
DE EMISSÃO E BANQUEIRO DO GOVERNO ..... 39
INTRODUÇÃO ..... 39
1 ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS E HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL ..... 39
1.1 Origens dos bancos centrais ..... 39
1.2 História do Banco Central do Brasil ..... 40
2 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL ..... 41
2.1 Monopolista de emissão ..... 41
2.2 Banqueiro do governo ..... 42
REFERÊNCIAS ..... 44

UNIDADE 2 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL


DO BRASIL COMO BANCO DOS BANCOS ..... 46
INTRODUÇÃO ..... 46
1 SISTEMA DE PAGAMENTOS ..... 46
1.1 Características do sistema de pagamentos vigente até 2002 ..... 47
1.2 Reestruturação do SPB ..... 48
1.3 Características do atual SPB ..... 48
1.4 Atendimento a demandas de liquidez ..... 53
1.5 Prestamista de última instância ..... 54
REFERÊNCIAS ..... 55

UNIDADE 3 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL


COMO SUPERVISOR E FISCALIZADOR DO SFN ..... 57
INTRODUÇÃO ..... 57
1 CAMPO DE ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E AMPARO NORMATIVO ..... 57
2 CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÕES PELO BCB ..... 58
3 CONTEXTO INTERNACIONAL DE SUPERVISÃO: OS ACORDOS DE BASILEIA ..... 59
4 REGULAÇÃO PRUDENCIAL E ESTABILIDADE FINANCEIRA NO BRASIL ..... 59
5 COMITÊ DE ESTABILIDADE FINANCEIRA (COMEF) ..... 61
6 ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO ..... 61
7 ATIVIDADES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA DIFIS ..... 61
7.1 Supervisão focada em riscos ..... 62
7.2 Supervisão direta e indireta: inspeções e monitoramento ..... 63
8 INSTRUMENTOS DISCIPLINARES E PUNITIVOS ..... 64
8.1 Processos administrativos punitivos ..... 65
8.2 Medidas cautelares ..... 65
8.3 Termo de comparecimento ..... 65
8.4 Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência” ..... 66
9 REGIMES ESPECIAIS: INTERVENÇÃO, LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL
E ADMINISTRAÇÃO ESPECIAL TEMPORÁRIA ..... 66
REFERÊNCIAS ..... 67

UNIDADE 4 – EXECUTOR DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E CAMBIAL ..... 68


1 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA MONETÁRIA ..... 68
1.1 Recolhimentos compulsórios ..... 68
1.2 Operações de redesconto bancário ..... 69
1.3 Operações de mercado aberto (open market) ..... 69
1.4 Sistema de Metas para a Inflação e o Comitê de Política Monetária (Copom) ..... 70
2 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA CAMBIAL ..... 73
2.1 Mercado de câmbio no Brasil ..... 74
2.2 Administração das reservas internacionais ..... 76
REFERÊNCIAS ..... 79
INTRODUÇÃO AO MÓDULO I

O objetivo deste módulo é fornecer uma visão geral do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Para tanto,
é apresentada breve visão histórica da sua evolução, a partir do pós-guerra (1944), chegando à sua atual
estrutura, contemplando os principais órgãos normativos, as entidades supervisoras e os operadores do
SFN, dos quais fazem parte as instituições financeiras propriamente ditas. Além destes, foram agregados ao
texto outros elementos relevantes na caracterização do SFN (órgãos, sistemas e temas atuais).
Também foi destacada a evolução do SFN pós 1994, uma vez que a redução acentuada dos índices
de inflação levou a uma nova realidade no funcionamento do sistema econômico brasileiro e, portanto, das
instituições financeiras que atuam no país.
Os assuntos que têm sido objeto de atenção recente, por parte do Banco Central do Brasil (BCB),
mereceram um texto mais abrangente, com informações quantitativas sobre instituições financeiras, rede de
atendimento bancário no país, cooperativismo de crédito e principais instituições de determinado segmento.
Uma vez que a atuação do BCB e a estrutura e funcionamento do SFN decorrem basicamente do
arcabouço legal e regulamentar existente, foi inevitável a citação de diversas leis e resoluções. Em última
instância, tais remissões facilitam a busca por informações e podem auxiliar aos mais interessados em ampliar
seu conhecimento nos diversos assuntos mencionados.
No que se refere à composição e aos principais órgãos operadores do Sistema Financeiro Nacional,
a principal fonte de consulta foi o sítio do Banco Central (BCB, disponível em: <http://www.bcb.gov.
br/?SFNCOMP>, múltiplos acessos entre 11 e 26/11/2013). Quanto à evolução histórica do SFN, a principal
fonte de referência foi a obra de Lopes E Rossetti, Economia Monetária (7. ed. São Paulo: Atlas, 1998, p. 426-
436). Em ambos os casos, o texto original foi editado por questões de espaço e, sempre que necessário,
atualizado para incorporar as últimas alterações normativas disponíveis até a conclusão do presente trabalho,
em dezembro de 20131.
Quadro 1: Composição do Sistema Financeiro Nacional

Entidades
Órgãos normativos Operadores
supervisoras

Instituições financeiras Outros intermediários


Banco Central do Demais instituições
captadoras de depósitos financeiros e administradores
Brasil – BCB financeiras
à vista de recursos de terceiros

Conselho Monetário Bancos de Câmbio


Nacional – CMN

Comissão de Valores Bolsas de mercadorias


Bolsa de valores
Mobiliários – CVM e futuros

Conselho Nacional de Superintendência de Entidades abertas


Sociedades Sociedades de
Seguros Privados – Seguros Privados – Resseguradores de previdência
Seguradoras capitalização
CNSP Susep complementar

Superintendência
Conselho Nacional
Nacional de
de Previdência
Previdência Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Complementar –
Complementar –
CNPC
Previc

Fonte: BCB, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SFNCOMP> e atualizações.

1 As Referências utilizadas neste módulo estão apresentadas ao final da Unidade 3.

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MÓDULO I – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

UNIDADE 1 – EVOLUÇÃO DO SFN. ÓRGÃOS NORMATIVOS E ENTIDADES SUPERVISORAS

INTRODUÇÃO

O objetivo desta unidade é oferecer uma visão sobre a evolução do SFN do final da Segunda Guerra
Mundial aos dias atuais, destacando os órgãos normativos e as suas respectivas entidades supervisoras, nos
três segmentos que o compõem. O Banco Central do Brasil foi abordado de maneira sumária neste tópico,
uma vez que suas funções, estrutura e funcionamento serão objeto do módulo 2.

1 EVOLUÇÃO DO SFN A PARTIR DE 1944

A evolução do Sistema Financeiro Nacional (SFN) brasileiro pode ser mais facilmente compreendida
a partir da divisão do tempo em diferentes períodos. Aqui serão considerados quatro períodos históricos:

i. A fase pós-guerra até as reformas de 1964-1965.


ii. Das reformas de 1964-1965 até 1988.
iii. De 1988 a 1994.
iv. De 1994 aos dias atuais.

1.1 Do pós-guerra às reformas de 1964-19652

Habitualmente o período compreendido entre 1945 e 1964 é considerado de transição entre a


estrutura simples de intermediação financeira existente na primeira metade do século XX e a complexa
estrutura montada a partir das reformas institucionais de 1964 e 1965. Durante estas duas décadas, o SFN
sofreu marcantes transformações, acompanhando a evolução econômica do país, que registrou crescimento
médio anual de 6,6% no período, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As principais mudanças foram:

i. Expansão da rede bancária a taxas elevadas nas diferentes regiões do país.


ii. Implantação de um órgão normativo, de assessoria, controle e fiscalização do SFN que seria
o primeiro passo para a criação de um banco central no país – a Superintendência da Moeda
e do Crédito (Sumoc).
iii. Criação de uma instituição financeira central para fomento de longo prazo, o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico (BNDE), criado em 1952, transformado em Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em 1982, destinado a apoiar a implantação
de setores de infraestrutura no Brasil.
iv. Criação de instituições financeiras de apoio a regiões carentes, como o Banco de Crédito
da Amazônia S.A. (BASA, 1950), o Banco do Nordeste do Brasil (BNB, 1952) e, ao final do
período, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE, 1961), integrados à
política de redução dos desníveis regionais de desenvolvimento econômico.
v. Desenvolvimento espontâneo de companhias de crédito, financiamento e investimento (CFI
ou financeiras), para captação e aplicação de recursos em prazos compatíveis com a crescente
demanda de crédito de médio e longo prazo, em decorrência da implantação de novos setores
industriais no país, produtores de bens de capital e de consumo duráveis.

Nesse contexto, a Sumoc foi criada em 1945, para servir de interlocutor junto ao Fundo Monetário
Internacional (FMI) e exercer algumas funções de um banco central como órgão normativo, de assessoria,
controle e fiscalização da política monetária e do sistema de intermediação financeira. Contudo, até mesmo por
falta de amparo legal, a Sumoc era incapaz de impor disciplina às operações bancárias e maiores penalidades às
instituições faltosas.

2 Conforme Lopes e Rossetti (1998, p. 426-436).

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TÉCNICO – SFN: Módulo I – Unidade 1 – Evolução do SFN Órgãos normativos e entidades supervisoras

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As funções executivas de um banco central eram então exercidas pelo Banco do Brasil, que, por meio
de suas carteiras especializadas, agia como:

i. Banco dos bancos – recebia depósitos voluntários e compulsórios de bancos privados e


administrava os serviços de compensação.
ii. Agente financeiro do governo – atuava como caixa do Tesouro Nacional (TN) e financiador
de déficits orçamentários.
iii. Depositário e administrador de reservas internacionais.
iv. Emprestador de última instância – concedia assistência financeira ao sistema bancário por
meio de redescontos.

É interessante notar que este período foi marcado por significativo número de processos de fusão e de
incorporação de instituições financeiras, a partir de um número elevado de casas bancárias de pequeno porte,
remanescentes do período anterior à guerra de 1939-1945. De fato, o número de matrizes de instituições
bancárias caiu de 404, em 1951, para 336, em 1964. Não obstante, houve crescimento significativo da rede de
agências no mesmo período, passando de 4.038 em 1951 para 6.826 em 1964. Tal expansão contemplou não
apenas as áreas urbanas em expansão, mas também regiões mais distantes, que foram sendo incorporadas à
dinâmica do desenvolvimento econômico do país.

1.2 Das Reformas de 1964-1965 até 1988

Para melhor compreensão das profundas alterações do SFN ocorridas a partir de 1964-1965, é
fundamental ter em mente o arcabouço legal criado neste período, a saber:

i. Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, também chamada Lei do Plano Nacional de Habitação,
instituiu a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, criou o Banco
Nacional de Habitação (BNH) e institucionalizou o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
ii. Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, também conhecida como Lei da Reforma Bancária
– reestruturou o Sistema Financeiro Nacional, definiu as características e áreas específicas de
atuação das instituições financeiras e transformou a Sumoc e seu conselho, respectivamente,
no Banco Central do Brasil e no Conselho Monetário Nacional.
iii. Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, conhecida como Lei do Mercado de Capitais – disciplinou
esse mercado e estabeleceu medidas para seu desenvolvimento.

A partir desta base legal, o SFN passou a contar com maior e mais diversificado número de intermediários
financeiros não bancários (isto é, não captadores de depósitos), com áreas específicas de atuação. Paralelamente
foi significativamente ampliada a pauta de ativos financeiros disponíveis, abrindo-se novo leque de opções para
aplicação de poupanças e criando-se, dessa forma, condições mais efetivas ao desenvolvimento do processo
de intermediação financeira no país.
As três leis continuam em vigor e, apesar das modificações e aperfeiçoamentos posteriores, fruto da
evolução do SFN, elas mantêm os fundamentos lançados à época.
Também é importante destacar a edição da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispôs sobre
o mercado de valores mobiliários e criou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em decorrência, o
controle do mercado de capitais passou do âmbito do Banco Central para a CVM, ressalvadas as exceções
listadas pela referida lei, que permanecem na competência do BCB, tais como: autorizar as câmaras ou
prestadores de serviço de compensação, de liquidação e de registro; e fiscalizar o mercado financeiro e de
capitais. A autorização para funcionamento das corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários
é da competência do BCB. A referida lei, conquanto tenha sofrido modificações mais profundas que as leis
anteriormente mencionadas, permanece em vigor.
Do ponto de vista da rede de agências no país, em 1970, apenas cinco anos após a implantação dessas
reformas, havia 9.643 estabelecimentos com 517 sedes, incluindo instituições bancárias e não bancárias.
Contudo, no segmento bancário, observou-se, de forma mais acentuada, um movimento de concentração e
o número de matrizes reduziu-se de 178 (1970) para 107 (1985).

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1.3 De 1988 a 1994

A partir de 1988 o modelo do sistema de intermediação financeira no Brasil mudou novamente. A


tipologia das operações e das instituições se manteve. Contudo o critério de especialização por instituições
foi substituído por especialização por operações. A partir daquele ano, foi permitida a criação de bancos
múltiplos, seja por processo de fusão, incorporação, cisão e transformação, seja por meio de constituição
direta. Assim, os bancos múltiplos passaram a operar em todos os segmentos do sistema de intermediação
financeira. O sistema passou a estruturar-se por instituições com uma única carteira ou com mais de uma
carteira de operações, passando a prevalecer as instituições com carteiras múltiplas.

Tabela 1: Carteiras de banco múltiplo (BM)

1992 2003 2012


Tipo de carteira
Dez. Dez. Dez.
Carteiras BM 175 116 105
Comercial
Ifs* do segmento (BC) 36 23 22
Carteiras BM 101 96 94
Investimento
Ifs do segmento (BI) 20 21 14
Carteiras BM 15 8 5
Desenvolvimento
Ifs do segmento (BD) 9 4 4
Carteiras BM 78 51 37
Crédito imobiliário
Ifs do segmento (SCI) 26 18 12
Crédito, financiamento Carteiras BM 158 113 103
e investimento (CFI) Ifs do segmento (CFI) 41 47 58
Carteiras BM (após 1995) – 33 48
Arrendamento mercantil (AM)
Ifs do segmento (SAM) – 58 30
Totais 659 588 532

Fonte: Unicad. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?REVSFN>.


Nota: * Ifs – Instituições Financeiras

No final da década de 1980, o SFN também foi marcado pela promulgação da Constituição Federal
de 1988 que, entre outras medidas, estabeleceu mudança significativa quanto à quantidade de instituições
financeiras existentes no sistema. Até então, no denominado sistema de cartas patentes, o CMN fixava um
quantitativo máximo de instituições (inclusive agências e pontos de atendimento) para o mercado, e o ingresso
no sistema dependia da aquisição dos pontos existentes para o tipo de instituição em questão, ao lado dos
demais critérios de capacitação moral, técnica e financeira dos interessados.

1.4 De 1994 aos dias atuais3

Até 1994, a economia brasileira possuía algumas características específicas, decorrentes de um crônico
e acentuado processo inflacionário, realimentado pela generalizada indexação de preços. Esse quadro, de
certa forma, favoreceu o SFN, os bancos em particular, que se adaptaram ao ambiente de alta inflação que
contribuiu para alavancar a participação do setor financeiro na renda nacional. Durante o período inflacionário,
a atividade financeira sustentava-se dos recursos em trânsito (floating) e do financiamento ao desequilíbrio
das contas públicas, concentrando-se em operações de curto prazo.
A partir do segundo semestre de 1994, com a implantação do Plano Real, acentuou-se o processo de
reordenamento da economia brasileira, o que alterou o cenário em que atuavam as instituições financeiras. A
redução dos níveis inflacionários e a maior abertura da economia revelaram o grau de ineficiência de alguns
setores domésticos que passaram a refletir-se na incapacidade de honrar os empréstimos concedidos pelos
bancos, fato acentuado pelo corte de subsídios e pela política monetária restritiva. Esses fatores, conjugados

3 Do texto O Sistema Financeiro Nacional e o Plano Real. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/r199812/texto.asp?idpai=revsfn199812>.


Acesso em: 21 nov. 2013.

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com o desaparecimento dos ganhos inerentes ao processo inflacionário, até então apropriados pelo segmento
financeiro, evidenciaram a fragilidade de algumas de suas instituições, que se mostraram incapazes de promover
os ajustes necessários para sua sobrevivência no novo ambiente econômico.
Dada a eminente situação de insolvência de instituições financeiras, o Conselho Monetário Nacional
e o Banco Central passaram a tomar medidas no sentido de reestruturar e fortalecer o sistema financeiro,
como o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (Proer), o
Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (Proes) e a criação do
Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Pela Lei 9.447, de 14.03.97, foram dados mais poderes ao Banco Central
no tratamento de assuntos relacionados com a responsabilidade civil dos acionistas controladores, na adoção
de medidas saneadoras de natureza preventiva e passíveis de adoção pelo mercado e na flexibilização de
regras para privatizações. Pelo mesmo diploma legal, a apuração de responsabilidades de serviços de auditoria
independente objetivaram reforçar, ainda mais, a ação preventiva do Banco Central.

2 ÓRGÃOS NORMATIVOS DO SFN

i. Conselho Monetário Nacional (CMN)


O Conselho Monetário Nacional (CMN), instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964, é o órgão
responsável por expedir diretrizes gerais ao bom funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Integram
o CMN o ministro da Fazenda (presidente), o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o ministro
presidente do Banco Central do Brasil. Entre suas funções, estão: adaptar o volume dos meios de pagamento
às reais necessidades da economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de
pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras; propiciar o aperfeiçoamento das
instituições e dos instrumentos financeiros; zelar pela liquidez e pela solvência das instituições financeiras;
coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pública interna e externa.

ii. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)


O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) – órgão responsável por fixar as diretrizes e normas da
política de seguros privados – é composto pelo ministro da Fazenda (presidente), representante do Ministério
da Justiça, representante do Ministério da Previdência Social, superintendente da Superintendência de Seguros
Privados, representante do Banco Central do Brasil e representante da Comissão de Valores Mobiliários.
Entre as funções do CNSP, estão: regular a constituição, a organização, o funcionamento e a fiscalização
dos que exercem atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados (SNSP), bem como a
aplicação das penalidades previstas; fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada
aberta, capitalização e resseguro; estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro; prescrever
os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada
aberta e resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas operações e disciplinar a
corretagem de seguros e a profissão de corretor.

iii. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)


O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) é um órgão colegiado que integra a
estrutura do Ministério da Previdência Social cuja competência é regular o regime de previdência complementar
operado pelas entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão).

3 ENTIDADES SUPERVISORAS DO SFN

i. Banco Central do Brasil (BCB)


O Banco Central do Brasil (BCB) foi criado pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É uma autarquia
federal vinculada ao Ministério da Fazenda e o principal executor das decisões do Conselho Monetário Nacional.
Tem como missão assegurar a estabilidade do poder aquisitivo da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente
e como principais responsabilidades:

• zelar pela adequada liquidez da economia;


• manter as reservas internacionais em nível adequado;
• estimular a formação de poupança;
• zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro.
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Sua sede fica em Brasília e tem nove representações regionais nas capitais dos Estados do Rio Grande
do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Ceará e Pará.

ii. Comissão de Valores Mobiliários (CVM)


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Fazenda,
instituída pela Lei 6.385, de 7 de dezembro de 1976. É responsável por regulamentar, desenvolver, controlar
e fiscalizar o mercado de valores mobiliários. Para este fim, exerce as funções de: assegurar o funcionamento
eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; proteger os titulares de valores mobiliários; evitar ou
coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado; assegurar o acesso do público a informações sobre
valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido; assegurar a observância de
práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; estimular a formação de poupança e sua
aplicação em valores mobiliários; promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado
de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas.

iii. Superintendência de Seguros Privados (Susep)


A Superintendência de Seguros Privados (Susep) – autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda – é
responsável pelo controle e pela fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização.
Entre suas atribuições, estão: fiscalizar a constituição, a organização, o funcionamento e a operação das
sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na
qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; atuar no sentido de proteger a captação de poupança
popular que se efetua por meio das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e
resseguro; zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; promover o
aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados; promover a estabilidade
dos mercados sob sua jurisdição; zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;
disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores
de provisões técnicas; cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por
este forem delegadas; prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP.

iv. Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc)


A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é uma autarquia vinculada ao
Ministério da Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entidades fechadas de previdência
complementar (fundos de pensão). Atua como entidade de fiscalização e de supervisão das atividades das
entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de previdência
complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar, observando, inclusive, as
diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Conselho Nacional de Previdência
Complementar.

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UNIDADE 2 – ENTIDADES OPERADORAS

INTRODUÇÃO

Esta unidade apresenta resumo das diversas entidades operadoras do Sistema Financeiro Nacional, que
efetivamente viabilizam as operações de mercado, operam com o público (clientes) e, portanto, cumprem as
funções de intermediação financeira. A fim de ilustrar os mercados mencionados, são apresentados quadros
complementares, contendo os grandes números e os principais agentes que operam nos principais segmentos.

1 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS CAPTADORAS DE DEPÓSITO À VISTA

• Bancos múltiplos com carteira comercial.


• Bancos comerciais (inclusive banco cooperativo comercial).
• Caixa Econômica Federal.
• Cooperativas de crédito.

i. Bancos múltiplos
Os bancos múltiplos são instituições financeiras privadas ou públicas que realizam as operações ativas,
passivas e acessórias das diversas instituições financeiras. Devem constituir-se com, no mínimo, duas das
seguintes carteiras, sendo uma delas obrigatoriamente comercial ou de investimento:

i. comercial;
ii. de investimento e/ou de desenvolvimento, a última exclusiva para bancos públicos;
iii. de crédito imobiliário;
iv. de crédito, financiamento e investimento; e
v. de arrendamento mercantil.

É importante destacar que as instituições financeiras múltiplas oficiais, federais ou estaduais, podem
operar simultaneamente as carteiras de investimento e de desenvolvimento (ex.: Banco do Nordeste do
Brasil S.A. e Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A.), enquanto os bancos múltiplos privados não podem
operar a carteira de desenvolvimento.
Os bancos múltiplos devem ser organizados sob a forma de sociedade anônima e suas operações estão
sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às
suas carteiras. Na sua denominação social deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de
1994 e atualizações).

ii. Bancos comerciais


Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal
proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a
indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e os terceiros em geral. A captação de
depósitos à vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial, o qual pode também
captar depósitos a prazo. Deve ser constituído sob a forma de sociedade anônima e, na sua denominação
social, deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN nº 2.099, de 1994).

iii. Caixa Econômica Federal


A Caixa Econômica Federal (Caixa), criada em 1861, está regulada pelo Decreto-Lei 759, de 12 de
agosto de 1969, como empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda, com 100% do capital social detido
pela União. Trata-se de instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depósitos à vista,
realizar operações ativas e efetuar prestação de serviços. Uma característica que distingue a Caixa é que ela
prioriza a concessão de empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social,
saúde, educação, trabalho, transportes urbanos e esporte. Pode operar com crédito direto ao consumidor,
financiando bens de consumo duráveis, emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, bem
como tem o monopólio do empréstimo sob penhor de bens pessoais. Também tem o monopólio da venda

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de bilhetes de loteria4 federal e dos concursos de prognósticos e da compra de ouro extraído em garimpos
e minas. Além de centralizar o recolhimento e posterior aplicação de todos os recursos oriundos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), é o banco pagador do Programa de Integração Social (PIS), integra
o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Ao final
de 2012, a Caixa detinha 71% das operações de crédito imobiliário do país5.

iv. Cooperativas de crédito


As cooperativas de crédito são sociedades de pessoas (cada associado tem direito a um voto,
independente da quantidade de cotas partes detida na sociedade). Dividem-se em: singulares, que prestam
serviços financeiros de captação e de crédito apenas aos respectivos associados, podendo receber repasses
de outras instituições financeiras e realizar aplicações no mercado financeiro; centrais (constituídas por, no
mínimo, três cooperativas singulares), que prestam serviços às singulares filiadas, e são também responsáveis
auxiliares por sua supervisão; e confederações de cooperativas centrais (constituídas por, no mínimo, três
centrais), que prestam serviços a centrais e suas filiadas. As regras prudenciais são mais estritas para as
cooperativas cujo quadro social é mais heterogêneo, como as cooperativas de livre admissão (Resolução
CMN nº 3.859, de 2010).

2 BOLSAS DE MERCADORIAS E FUTUROS

As bolsas de mercadorias e futuros podem assumir a forma jurídica de associação civil ou sociedade
anônima, com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações
realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e operacionalizar
um mercado de derivativos livre e transparente, que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de
efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices,
taxas de juro, moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou variável macroeconômica
cuja incerteza de preço no futuro possa influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia
financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela CVM, ressaltando-se que a autorização para
funcionamento é da competência do BCB.

3 RESSEGURADORES

Os resseguradores são entidades constituídas sob a forma de sociedades anônimas que têm por objeto
exclusivo a realização de operações de resseguro e retrocessão. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)
foi fundado, em 1939, como empresa de economia mista, vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede no
Rio de Janeiro. Desde 1º/10/2013, transformou-se em empresa privada (IRB Brasil Resseguros S.A.) e detém
cerca de 47% do mercado total de resseguros no Brasil6. 4F4F

4 Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://bd.camara.leg.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/1518/exploracao_loterias_


andrade.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 nov.2013.
5 Relatório de Administração da Caixa 2012. Disponível em: <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/caixa/caixa_demfinanc/Relatorio_
Administracao_2012.pdf >. Acesso em: 27 nov. 2013.
6 Disponível em: <http://www.irbbrasilre.com/conheca-o-irb/sobre-o-irb-brasil-re/ >. Acesso em: 21 nov. 2013.

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Tabela 2: Cinco maiores resseguradoras do Brasil – (dez./2012)

Prêmios líquidos
Posição Empresa resseguradora Sede Resultado líquido (R$ milhões)
emitidos (R$ milhões)

1 IRB – Brasil Re RJ 2.048,60 397,1

2 Munich Re do Brasil SP 362,2 15,9

3 Ace Resseguradora SP 240,8 15,6

4 Mapfre Re do Brasil SP 234,7 17,4

5 JMalucelli Resseguradora PR 142,4 42,7

Fonte: disponível em: <http://www.valor.com.br/valor1000/2013/rankingmaioresresseguros>.



4 DEMAIS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

• Agências de fomento.
• Associações de poupança e empréstimo.
• Bancos de câmbio.
• Bancos de desenvolvimento.
• Bancos de investimento.
• Bolsa de valores.
• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
• Companhias hipotecárias.
• Cooperativas de centrais de crédito.
• Entidades fechadas de previdência complementar.
• Sociedades de crédito, financiamento e investimento.
• Sociedades de crédito imobiliário.
• Sociedades de crédito ao microempreendedor.
• Sociedades seguradoras.

i. Agências de fomento (AF)


As agências de fomento (AF) têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e
de giro associado a projetos na Unidade da Federação (UF) onde tenham sede. Devem ser constituídas sob
a forma de sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle de UF, sendo que cada Unidade
só pode constituir uma agência. Tais entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar
recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no Banco Central, contratar depósitos
interfinanceiros na qualidade de depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras
instituições financeiras. De sua denominação social, deve constar a expressão “agência de fomento” acrescida
da indicação da UF controladora. É vedada sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante
do Sistema Financeiro Nacional. As agências de fomento devem constituir e manter, permanentemente, fundo
de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor de suas obrigações, a ser integralmente aplicado em títulos
públicos federais (Resolução CMN nº 2.828, de 2001).

ii. Associações de poupança e empréstimo (APE)


As associações de poupança e empréstimo (APE) são constituídas sob a forma de sociedade civil,
sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao
mercado imobiliário e ao Sistema Financeiro da Habitação (SFH). As operações passivas são constituídas de
emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósitos de cadernetas de poupança, depósitos interfinanceiros e
empréstimos externos. Os depositantes dessas entidades são considerados acionistas da associação e, por
isso, não recebem rendimentos, mas dividendos. Os recursos dos depositantes são, assim, classificados no
patrimônio líquido da associação e não no passivo exigível (Resolução CMN nº 52, de 1967).

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iii. Bancos de Câmbio (BCamb)
Os bancos de câmbio (BCamb) são instituições financeiras autorizadas a realizar, sem restrições,
operações de câmbio e operações de crédito vinculadas às de câmbio, como financiamentos à exportação
e à importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio, e ainda a receber depósitos em contas sem
remuneração, não movimentáveis por cheque ou por meio eletrônico pelo titular, cujos recursos sejam
destinados à realização das operações acima citadas. Na denominação dessas instituições, deve constar a
expressão “banco de câmbio” (Resolução. CMN nº 3.426, de 2006).

iv. Bancos de desenvolvimento (BD)


Os bancos de desenvolvimento são instituições financeiras controladas pelos governos estaduais, e
têm como objetivo precípuo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários ao
financiamento, a médio e longo prazos, de programas e projetos que visem a promover o desenvolvimento
econômico e social do respectivo estado. As operações passivas são depósitos a prazo, empréstimos
externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e
de títulos de desenvolvimento econômico. As operações ativas são empréstimos e financiamentos, dirigidos
prioritariamente ao setor privado. Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anônima, com sede na
capital do estado que detiver seu controle acionário, devendo adotar, obrigatória e privativamente, em sua
denominação social, a expressão “banco de desenvolvimento”, seguida do nome do estado em que tenha
sede (Resolução CMN nº 394, de 1976).

v. Bancos de investimento (BI)


Os bancos de investimento (BI) são instituições financeiras públicas ou privadas especializadas em
operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para
suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros. Devem ser constituídos sob
a forma de sociedade anônima e adotar, obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “banco de
investimento”. Não possuem contas-correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos
externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. As principais operações
ativas são financiamento de capital de giro e capital fixo, subscrição ou aquisição de títulos e valores mobiliários,
depósitos interfinanceiros e repasses de empréstimos externos (Resolução CMN nº 2.624, de 1999).

vi. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)


O BNDE, criado em 1952 (e transformado em BNDES em 1982) como autarquia federal, foi enquadrado
como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio, pela Lei
5.662, de 21 de junho de 1971. O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (Mdic) e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam ao desenvolvimento do
país. Suas linhas de apoio contemplam financiamentos de longo prazo e custos competitivos, para desenvolvimento
de projetos de investimentos e para comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no país,
bem como para incremento das exportações brasileiras. Contribui, também, ao fortalecimento da estrutura de
capital das empresas privadas e ao desenvolvimento do mercado de capitais. A BNDESPAR, subsidiária integral,
investe em empresas nacionais por meio da subscrição de ações e debêntures conversíveis. As linhas de apoio
financeiro e os programas do BNDES atendem às necessidades de investimentos das empresas de qualquer
porte e setor, estabelecidas no país. A parceria com instituições financeiras, com agências estabelecidas em
todo o país permite a disseminação do crédito, possibilitando maior acesso aos recursos do BNDES.
A taxa de juros de longo prazo (TJLP), instituída em 1994, é definida como o custo básico dos
financiamentos concedidos pelo BNDES7. É fixada trimestralmente pelo CMN e ao longo de 2013 foi de 5%
ao ano, a mais baixa desde sua criação.
Entre os diversos produtos oferecidos, destaca-se o cartão BNDES, destinado a micro, pequenas, médias
empresas e também a empreendedores individuais.

vii. Companhias hipotecárias (CH)


As companhias hipotecárias são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade anônima,
que têm por objeto social conceder financiamentos destinados à produção, à reforma ou à comercialização

7 Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Ferramentas_e_Normas/Custos_Financeiros/Taxa_de_Juros_de_Longo_


Prazo_TJLP/>. Acesso em: 21 nov. 2013

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de imóveis residenciais ou comerciais aos quais não se aplicam as normas do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH). Suas principais operações passivas são: letras hipotecárias, debêntures, empréstimos e financiamentos
no país e no exterior. Suas principais operações ativas são: financiamentos imobiliários residenciais ou
comerciais, aquisição de créditos hipotecários, refinanciamentos de créditos hipotecários e repasses de
recursos para financiamentos imobiliários. Tais entidades têm como operações especiais a administração de
créditos hipotecários de terceiros e de fundos de investimento imobiliário (Resolução CMN nº 2.122, de 1994).

viii. Cooperativas centrais de crédito (CCC)


As cooperativas centrais de crédito, formadas por cooperativas singulares, organizam, em maior escala,
as estruturas de administração e suporte de interesse comum das cooperativas singulares filiadas, exercendo
sobre elas, entre outras funções, supervisão de funcionamento, capacitação de administradores, gerentes e
associados e auditoria de demonstrações financeiras (Resolução CMN nº 3.859, de 2010).

ix. Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento (SCFI ou Financeiras)


As sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas por financeiras, foram
instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda nº 309, de 30 de novembro de 1959. São instituições
financeiras privadas que têm como objetivo básico a realização de financiamento para aquisição de bens,
serviços e capital de giro. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima e na sua denominação
social deve constar a expressão “crédito, financiamento e investimento”. Tais entidades captam recursos por
meio de aceite e colocação de letras de câmbio (Resolução CMN nº 45, de 1966) e recibos de depósitos
bancários (Resolução CMN nº 3.454, de 2007).

x. Sociedades de crédito imobiliário (SCI)


As SCI são instituições financeiras criadas pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, para atuar no
financiamento habitacional. Constituem operações passivas dessas instituições os depósitos de poupança, a
emissão de letras e as cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são: financiamento
para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento
de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Devem
ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente, em sua denominação social,
a expressão “crédito imobiliário” (Resolução CMN nº 2.735, de 2000).

xi. Sociedades de crédito ao microempreendedor (SCM)


As sociedades de crédito ao microempreendedor (SCM), criadas pela Lei 10.194, de 14 de fevereiro
de 2001, são entidades que têm por objeto social exclusivo a concessão de financiamentos e a prestação
de garantias a pessoas físicas, bem como a pessoas jurídicas classificadas como microempresas, com vista a
viabilizar empreendimentos de natureza profissional, comercial ou industrial de pequeno porte. São impedidas
de captar, sob qualquer forma, recursos junto ao público, bem como emitir títulos e valores mobiliários
destinados à colocação e à oferta públicas. Devem ser constituídas sob a forma de companhia fechada ou de
sociedade por quotas de responsabilidade limitada, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a
expressão “sociedade de crédito ao microempreendedor”, vedada a utilização da palavra “banco” (Resolução
CMN nº 2.874, de 2001, com texto atualizado pela Resolução CMN 3.567, de 2008).

xii. Bolsas de valores (BV)


As bolsas de valores (BV) são sociedades anônimas ou associações civis, com o objetivo de manter
local ou sistema adequado ao encontro de seus membros e à realização entre eles de transações de compra
e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fiscalizado
por seus membros e pela Comissão de Valores Mobiliários. Possuem autonomia financeira, patrimonial e
administrativa (Resolução CMN nº 2.690, de 2000).

xiii. Sociedades seguradoras


Sociedades seguradoras são entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas
em pactuar contrato, por meio do qual assumem a obrigação de pagar ao contratante (segurado), ou a quem
este designar, uma indenização, no caso em que advenha o risco indicado e temido, recebendo, para isso, o
prêmio estabelecido.

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Tabela 3: 20 Maiores seguradoras no Brasil (dez./2012)

Prêmios emitidos líquidos


Clas. Seguradora Sede
(em R$ milhões)

1 Bradesco Seguros* RJ 19.603,9

2 Banco do Brasil e Mapfre* SP 11.321,5

3 SulAmérica* RJ 10.410,7

4 Porto Seguro* SP 9.563,3

5 Seguradora Líder-DPVAT RJ 7.143,9

6 Itaú Seguros SP 5.757,8

7 Allianz Seguros SP 3.028,6

8 Caixa Seguros DF 2.492,6

9 Liberty Mutual* SP 2.212,0

10 Tokio Marine* SP 2.098,9

11 HDI Seguros SP 1.942,8

12 Zurich Minas Brasil* MG 1.788,3

13 Marítima Seguros* SP 1.663,8

14 ACE Seguros SP 972,2

15 Chubb SP 880,1

16 Royal & SunAlliance RJ 531,3

17 Assurant SP 457,8

18 Generali Brasil RJ 434,0

19 Nobre SP 417,0

20 Yasuda SP 413,8

Fonte: disponível em: <http://www.valor.com.br/valor1000/2013/ranking50maioresseguradoras>.


Nota: * balanço consolidado.

xiv. Entidades fechadas de previdência complementar


As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) são organizadas sob a forma
de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos e são acessíveis, exclusivamente, aos empregados de
uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, entes denominados patrocinadores ou aos associados ou membros de pessoas jurídicas de
caráter profissional, classista ou setorial, denominadas instituidores. As entidades de previdência fechada
devem seguir as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, por meio da Resolução CMN
nº nº 3.792, de 24 de setembro de 2009, no que tange à aplicação dos recursos dos planos de benefícios.
Também são regidas pela Lei Complementar 109, de 29 de maio de 2001.

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Tabela 4: 20 Maiores fundos de pensão do Brasil (jun./2013)

Investimentos
Seq. Fundo de pensão Participantes ativos
(R$ bilhões)

1 Previ 163,8 101.531

2 Petros 64,8 99.134

3 Funcef 51,5 90.453

4 Fundação Cesp 21,4 15.332

5 Fundação Itaú Unibanco 18,1 30.033

6 Valia 16,4 79.494

7 Sistel 14,1 1.933

8 Forluz 11,5 9.077

9 Real Grandeza 11,0 5.467

10 Banesprev 10,8 3.742

11 Fundação Atlântico 9,1 14.554

12 Fapes 8,3 3.080

13 Centrus 8,3 101

14 Postalis 8,0 112.275

15 Fundação Copel 6,6 10.818

16 Previdência Usiminas 6,3 25.469

17 Telos 5,6 7.381

18 Fachesf 5,2 5.898

19 HSBC Fundo De Pensão 5,1 75.184

20 EletroCEEE 5,0 7.039

Fonte: Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp). Disponível em:
<http://www.abrapp.org.br/Documentos%20Pblicos/ConsolidadoEstatistico_06_2013.pdf/>.

5 OUTROS INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS

• Administradoras de consórcio.
• Entidades abertas de previdência complementar.
• Sociedades de arrendamento mercantil.
• Sociedades corretoras de câmbio.
• Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades de capitalização.

i. Administradoras de consórcio
As administradoras de consórcio são empresas responsáveis pela formação e pela administração de
grupos de consórcio, atuando como mandatárias de seus interesses e direitos. O grupo de consórcio é uma
sociedade não personificada, com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, e que
visa à coleta de poupança para permitir aos consorciados a aquisição de bens ou serviços. As atividades do
sistema de consórcio são reguladas pela Lei nº 11.795, de 8 de outubro de 2008, bem como pela Circular
nº 3.432, de 3 de fevereiro de 2009, e supervisionadas pelo Banco Central.

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ii. Sociedades de arrendamento mercantil (SAM ou leasing)
As sociedades de arrendamento mercantil (SAM) são constituídas sob a forma de sociedade anônima,
devendo constar obrigatoriamente na sua denominação social a expressão “arrendamento mercantil”. As
operações passivas dessas sociedades são emissão de debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamentos
de instituições financeiras. Suas operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de
direitos creditórios e, principalmente, por operações de arrendamento mercantil de bens móveis, de produção
nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do
arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 2.309, de 1996).

iii. Sociedades Corretoras de Câmbio (SCC)


As sociedades corretoras de câmbio (SCC) são constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por
quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “corretora de
câmbio”. Têm por objeto social exclusivo a intermediação em operações de câmbio e a prática de operações
no mercado de câmbio de taxas flutuantes. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução
CMN nº 1.770, de 1990).

iv. Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários (SCTVM)


As sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade
anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Entre seus objetivos, estão: operar em bolsas de
valores, subscrever as emissões de títulos e valores mobiliários no mercado; comprar e vender os títulos
e os valores mobiliários por conta própria e de terceiros; encarregar-se da administração de carteiras e
da custódia de títulos e valores mobiliários; exercer as funções de agente fiduciário; instituir, organizar e
administrar os fundos e os clubes de investimento; emitir os certificados de depósito de ações e cédulas
pignoratícias de debêntures; intermediar as operações de câmbio; praticar as operações no mercado de
câmbio de taxas flutuantes; praticar as operações de conta margem; realizar as operações compromissadas;
praticar as operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e de
terceiros; operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros. São supervisionadas
pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.655, de 1989), ressalvada a competência da CVM para
fiscalizar as operações com valores mobiliários e fiscalizar a administração de carteiras e a custódia de valores
mobiliários. A autorização para funcionamento das SCTVM é da competência do BCB.

v. Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários (SDTVM)


As sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários (SDTVM) são constituídas sob a forma
de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação
social a expressão “distribuidora de títulos e valores mobiliários”. Algumas de suas atividades: intermedeiam
a oferta pública e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado; administram e custodiam as
carteiras de títulos e valores mobiliários; instituem, organizam e administram fundos e clubes de investimento;
operam no mercado acionário, comprando, vendendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive
ouro financeiro, por conta de terceiros; fazem a intermediação com as bolsas de valores e de mercadorias;
efetuam lançamentos públicos de ações; operam no mercado aberto e intermedeiam operações de câmbio. São
supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN nº 1.655, de 1989), ressalvada a competência
da CVM para fiscalizar as operações com valores mobiliários e fiscalizar a administração de carteiras e a
custódia de valores mobiliários. A autorização para funcionamento das SDTVM é da competência do BCB.
Os fundos de investimento são constituídos sob a forma de condomínio (pessoa jurídica distinta da
instituição que o administra) e representam a reunião de recursos para aplicação em carteira diversificada
de títulos e valores mobiliários, com o objetivo de propiciar aos condôminos valorização de quotas, a um
custo global mais baixo. A normatização, a concessão de autorização, o registro e a supervisão dos fundos de
investimento são de competência da Comissão de Valores Mobiliários. Embora a administração de fundos de
investimento seja atividade típica de corretoras e distribuidoras de valores, atualmente os bancos comerciais
e múltiplos administram a maior parte dos fundos de investimento no país. Em dezembro de 2013, havia mais
de 8.500 fundos de investimento em atividade.

vi. Sociedades de capitalização


As sociedades de capitalização são entidades, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, que
negociam contratos (títulos de capitalização), que têm por objeto o depósito periódico de prestações

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pecuniárias pelo contratante, o qual terá, depois de cumprido o prazo contratado, o direito de resgatar parte
dos valores depositados corrigidos por uma taxa de juros estabelecida contratualmente, conferindo, ainda,
quando previsto, o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro.

vii. Entidades abertas de previdência complementar


As entidades abertas de previdência complementar são entidades constituídas unicamente sob a forma
de sociedades anônimas e têm por objetivo instituir e operar planos de benefícios de caráter previdenciário
concedidos em forma de renda continuada ou pagamento único, acessíveis a quaisquer pessoas físicas. São regidas
pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, e pela Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001.
As funções do órgão regulador e do órgão fiscalizador são exercidas pelo Ministério da Fazenda, por intermédio
do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

UNIDADE 3 – OUTROS PARTICIPANTES E TEMAS RELEVANTES NO SFN

INTRODUÇÃO

Além dos órgãos normativos, entidades supervisoras e operadores do SFN, existem outras instituições
e sistemas que exercem funções relevantes no âmbito do SFN, discriminadas a seguir.

1 CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (CFSFN)

O Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN) é um órgão colegiado, de segundo


grau, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com sede em Brasília (DF), criado pelo Decreto
nº 91.152, de 15 de março de 1985. É constituído, paritariamente, por oito conselheiros, possuidores de
conhecimentos especializados em assuntos relativos aos mercados financeiro, de câmbio, de capitais, de
consórcios e de crédito rural e industrial, observada a seguinte composição:

• dois representantes do Ministério da Fazenda (Minifaz);


• um representante do Banco Central do Brasil (BCB);
• um representante da Comissão de Valores Mobiliários (CVM); e
• quatro representantes das entidades de classe dos mercados afins, por essas indicados em
lista tríplice.

As entidades de classe que integram o CRSFN são as seguintes:

Titulares

Abrasca – Associação Brasileira das Companhias Abertas.


Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.
Ancord – Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos eValores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias.
Febraban – Federação Brasileira das Associações de Bancos.

Suplentes

Abac – Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios.


Amec – Associação de Investidores no Mercado de Capitais.
CECO/OCB – Conselho Consultivo do Ramo Crédito da Organização das Cooperativas Brasileiras.
Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil.

Fazem ainda parte do Conselho de Recursos três procuradores da Fazenda Nacional, designados pelo
procurador-geral da Fazenda Nacional, com atribuição de zelar pela fiel observância da legislação aplicável
(manifestação indispensável em todos os recursos), e um secretário-executivo, nomeado pelo ministro de
Estado da Fazenda, responsável pela execução e pela coordenação dos trabalhos administrativos. Para tanto,
o Banco Central do Brasil e, subsidiariamente, a Comissão de Valores Mobiliários proporcionam o respectivo
apoio técnico e administrativo.

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Um dos representantes do Ministério da Fazenda é o presidente do Conselho e o vice- presidente
é o representante designado pelo Ministério da Fazenda entre os quatro representantes das entidades de
classe que integram o Conselho.
Entre suas diversas atribuições, compete ao CRSFN julgar, em segunda e última instância, os recursos
de decisões do Banco Central do Brasil:

i. relativas a penalidades por infrações à legislação cambial, de capitais estrangeiros e de crédito


rural e industrial (esta competência originalmente pertencia ao CMN e foi transferida pela
Lei nº 9.069, de 1995);
ii. proferidas com base no art. 33 da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, relativas a penalidades
por infração à legislação de consórcios;
iii. proferidas com base no art. 9o da Lei no 9.447, de 14 de março de 1997, referentes à
adoção de medidas cautelares (a lei trata da responsabilidade solidária de administradores
de instituições financeiras submetidas a regime especial, entre outras matérias);
iv. referentes à desclassificação e à descaracterização de operações de crédito rural e industrial
e a impedimentos referentes ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro); e
v. relacionadas à retificação de informações, aplicação de multas e custos financeiros associados
a recolhimento compulsório, encaixe obrigatório e direcionamento obrigatório de recursos.

Permanece com o CMN a competência residual para julgar os demais casos ali previstos (contra
instituições financeiras, seus diretores, membros de conselhos administrativos, fiscais e semelhantes), por
força do disposto no artigo 44, § 5º, da Lei 4.595/1964, a saber:

• Multa pecuniária variável.


• Suspensão do exercício de cargos.
• Inabilitação temporária ou permanente ao exercício de cargos de direção na administração
ou gerência em instituições financeiras.

De acordo com o Relatório de Atividades de 2012, de um total de 638 decisões tomadas pelo CRSFN,
cerca de 82% foram confirmadas pelo colegiado. Não sofreram alteração 77% das decisões do BCB e 87% das
decisões da CVM. No caso do BCB, em 358 processos julgados pelo CRSFN (inclusive 118 arquivamentos),
276 decisões foram mantidas integralmente e 82 sofreram alteração8.

Tabela 5: Decisões do CRSFN (recursos julgados) 2012

Nº de recursos Confirmados Alterados parcialmente Alterados totalmente

BCB CVM Total BCB CVM Total BCB CVM Total BCB CVM Total

171 44 215 125 32 157 28 10 38 18 2 20

79,5% 20,5% 100% 73,1% 72,7% 73,0% 16,4% 22,7% 17,7% 10,5% 4,5% 9,3%

Fonte: CRSFN.

Em 2012, o prazo médio de tramitação de um processo no CRSFN foi de 1.296 dias (3 anos, 6 meses e 21 dias).

8 Os recursos no CRSFN são decompostos em número de indiciados. Assim, em 2012, nos 215 recursos julgados verificaram-se 513 indiciados(as),
com aplicação de 638 decisões/penalidades, das quais 358 oriundas do BCB e 280 da CVM.

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2 FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITOS (FGC)

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade
jurídica de direito privado, com a missão institucional de proteger depositantes e investidores no âmbito
do sistema financeiro, até os limites estabelecidos pela regulamentação, contribuir para manutenção da
estabilidade do SFN e prevenir crise bancária sistêmica.
Foi autorizado a constituir-se pelo CMN por meio da Resolução nº 2.197, de 31.08.1995. Em novembro
do mesmo ano, foram aprovados o estatuto e o regulamento da nova entidade (Resolução CMN nº 2.211,
de 16 de novembro de 1995. Atualmente as normas e o regulamento do FGC são regidos pela Resolução
CMN nº 4.222, de 23 de maio de 2013).
O FGC tem por objetivos prestar garantia de créditos contra instituições dele associadas, nas situações de:

• decretação da intervenção ou da liquidação extrajudicial de instituição associada; e


• reconhecimento, pelo Banco Central do Brasil, do estado de insolvência de instituição
associada que, nos termos da legislação em vigor, não estiver sujeita aos regimes referidos
no item anterior.

Também é atribuição do FGC, consideradas as finalidades de contribuir para a manutenção da estabilidade


do Sistema Financeiro Nacional e prevenção de crise sistêmica bancária, a contratação de operações de
assistência ou de suporte financeiro, incluindo operações de liquidez com as instituições associadas, diretamente
ou por intermédio de empresas por estas indicadas, inclusive com seus acionistas controladores.
São instituições associadas ao FGC a Caixa Econômica Federal e as instituições constituídas sob a
forma de banco múltiplo, banco comercial, banco de investimento, banco de desenvolvimento, sociedade de
crédito, financiamento e investimento, sociedade de crédito imobiliário, companhia hipotecária e associação
de poupança e empréstimo, em funcionamento no país, que:

i. Recebam depósitos à vista, em contas de poupança ou depósitos a prazo.


ii. Realizem aceite em letras de câmbio.
iii. Captem recursos mediante a emissão e a colocação de letras imobiliárias, de letras hipotecárias
ou de letras de crédito imobiliário.
iv. Captem recursos por meio de operações compromissadas, tendo por objeto títulos de
emissão de empresa ligada.

Os pagamentos do fundo são realizados por instituição financeira ou conglomerado até o limite de
R$ 250 mil por CPF/CNPJ, limitado ao saldo existente em conta. No caso de contas conjuntas, o valor da
garantia também está limitado a R$ 250 mil, ou ao saldo da conta quando inferior a esse limite, dividido pelo
número de titulares, sendo o crédito do valor garantido feito de forma individual. A adesão das instituições
financeiras e associações de poupança e empréstimo ao FGC é compulsória e a contribuição é de 0,0125%
sobre as rubricas contábeis especificadas no regulamento. As autorizações do BCB para funcionamento de
novas instituições financeiras estão condicionadas à adesão ao FGC.
O caráter privado da estrutura do FGC, estabelecido pela resolução do Conselho Monetário Nacional,
foi importante na sua consolidação como entidade independente.
O saldo do FGC é formado por:

• contribuições ordinárias e especiais mensais das instituições associadas;


• taxas de serviços decorrentes da emissão de cheques sem provisão de fundos;
• recuperações de direitos creditórios nas quais o FGC houver se sub-rogado, em virtude de
pagamento de dívidas de instituições associadas relativas a créditos garantidos;
• resultado líquido dos serviços prestados pelo FGC e rendimentos de aplicação de seus
recursos;
• remuneração e encargos correspondentes ao recebimento dos valores devidos em função da
realização das operações de assistência ou de suporte financeiro e aplicações de recursos; e
• receitas de outras origens.

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Em 2012 o FGC recebeu aproximadamente R$ 194,5 milhões em recursos isentos de imposto de
renda e contribuição para seguridade social, sendo R$ 168 milhões mensais em contribuições ordinárias,
R$ 21,1 milhões em depósito a prazo com garantia especial (DPGE) e R$ 5,5 milhões do recheque (tarifas
sobre cheques sem fundos). Também, em 2012, as despesas operacionais apresentaram gasto médio de R$
1,5 milhão, cerca de 0,8% da arrecadação.
São garantidos pelo FGC:

• Depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio.


• Depósitos de poupança.
• Depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado.
• Depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques destinadas ao registro e ao
controle do fluxo de recursos referentes à prestação de serviços de pagamento de salários,
vencimentos, aposentadorias, pensões e similares.
• Letras de câmbio.
• Letras imobiliárias.
• Letras hipotecárias.
• Letras de crédito imobiliário.
• Letras de crédito do agronegócio.
• Operações compromissadas que têm como objetivo títulos emitidos após 8 de março de
2012 por empresa ligada.

Até maio de 2013, o FGC limitava-se a garantir R$ 70 mil por depositante ou investidor. Considerando-
se os saldos até R$ 70 mil, a cobertura do fundo chegava a 98,7% dos depositantes, contemplando 30,95%
do total de créditos existentes no sistema financeiro. A partir da edição da Resolução CMN nº 4.222, de 23
de maio de 2013, o FGC passou a garantir até R$ 250 mil, cobrindo 99,7% dos depositantes e 46,5% dos
créditos existentes em junho de 2013.
Quanto aos produtos bancários cobertos pelo FGC, em junho de 2013 os depósitos a prazo
representavam 42,2%, os depósitos de poupança, 36,5%, e os depósitos à vista, 12,5%, totalizando 91,2% do
saldo dos produtos garantidos pelo fundo.

3 FUNDO GARANTIDOR DE COOPERATIVISMO DE CRÉDITO (FGCOOP)9

O Fundo Garantidor de Cooperativismo de Crédito (FGCoop) foi criado nos mesmos moldes do
FGC, mas com a função de proteger os depositantes das suas associadas (cooperativas singulares de crédito
e bancos cooperativos). As cooperativas centrais e as confederações são “associadas representantes,” isto
é, participam do FGCoop com o propósito exclusivo de representar as cooperativas singulares, não tendo
direito a qualquer tipo de garantia ou suporte financeiro prestado pelo FGCoop. A exemplo do FGC, também
é uma associação civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado, com abrangência
nacional e sede em Brasília (DF).
Foi autorizado a constituir-se pelo CMN pela Resolução nº 4.150, de 30 de outubro de 2012, e, em
novembro do ano seguinte, foram aprovados o estatuto e o regulamento da nova entidade (Resolução CMN
nº 4.284, de 5 de novembro de 2013). Também é isento do pagamento de imposto de renda (IR). A afiliação ao
FGCoop pelas cooperativas singulares de crédito e pelos bancos cooperativos que vierem a ser constituídos
deve ser comprovada ao BCB previamente ao início de suas operações.
O FGCoop tem por finalidades conforme o art. 2º do seu estatuto:

• Proteger depositantes e investidores das instituições associadas, nos limites e nas condições
previstas no seu regulamento.
• Contribuir para manutenção da estabilidade do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).
• Contribuir para prevenção de crise sistêmica no segmento cooperativista.

É vedado ao FGCoop ressarcir crédito de cooperados e clientes de instituições que não sejam suas associadas.
Os pagamentos do fundo são realizados por associada até o limite de R$ 250.000,00 por CPF/CNPJ,

9 Conforme Resolução CMN nº 4.284, de 5.11.2013.

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limitado ao saldo existente em conta. A adesão das associadas ao FGCoop é compulsória e a contribuição
é de 0,0125% sobre as rubricas contábeis especificadas no regulamento, com limite mensal mínimo de
contribuição de R$ 100,00.
O saldo do FGCoop é formado por:

• contribuições ordinárias e extraordinárias das instituições associadas;


• taxas de serviços decorrentes da emissão de cheques sem provisão de fundos recolhidos
direta ou indiretamente pelas instituições associadas;
• recuperações de direitos creditórios nas quais o FGCoop houver se sub-rogado, em virtude
de pagamento de dívidas de instituições associadas relativas a créditos garantidos;
• resultado líquido dos serviços prestados pelo FGCoop e rendimentos de aplicação de seus recursos;
• remuneração e encargos correspondentes ao recebimento dos valores devidos em função
da realização das operações de assistência ou de suporte financeiro; e
• receitas de outras origens, inclusive recursos recebidos do FGC.

Ao final de 2013, foram repassados cerca de R$ 135 milhões do FGC ao FGCoop, decorrentes das
taxas de cheques sem fundo de clientes de cooperativas de crédito e bancos cooperativos, recolhidos pelo
FGC desde o início de seu funcionamento em 1995.

4 SISTEMA DE INFORMAÇÕES DE CRÉDITO (SCR)

O Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR) é instrumento de registro e consulta


de informações sobre operações de crédito, avais e fianças prestados e limites de crédito concedidos por
instituições financeiras a pessoas físicas e jurídicas no país. Foi criado pelo CMN e é administrado pelo BCB,
a quem cumpre armazenar as informações encaminhadas e também disciplinar o processo de correção e
atualização da base de dados pelas instituições financeiras participantes.
O SCR é o principal instrumento utilizado pela supervisão bancária para acompanhar as carteiras de
crédito das instituições financeiras. Nesse sentido, desempenha papel importante na garantia da estabilidade
do SFN e na prevenção de crises. O SCR é alimentado mensalmente pelas instituições financeiras, mediante
coleta de informações sobre as operações concedidas. Cumpre a elas também corrigir ou excluir as
informações imprecisas. Eventuais questionamentos judiciais devem ser encaminhados diretamente à instituição
financeira que informou os dados sobre a operação. Inicialmente se determinou que as instituições enviassem
informações sobre o total das operações dos clientes com responsabilidade total igual ou superior a R$
50.000,00 (cinquenta mil reais). Paulatinamente, esse valor foi sendo diminuído, inicialmente para o patamar
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), depois para R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e, atualmente, são armazenadas no
banco de dados do SCR as operações dos clientes com responsabilidade total igual ou superior a R$ 1.000,00
(mil reais) a vencer e vencidas, e os valores referentes às fianças e aos avais prestados pelas instituições
financeiras a seus clientes, além de créditos a liberar contabilizados nos balancetes mensais.
A base legal para o sistema coletar e compartilhar informações entre as instituições participantes do SFN
e o respeito à privacidade do cliente quanto ao sigilo e à divulgação de informações obedecem às condições
previstas na Lei Complementar nº 105/2001 e na Resolução CMN nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008.
A qualidade das informações coletadas é essencial para garantir que sejam atingidos os objetivos que
nortearam a implantação do SCR. Para assegurar a confiabilidade do sistema, os arquivos recebidos são
submetidos a um rigoroso processo de verificação, mediante a realização de diversos testes de consistência.
A Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, em seu art. 1º, parágrafo 3º, determina que não
constitui violação do dever de sigilo a troca de informações entre instituições financeiras, para fins cadastrais,
inclusive por intermédio de centrais de risco, observadas as normas baixadas pelo CMN e pelo BCB.
O CMN, por meio da Resolução nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008, dispõe que as instituições
financeiras poderão consultar as informações consolidadas por cliente constantes do sistema, desde que obtida
autorização específica do cliente para essa finalidade. Portanto, depende do tomador de crédito permitir
ou não o compartilhamento de dados – sem a autorização do cliente, nenhuma instituição financeira pode
acessar seus dados no sistema.
Observe-se que as pessoas físicas e jurídicas com registro no Sistema de Informações de Crédito não
ficam impedidas de contrair novos empréstimos e financiamentos. Prevalecerá sempre o entendimento entre
o cliente e a instituição financeira.

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Devem prestar informações ao SCR:

• Agências de fomento ou de desenvolvimento.


• Associações de poupança e empréstimo.
• Bancos comerciais.
• Bancos de câmbio.
• Bancos de desenvolvimento;
• Bancos de investimento.
• Bancos múltiplos.
• Caixas econômicas.
• Companhias hipotecárias.
• Cooperativas de Crédito.
• Sociedades de arrendamento mercantil.
• Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.
• Sociedades de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte.
• Sociedades de crédito, financiamento e investimento.
• Sociedades de crédito imobiliário.
• Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O benefício imediato do SCR para a sociedade é o aumento de informações que facilitam a tomada
da decisão de crédito, diminuindo os riscos de concessão e aumentando a competição entre as instituições
participantes do SFN. As informações permitem que as instituições conheçam melhor os tomadores de
crédito no SFN e, com base na exposição que apresentar, elas oferecerem melhores condições de taxa ou
prazo, para aqueles clientes com hábitos de pagamento regular.
A taxa de juros incidente nas operações de crédito concedidas pelos intermediários financeiros reflete
a taxa de captação, os custos operacionais da instituição, os tributos e as taxas pagos, acrescidos de uma
margem de lucro. A inadimplência é um custo implícito no preço do crédito e, quanto menor a certeza de
pagamento, maior a taxa cobrada ao tomador final. Ao conhecer melhor o risco do potencial contratante
do crédito, as instituições financeiras podem oferecer taxas menores àqueles tomadores com bom histórico
de pagamento. Nesse sentido, o SCR funciona como um bureau de crédito e registra informações úteis para
distinção entre bons e maus pagadores, contribuindo para redução do spread bancário.
Entre os principais aspectos que distinguem o SCR em relação aos cadastros restritivos de crédito
(Serasa-Experian, Boa Vista, CCF e congêneres), destacam-se:

• A existência do SCR veio atender à necessidade de supervisor do Banco Central, ao prover


a supervisão bancária com informações para realização de suas atividades com a escala e a
precisão adequadas.As informações recebidas pelo sistema são maiores do que as disponibilizadas
para consulta pelas instituições financeiras. Optou-se por compartilhar informações com o
SFN em função dos benefícios, proporcionados pela divulgação de informações que permitem
a decisão de crédito com menores riscos.
• O conteúdo do SCR também distingue esse sistema dos cadastros restritivos de crédito. O
registro de dados de determinada pessoa física ou jurídica no SCR não a desqualifica, haja
vista que o registro no SCR não revela necessariamente informação que permita construir
juízo de valor negativo de um devedor. A avaliação, a partir da consulta de dados de um
devedor no SCR, pode ser tanto positiva, nos casos em que se constata que o cliente é um
pagador contumaz e pontual, como negativa, caso se percebam dificuldades no pagamento
dos créditos em aberto.
• O SCR apresenta o saldo devedor de clientes e sua adimplência ou inadimplência, cabendo a cada
instituição avaliar as informações. Deve-se ressaltar que a grande maioria dos clientes cadastrados
no sistema é adimplente (cerca de 70% não têm registro desabonador) e que a inadimplência,
que pode ser temporária, não impede a contratação de novas operações de crédito.

Cada cliente pode consultar seus dados diretamente na internet na página do BCB ou das instituições
financeiras. As consultas realizadas diretamente no Banco Central também apresentam os dados detalhados

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por instituição financeira. As consultas realizadas na instituição financeira apresentam o detalhamento apenas
das operações realizadas com aquela instituição. Para operações com outras instituições, os dados são
apresentados de forma agregada para todo o SFN.
O SCR submete-se à disciplina do Código de Defesa do Consumidor (CDC), razão pela qual apenas
os dados dos últimos 60 meses ficam disponíveis para consulta.

5 SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH)

O Sistema Financeiro da Habitação (SFH) foi criado pela Lei nº 4.380, de 1964, no âmbito de uma
reformulação geral do Sistema Financeiro Nacional. A mesma lei instituiu a correção monetária, com o
objetivo de abrir o mercado para colocação de títulos do governo e viabilizar financiamentos de longo prazo.
A correção monetária foi fundamental ao financiamento habitacional, então limitado a pouquíssimas
operações realizadas pelas Caixas Econômicas e pelos institutos de previdência existentes na época. De um
lado, possibilitou a criação de instrumentos de captação de recursos de prazos mais longos e os depósitos
em caderneta de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Por outro lado, viabilizou
o crédito imobiliário.
A primeira fase do SFH, que vai de sua criação até a segunda metade dos anos 70, foi o período áureo
do Sistema. Os depósitos em caderneta de poupança cresceram, chegando a ocupar o primeiro lugar entre os
haveres financeiros não monetários. Os recursos do FGTS também expandiram como resultado do aumento
do nível de emprego e da massa salarial. Surgiram as Sociedades de Crédito Imobiliário e as Associações de
Poupança e Empréstimo, formando o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), integrado por
instituições financeiras especializadas na concessão de financiamentos habitacionais, tendo como fontes de
recursos os depósitos em caderneta de poupança e repasses dos recursos do FGTS pelo Banco Nacional
da Habitação (BNH).
Além de administrar o FGTS, o BNH também era o órgão regulador e fiscalizador do SFH, incluindo
as instituições do subsistema SBPE.
Do lado dos financiamentos habitacionais, foram introduzidos mecanismos como o Fundo de Compensação
de Variações Salariais (FCVS), mediante o qual a obrigação do mutuário, que tivesse pagado todas as suas
prestações, cessava depois de decorrido o prazo contratual do financiamento e o fundo absorveria eventuais
saldos devedores residuais, provocados pelo descompasso entre a periodicidade de aplicação dos índices
de correção monetária aplicados aos saldos devedores e os índices de reajustes aplicados às prestações.
Com elevação da inflação, ações judiciais promovidas pelos mutuários se multiplicaram, visando
compatibilizar as prestações de casa própria com a evolução do salário. O resultado foi o descasamento
entre os índices de correção dos saldos devedores já concedidos (que seguiam indiretamente os índices
de inflação) e o das prestações desses financiamentos (muitos dos quais atrelados à evolução dos salários).
As Associações de Poupança e Empréstimo e as Sociedades de Crédito Imobiliário foram gradativamente
substituídas, ainda na segunda metade da década de 1980, pelos bancos múltiplos na concessão de novos
financiamentos. O Banco Nacional de Habitação foi extinto em 1986 e suas atribuições passaram a ser
desenvolvidas pelo Banco Central do Brasil, pela Caixa Econômica Federal e pelo Ministério da Fazenda.
Esse período coincidiu com o vencimento de boa parte dos contratos de financiamento habitacional,
concedidos com prazos de 15 a 20 anos, causando problemas relacionados ao FCVS.
A década de 1990 teve início com a retenção pelo governo da época de boa parte dos recursos da
poupança (e de outros ativos financeiros), afetando o setor de construção civil e de crédito imobiliário. Por
outro lado, os depósitos de poupança sofriam forte concorrência por parte dos fundos de investimento.
O volume dos financiamentos imobiliários diminuiu significativamente. Os financiamentos realizados com
recursos dos depósitos do FGTS também registraram queda nesse período.
Paralelamente, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e
as instituições financeiras analisaram vários modelos de financiamento imobiliário praticados no exterior
e apresentaram uma proposta para o governo, para o Congresso e para o setor da construção civil, para
revigorar o crédito imobiliário no Brasil. Surgiu assim o Sistema de Financiamento Imobiliário, instituído pela
Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997. Por outro lado, a estabilização da economia brasileira registrada
ao longo da década de 2000 deu novo ânimo ao SFH. As taxas de juros aplicadas aos financiamentos foram

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caindo e as menores taxas de inflação permitiram às empresas e às famílias fazer um planejamento de médio
e longo prazo e a assumir compromissos de mais longo prazo.
Em dezembro de 2013, era possível financiar um imóvel em até 420 meses (35 anos) via SBPE.

6 INCLUSÃO FINANCEIRA E EDUCAÇÃO FINANCEIRA

O Banco Central do Brasil atua para ampliar e melhorar o acesso da população a serviços financeiros
desde a década de 1990, por meio de três frentes principais: (i) expansão e fortalecimento dos canais de
acesso a serviços financeiros, (ii) criação de instrumentos para melhor adequação dos serviços aos segmentos
de menor renda, e (iii) garantia da qualidade na provisão de serviços financeiros.
Quanto à expansão dos canais de acesso, cabe destacar a importância dos correspondentes que, além
de levarem serviços financeiros a municípios desassistidos, oferecem mais conveniência em áreas já atendidas.
O desenvolvimento do modelo atual iniciou-se no final da década de 1990 e a garantia de sua estabilidade e
aprimoramento é parte da agenda permanente do BCB. Entre 2000 e 2010, o número de correspondentes
no país aumentou de 19.000 para 150.000. Hoje, eles estão presentes em todos os municípios brasileiros e
representam mais da metade do número de pontos de acesso a serviços financeiros.
Em 2010, todos os 5.565 municípios brasileiros já contavam com pelo menos um ponto de acesso a
serviços financeiros e, de forma geral, o sistema financeiro está fisicamente mais próximo do cidadão. Em
2000, apenas 18% dos municípios possuíam mais de cinco pontos de acesso para cada grupo de 10.000
adultos. Em 2010, o número de municípios com este nível de atendimento já representava 94% do total. Nos
últimos cinco anos, o número de indivíduos com relacionamento ativo com instituição financeira aumentou
31%, chegando a 121 milhões de pessoas, que correspondem a 84% da população adulta brasileira.
Além de incentivar a expansão e o fortalecimento dos canais de acesso a serviços financeiros, o BCB
buscou promover iniciativas e criar as condições necessárias à promoção da inclusão financeira da população
de menor renda. Em 2004, foram criadas as contas especiais de depósitos à vista e de poupança, popularmente
conhecidas como contas simplificadas. Referidas contas são isentas da cobrança de tarifas e possuem processo
de abertura simplificado, com menor grau de exigência em termos de documentação. Iniciativas dessa natureza
estão em consonância com as demais ações do Governo Federal, particularmente programas voltados a aumentar
o acesso a crédito por parte da população de menor renda, como o Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo Orientado (PNMPO) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Adicionalmente, para garantir ao consumidor o direito de escolha, a regulação determinou a portabilidade
gratuita do salário, dos dados cadastrais e do crédito e vedou a cobrança de tarifa decorrente de liquidação
antecipada de contratos de crédito.
Para facilitar a comunicação entre cliente e instituição financeira, a regulamentação tornou obrigatória
a existência de ouvidoria nas instituições reguladas. Outro progresso foi o aumento da transparência na
prestação de serviços financeiros, permitindo à população acesso a informações mais objetivas e oportunas
quanto aos custos dos serviços financeiros, oferecendo condições para comparação entre um provedor
e outro. Destacam-se a padronização e uniformização da terminologia das tarifas bancárias, cambiais e de
cartões de crédito e a obrigatoriedade de divulgação do custo efetivo total do crédito, que consolida em
um único número todos os custos envolvidos na contratação de empréstimos e financiamentos. Ademais,
a fim de garantir melhor atendimento à população, tornou-se obrigatório o treinamento e a certificação
dos funcionários, inclusive em correspondentes. Muitos desses avanços resultam da relação entre o BCB
e as diversas instituições públicas e privadas engajadas em ações voltadas à adequada inclusão financeira da
população, entre os quais estão (i) o Ministério da Fazenda (MF); (ii) o Ministério Público Federal (MPF);
(iii) o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça (MJ); (iv) a
Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara do Deputados; (v) o Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS); (vi) o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); (vii) o Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE); (viii) as associações de classe, como a Organização das Cooperativas Brasileiras
(OCB), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a Associação
Brasileira das Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte (ABSCM), a
Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito (ABCRED) e a
Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento (ABDE); (ix) o Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); e (x) o Fórum Permanente das Micro e Pequenas Empresas
(Fórum Permanente das MPEs); além do apoio da comunidade acadêmica e de outras entidades, nacionais,

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como a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR) e o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), e internacionais, como a Aliança para Inclusão Financeira (AFI), o Grupo
Consultivo de Assistência aos Pobres (CGAP) e a Fundação Bill & Melinda Gates.
O debate iniciou, em 2002, com seminários sobre microcrédito, ampliados posteriormente para
microfinanças e, a partir de 2009, sobre o tema da inclusão financeira, em suas diversas dimensões.
A preocupação em promover a inclusão financeira tem levado o Banco Central a participar também do
debate internacional sobre o assunto. No âmbito do G-20, foi constituído, em 2009, o Grupo de Especialistas
em Inclusão Financeira (Financial Inclusion Experts Group – FIEG), no bojo do qual foram criados o Subgrupo
de Acesso por meio da Inovação (Access Through Innovation Subgroup – ATISG) e o Subgrupo de Finanças
para Pequenas e Médias Empresas (Small and Medium Enterprise Finance – SME). Em 2010, o Brasil exerceu
com a Austrália a coliderança do subgrupo ATISG. Os trabalhos resultaram na definição dos Princípios para
Inclusão Financeira Inovadora do G-20, a saber:

1. Liderança – cultivar amplo compromisso governamental pela inclusão financeira para ajudar
no combate à pobreza.

2. Diversidade – desenvolver políticas que promovam a competição e o fornecimento pelo


mercado de ampla gama de serviços financeiros.

3. Inovação – promover a inovação tecnológica e institucional como meio de expandir o acesso


e o uso a serviços financeiros inclusive, melhorando a infraestrutura disponível.

4. Proteção – praticar a proteção ao consumidor sob perspectiva ampla, levando em conta as


responsabilidades do governo, dos prestadores de serviços financeiros e dos consumidores.

5. Capacitação – desenvolver educação e capacitação financeira.

6. Cooperação – desenvolver um ambiente institucional com claras definições de


responsabilidade e de coordenação dentro do governo e também encorajar parcerias e
consultas diretas entre governo, setor privado e outros interessados.

7. Conhecimento – melhorar a coleta e o trabalho de dados para embasar a formulação de


política, medir o progresso e desenvolver o aprendizado sobre o assunto.

8. Proporcionalidade – praticar política e estrutura regulatória proporcional aos riscos


envolvidos nesses novos serviços.

9. Estrutura – considerar as seguintes sugestões para o sistema regulatório, levando em conta


as especificidades de cada país: (i) adoção de um regime apropriado de combate à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, que leve em consideração o risco real e que
equilibre os benefícios da inclusão financeira com os riscos relacionados aos produtos e aos
canais de acesso; (ii) estabelecimento de condições para o uso de agentes como intermediários
entre instituições financeiras e o público; (iii) criação de um claro regime regulatório para o
dinheiro eletrônico; (iv) desenvolvimento de incentivos baseados no mercado para promover
amplas interoperabilidade e interconexões nas movimentações por meio eletrônico.

Na busca por promover melhor alinhamento a esses princípios, o G-20 lançou o Plano de Ação para
Inclusão Financeira Inovadora, em dezembro de 2010, cujo principal instrumento de execução é a Parceria
Global para Inclusão Financeira, da qual o Brasil faz parte.
Entre os atuais desafios, destacam-se: (i) aumentar a adequação da oferta de serviços financeiros às
necessidades da economia e da população; (ii) elevar o nível de educação financeira da população, combatendo
o sobre-endividamento; (iii) fomentar a poupança popular; (iv) fortalecer os mecanismos de proteção aos
usuários de serviços financeiros; (v) fomentar o desenvolvimento sustentável do microcrédito produtivo;
(vi) garantir a estabilidade e promover o aperfeiçoamento do modelo de correspondentes no país; e (vii)
aprofundar o conhecimento sobre a realidade brasileira em relação à inclusão financeira.

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Identificou-se, ademais, a necessidade de um esforço coordenado para enfrentar esses novos desafios, o
que motivou o lançamento da Parceria Nacional para Inclusão Financeira (PNIF), em novembro de 2011, que
visa catalisar os esforços para promoção da adequada inclusão financeira no país, diante dos novos desafios
e em sintonia com os Princípios para Inclusão Financeira Inovadora do G-20, anteriormente elencados. A
seguir, são apresentados a definição e os objetivos da Pnif.

6.1 Parceria Nacional para Inclusão Financeira

Rede de atores públicos e privados engajados em ações coordenadas para promoção da adequada
inclusão financeira da população brasileira.

Objetivo
Promover a adequada inclusão financeira da população brasileira.

Objetivos específicos
1. Expandir e melhorar o acesso da população a serviços financeiros.
2. Favorecer a responsabilidade financeira e o acesso a informações sobre serviços financeiros, por meio da
educação financeira e do aumento da transparência.
3.Atuar para que a oferta de serviços financeiros seja mais adequada às necessidades da economia e da população.

Além da inclusão financeira, outro tópico relevante é a educação financeira da população de um país.
Pela educação financeira, as pessoas obtêm melhor entendimento dos conceitos relacionados aos
aspectos financeiros, tais como consumo, poupança e crédito, além do que são os produtos financeiros
disponíveis, uma vez que eles têm crescido e se sofisticado. Assim, elas podem estar mais conscientes das
oportunidades e dos riscos associados aos produtos, tomando melhores escolhas ou identificando quando
e como procurar ajuda.
Nesse sentido, de melhoria da educação financeira da população, foi instituída a Estratégia Nacional de
Educação Financeira (Enef), visando promover a educação financeira e contribuir para o fortalecimento da
cidadania, colaborando para alcançar a eficiência e a solidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN). O Banco
Central participou deste esforço para elaborar essa estratégia e integra o Comitê Nacional de Educação
Financeira (Conef), responsável por definir planos, programas e ações e por coordenar a execução da Enef.
Ao Banco Central cabe:

1. Exercer periodicamente a presidência do Conef, rodiziado entre Banco Central do Brasil,


Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Ministério da Fazenda.
2. Coordenar o desenvolvimento da Educação Financeira de adultos, no âmbito da Enef.
3. Exercer a Secretaria-Executiva do Comitê.

7 FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

Padrões internacionais de sustentabilidade para instituições financeiras, que estão sendo desenvolvidos
nos últimos 20 anos, estabelecem compromissos com a sustentabilidade, definem padrões para análises de
riscos socioambientais, para relatórios de sustentabilidade, para controle de riscos de corrupção, bem como
padrões de investimento, de divulgação de emissões de carbono e de políticas para o clima.
O Brasil foi um dos primeiros países a desenvolver um conjunto de princípios de sustentabilidade que busca
reunir os principais padrões internacionais para as instituições que operam no país, o Protocolo Verde.Além disso,
é um dos países com maior número de instituições signatárias de padrões internacionais de sustentabilidade.
Grandes bancos brasileiros são também referências reconhecidas internacionalmente em sustentabilidade.
Apesar desses importantes avanços, a sustentabilidade no sistema financeiro está ainda limitada a
um pequeno número de instituições. Na maioria dos grandes bancos e dos bancos de desenvolvimento,
a sustentabilidade vem sendo incorporada em suas políticas e processos, porém apenas 12% dos bancos
médios e pequenos e 35% dos bancos de investimento possuem políticas de sustentabilidade (nov./2011).
Nas cooperativas de crédito e nas agências de fomento, o tema está em processo de desenvolvimento e
essas instituições ainda não possuem políticas formais de sustentabilidade. A divulgação de informações

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sobre políticas de sustentabilidade também é, ainda, restrita a pequeno número de instituições – apenas 22
das 210 possuem relatórios de sustentabilidade.
Em uma análise mais detalhada das políticas de sustentabilidade dos bancos, foram pesquisadas as ações
específicas, como gestão de riscos socioambientais, produtos financeiros para sustentabilidade, governança,
programas de educação, relacionamento com clientes e políticas relacionadas ao clima. A conclusão dessa análise
é que apenas 8% das instituições financeiras no Brasil possuem políticas bem estruturadas de sustentabilidade.
Uma das formas de disseminar e consolidar a sustentabilidade no sistema financeiro é via uma atuação
mais ativa do BCB. Em vários países, os bancos centrais estão assumindo papel ativo em regulamentar ou
incentivar a incorporação da sustentabilidade nos sistemas
financeiros dos seus países. No Brasil, o CMN editou regulações a respeito, e o BCB começou um
trabalho de orientação das instituições financeiras para iniciar o debate, promover o aprendizado e a
sustentabilidade para todo o SFN.
No SFN, as instituições podem ser classificadas em três grandes grupos. Um pequeno grupo de bancos
líderes adota a sustentabilidade com uma abordagem estratégica que fortalece a capacidade competitiva.
Um grupo de instituições está em uma fase intermediária de incorporação da sustentabilidade, adota uma
abordagem gerencial e tem um foco prioritário na gestão do risco. A maioria das instituições está, ainda, em
uma fase inicial, na qual existe a consciência da importância da sustentabilidade para as instituições financeiras,
mas é preciso formular e implementar políticas e processos de gestão sustentáveis. Tanto o BCB como os
bancos líderes têm papel importante em colaborar para a disseminação e consolidação da sustentabilidade
em todo o sistema financeiro brasileiro.

8 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

As sociedades cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, constituídas
para prestar serviços aos associados, cujo regime jurídico, atualmente, é o instituído pela Lei nº 5.764, de 16
de dezembro de 1971, e pela Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. No caso das cooperativas
de crédito, também estão sujeitas à Resolução CMN nº 3.859, de 27 de maio de 2010, que disciplina sua
constituição e funcionamento.
As sociedades cooperativas são classificadas como: cooperativas singulares, ou de 1º grau, quando
destinadas a prestar serviços diretamente aos associados; cooperativas centrais e federações de cooperativas,
ou de 2º grau, aquelas constituídas por cooperativas singulares e que objetivam organizar, em comum e em
maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas
atividades, bem como facilitando a utilização recíproca dos serviços; e confederações de cooperativas, ou
de 3º grau, as constituídas por centrais e federações de cooperativas e que têm por objetivo orientar e
coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o vulto dos empreendimentos transcender o âmbito
de capacidade ou conveniência de atuação das centrais ou das federações.

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Tabela 6: Quantitativo de cooperativas de crédito por tipo

Posição: 31.11.2013
Tipo das cooperativas Total
Confederação 1
Cooperativas centrais 36
Segmentação por tipo
Crédito rural 245
Crédito mútuo/atividade profissional 131
Crédito mútuo/empregados 412
Crédito mútuo/vínculo patronal 35
Crédito mútuo/empreendedores – micros e pequenos 13
Crédito mútuo/livre admissão – até 300 mil habitantes 167
Crédito mútuo/livre admissão – de 300 mil a 750 mil habitantes 68
Crédito mútuo/livre admissão – de 750 mil a 2 milhões habitantes 43
Crédito mútuo/livre admissão – acima de 2 milhões habitantes 6
Crédito mútuo/origens diversas 38
Luzzatti 6
Subtotal (singulares) 1.164
Total 1.201

Fonte: Unicad, disponível em: < http://www.bcb.gov.br/htms/deorf/d201311/Quadro%2003%20-%20Quantitativo


%20de%20cooperativas%20de%20crédito%20por%20tipo%20e%20ramo%20de%20ªtividade.pdf f>.

Tabela 7: Sistemas cooperativos do Brasil – principais números (dez./2012)

Depósitos Operações Patrimônio


Sistema Postos de totais de crédito líquido
Associados Cooperativas
cooperativo atendimento (Valores (Valores (Valores
em R$) em R$) em R$)

Sicoob 2,4 milhões 529 2.091 21 bilhões 20 bilhões 8,1 bilhões

Sicredi 2,3 milhões 112 1.208 20 bilhões 18,5 bilhões 4,6 bilhões

Unicred 278 mil 95 325 6,5 bilhões 5,4 bilhões 1,9 bilhão

Cecred 289 mil 15 121 1,3 bilhão 1,2 bilhão 415 milhões

Confesol 300 mil 150 429 1 bilhão 2,5 bilhões 457 milhões

Uniprime 26 mil 9 40 ND 500 milhões ND

TOTAL 5.575 mil 910 4.214 49,8 bilhões 48,3 bilhões 15,5 bilhões

Fonte: Portal do Cooperativismo de Crédito, disponível em: <http://cooperativismodecredito.com.br/


news/cenario-brasileiro/dados-consolidados-dos-sistemas-cooperativos/>.

Cooperativas de crédito são instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade cooperativa,
tendo por objeto a prestação de serviços financeiros aos associados, como concessão de crédito, captação
de depósitos à vista e a prazo, fornecimento de cheques, prestação de serviços de cobrança, de custódia,
de recebimentos e pagamentos por conta de terceiros sob convênio com instituições financeiras públicas e
privadas e de correspondente no país, além de outras operações específicas e atribuições estabelecidas na
legislação em vigor. Além disso, por força do artigo 92 da citada Lei nº 5.764/1971, a fiscalização e o controle
das sociedades cooperativas de crédito são atribuições do Banco Central do Brasil.

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As cooperativas de crédito são importante instrumento de desenvolvimento em muitos países. Na
Alemanha, essas cooperativas possuem cerca de 15 milhões de associados e respondem por cerca de 20%
de todo o movimento financeiro bancário do país. Na Holanda, o banco cooperativo Rabobank atende a mais
de 90% das demandas financeiras rurais. Nos EUA, há mais de 12 mil unidades de atendimento cooperativo
apenas no sistema Cuna (Credit Union National Association), que reúne cooperativas de crédito mútuo do
tipo Desjardins10. Além dessas, os bancos cooperativos agrícolas respondem por mais de um terço dos
financiamentos agropecuários norte-americanos. Estima-se que 25% dos norte-americanos sejam associados
a uma cooperativa de crédito. Na literatura, há registros de que em 2000, 46% do total das instituições de
crédito da Europa eram cooperativas, participando com cerca de 15% da intermediação financeira.
Já, no Brasil, o cooperativismo de crédito respondia, em dezembro de 2012, por 2,60% das operações
de crédito realizadas no âmbito da área bancária do SFN e possuía 3,85% do patrimônio líquido total da
área bancária do SFN.
A partir da edição da Resolução CMN nº 3.106, em 25 de junho de 2003, o CMN autorizou a constituição
de cooperativas de crédito de livre admissão de associados dentro de sua área de atuação, respeitados
certos limites populacionais e de capital mínimo, o que possibilitou acentuada expansão do cooperativismo
de crédito no Brasil. De fato, em outubro de 2013, das 1.210 cooperativas de crédito em funcionamento
no país, 288 (23,8%) atuavam sob a forma de livre admissão de associados e agregavam 54% do total de 6
milhões de associados ligados a cooperativas de crédito no país. Daquelas cooperativas de livre admissão,
200 delas tiveram origem em cooperativas de crédito rural e o principal benefício da mudança foi a redução
ou a eliminação dos riscos da sazonalidade, típica dos ciclos de produção das atividades agrícola e pecuária.

10 Alphonse Desjardins foi o precursor do cooperativismo de crédito nas Américas, ao fundar em 6 de dezembro de 1900, em Quebec, Canadá,
a primeira cooperativa, hoje conhecidas como crédito mútuo, que pressupõe alguma espécie de vínculos entre os sócios. Até 1915, 90% dos
empréstimos concedidos tinham valores inferiores a US$ 100.00.

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REFERÊNCIAS

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Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 jul. 1965.

______. Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o
regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
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______. Lei nº 9.447, de 14 de março de 1997. Dispõe sobre a responsabilidade solidária de controladores
de instituições submetidas aos regimes de que tratam a Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974, e o Decreto-lei
nº 2.321, de 25 de fevereiro de 1987; sobre a indisponibilidade de seus bens; sobre a responsabilização das
empresas de auditoria contábil ou dos auditores contábeis independentes; sobre privatização de instituições
cujas ações sejam desapropriadas, na forma do Decreto-lei nº 2.321, de 1987, e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 mar. 1997.

______. Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997. Dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário,
institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 21 nov. 1997.

______. Lei nº 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. Dispõe sobre a instituição de sociedades de crédito ao
microempreendedor, altera dispositivos das Leis nºs 6.404, de 15 de dezembro de 1976. 8.029, de 12 de abril
de 1990, e 8.934, de 18 de novembro de 1994, e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 16 fev. 2001.

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República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 out. 2008.

______. Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros
Privados, regula as operações de seguros e resseguros e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 nov. 1966.

______. Decreto-Lei nº 759, de 12 de agosto de 1969. Autoriza o Poder Executivo a constituir a emprêsa
pública Caixa Econômica Federal e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
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______. Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001. Dispõe sobre o sigilo das operações de
instituições financeiras e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo,
Brasília, DF, 11 jan. 2001.

______. Lei Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001. Dispõe sobre o Regime de Previdência
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______. Lei Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito
Cooperativo e revoga dispositivos das Leis nos 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e 5.764, de 16 de dezembro
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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 45, de 30 de dezembro de 1966. Regulamentação de


aceite de letras de câmbio, incluído o crédito direto ao consumidor.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 52, de 4 de maio de 1967. Associações de Poupança e
Empréstimos – Autorização para a Constituição e Funcionamento. Anteprojeto de Regulamento elaborado
pelo Banco Nacional da Habitação (BNH).

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 394, de 3 de novembro de 1976. Bancos de desenvolvimento
e carteiras de desenvolvimento em bancos comerciais – Regulamentação.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.120, de 4 de abril de 1986. Disciplina a constituição, a
organização e o funcionamento das sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.655, de 26 de outubro de 1989. Disciplina a constituição,
a organização e o funcionamento das sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 1.770, de 28 de novembro de 1990. Estabelece condições
para a constituição, a organização e o funcionamento das sociedades corretoras de câmbio.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.099, de 17 de agosto de 1994. 3.658, de 17 de dezembro
de 2008. Aprova regulamentos que dispõem sobre as condições relativamente ao acesso ao Sistema Financeiro
Nacional, aos valores mínimos de capital e patrimônio líquido ajustado, à instalação de dependências e à
obrigatoriedade da manutenção de patrimônio líquido ajustado em valor compatível com o grau de risco das
operações ativas das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.122, de 30 de novembro de 1994. Aprova a constituição,
a organização e o funcionamento de companhias hipotecárias.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.197, de 31 de agosto de 1995. Autoriza a constituição de
entidade privada, sem fins lucrativos, destinada a administrar mecanismo de proteção a titulares de créditos
contra instituições financeiras.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.211, de 16 de novembro de 1995. 3.658, de 17 de


dezembro de 2008. Aprova o estatuto e o regulamento do Fundo Garantidor de Créditos – FGC. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.309, de 28 de agosto de 1996. Disciplina e consolida
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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.690, de 28 de janeiro de 2000. Altera e consolida as
normas que disciplinam a constituição, a organização e o funcionamento das bolsas de valores.

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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.735, de 28 de junho de 2000. Programa Nacional de
Desburocratização. Disciplina a constituição e o funcionamento das sociedades de crédito imobiliário.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.828, de 30 de março de 2001. Dispõe sobre a constituição
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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 2.874, de 26 de julho de 2001. Dispõe sobre a constituição
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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.106, de 25 de junho de 2003. Dispõe sobre os requisitos
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para o cancelamento da autorização para funcionamento de cooperativas de crédito. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.121, de 25 de setembro de 2003. Altera e consolida
as normas que estabelecem as diretrizes pertinentes à aplicação dos recursos dos planos de benefícios das
entidades fechadas de previdência complementar. (Revogado)

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.454, de 30 de maio de 2007. Dispõe sobre as condições
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______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.658, de 17 de dezembro de 2008. Altera e consolida
a regulamentação relativa ao fornecimento, ao Banco Central do Brasil, de informações sobre operações
de crédito.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010. Altera e consolida as
normas relativas à constituição e ao funcionamento de cooperativas de crédito.

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 4.150, de 30 de outubro de 2012. Estabelece os requisitos
e as características mínimas do fundo garantidor de crédito das cooperativas singulares de crédito e dos
bancos cooperativos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC).

______. Conselho Monetário Nacional. Resolução nº 4.284, de 5 de novembro de 2013. Aprova o Estatuto e o
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Tabela 1: Quantitativo de instituições autorizadas por segmento

2009 2010 2011 2012 2013


Segmento Sigla
Dez. Dez. Dez. Dez. Nov.

Banco múltiplo BM 139 137 139 137 132

Banco comercial1/ BC 18 19 20 22 22

Banco de desenvolvimento BD 4 4 4 4 4

Caixa Econômica Federal CE 1 1 1 1 1

Banco de investimento BI 16 15 14 14 14

Banco de câmbio B Camb   2 2 2 3

Sociedade de crédito, financiamento e investimento CFI 59 61 59 58 58

Sociedade corretora de títulos e valores mobiliários CTVM 105 103 99 94 92

Sociedade corretora de câmbio CC 45 44 47 57 62

Sociedade distribuidora de títulos e valores mobiliários DTVM 125 125 126 118 115

Sociedade de arrendamento mercantil SAM 33 32 31 30 28

Sociedade de crédito imobiliário2/ e associação


SCI e APE 16 14 14 12 11
de poupança e empréstimo
Sociedade de crédito ao microempreendedor
SCM 45 45 42 40 38
e à empresa de pequeno porte

Agência de fomento AG FOM 14 15 16 16 16

Companhia hipotecária CH 6 7 8 7 8

Subtotal  
626 624 622 612 604

Cooperativa de crédito COOP 1405 1370 1312 1254 1.201

Subtotal  
2031 1994 1934 1866 1.805

Sociedade administradora de consórcio CONS 308 300 284 222 200

Total
2339 2294 2218 2088 2.005

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201311>.

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Posi- 31.11.2013
ção:
Unidade da Federação/região B SCI e AG
BM BC BD CE BI Camb CFI CTVM CC DTVM SAM APE SCM FOM CH COOP CONS Total
Alagoas AL                 1     1   1   11 1 15
Bahia BA 3             4 3 2     1 1   41 2 57
Ceará CE 1           1 2   2     2     7 2 17
Maranhão MA                               5 1 6
Paraíba PB                         1     18 2 21
Pernambuco PE 4             1 3 1   1 2 1   14   27
Piauí PI                           1   3   4
Rio Grande do Norte RN                 1         1 1 7 2 12
Sergipe SE 1                             2 4 7
Nordeste 9 – – – – – 1 7 8 5 – 2 6 5 1 108 14 166
Acre AC                               4   4
Amapá AP                           1   1   2
Amazonas AM                 2       1 1   9   13
Pará PA 1 1             1        1     24 1 29
Rondônia RO                               26   26

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Roraima RR                           1   1   2

Cespe/UnB
Tocantins TO                           1   2   3
Norte 1 1 – – – – – – 3 – – – 2 4 – 67 1 79
Distrito Federal DF 2 1   1     1     2 1 1       18 9 36
Goiás GO                           1   43 6 50
Mato Grosso MT                           1   24 1 26
Mato Grosso do Sul MS                       1 1     10   12
Centro-Oeste 2 1 – 1 – – 1 – – 2 1 2 1 2 – 95 16 124

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Espírito Santo ES 1   1       3 1   1           33 5 45

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201311>.


Minas Gerais MG 7 1 1   1   1 9   7 2 2 7     205 20 261
Rio de Janeiro RJ 10 3 1   3   2 16 7 29   1 3 1 1 63 8 147

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São Paulo SP 87 15     10 3 27 52 31 63 23 2 12 1 4 262 65 660
Sudeste 105 19 3  – 14 3 33 78 38 100 25 5 22 2 5 563 98 1.113
Paraná PR 6 1         6 3 5 4 1   3 1 1 127 25 183
Rio Grande do Sul RS 9   1       13 4 6 1 1 2 1 1 1 123 25 188
Santa Catarina SC             4   2 3     3 1   118 21 152
Sul 15 1 1 – – – 23 7 13 8 2 2 7 3 2 368 71 523
Tabela 2: Quantitativo de instituições autorizadas por tipo, com sede nas Unidades da Federação (UF)

Totais 132 22 4 1 14 3 58 92 62 115 28 11 38 16 8 1201 200 2.005


    Dez./12 Out./13
Municí-
Municípios Municípios Municí- Municípios
pios sem Municí-
Quantit. Municípios Municípios sem sem agên- Municípios com sem de- Municípios pios sem sem depen-
UF agência pios com
municípios sem agência agência e com PA cia e sem agência pendência sem agência agência e dência ban-
e com agência
PA bancária sem PA cária
PA
Alagoas 102 45 43 2 57 2 45 43 2 57 2
Bahia 417 127 127   290   127 127   290  
Ceará 184 66 66   118   66 66   118  
Maranhão 217 96 90 6 121 6 96 89 7 121 7
Paraíba 223 148 121 27 75 27 148 109 39 75 39
Pernambuco 185 53 53   132   53 53   132  
Piauí 224 174 123 51 50 49 174 107 67 50 65
Rio Grande do 113 80 33 54 31
113 95 18 54 17
Norte 167
Sergipe 75 25 22 3 50 2 25 20 5 50 4
Nordeste 1794 847 740 107 947 103 847 694 153 947 148
Acre 22 6 4 2 16 2 6 4 2 16 2
Amapá 16 7 7   9   7 6 1 9 1
Amazonas 62 20 20   42   20 20   42  
Pará 143 49 49   94   49 49   94  
Rondônia 52 12 12   40   12 12   40  

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Roraima 15 7 7   8   7 7   8  

Cespe/UnB
Tocantins 139 102 74 28 37 25 102 70 32 37 29
Norte 449 203 173 30 246 27 203 168 35 246 32
Distrito Federal 21 2   2 19 1 2   2 19 1
Goiás 246 99 94 5 147 5 99 90 9 147 8
Mato Grosso 141 48 44 4 93 4 48 44 4 93 4
Mato Grosso do    
13 13   65   13 13 65

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Sul 78
Centro-Oeste 486 162 151 11 324 10 162 147 15 324 13
Espírito Santo 78       78         78  

Fonte: Cadmu e Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.

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Minas Gerais 853 321 317 4 532 4 321 305 16 532 16
Rio de Janeiro 92       92         92  
São Paulo 645 59 56 3 586 3 59 57 2 586 2
Sudeste 1668 380 373 7 1288 7 380 362 18 1.288 18
Paraná 399 112 112   287   112 111 1 287 1
Rio Grande do Sul 496 154 154   342   136 135 1 360 1
Tabela 3: Atendimento bancário no país – distribuição do quantitativo de municípios por região e UF

Santa Catarina 295 61 59 2 234 2 61 60 1 234 1


Sul 1190 327 325 2 863 2 309 306 3 881 3
Total 5.587 1.919 1.762 157 3.668 149 1.901 1.677 224 3.686 214
Tabela 4: Quantitativo de dependências

Tipo de ponto de atendimento* Dez./09 Dez./10 Dez./11 Maio/12 Jun./12 Dez./12 Out./13
Agência 20.046 19.813 21.278 21.588 21.586 22.218 22.724
PA (exclui PAC) – – – – 8.944 10.579 10.503
em município com agência bancária – – – – 7.052 8.588 8.689
em município sem agência bancária – – – – 1.892 1.991 1.814
PAC 2.914 3.159 3.513 3.619 3.639 3.743 3.885
PAE 34.303 35.361 37.316 37.575 37.613 37.665 39.217
UAD 730 751 780 839 838 971 1.010
PAB 6.663 6.678 6.620 6.667 – – –
em município com agência bancária 6.542 6.549 6.507 6.552 – – –
em município sem agência bancária 121 129 113 115 – – –
PAA 1.689 1.978 1.892 1.884 – – –
PAM 6 12 16 24 – – –
PAP 32 29 27 26 – – –
PAT 25 20 20 8 – – –
PCO 97 63 67 68 – – –
Total 66.505 67.864 71.529 72.298 72.620 75.176 77.339

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.

* A Resolução CMN nº 4.072, de 26.4.2012, adotou nova classificação de dependências de instituições financeiras, definindo apenas: agência, Posto
de Atendimento (PA), Posto de Atendimento Eletrônico (PAE) e Unidade Administrativa Desmembrada (UAD). A menção ao Posto de Atendimento
Cooperativo (PAC) na tabela é apenas para segregar o atendimento prestado por postos de cooperativas de crédito.

Tabela 5: Bancos com maiores redes de agências

2009 2010 2011 2012 2013


CNPJ Instituições Tipo
  Dez. Dez. Dez. Dez. Out.
1 00.000.000 Banco do Brasil BM 4.951 5.087 5.183 5.362 5.422
2 60.746.948 Bradesco BM 3.430 3.605 4.611 4.663 4.648
3 60.701.190 Itaú BM 3.562 3.739 3.825 3.856 3.878
4 00.360.305 Caixa Econômica Federal CE 2.084 2.208 2.309 2.868 3.211
5 90.400.888 Santander BM 2.292 2.392 2.510 2.588 2.635
6 01.701.201 HSBC BM 893 865 867 868 866
7 92.702.067 Banrisul BM 432 435 439 466 507
8 07.237.373 BNB BM 183 185 187 193 225
9 17.184.037 Mercantil do Brasil BM 148 153 165 177 189
10 28.127.603 Banestes BM 129 133 133 134 135
11 33.479.023 Citibank BM 125 126 126 126 126
12 04.902.979 Basa BC 104 109 118 123 123
13 58.160.789 Safra BM 98 99 101 105 102
14 00.000.208 BRB BM 59 62 62 64 84
15 13.009.717 Banese BM 61 61 61 61 61
17 04.913.711 Banpará BM 42 42 42 44 44
16 17.351.180 Triângulo BM 47 47 47 47 44
18 62.232.889 Daycoval BM 27 30 31 35 36
19 07.450.604 BIC BM 31 33 34 35 33
20 59.588.111 Votorantim BM 20 27 35 34 27
Subtotal 18.718 19.438 20.886 21.849 22.396
Demais instituições bancárias 1.328 375 392 369 328
Total geral 20.046 19.813 21.278 22.218 22.724

Fonte: Unicad, disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?QEVSFN201310>.

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MÓDULO II – BANCOS CENTRAIS E BANCO CENTRAL DO BRASIL

UNIDADE 1 – ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS, HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL


DO BRASIL E FUNÇÕES DE MONOPOLISTA DE EMISSÃO E BANQUEIRO DO GOVERNO

INTRODUÇÃO

Esta unidade tem como objetivo apresentar as razões que motivaram o surgimento dos bancos centrais,
incluindo nesta trajetória o exemplo do Banco Central da Inglaterra, o primeiro a agrupar mais claramente
funções que passaram a definir uma instituição financeira com atribuições especiais; como foram agregadas
mais funções aos bancos centrais ao longo do desenvolvimento do sistema bancário; as circunstâncias
que condicionaram o surgimento do Banco Central do Brasil (BCB); e, por fim, os principais aspectos que
regem duas de suas funções, quais sejam, monopolista de emissão e banqueiro do governo. Outras funções
importantes serão abordadas nas próximas unidades: i) banco dos bancos; ii) executor da política monetária
e cambial; e iii) fiscalizador e supervisor do sistema financeiro.

1 ORIGENS DOS BANCOS CENTRAIS E HISTÓRIA DO BANCO CENTRAL DO BRASIL

1.1 Origens dos bancos centrais

O surgimento dos bancos centrais se deu como consequência da ampliação das atividades bancárias.
Na maioria das vezes, a história mostra que eles descenderam de bancos privados que tinham entre suas
atribuições financiarem o estado (CARVALHO, 2007, p. 14), ou como uma imposição do setor público ao
sistema financeiro, após crises bancárias nacionais.
A partir do século XVII, em alguns países europeus, determinados bancos comerciais privados começaram
a se destacar entre os demais. Além disso, em virtude de suas relações com o Tesouro, esses bancos recebiam
o direito de emissão de moeda conversível em ouro. Com o passar do tempo, estas instituições concentraram
algumas funções que, mais tarde, definiriam o papel de um banco central:

i. Emissão de moeda.
ii. Atuação como banco de governo.
iii. Recebimento de depósito de reservas dos outros bancos.
iv. Concessor de empréstimo de última instância.

Sobretudo, em decorrência de crises bancárias, a necessidade de segurança dos depósitos e de regulação


financeira e a busca por financiamento por parte dos governos fizeram que o modelo se expandisse pelo mundo.
Embora a maioria dos bancos centrais tenha surgido do desenvolvimento de um banco comercial, este
não foi o caso do primeiro banco a assumir características de um banco central, o Bank of England – BOE
(Banco da Inglaterra), que foi criado para ser o banqueiro de governo inglês em 1694. Segundo Goodhart, o
BOE não foi transformado em banco central por sua atuação comercial, mas principalmente por uma imposição
legal, para que o governo, que se encontrava em dificuldades financeiras, obtivesse recursos financeiros de
maneira mais fácil (GOODHART, 1988, p. 15). Observe-se que o BOE surgiu como uma instituição privada,
tendo se tornado público somente em 1946, após a Segunda Guerra Mundial.
Com o passar do tempo, paralelamente ao desenvolvimento dos sistemas bancários nacionais, os bancos
centrais foram assumindo novas atribuições, como gestor de meios de pagamentos, regulador e supervisor
do sistema financeiro (SOBREIRA, 2005, p. 29) e, basicamente, a partir da crise de 1930, executor das
políticas monetária e cambial. Para conter as ameaças inflacionárias, difundiu-se, a partir dos anos 80, a tese
de independência do Banco Central, que se apoia, em grande medida, na crença de que há uma verdadeira
função original das autoridades monetárias, que é perseguir a estabilidade de preços. Independência do banco
central representa ter liberdade para decidir sobre a condução das suas atribuições de forma a atingir seus
objetivos, e suas decisões muito dificilmente serão anuladas por outros órgãos de governo (BLINDER, 1999,
p. 72). Observe-se que a independência de seus bancos centrais foi pré-condição para a entrada dos países
na União Europeia (UE). Nesse sentido, o BOE, apesar de já possuir autonomia operacional na prática, se
tornou independente por lei em 1997 (NÓBREGA, 2012).

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Funções de monopolista de emissão e banqueiro do governo
39
Mais recentemente, na trajetória dos bancos centrais, vale destacar o caso do Banco Central Europeu
(BCE), responsável pela moeda única europeia, o euro – primeiro caso de um banco central de um grande
conjunto de países. O BCE entrou em funcionamento em 1998 (disponível em: <https://www.ecb.europa.eu/
ecb/html/index.pt.html>. Acesso em: 13 nov. 2013).
É interessante destacar que, dadas as suas atribuições, um banco central transforma-se, automaticamente,
em assessor econômico do governo, pois é responsável pela execução das políticas monetária e cambial, atua na
definição da política de crédito e participa em algumas instâncias da execução da política fiscal. Nesse sentido,
há de considerar que o grau de influência de um banco central na tomada de decisões macroeconômicas
depende do contexto político e administrativo em que se situa sua ação e também do prestígio e da atitude
de seu governador ou presidente.

1.2 História do Banco Central do Brasil

A busca por uma instituição que organizasse o sistema monetário e o financeiro do Brasil iniciou
em 1694, com a criação da Casa da Moeda. Posteriormente, com a chegada da família Real portuguesa e
a criação do Banco do Brasil (BB), em 1808, já havia a consciência da necessidade de criar um “banco dos
bancos” com poderes de emitir papel-moeda com exclusividade, além de exercer o papel de banqueiro do
Estado (BCB, 2013b).
O BB foi criado com algumas funções de banco central, pois cumpria o papel de banco de depósitos, desconto
e emissão. Além do mais, era investido do poder de venda de produtos privativos da Administração Pública e
contratos reais, funções típicas de banqueiro do governo. Um dos fatores que explica o grande retardamento até
a criação de um banco central propriamente dito no Brasil foi esse duplo papel exercido pelo BB.
Mesmo com o BB cumprindo algumas funções, até 1945 não existia uma organização institucional que
realizasse o controle da oferta de moeda. Naquele ano, entre outros motivos, em função da necessidade de
criar interlocutor para atuar com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo criou a Superintendência
da Moeda e do Crédito (Sumoc), com as funções de exercer o controle sobre o mercado financeiro e de
combater a inflação, assim como de preparar o país para a implantação de um banco central (BCB, 2013b).
Vale registrar que, nesse período, foi criado também o Conselho Superior da Sumoc, órgão normativo com
responsabilidade pela coordenação das políticas monetária, creditícia, cambial e bancária.
Segundo Lago, a partir de então, a Sumoc passou a dividir as funções de banco central com o BB e o
Tesouro Nacional. A Sumoc tinha a atribuição de fixar os percentuais de depósitos compulsórios dos bancos,
as taxas do redesconto e da assistência financeira de liquidez e também os juros sobre depósitos bancários
(LAGO, 1982, p. 30). Além do mais, supervisionava a atuação dos bancos comerciais, orientava a política
cambial e representava o Brasil em organismos financeiros internacionais.
O BB continuou desempenhando as funções de banco do governo, pois era depositário dos recursos
do governo e de banco dos bancos, mediante o recebimento dos depósitos compulsórios e voluntários dos
demais bancos. Ao Tesouro Nacional cabia definir as condições para emitir papel-moeda.
Pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro 1964, foi criado um banco central no Brasil. O Banco Central
do Brasil (BCB), autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), iniciou suas atividades
em março de 1965.
Entretanto, até 1986, o BCB repartiu as funções de autoridade monetária com o BB, que continuou
recebendo os depósitos voluntários das instituições financeiras. Adicionalmente, em 1965, passou a funcionar
a conta-movimento, que unia o BCB ao BB, permitindo o suprimento automático de recursos ao BB,
viabilizando, assim, a realização da política de crédito oficial e outras operações do governo federal, sem o
prévio aprovisionamento de recursos.
Na segunda metade da década de 80, foi iniciado um grande processo de reordenamento financeiro, que
incluiu a transferência das contas de caráter fiscal, embutidas no orçamento monetário, para o orçamento
fiscal. Com isso, o orçamento fiscal começou a apresentar déficits que antes não apareciam. O passo seguinte
foi o fim da conta-movimento que ligava o BB e o Banco Central. Houve, ainda, a unificação orçamentária e a
criação do Orçamento-Geral da União (OGU). O BCB perdeu também a faculdade de administrar a política
de endividamento do governo.
Foram também redefinidas as funções do BB, do BCB e do Tesouro. Criou-se a Secretaria do Tesouro
Nacional, como caixa único de todas as despesas do governo federal.
Na mesma época, segundo o BCB, a Constituição Federal estabeleceu dispositivos importantes para
a atuação do BCB, dentre os quais se destacam o exercício exclusivo da competência da União para emitir
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Funções de monopolista de emissão e banqueiro do governo
40
moeda e a exigência de aprovação prévia pelo Senado Federal dos nomes indicados pelo Presidente da
República para os cargos de presidente e diretores da instituição (BCB, 2013l).
Durante a década de 1990, inicia-se o processo de transferência da administração da dívida pública
externa do BCB para a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). O processo completo de transferência se
encerra em 2005, com a passagem da administração da dívida externa pública securitizada e negociada no
mercado internacional para a STN.

A STN assumiu o controle e a movimentação das contas especiais em moeda estrangeira, decorrentes
de acordos externos firmados junto a organismos multilaterais e agências de crédito internacional
(dívida externa), passando a gerir a dívida pública federal mobiliária ou contratual, interna ou externa.
Ao centralizar em uma única unidade governamental a responsabilidade pelo gerenciamento de todos
os compromissos do Governo Federal obteve-se maior transparência orçamentária e financeira
nas contas do Governo (STN, 2013).

Com essas mudanças, o BCB se aproximou do modelo de um banco central clássico.


Mais recentemente, destacaram-se como marcos da atuação do BCB a operacionalização do Plano Real
(1994), primeira tentativa de estabilização do poder aquisitivo da moeda bem-sucedida a partir de 1986, a
adoção do Regime de Metas para a Inflação (1999), a implantação do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro
– SPB (2002) e a implementação de medidas visando à inclusão financeira (2009 em diante).
O Plano Real foi a primeira experiência de um plano econômico no Brasil em que a política monetária
foi pensada de forma independente pelo Banco Central. Com esse plano, houve substancial redução da
inflação e sua consolidação em níveis administráveis. Em março de 1994, os preços em Cruzeiro Real foram
indexados à Unidade Real de Valor (URV). Esta foi igualada à taxa de câmbio oficial do dólar norte-americano.
A partir de 1º de julho de 1994, foram extintos a URV e o Cruzeiro Real e criado o Real (R$), com os preços
equiparados à taxa da URV de 30/6/1994, em CR$ 2.750,00. O Plano Real valeu-se de política monetária
robusta, emissões controladas de moeda, melhoria da política fiscal e do aumento de reservas internacionais,
que permitiram, nos seus primeiros anos até 1999, a administração do câmbio na chamada âncora cambial.
Sistema de pagamentos abarca procedimentos e sistemas pelos quais são efetuadas as transferências para
liquidação de fundos entre instituições financeiras e, em última instância, permite que a economia do país funcione.
O atual Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) foi implantando em 22/4/2002 e trouxe grandes inovações ao
mercado financeiro, destacando-se a possibilidade de liquidação de pagamentos no próprio dia, pela Transferência
Eletrônica Disponível (TED), a impossibilidade de saldos negativos em contas mantidas no BCB pelas instituições
financeiras e a redução do risco sistêmico e do risco de crédito incorrida pela autoridade monetária.
Mais recentemente, o BCB atua para ampliar e melhorar o acesso da população a serviços financeiros.
Em virtude dessa preocupação, desde 2009, o BCB realiza fóruns anuais para tratar do assunto. O objetivo
da atuação do BCB é a expansão, o fortalecimento dos canais de acesso a serviços financeiros, a criação de
instrumentos para melhor adequação dos serviços aos segmentos de menor renda e a garantia da qualidade
na provisão de serviços financeiros. Nesse sentido, cabe destacar a edição da Medida Provisória nº 615,
convertida na Lei nº 12.865/2013, que cria as instituições de pagamentos e a conta de pagamentos, que deve
impulsionar os pagamentos por dispositivos móveis e facilitar a entrada no sistema financeiro a pessoas de
menor poder aquisitivo. Destaca-se também a importância dos correspondentes no país, que, além de levar
serviços financeiros a municípios desassistidos, ampliam as conveniências em áreas já atendidas.

2 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL

2.1 Monopolista de emissão

O BCB detém o monopólio no Brasil de emissão de papel-moeda e de cunhagem de moedas metálicas


(CARVALHO et al., 2007, p. 13). A função “monopólio de emissão” engloba a gestão das atividades referentes
ao meio circulante e destina-se a satisfazer a demanda de dinheiro indispensável à atividade econômico-
financeira do país. Do ponto de vista operacional, o BCB atende às necessidades de numerário do sistema
bancário e, consequentemente, do público, por meio dos mecanismos de emissão e recolhimento.
No Brasil, a produção física de dinheiro compete, de forma exclusiva, a uma empresa pública, a Casa da
Moeda do Brasil (CMB), conforme definido em lei. O BCB é, dessa maneira, um cliente da CMB, com quem
se relaciona por meio de contrato de fornecimento de cédulas e moedas.

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De outra visão, os conceitos econômicos de emissão e recolhimento monetário referem-se,
respectivamente, a colocar e retirar dinheiro em circulação, aumentando ou diminuindo os meios de pagamento.
Assim, a emissão ocorre quando o BCB entrega papel-moeda para os bancos por meio de débito em sua
conta “reservas bancárias”, para atender às necessidades de saques dos seus clientes. Desse modo, a emissão
de papel-moeda pelo BCB reflete a demanda do público por papel-moeda.
Por outro lado, há também momentos em que os clientes depositam os excedentes de papel-moeda em
suas contas-correntes, trazendo para o sistema bancário excesso de numerário, relativamente às necessidades
de saques. Então, os bancos depositam o numerário excedente no BCB, que credita o valor correspondente
na conta reservas bancárias da instituição, operação que se denomina “recolhimento de reservas em espécie”.
Em suma, a execução dos serviços do meio circulante contempla o atendimento à demanda de
dinheiro, a substituição e a destruição do numerário desgastado, inservível para circulação, conhecida como
“saneamento do meio circulante”, e o estudo, a pesquisa, a elaboração e a aprovação de projetos de novas
cédulas e moedas, visando aperfeiçoá-las para minimizar os riscos de falsificação.
Na estrutura organizacional do BCB, essas atribuições são exercidas pelo Departamento do Meio
Circulante (Mecir), sediado na cidade do Rio de Janeiro. As funções do Mecir são tratadas na unidade “Estrutura
e organização do Banco Central”.
A partir de 2006, outrossim, a custódia de numerário do BCB passou a poder ser executada por
instituições financeiras bancárias ou por associações de instituições financeiras constituídas para essa
finalidade. Como resultado, nos dias atuais, a prestação dos serviços de custódia é realizada em dependências
das instituições custodiantes, sob controle administrativo e operacional do BCB. Cabe ao BCB exercer a
fiscalização das instituições custodiantes em relação ao cumprimento das normas e dos procedimentos e
à qualidade dos serviços prestados. O BCB também estabelece a remuneração máxima a ser paga pelas
instituições financeiras aos custodiantes, tomando em consideração, inclusive, a escala de custos incorridos
na prestação dos serviços. Atualmente, o BB é a única instituição custodiante de numerário contratada,
compartilhando com o BCB, atividades nas funções de provimento e saneamento do meio circulante.

2.2 Banqueiro do governo

Esta função guarda em suas origens grande relação com o direito de emissão dos bancos centrais, pois
os governos muitas vezes o concediam a bancos que assumiam o compromisso de financiá-los. Atualmente,
na maior parte dos países, a instituição é proibida de financiar o governo. Mesmo assim, o banco central é o
principal banqueiro do governo, pois detém suas contas mais importantes, participa ativamente do manejo
do seu fluxo de fundos e é o depositário e administrador das reservas internacionais do país.
Certamente, a centralização de boa parte das operações bancárias governamentais no banco central
é fundamental, haja vista a estreita relação entre os orçamentos públicos, seu fluxo de fundos e o mercado
financeiro. O governo é o agente econômico com maiores receitas e despesas; consequentemente suas
operações financeiras dão lugar a movimentos sazonais que podem alterar significativamente o volume das
disponibilidades bancárias e do crédito. Nessas condições, a participação do Banco Central no manejo das
contas do Tesouro é fundamental para regular o crédito e os agregados monetários.
No Brasil, antes do desenvolvimento do mercado de títulos da dívida pública, o ajuste da disponibilidade
de recursos do governo aos seus compromissos de pagamento se dava mediante a concessão de créditos
de curto prazo pelo BCB, a título de antecipação de receitas futuras de impostos. Esse ajustamento, na
atualidade, é efetuado via colocação de títulos emitidos pelo tesouro (BCB, 2013l).
Ainda, outra melhoria institucional foi a vedação do financiamento de déficits fiscais dos erários públicos
pelos bancos centrais, em função de suas decorrências insalubres sobre o controle da inflação e o equilíbrio
do balanço de pagamentos (BCB, 2013l).
Como depositário e executante da administração dos recursos internacionais do país, o banco
central precisa atentar para que a estrutura dos ativos, principalmente moedas e títulos de outros países,
e seus prazos, sejam compatíveis com o equilíbrio entre rendimento, risco e incerteza dessas aplicações. A
concentração das divisas em um banco central permite-lhe atuar comprando e vendendo, com o intuito de
reduzir a volatilidade e a especulação no mercado de câmbio. Segundo o BCB,
isso é importante principalmente nos países altamente endividados, em que as transações vinculadas
aos serviços de amortização da dívida externa podem desequilibrar o mercado cambial. Além disso,
em vários países, os bancos centrais administram por conta do governo acordos de comércio por
compensação e fundos de estabilização cambial (BCB, 2013l).

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No Brasil, em 1986, foi iniciado o processo de reordenamento das contas que atrelavam as operações
do BCB, do BB e do Tesouro Nacional, tendo sido encerrada a “conta-movimento” que ligava o BCB ao BB.
Naquele momento, ocorreu também a unificação orçamentária das contas fiscais, com a criação da Secretaria
do Tesouro Nacional (STN), e a transferência para o Tesouro Nacional da dívida externa depositada no BCB.
O apartamento das contas do BCB e do Tesouro teve como objetivo principal estabelecer claramente as
diferenças institucionais entre a condução das políticas monetária e cambial e a execução da política fiscal.
A Constituição Federal, de 1988, deu robustez às transformações iniciadas dois anos antes, impedindo
empréstimos do BCB ao governo, mesmo que indiretamente, dessa maneira, não é mais facultada ao BCB a
possibilidade do financiamento inflacionário de déficits públicos, nem mesmo para funções de fomento da
economia. Contudo, para fins de política monetária, o BCB detém títulos públicos em sua carteira que, em
outubro de 2013, representavam 32,7% dos títulos públicos federais emitidos.
A partir de 2000, pela Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio
de 2000), o BCB somente pode adquirir diretamente títulos de emissão da União para o refinanciamento da
dívida mobiliária federal que estiver vencendo em sua carteira. Esta lei proibiu ao Tesouro Nacional comprar
títulos da dívida pública federal da carteira do BCB, mesmo com cláusula de reversão, a não ser para diminuir
a sua dívida, e vedou o BCB de adquirir esses títulos no mercado secundário no mesmo dia da emissão.
Além disso, o BCB não pode mais emitir títulos. Exclusivamente títulos do Tesouro Nacional podem
ser usados para fins de política monetária, por meio de operações de mercado aberto.
Também a execução orçamentária é acompanhada pelo BCB, incluindo, além das contas da União, as
finanças dos estados e dos municípios, bem como da administração indireta das três esferas de governo.
Este acompanhamento é realizado devido à enorme relevância para o país das relações entre BCB e Tesouro
Nacional e ao grande impacto dos gastos do governo sobre a política monetária.
Ainda, como banqueiro do governo, o BCB atua, em nome do Tesouro Nacional, nos leilões de títulos
públicos federais, administra as reservas internacionais, representa o país junto a organismos internacionais
e recebe as disponibilidades de caixa da União, na chamada “Conta Única”, mantida pelo Tesouro Nacional
(BCB, 2013l).
Na Conta Única da União, são lançados todos os débitos e créditos advindos de transações do governo
federal com a sociedade em geral. Segundo o Tesouro Nacional, nesta conta, estão todas as disponibilidades
financeiras da União, e, por isso, ela é uma importantíssima ferramenta de controle das finanças públicas, pois
comporta a racionalização da administração dos recursos financeiros, diminuindo a pressão sobre o caixa
do Tesouro, além de tornar mais rápidos os processos de transferências e descentralizações financeiras e
também os pagamentos a terceiros (BCB, 2013h).

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Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências.

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dá outras providências.

______. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal,
estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências.

______. Decreto-Lei 2.471/88, de 1° de setembro de 1988. Modifica a legislação à contribuição de que tratam
os Decretos-Leis nº 308, de 28 de fevereiro de1967, e nº 1.712, de 14 de novembro de 1979, e do adicional
de que trata o Decreto-Lei n° 1.952, de15 de julho de 1982, e dá outras providências.

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Bancárias e Creditícias, Cria o Conselho Monetário Nacional e dá outras providências.
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a respectiva cobrança, dispõe sobre a aplicação das reservas monetárias oriundas de sua receita, e dá outras
providências.

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pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).

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UNIDADE 2 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL DO BRASIL COMO BANCO DOS BANCOS

INTRODUÇÃO

Ao exercer a função de banco dos bancos, os bancos centrais:

• disponibilizam contas (no Brasil, conta reservas bancárias e conta de liquidação) às instituições
financeiras, para que elas possam proceder à liquidação financeira das suas operações;
• regulam, monitoram e fornecem sistemas de transferência de fundos e de liquidações de
obrigações interbancárias;
• fornecem liquidez para fluidez dos pagamentos; e
• são prestamistas de última instância.

No Brasil, o Banco Central do Brasil (BCB) executa essas tarefas por meio do Sistema de Pagamentos
Brasileiro (SPB). A implantação do atual SPB, em 2002, é considerada um marco no Sistema Financeiro Nacional
(SFN), pois trouxe várias inovações, mas, como será visto nesta unidade, o BCB, antes mesmo desse advento,
já atuava como provedor da liquidação interbancária.
Para melhor entendimento sobre essa atuação, serão vistos a seguir como atuava o BCB até 2002,
as razões para a mudança institucional implementada em 22 de abril daquele ano, como funciona o SPB
atualmente e como é concedida liquidez ao sistema.

1 SISTEMA DE PAGAMENTOS

Os sistemas de pagamentos são dispositivos por meio dos quais são realizadas transferências de fundos
entre instituições financeiras distintas. A execução das transferências de fundos abarca dois elementos básicos.
O primeiro deles é a troca de informações entre as instituições pagadoras e recebedoras – ou debitadas
e creditadas. A transferência de fundos é iniciada pela transmissão de uma mensagem, requisitando-a para o
recebedor. As mensagens de pagamento podem ser a crédito ou a débito, ainda que, na prática, todos os sistemas
modernos de transferência de fundos sejam de transferências a crédito, nos quais as mensagens de pagamento e
os valores se movimentam do pagador (instituição financeira – IF remetente) para o recebedor (IF destinatária).
O segundo é a liquidação, ou seja, a transferência real de fundos entre o remetente e o destinatário. A
liquidação de fundos se baseia na transferência de créditos em um banco central ou em um banco comercial.
Na prática, na grande maioria dos sistemas, a liquidação se dá por transferências de créditos no banco central.
A finality, um conceito muito usado em sistema de pagamentos, ocorre quando as transferências entre contas
no banco central se tornam definitivas, irrevogáveis e incondicionais.
Os sistemas de transferência interbancária de fundos podem ser classificados de diversas maneiras.
A primeira grande distinção em sistemas de pagamentos são os sistemas de transferências de fundos de
grandes valores, que normalmente executam poucas transações de valores médios expressivos, com prazos de
natureza mais crítica, que se diferenciam dos sistemas de transferência de fundos a varejo, que movimentam
grande volume de pagamentos de valores relativamente baixos, podendo, nesse caso, ter prazos um pouco
mais elásticos de pagamentos, como, por exemplo, no caso dos cheques.
Outra forma comum de distinguir os sistemas consiste em dividi-los em de liquidação pelo valor
líquido e pelo valor bruto. Em um sistema de liquidação pelo valor líquido, o término da obrigação ocorre
em bases compensadas. A posição líquida de um participante é calculada em bases bilaterais ou multilaterais.
Essa posição, que pode ser de crédito ou de débito, é chamada de posição líquida de compensação. Em um
sistema de liquidação pelo valor bruto, por outro lado, a liquidação de fundos ocorre a cada transação, ou
seja, sem a apuração dos saldos líquidos dos débitos contra os créditos.
Os sistemas também podem ser classificados de acordo com o momento da liquidação. Eles podem ser
agrupados em dois tipos: sistema de liquidação em horário específico futuro ou em tempo real, dependendo
se o processamento ocorre de forma diferida ou em bases contínuas.
A partir disso, surgem duas figuras importantes: a liquidação líquida diferida (LDL), em que a liquidação
ocorre de forma compensada em horários futuros, e a liquidação bruta em tempo Real (LBTR), em que a
liquidação é feita transação a transação no momento em que estas ocorrem.
O quadro a seguir resume as principais possibilidades:

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Quadro 1: Classificações quanto ao tempo de execução x forma de liquidação

Liquidação Bruta Líquida


Diferida Transação a transação, mas em tempo futuro LDL
Tempo real LBTR –

Fonte: BCB.

A utilização de sistemas LBTR traz alguns benefícios, tais como finality, dentro do mesmo dia, e redução
do risco de crédito para os participantes. No entanto gera custos maiores, pois há maior necessidade de
capacidade de processamento do sistema e requer maior liquidez dos participantes.
Por outro lado, a utilização de sistemas LDL pode trazer economia de liquidez, porém traz aumento
de risco de crédito.
A sistemática de entrega contra pagamento (ECP), usada em sistemas que liquidam transações com
ativos (títulos, ações etc.), consiste na ocorrência de dois eventos ao mesmo tempo: a transferência definitiva
de títulos do vendedor ao comprador (entrega) e a transferência definitiva de fundos do comprador ao
vendedor (pagamento).
Outro conceito importante é o de contraparte central. Esta figura ocorre quando uma instituição
interpõe-se entre as partes contratantes de um negócio em um ou mais mercados financeiros, tornando-se
a compradora de todos os vendedores e a vendedora de todos os compradores.

1.1 Características do sistema de pagamentos vigente até 2002

Até o advento do Plano Real, em 1994, as elevadas taxas de inflação pressionavam o mercado nacional,
e os ganhos financeiros superavam muitas vezes a lucratividade operacional dos empreendimentos. Assim, a
tecnologia existente era focada em aspectos que possibilitassem agilidade no processamento das transações.
A organização do sistema financeiro previa que apenas bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira
comercial e caixas econômicas possuíssem conta no BCB. As outras instituições liquidavam suas operações
por meio de convênios firmados com os titulares de conta no BCB.
O sistema anterior estava alicerçado em quatro importantes sistemas, que tinham seus resultados
líquidos diários lançados diretamente na conta de cada participante no BCB:

• Sistema de Câmbio.
• Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic).
• Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip).
• Serviço de Compensação de Cheques e Outros Papéis (Compe).

Tais lançamentos efetuados pelos sistemas não passavam por nenhuma verificação de existência de
saldo em conta da instituição financeira, considerando sempre a expectativa de que os lançamentos dos
próximos sistemas cobrissem ocasional saldo devedor, ou seja, havia possibilidade de saques a descoberto ao
longo do dia, que teoricamente seriam cobertos por créditos oriundos de outros sistemas que liquidassem
sua posição em horário posterior.
O sistema não estava estruturado para que o BCB pudesse acompanhar as operações realizadas pelas
instituições financeiras em tempo real. Como consequência, o saldo das contas no BCB era observado com
base nas movimentações do dia anterior, permitindo inclusive o estorno de operações e de lançamentos
valorizados, comandados pelo BCB com datas anteriores.
Considerando a inexistência de mecanismos de controle, o BCB era praticamente obrigado a
arcar com o risco de crédito, em eventual inadimplência de alguma instituição. Habitualmente, o BCB
não devolvia os lançamentos sem cobertura e cobria a posição da instituição devedora, a fim de evitar
problemas maiores ao mercado decorrentes de uma crise sistêmica, em que a eventual inadimplência de
um participante acabava gerando a inadimplência de outro, podendo se alastrar por todo o mercado. Essa
armadilha institucional em que o BCB se encontrava permitia aos participantes serem menos exigentes e
menos críticos em suas avaliações de riscos, tanto envolvendo os sistemas quanto em relação às contrapartes
com quem operavam (risco moral).

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1.2 Reestruturação do SPB

Em 1999, foi aprovado pela diretoria do BCB o projeto de reestruturação do sistema de pagamentos
brasileiro, com as seguintes diretrizes:

• Clara definição do papel do BCB, regulamentação e monitoramento do sistema de pagamentos.


Nesse sentido, qualquer sistema de liquidação no Brasil, para funcionar, deveria estar sujeito
à autorização e à supervisão do BCB, inclusive aqueles que liquidassem ativos. O BCB atuaria
também como provedor de serviços de liquidação em LBTR, chamado STR – Sistema de
Liquidação e Reservas, observando os requisitos de segurança e o contínuo funcionamento
do sistema, com índice de disponibilidade mínimo de 99,8%.
• Impossibilidade de saldo devedor nas contas das instituições financeiras junto ao BCB, com
monitoramento em tempo real, tendo por consequência a redução do risco de crédito a que
o BCB estava exposto.
• Irrevogabilidade e incondicionalidade dos pagamentos: finality.
• Instituição de novas câmaras de compensação e liquidação, com adoção de medidas de
redução de riscos e de mecanismos adequados de contingência.
• Total conhecimento pelos participantes dos riscos envolvidos nos sistemas em que operassem.
• Redução da defasagem entre a contratação de operações e a sua liquidação financeira (o
risco em sistemas de pagamentos advém, principalmente, da defasagem entre a realização das
transações e a respectiva liquidação financeira, então quanto maior fosse este tempo, maior
seria o risco).
• Adoção de base legal apropriada.

Ainda em 1999, foi editada uma Medida Provisória, posteriormente convertida na Lei 10.214, de 27
de março de 2001. Esta lei pode ser considerada um marco em termos de inovação e modernização das
relações entre as instituições financeiras nacionais, visto que:

• conceituou o SPB, autorizando o BCB a continuar desenvolvendo e, posteriormente, implantar


o STR;
• assegurou que os bens dados em garantia pelos participantes às câmaras fossem impenhoráveis; e
• regulou a criação e a atuação de câmaras e prestadores de serviços de compensação e de
liquidação.

Com base na legislação, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu os princípios básicos de
funcionamento do novo SPB, que seguiram recomendações do Bank for International Setlements (BIS), no seu
relatório chamado Princípios Fundamentais para Sistemas de Pagamento Sistemicamente Importantes, editado
em janeiro de 2001. O CMN também deu poderes ao BCB para regulamentar, autorizar o funcionamento e
supervisionar os sistemas de compensação e de liquidação, sendo que, em se tratando de operações com
valores mobiliários, as atribuições foram compartilhadas com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Posteriormente, o BCB regulamentou e instrumentalizou o SPB por meio de diversos documentos normativos.

1.3 Características do atual SPB

As transferências de fundos interbancários passaram a poder ser liquidadas em tempo real, em caráter
irrevogável, por meio do STR, a partir da reestruturação do SPB, em 22 de abril de 2002.
Uma transação entre dois agentes econômicos é realizada da seguinte maneira: a IF que será debitada
elabora a mensagem necessária e a encaminha ao BCB, acontecendo, então, seu processamento no STR. Se a
IF apresentar saldo suficiente, a transação é liquidada e a instituição credora é notificada sobre o lançamento
efetuado, terminando assim o ciclo financeiro. Caso a instituição a ser debitada não tenha saldo suficiente
naquele momento, a mensagem não é liquidada e fica, na maioria dos casos, pendente de pagamento em uma
fila de espera. As ordens de pagamento pendentes são liquidadas, na ordem de entrada no STR, assim que a
instituição tenha obtido recursos, e o seu saldo seja suficiente.

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A principal plataforma tecnológica para acesso ao STR é a Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN),
um arcabouço de comunicação de dados em rede, cuja finalidade é suportar o tráfego de mensagens entre os
participantes do sistema. Operacionalmente, ela é formada por duas redes de telecomunicação independentes,
titular e reserva, a ser usada em caso de falha da primeira. Cada participante é obrigatoriamente usuário das
duas vias, por onde trafegam as mensagens no padrão XML (extensible markup language), de acordo com a
regulamentação estabelecida em manuais e normativos específicos, divulgados pelo BCB.
Como demonstrado na figura 1, além do BCB, são integrantes do SPB:

• As instituições financeiras, titulares de conta reservas bancárias (RB) ou de conta de


liquidação (CL), e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), detentora da conta única, descritas
genericamente como detentores de “conta de liquidação” no STR.
• A Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe).
• O Selic.
• As oito câmaras de compensação e de liquidação.

Figura 1: Visão geral do SPB

Fonte: BCB. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?SPBLIQVISAO>. Acesso em: 4 nov. 2013.

A seguir, é feita uma distinção entre “sistemas de transferências de fundos”, que simplesmente liquidam
valores e efetuam transferências (sem necessariamente haver entrega de ativo dentro do seu sistema), e
“sistemas de liquidação de ativos”, que liquidam a operação financeira e também providenciam a entrega,
normalmente eletrônica, de ativos, sempre considerando a sistemática de entrega contra pagamento.

1.3.1 Sistemas de transferências de fundos

São sistemas de transferências de fundos pertencentes ao SPB: o STR, a Compe, o Sistema de


Transferência de Fundos (Sitraf) e o Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de
Ordens de Crédito (Siloc).

1.3.1.1 Sistema de Transferência de Reservas (STR)

O STR é a base principal do SPB, desaguadouro de todos os demais sistemas que necessitem efetuar
qualquer lançamento nas contas dos participantes. Seu funcionamento e manutenção são de responsabilidade
exclusiva do BCB, utilizando o mecanismo LBTR com base em ordem de crédito. Além disso, toda movimentação

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de fundos é considerada final (ou irrevogável e incondicional), ou seja, depois de efetuados os lançamentos
a débito e a crédito dos participantes envolvidos, ela não poderá ser revertida, a não ser por um novo
lançamento a ser iniciado pela instituição que, no lançamento original, tenha sido creditada, pois somente
ela poderá autorizar um débito em sua conta.
As contas reservas bancárias e as contas de liquidação funcionam como uma “conta-corrente” de
seus titulares no STR, junto ao BCB, em que ocorre a liquidação financeira das operações realizadas com
a autoridade monetária ou com outras instituições do SFN. Essas contas mantidas no BCB não podem
apresentar saldo negativo.
A conta RB mantém as disponibilidades, em moeda nacional, dos bancos comerciais, bancos de
investimento, caixas econômicas, bancos de câmbio, bancos de desenvolvimento e bancos múltiplos.
A conta de liquidação destina-se ao registro, em moeda nacional, das disponibilidades e das operações
das demais instituições financeiras e das câmaras de liquidação.
A conta RB é de titularidade:

• Obrigatória, para os bancos comerciais, bancos múltiplos com carteira comercial e para as
caixas econômicas.
• Facultativa, para os bancos de investimento, bancos de câmbio, bancos múltiplos sem carteira
comercial e bancos de desenvolvimento.

A conta de liquidação é de titularidade:

• Obrigatória, para câmaras consideradas sistemicamente importantes. São consideradas


sistemicamente importantes as câmaras de liquidação de ativos e as de transferências de
fundos que tenham possibilidade de que os efeitos da inadimplência de um participante sobre
outros participantes (efeito-contágio) coloquem em risco a fluidez dos pagamentos no SPB.
• Facultativa, para as demais câmaras e, a partir de 2009, para as demais instituições não
bancárias autorizadas a funcionar pelo BCB.

A conta de liquidação titulada por câmaras deve ter saldo zero ao final do dia, sendo eventuais recursos
remanescentes transferidos para conta corrente bancária previamente indicada para esse fim pelo titular.

Quadro 2: Tipos de conta

Conta RB Conta de Liquidação

• Banco comercial • Prestadores de serviços de compensação e liquidação


• Banco múltiplo com carteira comer- considerados sistemicamente importantes
Obrigatórias
cial
• Caixas econômicas

• Banco de desenvolvimento • Prestadores de serviços de compensação e liquidação não


• Banco de investimento considerados sistemicamente importantes
Facultativas • Instituições não bancárias autorizadas a funcionar pelo
• Banco de câmbio
BCB
• Banco múltiplo sem carteira comercial

Fonte: BCB. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?STRGERAL>. Acesso em: 4 nov. 2013.

1.3.1.2 Centralizadora da Compensação de Cheques (Compe)

Na Compe, são liquidados os cheques de valor inferior ao VLB-Cheque (R$ 250 mil). O Banco do
Brasil S.A., executante da Compe por concessão do BCB, fornece o apoio necessário ao seu funcionamento.
Cheques acima desse valor devem ser liquidados bilateralmente no STR.

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Esta câmara usa mecanismo de liquidação diferida líquida, ou seja, as transações são acumuladas e
liquidadas por compensação multilateral em sessões de liquidação específicas.
A cada dia útil, realizam-se duas sessões de compensação (noturna e diurna), apurando-se, em cada
sessão, um resultado multilateral único, de âmbito nacional, para cada participante.
O resultado da sessão noturna é informado diretamente a cada participante no início da manhã do
dia seguinte, e o da sessão diurna, no meio da tarde do próprio dia da realização da sessão. A liquidação
ocorre às 9h e às 17h15, respectivamente. As duas sessões são liquidadas, portanto, sempre em D+1 da data
do acolhimento dos documentos.
No caso de inadimplemento de alguma IF, esta é excluída e a Compe reprocessa o movimento, gerando
novos resultados que são então encaminhados aos demais participantes. Complementarmente, a IF inadimplente
deverá resolver diretamente com as demais a forma de regularização tanto de seus saldos devedores como
de seus saldos credores, independentemente de eventuais sanções que poderão ser adotadas por parte do
BCB em virtude do motivo alegado para a ocorrência de tal situação.
A Compe adota em seus processos a truncagem de cheques, tecnologia que consiste na troca da imagem
digitalizada dos documentos, tornando dispensável o envio físico do cheque, da instituição acolhedora para
a instituição sacada (instituição do emissor do cheque).

1.3.1.3 CIP-Sitraf – Sistema de Transferência de Fundos

O Sitraf é um sistema operado pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), uma sociedade civil
sem fins lucrativos que tem os bancos como associados. O CIP-Sitraf opera de modo similar ao STR: uma
transferência de fundos só pode ocorrer se o titular da conta a ser debitada encaminhar mensagem específica
ao sistema, autorizando o débito do valor em questão, e dispuser, para tanto, de saldo suficiente em uma
conta mantida na câmara. Havendo saldo disponível, a câmara comunica imediatamente ao outro participante
da existência de crédito à sua disposição.
Os saldos credores de um participante da câmara podem ser originados do depósito inicial, de
créditos oriundos de outros participantes, ou de depósitos complementares. Para operar, o participante
deve, diariamente, até às 7h30, efetuar o pré-depósito estabelecido, mediante transferência de sua conta no
STR para a conta da câmara. Este depósito inicial não é obrigatório, isto é, se alguma IF, em determinado
dia, não tiver interesse em participar do sistema, basta não efetuar o depósito no horário estabelecido. A
câmara, então, comunicará aos demais participantes que aquela IF, naquele dia, não poderá receber nenhum
crédito pelo sistema. Além disso, o participante pode, a qualquer momento, encaminhar uma mensagem ao
STR transferindo valores complementares para sua conta na câmara.
Considerando que muitos tipos de transferências que podem ser cursadas nesse sistema são similares
àquelas do STR, o participante pode optar pelo sistema – STR ou pelo Sitraf – pelo qual transitará a
transferência desejada, normalmente optando por aquele que lhe trouxer menor custo ou maior benefício.

1.3.1.4 CIP-Siloc – Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito

O Siloc é também operado pela CIP e liquida obrigações interbancárias relacionadas a Documentos
de Crédito (DOCs) e boletos de pagamento de valor inferior ao VLB-Cobrança (R$ 250 mil), entre outros.
Boletos de pagamento acima desse valor devem ser liquidados bilateralmente no STR.
Da mesma forma que a Compe possui dois ciclos de liquidação multilateral (em D+1): um de manhã,
envolvendo os documentos que foram emitidos (DOCs) ou transitaram (boletos de pagamento) no sistema
bancário no dia anterior (D-1); e outro à tarde, contemplando os acertos e as devoluções do ciclo anterior.

1.3.2 Sistemas de Liquidação de Ativos

São sistemas de liquidação de ativos pertencentes ao SPB: o Selic, a Cetip S.A. – Mercados Organizados,
a Central de Cessões de Créditos – C3 e a BM&FBovespa.

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1.3.2.1 Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic)

Nesse sistema, cuja operacionalização é realizada por meio de parceria entre o BCB e a Associação
Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), estão depositados os títulos públicos
federais considerados de total liquidez. Os títulos públicos sem total liquidez estão depositados na Cetip.
Funcionando em tempo real, as operações nele cursadas passam por duas etapas principais. Na primeira, ao
receber uma mensagem envolvendo negociação de título, o sistema verifica a disponibilidade daquele título na conta
de custódia do vendedor. Na segunda, que ocorre somente após o bloqueio de títulos realizado na primeira etapa,
o sistema encaminha mensagem ao STR para verificar a existência de saldo na conta do comprador. Se o saldo for
insuficiente, a mensagem é então rejeitada definitivamente nos dois sistemas (STR e Selic), liberando-se os títulos
previamente bloqueados conforme procedimento estabelecido na primeira etapa. Se o saldo for suficiente, ocorre
então a liquidação da operação, mediante transferência dos recursos para a instituição financeira vendedora (no
STR) e a transferência definitiva dos títulos para a instituição financeira compradora (no Selic).

1.3.2.2 Cetip – Mercados Organizados

As transações realizadas na Cetip envolvem basicamente títulos de renda fixa privados – CDBs, RDBs,
CDIs, LCs – e títulos públicos não registrados no Selic – estaduais, municipais e títulos de responsabilidade
do Tesouro Nacional, mas praticamente sem liquidez, como Títulos da Dívida Agrária (TDAs), e Certificados
de Dívida Pública/INSS (CDP), entre outros.
A liquidação final ocorre por meio do STR, que poderá ocorrer no próprio dia (D+0) ou no dia seguinte
(D+1), dependendo do tipo de operação e do horário em que se concretizar.
As negociações no âmbito dessa câmara podem ser liquidadas de três formas: por meio de compensação
multilateral de obrigações, de compensação bilateral, e de compensação bruta em tempo real. No primeiro
caso, encontram-se as operações geralmente realizadas no mercado primário; no segundo, as com derivativos;
e no terceiro, as operações realizadas no mercado secundário. No caso de inadimplemento de uma das partes,
na compensação multilateral, deverá ocorrer o reprocessamento de todo o movimento, com sua exclusão
e a reabertura da janela de liquidação para os devidos acertos que se fizerem necessários.
A efetiva transferência de propriedade dos títulos é feita por meio do mecanismo de entrega contra
pagamento (EcP).

1.3.2.3 Central de Cessões de Créditos (C3)

É um sistema centralizado de informações de cessões de crédito efetuadas pelos participantes no âmbito


do SFN, de forma a permitir aos participantes a verificação de que os créditos em processo de cessão não
tenham sido cedidos a outro cessionário, evitando a duplicidade de cessão do crédito. É disponibilizado pela CIP.
A participação na C3 é aberta a todos os bancos, caixas econômicas e outras instituições financeiras
ou não, que operem no mercado de cessões de créditos originados dentro do SFN.

1.3.2.4 BM&FBOVESPA

A BM&FBOVESPA congrega, atualmente, quatro câmaras distintas: de ativos, de câmbio, de derivativos


e de ações.

i. Câmara de ativos
Os participantes desta câmara têm a possibilidade de efetuar negociações, envolvendo títulos públicos
federais e títulos privados emitidos por IFs, sempre tendo a câmara como contraparte central, inclusive no
caso de operações do mercado de balcão, que é um mercado em que as transações são realizadas fora do
ambiente de bolsa de valores, ou seja, diretamente entre as partes, sem local físico definido, e com termos
que podem ser adequados às necessidades de cada parte.
Em termos de modo e prazo, as operações cursadas podem ser definitivas ou compromissadas, que
são transações em que uma parte compra títulos com compromisso de revendê-los em momento futuro
preestabelecido, enquanto a outra parte se obriga a recomprá-los por valor normalmente superior. Observa-
se que, ao fazer uma operação compromissada, uma das partes está em última instância concedendo um
empréstimo para a outra, com a “garantia” de um título.

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A liquidação multilateral das operações pode ocorrer no mesmo dia (para aquelas à vista, negociadas
até as 13h) ou em data futura pactuada. A transferência dos títulos negociados utiliza o mecanismo EcP.

ii. Câmara de câmbio


Na BM&F-Câmbio, são transacionadas operações envolvendo exclusivamente o dólar norte-americano,
por meio de bancos habilitados. Os mecanismos utilizados preveem a liquidação pelo valor líquido compensado
multilateralmente, sendo a entrega da moeda nacional condicionada à entrega da moeda estrangeira a bancos
correspondentes em Nova Iorque – princípio este conhecido como pagamento contra pagamento (PcP). Para
tanto, a câmara monitora e coordena todo o processo, atuando como contraparte central.
Vale lembrar que operações de câmbio (principalmente as envolvendo outras moedas diferentes do
dólar norte-americano) também podem ser realizadas fora dessa câmara, com liquidação pelo valor bruto
no STR (em moeda nacional), enquanto a moeda estrangeira é transferida diretamente entre os bancos
correspondentes no estrangeiro.

iii. Câmara de derivativos


A BM&F-Derivativos é um sistema de compensação e liquidação de contratos – incluindo opções e
swaps – referenciados nos mais diversos índices e taxas, negociados tanto no mercado à vista como no
mercado a termo e no de futuros.
As posições de cada participante, no final do dia, são obtidas pela compensação multilateral de obrigações,
e sua liquidação deve ocorrer no dia seguinte ao da apuração, mediante transferência no STR.
A Câmara atua como contraparte central, responde pelos riscos de liquidação dos membros, mediante
a utilização de mecanismos de salvaguardas de que dispõe: garantias dos participantes, fundos garantidores,
ou, ainda, garantias próprias da câmara.
Nessa câmara, também são realizadas operações com derivativos no mercado de balcão. Nesse caso,
os participantes podem escolher o tipo de liquidação que será adotado: garantida ou não. Se optarem por
liquidação garantida, a Câmara atua normalmente como contraparte central, mediante regras preestabelecidas.
Se a opção for por liquidação não garantida, as partes deverão transferir os recursos diretamente entre si
nas épocas aprazadas.

iv. Câmara de ações


As operações de renda variável são liquidadas na câmara de ações, normalmente por compensação
multilateral das obrigações. Nessa situação, a câmara de ações atua como contraparte central e, portanto,
assegura a liquidação das operações. Em situações muito específicas, estabelecidas em regulamento, a câmara
pode não atuar como contraparte central; nesse caso, as operações devem ser liquidadas entre as partes em
sistema LBTR. A transferência da custódia dos títulos negociados é feita diretamente na câmara de ações,
utilizando o mecanismo EcP.

1.4 Atendimento a demandas de liquidez

Para atender às necessidades de liquidez das instituições financeiras são fornecidas pelo BCB as
seguintes possibilidades:

• Otimização das operações pendentes no STR: por um algoritmo calculado pelo sistema, é
possível que operações que estejam trancando a liquidez sejam liquidadas.
• Liberação de recursos de depósitos compulsórios para uso durante o dia, e a instituição
financeira precisa repor os recursos nas devidas contas no final do dia.
• Operações compromissadas intradia, em que o BCB compra da instituição financeira títulos
públicos federais com compromisso de revenda no mesmo dia a custo zero. Essa modalidade de
crédito intradia não tem relação com o empréstimo de última instância, sendo uma funcionalidade
concebida para garantir a fluidez dos pagamentos, sendo por isso disponível para todas as IFs
que possuem conta no STR, diferentemente das operações de Redesconto de 15 e 45 dias, que
estão restritas a bancos. É permitido que as operações intradia pendentes de liquidação, ao
término dia, sejam convertidas automaticamente em operações de um dia útil, mas com custo.

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• Operações compromissadas de títulos públicos federais com prazo de um dia útil e, para
satisfazer necessidades de liquidez decorrentes de descasamento de curtíssimo prazo no
fluxo de caixa da IF, normalmente realizadas automaticamente, por conversão e operações
intradia. Para ter acesso a essas operações, as instituições financeiras têm como custo a
variação da taxa Selic de um dia acrescida de 1% ao ano.

1.5 Prestamista de última instância

O acesso a empréstimos de última instância é restrito às instituições financeiras titulares de conta


reservas bancárias, ou seja, aos bancos. As operações, concedidas a exclusivo critério do BCB, por solicitação
da instituição bancária interessada, são operadas nas modalidades de operações compromissadas e redesconto
de títulos e valores mobiliários e direitos creditórios integrantes do ativo da instituição financeira interessada.
O BCB concede recursos, em geral, mediante venda, pela instituição tomadora do crédito, de títulos públicos
federais no valor correspondente à operação (BCB, p. 14. Disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/
port/focus/FAQ%2011- Fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20 Banco%20Central%20do%20Brasil.pdf>. Acesso
em: 29 out. 2013). De acordo com a finalidade e os prazos, as operações podem ser:

• De até 15 dias úteis: essa operação pode ocorrer na hipótese de alguma instituição bancária
apresentar problema de fluxo de caixa de curto prazo, não sendo, nesse caso, a dificuldade
qualificada como estrutural. Essas operações podem ser renovadas até 45 dias úteis. As
intervenções são discricionárias, no sentido de que dependem da exposição, pela instituição
interessada, de detalhamento de seu fluxo de caixa diário projetado, comprovando as reais
necessidades de recursos previstas para o período e de prévia concordância por parte do BCB.
• De até 90 dias corridos: essa transação pode ocorrer para viabilizar ajuste patrimonial de
banco com desequilíbrio estrutural. Podem ser recontratadas desde que o prazo total não
supere 180 dias corridos. As operações dependem da aceitação pela Diretoria Colegiada do
BCB, tanto da contratação, quanto da recontratação. Para que o assunto seja encaminhado
pelo BCB, a instituição bancária precisa apresentar pleito fundamentado, demonstrando as
necessidades de caixa projetadas para o período da operação e um programa de reestruturação,
visando à sua capitalização ou venda do controle acionário.

Essas operações, com prazo superior a um dia, apesar de serem disponibilizadas às instituições financeiras,
não têm sido utilizadas por elas, e não há registro de nenhuma operação realizada desde a implantação do
novo SPB, em 2002.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. BCB. Funções do Banco Central do Brasil, disponível em: <http://www4.bcb.gov.br/pec/gci/port/focus/


FAQ%2011Fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20Banco%20Central%20do%20Brasil.pdf>. Acesso em: 29 out.2013.

______. Circular Bacen nº 3.057, de 31 de agosto de 2001. Aprova regulamento que disciplina o funcionamento
dos sistemas operados pelas câmaras e pelos prestadores de serviços de compensação e de liquidação que
integram o sistema de pagamentos.

______. Circular Bacen nº 3.100, de 28 de março de 2002. Institui o Sistema de Transferência de Reservas
– STR e aprova seu regulamento.

______. Circular Bacen nº 3.101, de 28 de março de 2002. Regulamenta a conta Reservas Bancárias e institui
e regulamenta a Conta de Liquidação no Banco Central do Brasil.

______. Circular Bacen nº 3.104, de 28 de março de 2002. Regulamenta a troca eletrônica de mensagens e
institucionaliza grupos técnicos no âmbito do Sistema de Pagamentos Brasileiro.

______. Circular Bacen nº 3.105, de 5 de abril de 2002. Institui o Redesconto do Banco Central, aprova seu
regulamento e consolida suas normas.

______. Circular Bacen nº 3.254, de 31 de agosto de 2004. Estabelece procedimentos para liquidação
interbancária de cheques de valor igual ou superior ao VLB-Cheque, define esse valor, fixa o prazo máximo
de bloqueio do depósito desses cheques e dá outras providências.

______. Circular Bacen nº 3.438, de 2 de março de 2009. Regulamenta a conta Reservas Bancárias e a Conta
de Liquidação no Banco Central do Brasil.

______. Circular Bacen nº 3.629 de 19 de fevereiro de 2013. Aprova o regulamento de comunicação eletrônica
de dados no âmbito do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

______. Circular Bacen 3.631, de 21 de fevereiro de 2013. Dispõe sobre os acréscimos à Taxa Selic para as
operações de Redesconto do Banco Central.

______. Circular Bacen nº 3.663, de 11 de julho de 2013. Altera o Regulamento anexo à Circular nº 3.105,
de 5 de abril de 2002, que dispõe sobre o Redesconto do Banco Central.

______. Lei 10.214, de 27 de março de 2001. Dispõe sobre a atuação das câmaras e dos prestadores de serviços
de compensação e de liquidação, no âmbito do sistema de pagamentos brasileiro, e dá outras providências.

______. Resolução CMN nº 2.882, de 30 de agosto de 2001. Dispõe sobre o sistema de pagamentos e as
câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de liquidação que o integram.

<http://www.bcb.gov.br/?SPBLIQVISAO>. Acesso em: 4 nov. 2013.

<http://www.bcb.gov.br/?STRGERAL>. Acesso em: 4 nov. 2013.

<http://www.bmfbovespa.com.br/home.aspx?idioma=pt-br>. Acesso em: 5 nov. 2013.

<http://www.cetip.com.br/>. Acesso em: 5 nov. 2013.

<https://www.cip-bancos.org.br/pt_BR/cip.html>. Acesso em: 5 nov. 2013.


Orientação geral para desenvolvimento de sistemas nacionais de pagamentos Banco de Compensações
Internacionais, Basileia, 2006, tradução de Luciano Andrade Frois. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/
spb/Orienta%E7%E3oDesenvolvimentoDeSistemasNacionaisDePagamentos.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013.

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Princípios Fundamentais para Sistemas de Pagamento Sistemicamente Importantes, Banco de Compensações
Internacionais, Basileia, 2001, tradução de Jorge R. Carvalheira para Core Principles for Systemically Important
Payment Systems (CPSIPS). Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/spb/Principios_Fundamentais_
Sistemas_Pagamentos_Sistemicamente_Importantes.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2013.

Sistemas de Liquidação pelo Valor Bruto em Tempo Real, Banco de Compensações Internacionais, Relatório
produzido pelo Comitê de Sistemas de Pagamentos e Liquidação dos Bancos Centrais dos Países do Grupo
dos Dez, Basileia, 1997,Título original: Real-Time Gross Settlement Systems, tradução e editoração eletrônica:
Jorge R. Carvalheira. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/spb/LBTR.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013.

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UNIDADE 3 – FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO SUPERVISOR E FISCALIZADOR DO
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

INTRODUÇÃO

A função do Banco Central do Brasil (BCB) de supervisão e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional
(SFN) é um dos reflexos da sua “missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um
sistema financeiro sólido e eficiente” (BCB, 2013h). Tal função decorre, primordialmente, da Lei no 4.595, de
31 de dezembro de 1964, que criou o Conselho Monetário Nacional (CMN) como órgão regulador do SFN,
com a competência para regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização das entidades e pessoas
participantes do SFN. Essa lei, que também deu origem ao BCB, atribuiu a essa autarquia o dever de cumprir
e fazer cumprir as disposições do CMN.
O SFN compreende um conjunto de órgãos normativos, entidades supervisoras e operadores do
sistema (bancos, corretoras, seguradoras, entre outros agentes). Por conta disso, para abordar a função do
BCB como supervisor e fiscalizador do SFN, é preciso discutir seu campo de atuação e a normatização
correspondente. Portanto, a exposição inicia-se com essa discussão, que permite visualizar a hierarquia
dentro da qual se situa o BCB e os agentes e atividades que lhe cabe supervisionar e fiscalizar, bem como
autorizar seu funcionamento.
Em seguida, considera-se o contexto internacional de supervisão no qual está inserido o BCB, uma vez
que parte das suas ações como supervisor do SFN origina-se de orientações de organismos internacionais,
contexto em que se insere o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, que emite acordos dos quais o Brasil
é signatário. Adicionalmente, são abordados os assuntos relacionados à regulação prudencial e à estabilidade
financeira, assim como o Comitê de Estabilidade Financeira do BCB (Comef), criado para avaliar a estabilidade
financeira e definir as diretrizes e as estratégias para mitigação do risco sistêmico no SFN.
Posteriormente, avalia-se a forma pela qual o BCB organiza internamente as ações de supervisão.
O ponto de partida é a estrutura organizacional do banco, destacando as diretorias e os departamentos
diretamente envolvidos com as ações de supervisão e fiscalização. Em seguida, são abordadas as atividades
no âmbito do Diretor de Fiscalização (Difis), apresentando o princípio de supervisão focada em riscos e
a divisão das atividades em ações de supervisão direta e supervisão indireta. Além disso, são abordadas as
atividades desempenhadas pelos departamentos ligados a cada uma dessas formas de supervisão.
Além da Difis, também são considerados os trabalhos de supervisão do Departamento de Regulação,
Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro (Derop), ligado à Diretoria de
Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural (Diorf).
Finalmente, esta unidade trata dos instrumentos administrativos punitivos que resultam das irregularidades
encontradas nas ações de supervisão e fiscalização desempenhadas pelo BCB. Ademais, também são discutidos
os regimes especiais de funcionamento impostos pelo BCB às instituições que apresentem a iminência ou
a inevitabilidade de insolvência.

1 CAMPO DE ATUAÇÃO DO BANCO CENTRAL E AMPARO NORMATIVO

Como é natural na esfera da Administração Pública, as ações do BCB são resultado, exclusivamente,
das competências que lhe são dadas pela legislação em vigor. Nesse sentido, o principal dispositivo legal
que trata da função do BCB como supervisor e fiscalizador do SFN é a Lei nº 4.595, de 31 de dezembro
que 1964, que criou o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil. Este dispositivo legal
atribui ao BCB a competência de fiscalizar as instituições financeiras, englobando bancos comerciais, bancos
múltiplos, bancos de desenvolvimento, bancos de investimento, caixas econômicas e as sociedades de crédito,
financiamento e investimento.
Além da Lei nº 4.595/64, existem outros dispositivos legais que também colocam no campo de supervisão
e fiscalização do BCB diversas atividades financeiras, tal como a Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974,
que determina que o BCB fiscalize todas as operações de arrendamento mercantil.
Uma descrição completa da legislação que define o campo de atuação do BCB está contida no Manual
da Supervisão (MSU) dessa Autarquia. Por ora, o ponto relevante a destacar é que o universo de supervisão
e fiscalização do BCB engloba as seguintes instituições:

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como supervisor e fiscalizador do Sistema Financeiro Nacional

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i. bancos comerciais;
ii. bancos múltiplos;
iii. bancos de desenvolvimento;
iv. bancos de investimentos;
v. bancos de câmbio;
vi. Caixa Econômica Federal (CEF);
vii. sociedades de crédito, financiamento e investimento;
viii. sociedades de crédito imobiliário;
ix. sociedades corretoras de câmbio e de títulos e valores mobiliários;
x. sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários;
xi. associações de poupança e empréstimos;
xii. cooperativas de crédito;
xiii. sociedades de arrendamento mercantil;
xiv. administradoras de consórcio;
xv. escritórios de representação de instituições financeiras sediadas no exterior (nos aspectos
relacionados à prevenção da lavagem de dinheiro);
xvi. sociedades de crédito ao microempreendedor;
xvii. agências de fomento;
xviii.companhias hipotecárias;
ixx. agências de turismo e meios de hospedagem autorizados pelo Bacen a operar no mercado
de cambio;
xx. empresas brasileiras que administram cartões de crédito de uso internacional; e
xxi. E mpresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), nas transferências internacionais de
recursos vinculadas a vales postais internacionais. (BRASIL, 2013c, p. 5).

Cabe observar que, com relação às instituições mencionadas nos itens xviii, xix e xx elas não fazem
parte do SFN. No entanto são incluídas dentro do universo fiscalizável do BCB por conta das atividades que
elas executam que são regulamentadas pelo CMN e pelo BCB, sendo as ações de supervisão e fiscalização
dessa autarquia voltadas exclusivamente para essas atividades.
A despeito da existência de leis, dando amparo legal ao BCB nas suas ações de supervisão e fiscalização,
geralmente, esses dispositivos legais necessitam de detalhamento para sua aplicação junto às entidades
supervisionadas e preveem uma regulamentação posterior por parte de um órgão competente. No caso
das matérias relacionadas ao SFN, a Lei nº 4.595/64 estabeleceu o CMN como órgão deliberativo máximo,
incumbindo ao BCB a tarefa de cumprir e fazer cumprir as deliberações desse conselho. Dessa forma, a
prática de supervisão e fiscalização, além ter como referência a legislação em vigor, pauta-se, em grande
medida, pelas deliberações do CMN, tornadas públicas por meio de resoluções publicadas pelo BCB. Além
disso, o BCB também edita os próprios normativos com o objetivo de implementar as resoluções do CMN,
podendo tais documentos ser de três tipos:
a) Circular: ato normativo que tem por finalidade divulgar deliberação da Diretoria Colegiada do
Banco Central.
b) Carta-circular: ato normativo que tem a finalidade de divulgar instrução, procedimento ou
esclarecimento a respeito de conteúdo de documentos normativos.
c) Comunicado: documento administrativo de âmbito externo, que tem por finalidade divulgar
deliberação ou informação relacionada à área de atuação do Bacen. (BRASIL, 2013c, p. 7).

2 CONCESSÃO DE AUTORIZAÇÕES PELO BCB



Um primeiro aspecto que destaca a função do BCB como supervisor e fiscalizador do SFN é sua
competência para autorizar o funcionamento das instituições financeiras e outras instituições interessadas
em participar do SFN. Tal competência vem da Lei no4.595/1964, sendo o diretor de Organização do Sistema
Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural (Diorf) e o Departamento de Organização do Sistema
Financeiro (Deorf), responsáveis por operacionalizar a concessão de autorizações.
Os procedimentos empregados pelo Deorf relacionados à concessão de autorização para que
determinada instituição possa operar no SFN são dados pelo Manual de Organização do Sistema Financeiro
(Sisorf) (BRASIL, 2013d).
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Em linhas gerais, a instituição interessada em algum tipo de autorização a ser concedida pelo BCB deve
promover a instrução de processo junto ao Deorf, encaminhando um requerimento a esse departamento com
a exposição do pedido de autorização em questão. Tal requerimento deve se basear nos modelos específicos
de requerimento trazidos no Sisorf e deve ser assinado pelos administradores cuja representatividade seja
reconhecida pelo estatuto, pelo contrato social ou por documento equivalente da instituição. Ademais, a
solicitação deve vir acompanhada da documentação exigida pela regulação vigente para a instrução do processo.
Além da apresentação do requerimento e da documentação, e dependendo do assunto tratado na
instrução de processo, a instituição solicitante deve registrar as informações pertinentes ao seu pleito no
Sistema de Informações sobre Entidades de Interesse do Banco Central do Brasil (Unicad).
Após exame do processo, a decisão sobre o pleito é proferida pela autoridade competente que,
dependendo do assunto, pode ser a Diretoria Colegiada do BCB, o diretor da Diorf, o chefe ou chefe-adjunto
do Deorf e as chefias de subunidade. Caso ocorra o indeferimento do pleito, os interessados podem interpor
recurso ao Deorf. Caso a autoridade que proferiu a decisão não a reconsidere em função do recurso, a
decisão é encaminha à autoridade superior, destacando que cabe à Diretoria Colegiada ou ao diretor da
Diorf, dependendo do assunto, decidir sobre os recursos, em última instância.

3 CONTEXTO INTERNACIONAL DE SUPERVISÃO: OS ACORDOS DE BASILEIA

Os Acordos de Basileia referem-se às deliberações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, ou


Basel Committee on Banking Supervision (BCBS), ligado ao Banco de Compensações Internacionais, ou Bank
for International Settlements (BIS), sediado na cidade suíça de Basileia.
O BCBS é a principal referência internacional na definição de padrões de regulação bancária prudencial e
tem como objetivo fortalecer a regulação e a supervisão de bancos com o intuito de promover a estabilidade
financeira. Trata-se de um comitê formado por reguladores e supervisores bancários de 27 países, no qual
o Brasil é representado pelo BCB.
O primeiro Acordo do BCBS foi publicado em 1988 e recebeu o nome de International Convergence
of Capital Measurement and Capital Standards. Esse acordo estabeleceu a exigência de um nível mínimo de
capital que as instituições financeiras deveriam ter para fazer frente às eventuais perdas associadas ao risco
de crédito. No Brasil, esse acordo foi adotado pela Resolução nº 2.099, de 17 de agosto de 1994.
Em 2004, o BCBS publicou uma revisão do Acordo de 1988, que ficou conhecida como “Basileia II”.
O objetivo dessa revisão foi aprimorar o arcabouço regulatório de capital mínimo exigido, que passou a se
sustentar em três pilares:

• Pilar I – requerimento mínimo de capital expandido para absorver perdas associadas a outros
riscos além do risco de crédito, tais como os riscos de mercado e operacional.
• Pilar II – revisão pela supervisão do processo de avaliação da adequação de capital das
instituições financeiras.
• Pilar III – transparência das instituições com relação à gestão de riscos e adequação de capital
para fortalecer a disciplina de mercado à qual elas estão expostas.

No Brasil, a adoção dessa revisão segue um processo gradual definido em 2004 com um cronograma de
implementação das principais fases estabelecidas no Comunicado do BCB nº 12.746, de 9 de dezembro de 2004.
Mais recentemente, em função da crise financeira internacional de 2007-2008, o BCBS entendeu que
era necessário reforçar “Basileia II”, especialmente no que se refere à composição do capital mínimo exigido
e também com relação à mensuração, à gestão e à supervisão do risco de liquidez. Tal reforço do Acordo de
Basileia recebeu o nome de “Basileia III” que, no Brasil, também está sendo adotado a partir de um processo
gradual, com cronograma estabelecido no Comunicado do BCB nº 20.615, 17 de fevereiro de 2011.

4 REGULAÇÃO PRUDENCIAL E ESTABILIDADE FINANCEIRA NO BRASIL



A regulação prudencial diz respeito a um conjunto de regras de funcionamento e gestão que procura
assegurar a manutenção das atividades regulares das instituições financeiras diante dos riscos aos quais elas
estão expostas.Também compreende as normas que buscam que a descontinuidade de determinadas instituições
não comprometa a estabilidade financeira do sistema como um todo.

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No Brasil, no âmbito do SFN e no contexto das instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, pode-se
destacar como principais componentes da regulação prudencial os normativos emanados a partir da adoção
dos Acordos de Basileia, dos quais vale mencionar as principais resoluções relacionadas.
A primeira delas é a Resolução no 4.193, de 1o de março de 2013, que estabelece níveis mínimos de
patrimônio que as instituições devem ter para fazer frente aos riscos assumidos – originalmente, os níveis
mínimos de capital foram estabelecidos na Resolução no 2.099, de 17 de agosto de 1994. A partir dessa
Resolução, as instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem apurar o
montante de ativos que possuem, ponderados pelo risco (risk weighted assets – RWA), levando em consideração
suas exposições aos riscos de crédito, de mercado e operacional. A partir dessa apuração, a resolução limita a
alavancagem ao estabelecer níveis mínimos de patrimônio que as instituições devem manter como percentual
do RWA, com o objetivo de que os riscos assumidos não sejam exclusivamente financiados com capitais de
terceiros, mas tenham, também, a participação do capital próprio das instituições.
Em segundo lugar, cabe destacar a Resolução no 4.019, de 29 de setembro de 2011, que define as medidas
prudenciais preventivas aplicáveis às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a operar pelo
BCB, quando identificadas determinadas situações críticas relacionadas à situação econômico-financeira ou
à exposição a riscos de determinada instituição. Conforme aquela resolução, algumas medidas aplicáveis são:
i. adoção de controles e procedimentos operacionais adicionais;
ii. redução do grau de risco das exposições;
iii. observância de valores adicionais ao Patrimônio de Referência Exigido;
iv. observância de limites operacionais mais restritivos;
v. recomposição de níveis de liquidez;
vi. Limitação ou suspensão de:
a) aumento da remuneração dos administradores;
b) pagamentos de parcelas de remuneração variável dos administradores;
c) distribuição de resultados ou, no caso de cooperativas de crédito, de sobras, em montante
superior aos limites mínimos legais;
(CMN, 2011).

Há, ainda, as resoluções que dispõem sobre as estruturas de gerenciamento dos riscos operacional (no
3.380, de 29 de junho de 2006), de mercado (no 3.464, de 26 de junho de 2007), de crédito (no 3.721, de 30
de abril de 2009) e de liquidez (no 4.090, de 25 de maio de 2012). Essas normas exigem que a mensuração
e o controle de riscos sejam compatíveis e adequados em relação à natureza, ao porte e à complexidade
das operações realizadas pelas instituições e atribui poder discricionário ao BCB para atuar de maneira
prudencial no sentido de exigir controles de risco adicionais quando o gerenciamento de risco realizado
pelas instituições não for considerado satisfatório.
Além da regulação ligada aos Acordos de Basileia, existem diversos normativos de caráter prudencial
que atuam no sentido de limitar os riscos assumidos pelas instituições por meio da imposição de limites
operacionais. Alguns desses limites impostos pela regulação e acompanhados pelo BCB são os seguintes:

i. Limite de imobilização.
ii. Limite de Fundo de Liquidez de Agência de Fomento.
iii. Limite de exposição cambial.
iv. Limite de exposição ao risco de crédito.

Finalmente, cabe mencionar que, na sua regulação prudencial, o BCB acompanha as atividades das
instituições de maneira consolidada dentro de conglomerados financeiros, de modo a capturar as operações
e os riscos com o resto do SFN. Esses conglomerados são compostos por “entidades financeiras [que]
estão vinculadas [...] por participação acionária ou por controle operacional efetivo [...] ou pela atuação no
mercado sob a mesma marca ou nome comercial” (BRASIL, 2013c, p. 34).
Mais recentemente, em decorrência das recomendações de Basileia III, a Resolução no 4.280, de 31
de outubro de 2013, revogando a Resolução nº 4.195, de 1º de março de 2013, reelaborou o critério de
consolidação de operações e riscos para melhor refletir a situação financeira e patrimonial das instituições.
Confimou-se o conceito de conglomerado prudencial em que também são consolidadas empresas assemelhadas
a instituições financeiras que sejam controladas por instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, tais como
administradoras de consórcios e sociedades seguradoras, entre outras. O conglomerado prudencial servirá
de base para apuração dos requerimentos de capital, além de outros limites operacionais.
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5 COMITÊ DE ESTABILIDADE FINANCEIRA (COMEF)

Em maio de 2011, a Diretoria Colegiada do BCB instituiu o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef),
formado pelo presidente e pelos diretores do BCB, todos com direito a voto. O comitê, cujo regulamento é
apresentado no anexo à Portaria nº 78.276, de 16 de setembro de 2013 (o regulamento original, revogado,
data de 18 de maio de 2011), tem como objetivo avaliar a estabilidade financeira e definir as diretrizes e as
estratégias desta autarquia para mitigação do risco sistêmico no SFN, inclusive o decorrente de sua interação
com os sistemas financeiros de outras jurisdições.
O Comef se reúne trimestralmente de maneira ordinária em duas sessões, sendo a primeira destinada
à apresentação e à discussão dos temas selecionados, e a segunda sessão destinada à definição de estratégias
e diretrizes para preservar a estabilidade financeira e mitigar o risco sistêmico.
Da segunda sessão, participam apenas o presidente e os diretores do BCB, além do secretário do
Comitê. Já da primeira sessão, além dos participantes mencionados, integram também o Comef os titulares
dos departamentos do BCB ligados ao assunto da estabilidade financeira (a lista dos departamentos pode
ser encontrada no regulamento do Comef) e da Procuradoria-Geral do Banco Central.
De acordo com seu regulamento (BRASIL, 2013e, anexo, art. 9º), o Comef possui as seguintes competências:
I - Definir as estratégias e as diretrizes do Banco Central do Brasil para a condução dos processos
relacionados à estabilidade financeira;
II - Emitir recomendações para a condução dos processos relacionados à estabilidade financeira,
incluindo os mecanismos de prevenção e os planos de contingência para situações de risco, para
a solução de crises financeiras e para a tomada de providências cabíveis pela Diretoria Colegiada
do Banco Central do Brasil;
III - Determinar a realização de estudos, pesquisas e trabalhos relativos à estabilidade financeira e
à prevenção do risco sistêmico;
IV - Alocar responsabilidades para as Unidades envolvidas com vistas à atuação integrada e coordenada,
conforme as respectivas atribuições definidas no Regimento Interno do Banco Central do Brasil; e
V - Orientar a atuação do Banco Central do Brasil no Comitê de Regulação e Fiscalização dos
Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec) e em fóruns
similares, assim como no relacionamento com outras entidades detentoras de informações úteis à
manutenção da estabilidade financeira.

O Coremec, instituído no âmbito do Ministério da Fazenda, em 25 de janeiro de 2006, tem como


finalidade promover a coordenação e o aprimoramento da atuação das entidades da Administração Pública
Federal que regulam e fiscalizam as atividades relacionadas à captação pública da poupança popular.
Com a criação do Comef, o BCB buscou um aprimoramento institucional para dar suporte à sua
missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente.

6 ORGANIZAÇÃO DAS AÇÕES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO

Para desempenhar suas atribuições legais, o BCB se organiza internamente de modo a melhor executar
as atividades de sua competência. No que se refere às ações de supervisão e fiscalização, elas se concentram,
em grande medida, nos departamentos vinculados ao Diretor de Fiscalização (Difis). Dessa forma, o foco
do texto será sobre suas atividades, muito embora existam departamentos de outras áreas que também
desempenham ações de supervisão e fiscalização.

7 ATIVIDADES DE SUPERVISÃO E FISCALIZAÇÃO NO ÂMBITO DA DIFIS

Este texto segue a prática adotada dentro do Manual da Supervisão do BCB (BRASIL, 2013c), que trata das
atividades de competência da Difis pelo termo supervisão, muito embora englobe também atividades de fiscalização.
As atividades de supervisão são realizadas com os seguintes objetivos:
a. Avaliar as instituições supervisionadas, no tocante aos riscos assumidos e à capacidade de
gerenciamento dentro de limites regulamentares e prudenciais;
b. Verificar o cumprimento das normas específicas de sua competência, para que as instituições
supervisionadas atuem em conformidade às leis e à regulamentação;
c. Fomentar a divulgação de informações pelas instituições supervisionadas, com vistas às melhores
práticas de governança corporativa nos aspectos de transparência e eqüidade no relacionamento

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com os participantes do mercado;
d. Prevenir a utilização do sistema financeiro para o trânsito de recursos oriundos da prática de
ilícitos financeiros, da lavagem de dinheiro e do financiamento do terrorismo; e
e. Atender denúncias, reclamações e pedidos de informações.
(BRASIL, 2013c, p. 11).

No que se refere ao item (a), esse objetivo reflete o modelo de supervisão adotado pelo BCB, que tem
por foco a avaliação de riscos e controles, originado das recomendações do Comitê de Supervisão Bancária
de Basileia (BCBS), que preconiza que a supervisão precisa ir além de uma atividade prescritiva baseada na
verificação de demonstrações contábeis e do atendimento às normas regulamentares e legais. De acordo com
o BCBS, a supervisão deve priorizar a avaliação dos riscos assumidos pelas entidades supervisionadas, assim
como a capacidade dessas de gerenciar e controlar tais riscos e mantê-los em níveis suportáveis diante do
capital alocado. Dessa forma, o item (a) reflete uma ação de supervisão, focada em riscos, que será discutida
em mais detalhes a seguir.
A verificação das conformidades com leis e regulamentações, de que trata o item (b) acima, é o que
pode ser chamado de atividades essencialmente de fiscalização do BCB.
O objetivo de fomentar a divulgação de informações a que se refere o item (c) visa estimular a disciplina
de mercado imposta aos bancos por acionistas, investidores, depositantes, entre outros agentes. Ademais, esse
objetivo também implica, para a supervisão do BCB, um processo de disponibilização de informações para
o público em geral por meio dos seus canais de comunicação, tais como: a internet e o correio eletrônico.
Com relação ao item (d), a origem desse objetivo da supervisão vem da Lei nº 9.613, de 3 de março de
1998, que dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores e sobre a prevenção
da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nessa lei, e dá outras providências.
Essa lei atribuiu a um conjunto de pessoas físicas e jurídicas, entre as quais se incluem as instituições
supervisionadas pelo BCB, a responsabilidade pela identificação e pelo registro de seus clientes e a comunicação
de operações financeiras com indícios dos crimes previstos na lei ao Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf).
Em função disso e levando em conta o disposto na Convenção Internacional para Supressão do
Financiamento do Terrorismo, o BCB editou a Circular nº 3.461, de 24 de julho de 2009, que estabelece que
as instituições financeiras e as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BCB devem implementar
políticas, procedimentos e controles internos para prevenir a utilização dessas instituições nas práticas dos
crimes previstos na Lei nº 9.613. Nesse contexto, o foco da supervisão está em avaliar a adequação e a
qualidade dessas políticas, procedimentos e controles internos.
O item (e), referente ao atendimento a denúncias, reclamações e pedidos de informações, envolve
a avaliação das denúncias e reclamações para encaminhamento dentro do BCB. Ademais, o atendimento
aos pedidos de informações, no âmbito das atividades de supervisão, envolve o compartilhamento de dados
e informações com órgãos externos vinculados aos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, nas esferas
federal, estadual e municipal, além do Ministério Público (MP) e da Advocacia-Geral da União.

7.1 Supervisão focada em riscos

Conforme visto, um dos objetivos da supervisão é ter uma postura prudencial junto às entidades
supervisionadas no que se refere aos riscos por elas incorridos e com relação aos controles aplicados sobre
esses riscos, sendo que o foco primordial das ações de supervisão está sobre os seguintes fatores: i) risco
de crédito, ii) risco de liquidez, iii) risco de mercado e iv) risco operacional.
Essa postura prudencial significa exigir das instituições estruturas de gerenciamento de riscos compatíveis
com a natureza das operações realizadas, com a complexidade dos produtos operados e com a dimensão
das exposições a risco. Pressupõe, também, a competência do BCB para atuar preventivamente sobre as
entidades supervisionadas, determinando a adoção de medidas corretivas, quando for o caso.
O embasamento normativo para supervisão focada em riscos são as resoluções do CMN que definem
os riscos supradescritos e tratam dos controles necessários para gerenciar esses riscos. Mais especificamente,
os normativos em questão são os seguintes:
Resolução CMN nº 3.380, de 29 de junho de 2006. Dispõe sobre a implementação de estrutura de
gerenciamento do risco operacional, definido como “a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes de
falha, deficiência ou inadequação de processos internos, pessoas e sistemas, ou de eventos externos” (art. 2º).

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Resolução CMN nº 3.464, de 26 de junho de 2007. Dispõe sobre a implementação de estrutura de
gerenciamento do risco de mercado, definido como “a possibilidade de ocorrência de perdas resultantes da
flutuação nos valores de mercado de posições detidas por uma instituição financeira” (art. 2º).
Resolução CMN nº 3.721, de 30 de abril de 2009. Dispõe sobre a implementação de estrutura de gerenciamento
do risco de crédito, definido como “a possibilidade de ocorrência de perdas associadas ao não cumprimento
pelo tomador ou contraparte de suas respectivas obrigações financeiras nos termos pactuados, à desvalorização
de contrato de crédito decorrente da deterioração na classificação de risco do tomador, à redução de ganhos
ou remunerações, às vantagens concedidas na renegociação e aos custos de recuperação” (art. 2º).
Resolução CMN nº 4.090, de 24 de maio de 2012. Dispõe sobre a estrutura de gerenciamento do risco
de liquidez definido como (art. 2º):

• a possibilidade de a instituição não ser capaz de honrar eficientemente suas obrigações


esperadas e inesperadas, correntes e futuras, inclusive as decorrentes de vinculação de
garantias, sem afetar suas operações diárias e sem incorrer em perdas significativas; e
• a possibilidade de a instituição não conseguir negociar a preço de mercado uma posição,
devido ao seu tamanho elevado em relação ao volume normalmente transacionado ou em
razão de alguma descontinuidade no mercado.

Ainda com relação aos normativos supradescritos, cabe destacar que todos preveem a competência
do BCB para atuar preventivamente quando considerar que as estruturas de gerenciamento de riscos não
são adequadas diante das exposições a risco, ou quando este entender que o nível dessas exposições não é
compatível com o capital disponível para fazer frente às eventuais perdas.

7.2 Supervisão direta e indireta: inspeções e monitoramento

Como destaca Porter (1999), a maior parte dos países apresenta um padrão de supervisão bancária
dividido em duas funções-chave: acompanhamento indireto (off-site supervision ou supervisão indireta) e
inspeções diretas (on-site supervision ou supervisão direta). Conforme explica o autor, cabe à supervisão indireta:
Coletar e aferir a exatidão de todos os relatórios que as instituições financeiras autorizadas devem
submeter à autoridade supervisora;
Conduzir uma análise financeira dos relatórios submetidos periodicamente, aplicando análise por nível
(conformidade com requerimentos ou padrões), tendência (comparação com períodos anteriores)
e por grupo (comparação com bancos de características semelhantes);
Redigir sumários financeiros periódicos (normalmente, mensais ou trimestrais) sobre os achados
principais da supervisão indireta;
Prestar informações completas (verbalmente e por escrito) ao pessoal da supervisão direta sobre o que
se conhece dos bancos pela supervisão indireta- principalmente às vésperas de uma inspeção direta;
Alertar todas as autoridades supervisoras graduadas para os “sinais de advertência de problemas
futuros” (early warning system) descobertos na análise indireta; e
Participar de decisões de supervisão no que tange a medidas a serem adotadas com relação a
bancos problemáticos.
(PORTER, 1999, p. 4).

Por sua vez, a supervisão direta tem as seguintes funções e responsabilidades:

Aferir a exatidão dos relatórios submetidos à autoridade supervisora;


Avaliar a conformidade com todos os regulamentos, normas e com outros aspectos relacionados
com o arcabouço legal;
Avaliar a adequada condição financeira dos bancos como um todo – incluindo adequação de capital,
qualidade dos ativos, rendimentos, liquidez e qualidade da administração;
Avaliar como o risco está sendo administrado nos bancos, incluindo: riscos de crédito, de mercado,
de liquidez, de câmbio, de taxa de juros e operacional;
Recomendar a todas as autoridades supervisoras graduadas medidas a serem tomadas com relação
a bancos problemáticos; e
Comunicar aos funcionários da supervisão indireta os resultados das inspeções e as áreas em
relação às quais os funcionários da supervisão indireta devem ficar alerta.
(PORTER, 1999, p. 4).

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No Brasil, a supervisão executada pelo BCB também segue o modelo de supervisão direta e indireta. Essa
divisão é definida dentro da Difis nas atribuições dos seus departamentos. A supervisão indireta é executada pelo
Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro (Desig), enquanto a supervisão direta é de responsabilidade
do Departamento de Supervisão de Bancos e Conglomerados Bancários (Desup), do Departamento de Supervisão
de Cooperativas e de Instituições não Bancárias (Desuc) e do Departamento de Conduta (Decon).

7.2.1 Supervisão indireta no BCB

A atribuição da supervisão indireta representada pelo Desig é realizar o monitoramento das instituições
financeiras e das demais instituições autorizadas a operar pelo BCB. O escopo desse monitoramento são as
demonstrações contábeis e as exposições de risco de mercado, liquidez, crédito e de imagem dessas instituições,
assim como o risco sistêmico e a estabilidade financeira. Nesse escopo, o monitoramento se desdobra nas
seguintes atividades, conforme explica o Manual da Supervisão (BRASIL, 2013c, p.15):

a) Monitoramento – consiste em informar tempestivamente à área de supervisão situações


ou eventos que fujam aos padrões de comportamento esperado, em relação a questões
regulamentares (limites operacionais, normas contábeis, etc.), ou à avaliação de riscos
(liquidez, mercado, crédito, situação econômico-financeiro, etc.), possibilitando a ação
tempestiva dos departamentos responsáveis;
b) Análise da estabilidade financeira – consiste em manter a alta administração informada
sobre o comportamento, a evolução dos riscos sistêmicos (crédito, liquidez, mercado,
contágio, etc.) e sobre situações, tendências e alterações no sistema ou subsistema que
afetem a estabilidade financeira, eficiência ou a solvência do SFN, incluindo aqui, entender
como eventos externos podem afetar a estabilidade do SFN; e
c) Divulgação de informações de interesse da supervisão – por meio da produção de informações
para o público interno e externo, com vistas a contribuir para a compreensão da estabilidade
financeira, eficiência e solvência do sistema financeiro nacional e de suas instituições.

A partir dessas atividades, o Desig consegue prover as informações necessárias à supervisão das
instituições autorizadas a funcionar pelo BCB, consideradas de maneira individual, ou em conjunto, assim
como produzir informações que permitam a avaliação da estabilidade do SFN.

7.2.2 Supervisão direta no BCB

Os trabalhos desempenhados pelo Desup e pelo Desuc estão divididos em atividades de inspeção e
acompanhamento.
As inspeções, conforme destaca o Manual da Supervisão do BCB, consistem “em elemento essencial
do processo de supervisão para a avaliação da situação econômico-financeira, da gestão, da observância da
legislação e da regulamentação aplicáveis, e de assuntos ou de áreas de relevância da Entidade Supervisionada”
(BRASIL, 2013c, p. 22).
Ao contrário das inspeções que são programadas para ocorrer em determinados períodos ao longo
do ano, o acompanhamento às entidades supervisionadas é feito durante todo o ano, tornando a supervisão
direta uma atividade contínua. O objetivo desse acompanhamento é verificar, de maneira complementar, aos
trabalhos de inspeção, tópicos relacionados à solidez, ao perfil de riscos e à qualidade de gestão das entidades
supervisionadas, entre outros fatores.

8 INSTRUMENTOS DISCIPLINARES E PUNITIVOS

Quando as atividades de supervisão e fiscalização detectam alguma infração de norma regulamentar (e.g.
resoluções, circulares etc.) ou legal, o BCB possui poder discricionário para adotar medidas administrativas
de caráter corretivo, restritivo ou impeditivo, conforme a natureza ou gravidade do que foi apurado. Tais
medidas podem ser de quatro tipos (BRASIL, 2013c, p. 25):

a) Processo administrativo punitivo;


b) Medidas cautelares;
c) Termo de comparecimento;
d) Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência”.
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8.1 Processos administrativos punitivos

Os processos administrativos punitivos podem ter origem nas diversas unidades do BCB envolvidas com
algum tipo de atividade de supervisão e fiscalização. No entanto, conforme estabelece o Regimento Interno
do BCB (BRASIL, 2005), compete ao Departamento de Controle e Análise de Processos Administrativos
Punitivos (Decap), ligado à Diorf, controlar, conduzir e analisar os processos administrativos punitivos.
As decisões com relação ao processo administrativo punitivo podem ser comunicadas ao interessado
após a conclusão da análise do processo e da elaboração do parecer técnico. No entanto ainda pode haver
uma fase anterior de encaminhamento do parecer ao Comitê de Análise de Proposta de Decisão de Processos
Administrativos Punitivos (Codep) para aprovação da proposta de decisão contida no processo. Esse comitê é
formado pelo chefe-adjunto – Decap, pelo chefe da Divisão de Controle e Estudos de Processos Administrativos
– Dipro, pelo chefe da Divisão de Processos Administrativos – Dipad e pelos gerentes-técnicos do Decap, em
Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Seu objetivo é permitir o debate
e a troca de experiências entre seus participantes, buscando uniformizar a tomada de decisões.
As penalidades decorrentes das decisões dos processos administrativos punitivos podem ser dos
seguintes tipos:

• advertência;
• multa;
• suspensão do exercício de cargos;
• inabilitação para o exercício de cargos de direção na administração ou na gerência de
instituições supervisionadas;
• cassação da autorização de funcionamento e de administração de grupos de consórcio;
• suspensão de realizar novas operações, no caso de administradoras de consórcio, se configurados
riscos ao público consumidor;
• regime especial de fiscalização, no caso de administradoras de consórcio; e
• proibição temporária de praticar atividade de auditoria em instituições supervisionadas.

Cabe observar que a severidade das penalidades, como, por exemplo, os valores das multas ou os períodos
de inabilitação variam conforme o tipo de infração e o dispositivo legal que trata do assunto.
Uma vez comunicada a decisão do processo ao acusado, este tem a possibilidade de apresentar recurso junto
ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN)12, órgão integrante da estrutura do Ministério da
Fazenda com a atribuição de julgar em segunda e última instância recursos contra decisões de processos administrativos.

8.2 Medidas cautelares

Conforme o Manual da Supervisão do BCB (BRASIL, 2013c) e o anexo à Resolução CMN no 1.065, de
5 de dezembro de 1985, identificadas infrações regulamentares ou legais, ou diante da existência de fortes
indícios da existência dessas infrações, as medidas cautelares são empregadas para limitar as atividades
desempenhadas na entidade supervisionada pelos indiciados enquanto se apuram as responsabilidades.
As medidas cautelares que podem ser empregadas procuram:

i. Afastar os indiciados da administração da entidade supervisionada.


ii. Impedir que os indiciados assumam cargos de direção ou administração em entidades supervisionadas.
iii. Restringir os negócios realizados pela entidade supervisionada.
iv. Determinar a troca da empresa de auditoria ou auditor responsável pelo parecer das demonstrações
financeiras da entidade supervisionada.

8.3 Termo de comparecimento

De acordo com o Manual da Supervisão do BCB (BRASIL, 2013c), o termo de comparecimento é empregado
para convocar os representantes legais e, se for necessário, os controladores da entidade supervisionada,
para que estes apresentem as medidas que serão tomadas para regularizar as possíveis situações:

12 Detalhes desse órgão são analisados durante a apresentação da estrutura do SFN.


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i. Descumprimento de limites operacionais ou da exigência de níveis mínimos de capital.
ii. Falhas ou ausência de controles internos que comprometam ou possam comprometer o
funcionamento regular da entidade supervisionada.
iii. Deficiências ou procedimentos que comprometam ou possam comprometer o funcionamento
regular da entidade supervisionada;
iv. Fornecimento inadequado ou incompleto ao BCB de informações que comprometam os
trabalhos de supervisão e monitoramento dessa autarquia.

8.4 Classificação de instituições supervisionadas na situação “em evidência”

Conforme explica o Manual da Supervisão do BCB, são classificadas como “em evidência” as entidades
supervisionadas que apresentem deficiências ou procedimentos que comprometam ou possam comprometer
o funcionamento regular da entidade, tais como o descumprimento de limites operacionais ou de exigência
de capital, controles internos inadequados ou crise de liquidez. Como consequência, as entidades classificadas
como “em evidência” passam por um acompanhamento específico por parte da supervisão.

9 REGIMES ESPECIAIS: INTERVENÇÃO, LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL E ADMINISTRAÇÃO


ESPECIAL TEMPORÁRIA

Além da postura prudencial, ou preventiva, da supervisão no sentido de monitorar e avaliar riscos e


controles das instituições, o BCB também dispõe de instrumentos para lidar com situações em que os riscos
incorridos pelas instituições resultaram em importantes desequilíbrios patrimoniais. Nesses casos, impõe-se
os regimes especiais às instituições quando se constata a iminência ou a inevitabilidade da sua insolvência.
Existem três modalidades de regimes especiais: a intervenção, a liquidação extrajudicial, ambas
disciplinadas pela Lei no 6.024, de 13 de março de 1974, e a administração especial temporária (Raet),
definida no Decreto-Lei no 2.321, de 25 de fevereiro de 1987. Conforme explica o BCB (BRASIL, 2013g), o
funcionamento de cada uma dessas modalidades ocorre da seguinte forma:

• Intervenção: nessa modalidade, os dirigentes da instituição são destituídos e a gestão direta


é assumida por um interventor nomeado pelo BCB. Trata-se de uma medida cautelar que
suspende as atividades normais da instituição, procurando evitar o agravamento da situação
que levou ao regime especial. A intervenção ocorre por um período limitado, ao fim do qual
a instituição pode retomar suas atividades normais ou pode ter decretada sua liquidação
extrajudicial ou falência.
• Administração especial temporária (Raet): assim como na intervenção, os dirigentes da instituição
são destituídos, mas a instituição continua com suas atividades normais. O que muda é que
a gestão passa a ser realizada por um conselho diretor nomeado pelo BCB. A aplicação do
Raet, que possui prazo definido, pode devolver a instituição ao seu funcionamento normal,
ou resultar em um processo de intervenção ou na decretação de liquidação extrajudicial.
• Liquidação extrajudicial: trata-se de uma medida definitiva que tem por objetivo vender os
ativos da instituição para pagamento dos credores, com eventual restituição da sobra de
valores aos acionistas ou responsabilização dos controladores pelo passivo a descoberto.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Banco Central do Brasil. Portaria no 29.971, de 4 de março de 2005, Diário Oficial. Traz como anexo
o Regimento Interno do Banco Central do Brasil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 10 mar. 2005.

______. BCB. Relatório de Gestão do Exercício de 2012. Brasília, março de 2012. Disponível em: <www.bcb.
gov.br/Pre/audit/relgest/Relatorio_de_Gestao_ BC_2012.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2013a.

______. BCB. Processos Administrativos Punitivos. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?PROCADM>. Acesso


em: 7 nov. 2013b.

______. BCB. Manual da supervisão (MSU). Disponível em <www.bcb.gov.br/?PUBSUPERVISAO>. Acesso em:


7 nov. 2013c.

______. BCB. Manual de Crédito Rural (MCR). Disponível em <www.bcb.gov.br/?OUTROSMAN>. Acesso em:
7 set. 2013d.

______. BCB. Manual de Organização do Sistema Financeiro (Sisorf). Disponível em: <www.bcb.gov.br/?sfnorg>.
Acesso em: 7 nov. 2013e.

______. BCB. Portaria no 78.276, de 16 de setembro de 2013. Diário Oficial. Altera o Regulamento do Comitê
de Estabilidade Financeira (Comef). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 17. set. 2013f.

______. BCB. “O Banco Central e as novas técnicas de saneamento do Sistema Financeiro Nacional após
a estabilização monetária”. Disponível em: <www.bcb.gov.br/htms/livrosfn.asp?idpai=ARTREGESP>. Acesso
em: 27nov. 2013g.

______. BCB. Disponível em: <www.bcb.gov.br>. Acesso em: 26 nov. 2013h.


CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN). Resolução no 4.019, de 29 de setembro de 2011. Disponível
em: <www.bcb.gov.br/?BUSCANORMA>. Acesso em: 26 nov. 2013.

PORTER, Robert S. Coordenação de supervisão direta e indireta: aspectos e abordagens recomendadas. In:
SEMINÁRIO PARA SUPERVISORES BANCÁRIOS DE ECONOMIAS EMERGENTES. Banco Mundial, 1999.
Disponível em <http://www.bcb.gov.br/?PUBSUPERV>. Acesso em: 12 nov. 2013.

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UNIDADE 4 – EXECUTOR DAS POLÍTICAS MONETÁRIA E CAMBIAL

1 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA MONETÁRIA

Este texto apresenta, em linhas gerais, os principais critérios relacionados à política monetária adotada
pelo Banco Central do Brasil (BCB), após 1964, ano da promulgação da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro.
Partiu-se do exame dos principais instrumentos disponíveis e da descrição da sua operacionalização. Ênfase
maior foi centrada na análise do Sistema de Metas para a Inflação e suas características, sistema adotado em
1999, ano a partir do qual passou a balizar a execução da política monetária no país.
A política monetária em sua definição mais básica corresponde à atuação dos bancos centrais, por
meio de instrumentos de efeito direto ou induzido, com o propósito de controlar a liquidez de um sistema
econômico, visando à manutenção do poder de compra da moeda. Essa atuação tem por objetivo manter a
quantidade de moeda em circulação compatível com: i) a estabilidade do nível geral de preços, ii) as necessidades
da economia nacional e seu processo de desenvolvimento e iii) a manutenção da estabilidade cambial.
A Lei nº 4.595/1964 definiu como competência privativa do Banco Central a execução das políticas
monetária e cambial. Até 1986, entretanto, coexistiram no país duas autoridades monetárias: o Banco Central
e o Banco do Brasil, ligados pela chamada conta-movimento que permitia suprimento monetário automático
ao Banco do Brasil para financiar os gastos do governo, fato que contribuiu para o descontrole da inflação
no período. O fim da conta-movimento foi importante para implantação do Plano Cruzado. Atualmente, as
prerrogativas de executor da política monetária são de competência prática, formal e exclusiva do Banco
Central do Brasil.
Os livros/textos de economia, em geral, relacionam três instrumentos de política monetária:

i. recolhimentos compulsórios;
ii. operações de redesconto bancário que, na prática, não são mais utilizadas como instrumento
de política monetária; e
iii. operações de mercado aberto.

1.1 Recolhimentos compulsórios

Os recolhimentos compulsórios são depósitos obrigatórios realizados pelos bancos comerciais no


Banco Central na conta de reservas bancárias mantidas junto a autoridade monetária. Essa é uma “conta-
corrente” em que ocorre a liquidação financeira das operações realizadas pelas instituições financeiras com
a autoridade monetária ou com as outras instituições do sistema financeiro nacional. Os bancos comerciais,
os bancos múltiplos com carteira comercial e as caixas econômicas são obrigados a manter uma conta de
reservas bancárias, que é facultativa para os bancos de desenvolvimento, de investimento e bancos múltiplos
sem carteira comercial.
As alíquotas estabelecidas nos recolhimentos compulsórios guardam relação inversa com a capacidade
do sistema bancário para expandir o crédito e a oferta monetária na economia. Quanto maiores as alíquotas
dos compulsórios, menor é a capacidade dos bancos comerciais para multiplicar o volume de crédito. Dessa
forma, aumentos do compulsório reduzem a capacidade potencial dos bancos para expandir o volume de
crédito e seus depósitos.
O Banco Central está autorizado pela Lei nº 4.595/64, com a redação dada pela Lei nº 7.730, de 31
de janeiro de 1989, a instituir recolhimento compulsório de até 100% sobre os depósitos à vista, e até 60%
sobre as demais operações passivas das instituições financeiras. Observe-se que o recolhimento compulsório
pode ser apenas em espécie.
Atualmente, no Brasil, existem as seguintes modalidades de recolhimentos compulsórios:

• Recolhimento compulsório sobre recursos à vista.


• Recolhimento compulsório sobre recursos de depósitos e de garantias realizadas.
• Encaixe obrigatório sobre recursos de depósitos de poupança.
• Recolhimento compulsório sobre recursos a prazo.
• Exigibilidade adicional sobre depósitos.

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Tabela 1: Modalidades de Compulsórios

Compulsório Alíquota Remuneração

Recursos à vista 44%. Não há.

Recursos a prazo 20% (11% de exigibilidade adicional) Taxa Selic

Depósitos de poupança 18% rural Se a meta da taxa Selic for maior ou igual a
8,5% ao ano (a.a.): TR acrescida de 6,17%
20% (Demais modalidades) a.a

10% de exigibilidade adicional Se a meta da taxa Selic for menor que 8,5%
a.a.: TR acrescida de 70% da meta Selic a.a

Taxa Selic sobre a exigibilidade adicional


de 10%

Garantias realizadas 45% Não há

Fonte: BCB, novembro de 2013.

Obedecidos aos limites máximos estabelecidos na legislação, a Diretoria Colegiada do Banco Central
pode alterar as alíquotas de recolhimento compulsório a qualquer tempo.
Resumidamente, esse sistema visa basicamente a três objetivos: i) controle dos agregados monetários
e creditícios, por meio dos efeitos do recolhimento compulsório sobre o multiplicador monetário e sobre
os spreads bancários; ii) controle da liquidez de curto prazo do setor bancário, pela geração de uma demanda
relativamente estável e previsível por reservas bancárias ou liberação de reservas excedentes ao sistema
financeiro; e iii) proteção do sistema bancário contra riscos de liquidez e solvência (associado a medidas
macroprudenciais).
A operacionalização dos recolhimentos compulsórios compete ao Departamento de Operações
Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban).

1.2 Operações de redesconto bancário

As operações de redesconto bancário, ou assistência financeira de liquidez, são financiamentos oferecidos


pelo Banco Central a instituições financeiras com contas de reservas bancárias ou conta de liquidação,13
visando prover liquidez para as instituições financeiras, função que atualmente pode ser considerada de
“banco dos bancos”, examinada na Unidade 2 do Módulo II.

1.3 Operações de mercado aberto (open market)

O art. 10 da Lei nº 4.595/1964 outorgou ao Banco Central a atribuição de efetuar, como instrumento
de política monetária, operações de compra e venda de títulos públicos federais, chamadas de operações
de mercado aberto. Essas operações foram facilitadas com a consolidação e a sofisticação do mercado de
títulos públicos federais. Sua flexibilidade, agilidade e alcance operacional permitem uma eficiente regulação
da liquidez do sistema bancário e da taxa básica de juros.
As operações de mercado aberto, ou operações compromissadas, são transações de compra (venda)
de títulos públicos federais com compromisso de revenda (recompra) realizadas pelo Banco Central com
instituições financeiras previamente credenciadas chamadas de dealers.
Operacionalmente, o ajuste diário da liquidez é precedido por estimativa para avaliar se haverá excesso
ou falta de reservas no sistema, com base em informações sobre operações que afetam as reservas bancárias
que incluem, entre outras, as operações de câmbio e as ações do Tesouro Nacional – recolhimento de tributos
ou realização de gastos, resgate ou emissão de títulos públicos.
Ao comprar títulos públicos federais, o Banco Central entrega em contrapartida liquidez (depósitos) às
instituições financeiras. Em sentido oposto, quando o Banco Central vende títulos governamentais, recolhe,

13 Conta de liquidação junto ao Banco Central é obrigatória para prestadores de serviços de compensação e liquidação considerados sistemicamente
importantes. Ela é facultativa, entretanto, para instituições não bancárias autorizadas a funcionar pelo Banco Central.

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em contrapartida, moeda do sistema bancário, diminuindo a liquidez na economia, provocando queda dos
preços dos títulos e aumento dos seus rendimentos (alta na taxa básica de juros).
Até a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000), o
Banco Central emitia títulos próprios para fins de política monetária14. A partir de então, a carteira de títulos
do Banco Central para atuar no controle da liquidez via operações de mercado aberto é composta por
títulos emitidos pelo Tesouro Nacional (TN). Para evitar configuração de financiamento do governo, proibida
pela Constituição de 1988, o Banco Central só pode comprar diretamente títulos emitidos pela União no
mercado primário (leilão do TN para obter recursos) para refinanciar a dívida mobiliária federal que estiver
vencendo em sua carteira e, no mercado secundário, somente a partir do dia seguinte ao da realização do
leilão de títulos do Tesouro Nacional15.
A operacionalização das operações de mercado aberto está a cargo do Departamento de Operações
do Mercado Aberto (Demab).

1.4 Sistema de Metas para a Inflação e o Comitê de Política Monetária (Copom)

O processo de estabilização da economia brasileira, após o período inflacionário da década de 1980 e


dos primeiros anos da década de 1990, inicia-se com a adoção do Plano Real. Nos três primeiros meses do
plano, utilizou-se o regime de câmbio flutuante. A partir de outubro de 1994, é adotado o regime de câmbio
fixo, que, em março de 1995, é trocado pelo regime de bandas cambiais. O Banco Central passa a adotar
então a “âncora cambial” para estabilização de preços, isso possibilitou queda acentuada da inflação e sua
manutenção em patamares reduzidos.
A manutenção da baixa inflação via “âncora cambial” foi, entretanto, inviabilizada no início de 1999. Ao
lado do aumento da dívida pública, dada a alta taxa de juros que facilitava a manutenção da âncora cambial via
atração de capital externo, o país passou a apresentar déficits na balança comercial, bem como aumento do
passivo externo líquido, já que era mais conveniente economicamente obter recursos no mercado externo
a juros mais favoráveis e com o câmbio controlado. Esse cenário, conjugado com os efeitos-contágio das
crises ocorridas na Ásia e na Rússia, em 1997 e 1998, e com um nível baixo de reservas internacionais na
época, levou a um ataque especulativo ao Real em janeiro de 1999, tornando impossível a manutenção do
regime de bandas cambiais. Foi então que o Brasil adotou um regime cambial flutuante e, em junho daquele
ano, a âncora nominal para inflação passou a se basear no sistema de metas para a inflação.

1.4.1 Sistema de Metas para a Inflação

O processo de estabilização da economia brasileira, após o período inflacionário da década de 80 e


primeiros anos da década de 90, iniciou com a adoção do Plano Real. Nos três primeiros meses do Plano,
utilizou-se o regime de câmbio flutuante. A partir de outubro de 1994, é adotado o regime de câmbio fixo
que, em março de 1995, é trocado pelo regime de bandas cambiais, configurando a adoção de uma “âncora
cambial” para estabilização de preços, o que possibilitou queda acentuada da inflação e sua manutenção em
patamares reduzidos.
A manutenção da “âncora cambial” foi, entretanto, inviabilizada no início de 1999. Ao lado do aumento
da dívida pública, o país passou a apresentar déficits na balança comercial, bem como aumento do passivo
externo líquido, já que era mais conveniente economicamente obter recursos no mercado externo a juros mais
favoráveis e com o câmbio controlado. Este cenário, conjugado com os efeitos-contágios sobre a economia
brasileira decorrente das crises ocorridas na Ásia e na Rússia, em 1997 e 1998, e o nível baixo de reservas
internacionais, levou a um ataque especulativo ao Real em janeiro de 1999, tornando impossível a manutenção
do regime de bandas cambiais, então substituídas por um regime cambial flutuante. Em junho daquele ano,
a âncora nominal para a inflação passou a se basear no sistema de metas para a inflação, conforme o art. 1°
do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999. As metas passaram a ser fixadas pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN), sendo competência do Banco Central executar as políticas necessárias para seu cumprimento.

14 Não há mais títulos emitidos pelo Banco Central no mercado. O último lote (NBC-E) venceu em 16/11/2006.
15 O mercado primário compreende o lançamento de novos títulos no mercado. É uma forma de captação de recursos para o emissor desses
títulos. Uma vez ocorrido o lançamento inicial no mercado primário, os títulos passam a ser negociados no mercado secundário, em que ocorre
apenas a troca de propriedade desses títulos.

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A transparência e a prestação de contas regulares à sociedade e a seus representantes são elementos
essenciais de um regime de metas para a inflação. No Brasil, isso ocorre pela expedição de comunicado
informando sobre a decisão a respeito da taxa Selic logo após o fim da reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom). Adicionalmente, até seis dias úteis após a reunião, é publicada ata, contendo o cenário
macroeconômico e os principais riscos a ele associados, com base nos quais foram tomadas as decisões de
política monetária e, por fim, até o último dia de cada trimestre civil, é publicado o Relatório de Inflação,
que avalia o nível de atividade do país, o cenário internacional, as políticas creditícia, monetária e fiscal
implementadas, bem como a evolução dos preços e as perspectivas para a inflação.
De maneira geral, um sistema de metas para a inflação caracteriza-se por quatro elementos básicos:

i. conhecimento público das metas de médio prazo para a inflação;


ii. comprometimento institucional com a estabilidade de preços como objetivo principal da
política monetária;
iii. estratégia de atuação pautada pela transparência para comunicar claramente ao público sobre
planos, objetivos e razões que justificam as decisões de política monetária; e
iv. mecanismos para tornar as autoridades monetárias responsáveis pelo cumprimento das metas
para a inflação.

Como forma de regulamentar os dispositivos do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, o Banco


Central publicou a Resolução nº 2.615, de 30 de junho de 1999, que resolveu:
Art. 1º Determinar que o índice de preços relacionado às metas para a inflação, referido no art.
1º, parágrafo 1º, do Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999, é o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional, mediante proposta do Ministro de Estado da
Fazenda, determinará índice substituto eventual, na impossibilidade de se aferir o índice de que
trata o “caput” deste artigo.

Tabela 2: Histórico de metas para a inflação no Brasil

Fonte: BCB, novembro de 2013.

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Observe-se que, caso a meta não seja cumprida, o que ocorreu nos anos de 2001, 2002 e 2003, o
presidente do Banco Central do Brasil divulgará publicamente as razões do descumprimento, por meio de
carta aberta ao ministro de Estado da Fazenda, que deverá conter:

i. descrição detalhada das causas do descumprimento;


ii. providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos; e
iii. prazo no qual se espera que as providências produzam efeito.

É importante ressaltar que, como parte do regime de metas inflacionárias, foi iniciada, em maio de
1999, a Pesquisa de Expectativas de Mercado, com o objetivo de monitorar a evolução do consenso de
mercado sobre o comportamento das principais variáveis macroeconômicas, de forma a gerar subsídios para
o processo decisório da política monetária. A pesquisa acompanha as expectativas de mercado para índices
de preços, produto interno bruto (PIB), produção industrial, taxa de câmbio, taxa do Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia (Selic), variáveis fiscais e indicadores do setor externo. Atualmente, as estatísticas
são calculadas diariamente, permitindo a geração de relatórios para os membros do Copom. O resultado
(Focus – Relatório de Mercado) é publicado às segundas-feiras na página do Banco Central na internet.

1.4.2 Comitê de Política Monetária (Copom)

O Comitê de Política Monetária (Copom) foi criado pela Circular nº 2.698, de 20 de junho de 1996, e
inicialmente tinha como objetivo estabelecer diretrizes da política monetária e definir a taxa básica do Banco
Central (TBC). Já a Circular nº 2.966, de 8 de fevereiro de 2000, modificou a questão referente à definição
da taxa básica que passou a ser a taxa Selic e seu eventual viés, a partir da adoção do Sistema de Metas para
a Inflação. Essa última circular acrescentou ainda como atribuições do Copom a de análise do Relatório de
Inflação, a que se refere o Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999.
A atual estrutura e funcionamento do Copom estão definidos na Circular nº 3.593, de 16 de maio de
2012, que estabeleceu como membros do Copom o presidente e os diretores do Banco Central do Brasil.
O Copom reúne-se ordinariamente oito vezes por ano e o calendário anual dessas reuniões ordinárias deve
ser divulgado até o fim do mês de junho do ano anterior.
As reuniões ordinárias são realizadas em duas sessões, a primeira sessão às terças-feiras, reservada às
apresentações técnicas de conjuntura econômica, e a segunda sessão às quartas-feiras, destinada às decisões
acerca das diretrizes de política monetária que devem ser publicadas no mesmo dia, após o fechamento dos
mercados, por meio de comunicado do diretor de Política Monetária, indicando o voto de cada membro do
Copom. O Copom pode ainda se reunir extraordinariamente por convocação de seu presidente, presentes,
no mínimo, o presidente, ou seu substituto, e metade do número de diretores.
Além dos membros do Copom, participam da primeira sessão das reuniões ordinárias às terças-feiras
os chefes das seguintes unidades, que discorrem sobre os seguintes assuntos:

i. Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban): condições de


liquidez e de funcionamento do sistema bancário.
ii. Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab): mercado monetário e operações
de mercado aberto.
iii. Departamento Econômico (Depec): conjuntura econômica doméstica.
iv. Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep): avaliação prospectiva das tendências da
inflação.
v. Departamento das Reservas Internacionais (Depin): mercados financeiros internacionais e
de câmbio.
vi. Departamento de Assuntos Internacionais (Derin): conjuntura econômica internacional.
vii. Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais
(Gerin): expectativas de mercado para variáveis macroeconômicas.

Cabe aos membros do Copom definir, por meio de voto (maioria simples), a meta para a taxa Selic e seu
eventual viés. O presidente do Banco Central tem voto de qualidade e pode ainda alterar a meta para a taxa
Selic, no mesmo sentido do viés, sem necessidade de convocação de reunião extraordinária do Copom. De
acordo com a Circular nº 3.593, de 16 de maio de 2012, os votos do Copom passaram a ser abertos ao público.

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Uma vez definida a meta para a taxa Selic no segundo dia de reunião do Copom, o Banco Central atua
no mercado aberto de forma a fazer que a taxa efetiva Selic convirja para aquela meta estipulada.

Tabela 3: Comparação Selic meta x Selic efetiva

Data da
Selic meta Selic efetiva
reunião do
(%aa) (%aa)
Copom
27/11/2013 10.00
10/10/2013 9.50 9.25
28/08/2013 9.00 8.90
10/07/2013 8.50 8.23
29/05/2013 8.00 7.42
17/04/2013 7.50 7.26
06/03/2013 7.25 7.16
16/01/2013 7.25 7.11
28/11/2012 7.25 7.14
10/10/2012 7.25 7.14
28/08/2012 7.50 7.39
11/07/2012 8.00 7.89
30/05/2012 8.50 8.39
18/04/2012 9.00 8.90
07/03/2012 9.75 9.65
18/01/2012 10.50 10.40
30/11/2011 11.00 10.90
19/10/2011 11.50 11.40
31/08/2011 12.00 11.90
20/07/2011 12.50 12.42
08/06/2011 12.15 12.17
20/04/2011 12.00 11.92
02/03/2011 11.75 11.67

Fonte: BCB, novembro de 2013.

2 FUNÇÃO DO BANCO CENTRAL COMO EXECUTOR DA POLÍTICA CAMBIAL

O presente texto descreve os principais aspectos relativos ao funcionamento do mercado de câmbio


e apresentar a função de executor da política cambial e de administrador das reservas internacionais
desempenhadas pelos bancos centrais.
O economista David Ricardo, com sua teoria das vantagens comparativas, já descrevia, no século XIX,
os benefícios do comércio internacional. As trocas de bens e serviços entre as nações elevam os níveis de
bem-estar acima do que seria possível sem o comércio e impulsionam o crescimento e o desenvolvimento
econômico, mas, para que o comércio internacional floresça, é necessário o desenvolvimento de um mercado
de câmbio, que permita converter as moedas dos países entre si.
Mercado de câmbio é, portanto, onde se converte a moeda de determinado país na moeda de outro de
forma a viabilizar as transações internacionais. É no mercado de câmbio que se forma a taxa de câmbio fruto
das condições de oferta e demanda por moedas estrangeiras. Importadores de bens e serviços e viajantes
ao exterior, por exemplo, demandam moeda estrangeira para realizar pagamentos fora do país ao passo
que exportadores, investidores não residentes e turistas em visita ao país demandam a moeda nacional. É
da interação desses agentes econômicos que se determina o preço em moeda nacional de uma unidade de
moeda estrangeira, ou seja, a taxa de câmbio.
Como argumenta Friedman (1953), a taxa de câmbio não deve ser alvo de política econômica, mas,
sim, deve flutuar livremente de acordo com a lei de oferta e demanda do mercado de câmbio; de modo
geral, a política cambial visa a manter a estabilidade, ou reduzir as flutuações do preço da moeda nacional
em relação às moedas estrangeiras, de forma a garantir um crescimento econômico sustentável, evitando
volatilidade excessiva na taxa de câmbio que comprometa a balança comercial, o balanço de pagamentos e
a competitividade das empresas domésticas.
A taxa de câmbio é uma variável importante, pois afeta, entre outras, questões como:

• valor das importações e exportações e, dessa forma, a balança comercial;


• serviço da dívida externa de empresas e governos; e
• inflação doméstica via preços de insumos e produtos importados.

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A função de executor da política cambial dos bancos centrais varia de acordo com as orientações
de política econômica adotadas em cada país. Essa função requer, via de regra, a aquisição e a manutenção
de ativos em moeda estrangeira e/ou ouro (divisas) para que a autoridade monetária possa atuar nos
mercados de câmbio, garantindo o poder de compra de suas moedas e assegurando o desempenho adequado
das transações de comércio exterior. Como ocorreu no Brasil na década de 1980, a falta de divisas pode
comprometer o desempenho da economia pelos desequilíbrios relacionados às transações internacionais.
Os bancos centrais podem adotar diferentes regimes para executar suas políticas cambiais. Dornbusch
(1991) distingue dois sistemas cambiais básicos:

i. sistemas de taxas fixas (câmbio fixo), em que os bancos centrais compram e vendem suas
moedas a um preço fixo em termos da moeda de referência ou cesta de moedas; e
ii. sistemas de taxas flexíveis (câmbio flutuante), em que os bancos centrais permitem que a taxa
de câmbio se ajuste livremente para equilibrar a oferta e a demanda por moeda estrangeira.

Nas operações com câmbio fixo, o Banco Central troca moeda nacional por moeda estrangeira (ou
vice-versa) de forma a estabilizar a taxa de câmbio. Comprando ou vendendo reservas internacionais, o Banco
Central altera a base monetária. Nesse regime cambial com mobilidade internacional de capital, limita-se
a capacidade de a autoridade monetária influir na quantidade de moeda. O estoque monetário passa a ser
determinado endogenamente, ajustando-se, portanto, à oferta cambial. Uma vez que o Banco Central não
controla o estoque monetário, a política monetária passa a ser passiva.
Para sustentar um regime de câmbio fixo, o Banco Central deve manter um volume adequado de
reservas para atender aos eventuais aumentos da demanda por divisas. Além disso, a manutenção de taxas
de câmbio fixas depende que: i) as taxas de inflação dos diferentes países sejam próximas; e ii) os agentes
econômicos acreditem na sustentabilidade do câmbio fixo. O Brasil, por exemplo, não conseguiu sustentar
o regime de câmbio fixo e bandas cambiais que vigorou de outubro de 1994 a janeiro de 1999. As taxas
de inflação mais elevadas que o resto do mundo e a desconfiança dos agentes econômicos no câmbio fixo
levaram o país a adotar, em janeiro de 1999, o sistema atual de câmbio flutuante.
Como visto na parte de Política Monetária e no Sistema de Metas para Inflação, o câmbio fixo pode
funcionar como âncora para conter um processo inflacionário, mas sua sustentação é complexa, dado que
as reservas cambiais são finitas sob fluxo de capitais ou ataques especulativos.
Já em um sistema de taxas de câmbio flexíveis com mobilidade internacional de capital, é a taxa de
câmbio que se ajusta às variações na quantidade de moeda. Assim, o estoque monetário é controlável pela
autoridade monetária, o que determina que a política monetária é considerada ativa. A taxa de juros básica,
nesse regime, pode ser fixada de acordo com o objetivo principal de estabilidade de preços.
Em um regime de câmbio flutuante, o Banco Central não tem compromisso em sustentar a taxa de
câmbio. Qualquer mudança na demanda e a oferta de moeda estrangeira acomoda-se, portanto, por meio
da taxa de câmbio. O Banco Central define a política monetária sem se preocupar com determinada taxa
cambial, permitindo que ela flutue em resposta às condições econômicas vigentes.
Na prática, os países adotam um sistema híbrido entre câmbio fixo e flutuante, que é conhecido no mercado
e nos meios acadêmicos como flutuação suja (dirty floating). Nesse regime, o Banco Central intervém, quando
julgar conveniente, para amenizar a excessiva volatilidade e os movimentos especulativos da taxa de câmbio.

2.1 Mercado de câmbio no Brasil

O Brasil experimentou diversos regimes cambiais ao longo de sua história econômica. Na década de
1950 até 1968, foi adotado um sistema de taxas de câmbio múltiplas e leilões de câmbio. Entre 1968 e 1990,
foi adotado um sistema de câmbio fixo, com minidesvalorizações frequentes, seguidas por maxidesvalorizações.
Essas minidesvalorizações consistiam basicamente em ajustar a taxa de câmbio pela diferença entre as taxas
de inflação doméstica e externa da moeda de referência, no caso, o dólar norte-americano, em intervalos
de tempo. Os ajustes eram menores ou maiores em função do desempenho do saldo total do balanço de
pagamentos. No início, os ajustes eram mensais, mas já no final da década de 1980, a taxa de câmbio passou
a ser reajustada diariamente pelo Banco Central.
Com o advento do Plano Collor, em 1990, as minidesvalorizações foram substituídas por um regime
de taxas flutuantes, administradas com restrições cambiais (sem livre conversibilidade). Com a implantação
do Plano Real, nos três primeiros meses, utilizou-se o regime de câmbio flutuante. A partir de outubro de

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1994, é adotado o regime de câmbio fixo, que, em março de 1995, é trocado pelo regime de bandas cambiais,
abandonado em janeiro de 1999 e substituído pelo sistema atual de câmbio flutuante.
A responsabilidade pela normatização das operações de política cambial é do Conselho Monetário
Nacional, ao passo que sua execução cabe ao Banco Central com o intuito, de acordo com o arcabouço
normativo, de garantir o funcionamento regular do mercado cambial, a estabilidade relativa das taxas de
câmbio e o equilíbrio no balanço de pagamentos.
A Resolução nº 3.568, de 29 de maio de 2008, define melhor em seus art. 1°, art. 2° e art. 19 o que se
entende por mercado de câmbio no Brasil:
[...] Art. 1º O mercado de câmbio brasileiro compreende as operações de compra e de venda de
moeda estrangeira e as operações com ouro-instrumento cambial, realizadas com instituições
autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio, bem como as operações
em moeda nacional entre residentes, domiciliados ou com sede no País e residentes, domiciliados
ou com sede no exterior.
Art. 2º As autorizações para a prática de operações no mercado de câmbio podem ser concedidas
pelo Banco Central do Brasil a bancos múltiplos, bancos comerciais, caixas econômicas, bancos de
investimento, bancos de desenvolvimento, bancos de câmbio, sociedades de crédito, financiamento
e investimento, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, sociedades distribuidoras
de títulos e valores mobiliários e sociedades corretoras de câmbio.
Art. 19. A taxa de câmbio é livremente pactuada entre os agentes autorizados a operar no mercado
de câmbio ou entre estes e seus clientes [...].

Como visto, não há um nível considerado ótimo/ideal para a taxa de câmbio em um regime de câmbio
flutuante, como adotado pelo país em janeiro de 1999. No contexto desse regime cambial, portanto, a taxa
de câmbio será determinada pelas condições de oferta e demanda por moeda doméstica e estrangeira no
mercado de câmbio, e a atuação do Banco Central, usando suas reservas internacionais, visa principalmente
a diminuir o excesso de volatilidade na taxa de câmbio e evitar situações extremas de falta ou excesso de
liquidez de divisas no mercado interbancário.
O Banco Central também atua no mercado de câmbio, a partir de 2004, com o intuito de aumentar
as reservas internacionais do país via aquisição, principalmente, do superávit do balanço de pagamentos. Tal
atuação é parte do esforço para redução da vulnerabilidade externa do país, com a consequente diminuição
da possibilidade de contágio do mercado doméstico por choques externos.
A atuação do Banco Central como executor da política cambial compreende monitoramento do
mercado de câmbio e intervenção via operações de compra e de venda de moeda estrangeira, mediante
entrega ou recebimento de moeda nacional, no mercado interbancário com instituições credenciadas para
essa finalidade, chamadas de dealers de câmbio. Essas operações são realizadas pelo Departamento das
Reservas Internacionais (Depin). O Banco Central pode, ainda, lançar mão das operações de compra e venda
de divisas com compromisso de recompra e dos swaps cambiais.
As operações de swap referenciadas em taxas de juros e em variação cambial são instrumentos que têm
sido frequentemente usados pelo Banco Central para execução da política cambial, conforme autorização da
Resolução nº 2.939, de 26 de março de 2002. Com base nesse instrumento, a autoridade monetária oferece
à contraparte remuneração em dólar (variação cambial), em troca da remuneração em juro (taxa Selic). No
swap cambial reverso, o Banco Central oferece à contraparte remuneração em juro (taxa Selic) em troca de
remuneração em dólar (variação cambial).
O swap cambial tem como objetivo prover os agentes econômicos com hedge (proteção) cambial
via liquidação financeira em reais. Dessa forma, o Banco Central não precisa vender dólar no mercado spot
(mercado à vista com liquidação em D+2), o que reduziria suas reservas internacionais, para fornecer hedge
(proteção) cambial ao mercado. De acordo com o disposto na Circular nº 3.009, de 26 de março de 2002,
as operações de swap são conduzidas pelo Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab).
O Banco Central não tem realizado recentemente operações diretas com as instituições credenciadas
(dealers). A atuação de compra e venda de moeda estrangeira tem se dado na modalidade de “sistema
informatizado – leilão eletrônico”. A “negociação via plataforma eletrônica” e o “sistema de leilão telefônico”
são usados como contingência no caso em que o “sistema de leilão eletrônico” não estiver funcionando.
Como as políticas cambial e monetária são correlacionadas, quando o Banco Central intervém no
mercado de câmbio, comprando ou vendendo moeda estrangeira contra a moeda nacional, ele o faz por
meio de crédito ou débito na conta de reservas bancárias das instituições financeiras. Dessa forma, no caso
da compra, ocorre expansão da base monetária e, no caso da venda, contração.

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A Circular nº 3.506, de 23 de setembro de 2010, definiu que as taxas de câmbio de compra e de
venda de dólares dos Estados Unidos divulgadas pelo Banco Central do Brasil, denominadas taxas PTAX, são
calculadas com base em dados obtidos mediante consultas às instituições credenciadas pelo Banco Central
(dealers), realizadas quatro vezes ao dia de forma automática e eletrônica. As taxas PTAX de compra e de
venda do dia corresponderão, respectivamente, às médias aritméticas das taxas de compra e das taxas de
venda obtidas nas consultas.
Apesar de não haver normatização, na prática a PTAX, publicada pelo Banco Central diariamente
desde 1988, é usada como benchmark em diversas transações financeiras e para fins contábeis em valores
denominados em moedas estrangeiras, devido à credibilidade pelo fato de ser calculada por um ente oficial,
o Banco Central. Outro aspecto é o uso da PTAX como uma taxa referencial, ou seja, é uma taxa fora do
controle das contrapartes em um contrato, que é usada no cálculo das obrigações financeiras contratuais
de títulos privados e governamentais e instrumentos derivativos.
A tabela a seguir relaciona os atuais dealers de câmbio.

Tabela 4: Relação das instituições dealers de câmbio do Banco Central

Fonte: BCB, novembro de 2013.

2.2 Administração das reservas internacionais

Basicamente, a alteração nas reservas internacionais do Banco Central ocorre por suas transações de
compra e venda de divisas no mercado de câmbio, fruto do resultado positivo do balanço de pagamentos.
O volume das reservas vem aumentando consideravelmente na última década, passando de cerca de US$ 50
bilhões, em 2004, para cerca de US$ 376 bilhões, em 2013 (dados do Banco Central, de 16/12/2013). Nesse
contexto, o Banco Central vem atuando de forma a comprar o fluxo cambial resultado do saldo positivo do
balanço de pagamentos, conforme mostra o gráfico abaixo acerca da evolução das atuações acumuladas desde
janeiro de 2002 do Banco Central no mercado spot (mercado à vista com liquidação em D+2) de câmbio.

Gráfico 1: Atuações acumuladas desde jan./2002 no mercado spot de câmbio

Fonte: BCB, novembro de 2013.

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As reservas internacionais brutas compreendem ativos externos disponíveis, sob controle do Banco
Central, cujas principais funções são: i) financiar eventuais desequilíbrios no balanço de pagamentos, ii)
servir como um seguro, proteção, um colchão de liquidez, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade da
economia nacional às flutuações externas; iii) servir como base para intervenções no mercado de câmbio,
evitando excessiva volatilidade na taxa de câmbio; e iv) assegurar o pagamento de obrigações externas como
importações e serviço da dívida externa.
A administração das reservas internacionais é de competência privativa do Banco Central do Brasil,
de acordo com o art. 10, inciso VIII, da Lei nº 4.595/1964. O Senado Federal, posteriormente, estabeleceu,
no art. 3° de sua Resolução nº 82, de 18 de dezembro de 1990, piso mínimo de reservas internacionais
correspondente a quatro vezes a média de importações dos últimos 12 meses.
A gestão das reservas internacionais por parte do Banco Central do Brasil atende aos princípios
de liquidez, segurança e rentabilidade, ancora-se em uma governança bem definida e os resultados são
acompanhados diariamente por sistema informatizado. O arcabouço de gestão é baseado em três pilares:
i) carteira de referência (benchmark); ii) limites operacionais; e iii) avaliação de resultados. Também são
monitorados, diariamente, os riscos de mercado, de crédito, de liquidez e operacional.

2.2.1 Estrutura de governança das reservas internacionais

No âmbito do Banco Central, compete à Diretoria Colegiada estabelecer os objetivos estratégicos e


os perfis de risco e retorno das reservas por meio de uma carteira de referência apropriada (benchmark).
A Diretoria Colegiada decide ainda os limites operacionais para os desvios autorizados em relação a essa
carteira de referência a que estão sujeitos os executores da política de investimento e os critérios de
avaliações de resultados.

Organograma: Estrutura de governança das reservas internacionais

Fonte: BCB, novembro de 2013.

Pode-se dividir a gerência efetiva das reservas internacionais em dois níveis: o de longo prazo e o de
curto prazo. No nível de longo prazo (gerência passiva) está o Deris (Departamento de Riscos Corporativos
e Referências Operacionais), responsável por: i) desenvolver os modelos de alocação estratégica dos
recursos; ii) propor ao diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos e ao
diretor de Política Monetária a carteira de referência (benchmark), os limites operacionais e os critérios
de mensuração de resultados; iii) definir e desenvolver os modelos de risco; e iv) elaborar relatórios
trimestrais de risco e de performance.
No nível de curto prazo (gerência ativa), está o comitê de estratégias, presidido pelo diretor de
Política Monetária, que se reúne trimestralmente com o Departamento das Reservas Internacionais (Depin)
para propor as estratégias de desvios ao benchmark com o objetivo principal de melhoria do retorno
total das reservas.

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O processo de administração das reservas está submetido a cinco tipos diferentes de controles: dois tipos
de controles internos: i) Divisão de Monitoramento (Dimon) do Departamento das Reservas Internacionais
(Depin); ii) Auditoria interna do Banco Central do Brasil (Audit); iii) três controles externos: Controladoria-
Geral da União (CGU); iv) Tribunal de Contas da União (TCU); e v) Auditoria Externa Independente (Price
Water House Coopers, no momento).

2.2.2 Política de investimentos das reservas internacionais

Desde julho de 2001, a política de investimentos das reservas internacionais visa ao hedge (proteção)
cambial do passivo externo soberano. A preocupação, considerando objetivos estratégicos de longo prazo,
é atender aos compromissos externos soberanos e reduzir a exposição do país a oscilações cambiais. A
partir de 2004, com a redução desse passivo externo e o aumento no volume das reservas internacionais,
esse hedge passou a incorporar o total da dívida externa soberana. Em setembro de 2008, com a elevação
adicional do volume das reservas, estendeu-se o conceito de hedge para o total do passivo externo registrado,
incluindo a dívida externa privada.
A tendência na política de investimentos é de elevar a diversificação em moedas e ativos. O montante
das reservas internacionais que atualmente supera a dívida externa total registrada (exceto empréstimos
intercompanhias) é da ordem de USD 70 bilhões, o que reforça a possibilidade de uma estratégia de
investimento de longo prazo, buscando a diversificação de investimento em termos de moedas e ativos.
As reservas internacionais são divididas em três carteiras que cumprem papéis distintos no processo
de investimento: carteira de ouro, carteira de curto prazo (que atende às necessidades de liquidez, inclusive
para intervenção no mercado de câmbio) e carteira de investimento (aplicar a parcela das reservas não
comprometida com os pagamentos de curto prazo). No passado, o Departamento de Reservas Internacionais
(Depin) contava com uma carteira de FX (moeda estrangeira), mas tais exposições atualmente estão englobadas
e fazem parte tanto da carteira de curto prazo quanto da carteira de investimento.
Em fevereiro de 2012, visando diversificar investimentos e conferir mais flexibilidade ao processo de
gerenciamento das reservas, além de promover um intercâmbio mais efetivo de conhecimentos de mercados
financeiros internacionais, o Banco Central retomou o Programa de Gerenciamento Externo das Reservas
(PGER), instituído em outubro de 2000, que conta atualmente com cinco gerentes externos.

2.2.3 Resultados da aplicação das reservas

A tendência registrada nos últimos cinco anos tem sido de diminuição da rentabilidade gerencial, em
reflexo ao ambiente de baixas taxas de juros no mercado internacional.
O Banco Central calcula a rentabilidade das reservas utilizando sistema gerencial desenvolvido
internamente, o qual permite a avaliação das carteiras em base diária, seguindo padrão internacional,
possibilitando também o acompanhamento das estratégias de investimento em mercados distintos. O dólar
norte-americano é a moeda-base para apuração dos resultados.
A rentabilidade gerencial em 2012 foi de 1,84%. O resultado consolidado das reservas, considerando-se
as gerências interna e externa, foi de 1,85% (sendo que a rentabilidade do PGER foi de 2,40%).

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REFERÊNCIAS

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