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Dossiê Foucault
N. 3 – dezembro 2006/março 2007
Organização: Margareth Rago & Adilton Luís Martins
Resumo: O artigo examina as relações de poder com o corpo em Vigiar e Punir. Michel
Foucault propõe pensar o poder diferentemente das concepções correntes. Ele não
retoma a análise do poder como processo de totalização, centralização, mas como
transversalidade, isto é, como dispersão, constelação, multiplicidade, como microfísica,
uma vez que o poder está em todo lugar e em todas as coisas. A preocupação de
Foucault está mais voltada para a produção singular do sujeito do que para a questão
ontológica do poder, mostrando que o poder tem duplo aspecto: a parte visível
(instituições) e a invisível (o dispositivo), no interior do qual circulam novas
intensidades de poder, refletindo a paisagem mental de uma época, deixando de lado a
evidência do Estado como lugar do poder Foucault inaugura uma análise microscópica
do poder, investigando as técnicas minuciosas e detalhadas do poder sobre o corpo e
que se estende ao corpo social por inteiro, resultando na normalização dos sujeitos.
Abstract: The article examines the relationships of power with the human body in
Vigilance and Punishment. Foucault considers the power differently from current
conceptions. He doesn’t take the power analysis as a complete or a central process,
*
Este texto faz parte de minha tese de doutorado A liberdade no pensamento de Michel Foucault, não
publicada.
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Saly da Silva Wellausen
Os dispositivos de poder e o corpo em “Vigiar e Punir”
Introdução
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Analítica do poder
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racionalidade que tem por nome humanidade e por meio uma infinidade
de procedimentos que brota do inumano” (Farge, 1992:182). Do suplício
à prisão modelo, o itinerário descrito não recupera a reconciliação com a
humanidade, ao contrário, permanecem as espoliações.
No Antigo Regime, a violência assume uma luta entre o soberano e
o culpado: sobre o corpo do criminoso se expõe a violência soberana do
soberano. O abrandamento e a humanização das penas, a passagem da
justiça arbitrária do Antigo Regime a um contratualismo (no qual toda
pena é proporcional ao delito cometido etc.) forma a superfície
macroscópica de um processo microscópio, constituído das tecnologias
do corpo, de um poder-saber. Essa nova arte de punir instaurou uma
nova representação jurídica: pelo respeito à “humanização” do
criminoso, e por essa mesma razão, este adquire o direito à
reintegração social. O criminoso torna-se sujeito jurídico objetivado,
subjugado. Foucault vai mostrar que essa relação Rei-súdito não se
restringe mais aos corpos singulares, a suavidade das penas e a punição
generalizada estendem seus efeitos ao conjunto do espaço social. Uma
mutação desloca o alvo do crime, antes centrado na figura do Rei, para
a sociedade inteira, que se sente atingida pela ofensa recebida. A
dimensão da falta e a responsabilidade moral do súdito remetem-se não
mais à soberania real, mas ao espaço público.
Em Vigiar e punir nosso filósofo utiliza um vocabulário que traduz
um estilo violento e que pode se dar em dois registros diferentes: o
primeiro é suntuoso, poético, fascinante, encantador, ao usar termos
fortes, como “atrocidade”, “abominável”, “terror”, “pavor”, mostrando o
sofrimento mais despojado a desdobrar-se aos nossos olhos; o outro, às
vezes utilizado ao mesmo tempo com o primeiro, é mais interpretativo,
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daquele que foi oprimido, na força “selvagem” que entra em luta com as
forças “civilizadoras” (Foucault, 1987: 255). São estratégias que se
atualizam nos discursos, nas táticas. É preciso lembrar, mais uma vez
que, para Foucault, não existe uma natureza humana da qual o
indivíduo delinqüente tivesse se separado; a delinqüência não seria um
desvio a ser resgatado pelas leis e pela ortopedia punitiva dos aparelhos
disciplinares. Essa liberdade, manifestante de uma indisciplina ou
delinqüência e pertencente a uma individualidade corporal, é ainda de
ordem política - liberdade como autonomia e “resistência” a um poder
dominador - e que mais se poderia chamar de “liberação”.
Vigiar e punir é o relato das formas que produziram o indivíduo,
tornado normalizado por um poder maior que ele. Ainda estamos no
espaço da violência, do jogo de forças, das estratégias, no qual o poder,
disseminado nas múltiplas formas institucionais, afirma-se através de
dispositivos disciplinares, produzindo sujeitos “sujeitados” na história da
modernidade. É preciso esperar o aparecimento da tríade História de
sexualidade e os cursos do Collège de France para ver resplandecer a
liberdade, não mais como fenômeno de resistência a um poder
modelador e produtor de individualidades, mas “liberdade”, como
coragem no ato mesmo do dizer verdadeiro, do sujeito ético ligado à
sua própria identidade pelo “cuidado de si”. As referências ao sujeito
“resistente” em Vigiar apresentam-se como oposição à sujeição, à lei, à
sociedade, à linguagem, à ordem, à família, à educação. Aqui, a
liberdade - definida como desenvolvimento selvagem, natural e
instintivo, brutal e limitado - guarda todas as características que a
separam dos atributos das forças da civilização. Permanece, portanto, a
dicotomia civilização/selvagem, marcando a separação e a exclusão
dessa liberdade anti-social que precisa ser normalizada, para ser
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Recebido em dezembro/2006.
Aprovado em fevereiro/2007.
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