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A UNIVERSIDADE POLITECNICA

A POLITECNICA
ESCOLA SUPERIOR ABERTA

Gestão de Arquivos na Administração Pública: Caso da Secretaria Distrital de


Montepuez (2016-2018)

Cremilde Gonçalves

Mueda
2019

1
Cremilde Gonçalves

Gestão de Arquivos na Administração Pública: Caso da Secretaria Distrital de


Montepuez (2016-2018)

Monografia apresentada ao Instituto Superior de


Humanidades e Tecnologia como requisito para
obtenção do grau de Licenciatura em Administração
Pública.

Tutor: Augusto Alberto

Mueda
2019

2
Tutor:_____________________________________

Parecer do
Tutor:______________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

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Dedicatória

Dedico este trabalho aos meus filhos Keylla e Wagner, aos meus irmãos Catarino, Columbina,
Atália, Ema, Suzete, Devesse e Marcela, ao meu cunhado Miguel, meus sobrinhos Denio,
Eufrásia, Noémia, Florentina, e Júnior. Por último, dedico aos meus pais Francelino
Gonçalves e Catarina de Fátima Firmino, pela atenção, dedicação e o carinho que sempre me
proporcionaram para chegar a esta etapa.

4
Agradecimentos

Em primeiro lugar, à Deus, pelo amor, força e coragem que me proporcionou à concretização
desta monografia.

Cabe-me, em segundo lugar, agradecer ao meu Director do Centro de Investigação Agrária de


Mapupulo Eng. Celso Campanellas Manuel (Msc), por ter-me autorizado a continuação de
estudos no ensino superior, bem como ao meu supervisor e professor Augusto Alberto, pela
paciência e disponibilidade de tempo que teve ao orientar este trabalho. Este agradecimento
prende-se também sempre com a sua boa disposição e responsabilidade que teve, e me
permitiram ter na elaboração do respectivo trabalho.

O próximo agradecimento vai ao Coordenador da Politécnica Núcleo de Mueda Jones Mário


do Rosário Pereira, pelo profissionalismo, isenção, ensinamentos e oportunidade para
aprender uma profissão. À Exma Senhora Administradora do Distrito de Montepuez, pela
autorização da pesquisa e colaboração no momento de recolha de dados, e em especial ao
funcionário da Secretaria Distrital Sr. Rosário Afido, pela disponibilidade em fornecer dados
solicitados a tempo e hora.

São também dignos de um grande agradecimento os meus amigos da faculdade como António
Taibo, Crescência Simão, José Alfai e Magido Uraibo, Estevão Sabani pelos nossos dias de
trabalho e dificuldades ultrapassadas em conjunto.

Por fim, aos familiares e amigos da infância, pela compreensão nos momentos da minha
ausência.

Por tudo e a todos, muito obrigada pelo apoio!

5
Epígrafe

“Não basta termos um bom espírito, o mais importante é aplicá-lo bem”


(René Descartes)

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Resumo

A implementação do Sistema Nacional de Arquivo do Estado (SNAE) em Moçambique


enquadra-se nas reformas introduzidas na Administração Pública e tem por objectivo
melhorar a gestão de documentos, afim de, satisfazer de forma eficiente e eficaz as
necessidades dos utentes em termos de informação. Tomando a Secretaria Distrital de
Montepuez como objecto de estudo, o presente trabalho pretende analisar o sistema de
arquivos na Administração Pública, no âmbito de implementação do SNAE, e na facilitação
de acesso à informação aos utentes. Com os resultados da pesquisa constatou-se que o
processo está a conhecer dificuldades, pois, embora o SNAE dispor de directrizes para a
gestão de documentos e arquivos a recuperação de informação não é feita em tempo útil. Não
obstante, apesar de várias formações efectuadas à nível da Secretaria Distrital promovidos
pela Secretaria Provincial, ainda prevalece a falta de domínio na aplicação dos instrumentos
de gestão de documentos, levando alguns funcionários a não classificar nem avaliar os
documentos o que consequentemente torna a gestão dos mesmos ineficiente e ineficaz. Esta
situação vem se agravando devido a falta de financiamento das actividades de gestão de
documentos e a inexistência da respectiva unidade de gestão a nível Distrital.

Palavras-chave: Informação, Arquivo, Sistema de Arquivo, Arquivo de Estado e Gestão de


Documentos.

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Abstract

The implementation of the National System of State Archives (SNAE) in Mozambique is part
of the reforms introduced in the Public Administration and aims to improve the management
of documents in order to efficiently and effectively meet the needs of users in terms of
information. Taking the Montepuez District Secretariat as the object of study, the present
work intends to analyze the file system in the Public Administration, within the scope of
SNAE implementation, and in facilitating access to information to users. With the results of
the research it was found that the process is experiencing difficulties because, although the
SNAE has guidelines for the management of documents and files, the retrieval of information
is not done in a timely manner. Nevertheless, in spite of several formations carried out at the
level of the District Secretariat promoted by the Provincial Secretariat, there still prevails a
lack of mastery in the application of the documents management tools, SNAE, causing some
officials not to classify or evaluate the documents, which consequently makes the inefficient
and inefficient. This situation has been exacerbated by the lack of funding for document
management activities and the lack of a management unit at the District level.

Keywords: Information, File, File System, State File and Document Management

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Lista de figuras

Figura 1: Mapa de Localização Geográfica do Distrito de Montepuez ................................... 27

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Lista de tabelas
Tabela 1: Orçamento gasto com o material permanente .......................................................... 30
Tabela 2: Orçamento gasto com o material de consumo ......................................................... 30
Tabela 3: Cronograma de actividades ...................................................................................... 31

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Lista de gráficos

Gráfico 1: Conhecimento acerca do Decreto 36/2007, de 27 de Agosto


Gráfico 2: Classificação dos documentos
Gráfico 3: Conhecimento acerca de instrumentos para operacionalização do SNAE
Gráfico 4: Factores da má gestão dos Arquivos na Administração Pública

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Lista de abreviaturas

SNAE – Sistema Nacional de Arquivo do Estado


E.U.A – Estados Unidos de América

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Sumário
Capitulo I: INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15
1.1. Objecto de estudo ...................................................................................................... 16
1.2. Problematização......................................................................................................... 16
1.3. Hipóteses ................................................................................................................... 16
1.4. Objectivos .................................................................................................................. 17
1.4.1. Objectivo Geral .................................................................................................. 17
1.4.2. Objectivos específicos ........................................................................................ 17
1.5. Justificativa e relevância do estudo ........................................................................... 17
1.5.1. Justificativa......................................................................................................... 17
1.5.2. Relevância do Estudo ......................................................................................... 17
1.6. Delimitação do estudo ............................................................................................... 18
1.6.1. Delimitação temporal ......................................................................................... 18
1.6.2. Delimitação espacial .......................................................................................... 19
1.7. Questões éticas .......................................................................................................... 19
1.8. Dificuldades encontradas ........................................................................................... 19
1.9. Resultados esperados ................................................................................................. 19
Capitulo II- REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 20
2.1. Conceitos ................................................................................................................... 20
2.1.1. Arquivo............................................................................................................... 20
2.2. Gestão de arquivos: origens históricas ...................................................................... 20
Capitulo III- ASPECTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 27
3.1. Descrição da área de pesquisa ................................................................................... 27
3.2. Metodologia ............................................................................................................... 28
3.2.1. Tipo de pesquisa ................................................................................................. 28
3.3. Universo e determinação de amostra ......................................................................... 29
3.3.1. Universo ............................................................................................................. 29
3.3.2. Determinação da amostra ................................................................................... 29
3.4. Orçamento detalhado ................................................................................................. 29
Capitulo IV: ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS............................................... 32
4.1. Análise e interpretação de dados ............................................................................... 32
4.2. Conhecimento acerca do Decreto 36/2007, de 27 de Agosto .................................... 32
4.3. Capacitação dos técnicos ........................................................................................... 33
4.4. Classificação dos documentos ................................................................................... 33
4.5. Conhecimento acerca de instrumentos para operacionalização do SNAE ................ 34

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4.6. Vantagens e desvantagens do SNAE ......................................................................... 34
4.7. Factores da má gestão dos arquivos na Administração Pública ................................ 35
Capitulo V: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................................... 36
5.1. Verificação das hipóteses .......................................................................................... 36
Capítulo VI: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................................................... 37
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 39
Anexos ...................................................................................................................................... 40

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Capitulo I: INTRODUÇÃO

O presente tema intitulado “A gestão de arquivos na administração pública: caso concreto da


Secretaria Distrital de Montepuez entre 2016-2018” tem como objectivo geral de conhecer os
factores que influencia na ma gestão de arquivos na administração pública. A gestão e
protecção dos arquivos são da responsabilidade do Governo, enquanto instrumento chave de
apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e
informação.
A escolha do tema pressupõe-se pelo facto de esta situação constituir um problema por parte
da Secretaria Distrital de Montepuez. Porém, verifica-se que ao longo dos últimos anos, a
gestão de arquivos nas instituições do Estado, em geral e na Secretaria Distrital de
Montepuez, em particular não acompanhou a rápida evolução e introdução das novas
tecnologias, o que de certa forma contribuiu para que houvesse perda de informações relativas
às actividades realizadas dentro do distrito.
A gestão de arquivos na administração pública tem sido tema de poucas pesquisas. É nesta
perspectiva que se apresenta a seguinte monografia subordinada ao tema. E Diante disso,
delimitou-se como tema deste trabalho de conclusão de curso: Gestão de Arquivos na
Administração Pública: Caso da Secretaria Distrital de Montepuez (2016-2018)
Contudo, a Secretaria Distrital Montepuez é o centro de todas actividades governamentais e
quase todas actividades privadas e, isto faz com que, o volume de arquivos gerados nessas
actividades seja maior, gerando a necessidade de organização desses documentos, com o
objectivo de não só fazer uso das informações como auxiliares na tomada de decisão, como
também, torná-las acessíveis à sociedade civil como direito constitucional.
O trabalho centralizou-se numa pesquisa quantitativa, em consulta de literaturas e documentos
normativos do estado com informações relevantes a cerca do tema. Aliando-se a entrevista, o
pesquisador elaborou um questionário com perguntas Abertas e fechadas, bem com verificou
a como e feita a gestão de arquivos na secretaria de Montepuez no período compreendido
entre 2016-2018. O trabalho esta organizado em: Capitulo I: introdução, objectivo de estudo,
delimitação temporal e espacial temática, questões éticas, dificuldades encontradas e
resultados esperados, no Capitulo II: Revisão da Literatura, principais conceitos ligados a
gestão de arquivos na administração pública, no Capitulo III: Aspectos metodológicos,
descrição da área de pesquisa, tipo de pesquisa, métodos de recolha de dados, universo e
determinação da amostra, no Capitulo IV: Análise e interpretação dos dados, Capitulo V:

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discussão dos resultados, Capitulo VI: Conclusões e sugestões e por fim as referências
bibliográficas, apêndices e anexos.

1.1. Objecto de estudo


O objecto de estudo da pesquisa é a gestão de arquivos na administração pública: caso
concreto da Secretaria Distrital de Montepuez entre 2016-2018, este trabalho enquadra-se no
contexto de administração pública no funcionamento de arquivos da secretaria distrital de
Montepuez.

1.2. Problematização
Ao longo dos últimos anos, o funcionamento de arquivos, centros de documentação e
bibliotecas da Secretaria Distrital de Montepuez tem sido assegurado, por um lado, de forma
deficiente e por pessoas sem formação, por outro, de forma insustentável, com consultores
externos e por vezes internos que criam sistemas que só duram o tempo de vigência do
projecto que os criou.

Pretende-se através de pesquisas a serem realizadas apresentar no decorrer do artigo dados


que apontem como está a gestão de arquivos hoje, e se esta real situação esta de acordo com o
perfil económico e social. Será também observado e analisado através deste se há uma real e
grande necessidade que o funcionário esteja mais atento novas realidades, novas exigências
do mercado, entre outras variáveis que ainda serão citadas no decorrer deste trabalho.

Em contrapartida, pode-se notar que existe má gestão dos arquivos na Administração Pública.
Diante deste cenário que preocupa a maioria dos funcionários e agentes do estado a pesquisa
levanta a seguinte questão: Quais são os factores que influenciam a má gestão dos arquivos
na Administração Pública?

1.3. Hipóteses

Na tentativa de responder ao problema levantado, foram traçadas as seguintes hipótese:


 A falta de pessoal qualificado influencia a má gestão dos arquivos na Administração
Pública;
 A falta de estratégias específicas de gestão de arquivos influencia a má gestão dos
arquivos na Administração Pública;

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 A falta de capacitações e treinamentos no seio dos funcionários públicos influencia na
má gestão dos documentos na Administração Pública.
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo Geral

 Conhecer os factores que influenciam a má gestão de arquivos na administração


pública no geral, e na Secretaria Distrital de Montepuez em particular.
1.4.2 Objectivos específicos

Para alcançar o objectivo geral da pesquisa, foram elaborados os seguintes objectivos


específicos
 Identificar os factores que influenciam a má gestão dos arquivos na Administração
Pública;
 Descrever os factores da má gestão dos arquivos na Administração Pública;
 Propor estratégias para a boa gestão dos arquivos na Administração Pública.

1.5. Justificativa e relevância do estudo


1.5.1 Justificativa

A pesquisa realizada justifica-se pelo facto de que a boa gestão de arquivos na administração
pública seja imprescindível para a segurança de qualquer entidade governamental e contribui
para a prestação de serviços de qualidade ao cidadão, não só mas também permite aos
funcionários dominar os tipos de arquivos deste os correntes, intermediários e o arquivo
morto.
1.5.2 Relevância do Estudo

A escolha deste tema foi motivada pela importância que a gestão de arquivos ostenta para a
qualidade de serviços prestados pela administração pública. Torna-se necessário conhecer os
factores que influenciam a má gestão de arquivos no sector da administração pública, para se
propor medidas com vista a minimizar este problema.

 Relevância do tema na área académica

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No que diz respeito à relevância da pesquisa, na área académica estabelece um saber
científico e conhecimentos mais detalhados acerca do fenómeno estudado, fornecendo
subsídios teóricos e possibilitando pesquisas futuras.

 Relevância do tema para área social

No concernente a área social, o estudo poderá abrir espaço para que as autoridades
competentes possam desenhar estratégias com vista a minimizar os problemas que afectam a
gestão de arquivos na Secretaria Distrital de Montepuez.

 Relevância do tema para Administração Pública

Na administração pública, o conhecimento e prática da celeridade na gestão de arquivos


ostenta para a qualidade de serviços, ajuda a alcançar os objectivos preconizados e as metas
traçadas contribuindo para a boa administração.

 Relevância para a Sociedade

Para a sociedade o caso é relevante pois, o objectivo do estado na criação das instituições
públicas é satisfazer as necessidades públicas com eficácia e eficiência. O funcionário
satisfeito com boa gestão dos seus processos, sente-se motivado e consequentemente
influencia no bom desempenho, dedicação e empenho.
1.6 Delimitação do estudo

Primeiramente, a proponente recorreu a revisão bibliográfica e, depois, recorreu a observação


directa no campo. Entretanto, após ter verificado o fenómeno da má gestão de arquivos na
administração pública no, a proponente comoveu-se a fazer uma pesquisa acerca desta
problemática.

Este teve o seu início no mês de Janeiro com identificação de problema e escolha de problema
e escolha de tema que culminou com elaboração do projecto de pesquisa que foi submetido no
início de Setembro de 2018, que por sua vez seguiu o processo de colecta de dados e por fim a
redacção da monografia científica.

1.6.1 Delimitação temporal

Para tal, o trabalho refere ao período de 2016-2018, período em que muitos arquivos
desapareceram sem devida explicação.

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1.6.2 Delimitação espacial

O trabalho foi realizado no distrito de Montepuez, concretamente na Secretaria Distrital de


Montepuez o órgão responsável pela gestão de arquivos na administração Publica dos agentes
do Estado ao nível do distrito.

1.7 Questões éticas

Segundo MOREIRA (2002), Ética, enquanto filosofia é o estudo da conduta humana,


essencial a vida em todos os aspectos, seja no pessoal, familiar, social ou profissional, Ela
envolve os estudos de aprovação desaprovação da acção dos homens. No que concerne a
questão ética durante o trabalho, o pesquisador procurou manter o todo sigilo ético e
profissional.

1.8 Dificuldades encontradas

Foram várias as dificuldades encontradas no campo, desde o início do projecto até ao trabalho
final, dentre várias destaca-se:

 Falta de biblioteca no distrito;


 Falta de material informático;
 Insuficiência de recursos financeiros para custear as despesas.
1.9 Resultados esperados

Com este trabalho científico espera-se:


 Espera-se descobrir as causas que estão na origem que da falta de boa gestão dos arquivos
na Administração Pública;
 Prosperidade na melhoria de qualidade de prestação de serviço sobretudo na repartição de
Gestão de Arquivos na Administração Pública;

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Capitulo II- REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Conceitos
2.1.1 Arquivo

De acordo com Jardim e Fonseca (1998, p. 369), arquivo “é o conjunto de documentos,


quaisquer que sejam suas datas, suas formas ou seus suportes materiais, produzidos ou
recebidos por pessoas físicas e jurídicas, de direito público ou privado, no desempenho de
suas actividades”. O surgimento dos arquivos se deu por volta dos séculos IV e V a.C., estes
surgiram como guardiões dos registos do Estado e para prestar apoio administrativo ao
governo quando devido à necessidade de se recorrer a documentos, a civilização grega passou
a preocupar-se em guardar, junto à Corte de Justiça na Praça Pública de Atenas, leis, tratados,
minutas de assembleia e documentos oficiais (CÔRTES, 1996).

Em meados do ano de 1789 essa preocupação passou a atingir também a França, que com o
objectivo de assegurar, guardar e preservar tanto o património documental do passado como
também, os novos documentos produzidos daquela época em diante passou a criar seus
arquivos. Vale ressaltar que na mesma época, os documentos dos Arquivos Nacionais
(arquivos governamentais, administrativos, judiciais e eclesiásticos) passaram a ser
considerados propriedade pública, com livre acesso e à disposição de qualquer cidadão que os
solicitasse.

Apesar de toda essa preocupação com a documentação arquivística, só a partir do século XIX
o Arquivo, como instituição ganhou espaço. Tal fato ocorreu quando este passou a ser
considerado como base de pesquisa histórica, levando os Estados a mantê-los acessíveis a
todos os cidadãos.

2.2 Gestão de arquivos: origens históricas

Desde a sua concepção, após a Segunda Guerra Mundial, a gestão de arquivos vem ganhando
espaço no campo da arquivologia, sendo alvo de muitos debates e reflexões a respeito de sua
importância diante da grande massa de documentos produzida em razão da expansão das
estruturas burocráticas nas administrações públicas e privadas.

De acordo com Jardim (1987, p. 109), “desde o desenvolvimento da arquivologia como


disciplina, talvez nada tenha revolucionado tanto quanto a concepção teórica e os
desdobramentos práticos da gestão ou administração de arquivos”. Constata-se que os
arquivos vieram (ao longo dos anos) assumindo valor diferenciado. A possibilidade de acesso
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a esses arquivos também se demonstrou ampliada. A literatura da área de arquivística aponta
para uma evolução no valor dado ao documento desde a antiguidade até a modernidade.

Indolfo (2007, p. 85) considera que, até a Revolução Francesa, os documentos


representaram valor de prova e exercício de poder pela administração. Para a autora,
essa situação se dava por meio da noção de arquivo de Estado. A noção de
documento, como testemunho para reconstituição da história, ocorre somente no
século XIX, dando origem aos arquivos nacionais e a seus congéneres regionais.

Conceitualmente, estabeleceu-se para a elaboração desta pesquisa: “Arquivo”, como o registo


de uma informação, independente da natureza do suporte que a contém; e “Documento de
arquivo” aquele que, produzido e/ou recebido por uma instituição pública ou privada, no
exercício de suas actividades, constitua elemento de prova ou de informação, (PAES, 1997).

Ainda sobre a evolução da noção de arquivo, a autora destaca que o século XX convive com o
cenário de aumento de informações orgânicas, implicando questões de acessibilidade a essas
informações, além dos desafios do tratamento, armazenamento e difusão da mesma em
suporte magnético, electrónico e digital. Este cenário leva a novas questões relacionadas à
gestão dos arquivos.

De acordo Indolfo et al. (1995), a informação registada sempre foi, ao longo das épocas, a
base de registos das acções das administrações. A revolução francesa, em 1789, representa um
marco histórico para essas instituições, consolidando a tendência à centralização, com a
criação da primeira rede de arquivos da era moderna.

O Estado reconhece, então, sua responsabilidade sobre os documentos por ele produzidos, e
mais, sobre o acervo documental do passado. “Consagra-se, a partir daí, o princípio de que os
arquivos sejam consultáveis por todos, retomando a concepção grega que permitia a todo
cidadão ter acesso aos documentos do Estado (INDOLFO et a l.,1995, p. 9).

De acordo com Fonseca (2005, p. 58), “os textos que se ocuparam em estabelecer uma
evolução histórica das práticas arquivísticas, ainda que de maneira superficial, apontam a
longevidade da actividade arquivística e dos arquivos na história das civilizações humanas
pós-escrita”. No entanto, a autora ressalta que a maior parte dos autores estabelece a
publicação do manual escrito em 1898, pelos arquivistas holandeses S. Muller, J. A. Feith e
R. Fruin, como marco inaugural do que se poderia chamar de uma disciplina arquivística,
como campo autónomo do conhecimento.

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O manual dos holandeses passa a ser considerado como uma obra fundamental na
arquivística. A autora considera, ainda, que, a partir do estabelecimento do manual como
marco fundador da disciplina arquivística, é possível analisar algumas características da área,
seja do ponto de vista teórico e conceitual e, também, histórico e geográfico.

De acordo com Fonseca (2005, p. 59), os arquivos e os documentos são “a expressão


material mais clara e o mais firme sustentáculo da natureza institucional da administração
pública”.

Um aspecto também importante a ser destacado - da arquivologia como disciplina inserida


nos princípios da racionalidade – consiste na busca da eficácia e eficiência inaugurada pela
prática de gestão de documentos.

Para Jardim (1987, p. 36), “a aplicação dos princípios da administração científica para a
solução dos problemas documentais gerou os princípios da gestão de documentos, os quais
resultaram, sobretudo, da necessidade de se racionalizar e modernizar”.

Em termos de contribuição para a área, Indolfo (2005, p. 31), ressalta que a gestão de
arquivos aparece como uma renovação epistemológica da área arquivística. A autora destaca,
ainda, que o norte-americano Philip C. Brooks é identificado como o primeiro profissional a
fazer referência ao ciclo vital dos documentos, conceito que se materializou na criação de
programas de gestão de documentos e na implantação de arquivos intermediários.

O conceito de gestão de arquivos, entre os vários estudiosos, pode variar de acordo com seu
objectivo principal. Os elementos economia, eficácia e eficiência, sem esquecer o factor
produtividade, são ressaltados, normalmente, em quase todos os conceitos uma vez que as
mudanças por que passavam as organizações, governamentais ou não, no início do século XX,
tanto no processo de produção, como na organização racional do trabalho, passaram a exigir a
adopção dos princípios da administração científica, preconizada pelo Taylorismo.

Segundo Jardim (1987, p. 35), a gestão de arquivos é o processo de reduzir selectivamente à


proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna,
de forma a conservar permanentemente os que têm um valor cultural futuro sem menosprezar
a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa.

Independentemente da variedade de conceitos, a literatura da área arquivística aponta as


origens da gestão de arquivos, a partir das dificuldades, cada vez maiores, em administrar os

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documentos gerados pelas administrações públicas. Os Estados Unidos são considerados
pioneiros na elaboração do conceito records management, que, originalmente, teve um
enfoque administrativo e económico, já que o objectivo era optimizar o funcionamento da
administração, limitando a quantidade de documentos produzidos e o seu prazo de guarda.

Como destacado anteriormente, a massa documental acumulada na execução das actividades


na administração pública, nos Estados Unidos, passou a representar um problema, que exigiu
acções com o objectivo de exercer um maior controle sobre os documentos produzidos.

De acordo com Indolfo (2007), “nas décadas iniciais do século XX, ocorre um crescimento
vertiginoso da documentação em virtude da proibição legal de destruí-la”. Esta situação
levou à criação de comissões, actividades censitárias foram desenvolvidas e actos legislativos
foram expedidos, visando autorizar a eliminação de documentos. A partir de então, procura-se
estudar procedimentos de aplicação das técnicas da administração moderna ao governo
federal, recensear o volume de documentos acumulados nas agências federais, bem como
autorizar a construção de um edifício para o arquivo nacional.

Jardim (1987) destaca que, embora sua concepção teórica e aplicabilidade tenham-se
desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial - a “gestão de documentos possuía raízes já no
século XIX, em função dos problemas de uso e guarda de documentos na administração
pública”. O autor destaca que, na primeira metade deste século, criaram-se comissões
governamentais nos EUA e Canadá, visando encontrar soluções para a melhoria dos padrões
de eficácia no uso dos documentos. Nesta época, as instituições arquivísticas públicas tinham
um carácter de apoio à pesquisa e os documentos eram considerados pelo seu valor histórico.

Destacam-se as acções das Comissões Hoover 6 (1947 e 1953, respectivamente) e a Federal


Records Act, de 1950, que determinava que os organismos governamentais deveriam dispor
de um records management program. Sobre a actuação das Comissões Hoover, no período de
1950-1960, Indolfo (2007) destaca que estabeleceram as práticas para a consolidação da área.
Elas introduziram acções voltadas para o controle da produção documental, a racionalização
das eliminações e a conservação económica e concentrada dos documentos de guarda
intermediária, bem como a difusão de manuais de procedimentos.

Os objectivos dessa comissão são apontados por Jardim (1987): “foram formadas comissões
governamentais com o objectivo de encontrar soluções para a melhoria dos padrões de
eficiência no uso dos documentos, por parte da administração pública”. Jardim compara o

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trabalho dessa comissão às contribuições do Manual de Arranjo e Descrição dos arquivistas
holandeses para o pensamento arquivístico.

A Comissão Hoover tinha como objectivo estudar a organização e o funcionamento dos


departamentos da administração federal dos Estados Unidos. Em Abril de 1948, a Comissão
criou um grupo de trabalho, comandado por T. R. Schellenberg, para analisar os problemas de
gestão de documentos do conjunto do governo federal americano. O relatório foi publicado
em Outubro de 1948 e trazia, como novidade, os “records centers” ou centros de
arquivamento intermediário.

Segundo Indolfo (2007), estes centros de arquivamento criam a idade intermediária e dão
origem ao conceito das três idades documentais: corrente, intermediária e permanente. “Os
“records centers” deveriam guardar os documentos de valor primário, que, por conta da
diminuição da potencialidade de uso daqueles documentos, poderiam ficar distantes dos
arquivos montados nos sectores de trabalho”.

Sobre os objectivos da gestão de documentos, Jardim (1987) destaca que “o princípio básico
da gestão de documentos é que a informação deve estar disponível no lugar certo, na hora
certa, para as pessoas certas e com menor custo possível”.

Indolfo et al. (1995, p. 14) estabelece que são objectivos da gestão de documentos, assegurar,
de forma eficiente, a produção, administração, manutenção e destinação de documentos;
garantir que a informação governamental esteja disponível quando e onde seja necessária ao
governo e aos cidadãos; assegurar a eliminação dos documentos que não tenham valor
administrativo, fiscal, legal ou para pesquisa científica; assegurar o uso adequado da
micrográfica, processamento automatizado de dados e outras técnicas avançadas de gestão da
informação; contribuir para o acesso e preservação dos documentos que mereçam guarda
permanente por seus valores histórico e científico.

Ao garantir que as políticas e actividades dos governos fossem arquivos adequadamente; ao


garantir que menor número de arquivos inúteis e transitórios fossem reunidos a documentos
de valor permanente; ao garantir a melhor organização desses arquivos, caso atingissem a fase
permanente; ao inibir a eliminação de documentos de valor permanente; ao garantir a
definição de forma criteriosa da parcela de documentos que constituíssem o património
arquivístico de um país (JARDIM, 1987, p. 37).

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Com relação aos aspectos práticos da gestão de arquivos, James Rhoads (1983) descreve as
fases e os elementos que compõem um programa de gestão de documentos e formula os
níveis de implantação desse programa. De acordo com a descrição, as três fases básicas da
gestão de documentos são:

1) Produção: fase em que se administram os elementos específicos de um programa de


controlo e criação de documentos, através da elaboração e gestão de formulários; gestão
da correspondência e dos relatórios; sistemas de gestão da informação; e gestão das
directrizes da preparação e difusão da informação sobre as políticas e procedimentos e
aplicação das novas tecnologias a estes processos;

2) Utilização e conservação: fase que corresponde ao controle, utilização e armazenamento


dos documentos necessários para realizar ou facilitar as actividades de uma organização.
Compreende a implantação dos sistemas de arquivos e de recuperação da informação; a
gestão dos correios e telecomunicações; selecção e uso de equipamentos topográficos;
análise de sistemas; e produção e manutenção de programas de documentos vitais à
administração e uso de automação e reprografia nestes processos; e

3) Eliminação: fase na qual se definem os procedimentos para implantar as propostas de


eliminação de documentos, que envolve as actividades de identificação e descrição das
séries documentais; avaliação das séries de valor permanente para os arquivos; eliminação
periódica dos documentos sem valor de guarda permanente; e transferências e
recolhimentos.

Para Rhoads (1983), um sistema integral de gestão de documentos ocupa de todas as fases do
ciclo de vida dos documentos, desde o que ele chama de seu “nascimento” até a sua “morte”
ou destruição, quando cumpriram com as finalidades pertinentes. O autor chama de
reencarnação a fase que os documentos transformam-se em arquivos permanentes, por
possuírem valores que justifiquem sua conservação.

Rhoads (1983) destaca que a aplicação de um programa de gestão de documentos pode se


desenvolver em quatro níveis:

1) Nível mínimo: estabelece que os órgãos devem contar, ao menos, com programas de
retenção e eliminação de documentos e estabelecer procedimentos para recolher à
instituição arquivística pública aqueles de valor permanente;

25
2) Nível mínimo ampliado: complementa o primeiro, com a existência de um ou mais
centros de arquivamento intermediário;

3) Nível intermediário: compreende os dois primeiros, bem como a adopção de programas


básicos de elaboração e gestão de formulários e correspondências e a implantação de
sistemas de arquivos; e

4) Nível máximo: inclui todas as actividades já descritas, complementadas por gestão de


directrizes administrativas, de telecomunicações e o uso de recursos da automação.

26
Capitulo III- ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1. Descrição da área de pesquisa

O Distrito de Montepuez fica localizado na zona Sul da Província de Cabo Delgado, entre os
paralelos 10º 27´ e 26º 52´ de latitude Sul e entre os meridianos 30º 12´ e 40º 15´ de longitude
Este.

Inserido na Província de Cabo Delgado, o Distrito de Montepuez localiza-se no extremo Sul


desta província, com limites: Norte, Distrito de Mueda; ao Sul, os Distritos de Namuno e
Balama; a Este, os Distritos de Ancuabe e Chiúre; a Oeste, os Distritos de Mecula e Marrupa,
os dois últimos na Província de Niassa (vide a figura 1).

Figura 1: Mapa de Localização Geográfica do Distrito de Montepuez

27
3.2 Metodologia

Para a execução dessa pesquisa utilizou-se as seguintes etapas: (1) revisão bibliográfica, (2)
pesquisa de campo e (3) análise e interpretação dos dados.

A pesquisa bibliográfica com procedimento para explicar o universo a ser explorado. Assim, a
pesquisa foi qualitativa, utilizando referências publicadas em livros e documentos, portanto
obedeceu as normas e técnicas definidas pela Universidade Politécnica.

3.2.1 Tipo de pesquisa

Para a realização de qualquer actividade, é necessário a previsão de estratégias a utilizar, esses


são caminhos que viabilizam a alcance dos objectivos, como diz a RICHARDSON (1999;22).
E para o presente trabalho foi usada a pesquisa do tipo bibliográfico pela consulta de
informações de fontes escritas correlacionadas ao assunto de gestão de arquivos na
administração pública, pesquisa documental pela consulta de Documentos normativos.

a) Forma de abordagem

Neste contexto, foi usada abordagem quantitativa em que, o pesquisador inteirou-se no


número de servidores e agentes de estado particularmente do sector da secretaria distrital de
Montepuez, para se inteirar da situação de gestão de arquivos, tendo em conta o período de
2016-2018.

b) Método de abordagem

Na perspectiva de Oliveira (2011:16), o método a ser usado nas abordagens de recolha de


dados é o método dedutivo, tendo em conta as características do problema e o grupo alvo
partiu-se do geral para o particular.

Para Garcia (1998, p. 44), o método representa um procedimento racional e ordenado (forma
de pensar), constituído por instrumentos básicos, que implica utilizar a reflexão e a
experimentação, para proceder ao longo do caminho (significado etimológico de método) e
alcançar os objectivos pré estabelecidos no planeamento da pesquisa (projecto).

Os métodos podem ser subdivididos em métodos de abordagem e métodos de procedimentos.


Portanto, o método de abordagem foi o método hipotético-dedutivo, pois, este método
consistiu na eleição de hipóteses (proposições hipotéticas), as quais possuem uma certa

28
viabilidade para responder ao problema levantado no projecto. E quanto ao método de
procedimentos foi usado o método monográfico que, é um estudo sobre um tema específico
ou particular de suficiente valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Este
método investiga determinado assunto não só em profundidade, mas em todos os seus ângulos
e aspectos, dependendo dos fins a que se destina.

3.3 Universo e determinação de amostra


3.3.1. Universo

LAKATOS & MARCONI (1993:123) admitem que “o universo numa pesquisa é o número
total de indivíduos que fazem parte do estudo que dele é retirada aleatoriamente um grupo de
indivíduo para o estudo”. Com vista a garantir fiabilidade na pesquisa a ser levada a cabo, a
população corresponde a todos os funcionários da Secretária Distrital de Montepuez,
correspondentes a 56 indivíduos.

3.3.2. Determinação da amostra

A amostra que constitui a pesquisa é de vinte (20) indivíduos, dos quais, que correspondem a
35.8% da população, dentre funcionários, chefes das diversas repartições e dirigentes.

Na materialização deste trabalho, foram envolvidas 20 funcionários que integram a Secretaria


Distrital de Montepuez, sobretudo os que lidam com o arquivo nomeadamente: Técnicos
Profissionais, Técnicos, Assistentes Técnicos e Auxiliares Administrativos.

3.4. Orçamento detalhado

O presente trabalho foi possível realizar com um gasto total de 43.275, 00MT que inclui o
material informático, meio de transporte e consumíveis. Outrossim, foi despendido
igualmente o valor de 6.500, 00MT para questões de alimentação, recargas para comunicação
incluindo internet, transporte para o campo bem como na entrega desta pesquisa na Vila de
Mueda.

29
Tabela 1: Orçamento gasto com o material permanente
Descrição Quantidade Custo Custo Total Justificativa
Unitário

Computador portátil 1 45.000, 00MT 45.000, 00MT Para a montagem


da estrutura física
Impressora 1 17.250, 00MT 17.250, 00MT para a recolha dos
dados do projecto
Mesa para o computador 1 2.000, 00MT 2.000, 00MT

Combustível para a 20l 66.68mzn 1.333, 60MT Deslocar à


viatura de serviço Secretaria
Distrital

Total 65.583, 60MT

Fonte: Autora, 2018.

Tabela 2: Orçamento gasto com o material de consumo


Descrição Quantidade Custo Custo Total Justificativa
Unitário
Resma de papel A4 1 250, 00MT 250, 00MT Para impressão do
Tonner em cartuchos 1 5.9500, 00MT 5.950, 00MT questionário e
Flesh de 1G 1 800, 00MT 800, 00MT projecto de
pesquisa
Recarga de credelec para 1 1000, 00MT 1000, 00MT Para recarregar a
energia energia no
credelec
Total 7.750, 00MT
Fonte: Autora, 2018.

30
Tabela 3: Cronograma de actividades
Anos Meses
20018/2019 Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro
Revisão bibliográfica
Redacção da fundamentação teórica
Fixação e redacção metodológica
Preparação dos questionários
Realização das entrevistas
Análise preliminar dos resultados
Busca e análise de bibliografia de apoio
Redacção dos capítulos centrais da pesquisa
Preparação do resumo, palavras-chave,
introdução e considerações finais
Busca e análise da bibliografia de apoio
Exame de qualificação
Alterações no texto, ajustes, redação final,
preparação do Abstract e Key-words
Entrega da Monografia a Mueda
Defesa
Fonte: Autora, 2018.

31
Capitulo IV: ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.1. Análise e interpretação de dados

Nesta parte do trabalho, faz-se a caracterização do local da pesquisa, procede-se a


apresentação dos dados recolhidos através das entrevistas e da observação com o objectivo
geral de conhecer os factores que influenciam a má gestão dos arquivos na Administração
Pública. Segue-se uma descrição quantitativa das principais conclusões obtidas através da
análise de conteúdo, realizada aos vinte (20) entrevistados. De seguida faz-se a verificação
das hipóteses. Esta análise e interpretação decorrem das categorias definidas pela autora e será
apresentada de acordo com o guião das entrevistas realizadas.

4.2. Conhecimento acerca do Decreto 36/2007, de 27 de Agosto

Foi levantada uma questão com o objectivo de perceber se os funcionários da Secretaria


Distrital de Montepuez têm conhecimento acerca do Decreto 36/2007, de 27 de Agosto, que
cria o Sistema Nacional de Arquivos do Estado (SNAE). O gráfico abaixo mostra os
resultados obtidos no campo.

Gráfico 1: Conhecimento acerca do Decreto 36/2007, de 27 de Agosto

60%
Funcionários que
conhecem o Decreto
40% 36/2007, de 27 de Agosto
Funcionários que não
20% conhecem o Decreto
36/2007, de 27 de Agosto
0%

Fonte: Autora, 2019.

Analisando o gráfico 1, pode-se notar que, 55% dos funcionários entrevistados não conhecem
o Decreto 36/2007, de 27 de Agosto, que cria o Sistema Nacional de Arquivos do Estado e,
apenas 45% é que conhece este dispositivo. Entretanto, a falta de conhecimento dos
dispositivos legais pode levar os funcionários públicos a cometeram erros na gestão dos
arquivos.

32
O conhecimento tem-se apresentado como uma estratégia fundamental para as organizações
que anseiam sucesso, tendo em vista que a partir do gerenciamento dos activos intangíveis e
da compreensão do que venha a ser o capital estrutural.

4.3. Capacitação dos técnicos

Nesta parte da entrevista, foi levantada uma pergunta que dizia: todos técnicos que lidam com
os documentos já foram capacitados em matéria de gestão de documentos? Entretanto, de
acordo com os nossos entrevistados, em toda a instituição, apenas 2 funcionários é que já
tiveram formação acerca da gestão de documentos.

4.4. Classificação dos documentos

A questão colocada neste ponto, teve como intuito perceber se na Secretaria Distrital de
Montepuez, os documentos são classificados de acordo com o SNAE. O gráfico a seguir
apresenta os dados referentes à opinião dos funcionários.

Gráfico 2: Classificação dos documentos

50% Funcionários que


consideram que sim
40%
Funcionários que
30% consideram que não
45%
20% 35% Funcionários que
20% consideram que
10%
talvez
0%

Fonte: Autora, 2019.

De acordo com o gráfico, percebe-se que 35% dos funcionários consideram que os
documentos são classificados de acordo com o Sistema Nacional de Arquivos do Estado, 45%
consideram que os documentos naquela instituição não são classificados conforme o SNAE e,
os restantes 20% responderam que talvez estejam classificados de acordo com o SNAE.

33
4.5. Conhecimento acerca de instrumentos para operacionalização do SNAE

Foi levantada uma questão com vista a saber se os funcionários da Secretaria Distrital de
Montepuez conhecem, pelo menos um (1) instrumento que se usa para a operacionalização do
Sistema Nacional de Arquivos do Estado e os resultados são ilustrados no gráfico abaixo.

Gráfico 3: Conhecimento acerca de instrumentos para operacionalização do SNAE

Funcionários que conhecem os


60%
instrumentos para
40% operacionalização do SNAE
Funcionários que não conhecem
20%
os instrumentos para
0% operacionalização do SNAE

Fonte: Autora, 2019.

Olhando para o gráfico, pode-se analisar que apenas 40% dos funcionários é que conhecem os
instrumentos de operacionalização do Sistema Nacional de Arquivos do Estado e 60% não
conhecem tais instrumentos.

4.6. Vantagens e desvantagens do SNAE

Segundo os nossos entrevistados, as vantagens do Sistema Nacional de Arquivos do Estado


são as seguintes:
 Suprime as dificuldades operacionais;
 Contribui para a gestão de toda a informação da instituição de uma forma centralizada
e estruturada;
 Aumenta a produtividade e qualidade do serviço prestado ao público em consequência
de uma maior facilidade e rapidez de acesso à informação em tempo real e
consequentemente redução de custos operacionais;
 Melhoria da articulação entre diferentes intervenientes e;
 Garante a rastreabilidade da informação associada à vida dos documentos e às suas
revisões nomeadamente de quem alterou um documento, quando o fez, o que foi
alterado.
Quanto as desvantagens, os funcionários apresentaram os seguintes:
 Requer pessoal formado/capacitado e;
 Acarreta custos na formação do pessoal.

34
4.7 Factores da má gestão dos arquivos na Administração Pública

Neste ponto, foi levantada uma questão com a intenção de colher as opiniões dos funcionários
acerca dos factores que influenciam a má gestão dos arquivos na Administração Pública,
conforme os dados do gráfico a seguir.

Gráfico 4: Factores da má gestão dos Arquivos na Administração Pública

60% A falta de pessoal qualificado

40%
A falta de estratégias específicas de
gestão de arquivos
20%
Falta de capacitação e treinamento
dos funcionários
0%

Fonte: Autora, 2019.

Segundo o que se pode ver no gráfico, 55% dos funcionários considera a falta de pessoal
qualificado como sendo o factor da má gestão dos arquivos na Administração Pública, 15%
aponta para a falta de estratégias específicas de gestão de arquivos e, os restantes 30%
indicaram a falta de capacitação e treinamento dos funcionários.

35
Capitulo V: DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1. Verificação das hipóteses

No que diz respeito as hipóteses levantadas para responder as questões da pesquisa, a primeira
hipótese: a falta de pessoal qualificado influencia a má gestão dos arquivos na
Administração Pública foi comprovada, pois, 55% dos funcionários considera a falta de
pessoal qualificado como sendo o factor da má gestão dos arquivos na Administração Pública.

A segunda hipótese, a falta de estratégias específicas de gestão de arquivos influencia a


má gestão dos arquivos na Administração Pública, foi refutada, porque apenas 15% dos
funcionários elegeu esta hipótese.

E a terceira hipótese, falta de capacitações e treinamentos no seio dos funcionários


públicos influencia na má gestão dos documentos na Administração Pública, foi
comprovada porque, 30% dos funcionários acha que esta pode ser o factor da má gestão dos
arquivos na Administração Pública.

Contudo, vimos o arquivo central da secretaria distrital, que muitos chamam arquivo morto,
onde os papéis das secretarias, após um tempo de utilização, são colocados sem uma gestão
adequada, contribuindo para proliferação de insectos, infiltrações, mofo, cupim e uma
consequente perda de papéis. Nenhuma tecnologia auxilia na organização e preservação do
acervo. Relacionamos a seguir outras situações que dificultam o trabalho com documentos
públicos:

 Demora no atendimento ao público, quando cidadãos requerem documentos de interesse


particular, infringindo um dos princípios da administração, o princípio da eficiência;
 Desaparecimento de documentos, os mais frequentes são os que comprovam tempo de
serviço de servidores para efeito de aposentadoria;
 Dificuldade no acesso aos arquivos, por não estarem organizados de forma adequada;

 Perda de papéis e informações, em muitos casos por infiltrações, mofo, corroídos e/ou
danificados por insectos.

 Não existe qualificação do servidor para organizar e preservar documentos, pois, há a falta
de profissionais para o manuseio correto dos documentos. Também, há ausência de
investimentos para manutenção dos espaços físicos onde são arquivados os acervos
públicos.

36
Capítulo VI: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A gestão de arquivos é um método adoptado para gerir conteúdos e informações relevantes e


essenciais de uma instituição, que surgiu para colocar ordem na confusão causada pela
explosão documental na administração pública. É um procedimento fundamental na vida de
uma instituição. Para as tomadas de decisões, recuperação da informação e preservação da
memória institucional é necessário criar um conjunto de práticas que garanta a organização e
a preservação do arquivo.

Com os resultados obtidos no campo chega-se às seguintes conclusões: os factores que


contribuem para má gestão dos arquivos na Administração Pública são a falta de pessoal
qualificado e a falta de capacitações e treinamentos dos funcionários públicos.

O processo de gestão arquivos é um dos mais importantes em uma instituição. É através dele
que temos a possibilidade de garantir a conservação, preservação e recuperação da história de
uma instituição. No entanto, para tal atribuição, se faz necessário um profissional
especializado que detenha em seu currículo, aprendizado de técnicas especializadas para
desempenhar tal função. Também é necessário que este profissional tenha um perfil dinâmico,
capaz de lidar com os processos de gestão relacionados aos documentos, usuários e com os
proprietários da instituição.

Neste contexto, o profissional tem que buscar inovar, potencializando principalmente


mudanças que priorizem os procedimentos diante dos desafios de organização e gestão de
toda a massa documental, e conseguinte disponibilizar de forma segura e legal o que é fruto
de seu trabalho. Diante disto, estará assegurando e fazendo cumprir o acesso irrestrito às
informações as que sua instituição é qualificada a oferecer.

Recomenda-se um trabalho voltado para capacitação de servidores, que tem relação directa
com os arquivos produzidos ou recebidos pela Secretaria Distrital de Montepuez. Assim
como, investimentos em suportes tecnológicos: material de informática com aplicativos que
gerencie os bancos de dados; espaço físico amplo e adequado para guarda dos arquivos da
Secretaria Distrital; e, contrato de profissional na área de arquivologia.

Contudo, sugerimos que conheçam o trabalho de outras secretarias em relação a forma de


organizar seus arquivos. Quais os suportes utilizados, como é feita a selecção e distribuição
dos documentos. Pesquisar sobre o ciclo vital dos mesmos, como fazem para manter

37
actualizados seus arquivos. O tempo de utilização, guarda definitiva ou destruição dos
documentos, e saber sobre a legislação referente aos arquivos.

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VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ampudia Mello, J. Enrique (1988). Instituicionalidade y gobierno: um ensayo sobre la
dimensiónarchivística de la administración pública. México: Instituto Nacional de
Administración Pública.
Fonseca, Maria OdilaKahl (2005). A arquivologia e ciência da informação. Rio de Janeiro:
FGV.
Indolfo, Ana Celeste, et al (1995). Gestão de arquivos: Conceitos e procedimentos básicos. 2
ed.,Rio de Janeiro, Arquivo Nacional.
Indolfo, A. C (2008). Arquivo e Administração. 7 ed., São Paulo, Atlas.
Jardim, José Maria (1987). O conceito e a prática da gestão de arquivos. 2 ed., Rio de
Janeiro, Acervo.
Rhoads, James B (1983). O papel da gestão de documentos e arquivos em sistemas nacionais
deinformação: um estudo da Rampa. Paris, Unesco.

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ANEXOS
Anexo I: Guião de Entrevistas
O presente inquérito tem por objectivo a recolha de dados para apurar o grau de eficiência e
eficácia da “ Implementação do Sistema Nacional de Arquivo do Estado na Administração
Pública em Moçambique: caso na Secretaria Distrital de Montepuez”.
1. Em Moçambique, foi aprovado o Decreto 36/2007 de 27 de Agosto, que institui o Sistema
Nacional de Arquivo de Estado (SNAE), que é implementado aos órgãos e instituições de
Administração Pública. Tem conhecimento deste instrumento?
2. Todos técnicos que lidam com os documentos já foram capacitados em matéria de gestão
de documentos? Qual foi a duração?
3. Na sua opinião, nesta instituição será que os documentos são classificados de acordo com o
SNAE?
4. Conhece pelo menos um (1) instrumento que se usa para a operacionalização do SNAE?
5. Quais são as vantagens e desvantagens do uso do SNAE?
6. A nível das unidades orgânicas já se fez avaliação dos documentos?
7. Será que existe um arquivo intermediário ou um depósito temporário dos documentos de
consulta pouco frequente?
7.1 Onde se localiza e como estão organizados os documentos?
7.2 Qual é o nível de preservação ou conservação dos mesmos?
8. Com a implementação do SNAE tem-se registado alguns avanços na recuperação e
tramitação de documentos?
9. Quais são os desafios que enfrentam para a organização e recuperação de documentos?
10. Pode fazer alguma apreciação ou comentário sobre os arquivos corrente e intermediário a
nível do SNAE.

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