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http://jus.com.br/revista/texto/20736
Publicado em 12/2011
Wanessa Mota Freitas Fortes
O direito não tem existência por si só. Ele existe no meio social e em função da sociedade, não
sendo seu único instrumento de organização e harmonia, mas, merece lugar de destaque, pois é o
que possui maior pretensão de efetividade, manifestando-se como um corolário inafastável.
Resumo
O homem é um ser social e político, vivendo em grupos, em sociedades. É natural que no seio
destes grupos haja conflitos, desentendimentos e interesses divergentes. No entanto, o homem sente
necessidade de segurança e busca a harmonia social. Para que a sociedade subsista é necessário que
os conflitos sejam resolvidos e para tanto, o homem dispôs de vários meios com o intuito de
controlar as ações humanas e trazer um equilíbrio à sociedade. São os instrumentos de controle
social. O Direito, criação humana, é um destes instrumentos, cujo principal objetivo é viabilizar a
existência em sociedade, trazendo paz, segurança e justiça.
PALAVRAS CHAVES:1. Sociologia jurídica. 2. Direito. 3. Sociedade. 4. Controle social.
2.Sociedade e interação
O conceito de sociedade apresenta inúmeras controvérsias devido ao seu amplo aspecto. O vocábulo
pode ser utilizado de diversas formas e com vários sentidos, tais como o de nação e o de grupo
social. Em termos gerais podemos definir sociedade como um grupo de pessoas que interagem entre
si.
Deste conceito podemos deduzir três características da sociedade: a multiplicidade de pessoas, a
interação entre elas e a previsão de comportamento. Para a formação da sociedade não basta que
existam várias pessoas reunidas, uma aglomeração de indivíduos, mas que elas interajam, que
desenvolvam ações conjuntas, que tenham reações aos comportamentos uns dos outros, que
desenvolvam diálogos sociais. Ela se faz por um amplo relacionamento humano. Dessa interação é
possível prever comportamentos, situações e condutas que poderão se manifestar no seio do grupo,
sejam elas lícitas ou ilícitas.
Conforme ensina Betioli (2008, p.7): "A interação, por seu turno, pressupõe uma previsão de
comportamento, ou de reações ao comportamento dos outros.(...) Cada um age orientando-se pelo
provável comportamento do outro e também pela interpretação que faz das expectativas do outro
com relação a seu comportamento."
Segundo Paulo Nader, a interação social, basicamente, vai se realizar de três formas: a cooperação,
a competição e o conflito. Vejamos:
"Na cooperação, as pessoas estão movidas por um mesmo objetivo e valor e por isso
conjugam o seu esforço. Na competição há uma disputa, uma concorrência, em que as
partes procuram obter o que almejam, uma visando à exclusão da outra. (...) O conflito
se faz presente a partir do impasse, quando os interesses em jugo não logram uma
solução pelo diálogo e as partes recorrem à luta, moral ou física, ou buscam a mediação
da justiça." (2007, p.25)
Há vários pontos de divergência entre direito e religião. Legaz e Lacambra apontam duas diferenças
estruturais: a alteridade e a segurança. Segundo o autor (1961, p.419), "a alteridade, essencial ao
direito, não é necessária à religião". O próximo, o semelhante é um elemento circunstancial e não
um elemento essencial na ideia religiosa. O mais importante é a prática do bem. A religião é uma
relação entre o homem e Deus e não entre o homem e os demais. Para o Direito, no entanto, o que
importa é o comportamento humano e social.
A segunda diferença estrutural diz respeito à segurança. Para a religião a segurança é algo
inatingível e espiritual, porquanto que para o direito, se alcança a partir da certeza ordenadora.
Em relação às diferenças existentes entre o direito e a moral, podemos apontar algumas das
distinções feitas por Paulo Nader (2007, p.40-44). Segundo o autor, "o direito se manifesta mediante
um conjunto de regras que definem a dimensão da conduta exigida, que especificam a fórmula do
agir". Ao contrário da moral que possui diretrizes mais gerais.
As normas jurídicas possuem uma "estrutura imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que
impõem um dever jurídico a alguém, atribuem um poder ou direito subjetivo a outrem". A moral,
por sua vez, com uma estrutura mais simples, impõe apenas deveres.
Enquanto a moral se preocupa com a vida interior das pessoas, como a consciência, o direito cuida,
em primeiro plano, das ações humanas. O animus do agente só será considerado quando necessário.
Além disso, a moral, bem como todas as demais regras sociais, se distingue do direito, pois carece
de coercibilidade e de heteronomia. O direito, ao revés, é imposto independentemente de vontade de
sujeição e possui formas de garantir o respeito e obediência a seus preceitos.
5.Conclusões
Do exposto, podemos concluir pela mútua dependência entre direito e sociedade. Não pode haver
sociedade sem direito e não há direito sem sociedade. Não poderia existir sociedade sem uma ordem
mínima, sem guias e direcionamentos. Há a necessidade de se limitar a esfera de conduta de cada
indivíduo de modo que sua liberdade de atuação não gere conflitos sociais. Da mesma forma que
não se concebe o homem sem o convívio social, também não se concebe uma sociedade sem regras,
sem o direito.
O direito, por sua vez, não tem existência por si só. Ele existe no meio social e em função da
sociedade. O indivíduo isolado não carece de direito.
Desta forma, ele modifica a sociedade no sentido de impor condutas e comportamentos, mas
também é influenciado por ela, através da cultura, dos usos e costumes e pela evolução temporal.
Dante Alighieri, em sua obra "Da Monarquia", assim conclui: "o direito é uma porção real e
pessoal, de homem para homem que, conservada, conserva a sociedade, corrompida, corrompe-a".
Referências Bibliográficas
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BETIOLI, Antônio Bento. Introdução ao direito: lições de propedêutica jurídica tridimensional,
10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2008
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1997
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1960
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo de direito, 8ª ed., Rio de Janeiro: Forense,
1978
LEGAZ Y LACAMBRA, Luiz. Filosofia Del derecho, 2ª ed., Barcelona: Bosch, 1961
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