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133/437 Farmacobotânica – Pesquisa

Contribuição ao estudo farmacobotânico


de Alternanthera sessilis (L.) DC
e Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae)
Farmacognostic study contribution from Alternanthera sessilis (L.) DC and
Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae)
Rosilda Mara Mussury1; Magaiver Andrade Silva2; Roseli Betoni1;
Silvana de Paula Quintão Scalon1 & Adriana M. M. M. Felipe de Melo 2

RESUMO – As espécies Alternanthera sessilis (L.) DC e Alternanthera tenella Colla foram coletados na
região de Dourados-MS e tiveram sua anatomia foliar investigada com o objetivo de levantar caracteres
que auxiliem a identificação. A folha de A. sessilis possui forma espatulada diferindo da folha de A.
tenella que é de forma elíptica. O pecíolo apresenta formato plano-convexo em A. sessilis e côncavo-
convexo em A. tenella, sendo o sistema dérmico e fundamental semelhantes. Em A. sessilis o suprimento
vascular formado de três feixes maiores situados no centro do órgão, entremeados por células parenqui-
máticas pouco volumosas e um feixe menor em cada porção lateral do pecíolo. Em A. tenella foi registrada
a presença de 4 a 5 feixes colaterais abertos maiores no centro do órgão e dois menores em cada porção
lateral do pecíolo. Em secção transversal do limbo, o sistema dérmico das espécies consta de epiderme
unisseriada com predominância de estômatos do tipo anomocíticos em ambas as espécies, paracíticos em
A. sessilis e diacíticos em A. tenella. Nas duas espécies observam-se tricomas glandulares e tectores
pluricelulares, unisseriados e mesofilo dorsiventral. Na região internervural de A. sessilis ocorre uma
camada de parênquima paliçádico e 3 a 4 de lacunoso; em A. tenella ocorre 1 a 2 camadas de parênquima
paliçádico e 4 a 5 de lacunoso. Os feixes vasculares colaterais das espécies estão rodeados por uma
bainha de células parenquimáticas. A nervura primária de A. sessilis é plano-convexa e a de A. tenella
biconvexa. Nessa região, abaixo da epiderme de ambas as espécies, observam-se camadas de colênquima
angular, seguida de várias camadas de células parenquimáticas. O sistema vascular na nervura primária
em A. tenella e A. sessilis consta de um feixe colateral.
PALAVRAS-CHAVE – Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, planta medicinal, anatomia foliar.

SUMMARY – The species Alternanthera sessilis (L.) DC. and Alternanthera tenella Colla were collected in
Dourados-MS and their leaf anatomies were investigated aiming to collect their characteristics. The
petiole presents plan-convex form in A. sessilis and concave-convex in A. tenella; the dermis and basic
system were similar. The vascular supply consists of three bigger bundles placed in the center of the
organ and a smaller bundle in each portion of the lateral A. sessilis petiole In A. tenella, it was observed
four to five bigger collateral bundles which were opened and centered and two smaller ones in each
lateral portion of the petiole. In the transverse section of the leaf, epidermis was unisseriated with ano-
mocytic stomata predominance in both species, paracytics in A. sessilis and diacytics in A. tenella. Glan-
dular trichomes and pluricellular, unisseriated tectores and dorsiventral mesophylls were observed. In
the A. sessilis internerval region occurs palisade parenchyma layer and three to four incomplete ones. In
A. tenella, one or two layers of palisade parenchyma and four to five incomplete ones. The collateral
vascular bundles of the species are surrounded by a sheath with parenchymatic cells. A. sessilis primary
vein was plan-convex and biconvex in A.tenella. Below the epidermis of both species, it was observed
some layers angular colenchyma followed by several parenchymatous cells. The vascular system in A.
tenella and A. sessilis primary vein consists of a collateral bundle.
KEYWORDS – Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, medicinal plants, leaf anatomy.

INTRODUÇÃO STASI (1996) assinala a importância da análise morfo-


anatômica para o controle de qualidade da matéria-
P arâmetros morfoanatômicos possibilitam o controle
botânico de qualidade de insumos farmacêuticos
auxiliando a autenticidade de drogas e seus adulte-
prima vegetal na indústria farmacêutica, justificando
que essa análise fornece subsídios que contribuem na
padronização dos insumos, permitindo a diferenciação
rantes, identificando e separando uma determinada es- inclusive, entre espécies botanicamente próximas. A co-
pécie vegetal de outras (ZANETTI & et al., 2004). DI mercialização de espécies medicinais realizada por

Recebido em 14/01/2008
1
Bióloga, Universidade Federal da Grande Dourados (Rodovia Dourados-Itahum, Km 12 – Dourados/MS - 798000 – Brasil
2
Farmacêutico, Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN
Rua Balbina Vieira de Matos, 2121 - Jardim Universitário - Dourados/MS 79824-900

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pessoas pouco especializadas, os “mateiros” ou “ rai- radérmicos na região mediana do limbo na face ada-
zeiros” é livre e promove muitas vezes, trocas ou subs- xial e abaxial à mão-livre, com lâmina de aço. Também
tituições, contribuindo para a adulteração da matéria- foi realizada a técnica de dissociação pelo método de
prima vegetal (DELAPORTE & et al., 2002). maceração de Jeffrey (JOHANSEN, 1940), utilizando-
As características morfoanatômicas e farmacológicas se safranina aquosa para coloração.
das Amaranthaceae vêm sendo estudadas por diversos Testes histoquímicos foram realizados com as solu-
autores: BONA & MORRETES (1997) DELAPORTE & ções de Sudan III para substâncias lipofílicas (SASS,
et al., (2002) MUSSURY (2003); MUSSURY & et al., 1951) e, para a verificação da composição química dos
(2006), sendo muitas das espécies comercializadas e cristais (CHAMBERLAIN, 1932). Os resultados obti-
utilizadas pela população da cidade de Dourados/MS, dos foram documentados através de desenhos com au-
para o tratamento de diversas patologias. Althernan- xílio de câmara clara, adaptada a microscópio Colle-
thera sessilis (L.) DC. conhecida popularmente por man e fotografias da planta inteira com máquina Ni-
periquito-séssil (SMITH & DOWNS, 1972) vem sendo kon à qual se adaptou uma objetiva de macro. Após a
utilizada para fins medicinais e, facilmente, no estágio análise do laminário, foram realizadas fotomicrogra-
vegetativo, é confundida com Althernanthera tenella fias em microscópico trinocular Labomed CXRII, aco-
Colla, conhecida como apaga-fogo (FERREIRA & et al,. plado à câmera fotográfica Sony Cyber Shot 4.1.
2003), a espécie mais freqüente de todo o gênero. De
acordo com a população rural de Dourados/MS, A. ses- RESULTADOS E DISCUSSÃO
silis tem sido utilizada na cura de pedras na vesícula e
nos rins e A. tenella, a infusão de folhas, é usada como
diurético (SIQUEIRA, 1987). Os órgãos aéreos de A. • Morfologia
tenella são utilizados na medicina popular brasileira O porte de Alternanthera sessilis (L.) DC. é herbá-
em forma de extrato aquoso como antiinflamatório, an- ceo, caule prostrado, ramosos, estriados e levemente
tibiótico, no tratamento de febres, infecções e inflama- pilosos. As folhas são simples (Fig. 1 e 3), peninér-
ções genitais (FERREIRA & et al., 2003). Os estudos veas, curto-pecioladas e com filotaxia oposta-cruzada
morfoanatômicos de espécies medicinais utilizadas na (Fig. 5), a forma do limbo é espatulada com ápice agu-
Fitoterapia, fundamentais para o estabelecimento do do, base obtusa e margem inteira. Em A. tenella Colla,
controle de qualidade, têm sido relatados por DELA- o porte é herbáceo, as folhas são simples (Fig. 2 e 4),
PORTE & et al., (2002), BROCHADO & et al., (2003), curto-pecioladas e com filotaxia oposta-cruzada (Fig.
MUSSURY (2003), FANK-DE-CARVALHO & GRACI- 6), forma do limbo elíptica, ápice agudo, base obtusa e
ANO-RIBEIRO, (2005); MUSSURY & et al., (2006); margem inteira.
MUSSURY& et al., (2007); MUSSURY & SCALON
(2007). No entanto, visando à distinção entre Alternan-
thera sessilis e Althernanthera tenella, não há relatos
na literatura.
Assim, a presente pesquisa objetivou a caracteriza-
ção morfoanatômica das folhas de Alternanthera sessi-
lis e Althernanthera tenella visando levantar caracte-
res que possam ser imprescindíveis na sua identifica-
ção, no controle de qualidade da droga vegetal e aná-
lise farmacognóstica, principalmente, por serem as es-
pécies facilmente utilizadas por suas propriedades me-
dicinais pela população local.

MATERIAL E MÉTODOS
Plantas de Alternanthera sessilis (L.) DC. (periqui-
to-séssil) e Althernanthera tenella Colla (apaga fogo)
– Amaranthaceae estão depositadas no Herbário da
Cidade de Dourados sob o número 196 e 199, respecti-
vamente.
Folhas de ambas as espécies foram coletadas no horto
de plantas medicinais do Centro Universitário da Gran-
de Dourados e trazidas para o Laboratório de Botânica
para serem analisadas posteriormente. Dez folhas to-
talmente expandidas de cada espécie, situadas no quin-
to nó, contando a partir da gema apical foram seccio-
nadas à mão-livre na região mediana do limbo e pecío-
lo em secções transversais. As secções transversais ob-
FIG. 1-6 – Aspecto geral de Alternanthera sessilis e Alternanthera tenella. 1. Aspecto
tidas à mão-livre foram clarificadas com hipoclorito de geral de A. sessilis. 2. Aspecto geral de A. tenella. 3. Detalhe de A. sessilis. 4. Detalhe de
sódio a 20% e, após serem lavadas em água acética 2%, A. tenella. 5. Ramo de A. sessilis. 6. Ramo de A. tenella. Barras = 1cm.

foram submetidas à dupla coloração com azul de astra


e safranina (BUKATSCH, 1972), montadas em gelatina Em A. brasiliana, DELAPORTE & et al., (2002) ob-
glicerinada (DOP & GAUTIÉ, 1928) e lutadas com es- servaram que as folhas são simples, peninérvias, opos-
malte, segundo técnicas usuais descritas em KRAUS & tas cruzadas e levemente pilosas em ambas as faces.
ARDUIN (1997). Paralelamente, efetuaram-se cortes pa- O limbo é oval-lancelado, de margem inteira levemente

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ondulada, base atenuada, ápice agudo e levemente paredes anticlinais nas células do tricoma tector são
acuminado. O contorno da secção transversal do pe- bem evidentes acompanhadas de “plicaduras” nas pa-
cíolo (Fig. 7 e 8) é um caráter macromorfológico útil redes transversais (Fig. 16).
na distinção das espécies de Alternanthera. Em A. MENEZES & et al., (1969) relata as ornamentações
sessilis o pecíolo apresenta aspecto plano-convexo, nos tricomas em P. jubata Mart. e CHODAT & REHFOUS
tendendo a plano na face adaxial e convexo na face (1926), observando paredes transversais providas de
abaxial (Fig. 7); em A. tenella (Fig. 8) o formato é plicaduras nos tricomas do caule de Alternanthera aquati
côncavo-convexo sendo a face adaxial côncava e aba- (Parodi) CHODAT, comentando que os tricomas se cons-
xial convexa. tituem num importante reforço para mantê-los em posi-
ção perpendicular à superfície do caule.
DELAPORTE & et al., (2002) define os tricomas fo-
liares de A. brasiliana como tectores pluricelulares or-
namentados em função das papilas encontradas. De
acordo com SOLEREDER, (1908) e METCALFE &
CHALK (1950), os tricomas pluricelulares unisseria-
dos são os mais comuns nas Amaranthaceae.
Os resultados obtidos no presente trabalho condi-
zem com as descrições de HANDRO (1967) que obser-
vou nas Alternanthera esse mesmo tipo. As duas espé-
FIG. 7-8 – Diagrama da secção transversal do pecíolo. 7. Alternathera sessilis. 8. cies estudadas apresentaram de 3 a 5 faixas descontí-
Alternanthera tenella. Barras =1cm.
nuas de colênquima angular em posição subepidérmi-
ca. O parênquima fundamental é constituído por célu-
• Anatomia do pecíolo
las isodiamétricas, paredes delgadas e espaços inter-
Em secção transversal mediana, o pecíolo de A. ses- celulares. Observa-se a presença de drusas nessa re-
silis e A. tenella constitui-se de epiderme unisseriada gião. O suprimento vascular consta de três feixes
com células de paredes delgadas recobertas por cutí- maiores situados no centro do órgão, entremeados por
cula delgada (Fig. 9, 10, 11 e 12) Tricomas tectores plu- células parenquimáticas pouco volumosas e um feixe
ricelulares, unisseriados e tricomas glandulares apa- menor, em cada porção lateral do pecíolo em A. sessilis
recem em A. sessilis (Fig. 13, 14 e 15) e A. tenella (Fig. 7). Em A. tenella foi registrada a presença de 4
(Fig. 16 e 17). Na espécie A. sessilis ocorrem tricomas a 5 feixes colaterais abertos maiores no centro do ór-
glandulares pluricelulares e unisseriados com célula gão e, dois menores, em cada porção lateral do pecíolo
apical rica em compostos lipídicos (Fig. 13 e 14) e tec- (Fig. 8).
tores pluricelulares unisseriados e não ramificados (Fig.
15). A Alternanthera tenella apresenta tricomas tecto- • Lâmina foliar
res pluricelulares e unisseriados (Fig. 16 e 17) e glan- Em secção paradérmica observa-se que, em ambas
dulares pluricelulares e não ramificados idênticos aos as espécies, o limbo é anfiestomático, sendo os estôma-
de A. sessilis. Em A. sessilis e A. tenella foram obser- tos de A. sessilis do tipo anomocítico e paracítico (Fig.
vadas ornamentações em toda extensão dos tricomas 18 e 19) e, em A. tenella, anomocítico e diacítico, sen-
tectores (Fig. 15 e 17) e, em A. tenella, saliências nas do estes últimos visualmente em maior número (Fig.
20 e 21). Em ambas as espécies ocorrem tricomas tecto-
res e glandulares pluricelulares não ramificados, idên-
ticos aos do pecíolo. As células epidérmicas da face
adaxial (Fig. 18 e 20) apresentam contorno menos si-
nuoso do que as da face adaxial (Fig. 19 e 21). Tal
característica foi também observada em outros gêneros
de Amaranthaceae dos cerrados: Froelichia Vahl, Gom-
phrena L. e Pfaffia Mart. (HANDRO, 1964; 1967),

FIG. 9-17 – Pecíolo de Alternanthera sessilis e Alternanthera tenella. 9. Face adaxial da


epiderme de A. sessilis.10. Face abaxial da epider me de A. sessilis. 11. Face adaxial da
epiderme de A. tenella. 12. Face abaxial da epiderme de A. tenella. 13 e 14. Tricoma
glandular de A. sessilis.15. Tricoma tector de A. sessilis. 16 e 17. Tricoma tector de A. FIG. 18-21 – Diagrama da secção paradérmica da epiderme. 18. Face adaxial da epiderme
tenella. (Sinuosidade nas paredes transversais seta). (EP=epiderme, CO=colênquima, de Alternanthera sessilis. 19. Face abaxial da epiderme de A. sessilis 20. Face adaxial da
TG=tricoma glandular, TT=tricoma tector). Barras=50µm epiderme de A. tenella. 21. Face abaxial da epiderme de A. tenella. Barras = 50µm.

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Amaranthus viridis L., por VIANA (1992), Alternan- gadas e o parênquima lacunoso é constituído por 4 a 5
thera brasiliana (L.) Kuntze (DELAPORTE & et al., estratos celulares frouxamente dispostos. Drusas são
2002), Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen (MUS- comuns no mesofilo das duas espécies. Os feixes vas-
SURY, 2003) e em folhas jovens de Gomphrena ele- culares de menor calibre apresentam bainha de células
gans Mart., por MUSSURY & et al., (2006). parenquimáticas (Fig. 26 e 27). Essa bainha ao redor
MORAES & PAOLI, (1999) restringem o uso da si- dos feixes com células parenquimáticas com cloroplas-
nuosidade das células epidérmicas para fins taxonô- tos foi observada por BONA(1993) em A. philoxeroides
micos e, de acordo com PYYKKÖ (1979), tal caracterís- (Mart.) Griseb e em A. aquatica.
tica é variável em plantas submetidas a diferentes am- As análises morfoanatômicas foliares realizadas con-
bientes. tribuem para a identificação correta dessas espécies
Em secção transversal mediana observa-se que a visando o controle de qualidade e análise farmacog-
nervura primária em A. sessilis apresenta formato pla- nóstica. Inúmeros parâmetros descritos para as espé-
no convexo (Fig. 22) e em A. tenella, biconvexo (Fig. cies são de grande valor, entre eles, os mais relevantes
23). Nas duas espécies, as células epidérmicas de am- observados, nas folhas de A sessilis e A. tenella foram:
bas as faces apresentam tamanho reduzido e estão co- forma do limbo e do pecíolo, formato da nervura primá-
bertas por cutícula delgada. ria e distribuição do colênquima angular. Na região
O limbo de A. sessilis e A. tenella apresenta epi- internervural, diferenças no número de camadas de
derme unisseriada, constituída por células de tamanhos células do parênquima paliçádico e lacunoso e dife-
variados e parede periclinal externa recoberta por cutí- rença no tipo de estômatos.
cula delgada. De acordo com METCALFE &
CHALK(1950) e HANDRO (1964, 1967), as Amaran- CONCLUSÃO
thaceae apresentam ambas as faces da epiderme mo-
noestratificada. Em A. sessilis, na região subepidérmi- As espécies do gênero Althernanthera analisadas
ca da face abaxia, ocorre uma a duas camadas de co- apresentam características em comum ao gênero, como
lênquima angular, não ocorrendo na face adaxial. Em a presença de idioblastos contendo drusas, tricomas tec-
A. tenella, observa-se duas camadas de colênquima tores e glandulares, bainha de células parenquimáticas
angular na face abaxial e 3 a 4 na face adaxial. O teci- rodeando os feixes. Porém, é possível através do estudo
do vascular é formado por um feixe colateral em A. ses- anatômico distinguir as duas espécies pela forma do lim-
silis e A. tenella (Fig. 24 e 25). Na região internervu- bo e do pecíolo, formato da nervura primária e distribui-
ral, observa-se que o mesofilo é dorsiventral nas duas ção do colênquima angular. Na região internervural,
espécies. O tecido paliçádico é composto de um só es- diferenças no número de camadas de células do parên-
trato de células alongadas. O parênquima lacunoso é quima paliçádico e lacunoso e no tipo de estômatos.
constituído por 3 a 4 estratos celulares em A. sessilis. Dessa forma a anatomia mostrou-se como um importan-
Em A. tenella, o parênquima paliçádico constitui-se de te parâmetro para a identificação da espécie, visando o
uma, ocasionalmente, duas camadas de células alon- controle de qualidade e análise farmacognóstica.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela
bolsa concedida e à FUNDECT-MS (Fundação de Apoio
ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia
do Estado de Mato Grosso do Sul) o apoio financeiro.
Ao Prof. Dr. Josafá Carlos de Siqueira, da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, pela identifi-
cação botânica das espécies.

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