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1 - ANTECEDENTES HISTÓRICO-ESTUDANTIS ANTES DA FUNDAÇÃO DA UNE

“Os estudantes estão nas ruas. Excluídos os períodos dos exames e das férias, essa frase, no
Brasil, conserva sua atualidade durante o resto do ano. Desde os trotes dos calouros, em março,
às provas finais, em dezembro, com uma ligeira trégua provocada pelas férias de julho, os
estudantes brasileiros protestam sempre”1.

Arthur Poerner, extraído do livro “o Poder Jovem”

1.1 – Estudantes do Brasil Colônia

O movimento estudantil brasileiro tem suas peculiaridades históricas, que o torna diferente do
estudante norte-americano, do estudante europeu, e até mesmo de seus conterrâneos latino-
americanos. Desde o Brasil colônia, os estudantes tem protagonismo político nas questões
nacionais, fruto de seu inconformismo social e irrequieto ao longo dos tempos. Foi assim quando
os estudantes seminaristas, entre 1710 e 1711, em pleno Brasil Colônia, expulsaram os corsários
franceses Duclerc e Duguay-Trouin do Rio de Janeiro, quando as tropas portugueses haviam
desertado e abandonando a cidade. De acordo com o poeta Olavo Bilac:

“...viram (os franceses), defendendo o caminho, uma multidão de moços que os esperava a pé
firme. Não havia uma farda nas suas fileiras. Todas as fardas estavam ainda no campo do
Rosário cercando o governador (Francisco de Castro Morais), que hesitava e vacilava, sem se
resolver a cortar o passo aos invasores. Os que guardavam a Rua Direita eram todos moços.
Quantos? Quatrocentos ou quinhentos, se tanto. Desiguais, nas armas, como no vestuário,
tinham-se reunidos à pressa, ao acaso. Cada um apanhava a primeira arma que encontrava à
mão. Eram quase todos estudantes... E antes que Duclerc desse o sinal de ataque, já eles os
atacavam, de surpresa, arrojando-se irrefletidamente. Possuíam apenas uma ou outra
espingarda. Por isso mesmo, apressaram o ataque, que se fez à arma branca, com uma bravura
que os impelia o desespero. Os franceses mal puderam resistir ao primeiro choque (Olavo Bilac,
Contos pátrios, p. 117-125)”2.

Foi assim também na conjuração mineira, quando o jovem estudante José Joaquim da Maia
escreveu uma carta ao embaixador dos Estados Unidos da América, em 1786, sob pseudônimo
de Vendek (Poerner,2004, p. 54), Thomas Jefferson, para que ajudasse os brasileiros na sua
libertação do jugo colonialista português. Apesar das negativas de apoio norte-americano ao
jovem conspirador, Maia – falecido logo depois - conheceu em Lisboa o estudante mineiro
Domingos Vidal de Barbosa, que, juntamente com outro estudante mineiro José Alvares Maciel,
impulsionou as ideias liberais de libertação nacional no país ocupado e foram os principais
ideólogos da conjuração mineira contra a corte portuguesa.

Nessa fase da história brasileira, é notório como a participação estudantil incidiu na formação
ideológica dos movimentos revolucionários brasileiros anteriores à independência
(Poerner,2004, p. 60). Foram esses estudantes que trouxeram os ideais de Voltaire, Rousseau e
Montesquieu à realidade colonial brasileira e que dava o tom eminentemente anticolonialista
de libertação nacional.

1.2- Estudantes do Brasil Império

Na fase do Brasil império, há um fato novo e importante: a fundação das faculdades de Medicina,
em 1808, por Dom João VI (Salvador e Rio de Janeiro), e as faculdades de direito em 1827 (São
Paulo e Recife), conferindo em terras nativas as primeiras massas estudantis universitárias. É um
período bastante rico, onde começam a surgir, influenciados pela literatura romântica, círculos
literários e artísticos, imprensa política e associações acadêmicas com visível engajamento
abolicionista e republicano. São desses círculos estudantis que florescem jovens engajados
como Fagundes Varela, Castro Alves e Álvares de Azevedo. De todos, o que mais simboliza o
papel de estudante precursor do abolicionismo é Castro Alves, com seus escritos em prosa e
verso abominando o instituto da escravidão negra. A sociedade dois de julho, fundada por
estudantes baianos da faculdade de medicina, foi uma das entidades estudantis mais destacadas
na luta contra a escravidão, chegando a radicalizar suas ações com invasões em senzalas para
libertação em massa de escravos. O movimento republicano se desenvolveu pari passu ao
abolicionista e teve protagonismo mais acentuado junto aos jovens militares.

1.3 O movimento estudantil da recém nascida República dos militares

Na 1º fase republicana, período dos governos militares, especialmente o governo do Marechal


Floriano Peixoto (1891-1894), chama a atenção os “batalhões escolares”, união de jovens civis,
na sua maioria estudantes universitários e jovens militares da oficialidade, que apoiavam o
governo militar e se rebelavam a favor deste contra as oligarquias civis da 2º República. Estes
eram influenciados pelo pensamento político de Benjamin Constant, e a nascente filosofia
positivista de Augusto Comte, erguendo juntamente com a imprensa e os intelectuais
progressistas da época, as bandeiras da incipiente classe média que nascia no fim daquele século
e que se erguiam contra o éthos arcaico rural e o paternalismo sindical urbano (Poerner, 2004,
pg. 69). Uma das unidades estudantis mais famosas do período foi o histórico batalhão
acadêmico liderado pelo então estudante de engenharia e tenente do Exército Tomás Cavalcanti
de Albuquerque, que desbaratou os rebeldes monarquistas de Custódio de Melo e Saldanha da
Gama. O eminente historiador brasilianista, o norte-americano Frank D. Mccan diz sobre esse
período peculiar:

“Para os estudantes militares, Floriano Peixoto personificava a causa republicana. Quando a


armada se rebelou em 1893, a escola militar forneceu ao governo combatentes, mensageiros,
escolta para prisioneiros políticos e oficiais para treinar os batalhões de cidadãos rapidamente
organizados. Por terem defendido sem reservas o governo, os estudantes achavam que a vitória
era particularmente deles. Levaram muito a sério a exortação de Floriano: “Temos de pôr o Brasil
em condições de ser respeitado como deve e exige sua posição no continente americano”. O
futuro do Brasil, a República e o Exército tornaram-se uma coisa só na mente daqueles
estudantes”3.

1.4- Movimento estudantil no 1º governo civil da República – República Velha

No primeiro governo civil da República de Prudente de Moraes, um dos primeiros manifestos


estudantis na história brasileira, decorrem do desastre político do massacre em Canudos (1893-
1897) e que foi um dos poucos manifestos políticos de relevância da juventude civil brasileira
desse período, cuja integra dispomos aqui:

“Os signatários da presente publicação, alunos da faculdade de Direito da Bahia, tendo até agora
esperado embalde que alguma voz se levantasse para vingar o direito, a lei e o futuro da
República, conculdados e comprometidos no cruel massacre que, como toda a população desta
capital já sabe, foi exercido sobre prisioneiros indefesos e manietados em Canudos e até em
Queimadas; e julgando ao mesmo tempo que, nem por haver cumprido um dever rigoroso, é
lícito ao soldado de uma nação livre e civilizada colocar-se acima da lei e da humanidade,
postergando-as desassombradamente: - vêm declarar perante os seus compatriotas que
consideram um crime a jugulação dos míseros conselheiristas aprisionados, e francamente o
reprovam e o condenam, como uma aberração monstruosa, que, se chegasse a passar sem
protesto, lançaria sobre o nome da pátria o mesmo laivo de sanguinolenta atrocidade que,
repelido pela bandeira cristã de Menelick – o africano -, assenta hoje vergonhosamente sobre a
emperrada barbaria do crescente otomano. Os alunos signatários sabem que seria impolítico e
errado o proceder de uma república que, imitando a antiga Atenas, perseguisse os seus
guerreiros de volta da batalha arriscada; mas compreendem também, por outro lado, a grave
necessidade de que uma geral reprovação caia como raio de justiça inflexível sobre aquele
morticínio praticado talvez na insciência das leis sagradas, que protegem na culta República
brasileira a vida sempre respeitável de um preso manietado e sem defesa. O Brasil republicano
só há de prosperar quando estiverem consolidados certos hábitos, certas práticas indispensáveis
ao seu desenvolvimento normal; a história da República que, em vez de deixa-las, como um
precedente funestíssimo, profliguemos todas as injustiças, todas as ilegalidades, com a serena
sobranceria de quem se sente apossado pela razão e o direito. Urge que estigmatizemos as
iníquas degolações de Canudos, para que todos se convençam, para que fique
indestrutivelmente assentado – que a República, como qualquer governo civilizado do século XIX,
repele com a mesma indignação e o mesmo horror a série intensa das oblações sanguinárias,
desde o holocausto desnaturado de Brutus até o guilhotinamento em massa dos ferozes
republicanos de 1789. No tempo de Caracala, a prioridade das reinvindicações que o direito não
desdenha, mesmo quando intentadas em geral da causa de miseráveis mortos, era reclamada
como uma honra pelos papianos incorruptíveis. Hoje, que os brasileiros se vangloriam de possuir
cultura igual à dos mais adiantados povos progressistas, seria uma vergonha sintomática de
maiores aviltamentos para o futuro, se a consciência nacional, acobardada, emudecesse diante
dos responsáveis pelos trucidamentos de Canudos e Queimadas. Combatendo naquelas
paragens pelo restabelecimento da soberana autoridade das leis, ninguém tinha lá o direito de
desprezá-las erigindo-se, fora da luta, em supremo árbitro da vida e da morte, quando a própria
majestade da República não recusa ao mais miserável e torpe dos seus prisioneiros o
sacratíssimo e iniludível direito de defesa. Aquelas mortes pela jugulação foram pois uma
desumanidade sobreposta à flagrante violação da justiça. Já não há Caracalas; e se os houvera,
os alunos signatários, quebrando embora a estrondosa harmonia dos hinos triunfais, e o
concerto atroador das deificações miraculosas, cumpririam, apesar deles, o seu dever,
proclamando as palavras de justiça e de verdade que aí ficam, e que, porventura, concorrerão
para impedir no futuro a triste renovação de semelhantes atrocidades. – Faculdade de Direito
da Bahia, em 3 de dezembro de 1897” (Rocha Pombo. História do Brasil, v. X, p. 431)”3.

Esse fato histórico é a contenda inicial dos estudantes universitários que adentram no período
histórico inaugurado pela República Velha, e que, aliás, tem como marca política sua atuação
dispersa e caótica, decorrente da ausência de uma coordenação nacional permanente e uma
plataforma unitária de lutas (Poerner, 2004, pg. 78). O grande destaque deste período histórico
que muitas vezes ofuscou o movimento estudantil desse período foi o movimento da juventude
fardada, que, posteriormente, seria o embrião do rebelde movimento tenentista contrário às
velhas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais.

1.5- A “Primavera de Sangue” e a Campanha Civilista de Rui Barbosa

Em 1909, início da campanha civilista de Rui Barbosa - que era contra a volta dos militares ao
poder através da candidatura de Marechal Hermes da Fonseca -, foi pano de fundo para uma
tragédia nacional que pôs em movimento os estudantes universitários na campanha civilista. Ela
foi conhecida como “primavera de sangue”, e decorreu de um protesto contra a brigada militar
do Distrito Federal que reprimiu violentamente o ato, ocasionando a morte de dois estudantes.
Assim diz no jornal “Correio da Manhã”, pelo jornalista Francisco de Assis Barbosa:
“...Em sinal de protesto, os estudantes decidiram promover o enterro simbólico do comandante
da Brigada. Partiu o préstito da velha Escola de Medicina, na Rua de Santa Luzia, entrou por
Misericórdia e Primeira de Março, atingindo depois a Rua do Ouvidor e o Largo de São Francisco
de Paula, ponto terminal da manifestação burlesca. À frente, ia um estudante vestido de padre,
isto é, com um fraque preto e uma camisa branca de mulher, seguido por um sacristão. Ambos
rezavam. Atrás vinha o caixão – um reles caixão de madeira, forrado de cetim negro -, várias
cruzes e varapaus, sustentando velas de sebo. Sobre o caixão, uma coroa de palha com os
dizeres: Ao General Souza Aguiar, os estudantes. Nas partes laterais, em letras garrafais escritas
a giz, anunciava-se: Morreu o general Souza Aguiar. Orai por ele. Como se vê, tudo não passava
de uma patuscada. Brincadeira de mau gosto, fadada, porém, a cair em rápido esquecimento,
depois de algumas horas de galhofa. Mas o enterro acabou mal. Soldados à paisana, manejando
cacetes e punhais, investiram contra os rapazes indefesos. A Brigada Policial veio em seguida,
espaldeirando o povo, num assomo de selvageria. Tudo fora previamente combinado. Havia
entre os policiais desordeiros conhecidos nas rodas de malandragens. Capoeiras famosas, como
Bexiga, Bacurau, Serrote, Moringa, Turquinho. Resultado de tudo isso: dois estudantes morto e
numerosos feridos. José de Araújo Guimarães, acadêmico de Medicina e que fazia as vezes de
sacristão, tombou ali mesmo, com uma facada no ventre, nas escadarias da Escola Politécnica.
Francisco Pedro Ribeiro Junqueira, chamava-se o segundo estudante morto na chacina”5.

A tragédia perpetrada pela polícia teve comoção nacional com discursos inflamados de Rui
Barbosa, novos atos estudantis, protestos da grande imprensa e até protestos de escritores
como Lima Barreto que participou do júri onde condenou os detratores dos jovens estudantes
mortos, no seguinte depoimento: “Eu fiz parte do júri de um Wanderley, alferes, e condenei-o.
Fui posto no índex” (Lima Barreto. Diário Íntimo. 2º ed., p. 172)6.

A “primavera de sangue” precedeu a fase mais aguda da campanha civilista de Rui Barbosa que
se contrapunha à candidatura dos militares (Marechal Hermes da Fonseca, primo de Deodoro
da Fonseca e herdeiro de seu prestígio) e a “política dos governadores”, que na prática, era o
poderio das oligarquias rurais regionalizadas nos principais estados produtores da federação
(São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, etc.). Os estudantes em solidariedade à “anti-
campanha” de Rui Barbosa, derrotado “de antemão” (Poerner, 2004, pg. 90) na Convenção
Nacional de seu partido em 22 de agosto, se agrupam em frente à sua casa na Rua São Clemente,
no Rio de Janeiro, externando suas manifestações de apoio e solidariedade. Este dizia que a
batalha cívica era “luta de princípios, luta de ideal, luta do futuro” (Poerner, 2004, pg.90).

Com a vitória de Marechal Hermes da Fonseca, a sacudida de Rui Barbosa a mocidade e à


“pasmaceira de então” é novamente interrompida voltando-se ao leito dos bancos escolares a
tranquilidade política. Novamente aqui percebe-se a transitoriedade dos movimentos
estudantis à conjuntura da época e suas entidades assumidamente de caráteres regionais como
a Federação de Estudantes Brasileiros, fundada em 1901. Os dizeres de seu manifesto já
esboçavam essa preocupação de um organização e pensamentos de caráter nacional e
contrários à fragmentação regionais:

“É duvidosa no Brasil a existência de uma opinião nacional; possuí-la é, entretanto, para todas
as nações que não as trabalhadas por fundas divergências étnicas, uma legítima e nobre
aspiração. São raras na verdade entre nós as questões que tenham provocado a sua intervenção
e é preciso reconhecer que presentemente tudo concorre para nos dividir e separar, por tal forma
são as atenções absorvidas pelos interesses e preocupações particulares. O ambiente que as
condições atuais parecem não favorecer, cabe a nós cria-los, estudantes do Brasil. Criemo-lo com
a Federação de Estudantes Brasileiros, criemo-lo com o concurso das nossas ideias e nossas
vontades...Livres de velhos e absurdos preconceitos acadêmicos, sem pretensões inconcebíveis
de classes nobres, justifiquemos pela ação inteligente a nossa existência social. É absolutamente
necessário que nos façamos conhecer, é urgente que entre os Estados do Brasil se elimine o
isolamento quase hostil, cuja manutenção já é profundamente lamentável entre as Repúblicas
da América” (Francisco de Assis Barbosa, ib., p. 75-76)7.

1.6 A 1º Guerra Mundial e a Campanha Nacionalista do poeta Olavo Bilac

Com a participação do Brasil na 1º guerra Mundial, trouxe à tona no país àquilo que a guerra
despertou: a “guerra de 1914 confirmava a inferioridades das nações que dependia do
estrangeiro para as coisas essenciais da vida. Demonstrava, por outro lado, que éramos capazes
de improvisar várias indústrias. O nacionalismo econômico nascia, pois com a guerra”. (História
da República. 4º ed., p. 301)8.

Olavo Bilac, fundador da Liga Nacionalista e da Liga de Defesa Nacional e também


propagandeador da campanha obrigatória de alistamento militar incendiou as universidades
brasileiras com seu discurso nacionalista arrebatador, tendo destaque sua “oração aos moços”:

“Vede que, na Europa, hoje, quando a guerra abre diariamente largos claros nas fileiras dos
combatentes, os governos chamam às armas as mais novas classes dos exércitos, as falanges
dos adolescentes, reservas fulgurantes da primavera nacional: aqui, outra desgraça mais triste
oprime o país, e outra morte pior escasseia os filhos válidos – desgraça de caráter, e morte moral;
e já que os varões, incapazes ou indiferentes, deixam o Brasil devastado sem guerra e caduco
antes da velhice – venham ao campo os efebos, em que o ardor sagrado contrabalance a
inexperiência e em que o ímpeto da fé supra a imaturidade dos anos! ... Uma onda
desmoralizadora de desânimo avassala todas as almas... – o problema terrível permanece sem
solução: uma terra opulenta em que muita gente morre de fome, um país sem nacionalidade,
uma pátria em que se não conhece o patriotismo...Moços de São Paulo, estudantes de Direito,
sede também os estudantes e os pioneiros do ideal brasileiro! Uni-vos a todos os moços e
estudantes de todo o Brasil: no Exército admirável, sereis os escoteiros da nossa fé! O Brasil não
padece apenas de falta de dinheiro: padece e sofre da falta de crença e de esperança...”9

E, por fim, conclui: “Não espereis o dia em que, deixando esta casa, iniciardes a vossa efetiva
existência cívica para o trabalho público, para a agitação social, para a política. Trabalhai, vibrai,
protestai, desde já! ...Desta velha casa, de entres estes sagrados muros que esplendem de
tradição veneranda, deste quase secular viveiro de tribunos e de poetas - daqui saíram, em
rajadas de heroísmos, em ímpetos de entusiasmo, as duas campanhas gloriosas que foram
coroadas pela vitória da Abolição e da República...Inaugurai, moços e São Paulo, a nova
campanha!” (O Estado de S. Paulo, 29 dez. 1918)10.

Essas entidades e os discurso inflamados de seu poeta fundador ecoaram profundo nas
faculdades do país, onde ocorreram inúmeras arregimentações de jovens para as Forças
Armadas, como o “Voluntariado de Manobra” criado pelo exército. Com o rompimento das
relações diplomáticas entre o Brasil e a Alemanha, em 1917, fruto do torpedeamento do navio
mercante Paraná no canal da Mancha, estudantes do Largo São Francisco em São Paulo
convocaram um comício em repúdio ao ato alemão (Poerner, 2004, pg. 95).

Além da campanha de alistamento para a 1º guerra mundial, a Liga Nacionalista teve papel
destacado na arregimentação de jovens médicos contra a gripe espanhola que assolou o país
em 1918, tanto na instalação de prontos socorros quanto no combate ao pânico generalizado
pelo número elevadíssimo de mortes.
1.7 O movimento Constitucionalista de 1932 e o movimento “MMDC”

O movimento constitucionalista de 32 foi liderado sobretudo pela classe média paulista que
defendia a autonomia do Estado e a constitucionalização da Federação ante a Revolução
burguesa de 30 liderada por Getúlio Vargas - que destronou as velhas oligarquias paulistas do
poder central e do controle do governo no estado.

O estopim para a participação estudantil no movimento constitucionalista fora o apoio dos


estudantes à nomeação de Plínio Barreto para a interventoria em substituição ao Coronel João
Alberto que houve forte repressão policial nas narrativas de Nogueira Filho:

“...Pelas 18 horas, um bando de indivíduos de má catadura, vindo da Praça Antônio Prado e


empunhando revólveres usados pela Força Pública, sobre a rua de São Bento, disparando as
armas. Os estudantes, tendo à frente um Oficial do Exército (não identificado), enfrentam os
desordeiros, também a tiros. Um dos mazorqueiros cai gravemente ferido e é arrastado pelos
companheiros até o prédio Martinelli. O conflito, porém, prossegue. Mais pessoas caem feridas.
Há grande confusão. Nas calçadas da Rua de São Bento veem-se grossos pingos de sangue. Os
moços conclamam o povo a se armar. A Segurança Pública, apesar dos apelos populares, não se
move. Aumenta e se generaliza o tiroteio. Grande número de moços concentra-se em frente à
redação de O Estado de S. Paulo. Aí foram avisados por populares que iam ser agredidos.
Passados alguns instantes, surgem magotes legionários, que voltam a fazer fogo. Os estudantes
conclamam os populares a que usem também suas armas. Trava-se batalha de rua. A casa de
armas Armbrust é assaltada...Não param aí os acontecimentos. Os moços voltam-se a reunir na
Praça do Patriarca, desta vez para um comício de protesto contra selvageria de que eram vítimas
e contra a atitude da polícia...Terminado o comício, o povo, já em massa considerável,
acompanha os rapazes até o Largo de São Francisco. Poucos depois, chegam contingentes da
Força Pública – cavalaria e bombeiros – e ocupam alguns pontos centrais. Registram-se ainda
conflitos aqui e ali. Só depois da meia-noite, a cidade volta a relativa normalidade” (A guerra
cívica – 1932, 1º v., p. 196-197)11.

Os estudantes, revoltosos do conflito que estiveram envolvidos (Poerner,2004, p. 104), enviam


telegrama ao presidente Vargas:

“Revoltados pelas inomináveis cenas de selvageria praticadas nesta capital por assalariados
capangas intitulados membros da Legião Revolucionária que com armas da polícia – parabellum
– e cassetetes investem impunemente contra populares nas principais ruas da cidade a consenso
tácito dos responsáveis pela segurança pública, que se mantém em criminosa inação, resultando
sangrentos conflitos para os quais a população ordeira é arrastada em legítima defesa, todos os
estudantes apresentam unanimemente os mais veementes protestos, pedindo imediatas e
enérgicas providências. Outrossim, aplaudem entusiástica e vibrantemente acertadíssima
escolha de V. Ex.ª elegendo para interventor de nosso Estado a insigne personalidade de Plinio
Barreto, satisfazendo assim as verdadeiras e legitimas aspirações da população paulista. A)
Telêmaco Van Langendonck, presidente do Grêmio Politécnico; Carlos Costa, presidente do
Centro Acadêmico Osvaldo Cruz; Henrique E. Mindlin, presidente do Centro Acadêmico Horácio
Lane; José Domingos Ruiz, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto; João Buarque Gusmão,
presidente da Liga Acadêmica” (Nogueira Filho, ib., p. 197)

Este fato político produziria, posteriormente, o assassinato de quatro estudantes que investiam
contra a sede do Partido Popular Paulista, que era segundo Nogueira Filho “...a máquina
extremista opressora de São Paulo” (ib., 2º v., p. 208). Esses estudantes, Euclides Miragaia,
Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo
Andrade, vieram a ser utilizados como a sigla MMDC criada pelo Movimento Constitucionalista
para arregimentar jovens contra o governo Vargas. O MMDC foi a base de arregimentação
principal para o movimento na guerra iniciada pelos paulista no dia 9 de julho de 1932.

2. A fundação, instalação e consolidação da recém-nascida UNE – União Nacional dos


Estudantes

Nascida em 11 de agosto de 1937, com sua 1º diretoria eleita na casa do estudante do Brasil, a
União Nacional dos Estudantes nasce em pleno período do Estado Novo. É necessário frisar que
há um movimento estudantil antes e um outro tipo de movimento estudantil depois da UNE. Os
fatos históricos aqui levantados mostram o caráter regionalista do movimento estudantil e de
sua transitoriedade decorrente dos próprios fatos políticos e históricos de cada período
atravessado pelo país. A constituição de uma entidade de caráter permanente e nacional de
participação política dos estudantes muda a qualidade desse movimento e estabelece um
divisor de águas dessa participação ao longo da história brasileira.

As organizações universitárias anteriores, como a Federação de Estudantes Brasileiros pecavam


por sua regionalidade, fruto do isolamento entre os estados, e que se mostravam incapazes de
romper tal isolamento. Outro problema notável era a função específica que tais movimentos
encetavam. Todos visando questões específicas de seu tempo histórico, tinham duração
transitória, nasciam e morriam conforme o metabolismo político de suas bandeiras e da própria
conjuntura.

2.1 O 1º Conselho Nacional dos estudantes

No dia 11 de agosto de 1937, na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, o 1º Conselho Nacional
de Estudantes, tendo presentes 82 associações universitárias e secundaristas de diversos lugares
do país e a presença do governo federal, apontaram pela necessidade de fundação a então
União Nacional dos Estudantes, com caráter amplo nacional e permanente de representação
estudantil em território nacional (Poerner, 2004, p. 123). Entretanto, só foi no dia 11 de
fevereiro do ano seguinte, que, através do Decreto-Lei nº 4.105 que oficialmente, a UNE foi
considerada entidade oficial de representação dos estudantes brasileiros.

A sua primeira sessão ordinária aconteceu na Casa do Estudante do Brasil, que era presidida
pela Ana Amélia de Queirós Carneiro de Mendonça, poetisa e socialite da época. Em mais 2
sessões, decidiu-se o novo estatuto, sendo que o seu conselho designou como “(...) sendo
organizado com representantes iguais de todas as associações e centros de estudantes do país”,
com “(...) finalidade principal a representação oficial dos estudantes brasileiros”. A imprensa da
época noticiou que:

“Será dirigido por uma comissão executiva, auxiliada por uma secretaria nacional, com sede na
capital federal, e secretarias estaduais. A comissão executiva será formada de um presidente e
dois vice-presidentes, eleitos pelo sistema rotativo, com relação aos estados. O Conselho
Nacional se reunirá, anualmente, em sessão plena, em pontos alternados do país, com
representantes de todas as associações acadêmicas nacionais” (Correio da Manhã, 17 ago. 1937,
p. 6) 13.

José Raimundo Soares, delegado do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Minas
Gerais foi eleito presidente; Valter de Sá Cavalcanti, delegado do centro estudantil Cearense, foi
eleitos 1º Vice-Presidente; Nelson Ferreira, delegado da Casa do Estudante do Brasil, foi eleito
1º secretário; Manuel Álvares da Cruz, delegado do Centro Acadêmico Evaristo da Veiga em
Niterói, 2º secretário e por fim, Valfredo Gomes, delegado dos estudantes de engenharia do
Distrito Federal.

O presidente Getúlio Vargas manifestou seu interesse pela nascente entidade estudantil,
recebendo-os em audiência, onde o seu delegado estudantil do Ceará Sá Cavalcanti, solicitou o
reconhecimento oficial do presidente ao Conselho como, em seus dizeres, como “único órgão
representante oficial dos estudantes do Brasil”, atendido como dito anteriormente, através do
Decreto-lei nº 4.105.

2.2 O 2º Congresso Nacional dos Estudantes

O 2º Congresso da UNE, realizado em abril de 1938 teve 80 associações universitárias e


secundaristas (atual educação básica) de praticamente todos os estados, que, ao contrário do
1º congresso, onde teve discussões muito mais filosóficas do que pautadas pelas questões
concretas, teve a seguinte linha de discussão dos trabalhos, onde “numa época de perturbações
e incertezas, de esperanças e de desilusões, a mocidade das escolas tem o dever e a necessidade
de se conhecer, para, unida, poder melhor trabalhar, orientando a sua ação num sentido
comum”:

(Extraído do livro, o Poder Jovem, 2004, Arthur Poerner, p. 126)

1) Situação Cultural:
a) Função da Universidade; b) Orientação Universitária; c) Formação e Orientação
profissional e técnica; d) Bolsas de Estudos e viagens de intercâmbios universitários; e)
Cooperação intelectual dos estudantes – nacional e internacional – e influência do
intercâmbio cultural e artístico na unidade do pensamento universitário; f) Bibliotecas;
g) Formação de um Teatro dos Estudantes; h) Difusão da cultura – problema do livro e
publicações; i) Ensino Rural; j) Problema do Ensino Livre;

2) Situação Econômica:
a) Problemas das taxas e matrículas; b) Subvenção do Estado; c) Problemas da habitação;
d) Casas de estudantes e casas de internos; e) Problemas da alimentação; f) Birô de
Empregos; g) Estágio remunerado; h) Racionalização do trabalho intelectual; i)
Assistência média, dentária e judiciária;

3) Saúde:
a) Higiene escolar; b) Educação Física; b) Educação Física; c) Colônia de Férias;

4) Mulher Estudante:
a) A mulher estudante frente ao problema do trabalho e em face das organizações
profissionais; b) A mulher estudante frente ao problema do lar; c) As associações
femininas como membros de estudo e defesa de interesses peculiares à mulher;

5) Esporte Universitário:
a) Propaganda; b) Esporte como meio de intercâmbio universitário; c) Definição do atleta
universitário; d) Jogos Universitários brasileiros;

6) União Nacional dos Estudantes

Este congresso, marcadamente, teve conotação política, sem, haver marcadamente cunho
antigovernamental. Getúlio Vargas foi aclamado presidente de honra do congresso, e os
interventores estaduais receberam o título de componentes da Comissão de Honra. Também foi
aprovado um telegrama para ser enviado ao embaixador Afrânio de Melo Franco, chefe em
Lima, Peru, da delegação brasileira ao 8º conferência Pan-Americana “numa calorosa mensagem
da juventude de nossa pátria à juventude de todas as Américas, fazendo votos pela vitória ampla
e final dos princípios invioláveis da democracia, da paz e da liberdade, neste hemisfério, numa
concepção de vida social sem preconceitos de raças, ódios religiosos ou minorias de qualquer
natureza” ( Poerner, 2004, p. 127).

A discussão sobre os temas nacionais ganhou grande destaque neste congresso, como por
exemplo, a siderurgia, o ensino de sociologia em remédio aos “perigos de ensinamentos
reacionários”, Ensino Rural, a difusão da cultura e o problema do livro no Brasil etc., etc.

Por fim, no 2º congresso, a UNE conseguiu se estabelecer, definitivamente, entidade oficial


máxima de representação dos estudantes e o seu Conselho Nacional como o órgão máximo de
deliberação dos estudantes no Brasil, tudo aprovado em seus estatutos. A nova entidade
instalou sua sede na Casa do Estudante do Brasil.

2.3 O rompimento com a casa do Estudante

A casa do Estudante do Brasil foi fundada em 13 de agosto de 1929, por um grupo de


universitários cariocas que teve sua primeira diretoria eleita pelos representantes das escolas
que formavam a antiga Federação acadêmica do Rio de Janeiro, convocada pelo CACO – Centro
Acadêmico Cândido de Oliveira -, presidido por Letelba Brito. Presidida por Ana Amélia de
Queirós Carneiro de Mendonça, essa diretoria organizava recitais, quermesses e torneios
esportivos, sendo politicamente inócua e inofensiva, na base de eleições de rainha dos
estudantes (Poerner, 2004, p. 132). De acordo com os Relatórios da União Nacional dos
Estudantes de 1940, uma dessas disputas levou Ana Amélia à presidência:

“Era forte concorrente Violeta Coelho Neto de Freitas. Por um golpe, que se atribui a Pascoal,
coroou-se, no Teatro Municipal, sob as vaias dos estudantes do Colégio Pedro II, fãs de Violeta,
a sra. Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça, poetisa e declamadora, já escolhida, nos
salões, Rainha da Primavera de 1929. Pascoal Carlos Magno tinha sido o seu mais ardente
partidário. Coroada rainha dos estudantes, o nome da poetisa estava indicado para cartaz da
campanha. E ela foi feita presidente da Comissão Central da Casa do Estudante” (p.123).

Essa estrutura de poder interno, com o “reinado” de Ana Amélia, certamente, não trazia as
simpatias dos estudantes, onde, inclusive, os representantes dos diretórios acadêmicos se
achavam em permanente minoria no conselho consultivo e patrimonial. Disso, motivaram-se os
ciúmes pelo sucesso da UNE entre o meio estudantil devido sua estrutura democrática, cujos
métodos de Ana Amélia eram assim descritos:

“(...) O seu prestígio social (de Ana Amélia) lhe permite acenar com empregos. Assim, consegue
encontrar, muito embora raramente, quem se torne um fã integral, um instrumento de seus
caprichos, vaidades e pretensões na vida estudantil brasileira. Entre esses poucos, há os
necessitados que recebem auxílio da fundação a troco de vassalagem; há um ou dois satélites,
perpétuos como ela, que, para continuarem estudantes, deixam de comparecer aos exames,
vivem à sua sombra, medíocres e maus estudantes, ou os seus secretários, sempre bem pagos.
Até 1937, um desses cargos era preenchido por uma alemã, que mal sabia falar português, tida
como o terror dos estudantes que frequentavam a Casa do Estudante do Brasil, de nome Dóris
Dreyer, com quem a sra. Ana Amélia se comprazia em falar alemão, língua de sua predileção”
(Relatórios da União Nacional dos Estudantes, 1940, p. 126).
Com essas características problemáticas da estrutura interna da Casa do Estudante e a
personalidade difícil de Ana Amélia, e, além disso, a falta de dinheiro da UNE, não era possível
aceitar de bom grado, as ameaças crescentes de hegemonia da Casa do Estudante pela UNE. A
casa do estudante recebia subvenções, através do decreto nº 20.559, do governo central, além
da subvenção anual do ministério da educação. Afora isso, havia as doações de grandes
empresários, como Gustavo Mutzenbeck, que doou um prédio na Rua Riachuelo, 327, utilizado
como sede e residência estudantil.

Contraditoriamente a isso, talvez, não haveria a possibilidade de fundação da UNE sem a


preexistência da Casa do estudante com todo o seu aparato financeiro e burocrático para
sustentar a fundação de uma entidade nacional. E, outro fator contava à época: as pretensões
da Casa do Estudante em se tornar entidade nacional para lograr filiação às organizações
estudantis internacionais como a Confédération Internacionale des Étudients, em Bruxelas.
Partindo-se desse corolário, é de se entender porque a UNE não poderia fugir do controle da
Casa do Estudante, nos dizeres de Poerner, era inadmissível que a “obra da qual se sentia autora
se rebelasse contra a sua pretensa criadora”.

No Congresso da UNE em 1938, os Relatórios da UNE acusam sra. Ana Amélia de tentativa de
golpe para canalizar na CEB – Casa do Estudante do Brasil – a representação estudantil nacional,
e eis o estopim para o rompimento da UNE com a CEB:

“Nas vésperas da instalação do Congresso (1938), a presidente da CEB nenhuma providência


efetiva tinha tomado para a sua realização. Os delegados estudantis chegaram, e sob mil
desculpas, à última hora, ela os hospedou em alguns colégios, onde ficaram a míngua de todo o
conforto, em camas sem lençol, sem banho e sem café da manhã...Nas últimas sessões do
Congresso, a rainha apareceu para dar o seu golpe. Em tese apresentada, que poderia ser,
inicialmente, refutada, dada a sua qualidade de não-estudante, sustentou que a União Nacional
dos Estudantes do Brasil já tinha sido fundada por ela e pediu que fosse ratificada nos moldes
em que pretendia. Isto é: a Casa do Estudante do Brasil seria a União Nacional dos Estudantes
mencionado nos estatuto dessa fundação – mero órgão opinativo... Apanhado de surpresa,
embora, o Congresso percebeu o jogo e reagiu... Quando se tratou da eleição da diretoria da
UNE, recém-organizada, tentou (Ana Amélia) um segundo golpe, mas foi desmascarada e
vencida... Os diretores da UNE instalaram-se na Casa do Estudante do Brasil e lutaram por levar
à execução o programa aprovado. Mas, ficaram acuados pelas providências humilhantes que
tomou a sra. Ana Amélia que diziam serem eles apenas tolerados ali. A sede da UNE, que deveria
ser toda a Casa do Estudante, ficaria limitada à pior de suas dependências – uma estreita salinha.
Ausentes por três dias, de férias, quando voltaram, os diretores da UNE encontraram a própria
salinha, por ordem do sr. Miguel Elias Abu Mehry, secretário da Casa do Estudante e pessoa de
confiança da sra. Ana Amélia, transformada em depósito de coisas velhas...” (p.129-131)

Outras questões botaram lenha na fogueira com a casa do estudante do Brasil, como por
exemplo, a dissensão em torno da representação da UNE na Confederação Internacional dos
Estudantes, em Zurique, da delegação atlética estudantil aos jogos universitários em Mônaco,
bem como a profissionalização do Teatro do Estudante pelo cônsul Pascoal Carlos Magno.
Também, o caráter assistencialista e governamental da CEB entrara em choque com o tom cada
vez mais antifascista dentro da UNE, culminou com o despejo violento da UNE nas dependências
da CEB.
3. A UNE no Estado Novo e o combate ao nazi-fascismo

A campanha da UNE contra os países alinhados ao nazi-fascismo ocorre entre 1942 e 1945 e se
mistura com os anseios pela redemocratização brasileira. O presidente da UNE neste período é
o estudante da Escola Politécnica do Rio, Hélio de Almeida, futuro ministro da Viação e Obras
Públicas do governo João Goulart.

Em condições materiais muito precárias, a UNE se utiliza muito da estrutura material e espaço
físico do DCE – Diretório Central dos Estudantes – da Universidade do Brasil, atualmente UFRJ,
na qual o próprio Hélio Almeida havia sido presidente, para as suas reuniões e campanhas. Nesse
período, havia nos círculos culturais intensas campanhas a favor dos países do Eixo. Eram muitos
os convites para intercâmbio cultural, pelas embaixadas da Alemanha, Japão e Itália, para que
se conhecesse o regime político e ideológico do nazi-fascismo. Ocorreram inciativas também
pelas embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha para a criação de associações culturais
do tipo Brasil-EUA, para o mesmo intercâmbio, iniciativa essa tomada pelos principais centros
acadêmicos e diretórios, em São Paulo, por exemplo. Neste período também era notória a
influência ideológica do fascismo entre as altas patentes militares, e a simpatia destes pelos
países do Eixo, que, sem delongas, davam condecorações militares desses países a esses
militares.

Nesse quesito, a UNE e o seu movimento estudantil de base jogaram um papel preponderante
na contra-ofensiva da propaganda totalitárias dos países do eixo feitos no Brasil. Eram intensas
as relações do corpo diplomático chileno, britânico, mexicano e americano com o movimento
estudantil brasileiro para enfrentar o nazi-fascismo. No corpo diplomático brasileiro, o chanceler
Osvaldo Aranha, também contrário ao alinhamento do Brasil aos países do Eixo, era meio que o
para-raios da juventude, que possuíam sua confiança.

Nesse ambiente de disputa política sobre o posicionamento do Brasil na geopolítica mundial,


que, em 11 de junho de 1942, o presidente Getúlio Vargas, a bordo de um cruzador brasileiro,
sinalizou que via com bons olhos a chamada teoria do espaço vital, ao reconhecer – como
pretendiam Hitler e Mussolini – que “os povos fortes têm direito a buscar um lugar ao sol”
(Poerner, 2004, p.146).

3.1 A primeira grande passeata contra o alinhamento do Brasil aos países do Eixo

A declaração de Getúlio Vargas foi o estopim para a movimentação de apoio das embaixadas
contrárias ao Eixo e do próprio chanceler Osvaldo Aranha às ações de rua, lideradas pela UNE e
o movimento estudantil para dizer não à Hitler-Mussolini-Hiroito. Ocorreram comícios
estudantis nas escolas superiores do Brasil nas escadarias do Teatro Municipal, Largo da Carioca,
Largo de São Francisco em São Paulo, bem como nas mediações do Itamarati, em apoio à
Osvaldo Aranha. Também esse movimento empolgou professores das faculdades de Direito,
Medicina e Engenharia de São Paulo, Niterói e Recife, da Faculdade Nacional de Direito,
Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, Escola Nacional de Engenharia e na Fluminense de
Medicina. Em outros estados ocorreram apoios semelhantes como no Rio Grande do Sul, Pará,
Minas Gerais e Paraná.

Tal impasse de Vargas entre Osvaldo Aranha com apoio da opinião pública e, do outro lado, o
General Eurico Gaspar Dutra, favorável aos países do Eixo, e chefe do aparelho policial-militar
no Estado novo, estava empatado e espremido entre as duas tendências contraditórias no seio
de seu governo.
O desempate foi dado pelos estudantes na convocação de uma grande passeata no dia 4 de
julho de 1942, aniversário da independência dos Estados Unidos, data escolhida
intencionalmente para fortalecer a posição dos Estados Unidos como possível país aliado do
Brasil na guerra, e em sua solidariedade. Filinto Müller, à época delegado-chefe do DOPS –
Departamento da Ordem Política e Social, uma espécie de polícia política da época-, simpático
ao nazi-fascismo, proíbe a realização do ato no Distrito Federal, ameaçando com violência
policial quem ousasse contrariá-lo.

Apesar das ameaças, o ato teve apelo público e o apoio da Câmara, do Senado, da imprensa em
que pese o controle repressivo de censura do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda,
e foi realizado com sucesso no Distrito Federal, onde, na Praça Mauá, concentraram-se mais de
mil estudantes pedindo para que o Brasil declarasse guerra aos países do Eixo.

O torpedeamento dos navios brasileiros à costa do Nordeste por submarinos alemães, fizera a
balança pender ainda mais, do ponto de vista da opinião pública contra as potências do Eixo.
Daí, acirrou-se mais ainda os clamores e os protestos públicos contra o nazi-fascismo, pendendo,
inclusive, entre os meios militares, de que era necessário aliar-se aos países liderados pela
Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos.

Como conclusão disso, a mudança da opinião pública acerca da guerra, bem como a mudança
de opinião de setores do estado brasileiro, como os militares e a imprensa, se devem à
manifestações estudantis como do dia 4 de julho, sendo, portanto, de seu mérito político a
conflagração dessa mudança de opinião que estava num impasse e dividida no país.

3.2 Ocupação do clube Germânia e a nova sede da UNE

Por Decreto-Lei, decorrente da pressão política contra os países do Eixo, o Estado Novo confisca
os bens das entidades e estrangeiros dos países do Eixo no Brasil, especialmente as entidades
que promoviam atividades simpáticas ou de solidariedade ao nazifascismo. Tais entidades, além
do confisco, foram obrigadas a mudarem seus títulos, nomes e símbolos.

Dessa decisão, decorreu o fechamento do clube Germânia, localizada na Praia do Flamengo,


132. O presidente da UNE, Paes Leme, além do presidente do DCE da Universidade do Brasil,
Airton Diniz e José Gomes Talarico, presidente da CBDU – Confederação Brasileira do Desporto
Universitário – encaminharam petição ao presidente Vargas, solicitando cessão do edifício do
antigo Clube, para instalação das respectivas entidades. Entregue a petição diretamente ao
chefe do governo, a petição teve despacho favorável, sendo que a regularização de sua entrega
fosse executada pelo ministério da educação. O ministro da Educação, Gustavo Capanema,
porém, expressando dúvidas quanto a execução imediata do despacho, não o fez de prontidão,
pois achava necessário o prévio tombamento do imóvel por parte da União, e o levantamento
dos bens nele existentes. O pano de fundo, na verdade era de que vários órgãos do serviço
federal queriam àquele prédio, o que deixou a UNE e os universitários em alerta (Poerner, 2004,
p.150).

No dia 18 de agosto de 1942, os estudantes ocupam a sede do antigo clube, e ali ficam para
estabelecer o local como verdadeiro QG – Quartel General – do antifascismo. A ocupação
aconteceu de forma exótica. Com uma concentração de estudantes no Praia Bar, que fica ao
lado da sede do clube, os estudantes solicitam aos funcionários que o guardavam, uma visita
técnica para vistoria do prédio. Com a entrada dos mesmos, o prédio foi ocupado: o primeiro
andar ficou com a UNE; o segundo andar com a CBDU; e o andar térreo ficou com o DCE da
Universidade do Brasil. Paes Leme, Wagner Cavalcanti, Hélio de Almeida, Paulo Silveira, Aitron
Diniz, Euclides Aranha, Luís Aranha Maciel, Talarico e outras lideranças do M.E enviaram
comunicado à Capanema, que, mediante o despacho presidencial, haviam ocupado o prédio
(Poerner, 2004, p. 150). O ministro, dias depois, apenas se limitou a fazer levantamento dos
bens ali existentes.

Portanto, a UNE agora possuía sede e seus objetivos estavam assim designados conforme
matéria do jornal Correio da Manhã, onde reafirmava que a UNE tinha os “propósitos de
prosseguir, decisivamente na campanha cívica e patriótica contra o nazismo, contra a quinta-
coluna, contra os inimigos do Brasil nesta hora de perigo” e que tinha “outra campanha, esta de
proporções maiores e mais duráveis, a saber, a campanha pela União Sagrada dos brasileiros,
para que a nossa pátria, neste momento, possa formar, toda ela, não propriamente um povo,
mas, na verdade, um exército” (Reportagem seriada Praia do Flamengo, 132, capítulo 1 – UNE
tomou de Hitler casa que agora perdeu – Correio da Manhã, 22 ago. 1964)

3.3 A UNE no Estado novo de Getúlio Vargas

Com o alinhamento do Estado Novo contra o nazi-fascismo, ocorrera uma trégua dos estudantes
universitários com as questões inerentes a redemocratização política do país. Era a unidade
contra o perigo mundial representado pelos países do Eixo. Essa trégua fora rompida apenas em
1943, por estudantes liderados pelo XI de Agosto, que exigia no dia 10 de novembro do mesmo
ano convocação de eleições, conforme havia prometido Vargas em 1937, e que não foi
cumprido. Conhecida como a passeata do silêncio, ela foi reprimida violentamente pela polícia
que ocasionou a morte do estudante Jaime da Silva Teles.

Mesmo com a gravidade desse fato, o movimento estudantil tinha clareza e maturidade para
entender que era necessária a trégua, por conta da declaração de guerra ao Eixo, e que a UNE
era expoente dessa unidade nacional, inclusive com o governo. A UNE percorreu o Brasil para
arregimentar voluntários ao primeiro regimento que iria ao front na Itália. Destacam-se entre
os voluntários alistados Augusto Vilas-Boas, Hélio Silva, Salomão Malina, condecorado por atos
de bravura em Montese, na Itália.

Com a vitória dos Aliados no plano externo, volta-se o movimento estudantil para as discussões
do quadro nacional, especialmente motivadas com as campanhas pela anistia política. No dia 5
de março de 1945, o movimento estudantil realizou um comício de pró-candidatura do
brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República. Tal ato teve repressão violenta da polícia,
que ocasionou a morte de Demócrito de Souza Filho, 1º secretário da UEP – União dos
Estudantes de Pernambuco, que expirou ali mesmo, no palanque onde discursava (Poerner,
2004, p.161). Com o jovem cadáver, rompeu-se a trégua entre os estudantes e a ditadura Vargas.

A UNE convoca em todo o país os estudantes para se oporem a chamada “união nacional” que
gravitava em Vargas. No dia 8 de março a UNE realiza o seu primeiro ato de oposição à Getúlio
Vargas, encerrando assim, um ciclo que havia começado 2 anos atrás com a ocupação do prédio
do clube Germânia. Logo depois, o governo decretou anistia. E na UNE, por fruto do fim do
Estado Novo, a UDN – União Democrática Nacional, partido opositor a Vargas, surgido após o
fim do Estado Novo – é o partido que ganha a presidência da entidade através do estudante
udenista José Bonifácio Coutinho Nogueira. Nesse período, os estudantes udenistas não eram
reacionários, apenas divergiam do apoio do campo da esquerda à continuidade de Vargas no
poder.
3.4 A Campanha do “Petróleo é Nosso”

A campanha do “Petróleo é nosso” surge em 1947, em pleno governo Dutra, sob a gestão do
presidente da UNE, Roberto Gusmão. A campanha ganha notoriedade nacional e prossegue
entre idas e vindas até 1953, com a aprovação da Lei nº 2004, do então presidente eleito Getúlio
Vargas, que cria a Petrobrás, empresa estatal de petróleo e estabelece o monopólio de
exploração deste pelo estado brasileiro. O movimento estudantil da época foi bastante
influenciado pelo escritor Monteiro Lobato, que defendia o progresso e o desenvolvimento
nacional. Ele exercia ampla militância com palestras, conferências e artigos à imprensa, onde
defendia o monopólio estatal do petróleo. Em seu livro infantil, o Poço de Visconde, publicado
em 1937, as personagens do sítio do Pica-pau Amarelo descobrem petróleo no sítio. E a
personagem Visconde de Sabugosa orienta a perfuração do primeiro poço de petróleo no Brasil
– o Caraminguá nº 1 – onde enfrenta resistência dos trustes estrangeiros (Araújo, 2007, p. 63):

“Era o petróleo afinal! Era o jorro de petróleo salvador do Brasil, que se levantava numa coluna
magnífica até 40 metros para o céu. Lá fazia uma curva de repuxo na direção do vento e caía sob
a forma de chuveiro forte. E como aconteceu que Dona Benta, Tia Nastácia e os meninos
estivessem na direção do vento, foram colhidos pela chuva de óleo, ficando completamente
empapados...”14

O escritor morre em 1948, ano em que a UNE criava a Comissão Estudantil em defesa do
Petróleo. Segundo Dyneas Aguiar, militante secundarista à época, e depois, presidente da União
Paulista dos Estudantes Secundaristas – UPES, e membro do PCB – Partido Comunista do Brasil,
o escritor Monteiro Lobato foi fundamental para essa campanha:

“Foi um movimento muito amplo, em que o partido e as forças de esquerda desempenharam um


papel fundamental. Monteiro Lobato, pouco antes de falecer, ingressou no partido. E, na
verdade, Monteiro Lobato influenciou o partido a se envolver nessa luta em defesa do petróleo.
A lei foi para o Congresso. Foi uma batalha muito difícil dentro do Congresso, porque lá as forças
reacionárias e os entreguistas não queriam aceitar de jeito nenhum o monopólio estatal do
petróleo. O movimento estudantil também teve um papel importante nisso, nas manifestações
públicas, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Eu me lembro
que nós inauguramos uma torre de petróleo de madeira, simbolizando a luta pelo petróleo”15.

Essa fase da campanha do “Petróleo é nosso” é a fase da UNE dirigida por quadros estudantis
do PSB – Partido Socialista Brasileiro. Vale frisar que além da Campanha do monopólio estatal
do petróleo, foi, sob a vigência dos socialistas, que a UNE obteve a gratuidade do ensino público
universitário (Poerner, 2004, p.166).

Em 1950, quando Getúlio é eleito e empossado como presidente da República, a UNE está sob
posse do movimento estudantil direitista, liderado por Paulo Egydio Martins, também da UDN,
e, alguns anos mais tarde, Ministro do governo Castelo Branco. Nesse mesmo ano, após a
aprovação da lei do monopólio estatal do petróleo, a UDN conspirava para a derrubada de
Getúlio Vargas da presidência. O presidente da UNE à época, também udenista, Cunha Neto, foi
instado a colaborar com a conspiração tramada contra Vargas. Segundo Poerner, sua
honestidade e princípios fizeram-no perceber em 22 dias a manobra liderada por seu partido,
certos setores do próprio governo, polícia etc., para desviá-lo do caminho autêntico que se
deveria ter no movimento estudantil. Ligando entre si os fatos, Cunha Neto se recusou a apoiar
a conspiração, alegando que a UNE não poderia atuar em golpes de Estado. Com esse gesto,
Cunha Neto ganha apoio dos setores progressistas e perde apoio da UDN e dos setores
reacionários do movimento estudantil.
4 Entrada da UNE na turbulenta década de 60

Em 1961, inicia a hegemonia católica no movimento estudantil universitário através da JUC –


Juventude Universitária Católica, onde elege no 24º Congresso da UNE, em Niterói, o estudante
da PUC de Goiás, Aldo Arantes, à presidência da entidade. Para se entender a JUC, é necessário
compreender o período político da Igreja na época. Desde a década de 30 existia um movimento
estimulado pela encíclica papal Rerum Novarum de Leão XIII, do final do século XIX, que exigia
uma nova postura social da Igreja e denunciava os aspectos brutais do capitalismo (Araújo, 2007,
p.96). No Brasil, existia uma organização nacional da Igreja conhecida como Ação Católica.
Sobretudo os jovens eram a preocupação da Ação Católica que organizou internamente
diferentes grupos de jovens assim divididos: Juventude Agrária Católica (JAC), Juventude
Estudantil Católica (JEC), Juventude Operária Católica (JOC) e, por fim, a JUC. Nos anos 50 se
desenvolve com força uma corrente de esquerda dentro da JUC, com forte presença em Belo
Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador. Segundo Aldo Arantes:

“No congresso seguinte, que é o congresso de Niterói de Julho de 1961, eu termino sendo eleito
presidente da UNE com um fato marcante na história do movimento estudantil, é que a esquerda
da JUC assume a direção do movimento estudantil com a minha presença. A partir daí, durante
muitos anos, a JUC e, posteriormente, a Ação Popular e, na continuidade, o PCdoB (Partido
Comunista do Brasil) assumem durante vários anos seguidos a hegemonia do movimento
estudantil universitário”15.

15 dias após o congresso, o cosmonauta russo Yuri Gagarin, primeiro homem a ir ao espaço, em
visita ao presidente Jânio Quadros, no Brasil, é convidado pelo Aldo para visitar a sede da UNE,
e convite no qual é aceito. O astronauta afirmou:

“Quero transmitir a vocês a mensagem de simpatia dos estudantes soviéticos. Até bem pouco
tempo eu também era estudante, e agora continuo a estudar. Daí a minha grande alegria em
poder dirigir-me a vocês estudantes brasileiros, que fazem parte da valorosa e combativa
juventude do Brasil”17.

4.1 A Renúncia de Jânio Quadros e a campanha da Legalidade da UNE em 1961

Jânio Quadros foi o primeiro presidente do Brasil, após a transferência do Distrito Federal para
a recém-nascida Brasília. Ex-governador de São Paulo eleito à presidência do Brasil pela UDN,
era essencialmente um governo conservador, principalmente na política econômica, mas
contrastada por sua política internacional mais independente do alinhamento norte-americano,
à exemplo da condecoração do revolucionário argentino Ernesto Guevara e do astronauta
soviético Yuri Gagarin. Por exemplo, na conferência de Punta del Leste, Uruguai, a delegação
brasileira se opôs firmemente a intervenção americana em Cuba. Isso não garantiu base de
apoio parlamentar e desencadeou forte reação da direita, especialmente nas Forças Armadas
(Arantes, 2013, p.59).

Aldo Arantes, logo após sua posse na UNE, teve uma audiência com o presidente Jânio Quadros,
que ele relata:

(...) tive uma audiência com o presidente Jânio Quadros para comunica-lo da eleição da nova
diretoria da entidade e fazer reinvindicações. Antes de entrar para a audiência, percebi que os
ministros Sylvio Heck, da Marinha; Odylio Denys, da Guerra; e Gabriel Grum Moss, da
Aeronáutica, aguardavam na antessala presidencial para um despacho com o presidente. No
entanto, fomos chamados ao gabinete em primeiro lugar – sinal de que a crise estava instalada.
Ao entrar, nos deparamos com o presidente diante de um telex. Lá ficou por algum tempo sem
sem sequer nos fitar. E nós permanecemos de pé sem saber o que fazer. Algum tempo depois,
ele dirigiu-se a mim dizendo ‘presidente, queira se sentar’. Fiquei surpreso com o tratamento,
pensando que ele poderia ter se dirigido a outra pessoa. Ao constatar que era comigo, sentei-
me. Na continuidade, ele afirmou que, naquele dia abonara as faltas dos estudantes que
participaram do I Seminário Nacional de Reforma Universitária. Dirigi-me a Jânio, dizendo:
‘Presidente, venho trazer ao senhor o ofício comunicando a eleição da nova diretoria da UNE’.
De imediato, ele interveio: ‘Nos Estados Unidos, França e nos demais países do mundo trata-se
um presidente por excelência’. Na conversa, continuei misturando senhor com excelência, num
indicativo claro de que a juventude não se atém muito a essas formalidades. (...) Ao sairmos, o
chefe da Casa Militar comentou que havia sido a mais longa audiência concedida pelo presidente
Jânio. (...) Três dias depois, numa loja de Goiânia, comprando um terno com meu pai, ouvi a
notícia da renúncia do presidente Jânio e segui imediatamente para o Rio”18.

A renúncia de Jânio Quadros aconteceu em Agosto de 1961.

1-o poder jovem, pg. 40.

2-idem, pg. 54.

3-soldados da pátria, pg. 61.

4-o poder jovem, pg. 73.

5- Idem, pg. 81.

6- Ibidem, pg. 89.

7 e 8 - Ibidem, pg. 92.

9 e 10 - Ibidem, pg. 93 e 94.

11 e 12– o poder jovem, pg 104.

13 -Idem p. 124

14 – Memórias Estudantis, p. 67

15 – Idem, p. 66

16 – Ibidem, p. 98

17- Alma em fogo, p.58.

18- Idem, p.60

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