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Introdução

Não sabes que antigamente o céu e os elementos eram uma coisa só, e foram separados um
do outro por artificio divino, para que pudessem dar origem a ti e a todas as coisas? Se souberes
disso, o resto não pode te escapar. Portanto, em toda geração é necessária uma separação desse
tipo.

... Nunca obterás dos outros o Um que buscas sem primeiro fazer de ti mesmo uma só coisa...

Gerhard Dom

Os príncipes e as princesas, como toda criança sabe, sempre vivem felizes para sempre. Apesar das feitiçarias, das
madrastas malvadas, dos ogres, dos gigantes e dos anões malévolos, o amor triunfa, o mal é vencido, e o feliz casal
desaparece de mãos dadas na névoa da imaginação, sem nenhuma alusão a varas de família ou pagamento de pensão
anuviando o para-sempre.

O processo de "crescimento, como toda criança aprende, com sua crescente maturidade e capacidade de encarar "a
vida como ela é", natural mente nos ensina de outra forma. Os príncipes e as princesas, junto com Papai Noel, o coelhinho
da Páscoa, os amigos imaginários e outras relíquias da vida de fantasia da infância, não são material adequado para os
adultos.

Começamos a aprender razoavelmente cedo na vida que ninguém vive feliz para sempre; precisamos fazer os
relacionamentos "darem certo", e isso é uma questão de responsabilidade, compromisso, disciplina, obrigação, auto-
sacrifício, comunicação e outros termos usados com tanta freqüência que seu significado deveria ser mais ou menos claro.
Mas, de alguma forma, na experiência de viver, esses termos se tomam cada vez mais ambíguos quando percebemos que
o outro, esse estranho que esta na nossa frente, seja marido ou esposa, filho ou amante, amigo ou professor, sócio ou
inimigo, ainda é um estranho.

O relacionamento é um aspecto fundamental da vida. É arquetípico, o que significa que é uma experiência que
impregna a estrutura básica não apenas da psique humana mas do universo em sua totalidade. Em ultima analise, tudo é
construído a partir do relacionamento, pois não teríamos consciência de nenhum aspecto da vida se não o
reconhecessemos através do que cada um deles tem de diferente de todos os outros aspectos. Reconhecemos o dia porque
existe a noite, e o relacionamento entre ambos de fine e identifica cada um deles. Se considerarmos ao menos um pouco
essa idéia. tornar-se-a cada vez mais evidente, que nos, seres humanos, só podemos nos conceber como indivíduos por
meio da comparação com aquilo que não somos.

Por uma série de razões, algumas obvias e algumas muito mais sutis, hoje em dia existe uma ênfase maior sobre a
experiência do relaciona mento do que houve durante outros períodos de nossa historia. Os relacionamentos sempre foram
um aspecto importante da vida, mas nem sempre se chamaram relacionamentos, e nem sempre se lhes atribuíram outros
propósitos além daqueles óbvios: alivio da solidão, satisfação do desejo, continuação da espécie, proteção do indivíduo e
da sociedade, experiência do amor (uma palavra completamente ambígua, como todo adulto sabe), promoção de ganhos
materiais. Todas essas razões bastante validas para que façamos o esforço – freqüentemente gratificante, e com igual
freqüência doloroso – necessário para conviver com outros seres humanos. Entretanto, principalmente com o trabalho da
psicologia durante os últimos setenta e cinco anos, tornou-se evidente que os relacionamentos não são apenas um meio de
se atingir a satisfação pessoal de um tipo ou outro. São também necessários para o crescimento da consciência e da
compreensão que o indivíduo tem de si mesmo. A pessoa não sabe que aparência tem. até se ver refletida no espelho, e
esta simples verdade se aplica não apenas a realidade física mas também a realidade da psique.

Inúmeros escritos esotéricos e psicológicos nos dizem que o homem esta para ingressar numa nova era. A palavra
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alemã Zeitgeist se refere adequadamente a este conceito, embora sua tradução não seja fácil. De uma maneira muito
geral, significa o "espirito da época", um novo vento que sopra através de uma era e anuncia alterações significativas e
dramáticas na consciência humana. Poderíamos dizer que as grandes mudanças ocorridas na perspectiva do homem, na
época da Renascença, na religião, na ciência, nas artes e em todas as áreas da atividade humana foram manifestações de
um Zeitgeist. Algo novo nascia, permitindo ao indivíduo ver um tipo diferente de realidade ou, mais precisamente, ver uma
porção da realidade maior do que ele percebia antes. As mudanças na consciência ocorridas na aurora da era crista
também podem ser consideradas manifestações de um Zeitgeist, pois é característico do inicio de uma nova era a morte dos
velhos deuses e o nascimento de novos. Aparentemente, estamos vivenciando outro Zeitgeist neste período histórico,
embora seus vagos contornos só sejam visíveis agora para aqueles que estudaram a linguagem do simbolismo.

É possível que esse redirecionamento da consciência, ao qual a astrologia deu o nome simbólico de Era de Aquário,
tenha, como um de seus motivos centrais, o esforço no sentido do conhecimento interior – um conhecimento que viria
complementar a ênfase sobre o conhecimento exterior, que já nos é muito familiar. O espirito da época atual parece estar
profundamente preocupado com a autocompreensão e com a procura do sentido. E embora se possa atribuir essa procura a
mudanças econômicas e políticas que inevitavelmente criam tensão, estresse e autoquestionamento, também pode ser
possível encarar essas duas tendências convergentes – o tumulto sócio econômico e o que pode ser descrito simplesmente
como uma busca espiritual – como acontecimentos sincrônicos. Isto é, um não precisa ser a causa do outro, mas ambos
podem ser sintomáticos de uma profunda mudança interior ocorrendo na psique coletiva.

Pode parecer que questões de tal peso, como a transformação da consciência humana e a entrada numa nova era,
tenham pouco a ver com os transtornos e problemas extremamente subjetivos que levam tantas pessoas a buscar
aconselhamento para suas dificuldades de relacionamento.

Se uma mulher deixa o marido por causa de um amante, ou se uma mulher esta lutando com sentimentos de
inadequação sexual que mutilam seu potencial para um casamento satisfatório, pode parecer irrelevante a comunicação de
que há um Zeitgeist em curso. Entretanto, essa relevância existe. Ouvimos dizer, com freqüência suficiente, que as
estatísticas de divorcio estão em alta; que os valores e padrões morais consagrados pelo tempo e que pautaram nossos
relacionamentos por muitos séculos estão desmoronando e perdendo o sentido para as gerações mais jovens; que a atual
conduta sexual entrou por meandros sem paralelo mesmo no decadente Império Romano. Parece que alguma coisa
definitivamente esta acontecendo com nossos critérios de avaliação dos relacionamentos e também com as formas de
lidarmos com nossos problemas. Antigamente, sofríamos em silencio. Agora, entretanto, Há um constante aumento do
numero de obras publicadas, assim como de artigos em jornais e revistas, sobre as dificuldades de conviver com os outros.
Também há um constante aumento da atividade do aconselhamento conjugal, dos grupos e seminários de "movimento do
crescimento", e de analise e terapia individuais – todos tentando, entre outras coisas, lidar, com maior ou menor sucesso,
com as necessidades, desejos, conflitos, medos e aspirações de cada pessoa nos relacionamentos. Quase não é
necessário mencionar fenômenos tais como o "Movimento de Liberação das Mulheres" e o "Movimento Gay de Liberação",
cada um tentando enfrentar certos aspectos dos problemas dos relacionamentos, a sua maneira. Mesmo a controvérsia
sobre a educação sexual nas escolas é uma questão centrada no relacionamento, como também o é a questão do aborto.

Toda essa reavaliação dos relacionamentos é tanto parte de uma busca geral de valores mais significativos e de uma
maior compreensão da psique, como do surgimento mais surpreendente do interesse por antigos estudos esotéricos como
a astrologia, a alquimia e outras supostas esquisitices. Todos estes são aspectos da mesma busca, e, quanto mais cedo
percebermos isto, tanto maior seria nossa perspectiva no contexto mais amplo que está por trás de nossos problemas
pessoais.

A ciência, que tem dado a ultima palavra sobre a realidade por muito tempo, esta se surpreendendo ao se aproximar
o domínio do que costumava ser chamado estudos ocultos. Para o nosso assombro, pessoas com títulos respeitáveis nos
dizem que as plantas reagem a emoção humana e apreciam a musica; que o Sol a Lua e os planetas efetivamente parecem
emitir energias que afetam a vida humana; que nossa mente é capaz de proezas tais como a telepatia, a telecinese e a
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clarividência nos limites nos limites rigidamente controlados e monitorados do laboratório; e que Deus talvez esteja to vivo e
bem além de tudo, escondendo-se secretamente na matéria. A esta altura não é apenas a dogmática estreiteza mental, mas
também medo, o que mantém as pessoas agarradas seus velhos conceitos do que é real e racional, porque a própria ciência
está no umbral de um universo surpreendentemente semelhante ao mundo magico e misterioso dos contos de fadas.
Quando se acredita estar firmemente postado numa sólida rocha, é difícil descobrir que a rocha começou a mudar, a se
dissolver, a se transformar em outra coisa. Nesta nova paisagem na qual todos nos, gostando ou não dessa idéia, estamos
sendo lançados, precisamos desesperadamente de mapas. Temos bem poucos roteiros, pois estamos aprendendo, numa
velocidade alarmante, que na realidade conhecemos muito pouco da natureza humana.

Com seu nome atual, a psicologia é uma ciência muito nova, e é, sob muitos aspectos, primitiva e inexperiente como
tudo que esta na sua fase inicial. Entretanto, a psicologia é um dos poucos mapas confiáveis que temos, embora esteja
sendo feito no próprio processo de exploração. Contudo, a psicologia, no seu sentido mais profundo, existe há muito tempo
com outros nomes, o mais antigo dos quais talvez seja a astrologia.

Os psicólogos podem se surpreender com isso mais do que qualquer outra pessoa, mas nossa palavra psicologia
vem de duas palavras gregas – psique, que significa "alma", e logos, que significa "sabedoria" –, e o estudo da alma
humana pertenceu ao domínio da astrologia muito antes de pertencer a qualquer outro." Em alguns círculos, a ciência mais
antiga e a mais nova parecem estar moldando um casamento muito curioso. A astrologia ultimamente tem tido um
renascimento, embora seu valor real não esteja, no conceito popular, desvirtuado dos prognósticos mágicos do futuro, mas
na função muito mais importante de se tornar um instrumento imensamente poderoso para exploração da psique humana.

Embora a psicologia e a astrologia usem diferentes linguagens e métodos de pesquisa e aplicação, o objeto de sua
investigação é o mesmo, e as duas juntas são potencialmente muito fecundas. O produto dessa união ainda está para ser
plenamente reconhecido, mas constitui o objeto deste livro. E se considerarmos a idéia de que os relacionamentos são,
entre outras coisas, um caminho em direção a autodescoberta, é provável que a antiga sabedoria da astrologia e a moderna
percepção da psicologia profunda, juntas, possam dizer-nos alguma coisa sobre nossas formas de relacionamento.

A carta astrológica de nascimento corretamente levantada é um mapa simbólico da psique humana individual. Esse
mapa é como uma semente, pois contém em microcosmo os potenciais existentes no indivíduo e os períodos de sua vida
em que esses potenciais provavelmente serão concretizados. Embora a imagética da astrologia seja diferente da
terminologia mais precisa da psicologia, o mapa astrológico de nascimento pode ser comparado aos modelos da psique que
nos foram oferecidos por homens e gênio e percepção no campo psicológico, como C. G. Jung e Roberto Assagioli. Mas
modelos são apenas modelos, não realidade; também não são eitos para serem interpretados como realidade. Um modelo,
na verdade, é uma sugestão, uma inferência, uma lente através da qual, se olharmos cuidadosamente, podemos vislumbrar
o que não pode ser articulado em palavras ou expresso em conceitos. O coração de cada ser humano é um mistério, e a
essência da atração e repulsa entre indivíduos é igualmente um mistério, por mais que tentemos defini-la em termos
conceituais. Mas com mapas adequados, podemos ao menos começar a entender o mistério com o coração, mesmo que
não possamos apreende-lo com o intelecto.

Não faremos aqui qualquer tentativa de provar ou negar a validade da astrologia. Já existe uma série de excelentes
livros a disposição do investigador interessado, tratando especificamente de provas factuais sobre o assunto e, no fim deste
livro, é fornecida uma bibliografia completa. Cada um deve, no final das contas, formar sua própria opinião sobre a
astrologia, e não se pode formar uma opinião autêntica sem ter algum conhecimento do assunto e sem dispor de alguma
experiência além das concepções e falsas interpretações populares. A esta altura, já devemos ter aprendido que ,tais
concepções e interpretações são extremamente falíveis; não faz muito tempo, acreditávamos que a Terra fosse plana e
sustentada no céu por uma gigantesca tartaruga, e isso com aprovação total dos cientistas da época.

Diz o provérbio que o bolo se prova comendo, e a opinião só pode ser de terminada quando o indivíduo tem
experiência e conhecimento diretos, que o ajudam a cristalizar seu próprio juízo – não um juízo de segunda mão.
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Se este livro não é uma tentativa de justificar a astrologia, tampouco é um manual para a montagem do seu próprio
horóscopo, em parte porque isso implicaria um outro volume, em parte porque já existem muitas obras desse tipo
disponíveis. Todo o material astrológico apresentado aqui, portanto, é interpretativo e não mecânico, de modo que, para
usá-lo com o máximo proveito, o leitor deveria obter, por seus próprios esforços ou recorrendo a um profissional, um
horóscopo corretamente levantado para si e para as pessoas com as quais está envolvido.

Há muitas formas de encarar a realidade, e algumas são válidas para algumas pessoas e não para outras. É
perfeitamente possível que ninguém veja o todo, porque só podemos ver através da perspectiva de nossa própria coloração
psicológica. A realidade, portanto, é subjetiva mesmo para a maioria das pessoas "de mente aberta" ou "desprendidas".
Aprendemos recentemente que mesmo as partículas subatômicas podem alterar seu comportamento de acordo com o
observador, e que o antigamente seguro campo da matéria inanimada não oferece mais segurança como ultimo baluarte da
"realidade objetiva". E esse reconhecimento da parcialidade de nossa visão talvez seja o princípio da sabedoria.

Talvez seja mesmo a hora de tirar a poeira dos nossos velhos livros de contos de fadas, porque o trabalho de Jung
demonstrou que os contos de fadas, como os sonhos, não são o que aparentam. Há uma sabedoria nos mitos e contos de
fadas que fala a alguma coisa em nós que não é o intelecto. As razões desse fato nos levam a um confronto direto com a
realidade da psique inconsciente e do mundo dos símbolos. Se o conto de fadas nos diz que o príncipe e a princesa vivem
felizes para sempre, existe algum sentido nesse final, pois, como até uma criança sabe, os contos de fadas não pertencem
ao mundo comum e não devem ser assim considerados. Eles pertencem ao mundo do inconsciente e são simbólicos. Se o
conto de fadas nos diz que o príncipe, para conquistar a princesa, precisa desafiar o dragão, matar a bruxa má e destruir o
poder da madrasta perversa com a ajuda de seus úteis companheiros animais, isto também tem um significado, e podemos
aprender muito sobre os caminhos que estão abertos a nossa frente quando olhamos a saga do príncipe com olhos
diferentes. Os mitos e os contos de fadas se constituem em mais um mapa para o nosso pais desconhecido. Nas suas
descrições das vicissitudes e lutas do herói em busca de sua amada, espelham uma jornada interior que cada um de nos
precisa fazer para se tornar inteiro. E só quando reconhecemos a nossa própria inteireza e possível reconhecer o estranho,
o outro. Talvez só então possamos verdadeiramente começar a nos relacionar.

Talvez precisemos crescer para baixo, em vez de crescer para cima, para que possamos olhar a nossa assim
chamada realidade com os olhos de uma criança e reconhecer que a verdade pode existir no mundo da psique
independentemente de correlações materiais, "Encarar a vida como ela é" pode, na verdade, ser uma atitude que contém
tremenda arrogância e muito pouca sabedoria, já que nenhum de nós sabe, na realidade, o que a vida é; só sabemos que
aparência ela tem para nós. Nossas vidas tem exatamente tanto ou tão pouco sentido quanto nelas colocamos. Estamos
todos aparentemente sozinhos, mas se deve necessariamente ser assim, ou se a solidão deveria significar o que pensamos
que significa, é questionável.

A maioria de nós precisa ter a coragem de experimentar novas ferramentas, e faze-lo sem preconceito. Jung, como
médico e pesquisador, teve a coragem de aprender a astrologia e usa-la na sua exploração da psique. Se, graças ao seu
trabalho, existe qualquer validade na maior compreensão de nós mesmos que agora possuímos, faz sentido que tenhamos
a coragem de nós explorar através de ferramentas semelhantes – principalmente quando essas ferramentas podem nos
ajudar a viver vidas mais significativas e desfrutar de relacionamentos mais significativos. A saga do príncipe contém muitas
surpresas, e uma das maiores é a descoberta de que cada um de nós é simultaneamente o príncipe, o dragão, a madrasta
má, o animal útil e a amada também somos a saga e o contador da historia, tudo ao mesmo tempo.
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1 A Linguagem do Inconsciente
O mundo e o pensamento são apenas a espuma de ameaçadoras figuras
cósmicas; o sangue pulsa com seu vão; os pensamentos são acesos por seu fogo; e essas
imagens são os mitos.

Andrei Bely

Tudo que passa é elevado a dignidade da expressão; tudo que acontece é elevado a
dignidade do significado. Todas as coisas são ou símbolos ou parábolas.

Paul Claudel

A maioria de nós, que nos acreditamos indivíduos pensantes, gostamos de presumir que sabemos um bocado sobre
nós mesmos. Provavelmente sabemos, sob o ponto de vista de que podemos enumerar nossas virtudes e vícios, catalogar
nossos aspectos, "bons" e "maus" e avaliar nossos gostos e antipatias e objetivos. Mas mesmo um autoconceito de âmbito
tão limitado é grande demais para muita gente, que parece perambular pela vida desprovida de qualquer senso de identidade
além de um nome que não escolheu, um corpo criado sem o seu controle e um lugar na vida que geralmente é o resultado
da necessidade material, do condicionamento social e, aparentemente, do acaso.

Entretanto, mesmo se tomarmos um indivíduo que tem a perspicácia de se "conhecer" em termos comportamentais,
ocorre um fenômeno muito curioso. Peça a ele que se descreva e, se ele for honesto com você e com ele mesmo – uma
premissa bastante rara, para inicio de conversa –, pode ser que lhe faça um retrato bem abrangente de sua personalidade.

Mas peça a sua esposa para descreve-lo, e pode parecer que ela esta falando de outro indivíduo. Surgem traços de
personalidade que o próprio homem parece desconhecer totalmente; são-lhe atribuídos objetivos que são os menos
importantes de seus valores; muitas vezes as qualidades a ele atribuídas são diametralmente opostas aquelas que ele
acredita constituir sua própria identidade. A gente começa a imaginar quem está enganando quem. Pergunte a seus filhos o
que acham de você e vai obter uma descrição totalmente diferente; seus companheiros de trabalho trarão novas
informações; seus conhecidos vão descrever um outro homem. Podemos tentar essa simples investigação e, por meio dela,
verificar que o mais observador de nós, o mais introspectivo, vê apenas o que decide ver através da lente de sua própria
psique; e como nossos conceitos da realidade, tanto a nosso respeito como a respeito dos outros, são sempre vistos
através de lentes tingidas, é inevitável que saibamos muito menos a nosso respeito do que suspeitamos.

Precisamos admitir que o que esta mais próximo de nós é exatamente aquilo que conhecemos menos,
embora pareça ser o que conhecemos melhor.

A despeito do que qualquer pessoa tenha a dizer sobre as teorias de Freud sobre o inconsciente, não podemos
evitar o fato de que o indivíduo registra muito mais em sua psique do que é acessível as limitações de sua percepção ao
consciente. Quer sejamos realmente motivados por necessidades biológicos, Freud sugeriu, ou pela vontade do poder,
como Adler sugeriu, ou pelo impulso em direção a totalidade, como Jung sugeriu uma coisa é clara: geralmente não
percebemos nossas motivações mais profundas e, por causa desse grau de cegueira, dificilmente podemos ter percepção
das motivações de qualquer outra pessoa.

Os conceitos de consciente e inconsciente ao difíceis de explicar porque são energias vivas que, diferentemente dos
órgãos do corpo físico, não se prestam a classificação. Não obstante, a psique contém vasto campo de material oculto,
geralmente só comunicável através de canais normalmente rejeitados ou menosprezados. A maioria das pessoas não
entendem seus sonhos e freqüentemente não fazem nenhum esforço para lembrar-se deles, ou os consideram sem sentido;
as fantasias são consideradas infantis, a não ser as eróticas, e nesse caso são consideradas pecaminosas; as explosões
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emocionais são consideradas embaraçosas e disfarçadas com desculpas variando da má saúde as dificuldades de negócios.

Em termos de relacionamento, talvez, o mais importante mecanismo que possuímos para ver dentro da psique seja a
projeção. Muitas vezes, usamos essa palavra em relação ao cinema, e seu significado nesse contexto pode nós ajudar a
entende-lo também no sentido psicológico. Quando vemos uma imagem projetada em uma tela, olhamos a imagem e
respondemos a ela, em vez de examinar o filme ou a transparência dentro do projetor, que é a fonte real da imagem; também
não olhamos a luz dentro do projetor, que nos torna possível ver a imagem. Quando uma pessoa projeta alguma qualidade
inconsciente, existente dentro de si, em outra pessoa, esta reage a projeção como se pertencesse ao outro; não lhe ocorre
olhar em sua própria psique para descobrir a origem. Ela vai tratar a projeção como se existisse fora de si, e seu impacto
geralmente aciona uma alta carga emocional porque, na realidade, a pessoa está encarando o seu próprio ser inconsciente.

Esse mecanismo muito simples funciona sempre que temos qualquer reação emocional altamente carregada ou
irracional, positiva ou negativa, a outra pessoa. É trabalho para toda uma vida introjetar, reconhecer e trazer de volta para
nos essas qualidades inconscientes, de modo que possamos começar a distinguir os vagos contornos da identidade do
outro. E, com certeza, não nos aproximamos mais, porém nos distânciamos, quando formamos ou rompemos
relacionamentos de acordo com respostas baseadas em nossas próprias projeções.

A projeção psíquica é um dos fatos mais comuns da psicologia....

Simplesmente lhe damos outro nome, e normalmente negamos que seja nossa culpa. Tudo que
é inconsciente em nos, descobrimos no nosso vizinho, e o tratamos de acordo com isso .

Por que deveríamos atribuir aos outros o que nos pertence? É compreensível se considerarmos as qualidades "más".
Se não gosto de uma determinada característica minha, se de fato a sua admissão é tão dolorosa que ela permanece
inconsciente, essa minha parte não-admitida vai me atormentar no seu ímpeto pela expressão, parecendo me confrontar a
partir do exterior. É mais difícil entender por que deveríamos rejeitar qualidades positivas. Para tanto, é preciso aprender
algo a respeito da estrutura e das leis da psique – sempre lembrando que qualquer coisa que a psicologia tenha a dizer
sobre a psique é, na realidade, a psique falando a seu próprio respeito, o que toma impossível a "objetividade completa".

Podemos agora voltar ao nosso assunto da projeção.

O ego é o centro do campo da consciência de todo dia, racional; de forma muito simples, é o que eu sei – ou penso
que sei – que sou.

A consciência consiste primariamente no que sabemos, e no que sabemos que sabemos.

Para a maioria de nós, o ego é tudo que sabemos de nós mesmos, e enquanto ficamos nesse ponto e olhamos o
mundo, o mundo nos parece colorido pelo ponto de vista particular do ego. Qualquer pessoa que tenha uma visão diferente,
presumimos que seja teimosamente dotada de estreiteza mental, ou esteja deliberadamente mentindo, ou seja
possivelmente anormal ou louca.

O ego parece se desenvolver de acordo com determinadas linhas desde o nascimento. Se fossemos totalmente o
produto de nossa hereditariedade, de nossos condicionamento e meio ambiente, as crianças nascidas nas mesmas
circunstâncias seriam exatamente iguais psicologicamente – o que evidentemente não acontece.

A disposição individual já é um fator na infância; é inata, e não adquirida no decorrer da vida" .

A astrologia também sugere que o temperamento do indivíduo é inerente ao nascimento, e uma compreensão da
astrologia pode ser útil na percepção da natureza dessa semente que desabrocha no ego adulto.

Ela pode não apenas nos falar do eu que conhecemos, mas também do que não conhecemos simbolismo do mapa
de nascimento também reflete a tendência humana natural de experimentar e avaliar a vida através do ego, pois o
horóscopo é uma mandala que tem a Terra, e não o Sol, no seu centro. Ele mostra, em outras palavras, como a vida
aparece, e como provavelmente será experimentada, pela consciência individual, e não o que a vida verdadeiramente é.
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Na medida em que crescemos, Há muitas qualidades de nossa natureza que não são incorporadas ao ego em
desenvolvimento, embora, mesmo assim, nos pertençam. Essas coisas devem ter permissão para viver, mas podem ser
inaceitáveis para os pais, podem conflitar com doutrinas religiosas, violar padrões sociais ou, finalmente, mas não menos
importante, simplesmente conflitar com aquilo que o ego valoriza mais. Algumas dessas qualidades rejeitadas podem ser
"negativas" por as julgarmos destrutivas; algumas podem ser "positivas" e ter muito mais valor, individual e socialmente, do
que aquilo que o ego fez de si próprio. Com efeito, um indivíduo pode valorizar a mediocridade – sem perceber o que esta
fazendo – e sufocar dentro de si as sementes emergentes de unicidade e criatividade; ou sua auto-imagem pode ser
excessivamente modesta, sendo então as qualidades mais excepcionais relegadas ao inconsciente. Todas essas coisas
serão projetadas num objeto adequado.

O objeto de uma projeção não se limita a indivíduos. Pode ser uma organização, uma nação, uma ideologia ou um
tipo racial que se torna o foco para a projeção do lado escuro, não-admitido, da pessoa. Uma pessoa que se opõe com
violência e irracionalidade ao capitalismo pode estar projetando tão fortemente quanto aquela que seja igualmente violenta e
irracional em sua reação ao comunismo. A qualidade característica da projeção não é o ponto de vista, mas a intensidade e
a alta carga da reação. Pode-se ficar no meio de uma discussão entre duas pessoas e ouvir, com espanto, como uma acusa
a outra do que ambas estão fazendo. Quando se está de fora, isso é engraçado e ao mesmo tempo trágico, como pode
atestar a maioria dos conselheiros conjugais. Mas quando se está envolvido, sob o sortilégio do próprio mecanismo de
projeção, com o inconsciente despertado, fica-se absolutamente convencido da própria razão. Aceitar a dolorosa e
onipresente possibilidade de estar errado é desagradável, porque significa abrir mão de ilusões Há muito alimentadas sobre
nós próprios. Viver a vida sem essas ilusões requer coragem e um senso moral que não tem semelhança com o conceito
social comum de uma moralidade já estabelecida. Não é de surpreender que projetemos, porque apenas assim podemos
continuar a culpar os outros pela nossa dor, em vez de reconhecer que a psique contém tanto a sombra como a luz e que
nossa realidade é aquela que nós mesmos criamos. Entretanto, na projeção e na subsequente descoberta, jaz um veículo
imensamente importante pelo qual podemos chegar a conhecer o que esta oculto em nos e o que não vemos nos outros.

É comum focalizar a projeção numa tela que tem uma ligeira semelhança com a imagem projetada, embora seja
também comum a semelhança ser interpretada como identidade. A pessoa precisa ser um bom "gancho" para acomodar a
coisa de que queremos nos livrar; e, além disso, desejamos ser um pouco seletivos nos relacionamentos. (Aqui também,
como veremos, a astrologia fornece uma importante chave para o que possivelmente projetaremos e que tipo de indivíduo
provavelmente vamos escolher para honrar ou insultar, outorgando-lhe nossa projeção .) Mas, a despeito da semelhança
entre a tela e a imagem, elas nunca são iguais, e a projeção é quase sempre um gritante exagero de alguma característica
que, por si só, poderia estar harmoniosamente integrada na natureza da pessoa ou do outro.

Há certos aspectos desagradáveis da projeção que entram nos relacionamentos. Se uma pessoa é eternamente o
alvo das qualidades inconscientes de outra, e se carece do autoconhecimento para discernir o que esta acontecendo, com o
tempo ela vai começar a se assemelhar a projeção. Todos nós sabemos de situações aparentemente inexplicáveis nas
quais, por exemplo, uma mulher parece ter o azar de atrair uma parceria dolorosa atrás da outra. Todos os seus amantes
podem bater nela, embora não tenham um histórico de tal comportamento anterior; balançamos a cabeça tristemente e
dizemos algo a respeito da condição lamentável da mulher, nunca reconhecendo o conluio inconsciente que sua situação
implica. Através das nossas projeções, damos um jeito de extrair das outras pessoas qualidades que, de outra forma,
poderiam ter permanecido sementes que nunca brotariam; e nenhum de nós pode dizer que sua própria psique não contém
as mesmas possibilidades tanto para o bem como para o mal. Nenhum de nós pode julgar sementes. Mas, com a cuidadosa
irrigação e com a luz do Sol de nossas projeções, provocamos essas respostas uns nos outros, de uma forma que as vezes
parece uma possessão demoníaca.

O homem que acredita que as mulheres são devoradoras, manipuladoras e destrutivas, porque há alguma parte
inconsciente dele que contém essas qualidades, pode mascarar tudo isso debaixo de uma atitude consciente de atração
pelo sexo oposto; entretanto, pode ficar horrorizado ao descobrir que toda mulher com a qual se envolve acaba, no fim das
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contas, tentando devora-lo, manipulá-lo e destrui-lo. Pode acreditar que descobriu uma verdade geral sobre as mulheres. No
entanto, é possível que ele mesmo tenha provocado essas qualidades nas mulheres, que poderiam nunca tê-las
demonstrado de outra forma. Em outro relaciona mento, a mesma mulher poderia se comportar de uma maneira totalmente
diferente; e como a opinião coletiva do sexo masculino não é unanime a respeito da misoginia, podemos, seguramente,
abrigar algumas suspeitas sobre nosso pobre cavalheiro devorado.

Mas de quem é a culpa aqui? Podemos dizer que alguém é responsável pelo inconsciente? Não é mais realista e
mais caridoso admitir que não podemos controlar aquilo que ignoramos? Até um tribunal reconhece que um crime cometido
em estado de insanidade merece tratamento psiquiátrico e não punição. O que dizer, então, de nossas projeções
inconscientes de hostilidade, raiva, estupidez, destrutividade, possessividade, ciúme, maldade, mesquinharia, brutalidade e
a miriade de outros aspectos de nosso próprio lado sombrio que julgamos eternamente ver nas pessoas que achamos
haver nos desapontado? Embora não sejamos responsáveis pelo inconsciente – afinal o ego é apenas um crescimento
recente da matriz do inconsciente –, é nossa responsabilidade tentar aprender um pouco sobre ele, tanto quanto possível
dentro das limitações da consciência. Talvez este desafio faça parte do nosso Zeitgeist. Depois de tantos milhares de anos
de história, já não somos crianças, e precisamos aceitar as responsabilidades da idade adulta psicológica. Uma dessas
responsabilidades é dar ênfase as nossas projeções.

Não sabemos muita coisa sobre o inconsciente, e isso é obvio uma vez que ele é, acima de tudo, inconsciente.
Sabemos que esse mar sem limites, do qual surge nosso pequeno farol da percepção, parece funcionar de acordo com
padrões de energia e leis diferentes; tem um modo de comunicação e uma linguagem diferentes, e deve ser explorado
levando em conta essas diferenças. Se um inglês viaja pela Alemanha, não pode esperar ser entendido se teimar em falar
apenas inglês, e o mesmo se aplica a relação entre o ego e o inconsciente. Infelizmente, o ego, em geral, tem a mesma
atitude do inglês, e fica espantado quando esse tipo de compromisso é requerido. Mas se nosso objetivo for investigar-nos e
desenvolver nosso potencial real, é preciso aprender a linguagem do inconsciente. E ele é sem duvida um alienígena – tão
alienígena que rimos nervosamente, ou nos encolhemos de medo quando o encaramos nos sonhos, nas fantasias, nas
explosões emocionais e em todas as áreas da vida onde uma qualidade magica ou estranha impregna a nossa percepção e
esfumaça os contornos do que acreditávamos ser a realidade nítida e bem definida.

Só acreditamos que somos os senhores de nossa casa porque gostamos de nós lisonjear. Na verdade,
entretanto, somos dependentes, num nível surpreendente, do funcionamento adequado da psique
inconsciente, e precisamos confiar que ela não nos falhe.

Um dos postulados mais importantes estabelecidos por Jung sobre o inconsciente é que ele compensa o consciente.
A psique é um sistema auto-regulador que se mantém em equilíbrio da mesma forma que o corpo. Cada processo que vai
muito longe, imediatamente, e inevitavelmente, exige uma atividade compensatória .

Tudo, em outras palavras, que não está contido ou expresso na vida do ego. esta contido no inconsciente, de uma
forma nascente e incipiente.

Uma das características do ego consciente é que ele se especializa e se diferencia; o inconsciente, por outro lado, é
um mar fluido, mutável, indiferenciado que flui a volta, acima e abaixo da concha nítida do ego, desgastando algumas partes
e depositando partes novas, da mesma forma que o próprio mar flui a volta de um promontório rochoso. A psique como um
todo contém todas as possibilidades; o ego só pode funcionar com uma possibilidade de cada vez, já que sua função é
ordenar, estruturar e tornar manifesto um fragmento particular das ilimitadas experiências da vida.

Não é de surpreender que no mito e nos contos de fadas esse mundo do inconsciente seja com tanta freqüência
simbolizado pelo mar, e a jornada do herói nas profundezas é a jornada do ego nas profundezas da psique. O inconsciente
é um mundo submarino, cheio de criaturas estranhas e magicas; e para os pulmões humanos, acostumados a respirar o ar, a
imersão total naturalmente é a morte psicológica. Chamamos essa morte de insanidade. A luz de tudo isso, podemos
começar a entender por que a pessoa que cresceu com uma formação deturpada, cujo ego se desenvolveu por um
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caminho estreito e ao qual se negaram todas as outras expressões possíveis, também seja aquela que tem mais
probabilidade de fazer intensas projeções sobre os outros e ser mais assediada pelos aparentes defeitos dos outros seres
humanos.

O modo primário de expressão do inconsciente é o símbolo. Estamos rodeados de símbolos durante a vida toda,
vindos da nossa vida interior, da vida dos outros e do mundo a nossa volta, mas muitas vezes somos indiferentes a seu
significado e a seu poder. Um símbolo não é a mesma coisa que um sinal; não é simplesmente algo que representa outra
coisa. Os vários sinais que vemos na estrada, por exemplo, tem significados específicos: não vire a direita, não estacione,
obras adiante. Mas um símbolo sugere ou infere um aspecto da vida cuja interpretação é inesgotável e que, em ultima a
analise, escapa a todos os esforços do intelecto para limitá-lo ou determiná-lo. Não se pode nunca sondar totalmente as
profundezas de seus multifacetados significados, nem se pode catalogar esses significados em termos intelectuais, porque
freqüentemente contem antíteses que o ego consciente não consegue perceber simultaneamente. Além disso, os
significados de um símbolo não são ligados pela lógica, mas pela associação, e as associações podem irradiar-se numa
quantidade de direções contraditórias. Não podemos ter consciência de todas as associações ao mesmo tempo, nem
delimitar um perímetro para as ondulações da associação da mesma forma que fazemos para o caminho claramente
definido da lógica. Um símbolo é como uma pedra lançada no lago da psique. Estamos no meio do lago, por assim dizer, e
não temos olhos nas costas.

Um símbolo evoca uma resposta nossa em nível inconsciente, porque compreende associações não logicamente
relacionadas e que são fundidas num todo significativo. Um exemplo simples é o da bandeira de um determinado país. Para
um patriota, essa bandeira é o símbolo de tudo que o país significa para ele; na sua presença, todos os valores emocionais
e religiosos corporificados por ela, o senso de liberdade ou de sua falta, seu lar, suas raízes, sua herança, as possibilidades
do futuro e uma miriade de outras associações que nunca poderíamos explicar completamente explodem dentro dele em um
instante com alta carga emocional. Podemos ver, nesse simples e tosco exemplo, o poder do símbolo. Uma bandeira pode
evocar ódio, violência, paixão, amor, sacrifício, autodestruição ou heroísmo, e precipitar o indivíduo – ou uma comunidade de
indivíduos – numa reação emocional sobre a qual não Há controle consciente. O símbolo da suástica, usado com fria
inteligência e total conhecimento do seu poder, ajudou a lançar o mundo no caos Há apenas quarenta anos; e mesmo
agora, quando é vista numa parede de metro ou de um prédio, ele tem a capacidade de provocar poderosas reações
emocionais e uma multidão de pode rosas associações. De forma muito semelhante, os símbolos religiosos convencionais
podem ter imenso poder. O crucifixo prateado no pescoço de um cristão devoto, ou a estrela de Davi no pescoço de um
judeu, tem um significado que nunca pode ser comunicado em palavras, mas proporciona um vislumbre daquilo que, para
muitos, é o mais elevado e mais sagrado dos mistérios, corporificado numa simples forma geométrica.

A bandeira, a suástica, a estrela de Davi e o crucifixo são símbolos que podemos prontamente identificar como tal.
Mas há símbolos a nossa volta que não identificamos com tanta facilidade, porque são expressões dos padrões energéticos
subjacentes que moldam a própria vida, Jung chamou essas linhas básicas de energia de arquétipos, e, embora um
arquétipo não tenha forma, ele se comunica conosco através de muitos símbolos de natureza tão vasta que o ego
consciente recua assombrado. A própria natureza, como a humanidade, funciona de acordo com padrões arquetípicos, ao
mesmo tempo que os corporifica. No ciclo das estações, por exemplo – com a vida nova surgindo na primavera, a
maturidade e a frutificação no verão, a desintegração gradual e a colheita no outono, a esterilidade e a germinação
subterrânea secreta no inverno – podemos ver o ciclo de nossas próprias vidas, do nascimento á maturidade, decadência,
morte e renascimento. O ciclo do Sol no céu, nascendo no leste, culminando no Meio-do-céu, pondo-se no oeste, e
desaparecendo durante a noite apenas para nascer novamente, parecia aos antigos ser a face de Deus, porque viam
refletida, na jornada solar, a totalidade da vida. Diferentemente dos nossos antepassados. não mais adoramos o Sol, mas
ainda respondemos inconscientemente ao símbolo. O crescimento de uma planta, de semente a folha, a flor e novamente a
semente, simboliza mais uma vez esse processo da vida – assim como os quartos da Lua, os ciclos dos planetas e das
constelações. Aqui podemos começar a ver por que a astrologia era, para os antigos, um olho que se abria para o
funcionamento do universo – porque toda experiência da qual um ser humano é capaz, se vista simbolicamente, pode
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encontrar um correspondente num desses ciclos naturais no céu. A linguagem da literatura esta cheia de correspondências
semelhantes, assim como o mito e o conto de fadas; e nos também as empregamos no nosso discurso diário, quando
falamos das marés da vida, da fase crescente ou minguante da vida, do desejo, do amor. Essas coisas precisam ser
meditadas e sentidas, em vez de analisadas, pois os símbolos naturais da vida nos falam sobre a nossa inteireza e a nossa
ligação com os outros e com o próprio fluxo da vida; mas não é ..- possível discerni-los se olharmos apenas com o intelecto.
poderíamos ampliar mais ainda esse conceito e sugerir que mesmo nós, seres humanos, somos símbolos, pois todo o
universo é energia, e Há certos padrões energéticos subjacentes básicos sem forma, porém com qualidades definidas que
se corporificam como o homem.

Freud passou muito tempo tentando demonstrar que tudo, nos sonhos, é símbolo dos órgãos sexuais masculinos ou
femininos. O que não lhe ocorreu foi a possibilidade de estar considerando as coisas ao contrário, e que os órgãos
masculinos e femininos são, eles mesmos, símbolos das misteriosas energias, arquetípicas que os chineses chamam yin e
yang. Como se diz que Jung afirmou certa vez, até o pênis é um símbolo fálico. Aquelas qualidades que associamos com a
masculinidade: franqueza, vontade, clareza, abertura, força, são espelhadas no corpo de todo homem, e aquelas
associadas com a feminilidade: sutileza, ocultação, delicadeza, gentileza e suavidade, também estão espelhadas no corpo
de toda mulher. Em conseqüência do trabalho da vida de Jung, temos razões para acreditar que o arquétipo, a própria
energia básica, exista antes de haver uma forma através da qual ele possa manifestá-se. Ou, na expressão da Bíblia, no
principio era o Verbo.

Quando olhamos o rosto dos outros, vemos ali os símbolos de traços de caráter inerentes. Expressamos isso
instintivamente, quando falamos de queixo franzino, maxilar determinado, testa de erudito, nariz aquilino, mãos artísticas e
olhos penetrantes. Estamos colocando em palavras nossa percepção inconsciente) de que o próprio corpo pode ser um
símbolo do indivíduo, e vemos na forma física uma destilação cristalizada e concretizada do outro que está diante de nós.
Esse é um principio importantíssimo para ponderar, porque nos diz algo sobre o que é, de fato, a atração ou repulsa sexual.

Um mundo muito diferente abre-se para nós se entendermos que a, realidade manifesta é, em si mesma, um
símbolo. Esta é a base sobre a qual se estabeleceram todas as doutrinas religiosas, e todo o pensamento esotérico, a
tradição de sabedoria secreta de séculos, deriva desse milagre do símbolo que Emerald Tablet cristalizou na frase: "Assim
em cima como embaixo." Jung insinua a mesma direção em seu trabalho, mas, como cientista, foi obrigado a basear suas
idéias em observações empíricas e não em visão intuitiva – ou, pelo menos, apoiar sua visão em fatos verificáveis.

A psique surge de um principio espiritual que é tão inacessível ao nosso conhecimento quanto a matéria

Os mesmos padrões arquetípicos estão sob as duas.

Podemos começar agora a vislumbrar o que realmente significa o inconsciente. Freud acreditava ser uma lata de lixo
na qual se despejava a acumulação particular dos fragmentos rejeitados de cada pessoa; acreditava que seu conteúdo fosse
composto quase exclusivamente de desejos reprimidos inaceitáveis para o ego consciente e para a sociedade na qual o
indivíduo vivia. Sem duvida Há uma acumulação de sujeira no inconsciente de cada um – provavelmente em proporção
direta e compensatória á “limpeza" do ego consciente.

Ao mesmo tempo, também há uma acumulação de riquezas. Além do mais, a sujeira também é relativa; não é muito
apetitosa na mesa da cozinha, mas todo jardineiro sabe que sem seu adubo teria um jardim muito inferior O inconsciente
abre acima e abaixo de nós um repositório de (imensa energia criativa uma matriz da qual, surgem todas as coisas, e não
para no nível individual, mas se funde num grande mar coletivo, além das fronteiras humanas, que se estende até o
desconhecido. É possível que o que a psicologia moderna chama inconsciente fosse conhecido pelos antigos como os
deuses, ou Deus; e não é de surpreender, quando meditamos sobre essas coisas, que a ciência e a religião, depois de se
terem apedrejado mutuamente por tantos séculos, estejam começando a descobrir que viajam na mesma direção. rumo ao
mesmo mistério – por mais que seus veículos sejam diferentes.

Dessa excursão ao mundo em que se encontram a psicologia e a religião, vamos voltar aos problemas práticos dos
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relacionamentos. Podemos ver agora que a maior parte das coisas que ocorrem num relacionamento é inconsciente, porque
a maior parte do que uma pessoa é permanece inconsciente. O mistério de por que um homem é atraído por um certo tipo
de mulher, por que ele começa seus relacionamentos de uma determinada forma, por que eles seguem um determinado
rumo e por que ele encontra determinados problemas com os quais deve lidar, torna-se menor quando percebemos que
muito do que chamamos atração e repulsão é, na verdade, atração ou repulsão que pertencem à qualidades inconscientes
do próprio homem. É rara a pessoa que pode dizer que não há um elemento de projeção em seus relacionamentos, já que,
provavelmente, boa parte do inconsciente nunca pode tornar-se de fato consciente, e que assim vamos eternamente
projetar. Pode ser que projetemos até mesmo Deus. Quem, então, é a amada, e onde vamos encontra-la? No interior ou no
exterior? Ou em ambos?
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2 O Mapa Planetário do Potencial Individual


O que esta embaixo é como o que está em cima. E o que está em cima é como o que está
embaixo, de modo que o milagre da unidade possa ser cumprido.
Tabula Smaragdina
O fado e a alma são dois nomes do mesmo principio.

Novalis

O Mapa de Nascimento
Qualquer compreensão da linguagem da astrologia deve começar com um entendimento do que o horóscopo de
nascimento pode e não pode nós dizer. O horóscopo é um mapa astronômico altamente complexo, baseado não apenas na
data de nascimento, mas também no horário, ano e lugar. Em primeiro lugar, portanto, é preciso descartar todas as noções
preconcebidas e preconceitos baseados na astrologia das revistas populares, que não tem virtualmente nada que ver com o
estudo verdadeiro.

O mapa de nascimento não conjura o fado de um indivíduo de forma predestinada. Em vez disso, simboliza as linhas
básicas do desenvolvimento potencial de seu caráter. Com um mínimo de reflexão, percebe-se que uma pessoa agirá e
moldará sua vida de acordo com suas necessidades medos e capacidades, e que essas necessidades. medos e
capacidades derivam de sua disposição intrínseca. Nesse sentido, o caráter é o fado, e se formos ignorantes de nossas
próprias naturezas – como o é a maioria que nunca investigou o inconsciente –, os astros não poderão ser culpados pelo fato
de seguirmos precipitada e cegamente o caminho que nós mesmos escolhemos.

Esse ponto fundamental é critico para a compreensão de todo o estudo da astrologia. A interpretação mais superficial
de fado e livre-arbítrio – fado é o que estou "destinado" a fazer, enquanto livre-arbítrio é o que "escolho" fazer – nos
impossibilita ver o sutil paradoxo de que esses dois opostos são um e o mesmo.

Sabemos que além de toda vida, seja psíquica ou material, jazem os padrões arquetípicos, os ossos nus da estrutura
da existência. Ainda não sabemos se há qualquer base material para o fato de os dados astrológicos se correlacionarem com
o comportamento humano, embora não demore muito até que tenhamos as provas, através da nossa pesquisa sobre
relógios biológicos e os ciclos das manchas solares. A trabalhosa e rigorosa pesquisa estatística de Michel Gauquelin
demonstrou de forma dramática que tais correlações são válidas , mas a razão de sua validade ainda nos escapa. Os fatos
materiais referentes a astrologia, entretanto, como a possibilidade de emanações de energia dos planetas que afetam o
campo de energia do Sol, são apenas uma das pontas do espectro do arquétipo. A outra ponta é si e as posições o céu
num momento determinado, repetindo as qualidades daquele momento, também refletem as qualidades de qualquer coisa
nascida naquele momento, seja um indivíduo uma cidade, uma idéia, uma companhia ou um casamento. Um não causa o
outro; são sincrônicos, e se refletem mutuamente.

No que diz respeito a razão dessa sincronicidade, temos, de um lado, 4 arquétipos de Jung do inconsciente coletivo
e, de outro, os ensinamentos da doutrina esotérica. Esses dois pontos de vista parecem revelar a mesma verdade, que as
descobertas da física quântica e da biologia nos últimos vinte e cinco anos estão começando a asseverar. A vida é na
verdade um organismo, e as várias partes desse organismo, embora diferentes em forma e aparentemente separadas,
participam do mesmo todo e estão interligadas com todas as outras partes.

Paracelso, escrevendo sobre astrologia no século XVI, diz:

Se eu tenho "maná" na minha constituição, posso atrair "maná" do céu... "Saturno" não está apenas no
céu, mas também nas profundezas da terra e no oceano. O que é "Vênus" senão a "artemísia" que
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cresce no seu jardim? O que é "ferro" senão "Marte"! Isto é, Vênus e artemísia são produtos da rnesma
essência, e Marte e ferro são manifestações da mesma causa. O que corpo humano senão uma
constela o dos mesmos poderes que formaram as estrelas no céu? Aquele que sabe o que é o ferro,
sabe os atributos de Marte. Aquele que conhece Marte, conhece as qualidades do ferro .

O sistema solar não é apenas um arranjo do Sol e dos planetas físicos unidos pela força da gravidade e orbitando no
espaço. Também pode ser visto como o símbolo de um padrão de energia vivente, refletindo as formas menores de vida
contidas nele a qualquer momento. Na tentativa de compreender o simbolismo do horóscopo de nascimento, é útil considerar
o que conhecemos da psique, pois o mapa no nascimento é realmente um modelo, em termos simbólicos, dos vários
padrões de energia psíquica que compõem o indivíduo. Sabemos que o ego, como centro do campo da consciência, é um
centro regulador cuja função é iluminar as áreas do inconsciente tanto pessoal como coletivo, que estão procurando a luz; e
sabemos também que o é o delegado ou o reflexo daquele centro misterioso que Jung chama Self e o ensinamento
esotérico, chamado Alma. Sabemos também que na medida em que o indivíduo se desenvolve, é provável que bloqueie do
seu campo de consciência aqueles aspectos de sua natureza que na realidade lhe pertencem, mas que, por uma razão ou
outra, são incompatíveis com seus valores ou com os valores de sua família ou da sociedade. Finalmente, sabemos que é
extremamente importante, se busca a autoplenitude e uma vida significativa que realize também o propósito maior para o
qual se nasceu, trazer a luz esses aspectos da própria natureza em vez de condená-los à perpétua escuridão inconsciente.
Como projeção ideal dos primeiros dias da infância, a personalidade quase nunca é totalmente expressa; apenas uma parte
é realizada, e, no caso de muitas pessoas, essa parte é de longe menor do que constitui seu verdadeiro patrimônio
hereditário. Nesses casos, dizemos que a pessoa nunca desenvolveu realmente seu potencial, ou que desperdiçou
oportunidades ou talentos, ou que nunca foi realmente "verdadeira consigo própria".

O mapa de nascimento é uma semente ou esquema de tudo que, em potencial, pertence a personalidade de uma
pessoa – se florescer totalmente, em plena consciência. E o mapa de uma estrada no seu sentido mais autentico, pois o
objetivo de seu estudo não é "superar" as "influencias" dos planetas, mas sim dar espaço, na vida da pessoa, para a
expressão de todas as qualidades e impulsos nele simbolizados. Só então o indivíduo pode se aproximar do plano original
do desenvolvimento de sua vida conforme foi "concebido" – pois precisamos, no fim, concluir por um desenvolvimento
inteligente, com propósito – pelo Self.

Se isto parecer uma definição muito obscura ou elevada do horóscopo de nascimento, cabe lembrar que a astrologia,
antes de se tomar propriedade das colunas em revistas e jornais populares, foi um arte sagrada. Através dela, o estudioso
tinha acesso a uma percepção intuitiva do funcionamento das energias por trás da vida, que nenhum outro sistema antigo –
com exceção, talvez, do seu equivalente oriental, o I Ching – podia proporcionar. O grande esta refletido no pequeno, e o
fato de a astrologia também poder ser usada para esclarecer problemas mais mundanos não compromete seu valor
psicológico mais profundo. É apenas um reflexo do fato de que, mesmo nos menores detalhes de nossa vida refletimos
aquilo que é a nossa essência.

Visto por este prisma, torna-se claro que a compreensão do horóscopo de nascimento proporciona uma nova
dimensão a compreensão do caminho de vida de alguém. Da mesma forma, a comparação de dois horóscopos fornece
informação considerável sobre o interfuncionamento de duas vidas; e foi dessa arte de comparação de mapas que se
desenvolveu a sinastria o uso da comparação de mapas para investigar e avaliar os relacionamentos.

Em termos astronômicos, o horóscopo de nascimento é simplesmente um mapa – calculado com precisão, de modo
que não possa ser criticado pelo mais impertinente astrônomo – do céu, conforme aparece na hora e local exato do
nascimento do indivíduo. O círculo dos dozes signos zodiacais é um símbolo da totalidade, e em sua totalidade representa
todas, as possibilidades da vida. Nesse sentido, o zodíaco é como qualquer outro símbolo universal de inteireza coma o ovo,
ou o urobouros. (a serpente que devora a sua cauda), ou a cruz de braços iguais. É uma mandala, e como Jung
demonstrou, as mandalas são a expressão simbolica da inteireza potencial da vida e da psique humana. São ao mesmo
tempo símbolos do Self e símbolos de Deus, pois os dois são, em termos da percepção humana, a mesma coisa.
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Contra o cenário desse circulo do zodíaco (que é chamado eclíptica e é, na verdade, o circulo aparente do Sol
cruzando o céu) ficam o Sol, a Lua e os oito planetas conhecidos. As posições desses planetas, conforme se colocam na
roda zodiacal no momento do nascimento do indivíduo, formam o padrão interno do mapa de nascimento. Assim, temos um
quadro Simbólico, com a roda da inteireza no exterior e a combinação individual dos componentes psicológicos no interior.
Cada mapa é composto dos mesmos ingredientes: doze signos zodiacais, oito planetas, o Sol e a Lua. Entretanto, cada
mapa é diferente porque em qualquer momento particular o arranjo o de todos esses fatores é diferente, tanto no padrão
planetário como no relacionamento entre os planetas e o horizonte e a própria Terra.

Em outras palavras os seres humanos são construídos a partir da mesma matéria-prima, dos mesmos impulsos ou
energias, necessidades e possibilidades; mas existe um arranjo individual dessas energias que dá a ca de singularidade ao
padrão. As mesmas forças estão presentes em todos nós, fato com o qual nos deparamos sem cessar em qualquer trabalho
envolva aconselhamento ou terapia. Mas existe um singularidade criativa que faz dessas energias básicas uma obra de arte
única que é a vida individual. Essa forma criativa, é preciso entender, não deriva do ego, que é dificilmente capaz de tal feito;
ela deriva do self, e o Self, como tal, não está mapeado no mapa de nascimento. É o zodíaco inteiro. O mapa também não
de mostrar a decisão do indivíduo em qualquer momento de sua vida, de cooperar voluntariamente com os esforços de sua
própria psique rumo a uma maior consciência, e portanto a um uso mais completo dos potenciais que lhe pertence desde o
começo. Nessa decisão reside o significado mais profundo do livre-arbítrio individual.

Os Planetas
Os blocos básicos da construção no simbolismo astrológico são os oito planetas, o Sol e a Lua. No jargão astrológico,
referimo-nos também ao Sol e a Lua como planetas. porque isso torna as coisas mais fáceis. Em astronomia, esses dez
corpos celestes são os componentes do organismo do nosso sistema solar. Simbolicamente, formam o organismo da psique
humana. Nos antigos ensinamentos esotéricos, acreditava-se que o espaço não era "vazio", mas, na realidade, o corpo
vivente de uma vida gigantesca, um organismo que possuía os atributos de consciência e propósito. Sua forma física era o
sistema solar, e o Sol expressava o coração, em torno do qual a Lua e os oito planetas serviam como órgãos ou centros de
energia – da mesma forma que as órgãos do corpo humano servem a função primária do coração doador da vida. Antes da
descoberta de Urano em 1781, apenas cinco planetas eram conhecidos; mas podemos ver vagas sugestões dos outros três
na mitologia" invariavelmente simbolizados como deuses invisíveis, vivendo debaixo das águas ou da terra. Embora
possamos considerar esse conceito esotérico do sistema solar abstrato e difícil de imaginar, é um símbolo indispensável
para qualquer tentativa de compreender como os planetas funcionam no mapa de nascimento.

A astrologia, como o inconsciente coletivo do qual trata a psicologia, consiste em configurações


simbólicas: os "planetas" são os deuses, símbolos dos poderes do inconsciente .

Podemos agora começar a investigar o significado de cada um dos corpos celestes de acordo com os impulsos
básicos ou padrões arquetípicos que simbolizam no indivíduo.

O Sol e a Lua
O Sol, o coração do sistema solar e, isoladamente, o símbolo mais importante no mapa de nascimento, sugere, por
sua representação pictórica – um ponto no centro de um circulo – que reflete o impulso do indivíduo para se tornar ele
próprio. Embora isso pareça bastante simples, é tarefa para uma vida. O circulo é o antigo símbolo da inteireza, da
divindade e da eterna unidade da vida, porque não tem princípio nem fim; o ponto no centro sugere que o espirito, ou a
vida, ou o Self, se manifesta (em um lugar determinado e em um determinado momento) como um ego individual que
possui, como um de seus atributos, o impulso em direção à auto realização . Como qualquer outro símbolo vivo, o Sol no
mapa de nascimento não pode ser reduzido a algumas palavras-chave bem escolhidas. Mas podemos começar a penetrar
seu significado se soubermos que ele sugere o caminho que o indivíduo deve seguir para preencher seu impulso básico de
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obter um senso de identidade. Poderíamos dizer que o Sol simboliza o impulso para a autoexpressão, a auto-realização, a
autoconsciência ou uma série de outros termos que realmente não fazem sentido a não ser que se esteja consciente da
necessidade subjacente, na pessoa, para ser ela mesma, e a não ser que se possa ver essa necessidade em
funcionamento em todos os atos criativos executados não por qualquer motivo dissimulado, mas como um autentico reflexo
da essência da individualidade.

Os planetas do mapa de nascimento simbolizam as experiências arquetípicas da vida, e a astrologia é apenas uma
forma de retratá-las. Outra, como já vimos, é o mito e o conto de fadas, e o Sol pode ser considerado um reflexo do mesmo
principio expresso como o Herói. A saga do Herói é a mesma jornada expressa através do simbolismo do mapa de
nascimento, e o Herói, sempre e sempre, procura primeiro sua outra metade, para que possa ficar inteiro, e em seguida sua
origem, para que possa realmente identificar sua ascendência e seu propósito. Poderíamos também dizer que o Sol. no
horóscopo, é um símbolo do impulso, dentro do indivíduo, para identificar aquele centro ou força vital de que seu ego
consciente, seu "eu" pessoal, é um reflexo.

O Sol, portanto, é um símbolo da ego, no sentido que Jung da ao termo. Em ultima análise, é o recipiente ou veículo
para que a totalidade da psique, o Self, se torne manifesta. Como já observamos, o mapa não mostra o Self, que é
simbolizado pela roda zodiacal como um todo. O mapa de nascimento é apenas o caminho que o ego segue, a saga
especifica do herói individual; e aquelas qualidades que o indivíduo pode, potencialmente, concretizar na consciência – seu
pequeno quinhão no espectro maior da vida – são simbolizadas pelo signo que o Sol ocupa no nascimento.

Muito prejuízo não-intencional foi causado a astrologia pelas colunas de signo solar nos jornais e revistas populares,
e, infelizmente, até o mais sério estudante da astrologia freqüentemente cai na mesma armadilha que os leitores dessas
colunas: o signo solar geralmente é interpretado como um conjunto de padrões de comportamento cristalizados e
preexistentes. Podemos ler que se uma pessoa é de Áries, é cheia de vontade, impulsiva, temerária e gosta de desafios. Se
a pessoa é de Touro, é estável, confiável, sensual, teimosa e gosta de bem-estar material. E assim por diante.

Mas seria rnuito mais significativo, e mais de acordo com a compreensão da psique proporcionada pelo trabalho da
psicologia analítica, ver o Sol não como um mero catálogo de traços de caráter, mas como aquilo que a pessoa está se
esforçando para ser e o que ela é em potencial, em essência.

Na verdade, esse símbolo do ego totalmente integrado raramente é alcançado antes dos primeiros trinta anos de vida;
e o inicio do autentico auto questionamento geralmente vem logo em seguida ao ponto da crise dos vinte e nove anos,
chamada retorno de Saturno. Viver todo o potencial do Sol é a jornada de uma vida. Assim, podemos dizer que seu signo
solar não o "torna" algo em particular; em vez disso, simboliza aquelas energias, aquele mito especifico, do qual você esta
tentando aprender como se tornar consciente e tentando expressar de uma forma criativa Cada indivíduo tem a tarefa de
tornar consciente e canalizar, por meio de sua individualidade impar, o significado do simbolismo do signo solar, de modo
que ele seja caracterizado pela misteriosa essência do próprio Self. Ter nascido com o Sol em Áries pode não tomar uma
pessoa cheia de vontade e impulsiva, mas sugere que ela precisa cultivar um senso de vigor da vida, uma capacidade de se
afirmar no mundo exterior, de proceder a mudanças e enfrentar os desafios criativamente, para que se torne completa. Com
o risco de uma simplificação exagerada, podemos dizer, de forma semelhante, que Touro precisa aprender a se relacionar
com o mundo terreno e a construir nele um senso de valor permanente; Gêmeos precisa desenvolver seus poderes de
discriminação intelectual, para poder aprender mais sobre o mundo a sua volta; Câncer precisa aprender a abrir o fluxo de
seus sentimentos para os outros de modo a alimentar a nascente consciência daqueles que ama; Leão precisa aprender a
identificar, por meio de seus esforços criativos, aquele centro de si mesmo que é o verdadeiro criador e ao qual deve se
dedicar; Virgem precisa aprender a aperfeiçoar-se e purificar-se como um veículo de serviço para que possa exercer seu
papel na transmutação de tudo que d vil ou indiferenciado na vida; Libra precisa aprender a identificar os opostos dentro de
sua própria natureza e equilibrá-los, para podei relacionar-se com os outros; Escorpião precisa aprender a amar e integrar
sua própria escuridão, para poder eliminar a escuridão a sua volta; Sagitário precisa aprender a ver a consistência
subjacente a toda aspiração humana, de modo que seu senso de significado da experiência da vida possa ser ensinado a
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outros; Capricórnio precisa aprender a dominar primeiro o seu ambiente e depois a si próprio, para que brilhe como um
exemplo do poder da vontade humana; Aquário precisa aprender a se tornar consciente da vida do grupo do qual faz parte,
de modo que possa contribuir para o crescimento da consciência coletiva; e Peixes precisa aprender a se oferecer como
uma dadiva para a vida mais ampla, para poder executar a tarefa de salvar o que esta perdido. O signo solar dificilmente é
tão pessoal quanto um conjunto de padrões de comportamento, e não faz ninguém se tomar coisa alguma. É um símbolo do
que precisa ser alcançado. A probabilidade maior é de que o indivíduo só alcance esse objetivo com dificuldade.

É bom ter em mente que o Sol não é um ponto pessoal no mapa, no sentido de pertencer ao comportamento da
personalidade. Simboliza o caminho, o alvo, não a maquina em que se viaja – até que estes se tornem a mesma coisa. O
Sol é o coração do ser humano, e quantos de no conhecem verdadeiramente seu coração? Os planetas, como todo
simbolismo na astrologia, são divididos em l dois grupos de energias: masculinas e femininas. O Sol é considerado um
planeta masculino, porque esta associado com o lado da vida que diz respeito a vontade, a consciência, a decisão e ao
impacto sobre o ambiente – em outras palavras, é um principio ativo. Como seria de se esperar, é mais "acessível" aos
homens do que as mulheres porque reflete um impulso que é mais fácil aos homens tornar consciente. Quando chega aos
dezesseis anos, a maioria dos homens esta bem ciente da necessidade de ter uma identidade individual: muitas mulheres,
por outro lado, se contentam em encontrar sua identidade, durante a primeira metade da vida, através de seus parceiros e
de sua família. O principio da auto-realização através da irradiação da luz do ego no mundo é muito mais uma prerrogativa
da consciência masculina do que da feminina. No horóscopo de uma mulher, por tanto, o Sol geralmente sugere o que ela
espera do lado masculino da vida, a e dos seus homens, para se completar. Mas, no plano ideal, é claro, tanto as
polaridades masculinas e femininas do mapa precisam ser expressas por todos os indivíduos. Isto faz parte do desafio de
nossa crescente consciência.

O Sol reflete o impulso interno de todo ser humano para se expressar, para se tornar o que potencialmente é. A Lua,
ao contrário, simboliza o impulso para a inconsciência, para o passado, para uma imersão no fluxo de sentimentos, que
permite ao indivíduo ser parte das correntes de massa da vida, sem empreender a luta exigida para a autoconsciência.

A Lua também é símbolo da mãe, tanto pessoal com arquetípica, e é para esse ventre, com sua abençoada defesa e
segurança, que o nosso lado lunar deseja retornar. A Lua retrata o impulso para mergulhar na experiência de viver, sem ter
de avaliar ou entender a experiência; também simboliza o impulso para o conforto e para a satisfação das necessidades
emocionais.

Enquanto o Sol se empenha na diferenciação, a Lua se empenha no relacionamento e na fusão de identidades. O Sol
se furta aos relacionamentos pessoais em beneficio do desenvolvimento do ego independente; a Lua se furta a identidade
em beneficio dos relacionamentos, e anseia pela paz da noite quando todas as cores se misturam e tudo dorme. Esther
Harding, em seu livro sobre o significado psicológico do simbolismo da Lua, afirma: Nos tempos da adoração da Lua, a
religião se preocupava com as forças invisíveis do mundo do espirito, e mesmo quando a religião do estado foi transferida
para o Sol, um deus de guerra, de engrandecimento pessoal, e das coisas desse mundo, as qualidades espirituais
permaneceram com as divindades lunares; pois a adoração da Lua é a adoração dos poderes criativos e fecundos da
natureza e da sabedoria inerente ao instinto e a unidade com a lei natural. Mas a adoração do Sol é a adoração daquilo que
sobrepuja a natureza, que ordena sua plenitude caótica e subordina seus poderes a realização dos fins humanos. O Sol e a
Lua compõem um duo de macho e fêmea no mapa de nascimento, simbolizando a polaridade macho/fêmea em cada
indivíduo, e a tensão implícita entre eles é necessária. Sem ela, não poderia haver consciência nem vida. O Sol e a Lua se
assemelham a outros símbolos de pares, como escuro e claro, vida e morte e todos os outros pares de antíteses que
constituem os grandes pilares que sustentam o organismo da vida.

Esses opostos abrangem tudo, desde o sublime até o ridículo: o Sol não apenas indica, de forma muito ampla e profunda o
caminho do indivíduo em direção a plenitude, mas também diz algo sobre a imagem que ele vai projetar para a multidão; e
a Lua não apenas indica o caminho pelo qual o indivíduo pode restabelecer o contato com a vida da natureza que esta nas
raízes do seu ser, mas também diz alguma coisa sobre a forma como ele mantém sua casa e o tipo de hábitos pessoais
17

que manifesta. Esse espectro de significados muitas vezes confunde as pessoas em relação a astrologia: como pode um
símbolo ter um sentido tão significativo e ao mesmo tempo aparentemente tão insignificante? Mas todo símbolo, por sua
própria natureza, é sempre assim; e, além de tudo, estamos lidando aqui com arquétipos, e os planetas que os simbolizam
formam a estrutura básica da experiência do indivíduo. Tudo que pertence a eles, do mais superficial ao mais profundo,
obedece a um padrão.

Podemos discernir pelo signo da Lua no nascimento um pouco da forma pela qual o indivíduo se expressa quando
não é um indivíduo, e sim uma criatura de instintos. Em outras palavras, a Lua simboliza a natureza instintiva ou não-
racional. Também sugere, pela sua colocação no mapa de nascimento, a esfera da vida em que o indivíduo busca um sono
simbólico, uma inconsciência, uma fuga ou um refugio – em que é mais provável haver um predomínio de suas
necessidades, em vez da motivação de contar com sua própria vontade e capacidade de tomar decisões. Pode-se observar
a Lua quando o ego não está lutando por alguma coisa – quando a pessoa relaxa em seus padrões de resposta instintiva.

Um exemplo pode ajudar a esclarecer a polaridade do Sol e da Lua em nível interpretativo. Com o Sol colocado num
determinado signo no nascimento, os objetivos simbolizados por esse signo se tornam parte, de alguma forma, das
aspirações do indivíduo na vida. Com a Lua colocada num determinado signo, as necessidades instintivas simbolizadas por
esse signo se tornam parte das exigências do indivíduo para o bem-estar emocional. Assim, por exemplo, podemos ver a
pessoa com o Sol em Leão lutando pela auto-expressão criativa como um objetivo importante na vida, com uma valorização
consciente de honra, lealdade, integridade e singularidade individual. Por outro lado, podemos ver uma pessoa com a Lua
em Leão respondendo a vida de uma maneira intuitivamente dramática, com uma necessidade menos consciente de
exibição, aceitação, adoração e um palco para representar – não porque ela valoriza essas coisas, mas porque necessita
delas para sentir-se segura. A pessoa com o Sol em Leão, se está ver realmente seguindo o seu caminho, vai lutar para se
tornar o que Há de mais elevado e melhor na figura do Herói; com a Lua em Leão, simples mente se sente especial e reage
de acordo, com um sortimento de qualidades leoninas um tanto menos apurado, porém mais natural e relaxado.

Em geral, o Sol é um símbolo da consciência e a Lua, do inconsciente no horóscopo de um homem; no de uma


mulher, a Lua simboliza 4a consciência e o Sol, o inconsciente. Há exceções, naturalmente. Elas geralmente ocorrem, por
exemplo, quando uma mulher tem uma forte inclinação masculina, ou porque tenha uma mente poderosamente
desenvolvida ou porque esteja se rebelando contra seus instintos. Também ocorrem quando um homem tem uma forte
inclinação feminina, ou por que tenha sentimentos poderosamente desenvolvidos ou porque esteja se rebelando contra a
necessidade de lutar pela individualidade. Mas o Sol e a Lua são duas metades da mesma unidade, e ambos são
necessários em seu lugar adequado. É a integração harmoniosa desses dois símbolos que os alquimistas descreviam na
sua coniunctio ou casamento sagrado, e que nos contos de fadas é o final da historia, o herói e sua amada vivendo felizes
para sempre. Como já vimos, entretanto, é raro o indivíduo que consegue incluir todo o seu ser na sua experiência concreta.
Geralmente o instinto se choca com os objetivos da vida, porque esses objetivos são muito estreitos ou muito difíceis de ser
alcançados, ou proibidos pela sociedade ou pelos próprios valores; o indivíduo muitas vezes sente que precisa escolher um
dos dois, quando o que é realmente necessário é um casa mento entre eles, de modo que ambos possam ser expressos
como uma unidade viva. Se ele não puder realizar esse casamento interno, como pode esperar que um casamento externo
seja bem-sucedido?

Mercúrio
Em seguida, passamos para o planeta Mercúrio, em termos astronômicos o menor e mais rápido planeta do sistema
solar; na mitologia, uma estranha figura andrógina que possui as chaves do conhecimento e leva mensagens entre os
deuses e entre os deuses e os homens. Mercúrio, que esta ligado ao Hermes grego, ao Thoth egípcio e ao Loki norueguês
ou teutônico, é um símbolo da maneira pela qual não apenas percebemos, mas ordenamos as nossas percepções de modo
que possam ser entendidas e comunicadas. Ele é fundamentalmente o símbolo do impulso para entender, para integrar o
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motivo inconsciente e o reconhecimento consciente. Esse planeta não representa o intelecto, embora tenha sido descrito
dessa forma nos manuais mais antigos, pois devemos nos lembrar de que Há outros modos de percepção além do racional,
aos quais, no passado, não se dava muito reconhecimento. Pode-se perceber e entender através dos sentimentos, ou da
intuição, ou dos cinco sentidos. Mercúrio colocado em Câncer no nascimento sugere uma pessoa que percebe através do
inconsciente e avalia suas percepções através do sentimento; Mercúrio em Capricórnio, por outro lado, percebe através dos
sentidos e acumula fatos em sua cabeça mais ou menos dura, avaliando suas percepções de acordo com o que já foi
experimentado e provado. O planeta é um símbolo do modo pelo qual o indivíduo se torna consciente de seu ambiente
assim como de si próprio, e pode-se também dizer que simboliza o impulso para assimilar a experiência, para se tornar
ciente.

Mercúrio está ligado a estranha figura de Mercurius na alquimia medieval. Isto sugere – embora ele não seja
considerado especialmente poderoso ou significativo na astrologia tradicional, que geralmente o relega a função de
"comunicação" – que esse planeta pode ser mais do que aparenta a primeira vista. Na alquimia, Mercúrio é o grande
transformador; e talvez devessemos recordar que ele é o impulso da pessoa para entender o que a eleva acima dos outros
reinos da natureza, o que a leva a refletir sobre o seu desenvolvimento, e consequentemente a cooperar voluntariamente
com o inconsciente na sua luta por uma maior integração. Então podemos começar a ver por que Blavatsky diz, em A
doutrina secreta, que "Mercúrio e o Sol são um", subentendendo portanto a unidade entre o pequeno microcosmo do
entendimento do homem e o grande macrocosmo do propósito cósmico. Sendo o planeta mais próximo do Sol, Mercúrio é o
mensageiro do Sol, e enquanto o Sol é o símbolo da essência, Mercúrio é o símbolo da função que nos permite conhecer a
essência.

O signo de Mercúrio no nascimento sugere a forma pela qual o indivíduo aprende, como percebe e classifica ou
assimila o que aprende: qual o método pelo qual ele transmuta a experiência em compreensão.

Como mensageiro, Mercúrio é o símbolo da ponte entre o Self e o ego, assim como entre o ego e o ambiente; ele é o
grande unificador, assim como o grande destruidor. Através de sua perspicácia, o indivíduo tanto pode reconhecer a
interligação de todas as coisas, como apartar-se de todas as ligações por meio da proliferação de dados isolados e sem
sentido.

Vênus e Marte
Vênus e Marte, que eram amantes na mitologia grega e romana, são outra dupla masculino-feminino. São outra
forma de expressar o Sol e a Lua, isto é, o yin e o yang, ou macho e fêmea. Mas aqui o impulso basicamente feminino para o
relacionamento, a harmonia e o ajuste na esfera das relações pessoais. faz um delicado contraponto ao impulso
basicamente masculino para a conquista, o isolamento, a separação e a afirmação, em detrimento dos outros, para
satisfazer o desejo. Vênus simboliza a necessidade de buscar a partilha com o outro, mesmo ao ponto de se ser engolido,
Marte simboliza a paixão que busca se esgotar no outro, e atingir um alvo objetivo. Marte deseja; Vênus é o impulso para
ser desejado. Vênus nos permite reconhecer o que somos no relacionamento com os outros e, através de comparações,
tenta descobrir as semelhanças; Marte nos capacita a impor nossa vontade a despeito dos outros, e, através da auto-
afirmação, revela as diferenças.

Os antigos glífos astrológicos desses dois planetas são agora usados como símbolos biológicos de macho e fêmea.
Esses dois "deuses" são expressões da grande polaridade Sol-Lua de forma especializada: são os princípios cósmicos da
luz e escuridão, ativo e passivo, atuando especificamente no campo dos relacionamentos humanos. Editora Pensamento,
São Paulo. Se a Lua é a mãe, Vênus é o arquétipo da amante ou hetaira: essas são duas faces da mulher. Se o Sol é o pai,
Marte é o conquistador: essas são duas faces do homem. Cada um de nós tem essas quatro faces, mas optamos por nos
identificar com uma mais do que com as outras. Como diz D. H. Lawrence, as mulheres são esposas ou amantes, os
homens são maridos ou amantes. A expressão do impulso simbolizado por Vênus pode ser vista na forma como a pessoa
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se enfeita, seu gosto pessoal, sua resposta á beleza, e seus valores sociais; também pode ser vista no que o indivíduo mais
valoriza nos relacionamentos, o que ele procura na parceria ideal.

A expressão do impulso simbolizado por Marte pode ser vista na forma pela qual a pessoa consegue o que quer; a
qualidade ou modo de seu desejo é refletido por esse planeta, a maneira como ele conduz a caça, e a forma de expressão
que suas paixões assumem.

Como esses dois planetas são tão especialmente importantes no relacionamento interpessoal, vamos voltar a eles
mais tarde. A mesma lei geral, como no caso do Sol e da Lua, se aplica aqui: para os homens, Marte é uma energia mais
acessível, enquanto para as mulheres, Vênus é mais acessível. Consequentemente, assim como com o Sol e a Lua, o
planeta cuja energia é antitética ao sexo do indivíduo geralmente vai ser projetado num objeto adequado nos
relacionamentos interpessoais, e o indivíduo tentara viver seu lado transexual por meio do seu parceiro. Muitas vezes o
signo em que Vênus está colocado no mapa de um homem descreve o que ele busca na mulher como amante ideal; e o
signo em que Marte esta colocado no mapa de uma mulher descreve o que ela procura num homem. Uma mulher com
Marte em Capricórnio, por exemplo, pode achar as qualidades terrenas, a ambição, a força de vontade e a determinação
sexualmente atraentes num parceiro; um homem com Vênus em Peixes pode achar as qualidades de simpatia, compaixão,
gentileza, imaginação e capacidade de perdoar adoráveis numa mulher.

Júpiter e Saturno
Com esse par de planetas, deixamos para trás a esfera dos impulsos e desejos pessoais. O Sol, a Lua, Mercúrio,
Vênus e Marte são chamados planetas pessoais porque simbolizam impulsos que se manifestam de forma pessoal; são
orientados para o ego, em termos das energias psíquicas que simbolizam, e a consciência tem um acesso relativamente
fácil a eles, levando em conta as dificuldades na integração dos opostos. O reino de Júpiter e Saturno, ambos reis dos
deuses na mitologia antiga, leva o indivíduo para além da esfera da sua consciência de ego pessoal, e ele começa a
estabelecer contato com o que é transpessoal – tanto dentro como fora dele. Júpiter e Saturno são os grandes
exploradores, os guardiães do portão do mundo pessoal; ambos tem duas faces, uma voltada para dentro e outra para fora,
e ambos simbolizam impulsos para transcender os limitados, confins do pequeno self. Um vai para cima e outro vai para
baixo; são, respectivamente, como a cenoura que leva o burro adiante prometendo-lhe futuras possibilidades de
recompensa, e o chicote que o leva a mover-se porque é muito doloroso ficar parado. Obviamente, nossa tendência é
preferir a cenoura ao chicote, e somos inclinados a valorizar mais a sorte do que a dor; mas esses dois planetas simbolizam,
de maneiras opostas, impulsos em direção à consciência e ao crescimento. Poderíamos dizer que Júpiter é um impulso
masculino e Saturno, um impulso feminino; isto porque Júpiter, um deus dos céus e das tempestades, esta ligado às regiões
"superiores" da mente intuitiva, enquanto Saturno, um titã e deus da Terra, esta ligado as regiões "inferiores" do
inconsciente pessoal, ao lado escuro da natureza humana. Ambos são necessários e criam mais uma variação do tema de
luz e sombra, desta vez transferido para a esfera da realização do significado.

Como o símbolo de Saturno vai ser descrito mais completamente a seguir, não vamos dizer muita coisa sobre ele
agora. Júpiter, entretanto, merece uma descrição mais detalhada. Esse planeta esta ligado ao que pode ser chamado
impulso religioso, impulso que Freud e seus seguidores acre ditavam ser apenas uma sublimação do instinto sexual, mas
que Jung demonstrou ser tão básico, no ser humano, como qualquer um dos impulsos biológicos. O indivíduo não precisa
apenas sobreviver e propagar sua espécie; também precisa saber que de alguma forma, em algum lugar, a vida te um
padrão, uma ordem e um significado intrínsecos; é um todo do qual ele precisa ter ao menos um vago conhecimento
intuitivo, para ser capaz de ter esperança e crescer. Pode ser que tenhamos criado Deus; mas não podemos criar aquilo de
que não temos experiência, mesmo inconsciente, e podemos dizer que Júpiter simboliza a necessidade de experimentar o
numinoso, o divino projetando-o e nosso exterior em formas simbólicas que então podemos adorar e chamar de divindade.
O signo em que Júpiter está colocado no mapa de nascimento do indivíduo sugere a forma como ele procura essa
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experiência de sentido na vida. Um indivíduo com Júpiter em Virgem poderia, por exemplo, procurar vivenciar a razão do
objetivo do seu trabalho, porque este poderá proporcionar uma espécie de ritual, uma autopurificação e um auto-refinamento
rítmicos, capacitando-o a se tornar consciente de um padrão mais amplo. Como Júpiter procura expandir a experiência de
modo que seu significado brilhe através da forma, Júpiter em Virgem vai procurar meios mais amplos de
autodesenvolvimento através do trabalho, de modo a fazer dele alguma coisa "grande" e sentir que seu significado
ultrapassa a satisfação da necessidade. Esse planeta simboliza o principio criador de mitos, no sentido mais positivo da
palavra mito.

Júpiter, assim esta ligado a necessidade da psique de criar símbolos e isso nos leva a níveis profundos quando
consideramos o poder criativo que moldou os grandes mitos, as lendas e as religiões do mundo. O poder criativo que molda
o simbolismo de nossos sonhos não é menor, de modo que cada sonho é uma obra-prima de significado, que não pode ser
alterado para melhorar, de forma nenhuma. Nesse sentido, Júpiter é realmente um deus do caminho de entrada, pois
constituí um eIo entre o consciente e o inconsciente, através a criação e da compreensão intuitiva dos símbolos.

Como já vimos, os sim os símbolos são a linguagem primordial da vida, e Júpiter simboliza a função que os cria no
indivíduo e intui seu significado.

Os Planetas Exteriores
Uma vez ultrapassadas as fronteiras de Saturno, estamos no reino do inconsciente coletivo o repositório das
imagens arquetípicas – e de impulsos que não apenas nada tem a ver com as tendências da personalidade, mas também
muitas vezes são contrários a elas. Quase poderíamos considerar os planetas interiores, pessoais, e os planetas exteriores,
transpessoais, como mais um par de opostos, simbolizando, respectivamente, a vida do ego e a vida da matriz maior da qual
surge o ego, com sua ilusão de separatividade.

Os impulsos que os três planetas exteriores conhecidos simbolizam raramente são acessíveis a consciência do
indivíduo, pois marcam a transição de uma para outra fase da consciência, e a consciência não pode apreender tais
transições. Ela só pode apreender a fase na qual esta operando em dado momento. Saturno é o grande Senhor da Fronteira
e Mestre da Ilusão, fazendo o papel de Lúcifer e nos sussurrando que o mundo pessoal que experimentamos é o perímetro
da realidade, e ultrapassá-lo é, no melhor dos casos, bobagem e, no pior, loucura. Muitas vezes acreditamos nesse sussurro
e nos identificamos com o que chamamos realidade “objetiva", deixando de ver que ela é completamente subjetiva e que só
estamos criando nossa própria interpretação da vida. E, como Lúcifer, que – como Goethe ressalta – é secretamente a mão
direita de Deus, Saturno nos impulsiona a nos identificarmos mais e mais com nossas interpretações, de modo que no fim
nos isolamos tão completamente que ficamos de fato no Inferno – um inferno de dissociação das correntes subjacentes
mais profundas da vida. Nesse sentido, Saturno é o grande mestre, disfarça o como o portador da dor e da limitação, pois é
apenas no ponto de escuridão e decadência – que os alquimistas chamavam nigredo ou Caput Mortuum, Cabeça Morta, o
primeiro estagio do trabalho alquímico – que nos tornamos cientes do Outro dentro de nós, o verdadeiro poder criativo do
self . Isso pode parecer mais e mais uma visão mística; entretanto, é um processo psicológico empiricamente observável na
vida de qualquer indivíduo, embora as formas em que as pessoas o concretizam sejam muito diferentes.

Urano e Netuno formam outra dupla macho-fêmea, sendo Urano o pólo masculino e Netuno, o feminino. Podemos
aprender muito sobre esses dois planetas, ou "deuses", quando vemos suas personificações na mitologia. Urano é o antigo
deus dos céus, marido de sua mãe Géia, a Terra, e neto de Chaos, a noite primordial da qual emergiu a realidade manifesta
– ou consciência. Urano é um símbolo do mundo das idéias arquetípicas, os padrões subjacentes daquilo que algumas
correntes teológicas chamam Mente de Deus e que na doutrina platônica é o arcabouço das idéias divinas que sustenta a
estrutura do universo. Não é de surpreender que tenhamos dificuldade em chegar a um acordo sobre o significado desse
planeta na psique individual.

No mapa individual, Urano, o primeiro deus dos céus e do espirito, parece personificar a necessidade da mente de se
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libertar da identificação com a realidade material e vivenciar o mundo da mente arquetípica. Assim, a astrologia tradicional
diz que Urano simboliza o impulso para a mudança, para a liberdade para a invenção e para a liberação, e para o
desenvolvimento da mente além do reino do pensamento concreto limitado pelos fatos e pelo conhecimento empírico. Urano
tem sido chamado o Desperta dor, porque o impulso que simboliza, como todos os conteúdos inconscientes, é projetado.
Parece voltar ao indivíduo como um súbito evento emanando "de fora" e que despedaça a estrutura do que era até então
identificado como sua realidade, muitas vezes de forma altamente dolorosa. Ao mesmo tempo, permite ao indivíduo
vislumbrar a idéia coletiva subjacente sobre a qual se construiu sua pequena experiência pessoal. O fato de o próprio
indivíduo atrair esse tipo de experiência geralmente escapa a sua percepção; parece mais como a mão do "fado". Mas é
preciso admitir que a própria psique é o fado, se se quiser entender o significado do que ocorreu e utilizar a experiência como
ela deve ser utilizada: como um despertar para uma consciência maior.

É menos "coincidência" que sincronismo que Urano, símbolo ligado à liberação, à liberdade e à invenção, tenha sido
"descoberto" em 1781. Esse ano cai entre duas grandes revoluções políticas – ambas envolvendo idéias de liberdade, igualdade e
libertação do indivíduo em relação as limitações dos privilégios ou penalidades hereditirias – e :io alvorecer do que denominamos Era
Industrial, que, através do poder da mente para descobrir, dominar e aplicar tecnologicamente as leis do universo fisico, procurou libertar
o homem da escravidão da matdria. Pode parecer incon cebivel que a descoberta de um planeta tenha qualquer ligação com a Era da
Tecnologia e com as Revoluções Americana e Francesa; mas precisamos nos lembrar que a descoberta do planeta não "causou" esses
aconteci mentos. Simplesmente refletiu a sua ocorrencia. As mesmas alterações na consciência que produziram as duas revoluções e o
impulso em direção a descoberta cientifica e sua aplicação também produziram os meios téc aicos pelos quais o planeta fisico tornou-se
perceptivel a visão consciente do homem; e o significado simbolico do planeta, por seu lado, se refere ao espirito de aventura,
exploração e liberação que tornou todos esses acontecimentos fisicos possiveis. O planeta e o estado do mundo na época de sua
descoberta refletem-se mutuamente: são sincronicos.

A libertação da identificação com uma experiência especifica, ou um aspecto de


uma experiência, pode se aplicar a qualquer coisa. Podemos observar Urano no
impulso para mudar a compreensão de nós mesmos, o nosso trabalho, as nossas
crenças, ou os nossos relacionamentos. Os relacionamentos são experiências que
cada indivíduo interpreta a sua maneira – e existe, na psique de cada indivíduo, um
impulso para mudar constantemente as interpretações, de modo que possam tornar-
se mais inclusivas e mais conscientes.

Na mitologia grega e romana, Urano – ou Ouranos – é o pai de Saturno


(Cronos), e Saturno, um deus da Terra, incentivado por sua mãe terrestre, castrou o
pai e tomou seu trono. Diz-se que esses acontecimentos se deram porque Urano
ficou horrorizado com sua progênie; ele era um deus das regiões superiores, e
assustou-se com as criaturas escuras e restritas a Terra, que havia gerado. Pode-se
intuir muitas coisas desse trecho do mito. O ato de violência de Saturno contra o pai
pôs fim ao reinado do céu e iniciou o reinado dos titãs terrestres; e podemos ver o
mesmo padrão encenado na civilização humana através dos nossos milhares de
anos de historia.

Mas se prosseguirmos, veremos que dos pingos de sangue da terrível ferida


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derramados sobre a Terra surgiram as Erineas, as Fúrias ou deusas da justiça e da


retribuição (carma); e dos genitais cortados, arremessados no oceano, surgiu
Afrodite-Vênus, deusa do amor e da beleza e, astrologicamente, símbolo do impulso
para o relacionamento. Diríamos que através do relacionamento podemos encontrar
um caminho através do qual reviveremos – ou tomaremos consciente – o mundo dos
céus. Não se compreende a linguagem da mitologia somente com o intelecto; ela
deve ser ouvida com a intuição e com o coração, e só então vai revelar seus
segredos. Quando se considera essa trindade de planetas: Urano, Saturno e Vênus,
no mapa de nascimento, à luz do mito, há algo implícito sobre um processo, um ciclo,
que existe em cada pisque. Também podemos examinar a bem conhecida historia da
Bela e da Fera na qual a Fera rouba a Bela de seu pai e a mantém prisioneira até
que ela aprende a amá-la pelo que ela é; isto também nos fala do mesmo processo.
Algo dentro de nós repudia alguma outra coisa, e a parte repudiada procura a
vingança. É questão de uma confrontação dolorosa, muitas vezes violenta, dentro de
nós: com nossas origens e nosso patrimônio hereditário, com o que somos e o que
geramos ou criamos. Mas, desse choque discordante, surge a possibilidade de uma
nova harmonia e uma nova integração.

Ao contrario do deus das regiões celestiais, Netuno é uma divindade da água, e,


embora seja uma figura masculina na mitologia, personifica uma energia feminina.
Deus dos oceanos e das profundezas – e, como Poseidon-Hipios, senhor dos
terremotos e dos cursos de água subterrâneos –, Netuno é um símbolo do mar do
sentimento coletivo debaixo de nós, impulsionando-nos a mergulhar na massa,
sacrificando a nossa precária e duramente conquistada individualidade, de modo que
possamos nos purificar através da dissolução. Pode-se vislumbrar essa energia
funcionando em qualquer multidão, motivada por um único foco emocional: não há
mais indivíduos na multidão, apenas um único organismo em ebulição , motivado por
uma emoção dominante que precisa se liberar – em geral violentamente – antes que
a individualidade possa ser reivindicada. Aparente mente, o impulso para esse tipo de
desintegração da consciência individual existe em todos nós, e é altamente
contagioso – basta ir a um jogo de futebol para ver uma de suas manifestações
relativamente inofensivas, ou considerar a Alemanha de quarenta anos atrás para
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localizar uma manifestação bastante mais sinistra.

Netuno também está associado a If!i si deus do extase, e o extase sagrado da


imersão nas profundezas antigarnente fazia parte da maioria dos antigos rituais de
mistérios. De certa forma, o indivíduo que houvesse / experimentado essa
"benção do deus" era purificado, nascia de novo, era limpo do seu passado; podia
oferecer ao deus tudo o que tinha acumulado de si mesmo, e era devolvido nu a
Terra, pronto para iniciar uma nova

etapa de sua jornada. Embora uma face de Netuno seja inquestionavel mente
destrutiva em relação ao que chamamos civilização, uma outra face é profundamente
necessaria para a psique, pois a experiência da limpeza através da imersão no mar
do inconsciente é verdadeiramente uma expe riência religiosa"no. tido mais profundo
deste termo – cujas raizes latinas significam Qe-ligar."-. iVuma escala muito menor,
executamos esse ritual todas as noites, guando sacrificamos a nossa consciência e
descemos ao inconsciente para "dormir".

Também podemos verVetuno em funcionam.ento em todos os sim bolos da vida


de sentimentos coletivos que chamamos odag Seja uma moda de musica, de
vestimentas, de idéias ou de arte, o im pu só irresistivel . para fazer o todo mundo
está fazendo esta presente em odos nos – por muito que alguns lutem contra ele, as
vezes bem justifica amente, ja que ele diminui a supremacia do ego individual.
Nessas modas assa eiras ue em culturas – uit vezes as cren as as tem também
caracteristicas odemos ver simbolos das correntes da vida emocion ta
eternamente se desviando e mudando as omo as correntes do oceano. De muitas
formas, ser varrido durante algum tempo por essas correntes é uma experiência
revigorante, pois através dcla se descobre o tespeito pelo poder do inconsciente e se
adquire uma perspec tiva mais equilibrada do papel do ego.

No mapa individual de nascimento, Netuno simboliza o im uIso para o sacrificio


do "eu" pessoal e dõ sentunen o pessoal ao sentimento coletivo. Existem idéias
arquetípicas e sentimentos arquetipicos – e Netuno personifica esses ultimos, que
todos nos vivenciamos em algum momento. Fantasia, mm, e e visão mistica – tudo
isso é Netuno; c embora uma dieta ininterrupta de algum esses fatores acabe sendo
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destrutiva, esses aspectos da realidade são necessarios para a psique e precisam de


espaco para expressar-se na vida pessoal.

Netuno, como Urano, geralmente é inconsciente na maioria dos indivíduos.


Como poderia o ego ter consciência daquilo que mina sua supremacia, e mais, seus
alicerces? Seria uma admissão de que existem outras forças na psique além da
vontade pessoal, uma admissão muito desagraKvel para o ego. Assim, Netuno, como
Urano, em geral é projetado e vivenciado como um acontecimento que o indivíduo
inconscientemente atraiu para sua vida e que novamente assume a aparência de
"fado". Os "acontecimentos" netunianos são, em eral, aqueles ue enredam o indi- vid
o numa situa ao cu lica o c a lgla. ele não consegue enxer ar. Em conseqiiencia, a
certa altura ele se ve impotente para fazer qualquer coisa além de sacrificar um dese
muito acalentado. Ele é d.Q

submetido a um nivel de sentimento coletivo que o muda, o transforma, o


escraviza durante algum tempo, e depois o libera gentilmente, deixando -o o mesmo,
porém diferente, pois foi tocado pelo poder do deus e não pode, nunca mais, dizer
honestamente a si mesmo que tem seus senti mentos totalmente sob controle.

Netuno foi descoberto em 1846, com uma ambigiiidade bem carac teristica da
qualidade do simbolo: houve dois descabridores, e existe uma grande confusão a
respeito de quem é responsivel pelo que. Coincidiu com a descoberta o surgimento
de um generalizado interesse pelo espiri tualismo e pelos fenámenos psiquicos, a
hipnose, a sugestão e a associação livre, e o verdadeiro começo da investigação,
que foi gradualmente sendo aperfeiçoada, testada, verificada e re-verificada, até
eventualmente aparecer como psicanalise, o estudo da psique inconsciente.
Também coincidiu com uma onda de revoluções traumiticas que varreu a Europa
toda, irremedia velmente minando a ordem estabelecida, porém menos coerente e
menos estruturada que a do século anterior. Com a descoberta de Netuno, a própria
revolução – muitas vezes uma revolução pela revolução – se tornou uma "moda".

É aprópriado dar ao mais distante planeta até agora conhecido do sistema solar
o nome do pcuIar Sénhoi do Reino Subteãaneo,,como tam bém é compreensivel o
fato de que os astronomos não estejam nem mesmo certos se Plutão é de fato um
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planeta ou uma lua perdida de algum outro corpo celeste. Existe também muita
incerteza a respeito de Plutão, porque sua densidade é completamente
desproporcional ao seu pequeno tamanho, o que poderia sugerir que ele seja, na
realidade, muito maior do que o que foi possivel averiguar até hoje com os nossos
telescopios. Plutão tem essa caracteristica na mitologia, residindo debaixo da terra,
gover nando os mortos e a abundância da Terra, nunca se aventurando acima da
superficie a não ser com seu capacete magico, que o torna invisivel aos olhos
humanos.

Nos mitos de todas as nações, assim como em muitos contos de fadas, existe
um Senhor dos Mortos, e esse simbolo parece estar ligado I experiência arquetípica
dos começos e fins, da morte e renascimento.

Joseph Campbell, no seu livro Creative Mithology, afirma: ... Esta area da
existencia, que é tanto doadora como tomadora das formas que aparecem e
desaparecem no espaço e no tempo, embora sombria, não pode ser denominada
ma, a não ser que assim denominemos todo o mundo. A lição de Hades-Plutão...

não é que nossa parte mortal seja ignobil, mas que dentro dela – cn

ou unificada com ela – esta aquela Pessoa imortal quc os cristãos dividiram em
Deus e Demonio e julgam estar "lá fora" .

O "doador e tomador das formas que aparecem e desaparecem no espaço e no


tempo" é o arquétipo do incessante ciclo de morte e renasci mento personificado pelo
pianeta Plutão, e o processo da interminavel jornada e retomo esta presente em
todos os aspectos da vida. A vida ine rente a todas as formas é sempre vida; mas a
vida, por estar incessante mente mudando, inevitavelmente ultrapassa todas as
formas, que por seu tumo precisam morrer de modo que a vida possa ser liberada
num novo nascimento, numa nova forma. A natureza também pode nós falar sobre
esse processo arquetipico de milhares de formas. e se alguém exa minar a sua
própria vida verá que toda experiencia, toda atitude, todo rela cionamento, todo
sentimento, toda idéia – tudo, na realidade – tem um começo, um meio e um fim, e
um novo começo de alguma outra forma.

Instintivamente, fugimos desse ciclo porque, como Fausto, queremos que


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alguns momentos durem para sempre. A mudança é aceitavei quando é agradável,


mas quando chega aquela fase inevitivel do ciclo de mudança que requer a
passagem pela escuridao, nos recuamos: não confiamos no Senhor dos Mortos. Sob
muitos aspectos, a era cristK nos privou da com preensfo dele. porque o cristianismo,
recuando diante da perspectiva da perpétua renovacao, fixou nossa atenção em
apenas uma e delimitada vida apos a morte, com punição ou recompensa; e
substituiu o processo vital e dinamico por uma estase decididamente paralisadora. O
ego, carac teristicamente, deseja acreditar que a vida é constante. Feliz ou infelizmen
te, entretanto, a unica coisa constante que existe é a mudança. Plutão, con
seqiientemente, simboliza um impulso da psique que geralmente é incons ciente e,
como Urano e Netuno, o planeta parece operar por meio de expe riências que
"acontecem" ao indivíduo e que, de alguma forma, o forçam a sofrer uma morte
interior. Sempre Há um renascimento depois da morte, e a nova forma é sempre
maior que a velha; mas, quando posta a prova, a maioria dos indivíduos não acredita
nisso e sente que sofreu uma perda irremediável. Geralmente essa perda é de
alguma coisa (ou pessoa) com a qual existe um intenso vinculo emocional, e através
da qual, de alguma forma, o indivíduo esteve vivendo uma parte de sua vida – uma
parte que precisou ser resgatada para que ele pudesse vive-la por si mesmo. De algu
má maneira o vinculo é perdido, o relacionamenta é mudado, e existe a 6 Creative
Mythology, Joseph Campbell, Londres, Souvenir Press, 1974.

experiência de uma morte. E se a pessoa procurar, vai descobrir entre as


cinzas uma nova perspectiva e um novo nascimento.

Plutão é particularmente significativo na esfera dos relacionamentos, pois é


nessa esfera que muitas pessoas passam por mortes e renascimentos emocionais.
Plutão esta também ligado i sexualidade, na medida em que o ato sexual significa –
ou simboliza, em potencial – a morte do senso da separatividade individual pela
experiência do "outro" e pela nova força vital criativa que flui através de ambos. A
criação de uma nova vida sempre envolve algum tipo de morte, uma mudança na
atitude psicologica; a pro criação de filhos inevitavelmente vai produzir esse tipo de
mudança na psique, pois a pessoa passa de filho a pai que deu nascimento a um
filho, e começa uma nova fase da vida. A morte também, da forma mais literal, é
27

dominio de Plutão, pois ela, enquanto fim de um ciclo, marca o começo de um novo
ciclo. Embora o Ocidente como um todo custe a levar em consideração o principio da
reencamação, muitas grandes mentes iadivi duais – e o pensamento oriental em geral
– tem-no considerado aceitivel Há muitos séculos, ou como experiência literal ou
como um simbolo da vida etema do ser, da "esseidade", brilhando através da
transitoriedade dos ciclos individuais de vida e morte.

Plutão também é um simbolo do impulso para a autotransformação.

Em outras palavras, existe na psique um impulso em direção ao cresci mento,


que requer uma constante mudança das formas através das quais é realizado o
crescimento. O indivíduo precisa crescer, querendo ou não, e o ciclo de crescimento
exige um periodo de morte, decadencia, nova germinação, gestação e novo
nascimento. Toda a natureza sustenta esse principio. Q fato de o ser humano rejeitá-
lo e tentar nega-lo é caracteristico da falta de contato com as raizes da vida, tão tipica
da época em que vivemos.

Como o Parsifal de Wolfram von Eschenbach, a alquimia descreve o processo


r.o qual a astrologia denomina Plutão um belo mito. Existe um rei, diz o simbolismo
alquimico, que está velho, estéril, e ja não pode reinar eficazmente porque perdeu o
poder de criar vida nova. Suas terras não dão frutos, e seu povo esta morrendo de
fome e sede. É preciso que ele realize um casamento sagrado – com sua mae, ou
com sua filHá ou sua irma, e o tema do incesto sugere que se trata do casamento de
duas ener gias ou principios que emanam da mesma fontc. É preciso que ele desça
até as profundezas do mar, ou da terra, para consumar a união. No mo mento do
extase da consumação, ele morre e é feito em pedaços e devo rado pela mulher
misteriosa com quem se uniu. A rainha fica gravida e, depois do periodo de gestação,
da origem á vida nova – que é o rei, mas

( o rei renascido, com a juventude e a virilidade restauradas, com nova vida


fluindo através de si e de tudo que ele govema .

Somente o que pode destruir a si mesmo esta realmente vivo .

Os planetas, como vimos, são simbolos dos poderes do inconsciente;


simbolizam experiências ou energias arquetípicas, que existem em toda a vida e
28

também no homem, que é parte da vida. Uma vez que aprendemos o vocabulirio dos
planetas e seu significado no mapa individual de nasci mento, podemos examinar o
mapa e conseguir algumas indicações de como cada uma dessas energias vai se
expressar individualmente. O signo em que um planeta esta colocado é como um
adjetivo em relacão a um substan tivo, o omamento sobre o corpo: manifesta o modo
ou qualidade da expressão do planeta. Podemos agora começar a aprender alguma
coisa dos práprios signos zodiacais e de sua divisão entre as polaridades masculina
e feminina, c ampliada pela quadruplicidade dos elementos. Essa estrutura basica de
quatro também é, como veremos, arquetípica, e precisamos retomar nossa
investigação da psique pelos olhos do psicóllogo para adquirir uma maior
compreensão dos reinos do ar"da agua, da terra e do fogo.

7 Psychology and Alchemy, C. G. Jung. Londres, Routledge & Kegan Paul,


1953.

8 Ibid. C2

3 Ar, Agua, Terra, Fogo – Os Tipos Psicológicos A pessoa ve aquilo que


consegue ver melhor.

– C. G. Jung

Muito antes de a psicologia desenvolver seu divertido passatempo interminável


de dividir os seres humanos em tipos, a filosofia do Renas cimento postulou quatro
temperamentos básicos fundamentados na teoria dos "humores" do sangue. Eram o
melancolico (terra), o fleumático (água), o sanguineo (ar) e o colérico (fogo). George
Herbert, num dia de bom humor, escreveu em 1640: O Colérico bebe, o Melancolico
come, o Fleumatico dorme. O que o Sanguineo faz fica por conta da imaginação, mas
como ele é "etéreo" ou de ar, supoe-se que provavelmente filosofe.

Hoje em dia, uma pessoa ficaria horrorizada se o seu psicoterapeuta lhe


anunciasse num tom solene: "Estou virtualmente seguro de que seu problema reside
no fato de voce ter um temperamento colérico", e sem duvida haveria a imediata
exigência da devolução do pagamento. Mas ainda encontramos esses termos em
uso na linguagem coloquial, ainda CC

1 que como adjetivos insultuosos, mantendo ainda a conotação original. A


29

despeito da atual voga de "cada um ficar na sua", a idéia dos tipos ainda persiste.

Como Jung demonstrou, o fato aparentemente extraordinário de as pessoas


tenderem realmente a cair em certos grupos, conforme o temperamento, é uma
antiga preocupação da medicina, da filosofia e das artes. Antes disso, fai uma
preocupação da astrologia, que proporcionou, talvez, a primeira descriq o da
tipologia. Por isso, não é surpreendente – exceto para algumas escolas de psicologia
que insistem em que somos totalmente produtos da hereditariedade e do meio
ambiente – que os 1 quatro tipos funcionais de Jung se ajustem perfeitamente a
antiga divisão astrologica dos quatro elementos. Não se trata de uma visão ser
explicada pela outra, ou derivar da outra; em vez disso, cada uma é uma forma dife
rente de descrever a observação empirica do mesmo fenomeno.

Esse fenomeno é o simples fato de, embora unicas, todas as pessoas também
se agruparem em catcgorias gerais baseadas numa forma funda mental de ver,
avaliar, apreender e interpretar a vida. Além de ser um meio divertido de rotular
amigos e parentes, entendcr um pouco dessa tipologia basica é uma excelente
maneira de aprendcr a mais dificil das lições: nem todas as pessoas são iguais a
mim.

Todas as pessoas acham que a psicologia é o que conhecem melhor – a


psicologia é sempre a sua psicologia, o que somente elas sabem e, ao mesmo
tempo, a sua psicologia é a psicologia de todos os outros. Instintivamente, elas
supoem que a sua própria constituição psiquica seja generalizada, e que todas as
pessoas são essencialmente semelhantes as outras, isto é, a elas práprias...

como se a sua própria psique fosse uma espécie de psique-matriz que servisse
para todas as situações, e as autorizassem a supor que a sua própria situação fosse
a regra geral. As pessoas Gcam pro fundamente espantadas, ou mesmo
horrorizadas, quando essa regra, muito obviamente, não se aplica – quando
descobrem que outra pessoa é, na verdade, muito diferente delas. De forma geral,
não consideram essas diferenças psiquicas, de modo nenhum curiosas e muito
menos atraentes, mas, sim, falhas desagradáveis dificeis de tolerar, ou defeitos
insuportáveis que devem ser condenados . 1 Psychological Types, C. G. Jung.
30

Londres, Routledge & Kegan Paul, 1971.

2 Ibid. S6

.gpf JgX(.Qv(%" Torna-se de imediato evidente o que essa tipica atitude


humana pode fazer para uniformizar o mais promissor dos relacionamentos. Em
relacio namentos mais desiguai, cc o o de pa a filho, seus efeitos podem ser
positivamente tra os Um casal, ou um par de amigos, pode ser c de ngar por causa
disso e chegar a uma maior aceitação dos pontos de vist um do outro, mas uma
criança não é capaz de se defender. Ela está a merce das expectativas e suposições
que os pais projetam nela, e po agar por isso pelo resto O pro ema existente em
qualquer estu o de tipologia é que ela parece ser um sistema, mesmo que seja um
sistema natural; e embora pos samos aceitar as classificações por espécies nos
reinos animal e vegetal, temos um horror instintivo a sermos lembrados de nossa
própria falta de individualidade. É uma verdade que não é bem-vinda. Poucos de nós
podemos realmente alegat que somos seres humanos plenamente conscien tes,
expressando todo o nosso potencial; a maior parte do tempo, prefe rimos fingir que
somos, enquanto escorregamos com absoluta facilidade para um ou outro tipico
padrão de conduta. Parece que imaginamos que a individualidade, como realização ,
não é apenas um potencial nosso, mas um direito automatico que não reçoer
qualquer esforco; e faremos virtual mente qualquer coisa para evitar encarar a
realidade de que é preciso trabalhar nesse sentido. Conseqiientemente, qualquer
coisa que implique que podemos ser agrupados, como a tipologia de Jung ou
qu4quer outro exemplo da observação psicologica empirica, é pejorativamento consi
derada uma rigida estrutura que não dá espaço para as diferenças indivi duais.
Absolutamente não se trata disso. O próprio fato de partilharmos uma base comum
com outro segmento da humanidade, de acordo com certas semelhanças na
constituiyão psicoloyca, nos proporciona um am bito muito maior de expressio criativa
do nosso potencial unico enquanto indivíduos. Alérn do mais, nenhum mapa
representa o país. A tipologia de Sung, como qualquer outra, é apenas uma
ináicação que nos permite vislumbrar os padrões basicos de percepção, avaliação e
resposta que tiramos da mesma fonto coletiva.

Como a astrologin é um sistema simbolico, ela tenta expressar, através de sua


31

imagética e de sua estrutura, os padrões de energia que estão na base da vida e da


psique humana, como um aspecto da vida. A rimeira afirmação que a astrolo afaz
sohre a vida é ao mesmo tem o infantil mente simples e indescritivelmente profunda:
tudo deriv elaciona mento de dois opostos polares, que podem ser denominados
macho e femea, ativo e passivo, ym e yang.

O zodiaco, que simboliza, pela sua divisão dos.doze signos, todo ( - o espectro
do potencial da experiência humana, é assim dividido em dois grupos de seis si os:
seis sjiinos mãsculinos ou positivos, retratando dife rentes aspectos do arquétipo do
macho, e seis signos femininos ou nega: tivos, rMeratando eren es asjéctõs do
arquétipo da femea. MascuTino e feminino, em astrologia, não se referem, é claro, a
definição atual dos ter mos em nossa sociedade, e sim a qualidades da energia,
conforme exemplifi cam os hexagramas iniciais do Criativo e do ece tivo no I Ching.
Os sigtlos ositivos estão associados as ualidades d exirgversão manifestação, luz,
mente, atmdade, orientaggg déias o mundo objetivo e o futuro.

s signosqlegativos estão asso dos á introversão, recolhimento, escu s4ao,


sentimento, sensualidade, estabiTi ade, onentãjão para o mundo subjetivo é o
passadõ. Isso, na verdade, não nos diz muita coisa, pois esta grande polarização
simbolica da vida e de nós mesmos em masculino e feminino só faz uma alusão ao
que cada pessoa deve vivenciar diretamente dentro de si – os opostos dentro de sua
própria natureza, perpetuamente em luta porém, num sentido oculto, identicos.

A astrologia faz outra afirmação, de que ja falamos: toda pessoa c ntem em si


esma a semente dã aãé, s bolizada peIa roda zodiac . as embora ésta seja sua
herança e seu potencial, ela previvel mente só vai manifestar uma parte dela, e se
especializar coaforme sua gslção intrinsecaQ Sabemos que o indivíduo nunca pode
ser outra coisa simultanea mente, nunca pode ser completo – ele sempre desenvolve
certas qualidades em detrimento de outras, e a totaHdade nunca é :, gà atingiaa .

Já vimos que a-dispo mão inerent conforme encarada tanto pela trologia como
pela psicologia analitica, existe desde o começo da vida.

Essa disposição é espelhada naquelas frações da totalidade do zodiaco que, !


no mapa natal, estão diferenciadas, acentuadas e tomadas acossiveis á consciência
32

ou pela colocação de algum planeta num determinado signo, ( ou pelo


posicionamento de um determinado signo cm um dos quatro j angulos do mapa . A
interação dos dez planetas e dos quatro angulos da o esquema geral das areas de
experiência e dos aspectos da consciP.ncia Qque provavelmente serão
desenvolvidos pelo individuo. Se podemos ou não 5 3 Modern Man in Search o f
a Soul.

4 Para a descrição dos angu!os, veja o capitulo VIII.

CQ

ir além disso é uma questão em aberto, ja que a maioria das pessoas nunca
chega sequer perto da expressão do potencial psiquico simbolizado pelo mapa, muito
menos de ultrapassá-lo.

p essas rmggões a astro ogia acre snta mais llma 44acha fe a odem ser
subdivididos, de modo que Há dois os de si os mas culinos e ois grupos de si os
enuninos. Essa estrutura basica de quatro é a pedra angular da astrologia, re etid
aelos quatro elemento ;. ar, agua, terra e fogo. Sabemos que essa estrutura é ar
uetipica e inerente a todos os seres umanos, através do trabalho da psicologia
profunda nos ultimos cinquenta anos.

Todos no ossuimos as funções da consciência que Jung deno Illlll ensamento


sentimento, sensacão e intui (Um objeto) ... é percebido como algo que existe
(sensação) ; é reconhecido como isto e distinto daquilo (pensamonto) ; é avaliado
como agradivel ou desagradavel etc. (sentimento) ; e, finalmente, a intuição nos diz
de onde ele veio e para onde vai . Que nos não preenchemos a totalidade dessa
estrutura, também sabemos. Em vez disso, desenvolvemos primeiro uma função,
depois outra.

Talvez desenvolvamos parcialmente uma terceira, mas nunca realmente


chegamos a um acordo com a quarta, que permanece em grande medida
inconsciente. E muitas vezes procuramos, nos relacionamnitos, alguém que
personifique ou represente em nosso lugar aqueles aspectos da totalidade que nós
mesmos somos incapazes de expressar, ou não estamos dispostos a faze-lo.

A sua moda, aparentemente ingenua, os contos de fadas também nos falam


33

dessa quaternidade bisica das funções da consciencia. Em contos originarias de


todas as partes do mundo e de todas as épocas da h!storia, encontramos vezes e
vezes o mesmo motivo. Era uma vez um rei que tinha tres filhos. Qs dois mais velhos
eram sábios, bonitos e fortes, mas o terceiro era um idiota, de quem todos riam. Este
é um esplendido simbolo da forma de funcionamento da psique humana, pois a
função principal da consciência é o rei – que inevitavelmente, nesses contos, tem
algum tipo de problema, em geral envoIvando doença, esterilidade, ou proximidade
da morte, ou ataque de um inimigo cujas manobras eie não consegue superar. Os
dois filhos mais vo]hos tentam resolver o problema, e falham; 5 The BoundÁries of
the Soul, June Singer. Nova Iorque, Anchor Books, 1973.

e cabe ao idiota, o Louco Sagrado, o menos valorizado, o mais humilde, nossa


aspecto aparentemente mais inadequado, encontrar a solução e salvar o reino.

Agora, é muito divertido definir que sou do tipo pensativo e voce é do tipo
sentimental, e é por isso que eu sou inteligente, observador, articulado e razoavel,
enquanto voce é sempre tfo emocional, intransigente e irracior.al. Esse é um jogo
que todos nós jogamos quando iniciamos o estudo da tipologia, de um modo muito
semelhante ao que os leigos jogam o jogo do zodiaco. É claro que sou sempre
encantador, cortes e tolerante porque sou Libra, enquanto voce é obviamente
exigente, supercritico, autocentrado e de mente estreita porque é Virgem. Na
astrologia ou na psicologia, a tipologia pode ser usada como um maravilhoso "explica
-tudo" em relação aos defeitos dos outros, e na maioria das vezes é empre gada
dessa forma deturpada. Em primeiro lugar, tcmos medo de leva-la a sério; em
segundo, geralmente só captamos suas partes confortáveis, e ignoramos suas
implicações mais profuodas; e em terceiro, todo mundo, na verdade, esta
secretamente convencido de que as coisas que mais valo riza – de acordo com seu
tipo – são na verdade as melhores de todas, e tudo o mais é, de fato, um pouco
inferior.

Entretanto, existe uma penalidade autom4tica nesse jogo de classifi cação de


tipos. O problema de entender que funções da consciência foram enfatizadas com a
possivel exclusão das outras, e a eterna batalHá para conhecer o Outro que existe
em nos e chegar a um acordo com ele condu zem a aguas muito mais profundas do
34

que poderia sugerir uma interpre tação superficial dos tipos funcionais. E, de repente,
a, pcssoa percebe que não esta mais jogando um jogo, ou, se esta, as apostas são
muito mais altas do que imaginava. A psique luta pela inteireza. A verdade
subjacente da psicologia é uma afirmação terrivelmente simplista, porém
esmagadora mente importante, que deve ser vivenciada para ser plenamente compre
endida.

Inteireza não significa perfeição. A pessoa que passou muitos anos cultivando
uma snfisticação da expressão e percepção intelectuais, mas que não é capaz nem
de expressar nem de compreender sua natureza senti mental, não é inteira. Nem é
aquela que desenvolvou uma rica e plena vida sentimental e muitos relacionamentos
pessoais significativos, se não con seguir raciocinar ou vcr o ponto de vista "objetivo"
e josto que pode justi ficar principios e permitir as diferenças individuais. Nem é a
realista pra tica, com o mundo dos faios i sua disposição, que expressou o desabro
chamento pleno de suas capacidades organizacionais, mas não consegue enxergar
para cnde elas estaa camirAando, ou não consegve achar signifi

cado ou um sentido espiritual interior em sua vida. Nem é a visionária ou a


artista, que vive num mundo de infindáveis possibilidades, mas não conse que lidar
com a mecanica simples da vida terrena, nem concretizar seus inu meros sonhos.
Quantos de nós podemos alegar que operamos livre e satis fatoriamente com todas
as possibilidades da psique? Por que sontimos uma atração – ou repulsa – tão
compulsiva em relação as pessoas que parecem personificar estilos de vida, ou
valorizar a importância e o funcionamento daquilo que, de alguma forma, nos
escapa? Embora o zodiaco seja um simbolo da inteireza, essa inteireza não esta
contida em nenhum mapa, porque só há dez planetas para manejar, dos quais
apenas sete sio reahnente "pessoais", no sentido de que se referem a personalidade
ou a estrutura do ego do individuo; e existem doze signos e doze Casas ou setores
no mapa de nascimento nos quais os planetas podem estar localizados. Também
existem inumeras combinações possiveis das relações angdares entre os planetas.
Todo mapa contém uma superenfase e uma subenfase, assirn como toda psique
humana; é a natu reza do animal. A compreensão da tipologia, portanto, não equivale
35

a um sistema de classificação. 8 o mapa de uma estrada que pode lhe dizer onde
começar, onde provavelmente seri a sua primeira curva, onde é possivel que o seu
carro quebre e o que pade ser feito para conserta-lo e aonde, se tudo der certo, voce
podera chegar no tompo certo.

Inerente ao agradavel reconhecimento das funções da consciência que são


"superiores" – isto é, bern desenvolvidas, confiaveis, sob o con trole da vontade do
indivíduo – esta o reconhecimento muito menos agradavel de que existe um
problema com as funções opostas, que são "inferiores". Essas funções, muitas
vezes, são ingovernaveis, erraticas, imprevisiveis, excessivas, um pouco infantis ou
primitivas, e matizadas por uma peculiar qualidade de autonomia que, quando
afioram, fazem as pessoas dizer coisas tais como: "Desculpe, eu estava fora de
mim", ou "Alguma coisa tomou conta de mim." Essas desculp s tem o objetivo de
esconder o fato de que ficamos mais mortificados que os outros quando o
inconsciente se afirma por conta própria e nos leva a comportamentos que não
podemos explicar e não desejamos.

As funções opostas são assim chamadas porque não podem funcionar juntas. O
sentimento e o pensamento, por exemplo, são dois modos total mente diferentes de
avaliar ou reconhecer a experiencia; um deles, o sentimento, é totalmente mbjetivo
e realizado sem lágica, com base na resposta pessoal, enquanto o outro, o
pensamento, é totalmente "obje tivo" e dependente da logica, em detrimento da
resposta pessoal. Pos suimos as duas funções em potencial, mas vamos usar
principalmente 1

uma e não a outra; elas não podem ser usadas ao mesmo tempo. Os valores
inerentes a cada uma são totalmente diferentes e não se mesclam. É pos sivel
secundar uma com a outra, mas não usa-las simultaneamente. Muitas pessoas
baseiam seus valores completamente em uma fungo e fingem que a outza não
existe.

A intuição e a sensação, da mesma forma, são funções opostas, porque


representam dois modos totalmente diferentes de percepção. A intuição é muitas
vezes chamada percepção via inconsciente, e envolve a nãowonsideração da
36

realidade fisica de uma experiência ou objeto, de forma que o significado, as


ligações, o passado e as possibilidades futuras do objeto possam ser englobadas em
uma visão unificada. A sensação, por outro lado, é precisamente o que a palavra
sugere: significa perceber através dos sentidos, e os sentidos só vão registrar o que
é tangivel e possui forma. Portanto, a sensação olHá a superficie das coisas
detalhadamente, examinando meticulosamente o que é a coisa de acordo com sua
forma, enquanto a intoição olHá além, através, em volta e por tras da superficie, de
modo que o proposito e as implicações possam ser discernidos.

Quando o sentimento é o principal mado de avaliar a experieneia, a função


pensativa tem uma qualidade "inferior", o que geralmente é expressado como
dogmatismo. Quando o pensamento é o principal modo de avaliar a experiencia, a
função sentimental tem uma oualidade "inferior*, o que é geralmente expresso ou
como frieza ou sentimentalisino.

Quando a intuir,ão é o modo principal de percepção, a função da sensação tem


uma qualidade "inferior", muitas vezes expressa como falta de cui dado ou de senso
prático; e quando a sensação é o modo principal de percepção, a intuição tem uma
qualidade "inferior", muitas vezes demonstrada como credulidade ou fanatismo.

As funções "inferiores", aldm de serem um pouco primitivas, tem outra


caracteristica interessante: são habitualmente projetadas, e nos aparecem sob o
disfarce de outra pessoa ou situação que nos atormenta exatarnente com aquele
aspecto da vida que somos menos capazes de mancjar. Então, é claro, a
inferioridade (ou o que algumas vezes parece uma sólida superioridade) parece
pertencer a outra pessoa, o que é sempre mais agradavel do que se estivesse em
nos. O inconsciente dc uma pessoa é projetado sobre outra, de modo que a primeira
acusa a segunda do que não ve em si própria.

Esse principio tem uma validade tio alarmantemente genera lizada, que todo
mundo faria melhor, antes de denunciar os 67 J

outros, se sentasse e ponderasse cuidadosamente se a pedra não deveria ser


atirada em sua prápria cabeça .

Qualquer que seja a função da consciência com a qual nos identifi camos,
37

precisamos aceitar a existência do seu oposto em nos. Quase sempre isto é muito
dificil, porque – diferentemente dos "defeitos" dos quais estamos confortavelmente
conscios, não os sentindo de fato como defeitos – a inépcia das funções inferiores 8
uma genuina fonte de dor e inadequação, mesmo quando é parcialmente consciente.
Em consequen cia, encontramos muitas pessoas que criam um conjunto artificial de
res

t postas a que dão o nome de sentimento, pensamento, sensação ou intui po,


mas que são desajeitados simulacros que não enganam ninguém, a não ser o
próprio individuo, e que tem uma flagrante marca de insinceridade.

A admissão da própria identificação com um determinado aspecto da


consciência não significa que a pessoa esteja condenada a expressar apenas aquele
aspecto a vida inteira. As pessoas não são estiticas, e a pique sempre trabalHá para
obter o eçolhbrio. A pessoa cresce em direção ao seu oposto. Isto constitui, ao
mesmo tempo, uma das maiores batalhas,I uma das maiores alegrias e um dos
aspectos mais significativos da expe dincia de vida.l O Elemento Ar: o Tipo Eensativo
O intelecto é Deus em cada um de nos.

– Menander O elemento ar é outra forma de expressar, numa linguagem maisI


tipicamente produto de uma era em que o ser humano estava mais pro ximo da
imagética do inconsciente, o que Jung quer dizer pela função do pensamento. O ar,
considerado astrologicamente, é elemento positivo e masculino, e os signos aéreos –
Gêmeos, Libra e Aquario – são geral mente descritos nos manuais astrológicos como
desprendidos, comunica tivos, interessados no mundo das idéias e privilegiando a
racionalidade. São, em resumo, civilizados. O ar é o unico elemento da roda zodiacal
que não contém nenhum simbolismo animal: Gêmeos e Aquário são representados
por figuras humanas, respectivamente os Gêmeos e o aguadeiro, e Libra é retratado
por um objeto inanimado, a balança. O ar é o elemento mais 6 Qvilisation in
Transirion, C. G. Jung. Londres, Routledge K Kcgan Paul, 1964.

tipicamente humano, mais distânciado da natureza instintiva; e é o reinado


humano que desenvolveu – ou talvez superdesenvolveu nos ultimos duzen tos anos:
a função do pensamento como o seu grande dom.
38

Os tres signos aéreos, embora diferentes nos seus modos de expres são,
partilham a necessidade de relacionar as experiências da vida com um parametro de
idéias preconcebido. Esse parametro pode vir do exterior, extraida de livros,
ensinamentos e conversas com os outros, ou pode vir de dentro, cuidadosamente
criado pelo trabalho mental do próprio indi viduo; mas a existência do parametro é de
importância fundamental, e há uma tendenciz a procurar em todas as experiências o
padrão lágico subja cente que faz com que elas se encaixem i estrutura
preconcebida.

Fundamentalmente, o pensamento estabelece a diferença, através da logica,


entre "isto" e "aquilo", e toma-se evidente a razão de os signos aéreos serem
associados com um temperamento que coleta e classifica a informação, pesando
uma coisa contra a outra, e compondo um parametro filosofico a partir dos pedaços e
fragmentos.

O tipo aéreo – e isso não significa necessariamente o indivíduo nas cido com o
Sol num signo de ar, mas sim alguém cujo mapa, como um todo, contdm uma
predominância dos fatores aéreos – em geral se asseme lha, no todo e nos detalhes,
ás qualidades do tipo pensativo conforme des crito por Jung. Tem todas as bençãos
desse tipo: a mente altamente desen volvida, o senso de justiça e a capacidade de
avaliação impessoal das situa ções, o amor pela cultura, a valorização da estrutura e
do sistema, a cora josa adesão a principios, o refinamento. Também tem todos os
defeitos do tipo – em termos da função "inferior –, que são eufemisticamente
expressos nas caracteristicas atribuidas aos tres signos aéreos: Gêmeos tem horror
a se definir em reiacionamentos pessoais, Libra é notorio por ficar em cima do muro
e se recusar a se comprometer, e Aquirio é conhecido por seu frio distânciamento e
aversão a demonstrações emocionais, que com tanta freqiiência fazem parte do
relacionamento pessoal.

Em outras palavras, o tipo aéreo tem um problema com o senti mento. Com a
preponderância de ar num napa, esta implicita a proba bilidade de o mundo das
trocas emocionais pessoais ser o maior problema da vida do indivíduo – embora ele
possa não saber disso até ser aban donado pela esposa –, porque o sentmento, ao
contr5rio de tudo o mais que cai sob seu olhar microscopico, não pode ser
39

classifiaado, estruturado, analisado ou encaixado no parametro.

Há muitos aquarianos, mulheres e homens, que se orgulham do fato ãe que


nunca choram, porque encaram as demonstrações de emoção corno fr.aqueza. Esta
é uma virtude mais ou menos questionavel, conside

r rando-se o que inevitavelmente vai se acumulando no inconsciente através


dessa subestimação injustificada da função do sentimento. Pergunte a um geminiano
tipico o que sente a respeito de alguma coisa, e ele vai começar assim: "Bom, eu
penso..." Quando voce lhe diz que quer seus sentimentos, não seus pensamentos,
em geral ele simplesmente não sabe o que sente e precisa sair por meia hora para
descobrir. Gêmeos, sendo geminiano, provavelmente não vai voltar, e voce o perdeu
porque foi muito "possessivo" e "exigente". Ou temos o hábito caracteristicamente
libriano de simplesmente evitar qualquer contato com as subcorrentes emocionais
obscuras dos relacionamentos porque não são "bonitas"; o libriano prefere morar na
torre de marfim dos seus ideais romanticos, calculando exata mente como gostaria
que seus relacionamentos fossem e imaginando por que as coisas nunca tem o
resultado que ele almejou. E é preciso não esquecer a classica citação aquariana,
dita a uma mulher que reclamava de nunca ter recebido flores ou qualquer outra
demonstração de afeto, em quarenta anos de casamento: "Mas eu lhe disse que a
amava quando nos casamos.

Não é suficiente?" Será que esse problema, na verdade. pertence aos outros?
Ou será que o tipo adreo, cuja fria objetividade e sociabilidade lhe valeram a repu
tação de parecer ser o mais "normal" dos tipos, tem uma abordagem um tanto infantil
do mundo do sentimento? Pode ser que ele precise parecer desprendido, controlado
e razoável porque na realidade esta apa vorado com o que estaria fervendo la
embaixo, nas profundezas? Algumas pessoas de ar são demasiadamente cánscias
da desconfortavel autonomia de sua função sentimental, e a tratam como uma
espécie de besta sombria que de vez em quando foge por descuido, mas nos dias
bons permanece atrás das grades de modo a não perturbar a placida ordem da vida
racional.
40

Outras pessoas de ar são completamente inconscientes de seus sentimentos, e


confundem o que não podem autenticamente expressar com uma série de
substitutos superficiais: demonstrações de sentimentos, doações mone tarias bem
divulgadas para caridade e uma espécie de resposta aqucarada tipo "lágrimas nos
olhos" em relação a "crianças e cachorros".

Pode-se, é claro, perguntar qual a necessidade de despertar a besta; sem


duvida, a vida não seria melhor se ficasse mansa, e a gente não fosse incomodada
com a bagunça toda das emogões? Quando se examina a grande dádiva do
comportamento coerente e harmonioso que o tipo aéreo geralmente expressa, por
que complicar as coisas? Otimo, se estiver pronto para viver numa caverna como o
Ioguim Milarepa, concentrando suas energias para derreter neve – mas não quando
voce vive no mundo com as outras pessoas. Não é que haja alguma coisa "errada"
com o tipo aéreo, ou 66

5 que ele seja "anormal"; ele é ele, e como tal tem o direito de ser ele.
Mas,a a não ser que aprenda alguma coisa a respeito do mundo do sentimento
e desenvolva alyuna capacidade de se relacionar com os outros no nivel do
sentimento, ele permanecera inapelavelmente cego aos valores do sentimento e
capaz de muita crueldade não-intencional. Um exemplo não O muito agradável da
repressão (e do subseqiiente surgimento) da função do sentimento é a Republica de
Weimar e o desenvolvimento do Terceiro is Reich, antes da ultima guerra – um
probiema sobre o qual Jung escreveu extensamente em OviIisation in Transition. Na
atual década, a ciencia, construida sobre principios do pensamento, corre o perpétuo
risco de ver suas descobertas utilizadas para a destruição maciça, se não conseguir
conservar alguma consciência da realidade do sentimento e do fato de que o
conhecimento, isoladamente, sem a sabedoria do coração, é não apenas incompleto,
como também decididamente perigoso. Se é possivel des culpar a inferioridade do
sentimento na vida pessoal porque "não machuca ninguém", deve-se levar em conta
as implicações sociais mais amplas. Em geral, entretanto, existe alguém machucado
no nivel pessoal, e na maioria dos casos é o próprio tipo aéreo.

n Um dos aspectos mais trigicos de tudo isso, no nivel pessoal, é que e


a personalidade do signo de ar, por estar raramente em contato com seus
41

sentimentos mais profundos, em geral é indiferente aos dos outros. Assim, leva um
choque brusco quando alguém mais istimo começa a expressar sua insatisfação com
o reiacionamento, ou parte batendo as portas e dando a o tiro de misericordia a
respeito de sua frieza e insensiblhdade. Se ela é a pessoa que termina o
relacionamento, em geral acredita que "conti nuando amigos" tudo está em ordem, e
raramente percebe a dor que pode causar. Se é a pessoa rejeitada, ern geral é
forçada a aprender o que mais teme sobre si proprio: por baixo da fria mente jaz uma
dependência do sentimento que, embora muitas vezes não admitida e não
expressa, é tão poderosa, que a partida de um parceiro ou de um filho pode destruir
completamente os alicerces de sua vida.

L; Outro perigo que freqiientemente espreita o tipo aéreo é a espécie de


fascinação fatal que o professor Rath, o pedagogo ernpertigado e a pedante,
sente por Lola Lola, a cantora de cabaré no filrne O anjo azul.

O Nenhum tipo de personalidade é tão dado a esse excesso emocional


como ,O o ar, porque, quando os sentimentos tomam conta dele, fazem-no com
LS flhia. Seus pensamentos, antes tão cristaiinos e claros, agora sio domi IS
nados por seus sentimentos e pelo indivíduo que recebeu a projeção do Q
lado inconsciente dele mesmo; e enquanto ele permanecer ignorante dos
niveis mais profundos de sua própria natureza, o outro vai parecer pmpor K7

cionalmente mais amoroso, mais caloroso, mais complacente e mais simpa tico
– uma caracteristica do sentimento –, ou inconstante, caprichoso, im pxevisivel e uma
verdadeira personificação da natureza elemental em todas as suas variantes. O
aspecto maternal do sentimento e sua fascinação pela pessoa de ar também estão
retratados em muitos contos de fadas, nos quais o ser amado esta sofrendo Há muito
tempo e pode ser redimido pela pacien cia, como Griselda, a Paciente; o aspecto
mais explosivo do sentirnento é retratado nos contos em que o herói se apaixona
desesperadamente por uma ondina, uma sereia, uma misteriosa criatura das
profundezas com corpo de mulher e cauda de peixe que, no final, ou o deixa ou o
destroi.

Alguns dos objetos das fantasias das pessoas de ar podem leva-la a ir


42

dancando até o inferno – o inferno de sua própria natureza sentimental vulneravel e


infantil. Mas nos criamos o nosso destino através do poder criativo do inconsciente,
e, quando um indivíduo se encontra nesse tipo de situação, é muito provável que
seja exatamente porque ela é necessária para ajuda-lo a se tornar consciente de sua
função do sentimento. O ar sente uma atração magnética pela agua, que sirnboliza a
função oposta: o sentimento. Mesmo que o parceiro não seja de fato uma ligação
ade quada – isto e, mesmo que o mapa do outro não mostre uma forte enfase em
planetas em signos de agua –, de alguma forma ele ou ela vai parecer idealmente
aquoso quando vestido pela projeção inconsciente. O ar é famoso por ser um mau
julgador de parceiros, porque escolhe tudo de acordo com a razao, até que Eros o
escolha. Ai ele não tem escolha, pois fica sob o dominio do inconsciente. Sua
insistência na logica e coerência em todas as coisas inevitavelmente provoca
tamanho stress no incons ciente, que ele se condena a uma explosão da função
inferior quando a pressão se torna demasiada.

Mesmo em relacionamentos menos dramaticos entre os tipos de pensamento e


sentimento, como os herois e as sereias, podemos ouvir esse dialogo tradicional:
Por que esta de tão mau humor, querido? Voce foi frio comigo a noite inteira.

– Do que está falando? Que humor? Estou otimo.

– Mas sei que voce esta de mau humor. Eu sinto isso. Diga-me o que esta
errado.

– Estou lhe dizendo que estou perfeitamente bem. Por que voce sempre exige
minha atenção canstante? – Mas não estou sendo exigente, é só que voce esta
sendo tão mal-humorado comigo... KQ

bem escuro. No sentimento não Há linhas nitidas de distinção baseadas l em


principios – "isto" não é diferente "disto". Em vez disso, tudo é um aspecto de um mar
em constante fluxo e mudança, no qual tudo é um e todas as diferenças se fundem.
A unica diferenciação que a agua faz é se um sentimento lhe parece aprópriado; mas
não é nem "bom" nem "mau".

O simbolismo dos signos de agua mostra tres criaturas de sangue frio: o


caranguejo, o escorpião e o peixe. Nos sonhos, essas imagens geralmente estão
43

associadas a energias instintivas, inconscientes, proximas das antigas raizes naturais


do homem, e muito distantes do mundo do pensamento humano diferenciado e
racional. A maior parte da avaliação da vida feita pela agua ocorre em nivel
inconsciente; a respeito desses signos, pode-se realmente dizer que a mão direita
não sabe o que a esquerda faz. A agua simplesmente responde, e suas respostas a
qualquer situação pessoal são quase infalivelmente corretas e adequadas. As
respostas do ar, ao con trario, são inventadas, baseadas em principios, em geral
aprópriadas em teoria mas completamente erradas na situação particular em que o
indivíduo se encontra. Enquanto o ar se ocupa forçando-se a comporta mentos
coerentes com um parametro preconcebido, a água é imprevisivel e responde a cada
situação como se nunca tivesse acontecido antes.

O tipo de agua geralmente conhece bem o lado mais sombrio da natureza


hmnana, o que garante a esses signos a reputação de compaixão e empatia. Existe
uma capacidade de sentir o que o outro sente e de avaliar as coisas de modo que
aparenta ser uma forma inteiramente irracio nal, capaz de enfurecer o tipo de ar, que
precisa raciocinar sobre tudo.

"Por que voce não gosta dele?" diz o ar, e a agua responde: "Não sei, não me
sinto bem com relação a ele." "Mas voce deve ter um motivo!" "Não preciso de
motivos; eu simplesmente sei." "Mas certamente voce não espera que eu aceite o
seu julgamento scm uma razao!" Numa situação dessas, a agua, em geral
intimidada diante dacapacidade logica superior do ar, normalmente inventa uma
razão tão cheia de opiniões imaturas, genera lidades e uma pretensa perspicácia
intelectual, que não é de surpreender que o ar a encare como um tipo não
particularmente inteligente. Entre tanto, o problema não é de inteligencia; na verdade,
em geral a agua é mais inteligente que o ar, em termos de sabedoria e compreensão
áas pessoas.

Quando pressionada, entretanto, ela revela o seu pensamento inferior; e como a


nossa época da um grande valor a destreza intelectual, a agua tende a ser
subestimada. Nas nossas modernas instituições educacionais, os dons da mente é
que são alimentados e estimulados, e não os dons do coração .
44

A agua tem todas as benção s do tipo sentimental: sensibilidade ao ambiente,


sutileza, encanto e compreensão, um forte senso de valores nos 7A

relacionamentos e a capacidade de juntar indivíduos e instintivamente entender


suas necessidades. Mesmo Escorpião, tão caluniado por causa de sua impenetravel
fachada de fria crueldade e sua fama, geralmente imerecida, de cometer excessos
sexuais – seria melhor dizer excessos emocionais –, é um signo verdadeiramente
sentimental, com um coração mole sob a carapaça dura. ao mesmo tempo, é claro,
a agua tem os de feitos do tipo, também expressos nas classicas descricões dos
signos que herdamos da antiga astrologia. Cincer, tradicionalmente, tende a se
apegar, ser possessivo, desconfiado e receoso do futuro; Escorpião tem fama de
fanatismo emocional e uma espécie de atmosfera sombria, pesada. fermen tadora,
que faz todo relacionamento parecer uma cena de Otelo; e Peixes é notorio pelo
efusivo sentimentalismo, o escapismo romantico, vacilação , falta de pontualidade e
de principios, e indefinição.

A agua, em resumo, tem um problema com a razao, e em geral é


completamente inconsciente do constante fluxo de opiniões, julgamentos e criticas
negativas irresponsáveis e de segunda mão – tanto a seu respeito como a respeito
dos outros – e idéias fixas que saem de sua boca e se introduzem sorrateirarnente
nos seus relacionamentos de sentimentos.

A agua, as vezes, é um pouco infantil em relação ao mundo das idéias.

Muitos homens podem achar encantador ter uma esposa quer"não sabe
absolutamente nada sobre esse negácio de politica", por "esta muito além" dela, mas
"sabe preparar uma boa refeição". Essa inferioridade inconsciente do pensamento
tem uma face particularmente feia quando se mostra como fofocas maldosas,
difamação e uma espécie de fanatismo ideológico. Na sua forma mais suave, essas
caracteristicas produzem uma pessoa que constantemente diz aos outros como
deveriam viver; na forma mais extremada, são esplendidos ingredientes para a
criação de um bom terrorista.

Existe uma historia tipica, a respeito de uma mulher que tinha uma associação
intima, porém inocente, com um terrorista do IRA pro curado por varios assassinatos
45

e atentados a bomba. Quando lhe pergun taram por que não entregava o homem a
policia, ela respondeu: "Mas, na realidade, é uma pessoa otima quando se conversa
com ele, e nunca fez nada que me magoasse." Esse pequeno exemplo diz mu!ta
coisa a respeito das conseqiiências menos agradáveis do pensamento inferior.

A agua carece de objetividade, e tudo que não caia no campo de visão pessoal
do tipo de agua, tudo com que não se possa relacionar através do sentimento não
tem significado real. Da medo imaginar o que seria um mundo habitado somente por
tipos sentimentais. Provavelmente não haveria mundo, pois qualquer preocupação
objetiva em relação a huma

71

nidade seria secundaria em relação ao que é bom "para mim e para os meus".
Assim como o tipo pensativo precisa adquirir uma consciência dos valores pessoais,
para evitar a brutalidade inconsciente, o tipo senti mental precisa adquirir a
consciência dos valores objetivos, para evitar uma brutalidade semelhante, embora
com motivação diferente.

Um dos maiores problemas que a agua encontra é que, através da superenfase


no sentimento, ela pode facilmente afastar aqueles que lhe são mais caros –
simplesmente porque não consegue entender que la fora existe um mundo que lhe
solicita energia e atenção . Embora seja sempre suscetivel a dor dos outros, muitas
vezes é incapaz de entender objetiva mente que as pessoas pensam de forma
diferente e tem diferentes neces sidades e valores, e tenta colocar o sufocante manto
de sua solicitude sobre tudo que perturbe da mesma maneira, o seu senso de
h.armonia. Assim fazendo, ela pode não perceber que algumas pessoas acham que
isso não é harmánico, e sim sufocante. Nos relacionamentos pessoais, a agua
muitas vezes é quem cai fora por se sentir ferida ou emocionalmente rejeitada;
nesses casos, o mais comum é ter encontrado um parceiro ainda mais "suscetivel",
para acabaz descobrindo, horrorizada, que o novo amante tem um rosto diferente,
mas é a mesma velHá pessoa. A agua tenta tomar conta de todos – e isso é valido
para os homens verdadeiramente de água e também para as mulheres – sem ver
que alguns filhos querem que os deixem crescer. E o tipo de água pode desencadear
46

a critica destrutiva de seu pensamento não-aceito sobre seus próprios filhos, sob o
disfarce do que é "melhor" para eles – receando, inconscientemente, o dia em que
vio partir e cortar o elo sentimental que o sustenta.

O tipo de agua é, com mais frequencia, a pessoa rejeitada nos rela cionamentos,
em grande parte porque, se o seu pequeno mundo pessoal estiver lhe parecendo
bom, ela não se da ao trabalho de imaginar que seu parceiro tem necessidade de um
alimento intelectual mais estimulante para poder crescer. A agua tem uma tendência
a viver através dos outros, o que é sempre uma empresa altamente perigosa; o seu
efeito sobre o outro é seme lhante ao do visgo sobre o carvalho. O parasita sufoca
seu hospedeiro.

A agua é magneticamente atraida pelo ar, e se esses dois tipos pudessem


terminar com suas infindáveis escar uças, aprenderiam muito um com o outro sobre
suas próprias vidas inconscientes. O maior desafio da agua residc nos indivíduos que
não conseguem responder prontamente através da linguagem do sentimento, pois o
tipo pensativo inevitavelmente proporciona uma oportunidade para que seu parceiro
sensitivo desperte, abra os olhos e faça uma boa e refrescante inalação áo ar limpido
das alturas. 71

O Elemento Terra: o Tipo Sensorial O problema de ter sempre os dois pés


firmemente plantados no chão é que voce nunca consegue tirar as calcas.

– J. D. Smith

O elemento terra se correlaciona com a função da sensa jao; e como um dos


propositos dessa função é determinar que algo existe, a terra da a impressão de ser
um tipo razoavelmente acessivel e mesmo simples.

Relacionamo-nos com o mundo dos objetos através dos sentidos, e é dificil


diminuir ou reprimir nossa resposta aos objetos da maneira que muitas pessoas
diminuem ou reprimem pensamentos, sentimentos ou intuições – principalmente
numa era em que a maioria das ciências empiricas só da o seu selo de aprovação ao
que tem forma concreta. Em consequencia, a maioria das pessoas acHá o elemento
terra relativamente facil de entender – exceto as próprias pessoas de terra.

O tipo de terra geralmente é descrito nos manuais astrológicos como pratico,


47

eficiente, cheio de senso comum, sensual, "realista", bem organizado e amante do


dinheiro, da segurança e do status. Essa descrição se aplica aos tres signos de terra:
Touro, Virgem e Capricornio. A sensação tem a "função da realidade", e nessa esfera
o tipo de terra se sobressai, conseguindo de alguma forma ordenar a bateria aleatória
de estimulos que assaltam os sentidos, relacionando-se com cada um
individualmente, saboreando-o, aprendendo sua natureza, e passando para o
seguinte.

Dessa forma, constroi um conjunto de fatos que lhe permite lidar suces
sivamente com todas as situações da maneira mais eficiente.

O tipo de terra tem todas as caracteristicas de sensações tipicamente


junguianas. Esta a vontade com seu corpo, identifica-se freqiientemente com ele e,
em geral, é saudavel porque consegue expressar diretamente seus desejos fisicos.
Esta a vontade com as coisas, e geralmente consegue lidar com o dinheiro e com as
responsabilidaes sem esforço, o que é um assombro para as pessoas mais intuitivas
por temperamento. Tem o dom de concretizar seus desejos, e essa capacidade de
"realização" mostra seu melhor lado quando combinada ou com o pensamento, que
resulta no pen sador cuidadoso, empirico, o estatistico ou pesquisador impecavel, ou
com o sentimento, que da origem ao sibarita feliz, o amante ou pai afetuoso, o
patrono da natureza e de todas as coisas bonitas.

O tipo de terra também tem todos os defeitos potenciais da su perenfatização da


sensação associada com a intuição inferior, mais uma vez corretamente resumidos
nas descrições tradicionais dos signos de terra. 7Z

Touro é famoso pela dogmatica estreiteza mental, superpossessividade em


relação ao que julga ser sua propriedade e pela tendência a subordinar as mais sutis
e complexas experiências da vida á seguinte filosofia: "Ou eu vejo ou não existe."
Virgem, proverbialmente, não consegue "ver a floresta por causa das arvores", e se
perde num labirinto de detalhes e minucias irrelevantes, sem nunca perceber a razão
de seu labor incessante, ou que algumas pessoas gostam de um pouco de caos em
sua vida. E Capricornio tem a reputação um pouco desagradavel de justificar os
meios pelo fim e moldar seu comportamento de acordo com as expectativas sociais;
48

isto lhe permite desfru o status que procura, sem sacrificar qualquer coisa de si
mesmo.

Em outras palavras, enquanto o tipo de terra se sobressai na acumu lação de


fatos, deixa de ver o significado das ligações entre eles, as relações que os unem
num significado comum; e embora se mova com facilidade entre a complexidade do
mundo dos objetos, esta sujeito a deixar de ver o significado interior de sua própria
vida. Sendo orientado para a sensação, o tipo de terra possui como função inferior
um senso intuitivo mais ou menos primitivo. Em alguns casos, essa intuição atrofiada
o cerca de medos irracionais e apreensões vagas de uma espécie negativa, que
constantemente interferem no seu simples mundo em brancow-preto. Em outros
casos, ele reprime inteiramente a intuição e vive num interminavel crepusculo
cinzento de trabalho e rotina que gradualmente aumenta a pilHá de objetos a sua
volta, mas não faz nada para aliviar o espaço vazio dentro dele – que clama por
algum sentido de propásito, por um sentimento de fazer parte de uma vida maior, por
alguma esperança no futuro que lhe permita descansar de seu trabalho e aproveitar
o presente de forma criativa. Outra maneira de descrever o problema do tipo de terra
é que ele não sabe ser criança, não sabe brincar. É velho na juventude; e a não ser
que consiga se soltar da rotina de sua escravidão do que considera realidade, fica
parti cularmente propenso a recear a morte como o juizo final – a somatoria definitiva
de sua vida, cujo significado subjacente lhe escapa, de alguma forma.

A terra sente um anseio pelo que chama de espiritual, embora isso muitas vezes
seja expresso como uma crença ou uma fascinação secreta por fantasmas,
psiquismo e outros fenomenos parapsicológicos, sem qualquer compreensão das
implicações da existência desse tipo de mundo "sobrenatural". É muito comum ve-lo
no encalço de um objeto de amor que personifica sua idéia do médium, do inspirador,
do guia, que possa, de alguma forma, partilhar com ele os segredos do cosmos e
aliviar sua pesada dor. Infelizmente, aqueles que estão em contato com os mistérios

interiores não podem distribui-los como se fosse pão e queijo, pois essa
experiência intuitiva é totalmente individual, intensamente pessoal e não pode ser
explicada da forma concreta como a terra gosta das expli cações. O tipo de terra não
aceita nada que não esteja apoiado no teste munho de seus sentidos. Há tipos de
49

terra que parecem cães amarrados a um poste com uma trela comprida; eles ficam
dando voltas, mas nunca conseguem ultrapassar o comprimento da corrente, que é
forjada por sua insistência em que os sentidos são o unico meio de aprender a
realidade.

O tipo de terra pode ser um maravilhoso construtor, provedor, admi nistrador da


casa e consciencioso servo das necessidades daqueles que ama.

Seu pior pecado, nesse caso, é a falta de visão, capaz de sufocar as pessoas
práximas a ele e esmagar a sua nascente criatividade e a dos outros, insistindo
exageradamente no lado pratico. Tor que esta perdendo tempo com essa besteira?"
diz o pai preso a terra a seu filho, que está aprendendo a pintar/tocar piano/estudar
filosofia/dominar a arquitetura dos anéis de fumaça. "Voce devia estar la fora
aprendendo a ganhar dinheiro." O dano realmente sério que essa atitude pode
ocasionar aos filhos é bem conhecido. Temos toda uma geração de marginais e
fugitivos que se rebelaram violentamente contra os valores terrenos constantemente
impin gidos por pais bem-intencionados – pais que, tendo passado por duas guerras
mundiais e uma aguda depressão economica, esqueceram que o futuro sempre
contém novas possibilidades. A sensação valoriza apenas o que pode perceber e,
em conseqiiencia, esta destinada a perder muita coisa.

O fato de alguém querer "desperdiçar" seu ultimo centavo em jacintos para a


alma é um ultraje e insulto as horas de labuta que o tipo terra gastou para
proporcionar aos outros as coisas que acredita que eles querem, porque ele próprio
as deseja.

A terra, se estiver razoavelmente satisfeita sexualmente e com uma situação


satisfatoria em termos de sua necessidade de estabilidade material, geralmente vai
permanecer em relacionamentos que deixariam os outros tipos loucos. Pelo fato de
basear a realidade no que esta á sua frente, o fato de o parceiro estar fisicamente
presente significa, para ela, que o relacio namento existe. ao mesmo tempo, as
nuanças mais sutis lhe escapam, como muitas vezes também acontece com o seu
parceiro. Por outro lado, a face intuitiva inconsciente, as vezes, surge como um
fascinio por alguém que personifica a vida, a vitalidade e o caos, o que naturalmente
50

introduz o caos no seu mundo cuidadosamente ordenado. Muitas vezes esse fascinio
é por algum tipo de movimento religioso ou espiritual, e essa é uma das expressões
mais estranhas da intuição inferior: um fervor religioso intenso e sincero, porém
crédulo.

Aqui, a busca intuitiva inconsciente de um significado na vida é estruturada e


cristalizada pelos sentidos como dogma, que tenta definir Deus, colocar a realidade
espiritual numa forma concreta, e transferir o numinoso para objetos sagrados – em
outras palavras, uma adesão a letra da lei, e esquecimento do seu espirito. A
Inquisição espanhola talvez seja um bom exemplo da intuição inferior irrompendo
numa cultura alta mente orientada para a sensação. A rigorosa e fanatica coerção da
crença dentro de uma estrutura, fora da qual qualquer um se torna um herege que
deve ser fisicamente destruido, exemplifica admiravelmente a face mais feia da
intuição inferior. A maior parte das caças as bruxas – quer sejam dirigidas por um
bando de puritanos do século XVII, por um bando de puritanos do século XX usando
a máscara do "realismo" exagerado, ou por um bando de velhos dos dois sexos
compelidos a enfiar a mensagem cristK pela garganta dos pobres paçãos ignorantes,
dos vizinhos e amigos – cheira a intuição inferior projetado em um bode expiatorio
conveniente.

Mais comumente, a intuição inferior nos tipos de terra mais bem equilibrados se
mostra como vagos pressentimentos negativos. O tipo de terra tenta ver o futuro, que
volta para ele enegrecido pela fuligem das suas próprias projeções inconscientes, de
modo que invariavelmente os outros querem "pega-lo", nada "nunca vai funcionar", e
ninguém é digno de confiança. Touro é famoso por seu horror a perder o que possui;
Virgem fica imobilizado de terror quando qualquer coisa do seu mundo
cuidadosamente arrumado fica ligeiramente desarrumada por causa da intromissão
de algum elemento irracional, inesperado; e Capricornio é bem conhecido pelas suas
suspeitas das pessoas que possam querer tira-lo da posição que conquistou. Esses,
naturalmente, são exemplos extremos.

Mas podemos considerar o caso de Richard Nixon que, com o Sol em


Capricornio e Virgem no ascendente, tem uma função de sensação forte mente
desenvolvida; e é plausivel sugerir que a paranoia e as suspeitas exageradas de uma
51

intuição inferior o levaram a adotar os métodos que tiveram como conseqiiência


inevitavel a sua queda. A maioria dos tipos de terra não leva vidas tão dramaticas,
nem é tão exagerada; mas o mundo obscuro da fantasia é sempre um terror e um
fascinio para esse tipo enga nosamente simples. A busca de alguma espécie de
realidade espiritual interior é absolutamente necessaria para o tipo de terra para que
encontre sua própria inteireza, pois sua mais profunda necessidade inconsciente é a
sede de significado, que, se não receber espaço para viver, vai danificar os alicerces
concretos sobre os quais construiu sua vida.

A terra sente uma atração magnética pelo fogo, e é comum encontrar pessoas
com uma preponderância de terra no horoscopo procurando inspi

7Z

ração e drama num parceiro de fogo. Os relacionamentos terra-fogo fre


quentemente são menos dificeis que os relacionamentos ar-água, porque a sensação
e a intuição são o que Jung chama fungões irracionais – isto é, não são irracionais
no sentido coloquial, mas não estão preocupadas com o julgamento, quer através de
principios ou de sentimento, mas simples mente pegam a experiência e a
experimentam. São, portantn, menos pro pensos a tentar mudar um ao outro e,
embora haja aljuns diilogos tipicos nesses relacionamentos, geralmente centrados
em acusações de um parceiro ser muito confuso e pouco pratico (fogo) e o outro ser
muito estreito de mente e escravizado a habitos (terra), este par parece ser mais facil
– mas não necessariamente melhor – que o ar-agua. A terra se inclina a achar que
esta sempre atras do fogo fazendo a limpeza, e o fogo, que está sendo repreendido e
criticado por coisas que considera pequenas e sem impor tância. A terra quer
garantias de que o futuro sera seguro, e o fogo ve a vida como um jogo no qual nada
é seguro e a verdadeira alegria de viver é dirigir as mudanças criativamente. A terra
geralmente se sente a doadora em qualquer relacionamento, porque expressa sua
afeição de formas tan giveis; o fogo, por outro lado, geralmente é mais autocentrado
e acHá que ele mesmo é sua melhor dadiva. Mas existe um interminavel fascinio
entre esses dois tipos opostos, pois o fogo procura a estabilidade e a forma da terra,
enquanto a terra anseia pelo drama e pela espontaneidade da grande visão do fogo.
O Elemento Fogo: o Tipo Intuitivo
52

As percepções do homem não estão limitadas pelos orgfos de percepção: ele


percebe mais do que o sentido (embora aguçado) pode registrar.

– William Blake

Chegamos finalmente ao elemento fogo, que na realidade começa o ciclo


zodiacal com Áries, e provavelmente seja o elemento que mais con funde quando se
tenta correlacionar seus atributos tradicionais com os do tipo intuitivo de Jung. Isso
acontece em parte porque muitos manuais astro lógicos parecem aceitar literalmente
as tradicionais afirmativas de que o fogo é "quente", "manifestativo", "autocentrado" e
"afortunado" sem questionar por que ele é assim e o que realmente motiva esse
curioso temperamento. Também existe uma confusão consideravel em torno do que
Jung quer dizer com intuicao. Ela é comumente associada a médiuns, 77

sessões espiritas e varias outras excentricidades que pertencem mais ao reino


do sentimento. Como a intuição é principalmente um processo inconsciente, sua
natureza é muito dificil de apreender. A funcão intuitiva é representada na
consciência por uma atitude de expectativa, pela visão e penetração... a intuição não
é a mera percepção ou visão, mas um processo ativo, criativo, que coloca tanto no
objeto quanto dele retira . June Singer assim descreve a intuição :

...um processo que extrai a percepção inconscientemente...

Assim como... a sensação se empenha em atingir a mais correta percepção da


atualidade, a intuição tenta abranger as mais amplas possibilidades . Se isso não é
claro para o leitor, não o é ainda mais para muitos tipos intuitivos que não
conseguem compreender sua constituição psiquica por meio da ciência e da
educação ortodoxas – e geralmente alegam que essa função não existe – muitas
vezes se sentem inseguros e desconfiados exafamente com relação ao aspecto
deles que é mais altamente desenvolvi do. Em geral, a intuição é admitida para as
mulheres com certa postura paternalista, pois nunca é levada muito a sério pelos que
não estão cientes de possui-la; entretanto, há tanto homens como mulheres
intuitivos, e eles sofrem por causa dessa falta de entendimento.

Os signos de fogo – Áries, Leão e Sagitario – partilham uma vita lidade e uma
53

espontaneidade que muitas vezes é alvo da inveja e do res sentimento por parte dos
signos mais tranqiiilos. Por dentro são crianças, e tendem a viver num mundo de
fantasia em que as pessoas são de fato cavaleiros com cavalos brancos, ou
princesas aprisionadas em castelos, ou dragões que precisam ser desafiados e
mortos. O tipo de fogo tem uma forte necessidade de mitologizar suas experiências e
relaciona-las a um mundo interior que pertence mais ao mundo dos contos de fadas
do que a "realidade". Não é de surpreender que tantos tipos de fogo sejam atraidos
para o mundo do teatro. O comportamento do tipo de fogo é muitas vezes
exagerado, mas é injusto acusa-lo de fazer isso unicamente para se exibir. 8
Psychological Types.

9 BoundÁries of the Soul. 7Q

Em geral, esta perfeitamente ciente de sua propensão ao exagero, dramati


zação e gosto pelo colorido, mas age mais para si do que para os outros, e é mais
importante para ele viver dramaticamente do que aceitar o mundo aparentemente
monotoão e algumas vezes ameaçador que os tipos mais pragmaticos querem que
ele aceite como o unico mundo real. "Temos mais facilidade em aceitar o
desagradável do que o inconseqiiente " como diz Goethe.

O fogo, na astrologia tradicional, é considerado um pouco insensivel e


egocentrico, o que sem duvida parece ser quando se trata dos detalhes praticos da
vida. Ele possui uma função de sensação inferior, e tende a reprimir sua consciência
dos objetos para chegar mais perto da esséncia de sua situação, de suas
possibilidades e de seu significado num contexto mais amplo. Não é que não possa
ser incomodado com detalhes; na realidade, eles ameaçam sua forma de perceber o
mundo. O tipo de fogo esta interes sado no futuro e no seu interminavel potencial. O
passado, para ele, é como uma novela escrita por outra pessoa, e o presente, uma
série de portas que podem levar a qualquer lugar e precisam ser abertas uma a
uma. Em confronto com as desagraMveis exigencias do mundo material, o tipo de
fogo pode muitas vezes abandonar uma situação e passar para outra, o que lhe vale
a reputa@o de irresponsabilidade ou insensibilidade. Ele não é nem uma coisa nem
outra; simplesmente não suporta ser aprisionado.
54

O tipo de fogo tem uma aptidão para pereeber as subcorrentes de uma situação
e chegar a uma conclusão num nivel totalmente incons ciente, de modo que, de
repente, eie tem um "palpit " muitas vezes não corroborado pela evidência dos
sentidos, mas infalivelmente correto. Isto envolve uma apreciacão dos componentes
de uma determinada situação simultaneamente e como um todo, em vez do processo
seqiiencial envol vido no raciocinio. Ele aparenta ter uma extraordinaria confiança na
"sorte", o que é mais uma convicção inata de que "alguma coisa" – o inconsciente –
vai acabar elaborando uma solução para tira-lo de suas dificuldades e preparar o
caminho para um futuro roseo. Isto enfurece os outros tipos, pois as bem-sucedidas
espiadelas que o fogo dá na esquina do futuro os desconcertam, e seus fracassos os
desconcertam ainda mais – porque ele não fica nem um pouco embaraçado. Tudo
"vai se ajeitar" mais tarde. Todos os signos de fogo partilham uma espécie de joie de
vivre, uma irreprimivel confiança infantil na generosidade do destino; e quem tem
deficiência desse elemento pode perfeitamente ficar pasmo com a iI forma como o
fogo joga com dinheiro, tempo, emoção, energia e as vezes com pessoas. Tudo para
ele é um grande jogo, e o objetivo não é vencer, mas ter estilo.

Muitas vezes o fogo evita os caminhos mais convencionais da aspi ração


religiosa, porque não suporta ver a vida aprisionada na forma, e também esta
instintivamente mais proximo do centro por causa de sua aberiura para o
inconscientc. Muitas vezes, vamos encontra-lo no mundo dos negócios e das
fina.nças, no qual ele pode satisfazer seu instinto de jogo elaborando magicas com
empresas e fortunas. É frequente ele chegar ao topo nessas areas, porque não está
muito seriamente preocupado com os resultados. O tipo fogo mais introvertido tende
a expressar sua percepção das correntes invisiveis da vida através da devoção ao
seu próprio e singular caminho espiritual, ou através das artes, em que o mundo
interior das imagens e simbolos prende sua atenção. Através da arte, consegue criar
uma realidade que exirai a essência da experiência diaria de vida e forma um mito
que transcende as limitações da época historica na qual vive.

ão lado dessas virtudes incomuns, o tipo de fogo também possui alguns vicios
um tanto dramaticos, bem exprimidos nos atributos tradi cioaais dos signos de fogo:
Áries tem a fama de ter um individualismo exa gerado e uma tendência quixotesca a
55

investir contra moinhos de vento quando todas as outras pessoas só querem um


pouco de paz e sossego; Leão é conhecido por seu autocentrismo algumas vezes
ditatorial e pela suposição tacita de que, como é um filho dos deuses, ninguém mais
pode ser; e Sagitirio é notorio pela irresponsabilidade de suas promessas, o horror a
rotina e a sua tendência ao exagero e aos "modismos".

Em outras palavras, o fogo tem problemas em lidar com o mundo que,


infelizmente para ele, esta cheio de objetos e da presença de outras pessoas; e
precisa conquistar o mundo em grande estilo ou retirar-se dele e refugiar-se em suas
visões. O mundo pode parecer frustra-lo a toda hora.

Essas frustrações podem assumir a forma de estruturas governamentais, leis de


transito, hnpostos, contas, necessidade de ganhar dinheiro e do problema de lembrar
de se alimentar, vestir e cuidar do corpo. O mundo da sensação é frequentemente
uma verdadeira pedra no caminho do tipo de fogo. Isto não se aplica somente a
objetos, mas também i sociedade, que em geral é conservadora, pelo menos vmtc a
cinqiienta anos atras da veloz intuição do fogo, e consequentemente insensivel as
promessas de suas idéias e visões.

O tipo de fogo pode ser maravilhosamente bem-sucedido nos negocios – se o


deixarem especular em vez de ficar preso a detalhes – ou pode ter uma clara
percepção dos mais profundos manânciais da sua vida espiritual; entretanto,
freqiientemente, não consegue sair de casa sem esquecer as chaves do carro ou a
carteira, ou passar por uma rua sem come ter alguma infração de transito – se ele
conseguir fazer o carro pegar.

É esse tipo de comportamento que muitas vezes lhe da a sensação de que a


sociedade está contra ele, ou esta denegrindo seus esforços. Mas, na ver dade, seus
sentidos inconscientes é que estão contra ele. Também Há mui tos tipos de fogo que
conseguem funcionar satisfatoriamente em socie dade, mas encontram o seu maior
inimigo em seu próprio corpo. Nesse caso, isso aparece como apreensão com a
doenca fisica ou hipocondria, que precisa ser compensada por umz enérgica
disciplina atlética ou dieté tica; ou como um sentimento subjacente, e muitas vezes
profundamente inconsciente, de fracasso sexual, o que cria muita dificuldade nós rela
56

cionamentos.

O tipo de fogo é mais propenso ao que gostamos de chamar pro blemas sexuais,
que não são tanto problemas mas sim um indicio do quanto ele próprio e os outros
não entendem suas necessidades. Quase sempre, o sexo para ele significa algo
diferente de um simples ato fisico; é um simbolo, como o é tudo que afcta seus
sentidos, e o elemento de fantasia em seus relacionamentos em geral é muito forte.
Isto geralmente parece, de alguma forma, "pervertido" para os tipos mais prosaicos.
Na verdade, os elementos de expectativa, antecipação e fantasia romantica e
erotica muitas vezes são muito mais importantes para o tipo de fogo do que o ato
fisico em si mesmo. Isto se torna um problema quando Há extre mismo, e ele não
consegue mais se relacionar a não ser através da fantasia.

Como é comum que escolHá um parceiro orientado para a sensação , sobre o


qual ele projeta sua função inferior, o fogo pode ficar ressentido porque acHá que se
espera dele um bom desempenho – essa situacão pode ter conseqiiências
desastrosas. A impotência e a frigidez, termos que tendemos a usar em relação a
problemas fisicos, são comuns com os tipos extremamente igneos, mas a dificuldade
não é realmente fisica. O fogo simplesmente não consegue ter um bom desempenho
a não ser que sua imaginação o acompanhe, e se não conseguiz aprender a apreciar
a experiência sexual como um prazer, ele pode culpar o parceiro pelo seu fracasso.
É preciso que ele aprenda a se relacionar com o corpo pelo corpo; de outra forma,
pode ser levado a procurar sucessivos relacionamentos, sempre buscando a imagem
ideal que, no fim das contas, existe em sua própria psique; e nenhum parceiro vai
satisfaze-lo, porque a experiência fica sempre abaixo da expectativa.

O fogo muitas vezes supercompensa seus sentimentos de inferio ridade sexual


"provando-se"; assim, temos o Don Juan nos dois sexos, procurando a confiança por
meio da conquista. Como as situações romanticas, para os tipos extremamente
igneos, podem começar como um conto de fadas e terminar como uma prisão, as
vezes ele não é confiável nos relacionamentos. E como também tem um problema
para articular suas neces sidades – sendo muitas vezes incapaz de objetiva-las, seu
parceiro pode ficar sem saber as razões por que ele começou a se afastar. Em geral
a res posta é: "Não sei"d sá que esta faltando alguma coisa nesse relaciona mento."
57

O que está faltando é sua crença de que não Há mais possibili dades para explorar.

Também é o tipo de fogo que receia ser controlado através de sua sexualidade,
e que muitas vezes se envolve em lutas de poder nos relacio namentos, pois precisa
estar no comando para se proteger. Ou ele pode ser altamente inibido na expressão
do afeto fisico, o que é aceitável para um parceiro compreensivo, mas altamente
destrutivo para um filho.

O tipo de fogo é mais propenso que qualquer outro a subitas pai xões fisicas –
que ele chama amor –, que o fazem romper os relaciona mentos existentes um tanto
brutalmente, para ir ao encalço do objeto desejado. Esse entrecho lamentavel
freqiientemente termina com a triste descoberta de que "de noite todos os gatos são
pardos", e o novo objeto de amor não é mais satisfatório que o antigo. Qualquer
pessoa familia rizada com a vida de Henrique VIII vai reconhecer esse padrao, que
parece corresponder bem a seu ascendente sagitariano e seu temperamento
intuitivo extrovertido.

Também existe um tipo de fogo ascético, intensamente motivado


espiritualmente e capaz de reprimir ferozmente sua sensualidade por acreditar que
ela seja ma. A classica historia de Lewis, The Monk, é um excelente exemplo desse
padrao, assim como da tipica vingança de um inconsciente violentado.

Podem-se ver facilmente, a partir dessa descrição, os problemas tipicos dos


relacionamentos terra-fogo, já mencionados. Esses relaciona mentos muitas vezes
tem uma qualidade altamente magica ou compulsiva, mas, uma vez firmados, surge
um padrão comum. O coração do tipo de fogo é sincero mas é sincero em relação a
um ideal e não a um individuo;e, a não ser que consiga estabelecer algum contato
com a realidade dos senti dos, ele esta sujeito a perder sua confiança infantil no
felizes-para-sempre.

O resultado vai ser uma série de relacionamentos rompidos e uma sensação de


não ter construido nada permanente em sua vida. Se o fogo não quiser que suas
experiências sejam "como uma historia contada por um idiota, cheia de sons e furia,
sem nenhum significado", precisa aprender a enten der seu lado sombrio, para poder
ancorar suas visões e construir algo de t valor no mundo. Seus sonhos são
58

necessários para o mundo, mas precisam ser comunicados com alguma adaptação
aos termos do mundo.

82

Podemos, agoza, ver mais claramente os problemas dos quatro


temperamentos: cada um deles ve, e valoriza, um diferente aspecto da realidade e
tende a presumir que a sua é a unica realidade. As descrições que demos dos quatro
tipos são caricaturais, e foram propositalmente exageradas; raramente serão
encontradas no mundo real, porque nenhum indivíduo é totalmente composto apenas
de um elemento, ou de uma função psicológica. 8 preciso lembrar que possuimos
todas as quatro, mas inevitaveImente havera um desequilibrio para mais ou para
menos, e uma função vai ser muito mais desenvoIvida, enquanto outra perma necera
relativamente inconfiavel. Também é preciso lembrar que, por volta dos trinta anos, a
maioria das pessoas tem pelo menos duas dessas funções da consciência
desenvolvidas em grau razoavel, uma função "superior" e uma "auxiliar"; a segunda
respalda e enriquece a primeira, de modo que nossa visão se toma mais extensa.
Essa função "auxiliar" nunca é oposta a função dominante; por exemplo: se o
pensamento é o principal modo de se relacionar com a vida, ele sera respaldado pela
sensação ou pela intuição, mas nunca pelo sentimento. O mapa de nasci mento
muitas vezes da uma clara indicação desse padrão de desenvolvi mento através da
proeminência relativa de um segundo elemento. Assim, podemos falar de mapas ar –
fogo, sugerindo o pensador intuitivo; mapas ar – terra, descrevendo o pensador
empirico; mapas agua – fogo, expres sando o sentimento intuitivo; e mapas água –
terra, retratando o senti mento sensorial.

Algumas vezes o mapa de nascimento mostra um predominio de dois


elementos, implicando um equilibrio de duas funções opostas, como ar-agua ou fogo
– terra. Isso quase sempre sugere uma grande tensão dentro do individuo, pois um
dos lados desse par de opostos provavel mente vai ser expresso como função
dominante e o outro como função inferior. Os impulsos psicológicos simbolizados
pelos planetas no elemento "perdedor" vão então operar inconscientemente, mas,
como são poderosos no mapa de nascimento, não podem ser evitados, e o problema
da inte gração da função inferior se torna critico. Quando um elemento é fraco ou
59

esta ausente no mapa, a função simbolizada por eie geralmente vai ser fra ca; mas o
indivíduo pode conseguir evitar o problema durante muito tempo.

Quando os opostos estão presentes no mapa, geralmente o problema é


identificado no começo da vida e permanece até o fim, muitas vezes de modo
altamente criativo.

Somos sempre inconscientemente atraidos pelo que nos falta, e esses quatro
temperamentos são inexoravelmente atraidos por seus opostos porque os
relacionamentos desse tipo proporcionam a oportunidade de

desenvolver uma maior integração interior. Existe, quase sempre, muita


projeção nessa espécie de relacionamento, e os problemas começam quando cada
um dos indivíduos tenta reformar seu parceiro. Na verdade, eles estão tentando
reformar a si proprios, o que é totalmente possivel desde que percebam o significado
de suas etemas criticas. Se conseguis semos ficar no topo de nossa pequena
montanha e olhar a paisagem perce bendo que os outros ficam em topos diferentes
vendo paisagens diferentes, poderiamos compreender que a riqueza da vida só se
torna acessivel quando existe uma partilHá de diferentes realidades e quando se
admite o mérito dos valores dos outros. E não podemos fazer isso enquanto não
pararmos de desdenhar, rejeitar e recear a nossa "inferioridade" interior.

O fogo aprendera a viver com seu parceiro de terra, e aprendera com ele,
somente quando se dispuser a vivenciar ao maximo os seus sentidos, reco nhecenda
a sua importância; a texra só aceitara seu parceiro de fogo, e aprenderá com ele,
quando enfrentar seu práprio anseio profundo pela liberdade e admitir que a visão é
tão importante quanto a forma que a hospeda. A água poderá aprender a se
relacionar com o ar. e a valorizá-lo, quando entender que nem tudo na vida é
avaiiado em termos das próprias respostas emocionais pessoais; e o ar começara a
entender a agua e apren dera com ela quando admitir suas próprias necessidades
emocionais e reco nhecer que os relacionamentos são um campo de experiência
humana tio valido quando o mundo das idéias.

O iMapa de Aascimento e os Tipos Psicológicos É sempre dificil "tipificar" um


mapa, e isto geralmente não pode ser feito sem algom conhecimento pessoal do
60

individuo. Na verdade, se quisermos usar a astrologia de uma maneira produtiva para


ajudar no processo de autocompreensão, primeiro precisaremos ser capazes de nós
relacionar com o indivíduo e experimentar diretamente alguma coisa de sua
identidade, antes de examinar o mapa natal para ver como essa reali dade vai ser
expressa. A pessoa vem antes do mapa, fato que muitos astro logos tem tendência a
esquecer. Deve-se lembrar que esse mapa poderia igualmente ser o de uma galinha,
um cavalo, um prédio, uma companhia de opera; é o refiexo de um ponto no tempo.
O mapa não é humano; o individuo, sim. O horoscopo mapeia um conjunto de
potenciais, mas não se pode dizer o que o indivíduo fez com aquele potencial. E Há
muitos fatores importantes que não estão refletidos no mapa, sendo o mais impor
tante o sexo do individuo. 84

Homens e mulheres tendem a reagir a diferentes aspectos do mapa natal, e


criam uma vida real muito diferente a partir desse mapa de pos sibilidades. Não se
trata simplesmente de contar o numero de planetas que ocupam um detenninado
elemento, pois os planetas especificos, assim como o sexo do individuo, vão afetar
essa contagem. Para um homem, os planetas masculinos, como o Sol e Marte,
parccem ser mais "acessfveis" – isto é, as energias que esses planetas simbolizam
são mais prontamente acessiveis a consciência masculina. Os planetas femininos,
como a Lua e Vênus, parecem ser mais acessiveis a consciência feminina. Como já
t vimos, os planetas se agrupam em masculinos e femininos, da mesma forma
que os signos, e pode-se dizer que o principio da feminilidade é simboli zado pelos
seis signos fcmininos: Touro, Câncer, Virgem, Escorpião, Capri cornio e Peixes, e
pelos quatro planetas femininos: Lua, Vênus, Netuno e Plutão. Pode-se dizer que o
principio da masculinidade é simbolizado pelos seis signos masculinos: Azies,
Gêmeos, Leao, Libra, Sagitario e Aquario, e pelos quatro planetas masculinos: Sol,
Marte, Jupiter e Urano.

Mercurio é um planeta androgino e parece relacionar-se com a sintese; e


Saturno, o mais misterioso dos planctas, pode ser considerado feminino mas
aparentemente passa de um lado para outro e também é um pouco andrógino.

Muitos outros fatores afetam o equilibrio de elementos no mapa natal. Não se


pode desenvolver uma fármula para extrair o tipo psico lágico de um indivíduo a partir
61

do horáscopo; primeiro deve-se sentir o individuo, e então aplicar esse conhecimento


ao mapa. De outra forma, a tipologia de Jung se torna estrutura inanimada, e não
uma realidade viva que serviu de base ao seu trabalho. É preciso muita intuição para
ver que partes do mapa foram "acentuadas" pelo desenvolvimento na consciencia.

As pessoas, às vezes, também se supercompensam quando percebem uma


carência em si mesmas, e essa tendência é peculiar a natureza humana mas não
refletida no próprio mapa.

Por essa razao, um horáscopo vindo pelo correio, baseado nos dados de
nascimento mas sem o conhecimento direto do individuo, tem a proba bilidade de ser
um triste fracasso do ponto de vista da investigação psico logica. A astrologia usada
dessa forma é um interessante mapa caracterolo gico, mas de pouca valia como
irmtrumento para ajudar o indivíduo em sua jornada para o desenvolvimento pessoal.
Mas, uma vez que haja alguma noção da orientação do individuo, o que deve vir do
contato pessoal e não do mapa, é fácil ver como os planetas nos elementos
"inconscientes" pro vavelmente vão funcionar e o que pode ser feito para ajudar a
integra-los.

Sem duvida, o predominio de um determinado elemento sugere que essa j l

função da consciência precisa ser desenvolvida, mas ela pode não se prestar a
tal desenvolvimento sem um esforço consciente, principalmente se for uma função
"indiferenciada".

Existe outro problema na "tipificação" do mapa, fenomeno que June Singer, em


The BoundÁries of the Soul, c4ama o tipo virado. Esse é o indivíduo que, por
temperamento natural, deveria ter desenvolvido uma determinada função, mas que,
por causa da influência de um genitor particularmente poderoso, ou das pressões
sociais ou educacionais, foi forçado a violar sua inclinação e a desenvolver uma outra
função em seu lugar, freqiientemente a "inferior", para sobreviver psicologicamente.

Isto sempre acarreta grandes prejuizos e um forte sentimento de inferio ridade,


pois se a pessoa se identifica com o que ela faz de pior, é inevitavel pagar um preço.
O processo de romper as camadas que mascaram a iden tidade verdadeira não é ficil,
e muitas vezes o indivíduo não é capaz de realizá-lo sozinho. Aqui, o mapa fornece
62

pistas significativas, pois, quando Há predominância de um dado elemento, não


desafiado por uma enfase simultanea do elemento oposto e, entretanto, o indivíduo
não está usando a primeira, Há uma forte sugestão de que algo interferiu na linha
natural de desenvolvimento. Por exemplo: um indivíduo cujo mapa mostra uma
inclinação para o elemento agua e nenhuma enfase em ar, mas que está alienado de
sua natureza sentimental e acHá dificil lidar com suas emoções, pode ser suspeito de
ser um "tipo virado".

Algumas vezes o "tipo virado" é produzido por algo mais complexo que um
genitor insensivel. Em nossa sociedade, tendemos a presumir – possivelmente não
sem razões historicas e biolágicas, mas talvez com expectativas injustificadamente
rigidas – que o mundo do pensamento e da sensação pertence aos homens, e o
mundo do sentimento e da intui ção as mulheres. Isso pode ser verdadeiro em geral,
num nivel arquetipico; pode ter sido verdadeiro na maior parte da nossa historia. Mas
é possivel que a divisão esteja menos acentuada do que antes e pode não se aplicar
ao individuo, que sempre contém todas as potencialidades em sua natu reza. Existem
razões para supor que quanto mais dominados somos por nossa herança biolágica e
historica, menos somos capazes de usar o es quema individual do mapa de
nascimento; e também existem razões para supor que parte do que o Zeitgeist
contemporaneo envolve é a capacidade de equilibrar essa herança com uma
crescente percepção do potencial de desenvolvimento individual. Há tantos homens
nascidos com tendência a função do sentimento quanto mulheres, e tantas mulheres
com incli nação para a função do pensamento quanto homens. Embora antiga mente
possa ter sido dificil para o indivíduo transcender os fatores circuns

RC

tânciais e lançar mão dessa inclinação para a sua própria expansão, tal
transcendência parece ser cada vez mais possivel na medida em que iagres samos
numa nova era do desenvolvimento da consciência humana.

O apelo do passado cria sua prápria dor. O homem orientado pelo sentimento,
por exemplo, com preponderância de igua no mapa natal, ou o intuitivo, com
preponderância de fogo, em geral aprende bem cedo na vida que os outros vão
63

considera-lo fraco, afeminado, covarde, irracional ou um homossexual latente se der


livre curso i sua predisposição natural.

Esses homens, as vezes, aprendem a ser muito diferentes de seu tempe


ramento natural, para se portar como um homem "deve". O próprio pensamento
negativo do tipo sentimental vai ajuda-lo a chegar a essa con clusão, ja que ele é
terrivelmente dado a absorver os valores sociais em bloco, sem refietir sobre eles e
sem questionar a aplicabilidade a sua situa ção particular. E o sentimento de
inadequação do tipo intuitivo a respeito de sua "capacidade" freqiientemente vai leva-
lo a questionar o valor de suas visões. Ocorre, então, uma enorme divisão entre a
identidade real e a mascara e uma carência muito desagradavel que a pessoa sente
que precisa supercompensar.

Isto também se aplica i mulher yensativa e i sensorial, muitas vezes descritas


como "brutais", frias, ambiciosas, sem coração, sem feminilidade, diffceis e
neuráticas, se seguem suas inclinagões rio mundo das idéias e da realização
mundana. O sentimento inferior conspira para ajudar a mulher de pensamento em
sua faJta de auto-aceitação, porque ela se sente inadequada nos relacionamentos; e
a intuição inferior muitas vezes vai convencer a mulher com a sensação de que ela é
apagada, cansativa, sem imaginação e capacitada apenas a servir os que possuem
maiores dons. Essas mulheres podem se tornar amazonas encouraçadas, ou tentar
desenvolver a função "inferior" desempenhando o papel da mae e esposa arrogante
e ambiciosa, usando uma mascara de sentimento e efusiva demonstração emocional
sobre a determinação fria e dura de fazer alguma coisa de seus filhos, de seu marido
e de qualquer pessoa que venha a ser sua propriedade. De alguma forma, é preciso
encontrar o delicado equilÃ)rio entre o sexo fisico, com sua concomitante inclinação
psicoIo gica, e a disposição intrinseca sugerida pelo horoscopo no nascimento.

Esta não é uma tarefa pequena, principalmente se esses fatores estiverem em


oposição. Entretanto, essas oposições, se tratadas gentilmente, com compreensão e
sem vioIentar qualquer um dos polos, podem levar a um indivíduo verdadeiramente
equilibrado e enriquecido.

O mundo esta cheio de "tipos virados", que causam danos a si e aos outros sem
64

perceber que o verdadeiro ser esta aprisionado e sofrendo

sob a impenetravel armadura das expectativas dos outros. O conselho de Jung


é "seja o que voce sempre foi", e este é o verdadeiro caminho para a integração
interior e para o relacionamento com os outros. Uma das maiores vantagens do
mapa, com seus padrões entremesclados, principal mente se tomado em conjunto
com a tipologia, é que pode proporcionar um quadro mais rico e mais abrangente
daquilo que a pessoa sempre foi – que é também o que ela potencialmente seria.

nn

4 A Belae a Fera 8 vão tentar endireitar a sombra, se o corpo que faz a sombra
é torto.

– Stefano Guazzo 1

Alguma compreensão da natureza dos tipos psicológicos nos facilita l a


abordagem do ambiguo dominio do lado destrutivo da natureza humana, que Jung
chama sombra e na astrologia esta associado a Saturno, o Habi tante do Umbral.

"Ve bastante quem de fato ve sua escuridao", t diz Lord Herbert de Cherbury,
mas embora esta pareça uma tarefa I relativamente simples, a maioria de nós faz de
tudo para evita-la. Diversas pessoas, muito compreensivelmente, desejam deixar em
paz os caes ador mecidos, e contanto que as coisas não se tornem muito
insuportáveis, existe uma certa sabedoria nessa atitude – até um certo ponto. E
muito mais agradavel achar que se é um sujeito bom e decente – talvez com alguns
defeitos, mas hasicamente corrcto –, é muito mais facil, também, supor que o
governo, os negms, os hippies, os comunistas ou os imigrantes criaram iodo o mal no
mundo. Para algumas pessoas, é mais ficil supor que o Demonio criou todo o mal no
rnundo, tirando wsim dessa questão, ao rnesmo tempo, a responsabilidade humana.

Infelizmente, as conseqiiências desse tipo de apatia e cegueira podem, embora


não atingindo o indivíduo durante muitos anos e as vezes mesmo durante a vida
toda, desembocar na formação de um problema social importante e mesmo
devastador. Todos estamos bem familiarizados com esse tipo de atitude – se não
acontece na porta da minha casa, não há hipotese de ser minha responsabilidade; e
65

é só quando sua própria escuridão o alcança e o submerge que o indivíduo começa a


se questionar.

Edward Whitmont descreve o fenomeno da "proje@o da sombra", como é


conhecido na psicologia analitica, de forma muito adequada, em seu livro The
Symbolic Quest: Esse tipo de situação é tão clássico que quase se poderia fazer um
jogo de salão com ele – se se quisesse procurar a ruina social.

Peça a alguém para dar uma descrição do tipo de personaiidade com quem
acHá mais impossivel se entender, e ele vai fazer uma descrição de suas próprias
caracteristicas reprimidas – uma autodescrição totalmente inconsciente e quo,
portanto, sempre e em toda parte o tortura, a medida que recebe a sua influência
vinda da outra pessoa. Infelizmente, embora esse lado sombrio da personalicade
costume ser "totalmente" inconsciente no individuo, não é tão oculto para os outros,
e quanto mais inconsciente e reprimido for, tanto mais obvio sera para os outros.
Muitas vezes ouvimos um homem declarar: "Sirnplesmente detesto as pessoas
despoticas; elas tornam a vida dos outros miserivel" e, então, em outra ocasião, sua
esposa ou um amigo diz: "Bom, ele ás vezes realmente se comporta como um tirano,
mas sempre que tento lhe dizer isso, ele fica furioso e não Há jeito de eu me fazer
entender." Pode ser alguém autoritario, pregu!çoso, estupido, egoista,
preconceituoso, de mau genio, dominador ou insensivel que nos deixa loucos, mas a
cegueira quanto ao próprio lado sombrio – e a projeção desse lado sobre os outros –
é incrivelrnente comum, e poucos de nós estão isentos dessa expressão.

O que geralmente não fazemos, com ocasianais exceções, é entender o que


significa.

É importante compreender um pouco das implicações da sombra antes de


examinarmos o mapa astrológico para ver que indicações podem ser tiradas dele. O
ideal, talvez, fosse não precisarmos de coisas como horoscopos para nos ajudar a
ver nossas sombras: mas a sombra, como seu l. 17ie Symbolic Quest, Edward
Whitmont, Nova Iorque, GZ. Putnams Sons, 1969.

OA
66

nome implica, é quase sempre inconsciente, e não é uma questão de vontade


ou perspicácia intelectual, nem de boas intenções, quando se tenta lidar com esse
aspecto extremamente desagradavel da personalidade.

Naturalmente, o caminho para o inferno esta cheio de boas intenções e, com


certeza, também de perspicacia intelectual.

A sombra é um probiema moral que desafia toda a personalidade <go, pois


ninguém pode se tornar consciente da sombra sem considerável esforço moral.
Tornar-se consciente dela implica admitir os aspectos escuros da personalidade
como presentes e reais. Esse ato é a condição essencial para quaIquer espécie de
autoconhecimento, e portanto, como regra, encontra consideravel resistencia .

Admitir a própria escuridão parece ser um pré-requisito não apenas para o


autoconhecimento, mas também para o conhecimento e a aceitação dos outros.
Como tudo mais no inconsciente, a sornbra, se não for trazida para a luz, vai ser
projetada. O problema da sombra não é apenas significa tivo no próprio
desenvolvimento de um indivíduo e em sua capacidade de estabelecer
relacionamentos pessoais; também é extremamente impor l tante num sentido
coletivo. Se fossemos mais conhecedores dessa nossa escuridao, seria totalmente
possivel que os fenomenos coletivos que mani f festam a projeção da sombra de
um grupo – tais como perseguições, inqui t sicões, expurgos, intolerância e
preconceito racial. e outros fenomenos que envolvem o sacrificio de um bode
expiatorio nunca ocorressem. Mesmo entre crianças, encontramos esta manifestação
de repulsindade: em qual quer grupo, inevitaveImente há uma criança que, por razões
que podem ser inerentes a sua psicologia mas raramente por sua culpa, atrai a
projeção da )ombra do grupo e se torna o bode expiatário, o proscrito, e é
escarnecido e ridicularizado. Ele recebe a descarga dessas atitudes selvagens e
brutais, que, se não forem censuradas na infância, vão acabar expressando seu lado
menos destrutivo através da inioIerância, podcndo dar sous mais horriveis frutos em
exemplos de medonha bestialidade como Auschwitz e Belsen.

Temos uma noção misericordiosamente vaga do alcance de nossa crueldade


potencial em reiação aos outros, mesmo nas menores coisas; e embora muitas
67

pessoas achem melhor esquecer Auschwitz e correlatos porque "outra pessoa" foi
responsivel (com certeza não pessoas decentes como j 2. Aion, C. G. Jung. Londres,
Routledge K Kegan Pzul, 1959.

voce e eu), podemos ver um palido reflexo desse mecanismo na velhissima


pratica da segregação social.

A sombra é formada por todas as qualidades inerentes a consciência potencial


do indivíduo mas que, devido a sua aparente escuridão ou destru tividade, são
excluidas da consciência durante o desenvolvimento. O indi viduo fica, assim,
confortavelmente inconsciente de que essas qualidades lhe pertencem. Já vimos
como cada tipo psicológico tem seu lado "inferior"; e os componentes da função
iMerior da consciência matizam forte mente a natureza da sombra. A eles se
acrcscentam outros fatores que o indivíduo acHá intoleraveis, como componentes de
sua própria configu rar,ao, e que são reprimidos pela influência dos pais ou da
formação reli giosa. A sombra geralmente aparece para a consciencia, em primeiro
lugar, como uma figura humana, uma imagem muito comumente identificavel nos
sonhos em que o sonhador é caçado ou atacado por um inimigo misterioso e maligno
de seu próprio sexo.

Normalmente, a projeção da sombra cai sobre alguém do mesmo sexo da


pessoa, e por ai é possivel obter uma grande compreensão, exami þ nando
honestamente as qualidades que achamos mais detestiveis nas outras pessoas do
nosso sexo. Basta ouvir uma mulher dizer: "Detesto o tipo da dona-de-casa instintiva
e chata, que só pensa em fraldas e recei þ tas, e não tem a menor independência
mental," para termos uma clara idéia do seu hdo sombrio; e Há o seu oposto polar,
cuja fala pode ser: "Mas que mulher insuportavel, só se preocupa consigo e com
seus prazeres! É tão antifeminina, não sabe o que quer dizer sacrificio!" Se as
mulheres, nesses dois extremos, pudessem ver quem estão na realidade
descrevendo com essas observações impensadas, provavelmente ficariam
embaraçadis simas. São cliches, mas incrivelmente predominantes. Existe o homem
que abomiaa os homens fracos, delicados, afeminados e domiriados pelas esposas;
e existe seu oposto, aqueie que condena os sujeitos brutais, agres sivos e selvagens
que adaram a glária da guerra e não tem nada para fazer além de se encontrar nos
68

bares a noite para discutir os méritos do corpo de suas secretirias. O pacifista contém
dentro de si um valentão, e o herói, um covarde; como Mick Jagger canta em
Sympathy for the Devil: Todo "tira" é um criminoso E todo pecador é um santo. Como
o antigo deus romano Jano, todos nos temos duas faces, e é prcciso que o indivíduo
reconheça isso para poder tar voz ativa na questão da lado a ser expresso aos seus
semelhantes: o luminoso ou o escuro. A l

Algumas vezes, a projeção da sombra cai sobre uma instituição ou uma


religião, em vez de cair sobre um individuo. Esse fenámeno é facil mente observável
em todos os tipos de odios ideológicos fanáticos. A sombra e o ego fazem um todo, e
a totalidade, como ja vimos, não é sim ples ou necessar.iamente perfeita; é,
entretanto, completa.

Todas as nossas opiniões que contem uma alta carga emocional são suspeitas.
Quando nos encontramos na posição de vitimas de uma reação emocional
desproporcionada em relação a situa o, ou quando temos tal reação em relação a
alguma situacão, que realmente não é da nossa conta mas diz respeito
exclusivamente a outra pessoa, devemos suspeiiar que estamos reagindo a alguma
coisa nossa que não identiGcamos como nossa...

Ja vimos como cada tipo, e conseqiientemente cada. elemento astro lógico, porta
uma fraqueza da fuaçan oposta. Quando vemos essas quali dades como mas, as
julgamos e as empurramos para o inconsciente, e elas se deterioram e se tornam
exatamente tão más quanto acreditamos que sejam. É o nosso ponto de vista em
relação ao inconsciente que causa sua aparente inimizade. O inconsciente sá tem
uma postura inimiga ou desapiedada em relação ao consciente quando o ultimo
adota uma atitude falsa ou pretensiosa . E uma das atitudes mais pretensiosas de
que os seres humanos são capazes é a crença de que a culpa é sempre de outra
pessoa.

As crianças conhecem instintivamente a autonomia da sombra, e muitos


companheiros imaginarios são personificações dela. Essas criaturas da "mera"
fantasia muitas vezes são responsabilizadas pelos aspectos mais bagunceiros, mais
inaceitáveis do comportamento da criança; foi o compa nheiro que quebrou todos os
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pratos, rabiscou as paredes, puxou o rabo do gato, ou roubou as abotoaduras do


papai, mas é claro que não foi a criança. Quando é acusada de mentira, ela fica
defensiva e contrariada; entre tanto, a sua maneira, esta dizendo a verdade e certa
em afirmar que essa fi gura é "outra pessoa", porque esta totalmente fora de seu
controle cons 3 The land the iVot I, M. Esther Harding. Nova Jersey, Princeton-
BoUingen, 1965.

4. Two Essays in Analytical Psychology, C. G. Jung. Nova Jersey, Princeton-Bol


lingen, 1953.

ciente. Esse tipo de duplo destrutivo freqiientemente aparece quando a criança


é forçada a ser "boazinha" duiante a maior parte do tempo. Os adultos reagem de
forma semelhante quando são acusados de algum comportamento que é uma
manifestação do seu lado escuro, pois a som bra, quando confrontada, é um ponto
dolorido proporcional a própria falta de compreensão em relação a ela. Dizer a
alguém que ele esta expres sando suas mais detestadas qualidades inconscientes é
ameaçar toda a sua auto-imagem, o que geralmente provoca extrema raiva e uma
explosão de defesa furiosa, largamente desproporcionais a observação – que pode
ser verdadeira e bem-intencionada. Se fossemos tão hanestos quanto as crian ças,
diriamos, muito aprópriadamente: "Não, isso não era eu, era minha sombra de novo."
Melhor ainda, poderiamos dizer: "O que sera que ela quer " Como todos os
conteudos inconscientes, a sombra busca a cons ciencia, e talvez fosse mais util
parar de julgar tão severamente esse aspecto da psique, parar de tentar combate-lo
nos outros, e encara-lo objetiva mente para descobrir o que tem a oferecer. Para
muitas pessoas, a sombra é um segredo vergonhoso que precisa ser escondido a
todo custo, e temos a extraoráinaria noção de que não devemos mostrar aos outros
nossa huma nidade comum, que afinal de contas é meio animal, por medo da conde
nar,ão moral. Em consequencia, tentamos mostrar aos outros somente perfeição, e a
tensão desse esforço é tanto uma carga intoleravel como garantia de que nossas
esperanças vão sempre se frustrar.

A sombra é um arquétipo, isto é, uma experiência interna comum a toda a


humanidade, em todos os séculos e em todas as civilizações.
70

A arte e os contos de fadas nos mostram aqui sua sabedoria, faiando-nos do


heroi servido por um companheiro esquisito e muitas vezes primitivo, feio ou
ligeiramente mau, ás vezes um animal, que cria infindáveis proble mas por causa de
sua bestialidade ou estupidez. ao mesmo tempo, essa figura é sempre quem, através
de sua sabedoria instintiva e natural, salva o heroi is voltas com algum problema para
cuja solução sua própria cora gem ou nobreza são inuteis. Um exempo classico é o
de Dom Quixote e Sancho Pança. Em outras ocasiões, a figura da sombra é um
inimigo, uma feiticeira ou um guerreiro selvagem que tenta destruir o heroi.
Entretanto, sempre, curiosamente, a maldade intencional da sombra torna possivel
ao heroi atingir o seu objetivo, mesmo que seja, as vezes, dc forma tortuosa.

Os contos de fadas nos mostram um fato importantissimo sobre a sombra:


secretamente, por tris do mau jeito e da escuridao, ela oculta mvitas qualidades que,
longc de serem "mas", em forma embrionaria sio necessarias para que o ego se
torne um todo integrado. A sombra não pode ser remo vida tentando-se tornar o
comportamento consciente "melhor" e, se não ni

integrarmos suas qualidades, elas padem se vingar formando seu alter ego ou
Dõppelgãnger – a sinistra figura que freqiienta as obras de Poe, Dostoiévski e R. L.
Stevenson. Não se pode mudar a própria sombra, quanto mais dissipa-la ou
exorcizá-la, através da critica ou da condenação; o que é necessário é uma mudança
na atitude consciente. Quanto mais equilibrada uma pessoa, deixando que alguma
inferioridade se expresse em sua personalidade, tanto mais equilibrada é sua
sombra; porém, quanto mais duramente intransigente ela é, tanto mais nogra e
destrutiva a sombra.

Como a sambra é uma experiência arquetípica, podemos supor que esteja


representada na hierarquia pIanetaria, e parece haver uma intima ligação entre ela e
o simbolo do planeta Saturno. Na mitologia, Saturno tem uma fama particularmente
desagradivel, tendo castrado seu pai Urano para tomar o trono dos deuses e
devorado scus filhos para garantir o seu poder. Na astrologia tradicional, Saturno
também tem uma fama um pouco desagradavel, sendo considerado um plsneta
"maléfico", isto é, portador de aflicão e má sorte. Provavelmente, a astrologia
tradicional entendeu menos esse misterioso planeta do que a alquimia medieval, que
71

considerava Saturno o material basico do qual, depois da transmutação, poderia ser


extraido o ouro espiritual; e aqui temos um reflexo do que nos dizem a arte e os
contos de fadas, ou seja, no lado escuro da natu reza humana jaz a semente da
verdadeira integração interior. Também podemos ver ecos desse tema na figura de
Lucifer, Sata ou Mefistofeles.

Aparentemente, ele é o inimigo de Deus, reinando sobre as legiões do inferno.


Secretamente, porém, e a despeito de si mesmo, ele d a mão direita de Deus,
levando avante o plano divino quando da a humanidade uma escolHá por meio da
qual ela pode chegar a compreensão do problema do bem e do mal e dos opostos
neles contidos. É Lucifer, Sata ou Mefistáfeles que permite ao indivíduo ser livre, pois
ele aprende através da dor de suas escolhas. Como escreve Goethe no Fausto: jf

Diz finalmente – quem és tu? Sirvo aquele Poder Que sernpre deseja o mal
Mas sempre faz o bem. A posição de Saturno no mapa de nascimento sugere uma
esfera da vida do indivíduo na qual ele foi, de certa forma, atrofiado, ou teve AP

seu crescimento interrompido, na qual ele pode se sentir inadequado,


supersensivel ou desajeitado, ou na qual tende a se supercompensar ten tando exibir
uma face corajosa e algumas vezes insensivel. Nenhum ponto do mapa pode ser
interpretado literalmente, e Saturno não faz exceção; mas precisamos também
lembrar que o lado inconsciente da personalidade é parcialmente formado pelas
qualidades que nos pertencem mas que não podemos, ou não ousamos expressar.
Podemos, assim, deduzir, pela colocação de Saturno, a érea em que a sombra vai
se expressar mais rapi damente, na qual a pessoa talvez seja mais defensiva e critica
em relação aos outros, e onde é mais possivel que ela atraia a hostilidade e a
oposição do meio por causa de sua própria atitude inconsciente de inferioridade.

A posição de Saturno suge:e em que area é mais provavel z pessoa ser


mesquinha, pequena, estreita; e desde que as pessoas estão prontas a culpar o
mundo por seus infortunios, a posição do planeta no nascimento certa mente sugere
de onde o infortunio virá. Entretanto, se a pessoa estiver preparada para trabalhar
com a sombra e examinar o que existe em si mesma que esta servindo para atrair
esse infortunio, poderá descobrir que – tal como o companheiro esquisito dos contos
72

de fadas – Saturno se torna uma fonte de força e um faroI iluminando o caminho para
o alvo.

Saturno tende a ressaltar as piores qualidades do signo em que esta colocado


no nascimento, porque intensifica medos associados com os atributos especificos
daquele signo. Isso acarreta simuitaneamente uma sensação de inadequação, e em
geral a reação a isto é um de dois extremos.

Ou o indivíduo se retira, intimidado por sua aparente desvantagem, e se


atormenta por causa dela, ou procura supercompensa-la exagerando os atributos do
signo no qual Saturno esta colocado. As vezes, ocorrem as duas reações no mesmo
individuo, e as vezes, ele não tem consciência disso. Por exemplo: um indivíduo com
Saturno em Áries pode achar que seu maior medo é ser o segundo, ou perder; ele
vai achar dificil expressar o natur J amor ariano ao desafio e a confiança em sua
capacidade de fazer frente a vida e conquista-la. Pode tornar-se passivo, deixando-
se dominar facilmente, e nesse caso vai abrigar ressentimento secreto e raiva, o que
vem a tona como uma petulante critica aos que conseguem expressar mais
honestamente os impulsos. Ou pode tornar-se um valentão, e supera firmar-se
porque esta muito inseguro a respeito de sua coragem. Correndo o risco de uma
supersmplificação, diriamos que, em Touro, Saturno ressaltz o medo Qe perder o
que se possui, ou de fracassar materialmente, ou o medo da natureza instintiva e de
sua integridade; em Gêmeos, ressalta o medo de assumir compromissos, ou de
perder a liberdade de investigar o mundo das idéias; em Câncer, ressalta o medo do
isolamento emocional OA

e da rejeição ; em Leio, ressalta o medo de ser ridiculo, passar desperce bido e


não ser amado; em Virgem, fomenta o medo do caos e do desconhe cido; em Libra,
estimula o medo da escuridão e do poder destrutivo do intenso envolvimento
emocional; em Escorpião, acentua o medo da domi nação ou controle por parte dos
outros através da vulnerabiIidade emocio nal; em Sagitario, aumenta o medo da falta
de sentido e da escravidão as rotinas fixas; em Capricornio, exacerba o medo do
eontrole pelo ambiente material ou pela autoridade dos outros; em Aquário, enfatiza
o medo de ser diferente e de ser excIuido do grupo; e em Peixes, intensifica o medo
da dissociação de um todo emocional maior e da solidão emocional.
73

É muito comum uma pessoa detestar profundamente as pessoas nascidas sob o


signo no qual Saturno esta coIocado em seu nascimento; é igualmente comum a
pessoa acha-las atraentes e fascinantes. Provavel mente, a segunda é a resposta
mais saudavel, pois pode promover um relacionamento que fomenta o crescimento
de forma positiva. A primeira também vai fomentar o crescimento, mas de forma
muito mais dolorosa.

Saturno é um planeta freqiientemente presente na comparação dos mapas de


pessoas envoIvidas em relacionamentos intimos. Na verdade, pode-se dizer que o
relacionamento que não contém pelo menos um forte contato de Saturno seria
agradivel, mas não afetaria a vida emocional mais pro funda dos indivíduos
envolvidos.

Pode-se fazcr um exercicio muito util examinando a posição de Saturno no


horoscopo de nascimento e em seguida os mapas de parceiros, parentes ou socios
para ver se qualquer um de seus planetas cai num raio de oito a dez graus do seu
próprio Saturno, no mesmo signo. Também são significativos os planetas que estão
em oposição direta ao seu próprio Saturno, a uma distãncia dc cento e oitenta graus.
O ingulo de noventa graus é igualmente significativo. Esses tres aspectos, ou
relações anydares I – respectivamente chamados conjunção, oposicão e
quadmtum, na astro j logia – são os mais comuns na comparação de mapas, e
inevitavelmente ocorrem em relacionamentos que de alguma maneira forçam o
indivíduo cujo Saturno está envoIvido no exame de si mesmo e de suas respostas,
para poder descobrir algo a respeito do funcionamento de sua sombra. Em qualquer
reIacionamento envolvendo esses aspectos saturninos entre mapas, é possivel
prever um bocado de projeção da sombra. O importante é que o indivíduo reconheça
que ele é a fonte do problema, através de suas reações defensivas ou supercriticas,
em vez de culpar o parceiro pelos desacordos que possam surgir. Tamhém é preciso
aprender a vivenciar o significado do signo do Saturno, mesmo se for esquisito ou
embaraçoso, em vez de fugir e em seg«ida ficar ressentido quando ele é expresso
pelos outros. Ai, final i

mente, a sambra pode ser admitida e ter espaço para respirar, o que é um
excelente remédio para muitas de suas qualidades menos atraentes.
74

As ambigiiidades e paradoxos de Saturno merecem um trabalho separado, o


que na realidade foi feito, e realmente considerar apenas o signo no qual o planeta
está colocado é simplificar grosseiramente.

A Casa na qual está colocado também precisa ser considerada, as relações


angulares que tem com os outros planetas no mapa de nascimento, e o mapa de
nascimento como um todo, com sua inevitável inclinação para uma determinada
direção de desenvolvimento consciente. Porém, inter pretando-se esse planeta com
um pouco de atenção, pode-se ter uma boa idéia dos maiores obstaculos da vida da
pessoa, porque Saturno é, de fato, o materiai basico a partir do qual – atraindo as
experiências que levam a uma maior compreensão através da luta – a psique tenta
atingir uma maior integragão.

O mapa a seguir ilustra, com bastante nitidez, o funcionamento autonomo da


sombra, assim como as formas pelas quais o indivíduo pode se tornar consciente de
seu problema e tirar dele algum significado para o seu próprio crescimento e a
realização de seus mais caros ideais.

Paul é um tipo intuitivo extrovertido, cuja visão do futuro, como a de tantos


intuitivos, levouw a engajar-se numa empresa onde seria possivel exterioriza-la: ele
queria ajudar as pessoas que julgava pouco privilegiadas e que sofriam nas mãos de
uma sociedade que, segundo ele, sufocava a criatividade do individuo. EIe fundou
uma escola informal em Nova Iorque, cidade onde nasceu, destinada a ajudar a
desenvolver os dotes criativos dos grupos minoritirios mais pobres. As taxas dessa
escola eram nominais; Paul usava suas alentadas economias, pagando do próprio
bolso o salario dos auxiliares. Havia aulas de ingles falhdo e escrito; espaço para
tomar conta de crianças enquanto os pais freqGentavam as aulas; aulas de pintura,
escultura, modeiagem, tecelagem, costura e outras expressões criativas que
ajudariam essas pessoas a levar um pouco de beleza e luz a sua triste lata pela
sobrevivencia, que no mais das vezes constituia sua vida.

A idéia par trm disso refletia o anseio caracteristicamente intuitivo de Paul de


preencher sua função oposta: o retorno a valorização do artesanato individuai numa
sociedade que reduziu o indivíduo a um componente anonimo e sem rosto de uma
75

cidade sem nenhum apreço pela dignidade de seus esforços criativos.

Os colegas de Paul, assim como as pessoas que vieram a sua escola em busca
do autodesenvolvimento, logo começaram a confiar nele, que 5 Saturno, Liz Greene,
Editora Pensamento, 1986.

98

não tinha qualquer arrogância nem demonstrava a distáncia psiquica tão


frequente entre o idealista bem-intencionado e as pessoas que ele tenta ajudar. A
bem desenvolvida função de sentimento de Paul o ajudava a ver a necessidade
desse contato pessoal, principalmente porque muitas das pessoas que vinham para
os cursos tinham um histárico de violência e de odio em relação aos membros do
extrato social representado por Paul.

O Sol em Sagitário, a Lua e Plutão juntos em Leao, dois signos de fogo, refletem
o lado intuitivo predominante do temperamento de Paul; e o ascendente em Câncer,
um signo de agua, parece simbolizar a sensibilidade de sentimento e resposta
pessoal que caracteriza o seu trato V com as pessoas. A colocação do Sol na
sétima Casa, a dos relacionamentos, sugere que a auto-realização de Paul precisa
vir da sua função de catalisador para os outros, reunindo os opostos entre os quais
ele próprio é a ponte.

Existe uma enorme .quantidade de energia e criatividade nesse mapa, e Urano,


planeta que simboliza a necessidade de liberdade e percepção de um mundo mais
amplo de idéias, está colocado diretamente sobre o ascen dente, impIicando a atitude
marcadamente inconvencionai e visionaria em relação a vida, uma das
caracteristicas predominantes de Paul. O agru pamento de Mercurio, Jupiter e Marte
em Capricárnio, signo de terra, indica o potencial de uma extraordinaria
autodisciplina, a capacidade de trabalhar duro e por muito tempo para atingir um
objetivo, e o senso comum pratico necessario para fundamentar a visão.
Potencialmente, é um mapa dinamico e criativo. O problema esta na sua integração,
pois fogo e terra são opostos psicológicos mas aqui estão com peso equivalente, e
sem duvida vao, mais cedo ou mais tarde, provocar uma batalHá na psique.
76

O historico de Paul é extremamente convencional. Ele veio de uma familia


abastada c freqiientou as escolas certas; esperava-se que ele se acomodasse. Isto é
esperar muito de um intuitivo de fogo com Urano no asccndente. O primeiro
obstaculo residiu na falta de compreensão do seu temperamento por parte de seus
pais, mas como tantos outros pais da sua geração, os de Paul não tinham a minima
idéia de que um filho possuisse uma disposição própria e seguisse um caminho seu,
individual, na vida.

Para eles, o filho era um receptaculo vazio que seria preenchido com os seus
valores, cresceria e viveria o lado não-vivido de suas próprias psiques.

Da mesma forma que outros com o seu temperamento, Paul percebia muita
coisa errada no ambiente em que se encontrava. O casamento dos pais era um
maravilhoso exemplo de hipocrisia bem comportada, e lhe parecia haver estagnação,
auto-ilusão e resistência a mudança em demasia – e essas coisas são um anatema
para o intuitivo.

O agrupamento de planetas de terra no mapa de Paul equilibra a visão auto-


expressiva do fogo, mas eles não estão operando como quali dades conscientemente
disponiveis em sua natureza. Talvez isto esteja ligado ao fato de Saturno, que rege
Capricornio e, portanto, esses planetas, também estar colocado num signo de terra,
Virgem, e posicionado na quarta Casa – que se relaciona a vida doméstica na
infância e a ligação com o pai.

As projeções da sombra geralmente se expressam na esfera da vida


simbolizada pelo signo e Casa em que Saturno esta colo ado no nasci mento. É
nessa esfera da vida que o inimigo é coisificado e exteriorizado.

Assim, a função de sensação inferior de Paul, matizando fortemente o lado


escuro de sua natureza, era naturalmente projetada sobre seu pai.

A sombra de Paul se expressava como um poderoso materialismo incons ciente,


rigido convencionalismo, supersensibilidade as opiniões das pessoas detentoras de
autoridade, sensualidade rude e propensão a violência fisica.

Paul negava a maioria dessas caracteristicas; a unica que admitia era a


sensualidade, porque se harmonizava com sua auto-imagem. Essas quali dades
77

menos agradáveis pareciam, naturalmente, pertencer a seu pai, que aos olhos dele
era como Saturno: autoritario, convencional, avarento e preocupado só com dinheiro
e valores materiais. A projeção ia além do pai e encampava a sociedade, que
também lhe parecia Saturno – e ele odiava ambos. Sem duvida, o pai proporcionava
um gancho para pendurar essa projeção, mas não era melhor nem pior que muitos
outros homens de sua geração, e tinha muitas qualidades extraordinarias.

Através do pai e da sociedade que o pai aprovava, Saturno em Virgem também


simbolizava, para Paul, uma sufocante inibição e adesão a normas sem sentido,
coisas abomináveis para o seu tipico amor sagita riano pela liberdade pessoal. O
mundo parecia cheio de uma ordem exces siva, ameaçando petrificar a vida fora dele.
Nunca lhe ocorreu que o lado positivo dessas aborrecidas qualidades da terra fosse
a sabedoria pratica necessaria para por em pratica seus sonhos.

Como muitos outros intuitivos, Paul se considerava sua própria lei, mas não
levou em conta o lado escuro de sua natureza. Conscientemente, estava cheio de
idéias brilhantes e realmente preocupado com o desenvol vimento de seus
semelhantes. Inconscientemente, nas raizes de sua psique, o lado escuro
simbolizado por Saturno funcionava usando suas habilidades naturais com o
proposito de controlar os outros; isto o afastou primeiro de si mesmo e depois de
seus colegas, através de explosões de comporta mento tiranico, genio violento,
agressões fisicas e certa ambigiiidade nós assuntos de dinheiro – padrões de
conduta que ele freqiientemente atri

in

buia as figuras de autoridade como a policia, o governo e principalmente o seu


pai. Essas explosões, que sempre racionalizava da forma clissica – "Alguma coisa de
repente tomouconta de mim!" –, começaram, natural mente, a afastar as pessoas de
cuja ajuda ele mais precisava. A organizacão comecou a afundar, porque ele adquiriu
a fama de ser um pequeno Hitler que não vivia os ideais que pregava tão
convincentemente aos outros.

Paul se sentiu muito ferido por essas acusações, que acreditava totalmente
injustificadas.
78

A ausencia, no mapa natal, de planetas pessoais em ar contribuia para exagerar


as dificuldades de Paul. Isto sugere que lhe faltava uma avaliação e analise objetivas
e impessoais dos seus motivos e do seu com portamento, o que poderia ter-lhe
permitido perceber o que estava fa zendo. Como instrumento da consciencia, a
função de pensamento de Paul era tão pouco confiavel como sua sensação.

Seria injusto acusar Paul de hipocrisia premeditada. Ele não podia mais
controlar essa coisa dentro de si, assim como uma criança não con segue controlar
seu lado destrutivo; ele fez o possivel para não enxergá-la, cometendo assim o
mesmo pecado que a maioria de nos. Mas não se pode forçar a sombra a
permanecer no inconsciente sem sofrer as conseqQencias.

Reprimindo quase completamente a função da sensação, negando a vali dade


dos ralores da sensação, ele condenou a sombra a viver no subter raneo, e como
encarava qualquer apreço pelas coisas materiais como coisa ma, a sombra começou
a se comportar de uma forma má. Seu procedi mento nos relacionamentos homem –
mulher era rude e insatisfatorio.

Mantinha um verdadeiro harém e se gabava publicamente de suas conquistas,


procurando assim desesperadamente compensar a vaga sensação de inadequação
sexual que atormenta tantos intuitivos. Entretanto, nunca consemiu, de fato, ter
confiança na sua condição masculina, nem manter um relacionamento valido por
mais de alguns meses. Quando se interessou em fazer examinar seu mapa natal,
estava perturbado com uma estranha série de sonhos altamente caracteristicos de
uma sombra selvagem: era perseguido e torturado por figuras escuras vestidas como
policiais brutais ou oficiais da Gestapo, que ele imediatamente associava a seu pai.
Que essas figuras representassem seu próprio inconsciente era um fato que ele não
conseguia admitir.

Se um elemento predomina no mapa de nascirnento, não se pode negar


expressão ao lado da psique que ele simboliza. Mas, por causa da extrema
relutância de Paul em aceitar seu lado escuro, os quatro planetas de terra no mapa,
todos canalizados através de Saturno, ficaram não-inte grados e se comportavam
como uma entidade separada, querendo destrui
79

102

-lo. E a sombra, nesse caso, realmente visava a destruição, mas não arbi
trariamente, pois o inconsciente sempre tenta compensar a parcialidade da atitude
consciente, e as vezes apela para a necessidade de derrubar o 1 ego para alcançar
o equilibrio que almeja. Assim, nos contos de fadas, é preciso que haja um inimigo
que tenta destruir o heroi, pois apenas dessa forma o heroi pode atingir o seu
objetivo.

O caso de Paul é um exemplo classico de alguém envolvido numa violenta luta


com um aspecto de sua própria psique. Saturno posicionado numa casa associada i
infância sugere um intenso sentimento de inade i quação e uma desesperada
necessidade de recriar aquele mundo, que nunca foi convenientemente
experimentado – uma infância que seu tempera mento, altamente inclinado para o
sentimento, demandava, mas que sua familia não lhe proporcionou. Em
conseqiiencia, a pequena e vulneravel criança constantemente se altemava com o
tirano. E os sentimentos de inferioridade encontraram uma compensação, através do
inconsciente, como uma enorme inflacão que começou a assumir proporções
homéricas, arquetípicas: Paul, no intimo, se achava uma espécie de messias martiri
zado, um profeta incompreendido e difamado, perseguido por todos, um rei oferecido
em sacrificio ritual para que seus suditos pudessem compar tilhar o seu poder. Ele fez
a ronda de varios terapeutas, e sempre inter rompia o tratamento – ou se tornava
reticente quanto ao pagamento dos honorarios – toda vez que o problema de sua
sombra entrava em discussão. Como uma criança, queria que alguém fizesse todas
as coisas ruins desaparecer. Mas como nos diz o conto de fadas, é preciso aprender
a amar a besta como ela é, antes que ela possa transformar-se num belo principe.

Como resultado do problema de Paul, sua organização, que signi ficava mais
para ele do que qualquer outra coisa na vida, acabou expul sando-o. Até continuou a
operar com sucesso sem ele, o que foi um golpe ainda pior para o seu ego. Embora
pudesse ter-se integrado num meca nismo maravilhosamente produtivo, a terrivel
divisão entre o claro e o escuro de sua natureza acabou gerando a pior situação
possivel para um indivíduo tão fortemente necessitado dos outros: o completo
isolamento.
80

E através desse tipo de experiência que Saturno, disfarçado de Lucifer, nos


coloca de joelhos. Entretanto, é só através desse tipo de experiência que podemos
nos tornar conscios do pleno potencial da psique.

A cxperiência da sombra poderia ter sido um trampolim para um vexdad.eiro


passo no crescimento psicológico, se Paul estivesse disposto a empreender a tarefa
moral de aceitar sua própria escuridao. Não existe uma solução facil para esse tipo
de problema, pois, como diz Jung, tomar 103

-se consciente da sombra demanda um esforço enorme e muitas vezes desa


nimador. Essa figura psiquica epitomiza tudo que mais desprezamos em nos
mesmos; e para admitir que ela personifica a nossa outra metade, o centro da
consciência precisa deslocar-se da tipica perspectiva do ego para outro lugar no
centro, entre a atração dos opostos. É uma empresa ardua, pois o ego acHá que
sera destruido com esse deslocamento. Na verdade, o que vai ser destruido não é
nem a capacidade nem a identidade, e sim a crença de que o ego é o senhor da
casa. É uma lição de humildade muito diferente da que aprendemos na ética crista,
pois o deus interior ao qual devemos obediência tem, como Jano, uma face dupla.

Enquanto isto está sendo escrito, Paul ainda se afunda, sentindo-se perseguido,
desiludido e traido. Não consegue compreender por que foi rejeitado, e prefere
acreditar que alguém queria a sua posição de poder na organiza o. É muito possivel
que o significado real dessa experiência im portaate e potencialmente valiosa sá
venha a tona, para Paul, na época do seu retomo de Saturno, quando o planeta
transitar novamente por Virgem, signo em que esta colocado no nascimento. Na
idade critica em que isso ocorre, como mostrou Marc Robertson em The Transit of
Saturn, tudo que é falso na estrutura do ego começa a desmoronar, e o inconsciente
faz uma iavestida cerrada em direção á integração. Para Paul, essa época ainda
esta dois anos a frente, e daqui até la tem a oportunidade de aprender a lição de
Saturno: nada morre antes de ser vivido, e embora a gente possa ver o que pode ver
sozinha, esta é uma visão pobre e estreita comparada com a sabedoria da psique
integrada. E o que não se pode ver continua sendo o verdadeiro mestre.

Saturno, como simbolo astrológico, é tanto nosso maior inimigo como nosso
81

melhor amigo, pois através de nossa dor e de nossa frustração aprendemos a


essência de seu significado: a sombra é um inimigo porque fazemos com que seja.
Não podemos nos livrar completamente de nosso lado inferior e primitivo, mas talvez
seja apenas o nosso ideal humano de perfeição que nos faz desafiar a natureza e
negar-lhe o direito de incluir o que chamamos de inferioridade no trabalho da criação.
Um exarne cuidadoso de Saturno no mapa de nascimento deveria lembrar-nos de
que precisa haver torpeza para que haja nobreza; e uma analise astrologica do
planeta pode ajudar a colocar em perspectiva uma energia psiquica que é esquiva e
dificil, as vezes destrutiva, mas sempre lutando ern favor da integração. 6 The
Transit of Saturn, Marc Robertson. Seattle, The Astrology Center of the Northwest,
1973.

104

5 O Phrceiro Interior Terminado o trabalho da visão, começa o trabalho do


coração sobre todas as imagens aprisionadas dentro de voce; pois voce as
conquistou, mas ainda não as conhece.

Contemple, o homem interior, a moça dentro de voce! – criatura extraida de mil


naturezas, criatura apenas arrancada, mas nunca, ainda, amada.

– Rainer Maria Rilke Não tem muita importância saber com quem a gente se
casa, ja que é certo descobrir, na manha seguinte, que foi com outra pessoa.

– Samuel Rogers Quando Rider Haggard fez essa descrição de AyesHá na


novela She, obviamente tinha em mente uma imagem clara e bem definida da mulher
ideal, uma persanificação de tudo que é misterioso, fascinante e poderoso no
feminino. AyesHá dificilmente é o retrato de uma mulher de carne e osso; é um
simbolo de todas as mulheres, contendo, como todos os sim bolos, os opostos
aparentemente irreconciliáveis do principio feminino.

Ela possui a lucida sabedoria de séculos, no entanto se comporta de forma

incrivelmente tola e cruel; ama com intensa paixão e abandono, entretanto é


capaz de extrema frieza e distânciamento; personifica toda a gentileza e a cura, no
entanto é capaz de ações selvagens de grande crueldade com um terrivel
desrespeito pela vida humana. Ela é tanto super-humana como sub-humana e, no
82

conjunto, não se parece muito com uma mulher comum.

O mesmo pode ser dito dos retratos de qualquer artista ou escritor que tenha
sido bem-sucedido em dar forma a suas mais intimas fantasias sobre o feminino;
citariamos um incontavel numero de exemplos (desde a Mona Lisa de Leonardo até
Nastasya Ivanovna de Dostoiévski em O Idiota, A Mulher do Tenente Frances de
Fowles e Justine de Durrel). Em con trapartida, a imagem do homem retratado por
mulheres escritoras e artistas não está t5o bem representada. Poderiamos
considerar, como exemplos, Heathcliffe, a extraordinaria criatura da fantasia de Emily
Bronte, os he róis das novelas góticas de Anne Radcliffe, O Pimpinela Escarlate, e,
recentemente, Francis Crawford de Lymond, retratado nas novelas histo ricas
campefs de vendas de Dorothy Dunnett – que não seriam "grande literatura" mas se
prestam admiravelmente para demonstrar o fenomeno.

Essas criações artfsticas podem ser baseadas num homem ou mulher


existentes, mas não são retratos reais de nenhum individuo; todas tem as qualidades
curiosamente arcaicas, super-humanas e sub-humanas do arqué tipo, uma dimensão
mitica, exagerada. São retratos da imagem ideal inconsciente que o homem ou a
mulher existentes tem a capacidade de ativar no artista. E essa imagem pode, na
verdade, ser poderosa a ponto de exigir expressão, havendo ou não um indivíduo
real que sirva como catalisador.

Aqueles que não são artistas também podem portar essa imagem interior, e
muitos homens e mulheres são capazes de descrever um tipo de indivíduo que
personifica tudo o que procuram no sexo oposto. Essas imagens interiores são
curiosamente fascinantes e autánomas; conteudos da psique inconsciente; como
todos os outros conteudos do inconsciente, serão projetados em pessoas reais que,
de alguma forma, constituam um gancho adequado. Temos, assim, a situação tipica
do homem que tem uma imagem interior e uma interpretação da mulher claramente
defini das – embora freqiientemente inconscientes –, que projeta continuamente nas
mulheres que encontra; ele acredita ter encontrado essa mulher per feita quando se
apaixona; e quando a projeção se desgasta um pouco e a mulher real começa a se
tornar visivel, é forçado a reconhecer que precisa fazer ajustes na sua atitude de
relacionamento. Muitas vezes ele reage se sentindo profundamente desapontado,
83

como se tivesse sido iludido ou logrado – e nesse caso deixa de perceber que foi
enganado pela sua própria

projeção . É impressionante o numero de pessoas que acusam os parceiros


depois da lua-de-mel: "Mas voce mudou!", quando na realidade o parceiro não
mudou em nada, só a projeção. Ou então o homem pode aceitar o desafio e tentar se
relacionar com a mulher como ela é, como uma pessoa integral, ao mesmo tempo
que assume a imagem interior como sendo sua e tenta tornar conscientes, dentro de
si, as qualidades simbolizadas por ela. Afinal de contas, a imagem pertence a sua
própria psique. Essa classica encruzilhada é o que se chama vulgarmente de
desapaixonar-se; é uma fase critica que inevitavelmente atinge todo casal depois de
algum tempo.

Em poucas palavras, essa é a trajetoria seguida por tantos relacionamentos, e é


ai, sobretudo, que estragamos as coisas, porque não conseguimos ver o significado
do acontecimento.

Todo homem contém uma mulher dentro de si, e toda mulher contém um
homem; essa verdade basica não é só biologica – pois todos nós contemos os
vestigios hereditarios do sexo oposto em nosso corpo, em forma recessiva – mas
também psicologica. Jung definiu essas imagens transexuais inconscientes como
animus e anima, e a astrologia conclui pelo mesmo inter-relacionamento de
masculino e feminino no indivíduo pela presença tanto de signos como de planetas
masculinos e femininos no mapa de nascimento. Não é preciso muita perspicacia
para ver que a crescente consciência dessa dualidade inerente em muitos
movimentos atuais se direcionou para a modificação dos papéis sexuais tradicionais,
e mesmo que pareça um pouco embaraçoso para algumas pessoas, a verdade subja
cente a esses movimentos é evidente na própria psique. Mas viver a duali dade
sexual de forma criativa e construtiva, sem violentar nem a herança biológica nem o
inconsciente, requer um esforço consideravel.

A anima e o animus são duas das figuras mais misteriosas investá gadas pela
psicologia analitica; e embora os termos de Jung sejam alta mente descritivos –
anima, o feminino, significa alma, enquanto animus, o masculino, significa sopro,
84

folego ou espirito –, tem sido conhecidos por outros nomes através de toda a histária,
e tem sido retratados nos mitos, contos de fadas, temas religiosos e artes de todas
as culturas através dos séculos. Mesmo com o grande numero de descrições dadas
no trabalho de Jung, essas imagens inconscientes continuam sendo conceitos
abstratos, exceto para as pessoas que vivenciaram consciente e diretamente o seu
poder. Entretanto, por abstratas que possam parecer a principio, vale a pena fazer
um esforço para entende-las um pouco, e, mais ainda, para conseguir uma relação
significativa com elas, pois é em tomo desses sim bolos que se assenta todo o mundo
da interação homem – mulher em toda sua complexidade. 1R7

O anirnus é uma escolta psiquica, um mediador entre o consciente e o


inconsciente e uma personificação desse ultimo... O animus dá a consciência da
mulher a capacidade de reflexao, deliberação e autoconhecimento. A mulher que é
capaz de reconhecer, m smo superficialmente, os atributos do animus, e diferenciar
dele sua consciência feminina do ego, pode começar a trabalhar em cooperação com
o lado transexual inconsciente de sua própria natureza; assim, começa a se libertar
do habito usual de projeta-lo num homem real. Conseqiientemente, torna-se capaz
de relacionar-se mais significativamente com os valores masculinos de seu parceiro,
em vez de ficar confusa com os dois; ela também aumenta a sua percepção da
própria condição de mulher, assim como do potencial cria tivo da sua mente e do seu
espirito. A psicologia da mulher esta enraizada no instinto e na resposta instintiva ao
fluxo da vida. A grande dadiva do animus conscientemente desenvolvido é a do
significado, que permite que ela reflita, discrimine e descubra o significado de sua
própria vida e seus práprios atos.

Assim como toda mulher contém dentro de si essa energia masculina, todo
homem contém dentro de si um aspecto feminino. Pertence a ele, essa perigosa
imagem da Mulher; ela representa a lealdade, a qual, no interesse da vida, algumas
vezes ele precisa renunciar; ela é a tão necessaria compensação pelos riscos, lutas,
sacrificios e tudo que termina em desapontamento; ela é o con solo por toda a
amargura da vida. E, ao mesmo tempo, ela é a grande ilusionista, a sedutora, que o
atrai para a vida com seu Maya – e não apenas para os aspectos racionais e uteis da
vida, mas também para os assustadores paradoxos e ambivalencias em que o bem
85

e o mal, o sucesso e a ruina, a esperança e o deses I pero contrabalançam um ao


outro .

O homem que tem alguma compreensão da anima e admite sua auto nomia
pode começar a cooperar com esse seu lado feminino inconsciente.

Assim fazendo, ele vai ser muito mais capaz de perceber a identidade de sua
parceira, permitindo-lhe portanto ser ela mesma. Também vai con seguir uma maior
aceitação de sua própria condição de homem, a medida 1 Aion.

2 Ibid.

que se torna consciente da fonte oculta e secreta de seus sentimentos e de


sua capacidade de amar, enquanto abre novas possibilidades para a expressão da
imaginação criativa e da sensibiIidade.

Um obstaculo para a compreensão desses parceiros interiores com os quais


estamos casados para toda a vida é que estamos acorrentados a defi nipxs sociais de
masculinidade e feminilidade, o que torna dificil para o animus e a anima
encontrarem espaço para uma expressão mais constru tiva. Para muitas pessoas, a
masculinidade e a feminilidade se definem como um conjunto dc atos ou padrões de
comportamento, e não como energias arquetípicas que impregnam a totalidade da
vida. De acordo com essa visão limitada e bidimensional, homem é alguém bem-
sucedido, agressivo e dominador, e mulher é alguém domesticada, passiva e
submissa. O pro blema de tentar definir o indefinivel é ainda mais complicado pela
violenta rebelião atual contra os "papéis" sexuais. Embora talvez isso seja neces s&io
e inevitável neste momento, obscurece e complica qualquer tentativa de entender e
apreciar a dinamica do masculino e do feminino dentro de si.

Quando se esta disposto a prestar ateação nas pessoas e experiência -las,


torna-se claro que existe uma diferença básica entre a psicologia mas culina e
feminina. Como diz Swinburne, o homem personifica o amor da verdade e a mulher
personiQca a verdade do amor. Essa diferença basica, que Jung descreve como a
polaridade do Logos (mente) e Eros (amor), existe em toda a vida e é um reQexo dos
arquétipos. Para muitas pessoas, entretanto, parece constituir uma ameaça –
principalmente para a ala extrema do Movimento de Liberação das Mulheres, que
86

considera tal dife rença um rebaixamento dos direitos das mulheres. A psicologia
analitica nunca postulou que os homens só são capazes de pensar e as mulheres de
sentir; a existência da anima e do animus em cada um é testemunha da inteireza de
todas as pessoas. Mas os valores e as fontes mais profundas de motivação são
difereates na psicologia masculina e feminina. É uma pena que tenham ocomdo
tantos malwntendidos nos ultimos tempos, e também é uma pena que o conceito de
Freud de "homossexualidade latente" ainda seja um bicho-papão para muitos
indivíduos que acham que expressar o lado transexual de sua natureza vai dealguma
maneira tomá-los homos sexuais. Se tanto, é mais provavel que o oposto seja
verdadeiro, pois o que chamamos homossexualismo é frequentemente o resultado
de uma com pleta repressão das figuras inconscientes, que – como qualquer outro
componente do inconsciente – se tornam antagonistas e esmagam a cons ciência
quando tratadas com arrogáncia ou desprezo pelo ego.

É inutil postular, como teoria, que as mulheres, por mais dotadas


intelectualmente, tendem a valorizar mais os relacionamentos, e que os

homens, por mais criativos e sensiveis, tendem a valorizar mais a realiza ção, a
estrutura e o mundo das idéias. Essas coisas precisam vir da expe riência própria.
Para muitos indivíduos, a anima e o animus permanecem totalmente inconscientes e
são projetados; ou podem se rebelar contra a repressão do ego e subitamente se
apoderar da consciencia, a tal ponto que prejudicam a relação natural do indivíduo
com sua própria sexua lidade. O indivíduo pode, então, identificar-se, sem perceber,
com esse seu elemento inconsciente, achando que é o seu lado melhor; e não é um
espetaculo bonito, pois qualquer coisa inconsciente é um pouco primitiva e "inferior",
sendo indiferenciada. A esse fenomeno podemos coneta rnente aplicar a palavra
"animosidade", que é o resultado caracteristico da ideniificação inconsciente com a
anima ou com o animus.

A mulher domiaada pelo animus freqQentemente é cega para o fato de que os


argumentos que saem de sua boca e as opiniões aparentemente bem iaformadas,
mas muitas vezes dogmáticas, que governam sua mente não foram conseguidas por
reflexão própria, mas emprestadas; e geral þ mente não são proclamadas pelo bem
da verdade, mas simplesmente para que ela possa parecer que sabe mais. Ela anda
87

por ai com uma postura terrivelmente belicosa e a convicção secreta de que todos os
homens pla nejam domina-la, nunca percebendo que quem a domina é o homem
inconsciente dentro de si mesma; assim, acHá que precisa provar sua supe rioridade
aos homens, primeiro. Isto não é, em absoluto, o mesmo que a mulher realmente
empenhada em compreender e desenvolver a mente; existe uma imensa diferença
na aura emanada pelas duas, e em geral pode-se reconhecer a primeira não apenas
pelo tipo de seus argumentos, curiosamente cheios de cliches, mas também porque
quando ela entra numa sala todos os homens se encrespam. O homem possuido
pela anima, inconsciente dos seus desagradiveis caprichos, compulsividade, vaidade
pessoal e melindres, anda por ai espalhando uma nuvem de atmosfera venenosa;
exibe uma mesquinbaria e wrogância peculiares, falta de fran queza, fragilidade
diante do conflito e uma manipulatividade completa mente escorregadia;
imediatamente desperta a descanfiança das mulheres.

Ou então pode ser que ele espalhe uma delicada patina de glamour em tudo
que diz ou faz, de modo que se fica com a nitida impressão de que ele esta sempre
num palco, desempenhando um papel, e não se relacionando com indivíduos. Como
o animus gosta do argumento, a melhor forma de ve-lo em funcionamento é em
disputas em que as duas partes acham que tem razao. Os homens também são
capazes de discutir de 110

uma forma muito feminina, quando estão possuidos pela anima e foram assim
transformados no animus de sua própria anima Com eIes, a questão se toma um
caso de vaidade pessoal e meIindre (como se fossem mulheres); com as mulheres, é
uma questão de poder, seja de verdade, justiça ou de outros "!smos" – pois o
costureiro e o cabeleireiro ja cuidaram de sua vaidade .

Não é apenas uma negação do movimento da psique humana em direção a


inteireza recusar a admissão consciente da anima e do animus; também é, em geral,
aItamente destrutivo para os relacionamentos pessoais.

... Quando o animus e a anima se encontram, o animus desem bainha sua


espada de poder e a anima lança seu veneno de ilusão e sedução . Enquanto a
nuvem de "animosidade" que rodeia o homem é composta principalmenie de
88

sentimentalismo e ressentimento, na mulher ela se manifesta como pontos de vista,


interpretações, insinuações dogmaticas e deduções erradas, tudo com o propo sito
(algumas vezes alcançado) de romper o relacionamento entre dois seres humanos .
Em todo relacionamento, como muitos escritores notaram, não existem simplesmente
duas pessoas; existem quatro. O ego consciente do homem e o ego consciente da
mulher parecem ser os protagonistas, e tam bém existem os dois parceiros interiores.
Não é preciso muito esforço para observar a sutil mudan que ocorre quando esses
dois arquétipos invadem a consciencia, quase sempre durante as convulsões de
violentas emoções.

Se não fosse tão constrangedor, seria interessante andar com um pequeno


gravador para poder escutar o que se diz durante uma briga e ouvir a voz l do
inconsciente. Depois de alguns minutos de escuta, dificilmente a anima e o animus
continuariam sendo conceitos abstratos. Em vez de supor que esses arquétipos
sejam mera teoria e sempre se tenha controle das palavras e dos atos,
provavelmente é sabio tratar essas figuras inconscientes com o respeito que
merecem, como entidades autonomas coexistindo conosco e vivendo dentro da
mesma pele, pois sem duvida é o que acontece.

Como a sombra, a anima e o animus freqiientemente são percebidos como


imagens, primeiramente nos sonhos e nas fantasias. Elas permanecem livres,
autonomas e fora do controle do individuo, pois são parte da vida natural da psique
inconsciente e nunca podem ser totalmente subordinadas aos desejos do ego. Com
efeito, o contrario está mais perto da verdade, pois o ego é o objeto e o inconsciente,
personificado pelo animus ou pela anima, é o sujeito. Como parceiros fisicos vivos,
esses dois arquétipos não podem ser dominados sem que haja graves
conseqiiéncias de sabotagem inconsciente, e eles exigem nossa cooperação na sua
demanda de reconhe cimento consciente, assim como um pouco de humildade por
parte do ego. Os dois são poderes inconscientes, "deuses", de fato, como muito
justamente foram concebidos pelo mundo antigo. Chama-los por esse nome é dar-
lhes a posição central na escala de valores psico lágicos que sempre foi deles, com
ou sem reconhecimento cons ciente, pois seu poder cresce proporcionalmente ao
grau em que permanecem inconscientes. Aqueles que não os veem estão em suas
89

mãos... Apenas com o esforço para reconhecer essas figuras pode ocorrer uma
verdadeira união dentro do individuo, de modo que ele possa expres sar os dois lados
de sua psique de forma criativa. ... a integração da sombra, ou a percepção do
inconsciente pes soal, marca o primeiro estagio do processo analitico, e... sem ele o
reconhecimento da anima e do animus é impossivei. A sombra só pode ser percebida
através da relação com um par ceiro, e a anima e o animus, apenas através da
relação com um parceiro do sexo oposto, pois unicamente em tal relaçio suas
projeções se tornam operanies . Os relacionamentos que contem um elomento de
"apaixonar-se" inevitavelmente contém projeções da anima e do animus, e a curiosa
sensação de familiaridade que se tem em relação ao ser amado é facil mente
explicavel pelo fato de a pessoa, na realidade, estar apaixonada por si mesma. O
que distingue esse fato do narcisismo é que o "amado" não é o ego consciente, mas
um aspecto do self inconsciente. A sensação 6 Aion.

7 Ibid. 1 1

de familiaridade tem sido, com muita freqiiencia, explicada pela reencar nação.
Esses relacionamentos, sup5e-se, são a continuação de um encontro começado em
outra vida, dai o reconhecimento do ser amado. Esse argu mento não é
necessariamente irreconciliavel com o que dissemos sobre a anima e o animus, pois
não conhecemos realmente a verdadeira natureza dessas imagens, nem de que
raizes primordiais elas surgem. A despeito da reencainação, entretanto, a projeção
esta envolvida com toda certeza no "amor a primeira vista",. embora isto não
signifique que tais projeções sejam prejudiciais ou negativas. ao contrario, são um
catalisador neces sario para o relacionamento, assim como o relacionamento é um
catali sador necessario para a autoconsciencia; a busca do parceiro interior é
responsavel pela nossa aceitação da vida. A anima e o animus são, por conseguinte,
guias no sentido mais profundo, pois ligam o indivíduo a grande herança de imagens
e experiências coletivas que jazem além de sua vida pessoal; e são efetivamente
instrumentos do fado, direcionando -nos para situações que, de outra forma, sem
duvida evitariamos – evi tando assim toda luta e toda consciencia. Embora
procuremos esses par ceiros interiores fora de nós, eles vivem dentro de nós e nos
impulsionam exatamente para aquelas experiências opostas aos nossos desejos
90

cons cientes. A anima continuamente seduz o homem para o mundo escuro do


sentimento e do envolvimento emocional, que esta tão em desacordo com sua
psicologia natural quanto a vida submarina esta para o gato; e a mulher é
continuamente conduzida pelo animus para o isolamento, a independência e a auto-
realização, que são antitéticas a sua propensão instintiva a viver a vida através de
relacionamentos e identificação incons ciente com os outros. As vezes, podemos ter
vontade de amaldiçoar nossos traiçoeiros guias, que em vez de nós trazer a
felicidade nós levam para a beira do precipfcio e muitas vezes nos jogam de cabeça
I5 dentro; entretan to, sem eles não haveria crescimento algum, aIegria alguma,
compreensão alguma e nada que justificasse a palavra vida. Nas figuras do animus e
da anima reside o mais profundo mistério, e é através delas que se pode real mente
ver como os relacionamentos são um caminho para o desenvolvi mento interior e a
personificação viva de uma jornada ao mais profundo centro do práprio ser.

Como outras figuras arquetípicas, a anima tem dupla face. Muitas vezes isso
coloca um problema real para a aceitação consciente de seu valor por parte do
homem, pois enquanto a face "luminosa" – criativa, inspiradora, migica – pode ser
assimilável, muitas vezes a face mais escura e mais selvagem não o é. É muito mais
fácil projetar essa ultima em mu lheres reais, e ve-las como destrutivas e
devoradoras. Entretanto, a luz não

pode existir sem a escuridao. A anima personifica toda a experiência cole tiva do
homem com o feminino, e é portanto um simbolo do principio feminino arquetipico.
Esta vinculada á relação e ao sentimento, e perso nifica o aspecto do inconsciente do
homem que se empenha na união com os outros. Sob alguns aspectos, a figura da
anima é igual para todos os homens; diriamos que existe apenas urna Mulher, uma
essência do feminino que nunca pode ser realmente verbalizada, mas que possui os
mesmos atributos para todos os homens. É essa identidade, essa unidade coletiva,
que produz figuras de anima como Ayesha, ou mesmo mulheres do tipo anima como
Marilyn Monroe, com seu grande poder de fascinio.

Mas junto com essa face coletiva da anirna existe também um lado pessoai.
Para um homem, a imagem interior pode ser morena, sensual e languida; para outro,
pode ser loura, exuberante e inocente. A anima, enquanto personificação coletiva,
91

também é fortemente matizada pela experiência individual que o homem tem das
mulheres, principalmente de sua mae. Assim, enquanto a essência do feminino
permanece a mesma, a imagem interior é diferente para homens diferentes. As
ninfas e deusas gordinhas retratadas por Rubens podem ter agradado a Rubens,
mas para outro homem a figura esguia e de menino de uma atriz como Mia Farrow é
muito mais magnética. Também é possivel observar a entrada em moda de tipos
fisicos durante diferentes periodos da historia; a imagem ideal da mulher bonita na
época elizabetana, ou mesmo vitoriana, era muito diferente da que é cansiderada
bonita hoje. Os romanos tinham uma filo sofia para essa questão: de gustibus non
disputandum est, gosto não se discute. As qualidades fisicas da imagem são
simbolicas, e personificam qualidades interiores muito mais dificeis de verbalizar. Se
se permite que os traços fisicos falem ao coracão e a intuição , eles revelam a
essência da pessoa.

Em The Symbolic Quest, Edward Whitmont desenvolve uma "clas sificação


tipolágica experimental do Feminino," descrita por Toni Wolff . É uma interpretação
arquetípica e não pode ser feita muito lite ralmente, mas as mulheres tendem
inconscientemente a se identificar com, ou personificar, um desses quatro aspectos
bisicos do principio feminino.

E as mesmas quatro imagens também sio aplicáveis a anima. São deno minadas
a Mãe, a Hetaira, a Amazona e a Médium. Geralmente uma dessas faces da anima
esta voltada para cima, em direção a luz da consciência de um homem, que o atrai
para aquele tipo de mulher como representante do feminino. 8 The Symbolic Quesr.

A mãe é uma figura cheia de qualidades protetoras, alimentadoras, cuidadoras.


Sua face brilhante é a do lar e da segurança, do conforto e do perdao; personifica
toda a compaixão e a sabedoria instintiva. Sua face escura é a da possessiva,
devoradora e destruidora, o utero sombrio que puxa o homem da vida para a morte.
O homem que esta acorrentado a essa imagem, que não consegue compreender as
muitas facetas do femi nino mas que esta ligado a apenas esta, em geral vai ser
atraido por mu lheres que possam realmente cuidar. dele; e geralmente vai lutar
contra a dependencia, o desamparo e a paralisia que um relacionamento continuo
desses acarreta. A Hetaira é um tipo muito diferente, e as antigas cortesas são
92

simbolos aprópriados dessa figura da anima: intelectualmente bem dotadas, cultas,


estéticas, dedicadas aos aspectos pessoais do amor e da corte, caprichosas,
instaveis, promiscuas e voluveis. A face luminosa dessa imagem é a do sentimento
sintonizado com a cultura e o amor da beieza.

O lado escuro é frio, impiedoso, imprevisivei, enganoso e inconstante, incapaz


de manter a fidelidade em qualquer relacionamento. Para um homem preso a
imagem da Hetaira, a mulher pode parecer uma borboleta brilhante, trazendo beleza,
brilho e colorido, mas não merecedora de confiança, mutavel como o vento, incapaz
de proporcionar qualquer sensação de segurança ou enraizamento.

A Arnazona – cujo nome vem das guerreiras da mitologia grega que adoravam a
deusa virgem – é uma figura de terra, forte e capaz, eficiente, apoiadora, prática e
cheia de sabedoria terrena. Sua face luminosa é a capa cidade de lidar com a
realidade, com o mundo material e suas complexi dades, de proporcionar seguranga
e estabilidade. Sua face escura é domi nadora, mandona, arrogante, cerceadora,
estruturada, dogmatica, escra vizada a tradição e a lei. O homem ligado a anima
como Amazona pode procurar relacionamentos nos quais sua vida seja
eficientemente dirigida e organizada para ele, deixando-o livre para ir ao encalço da
sua visão criativa. Do lado negativo, pode-se chegar a um discreto aprisionamento
num estado de perpétua infantilidade, que não lhe permite fazer nada rozinho. A
Médium, antitese da Amazona, é a visionaria e vidente, a profetiza que desvenda os
segredos do universo. Ela comunga com os deuses, e traz espontaneidade, alegria,
extase e abandono ao fluxo do momento. Sua face luminosa é a da intuitiva, a
inspiradora, o veículo do espirito criativo; sua face escura é a histeria, a loucura, o
caos, a frenética rendição as forças do coletivo e os demoniacos poderes da visão e
do deli rio. O homem ligado a anima como Médium pode achar que encontrou uma
musa, um catalisador para a expressão da criatividade e do significado de sua vida.
Alternativamente, pode aehar que foi sacrificado no altar do 11C

caos, com sua vontade, sua estrutura e sua necessidade de conseguir algo de
valor no mundo se desintegrando num redemoinho fantasmagorico, ou num mundo
de sonho que o leva a acreditar que se tomou um heroi sem ter realizado nenhum
feito.
93

As qualidades personificadas por essas quatro figuras são aspectos da psique


inconsciente do próprio homem. No seu todo, essas figuras não podem ser
confundidas com uma mulher real, pois são simbolos; porém, algumas mulheres são
ganchos melhores ou piores para receber a projeção de um ou outro simbolo. O
problema reside em trazer a sabedoria e a vida intrinsecas a esses simbolos para a
consciencia; pertencem a própria pessoa, e não podem ser vivenciadas através de
uma parceira se o homem quiser realizar o verdadeiro casamento interior pelo qual
ele estabelece um relacionamento com a anima. Se ele tenta permanecer
inconsciente, sua parceira, carregando o fardo da projeção, geralmente vai continuar,
cons cientemente ou não, a representar a anima para ele. Mais cedo ou mais tarde,
isso vai causar algum no emocional que o tira de seu sono e o força a se tornar
consciente da mulher dentro dele, que secretamente está dire cionando suas
escolhas.

Algumas vezes o homem procura a anima em personificações de femi nino não-


humanas, como o misticismo (a Mae Igreja é um bom exemplo) ou a criação artistica;
mas quer a anima esteja vestida de mulher ou não, sua essência permanece a
mesma. Mas qualquer que seja a imagem, o homem nunca vai encontra-la in toto
fora dele, porque nenhuma mulher real pode personificar o espectro mitológico de
opostos contido na anima.

A mulher de verdade, uma vez ou outra, fatalmente vai pegar um resfriado,


deixar roupa suja no banheiro, ser surpreendida de mau humor, com creme no rosto
e bobs no cabelo. Nenhuma anima que se prezo se deixaria ver em tal wstado.
Muitos homens tem uma curiosa repugnância pelos hábitos femininos comuns e
pelos atributos biológicos – principalmente o ciclo menstrual e o mal-estar que o
acompanha – porque eles denigrem a ima gem que ele esta projetando na mulher;
servem para lembra-lo de que ela é humana e demanda um relacionamento humano.

Mesmo um entendimento minimo de algumas das qualidades mais pessoais da


anima pode ajudar o homem a se tomar mais conscio dos padrões que adota nos
relacionamentos. A experiência da raiva, da amar gura, da recriminação e da magoa
quando a mulher real não realiza as expectativas inconscientes da anima é tão tipica,
que quase não precisa ser discutida. É literalmente encontrada em toda parte, e o
94

ressentimento que emana dos pressupostos e expectativas inconscientes é como um


fluxo pernicioso que torna o relacionamento impossivel, mas que o homem é 116

capaz de negar quando alega não estar de mau-humor, não haver nada errado
e se ela poderia, por favor, parar de importuna-lo com suas exigen cias emocionais.
Talvez só as mulheres, sensiveis a esta atmosfera emocio nal, saibam quanto
sofrimento emocional vem desse tipo de critica e de desapontamento não-
verbalizados. Se o homem não consegue reconhecer a diferença entre sua mulher e
sua anima, e respeitar as duas, então vai sempre esperar que sua mulher se ajuste a
imagem interior – e, inevitavel mente, ela vai malograr.

Um dos atributos da anima é sua praticidade; a mulher, simbolica mente, é terra,


matéria, e muitos homens, assim, inconscientemente a responsabilizam pelo
cuidado, fomento e arrumação de sua vida material.

Outro componente da anima é o sentimento, e assim a mulher é respon


sabilizada pela criacão de uma atmosfera de amor e cuidado no lar, e de impregna-la
com as qualidades da compaixao, brandura, sensibilidade e receptividade. Essas
qualidades são, sem duvida, aspectos do principio feminino – no homem ou na
mulher – e, em maior ou menor grau, ine rentes a psicologia das mulheres. O
problema, entretanto, é a questão do grau. No plano arquetipico e historico, as
mulheres sempre serviram como guardias de certos valores na sociedade e para os
homens; mas, por mais válida que essa custodia seja em principio, cada mulher tem
sua forma individual de expressa-la – o que cria muitas dificuldades nas situações
especificas. Não é tanto que o cuidado, a proteção e a receptividade não devam ser
atribuidos ao feminino; é que os homens, seduzidos pela anima, tem a tendência a
esperar dela esses atributos em grau desmesurado, esque cendo que as mulheres
também tem um componente masculino que requer a expressão independente. Uma
determinada mulher pode não estar muito preocupada com o lado material ou
emocional da vida, se ela for do tipo intuitivo ou pensativo; embora ela ainda seja
mulher, pode querer ter tempo para desenvolver seus interesses independentes. Isso
depende da disposição da mulher. Um dos muitos problemas enfrentados pela
mulher que luta pela consciência é a dicotomia entre o seu temperamento e a sua
natureza instintiva. O problema é complicado por uma segunda dicotomia, composta
95

pela sua solução do primeiro problema e pela projeção da anima de um homem


sobre ela. Não Há uma saida simples para esse problema pa ra nenhum dos
parceiros; provavelmente seja impossivel até chegar perto de uma solução, sem
varios erros criticos. Mas os homens podem dar uma enorme ajuda tornando mais
conscientes as qualidades da anima, de modo que ele possa encontrar sua parceira
na metade do caminho e valorizar a sua luta, em vez de inconscientemente esperar
que ela personifique, num delica do corpo e durante uma curta vida, o arquétipo da
Mulher na sua totalidade. 1 þ

O animus é a imagcm arquetípica do homem existente dentro de cada mulher.


Ele é o caçador, o guerreiro, o estadista e o intelectual, o construtor tanto do plano
material como mental. É poderoso e cheio de propósito; possui as chaves das leis
que fazem a vida funcionar e o signi ficado do plano de seu dcsenvolvimento, Esta
relacionado com mente e espirito, e personifica objetividade, vontade, conhecimento,
direção e perspectiva impessoal. Como a anima, ele tem uma face brilhante e uma
escura. Sua face brilhante é como o Sol, e traz iluminação e claridade, proposito e
força, enquanto sua face escura é o destruidor, que rompe o relacionamento e traz a
morte do sentimento e a frieza do isolamento eterno. Da mesma forma que a anima,
o animus contém tanto um com ponente coletivo como um componente pessoal; o
relacionamento com o pai, principalmente, vai matizar o ultimo, enquanto o primeiro
perso nifica toda a experiência coletiva das mulheres com o masculino através das
eras. O animus, para algumas mulheres, pode ser uma poderosa força da natureza,
como Heathcliffe; pode ser brutal, viril, agressivo, lascivo e onipotente – alguma coisa
cntre Jeová e Tarza. Ou talvez devessemos citar o Frankenstein de Mary Shelley,
ande o barão e a "criatura" epi tomizam a face dupla do animus. Para outras
mulheres. o componente intelectual ou espiritual do animus é de suma importância, e
ela vai pro jetar sobre o seu homem as qualidades de visão, logica, brilho, capacidade
de planejamento e organização, ou mesmo sabedoria e compreensão espirituais. O
animus pode até aparecer em forma plural para muitas mulheres, como um conselho
dos mais velhos ou de um grupo de sabios.

Como tal, ele também personifica a autoridade da sociedade, da estru tura, da


lei.
96

Whitmont sugere que o animus, da mesma forma que a anima, pode assumir
uma de quatro formas basicas. Cada uma é uma corporificação do principio
mascuiino, e ele as denomina o Pai, o Puer Aeternus (Jovem Eterno), o Heroi e o
Sabio. Enquanto os homens podem se identificar inconscientemente com uma
dessas quatro figuras como simbolo de sua expressão masculina especifica, as
mulheres também geralmente estão ligadas a uma ou outra como a face mais
consciente do anirnus.

Q Pai é a figura que proporciona apoio, abrigo, cuidado; como é um homem,


personifica a ordem social hierarquica, o costume, a tradição, a sacralidade do
passado c os valores da familia. Sua face luminosa é prote tora, fortalecedora e
tranquilizadora, proporcionando a mulher o senso de segurança no mundo maior em
que ela vive; sua face escura sufoca o cres cimento, pois ele a mantém como uma
eterna menininha, negando-lhe o direito de descobrir seus próprios valores. A mulher
ligada a tal figura do 118 I

[ animus muitas vezes se ve num relacionamento com um homem que


representa um pai, abriga-a, toma conta dela, patrocina-a e espera que obedeça i
sua lei, aprisionando-a assim numa perene infância. O puer é antitético ao Pai e,
como sua contrapartida feminina, a Hetaira, é leviano, aéreo, estético, alegre e
incapaz de um relacionamento fiel ou permanente.

Tanto o Filho (puer) como a Hetaira fazem o tipo ame-os e deixe-os, mas com a
Hetaira motivada pelo Eros a enfase maior é no ame; o puer é mais forte no deixe ."
A face brilhante do puer é como o mercurio: simboliza a atuação brilhante, mutavel,
inconstante da mente diferen ciada, e é como o espirito do vento, trazendo a
mudança e a animacão do voo. Sua face escura é fria e despida de sentimentos,
cruel, dura, dada a critica destrutiva e á palavra venenosa. A mulher ligada a essa
figura do animus pode se acorrentar exatamente a um homem assim: magnético.

irresponsavel, infantil, cintilante e muito melhor na hora de se desvencilhar de


um relacionamento do que de mante-lo.

O Heroi é um guerreiro, uma criatura de terra, e como sua contrapar tida


97

feminina, a Amazona, se empenha em lutar e vencer no mundo obje tivo. Ele pode
ser o bem-sucedido homem de negocios, o politico influente e carismatico, o soldado,
o estadista; sua face brilhante proporciona garra, assertividade, coragem, senso
comum, tenacidade, persistência e uma vontade poderosa. Sua face escura é
sensual, materialista, insensivel, brutal, dominadora, possessiva e destrutiva em
relação aos dons criativos e as coisas do espirito. Uma mulher ligada a essa figura
de animus, se for incapaz de expressar ou reconhecer qualquer outra faceta, pode
ver-se envolvida – projetando – com um homem cuja preocupação primordial na vida
seja a sua posicao. Ele, em busca do poder e do ganho material, pode arrasta-la
consigo (ou melhor, ela vai se deixar arrastar, sob o do minio do animus) porque tudo,
inclusive os relacionamentos, precisa ser sacrificado pela conquista. ao contrário, o
Sabio, antitético do Heroi e correspondendo a Médium feminina, é um simbolo da
criatividade, da sabedoria, da visfo, da compreensão espiritual e uma ponte para a
Mente de Deus. Sua face luminosa é a do magico, do profeta que esclarece os mis
térios do significado maior da vida; sua face escura é o abismo, o poder cauterizante,
fanatico e totalmente impessoal do caos. Ligada a um tal animus, uma mulher pode
permitir que seu homem aja como um guru e guia espiritual, manâncial de sabedoria
e profeta que ve tudo; pode esperar que ele viva por ela a sua criatividade não-
nascida e devote a sua vida ao 9 Ibid.

serviço das necessidades mundanas dele, de modo que ele possa prosseguir
com sua nobre visão. E ela pode nunca perceber que possui inspiracão e sabedoria
próprias. Citaria como exemplo negativo desse animus o poder inconsciente que
hipnotizou as seguidoras de Charles Manson levando-as a ve-lo como um Messias.
Através do animus, a mulher é atormentada por um problema, tal como a
anima faz com o homem: o problema dos pressupostos e expec tativas inconscientes,
e do ressentimento resultante quando as exigencias não-verbalizadas não são
atendidas. Se não cooperar conscientemente com o homem inconsciente em sua
psique, a mulher vai esperar que seu parcei ro viva para ela o seu próprio potencial,
fazendo com que o fracasso dele seja intolerivel. Evidentemente, nenhum homem é
capaz de ser eternamente firme, corajoso, categárico, bem-sucedido, lágico e
98

preparado para res ponder a todas as incertezas da vida. De vez em quando, pode
ser que ele conte uma piada suja, mostre ignorância sobre algum assunto, cometa
um erro de negácios, mostre sentimento ou dor, expresse medo ou indecisão, ou
demonstre alguma outra qualidade desagradavelmente humana que manche a
imagem de animus perfeito que sua parceira colocou sobre ele.

E, embora ela o aceite quando ele vive o lado brilhante do seu animus, pode
não gostar nem um pouco quando ele expressa o lado mais escuro de sua
masculinidade; ai ele se torna um valentão com um "pé-de-cabra", um tirano, um
animal frio e insensivel. Alternativamente, a mulher pode ficar amarga e ressentida
porque a figura que pensava ser tão sabia e tão pode rosa acaba precisando da ajuda
dela, tomando-se um miseravei fracasso.

Para uma mulher ligada dessa forma ao animus, nenhum relacionamento pode
ser satisfatório, pois o animus sempre vai sussurrar no seu ouvido a palavra
destrutiva que corta o relacionamento. Assim fazendo, ele vai condena-la a uma vida
estéril, vazia e isolada, enquanto um homem apás outro confirma sua secreta
suspeita de que todos são fracassos.

Os indivíduos, homens ou mulheres, cegos ao oposto sexual dentro deles,


nunca percebem que o parceiro é escolhido porque tem alguma semelhança com a
anima ou com o animus. A raiva e a dor sentidas com a "verdadeira descoberta" das
falhas do parceiro é, na verdade, raiva e dor dirigidas para si mesmo, e isso se
tomaria evidente se a pessoa visse a figura escura em seu inconsciente impelindo-a
para um determinado relaciona mento. O semelhante sempre atrai o semelhante; em
vez de denunciar o parceiro, seria inelhor dar uma boa, uma demorada olhada na
própria configuração psiquica. Mas é mais facil queixar-se amargamente – para
analistas, conselheiros conjugais e também astrologos – de que mais um
relacionamento faliu, mais um parceiro foi uma escolHá errada. Também 120121
esta na moda colocar a culpa nas falhas do genitor do sexo oposto, mas o passado
continua a viver dentro de uma pessoa não apenas porque, de alguma forma, é parte
de sua própria substância, mas também porque ela permite que assim seja. Quando
um relacionamento desastroso aconteceuma vez, podemos nos enganar acreditando
que foi um acaso; quando acontece duas vezes, tornou-se um padrao, e um padrão é
99

uma indicação inquestionavel de que a anima ou o animus esta trabalhando no


incons ciente, compelindo o ego desamparado a relacionamentos ou situações
obscuras, dolorosas e assustadoramente repetitivas. Novamente, é muito mais sabio
examinar-se, a procura da origem desse padrao, do que procurar o seu fracasso no
sexo oposto. Pois esses padrões destrutivos são a forma que a psique tem de se
tornar conhecida, embora muitas vezes seja neces sario um grande esforço para
atender a sua necessidade de transformação.

E também são exigidos grandes sacrificios – de bens preciosos como o orgulho,


a auto-imagem, a certeza de que se está certo. Como a sombra, a anima e o animus
são arquétipos, "deuses", e podemos, assim, esperar encontra-los no panteão
planetario. Quando se examina o horoscopo de nascimento para verificar algum
vislumbre de sua presença, é importante lembrar que não existe fármula, não existe
um conjunto de regras que o intelecto possa aplicar para obter um resultado nitido e
claro. Os simbolos não podem ser apreendidos somente pelo intelecto. Na
comparação de dois mapas, podemos constatar que os indi viduos combinam através
de interesses mutuos, objetivos comuns, seme Jhança de temperamento, mas os dois
parceiros invisiveis do quarteto, a anima e o animus, continuam controlaado o
resultado do relacionamento.

Tudo, aqui, depende do grau em que se esta consciente desses parceiros


interiores, porque se eles trabalharam totalmente no escuro, o resultado se torna
predeterminado, a despeito da opção do individuo. Precisamos ter isso sempre em
mente quando avaliamos a compatibilidade com base nos horáscopos, pois, embora
uma determinada combinação planetaria, ou combinação de signos, possa mostrar
harmonia ou atrito, isto é apenas um potencial. A anima e o animus é que
determinam se a potencialidade se toma realidade.

As técnicas tradicionais de sinastria são uma lente util através da qual se podem
perceber as energias dinãmicas operando num relacio namento. Se essas técnicas
forem empregadas de modo muito literal, entre tanto, sob parametros muito fixos,
podem ser mais que inuteis: comple tamente enganadoras. Nunca se deve basear a
decisão de entrar ou sair de
100

serviço das necessidades mundanas dele, de modo que ele possa prosseguir
com sua nobre visão. E ela pode nunca perceber que possui inspiracão e sabedoria
próprias. Citaria como exemplo negativo desse animus o poder inconsciente que
hipnotizou as seguidoras de Charles Manson levando-as a ve-lo como um Messias.

Através do animus, a mulher é atormentada por um problema, tal como a anima


faz com o homem: o problema dos pressupostos e expectativas inconscientes, e do
ressentimento resultante quando as exigencias não-verbalizadas não são atendidas.
Se não cooperar conscientemente com o homem inconsciente em sua psique, a
mulher vai esperar que seu parceiro viva para ela o seu próprio potencial, fazendo
com que o fracasso dele seja intolerivel. Evidentemente, nenhum homem é capaz de
ser eternamente firme, corajoso, categárico, bem-sucedido, lágico e preparado para
responder a todas as incertezas da vida. De vez em quando, pode ser que ele conte
uma piada suja, mostre ignorância sobre algum assunto, cometa um erro de
negácios, mostre sentimento ou dor, expresse medo ou indecisão, ou demonstre
alguma outra qualidade desagradavelmente humana que manche a imagem de
animus perfeito que sua parceira colocou sobre ele.

E, embora ela o aceite quando ele vive o lado brilhante do seu animus, pode não
gostar nem um pouco quando ele expressa o lado mais escuro de sua masculinidade;
ai ele se torna um valentão com um "pé-de-cabra", um tirano, um animal frio e
insensivel. Alternativamente, a mulher pode ficar amarga e ressentida porque a figura
que pensava ser tão sabia e tão poderosa acaba precisando da ajuda dela, tomando-
se um miseravei fracasso.

Para uma mulher ligada dessa forma ao animus, nenhum relacionamento pode
ser satisfatório, pois o animus sempre vai sussurrar no seu ouvido a palavra
destrutiva que corta o relacionamento. Assim fazendo, ele vai condena-la a uma vida
estéril, vazia e isolada, enquanto um homem apás outro confirma sua secreta
suspeita de que todos são fracassos.

Os indivíduos, homens ou mulheres, cegos ao oposto sexual dentro deles, nunca


percebem que o parceiro é escolhido porque tem alguma semelhança com a anima
ou com o animus. A raiva e a dor sentidas com a "verdadeira descoberta" das falhas
101

do parceiro é, na verdade, raiva e dor dirigidas para si mesmo, e isso se tomaria


evidente se a pessoa visse a figura escura em seu inconsciente impelindo-a para um
determinado relacionamento. O semelhante sempre atrai o semelhante; em vez de
denunciar o parceiro, seria inelhor dar uma boa, uma demorada olhada na própria
configuração psiquica. Mas é mais facil queixar-se amargamente – para analistas,
conselheiros conjugais e também astrologos – de que mais um relacionamento faliu,
mais um parceiro foi uma escolHá errada. Também esta na moda colocar a culpa nas
falhas do genitor do sexo oposto, mas o passado continua a viver dentro de uma
pessoa não apenas porque, de alguma forma, é parte de sua própria substância, mas
também porque ela permite que assim seja. Quando um relacionamento desastroso
acontece uma vez, podemos nos enganar acreditando que foi um acaso; quando
acontece duas vezes, tornou-se um padrao, e um padrão é uma indicação
inquestionavel de que a anima ou o animus esta trabalhando no inconsciente,
compelindo o ego desamparado a relacionamentos ou situações obscuras, dolorosas
e assustadoramente repetitivas. Novamente, é muito mais sabio examinar-se, a
procura da origem desse padrao, do que procurar o seu fracasso no sexo oposto.
Pois esses padrões destrutivos são a forma que a psique tem de se tornar conhecida,
embora muitas vezes seja necessario um grande esforço para atender a sua
necessidade de transformação.

E também são exigidos grandes sacrificios – de bens preciosos como o orgulho,


a auto-imagem, a certeza de que se está certo.

Como a sombra, a anima e o animus são arquétipos, "deuses", e podemos,


assim, esperar encontra-los no panteão planetario. Quando se examina o horoscopo
de nascimento para verificar algum vislumbre de sua presença, é importante lembrar
que não existe fármula, não existe um conjunto de regras que o intelecto possa
aplicar para obter um resultado nitido e claro. Os simbolos não podem ser
apreendidos somente pelo intelecto. Na comparação de dois mapas, podemos
constatar que os indivíduos combinam através de interesses mutuos, objetivos
comuns, semeJhança de temperamento, mas os dois parceiros invisiveis do quarteto,
a anima e o animus, continuam controlaado o resultado do relacionamento.
102

Tudo, aqui, depende do grau em que se esta consciente desses parceiros


interiores, porque se eles trabalharam totalmente no escuro, o resultado se torna
predeterminado, a despeito da opção do individuo. Precisamos ter isso sempre em
mente quando avaliamos a compatibilidade com base nos horáscopos, pois, embora
uma determinada combinação planetaria, ou combinação de signos, possa mostrar
harmonia ou atrito, isto é apenas um potencial. A anima e o animus é que determinam
se a potencialidade se toma realidade. As técnicas tradicionais de sinastria são uma
lente util através da qual se podem perceber as energias dinãmicas operando num
relacionamento. Se essas técnicas forem empregadas de modo muito literal,
entretanto, sob parametros muito fixos, podem ser mais que inuteis: completamente
enganadoras. Nunca se deve basear a decisão de entrar ou sair de um
relacionamento apenas na comparação dos mapas. Não existe nada semelhante a
um par de mapas de nascimento divinamente harmoniosos.

Nem, provavelmente, Há dois seres humanos divinamente harmoniosos, a não


ser como um simbolo do casamento interior. E, além de tudo, existe o inexplicavel
fator X, o Self, que não está mapeado no horoscopo de nascimento e que contém o
mistério do desenvolvimento significativo do indivíduo em sua vida. Esse misterioso
processo pode acarretar relacionamentos não-"compativeis", que envolvam
obstaculos, por causa das oportunidades que a tensão resultante proporciona. Nunca
se deve considerar uma comparação dificil como indicativo de que o relacionamento é
"mau", da mesma forma que a harmonia entre dois mapas não faz um relacionamento
"bom". Tudo que os mapas mostram é o tipo de troca mutua que pode ser esperado
se o indivíduo decidir se envolver. E muitas vezes ele absolutamente não decide, mas
é compelido, por suas projeções e seu estado de "estar apaixonado", a abandonar as
melhores intenções do mundo. Ou o sentimento, de forma repentina ou lenta, pode se
escoar de um relacionamento perfeitamente "combinado", por mais que os mapas
sejam harmoniosos; e então é preciso perguntar qual a intenção do parceiro interior,
pois o animus e a anima inevitavelmente estão por tras dessas vicissitudes
inexplicaveis.

Na sinastria tradicional, o elo harmonioso entre o Sol de uma pessoa no mapa de


nascimento e a Lua de outra (geralmente o Sol do homem e a Lua da mulher) é
103

considerado a melhor indicação de um relacionamento feliz e duradouro. Jung


descobriu em sua análise de mapas de pessoas casadas que o aspecto de sextil, um
angulo de sessenta graus, aparecia com mais freqQência entre o Sol de um parceiro
e a Lua do outro.

Outros contatos planetarios, como entre a Lua de um c Vênus de outro, ou Marte


de um e a Lua de outro (todas, novamentc, indicacões tradicionais de atração e
harmonia), também ocorriam com freqiiencia. Antes de perguntarmos o que isto
significa em termos psicológicos, deveriamos considerar se a imagem do parceiro
interior, aquele fator controlador em todas as escolhas de relacionamento, pade ser
deduzida do mapa de nascimento. Existem certos contatos tradicionais de sinastria:
Sol-Lua, Vênus-Lua, Marte-Lua, Lua-Lua, Sol-Vênus, Marte-Vênus, Sol-ascendente,
Lua-ascendente e assim por diante. Existem também outros contatos importantes,
mas inexplicáveis, que ocorrem com freqiiência não menor na comparação de mapas:
Sol-Saturno, Lua-Saturno, VênusSaturno, 1O Synchronicity: An Acausal Connecting
Principle. Londres, Routledge 5 Kegaa Paul, 1972.Marte-Saturno e Sol, Lua,
ascendentes, Vênus ou Marte de uma pessoa com Urano, Netuno ou Plutão do mapa
da outra. Cada um deles deve primeiro ser examinado a luz das necessidades
individuais implicitas nos dois mapas de nascimento.

Ja vimos que o inconsciente compensa o consciente. Também ja vimos que a


anima e o animus – como simbolos das forças inconscientes operando no indivíduo
como porteiros entre as esferas pessoal e coletiva – executam exatamente uma
função compensatária. Assim, um intuiiivo, com um mapa cheio de fogo, não apenas
vai ter a tendência de expressar sua sensação inferior através da sombra, mas a
anima ou animus também podem personificar alguns dos atributos de terra. Uma vez
libertados da sombra, eles vão oferecer esses atributos como chaves para a
numinosa experiência do Self. O tipo sensação, orientado para a matéria e a
realidade, pode trazcr dentro de si uma fantastica criatura de fogo, de visão e
profecia; o pensativo, estruturando sua realidade de acordo com seus parametros
conceituais, pode estar ligado a um parceiro interior que personifica as profundezas
fiuidas, mutaveis, magicas, imprevisiveis e irracionais de agua; e o tipo sentimento,
vivendo através dos relacionamentos pessoais e avaliando a experiência através dos
104

valores humanos subjetivos, pode abrigar um claro, frio, impessoal, objetivo,.alado


espirito de ar. Isto é uma supersimplificação – como qualquer tentativa de descrever a
anima e o animus –, mas a inclinação de temperamento inerente ao mapa individual
muitas vezes proporciona uma sugestão da criatura invisivel que personifica a vida
inconsciente. Pode-se, na verdade, tomar as quatro imagens da anima e do animus e
sugerir que tenham alguma relação com os quatro elementos, embora seja preciso
tomar cuidado para não ser muito literal. A Mae, como figura da anima, é uma criatura
de igua; ela é, com mais freqiiencia, a imagem que persegue o homem pensativo, de
ar. A Hetaira, uma criatura de ar, é freqiientemente a imagem feminina inconsciente
do homem de água, orientado para os sentimentos. A Amazona, criatura de terra,
pode dominar as fantasias do homem intuitivo; e a Médium, uma corporificação do
fogo intuitivo, é a tipica Musa do homem ligado a terra, orientado para a sensação. Da
mesma forma, o Pai, que é de agua, pertence a mulher de ar; o Puer, de ar, pertence
ao tipo de mulher maternal, de agua; o Heroi, de terra, pertence a mulher intuitiva; e o
Sabio, de fogo, a trabalhadora mulher da sensação. Novamente, estas são
super>impLficações, mas devem proporcionar material para se pensar e para a
investigação individual.

Os planetas femininos no mapa de um homem e os planetas mascullrlos nos na


mapa de uma mulher também revelam a imagem do parceiro

interior. Aqui não se podem ditar regras fixas, pois sempre Há exceções, porém
os planetas transexuais muitas vezes fomecem a base para uma maior compreensão.
Isto é particularmente verdadeiro a respeito da Lua e de Vênus no mapa de um
homem, e do Sol e de Marte no mapa de uma mulher. Talvez, por isso, as tradicionais
combinações Sol-Lua e Vênus-Marte sejam consideradas "bons" augurios num
relacionamento, pois nesses casos a imagem interior inconsciente de um parceiro se
combina com a mesma qualidade do outro. Se um homem tem a Lua em Escorpião, e
se outros componentes do seu mapa contribuem para sugerir que sua imagem de
anima é a de profundo sentimento, paixao, mistério e escuridao, ele vai encontrar um
gancho muito mais adequado numa mulher com Escorpião – e em menor grau, os
outros dois signos de agua, Câncer e Peixes – dominante no seu horoscopo, do que
105

numa mulher de ar, fogo ou terra. Se isso é realmente "bom" ou "mau" é uma questão
em aberto; pode ser as duas coisas, pois a mulher que recebe a projeção do seu
homem, com satisfação e sem pensar, durante toda a vida, sem duvida contribui para
um casamento mais estavel. ao mesmo tempo, entretanto, essa estabilidade pode
sufocar a possibilidade de ele cultivar em si mesmo as qualidades de sua anima, além
de retardar a maturação da mulher. Por outro lado, no caso de pessoas que estão
criativamente trabalhando com seu relacionamento como um meio de
autodescoberta, essa mulher pode ser um catalisador, pois consegue entender o
parceiro interior de seu homem procurando liberação através do desenvolvimento
consciente. Mais uma vez, tudo depende não dos mapas, mas dos indivíduos e do
que fazem com os recursos de que dispoem. Os casamentos que envolvem
combinações satisfatorias tendem a durar porque são mais fáceis. A luta pela
consciencia, por outro lado, nunca é facil, e pode ser facilitada por um pouco de
confliio entre os mapas e um pouco de saudavel resistência por parte de um parceiro
enraivecido.

Urano, e em menor extensão Jupiter, também devem ser considerados simbolos


de energia masculina, enquanto Netuno e Plutão devem ser considerados simbolos
de energia feminina. Eles também estão implicados na comparação de mapas, mas
como Urano, Netuno e Plutão são planetas transpessoais, são muito mais dificeis de
lidar, mesmo que muitas vezes promovam um crescimento maior. Algumas pessoas
são especialmente "dadas" a combinações envolvendo esses planetas. Urano é o
vento dinamico, o poder numinoso que despedaça o véu da realidade mundana
aparente e expãe o mundo da Mente Divina. Jupiter é o profeta, o vidente intuitivo, o
guia espiritual que concede um vislumbre do significado e do

profundezas do oceano do sentimento coletivo; Plutão é a mae inexoravel,


escura, devoradora, que proporciona a dádiva da vida e em seguida atrai o homem
para o ventre do sono, da morte e do renascimento. Esses planetas estão associados
ao lado coletivo da anima e do animus, enquanto os planetas pessoais – Sol, Lua,
Vênus e Marte – estão mais associados ao . lado pessoal, colorido pela experiência
pessoal.
106

Saturno e Mercurio ainda não foram mencionados. Isto não é porgue eles sejam
insignificantes, mas porque são muitas vezes esquecidos ou subestimados na
area da comparação de mapas, e também porque os dois parecem possuir uma
qualidade androgiaa. Em conseqiiencia, não são tanto figuras de anima ou de
animus, e sim simbolos de sintese e integração . Na alquimia, Saturno é o velho rei, o
antigo Mercurio (Mercurius Senex) que precisa renascer como o jovem Mercurio
através do processo de transmutação do trabalho alquimico. Através da escuridao, da
luta e da dor, vem a compreensio e a Iuz. Saturno, particularmente, é importante,
tanto na comparação de mapas como no mapa individual (quando se está procurando
alguma indicação da imagem da anima ou do animus).

Ele sugere que, através do relacionamento, a percepcão de tudo que é vil e


escuro na personalidade pode ser trazido para a luz, e sua sabedoria se tornar
acessivel. Desta forma, é aberto o caminho para o parceiro interior.

Certas combinações de planetas no mapa individual sugerem aspectos da


imagem da anima ou do animus. A Lua em conjunção com Plutão, por exemplo, une a
imagem pessoal da mKe, cuidadosa, protetora, responsiva, e o arquétipo coletivo da
MKe Sombria, possessiva, destruidora, devoradora, transformadora. Quando se
encontra essa conjunção no mapa de um homem, é sugerido que, a medida que ele
traz á consciência os elementos pessoais da anima, os coletivos virão também, e
pode ser que ele seja atraido por mulheres que personifiquem as qualidades
sombrias, arcaicas, primitivas e potencialmente destruãvas de Escorpiio e seu
regente, Plutão. Pode ser que esse homem descubra que suas associações com
mulheres – começando com sua mae – abalam as próprias raizes do seu ser. Elas
sempre vão ameaçar submergi-lo, e no entanto sempre servem como um meio pelo
qual sua própria natureza sentimental pode morrer e renascer para uma maior
consciência dos valores do relacionamento.

Ele pode ficar amedrontado com as mulheres por causa da figura escura
rondando na sua psique, mas inevitavelmente é atraido por mulheres que
personifiquem exatamente esse arquétipo. Vênus e Plutão juntos no mapa de um
homem é uma configuração semelhante; a imagem da mulher como companheira
ideal esta ligada ao arquétipo da Mae Sombria, e as qualitodo. No lado feminino,
107

Netuno é a sereia que atra! o homem para as dades altamente eráticas dessa
figura podemh impregnar as suas fantasias.

A Lua e Netuno juntos, como outro exemplo, sugerem uma qualidade muito
diferente: a imagem da mae pessoal é vinculada iquela da martir, da mistica, da
vidente, da redentora. Um homem com essa combinação no mapa vai procurar,
através de uma mulher que personifique as qualidades Peixes-Netuno, perder-se e
dissolver-se no mar de seus sentimentos.

Pode ser até que seja atraido por mulheres que, por causa do seu desamparo ou
sofrimento, permitam que ele se sacrifique. A Lua ou Vênus ji ligadas a Saturno
sugerem que a imagem da mulher está pesadamente contaminada pela própria
sombra do homem, de modo que ele pode projetar poder, controle e aprisionamento
no sexo oposto. Este é o verdadeiro "casamento" da anima e da sombra. Pode
fomentar no homem a necessidade de proteger-se e controlar as pessoas que ele
acHá que o ameaçam, o que vai interferir em seus dons criativos, fazendo com que
os use, assim como suas respostas sentimentais, para incrementar sua vontade de
poder.

Como ele não se permite suficiente vulnerabilidade para se relacionar,


inevitavelmente vai sofrer decepções através dos relacionamentos, até que aprenda a
recolher suas projeções.

Uma mulher que tenha o Sol ou Marte em combinação com Urano no mapa de
nascimento pode ter sua experiência pessoal do homem associada ao arquétipo do
magico, do vento espiritual e sua imagem interior do homem vai, então, ser colorida
pela imagem do destruidor, o despedaçador de ilusões, o despertador. Ela pode se
envolver em relacionamentos que executam a função dessa figura dupla; o homem, e
a maneira pela qual interage com ele, serve (muitas vezes sem perceber) para
sacudi-la, desperta-la, abrir seus olhos e quebrar a identificação com os seus valores
sentimentais, freqiientemente rompendo o próprio relacionamento.

Os planetas transpessoais, ligados com a Lua ou VBnus no mapa de um


homem, ou o Sol e Marte no de uma mulher, sugerem que o indivíduo precisa levar
os relacionamentos pessoais para uma esfera mais ampla, mais transpessoai – uma
108

esfera em que os arquétipos menos individualizados tenham mais espaço para


expressão. Em tal esfera, eles podem realizar sua função integradora; se confinados
aos perimetros da esfera pessoal, ficarão sufocados e, na sua ansia de ar, se
tornarão uma influência disruptiva. Para as pessoas cam tais contatos planetarios"os
relacionamentos precisam ser quase mitológicos; precisam conter turbulencia, crises,
mortes e renascimentos e sempre servir para o crescimento da psiquc total, e não
para o contentamento do ego, Essas pessoas precisam admitir esse impulso de
procurar algo maior e mais profundo do que a mera compatibilidade e suavidade no
casamento. Para elas, a união muitas vezes é uma verdadeira jornada interior de um
tipo dramatico, pontilhada de climax, decepções e

dor, mas sempre conduzindo ao centro. Esse tipo dc relacionamento não é para
todos; mas se o mapa refietir essa necessidade, é melhor ter conhecimento dela do
que se surpreender quando surgirem as crises e atribuir a culpa ao outro.

Os signos onde estão colocados os quairo planetas de "relacionamento" – Sol,


Lua, Vênus e Marte – juntamente com os contatos que fazem com outros planetas
são importantes pistas para o entendimento das motivações inconscientes do
individuo, que moldam seus padrões de relacionamento. Esses padrões planetarios
sempre devem ser considerados juntamente com a disposição inerente e as funções
primarias da consciencia. Na maioria dos casos, esses dois fatorcs vão coincidir, ou
se complementar. Algumas vezes, entretanto, vão conflitar. Mais uma vez, não existe
uma formula deQnitiva. É preciso conheccr um pouão a pessoa para descobrir como
as aparentes contradições vão ser expressas nos relacionamentos.

Além do que ja discutimos, precisamos também considerar o signo que cai no


descendente do mapa, e quaisquer glanetas que caiam na sétima Casa. Eles também
vão sugerir algumas qualidades vinculadas a imagem da anima ou do animus, que
são buscaáas no parceiro mas que pertencem ao próprio individuo. Aqui, é
necessário explicarmos um pouco o significado do eixo ascendente-descendente no
mapa.

O eixo do horizonte, que forma o ascendente e o descendente no mapa de


109

nascimento, é a divisão do céu da noite e do céu do dia, e marca o ponto onde a


Terra encontra o céu; simboliza o próprio indivíduo expressando-se num corpo
terreno e num ambiente terreno. O ascendente (ou signo em elevação) fica no ponto
oriental do mapa. É o signo que estava surgindo no horizonte oriental no momento do
nascimento; é como o portão da casa interior, habitada pelos varios planetas em seus
padrões combinatorios. Esse signo é a chave do relacionamento entre o indivíduo e
seu ambiente, assim como o Sol é a chave de sua essencia, seu caminho na vida. O
ascendente é a porta, o portão, a janela através da qual o indivíduo olHá para o
muado e o mundo, por sua vez, olHá para eie. Tudo que ele ve é colorido pelo ponto
de vista simbolizado pelo signo no ascendente.

O semeEante atrai o semelhante e o interior reflete o exterior. Assim, as


circunstâncias do ambiente, os confrontos com eie qve modelam a personalidade do
individuo, são atraidos para sua vida – ou ele é atraido por eles – pelo poder criativo
de sua própria psique, sincronizando-se com o que esta "la fora". Essa psique, assim
como o que ela trai, vai ser personificada pelo signo que fica no portão. O ponto de
vista em relação a vida, simbolizado pelo signo ascendente, é moidado pelo tipo de
vida que o indivíduo experiencia; por sua vez, o tipo de vida que ele experiência é
atraido por sua própria substância, seu próprio ponto de vista interior, que mais uma
vez é simbolizado pelo signo ascendente. O mundo interior e o mundo exterior são,
assim, imagens um do outro.

compreensão da motivação inconsciente (Escorpião) ; o indivíduo Qualquer


pessoa familiarizada com a astrologia basica sabe que o ascendente em geral é muito
mais evidente no comportamento do individuo, e em sua maneira de se relacionar
com os outros como um indivíduo consciente, do que o signo solar. Mas tudo no
mapa natal tem seu oposto, e nenhum signo pode ser avaliado sem se levar em
consideração o seu oposto, que é tanto sua antitese como sua outra metade. O
descendente, que fica no ponto ocidental do mapa, no pálo oposto do horizonte, é
sempre oposto por signo ao ascendente. Na astrologia tradicional, esse ponto é
chamado cuspide dz Casa do casamento, e diz-se significar as qualidades que o
indivíduo busca no parceiro, opostas as qualidades da sua personalidade, expressas
pelo ascendente. De fato, o descendente, em vez de denotar "as qualidades
110

desejadas no parceiro", sugere as qualidades inconscientes do individuo, o reverso


das coisas com as quais ele se identifica, porém necessarias para criar uma
perspectiva global e equilibrada através da quai ele possa se expressar aos outros. E
essas qualidades simbolizadas pelo signo descendente, como inconscientes, em
geral são projetadas. Seria mais adequado dizer que elas pertencem ao parceiro
interior, e não ao exterior. O descendente é o reverso inconsciente do ascendente; e
muitas vezes é util lembrar que o zodiaco na verdade é constituido de seis signos,
cada um contendo um par de opostos unificado em uma experiência basica ou eixo
de energia. Os dois polos desse eixo precisam ser integrados, embora muitas vezes
um seja inimigo da consciência – que em geral só consegue ver uma coisa de cada
vez.

Talvez seja bom rever as qualidades bisicas dos seis pares de signos
astrológicos, para obter alguma compreensão do significado do descendente.

O indivíduo criativo, arrogante, egocentrico (Áries) procura tornar-se conscio dos


outros e desenvolver a capacidade da cooperacão objetiva com eles nos
relacionamentos (Libra); o indivíduo racional e razoavel, versado no compromisso e
na cooperação (Libra), procura desenvolver a capacidade da iniciativa, da arrogância
e da independência (Áries).O indivíduo chão, realista, aceitando a evidência dos
sentidos e construindo a estabilidade através da simplicidade de seus valores (Touro),
procura a experiência do mundo sutil do sentimento, que vai permitir-lhe ir além da
superficie das coisas e obter umaintenso e emocional, sabendo ver além da superficie
e preso nas complexidades do submundo das correntes de sentimento (Escorpião),
procura a paz e a estabilidade que derivam de uma relação realista com o mundo, e
uma simplificação dos valores (Touro).

O indivíduo inquisitivo, sintonizado com o intelecto, versado no reconhecimento


dos fatose na diferenciação da informação peia classificação (Gêmeos), pxocura
entender as ligações e associações intuitivas entre os fatos, capazes de junta-los num
todo significativo (SagiQrio); o indivíduo intuitivo, de mente aberta, com um senso do
significado e dos padrões gerais da vida (Sagitario), procura compreender as idéias e
111

os fatos especificos que vão permitir-lhe comunicar sua visão em termos


compreensiveis aos outros (GBmeos).

O individua sensivel, fluido, responsivo, instintivo, orientado para os sentimentos,


facilmente influenoiado peios outros e vivendo através delcs (Cáncer), procura a
estrutura, a auto-sustentação e a automotivação que são fruto do esforço individual
(Capricornio) ; o indivíduo disciplinado e automotivado, capaz de dominar o ambiente
através da domesticação da energia (Capricornio), procura o calor e a segurança dos
relacionamentos e do intimo intercambio de sentimentos (Cáncer).

O indivíduo criativo, disposto a desenvolver sua singularidade e seu poder


criativo (Leao), procura tornar-se conscio da grande familia humana da qual faz parte,
para que possa oferecer seus dons criativos com uma compreeensão objetiva de seu
valor para os outros (Aquario) ; a pessoa consciente do grupo, ciente da imporiância
das necessidades dos outros á sua volta (Aquario), procura desenvolver um senso do
seu próprio valor e criatividade, de modo que tenha algo de si a oferecer (Leão).

O indivíduo discriminativo e refinado, perito no artesanato e motivado pela busca


da verdade, da pureza e do auto-refinamento(Virgem), procura a simpatia, a
compaixão e o sentimento da unidade da vida que lhe permitam oferecer seus
serviços não através do dever mas através do amor (Peixes) ; o indivíduo
compassivo, compreensivo e imaginativo, sensivel as necessidades dos outros e
dotado de um fluxo de idéias criativas (Peixes), procura desenvolver a disciplina, a
habilidade e a discriminação que lhe permitam oferecer o serviço de uma forma
pratica e realmente util (Virgem). Este principio astrológico basico pode ser
aplicado ao signo do descendente, que fornece uma pista das qualidades que o
indivíduo procura nos relacionamentos, porque está procurando desenvolve-las
dentro de si mesmo. E o descendente também deve ser considerado em conjunto
com o equilibrio dos elementos no mapa como um todo, assim como com as
combinações especificas de planetas que indicam as imagens da anima e do animus
na psique individual.
112

Um planeta colocado na sétima Casa – a area do mapa que se segue ao


descendente, em movimento anti-horario – também é tradicionalmente associado as
qualidades desejadas no parceiro. Aqui, também, seria mais correto dizer que as
qualidades simbolizadas por esse planeta pertencem ao individuo, mas sio
inconscientes e personificadas na imagem do parceiro interior. Geralmente, tenta-se
viver um planeta de séthna Casa através do parceiro, ou através dos tipos de
experiências trazidas yelo relacionamenio – mas é preciso tornar essa tentativa
consciente se quisermos utilizá-la de forma cooperativa e criativa. Os planetas na
sétima Casa em geral são mais influentes quando transpessoais, porque eles –
Urano, Netuno e Plutão – em geral são inconscientes de qualquer forma. É
incrivelmente comum uma pessoa com um desses estranhos planetas na "Casa do
casamento" deparar-se com rompimento, crise, desilusão, e despertar atr.avés do
relacionamento. Mas em geral ela vai supor que isto venha de "fora", do parceiru
exterior, em vez de perceber que é o parceiro interior que atrai certas experiências
para a vida. Se a pessoa acusa seu parceiro uraniano de ser frio, insensivel e
indiferente ao relacionamento, ou seu parceiro netuniano de ser enganoso e levar a
desilusão, ou seu parceiro plutoniano de ser desejoso de poder, possessivo e inimigo
de sua liberdade emocional, é melhor que ela olhe para si mesma para descobrir de
quem esta realmente falando. Os planetas colocados na sétima Casa não descrevem
o parceiro do casamento; descrevem como o indivíduo ve o parceiro, porque ele esta
projetando sua própria imagem interior transexual e, sem querer, desencadeando as
experiências que tem. Ele pode escolher um bom gancho – umapessoa que reflita o
planeta em questão no seu mapa de nascimento deforma visivel –, mas o que ele
adquire através do parceiro é dele mesmo,sua própria escolHá inconsciente.

Não deves perguntar: "Por que isto sempre acontece comigo?",pois bem no
fundo sabes que tu o atraiste, seja la o que for".Ji foram pubbcados muitos volumes
sobre a comparação tradicional dos horoscopos, que são uteis de forma geraI para se
compreender os efeitos de determinados planetas na combinação. Mas nenhum
método decomparação de mapas pode dizer a uma pessoa se deve ou não estar
numrelacionamento, ou se ele vai durar. Nunca é demais enfatizar esse ponto.
113

Um enorme prejuizo tem sido causado pela suposição popular de que sepodem
tomar decisões a partir do mapa de nascimento – um prejuizo paraa astrologia e para
as pessoas. Os mapas de duas pessoas, analisados pelasinastria, só sugerem por
que o relacionamento nasceu, que fatores energéticos estão operando nele, e nada
mais. Mais uma vez, o destino do rela

cionamento não está nos planetas; esta nos indivíduos e no seu relaciona

mento com os parceiros interiores. Somente quando a pessoa tem


algumaconsciência do seu par invisivel é que yode olhar com um pouco de obje

tividade para o par visivel e usar qualquer informação fornecida pelosmapas de


uma forma construtiva. O trabalho interior precisa ser realizado primeiro, talvez com a
ajuda e a compreensio do parceiro, mas semprecom uma verdadcira aimissão de
onde, realmente, está a responsabilidade.

Somente então é possivel usar o mapa para lancar luz sobre fatores comoa
diferenca nos processos de pensamento e modos de comunicação, nosvalores
emocionais. nos gostos, a harmonia de temperamento ou de interesses e outras
esferas do intercambio humano.

Aqui, é util darmos um exemplo. Reproduzimos a seguir quatromapas, de uma


mulher e tres homens com os quais ela se envolveu profun

damente em épocas diferentes de sua vida. Pode-se dizer que os tres relacio

namentos forarn, em grandc medida, obra do animus. Se isso signiiica queque


eles foram "bons" ou "maus" é uma questão sem sentido, pois os tresrelacionamentos
deram a mulher algo de importante na compreensão desi mesma e dos outros e,
nessa medida, todos foram validos. Se poderiam

11 Below the Belt, Beata Bishop S. Pat McNeil. Londres, Coventure, 1977.

ter durado ou não, também é uma questão sem sentido, porque simplesmente é
impossivel saber; e a durabilidade não é necessariamente a medida de nada
114

relevante a nossa discussão. No fim das contas, o parceiro interior e o exterior não
são, de fato, duas realidades distintas; se aprofundarmos as coisas, não existe interior
e exterior, mas apenas a experiência da psique – que é ambos. O parceiro interior
muda, como deve mudar o exterior; de outra forma, chega o dia em que o interior
busca um reflexo exterior diferente. Somos tanto parte um do outro, tão ligados com
as psiques um II do outro, que a autoconsciência é como tentar interpretar um
sonho: as "outras" pessoas no sonhr são outras, mas também são nos mesmos.

O mapa de Margaret é predominantemente de terra. Ela está de acordo com seu


elemento, um tipo sensorial, com uma forte função de pensamento e uma abordagem
basica as exigencias da vida tradicionalmente caracteristica de uma combinação
Virgem-Aquario: ela precisa dissecar, analisar e entender a lógica das coisas para
poder se relacionar com elas. Isso se aplica tanto as pessoas como ao seu trabalho,
seus pontos de vista e sua escala de valores. Margaret foi uma criança
adotada, e nunca soube nada a respeito de seus verdadeiros pais. Foi criada num lar
de catálicos fervorosos, num ambiente virtualmente isento de amor e compreensão;
ela lembrava-se de sua madrasta, que morreu quando ela estava com dez anos de
idade, como uma mulher fria e retraida cuja prolongada doença terminou em morte
antes que Margaret tivesse a oportunidade de realmente conhece-la. Sendo uma
criança fisicamente muito orientada, Margaret ansiava por demonstrações abertas de
afeto, que só poderiam vir de seu padrasto; e ele, embora fosse basicamente um
homem gentil e tivesse uma poderosa influência sobre as atitudes da menina, tinha
fortes escrupulos religiosos e freqiientemente a censurava. Ela precisava
profundamente dele, mas a atitude dele em relação a ela era de raiva, rejeição,
repulsa e critica. Quanto mais ela tentava agrada-lo, mais inadvertidamente fazia
exatamente as coisas que provocavam a sua ira. Sem qualguer compreensão
verdadeira ou intimidade por parte do pai e da mae, porém possuindo a disposição
sensual e afetuosa da tipica criança orientada para a sensação, ela desenvolveu um
profundo senso de inadequação. Isso foi agravado por sua consciência catolica, a
ponto de acreditar que não merecia nada na vida a não ser punição.

Ela casou-se duas vezes, e os dois casamentos fracassaram. O primeiro foi


contraido quando tinha dezessete anos, e resultou no nascimento de uma filha. O
115

marido, entretanto, era violento e sujeito a lances psicáticos, e ela acabou por
abandona-lo, levando a filHá consigo. O segundo casamento durou mais tempo, e lhe
deu um filho; mas, aqui também, faltou a comunicação. A insistente necessidade de
atenção e afeto de Margaret, dirigida para o temperamento intuitivo introvertido e
distânciado do segundo marido, fazia com que ela parecesse exigente e esmagadora.
Quanto mais afeto ela exigia, mais ele se recolhia. Embora esse casamento tenha
terminado amigavelmente, o efeito cumulativo desse segundo fracasso colocou uma
pesada carga na sensação de inadequação pessoal profundamente enraizada em
Margaret. Depois do primeiro casamento, Margaret.tinha feito um pouco de
psicoterapia, que havia procurado por causa de inibições sexuais e uma aparente
tendência ao masoguismo tanto emocional como fisico. Apesar dos efeitos benéficos,
porque depois disso ela conseguiu eliminar algumas de suas ansiedades, o senso
mais profundo de fracasso e a faita de autovalorização persistiram.

Quando tinha vinte e nove anos, Margaret, junto com os dois filhos, se mudou de
Chicago, onde tinha nascido, para Nova lorque, com a determinação de iniciar uma
nova vida. Tinha excelentes qualificações para trabalhar em escritário e uma mente
agil e versátil, e logo encontrou um emprego como uma bem remunerada secretaria.
O unico problema era que imediatamente se envolvia emocionalmente com quem
quer que fosse seu patrao. Esse padrão, na verdade, tinha sido iniciado com um
envolvimento pessoal com o seu psicoterapeuta – o que imediaiamenie pás um fim a
terapia. Em seguida, estendeu-se aos vários homens para os quais trabalhava, tanto
em Chicago como em Nova Iorque. Ela se sentia fascinada por homens bem-
sucedidos em cargos de autoridade. Envolvida com um parceiro desse tipo, sua
produtividade no trabalho era excelente e ela sempre conseguia atingir postos de
responsabilidade. Nessas ocasiões, também achava que sua vida tinha algum
sentido. Mas, a não ser que existisse um tal envolvimento, não gostava de seu
trabalho, e achava sua vida sem sentido. Em resumo, seu unico objetivo parecia ser o
de preencher a fantasia de um pai-amante poderoso e bem-sucedido, capaz de trazer
a tona o que havia de melhor dentro de si através de sua aprovação e da sua
necessidade de apoio. Deixada por sua própria conta, ela ainda não tinha nem de
longe começado a lançar mão do seu potencial criativo.
116

Mais ou menos seis meses depois da mudança para Nova Iorque, ela conheceu
Chris, diretor de criação de uma agência de publicidade altamente original. Margaret
começou a trabalhar com ele e imediatamentecaiu no seu padrão de uma apaixonada
ligação emocional. Assim como os outros homens com os quais tinha se envolvido,
Chris, cujo mapa foi mostrado anteriormente, era um homem bem-sucedido, intuitivo
e criativo, com um temperamento altamente instavel e sem inieresse nem capa
cidade para se tornar a amorosa figura paterna das fantasias de Margaret. Seu
relacionamento com ele, que durou sete anos e Ihe causou consideravel sofrimento e
consideravel crescimento, foi pontilhado por uma desesperada necessidade de ser
aceita – e para tanto estava disposta, mais uma vez, a anular sua identidade e aceitar
insultos e rejeiqões em troca dos breves periodos ciclicos de interesse que Chris
demonstrava em relação a ela. Trabalhava fielmente para ele, não apenas como
secretaria, mas também como lavadeira, conselheira romantica e procuradora;
encarregava-se de todas as providencias piaticas de sua vida pessoal e comercial.
Mas ele, embora viesse a se fiar na eficiência e fidelidade dela, não tinha nenhuma
intenção de se limitar a uma mulher. Ela sofria estoicamente com os muitos episodios
romanticos dele, dizendo a si própria que não se importava, enquanto sua
autoconfiança minguava cada vez mais. Nada parecia importante, vital ou vivo para
ela, exceto Chris e a sua companhia. Para compensar as ausencias dele, assumiu
mais e mais responsabilidade; começou também a tomar drogas, que amorteciam a
dor que ela teria de encarar nessa ligação totalmente unilateral e grandemente
dominada pela fantasia. Ela sabia que não havia possibilidade de um compromisso
verdadeiro com Chris; ele ja era casado, embora separado da mulher, e não tinha a
menor intenção de se casar de novo.

Entretanto, algo dentro dela tenazmente se agarrava à fantasia, desejando e


esperando que acontecesse alguma transformação magica. Essa poderosa
expectativa inconsciente levava Chris a periodicas demonstraqões, embora
inconscientes, de crueldade emocional, simplesmente para dissipar a opressividade
das exigencias não-verbalizadas dela. Dificilmente pode-se culpá-lo por essa
crueldade. Apesar dos seus práprios problemas emocionais, ele nunca fingiu ser
diferente do que era, e era a fantasia de Margaret projetada nele que a impedia de ve-
117

lo e aceitá-lo como ele mesmo.

Dttrante esse relacionamento, Margaret teve numerosas "paixões" e breves


episodios romanticos mas nunca conseguia realmente desligar-se de Chris, ou fugir
do poder que ele exercia sobre ela em virtude de sua própria projeção. Finalmente, se
envolveu com Barry, outro publicitario altamente bem-sucedido e criativo, mas esse
caso a levou i mesma encruzilhada. Barry também era casado, sem nenhuma
iatenção de deixar a mulher, e, embora apreciasse a companhia e a amizade dela,
não estava preparado para desempenhar o tempo todo o papel do pai-amante
devotado e permanente; simplesmente queria divertir-se com ela. Margaret conduziu
esse relacionamento de uma forma melhor do que com Chris, em grande parte
porque Chris ainda dominava sua verdadeira vinculaqão emocional. Assim, era mais
capaz de deixar que Barry fosse ele mesmo e de aprecia-lo nessas condiqões.
Entretanto, ainda se magoava com o que

interpretava como desinteresse da parte dele, que não lhe proporcionava f a


perene segurança e reiteração emocionais de que ela tão desesperadamente
precisava. No fim, as ligaqões tanto com Barry como com Chris se transformaram em
autenticas amizades. Mas a dor que ela suportou aprendendo a deixar esses homens
serem eles mesmos, sem tomar seu comportamento como uma afronta pessoal, foi
as vezes quase insuportavel.

Jack, cujo mapa é o quarto mostrado anteriormente, era o proprietário de uma


empresa de promoqões muitissimo bem-sucedida, que lidava com conjuntos
itinerantes de rock Mais uma vez Margaret se apaixonou por um tipo intuitivo voluvel,
criativo, dinamico e instável, que não estava l preparado para proporcionar-Ihe a
confirmação emocional que ela queria.

O relacionamento de Margaret com Jack, que ocorreu quando ela estava com
trinta e ties anos, foi muito explosivo e muito curto. Ela o destruiu quando reagiu
violentamente, com cenas altamente emocionais, ao que entendia como infidelidade e
rejeição por parte de Jack. Como um intuitivo tipico, ele não era capaz de sempre
dizer a ela onde e com quem estava.

Ela se sentia seguidamente atraida por esse tipo de homem, muitas vezes se
118

apaixonando antes mesmo de conhecer o individuo, reagindo em primeiro lugar a sua


posição e ao encantamento que o rodeava. Então fantasiava o maravilhoso e seguro
relacionamento que se seguiria, e a lisonja que significaria ser amada por um homem
desses. Ela nunca admitiria que um homem assim não suportasse ser engaiolado, e
inevitavelmente se rebelava contra a pressão de poderosas projeqões inconscientes.
Além desses tres relacionamentos, houve muitos outros, alguns mais breves, outros
mais duradouros, porém invariavelmente com o mesmo tipo de homem, e todos,
invariavelmente, deixaram Margaret com a sensação de ter sido ferida, rejeitada e
traida.

Margaret tentava abordar esses relacionamentos através das principais funqões


de sua consciencia, a sensação e o pensamento; colocava muita enfase no lado
sexual do relacionamento, não se dando conta de que, para um intuitivo, o ato sexual
é mais uma aventura do que um compromisso, e um material inadequado para formar
um vinculo. Ela também tentava analisar o comportamento e os motivos de todos os
homens, elaborando um plano de abordagem – o que dizer e como dizer. Assim,
esquecia-se de que seus sentimentos e sua intuição – ambas funqões inconscientes
e "indiferenciadas" – teriam Ihe revelado a verdade de forma muito mais rapida, tanto
sobre as possibilidades do relacionamento como quanto ao verdadeiro caráter do
homem. O que o seu planejamento definitivo, inflexivel e esquematico fazia era negar
a cada um dos parceiros o direito de serem imprevisiveis. E ela não podia dar uma
recompensa aprópriada em troca do que exigia. Era capaz de proporcionar estimulo
intelectual, inteligencia rapida e penetrante, atraente altivez e uma sensualidade
gratificante, mas, sem o componente do sentimento, não conseguia provocar uma
resposta mais profunda, e se sentia isolada. só depois de não estar mais apaixonada
é que começava a se tornar amiga. Ai, os homens podiam aceitar, com respeito e
afeto, seu esplendido intelecto e sua natural integridade, sem a sensaqão de que ela
exigiria um compromisso inexoravel em troca. Embora compromisso fosse a ultima
palavra a sair da boca de Margaret, o desejo inconsciente e não-verbalizado se fazia
sentir.

Aos trinta e seis anos, Margaret adquiriu uma compreensão de muitos desses
padrões e está começando a desenvolver com consciencia, e mais plenamente, o
119

lado masculino de sua natureza. Esta interessada em seu trabalho, tem mais energia
criativa para colocar nele, e está começando a vivenciar por si mesma o potencial
criativo que inicialmente a atraia para seus amantes. Mas esses tres relacionamentos
são um tipico padrão de projeção de animus, e vale a pena examinar os padrões dos
mapas para ver o processo operando no simbolismo astrológico.

Por causa do esmagador predominio de terra – um total de sete planetas, mais o


ascendente e o Meio-do-céu em signos de terra –, deve-se esperar o predominio da
função da sensação. Este mapa é um exemplo invulgarmente claro de um tipo
psicológico. A Lua em Aquario, embora seja o unico planeta em ar, é importante por
causa do seu significado em mapas de mulheres. Aqui, reflete a importância do
pensamento como a segunda funqão da consciencia: para Margaret, a maneira
natural de avaliar as situaqões da vida é analisá-las e procurar seu padrão lógico. O
elemento fogo, refletido pela conjunção exata Venus-Plutao, está operando
inconscientemente, em grande medida. A intuição inferior matiza inicialmente a
sombra – que, para Margaret, tem as caracteristicas de uma criança exibicionista
querendo chamar a atenção – e em seguida o animus, que personifica as qualidades
leoninas de singularidade, visão criativa, nobreza, autoconfiança, grandeza, sucesso
e encantamento. Embora tanto Venus como Plutão sejam planetas femininos, nesse
caso pertencem a figura do animus, sugerindo os atributos do esteticismo, amor h
beleza, envolvimento com as artes, intensidade, po der e compulsão. O animus de
Margaret está adequadamente representado por esta conjunção, e não é coincidencia
que seus dois maridos, assim como os tres homens cujos mapas mostramos aqui,
tenham nascido sob signos de fogo. O primeiro marido era Axies, o segundo,
Sagitario; Chris é Leão com cinco planetas em Leao, Barry é Áries com quatro
planetas em Áries e a Lua em Sagitario, e Jack é outro Sagitario com quatro planetas
em fogo. Todos esses homens são excelentes ganchos para a projeção da figura do
animus, que

Margaret inconscientemente esperava proporcionasse a sua vida o significado, a


visão criativa, a vida, a aventura e o excitamento. A medida que gradualmente
descobre que essas qualidades, na verdade, existem dentro de si, consegue superar
a sensação pesada, grave, de tanta terra, e aprender a simplesmente relaxar e se
120

divertir – capacidade que esses homens possuem ao extremo e que ela praticamente
não demonstrou.

Como não Há agua no mapa de Margaret, o sentimento provavelmente é uma


função inferior. Como muitas pessoas com essa deficiencia, Margaret estava sujeita a
emoqões compulsivas e esmagadoras, que periodicamente dela tomavam conta,
lançando-a em terriveis acessos de depressão e autodestruição. Nunca era capaz de
ouvir de fato seus sentimentos; em vez disso, decidia analiticamente p que achava
que devia sentir, deixando de perceber que não se pode impor impunemente tais
decretos a psique viva. Varias doenças psicossomáticas – comer e beber
compulsivamente, forte atração por drogas, assim como agudas depressões – se
originaram dessa violentação da função do sentimento. Bem cedo na vida, Margaret
aprendeu a sufocar seus sentimentos; o ambiente sem simpatia e repressor da sua
infância reforçou sua inclinação natural a repressão emocional (refletida pela Lua em
Aquario em oposição a PIutão) e a dissociou quase por completo de uma percepção
consciente de sua natureza sentimental. Embora capaz de profunda devoção –
principalmente em relação aos filhos –, ela não conseguia expressar
espontaneamente seus sentimentos em relação aos seus homens; suas respostas
eram quase sempre inibidas e calculadas.

Mais pistas sobre a figura do animus de Margaret são proporcionadas pela


conjunção do Sol com Marte, de um lado, e com Netuno de outro.

A primeira sugere impulso, vontade e autodeterminação; a segunda sugere


imaginação, criatividade e instabilidade. O animus, assim, não é apenas uma figura
dotada de poder e importância; também é um mistico, um artista e um visionario.
Margaret era constantemente atraida por homens altamente criativos, permanecendo
ignorante de seu próprio potencial criativo, refletido pelo contato Sol-Netuno.

O signo do descendente de Margaret – Peixes – sugere mais uma vez a


qualidade imaginativa, sensivel e visionaria que tanto a atraia nos homens. Algumas
vezes, seus parceiros exibiam traços nitidamente afeminados, ou bissexualidade
evidente; algumas vezes estavam profundamente envolvidos com drogas de um tipo
ou outro. A aura especifica de Netuno matiza sua imagem do anirnus e da a nota
121

silenciosa de sua própria disposição inconsciente: eficiente, organizada, pratica e


discriminativa na superficie; mas, no fundo, sonhadora, desamparada, vaga,
romantica, imaginativa, vulneravel, ansiando por mergulhar na vida do outro. Esse
lado inconsciente da personalidade de Margaret inevitavelmente se expressava em
seus relacionamentos como a completa renuncia de seus próprios desejos e
sentimentos, mas os objetos de sua devoção, infelizmente, eram incapazes de
apreciar tal fato (o que não era culpa deles). De acordo com o primitivo padrão
estabelecido através do relacionamento com o pai, Margaret tentava tornar real a
fantasia do pai forte e amoroso que nunca teve; buscava, constantemente, aprovação
e afeto, mas em vez disso só encontrava rejeição e repudio. ao mesmo tempo, o
catolicismo, embora abandonado conscientemente, tinha deitado profundas raizes
dentro dela, como é sugerido por Saturno colocado na Casa das atitudes religiosas
(nona). Seu animus, portanto, não era apenas um poeta e um homem de negocios
bem-sucedido; também era o Deus que pune e o Cristo que sofre.

Margaret se sentia profundamente atraida por homens que ela achava que
precisavam ser salvos de alguma forma, apesar de seu sucesso; esperava organizar
suas vidas a maneira de terra, para tornar-se indispensavel a eles.

Os contatos entre o mapa de Margaret e os dos tres homens não são o que seria
considerado, na astrologia tradicional, como boas ligaçoes.

Embora o mapa dela e o de Chris mostrem alguns dos aspectos tradicionais de


uma união harrnoniosa – o Marte dela em conjunção com o Venus dele, mutua
conjunção Sol-Venus, o Marte dele em trigono com o Venus dela –, a presença de
numerosos contatos de Saturno sugere um relacionamento de luta e crescimento e
não de facilidade. O Saturno de Margaret cai sobre o Martede Chris, contato que
tende a refletir rejeição e dor no parceiro de Saturno, e raiva e frustração no parceiro
de Marte; além disso, o Saturno dela esta em quadratura com o Sol e a Lua dele. Em
resumo, ela se sentia ameaçada e inadequada na presença de tanta espontaneidade
irradiante de Leão e se tornava altiva e critica. Isso o fazia sentir-se limitado, incapaz
de relaxar na companhia dela. Apesar da atração sexual sugerida pelos intercambios
Marte-Venus, um irritava o outro e os dois estavam sempre na defensiva. O Saturno
de Chris.está em quadratura com o Sol de Margaret; quando eles estavam juntos, ela
122

também não conseguia relaxar. porque sua necessidade de ordem, estrutura e


explicaqões literais – sugerida pela enfase em Virgem – ameaçava a necessidade
dele (refletida por sou Saturno em Gêmeos na décima segunda Casa) de ser evasivo,
ficar sozinho e se ocultar. O gancho para as qualidades de fogo do animus parece ter
sido o stellium (ou agrupamento) de planetas em Leão; o impeto para a projeção do
pai é indicada pelo Saturno de Margaret, que implica uma desesperada necessidade
de segurança e estabilidade, mas que opera, bem a moda da sombra, como impulso
para controlar.

Os contatos entre os mapas de Margaret e Barry não são tão dificeis, mas
parecidos. Mais uma vez, há uma ligaqão Marte-Saturno, o Marte de Barry no Saturno
de Margaret; a Lua sagitariana dele está em quadratura com os planetas dela em
Virgem, e ele a irritava com a necessidade de Hberdade e a sua imprevisibilidade. Por
seu lado, ela o aborrecia com a necessidade de uma estruturaqão precisa e metodica
do tempo e da personalidade. O Sol dela faz trfgono com o ascendente dele, um laço
mais harmonioso, sugerindo que o homem interior dela partilHá as ambiqões dele e
entende sua motivação para o sucesso (Capricornio no ascendente); e mais uma vez
o gancho aqui é o fogo, pois a conjunqio Venus-Plutão dela esta em trigono bem
próximo com a conjunção Sol-Saturno em Áries dele.

Como aqui os contatos de Saturno não são tão dificeis, o relacionamento não era
profundamente doloroso e comportava bastante afeto mutuo e apreço. Entretanto, era
também menos produtivo em termos da busca de Margaret da autocompreensão.

Entre os mapas de Margaret e Jack, os contatos outra vez são bastante dificeis.
Novamente vemos o padrão de Saturno, com a conjunção Venus-Jupiter em
Escorpião dele em oposição ao Saturno dela. Existe outro contato Sol-ascendente,
desta vez uma conjunção, sugerindo novamente que Margaret, através do seu
animus, pode partilhar e apreciar (e talvez vivenciar através dele) o desejo de
sucesso material de Jack. O Sol, no mapa de uma mulher, é um dos principais
construtores da imagem do animus, e aqui a forma meticulosa, escrupulosa e ativa de
Jack desenvolver sua carreira proporcionava um gancho eficaz. Mas a nota
dominante, novamente, é o fogo e a atração pelo temperamento intuitivo.
123

Todos esses homens tinham uma necessidade inconsciente de um parceiro de


terra. Sempre existe projeção cruzada nesses relacionamentos; de outra forma,
seriam unicamente uma fantasia de Margaret, e não teria havido um relacionamento
real. Mas Margaret, embora contente poz desempenhar a anima de terra para os tres
homens, ficava brava e frustrada quando eies não desempenhavam o papel de pai,
bem como o do Homem Sábio, para ela. O animus, no caso dela, está fortemente
vinculado ao pai, e é a razão fundamental das exigencias e expectativas nao-
verbalizadas que exerciam tanto poder destrutivo. Um homem de fogo é uma boa
combinação para Margaret, mas só quando ela aprender a responder ao fogo com
algum fogo dela mesma, e, em vez de tentar engaiola-lo e domesticá-lo, partilhar a
atitude aventureira em relação á vida inerente ao elemento. É uma companheira ideal
para esses homens de fogo, mas, a medida que a sua auto-imagem se torne mais
positiva e mais realista e aprenda a dar valor ao seu próprio potencial, ela vai atrair e
ser atraida por um temperamento

mais estivel. Esses tres amantes anteriores sao, de uma forma ou outra,
deficientes emocionais; todos tem um contato Venus-Saturno e alguns problemas
para expressar os sentimentos, a respeito dos quais nunca fizeram nada. Novamente
isto reflete o padrão masoquista de Margaret, originario de seu relacionamento com o
pai. Ela precisa de um tipo fogo-agua, um homem intuitivo e de sentimentos, capaz de
apreciar seu otimo intelecto, seu amor pela verdade, sua honestidade e clareza, ao
mesmo tempo respondendo a profundidade e ao poder de suas necessidades
emocionais.

O fator motivador dos relacionamentos de Margaret não era o seu sentimento


por qualquer dos homens – na verdade, ela só conseguia enxerga-los depois que o
relacionamento acabava –, mas o animus, que fez as escolhas por ela até que ela
esgotasse o padrão de rejeiqio e fracasso.

Na medida em que ela, gradualmente, se torna mais consciente dessa força


masculina dentro de si, desengajando-a de memórias de sua infância infeliz, torna-se
mais inteira; as velhas feridas vão cicatrizar e, valorizando-se mais, ela vai, por sua
vez, ser mais valorizada pelos homens com os quais se envolver.
124

A comparaqio tradicional dos mapas não é, por si so, capaz de compor todo o
quadro de Margaret. É preciso conhece-la, saber algo de sua historia, para perceber o
funcionamento do parceiro interior que a levou a tal solidao, dor e rejeição, e
finalmente ao entendimento, à compreensão e ao inicio da verdadeira paz. Seu
padrão de relacionamento nunca vai ser facil, por causa do tipo de homem que ela
prefere; Venus-Plutão exige muito mais profundidade do que esta implicito num
casamento convencional. Mas o seu verdadeiro potencial esta só começando. Os
signos de terra crescem devagar, e só florescem na segunda metade da vida.
Fracassando em tantas uniões externas, Margaret está finalmente aprendendo a
fazer a união interior, para ela o unico caminho possivel para um relacionamento
valido com outro individuo.

A Vida Sexual da Psique Ainda Há muita coisa desconhecida a respeito desse


fenomeno capaz de transportar um homem ou uma mulher normalmente "civilizados"
a um estado que, em outras circunstâncias, associariamos unicamente a um louco
furioso.

– Robert Musil

Um amigo meu diz que nunca vai fazer amor com uma mulher que admire seu
cavalo. Sinto a mesma coisa a respeito do meu chapéu. Nunca vou fazer amor com
meu chapéu, não importa quantas mulheres o admirem – J. D. Smith

Entre os muitos mitos modcmos sobre os relacionamentos que criamos para nos
Iiberar de quase dois mil anos de instintos reprimidos, um dos mais ambiguos é o da
normalidade e anozmalidade sexuais. Intimamente relacionado com ele, e
especialmente popular na atual década, esta o mito do desempenho sexual bom ou
mau. A ambigiiidade dos dois talvez derive do fato de não entendermos totalmente as
implicaqões psicologicas e simbólicas da sexualidade, e normalidade e anormalidade
sao, afinal, termos perigosamente relativos, cujo significado varia dependendo do
indivíduo e da época em que vive.

Como há muitas psicologias atuais – fenomeno que só pode ocorrer quando a


psique tenta se psicologizar –, Há muitas abordagens clinicas diferentes do sexo. As
125

teorias de Freud sobre a sexualidade infantil e do complexo de Édipo são


razoavelmente bem conhecidas do leigo, e muitas pessoas acreditam que elas sejam
a psicologia in toto. Isto é lamentavel. Se sempre se tiver a certeza de chegar a
mesma formula no final, haverá uma compreensivel resistencia à investigação da
mxualidade de um ponto de vista psicológico. Mas a tese de Freud é conservadora e
quase requintada, comparada a algumas das idéias que se ramificaram a partir de
seu trabalho original e a algumas técnicas, como a massagem e o "tieinamento de
sensibilidade", desenvolvidos pelo atual "movimento de crescimento".

A religião organizada, por outro lado, é tão monótona sobre esse tema como
algumas escolas psicologicas. Assim, temos a religiao, por um lado, expressando sua
condenação das fraquezas da came em linguagem do século XIII, e a psicanalise e
seus derivados, por outro lado, insistindo em que a psique está cheia exatamente
dessas mesmas fraquezas, e que mesmo o anseio por Deus é de fato um complexo
paterno reprimido. Em conseqGencia, é muito dificil para uma pessoa formar sua
própria opinião sobre o assunto. Nio existem mais autoridades, nem através de Deus
nem através da ciencia. Além de tudo, existe um fascinante sortimento de pontos de
vista sobre sexo fornecidos por varios ensinamentos esotéricos.

Pode-se encontrar de tudo, desde o argumento de que o orgasmo é a chave


para a iluminação, até o argumento de que apenas a abstinencia e a sublimação
levam aos céus (ou resgatar o carma). A interpretação tradicional do esoterismo
ocidental de que o espirito é "mais elevado" e a matéria (incluindo a sexualidade) é
"mais baixa" traz consigo a implicação obvia de que, se permitirmos a plena
expressão da natureza instintiva, não somos "evoluidos" e esta forma de repressão
pode ser mesmo mais poderosa do que a condenacão da Igreja, porque apela para o
orgulho espiritual. Existe também um ponto de vista esotérico a respeito da
"perversao" e sua seqiiela de devastadoras conseqiiências carmicas. Por algum
motivo, videntes e clarividentes dotados como Edgar Cayce, cuja perspectiva
cosmológica é, sob outros aspectos, luminosamente sadia, ficam, por assim dizer,
corados e gaguejam quando se trata de sexo; e não contribui em nada para nossa
compreensão ouvir tais autoridades espirituais dizerem que um indivíduo que comete
excessos sexuais em uma vida vai ser epilético na próxima.
126

Essas declaraqões – quer venham da psicologia, da religião ou do esoterismo –


só servem para criar mais confusao, porque fazem um julgamento.

A "nova" moralidade, nobre tentativa de se desvencilhar da repressão da


moribunda Era de Peixes, foi tão longe no extremo oposto, que tem uma

ideologia igualmente dogmatica: se um indivíduo não é capaz de se entregar


completamente a seus instintos, é neurotico e "quadrado". Por alguma razão
incompreensivel, podemos falar com relativa inteligencia a respeito de qualquer coisa
debaixo do Sol, exceto dessas duas velhas desgraças, o sexo e a morte. E na
realidade não entendemos nenhum dos dois.

Pode-se andar por uma rua de Londres e ver, reluzindo em alguma vitrine,
manuais de técnicas sexuais ladeados por um variado sortimento de dispositivos
eroticos que sugerem a camara de interrogatorios do Grande Inquisidor, e do outro
lado da rua pode-se ver um gentil velhinho andando de la para ca, carregando um
cartaz que afirma que comer menos matéria animal diminui a luxuria. Parece existir
uma extraordinaria confusão a respeito da sexualidade, tanto em diferentes
segmentos da sociedade como no próprio individuo. Entretanto, longe de sermos
iluminados por nossas atitudes supostamente mais livres e menos inibidas em relação
a sexualidade, e mesmo com profetas como Reich nos encorajando, parece que não
solucionamos nada: as pessoas ainda sofrem por causa de malwntendidos e medos
relacionados com o sexo. Nem a situação melhorou com a propaganda,
constantemente nos intimidando com uma enxurrada de espectros inimigos do
relacionamento feliz: mau halito, cheiros do corpo e dos pés, dentes amarelos, cabelo
espetado, caspa e mais uma legião de calamidades sugerindo que as unicas pessoas
sexualmente saudáveis do mundo são as que fumam cigarros. Não Há duvida de que
giramos ao redor de nós mesmos.

Somos muito mais maduros intelectualmente (como diz Musil) do que


emocionalmente, e não somos capazes de lidar com o abismo resultante. Temos
idéias altamente avançadas e conhecimento cientifico enxertados em valores
sentimentais medievais – para não mencionar os impulsos e desejos arcaicos, que
não são diferentes agora do que eram há um milhão de anos, quando ainda
127

estavamos caçando mamutes peludos nas tundras &ticas. Em lugar da


homossexualidade sancionada pelo estado que existia na Grécia clássica, temos o
Movimento Gay de Liberaqão; e em vez das sofredoras esposas cerrando os dentes e
suportando obedientemente os direitos conjugais dos maridos, temos agora homens
impotentes recuando aterrorizados diante das arremeiidas das agressivas mulheres
conduzidas pelo animus, que acendem os cigarros de seus homens, abrem as portas,
são faixa-preta no carate e tem a audacia de imciar o ato sexual. Nas nossas cidades
grandes, não Há mais muita gente dando ouvidos ao convencionalismo, mas a nova
moralidade é tão impiedosa em relação ao transgressor quanto a antiga, e faz
racionalizaqões ainda mais extravagantes. Antigamente, a mulhcr "perdida" sofria;
agora, a mulher que diz não depois

do segundo encontro (principalmente se o jantar foi caro) sofre do mesmo jeito,


porque é "sexualmente retardada". Pode-se dar risada, ler as piadas do Playboy,
espiar secretamente através das cortinas da janela da vizinha, assistir a filmes
pornôs, fazer troca de casais, parecer adequadamente cansado da originalidade de
O amante de Lady Chaiterley e comentar quem esta dormindo com quem. Mas não é
tão engraçado quando o indivíduo precisa enfrentar a experiência de um
desapontamento sexual, seja por causa de incompatibilidade, "perversao", fracasso
ou culpa, ou quando descobre que realmente não consegue conversar a esse
respeito com ninguém, a não ser de uma forma clinica – forma essa que intensifica
sua auto-recriminação, implicando que alguma coisa esta, de fato, aflitivamente
"errada". É muito doloroso. A despersonalizaqão da sexualidade nós tirou de uma
gaiola simplesmente para nos colocar em outra; não passa de uma questão de que
tipo de barras preferimos em nossas janelas. A unica diferença é que agora estamos
tentando trazer os problemas sexuais para a luz do dia, o que antes não foi possivel.
E talvez Durrell tenha razão quando diz que "o sexo, como a morte, deveria ser um
assunto privado".

Um bom ponto para começar, provavelmente, é a premissa de que a


sexualidade, como o amor, a inteligencia, o talento e outros conceitos intangiveis da
mesma espécie, varia de acordo com a experiência que se tem dela. Pelo menos, isto
permite que cada um tenha a sua natureza sexual particular, assim como tem direito a
128

outras expressões da individualidade.

Não podemos fazer afirmaqões definitivas sobre a sexualidade, nem a respeito


de Deus. Pode-se protestar e insistir que o sexo é meramente um ato fisico, que as
complexidades psicológicas são irrelevantes, mas o fato é que, para muitas pessoas,
o encontro sexual na fantasia é muito mais real, satisfatorio, significativo e excitante
do que qualquer encontro fisico.

Para algumas pessoas, a sexualidade é uma experiência da imaginação criativa,


um estado de espirito e não um prazer fisico. Para alguns, não existe nada tão
sexualmente excitante quanto a musica ou a criaqio de uma pintura ou a animaqão da
musica e, longe de "sublimaçoes" do impulso sexual, esses canais de expressão da
energia criativa são tão "sexuais" como o próprio coito. Para alguns, o sexo é o
preludio da procriação, um aspecto do processo de criação de nova vida – um ponto
de vista proclamado por muitas religiões organizadas. Para outros, o sexo é uma
intimidade de sentimentos que permite as pessoas se juntarem profundamente numa
comunhão emocional, uma ligação muito sutil, da qual o ato fisico só constitui um
simbolo. Para alguns, o sexo é uma piada suja de uma revista, para ser "curtida" no
banheiro a portas fechadas. Para outros, o sexo é um delicado

equilibrio entre prazer e dor, e, para outros ainda, é uma liberaqio de violencia.
Algumas pessoas vivenciam o sexo auto-eroticamente; quer tenham ou não um
parceiro, a experiência é essencialmente delas mesmas, e o parceiro é simplesmente
um veículo" facilmente substituivel por outro parceiro ou por suas próprias maos. Para
outras pessoas, a verdadeira paixão é a paixão do outro, e a experiência só é
significativa por causa do prazer do outro. A sexualidade pode ser sagrada, obscena,
fisica, mental, emocional, espiritual, simbolica, procriativa, divertida, transformadora,
amorosa, ou qualquer outra coisa que voce deseje ou imagine. Nenhum de nós esta
em condiqões de decidir qual, entre essas milhares de expressões, é normal ou
anormal. Com toda certeza, a sexualidade não é uma unica coisa, e se quisermos
entender por que surgem tantos problemas nos relacionamentos por sua causa,
precisamos primeiro abandonar a idéia de que ela pode ser definida em uma frase.
Como tudo mais na vida, o sexo é tanto uma realidade concreta como um simbolo – e
os significados de um simbolo são tão inesgotáveis e infinitos como os indivíduos que
129

a ele reagem.

Também é preciso observar que a sexualidade é uma experiência diferente para


a psicologia masculina e feminina. Esta não é uma afirmativa genérica de que todos
os homens se relacionam com a sexualidade inteiramente de uma forma, e as
mulheres inteiramente de outra; precisamos nos lembrar de que cada indivíduo
contém dentro de si os dois principios sexuais. Mas existe uma distinção entre
sexualidade masculina e feminina, que se torna evidente a qualquer um que se
disponha a conversar com homens e mulheres sobre suas fantasias. A despeito das
nobres tentativas das mulheres mais liberadas, é evidente que os homens,
teimosamente, insistem em ser despertados pelo estimulo visual, e a moderna
presença familiar dos clubes de strip-tease e do cinema pomo é vm continuo
testemunho de que os homens, através das eras, reagem a exibição fisica dos
encantos femininos. Existe um componente erotico na anima que parece estar
ausente do animus, embora esteja presente na psicologia instintiva da mulher
consciente. A ligação de tudo que é feminino com o plano da terra sugere que as
impressões fisicas tem maior impacto nos homens do que nas mulheres. O animus,
ao contrário, tem afinidades com a mente e o espirito, e parece que qualidades como
intelecto, talento, sucesso, ambiqão e "personalidade" são mais significativas para as
mulheres do que a forma do corpo dos homens. As mulheres parecem estar sempre
buscando algo mais profundo que as aparencias, e as industrias de cosméticos e da
moda Há muito perceberam essa dicotomia. Um vestido que revele a beleza do corpo
feminino é sempre um sucesso, mas é dificil imaginar um homem vestido de uma
forma obviamente insinuante conseguindo atrair

alguém, a não ser as pessoas do seu próprio sexo que preferem parceiros
masculinos.

Também existe uma caracteristica de impessoalidade na sexualidade masculina,


e uma caracteristica de maior envolvimento pessoal na sexualidade feminina. Esta é
uma queixa ouvida com muita freqiiência nos relacionamentos duradouros; "ele"
parece precisar do sexo para obter proximidade emocional, enquanto "ela" não
consegue reagir ao sexo a não ser que tal ligação ja exista. "Ele" vai interpretar suas
escapadas extraconjugais como simples satisfação do desejo, sem qualquer relação
130

com amor ou com seu casamento; "ela", por outro lado, sabe que um tal envolvimento
de sua parte geralmente deriva de uma séria carencia dentro do casamento, e
representa uma ameaça a sua estabilidade. Estas não são normas absolutas, as
pessoas são flexiveis e multifacetadas. Mas, como tendencia geral, essa distinqão
parece ser vaTida. Ela só constitui problema, entretanto, quando se esta atrelado a
uma ideologia ou a um rigido codigo de conduta que limita a pessoa a uma coerencia
nao-humana. A mulher que precisa ser sempre "feminina" na cama esta tão presa
quanto aquela que "evoluiu" além desses "papéis" futeis e, sem querer, jogou fora o
bebe junto com a agua do banho.

No miasma que obscurece nossa compreensão da sexualidade, um dos


principais problemas é que tomamos as coisas muito literalmente.

Julgamos os estados psiquicos pelos atos, jogando assim um véu sobre os


próprios estados psiquicos e seu significado intrinseco. Dizemos que uma mulher
"feminina" é boa cozinheira, enquanto um homem "masculino" é bem-sucedido;
dizemos que o homem que sente a compulsão de usar as roupas de baixo de sua
mulher é "anormal", enquanto o homem que tem tres ou quatro mulheres em rodizio
regular em sua cama de solteiro é "viril". Mas se deslocarmos o foco do
comportamento para o simbolo que esta por tras dele, toda a paisagem parece
diferente. Colocamos em atividade o que somos simbolicamente, mas se formos
muito rigidos na interpretaqão da estrutura na qual o simbolo foi entalhado, ele perde
a vida e a flexibilidade organica, e ficamos presos num andaime ossificado; nesse
momento, começamos a discutir, com assustadora intensidade e violencia, quantos
anjos cabem na cabeça de um aifinete. A respeito de cada aqão, em especial aquelas
compulsivas e-que "precisamos" praticar, é prudente perguntar o que significa em vez
de dar-lhe um nome, classifica-la ou impingirmos um rotulo a nos mesmos ou aos
outros por causa dela. Uma mulher que não cozinha pode não cozinhar por muitas
razões.

Pode ser que seja uma intuitiva, com dificuldade em chegar a um acordo com os
objetos, mas isso não precisa impedir que ela expresse sua feminilidade de forma
livre e fluente através dos relacionamentos emocionais; pode ser dominada pelo
animus e achar que essas coisas estão "abaixo" dela, numa capitulação ao
131

chauvinismo masculino; pode ser que ela tenha tido um terrfvel relacionamento com a
mae, e agora rejeite qualquer coisa associada i vida instintiva; ou pode ser que ela
tenha um emprego das nove as cinco e simplesmente esteja cansada quando chega
em casa.

Ninguém está em condiqões de dizer se ela é feminina ou não porque executa,


ou não executa, uma determinada seqiiência de atos. A feminilidade é um principio,
uma energia vital, não um conjunto de padrões de conduta. E ninguém está em
condiqões de julgar uma situação sexual, tampouco, por tais padroes. Se
pudéssemos deixar de lado por algum tempo esse epitetos altamente carregados:
"pervertido", "anormal", "atrasado", "doente" e outros desse tipo, talvez fossemos
capazes de enxergar a pessoa que esta executando aquela aqão, e qual o motivo.

A psiquiatria ortodoxa também tem um problema com a sexualidade; ainda se


dão pilulas de hormânio para curar a impotencia masculina.

Entretanto, o corpo não pode ser separado da pessoa total, e o comportamento


sexual é uma das muitas expressões possiveis através das quais a pessoa se revela.
Um problema aparentemente fisico não pode ser dissociado da psique que o vivencia.
As tendencias, habitos e dificuldades sexuais não são meramente organicas.
Significam alguma coisa para a pessoa, e dizem alguma coisa a seu respeito, em
niveis que podem ser muito profundos para que ela os compreenda.

Infelizmente, também, a astrologia carrega seu arsenal de preconceitos e


equivocos sobre a sexualidade. Foram publicados muitos manuais astrológicos sobre
as tendencias sexuais de cada signo, e até o mais sério estudioso da astrologia pode
cair na armadilHá de acreditar que o mapa de nascimento revela padrões tais como
homossexualidade, irnpotencia, sadismo e outros tabus sociais, de forma nitidamente
definida. É muito freqiiente, por exemplo, esmiuçar mapas de famosos transgressores
como Oscar Wilde e o Marques de Sade para demonstrar que é possivel diagnosticar
aberraqões a partir do mapa planetário. É claro que é fácil fazer um tal retrospecto –
mas ele não explica por que outras pessoas, cujos mapas exibem aspectos
semelhantes, não expressam a sexualidade de forma identica. Além do mapa, esta o
individuo, e além de todas as expressões sexuais – seja o desempenho, a preferencia
132

ou os valores morais –, também está o individuo. Como observou um bem conhecido


psicólogo humanista a um homem que demonstrava preocupação a respeito das
"tendencias" que poderia estar reprimindo: "Eu diria que voce é um ser humano
latente."

Vamos começar examinando a questão exaustivamente explorada do que


chamamos homossexualidade. O pequeno dicionario de Oxford dá a seguinte
definição: "ter uma propensão sexual por pessoas do mesmo sexo". Por enquanto,
deixaremos de lado a questão ambigua do que precisamente seja uma propensão
sexual. Damos uma amostra aleatória de opiniões sobre a homossexualidade. tiradas
da literatura, da psicologia e de entrevistas pessoais.

Os homossexuais se fazem, não nascem, e a inclinação deriva de um problema


psicológico com o genitor do sexo oposto.

Os homossexuais nascem, não se fazem, e a inclinaqio deriva de um


desequilil)rio hormonal.

A homossexualidade (ou bissexualidade) é o estado natural da humanidade, que


caminha gradualmente para a androginia como ideal espiritual.

A homossexualidade é a forma da natureza de resolver o problema populacional.

Homossexual é uma pessoa que passou várias encarnaqões anteriores num


corpo do sexo oposto e esta tendo dificuldades em se ajustar ao corpo atual.

Os homossexuais não devem ser empregados no serviço diplomatico.

Todo decorador de interiores é homossexual. E finalmente, um grafite no


banheiro dos homens na Universidade Simon Fraser em Vancouver:

Se Deus quisesse que houvesse homossexuais no mundo, teria criado Adão e


Fred.

Torna-se evidente que existe um pouco de confusão sobre o significado dessa


forma particular de expressão sexual.

Os fenomenos como a homossexualidade são ou não um problema? São


"perversões"? O que, na realidade, sao? Se um homem se fantasia

fazendo amor com outro homem, mas não concretiza essa fantasia, ele é
133

homossexual? Se teve experiências homossexuais, mas não fazem seu genero, ele é
homossexual oor ter realizado o ato? Se o seu relacionamento com o melhor amigo é
mais intimo, e, no conjunto, mais rico do que com a esposa, ele é um homossexual
"latente"? E é mais "latentemente" homossexual do que todos nos somos
"latentemente" assassinos, ladrões,fanaticos, "selvagens", genios, ou qualquer outra
coisa dentre as infinitas possibilidades contidas na psique? É tempo de pensarmos
seriamente em questões como essas, que a principio parecem fáceis de responder.
Talvez a gente deva dizer a si mesmo: "Se estou contente com minha vida, se ela me
preenche nas areas que quero, sou normal para mim mesmo. Se estou infeliz com
minha vida, se sinto que Há alguma coisa errada, se me sinto preso pelo rumo que
meus desejos seguem, tenho um problema. Não sou nem normal nem anormal;
simplesmente ainda não me tomei eu mesmo." A homossexualidade, como tantas
outras manifestaqões de comportamento, é uma das muitas formas possiveis de
expressar um estado psiquico.

Em si mesma, não é uma causa nem uma doença. É um modo de expressao,


escolhido pela consciência ou pelo inconsciente, que o indivíduo adota porque existe
um simbolo interior operando em seu compartamento.

E os simbolos não são certos nem errados, normais nem anormais.

Há muitas razões para tal expressão simbolica. Alguns homossexuais


"assumidos" parecem pender muito naturalmente para as caracteristicas do sexo
oposto; talvez tenham reaimente "nascido" com essa propensao, e pudessem ser
felizes assim se não fossem sujeitos ao ostracismo social.

Algumas vezes, por outro lado, parece existir um problema psicológico real por
tras da rejeicão do homossexual ao sexo oposto; os elementos do medo, do odio e da
compulsão ditam o seu comportamento, em vez da liberdade de escolha. Esses
casos, com muita freqiiencia, tem sua origem no relacionamento com os pais, mas é
preciso lembrar que os efeitos duradouros das experiências da infância são tanto um
resultado do apego da antiga criança – agora adulta – a elas, como do poder dos
pais. Um homem cujo relacionamento com o pai foi distorcido pelo odio, pelo medo,
pela rejeicão ou pelo desejo de autoridade pode desenvolver odio ou medo
134

inconscientes das mulheres – tanto das mulheres do mundo como da mulher dentro
dele. Em conseqiiencia, não sera capaz de funcionar nem emocional nem
sexualmente com as mulheres, o que Ihe deixa como unica altemativa o seu próprio
sexo. A anima violentada, por vingança, pode possui-lo, afetando toda a sua
psicologia consciente, a ponto de ele pensar, sentir e se comportar como uma reles
imitação de uma mulher. Em vez de rotular esse indivíduo como homossexual, seria

mais correto dizer que ele tem um problema com o principio feminino.

Infelizmente, entretanto, pode ser que ele mesmo se rotule, por simples falta de
conhecimento. há muitos homens "normais" que abusam sutilmente de suas mulheres
em uma quantidade de formas inconscientes, compelidos pelo medo ou
ressentimento interior; o padrão psicológico é o mesmo do "homossexual", mas se
esses homens não o expressarem através do desejo manifestado por seu próprio
sexo, nos não os estigmatizamos com esse rotulo.

Um homem pode não ter cortado o cordão umbilical. Pode estar preso por laços
de posse e amor devorador a uma mae superdevotada, feliz em poupar-lhe a
necessidade de crescer. Por isso, pode achar que nenhuma mulher se iguala a sua
mae – com quem permanece psicologicamente casado pelo resto da vida. Aqui,
novamente, seria mais correto falar de um problema com o principio feminino. Há
muitos homens "normais" que procuram diligentemente mulheres que retratam
fielmente suas maes, e nós não os rotulamos.

Problemas com o pai também podem estar por tras do que chamamos
homossexualidade. Um filho que vivencia os aspectos menos atraentes do principio
masculiao: brutalidade, violencia, agressao, rudeza, frieza, pode desenvolver ódio
pelo masculino, tanto dentro como fora de si mesmo. Pode supervalorizar os valores
e a psicologia femininos, e se identificar com eles, vendo sua mae como mártir – e
isso vai naturalmente impulsiona-lo para relacionamentos com homens, nos quais
desempenha o papel de mae. Alternativamente, pode ser atraido por mulheres
masculinizadas, algumas das quais delicadamente disfarçadas pelo mais lustroso
verniz de feminilidade social ; dizemos então que ele é "normal". Neste caso, seria
mais correto dizer que Há um problema com o principio masculino. O homem cujo pai
135

é omisso, ou obviamente dominado pela esposa, pode procurar sua masculinidade


através de paixões simbolicas pelas pessoas que considera personificaqões da
condição de homem. O homem que expressa esse tipo de adoração do heroi pelos
canais convencionais – admirando um astro de cinema, um herói do futebol ou
mesmo um amigo – novamente é considerado "normal", enquaato aquele que
expressa a mesma coisa eroticamente é "anormal". Esses exemplos devem ilustrar a
ambigiiidade que cerca toda essa questao, e a mesma ambigiiidade existe em outras
anomalias ou "desvios" sexuais. O que chamamos homossexualismo é realmente um
termo sem sentido. Simplesmente, Há indivíduos que se relacionam de formas
diferentes com o seu próprio equilibrio entre masculino e feminino. O mesmo pode ser
dito de coisas como o voyeurismo, o exibicionismo, o fetichismo, o narcisismo, o
travestismo, a frigidez,

a impotencia e outros "ismos" que chamamos anormais. Todos são simbolos de


estados psiquicos, e, quando se está lidando com expressões da psique, é preciso ter
muito cuidado com a rotulação.

Se tentarmos colocar essas coisas em perspectiva, o que surge não é um


quadro dos impulsos sexuais normais ou anormais, e sim uma série de diferentes
imagens de como cada indivíduo se relaciona com seus aspectos feminino e
mascuHno. Além disso, o equilfbrio entre as duas polaridades muda constantemente
no decorrer da vida, de modo que as acões realizadas num dado momento, refletindo
uma constelação psicológica especiTica, podem não ter qualquer significado no
momento seguinte. Infelizmente, as pessoas tendem a se identificar com seu próprio
comportamento, e em seguida a se intrigar, quando não ficam alarmadas, por causa
das incoerencias que descobrem. Isto não se aplica somente ao sexo fisico; abrange
a totalidade da vida. Os mesmos componentes psicológicos também vão ser
expressos nos gostos e interesses da pessoa, na escolHá de sua profissao, em suas
convicqões religiosas e politicas. Um homem pode ter problemas com o principio
feminino, mas isso não significa que seja homossexual, nem "latentemente"
homossexual, apesaz de Freud. Entretanto, é provavel que tenha muitos problemas
nos relacionamentos. Ele pode ser um verdadeiro "machao", forte, decidido,
agressivo, capaz, um critico mordaz do "irracional" (que é a aparencia que a anima
136

tem para ele) – e completamente infantil quanto is sutilezas do relacionamento com


as mulheres em sua vida sentimental. Ele e a "bicha* afetada podem compartilhar
elementos virtualmente identicos na composiqão psicológica – e, em conseqiiencia,
cada um vai, previsivelmente, dcsprezar o outro. Mais uma vez, isto não significa que
o "machao" seja uma "bicha" latente, da mesma forma que não significa que a "bicha"
seja um machaa latente. Significa que existe uma constelação psicologica central
expressando-se, através de um par de opostos aparentes, como o fazem tais
energias.

O exame detalhado de qualquer uma dessas propensões sexuais daria para


encher um livro. Isso foi feito muitas vezes. Quando se aplicam termos clinicos a tais
assuntos, entretanto, na tentativa de abardá-los de forrna completamente anaiitica,
seu verdadeiro signiTicado muitas vezes nos escapa. Em ultima an8ise, é preciso
perguntar o que qualquer modo de expressão sexual ou estilo sexuai – seja "normal"
ou "anormal" – significa para o individuo, e de que maneira simboliza a psique interior.

O problema que denominamos frigidez é outra questão complicada.

Supostamente existem "graus" de frigidez, presumivelmente algo como graus de


queimadura do Sol. Há um numero suficiente de manuais disponiveis sobre a
engenharia da anatomia feminina para resolvn o problema,

se isto demandasse apenas pericia técnica. Algumas mulheres acham que sua
falta de resposta é devida ao "mau desempenho" de seus homens. O que é mau
desempenho? Mi mecanica? Maus sentimentos? Insensibilidade? Por que, entao,
escolher um espécime tão inadequado para parceiro? Qualidades como falta de
sensibilidade não se limitam apenas a questões sexuais; são traços de personalidade,
visiveis em tudo que a pessoa expressa. As mulheres "frigidas" olharam
verdadeiramente as eorrentes substerraneas em seus relacionamentos para descobrir
o que a psique estava dizendo através da falta de resposta fisica? Por meio dessa
falta de resposta, muitas mulheres expressam seu medo, ressentimento ou
hostilidade inconscientes em relação aos homens, enquanto outras expressam a
culpa por sua própria instintividade. Mas tanto o ressentimento quanto a culpa podem
estar mais associados ao animus e a infância do que ao homem particular com o qual
137

existe o envolvimento. Tentar "curar" a frigidez com manuais técnicos é como trancar
a porta do estabulo depois que o cavalo fugiu. É preciso que a mulher entenda,
primeiro, no n vel do sentimento, o que esta represeatando simbolicamente quando
seu corpo não reage.

Talvez seja simplesmente que ela não deseja aquele homem em particular.

Mas então ela precisa perguntar por que não percebeu isso antes e por que esta
com ele agora.

Há mulheres capazes de atingir o orgasmo fisicamente. mas que são "frias" no


nivel do sentimento. Isto é uma questão sexual, tanto quanto a frigidez do corpo. O
problema é particularmente importante hoje em dia porque as mulheres estão se
tornando mais conscientes de seu potencial criativo. Em conseqiiencia, as ofensas, os
insultos e a raiva enterrada Há séculos estão se destilando do nivel coletivo para os
relacionamentos pessoais. O anirnus coietivo declarou guerra, c ele é, sem duvida,
um lutador sujo; para ele, tanto faz que o amor e a ida sejam extintos, contanto que
ele vença. Se uma mulher, a medida que deseavolve seu lado masculino, não deseja
perder sua condiqão feminina, é preciso que compreenda as verdadeiras raizes
psicologicas de suas respostas sexuais. E não se deve subestimar o tipo de
sofrimento que esse esforço acarreta para as mulheres, que podem com freqiiência
se sentir ameaçadas de "anormais", mesmo nessa época "esclarecida". Sim, talvez
ela devesse ter a coragem de ensinar ao homem o que Ihe da prazer. Mas muitos
homens não gostam de ser ensinados, e essa mesma instruqio é irrelevante se o
medo da estupro psiquico surge por tras da simples frieza fisica.

Como a proeza sexual é tão louvada hoje quanto sempre foi, as pessoas
dificilmente atribuem problemas ao homem que, por assim dizer, faz marcas na
cabeceira da cama para comemorar suas conquistas. Ele é um

modelo para a emulação de outros homens e para muita fantasia das mulheres.
Mas ele é realmente o que aparenta? Será que poderia estar de fato amedrontado
pelo grau de intimidade sentimental que duas noites com a mesma mulher – para não
falar de uma vida de casados – acarretaria? Nesse caso, talvez ele tenha uma
constelação psicologica semelhante a do homem impotente, que os seus próprios
138

medos secretos o levam a desprezar – e talvez esteja expressando, de forma


diferente, amesma ansiedade quanto a perda de sua condição masculina para a
voracidade emocional da mulher. E como a sua insensibilidade aos sentimentos se
comunica a sua companheira, o Don Juan pode ser tão insatisfatorio como compal
nheiro de cama e tão rejeitado quanto o homem impotente. O odioso e perverso
general de Dr. Strangelove, que evita qualquer contato com as mulheres para não
perder os "oreciosos fluidos do Seu corpo", não esta na realidade limitado a tela.
Muitos homens são atormentados por essa ansiedade secreta, e recusam uma parte
de si mesmos – embora não necessariamente a parte scxual – por medo de serem
"emasculados". Nio estamos falando aqui da idéia de Freud do complexo de
castração, que é muito abstrato para as circunstâncias. Estamos falando novamente
dos arquétipos, as estranhas e numinosas faces duplas da anima-mae e do animus-
pai, escuro e claro, macho e femea, criativo e receptivo, executando sua dança sem
fim de atragão magnética e de repulsa que gera a vida nova. E se queremos penetrar
no mistério da sexualidade, em ultima analise nos confrontamos com o mistério do
deus, o mistério da própria vida.

O prazer não é uma aIegria do corpo, a mutua satisfaqio dos dois sexos, a
camaradagem e outros absurdos parecidos. O prazer é um Iouva-a-deus, uma luta
sem quartel, um odio irredutivel dos dois sexos, da duas forças cosmicas em guerra –
uma que sobe, uma que desco – gerando o Universo.

Essas questões foram levantadas com o intuito de provocar reflexao, não de


fornecer respostas. Ninguém pode solucionar definitivamente essas questOes; sb
podernos tentar invesiigar e compreender nossa própria natureza, para expressar-nos
de maneiras que sejam um refiexo mais real da nossa totalidade psiquica. Mas aqui,
como em outras situaqões,o mapa astrológico pode ser valioso, na medida em que
sugere uma direqio, um ponto de partida. 1 The Ro k Garden, Nikos Kazantzakis.
Nova lorque, Simon 8c Schuster, 1963.

Na astrologia tradicional, os principais significadores da expressão sexual são


Venus e Marte. Também estão tradicionalmente associados a sexualidade o signo de
Escorpião, o planeta Plutão e a oitava Casa do horoscopo – que pertence aos
aspectos emocionais e sexuais dos relacionamentos humanos. Sem o acréscimo da
139

dimensão da psicologia profunda, entretanto, a astrologia tradicional só pode


proporcionar uma perspectiva limitada e um tanto bidimensional do assunto. E essa
perspectiva é ainda mais circunscrita e distorcida pelos manuais populares de signos
solares, oferecendo seu conhecido inventario de caracteristicas sexuais de cada
signo. Podemos ler que Escorpião é sempre erotico, apaixonada e altamente sexual –
concluiriamos a partir dessas descriqões,que Escorpião não pensa em mais nada.
Virgem é frio, casto, escrupuloso e nao-responsivo; Gêmeos, tecnicamente eficiente
mas incapaz de fidelidade sexual; Aquario tende a inventividade, a experimentação e
mesmo a perversao. O absurdo de tais generalizaqões é evidente para qualquer
estudioso sério da astrologia. Assim como a sexualidade é uma expressão da pessoa
total, também é, do ponto de vista astrológico, uma expressão do mapa de
nascimento total. Também não é possivel atribuir a determinadas combinaqões
planetarias a *responsabilidade" (como se elas tivessem qualquer intenção maléfica)
por determinadas dificuldades sexuais. A expressão sexual está tão intimamente
associada a anima ou ao animus – o que quer dizer, com toda a vida inconsciente do
indivíduo – que tudo que o mapa pode fazer é sugerir padrões ou tendencias: da
natureza sentimental, da capacidade de relacionamento, ou da imagem interior do
sexo oposto. Não pode revelar as inclinaqões sexuais especificas através das quais a
libido vai se manifestar.

Num sentido amplo, Venus e Marte podem ser considerados simbolos da


sexualidade, já que estão associados aos principios masculino e feminino canalizados
nos relacionamentos. Como ja vimos, eles também pertencem a imagem do parceiro
interior. A energia psiquica – que Jung chama de libido, termo que Freud julgava
aplicar-se unicamente a energia sexual, é simbolizada por todos os componentes do
mapa, mas se expressa de formas diferentes, ou executa funqões diferentes, de
acordo com o significado dos planetas especificos e de seus contextos. A energia
simbolicamente expressa por Venus se direciona para a relaqão entre sujeito e
objeto; ela é estabilizadora, haxmonizadora, unificadora, conducente ao equilQ>rio. O
modo particular de expressão de cada uma dessas energias dinamicas é refletido
pelo signo no qual o planeta esta colocado. Por exemplo: Venus em Libra sugere que
o impulso para o relacionamento se expressa com a coloração do equihbrio estético,
140

do refinamento, da

gentiIeza e das "boas maneiras" – por causa da qualidade leve, aérea de Libra.
Como caracteristica geral de sua natureza, o indivíduo com Venus em Libra se
relaciona com as coisas e com as pessoas (quer a relação seja fisica, emocional,
mental ou intuitiva) com uma certa graça e estilo, seguindo certos principios estéticos.
Por outro lado, colocado em Touro, um signo de terra, Venus tende a expressar o
impulso para o relacionamento de uma forma sensual, terrena, fisica, "natural",
simples. A expressão de um planeta através de um signo, assim, reflete certas
qualidades da composição psicológica do individuo, certos valores de determinados
aspectos da vida; e é um fator importante na comparação de mapas.

A vida é, em geral, mais facil quando um parceiro é suscetivel ao modo de


expressão especifico do outro, ou pelo menos capaz de aceitá-lo. Uma mulher com
Venus em Libra pode ser sexualmente suscetivel num ambiente harmonioso, com luz
de velas, Çores, um cenario romantico, uma poética declaraqão de amor; uma mulher
com Venus em Touro pode descobrir que responde sexualmente na proximidade da
natureza a um parceiro que manifeste o amor ao prazer, ao efeito que tem sobre seus
sentidos a visão, o cheiro, o tato de um saudavel corpo masculino. Isto 8 uma questão
de estilo; isto nos diz algo sobre os valores da pessoa, suas inclinaqões naturais nos
relacionamentos, mas somente de uma maneira geral, devendo ser considerado no
contexto do mapa. Como já vimos, cada temperamento experimenta a vida
diferentemente, e a sexualidade é um componente integral da vida.

Nenhum julgamento de valor, principalmente em termos de "normalidade" ou


"anormalidade", pode ser imposto a colocação do signo de Venus no mapa de
nascimeato. Ele simboliza uma determinada expressão de energia, que o indivíduo
pode utilizar como bem quiser ou, algumas vezes, como é compelido a usar por
fatores inconscientes da psique. De acordo com a astrologia tradicional, a
compatibilidade sexual é geralmente indicada pelo Venus de uma pessoa contatando
o Marte da outra de maneira harmoniosa; o refinamento romantico da mulher com
Venus em Libra pode despertar a resposta em um homem com Marte em Libra, que
expressa sua masculinidade com o mesmo tipo de refinamento. Mas isso não nos fala
das correntes mais profundas operando no relacionamento, ou do relacionamento
141

interior que os dois parceiros tem, ou nfo, com a anima e o animus. Os dois parceiros
podem gostar de velas e lençois de cetim, rnas muitos casamentos naufragaram na
cama por causa de ressentimentos e raiva enterrada originarios de uma fonte
totalmente diferente – muitas vezes nada tendo a ver com o parceiro, e sim com o
fantasma de um genitor.

Na astrologia ortodoxa, determinadas configuraqões planetarias tem uma


reputação mais ou menos desagradivel, preiensamente significando "anormalidades"
sexuais. Ler os velhos textos sobre o assunto é mais ou menos como ler uma
compilação médica de doenças; quando voce termina, tem certeza de que sofre de
todos os sintomas enumerados. O seguinte aforisma inestimavel aparece num livro
impresso recentemente, em 1963:

Quando Venus está em conjunqão com Saturno e aspectando o regente do


ascendente, o nativo se inclina a sodomia, ou gosta de mulheres velhas e de feiqões
duras, ou de moças pobres e sujas .

Devemos lembrar que a astrologia não deve ser culpada pela duvidosa
objetividade de tal afirmação, mas sim o indivíduo que formulou sua curiosa
interpretação de determinados dados. Podemos ouvir afirmativas semelhantes – em
trabalhos psicológicos, sociológicos, médicos, mesmo teológicos, mais do que
astrológicos – partindo de muitas outras mentes modernas estudadas e esclarecidas.

Nos velhos manuais de astrologia, Saturno e os planetas exteriores – Urano,


Netuno e Plutão – são notorios por "causar perversões", principalmente se estão em
aspecto com Venus. De fato, essas combinaqões realmente surgem com suspeita
freqiiência no mapa de indivíduos que procuram aconselhamento para problemas
sexuais. Mas alguns aspectos também ocorrem freqiientemente quando o problema é
expresso através de alguma área da vida emocional, e não através das atividades
sexuais. Exceto para quem esta acorrentado ao pensamento freudiano, no qual tudo
é, em ultima analise, o simbolo de alguma coisa sexual, o que esta implicito é
simplesmente que contatos entre Venus e esses quatro planetas afetam a função de
relacionamento da psique de uma forma especial. Não são necessariamente
indicativos de disturbio sexual, embora este possa ser um modo possivel de
142

expressão da energia gerada.

Os aspectos Venus-Saturno – principalmente a conjunpo, a oposiqão e a


quadratura – assim como os aspectos Marte-Saturno – realmente parecem ter alguma
ligaq o com a impotencia e a frigidez. Mas por que? Os planetas não nos tornam
nada; são simbolos de determinados padrões de energia psiquica. Entretanto, se nos
lembrarmos das coisas as quais esses planetas remetem, o eniyna se torna mais
compreensivei, pois en2 Astrology and Human Sex Life, Vivian Robson. Londres, W.
Foulsham & Co., Ltd., 1963.

quanto Marte e Venus são simbolos da expressão masculina e feminina, Saturno


simboliza, entre outras coisas, o medo, a necessidade de autoproteção, a compulsão
para a defesa. A mulher cujo mapa de nascimento mostra uma quadratura Venus-
Saturno pode se sentir profundamente inadequada e incerta de si mesma enquanto
mulher, quer esteja ou não consciente desse sentimento; sua capacidade de se
reIacionar – principalmente como companheira amorosa representada pelo homonimo
arquetipico, mitológico do planeta – foi apanhada pela sombra. Pode, assim, ser
inconscientemente usada peio lado sombrio inferior de sua natureza como um
instrumento de controle nos relacionamentos, um fator inibidor, mais do que como
uma expressão consciente de partilHá e participação.

Venus-Saturno não diz nada sobre o desempenho sexual da mulher; mas


sugere, efetivamente, alguma coisa sobre sua atitude para consigo mesma enquanto
mulher, que em geral é de alguma forma prejudicada. Assim, podemos facilmente
compreender a frigidez quando lembramos que é o simbolo fisico de um estado
psiauico, a própria palavra é uma imagem descritiva não do corpo, mas dos
sentimentos, que de alguma forma esfriaram e permanecem não apenas
inconscientes, mas muitas vezes também muito infantis. Para compensar, a mulher
pode encobrir esse fato, tomar emoção por sentimento, exibir aparente
insensibilidade, rudeza ou sofisticaqio; ao mesmo ternpo, entretanto, permanece sem
contato com a criança amedrontada e vulneravel aprisionada na escuridão do
inconsciente.

Não é de surpreender que o corpo não responda. A união sexual é a forma mais
143

completa de partilHá que conhecemos, mas requer um grau de maturidade que a


criança amedrontada não possui. Por outro lado, a mulher com Venus-Saturno pode
funcionar muito adequadamente no nivel puramente fisico, pois a combinação, como
já observamos, não reflete necessariamente uma condição fisica. Contudo, muitas
vezes Há alguma limitaqão, alguma restrigão ou autodefesa nos relacionamentos,
alguma recusa de sua capacidade de partilhar com o outro. Que Venus-Saturno tenha
a fama de egoismo se toma assim compreensivel, se lembrarmos que é o egoismo da
criança insegura – que, não tendo certeza de ser amada, se recusa até obter provas
concretas de estar a salvo.

Os aspectos Marte-Saturno no mapa de uma mulher sugerem uma coisa muito


diferente. Aqui, o problema não é a relação com a feminilidade, mas com a
masculinidade; é o animus que precisa ser trazido à consciencia. Nesse caso, a
imagem do homem como amante, simbolizada por Marte, esta matizada pela sombra.
Em conseqiiencia, a mulher pode perceber a imagem através da escuridão do seu
próprio lado inferior, de modo que a imagem e a escuridio que a tolda se tomam
sinonimos; e, se as duas

coisas forem projetadas nos homens, eles não vão parecer muito simpaticos. O
animus pode parecer ser brutal, violento, repressivo, tiranico e insensivel, ou,
alteznativamente, fraco, abjecto e ineficaz. A não ser que se torne consciente, a
sombra se aprópria, para suas próprias finalidades, dos dons inerentes ao lado
masculino da natureza da mulher, e os emprega como instrumentos de autoridade ou
controle. A frigidez sexual, então, toma-se um meio de impedir o homem de ser
homem, um meio de paralisar o seu poder, de privá-lo daquela submissão final que,
inconscientemente, a mulher teme que ele procure, nunca chegando a perceber que,
para ele, o ato sexual também pode ser uma experiência de submissão. As mulheres
Venus-Saturno podem ser frias porque não aprenderam a confiar na própria
feminilidade, a admiti-la ou aceita-la. As mulheres MarteSaturno, por outro lado,
podem ser frias porque nunca aprenderam a confiar nos homens; se deparam
constantemente com a projeção da sua própria figura do animus, não muito confiavel.
Ou pode ser que elas funcionem perfeitamente na área sexual, tendo aprendido a
discutivel habilidade de desvincular a resposta fisica do sentimento, mas sempre vão
144

procurar controlar o relacionamento em outros niveis, com o intuito de se proteger da


dominação projetada.

Esses aspectos de Saturno raramente são faceis de lidar, e geralmente exigem


muita auto-reQexão e a investigação das imagens e motivaqões inconscientes, antes
que o planeta "preso" – Venus ou Marte – possa ser libertado. Mas aqui, como
sempre, Saturno desempenha o papel de Lucifer.

Muitas vezes ele refiete a frustraqão, a solidão e o desapontamento através dos


relacionamentos sexuais, colocando a mulher de joelhos, mas isto tem um proposito:
que ela possa começar a olhar para dentro de si mesma e aprender o verdadeiro
significado de sua sexualidade de forma consciente.

Como nos dizem os contos de fadas, a sombra é, em segredo, um amigo e um


guia, e quando determinados aspectos aparecem no mapa de nascimento, a
sexualidade pode ser um reino que exige ser explorado em beneficio do
autodesenvolvimento Vistos por este prisma, os aspectos de Saturno a Venus ou
Marte podem ser instrumentos valiosos para o crescimento e o auto-enriquecimento;
e a expressão sexual, talvez prejudicada a principio, pode se tomar um caminho
através do qual a mulher pode descobrir uma satisfacão muito maior e um significado
para a sua vida.

No mapa de um homem, a situação se inverte. Marte, no mapa de um homem, é


um simbolo de sua virilidade, de sua expressio masculina, e quando esta associado a
Saturno, ele pode estar nas garras de sua sombra.

Isto pade gerar uma passividade incficaz, com ressentimentos fervendo em


segredo no inconsciente. Alternativamente, pade provocar superagressividade, para
compensar o sentimento debilitador de inadequação.

Os aspectos Marte-Saturno parecem ter uma ligaqão com a impotencia, porém


novamente consideramos o termo como simbolo de uma atitude psicológica – a
impotência do ego consciente de expressar o principio masculino na vida. A
impotencia fisica pode ser um subproduto, mas o Don Juan não é nem um pouco
menos tipico Tampouco é o valentao, ou o homem dominado emocionalmente por
suas mulheres.
145

Masculinidade significa saber o que se quer e o que é necessario fazer para


atingi-lo .

É esta capacidade de saber e agir que é prejudicada quando o homem perde


contato com sua masculinidade, ou quando esta sendo usada pela sombra para
conseguir poder. Mas Marte-Saturno reflete a dificuldade com o principio masculino,
não com o desempenho sexual – quo, afinal, é um entre muitos simbolos usados pelo
indivíduo para expressar sua condição de homem. Parafraseando a observação
citada acima, até o penis é um simbolo fálico.

Os aspectos Martc-Saturno também parecem ter alguma ligação com a violencia


e com aquele par de opostos que chamamos sadismo e masoquismo. Precisamos
lembrar da função compensatória do inconsciente; assim, um polo dessa dualidade
não pode existir em nivel consciente sem que seu oposto seja constelado no
inconsciente, aprisionado na escuridão e projeiado. Mais uma vez, essas duas
manifestaqões do comportamento sexual são simbolos de estados psiquicos: se vace
se sente impotente e desamparado diante da realidade, pode au abaixar a caber,a e
pedir punição por seus pecados, ou sair para conquistar e, se necessario, destruir o
mundo, com o intuito de superar o senso de inadequação. Como "perversões"
sexuais, o sadismo e o masoquismo são um tanto ambiguos; também podem ser
percebidos em outras areas além da sexual. Podem ser expressos através de
sentimentos e palavras, por exemplo, e muitas vezes sob o disfarce do amor. Em
ultima análise, refletem uma atitude psicologica em relaqão a vida e a expressão do
principio masculino; e o comportamento sexual, especificamente, é apenas um dos
muitos subprodutos possiveis. Em qualquer caso, o que todos esses padrões
demandam é que a raiz da atitude afiore i consciencia. e então toda a personalidade é
transformada. Tratar a atitude em si, entretanto, é como tratar qualquer outro

3 Contributions to Analytical Psyehology, C. G. Jung. Londres, Kegan Paul, 1928.

sintoma. Simplesmente obriga a doença a encontrar expressão de alguma outra


forma – que pode ser mais destrutiva que a anterior.

Os aspectos Venus-Saturno no mapa de um homem reQetem uma atitude em


relação ao feminino que, por estar colorida pela sombra, freqiientemente é um pouco
146

escura. O homem com tais aspectos pode perceber a anima, sua imagem interior da
mulher e sua capacidade para se relacionar, através das lentes de sua própria
inferioridade inconsciente. Em conseqiiencia, projeta essa qualidade sinistra em sua
parceira. Geralmente seus relacionamentos tem algum elemento de medo ou
restrição, e uma frieza nitida; pode ser até que ele manipule a parceira através do
sentimento, com o intuito de conseguir o controle, embora geralmente acredite que é
a parceira que está manipulando. Isto pode ou não estar relacionado com problemas
de expressão sexual. Com mais frequencia, os efeitos serão sobre o tom de
sentimento do ato sexual e não do desempenho fisico real, mas as mulheres são
altamente sensiveis aos tons de sentimento, e podem responder a sua ausencia ou
deficiência de formas que ameaçam o relacionamento. A despeito da atraqio
consciente por mulheres, além disso, um homem que enxergue através das lentes de
sua projeção pode, no fundo, ve-las como inferiores ou sedentas de poder. Nesse
caso, ele vai tratá-las de acordo com isso, embora sutilmente. Todo tipo de
subproduto pode resultar – desde a frieza, a falta de sentimento e o retraimento, até a
homossexualidade. Em todos esses casos, a anima precisa ser desvinculada da
sombra, e ambas trazidas a consciencia. só então o homem vai deixar de projetar em
suas parceiras seu estranho casamento de componentes psiquicos sombrios.

Torna-se evidente, a partir desses exemplos, que certas combinaqões


planetarias simbolizam uma imagem psicologica e uma quantidade de possiveis
respostas, e não uma peculiaridade sexual. Como ja observamos, a sexualidade é tão
dificil de definir no mapa como o Self, e possivelmente por uma razão semelhante: é
um grande principio de energia criativa, um intercambio arquetipico entre as forças
vitais masculina e feminina, e, sobre o grande esforço de uniio dessas forças,
constroi-se toda a existencia. A atraqão sexual humana e os problemas que a
acompanham é um reflexo miniaturizado do que os antigos chamavam grande
casamento de Urano e Gaia, origem de todas as coisas manifestas; também é um
microcosmo do que os alquimistas queriam dizer com Casamento Sagrado, o
Coniunctio. Assim, ela remete tanto ao esforço psiquico para a união dos opostos
dentro do individuo, quanto às relaqões fisicas que ele estabelece com os outros.

Até a descoberta de Urano, Netuno e Plutao, a astrologia tradicional atribuia a


147

maioria das "aberraçoes" sexuais a Saturno. Mais recentemente, entretanto, os tres


planetas exteriores se tornaram os principais culpados, e, assim, vale a pena
examina-los, nem que seja só por esta razao. Se nos lembrarmos de que eles são
transpessoais, servindo ao ego coletivo e não individual, perceberemos sua ligação
com formas de comportamento altamente mitologizadas. A pessoa que, através do
Sol, da Lua, de Venus ou de Marte, esta iigada a um dos planetas exteriores vai
tender a vivenciar, muito mais que seus semelhantes, o mito arquetipico ao qual o
planeta esta associado; ela é atraida por uma força maior que ela mesma e precisa,
de alguma forma, sacrificar seu ponto de vista puramente pessoal. No tocanie ao
comportamento sexual, os tres planetas exteriores refletem, assim, algo muito
diferente de Saturno – que tem mais relação com a sombra, o inconsciente pessoal e
as fixaqões e complexos parentais.

Urano é uma poderosa figura coletiva do animus. No mapa de uma mulher, se


ele estiver aspectando Venus ou a Lua – os dois simbolos da expressão feminina –,
pode haver alguma distorção da expressão instintiva natural. Urano é um deus,
irresistivel e numinoso. Como componente do animus, tem um poder muito maior do
que a figura mais pessoal do pai, e pode invadir a consciência de forma violenta e
mesmo traumática, estourando as ligaqões da mulher com suas raizes instintivas e
reclamando a posse de sua psique. Um tal animus prccisa ser reconhecido e ter a
possibilidade de expressão criativa; dificilmente pode sn ignorado. Mas se a mulher
deseja conservar a sua relação com o seu corpo e com os seus sentimentos, precisa
aprender a andar numa corda bamba que vai lhe permitir preservar sua ligação com o
seu centro feminino. Com contatos Urano-Lua ou Urano-Venus no mapa de
nascimento, a muiher pode sentir que precisa optar entre sua independencia e
criatividade, de um lado, e a necessidade de se relacionar, de outro; mas é preciso
que aprenda a dar espaço, em sua vida, aos dois valores, não permitindo nunca a
violentacão das necessidades do coração pela clareza do intelecto. Se o animus,
nesse caso, é suprimido, sem duvida vai explodir com força destrutiva; se a natureza
instintiva é reprimida, os resultados podem ir do isolamento e da autodestruiqio até a
doença fisica, principalmente do sistema reprodutor.

Netuno e Plutio cm aspecto com o Sol ou Marte nQ B12pQ dC UIll homem


148

refletem uma influencia mitica semelhante iquela simbolizada por Urana. Os dois
simbolizam facetas da anirraz coletiva, e quando liga- dos à expressão consciente
pessoal da masculinidade, os arquétipos que eles personificam podem invadir a
consciencia. Netuno é a Mae gentil, totalmente difusa, oceanica; Plutão é a Mae
devoradora, voraz, inexorável e implacavel, a terra em oposiqão ao mar. As duas
figuras marcam a consciência como imagens coletivas do feminino, e são muito mais
poderosas que as associaqões com a mae pessoal. Se um contato Marte-Netuno ou
Sol-Netuno reflete a homossexualidade no mapa de um homem, a energia envolvida
é muito diferente daquela refletida por Saturno. Esta ultima significa medo,
ressentimento e hostilidade. A prmeira indica a sedução pelo arquétipo, a sereia
magica e encantadora que afasta o homem de sua condição masculina e o toma sua
posse.

Diante do poder dos arquétipos e da imagens mitologicas que eles trazem a


consciência individual, dificilmente se podem fazer julgamentos morais. só se pode
tentar, da melhor forma possivel, manter uma inquieta paz entre a psicologia
consciente, enraizada na sexualidade corporal, e a energia transexual inconsciente
simbolizada pelos planetas exteriores.

E se se fracassar, de certa forma isto não é realmente um fracasso, pois


juntamente com os problemas vem muitas grandes dádivas, das quais o homem
"normal" não pode sequer ter um vislumbre. O animus pode ser um destruidor
implacavel do sentimento e da relação feminina, mas também é um deus, um
iluminador, um facho que alumia a consciência do mundo; e a anima pode ser um
vampiro que suga o sangue vital do homem, mas é uma deusa que confere a poesia,
a musica, a visao, a profecia, a comunhão com os manânciais ocuitos da vida. Os
antigos acreditavam que os deuses destruiam os objetos de seu amor. Para alguns,
as dadivas valem o preço a ser pago – assim como faziam antigamente os sacerdotes
de Atis, que renunciavam a sua condição de homens por amor a deusa e aos
segredos de seus mistérios. É tanto pueril como presunçoso atirar pedras no sopro do
numinoso.

k + O mapa ao lado apresentado é de um jovem ator chamado Vitor, que se


define como um homossexual que nunca foi outra coisa. Fazendo-se um retrospecto,
149

e conhecendo-se alguma coisa a respeito do individuo, é facil apontar no mapa


configuraqões que remetem a "propensões" sexuais, mas se o mapa fosse
apresentado como exemplo de qualquer outra coisa, é de se duvidar que mesmo o
mais sabio dos astrologos pudesse, sem conhecer o homem, fazer qualquer
afirmaqão definitiva sobre sua sexualidade.

Vitor veio de uma familia judia da classe média de Nova Iorque, e recebeu a
discutivel benqio daquela famosa figura celebrizada em O complexo de Portnoy – a
MKe Judia. (Se esta figura é um mito fabricado pelos anti-semitas, é também a maior
realidade empatica empirica do mundo.) O pai de Vitor, proprietário de uma cadeia de
mercearias razoavelmente bem-sucedidas, era uma figura apagada, que, nas raras
ocasiões em que estava em casa, delegava toda a autoridade doméstica a esposa,
que era muito capaz. Esta era uma mulher altamente inteligente e perspicaz, dotada
da capacidade de fazer chantagem emocional (um talento peculiar as mulheres do
tipo sentimento e aos homens possuidos pela anima), e ela amava seu filho unico
com um amor feroz e devorador. Nada era suficientemente bom para ele, a quem
aparentemente dava completa liberdade, mas eh sempre conseguia sutilmente
manejar as decisões dele, mantendo-o num estado de eterna infantilidade e
sufocando suavemente seu direito de fazer escolhas debaixo de um manto de
cuidado solicito. Vitor aceitava o papel passivo que lhe era imposto, ja que isso, afinal,
tornava sua vida mais facil. Em criança, era timido, gentil, sensivel e refinado.
Gostava das coisas bonitas e era muito apegado ao lar; era fácil manipula-lo através
de seus sentimentos, já que ele não gostava de ferir ninguém e, principalmente,
detestava cenas emocionais violentas. A trama favorita da sua mae era trabalhar em
cima da gentileza dele, ostensivamente dando-lhe liberdade e, ao mesmo tempo,
podando-a – fazendo com que ele tivesse medo de causar-lhe sofrimento emocional.
Assim, ela apoderou-se da anima, da alma, e prendeu-a a si.

Quando Vitor tinha dezessete anos e estava prestes a cursar a universidade, ja


percebia que odiava a mae. Esse ódio era nao-declarado e obsessivo, e ela ainda
tinha o poder de faze-lo sentir-se culpado, e ele também se odiava por isso. O que ele
não percebia era que, odiando-a tão passionalmente, estava lutando contra uma
identificação secreta com ela; de fato, ele estava se tomando ela, pois o odio é um
150

laço tão potente como o amor, e quanto maior é a oposição que se faz a alguma
coisa, mais essa coisa nos subjuga. Ele lutava com a mae usando as taticas dela,
mas, como diz o velho ditado, é preciso uma colher muito comprida para cear com o
diabo.

Atribuindo um poder tão grande a mKe, Vitor atribuia um crescente poder a mae
nima dentro dele, que lenta e gradualmente, comecou a possui-lo. Sem perceber a
mudança gradual, começou a se tornar afeminado, e adquiriu os classicos
maneirismos, aparentemente os mesmos em todo o mundo entre os homens
possuidos pela anima: "desmunhecar", falar suave, balançar a cabeça, o andar
insinuante, rebolado, afetado – em resumo, uma parodia da condição de mulher
inferior. Quando saiu de casa para estudar arte dramática na universidade, com
dezessete anos, já tinha tido várias experiências homossexuais; essas aventuras
eram faceis de conseguir em Nova Iorque, e Vitor era um rapaz muito bonito. Em
pouco tempo, ja tinha se transformado numa indiscutivel "bicha". Sua mae, entretanto,
parecia não perceber, embora todo o mundo percebesse, pois, em casos assim, o
preço da verdade é a descoberta da própria responsabilidade, o que em geral é muito
dificil de assumir. Ela falava muitas vezes que esperava que ele conhecesse uma
"boa" moça na universidade, e ele, secretamente, ficava feliz em saber que ela ficaria
desapontada para senipre. Mas, num nivel inconsciente, ela o queria como ele era;
era a garantia de que eIe pertencia inteiramente a ela. Ele, por seu lado, estava
bastante satisfeito em aceitar esse conluio inconsciente, que lhe poupava qualquer
confrontação com a masculinidade perdida que seu pai jamais o ajudou a
desenvolver.

Na realidade, Vitor desprezava a fraqueza do homem.

A carreira romantica de Vitor foi previswel. O meio social gay especifico do qual
se tomou parte – enquanto adolescente em Nova Iorque, na universidade, e depois –
tinha suas próprias leis de relacionamento: a paquera no bar, a rapida transa, a breve
fantasia, as brigas entre duas animas melindrosas e vaidosas, o subito rompimento, a
busca de um novo caso. Vitor nunca tinha tocado uma mulher; a idéia o revoltava e o
deixava doente, embora não soubesse explicar por que. Nas ligaqões com homens,
geralmente fazia o papel feminino. Entretanto, a aprovaqão das mulheres era
151

terrivelmente importante para ele, que ficava profundamente ferido quando elas o
evitavam por causa de seus maneirismos. Ele nunca tinha percebido claramente o
seu comportamento caricato, que tinha tomado conta delc inconscientemente; nunca
percebeu que até a decoração do seu apartamento, quando ja possuia seu
alojamento independente na universidade, era exatamente como a de sua mae –
desde as cortinas combinando com os abajures até os bichos de porcelana sobre a
lareira. Ficava chocado quando as pessoas que conhecia socialmente o detectavam
de imediato e o tratavam de acordo; acreditava que sua vida sexual fosse um segredo
bem guardado.

Depois de se formar na universidade, a carreira de Vitor como ator foi


moderadamente bem-sucedida. Baixo e esguio, com um rosto aberto, ingenuo, era
camum que o escalassem para papéis de criança em varias peças. Mudou-se de
Nova Iorque para a California, com a esperança de entrar no cinema; trabalhava
duramente, possuia um notavel dom para o humor e a mimica, e um acentuado
talento para cantar e dançar. Quando não estava rancoroso, também demonstrava
uma natureza muito doce e intensa lealdade e generosidade no relacionamento com
os amigos. Mas o

papel que cobiçava era o do lider, do heroi – por razões óbvias, para quem
entende um pouco de sua psicologia. Esse sonho continuava inacossivel para ele,
não apenas por causa do seu talhe pequeno, mas também porque,
inconscientemente e com incontrolável exagero, era tão afeminado que escalá-lo para
um papel desses resultaria num travestismo.

Quando se aproximou dos trinta anos, Vitor começou a questionar sua vida
sériamente. Até entao, dava um jeito de rir de tudo, evitando assim qualquer confronto
com seus sentimentos. Então começou a ver não apenas as limitaqões de sua
carreira como ator, mas também – com algum sofrimento – de sua vida pessoal. A
aceitaqão social por parte dos outros significava muito para ele, e o ostracismo
constantemente o feria. Por ser tão completamente apartado de sua natureza de
sentimentos, não conseguia desfrutar um relacionamento significativo ou duradouro
nem com homens nem com mulheres. Se tivesse conseguido abrir seu coração a
outro homem, possivelmente pudesse ter estabelecido algum relacionamento
152

autentico; mas destravar sua natureza de sentimentos teria sido abrir a porta do
fosso. Além disso, estava preso ao culto da juventude e da beleza, o aspecto mais
sombrio do cenario gay, e aos trinta anos é preciso encarar o fato de que a juventude
e a beleza não duram para sempre. Com muita ingenuidade mesmo para um mortal,
Vitor tinha procurado encenar o antigo mito do puer, o belo jovem preso a mae-deusa
devoradora, destinado a um breve momento de voo e luz, e depois atraido novamente
para o ventre onivoro. Diante dessa ultima perspectiva, começou a pensar em
suicidio. No momento em que escrevo, ele ainda esta atvando e desfrutando, ao que
parece, sua mais recente aventura romantica. ao mesmo tempo, entretanto, sente-se
desesperadamente infeliz, recusa ajuda profissional de qualquer tipo, e está
convencido de que a soluqão final de sua vida – e o ato final dc vingança contra sua
mãe – seri, algum dia, autodestruir-se.

O mapa de Vitor não reflete, de forma alguma, a evolução mais ou menos


deprimente de sua vida, ou o ponto de crise no qual ele atualmente se encontra. Não
é um mapa "mau", não existem configuraqões planetarias horrendas, nem são visiveis
terriveis infiuencias malignas. O que esta refletido é um temperamento gentil e
refinado, exposto aos aspectos menos agradiveis da matemidade, que nunca perdoou
nem a sua mae nem a si mesmo por sua juventude. N o se pode deixar de achar que
Uitor teve muitas oportunidades em sua vida, mas se recusou a aproveita-las.
Entretanto, seu mapa não é o "mapa de um homossexual"; é um mapa de uma
particular sensibilidade que acabou se acorrentando a um poderoso arquétipo c não
consegue – ou não deseja – se libertar, porque tal atitude acarretaria uma dolorosa
confrontação consigo mesmo. Sua mae, com certeza, não é uma figura que ajuda, e
provavelmente se justifique que alguém não goste dela. Mas ninguém tem o poder de
destruir o outro da forma como eia fez, sem algum conluio inconsciente. A figura que
realmente esta controlando Vitor não é sua mae, mas o arquétipo feminino dentro
dele, cuja sombria face de Gorgona o mantém como que hipnotizado. Ele continua a
culpar a mae por seu temperamento, como se ela o tivesse contagiado com alguma
doença. Talvez, em certo sentido, ela o tenha feito a principio – mas agora ele é um
homem, não uma criança. O mapa de Vitor pode refletir cegueira e relutância em
aceitar as responsabilidades da opção – a dificuldade em focalizar sua vontade e sua
153

capacidade de tomada de decisão masculina para libertar-se dos laços da Mae. Mas
o fado que criou para si é dele mesmo.

O refinamento e a falta de agressividade de Vftor,assim como as qualidades


intelectuais e estéticas de seu temperamento, são refletidas pelo Sol em Virgem na
terceira Casa, do desenvolvimento mental, e por quatro planetas – Venus, Marte,
Jupiter e Netuno – em Iibra. Cinco planetas em ar e a ausencia de agua no mapa –
embora o ascendente (Câncer) e o Meio-do<éu (Peixes) estejam em signos de agua
– sugerem a predominância da função do pensamento e a dificuldade em expressar a
natureza sentimental. Para o indivíduo com falta de agua, geralmente é dificil lidar
com os sentimentos; não é que não consiga sentir, mas os sentimentos são
inconscientes e, portanto, intensos, primitivos, arcaicos e algumas vezes muito
sombrios. Também possuem uma qualidade autonoma, assustadora para um tipo
orientado para o pensamento, fazendo com que muitas vezes ele se esconda atras de
barricadas intelectuais, que mantem a distância os aspectos mais inquietadores de
sua psique. O ascendente em Câncer, operando de maneira grandemente
inconsciente, sugere que o próprio Vitor tem dentro de si muitas qualidades da Mae.
Quando indiferenciadas, essas qualidades tendem a ser expressas negativamente
grande parte do tempo: sufocantes, devoradoras, maaipulativas, apegadas,
enganosas. E porque completamente inconscientes, são projetadas sobre a mae, que
muito convenientemente, tem o Sol em Câncer. Ela é, assim, um excelente gancho
para pendurar a projeção, e o absolve da responsabilidade. Do lado positivo, o
ascendente em Câncer sugere uma imaginaqão maravilhosamente rica, sensibilidade,
percepção rápida, resposta aos sentimentos dos outros, compaixao, amor a cultura,
instinto de protecão às pessoas fracas ou que precisem de ajuda. A aptidão de Vitor
para a mimica talvez também esteja vinculada a este sutil e meditativo signo
ascendente. Todas essas virtudes ele expressava muitas vezes com os

amigos e no trabalho. Mas como não conseguia se relacionar com seus


sentimentos, as mesmas virtudes – inclusive o dom para a mimica – tendiam a operar
de modo grandemente autonomo.

Duas configuracões planetarias merecem menção especial. Uma delas é a


quadratura de Venus e Saturno, sugerindo que a imagem que Vitor tem da mulher é
154

um tanto desagradivel e matizada pelo seu próprio desejo reprimido de poder.


Saturno em Leão é uma colocação que sugere uma profunda e urgente necessidade
de reconhecimento, realizacão e adulação para compensar o medo de ser comum e
nao-amado. Inconscientes, essas qualidades, como em geral é o caso quando
associadas a sombra, tendem a produzir uma inflacão inconsciente, o
autoengrandecimento e um anseio de controle sobre os outros, juntamente com um
profundo senso de inferioridade e uma constante exigencia de reafirmaqão e
aceitação. São essas qualidades da sombra que Vitor ligou a sua imagem da mulher;
no fundo, ele a teme como um dragão imenso, inflado e carnivoro, pronto para
devorar tudo que cruza seu caminho. Se ele tivesse reconhecido essas mesmas
inclinaqões dentro de si, poderia ter dado espaço para a sombra em sua expressão
consciente, assumindo assim a responsabilidade por sua transmutação e
desenvolvimento. Mas essa é uma responsabilidade moral que muitas pessoas
acham dificil assumir.

Combinada com o problema refletido por Venus-Saturno, temos a presença da


Lua em Sagitario e o agrupamento de planetas em Libra, sugerin.do uma qualidade
tipo Poliana no temperamento de Vitor. Tanto Sagitario como Libra indicam a
predisposição para o lado claro das coisas; Libra, especialmente, é famoso por sua
repulsa ao sombrio, ao sordido, ao ambiguo e ao irracional. Essa qualidade alegre da
natureza de Vitor é, sob muitos aspectos, admiravel e extremamente simpatica.
Levada ao extremo, constitui um problema, pois não permite o reconhecimento ou a
expressão de nada que não seja "bonito". Marte em Libra, mesmo no maximo da
agressividade, só é arrogante mentalmente; é muito refinado para o tipo de
autopromoqão direta de que Vitor necessita para alimentar seu Saiurno em Leao, a
sombra tão faminta de amor. Além disso, Marte também faz uma conjunção ampla
com Netuno, a segunda indicaqão importante da expressão sexual de Vitor. Sugere
que sua vontade, sua energia para sair ativamente no encalço de um objetivo, é
afetada pela anima coletiva – isto é, por fantasia, caprichos, estados emocionais e
uma sutil atrofia da energia que o toma impotente diante dos problemas da vida.

Esses poucos pontos pertinentes no mapa – e não sao. de modo algum, o


unicoterritorio que poderiamos explorar – refletem um quadro
155

muito claro de um problema psicológico multifacetado. Mas em parte alguma do


mapa existe uma indicação especifica de que Vitor tentaria resolver seu problema
através do homossexualismo. ao contrario, Há muitos caminhos que poderiam ser
escolhidos e muitos modos de expressão – alguns mais produtivos que os outros.
Para imbuir sua vida de significado e se relacionar com os outros – duas coisas
essenciais para um temperamento reQetido pelo agrupamento em Libra e pelo
ascendente em agua –, Vitor precisa se tornar mais conscio de si mesmo, e
principalmente de um seu aspecto que se manifesta pelo corpo masculino com o qual
nasceu. Os trigonos de Urano com Venus, Marte e Jupiter sugerem que Vitor possui a
capacidade da oziginalidade, autodeterminação e liberdade, e a proporção de oito
signos masculinos contra dois femininos sugere o equilibrio que ele teria achado mais
natural se conseguisse se desvencilhar das garras da sombra. Devido a suas
limitaqões fisicas, ser ator não é necessariamente a opção profissional mais
produtiva, mas alguma forma de arte, sem duvida, o é. Isso est5 reQetido em muitos
pontos do mapa, e os muitos dotes de Vitor Ihe trariam muito mais contentamento se
não estivessem sendo usurpados pela sombra. A situação de Vitor é, em grande
medida, do tipo que exige que o indivíduo opte por ser ele mesmo. O mapa não o
condenou, sua mae não o condenou; foi ele quem se condenou, não porque fosse
fadado por suas estrelas, mas porque aceitou um determinado caminho. Sob muitos
aspectos, o caminho do puer é fácil, porque nunca é preciso realmente enfrentar a
vida. Por outro lado, o homem que vivencia um mito é um escolhido dos deuses; num
sentido mais profundo, o padrão de Vitor talvez seja o fado adequado para os
propositos do Self. Não se pode saber essas coisas, ou julga-las de maneira
convencional, de acordo com padrões convencionais. A sexualidade de Vitor é
apenas um aspecto de um padrão de vida que. faz parte de um mito, e, como bom
ator que é, Vitor desempenha seu papel a pleno vapor.

Honraras Teu Pai e Tua Mae ... Com Reservas

Pais são Padroes.

– Thomas Fuller
156

Não pense que o destino tenha mais do que esta contido na infância.

– Rainer Maria Rilke

Nos primeiros dias da psicanalise, presumia-se que todo homem desejava


secretamente ir para a cama com sua mae, e toda mulher com seu pai; e acreditava-
se que a totalidade da vida inconsciente da psique fosse direcionada para esse unico
fim. De acordo com o pensamento freudiano, os problemas psicológicos estavam
invariavelmente ligados a expressão da sexualidade infantil. Em algum ponto, essa
sexualidade tinha ficado presa ou fixada por causa de algum tipo de trauma, e as
conseqiiências desse fato continuavam a manifestar-se na vida psiquica e, algumas
vezes, fisica, do adulto. A psicologia se tornou mais sofisticada desde o grande
trabalho pioneiro de Freud, mas o inegavel poder que os pais exercem sobre a psique
da criança continua sendo uma realidade obvia para todos os que trabalham no
campo do crescimento humano. Quantos de nós podem tomar

o que chamamos nossa identidade e ter certeza de que é verdadeiramente


nossa, de que não est5 totalmente impregnada de valores, idéias, necessidades e
atitudes adotados – conscientemente ou inconscientemente – por nossos pais? Freud
acreditava que a ligaqio entre filho e pai sempre pudesse ser reduzida, no final, a
"nada mais" que um elo sexual. Entretanto, agora, tornou-se evidente que Há mais,
muito mais do que o simples desejo de gratificação sexual, envolvido nos mistérios do
relacionamento inconsciente pai – filho. Em certo nivel, concedew que o elo sexual
possa de fato existir como realidade na infância, mas a sexualidade, como ja vimos,
pode abarcar algo muito mais abrangente do que o ato da cápCa. E embora muitos
problemas dos adultos possam derivar de fontes sexuais, isto ocorre apenas quando
a energia natural foi distorcida ou desviada na infância.

Contudo, podemos dizer com Homero:

Nenhum homem nunca conheceu sua própria linhagem.

Devemos lembrar que mae e pai não são apenas seres humanos concretos
associados a nossas primeiras experiencias, mas também simbolos que personificam
o numinoso poder dos arquétipos; e a enorme força dinâmica de mae e pai dentro da
psique individual deriva não apenas do relacionamento pessoal com o genitor,
157

qualquer que seja sua natureza, mas também do significado arquetipico vinculado
aquele genitor desde o primeiro despertar da consciencia.

Dentre todos os possiveis fantasmas que perseguem o homem, os espiritos dos


pais possuem o maior significado. Quando pai e mãe se tornam fatores interiores, não
são mais fantasias da infância projetadas em pessoas, mas partes da psique que
impedem o avanço.

Como a experiência dos pais é universal e arquetípica, é de se esperar que seja


representada de alguma forma no horoscopo de nascimento. E os pais são de fato
parte do padrão do mapa, pois o indivíduo não é apenas ele mesmo, mas a flor da
arvore de sua herança. Nem a mae nem o pai, entretanto, são refletidos num sentido
objetivo; nenhum dos dois é descrito através de um esboço preciso do seu cariter
individual. O que o mapa 1 Transcrito das conversasde JungcomFrancesWickesem
TheInner WorldofChoice.

realmente refiete é como o indivíduo pode vivenciar sua mae e seu pai, e que
valores emocionais, mentais, ffsicos e espirituais pode associar a eles.

O mapa também reflete se o relacionamento pai – filho, apreendido de um ponto


de vista completamente subjetivo, provavelmente vai facilitar ou se opor ao
desenvolvimento e aos impulsos pessoais do individuo. Por tris do relacionamento
com os pais verdadeiros fica o relacionamento com os pais simbolicos – e isto,
novamente, nos devolve ao mundo das imagens arquetípicas e da grande polaridade
masculino e feminino, da mae e do pai cásmicos. Mae, neste sentido, é terra, maiéria,
sentimento, o ciclo de nascimento e morte, o que tudo da e tudo destroi, a vida
instintiva do corpo e da própria terra. Pai é céu, espirito, fogo, vontade, significado,
propósito e desenvolvimento proposital, ordem, estrutura e lei. Assim como nos
sonhos, tudo que vivenciamos – quando tem o poder de nós transformar, ou de criar a
transformação dentro de nós – é tanto literal como simbólico, e isso se aplica também
as figuras parentais. Como vivenciamos esses arquétipos é o que o mapa sugere, e
que parte deles projetamos nos seus representantes verdadeiros, pessoais,
concretos. Assim como o amnio envolvendo a cabeça de uma criança recém-nascida,
o véu do relacionamento pessoal, com todas as suas nuanças de sentimento,
158

pensamento e experiência sensorial, oculta energias psiquicas mais profundas.

Antes de podermos livremente romper o véu, entretanto, precisamos lidar com o


relacionamento pessoal e todos os seus inevit veis problemas.

Ja vimos muitas vezes como a disposição inerente do indivíduo esta presente no


nascimento e é refletida nos padrões do mapa de nascimento.

Existe um fator a priori em todas as atividades humanas, ou seja, a estrutura


individual inata, pré onsciente e inconsciente da psique. A psique pré-consciente – por
exemplo, a de um bebc recém-nascido – não é um receptaculo vazio no qual, sob
circunstâncias favoraveis, praticamente tudo pode ser despejado .

É essa "psique pré-consciente" que nos da o livre-arbitrio de nós tomarmos o


que somos em vez de aquilo que os outros fizeram de nós.

A criança não é um mero receptáculo da vida psiquica do pai; embora seja


suscetivel as forças inconscientes que a rodeiam na infância, também acrescenta
algo de si mesma à experiência que tem delas. Por causa disso, não podemos
realmente atribuir culpa moral a nenhum pai, mesmo se sua negligencia, rejeição,
aspereza, ausencia, superpossessividade ou falta de compreensão pareça ter
engendrado um conflito psicológico. Tais fatores sem duvida deixam sua marca, e,
geralmente, muita brutalidade é praticada em nome do amor. Mas qualquer que seja
a mentalidade manifestada pelo pai, algo dentro da criança encontra-a no meio do
caminho, por assim dizer, aceita-a e absorve-a; e o valor inconscientemente vinculado
a um ou outro atributo parental determina o efeito do pai sobre ela. Sem nunca
perceber, a pessoa pode ficar impregnada de certas atitudes que realmente não são
dela – atitudes originarias de um pai que, bem-intencionado, porém inconsciente, trata
a criança de um determinado modo porque ela provoca esse tratamento por parte
dele.

O fator mais importante nos problemas de relacionamentos dificeis pai – filho,


principalmente os que envolvem a mae, não é o que o pai fez ou não fez. É a
interação entre as duas partes, a combinação de duas substâncias quimicas; as duas
são fatores que contribuem para o produto resultante. Em resumo, não é o que o pai
fez, mas o que a criança esperava que fizesse, e a discrepância entre a ação (ou sua
159

falta) e a expectativa.

No tratamento de pacientes, a gente fica a principio impressionada, e mesmo


dominada, pelo aparente significado da mae pessoal.

A figura da mae pessoal assoma com tal grandeza em todas as psicologias


personalisticas que, como sabemos, nunca passam, mesmo na teoria, para outros
importantes fatores etiológicos. Minha própria visão diverge das outras teorias
médico-psicologicas principalmente porque eu atribuo a mãe pessoal apenas uma
lunitada importância etiologica. Vale dizer, todas as influencias que a literatura
descreve como sendo exercidas sobre as crianças não vem da própria mae, e sim do
arquétipo projetado nela, o que ihe da uma base mitológica e a investe de autoridade
e numinosidade. Os efeitos etiológicos e traumaticos causados pela mae devem ser
divididos em dois grupos: 1) aqueles que correspondem a traços de carater e atitudes
realmente presentes na mãe, e 2) aqueles que se referem a traços que a mae apenas
aparenta possuir, sendo a realidade composta de projeqões mais ou menos
fantásticas (isto é, arquetípicas) por parte da criança .

Este postulado extremamente importante de Jung deve ser considerado se


quisermos trabalhar construtivamente com as imagens paternas na psique. Na nossa
sociedade atual, é improvavel que haja muitas pessoas que escapem ilesas da
ambigua marca deixada por seus pais. Isto se deve, em parte, à subvalorização da
relação e do principio feminino cm geral nos ultimos dois mil anos, criando problemas
universais dentro do casamento que fatalmente deixam cicatrizes na psique da
criança. Como esta psique é muito suscetivel a vida inconsciente dos pais, a marca
desses ultimos é muitomais confusa e destrutiva se o casal se enquadra no modelo
do comportamento "normal", não encarando nunca seus desejos, impulsos e
motivaqões secretos.

Nas culturas primitivas, por exemplo, em que há pouca individualidade e menor


valoração da santidade dos pais individuais como personalidades – em vez disso, os
pais saopersonificacões de antigos arquétipos –,não er.contramos o tipo de cornplexo
de pai e de mae aos quais a ciailizaqio ocidental é tão propensa. Com a imposição
dos Dez Mandamentos, somada a crescente consciência do ego do ser humano em
160

desenvolvimento, nós tanto ganhamos quanto perdemos. Nossa obsessão pelos


aspectos pessoais da vida familiar nos brindou com a riqueza e a profundidade dos
relacionamentos individualizados. Também nos tomou vulneráveis a todo tipo de
novas influencias psicológicas, muitas das quais podem ser inimigas do crescimento.
Teus filhos não são teus filhos.

Eles são os filhos e filhas da msia da vida por si mesma.

Eles vem através de ti, mas não de ti.

E embora estejam contigo, eles não te pertencem.

Podes dar-lhes teu amor, mas não teus pensamentos, Pois eles tem seus
próprios pensamentos.

Podes abrigar seu corpo, mas não sua alma, Pois sua alma mora na casa do
amanha, que não podes visitar, nem mesmo em sonhos.

Podes esforçar-te para ser como eles, mas procura não faze-los ser como tu.,
Pois a vida não anda para tras nem se demora no dia de ontem .

Essas palavras de Kahlil Gibran enunciam com eloqiiência verdades simples.


Entretanto, podemos dizer que nossos pais entenderam essas verdades – ou que
nos, como pais, as entendemos? Se um indivíduo não ousa viver sua própria vida,
inconscientemente tenta vive-la através dos filhos.

Não podemos culpa-lo porque ele é inconsciente, mas geralmente precisamos


admitir a violaqão e o dano que sua cegueira freqiientemente acarreta.

Para que essas dificuldades possam fazer algum sentido, e para que possamos
utilizá-las de forma construtiva, precisamos primeiro separar o pai real da projeção
arquetípica. Se isso for feito suavemente, e com respeito pelo pai, quaisquer que
sejam seus defeitos, nenhum laço amoroso sera violado. A violação só ocorre no
inconsciente quando a separação não é efetuada e o ressentimento acumulado por
toda uma vida se derrama sobre a vida despeita do individuo, envenenando seu
relacionamento com as pessoas que o cercam. A doutrina esotérica tem um principio
oportuno que vale a pena lembrar. Por riossa livre vontade, escolhemos nossos pais,
mas não como "castigo" ou "recompensa" por "boas" ou "más" aqões em outras
161

vidas. Nos os escolhemos porque esses pais sio da mesma substância que nos,
estão ligados conosco pela unidade da composição psiquica – quer admitamos o elo
ou nao. Nossos pais, portanto, são tanto pessoas objetivas no mundo exterior, como
figuras simbolicas na psique interior.

É bem ficil reconhecer que a mae é a primeira mulher que conhecemos na vida,
e que assim ela vai marcar a psique do filho com a primeira e mais poderosa
experiência de tudo que o feminino venha a significar.

Da mesma forma, o pai é o primeiro homem que conhecemos na vida, e ele


também vai deixar sua marca no inconsciente do filho como a personificação do
masculino. Nascemos com a herança coletiva de varios milenios de experiência de
mae e pai, e as configuraqões coletivas dessas figuras simbólicas nos são inerentes;
mas o "eu" pessoal, o ego, não sabe de nada disso até que haja uma objetivação no
mundo exterior como a familia na qual a criança nasce. E, mesmo assim, raramente
isso é consciente.

As crianças são tão profundamente envolvidas na atitude psicológica dos pais,


que não é de surpreender que a maioria dos disturbios nervosos na infância possa
ser atribuida a uma atmosfera psiquica perturbada no lar .

Se a criança, trazendo consigo as imagens arquetípicas da mae e do pai


simbolico, encontra, em vez de solicitude e estabilidade, uma confusão inconsciente
de caos, hostilidade, agressao, violencia, inveja e destrutividade, muito
compreensivelmente vai exibir traços "neuróticos" – que, de uma forma ou outra, se
perpetuarão na idade adulta. E, com muita freqiiencia, os pais dessa criança vão leva-
la ao consultorio do psicanalista ou

5 Transcrito da introdução de Jung a The Inner World of Childhood.

pode ter uma vida oculta no inconsciente da criança, e "fadar" sua vida pot esse
padrao.

Essas são perguntas bastante simples, e as respostas são bem bbvias.

Infelizmente, em geral, só são formuladas na idade adulta, e então as respostas


chegam muito tarde. Além de todas essas perguntas, sobretudo, deve ser feita outra.
O que a criança inconscientemente espera do pai? Em ultima análise, talvez só
162

possamos fazer o que sugere o I Ching, e trabalhar o que foi estragado – sempre
aceitando nossa parcela de responsabilidade.

Existe uma fase sumamente desconfortavel pela qual o indivíduo em evolução


precisa inevitavelmente passar, na qual descobre uma ambivalencia de emoqões em
relaqão aos seus pais e identifica os elementos mais sombrios e mais destrutivos no
seu relacionamento com eles. Essa fase, portanto, é caracterizada por ressentimento
e recriminação naturais, e em certo sentido totalmente justificados, que, no despertar
da percepção "do que fizeram comigo", explode com raiva na consciencia. Entretanto,
essa fase é apenas a preliminar do trabalho a ser executado. É como um abcesso
que concentra todas as toxinas que até então infectavam e circulavam por todo o
corpo. E a vantagem do abcesso é que pode ser lancetado, os venenos podem ser
drenados, e o corpo tem a oportunidade de se curar.

Quando o ressentimento e a recriminação persistem, o indivíduo se torna


gradualmente conscio de qbe o que os pais "fizeram" aconteceu há muitos anos
atrás, e ele simplesmente permitiu que os fantasmas continuassem vivos na psique,
alimentando-se dele e direcionando suas escolhas a partir do mundo subterraneo. A
medida que o indivíduo começa a ver que ele mesmo conferiu a certas imagens seu
incessante poder, pode desvincular-se delas, e também vai perceber que muitas
qualidades pouco atraentes de sua natureza, que anteriormente atribuia a influencia
paterna, na realidade lhe pertencem. A medida que ele desenvolve a compaixio por
sua própria escuridao, além disso, yai começar a sentir compaixão pela escuridão de
seus pais. Eles surgirão como seres humanos, não monstros, como se tivessem sido
lavados, e o devido valor sera atribuido aos seus dons de amor e lealdade, por
menores que sejam. Assim, o filho faz o pai nascer de novo, e ao mesmo tempo se
torna conscio da energia mais profunda por trás da figura paterna e que constitui a
sua origem verdadeira. Libertando-nos, libertamos nossos pais. Somente dessa forma
são verdadeiramente honrados – com a honra devida a todo ser humano. É muito
diferente de elogiar da boca para fofa com uma carga de culpa e o coração cheio de
ressentimento oculto, pelo qual fazemos nossos parceiros e filhos pagar.

O problema dos tipos psicológicos conflitantes também precisa ser considerado


aqui. Não é "culpa" de ninguém, entretanto pode causar estragos através da rejeição
163

inconsciente dos valores mais preciosos do outro. Como o indivíduo ve aquilo que
consegue ver melhor, o pai pensativo pode subvalorizar os sentimentos do filho
sentimentai; o pai orientado para a sensaqão pode se assustar com as percepqões do
filho intuitivo; e em muitas familias faz-se com que a criança carregue a carga da
sombra projetada do pai, animus ou anima, não importando se o seu temperamento é
ou não adequado para o papel. As crianças projetam os pais arquetipicos nos pais
reais, e os pais, da mesma forma, projetam o filho arquetipico – a nova vida cheia de
possibilidades criativas – em sua própria progenie.

Quando isso ocorre, a imagem do filho pode ser matizada pela inferioridade
oculta do pai – a motivação oculta, a ambição clandestina que nunca teve acesso a
consciencia. Quantas maes, esforçando-se por serem domésticas, cuidadosas e fiéis
ao mundo do sentimento e da relação, abrigam ambir,ões inconscientes do animus
que projetam num filho, esperando que ele se torne um genio intelectual, uma
maravilHá criativa, um sucesso mundano? Nesses casos, a vontade do poder usa a
máscara do amor. Em nome do que "é melhor", a mae pratica uma violentação
psiquica do filho, e recua, perplexa, quando ele se rebela violentamente ou se recolhe
num comportamento "anormal". Em outros casos, o filho, desesperado por amor,
pode adotar como seu modelo a projeção dos pais; pode passar metade da vida
tentando ser o prodigio que esperam que seja, medindo-se pelos padrões de
perfeição super-humanos, e, em conseqiiencia, falhando sempre. Não é de
surpreender que a seqiiência de sucessivos fracassos gere um profundo senso de
inadequação e culpa. Na idade adulta, é preciso que ele finalmente enfrente o
demonio que o dirigiu, perceba que não faz parte dele e também que ele o aceitou e,
consequentemente, se condenou. As crianças constituem um veículo esplendido para
muitos pais viverem os lados não vividos de suas próprias psiques, e isso pode
ocorrer mesmo quando os elementos não vividos são confiitantes com os valores
conscientes dos pais.

O pai ambicioso e bem-sucedido pode produzir um filho perdulario ou afeminado;


a mae casta e bem-comportada pode produzir uma filHá promiscua. De quem é a
efeminação, de quem é a promiscuidade? Pertencem aos dois. Quantas maes tem
ciume de suas filhas, por causa da juventude perdida e das oportunidades
164

desperdiçadas? Quantos homens tem ciume dos filhos, ou se sentem ameaçados por
eles? Quantos homens desejam suas filhas, quantas mulheres desejam seus filhos?
Sim, Édipo cobiçou Jocasta, mas Jocasta também o encorajou, e levou-o
voluntariamente para a cama.

Só podemos conjecturar sobre essas coisas, até que as encontramos em

nos, e a ladeira que leva para esse encontro fica cada vez mais escura.

Entretanto, no meio dessa escuridão, no meio do atoleiro do pantano e da areia


movediça inconscientes, uma flor, por assim dizer, lançou suas raizes e brilHá coma
um talisma. É o ilimitado das possibilidades latentes da natureza humana, o potencial
infinito que inclui amor, compaixao, simpatia e perdão, o sentido da continuidade da
vida e da nobreza da alma. E isso nos obriga a admitir que, se estivéssemos no lugar
de nossos pais, com suas ansiedades, necessidades, limitaqões,sonhos e
aspiraqões,poderiamos ser culpados das mesmas coisas que condenamos. Os
"pecados" de nossos pais – por ação ou omissão – podem de fato ter caido sobre
nós, mas sempre conservamos a opção de transmutar a maldição em benção – a
benção da possibilidade de dizer, de olhos abertos e com gratidao, que "por sorte,
vamos caminhando juntos". Os padrões de prophsito da psique, refletidos pelos
padr5es de propósito do mapa de nascimento, sugerem que escolhemos aquelas
experiências que nos acontecem "sem querer". E o que escolhemos é, de alguma
forma, oportuno e necessario, embora o ego possa algumas vezes achar doloroso,
chocante, confuso, frustrante e destrutivo pelo menos até possuirmos suficiente
compreensão para discernir seu significado e sua coerencia em relação a
configuração geral de nossa vida.

No -horóscopo de nascimento, existem duas areas basicas a partir das quais


podemos adquirir alguma compreensão das imagens parentais do individuo. Uma
delas é o eixo vertical do mapa, com o Meio-do-céu ou MC (medium coeli) no alto ou
ponto sul, e o Fundo-do-céu ou IC (immum coeli) embaixo ou norte. Na rica trama de
simbologia que herdamos de nosso passado, o norte é freqiientemente o lugar do
espirito, o ponto de renascimento, a morada dos deuses. O sul é o lugar do coração,
da terra e da matéria. Os pontos norte e sul do horóscopo estão ligados aos mais
165

profundos mistérios: as raizes de onde a pessoa nasce e de onde retira sua vida
inconsciente, e a missão que ela é chamada a realizar no mundo do qual faz parte.

Além desse eixo vertical do horóscopo, também é preciso levar em consideração


a Lua e o Sol, simbolos dos principios feminino e masculino na psique. Esses,
também, estão ligados com mãe e pai. Não apenas estão associados com as raizes e
o florescimento da árvore individual da vida, mas são também a essencia mais básica
do homem e da mulher. As duas Casas do horoscopo que se seguem ao MC e ao IC
são, respectivamente, a f décima e a quarta. Diz-se que a décima Casa está
ligada a profissao, a carreira e ao lugar na sociedade, e a quarta ao lar e as atitudes
domésticas.

Ambas, no entanto, estão associadas também aos relacionamentos parentais.

E possivel que o meridiano – o eixo vertical do horoscopo – e a polaridade do Sol


e da Lua sugiram dois aspectos diferentes da experiência parental. As Casas
parecem refletir a realidade material na qual o indivíduo se encontra, enquanto os
planetas refietem correntes e direqões de energia na psique. Em outras palavras, os
dois angulos "parentais" do mapa talvez sejam mais uma indicagão da relação do
indivíduo com pai e mae, enquanto o Sol e a Lua espelhem a experiência interna que
o indivíduo tem dos seus pais arquetipicos. É dificil dizer qual é mais importante. Sem
duvida, os dois pares de opostos precisam ser levados em consideraqão.

Nos textos de astrologia tradicional existe muita discussão se se deve associar a


quarta Casa, ligada ao IC, com a mae ou o pai. Os livros mais antigos declaram
peremptoriamente que a décima Casa rege o pai e a quarta, a mae. Algumas
autoridades mais recentes argumentam que a questão depende do sexo do individuo,
e outras que depende do genitor quc desempenha o papel masculino ou feminino. O
problema é ainda mais complicado pelo fato de uma pessoa poder manifestar
fisicamente as caracteristicas de um sexo e psicologicamente do outro. E as coisas
ficam ainda mais complicadas por causa da funqão compensatória do inconsciente,
que garante i personalidade consciente de um genitor ser contrabalançada por sua
antitese subterranea. E geralmente é o inconsciente do genitor que afeta mais
poderosamente o filho. Como em toda polaridade, é claro, cada polo complementa e
166

compensa o outro, de modo que se atinge algum equihlrio.

Assim, o relacionamento com um dos genitores gera seu oposto com o outro.
Não se pode separar o casal parental, pois um afeta o outro reciprocamente, e os
dois afetam o equilfbrio de opostos dentro do filho. Os genitores, em resumo, são uma
experiência de uniao. Nunca é uma questão de ou/ou. Em vez disso, é uma questão
de e/e. Como outros problemas no estudo da astrologia – o problema dos sistemas de
Casa, por exempIo, ou a questão dos co-regentes dos signos associados aos tres
planetas recentemente descobertos –, não se pode especular no abstrato; as teorias
seriam plausiveis, logicas e esteticamente satisfatorias, mas simplesmente poderiam
não funcionar na pratica. Também é extremamente dificil fazer uma pesquisa
estatistica a respeito dessas incertezas, pois se está lidando com as experiências
psiquicas dos indivíduos – e as experiências psiquicas não se prestam a uma analise
do tipo preto no branco. No fim das contas, é preciso trabalhar com o que parece
funcionar, reconhecendo sempre que o que funciona para um astrólogo pode não
funcionar para outro, e isso se

aplica igualmente ao indivíduo cujo mapa esta sendo estudado. As


interpretaqões seguintes das Casas parentais não são teoricas, e sim empiricas, e
talvez não sejan necessariamente convenientes para todos os casos.

Em uma medida significativa, entretanto, elas se mostraram v8idas, e, portanto,


merecem ser levadas em consideração. O relacionamento com o pai parece ser
refletido mais nitidamente pelo ponto norte do mapa (o IC) e por quaisquer planetas
que caiam na quarta Casa. O relacionamento com a mae parece ser refletido mais
nitidamente pelo Meio-do-céu (o MC), o ponto sul, e por quaisquer planetas que
caiam na décima Casa.

O signo do Meio-do-céu geralmente sugere os fatores especificos que


predominam no relacionamento com a mae. Freqiientemente – muito freqiientemente
para ser coincidencia, muito freqiientemente para ser qualquer coisa salvo o
misterioso principio que Jung chama sincronicidade corresponde ao signo solar,
ascendente, signo lunar ou influencia dominante do mapa da mae, sugerida por
algum planeta muito forte no mapa dela. O signo do MC espelHá aquela faceta da
167

natureza da mae que afeta mais fortemente o filho, porque alguma coisa nele é
particularmente receptiva a ela. Diriamos çoe esse signo, e seu oposto no IC, são
reflexos simbolicos de nossa hereditariedade, pois com muita freqiiência se repetem
nos mapas de membros próximos de uma famiTia. É como se o meridiano e o
horizonte (o eixo ascendente – descendente) formassem a cruz sobre a qual a psique
individual é "crucificada" na matéria – a estrutura corporea na qual precisa se
encamar como indivíduo consciente, preso pelas limitaqões de sua herança. Não
importa que componentes existam no mapa de nascimento, ele esta fixado a essa
cruz que o obriga a expressar o que é através dos canais especiTicos e singulares
assim proporcionados.

Um Meio-do-céu em Virgem, por exemplo, sugere que as qualidades


basicamente associadas com a mae são de terra; ela seria vista como uma pessoa
pratica, de terra, voltada para a produtividade individual, o serviço, o trabalho ou a
segurança material. E pode também representar uma forte enfase sobre o dever, a
ordem e a estrutura. Todos esses atributos provavelmente serão incorporados aos
valores conscientes do próprio individuo, enquanto ele se ve através dos olhos do
mundo. Um Meio-do-céu em Leao, por outro lado, pode implicar, em relação a mae,
um poderoso impulso criativo, uma poderosa personalidade maternal, uma insistencia
no eu e nos desej os do eu. Um Meio-docéu em Câncer sugeriria uma vida
predominantemente sentimental, possessividade, apego a unidade da familia e aos
valores do passado. É claro que esses exemplos são super-simplificaçoes. Mas, de
alguma forma, a mae, ou o que o filho experiência através dela, estl

ligada aos atributos do signo que cai no angulo "maternal" do mapa de


nascimento. Não é preciso dizer que não se pode fazer nenhum juizo de valor,
pasitivo ou negativo, sobre o signo do Meio-docéu. Ele é simplesmente um simbolo,
tanto de um complexo como de um modo de experiencia, que a criança absorve
inconscientemente – não sabendo que deixa uma marca sobre ela, modela os valores
que expressará em relação ao ambiente futuro. O signo do Meio-do-céu significa
como o indivíduo gostaria de ser visto pela mãe, ou como ele a ve. Seus valores
sociais, em ultima an8ise, derivam dela, assim como os que dizem respeito aos
reIacionamentos com os outros. O signo do Meio-dowéu muitas vezes também é uma
168

declaragão da lição a ser aprendida através da mãe, do obstaculo que deve ser
tornado consciente para que seja integrado a própria vida criativa. Ou diriamos que o
signo do MC sugere aquela parte da herança materna que também est5 no filho, e
que ele precisa desenvolver para ambos.

A décima Casa tem outros significados, embora todos associados ao arquétipo


da mae, o que sai do ventre da terra e se cristaliza em matéria. A astrologia
tradicional considera a décima Casa um significador da carreira, da realização e do
status na sociedade. Parece estar relacionada com a persona, a mascara de
adaptação social que todo indivíduo dcsenvolve para se mesclar harmoniosamente
com o meio do qual faz parte.

Freqiientemente sugere o tipo de empreendimento no qual o indivíduo se sente


mais feliz, ou o conjunto de atitudes que adota no trabalho.

Geralmente é assim porque o MC define seus valores, os quais, através do seu


trabalho, vai procurar divulgar. Assim, o Meio-do-céu em Leao, através da experiência
da mae, pode precisar aprender alguma coisa a respeito do poder pessoal e da
expressão da individualidade. Em conseqiiencia, o indivíduo procuraria um trabalho
que o envolvesse nas artes criativas, ou o colocasse num posto de responsabilidado
e autoridade. Nessas atividades, expressaria o que aprendeu a valorizar através do
relacionamento com a mae – a experiência da criatividade individual.

ão mesmo tempo, entretanto, ele precisa não esquecer que se pode chegar a
valorizar as coisas da forma dificil, tendo de afirmá-las e valida-las em meio a
oposiqão.

O MC freqiientemente é um ponto muito consciente no mapa, um ponto com o


qual a pessoa rapidamente se identiTica. Muitas vezes a ouvimos defender os valores
do signo quando se descreve aos outros. Como ela adquiriu csses valores,
geralmente não é tão consciente, mas um pouco de investigaqio usualmente revela
algum aspecto do relacionamento mae – filho.

ão contrario do MC, o IC é geralmente um ponto profundamente submerso e


inconsciente do mapa. Simboliza a fonte e as raizes do ser, aqueles elementos que
jazem silenciosamente na base da psique, bombeando seiva para a irvore finalmente
169

florescer no mundo através do Meiodo-céu e dos atributos sociais implicitos no Meio-


do-céu. Talvez os valores do MC sejam freqiientemente os de maior predominio na
vida consciente, mas a fonte espiritual do ser é o Pai, personificado pelo pai, que
confere seu nome e sua linhagem, assim como a estrutura e o apoio que permitem a
familia existir. Existe um mistério a respeito desse ponto sul, que o Sol cruza a meia-
noite no fim de um dia e começo do seguinte. Aqui, o Sol esta no seu ponto mais
baixo, e o ego, enraizado nas forças inconscientes do passado e do futuro. Os textos
ortodoxos chamam o IC de começo e fim da vida; aparentemente, reflete a fonte de
significado profundamente enterrada que nunca é exibida para o mundo, mas que
nutre a identidade por dentro. Assim como o asccndente sempre tem seu signo
oposto no descendente, o MC sempre tem seu oposto no IC. Se a mulheranima-mae
proporciona a chave para a experiencia, o homemanimus-pai proporciona a chave
para o significado além da experiencia, o plano, o proposito, a direção, a semente
desde a arigem até o fim. O signo colocado no IC muitas vezes representa uma
qualidade que o indivíduo procura nos outros – dai sua importância na comparaqio de
mapas – mas que pode, embora com algum esforço, ser encontrada dentro dele
mesmo. É o valor inconsciente oculto que em ultima analise motiva as escolhas feitas
pelo indivíduo aparentemente através de seus objetivos conscientemente aceitos.

Quando existe um planeta colocado na quarta ou na décima Casa, o


relacionamento com os pais imediatamente assume uma importância maior. Tal
colocação sugere que o arquétipo ou impeto psicológico simbolizado pelo planeta em
questão esta, de alguma forma, associado a um dos pais. Pode ser projetado nele,
mas também é vivenciado através dele; a projeção evoca alguma qualidade inerente
ao pai, através do qual o filho apreende uma determinada energia planetaria. Isto se
aplica mesmo quando outros traços de personalidade são mais predominantes na
composição do pai; o que o planeta simboliza é o que exerce a influencia central,
porque é partilhado pelo pai e pelo filho. Em rcsumo, c o ponto de ligação entre eles.
A energia simbolizada pelo MC ou peio IC pode ser inconsciente no pai, e também no
filho. Mas é apenas quando traz essa energia para a órbita de sua experiência
consciente que o indivíduo pode se libertar do cordão unbilical inconsciente que o
acorrenta a seus genitores.
170

O problema é mais evidente, e mais complicado, quando um planeta masculino


(Sol, Marte, Jupiter, Urano) está coloc"-do na ddcima Casa,

ou um planeta feminino (Lua, Venus, Netuno, Plutao) na quarta. Essas


colocaqões implicam que algum componente masculino da psique da mae, ou algum
componente feminino da psique do pai, forneceu o gancho para a projeção do filho; e
dai pode resultar alguma confusão por causa das discrepâncias entre o sexo
psicológico de um dos pais e as qualidades arquetfpicas naturalmente associadas a
ele. O Sol na décima Casa, por exemplo, é uma colocação das mais interessantes,
porque implica muito mais do que honra e sucesso na profissao. Implica que a mãe
pode estar possuida por um impulso de poder, consciente ou inconsciente, e que ela
pode procurar vivenciar seu lado masculino através do filho. E o filho, por seu turno,
pode projetar a sua capacidade de autodirecionamento e autoexpressão na mae ou
em objetos adequados do mundo exterior que simbolizam a mae –, de modo que ele
concorda em vivenciar os objetivos dela, nunca percebendo que deixou de
desenvolver os seus proprios. Esta colocaqão – Sol no MC – freqiientemente ocorre
nos mapas de filhos dos quais se espera que honrem as maes através do sucesso no
mundo. E, muitas vezes, essas crianças vão de fato obter sucesso no mundo, mas
sem perceber por que o desejam tanto. A mesma configuração no mapa pode ocorrer
também quando, no caso de morte ou ausencia da mae, a fantasia inconsciente
assume um poder autonomo. Então a mae pode tornar-se a Mae, e os objetivos do
indivíduo seriam direcionados para a realização de alguma exigencia feita pela figura
composta, semi-arquetípica. O Sol na décima Casa também pode indicar a ausencia
do pai – quando a mae precisa assumir o papel masculino, quer o deseje ou nao.
Como em todos os posicionamentos astrológicos, as circunstâncias especificas
variam, e não existe culpa envolvida. Os problemas simbolizados pelas posiqões que
discutimos podem, por exemplo, existir simultaneamente com um amor muito
profundo. Mais uma vez, é o significado psicológico da colocação, a experiência que o
indivíduo tem do relacionamento com a mae, que importa, e não os fatos ou
circunstâncias. E quando o Sol está na décima Casa, a identidade esta
freqiientemente emaranhada com a da mae. Primeiro, é preciso que o indivíduo se
liberte do cordão umbiIical, descubra seus objetivos no mundo, faça suas próprias
171

escolhas a respeito de sua contribuição i vida. Sornente dessa forma seri capaz de
satisfazer seu desejo mais precioso: tornar-se um indivíduo inteiro, equilibrado e
integrado, que possa expressar-se de forma autenticamente criativa e concretizar o
infinito potencial dentro de si.

Outra colocação muito significativa, freqiientemente causadora de enormes


problemas, é Satun o na décima Casa. Nesse caso, a sombra, o componente sombrio
inferior da psique, esta de alguma forma associada

a mae. Ela pode, então, vir a simbolizar restrição, dor, rejeição, frustração ou
perda do tipo que inibe a expressão do indivíduo e lhe nega a dádiva da fé ou da
confiança em seu próprio destino. Quando Saturno esta colocado na décima Casa,
freqiientemente existe um elemento destrutivo no relacionamento mãe – filho. Como
Saturno esta ligado a frustração, a cristalização, a atrofia e a constricao, muitas vezes
existe algum componente da natureza do indivíduo que foi "capturado" na infância,
minando subseqiientemente sua confiança em si e sua capacidade de criar uma
realidade significativa. Uma análise estatistica dos mapas de homossexuais
masculinos mostra uma freqiiência suspeita de Saturno na décima Casa. Precisamos
lembrar, entretanto, que essa colocação não "causa" a homossexualidade; em vez
disso, indica alguma coisa sobre a maneira como o indivíduo vai se relacionar com as
mulheres e com o elemento feminino, matizado peia experiência interna que tem da
mae. Se um homem experimenta Saturno através de sua mae, o lado sombrio de sua
própria personalidade pode se fundir com a sua imagem matema. Pode, então,
parecer que ela o "restringiu", o "rejeitou", o "emasculou", "tornou" dificil para ele
sentir-se parte da sociedade. Talvez ele se torne dejmesuradamente ambicioso,
embora, no intimo, temeroso e cheio de duvidas sobre si, constantemente avaliando a
si mesmo, assim como a suas capacidades e limitaqões,através do que pensa serem
os ogos de sua mae. Aqui, também, não se pode atribuir culpa; o problema résultou
de um esforço de colaboração. Mas o indivíduo precisa tomar-se consciente de sua
escravidao, precisa libertar sua projeção do que foi vivido à sua volta. Uma vez feito
isso, ele pode desenvolver seu próprio senso de apoio e de força interior – também
uma faceta de Saturno –, sem depender inconscientemente da mãe.

Um problema muito diferente é refletido por Netuno na décima Casa. Quando


172

ocorre essa colocação, a mae pode ser vivenciada como a martir, o sacrificio – e ela
pode alimentar essa projeqão demonstrando excessiva passividade e auto-
abnegaqão. Assim fazendo, ela pode provocar um profundo sentimento de culpa, ou
de obrigação inconscicnte, no filho, para quem aparentemente "deu tanto". Em
conseqiiencia, o filho viria a idealizar a mae, a ve-la como perfeita e a coloca-la num
pedestal. Alternativamente, ele poderia tornar-se seriamente desiludido; sem
perceber, culparia a mãe por não alcançar a perfeição que sua própria culpa atribuiu a
ela. Por isso, talvez acabasse desprovido de direção ou proposito, vagueando sem
rumo de uma carreira a outra, sem nunca perceber que fcz consigp mesmo o
sacrificio que atribuia a ela. Quando Plutão esta colocado na décima Casa, a
experiência da mãe
l é frequentemente investida de aIgum elemento da devoradora, da destrui dora arquetfpica, do dragão que possui o
filho e exerce um poder tiranico absoluto. Não é incomum que alguma coisa dentro do filho "morra" ou, em outras palavras,
fique inconsciente : sua própria capacidade de transfonnação, sua capacidade de aceitar e se adaptar as mudanças ciclicas que

ocorrem durante a vida. Ele pode ter um medo profundo da morte, da mudanr,a, e –
aberta ou inconscientemente – procurar o poder no intuito de se preservar. Da mesma
forma, a experiência da mãe vai estar ligada a poder, controle, posse e submersão de
si, freqiientemente vinculada a extrema submissão ou escravidão no nivel
sentimental. Correndo o risco de supersimplificar, podcmos dizer que Mercurio liga a
experiência da mae com a vida da mente, com o entendimento, com a critica negativa
ou com ambos; Venus liga a imagem da mae com o ideai feminino, a Hetaira, que
pode provocar ciume na filHá e adoração no filho.

Urano, vigoroso e disruptivo, pode indicar alienação, separação ou rebelião


violenta no relacionamento com a mae, a necessidade de o indivíduo se tomar livre e
expressar sua individualidade. Marte, deus da guerra, liga a experiência da mae a
vontade e desejo, agressão e dominio. E a Lua no ângulo materno sugere uma
ligaqão profunda e instintiva, que pode unir a vida sentimental inconsciente do filho a
da mae e compeli-lo a expressar os valores sentimentais dela como se fossem dele.

Essas são analises muito breves de situaqões terrivelmente complexas.

Quando hi mais de um planeta na décima Casa, a questão se torna ainda mais


complicada – e também é preciso levar em consideraqão os aspectos que esses
173

planetas formam com outros. Os mesmos principios se aplicam, é claro, aos planetas
na quarta Casa, exceto que estes refletem a experiência do pai e não da mae. Em
conseqiiéncia, eles emprestam uma coloragão completamente diferente a situação,
em virtude dos papéis diferentes demmpenhados por cada um dos pais no
desenvolvimento do individuo. No fim das contas, é preciso investigar as colocaqões
de planetas na quarta e ia décima Casas através da própria experiência pessoal. É
preciso lembrar, :ntretanto, que as circunstâncias que cercam os pais são só metade
do quairo. É principalmente a vida inconsciente dos pais – aquilo que não expresam
tanto um ao outro como ao mundo a sua volta – que a criança experinenta nos seus
primeiros anos. A presença de um planeta na quarta ou na lécima imediatamente
focaliza a atenção num laço parental. Esse laço não precisa necessariamente ser
negativo. Todos esses laços, além de tudo, são significativos e levam o indivíduo a
uma maior compreensão de si mesmo.

4as precisamos estar conscios das indicaqões de que alguma parte da psique do
indivíduo está ligada a um dos pais, e que ele precisa se tornar consciente dos
aspectos mais profundos do relacionamento, se quiser reivindicar aquele pedaço
crucial de si mesmo. Todos nos temos pais, e nunca houve nenhum que fosse
perfeito. Se um determinado indivíduo desenvolve um enorme complexo, uma intensa
identificaqio ou um espectro de reaqões emocionais altamente carregadas em relação
a um dos pais, a responsabilidade reside tanto nele como nos pais. As duas metades
da equago nunca podem ser separadas. Também não se trata nunca de uma questão
de "erro", por mais brutal que tenha sido a experiência parental. Por um lado, pode-se
argumentar que não se deve gerar um filho para maltrata-lo; mas esse argumento não
leva em conta o problema generalizado da inconsciência das pessoas. Precisamos
ser cautelosos na atribuição de culpa. só se pode irabalhar o que foi estragado.

Além de indivíduos, a mae c o pai são as personificaqbes dos arquétipos. Para a


pessoa em crescimento, eles proporcionam, assim, a oportunidade de obter uma
compreensão mais profunda de algum aspecto de determinada energia planetaria,
que ela podera, no final, incorporar à sua vida consciente. A ausencia de planetas na
quarta e na décima Casas sugere uma identificaqão menos direta dos pais com o
arquétipo. Nesse caso, os pais ficam associados a área da vida simbolizada pela
174

Casa na qual está colocado o regente do MC ou do IC. Por excmplo, se Virgem está
no Meio-do-céu mas não Há planetas na décima Casa, é preciso considerar Mercurio,
regente de Virgem, e sua colocaqão no mapa. Se Mercurio está na segunda Casa,
que reflete as atitudes do indivíduo em relação a estabilidade, seguranca,
durabilidade e sua permanencia na vida, sua experiência da mae vai estar ligada a
esses valores. Ela pode, por exemplo, sustentar o filho mesmo adulto; ou os valores
dela em relação as coisas materiais podem tornar-se parte da escala de valores
consciente dele. As possibilidades são infindiveis. Além do mais, os aspectos entre a
regente do Meio4o-céu e outros planetas também precisam ser levados em
consideração. Eles vão sugerir de que forma a experiência da mae é "digerida" pelo
mapa como um todo – com facilidade ou com c.onQito.

Juntamente com o testemunho do meridiano c de seus dois angulos, é preciso


considerar o Sol e a Lua – seus signos, suas Casas e especialmente seus aspectos
com outros planetas. A diade Sol-Lua simboliza o equilibrio do masculioo e do
feminino dentro do individuo, no sentido mais amplo. Assim, sua colncação no
contexto do rnapa vai refletir as suas atitudes, experiências ou imagens especificas
do masculino e ieminino. ao mcsmo tcmpo, o Sol e a Lua nf.o paxecem estar tio
intimamente associados as circunstincias reais quanto o MC e o lC;. estão mais
ligados ao mvel mais profundo da interpretação que o indivíduo faz de masculino e
feminino, na medida em que vive esses opostos em sua vida. O Sol em conjunção
com Urano, por exemplo, indica mais coisas sobre o pai que o indivíduo personifica
do que sobre o pai que teve; e, embora se possa projetar o primeiro no segundo, a
origem esta dentro de si, vem de sua própria substância. A Lua em conjunção com
Saturno indica mais do que o tipo de mãe que se teve. Implica o tipo de mãe que se
é, a despeito do sexo. A imagem interior do maternal, do feminino, vive no indivíduo e
seus atributos são simbolizados pelo signo, Casa e aspectos da Lua. Esses são os
valores sentimentais, esta d a anima, 8 a interpretação do mito da Mae que existe em
todos os seres humanos. Novamente, pode-se projetar isso na própria mãe, mas a
substincia da projeção esta na própria pessoa.

Esses mecanismos freqiientemente são inconscientes, embora algumas vezes


muito evidentes para os outros. Ouve-se uma pessoa com Saturno, Urano ou Plutão
175

na décima Casa proclamar como sua mae é maravilhosa, e como é esplendido o


relacionamento que tem com ela. Pode ser que ela seja mesmo maravilhosa. Pode
ser tambdm que ela o ame. Também pode não haver nenhum traço de "mau"
reiacionamento. Entretanto, pode existir uma questão de poder, e de quanto poder a
mãe maravilhosa exerce – deliberadamente ou não – sobre a psique do filho. Ou uma
questão de quanto de sua escala de valores, de sua identidade, de sua atitude em
relação às mulheres dentro dele e a sua volta é afetada pela marca dela. E
geralmente a questão é quanto tempo vai demorar até que ele torne essa marca
consciente, de modo que possa reivindica-la, reintegra-la e torna-la realmente sua.

Como o estudo dos pais no mapa de nascimento é uma matéria complexa,


podemos esclarecer alguns pontos por meio de um exemplo. Quando se procura
compreender coisas assim profundas, não se pode dar um guia definitivo passo a
passo para a correta interpretação do mapa. As palavraschave nos falham, e para
decifrar os simbolos centrais do meridiano e dos planetas é preciso basear-se no
testemunho do indivíduo – verbalizado ou não – assim como no próprio entendimento
intuitivo. É impossivel ser literal. A interpretação de mapas é uma arte, estribada tanto
na própria sensibilidade, no nivel de sentimento e intuição, como no enunciado de
principios lógicos.

A melhor forma de começar é com o mapa de uma pessoa e de um dos seus


pais. A imagem que se tem do pai, em primeiro lugar, deve ser comparada com o
temperamento inerente refletido pelo mapa do pai, e o resultado deve proporcionar
muita compreensao. Essa compreensão, por si mesma, não vai resolver nenhum
problema. Pode, entretanto, constituir um guia valioso e esclarecedor.

k Howard, cujo mapa mostramos a seguir, é um homem dotado de brilhantes


capacidades intelectuais e uma notavel facilidade de expressão verbal. Como
professor de filosofia numa renomada universidade, e autoridade reconhecida no
assunto, tem amplas oportunidades de utilizar seus dons intelectuais na carreira. Na
estrutura academica, ele sempre atingiu facilmente seus objetivos. Sendo altamente
diferenciado tanto no reino do pensamento como da intuiqão, consegue rapidamente
estabelecer ligaqões,sintctizar idéias e jogar com os sistemas como um malabarista,
fazendo-os parecer filosofica e psicologicamente relevantes. Assim, ele assegura seu
176

sucesso profissional, e sua função de sensação subdesenvolvida o torna indiferente


ao muado dos objetos. Em conseqiiencia, ele não se preocupa indevidamentc com
suas acomodaqões,roupas e outras coisas "mundanas".

Seu salario, superior as suas necessidades, é gasto prodigamente.

Howard é o produto de uma familia suburbana de classe média, sujeita as


press5es tipicas no sentido do conformismo. Sua mae era uma mulher extremamente
inteligente que se sobressaiu na área academica, obtendo um diploma universitário
tres anos antes de seus colegas – e numa época em que tais feitos eram sumamente
raros entre as mulheres.

Ela mesma era o produto de uma culta familia do continente, com um grande
numero de musicos, compositores e artistas na irvore genealógica do pai. Em vista
disso, ela decidiu esquecer os antecedentes da mãe, de operirios de classe mais
baixa. Sua maior ambiqão era dar ao filho a melhor educação possivel, e em seguida
ve-lo reconhecido no mundo academico. Isto compensaria a carreira que ela havia
abandonado quando assumiu a responsabilidade de criar uma famxlia. Dotada de
muitos talentos, mas nunca tendo permitido que eles fossem desenvolvidos, buscava
concretizar seu potencial não vivido através do filho bem-dotado.

O pai dc Howard, por outro lado, amHá de uma familia de trabalhadorcs. Na


juventude, parecia um tanto promissor no campo academico, mas sua farnilia não
dispunha de meios para proporcionar-lhe a educaqão que provavclmenie merecia. Em
conseqiiencia, veio a desconfiar de suas faculdades intelectuais e rejeitou-as,
tornando-se profundamente introvertido e se sentindo mais à vontade no mundo do
artesanato e dos artesãos do que no mundo da mente. Quando Howard nasceu, ele ji
sentia uma imensa satisfaqão em atividades como a carpintaria e o trabalho com
madeira. Não é de surpreender que o casamento fosse um desastre, uma ligação
exaustiva e paralisadora, como a de dois cervos com os chifres amarrados.

Diante dos problemas financeiros, a mae de Howard se apegava mais


tenazmente a suas credenciais academicas. Sem parar, ela as jogava na cara do
marido, nunca o deixando esquecer que não tinha instrução e era intelectualmente
inferior a ela. Ele, por seu lado, retirava-se cada vez mais para dentro de si,
177

intimidado e perdendo a autoconfiança. No seu desespero crescente, ele entrava em


negocio após negócio, tentando em vão provar ser um chefe de familia responslvel, e
a cada sucessivo fracasso era objeto das criticas e do desprezo da mulher. Isso levou
ainda mais longe o seu impulso erático, então oculto mas poderoso, distorcendo-o
como uma propensão dormente, latente, para a violencia. Na época em que Howard
precisou dele, ele já estava muito voltado para si mesmo para que pudesse ter um
relacionamento valido com o filho.

Howard, assim, cresceu num ambiente de fulminante frieza e eriçada hostilidade,


nunca vendo seus pais demonstrarem qualquer afeto um pelo outro. Além de tudo, os
dois brigavam por causa dele e por causa da maneira, como deveria ser criado.
Projetando seus sonhos de sucesso material no filho, o pai Howard insistia que a
disciplina e o trabalho duro eram os pré-requisitos da condição de homem. A mãe de
Howard, por outro lado, obcecada pelas fantasias do que o filho deveria ser,
enfatizava a realização academica e o premiava com dinheiro. Nem ela nem o marido
proporcionavam sentimentos ao fQho – somente aprovação ou censura, traduzidos
como dinheiro dado ou negado.

Absorvendo inconscientemente a brutal antipatia entre os pais, Howard fugiu


dcla dissociando-se de sua vida sentimental. Para neutralizar a atmosfera destrutiva a
sua volta, ele demonstrava crcscente suscetibilidade a doenças – asma, sinusite,
problemas de estomago, até pneumonia, do que ele quase morreu. Essas doenças,
pelo menos, despertavam alguma demonstraqf.o do calor e solicitude, alguma
manifestacão de sentimento que ele não conseguia obter de outra forma.

Adulto, Howard descobriu que realmente não conseguia experimentar o


sentimento como uma realidade. Existia uma frieza dentro dele, um desinteresse em
relação aos outros. Isso o forçou a vestir seus relacionamentos de uma qualidade
calculista, o que o impossibilitava descontrair-se, divertir-se ou desfrutar uma
experiência sem dissecar tudo. Para proteger-se da dor emocional e do profundo
senso de inadequação que o corroia, aplicava o intelecto aos sentimentos, esperando
assim controlá-los e subordinalos a sua vontade. Não é de surpreender que sua vida
romantica fosse crivada de decepqões; sua função sentimental indiferenciada tornava
dificil, se afo impossivel, abrir-se e correr o risco da vulnerabilidade que isso
178

acarretaria. Portanto, ele veio a contar cada vez mais com o seu penetrante intelecto,
com o qual descobriu que sempre podia impressionar os outros, em especial certo
tipo de mulher. ao mesmo tempo, ele fugia das mulheres que estavam em pé de
igualdade com ele. Pelo contrario, voltava-se para aquelas que exibiam um ardor
tempestuoso, uma instavel imprevisibiTidade, uma resposta instintiva e irracional as
nuanças das situaqdes; e, através dessas qualidades, procurava compensar suas
próprias inibiçoes. Essas mulheres invariavelmente lhe causavam sofrimento,
colocando-o sempre no papel do professor Rath, enamorado de Lola Lola. Como
mais uma trin-.

cheira contra qualquer ameaça à sua natureza sentimental, Howard


constantemente se envolvia com mulheres casadas. Elas eram "seguras": sua
situação limitava o relacionamento; de saida, estabelecia fronteiras predeterminadas,
e assim o isentava de um compromisso sério que ele poderia não querer assumir.
Embora fosse capaz de ter sentimentos profundos, não confiava neles e, para
neutralizá-los, constantemente os submetia a clara luz de sua fria inteligencia. A
despeito do seu brilhantismo e do interesse que despertava nos outros, seu mundo
interior era de intensa solidao. Para fugir, ele mergulhava cada vez mais
profundamente em abstrusos tratados filosoficos. Quando não forneciarn resposta às
suas necessidades interiores, ele procurava distrair-se com televisão e romances
populares sobre crimes.

Em deferencia is ambiqões da mfe, Howard se engajou na carreira academica e


rapidamente conseguiu um sucesso atras do outro. Em pouco tempo distinguiu-se
nos circulos universitarios por causa de seus lucidos comentarios sobre grandes
filosofos do passado. Ainda na casa dos vinte, publicou dois Iivros, que foram alvo de
generosos elogios da critica, e aos trinta anos recebeu a chefia de seu departamento
na universidade. Howard, entretanto, não estava satisfeito; estava cansado de
analisar o pensamento dos outms, e ansiava produzir algo genuinamente seu. Muitas
e muitas vezes relia as obras de Nietzsche. Seu sonho era publicar uma obra que
articulasse sua visão da realidade com a mesma inteasidade apaixonada, a mesma
urgencia vital, a mesma energia dinhnica do filosofo alemao.

Sem saber, estava procurando, por meio desse projeto, xestabelecer a ligação
179

cortada com o seu inconsciente e com sua natureza sentimental gravemente


danificada. iMas quando começou a obra, sua prosa não fluia, não tinha a qualidade
orginica que ele desejava. Em vez disso,erabem fundamentada, frase por frase,
cuidadosamente estruturada, brilhantemente burilada, infalivelmentc correta,
entretanto um pouco arida e desprovida de vida.

E embora sua estrutura de idéias satisfizesse os padrões da critica mais rigorosa


e escrupulosa, deixava de proporcionar o elo com sua vida interior conforme ele
esperava. Além disso, no decorrer do projeto, tinha periodos recorrentes de
esterilidade, interrompendo o trabalho. De vez em quando, um relacionamento com
uma mulher disparava uma nova onda de criatividade. Assim que isso ocorria,
entretanto, Howard se retraia, recuando diante do compromisso com um ser humano
real e preferindo prodigalizar seu afeto a imagens de fantasia – imagens que ficavam
além dos limites que ele estabelecia para o relacionamento. Previsivelmente,
nenhuma dessas ligaqões superficiais conseguia romper a carapaça em que ele havia
se metido; nenhuma delas podia leva-lo ao reino ao qual procurava chegar, o reino
que lhe teria permitido o acesso à fonte coletiva de inspiração.

Howard repudiava principalmente as mulheres orientadas para o sentimento, que


desdenhosamente dispensava por serem "melosas" e sentimentais. ao mesmo
tempo, sua imagem oculta das mulheres se encaixava nesse tipo: sufocantes,
sentimentais, encharcadas de emoção insipida e futil, incapazes de participar do seu
mundo de idéias grandiosas. Quando lidava com mulheres que personificavam essa
imagem, Howard era capaz de uma crueldade fora do comum. O que ele deixava de
perceber é que sua crueldade era dirigida, na realidade, contra sua mae e contra um
aspecto da figura da anima dentro dele.

A função de sensaqão de inferioridade de Howard levou-o não só a inibiqões nas


relaqi5es sexuais, mas também a dificuldades com sua saude.

Era constantemente vitima de resfriados, gripes, dores estomacais, dores de


cabeça e sinusite. E alguma coisa dentro dele realmente parecia convidar essas
doenças. De fato, parecia inconscientemente inclinado a destruir seu corpo através de
todos os excessos disponiveis, inclusive alcool, cigarros e uma impressionante
180

variedade de drogas, legais ou nao. E, se demonstrava irresponsabilidade em relação


a si mesmo, demonstrava irresponsabilidade ainda maior em relação ao seu dinheiro,
esbanjando enormes quantias em bagatelas, constantemente fazendo dividas,
soltando cheques como se fossem bolinhas de papel. Para o observador, entretanto,
nada disso era evidente. Tudo estava escondido atras do brilho de suas idéias, da
sua cintilante apresentação de conceitos em livros e conferencias. Em resumo, as
pessoas ficavam tão fascinadas pela mente de Howard, que não conseguiam ve-lo;
assim, não é de surpreender que o ser humano escondido dentro dele começasse a
desejar um pouco de calor pessoal. Quando finalmente consultou um astrologo, fazia
algum tempo que não se envolvia com nenhuma mulher e sua energia criativa estava
quase estancada. Em conseqiiencia,

começou a se preocupar. Apesar de versado na teoria psicológica, ele não


conseguia passá-la para a pritica, aplica-la a si mesmo.

Virios pontos importantes são sugeridos pelo mapa de nascimento de Howard. O


agrupamento de planetas em Leão na quinta Casa, da expressão criativa, reflete sua
intensa necessidade de se realizar através do empreendimento criativo. O predominio
de fogo no mapa – o Sol em lefo e o ascendente em Áries – sugere a poderosa
intuição, qualidade predominante entre os dotes mentais de Howard. Mercurio em
conjunção com Venus em Virgem na Casa de Virgem, a sexta, sugere o bisturi
analitico de seu intelecto; Saturno em Gêmeos na terceira sugere a estruturação e a
sutil diferenciaqão das idéias, assim como a dificuldade em expressar ou entender
qualquer coisa que não possa ser conciliada com seus andaimes intelectuais. A Lua
em Peixes, escondida na décima segunda Casa, a unica agua do mapa, indica como
sua natureza sentimental é profundamente inconscierrte, vulneravel, como esta
isolada e se retrai precavidamente nos seus relacionamentos. Além disso, a Lua faz
uma oposição i conjunção Venus-Mercurio. Isto implica que a constante avaliação
critica dos relacionamentos feita por Howard se opoe a seu anseio de se perder no
fluxo de sentimentos que esses mesmos relacionamentos podem liberar.
Inconscientemente, ele aspira se perder no outro; conscientemente, entretanto, tem
pavor de sair da torre de marfim de suas idéias, em cuja segurança trabalHá e vive.
Venus em quadratura com Saturno sugere o problema que Howard vivencia na
181

expressão dos sentimentos. Também sugere isolameato, medo da rejeiqão, a


sensação de ser naoquerido e nao-amado, a relutância em se permitir a exposição
emocional ao outro. Como um tipico Leao, Howard tem poderosos ideais, e se
orgulHá de um alto senso de lealdade, integridade e honra nos relacionamentos.

Mas essas virtudes muitas vezes são apenas conceitos abstratos para ele, que
não consegue sempre expressa-las na hora certa. Com as mulheres, as vezes é um
pouco menos que honrado.

Esse é um esboço bastante tosco dos temas dominantes no mapa natal de


Howard. Como nosso assunto é o relacionamento parental, precisamos agora
perguntar que pistas o mapa de Howard pode fomecer sobre sua mãe, que
influenciou sua vida de forma poderosa, freqiientemente destrutiva e totalmente
inconsciente.

O signo no Meio-docéu do mapa de Howard é Capricornio, sugerindo que a


autoridade, a estrutura, a ambição, o status e a realização material são os temas
dorninantes no relacionamento com a mae. Isto é confirmado, sem duvida, pelo fato
de a mfe de Howard ve-lo basicamente como realizaqão de suas próprias ambiçoes.
Ela queria status, e queria desesperadamente. Mesmo se esforçando, ela nunca
conseguiu realmente esquecer que a sua própria mae era produto de um cortiço.
Assim, as realizaqões do filho eram imediatamente apregoadas aos vizinhos, amigos
e colegas de trabalho; o filho dela tinha obtido o titulo de doutor, ganho um premio
academico, publicado um livro altamente elogiado, e todos esses feitos, de alguma
forma, ressoavam para maior glória dela, como se os tivesse executado.

Que ela amava Howard esta fora de duvida, mas existe amor e amor. Além de
tudo, Capricórnio no Meio4o-céu do mapa de Howard sugere que ele era
particularmente receptivo a esse aspecto de sua mãe, e tendia a não registrar
quaisquer outros. Ela nunca se perguntou se Howard realmente queria realizar o que
ela julgava tão importante; simplesmente tomava isso como certo. Também tinha
como certo que ele gostava de ser exibido, e essa suposição não tinha fundamento.
Embora tipicamente leonino na sua necessidade de aceitação e admiração, Howard
foi um menino timido que se tornou um homem timido, sensivel, abrigando fantasias
182

romanticas secretas, intensamente autoconsciente das apariqões publicas que o seu


sucesso acarretava. Isto nunca ocorreu a mae. Depois de algum tempo, também não
ocorreu a Howard. O Leio, se não consegue atingir a auto-estima, freaiientemente
tenta obter a estima dos outros. Para não fazermos um julgamento muito severo,
eatretanto, diremos que, através da mae, Howard tornou-se capaz de disciplinar seu
intelecto e usa-lo para conseguir algo que constituiu uma contribuição valiosa e
importante. Seu trabalho filosofico e suas aulas eram esclarecedoras e inspiradoras
para alunos e leitores. Ele era capaz de acender a mente das pessoas com quem
tinha contato, e sua preguiça natural – refletida talvez por Marte, regente do mapa
(Áries no ascendente) em Touro – era neutralizada pela inQuencia da mac. Isso o
impelia a utiTizar produtivamente seus dons.

O regente do Meio-do-céu, Saturno, esta colocado em Gêmeos, na terceira


Casa, da educação e do desenvolvimento intelectual. 8 um claro reflexo do que
significava para Howard o relacionamento com a mae.

Tanto os aspectas claros como escuros dessa colocação são evidentes: no rigor
e profundidade de sua mente, e na sua falta de capacidade de valorizar outra coisa.
Em algum lugar dentro de si, sem duvida, Howard tinha um profundo senso de
inadequação – impossivel de evitar quando se espera que a gente seja sempre um
genio. Parte do seu desenvolvimento intelectual, assim, provavelmente envolveu uma
espécie de compensaqão, como muitas vezes é o caso com Saturno. E poderiamos,
com razao, suspeitar que o lado sombrio da psique de Howard revelasse uma pessoa
completamente comum, nao-intelectual, talvez desarticulada, convencional, um
"filisteu", eminentemente humano. Isso nos lembra imediatamente o pai

de Howard, como era considerado pela esposa. Tendo presenciado o que I


a mae fez com o pai, Howard não ousava permitir-se o luxo de ser humano e
expressar a estupidez hvmana comum.

As quadraturas de Saturno com Venus e Mercurio expressam mais uma coisa


importante sobre o relacionamento com a mae. De alguma forma, esse
relacionamento constitui um obstaculo para o desenvolvimento não apenas da vida
sentimentaI de Howard (os valores refietidos por Venus), mas também do seu
183

desenvolvimento mental (conforme reQetido por Mercurio). Preso as teorias e


elaboraqões intelectuais sugeridas por Saturno em Gêmeos, eIe nunca conseguia
expressar realmente Mercurio – que, estando em Virgem, signo de terra, é
naturalmente inclinado para a experiência concreta, terrena, e procura a reaIização
em rituais e contingencias da vida diaria. O trabalho, de qualquer feitio ou forma que
não fosse o pensamento e o ensino, era um anatema para Howard. Não apelava ao
seu senso de charme intelectual, sendo portanto aviltante e a ser evitado a todo
custo; e essa atitude, é claro, é intensificada por Leao, que faz seu senso de orgulho
pesar na questao. Colocado em Virgem, Mercurio é basicamente modesto. Através da
Iabuta tranqiiila, do esforço assiduo e da modéstia, ele tenta usar seu dom do
refinamento, da discriminação e da destilaqão da experiência para estabelecer
contato com a vida comum. Mas nenhum dos pensamentos de Howard, na realidade,
diziam respeito diretamente a vida. Em vez disso, compunham uma sofisticada
hipotese sobre a vida, e Howard nem sempre era capaz de perceber a diferença.
Incapaz de utilizar a terra do seu mapa, a sua filosofia, quando tentava expo-la, não
atingia aquela corda no leitor que vibrava em consonaacia com a verdadeira
experiência arquetípica. As pessoas não podiam dizer: "Isso é verdadeiro para mim,
porque é humano." A Lua em Peixes sugere a imagem inconsciente que Howard tem
da mais profunda experiência arquetípica de mae e anima. Simbolizada por Peixes, a
Mão é a dadiva total, o sacrificio total, o amor total, devotada, f altruista, sensivel,
sentimental e redentora. 8 inteiramente possivel que a mae de Howard pudesse ter
personificado algumas dessas qualidades; todo ser humano provavelmente
personifica algumas delas. Mas ela não expressava essas qualidades em sua
personalidade, a não ser pelo sacrificio financeiro que fez para mandar Howard para a
universidade, e mesmo esse sacrificio foi contaminado por suas emoçoes. Além de
tudo, é de se duvidar que Howard tivesse reconhecido as qualidades piscianas
mesmo que sua mae as tivesse manifestado, ja que, por causa de sua própria
composição psiquica, ele projetava neIa a figura de Saturno. A anima em Howard é
poeta, sonhadora, mistica, romantica e idealista. Esse é o arquétipo cuja profunda
fonte de sentimento coletivo ele precisa abrir para que seu trabalho e seu
pensamento tenham vida e falem imediatamente a sua audiencia. Mas entre Howard
184

e sua experiência do arquétipo fica a mae – e ele não pode ultrapassar ou evitar esse
obsticulo enquanto não se tornar totalmente consciente do dano feito a sua própria
natureza sentimental. Quanto a isso, ele se sente relutante, continuando, ao contrario,
a agravar o dano, recusando a se relacionar com seus sentimentos a não ser através
do intelecto. Existe muito da mae de Howard em Howard, e seus valores conscientes
tornam ainda mais dificil construir uma ponte entre ele e a fonte de inspiraqão que
procura. Ele está devotado ao mundo do pensamento e se ve como um filosofo, no
sentido classico do termo. Nada que não possa ser abrangido pela orbita desse ideal
é real para ele. Como não consegue admitir as experiências que envolvem o simples
ato de viver, ele perpetua a dissociação entre seu pensamento e a vida – uma
dissociação que freqiientemente condena nos outros, sem nunca perceber que ele
mesmo a pratica.

Um exame do mapa da mae de Howard fornece mais material interessante. Por


causa do Sol conjunto a Plutão em Gêmeos no Meio4owéu geminiano, poderiamos
esperar que ela possufsse um poderoso impulso masculino – ligado, talvez, a sua
própria experiência com a mae e suas respectivas carencias –, assim como um
imponente e arrogante poder pessoal. Isso pode ser tanto transformador quanto
destrutivo. Com esse par de poderosos planetas no MC, a mae de Howard se
identifica com o principio masculino e procura sua identidade através do
reconhecimento no mundo, subestimando o feminino e sua vida sentimental. Seu
ascendente em Virgem, outro signo regido por Mercurio, sugere que seu intelecto é
altamente desenvolvido; e Mercurio na nona Casa sugere que o refinamento e a
discriminaqão de sua natureza são dirigidos para canais "cultos", educação superior,
aspiração espiritual. Suas dificuldades no relacionamento são refletidas pela
conjunqão de Venus e Saturno na oitava, e aqui está um exemplo da "herança" de
substância que comumente vemos nos relacionamentos familiares. É como se
Howard, tendo um certo problema dentro de si, tivesse escolhido uma mãe com um
problema semelhante, e como se a sua mae o tivesse escolhido. Eles são da mesma
substância, e um fere o outro por causa dc um medo da vulnerabilidade nós
relacionamentos pessoais. O pai de Howard, entretanto, que tem o Sol em Aquirio e a
Lua em Virgem em oposiqão a Saturno, também tem uma conjunção VenusSaturno.
185

É como a maldiqão da Casa de Atreu – um grupo de pessoas, com grandes dotes


intelectuais e artisticos, se brutalizam reciprocamente no nivel sentimental porque
todas tem o mesmo problema. E cada uma poe a culpa na outra por suas
dificuldades.

O elemento agua no mapa da mae de Howard talvez devesse ter sido I


desenvolvido, mas ela esta de tal forma sob o dominio do animus, que ele
permaneceu indiferenciado e inconsciente, e se manifesta como sentimentalismo. A
mae de Howard é a mais infeliz das criaturas, um tipo sentimento manquée, uma
mulher basicamente sensivel e emocional que violou sua própria natureza. 8 gentil
com cachorros e crianças, como se seus sentimentos tivessem sido congelados num
molde estereotipado, mas completamente insensivel aos sentimentos dos outros.
Despreza as pessoas "abertamente emocionais" e "impulsivas", e suas emoqões
poderosas e reprimidas encontraram expressão numa variedade de sintomas fisicos
desagradáveis – desde pressão alta até uma vesicula cronicamente desarranjada.
Também é solitiria, acHá dificil fazer amigos, e se pergunta por que os outros rejeitam
o que ela diz ser seu amor e seus sacrificios. Com a firme convicqão de que o
objetivo da mulher na vida é ser mae (uma olhada em Urano, sfmbolo da
independencia, na quinta Casa, ligada aos filhos, implica outra coisa, mas dificilmente
ela seria consciente disso), ela tentou expressar seus planetas Câncerianos da forma
convencional; mas não os expressou com a gentileza e a sensbilidade caracteristicas
de Câncer na sua face melhor e mais diferenciada. Como esses planetas estão
opostos a Urano, além de tudo, seu poderoso animus – a criatividade que ela nunca
vivenciou – sempre interferia, tomando-a possessiva, arrogante, critica, apegada,
exigente e secretamente ressentida por ter sua vida "arruinada", reduzida a ser uma
mera mulher. E ela era mestra na manipulação através da chantagem emocional. Sua
necessidade de cuidar e ser cuidada era distorcida por sua ansia de poder, e ela não
conseguia dar nada sem amarrar cordinhas ao presente. Profundamente desiludida
com o casamento, atribuia a falta de amor ao marido. Ele não ousava contradize-la.
Antes de conhece-la, havia amado outra mulher, casando-se com a mae de Howard
no refluxo; como acontece com algumas pessoas, tinha se dado todo, tinha esgotado
seu estoque de amor. Não tinha sobrado nada que pudesse dar.
186

Vale a pena examinar os contatos entre os mapas de Howard e de sua mae. A


conjunção Sol-Plutão dela cai sobre o Saturno dele, o regente do Meio4o-céu. Isso
sugere que, apesar da imagem totalmente negra que o filho tinha dela, ela era, de
fato, um gancho perfeito para a sua projeção.

Para a mae de Howard, o desenvolvimento intelectual era um veículo para a


ambiqão e, quando levava a esse fim, constituia uma fonte de alegria; para Howard,
entretanto, era o oneroso cumprimento de uma obrigação e uma responsabilidade,
um dever imposto a ele. Como não conseguia identificar-se genuinamente com isto,
odiava a mae por causa de suas pretensões, esquecendo-se de que eram
verdadeiramente necessárias e significativas para ela. Tampouco conseguia perceber
que, para ela, uma geminiana, o conhecimento em si não é para ser levado a sério,
mas sim usado como uma chave para a popularidade e o contato com os outros.

Quando ela demonstrava menos interesse por seu pensamento do que pelo
prestigio que isso lhe conferia, ele se sentia traido. Parecia-lhe uma hipocrita que o
tinha coagido para atividades que ela acreditava serem intrinsecamente desprovidas
de valor. Em outras palavras, ele estava projetando sua sombra nela.

O mapa da mae de Howard tem total ausencia de fogo. Assim, ela não
conseguia se relacionar com o elemento intuitivo do filho; achava que seu idealismo e
sua indiferença pelos assuntos mundanos eram tolice e falta de praticidade. Para ela,
a filosofia era um meio para um fim, uma pedra de construção da segurança
financeira e material. Tendo passado pela depressão econômica e por duas guerras
mundiais, a mKe de Howard dava enorme valor a essa segurança. Howard, criança
no pos-guerra, não conseguia entender suas obsessões. Como o dinheiro não era
importante para ele, não via razão nenhuma para que ela não o ajudasse a pagar
suas constantes dividas, e recorria a ela sem remorso algum. É como se ele estivesse
dizendo: voce nunca me deu nada a não ser dinheiro – e vou sugar o seu dinheiro
para o resto da vida. Pague, e pague mais.

É evidente que Howard está inconscientemente preso a mae por laços mais ou
menos destrutivos. Embora more em outra cidade a uma distância relativamente
curta, ele tenta afirmar sua independencia – e alardea-la na frente dela – visitando-a
187

apenas uma ou duas vezes por ano.

Contudo, o fantasma dela ainda persegue sua psique. Isso toma as coisas
dificeis para ele no mundo material, incessantemente jogando-o de volta a mulher de
verdade para pedir ajuda financeira. Também afeta sua vida emocional. Sua delicada
natureza sentimental foi tão violada – pelos dois – que ele não consegue encontrá-la,
e tanto seus relacionamentos como sua criatividade constantemente ameaçam
esgotar-se. Se começasse a trabalhar com seus sentimentos, começasse a se ver e a
se experimentar como algo diferente de um intelecto perfeito sobre pernas, ele
começaria a evoluir como um ser humano total. Por enquanto, todavia, o fantasma
parental ainda arrasta suas correntes dentro dele, dominando como Saturno, ajudado
pela voz inconsciente de sua sombra insegura. Juntos, distorcem e manipulam seu
potencial, de modo que ele lhe conquista aplausos, mas o mantém divorciado da vida.
A medida que Howard se aproxima da crise f da meia-idade, o elemento
inconsciente água-terra dentro dele, o eixo LuaVenus, começa a vir a tona. É possivel
que os objetivos e ambiqões que desposou até então não signifiquem mais tanto para
ele. Como Leão esta

eternamente a procura do seu potencial heroico, e como seu ascendente em


Áries est5 perpetuamente a procura de um futuro melhor, é provavel que Howard
consiga se libertar. Na sua busca do próprio Self através do seu impeto criativo, talvez
consiga finalmente redescobrir a anima perdida, a Mae perdida e amada, a figura
perdida da Mulher em sua própria psique, agora enterrada sob os destroços da
imagem da mae pessoal. E, entretanto, esses mesmos destroços, reconstruidos e
reintegrados, podem constituir um portal para a Mae arquetípica – a Mulher que, em
ultima analise, precisa falar através dele para que sua visão tenha realmente vida.

%++

Para receber a devida atenção, os relacionamentos parentais demandariam um


livro só para eles. Começamos e terminamos com maiéria e espirito, esses grandes
pais de toda a vida, e qualquer que seja o relacionamento pessoal com os pais
pessoais, os arquétipos maiores nos acompanham ao longo do caminho, contendo as
próprias raizes e o edificio de nosso ser interior. Vale a pena desfazer a lama, as
188

ilusões, o sentimentalismo, a culpa e o ressentimento no intuito de redescobrir esses


dois Pais, pois estamos eternamente em suas maos. E se admitirmos isso, pelo
menos se tomara possivel ver os nossos pais mortais não apenas como pessoas,
com sua parcela de sombra e luz, mas como seres que podem – ou não – ser
merecedores de verdadeiro amor humano, em vez dos gestos vazios que geralmente
lhes oferecemos. O amor da mae pode ser negro e cheirar a carvao, ou purificador e
redentor como a graça divina. O amor do pai pode queimar e ser destrutivo como o
fogo do torturador, ou brilhante e vivificador como o Sol. No final, é responsabilidade
do indivíduo descobrir essas possibilidades não na mae e no pai pessoais, que
dificilmente podem manejar um poder tão assustador, mas, através deles, na Mae e
no Pai. Dessa forma, nos os honramos. 8

O Infalivel Relogio Interior

Livre-arbitrio é a capacidade de fazer de bom grado aquilo que preciso fazer.

– C. G. Jung

As sementes da pera se transformam em pereiras, as sementes da noz se


transformam em nogueiras: as sementes de Deus, em Deus.

– Mestre Eckhart

O enigma do destino e do livre-arbitrio tem confundido os maiores pensadores


através da história. Não menos que a filosofia e a religião, a astrologia tem lutado com
esse enigma e tentado articular, em sua linguygem própria, uma resposta a questão
da real existencia ou não da opção.

A sua maneira, as varias escolas do pensamento psicológico também estão


investigando aspectos do mesmo problema – até que ponto o comportamento
humano é condicionado pela hereditariedade, até que ponto pelo ambiente, até que
ponto pela volição consciente. E aqui, como em outras esferas da investigação
humana, podece ver o inevitável choque de pontos de vista. O enigma do destino e
do livre-arbitrio provavelmente se assemelHá a muitas outras questões profundas,
cuja resposta, em ultima analise, é

um paradoxo. Tanto a astrologia como a psicologia analitica descrevem esse


paradoxo, cada uma numa fraseologia diferente :
189

O homem estd. preso à roda do destino até que a consciência da sua opqão
outorgada por Deus desperte nele. Então ele vislumbra a natureza paradoxal da força
que tanto o prendeu como lhe deu o poder de quebrar os grilh5es se ele optar pela
dor vinculada a luta e aceitar os perigos da liberdade a serem encontrados na espiral
ascendente que sai da roda quebrada.

O destino e o livre-arbitrio são dois grandes temas filosóficos, entretanto, não


são pertincntes apenas a especulação metafisica, mas também aos nossos padrões
de relacionamento. Que tipo de opção esta operando quando o indivíduo se
apaixona? Que tipo de opqão está envolvida no nascimento de uma criança, trazendo
com ela seu temperamento, que pode ou não se desenvolver de acordo com os
designios dos pais? Que tipo de opção tem a pessoa que é abandonada pelo
parceiro, a despeito dos mais nobres esforços para preservar intacto o
relacionamento? E que papel desempenha a opção no dano que tantas vezes
sofremos por causa de uma infância dificil, que is vezes requer uma vida inteira de
luta para reparar? Há pessoas que preferem acreditar que tudo na vida é aleatório,
sujeito puramente aos caprichos do acaso; e até certo ponto isso é reconfortante,
porque mitiga o fardo da responsabilidade pessoal. Também Há pessoas – que
somam milhões no Oriente – que acreditam que a vida fiui totalmente de acordo com
a predestinação do carma, como efeitos de causas originarias de outras
encamações,e isso também é reconfortante, porque isenta da responsabilidade
presente. Finalmente, Há pessoas que acreditam que o livre-arbitrio é o fator
determinante do destino da pessoa – uma posiqão um pouco menos reconfortante,
porquc a vida habitualmente nos confroata com coisas que não podem ser alteradas,
mesmo pelo esforço da vontade mais poderosa.

Obviamente, existe uma relutância inerente a muitos de nós em enfrentar


criativamente essa questão do destino e do livre-arbftrio, pois examiná-la muito de
perto seria equivaleate a assumir uma responsabilidade que não estamos
preparados, talvez não equipados, para assumir. Entretanto, precisamos ter alguma
crença no poder da opqio, sem o que vamos afundar numa apatia sem remédio e
alguma fé nas leis norteadoras da pró1 Tlre Inner World of Choice, Frances Wickes.
Nova Jersey, Prentice-Hall, Inc.
190

Englewood Cliffs, 1976.

pria vida, para que seu funcionamento não nos deixe irreparavelmente
despedaçados.

O problema do destino e do livre-arbitrio explica um dos equfvocos populares


mais comuns a respeito da astrologia. Em grande parte, isso ocorre por haver bem
pouca compreensão popular do quc a astrologia tem a dizer sobre o assunto. Ja
vimos como as projeqões inconscicntes do indivíduo vão levá-lo a
confrontaqões,relacionamentos e situaqões que usam o disfarce do destino, mas
refletem sua própria luta no sentido da autopercepqão. Um pouco de reflexão sobre o
funcionamento da sombra, das imagens parentais que habitam as profundezas da
psique, das energias dinamicas da anima e do animus, pode ajudar a esclarecer o
estranho paradoxo enunciado por Novalis ao declarar que o destino e a alma são um
e o mesmo. O mapa de nascimento é uma semente, e as sementes de pera, de fato,
se desenvoivem em pereiras; ficariamos assombrados se fosse de outra forma. Não é
dificil, mesmo para o pensador mais pragmatico, entender que o horóscopo de
nascimento reflete apenas um reservatório de potencialidades, que, dependendo do
grau de consciencia, o indfviduo pode utilizar para realizar o mito que é sua própria
vida.

Mas quando começamos a investigar as progressões e os transitos – a esfera da


astrologia que é essencialmente uma arte de predição –, existe muita ambigiiidade e
não pouca confusao, mesmo por parte dos astrólogos.

A astrologia oriental, por exemplo, é quase sempre completamente fatalista ao


lidar com prognosticos. Isso é compreensivel, ja que ela tem suas raizes na filosofia
oriental, que se baseia grandemente nas leis do carma e na roda de renascimento.
Para o astrologo hindu, um transito de Saturno pelo Sol muitas vezes significa que
voce vai ter má sorte, má saude, ou problemas de relacionamento, porque assim dita
o seu carma. A astrologia ocidental, por outro lado, é permeada não apenas pela
doutrina judaicocrista – que admite a redenqão voluntaria e o capricho de Deus ao
conceder graças –, mas até mesmo mais profundamente pelas crenças pagas, pela
filosofia clássica e também pelo pensamento gnástico e hermético.
191

Implicita nessas ultimas tradigões está a premissa "herética", mas profunda – da


quai o astrólogo moderno muitas vezes é inconsciente –, de que o indivíduo não é
simplesmente "fadado" por Deus, em virtude do fato de a natureza humana não ser
autocriada. O indivíduo também é tanto Deus como o instrumento da redenção de
Deus, que para se tornar consciente de si mesmo depende da opção voluntaria do
indivíduo de crescer em consciencia. Essa estrutura gnóstica geralmente esta
enterrada nas colunas de signo solar dos jomais. Mas se a desenterrarmos e a
mantivermos na mente, vai nos ajudar a explicar por que a astrologia ocidental, como
instrumento de consulta, é tão grandemente dedicada ao desenvolvimento da
consciência individual. Para o astrólogo ocidental, esse desenvolvimento não
somente vale a pena, mas é absolutamente essencial para o significado e a expansão
consciente da vida. O astrólogo ocidental, portanto, é suficientemente atrevido para
considerar que tanto o indivíduo como seu potencial reclamam o exercicio do livre-
arbitrio.

Poucos astrologos com algum conhecimento de sua arte alegariam que o


mesmo trânsito, envolvendo os mesmos planetas porém afetando dois indivíduos
diferentes, produziriam exatamente os mesmos efeitos.

Não somente os mapas dos indivíduos são diferentes, mas é preciso também
levar em consideração o ambiente, as circunstâncias atuais, o sexo, a constituiqão
psiquica especifica e o atual grau de consciência de cada um. Tudo que pode ser dito
é que o significado interior do transito é o mesmo. E, assim que começamos a falar do
significado de um acontecimento para um individuo, não estamos mais lidando com
as circunstâncias externas, mas com a psique. Assim, nos encontramos no dominio
da psicologia analitica, que tenta investigar as leis que governam e regulam as
atividades da psique. É no estudo dos trânsitos e progressões planetirios, e no que
eles indicam a respeito do desenvolvimento do individuo, que a astrologia e a
psicologia tem mais a oferecer uma a outra. A psicologia pode proporcionar a
astrologia um parametro que toma seus simbolos compreensiveis e reievantes em
termos especificamente humanos. ao mesmo tempo, a astrologia pode oferecer a
psicologia um esquema do potencial do individuo, que não apenas determina a
espécie da semente, mas também o posicionamento no tempo e os padrões de
192

crescimento que devem ser levados em consideraqão. Na esfera dos


relacionamentos, o paradoxo da opção, implicito tanto na astrologia como na
psicologia, assume sua forma mais evidente, mais facilmente observavel e mais
universal.

A palavra progressão é autowxplicativa. Há varios métodos técnicos diferentes


de progredir o mapa de nascimento, mas o principio basico é o mesmo: o movimento
dos planetas depois do nascimento reflete o movimento do desenvolvimento do
indivíduo depois do nascimento – reflete, em outras palavras, o padrão de
crescimento e o tempo inerentes a semente. É razoavel esperar que uma semente de
lentilHá brote em dois dias e produza lentilhas em tres meses, porque esta é sua
natureza e, em certo sentido, constitui seu "destino" . Uma semente de abacate, por
outro lado, pode levar tres meses para brotar e dez anos para dar frutos. O mesmo
paralelo se aplica aos indivíduos. A vida esta eternamente em movimento, assim
como os seres humanos. Existe uma progressão natural de desenvolvimento, tanto
psicológica como fisiologicamente, da infância para a

adolescencia, para a idade adulta, para a meia-idade, para a velhice e para a


morte. Não podemos parar esse relógio. Experimentamos o processo porque somos
parte dele; entretanto, preferimos não examina-lo muito de perto. Se o fazemos, a
morte assoma muito volumosamente a nossa consciência como a inelutavel
conclusão do ciclo. E ficamos tão intimidados pelo seu espectro que deixamos de
perceber que ela é um pré-requisito para o renascimento, o inicio de um novo ciclo.

Existem leis biologicas coletivas que govemam muitos aspectos do padrfo de


crescimento. As experiências arquetípicas do descnvolvimento humano – nascimento,
puberdade, despertar da sexualidade, fertilidade, acasalamento, nascimento de filhos,
o lento declinio do corpo e a própria morte –, acreditamos ter documentado
cuidadosamente, porque são universalmente observáveis. Mas seria mais correto
dizer que documentamos as manifestacões fisicas dessas experiencias, porque tais
manifestagões são obvias e irrefutaveis. As leis psicológicas coletivas do
desenvolvimento, entretanto, não estão tão bem documentadas. Isso ocorre porque,
até aqui, tendemos a ignorar a vida da psique, preferindo acreditar que ela é, de
alguma forma, um subproduto acidental do corpo e do cérebro. Entre seus pares,
193

somente Jung devotou ao padrão interior de desenvolvimento o tempo e a


compreensão que ele requer.

Há problemas e conflitos que são caracteristicos de cada fase da vida; aspirapxs,


sonhos e tensões especificos de uma fase de desenvolvimento e supérfluos em
outras. É natural e adequado que uma criança de dois anos seja dependente de sua
mae, mas ficamos compreensivelmente desconfiados quando um homem de trinta
anos exibe a mesma dependencia.

Podemos esperar que uma mulher na casa dos vinte se preocupe com o parto,
mas não esperamos que ela faça o mesmo aos oitenta – não só porque seu
desenvolvimento biológico torna a questão irrelevante, mas também porque
psicologicamente ja deixou para tras essa fase da vida. Da mesma forma, esperamos
que um indivíduo no outono da vida se devote as realidades interiores, ao significado
de suas experiências e a uma avaliação retrospectiva dos padrões de acordo com os
quais sua vida evoluiu – padrões que podem proporcionar um vislumbre de seu
significado mais profundo.

Entretanto, dificilmente esperariamos presenciar tal atividade numa crianp, que


dispoe de poucas experiências objetivas para refletir e pouca continuidade da
consciência individual para fazer essa reflexao.

Aceitamos – ou tentamos aceitar – esses ciclos básicos de desenvolvimento


humano porque são inevitáveis, de acordo com a natureza, e comuns a totalidade da
vida. O padrão ciclico de crescimento esta em nós e a nossa volta, e uma das poucas
coisas definitivas que podemos dizer objetivamente a respeito da vida é que ela
muda. Muitas vezes, sentimos sur- ! presa ou desagrado diante de indivíduos que
não conseguem deixar para trás uma fase da vida e permitir-se crescer numa nova
fase: o jovem muito temeroso de perder o conforto psicológico de seu complexo de
mae para arriscar um relacionamento sério com uma mulher; a moça que decide
permanecer emocionalmente nos seis anos de idade, provocando favores de um pai
substituto; a mulher mais velHá que, escondida sob camadas de maquiagem, não
ousa alhar no espelho, porque seu corpo e seu rosto jovens foram até então a unica
forma de compreender a sua feminilidade. Mas talvez devessemos ser mais
194

tolerantes com as pessoas que tendemos a chamar de "neuróticas" por esses


motivos. Há poucos indivíduos que, em alguma area oculta de sua vida, não se
apeguem a algo que ja esgotou seu proposito e sua utilidade. No horoscopo
progredido, a representação objetiva das mortes e nascimentos das fases de
consciência é de grande valia e esclarecedora. Mas, primeiro, é preciso aprender o
simbolismo necessario.

Tecida sobre os padrões ritmicos que refletem os ciclos do desenvolvimento


humano coletivo, pende a tapeçaria do desenvolvimento individual que diferencia a
pereira da nogueira; e se ainda não conhecemos totalmente os ciclos coletivos,
conhecemos ainda menos os individuais. Em parte isto é consequencia de nossa
educação e de nosso condicionamento social, pois do indivíduo civilizado ocidental se
esperam certas coisas que as vezes podem não estar de acordo com o esquema
individual. Espera-se, por exemplo, que estejamos prontos para entrar na
universidade aos dezessete anos, habilitados para nos aventurar no mundo e
escolher uma profissio com vinte e um, que a mulher esteja suficientemente madura
para casar e ter filhos a qualquer momento depois dos dezessete, que um homem
esteja suficientemente determinado para estar estabelecido na profissão aos trinta e
cinco, suficientemente estavel para ter uma casa e pelo menos um automóvel aos
quarenta e cinco, suficientemente cansado aos sessenta e cinco para se aposentar e
começar a pensar em pensÕes e morte. Sejam ou não essas expectativas
convencionais realistas na teoria, freqiientemente são um desastre na prática. Cada
indivíduo tem seu temperamento, florescendo através de suas possibilidades criativas
individuais. Cada indivíduo também tem seu próprio padrão natural de crescimento e
seu próprio horário de desenvolvimento. Somente isso pode determinar quais fases
são aprópriadas, num certo momento, para a expressão de diferentes aspectos de
sua psique.

Algumas mulheres estão psicologicamente aptas para o parto com vinte e um


anos, outras só aos trinta e cinco, e outras nunca; alguns homens sabem o que
querem fazer no mundo com dezoito anos, outros aos

quarenta e cinco. Algumas pessoas atingem a maturidade intelectual aos


dezessete anos e não tem problemas em se adaptar as exigencias da educapTo
195

superior. Outras não atingem seu pico intelectual antes dos cinqiienta, e aproveitariam
muito mais se fossem fazer a faculdade nessa época. E algumas pessoas são
emocionalmente maduras aos vinte, enquanto outras permanecem emocionalmente
infantis até na velhice. O mundo, entretanto, ri da pessoa que deseja começar uma
nova profissão aos quarenta; ela é considerada tola por deixar de lado o que já
construiu. O mundo fica perplexo com a mulher de carreira que, aos quarenta e cinco
anos, decide que o casamento é um objetivo desejavel; ela ji "passou da época", as
pessoas dizem, esta muito velHá para o mercado de casamento e devia aprender a
viver com a infeliz opção feita na juventude. Através da aceitação cega das opiniões
coletivas, nos nos mutilamos assim como ao nosso potencial de crescimento
significativo e de mudança, e raramente percebemos quão intimamente essa
debilitação esta associada a depressão, doença fisica, neurose e morte. As pessoas
mudam, mas parece que não gosiamos disso.

O engenheiro pode virar poeta no meio de sua carreira, a dona4e-casa pode


virar uma gerente de negocios, o médico pode virar jardineiro. Se essas mudanças
forem produtos verdadeiramente espontaneos do desenvolvimento interior da psique,
devem ser estimuladas e fomentadas. Não deverfamos dr porque aão temos coragem
de realizá-las. Não deveriamos frustra-las porquc nos forçam a adaptar as nossas
próprias projeqões. Não deveriamos desprezá-las comosonhos inuteis ou tolices
porque pensamos que, com uma determinada idade, devemos ser "realistas". Cada
fase de expressão na vida é aprópriada e necessária para seu tempo, que pode ser
longo ou curto; mas se não permitirmos que cada uma passe e gere outra coisa
quando seu tempo esta completo, ela se tornara uma gaiola sufocante na qual a alma
começara a se atrofiar.

As progressÕes individuais do horóscopo descrevem simbolicamente o tempo


interior dos acontecimentos psiquicos. Elas indicam, de forma sucinta, que áreas do
potencial básico expresso pelo mapa de nascimento serão "consteladas" – isto é, vão
ter a oportunidade do reconhecimento e integração conscientes – em diferentes
periodos da vida. Assim como ocone com outros aspectos da astrologia, pode-se bem
perguntar por que é necessário consultar um horóscopo para descobrir para o que a
própria mente está preparada. Provavelmente isto seja necessário porque temos bem
196

pouco contato, bem pouca percepção da matriz da vida da qual emerge o ego
consciente – e bem pouca compreensão das correntes operando no inconsciente,
moldando nossas vidas e optando por nos de acordo com os imperativos do Self.
Evidentemente, algumas pessoas altamente intuitivas tem grande sensibilidade ao
tempo interior que regula os fins e os começos das fases, um jeito para detectar as
forças em movimento do inconsciente; e como uma das caracteristicas básicas do
intuitivo é seu amor pelo fluxo e pela possibilidade, a mudança dos ciclos não o
surpreende. Nesses casos, a informacão suprida pelo horóscopo progredido muitas
vezes proporciona uma confirmação, mais do que um novo entendimento.

Para aqueles orientados as outras funqões da consciencia, entretanto,


freqiientemente a astrologia seria de grande ajuda – não porque possa prever o que
acontecera, mas porque pode identificar, em forma simbólica, os padrões de
crescimento interior que almejam vir a tona da consciência num determinado
momento. Muitas pessoas ficam apavoradas com os primeiros ventos da mudança
iminente; em conseqiiencia, projetam-na no ambiente, em vez de reconhecer que sua
verdadeira origem esta dentro delas. Como resultado, as coisas externas começam a
parecer instáveis e inconfiáveis, e são necessarios esforços arduos para bater pregos
em tudo e assegurar a imutabilidade dos habitos, pontos de vista e propriedade
pessoais. E a repressão dos eventos psiquicos naturais, é claro, excita ao
inconsciente que, desviado dos seus canais naturais de expressao, precisa recorrer a
canais indiretos. Esses canais levam o individuo, inconscientemente, a convidar a
destruição exatamente daquilo a que ele esta se apegando. ao tumulto que se segue
– que ele mesmo provocou –, começa a chamar fado adverso ou hostil.

Em A doutrina secreta, H. P. Blavatsky descreve o carma como "substância", o


que da uma chave para se compreender por que certos eventos ocorrem em conexão
com determinados transitos ou progressões.

O evento externo é composto dos mesmos principios de quintessencia que o


individuo; é um simbolo vivente das energias em funcionamento na psique. O
individuo, assim, atrai as circunstâncias e os fenomenos que correspondem, em seu
significado e coerencia intrinsecos, as forças ativadas dentro de si. Dessa forma, a
pessoa e o evento são identicos – e estamos de volta a Novalis e sua maxima: o
197

destino e a alma são dois nomes do mesmo principio.

O horoscopo progredido confirma o que deveriamos saber a nosso respeito, mas


que nos tomamos muito civilizados para discernir. O primitivo consegue sentir e
aceitar as mudanças porque procura presságios e agouros em toda parte; sabe que a
vida está sempre em fluxo, que nada é permanente, e ve prenuncios de mudança de
padrões na virada de uma folha, no voo de um pássaro, a "disposição" dos espiritos
nas arvores, nas rochas, nos rios e nos animais. Desse ponto de vista, o primitivo é
mais sabio que o indivíduo civilizado; não esta acorrentado à ilusão de que seu

precioso ego pode congelar o tempo e alterar a própria qualidade da vida,


cristalizando e imbuindo de permanencia artificial as formas de que ele pessoalmente
gosta. O primitivo não entende as mudanças como ocorrendo "dentro" ou "fora" dele
porque, sendo inconsciente de si mesmo como individuo, não estabelece essa
distinção, não ve fronteiras entre o eu e o naocu. Nossa maior consciência do ego é
tanto uma benção como uma maldiqão, e perdemos a capacidade do primitivo de
responder espontaneamente a qualidade do momento, apreendendo sua ressonância
simbolica.

Quem caça o veado sem o mateiro só se perde na floresta.

O homem superior compreende os sinais do tempo .

Como nossos ancestrais, o primitivo também sabe que as coisas estão mudando
porque assim lhe dizem seus sonhos, pois os sonhos são a comunicaqio espontânea
do inconsciente para o consciente. O homem antigo respeita os sonhos porque os
considera mensagens dos deuses, informando-o do fluxo vital do cosmos a sua volta
e dentro dele. Ja não acreditamos nem em deuses nem em sonhos e, por isso,
perdemos uma das mais valiosas formas de contato com as raizes, infindavelmente
cambiantes e criativas, do nosso ser. Agora, ultracivilizados como estamos e tão
proximos do autoestrangulamento por causa de nossa esperteza, temos necessidade
ainda maior de alfabetos simbolicos vitais. Unicamente através de tais alfabetos – por
exemplo, a astrologia, ou os sonhos conforme utilizados pela psicologia – podemos
ter um vislumbre dos padrões que regem o desenvolvimento desse organismo que
somos.
198

A progressão de um planeta, avançando nos dias posteriores ao nascimento e


chegando a um contato exato com a colocação natal de outro planeta, é, em certo
sentido, como a sineta indicando que o café esta pronto. A progressão não "faz" nada
acontecer, pois as progressões são puramente simbólicas e não tem base na
realidade objetiva. Em vez disso, são sincronicas com algum evento psiquico, alguma
constelação de uma determinada configuraqão de energia – os arquétipos – no
inconsciente. O que a progressão indica é que o tempo esta maduro para que certas
coisas se tornem conscientes, de acordo com o padrão bisico de crescimento de uma
semente. São inerentes a semente tanto as qualidades essenciais como o padrão de
crescimento – na realidade, são a mesma coisa –, e ambos estfo 2 The I Ching,
traduzido por Wilhelm/Baynes. Nova lorque, Bollingen Foundation, 1950.

representados simbolicamente no horóscopo. No inconsciente, não existe tempo;


passado, presente e futuro são simultaneos, e a semente e a planta que di frutos são
um. Assim, a semente de pera contém e é a pereira – embora uma mente mais literal,
ao cortar a semente da pera, só encontre polpa. No nivel consciente, precisamos do
tempo linear – o tempo como é percebido pelo ego – para desdobrar o padrão.

O chestnut-tree, great-rooted blossomer, 6 castanheiro, de grandes raizes e


flores, Are you the leaf, the blossom or the bole? Voce é a folha, a flor ou o tronco? O
body swayed to music, O brightening glance, O corpo arrastado pela dança, 6 olhar
brilhante, How can we know the dancer from the dance? Como é possivel distinguir o
dançarino da dança? É unicamente através do filtro do ego consciente que o
passado, o presente e o futuro adquirem a aparencia da distinção, e é a teimosia do
ego em se agarrar a esse continuum seqiiencial que prejudica a nossa comprensao.
Ela nos impede de reconhecer o significado de um acontecimento exterior e a
adequação da época de sua ocorrencia, assim como as oportunidades que tais
acontecimentos proporcionam para o desenvolvimento da consciência e do poder de
livre-arbitrio.

Portanto, quando tentamos prever um acontecimento a partir de uma progressão


ou um transito, nem sempre podemos faze-lo. Uma progressão não reflete uma
ocorrencia concreta tanto quanto reflete a necessidade do reconhecimento interior de
algo, da integração de alguma qualidade latente à percepção consciente. Não é
199

impossivel que, se soubéssemos mais a respeito dessas coisas, teriamos alguma


opção a respeito do veículo – o acontecimento – através do qual o reconhecimento se
toma acessivel. Por outro lado, o acontecimento, em geral, é tão perfeitamente
adequado para o momento que, uma vez decifrado seu significado, não poderiamos
melhora-lo. Na ausencia desse entendimento, entretanto, ficamos a merce dos
acontecimentos, deixando de perceber que os atraimos para nós através da atraqão
magnética de nossa própria essencia. Nada acontece a um indivíduo que já não
esteja contido nele. Os acontecimentos, além disso, muitas vezes usan a linha do
menor resistencia – a energia liberada vai

3 "Among School Children", The Collected Poems of V. A. B. Yeats. Nova Iorque,


Macmillan, 1933. I 1 A

encontrar uma saida através de qualquer porta que o indivíduo deixe aberta; e a
natureza da porta depende das possibilidades disponiveis num determinado
momento. Se um trem se move a uma certa velocidade de uma estação a outra,
podemos estar razoavelmente certos de que – a não ser que o motor quebre ou
alguém coloque uma bomba nos trilhos – ele chegara a seu destino no tempo
previsto. Ninguém iria acusar a Ferrovia Britanica de leitura de sorte; no entanto, o
astrologo ou o analista empregam o mesmo principio quando avaliam as
probabilidades implicitas numa determinada progressão ou numa determinada série
de sonhos. O motor defeituoso, ou a bomba nos trilhos podem ser relacionados a
intromissão de fatores transpessoais ou coletivos nos padrões individuais de
crescimento. Uma semente de pera pode se desenvolver numa pereira, mas se
ocorrer uma seca ou uma inundaqão, vai sofrer – a despeito do seu potencial de
crescimento. Da mesma forma, a rega e o cultivo cuidadosos permitirão que ela
desenvolva possibilidades que poderia nunca atingir, se deixada sozinha. No caso do
individuo, a progressão vai se expressar através de quaisquer canais que ele permita.
Dai a importância obvia de compreender tanto o significado do acontecimento interior
quanto das circunstâncias externas que o acompanham.

O Sol progredido em contato com Venus, por exemplo, sup.oe-se que seja,
tradicionalmente, um prenuncio de casamento. Essa era a visão fatalista da astrologia
no passado, quando o destino era, sem duvida, tanto uma propriedade da psique
200

quanto é agora, mas julgado um ato de Deus, e Devs, naquela época, residia
exclusivamente no Céu, não se dignando ocupar um Iugar na consciência do
individuo. Se examinarmos atentamente a configuração Sol-Venus, ela pode, de fato,
ser relevante nos acontecimentos extemos – ou também não ter nenhuma relevância
aparente, pois nem sempre a percepção interior é acompanhada de fatos externos
dramaticos, ou mesmo facilmente discerniveis. O Sol, simbolizando a auto-expressão
ou a auto-realização, numa conQguração com Venus, simbolizando o aspecto do
pzincipio feminino que chamamos relacionamento, sugere que, de alguma forma,
havera uma ativação desse ultimo arquétipo dentro da psique. Como resultado, o
poder criativo do inconsciente vai gerar, ou ser atraido para uma experiência objetiva
que, por personificar as mesmas qualidades do arquétipo (ou ser um reflexo do
mesmo arquétipo), proporciona ao relacionamenta o acesso a consciencia.

Dificilmente esperariamos que uma criança de tres anos com uma progressão
Sol-Venus se casasse. Por outro lado, pode muito bem ser que ela esteja no lugar
certo na hora certa, e assim se exponha a uma experiência que produza uma maior
percepção dos relacionamentos. Pode ser que ela

estabeleça uma amizade intima e significativa; pode ser que aprenda algo 1 a
respeito do mundo do sentimento e do afeto pessoal por meio de um bichinho de
estimação; pode ser que seu pai case novamente, ou que seus pais se divorciem; ou
que sua mae embarque num caso extraconjugal, afetando profundamente a
atmosfera do lar. Nunca se tem certeza das circunstâncias especificas; só se podem
fazer conjecturas a seu respeito depois de conhecer um pouco da situação geral. E,
mesmo assim, tratase apenas de conjecturas, que talvez seja melhor nem fazer, pois
as pessoas são altamente sugestionaveis. A unica coisa certa é que um arquétipo
est1 sendo ativado na psique, ligado (neste exemplo) i experiência do
relacionamento, e que vai procurar expressão através de quaisquer canais que se
ofereçam no momento, dependendo da experiencia, sexo, ambiente e ternpe.-amento
do individuo. Pode-se avaliar ou não o significado da experiência na época.
Entretanto, ela inevitavelmente vai influencia-lo, e suas repercussões virão
inevitavelmente à tona mais tarde em sua vida.

Pode-se esperar que uma pessoa de vinte e um anos se apaixone ou case sob a
201

progressão do Sol a Venus, mas essa progressão muitas vezes também significa
divorcio, ou nascimento de um filho. Também pode significar o florescimento do senso
estético, ou mesmo a morte – que, para alguns indivíduos, é um ato de amor no
sentido mais profundo, a verdadeira união com a alma. A experiência não é predizivel
e, até certo ponto, muitas vezes pode ser moldada pela opção consciente. O que a
progressão indica é o significado da experiência para o individuo; e é sumamente
esclarecedor examinar retroativamente as progressões que coincidiram com
acontecimentos importantes como casamento, nascimento de filhos, mudanças de
empregos, autodescobertas vitais levando ao crescimento. Em exemplos desse tipo,
a progressão elucida a essencia do que uma determinada experiência significou no
contexto do padrão geral de crescimento.

Os astrologos consultores freqiientemente são inundados por pedidos para


prognosticar a época do casamento, ou a possibilidade de divorcio, ou o resultado de
um triangulo amoroso. Como ja vimos, o horoscopo em si mesmo não pode predizer
nada e, conseqiientemente, tais prognosticos são impossiveis. É lamentavel que a
opinião publica persista em acreditar no contrário. Por isso, algumas pessoas se
atemorizam com a astrologia, tem medo de ela provar que suas vidas são mesmo
"fadadas". Outras tornam-se infantilmente dependentes dos astrologos, incapazes de
tomar decisões sozinhas, abdicando da responsabilidade das opqões individuais
conscientes. A astrologia não pode fazer opqões no lugar da pessoa, da mesma
forma que um mapa rodoviirio, por sua própria vontade, não decide se a pessoa vai
ou não fazer uma viagem. Mas existe muito entendimento a ser conquistado, a partir
do horoscopo progredido, a respeito das energias em

funcionamento no indivíduo num dado momento. Esse entendimento pode se


relacionar com o significado da situação em que o indivíduo se encontra, e permitir
que ele faça sua própria opção – ou viva com a opção de outra pessoa com uma
compreensão mais lucida. Em ultima an8ise, é a psique total que faz nossas
opqões,não o ego. Se reconhecer o significado da opção, o ego pode decidir
cooperar, e nesse caso vai fazer uma colheita de maior crescimento e compreensao.
Altemativamente, o ego pode se opor a opção, permanecendo cego ao seu valor – e,
nesse caso, muitas vezes seguem-se a dor, a frustração e a sensação de ausencia
202

de significado. Se desejamos a liberdade de optar, precisamos aprender um pooco


mais a nosso respeito – tanto sobre nossa disposição interna como quanto ao tempo
que regula seu funcionamento. Somente então podemos descobrir por que uma
determinada opção apareceu num determinado tempo, quais as suas implicaqões e
que oportunidades ela oferece para o crescimento. Sem duvida, continuaremos
sofrendo com algumas de nossas opqões,mas não cegamente. E talvez isso seja o
miximo que podemos pedir, dados os elementos conQitantes de que somos feitos e
entre os quais lutamos por manter o equilibrio.

O transito difere da progressão porque representa a posição real de um planeta


orbitando em volta do Sol, enquanto a progressão é um movimento puramente
simbolico sem relação direta com a posição fisica do planeta no céu no momento.
Tanto as progressões como os transitos parecem operar de forma semelhante –
indicam que alguma coisa está sendo constelada no nivel pstquico, podendo ou não
manifestar-se como acontecimento fisico. Diferentemente das progressões,
entretanto, os transitos, sendo reflexos dos movimentos planetarios reais, refletem as
forças ou energias reais no mundo exterior que impressionam a psique a partir de
fora, produzindo uma reação de acordo com a constituição do individuo. As
progressões, por outro lado, são reflexos totalmente subjetivos no padrão interior de
crescimento do individuo. Um ciclo de transito é o retomo de um planeta a posição
que ocupava no mapa no nascimento; cada planeta tem sua própria orbita e seu
próprio periodo para completar o seu ciclo.

A Lua precisa de um pouco mais que vinte e oito dias; o Sol leva um ano para
fazer seu retomo; Plutão leva duzentos e quarenta e oito anos.

Existem dois ciclos de transitos de consideravel importância para a questão dos


relacionamentos humanos, e ocorrem aproximadamente na mesma idade para todos
os indivíduos: o ciclo de Saturno que dura aproximadamente vinte e nove anos, e o
ciclo de Urano, que dura aproximadamente oitenta e quatro anos e atinge seu ponto
critico na idade de quarenta e dois anos. Esses dois ciclos simbolizam padrÕes de
desenvolvimento

coletivos para toda a humanidade, mas a forma pessoal que esses padrões
203

assumem varia de acordo com o individuo. Ninguém escapa deles, entretanto, assim
como ninguém escapa da puberdade ou da velhice. E como os ciclos de Saturno e de
Urano freqiientemente coincidem com periodos de crise, de reorientação, de
estabelecimento e rompimento de relacionamentos, vale a pena examinar algumas de
suas impiicaqões gerais. Podemos, entao, aplicar o que aprendemos ao horóscopo
individual. O Oclo de Saturno Como vimos, Saturno esta ligado ao lado primitivo e
"inferior" da natureza humana, que Jung chama sombra. Pode ser considerado um
simbolo de tudo que é baixo, cru, indiferenciado, incipiente e inconsciente no
individuo, e diz respeito, como também ja vimos, ao passado, as imagens parentais, e
a cristalização e identificação com o que aconteceu antes. O simbolismo alquimico
retrata Saturno como a matéria-prima para a execução da Arte Real – a substância
bruta, sem forma, do mundo, etcmamente em conQito consigo mesma, inconsciente,
precisando de redenção, porém contendo todas as semente potenciais do futuro, da
qual pode ser extraido o espirito doador de vida, o ouro alquimico.

Na sua orbita natural em tomo do Sol, Saturno atinge uma relação critica com
sua posição no mapa de nascimento do indivíduo a mais ou menos cada sete anos, e
forma uma conjunqão com sua colocaqio natal aproximadamente aos vinte e nove
anos. Cada vez que o planeta em transito toca sua posição natal original é
importante. A conclusão de cada um desses retomos ciclicos indica que a parte
sombria, indiferenciada e inconsciente da personalidade é ativada e Ihe é concedida
uma oportunidade de crescer por meio de alguma situação exigindo esforço ou
sofrimento.

Aos vinte e nove anos, a culminação do primeiro ciclo de Saturno, o indivíduo


tem a possibilidade de se confrontar com dolorosos sentimentos de inadequaqão,
esferas de supercompensa o, laços parentais, valores emprestados do passado, e se
libertar deles. Ele pode, entio, iniciar um novo cicla de vinte e nove anos como um
indivíduo em desenvolvimento, e não como um produto de seu meio, de sua familia e
de sua sombra inconsciente.

O transito da Saturno por sua colocação natal é chamado retorno de Saturno, e o


ano imediatamente anterior a esse momento crucial freqiientemente se caracteriza
por um gradual desmoronamento, deSintegraqão, desilusão, assim como pelo
204

reconhecimento de tudo que é falso, unilaterai,

dependente e não-concretizado na personalidade. Esse ano pode abarcar um


periodo de depressão e de dolorosa auto-avaliapo, desânimo e dificuldade, mas não
precisa ser assim – a não ser que se deixe de perceber que ele anuncia o verdadeiro
fim da infância psicológica e reflete uma arrancada conjunta do inconsciente para
libertar a personalidade em desenvolvimento da infiuencia do passado, lançando o
indivíduo na verdadeira busca do futuro. Como projetamos no exterior o que é
inconsciente em nos, a constelação interior da sombra freqiientemente é
acompanhada de aparentes dificuldades e oposir,ão por parte de outras pessoas.
Dessa forma, muitos casamentos tendem a desintegrar-se durante o retorno de
Saturno, enquanto o indivíduo – não percebendo que é a sua própria escuridão que o
confronta – joga seu descontentamento consigo mesmo aos pés do parceiro. Em
alguma esfera da vida, a pele que o envolve se tomou muito apertada. É preciso que
ela estique ou se rompa para acomodar os novos elementos que emergem do
inconsciente, e um parceiro "restritivo" é, com muita facilidade, responsabilizado pela
dor desse ajuste.

Algumas vezes a constela o da sombra é acompanhada de sentimentos de


desamparo e inferioridade; a autoconfiança da pessoa pode mostrarse mais fragil do
que ela supunha, enquanto velhas feridas, ansiedades e senso de inadequação – que
ela julgava ter deixado para tras junto com a infância – muitas vezes vem a tona,
fazendo-a sentir-se subitamente a deriva, sem qualquer suporte, marco ou
instrumentos para guia-la. E muito do que ela valorizava sem discussões pode
começar a parecer falso, estreito ou insuficiente. Essa reavaliacão de valores
passados vai depender da medida em que eles forem muito unilaterais, ou no fundo
pertencerem a seus pais e não ao individuo.

Muitos casamentos passam por uma crise na época do retorno de Saturno, ou


porque o próprio casamento foi baseado em valores agora ultrapassados, ou por que
o indivíduo projeta sua desilusão sobre o parceiro. Por outro lado, muitos casamentos
também são feitos duraate o retorno de Saturno. Freqiientemente, eles derivam do
senso de desamparo – o subito reconhecimento de que a infância terminou e existe
um futuro desconhecido i frente, e que muito pouco foi criado como preparaqio para
205

esse futuro. Como resultado, pode-se ser impulsionado para o casamento porque ele
oferece algum senso de segurança, alguma certeza de estabilidade, numa época cm
que tudo na psique esta em tumulto. Tais casamentos não são necessariamente
"errados", nem devem ser necessariamente evitados.

Pelo contrario, podem ser exatamente o necessario. Porém, como Parsifal no


castelo do Graal, para entrar nesse pacto de olhos abertos e compreendendo as
próprias motivaqões,talvez seja preciso perguntar por que.

Os casamentos também podem ocorrer durante o retorno de Saturno porque


refletem a necessidade da psique de se libertar do passado.

Assim, a escolHá de um parceiro, de certa forma, acarreta crise ou luta, ou uma


escolHá importante mas dificil. E poucos – muito poucos – casamentos contraidos
durante o retorno de Saturno o são em total consciencia, com a percepqão de que a
estrada para o futuro esta livre pelo menos de um grande obstáculo: as ilusões sobre
si mesmo. Nesses casos, existe um compromisso maduro entre dois adultos
sensiveis e responsaveis, exercendo o direito da opqão individual – e não entre duas
crianças dependentes, agarradas e inconscientemente desesperadas.

Nem sempre o retorno de Saturno diz respeito ao casamento. A que ele diz
respeito depende da sua posição no mapa de nascimento. Para alguns indivíduos, o
retorno de Saturno pode estar relacionado com a vida de trabalho, com uma
sensação de crescente insatisfa o a respeito da escolHá de objetivos e da
desagradável percepção de que suas motivaqões eram espurias. Algumas vezes o
retorno de Saturno traz grandes beneficios externos, que, entretanto, podem ser
acompanhados de insatisfação intema porque os objetivos originais, suposta meta
desse sucesso, ja mudaram. Muitas vezes se descobre o verdadeiro dono da casa, a
sombra, que usou as capacidades naturais do indivíduo para sua próprias finalidades
– em geral para satisfazer a criança inconsciente subnutrida. Quando isso ocorre, a
confiança do indivíduo na integridade de suas opqões pode ser gravemente
prejudicada. Mas o indivíduo não pode fazer nenhuma opção sem estar ciente de sua
sombra; de outra forma, ela é que vai inevitavelmente fazer a opqão, enquanto ele
apregoa seus exaltados ideais.
206

Muito depende de até quc ponto o indivíduo é verdadeiramente um indivíduo na


época do retorno de Saturno, pois o trânsito é apenas um reflexo do que alguém
realmente merece. Bem conduzido, pode ser uma oportunidade de grandes
mudanças, de consolidação de objetivos Há muito desejados, de auto-realização
construtiva e do plantio de semerrtes que amadurecem na segunda metade da vida,
gerando um novo indivíduo a medida que frutificam. Mal conduzido, pode acarretar
virtualmente um colapso de tudo. Então é preciso que o indivíduo reconheça que o
que entrou em colapso não foi ele, mas o que ele pensou que fosse – mas que é
melhor que seja descartado, pois retarda seu crescimento futuro. Para algumas
pessoas, pode nascer um fBho durante o retorno de Saturno; para outras, podem
sobrevir mudanças financeiras, ou doenças, ou mudança nas crencas religiosas. Para
saber o significado dessas experiencias, é preciso sempre olhar o individuo. Se
ocorrem mudanças com Saturno, elas estão vinculadas a necessidade de integrar à
personalidade

consciente os elementos inconscientes até então desprezados, porém vitais, da


sombra.

A natureza da experiência saturnina durante o retorno é sugerida pela Casa,


pelo signo e pelos aspectos do planeta no mapa do nascimento. Um Saturno de
sétima ou oitava Casa pode indicar a esfera dos relacionamentos; um Saturno de
décima Casa pode indicar as ambicões e os objetivos de carreira; um Saturno de
nona Casa pode indicar o $Veltanschauung ou "visão do mundo" do individuo; um
Saturno na quinta Casa pode indicar as atitudes em relação aos filhos, ou aos
empreendimentos criativos. Algumas vezes, além disso, varias areas de experiência
serão hgadas pela mesmas mudanças significativas. O que a pessoa inicia durante o
retomo de Saturno muitas vezes mostra ser um veículo que Ihe oferece espaço para
crescer e desenvolver sua própria força interior durante toda a vida. Saturno
geralmente lança raizes profundas, e as experiências saturninas tem a qualidade da
permanencia. O retomo de Saturno, em ultima analise, é um processo de morte e
renascimento, de retirada da velHá miscara e descoberta do indivíduo real – e muitas
vezes menos "perfeito" – que estava crescendo o tempo todo, escondido pela
estrutura das identificaqões conscientes. Quanto ou quão pouco desse self recém-
207

descoberto é aceitavel depende da forma como o ega o percebe. Geralmente a


sombra não é digerida com facilidade. Porém, agradavel ou nao, ela é a realiade, e
precisa ser integrada a vida. Não se pode ser diferente do que se é.

Se isso não for voluntário, geralmente será involuntirio, porque o ego é menos
invencivel do que gostaria. No fim das contas, ele tem a opção de cooperar ou se
opor ao inconsciente. De qualquer forma, a escolHá final é inerente a semente, mas a
forma que essa escolHá assume e a percepção de suas implicaqões permanecem
como responsabilidade do individuo.

O Qclo de Urano

Urano leva oitenta e quatro anos para transitar em torno do Sol, e faz uma
oposição com sua colocação natal no mapa de nascimento quando o indivíduo tem
entre quarenta e quarenta e dois anos de idade. Assim, coincide com a fase de
desenvolvimento psiquico que Jung chama de crise da meia-idade. Esse ponto critico
não envolve apenas o ciclo de Urano. Saturno, precisamos lembrar, faz seu ciclo a
cada vinte e nove anos, formando aspectos significativos com sua posição natal a
cada sete anos. Quatorze anos depois do retorno de Saturno, o planeta completa
metade de outro cicio. No quadragésimo segundo ano de idade, assim, ele vai estar
em

oposição à sua colocação natal. Nessa idade, portanto, precisamos lidar com o
impacto de dois transitos importantes. Portanto, não deve ser surpreendente que as
mudanças sincronicas na psique do indivíduo durante a crise da meia-idade sejam
talvez as mais importantes que ele vá experimentar. Elas são refletidas pelos mais
importantes dos ciclos coletivos.

Como ja vimos, Urano esta associado a liberação, a liberdade, ao vigoroso


ingresso em novas esferas de expressao, a expansão da perspectiva mental. É um
planeta que tem muito a ver com rasgar o véu, e suas associaqões mitológicas com a
tempestade elétrica, o vento e as alturas sugerem que ele opera muito mais num nivel
transpessoal do que os planetas na órbita de Saturno. Através de Urano, pode-se ser
levado diretamente a presença das grandes imagens arquetípicas.

Jung descreve a crise da meia-idade como a época em que os aspectos nao-


208

mvidos da psique – em especial a anima e o animus, assim como as funqões da


consciência que permaneceram "inferiores" ou indiferenciadas – começam a bater
com força na porta do ego e pedir expressao.

Se a configura o prévia do ego foi muito unilateral, esses conteudos


inconscientes vão surgir com força muito dramatica, e o indivíduo pode praticar atos
abruptos ou inexplicaveis: abandonar um casamento maduro, uma carreira estavel,
um pais onde sempre viveu. Esse comportamento reQete a necessidade de libertar-
se dos limites acorrentadores do ego, a necessidade de começar a explorar as
profundezas e as alturas nunca vividas. Uma intensa inquietaqão muitas vezes
acompanha essa época da vida, tantos nos homens como nas mulheres, embora
aqui, também, o indivíduo possa projetar sua realidade no exterior e se tomar a vitima
aparente dos atos inexplicáveis de outra pessoa. Para as mulheres, a menopausa se
aproxima e os anos de criação dos filhos ja tenninaram. Os filhos estão agora quase
adultos e ji não precisam do apoio matemo. A mulher, assim, esta livre para
confrontar, voluntariamente ou nao, o que eh fez de sua própria vida, de seu
pensamento e de sua identidade individuais – o que ela é intrinsecamente,
independentemente dos zelacionamentos famiiiares. Em conseqõmcia,muitas
mulheres começam, peia primeira vez, a explorar um campo de trabalho que permita
a cstimulaqão mental e o envolvimenta com o mundo exterior. O animus é constelado,
e mente, espirito, objetividade, contribuição impessoal a vida grupal começam a ter
precedencia sobre satisfação pessoal ou compromissos sentimentais com o marido e
a familia. Para os homens, o "sucesso" muitas vezes jl foi alcançado aos quarenta
anos, ou pelo menos houve a aceitação do fracasso; conseguiu-se a estabilidade, e o
misterioso mundo interior da anima começa a acenar. Muitos homens com
casamentos rigorosamente convencionais de subito arranjam amantes, ou se

apaixonam desesperadamente por mulheres muito mais jovens que eles.


Altemativamente, a infidelidade ou a partida da esposa pode choca-los rudemente e
faze-los perceber sua incapacidade de relacionar-se. Todas essas situaqões
simbolizam a procura interior dos valores da anima, da compreensão rnais profunda
dos relacionamentos humanos, da exploração do mundo interior criativo e imaginativo
da psique.
209

A oposição de Urano a sua colocação natal simboliza a liberação, com poderosa


força, do que não foi vivido. Tudo depende de quanto dessa vida não vivida foi
acumulado, de quanta consciência o indivíduo possui a respito de suas implicaqões.
O ciclo de Urano pode liberar a pessoa para o periodo mais criativo e mais produtivo
de sua vida, mas se resistir as mudanças que ocorrem dentro de si, pode
despedaçar-se mental, emocional ou fisicamente. Podemos ter de aprender os
passos de uma danp nova e desconhecida, mas eles e a ritmo que seguem ja estão
dentro de nós, e, ao repudia-los, a unica coisa que fazemos é nos violentar.

O transito de Urano, além disso, é acompanhado pela oposição de Saturno a sua


colocação natal. Isso sugere rnais uma oportunidade de trabalhar com o lado interno
da personalidade, com as funqões que não estão valorizadas ou desenvolvidas; e
esse trabalho pode gerar maravilhamento e excitação para o indivíduo que
compreende ser a época oportuna e consegue, assim, fazer opqões construtivas. Por
outro lado, Saturno, como Urano, pode refletir agonia, disrupção, incerteza, confusão
– ou tudo isso junto. Mais uma vez, não temos escolHá a respeito da ocorrencia ou
não do crescimento, mas podemos optar por compreende-lo e tentar cooperar com
ele. O Mapa Individual Progredido A melhor forma de ilustrar as ambigiiidades e o
entendimento implicitos no horoscopo progredido é através de um exemplo. Assim,
algumas das mais importantes proposiqões da astrologia a respeito da opção se
tornam evidentes. Seria bom resumi-las. Primeiro, uma progressão ou um trânsito não
significam um acontecimento extemo; implicam que algum novo conteudo está
emergindo do inconsciente e precisa ser integrado na consciencia. Segundo, os
acontecimentos externos, aparentemente dissociados mas possuindo o mesmo
significado intrinseco, podem ocorrer sincronicamente no periodo envolvido – um a
tres anos. Terceiro, a ocorrencia de um acontecimento especifico não coincide
necessariamente com o pico da progressao, ja que tais acontecimentos fazem parte
da elaboração interior de material inconsciente; geralmente ocorrem antes da
progressão ficar exata. O pico da progressão geralmente sugere o periodo em que a
compreeensão daquilo que resultou, por mais tenue que seja, começa a aparecer; ele
marca, assim, um periodo de mudança interior, baseado na apreensão do significado
da mudança. E a quarta colocação, e talvez a mais importante, da astrologia, é que
210

há muitas opqões disponiveis para a integração de forças inconscientes. Mas o ego


não pode impedir que essas forps se afirmem, ou negar ao inconsciente sua
necessaria autowxpressao. Pode-se selecionar um modo determinado de expressão
em lugar de outros – algumas vezes –, mas a realidade interior, não obstante, exige
reconhecimento.

Jean-Pierre, cujo mapa mostramos a seguir, é um homem instavel e altamente


criativo cujo histórico de relacionamentos inclui tres casamentos e um caso amoroso
particularmente dinâmico que aconteceu na parte final do primeiro casamento. Esse
padrão, portanto, fornece uma excelente ilustraqão do funcionamento do horóscopo
progredido no campo dos relacionamentos humanos.

Jean-Pierre nasceu numa pequena aldeia francesa, de familia pobre.

Durante a meninice, foi criado pela mae e pela avó, que continuaram na aldeia
natal até morrer. Nunca conheceu o pai, emigrante hungaro que um dia passou pela
cidade, teve uma breve ligação com a filHá do dono da loja e continuou seu caminho,
deixando um filho e muita dor emocional. O começo da vida de Jean-Pierre exigiu
uma luta interior para estabelecer um senso de masculinidade e identidade em face
de sua origem ambigua e socialmente inaceitavel; essa luta foi dificultada porque a
mae e a avo eram católicas devotas, fomentando a convicção de que ele era uma
criança concebida em pecado.

Depois de uma série de empregos nao-gratificantes, conheceu e casou com sua


primeira mulher, Liliane, quando tinha vinte e cinco anos. Ela era onze anos mais
velha, e o casamento foi, em grande parte, resultado da insistencia dela. O fato de
Jean-Pierre ter aceitado o acordo sugere seu conluio inconsciente e sua necessidade
de uma figura de mãe, mas a maior parte da dependencia óbvia estava do lado dela.
Tendo um temperamento fortemente intuitivo, ele era capaz de sentir muitas
possibilidades dentro de si que, no momento, não podia expressar; entretanto, sua
formação, seu forte senso de prhc ipios, sua falta de confiança em si e sua culpa o
levaram a ceder a pressão das convençoes. Assim, ele entrou no casamento com
muitos sentimentos meio admitidos de relutância e a incomoda intuição de que ainda
não tinha começado a concretizar todo o seu potencial – de que ainda não era sequer
211

um indivíduo e estava comprometendo sua vida em troca de uma segurança


superficial que facilmente poderia transformar-se numa prisao.

Quase dois anos mais tarde, Jean-Pierre conheceu uma mop americana, Carol,
numa festa, e teve com ela um caso compulsivo e atormentado.

Pela primeira vez, sentiu-se realmente apaixonado, mas o seu senso de


infidelidade conjugal e a culpa resultante não só lhe impossibilitaram viver a sua
paixao, mas também paralisaram a sua capacidade de decidir. Depois de uns oito
meses de encantros clandestinos, Carol voltou para a América; como Jean-Pierre não
conseguisse se livrar do casamento, ela concluiu que acabaria muito machucada se
não terminasse o relacionamento. Depois de sua partida, a vida daméstica de Jean-
Pierre deteriorou-se progressivamente. Tendo descoberto a liga@o clandestina e
percebendo que os sentimentos do marido estavam voltados para outra pessoa,
Liliane tornou-se cada vez mais destrutiva e acabou tentando o suicidio. Jean, nesse
meio-tempo, tinha resolvido se livrar do casamento, retomar seu relacionamento com
Carol e casar-se com ela. A ruptura final com Liliane aconteceu quase tres anos
depois da cerimonia de casamento, quando Jean-Pierre estava com vinte e oito anos.

Nos seis anos seguintes, o instavel e explosivo relacionamento entre Jean-Pierre


e Carol continou. Durante esse periodo, os dois tiveram outros casos, Carol casou-se
com outro homem, deixando-o depois para voltar para Jean-Pierre. Os dois não
conseguiam viver juntos, mas também não conseguiam se separar. Nesse interim,
Jean-Pierre tinha entrado num métier que acabaria se tomando o trabalho de sua
vida: a industria cinematografica. Inicialmente, envolveu-se com a distribuiqão
comercial de uma pequena empresa de filmes, viajando como vendedor pela Europa
e pela América, aos poucos adquirindo experiência nesse campo. A despeito de sua
ligação com Carol, ele passava, assim, por periodos de prolongado isolamento,
ficando em cidades estranhas sem qualquer companhia a não ser prostitutas e
garotas de programa. Entao, quando havia oportunidade, retomava seu envolvimento
com Carol, que, entretanto, ja estava perdendo a qualidade magica de que se revestia
anteriormente. Em r.esumo, Jean-Pierre era sempre atraido compulsivamente para as
mulheres, mas nunca conseguia achar exatamente a mulher que buscava – pois essa
Mulher existia apenas dentro dele. Sem perceber, procurava sua anima e, nesse
212

processo, vivenciava fantasias que muitos homens só experimentam seguramente


sonhando de olhos abertos. Mas embora tivesse um grande numero de mulheres,
continuava incapaz de manter um relacionamento continuo.

O término do relacionamento de Jean-Pierre com (arol aconteceu quando ele


estava com trinta e quatro anos. A essa altura, deixou a França e se estabeleceu na
Inglaterra, determinado a romper com o passado e criar uma nova vida.
Gradualmente, começou a se estabelecer na profissao, chegando ao status de
executivo no setor de distribuiqio de uma grande empresa de filmes. Sua renda
aumentou, ele adquiriu confiança em sua capacidade, mas ainda estava frustrado,
sem achar um canal de saida para qualquer esforço criativo. Além disso, tinha
dificuldade em conviver com o temperamento ingles. Não obstante, estava disposto a
ter sucesso, tanto para provar a si mesmo sua condição de homem como para
mostrar que eta capaz de se fixar em alguma coisa. O espectro do pai que nunca
conheceu ainda o perseguia, e ele estava disposto a não se tomar o perdulario
errante e indigno de confiança como era o seu pai, de acordo com as descriqões da
mae e da avo.

Pouco tempo depois de mudar para a Inglaterra, conheccu Sara, uma inglesa,
funcionaria de sua companhia. Casaram-se tres semanas depois do primeiro
encontro. Na ocasiao, Sara tinha trinta anos, quatro a menos que Jean-Pierre.
Durante alguns meses ela permitiu que ele vivesse suas ilusões românticas; seu
temperamento calmo e racional, seu senso de metodica solicitude permitiram que ele
vivenciasse o relacionamento de mae de que careceu na mfância. Mas, uma vez que
o casamento entrou numa rotina, os problemas começaram novamente. Desta vez,
Jean-Pierre estava disposto a suprimi-los, tendo decidido que o novo casamento
precisava "funcionar", a despeito do baque das conentes em sua vida inconsciente de
sentimentos. Corno um tipo intuitivo pensativo, possuia a capacidade de separar os
sentimentos da percepção consciente, e davaumjeito de sobreviver por algum tcmpo
sem reconhecer que havia alguma coisa profundamente errada. No fim, entretanto, os
sintomas começaram a aparewr. Ele começou a dormir exccssivamente,
principalmente quando estava em casa nos fins de semana. A medida que ia tendo
cada vez mais sucesso, tornava-se mais frostrado. Finalmente, ele e Sara mudaram-
213

se para a França, onde ele abriu um escritorio para sua companhia de filmes. Ele se
sentia mais feliz aIi, rnas Sara não.

Dcpois de tres anos de casamento, Sara tcve um filho, que durante algum tempo
deu a lean-Pierre uma nova esperança e uma explosão de energia criativa; ele
projetou sua infância carente no menmo, desenvolvendo-se, a partir dai, uma ligaqão
profunda e intensa. E, também, durante algum tempo, a perspectiva da fanuTia
estavel e feliz, da vida calma e metódica lhe proporcionou um pouco de sensaqão de
paz. Mas essa perspectiva existia enquanto imagem total dentro dele, não deixando
espaço para incoerencias aem na sua natureza de sentimentos nem na de Sara. Por
baixo da supcrficie, assim, o casamento continuou a desintegrar-se, com a

simultanea perda de contato emocionale sexual. Tornou-se uma forma oca, com
refeiqões cuidadosamente preparadas, uma casa bem administrada e os amigos
certos convidados para festas bem organizadas.

Depois de seis anos de casamento, Sara entrau num prolongado periodo de


grave depressao, acompanhada de uma nascente percepção da projeqão de mae
que tinha decidido assumir e das implicaphs resultantes.

Como resultado, ela resolveu terminar o casamento, decisão que provocou


consideravel dor em Jean-Pierre. Embora ele, inconscientemente, tivesse ajudado a
provocar a ruptura, durante algum tempo não podia admitir esse fato, e tentou
desesperadamente restaurar o relacionamento. O arcabouço doméstico era
necessirio. Tinha se tomado, para ele, o simbolo de uma infância não vivida, um
baluarte contra a necessidade de crescimento de sua própria psique. E sua ligação
com o filho tornava a situação ainda mais dificil. Sara, entretanto, acabou voltando
para a Ingiaterra com o filho.

Nos dois anos entre a separação e o divórcio final, Jean-Pierre nunca pôde
aceitar inteiramente o fato de o casamento estar definitivamente terminado. Mesmo
tendo numerosos casos, ele guardava em alguma parte de si uma confusão secreta e
uma esperança inconsciente de que, de alguma forma, alguma coisa magica
aconteceria e ressuscitaria o passado. Que esse passado era basicamente uma
fantasia sua, ele começou a perceber devagar.
214

A medida que começou a compreender melhor Sara como indivíduo – o que ele
tinha de fazer para entender por que ela o havia deixado –, começou a dicernir a
incompatibilidade basica de seus respectivos temperamentos.

Mais ou menos na mesma época em que o casamento começou a desmoronar,


Jean-Pierre foi ficando cada vez mais descontente com o fato de trabalhar para os
outros e sufocar a sua criatividade nesse processo. Resolveu montar sua própria
companhia de filmes e, apesar da oposição de Sara e sua convicção de que o
empreendimento fracassaria, ele aceitou o risco, aventurou o necessirio e investiu a
maior parte de seu capital no novo projeto. Seguiu-se um longo e arduo esforp para
tornar a nova companhia financeiramente viável. Um pouco antes de completar
quarenta e dois anos, Jean-Pierre descobriu o "movimento do crescimento", que lhe
abriu um novo mundo. Com uma crescente sensação de estar despertando, ele
começou a investigar a psicologia, os métodos altemativos de cura e o pensamento
esotérico, e se pos a ler vorazmente. ao mesmo tempo, entrou em contato com
muitas pessoas mais ou menos inconvencionais e tentou investigar a sua própria
inconvencionalidade, procurando alcançar alguma compreensão das motivaqões que
o tinham levado a tantos relacionamentos fracassados. O abandono de uma carreira
segura, porém frustrante, a exploraqão do desconhecido e o concomitante
crescimento em consciência levaram a seu encontro com Katherine, uma artista e
ilustradora canadense residente na França. Ela, também, estava profundamente
envo!vida com o movimento esotérico que Jean-Pierre tinha encontrado por acaso, o
que proporcionou uma esfera de visões e interesses partilhados atraindo um para o
outro. Agora eIe está começando a valorizar sua capacidade de expressão criativa
individual, a despeito das dificuldades ao longo do caminho, e descobriu em
Katherine, apesar de sua personalidade um pouco forte, um respeito por essa
necessidade. A despeito de certos conflitos de personalidade e do fato de os dois
possuirem um caráter semelhante, intuitivo, temperamental e voluntarioso, eles se
casaram. Ainda não conhecemos os resultados dessa uniao, mas, para nossas
finalidades, não é necessario ir mais além no "historico" de Jean-Pierre.

O mapa de nascimento de Jean-Pierre sugere vários pontos importantes, que é


preciso considerar antes de tomarmos o horoscopo progredido.
215

O motivo dominante no mapa natal é o crescimento da consciencia, sugerido


pelo Sol na nona Casa e pelo regente e Mercurio na oitava. Plutao, o regente, em
conjunção ampla com Mercurio, sugere um poderoso impulso em direção a
autocompreensão, cavando até o fundo para lançar luz sobre as próprias motivaçoes.
Além disso, Escorpião ascendendo acentua ainda mais a necessidade de
compreender a si mesmo. Esse tipo de enfase sugere imediatamente um indivíduo
levado a buscar o conhecimento de si e da vida através da expressão criativa. Le5o,
como signo solar, também sugere a necessidade de descobrir o próprio Self, e, na
nona Casa, implica uma busca de experiência significativa que possa gerar um
Weltanschauung tão profundo e amplo quanto possivel.

A oposição exata entre o Sol e Saturno reflete a falta de confiança de Jean-


Pierre, seu senso de inadequação e de fracasso, em parte desencadeados por sua
infância dificil. Mas emboia essa oposição sugira muitas ansiedades e sentimentos de
limitação, também sugere a determinação de enfrenti-los, ultrapassa-los e tornar-se
ele mesmo a qualquer custo. O temperamento intuitivo está refletido pelo Sol em fogo
numa Casa de fogo, e também por Urano em Áries. outro signo de fogo, na quinta
Casa, da expressão criativa. O predominio da função de pensamentoesta refletido
pela Lua na terceira Casa em Aquirio – um signo de ar numa Casa de ar – e pela
colocação semelhante de Saturno; e Marte, co-regente do mapa, está da mesma
forma num signo de ar, Libra, numa Casa de ar, a décima primeira. ao contrário, a
fungio de sentimento esta indiferenciada. Isto é sugerido pelo ascendente em
Escorpiao, um signo de agua cuja orientação de sentimentos, primitiva e intensa, não
é facilmente assimilavel pelas funqões

dorninantes da cansciencia. Em consequencia, é provavel que seja projetada


nos outros. A sensação, também, é uma funqio fraca, e o agrupamento de planetas
em Virgem no Meio4o-céu sugere qualidades que Jean-Pierre procuraria num
parceiro: praticidade, estabilidade, ordem, estrutura e refinamento. Venus conjunto a
Netuno em Virgem na nona Casa implica um tipo particular de imagem de anima:
escura, de terra, "exótica" e altamente misteriosa. Por causa do relativo equiiibrio de
eiementos, não é facil tipificar esse mapa, mas quando se conhece um pouco do
temperamento envolvido, é possivel examinar o mapa e compreender como os
216

elementos de terra e água foram suprimidos e projetados no parceiro.

Depois de observar esses trar,os bisicos de temperamento, precisamos tambdm


entender que signos fixos como Leao, Escorpião e Aquario – todos significativos no
mapa de Jean-Pierre – sempre crescem lentamente.

Eles forjam seus valores vagarosamente, através da experiência direta, e em


geral não florescem antes da meia-idade. Resistindo a mudança que vem de fora"os
signos fixos, como grupo, caracteristicamente se apegam a valores e experiências
que ja esgotaram sua utilidade. No mapa de lean-Pierre, aldm disso, a oposição Sol-
Saturno sugere muitos obstáculos que ele precisa enfrentar dentro de si, antes que
esteja liyre para expressar sua individualidade. O principal deles é a separação entre
seu ego e sua sombra. Em ultima anilise, 8 preciso que ele faça as pazis com sua
escuridão interior.

Refletida por Saturno em Aquário, essa escuridão ameaça mante-lo preso numa
sensação de ser "comum", e parece constantemente enfrent&lo de fora na forma de
uma sociedade-obsticulo ou de um individuowbstaculo.

Até que possa aceitar, sem julgar, a "inferioridade" tanto interna como no mundo
exterior, eie vai se sentir colocado contra um ambiente aparentemente hostil. Seus
poderosos sentimentos, sugeridos pelo ascendente Escorpiao, também precisam ser
aceitos cemo são e integrados, em vez de estruturados em categorias "boas" e "mas"
por sua função de pensamento.

Existe uma grande tensão refletida entre o Sol, a Lua e o ascendente, a que sem
duvida contribui para a vitalidade e a intensidade de Jean-Pierre – em termos de
psicologia analitica, ele esta cheio dc "Eros". Mas é preciso que ele aprenda a ajustar
a imagem ideal de si mesmo e dos outros a realidade da natureza humana, que é
tanto escura como clara. Como muitas outras pessoas com o pensamento altamente
desenvolvido, Jean-Pierre é extremamente emocional, e, portanto, confunde Eros
com sentimento. A maioria dos seus relacionamentos envolveram emoção poderosa e
intensa paixao, mas o sentimento permaneceu, em grande parte, indiferenciado.
Jean-Pierre tem realmente um problema para compreender os sentimentos e as
motivaqões dos outros; ele projeta sempre o lado mais escuro de seu ascendente
217

Escorpião no exterior, acreditando que os outros sejam brutais, agressivos,


controladores, desconfiados e desejosos de obstruir seu desenvolvimento.

Venus em quincunce – um angulo de 15O graus – com Saturno sugere um


problema nos relacionamentos; é um aspecto freqiientemente relacionado com feridas
da infância devido a um lar frio e sem simpatia. A mae de Jean-Pierre era uma mulher
trabalhadora porém naowfusiva, e a avó, também, tinha muita dificuldade para
expressar os sentimentos. Jean-Pierre, basicamente, tem medo de expor sua
natureza de sentimentos, muito vulneravel e infantil, nos relacionamentos intimos,
entretanto, esses mesmos relacionamentos, como sugere a conjunção Venus-Netuno
na nona Casa, precisam ser, para ele, um meio de autotranscendencia e um caminho
para sua própria alma.

Na época do primeiro casamento de Jean-Pierre, várias progressões


interessantes estavam exatamente começando a se acumular. Como houve muita
pressão por parte de Liliane, aparentemente o primeiro casamento teria sido decisão
dela; mas são precisos dois para haver um conluio, e Jean, inconscientemente,
estava encenando uma situação através da qual se visse forçado a admitir o poder da
anima e a força de sua própria naturoza sentimental desconhecida. Durante o
primeiro ano de casamento, o Sol progredido fez conjunqão com Netuno. Esse ultimo
planeta simboliza uma passividade especial, uma inércia temporária da vontade
individual, uma paralisia de onde só é possivel sair através do sacrificio de uma parte
de si mesmo.

Quando o Sol gradualmente se encaminhou para uma conjunção com Venus,


Jean-Pierre conheceu Carol. A progressão do Sol em conjunção com Venus simboliza
a constelação da anima, do arquétipo feminino; dificilmente seria uma surpresa,
assim, que nessa época ele não apenas se casasse e se divorciasse, mas também se
envolvesse no caso mais passional de sua vida. A progressão do Sol sobre Venus
continuou por todo o periodo de colapso do casamento de Jean-Pierre e dos dois
primeiros anos de suas viagens. Nessa época, ele estava compulsivamente a procura
de uma mulher que personificasse a imagem interior que dominava sua consciencia,
e que as energias refletidas pela progressão tinham ativado. ao mesmo tempo, Venus
também fez uma progressão sobre Marte, outro simbolo da constelação do lado
218

passional e erótico da anima. Em todo esse periodo de vida, Jean-Pierre foi


completamente dominado por sua natureza erotica e emocional. Nada mais
realrnente importava. Enquanto ocorriam essas progress5es, Jean-Pierre também
vivenciou seu retomo de Saturno, que se completou quando ele estava com vinte e
nove anos e meio. Como resultado,

l o velho self partiu-se e desintegrou«, e emeqju um novoself, camgado de novas


perguntas e novas desilus5es, mas finalmente livre das estruturas e dos valores do
passado.

Precisamos lembrar que as progressões não fizeram nenhuma dessas coisas


acontecer. Também não podemos moralizar, ou afirmar que JeanPierre devesse ter
feito opqões diferentes. Tanto seu casamento como sua sujeiqão foram uma parte
necessaria da experiencia; foram a causa de sua relação com Cazol ter sido uma
autentica crise em vez de um agraKvel caso amoroso, e dividiram Jean-Pierre
forpndoo a tomar-se mais consciente de seus sentimentos. Através desse tipo de
sofrimento, a anima leva o homem a experimentar a vida. Além disso, a escolHá da
amante de Jean-Pierre foi desastrosa, pois Carol, devido a seus próprios problemas
emocionais, não conseguia manter um relacionamento estivel. Aqui, podemos ver
também a marca da anima, enredando o homem em laços emocionais, conduzindow
para a selva de sua própria vida sentimental e colocandow diante de opqões que o
enlouquecem porque não são nem brancas nem pretas, nem claramente definiveis
como certas ou erradas. Jean-Pierre achava que podia fazer com que seus
sentimentos se subordinassem aos principios de seus pensamentos. Todo o periodo
da progressão do Sol sobre Netuno e Venus abrangeu uma experiência que trouxe a
consciência o lado de sua natureza que ele nunca soube que existia. Não faz sentido
dizer se a pessoa deveria ou não fazer determinadas opqi5es porque sairia
"machucada".

O inconsciente decide essas coisas por nós, e só o indivíduo que foi esmagado
pela ativação de suas forças sabe o poder que elas tem. E diante dessas forças, o
intelecto racional, com suas meticulosas estruturas de comportamento adequado,
precisa se calar.
219

Na época do casamento de Jean-Pierre com Sara, Venus progredido estava


formando um trigono com a Lua, que se tornou exato no primeiro ano desse segundo
casamento. ao mesmo tempo, o Meio-docéu progredido também entrou em trigono
com a Lua. Inicialmente, o casamento foi como uma volta para casa, um retorno a
uma deliciosa fantasia infantil; a Lua é um simbolo da mae, e Jean-Pierre acreditou
ter finalmente encontrado uma mulher capaz de proporcionar a solicitude calma e
estável que ele nunca tinha vivenciado na infância. Essas progressóes, em resumo,
simbolizavam a constelação de outro aspecto da anima. a imagem da mae.

A desintegragTo do casamento coincidiu com duas importantes progressGes no


mapa de Jean-Pierre: Venus progredido em oposição a Urano, e Marte progredido em
quadratura com o Sol e com Saturno. A primeira progressão simboliza o despertar da
descoberta de Jean-Pierre de que estava faltando alguma coisa no seu casamento,
alguma coisa que estava faltando em todos os seus relacionamentos com as
mulheres: o elemento transpessoal, a capacidade da anima para funcionar como uma
escolta psiquica, conduzindo a profundidade espiritual. Nem mesmo seu envolvimento
com Carol tinha constelado esse aspecto do arquétipo feminino. Sem duvida, nessa
ocasião suas paixões tinham sido despertadas, mas Carol correspondia à fase Venus
da anima, a Hetaira, a cortesa ideal, a companheira. Agora, entretanto, ele precisava
de algo mais profundo. Sua criatividade estava sendo ativada (Urano está na quinta
Casa, da expressão criativa), mas era virtualmente impossivel expressar esse lado,
até então latente, de sua natureza dentro dos parâmetros do casamento com Sara e
que, na verdade, ele a principio desejou. Os relacionamentos mae – filho não
permitem nem que a mae nem que o filho cresçam e se transformem em homem e
mulher. Havia um encontro de hábitos entre Jean-Pierre e Sara, e freqiientemente um
encontro de mentes, mas não de sentimento, e com certeza não de espirito. Além
disso, em seu casamento com Sara, assim como em outros relacionamentos, Jean-
Pierre tinha a tendencia a vivenciar os diferentes aspectos de sua anima através da
mulher, em vez de desenvolve-los dentro de si mesmo, com o estimulo do
relacionamento. A progressão de Venus sobre Urano sugere que chegou a hora de
despertar, de se tornar consciente do potencial do aspecto feminino de sua própria
psique, de expressar esse potencial através de sua própria criatividade.
220

Marte progredido acionando sua oposigTo natal Sol-Saturno simboliza a


estimulapo da necessidade de Jean-Pierre de desenvolver-se enquanto homem, de
procurar algo seu, de enfrentar o desafio – em resumo, de crescer no sentido mais
profundo. O manto sufocante de um salário garantido, uma bela casa, um jardim e os
jornais de domingo foi seriamente amarfanhado sob esta progressao. Uma nova
constelaqão inconsciente tinha começado: Urano, o Despertador, foi colocado em
movimento, e começou vagarosamente a emergir na consciencia. Jean-Pierre levou
algum tempo para perceber sua convivencia no colapso do seu segundo casamento
com Sara. No final, entretanto, foi obrigado a fazer isso, pois ele mesmo havia
plantado as sementes. Não podia continuar sendo, para sempre, uma criança em
seus sentimentos, nem Sara podia continuar sendo a mae-esposa devotada e
atenciosa. A decisão verbal da separaqão pode ter sido dela, mas o trabalho de
bastidores tinha sido um trabalho de equipe.

Como muito outros relacionamentos mae – filho, o de Jean-Pierre e Sara não


tinha sido desprovido de afeto, e atendeu as necessidades dos dois durante uma
época especifica. Mas as necessidades mudam com o crescimento, e a progressão
de VBnus com Urano, e Marte com o Sol e Saturno, anunciou o corte do cordão
umbilical.

Por essa época, Jean-Pierre chegou a sua "crise de meia-idade". Urano atingiu a
oposição com sua colocação natal, e ele começou a expandir seu pensamento, a
envolver-se num novo movimento com novas pessoas, que nunca havia encontrado
antes. Embora seu temperamento intuitivo ja lhe tivesse proporcionado alguns
vislumbres, o significado mais amplo dos acontecimentos começou a nascer nele,
agora de forma consciente.

Sua mente e seu espirito estavam despertando, e ele tinha os problemas e as


alegrias de seu novo filho – a companhia de filmes – para ocupa-lo.

Conheceu sua terceira mulher, Katherine, quando Urano estava estacionario no


céu em oposição a seu Urano natal. ao mesmo tempo, a Lua progredida fazia trigono
com Urano, e o Meio-do-céu progredido também fazia oposiqão a Urano. Pode-se ver
o imenso poder desse plaaeta sendo ativado em sua psique. Seus objetivos, sua
221

auto-imagem, toda a sua perspectiva consciente da vida estavam passando por uma
mudança radical.

Esse esboço muito rapido não faz justiça nem ao mapa individual nem aos
acontecimentos refletidos por ele. As implicaqões de cada progressão são enormes e
envolvem muito mais ramificaqões do que é possivel examinar aqui. Em primeiro
lugar, poderiamos atribuir cada um dos quatro relacionamentos importantes de Jean-
Pierre a quatro diferentes energias planetárias. Seu casamento com Liliane foi
reQetido pela progressão do Sol sobre Netuno; seu encontro e subseqiiente ligação
com Carol levou a marca de Venus; Sara coincidiu com as progressdes envolvendo a
Lua; e Katherine estava associada a ativação da energia simbolizada por Urano. Com
base nesse esquema, talvez supersimplista, poderiamos dizer que as quatro
mulheres de Jean-Pierre eram simbolos, para ele, de quatro diferentes facetas do
feminino, quatro diferentes arquétipos operando em sua própria psique e buscaado
expressão em sua vida. As circunstâncias adicionais envolvendo cada relacionamento
também partilham de uma energia arquetípica especifica e correspondente.

Aquilo de que somos inconscientes, nos projetamos. Como os relacionamentos


de Jean-Pierre, como os da maioria das pessoas, foram em grande parte
inconscientes, os atributos dos arquétipos foram projetados em mulheres individuais.
Nenhum ser humano, é claro, pode literalmente ser um arquétipo, mas se
examinarmos os mapas das mulheres em questao, poderemos ver quantos dos
relacionamentos eram meramente uma projeção da parte de Jean-Pierre, e quanto as
próprias mulheres se adequavam a imagem interna dele. O horóscopo de Carol, por
exemplo, mostra muito pouca influencia de Venus, embora ela tenha aparecido como
Venus para

Jean-Piezre, quando se conheceram, e aIgumas das decepqões que se


seguiram, sem duvida, foram resultado da incapacidade dela de satisfazer as
exigencias da projeção que Ihe foi imposta. Uma discrepância semelhante ocorre no
mapa aatal de Sara, que não reflete qualidades lunares, não Há planetas em Câncer,
e a Lua está cadente e oculta, mal aspectada, na décima segunda Casa. Aqui,
novamente, Jean-Pierre projetou qualidades que não coincidiam com o objeto da
projeção. Esses "erros" – se esta é a palavra adequada – não são "bons" nem
222

"maus", entretanto. Se Sara fosse mesmo um tipo lunar, o casamento mae – filho
poderia ter durado muito mais, com muito maior sufocação dos dois parceiros
envolvidos. Em ultima analise, só d possivel aceitar a experiência como experiencia,
viver com ela e aumentar o conhecimento através dela; ela não é nem "certa" nem
"errada". Tudo que podemos dizer é que todos os relacionamentos de Jean-Pierre
foram necessarios, produtivos e inevitaveis, porque alguma coisa em sua psique fez
com que fosse assim. No decorrer de seu processo de ensaio e erro, além disso,
Jean-Pierre se tomou mais consciente, de modo que a parceira que ele escolhe é
mais conforme a anima dentro dele, e entretanto não é forçada a vivenciar, ela
própria, essa imagem interior. O mapa de Katherine, por exemplo, mostra um Urano
dominante e angular, aspectando todos os planetas do mapa, indusive o Sol e a Lua.
É o ponto focal num horóscopo tipo "tigela". Talvez Katherine se mostre capaz de
satisfazer as neeessidades que o fizeram envolver-se com ela.

Nem todos vivenciam a liberação de energias simbolizada pelas progressões na


forma externa hbvia como fez Jean-Pierre. Talvez seu temperamento seja
responsavel pelo drama de seus relscionamentos; para outros homens, sucessivos
aspectos com Venus não precisam acarretar uma constante troca de parceiras. Sob
as progressões, entretanto, a imagem que todos os homens tem de sua parceira vai
mudar, assim como o que procuram no relacionamento. Se a união é consciente dos
dois lados, essas mudanças podem ser conduzidas cooperativamente, acrescentando
ao relacionamento uma nova e mais rica faceta da vida. Se as duas pessoas forem
inconscientes, em geral, as conseqiiências serão explosivas e destrutivas. Mas alguns
indivíduos escolhem o caminho elevado, e outros o baixo. Para alguns, é necessario
vivenciar uma experiência desafiando todos os obsticulos. Para outros, ela pode ser
vivenciada em uma estrutura existente.

Não se pode antecipar o modo; só se pode esperar até que o crescimento de


inicio a mudança. Quando isto ocorre, o horóscopo progredido tem muito a dizer
sobre as razoes. 9

Relacionamento na Era de Aquirio Não só do Homem cidico Aqui distinguimos


o plano, Não só do Homem cidico, mas do Eu ciclico Não só dos grandes anos das
Mortalidades O reflexo começa a surgir, Mas do próprio ano do teu coração, ainda
223

girando Em voltas cada vez maiores Para o longinquo fim, onde o Amor coroado não
consumido vai cantar na pira funeraria.

– Francis Thompson

Talvez seja hora de voltar ao Zeitgeist sob cujos auspicios este livro começou, e
determinar que influencia ele e o amplamente anunciado advento da Era de Aquário
tem sobre os problemas de tornar conscientes os nossos relacionamentos com outros
seres humanos. O grande esta refletido no pequeno, e a nova era de consciência
simbolizada pela Era de Aquario não é um fenâmeno que "acontece" em algum lugar
lá fora, cujos efeitos eventualmente chegam até nós através do ambiente. É uma
ocorrencia na psique de cada individuo, e deve ser reconhecida como tal. Somente
então

podemos entender as ligaq5es entre a mudança das nossas necessidades e


valores nos relacionamentos, e os gemidos e contraqões a nossa volta que significam
as dores do parto da nova era.

No verio de 1967, o primeiro "love-in" foi encenado na California, uma reunião de


centenas de "marginais" abaixo dos trinta anos fazendo depoimentos pessoais sobre
o que julgavam ser uma estrutura social estagnada, arruinada e desumanizada. Mais
ou menos na mesma época, a peça musical de rock Hair tornou-se um sucesso nos
Estados Unidos, e seu tema podia ser ouvido em todas as rádios do pafs:

Quando a Lua estiver na sétima Casa e JGpiter se alinbar com Marte, entio a
paz vai guiar os planetas e o amor vai reger as estrelas.

Este é o amanhecer da Era de Aquário...

Profetas, videates e expoentes da utopia aparecem no amanhecer de todas as


eras, e sua proliferaqão, dram5tica como foi na ultima década, ja aconteceu antes.
Ocorreu no amanhecer da Era de Peixes, quando a nova religiao, embrioniria e não
reconhecida, teve sua vida fragil conservada nas catacumbas romanas pela devoção
de um punhado de crentes. Sob outra forma, tambdm ocorreu no advento da Era de
Azies, cerca de 2.00O a.C., quando hordas de tribos de olhos azuis e cabelos lohros,
com suas hierarquias de deuses guerreiros, precipitaram-se da Europa do norte e
central e impuseram-se is grandes culturas agririas matriarcais do Mediterraneo.
224

Não possuimos rcgistros coerentes do amanhecer da Era de Touro, que coincide


com o periodo entre 5.00O e 4.00O a.C., quando tribos nomades do deserto
começaram a lavrar a terra e estabeleceram as bases das culturas dos vales do Nilo
e do Tigre-Eufrates. Não obstante, consideramos essas culturas o inicio da civilizaqão
ocidental. Também houve menos florescimento de visão durante cada era astrologica.
O Renascimento Hcrmético do final do século XV e inicio do século XVI, a Huminação
Rosacruciana no começo do século XVII, o "Movimento Romântico" com sua
explosão do genio criativo personificado em figuras como Blake, Goethe,
Swedenborg, Novalis, são alguns exemplos dessas melodias menores durante a
ultima era. Por mais importantes que sejam, entretanto, elas carregam o tema
dominante das grandes energias arquetípicas que regeram esse ultimo ciclo de dois
mil anos.

As eras astrologicas aparentemente começam com grandes contraqões e


gemidos, como o nascimento de qualquer coisa no mundo, e são

acompanhadas pela angustia da morte da velHá era que as gerou. Também


parece haver um padrão ciclico basico dentro de cada era, correspondendo ao padrão
de desenvolvimento da consciência individual subjacente. Platão chamou o ciclo das
idades astrologicas o Grande Ano, uma época de 25 mil anos dividida em doze eras
de 2165 anos. Ele acreditava que cada uma dessas eras constituia uma diferente
cncarnaqão do Homem macrocósmico renovando o ciclo de morte e renascimento –
de uma forma muito semelhante a que o homem individual microcosmico, de acordo
com a doutrina esotérica, encena o ciclo de sucessivas encarnaqões no seu caminho
espiralado em direção a maior consciencia. E precisamos lembrar, também, o
celebrado principio alquimico: Deus não é apenas a redenção do homem, pois o
homem também é a reden o de Deus. Sendo assim, as sucessivas eras de
consciência sio o desenvolvimento de Deus, assim como da imagem que o homem
faz de deus. Ou talvez não haja diferen entre os dois.

Com mitos e profecias correndo soltos a respeito do advento da Era de Aquirio,


vale a pena examinar o fenomeno do ponto de vista do astronomo, e depois do
astrólogo. Esse ultimo, principalmente, cujo sistema simbólico perdurou por tantos
milhares de anos, tem muito para complementar as descobertas da psicologia
225

profunda. Com a ajuda dessas duas disciplinas, podemos tentar compreender os


grandes ciclos do desenvolvimento humano e seus efeitos sobre o individuo.

A precessão dos equinocios foi descoberta por um astronomo-astrólogo grego


chamado Kparco, cerca de 15O a.C., e é causada, aparentemente, pela rotaqão da
Terra sobrc seu eixo polar a medida que orbita em torno do Sol. Por causa dessa
rotacio, o ponto norte se desloca; e enquanto agora situamos o norte verdadeiro na
direqão de Polaris, a Estrela do Norte, essa referencia celestial para o verdadeiro
norte magnético nem sempre existiu. De fato, o eixo polar descreve um circulo que
leva de 25 mii a 26 mil anos para se completar, e durante esse tempo muda
aonstantemente sua orientaqão em relação as estrelas no espaço. Essas mudanças
podem ser medidas a cada ano no equindcio vernal, quando o Sol cruza o meridiano
ao meio4ia sobre o equador e ingressa no que chamamos signo zodiacal de Áries, o
começo do novo ano astrológico. No ponto equinocial vernal atual, o fundo de estrelas
atris do Sol é o fim dn constelagão de Peixes e o inicio da constelação de Aquario; e é
em direção a essa ultima que o ponto equinocial vernal esta agora vagarosamente se
movendo. Dois mil anos atras, esse ponto equinocial vernal passou da constelação de
Áries para a de Peixes. Daqui a dois mil anos, vai passar para Capricórnio, e outra
nova era vai comeqzr.

Não sabemos por que o fenomeno fiYico de uma Terra oscilante e não
perfeitamente esférica, incerta em relação a sua orientação no céu, deveria ter
qualquer ligaqio com o crescimento da consciência humana.

Talvez seja a manifestaqão da sincronicidade numa escala titanica. De qualquer


forma, a nova era parece inclinada a rasgar o véu da face oculta da natureza e de
seus segredos; se mantivermos o ritmo dos ultimos anos, sem duvida vamos adquirir
um pouco de compreensão sobre muitos mistérios antigos, elaborada em adequada
linguagem cientffica para a disciplinada mente aquariana. Mas qualquer que seja a
razão, a correlação entre a precessão dos equinócios e as cambiantes eras do
desenvolvimento do ser humano parece ser simbolicamente vtlida, mesmo que ainda
não conheçamos as leis que regem tal enigma. Essa correlação é forçosa quando se
estuda a história, principalmente o desenvolvimento da religião e do mito, pois são os
simbolos religiosos que expressam mais claramente as energias em operago em
226

cada era. No final de uma era, muitos velhos deuses morrem ou sio subordinados, e
novos deuses – que simbolizam as energias que não emergirarn anteriormente i
consciência humana – nascem.

Por exemplo: o culto da Grande Mãe, no final da Era de Touro, foi substituido
pelo culto dos deuses do céu. A explicação oferecida pelo pensamento esotérico
merece ser considerada: o universo, como o conhecemos, é um organismo vivo, e os
padr5es ffsicos e psiquicos através dos quais, a qualquer momento, esse organismo
se manifesta, refletem simbolicamente a mesma qualidade de significado. Ou
poderiamos pensar em termos do nosso Zeitgeist, e sugerir que certas grandes
energias arquetípicas, "espfritos da época", fisicas e espirituais em natureza, são
ativadas ou consteladas no inicio de uma era, conferindo a realidade exterior e interior
o mesmo padrão e o mesmo significado, desde os grandes acontecimentos mundiais
até a vida particular do ser individual.

Seria necessário um estudo exaustivo da religião e do mito em todas as eras e


em todos os paises do mundo para descrever exatamente as manifestaqões de cada
um desses grandes arquétipos ou Zeitgeists.

Remetemos o leitor a The Golden Bough, de Frazer, The Masks of God, estudo
em quatro volumes de Campbell, The Great Mother de Neumann, e Aion de Jung,
para um exame mais completo. Podemos resumir, entretanto, sugerindo que o
significado do signo astrológico que preside uma determinada era parece impregnar
os valores religiosos dessa era. O que o

1 The Golden Bough, Sir James Frazer. Nova Ioxque, Macmillan, 1922.

2 The Masks of God, Joseph Campbell. Nova lorque, Viking Press.

3 The Great Mother, Erich Neumann. Nova Iorque, Bollingen Foundation, 1955.

4 Aion, C. G. Jung. Londres, Routledge & Kegan Paul, 1959.

indivíduo adora como o ideal mais elevado possivel, o melhor bem e o mais
elevado mistério além da vida, parece ser, de alguma forma, simbolizado pelo signo
astrológico regente, e esse mistério sempre corporifica algo inteiramente novo, algo
previamente desconhecido pela consciência humana. Assim, através das eras, o
Homem macrocosmico expande sua percepção, e se torna mais inteiro.
227

Com o advento da Era de Touro, o homem descobriu a fertilidade da terra, e sua


visão da deidade foi personificada na Grande Mãe, simbolo do poder da procriação,
um reflexo do signo feminino, de terra, de Touro. As muitas representaqões desse
poder feminino reinante podem ser encontradas em virtualmente todas as culturas
dessa era, juntamente com o consorte da Mfe, a Serpente. ao considerar qualquer
signo astrológico, precisamos sempre considerar sua antitese. Touro se opoe a
Escorpiao, e, quer se expresse por meio de um indivíduo ou de uma era, a
simplicidade e a passividade da terra fértil se empenha na direção da centelHá
dinamica da vida fertilizadora – que naturalmente abarca a morte e o renascimento.
Esse principio regenerativo é simbolizado por Escorpiao, e a Serpente – o antigo
simbolo desse signo – se torna o consorte da Mae. A Serpente personifica a
sabedoria, o conhecimento da opção; apenas através da opção o indivíduo pode
morrer e renascer. Sem ela, ele permanece como o reino vegetal, passivo,
aquiesccnte, sem o conhecimento de suas origens ou de seu destino. O Zeitgeist da
Era de Touro, refletido pelos simbolos da Grande Mãe e da Serpente, parece ter sido
o dos mistdrios da união sexual, da procriação, da morte e do renascimento, e todos
esses aspectos do arquétipo foram dramaticamente expressos através das varias
formas de adoração durante essa era.

As eras astrológicas não começam e terminam abruptamente; o declinio de uma


fertiliza o nascimento da proxima. No alvorecer da Era de Áries, o matriarcado e a
supremacia da Mae começaram a dar lugar a um novo panteão de deidades, deuses
do céu que viviam no alto de suas montanhas e mantinham suas consortes femininas
dentro de limites. Um traço muito marcante aparece em muitos mitos originarios da
Era de Áries: os deuses, que até então não se preocupavam diretamente com o
destino humano, começaram a se envolver com os seres humanos, e uniram-se a
mulheres para produzir uma raça de herois e semideuses. Deus, ou os deuses, se
aproxima vagarosamente do dominio do homem. Durante a Era de Touro, os deuses
eram simbolizados como demoniacos poderes da natureza, que precisavam ser
propiciados e aplacados, mas nunca abordados diretamente. Tampouco eram sempre
– ou mesmo freqiientemente – antropomorfizados. Mas, com a emergencia do
patriarcado divino, os deuses
228

começaram a condescender e se importar, e mesmo a se preocupar, com os


assuntos humanos.

Áries é um signo masculino, de fogo, e o amanhecer dessa era reflete o passo


seguinte da consciência em evoluqão do individuo: ele começou a subjugar os
poderes da natureza com o instrumento criativo de sua vontade. Sua visão da
deidade foi personificada em simbolos do poder do principio masculino, entre os quais
o mais significativo é o simbolo do Heroi.

Áries é a antitese de Libra, e essa polaridade é refletida no desenvolvimento de


sistemas de pensamento, lei, filosofia, estzatégia militar, matematica e no das idéias.
Na Era de Áries, se Deus era personificado como guerreiro e heroi, também era um
Deus que sabia pensar.

No começo da Era de Peixes, os panteões igneos de deuses do céu não foram


ostensivamente derrubados. Em vez disso, eles foram invadidos, desintegrados, e
sutilmente disfarçados com outros nomes – caracteristico de Peixes – por um Deus
benigno de amor, compaixão e sacrificio. O próximo estágio na consciência em
desenvolvimento do ser humano é uma crescente percepção de seu semelhante: o
desenvolvimento dos valores do sentimento. Peixes é um signo feminino, de água,
que personifica um senso da unidade da vida; também é naturalmente um signo
duplo, retratado pelo simbolo dos dois peixes lutando para nadar em direqões
opostas, porém ligados um ao outro por um cordão dourado. Pode ser que essa
dualidade esteja em parte vinculada a terrivel divisão entre opostos que ocorreu
durante a ultima era. Durante as eras taurina e ariana, parece ter havido uma relativa
unidade ou harmonia entre os principios antitéticos simbolizados pelos signos
opostos. Talvez isso seja um reflexo do estado instintivo do ser humano durante
essas eras, pois a inconsciência possui sua própria unidade. Mas os valores
personificados por Peixes e seu signo oposto, Virgem, tem sido inimigos um do outro
durante os ultimos dois mil anos; essa inimizade é muito semelhante aquela
experimentada pelo indivíduo em guerra com sua sombra. As qualidades
personificadas por Virgem foram vigorosamente reprimidas durante a Era de Peixes.
Em conseqiiencia, o valor mais elevado – o perdao, o amor absoluto pela humanidade
cujo simbolo mais significativo é Cristo – não recebeu equilil)rio e forma da
229

consciência realista, de terra, de Virgem. O enorme abismo entre a aspiração


espiritual do indivíduo a pureza, a perfeiqão e a união com Deus, de um lado, e sua
vida diaria, de outro, é tão evidente agora quanto foi durante séculos. Sua melhor
personificação é o freqiientador dominical da igreja, que tem convicq5es religiosas
completamente sinceras mas que, em todos os outros dias da semana, vomita ódio,
inveja, violencia, crueldade e rancor sobre seus semelhantes, até sua próxima visita
dominical a Deus.

Os milagres e as vis5es são muito um aspecto do modo pisciano de expressao;


igualmente a emoção de massa, a receptividade is necessidades de sentimento
coletivas, sem discriminação individual. Fé cega, crença sem questionamento e
mesmo fanatismo são expressões da energia pisciana.

Virgem, com sua enfase na discriminaqão, no discernimento e no


autoaperfeiçoamento, é o contraponto natural do impulso pisciano para a
desintegração da individualidade no mar das massas; mas os valores de Virgem,
mais humildes e mais relacionados com a vida diária nos parametros das limitaqões
da personalidade e do tempo, foram denegridos de forma mais ou menos vigorosa.
Virgem, embora discriminador, da valor ao impuro; se relaciona com o que é util,
pratico e acessivel. Não é um signo idealista, como Peixes. Podem-se ver traps
óbvios da repressão dos valores virginianos na enfase da pureza, do celibato, do mal
inerente a matéria; também é visivel no auge da ética crista, as "boas obras", muitas
vezes realizadas sem qualquer avaliação realista dos desejos do favorecido em
receber ou não tais serviços. Virgem é um signo de terra, como Touro, mas a
personificação do principio feminino não é a terra primitiva e fértil simbolizada pelo
touro; é a figura feminina diferenciada, a Virgem, que é receptiva mas também possui
o poder da reflexão e da disczimina@o, e a capacidade de dizer nao. É aqui que
começamos a ver as enormes implicaq5es dessa terrivel divisão no inconsciente
coletivo do indivíduo durante a era pisciana. Virgem é um simbolo da Mulher, que
durante essa era carregou o fardo da projeção da sombra coletiva. O diabo, que
também é uma corporifica o do mesmo principio da matéria – Rex Mundi – sempre
trabalHá por meio de uma mulher na era pisciana, e a serpente do jardim,
antigamente sagrada, tendo perdido o valor da sabedoria instintiva que possuia
230

durante a Era Taurina, tomou-se o Senhor da Escuridao, perseguindo seus fins


através da fraqueza e da inferioridade inerente ao feminino. O simbolo da Grande
Mae, antigamente uma corporificação da inteireza da Mulher, dividiu-se em dois e
tornouce Maria, a Virgem, e Maria Madalena, a Prostituta; e o panteão feliz e
impudico de deuses e deusas tornou-se agora a Santissima Trindade da divindade
masculina, enquanto a mulher, matéria, terra, permanece embaixo, nas garras do
Senhor do Mundo, incapaz – até muito recentemente, quando a Igreja finalmente
permitiu a entrada de Maria no céu, completa, com corpo – de redenção total.

Os valores coletivos de uma era acham seu caminho na psique do individuo, pois
os indivíduos são indivíduos somente até um certo ponto.

Além dele, fazem parte de um grupo maior. O significado dessa divisão psiquica
no nivel coletivo tem implicaq5es de longo alcance na esfera dos relacionamentos
humanos, e foi um dos problemas centrais da era pisciana. O valor dominante de
uma era pode ser comparado ao polo masculino dos opostos, pois parece ser função
do principio masculino – no homem ou na mulher – dar forma, coerencia, estrutura e
significado aos valores personificados pelo signo regente. Por outro lado, parece ser
função do principio feminino proporcionar as ligaqões,as intuiqões,o significado
interior, a aplicação humana e a expressão prática aos valores personificados pelo
signo oposto. Em outras palavras, a mulher foi a portadora do arquétipo simbolizado
por Virgem durante a ultima era, não porque Virgem seja um simbolo da Mulher, mas
porque é o oposto, o complemento do tema regente da era. Toda a esfera dos
relacionamentos humanos pertence ao principio feminino, e a desvalorização do
feminino – isto é, não apenas da mulher, mas da matéria, da carne, do instinto, da
arte do pequeno – virtualmente destruiu nossa capacidade de nós reiacionarmos com
os outros. Estamos agora pagando o preço dessa completa ignorância de uma faceta
tão importante da vida humana, a medida que nos tornamos progressivamente mais
engajados em tentativas de "sanar" o dano projetando o simbolo redentor na
sexualidade – que dificilmente esta equipada para conter todos os valores do
relacionamento. A anima coletiva sofreu duramente na era pisciana, e vai passar
muito tempo antes que seja capaz de se redimir de sua escuridio. E esse processo de
redenção não pode ser realizado num nivel coletivo através de mudanças no status
231

legal ou de movimentos. Estes são um produto da mudança interior, não sua causa. A
reconquista do valor do principio feminino nunca sera realizada através de atos de
força, tumultos ou leis. Ela só pode ser feita dentro do individuo, que precisa primeiro
aprender a reivindicar, ele mesmo, esses valores – quer o indivíduo seja um homem
ou uma mulher. A sociedade é composta de indivíduos, e essa é uma tarefa
individual.

Quando um indivíduo reprime totalmente o lado sombrio de sua natureza, este


tende a irromper no meio da vida com força total, e o indivíduo muitas vezes salta
para o oposto de tudo que valorizou e vive sua vida em total contradiqão com o que
era antes. Parece que esse mesmo principio opera no nivel coletivo e no individual.
De fato, pequenas erupqões ocorrem a intervalos regulares no nivel coletivo, assim
como no caso de indivíduos; pequenas lufadas de vapor que revelam os estrondos la
embaixo e ajudam a impedir que a estrutura toda – seja a sociedade ou o ego –
desabe num estrondo retumbante. Durante a Era de Peixes, por exemplo, uma
dessas erupqões ocorreu naépoca das Cruzadas, e foi neutralizada, até certo ponto,
pelo Amor Cortesao; ocorreu outra com Lutero, Calvino e a Renascença. A maior
erup@o, a enantiodromia como Jung a denominou, a crise de meia-idade dessa era,
ocorreu no alvorecer do que chamamos, por alguma razão inexpIicavel, Era da
Iluminação. A emergencia da sombra tomou a forma de materialismo cego e completa
rejeição dos valores espirituais pela ciência material. Ainda estamos nos arrastando
na lama dessa erupção, enquanto construimos armas maiores e melhores, sem
qualquer noção da humanidade para a qual, supostamente, as estamos construindo.

A assim chamad- revolução sexual, assim como o materialismo dialético,


também parecem superaqões do Virgem reprimido cegamente buscando alguma luz.
Qualquer coisa que tenha ficado trancada no porão durante mil e quinhentos anos
provavelmente fique pouco atraente quando emerge, e tambdm um pouco zangada.

Fizeram-se tentativas, antes dessa enantiodromia, para restaurar o eixo dos


vaiores cada vez mais desequilihrados da era pisciana. Essas tentativas foram
promulgadas pela alquimia, dedicada a reivindicar o Deus na matéria, e também pelo
desenvolvimento das lendas do Graal, dedicadas a reivindicar os valores do feminino.
Como Jung demonstrou, essas duas tentativas surgiram do coletivo e seu intuito era
232

equilibrar a Igreja irremediavelmente ateral, dominada pelos valores masculinos.


Esses movimentos semearam as sementes que geraram a Renascença italiana, o
Çorescimento da Inglaterra elizabetana e principalmente o Movimento Romantico,
cuja objetivo mais importante era repudiar a razão enlouquecida e reivindicar a
intuição, o sentimento e um numinoso banhado no feminino. Entretanto, esses
movimentos não se firmaram o suficiente para poder reverter a calcificação que ja
havia tomado conta da cultura ocidental.

Estamos agora na transição entre duas eras, e um novo Zeitgeist surgiu, um


novo espirito da época e um novo simboio da divindade, que antigamente, no
passado remoto do ser humaao, era tão indiferente e tão distante que só se podia
baixar a cabeça diante de seu poder, mas que, agora, está tão iminente que parece
que Deus finalmente está encarnando não como Um Homem, mas como seres
humanos. Para onde, entao, estamos indo, e qual é o nosso novo Zeitgeist? Quem
são os novos deuses? Se, como parece provivel, a era dos peixes é regida pelo
motivo arquetipico dos irmaos hostis, então a aproximação do proximo mes platonico,
ou seja, Aquário, vai constelar o probIema da união dos opostos .

Aquario é um signo de ar, o que sugere que a esfera do intelecto e do


conhecimento esta se tornando o valor dominante. De acordo com o padrão, é função
do principio masculino proporcionar estrutura e forma a essa necessidade de
conhecer. Não se trata estritamente de conhecimento material, personificado pela
ciência material; esta é uma manifestação de Peixes decadente e de Virgem
exarcebado. As eras não começam e terminam de repente; elas se sobrepoem, e no
meio das ruinas em desintegração de uma podem-se ver as sementes em lenta
germinação da outra. Aquário simboliza uma atitude da consciência interessada em
conhecer e compreender as leis através das quais operam as energias que jazem
além da vida manifesta. É ciencia, mas não ciência como vimos nos ultimos cem
anos, com sua recusa em admitir qualquer coisa que não possa ser tomada nas
maos.

É ciência no sentido da raiz latina da palavra, que simplesmente significa


"conhecer". Podemos ver os principios disso a medida que ocorrem mais e mais
investigaqões sobre a natureza das particulas subatômicas e da natureza da luz;
233

também podemos ver isto no campo novo da parapsicologia, dos fenomenos "psi",
não mais considerados "esquisitos" ou "sobrenaturais", mas sim funqões naturais da
vida, cuja natureza funciona de acordo com principios lógicos que ainda não
compreendemos totalmente. Campos como a cura alternativa, a acupuntura, a
radionica, a fotografia Kirlian, a telepatia, a telecinesia, a investigação do corpo
etérico ou bioplasmico, tudo é assunto para a sondagem da mente aquariana e da
sua sede de arrancar o véu da face dos mistérios. A astrologia também esta
recebendo uma nova atenção, não da antiga forma de previsão de fatos, mas como
um mapa do sistema de leis através das quais operam as energias da vida – uma
astrologia justificada pela pesquisa estatistica e pela investigaqão cieatifica. O próprio
corpo humano, com seu campo energético e seu sistema de sete chakras ou centros
energéticos, cada um correlacionado com uma energia planetaria, ja não é objeto de
riso no Ocidente; e a psicologia, também, esta saindo de uma infância como estudo
dos complexos sexuais e mecanismos de comportamento para um verdadeiro estudo
das leis através da qual funciona a psique – um estudo, como sugere a palavra, da
alma.

Agora podemos falar em arquétipos e energia em lugar de deuses; para Aquario,


tudo é energia e funciona de acordo com leis naturais, e essas energias existem tanto
dentro como fora do individuo. Deus, para Aquario, é o principio inteligente através do
qual operam essas leis, tanto fisicas quanto psiquicas. Deus, de fato, está vivo e
passa bem na Era de Aquario, oculto não só na matéria mas também na psique
humana, disfarçado, no jargão psicológico, como o Self.

Agora precisamos considerar o signo oposto a Aquario, pois ele vai nos fornecer
a chave não sb do papel do princfpio feminino nessa nova era, mas também do que
precisamos desenvolver em nós se quisermos, como sugere Jung, curar a terrivel
divisão entre os opostos que ocorreu na ultima era. Durante a era pisciana,
Virgem/matéria/mulher foi a sombra, e sabemos o que acontece ao indivíduo que
reprime o lado escuro de sua natureza. Não deveriamos nos surpreender com a
violenta rebelião tanto das mulhes como da ciência materialista, depois de tanto
tempo passado na escuridao. Leão é agora a sombra com que precisamos lutar, e
esse signo é um sfmbolo da individualidade criativa. Como signo de fogo, Leão está
234

relacionado com a intuicão e com a percepção do valor intrinseco do individuo.

Se formos capazes de tomar esses valores e integra-los a regencia de Aquario,


veremos um renascimento não apenas no campo das artes criativas, mas nos
relacionamentos, no lugar da mulher na sociedade, e ta bém na consciência
individual. É em direção a esta sintese que estamos agora caminhando.

Aquario é basicamente um signo orientado para o grupo. É impessoal, funciona


de acordo com principios de pensamento, e esta interessado nas energias do grupo e
não com a expansão criativa pessoal do individuo. Leão é individualista e não esta
interessado no grupo; busca, acima de tudo, tornar-se o que considera seu próprio
potencial heroico. Aquario é lógico, coerente, cheio de principios; Leão é dramatico,
intuitivo, e busca o mito em lugar do fato. O valor do indivíduo e seu direito de ser ele
mesmo são um belo contraponto a coletivização, que ja estamos vivenciando nessas
primeiras e rudes experiências aquarianas, como o comunismo, a expansfo das
grandes corporaq5es e outras manifestaqões e de impecável organização as custas
da liberdade individual. Organização é uma palavra-chave para Aquario, e o
desenvolvimento interior do indivíduo – que, é preciso supor, será muito mais
importante para a mulher – precisa contrabalançar a massificação que ocorre sob
Aquario, com sua crença de que o todo é mais importante que as partes que o
compoem.

Aquirio procura fatos solidos, principios lógicos, comportamento coerente com os


principios de certo e errado, tendo em mente o beneficio do grupo.

Leão procura a alegria, a aut xpressao, a espontaneidade, o direito de acreditar


na mágica e de dar vida aos contos de fada vivendo a vida criativamente. Podemos
ver, introduzindo-se na linguagem comum, algumas palavras que nos mostram até
que ponto os novos valores progrediram: na era pisciana, falava-se de amor,
compaixao, altruismo e sacrificio, enquanto agora falamos de consciência grupal,
energia, organização e descoberta.

Aquario, com toda sua nobreza, se se tomar exuberante demais vai exterminar o
individuo, Isao, se for reprimido e explodir, é o ditador, o megalomano, a verdadeira
figura do anticristo, cuja individualidade é o valor supremo. Em algum lugar, entre os
235

dois, precisamos seguir nosso curso.

Há um novo deus surgindo sob Aquario, embora não seja mais projetado no céu;
sabemos que ele vive no individuo, porém, mesmo assim é um deus. É o tres vezes
grandioso Hermes o Magico, direto das cartas do Taro, vestido com um avental de
laboratório. Um novo arquétipo esta emergindo na consciência do ser humano, cujo
efeito sobre o indivíduo consiste em ampliar sua consciência – o que significa
desencadear tanto o escuro quanto o claro. No fim das contas, a tarefa de fazer
nascer uma nova era com novos valores esta onde sempre esteve: nas maos do
indiyiduo.

Ja não somos mais crianças psicologicas. Toda a pompa, o aparato, a


pantomima, o encanto e a violencia das eras passadas fni a nossa inSncia, nem
meihor nem pior que a infância de qualquer indivfduo. Teve seus momentos de
beleza, visão e descoberta, e seus momentos de escuridao, horror e brutalidade. O
Ser Humano adulto está começando a surgir, e começando a exercitar, finalmente,
seu dom de refletir. Está começando a lhe ocorrer que ele criou o mundo em que vive,
e que sua realidade psiquica é a unica realidade que ele jamais poderá conhecer;
não há nenhum observador objetivo e nenhum objeto a ser observado, pois eles se
tornaram a mesma coisa. Ele não pode mais responsabilizar o govemo estabelecido
por seus fracassos politicos, pois o elegeu. Não podem mais culpar seu empregador
por seu trabalho insatisfatório, pois tem a liberdade de escolhe-lo. Não pode mais
responsabilizar o parceiro pelos problemas amorosos, pois esta descobrindo que eles
também estão dentro de si. Estf aprendendo que existe mais na sua psique do que
julgava, e que é sua responsabilidade fazer nascer os potenciais ali contidos. Aquario
Ihe da a ordem sagrada: "Homem, conhece-te a ti mesmo", e Leao, ao contrário, Ihe
dá outra: "Homem, se tu mesmo". Entre as duas, ele não pode mais alegar a
desculpa da inconsciência pelos seus fracassos. Passou pela terra, pelo fogo e pela
agua, e agora está aprendendo a inalar o ar – e só podemos esperar que ele não
fique tão inflado que acabe explodindo.

Nosso novo Zeitgeist é uma sintese dessas duas ordens. O individuo, guiado
pela ciencia, está explorando o mundo apenas para descobrir que ele e o mundo são
compostos pela mesma substância. Explora a si mesmo, guiado pela psicologia,
236

apenas para descobrir que ele moldou o mundo.

Ninguém pode ajuda-lo a decidir o que fazer com sua descoberta. No fim das
contas, sua lealdade deve ser para com o Self, e o porteiro do centro de seu próprio
ser é aquele parceiro interior que vive em sua psique e funciona

como escolta psicologica e guia para os mistérios. E, enfim, a unica forma pela
qual ele sempre podera descobrir e trazer a consciência esse parceiro interior é
através da compreensão do parceiro exterior, dos seres humanos com os quais vive e
partilHá este planeta. Ele só vai se descobrir no espelho.

Talvez, então, ele possa realizar o mito do signo que rege esta era nascente:

Agua da vida vida eu sou Vertida para os homens


sedentos .
237

1O

Conclusão

Se eu bebo o esquecimento de um dia, Assim diminuo a estatura da minha alma.

– George Meredith Homem, se de fato sabes o que fazes, és abençoado ; mas,


se não sabes, és amaldiçoado e um transgressor da lei.

– Luke

Um guia para viver com os outros, seja psicológico, astrológico ou qualquer


outro, não pode – se quiser fazer justiça a natureza humana – fornecer atalhos. Nos
ultimos tempos, tivemos fartura de atalhos, desde o LSD até a "iluminaqão intensiva"
de cinco dias, e nenhum deles resolveu os nossos problemas de relacionamento. O
crescimento do ser humano é vagaroso; começa no nascimento e termina na morte,
demandando sua alimentação por toda a vida. Não pode ser apressado. O
crescimento de um relacionamento também não pode ser apressado, principalmente
se quisermos que seja consciente. Tampouco o processo pode ser salvo dos conflitos
por meio de técnicas ou exercicios psicológicos, ou mesmo de horoscopos. Todos
nós, no fim das contas, temos de aceitar as conseqiiências de nossas opq5es, e as
opqões nunca são tão simples quanto parecem. Mesmo a mais sábia das pessoas faz
rmh opqões,e são exatamente esses "erros", com toda a dor de suas conseqiiencias,
que nos permitem adquirir alguma sabedoria. Infelizmente para o investigador
superficial, as perguntas que fazemos só podem ser respondidas com mais
perguntas. "Devo deixar meu marido?" por exemplo, não pode ser respondido com
um "Sim" ou "Nao". Se fosse tio facil, não teriamos nenhum problema, e não
cresceriamos. Assim, a pergunta só pode ser respondida com outras perguntas: "O
que significa para voce seu casamento?" e "O que voce acHá que significa para seu
marido?" e "Qual é, na sua opiniao, o principal problema do casamento?" e "Qual sua
participação na constelação desse problema?" Para cada uma dessas perguntas, a
resposta é mais uma duzia de perguntas. O astrólogo ou psicologo que responde
"Sim" ou "Não" é um presunçoso e um tolo perigoso, pois ninguém pode optar no
lugar do outro. E cada opqão, por mais clara que aparente ser, engloba uma teia de
associaqões e nuanças que, em ultima analise, se se souber examinar e investigar
238

corretamente, pode iluminar seu significadomais profundo. Parsifal, para redimir o


reino, não precisou realizar nenhum feito heróico; precisou fazer a pergunta certa.

O caminho para uma maior compreensão, sugerido neste livro, não vai ser
popular, porque acarreta a responsabilidade individual e não fornece atalhos. É muito
mais fácil culpar os pais por nossos problemas psicoldgicos, esquecendo
convenientemente que o poder que eles tem deriva do que é projetado neles; é mais
ficil esbravejar contra o vizinho no grupo de encontros e depois ir para casa e
esquecer tudo, do que procurar dentro de si a verdadeira origem da raiva; é mais facil
sair de um relacionamento ou de um casamento porque a monogamia esta "fora de
moda", ou porque o parceiro obviamente é uma besta totalmente responsavel pela
trapalhada. O reconhecimento do elemento de projeção é uma carga que muitos de
nós não desejam assumir, pois se realmente assumirmos essa carga, nem um só
incidente – nem uma só discussao, disposição de animo, ataque de raiva, suspeita
secreta ou explosão de ressentimento – pode passar sem o reconhecimento das
próprias motivaçoes. E também é preciso conversar sobre muita coisa, o que implica
um tipo de confiança que não estamos acostumados a ter em nossos semelhantes,
porque não confiamos em nos próprios. Não somos apenas completamente
naowducados nessa forma de olhar para dentro ; também somos sujeitos a uma certa
apatia, uma inércia que recusa o esforço de aprender a ver, preferindo o refugio da
inconsciencia. Entretanto, não existe alternativa para o longo, lento e laborioso
processo de autodescoberta vivendo cada dia como si mesmo, concretizando uma
relaqão verdadeiramente consciente com outra pessoa. Inevitavelmente, dói; qualquer
nascimento doi. Também é preciso ter a coragem de sofrer a morte das ilusdes e a
dissolução das projeq5es. É preciso ter coragem de errar. É preciso ter coragem de
ser vuineravel, de ser inferior, de ser suficientemente magnanimo para permitir os
fracassos dos outros, porque todo mundo está sujeito a eles; e é preciso ter a
coragem de sofrer (e infiigir) dor e orgulho ferido, também, as vezes, como um ego
totalmente (machucado e magoado) que precisa ser sacudido para sair de sua
autocomplacencia. É preciso conservar o senso de humor.

E é preciso estar disposto a aceitar o elemento da conivencia inconsciente em


todas as situaqões,por mais que pareçam ser culpa de outra pessoa, pois nas raizes
239

mais profundas de nosso ser somos todos uma psique, e a mesma correnteza da vida
nos impregna a todos. Possuimos, em forma de semente, todo o potencial da
natureza humana, do mais sombrio ao mais luminoso; em cada um de nós existe o
santo, o martir, o assassino, o ladrao, o artista, o estuprador, o professor, o curador, o
deus e o demonio.

Qs indivíduos são diferentes, mas a psique coleiiva d5 origem a todos nós.

Em ultima analise, é preciso reconhecer tanto a pequenez como a grandeza do


self pessoal em todas as questões de opgao, e precisamos ficar entre esses opostos:
não ser nada e ser tudo. Se decidirmos cooperar com o etemo fluxo da vida,
incessantemente mudando e se fazendo e buscando a consciência de si, não
podemos incorrer nem no auto-aviltamento nem na arrogância ou no convencimento
injustificados. Entretanto, há espaço, em cada um de nós, para a criança
negligenciada, a criança cheia de potencialidades, que eternamente condenamos e
reprimimos porque não se ajusta a nossa auto-imagem e h imagens das pessoas a
nossa volta. Valorizar a criança permite que nos valorizemos a nós mesmos como
pessoas inteiras, e só podemos nos valorizar enquanto pessoas inteiras. Precisamos
nos educar para olhar através do egoismo, da voracidade, da dependencia, do ciume,
da possessividade e da vontade de poder, e discernir as necessidades e energias que
os govemam; é essa discriminação modesta e nao-dogmatica que vai nos capacitar a
transmutar o desajeitado e feio em algo vulneravel e precioso. Todos nos, em
resumo, precisamos nos tomar alquimistas, e o trabalho da transmutação é sinonimo
de aprender a amar. O mandamento de Cristo é amar o prdximo como a si mesmo.
Mas se voce não se amar, o que vai ser capaz de fazer ao seu proximo, escorandowe
no farisaismo do seu próprio julgamento? Esses principios são incrivelmente simples,
e estão implicitos em qualquer conto de fadas. Mesmo uma criança está familiarizada
com eles, até esmagarmos sua sabedoria ensinandow diligentemente a "encarar a
vida". Mas enquanto é fácil se identificar com o herói, é um pouco mais dificil
reconhecer que o inimigo, o feiticeiro, o dragao, a bruxa e a madrasta malvada, assim
como a amada, são figuras que existem autonomamente e exercem poder dentro da
nossa própria psique. No começo desse livro, citamos o filho inferior que é
desprezado e ridicularizado, enquanto o rei e os dois filhos bonitos o tratam a
240

pontapés. Quem é o filho inferior dentro de nós? Que sabedoria oculta ele domina,
que chave ele possui que o leva até onde ninguém mais consegue ir – até o coração
da Terra, onde o tesouro est5 escondido? Não é fhcil viver com a própria
inferioridade, admiti-la, dar-lhe um santuario, alimentá-la e valorizá-la por si mesma.

Todos nós ficamos terrivelmente embaraçados ao exibi-la mesmo para aqueles


que amamos, e nos sentimos muito mais a vontade parecendo sabios, capazes e
sempre certos. E depois precisamos arranjar desculpas esfarrapadas quando, em
vingança, o que deserdamos reivindica sua herança e executamos atos de violencia
contra os outros. Encarar o lado secreto e transexual da própria natureza, iniciar o
longo trabalho para libertá-lo e redimi-lo, também requer coragem. Preferimos deixar
que um parceiro o vivencie por nos, de modo que, se ocorrer algum tipo de fracasso,
será responsabiTidade de outra pessoa.

O Zeitgeist de nossa era esta nos incitando a terminar com essa hipocrisia
inconsciente – assim como nos mesmospedimos aojovem pubere, que superou a
infância e precisa encarar os desafios da adolescencia, que pare de se comportar
como uma criança de cinco anos. Mesmo sem esperar que ele seja sempre bem-
sucedido, esperamos que, pelo menos, tente. A imaturidade é perdoável, até mesmo
atraente, numa criança. Mas a fuga deliberada da maturidade psicologica,
principalmente às custas dos outros, fere a própria vida, e talvez seja, em ultima
anaTise, o verdadeiro significado do pecado.

Se não existem atalhos psicológicos, também não existem atalhos astrológicos,


pois o grande e antigo fundo de sabedoria da astrologia, envolvido em simbolos
eternos, é um reflexo da vida, não um meio de evita-la. Em algum nivel abstrato de
energias cosmicas, Gncer pode ser compativel com Escorpião e incompativei com
Áries; mas, nos relacionamentos humanos, esses argumentos não podem ser usados
como desculpas para se esquivar das responsabilidades que se comprometeu a
assumir. Vivendo através e além do horóscopo de nascimento, esta o individuo, que –
no que diz respeito i consciência que desenvolve – não esta limitado pelo seu mapa
astrológico. Quem quer que tente diagnosticar problemas de relacionamento a partir
da suposta incompatibilidade de signos vai ficar completamente desapontado.
Porque, no fim, não é possivel fugir do fato de que metade do relacionamento é sua
241

própria criação e precisa ser investigado e manejado através do reconhecimento de


sua própria natureza, consciente e inconsciente – assim como do reconhecimento das
motivaqões operando nele quando executa qualquer ato ou toma qualquer decisão
importante. Se um indivíduo quer conhecer e experimentar o outro, precisa primeiro
se conhecer e experimentar-se; e para tanto, como nos dizem os contos de fadas, é
preciso iniciar uma saga, uma jornada, durante a qual vai se deparar com os
habitantes desconhecidos de seu próprio mundo interior, em estranhas formas e
disfarces. E é preciso chegar a percepção de que eles não são criaqões do ego, mas
participam, com o ego, da totalidade psiquica – e, nessa totalidade, o ego
desempenha o papel do redentor amoroso e do servo dos deuses, não do ditador ou
do escravo.

Existem milhares de caminhos aos quais a saga pode levar. Para todos nós, de
uma forma ou de outra, o verdadeiro terapeuta ou conselheiro é o processo de viver;
é somente vivendo a própria vida com lealdade em reIaqão ao Self total, que se pode
aprender a compreende-la e tomar o conhecimento – quer na linguagem psicológica
ou astrológica – realmente seu. Na época oportuna, entretanto, alguns indivíduos
podem se beneficiar com a orientação, o aconselhamento ou a participação da
experiência grupal; é só o medo e o orgulho sem sentido que nos convencem de que
deveriamos ser sempre capazes de nós enxergar e nos ajudar calados e sozinhos.

Muitos de nós tambem podem se beneficiar muito com a compreensão da


astrologia, mas existem numerosas formas de expressar o que o mapa simboliza, e
nem todos entendem os mesmos simbolos. Algumas vezes acontece que, antes de a
pessoa chegar a qualquer compreensão verdadeira, ela precise tentar muitas coisas,
vaguear por muito tempo na escuridao, sendo guiada somente por uma vaga intuiqão.
E, quando surge a compreensfo, é menos provavel que isso ocorra com um estrondo
do que com um estalido fraco, quase inaudivel, que transforme o modo de percepqão
e revele o que nós sempre soubemos, porém, de uma perspectiva ligeiramente
diferente.

Nos momentos de maior necessidade, a psique inconsciente oferece ao


consciente seus próprios simbolos de inteireza e do proximo estágio da jornada; se
não quisermos viajar as cegas, precisamos aprender a ler esses simbolos em nossos
242

sonhos e fantasias, assim como no horóscopo. É no reino dos simbolos, dos sonhos,
dos mitos e contos de fadas, no dominio da sombra, no reino do filho idiota e do
parceiro interior aprisionado que precisamos viajar, traçando nosso mapa enquanto
caminhamos. Se alguém ficar muito ocupado medindo a distância que já percorreu,
pode nunca saber se, e quando, vai chegar. 8 preciso simplesmente embarcar, soltar-
se na experiência da viagem – pois a viagem e o alvo, em ultima analise, são o
mesmo. E entao, como Parsifal, pode-se acordar e descobrir que se está no castelo
magico, talvez uma vez, talvez muitas vezes. Mas, ao contririo de Parsifal, pode ser
que se tenha a inteligencia de perguntar por que.

Nenhum de nós está em candiqões de definir o que é o amor. Nós o


experimentamos de muitas formas diferentes, e ele nos experimenta e vive por nosso
intermédio. Se quisermos vislumbrar seu mistério, precisamos aprender a respeitá-lo
como um poder, não como algo que possa ser aberto e fechado como uma torneira,
ou classificado como um modo de comportamento. "Se voce realmente me amasse,
não teria falado comigo desse jeito/paquerado a garçonete/deixado de fazer meu
jantar" é uma atitude que não tem lugar no santuario desse deus cujo templo é o
coração.

O amor é uma força do destino cujo poder alcança desde o céu até o inferno,

diz Jung. Como não estamos em condiqões de definir o amor, precisamos


simplesmente permitir-nos experimenta4o de qualquer forma que se apresente –
mesmo que depois seja preciso falar de "entusiasmo", "ilusao", "necessidade" e
outras denominaq5es racionalizadas de relacionamentos fracassados. Mesmo a mais
distorcida das projeqões, se tiver o poder de impulsionar o indivíduo a se tornar maior
do que era – a iutar, aspirar, crescer, tentar alcançar o outro –, abriga, em algum
lugar, o demonio do amor. Embora precisemos introjetá-las, as projeqões também
devem ser respeitadas, pois sio emanaqões de nossa alma. Não é errado projetar.
Pelo contririo, é muito provivel que sejamos projeqões do Self. É só quando nos
recusamos a reconhecer nossas projeqões que somos culpaveis. O conteudo de uma
projeção é um aspecto, uma parte inseparável, da própria essencia do individuo. Ele
precisa, portanto, reivindica-la da melhor forma possivel para poder livremente dar-lhe
uxna outra oportunidade, em vez de tela arrancada de si pelo destino.
243

Somos tanto o principe como a princesa; e o felizes-para-sempre, embora não


seja facil de encontrar num relacionamento terreno, permanece como um simbolo real
e vivo de um casamento interior que pode ocorrer a qualquer fempo, em qualquer
pessoa, uma vez, muitas vezes, ou para sempre. Esse casamento sagrado é um dos
simbolos subjacentes do mais profundo nivel da psique humana, e constitui tanto o
fim como o começo da saga, pois é este casamento que di origem a nova vida. Não
se trata de superar as ilusões infantis. Trata-se de aprender a viver tanto no mundo
interior como no exterior, reconhecendo a linguagem de ambos e a nossa
participação em ambos – e que eles, e nos, fazemos parte da mesma totalidade.

Ai do homem que vi apenas a máscara. Ai do homem que ve apenas o que esta


escondido atrás dela. Somente o homem que tem verdadeira visão ve ao mesmo
tempo, e num simples relance, a bela mascara e a horrfvel face por tras dela. F.eliz o
homem, que por trás de sua fronte, cria essa mascara e essa face numa sintese
ainda desconhecida da natureza. Somente ele pode tocar com dignidade e graça a
flauta dupla da vida e da morte.
244

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