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c o s t a n z a p a s c o l a t o

o essencial
o q u e vo c ê p r ec i s a s a b e r pa r a v i v e r c o m m a i s es t i lo

Texto final e coordenação editorial da nova edição

Consuelo Blocker
Para minhas filhas Consuelo e Alessandra
e suas admiráveis independências
Não copie
uma pessoa
ideal,
copie você
mesma.
Clarice Lispector (1920-1977),
escritora e jornalista.
Mais de uma década se passou desde que este livro foi
lançado pela primeira vez. O Brasil, o mundo e a moda não
são mais aqueles!

O bem-vindo crescimento do país trouxe, como uma


das grandes novidades, a afirmação de uma identidade
cada vez mais clara, plural e predominantemente verde e
amarela. Pode parecer banal, mas na verdade trata-se de
uma revolução. Embora a moda como um todo tenha se
globalizado, as escolhas da mulher brasileira são cada vez
mais locais. Isso faz com que as antigas regras de moda
– que eram mais precisas e quase sempre internacionais,
delimitando comprimento de saias e vestidos, largura das
calças, tamanho de camisetas, formas e proporções da
silhueta, etc. – não tenham mais tanta importância.

Hoje a regra é: não há mais regra, o que, claro, cria certo


desamparo. Além do mais, até pouco tempo atrás, a televisão
era a única fonte de inspiração das mulheres mais inseguras
em relação à própria aparência. Agora, com a internet, uma
megaquantidade de imagens invade nosso cotidiano a
ponto de nos tornar criaturas miméticas, ou seja, que tendem
a imitar. Entretanto, a cópia cria uma desadaptação, um
estranhamento em relação à própria personalidade, o que se
reflete também no visual. É por isso que sempre defendi que
se evitasse cair na armadilha da moda. A mulher que segue
tendências cegamente, sem olhar para si, sem entender
o que lhe cai bem e o que é ideal para seu estilo de vida,
vira uma caricatura de seu tempo. Ela se transforma numa
fashion victim, ou vítima da moda.
A melhor dica é: mais do que nunca,
respeite sua essência. Seja você mesma.
É o jeito mais inteligente de construir seu
estilo, sua maneira de viver e de se vestir.
E você vai ver: estilo é fundamental para a
autoestima.
O que eu mais quero é que minhas dicas possam
ajudá-la a ser você mesma, sem medos nem angústias.
Afinal, a vida é curta demais para se gastar tempo com
preocupações vãs. Sem falar que essas aflições (inúteis!)
só aumentam nossas rugas!

Um beijo,
1. Modas passam, elegância fica  12
Humor, a falta que faz  22

2. Vida é disciplina  30
Comer é um ritual  40
O gesto consciente  44

3. Definindo o seu estilo  46


Definindo melhor a sua imagem  52
A hora de se livrar do passado da sua roupa  62

4. Eles são 8: Os essenciais  68

5. Vestir-se para quem?  90


Vestida para você  94
Vestir o que para encontrar quem  96

s
6. Os extras que fazem toda a diferença  108
Cuidando de suas roupas como objetos de estimação  118

7. A cor da roupa  122


As 10 perguntas mais comuns sobre cores  126
preto x branco  133

m
8. Menos é mais  136

ri
9. Acessório não é acessório  142

10. A sedução intimista  166


Lingeries, lingeries, lingeries  172
A ditadura do conforto  175

11. Quando você precisa estar além da moda  178

12. Beleza  186


Mas seus cabelos, como mudaram  190
A maquiagem que parece nada, ou quase nada  196
A maquiagem para a sua idade  204

13. Porque hoje é dia de festa!  208


Cerimônias de casamento  212

u
O social com estilo  222

14. O perigoso verbo comprar  234


Não tenha medo de entrar nas lojas  242
Tempos modernos, comprando pela internet  246

15. Maturidade, que bonita que é  248

á
o
capítulo 1

modas

pa s s a m ,

elegância

fica
Mulheres
reais,
vivendo
vidas reais,
podem ter um tremendo estilo. Porque estilo não

define apenas a roupa que você escolheu vestir, mas

a maneira como escolheu se comportar.


Você pode argumentar que é muito difícil e que não tem tempo para

pensar no assunto. Ou que já tentou diversas vezes e nunca deu

certo. Ou ainda que seu armário está cheio, lotado de roupas – mas

nenhuma delas realmente tem “a sua cara”. Ter estilo, para você,

muitas vezes é um enigma. E custa caro.


Quando
caráter,
imaginação
e disciplina
ajudam muito,
mais até
do que
dinheiro
e beleza.
a
questão
da
atitude
É claro que não estamos falando só de roupas – embora elas
sejam importantes. São nossa segunda pele, a forma que
escolhemos para nos apresentar ao mundo. Mas estamos
nos referindo, sobretudo, a uma atitude diante da vida.

Modas passam, elegância fica. Aspectos do estilo


parecem intangíveis, mas, na definição da nossa imagem,
são absolutamente cruciais: a voz, o humor, o sorriso,
a inteligência, o caráter, a maneira de se portar e,
principalmente, a atitude.

Por favor, não confunda atitude com arrogância: não há


nada mais fora de moda e sem estilo. Atitude tem a ver com
valorização pessoal, com o desejo e a capacidade de tirar
o máximo de proveito do que você tem. É um investimento.
Faça-o por você, porque precisa – e, sobretudo, porque
merece.

Faça pelos outros. Com charme. No mínimo vai ser questão


de respeito e delicadeza com as pessoas que conhece, os
lugares que frequenta, o trabalho que faz.

O estilo será a expressão do seu caráter, a sua atitude para


transformar a mesmice e a banalidade da existência em
obra original, divertida, interativa e em constante movimento.

“Você está vendo aquela cadeira? Pois agora tente vê-la


melhor, tente enxergá-la.”

Não esqueço nem as palavras nem o tom dessa frase


que ouvi de um antigo namorado. Tínhamos 18 anos.
Ele começava sua carreira como artista plástico, amava
detalhes, cores, texturas. Desde então também me apaixonei
pela ideia de investigar o mundo com o olhar. Tem tudo a ver
com estilo, um exercício de curiosidade que a gente adquire
no segundo, no terceiro, num infinito olhar.

modas passam, elegância fica 19


adequação
Elegância é

Só uma imagem consistente, afinada com


seus hábitos e sua personalidade, será
capaz de se cristalizar como estilo: o seu,
pessoal e absolutamente intransferível.
Comecemos por buscar este eixo – afinal, quem você é?
Adora ser exuberante nas festas ou prefere a delicadeza
das tonalidades discretas? É tímida mas gostaria de deixar
de ser? Tem filhos para pegar na escola hoje à tarde?
Ou deverá voltar para casa de madrugada, depois de gravar
por 12 horas num estúdio? Você malha todos os dias e é
fascinada pelos tênis de última geração? Ou prefere linhos e
sedas, saltos altíssimos, sensualidade e glamour?

A definição desse personagem é essencial na determinação


do seu estilo – aquele adequado a você, um equilíbrio entre
o que você é e o que pode ser.

20 o essencial
Monet é
apenas um
olho, mas que
olho!
Paul Cézanne (1839-1906),
pintor impressionista francês, sobre
o pintor Claude Monet (1840-1926).

Conheça primeiro
quem você é, depois
adorne-se de
acordo.
Epiteto (aprox. 55-135 d.C.),
filósofo grego.
humor,

a falta

que

faz
Nunca encontrei alguém de estilo que se
levasse tremendamente a sério. Calma:
não me refiro a pessoas que lutam por suas
ambições, trabalhando seriamente para
realizar seus projetos. Isso é outra coisa.
É determinação, disciplina – e tem tudo a
ver com o que a gente quer.
Levar-se por demais a sério, no caso, é não ter senso de
humor. Não ser capaz de rir de si mesmo. Rir das gafes que
cometeu ou do fim de semana que, depois de tudo, foi um
fracasso. É claro que é difícil. O primeiro impulso costuma
ser a chuva de reclamações ou a melancolia típica de quem
leva tudo a sério: a gafe, o fim de semana, o outro. Depois a
gente vê que nada é tão importante assim.

Os ingleses dizem que o humor é a expressão máxima de


civilidade – e eles sabem do que estão falando. É o que
nos resta para não agirmos, com frequência, como seres
absolutamente detestáveis.

Humor: Substantivo masculino.


Disposição de espírito. Veia cômica;
graça; espírito. Capacidade de
perceber, apreciar ou expressar o
que é divertido.

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che
ga
de
re
cla
mar
Porque está quente
demais; Porque está
frio; Os meninos não
vieram para o almoço;
Tinha gente demais
na fila do cinema;
Engarrafou tudo, você
não pode imaginar o
horror; O encanador
não veio de novo; Sabe
aquela dor nas minhas
costas? Não passou; Ele
ligou; Ele não ligou;
Tive que esperar mais de
uma hora no dentista;
A chuva; O sol
Numa tarde de engarrafamento e chuva,
peguei uma ponte aérea São Paulo-Rio.
Você já sabe o que aconteceu: o
voo atrasou, o avião estava lotado e
demoramos não apenas para decolar,
como também para desembarcar no
aeroporto do Rio. Podia ser pior? Podia.
Uma senhora paulista que viajava comigo
reclamou, sem parar, de tudo. Cheguei
exausta ao quarto do hotel – menos
pela tarde cheia de percalços do que
pela mulher, que eu ainda podia ouvir
reclamando nos meus ouvidos.
Por que, se uma situação está desconfortável – se o avião
atrasou, a empregada não veio ou você simplesmente
acordou cansada –, é preciso ficar repetindo isso,
exaustivamente, ao marido, à filha, ao colega de trabalho,
ao vizinho? No mínimo, a questão é de bom senso.
Quanto mais se fala no assunto, maior ele fica – e mais
chateação traz.

E também existe o outro – sim, ele mesmo. A gente até


esquece, mas não devia. Reclamar invade, sobretudo, o
espaço alheio. Você está buscando solidariedade para suas
pequenas tragédias cotidianas? Bem, imaginemos que o
outro também tenha as dele, e nesse caso o melhor é não
somar reclamações sortidas.

Ser gentil faz parte. Respire fundo, restaure o estilo –


daqui a pouco vai surgir um assunto muito mais gostoso e
interessante para se conversar.

26 o essencial
Cinco deveriam ser as frases proibidas, aquelas que
a gente não deveria cometer, pelo menos não a todo
instante. Você pode pensar à vontade sobre a questão e
principalmente tratar de fazer alguma coisa, o mais rápido
possível, para superá-la.

Mas experimente não dizer:

o ca nsada .”
s eu tô tã
“ah, ma “Não tenho tempo pra nada.”
“nem adianta, tô sem dinheiro.”
“Já fIquei velha pra isso.”
dei muito, olha só minha barriga.”
“engor

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A Segunda Guerra Mundial tinha terminado
havia pouco tempo quando viemos da Itália
para o Brasil – meus pais, meu irmão e eu.
Não foi fácil reorganizar a vida da família
num novo país, mas minha mãe, Gabriella,
nos surpreendeu com sua disposição e
uma vontade formidável de fazer as coisas
funcionarem, darem certo. Foi quando
aprendi que dedicação e criatividade
também têm a ver com estilo.
Ela apostou numa ideia ousada. Observando o interesse dos
brasileiros nos tecidos europeus, dona Gabriella comprou
alguns teares e começou, ela mesma, a fabricar tecidos.
Apesar da pouca experiência na época, passou a dirigir a
fábrica com muita energia – é claro que não foi fácil para
uma mulher, tanto tempo atrás. Mas deu certo.

Em toda essa história, nunca pude esquecer do talento


que ela demonstrou ao seguir em frente, reclamando muito
pouco, quase nada. Diante das dificuldades, em vez de se
lamentar, ela inventava soluções – dizia até que se divertia.

28 o essencial
este livro foi editado em outubro de 2013.
Foram usados tipos Helvetica, Novecento wide,
Brainflower e insolente.

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