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Aula 07-Medicina Vip-Português no Enem e vestibulares- NORMA CULTA E VARIAÇÕES

Por dentro de variantes linguísticas: cai direto no Enem!


Saiba por que as variantes não devem ser consideradas como simples erros
Variantes linguísticas, ou variações linguísticas, são tópicos de Língua Portuguesa que caem muito nas provas do
Enem, e nos vestibulares de importantes faculdades e universidades. E não é para menos, pois pode-se dizer que elas são
a cereja do bolo! Isso porque as variantes são a grande ressalva das exigências da norma padrão da língua, a chamada
norma culta. Vamos explicar. Veja os diferentes conceitos envolvidos e porque as variantes são importantes e caem nas
provas.
Como é sabido, a língua é um instrumento de comunicação, já que é composta de regras gramaticais que
possibilitam que determinado grupo de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e
compreender-se. Assim, a língua, pertence a um conjunto de pessoas para que estas possam se comunicar, o que comprova
seu caráter social.
Nesse sentido, sabe-se, por meio da Sociolinguística, que todas as línguas mudam. A cada situação de fala, cada
falante recria a língua e cada um diz as coisas de determinada maneira, porque é daquela maneira que se costuma dizer.
A língua está sempre sendo recriada e inovada, embora nem toda inovação seja mantida. De acordo com a perspectiva
variacionista, toda mudança está ligada, necessariamente, à variação, ou seja, a mudança é gradual.
Dessa forma, as línguas são consideradas heterogêneas porque apresentam variações, assim como a sociedade
também apresenta a heterogeneidade. Isso é explicado pelo ponto de partida da Sociolinguística ser a comunidade
linguística, que é entendida como o conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de
normas com respeito aos usos linguísticos.
Durante o estudo de uma comunidade linguística, pode-se perceber a existência de diversidade ou variação no
modo de falar. Estas maneiras diferentes de falar chamam-se variedades linguísticas, e ocorrem dentro de uma mesma
comunidade de fala, pois pessoas de origem geográfica, de idade e de sexo diferentes falam distintamente e, assim, os
falantes adquirem as variedades linguísticas.
É perceptível que a língua não é utilizada da mesma forma pelos falantes. Alguns fatores podem influenciar o
emprego da língua, como a região geográfica, as identidades sociais, as situações sociais, os jargões profissionais, etc.
Cada um deles gerará uma variação linguística diferente do idioma:
Variação diacrônica
A língua varia no tempo e essa variação passa a ser notada ao comparar dois estados de uma língua. O processo
de mudança é gradual, ou seja, não acontece de repente.
Uma língua muda porque é falada segundo os costumes, a cultura, as tradições, a modernização tecnológica e o
modo de viver da população, que estão sempre em constante processo de mudança devido ao tempo. Por isso, as mudanças
da língua podem ser percebidas com o contato com pessoas de outras faixas etárias e com textos escritos ou falados de
outras épocas.
O pronome tu, por exemplo, antigamente, era o único pronome de segunda pessoa do singular; entretanto, com o
tempo, outras formas de tratamento surgiram, como Vossa Mercê e Vossa Majestade. A palavra “vossa mercê” se
transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê” e “você”. Além disso, ao longo do tempo, algumas
palavras tiveram alteração na pronúncia, mas não na escrita, enquanto um mesmo som pode ser apresentado com
diferentes representações.
Variação diatópica
A língua varia no espaço pois pode ser empregada diferentemente dependendo do local em que o indivíduo está.
A variação diatópica diz respeito justamente às diferenças linguísticas que podem ser vistas em falantes de lugares
geográficos diferentes. Por isso, é mais observada em locais diferentes mas com falantes da mesma língua.
A macaxeira, por exemplo, muito consumida no Norte e no Nordeste, é chamada de aipim ou mandioca no Sudeste.
Outro exemplo é a palavra “mexerica”, que, em algumas regiões, é conhecida como “bergamota” e, em outras, como
“tangerina”. No entanto, essa variação não se trata apenas de uma variação no léxico: questões fonéticas e gramaticais
também são amplamente consideradas.
No que se refere à sintaxe, nota-se que é grande
a recorrência de alguns termos sintáticos, como, por
exemplo, “vou não” em vez de “não vou” e “é não” em
vez de “não é”. São diversos os exemplos desse tipo de
variação. Muitos deles são apropriados pelas diferentes
regiões, tratando-se apenas de variações bem-
conhecidas. No entanto, há casos de desconhecimento e
dificuldade de comunicação devido à divergência dos
termos para um mesmo significado.

Variação diastrática
A língua varia de acordo com fatores sociais. A variação social está relacionada a fatores como faixa etária, grau de
escolaridade e grupo profissional e é marcada pelas gírias, jargões e pelo linguajar singelo, já que são aspectos
característicos de certos grupos.
Fator etário
A idade dos participantes da comunicação é um dado relevante, já que, a partir dela, serão feitas escolhas linguísticas
diferentes. Isso é visível na comparação entre um jovem e uma pessoa mais velha, em que cada um usará vocábulos mais
comuns à sua geração.

Fator da escolaridade
Este fator se liga a uma categoria essencial, que é a
educação. Na escola, aprende-se a usar a língua em
situações formais de acordo com a “norma padrão” ou
“norma culta”. Esta norma está ligada ao conjunto de
usos e costumes linguísticos que rege qualquer língua e
é tão indispensável quanto as variações linguísticas: se
na fala escolhe-se um vocabulário coloquial, menos
preocupado com as regras gramaticais, na escrita deve-
se optar pela linguagem padrão, pois um texto repleto de
expressões informais pode não ser acessível para todos
os tipos de leitores.

Fator profissional
Cada grupo profissional possui um conjunto de nomes e
expressões que se ligam à atividade desempenhada; ou
seja, essa fator trata do jargão típico de cada área. O
campo do Direito, por exemplo, utiliza palavras
relacionadas a leis, a artigos e a determinados
documentos, assim como a área da Medicina utiliza um
vocabulário que apenas os médicos são capazes de
entender.
Variação diafásica
A língua varia de acordo com o contexto comunicativo, isto é, a ocasião determina o modo de falar, que pode ser
formal ou informal. Esta variação, portanto, refere-se ao registro empregado pelo falante em determinado contexto
interacional, ou seja, depende da situação em que a pessoa está inserida.
Em uma palestra, por exemplo, um professor
deve utilizar a linguagem formal, isto é, aquela que
respeita as regras gramaticais da norma padrão. Por
outro lado, em uma conversa com os amigos, esse
mesmo professor pode se expressar de forma mais
natural e espontânea, sem a obrigação de refletir sobre a
utilização da língua de acordo com a norma culta. Nesse
mesmo sentido, deve-se reforçar que a linguagem usada
na internet e em um texto formal deve ser diferenciada:
enquanto, na internet, é permitido o uso de abreviações
e o uso de “pra” no lugar de “para”, em uma redação,
isso é proibido, uma vez que é um texto que exige a
norma culta da língua.

Exercícios
1) (ENEM 2009) Serafim da Silva Neto defendia a tese da unidade da língua portuguesa no Brasil, entrevendo que no
Brasil as delimitações dialetais espaciais não eram tão marcadas como as isoglossas1 da România Antiga. Mas Paul
Teyssier, na sua História da Língua Portuguesa, reconhece que na diversidade socioletal essa pretensa unidade se desfaz.
Diz Teyssier: “A realidade, porém, é que as divisões ‘dialetais’ no Brasil são menos geográficas que socioculturais. As
diferenças na maneira de falar são maiores, num determinado lugar, entre um homem culto e o vizinho analfabeto que
entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distantes uma da outra.”
SILVA, R. V. M. O português brasileiro e o português europeu contemporâneo: alguns aspectos da diferença. Disponível
em: www.uniroma.it. Acesso em: 23 jun. 2008.
1 isoglossa – linha imaginária que, em um mapa, une os pontos de ocorrência de traços e fenômenos linguísticos idênticos.
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
De acordo com as informações presentes no texto, os pontos de vista de Serafim da Silva Neto e de Paul Teyssier
convergem em relação
a) à influência dos aspectos socioculturais nas diferenças dos falares entre indivíduos, pois ambos consideram que pessoas
de mesmo nível sociocultural falam de forma semelhante.
b) à delimitação dialetal no Brasil assemelhar-se ao que ocorria na România Antiga, pois ambos consideram a variação
linguística no Brasil como decorrente de aspectos geográficos.
c) à variação sociocultural entre brasileiros de diferentes regiões, pois ambos consideram o fator sociocultural de bastante
peso na constituição das variedades linguísticas no Brasil.
d) à diversidade da língua portuguesa na România Antiga, que até hoje continua a existir, manifestando-se nas variantes
linguísticas do português atual no Brasil.
e) à existência de delimitações dialetais geográficas pouco marcadas no Brasil, embora cada um enfatize aspectos
diferentes da questão.
2) (ENEM 2014)
Óia eu aqui de novo xaxando Vem cá morena linda
Óia eu aqui de novo pra xaxar Vestida de chita
Vou mostrar pr’esses cabras Você é a mais bonita
Que eu ainda dou no couro Desse meu lugar
Isso é um desaforo Vai, chama Maria, chama Luzia
Que eu não posso levar Vai, chama Zabé, chama Raque
Que eu aqui de novo cantando Diz que tou aqui com alegria.
Que eu aqui de novo xaxando (BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em:
www.luizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 mai. 2013.)
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil. O verso que
singulariza uma forma do falar popular regional é
a) “Isso é um desaforo” d) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
b) “Diz que eu tou aqui com alegria” e) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
c) “Vou mostrar pr’esses cabras”
3) (ENEM 2011). Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-
se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de complementaridade, sem, contudo, anular a interseção
de usos que configuram uma norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa ao longo do território,
seja numa relação de oposição, seja de complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram
uma norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa a pensar na bifurcação das variantes continentais,
ora em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os territórios. CALLOU,
D. Gramática, variação e normas.
In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).O
português do Brasil não é uma língua uniforme.
A variação linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas estão sujeitas. Ao considerar as variedades
linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a atenção do leitor
para
a) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.
b) difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do século XVIII.
c) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta da de Portugal.
d) inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado país.
e) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser aceitos.
4) (ENEM 2012) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um
dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à ampliação
do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de
ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em
textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter
“existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com
concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é
categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-
se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma
fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por
outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado. In: Cadernos de Letras da UFF, n. 36,
2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).
Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que
a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.
b) os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.
c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma.
d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos.
e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística.
5) (ENEM 2012)
TEXTO I
Antigamente
Antigamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos
braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir.
Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as
plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua, nem escapulia do mestre, mesmo que não
entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava botina de botões para comparecer todo liró
ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício,
jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho
diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pusesse tudo em pratos limpos, ele
abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983 (fragmento).
TEXTO II
Na leitura do fragmento do texto Antigamente constata-
se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens
lexicais outrora produtivos não mais o são no português
brasileiro atual. Esse fenômeno revela que
a) a língua portuguesa de antigamente carecia de termos
para se referir a fatos e coisas do cotidiano.
b) o português brasileiro se constitui evitando a
ampliação do léxico proveniente do português europeu.
c) a heterogeneidade do português leva a uma
estabilidade do seu léxico no eixo temporal.
d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para
ser reconhecido como língua independente.
e) o léxico do português representa uma realidade
linguística variável e diversificada

Revisando: O que são as variantes linguísticas???


São palavras inventadas, transformadas, além de expressões. Elas são históricas (surgem ou somem ao longo de gerações),
são regionais ou de grupos sociais. Veja exemplos dos três tipos:
Variantes históricas –O adjetivo “maganão” foi usado até o século XIX, queria dizer brincalhão, engraçado, mas deixou
de ser usado.
Variantes regionais – A mandioca pode ser chamada de macaxeira ou aipim, conforme a região; “colar na prova” no
Sudeste é “pescar na prova”, no Nordeste. Em todo o Brasil se diz “ficar de cabeça para baixo”, mas o paulista diz “ficar
de ponta-cabeça”.
Variantes sociais – São as palavras e expressões de grupos de convivência social, como médicos, aviadores, skatistas.
Novas atividades e profissões criam dezenas de palavras para se autodefinir e para definirem outros eventos do grupo,
desde substantivos e verbos até gírias. Exemplos? Estes mesmos em que estamos: em linguística, as variantes históricas
são chamadas de diafásicas, as regionais são diatópicas e as sociais são diastráticas (achamos que você não precisa
memorizar essas categorias, ainda não vimos nas provas com esses nomes feios).
Por que elas são importantes
Porque a norma padrão da língua existe para que a comunicação seja a mais precisa possível, na escrita e na leitura, entre
outros aspectos, entre todos os sujeitos da língua. Porém, ela não se sobrepõe à cultura como um todo. A comunicação
entre as pessoas gera as variantes e essas, muitas vezes, transgridem a norma padrão, o que podemos ver principalmente
em romances, crônicas, cantigas e canções. Os formuladores das provas procuram valorizar essas variantes, que fazem
parte da cultura e da história da nossa literatura e música, ressalvando que expressões como “É nóis” não devem ser
consideradas apenas como simples erros condenados pela norma padrão.
Identificar as variações linguísticas no Enem é uma das competências que faz parte da matriz de referência de Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias. O tema sempre é abordado na prova em virtude de sua importância histórico-linguístico-
social.
A linguística mostra que uma língua não é homogênea e deve ser entendida levando-se em consideração a diversidade
que circunda os homens, ou seja, a chance de mutações. Dessa forma, o candidato deve levar em consideração que toda
língua apresenta variações linguísticas. No Brasil, essas diferenças são acentuadas pelas particularidades culturais de cada
região do país.
O candidato deve saber que as variações linguísticas podem ser compreendidas a partir da análise de diferentes
fenômenos:
 Os grupos sociais que não possuem acesso à língua formal usam a língua, tanto na modalidade escrita como a modalidade
oral, de forma diferente;
 Um mesmo grupo social expressa-se de maneira diferentes. Isto significa que um mesmo grupo social utiliza a língua de
acordo com a situação de uso;
 Na fonologia, as diferenças são mais acentuadas, assinalando-se não só na emissão das vogais, como na das consoantes.

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