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TRATAMENTO
1 - Cirurgia Curativa
A remoção cirúrgica do tumor oferece a única probabilidade de
cura. Dessa forma, uma avaliação cuidadosa à procura de
metástases à distância evita uma cirurgia desnecessária.
Infelizmente, cerca de 20% a 50% dos pacientes possui doença
avançada à apresentação, impossível de ser curada
cirurgicamente. As neoplasias do fundo gástrico são tratadas da mesma forma, ou
A cirurgia curativa deve ser tentada na ausência de metástases à seja, com gastrectomia total com reconstrução tipo
distância; o cirurgião, sempre que possível, deve ressecar toda a esofagojejunostomia término-lateral em Y de Roux.
extensão da neoplasia (mesmo no estágio T4). Devido à tendência Os tumores de cárdia são abordados com esofagectomia distal e
do câncer gástrico em se disseminar de forma intramural, o tumor gastrectomia total. A reconstrução do trânsito alimentar também
deve ser ressecado com uma ampla margem de segurança, de no se dá através de esofagojejunostomia término-lateral em Y de
mínimo 5 cm a 6 cm (8 cm no subtipo “difuso” de Lauren). No pós- Roux.
operatório, o paciente pode ser alimentado com cateter Todos os tumores necessitam de linfadenectomia profilática
nasoentérico. regional. Os níveis de ressecção são determinados pela localização
Os tumores de terço distal podem ser tratados com gastrectomia do tumor, embora possamos fazer algumas generalizações:
subtotal e reconstrução a Billroth II. Quando a margem de - Linfadenectomia a D1 ou R1: linfonodos perigástricos até 3 cm
segurança pode ser obtida, a sobrevida em cinco anos após uma de distância das margens do tumor.
gastrectomia subtotal é a mesma que a de uma gastrectomia - Linfadenectomia a D2 ou R2: linfonodos D1 mais os que
total. acompanham as artérias mais próximas (gástrica esquerda,
esplênica e tronco celíaco).
- Linfadenectomia a D3 ou R3: linfonodos D2 mais linfonodos do
ligamento hepatoduodenal, cabeça do pâncreas e raiz do
mesentério do delgado.
Se for possível, sem aumentar significativamente o risco da
cirurgia, a linfadenectomia a D2 é preferida pelos cirurgiões
brasileiros. Não se tem feito esplenectomia e pancreatectomia
distal de rotina na cirurgia curativa do Ca gástrico, para reduzir a
morbimortalidade operatória. Estas ressecções só estão indicadas
quando o tumor estiver aderido ou invadindo tais estruturas, ou
quando houver comprometimento de linfonodos adjacentes a
elas.
Os tumores de terço médio (corpo gástrico) a mais de 5 cm a 6 cm
Há uma grande discussão quanto à escolha da linfadenectomia a
da junção esofagogástrica também podem ser abordados com
D1 ou a D2. Os cirurgiões japoneses fazem de rotina D2 ou D3,
gastrectomia subtotal e reconstrução a Billroth II.
com esplenectomia e pancreatectomia distal, alegando melhores do esquema com três quimioterápicos e a cirurgia de ressecção. O
resultados em termos de cura do câncer. tratamento consiste em três ciclos antes (quimioterapia prévia) e
Nos EUA e Europa, a linfadenectomia a D1 é mais utilizada, pois três ciclos após (quimioterapia adjuvante) a cirurgia. Outros
diversos estudos ocidentais mostraram que tem menor estudos semelhantes demonstraram benefício com esquemas de
morbimortalidade que a D2, sem muita diferença na sobrevida em dois ou três quimioterápicos, usados no perioperatório, com uma
cinco anos. Acredita-se que esta diferença em relação à sobrevida fluoropirimidina e derivados da platina (5FU/cisplatina, ECX, EOX).
entre os pacientes orientais e ocidentais seja devido à maior taxa Inexiste evidência de benefício de adicionar radioterapia à
de detecção do câncer gástrico precoce no Japão – mesmo quimioterapia após a cirurgia nesse grupo de pacientes. A
cursando com maior morbimortalidade pós-operatória, as quimioterapia prévia à cirurgia (dita neoadjuvante) como
ressecções mais extensas conferem uma chance ainda maior de tratamento exclusivo não demonstrou efeito significativamente
cura. benéfico e não deve ser utilizada.
As recomendações quanto à cirurgia por estágio e localização do Quimioterapia adjuvante associada a radioterapia
tumor no estômago: Para os pacientes que foram operados sem quimioterapia prévia,
EC 0 (TisN0M0) e EC IA: A gastrectomia com linfadenectomia tem a associação de quimioterapia e radioterapia
intuito curativo. Tumores nesse estágio são mais frequentemente (quimiorradioterapia) adjuvante pode ser considerada naqueles
diagnosticados em populações que, em razão da alta incidência, em que o exame anatomopatológico confirma tratar-se de estágio
têm programas sistemáticos de rastreamento, como no Japão. A IB ou mais. O efeito positivo sobre sobrevida e sobrevida livre de
ressecção endoscópica pode ser o tratamento em casos doença foi confirmado em revisões sistemáticas com meta-análise
selecionados. com diversos graus de qualidade metodológica.
EC IV: A cirurgia tem como objetivo o controle de sintomas, como Estágio IV inoperável:
dor, sangramento ou obstrução. Pode haver benefício na Para pacientes com doença avançada, a quimioterapia paliativa
ressecção, mesmo multivisceral, em pacientes com doença à demonstrou ser melhor do que medidas de suporte exclusivas em
distância. Nesses casos, a esplenectomia foi identificada como pelo menos duas revisões sistemáticas, com impacto benéfico
fator de risco para maior morbidade. sobre a sobrevida e a qualidade de vida. Havendo resposta clínica
inicial, o tratamento deve ser mantido enquanto tiver benefício
2 - Terapia Adjuvante clínico inequívoco sem toxicidade inaceitável. Esquemas de dois
Nos indivíduos submetidos à ressecção curativa, com o quimioterápicos, sendo um deles uma fluoropirimidina
estadiamento cirúrgico mostrando acometimento linfonodal ou (fluorouracila ou capecitabina) e o outro um quimioterápico
de órgãos adjacentes, estudos randomizados demonstraram derivado da platina são os recomendados. A inclusão de um
benefício na sobrevida com a radioquimioterapia adjuvante (após terceiro quimioterápico não tem benefício claro.
a cirurgia). Tumores positivos para a mutação HER-2 se beneficiam
do acréscimo de trastuzumab (anticorpo monoclonal direcionado 3 - Terapia Paliativa
contra o produto do gene HER-2). O objetivo da terapia paliativa é fornecer alívio sintomático com a
menor morbidade possível. A quimioterapia paliativa tem
Estágios IB (T2N0M0 ou T1N1M0) a IV, operável: mostrado benefício quanto à redução dos sintomas e ao aumento
Quimioterapia prévia e quimioterapia adjuvante (pré e pós- da sobrevida. A gastrectomia paliativa deve ser oferecida aos
operatória) pacientes com risco cirúrgico baixo, tendo como objetivo evitar
Um esquema com seis ciclos de epirrubicina, cisplatina e sangramento, perfuração e/ou obstrução em decorrência do
fluorouracila infusional (ECF) demonstrou benefício em sobrevida crescimento tumoral. Os dilatadores pneumáticos e stents são
livre de doença e sobrevida global (MAGIC) em pacientes com reservados para os pacientes com disfagia (tumor da cárdia). Um
diferentes graus de extensão tumoral, quando comparado a stent também pode ser colocado para aliviar a obstrução
cirurgia exclusiva. Esse tratamento deve ser oferecido para antropilórica nos tumores distais inoperáveis. A radioterapia é
pacientes cuja avaliação indique que tolerarão os efeitos adversos
reservada para o controle do sangramento, dor ou obstrução IV), são candidatos à poliquimioterapia (CHOP ou R-CHOP). A
(principalmente se associado à quimioterapia). Mais gastrectomia total com linfadenectomia D2 pode ser realizada na
recentemente foi desenvolvida uma técnica endoscópica de vigência de complicações como hemorragia e perfuração.
recanalização do estômago utilizando raio laser.