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http://bioquimica-clinica.blogspot.com.br/2010/07/interpretacao-rapida-da-gasometria.html
INTRODUÇÃO
A análise dos gases sanguíneos (sangue arterial) é um recurso de extrema utilidade para a avaliação da
oxigenação do sangue, da ventilação pulmonar e do estado ou equilíbrio ácido-base do organismo. A análise dos
gases no sangue venoso informa sobre o consumo ou a extração de oxigênio nos tecidos e, portanto,
indiretamente, informa sobre o estado do metabolismo celular.
É essencial lembrar que os resultados dos exames, inclusive a gasometria, devem sempre ser correlacionados
com os dados clínicos dos pacientes. Certos parâmetros da gasometria, contudo, ainda que os pacientes
estejam assintomáticos, podem indicar a necessidade de tratamento. Esse é o caso, por exemplo, da hipocapnia
arterial. Um paciente pode tolerar a PaCO2 baixa por um determinado tempo; entretanto, uma vez identificada, a
hipocapnia deve ser corrigida, para evitar o aparecimento dos sintomas, que podem ser de grande severidade.
Dentre as inúmeras aplicações práticas das informações do presente material, destacamos a assistência aos
pacientes mantidos com respiradores mecânicos, estados de choque, envenenamentos e estados agudos de
insuficiência cardíaca, respiratória ou renal, além dos pacientes submetidos à circulação extracorpórea em
qualquer das suas modalidades.
OXIGENAÇÃO
Uma das informações mais importantes obtidas pela análise dos gases sanguíneos diz respeito à oxigenação do
sangue. Em outras palavras, a análise do sangue nos informa sobre o conteudo de oxigênio.
Isso é de fundamental importância para avaliar a oferta de oxigênio às células do organismo. O metabolismo
apenas pode se processar adequadamente, com a utilização do oxigênio (metabolismo aeróbico).
O oxigênio é transportado para as células pela corrente sanguínea, combinado à hemoglobina e, em pequena
parte, dissolvido na água do plasma. Os valores da análise dos gases (gasometria), importantes para avaliar a
oxigenação são a PaO2 e a SaO2.
Nota Importante: A convenção para a padronização da grafia dos valores dos gases, recomenda usar as
seguintes letras:
P (maiúsculo) - Representa a pressão parcial exercida pelo gás. PO2 é a pressão (tensão) parcial do oxigênio.
PCO2 é a tensão (pressão) parcial do dióxido de carbono.
S (maiúsculo) - Representa o gráu de saturação da hemoglobina. SO2 portanto, representa, o grau de saturação
da hemoglobina pelo oxigênio.
A (maiúsculo) - Representa os gases no ar contido nos alvéolos dos pulmões (ar alveolar).
a (minúsculo) - Representa os gases contidos no sangue arterial.
v (minúsculo) - Representa os gases contidos no sangue venoso.
De acordo com a convenção acima, portanto, temos:
PaO2 - Representa a pressão parcial do oxigênio no sangue arterial.
PvO2 - Representa a pressão parcial do oxigênio no sangue venoso.
PaCO2 - Representa a pressão parcial do dióxido de carbono no sangue arterial.
PvCO2 - Representa a pressão parcial do dióxido de carbono no sangue venoso.
SaO2 - Representa a saturação de oxigênio da hemoglobina no sangue arterial.
SvO2 - Representa a saturação de oxigênio da hemoglobina no sangue venoso.
PAO2 - Representa a pressão parcial de oxigênio no ar alveolar.
Em condições normais, cerca de 97% do oxigênio transportado dos pulmões para os tecidos são carreados em
combinação química com a hemoglobina, no interior das hemácias. Os restantes 3% do oxigênio encontram-se
dissolvidos na água do plasma e das células. Portanto, em condições normais, o transporte do oxigênio para as
células do organismo é feito quase que totalmente pela hemoglobina.
A PaO2 é a medida da pressão parcial do oxigênio no sangue arterial, mas refere-se apenas ao oxigênio
dissolvido no plasma. A PaO2 não reflete a disponibilidade total de oxigênio para os tecidos. A PaO2 é medida
em milímetros de mercúrio (mmHg).
A SaO2 ou a saturação de oxigênio mede a proporção em que o oxigênio está ligado à hemoglobina. A saturação
é expressa em percentual. A saturação de oxigênio normal do sangue que alcança o átrio esquerdo é de 98%. A
saturação é um melhor indicador da disponibilidade total de oxigênio para as células do organismo. Entretanto,
há um certo paralelismo entre a pressão parcial e a saturação, conforme expressa a curva de dissociação da
hemoglobina.
A afinidade do oxigênio pela hemoglobina se altera devido à temperatura e ao pH do sangue. Essas alterações
podem ser melhor compreendidas ao observarmos a Curva de Dissociação da Oxihemoglobina.
A difusão do oxigênio dos alveólos pulmonares para o sangue ocorre movida pela diferença entre as pressões
parciais. Estas tendem a igualar-se nos dois lados da membrana dos alvéolos, para cada gás existente no
sangue e no ar do interior dos aovéolos.
A PO2 do sangue venoso que entra nos capilares pulmonares é de apenas 40 mmHg (PvO2 = 40 mmHg). A PO2
no ar dos alvéolos pulmonares é de 104 mmHg (PAO2 = 104 mmHg). A diferença de 64 mmHg força o oxigênio a
passar do ar alveolar para o sangue que circula nos capilares dos alvéolos. Ao alcançar 1/3 do comprimento do
capilar, o sangue já está "arterializado". A PaO2 do sangue arterial é, portanto, de 104 mmHg.
Normalmente o sangue arterial está 98% saturado de oxigênio.
Ao atravessar os tecidos, o sangue arterial cede o seu oxigênio às células, para as atividades metabólicas. Ao
deixar os capilares dos tecidos para juntar-se nas vênulas, a pressão parcial do oxigênio no sangue (PvO2) é de
aproximadamente 35 a 40 mmHg. A saturação de oxigênio do sangue venoso oscila em torno de 70 a 75%.
Quando a PvO2 e/ou a saturação do sangue venoso estão abaixo daqueles valores, significa que a extração de
oxigênio pelos tecidos está aumentada. Isto pode ocorrer por uma exacerbação do metabolismo (febre, por
exemplo) ou por uma redução do fluxo de sangue que perfunde os tecidos (estados de choque).
A medida dos gases no sangue arterial e venoso, simultaneamente, em certas ocasiões, pode contribuir
decisivamente para o diagnóstico e o tratamento de uma série de condições de extrema gravidade.
SIGNIFICADO DO pH
O pH é um índice criado para representar a concentração de íons hidrogênio (H+) existente em uma solução.
Como os valores da concentração dos íons hidrogênio livres em uma solução eram representados por números
com diversas casas decimais, tornou-se mais simples a representação logarítimica. Desse modo o pH representa
o logarítimo inverso do número de íons hidrogênio livres em uma solução.
A escala do pH varia de 1 a 14. A água foi tomada como elemento padrão para a comparação dos demais
elementos da natureza. O pH da água é sete (7) e representa o ponto central da escala do pH.
A água é uma substância neutra (pH = 7). Todas as substâncias cujo pH está compreendido entre 1 e 7 são
denominadas ácidas. Todas as substâncias cujo pH está compreendido entre 7 e 14 são denominadas alcalinas
ou bases.
A figura ilustra a escala do pH e as faixas de acidez (ácidos) e de alcalinidade (bases).
COMPONENTE RESPIRATÓRIO
COMPONENTE METABÓLICO
EXEMPLOS PRÁTICOS
1
Gasometria (sangue arterial):
pH=7,30
PaCO2=48 mmHg
HCO3= 18 mEq/l
BD= - 7 mEq/l
PaO2= 85 mmHg
SaO2=98%
Interpretação -
1. O pH está abaixo de 7,35 e indica a presença de acidose.
2. A PaCO2 está acima de 45 mmHg e indica retenção de CO2 (causa respiratória).
3. O bicarbonato de 18 mEq/l indica um déficit de bicarbonato.
4. Há um deficit de bases de - 7
5. A oxigenação está normal.
Conclusão: Acidose Respiratória
2
Gasometria (sangue arterial):
pH= 7,48
PaCO2=37 mmHg
HCO3= 29 mEq/l
BE = + 6 mEq/l
PaO2= 93 mmHg
SaO2= 96%
Interpretação:
1. O pH está acima de 7,45 e indica a presença de alcalose.
2. A PaCO2 está normal. Indica um distúrbio provavelmente metabólico.
3. O bicarbonato está acima de 26 mEq/l. Isso indica um excesso de bases e confirma a alteração metabólica.
4. Há um excesso de bases de + 6 mEq/l.
5. A oxigenação está normal.
Conclusão: Alcalose Metabólica
3
Gasometria (sangue arterial):
pH= 7,10
PaCO2= 27 mmHg
HCO3= 8 mEq/l
BD= - 20 mEq/l
PaO2= 42 mmHg
SaO2= 52%
Interpretação:
1. O pH está muito abaixo de 7,35 e indica a presença de uma acidose severa.
2. A PaCO2 está abaixo de 27 mmHg. Indica que o componente respiratório tentou compensar a acidose.
3. O bicarbonato está abaixo de 22 mEq/l. Isso indica um distúrbio de origem metabólica.
4. Há um grande déficit de bases ( - 20 mEq/l).
5. A PaO2 e a saturação de oxigênio estão baixos. Isso indica a presença de hipóxia (severa no presente
exemplo.
Conclusão: Acidose Metabólica
4
Gasometria (sangue arterial):
pH= 7,50
PaCO2= 38 mmHg
HCO3= 30 mEq/l
BE = + 5 mEq/l
PaO2= 75 mmHg
SaO2=94%
Interpretação:
1. O pH está acima de 7,45 e indica a presença de alcalose.
2. A PaCO2 está normal. Isso afasta uma causa respiratória para a alcalose.
3. O bicarbonato está elevado, acima de 26 mEq/l. Isso indica uma causa metabólica para a alcalose.
4. O BE está elevado (+ 5 mEq/l). Isso indica que há um excesso de bases no sangue.
5. A PaO2 e a saturação de oxigênio estão normais.
Conclusão: Alcalose Metabólica
5
Gasometria (sangue arterial):
pH= 7,56
PaCO2= 26 mmHg
HCO3= 24 mEq/l
BD= - 2,5 mEq/l
PaO2= 80 mmHg
SaO2= 98%
Interpretação:
1. O pH está acima de 7,45 e indica a presença de alcalose.
2. A PaCO2 está abaixo de 35 mmHg e indica uma causa respiratória para a alcalose.
3. O bicarbonato está normal.
4. O BD está dentro da faixa normal.
5. A PaO2 e a saturação de oxigênio estão normais, indicando uma oxigenação satisfatória.
Conclusão: Alcalose Respiratória