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Índice
Índice
Introdução......................................................................................................2
1. O Modo.....................................................................................................3
1. 1. A noção do modo.................................................................................................3
1. 2. Os modos verbais no latim e no português........................................................4
2. O emprego do Conjuntivo.........................................................................8
Bibliografia..................................................................................................43
1
Introdução
1
Marques, 3.
2
1. O Modo
1. 1. A noção do modo
2
Mateus e outros., Marques.
3
Mateus e outros, 102-6.
4
Marques, 6. baseada em Oliveira, F.: Para uma semântica e pragmática de DEVER e PODER,
Dissertação de Doutoramento em Linguística Portuguesa, Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
1988.
5
Mateus e outros 102-6.
6
Pinkster, 190.
3
No português costumam distinguir também frases exclamatvas, optativas,
imperativas, mas quanto ao emprego dos modos as exclamativas podem ser
consideradas declarativas enquanto os dois últimos podemos incluí-los numa categoria
maior das frases desiderativas7 nos quais usamos o Imperativo ou o Conjuntivo. Desta
relação entre modos e tipos de frases trataremos mais em relação ao uso do Conjuntivo
em orações principais, mas agora examinemos os diferentes modos verbais.
Os três modos básicos que se encontram no latim e nas línguas neolatinas são o
Indicativo, o Imperativo e o Conjuntivo. Na língua indoeuropeia existia também o
Modo Optativo, que continuava a existir no grego antigo e no sânscrito, mas no latim
juntou-se ao Conjuntivo. Havia gramáticos8 que seguindo o exemplo grego diziam que o
Optativo existe também no latim apesar de as suas formas verbais serem iguais às do
Conjuntivo. Além de o Conjuntivo latino exprimir desejos, têm outras razões para
pensarem assim:
Enquanto a negação do Conjuntivo acontece com non em geral, no caso do
Optativo usa-se ne. (Mas há outros usos do Conjuntivo que se negam com ne.)
O uso dos tempos é diferente no caso do Optativo. O Presente exprime que o
desejo é possível, o Imperfeito que não é possível realizá-lo no presente, o mais-que-
Perfeito a irrealização no passado. O Presente do Optativo tem um valor de futuro. O
Imperfeito e o mais-que-Perfeito exprimem irrealização no presente e no passado como
no caso do conjuntivo potencial. O Perfeito do Optativo refere-se ao futuro mas indica
perfectividade.9.
Um outro modo problemático é o Condicional, que não existia nem na língua
indoeuropeia antiga nem no latim, mas existe nas línguas neolatinas. Este é o modo que
substitui o Conjuntivo potencial e além disso tem também um valor temporal na oração
oblíqua, onde exprime futuridade no passado, por isso chama-se também o Futuro do
Pretérito. O seu valor modal é também semelhante ao Futuro do Indicativo porque
ambos exprimem hipótese ou dúvida, o Futuro no presente, enquanto o condicional no
Passado. Além disso ambos provêm da construção do Infinitivo e o Presente ou o
7
Töttössy (1992), 199.
8
Dionysius, Donatus
9
Binnick 70-1.
4
Imperfeito do verbo habere.10 Há linguistas que por estas razões não consideram o
Condicional um modo independente.11
O Modo Imperativo, como o seu nome mostra, é o modo das ordens. No latim
existia além do I. Imperativus (Praesens) o II. Imperativus (Futurus), mas ambos eram
defectivos porque faltavam as formas da primeira e da terceira pessoa do I. e as formas
da primeira pessoa do II.. As formas negativas do I. são expressas por noli(te) mais o
Infinitivo ou por ne mais o Conjuntivo. O II. é negado por ne. No português existem
apenas as formas positivas do I.. Para substituir as formas que faltam é usado o Presente
do Conjuntivo em ambas as línguas.
O modo Conjuntivo já no latim tinha dois nomes, o Conjuntivo significa que
serve para ligar ideias, assim indica que entre duas ou mais orações há uma relação mais
forte. O outro nome é Subjuntivo, que nos sugere que a função principal deste modo é
indicar a subordinação, por isso há linguistas que negam a existência das suas
ocorrências independentes como vamos ver no próximo capítulo. Os linguistas
costumam definir o Indicativo e o Conjuntivo juntos determinando a diferença básica
entre estes dois modos. Uma solução que frequentemente aparece nas obras linguísticas
é que esta diferença é a assertividade. O Indicativo é o modo assertivo, assim usa-se
em frases declarativas e depois de verbos da afirmação e o Conjuntivo como o modo
não assertivo é seleccionado para exprimir desejo, dúvida, ordem, etc.12 Mas esta
hipótese é problemática porque o Indicativo não exprime sempre asserção e também o
Conjuntivo pode exprimi-la. Consideremos os exemplos seguintes:
Segundo uma outra hipótese há muitos que consideram o valor de verdade como
aspecto que pode distinguir os dois modos. Assim o Indicativo é o modo que exprime
um maior valor de verdade (certeza, realidade), enquanto no caso do uso do Conjuntivo
o grau da verdade é mais baixo (incerteza, dúvida, eventualidade, irrealidade)13. É
10
Nunes, 279.
11
Cunha - Cintra, 460-2.
12
Bybee, J. - Terrel, T. ”Análisis Semántico del Modo en Español”,: in Bosque, I(org.), Indicativo y
Subjuntivo, Taurus Universitria, Madrid, 1990, 145-163, apud Marques (1997), 192. ou. Marques, 9-12.
13
Cunha - Cintra, 463-4; Mateus e outros, 106.
5
interessante a hipótese de Farkas14, que distribui verbos de ancoragem intencional e
extensional. No caso dos verbos de ancoragem intencional o complemento é
interpretado relativamente a um único mundo e seleccionamos o Modo Indicativo,
enquanto a "ancoragem extensional" significa que o complemento é interpretado
relativamente a um conjunto de mundos, e neste caso usamos o Conjuntivo. A sua
hipótese é verdadeira no caso do romeno, mas não no caso das línguas românicas
ocidentais.
As hipóteses mencionadas consideravam o Indicativo o modo menos marcado e
tentavam determinar os casos quando temos de usar o Conjuntivo. Segundo Marques
seria mais lógico fazer o contrário. Ele considera marcado o Indicativo, que exprime
uma modalidade epistémica.15 Na definição de Woodcock o Indicativo exprime uma
atitude distanciada, o enunciador não exprime sentimentos sobre o assunto. O
Conjuntivo pelo contrário é usado quando a atitude do locutor não é neutra.16 Outras
gramáticas latinas também escrevem que a crença da verdade do enunciador é que
determina a selecção do modo. Assim usa-se o Indicativo quando é expressa uma crença
da verdade, enquanto o uso do Conjuntivo significa que o enunciador não aceita a
verdade do assunto expresso. Ou com outras palavras o Indicativo exprime uma verdade
objectiva, enquanto o Conjuntivo uma subjectiva.17
Santos18 combina diferentes hipóteses. Aceita que o Conjuntivo indica que o
assunto expresso não é verdadeiro e está ligado a um mundo virtual, mas ao mesmo
tempo sublinha que o enunciador é que escolhe o modo que considera adequado
segundo a sua crença de verdade.
Ainda temos de mencionar um fenómeno latino, o Indicativus Irrealis, que
Töttössy19 ilustra com o exemplo seguinte:
14
Farkas, D.:”On the semantics of subjunctive complements”; in P. Hirschbühler e K. Koerner (eds):
Romance Languages and Modern Linguistic Theory; John Benjamins, 1992, 71-104. apud Marques
(2004) 96. ou Marques, 11.
15
Marques (1997), 194-7.
16
Woodcock, 83-4.
17
Nagy - Kovács - Péter 150.
18
Santos, Ma J. A. V.: Os Usos do Conjuntivo em Língua Portuguesa (Uma proposta de Análise
Sintáctica e Semântico-Pragmática), Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1999, apud
Marques, 23-6.
19
Töttössy (1991) 139.
6
(3)"Possum de ichneumonum utilitate, de crocodilorum, de felium dicere, sed
nolo esse longus."20
(4)Poderia falar sobre a utilidade das doninhas, dos crocodilos, dos gatos, mas não
quero ser longo.
(5)"Cuius ego vicem doleo; qui urbem reliquit, id est patriam, pro qua et in qua
mori praeclarum fuit."21
(6)Tenho dor em vez dele; quem deixou a cidade, a pátria pela qual e em que teria
sido gloriosíssimo morrer.
Aqui a morte não aconteceu, o conteúdo é irreal, e neste caso no latim o emprego
do Coniunctivi Praeteritum Imperfectum ou o Praeteritum Perfectum seria normal. Mas
podemos dizer que morrer pela pátria é sempre glorioso, esta é uma verdade eterna,
assim o uso do Indicativo é normal. Seria mais evidente usar o Presente, mas o Perfeito
no seu uso gnómico pode ser usado no caso de verdades eternas. Assim talvez seja
melhor usar o Presente do Indicativo na frase portuguesa: é glorioso. Assim podemos
ver que a selecção do modo depende do atitude do locutor. No português também há
situações em que o Indicativo pode exprimir contrafactualidade, como vamos ver
quando tratarmos as frases condicionais.
20
Cicero: De natura deorum, 1, 101.
21
Cicero: Epistlae ad Atticum VIII. 2. 2.
7
2. O emprego do Conjuntivo
8
apenas formalmente podemos falar sobre Conjuntivo, segundo o seu valor modal
pertence ao Modo Imperativo, por isso não poderíamos mencioná-lo como o uso
independente do Conjuntivo. Mas há situações quando estas formas têm sentidos
adicionais e apenas aparentemente são ordens. Examinemos os exemplos seguintes:
(8) “Ne sit sane summum malum dolor, malum certe est”.29
(10) “Ita mihi salva re publica vobiscum perfui liceat, ut ego...non atrocitate
animi moveor, sed singulari quadam humanitate et misericordia.”31
Na frase (7) podemos ver o Coniunctivus Hortativus, que exprime exortação e se usa na
primeira pessoa do singular ou do plural. Uma outra subcategoria que podemos
mencionar é o Coni. Concessivus (8), que se usa quando o enunciador admite a
existência de outras opiniões, mas não quer mudar a sua. O Coni. Iuris Iurandi (10) é o
Conjuntivo do juramento. Todos os tipos são negados por ne.
28
Cicero: Pro Sestio 68. 143.
29
Cicero Tusculunae Disputationes 2, 14.
30
Cicero Epistulae ad Atticum 16, 13, 1
31
Cicero In Catilinam 4, 11.
32
Livius: Ab urbe condita. 21.10.10
9
(13) “Di tibi dent, quaecumque optes!”33
(14) ...cives mei, valeant, sint incolumes, sint florentes, sint beati...34
(16) Deus queira que esteja bom tempo quando vamos à praia.
ou as suas possibilidades:
10
Traduzindo como (18) podemos classificar como Coni. Iussivus, enquanto no segundo
caso temos um Coni. Potentialis. Assim esta não é uma categoria sintáctica, mas apenas
retórica.
11
(22) Quer chova quer faça sol vamos à praia.
Têm valor de substantivo e são introduzidas por uma conjunção integrante como
que e se no português. No latim costumam distinguir-se três grupos: as frases
substantivais declarativas, as interrogativas, que são as perguntas indirectas, e as finais
ou ordens indirectas. No caso do primeiro grupo o latim usa o Accusativus cum
Infinitivo, enquanto nos últimos dois o uso de Conjuntivo é obrigatório normalmente
12
depois de ut ou ne. Há grupos de verbos, adjectivos ou substantivos que seleccionam o
Conjuntivo por causa do seu sentido. Existe também o fenómeno da dupla selecção,
quando um verbo, adjectivo ou substantivo pode seleccionar o Indicativo, uma
construção de Infinitivo ou o Conjuntivo. Nestes casos há uma diferença no grau de
conhecimento e certeza, ou a selecção do modo tem um valor enfático. Por isso vale a
pena classificar os verbos segundo o seu sentido.
No caso do Latim esta é uma categoria dos verbos que seleccionam o Accusativus
cum Infinitivo quando queremos sublinhar o objecto destes verbos, porque neste caso
podemos considerar as orações substantivas declarativas.
Mas quando destacamos o objectivo, o sentido final torna-se mais forte e temos de
considerar a oração uma ordem indirecta. (25). Neste caso o uso do Conjuntivo é
obrigatório com as conjunções seguintes: ut(i) finale ou os correspondentes com sentido
negativo: (ut) ne, ut non, neve/ neu. Pode aparecer também o pronome relativo qui3
quando tem o sentido ut is3 (26).
Nos textos menos literários a conjunção ut pode faltar (27). Neste tipo de orações o
conteúdo negativo não pode ser indicado por palavras negativas como nemo, nihil,
nullus, mas apenas com ne mais as formas positivas deles: ne quis(quam), ne ullus, ne
unquam, ne quando, ne usquam, necubi, necunde. As construções ut non e ut nihil
também podem aparecer, mas têm um valor enfático45 (28).
39
Vamos referir sempre aos verbos, mas naturalmente os adjectivos e substantivos do mesmo sentido têm
as mesmas características.
40
ou volitivos e optativos apud Mateus e outros 273.
41
querer, apetecer, exigir, pedir, preferir, pretender, admitir, recomendar, requerer, rogar, solicitar,
sugerir, suplicar, urgir, negar, ordenar, decretar, intimar, mandar prescrever, determinar, proibir apud.
Marques, 30-1.; volo, nolo, malo, sino, cupio, patior, iubeo, veto. apud Nagy-Kovács-Péter 159.
42
Cicero: De finibus bonorum et malorum 5, 16, 44.
43
Cicero: Orationes in Vatinium 6, 14.
44
Livius: Ab urbe condita 5, 35, 4.
45
Woodcock 101.
13
(27) “huic imperat quas possit adeat civitates”46
Há alguns verbos de ordem e proibição como iubeo e veto que raramente seleccionam
uma oração subordinada, mas preferem o Accusativus cum Infinitivo. Iubeo com oração
subordinada significa ‘ordenar, decretar’:
(29) “Hic tibi in mentem non venit iubere, ut haec quoque referret.”48
No português estes verbos seleccionam uma oração em Conjuntivo introduzida por que
(30) ou usa-se o Infinitivo Flexionado (31). Quando o sujeito da oração principal e da
subordinada é o mesmo, aparece o Infinitivo Não- Flexionado. Neste caso o Conjuntivo
é também opcional, mas nem todos os verbos podem seleccioná-lo.49
46
Caesar: De Bello Gallico 4, 21, 8.
47
Terentius: Andria 138-9.
48
Cicero: In Verrem 2, 4, 28
49
Mateus e outros 274.
50
apreciar, assustar, chatear, chocar, comover, compreender, consentir, convir, aconselhar, agradecer,
aguardar, envergonhar, espantar, esperar, estranhar, evitar, impedir, incomodar, lamentar, sentir,
lastimar, perceber, preocupar, procurar, recear, revoltar, surpreender, temer, tentar, transtornar apud
Marques, 30; gaudeo, laetor, doleo, indignor, aegre fero, moleste fero, miror, glorior, queror, gratulor,
gratias ago apud Nagy-Kovács-Péter 159.
51
Marques (2001 b) 688.
14
(33) É bom que estejas aqui.
Aqui temos de mencionar dois grupos especiais dos verbos latinos: os verba
impediendi52 e os verba timendi53. Estes verbos usam a conjunção negativa ne em
orações aparentemente positivas e quin ou quominus em orações negativas. A razão
desse fenómeno é que depois destes verbos as orações subordinadas vão ter um sentido
final. Para compreendermos melhor traduzamos as seguintes frases.
(37) Obstaste ao conjunto dos fugitivos para que não pudesse atravessar a
Sicília (em vez de: obstaste a que pudesse atravessar)
(39) Tenho medo de não chegar atrasado. (em vez de: tenho medo que chegue
atrasado.
2.2.1.3.Verbos de dúvida56
52
Impedio, prohibeo, impedimento sum, terreo, deterreo, obsto, obsisto, resisto, officio, adversor,
repugno, recuso, interdico apud Nagy-Kovács-Péter 182.
53
Timeo, metuo, vereor, timor est, metus est, in metu sum, metus mihi incidit, anxius/ sollicitus sum,
periculum est apud Nagy-Kovács-Péter , 181.
54
Cicero: In Verrem 2, 5.
55
Plautus, Menaechmi 989.
56
duvidar, suspeitar, desconfiar, duvidoso, improvável, inverosímil, questionável, problemático,
confuso, hipotético, discutível, presumível, apud Marques, 30; nescio, dubito, incertum est
57
Moreland e Fleischer 279.
15
(40) Quid Vesper erit, Incertum est.58
2.2.1.5.Verbos de permissão:61
2.2.1.6.Verbos no futuro
58
Livius
59
Terentius: Heautontimorumemos 620.
60
Cicero: Ad Atticum 16, 16a, 3.
61
permitir, deixar, consentir apud Marques, 31
62
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint
16
No português o Futuro pode exprimir incerteza, por isso os verbos no Futuro
podem seleccionar uma oração em Conjuntivo.
No caso de certos verbos a sua negação pode modificar o seu grau de certeza,
assim pode acontecer que o verbo positivo e o negado seleccionam diferentes modos
verbais. No português os verbos, adjectivos e substantivos de certeza e de conhecimento
normalmente seleccionam o Indicativo, mas quando são negados seleccionam o
Conjuntivo.
63
Marques, 31.
64
acreditar, admitir, assumir, calcular, certificar, desconfiar, imaginar, julgar, pensar, presumir, prever,
supor, suspeitar apud Marques, 33.
65
Marques (2001 b) 689.
17
São introduzidas por um pronome ou um advérbio relativo. No latim qui3,
quicunque3, quantus3, qualis2, quot, ubi, unde, cum, quo, qua. No português os
pronomes não se flexionam, assim as diferentes relações entre os membros da frase são
expressas por preposições que seleccionam diferentes pronomes. Quando o sujeito ou o
complemento directo é que introduz a oração subordinada, usa-se que. Nos outros casos
o tipo de antecedente também é importante. Quando é uma pessoa, nos casos
preposicionais aparece quem ou o qual. O uso deles é facultativo quase sempre. Depois
de pronome pessoal o uso de quem é obrigatório, enquanto depois de um número,
pronome indefinido, o superlativo ou a preposição sem apenas o qual pode aparecer.
Quando o antecedente não é uma pessoa, depois das preposições de uma única sílaba
como em, de, a, com, por aparece que. Com as outras preposições usa-se o qual. Em vez
de genitivo usa-se cujo, um pronome relativo possesivo. Cuius originalmente era o
genitivo do pronome relativo qui3
No caso do latim a classificação mais simples das orações é distinguir
determinativas ou qualitativas. As relativas determinativas, que respondem à pergunta
Qual?, seleccionam o Indicativo excepto se dependem duma oração subordinada, e as
qualitativas, que respondem à pergunta Como?, seleccionam o Conjuntivo. Quando na
frase aperece qualis e talis, já não é necessário o Conjuntivo para indicar a que a frase é
qualitativa.
(57) “Reperti sunt duo equites Romani, qui te ista cura liberarent.”67
(58) “...talem amicum habere volunt, quales ipsi esse non possunt.”68
66
Cicero: In Catilinam 1, 10.
67
Cicero: In Catilinam 1, 9.
68
Cicero: Laelius de Amicitia 22, 82.
69
Pinkster 213.
18
relativa está presente na principal, o pronome relativo pode ser substituído por ut
finale mais um pronome pessoal. Transformemos a frase (57):
(59) “Caninius fuit mirifica vigilantia, qui suo toto consulatu somnum non
viderit.”70
(60) “Ego vero illi maximam gratiam habeo, qui me ea poena multaverit,
quam sine versura possem dissolvere.”71
(61) “di perdant, qui hodie me remoratus est; meque adeo, qui restiterim.”72
(62) “Quis est, qui C. Fabricii, M. Curii non cum caritate aliqua
benevolentiae memoriam usurpet, quos numquam viderit.”73
(63) ego, qui illa nunquam probavi, tamen conservada arbitratus sum.74
70
Cicero: Epistulae ad Familiares 7, 30, 15.
71
Cicero: Tusculunae Disputationes 1, 42.
72
Terentius: Eunuchus 302.
73
Cicero: Laelius de amicitia 28.
74
Cicero: Philippicae 1, 23.
19
A gramática de Nagy-Kováts-Péter contrai estas categorias, e diz que se usa o
Conjuntivo quando a oração subordinada:
Exprime fim, consequência75, razão76 ou concessão. Neste caso qui3= ut/cum is3,
unde=ut inde, ubi= ut ibi.
Exprime não um facto, mas uma opinião77 do sujeito da oração principal. Neste
caso é evidente o uso do Conjuntivo, porque uma oração desse tipo sempre é
qualitativa.
20
(64) “centuriones hostes vocare coeperunt: quorum (=sed eorum) progredi
ausus est nemo”78
As relativas livres (sem antecedente) podem ter uma presuposição factual, neste
caso seleccionam o Indicativo e uma presuposição hipotética ou contrafactual, neste
caso seleccionam o Conjuntivo.
21
2.2.3.1. Orações temporais
(70) Usamos os nossos membros antes que aprendemos para que servem.
81
Existem também as suas formas separadas: ante quam, prius quam apud Zumpt 117.
82
Cicero: De Finibus Bonorum et Malorum 3, 63.
83
Woodcock 184.
84
Cicero: De Oratoribus 3, 145.
85
Plautus: Trinummus 198.
86
Cato: De Agricultura 143, 2.
22
(75) “pauca prius explanda sunt quam initium narrandi faciam.”87
(77) “prius in hostium castris constiterunt, quam plane ab his quid rei
ageretur cognosci posset.”91
23
(80) “Dum ille ne sis, quem ego esse nolo, sis mea causa, qui lubet.” 96
Dum e cum podem ter um sentido ‘durante o tempo que’, assim descrevem o fundo
duma acção. Enquanto dum e cum temporale, que definem o tempo da acção da oração
principal, no latim clássico seleccionam o Indicativo, cum historicum, que descreve
alguma circunstância ou assunto secundário, refere-se sempre ao passado e selecciona
os Pretéritos do Conjuntivo. Depois da época do Lívio também nas orações introduzidas
por cum temporale pode aparecer o Conjuntivo.
(83) “Hasdrubal tum forte, cum haec gerebantur, apud Syphacem erat.”98
Dum, donec, quoad, quando significam até que, seleccionam o Indicativo quando a
oração temporal apenas marca aquele momento que é o fim da acção, mas quando tem
um sentido secundário final, usa-se o Conjuntivo, mas os autores tardios usavam o
Conjuntivo também quando este sentido secundário não existia. A conjunção
portuguesa até que, referida ao futuro, selecciona o Presente do Conjuntivo, referida ao
passado o Indicativo.
96
Plautus: Trinummus 979.
97
Cicero: Epistulae ad Familiares 3, 5, 4.
98
Livius: Ab urbe condita 29, 31, 1.
99
Cornelius Nepos: De viris illustribus 8, 2, 7.
100
Plautus: Pseudolus 1234.
101
Tacitus: Annales 2, 6.
24
Cum tem mais dois tipos que exprimem simultaneidade e normalmente estão com o
Indicativo. Cum inversum ou additivum: descreve um acontecimento improviso, e o
conteúdo da oração que introduz é mais importante do que a oração principal.
Cum iterativum: exprime uma repetição como a conjunção portuguesa sempre que.
(90) “Is qui non defendit iniuriam, neque propulsat a suis, cum potest, iniuste
facit.”103
25
condições abertas e condições que implicam recusa. No primeiro caso o antecedente
descreve um assunto sem negar a verdade do facto. As condições abertas podem ser
particulares ou gerais, mas para podermos decidir a qual grupo pertencem temos de
conhecer o contexto. Woodcock usou o exemplo seguinte:
Esta frase pode ter diferentes sentidos: 1. Ele enganou-se quando estava a dizer isso. 2.
Ele enganava-se sempre que dizia isso. O primeiro é o sentido particular, o segundo o
geral. Nas frases condicionais com sentido particular o Conjuntivo pode aparecer
apenas no consequente.
No caso das antecedentes com sentido geral a situação é diferente. Podem seleccionar o
Conjuntivo quando são introduzidas por uma palavra relativa indefinida e contêm um
verbo na segunda pessoa do singular em sentido geral ou quando têm um sentido
frequentativo como cum iterativum.
(97) Si ames, extemplo melius illi quem ames consulas quam rei tuae.108
As condições que implicam a negação descrevem não um facto, mas uma condição
imaginada que (ainda) não foi realizada. As que referem-se ao futuro são ideais, que
referem-se ao passado são irreais. Em ambos os casos o emprego do Conjuntivo é
obrigatório no antecedemte. No consequente normalmente usa-se o Coniunctivus
Potentialis, mas pode aparecer também o Indicativo nos casos seguintes:
107
Cicero: Pro Sestio 24, 54.
108
Plautus: Cistellaria 97.
109
Tacitus: Historiae 2, 5
110
debeo, oportet, licet, possum, apud Woodcock 92., 156.
111
Livius: Ab urbe condita 7, 17, 12.
26
O Praeteritum Imperfectum do Indicativo pode exprimir acções começadas, mas
ainda não acabadas, assim pode ter um valor hipotético.
A classificação mais geral das frases condicionais que aparece também nas gramáticas
portuguesas é a seguinte116:
112
Cicero: De legibus 1, 52.
113
Livius: Ab urbe condita 3, 19, 8.
114
Plautus: Persa 594
115
Cicero: Pro Sulla 68.
116
Mateus e outros 298-303., Nagy-Kovács-Péter 198.
27
Nas frases hipotéticas / potenciais o conteúdo das orações realiza-se num mundo
real, mas o seu intervalo do tempo não é acessível pelo enunciador, ou simplesmente
podemos dizer que a relização do conteúdo da frase ainda não aconteceu, mas é
possível. Segundo o tempo ao que se referem as frases hipotéticas podem ser
prováveis ou improváveis. No latim em todos os casos usa-se o Conjuntivo no
antecedente e o Indicativo ou Conjuntivo no consequente, apenas os tempos verbais
são diferentes. No português a selecção do modo é mais variável porque existe o
modo Condicional, e o Futuro do Conjuntivo, que no latim ainda não existiam. Nas
condicionais prováveis no consequente aparece o Futuro ou o Presente do Indicativo
no antecedente o Futuro do Conjuntivo. Nas condicionais improváveis no
consequente aparece o Imperfeito do Indicativo ou o Condicional Simples, no
antecedente o Imperfeito do Conjuntivo.
117
Cicero: Cato Maior de Senectute 7, 21.
118
Plutharcos
119
Cicero: Philippicae 2, 2, 3.
28
ao presente formalmente são iguais no português porque ambas usam o Imperfeito
do Conjuntivo no antecedente e o Condicional Simples (ou Imperfeito do
Indicativo) no consequente. Além disso o Indicativo também pode indicar
contrafactualidade nas frases condicionais, enquanto os Pretéritos do Conjuntivo
podem não indicar contrafactualidade. Marques120 examinando algumas hipóteses
sobre a selecção do modo em frases condicionais no inglês criou uma nova hipótese
sobre as condicionais portuguesas. Segundo ele as condicionais “reais” seleccionam
o Indicativo não porque sejam factuais, mas porque o antecedente é relacionado a
um único mundo possível que pode ser real ou não. Quanto às condicionais com
Futuro e as com um Pretérito do Conjuntivo a diferença não é que a primeira é
hipotética e a segunda é contrafactual. O Futuro do Conjuntivo indica apenas que o
valor de verdade do antecedente é desconhecido no mundo real, enquanto o
emprego dos Pretéritos significa que o antecedente não é relacionado ao mundo
real.
120
Marques (2001 a) 330.
121
Woodcock 196.
122
Cicero: De Coniuratione Catilinae 1, 5.
123
Cicero: De Imperio Gn Pompei 8, 20.
124
Cicero: De Officiis ad Marcum filium 2, 22, 76.
29
No português consideram-se verdadeiras as causas que não são negadas, assim
estas sempre seleccionam o Indicativo. As locuções negativas como não porque no
português ou non quod e non quo no latim exprimem uma razão não verdadeira, por
isso são seguidas pelo Conjuntivo. Mas no latim, quando as conjunções negativas
introduzem uma razão factual, mas naquela situação não é importante, usa-se o
Indicativo. Desde a época de Lívio pode aparecer o Indicativo depois de non quia
independentemente da não-factualidade da oração subordinada.125 Em geral na mesma
frase aparece a causa verdadeira numa oração introduzida por sed no latim e mas
porque no português. Quando há mais razões possíveis mas não sabemos qual é a
verdadeira no português as orações causais são introduzidas por ou porque, que sempre
selecciona o Conjuntivo.
(118) Recebeu este prémio não porque seja talentoso, mas porque trabalhou
duramente.
(119) Neque vero hoc, quia sum ipse augur, ita sentio, sed quia sic existimare
nos est necesse.126
(120) Valuitque ea legatio, non tam quia pacem volebant Samnites quam quia
nondum parati erant ad bellum.127
125
Woodcock 199-200.
126
Cicero: De Legibus 2, 31.
127
Livius 8, 19, 3.
30
oração subordinada é negativa ou exprime uma acção pretendida usa-se o Conjuntivo e
acontece o mesmo no caso das orações consecutivas negativas.128
(123) Ele gosta deste livro tanto, que já o leu dez vezes.
(126) “neque dux Romanus ultum iit aut corpora humavit, quamquam multi
tribunorum praefectorumque et insignes centuriones cecidissent.”133
128
L. Marques, 36.
129
Cicero: In Verrem 2, 2, 47.
130
Woodcock 201.
131
Zumpt 89.
132
Sallustius: De Bello Iugurthino 3, 2
133
Tacitus: Annales 4, 73.
134
Woodcock 202-3.
31
(127) „Quamvis sis molestus, numquam te esse confitebor malum.”135
(131) Zeno proponatur Eleates, qui perpessus est omnia potius quam conscios
delendae tyrannidis indicaret.140
(132) Parvi primo ortu sic iacent, tamquam omnino sine animo sit.141
135
Cicero: Tusculunae Disputationes 2, 25, 61.
136
Ovidius: Tristia 4, 9, 9.
137
Marques, 35.
138
Marques, 35-6.
139
Zumpt 83.
140
Cicero: Tusculanae Disputationis 2, 52.
141
Cicero: De Finibus Bonorum et Malorum 5, 15.
32
3. A selecção do tempo
33
O Coniunctivi Praeteritum Imperfectum ou o Imperfeito do Conjuntivo exprime
um desejo que se refere ao presente ou futuro, mas a sua realização é impossível.
34
→ Consecutio Temporum nas perguntas e ordens indirectas, nas orações
relativas, nas orações concessivas, causais e temporais depois de conjunções
que seleccionam o Conjuntivo, as orações com sentido secundário final.
As frases condicionais são construções nas quais a selecção do tempo difere dos
outros tipos das construções subordinadas, porque aqui o valor temporal dos tempos não
tem um papel importante, o valor modal é que determina a selecção como nas orações
principais. No latim o antecedente selecciona os mesmos tempos que uma oração
principal, assim excepto no caso de casus mixtus o tempo verbal do antecedente e
consequente são iguais, mas no português não é assim, porque em oração principal o
Futuro de Indicativo e o Condicional exprimem potencialidade ou irrealidade e o
Conjuntivo aparece apenas nos antecedentes. Para ilustrar as diferenças usarei a mesma
frase que Moreland - Fleischer.144
As frases factuais seleccionam o Indicativo em ambas as línguas, mas enquanto
no latim todos os tempos podem aparecer em ambas as orações, no português pode
aparecer apenas o Presente ou o Futuro no consequente e o Presente no antecedente.
144
Moreland - Fleischer 34-35
35
o Futuro ou Presente do Indicativo no consequente e o Futuro do Conjuntivo no
antecedente.
36
As regras principais:
As regras secundárias:
37
b. Depois dum Coni. Praes. Perf. que se refere ao presente
(prohibitivus, potentialis) também temos de usar os Presentes do Conjuntivo na
oração subordinada.
II. O uso dos tempos depois de Praes. Impf. Historicum:
a. O Praes. Impf. Historicum formalmente é presente, mas
semanticamente exprime acções passadas, por isso o uso dos tempos nas
orações subordinadas é duplo, podem aparecer quer os Presentes, quer os
Pretéritos do Conjuntivo. Se o predicado da oração principal antecede o
predicado da oração subordinada, como na maior parte das orações finais e
perguntas indirectas, o aspecto formal torna-se mais marcado, por isso o latim
prefere usar os Presentes do Conjuntivo. Mas se a referência ao passado não é
apagada por um outro aspecto, como no caso das orações introduzidas por cum
historicum, que antecedem o predicado da oração principal, usam-se os
Pretéritos do Conjuntivo.
b. A selecção do tempo pode depender também do autor. Plauto,
Cícero, César e Ovídio preferem os Presentes, enquanto Terencio, Lívio e
Tácito preferem os Pretéritos do Conjuntivo.
c. Depois de Praes. Impf. podemos encontrar também os Pretéritos
do Conjuntivo quando a oração expõe uma ideia dum autor mais antigo mas
estimado.
III. O uso de tempos depois do Infinitivus Imperfectus:
a. Se o predicado da oração principal é um Infinitivo Histórico 147, na
oração principal estão os Pretéritos do Conjuntivo no latim clássico, mas na
época pós-clássica podem aparecer também os Presentes.
b. Quando o Infinitivo aparece numa exclamação, o seu valor
temporal influencia a selecção do tempo, assim quando se refere ao passado
selecciona os pretéritos nos outros casos os Presentes do Conjuntivo. Isso é
assim também quando o Infinitivo falta duma exclamação.
38
aplicar as regras da consecutio temporum como se a oração subordinada dependesse
deste verbo finito.
a. É problemático o caso daquelas formas que exprimem anterioridade depois
dum verbo no presente, porque em geral referem-se ao passado, mas não
sempre. Neste caso a regra é a seguinte: a oração subordinada selecciona o
mesmo tempo que seleccionaria se a forma verbal infinita fosse substituido por
uma oração, mas no Conjuntivo.
II. A situação é semelhante quando uma oração subordinada depende duma outra oração
subordinada cujo predicado está no Conjuntivo. Neste caso a segunda oração
subordinada selecciona o mesmo tempo que seleccionaria se a oração de que depende
estivesse independente, mas no Conjuntivo.
Observações:
39
I. No caso duma oração principal no futuro numa oração coordenada aparece o
Futuro Imperfeito no caso de simultaneidade e o Futuro Perfeito no caso de
anterioridade. Quando uma frase deste tipo se torna dependente, selecciona um
tempo do Conjuntivo conforme as regras, mas o seu aspecto não mudará. Às vezes
podem ficar no Indicativo. Isso geralmente acontece quando a oração subordinada
depende duma oração no futuro ou no presente.
Como pudemos ver, o sistema é bastante consequente, por isso pode ser descrito
por regras. Há casos que primeiro parecem problemáticos, porque não se adaptam às
regras, mas o papel determinante do tempo verbal da oração principal quase sempre é
evidente. No português isso não é assim. Marques examinando as frases completivas
apontou que há outros factores que podem determinar a selecção do tempo das orações
subordinadas. A autora examinou os predicados factivos e volitivos eventivos e
estativos com dois métodos diferentes, primeiro usou os pontos do Reichenbach, depois
seguiu Kamp e Reyle e tirou as conclusões seguintes:
Nos outros casos também é frequente que não seja determinada pela oração
principal, mas por um elemento da oração subordinada, por exemplo um
40
advérbio. Mas temos de sublinhar que os tempos de Conjuntivo podem ter o seu
próprio valor temporal.148
No caso das orações principais já vimos o valor temporal da maior parte dos
tempos do Conjuntivo, mas ainda não examinámos os Futuros do Conjuntivo. O Futuro
Simples tem um valor de futuro e pode exprimir simultaneidade ou posterioridade,
enquanto o Futuro Composto indica anterioridade no futuro. Poderíamos esperar que
aparecesse nos casos quando o latim indica a posterioridade usando a Coniugatio
Periphrastica ou o Infinitivus Instans no Accusativus cum Infinitivo. Mas não é assim.
Acontece também no latim que o Presente ou o Imperfeito exprimem posterioridade,
mas no português todos os tempos do Conjuntivo têm um valor de futuro excepto o
Pretérito Perfeito Composto149, por isso o valor modal é que determina a selecção do
tempo. O Futuro do Conjuntivo coloca a realização do assunto num ponto longínquo no
futuro, assim exprime maior incerteza do que os outros tempos de Conjuntivo. Certos
tipos das orações requerem maior grau de assertividade, por isso o Futuro do
Conjuntivo não pode aparecer por exemplo nas completivas, só nas temporais e
condicionais.150
É interessante esta relação ligeira entre o Modo Conjuntivo e a noção da
futuridade no português. Já no caso das frases condicionais pudemos ver que o Futuro
do Indicativo pode ser usado em casos quando no latim apenas o uso do Conjuntivo é
possível, por exemplo nas frases condicionais hipotéticas ou em orações que exprimem
dúvida no presente. A razão disso é que este tempo além do seu valor temporal têm um
valor modal de potencialidade. Acontece uma coisa semelhante no caso do Modo
Conjuntivo, porque além do seu valor modal pode ter também um valor temporal da
futuridade. Isso é possível porque muitas vezes há advérbios ou outros elementos que
exprimem uma modalidade, assim o uso de Conjuntivo torna-se redundante quanto ao
seu valor modal, mas com o seu valor temporal pode enriquecer o sentido da oração.
Conclusão
148
Marques, 150.
149
Oliveira 117.
150
Marques, 107-8.
41
Examinando as diferentes incidências do Modo Conjuntivo podemos concluir
que há muitas correspondências nas duas línguas, o que é normal, porque estamos a
falar sobre o mesmo modo, mas às vezes vale a pena fazer uma análise mais detalhada,
porque pode surgir que no caso das coincidências as razões podem ser diferentes. Por
exemplo vimos no caso do latim e também do português que marcar a subordinação não
é a única função do Conjuntivo. Mas a explicação não é a mesma. No caso do latim
podemos sublinhar o facto que o seu emprego independente nas orações principais é
bastante amplo. No caso do português já não é assim, mas a selecção do tempo não é
determinada apenas pelo verbo da oração principal, assim os tempos do Conjuntivo têm
os seus próprios valores temporais.
Geralmente podemos dizer que o Conjuntivo exprime uma não asserção da
verdade em ambas as línguas, mas no latim a opinião do enunciador tem mais papel. Por
isso há situações quando a frase latina exprime realidade, assim usa o Indicativo, mas
no português isso não é possivel, por exemplo no caso das condicionais reais ou o
fenómeno Indicativus Irrealis no latim.
Há diferenças que têm razões históricas, assim caracterizam as línguas
românicas, como a diminuição do número dos empregos independentes do Conjuntivo,
devido à formação do Condicional. E no fim temos de mencionar mais uma vez o
Futuro do Conjuntivo, que é uma característica da língua portuguesa.
O uso deste modo é bastante amplo e aparentemente caótico, mas examinando-o
quando lemos um texto ou falamos com um falante nativo podemos descobrir a própria
lógica das línguas diferentes e depois torna-se mais fácil empregá-lo.
42
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