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04-Sofrimento John Bunyan PDF
04-Sofrimento John Bunyan PDF
No último período de carnaval, durante um retiro promovido por nossa igreja, contamos
com a participação de dois preletores. Um deles foi o jovem colega Pr. Juan de Paula, que
nos trouxe uma mensagem sobre “O Sofrimento em John Bunyan”. Entendendo que aquela
mensagem poderia ser de interesse para mais pessoas, solicitei do pregador a autorização
para publicá-la aqui. Adaptou-se o conteúdo da mensagem ao formato de um artigo, e, com
ligeiras revisões, apresento-o com satisfação ao leitor.
Gilson Santos
Março/2007
Juan de Paula
“Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós
e sim no Deus que ressuscita os mortos” (2 Co 1.9).
Para que não confiemos em nós e sim em Deus. O entendimento do versículo acima foi
fundamental e encorajador para John Bunyan (1628-1688) em sua peregrinação e
sofrimento. E o sofrimento em Bunyan é o tema deste artigo,
o qual será dividido em cinco partes, sendo elas:
1 – Introdução ao tema e contexto histórico
2 – Uma breve biografia de John Bunyan
3 – Um breve apanhado do pensamento de Bunyan
4 – O sofrimento em John Bunyan
5 – Aplicações do sofrimento de Bunyan para nossa
peregrinação cristã, como indivíduos crentes em Cristo Jesus
e como igreja e comunidade cristã
Em maior ou menor grau, o sofrimento por causa de seguir e
testemunhar de Cristo tem atingido a vida dos discípulos de
Cristo em todas as épocas e em todos os lugares. O
sofrimento é algo que faz parte da vida e é compatível com o
Novo Testamento. Livros como os de Jó e do profeta
Habacuque mostram como o povo da aliança deve se portar
diante do sofrimento. Na história da igreja também não foi diferente. Mártires e servos de
Deus deixaram um exemplo e legado sobre como enfrentar e encarar o sofrimento de forma
que o nome de Deus seja glorificado. Não numa perspectiva de auto-piedade diante do
sofrimento, mas entendendo-o como um mecanismo para que Deus seja glorificado em
nossas vidas, em nossas lutas, aflições e dores. Assim foi com John Bunyan, latoeiro de
origem humilde e pregador puritano de uma igreja batista no século XVII, conhecido pelo
livro de sua autoria, O Peregrino. Não sei se alguém dentre os leitores já foi preso por pregar
o evangelho, já teve alguma filha nascida cega, já foi ameaçado de morte por causa da
pregação. Provavelmente alguns já perderam um ente querido, sofreram acidentes ou algum
outro acontecimento que tenha causado dor e aflição em sua vida. Minha oração é que Deus
abençoe você, sustentando-o(a) e encorajando-o(a), através do legado que foi deixado por
Bunyan.
John Bunyan
Cristo. (...) Agora as minhas cadeias realmente caíram de minhas pernas. Fui liberto
das minhas aflições e correntes (...). Agora pude, também, ir para casa, regozijando-
me pela graça e o amor de Deus.1
De sua primeira união conjugal nasceram quatro filhos, sendo Mary, a primogênita, cega de
nascimento. Sua esposa faleceu em 1655 e alguns anos depois, em 1659, Bunyan casou-se
pela segunda vez com Elizabeth, que cuidou de seus quatro filhos.
Resolvidos os conflitos de sua alma, Bunyan começou a exortar a igreja em 1655, e foi
levantado como um grande pregador em Bedford. Sua popularidade como pregador leigo foi
muito grande. Em 1660 foi preso por não ser licenciado para pregar pela Igreja da Inglaterra
e por não se adequar aos padrões da liturgia anglicana. Essa prisão causou grande opressão
em sua família e houve um interrogatório com sua esposa. Ela disse que o marido jamais
deixaria de pregar. O próprio Bunyan confirmou isso quando lhe foi oferecida a liberdade em
troca da renúncia à pregação. Disse ele: “Se eu for solto hoje, pregarei amanhã”. Essa sua
determinação custou-lhe doze anos de prisão. Por bondade do carcereiro, Bunyan podia
visitar sua família, porém viveu esse tempo sob tensão de ser penalizado com a morte a
qualquer momento. Nessas visitas, ele mantinha contato com amigos em Londres e
participava das reuniões regulares da igreja em Bedford, sendo eleito seu co-pastor. Porém
quando suas saídas foram descobertas, Bunyan, por iniciativa própria, diminuiu o ritmo de
suas visitas para não prejudicar o trabalho do carcereiro.
Após os doze anos de prisão, ele foi solto por um decreto de Indulgência Religiosa. Logo
depois foi licenciado para pregar como pastor da igreja em Bedford. Um celeiro virou edifício
religioso e ali Bunyan pregou até sua morte. Entre 1675 e 1677 Bunyan foi novamente
encarcerado. Seus biógrafos sugerem que nesse período foi escrito O Peregrino.
Bunyan deixou suas posses para a família, para esta não ser prejudicada. Em agosto de 1688,
ele viajou oitenta quilômetros a cavalo para pregar em Londres, debaixo de forte chuva. Ali
contraiu febre e viajou para a pátria celestial aos sessenta anos de idade. Seu último sermão
fora em 19 de agosto, baseado em João 1.13, e suas últimas palavras em púlpito foram:
“Vivam como filhos de Deus, para que possam olhar a seu Pai no rosto, com segurança, mais
um dia”.
Três obras exerceram grande influência sobre o pensamento de John Bunyan. A primeira foi
o comentário de Martinho Lutero à Epístola aos Gálatas; os outros dois livros foram O
caminho do céu para o homem simples e a Prática da piedade.
Além de pastor de ovelhas e fervoroso pregador, Bunyan foi um profícuo escritor. Antes da
primeira prisão já havia escrito dois livros. Durante seu aprisionamento escreveu algumas
obras, sendo elas: Oração no Espírito, A Ressurreição da Cidade Santa, Graça Abundante ao
Principal dos Pecadores (autobiografia), O Peregrino, Defesa da doutrina da justificação, e
Contra o Bispo Fowler. Além desses, também são conhecidos: A Peregrina e A Guerra Santa.
Segundo alguns biógrafos e estudiosos, Bunyan foi influente na formação da Confissão de Fé
1
BUNYAN, John. Grace Abounding to the Chief of Sinners. Cf online:
http://www3.calvarychapel.com/library/Bunyan-John/GraceAbounding/0.htm
2
Cf. online: http://www.crbb.org.br/confissao_sem_transcricao_textos_prova.pdf. Para uma
consideração histórica do tema, cf: SANTOS, Gilson. A Confissão de Fé Batista de 1689. Online:
http://www.crbb.org.br/gilson4.pdf
3
LLOYD-JONES, D. M. Os Puritanos; suas origens e sucessores. São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 1993, pp. 395-425.
4
FÉ PARA HOJE; Confissão de Fé Batista de 1689. São José dos Campos (SP): Editora Fiel,1991,
64p.
5
Cf. BUNYAN, John. Reprobation Asserted. Online:
http://www.reformed.org/master/index.html?mainframe=/books/bunyan/reprobation/
Aqui chegamos ao ponto principal deste artigo, isto é, o efeito do sofrimento na vida e
peregrinação de John Bunyan.
Como dissemos anteriormente na parte biográfica, Bunyan foi preso durante doze anos por
pregar o evangelho sem ser licenciado pela Igreja da Inglaterra. Além se ser um latoeiro
pobre e sem muita instrução formal, sua primeira filha Mary era cega de nascença. Ainda
que na prisão desfrutasse de certa liberdade de congregar e visitar sua família, Bunyan vivia
sob tensão de condenação à morte todo o tempo. Ele às vezes ficava atormentado por uma
dúvida de ter tomado a decisão certa e deixado sua família em fortes dificuldades
econômicas e passando necessidades.
O pastor batista norte-americano John Piper ilustra cinco efeitos do sofrimento na vida de
John Bunyan e pediremos ajuda a ele neste momento:6
Em primeiro lugar, o sofrimento de Bunyan confirmou o seu chamado como escritor para a
igreja aflita.
Como prisioneiro, assim como o apóstolo Paulo escreveu algumas epístolas nessa condição,
Bunyan dedicou seu tempo no cárcere aos escritos. Livros foram o seu maior legado a Igreja
e ao mundo. Os escritos de Bunyan eram uma extensão, um braço de seu ministério
pastoral, dirigido principalmente as ovelhas de Bedford, que viviam em constante perigo de
assédio e prisão.
Podemos ouvir e sentir o sofrimento de Bunyan quando lemos trechos d´O Peregrino.7 No
6
PIPER, John. O Sorriso Escondido de Deus. São Paulo: Shedd Publicações & Edições Vida Nova,
2002, 192p.
7
BUNYAN, John. O Peregrino; com notas de estudo e ilustrações. São José dos Campos (SP):
Editora Fiel, 2005, 263p.
8
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Leopoldo (RS): Editora Sinodal, 1984, 196p.
9
PIPER, op. cit.
APLICAÇÕES E CONCLUSÃO
Para terminar, algumas aplicações do sofrimento de Bunyan, para nossas vidas e nossas
igrejas, e a conclusão final.
Devemos aprender com o sofrimento de Bunyan a amar o céu!
A esperança cristã, como enfatizada na Primeira Epístola de Pedro, nos ajudará junto ao
sofrimento, com dor sim, mas suportando e dando graças a Deus pela perseverança.
Amados, amemos o céu, amemos a eternidade! Tudo isso aqui é passageiro, e a vida é
apenas um hall de espera. Deus tem algo muito maior preparado para nós.
Devemos aprender com o sofrimento de Bunyan a resistir com firmeza no sofrimento.
O apóstolo Pedro nos diz: “Resisti-lhe firme na fé, certos de que sofrimentos iguais aos
vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo. Ora, o Deus de toda
graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco,
10
Blog Sola Scriptura: http://juandepaula.blogspot.com/
ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A Ele seja o domínio pelos
séculos dos séculos. Amém” (1 Pd 5. 9-11). Tiago igualmente nos exorta quanto a provação:
“Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações, sabendo
que a aprovação da vossa fé produz a perseverança; e a perseverança tenha a sua obra
perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma” (Tg 1.2-4).
Irmãos e irmãs, sejam quais forem os seus sofrimentos, lembrem-se que vocês são crentes
em Cristo Jesus! Fiquem firmes com Deus!
Devemos aprender com o sofrimento de Bunyan a meditar mais em nossa liberdade.
O Brasil é um país livre em relação à crença religiosa. Podemos cultuar, adorar a Deus
livremente, e professar nossa fé em qualquer lugar. Às vezes essa liberdade pode causar um
relaxamento em nossa adoração e peregrinação cristã. Devemos agradecer a Deus pela
liberdade, mas também sermos vigilantes em relação a ela. Uma implicância aqui e acolá em
nosso lar, local de trabalho, faculdade, escola ou qualquer outro ambiente em convivência
com não-crentes, não se compara ao que Bunyan e outros passaram na prisão. Também não
devemos dar lugar ao pecado em nossa vida por causa dessa liberdade. A prisão fez de
Bunyan um homem santo! “Porque eu sou o SENHOR vosso Deus; portanto santificai-vos, e
sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44a). Seja qual for o pecado contra o qual você
estiver lutando, prossiga lutando com Deus para abandoná-lo.
Para concluir, peço licença para compartilhar uma experiência pessoal. Quando infante perdi
meus pais e outros entes queridos próximos, o que gerou dificuldades várias em minha vida,
sejam de ordem emocional, física ou econômica. Na adolescência sempre achei que isso era
motivo justificado para atos de delinqüência juvenil e promiscuidade, numa espécie de auto-
piedade e auto-justificação. Aos vinte anos, quando encontrei paz em Cristo, após um ano e
meio de tormentos, e lendo o livro de Jó, parei de perguntar o porquê, e passei a entender
para que tudo aquilo aconteceu. É certo que em minha peregrinação cristã enfrentei vários
tipos de desordem também. Encontrei em Bunyan alguém que entendeu o propósito do
sofrimento e pagou o preço por isso. Assim, seja qual for a sua luta, que esse estudo
abençoe sua vida assim como abençoou a minha. Essa foi a minha oração! Que Deus o(a)
sustente, encoraje, e faça-o(a) perseverar. Que Ele lhe conceda a segurança de Cristo, frente
a qualquer sofrimento que você passou, está passando ou ainda irá passar. Que o Senhor
abençoe sua vida!