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[O FotoProtesto surge na rede social no dia 7 de setembro 2013 – dia que assinala o

chamado setembro negro – pautado, como dizem eles, pela “urgência de uma fotografia
que se manifeste viralmente, na rua, entre as pessoas”, para além das telas do celulares
e computadores e “dos meios de comunicação privados, dos museus, das galerias de
arte”. O convite para participar do dossiê foi endereçado ao coletivo no dia 9 de
setembro, poucos dias depois da realização do 1º Ato, no emblemático muro do
Cemitério do Araçá. Ali onde os mortos estão separados dos vivos, postadas sob a
intrincada e violenta armação de arame farpado, as fotos são uma espécie de
testemunha silenciosa do que vem se passando desde junho. A exposição produziu um
pequeno intervalo no quotidiano de alguns passantes que paravam para olhar, e uma
corujesca ginástica nos apressados, que giravam suas cabeças o mais que podiam, no
esforço de ver o que rapidamente ficava para trás, e alcançavam em cheio os motoristas
no intervalo dos faróis fechados ou no engarrafamento das 18h na Dr. Arnaldo. Quem
viu, viu: três dias depois de colocadas, as fotos foram arrancadas pela prefeitura. No
mês seguinte, em outubro, durante a noite, o FotoProtestoSP realizou o 2º Ato num
imenso muro na região da Cracolândia. Ali, em meio ao lixo amontoado, aos moradores
de rua e aos passantes ocasionais, o Ato foi interrompido pela polícia – “colagens são
proibidas”, diz um policial..., “colar fotos no muro é crime ambiental”, diz outro. As fotos
foram arrancadas, e o grupo e o material levados para 5 DP. Eles retornam no dia
seguinte, e tentam mais uma vez, e de novo a polícia aparece, e tudo se repete.... Mas
durante as duas tentativas, os passantes e moradores tem algo a dizer sobre o que
veem... nos muros e fora deles. No dia 18 de novembro, o FotoProtesto voltou aos
muros do Araçá, e realizou o 3º Ato, colando nova série de fotos “até alguém mandar
arrancar”, mas não foi preciso mandar nem esperar: no dia seguinte, as fotos
amanheceram rasgadas e sobre algumas foi deixada a assinatura do grupo de
ultradireita White Block...]
[Essa rápida conversa se deu por escrito, num momento qualquer entre os dias 9 e 29
de setembro, após um contato igualmente rápido pelo chat do facebook. Nessa época, o
coletivo estava em meio ao processo de organização do 2º Ato. É Fernando Costa Neto,
um dos fotógrafos do coletivo FotoProtestoSP, quem responde as perguntas,
representando o grupo]

Vocês participaram de todas as manifestações desde junho. Como se encontraram


e o que levou ou motivou a criação do coletivo?

Somos todos amigos ou conhecidos do trabalho nas ruas. Viemos do mesmo lugar,
estudamos nas mesmas instituições, acreditamos na mesma fotografia, todos
pensamos a função da imagem no mesmo sentido da informação, de contar história.
A iniciativa do coletivo FotoProtestoSP é do Mauricio Lima, fotógrafo brasileiro por
quem temos profundo respeito e admiração tanto pelo trabalho quanto pelo caráter,
sempre conciliador e coletivo. Com as manifestações, esse grupo passou e se
encontrar na Paulista, em frente da Assembleia, na Prefeitura, no Largo da Batata
[locais de muitas das manifestações], ou seja, focado no mesmo assunto, e acabou
que estreitou. Daí para criar um projeto coletivo para discussão de temas
importantes da nossa cidade foi um pulo. E estamos muito entusiasmados com as
possibilidades.

Considerando que foram muitas as manifestações, e que vcs também são muitos,
como se deu o processo de escolha das fotos para o primeiro ato?

O processo é o da edição simples. Pedimos que cada um enviasse quatro, cinco fotos
e montamos a edição final numa reunião coletiva. Um trabalho de curadoria mesmo,
uma seleção que tivesse começo, meio e fim. Todos aprovaram o resultado final.
Passando em frente ao cemitério [do Araçá] e vendo o tamanho das imagens, a
extensão do muro que elas cobriram, imagino que a produção durante a noite não
tenha sido nada simples. Como foi a experiência de produzir o primeiro ato?

Empolgante. Melhor ainda quando soubemos que a administração do cemitério


aprovou o primeiro ato. Iremos adiante com as conversas com eles e com a
Prefeitura, e em breve partimos para o segundo ato do FotoProtestoSP.

Aqueles que têm estado nas ruas sabem da importância dos fotógrafos nas
manifestações, mas gostaria que vcs falassem sobre essa relação do fotógrafo/da
fotografia com a rua, hoje.

A fotografia é o nosso trabalho, o nosso salvo conduto, e a câmera fotográfica é o


nosso... colete a prova de balas de borracha da PM. Assim como os policiais militares
estão lá representando o Estado, assim como os manifestantes estão lá
representando a população insatisfeita, também defendemos a nossa causa, que é o
direito de informar e de por à mostra para a população o espírito presente nas
manifestações de junho.

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