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Dono de uma personalidade ímpar, o cantor e compositor Nando Reis busca expor
suas opiniões e sentimentos em suas canções. Estas são capazes de encantar públicos de
diferentes faixas etárias, pois abordam questões como o amor. Isso acaba comprovando que
músicas não envelhecem. Um ótimo exemplo da complexidade presente nas cações de Nando
Reis é “Relicário”, obra que exige muita reflexão e admite diversas interpretações. Para isso,
será feita uma abordagem acerca da obra “A Primeira Canção: estudos de letras da MPB”, da
escritora Christina Ramalho.
Em “Relicário”, é notório que o autor inicia a canção com uma abordagem sobre a
noite relacionada à pessoa amada. Logo na segunda estrofe, Nando Reis fala de uma mudança
repentina desse seu amor e que o eu-lírico não consegue entender bem o porquê de tal
transformação. Para o eu lírico, tudo ainda é muito confuso, ele expressa isso ao dizer /O mundo
está ao contrário e ninguém reparou/. Para guardar as boas lembranças do sentimento bom
vivido antes de toda a mudança, o eu-lírico busca construir um relicário.
Assim como qualquer outra manifestação artística, nem sempre o autor faz sua
obra baseado naquilo que vivenciou. Dessa forma, entendemos que Nando Reis pode ou não
está retratando – em sua canção “Relicário” uma de suas vivências ou apenas algo que imaginou
e sentiu. Da mesma forma que o autor possui um misto de sentimentos ao escrever suas obras,
o leitor também possui essa variedade de sentimentos, mesmo que não seja de forma positiva.
De acordo com Cândido (2014, p. 25):
Assim, percebemos que “Relicário” permite possibilita que o leitor torne-se “autor”
de uma obra que não é sua, algo extremamente complexo. Cada interpretação é uma recriação,
o autor não é dono do seu texto quando o conclui. A partir deste momento, o leitor também
será autor, pois possui a capacidade interpretativa.
Na quarta estrofe, é notável que o eu lírico está ada vez mais angustiado e com a
vida vazia. O relicário enche-se ainda mais do seu amor, só restaram lembranças. Ao dizer:
Percebemos que o autor faz uma comparação da vida do eu lírico com vasos vazios, sem nada
que o preencha ou que possa lhe proporcionar alegria.
Tais palavras retratam o medo do eu-lírico feminino, medo de perder o seu amor,
pois sabe que ao amanhecer ele não estará mais lá. Sua angústia faz com que ela troque toda a
eternidade por uma única noite ao lado do seu amado. Posteriormente, a mesma faz vários
questionamentos como: /Por que está amanhecendo? /Peço o contrário ver o sol se pôr / Por
que está amanhecendo? /Se não vou beijar seus lábios quando você se for. Tudo isso remete o
sofrimento por algo que ainda irá surgir, mas ela está percebendo que a noite está acabando e
que seus momentos felizes com seu amado estão postos em um processo regressivo que avança
cada vez mais.
REFERÊNCIAS:
CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira; momentos decisivos 1750 – 1880. 15ª ed.
Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, 2014.