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Motivo [Cecília Meireles]

Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.


Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

ANÁLISE:
o poema busca trazer a ideia do carpe diem “ viver o momento”, o texto escrito em primeira
pessoa traz a visão subjetiva da autora sobre a vida, busca também evidenciar uma falta de
apego ao passado e o futuro focando somente no presente e na plenitude da vida no agora,
ela traz consigo a ideia de que sua vida está completa e escrever poemas é o suficiente
para ela

CRÍTICA:
a autora traz o poema como resposta às pessoas que cobram a satisfação da felicidade
humana

ESTRUTURA:
● escrito em primeira pessoa
● dividido em quatro estrofes de quatro versos
● linguagem rica em ideias opostas e figuras de linguagem que as contrapõe

ESTROFES:

“Eu canto porque o instante existe


e a minha vida está completa”
Nesses versos, o uso do tempo presente mostra uma apreciação pelo momento , o
presente e, principalmente, a plenitude de viver o instante, o eu lírico mostra para
você não se apegar ao passado ou ao futuro, a vida é boa no presente.

“Irmão das coisas fugidias,


não sinto gozo nem tormento”

Neste momento, o eu lírico está no mesmo nível do momento passageiro , irreal, é efêmero.
O eu lírico é livre, não está preso. É novamente a oposição de dois elementos. Mais uma
vez aparecem as conjunções que remetem a um ego lírico quase incompreensível.

“- não sei, não sei. Não sei se fico


ou se passo.”

Faltam definições, dúvidas sobre o eu lírico ficam sem resposta. Repetir a frase
"não sei" mostra que ele não consegue encontrar uma resposta que satisfaça sua
pergunta. A oposição entre ficar e ir, por assim dizer, representa a dúvida ou
incerteza do eu lírico, ou mesmo algo que o eu lírico não consegue ou não quer
definir..

“Num dia sei que estarei mudo


– mais nada.”

O poeta – ser efêmero e passageiro – estará mudo em breve (eufemismo que


simboliza a morte). A certeza de seu canto e de que “a canção é tudo”. O eu lírico
também sabe que um dia estará mudo. Podemos dizer que ele se define a partir de
seu fazer poético: sugere que a única coisa que importa na sua existência é a
criação poética.

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