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Tecnologia CAD/CAM aplicada a prótese dentária

e sobre implantes:
o que é, como funciona, vantagens e limitações.
Revisão crítica da literatura.

Sérgio Rocha Bernardes1, Rodrigo Tiossi2, Ivete A. de Mattias Sartori3, Geninho Thomé4
1
CD, Ms, PhD, ILAPEO.
2
CD, Ms, PhD, ILAPEO.
3
CD, Ms,PhD, Coordenadora do Curso de Especialização em Prótese Dentária, ILAPEO.
4
CD, Ms, PhD, Presidente Neodent.

Autor correspondente:
Sérgio Rocha Bernardes.
Rua: Jacarezinho,656 – Mercês, CEP:80710-150. Curitiba, Paraná, Brasil.
email: sbernar@ilapeo.com.br

RESUMO INTRODUÇÃO
Novas tecnologias utilizadas na Odontologia, como a digitalização de
Ao longo dos anos, a prótese odontológica
imagens, levaram a mudanças significativas na obtenção de próteses
sofreu alterações significativas graças ao desenvolvi-
e infraestruturas protéticas. A grande área da engenharia desenvolve
processos para fabricação de diversos produtos industrializados com
mento de diferentes materiais restauradores. Tentati-
auxílio da tecnologia CAD/CAM (Computer-aided design/Computer-ai- vas de reposição dentária que ocorreram nos séculos
ded manufacturing - desenho auxiliado por computação e manufatura dezesseis e dezessete envolveram dentes artificiais
auxiliada por computação). O uso desta técnica vem sendo sugerido feitos à base de marfim, ouro, latão e até mesmo ma-
1
na clínica odontológica desde a década de setenta, com o objetivo de deira . Inclusive existem relatos de implantes dentá-
simplificar, automatizar e garantir níveis de qualidade com adaptações rios feitos a partir de conchas que foram encontrados
micrométricas das próteses dentárias. O processo pode envolver di- 2
inseridos na cavidade oral de múmias . A introdução
ferentes ambientes: industrial, laboratorial ou clínico. Este estudo irá 2
da técnica de fundição por cera perdida e o adven-
apresentar uma revisão crítica da literatura, apresentando o sistema
to das cerâmicas dentárias talvez possam ser citados
CAD/CAM, seu funcionamento, suas vantagens e desvantagens e dis-
cutir sobre o estado atual do sistema para o desenho e obtenção de
como de grande importância para que possibilidades
próteses e restaurações por usinagem auxiliada por computadores. reabilitadoras com semelhança ao dente natural, esta-
bilidade química e propriedades físicas pudessem ter
3
PALAVRAS-CHAVE se tornados possíveis .
O processamento laboratorial das diferentes
CAD-CAM, Implantes Dentários, Prótese Dentária. partes que compõem uma prótese dentária é um pro-
cesso complexo que envolve materiais com diferentes
ABSTRACT propriedades e características. A primeira coroa de
4
New technologies used in dentistry, such as image digitization, have porcelana feldspática pura foi introduzida em 1905 .
led to significant changes in the fabrication of prosthetic frameworks No entanto, as cerâmicas utilizadas em próteses fixas
and restorations. Several consumer products are fabricated with the tiveram maior sucesso a partir da aplicação destas
aid of the CAD/CAM (Computer-aided design/Computer-aided manu- sobre infraestruturas metálicas, devido à combinação
facturing) technology. The use of the CAD/CAM technique in dentistry
das propriedades mecânicas de ambos os materiais
dates back from the 1970’s, aiming to simplify, to mechanize, and to en-
restauradores: cerâmicas friáveis associadas a metais
sure micrometrical fit to dental prosthesis. The fabrication process may
incorporate different environments: industrial, laboratorial, or clinical.
dúcteis e tenazes.
This study aims to critically revise the scientific literature, introducing Os diferentes profissionais envolvidos (den-
the CAD/CAM system, its functioning, its advantages and disadvanta- tista e técnico em prótese dentária/TPD), os diversos
ges, and to discuss the state of the art of the system in designing and tipos de processamentos, materiais restauradores,
fabricating dental prostheses and restorations. indicações e necessidades, associados ao nível de
exigência clínica em relação à adaptação, passivida-
KEYWORDS de, estética, suporte, restabelecimento da função com
CAD-CAM, Dental Implants, Dental Prosthesis. harmonia fisiológica e qualidade macro e micrométrica
da prótese dentária, tornam essa especialidade odon-

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tológica altamente complexa. o hardware ou a máquina propriamente dita. Hoje,
O domínio das técnicas de algutinação e sinte- grande parte da população tem acesso e está habi-
3
rização em forno específico , sendo cada camada es- tuada à tecnologia virtual, trabalhando com arquivos
tratificada de acordo com a necessidade estética, per- computacionais ao invés de objetos reais. Por exem-
mitiram obter nas reabilitações um perfeito mimetismo plo, a escrita e até mesmo a leitura da rotina diária
com as propriedades óticas das estruturas remanes- está cada vez mais vinculada ao uso de computado-
centes. Durante muitos anos, este tipo de trabalho, as res pessoais contra máquinas de datilografia, papéis
coroas metalocerâmicas assim obtidas, significaram o e seus derivados. Assim, o trabalho de projetistas nos
máximo que a Odontologia oferecia nas reabilitações. dias de hoje é muito mais rápido do que alguns anos
Porém, devido a alguns problemas identificados em atrás, pois os computadores permitem que tais profis-
10
controles clínicos, como aparecimento de superfícies sionais realizem seu trabalho em um computador .
metálicas nas regiões cervicais das restaurações, te- No caso da prótese dentária, o modelo de
cido gengival com aparência enegrecida no contorno gesso ou até mesmo a arcada dentária dos pacientes
cervical e falta de opalescência nas próteses devido à podem ser digitalizados, se transformando em arqui-
transmissão desfavorável da luz, assim como relatos vos (ou files) por processos de escaneamento. O es-
de incompatibilidade de metais na cavidade oral, leva- caneamento é uma técnica de digitalização de objetos
ram à busca por técnicas que permitissem o uso das reais a partir de imagens geradas por luz ou, original-
porcelanas sem associação com metal, como as cha- mente, por contato. Assim, podemos ter scanners in-
madas “próteses metal free”. Para suprir essa deman- traorais ou de bancada, a partir da captação do reflexo
3-6
da, os materiais cerâmicos se modificaram . da luz ou por contato físico. A tabela 1 sugere uma
Surgiram então as porcelanas com carga, que classificação para os scanners de acordo com suas
passaram a permitir a aplicação na região do ombro diferentes características. De maneira geral, as deci-
na face vestibular, a técnica “collar less” assim como sões a respeito do uso de scanners dizem respeito da
a produção de restaurações intracoronárias. Como a qualidade da imagem gerada, do tempo de escanea-
estética foi muito melhorada, foram introduzidas as mento, da necessidade de preparo da amostra a ser
porcelanas injetadas e as cerâmicas aluminizadas in- escaneada, do tamanho do scanner, do volume inter-
filtradas por vidro. Assim, passou-se a poder oferecer no do scanner, da forma com que a peça é escaneada
próteses de até três elementos sem associação com e da tecnologia ótica empregada, bem como de como
metal, tendo depois surgido as cerâmicas de zircônia o paciente será escaneado, se a partir do modelo de
infiltradas por vidro, em busca da possibilidade de exe- gesso, moldagem ou com moldagem intraoral.
cução de próteses um pouco mais extensas. Como a Uma vez que as imagens são adquiridas pelo
resistência do material é o fator primordial para deter- escaneamento, as mesmas são “importadas” para
minar a indicação da técnica assim como a preserva- softwares de planejamento e manipulação das ima-
ção da reabilitação ao longo do tempo, a necessidade gens captadas que serão trabalhadas com auxílio do
de desenvolvimentos que levassem à possibilidade de computador. Normalmente os softwares para captura
execução de reabilitações de maiores extensões le- e trabalho com as imagens estão no mesmo computa-
vou à busca pela tecnologia CAD/CAM. dor em que o scanner está conectado. Nesses progra-
Esta tecnologia já estava presente na grande mas, as imagens ou o modelo de gesso “virtual” são
área da engenharia. Há alguns anos, a fabricação de trabalhados e as futuras restaurações são criadas.
diversos produtos industrializados já é realizada com Podemos chamar este procedimento de “enceramen-
auxílio da tecnologia CAD/CAM. Desde a década de to virtual”; nele, os espaços edêntulos são preenchi-
setenta, a aplicação desta técnica vem sendo suge- dos a partir da modelagem das imagens.
rida na clínica odontológica com o objetivo de simpli- Os softwares específicos para a prótese den-
ficar, automatizar e garantir níveis de qualidade com tária têm um banco de dados ou biblioteca onde as
adaptações micrométricas das nossas próteses den- formas dos dentes, dos componentes protéticos e
7,8
tárias . implantes dentários estão arquivadas. Assim, quando
há a necessidade do enceramento virtual, o programa
O que é a tecnologia CAD/CAM ajuda o programador inserindo a imagem determinada
CAD/CAM é uma sigla na língua inglesa para pelo operador, que fez o diagnostico prévio da região
Computer-Aided Design e Computer-Aided Manufac- a ser reabilitada ou do componente protético que será
8,9
toring que significam, respectivamente: desenho utilizado sobre o implante ou intermediário. Os softwa-
auxiliado por computação e manufatura auxiliada por res podem ser: (1) abertos, esses “importam” imagens
computação. A indústria de maneira geral utiliza esse de quaisquer scanners, bem como “exportam” ou en-
processo com o objetivo de automatizar, agilizar e viam dados para quaisquer máquinas de usinagem
controlar os processos de fabricação. controlada; ou (2) fechados, esses programas só acei-
O CAD ou o desenho realizado pelo compu- tam recebimento e envio de dados para determinadas
tador teve sua origem depois do desenvolvimento de máquinas de captação de imagens e usinagem, ou
programas ou softwares de computadores, bem como seja, é um processo totalmente incomunicável entre
os diferentes processos.

Volume 06 | nº 01 | Jan. Fev. Mar . 2012 09


Tabela 1. Classificação das diferentes opções de scanners odontológicos.

Classificações Forma de Local para Tipo de Tecnologia Técnicas para Materiais a serem
escaneamento escaneamento escaneamen- ótica escaneamento escaneados
to
1. Intraoral 1. Clínica Odon- 1. Por contato 1. Luz 1. Necessidade 1. Troquel
tológica do uso de sprays
sobre o material
a ser escaneado
2. Laser 2. Modelo de gesso
parcial
3. Modelo de gesso
total
4. Modelos de
gessos com
componentes para
2. Extraoral, 2. Central de 2. Tecnologia 2. Sem escaneamento sobre
3. Ambas implantes ou
de bancada ou escaneamento ótica necessidade do
Tipos laboratorial uso de sprays intermediários
sobre o material 5. Moldagens orais
a ser escaneado em moldeiras para
impressão.
6. Dentes ou arcada
dentária dos
pacientes
7. Componentes de
escaneamento sobre
implantes ou inter-
mediários dentro da
boca dos pacientes

O processo CAM, ou a manufatura auxiliada amento, “enceramento virtual” e usinagem in lab) ou


pelo computador, nada mais é do que a materialização apenas parte deles, como no caso de scanners intra
ou fabricação da imagem virtual trabalhada no softwa- orais com envio de imagens para empresas via rede
re CAD. Desde que máquinas CNC ou Computer Nu- de comunicação (internet). Entre os três, este é o que
meric Control (controle numérico computadorizado) exige maior investimento inicial ao dentista envolven-
foram desenvolvidas, o processo CAM foi também do, provavelmente, a formação de uma equipe multi-
criado. Máquinas ou tornos controlados por computa- disciplinar.
dores realizam os procedimentos de usinagem com Algumas características podem influenciar na
alta precisão a partir de uma lista de movimentos es- qualidade final do produto como, por exemplo, o peso
crita num código específico. Tal código permite o con- da máquina de usinagem. Tornos menores e mais le-
trole simultâneo de vários eixos para corte de material ves podem vibrar ou se deslocar com mais facilidade
ou matéria prima. Assim, a forma e os cuidados do que máquinas maiores, resultando em limitações na
corte ou usinagem são respeitados e controlados de usinagem. Quanto maior uma maquina de usinagem,
forma automatizada. maior sua capacidade de copiar pequenos detalhes
A usinagem com CAM pode ser classificada de uma restauração odontológica pela quantidade de
como: (1) industrial; (2) in lab ou laboratorial; e (3) eixos em que determinada ferramenta pode trabalhar,
clínico. Os tornos in lab e clínicos são normalmente quanto menos eixos uma maquina possui, menor,
peças menores, mais leves e apresentam custos mais mais simples e mais barata ela também é. A maior
acessíveis à comunidade odontológica de forma geral. vantagem do processo laboratorial é a sua versatilida-
Tornos industriais normalmente são maiores, com cus- de, pois a peça fica pronta imediatamente após a usi-
tos maiores e normalmente são adquiridos por empre- nagem, que pode estar inclusive dentro do ambiente
sas ou grandes companhias que constroem centrais ambulatorial-clínico, podendo resultar em maior pro-
de usinagem. Algumas diferenças entre os dois pro- dutividade.
cessos são mapeadas pela tabela 2. Tais diferenças O controle de qualidade das peças fabricadas
resultam em vantagens e desvantagens a serem leva- pode ser feito de três maneiras: direto em boca, no
das em consideração pelo profissional no momento de modelo de gesso ou com auxílio de um modelo ou ré-
decidir em qual tecnologia um profissional vai investir. plica da cavidade oral ou troquel da área que foi esca-
O processo clínico é o mais novo entre os três e pode neada; ambas de forma convencional (a “olho nu”) ou
envolver todos os procedimentos envolvidos (escane- com ajuda de lentes de aumento ou medidores auto-

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Tabela 2. Diferenças entre processos CAM industrial, laboratorial e clínico.

Tecnologias Industrial Laboratorial Clínico


CAM
Menor investimento inicial, pois o Maior investimento inicial Investimento inicial médio quando há o
modelo é enviado para centrais (normalmente scanner de envio dos dados para centrais de usinagem
de escaneamento bancada, computador, industrial ou laboratorial (neste caso, inves-
torno e fornos, timento em scanner intraoral e computa-
dependendo do material a dor). Por outro lado, o usuário pode investir
ser empregado) mais se desejar ter todo o processo
CAD/CAM: em torno e fornos dependendo
do material a ser empregado
Escaneamento intraoral ou do Escaneamento do modelo Escaneamento intraoral ou do modelo de
modelo de gesso de gesso gesso
Propriedades Depende de controles internos Rapidez e agilidade na Rapidez e agilidade na entrega da
fabris (processos mais entrega da restauração restauração quando o processo fabril
burocratizados). Envio de peças estiver dentro do mesmo ambiente que o
pelo correio paciente
Oferece garantia Custos de retrabalho serão Garantias dependem se o profissional quer
sempre do proprietário ter todo o processo ou não
Controle de adaptação fabril Controle de adaptação Controle de adaptação convencional direto
(maior controle) direto sobre mo- convencional sobre o sobre os dentes ou em modelos de gesso
delos de gesso ou em réplica dos modelo de gesso
modelos/troquel gerados a partir
dos escaneamentos (protótipos
rápidos em Estereolitografia)

matizados. Hoje, as máquinas de impressão por pro- isso, elas necessitam de fornos para sinterização pós-usi-
cessos de estereolitografia (técnica em que se depo- nagem.
sitam várias camadas de resinas de forma controlada O que pode dificultar o entendimento de como
por processos CAD/CAM que são imediatamente poli- funciona a tecnologia CAD/CAM é o fato de esta envolver
merizadas) podem ajudar uma fabrica a fazer ajustes várias partes, que foram separadas na tabela 3.
fora em ambiente com ajuda de protótipos rápidos ou De acordo com as centrais, podemos ter: (1)
réplicas daquilo que foi inicialmente escaneado. Em- centrais de usinagem; (2) centrais de escaneamento;
presas de implantes têm o dever de se comprometer (3) centrais de usinagem e escaneamento e todos os
em ter peças (implantes e componentes protéticos) três tipos podem ser industriais, laboratoriais e clínicas.
com limites de adaptação (tolerâncias) eficientes, pois Todas as partes envolvidas se comunicam entre si, por
isso também determina a qualidade de um sistema. isso as grandes opções de ferramentas para se trabalhar
com tecnologia CAD/CAM.
Como funciona a tecnologia CAD/CAM
De forma simples, podemos dividir as tecnolo- Vantagens da tecnologia CAD/CAM
gias CAD/CAM em diferentes partes e essas determi- A usinagem de blocos metálicos resulta em me-
nam diretamente não só a qualidade do produto final, nor oxidação e maior precisão para as infraestruturas das
mas também as opções de tipos de próteses e mate- próteses quando comparadas a infraestruturas fundidas,
riais que se pode trabalhar. Dependendo da tecnologia até mesmo quando comparadas a estruturas fundidas
11,12 12,13
que a equipe reabilitadora deseja empregar, pode-se em ouro e fundidas em liga de prata-paládio . A
ter ou não acesso a determinados materiais odontoló- tecnologia CAD/CAM permite o controle de qualidade a
gicos e tipos de próteses. Hoje, algumas fresadoras nível micrométrico, o que é de grande importância, es-
não conseguem usinar peças grandes, com mais de pecialmente em infraestruturas de próteses parafusadas
um determinado número de elementos, dependen- sobre implantes, pois essas exigem mais precisão de
do da sua origem ou marca. Algumas máquinas têm adaptação do que as próteses cimentadas sobre dentes
limitação ao usinar estruturas de metais como as li- ou implantes, já que o cimento facilita na passividade
gas de Cobalto-Cromo, que são extremamente duras. da peça. Estruturas adaptadas diretamente sobre um
Por isso, recentemente foram lançadas no mercado implante ou intermediários customizados são as pe-
odontológico, diferentes tecnologias de produção de ças que exigem o maior critério de adaptação, pois
infraestruturas, que não apenas as fresadoras, para são peças sempre parafusadas. De maneira geral
tentar compensar as limitações de determinadas tec- um sistema de implante garante a qualidade de seus
nologias. As zircônias, por exemplo, necessitam ser produtos uma vez que o profissional trabalhe com a
usinadas nas fases “verdes” ou pré-sinterizadas, se- mesma empresa, desde o implante ao componente
não a qualidade do produto final é insatisfatória e, por protético. A mistura de peças “compatíveis” pode re-

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Tabela 3. Resumo das partes envolvidas para funcionamento da tecnologia CAD/CAM aplicada às próteses dentárias.

Tecnologias en- Escaneamento ou Softwares ou Fabricação (CAM) Material odontoló- Tipos de


volvidas digitalização de programas de gico restaurador próteses/produto
imagens (CAD) computação final
(CAD)
Tipos Intraoral (ambiente Aberto Usinagem Metais (titânio, Unitárias (meta-
clínico) Industrial CoCr) locerâmicas ou
cerâmicas puras)
Extraoral Fechado Usinagem Cerâmicos Parciais (metaloce-
(ambiente labora- Laboratorial (Dissilicato de râmicas, cerâmicas
torial ou industrial) Lítio, Zircônia/Y- puras, metaloplás-
ZTP, Feldspáticas ticas ou ambas)
reforçadas)
Tecnologias Acrílicos e ceras Totais (metalocerâ-
diferentes da micas, cerâmicas
usinagem (podem puras,
ser industrial ou metaloplásticas ou
laboratorial) ambas)

sultar em alterações na tolerância entre as peças, o ção depende de todos os passos envolvidos: preparo
que poderia levar a falha mecânica da restauração. do caso, escaneamento, modelagem em CAD, usina-
No caso das próteses implantossuportadas, gem, controle de qualidade, checagem e critério da
estudos já reportaram resultados de adaptação margi- prova em boca.
nal de 3,7 μm em infraestruturas usinadas de zircônia A tecnologia CAD/CAM também oferece a
12 possibilidade de se obter infraestruturas de prótese
e de 3,6 μm em infraestruturas usinadas de titânio .
com diferentes materiais (Zircônia, Liga de Cobalto-
Já foi sugerido que, para uma prótese ser considera-
-Cromo, Titânio, entre outros) disponíveis atualmente
da passiva durante seu assentamento, um desajuste
com o uso do mesmo processo de fabricação (usina-
vertical de até 10 μm seria necessário14. Contudo, no gem). A limpeza do ambiente de fabricação das estru-
12
mesmo estudo mencionado anteriormente , quando turas também é maior, devido à possiblidade de esca-
a passividade das estruturas foi avaliada, pela análi- neamento dos preparos ou da posição dos implantes,
se do desajuste vertical no lado desparafusado das assim com menor número de pessoas envolvidas no
próteses implantossuportadas de três elementos, os processo de obtenção das estruturas.
resultados foram significativamente menos satisfató- Esta nova técnica apresenta mais facilidade
rios para o titânio (13,6 μm) do que para a zircônia (5,5 de uso, melhor qualidade, maior gama de aplicação
μm). e mais complexidade. Ela permite a aplicação de no-
No caso das próteses implantossuportadas, vos materiais com mais segurança, que por sua vez
podem ser mais estéticos, com desgastes parecidos
estudos já reportaram resultados de adaptação margi-
ao esmalte e resistência suficiente para serem usados
nal de 3,7 μm em infraestruturas usinadas de zircônia
12 em coroas totais posteriores e em próteses parciais
e de 3,6 μm em infraestruturas usinadas de titânio . 8
fixas .
Já foi sugerido que, para uma prótese ser considera- Repetições podem ser feitas com mais rapi-
da passiva durante seu assentamento, um desajuste dez e menos trabalho porque os modelos são compu-
14
vertical de até 10 μm seria necessário . Contudo, no tadorizados e o enceramento é um arquivo armaze-
12
mesmo estudo mencionado anteriormente , quando a nado em um computador. A existência de um modelo
passividade das estruturas foi avaliada, pela análise do virtual pode ser uma forma de arquivar pacientes sem
desajuste vertical no lado desparafusado das próteses a necessidade de uma grande área de estoque para
implantossuportadas de três elementos, os resultados esse material.
foram significativamente menos satisfatórios para o ti-
tânio (13,6 μm) do que para a zircônia (5,5 μm). Limitações da tecnologia CAD/CAM
Já para as próteses suportadas por dentes, os Os sistemas CAD/CAM clínicos ou laborato-
parâmetros de desajuste vertical esperado são dife- riais possuem algumas limitações e fatores que po-
8
rentes . Foi sugerido que o nível de desajuste clínico dem afetar a precisão da adaptação. Dentre eles,
15
ideal seria entre 25 e 40 μm . Contudo, muitos clíni- podemos citar limitações de uso de alguns softwares
cos concordam que o desajuste marginal não deve ser usados para desenho das restaurações, assim como
maior que 50 a 100 μm
16-18
. Em estudos publicados limitações do hardware utilizado, como a câmera, o
recentemente, foi encontrado que a maioria dos sis- equipamento de escaneamento e as máquinas de usi-
temas CAD/CAM usados atualmente na Odontologia nagem4. A experiência e conhecimento dos clínicos e
são capazes de obter estruturas com níveis de adap- técnicos de laboratório também são de extrema impor-
tação inferiores a 100 μm
8,19,20
. A qualidade da adapta- tância quando sistemas CAD/CAM clínicos ou labora-

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4,21
toriais forem utilizados . CONCLUSÃO
O material que será escaneado (modelo de
gesso, material de moldagem ou a arcada dentária) Com base nos dados encontrados na litera-
pode apresentar vantagens e limitações de acordo tura científica, podemos concluir que a evolução dos
com o processo escolhido. Os preparos subgengivais sistemas CAD/CAM usados atualmente na Odonto-
dificilmente são digitalizados com a tecnologia dispo- logia é capaz de produzir restaurações protéticas de
nível nos dias de hoje em processos de escanemento alta qualidade e com muitas opções de materiais res-
intra oral. Para este tipo de preparo (subgengival), o tauradores e tipos de prótese. Apesar disso, a técnica
escaneamento de moldagens ou do modelo em ges- por si só não é decisiva para o sucesso, pois envolve
so deve ser a primeira opção. O escaneamento de várias etapas. Os vários passos envolvidos devem ser
implantes e componentes apresentam grande eficá- controlados para correta conclusão de um trabalho.
cia, pois como são peças parafusas ou perfeitamente Assim, a técnica depende diretamente dos passos
adaptadas sobre as fixações. Assim, o processo de clínicos, do escaneamento, da modelagem computa-
escaneamento intra oral pode resultar em menos pas- cional, da fabricação, do controle de qualidade, das
sos clínicos, ou seja, menor possibilidade de distor- opções de materiais, dos tipos de prótese e da finali-
ções, sendo esse de primeira opção neste caso (sobre zação laboratorial.
implantes). Em determinados casos, há a necessidade
do uso de produtos (Sprays) que reflitam a luz emitida REFERÊNCIAS
e capturada pelos scanners, com o objetivo de gerar
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Volume 06 | nº 01 | Jan. Fev. Mar . 2012 13

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