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V.

1 - N0 4
Out/Nov/Dez 2007
ISSN 1981-2922

Periodontia
e Cariologia:
mantendo a força
e a resistência

Nesta Edição
• Medicina Periodontal traz
abordagem multidisciplinar
• Caderno Científico - Periodontia
• Caderno Científico - Cariologia
• Caderno Especial - Higiene Bucal
Vol.1 • N0 4 • Out/Nov/Dez 2007
PerioNews - Vol. 1, n.4 (outubro/novembro/dezembro/2007) - São Paulo: VM Comunicações - Divisão Cultural, 2007

Periodicidade Trimestral

ISSN - 1981-2922

1. Odontologia (Periódicos) 2. Periodontia 3. Cariologia


I. VM Comunicações - Divisão Cultural II. Título

CDD 617.6005
Black D65
D631
[ Editorial ]

Vencida a primeira barreira,


rumo à próxima conquista

O lançamento deste número da PerioNews marca o final da primeira


etapa a ser vencida para alcançarmos o objetivo a que nos propusemos
no início desta jornada: tornar esta publicação uma referência na produ-
ção científico-acadêmica no Brasil. Com os quatro números completando
este primeiro volume, podemos dar entrada no processo de indexação
nas bases de dados nacional (BBO), latino-americana (Lilacs) e interna-
cional (Scielo), bem como participar da avaliação da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, do Ministério da
Educação, para obtenção do Qualis.

Com isso, a PerioNews alcança um novo patamar qualitativo, tornando-se


um veículo de projeção para a publicação de artigos de pesquisa e casos
clínicos, que agreguem valor ao cotidiano profissional dos especialistas
e interessados em Periodontia, bem como dissemina o conhecimento
desenvolvido nas universidades brasileiras. A carência nacional em espa-
ços especializados que dêem vazão à produção científico-acadêmica, aos
poucos, vai sendo sanada a partir de iniciativas como a da PerioNews e
sua prima-irmã, ImplantNews, além de outras publicações semelhantes
de relevância e qualidade.

Para 2008, novos desafios nos aguardam e já estamos nos preparando


para vencê-los. Aumentar a quantidade de trabalhos originais de alta
qualidade e o número de exemplares distribuídos, bem como agregar
mais assinantes são alguns desses desafios. O desenvolvimento cientí-
fico, tecnológico e intelectual não cessa. Portanto, o processo de cresci-
mento deve ser constante, a busca pela excelência deve ser padrão e a
capacidade de assimilar transformações e promover novos paradigmas
precisa tornar-se um hábito.

A humanidade, hoje, vive um segundo Renascimento, em que a disse-


minação da informação é massificada pelas novas mídias. Cabe a nós,
agentes transformadores e produtores do conhecimento, discernirmos
quanto à qualidade e às conseqüências desse processo.

Prof. Dr. Antonio Wilson Sallum


Diretor científico

Revista PerioNews 2007;1(4):305 305


[ Ponto de vista ]

A Periodontia estética e a ética


Falar em Odontologia mo- fronte e, ao final, o cirurgião, fazendo uma análise global não
dernamente e esquecer a impor- solicitada lhe propõe uma prótese de silicone em outro lugar?
tância da estética é desconsiderar Será que ele tem o direito de fazer isso? Será que isso é uma
o espectro da profissão. Entretanto, prática ética?
não se pode deixar de ressaltar que Na Periodontia estética, muitas dessas situações são
a Odontologia, enquanto profissão presentes e, para dificultar ainda mais o panorama, muitas ve-
da área da Saúde, tem objetivos que zes, propostas de procedimentos estéticos são feitas sem pos-
vão além da estética; aliás, muito sibilidade de resolução. Por exemplo, quando um indivíduo
Cassiano
Kuchenbecker Rösing mais importantes e significativos. apresenta-se com uma recessão gengival de Classe IV, sem ter
Ocorre que o apelo estético isso como queixa, o cirurgião-dentista propõe uma resolução
da mídia, a suposta modernidade e desse problema que ele (profissional) considera anti-estético
os modismos têm feito com que muitos profissionais tenham e que tem solução impossível, na medida em que recessões
se dedicado exclusivamente a essa pequena área da Odonto- gengivais desse tipo têm prognóstico muito sombrio.
logia, muitas vezes, ignorando a perspectiva de atendimento Assim, na prática de cirurgia periodontal estética, nós
global do indivíduo que procura atendimento. Alguns che- precisamos, além de trabalharmos a necessidade sentida do
gam a propagar-se especialistas em Odontologia estética (no indivíduo que nos procura, contemplarmos as práticas basea-
meu ponto de vista, um total absurdo, na medida em que as das em evidências, que nos provêm dados de previsibilidade
práticas estéticas são de domínio de todas as especialidades). de procedimentos. Por exemplo, as propostas de recobrimen-
Entretanto, é importante ressaltar que a estética é algo to radicular de recessões gengivais sempre devem ser prece-
que faz parte do nosso cotidiano, das nossas culturas e que didas de uma análise da literatura de qual é o potencial de
precisa ser contemplada pela Odontologia. Vários exemplos recobrimento da área, para que o indivíduo, juntamente com
de o quanto a estética é importante estão presentes na vida. nossa experiência e com os dados da literatura, possa decidir
As grandes obras de arte, por exemplo, são, muitas vezes, a se quer ou não tratar. Obviamente, como ressaltado anterior-
pura expressão de estética. O sorriso da Monalisa, de Da Vinci, mente, isso tudo deve acontecer após o indivíduo que procu-
traz muitos enigmas e uma reflexão extremamente prazerosa ra o profissional relatar essa queixa.
sobre o belo. Um outro exemplo importante é que, no rela- Assim, a prática de Periodontia estética precisa ter no seu
to da criação do mundo, no sexto capítulo do Gênesis, uma suporte as melhores evidências disponíveis e, no caso do exem-
questão estética é claramente colocada: “... vendo os filhos plo da recessão gengival, os prognósticos variam muito inter-in-
de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram dividualmente e de acordo com o problema apresentado. Uma
para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram.” revisão sistemática da literatura revelou que, a despeito da me-
(Gn 6:2). Várias outras expressões da poesia, dos ditos popu- lhora do problema com as mais variadas técnicas, o percentual
lares também evocam a estética, como por exemplo, Vinícius de recobrimento e o percentual de indivíduos com recobrimento
de Moraes, grande expressão do nosso país sempre disse: “As total é muito variável. Se o problema apresentado é a presença
feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.” da recessão, portanto, o indivíduo deve ser alertado que o reco-
Por outro lado, cabe lembrar a natureza cultural e pes- brimento total nem sempre é atingido. Isso é uma prática ética,
soal da estética. O que é considerado bonito no hemisfério pois aquele que procura o profissional para fazer esse tipo de
norte, não necessariamente o é no hemisfério sul, assim como procedimento não se sentirá iludido se os resultados não forem
na relação oriente-ocidente. Dois conhecidos ditos populares como ele idealizou, e a profissão se reveste de um pouco mais de
sempre ressaltaram que: “Gostos, amores e cores não se discu- base científica. Por essa razão, profissionais da Odontologia ne-
tem” e “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. cessitam constantemente estar em processo de atualização para
Com base nisso, é importante que nós, cirurgiões-den- que, observando os princípios de Odontologia baseada em evi-
tistas que fazemos estética como parte do atendimento inte- dências, possam ter uma prática mais moderna e honesta com os
gral do indivíduo, tenhamos essa reflexão sempre presente: indivíduos que entregam parte do seu corpo aos seus cuidados.
as necessidades estéticas são do indivíduo e nós não temos o Finalizando, gostaria de relembrar uma frase de An-
direito de criar um problema que um indivíduo não sente. Ima- drews, tratando de ética em cirurgia plástica, que afirmou que:
gine-se num consultório de um cirurgião plástico, que você vai “A cirurgia estética só será válida quando o paciente a realizar
para fins de avaliação e remoção de um possível melanoma na para si próprio.”
* Cassiano Kuchenbecker Rösing é professor adjunto de Periodontia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Luterana do Brasil.

Revista PerioNews 2007;1(4):307 307


ÍNDICE/INDEX

305] EDITORIAL
Vencida a primeira barreira,
rumo à próxima conquista

DIRETOR CIENTÍFICO
307] PONTO DE VISTA
Antonio Wilson Sallum (awsallum@terra.com.br)
A Periodontia
CONSELHO CIENTÍFICO
Álvaro Francisco Bosco, Arthur Belém Novaes Júnior, Benedic- estética e a ética
to Egbert Corrêa de Toledo, Cassiano Kuchenbecker Rösing,
Carlos Alberto Dotto, Daiane Cristina Peruzzo, Eduardo Gomes Cassiano Kuchenbecker Rösing
Seabra, Eduardo Muniz Barretto Tinoco, Eduardo Saba Chuifi,
Elcio Marcantonio Jr., Enilson Antonio Sallum, Euloir Passanezi,
Fernanda Vieira Ribeiro, Francisco Pustiglioni, Francisco Hum-
berto Nociti Jr., Getúlio da Rocha Nogueira Filho, Henrique Cruz
Pereira, José Eduardo Cezar Sampaio, José Eustáquio da Costa,
MEDICINA PERIODONTAL
José Roberto Cortelli, Luis Antonio P. Alves de Lima, Magda
Feres, Márcio Fernando de Moraes Grisi, Márcio Zaffalon Ca-
sati, Renato de Vasconcelos Alves, Ricardo Guimarães Fischer,
310] Medicina Periodontal traz
Roberto Fraga Moreira Lotufo, Rui Vicente Oppermann, Sérgio
Luís da Silva Pereira, Sônia Groisman, Urbino da Rocha Tures,
Valdir Gouveia Garcia, Vinicius Augusto Tramontina, Wilson Ro- abordagem multidisciplinar
berto Sendyk, Wilson Trevisan Jr.

PerioNews
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CADERNO CIENTÍFICO
Editor: Haroldo J. Vieira (haroldo@vmcom.com.br)
Editora e jornalista responsável: Laelya Longo – MTb 30.179
319] Trabalhos originais e inéditos
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385] Higiene Bucal
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Responsabilidade editorial
Todos os artigos assinados são de inteira responsabilidade
dos respectivos autores.

308 Revista PerioNews 2007;1(4):308-9


CADERNO CIENTÍFICO

319] Matriz dérmica acelular: uma alternativa


cirúrgica estética - Relato de caso clínico
349] Avaliação periodontal de dentes pilares
de prótese fixa: revisão da literatura
Accelular dermal matrix: a surgical esthetic Tooth evaluation periodontal pillars of fixed
alternative - Case relate prosthesis: review of the literature
Alexandre Pinto Maia, Bruna Aguiar do Amaral, Gustavo Diniz Greco, Wellington Márcio dos Santos
Euler Maciel Dantas, Felipe Barros Lobo, Mariane Rocha, Valdete da Costa, Alexandre Camisassa
Nicole Nogueira, Eduardo Gomes Seabra Diniz Leite Greco, Isabela Marieta Guimarães Góes
Greco, Marcos Dias Lanza
Uso de piercing na língua como fator
325] etiológico incomum de recessões gengivais
Tongue piercing as an unusual etiologic factor
355] Efeito da adição de açúcar e da diluição do
suco de laranja natural na exposição de
for gingival recessions túbulos dentinários
Carla A. Damante, Márcio Luiz Lima Taga, Adriana Effect of sugar addition and dilution of natural
Campos Passanezi Sant’Ana, Sebastião Luiz Aguiar orange juice on dentinal tubules exposure
Greghi, Maria Lúcia Rubo de Rezende, Euloir Passanezi Daniela Leal Zandim, Fábio Renato Manzolli Leite,
Ricardo Samih Georges Abi-Rached, José Eduardo
329] Considerações atuais na elaboração do
diagnóstico periodontal
Cezar Sampaio

Advanced concepts in periodontal diagnosis


José Roberto Cortelli, Caio Vinícius G. Roman-
361] Regeneração tecidual guiada em defeito
periapical. Relato de caso clínico
Torres, Davi Romeiro Aquino, Sheila Cavalca Cortelli Guided tissue regeneration in periapical defect.
Case report
Regeneração tecidual guiada no
336] tratamento de defeito intra-ósseo.
Sérgio Luís da Silva Pereira,
Cláudio Maniglia-Ferreira
Relato de caso clínico
Guided tissue regeneration for the treatment of Manejo do paciente com hipossalivação
periodontal intrabony defect. Case report 369] Management of hyposalivation patients
Patrícia Freitas de Andrade, Maria Emília Felipe, Flávia Carlos Henrique Silva Pedrazas, Mário Newton
Adelino Suaid, Márcio Fernando de Moraes Grisi, Leitão de Azevedo, Sandra Regina Torres
Daniela Bazan Palioto, Sérgio Luís Scombatti de Souza,
Mário Taba Júnior, Arthur Belém Novaes Júnior Relação entre níveis salivares de
377] Estreptococcos do grupo Mutans
343] Obesidade: atual fator de risco às doenças
periodontais?
nos pares de mães e seus filhos
Relation between salivary levels of S. mutans
Obesity: current risk factor to the periodontal in pairs of mothers and their child
diseases? Sonia Groisman, Kelli Moraes Amorim,
Elizangela Partata Zuza, Benedicto Egbert Corrêa Viviane de Andrade Cancio
de Toledo, Patrícia Helena Rodrigues de Souza,
Marcela Milanezi de Almeida

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Revista PerioNews 2007;1(4):308-9 309


Medicina Periodontal traz
abordagem multidisciplinar
NOVO RAMO DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE,
A MEDICINA PERIODONTAL RECONHECE

QUE A SAÚDE BUCAL FAZ PARTE DA SAÚDE

GERAL DO INDIVÍDUO, OU SEJA, A DOENÇA

PERIODONTAL PODE INFLUIR NA SAÚDE

SISTÊMICA DO INDIVÍDUO E VICE -VERSA.

Por Cecilia Felippe Nery

310 Revista PerioNews 2007;1(4):310-8


[ Medicina Periodontal ]

A evolução nas técnicas biológicas, moleculares


e genéticas, verificada desde o início da década de 1980,
suscitou uma maior investigação de patologias multifa-
torial que atacam o ser humano na busca de respostas
e entendimentos. Assim, diversas pesquisas avaliaram
uma possível relação entre as doenças periodontais e
as doenças sistêmicas, principalmente as cardiovascula-
res e o diabetes. Dentro desse contexto, uma nova área
chamada Medicina Periodontal surgiu, sobressaindo-se
como um importante ramo das Ciências da Saúde.
Essa constatação encontra respaldo nos relatos da
literatura científica, indicando que pessoas com doenças
periodontais são duas vezes mais suscetíveis a doenças
cardíacas do que aquelas com gengivas saudáveis e
que as doenças periodontais atingem 75% da popula-
ção com idade acima dos 25 anos. Estudos ainda mos- Euloir Passanezi
traram que placas de ateromas continham bactérias
provenientes da cavidade oral, sendo que essas bac-
térias estão presentes na doença periodontal. Outras ocorreu pela presença de abcessos cerebrais múltiplos,
pesquisas revelaram a associação entre o fumo e o dia- provocando infarto do miocárdio. Exames imunológi-
betes não controlado com a doença periodontal, bem cos específicos mostraram que a origem dos abcessos
como o estresse. cerebrais estava associada a antígenos presentes em
Na verdade, a Medicina Periodontal não é um ca- áreas de gengivite e pulpite que acometiam o pacien-
pítulo novo dentro da Periodontia ou mesmo da Odon- te”, conta Passanezi.
tologia, como informa Euloir Passanezi, professor titular A partir desse relato, a literatura começou a mos-
de Periodontia – FOB-USP: “ela é um reavivamento da trar vários outros, culminando com o simpósio de Cha-
teoria da infecção focal, agora com um nome mais re- pel Hill nos EUA, em 1997, no qual ficou bem assentada
buscado”. Segundo ele, há mais de 40 anos já se falava a possibilidade iminente da associação de processos
da atuação de processos infecciosos, principalmente de infecciosos de natureza periodontal com a manifesta-
natureza periodontal e pulpar agindo como focos de ção de quadros gerais até mórbidos. Ressurgiu, assim,
infecção, capazes de provocar envolvimentos a distân- a concepção da teoria da infecção focal, agora com a
cia. “Nessas condições, um dos procedimentos odon- denominação Medicina Periodontal.
tológicos mais comprometedores seriam as extrações
dentais, ficando enraizada a concepção de que mesmo
os dentes a serem extraídos devem ser antes raspados,
para minimizar os riscos da bacteremia”, afirma.
A Medicina Periodontal
Hunter, em 1900, já falava sobre a atuação da
gengivite e periodontite como focos de infecção, ten- não é um capítulo novo dentro
do acusado que a extração dos dentes comprometidos
da Periodontia ou mesmo da
deveria resultar em cessação dos envolvimentos a dis-
tância. “Considero que o trabalho de Marks, Patel & Mfe, Odontologia. Ela é um
publicado em 1988, é o marco no renascimento da teo- reavivamento da teoria da
ria. Esses autores, médicos ingleses, relataram a morte
de paciente com 26 anos de idade, que sucumbiu nas infecção focal, agora com um
mãos do corpo médico de uma Faculdade de Medici- nome mais rebuscado.”
na inglesa. Não se conformando com a incapacidade
Euloir Passanezi
em dar o diagnóstico em tempo hábil, o grupo realizou
a autópsia do paciente tendo detectado que o óbito

Revista PerioNews 2007;1(4):310-8 311


DEFINIÇÕES

Segundo Maria Christina Brunetti, doutora em


saúde pública pela Universidade de São Paulo, Medici-
na Periodontal representa o amadurecimento da Odon-
tologia como um todo. “Praticar a Medicina Periodontal
significa fazer uma anamnese bem minuciosa, usando
tanto perguntas objetivas, cujas respostas serão ‘sim’ ou
‘não’ ou ‘não sei’, quanto também perguntas indiretas,
nas quais as respostas poderão nos dar importantes in-
dicações sobre o nosso paciente ser portador de algu-
ma comorbidade – que, muitas vezes, nem ele próprio
sabe que apresenta”, explica.
Maria Christina, no entanto, vai mais além nas
atribuições da Medicina Periodontal: “a prática significa
Maria Christina Brunetti
nos lembrarmos o tempo todo de que não estamos tra-
balhando apenas numa boca, mas num indivíduo que
abriga essa boca. Significa nos lembrarmos de que in- mente diferente da Medicina Periodontal. “Um estudo
fecções bucais, sejam elas periodontais, endodônticas realizado por seu grupo de pesquisa mostrou que o
ou outras podem promover ou agravar diferentes con- tratamento periodontal em um curto espaço de tempo
dições sistêmicas, do mesmo modo que a presença de de pacientes com alto risco de desenvolver alterações
certas condições sistêmicas podem modificar o curso do cardiovasculares pode ser perigoso e até mesmo de-
nosso tratamento ou mesmo a evolução da terapia em- sencadear um acidente cardiovascular. Ou seja, além da
pregada. É fazer um planejamento coerente não apenas relação de uma doença no início e progressão da outra,
com a necessidade bucal de nosso paciente, mas, prin- é preciso estudar a fundo os efeitos das intervenções.
cipalmente, coerente com sua necessidade sistêmica e Outro exemplo desse tipo de interação é o possível efei-
suas condições emocionais”, acrescenta. to do tratamento periodontal no curso da diabetes. É
A definição é compartilhada por Magda Feres, um universo amplo. Muito ainda temos que estudar e
coordenadora da Pós-Graduação e Pesquisa em Odon- aprender sobre esse assunto”, pondera.
tologia – UnG. Ela considera que o conceito Medicina Citando Willians e Offenbacher (2000), Rodrigo
Periodontal tem sido utilizado apenas sob o ponto de Guerreiro Bueno de Moraes, especialista em Periodon-
vista da doença periodontal como fator de risco para tia pela Unip, relata que a Medicina Periodontal repre-
outras doenças sistêmicas: “em minha opinião, a Medi- senta “um novo ramo da Periodontia”, destacando-se o
cina Periodontal é muito mais do que isso, é o reconhe- relacionamento das doenças sistêmicas com a doença
cimento de que a saúde bucal faz parte da saúde geral periodontal. “Acrescento a essa definição o significado
do indivíduo. Parece óbvio, mas não é. Durante muito de um novo ramo para as Ciências da Saúde. Dentro
tempo a boca e o resto do corpo foram tratados como dessa visão, tanto a doença periodontal pode influir na
organismos separados. Não existia essa percepção de saúde sistêmica de um indivíduo, quanto o inverso, ou
que a cavidade oral poderia ser um foco de infecção, seja, um comprometimento sistêmico pode atuar como
principalmente na presença de periodontite, na qual se elemento de prejuízo à saúde periodontal dos seus por-
observam quantidades enormes de microorganismos, tadores”, adverte.
muitos deles altamente agressivos”, reflete. Sob o ponto de vista da prática em consultó-
Essas inter-relações podem ser muito mais pro- rio (baseado no conhecimento disponibilizado pelas
fundas do que os cirurgiões-dentistas podem supor. evidências científicas), Guerreiro considera muitos as-
Este é o argumento de Magda. Como exemplo ela lem- pectos. “O principal elemento, que merece destaque, é
bra o curso ministrado recentemente pelo Nestor Lopez a compreensão de que a Medicina Periodontal altera a
(Chile) durante o Congresso Internacional de Periodon- antiga rotina médica e odontológica e, portanto, deve
tia da APCD (Cipe), onde foi exibida uma faceta total- ser compreendida pelos dois segmentos, de forma a não

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[ Medicina Periodontal ]

atuarem como áreas desprovidas de relação. Da mes- de geral e, ainda, os órgãos de controle da saúde vem
ma forma que o cirurgião-dentista precisa se dedicar reconhecendo a validade dessa correlação, creio que
ao entendimento de alguns fatores de amplo domínio teremos grande pressão sobre o comportamento da
médico – como a questão da importância do processo Odontologia em si”, espera Passanezi.
infecto-inflamatório para a saúde geral e dos efeitos, Essa pressão, segundo ele, é vista de maneira posi-
terapêuticos ou não, dos medicamentos –, este precisa tiva e muito otimista, pois terá repercussão direta no con-
destacar que a ausência de saúde oriunda da boca é um ceito amplo da Odontologia, que deverá galgar espectro
principio fundamental para a saúde e para a qualidade mais profundo e envolvente na elucidação dos proble-
de vida dos seus pacientes”, esclarece. mas que afetam o ser humano como um todo. “Dessa
forma, a Odontologia ganha na medida em que passa a
INFLUÊNCIAS ser reconhecida como uma Ciência voltada para a saúde
do paciente em seu aspecto pleno, caracterizado pelo
A Odontologia do século 21 deixou de dispor da bem-estar físico, social, mental, moral e psicológico”, diz
justificativa meramente local para a valorização da sua Passanezi, acrescentando que a essas concepções, deve-
atividade. A obtenção e a preservação da saúde dentá- rá a Odontologia redirecionar suas propostas e objetivos,
ria, periodontal e dos tecidos bucais tornaram-se um fa- visando qualificar adequadamente o cirurgião-dentista
tor de repercussão muito mais significativo para a saú- dentro desse novo paradigma da Odontologia.
de do indivíduo do que se imaginava no passado. “Essa De acordo com Magda, diversos avanços cientí-
evolução conceitual, baseada nas evidências científicas, ficos ocorridos desde o final da década de 1980, como
quebrou o paradigma da profissão fechada e centrada o aprimoramento dos desenhos experimentais, impul-
apenas na recuperação de uma dentição comprome- sionaram os estudos da relação entre enfermidades pe-
tida ou perdida. A sociedade começa a compreender riodontais e certas condições sistêmicas, como doenças
que a saúde bucal é tão importante para o bem-estar cardiovasculares e eventos adversos na gravidez. Como
e a qualidade de vida, quanto o controle da obesidade, pouco havia sido falado sobre isso anteriormente, os re-
do sedentarismo e o combate ao fumo, por exemplo”, sultados dessas pesquisas tiveram um grande impacto
afirma Guerreiro. não somente na comunidade odontológica, mas tam-
De fato, a busca de novas comprovações e des- bém na comunidade médica e na população em geral.
cobertas que consolidem de vez a influência da saúde Esses efeitos sempre demoram um pouco mais para
bucal na saúde geral das pessoas tem se tornado cada mostrarem reflexo direto no consultório odontológico e
vez mais constante. A Medicina Periodontal vem ganhan- nas clínicas das faculdades de Odontologia.
do aceitação ampla graças ao desenvolvimento de estu- “Muito tempo já se passou e hoje já notamos es-
dos planejados e desenvolvidos dentro do contexto da ses reflexos”, afirma Magda. “Na prática o que eu acho
Odontologia Baseada em Evidência, que não só oferece que mudou? O cirurgião-dentista e o aluno de Odon-
condições para elaborar metodologia mais compatível tologia já estão aplicando questionários de saúde bem
com a avaliação da validade de correlação entre as va- mais detalhados e, principalmente, aprendendo a en-
riáveis estudadas, como também permite selecionar
os trabalhos que melhor atenderam esses critérios. As
metodologias a serem empregadas em ordem crescen-
te de evidência referem-se a relatos de casos, estudos
A prática significa nos
transversais, estudos longitudinais e testes ou ensaios
de intervenção controlados e ao acaso. lembrarmos o tempo todo de
Todas essas formas de análise vêm sendo desen- que não estamos trabalhando
volvidas na literatura, mostrando forte correlação entre
patógenos periodontais e a saúde sistêmica, porém não apenas numa boca, mas num
excluindo a possibilidade de ocorrência dessa mesma indivíduo que abriga essa boca.”
correlação com patógenos pulpares. “Como a ocorrên-
cia dessa correlação é uma expressão de que a condi-
Maria Christina Brunetti
ção odontológica das pessoas tem impacto na sua saú-

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tender a conexão entre alterações sistêmicas e bucais. Dentro desse protocolo deverão constar exames
Esses novos conhecimentos foram muito importantes clínicos e/ou laboratoriais para avaliar a participação dos
para o periodontista. Temos todos estudado e apren- seguintes elementos associados ao risco (Novak & Novak):
dido bastante sobre as inter-relações entre a infecção • Fatores de risco para doença periodontal, sobretudo
periodontal e a saúde sistêmica”, complementa. incluindo diabetes mellitus, microbiota bacteriana pa-
Para Maria Christina, as atuais evidências cientí- togênica, placa dentobacteriana e hábito de fumar.
ficas vão “obrigar” os profissionais mais atentos (e que • Características determinantes/básicas de risco para
desejam se manter no mercado de trabalho) a se ade- a doença periodontal, envolvendo fatores genéticos,
quarem aos últimos conhecimentos obtidos sobre a idade, sexo, condição socioeconômica e estresse.
condição bucal x condição sistêmica. “O paradigma vi- • Indicadores de risco para doença periodontal, entre
gente de atendimento clínico com certeza sofrerá mu- eles a síndrome da imunodeficiência adquirida, osteo-
danças, trazendo benefícios, especialmente, para os pa- porose e visitas dentais esporádicas.
cientes como também para a profissão, pela valorização • Marcadores/previsores de risco para a doença perio-
do cirurgião-dentista perante a comunidade”, pondera. dontal, principalmente destacando a história prévia
dessa doença periodontal e a manifestação de san-
PACIENTE/PROFISSIONAL gramento à sondagem.
• Determinação do risco clínico para a doença perio-
Constatada a importância da ação da microbio- dontal, fundamentada em dados demográficos (idade,
ta periodontopatogênica como fator de risco significa- avaliando a duração da exposição aos fatores de risco,
tivo para o desenvolvimento de quadros patológicos mulheres na pós-menopausa e evidência de doença
de natureza geral, a relação paciente/profissional de- agressiva; sexo, em particular os homens quanto às
verá ser revista em todos os seus aspectos. De acor- práticas preventivas e freqüência de cuidados; condi-
do com Passanezi, haverá, provavelmente, mudanças ção socioeconômica, relacionando a conscientização
não só nas condutas terapêuticas propriamente ditas, dental e freqüência dos cuidados), história médica
como também e, principalmente, visando a prevenção (em especial direcionada para diabetes, hábito de fu-
da doença periodontal marginal infecciosa. “Maiores mar, HIV/Aids, osteoporose e estresse), história dental
e mais incisivos deverão ser os cuidados no levanta- (história familiar de perda dental precoce, para evi-
mento etiopatogênico dos quadros periodontais, com denciar a predisposição genética a doença agressiva;
identificação minuciosa de todos os fatores atuantes história prévia de doença periodontal e freqüência
nesses quadros”, explica. dos cuidados dentais) e, finalmente, o exame clínico
(acúmulo de placa dentobacteriana, requerendo a
coleta microbiana para identificação de patógenos
periodontais putativos; cálculo; sangramento à son-
dagem; extensão da perda de inserção, para levantar
formas agressivas da doença; exame dental, em par-
ticular para avaliar as áreas retentivas de placa e fato-
res anatômicos participantes; e fatores restauradores
com atuação etiopatogênica).
Com base nessa avaliação pode-se e deve-se
considerar a importância da identificação dos indivídu-
os com suscetibilidade à doença periodontal infecciosa
marginal, pois assim será possível estabelecer melhor
a introdução de medidas preventivas para o paciente,
com redução significativa do seu comprometimento
sistêmico. Além disso, para os indivíduos já comprome-
tidos periodontalmente, é possível delinear melhor o
prognóstico do tratamento, favorecendo a elaboração
Magda
d Feres de plano de tratamento mais preciso e convicto.

314 Revista PerioNews 2007;1(4):310-8


[ Medicina Periodontal ]

no Brasil). Guerreiro, no entanto, informa que só se justi-


O conceito de que um bom fica a solicitação de tais exames como complementação
cirurgião-dentista é aquele que de um processo de anamnese bem conduzido, na qual,
com base em sinais clínicos e/ou na história do pacien-
possui boa habilidade manual te, o profissional tenha identificado a necessidade para
está totalmente ultrapassado. Hoje a requisição. “A biossegurança é o outro importante pi-
em dia o bom cirurgião-dentista é lar de sustentação da nossa atividade. Aos procedimen-
tos citados devemos acrescentar um relacionamento
aquele que consegue aliar a técnica
mais franco e aberto com os profissionais dos outros
ao conhecimento científico, com segmentos da saúde (médicos, psicólogos, nutricionis-
uma visão ampla da Odontologia.” tas, educadores físicos etc.) que interagem com o nosso
Magda Feres paciente”, complementa.
Para Magda, é preciso também entender profun-
damente a nova literatura. “O conceito de que um bom
cirurgião-dentista é aquele que possui boa habilidade
Já Maria Christina entende que os cirurgiões-den- manual está totalmente ultrapassado. Hoje em dia o
tistas devem começar suas mudanças pela conscien- bom cirurgião-dentista é aquele que consegue aliar a
tização do momento, se responsabilizando pelas con- técnica ao conhecimento científico, com uma visão am-
quistas da Periodontia por meio do estudo e aquisição pla da Odontologia. A biologia é dinâmica, infinita. Não
de novos conhecimentos. “Desta forma, com o estudo e adiantaria fazermos questionários-padrão ou regras
o conhecimento, eles poderão introduzir desde o mo- definidas para serem utilizadas na clínica. O profissional
mento da realização da consulta inicial de seu paciente, precisa ler, freqüentar cursos, entender biologia, absor-
anamneses bem-estruturadas, perguntas pertinentes e ver o conhecimento. Uma vez que isso aconteça, ele já
questionamentos adequados. Reservando tempo para está preparado”, assegura.
ouvir os pacientes e suas queixas e tempo para explicar-
lhes sobre os conhecimentos adquiridos, além de fazer CONSCIENTIZAÇÃO POPULACIONAL
encaminhamentos para serviços e exames médicos/la-
boratoriais quando necessários, planejamentos e trata- Com relação ao paciente, a partir do momento
mentos coerentes com as histórias sistêmicas de seus que ele estiver melhor informado sobre a relação entre
pacientes”, enumera. saúde bucal e saúde sistêmica, certamente não ficará
O conhecimento por parte do cirurgião-dentista apático a tal situação, uma vez que se trata de sua saúde
também é apontado por Guerreiro como um importan- geral. “Creio que a conscientização do indivíduo em re-
te aliado na prevenção da saúde sistêmica dos pacien- lação à abordagem da Medicina Periodontal não terá o
tes. “A questão protocolar é de extremo significado, uma mesmo grau de dificuldade porque não encerra o fator
vez que as disciplinas da saúde necessitam de práticas negativo de vício desenvolvido, enraizado como fator
básicas que regulem os seus procedimentos. O conhe- psicológico de fuga do paciente”, esclarece Passanezi.
cimento e a reciclagem constantes tornam-se prepon- “Além das medidas diretas profissional/paciente para
derantes aos que pretendem sobreviver da profissão”, esse esclarecimento, no consultório será importante a
confirma. “Sob o ponto de vista prático, a anamnese é o ilustração das diferentes interações da doença perio-
‘abre alas´ dessa questão. Não se pode praticar a Odon- dontal infecciosa marginal com doenças ou envolvi-
tologia sem uma adequada entrevista inicial que avalie mentos sistêmicos por meio de panfletos, folhetos etc”,
a situação e o histórico médico e bucal dos pacientes.”, argumenta.
acrescenta. A participação da entidades de classe também
A solicitação de exames complementares é outro se constitui em peso fundamental nesse processo de
atributo disponibilizado à profissão e garantido por lei. conscientização populacional, não só por meio de cam-
O cirurgião-dentista dispõe de competência legal para panhas próprias, como também intervindo junto aos
solicitar exames complementares - inclusive os sorológi- órgãos governamentais competentes para que se en-
cos (Lei 5.081/64, que regula o exercício da Odontologia gajem nesse mesmo propósito.

Revista PerioNews 2007;1(4):310-8 315


profissional de saúde. Isso é, de certa forma, negativo
para a profissão e para a credibilidade do alerta sobre o
relacionamento dos problemas bucais com as alterações
sistêmicas. Entendo que cada um de nós, as entidades de
classe e os órgãos competentes devam valorizar ainda
mais a defesa da informação com embasamento cientí-
fico e aplicabilidade clínica e preventiva das mesmas de
uma forma mais ampla”, destaca Guerreiro.
Por outro lado, ele ressalta que a maioria da co-
munidade científica brasileira se preocupa muito em
repassar uma informação extremamente qualificada
aos colegas de profissão, deixando de valorizar, com a
mesma importância, o que é informado para a “comuni-
dade leiga”, incluindo aí os pacientes. “Gosto da frase do
escritor inglês e clérico Charles Caleb Colton - A má in-
Rodrigo Guerreiro Bueno de Moraes
formação é mais desesperadora que a falta de informa-
ção. Somente a informação, corroborada pelas evidên-
Manter o paciente sempre informado é funda- cias científicas e pela crença pessoal dos que exercem
mental. Nesse sentido, conforme Maria Christina, as a Odontologia é que pode retirar os nossos pacientes
consultas de controle deveriam ser feitas periodica- do estado de apatia e beneficiar a compreensão sobre o
mente de acordo com a avaliação do risco do paciente, papel da cavidade bucal para a saúde”, garante.
independentemente do indivíduo ser paciente da Pe-
riodontia, da “Periodontia Médica”, de Prótese, da Den- CLASSE MÉDICA
tística ou de outra área. “Todos os pacientes ao terem
seus tratamentos odontológicos concluídos deveriam A área médica também tem a preocupação em
ser informados sobre seu risco para as infecções cárie aprofundar o conhecimento em Medicina Periodontal,
e periodontal e voltar para controles trimestrais, qua- visando obter maior subsídio para o diagnóstico, prog-
drimestrais, semestrais ou anuais, independentemente nóstico e plano de tratamento de seus pacientes. Para
do tipo de atendimento clínico ser realizado por um es- Passanezzi, a classe médica está mais diretamente liga-
pecialista ou por um clínico-geral. Acredito que um dos da ao ensino e a pesquisa. E vem não só aceitando a ve-
pilares da prática da Medicina Periodontal é explicar ao racidade da participação da doença periodontal infec-
paciente sobre as possíveis interações de certas condi- ciosa marginal como fator de risco capaz de influenciar
ções sistêmicas com as infecções bucais e vice-versa. O definitiva e decisivamente a manifestação de quadros
paciente bem informado, com certeza, terá uma preo- de natureza geral, como vêem nessa interação uma pos-
cupação maior de voltar para as consultas de controle, sibilidade de explicar a razão da ocorrência de situações
mantendo desta forma intervalos de retorno mais regu- variadas para as quais não se havia conseguido chegar
lares e um maior interesse sobre sua saúde de um modo a um diagnóstico preciso.
geral”, informa. “Convém mencionar que muitos elementos da
Magda e Guerreiro destacam o importante papel classe médica têm se associado a pesquisadores e até
da mídia e dos grandes canais de comunicação (rádio, mesmo clínicos da área odontológica, procurando for-
televisão, internet e imprensa escrita) como aliados na mar grupos de estudo para avaliar os efeitos dessa inte-
disseminação da informação, mostrando os fatos sem in- ração. Além disso, temos a informação da participação
ventar, aterrorizar ou gerar sensacionalismo. “Outra preo- de equipes de odontólogos em vários hospitais, inclusi-
cupação é o crescente perfil propagandista, sem o devido ve hospitais especializados em tratamentos de envolvi-
embasamento científico, apenas afeito à divulgação da mentos cardíacos”, relata.
marca ou do diferencial de um determinado profissional Além disso, várias equipes de pesquisa integrada
ou clínica. A massificação desse tipo de divulgação não têm sido formadas entre elementos dessas duas áreas
reforça a imagem positiva do cirurgião-dentista como biológicas, com o intuito simplesmente de encontrar so-

316 Revista PerioNews 2007;1(4):310-8


[ Medicina Periodontal ]

luções que venham melhorar o atendimento das neces- Infelizmente alguns cirurgiões-dentistas sequer con-
sidades do ser humano. Essa aceitação é também cons- seguem estabelecer um diálogo com um médico, dis-
tatada pelo fato de se observar pesquisadores da área cutir um caso que seja de interesse mútuo; a formação
médica publicando artigos em revistas de Odontologia, acadêmica dos CDs não permite grandes ‘viagens’ pelas
ao mesmo tempo em que trabalhos da área odontológi- questões sistêmicas. Somos muito mais conhecidos pelo
ca vêm sendo publicados por revistas de Medicina. que ganhamos do que pelo que sabemos. Felizmente
“Apesar dessa abordagem promissora de inte- algumas universidades já vêm realizando trabalhos de
gração entre as duas ciências, é interessante que ainda pesquisa em conjunto Medicina-Odontologia (Unifesp
existam pessoas colocando em dúvida a atuação da do- é um bom exemplo), mas a aceitação da Periodontia
ença periodontal infecciosa marginal e de determina- Médica pelos profissionais de Medicina está muito mais
dos quadros de envolvimentos sistêmicos como via de na dependência de como o cirurgião-dentista irá se po-
duas mãos. Neste aspecto, Cohen & Rose salientaram o sicionar daqui para frente perante a questão saúde bu-
fato de ainda haver cardiologistas que proíbem a raspa- cal = saúde sistêmica do que dos próprios médicos em
gem e o aplainamento radicular em pacientes sob risco si. A mudança não deve vir de fora, temos que fazer por
de doença coronária, evidenciando a necessidade de merecer”, argumenta.
colaboração íntima entre o cirurgião-dentista e o médi- Para Magda, no entanto, o conhecimento da
co. Talvez duas sejam as razões principais para esse po- Medicina Periodontal já atingiu a classe médica. “Hoje
sicionamento: uma sendo a argumentação usada para temos muito mais contato com os hospitais, e observa-
justificar a falta de conhecimento ou de condições para mos o crescente interesse dos médicos, principalmente
alcançar esse conhecimento e outra uma maneira de daqueles vinculados ao mundo acadêmico, em estudar
justificar a crença filosófica terapêutica desenvolvida ao e entender mais a relação da própria infecção periodon-
longo do tempo. De qualquer maneira esse posiciona- tal com as demais alterações sistêmicas, como cardiopa-
mento não justifica a negação da introdução e da exis- tias, parto prematuro, diabetes e outras.”
tência da Medicina Periodontal”, diz Passanezi. Em recente trabalho de monografia de uma alu-
A resistência por parte de alguns profissionais da na do curso de especialização em Periodontia da Abe-
classe médica, segundo Maria Christina, é pelo fato do no, Paola Corazza, orientado por Guerreiro, foi elabora-
assunto ainda ser muito novo. “A Medicina vem há anos do um amplo questionário para a avaliação do nível de
acostumada com a figura secundária do cirurgião-den- conhecimento e de interatividade do público médico
tista na hierarquia de profissões de saúde. E não só a com as questões da Odontologia – como a Medicina Pe-
Medicina, a sociedade de um modo geral.. Porém, não riodontal. As conclusões realçam que a importância que
somos reconhecidos desta forma por mero acaso..... os médicos dão ao tratamento e às doenças bucais está
evoluindo e que os médicos passam a compreender a
Odontologia como uma fonte importante para a promo-
ção de saúde e como parceira em medidas destacadas
A publicação de livros, revistas pela comunidade – como as campanhas de combate ao
fumo e de outras práticas nocivas de mútuo interesse.
científicas e a realização de
“Falta, a meu entender, a realização de um maior
congressos que incluam médicos número de eventos científicos que reúnam os dois seg-
e cirurgiões-dentistas para o debate mentos em torno de uma pauta única. Entendo que
de questões de interesse comum, a publicação de livros (como o recente Cardiologia e
Odontologia, da Sociedade Brasileira de Periodonto-
seja o caminho futuro para logia e da Sociedade de Cardiologia do Estado de São
a adequação das ferramentas Paulo), revistas científicas e a realização de congressos
de avaliação e os rumos futuros que incluam médicos e cirurgiões-dentistas para o de-
bate de questões de interesse comum, seja o caminho
da Medicina Periodontal.”
futuro para a adequação das ferramentas de avaliação e
Rodrigo Guerreiro Bueno de Moraes os rumos futuros da Medicina Periodontal. Essa é uma
proposta muito interessante e que merece ser avaliada

Revista PerioNews 2007;1(4):310-8 317


com o maior carinho pela comunidade científica”, revela a satisfação na prática de importantes funções do coti-
Guerreiro. diano como mastigar, sorrir, exalar bom hálito e estar
livre do risco da dor. Quando a Odontologia passou
SAÚDE BUCAL = SAÚDE SISTÊMICA a destacar que, além desses importantes fatores, as
doenças da boca (destacando a doença periodontal)
As evidências de que a Medicina Periodontal é podem sinalizar ou representar risco para o indivíduo
uma realidade, tendo em vista a validade comprovada - as nossas ferramentas de exaltação à promoção de
que se tem demonstrado na literatura com respeito à saúde tornaram-se mais poderosas e a nossa responsa-
interação da doença periodontal marginal infecciosa bilidade profissional aumentou na mesma proporção”,
com envolvimentos de natureza geral a distância, con- acrescenta Guerreiro.
solidam e ampliam o papel do cirurgião-dentista no Para Magda, o maior motivo para que a classe
diagnóstico, prognóstico e plano de tratamento do pa- odontológica se insira mais profundamente no con-
ciente para prover-lhe as melhores condições compatí- ceito de saúde bucal é igual a saúde sistêmica, é o
veis com o estabelecimento da saúde e preservação dos fato de serem profissionais de saúde. “Passamos a
resultados, influenciando, sem dúvida, a longevidade vida estudando doenças, mas na verdade gostamos
de sua existência. de saúde! Hoje entendemos mais do que nunca que a
“Não tenho dúvidas de que o grande respeito saúde oral e a saúde sistêmica estão totalmente liga-
que a classe médica recebe meritoriamente da popula- das. Ótimo! Vamos cuidar do paciente como um todo
ção deve-se, em última análise, ao fato de que as pes- e se tudo der certo, em um futuro próximo estaremos
soas valorizam a preservação da vida, de modo que o todos focados muito mais em prevenção do que em
médico é exponencial nessa atribuição. Pois bem: pelo terapia”, ressalta.
menos em parte, essa concepção poderá ser passada à Por outro lado, Maria Christina lembra que duran-
classe odontológica, que verá, então, serem reconheci- te muitos anos, a classe odontológica vem caminhando
dos e recompensados seus esforços de tratar condigna- na contra-mão da Medicina. “Enquanto médicos e cien-
mente o ser humano”, afirma Passanezi. tistas da área vêm incessantemente pesquisando dife-
De acordo com ele, Offenbacher & Beck propõem rentes doenças, novas medicações, diferentes técnicas
uma mudança importante a se estabelecer na Odonto- terapêuticas, a Odontologia vêm pesquisando incessan-
logia: a aceitação de que o objetivo vai muito além do temente novos materiais restauradores (principalmente
que simplesmente salvar ou substituir dentes e sorrisos. voltados para a estética), novas técnicas de implantes
Como profissão, os autores consideram que se estabe- e de clareamento dental. Esses avanços são louváveis
leceu o elo que pode colocar a Odontologia na corrente e não são. São louváveis pelo fato dos pacientes terem
principal da Medicina e nos itens de cuidados médicos, uma gama maior de recursos disponíveis do ponto de
desde que comprovada a correlação das necessidades vista estético, sem falar dos pacientes que precisam de
médicas para cuidados periodontais. Assim, a educação reabilitação bucal. Não são quando me lembro que pro-
odontológica deve continuar a se direcionar para a cor- blemas elementares da cavidade bucal, como a infecção
rente principal da Medicina. cárie e a infecção periodontal ainda não foram bem re-
Guerreiro ressalta que a saúde deve ser com- solvidos; infelizmente ainda vemos muito colegas colo-
preendida como única - ainda mais pelos profissio- cando implantes em pacientes não tratados, portadores
nais da Odontologia. “Dentre as várias definições de doença periodontal, por exemplo.....Talvez, com o
disponíveis para o tema, aprecio a de um conceituado avanço dos estudos sobre Medicina Periodontal, com
estudioso sueco de saúde pública Lennart Nordenfelt a elucidação das dúvidas ainda remanescentes sobre o
que definiu, em 2001, a saúde como um “estado físico e tema por meio de novas pesquisas, o cirurgião-dentista
mental em que é possível alcançar todas as metas vitais, possa se interessar mais pelo bem-estar de seu pacien-
dadas as circunstâncias”, e a cavidade bucal não pode te, criar o hábito de estudar mais cada novo caso no seu
estar fora desse contexto”, pondera. consultório, criar o hábito de discutir seus casos com
“Dentro desse pensamento não podemos imagi- colegas cirurgiões-dentistas e colegas médicos, cuidar
nar alguém que não disponha de uma boca saudável do seu paciente como um indivíduo no qual a cavidade
e que consiga, mesmo que circunstancialmente, atingir bucal está inserida”, conclui.

318 Revista PerioNews 2007;1(4):310-8


relato de caso clínico [ Periodontia ]

Matriz dérmica acelular:


uma alternativa cirúrgica estética –
Relato de caso clínico
Accelular dermal matrix: a surgical
esthetic alternative - Case relate

Alexandre Pinto Maia*, Bruna Aguiar do Amaral*, Euler Maciel Dantas**,


Felipe Barros Lobo***, Mariane Nicole Nogueira****, Eduardo Gomes Seabra*****

RESUMO
Defeitos anatômicos no rebordo alveolar são pro- xerto de matriz dérmica acelular (Alloderm) em um
blemas estéticos comuns na Odontologia. Existem paciente que apresentava defeito alveolar na região
modalidades de tratamentos que se destinam a re- anterior da maxila. Concluímos que a matriz dérmica
solver esses problemas. E entre eles o enxerto de acelular pode ser usada para resolver problemas es-
matriz dérmica acelular. Esse trabalho tem o objetivo téticos com sucesso.
de mostrar, através de relato de caso clínico, um en- Unitermos - Alloderm; Estética; Enxertos.

ABSTRACT
Anatomics defects on alveolar ridge are commons lular dermal matrix graft (Alloderm) in a patient that
esthetics problems in dentistry. There are treatment’s presents an alveolar defect on anterior region af ma-
modalities that try to resolve them, between theses xilla. We concluded that accelular dermal matrix can
there is accelular dermal matrix graft. This work has be used to resolve esthetic problems successfully.
the purpose to show, throught a case relate, an acce- Key Words - Alloderm; Esthetics; Grafts.

* Mestres em Periodontia – UFRN; Doutorandos em Patologia Oral – UFRN.


** Professor Doutor da Disciplina de Periodontia da Universidade Potiguar/RN.
*** Especialista em Periodontia – ABO/RN.
**** Mestre em Periodontia – UFRN; Professora do Curso de Especialização em Periodontia do Coesp/PB.
***** Professor Doutor da Disciplina de Periodontia e do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Área de concentração em Periodontia da UFRN.

Revista PerioNews 2007;1(4):319-22 319


Maia AP • Amaral BA • Dantas EM • Lobo FB • Nogueira MN • Seabra EG

INTRODUÇÃO fibroblastos, elementos vasculares e de colágeno, bem


como a retenção de fibras elásticas que foram transplan-
Na atualidade a estética em Odontologia deixou tadas. Os dois tipos de enxertos podem ser usados com
de ser voltada somente para os dentes, e se percebe a sucesso obtendo-se cicatrização similar em ambos8,10.
preocupação também com os tecidos moles e o correto Algumas vantagens com a utilização da Alloderm
contorno do osso alveolar. Essa nova abordagem, defi- em relação ao enxerto autógeno palatino podem ser
nida como “estética vermelha”, é tão importante quanto observadas. A diminuição do tempo cirúrgico e alguns
a estética dental em si, pois por vezes, não é estetica- riscos de complicações durante a cirurgia para remoção
mente satisfatório ter dentes brancos e anatomicamen- de enxerto palatino, enxerto com pouca espessura, he-
te bem delineados se não houver uma gengiva saudável morragias e infecção pós-cirúrgicas são evitados quan-
e harmônica. O rosto, bem como um belo sorriso, pode do do uso da Alloderm em relação ao enxerto retirado
ser considerado um órgão de expressão social, daí a im- de alguma área doadora3. Além disso, a necessidade de
portância de uma boa aparência nessas regiões1. retirada de tecido doador, quando do uso de enxerto de
Defeitos no rebordo alveolar, que muitas vezes tecido conjuntivo, causa desconforto para os pacientes,
compromete esteticamente e inviabiliza o uso de próteses que pode ser evitado pelo uso da MDA7.
dentárias, são problemas estéticos não muito incomuns
que podemos nos deparar na clínica odontológica. Diver- PROPOSIÇÃO
sas formas de tratamento para esses defeitos podem ser
encontradas na literatura. Dentre as principais técnicas ci- O objetivo deste trabalho foi mostrar, através do
rúrgicas com esse fim, existem algumas com melhores re- relato de um caso clínico, o uso da Alloderm para corre-
sultados e com maior previsibilidade do tratamento, como ção de problema estético no rebordo alveolar em região
por exemplo, o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial e anterior superior.
a utilização de uma matriz dérmica acelular2.
A Alloderm foi desenvolvida como um enxerto de RELATO DE CASO CLÍNICO
derme para reposição de tecidos perdidos em pacientes
queimados. Ela é obtida da pele humana de cadáveres, Paciente do sexo masculino, 32 anos, procurou
processada através da remoção da epiderme e das células o Curso de Especialização em Periodontia da ABO/RN
da derme, congelamento e desidratação. Este processo com queixa estética causada por uma deformidade
faz com que a reação de resposta inflamatória específica no rebordo superior, na região de incisivo medial, que
não aconteça em resposta ao enxerto local, e como resul- comprometia o uso de uma prótese provisória que o
tado obtemos uma matriz dérmica intacta composta por paciente utilizava (Figura 1). O paciente relatava pro-
colágeno tipos IV e VII, elastina e laminina1,5. blemas psicológicos causados pelo desconforto da falta
Na Odontologia, o uso da matriz dérmica acelular estética na região comprometida.
iniciou-se a partir de 1994 com a finalidade de recobrir Depois de exame periodontal detalhado, optou-se
recessões gengivais, bem como para aumento de faixa por se realizar um procedimento cirúrgico para melhorar
de gengiva inserida, enxerto para remoção de manchas o defeito estético apresentado nessa região de incisivo
melânicas e também para preencher defeitos anatômi- central. Na anamnese, o paciente relatou não ser porta-
cos gengivais6. Além da finalidade de recobrimento ra- dor de cardiopatias, diabetes, hipertensão, problemas de
dicular, o enxerto de Alloderm é utilizado para correção discrasia sangüínea e nem alergias. Também não fazia
de deformidades em rebordo alveolar2,4. uso de medicação diária ou drogas controladas.
Apesar da técnica ser descrita com o uso de um Foi realizado enxerto de uma matriz dérmica ace-
lado pré-determinado da matriz voltado para o lado ex- lular (Alloderm) para a correção do defeito e feita a insta-
terno, estudos com o objetivo de testar a utilização de lação imediata de uma prótese provisória (Figura 2). Na
ambos os lados da matriz voltados para o lado externo, cirurgia foi realizado o enxerto subepitelial do Alloderm.
mostraram que não há diferenças entre eles9. O paciente retornou para remoção da sutura sete
Histologicamente, o enxerto de tecido conjunti- dias após a cirurgia e foi acompanhado semanalmente
vo e o enxerto com matriz dérmica acelular são bem in- na Clínica de Periodontia da ABO/RN durante um mês,
corporados ao leito receptor. Observa-se a presença de onde se constatou ganho estético satisfatório na área

320 Revista PerioNews 2007;1(4):319-22


[ Periodontia ]

A A

Figura 1 Figura 3
Comprometi- Condições
mento estético estéticas antes
da prótese do enxerto de
B na região Alloderm (A) e
de incisivo B resultado es-
central devido tético um mês
à deformidade pós-cirurgia,
no rebordo ainda com
alveolar. uso de prótese
provisória (B) .

A nia estética na região anterior da maxila, onde esta era


fundamental devido a exposição constante dessa área.
Com o enxerto do Alloderm o defeito que era apresen-
tado foi minimizado, diminuindo os transtornos psico-
lógicos que o paciente relatava sentir.
Pesquisadores defendem a viabilidade do uso da
Figura 2
matriz dérmica acelular por esta diminuir o tempo cirúr-
Enxerto
subepitelial gico e suas complicações, pela falta de necessidade de
de Alloderm se promover um leito cirúrgico para remoção do tecido,
na região
do rebordo além de proporcionar um melhor pós-operatório para
B alveolar (A) o paciente3,7. No caso relatado neste trabalho, pode-se
e colocação
constatar ganho de tempo na cirurgia e de conforto
de prótese
provisória para os pacientes, concordando com os autores.
imediata- Em avaliação histológica dos enxertos de matriz
mente após a
cirurgia (B). dérmica acelular e dos enxertos de tecido conjuntivo
subepitelial, autores concluíram que em ambos os en-
xertos, ocorrem formação de fibroblasto, colágeno e
elementos celulares, havendo uma real incorporação ao
leito receptor8,10. No caso clínico descrito, apesar de não
onde antes era comprometida (Figura 3), ainda com a ter realizado exame histológico, percebe-se clinicamen-
prótese provisória. te que o enxerto de Alloderm foi bem incorporado ao
leito receptor, com boa cicatrização clínica, considerado
DISCUSSÃO clinicamente dentro dos padrões normais.

Alguns autores enfatizam que o rosto e o sorriso CONCLUSÃO


são considerados órgãos de expressão social, daí a im-
portância de uma estética satisfatória nessas regiões1. Concluímos que o enxerto com uso de matriz
O paciente que procurou o Curso de Especialização em dérmica acelular (Alloderm) é um meio viável para o tra-
Periodontia da ABO/RN se queixava de falta de harmo- tamento cirúrgico de defeitos no rebordo alveolar, com

Revista PerioNews 2007;1(4):319-22 321


Maia AP • Amaral BA • Dantas EM • Lobo FB • Nogueira MN • Seabra EG

boa cicatrização, material abundante para realização de com o uso do Alloderm, visto que não há necessidade
enxertos e menor tempo e risco cirúrgico. de remoção de enxerto de uma área doadora.
No caso relatado, o uso de Alloderm se mostrou
Recebido em: out/2007
bastante eficaz, melhorando as condições estéticas para
Aprovado em: dez/2007
a instalação da prótese. Com o Alloderm, se dispunha de
tecido suficiente para a realização da cirurgia, que talvez Endereço para correspondência:
Alexandre Pinto Maia
não fosse possível se optássemos por realizar enxerto Rua Felipe Cortez, 1.469 - Lagoa Nova
de tecido conjuntivo autógeno retirado do palato. Além 59056-150 - Natal - RN
Tel.: (84) 3234-0173
disso, o pós-operatório do paciente é mais confortável
alexandrepintomaia@yahoo.com.br

REFERÊNCIAS
1. Lima LM, Chiarelli FM, Bourguignon Filho AM, Feitosa ARC, Dias E, 6. Cunha FA. Diferentes opções de utilização da matriz dérmica acelular
Sendyk W. Utilização da matriz dérmica acelular (Alloderm) para trata- em Odontologia. Rev Int Periodontia Clin 2004;1:109-13.
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322 Revista PerioNews 2007;1(4):319-22


relato de caso clínico [ Periodontia ]

Uso de piercing na língua


como fator etiológico incomum
de recessões gengivais
Tongue piercing as an unusual etiologic factor for gingival recessions

Carla A. Damante*, Márcio Luiz Lima Taga**, Adriana Campos Passanezi Sant’Ana***,
Sebastião Luiz Aguiar Greghi***, Maria Lúcia Rubo de Rezende***, Euloir Passanezi****

RESUMO
O uso de adornos em partes não convencionais do prolongado de piercing na língua. O paciente havia
corpo incluindo a cavidade oral, é conhecido como removido o metal dois meses antes do exame perio-
body art. Essa antiga prática indígena retornou aos dontal, o que dificultou a obtenção do diagnóstico
padrões da moda tanto no Brasil quanto em todo o final, que foi definido após exame intrabucal acura-
mundo e, apesar de apresentar um contexto social do e análise comportamental detalhada. Como essa
e comportamental, o uso do piercing pode ser peri- prática tem se tornado cada vez mais comum, os
goso. Inúmeros problemas podem ocorrer devido ao cirurgiões-dentistas devem estar alertas sobre o uso
uso nas regiões intra e peribucal, entre elas: fratura e de piercing na região bucal e peribucal, conhecer
desgaste dentários, trincas de esmalte, dor, dificulda- os riscos e aconselhar seus pacientes sobre cuida-
de na fala, mastigação e deglutição, hipersalivação, dos, manutenção e possíveis lesões decorrentes do
infecção e recessão gengival. E ainda, complicações uso dessas bijuterias. Além disso, o uso de piercing
mais graves como hemorragia, aspiração do piercing deve sempre ser levado em consideração como fator
com obstrução de vias aéreas e bacteremia seguida etiológico de lesões dentárias e de tecidos moles da
de morte já foram relatadas na literatura. O presente boca como a recessão gengival.
artigo descreve um caso de recessões múltiplas na Unitermos - Piercing corporal; Recessão gengival;
face lingual de dentes inferiores causadas pelo uso Etiologia.

ABSTRACT
The wearing of jewelry in unconventional parts of the body caused by a prolonged use of a tongue piercing. Since the
including oral cavity is known as body art. This practice is a patient had removed the piercing two months before,
fashion nowadays all over the world. Despite all the social the final diagnosis was obtained by an accurate intraoral
and behavioral reasons for the use of a piercing, it can be exam and detailed behavioral history. As this practice is
harmful. In general the complications of using an intraoral becoming more popular, dentists should be aware of this
piercing are tooth fracture, chipping tooth, pain, speech, problem and know how to advise the patients about risks,
mastication and deglution difficulties, hypersalivation, care and maintenance of such appliances. Furthermore,
infection, gingival recession. Moreover, emergency situ- the use of oral piercing must be remembered as an etio-
ations such as hemorrhage, collapse, jewelry aspiration logical factor and differential diagnosis for recessions and
and airway obstruction may occur. This paper describes tooth fracture.
an unusual case of multiple mandibular lingual recessions Key Words - Gingival recession; Body piercing; Etiology.

* Doutora em Periodontia - FO/USP.


** Mestre em Periodontia - FOB/USP.
*** Professores Assistentes Doutores da Disciplina de Periodontia, Departamento de Prótese - FOB/USP.
**** Professor Titular da Disciplina de Periodontia, Departamento de Prótese - FOB/USP; Departamento de Prótese - Área de Concentração Periodontia - Faculdade de Odontologia de Bauru
- Universidade de São Paulo.

Revista PerioNews 2007;1(4):325-8 325


Damante CA • Taga MLL • Sant’Ana ACP • Greghi SLA • Rezende MLR • Passanezi E

INTRODUÇÃO no lábio inferior (lado direito), Figura 2. Ao exame


intrabucal, observou-se bom padrão de higieniza-
Body art é um termo aplicado a qualquer tipo de ção, presença de fratura da borda incisal do dente 11
modificação feita no corpo como: tatuagens, piercings, (Figura 3), estreita faixa de mucosa ceratinizada com
alteração da anatomia da língua e dentes, entre outros. áreas de hiperplasia gengival inflamatória nos dentes
A utilização de piercing é uma prática antiga que tem se inferiores e uma cicatriz na região média da língua.
tornado moda nos dias de hoje. Os egípcios, romanos Não houve relato de hiperestesia dentinária. Devido
e algumas tribos indígenas utilizavam essa prática com à presença do aparelho ortodôntico, o diagnóstico
propósitos religiosos, sexuais, tribais ou matrimoniais1. presuntivo foi de recessões múltiplas devido à movi-
Em muitos países e também, no Brasil, o uso de mentação ortodôntica. Entretanto, ao contatarmos o
piercing bucal tem se tornado comum entre os adoles- ortodontista, este informou que os dentes em ques-
centes. Na boca, os lugares mais comuns são a língua e tão receberam apenas um pequeno movimento de
o lábio inferior, fazendo com que essa prática seja um intrusão e vestibularização, o que não seria causa de-
tópico de interesse e conhecimento dos cirurgiões- terminante das lesões. Ao ser questionado sobre o
dentistas. Relatos sobre seu uso, estão disponíveis na uso de piercing em outros locais, o paciente relatou
literatura odontológica desde 19941 e têm crescido em tê-lo utilizado na língua, durante dois anos, e remo-
número. Há uma extensa lista de complicações associa- vido dois meses antes por sugestão do ortodontista.
das ao uso de piercing na língua e lábio como edema, Essas informações nos levaram ao diagnóstico final
hematoma, cicatriz hipertrófica1, dor, fratura dentária1-9, de recessões múltiplas causadas pelo uso prolonga-
trincas dentárias5,9, hemorragia7-9, parestesia temporária do de piercing na língua.
ou definitiva7-8, interferência com fala, mastigação e de- O paciente nos trouxe o seu piercing do tipo
glutição3,7-9, aumento do fluxo salivar, edema, aspiração
da bijuteria7-9, infecção1, reação alérgica ao metal3,8-9,
formação de cálculo na superfície do metal9, fratura de
coroas de porcelana e formação de corrente galvânica6.
Situações mais graves, gerando risco de vida como he- Figura 1
morragia e colapso3, obstrução das vias aéreas e angina Presença de
recessões
de Ludwig4 também já foram relatadas. gengivais na
Um tópico de interesse relevante aos periodon- lingual de inci-
sivos e caninos
tistas é que o piercing bucal tem sido associado à pre- inferiores.
sença de recessões gengivais. Os piercings labiais são
associados às recessões gengivais localizadas, geral-
mente na região vestibular de incisivos inferiores10-11. Já
os localizados na língua, são responsáveis pela presença
de múltiplas recessões na lingual de incisivos e caninos Figura 2
Aspecto
inferiores12. No presente artigo, será apresentado um extrabucal
caso de múltiplas recessões na lingual de incisivos e ca- do paciente
evidenciando
ninos inferiores causadas por uso prolongado de pier-
uso de piercing
cing na língua. labial do tipo
argola.

RELATO DE CASO CLÍNICO


Figura 3
Presença de fratura
Um paciente de 16 anos foi encaminhado, pelo da borda incisal
seu ortodontista, à clínica de Periodontia da Faculda- do dente 11 (seta).
Estreita faixa de
de de Odontologia de Bauru – USP, com queixa prin- mucosa ceratinizada
cipal de múltiplas recessões na lingual dos incisivos e áreas de hiperplasia
gengival inflamatória
e caninos inferiores (Figura 1). No exame extrabucal, nas interproximais
notou-se a presença de um piercing, do tipo argola, dos dentes inferiores.

326 Revista PerioNews 2007;1(4):325-8


[ Periodontia ]

barbell (halteres), o qual consiste de uma barra de DISCUSSÃO


metal com uma esfera em cada extremidade, feito de
aço cirúrgico (Figura 4). Quando está em posição, a No Brasil, as tatuagens e piercings são proibidas
esfera sob a língua age como trauma mecânico para para menores de 18 anos. Mesmo assim, muitos adoles-
os dentes inferiores e mucosa. E ainda, a maioria dos centes mascaram a idade ou conseguem autorização
usuários dessa bijuteria adquire o hábito de friccioná- dos pais para utilizar esses acessórios. O uso de pier-
la nos dentes inferiores. Ao ser questionado sobre os cing é difundido em todo o mundo. Um estudo feito
cuidados tomados pelo profissional que o perfurou, o em Israel mostrou que, 20,3% de 400 pacientes aten-
paciente relatou a utilização de luvas, material esteri- didos em uma universidade, reportaram o uso de pelo
lizado e agulhas descartáveis (Figura 5). As recomen- menos um tipo de piercing intrabucal e 57,8% dos parti-
dações feitas após a perfuração – feita sem anestesia cipantes desconheciam os perigos dessa prática13.
- foram: deixar cubos de gelo no local por uma hora, O risco de complicações ocorre, principalmente,
utilizar um enxaguatório bucal (Listerine) e limpar o devido à falta educação formal, dos profissionais, em
metal após cada refeição. esterilização, proteção pessoal e controle de infecção6.
O tratamento periodontal consistiu de raspagem E ainda, a grande maioria desconhece os riscos de bac-
e alisamento radicular (Figura 6) e terapia periodontal teremia e de transmissão de doenças1. Tal fato pode ser
de suporte, até o término do tratamento ortodôntico, claramente demonstrado por um estudo inglês onde
uma vez que o fator etiológico principal tinha sido re- 123 profissionais do ramo foram entrevistados. Somen-
movido. te 7% deles sugerem aos clientes que consultem um
médico após a colocação do piercing, enquanto que a
maioria faz essa recomendação apenas se ocorrer algu-
ma complicação mais grave. A maior parte dos entre-
vistados declarou uso de medidas para evitar infecção
cruzada como o relatado no caso clínico apresentado.
Em relação aos riscos de se realizar procedimentos inva-
Figura 4 sivos, apenas um profissional tinha conhecimento sobre
Piercing para endocardite bacteriana14.
língua do tipo
barbell (hal- O uso de piercing, intra e peribucal, deve ser in-
teres) feito em cluído na lista de diagnóstico diferencial para qualquer
aço cirúrgico.
área inflamada de tecido mole ou fratura dentária, já
que essa associação não costuma ser óbvia3. Parece
Figura 5 simples ao cirurgião-dentista, procurar por uma relação
Agulhas descar-
táveis utilizadas de causa e efeito quando o metal está em posição, po-
para a perfura- rém, como no caso apresentado, a bijuteria havia sido
ção da língua (as
duas de maior removida previamente, houve a necessidade de um
calibre), lábio exame intrabucal adequado, conhecimento detalhado
(menor calibre)
em comparação da história médica e, principalmente, comportamental
a uma agulha do paciente. E ainda, a comunicação entre profissionais
anestésica
odontológica. foi decisiva no diagnóstico final.
O piercing na língua ou lábio pode ser fator etio-
Figura 6 lógico principal de recessões gengivais localizadas. Isso
Aspecto da
região lingual
ocorre devido ao constante trauma mecânico gerado
dos incisivos pelo metal na mucosa bucal10-12 que é muito mais fre-
e caninos
qüente que a escovação traumática. Um estudo anali-
inferiores 30
dias após sando 50 pacientes portadores de piercing no lábio,
tratamento o qual possui um disco que fica localizado na região
de raspagem
e alisamento intrabucal, mostrou que 68% apresentavam recessões
radicular. gengivais na direção oposta ao metal demonstrando

Revista PerioNews 2007;1(4):325-8 327


Damante CA • Taga MLL • Sant’Ana ACP • Greghi SLA • Rezende MLR • Passanezi E

claramente a relação de causa e efeito15. CONCLUSÃO


Cabe ao cirurgião-dentista alertar os pacientes
sobre os riscos inerentes ao uso do piercing. No presen- Como o uso de piercing tem se tornado cada vez
te caso, o paciente foi colaborador, pois assim que foi in- mais popular, o cirurgião-dentista deve estar atento às
formado dos riscos, optou por remover a bijuteria. Mas, lesões bucais decorrentes de seu uso, conhecer os riscos
infelizmente a maioria se recusa a removê-la10-12. É im- dessa prática e orientar seus pacientes sobre possíveis
portante saber que o piercing é uma forma de auto-ex- complicações. O uso dessas bijuterias deve ser consi-
pressão7 e que há razões sociais e psicológicas embuti- derado como agente causal de recessões gengivais,
das nessa prática3. Uma pesquisa realizada na Finlândia fraturas dentárias entre outros, e sua remoção deve ser
avaliou o comportamento psicológico de usuários de sugerida sempre que possível, antes de se realizar o tra-
piercing e encontrou uma maior prevalência de uso de tamento.
tabaco, drogas ilícitas e depressão nesse grupo16. Por-
tanto, o profissional deve utilizar uma abordagem sutil, Recebido em: out/2007
Aprovado em: dez/2007
e até sugerir alternativas como a utilização do piercing
em outras áreas do corpo, onde possa trazer menos ris- Endereço para correspondência
Carla Andreotti Damante
co ou o uso de jóias magnéticas5. Em caso de resposta Rua Antonio Xavier de Mendonça, 7-25
negativa, cabe ao profissional, orientar quanto aos cui- 17012-091 - Bauru - SP
dados com higiene e manutenção das bijuterias2. Tel.: (14) 3223-2640
cdamante@rocketmail.com

REFERÊNCIA
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328 Revista PerioNews 2007;1(4):325-8


revisão da literatura [ Periodontia ]

Considerações atuais na elaboração


do diagnóstico periodontal
Advanced concepts in periodontal diagnosis

José Roberto Cortelli*, Caio Vinícius G. Roman-Torres**,


Davi Romeiro Aquino***, Sheila Cavalca Cortelli****

RESUMO
O adequado diagnóstico periodontal inclui informa- O objetivo desta revisão da literatura foi a de atualizar
ções referentes a história médica e dental do pacien- clínicos e periodontistas em relação aos atuais méto-
te, passando pelos exames clínicos e radiográficos. dos disponíveis quando da elaboração do diagnóstico
Outros recursos no diagnóstico periodontal incluem periodontal.
a realização de exames microbianos e imunológicos. Unitermos - Diagnóstico; Gengivite; Periodontite.

ABSTRACT
To determine the diagnosis in periodontics it is necessary clude microbial and immunological exams. Thus, the aim
to have information from patient’s medical and dental of this review was to show the update information regards
histories and additionally to do clinical and radiographic to periodontal diagnosis.
examinations. Other resources in periodontal diagnosis in- Key Words - Diagnosis; Gingivitis; Periodontitis.

INTRODUÇÃO sangramento gengival. Já em 1925, aperfeiçoando


um instrumento previamente elaborado por Black,
A doença periodontal, representada pela gengi- Simonton desenha um instrumento para medir o
vite e periodontite, acomete os tecidos de proteção e sulco gengival denominado “University of California
sustentação dos dentes. Por ser uma patologia altamen- Periodontometer”, afirmando que “o melhor método,
te prevalente em todo o mundo a doença periodontal e, no atual estágio do conhecimento, para diagnosticar
mais propriamente, as periodontites em seus estágios piorréia, consiste em medir a distância gengivoapical
mais avançados, podem ser responsáveis por grande com este instrumento”.
parte da perda precoce dos dentes, logo, o adequado Atualmente, as ferramentas utilizadas no esta-
e precoce diagnóstico destas patologias são considera- belecimento do diagnóstico periodontal vêm sofrendo
dos fundamentais para a manutenção dos dentes e con- inúmeras modificações, onde, se busca não apenas a
seqüente preservação da saúde geral das pessoas. informação da história pregressa da doença mas, clara-
A preocupação em relação ao diagnóstico pe- mente busca-se a identificação de sítios periodontais,
riodontal já se fazia presente no século 18, quando indivíduos ou até populações de risco para o desen-
Pierre Fauchard cria uma primeira codificação da volvimento da doença. Vale aqui ressaltar que quanto
doença periodontal para estabelecer um diagnósti- mais precoce for o diagnóstico periodontal menor será
co clínico. Adicionalmente, John Hunter no primeiro o dano para o indivíduo, considerando não apenas o
tratado de Odontologia publicado ainda neste sé- aspecto saúde, e sim o melhor prognóstico, plano de
culo, estabelece definições de inflamação tecidual e tratamento, redução de custos e tempo.

* Professor Assistente Doutor de Periodontia da Unitau.


** Doutorando em Odontologia pela Unitau.
*** Doutorando em Odontologia pela Unitau.
**** Professora Assistente Doutora de Periodontia da Unitau.

Revista PerioNews 2007;1(4):329-34 329


Cortelli JR • Roman-Torres CVG • Aquino DR • Cortelli SC

REVISÃO DA LITERATURA patológica (Figuras 2 e 3). Neste contexto o indivíduo


pode ser saudável sob o aspecto periodontal, receber o
Diagnóstico periodontal diagnóstico de portador de gengivite ou periodontite.
Um perfeito diagnóstico tanto das gengivites Para uma especificação dos diferentes tipos de gengivi-
quanto das periodontites passa, obviamente, pela des- te e periodontite recomenda-se a leitura do Sistema de
treza do examinador na coleta dos dados e de uma cor- Classificação das Doenças Periodontais publicado pela
reta interpretação dos dados obtidos. Todo diagnóstico Academia Americana de Periodontia5 e de uma recente
se inicia quando da elaboração da anamnese. Atual- publicação intitulada Glossário da Sociedade Brasileira
mente é de suma importância investigar, entre outras de Periodontia e Posicionamento Científico6.
questões relevantes, as condições gerais de saúde do
indivíduo pois, sabemos da relação em mão dupla das
condições do hospedeiro interferindo no curso da doen-
ça periodontal, exemplo: a diabetes como agravante da
doença periodontal1 e da doença periodontal associada
a alterações sistêmicas como doença cardiovascular2,
bebês com nascimento prematuro e baixo peso ao nas- Figura 2
Indivíduo
cer3, osteoporose4 entre outras. portador de
Como se sabe, a doença periodontal é multifato- periodontite
crônica gene-
rial e de origem infecciosa. Portanto, a ação de bactérias ralizada.
específicas que se organizam no biofilme dentário é es-
sencial para a instalação de qualquer entidade patoló-
gica. Porém, a simples presença desses patógenos não
acarreta obrigatoriamente no desfecho doença. Faz-se
necessária a ocorrência simultânea de outros fatores in-
cluindo qualidade da resposta imune do hospedeiro e
presença de fatores de risco (Figura 1).
Figura 3
Indivíduo
periodon-
talmente
saudável.

Como se sabe, o que diferencia a gengivite da pe-


riodontite é a extensão do dano; assim, quando a doença
estiver limitada ao periodonto de proteção consideramos
a presença de uma gengivite; por outro lado, quando
este dano se estender as estruturas de suporte dos den-
tes passamos a denominar a doença como periodonti-
te. Esta divisão, no entanto, pode ter apenas um caráter
didático, pois a gengivite e a periodontite podem estar
presente em um mesmo indivíduo simultaneamente ou
Figura 1
Diagrama esquemático da multifatoriedade da doença periodontal. em diferentes momentos.
Muitos são os exames periodontais descritos na
Diagnóstico clínico literatura. Todavia, daremos destaque aqui aos mais uti-
Depois de esgotada todas as informações perti- lizados na rotina de um clínico ou periodontista.
nentes a história geral de saúde do indivíduo e, espe- A sondagem periodontal representa o único méto-
cificamente, da história dentária o próximo passo é a do para detectar e medir as bolsas periodontais. Esta son-
observação clínica. dagem pode ser realizada por instrumentos manuais, por
O exame clínico periodontal deve, inicialmente, sondas de pressão calibrada ou ainda por sondas eletrôni-
detectar a presença ou ausência de qualquer entidade cas. A determinação do tipo de sonda a ser utilizada está

330 Revista PerioNews 2007;1(4):329-34


[ Periodontia ]

relacionada à natureza do exame periodontal; porém, a periodontal, onde, nas faces vestibular, lingual, mesial
calibração e o treinamento do operador passa a ser impe- e distal, quantifica-se ao biofilme existente. Com scores
rativo independente do método de sondagem adotado. variando de 0 a 3, obtêm-se a média de biofilme no den-
Os principais parâmetros clínicos compreendem te e, posteriormente, em toda a boca.
a avaliação da profundidade do sulco gengival men- Por sua vez o Índice Gengival10 de forma similar
surada pela avaliação da Profundidade de Sondagem ao índice de placa também é categórico medindo o ní-
(medida que corresponde à distância da margem gen- vel de sangramento gengival nas quatro faces dentais.
gival até a porção mais apical sondável) e da inserção Os mesmos scores variando entre 0 e 3 são obtidos de
de tecido conjuntivo na superfície radicular quando cada dente e de toda a boca.
examinamos o Nível Clínico de Inserção (medida que
corresponde à distância da junção amelodentinária até Diagnóstico radiográfico
a porção mais apical do sulco/bolsa periodontal, no ato A utilização de imagens radiográficas em Perio-
da sondagem periodontal)7. dontia tem sido durante décadas uma valiosa ferramenta
As medidas de profundidade de sondagem não auxiliar no diagnóstico, plano de tratamento e controle
fornecem as melhores informações sobre a história da doença periodontal. Os exames mais comumente uti-
pregressa da doença, uma vez que a margem gengival lizados são os intrabucais do tipo periapical, quando é
pode variar tanto em direção coronária quanto apical. necessária a visualização de todo o elemento dental e es-
Essa variação esta relacionada à manifestação clínica da truturas circunvizinhas (Figuras 4 e 5), e do tipo bite-wing,
doença, por exemplo: nos casos de gengivite, em fun- quando a observação detalhada da crista óssea é reque-
ção do processo inflamatório a margem gengival tende rida. Mas quando da realização dos exames radiográfi-
a se posicionar mais coronariamente, enquanto nos ca- cos algumas limitações devem ser consideradas como
sos de periodontite, a margem gengival pode se locali- por exemplo, a possível sobreposição de estruturas11, a
zar apicalmente em decorrência da recessão gengival. necessidade de alteração de 30% a 50 % do conteúdo
O nível clínico de inserção é considerado o melhor parâ- mineral para detecção12 e a imprecisão das mensurações
metro clínico para estabelecer a progressão da doença obtidas por meio das imagens radiográficas.
periodontal, justamente por não estar na dependência
do posicionamento da margem gengival, e sim, a uma
referência anatômica fixa que é a junção cemento-es-
malte, sendo possível, a partir da mesma, investigar a
Figura 4
presença e a extensão da perda de inserção clínica7. Radiografia
Historicamente a condição gengival do pacien- periapical
te era caracterizada apenas por aspectos clínicos como de paciente
portador de
presença espontânea ou provocada de sangramento defeito ósseo
gengival, alterações na textura, coloração, forma, con- vertical.
sistência e contorno gengival. Todavia, sabe-se atual-
mente que estas características podem variar de indi-
víduo para indivíduo na dependência, por exemplo, de
fatores étnicos ou idade, não caracterizando assim o
estado saúde-doença do indivíduo. A partir de então, a
incorporação de outros índices gengivais devem ser in-
cluídos quando da realização dos exames periodontais.
O Índice de Higiene Oral8 representa um exame
amplamente utilizado para caracterizar a qualidade do
controle do biofilme dental realizada pelo paciente.
Assim, com o auxílio de substâncias evidenciadoras,
determina-se percentualmente a presença do biofilme Figura 5
Radiografia periapical de
sobre superfícies dentais. Já o Índice de Placa9 estabe- paciente portador de defeito
lece de forma categórica e com auxílio de uma sonda ósseo horizontal.

Revista PerioNews 2007;1(4):329-34 331


Cortelli JR • Roman-Torres CVG • Aquino DR • Cortelli SC

Avanços tecnológicos nos aparelhos radiográfi-


cos, bem como as radiografias digitais e o emprego de
programas de informática têm resultado em significan-
te redução das doses de radiação e aumento na quali-
dade das imagens obtidas.
As radiografias digitais permitem uma correção
nos níveis de cinza da radiografia resultando melhor vi-
sualização em alguns casos, mas não proporcionam um
aumento na eficácia do diagnóstico periodontal, não Figura 7
substituindo as radiografias convencionais na avaliação Coleta microbiológi-
ca realizada
do nível ósseo alveolar13, e não mostrando diferenças com Swab.
significantes quando comparadas com as radiografias
comumente utilizadas14.

Diagnóstico microbiológico
Muito se discute atualmente sobre a impor-
tância de se determinar o perfil microbiológico de
pacientes portadores de doença periodontal. No en- Figura 8
Coleta mi-
tanto, como a etiologia da doença periodontal é fun- crobiológica
damentalmente infecciosa, decorrente da coloniza- realizada
ção de inúmeras bactérias específicas, a identificação com cureta
periodontal.
desses patógenos pode ser fundamental para o es-
tabelecimento de um correto diagnóstico e posterior Muitos são os testes microbiológicos diretos ou
plano de tratamento. indiretos disponíveis. Entre estes podemos citar a mi-
Porém, a identificação dos patógenos relaciona- croscopia de campo escuro e de contraste de fase, Elisa
dos com doença periodontal encontra dificuldades jus- (enzyme-linked immunosorbent assay), imunofluores-
tamente no grande número de espécies e subespécies cência, ensaios de aglutinação do látex, cultura, Reação
bacterianas que podem estar associadas aos tipos de em Cadeia da Polimerase (PCR), PCR em tempo real,
doença. Portanto, diante dessa infecção polimicrobia- Checkerboard DNA-DNA Hybridization e Amplificação
na, que é a doença periodontal, cabe ao periodontista e clonagem de gene 16S rDNA.
saber indicar qual a melhor hipótese de testes micro- Algo a ser considerado quando da seleção do tes-
biológicos para identificar os patógenos envolvidos. In- te é a relação custo/benefício, uma vez que alguns desses
dependente do teste escolhido, todos partirão de uma
coleta microbiológica, que pode ser feita com auxílio
de cone de papel, Swab, fio dental, cureta peridontal,
palitos de madeira, micropipetas, tiras de papel, entre
outros (Figuras 6, 7 e 8).

Figura 6
Coleta mi-
crobiológica Figura 9
realizada com Termociclador
cone de papel. utilizado na PCR.

332 Revista PerioNews 2007;1(4):329-34


[ Periodontia ]

testes, sobretudo os de biologia molecular, podem ser Em geral, os fatores de virulência bacteriana
muito dispendiosos. Atualmente, testes que se utilizam irão desafiar o hospedeiro a aumentar a resposta fren-
de técnicas de biologia molecular, como a reação em ca- te a uma invasão, com o objetivo de minimizar os efei-
deia da polimerase (PCR), têm sido largamente utilizados tos nocivos dos microorganismos e seus subprodutos.
devido a sua grande sensibilidade. (Figuras 9 e 10). Isso indicaria que não é a espécie bacteriana que está
relacionada à doença, contudo, mais freqüentemente
uma variante específica ou seu fator de virulência está
causando a doença e indicaria com freqüência um pa-
drão específico molecular que poderia estar associado
à doença, ao invés de meramente a presença da espécie
bacteriana16.
O fluido gengival é uma complexa mistura de
substâncias composta de células derivadas do tecido
Figura 10 epitelial, tecido conjuntivo, tecido ósseo, sangue, leucó-
Fotografia de gel
citos e microorganismos bucais. A destruição tecidual
de agarose com
amostras proces- durante a inflamação periodontal resulta na produção
sadas por PCR com de resíduos teciduais e fatores de crescimento produ-
primer específico
para P. gingivalis. zidos no fluido gengival. Essas substâncias refletem o
processo da doença periodontal e devem ser usadas
Diagnóstico imunológico como indicadores da condição periodontal. A doença
A resposta imunológica libera de forma natu- periodontal provoca degradação tecidual e as protea-
ral uma quantidade de mediadores inflamatórios que ses tanto do hospedeiro quanto dos microorganismos
quando alterada e associada a produtos de degradação são fundamentais no processo de destruição. As prote-
tecidual podem fornecer importantes respostas na pato- ases são moléculas que dividem as proteínas por meio
gênese das doenças periodontais. A doença periodontal da hidrólise de ligações peptídicas e sua liberação na
propriamente dita, os microorganismos envolvidos, a re- área do sulco gengival promove reações inflamatórias
gulação celular e as reações teciduais durante o estado in- e contribui para causar danos ao tecido conjuntivo. O
flamatório representam atualmente o grande desafio das local ideal para coleta de amostras para avaliação da ati-
pesquisas básica e clínica. Não está totalmente definido vidade proteolítica é o sulco gengival onde os eventos
o papel de diferentes enzimas na inflamação e no tecido inflamatórios da doença periodontal terão início e por
de reparação. Muitos testes têm sido desenvolvidos para vezes perpetuação. A análise do fluido gengival propor-
aumentar a sensibilidade e a especificidade, bem como ciona uma condição auxiliar no diagnóstico e tratamen-
o potencial de predizer o início da doença periodontal. A to da doença periodontal. O periodonto inflamado é
utilização de testes imunológicos (Figura 11) de amostras caracterizado por uma constante, e, por vezes, intensa
coletadas do fluido gengival baseados na detecção de infiltração de neutrófilos, que migram dos vasos san-
enzimas, produtos da degradação tecidual ou citocinas güíneos para o sulco gengival/bolsa periodontal onde o
podem indicar o início da doença, períodos de ativação biofilme subgengival e fluido gengival estão presentes.
da doença ou a manutenção do estado de saúde15. Níveis elevados de atividade proteolítica foram iden-
tificados no fluido gengival de pacientes com doença
periodontal, onde proteases endógenas (serine-protei-
nase 3 do neutrófilo, MMPs) e exógenas (proteases bac-
terianas) combinam-se para mediar a degradação do
tecido conjuntivo17.
Figura 11 Alguns microorganismos como Porphyromonas
Coleta do gingivalis18, Aggregatibacter actinomycetemcomitans19,
fluido gengival
Treponema denticola e Tanerella fosythia20 produzem di-
para a reali-
zação de teste versos fatores que podem estimular as células do hos-
imunológico. pedeiro e ativar uma variedade de respostas que levam

Revista PerioNews 2007;1(4):329-34 333


Cortelli JR • Roman-Torres CVG • Aquino DR • Cortelli SC

à produção de potentes mediadores inflamatórios tais teolíticas podem ser um importante método auxiliar na
como, o metabólito do ácido araquidônico, prostaglan- identificação de patologias periodontais.
dina E, enzimas como as metaloproteases (MMPs) e as
citocinas: interleucina IL-1α, IL-6 e IL-8 e fator de necrose CONCLUSÃO
tumoral TNF-α21 que podem ser identificadas no fluido
gengival servindo como indicadores do estado atual in- Os exames clínicos e radiográficos representam
flamatório. as ferramentas mais utilizadas na prática clínica em fun-
A mensuração da atividade das proteases no flui- ção de seu baixo custo, relativa facilidade de execução
do gengival tem sido utilizada para detectar a presen- e quando devidamente operados, estabelecem um cor-
ça de patógenos periodontais em amostras de coletas reto diagnóstico da condição do indivíduo. Por outro
subgengivais. Por esta razão tem sido estudada como lado, os exames microbianos e imunológicos oferecem
contribuintes em potencial para a patogenicidade da a possibilidade de uma identificação da condição perio-
doença22 e permitirem verificar o estado atual da doen- dontal ainda numa fase anterior ao aparecimento dos
ça, traçar um plano de tratamento e ter um prognóstico sinais e sintomas clínicos da doença.
muito mais próximo do ideal23. Fortes evidências impli-
Recebido em: ago/2007
cam as enzimas proteolíticas produzidas por microor- Aprovado em: out/2007
ganismos no biofilme subgengival na patogenicidade
Endereço para correspondência:
da doença periodontal e que a força da ação proteolíti-
José Roberto Cortelli
ca e contribuição de diferentes espécies consideradas Rua Nelson Freire Campelo, 343 - Jardim Eulália
patógenos periodontais não são iguais. A identificação 12010-700 - Taubaté - SP
Tel.: (12) 3631-2373
dos patógenos e a avaliação do nível de enzimas pro- jrcortelli@uol.com.br

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334 Revista PerioNews 2007;1(4):329-34


relato de caso clínico

Regeneração tecidual guiada


no tratamento de defeito intra-ósseo.
Relato de caso clínico
Guided tissue regeneration for the treatment of
periodontal intrabony defect. Case report
Patrícia Freitas de Andrade*, Maria Emília Felipe**, Flávia Adelino Suaid***,
Márcio Fernando de Moraes Grisi****, Daniela Bazan Palioto****, Sérgio Luís Scombatti de Souza****,
Mário Taba Júnior****, Arthur Belém Novaes Júnior*****

RESUMO
Fatores relacionados ao paciente, ao defeito perio- No pós-operatório de seis meses, o exame radiográfico
dontal, ao procedimento cirúrgico e aos cuidados evidenciou a formação óssea com presença de lâmina
pós-operatórios determinam a previsibilidade dos dura bem definida na região do defeito e o exame clíni-
resultados da terapia de regeneração tecidual guiada co constatou uma redução de 6 mm da profundidade
(RTG). Este trabalho relata um caso clínico de um pa- de sondagem e um ganho clínico de inserção de 7 mm.
ciente tratado na clínica de pós-graduação da Forp- Os exames clínico e radiográfico, após 30 meses da re-
USP, com diagnóstico de periodontite crônica genera- alização da RTG, demonstraram a estabilidade destes
lizada e severa. Após o devido tratamento periodontal resultados. Dessa forma, concluímos que os excelen-
dos demais sítios da cavidade bucal, foi realizada a tes resultados clínicos podem ser alcançados no tra-
técnica de RTG associada ao enxerto de vidro bioativo tamento de defeitos intra-ósseos através da terapia
para tratamento de um defeito intra-ósseo de duas de RTG associada ao enxerto de vidro bioativo, desde
paredes ósseas localizado na região mesial do dente que os inúmeros fatores capazes de afetar a previsibi-
13, o qual apresentava 9 mm de profundidade de son- lidade sejam observados e controlados.
dagem e 10 mm de perda de inserção clínica e que Unitermos - Periodontite; Regeneração tecidual guiada;
estava associado a uma deiscência óssea vestibular. Enxerto ósseo.

ABSTRACT
Factors related to the patient, periodontal defect, surgical performed. At the 6-month postoperative visit, the radio-
treatment, and postoperative period determine the pre- graphic exam demonstrated the formation of a new bone
dictability of guided tissue regeneration (GTR). The aim of with the presence of a well-defined lamina dura, and in the
this paper is to report a clinical case of a patient diagnosed clinical exam, it was observed a reduction in probing depth
with severe generalized chronic periodontitis, and treated of 6 mm, and a clinical attachment gain of 7 mm. These
with GTR in combination with the graft of bioactive glass. results have been maintained for 30 months. Conclusion:
Following the elevation of a mucoperiosteal flap, a 2-wall excellent clinical results can be achieved in the GTR treat-
intrabony defect localized on the mesial of the maxillary ment of periodontal intrabony defects, since many factors,
right canine with probing depth of 9 mm, and clinical at- which may affect the predictability of the results, have been
tachment level of 10 mm, and associated to buccal bone observed, and controlled.
dehiscence, was debrided, the exposed root surface was Key Words - Periodontitis; Guided tissue regeneration;
scaled and planned, and the regenerative therapy was Bone graft.

Autor convidado: Arthur Belém Novaes Júnior


* Mestre e Doutoranda em Periodontia pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP.
** Mestre em Periodontia pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP.
*** Mestranda em Periodontia pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP.
**** Professor Associado do Departamento de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP.
***** Professor Titular do Departamento de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP.

336 Revista PerioNews 2007;1(4):336-42


[ Periodontia ]

INTRODUÇÃO pós-operatórios, que podem também influenciar os


resultados9.
O tratamento periodontal visa, primariamente, o
restabelecimento das condições de saúde e a manuten- RELATO DE CASO CLÍNICO
ção desta em longo prazo, de forma a evitar a progressão
da doença. Entretanto, em determinadas situações clíni- Paciente ID, sexo masculino, 54 anos, compare-
cas, a regeneração dos tecidos periodontais perdidos ceu à clínica de pós-graduação da Forp-USP, queixan-
(formação de novo osso, cemento e ligamento perio- do-se de inflamação gengival. Após a realização da
dontal) em decorrência do processo de doença, torna- anamnese e dos exames clínicos e radiográficos, o diag-
se também um objetivo a ser alcançado1. nóstico estabelecido foi de Periodontite Crônica Gene-
Estudos histológicos realizados em animais e hu- ralizada Severa.
manos demonstram o potencial regenerativo da técni- Quarenta e cinco dias após a terapia inicial (re-
ca denominada regeneração tecidual guiada (RTG)2-6. O moção de fatores retentivos de placa, instruções de hi-
seu princípio biológico baseia-se na utilização de uma giene oral, sessões de raspagem/alisamento radicular e
membrana interposta entre o retalho periodontal e a polimento coronário), foi realizada a reavaliação do pa-
superfície radicular tratada, visando, seletivamente, ex- ciente. Neste exame, clinicamente, determinou-se para
cluir o tecido conjuntivo gengival e impedir a prolifera- o elemento dental 13 as seguintes profundidades de
ção apical do epitélio, ao mesmo tempo em que permite sondagem (PS) e níveis clínicos de inserção (NCI): sítio
a criação de um espaço protegido no interior do defeito distovestibular (PS=5 mm; NCI=5 mm); centro da face
ósseo, que será repovoado pela migração coronária de vestibular (PS=3 mm; NCI=5 mm); sítio mesiovestibular
células provenientes do ligamento periodontal e dos (PS=9 mm; NCI=10 mm); sítio distopalatino (PS=3 mm;
espaços medulares do osso alveolar. NCI=2 mm); centro da face palatina (PS=1 mm; NCI=0
Segundo o World Workshop in Periodontology7, mm) e sítio mesiopalatino (PS=3 mm; NCI=2 mm). Os
organizado pela Academia Americana de Periodontia exames clínico e radiográfico sugeriram a presença de
em 1996, o procedimento de RTG está indicado para o um defeito intra-ósseo de duas paredes localizado na
tratamento de defeito intra-ósseo, lesão de bifurcação região mesiovestibular deste dente (Figuras 1 e 2).
Classe II vestibular em molar superior e vestibular e lin-
gual em molar inferior e, também, para casos de deis-
cências ósseas, com a finalidade de melhorar a anato-
mia local, função e o prognóstico dos dentes.
Após mais de 20 anos de seu surgimento, cons-
tata-se ainda uma grande variação na previsibilidade
clínica da RTG. Esta técnica é altamente sensível, visto Figura 1
que a sua previsibilidade pode ser influenciada por múl- Imagem
clínica pré-
tiplos fatores relacionados ao paciente, ao tipo de de- operatória.
feito ósseo, ao procedimento cirúrgico e aos cuidados
pós-operatórios8-11.
Entretanto, a compreensão dos fatores que
determinam os resultados clínicos da RTG tornou seu
controle, pelo menos em parte, possível, permitindo
consideráveis melhorias em relação à previsibilidade.
Desta forma, a indicação do procedimento de RTG
deve ser baseada em evidências científicas, levando-
se em consideração as características do paciente e
do defeito periodontal, de modo a possibilitar o al-
cance de melhores resultados clínicos. Além disso,
Figura 2
o profissional deve estar ciente das condições rela- Imagem radiográfica pré-
cionadas ao procedimento cirúrgico e aos cuidados operatória.

Revista PerioNews 2007;1(4):336-42 337


Andrade PF • Felipe ME • Suaid FA • Grisi MFM • Palioto DB • Souza SLS • Taba Jr M • Novaes Jr AB

Levando-se em consideração a morfologia deste e suturas com fio de PTFE-e (Gore-Tex) foram realizadas.
defeito, e que este paciente não era fumante, apresen- Uma sutura complementar com fio de nylon 5-0 foi feita
tava uma ótima condição de saúde geral e a sua coope- no dente 13, de modo a assegurar o recobrimento total
ração e motivação com o tratamento refletidos através da membrana pelo retalho (Figura 8).
dos baixos índices de placa e gengival (IP e IG, respec-
tivamente), constatados no exame de reavaliação, indi-
cou-se a realização da RTG para o tratamento do defeito
ósseo localizado na mesial do dente 13.
No exame de reavaliação, constatou-se, também, a
recuperação das condições de saúde na maioria dos sítios
Figura 3
periodontais (diminuição das profundidades de sonda- Deslocamento
gem, ausência de sangramento gengival e ganho clínico do retalho
de inserção); para os sítios que ainda apresentavam sinais total.

indicadores da doença, optou-se pela realização de novos


procedimentos de raspagem e alisamento radicular e
uma cirurgia foi realizada no sextante superior esquerdo
para a ressecção da raiz distovestibular do dente 27.
Após a finalização do tratamento periodontal
Figura 4
dos demais sítios da cavidade bucal, foi realizado o
Raspagem /
procedimento de RTG no dente 13. Para tal, após anti- alisamento
sepsia extra e intrabucal e anestesia infiltrativa, incisões da superfície
radicular.
intra-sulculares a partir da distal do dente 11 à mesial
do dente 15 e duas incisões relaxantes (distal do 11 e
mesial do 15) foram realizadas. Um retalho de espes-
sura total foi deslocado até ultrapassar cerca de 3 mm
a margem apical do defeito (Figura 3). O tecido granu-
lomatoso foi removido com curetas de Goldman-Fox e
as superfícies radiculares foram devidamente raspadas Figura 5
Condicio-
e alisadas com curetas de Gracey (Figura 4). Um gel de namento
Edta a 24% (pH=7,2) foi aplicado sobre a raiz dentária químico
com Edta.
por dois minutos (Figura 5) e, em seguida, uma abun-
dante irrigação com solução salina estéril foi feita. Du- Figura 6
rante o procedimento cirúrgico, constatou-se que o Membrana
não absorvível
defeito intra-ósseo de duas paredes estava associado
de politetra-
a uma deiscência óssea na face vestibular e, portanto, fluoretileno
considerando-se a morfologia deste defeito periodon- expandido
(PTFE-e
tal, decidiu-se associar um enxerto particulado à mem- – Gore-Tex
brana não absorvível de politetrafluoretileno expandido GTN2) adapta-
da e suturada
(PTFE-e – Gore-Tex GTN2). Esta foi recortada para que
ao dente.
pudesse recobrir o defeito, estendendo-se 3 mm além
das margens ósseas em sentido lateral e apical e, em
seguida, foi adaptada ao dente através de uma sutura Figura 7
do tipo suspensório (Figura 6). Posteriormente, a mem- Enxerto
aloplástico de
brana foi cuidadosamente levantada com o auxílio de
vidro bioativo
uma pinça cirúrgica para permitir a inserção do enxerto (Biogran)
aloplástico de vidro bioativo (Biogran) no interior do de- inserido no
interior do de-
feito (Figura 7). Por fim, o retalho foi deslocado coronal- feito ósseo sob
mente após a liberação de tensões na sua porção apical a membrana.

338 Revista PerioNews 2007;1(4):336-42


[ Periodontia ]

cedimento cirúrgico, o paciente foi avaliado e foram


realizadas profilaxias profissionais com uma, duas, três
e quatro semanas de pós-operatório e, posteriormente,
após dois, três, seis, nove, 12, 18, 24 e 30 meses.
No exame clínico realizado após seis meses da
Figura 8 cirurgia de RTG, verificou-se uma profundidade de son-
Suturas após o dagem e nível clínico de inserção de 3 mm na mesial do
deslocamento
coronal do dente 13 (Figura 9). No exame radiográfico observou-se
retalho. o preenchimento ósseo de toda a extensão do defeito
e a presença de uma lâmina dura bem definida (Figura
O paciente foi orientado a interromper a escova- 10). Este resultado permaneceu estável, como demons-
ção da área operada e a ter um cuidado especial para tra os exames clínico e radiográfico realizados aos 30
não traumatizá-la ou pressioná-la durante o período meses de pós-operatório (Figuras 11 e 12).
inicial de seis semanas. Além disso, foi instruído a fazer
bochechos com digluconato de clorexidina a 0,12%,
duas vezes ao dia, durante duas semanas. As suturas
foram removidas após este período e, neste momento,
o paciente foi instruído a limpar a área operada com
cotonete embebido na solução de clorexidina a 0,12%, Figura 9
duas vezes ao dia, durante as próximas quatro semanas. Profundidade
de sondagem
A remoção da membrana foi feita seis semanas após a aos seis meses
cirurgia de RTG e durante todo este período, o pacien- de pós-opera-
tório.
te foi avaliado semanalmente e profilaxias profissionais
foram realizadas.
Foram prescritos ao paciente o antiinflamató-
rio Nimesulida (100 mg, a cada 12 horas, durante os
três primeiros dias de pós-operatório), para o controle
da dor e edema e o antibiótico Amoxicilina associado
ao Clavulanato de Potássio (875 mg, a cada 12 horas,
iniciando-se 24 horas antes do procedimento cirúr-
gico e estendendo-se por dez dias), para o controle
da contaminação bacteriana e prevenção de infecção
no sítio cirúrgico. Além disso, devido à exposição da
membrana na primeira semana de pós-operatório, foi Figura 10
Imagem radiográfica
prescrito o antibiótico Doxiciclina 100 mg, a cada 12 após seis meses da
horas, no décimo primeiro dia de pós-operatório e a realização da RTG,
evidenciando o
cada 24 horas, a partir do décimo segundo dia até a
preenchimento ósseo
remoção da membrana. de toda a extensão
Seis semanas após a RTG, um retalho cirúrgico do defeito.

foi rebatido o suficiente para permitir a remoção cui-


dadosa da membrana e posicionado, de modo que os
tecidos neoformados pudessem ficar absolutamente
recobertos pelo retalho. O paciente realizou bochechos
com solução de clorexidina a 0,12%, duas vezes ao dia, Figura 11
durante as primeiras duas semanas de pós-operatório Profundidade
e após este período, as suturas foram removidas. A par- de sondagem
após 30 meses
tir deste momento, o paciente foi instruído a reiniciar da realização
a escovação da área operada. Após este segundo pro- da RTG.

Revista PerioNews 2007;1(4):336-42 339


Andrade PF • Felipe ME • Suaid FA • Grisi MFM • Palioto DB • Souza SLS • Taba Jr M • Novaes Jr AB

O paciente do presente relato apresentou condi-


ções favoráveis que permitiram a indicação da técnica:
não era fumante e não apresentava doenças sistêmicas
ou história de outros envolvimentos que pudessem pôr
em risco a previsibilidade da RTG8-11. A cooperação e
a motivação do paciente refletidas através dos baixos
índices de placa e de sangramento gengival no exame
de reavaliação (IP e IG < 15%) também foram relevantes
para a indicação da terapia regenerativa8-11. Todavia, é
preciso ressaltar que os demais sítios da cavidade bucal
Figura 12
foram devidamente tratados previamente à realização
Imagem radiográfica
após 30 meses da realização da RTG no dente 13, visto que indivíduos que apresen-
da RTG, evidenciando a tam múltiplas bolsas periodontais e sangramento à
estabilidade do preenchi-
mento ósseo de toda sondagem em outros sítios da cavidade bucal apresen-
a extensão do defeito. tam um maior risco de contaminação das membranas,
quando estas são manipuladas na cavidade oral duran-
DISCUSSÃO te a realização do procedimento cirúrgico de RTG12-13.
Fatores locais relacionados ao defeito também
Este artigo apresentou um relato de caso clínico foram determinantes para a indicação da RTG, tais
de um paciente submetido à técnica de RTG associada como: boa faixa de mucosa ceratinizada e espessura
a um enxerto de vidro bioativo para tratamento de um gengival superior a 1 mm. Estas condições clínicas dimi-
defeito intra-ósseo de duas paredes combinado a uma nuem o risco de ocorrência de recessões gengivais com
deiscência óssea. No exame radiográfico realizado seis conseqüente exposição de membranas no período pós-
meses após a RTG pôde ser observado o preenchimento operatório, o que poderia prejudicar os resultados da
de toda a extensão do defeito ósseo e no exame clíni- RTG14; o defeito intra-ósseo possuía duas paredes, sen-
co, verificou-se uma redução de 6 mm na profundidade do estreito e profundo. A literatura relata que defeitos
de sondagem e um ganho clínico de inserção de 7 mm. de duas ou três paredes ósseas parecem apresentar um
A estabilidade destes resultados está sendo mantida, maior potencial regenerativo9, visto que quanto maior o
como demonstra os exames clínico e radiográfico rea- número de paredes circundantes, maior será o número
lizados aos 30 meses de pós-operatório. As evidências de fontes potenciais fornecedoras de células capazes de
científicas demonstram de fato um claro benefício do diferenciação em cementoblastos, osteoblastos e liga-
uso de membranas no tratamento de defeitos intra-ós- mento periodontal funcionalmente inserido. Além disso,
seos. Entretanto, após mais de 20 anos do surgimento parece lícito considerar que defeitos com maior número
da RTG, constata-se ainda uma grande variabilidade nos de paredes proporcionarão uma melhor estabilização
resultados clínicos entre os inúmeros estudos presen- da membrana e do coágulo, otimizando o prognóstico
tes na literatura, o que torna muito difícil a realização da técnica. Em contrapartida, algumas pesquisas falha-
de uma efetiva comparação entre eles. Isto ocorre em ram em demonstrar uma significante associação entre o
função das diferentes metodologias utilizadas, como número de paredes ósseas residuais e os resultados clíni-
por exemplo, níveis de placa dos pacientes, inclusão de cos alcançados após a realização da RTG10,13,15. Entretan-
fumantes nas amostras, severidade dos defeitos, tipo de to, por outro lado, evidências científicas demonstram
retalho, experiência do operador, freqüência da terapia que defeitos ósseos estreitos e profundos apresentam
de manutenção etc. O presente relato de caso corro- um maior potencial regenerativo, quando comparados
bora evidências científicas, as quais demonstram que a aos defeitos largos e rasos10,15. Os melhores resultados
RTG pode realmente propiciar excelentes resultados clí- verificados neste tipo de defeito ósseo podem ser atri-
nicos, desde que os fatores capazes de afetar a previsibi- buídos à menor distância a ser percorrida pelas células
lidade sejam considerados previamente à sua indicação progenitoras até a superfície radicular, ao menor risco
e durante a realização e controle pós-operatório desta de colabamento da membrana no interior do defeito
técnica cirúrgica9. ósseo e à maior estabilidade do coágulo. Diante do ex-

340 Revista PerioNews 2007;1(4):336-42


[ Periodontia ]

posto, é possível concluir que o defeito intra-ósseo do fechamento propiciaria a contaminação dos tecidos a
presente relato de caso era um bom candidato à RTG. serem regenerados e prejudicaria a atividade biológica
Na realização do procedimento cirúrgico, cuida- do biomaterial inserido no interior do defeito ósseo9.
dos essenciais para o sucesso da técnica foram observa- Além de todos os fatores já citados, cuidados
dos: antibioticoterapia para prevenção da infecção no no período pós-operatório foram também essenciais
sítio cirúrgico16,17; realização de incisões intra-sulcula- para o alcance do excelente resultado clínico, como por
res, preservando-se ao máximo as papilas interdentais exemplo, o controle da contaminação bacteriana sobre
e de um retalho amplo o suficiente para permitir um a membrana exposta na cavidade oral e a realização
adequado debridamento do defeito periodontal e po- da terapia periodontal de suporte. Muitos estudos têm
sicionamento da membrana; efetiva descontaminação demonstrado que membranas expostas e infectadas
das superfícies radiculares através de procedimentos estão associadas a um menor ganho ósseo e de inser-
de raspagem/alisamento radicular e condicionamento ção periodontal24-26. Entretanto, o risco de infecção da
químico da raiz com gel de Edta. A aplicação deste teve membrana pode ser minimizado pelo uso de antibió-
a finalidade de remover a smear layer decorrente dos ticos e aplicação tópica de digluconato de clorexidina
procedimentos de raspagem/alisamento radicular e no período pós-operatório, como já demonstrado por
permitir a exposição e preservação das fibras colágenas alguns autores27. Diante destas evidências científicas,
através de sua ação desmineralizante sobre o cemento um protocolo antimicrobiano foi prescrito ao paciente
e dentina18. Além disso, estudos histológicos realizados até a realização da cirurgia para a remoção da membra-
em animais já demonstraram que quando comparada à na. Além disso, a instituição de um programa regular de
utilização de outros agentes químicos, a aplicação deste terapia periodontal de suporte, visando um efetivo con-
gel propicia uma melhor cicatrização da ferida periodon- trole de placa no período pós-operatório, assim como a
tal em função de seu pH neutro19-20; utilização da mem- manutenção e a estabilidade dos tecidos neoformados,
brana não absorvível de PTFE-e (Gore-Tex), considerada foi absolutamente essencial para a obtenção do exce-
como gold-standard na RTG21 (a sua porção coronal lente resultado clínico28-29.
possui um colarinho espesso, o que garante uma me-
lhor adaptação da membrana ao dente), e a associação CONCLUSÃO
desta ao enxerto de vidro bioativo (Biogran), visto que o
defeito intra-ósseo de duas paredes estava associado a A técnica de regeneração tecidual guiada pode
uma deiscência óssea vestibular. A utilização do enxerto ser indicada para o tratamento de defeitos periodontais
visou à manutenção do espaço sob a membrana, de for- intra-ósseos; entretanto, o profissional precisa ter em
ma a evitar o seu colabamento para o interior do defeito mente que o sucesso desta terapia depende do conhe-
ósseo. A escolha pelo vidro bioativo (Biogran) foi feita cimento e controle, se possível, dos múltiplos fatores de
em função de suas características: é um biomaterial alo- risco relacionados ao paciente, ao defeito ósseo, ao pro-
plástico e, portanto, não oferece risco de transmissão de cedimento cirúrgico e ao período pós-operatório, que
doença ao paciente, apresenta um baixo custo, é absor- podem interferir diretamente na previsibilidade dos re-
vível e composto por partículas de tamanho uniforme, sultados clínicos.
o que parece favorecer a regeneração óssea. Além disso,
Endereço para correspondência:
estudos relatam que este biomaterial contém uma pro-
Patrícia Freitas de Andrade
priedade distinta da osteoindução e da osteocondução, Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - Universidade de São
denominada de osteoestimulação, em que há uma de- Paulo
Av. do Café, S/N
posição inicial de novo osso no interior das partículas 14040-904 - Ribeirão Preto - SP
do vidro bioativo a certa distância das paredes ósseas Tel.: (16) 3602-3980
patriciafandrade@hotmail.com
do defeito, o que parece também otimizar a formação
de um novo osso22-23; adequada adaptação e sutura
da membrana; fenestração do periósteo para permitir
o posicionamento coronal do retalho e recobrimento
completo da membrana; fechamento do retalho por
primeira intenção, uma vez que a ausência deste tipo de

Revista PerioNews 2007;1(4):336-42 341


Andrade PF • Felipe ME • Suaid FA • Grisi MFM • Palioto DB • Souza SLS • Taba Jr M • Novaes Jr AB

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342 Revista PerioNews 2007;1(4):336-42


revisão da literatura [ Periodontia ]

Obesidade: atual fator de risco


às doenças periodontais?
Obesity: current risk factor to the periodontal diseases?

Elizangela Partata Zuza*, Benedicto Egbert Corrêa de Toledo*,


Patrícia Helena Rodrigues de Souza*, Marcela Milanezi de Almeida**

RESUMO
Estudos recentes têm demonstrado que a obesi- pacientes obesos, também perpetuam a inflama-
dade tornou-se um problema de saúde pública, ção nas estruturas periodontais. Os resultados re-
além de contribuir para o desenvolvimento de centes em torno desse tema têm aberto lacunas
algumas doenças sistêmicas. Outro fator que tem para novas pesquisas que visem abrandar esse
sido foco de algumas pesquisas atuais é a inter- problema, verificando, principalmente, as causas
relação entre a obesidade e a doença periodon- relacionadas ao aumento da prevalência de pe-
tal, sugerindo que pacientes obesos apresentem riodontites nesse grupo de pacientes, verificando
uma maior predisposição para o acometimento e sua prevalência em diferentes populações e bus-
a progressão de periodontites. Isso acontece pelo cando terapias que resolvam efetivamente essa
fato do tecido adiposo secretar citocinas pró-infla- questão. Neste contexto, o objetivo deste estudo
matórias proporcionais à massa corporal do indi- foi realizar uma revisão da literatura, mostrando o
víduo, levando a um estado inflamatório crônico papel da obesidade como atual fator de risco rela-
que se associa a várias seqüelas comportamentais, cionado às doenças periodontais.
metabólicas, imunológicas e cardiovasculares. Es- Unitermos - Obesidade; Doença periodontal; Epi-
sas citocinas secretadas em maior quantidade em demiologia.

ABSTRACT
Recent studies have been demonstrating that the quels. Those citokynes secreted in larger amount in
obesity became a problem of public health, besides obese patient also perpetuate the inflammation in
contributing for the development of some systemic the periodontal structures. Recent results concerning
diseases. Another factor that has been focus of some this subject have evidenced the need for new resear-
current researches is the interrelation between the ches to minimize these problems, mainly verifying
obesity and the periodontal disease, suggesting the causes related to the increase of the periodontitis
that obese patient present a larger predisposition prevalence in that group of patients, the prevalence
for the installation and progression of periodonti- in different populations and looking for efficient the-
tis. It happens because fatty tissue secrete propor- rapies. In this context, the objective of this study was
tional pro-inflammatory citokynes according to to accomplish a literature review, showing the role of
the individual’s corporal mass, taking to a chronic the obesity as current risk factor related to the perio-
inflammatory state associated to several behavior, dontal diseases.
metabolic, immunological and cardiovascular se- Key Words - Obesity; Periodontal disease; Epidemiology.

* Professores do Curso de Pós-Graduação em Periodontia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos.
** Aluna do Curso de Graduação em Odontologia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos.

Revista PerioNews 2007;1(4):343-8 343


Zuza EP • Toledo BEC • Souza PHR • Almeida MM

INTRODUÇÃO propomo-nos a realizar uma revisão da literatura para


avaliar os achados existentes sobre o risco da obesidade
A prevalência da doença periodontal tem au- para o desenvolvimento de doenças periodontais.
mentado nas últimas décadas. Alguns fatores podem
contribuir para a elevação do risco às periodontites, REVISÃO DA LITERATURA E DISCUSSÃO
dentre eles, as doenças sistêmicas (diabetes, osteopo-
rose, hipertensão), estresse, idade e hábito de fumar1. A associação entre obesidade e doença perio-
Além dessas doenças sistêmicas, atualmente as pes- dontal tem sido foco de alguns estudos. Na década de
quisas têm mostrado que a obesidade, além de ser um 70 iniciou-se a preocupação de verificar se a resposta
problema de saúde pública, também é um fator de risco periodontal a irritantes gengivais apresentava-se altera-
para o aparecimento e progressão de periodontites2-3, da em ratos obesos e hipertensos. Observou-se que a
além de contribuir para o desenvolvimento de diabetes, obesidade contribuiu significativamente com a condi-
hipertensão, doenças cardiovasculares e osteoartrites4. ção de severidade periodontal, enquanto que a hiper-
A associação entre obesidade e doença perio- tensão isolada, não foi um fator significante. No entanto,
dontal tem sido foco de alguns estudos recentes. Os quando houve associação entre obesidade e hiperten-
resultados de um estudo, avaliando a relação entre es- são, constatou-se severidade periodontal aumentada11.
sas duas condições clínicas em 643 japoneses aparente- A partir de então, os estudos não deram enfoque direto
mente saudáveis, mostraram que somente os pacientes à relação entre obesidade e doença periodontal, sendo
com maiores massas corporais e maiores proporções que apenas no século 21 os pesquisadores despertaram
abdômen-quadril, apresentavam significante aumento para a importância desse tema, devido ao aumento no
do risco às periodontites, quando comparados aos pa- número de indivíduos obesos por todo o mundo e à di-
cientes com categorias menores5. vulgação pela imprensa (Quadro 1).
O fundamento da inter-relação entre obesidade A obesidade já é considerada uma epidemia
e doença periodontal, está baseado no fato do tecido mundial12, sendo que no Brasil, as mudanças socioe-
adiposo secretar citocinas pró-inflamatórias propor- conômicas e demográficas têm ocasionado uma dimi-
cionais à massa corporal do indivíduo. Dessa forma, nuição progressiva da desnutrição e um aumento da
grandes quantidades de IL-6 e TNF- são secretadas obesidade, conseqüente à alta ingestão de alimentos
em pacientes obesos, sendo que a obesidade pode hiperlipídicos e ao sedentarismo13. Para a avaliação do
ser considerada como um estado inflamatório crôni- grau de obesidade, o Índice de Massa Corporal (IMC)
co, que se associa a várias seqüelas comportamentais, tem sido utilizado como padrão internacional para o
metabólicas, imunológicas e cardiovasculares6. Essas seu cálculo, dividindo-se o peso (Kg) pelo quadrado da
citocinas secretadas em maior quantidade em obesos, altura em metros12 (Quadro 2). Dessa forma, todos os
provavelmente perpetuam a inflamação nas estruturas estudos que visam estudar a obesidade utilizam o IMC.
periodontais; além do que, o tecido adiposo também Entretanto, como o IMC possui pouca precisão diagnós-
estimula a participação dos macrófagos no processo tica, por não diferenciar gordura de fibras musculares14,
patogênico da doença. Esse processo ocorre pela in- outros métodos associados têm sido empregados, tais
dução dos linfócitos nulos a produzirem o interferon como, medição das circunferências do abdômen e qua-
(IFN-g, que é um potente ativador dos macrófagos) ou dril, medição de dobras cutâneas e da quantidade de
através das próprias citocinas TNF- e IL-6, que tam- gordura corporal15.
bém exercem atividade estimuladora sobre os macrófa- Em relação à medição das circunferências do
gos. Os macrófagos superativados servem como a fonte abdômen e quadril, considera-se conotação de obeso,
principal dos mediadores da inflamação crônica da do- quando há uma Relação Abdômen-Quadril (RAQ) ≥ 0,8
ença periodontal (TNF-, IL-6, IL-8, metaloproteinases, para mulheres e ≥ 0,9 para homens, estando baseada
prostaglandinas, dentre outros)7. em diferenças esqueléticas e na distribuição de gordura
A literatura sobre esse assunto ainda é muito re- entre os sexos5. Já para a avaliação precisa dos tecidos
cente; entretanto, alguns estudos afirmam haver uma as- magros e adiposos, tem sido utilizada a impedância
sociação positiva entre obesidade e doença periodontal8-10. bioelétrica (bioimpedância), que vem ganhando acei-
Levando-se em consideração a importância do tema, tabilidade na prática clínica pelo desenvolvimento de

344 Revista PerioNews 2007;1(4):343-8


[ Periodontia ]

QUADRO 1 - EVIDÊNCIAS ENCONTRADAS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL


Autor Ano País Tipo de estudo Relação obesidade e periodontite
Perstein & Bissada 1977 EUA Experimental (ratos) Sim
Saito et al. 2001 Japão Transversal Sim
Nishimura et al. 2001 Japão Revisão Sim
Wood et al. 2003 EUA Transversal Sim
Al-Zahrani et al. 2003 EUA Transversal Sim
Lundin et al. 2004 Suécia Transversal Não
Alabdulkarim et al. 2005 Arábia Saudita Transversal Sim
Nishida et al. 2005 Japão Transversal Sim
Saito et al. 2005 Japão Transversal Sim
Dalla Vecchia et al. 2005 Brasil Transversal Sim
Genco et al. 2005 EUA Transversal Sim
Gursoy et al. 2006 Turquia Transversal Não
Reeves et al. 2006 EUA Caso-Controle Sim
Borges et al. 2007 Brasil Transversal Sim
Shimazaki et al. 2007 Japão Transversal Sim
Pischon et al. 2007 Alemanha Revisão Sim
Linden et al. 2007 Reino Unido Transversal Sim

QUADRO 2 - ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) DE ACORDO COM A Outros estudos também buscaram comparar a
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE
composição corporal (obesidade) com o estado perio-
Abaixo do peso < 18,5
dontal15. Para investigar tal associação, utilizou-se uma
Peso normal 18,5 – 24,9 técnica de avaliação nutricional simples e de baixo cus-
Sobrepeso 25,0 – 29,9 to. Foram medidos peso, altura, circunferência abdomi-
Obesidade grau I 30 – 34,9 nal, circunferência do quadril e espessura das dobras da
pele, as quais foram analisadas por impedância bioelé-
Obesidade grau II 35 – 39,9
trica. Este estudo indicou correlação estatisticamente
Obesidade grau III (mórbida) > 40 significante entre composição corporal e periodontites,
com a proporção abdômen-quadril, sendo o fator mais
aparelhos menores e mais baratos, de fácil utilização. significante, seguida pelo índice de massa corporal,
Esse método quantitativo substitui com vantagem às massa de gordura-livre e gordura subcutânea.
medidas de dobras cutâneas, que possui variabilidade Estudos similares também avaliaram a relação entre
inter e intra-examinador inaceitáveis. Aceitam-se como massa corporal, circunferência abdominal e doença perio-
valores normais <25% de tecido adiposo para homens dontal em indivíduos jovens, de meia idade e idosos. Veri-
e <33% para mulheres16. ficou-se uma associação significante entre as medidas
A relação entre obesidade e periodontite foi de gordura corporal e periodontites nos pacientes jo-
avaliada em 643 pacientes japoneses aparentemente vens, mas não nos de meia idade ou idosos. Sugere-se
saudáveis, que foram divididos em quatro categorias de que a obesidade possa ser um fator de risco potencial
massa corporal. Os resultados mostraram que somente para o desenvolvimento de doenças no periodonto,
os pacientes com maiores massas corporais e maiores especialmente em jovens, e que o consumo de alimen-
proporções abdômen-quadril, apresentavam signifi- tos saudáveis e atividades físicas, possam prevenir ou
cante aumento do risco às periodontites, quando com- diminuir a taxa de progressão de periodontites3. Ou-
parado aos pacientes com categorias menores5. tros estudos também sugerem haver maior correlação

Revista PerioNews 2007;1(4):343-8 345


Zuza EP • Toledo BEC • Souza PHR • Almeida MM

entre obesidade e doença periodontal em jovens17. dontites entre os grupos obesos fumantes (de ambos
Com o propósito de avaliar a perda óssea alveolar os gêneros) e em homens não fumantes. Enquanto a
radiográfica em pacientes obesos, realizou-se um es- obesidade esteve significativamente associada às pe-
tudo tentando correlacionar a massa corporal com a riodontites em mulheres não-fumantes, o sobrepeso
doença periodontal, propondo que a obesidade está não mostrou relação significante. Sugere-se também
relacionada ao aumento da prevalência de periodon- que o fumo possa atenuar a associação entre doença
tites (com maior perda óssea alveolar), especialmen- periodontal e obesidade9. Apesar de tal afirmação, ao
te em jovens. avaliar os fatores de maior impacto ao risco periodon-
Da mesma forma, outro estudo10 verificou em tal, outro estudo demonstrou que o tabagismo e a
2.452 pacientes não fumantes, com idade entre 13 a obesidade são fatores de risco independentes para as
21 anos, o quanto as medidas de obesidade estavam periodontites19.
associadas aos problemas periodontais. Pacientes que A associação entre obesidade e doença perio-
apresentassem um ou mais sítios periodontais com per- dontal está diretamente relacionada a um processo
da de inserção e profundidade de sondagem de pelo inflamatório crônico, sendo que, o tecido adiposo
menos 3 mm (n=111) foram considerados como Grupo secreta citocinas pró-inflamatórias proporcionais à
Teste, enquanto os indivíduos que não apresentavam massa corporal do indivíduo20. Dessa forma, grandes
esses critérios como Grupo Controle (n=2.341). Os acha- quantidades de IL-6 e TNF- são secretadas em pa-
dos mostraram que os adolescentes obesos com idade cientes obesos, sendo que a obesidade pode ser con-
entre 13 e 16 anos, não apresentavam risco aumentado siderada como um estado inflamatório crônico, que se
às periodontites crônicas, em comparação aos adoles- associa à várias seqüelas comportamentais, metabóli-
centes obesos com idades entre 17 e 21 anos. Contudo, cas, imunológicas e cardiovasculares6. Os mediadores
constatou-se que a massa corporal e a circunferência inflamatórios (TNF-, IL-6, IL-8, metaloproteinases,
abdominal estão associadas às periodontites, porém prostaglandinas etc) secretados em maior quantida-
variam com a idade. de em pacientes obesos, perpetuam a inflamação nas
Em um grupo de indivíduos mais velhos (euro- estruturas periodontais7. As citocinas (IL-1, IL-6 e o fa-
peus de 60 a 70 anos de idade), investigou-se o quanto tor de necrose tumoral - TNF) estimulam a reabsorção
havia de associação entre obesidade e doença periodon- óssea e inibem a formação óssea in vitro e in vivo. As
tal18. Para isso, um total de 1.362 homens, com seis ou prostaglandinas são derivadas do ácido aracdônico e
mais dentes, completaram um questionário, receberam são mediadores importantes da inflamação. As citoci-
exame periodontal e tiveram seu peso e altura medidos. nas pró-inflamatórias são capazes de estimular os ma-
Os indivíduos foram classificados como obesos quando crófagos (e outras células) a produzirem quantidades
apresentavam IMC > 30 Kg/m2. Os resultados propõem abundantes de prostaglandinas (particularmente a
haver uma associação entre essas duas patologias nesta PGE2), que são potentes vasodilatadores e indutores
faixa etária, no entanto, sugere-se que a obesidade na da produção de citocinas por várias células. A PGE2 age
juventude não é um fator preditor para a periodontite sobre os fibroblastos e osteoclastos, juntamente com
em idades mais avançadas. as citocinas, induzindo a produção de metaloprotei-
Outro estudo verificou a associação entre so- nases da matriz, que é relevante para o processo de
brepeso, obesidade e doença periodontal em 706 pa- destruição periodontal21.
cientes brasileiros com idades entre 30 a 65 anos9. Neste Devido à importância do processo inflamatório
estudo, o sobrepeso e a obesidade foram avaliados pelo crônico relacionado à obesidade e à doença periodon-
índice de massa corporal e os indivíduos com ≥ 30% dos tal, estudos têm enfocado a detecção e medição de
dentes com perda de inserção ≥ 5 mm foram classi- mediadores inflamatórios. Dessa forma, realizou-se um
ficados como portadores de periodontites. Sugeriu-se estudo para verificar a relação entre massa corporal e
que as mulheres obesas não-fumantes apresentam periodontite, avaliando citocinas pró-inflamatórias
maior probabilidade para o desenvolvimento de pe- (TNF- e IL-8) no fluido crevicular de 32 obesos, com
riodontites (3,4 vezes maior) do que indivíduos com idade entre 13 e 24 anos22. Os resultados mostraram
índice de massa corporal normal. Não houve diferença que nos pacientes com massa corpórea ≥ 40 (obesida-
estatisticamente significante na prevalência de perio- de mórbida), houve uma correlação estatisticamente

346 Revista PerioNews 2007;1(4):343-8


[ Periodontia ]

significante com o nível de TNF- no fluido sulcular, síndrome metabólica foi maior entre os indivíduos com
mesmo nos pacientes que não apresentavam bolsa doença periodontal, porém esta associação não foi es-
periodontal patogênica (≥4 mm), o que não ocorreu tatisticamente significante28.
com os níveis de IL-8. Apesar da maioria dos estudos demonstrarem
Um outro fator que chama a atenção é o papel interação entre obesidade e doença periodontal, este
das citocinas (liberadas pelo tecido adiposo) na resis- dado não é unânime entre os autores. Investigou-se o
tência à insulina23. Realizou-se um estudo com o propó- estado periodontal, a atividade enzimática de asparta-
sito de avaliar a relação entre to aminotransferase e de de-
inflamação, obesidade, infec- sidrogenase lactato no fluido
ções periodontais e diabetes crevicular de pacientes diabé-
mellitus, bem como avaliar os ticos do tipo 2 e/ou obesos.
níveis plasmáticos de fator de Levando-se em consideração a Um total de 39 pacientes com
necrose tumoral (TNF-) e de importância do tema, outros estu- periodontite crônica foram
seus receptores solúveis (sTNF- dos são necessários no intuito de avaliados e divididos em qua-
). Os achados mostraram que tro grupos de estudo, de acor-
se verificar a prevalência epide-
a obesidade é um preditor sig- do com o índice de massa cor-
nificante de doença periodon- miológica e severidade periodon- poral e presença de diabetes
tal, sendo que a resistência à tal em diferentes populações de (Grupo 1: oito pacientes obe-
insulina pareceu mediar essa sos e diabéticos; Grupo 2: 12
obesos, servindo como base para
relação. Além do mais, a obesi- pacientes diabéticos; Grupo
dade está associada com altos futuras pesquisas que visem eluci- 3: oito pacientes diabéticos;
níveis plasmáticos de TNF- dar as causas e estabelecer trata- Grupo 4: 11 pacientes sistemi-
e sTNF-, o que pode levar a mentos efetivos e direcionados a camente saudáveis). Os resul-
um estado hiperinflamatório, tados mostraram aumento da
esse grupo de pacientes.
aumentando o risco de perio- profundidade de sondagem
dontites e também contribuin- para o grupo diabético, mas
do em parte para a resistência falhou em mostrar qualquer
24
à insulina . relação significante entre obesidade e atividade enzi-
Alguns estudos comprovaram que quanto maior mática ou estado periodontal29.
o IMC, maiores as prevalências de diabetes mellitus, Levando-se em consideração a importância do
doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer25-26. tema, outros estudos são necessários no intuito de se
Pesquisas recentes também têm demonstrado maior verificar a prevalência epidemiológica e severidade
prevalência de doenças periodontais3,5,9-10,15,17. Como a periodontal em diferentes populações de obesos, ser-
obesidade é considerada uma doença crônica que pre- vindo como base para futuras pesquisas que visem
dispõe às várias doenças sistêmicas, alguns estudos têm elucidar as causas e estabelecer tratamentos efetivos e
denominado de síndrome metabólica, os casos onde há direcionados a esse grupo de pacientes. É muito difícil
associação entre obesidade, hipertensão, hiperlipide- realizar estudos bem delineados que avaliem apenas
27
mia e diabetes . a obesidade e a doença periodontal, pois a obesidade
Com o objetivo de verificar a associação de cinco é uma condição crônica relacionada a várias doenças
componentes dessa síndrome (obesidade abdominal, sistêmicas, que interferem diretamente com o curso da
triglicérides, colesterol, pressão sangüínea e glicose em periodontite. Há escassez de estudos longitudinais e de
jejum) com a doença periodontal, realizou-se um estu- ensaios clínicos na literatura corrente, abrindo lacunas
do com 584 mulheres japonesas. Os resultados sugerem para novas linhas de pesquisa (Quadro 1).
que, quanto maior o número de componentes exibidos,
maiores são as profundidades de bolsa e as perdas de CONCLUSÃO
inserção clínica. Assim, verificou-se que a síndrome
metabólica aumenta o risco às periodontites27. No en- 1. A maioria dos estudos sugere que a obesidade está
tanto, um outro estudo mostrou que a prevalência da associada às doenças periodontais, constituindo-se

Revista PerioNews 2007;1(4):343-8 347


Zuza EP • Toledo BEC • Souza PHR • Almeida MM

como um fator de risco. Recebido em: ago/2007


Aprovado em: nov/2007
2. A obesidade e as periodontites são estados inflama-
tórios crônicos, que se associam a várias outras doen- Endereço para correspondência:
ças sistêmicas. Elizangela Partata Zuza
Rua Buarque, 67 - Campos Elíseos
14080-530 - Ribeirão Preto - SP
elizangelazuza@yahoo.com.br

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348 Revista PerioNews 2007;1(4):343-8


revisão da literatura [ Periodontia ]

Avaliação periodontal de dentes


pilares de prótese fixa:
revisão da literatura
Tooth evaluation periodontal pillars of fixed prosthesis:
review of the literature

Gustavo Diniz Greco*, Wellington Márcio dos Santos Rocha**,


Valdete da Costa***, Alexandre Camisassa Diniz Leite Greco****,
Isabela Marieta Guimarães Góes Greco*****, Marcos Dias Lanza******

RESUMO
Um tratamento protético restaurador deve ser pre- clínica ótima à realização do tratamento protético
cedido por uma avaliação periodontal dos dentes periodontal. Este trabalho propõe a avaliação perio-
pilares para que o planejamento integrado propor- dontal dos dentes pilares de prótese fixa.
cione um prognóstico favorável e uma condição Unitermos - Prótese; Periodontia; Biomecânica.

ABSTRACT
A restoring prosthetic treatment must be preceded by a of the periodontal prosthetic treatment. This work con-
periodontal evaluation of teeth pillars so that the inte- siders the periodontal evaluation of teeth pillars of pros-
grated planning provides to a prognostic favorable and thesis fixes.
an excellent clinical condition to the accomplishment Key Words - Prosthesis; Periodontics; Biomechanics.

INTRODUÇÃO objetivo de restabelecer as funções oclusais do sistema


estomatognático devem ser realizados tendo sempre
A Odontologia restauradora deve ser realizada em mente sua relação direta com os tecidos periodon-
em ambiente livre de inflamação. Com o tecido gengi- tais. A resposta saudável desses tecidos, durante e após
val inflamado, com presença de alterações do contorno a realização da reabilitação oral, retrata a manutenção
gengival, aumento da profundidade do sulco gengival, e a preservação dos princípios biológicos inerentes ao
mobilidade dentária, presença de sangramento e exsu- periodonto de proteção e sustentação1, 3.
dato, fica impossível executar corretamente as mano- Em caso de desequilíbrio periodontal, procedi-
bras clínicas como preparo, moldagem, prova de estru- mentos podem e devem ser coadjuvados com a reabili-
tura e, ainda, mais grave, seria a colocação definitiva de tação protética a fim de restabelecer a saúde e a função
prótese fixa em tal condição, o que poderia acarretar a do paciente3.
perda de todo o trabalho e um agravamento do quadro A necessidade de procedimentos periodontais
periodontal em um curto espaço de tempo1-2. deve ser avaliada antes, durante e depois de todos os
Os procedimentos restauradores indicados com o procedimentos clínicos. Uma visão multidisciplinar deve

* Especialista em Prótese Dentária - CEO-IPSEMG; Mestre em Prótese Dentária - PUC/MG; Doutorando em Odontologia - Clínica Odontológica - UFMG.
** Mestre e Doutor em Periodontia - FOB; Mestre em Implantodontia - USC; Professor da FO-UFMG.
*** Mestre em Reabilitação Oral - FOB; Professor do Curso de Especialização em Prótese Dentária do CEO-IPSEMG.
**** Especialista em Periodontia - CEO-IPSEMG.
***** Cirrugiã-Dentista - PUC/MG.
****** Mestre e Doutor em Reabilitação Oral - FOB; Mestre em Implantodontia - USC; Professor da FO-UFMG.

Revista PerioNews 2007;1(4):349-53 349


Greco GD • Rocha WMS • Costa V • Greco ACDL • Greco IMGG • Lanza MD

ser observada durante o diagnóstico, prognóstico e pla- mm de gengiva inserida mostram sinais clínicos de in-
no de tratamento, a fim de proporcionar um resultado flamação em dentes pilares de próteses fixas12.
que tenha boa previsibilidade e atenda as expectativas O sucesso ou falha da prótese depende do prog-
estéticas e funcionais do paciente que vai se submeter a nóstico periodontal de “dentes-chave” 13.
um tratamento de reabilitação oral1-3. O nível do limite cervical dos preparos sob um
A condição clínica ideal para a reabilitação dos ponto de vista ideal, deverá ser localizado supragen-
pacientes com necessidades protéticas, baseia-se em: givalmente, o mais distante possível da margem livre
ausência de inflamação, presença de mucosa ceratini- da gengiva. É considerado o nível ideal, pois facilita
zada e ausência de bolsa periodontal 3. todos os procedimentos operatórios, desde o preparo
dos dentes até a cimentação definitiva dos trabalhos,
REVISÃO DA LITERATURA propiciando procedimentos clínicos sem injúrias aos
tecidos periodontais. Essa é uma área que permite o
Em pacientes portadores de doença periodon- controle melhor dos procedimentos clínicos e também
tal, com mobilidade dental, devemos procurar fechar o da higienização de forma efetiva. No entanto, isso nem
polígono para uma melhor distribuição de forças, que é sempre é possível, pois a localização do nível do limite
uma associação de dois ou mais dentes visando aumen- cervical dos preparos depende de uma série de fatores,
tar a resistência à força aplicada, pelo efeito e estabili- tais como: a retenção, a estética, a extensão da lesão ca-
zação e reorientação da mesma. A força permanece a riosa, a fratura e a substituição das restaurações já exis-
mesma e a resistência é aumentada. O polígono é divi- tente1,13-15.
dido em cinco segmentos: posteriores, canino, incisivos, As extensas perdas ósseas resultam em uma re-
canino e posteriores. O ideal é que se ligue o maior nú- lação coroa clínica/raiz clínica desfavorável onde, a es-
mero de segmentos possíveis para que tenhamos um plintagem sozinha não proporciona suporte suficiente,
trabalho com uma melhor distribuição de forças, para mas, a inclusão dos pilares em prótese fixa, juntamente
que consigamos sustentação e estabilidade em pacien- com os ajustes oclusais e a terapia periodontal, podem
te periodontal com perda de inserção óssea. O sucesso ser um bom tratamento. Outra importante considera-
da esplintagem de pacientes com doença periodontal ção do autor em relação à oclusão é que não importa
é assegurado pela união dos dentes remanescentes do qual for o tipo de dente, deve ter direcionamento de
arco dental, havendo uma neutralização dos cinco pla- forças paralelamente ao seu longo eixo13.
nos, entre si4. A longevidade dos dentes depende diretamen-
O sucesso da prótese fixa a longo prazo depende te da saúde dos tecidos periodontais. Os outros fatores
e está diretamente relacionado com os princípios bio- etiológicos como trauma, lesões endodônticas, cáries,
tecnológicos aplicados na sua confecção e uma efetiva anomalias de desenvolvimento e lesões ósseas podem
higienização e controle de placa pelo paciente5-6. também levar a perda de dentes. Contudo, a perda do
A extensão do preparo cavitário apical ao fundo dente é freqüentemente associada com perdas ósseas
do sulco gengival, com violação do epitélio juncional e de origem inflamatória16.
das fibras de Sharpey da inserção conjuntiva, pode pro- Uma faixa adequada de mucosa ceratinizada é
mover a migração deste epitélio apicalmente com per- fundamental para o sucesso da Odontologia restaura-
manente perda de inserção7-10. dora com términos cervicais intra-sulculares10, 17.
O princípio biomecânico tem como objetivo a A inflamação altera o contorno, a forma, o vo-
discussão da preservação do periodonto. O termo es- lume e a consistência da gengiva marginal e da papila
pessura do espaço biológico é muito utilizado com interdental. Então, quando a inflamação está presente é
respeito à localização das terminações das preparações impossível a realização de preparos, pois perdemos as
dentárias. A terminação do preparo deve ser no mínimo referências do término cervical15,18- 19.
2 mm aquém da crista óssea alveolar ou a reabsorção A extração pode ser bem indicada quando o tra-
óssea ocorrerá no momento em que o organismo resta- tamento periodontal de um dente comprometerá os
belecer a espessura da zona biológica. dentes adjacentes20.
Embora margens gengivais possam se manter Foram avaliadas as conseqüências da manuten-
clinicamente livres de placas, áreas com menos de 2 ção de dentes, em 95 pacientes, portadores de doença

350 Revista PerioNews 2007;1(4):349-53


[ Periodontia ]

periodontal. Os dentes anteriormente atribuídos em inicial do paciente, temos o envolvimento endodôn-


um prognóstico “esperançoso”, 80% foram extraídos no tico29. A exigência estética e as considerações perio-
21
período de cinco anos . dontais contrapõem-se durante o critério clínico para
A esplintagem não é recomendada como único o estabelecimento do limite cervical de uma restau-
tratamento da mobilidade dos dentes pilares. O ajuste ração. Sempre que houver necessidade de estender o
oclusal é bastante benéfico durante e após o tratamen- término cervical do preparo abaixo do nível da gengi-
to periodontal22- 25. va livre, este limite deverá estar localizado no interior
O desenho e a preparação dos dentes são go- do sulco histológico1,15.
vernados por cinco princípios biomecânicos que são: Deve-se realizar uma análise individual dos den-
preservação da estrutura dentária, forma de retenção tes pilares, observando a seguinte seqüência: perda ós-
e resistência, durabilidade estrutural da restauração sea, forma e tamanho das raízes, relação coroa clínica/
protética, integridade marginal e preservação do pe- raiz clínica, inclinação, situação endodôntica, restaura-
riodonto19,26. ções intra-radiculares, qualidade gengival, tecido perio-
O tamanho e a forma das raízes, seu compri- dontal de suporte etc2, 30.
mento e sua proximidade umas das outras desempe-
nham um importante papel. Uma periodontite margi- DISCUSSÃO
nal avançada, onde estão presentes raízes curtas é de
maior preocupação do que nos casos onde as raízes Em relação à gengiva inserida, observamos cer-
dos dentes são longas e bem formadas. Raízes curtas ta padronização quanto à quantidade necessária para
e afiladas são candidatas mais prováveis aos efeitos a manutenção da saúde periodontal de dentes pilares
traumáticos oclusais secundários27. de prótese fixa. Uma faixa adequada de mucosa quera-
A avaliação do risco de trauma nos tecidos, durante tinizada é fundamental para o sucesso da Odontologia
o preparo e a moldagem, é fundamental para determinar restauradora10,17. Embora margens gengivais possam se
um bom relacionamento entre as margens das restaura- manter clinicamente livres de placas, áreas com menos
ções e a gengiva; por isso, deve ser estabelecido um sulco de 2 mm de gengiva inserida mostram sinais clínicos de
gengival fisiológico, além de tecidos gengivais resilientes inflamação, o que determina que uma faixa de 1 mm
e saudáveis antes dos procedimentos restauradores28. a 2 mm pode ser aceitável para dentes que sustentam
Sob o ponto de vista trabalhos restauradores, mas
periodontal, é inquestionável é indicado uma faixa mínima
que a saúde do periodonto de 3 mm a 4 mm para dentes
deve ser restabelecida antes O tamanho e a forma das raízes, tratados proteticamente12.
de qualquer procedimento Durante os exames clí-
seu comprimento e sua proximi-
restaurador15. nico e radiográfico de pacien-
Vários fatores devem dade umas das outras desempe- tes protéticos periodontais, de-
ser considerados na avaliação nham um importante papel. vemos observar a extensão do
inicial do paciente protéti- limite cervical do preparo, que
Uma periodontite marginal
co-periodontal, entre elas, a deve sempre respeitar o limite
profundidade de sondagem, avançada onde estão presentes do fundo do sulco gengival,
envolvimento de lesão de fur- raízes curtas é de maior preo- para que não ocorra violação
ca, posição do dente no arco, cupação do que nos casos onde do epitélio juncional7-10. Para
forma da raiz, envolvimento que este limite seja respeitado
as raízes dos dentes são longas
endodôntico, história do pa- preconiza-se uma distância mí-
ciente, hábitos parafuncio- e bem formadas. Raízes curtas nima de 2 mm entre o término
nais, condição de higiene oral e afiladas são candidatas mais cervical do preparo e a crista
e cooperação do paciente. óssea alveolar11. Idealmente,
prováveis aos efeitos traumáticos
Dentre os vários fatores que o nível do limite cervical dos
precisam ser levados em con- oclusais secundários27. preparos deve ser localizado
sideração durante a avaliação na região supragengival, o

Revista PerioNews 2007;1(4):349-53 351


Greco GD • Rocha WMS • Costa V • Greco ACDL • Greco IMGG • Lanza MD

mais distante possível da gen- proteger os dentes pilares de


giva marginal livre; no entanto, A anatomia radicular desempe- tensões horizontais13, 22- 24.
isto nem sempre é possível. A A anatomia radicular
nha um importante papel
determinação do término cer- desempenha um importante
vical depende de uma série de no planejamento de uma prótese papel no planejamento de
fatores, o que demonstra clara- em pacientes com comprometi- uma prótese em pacientes
mente que a exigência estética mento periodontal. Seu formato, com comprometimento pe-
e as considerações periodon- riodontal. Seu formato, ta-
tamanho, comprimento,
tais contrapõem-se durante a manho, comprimento, forma
avaliação clínica 1,13-15
. Para de- forma espacial, grau de divergên- espacial, grau de divergência
terminarmos este limite com cia e proximidades umas das e proximidades umas das ou-
maior precisão, devemos elimi- tras devem ser avaliados, jun-
outras devem ser avaliados,
nar qualquer inflamação pre- tamente com a condição sis-
sente na região do dente pilar, juntamente com a condição têmica do paciente. Existe um
visto que a inflamação altera o sistêmica do paciente. consenso na literatura, onde
contorno, a forma, o volume e a quanto maior a superfície ra-
consistência da gengiva margi- dicular, maior a capacidade
18-19
nal livre e da papila interdental . É inquestionável que de suporte, suporte este que é muito diminuído quan-
a saúde do periodonto deva ser restabelecida antes de do se trata de raízes conóides; por estas razões, a quan-
15
qualquer procedimento restaurador , o estabelecimen- tidade e a disposição das raízes são fatores relevantes
to da saúde periodontal facilita os procedimentos res- se tratando de suporte. A grande maioria dos autores
tauradores e fornece mais previsibilidade na Odontolo- preconiza uma relação coroa clínica/raiz clínica ideal de
gia restauradora, relatando que a existência do espaço 2:3 e uma relação mínima aceitável de 1:12, 27. A relação
biológico é condição fundamental para a existência das ideal deve ser de 1: 2, mas raramente ela é observada; a
distâncias biológicas e estas distâncias apresentam uma mais comum é de 1 :1,5 e a mínima também é de 1:130.
média de 2,04 mm11. Em muitos casos, a exodontia pode ser conside-
Em dentes com mobilidade devido a perdas ósse- rada um tratamento, quando a doença periodontal de
as, deve-se procurar fechar o polígono para uma melhor um dente comprometerá os dentes adjacentes e o pe-
distribuição de forças4. Extensas perdas ósseas resultam riodonto de sustentação. A reabilitação final é mais im-
em uma relação coroa clínica/raiz clínica desfavorável, portante que o dente individualmente. A decisão para a
sendo indicada, nesses casos, a esplintagem associada exodontia não depende da saúde individual do dente e
a ajuste oclusal e terapia periodontal como forma de sim do objetivo final da reabilitação20.
manutenção dos pilares. A esplintagem não é recomen- O equilíbrio oclusal é de grande importância para
dada como único tratamento da mobilidade dos dentes a manutenção de pilares de prótese fixa com um con-
pilares de prótese fixa. A indicação da esplintagem deve forto satisfatório ao paciente, com um correto equilíbrio
ser relacionada à necessidade de manutenção do con- oclusal e, em muitos casos, é dispensável a utilização de
forto dos dentes com redirecionamento e redistribuição esplintagem30. O ajuste oclusal deve ser realizado em
de esforços, prevenção de migrações e extrusões. A hi- conjunto com demais procedimentos e dentre estes se
permobilidade por si só não constitui indicação para a encontra a esplintagem22- 24.
esplintagem. A dificuldade de higienização dos dentes
esplintados é razão suficiente para realizar ferulizações CONCLUSÃO
apenas quando necessária. A ferulização dos dentes na-
turais não reduz significantemente a mobilidade de um Procedimentos periodontais devem ser realiza-
dente quando a prótese é removida; no entanto, o mo- dos em associação com procedimentos protéticos, para
vimento geral da prótese é minimizado, especialmen- um diagnóstico, prognóstico e plano de tratamento
te quando as unidades ferulizadas formarem um arco. adequados, possibilitando um resultado satisfatório.
A ferulização deve ser indicada para a distribuição de Para a realização de trabalhos restauradores é
tensões e os esquemas oclusais modificados, a fim de necessário uma condição clínica ideal, com ausência de

352 Revista PerioNews 2007;1(4):349-53


[ Periodontia ]

inflamação, presença de mucosa ceratinizada e ausência antagonista, tipo de espaço edêntulo, localização dos
de bolsa periodontal. O estabelecimento da saúde perio- pilares, inclinações dentárias, forças oclusais funcionais
dontal facilita os procedimentos clínicos, como preparos e parafuncionais etc.
dentários, moldagens, prova de estruturas etc. Todo o paciente que for submetido à uma reabi-
Para o diagnóstico e plano de tratamentos, vários litação oral, deve passar por uma avaliação periodontal,
fatores devem ser avaliados em relação aos dentes pila- já que a saúde dos tecidos periodontais viabilizam um
res, entre eles profundidade de sondagem, presença de adequado tratamento, com boa previsibilidade de re-
sangramento, envolvimento de furca, forma e tamanho sultado.
das raízes, relação coroa clínica/raíz clínica de no míni-
Recebido em: set/2007
mo 1/1, padrão ósseo, mobilidade dentária, integridade
Aprovado em: nov/2007
do espaço biológico, faixa de gengiva inserida, posição
do dente no arco, condição de higiene oral, hábitos pa- Endereço para correspondência:
Gustavo Diniz Greco
rafuncionais etc. Rua Pedra Bonita, 924 - Barroca
Na avaliação dos dentes pilares em conjunto, 30430-390 - Belo Horizonte - MG
Tel.: (31) 3334-3673
deve-se observar a quantidade e qualidade dos pilares,
gustavodgreco@yahoo.com.br
a distribuição desses dentes no arco, situação do arco

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Revista PerioNews 2007;1(4):349-53 353


estudo laboratorial [ Periodontia ]

Efeito da adição de açúcar e da


diluição do suco de laranja natural
na exposição de túbulos dentinários
Effect of sugar addition and dilution of natural orange
juice on dentinal tubules exposure

Daniela Leal Zandim*, Fábio Renato Manzolli Leite*,


Ricardo Samih Georges Abi-Rached**, José Eduardo Cezar Sampaio***

RESUMO
A dieta ácida tem sido associada ao aparecimen- micrografias obtidas em microscopia de varredura
to e persistência da hipersensibilidade dentinária foram avaliadas de acordo com um índice de re-
cervical. Além do pH, fatores como tipo de ácido e moção de smear layer. O teste Kruskall-Wallis de-
sua concentração, tempo de exposição e presença monstrou que na aplicação tópica apenas o Grupo
de açúcar podem influenciar no seu potencial ero- 1 foi estatisticamente diferente do controle, resul-
sivo. Porém, poucas informações estão disponíveis tando em maior remoção de smear layer. Já na
sobre essas variáveis. O objetivo deste trabalho foi fricção, o Grupo 3 foi significativamente diferente
avaliar in vitro o efeito da adição de sacarose e da do controle. A remoção de smear layer não variou
diluição do suco de laranja natural sobre o grau de para nenhuma das substâncias segundo o modo
remoção de smear layer e exposição dos túbulos de aplicação (teste Mann-Whitney). Concluiu-se
dentinários. Dentes humanos extraídos foram uti- que o suco de laranja natural pode remover smear
lizados para obtenção de 40 amostras que foram layer radicular, não sendo influenciado pela forma
divididas aleatoriamente nos Grupos: 1- suco de de aplicação. Além disso, a diluição do suco natu-
laranja natural + açúcar; 2- suco de laranja diluído ral tende a diminuir este efeito, enquanto a adição
+ açúcar; 3- suco de laranja natural e 4- controle de sacarose tende a aumentar.
(água destilada). Duas formas de aplicação foram Unitermos - Sensibilidade da dentina; Dieta; Ca-
utilizadas em cada grupo: tópica e fricção. As foto- mada de esfregaço.

ABSTRACT
Dietary acids have been associated with the occu- topical and friction. The photomicrographs obtai-
rance and persistence of cevical dentin hypersensiti- ned with scanning microscope were assessed using
vity. Besides the pH value, the erosive effect can be an index of smear layer removal. Kruskall-Wallis test
influenced by factors such as type of acid and con- demonstrated that in the topical application only
centration, exposition time and presence of sugar. Group 1 was statistically different from the control,
However, little information is currently available resulting in greater removal of smear layer. On the
about these variables. The aim of this in vitro study other hand, in the friction, Group 3 was significantly
was to evaluate the effect of sugar (sucrose) addition different from the control. For each of the groups, the
and dilution of natural orange juice on smear layer smear layer differ with the method of application
removal and dentinal tubules exposure. Extracted (Mann-Whitney test). It was concluded that natural
human teeth were used to obtain 40 specimens that orange juice can remove smear layer from radicular
were randomly distributed into Groups: 1- natural surfaces, regardless the type of application. Besides
orange juice + sugar, 2- diluited orange juice + sugar, this effect tends to decrease with the natural juice di-
3- natural orange juice, 4- control (distilled water). lution whereas sucrose addition tends to increase.
Each group included two methods of application: Key Words - Dentin sensitivity; Diet; Smear layer.

* Doutorandos em Periodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp.


** Professor Titular do Departamento de Diagnóstico e Cirurgia - Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp.
*** Professor Adjunto do Departamento de Diagnóstico e Cirurgia - Disciplina de Periodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp.

Revista PerioNews 2007;1(4):355-60 355


Zandim DL • Manzolli Leite FRM • Abi-Rached RSG • Sampaio JEC

INTRODUÇÃO quanto fracos, que compõem alimentos e bebidas áci-


das, podem remover o smear layer e expor os túbulos
A hipersensibilidade dentinária cervical (HSDC) dentinários9-11,13 e a adição de açúcares pode aumentar
pode ser definida como uma dor originada de dentina o potencial erosivo destas bebidas ácidas15. Também foi
exposta, tipicamente em resposta a estímulos químicos, observado que existe uma associação negativa entre a
térmicos ou osmóticos, que não pode ser explicada por frequência de ingestão de alimentos específicos e bebi-
nenhuma outra forma de defeito dental ou patologia1-2. das ácidas e a persistência da HSDC14. Dessa forma, é de
É uma condição freqüentemente encontrada na fundamental importância o controle do paciente com
clínica odontológica, por isso seu entendimento, reso- relação à sua dieta, principalmente a quantidade de áci-
lução e possível prevenção tornaram-se um dos maiores dos ingeridos5,9,11,14.
desafios tanto para os profissionais quanto para seus Visto a importância do aconselhamento nutri-
pacientes. A prevalência de HSDC pode variar de 4% a cional para tratamento e prevenção da HSDC e o alto
74%, dependendo da população estudada e dos méto- consumo de suco de laranja pela população, o objetivo
dos diagnósticos utilizados3. Em pacientes com doença deste trabalho foi avaliar in vitro o efeito da adição de
periodontal crônica, entretanto, a prevalência da HSDC é sacarose e da diluição do suco de laranja natural sobre
mais elevada devido à exposição da superfície radicular o grau de remoção de smear layer e exposição dos túbu-
em decorrência do processo da doença. Foi encontrada los dentinários.
uma prevalência de 72,5% a 98% nestes pacientes, suge-
rindo que o tratamento periodontal prévio e/ou a doen- MATERIAL E MÉTODO
ça periodontal exercem um papel na etiologia da HSDC4.
A dor é o único sintoma da HSDC, sendo a mes- O presente trabalho foi submetido e aprova-
ma curta e aguda por natureza, permanecendo apenas do pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
durante a aplicação do estímulo5. Dentre as teorias que Odontologia de Araraquara - Unesp.
tentam explicar a dor dentinária, a teoria hidrodinâmica Para a realização deste trabalho, foram utiliza-
é atualmente a mais aceita. Vários estímulos aplicados à dos 15 dentes humanos, extraídos por doença perio-
dentina provocam dor graças a um movimento rápido dontal avançada, que apresentavam a superfície radi-
do fluido dentinário, que ativa as unidades sensoriais cular íntegra. Os dentes foram conservados em soro
no bordo pulpo dentinário6. O pré-requisito necessário fisiológico para evitar o ressecamento. Inicialmente foi
para que ocorra a movimentação do fluido dentinário realizada a remoção do cemento radicular na porção
é a presença de túbulos dentinários abertos e patentes cervical da raiz por meio de fresas cilindro-cônicas* e,
com a polpa na superfície radicular5-7. em seguida, os dentes foram instrumentados com 40
A HSDC pode surgir a partir da perda de estru- movimentos de raspagem em cada superfície, utilizan-
tura dental na região cervical ou pela desnudação da do curetas Gracey 5-6** para formação de smear layer.
superfície radicular ocasionada pela migração apical da Posteriormente, estes dentes foram cortados com disco
gengiva marginal1. Muitos fatores podem provocar a ex- diamantado*** para obtenção de 40 amostras (3 mm
posição dentinária assim como a abertura dos túbulos x 3 mm) que foram distribuídas aleatoriamente nos
dentinários, por isso a HSDC apresenta uma etiologia seguintes grupos: 1- suco de laranja natural + açúcar;
multifatorial. Fatores endógenos e exógenos podem es- 2- suco de laranja diluído + açúcar; 3- suco de laranja
tar envolvidos no aparecimento da HSDC8. Dentre estes natural e 4- controle (água destilada). A laranja pêra foi
fatores destacam-se: técnica de escovação incorreta, há- a fruta cítrica utilizada no experimento por se tratar de
bitos alimentares, trauma oclusal, defeitos na formação um dos tipos de laranja mais utilizados para o preparo
dentária, defeitos na junção cemento-esmalte, doenças de sucos, e por apresentar um baixo valor de pH (3,8).
periodontais e doenças sistêmicas (bulimia, anorexia A diluição do suco natural foi feita numa proporção de
nervosa e distúrbios gástricos)8. uma parte de suco para quatro partes de água destilada,
A influência de muitos componentes da die- enquanto a proporção de açúcar (sacarose) adicionado
ta, principalmente os ácidos, como fator etiólogico
* nº 3202 - KG Sorensen, Barueri, SP, Brasil.
da HSDC tem sido demonstrada em vários trabalhos9- ** Hu-Friedy, Chicago, IL, EUA.
14
. Evidências in vitro indicam que tanto ácidos fortes *** KG Sorensen, Barueri, SP, Brasil.

356 Revista PerioNews 2007;1(4):355-60


[ Periodontia ]

ao suco natural e/ou diluído foi de 5 %15. escores do índice utilizado (p=0.0329), Figuras 1 a 4. Na
Os respectivos grupos foram subdivididos em comparação entre os grupos experimentais (teste Dunn),
dois subgrupos (tópico e fricção) e submetidos ao se- foi observada diferença significativa (p<0,05) apenas en-
guinte protocolo11-12. tre os grupos suco de laranja natural + açúcar (Grupo 1),
Tópico - Imersão no líqüido por cinco minutos e jato de (Figura 1) e controle (Grupo 4), (Figura 4), indicando que
água com seringa tríplice por 15 segundos. esse grupo promoveu maior remoção de smear layer e
Fricção - Imersão no líqüido por cinco minutos, escova- exposição dos túbulos dentinários (Gráfico 1).
ção por 30 segundos e jato de água com seringa tríplice Os resultados para a aplicação das mesmas subs-
por 15 segundos. tâncias por meio de fricção foram similares aos da apli-
Após a aplicação da metodologia descrita, as cação tópica (Gráfico 2). O teste de Kruskal-Wallis tam-
amostras foram secas à temperatura ambiente, fixadas bém indicou uma influência significativa das substâncias
em bases metálicas e levadas ao dessecador****. Depois testadas sobre a quantidade de smear layer presente
foram metalizadas no aparelho Bal-Tec SCD-050, para (p=0.0031), Figuras 5 a 8. As comparações post-hoc (tes-
que pudessem ser analisadas em microscópio eletrôni- te Dunn), no entanto, revelaram que apenas o suco de
co de varredura*****. Foram obtidas duas fotomicrogra- laranja natural (Grupo 3) Figura 7 foi significativamente
fias da parte central de cada amostra, com aumento de diferente do grupo controle (Figura 8), Gráfico 2.
1500 e 750 vezes. Foram utilizados filmes fotográficos Por outro lado, a comparação entre as formas de
Neopan SS 120-Fuji e as fotomicrografias foram analisa- aplicação (tópica x fricção) por meio do teste de Mann-
das por um examinador previamente calibrado, usando Whitney não foi significativa para nenhum dos grupos
um Índice de Remoção de smear layer11-12. experimentais (Tabela 3).
Grau 1 - Abertura total de túbulos dentinários.
Grau 2 - Abertura parcial de túbulos dentinários. GRÁFICO 1 - DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA DOS ESCORES PARA A
APLICAÇÃO TÓPICA
Grau 3 - Indícios de abertura de túbulos dentinários.
Grau 4 - Túbulos dentinários totalmente obliterados.

RESULTADOS

Como a avaliação foi feita por meio de um índice


representado por um sistema de escores, foram utiliza-
dos métodos não paramétricos de análise. Para a realiza-
ção da comparação entre os grupos experimentais, es-
tes foram considerados independentes quanto à forma
de aplicação das substâncias (tópica ou fricção). Dessa GRÁFICO 2 - DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIA DOS ESCORES PARA A
APLICAÇÃO POR FRICÇÃO
forma, a análise de variância não-paramétrica (Kruskal-
Wallis) foi aplicada para comparação da remoção de sme-
ar layer e exposição dos túbulos dentinários entre os gru-
pos segundo cada forma de aplicação. Para comparação
entre as formas de aplicação (tópica x fricção) em cada
substância testada, foi utilizado o teste de Mann-Whit-
ney. O nível de significância adotado foi de 5%.
O Gráfico 1 apresenta a distribuição da freqüência
dos escores atribuídos a cada grupo quando foi utilizada
a forma tópica de aplicação. O teste de Kruskal-Wallis in-
dicou uma influência significativa das substâncias testa-
das sobre a presença de smear layer representada pelos DISCUSSÃO

**** Corning, São Paulo, Brazil A dieta alimentar do paciente tem sido considera-
***** Jeol T330 A, Jeol Ltd., Peabody, MA, USA da como um dos fatores etiológicos mais importantes da

Revista PerioNews 2007;1(4):355-60 357


Zandim DL • Manzolli Leite FRM • Abi-Rached RSG • Sampaio JEC

HSDC, pois a ingestão freqüente de alimentos e bebidas de exposição, a ação salivar, a capacidade de dissocia-
ácidas pode provocar a perda de estrutura dental15-17 ou ção do ácido, a ação quelante dos citratos e a presença
simplesmente remover o smear layer da superfície radi- de açucar15-16.
cular, seguindo-se, muitas vezes, de sensibilidade9-11,14. Evidências in vitro demostraram que o suco de
laranja apresenta um potencial erosivo, resultando em
TABELA 3 - RESULTADOS DO TESTE DE MANN-WHITNEY PARA
remoção de smear layer e esposição dos túbulos denti-
AS COMPARAÇÕES ENTRE OS MODOS DE APLICAÇÃO (TÓPICO
E FRICÇÃO) SEGUNDO OS GRUPOS DE TRATAMENTO nários9-11,16. Dessa forma, o consumo excessivo de suco
Grupo Aplicação Soma dos postos p de laranja poderia aumentar o risco de ocorrência e/ou
recorrência de HSDC. Por ser um suco de fruta bastan-
1- suco natural + açúcar Tópica 27,5 1.000
te consumido pela população, o intuito deste trabalho
Fricção 27,5 foi avaliar in vitro o efeito da adição de sacarose e da
2 - suco diluído + açúcar Tópica 31,5 0.403 diluição do suco de laranja natural sobre a morfologia
Fricção 23,5 dentinária.
3 - suco natural Tópica 36,0 0.076
Duas formas de aplicação foram utilizadas em
nosso trabalho. A forma tópica foi utilizada para simular
Fricção 19,0
o contato da dentina cervical exposta com bebidas áci-
4 - Controle Tópica 27,5 1.000 das na cavidade bucal, enquanto a aplicação por meio
Fricção 27,5 de fricção foi realizada para verificar se a escovação con-
tribui para o aumento do efeito erosivo da dieta ácida.
Após os procedimentos de raspagem e alisamen- Essa mesma metodologia foi utilizada em trabalos an-
to radicular, com instrumentos manuais ou rotatórios, os teriores que também avaliaram o efeito de substâncias
túbulos dentinários permanecem recobertos por uma ca- ácidas sobre a superfície dentinária11-12.
mada de esfregaço denominada smear layer que impede Os resultados encontrados mostraram que o
a passagem dos estímulos pela obliteração dos túbulos suco de laranja natural promoveu a remoção de smear
dentinários18-20. Assim, a sensibilidade ocorre somente layer radicular com abertura total ou parcial dos túbulos
após alguns dias quando a escovação ou a ingestão de dentinários (Figuras 3 e 7), sendo que esse efeito tende
alimentos ácidos provocaria a perda desse esfregaço. No a diminuir com a diluição do suco natural (Figuras 2 e 6)
presente trabalho, a smear layer foi criada pela raspagem e tende a aumentar com a adição de sacarose (Figuras 1
da dentina radicular com curetas para posterior exposi- e 5). Em um estudo realizado com ratos, também foi ve-
ção às bebidas testadas. rificado que a adição de açúcar aumentava o potencial
Foi demonstrado em um trabalho in vitro que os erosivo de bebidas ácidas15. De acordo com esses auto-
ácidos da dieta apresentam efeitos diferentes na super- res15, o aumento do potencial erosivo não se deve a um
fície dentinária9. Soluções com alto valor de pH como efeito específico do açúcar, mas provavelmente pelo
café (5,5), leite (5,7) e chá (5,0) não produziram mudanças fato das soluções adocicadas permanecerem por mais
consistentes na superfície dentinária, enquanto todas as tempo na cavidade bucal, pela redução da secreção de
soluções com pH < 4 removeram o smear layer em graus saliva estimulada ou ainda pela alteração da capacidade
variáveis, após três minutos de exposição. Por outro lado, tampão da saliva.
a coca-cola e o iorgute, apesar do baixo valor de pH (2,3 e
4,1 respectivamente), provocaram exposição de poucos
túbulos dentinários em relação às demais bebidas ácidas
como limonada (2,2), vinho branco (2,6), suco de maçã
(3,0) e de laranja (3,3) que expuseram um grande número
de túbulos. Esses resultados mostraram que a ação dos Figura 1
Fotomicrogra-
ácidos sobre a estrutura dental não é diretamente pro- fia representa-
porcional ao valor de pH9. tiva do grupo
Além do pH, outros fatores podem influenciar suco natural +
açúcar (apli-
no efeito erosivo da dieta ácida sobre a estrutura dental cação tópica
como tipo de ácido presente e sua concentração, tempo - 1500 vezes).

358 Revista PerioNews 2007;1(4):355-60


[ Periodontia ]

Figura 2 Figura 7
Fotomicrogra- Fotomicrogra-
fia representa- fia representa-
tiva do grupo tiva do grupo
suco diluído + suco natural
açúcar (apli- (aplicação fric-
cação tópica ção - 1500
- 1500 vezes). vezes).

Figura 8
Figura 3
Fotomicrogra-
Fotomicrogra-
fia represen-
fia representa-
tativa do
tiva do grupo
grupo controle
suco natural
(aplicação
(aplicação tó-
fricção - 1500
pica - 1500
vezes).
vezes).

Existem relatos na literatura de que a superfície


dentária ao se tornar desmineralizada pela ação do áci-
do fica mais vulnerável à ação de abrasivos21. Entretan-
Figura 4
to, em nosso trabalho, este fato não foi constatado. O
Fotomicrogra-
fia represen- teste de Mann-Whitney não revelou diferença significa-
tativa do tiva para nenhum dos grupos experimentais quanto à
grupo controle
(aplicação forma de aplicação (Tabela 3). Nos Grupos 2 e 3 houve
tópica - 1500 uma redução do posto médio; porém, essa redução não
vezes).
foi estatisticamente significante.
Certa cautela deve ser tomada ao extrapolar es-
ses resultados para a condição clínica, pois o ambiente
bucal é bastante complexo e outras variáveis podem
Figura 5 modificar o efeito de bebidas ácidas na superfície den-
Fotomicrogra- tinária. No entanto, os resultados deste trabalho in vitro
fia representa-
sugerem que o suco de laranja natural pode exercer um
tiva do grupo
suco natural + papel na etiologia da HSDC. Dessa forma, seria interes-
açúcar (apli- sante recomendar aos pacientes que apresentam denti-
cação fricção
- 1500 vezes). na exposta que evitem o consumo excessivo de suco de
laranja natural e sempre que possível procurar diluir o
suco de laranja natural e evitar a adição de açúcar com
o intuito de reduzir o seu potencial erosivo.

Figura 6 CONCLUSÃO
Fotomicrogra-
fia representa-
tiva do grupo De acordo com a metodologia empregada e os
suco diluído + resultados encontrados, pôde-se concluir que:
açúcar (apli-
cação fricção 1. O suco de laranja natural promove a remoção de smear
- 1500 vezes). layer radicular e exposição dos túbulos dentinários.

Revista PerioNews 2007;1(4):355-60 359


Zandim DL • Manzolli Leite FRM • Abi-Rached RSG • Sampaio JEC

2. A adição de sacarose tende a aumentar o potencial Recebido em: out/2007


Aprovado em: dez/2007
erosivo do suco de laranja natural.
3. A diluição do suco de laranja natural tende a diminuir Endereço para correspondência:
o seu potencial erosivo. Departamento de Diagnóstico e Cirurgia -
Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp
4. A escovação realizada imediatamente após a imersão José Eduardo Cezar Sampaio
das amostras nos sucos testados não influenciou de Rua Humaitá, 1.680 - Centro - Cx. Postal 331
14801-903 - Araraquara - SP
forma significativa na remoção de smear layer e expo- Telefax: (16) 3301-6369
sição dos túbulos dentinários. jsampaio@foar.unesp.br

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Concurso para Professor Titular


em Implantodontia e Periodontia

Da esq. para a dir.: Francisco E.


Pustiglioni, Ricardo S. G. Abi
Rached, Wilson A. Sallum, Elcio
Marcantonio Jr, Benedicto Egbert
C. Toledo e Ney Soares de Araújo

No dia 31 de novembro, o doutor Elcio Marcantonio foi aprovado para o cargo de Professor Titular em Periodontia
e Implantodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp. A banca examinadora foi composta
pelos professores doutores Francisco E. Pustiglioni - USP/SP, Ricardo S. G. Abil Rached - Unesp/Araraquara,
Wilson A. Sallum/Unicamp, Benedicto Egbert C. Toledo - Unesp/Araraquara e Ney Soares de Araújo - USP/SP.

360 Revista PerioNews 2007;1(4):355-60


relato de caso clínico [ Periodontia ]

Regeneração tecidual guiada


em defeito periapical.
Relato de caso clínico
Guided tissue regeneration in periapical defect. Case report

Sérgio Luís da Silva Pereira*, Cláudio Maniglia-Ferreira**

RESUMO
O objetivo do tratamento endodôntico é remover técnica de regeneração tecidual guiada (RTG) foi
a causa da doença pulpar, limitando o efeito nos utilizada no tratamento de um defeito periapical
tecidos perirradiculares. A terapia endodôntica largo e profundo, demonstrando uma completa
cirúrgica é o tratamento de escolha quando os regeneração óssea após cinco anos e seis meses
dentes não respondem adequadamente ao trata- de acompanhamento.
mento convencional ou não podem ser tratados Unitermos - Defeito periapical; Apicectomia; Rege-
apropriadamente pela abordagem não-cirúrgica. neração óssea; Enxerto ósseo; Regeneração tecidual
Os autores apresentam um caso clínico em que a guiada.

ABSTRACT
The objective of root canal treatment is to remove the gical means. The authors present a case report in which
cause or potencial cause of the pulp space disease in the guided tissue regeneration technique was used in the
order to limit the effect on periradicular tissues. Surgical treatment of a deep/large periapical defect, showing a
endodontic therapy is the treatment of choice when tee- complete healing after five years and six months.
th have responded poorly to conventional treatment or Key Words - Periapical defect; Apicectomy; Bone
when they cannot be treated appropriately by nonsur- healing; Osseous graft; Guided tissue regeneration.

INTRODUÇÃO rado, a possibilidade de falha no tratamento é extrema-


mente baixa e a necessidade de cirurgia é mínima2,5-6.
O objetivo geral do tratamento endodôntico é Esta, por sua vez, somente deve ser indicada quando
reter dentes com doença pulpar irreversível e não-vi- esse objetivo não for alcançado por uma abordagem
tais em função no arco dental. A terapia endodôntica não-cirúrgica5-7. Na realidade, há poucas indicações para
envolve a remoção da polpa ou remanescentes de teci- o tratamento cirúrgico endodôntico, as quais devem sa-
do pulpar do sistema de canais radiculares, seguida por tisfazer princípios biológicos de uma terapia endodôn-
completa limpeza, remodelação e obturação do espaço tica convencional moderna e os interesses do paciente.
intra-radicular1. Entretanto, a complexa morfologia do A intervenção cirúrgica é bem indicada em alguns ca-
sistema de canais radiculares, incluindo ramificações sos de insucesso no retratamento endodôntico ou para
apicais, dificulta a remoção dos debris e de bactérias e pacientes que não aceitam se submeter novamente ao
seus produtos2-3, principalmente nas regiões próximas tratamento endodôntico convencional1.
ao ápice radicular e istmos4. O desenvolvimento da técnica de regeneração
Se o sistema de canais é apropriadamente des- tecidual guiada (RTG) tornou possível a neoformação
contaminado, remodelado e tridimensionalmente obtu- de cemento, ligamento periodontal e osso alveolar, por

*Doutor em Periodontia; Professor Titular de Periodontia e Clínica Integrada da Universidade de Fortaleza.


**Doutor em Endodontia; Professor Adjunto de Endodontia e Clínica Integrada da Universidade de Fortaleza.

Revista PerioNews 2007;1(4):361-5 361


Pereira SLS • Maniglia-Ferreira C

princípios de exclusão tecidual e criação e manutenção Após anestesia, o dente foi acessado, o sistema
de espaço necessário para estabilização do coágulo8. de canais foi reinstrumentado, descontaminado e remo-
Após 25 anos de pesquisas nesta área, a RTG pode ser delado, utilizando irrigação constante com uma solução
indicada para defeitos de furca grau II em molares in- de hipoclorito de sódio a 2,5%. O sistema de canais foi
feriores, aumento e preservação de rebordo alveolar, preenchido com hidróxido de cálcio associado a uma
recessões gengivais, deiscências e fenestrações implan- solução de digluconato de clorexidina a 2%. Após duas
tares e defeitos periapicais largos e profundos9. semanas, a dor e o desconforto ainda estavam presen-
O conceito de regeneração tecidual guiada apli- tes. A conduta clínica anterior foi repetida, mas também
cada aos defeitos periapicais é baseado na perspectiva falhou no propósito de remissão da sintomatologia clí-
de evitar o colapso do tecido conjuntivo para dentro da nica, direcionando o tratamento para uma abordagem
loja óssea, favorecendo o repovoamento de células com cirúrgica perirradicular.
potencial regenerativo, tornando possível uma regene- O sistema de canais foi tridimensionalmente ob-
ração óssea mais rápida e previsível, principalmente em turado com Guta-Percha e cimento de Grossman (Figu-
lesões com perda da cortical vestibular e lingual/pala- ra 2). Após anestesia infiltrativa, duas incisões relaxan-
tina e em casos de envolvimento endodôntico e perio- tes nas regiões distal do canino e mesial do molar foram
dontal combinados9-10. Estudos clínicos e relatos de caso realizadas, seguidas por uma incisão intra-sulcular e o
têm proposto diferentes abordagens regenerativas para descolamento de um retalho mucoperiosteal. Após
os defeitos periapicais, incluindo o uso de sulfato de este procedimento, a lesão foi removida, revelando um
cálcio11, enxertos periosteais12, enxertos ósseos13, mem- defeito ósseo de 9 mm de profundidade e 10 mm de
branas14-15, associação destas duas técnicas13,16-18 e mais largura mesiodistal (Figura 3). A apicectomia foi reali-
recentemente, plasma rico em plaquetas19. zada sem retroinstrumentação, seguida de curetagem
A proposta deste trabalho é apresentar um caso e irrigação do defeito com solução salina (Figura 4) e
clínico interdisciplinar em que um defeito periapical lar- preenchimento com enxerto ósseo bovino (Osseobond,
go e profundo foi tratado pela técnica de RTG, mostran- Baumer), previamente hidratado com solução salina
do resultados radiográficos após cinco anos e meio. por três minutos (Figura 5). Posteriormente, uma mem-

RELATO DE CASO CLÍNICO

Paciente do gênero masculino, normosistêmi-


co, 54 anos, compareceu à Clínica Integrada da Uni- Figura 2
Radiografia
versidade de Fortaleza reclamando de desconforto demonstrando
severo na região do segundo pré-molar superior di- obturação
tridimensional
reito. Ao teste de palpação na área apical o pacien- do conduto
te relatou dor, entretanto exsudato ou fístula não radicular pre-
estavam presentes. A radiografia periapical revelou viamente ao
procedimento
extensa radiolucidez na região apical associada a um de apicecto-
tratamento endodôntico insatisfatório (Figura 1). mia.

Figura 1
Radiogra-
fia inicial
demonstrando
defeito ósseo Figura 3
periapical Foto clínica
associado a demonstrando
tratamento defeito peria-
endodôntico pical amplo e
insatisfatório. profundo.

362 Revista PerioNews 2007;1(4):361-5


[ Periodontia ]

brana reabsorvível de cortical óssea bovina (Dentoflex, zação apresentava-se com aspecto de normalidade.
Odontec), previamente hidratada em solução salina Após seis meses do procedimento cirúrgico não havia
por 15 minutos, foi adaptada ao defeito estendendo- sintomalogia de dor, desconforto ou edema e as mar-
se 3 mm além de suas margens (Figura 6). O retalho gens gengivais estavam na mesma posição anterior à
foi suturado com poligalactina 4-0 (Vycril, Johnson & cirurgia, sem deiscência de retalho. A avaliação radio-
Johnson) com pontos interrompidos simples, porém o gráfica após oito meses demonstrou a formação da
cimento cirúrgico não foi utilizado. lâmina dura e preenchimento parcial do defeito com
osso trabecular (Figura 7).

Figura 7
Radiografia
periapical
após oito
meses de-
monstrando a
formação de
lâmina dura e
preenchimen-
Figura 4
to parcial do
Foto clínica
defeito ósseo
imediata-
apical.
mente após a
apicectomia.
Após cinco anos e meio, sinais clínicos de saúde
periodontal estavam presentes, associados à estabili-
dade das margens gengivais. Os aspectos radiográficos
demonstravam uma área radiopaca similar às regiões
adjacentes ao defeito periapical, denotando um pre-
enchimento ósseo total. A ausência de anquilose e a
Figura 5
presença do espaço do ligamento periodontal estavam
Foto clínica
após debri- claramente visíveis na região periapical, sugerindo re-
damento generação periodontal (Figura 8).
do defeito e
preenchimen-
to com enxerto Figura 8
ósseo bovino. Radiografia
periapical
após cinco
anos e seis
meses de-
monstrando
Figura 6
o preenchi-
Foto clínica
mento total
mostrando a
do defeito e
membrana
presença do
reabsorvível
ligamento
adaptada
periodontal na
ao defeito e
região perirra-
recobrindo o
dicular.
enxerto ósseo.

Ao paciente foi prescrito um regime antibiótico DISCUSSÃO


com 500 mg de amoxicilina durante sete dias, de oito
em oito horas, paracetamol por dois dias, de quatro O objetivo do tratamento endodôntico é limitar
em quatro horas e aplicação tópica de digluconato de o efeito da doença pulpar nas regiões periapicais. O tra-
clorexidina a 0,12% por sete dias, de 12 em 12 horas. tamento endodôntico cirúrgico é indicado quando os
As suturas foram removidas após dez dias e a cicatri- dentes respondem insatisfatoriamente ao tratamento

Revista PerioNews 2007;1(4):361-5 363


Pereira SLS • Maniglia-Ferreira C

convencional ou quando eles retalho, o qual não apresenta


não podem ser tratados ade- Embora não seja claro se a potencial osteogênico ou os-
quadamente por uma aborda- teoindutivo. Portanto, a RTG
1
regeneração periapical completa
gem não-cirúrgica . Os objeti- poderia aumentar a quanti-
vos da cirurgia periapical são é necessária ou somente se dade e a qualidade da rege-
debelar a lesão periapical, pre- a ausência de sintomatologia neração óssea periapical em
venir sua ocorrência e recons- clínica é suficiente para defeitos largos e profundos16.
truir os tecidos perirradicula- No presente caso clí-
determinar sucesso no tratamen-
res, de maneira que os dentes nico, o defeito periapical
comprometidos possam ter to, é indubitável que o objetivo apresentava-se largo e pro-
20
sua função restabelecida . final de qualquer tratamento fundo, quase envolvendo o
O princípio da RTG tem osso cortical palatino. Neste
é a resolução do processo
sido aplicada à cirurgia perirra- caso, uma técnica combina-
dicular para prevenir a migração patológico associada da utilizando enxerto ósseo
das células do tecido conjuntivo à reconstrução tecidual. e membrana poderia ser indi-
gengival e epitélio juncional, cada. Além do seu potencial
permitindo que células ósseas osteocondutor/osteoindutor,
e do ligamento periodontal regenerem os tecidos pe- os enxertos ósseos podem prevenir o colapso da mem-
riapicais21-22. Alguns estudos têm relatado resultados brana para dentro do defeito e manter o espaço para
favoráveis nos casos de prognóstico ruim, principal- regeneração, além de permitir uma melhor estabiliza-
mente defeitos profundos e com ausência de tábua ós- ção do coágulo. No presente estudo, osso bovino asso-
11,13-14,18
sea vestibular e/ou lingual/palatina . Entretanto, ciado a uma membrana reabsorvível foi utilizado. Após
outros estudos clínicos usando densitometria óssea e cinco anos e meio, os resultados clínicos e radiográfi-
tomografia computadorizada não observaram efeitos cos foram bastante favoráveis e estão em concordância
benéficos da RTG após períodos de seis e 12 meses de com outros estudos13,16-18. Entretanto, ainda não é con-
reavaliação20,23. Estes resultados sugerem que esta téc- clusivo se uma técnica combinada é melhor do que o
nica não apresenta vantagens adicionais em defeitos uso somente da mebrana, uma vez que outros estudos
ósseos de quatro paredes e confinados à região apical. têm relatado resultados semelhantes sem associação
Por outro lado, vale a pena ressaltar que o diâmetro e de enxertos ósseos13-14.
a profundidade dos defeitos não foram mencionados Estudos prévios demonstraram que não há di-
nestes estudos - dados importantes para avaliar o real ferença nos resultados regenerativos quando se com-
efeito da RTG nos defeitos periapicais25. param membranas reabsorvíveis e não-reabsorvíveis21;
Análises histológicas usando membranas não- entretanto, as reabsorvíveis tornam-se a primeira opção,
reabsorvíveis e reabsorvíveis, mostraram uma melhor por evitar uma segunda abordagem cirúrgica para sua
regeneração óssea em defeitos periapicais21-22, apesar remoção, reduzindo as chances de contaminação do de-
24
de mais recentemente, alguns autores observarem feito e comprometimento do processo regenerativo26-27.
que a regeneração periapical parece não se beneficiar A membrana utilizada neste caso clínico preencheu os
com a RTG. Mas, é interessante notar que neste estudo requisitos de uma membrana ideal, demonstrando fácil
os defeitos periapicais foram rasos (2 mm - 3 mm de manipulação, biocompatibilidade e criação de espaço.
profundidade e 1 mm de diâmetro), diferente dos apre- Embora não seja claro se a regeneração periapi-
sentados por outro estudo21, os quais foram transósseos cal completa é necessária ou somente se a ausência de
e com largura de 3 mm x 5 mm, e que apresentaram sintomatologia clínica é suficiente para determinar su-
melhores resultados com a RTG. cesso no tratamento, é indubitável que o objetivo final
25
De acordo com outros autores , a cicatrização de qualquer terapêutica é a resolução do processo pa-
incompleta é diretamente proporcional ao diâmetro do tológico associada à reconstrução tecidual. Nesta pers-
defeito ósseo. Este fato pode ser devido à distância das pectiva, os defeitos periapicais são mais favoráveis em
células ósseas ao centro do defeito ósseo, favorecendo relação aos periodontais quando se considera o poten-
seu repovoamento por células do tecido conjuntivo do cial regenerativo. Algumas caractéristicas desse tipo de

364 Revista PerioNews 2007;1(4):361-5


[ Periodontia ]

lesão, tais como distância do epitélio juncional, proxi- Investigações futuras envolvendo mais casos clínicos e
midade das células com potencial regenerativo, melhor períodos de proservação mais longos, bem como estu-
estabilidade do coágulo e biomateriais, além do menor dos histológicos controlados, são necessários para con-
risco de contaminação, podem favorecer uma melhor firmar estes resultados.
resolução clínica e radiográfica, principalmente em de-
Recebido em: jun/2007
feitos com prognóstico duvidoso.
Aprovado em: out/2007

CONCLUSÃO Endereço para correspondência:


Sérgio Luís da Silva Pereira
Av. Eng. Leal Lima Verde, 2086 - Alagadiço Novo
Dentro dos limites deste estudo, pode-se concluir 60833-520 - Fortaleza - CE
que a RTG alcançou o objetivo de favorecer a regenera- Tel.: (85) 3477-3200
luiss@unifor.br
ção óssea em um defeito periapical largo e profundo.

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Revista PerioNews 2007;1(4):361-5 365


revisão da literatura [ Cariologia ]

Manejo do paciente
com hipossalivação
Management of hyposalivation patients

Carlos Henrique Silva Pedrazas*, Mário Newton Leitão de Azevedo**, Sandra Regina Torres***

RESUMO
Inúmeras alterações sistêmicas, assim como uso de causada pela hipossalivação propõe-se o uso de
medicamentos poderão levar a um quadro de hi- substitutos salivares e técnicas para o aumento do
possalivação. Por sua vez, a redução do fluxo salivar fluxo salivar, cuja indicação irá depender do fator
propicia desconforto e aumenta a susceptibilidade etiológico e da gravidade da hipossalivação.
a processos infecciosos. Para diminuir a morbidade Unitermos - Xerostomia; Saliva; Hipossalivação.

ABSTRACT
Many systemic conditions or impairments as the rates may be used in order to reduce morbidity
use of drugs may cause hyposalivation. When sali- from hyposalivation. The type of treatment will
va is reduced, discomfort and infectious processes rely on the etiologic factors and severity of hypo-
may occur as consequences. Salivary substitutes salivation.
and some techniques for increasing salivary flow Key Words - Xerostomia; Saliva; Hyposalivation.

INTRODUÇÃO ração de seus componentes, o paciente poderá queixar-


se de boca seca. Denomina-se xerostomia à sensação
A saliva apresenta importante função protetora de boca seca2.
da mucosa oral com ação antimicrobiana1, conferindo Diversos são os fatores que levam ao quadro de
proteção à estrutura dentária e facilitando os processos hipossalivação (HS). Hábitos como o tabagismo, alcoo-
digestivos, gustativos e fala2. Consiste de componentes lismo e ingestão de bebidas cafeinadas, podem reduzir
que são secretados pelas glândulas salivares por meca- o fluxo salivar (FS)4. Entretanto, a causa mais comum é
nismos distintos. O primeiro fluido constituído por íons, decorrente da utilização de medicamentos xerogênicos
produzidos pelo sistema parassimpático e o segundo como diuréticos, laxantes, antiácidos, anoréticos, anti-
protéico produzido principalmente pelo sistema sim- hipertensivos, antidepressivos, antipsicóticos, sedativos,
pático3-4. O estímulo para estas glândulas é através do anti-histamínicos, anticolinérgicos, antiparkisonianos4,6-7.
olfato, paladar e da ativação dos proprioceptores que se Por outro lado, situações de estresse e condições sistê-
encontram intra ou peribucais5. micas como artrite reumatóide, síndrome de Sjogren,
Quando ocorre hipossalivação (diminuição do tratamento quimioterápico, radioterapia em região de
fluxo salivar) ou quando a saliva apresenta alguma alte- cabeça e pescoço, infecção pelo vírus da imunodeficiên-

* Especialista em Estomatologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestrando em Clínica Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
** Chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professor Adjunto de Clínica Médica pela Faculdade de
Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
*** Doutora em Ciências pelo Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professora Adjunta do Departamento de Patologia e Diagnóstico Oral da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Revista PerioNews 2007;1(4):369-73 369


Pedrazas CHS • Azevedo MNL • Torres SR

cia humana (HIV), hepatite C, diabetes mellitus, hipoti- dos os ácidos ascórbico, málico e cítrico, na forma de
reoidismo, menopausa, nefrite, doenças neurológicas e comprimido ou solução. Entretanto, mesmo promoven-
doença do enxerto contra o hospedeiro podem reduzir do um acréscimo do fluxo salivar, muitas vezes, satisfa-
o FS, que irá variar de acordo com a gravidade da doen- tório, tais ácidos têm contra-indicação devido à irritação
ça e a intensidade do tratamento respectivamente7-10. local da mucosa e a desmineralização do esmalte den-
Este trabalho propõe-se a abordar o manejo tário8, o que aumenta o risco de cavitações dentárias,
dos pacientes com HS, assim como das principais dor e risco de infecção sistêmica em idosos5. Para evitar
conseqüências desta alteração. estes problemas, sugere-se a utilização de alimentos
que contenham tais ácidos em sua composição, mas
que não causem os efeitos indesejáveis de quando uti-
REVISÃO DA LITERATURA lizados em sua forma farmacêutica. O ácido ascórbico é
encontrado em abundância em frutas como a laranja e
O manejo do paciente com HS deverá abranger a acerola15, o ácido málico na maçã e pêra5,15 e o ácido
medidas de prevenção e de limitação do dano e irá de- cítrico no limão15. Assim, combinando essas frutas, nos
pender de diversos fatores que vão desde o diagnósti- momentos de desconforto, proporciona alívio imedia-
co até a utilização de medicamentos apropriados. Para to e aumento do fluxo salivar por determinado período
verificação da função salivar, diversos métodos poderão de tempo. No entanto, nenhum ensaio clínico para este
ser empregados, sendo a ordenha da glândula e a sia- tipo de conduta foi realizado.
lometria os mais simples. O planejamento deverá estar Para a estimulação mastigatória, são preconiza-
baseado na etiopatogenia e na hipótese prognóstica. das as gomas de mascar que normalmente não pos-
Quando o fator etiológico é medicamentoso, o primeiro suem efeitos colaterais significativos, mas pode-se notar
passo é avaliar a possibilidade de substituição do medi- em alguns casos, irritação local8 e alterações gástricas,
camento por outro similar que não tenha como conse- quando utilizadas indiscriminadamente16. As gomas
qüência a HS11-12. Nos casos onde o prognóstico é mais promovem aumento do fluxo salivar imediato e dura-
favorável, como nos casos onde o parênquima glandu- douro16-17, sendo o tipo de abordagem bastante aceita
lar não sofreu destruição grave ou quando existe uma pela maior parte dos pacientes. As contra-indicações
diminuição parcial do fluxo salivar, o estimulante salivar das gomas de mascar são para os edêntulos; indivíduos
fisiológico pode ser eficaz11,13. No entanto, em muitos com próteses mal adaptadas; indivíduos que apresen-
casos o quadro de HS não melhora com este tratamen- tem disfunção miofascial e/ou da articulação tempo-
to e são necessárias manobras de controle salivar mais romandibular; indivíduos com alterações gástricas; e
específicas. aqueles que apresentem intolerância aos componentes
Os estimulantes salivares e os substitutos saliva- da goma16. Um dos cuidados básicos para a utilização
res são alternativas para o controle da HS. A indicação da goma de mascar é que ela não contenha sacarose
de uma alternativa ou outra dependerá da gravidade da em sua composição, para evitar a formação de cáries
causa. É importante ressaltar que para haver produção dentárias12 pois os mecanismos salivares protetores en-
normal de saliva, o indivíduo precisa estar hidratado, contram-se prejudicados.
ingerindo uma quantidade adequada de líqüidos dia- Para a estimulação medicamentosa, os fármacos
riamente14. indicados são os sialogogos e os agentes modificadores
da doença.
Estimuladores salivares Dentre os sialogogos, a pilocarpina na concen-
A estimulação salivar poderá ser feita através da tração de 1% e 2% só pode ser encontrada na forma
estimulação dos receptores orais (via aferente) ou por de colírio, no comércio nacional. Uma opção para o
ação direta no sistema nervoso autônomo (via eferente). uso da droga é o preparo da solução em farmácias de
A via aferente engloba estímulos fisiológicos gus- manipulação. A pilocarpina é um agente parassimpa-
tatórios e mastigatórios enquanto na via eferente o es- ticomimético que age como agonista dos receptores
tímulo salivar é medicamentoso e, conseqüentemente, muscarínicos de modo não-seletivo12, com atividade
apresenta maior quantidade de efeitos indesejáveis5,8. β-adrenérgica e excreção renal13. Promove estimulação
Para a estimulação gustatória, podem ser utiliza- das glândulas exócrinas e, conseqüentemente, secreção

370 Revista PerioNews 2007;1(4):369-73


[ Cariologia ]

salivar, melhorando o compo- de distúrbio gastrointestinal,


nente objetivo da boca seca. cefaléia, náusea, sudorese e
É mais eficiente nos pacientes O betanecol é um medicamento aumento na freqüência uri-
sem destruição grave do pa- análogo da acetilcolina, mas nária24-25. As precauções para
13
rênquima glandular . Diversas o uso da pilocarpina, também
resistente à ação das colinestera-
doses e formas de administra- se aplicam ao uso da cevimeli-
ção da pilocarpina foram estu- ses, que apresenta atividade na, e as contra-indicações são
dados 18-21.
Contudo, sua dose muscarínica. Utilizado para mais amenas devido a seletivi-
mais eficaz é a equivalente a pacientes com retenção urinária dade do medicamento.
dez gotas de pilocarpina a 1% O betanecol é um me-
pós-operatória ou pós-parto,
ou cinco gotas de pilocarpina dicamento análogo da acetil-
a 2%, quatro vezes ao dia, du- é outro medicamento estudado colina, mas resistente à ação
22
rante 12 semanas . Seu efeito para pacientes com HS. Melhora das colinesterases, que apre-
começa cerca de 15 minutos senta atividade muscarínica.
os sintomas subjetivo e objetivo
após sua administração23 e Utilizado para pacientes com
dura por cerca de uma a qua- da boca seca em pacientes que retenção urinária pós-ope-
tro horas23. fazem uso de antidepressivos ratória ou pós-parto, é outro
Por ser um medicamen- tricíclicos ou que sofreram radio- medicamento estudado para
to não seletivo, a pilocarpina pacientes com HS. Melhora os
terapia de cabeça e pescoço26.
promove maior quantidade sintomas subjetivo e objetivo
de efeitos adversos, que pa- da boca seca em pacientes
5
recem ser dose-dependentes que fazem uso de antidepres-
Tais efeitos colaterais são comuns aos medicamentos sivos tricíclicos ou que sofreram radioterapia de cabe-
colinérgicos, a saber: sudorese; cefaléia; aumento da ça e pescoço26. A posologia do betanecol é de 25 mg,
freqüência urinária; distúrbio gastrointestinal; visão três vezes ao dia e podendo aumentar para 50 mg, três
22
turva; contração do músculo liso ; aumento da secre- vezes ao dia em pacientes com hipossalivação grave26
ção pulmonar; taquicardia. Em doses clínicas não pa- e tem efeito máximo em cerca de uma hora após o
recem ocorrer efeitos significativos no sistema cardio- uso13. Os efeitos colaterais são dose dependente e di-
8
vascular , mas a sua utilização em pacientes cardíacos, ficilmente são significativos26. Os mais freqüentemente
com asma, bronquite crônica ou doença pulmonar encontrados são: sudorese, distúrbios gastrointestinais,
obstrutiva deve ser discutida com o clínico do pacien- bradicardia seguida de taquicardia reflexa, além de alte-
te. As contra-indicações absolutas ao uso da pilocarpi- rações pulmonares13.
na incluem pacientes portadores de glaucoma; cólica Outro medicamento encontrado em alguns paí-
8
renal e inflamação aguda da íris . As interações medi- ses da Europa e Japão para o manejo da boca seca é o
camentosas poderão ocorrer com diversos fármacos, anetoltritiona, que estimula a secreção de acetilcolina
principalmente os agonistas β-adrenérgicos e outros pelo sistema parassimpático e cujo efeito colinérgico
parassimpaticomiméticos13. parece agir diretamente sobre as células responsáveis
Assim como a pilocarpina, a cevimelina é um pela secreção salivar1. A dose recomendada é de 25 mg,
agonista colinérgico que se liga aos receptores musca- três vezes ao dia1. O anetoltritiona é um fármaco utili-
rínicos13, com efeito sialogogo semelheante e seletivi- zado primariamente para estimular a secreção biliar de
dade para M313,24-25, o que leva a uma diminuição dos metabolismo renal e suas contra-indicações limitam-se
12
efeitos adversos . Por possuir afinidade mínima com o a pacientes que possuam problemas renais e gastroin-
receptor cardíaco M2, é melhor tolerado por pacientes testinais. Um ensaio clínico foi realizado com esse me-
24
com problemas cardiovasculares . Sua dose usual é de dicamento para verificar a eficácia em pacientes com
30 mg, três vezes ao dia, com concentração plasmática hipossalivação mostrando aumento do fluxo salivar,
máxima atingida duas horas após ingestão e meia-vida redução da xerostomia e poucos efeitos colaterais gas-
de cinco horas24. Os efeitos colaterais da cevimelina são trointestinais1.
dose-dependente e constituem-se, principalmente, Alguns ensaios clínicos foram realizados com

Revista PerioNews 2007;1(4):369-73 371


Pedrazas CHS • Azevedo MNL • Torres SR

medicamentos mucolíticos como a bromexina para nida14. A escolha entre um ou outro tipo de saliva artificial
comprovar sua eficácia na fluidez salivar, mas os resul- deverá pautar-se no tempo de efeito, lubrificação, custo
tados foram controversos13. e, principalmente, adaptação do paciente.
O tratamento da doença de base causadora da hi- Suas principais indicações são para as situações
possalivação deve melhorar os sintomas da xerostomia. extremas de hipossalivação que não respondem ao tra-
Poucos estudos avaliaram o fluxo salivar no tratamento tamento medicamentoso e pacientes que apresentem
com cloroquina, antiinflamatórios não esteroidais (Ai- contra-indicação para o uso de medicamentos sialogo-
nes), metotrexate e corticoesteróides em pacientes com gos. A saliva artificial pode ser aplicada quantas vezes
doenças reumatológicas23. o paciente achar necessário, sendo o mínimo de três
vezes ao dia14.
Substitutos salivares
Nos casos de perda grave ou ausência de tecido Manejo das conseqüências
glandular ativo remanescente (pacientes com síndrome da xerostomia
de Sjogren ou que sofreram radioterapia em região de As infecções mais comuns conseqüentes da hipos-
cabeça e pescoço etc) a saliva artificial e os lubrificantes salivação são o aumento da suscetibilidade a candidíase
poderão ser utilizados promovendo, principalmente, a oral, a doença cárie e os problemas periodontais23.
melhora do sintoma da HS, além da melhora da função O controle da placa dental deve ser rigoroso.
oral como um todo11,17. Além disso, o uso de flúor tópico neutro deve ser pres-
Como característica geral, os substitutos saliva- crito em forma de bochecho ou aplicado em moldeiras.
res não necessitam prescrição e são eficientes por pou- O flúor gel poderá ser manipulado em farmácias e uti-
co tempo. A sua utilização em situações de extremo lizado até duas vezes ao dia nos casos mais graves de
desconforto causado pela HS como antes das refeições, hipossalivação. O uso combinado de flúor e clorexidina
antes de dormir e durante a noite, quando o fluxo sali- tem mostrado melhor efeito em pacientes que sofreram
var pode diminuir a praticamente zero, costuma gerar tratamento radioterápico23.
conforto momentâneo5. Nos pacientes com candidíase oral, indica-se o
A saliva artificial promove alívio momentâneo e se uso de antifúngicos tópicos como a nistatina ou o mi-
divide em dois grupos: composto a base de carboxime- conazol, três vezes ao dia, durante 15 dias23. Em casos
tilcelulose e a base de mucina, que é mais efetiva e me- refratários ou quando o paciente é imunocomprometi-
lhor tolerada. Promovem alívio momentâneo5,8. A saliva do, torna-se necessário o uso de antifúngicos sistêmicos
artificial é produzida por diversos fabricantes e, também, como fluconazol 100 mg, uma vez ao dia, por dez dias
pode ser manipulada de acordo com a composição defi- ou ainda, o cetoconazol 200 mg duas vezes ao dia, por
duas semanas23,27.
Problemas digestivos também podem ser encon-
trados em pacientes com HS, pois pode haver dificulda-
Como característica geral, os substitutos de na ingestão de alimentos ricos em fibras, restringin-
salivares não necessitam prescrição do a dieta a alimentos pastosos ricos em carboidratos e
dificultando a formação do bolo alimentar28. Muitos pa-
e são eficientes por pouco tempo. cientes só conseguem ingerir os alimentos com auxílio
A sua utilização em situações de de líqüidos ou outros lubrificantes orais.
extremo desconforto causado pela
CONCLUSÃO
HS como antes das refeições, antes
de dormir e durante a noite, quando A abordagem ao paciente com boca seca deve-
o fluxo salivar pode diminuir rá ser feita de acordo com sua etiologia. Para isso, uma
a praticamente zero, costuma gerar anamnese e exame clínico sistemáticos são fatores de-
terminantes para o correto diagnóstico. A escolha do
conforto momentâneo5. tratamento deverá ser baseada na capacidade da glân-
dula salivar em produzir saliva. Se há preservação de es-

372 Revista PerioNews 2007;1(4):369-73


[ Cariologia ]

trutura glandular ativa, tanto os estímulos gustatórios, Recebido em: out/2007


Aprovado em: dez/2007
mastigatórios ou medicamentosos costumam melhorar
os sintomas. Já para os pacientes que apresentem des- Endereço para correspondência:
truição grave do parênquima glandular, os substitutos Sandra Torres
Rua Almirante Gomes Pereira, 130 - Apto. 202 - Urca
salivares são os mais indicados. 22219-170 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 9922-7847
sandratorres@ufrj.br

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Revista PerioNews 2007;1(4):369-73 373


INFORME PUBLICITÁRIO

Oral-B promove 1o Fórum para


o mercado odontológico brasileiro
No dia 27 de setembro, a Oral-B reuniu cerca de 150 cirurgiões-dentistas em seu
o
1 Fórum para o mercado odontológico. O objetivo do evento era proporcionar para
os profissionais do setor uma oportunidade de atualização.

Para esse evento, a marca contou com um estrutura das doenças e trabalhem de dentro para
time impecável de palestrantes. A Mestre em Ma- fora e de fora para dentro”, diz Sandra.
teriais Dentais e Doutora em Odontopediatria pela Durante a palestra, a doutora afirmou ainda
Faculdade de Odontologia da Universidade de São que o objetivo do trabalho que vem desenvolvendo
Paulo, Profa. Dra. Sandra Kalil Bussadori; o Mestre e é tornar essa visão aplicável a todas as camadas da
Especialista em Dentística Restauradora pela Facul- sociedade. “O primeiro Fórum Oral-B também cola-
dade de Odontologia da Universidade de São Paulo borou para galgarmos mais um degrau na busca de
e Coordenador do Curso de Especialização em Den- alcançar esse objetivo, pois colabora para uniformi-
tística do Cetao – Instituto de Ensino Superior e Pós- zar e padronizar a linguagem, fazendo com que os
Graduação em Odontologia, Prof. Dr. José Carlos Ga- cirurgiões-dentistas tenham em mente que, com
rófalo; o professor Livre-Docente do Departamento esse trabalho, é possível atingir um maior número
de Ortodontia e Odontopediatria da Faculdade de de pessoas, implementando técnicas cada vez mais
Odontologia da Universidade de São Paulo e Coor- conservadoras. Técnicas essas que são simples, bara-
denador do Curso de Especialização em Ortodontia tas e, por isso, permitem atingir comunidades mais
do Cetao, Prof. Dr. Jorge Abrão, e o professor Livre- carentes, pessoas que não tinham acesso algum à
Docente do Departamento de Estomatologia, Disci- Odontologia”, completa ela.
plina de Periodontia da Faculdade de Odontologia O Prof. Dr. José Carlos Garófalo, em sua pa-
da Universidade de São Paulo e professor visitante lestra sobre “Odontologia estética – diretrizes e
da University of Texas Health Science Center – Hous- possibilidades”, além de abordar as novidades para
ton, EUA, Prof. Dr. Luiz Alves de Lima. essa área, falou um pouco sobre a interação desse
A Profa. Dra. Sandra Kalil, em sua palestra “No- segmento com as outras especialidades odontoló-
vas técnicas e práticas de alta eficiência no controle gicas. “O resultado do tratamento estético é fruto
da doença cárie”, afirmou que, embora alguns con- da interação das especialidades, é multidisciplinar.
ceitos ainda estejam muito arraigados para o cirur- Não é possível para um especialista dessa área so-
gião-dentista, a Odontologia está, aos poucos, dei- lucionar a queixa de um paciente isoladamente,
xando de ser estritamente curativa para tornar-se sem a colaboração da Ortodontia, da Periodontia
também minimamente invasiva. Segundo a especia- ou da Implantodontia, por exemplo. Assim como,
lista, cada vez mais, os profissionais estão buscando em muitos casos, especialistas de outras áreas re-
técnicas que desgastem cada vez menos a estrutura correm aos profissionais de Odontologia estética
dental, preservando-a o máximo possível. “Para que para finalizar seus tratamentos”, avalia o Dr. José
esse processo seja cada vez mais aprimorado, é de Carlos Garófalo.
extrema importância que os cirurgiões-dentistas se Já o Prof. Dr. Jorge Abrão foi responsável pela
atualizem, conheçam ainda mais profundamente a apresentação sobre “Cuidados com a estética e a
Fórum Oral-B: reunião
de grandes nomes da
Odontologia.

saúde periodontal no tratamento ortodôntico”. Na


opinião do Dr. Abrão, nos últimos anos houve um
grande crescimento da Ortodontia no Brasil, isso são fundamentais para que o resultado final seja
porque houve um aumento significativo do acesso muito próximo do natural; no entanto, é necessá-
dos cirurgiões-dentistas a cursos dessa área. “Com rio lembrar que existem outros fatores, como, por
um maior número de profissionais e locais onde exemplo, a gengiva que envolve esses dentes, suas
são ministrados cursos da área, há maior acesso a características, sua coloração. Tudo isso precisa
esse tipo de tratamento para um maior número de ser considerado e faz parte do resultado estético
pessoas”. O especialista disse ainda que a Ortodon- final”, afirma Lima. “Hoje existem técnicas de re-
tia faz parte de um ciclo de disciplinas que exigem construção que corrigem a falta de gengiva, per-
conhecimento amplo, pois existe uma inter-re- das de dentes e permitem ótimas reconstituições,
lação de extrema importância com essas demais alcançando um resultado estético final adequado”,
áreas. “O profissional tem de ter conhecimento em completa ele.
todas as áreas, é necessário ter uma visão conjuga- Para a Oral-B, o objetivo do 1o Fórum para o
da com outras especialidades. É importante a visão Mercado Odontológico Brasileiro foi cumprido. O
do todo”, acrescenta ele. evento, além de ser mais uma ação de relaciona-
Encerrando o Fórum, os cirurgiões-dentistas mento com esse público tão importante, propor-
puderam acompanhar a palestra “Estética em Pe- cionou a esses profissionais a oportunidade de ou-
riodontia e Implantodontia”, ministrada pelo Prof. vir grandes especialistas da área. “Queremos que
Dr. Luiz Alves de Lima. Sobre o tema, o especialis- esse seja o primeiro de muitos Fóruns promovidos
ta declarou que os materiais têm um papel mui- pela Oral-B e que esses eventos tornem-se um im-
to importante; entretanto, a Odontologia estética portante instrumento de atualização para os pro-
para essas especialidades, bem como as demais fissionais do setor odontológico”, afirma Carlos Ke-
especialidades, vai muito além disso. “Os materiais mel, Gerente de Relações Profissionais da Oral-B.
estudo clínico [ Cariologia ]

Relação entre níveis salivares de


Estreptococcos do grupo Mutans
nos pares de mães e seus filhos
Relation between salivary levels of S. mutans in
pairs of mothers and their child

Sonia Groisman*, Kelli Moraes Amorim**, Viviane de Andrade Cancio **

RESUMO
Os Etreptococcos do Grupo Mutans são um dos UFRJ, onde foram processados. De cada placa de
principais microorganismos envolvidos no proces- MSB, efetuou-se a contagem das unidades forma-
so carioso e colonizam a cavidade bucal de bebês doras de colônia (UFC) de Estreptococcos do Grupo
após a irrupção dos primeiros dentes decíduos. Mutans. Os dados foram analisados estatisticamen-
Esse grupo bacteriano pode tanto ser transmitido, te, através do cálculo do coeficiente de Pearson. Os
quanto avaliado através da saliva, sendo a mãe a resultados evidenciaram a correlação positiva entre
principal fonte desta transmissão para a criança. os níveis de EGM na saliva de mães e seus respec-
Partindo desse princípio, propôs-se neste estudo, tivos filhos e a amostra estudada revelou 100% de
avaliar a relação níveis salivares de EGM de 20 pa- altos níveis salivares. O tratamento odontológico
res mãe e filho. As amostras salivares foram obtidas do bebê/criança deve abranger a mãe, para sua
após aprovação do Comitê de Ética da UFRJ e trans- efetivação em termos de saúde.
portadas em isopor com gelo para o laboratório de Unitermos - Transmissibilidade da doença cárie;
microbiologia oral do Instituto de Microbiologia da Microorganismos cariogênicos; Mães e filhos.

ABSTRACT
The S. mutans are one of the principal microorganisms de Janeiro. In each plates, it was calculated the number
involved in the etiology and development of caries pro- of Colony Forming Units of S.Mutans.The data where
cess. These microorganisms colonized babies mouth analyzed through Pearson coefficient. The results sho-
after the deciduous teeth irruption. S. mutans may be wn positive correlation between salivary levels of S.
transmitted and analyzed through saliva. Since mother Mutans from mothers and their child and 100% of the
is involved in these bacterial transmit ion, the aim of sample had high S.Mutans salivary levels. The Dental
this study was to evaluated the relation between 20 treatment in babies and child need to involve and treat
pairs of mother and their child .Salivary samples were the mothers in order to achieve health.
colleted by aspiration and processed in the microbio- Key Words - Transmissibility of caries disease; Ca-
logical lab of microbiology of federal University of Rio riogenic microorganisms; Mothers and child.

* Professora Adjunta do Departamento de Odontologia Social e Preventiva da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Doutora em Odontologia Preventiva
pela Faculdade de Odontologia Federal Fluminense; Coordenadora da Especialização em Saúde Coletiva da UFRJ.
** Odontólogas graduadas pela Universidade Unigranrio.

Revista PerioNews 2007;1(4):377-80 377


Groisman S • Amorim KM • Cancio VA

INTRODUÇÃO Estudos experimentais demonstram que os ris-


cos de contágio de EGM aumentam substancialmente
Muitos estudos têm relatado que os níveis de Es- quando mães e adultos mal informados beijam as crian-
treptococcos do Grupo Mutans (EGM) em amostras de ças na boca ou alimentam-se com os mesmos talheres.
saliva se relacionam com o risco de cárie em crianças, As crianças com menos de dois anos de idade são víti-
adolescentes e adultos. Outros estudos mostram a forte mas mais indefesas na transmissão bacteriana. A cavi-
correlação existente entre indivíduos altamente infecta- dade bucal é, portanto, o reservatório natural dos EGMs
dos com Estreptococcos do Grupo Mutans e a alta pre- que é transmitido através da saliva, sendo a mãe a prin-
valência de cavidades cariosas. cipal fonte de transmissão para a criança8-9.
A infecção precoce pelos Estreptococcos cario- No caso específico de EGM foi observado que
gênicos aumentam significativamente o risco de ocor- caso a criança não fosse contaminada com grandes nú-
rência de lesões cariosas na dentina de elementos decí- meros destes microorganismos até aproximadamente
duos. O diagnóstico da doença cárie não deve se limitar os quatro anos de idade, a implantação destas bactérias
apenas à identificação e contagem de lesões cariosas seria dificultada, pois a flora bacteriana bucal já estabe-
sejam elas cavitadas ou não. lecido encontra-se em equilíbrio10-12.
Os níveis salivares maternos de EGM relacionam- A literatura descreve que o padrão e o grau de
se com o desenvolvimento de cavidades cariosas em transmissibilidade microbiana dependem de diversos
seus filhos, ou seja crianças cujas mães tinham altos ní- fatores: o nível de infecção dos pais, bebês ou qualquer
veis salivares de EGM, apresentavam mais sinais clínicos pessoas que cuida das crianças, a freqüência do contato
da doença cárie, do que crianças cujas mães apresenta- salivar, a dieta oferecida e o próprio estado de imunida-
vam baixos níveis salivares de EGM. de individual13-14.
A literatura demonstrou a origem desta coloniza- Uma das questões mais discutidas atualmente
ção precoce, a partir da correlação das análise de concen- na Odontopediatria, quando se leva em consideração
trações salivares de EGM no binômio materno-infantil1. o binômio materno infantil, perpassa não apenas pelo
papel da mãe na determinação precoce dos hábitos ali-
REVISÃO DA LITERATURA mentares e de higiene15, mas também na transmissão
de bactérias cariogênicas, interferindo na pressão cario-
Os testes salivares são preditores de boa qualida- gênica exercida no bebê16-17.
de para a doença cárie e podem ser utilizados mesmo
em pacientes bebês, sendo que foi encontrado um per- PROPOSIÇÃO
centual de coincidência de 100% entre os exames clí-
nico e bacteriológico para pacientes classificados como O objetivo deste estudo foi determinar salivares
sem atividade de doença2. de Estreptococcos do Grupo Mutans nos pares de mães
Existe correlação entre a contagem de níveis sa- e seus respectivos filhos, assim como testar sua possí-
livares de EGM em pares de mães e filhos. A mãe com vel correlação, no binômio materno infantil, de bebês
altos índices salivares de Estreptococcos do Grupo Mu- atendidos na clínica de bebês. Departamento de Odon-
tans (EGM) é uma fonte de infecção muito próxima da tologia social e preventiva, no IPPMG, da Universidade
criança. Se, por exemplo, ela prova a comida usando a Federal do Rio de Janeiro, após aprovação do Comitê
mesma colher para alimentá-la pode introduzir a cada de Ética em Pesquisa da UFR.
vez, centenas de unidades formadoras de colônias (UFC)
na boca da criança3-4. METODOLOGIA
A transmissão mais provável ocorre via saliva
nos objetos domésticos contaminados com saliva, tal Para a realização do presente estudo efetuou-se
como colheres e escovas5. Existe uma relação entre a os seguintes passos:
magnitude da reserva materna do microorganismo e a Seleção dos pacientes - Foram selecionados 20 in-
probabilidade de infecção nos bebês quando níveis sali- divíduos, mães com faixa etária entre 20 e 30 anos
vares de microorganismos nas mães excedem a 100.000 e bebês com idade oscilando entre um e dois anos.
UFC de EGM por ml/saliva6-7. Nenhum dos sindivíduos testados usou antimicrobia-

378 Revista PerioNews 2007;1(4):377-80


[ Cariologia ]

nos tópicos ou sistêmicos, nem se submeteram a pa- dos pares de mães e seus filhos.
lestras ou a instruções odontológicas pelo menos seis Observou-se que através do cálculo do coeficien-
meses antes da coleta ou apresentou qualquer com- te de Pearson, houve uma correlação positiva entre os
ponente sistêmicos debilitante que pudesse interferir níveis salivares de Estreptococcos do Grupo Mutans de
no resultado do estudo. Todas as mães concordaram mães e seus respectivos bebês.
em participar do estudo, assinando um termo de con-
sentimento prévio.
Coleta de amostras - As amostras de saliva de todas as GRÁFICO 1 - CORRELAÇÃO ESTATISTICAMENTE SIGNIFICATIVA POSITI-
mães e seus respectivos bebês, foram obtidas por aspi- VA ENTRE OS NÍVEIS SALIVARES DE EGM DAS MÃES E SEUS FILHOS

ração em seringa insulínica estéril. Imediatamente após,


todas as seringas com pelo menos 1,0 ml de saliva fo-
ram transportadas em isopor com gelo para o laborató-
rio de microbiologia oral do Instituto de Microbiologia
da UFRJ, onde foram processados.
Processamento das amostras - As amostras foram
transferidas para frascos coletores estéreis e submetidas
à banho-maria em 55ºC por cinco minutos, de modo a
desorganizar grumos de mucina. Subseqüentemente, GRÁFICO 2 - PERCENTUAL DE CORRELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS
SALIVARES DE MÃES E SEUS FILHOS
0,5 ml de cada amostra foi diluído decimalmente em
solução saliva estéril e nas diluições adequadas, cole-
tou-se 0,1 ml do conteúdo e inoculou-se em meio de
cultura MSB (mitis-salivares) com sacarose e Bacitracina.
O material real foi inoculado sobre o meio sólido, uti-
lizando-se bastões de vidro estéreis e as placas (MSB)
foram inoculadas à 37ºC por 48 horas em anaerobiose.
Leitura - De cada placa de MSB, efetuou-se a contagem
das unidades formadoras de colônia (UFC) de Estrepto-
coccos do Grupo Mutans. O número obtido foi multipli-
cado pelo produto da diluição e ajustado para 1,0 ml de
saliva, de modo a se obter uma contagem real de UFC
bacterianas por 1,0 ml de saliva coletada. DISCUSSÃO
Avaliação estatística - Os dados foram analisados esta-
tisticamente através do cálculo do coeficiente de Pear- Em relação aos níveis salivares de EGM, dos pares
son, onde tentou-se estabelecer o nível de correlação mãe/ filho, observou-se que 80% deles apresentavam o
entre a contagem salivar de Estreptococcos do Grupo mesmo nível de Estreptococcos, sendo que, dentre os
Mutans das mães e seus respectivos bebês. demais, as mães geralmente apresentavam um maior
nível de unidade formadora de colônia (UFC) de saliva,
RESULTADOS resultados esses que concordam com os obtidos por Er-
sin1-2,6-10,12,17.
Os Estreptococcos do Grupo Mutans foram en- Vários estudos indicam uma correlação entre os
contrados em todas as amostras de saliva de mães e níveis de Estreptococcos na cavidade bucal das mães e
bebês. seus filhos, e que a mãe não só constitui a principal fon-
O Gráfico 1 ilustra as amostras salivares das te de EGM parar seu(s) filho(s), mas também que o nível
mães, evidenciando correlação estatisticamente posi- desses Estreptococcos pode implicar a extensão da co-
tiva com os níveis salivares de seus filhos (com exce- lonização de suas crianças3-7,13-14,16.
ção dos binômios 1 e 3), no que tange níveis salivares Pesquisas como estas podem servir como critério
de EGM. O Gráfico 2 evidencia um percentual de 80% para selecionar medidas de prevenção clínicas tornan-
com correlação positiva entre níveis salivares de EGM, do mais viável a relação custo-eficiência dos tratamen-

Revista PerioNews 2007;1(4):377-80 379


Groisman S • Amorim KM • Cancio VA

tos preventivos, que devem ser iniciados mais precoce- odontopediatria, não pode mais se ater apenas ao bebê
mente no binômio-materno infantil. e a criança, ele necessita tratar do binômio materno-in-
fantil, para promover saúde.
CONCLUSÃO
Recebido em: out/2007
Aprovado em: dez/2007
• Existe uma correlação positiva entre os níveis de EGM
na saliva de mães e seus respectivos filhos. Endereço para correspondência:
Sonia Groisman
• A amostra estudada revelou 100% de altos níveis sali- Rua Viúva Lacerda, 246 - Apto. 102 - Humaitá
vares, no binômio materno-infantil. 22261-050 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2535-0455
Pautado na literatura e nos resultados do presen-
sonia@dentistas.com.br
te trabalho, os autores concluem que o tratamento da

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Odontol Univ São Paulo 1999 Jul-Set;13(3): 225-31. 17. Ersin NK, Kocabas EH, Alpoz AR, Uzel A. Transmission of Strepto-
10. Caufield PW, Cutter GR, Dasanayake AP. Initial acquisition of Initial coccus mutans in a group of Turkish families. Oral Microbiol Im-
acquisition of mutans streptococus by infants: evidence for a dis- munol 2004;19:408–10. Blackwell Munksgaard; 2004.

380 Revista PerioNews 2007;1(4):377-80


H B

Revista PerioNews 2007;1(4):385-95 385


COLGATE

A importância dos cremes dentais


para a saúde pública

386 Revista PerioNews 2007;1(4):385-95


[ Caderno Especial ]

Revista PerioNews 2007;1(4):385-95 387


CURADEN

Higiene oral iTOP: limpeza dente a dente


entanto, as escovas interdentais devem possuir cerdas
longas, macias e, principalmente, diâmetros adequados
que permitam o acesso aos espaços interproximais de
forma individualizada sem provocar traumas ou injú-
rias“, orienta Hugo Roberto Lewgoy, professor de Bio-
materiais em Odontologia e Dentística da Uniban, de
Dentística e Materiais Odontológicos da UMC.
As escovas interdentais comuns possuem um
Sonda interdental centro metálico muito espesso, além de cerdas duras,
espessas e muito curtas. “Uma escova interdental ina-
A higiene oral iTOP (individually Taught Oral Pro- dequada funciona como um agente traumático provo-
phylaxis), preconizada pelo professor Jiri Sedelmayer, cando retração gengival e uma conseqüência estética
da Universidade de Hamburgo, Alemanha, tem como indesejada pela formação dos chamados black holes
filosofia uma higiene completa, eficiente e atraumática. que são pontos ou áreas escuras que se formam entre
Ela é a higienização individualizada dente a dente, espa- os dentes pela retração das papilas gengivais“, afirma
ço por espaço de todos os nichos possíveis de retenção Lewgoy. Para auxiliar a higiene oral, a última novidade
da placa dental, sendo a escova interdental a principal tecnológica desenvolvida é a prova medidora dos espa-
responsável por esta tarefa. ços interdentais ou Sonda IAP Prime da Curaden Swiss.
Há 30 anos, eventualmente, apenas os pacientes
com problemas periodontais utilizavam escovas inter-
dentais. Mais tarde, em meados dos anos 80, os cirur-
giões-dentistas começaram a recomendar que estas
escovas fossem utilizadas para higienização de próteses
fixas. A partir da década de 90, as escovas interdentais
se firmaram também como a melhor alternativa nas
áreas de Prevenção, Ortodontia e Implantodontia. “No
Escova interdental

SONDA IAP PRIME E ESCOVA INTERDENTAL CURAPROX


Esta sonda possibilita uma perfeita adaptação das escovas interdentais aos espaços interproximais, que são previa-
mente calibrados pelo profissional por meio de diferentes medidas de diâmetro, evidenciadas pelas cores da sonda.
Na realidade, pode-se dizer que estas escovas interdentais foram estandardizadas de forma semelhante ao que
ocorreu no passado com as limas e os cones endodônticos. A sonda medidora do espaço interdental indica qual é a
escova mais adequada a ser utilizada especificamente em cada dente, de forma totalmente individualizada.
Esta nova geração de escovas interdentais possui uma haste metálica, fabricada com um fio totalmente isento de
níquel, além de suas cerdas possuírem filamentos muito longos, ultrafinos, flexíveis e com extremidades arredonda-
das e polidas. Com uma durabilidade cinco vezes maior, não provocam galvanismo e possibilitam a desorganização
da placa bacteriana em regiões côncavas inacessíveis, inclusive ao fio dental. As escovas interdentais previamente
calibradas por sondas medidoras análogas aos espaços interproximais são a chave do sucesso da higiene oral iTOP.

Mais informações em www.curaden.com.br

388 Revista PerioNews 2007;1(4):385-95


[ Caderno Especial ]
PHARMAKIN

A força da inovação na
saúde buco-dental
Desde 1964 o Laboratório KIN desenvolve e co- objetivo comum: levar a saúde buco-dental para a
mercializa produtos destinados à Odontologia profis- população.
sional e de consumo, oferecendo respostas precisas às
necessidades dos pacientes e dos consumidores. Seu UM PRESENTE COM MUITO FUTURO
claro espírito inovador e vanguardista, sua parceria com
as mais prestigiadas universidades espanholas, o inves- O Laboratório KIN está em constante crescimen-
timento em tecnologia e na gestão do capital humano, to desde sua fundação. Sua sólida situação atual e a
conferem aos nossos produtos uma elevada confiabili- grande quantidade de desafios científicos por alcançar,
dade e grande interesse tanto por parte da comunida- colocam a companhia em uma posição privilegiada no
de médica e farmacêutica, quanto também por parte do mercado atual, pronta para enfrentar as transformações
consumidor. e exigências do futuro. Sempre com o tratamento das
afecções buco-dentais como sua meta principal e com a
EXPANSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL inovação como força para o progresso.
Neste mês de novembro, a PharmaKIN lançou os
O Laboratório KIN está em constante expan- seguintes produtos no mercado brasileiro:
são nacional e internacional, e já está presente em • Fixoflúor Gel 30 ml - Fluoreto de sódio 5% e Triclosan
mais de 40 países. Os cirurgiões-dentistas e os farma- 0,3%.
cêuticos são nossos aliados estratégicos, por serem • FlúorKIN Biflúor 250 - Pasta dentifrícia de baixa abra-
profissionais da área de saúde e pelo fato de serem sividade com 2500 ppm F-.
excelentes conhecedores das necessidades dos con- • Orthokin Pasta Dentifrícia 90 g - Específica para usuá-
sumidores. São eles que nos ajudam a alcançar nosso rios de aparelhos ortodônticos fixos.

Da história do Laboratório, podemos destacar os fatos mais marcantes:

• 1964 - Fundação do Laboratório KIN. bucal específico para usuários de aparelhos ortodônticos
• 1970 - Primeiro enxaguatório bucal com Flúor, atual fixos e a criação do Conselho de Assessoria Científica.
líder no mercado espanhol. • 2002 - Inauguração da filial do Laboratório KIN em
• 1975 - Primeiro enxaguatório bucal com Clorexidina, Portugal.
específico para combater a placa bacteriana. • 2004 - Obtenção da certificação ISO 9001:2000.
• 1985 - Inauguração das atuais instalações na cidade • 2005 - Obtenção da patente do KIN Forte Gengivas,
de Barcelona (Espanha). primeiro enxaguatório bucal com combinação de Clo-
• 1994 - Primeiro enxaguatório bucal para a sensibilida- rexidina e Triclosan.
de dental e o inicio da atividade exportadora. • 2006 - Inauguração das filiais do Laboratório KIN no
• 2000 - Obtenção da patente do primeiro enxaguatório Brasil, América Central e Caribe.

Revista PerioNews 2007;1(4):385-95 389


[ Caderno Especial ]
PROTTA FARMACÊUTICA

Protta Gel Dental mostra-se eficiente


contra cáries e afecções periodontais

A Protta Farmacêutica S.A. A. do produto no contr


controle de doenças da gengiva
“Pioneira na introdução da e periodontais. Os estudos
e laboratoriais revela-
própolis no setor de den- ram, ainda, condiçõ
condições ideais para o emprego
tifrícios” trouxe
xe ao mercado do gel dental com própolis como agente te-
brasileiro uma novidade que rapêutico. O Prot
Protta Gel Dental com própolis
promete revolucionar
evolucionar o setor
setor.r. tem
teem pH levement
levemente ácido, baixa abrasividade,
Trata-se do Protta
rotta Gel Dental com
co
om teor
or de flúor em concentração ideal, bem
Própolis, que além de oferecer to- como o densidade, comportamento de fluxo e
dos os benefícioss de um creme den- viscosidade
viscosiddade adequados.
adequ
tal, possui um grande diferencial
ande diferenc cial em Os
O benefícios
benef da própolis - material
sua composição: a própolis. Sub Substância
bstância produzido
produzi zido por abelhas, a própolis é usada
natural cada vez mais reconhecida
ais reconh hecida no como u um seselante e esterilizador da col-
mundo todo por suas propried
propriedades
dades tera- méia. Composto
Comp
C de cera, pólen, óleos
pêuticas, a própolis se mostro
mostrouou eficiente, éteros,, óleos
óle essenciais, minerais, vi-
também, no combate e prevenção
revenção da cárie taminas,
taminasas aminoácidos, galangina,
e das doenças periodontais. pinocembrina,
pinoce em enzima e subs-
O novo gel dental possui ui sabor agra- tâncias
tâncias bactericidas, ele possui
dável e é aprovado pela Associação ç Brasilei-
ção propriedades
pro
opried antibactericidas
ra de Odontologia (ABO). e produz
prod efeito fungicida
O produto passou porr inú inúmeros
números que serve
ser para proteger a
testes a fim de atingir o melhorr resu resultado
ultado colméia contra doenças,
quanto à sua composição, contendo endo extra-
ext
xtra- agentes climáticos e do
to de própolis e flúor, atuando na preven
preven-
en- surgimento
su de bacté-
ção de cáries, tártaro e da placa bacteriana.. rias. Já para o consumo
Além disso, testes comparativoss realizados humano,
huma é aproveitado para os
por especialistas da Universidade de São mais diversos fins, principalmente tera-
Paulo mostraram que o gel dental com própolis is é mais pêuticos,
pê tais como: bactericida, bacteriostático, fungi-
eficiente que outros cremes dentais semelhantes, es, po- cida, antiviral, antiinflamatório, anestésico, cicatrizante,
rém, sem própolis em sua fórmula. regenerador, tissular e analgésico.
No estudo microbiológico, foi comprovada a A própolis vem sendo utilizada pelo homem
eficiência contra microorganismos gram-positivos desde os tempos mais remotos, para vários propósitos.
(cocos) e sua boa área de histerese, que aponta que Registros europeus datados do século XII descrevem
os princípios ativos como o flúor e a própolis são li- preparados que tinham como sua base principal a pró-
berados durante o uso. Porém, o melhor benefício do polis, usados em tratamento da boca, infecções de gar-
gel dental provém da atuação da própolis: o sucesso ganta e tratamento de cáries dentárias.

Mais informações em www.prottafarmaceutica.com.br

Revista PerioNews 2007;1(4):385-95 391


ORAL-B

Oral-B apresenta: Indicator Interdental


e Advantage Hálito Puro
Sempre preocupada em oferecer ao consumidor produtos modernos
e de alta qualidade, a Oral-B leva para as gôndolas dois novos modelos de escovas de dentes

Líder no mercado de escovas dentais, a Oral-B


amplia seu portfólio. A primeira grande novidade da
marca é a Indicator Interdental, cujo principal diferen-
cial são três fileiras de cerdas amarelas, que, por serem
mais alongadas, penetram 65% mais profundamente
entre os dentes, permitindo que a limpeza seja ainda
melhor, proporcionando maior remoção da placa bac-
teriana. A placa bacteriana é uma película formada
pelo acúmulo de restos alimentares e bactérias
que habitam a boca e aderem à superfície
dos dentes, cuja remoção é fundamental
para evitar o surgimento de cáries e
doenças da gengiva.
Assim como as demais esco-
vas da linha Indicator, que já é suces-
so entre os consumidores, com 11%
de participação de mercado*, a nova Indicator pois os microorganismos produtores de compostos
Interdental, além das cerdas amarelas, traz o exclusivo voláteis de enxofre, uma das causas do problema, co-
sistema de cerdas Indicator, na cor azul, que sinaliza o lonizam-se no dorso da língua, provocando o odor de-
momento ideal da troca da escova, descolorindo até a sagradável. Por isso a limpeza adequada da língua é de
metade. Dispõe também de cabo emborrachado e er- extrema importância.
gonômico, que permite maior conforto e melhor con- A Advantage Hálito Puro combina cerdas inde-
trole durante a escovação. Pode ser encontrada nos ta- pendentes e mais alongadas, que alcançam melhor
manhos de cabeça 35 (média) e 40 (grande), nas cores os dentes posteriores, com cerdas Indicator. Seu cabo
azul, vermelha, laranja, verde e roxa. emborrachado e ergonômico proporciona segurança e
Outra novidade é a Advantage Hálito Puro, que conforto no manuseio. Pode ser encontrada nos tama-
proporciona limpeza completa e hálito puro, isso por- nhos de cabeça 35 (média) e 40 (grande), nas cores azul,
que reduz o mau hálito seis vezes mais que uma escova amarela, vermelha, verde e roxa.
comum, após três escovações diárias. Na parte de trás É importante lembrar que as escovas de dentes
da cabeça da nova Advantage Hálito Puro, está localiza- devem ser trocadas a cada três meses, considerando-se
do um limpador de língua que ajuda a refrescar o hálito a freqüência média de duas escovações diárias. O uso
quando associado à escovação regular. A má higieniza- de uma escova de dentes de boa qualidade e sua subs-
ção bucal é uma das causas do mau hálito ou halitose, tituição no tempo correto colaboram na prevenção de

392 Revista PerioNews 2007;1(4):385-95


[ Caderno Especial ]

tros de altura e ficar suspenso no ar por até duas horas;


assim, centenas de bactérias que estavam no fundo do
vaso sanitário são levadas à tona.
Para higienizar a escova de dentes, é necessário
retirar a água excedente e borrifar anti-séptico bucal ou
ainda fazer o mesmo processo com um spray à base de
gluconato de clorexidina 0,12%, que pode ser adquirido
em farmácias de manipulação.

LIDERANÇA EM CUIDADO
BUCAL

Líder mundial no mer-


cado de cuidados bucais,
Oral-B é a marca de escovas
de dentes mais usadas pelos
cáries, da placa bacteriana, do tártaro e de diversos ou-
dentistas. Presente no mundo
tros problemas. Estudos clínicos comprovam que uma
todo, sua linha de produtos inclui escovas dentais elé-
escova nova remove até 30% mais placa bacteriana que
tricas e manuais, especiais e interdentais, além de fios e
uma em uso por três meses.
fitas dentais, anti-sépticos bucais e cremes dentais. Pos-
Lembre-se: é importante higienizar sua escova
sui produtos com finalidades específicas, como clarea-
de dentes1.
mento de dentes, e também destinados a públicos de
O banheiro é o segundo local da casa onde há
diferentes faixas etárias. No Brasil, a empresa é líder de
maior presença de microorganismos causadores de
vendas em valor da categoria de escovas dentais.
doenças; perde apenas para a cozinha. Por isso, ainda
que a pia esteja brilhando, o chão e a privada estejam
muito limpos, é necessário tomar algumas precauções
com as escovas de dentes que, em geral, ficam sobre a
pia em copos ou porta-escovas. *Dados ACNielsen
Quando se dá descarga com a tampa do vaso sa-
1. Figueiredo M, Belluomin R. Dr. Bactéria - Um guia para passar sua
nitário aberta, o spray de água pode atingir até seis me- vida a limpo. São Paulo: Globo. 1a ed. 2007.

Mais informações em www.oralb.com.br

Revista PerioNews 2007;1(4):385-95 393


CLOSE-UP

Odontologia estética:
por um sorriso perfeito

Nada de restaurações metálicas, dentes tortos e Cirurgiões Dentistas (APCD) concluiu que as pastas
escuros. Tudo isto é coisa do passado para quem preza clareadoras fazem um clareamento superficial e impe-
uma boa aparência e pode investir num sorriso perfeito. dem o surgimento de novas manchas. O método mais
Para se ter uma noção deste abrangente mercado que é eficiente para fazer em casa é o indicado pelo profissio-
o da Odontologia estética, uma pesquisa feita pelo De- nal, com moldeiras de silicone e gel clareador.
partamento de Estudos Mercadológicos da Universida- Segundo o cirurgião-dentista Marcelo Fonseca,
de do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostrou que 96% diretor administrativo da Sociedade Brasileira da Odon-
das pessoas, de classe alta a média-baixa, acreditam que tologia Estética (SBOE), este tratamento tem um efeito
a aparência dos dentes é imprescindível na apresenta- mais duradouro, uma vez que o paciente fica um maior
ção pessoal. Não é à toa que o brasileiro figura como um tempo em contato com o gel. Além disso, pode-se fa-
dos povos mais vaidosos do mundo. zer a manutenção do clareamento quando necessário,
O fácil acesso dos pacientes às restaurações em precisando apenas de mais gel clareador. Outra alterna-
resina, ao clareamento com gel ou laser resulta em um tiva, e também mais cara, é o clareamento de consultó-
crescimento cada vez maior de pessoas aderindo aos rio, feito também com gel clareador, mais concentrado,
tratamentos estéticos, com a esperança de um sorriso aplicado sobre os dentes e ativado pela luz.
mais harmônico no que diz respeito à forma, posição e Uma das alternativas para se manter informado
cor dos dentes. sobre as novidades do mercado estético é a participa-
ção em congressos. A própria SBOE realiza eventos que
CREMES DENTAIS CLAREADORES trazem ao País profissionais de renome na Odontologia
estética nacional e internacional.
Uma boa opção de tratamento caseiro é o uso A Odontologia Estética agrega praticamente
de cremes dentais clareadores, que trazem peróxidos todas as especialidades odontológicas em sua área de
e substâncias abrasivas na composição. Um estudo pu- atuação. A regulamentação como especialidade, po-
blicado em 2005 na revista da Associação Paulista de rém, ainda está em estado de implementação no Brasil.

394 Revista PerioNews 2007;1(4):385-95


[ Normas de Publicação ]

Como Enviar Seus Trabalhos


Os trabalhos enviados que não seguirem rigorosamente as Normas de Publicação
serão devolvidos automaticamente. A revista PerioNews adota em suas normas de publicação
o estilo de Vancouver (Sistema Numérico de Citação), visando à padronização universal
de expressões científicas nos trabalhos publicados.

Importante: caso de dúvida, entre em contato com a redação pelo imagens/figuras. Antes de postar, confira se o trabalho
1 – Envie seu trabalho apenas pelo correio, em envelope telefone (11) 2168-3400. está de acordo com esses limites no item 3, Apresenta-
com: • impressos completos do trabalho enviado, do Termo ção, das Normas de Publicação.
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matos DOC ou RTF (Word for Windows ou editores de Consentimento do Paciente, se for o caso. Para
texto compatíveis), e as imagens (se houver) nos forma- 2 – Os trabalhos devem conter, imprescindivelmente, PerioNews
tos JPG ou TIF, em alta resolução (300 dpi). Atenção: todos os dados para contato com o autor principal (en- Att. Ana Lúcia Zanini Luz
apenas o texto do trabalho deve estar no formato DOC dereço, telefones e e-mails). Editora-Assistente – Caderno Científico
(Word ). Em hipótese nenhuma, as imagens devem estar 3 – Todos os trabalhos enviados devem respeitar os li- Rua Capitão Rosendo, 33 – Vila Mariana
contidas em um arquivo DOC ou PPT (PowerPoint). Em mites máximos de tamanho de texto e quantidade de 04120-060 – São Paulo – SP

NORMAS DE PUBLICAÇÃO a sua aceitação. Os nomes dos relatores/avaliadores co com identificação do paciente deverão conter o Termo
permanecerão em sigilo e estes não terão ciência dos de Consentimento do Paciente, assinado por este.
1. OBJETIVO autores do trabalho analisado.
A revista PerioNews, de periodicidade trimestral, 2.7. O trabalho deverá ser entregue juntamente com o 3. APRESENTAÇÃO
destina-se à publicação de trabalhos inéditos de Termo de Cessão de Direitos Autorais, assinado pelo(s) 3.1. Estrutura
pesquisa aplicada, eminentemente clínicos, bem autor(es) ou pelo autor responsável. 3.1.1. Trabalhos científicos (pesquisas, artigos e te-
como artigos de atualização, relatos de casos clíni- 2.7.1. Modelo de Termo de Cessão de Direitos Autorais ses) – Deverão conter título em português, nome(s)
cos e revisão de literatura nas áreas de Periodontia e [Local e data] do(s) autor(es), titulação do(s) autor(es), resumo,
Cariologia e de especialidades multidisciplinares que Eu (nós), [nome(s) do(s) autor(es)], autor(es) unitermos, introdução e/ou revisão da literatura,
compreendam ambas. do trabalho intitulado [título do trabalho], o qual proposição, material(ais) e método(s), resultados,
submeto(emos) à apreciação da revista PerioNews discussão, conclusão, título em inglês, resumo em
2. NORMAS para nela ser publicado, declaro(amos) concordar, inglês (abstract), unitermos em inglês (key words)
2.1. Os trabalhos enviados para publicação devem ser por meio deste suficiente instrumento, que os direi- e referências bibliográficas.
inéditos, não sendo permitida a sua apresentação si- tos autorais referentes ao citado trabalho tornem-se Limites máximos: texto com, no máximo, 35.000 ca-
multânea em outro periódico. propriedade exclusiva da revista PerioNews a partir racteres, 4 tabelas ou quadros, 4 gráficos e 16 figu-
2.2. Os trabalhos deverão ser enviados exclusivamente da data de sua submissão, sendo vedada qualquer re- ras/imagens.
via correio, gravados em CD, em formato DOC ou RTF produção, total ou parcial, em qualquer outra parte ou 3.1.2. Revisão de literatura – Deverão conter título em
(Word for Windows), acompanhados de uma cópia em meio de divulgação de qualquer natureza, sem que a português, nome(s) do(s) autor(es), titulação do(s)
papel, com informações para contato (endereço, tele- prévia e necessária autorização seja solicitada e obtida autor(es), resumo, unitermos, introdução e/ou propo-
fone e e-mail do autor responsável). junto à revista PerioNews. No caso de não-aceitação sição, revisão da literatura, discussão, conclusão, título
2.2.1. O CD deve estar com a identificação do autor para publicação, essa cessão de direitos autorais será em inglês, resumo em inglês (abstract), unitermos em
responsável, em sua face não gravável, com etiqueta automaticamente revogada após a devolução definitiva inglês (key words) e referências bibliográficas.
ou caneta retroprojetor (própria para escrever na su- do citado trabalho, mediante o recebimento, por parte Limites máximos: texto com, no máximo, 25.000 carac-
perfície do CD). do autor, de ofício específico para esse fim. teres, 4 tabelas ou quadros, 4 gráficos e 16 figuras.
2.3. O material enviado, uma vez publicado o trabalho, [Data/assinatura(s)] 3.1.3. Relato de caso(s) clínico(s) – Deverão conter título
não será devolvido. 2.8. As informações contidas nos trabalhos enviados em português, nome(s) do(s) autor(es), titulação do(s)
2.4. A revista PerioNews reserva todos os direitos au- são de responsabilidade única e exclusiva de seus autor(es), resumo, unitermos, introdução e/ou proposi-
torais do trabalho publicado. autores. ção, relato do(s) caso(s) clínico(s), discussão, conclu-
2.5. A revista PerioNews receberá para publicação 2.9. Os trabalhos desenvolvidos em instituições oficiais são, título em inglês, resumo em inglês (abstract), uniter-
trabalhos redigidos em português. de ensino e/ou pesquisa deverão conter no texto refe- mos em inglês (key words) e referências bibliográficas.
2.6. A revista PerioNews submeterá os originais à rências à aprovação pelo Comitê de Ética. Limites máximos: texto com, no máximo, 18.000 carac-
apreciação do Conselho Científico, que decidirá sobre 2.10. Os trabalhos que se referirem a relato de caso clíni- teres, 2 tabelas ou quadros, 2 gráficos e 32 figuras.

Revista PerioNews 2007;1(4):397-8 397


3.2. Formatação de página: tion on the gengival. Prosthet Dent 1992;28:402-4. rococcus faecalis. Braz Dent J 1997,8(2):67- 72. [On-
a. Margens superior e inferior: 2,5 cm 2. Bergstrom J, Preber H. Tobaco use as a risk factor. line] Available from Internet <http://www.forp.usp.br/
b. Margens esquerda e direita: 3 cm J Periodontal 1994;65:545-50. bdj/t0182.html>. [cited 30-6-1998]. ISSN 0103-6440.
c. Tamanho do papel: carta 3. Meyer DH, Fives-Taylor PM. Oral pathogens: from
d. Alinhamento do texto: justificado dental plaque to cardiace disease. Cure opin microbial; 5. TABELAS OU QUADROS
e. Recuo especial da primeira linha dos parágrafos: 1998:88-95.” 5.1. Devem constar sob as denominações “Tabela” ou
1,25 cm 4.5.1. Nas publicações com até seis autores, citam-se “Quadro” no arquivo eletrônico e ser numerados em
f. Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas todos. algarismos arábicos.
g. Controle de linhas órfãs/viúvas: desabilitado 4.5.2. Nas publicações com sete ou mais autores, citam-se 5.2. A legenda deve acompanhar a tabela ou o quadro
h. As páginas devem ser numeradas os seis primeiros e, em seguida, a expressão latina et al. e ser posicionada abaixo destes ou indicada de forma
3.3. Formatação de texto: 4.6. Deve-se evitar a citação de comunicações pesso- clara e objetiva no texto ou em documento anexo.
a. Tipo de fonte: times new roman ais, trabalhos em andamento e os não publicados; caso 5.3. Devem ser auto-explicativos e, obrigatoriamente, ci-
b. Tamanho da fonte: 12 seja estritamente necessária sua citação, as informa- tados no corpo do texto na ordem de sua numeração.
c. Título em português: máximo de 90 caracteres ções não devem ser incluídas na lista de referências, 5.4. Sinais ou siglas apresentados devem estar traduzi-
d. Titulação do(s) autor(es): citar até 2 títulos prin- mas citadas em notas de rodapé. dos em nota colocada abaixo do corpo da tabela/qua-
cipais 4.7. Exemplos dro ou em sua legenda.
e. Resumos em português e inglês: máximo de 250 4.7.1. Livro:
palavras cada Brånemark P-I, Hansson BO, Adell R, Breine U, Linds- 6. FIGURAS/IMAGENS
f. Unitermos e key words: máximo de cinco. Consultar trom J, Hallen O, et al. Osseointegrated implants in the 6.1. Devem constar sob a denominação “Figura” e ser
Descritores em Ciências da Saúde – Bireme (www. treatment of the edentulous jaw. Experience form a 10- numeradas com algarismos arábicos.
bireme.br/decs/) year period. Scan J Plastic Rec Surg 1977;16:1-13. 6.2. A(s) legenda(s) deve(m) ser fornecida(s) em ar-
3.4 Citações de referências bibliográficas 4.7.2. Capítulo de livro: quivo ou folha impressa à parte.
a. No texto, seguir o Sistema Numérico de Citação, Baron, R. Mechanics and regulation on ostoclastic boné 6.3. Devem, obrigatoriamente, ser citadas no corpo do
no qual somente os números índices das referências, resorption. In: Norton, LA, Burstone CJ. The biology of texto na ordem de sua numeração.
na forma sobrescrita, são indicados no texto. tooth movement. Florida: CRC, 1989. p 269-73. 6.4. Sinais ou siglas devem estar traduzidos em sua
b. Números seqüenciais devem ser separados por hífen; 4.7.3. Editor(es) ou compilador(es) como autor(es): legenda.
números aleatórios devem ser separados por vírgula. Brånemark P-I, Oliveira MF, editors. Craniofacial pros- 6.5. Na apresentação de imagens e texto, deve-se evi-
c. Não citar os nomes dos autores e o ano de theses: anaplastology and osseointegration. Illinois: tar o uso de iniciais, nome e número de registro de pa-
publicação. Exemplos: Quintessence;1997. cientes. O paciente não poderá ser identificado ou estar
Errado: “Bergstrom J, Preber H2 (1994)...” 4.7.4. Organização ou sociedade como autor: reconhecível em fotografias, a menos que expresse por
Correto: “Vários autores1-3 avaliaram que a saúde geral Clinical Research Associates. Glass ionomer-resin: sta- escrito o seu consentimento, o qual deve acompanhar
e local do paciente é necessária para o sucesso do te of art. Clin Res Assoc Newsletter 1993;17:1-2. o trabalho enviado.
tratamento”; “Outros autores4,7,15 concordam...” 4.7.5. Artigo de periódico: 6.6. Devem possuir boa qualidade técnica e artística,
Diacov NL, Sá JR. Absenteísmo odontológico. Rev utilizando o recurso de resolução máxima do equipa-
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Odont Unesp 1988;17(1/2):183-9. mento/câmera fotográfica.
4.1. Quantidade máxima de 30 referências bibliográfi- 4.7.6. Artigo sem indicação de autor: 6.7. Devem ser enviadas gravadas em CD, com reso-
cas por trabalho. Fracture strenght of human teeth with cavity prepara- lução mínima de 300dpi, nos formatos TIF ou JPG e
4.2. A exatidão das referências bibliográficas é de res- tions. J Prosth Dent 1980;43(4):419-22. largura mínima de 10 cm.
ponsabilidade única e exclusiva dos autores. 4.7.7. Resumo: 6.8. Não devem, em hipótese alguma, ser enviadas in-
4.3. A apresentação das referências bibliográficas deve Steet TC. Marginal adaptation of composite restoration corporadas a arquivos de programas de apresentação
seguir a normatização do estilo Vancouver, conforme with and without flowable liner [resumo] J Dent Res (PowerPoint), editores de texto (Word for Windows) ou
orientações fornecidas pelo International Committee of 2000;79:1002. planilhas eletrônicas (Excel).
Medical Journal Editors (www.icmje.org) no “Uniform 4.7.8. Artigo citado por outros autores apud:
Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Sognnaes RF. A behavioral courses in dental scho- 7. GRÁFICOS
Journals”. ol. J Dent Educ 1977;41:735-37 apud Dent Abstr 7.1. Devem constar sob a denominação “Gráfico”, nu-
4.4. Os títulos de periódicos devem ser abreviados de 1978;23(8):408-9. merados com algarismos arábicos e fornecidos, prefe-
acordo com o “List of Journals Indexed in Index Me- 4.7.9. Dissertação e tese: rencialmente, em arquivo à parte, com largura mínima
dicus” (www.nlm.nih.gov/tsd/serials/lji.html) e impres- Molina SMG. Avaliação do desenvolvimento físico de de 10 cm.
sos sem negrito, itálico ou grifo/sublinhado. pré-escolares de Piracicaba, SP. [Tese de Doutorado]. 7.2. A legenda deve acompanhar o gráfico e ser posi-
4.5. As referências devem ser numeradas em ordem Campinas: Universidade Estadual de Campinas;1997. cionada abaixo deste.
de entrada no texto pelos sobrenomes dos autores, 4.7.10. Trabalho apresentado em evento: 7.3. Devem ser, obrigatoriamente, citados no corpo do
que devem ser seguidos pelos seus prenomes abrevia- Buser D. Estética em implantes de um ponto de vista texto, na ordem de sua numeração.
dos, sem ponto ou vírgula. A vírgula só deve ser usada cirúrgico. In: 3º Congresso Internacional de Osseoin- 7.4. Sinais ou siglas apresentados devem estar traduzi-
entre os nomes dos diferentes autores. Incluir ano, vo- tegração: 2002; APCD - São Paulo. Anais. São Paulo: dos em sua legenda.
lume, número (fascículo) e páginas do artigo logo após EVM; 2002. p 18. 7.5. As grandezas demonstradas na forma de barra,
o título do periódico. 4.7.11. Artigo em periódico on-line/internet: setor, curva ou outra forma gráfica devem vir acompa-
Exemplo: Tanriverdi et al. Na in vitro test model for investigation nhadas dos respectivos valores numéricos para permi-
“1. Lorato DC. Influence of a composite resin restora- of desinfection of dentinal tubules infected whith ente- tir sua reprodução com precisão.

398 Revista PerioNews 2007;1(4):397-8

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