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UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ

VANESSA ELAINE GELAIN

SISTEMAS ESTRUTURAIS DE FORMA ATIVA: CABOS E ARCOS

ITAJAÍ
2011
1

UNIVERSIDADE DO VALE DE ITAJAÍ

VANESSA ELAINE GELAIN

SISTEMAS ESTRUTURAIS DE FORMA ATIVA: CABOS E ARCOS

Trabalho apresentado como requisito


parcial para a obtenção da M3, na
disciplina de Teoria das Estruturas, na
Universidade do Vale do Itajaí, do
Centro de Ciências Tecnológicas da
Terra e do Mar.

ITAJAÍ
2011
2

RESUMO

Este relatório aborda os sistemas estruturais ativos: arcos e cabos. O tratamento do


tema ocorreu a partir de referenciais bibliográficos apresentados no plano de ensino
da disciplina de Teoria das Estruturas I e websites. O trabalho pretende se tornar um
documento de consulta a cerca desses dois sistemas estruturais, que são de grande
aplicabilidade no dia-a-dia do profissional da Engenharia Civil.
3

SUMÁRIO:

Resumo.................................................................................................................. 2
1. Introdução.................................................................................................. 3
1.2 Objetivos.......................................................................................................... 6
1.2.1 Objetivos Geral............................................................................................. 6
1.2.2 Objetivos Específicos............................................................................ 6
1.3 Revisão bibliográfica.................................. .................................................... 7
2. Desenvolvimento........................................................................................ 8
2.1 Estrutura........................................................................................................... 8
2.2 Esforços internos solicitantes que ocorrem em arcos e cabos........................ 8
2.3 Cabos............................................................................................................... 9
2.3.1 Como funciona um cabo.............................................................................. 9
2.3.2 Materiais e seções usuais............................................................................ 9
2.3.3 Exemplo de formas funiculares..................................................................... 9
2.3.4 Aplicações e limites de utilização dos cabos................................................. 11
2.3.5 Vibrações nos cabos..................................................................................... 11
2.4 Arcos...................................................................................... ........................ 12
2.4.1 Tipos de arcos............................................................................................... 12
2.4.2 Materiais e seções......................................................................................... 13
2.4.3 Principio de funcionamento........................................................................... 13
2.4.4 Como resolver um arco................................................................................ 14
2.4.5 Vínculos........................................................................................................ 15
2.4.7 Estabilização do arco.................................................................................... 16
2.4.7.1 Estabilização do arco contra flambagem................................................... 17
2.4.7.2 Estabilização do arco contra empuxos horizontais.................................... 17
2.4.8 Aplicações e limites de utilização.................................................................. 18
2.5 Semelhanças e diferenças entre arcos e cabos............................................... 18
2.6 Lista de questões............................................................................................. 18
2.6.1 Cabos............................................................................................................ 18
2.6.2 Arcos............................................................................................................. 27
3. Conclusão................................................................................................... 30
Referências bibliográficas...................................................................................... 27
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1. INTRODUÇÃO

Os sistemas estruturais de forma-ativa (arco e cabo) são estruturas flexíveis


formadas de matéria não rígidas, a qual é formada de modo definido e com
extremidades fixas, podendo se alto suportar e cobrir um vão. (BRITO E SILVA, 2010).
O cabo é uma barra cujo comprimento é tão predominante em relação à sua seção
transversal que se torna flexível, ou seja, não apresenta rigidez nem à compressão
nem á flexão (REBELLO, 2003). O arco é um sistema estrutural que ao contrário do
cabo, responde a esforços de compressão.
As primeiras pontes em arco usando-se ferro fundido foram construídas na
Inglaterra em 1779 que são as pontes de Severn e Coalbrookedale, servindo de
passarela para pedestres. Muito antes disso, civilizações antigas descobriram a
grande resistência dos tijolos e pedras e iniciaram a construção de pontes em arco
utilizando esses materiais.
A forma funicular de um sistema ativo corresponde a forma adquirida pelo sistema
ao receber o carregamento, sendo que no arco, essa forma é invertida. Para que o
arco ou o cabo seja considerado ideal, a linha de pressão deve coincidir com a forma
da estrutura.
O presente trabalho irá tratar de assuntos relacionados aos cabos e arcos,
descrevendo seus princípios de funcionamento, suas principais características e como
se procede para a determinação dos esforços solicitantes internos e externos.
5

1.2 OBJETIVOS:

1.2.1 Objetivo Geral:

• Descrever o funcionamento e a determinação dos esforços internos solicitantes em


sistemas estruturais de forma ativa (cabos e arcos).

1.2.2 Objetivos específicos:

• Definir arcos e cabos;


• Determinar quais as diferenças entre arcos e cabos;
• Determinar os esforços internos solicitantes em arcos e cabos.
6

1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:

Os cabos são utilizados em vários tipos de estruturas. Nas pontes pênseis e


teleféricos são principais elementos portantes, nas linhas de transmissão conduzem a
energia elétrica, vencendo vãos entre as torres e são empregados como elemento
portante de coberturas de grandes vãos (SUSSEKIND, 1987).
(...) Este processo é conhecido por “fluxo das cargas”, ou seja, é o caminho
natural que estas cargas devem percorrer um sistema estrutural. Este fluxo de cargas
não terá problema desde que a estrutura tenha uma forma que permita com que as
cargas atuantes sigam um caminho natural e mais curto até seu ponto de descarga, a
terra. O problema ocorrerá quando estas cargas não seguem um caminho direto, mas
tem que acomodar certos desvios. Sendo assim, projetar uma estrutura é uma técnica
de desenvolver um sistema que o fluxo de cargas coincida ou pelo menos se aproxima
da forma delineada da edificação no projeto arquitetônico. É uma tarefa de converter a
imagem das forças atuantes através do material estrutural em uma nova imagem de
forças de igual potencia, seja através da modificação da forma, seja através de reforço
do material estrutural, ou ainda através da adição de uma nova estrutura (BRITO E
SILVA, 2010).
O cabo de suspensão vertical, que transmite a carga diretamente ao ponto de
suspensão, e a coluna vertical, que, em direção reversa, transfere a carga diretamente
ao ponto da base são protótipos de sistemas de forma-ativa. Eles transmitem cargas
somente através de esforços simples, ou seja, de tração e compressão
respectivamente. Portanto, eles são sistemas em que seus elementos estão sujeitos a
uma única tensão normal, tração ou compressão (BRITO E SILVA, 2010)..
7

2. DESENVOLVIMENTO:

2.1 Estrutura:

Segundo Yopaban Conrado Pereira Rebello, e estrutura é um conjunto de


elementos – lajes, vigas e pilares, que se interelacionam para desempenhar uma
função: criar um espaço em que as pessoas exercerão diversas atividades. No caso
das edificações, esse conjunto de elementos torna-se o caminho pelo qual as forças
que atuam sobre ela devem transitar até chegar ao seu destino final, o solo.
Os arcos e cabos são classificados como sistemas estruturais de forma ativa, pois
são estruturas flexíveis suportadas por extremidades fixas e sustentam seu próprio
peso. Outra característica desses dois sistemas estruturais, é que eles mudam as
forças externas por meio de esforços normais simples, sendo o arco por compressão e
o cabo por tração.

2.2 Esforços internos solicitantes que ocorrem em cabos e arcos:

Os esforços internos solicitantes que ocorrem nos arcos são de compressão.


Se houver esforços de tração ou momento fletor, o arco não será ideal, e não terá sua
forma igual a forma funicular.
O cabo só reage ao esforço interno solicitante de tração, e deforma-se
completamente quando submetido a esforços de compressão ou flexão.

2.3 Cabos:

O cabo é uma barra cujo comprimento é tão predominante em relação à sua seção
transversal que se torna flexível, ou seja, não apresenta rigidez nem a compressão
nem á flexão, deformando-se totalmente ao receber esses esforços.
O cabo só reage a esforço de tração simples, o que permite afirmar que, para
qualquer situação de carregamento sobre o cabo, ele está sempre sujeito a esforço de
tração simples.
O cabo é um sistema estrutural que não apresenta uma forma permanente. As
formas assumidas pelo cabo dependem do carregamento que nele atua,
caracterizando-se assim como uma estrutura pouco estável quando sujeito a variações
no carregamento. Se o carregamento externo for muito maior do que o peso próprio do
cabo, este último é desprezado no cálculo. A geometria da configuração deformada do
8

cabo, para um dado carregamento, é denominada forma funicular (do latim, funis =
corda) do cabo.
Para um determinado carregamento e vão, a força horizontal necessária para
dar o equilíbrio ao cabo aumenta com a diminuição da flecha. Um cabo com um flecha
pequena, será mais solicitado que um cabo com uma flecha maior, entretanto, seu
comprimento será menor e o volume final de cabo também.
Os cabos são utilizados em vários tipos de estruturas. Nas pontes pênseis e
teleféricos são principais elementos portantes, nas linhas de transmissão conduzem a
energia elétrica, vencendo vãos entre as torres e são empregados como elemento
portante de coberturas de grandes vãos (SUSSEKIND, 1987).

2.3.1 Como funciona um cabo:

Para entender o comportamento de um cabo, suponha que um fio tenha em


seus extremos anéis que o prendam a uma barra fixa. Uma carga P no seu ponto
médio fará os anéis se juntarem no meio da barra, sob o efeito de uma força
horizontal.

Figura 1: Comportamento de um cabo. Fonte: Liliana Fay (2006).

Se os anéis forem fixados na extremidade, o cabo irá adquirir uma forma


triangular, devido ao fato de não haver escorregamento entre o anel e o suporte, como
mostra a figura abaixo. A flecha é a distância entre a extremidade superior e a inferior
do cabo.
9

Figura 2: Comportamento de um cabo Fonte: Liliana Fay (2006).

2.3.2 Materiais e seções usuais:

As estruturas de cabos, também chamadas de estruturas suspensas ou


pênseis, são estruturas que podem vencer grandes vãos com pequenos consumo de
material (FAY, 2006).
A relação entre flecha e vão que resulta em menor volume de material,
depende do tipo de carregamento e encontra-se entre os limites:

1  1
< < (Equação 1)
10  5

Onde f é a flecha do cabo, e L o vão do cabo.
As seções que apresentam concentração de massa junto ao centro e gravidade,
são as que ocupam menores espaços, o que conduz a seção circular a ser a mais
indicada pra utilização nos cabos.
O cabo está sujeito apenas a esforços de tração simples. É indicado a utilização
de materiais que apresentem boa resistência a esse tipo de esforço, tal como o aço.
Com os aços disponível no mercado, atinge-se limites de vãos em torno de 1500
metros para pontes, e 5500 metros para torres de transmissão.

2.3.3 Exemplo de formas funiculares:


10

Figura 3. Formas funiculares. Fonte: Pet ECV UFSC.

A catenária possui uma geometria mais baixa que a parábola. Isto é


conseqüência do peso próprio se concentrar mais nas regiões próximas das
extremidades.
11

Figura 4. Catenária. Fonte: Pet ECV UFSC.

Para as relações de flecha (f) e vão entre extremidades (L), constata-se que
para relações (f / L) ≤ 0,2 as formas da parábola e da catenária são praticamente
coincidentes. Nesse caso, utiliza-se a forma da parábola para determinação dos
lugares geométricos dos pontos ao longo do cabo:

 = ² +  +  (Equação 2)

2.3.4 Aplicações e limites de utilização dos cabos:

Duas desvantagens na utilização de cabos como sistemas estruturais são a


dificuldade de absorção de empuxos horizontais e a instabilidade da forma devido a
variações de carregamento. Isso exige que os cabos trabalhem em conjunto com
outros elementos estruturais que lhe garantam estabilidade.
A absorção dos empuxos pode ser feita por pilares livres ou atirantados, como
mostra a figura abaixo:

Figura 5: Cabo associado com pilares. Fonte: Liliana Fay (2006).

2.3.5 Vibrações nos cabos:


12

Os sistemas de cabos são geralmente, estruturas leves quando comparadas a


estruturas de concreto armado. Entretanto, como conseqüência da redução do peso
próprio, os carregamentos devidos ao vento tornam-se críticos.
O cabo é uma estrutura bastante instável quando sujeito a variações no
carregamento. Essas variações de carregamento podem causar vibrações no cabo, e
se a freqüência própria for idêntica a freqüência que o faz vibrar, o cabo entra em
ressonância.
Para evitar esse fenômeno, deve-se criar condições de se alterar a freqüência
própria do cabo, enrijecendo-o por meio de sua associação com outros elementos
estruturais.

2.4 Arcos:

O arco tem sua origem ligada ao desenvolvimento do Império Romano. A partir


da Idade Média os arcos, devido a sua grande capacidade para suportar grandes
vãos, começaram a aparecer em edificações mais ousadas, permitindo a construção
de edifícios altos com grandes aberturas nas paredes.
Os cabos são estruturas que suportam esforços de tração simples, e sua forma
curva caracteriza-se por ter sua parte central mais elevada do que as extremidades.
Com o aumento do número de cargas, o cabo vai adquirindo formato curvo. Se essas
formas forem rebatidas, usando um elemento rígido, resultarão em arcos que estarão
solicitados apenas por esforço de compressão simples.
Deve-se procurar dar aos arcos formas que correspondam aos funiculares das
cargas que atuam sobre eles, garantindo dessa maneira a não ocorrência de flexão.
Cada vez que o funicular das cargas desvia-se do eixo do arco originam-se esforços
de flexão, sendo que quanto maiores forem os desvios maiores serão esses esforços.
Para arcos funiculares em catenária ou parabólicos, o esforço de compressão varia
ao longo do seu comprimento, sendo mínimo no topo e máximo junto aos apoios.

2.4.1 Tipos de arcos

São usados os seguintes tipos de arcos na superestrutura de pontes ou viadutos:

a) Arco inferior com tabuleiro superior;


b) Arco superior com tabuleiro inferior;
c) Arco com tabuleiro intermediário;

O uso do tipo de arco depende das condições locais e da estética. O


13

arco inferior de harmoniza bem em vales, se compondo com a natureza. O arco


superior é adotado quando existem restrições do gabarito na parte inferior.

2.4.2 Materiais e seções:

O arco absorve essencialmente esforços e compressão simples. Por isso, é


indicado a utilização de materiais como o aço, a madeira e o concreto armado.
Entretanto, cada material apresenta suas limitações, tal como a vulnerabilidade da
madeira ao fogo, e o elevado peso próprio apresentado pelos arcos em concreto
armado, aliado com constantes manutenções.
Os romanos se utilizavam bastante da pedra, pois além de resistir a
compressão, tornava a mão-de-obra mais fácil. Em algumas obras, as pedras das
extremidades dos arcos eram unidas com argamassa, e as demais apenas com seu
peso próprio.
Para economia de material, pode-se variar a seção do arco ao longo do
comprimento, fazendo-a máxima próximo aos apoios. A geometria ideal para um arco
seria uma seção circular.
Os materiais mais utilizados na construção de arcos são o aço e o concreto
protendido, pois oferecem maiores possibilidades para que se utilizem arcos com
maiores vãos.
Segundo Liliana Fay (2006), a relação idela entre flecha e vão que permite o
menor volume de material, e portanto, o arco mais leve e econômico é:

1  1
< < (Equação 2)
10  5

Onde f é a flecha do cabo, e L o vão do cabo.

2.4.3 Principio de funcionamento:

Os apoios de um arco evitam que o arco e abra. As reações que aparecem no


apoio são provenientes do carregamento e da forma dos arcos. Quanto mais alto o
arco, maior o vão, maior o peso e maior as reações de apoio.
O solo no qual irá se apoiar o arco deve estar estável suficiente para suportar
tanto as reações verticais quanto as horizontais. As reações horizontais podem causar
esforços de tração na base, que podem ser evitados através do uso de tirantes, ou
seja, ligando as extremidades dos arcos através de um material resistente a tração.
14

As reações verticais do arco terão o mesmo valos das reações de apoio de


uma viga substituindo um arco.

2.4.4 Como resolver um arco:

Figura 6 . Análise Estrutural. Fonte:Flavio Barbosa de Lima. Universidade Federal de


Alagoas.

Os valores dos esforços internos solicitantes são cotados perpendicularmente


ao eixo do elemento estrutural ao arco, sendo R o raio do arco.
As reações de apoio em x e y são encontradas como os outros sistemas
estruturais já estudados. A componente horizontal do vínculo A é encontrada sem
dificuldades, pois não há esforços externos solicitantes nessa direção. Para encontrar
as reações na vertical, é necessário realizar o somatório dos momentos em um ponto,
que nesse caso, foi o ponto A, sendo assim encontrado os valores de Ay e By:

∑ = 0 →  = 0

∑ = 0 →  +  = 

∑ = 0 → 2 −  = 0

 =  = (Equação 3)
2

Para a determinação dos esforços internos solicitantes, é necessário seccionar


o arco em um ponto qualquer, a uma distância x de um vinculo, sendo possível assim,
15

determinar os esforços internos solicitantes da estrutura.

Figura 7. Esforços internos solicitantes. Fonte: Flavio Barbosa de Lima. Universidade


Federal de Alagoas.

O esforço normal interno N é encontrado a partir da soma de todas as forças


atuando da direção do eixo local da estrutura, conforme demonstrado a seguir:

∑Fh = 0
π π
N = −Ax. cos * – θ. − Ay. sen * – θ. (Equação4)
2 2
P
N = − cosθ (Equação 5)
2

O esforço cortante V é encontrado a partir da soma de todas as forças atuando


perpendicular ao eixo local do cabo, conforme demonstrado a seguir:

∑Fv = 0
π π
V = −Ax. sen * – θ. − Vy. cos * – θ. (Equação 6)
2 2
P
V = − senθ (Equação 7)
2

Para o arco do arco ideal, o momento fletor deve ser igual a zero. Abaixo segue
a descrição de como encontrar o momento fletor solicitante em um arco:

∑M = 0
M = −Ax. R. senθ −Ay. R(1 − cos θ) (Equação 8)
PR
M= (1 − cosθ) (Equação 9)
2

2.4.5 Vínculos:
16

Os arcos podem apresentam alguns vínculos que permitam rotação relativa


entre duas seções adjacentes. O número máximo de articulações que podem ocorrer
num arco é 3. Acima disso, o arco torna-se hipostático. Essas articulações geralmente
ocorrem nos apoios e nos topos.
Um arco com três articulações é denominado articulado. Quando as
articulações ocorrem apenas nos seus apoios, é denominado arco biarticulado. Arcos
que não apresentam articulações são denominados arcos biengastados. São arcos
usados em situações especiais, pois por serem engastados, absorvem momentos
fletores, o que não é desejado.

Figura 8: Tipos de arcos. Fonte: Liliana Fay (2006).

2.4.6 O arco ideal

Deve-se procurar dar aos arcos formas que correspondam aos funiculares das
cargas que atuam sobre eles (invertido), garantindo a não ocorrência de flexão. Se a
funicular das cargas não coincide com o eixo do arco, surgem esforços de flexão.
Quanto maior for a diferença entre o eixo do arco e a funicular, maior serão os
esforços de flexão.
A reação horizontal do arco diminui com o aumento da altura da estrutura.
Portanto, pode-se chegar a uma altura tal que as reações horizontais sejas nulas. Ou
seja, quando se altera a altura de um arco, muda-se apenas as reações horizontais.

2.4.7 Estabilização do arco:


17

2.4.7.1 Estabilização do arco contra flambagem:

Os materiais nunca são perfeitamente homogêneos, eu seja, não encurtam


nem alongam uniformemente. Conseqüentemente, quando tracionados, um lado estica
mais que o outro, e o lado que alongou menos passa a ser mais solicitado, alongando
mais, fazendo com que a peça tracionada fique sempre reta. Além disso, as forças
nunca estão absolutamente centradas nos eixos das peças. Mesmo que a diferença
seja muito pequena o lado mais curto transportará mais carga que o outro e essa
situação será irreversível. Este fenômeno é chamado de flambagem.
A estabilização de arcos contra a flambagem fora do seu plano pode ser feita
com travamentos, conforme a figura a seguir:

Figura 9: Travamento de um arco. Fonte: Liliana Fay (2006).

Para evitar flambagem no plano do arco, pode-se aumentar sua rigidez,


aumentando verticalmente sua seção transversal.

2.4.7.2 Estabilização do arco contra empuxos horizontais:

Os empuxos horizontais podem ser absorvidos diretamente pelos apoios,


exigindo um dimensionamento maior, ou por tirantes, que fazem com que apenas as
cargas horizontais sejam depositadas nos apoios (FAY, 2006).

Figura 10: Tirante em um arco. Fonte: Liliana Fay (2006).


18

2.4.8 Aplicações e limites de utilização:

O arco consegue vencer grandes vãos com pequenas quantidades de material.


Os ginásios de esportes possuem em geral a cobertura com elemento curvo. A
explicação é que se fossem compostos de elementos retos seria necessário a
colocação de pilares no interior da quadra de esportes.
É importante ressaltar que os cabos podem ser também utilizados para
sustentação com o esforço através de seu corpo como é o caso das estruturas
estaiadas. A diferença consiste basicamente no fato de que em estruturas pênseis a
carga é pendurada no cabo, já em estruturas estaiadas a carga é suportada pelo
próprio cabo, assim eliminando a flecha.

2.5 Semelhanças e diferenças entre arcos e cabos

Tanto para os arcos como os cabos, as reações de empuxo são inversamente


proporcionais ao tamanho da flecha. Quanto menor a flecha maior será a reação de
empuxo nos apoios. A intensidade do esforço de compressão é diretamente
proporcional ao empuxo, quanto maior a flecha, menor a solicitação do arco.
Os cabos e os arcos redirecionam as forças externas por meio de esforços
normais simples, sendo o arco por compressão e o cabo por tração. Qualquer variação
da carga ou das condições de apoio afeta a forma da curva funicular, e origina uma
nova forma de estrutura. Enquanto o cabo ideal possui a forma igual a sua funicular, o
cabo tem essa forma invertida.

2.6 Lista de questões:

2.6.1 Cabos:

01) No âmbito do funcionamento dos sistemas estruturais de forma ativa, responda a


seguinte afirmação: A forma da estrutura coincide com o fluxo dos esforços sendo,
portanto, o trajeto natural das forças (linha funicular). Comente sobre esse mecanismo
de funcionamento.

Os sistemas estruturais de forma ativa (arcos e cabos) possuem várias


características em comum, dentre elas se destaca o fato do sistema adquirir a forma
do carregamento. Por exemplo, uma carga distribuída uniformemente, tem seu
19

momento representado por uma equação de segundo grau, e seu diagrama


conseqüentemente será uma parábola. Uma carga concentrada no meio do vão de um
cabo, produzirá um formato triangular, condizendo com o diagrama de momento fletor
de uma estrutura assim solicitada.
Essa forma adquirida pelo sistema será de certa forma, o caminho que as
forças irão percorrer até chegar aos apoios, chamada de linha funicular.
Se o formato de um arco for idêntico ao formato da sua linha funicular, ele é
chamado ideal, pois ocorrerão apenas esforços internos de compressão, e não de
flexão. Se o formato do cabo foi idêntico ao formato da sua linha funicular, ele é
chamado arco ideal, pois estará submetido somente a esforços de tração.

02) Considerando as estruturas em cabo apresentadas abaixo, demonstre as

expressões que conduzem à determinação das reações de apoio, explicando cada


passo para sua obtenção.

a) Cabo com duas forças concentradas aplicadas em seu terço médio:

Figura 11. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

Os vínculos A e B são de segunda classe, pois além de da reação vertical, existe


uma força horizontal atuando. Como o cabo é um sistema estrutural plano, as
seguintes condições devem ser satisfeitas:

∑ = 0
∑ = 0
∑ = 0
20

Fazendo o somatório das forças em x ( ∑ = 0), obtêm-se:

∑Fx = 0 → Ax − Bx = 0

Fazendo o somatório dos momentos no ponto B, obtêm-se:

PL P2L
∑MA = − − + ByL = 0
3 3

Eliminando a incógnita L que é comum para todos os termos, tem-se:

P P2
+ = By (Equação 10)
3 3
P = By (Equação 11)

Analisando os esforços verticais, observa-se a presença das cargas P, e a


reação da estrutura em A e B. Fazendo o somatório das forças em y ( ∑ = 0),
obtêm-se:

∑Fy = 0 → Ay + By − P − P = 0
Ay + By = 2 (Equação 12)

Se By = P, então:
Ay + P = 2P
Ay = P (Equação 13)

Para descobrir as componentes horizontais (Ax e Bx), leva-se em consideração o


princípio que, devido ao fato do cabo ser flexível, em qualquer ponto o momento fletor
é nulo. Chamando-se de flecha (f) a distância vertical máxima do cabo até a linha de
fechamento entre as extremidades A e B do cabo, faz-se então, o somatório dos
momentos no ponto C (∑ = 0):
21

Figura 12. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.


∑ = 0 → .  − . = 0
3

.  = .
3

 = . (Equação 14)
3

As reações do sistema estrutural são:

L
Ax = Bx = P.
3f
Ay = By = P (Equação 15)

Pode-se observar que pelo fato do sistema estrutural de cabos ser simétrico, a
reação em Ay e By vai ser igual, o mesmo acontecendo para Ax e Bx.
A geometria da figura é a mesma que o gráfico do momento fletor em uma barra
biapoiada, com dois esforços aplicados eqüidistantes entre si e o apoio. Observe na
figura abaixo, como o diagrama de momento fletor de uma viga biapoiada semelhante
ao arco em estudo se assemelha com o formato do cabo ao assumir o carregamento.

Figura 13: Diagrama momento fletor de uma viga com duas cargas concentradas
eqüidistante dos apoios. Fonte: Ftool.
22

O máximo momento atuante na viga semelhante acontece na flecha máxima,


no meio do vão, entre as duas cargas. É calculado o momento no vão entre as cargas,
analisando o ponto C, da esquerda para a direita, onde apenas a componente Ax
causa momento no ponto em estudo, e conclui-se que a reação horizontal H é igual a
relação entre momento máximo e flecha:

 
Aá =  Aá =
3 3
Aá
B= (Equação 16)


Para a determinação dos esforços internos solicitantes no trecho AC, basta


seccionar o cabo nos locais apropriados e determinar os esforços internos. Como é
um cabo, ele vai trabalhar apenas a tração (N) se o seu formato coincidir com a linha
de pressão, condição válida para esse caso. São determinadas as componentes da
força no eixo x e no eixo y:

Figura 14. Fonte: Adaptada de Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da


UFSC.

∑ = 0

CD − . = 0
3

CD = . (Equação 17)
3

∑ = 0
−CD +  = 0
NaCy = P (Equação 18)

As equações do esforço interno solicitante normal no trecho CD são:


23

Figura 15. Fonte: Adaptada de Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da


UFSC.

∑ = 0

CF − . =0
3

CF = . (Equação 19)
3

∑ = 0
CF −  +  = 0
CF = 0 (Equação 20)

b) Cabo com força distribuída uniformemente ao longo do comprimento do cabo:

Fazendo o somatório das forças verticais Ay e By obtem-se:

∑ = 0 →  +  = 0

O somatório dos momentos em relação a qualquer ponto é nulo. Escolhendo o


ponto A, é possível encontrar o valor da reação dos apoios em y, que conforme a
equação acima, vai ter mesma intensidade nos dois apoios:
qLG
∑Ma = 0 → − + ByL = 0 (Equação 21)
2
24

Figura 16. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

qL
− + ByL = 0
2
qL
ByL =
2
qL
By = Ay = (Equação 22)
2

Escolhendo um ponto C, no meio do vão L do arco, encontram-se as reações


horizontais, partindo do princípio que a soma dos momentos nesse ponto deve ser
igual a zero.
L q. L. L
∑Mc = 0 → Ay. + Ax. f − =0
2 2.4
−q. L L qL²
∑Mc = 0 → . + Ax. f − =0
2 2 8
q. LG q. LG
+ Ax. f − =0
4 8
qL² qL²
Axf = −
8 4
qLG
Ax = (Equação 23)
8f
Se Ax = By, então:
qL²
Ax = Bx =
8f

Para a determinação dos esforços internos solicitantes, nesse caso esforços


normais, secciona –se o cabo em um ponto qualquer, e calcula-se as componentes do
esforço normal em x e y, conforme segue:
25

Figura 17. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

∑Fx = 0
qLG
NACx = (Equação 24)
8f

∑Fy = 0
HI
NACy = G
− qx (Equação 25)

Observa-se que onde a flecha é máxima, não ocorre esforço normal de tração
no cabo. Conclui-se então que o esforço de tração varia ao longo do cabo. Por
exemplo, para o ponto x=0, o esforço normal será:
qL
NACy = − q. 0 (Equação 26)
2
qL
NACy =
2

Para x=L/2 (na metade do vão), o esforço normal vale:


qL L
NACy = − q.
2 2
NACy = 0 (Equação 27)

O valor mínimo do esforço normal ocorre na reação de apoio, e é igual a reação


horizontal. Fazendo uma analogia a uma viga biapoiada com o mesmo carregamento,
percebe-se que o esforço cortante é máximo próximo aos apoios e é zero no centro da
viga.
26

Figura 18: Viga biapoiada. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil
da UFSC.

Novamente percebe-se que a reação horizontal de cada apoio é igual a relação


entre o momento máximo de uma viga biapoiada semelhante e a flecha.
O diagrama de momento fletor desse cabo tem a forma da figura que segue
abaixo, e é importante destacar novamente a semelhança entre o diagrama de
momento fletor e o formato adquirido pelo cabo ao receber esforços.

Figura 19: Diagrama de momentos fletores. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de


Engenharia Civil da UFSC.

2.6.2 Arcos:

c) Uma passarela que liga duas edificações afastadas em 25 metros, possui 3 metros
de largura e deve suportar uma sobrecarga de 5kN/m² além de seu peso próprio,
estimado em 5 kN/m². A passarela será suspensa por 2 cabos com flecha de 5 metros.
Determine as reações de apoio e a força normal máxima que tracionará o cabo.
27

Figura 20: Passarela.

A carga total suportada pela passarela é de 10kN/m². Sabe-se que a área da


passarela é de 25x3m, totalizando 75 m². As reações verticais são 4 no total, uma em
cada canto da passarela. A reação vertical de cada apoio é:

ÁKL  DKM
 =  = D = J =
4
75  10
 =  = D = J =
4
 =  = D = J = 187,5 OC (PQRçãS 28)

Cada um dos dois cabos da passarela vai suportar uma força de 375 kN,
equivalente a uma carga distribuída de 15 kN/m (carga total dividida pelo vão). Sabe-
se que a flecha é de 5 metros. Calcula-se então as reações em x, partindo-se do
principio que a reação horizontal é igual a relação entre o momento máximo e a flecha,
conforme citado anteriormente.
Como a carga na passarela é uniformemente distribuída, podemos tratar esse
cabo como uma viga biapoiada, carregada de forma semelhante. O momento máximo
para uma viga biapoiada é:
qL²
Mmáx = (Equação 29)
8
Onde L é o vão e q a carga.
28

15.25²
Ax = Bx =
8
Ax = Bx = 234,38 kN

O máximo esforço de tração ocorre nos trechos adjacentes aos apoios das
extremidades. Está é uma característica dos cabos, os esforços normais
máximos ocorrem nas seções dos cabos próximas aos vínculos externos, pois é
onde a componente vertical do esforço normal Ny, é de maior valor. (VALLE,
ROVERE, PILLAR et al)

d) Considere o arco biapoiado abaixo. Demonstre as expressões que conduzem à


determinação das reações de apoio e de que forma pode-se garantir que o mesmo
funcione com uma ‘linha de pressão”.

Figura 20: Arco. Fonte: Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

Apenas o vínculo A possui uma reação horizontal. A reação Ax é encontrada


abaixo:

Para encontrar as reações horizontais dos apoios, pode ser utilizado o artifício
de transformar o cabo acima em uma viga biapoioada semelhante. A reação em cada
um dos apoios vai ser igual ao momento máximo. Em uma viga biapoiada com carga
distribuída uniformemente, sabemos que o momento máximo ocorre no meio do vão
conforme equação 29.
Deve-se procurar dar aos arcos formas que correspondam aos funiculares das
cargas que atuam sobre eles, garantindo dessa maneira a não ocorrência de flexão.
29

Cada vez que o funicular das cargas desvia-se do eixo do arco originam-se esforços
de flexão, sendo que quanto maiores forem os desvios maiores serão esses esforços.
Então, para garantir que esta estrutura funcione como uma linha de pressão,
temos que nos certificar que a estrutura receberá apenas esforço normal em qualquer
parte que for seccionada.
Para arcos triarticulados, nos certificamos que a estrutura segue a linha de pressão
quando a flecha existente é igual a flecha calculada atreves da fórmula a seguir:
M
f =
H
Onde m é o momento e H a reação em x. A flecha pode ser calculada também
pelo métodos dos elementos finitos.
30

3. CONCLUSÃO:

Os cabos e arcos são sistemas estruturais de forma ativa que tornam possível
o vencimento de grandes vãos com economia de material. Entretanto, algumas vezes
precisam estar associados a outros sistemas estruturais para um bom desempenho,
como é o caso da associação arcos e tirantes.
O arco sofre a ação de esforços soliticitantes de compressão, enquanto o cabo
trabalha a esforços de tração. Duas características comuns entre os dois sistemas
estruturais, é que ambos tendem a tomar forma do carregamento recebido, chamado
de funicular da estrutura, porém, no caso do arco, essa forma é invertida.
Os cabos são indicados para situações em que não é necessário que a
estrutura resista esforços de compressão, já que os eles sofrem com o efeito de
flambagem se submetidos a estes esforços.
Para se obter um cabo ideal, deve-se fazer com que a forma da estrutura seja
idêntica a linha de pressão, garantindo assim a não existência de esforços
indesejáveis, tais como momentos fletores e tração nos arcos, prejudicando o
desempenho do sistema.
Os sistemas estruturais de forma-ativa são dependentes das condições do
carregamento e estritamente influenciados pelo fluxo “natural” das cargas, portanto
não podem ser projetados de forma livre e arbitraria. A forma e o espaço arquitetônico
são o resultado do mecanismo de suporte. Entretanto, em virtude de seus esforços
serem apenas por simples compressão ou tração, o arco e o cabo de suspensão, no
que se refere à relação peso/vão, são as estruturas mais econômicas de cobrir
grandes vãos e formar amplos espaços (BRITO E SILVA, 2010).
31

REFERÊNCIAS:

REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A concepção estrutural e a arquitetura. São


Paulo: Zigurate, 2003.

LMC. Disponível em
<http://www.lmc.ep.usp.br/people/pauletti/Publicacoes_arquivos/RMOP-Cap-1.pdf>.
Acesso em 23 de nov. de 2011.

Feup. Disponível em <http://www.fe.up.pt/si/ocorrencias_geral.formquery>. Acesso em


23 de nov. de 2011.

LOTUFO, Vitor. A flambagem.

BRITO E SILVA, Mauro César. Sistemas de estruturas. 2010.

HENGEL, Heino. Sistema de estruturas. São Paulo: Hemus, c1981.

Análise Estrutural I. Departamento de Engenharia Civil da UFSC.

SUSSEKIND, José Carlos. Curso de análise estrutural 1. São Paulo: Editora Globo,
1981.

FAY, Liliana. Estruturas Arquitetônicas: Composição e modelagem. Rio de Janeiro,


2006.

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