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C A P TUL03

A língua perfeita
de Dante

o primeiro texto em que o mundo cristão da Idade


Média aborda org~nicamente umprojeto·de língúa perfei-
ta é o De vulgari eloquentia, de Dante Alighieri, escrito pro-
vavelmente entre 1303 e 1305.
O tratado De vulgari eloquentia parte de uma cons-
tatação óbvia, mas fundamental para o nosso assunto: exis-
te uma pluralidade de línguas vernáculas, e o vernáculo se
opõe, enquanto língua natural, ao latim como modelo de
gramática universal, mas artificial.
Antes da construção blasfema da Torre de Babel, exis-
tia uma língua perfeita, com a qual Adão falara com Deus,
e com a qual falara com os seus descendentes, mas com a
con{usío línguarum nasce a pluralidade das línguas. De-
monstrando um conhecimento de lingüística comparada
excepcional para a sua época, Dante mostra como as várias
línguas nascidas da confusão se multiplicaram de modo ter-

cc
lI,i.lOnlDl'ilnciro seguindo uma divisão entre as várias regiões 012f;'l~" V'é",",':'"

do IlIDfld0,e depois no interior da região que hoje denomi-


namllll:românica, distinguindo-se entre a língua d'oc, d'oil e r ,:C;;,;, ;:rp ,', '.;2,12. d,; ingu,: \'erná(" I, o
do si..Esta se fragmentou em uma pluralidade de dialetos trata." \ ['
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êm !<lii!TI. E nq;:<in-
que,oomo por exemplo em Bolonha, variam por vezes de to po,~ta, Danh,;: e" .e\,-:;'n Icn1;j, "lIo, mas ellquanto :'n-
I
umaáea para outra da cidade. Isso porque o homem é um
anirml instável e mutável, por costumes, hábitos e lingua-
gem,ilanto no tempo como também no espaço.
l
I
sador, alimentado de filosofia escolástica, e homem po;íti-
co que almeja o retorno de um império supranacional, co-
nhece e pratica a língua comum tanto da filosofia quanto
da política e do direito internacional.
Se queremos encontrar uma língua mais decorosa e !
ilustur, é preciso proceder por uma crítica analítica e seve- O De vulgari eloquentia define o vernáculo como a
i
ra dOEvários vernáculos regionais, levando em considera- língua que as'crianças aprendem a falar quando começam
ção <pe os melhores poetas, cada um à própria maneira, a articular os sons que recebem, imitando a babá, sem ne-
afastaaam-se do vernáculo da sua cidade, visan~o a alcan- cessidade de nenhuma regra, e o opõe a uma locutio se-
çar UlID. vernáculo ilustre (radiante de luz), cardeal (que cundaria, que os romanos chamaram de gramática, uma
funálllle como base e regra), real (digno de tomar lugar no língua governada por regras que são aprendidas mediante
paládin de um reino nacional, supondo que os italianos o longo estudo e da qual se adquire o habitus. Consideran-
cons~issem) e curial (l~uagem do governo, da justiça e do que na linguagem escolástica um habito é uma virtude,
da sabrooria). Este vernáculo pertence a cada cidade italia- uma capacidade de agir, o leitor contemporâneo poderia
na e ;a nenhuma delas, porque representa uma espécie de enxergar aqui a simples oposição entre capacidade instin-
regrailleal que é usada pelos melhores poetas, e, com base tiva de execução (pe\rfonnance), e competência gramatical.
nela, ii>dos os vernáculos existentes devem ser julgados. Dante, porém, ao falar de gramática, entende ainda o la-
A segunda parte (incompleta) do tratado De vulgari tim escolástico - a única língua que naquela época era en-
eloqumtía esboça as regras de composição do único e ver- sinada gramaticalmente nas escolas (d. também Viscardi
dadeÍlll>vernáculo ilustre, a língua poética da qual Dante se 1942) - como um idioma artificial, "perpétuo e não cor-
considera orgulhosamente o fundador, e que opõe às lín- ruptível", língua internacional ôa Igreja e da universidade,
guas,db confusão, como a língua que reencontra a afinida- fixada em um sistema de regras pelos gramáticos que
de priílnordial com as coisas que foram próprias da língua (como Sérvio entre os séculos IV e V, ou Priciano entre os
adâI1Üa. séculos V e VI) legislavam quando o latim já não era mais
a língua viva de Roma.
Em face desta distinção entre língua primária e se-
cundária, Dante afirma categoricamente que o vernáculo é
uma língua mais nobre: em primeiro lugar, porque foi usa-
da de início pelo gênero humano, em segundo, porque é

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utilimdaepelo mundo inteiro "apesar de estar dividida em .mem: os anjos não possuem tal faculdade, tampouco os
difmmtesvocábulos e pronúncias" (I, 1, 4) e, finalmente, animais e nem os demônios. Falar significa externar os pen-
porfie é natural, enquanto a outra é artificiaL samentos da nossa mente, enquanto os anjos têm uma" ca-
Esta passagem é bastante delicada. Por um lado se pacidade intelectual inefável" pela qual cada um com-
í
afimlll que a língua mais nobre deve ter os requisitos da na- preende o pensamento do outro, ou seja, todos lêem os
i
•..• turaiilade, enquanto a reconhecida diversidade dos verná- pensamentos de todos na mente divina. Os demônios, por
culQl,confirma a sua convencionalidade. Por outro lado,
I
)
outro lado, já conhecem reciprocamente o grau da própria
fal~ do vernáculo como de uma língua comum a todos, perfídia; e os animais não têm paixões individuais mas es-
emlura diferenciada em vocábulos e pronúncias diferen- pecíficas e, por isso, conhecendo as próprias, conhecem
tes. ltisim,se o tratado inteiro De vulgari eloquentía insiste també~ aquelas dos animais de outra espécie. Dante não
a repito da variedade das línguas, como conciliar a idéia sabia ainda que na Cbmmedia iria fazer falar os demônios.
de <pc existem muitas línguas com o fato de que o verná- Mas os demônios de fato falam também uma linguagem
culo4língua natural) é comum a todo o gênero humano? que não é a humana: e curiosamente uma expressão diabó-
Cemmente é comum a todos o fato de se aprender em pri- lica como o célebre "Pape satan, pape santa aleppe" relem-
meillll lugar uma língua natural sem conhecer as suas re- bra uma outra expressão, desta vez pronunciada por Nim-
gras,mas será que é o bastante para dizer-se que todos fala- rod, responsável pela catástrofe babélica ("Raphel mal
mos a mesma língua? 'eria possível dizer no máximo, amecche zabl almi", Inferno, XXXI, 67). Os diabos falam a
cOffi.também hoje o diríamos, que todos os homens pos- língua da confusão (d. Hollander 1980).
suemuma disposição natural para a linguagem, isto é, uma O homem, porém, é guiado pela razão, que em cada
~ .

nahml faculdade da linguagem, que depois se encarna em indivíduo particular assume formas diferentes de discerni-
subs&tcias e formas lingüísticas diferentes, ou seja, em di- mento e de juízo, e necessita de uma faculdade que lhe
versadínguas naturais (ver também Marigo 1938, Comen- permita manifestar, mediante um sinal sensível, um con-
tário:fJ, nota 23; Dragonetti 1961: 32). teúdo intelectual. Daí se percebe que na opinião de Dante
Dante tem uma clara noção acerca de faculdade da a faculdade da linguagem define-se como disposição de as-
lingmgem: como afirma em I, I, 1, existe uma faculdade de sociar significados racionais com significantes percebíveis
apreuler a linguagem materna que é natural, e tal faculda- pelos sentidos. Com efeito, seguindo a tradição aristotélica,
de é cromum a todos os povos, apesar da diversidade das Dimte admite que a relação entre significante e significado, /
prollÍncias e dos vocábulos. Que tal faculdade se manifes- conseqüência da faculdade de linguagem, é estabelecida
te, rmopinião de Dante, no uso do vernáculo que ele co- por convenção, ou seja, ad placitum.
nhece, é óbvio; mas não se trata de uma língua específica, Do mesmo modo, Dante esclareceu o conceito de
e siDP"justamente de uma faculdade geral, comum à espé- que, enquanto a faculdade da linguagem é permanente e
cie lmnana: "somente ao homem é dado o dom de falar"
imutável para todos os membros da espécie humana, as lín-
(I, 11, I). A capacidade de falar é própria somente do ho- guas naturais são historicamente mutáveis, isto é, são capa-

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zes&sedesenvolver no decorrer do tempo, e de se enri- loquela devem ser entendidos no sentido moderno de '1ín-
quecra independentemente da vontade dos indivíduos que gua", ou langue no sentido saussuriano.
as féiun. Ele sabe que uma língua natural pode ser enri- Parece que no mesmo sentido está usando também
queciila pela criatividade individual, e entende como pro- o termo locutío: por exemplo, ainda no texto sobre a confu-
dutode criatividade precisamente o vernáculo ilustre que são babélica (I, VI, 6-8), para dizer que depois da confusão
se pupõe a forjar. Mas parece que entre a faculdade da lin- os operários da torre falam línguas imperfeitas, diz que
-, guap e a língua natural Dante pretende colocar umél
instâtEia intermediária, segundo se pode deduzir da ma-
I "tanto rudius nunc barbariusque locuntur", e poucas linhas
adiante para referir-se à língua hebraica originária, fala de
neiractomo considera a história de Adão. l-
"antiquissima locutione".
I
I! Enqua~to, todavia, ydioma, língua e loquela são ter-
mos determin~dos, isto é, são usados somente quando se
Língms e atos de palavra quer falar a respeito de uma langue; locutio parece possuir
um âmbito de emprego mais genérico, o mesmo ocorrendo
Dante, no capítulo de abertura do tratado, referindo- também quando o contexto parece sugerir a atividade da
se ao seu conceito de vernáculo, fala de uma vulgaris elo- palavra, isto é, o processo, ou a própria faculdade -da lin-
quentit, uma locutio vilgarium gentium, uma vulgaris locu- guagem. Com freqüência Dante fala em locutio como de
tio, mando a expressão lo~tio secundaria para indicar a gra: um ato de palavra: por exemplo, a propósito de certas vozes
mátiCR.Poderíamos traduzir o termo eloquentia em sentido animais, afirma que um ato desse tipo não pode ser chama-
genélim, quer como "eloqüência", quer como "expressão" do de "locutio", porque não é atividade lingüística verda-
ou "fála". Entretanto, no interior do texto surge uma distin- deira e própria (I, lI, \6-7), enquanto locutio é sempre usada
ção eBte várias opções lexicais que provavelmente não são 1 para os atos de palavra que Adão dirige a Deus.
casuail. Em determinados casos Dante fala de locutio, em ! Estas distinções aparecem claras no trecho (I, IV, I)
outrOi de ydíoma, de língua e de loquela. Fala de ydíoma em que Dante indaga "qual o primeiro homem a quem foi
quaniD se refere por exemplo à língua hebraica (I, IV, 1; I, dada a faculdade da palavra (locutio), e o que ele falou no
VI, 1 Ef, VI, 7) e para se referir à floração das línguas do mun- início (quod primitus locutus fuerit), e a quem, e onde, e
do eJis românicas em particular. Em I, VI, 6-7, quando se quando, e em qual língua (sub quo ydiomate) foi emitido
refereà:confusío linguarum babélica, Dante fala de loquela, o primeiro ato da linguagem (primíloquíum)" - assim
mas _mesmo contexto usa também ydioma, tanto para as julgo que se possa traduzir primiloquíum em analogia com
língua:, que se corromperam quanto para a língua hebraica tristíloquíum e turPiloquíum (I, x, 2; I, XIII, 3) que se refe-
que fimuintacta. Desse modo fala da loquela dos genovéses rem à maneira ruim de falar tanto dos romanos quanto dos
ou dcstoscanos, porém usa igualmente língua para o hebrai- florentinos.
co ourara os dialetos do vernáculo itálico. Por conseguinte,
parea::que tanto o termo ydioma quanto os termos língua e
,
~

o plimeiro dom de Adão •
t
r.
o primeiro nome hebraico de Deus). Provavcll\l<':J1lclJall
~; te queria pôr em destaque o fato de que Adão Ü.la COIll
Nas páginas sucessivas, Dante afirma que no Gênesis Deus antes de dar um nome às coisas, e que, portanto,
se diEque quem falou primeiro foi Eva (mulierem invenitur Deus lhe dera a faculdade da linguagem antes que constru(s-
ante .mmes fuisse locutam) no diálogo com a serpente, se uma língua.
achamo "inconveniente não pensar que um ato tão nobre Adão falou com Deus em forma de resposta. Portan.:.
do finero humano seja brotado primeiro dos lábios de um to, Deus deve-lhe ter falado primeiro. Mas não é necessário
horrmn do que dos lábios de uma mulher". Como sabe- que o Senhor tenha usado uma língua. Aqui Dante retoma
mos •• o Gênesis o primeiro a falar. em todo o caso, é Deus uma tradição que remetia ao Salmo 148, 8 segundo a qual
paraniar o mundo, em seguida Adão é levado a nomear os Deus se exprime por meio de fenômenos naturais (fogo,
animJi:s e, portanto, provavelmente emite sons (mas o epi- granizo. neve, ~spírito das tempestades), mas a corrige suge-
sódi$inteiro do Gênesis 2,19, que concerne à nominatio re- rindo que Deus pod~~ia ter movido o ar de tal forma a fazer
rum, euriosamente é ignorado por Dante) e por fim Adão ressoar palavras propr,iamente ditas. Por que Dante chega a
fala flua manifestar a sua satisfação pelo aparecimento de imaginar essa idéia curiosa, afirmando que Deus fez ressoar
Eva.Mengaldô (1979: 42) sugere que, se para Dante fala- o ar de tal modo que Adão ouvisse sons de natureza lingüís-
mospra-externar os pensamentos da nossa mente, sendo, tica? Obviamente porque Adão, por ser o primeiro indiví-
-,
duo da única espécie de animais que fala~, pode receber
portato, a fala um fato ~lógico, talvez quisesse dizer q~e
com Eva e a serpente ocorre o primeiro diálogo, e portan- idéias somente por meio da voz. E também porque, como
to, o ,rimeiro ato de linguagem (e isso estaria de acordo Dante especifica em I, v, 2, Deus quis que também Adão fa-
com.estatuto ambíguo que detectamos no termo locutio). lasse, para que no exercício desta faculdade fosse glorifica-
Ou deveríamos pensar que Adão se alegrava em seu cora- do Aquele que dera um dom tão grande.
ção pElonascimento de Eva, e que quando nomeava os ani- Neste ponto Dante indaga em que idioma Adão fala-
mais"em lugar de efetuar atos de linguagem, estabelecia as ra. A esse respeito critica aqueles que, a começar pelos flo-
regr$ de uma língua e, portanto, praticava uma forma de rentinos, julgam a sua língua nativa a melhor, enquanto
met::lnguagem? existem outras línguas, muitas das quais são melhores do
Em todo o caso, Dante se serve deste parêntese refe- que o vernáculo italiano. Portanto (I, VI, 4), afirma que
rentea Eva para sustentar que é mais razoável pensar que juntamente com a primeira alma fora concretizada por
foi Alio quem falou primeiro; e enquanto a primeira voz Deus certam formam locutionis. Se traduzirmos esta expres-
que anitemos seres humanos é um vagido de dor, a pri- são por "uma forma bem definida de linguagem" (ver por \"
meimvozemitida por Adão não podia ser senão um som de exemplo Mengaldo 1979: 55), não se explicaria por que em
alegja e ao mesmo tempo de homenagem ao seu criador. I, VI, 7, Dante afirma que "foi, portanto, a língua hebraica
Pori.o, Adão teria pronunciado em primeiro lugar o nome (ydioma) aquela que os lábios do primeiro ser falante forja-
de Ilms El (aliás, a tradição patrística atestava que "EI" foi ram (fabricarunt).

.•.. ., 63
É bem verdade que Dante especifica referir-se à for- e é precisamente de tal forma que fariam uso lodos 11<111("
nw"tanto em relação aos vocábulos que indicam as coisas, les que falam na própria língua, se ela não tivesso sidu d"1I
membrada por culpa da presunção humana, COIUC) SI1I
0IIl10 em relação à construção dos vocábulos, e das desi-
mostrado mais adiante. Com esta forma lingl/lsllclI 1i.1.)1I
nmcias da construção", induzindo a pensar que com a ex- Adão: graças a esta forma falaram todos os seus dcscol.
pmsão forma locutionis designava um léxico e uma morfo- dentes até a'torre
construção da torre esta
de Babel- que é intlllpl
tada como da confusão': forma língafstica foi 11
l~ e, portanto, uma língua. Mas se essa expressão fosse que herdaram os filhos de Heber, que a partir dele foram
mouzida no sentido de "língua" resultaria difícil explicar o chamados hebreus. A eles somente ficou reservada esta
língua após a confusão, a fim de que o nosso Redentor,
tmrtho seguinte: que pelo lado humano da sua natureza deVia nascer deles,
fruisse não de uma língua da confusão, mas de uma Ifn-
qua quidem forma omnis língua loquentium uteretur, nisi gua da graça. Portanto, foi o idioma hebraico aquele que
culpapresumptionis humanae dissipata fuisset, ut inferius os lábios do prímeíroser falante construíram.
ostenderetur. Hac forma locutionis locutus est Adam: hac
forma locutionis locuti sunt homines posteri eius usque ad
edificationem turris Babei, quae 'turris confusionis' inter- Mas o que seria.afinal esta forma lingüística que n:lo
x
pretatur: hanc formam locutionis hereditati sunt filii He- é a língua hebraica nem tampouco a faculdade geral da
ber, que ab eo sunt dicti Hebrei. Hiis solis post confusio-
nem remansit, ut Redemptor noster, qui ex illis oritus erat linguagem; que pertenceu por dom divino a Adão, mas foi
secundum humanitatem, non lingua confusionis sed gra- perdida depois de BabeI, e que - como veremos - Dalll."
tie frueretur. Fuit ergo hebraicum ydiomam ilud quod procura descobrir com a sua teoria do vernáculo ilustre?
primi loquentis la~ fabricarunt (I, VI, 5).

Se a expressão forma locutionis fosse entendida no


Dante e a gramática~ universal
seatido de língua forjada, por que, para dizer que Jesus fa-
1000hebraico, se usa uma vez língua e outra ydioma (e logo
Maria Corti (1981: 46s) propôs uma solução do pro-,
dlJ.ois em I, VII, narrando o epis6dio da confusão das lín-
blema. Já está fora de discussão o fato de que Dante não
gms, usa-se loquela), enquanto somente para o dom divi-
l1Ilinicial se fala de forma locu#onis? Por outro lado, se ad- pode ser compreendido se o virmos apenas como um segui-
dor ortodoxo do pensamento tomista. Na verdade, ele refe-
nitirmos que a forma locutionis é somente a faculdade da
'. re-se, conforme as circunstâncias, a várias fontes filos6ficas
lHiguagem, não se compreende por que os pecadores de r:
e teol6gicas, e não resta dúvida de que foi influenciado por
.Bdlel a teriam perdido enquanto os hebreus a conserva-
várias correntes do aristoteIismo denominado radical cujo
um, considerando que todo o De vulgari eloquentia reco-
maior expoente foi Siger de Brabante. Mas também Boécio
rAece a existência de uma pluralidade de línguas que (em
de Dácia se referia a ambientes do aristotelismo radical (e
\iiude de alguma faculdade natural) foram produzidas
junto com Siger sofreu .a condenação emanada pelo bispo
dipois de BabeI. .
de Paris em 1277): Boécio era um dos maiores representan-
Tentemos, então, traduzir a expressão do modo seguinte:
tes dos gramáticas chamados modistas, e por cujo tratado
De modis significandi Dante teria sido influenciado. Maria

6*
Outi vê de modo particular no ambiente de Bolonha da de que uma gramática universal já circulava amplamente
~ca- o centro de onde, por presença direta, ou por conta- na cultura medieval e que, como nenhum dos críticos da
tQ&;entreo ambiente bolonhense e florentino, Dante teria Corti põe em dúvida, Dante tinha conhecimento de tais
rf.lDebidotais influências. §}

ti
discussões. Afirmar porém, como diz Maierit, que não era
A partir daí ficaria claro o que Dante entendia por preciso conhecer o texto de Boécio para saber que "a gra-
f(fJR/.alocutionis, considerando que eram justamente os mática é uma e a mesma, substancialmente, em todas as
nudistas a sustentarem a existência de categorias lingüísti- línguas, embora variada na superfície", porque tal afirma-
'- CB universais, isto é, de algumas regras subjacentes à for- ção ocorre também em Rogério Bacon; é em todo o caso
nução de qualquer língua natural. No tratado De modis, uma prova cpnvincente de que Dante podia pensar em
Bmcio de Dácia lembra que a partir de cada idioma exis- urna gramática universal. Por conseguinte, podia pensar
tellte, 'é possível deduzir as regras de uma gramática uni- em urna forma locutí<?nisdada por Deus como uma espé-
vtllal que abstrai tanto do grego quanto do latim (Quaestío cie de mecanismo inato que a nós, contemporâneos, lem-
6}..A"gramática especulativa" dos modistas sustentava uma bra exatamente os p;incípios universais de que se ocupa a "
rtirção de especularidade entre linguagem, pensamento e gramática generativa de Chomsky (a qual, por outro lado,
néAueza das coisas, posto que para eles era dos modi essen- se inspira nos ideais racionalistas de Descartes e dos gramá-
di flUe dependiam os modi intelígendi e, por conseguinte, ticos de Port-Royal do século XVII, que retomavam a tradi-
oSlllodi significandi. \ ção modista 'da Idade Média). '
O dom, portanto, que Deus dá a Adão não é apenas Se for assim, que acontece no caso de Babel? É pro-
a kuldade da linguagem e nem é ainda uma língua natu- vável que Dante, pensasse que juntamente com Babel, ti-
ral:são os princípios de uma gramática universal, a causa vesse desaparecido a',forma locutíonis perfeita, a única que
famal, "o princípio geral estruturante da língua, quer no possibilitaria a criação de línguas capazes de refletir a pró-
q_ diz respeito ao léxico, quer no que se referirá aos fenÔ- pria essência das coisas (identidade entre modi essendi e
mmos morfossintáticos da língua que Adão lentamente modi significandi), e das quais o hebraico adâmico era o re-
fa'hicará, vivendo e nomeando as coisas" (Corte 1981: 47). sultado inalcançável e perfeito. O que restou então? Sobre-
A tese de Maria Corti foi contestada com veemência
~ viveram formae locutionis desarticuladas e imperfeitas -
(dEem particular Pagani 1982 e Maierit 1983), objetando- ~ assim como são imperfeitas as línguas vernáculas italianas
s~ que não há provas evidentes de que Dante conhecia. o ~ que Dante analisa impiedosamente nos seus defeitos e na
~.
teJlo de Boécio de Dácia; que, em vários casos, Maria Cor-
ticstabelece entre os dois textos analogias insustentáveis, e
qJIE as idéias lingüísticas que podem ser encontradas em
I
ri
sua incapacidade para exprimir pensamentos elevados e
profundos.
~
Ilmte circulavam em outros filósofos e gramáticos mesmo
ades do século XIII. Por isso, mesmo que se admitam os I
~
dÊ primeiros pontos, permanece o terceiro, isto é, a idéia ~
~

6ií i
~
!ll
67
Ovemáculo ilustre
te com base nesta proclamada criatividade lingüística que
ele pode formular o projeto de inventar uma língua perfei-
Agora é possível entender o que é aquele vernáculo ~tj ta moderna e natural, sem andar à caça de modelos perdi-
~
illiBtredo qual Dante vai à caça como de uma pantera per- "1
dos. Se um homem do quilate de Dante tivesse pensado
fimada (I, XVI, I). A partir dos textos dos poetas que Dante verdadeiramente que o hebraico inventado por Adão era a ,.x
clDl'iideramaiores, essa linguagem parece por vezes imper- única língua perfeita, teria aprendido o hebraico e em he-
cqptível, não formada ainda, nem regulada e explicitada braico teria escrito o seu poema. Não fez isso, porque pen-
eBl seus princípios gramaticais. Em face dos vernáculos sava que o vernáculo que devia inventar teria correspondi-
e_ntes, naturais mas não universais, e diante de uma do aos princípios da forma universal doada por Deus, me-
gnmática universal, porém artificial, Dante persegue o so- lhor do que poderia fazer o hebraico adâmico. Dante se
"', nu de uma restauração da forma locutionis do Éden, na- candidata a ser um n?vo (e mais perfeito) Adão.
h.1Dle universal. Mas - ao contrário do que fariam os re-
na:entistas, à procura de uma língua hebraica devolvida
)( ao seu poder revelativo e mágico - Dante visa a recriar a Dante e Abulafia
comição originária com um ato de invenção moderna. O
veJillÍculo ilustre, cujo exemplo máximo seria a sua língua Desde a data em que escreveu o De vulgari eloquen-
po8lca, é a fo~ma cori\.que um poeta moderno c~ª a fer,i- tia até a composição do Paraíso (e passaram-se alguns
9.a IfÓs-babélica. Todo o segundo livro do De vulgari elo- an2s), Dante, no entanto, parece ter mudado de idéia. No
"i.HiHa não deve ser entendido como um mero e simples pequeno tratado afirmava sem qualquer ambigüidade que
trabdo de estilística, mas como esforço para fixar quer as da forma locutionis qada por Deus nasce o hebraico como
cCJUliçõesquer as regras e a forma locutionis da única lín-
guaperfeita concebível, o italiano da poesia dantesca (Cor-
ti 1981: 70). Esse vernáculo ilustre teria a necessidade
i língua perfeita, e é já nesta linha que Adão se dirige a
Deus chamando-O El. No Paraíso (XXVI, 124-38), porém,
Adão diz:
(oposta à convencionalidade) da língua perfeita, porque
I
C<BIO a forma locutionis perfeita permitia a Adão falar com

Dcas, o vernáculo ilustre é a língua que permite ao poeta I A lingua ch'io parlai fu tutta spenta
innanzi che aI'ovra incommensurabile
>" tOBlaras palavras adequadas àquilo que devem exprimir, e
q~de outro modo não seria possível exprimir.
Depende desta ousada concepção do próprio papel
i
g;
€'i

~
fosse Ia gente de Nembràt attenta:
Ché nullo effetto mais razionabile,
per 10 piacer human que rinnovella
dellestaurador da língua perfeita o fato de que Darite, em. r
'"

seguendo il cielo, sempre fu durabile.


k
hlfF de criticar a multiplicidade das línguas, põe em [. Opera naturale e ch'uom favella;
{
rebo a sua força quase biológica, bem como a sua capaci- ma cOSIo cOSI,natura lascia
ft~
d~ de renovar-se e de mudar no tempo. Pois é justamen- ~.
~'>
pai fare a vai secando che v'abbella.

68 :-",.
69
~;
Pria ch'i' scendessi all'infernale ambascia, dom lingüística que ele dera a Adão, uma espécie de ma- :'\
J s' appellava in terra il som mo bene triz gerativa de todas as línguas, que não coincidia ainda
onde vien Ia letizia che mi fascia:
com o hebraico. São, por conseguinte, influências aver-
t·~.
'.;
E EI si chiamo poi: e cio convene, ~:;
roístas em Abulafia, que o levam a crer em um Intelecto
ché l'uso d'i mortali e come fronda Ativo único e comum a toda a espécie humana, bem como
in ramo, que sen va e altra vehe indiscutíveis e demonstradas simpatias averroístas em Dan-
(ed. crítica de G. Petrocchi). te, e em todo caso a sua concepção avicenista-agostiniana
do Intelecto Ativo (identificado com a Sabedoria divina),
Adão diz que as línguas, depois que nasceram de que oferece as formas ao Intelecto possível (cf. em particu-
rnm disposição natural para a palavra, em seguida diferen- lar Nardi 1942: XI-XII). Ao veio averroísta também não eram
cmn-se , desenvolvem-se e mudam por iniciativa humana, alheios os m~distas ~,outros defensores de uma gramática
aid ponto que o próprio hebraico, falado antes da constru- universal. Eis, port4nto, uma posição filosófica comum
çüda torre, já não era mais aquele que ele falara no paraí- que, mesmo sem querer demonstrar influências diretas, po-
saferrestre (onde ele chamava Deus de "I" enquanto de- dia induzir ambos a considerar o dom das línguas como a
pÉ o chamou, "EI")o consignação de uma forma locutionis, matriz gerativa se-
Aqui Dante parece oscilar entre o Gênesis 10 e o Gê- melhante ao Intelecto Ativo.
Mas há algo mais. Para Abulafia, o hebraico histori-

Edio, 11,o dois
que textos
induziu<Ne já antes
bante correçãoà sua
a talestavam dedisposição.
rota? Uma camente fora a protolinguagem, mas o povo eleito, no de- -
bm:ha interessante é a idéia estranha de que Deus possa correr do exílio, esquecera aquela língua originária. E é por
seJfchamado de "I", opção que nenhum comentarista de isso que, como diria\ Dante no Paraíso, na época da confu-
Ilmte conseguiu explicar de maneira satisfatória. ~~ são babélica, a língua de Adãoestava "inteiramente apaga-
~
Se voltarmos um instante ao capítulo precedente, da". Idel (1989: 17) cita um manuscrito inédito de um dis-
~
~;
miaremos que, na opinião de Abulafia, os elementos atômi- ~ cípulo de Abulafia, em que se diz:
,
ClIS-dotexto, isto é, as letras, têm um significado em si, de for- ~.I
li Qualquer um que acredita na criação do mundo, se achar
Im!que cada letra do nome YHVH é já um nome divino, e,
pJJtanto, também a letra Yod sozinha é o nome de Deus.
[
~
,:
que as línguas são corivencionais, deve também pensar
que existem dois tipos de língua: a primeira é Divina, nas-
~ra, vamos transliterar, como Dante costumava fazer, a cida de uma aliança entre Deus e Adão, e a segunda na-
~ tural, baseada em uma aliança entre Adão, Eva e os seus
ldkl Yod como "I", e eis que temos uma fonte possível do t·

~. filhos. A segunda é derivada da primeira, e a primeira foi
'_-cara" dantesco. Mas tal idéia do nome divino não é a ir
~
"
corihecida somente por Adão e não foi transmitida a ne-
Úilicaque Dante parece ter em comum com Abulafiao r' nhum dos seus descendentes exceto Set ['0']' E desse
modo a tradição chegou até Noé. E a confuSão das línguas
Havíamos visto, no capítulo anterior, que Abulafia no tempo da dispersão ocorreu somente para o segundo
cdJcava uma equação entre Torá e Intelecto Ativo, e que tipo de língua, aquela natural.
ocsquema com que Deus criara o mundo coincidia com o

7J)
71
L
I' do às sereias dos "incircuncisos" bolonhenses. Os sons
Se nos lembrarmos de que o termo "tradição" se re-
m à Cabala, poderemos entender, então, que o trecho ci- !~ emitidos por uma criança desprovida de educação lin-
tal> alude novamente a uma sabedoria lingüística, isto é, güística, ele objeta, seriam semelhantes ao latir dos ca-
a lIIIla forma locutionís como conjunto de regras para a chorros, e é loucura sustentar que a língua sagrada fora
OJIIIStruçãode línguas diferentes. Se a forma originária não. dada ao homem por natureza.
éoRlíngua, e sim a matriz universal das línguas, disso resul- O homem possui em potência a aptidão para a lin-
tu:onfirmada não só a própria mutabilidade histórica do guagem, mas esta potencia passa para o ato somente por
hdraico, mas também a esperança de que a forma origi- meio de uma educação dos órgãos fonadores, que se esta-
núia possa ser encontrada e novamente explorada (de for- belece pela aprendizagem. E aqui Zerakhya usa uma pro-
IBIS diversas, obviamente, tanto por Dante como também va que encontraremos de novo após a Renascença em mui-
pAIAbulafia). tos autores cristãos (c,omo, por exemplo, no tratado In Bí-
Podia Dante conhecer o pensamento de Abulafia? blia polyglotta proleppmena, de Walton, 1632, ou no De sa-
Abulafia veio à Itália em várias ocasiões: encontra-se cra phílosophía, 1652, de Vallésio): se tivesse existido o
e.Roma em 1260, permanecendo na península até 1271, dom primigênio de uma língua sagrada originária, cada ho-
q1lBlldoretoma a Barcelona, mas ei-Io de novo em Roma mem, seja qual fosse a sua língua materna, deveria igual-
e1lll1280, movido pela idéia de converter o Papa. Em segui- mente conhecer a língua sagrada por dom inato.
da passou pela Sicília~nde os seus vestígios se perdem no Sem ·discorrer sobre um eventual encontro entre
fim da década de 1290. As suas idéias influenciaram sem Dante e Abulafia, bastaria esta discussão para mostrar
dÓlida o ambiente judaico italiano. Pouco tempo depois, como a temáticp abulafiana foi debatida na península, e
ea 1290, assistimos a um debate entre Hillel de Verona precisamente no ambiente bolonhense pelo qual Dante te-
(qJe provavelmente encontrara Abulafia vinte anos antes) ria sido influenciado (e pelo qual, segundo Maria Corti, te-
eZerakhya de Barcelona, que chegara à Itália no começo ria assimilado tantas idéias sobre a forma locutionís). O epi-
datlécada de 1270 (cf. Genot-Bismuth 1975; 1988,11). sódio do debate bolonhense, por outro lado, não constitui
Hillel, que nesta época freqüenta os ambientes bo- um evento isolado em uma história das relações entre Dan-
l<Dhenses, escreve a Zerakhya, retomando a questão aber- te e o pensamento judaico.
ta por Heródoto, para indagar em que língua se ex- rJ
Genot-Bismuth oferece-nos um panorama apaixo-
plllSsaria uma criança criada sem ser exposta a estímulos ~
i" ..• nante daquele escorço de século, em que mais tarde vamos
R'
~
liagÜísticos. Na opinião de Hillel, a criança se exprimiria
! encontrar um Yehuda Romano que daria lições sobre a Dí-
..

e. hebraico porque se trata da língua dada originaria- ~ vina Commedia para os seus correligionários, ou um Lio-
mmte por natureza ao homem. Hillel mostra desconhe- ~;~ nello de Ser Daniele que faria o mesmo, usando urna Di-
k:
ot'.'8, ou menospreza, o fato de que Abulafia era de opinião k vina Commedia transliterada em hebraico, para não falar
~rente. Zerakhya, porém, não pensava dessa maneira: r
f
de um personagem como Immanuel, de Roma que, nas
e1rresponde acusando sarcasticamente Hillel de ter cedi- suas composições poéticas, parece brincar pegando em

72. 73
r:·:

amtra~pé os temas dantescos como se aspirasse a compor í:,'j


como os hereges, que - como diz de modo eficaz Le Goff
:uma contra~Commedía hebraica. ~
r;i (1964: 373) - a Idade Média oficial parecia detestar e admi-
Obviamente isso documentaria somente uma in- rar ao mesmo tempo, com um misto de atração e medo,
Wncia de Dante sobre o ambiente judaico italiano e não mantendo-os à distância mas determinando essa distância
\Íre-versa. Mas Genot-Bismuth também prova influências de maneira bastante próxima a fim de mantê-Ios ao alcance
tp>stas, sugerindo até uma origem judaica da teoria dos da mão, de modo que "o que se chama de caridade com re-
cpatro sentidos da Escritura que surge na epístola XIII de lação a eles se assemelha à atitude do gato quando brinca
Dlmte (d. Eco 1985) - uma tese talvez ousada, se pensar- com os ratos".
rms na abundância de fontes cristãs de que Dante podia Antes da sua reavaliação no âmbito humanístico ha-
dBpor-a respeito daquele tema. Mas muito menos ousada, via noções imprecisas da Cabala, que era confundida com
eJlOr muitos aspectos convincente, parece ser a tese de que a magia negra tout éourt. Aliás, também neste aspecto foi
llmte possa ter captado justamente em Bolonha, nos anos insinuado (Gomi 1990: VII) que Dante cita com demasiada
qll:: se seguiram à polêmica Hille1-Zerakhya, ecos daquele insistência várias artes adivinhatórias e mágicas na Comme-
Mate judaico. dia (astrologia, quiromancia, fisiognomia, geomancia, piro-
Poder-se-ia quase dizer que no De vulgari eloquentia mancia, hidromancia, e obviamente os mágicos): de qual-
Ilmte se aproxima da tese de Hillel (ou dos seus inspirado- quer maneira ele estava a par de uma cultura subterrânea
rescristãos, como Z~khya repreendia a Hille1), ao passo e marginalizada da qual o cabalismo. fazia confusamente
q_ no Paraíso XXVI se converte à tese de Zerekhya, que parte, pelo menos conforme uma corrente difusa.
em a de Abulafia - não fosse o fato que na época em que Desse modo, ~ interpretação da forma locutionis não
Dmte escreve o De vulgari já teria tido a possibilidade de como língua mas como matriz universal das línguas, mes-
cllllhecer as opiniões de ambos. mo sem se referir diretamente aos modistas, torna-se suces-
Mas não se trata aqui de documentar influências di- sivamente aceitável.
rdlas. (embora Genot-Bimuth tente documentar algumas
coatribuições historiográficas por parte judaica que mostra-
riam um jogo de sugestões e retomadas mediante o De re-
giaine princiPum, de Egidio Romano), quanto.à existência.
de um clima em que as idéias circulavam no interior de
1DIa polêmica constante, feita de debates quer escritos
<parrorais, entre a Igreja e a Sinagoga (cf. Calimani 1987:
VII). Por outro lado, se antes da Renascença um pensador
cmtão se tivesse aproximado da doutrina dos judeus, com
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cateza não terià'admitido publicamente, tal fato. A comu- ~'.I:.

niIlde judaica pertencia àquela categoria de rejeitados, ,I,'.

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